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As práticas e saberes candomblecistas são transmitidas entre seus adeptos/praticantes de forma oral e
através de contextos vivenciais, seguindo a lógica do segredo ritual e suas dimensões, portanto, no Candomblé não
há um livro sagrado.
O fato de os saberes no Candomblé serem aprendidos e apreendidos pelos seus adeptos/praticantes
através da oralidade e das vivências nem sempre possibilita o referenciamento bibliográfico sobre alguns assuntos
acerca do Candomblé em pesquisas científicas.
Sobre o assunto, é oportuno realizar algumas considerações:
A necessidade do cuidado em não expor os segredos rituais, no caso de pesquisadores
candomblecistas ou não;
As possíveis problemáticas ao apresentar certas informações apreendidas através de vivências e
narrativas “de dentro” dos terreiros, e, portanto, dificilmente encontradas em literaturas tidas por
parte dos acadêmicos como “clássicas”
Esse processo de não referenciamento poderá tornar os estudos “menos científicos” à luz da
academia eurocêntrica e etnocêntrica ocidental
Não há aqui a defesa de que a cultura afro-brasileira necessariamente precise ser escrita (ou
reescrita) exclusivamente por negros e/ou aqueles que professam tais
religiosidades/ancestralidades
Ou ainda um ataque ou desvalorização da pesquisa científica, o que acreditamos que seria um
equívoco,
Mas a cultura afro-brasileira não pode continuar servindo de mérito acadêmico e objeto de estudos
da branquidade, perpetuando o epistemicídio da população negra –
Sem que seja estabelecida a valorização dessa cultura, não de modo intencional, branco e
eurocentrado, mas considerando seus aspectos afro-diaspóricos (o nome que se dá ao fenômeno
sociocultural e histórico que ocorreu em países além do continente africano devido à imigração
forçada, por fins escravagistas mercantis que penduraram da Idade Moderna ao final do século XIX,
de africanos)
CANDOMBLÉS
O Candomblé é uma religião brasileira de matriz africana. Foi criado no Brasil com adaptações e adequações
dos rituais praticados na África, porém utilizando-se das condições e elementos disponíveis no contexto brasileiro. A
história do Brasil é profundamente marcada pelos séculos de escravidão.
Apesar de lançado à mais triste condição a que um ser humano pode ser submetido, o contingente negro
viu na fé em seus ancestrais uma possibilidade de refazer os laços, manter e recriar tradições e reconstituir, mesmo
em termos simbólicos, as famílias (nação), que, como parte da estratégia do sistema escravagista, foram
completamente esfaceladas. Portanto, o Candomblé para as várias nações é a prática das crenças africanas trazidas
para o Brasil pelas pessoas escravizadas; assim sendo, não é uma religião africana e sim afro-brasileira.
A palavra nação é usada no candomblé para distinguir segmentos, diferenciados pelo dialeto utilizado nos
rituais, o toque dos atabaques, e na liturgia. A nação também indica a procedência dos escravos que lhe deram
origem na nova terra e das divindades por eles cultuadas. Guardiões da cultura oral, os escravos guardaram em sua
memória os movimentos de dança, os toques dos atabaques, a comida ritual, as rezas e cânticos do candomblé.
Os primeiros terreiros de Candomblé se constituíram com base na reunião de pessoas de mesma etnia que
buscavam manter vivas as práticas religiosas de sua origem. A resistência dos negros ao regime de subordinação ou
exploração do qual foram vítimas encontram portas abertas na religião, nos quilombos, confrarias e santidades,
locais de reuniões assim chamados antes de receberem o nome de candomblés que também foram usados como
esconderijo. Candomblé é afro pela essência, pelo culto e pela ontologia, mas é brasileiro também à medida que é
fruto da diversidade conseqüente da escravização. Trata-se de uma ressignificação da África no contexto brasileiro.
Há, portanto, uma corriqueira confusão sobre o que é africano e o que é brasileiro, visto que a marginalização da
contribuição negra para a cultura brasileira foi e é severa desde o início e tal fator dificulta a compreensão do que é
afro-brasileiro
O candomblé chegou ao Brasil no século XVI, vindo com os escravos bantos ou bantus, estes, oriundos de
Congo, Angola e Moçambique e conformaram os primeiros terreiros de candomblé no Brasil.
As civilizações bantus do grupo angola-congolês são representadas pelos ambundos de Angola (cassanges,
bangalas, in-bangalas, dembos), os congos ou cabindas do estuário do Zaira e os benguela com diversas tribos
escravizadas.
Por outro lado as civilizações bantus da Contra-Costa (porção oriental) são representadas pelos
moçambiques (macuas e angicos), tendo sido o grupo Bantu reduzido às nações: Angola, Congo e Cabinda.
Os povos da África (as civilizações sudanesas) que viviam nos territórios onde estão hoje os países Nigéria,
Benim e Togo são conhecidos no Brasil representadas pelo grupo (nação) yorubá/nagô: Ketu, Efan, Ijexá e Nagô
Egbá.
O termo yorùbá designava originalmente o povo de Òyó, mas ele acabou aplicado a um vasto grupo etno-
lingüístico que inclui os Ana, Itsa, Dasa, Save, Ketu, Ifonyin, Awori, Egba, Egbado, Ijebu, Oyo, Ife, Ondo, Owo, Ilaje,
Ekiti, Igbomina, Yagba, Bunu, Aworo, Itsekiri, Owu”. Atualmente, é possível encontrar Yorubá – como hoje esses
povos são conhecidos e se autoidentificam – no Togo e no Benim, mas sua maioria vive no Sudeste da Nigéria, onde
são aproximadamente 25 milhões de pessoas
As nações (famílias) africanas que vieram de Daomé eram representadas pelo grupo jeje: Fon, Éwé, Mina,
Fanti e Ashanti.
O candomblé da nação Angola Caboclo sempre esteve à margem da aceitação do candomblé por não se
enquadrar no que a autora defende ser uma “ortodoxia do candomblé” (CAPONE, 2009). Ou seja, não era ligada às
matrizes iorubás ou nagôs. O candomblé de caboclo é oriundo do candomblé ou culto de nação africano seja ele
ketu ou banto. Surgiu, pois, os adeptos do candomblé necessitavam de uma assistência e acompanhamento mais
próximo e direto. Havia problemas do cotidiano que requeriam consultas para saber qual o melhor caminho a
seguir. Eram problemas afetivos, emocionais, de saúde, financeiros e espirituais vários.
Como sabemos o candomblé tem por finalidade primeira o culto aos Orixás e a manutenção de sua força
mágico-sagrada: o axé. Assim muitos pais e mães de santo, fundaram os primeiros terreiros de um novo conceito
doutrinário-ritualístico, onde as crenças africanas se uniram às da pajelança (crenças e rituais de indígenas
brasileiros). A diferença fundamental do candomblé de caboclo é que os Orixás não baixam diretamente entre os
filhos de fé (consulentes e simpatizantes). Eles são representados, e isto é fundamental, pelos caboclos (indígenas
brasileiros).
Uma diferença fundamental no candomblé de caboclo em relação ao culto de nação é que nos seus cultos
há a presença da Gira de Exu (interdito no culto de nação africano); assim como há também algo que não havia no
culto de nação africana, uma inovação, a adoção da “linha das almas (Eguns)”, onde se manifestam os “espíritos
ancestrais de antigos escravos – os pretos velhos”.
CANDOMBLÉ: RELIGIÃO MONOTEÍSTA
O Deus único para a Nação Yorubá/Nagô é Olorum; para a Nação Bantu é Zambi e para a Nação Jeje é
Mawu. O candomblé cultua a natureza em suas várias vertentes representadas pelos orixás, considerados espíritos
supremos, divindades que auxiliam a Deus no governo do mundo. A religião é monoteísta, portanto cultua Zambi,
Olorum ou Mawu, dependendo da nação, que significa DEUS (de acordo com o eurocentrismo, o judaísmo e o
islamismo)
A religião tem por base a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes
africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus Orixás/Nkisis/Voduns, sua cultura, e seus
idiomas, entre 1549 e 1888, tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras
brasileiras, juntando por vezes várias (nações e famílias) em uma casa só, para sobrevivência das mesmas, em
outras palavras seus conflitos e diferenças tiveram de ser esquecidos ou utilizados para se fortalecerem na condição
de escravizados, assim sendo, embora confinados originalmente à população de negros escravizados, inicialmente
nas senzalas, quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o
candomblé prosperou nos quatro séculos, e se expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888.