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http://dx.doi.org/10.

1590/2316-82422016v37n1cla

Nietzsche e Paul Rée:


Acerca da existência de
impulsos altruístas
Clademir Luís Araldi*

Resumo: Investigaremos a discordância entre Nietzsche e


Paul Rée no que tange à existência de impulsos altruístas no
ser humano. Paul Rée, em A origem dos sentimentos morais (der
Ursprung der moralischen Empfindugen), afirma existirem no
homem tanto impulsos egoístas quanto altruístas. A partir da
teoria da evolução de Darwin, ele desenvolve uma psicologia
moral evolucionista, enfatizando o caráter naturalista das atitudes
altruístas. Analisaremos as críticas de Nietzsche ao modo altruísta
de valorar, desde Humano, demasiado humano, tendo em vista a
discussão que ele trava com Paul Rée acerca do estatuto do hábito,
dos costumes e dos motivos das ações. O novo modo de considerar
o prazer, especialmente na intensificação do sentimento de poder,
marca uma nova orientação acerca da origem e desenvolvimento
dos sentimentos morais, em que o egoísmo ocupa um lugar central.
Palavras-Chave: impulsos - egoísmo - altruísmo - prazer -
sentimentos - moral

Paul Rée, Darwin e o altruísmo

A descrição e a valoração da existência de impulsos altruístas


na obra de P. Rée A origem dos sentimentos morais (Der Ursprung der
moralischen Empfindungen, 1877) estão fortemente ligadas à teoria
da evolução de Darwin e à ética da compaixão de Schopenhauer.
Rée pretende, desse modo, naturalizar a compaixão não-egoísta e
a-histórica de Schopenhauer, ao mesmo tempo que pretende aplicar

*
Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil.
Correio eletrônico: clademir.araldi@gmail.com

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os resultados da teoria de Darwin para o campo moral1. Como ele


pretende efetivar isso?
Para o escopo deste artigo, basta mostrar em que sentido Rée
se apropria da teoria científica de Darwin. No início de A origem dos
sentimentos morais o pensador judeu-pomerano atribui a Lamarck e a
Darwin o mérito de remeter “os fenômenos morais a causas naturais”.
Essa explanação naturalista é resumida na seguinte frase: “Os animais
superiores desenvolveram-se mediante seleção natural a partir dos
animais inferiores; assim sendo, os seres humanos provieram dos
macacos”2. Sirvo-me aqui da análise de André Luís M. Itaparica,
de que as investigações de Rée sobre a moralidade seguem em
larga medida, as teses que Darwin apresentou em The descent of
man (1871).3 Importante é notar que a ênfase da história natural
de Rée está na gênese e no desenvolvimento do altruísmo. Nesse
sentido, o “moralista darwiniano”4, logo a seguir, colocará o foco
na distinção entre 1) o impulso egoísta (der egoistische Trieb) e 2)
o impulso não-egoísta (der unegoistische Trieb). É uma distinção
bem schopenhaueriana! O primeiro impulso permite a cada ser

1  Cf. SMALL, R. Translator’siIntroduction. In. Basic writtings. Illinois: University of Illinois


Press, 2003, p. XXV.
2  RÉE, P. Basic writings. Translated and edited by Robin Small. Urbana, Chicago: University
of Illinois Press, 2003, p. 92.
3  ITAPARICA, A. L. Nietzsche e P. Rée. “O projeto de naturalização da moral em Humano,
demasiado Humano”. Pelotas, Dissertatio 38, 2013, p. 61.
4  Emmanuel Salanskis compreende Paul Rée e Nietzsche como “moralistes darwiniens”, tendo
em vista que ambos procuraram nessa época aplicar os resultados da teoria da evolução de Darwin
no campo da moral. O que caracteriza o projeto de P. Rée, segundo Salanskis, é a tentativa de unir
uma tradição moral (literária) com uma teoria científica, no caso, a teoria da evolução de Darwin.
Cf. SALANSKIS, E. “Moralistes darwiniens: les psychologies évolutionnistes de Nietzsche et Paul
Rée”. Nietzsche-Studien, vol. 42, Berlim: de Gruyter, 2013, p. 46. Consideramos relevante o modo
como Salanskis trata da influência filosófica de Paul Rée em Nietzsche, na época de Humano,
demasiado humano, à medida que permitiu a construção de uma psicologia inspirada tanto nos
moralistas franceses quanto no evolucionismo darwiniano. Sem dúvida, Rée se concentra mais
neste projeto delimitado de naturalização da moral, enquanto Nietzsche se preocupa em avançar
em suas abordagens psicológicas, recorrendo a outras fontes filosóficas, históricas e literárias.

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humano preservar-se, bem como satisfazer seu instinto sexual e sua


vaidade (esse último traço é reforçado nas análises de Rée); o segundo
impulso diz respeito à compaixão e à benevolência5. Da perspectiva
do agente, o bem de um outro ser humano é o fim último de sua
ação6. Schopenhauer valorizava a teoria da evolução (teleológica) de
Lamarck em sua ética da compaixão. Mas ele teria ficado a meio do
caminho, por não conseguir explicar de modo satisfatório a origem
das ações altruístas, remetendo-a a uma metafísica da substância
(da Vontade una, na multiplicidade de seus fenômenos). Rée expõe
brevemente como outros filósofos explicaram a compaixão. Hume
(a quem abordaremos no ponto 2) avança em relação a Hutcheson,
mas não explica de modo satisfatório a existência da benevolência
(apenas a deriva da constituição original de nosso temperamento).
É Darwin quem fornece uma explanação naturalista satisfatória
da gênese das ações não-egoístas. Animal gregário, o homem
desenvolveu capacidades intelectuais e aprimorou seus instintos
sociais. A sociabilidade, da qual nasceu o sentimento (paixão) da
simpatia, é própria de espécies animais. A moralidade humana teria
sempre evoluído desses instintos de rebanho (algo tão difícil para
Nietzsche admitir), da linguagem, da memória e dos costumes deles

5  Christopher Janaway constata uma dificuldade na argumentação de Paul Rée: se tanto os


impulsos altruístas quanto os egoístas são inatos no ser humano, o que garante que o altruísmo
se torne preponderante, tendo em vista que os impulsos egoístas são naturalmente mais fortes?
Assim Janaway formula o problema: “ If egoism is dominant, how is it possible to act in the
interest of others or to have the unegoistic feelings or traits of character?” JANAWAY, Christopher.
Beyond selflessness: reading Nietzsche’s Genealogy. New York: Oxford University Press, 2007,
p. 75. Paul Rée recorre a Darwin para assegurar que as ações e atitudes altruístas ocorrem
naturalmente. Assim sendo, Rée conseguiria explicar como a moral surgiu, a saber, porque
sentimentos positivos foram associados a esses comportamentos naturais altruístas. Nietzsche
passa a discordar de Rée em relação ao caráter naturalista dos instintos sociais. Importante é
notar aqui a dificuldade de Rée em provar que através da cultura e das motivações individuais,
o egoísmo passou a ser censurado, à medida que sentimentos negativos foram associados a ele.
Nessa origem utilitarista da moral, bom não é um valor intrínseco. Assim, não poderia haver
uma justificação naturalista coerente da superioridade (e exclusividade) do modo altruísta de
valorar. Sentimentos positivos também podem ser associados ao egoísmo.
6  RÉE, P. Basic writings. Op. cit., p. 89.

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decorrentes. Assim como Schopenhauer, Rée afirma que ações não-


egoístas podem ser empiricamente constatáveis. Dos muitos exemplos
diários e historicamente constatáveis, ele conclui: “Assim, há um
interesse não egoísta no destino dos outros, que pode ser chamado
de compaixão, benevolência ou amor ao próximo”7. Ele recorre a
Darwin, para mostrar que as ações não egoístas têm origem em nossos
antepassados, os primatas:

Assim como muitas espécies animais, como as abelhas e as formigas,


nossos ancestrais, os primatas, possuíam um instinto social. [...] O instinto
social surge como uma extensão do instinto parental, e é então mantido
e fortalecido por seleção natural, ou seja, pelo fato de que as espécies
animais, cujos membros estavam mais fortemente ligados por instintos
sociais triunfaram sobre outras espécies, e assim se conservaram”8.

O amor da mãe por seu filhinho é o exemplo mais elucidativo


que Rée utiliza para mostrar que ações altruístas existem: “uma
mãe que vê seu filho sofrer não sente dor porque imagina que o
filho está sofrendo [...], mas é justamente o fato de que o filho sofre
que a faz sentir dor”9. Contra Helvétius (e Nietzsche), Rée afirma
a efetividade de ações não-egoístas: “o que me incomoda é que o
outro sofra”; a dor que sinto pelo sofrimento do outro e os esforços
que faço para aliviá-lo não são uma mera representação de minha
dor, ou das tentativas para aliviá-la (como no caso da compaixão
egoísta). É preciso, desse modo, explicitar o motivo dessas ações
(o sofrimento do outro), em ligação com o sentimento de prazer e
desprazer, com o caráter do agente e com os costumes sociais. Temos
de retornar a Hume.

7  RÉE, P. Basic writings. Op. cit., p. 91.


8  RÉE, P. Basic writings. Op. cit., p. 92.
9  RÉE, P. Basic writings. Op. cit., p. 90.

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Paul Rée, Hume e Schopenhauer: a naturalização do


altruísmo

Segundo Hume, o embate próprio no mundo humano se daria


entre paixões fortes e fracas, calmas e violentas, desvinculado de
qualquer faculdade extrínseca à Natureza Humana (sentimentos
morais estão alojados na Natureza Humana). O necessitarismo aplicado
às ações permite explicar o modo como os objetos nos afetam, a
partir das impressões que resultam imediatamente do prazer e da
dor. Na complexa relação entre impressões e ideias, é a paixão que
se coloca como princípio da ação.
Se os seres humanos são dotados naturalmente de certas
paixões, compreendidas como “existências originais”, é preciso
descrever como as ações, sentimentos e pensamentos se inserem
e interagem no curso necessário do mundo. Hume pressupõe uma
estrutura fixa de paixões (do mesmo modo como Schopenhauer ainda
defende a fixidez das espécies).
A inserção da vontade e dos sentimentos morais nas paixões
diretas é problemática na psicologia moral humiana, à medida que
questionamos se há uma Natureza que simplesmente estabeleceu
uma conexão entre nossas paixões e “certos fins objetivos”10, p.
ex., a pressuposição de que há um altruísmo original e invariável
no amor. O caráter desinteressado das paixões, do mesmo modo,
é apenas pressuposto. Essa estrutura e configuração de paixões,
pré-determinada pela natureza humana, excede os limites de uma
psicologia moral naturalista.
A simpatia é determinante no mecanismo de associação
das paixões. Apesar de não ser uma paixão, a simpatia (qualidade
notável da natureza humana), possui importantes funções morais,
que não foram consideradas por Paul Rée. Enquanto mecanismo,

10  Cf. a esse respeito, KEMP SMITH, Norman. The philosophy of David Hume. A critical study
of its origins and central doctrines. Londres: Palgrave Macmillan, 2005, p. 142.

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princípio de comunicação entre as paixões, a simpatia (simpathy)


realiza a “conversão de uma ideia numa impressão, pela força da
imaginação”11. Ela não altera diretamente a força da paixão, pois isso
depende do caráter do indivíduo e da posição e natureza do objeto.
Mas é de fundamental importância para determinar o modo como
as paixões calmas podem predominar sobre as paixões violentas, no
Tratado da natureza humana. Ela é a fonte de apreço “por todas as
virtudes artificiais”12. Novamente, esse “princípio muito poderoso
da natureza humana13” parece ser original, primário, sem história,
produzindo “nosso sentimento de moralidade em todas as virtudes
artificiais14” (e naturais também). Somente por simpatia o bem da
sociedade (alheio a nosso interesse) agrada.
Para Hume, originário é o princípio da simpatia, “que nos leva
a sair de nós mesmos, e sentir o mesmo prazer ante os caracteres dos
outros”15, úteis à sociedade. Rée, no entanto, procura naturalizar esse
“sentimento de aprovação e desaprovação” (sentiment of approbation
and blame) em relação aos dois tipos básicos de ações:
(1) As ações egoístas, nas quais o agente obtém seu bem-estar
às cultas dos outros; e (2) as ações não egoístas, nas quais o agente,
por vezes em detrimento de seu próprio bem-estar, busca o bem-
estar dos outros, ou abstém-se de causar danos em outras pessoas,
para seu próprio bem16.
A distinção bom – mau [gut – böse] consiste unicamente nessa
oposição entre ações egoístas, censuradas como moralmente más, e as
ações não egoístas, sentidas como moralmente boas, por aqueles que
foram beneficiados por sua utilidade. Nessa genealogia utilitarista,

11  HUME, David. A treatise of human nature. Op. cit., Livro II, Parte III, Seção 6, p. 302.
12  HUME, David. A treatise of human nature Op. cit., Livro III, Parte III, Seção I, p. 411 s.
13  “Simpathy is a very powerful principle in human nature”.
14  “Our sentiment of morals in all the artificial virtues”.
15  HUME, David. A Treatise of Human Nature. Op. cit., Livro III, Parte III, Seção I, p. 412
16  RÉE, P. Basic writings. Op. cit, p. 93.

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primeiramente foram censuradas ou elogiadas determinadas ações,


conforme o dano ou utilidade que ocasionaram. Dos impulsos altruístas
e egoístas que atuam efetivamente no ser humano, resultam ações
(altruístas ou egoístas), que, posteriormente, foram ajuizadas como
boas ou más17. Rée emprega o mecanismo de associação de ideias de
Hume e a força do hábito para provar que houve um vínculo duradouro
entre as ações boas e más e os respectivos juízos de bom e mau. O
elogio [approbation] e a censura [blame], ao contrário de Hume, que os
considerava “sentimentos naturais” [natural sentiments], constituem
para Rée um processo de desenvolvimento e de transmissão cultural.
Os impulsos altruístas e egoístas são inatos (em sentido biológico
darwinista). Entretanto, através da educação e dos hábitos adquiridos
e herdados em meio à cultura em que cada um está inserido, surgiu
um domínio valorativo, no qual as ações altruístas são sentidas e
julgadas boas. Ressalto aqui a contribuição de Itaparica, ao diferenciar
o aspecto biológico do altruísmo da atribuição valorativa que a ele
fazemos. Nesse sentido, o senso da moralidade não é inato, mas é
uma construção, uma convenção, uma “espécie de condicionamento
realizado pelo elogio e pela censura”18. Desenvolvemos em nosso
âmbito cultural o hábito de associar as ações altruístas aos impulsos
não-egoístas, que eles nos parecem indissociáveis. É somente de
modo convencional que a utilidade nos pareceu como o critério mais
natural de valoração. Rée, que discutiu longamente com Nietzsche
acerca da relação entre os impulsos (paixões) e os valores, abre uma
brecha para as invectivas de Nietzsche contra a moral da compaixão
e os impulsos altruístas. O altruísmo só se tornou um valor moral e
uma virtude num certo estágio evolutivo da espécie humana, graças
à seleção natural e à transmissão de características por meio de
hábitos e costumes. Rée apoia-se em Darwin; Nietzsche, por sua
vez, no “demônio do poder”, pressupondo que nós podemos ser

17  Cf. ITAPARICA, A. L. M. Dissertatio. Op. cit., p. 63.


18  Cf. ITAPARICA, A. L. M. Dissertatio. Op. cit., p. 63.

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condicionados (não só externamente) a considerar o egoísta como bom.


Paul Rée concorda com o estabelecimento da lei efetiva da
motivação, de Schopenhauer. Para provar que a “única motivação
moral genuína” reside no altruísmo, o filósofo pessimista insere os
seguintes pressupostos: 1) toda ação ocorre com um motivo suficiente
para o caráter do agente; 2) o bem-estar e o mal-estar são os móveis
da vontade; 3) toda ação refere-se a um ser com suscetibilidade para
o bem-estar ou mal-estar: esse ser pode ser o próprio agente ou outro
ser; 4) a ação egoísta é aquela “cujo fim último é o bem-estar e o
mal-estar do próprio agente”. Em decorrência disso, Schopenhauer
afirma que o egoísmo e o valor moral de uma ação excluem-se um ao
outro. Uma ação somente terá valor moral se não tiver nenhum motivo
egoísta. Portanto, “a significação moral de uma ação só pode estar na
sua relação com outros”19. Na ação justa e caritativa (compassiva)
haveria um motivo completamente desinteressado, o bem-estar de
um outro, o cuidado e a ajuda a um outro.
Se há vários pontos de contato na análise das ações e impulsos
altruístas em Paul Rée, Hume e Schopenhauer, importa agora
investigar como Nietzsche rompe com essas análises a partir de
Humano, demasiado humano.

Nietzsche: não há ações e impulsos altruístas

Nietzsche concorda com Rée em vários momentos de sua


abordagem da História dos sentimentos morais, no segundo capítulo
de Humano, demasiado humano, p. ex. nos aforismos 35-37, 39 e
45 (MA I/HH I, KSA 2.57-59, 62, 67). Importa-nos aqui investigar
as discordâncias em relação ao altruísmo. Com a arte da observação
psicológica (dos moralistas franceses) e com os instrumentos de
“dissecação psicológica” de que dispunha, Nietzsche pretende
desenvolver a História dos sentimentos morais [die Geschichte der

19  SCHOPENHAUER, A. Sobre o fundamento da moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 132.

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moralischen Empfindungen]. A defesa da existência de ações altruístas


estaria baseada em análises errôneas. Até um certo ponto, a análise
nietzschiana, com pretensões de ser verdadeira e efetiva, coincide
com a de Rée. Assim ele define as quatro principais fases da história
dos sentimentos morais até agora:
1) Primeiramente, as ações foram chamadas de boas e más,
por suas consequências (úteis ou nocivas);
2) Em seguida, esquecemos a origem dessas designações, sem
levar em conta as consequências. “Bom” e “mau’, nessa etapa, são
propriedades inerentes às ações;
3) Num terceiro momento, atribuímos as propriedades bom e
mau aos motivos;
4) Por fim, atribuímos o predicado bom ou mau [gut oder böse]
a todo o ser do homem, não somente a motivos isolados (cf. MA I/
HH I, 39, KSA 2.62).
A meta desse capítulo é restituir ao homem sua
irresponsabilidade. Nesse aforismo, é dado um passo importante,
à medida que o homem não é mais responsável pelos efeitos das
ações, nem por suas ações, por seus motivos e pelo seu próprio ser.
Nietzsche, que por essa época lia e discutia Lubbock com Rée, afirma
que o homem se constitui a partir do influxo das “coisas passadas e
presentes”, mas não menciona Darwin20. Entendo que Nietzsche se
esforça por delimitar as “fases da moralidade até agora”, para propor,
ele mesmo, uma guinada decisiva não só na filosofia moral, mas na
própria história da moral. No aforismo 94 de Humano, demasiado
humano I, ele afirma que até agora existiram três fases da moralidade.
O animal só se tornou “homem” quando: i) busca a utilidade pessoal
(a razão é um instrumento para isso); ii) ao agir pelo princípio da

20  A esse respeito, é significativa a análise de John Richardson: “Embora Nietzsche mencione
Darwin apenas esporadicamente, e, em geral, apenas para repreendê-lo, seu pensamento é
profunda e marcadamente darwiniano. Ele escreve à luz de Darwin, e depois dele, com uma
persistência consciente do cenário evolutivo”. RICHARDSON, J. “Nietzsche contra Darwin”,
Philosophy and Phenomenological Research, Vol. 65, No. 3 (Nov., 2002), p. 538.

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honra, o homem constitui-se como animal social, com sentimentos


e deveres comuns. É o tempo do indivíduo coletivo [das collective
Individuum]; por fim, iii) Nietzsche nomeia o grau mais elevado da
moralidade [Moralität] até sua época, o homem “age conforme a sua
medida das coisas e dos homens, ele próprio define para si e para
os outros o que honroso e útil; torna-se o legislador das opiniões,
segundo a noção cada vez mais desenvolvida do útil e do honroso”
(MA I/HH I, 94, KSA 2.91).
Essa terceira fase da moralidade, a “moral do indivíduo maduro”,
entra em conflito com as análises de Rée justamente em relação ao
altruísmo. Tal moral afirma que em cada ação é preciso ter em vista
o interesse pessoal, como seu bem supremo. O ponto fraco desse
argumento, a recaída no âmbito das análises de Rée, é a afirmação
utilitarista de que no interesse mais pessoal encontra-se a “maior
utilidade para o conjunto” (MA I/HH I, 94, KSA 2.91). A guinada
ocorre propriamente no parágrafo 96, quando Nietzsche define ‘bom’
como aquele que “obedece de bom grado ao que é moral”, ou seja,
aos costumes. “‘Egoísta’ e ‘altruísta’ não é a oposição fundamental
que levou os homens à diferenciação entre moral e imoral, bom e
mau, mas sim estar ligado a uma tradição, uma lei, ou desligar-se
dela” (MA I/HH I, 96, KSA 2.92). São temas que serão desenvolvidos
em Aurora (M/A, 9, obra em que Spencer ironicamente é um aliado
de Nietzsche contra a hipótese psicológica de Rée). Entretanto, a
análise dos hábitos, dos costumes e do prazer a eles ligados, marca
a separação entre os dois pensadores. Eles permanecem ligados
à noção de conhecimento libertador, ao projeto vago de construir
modos de vida não morais, sem coação ou obrigação. Parece-me, já
nesse momento, que o filósofo de espírito-livre não suporta nenhuma
amizade, estelar21 ou terrena.

21  Acerca do desenvolvimento e da extinção lenta da “amizade estelar” entre Nietzsche e Paul Rée,
confira SMALL, R. Nietzsche and Rée. A star friendship. Oxford: Oxford University Press, 2005.

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Prazer e instinto social

O novo método de investigar os impulsos e as ações humanas,


presente desde Humano, demasiado humano I (1878), está fortemente
ligado às noções de prazer e desprazer [Lust und Unlust]. Nessa
investigação de cunho preponderantemente psicológico, todas as ações
individuais humanas teriam como meta o prazer e a fuga da dor. Não
haveria uma distinção (moral) entre “boas” e “más” ações, pois todas
elas são motivadas pela busca individual da obtenção e incremento
do prazer: “Todas as ‘más’ ações são motivadas pelo impulso de
conservação ou, mais exatamente, pelo propósito individual de buscar
o prazer e evitar o desprazer” (MA I/HH I, 99, KSA 2.95).
Essa análise psicológica aparece articulada com considerações
históricas, à medida que Nietzsche vincula a formação do sentimento
moral com as sensações prazerosas que o indivíduo encontra em si
mesmo, e com os novos tipos de prazer advindos da longa história da
formação da sociabilidade. Foi sempre a busca obstinada de prazer
que moveu os indivíduos a controlar as paixões próprias que poderiam
impedir o acesso a novas fontes de prazer, à medida que suas paixões
colidem com outras individualidades, com o mesmo objeto de desejo
(p. ex., de uma propriedade). O “instinto social”22 surge como uma
nova forma de prazer, adquirida com esforços contínuos e múltiplos. A
ampliação do domínio das sensações de prazer decorrente das relações
humanas tornou o homem “melhor” em relação ao estado natural
pré-civilizatório. A segurança e o bem-estar em desfrutar prazeres
comuns diminuíram a hostilidade “natural” entre os humanos, graças
à ficção emergente da empatia.

22  Recordemos que para Rée, em Der Ursprung der moralischen Empfindungen, os instintos
sociais são compreendidos de modo naturalista, a partir da teoria da seleção natural de Darwin.
Esse impulso natural para cuidar dos outros somente se torna um fenômeno moral no mundo
humano. Assim se explicariam as sensações prazerosas concomitantes às ações altruístas (RÉE,
P. Der Ursprung der moralischen Empfindungen. In Gesammelte Werke (1875-1885). Org. por
Hubert Treiber. Berlim: de Gruyter, 2004, p. 131 s.

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As manifestações de prazer semelhantes despertam a fantasia da empatia


[Phantasie der Mitempfindung], o sentimento de ser igual: o mesmo fazem os
sofrimentos comuns, as mesmas tormentas, os mesmos perigos e inimigos.
Com base nisso se constrói depois a mais antiga aliança: cujo sentido
é defender-se e eliminar conjuntamente um desprazer ameaçador, em
proveito de cada indivíduo. E assim o instinto social nasce do prazer (MA/
HH I, 98, KSA 2.95).

O que conta nessa perspectiva filosófica é a manutenção e


o incremento do poder do indivíduo. Tanto no estado anterior à
sociabilidade quanto na história da moralização. Nas presumíveis
ações “más”, que teriam como meta o sofrimento alheio, e nas ações
compassivas, que, ao contrário visam o bem do outro (na diminuição
de seu sofrimento), estão em jogo apenas diversos elementos de prazer
pessoal, que no fundo expressam o prazer do exercício do poder, da
superioridade em relação ao que sofre. Ser causa do sofrimento do
outro ou querer aliviar sua dor seriam formas de ações egoístas (cf.
MA I/ HH I, 103, KSA 2.99).
O sentimento da simpatia, nessa perspectiva, não é natural.
Natural é o temor e antipatia em relação ao estranho (cf. Nachlass/
FP 1880, 4[123] KSA 9.132). Esse sentimento dificilmente ocorria
nos tempos selvagens e guerreiros. Assim, o medo é o pai da moral. O
medo ante o incerto, ante outros homens, ante a natureza, fez com que
o homem primitivo (sem discernimento da “causalidade efetiva”) se
submetesse a regras de uma autoridade superior. O filósofo solitário
opera com as noções de sentimento de poder [Gefühl der Macht] em
1877, de prazer no poder, de medo [Furcht] e vontade de potência
[Wille zur Macht] em sua hipótese pré-genealógica. O prazer no
poder decorre sempre do desprazer na impotência [Unlust an der
Ohnmacht]. O vínculo dos sentimentos morais com a sociabilidade
é determinante, devido à alta estima dos seres humanos pela opinião
dos outros. Em relação à vaidade, percebe-se a influência de Rée na
filosofia do espírito livre. Entretanto, ao operar com a noção de medo

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Nietzsche e Paul Rée: Acerca da existência de impulsos altruístas

como base naturalista da vida do homem primitivo, Nietzsche se


distancia de Rée, e valoriza mais a hipótese genealógico-psicológica
de Herbert Spencer acerca da origem da moral.
Nietzsche ressalta o caráter egoísta das paixões para, no final
do segundo capítulo de Humano, demasiado humano I, afirmar a
inocência e irresponsabilidade do homem na corrente do mundo: “O
egoísmo não é mau, porque a ideia de ‘próximo’ [...] é muito fraca
em nós [...]. Saber que o outro sofre é algo que se aprende, e que
nunca pode ser aprendido inteiramente”. Tanto a maldade quanto à
ação compassiva seriam formas de fruição de si mesmo (MA I/HH I,
103, KSA 2.99). O que há de mais oposto a Rée e a Schopenhauer
do que afirmar que a maldade não visa ao sofrimento alheio, e que
a compaixão não intenta o bem do outro?
A coerção do indivíduo coletivo sobre os seres humanos
individualizados é vista como necessária para o surgimento da
moralidade (cf. MA I/HH I, 99, KSA 2.95). O processo da eticidade
[Sittlichkeit] opera uma transformação radical, à medida que a
coerção se torna costume. A força do hábito e dos costumes tornaria
prazerosa a prática de ações, que bem mais tarde passam a ser
chamadas de “morais”. O caráter ético [sittlich] de uma ação, desse
modo, é constituído pelo efeito prazeroso dos costumes. Nietzsche,
entretanto, diz que o hábito, por ser um gênero de prazer, é “fonte
da moralidade” [Quelle der Moralität]. Hábitos praticados de bom
grado não são apenas agradáveis, mas também úteis. Assim, após
muitas repetições, os hábitos que valem para os indivíduos como
sua única condição de existência são adotados por uma comunidade
ou povo, constituindo sua eticidade (cf. MA I/HH I, 97, KSA 2.94).
É no indivíduo, contudo, que os hábitos (ligados a costumes
legitimados socialmente) prazerosos serão sentidos como morais. É
o sentimento, potencializado pela apreciação e valoração subjetivas
das ações prazerosas, que engendra o caráter moral das mesmas.
Na abordagem histórico-psicológica nietzschiana não há observação

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Araldi, C. L.

ou perspectiva da terceira pessoa, ou de um espectador judicioso.


Nesse ponto já nos deparamos com a interrogação: esse processo
denota um domínio moral objetivo das ações ou é somente um
âmbito valorativo, próprio de um indivíduo que estima e interpreta
seguindo convenções socialmente aceitas? Por se sentir valioso e
vinculado a uma comunidade, o indivíduo decidiria espontaneamente
obedecer aos valores e às leis de uma comunidade moral. O prazer no
costume constituiria uma espécie de segunda natureza, noção pouco
desenvolvida no período intermediário, apesar de sua importância.
Longe de defender um cirenaísmo na ética, o autor de Humano,
demasiado humano pretende atingir formas mais elevadas, mais
sutis e mais espirituais de prazer. O prazer, especialmente o prazer
no exercício do poder, é o critério para a valoração das ações. Prazer
não é entendido nesse contexto como um mero epifenômeno dos
impulsos; ele não é um sentimento ou uma sensação decorrente,
mas está intrinsecamente ligado aos impulsos naturais, originais,
dominadores e expansivos do homo natura.
Os sentimentos morais são vistos como expressões de desejos
de exercer poder sobre outros. Fazer bem e mal a outros são formas de
exercer o poder sobre eles. Na obra que encerra o período da filosofia
do espírito livre, A gaia ciência, o filósofo solitário propõe uma “teoria
do sentimento de poder”, na qual dor e prazer são instrumentos para
aumentar o poder (cf. FW/GC, 13, KSA 3.384). Não encontramos
ali, contudo, a pedra de toque do pensamento ético nietzschiano.
Essa psicologia dos impulsos morais não expõe como surgem os
valores a partir das avaliações e formas de vida. Tudo dependeria
apenas de como o indivíduo “tempera a sua vida”. Ou seja, é uma
questão de gosto, do temperamento de indivíduos, tanto dos nobres
quanto dos compassivos (no deleite com suas próprias ações belas).
Dos sentimentos de dor e prazer não se depreendem naturalmente
valores e virtudes tipicamente morais. No parágrafo 107 de Humano,
demasiado humano, Nietzsche se atém ao “desejo de autofruição

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Nietzsche e Paul Rée: Acerca da existência de impulsos altruístas

do indivíduo”, que seria o motivo de todas as ações humanas. Essa


busca de prazer não guia ao âmbito moral, uma vez que invalida
uma separação entre boas e más ações. Com Rée, Nietzsche propõe
uma transmutação da humanidade: da humanidade moral em sábia.
Alguns raros e enobrecidos homens, no entanto, poderiam conquistar
a liberdade de espírito – para estabelecer novos hábitos e por eles
serem regidos. Mas esse seria um lento processo de milênios, sob
o sol do conhecimento purificador das ciências naturais e da gaia
ciência de Nietzsche. Em nosso incipiente e confuso século XXI,
contudo, não vemos nada parecido como uma humanidade mais sábia!
A vontade de potência [der Wille zur Macht] servirá aos propósitos
de Nietzsche, de provar que o “demônio do poder”, o sentimento de
poder, impulsiona todas as ações humanas, desenvolvendo (ampliando
e ‘fantasiando’) a abordagem psicológica de La Rochefoucauld e de
Helvétius. Rée possui um programa naturalista mais estruturado,
posicionando-se claramente em relação a Schopenhauer, a Hume
e a Helvétius, procurando desenvolver a teoria da evolução de
Darwin numa perspectiva teórico-moral. Podemos perceber o difícil
distanciamento de Nietzsche em relação a Schopenhauer, que é
transposto num “diálogo de mortos-vivos”. O entusiasmo de Nietzsche
pelas ciências naturais decanta-se num naturalismo sui generis, em
que a necessidade dos métodos rigorosos das ciências não serve ao
conhecimento (descrição) da natureza humana, mas sim à arte de viver
do espírito livre. Nietzsche tem enormes dificuldades em transpor
as propriedades dos impulsos e instintos puramente naturais para o
âmbito dos valores. Contrapondo-se decididamente a Paul Rée, ele
esforça-se por negar a existência de qualquer impulso altruísta. Se
a qualidade que distingue e vige em tudo o que vive, sente e quer
é a intensificação do poder, então não há espaço para a compaixão,
para a benevolência e para o altruísmo. Quanto mais avança em sua
valorização do poder, parece que Nietzsche se afasta sempre mais
da tarefa empírica de naturalizar a moral. Isso porque ele precisa

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Araldi, C. L.

‘antropomorfizar’ a natureza, de modo a projetar e a salvaguardar


nela o “sentimento do poder”.

Abstract: This article investigates the disagreement between


Nietzsche and Paul Rée on the existence or not of altruistic drives
in humans. Paul Rée, in The Origin of the Moral Feelings (Der
Ursprung der moralischen Empfindugen), posits the existence
of both egoistic and altruistic drives in human beings. From
Darwin’s theory of evolution, he develops an evolutionistic moral
psychology, emphasizing the naturalistic character of altruistic
attitudes. Nietzsche’s critiques on the altruistic mode of valuing
since Human, All Too Human will be analyzed, having in mind
his discussion with Paul Rée on the status of habit, costumes and
motives of action. The new way of considering pleasure, mainly in
the intensification of the feeling of power, marks a new orientation
on the origin and development of moral feelings, in which egoism
has a central place.
KeyWords: drives - egoism - altruism - pleasure - feelings - morals

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Artigo recebido para publicação em 15/09/2015.


Artigo aceito para publicação em 11/11/2015.

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