Sermão do 12º. Domingo depois de Pentecostes – Setembro de 2019
Evangelho: S. Lucas (10, 23 – 37) Caríssimos irmãos, permitam-me voltar um pouco ao que eu falava no domingo passado, porque preciso fazer com que, repetindo aquelas palavras, pouco a pouco a realidade que foi levantada no sermão vá entrando na alma de vocês, vá se descortinando a realidade e a responsabilidade de cada um. Não podemos simplesmente fazer com que as coisas aconteçam de qualquer jeito, sem que haja responsabilidade, sem que haja uma atenção de nossa parte. Se é verdade que o mundo que detesta Nosso Senhor Jesus Cristo, que detesta a Igreja, exige de nós o martírio da Castidade, se eles se riem de nós cada vez que uma pessoa cai no desgraçado pecado da carne, então nós devemos ter uma atitude forte, uma atitude sobrenatural, uma atitude de reação contra o incenso que o mundo moderno pede aos homens que queimem ao falso deus. E esse incenso é a impureza. No meu modo de ver esse incenso é a impureza. Se houver uma compreensão de todos nós, de que não devemos lutar contra os pecados da carne, a pornografia e todo esse mundo, simplesmente com a ideia: “ah é verdade! Pode ser que eu vá para o inferno” – mas porque a Igreja está sendo cuspida, acuada, destruída por causa da fraqueza das almas dos católicos, então cabe a nós uma reação. Uma reação forte! Uma reação de vitória, que confia na graça de Deus para termos um retorno dessa atitude mais combatente, que é necessária. É claro que, uma vez que nós estejamos empenhados em mudar o nosso comportamento, em mudar a tática da tentativa de vitória contra os pecados da carne, uma vez que nós compreendamos que é necessário destruir todas as portas abertas para o pecado, então virá sobre o nosso coração a Graça. E é baseado nesta Graça, ou seja, na vida sobrenatural, na vida de Deus, do Deus que virá morar no nosso coração, agora sim livre dos vícios. Agora sim, já tendo compreendido que não são mais atitudes minhas, pessoais, mas atitudes da Igreja, e que ela se levanta para destruir a idolatria deste mundo; a idolatria que praticamos quando caímos no pecado da carne. Então haverá espaço em nossos corações para outros assuntos, estaremos sendo vencedores sobre aquilo que destrói a concentração, que destrói toda a espiritualidade, que amassa nosso catolicismo e o joga no lixo. Se nós formos vencedores nisso, haverá lugar para nós pensarmos em outras coisas. E o que vamos nós pensar quando tivermos dominado essa questão? Eu disse “dominado a questão”? Não me refiro apenas àquele esforço de praticar a castidade e ver que, ufa! Deu certo! Não! Dominados no ato da nossa vontade, porque nós determinamos com a nossa vontade que todos os meios oferecidos pelo mundo para a nossa queda serão jogados no lixo, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Uma atitude geral, total, imediata e completa. Nessa hora nós olharemos em volta e vamos dizer: “o que vou eu fazer? Já não entro mais na internet, já não tenho mais um celular para ver uns vídeos pornográficos... e agora, o que que eu faço”? Ah, agora vamos poder ler e aprender a olhar a vida com maior profundidade. Agora vamos rezar. Agora vamos cumprir nosso dever de estado com mais eficácia. Agora vamos cuidar da família. Vamos olhar para os nossos filhos e dar a eles o tempo que eu antes dava para o computador. Tantas coisas que nós vamos poder começar a fazer para restaurar uma vida católica dentro da nossa casa, que seja na nossa vida individual de um solteiro, de uma criança, na vida social de um casado, que tem chefia da sua casa ou da esposa que deve embelezar sua casa. Ah, qualquer um de nós vai ter a disponibilidade do coração para cuidar das coisas sérias. E que são essas coisas sérias? “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças, e amarás ao próximo como a ti mesmo”. Ah sim, “ ...faz isso e viverás”! É a resposta de Nosso Senhor. “ Faz isso e viverás. O que significa “viverás”? Duas coisas: a primeira, viver da Graça. A segunda, viver da Glória. Aqui nesse mundo vamos viver da Graça porque Nosso Senhor terá o prazer de estar conosco o tempo todo, de abençoar nossas empresas espirituais e temporais, como rezamos na consagração. Nosso Senhor vai embelezar nossa vida com a luz do Céu, com a luz daquilo que Ele realiza em nós. Quantas e quantas vezes nós paramos e dizemos “Nossa! Como Nosso Senhor foi bom para mim”, “como Nosso Senhor acertou um problema que eu tinha”, “como Nosso Senhor trouxe a solução para um problema grave que me retinha”; seja no trabalho, seja na casa, seja nos estudos... E as coisas passaram a funcionar. Porque? Simplesmente por que, não apenas eu fui ao confessionário e me confessei, estou em estado de Graça, mas eu mudei a minha vida, eu sou uma nova criatura em Deus Nosso Senhor. Eu vivo da fé porque o justo vive da fé. E nós viveremos a vida católica como a Igreja sempre nos ensinou. Essa vida de hoje, uma vida falsificada, isso não é ensinamento da Igreja. Essa vida que vai se arrastando, em que o pecado é cada vez mais um vício, na qual, cada vez mais longe de nós fica a luz da Graça, isso não é vida da Igreja, isso não é a vida do católico. Isso é a vida de um católico derrotado, de um católico que se entregou à idolatria do mundo moderno que é a impureza. Ah, esse católico não consegue se concentrar, não consegue estudar, não consegue rezar. Faz isso tudo, mas faz pela metade, não faz com todo seu amor, não faz com todo seu coração, não faz com todas as suas forças. Então o amor de Deus fica relegado a um segundo plano. O que importa é o meu conforto. E nos desculpamos sempre: “ah! Por que quando eu chego em casa, eu estou cansado, por isso eu preciso abrir a internet e ver aquelas coisas; e vendo aquelas coisas, acabamos vendo outras coisas; e vendo outras coisas chegamos no abominável pecado” ... e tudo se destrói. E aquilo que era um edifício de beleza, um edifício formoso, um edifício de alegrias e de paz vira um amontoado de escombros. Essa é a vida do católico que peca, e volta a pecar e peca novamente, porque não consegue sair daquela lógica infernal de um mundo que exige de nós o pecado. Como que nós poderíamos imaginar que nos tempos modernos, nos tempos atuais, seria possível pensar em pequenos focos de cristandade, de gente santa? Quando se olha para o mundo atual e vemos aquilo que eu dizia no domingo passado, da oposição, do ódio que o mundo atual tem à Igreja e a Nosso Senhor Jesus Cristo, poderíamos correr o risco de dizer: “não, santidade não é possível! Santidade nós não conseguimos. Também não exija tanto”! E eu me pergunto: é assim que Nosso Senhor entende? Esta é a vontade de Deus? Que nós sejamos medíocres? Que a nossa fé e a nossa vida religiosa, nossa vida espiritual se limite a nós virmos à missa no domingo e quando formos fazer nossas orações é meio corrido porque não dá tempo? É isso que Nosso Senhor espera de nós? Onde está aquele amor que é troca de outro Amor? Onde está aquele amor nosso que é devolução a Nosso Senhor pelo amor que Ele nos teve morrendo na Cruz por nós? Até que ponto vai o nosso amor, o primeiro mandamento: “Amar a Deus, com todas as forças, com toda a alma...” como nós acabamos de ouvir de um doutor da lei! De um doutor qualquer! De um homem que quer tentar Nosso Senhor! Nós não aprendemos isso para tentar Nosso Senhor, nós aprendemos isso no colo de nossas mães, no catecismo... Primeiro mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas. Com toda sua força, com toda a alma, com todo o espírito, com toda a inteligência, e ao próximo como a si mesmo. E repetimos. A gente ouve a Igreja nos lembrar: “o que significa o amor do próximo como a si mesmo”? Significa em primeiro lugar amar a si mesmo. Dar valor à sua salvação eterna e trabalhar para que essa salvação seja eficaz e efetiva. Como? Fechando as portas dessa idolatria moderna do pecado. É claro que não é só o pecado da carne, nós sabemos muito bem. Mas o pecado da carne é como que o fogão a lenha. O fogo está ali, alimentando, alimentando, esquentando, o tempo todo. E dali saem os gases, dali sai a fumaça, dali saem os outros pecados. Queima tudo. Nossa vida se torna um carvão ardente de pecados. Então se nós pensamos: aquele homem do Evangelho pergunta para Nosso Senhor: “que devo eu fazer para ter a vida eterna”? E Nosso Senhor diz: “está escrito na lei. Amarás ao Senhor teu Deus e ao teu próximo como a ti mesmo” e todo o resto que acompanha. Hoje, se nós perguntássemos a Nosso Senhor: “qual o primeiro passo para amar a Deus acima de todas as coisas”? Desliga o computador. Dá uma martelada no celular. Salva-te dentro da tua casa, proteja-te dessa entrada do pecado que todo mundo aceita. Todos estão com as portas abertas ao pecado e dizem em sua cegueira: “eu sou muito católico! Eu sei lidar com isso, eu já ultrapassei esse estágio” E cai! E cai! E cai de novo! Eu gostaria de receber uma pessoa que dissesse assim “Eu vejo isso tudo e não caio no pecado”. Não existe isso. A natureza humana não permite isso. Então, quando nós ouvimos Nosso Senhor contando esta bela parábola para explicar àquele doutor da lei, ... não é a qualquer um. Era um homem que estudava, lia, meditava – O que é amar ao próximo como a si mesmo, o que é desenvolver seu coração na vida da caridade, na vida do amor, contando a vida daquele bom samaritano, lembrem-se: os dois que Nosso Senhor fez questão de assinalar, os dois que não foram socorrer aquele homem, eram um sacerdote e o outro levita. Um responsável pelo sacrifício e o outro responsável pelo templo. Não eram quaisquer pessoas, eram os mais elevados em Israel e não souberam ter para com aquele homem a compaixão que o Samaritano – que não era do povo escolhido, que era do cisma, que estava longe de Deus – aquele bom samaritano teve compaixão, simplesmente porque encontrou o seu próximo necessitado, foi até ele, e curou suas chagas e pagou pela estada dele. E nós? Quando o nosso coração se libertará do peso que ele carrega, para também ele olhar em volta e descobrir “Veja quanta gente”! “Veja como esse mundo é belo”! “Como é bom nós estarmos entre irmãos” como diz lá o Salmo “Como é bom convivermos entre irmãos”, e principalmente dirá São Paulo “com os irmãos da fé” com os irmãos batizados, com os irmãos que morrem comigo no altar todo domingo. Se nós pretendemos viver da caridade, se nós pretendemos fazer com que nossa ajuda ao próximo tenha algum valor de vida eterna, temos que primeiro dominar nossas reações carnais e depois olhar para Nosso Senhor e colocar a vida de Deus, a vida da Igreja, a vida da graça no seu devido lugar. E então, naturalmente, melhor dizendo, sobrenaturalmente, virá diante de nós a compaixão pelos nossos irmãos, a união de amor e de oração que realizamos todos os dias diante do nosso altar. Que estejamos em casa ou que estejamos aqui, o altar estará sempre presente diante de nós, porque é ali onde nós morremos. É ali onde nós, misticamente, estabelecemos nosso túmulo. Estamos mortos com Cristo para ressuscitarmos com Ele. São Paulo desenvolve isso diversas vezes. Então, que o bom samaritano seja para nós modelo, exemplo, daquele que, ultrapassando os limites desta vida, os limites do simplesmente natural, alcança por uma visão sobrenatural da caridade, o amor do próximo como a si mesmo, o amor de Deus acima de tudo. O amor e o desejo do Céu. Desejo da glória eterna, já praticada hoje estabelecendo os critérios de santidade que nos são necessários, como Nosso Senhor espera de nós e nos dá a graça para isso, para alcançarmos a vida eterna. Em Nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.