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Nesta operação criminosa Elias seria um Falso Mendigo que vigiaria tanto a
quadrilha de golpistas, quanto a falsa repartição. De posse de informações simples,
sobre o movimento do negócio e o número de pessoas envolvidas, ele deveria disfarçar-
se em uma idosa, interessada no golpe da aposentadoria. Quando os estelionatários
estivessem todos reunidos, Elias deveria dar um telefonema, avisando Jorge Fagundes.
A família Fagundes havia investido muito dinheiro neste golpe: eles e mais um grupo de
homens disfarçados se passariam por Agentes da Polícia Federal. Para isso, clonaram
duas Blazers que ficaram idênticas as originais, mandaram fazer os uniformes e
credenciais, além do que no ato da prisão os Falsos Agentes estariam portando
armamentos pesados: como fuzis AR15, submetralhadoras e escopetas Cal. 12.
Vinte quatro horas antes da falsa prisão, uma casa alugada pelos Fagundes seria
transformada em delegacia, com direito a celas de interrogatório e tudo que fosse
necessário a um cenário perfeito, para enganar os presos. A ideia por trás desta trama
teatral era a extorsão, Juliano Fagundes seria o líder da operação, batizada por eles
como ‘São Paulo Mais Honesta’. O pai Jorge Fagundes seria o delegado e ordenaria
torturas, exigindo um suborno no valor de 300 mil reais. Como todos já conheciam os
integrantes da quadrilha rival e eram conhecidos por estes; deveriam estar muito bem
disfarçados para não serem reconhecidos. Mais uma vez Elias entraria em ação com
seus conhecimentos de palco, montaria figurinos e maquiagens, para que todos
incorporassem seus novos papéis.
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de amá-lo e ser um bom pai. É verdade que não entendeu sua opção sexual, mas
independentes de serem pais ou não, as pessoas não aceitavam umas as outras, ele, por
exemplo, abominava as hipocrisias do Pastor. Já L era filha de um homem pago pelo
Estado para cuidar dos menores, mas era um dos Pedófilos da cidade. Aquela menina
era filha de um monstro, mesmo assim ainda havia uma centelha de amor e bondade em
seu espírito. Elias jurava que não iria errar na educação de L, igual aqueles que eram
maus exemplos: o Juiz de menores de Teixeira de Freitas e seu pai o Pastor.
A avó Dona Ordália, era uma mistura de mulher goiana e mineira, arrastava a
letra ‘R’ quando a pronunciava e sempre falava ‘Uai’. Era sua avó pelo lado materno.
Tornou-se evangélica graças às pregações de seu pai. A velha fumava uns cigarros de
fumo de rolo enrolados na palha de milho. Foi só aceitar Jesus parou de fumar. Deixou
de usar os enfeites que gostava. Deixou de lado as festas de roça, como folia de Reis e
Festas Juninas. Foi ficando triste e triste. Não viveu nem dois anos depois de sua
conversão. O dia do funeral da anciã foi o único em que viu e ouviu um
desentendimento entre seus pais: sua Mãe disse de nada adiantar a mãe dela se
converter, sendo que morreria em tão pouco tempo, seria melhor ter aceitado a Jesus, ou
melhor, que ele a tivesse aceitado do jeito em que estava. Assim seus últimos dias não
seriam de tristeza e privações, pelas coisas que abandonou e que tanto gostava!
O Pastor, como sempre arrogante, disse que sua Mãe se calasse, pois não sabia
dos planos de Deus: da mesma forma que o barro não sabia das inspirações do artesão
que trabalhava com ele. Da mesma forma que um pedaço de costela não poderia falar de
amor ao coração. Do mesmo jeito que um pedaço de nossos ossos não poderia falar de
sabedoria a nossa mente, assim era a mulher de um sábio o repreender em seus
caminhos! Elias odiou ainda mais o seu pai, por aquele sectarismo machista e
preconceituoso, onde os sentimentos e pensamentos de sua Mãe não eram considerados.
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CV. Tinha sempre um apoio ou proteção de alguém mais importante que ele. No
entanto, ali estava um homem que não poderia ser superestimado pela aparência.
Deveria ter uns 60 a 70 anos, era baixo e franzino. O rosto moreno e miúdo dava-lhe
uma aparência de pessoa frágil e desprotegida. Suas roupas de atendente da repartição já
estavam velhas e puídas, parecendo-se com o uniforme de um zelador de condomínio de
periferia. Elias riu de si mesmo, por estar tentando usar a aparência para enganar alguém
que tinha a pretensão de fazer o mesmo com ele.
Dona Jerônima disse que acabara de vender uma casa, num bairro nobre de São
Paulo, agora queria investir o capital em mais uma fonte de renda, afinal, aposentadoria
era coisa para uma vida toda. Quando Elias abriu a bolsa cheia de dinheiro falso,
percebeu nos olhos de Inácio Leite o brilho da ambição: já tinha visto aquele olhar
várias vezes na vida, mas ver que um de seus personagens conseguiu desperta-lo em
alguém tão inteligente, mexeu com sua vaidade. O velho Inácio foi tão curioso quanto
inoportuno ao perguntar-lhe o valor da venda do imóvel, como sabia a quantia que
trazia na bolsa, Dona Jerônima disse o valor exato, disse também que ali estava todo o
dinheiro. Imediatamente outros estelionatários apareceram como ajudantes do falso
atendente. Elias entendeu pelo tom de voz usado por ele que tudo que era falado dentro
da repartição poderia ser ouvido nos outros cômodos (isso queria dizer que a quadrilha
dispunha de tecnologia, como escutas embutidas, microfone sem fio, câmeras e micro
câmeras). O grupo era bem mais organizado do que imaginou.
Estavam todos reunidos, mas Elias não sabia como ir a alguma parte da
repartição e ligar para Jorge Fagundes, ainda havia o risco dos golpistas descobrirem
que o dinheiro da idosa era falso. Foi então que Dona Jerônima pediu licença ao
atendente, para ir ao carro de sua neta estacionado defronte o prédio da repartição, só ia
avisar a moça para que não estranhasse sua demora. Inácio Leite, cortês e educado se
ofereceu para acompanhá-la, a anciã dispensou o cuidado do golpista; deixou a bolsa
com dinheiro falso sobre uma mesa e desceu os lances de escada correndo, para ligar ao
Jorge Fagundes.
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material a prova de som: a fome tornaria os gritos dos encarcerados fracos demais para
serem ouvidos. Inácio Leite disse que não tinha aquela quantia em mãos, tinha dinheiro
em forma de patrimônio, se o Investigador Otavio quisesse ele pagava 50 mil naquele
dia e o restante em 30 dias. Voltou para sua cela e 20 horas depois; sem água e comida,
decidiu negociar. Ele pagaria 50 por cento do valor pedido e seus cúmplices pagariam o
restante. Um a um os estelionatários eram conduzidos aos locais do dinheiro, sob a
promessa de serem libertados, mas apenas depois que a quantia estivesse liquidada.
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