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Ler o Sintoma Da Criança
Ler o Sintoma Da Criança
“Aquele que me interroga sabe também me ler” Televisão Outros escritos p. 509
Ler o sintoma é um texto do Miller que explicita a orientação lacaniana em relação à
interpretação.
Que implica uma significação? Isso que se diz, isso que você faz, ou isso do que você
sofre, quer dizer tal coisa. Isso implica em uma universalização ao nível da
interpretação “para toda” criança, ou seja, o significado de tal sintoma se resume a um
querer dizer edípico.
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com o fantasma, aos quais Lacan lhes dá o estatuto de mitos, mitos que tratam e dar
conota em uma trama significante para significantizar o impossível ao qual a criança
está confrontada. Nesse sentido, Lacan nos convida a considerar as histórias das
crianças, seus desenhos e seus jogos, como sendo, através dos quais, por intermédio da
articulação significante, a criança trata o real, ou seja, o gozo.
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que na experiência analítica podemos constatar que se as formações do inconsciente e
são fugazes, o sintoma, pelo contrário, é permanente. Os efeitos de verdade, em
definitivo, podem não ter maior incidência no gozo do sintoma, o qual manifesta uma
permanência e uma persistência que resiste a intepretação, e essa vertente da bedeutung
do sintoma, de referência de gozo que Lacan vai isolar em seu último ensino com o real
do sintoma.
Então, a pergunta é a seguinte; como operar na experiencia analítica a partir dos efeitos
de sentido, quando se trata de tocar o real do sintoma que escapa ao sentido? Nessa
perspectiva se encaminha o último ensino de Lacan: considerar qual deve ser a operação
do analista a partir desse novo questionamento relativo ao real do gozo que escapa ao
sentido? A ideia de Lacan será então promover não a palavra e sim a escritura, e por
essa via abordara uma redefinição do inconsciente. É somente considerando o
inconsciente com um texto escrito, que a operação analítica pode ser concebida com
uma leitura da letra, esta grande virada se produz nos Seminários 19 e 20.
Podemos supor que cada um lê o que se escuta com a chave do seu fantasma, daí o mal
entendido. A proposição de Lacan, precisamente, para não infligir aos analisantes uma
leitura fantasmática, é escutar o significante isolado do que ele quer dizer, disjunto do
efeito de sentido, quer dizer, tomado com letra e é a letra que gira a passagem da
palavra à escritura. Para Lacan é evidente que em psicanálise não se trata de outra coisa,
e sim do que se lê mais além do que há incitado o sujeito a dizer.
Agora, bem qual a diferença entre a leitura que Lacan nos propõe no Seminário 4 e a
leitura que ele nos propõe no Seminário 20? A diferença é radical, no semanário 4 a
leitura implica em uma articulação significante e no Seminário 20 tomar o significante
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como que se escuta separado do que ele quer dizer, quer dizer tomar o significante Um
sozinho, separado do outro significante, no qual introduz o efeito de significação.
Romper essa articulação implica extrair o significante da relação com o significado,
fazendo valer o equívoco. De maneira tal que, pelo equívoco que equivoca a nível da
ortografia, da gramática e da lógica. Lacan postula a interpretação como equivalente da
leitura de um texto, uma leitura de letra e por essa via, o analisante no discurso
analítico, trona-se um leitor. Quer dizer, que a questão é introduzir ao analisante a
leitura do seu texto pela via da ressonância dos significantes fora de todo efeito de
sentido.
“A gramática é aquilo que, da linguagem só se revela por escrito” Lacan sem 20, p. 50
O que podemos constatar é o choque, o golpe desse significante como marca sonora, no
qual produziu na criança um acontecimento de corpo, quer dizer uma desesperança se,
fim. É possível que fazendo ressoar esse significante, em suas versões homofônicas que
introduzem toda uma serie de significações novas, passou-se o vestígio desse
significante do dito ao dizer.
Queria assinalar isto: o gozo? Em certo sentido, sim. Podemos dizer que o gozo
primário é o gozo do próprio do corpo como tal, que é um fenômeno de corpo. Um
corpo é o que goza de si mesmo, é o que Freud chamava o auto-erotismo, o que é uma
verdade para todo corpo vivo, o gozar de si mesmo. O que distingue o corpo do ser
falante é que seu gozo sofre a incidência da palavra. E, precisamente, um sintoma
testemunha que houve um acontecimento que marcou seu gozo e que introduz
um Ersatz, um gozo que não faria falta, um gozo que transtorna o gozo de sua natureza
de corpo. Portanto, nesse sentido, não, o gozo em questão no sintoma não é primário. É
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produzido pelo significante. E é precisamente esta incidência significante o que faz
do gozo do sintoma, um acontecimento, não apenas um fenômeno. O gozo do
sintoma testemunha que houve um acontecimento, um acontecimento de corpo depois
do qual, o gozo natural, entre aspas, que podemos imaginar como o gozo natural do
corpo vivo, transtornou-se e se desviou. Este gozo não é primário, mas é primeiro em
relação ao sentido que o sujeito lhe dá e que lhe dá por seu sintoma enquanto
interpretável.
A leitura, o saber ler consiste em manter à distancia, a palavra e o sentido que ela
veicula, a partir da escritura como fora de sentido, como letra, a partir de sua
materialidade. Enquanto a palavra é sempre espiritual, se posso dizer assim, e a
interpretação que se sustenta puramente ao nível da palavra não faz mais que inflar o
sentido, a disciplina da leitura aponta para a materialidade da escritura, quer dizer, a
letra enquanto que ela produz o acontecimento de gozo que determina a formação dos
sintomas.
Para Freud, como ele partia do sentido, isso se apresentava como um resto, mas, de fato,
esse resto é o que está nas origens do sujeito, é, de algum modo, o acontecimento
originário e, ao mesmo tempo, permanente, quer dizer, que se reitera sem cessar.
É o que se descobre, o que se desnuda na adicção, não “mais um copo” que escutamos
falar há pouco6 . A adicção é a raiz do sintoma que é feito da reiteração inextinguível do
mesmo Um. É o mesmo, quer dizer, precisamente, não se adiciona. Não teremos jamais
o “bebi três copos, portanto, é suficiente”, bebe-se sempre o mesmo copo uma vez mais.
Essa é a raiz do sintoma. É neste sentido que Lacan pôde dizer que um sintoma é um
etcétera. Quer dizer, o retorno do mesmo acontecimento. Podemos fazer muitas coisas
com a reiteração do mesmo. Precisamente, podemos dizer que o sintoma é, neste
sentido, como um objeto fractal, porque o objeto fractal mostra que a reiteração do
mesmo pelas aplicações sucessivas lhes dá as formas mais extravagantes, inclusive se
pôde dizer, as mais complexas, que o discurso matemático pode oferecer.
A interpretação como saber ler visa reduzir o sintoma a sua fórmula inicial, quer dizer,
ao encontro material de um significante e do corpo, quer dizer, ao choque puro da
linguagem sobre o corpo. Então, certamente, para tratar o sintoma, é preciso passar pela
dialética móvel do desejo, mas também é necessário se desprender das miragens da
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verdade que essa decifração lhes aporta e apontar mais além, à fixação do gozo, à
opacidade do real.
*Jacques Alain-Miller apresentou no final do Congresso da NLS que se realizou em Londres, nos dias 2 e
3 de abril de 2011, o tema do próximo congresso que acontecerá em Tel-Aviv, em junho de 2012. Texto
estabelecido por Dominique Helvoet, não revisado pelo autor.
A interpretação, hoje
Miquel Bassols
"Interpretação hoje" é o título que me foi proposto para realizar este Seminário na II
Conferência da NEL em Medellín.
O não-todo interpretável
Inicio trabalho
Não se pode esquecer que foi Freud quem mostrou a dimensão do sentido e da
interpretação como essencial no sintoma, quem mostrou que o sintoma, como a série de
formações inconscientes, era interpretável.
Inicio do trablaho
Mas, em si, o campo da interpretação é um campo muito ambíguo. O que torna algo
interpretável? E o que faz com que algo não seja interpretável? Quando uma criança
que ainda não sabe ler se aproxima do adulto que lê um jornal e lhe pergunta “o que diz
aí?”, podemos nos perguntar o que a fez supor que ali, naquele papel manchado de tinta,
há algo para decifrar, para interpretar.
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Algo se torna um signo interpretável para o sujeito apenas sob determinadas
condições. E uma dessas condições é precisamente que nem tudo seja interpretável, ou
seja na medida em que algo é isolado, enquadrado, como um signo interpretável e algo
distinto fica fora dessa referência. Se tudo se torna um signo interpretável, estamos
diante da psicose, diante do delírio interpretativo que não se detém em nenhum ponto,
onde se impõe um "tudo é interpretável".
Meta linguagem
Nos termos de Lacan de 1964: “o analista faz parte do conceito do inconsciente”, não há
analista fora do texto do inconsciente, que, por sua vez, não existe sem aquele analista
que dele faz parte.
O primeiro índice que podemos encontrar da inclusão do Outro da palavra como sua
interpretação está na eminente função da pontuação, uma forma canônica de
interpretação colocada por Lacan já em 1953, em “Função e campo da palavra e da
linguagem em psicanálise ".
"A interpretação coextensiva da história ..."
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Quais são as consequências dessa estrutura de interpretação necessariamente "não-
toda"? Uma consequência importante é que a interpretação não está aberta, como às
vezes se pode supor, a todos os sentidos. O sentido de uma interpretação depende do
momento em que é feita, é relativo à sua enunciação. É por isso que podemos dizer que
há uma história da interpretação ou, melhor ainda, como Lacan indica em “A direção da
cura ...” (Escritos, p. 578) essa interpretação é “coextensiva à história”. Significa que a
interpretação se estende simultaneamente, uma vez que, a história que se supõe que
interpreta. A interpretação em "extensão", é a própria história como é contada, não
como um conjunto de fatos que se pretende narrar.
A mesma interpretação, por mais “correta” que seja, feita em um momento ou outro,
pode ter efeitos muito diversos ou também pode deixar de tê-los. Foi o que aconteceu
nos primórdios da psicanálise com a interpretação "edipiana", que teve efeitos
fulminantes, efeitos que foram se perdendo com o tempo, pois o sentido "edipiano" já
estava incorporado à própria história da interpretação. As interpretações mais
verdadeiras não valem tanto por seu enunciado quanto por sua enunciação, no momento
em que se realizam.
Ao mesmo tempo, uma interpretação pode ter efeitos “après coup”, de forma
retardada. Na verdade, sempre há aquele tempo lógico necessário para a interpretação,
passando por um tempo de indeterminação do sujeito até que ele produza seu efeito de
sentido. Às vezes esse tempo é muito breve, às vezes o efeito ocorre logo após o
término da sessão, quando o sujeito está no patamar da escada, outras vezes pode
demorar muito mais. Quantas vezes uma interpretação não revelou seus efeitos mais
verdadeiros até anos depois de ter sido enunciada.
Tradução
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O que me interessa explorar neste trabalho é o lugar que o termo ressonância ocupou na
obra de Lacan e sua articulação com a interpretação lacaniana para localizar o que
permaneceu constante nele e o que nele variou ao longo de seus desenvolvimentos. A
tensão entre o que permanece constante e o que varia, nos permitirá extrair suas
consequências na prática.
No Seminário 20 Lacan nos lembra, seguindo o fio dos discursos, que na experiência
analítica o máximo que se pode produzir é S1, S1 que ele designa como significante do
gozo, e do qual observa que é um gozo muito singular. Assim, a partir do momento em
que se trata de gozo, o que prevalece é a singularidade.
A partir daqui a interrogação de Lacan não recairá mais sobre um significante, mas
sobre o significante Um, podendo romper com a linguística e explorar na perspectiva da
lalangue aquilo com que podemos designar o que é assunto de cada um.
Em 1971, quando Lacan se dirigiu aos psicanalistas de Ste Anne, ele lhes apontou qual
é o princípio que sustenta o que eles fazem quando interpretam, e lhes diz que não há
interpretação que não diga respeito ao gozo. Ou seja, ao laço do que se manifesta na
palavra com o gozo. Essa é a questão de cada um, o que cada um deve colocar de sua
parte.
A questão que nos é colocada na experiência da análise é saber como se pode apreender
esse gozo com o dizer, como se pode chegar a tocá-lo e modificá-lo? Como dizer? Essa
é a questão do lado do analista.
A orientação que encontramos no Seminário 23, quando Lacan afirma que deve haver
algo no significante que ressoe. No entanto, Lacan já nos falava sobre a ressonância da
interpretação em "Função e campo da palavra e da linguagem na psicanálise".
1- A ressonância semântica
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Lá ele se propõe a renovar a interpretação, devolvendo à palavra seu valor de evocação.
Desse modo, a posição do analista se situa como aquele que pode jogar como poder do
símbolo, evocando-o de forma calculada nas ressonâncias semânticas das expressões.
No horizonte, a questão que se formula neste momento é como transformar, por meio da
palavra, o sujeito a quem a palavra se dirige? Nessa perspectiva, o fundamento da
palavra é a comunicação. Lacan diz: “... o que procuro na palavra é a resposta do outro,
o que me constitui como sujeito é a minha pergunta”. A interpretação é considerada,
então, fundamentalmente como reconhecimento e o que se destaca é a sua função de
evocação.
Em "O escrito na palavra", Miller localiza uma tensão entre ressonância e comunicação.
Enquanto a ressonância da palavra restitui à palavra seu valor de evocação, tem-se a
impressão de que ela está ao lado da comunicação, ou seja, destaca elementos não
comunicacionais. Por fim, conclui que a ressonância é em todo caso uma comunicação,
embora pelo viés indireto.
Como a ressonância está se tornando relevante neste momento? Lacan sustenta que é o
eco da palavra, é a propriedade da palavra que consiste em fazer ouvir o que ela não diz.
Ao mesmo tempo que não diz, faz escutar. Acentua-se assim o modo indireto de
interpretação, e o dizer ao lado que assumirá diferentes formas ao longo do seu ensino,
mas preservando este eixo.
Posteriormente, Lacan dirá, como assinalamos no início, que o que lhe interessa é o
Um, o significante como Um. É com o Um que tem a oportunidade de escapar do
sentido e por isso é desse Um, que surgem os mal-entendidos.
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O equívoco é um significante liberado pelo analista que tem a propriedade de ser um
enunciado de tal abertura, que não determina inequivocamente o sentido, é um convite a
não concluir o sentido. Essa forma de dizer obriga o analisando a colocar algo de sua
parte, ou seja, a produzir o erro de sua parte, interpretando assim seu gozo. Esse
movimento capta o deslize que vai se dar do particular do sujeito em direção ao singular
do parlêtre e seus efeitos na prática.
2- A ressonância metonímica
Algum tempo depois, a clínica será modificada com a introdução do falo, e é em "A
direção da cura e os princípios de seu poder" que ele formalizou a doutrina da
interpretação com o termo alusão.
Desse modo, ele põe em jogo a propriedade metonímica da ressonância. A alusão então
acentua, não tanto a cadeia significante, mas o intervalo. É por isso que Lacan o ilustra
com o dedo levantado do São João de Leonardo, o índice do indizível.
Pode-se pensar que entre a evocação e a alusão Lacan passa da dimensão do recalcado
para a dimensão do vazio e da falta, e isso tem consequências na clínica. Da clínica sem
o falo de "Função e campo ..." à clínica do falo de "A direção da cura ...", é um dos
eixos que Miller aborda no curso "Da natureza dos semblantes "
É interessante notar que, neste momento de seu ensino, Lacan toma como referência,
por um lado, o que a tradição hindu ensina sobre a propriedade da palavra de fazer
entender o que ela não diz: “... A ausência do leão pode, portanto, ter tantos efeitos,
como o salto que, de estar presente, eu só daria uma vez. "
E, por outro, apela aos recursos de uma linguagem e sobretudo àqueles que se
concretizam nos seus textos poéticos. Assim, trata-se de manejar a função poética da
linguagem para dar ao desejo sua mediação simbólica.
3- A ressonância libidinal
Mas ... a interpretação lacaniana, aquela que sustenta nossa prática, ainda está por vir. É
a radicalização da noção de real que prepara o futuro da interpretação. Para isso, será
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necessário localizar alguns eixos em que se tornou a ressonância da interpretação no
último ensino de Lacan: Em primeiro lugar, direi que o que se enfatiza é a propriedade
econômica da ressonância.
Introduz-se assim a dimensão do real e o lado onde o inconsciente está ligado a ele. Há
uma referência direta do inconsciente ao corpo que convoca o analista a operar a
economia libidinal para elucidar o mistério do inconsciente, ou seja, o mistério do corpo
que fala. E o equívoco é proposto como o meio eficaz para que esse dizer ressoe nos
orifícios do corpo sensível.
Por outro lado, no Seminário 24 ele dirá que "... é pelo forçamento que um psicanalista
pode fazer ressoar outra coisa que não o sentido" e desta vez nos remete à escrita
poética chinesa, ao chiste, para localizar a dimensão da interpretação analítica. Nesse
ponto fica claro que embora para Lacan seja necessário passar pela linguística, ele não
parou por aí. O deslocamento do significante para a letra o demonstra.
O caráter fundamental desta formulação visa situar que com a lalangue já não se
encontra assegurada a conexão com o Outro e que, nesse sentido, a interpretação
analítica se dirige ao que há do Um no parlêtre, revelando a singularidade do seu gozo.
Por isso essa ultima, é uma ressonância que se produz no corpo, na medida em que este
corpo é a substância sobre a qual se apoia o gozo e, portanto, assim se percebe que
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lalangue não é feita para dizer, mas para gozar, e que esse é o nosso cantarolar.
canturreo
La interpretación analítica. Del impasse del cifrado ala reducción del sentido*
Jacques Lacan, citado por J.-A. Miller en «Lo real en el siglo XXI»
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O Seminário 18 Lacan (2009: 109), ao tentar elucidar os conceitos de escritura e letra,
afirma que tudo o que naquele momento de seu ensino tenta transmitir não teria sentido
sem sua prévia teorização do inconsciente. Ainda que sem ser explícita, é, a meu ver, a
premissa que tem norteado o trabalho deste grupo de investigação cujo trabalho tem
percorrido textos de cronologias muito diversas, oscilando entre trabalhos inscritos na
fase da primazia simbólica de Lacan até os escritos de sua autoria dos últimos
seminários, passando pelas contribuições fundamentalmente de Miller e de outros
autores também contemporâneos.
Tal como acontece com a maioria dos conceitos analíticos, a interpretação não pode ser
pensada sem se atentar a outros aspectos dos quais é indissociável: a posição do
analista, o lugar de onde ele interpreta e para onde dirige sua interpretação; o par
inconsciente transferencial e o inconsciente real. Ou seja, a prática interpretativa é
correlativa à noção de inconsciente com a qual cada analista opera (Miller, 2014: 48), e
a interpretação não só aponta para os significantes, mas também recai sobre as fissuras,
ali onde o sentido não tem lugar, onde habita o indizível; a passagem do conceito de
inconsciente ao de parlêtre; a pré-interpretação dos sintomas por parte do inconsciente
(Miller, 1984:7) e a interpretação do analisando e do analista?
O fim da análise, dado o vínculo que este tem com a interpretação; a extimidade, como
função ou lugar que possibilita a interpretação do analista, pois só a partir desse lugar
existe a possibilidade de desfazer o sintoma (Miller, 1986:19) e um longo etc.
Tudo isso torna a abordagem da interpretação analítica, do ponto de vista teórico, uma
tarefa difícil. Com efeito, e como afirma Miller (2012: 47), a interpretação não tem um
matema, não é uma técnica, mas uma ética, logo, é um tipo de arte com a qual cada
analista deve saber fazer.
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Sostener que la interpretación analítica es un concepto solidario del de inconsciente
puede resultar una afirmación reduccionista si reparamos en que nos encontramos en un
momento, el actual, en el que el orden real está en el punto de mira teórico del discurso
analítico.
Por isso, pode-se falar de uma interpretação simbólica que aponta para o inconsciente
transferencial e de uma interpretação de outra ordem que se dirige ao inconsciente real,
o que não quer dizer que esta última forma de proceder implique evitar a interpretação à
maneira freudiana, ou seja, a decifração das formações do inconsciente, visto que, pois,
como aponta Miller (2012: 49), a interpretação dos sonhos, lapsos e sintomas tem a
função de instalar a atmosfera interpretativa sem a qual a experiência analítica não seria
possível.
.Por outro lado, Marie-Hélène Brousse ilumina essa questão ao dizer que as operações
analíticas que funcionam se fundamentam na homofonia, como materializações sonoras,
com o witz; e então pode metaforizar, ampliar, ou seja, produzir sentido. Por isso,
continua a autora, as explicações que às vezes fazemos na cura analítica não surtem
nenhum efeito, não produzem nada, “o que acontece é que quando se produz isto,
também se produz ondas que são efeitos de verdade, o efeito real produz efeito de
verdade, pelo nó entre o simbólico, o real e o imaginário » (2002: 88-95).
prossegue o autor, as explicações que às vezes fazemos na cura analítica não surtem
efeito, não produzem nada, «o que acontece é que quando se produz isso também se
produz ondas que são efeitos reais, o efeito real produz efeito real, pelo nó entre o
simbólico, o real e o imaginário »(2002: 88-95).prossegue o autor, as explicações que às
vezes fazemos na cura analítica não surtem efeito, não produzem nada, «o que acontece
é que quando se produz isso também se produz ondas que são efeitos reais, o efeito real
produz efeito real, pelo nó entre o simbólico, o real e o imaginário »(2002: 88-95).
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contundentemente: “à ordem significante e a nenhum outro pertence o fenômeno do
inconsciente” (2012: 151). Assim, um inconsciente submetido às leis da linguagem em
que a noção de interpretação está muito próxima da de decifração que faz emergir um
novo sentido que atenua o sofrimento causado pelo sintoma.
No entanto, o delírio que pode trazer consigo a interpretação tem um limite, na medida
em que nem tudo é interpretável. O contorno do inconsciente transferêncial termina ali
onde um significante deixa de se remeter a outro significante. O inconsciente
transferencial se enoda com a interpretação, e o objetivo desta "não é tanto o sentido,
mas a redução dos significantes ao seu não-sentido" (Lacan, 2010a: 219).
Quando em 1971 Lacan se dirigiu aos psicanalistas em Ste. Anne, Silvia Salman (2004)
nos diz, afirma que não há interpretação que não diga respeito ao gozo, isto é, ao laço do
que se manifesta na palavra com o gozo. Mas como tocar um inconsciente que, ao
contrário da transferência, não quer dizer? Como, a partir da posição do analista,
apontar para a dimensão real do corpo que fala, ao parlêtre, para tentar modificar o gozo
ou produzir uma relação menos mortifera do analisante com o seu gozo? Como passar
da linguagem à lalíngua? Todas as questões que se resumem em uma: que ato analítico
colocar poe em jogo quando significante e gozo são duas caras da mesma moeda,
quando o que está envolvido não é mais um saber, mas um real aleatório e contingente,
um fragmento assistemático separado do saber ficcional?
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portanto, de levantar a defesa, mas de perturbá-la. Nesse contexto, a tarefa do analista,
como afirma Miller (2003: 35-36), não consiste em interpretar a defesa, o que implicaria
em acrescentar mais sentido, mas sim em desestruturá-lo, perturbando-o no bom sentido
para fazê-lo ver. o impossível-de dizer. Quando se trata de defesa, portanto, o registro
de interpretação muda; o analista erra se apontar diretamente para a pulsão, pois o que
provavelmente surgirá daí será uma transferência negativa que fará o paciente
abandonar a análise.
Nem toda intervenção do analista é uma interpretação. Da mesma forma, nem toda
interpretação, mesmo com seus efeitos, é o único modo, por outro lado, de verificá-la,
se tem eficácia mutativa no que diz respeito ao gozo. A interpretação por citação, por
alusão, interpretação dissociativa ou interpretação apofântica, para ilustrar alguns
exemplos citados por Jorge Chamorro (2011), ou pontuação e as ressonâncias
semânticas e metonímicas mencionadas por Silvia Salman (2004) caem do lado do
sentido; o simbólico predomina sobre o real. Mesmo assim, toda interpretação contém
um silêncio, um enigma com o qual se tenta incomodar o discurso do ego, perturbar a
defesa.
A operação analítica que aponta ao gozo do analisante tem três pilares fundamentais: o
silêncio, que inclui o enigma, o corte e o equívoco.
A cadeia significante recobre o enigma do sintoma; trata-se de saber calar para que seja
o inconsciente quem interprete. No Seminário 17, Lacan nos diz que o enigma é uma
enunciação cuja função é dizer a metade: "Deixo para os [analistas] transformá-la em
enunciado" (2010b: 37). Jorge Chamorro (2011: 23), por sua vez, fala do enigma como
vazio; Não tem enunciado, pode ser um gesto, uma interjeição, um bocejo ... é o
analisante que interpreta os signos do oráculo, afirmação essa que se completa com o de
Graciela Brodsky (2001) quando sugere aproveitar a lei da comunicação e colocá-la do
lado dos analistas sendo conciso, ambíguo, oracular e enigmático para obrigar o
analisante a interpretar nossa interpretação com os recursos de seu inconsciente e não
com os de seu entendimento.O silêncio é uma interpretação primordial, ele desconstrói
o sentido, mas o que se opõe ao sentido, além do silêncio, não é o sem sentido, mas a
letra. No Seminário 18, Lacan desgarra do significante e poe a lupa sobre a letra,
certificando-se de localizar a que ordem pertence a que cada um : "A escritura, a letra,
está no real, o significante, no simbólico" (2009 : 114).
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Mas a noção de letra e escritura que Lacan suscita em "A instância da letra no
inconsciente ou na razão desde Freud", um texto de 1957, está distante do que ele
formalizou em seu último ensino. Lá, como aponta Paskvan (2014), escritura e leitura,
ou seja, decifrar a significação, vão juntas, enquanto a letra separada do sentido faz
obstáculo à interpretação
A letra não contém mais uma mensagem cifrada, é um desperdício, um resto, e Lacan,
assimilando-se ao estilo joyciano, coloca em série os termos letra (letra) e lixo (lixo)
para ilustrar por meio de um equívoco o estatuto que a carta letra tem no inconsciente
(2009: 106-09). A letra se separa do significante, com efeito, mas não é anterior a ela,
na verdade é um efeito, uma consequência da linguagem.
A escrita forjada com esta carta traça o contorno da analogia que usa, desenhando a
borda real do buraco do conhecimento. A direção da cura no último ensino de Lacan,
portanto, assume uma nova orientação na qual o analista tem consciência da separação
entre o real e o semblante. A letra é separada do significante, com efeito, mas não é
anterior a ela, na verdade é um efeito, uma consequência da linguagem. A escrita
forjada com esta carta traça o contorno da analogia que usa, desenhando a borda real do
buraco do conhecimento. A direção da cura no último ensino de Lacan, portanto,
assume uma nova orientação na qual o analista tem consciência da separação entre o
real e o semblante.A letra é separada do significante, com efeito, mas não é anterior a
ela, na verdade é um efeito, uma consequência da linguagem. A escrita forjada com esta
carta traça o contorno da analogia que usa, desenhando a borda real do buraco do
conhecimento. A direção da cura no último ensino de Lacan, portanto, assume uma
nova orientação na qual o analista tem consciência da separação entre o real e o
semblante.
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maneira, o significado que impede que o sentido se feche, ou o que é o mesmo, força o
analisante a interpretar seu gozo. O equívoco pode, portanto, ressoar nos orifícios do
corpo sensível. O significante neste momento do ensino de Lacan adquire o estatuto de
letra e é separado do significado por meio de equívocos; se manifesta como um traço de
escritura, traço de quê? da marca original da línguagem no corpo.
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Hegel: reconocer para ser reconocido. También presentaba y ordenaba ese saber en
grafos, bajo la preeminencia del Nombre del Padre en la clínica y bajo el ordenamiento
fálico de la libido.
Pero luego se abrió a otra dimensión con lalengua en tanto que hay leyes del lenguaje
pero no hay leyes de la dispersión y de la diversidad de las lenguas. Cada lengua está
formada por contingencias, por azar. En esa dimensión, el inconsciente tradicional -para
nosotros el inconsciente freudiano- se nos aparece como una elucubración de saber
sobre un real; una elucubración transferencial de saber cuando, a ese real, se superpone
la función del sujeto supuesto saber que se presta a encarnar otro ser viviente. Es el
inconsciente que puede ponerse en orden, en tanto que discurso, pero solamente en la
experiencia analítica. Diré que la elucubración transferencial consiste en dar sentido a la
libido, que es la condición para que el inconsciente sea interpretable. Eso supone una
interpretación previa, es decir, que el inconsciente mismo interprete.
¿Qué es lo que interpreta el inconsciente? Para poder dar una respuesta a esta pregunta
hay que introducir un término, una palabra. Esa palabra es "lo real".
Lacan lo decía como un chiste: "si uno entiende cómo funciona la interpretación, eso no
es una interpretación analítica". En el psicoanálisis, tal como Lacan nos invita a
practicarlo, se experimenta la ruptura del vínculo causa-efecto, la opacidad del vínculo,
y es por eso que hablamos de inconsciente.
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hace Freud con el concepto mítico de pulsión. El inconsciente lacaniano, el del último
Lacan, está al nivel de lo real, vamos a decir por comodidad, "debajo" del inconsciente
freudiano. De tal manera que, para entrar en el Siglo XXI, nuestra clínica deberá
centrarse sobre el desbaratar la defensa, desordenar la defensa contra lo real.
Lacan disse isso como uma piada: "se se entende como funciona a interpretação, isso
não é uma interpretação analítica". Na psicanálise, como Lacan nos convida a praticá-la,
experimenta-se a ruptura do vínculo causa-efeito, a opacidade do vínculo, e é por isso
que falamos do inconsciente.
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mas antes nos aparece como um desejo de alcançar o real, de reduza o Outro ao seu real
e o liberte de sentido.
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