Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NITERÓI
2022
TÂNIA BARBOSA SALLES GAVA
NITERÓI
2022
RESUMO
Desde a década de 1990, com o advento da internet e com a popularização dos computadores
pessoais, começaram a ocorrer mudanças consideráveis na sociedade, principalmente em
relação à forma de comunicação e compartilhamento de informações, e consequentemente
na produção dos documentos. Essa modernização atingiu todas as áreas da sociedade,
inclusive a área arquivística, trazendo grandes avanços, mas também uma série de
complexidades inerentes à vulnerabilidade do ambiente digital. Os documentos digitais, em
particular os documentos arquivísticos digitais, trouxeram muitas facilidades, tais como a
simplicidade de criação e disseminação, como também a qualidade e agilidade dos resultados
obtidos. No entanto, a documentação digital carrega consigo um problema estrutural que
coloca em risco sua preservação e acesso a longo prazo, por causa da vulnerabilidade do
ambiente tecnológico envolvido. Esta dependência tecnológica torna o patrimônio
arquivístico digital vulnerável, numa sociedade em que cada vez mais as organizações
dependem da informação digital que produzem. Neste contexto, torna-se imprescindível a
adoção e implementação de ações para a proteção do patrimônio arquivístico digital, ao longo
do tempo. Essa preocupação refletiu-se em uma série de publicações técnicas do Conarq
sobre o tema, na qual destaca-se a Resolução nº 43, que define as diretrizes para
implementação dos Repositórios Arquivístico Digitais Confiáveis (RDC-Arq). A Resolução
n.º 43 adota uma série de padrões e normas internacionais de referência, além de prever a
aplicação de normas e princípios arquivísticos, tais como a norma ISO 16363: 2012, que é a
norma que permite a certificação de confiança, em nível internacional, para Repositórios
Digitais Confiáveis de organizações públicas ou privadas, como também o Modelo de
referência OAIS (ISO 14721:2012) que é um modelo conceitual que visa identificar os
componentes funcionais que deverão fazer parte de um sistema de informação dedicado à
preservação digital, e que descreve as interfaces internas e externas do sistema, bem como
objetos de informação que são manipulados no seu interior. Sendo assim, torna-se
imprescindível discutir sobre a Preservação Digital Sistêmica, que prevê, entre outros
aspectos, a integração de um Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos
- SIGAD, com base no e-ARQ Brasil, com um RDC-Arq em todo o ciclo de vida dos
documentos. Ou seja, a preservação digital sistêmica deve perpassar os três ambientes
relacionados às três entidades externas do modelo OAIS, que são: o ambiente do produtor,
que é o ambiente de gestão dos documentos; o ambiente do administrador, que é o ambiente
de preservação dos documentos; e o ambiente do consumidor, que é o ambiente de acesso e
difusão dos documentos prevendo uma cadeia de custódia digital arquivística segura e
ininterrupta em todo o ciclo de vida dos documentos.
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6
2. PRESERVAÇÃO DIGITAL SISTÊMICA ..................................................................................... 7
3. A CADEIA DE CUSTÓDIA DIGITAL ARQUIVÍSTICA NA PDS ............................................. 8
3.1 UMA CCDA COMPARTILHADA E DISTRIBUÍDA ......................................................... 10
3.1.1. CDDA compartilhada ....................................................................................................... 10
3.1.2 CCDA distribuída............................................................................................................... 12
3.2 AUDITORIA E CERTIFICAÇÃO DOS AMBIENTES AO LONGO DA CCDA ............... 14
5. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 18
APÊNDICE A – Atividades acadêmicas desenvolvidas durante os 12 meses de vigência do Estágio
de Pós-Doutorado no PPGCI/UFF: entre 01/02/2021 a 31/01/2022 ................................................. 23
APÊNDICE B: PRODUTOS DIRETOS DA PESQUISA DE PÓS-DOUTORADO ...................... 28
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos a sociedade passou a produzir documentos digitais de forma cada
vez mais acelerada, em uma transformação digital cada vez mais crescente, tendo como
protagonistas os documentos arquivísticos digitais, que são, por si só, complexos e
específicos. Atrelados à facilidade de produção, edição e disseminação, os documentos
arquivísticos digitais, por sua natureza vulnerável, requerem um tratamento especial, em todo
o seu ciclo de vida, ou seja, desde a sua gênese até seu destino final. Esta destinação final
pode ser nos arquivos permanentes/históricos ou sua eliminação, que deve ocorrer de forma
segura, segundo a orientação de normas e princípios arquivísticos.
Com os avanços na área arquivística ao longo dos anos, também foram surgindo
normas, modelos, padrões e requisitos que nos orientam que os documentos arquivísticos
digitais devem estar confinados em sistemas informatizados com requisitos funcionais e não
funcionais homologados por determinada área ou campo do conhecimento, e de sua gerência
de negócio, contemplando uma Cadeia de Custódia e uma Cadeia de Preservação.
Devido a este cenário, de constante evolução tecnológica, e trazendo consigo todas
as suas vulnerabilidades, é necessário a busca por soluções dos problemas e dilemas
conceituais que a própria Arquivologia necessita para efetivamente superarmos uma Ruptura
Paradigmática e estabelecermos um cenário firme de Transição Paradigmática, como forma
de garantir à sociedade e aos cidadãos, que possam exercer a sua plena cidadania baseada em
documentos autênticos, confiáveis e preserváveis, respaldados por um processo contínuo de
preservação digital que deve ser sistêmica e holística.
Não é este o cenário que vemos, nem na iniciativa privada, nem na administração
pública. Antes, o que se vê, é a adoção de sistemas sem requisitos, sem arquivamento, sem
custódia digital arquivística, mantendo documentos arquivísticos de caráter permanente em
meros bancos de dados ou sistemas sem requisitos, documentos imprescritíveis e inalienáveis
segundo a Lei 8159/91, e colocando a vida dos cidadãos em situação de insegurança jurídica
quando falamos do pleno exercício da cidadania baseado nos documentos de arquivo. Desta
forma, há de se considerar que estamos vivendo um momento de inflexão acerca das atuais
transformações digitais que estão ocorrendo de forma isolada da ciência, das normas,
padrões, modelos e requisitos, com soluções tecnológicas disruptivas que ignoram a
complexidade e especificidade dos documentos digitais. Neste contexto, este projeto de
pesquisa teve como objetivo buscar o aprofundamento na pesquisa sobre a preservação
digital sistêmica que deve contemplar todo o ciclo de vida dos documentos arquivísticos
digital em uma cadeia de custódia digital arquivística, ininterrupta, segura, distribuída e
compartilhada.
[...] uma definição de Cadeia de Custódia Digital Arquivística (CCDA) deve trazer
a ideia de que a cadeia de custódia digital não pode ser interrompida, e deve ser
auditada pela cadeia de preservação ou outro procedimento capaz dessa garantia
no ambiente digital. Além disso, que a presunção de autenticidade deve ser mantida
quando acontece a mudança de custódia de um ambiente digital, que por si só é
extremamente vulnerável, para outro, como, por exemplo, de um SIGAD, SIGAD
de Negócio ou qualquer outro sistema de informação digital para um RDC-Arq,
independentemente da fase. Essa presunção de autenticidade deve vir apoiada pela
evidência de que os documentos não foram modificados ou corrompidos em seus
aspectos essenciais durante a sua transmissão de um ambiente digital para outro.
(GAVA; FLORES, 2020, p. 92)
Ou seja, a CCDA pode ser entendida como um princípio aplicável aos documentos
digitais, considerando suas especificidades e complexidades, para garantir que esses
documentos de arquivo não tenham uma ruptura em sua cadeia de custódia arquivística em
um ambiente digital, mantendo-os sempre confinados em ambientes com requisitos
arquivísticos homologados, desde a sua produção ou representação, transmissão,
arquivamento, até a sua guarda permanente, acesso ou eliminação. Esse processo deve ser
desenvolvido com o devido registro de todas as alterações ocorridas ao longo do tempo, de
forma sistêmica, assegurando, assim, a garantia da autenticidade e confiabilidade dos
documentos ao longo do tempo, em uma abordagem de Preservação Digital Sistêmica ou
Ativa.
Um outro conceito importante neste contexto é o de cadeia de preservação, que é
definida como um “Sistema de controles que se estende por todo o ciclo de vida dos
documentos, a fim de assegurar sua autenticidade ao longo do tempo.” (INTERNATIONAL
COUNCIL ON ARCHIVES, 2012). A cadeia de preservação, como o próprio nome diz, tem
como objetivo garantir a preservação dos documentos arquivísticos digitais a longo prazo. O
projeto InterPARES 2 apresenta um modelo de Cadeia de Preservação – Chain of
Preservation (CoP) como uma sequência de “[...] passos para a produção, manutenção,
avaliação e preservação digital de documentos autênticos” (INTERPARES 2 PROJECT,
2010b, p. 02). Essa cadeia de preservação deve ser observada em todo o ciclo de vida dos
documentos, tal como a cadeia de custódia – Chain of Custody (CoC). Ou seja, são dois
processos que devem ocorrer concomitantemente, ambos buscando a manutenção da
autenticidade dos documentos.
A pesquisa desenvolvida sobre a PDS teve como objetivo focar em uma visão atual,
contemporânea, que pensa no elemento custódia centrado à luz de todos os ambientes
envolvidos na gestão, preservação, acesso e difusão dos documentos, ou seja, centrada nos
Sistemas de Gestão Arquivística (SIGAD e GestãoDOC) e nos Repositórios Digitais
Confiáveis, da área da Ciência da Informação, e dos RDC-Arq (Repositórios Arquivísticos
Digitais Confiáveis) e das plataformas arquivísticas de acesso e transparência ativa. Para isso,
abordou-se a questão da Cadeia de Custódia Digital Arquivística (CCDA) centrada em duas
(02) características principais: ser compartilhada e distribuída.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
GAVA, Tânia Barbosa Salles; FERRARI, Luciana Itida; OLIVEIRA, Vânia Célia de. Uso
do AtoM no processo de descrição arquivística: experiência em um curso de
graduação. Revista Analisando em Ciência da Informação - RACIn, v. 4, n. especial, p.
526-544, out. 2016. Disponível em:
http://racin.arquivologiauepb.com.br/edicoes/v4_nesp/racin_v4_nesp_artigo_0526-
0544.pdf. Acesso em: 13 nov. 2020.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
SILVA, Luiz Eduardo Ferreira da; SILVA, Amanda Marissa Soares da. A influência da
teoria pós-custodial de Terry Cook como prenúncio da socialização da arquivística, do
arquivista e dos arquivos. RACIn, João Pessoa, v. 4, n. 2, p. 99-114, jul./dez. 2016.
Disponível em:
http://arquivologiauepb.com.br/racin/edicoes/v4_n2/racin_v4_n2_artigo06.pdf. Acesso em:
16 ago. 2021.
SOARES, Ana Paula Alves; PINTO, Adilson Luiz; SILVA, Armando Malheiro da. O
paradigma pós-custodial na arquivística. Páginas A&B, Arquivos e Bibliotecas
(Portugal), n. 4, p. 22-39, 2015. Disponível em:
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/68327. Acesso em: 17 ago. 2021.
APÊNDICE A – Atividades acadêmicas desenvolvidas durante os 12
meses de vigência do Estágio de Pós-Doutorado no PPGCI/UFF: entre
01/02/2021 a 31/01/2022
1 ATIVIDADES DE PESQUISA
1.3.1 MESTRADO
2 PRODUÇÃO TÉCNICA
3 ATIVIDADES DE ENSINO
Resumo
1
presunção de autenticidade, e prevendo uma cadeia de custódia arquivística digital
ininterrupta.
2
uma série de publicações técnicas do Conarq sobre o tema, onde se vê a preocupação
com o arquivamento e manutenção dos documentos arquivísticos digitais, considerando
todo o ciclo de vida do documento, a fim de mantê-los seguros, autênticos e acessíveis
pelo tempo que for necessário, visando a preservação do Patrimônio Arquivístico
Digital Brasileiro.
3
preservação de longo prazo e o acesso contínuo aos
documentos arquivísticos digitais.
Resolução nº 25 27 de abril Dispor sobre a adoção do modelo de requisitos para
de 2007 sistemas informatizados de gestão arquivística de
documentos (e-ARQ Brasil) pelos órgãos e
entidades integrantes do sistema nacional de
arquivos - SINAR
e-ARQ Brasil Dezembro Apresentar um Modelo de Requisitos para
de 2009 Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos
Resolução nº 31 28 de abril Auxiliar as instituições detentoras de acervos
de 2010 arquivísticos de valor permanente, na concepção e
execução de projetos e programas de digitalização
resolução nº 32 17 de maio Dispor sobre a inserção dos metadados na parte II
de 2010 do modelo de requisitos para sistemas
informatizados de gestão arquivística de
documentos - e-ARQ Brasil
Resolução nº 36 19 de Dispor sobre a adoção das Diretrizes para a Gestão
dezembro arquivística do Correio Eletrônico Corporativo
de 2012 pelos órgãos e entidades integrantes do Sistema
Nacional de Arquivos - SINAR
Resolução nº 37 19 de Aprovar as Diretrizes para a Presunção de
dezembro Autenticidade de Documentos Arquivísticos
de 2012 Digitais
Resolução nº 38 9 de julho Dispor sobre a adoção das "Diretrizes do Produtor
de 2013 - A Elaboração e a Manutenção de Materiais
Digitais: Diretrizes Para Indivíduos" e "Diretrizes
do Preservador - A Preservação de Documentos
Arquivísticos digitais: Diretrizes para
Organizações"
4
Resolução nº 39 29 de abril Estabelecer diretrizes para a implementação de
de 2014 repositórios digitais confiáveis para a transferência
e recolhimento de documentos arquivísticos
digitais para instituições arquivísticas dos órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de
Arquivos - SINAR.
Resolução nº 43 04 de Estabelecer diretrizes para a implementação de
(altera a redação da setembro repositórios arquivísticos digitais confiáveis para o
Resolução nº 39) de 2015 arquivamento e manutenção de documentos
arquivísticos digitais em suas fases corrente,
intermediária e permanente, dos órgãos e entidades
integrantes do Sistema Nacional de Arquivos –
SINAR
Orientação Técnica Novembro Apresentar cenários que representam algumas
n.º 3 de 2015 possibilidades de implantação de um Repositório
Arquivístico Digital Confiável (RDC-Arq)
integrado a um Sistema
Informatizado de Gestão Arquivística de
Documentos (SIGAD).
Orientação Técnica Outubro de Apresentar recomendações gerais sobre o uso do
n.º 4 2016 formato PDF/A na produção e no arquivamento de
documentos arquivísticos digitais, ou seja, nas
idades corrente, intermediária e permanente,
visando o seu acesso e a sua preservação.
Fonte: Autoria Própria.
5
em todo o ciclo de vida do documento, mantendo-os autênticos e acessíveis a longo
prazo, visando a preservação do Patrimônio Arquivístico Digital Brasileiro.
6
No entanto, é importante frisar que, além da Resolução n.º 43 adotar uma série de
padrões e normas internacionais de referência para a construção de Repositórios
Arquivísticos Digitais Confiáveis, ela também prevê a aplicação de normas e princípios
arquivísticos. A adoção de modelos conceituais por si só já traz grandes complexidades.
Além disso, para adotar tais padrões é necessário conhecimento técnico especializado,
uma infraestrutura física e tecnológica adequadas, o que significa altos investimentos.
Outro ponto importante a ser considerado é que, no Brasil, ainda não existe nenhuma
agência certificadora de Repositórios Digitais Confiáveis.
Dos modelos conceituais adotados pela Resolução n.º 43 destacam-se: o Modelo
de referência OAIS e a Norma Internacional ISO 16363:2012, que possui prevalência
sobre a Resolução n.º 43 do Conarq, não permitindo sua horizontalidade. A resolução
nº 43 também adota outros padrões e normas de referência, tais como o relatório da
Research Library Group (RLG) e da Online Computer Library Center (OCLC), a
TRAC - Certificação e auditoria de repositórios confiáveis: critérios e checklist,
requisitos técnicos para entidades de auditoria e certificação de organizações candidatas
a serem repositórios digitais confiáveis - CCSDS, Metadados de preservação PREMIS,
a Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística ISAD(G), a Norma Brasileira
de Descrição Arquivística NOBRADE, Metadados do e-ARQ Brasil, Protocolo para
coleta de metadados OAI-PMH, Padrão de codificação e transmissão de metadados
METS e a Descrição arquivística codificada EAD (CONARQ, 2015a, p. 19-25).
O Arquivo Nacional, preocupado com a preservação digital dos documentos
arquivísticos, também publicou em 25 de janeiro de 2017 uma nova versão de sua
política de preservação digital, adotada no âmbito do Programa Permanente de
Preservação e Acesso a Documentos Arquivísticos Digitais, do Arquivo Nacional - AN
Digital (ARQUIVO NACIONAL, 2016). Além disso, em junho de 2019, o Arquivo
Nacional publicou recomendações para a elaboração de Políticas de Preservação
Digital, no intuito de apoiar as instituições brasileiras na elaboração de suas políticas.
No entanto, é importante frisar que uma Política de Preservação Digital também deve
prever um Plano de Preservação Digital, inclusive considerando diferentes cenários,
que deve estabelecer um conjunto de ações de curto, médio e longo prazo, por meio de
7
estratégias, processos, normas de procedimento etc., com o objetivo de assegurar a
preservação dos documentos arquivísticos digitais, mantendo-os autênticos e acessíveis
pelo tempo que for necessário, com base nos prazos estabelecidos nas Tabelas de
Temporalidade e Destinação (TTD) das atividades meio e fim.
8
portanto, deve ser uma preservação digital sistêmica, que, entre outros aspectos, prevê
a devida integração de SIGAD e RDC-Arq, visando manter a presunção de
autenticidade dos documentos digitais, e prevendo uma cadeia arquivística digital
ininterrupta. No entanto, sabe-se que a preservação digital não sistêmica (ou passiva)
ainda é uma realidade muito presente no Brasil. Esse tipo de preservação, que fragiliza
a presunção de autenticidade dos documentos digitais, como também quebra sua cadeia
de custódia, reflete-se quando se faz a preservação digital de uma massa documental,
digitalizada ou não digital, organizada ou não, e de acervos nato digitais, porém sem
cadeia de custódia arquivística digital ininterrupta, vindas, por exemplo, de sistemas de
informação que não são SIGAD, ou de um processo de digitalização que não garante
confiabilidade e autenticidade, não sendo preconizado por implementação de normas,
padrões, modelos e requisitos.
9
de preservação digital, disponibilizando uma plataforma de acesso para o consumo das
informações pelos usuários, visando, assim, a preservação adequada de nosso
patrimônio arquivístico digital (Figura 1).
10
Permanente Digital, que pode ser acessado por meio de uma plataforma de acesso,
como por exemplo o Atom, que é uma ferramenta de descrição arquivística (GAVA,
FERRARI, OLIVEIRA, 2016). Vê-se também que, embora a cadeia de custódia sofra
alteração, ao enviar os documentos arquivísticos digitais para a fase permanente, ela
não deve ser quebrada, mantendo assim, uma cadeia de custódia arquivística digital
ininterrupta durante todo o ciclo de vida dos documentos.
REFERÊNCIAS
11
2015b. 8 p. Disponível em:
http://conarq.arquivonacional.gov.br/images/ctde/Orientacoes/Orientacao_tecnica_rdc
arq_2015_v8_pub.pdf. Acesso em: 04 nov. 2019.
GAVA, Tânia Barbosa Salles; FERRARI, Luciana Itida; OLIVEIRA, Vânia Célia de.
Uso do AtoM no processo de descrição arquivística: experiência em um curso de
graduação. Revista Analisando em Ciência da Informação - RACIn, v. 4, n. especial,
p. 526-544, out. 2016. Disponível em:
http://racin.arquivologiauepb.com.br/edicoes/v4_nesp/racin_v4_nesp_artigo_0526-
0544.pdf. Acesso em: 13 nov. 2020.
12
CADEIA DE CUSTÓDIA DIGITAL ARQUIVÍSTICA - CCDA
Resumo
Nossa sociedade passou a produzir Documentos Digitais de uma forma muito abrupta,
requerendo, assim, um tratamento especial, desde a sua gênese até seu destino final nos
arquivos permanentes/históricos ou sua eliminação segura, sempre confinados em
Sistemas Informatizados com requisitos funcionais e não funcionais que foram
homologados por determinada área ou campo do conhecimento, e de sua gerência de
negócio. Todavia, foi necessário, e ainda está sendo, a solução de problemas e dilemas
conceituais que a própria Arquivologia necessita para efetivamente superarmos uma
Ruptura Paradigmática e estabelecermos um cenário firme de Transição Paradigmática,
como forma de garantir à sociedade e aos cidadãos, que possam exercer a sua plena
cidadania baseada em documentos autênticos, confiáveis e preserváveis. Não é este o
cenário que vemos nem na iniciativa privada, nem na administração pública, com
adoção de sistemas sem requisitos, sem arquivamento, sem custódia digital arquivística,
mantendo documentos arquivísticos de caráter permanente em meros bancos de dados
ou sistemas sem requisitos, documentos imprescritíveis e inalienáveis segundo a Lei
8159/91, e colocando a vida dos cidadãos em situação de insegurança jurídica. Este
trabalho considerou que estamos vivendo um momento de inflexão acerca das atuais
Transformações Digitais que estão ocorrendo de forma isolada da ciência, das normas,
padrões, modelos e requisitos, com soluções tecnológicas disruptivas que ignoram a
complexidade e especificidade dos documentos digitais. O objetivo deste trabalho foi
o de realizar uma reflexão sobre a cadeia de custódia e sua evolução para a cadeia de
custódia digital arquivística, como um modelo de preservação digital para documentos
arquivísticos. Esta preocupação nasceu a partir do momento que começamos a constatar
a produção de documentos digitais que não tinham mais a sua linha de custódia
ininterrupta, ou seja, sem requisitos arquivísticos. Consideramos a perspectiva
sistêmico-holística da preservação digital, sedimentada em padrões, normas e modelos
da literatura científica, e contemplando todo o ciclo de vida dos documentos.
Analisamos os resultados, as discussões, as problemáticas dos registros digitais, em
especial desta ruptura paradigmática de documentos analógicos para digitais, e
concluímos com a proposta do conceito da CCDA que apresenta-se como um princípio
aplicável aos documentos digitais, considerando suas especificidades e complexidades,
garantindo que os documentos de arquivo não tiveram ruptura de sua custódia
arquivística digital, mantendo-os sempre confinados em ambientes digitais com
requisitos arquivísticos homologados (no Brasil, o SIGAD - Sistema Informatizado de
1
Gestão Arquivística de Documentos e o RDC-Arq - Repositório Arquivístico Digital
Confiável), desde a sua produção ou representação, transmissão, arquivamento, até a
sua guarda permanente, acesso ou eliminação, registrando todas as suas alterações de
forma sistêmica, assegurando assim, a garantia da Autenticidade, Confiabilidade,
Integridade e Fixidez ao longo do tempo, em uma abordagem de Preservação Digital
Sistêmica. A Cadeia de Custódia Digital Arquivística apresenta-se assim como
imperativo importante para a garantia da Autenticidade e Confiabilidade dos
Documentos de Arquivo Digitais e garante, assim, a segurança jurídica dos cidadãos e
da sociedade no tocante aos seus registros digitais.
2
preservação, como o próprio nome diz, tem como objetivo garantir a preservação de
documentos arquivísticos digitais autênticos, ao longo do tempo.
Devido a este cenário, de constante evolução tecnológica, e trazendo consigo
todas as suas vulnerabilidades, é necessário a busca por soluções dos problemas e
dilemas conceituais que a própria Arquivologia necessita para efetivamente superarmos
uma Ruptura Paradigmática e estabelecermos um cenário firme de Transição
Paradigmática, como forma de garantir à sociedade e aos cidadãos, que possam exercer
a sua plena cidadania baseada em documentos autênticos, confiáveis e preserváveis.
Não é este o cenário que vemos, nem na iniciativa privada, nem na
administração pública. Antes, o que se vê, é a adoção de sistemas sem requisitos, sem
arquivamento, sem custódia digital arquivística, mantendo documentos arquivísticos de
caráter permanente em meros bancos de dados ou sistemas sem requisitos, documentos
imprescritíveis e inalienáveis segundo a Lei 8159/91, e colocando a vida dos cidadãos
em situação de insegurança jurídica quando falamos do pleno exercício da cidadania
baseado nos documentos de arquivo. Desta forma, há de se considerar que estamos
vivendo um momento de inflexão acerca das atuais Transformações Digitais que estão
ocorrendo de forma isolada da ciência, das normas, padrões, modelos e requisitos, com
soluções tecnológicas disruptivas que ignoram a complexidade e especificidade dos
documentos digitais.
1 CADEIA DE CUSTÓDIA
3
de custódia ininterrupta é manter os documentos arquivísticos autênticos pelo tempo
que for necessário. Ou seja, a cadeia de custódia documental pode ser entendida como
o ambiente no qual perpassa todo o ciclo de vida dos documentos, definindo, inclusive,
quem é o responsável por aplicar os princípios e as funções arquivísticas à
documentação. Segundo Gava e Flores:
4
de documentos analógicos, altamente focada na ruptura dos suportes. Segundo Santos
e Flores:
Sendo assim, diante do cenário atual, há de se evoluir para para uma cadeia de
custódia digital arquivística, como um modelo de preservação digital, para documentos
arquivísticos. Esta preocupação nasceu a partir do momento que começou-se a constatar
5
a produção de documentos digitais que não tinham mais a sua linha de custódia
ininterrupta. Ou seja, esses documentos eram exportados, importados, transmitidos sem
cadeia de custódia, sem arquivamento, sem recolhimento para os arquivos permanentes,
enfim, sem requisitos arquivísticos. Esse cenário não considera uma perspectiva
sistêmico-holística da preservação digital, que deve ser sedimentada em padrões,
normas e modelos da literatura científica, contemplando todo o ciclo de vida dos
documentos. Isso fragiliza a preservação, em longo prazo, de todo o patrimônio
arquivístico digital, sob a pena de perda de memória coletiva, e colocando em risco a
segurança jurídica de toda uma sociedade.
O conceito de cadeia de custódia digital arquivística, embora crucial para a
Arquivologia moderna, ainda está em construção. No entanto, pesquisadores da área,
como é o caso de Luciana Duranti, pesquisadora e coordenadora do InterPARES, já
trazem definições para o termo. Em palestra na Conferência anual do ICA-ALA,
ocorrida na cidade do México em novembro de 2017, Luciana Duranti afirmou que a
Digital Chain of Custody (Cadeia de Custódia Digital) diz respeito à “informação
preservada sobre os documentos e sobre suas mudanças que mostrem que um dado
específico estava em um determinado estado em uma data e hora específica”.
(DURANTI, 2017, tradução nossa).
Já segundo Gava e Flores, o conceito de Cadeia de Custódia Digital Arquivística
Digital, a CCDA, “deve trazer a ideia de que a cadeia de custódia digital não pode ser
interrompida, e deve ser auditada pela cadeia de preservação ou outro procedimento
capaz dessa garantia no ambiente digital” (GAVA; FLORES, p. 92, 2020).
Vê-se, então, que a proposta do conceito da Cadeia de Custódia Digital
Arquivística (CCDA) apresenta-se como um princípio aplicável, e necessário, aos
documentos digitais, considerando suas especificidades e complexidades, garantindo
que os documentos de arquivo não sofram ruptura em sua custódia arquivística digital.
Com outras palavras, a alteração da cadeia de custódia digital arquivística deve ser feita
de maneira adequada, de um ambiente seguro de produção de documentos digitais para
uma plataforma de preservação, respeitando todo o ciclo de vida dos documentos, e
6
garantindo e mantendo a confiabilidade e autenticidade dos documentos ao longo do
tempo.
No Brasil um desses ambientes digitais, vitais para uma preservação digital
adequada, é o SIGAD (Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos),
baseado no E-ARQ Brasil (CONARQ, 2011), que apresenta um Modelo de Requisitos
para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos, sendo o
ambiente adequado para a produção dos documentos arquivísticos digitais. O outro
ambiente é o RDC-Arq (Repositório Arquivístico Digital Confiável), que é o Arquivo
Permanente Digital, que tem como base a Resolução nº. 43 do Conarq (CONARQ,
2015a), que define as diretrizes para a implementação de Repositórios Arquivísticos
Digitais Confiáveis.
Além disso, a orientação técnica n.º 3 do Conarq nos apresenta três possíveis
cenários de integração de um SIGAD com o RDC-Arq, ressaltando que esta interação
pode, e deve, se dar nas três idades dos documento (no ciclo de vida completo, nas
idades corrente e intermediária e na idade permanente), e de maneiras distintas
(CONARQ, 2015b). Um aspecto importante desta integração, salientado pela própria
orientação técnica, é que:
7
custódia. Além disso, a presunção de autenticidade deve ser mantida quando acontece
essa mudança de custódia entre ambientes digitais, que por si só são extremamente
vulneráveis. Essa presunção de autenticidade deve vir apoiada pela evidência de que os
documentos não foram modificados ou corrompidos em seus aspectos essenciais
durante a sua transmissão de um ambiente digital para outro (GAVA; FLORES, 2020).
Desta forma, o confinamento dos documentos arquivísticos digitais em ambientes
digitais adequados, com requisitos arquivísticos homologados, tais como o SIGAD e o
RDC-Arq, desde a sua produção ou representação, transmissão, arquivamento, até a sua
guarda permanente, acesso ou eliminação, registrando todas as suas alterações de forma
sistêmica, assegurará a garantia da Autenticidade, Confiabilidade, Integridade e Fixidez
ao longo do tempo, em uma abordagem de Preservação Digital Sistêmica.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
8
produção ou representação, transmissão, arquivamento, até a sua guarda permanente,
acesso ou eliminação, registrando todas as suas alterações de forma sistêmica.
Essa preservação digital sistêmica, garantindo uma Cadeia de Custódia Digital
Arquivística, e ininterrupta, deve ser respaldada por ambientes digitais adequados, a
saber o SIGAD e o RDC-Arq (conceitos, ambientes e requisitos homologados pela
autoridade arquivística nacional em seu nível de competência), fazendo com que a sua
integração ocorra de maneira a assegurar a garantia de conceitos tão importantes, tais
como a autenticidade, confiabilidade, integridade e fixidez ao longo do tempo. Essa
abordagem de Preservação Digital Sistêmica, não voltada para uma abordagem
tradicional de preservação digital, com foco na ruptura dos suportes, tem uma
perspectiva sistêmico-holística da preservação digital, sedimentada em padrões,
normas e modelos da literatura científica nacional e internacional.
A Preservação Digital Sistêmica é necessária para atacar problemas e dilemas
conceituais que a própria Arquivologia necessita para efetivamente superarmos uma
Ruptura Paradigmática e estabelecermos um cenário firme de Transição Paradigmática,
como forma de garantir à sociedade e aos cidadãos, o exercício de uma cidadania plena,
baseada em documentos autênticos, confiáveis e preserváveis.
Dessa forma, a CCDA apresenta-se como imperativo importante para a garantia
da Autenticidade e Confiabilidade dos Documentos de Arquivo Digitais, visando a
garantia de segurança jurídica dos cidadãos e da sociedade, no tocante aos seus registros
digitais.
REFERÊNCIAS
9
Nacional, 2015a. 31 p. Disponível em:
http://conarq.gov.br/images/publicacoes_textos/diretrizes_rdc_arq.pdf. Acesso em: 04
nov. 2019.
FLORES, Daniel; ROCCO, Brenda Couto de Brito; SANTOS, Henrique Machado dos.
Cadeia de custódia para documentos arquivísticos digitais. Acervo - Revista do
Arquivo Nacional, v. 29, n. 2, p. 117-132, 2016. Disponível em:
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/40511. Acesso em: 24 out. 2019
10
SANTOS, Henrique Machado dos; FLORES, Daniel. As vulnerabilidades dos
documentos digitais: Obsolescência tecnológica e ausência de políticas e práticas
de preservação digital. Biblios - Revista de Bibliotecología y Ciencias de la
Información, n. 59, p. 45-54, 2015. Disponível em:
http://biblios.pitt.edu/ojs/index.php/biblios/article/view/215. Acesso em: 26 jun. 2019.
11
ÁGORA Arquivologia em debate ARTIGO
Resumo Este artigo apresenta a história e conceituação do Archivematica, que foi desenvolvido como uma
resposta à necessidade do desenvolvimento de um sistema de preservação digital de código aberto
(software livre). A metodologia adotada foi a da pesquisa exploratória, bibliográfica e documental,
tendo como principais fontes: relatórios, documentação, textos e artigos científicos, provenientes de
organizações, tecnologias, eventos e pesquisadores nacionais e internacionais. O artigo apresenta o
Archivematica como uma plataforma de preservação, que tem seu papel como um componente de
um Repositório Arquivístico Digital Confiável, e dois cenários básicos de recolhimento de objetos
digitais: com cadeia de custódia digital arquivística e com ruptura de cadeia de custódia. Concluímos
que os cenários apresentados são apenas dois de vários cenários possíveis na preservação de objetos
digitais utilizando uma plataforma de preservação como o Archivematica, e que seu uso adequado vai
ao encontro de uma Preservação Digital Sistêmica, que prevê uma cadeia de custódia digital
arquivística, visando manter a confiabilidade e autenticidade dos documentos arquivísticos digitais,
com uma abordagem de preservação digital holística, e não voltada exclusivamente para a aplicação
manual de estratégias de preservação digital, as quais pressupõem uma ruptura da cadeia de custódia
digital, mas antes incorporando e aplicando essas estratégias por meio de uma política arquivística.
Keywords Archivematica. System Preservation. Trusted Digital Archival Repository. Archival Digital Chain of
Custody.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 1
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
1 INTRODUÇÃO
Em junho de 2007, Kevin Bradley (Biblioteca Nacional da Austrália), juntamente com Junran
Lei e Chris Blackall (Parceria Australiana para Repositórios Sustentáveis), publicaram o relatório in-
titulado Towards an Open Source Repository and Preservation System: Recommendations on the
Implementation of an Open Source Digital Archival and Preservation System and on Related
Software Development para o Subcomitê de Tecnologia do Programa Memory of the World (Me-
mória do Mundo) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNES-
CO). O Programa foi criado em 1992 com três objetivos principais: (a) facilitar a preservação do pa-
trimônio documental mundial mediante as técnicas mais adequadas; b) facilitar o acesso universal
ao patrimônio documental; e c) criar uma maior consciência em todo o mundo da existência e im-
portância do patrimônio documental. A concepção do Programa Memória do Mundo é que “o pa-
trimônio documental mundial pertence a todos, deveria ser plenamente preservado e protegido
para todos e, com o devido respeito aos hábitos e práticas culturais, deveria ser acessível para to-
dos de maneira permanente e sem obstáculos”, tendo como missão “aumentar a consciência e a
proteção do patrimônio documental mundial e conseguir sua acessibilidade universal e permanen-
te” (EDMONDSON, 2002, p. 9).
Bradley, Lei e Blackall (2007) defenderam a construção de sistemas sustentáveis ao invés do
uso de mídias de armazenamento permanente para resolver os desafios da preservação digital. As-
sim, o relatório definiu requisitos de software de código aberto para a implementação de um siste-
ma de preservação e arquivamento digital (digital archival and preservation system) que deveria
considerar todos os aspectos de um Repositório Digital Confiável, conforme definido pelo Modelo
OAIS (ISO 14721:2003), que é um modelo conceitual que visa identificar os componentes funcio-
nais que deverão fazer parte de um sistema de informação dedicado à preservação digital, e que
descreve as interfaces internas e externas do sistema, bem como os objetos de informação que
são manipulados no seu interior. O relatório abordava dois aspectos que, segundo eles, o distin -
guia de outras abordagens. O primeiro aspecto é que usava uma abordagem completa ou holística
para a preservação digital, reconhecendo que o funcionamento de um sistema de preservação
deve considerar todos os aspectos de um Repositório Digital Confiável (ingestão, acesso, adminis-
tração, gerenciamento de dados, planejamento de preservação e armazenamento de arquivos), in-
cluindo mídias de armazenamento e software de gerenciamento. Em segundo lugar, o relatório ar-
gumentava que as soluções de preservação digital para objetos digitais simples eram relativamente
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 2
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
bem compreendidas, mas que eram necessários ferramentas, tecnologias e treinamentos acessí-
veis no uso desses sistemas (BRADLEY; LEI; BLACKALL, 2007).
O subcomitê identificou lacunas existentes na tecnologia disponível na época e fez recomen-
dações para o desenvolvimento de um Sistema de Preservação Digital de código aberto, concluin-
do que era necessária uma abordagem acessível e sustentável que poderia aproveitar a experiên-
cia e os recursos de grandes instituições para inovar e compartilhar soluções com a comunidade de
preservação digital em geral. O relatório também recomendou que a UNESCO apoiasse a agrega-
ção e o desenvolvimento de um sistema de arquivamento, com base nos programas de código
aberto existentes (GARDEREN et al., 2012).
Essa inovação colaborativa poderia buscar junto à comunidade de desenvolvimento de
software de código aberto um modelo de como um sistema de arquivamento sustentável poderia
funcionar, ser sustentado, atualizado e desenvolvido, conforme necessário. Da mesma forma, mui-
tas instituições culturais, arquivos e instituições de ensino superior, participantes das comunidades
de software de código aberto, poderiam influenciar o desenvolvimento desses softwares para be-
nefício próprio, como também de todo o setor de maneira geral (BRADLEY; LEI; BLACKALL, 2007).
Nesse contexto, este artigo tem como objetivo geral apresentar a história e conceituação do
Archivematica, desenvolvido pela Artefactual Systems Inc. como uma resposta à necessidade de
um sistema de preservação digital de código aberto. O Archivematica, que é um software baseado
na web, permite às instituições manter o acesso de longo prazo a conteúdos digitais confiáveis, au-
tênticos e seguros, permitindo a seus usuários processarem objetos digitais desde a ingestão até o
armazenamento arquivístico e acesso, em conformidade com o modelo funcional Open Archival In-
formation System (OAIS) e outros padrões e melhores práticas de preservação digital.
Usando uma abordagem metodológica qualitativa, a metodologia adotada neste trabalho foi
a da pesquisa exploratória, uma vez que teve como objetivo apresentar a história, evolução e con-
ceituação do Archivematica no contexto dos Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis, como
também o aprimoramento dos principais conceitos envolvidos e cenários de uso. A pesquisa tam-
bém se caracteriza como bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica é “desenvolvida com
base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL,
2002, p. 44). Já a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, no entanto
suas fontes são muito mais diversificadas e dispersas (GIL, 2002). Em relação aos procedimentos
metodológicos, foi feita uma pesquisa na qual as principais fontes documentais e bibliográficas fo-
ram relatórios, documentação, textos e artigos científicos provenientes de organizações, tecnologi-
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 3
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
as, eventos e pesquisadores nacionais e internacionais, especialistas nos temas relativos a este tra -
balho.
O artigo está dividido da seguinte maneira: a primeira seção tem como objetivo apresentar a
história e conceituação do Archivematica, e apresentar seu papel como um componente do RDC-
Arq (Repositórios Arquivísticos Digitais Confiáveis); a segunda seção tem como objetivo apresentar
dois cenários básicos da utilização do Archivematica no recolhimento, preservação e acesso de do-
cumentos de arquivo, com cadeia de custódia e sem cadeia de custódia digital arquivística, em
rumo ao esclarecimento do que seria uma Preservação Digital Sistêmica. E por fim, apresentam-se
as considerações finais do trabalho.
1 https://wiki.accesstomemory.org/wiki/Development/Projects/DCB
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 4
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
baseado em padrões bem estabelecidos, e para acesso a longo prazo de materiais digitais
(GARDEREN et al., 2012).
Juntamente com a UNESCO, o “The City of Vancouver Archives” (CVA) foi uma das primeiras
instituições a alocar recursos para o desenvolvimento do Archivematica. O objetivo do projeto era
estabelecer um protótipo de ambiente de arquivamento digital e fornecer orientação sobre a
estrutura de gestão dentro dos Arquivos da Cidade de Vancouver para implementar e manter um
arquivo digital. O CVA é responsável por preservar permanentemente documentos arquivísticos
criados pela cidade de Vancouver e seus vários conselhos e agências, sendo também responsável
por adquirir os arquivos de indivíduos e organizações do setor privado dentro das restrições
impostas pelo seu mandato de aquisições. Além disso, muitos desses documentos existiam apenas
em formato digital. Assim, o CVA reconheceu sua responsabilidade em garantir uma infraestrutura
política adequada e capacidade técnica para preservar permanentemente e fornecer acesso a
documentos arquivísticos digitais confiáveis e autênticos. Para cumprir essa responsabilidade o
CVA fez uma parceria com a Artefactual Systems Inc., lançando o Projeto Arquivos Digitais.
O Projeto teve seu foco nos problemas relacionados à preservação dos documentos
arquivísticos digitais municipais criados dentro do Sistema de Gerenciamento de Documentos
Eletrônicos da Cidade de Vancouver, chamado VanDocs, como também documentos digitais
criados fora do ambiente VanDocs, em particular documentos criados e/ou mantidos por
indivíduos e organizações do setor privado em sistemas de produção e manutenção de
documentos, sobre os quais o Arquivo não tinha controle. A variedade de documentos e sistemas
de gestão no escopo do projeto eram ideais para o desenvolvimento de um sistema que poderia
adaptar-se a uma variedade de instituições de memória com diferentes mandatos e políticas de
aquisição (GARDEREN et al., 2012).
Ao longo do tempo, cada dia mais as instituições ao redor do mundo têm, no curso de suas
atividades, produzido e compartilhado documentos, e cada vez mais em formato digital. No
entanto, ao contrário dos documentos em suporte papel, que podem permanecer armazenados
em caixas ou arquivos por anos ou mesmo décadas sem maiores danos, desde que devidamente
armazenados, os registros digitais requerem ações especializadas para sua produção, gestão,
armazenamento, acesso e preservação. Segundo Santos e Flores (2015), “os registros digitais têm
um significado histórico de valor único, embora os documentos digitais sejam muito vulneráveis
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 5
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
em comparação com outros métodos de registro como em papel”. Na verdade, a longo prazo a
acessibilidade, usabilidade, confiabilidade e autenticidade de materiais digitais estão em risco
devido à fragilidade e vulnerabilidade dos objetos digitais, que são altamente complexos e
específicos, como também à evolução e obsolescência tecnológica. Por causa da vulnerabilidade
dos registros digitais, eles podem ser facilmente perdidos, excluídos ou modificados, de forma
maliciosa ou acidental, mas também pela falta de adoção de políticas arquivísticas e de
preservação digital. Além disso, a fragilidade dos documentos digitais e a obsolescência das
tecnologias da informação podem acarretar grandes perdas de registros contemporâneos, o que
pode causar uma lacuna inimaginável na memória das sociedades. Desta forma, não só a memória
seria comprometida, mas todos os serviços que dependem da informação registrada em meio
digital, perdendo a garantia de acesso futuro, mesmo que os suportes nos quais os documentos
digitais estão registrados sejam preservados (SANTOS; FLORES, 2015).
Por preservação digital entende-se o “processo específico de manutenção de materiais
digitais ao longo do tempo e através de diferentes gerações de tecnologia, independentemente do
local de armazenamento” e o “conjunto de ações gerenciais e técnicas exigidas para superar as
mudanças tecnológicas e a fragilidade dos suportes, garantindo o acesso e a interpretação de
documentos digitais pelo tempo que for necessário”. (INTERNATIONAL COUNCIL ON ARCHIVES,
2012). Já uma política arquivística, de
[...] forma sintética, entende-se por políticas públicas arquivísticas o conjunto de
premissas, decisões e ações — produzidas pelo Estado e inseridas nas agendas
governamentais em nome do interesse social — que contemplam os diversos aspectos
(administrativo, legal, científico, cultural, tecnológico, etc.). (JARDIM, 2006, p. 10).
Além disso, os registros digitais podem ser facilmente dissociados de seu contexto, ou seja,
eles podem ser separados de seus metadados ou perder links para outros registros que foram
originalmente criados e mantidos como parte do mesmo processo de negócios. Isso significa que
mesmo que um registro eletrônico possa ser recuperado e lido, sua confiabilidade e autenticidade
como valor legal de prova podem ser comprometidas. Por essas razões, o projeto Archivematica se
concentrou em manter a acessibilidade, usabilidade e autenticidade de objetos de informação
digital ao longo do tempo, espaço e evolução tecnológica. Para realizar a tarefa, o sistema
começou a ser construído em conformidade com o modelo funcional OAIS 2 (ISO 14721:2003),
como também com outros padrões de preservação e melhores práticas (GARDEREN et al., 2012).
Sobre o Modelo de Referência OAIS, Ferreira (2006, p. 28) afirma que: “Um dos contributos mais
2 O Modelo OAIS tornou-se uma norma internacional em 2003, a ISO 14721:2003, e foi atualizada em 2012 para a ISO
14721:2012.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 6
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
notáveis desta iniciativa foi a definição de uma terminologia própria que viria a facilitar a
comunicação entre os diversos intervenientes envolvidos na preservação de objectos digitais”.
O modelo OAIS desmembra-se em dois modelos: o modelo funcional e o modelo de
informação. O modelo funcional delineia as funções que precisam ser desempenhadas por um
repositório OAIS. Já o modelo de informação propõe o conceito de pacote de informação, que é
formado pela informação de conteúdo e pela informação de descrição de preservação,
encapsuladas e identificadas pela informação de empacotamento (CONSELHO NACIONAL DE
ARQUIVOS, 2015). O Modelo OAIS tem como objetivo identificar os componentes funcionais que
deverão fazer parte de um sistema de informação dedicado à preservação digital, descrevendo
suas interfaces internas e externas, como também os objetos de informação que são manipulados
no seu interior (FERREIRA, 2006). O ambiente do modelo define três tipos de entidades externas:
1) Produtor: é o papel desempenhado por pessoas ou sistemas que fornecem a informação a
ser preservada;
2) Administrador: é o papel desempenhado por aqueles que estabelecem as políticas gerais
que governam o repositório; e
3) Consumidor: é o papel desempenhado por pessoas ou sistemas que interagem com os
serviços OAIS para acessar a informação preservada desejada.
A Figura 1 apresenta os componentes funcionais, os pacotes de informação e as entidades
externas de uma plataforma de preservação compatível com o Modelo OAIS (CONSELHO
NACIONAL DE ARQUIVOS, 2015).
Figura 1 – O Modelo de Referência OAIS
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 7
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
Assim, visando atingir os objetivos da preservação digital, a Artefactual Systems Inc. e o CVA
começaram a desenvolver o trabalho sugerido pelo relatório da UNESCO. No final de 2008, a
Artefactual e a equipe do projeto CVA começaram a realizar uma análise abrangente de requisitos
para estabelecer políticas, procedimentos e requisitos funcionais mínimos para um sistema de
arquivamento digital baseado em padrões aceitos. Esse levantamento inicial de requisitos deu
início ao desenvolvimento de casos de uso com base no modelo ISO-OAIS. Requisitos funcionais,
de metadados e de tecnologia foram derivados dos casos de uso e de uma avaliação da tecnologia
de código aberto. Os requisitos funcionais especificavam o que o Archivematica deveria ser capaz
de fazer. Os requisitos de metadados estipulavam quais atributos de dados deveriam ser
capturados em cada etapa. Os requisitos técnicos estipulavam protocolos, formatos e
características técnicas específicas que deveriam ser implementados. Os casos de uso também
produziram políticas e procedimentos desenvolvidos para dar suporte a todas as etapas dos casos
de uso.
No decorrer da análise de requisitos a equipe do projeto teve a oportunidade de fazer parte
do Projeto InterPARES 33. A equipe consultou o Projeto InterPARES 3 para realizar uma análise de
lacunas entre o Modelo OAIS e o Modelo de Cadeia de Preservação (COP) 4 do Projeto InterPARES
15. A revisão do modelo revelou que a avaliação ocorre em alguns estágios diferentes durante o
processo de arquivamento. Essa análise de lacunas levou a casos de uso e diagramas de atividades
UML que direcionavam a requisitos de avaliação no Archivematica. Por meio de experiências de
implantação e feedback do usuário, incluindo a análise de lacunas conduzida com o Projeto
InterPARES 3, o Archivematica se expandiu além do Modelo OAIS para abordar análise e arranjo de
transferência de pacotes SIP e permitir a avaliação de arquivamento nos múltiplos pontos de
decisão. Esses requisitos foram implementados por meio de microsserviços, fornecidos por uma
combinação de scripts Python e uma ou mais das ferramentas de software de código aberto
gratuitas empacotadas no sistema Archivematica. O Archivematica fez uso dos padrões METS,
PREMIS, Dublin Core, além de outros padrões de metadados reconhecidos. A estratégia de
preservação padrão adotada no Archivematica foi a normalização dos objetos digitais em formatos
de preservação após a ingestão, para fazer melhor uso do tempo limitado que as organizações têm
para processar e monitorar grandes e diversas coleções de objetos digitais. Além disso, a escolha
dos formatos de preservação no Archivematica baseou-se em quatro critérios básicos: 1) A
3 http://interpares.org/ip3/ip3_index.cfm
4 O modelo de cadeia de preservação mostra os vários passos sequenciais para a produção, manutenção e
preservação de documentos autênticos.
5 http://interpares.org/ip1/ip1_index.cfm
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 8
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
especificação do formato deve estar disponível gratuitamente; 2) O formato não deve ter patentes
ou licenças, e os formatos de preservação devem ser todos padrões abertos. 3) Outros repositórios
digitais estabelecidos devem usar ou endossar o formato; 4) Deve haver uma variedade de
ferramentas de escrita e renderização disponíveis para o formato. Assim, com o avanço das
pesquisas, foi instalada a primeira versão do Archivematica, em dezembro de 2009. No entanto,
essa primeira versão foi ainda um projeto piloto, visto que não se tinha uma versão de produção
do software, sendo que sua primeira versão beta, o Archivematica 0.9, tornou-se disponível para
download no site do Archivematica no início de setembro de 2012, corrigindo bugs e aprimorando
recursos (GARDEREN et al., 2012). Desde então, a Artefactual vem constantemente atualizando o
software, que em 2021 tem como versão estável mais recente o Archivematica 1.12.1, em vias de
desenvolvimento da versão 1.13.
A Figura 2 apresenta uma linha do tempo dos principais acontecimentos relacionados ao
desenvolvimento do software Archivematica:
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 9
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
Arquivísticos Digitais Confiáveis (RDC-Arq). O segundo modelo é o próprio Modelo OAIS, que trata
de uma parte específica do RDC-Arq, que é o gerenciamento do documento digital. A Figura 3
apresenta um mapa conceitual que visa esclarecer conceitos importantes envolvidos em um RDC-
Arq.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 10
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 11
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
Como visto, neste trabalho tem-se como objetivo apresentar o Archivematica como uma
plataforma de preservação de apoio ao gerenciamento dos documentos digitais, que é um dos
conjuntos de requisitos que os RDC-Arq devem atender. Ou seja, apresentá-lo como um
componente de um RDC-Arq, que é o Arquivo Permanente Digital. Como o próprio nome diz, uma
plataforma de preservação tem como objetivo preservar os objetos digitais sob sua gestão. Essa
preservação, por sua vez, deve ser uma preservação com uma visão holística, que se preocupa com
aspectos arquivísticos complexos, tais como a manutenção da confiabilidade e autenticidade dos
documentos arquivísticos digitais ao longo do tempo, visando manter uma cadeia de custódia
plena, ou seja, uma cadeia de custódia digital arquivística e ininterrupta. Por cadeia de custódia
digital arquivística entende-se uma cadeia de custódia digital que não pode ser interrompida, e
que deve ser auditada por uma cadeia de preservação ou outro procedimento capaz dessa
garantia no ambiente digital (GAVA; FLORES, 2020).
Essa preservação digital, que prevê uma cadeia de custódia digital arquivística, é o que
denominamos de Preservação Digital Sistêmica. No entanto, não é isso que se vê nos diferentes
cenários de preservação digital vistos atualmente. Muito direcionada em estratégias de
preservação altamente focadas na ruptura de suporte, essa Preservação Digital Passiva não leva
em conta, pelo menos não de forma adequada, a ruptura do ambiente de produção dos
documentos com seu ambiente de preservação, e a quebra nessa cadeia de custódia, que agora é
feita em um ambiente digital altamente vulnerável. Segundo Gava e Flores (2020), em um
ambiente digital houve a necessidade de se repensar a garantia da cadeia de custódia, de forma
ininterrupta, e em como manter esse ambiente totalmente vulnerável como um lugar de gestão
arquivística, preservação permanente, custódia confiável, e como um arquivo permanente digital.
Embora existam vários cenários que aconteçam ainda de forma concomitante, em diferentes
instituições arquivísticas ao longo do Brasil, neste trabalho serão contemplados apenas dois
cenários, dentre os tantos possíveis. Os cenários se relacionam ao tipo de recolhimento, ou seja, à
transferência material dos documentos digitais para um RDC-Arq. O primeiro cenário diz respeito
ao recolhimento com cadeia de custódia plena (cadeia de custódia digital arquivística), sendo um
exemplo de cenário da Preservação Digital Sistêmica ou Ativa. O segundo cenário diz respeito ao
recolhimento com ruptura de cadeia de custódia, que é um exemplo de cenário da Preservação
Digital Não Sistêmica ou Passiva. Esses cenários são descritos a seguir:
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 12
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
O Modelo OAIS apresenta como entidade externa o produtor, que é o papel desempenhado
por pessoas ou sistemas que fornecem a informação a ser preservada. As condições de produção
dessa informação é que determinam se ela pode ser considerada confiável e autêntica ou não,
desde sua gênese até o momento de transferência material para um ambiente de preservação, que
deve ocorrer com alteração, mas sem quebra de custódia. Essa informação a ser preservada deve
ser um pacote SIP ou um pacote de dados que será transformado em um SIP, ou seja, um pré-SIP.
Essa diferença conceitual deve ser bem entendida. O envio de um pré-SIP ocorre quando a
entidade produtor prepara um pacote de dados que consiste nos objetos digitais e uma planilha
que descreve seus respectivos metadados. Ao ser admitido na plataforma de preservação, esse
pré-SIP será convertido em um pacote SIP. Esta opção no Archivematica deve corresponder à
transferência do tipo “Standard”, que pode ser visto na Figura 4.a. Quando o produtor prepara um
pacote SIP, o mesmo deve ser criado no padrão Bagit, e a opção de transferência escolhida poderá
ser o “Unzipped bag” ou o “Zipped bag” (Figura 4.a). O padrão Bagit é uma especificação, criada
pela Biblioteca do Congresso Americano, para empacotar diretórios de arquivos,
hierarquicamente, para armazenamento a longo prazo ou para a transferência entre ambientes de
armazenamento. Esse padrão tem uma sintaxe interna específica para empacotar os objetos
digitais e seus metadados. Sua característica mais importante é que ele gera e registra checksums
(somas de verificação de bytes) para cada arquivo armazenado em uma bag, o que torna muito
fácil de verificar a integridade dos arquivos depois que eles foram movidos. O Archivematica
armazena os seus AIPs como um Bag, assim como admite Bags criadas por outros sistemas6. O
padrão Bagit, embora seja o padrão utilizado no Brasil, não é o único. Existem outros padrões, tais
como o padrão europeu E-ARK, que foi um projeto de pesquisa multinacional de big data que
aprimorou os métodos e tecnologias de arquivamento digital, a fim de obter consistência em uma
escala europeia7.
A transferência material de um pacote SIP para uma plataforma de preservação, por meio
de uma cadeia de custódia digital arquivística, é o cenário ideal da Preservação Digital, ou seja,
uma Preservação Digital Sistêmica deve integrar um sistema de informação de gestão arquivística
de documentos com um RDC-Arq (SIGAD ou GestãoDoc). Neste cenário, a entidade produtor
produz um pacote SIP no padrão Bagit. A entidade produtor, por exemplo, uma Secretaria de
Cultura ou Secretaria de Educação, vai elaborar o pacote SIP no padrão Bagit e transferi-lo para a
plataforma de preservação do RDC-Arq, via Rest API. O acrônimo API significa, em inglês,
6 http://wiki.ibict.br/index.php/Guia_do_Usu%C3%A1rio_-_Archivematica#Baglt
7 https://www.eark-project.com/
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 13
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 14
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
Neste cenário, a entidade produtor também entregará um pacote SIP (ou pré-SIP) para ser
admitido na plataforma de preservação, lembrando que, se for um pacote SIP, ele deve ser criado
no formato Bagit. No entanto, esse pacote será recebido em uma mídia externa qualquer, tal como
um Disco rígido, HD externo, Winchester, CD-ROM, DVD-ROM, Blu-Ray, pendrive, Fita 4 mm (Dat)
etc. Essa mídia externa será entregue pela entidade produtor para a entidade administrador, que
terá a responsabilidade de custodiar e preservar esse material digital. Dentro dessa mídia externa
deve haver uma estrutura de diretórios que possui uma pasta principal chamada/BagTransfer,
construído com base no padrão Bagit, conforme apresentado na Figura 4.c. Nessa pasta há três
arquivos .txt: bag-info.txt, bagit.txt, e um arquivo manifest, por meio do qual será feito o processo
de checksum. No caso da Figura 4.c, foi usado o sistema de verificação SHA512. Note ainda que os
objetos digitais a serem preservados estão dentro de uma pasta chamada /data. Ao receber o
pacote SIP, a entidade administrador será responsável por iniciar o processo de admissão na
plataforma de preservação, por meio do upload desse pacote.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 15
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
A Figura 5 apresenta um fluxo resumido dos dois cenários apresentados neste artigo. O
primeiro cenário apresenta o recolhimento de SIP via Rest API, com cadeia de custódia plena,
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 16
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 17
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 18
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
preservação devem ser realizadas de forma automática por plataformas adequadas, embasadas
por uma política de preservação digital, elaborada pela instituição arquivística com o apoio de uma
equipe multidisciplinar que deve incluir arquivistas e profissionais da Tecnologia da Informação, e
implementada pelas tecnologias digitais disponíveis.
É importante ressaltar que esse recolhimento com ruptura de custódia, por meio de mídias
externas, ainda continuará por um tempo, pois está relacionado ao perfil das instituições
arquivísticas custodiadoras que necessitam ainda passar por uma transformação digital de forma
adequada. Essas instituições nem sempre acompanharam essa transformação digital, que
aconteceu de maneira muito rápida, principalmente no contexto da pandemia de Covid-19,
exigindo que as instituições arquivísticas estivessem oferecendo infraestrutura adequada para
receber essas transferências via Rest API e exercendo sempre o seu papel protagonista de
custodiadora confiável e autoridade arquivística na sua esfera de competência,
independentemente de se tratar de documentos analógicos ou digitais. Como essas instituições
ainda não estavam preparadas para oferecer essa infraestrutura, isso significa que será necessário
continuar aceitando essa abordagem por um período de tempo. No entanto, espera-se que em
breve as instituições arquivísticas possam elaborar suas transferências via Rest API, para a
admissão de pacotes SIP (ou pré-SIP), monitorada por sistemas arquivísticos com requisitos
homologados pelas respectivas autoridades arquivísticas, mantendo uma cadeia de custódia digital
plena.
REFERÊNCIAS
BRADLEY, Kevin; LEI, Junran; BLACKALL, Chris. Towards an Open Source Repository and
Preservation System: Recommendations on the Implementation of an Open Source Digital Archival
and Preservation System and on Related Software Development. UNESCO Memory of the World.
2007. Disponível em:
http://portal.unesco.org/ci/fr/files/24700/11824297751towards_open_sourc. Acesso em: 22 mar.
2021.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 19
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. Repositórios arquivísticos digitais confiáveis (RDC-Arq)
como plataforma de preservação digital em um ambiente de gestão arquivística. Informação &
Informação, [s. l.], v. 25, n. 2, p. 74-99, jul. 2020. ISSN 1981-8920. DOI:
http://dx.doi.org/10.5433/1981-8920.2020v25n2p74. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/38411. Acesso em: 13 out.
2020.
GARDEREN et al. The Archivematica Project: Meeting Digital Continuity’s Technical Challenges. In:
UNESCO Memory of the World in the Digital Age Wednesday, 2012, Vancouver. Proceedings…
Vancouver: UNESCO, 2012. Workshop. Disponível em: http://www.interpares.org/display_file.cfm?
doc=ip3_canada_dissemination_cpr_van-garderen_et-al_unesco-mow_2013.pdf. Acesso em: 23
fev. 2021.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
JARDIM, José Maria. Políticas públicas arquivísticas: princípios, atores e processos. Arquivo &
Administração, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 5-16, 2006.
SANTOS, Henrique Machado dos; FLORES, Daniel. As vulnerabilidades dos documentos digitais:
Obsolescência tecnológica e ausência de políticas e práticas de preservação digital. Biblios -
Revista de Bibliotecología y Ciencias de la Información, n. 59, p. 45-54, 2015. Disponível em:
http://biblios.pitt.edu/ojs/index.php/biblios/article/view/215. Acesso em: 26 jun. 2019.
NOTAS DE AUTORIA
Tânia Barbosa Salles Gava
Profª. Tânia Gava é docente do Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Espírito
Santo e Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da UFF.
Membro do Grupo de Pesquisa CNPq UFF Ged/A - Documentos Digitais: Gestão, Curadoria Digital,
Preservação, Acesso e Transparência Ativa em Cadeia de Custódia Digital Arquivística (CCDA) e do
Grupo de Pesquisa da UFES – Observatório da Informação Arquivística Digital. Atua nas áreas de
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 20
ARTIGO O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis cenários de uso
Daniel Flores
Prof. Daniel Flores é docente do Curso de Arquivologia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação - PPGCI UFF. Líder do Grupo de Pesquisa CNPq UFF Ged/A - Documentos Digitais:
Gestão, Curadoria Digital, Preservação, Acesso e Transparência Ativa em Cadeia de Custódia Digital
Arquivística (CCDA). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq da Chamada 06/2019.
Link Currículo Lattes - https:// lattes.cnpq.br/9640543272532398.
ISSN 0103-3557 Ágora: Arquivologia em debate, Florianópolis, v. 31, n. 63, p. 01-21, jul./dez. 2021 21
DOI: 10.5433/1981-8920.2021v26n4p427
RESUMO
Objetivo: Discutir a importância do processo de auditoria e certificação em todos os
ambientes envolvidos nas três entidades externas do Modelo OAIS, analisando o
cenário brasileiro. Metodologia: Pesquisa exploratória, bibliográfica e documental,
tendo como principais fontes documentais e bibliográficas a documentação produzida
por diferentes organizações, normativas do Conselho Nacional de Arquivos e artigos
científicos de pesquisadores nacionais e internacionais. Resultados: Discussão sobre
os modelos conceituais de requisitos e de auditoria e certificação, no cenário brasileiro,
para os três ambientes envolvidos no Modelo OAIS: o ambiente do produtor, que é o
ambiente de gestão dos documentos; o ambiente do administrador, que é o ambiente
de preservação dos documentos; o ambiente do consumidor, que é o ambiente de
acesso e difusão dos documentos. Conclusões: No cenário brasileiro há modelos de
requisitos para o ambiente de gestão dos documentos, mas não estabelece requisitos
de auditoria e certificação; o ambiente de preservação apresenta tanto requisitos
funcionais, não funcionais e regras de negócio, quanto requisitos de auditoria e
certificação; o ambiente de acesso e difusão dos documentos ainda não possui
diretrizes estabelecidas.
1 INTRODUÇÃO
a organização para que ela seja certificada por um órgão competente, conferindo
a qualidade dos serviços prestados.
No processo de preservação digital, em particular numa preservação
digital sistêmica (ativa), que tem como objetivo preservar os documentos
autênticos e confiáveis ao longo do tempo, o processo de auditoria e certificação
é muito importante. Por preservação digital sistêmica entende-se como a devida
integração de um ambiente de gestão de documentos, de um ambiente de
preservação de documentos e de um ambiente de acesso e difusão de
documentos, visando manter a sua autenticidade e confiabilidade ao longo do
tempo, ou seja, não só no momento da produção, como também durante todo o
ciclo de vida dos documentos e pelo tempo que for necessário, mantendo uma
cadeia de custódia digital segura e ininterrupta. O processo de auditoria, consiste
em verificar e avaliar as metodologias adotadas pela instituição, e assim é
possível verificar a conformidade desses ambientes com as normas, modelos e
padrões que foram adotados e o comprometimento com as ações de
preservação digital no que tange a infraestrutura física, técnica e tecnológica
(SANTOS; FLORES, 2015b).
3 https://www.esd.whs.mil/Portals/54/Documents/DD/issuances/dodm/501502std.pdf
4 https://www.nationalarchives.gov.uk/documents/requirementsfinal.pdf
5 https://www.saiglobal.com/pdftemp/previews/osh/as/as10000/15000/154891.pdf
6 https://www.gov.br/arquivonacional/pt-
br/canais_atendimento/imprensa/copy_of_noticias/conarq-aprova-criacao-de-camara-tecnica-
para-estabelecer-criterios-de-certificacao-para-rdc-arq
7 http://emag.governoeletronico.gov.br/
8 https://www.archivematica.org/pt-br/
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
9 https://www.accesstomemory.org/pt-br/
REFERÊNCIAS
https://www.crl.edu/sites/default/files/d6/attachments/pages/trac_0.pdf. Acesso
em: 24 jun. 2021.
ABSTRACT
Objective: Discuss about audit and certification throughout the entire archival digital
custody chain, covering all environments involved in the three external entities of the
OAIS Model, analyzing the Brazilian scenario. Discuss the importance of the audit and
certification process in all environments involved in the three external entities of the OAIS
Model, analyzing the Brazilian scenario. Methodology: Exploratory, bibliographical and
documentary research, having as main documentary and bibliographic sources the
documentation produced by different organizations, in the norms of the National Council
of Archives and in scientific articles by national and international researchers. Results:
Discussion about the conceptual models of requirements and audit and certification, in
the Brazilian scenario, for the three environments involved in the OAIS Model: the
producer environment, which is the document management environment; the
administrator's environment, which is the environment for preserving documents; the
consumer environment, which is the environment for accessing and disseminating
documents. Conclusions: In the Brazilian scenario, there are models of requirements
for the document management environment, but it does not establish audit and
certification requirements; the preservation environment presents both functional and
non-functional requirements and business rules, as well as audit and certification
requirements; the environment for accessing and disseminating documents does not yet
have established guidelines.
Environment.
RESUMEN
Objetivo: Discutir sobre auditoría y certificación a lo largo de toda la cadena de custodia
digital de archivos, cubriendo todos los entornos involucrados en las tres entidades
externas del Modelo OAIS, analizando el escenario brasileño. Metodología:
Investigación exploratoria, bibliográfica y documental, teniendo como principales fuentes
documentales y bibliográficas la documentación producida por diferentes organismos,
en las normas del Consejo Nacional de Archivos y en artículos científicos de
investigadores nacionales e internacionales. Resultados: Discusión sobre los modelos
conceptuales de requisitos y auditoría y certificación, en el escenario brasileño, para los
tres entornos involucrados en el Modelo OAIS: el entorno productor, que es el entorno
de gestión documental; el entorno del administrador, que es el entorno para la
conservación de documentos; el entorno del consumidor, que es el entorno para acceder
y difundir documentos. Conclusiones: En el escenario brasileño, existen modelos de
requisitos para el entorno de gestión documental, pero no establece requisitos de
auditoría y certificación; el entorno de preservación presenta requisitos y reglas
comerciales tanto funcionales como no funcionales, así como requisitos de auditoría y
certificación; el entorno de acceso y difusión de documentos aún no cuenta con pautas
establecidas.
Daniel Flores
Doutor; Universidade Federal Fluminense, Niterói, ES, Brasil;
df@id.uff.br; ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8888-2834
Aprese
1 Introdução
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
Uma política pode ser considerada como um conjunto de princípios que devem
ser aplicados para se alcançar um objetivo bem definido. No contexto da
Arquivologia, há de se pensar primeiramente em uma política pública de gestão
arquivística. Segundo Jardim (2006, p. 10), uma política pública arquivística é:
[...] o conjunto de premissas, decisões e ações - produzidas pelo
Estado e inseridas nas agendas governamentais em nome do
interesse social - que contemplam os diversos aspectos
(administrativo, legal, científico, cultural, tecnológico etc.) na
produção, uso e preservação da informação arquivística de natureza
pública e privada.
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
digital, que visa apresentar aspectos mais técnicos e operacionais, tais como
normas e procedimentos, detalhando as estratégias de preservação que serão
aplicadas. Além disso, espera-se que a política seja tecnologicamente neutra,
omitindo aspectos tecnológicos muito específicos, tais como software,
hardware, suportes e formatos de arquivo, por causa da rápida evolução das
tecnologias digitais, que devem estar detalhados em um plano de preservação.
Assim, espera-se que a política seja revisada numa periodicidade maior do que a
de um plano de preservação, que deve ser constantemente revisado, por causa da
evolução tecnológica, e conforme previsto por cada instituição.
A Digital Preservation Coalition (c2015), embora traga denominações
diferentes para os termos política de preservação digital (Institucional Policies)
e plano de preservação digital (Institucional Strategies), traz contribuições
importantes quando afirma que um plano de preservação digital apoia a
implementação da política, que o desenvolvimento da política deve preceder o
desenvolvimento do plano de preservação digital e que a política deve atender a
uma necessidade organizacional, enquanto os planos de preservação digital
podem servir a diferentes unidades ou divisões de negócios. Além disso, o
documento também apresenta que a política e o plano de preservação digital
fornecem uma base para as atividades relacionadas à gestão de materiais
digitais, como também para o planejamento de custos e financiamentos; e que os
planos de preservação também podem ser usados como um meio flexível de
adaptação das instituições a situações de mudanças.
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
I. Infraestrutura Organizacional
A. Governança e viabilidade organizacional;
B. Estrutura organizacional e de pessoal;
C. Transparência de procedimentos e arcabouço político;
D. Sustentabilidade financeira;
E. Contratos, licenças e passivos.
II. Gerenciamento do documento digital
A. Infraestrutura de sistema;
Título do artigo
Primeiro Autor, Segundo Autor ,Terceiro Autor
E-ISSN 1808-5245
B. Tecnologias apropriadas;
C. Segurança.
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
O Council of State Archivists (CoSA) é uma organização sem fins lucrativos dos
arquivos do governo estadual e territorial dos Estados Unidos da América. O
CoSA oferece suporte aos arquivos estaduais e territoriais para preservação e
acesso dos documentos governamentais (government records). O CoSA facilita
a criação de redes, o compartilhamento de informações e a colaboração de
projetos entre suas organizações membro para ajudar os arquivos com suas
responsabilidades em proteger os direitos e documentos históricos do povo
americano. Uma de suas iniciativas é o Framework SERP (State Electronic
Records Preservation) que fornece informações e orientações sobre quinze (15)
diferentes áreas associadas à preservação digital, e como avançar nessas áreas. O
Framework SERP é baseado no Modelo de Maturidade da Capacidade de
Preservação Digital (Digital Preservation Capability Maturity Model) e foi
desenvolvido como uma ferramenta para ajudar os programas de arquivo a
melhorar suas pontuações de autoavaliação, solicitadas pelo CoSA 3. Além de
definir níveis para cada elemento do Framework, ele também fornece
informações sobre como avançar nos níveis, de acordo com a evolução de cada
organização em relação à capacidade de preservação digital4. As quinze áreas
(15) do Framework SERP são: política, estratégia, governança, colaboração,
conhecimento técnico, padrões abertos/formatos neutros, comunidade
designada, pesquisa de registros eletrônicos, ingestão, armazenamento,
renovação de dispositivos/mídias, integridade, segurança, metadados de
preservação e acesso.
Título do artigo
Primeiro Autor, Segundo Autor ,Terceiro Autor
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
4 Considerações finais
Esse artigo teve como objetivo discutir sobre as políticas de preservação digital
para documentos arquivísticos digitais, apresentando inicialmente os conceitos
de política, política pública de gestão arquivística e políticas de preservação
digital para documentos arquivísticos digitais. O artigo também apresenta que ao
se estabelecer uma política de preservação, há de se verificar um conjunto
mínimo de critérios para o devido funcionamento de uma estrutura
organizacional que faz a gestão dos objetos digitais. Apresenta também a
importância de uma política de preservação digital no contexto dos Repositórios
Arquivísticos Digitais Confiáveis (RDC-Arq), que define aspectos mais teóricos
Título do artigo
Primeiro Autor, Segundo Autor ,Terceiro Autor
E-ISSN 1808-5245
E-ISSN 1808-5245
Referências
E-ISSN 1808-5245
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
Abstract: The article aims to discuss digital preservation policies for digital
archival documents: what they are, criteria for their elaboration, levels for a
digital preservation policy and their context in the TDAR (Trusted Digital
Archival Repositories), comparing the digital preservation policy structure of
Título do artigo
Primeiro Autor, Segundo Autor ,Terceiro Autor
E-ISSN 1808-5245
the National Archives of Brazil with the General Archives of the Nation of
Colombia and the National Archives of Australia policies. The adopted
methodology was the exploratory bibliographical and documentary research.
The article brings, as results, the main preservation policy elements of the
National Archives of Brazil, Colombia and Australia, as well as a comparison of
the Brazil’s policy with the Colombia and Australia’s policies. We conclude that
Colombian policy is much more compact, probably because it is associated with
a much broader document that presents aspects of digital preservation, digital
preservation actions, strategies and techniques, and cultural-level actions to
ensure digital preservation. In relation to Australian policy, it was observed that
it was more complete than Brazilian policy, addressing all its aspects, and
bringing two more items: Research and Collaboration; Skills and Training, not
covered by Brazilian policies.
1Modelo de Trusted Digital Repository (TDR) da Research Library Group (RLG) e da Online
Computer Library Center (OCLC)
2
O Archivematica é um sistema de preservação digital de código aberto desenvolvido pela
Artefactual Systems Inc. (https://www.archivematica.org/pt-br/ ).
3
https://www.statearchivists.org/
4
https://www.statearchivists.org/electronic-records/serp-framework
5
https://www.statearchivists.org/electronic-records/serp-framework/policy/
Semana do Arquivista
2021
Agradecimentos
✓ Departamento de Arquivologia
✓ Profª Dra. Margarete Farias de Moraes
✓ Chefia de Departamento: Profas Dra. Juliana Sabino / Maira Grigoleto
✓ Coordenação de Curso: Profs. Dr. Luiz Carlos da Silva / Tiago Braga
✓ Cooperação Técnica
✓ Depto Arquivologia – Profa. Dra. Luciana Ferrari
✓ APEES – Wagner Bianchi e Juliana Oliveira
✓ Prodest – Jussara Teixeira e José Márcio Dorigueto
Agenda
01 02
Transformação Preservação
Digital Digital
Sistêmica
03 04
Evolução dos O Arquivista na
conceitos Preservação
Digital Sistêmica
01
Transformação
Digital
Transformação Digital
✓ Principalmente a partir da década de 1990, com a popularização dos computadores
pessoais e a rede internet
Preservação A cadeia de preservação, como o próprio nome diz, tem como objetivo
garantir a preservação dos documentos arquivísticos digitais a longo
prazo, e deve ser observada em todo o ciclo de vida dos documentos.
Cadeia de Preservação x Cadeia de Custódia
• Ambos os processos devem ocorrer concomitantemente buscando a
manutenção da autenticidade dos documentos.
• A Cadeia de Preservação se apresenta de forma muito mais computacional,
já que está focada em registrar, por meio de metadados e modelos
computacionais, a sua implementação. Trata-se de uma abordagem mais
técnica e tecnológica;
• Já a Cadeia de Custódia, não está focada num modelo computacional, e sim
na ideia de um princípio arquivístico, de cuidado, de manter uma linha
ininterrupta de custodiadores;
• A Cadeia de Preservação pode ser vista como a implementação tecnológica da
Cadeia de Custódia que precisou ser ressignificada para o ambiente digital
tornando-se uma Cadeia de Custódia Digital Arquivística.
Evolução dos conceitos
Uma definição de Cadeia de Custódia Digital Arquivística (CCDA) deve
Cadeia de trazer a ideia de que a cadeia de custódia em um ambiente digital não
Custódia pode ser interrompida, e deve ser auditada pela cadeia de preservação ou
Digital outro procedimento capaz dessa garantia no ambiente digital. Além disso,
Arquivística que a presunção de autenticidade deve ser mantida quando acontece a
mudança de custódia de um ambiente digital, que por si só é
extremamente vulnerável, para outro ambiente digital (GAVA; FLORES,
2020)
03
Preservação Digital
Sistêmica
Preservação Digital Sistêmica
01 02 03
01 02 03
▪ Instituições arquivísticas deveriam dar acesso aos documentos apenas por meio de
plataformas de acesso e difusão desenvolvidos com base nos modelos da Ciência da
Informação e Arquivologia.
▪ Não se deveria dar acesso aos documentos arquivísticos:
▪ Por meio de websites ou plataformas de e-mails, construídos sem requisitos
arquivísticos
▪ Por meio de mídias externas, discos rígidos ou bancos de dados, sem contemplar
uma cadeia de preservação e uma cadeia de custódia digital arquivística.
▪ Uso de Plataformas Arquivísticas de Descrição, Acesso, Difusão/ Transparência Ativa de
Informações e Documentos com base em um modelo de requisitos amplamente discutido
pela comunidade de interesse.
▪ O uso de modelos visa medir a confiabilidade do ambiente e o atendimento ao modelo
adotado.
▪ Interoperabilidade com a plataforma de Preservação para continuar mantendo a
presunção de autenticidade dos documentos - (entidades externas do Modelo OAIS)
O Arquivista no Ambiente de Acesso e Difusão
CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. Glossário: Documentos Arquivísticos Digitais. Versão 8.0. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2020. 54 p. Disponível em:
<http://antigo.conarq.gov.br/images/ctde/Glossario/glosctde_2020_08_07.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2021.
HIRTLE, P. B. Archival authenticity in a digital age. Páginas A&B, Arquivos e Bibliotecas (Portugal), n. 6, p. 73-90,
2001. Disponível em: <https://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/article/view/136/128 >. Acesso em: 29 jun. 2021.
tania.gava@ufes.br
Seminário de Encerramento de Estágio Pós-Doutoral
Título da Pesquisa:
2022
Agradecimentos
• Atividades de Ensino
• Atividades de mapas conceituais nas disciplinas de “Gestão de Documentos” e
“Reprodução de Documentos” - curso de graduação em Arquivologia da UFF -
semestre letivo de 2021/1
• Outras atividades
• Cooperação Técnica UFES/PRODEST/APEES – desenvolvimento de minuta de
política de preservação digital para o governo do ES
• Pareceres para Periódicos
• Membro de comissão avaliadora de trabalhos científicos
• Coordenação de Seminário Temático para a VII REPARQ 2022 juntamente com
Prof. Dr. Daniel Flores
Sobre a Pesquisa
01 02
Motivação Ressignificação
de conceitos
03 04
A Cadeia de Preservação
Custódia Digital Sistêmica
Digital
Arquivística
(CCDA)
01
Motivação
Transformação Digital
✓ Principalmente a partir da década de 1990, com a popularização dos
computadores pessoais e da rede internet;
✓ Ressignificação de conceitos antigos para uma nova realidade.
Documento
Documento
analógico
Digital
componentes, que é fixado em um binários, acessível por meio de sistema
suporte analógico, além de ser tratado computacional.
e gerenciado como um documento. - Tratado em níveis: conceitual, lógico
e físico.
Cadeia de Custódia
Digital Arquivística
Cadeia de
Custódia
● O Administrador de TI
○ Papel desempenhado pela pessoa ou pessoas que têm como
responsabilidade tratar das questões tecnológicas da preservação
digital;
○ Atua no ambiente de armazenamento da plataforma de preservação;
CCDA Distribuída
● O Modelo OAIS possui uma seção que trata da interoperabilidade entre
Arquivos OAIS (OAIS Archives), onde apresenta que o sistema pode ser
distribuído geograficamente, desde que as partes estejam sob o mesmo
gerenciamento;
● A custódia agora pode ser distribuída, buscando refletir os novos
modelos da computação, que preveem o armazenamento em
diferentes locais e com diferentes tipos de armazenamento, como o
armazenamento em nuvem, respeitando o princípio arquivístico da
Territorialidade;
● O armazenamento em nuvem está respaldado, por exemplo, pela
instrução normativa n.º 01 (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2019) que em
seu art. 4 descreve sobre a contratação de serviços em nuvem.
04
Preservação Digital
Sistêmica
Preservação Digital Sistêmica
01 02 03
• GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. PRESERVAÇÃO DIGITAL SISTÊMICA. In: Arquivo,
documento e informação em cenários híbridos: anais do Simpósio Internacional de Arquivos.
Anais...Sao Paulo (SP) Eventus, 8, 2021. Disponível em:
<https://www.even3.com.br/anais/simposiointernacionaldearquivos/336975-preservacao-digital-
sistemica/>.
• GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. O papel do Archivematica no RDC-Arq e possíveis
cenários de uso. ÁGORA: Arquivologia em debate, [S. l.], v. 31, n. 63, p. 1–21, 2021. Disponível em:
https://agora.emnuvens.com.br/ra/article/view/1018. Acesso em: 21 set. 2021.
Artigos desenvolvidos (Aceitos para publicação)
• GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. Políticas de Preservação Digital: o caso dos Arquivos
Nacionais do Brasil em relação à Colômbia e Austrália. Em Questão (ISSN 1807-8893) – Qualis
A2.
• GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. Auditoria e certificação ao longo da cadeia de
custódia digital arquivística. Informação & Informação (ISSN 1981-8920) – Qualis A2.
CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. Glossário: Documentos Arquivísticos Digitais. Versão 8.0. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2020. 54 p. Disponível em:
<http://antigo.conarq.gov.br/images/ctde/Glossario/glosctde_2020_08_07.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2021.
GAVA, Tânia Barbosa Salles; FLORES, Daniel. Repositórios arquivísticos digitais confiáveis (RDC-Arq) como plataforma de
preservação digital em um ambiente de gestão arquivística. Informação & Informação, [S.l.], v. 25, n. 2, p. 74-99, jul.
2020.
HIRTLE, P. B. Archival authenticity in a digital age. Páginas A&B, Arquivos e Bibliotecas (Portugal), n. 6, p. 73-90,
2001. Disponível em: <https://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/article/view/136/128 >. Acesso em: 29 jun. 2021.