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DOCUMENTOS NATODIGITAIS NA FORMAÇÃO DO ARQUIVISTA NA UFES


Fernando Carlos Santos Conceição

Universidade Federal do Espírito Santo, Av. Fernando Ferrari, 514 - Goiabeiras, Vitória - ES,
29075-910, fernando.conceicao@edu.ufes.br

RESUMO

Este artigo exploratório, baseado em pesquisa bibliográfica, aborda a gestão de documentos


natodigitais, explorando suas características, importância, requisitos legais e desafios. O
papel do arquivista na era digital é discutido, assim como a inclusão desses documentos nos
currículos de formação na Universidade Federal do Espirito Santo (UFES). Métodos de
preservação e os desafios enfrentados pelos arquivistas são apresentados. A conclusão
destaca a importância de abordagens atualizadas para lidar com documentos natodigitais.

palavras-chave: Natodigital. Preservação. Autenticidade. Gestão documental. UFES.

INTRODUÇÃO

Este artigo aborda os documentos natodigitais, destacando sua importância, requisitos legais
e desafios na gestão. Discute a evolução do papel do arquivista, a necessidade de
competências específicas e sua inclusão nos currículos. Aborda métodos de preservação,
acesso e os desafios enfrentados pelos arquivistas. O objetivo é fornecer uma visão geral dos
documentos natodigitais e suas implicações para a formação e atuação do arquivista,
considerando soluções para os desafios futuros.

DOCUMENTO NATODIGITAL

O documento natodigital é exclusivamente digital, sem versão física correspondente. Não é


uma digitalização de um documento físico, mas sim criado e armazenado em formato
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eletrônico. Assim como diz no Decreto 8.539 de 08 de Outubro de 2015 em seu Art. 2° que
documento “II - documento digital - informação registrada, codificada em dígitos binários,
acessível e interpretável por meio de sistema computacional, podendo ser:

a) documento nato-digital - documento criado originariamente em meio eletrônico;


ou(BRASIL, 2015)”.

Características e especificidades dos documentos natodigitais

Documentos natodigitais são caracterizados pela imaterialidade e volatilidade, sem forma


física tangível e sujeitos a modificações e exclusões. “Como o próprio nome sugere, já
nasceram em formato eletrônico. Eles podem ser criados a partir de editores de texto como
Microsoft Office Word, LibreOffice Writer, Documentos Google, editores de texto dos
Sistemas de Processos Digitais, entre outros(TRE-CE, 2022)”. Documentos natodigitais são
mutáveis, podendo ser atualizados, e interativos, com recursos multimídia e de busca.

Importância da preservação e gestão dos documentos natodigitais

Preservar e gerenciar documentos natodigitais é crucial. Eles têm valor histórico, legal e
cultural, e sua preservação garante acesso às informações. Acessibilidade, integridade,
autenticidade e confiabilidade são essenciais na gestão desses documento, “[...]a preservação
a longo prazo é a forma de manter um objeto digital autêntico e acessível por tempo
suficiente para atender às necessidades dos usuários (Grácio 2012, p. 10)”.

Requisitos legais para a validade e autenticidade dos documentos natodigitais

A validade e autenticidade dos documentos natodigitais são garantidas por meio de requisitos
legais específicos, De acordo com o Art. 1º da MP nº 2200-2, de 24 de agosto de 2001 “Fica
instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a
autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das
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aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem
como a realização de transações eletrônicas seguras (BRASIL, 2001)”. Requisitos para
validade e autenticidade incluem assinaturas digitais, certificados digitais e carimbo do
tempo. Outras tecnologias de segurança e autenticação são utilizadas para garantir a
integridade dos documentos natodigitais. A Lei nº 12.682/2012 regulamenta os documentos
natodigitais no Brasil. Ela estabelece diretrizes para sua gestão, garantindo validade e
autenticidade, definindo responsabilidades e orientando políticas de gestão documental
eletrônica.

Desafios e perspectivas futuras para os documentos natodigitais

A gestão de documentos natodigitais enfrenta desafios como obsolescência tecnológica,


preservação a longo prazo, segurança e interoperabilidade. É necessário garantir
acessibilidade, legibilidade e proteção contra ameaças cibernéticas, além de facilitar a troca e
uso entre sistemas diferentes.“Salienta-se que os sistemas de gestão podem proporcionar
maior segurança aos documentos, no entanto, os riscos de perda em virtude da fragilidade dos
suportes nunca devem ser descartados, o que reforça a necessidade de rotinas de backup. E
mesmo assim, estas cópias de segurança não são um fim, e sim uma precaução, ou seja, o
backup é um procedimento que deve apoiar as práticas de segurança (SANTOS e FLORES,
2017 p. 30)”.

Perspectivas futuras incluem avanço em tecnologias de preservação, padronização de


formatos e metadados, conscientização e colaboração para enfrentar desafios e aproveitar
oportunidades dos documentos natodigitais. “As estratégias baseadas na preservação do nível
lógico têm por finalidade recuperar os documentos digitais com alto grau de fidedignidade,
sem quaisquer manipulações de conteúdo. A preservação de tecnologia, a emulação e o
encapsulamento são exemplos de estratégias que preservam o nível lógico do objeto digital,
desta forma, garantem a integridade da sequência de bits original (SANTOS e FLORES,
2017 p. 30)”.

DOCUMENTOS NATODIGITAIS NA FORMAÇÃO DO ARQUIVISTA NA UFES


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Com o crescimento dos documentos natodigitais, o papel do arquivista mudou. Agora, ele
também preserva documentos digitais, implementa políticas de preservação, adota
tecnologias de gestão documental e garante a acessibilidade e integridade dos documentos.
Innarelli (2011, p.76) escreve em seu artigo:

As instituições responsáveis pela gestão documental são afetadas


diretamente por esta “inundação” tecnológica, pois como já foi dito
anteriormente, conceitos e técnicas de gestão documental foram
atropeladas em nome da eficiência administrativa e pela falta de visão dos
administradores e informáticos sobre o tratamento do documento digital,
principalmente documentos digitais permanentes ou de longa guarda.

Competências para o tratamento de documentos natodigitais na grade da UFES

“A nova matriz curricular do curso de Arquivologia da UFES, implantada em 2017/2,


atendeu muitas demandas do mercado de trabalho, dos egressos, dos discentes e dos docentes
da instituição, mas de forma especial, trouxe direcionamentos para estudar o documento
arquivístico na era digital. [...] para formar profissionais que se sintam seguros para agir
diante dessa nova realidade (GAVA; FERRARI; MORAES, 2018, p. 266)”. Para lidar com
documentos natodigitais, os arquivistas precisam desenvolver competências técnicas em
tecnologia da informação, sistemas de gerenciamento de documentos, formatos e preservação
digital. Também é necessário conhecimento em gestão de metadados, conformidade com
regulamentações legais, privacidade e habilidades de comunicação para colaborar com outros
profissionais envolvidos.

Inclusão dos documentos natodigitais no currículo do curso de Arquivologia da UFES

Inclusão dos documentos natodigitais nos currículos de formação do arquivista: atualização,


revisão e introdução de competências relacionadas à gestão eficiente desses documentos,
abrangendo preservação, metadados, acesso, segurança e conformidade legal. Adaptação
prepara arquivistas para desafios digitais. “O currículo foi estruturado em quatro grupos: 1)
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Arquivologia e Gestão da Informação; 2) História e Patrimônio; 3) Tecnologia e


Comunicação; 4) Outras habilidades (grupo de disciplinas interdisciplinares). Esta nova
estruturação teve como objetivo dar ao aluno a possibilidade de desenvolvimento de um
perfil profissional já na graduação, na medida em que sua carga horária de optativas pudesse
ser preenchida com componentes de seu interesse (GAVA; FERRARI; MORAES, 2018)”.

Métodos e técnicas de preservação e acesso aos documentos natodigitais

“A cadeia de custódia é importante para manter a confiança desde a criação e uso dos
documentos. Em relação ao arquivo permanente digital, que futuramente será o arquivo
histórico digital, este repositório digital confiável é uma plataforma tecnológica que é capaz
de manter autênticos os materiais digitais, de preservá-los e prover acesso a eles pelo tempo
necessário (LUZ e FLORES, 2016, p. 173)”. Preservação e acesso a documentos natodigitais
requerem técnicas específicas: preservação digital, migração de formatos, backups,
gerenciamento de metadados, sistemas de arquivos, segurança e políticas de acesso.

Desafios enfrentados pelos arquivistas na gestão de documentos natodigitais

Arquivistas enfrentam desafios na gestão de documentos natodigitais devido à evolução


tecnológica constante, exigindo atualização contínua. A heterogeneidade dos formatos
digitais demanda abordagens específicas. Preservação, autenticidade e integridade são
desafios complexos que requerem soluções técnicas e estratégicas. Segundo CAMPOS (2019,
p. 66) “Frente ao desafio de compreender as novas feições e extensões dos arquivos (e de dar
conta das questões relativas à preservação em longo prazo e à prerrogativa de acesso aos
documentos), o compromisso de reconhecer adequadamente as espécies e tipos documentais
permanece o mesmo. O que vale ressaltar é que ao profissional de arquivo compete, e
competirá sempre, entender a natureza dos documentos sob sua responsabilidade, nomeá-los
e enquadrá-los em seu meio genético, perseguindo a trilha que os liga aos seus contextos de
produção e acumulação. É neste sentido que os estudos de tipologia documental poderão
renovar continuamente seu interesse e sua atualidade”.
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Recursos e capacitação para os arquivistas lidarem com documentos natodigitais na


UFES

Recursos de capacitação, como treinamentos, conferências e publicações especializadas,


auxiliam arquivistas na gestão de documentos natodigitais. Associações e grupos de pesquisa
fornecem suporte e compartilhamento de conhecimentos. “Adicionalmente, como o curso foi
estruturado em grupos de disciplinas, o aluno que se interessar por cursar as disciplinas
optativas do grupo ‘3) Tecnologia e Comunicação’ terá embasamento teórico e treinamento
prático adicionais para tratar adequadamente das questões relativas à era digital e como elas
impactam a Arquivologia(GAVA; FERRARI; MORAES, 2018, p. 266)”.

CONCLUSÃO

Exploramos os documentos natodigitais, destacando suas características, importância,


requisitos legais e desafios na gestão. A preservação adequada é crucial, garantindo acesso a
informações valiosas ao longo do tempo. A evolução do papel do arquivista e a inclusão
desses documentos nos currículos foram discutidas, exemplificando a importância no
currículo da UFES. Desafios como obsolescência tecnológica e heterogeneidade de formatos
exigem soluções inovadoras e colaboração. A atualização dos profissionais é fundamental
para promover a preservação e acessibilidade desses documentos. O resultado é a formação
de arquivistas preparados para lidar com a realidade dos documentos natodigitais.

REFERÊNCIAS

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