Você está na página 1de 119

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS S APLICADOS


FACULDADE DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
TESE DE DOUTORADO

ANA JORDÂNIA DE OLIVEIRA

Efeitos da Transparência fiscal sobre a eficácia e eficiência do


gasto público e tamanho do governo: Uma análise com dados
em painel para o período de 2006 a 2016.

Niterói

2019
i
ANA JORDÂNIA DE OLIVEIRA

Tese de doutorado apresentada no


Programa de Pós-Graduação em
Economia da Universidade Federal
Fluminense, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Doutor em
Economia.

Orientador: Júlio César Albuquerque Bastos

Co-orientador: Gabriel Caldas Montes

Niterói

2019

ii
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO

Oliveira, A. J. “Efeitos da Transparência fiscal sobre a eficácia e eficiência do gasto público


e tamanho do governo: Uma análise com dados em painel para o período de 2006
a 2016. ” Niterói: PPGE/UFF, Faculdade de Economia, Universidade Federal
Fluminense, 2019, Tese de Doutorado.

FICHA CATALOGRÁFICA

Oliveira, Ana Jordânia

Efeitos da Transparência fiscal sobre a eficácia e eficiência


do gasto público e tamanho do governo: Uma análise com
dados em painel para o período de 2006 a 2016/ Ana Jordânia
de Oliveira; Orientação de Júlio César Albuquerque Bastos. –
Niterói, 2019.

Tese de Doutorado (D) – Universidade Federal


Fluminense/Faculdade de Economia, PPGE/UFF - 2019.

1. Transparência fiscal. 2.Eficácia do governo. 3.


Eficiência do gasto público; 4.Educação;
5.Tamanho do governo. I. Bastos, J. C. A., II.
Título.

CDU

iii
Nome: Ana Jordânia De Oliveira

Título: Efeitos da Transparência fiscal sobre eficácia e eficiência do gasto público e tamanho
do governo: Uma análise com dados em painel para o período de 2006 a 2016.

Tese de doutorado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Economia da


Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Economia.

Aprovada em: / / .

BANCA EXAMINADORA

Orientador: Prof. Júlio Albuquerque Bastos, Doutor em Economia, UFF/RJ

Co-Orientador: Prof. Gabriel Caldas Montes, Doutor em Economia, UFF/RJ

Prof. José Simão Filho, Doutor em Economia, UFJF/MG

Prof. Rodolfo Nicolay, Doutor em Economia, UCAM/UCP-RJ

Prof. Joseph D. Barroso Vasconcelos de Deus, Doutor em Economia, UFC/CE

Prof. Pedro Ivo Salvador, Doutor em Economia, UCAM/RJ

iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que sempre está olhando por mim, me
guardando, me curando, me guiando e sendo minha companhia.

Dedico esse trabalho aos meus pais e minha irmã, que sempre me acompanharam e nunca
mediram esforços para que eu alcançasse meus sonhos.

Dedico esse trabalho também ao meu noivo e companheiro nessa vida, Rodolfo. Seus
conselhos e sua ajuda foram fundamentais para a realização desse trabalho.

v
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao PPGE/UFF pela oportunidade de ter estudado aqui ao longo desses 6 anos onde
realizei o mestrado e o doutorado.

Agradeço a CAPES por ter me concedido uma bolsa de estudos nesse último ano do
doutorado que foi fundamental para que eu conseguisse concluir minha tese.

Agradeço a todos do corpo docente do PPGE/UFF, em especial, aos professores Gabriel


Caldas Montes, Helder Ferreira de Mendonça e Júlio Bastos, pelo conhecimento transmitido,
esforço para a aprendizagem, horas gastas em reuniões, conselhos, dedicação e por me
ensinarem a fazer pesquisa.

Agradeço também ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) por ter me


concedido uma bolsa de estudos, enquanto cursava o doutorado, que muito me ajudou na
realização deste. Agradeço também por todo o conhecimento obtido enquanto assistente de
pesquisa na DIMAC/RJ.

Agradeço a UFRRJ e aos professores do ICSA, por terem me acolhido primeiro como aluna
na graduação e anos depois como professora substituta. Agradeço, pois, novamente
continuaram me ensinando e agregando a minha vida acadêmica.

Agradeço a UCAM por ter me acolhido como professora e permitir que eu aprenda e ensine
todos os dias.

Agradeço aos meus amigos da pós-graduação Tatiana Acar e Caio Ferrari, pela amizade ao
longo desses anos.

Agradeço a minhas amigas de vida, Natália Akemi, Júlia Craveiro, Amanda Soares, Laura
Petrilho, e minhas primas, Ana Elise e Isabel, pelos momentos de alegria e memes
compartilhados, que me permitiram rir um pouco nesse período.

Agradeço a todos meus amigos e familiares que me acompanharam nessa jornada me


apoiando e incentivando.

vi
EPÍGRAFE

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão


uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe
faltasse uma gota”. (Madre Teresa de Calcutá)

vii
RESUMO

A presente tese tem como objetivos verificar se os países têm realizado esforços para
aumentar a transparência fiscal e analisar por meio de estimações de dados em painel se a
transparência fiscal afeta a eficácia do governo, eficiência do gasto público e o tamanho do
governo. No primeiro capítulo, a análise considera dois canais pelos quais a transparência
fiscal afeta eficácia do governo e a eficiência do gasto público. O primeiro canal é indireto
e funciona por meio da dívida pública. O segundo canal é o efeito direto que a transparência
fiscal exerce sobre a eficácia do governo e a eficiência do gasto público, uma vez que a
transparência aumenta a responsabilidade e, portanto, melhora a tarefa de alocar recursos de
forma mais eficiente. As evidências apontam que a transparência na gestão das contas
públicas (transparência fiscal) melhora o desempenho e a sustentabilidade fiscal. A análise
utiliza uma amostra de 82 países (68 em desenvolvimento e 14 desenvolvidos) para o período
2006-2014, e estimações são realizadas pela metodologia de dados de painel. Comparando
os escores da transparência fiscal entre 2006 e 2014, observamos que aproximadamente 80%
dos países se esforçaram para melhorar a transparência fiscal. Os resultados das estimações
sugerem que a transparência fiscal é importante para melhorar a eficácia do governo e,
também, a eficiência do gasto público. No segundo capítulo, O estudo analisa o efeito da
transparência fiscal sobre os gastos do governo em educação para um total de 75 países,
sendo 15 países desenvolvidos e 60 países em desenvolvimento, para o período entre 2006
e 2016. Utiliza-se análise de dados em painel por meio de estimações pelo método dos
mínimos quadrados controlando para efeitos fixos e painel dinâmico pelo método dos
momentos generalizados sistêmico. Como análise de robustez um indicador da eficiência
dos gastos públicos em educação é construído, com base na técnica de Análise Envoltória
de Dados (DEA). Os resultados mostram que a transparência fiscal afeta o gasto
governamental em educação, indicando que países com maior transparência fiscal alocam
mais recursos em educação. Quando são comparados os resultados para os países em
desenvolvimento, observa-se que as magnitudes dos coeficientes são maiores na amostra de
países que englobam os países desenvolvidos. Além disso, os resultados sugerem que a
transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar a eficiência do gasto
público em educação. No terceiro capítulo explora-se, de forma empírica, a relação entre
transparência fiscal, corrupção e tamanho do governo. O estudo utiliza índices de
transparência fiscal, de corrupção e de tamanho do governo já reconhecidos na literatura.
Como forma de obter robustez nos resultados, utiliza-se outras medidas paras estas variáveis
centrais, gerando 3 novas amostras. A análise é conduzida por meio de estimações utilizando
dados em painel dinâmico pelo método dos momentos generalizados sistêmico (S-GMM)
para diferentes amostras de países no período de 2006 a 2016. Os resultados indicam que a
transparência fiscal aumenta o tamanho do governo, e a corrupção reduz o tamanho do
governo. Ademais, o efeito conjunto da transparência fiscal com a corrupção indica que a
transparência mitiga o efeito da corrupção sobre o tamanho do governo. O trabalho contribui
fornecendo evidências do efeito individual da transparência fiscal e da corrupção, e também
do efeito conjunto de ambas sobre o tamanho do governo.

Palavras-chave: Transparência fiscal. Eficácia do governo. Eficiência do gasto público;


Educação; Tamanho do governo.

viii
ABSTRAT

ix
Lista de Ilustrações
Figura 1 – Comparação do índice de transparência fiscal (OBI) em 2006 e
2014............................................................................................................................21

Figura 2 – Correlação entre Transparência Fiscal e Eficácia Governamental para as três


amostras (períodos 2006, 2014 e para a diferença de 2006 a
2014)..........................................................................................................................23

Figura 3 – Esquema de Construção do Índice....................................................................

x
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Valores médios da transparência fiscal e eficácia do governo.................20
Tabela 2 – Estimações para o efeito da transparência fiscal na relação dívida/PIB (amostra
completa): 2006-2014 ................................................................................28
Tabela 3 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB (países
em desenvolvimento): 2006-2014 ................................................................29
Tabela 4 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB (países
em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014 ..............................29
Tabela 5 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (amostra
completa): 2006-2014 ................................................................................32
Tabela 6 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países
em desenvolvimento): 2006-2014 ................................................................33
Tabela 7 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países
em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014 ..............................34
Tabela 8 – Correlações entre Transparência Fiscal e GSE
........................................................................................39
Tabela 9 – Estimações Sistema GMM para o efeito da transparência fiscal no
GSE............................................................................................................................41
Tabela 10 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação (amostra
total).............................................................................................................
Tabela 11 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação (países
em desenvolvimento)..........................................................................
Tabela 12 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o EFF_EDU
(países desenvolvidos e em desenvolvimento)..............................................
Tabela 13 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o EFF_EDU
(países em desenvolvimento)...........................................................................................
Tabela 14 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE)....................
Tabela 15 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com CPIA
Tabela 16 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com Controle da
corrupção...........................................................
Tabela 17 – Estimações por S-GMM para o gasto do governo (EXPENSE).............

xi
SUMÁRIO
PRÓLOGO ............................................................................................................................................. xiv
Introdução................................................................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1 - TRANSPARÊNCIA FISCAL, EFICÁCIA DO GOVERNO E EFICIÊNCIA DO
GASTO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DE DADOS EM PAINEL ....................................................... 4
1.1 Introdução 6
1.2 Evidências empíricas sobre os efeitos da transparência fiscal 9
1.3 Dados e Metodologia 14
1.4 Resultados 22
1.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos: análise de robustez 30
1.6 Considerações Finais 37
1.7 Apêndice 38
CAPÍTULO 2 – EFEITOS DA TRANSPARÊNCIA FISCAL SOBRE OS GASTOS DO
GOVERNO EM EDUCAÇÃO E SOBRE A EFICIÊNCIA DESSES GASTOS .............................. 40
2.1 Introdução 41
2.2 Evidências empíricas e importância da transparência fiscal 43
2.3 Dados e Metodologia 47
2.4 Resultados 52
2.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos em educação: análise de robustez 55
2.6 Considerações Finais 62
2.8 Apêndice 63
CAPÍTULO 3 – Transparência Fiscal, Corrupção e Tamanho do governo: uma análise com dados
em painel ................................................................................................................................................. 65
3.1 Introdução 66
3.2 Revisão da Literatura 68
3.2.1 Evidências empíricas sobre o efeito da transparência orçamentária sobre as contas
públicas............................................................................................................................................ 70
3.2.2 Transparência orçamentária e Tamanho do governo ........................................................ 72
3.2.3 Determinantes do Tamanho do governo ............................................................................. 74
3.3 Metodologia e dados 75
3.4 Resultados 79
3.5 Robustez 82
3.5.1 Índice de transparência fiscal Country Policy and Instituional Assessment (CPIA) ........ 82
3.5.2 Índice de Controle da Corrupção (C_CORRUP) ............................................................... 84
3.5.4 Gasto do governo (EXPENSE) ............................................................................................. 86

xii
3.6 Conclusão 88
3.7 Apêndice 89
Considerações Finais .............................................................................................................................. 92
Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 94

xiii
PRÓLOGO

Transparência das contas públicas1 surgiu como uma demanda por parte da sociedade
e dos mercados no final da década de 80 e tem sido uma preocupação para políticos no que
diz respeito a divulgação das contas públicas e para os acadêmicos em relação a seus efeitos
sobre a economia. A literatura sobre transparência baseia-se nas explicações fornecidas
pela teoria da agência e pela teoria da legitimidade (PATTEN (1992); SUCHMAN, (1995);
FEREJHON (1999)).

De acordo com a teoria da agência, funcionários eleitos (políticos) estão em um


relacionamento de agência com seus eleitores, e o eleitorado é limitado, por uma razão ou
outra, em sua capacidade de descobrir o que seu agente está fazendo e por que está fazendo,
ou seja, existe assimetria de informação. Além disso, mesmo que o público possa observar
as ações de seus agentes, os eleitores podem não concordar o que está sendo feito. E, pior
ainda, o conjunto de ferramentas que os eleitores têm para recompensar ou punir o
comportamento dos agentes é muito limitada (FEREJHON ,1999).

A divulgação de informações de forma voluntária ou compulsória, permite aos


eleitores fiscalizar os funcionários eleitos (LASWAD ET AL., 2005). Assim, uma maior
transparência reduz as assimetrias de informação e aumenta o grau de confiança do público
nos atores políticos, limitando os conflitos entre cidadãos e políticos (TEJEDO-ROMERO
E DE ARAÚJO, 2015).

A outra abordagem, relacionada a teoria da legitimidade, baseia-se no conceito de


contrato social, onde Shocker & Sethi ( 1974, p. 67) defendem que qualquer instituição,
social ou privada, opera na sociedade por meio de um contrato social, expresso ou
implícito, pelo qual sua sobrevivência e crescimento se baseiam:

a) na entrega de alguns fins socialmente desejáveis;


b) e na distribuição de benefícios econômicos, sociais ou políticos a grupos dos quais
deriva seu poder.

1
Transparência é característica de governos, empresas, organizações e indivíduos a serem abertos a clara divulgação
de informações, normas, planos, processos e ações. Em princípio, funcionários públicos, empregados, gerentes e
diretores de empresas ou organizações e administradores de conselhos tem o dever de agir de modo visível,
previsível e compreensível para promover a participação e accountability. (TRANSPARENCY
INTERNATIONAL, 2009, p. 44).
xiv
Portanto, uma instituição deve encontrar constantemente os testes gêmeos de
legitimidade e relevância, demonstrando que a sociedade exige seus serviços e que os
grupos que se beneficiam de suas recompensas tenham a aprovação da sociedade
(SHOCKER & SETHI ,1974, p. 67).

A transparência sobre as atividades das organizações é uma maneira de legitimar


ações para as partes interessadas e dar legitimidade às organizações (PATTEN, 1992).
Podemos entender, segundo essa teoria, que se a legitimidade organizacional de alguma
instituição estiver ameaçada, ela divulgará informações em um esforço para promover a
legitimidade organizacional, com o intuito de recuperar a confiança dos cidadãos e mudar
as percepções dos cidadãos sobre o funcionamento da organização (TEJEDO-ROMERO E
DE ARAÚJO, 2015).

Segundo Heald (2003) a transparência fiscal deve ser valorizada por razões
intrínsecas, ligadas à legitimidade e, também, aos fundamentos instrumentais de que ela é
capaz de estimular o melhor desempenho do governo, ao ajudar a mudar o foco de atenção
dos insumos para os resultados. Ela também aumenta a credibilidade da política
macroeconômica e fornece aos atores econômicos um grau de previsibilidade sobre as
atividades fiscais, de modo que eles possam administrar seus próprios negócios com mais
eficiência.

Portanto, transparência é fundamental para a gestão pública. A importância da


transparência é reconhecida pelos profissionais em muitos campos de política. É um
ingrediente essencial para o controle político efetivo e monitoramento do setor público. A
transparência do setor público decorre de políticas, instituições e práticas que fornecem
informações de maneiras que melhoram compreensão das políticas públicas, aumentam a
efetividade política e reduzem a incerteza política. A transparência no processo
orçamentário é muito importante porque regula as atividades financeiras do governo
(GUILLAMÓN ET AL., 2011).

O setor público é financiado pelos contribuintes e é por isso que eles precisam de
transparência nas informações para supervisionar todas as atividades executadas pelo
governo (Ríos et al., 2013). A transparência é um meio para melhorar os resultados do
governo, eficácia gerencial, bem como a eficácia da política (HIRSCH & OSBORNE,
2000).

xv
A transparência fiscal é um fator fundamental para a gestão eficaz e para prestação
de contas. Ela garante que os governos tenham um quadro preciso da sua situação e das
suas perspectivas fiscais, dos custos e dos benefícios de qualquer mudança na política e os
riscos potenciais que possam surgir. Fornece aos legisladores, mercados e cidadãos as
informações que necessitam para manter os governos responsáveis. Também é importante
para melhorar o debate entre os policymakers e o público e principalmente para destacar
os riscos quanto as perspectivas fiscais, permitindo uma resposta da política fiscal mais
rápida e mais suave para alterações nas condições econômicas, reduzindo a incidência de
graves crises (HAMEED, 2005).

A criação de normas fiscais que garantam uma maior transparência fiscal ganhou
destaque no final dos anos 90, devido as sucessivas crises internacionais que exigiram
programas de resgate internacional para garantir o equilíbrio do sistema financeiro global.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) começou a estabelecer princípios de boas práticas
para reforçar a vigilância fiscal, apoiar a formulação de políticas e aumentar a
responsabilidade fiscal. Isso foi feito por meio de relatórios sobre o desempenho e
Relatórios de Normas e Códigos, por exemplo o Código de Boas Práticas de Transparência
Fiscal e o Padrão Especial de Disseminação de Dados, que foram aprovados em 1996 e
1998, respectivamente. Orientação semelhante também foi criada pela OCDE em 2002 no
guia de Melhores Práticas para a Transparência Orçamentária.

Os possíveis efeitos da transparência fiscal estão relacionados à menor corrupção,


disciplina fiscal, gestão mais eficiente dos recursos públicos, aumento da legitimidade e da
confiança no governo, maiores receitas, melhor prestação dos serviços públicos, resultados
macrofiscais desejáveis e desenvolvimento humano. Estudos empíricos encontram que a
transparência na gestão das contas públicas melhora o desempenho e a sustentabilidade
fiscal, bem como reduz a corrupção e a volatilidade dos mercados e melhora a perspectiva
econômica (por exemplo, KOPITS e CRAIG 1998; REINIKKA e SVENSSON 2004;
ISLAM 2006; ALT e LASSEN 2006a, b; GLENNERSTER e SHIN 2008; KOLSTAD e
WIIG 2009; PEAT et al., 2015; ARBATLI e ESCOLANO; 2015).

xvi
Introdução

A transparência nas contas públicas é considerada uma condição importante para


a sustentabilidade macroeconômica, para a consciência fiscal global e para consolidação
democrática (KOPITS E CRAIG, 1998).

A crise financeira global, a crise da dívida dos países da União Europeia (EU),
e as práticas de contabilidade criativa e trapaças fiscais adotadas por diversos países
revelaram graves deficiências nos relatórios fiscais fornecidos pelos governos e, assim,
as falhas na maneira como governos se relacionam com as sociedades. Como
consequência, as incertezas em relação à situação real das contas públicas dos países
levantaram dúvidas quanto à eficácia das políticas governamentais e eficiência dos gastos
públicos. Como resultado da forte demanda por parte das sociedades e dos apelos de
organizações internacionais (tais com FMI e Banco Mundial) para que governos
melhorem suas práticas de prestação de contas, a transparência fiscal vem sendo tema de
intenso debate entre acadêmicos e policymakers. Como resultado desse debate, o que se
observa é que governos de diferentes países têm se empenhado em elevar os níveis de
transparência com a sociedade.

Pelo fato da adoção de práticas mais transparentes ser uma tendência na gestão
das contas públicas, as seguintes questões surgem: Os países estão realmente fazendo
esforços para aumentar a transparência fiscal? Países com maior transparência fiscal
também apresentam maior eficácia do governo e maiores níveis de eficiência do gasto
público? Países com maior transparência fiscal aumentam seus gastos em educação?
Países com maior transparência fiscal aumentam seu consumo em relação ao PIB? Essas
questões são relevantes e ainda não foram totalmente respondidas dentro da literatura
econômica.

É possível identificar algumas lacunas dentro da literatura sobre transparência


fiscal: (i) escassez de análises com dados em painel; (ii) poucos trabalhos relacionados
com a eficácia e eficiência dos gastos do governo; (iii) poucos trabalhos relacionam
transparência fiscal com consumo do governo no PIB; (iv) poucos trabalhos analisam o
conjunto de países, separando por subgrupos, por exemplo: países em desenvolvimento,
países desenvolvidos, países que não adotam regime de metas para inflação. O presente

1
trabalho tem por objetivo contribuir com a literatura a respeito do tema, preenchendo
essas lacunas.
No primeiro capítulo, os esforços feitos por 82 países em termos de aumento da
transparência fiscal são avaliados, e em seguida, utilizando a metodologia de dados do
painel, são estimados os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a
eficiência do gasto público, para o período de 2006 a 2014. Com base no argumento de
que um sistema com maior transparência fiscal fornece aos policymakers incentivos para
adotar melhores políticas (ARBATLI e ESCOLANO 2015), o presente estudo sugere que
a transparência fiscal melhora a eficácia e a eficiência do governo. Até o momento, o
presente estudo é o primeiro a apresentar esse tipo de análise e o primeiro a fornecer
evidências empíricas acerca dessas relações, representando uma importante contribuição
para a literatura. Comparando as pontuações de transparência fiscal para os 82 países
entre 2006 e 2014, observa-se que cerca de 80 por cento dos países fizeram esforços para
melhorar a transparência fiscal. Em relação às estimações, os resultados indicam, para as
três amostras, que a transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar
a eficácia do governo e a eficiência do gasto público. Além disso, os resultados sugerem
a seguinte implicação para a política econômica: os países em desenvolvimento que visam
ampliar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público devem adotar o regime de metas para inflação (RMI).

No segundo capítulo, utilizando a metodologia de dados em painel para 75 países


no período de 2006 a 2016, o estudo tem como objetivo estimar os efeitos da transparência
fiscal sobre os gastos públicos em educação. Com base no argumento de que um governo
com maior transparência fiscal pressiona os policymakers a adotarem melhores políticas
(ARBATLI E ESCOLANO, 2015), o presente estudo sugere que a transparência fiscal
aumenta os gastos públicos em educação. Ademais, existe a preocupação de que os gastos
em educação não sejam eficientes (UNESCO, 2016B). Assim, outra questão relevante a
ser respondida é se a transparência fiscal ajuda a aumentar a eficiência dos gastos públicos
em educação. Nesse sentido, de modo a fornecer mais evidências, um indicador de
eficiência dos gastos públicos em educação é criado com base na metodologia de Análise
Envoltória de Dados – Data Envelopment Analysis (DEA). O indicador de eficiência dos
gastos do governo em educação que elaboramos por DEA, e sua utilização em estimações
por dados em painel para verificar como a eficiência deste gasto é impactada pela
transparência fiscal representam outra contribuição do estudo. Até o momento, o presente
2
estudo é o primeiro a apresentar esse tipo de análise e o primeiro a fornecer evidências
empíricas acerca dessas relações, representando contribuição para a literatura. Os
resultados mostram que a transparência fiscal afeta o gasto governamental em educação,
indicando que países com maior transparência fiscal alocam mais recursos em educação.
Quando são comparados os resultados para os países em desenvolvimento, observa-se
que as magnitudes dos coeficientes são maiores na amostra de países que englobam os
países desenvolvidos. Além disso, os resultados sugerem que a transparência fiscal
desempenha um papel importante para melhorar a eficiência do gasto público em
educação.

No terceiro capítulo, o objetivo é analisar o efeito da transparência fiscal e da


corrupção sobre o tamanho do governo, medido pelo consumo do governo no PIB. Em
específico, (i) analisar o efeito da transparência fiscal sobre o tamanho do governo; (ii)
estudar o impacto da corrupção do sobre o tamanho do governo; e (iii) verificar se ação
da transparência fiscal em conjunto com a corrupção tem um efeito mitigador ou
amplificador. Desta forma, o trabalho contribui fornecendo evidências do efeito
individual da transparência fiscal e da corrupção, e também do efeito conjunto de ambas
sobre o tamanho do governo. Utiliza-se dados em painel para um conjunto de 75 países,
no período de 2006 a 2016. Além disso, o estudo possui uma amostra principal e três
amostras alternativas utilizadas como análise de robustez. O método econométrico
utilizado é o Método Geral do Momentos Sistêmico (S-GMM). Os principais resultados
indicam que a transparência fiscal possui um efeito positivo sobre o tamanho do governo.
Os resultados fornecem indícios de uma relação positiva entra transparência fiscal e
tamanho do governo. Este resultado indica que os contribuintes exigem uma maior
transparência fiscal para permitir que os governos aumentem seu consumo no PIB. Os
resultados também indicam que há uma relação negativa entre a corrupção e o tamanho
do governo. Isto implica que os contribuintes respondem à maiores níveis de corrupção
demandando governos menores.

3
CAPÍTULO 1 - TRANSPARÊNCIA FISCAL,
EFICÁCIA DO GOVERNO E EFICIÊNCIA DO
GASTO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DE DADOS EM
PAINEL

4
1.1 Introdução
A crise financeira global, a crise da dívida dos países da União Europeia (EU), e as
práticas de contabilidade criativa e trapaças fiscais adotadas por diversos países revelaram
graves deficiências nos relatórios fiscais fornecidos pelos governos e, assim, as falhas na
maneira como governos se relacionam com as sociedades. Como consequência, as
incertezas em relação à situação real das contas públicas dos países levantaram dúvidas
quanto à eficácia das políticas governamentais e eficiência dos gastos públicos. Como
resultado da forte demanda por parte das sociedades e dos apelos de organizações
internacionais (tais com FMI e Banco Mundial) para que governos melhorem suas
práticas de prestação de contas, a transparência fiscal vem sendo tema de intenso debate
entre acadêmicos e policymakers. Como resultado desse debate, o que se observa é que
governos de diferentes países têm se empenhado em elevar os níveis de transparência com
a sociedade.

A transparência fiscal tem como objetivo tornar a formulação de políticas e a gestão


dos riscos fiscais mais eficazes e garantir que os governos forneçam informações mais
precisas ao público (FMI, 2012). Estudos empíricos encontram que a transparência na
gestão das contas públicas melhora o desempenho e a sustentabilidade fiscal, bem como
reduz a corrupção e a volatilidade dos mercados e melhora a perspectiva econômica (por
exemplo, KOPITS e CRAIG 1998; REINIKKA e SVENSSON 2004; ISLAM 2006; ALT
e LASSEN 2006a, b; GLENNERSTER e SHIN 2008; KOLSTAD e WIIG 2009; PEAT
et al., 2015; ARBATLI e ESCOLANO; 2015).

Pelo fato da adoção de práticas mais transparentes ser uma tendência na gestão das
contas públicas, as seguintes questões surgem: Os países estão realmente fazendo
esforços para aumentar a transparência fiscal? Países com maior transparência fiscal
também apresentam maior eficácia do governo e maiores níveis de eficiência do gasto
público? Esta última questão é importante, uma vez que as incertezas quanto à situação
real das contas públicas dos países levantam dúvidas em relação à eficácia e eficiência
das políticas governamentais.

No presente trabalho, os esforços feitos por 82 países em termos de aumento da


transparência fiscal são avaliados, e em seguida, utilizando a metodologia de dados do
painel, são estimados os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a
eficiência do gasto público. Com base no argumento de que um sistema com maior
transparência fiscal fornece aos policymakers incentivos para adotar melhores políticas
(ARBATLI e ESCOLANO 2015), o presente estudo sugere que a transparência fiscal
melhora a eficácia e a eficiência do governo. Até o momento, o presente estudo é o
primeiro a apresentar esse tipo de análise e o primeiro a fornecer evidências empíricas
acerca dessas relações, representando uma importante contribuição para a literatura.

Recentemente, Montes e Pachoal (2016) forneceram evidências empíricas para os


determinantes da eficácia do governo para um conjunto de 130 países (30 desenvolvidos
e 100 em desenvolvimento). Com base na análise de estimações de dados de corte
transversal (cross-country), os autores encontram evidências de que os países com os
governos mais endividados, em média, apresentam menor eficácia do governo. No
entanto, Montes e Pachoal (2016) não abordam o efeito da transparência fiscal sobre a
eficácia do governo. Por sua vez, Arbatli e Escolano (2015) encontram evidências de que
níveis mais altos de transparência fiscal estão associados a uma menor relação dívida/PIB.

Semelhante ao estudo de Arbatli e Escolano (2015) que abordam canais diretos e


indiretos por meio dos quais a transparência fiscal afeta as classificações de crédito, no
presente estudo são considerados dois canais pelos quais a transparência fiscal afeta a
eficácia do governo e a eficiência do gasto público. O primeiro canal é indireto e funciona
por meio do efeito da transparência fiscal sobre a dívida pública. O segundo canal é o
efeito direto que a transparência tem sobre a eficácia do governo e a eficiência do gasto
público, pois, devido à maior transparência, a sociedade é mais vigilante e mais ativa no
monitoramento das responsabilidades do governo, o que induz os governos a serem mais
eficazes.

De modo a captar a eficácia do governo, o estudo utiliza o indicador de "government


effectiveness" ("Eficácia Governamental") fornecido pelo Banco Mundial do projeto
“The Worldwide Governance Indicators” (WGI). Esse indicador é amplamente utilizado
em estudos empíricos (MONTES e PASCHOAL, 2016)2. Além disso, para verificar a

2Esta variável é definida da seguinte forma: o indicador de “government effectiveness" reflete a percepção da
qualidade dos serviços públicos, da qualidade do serviço público e do grau de independência das pressões políticas,
da qualidade da formulação e adoção de políticas e da credibilidade do compromisso do governo com tais políticas
(Worldwide Governance Indicators).
robustez e fornecer mais evidências, um indicador da eficiência dos gastos do governo é
criado com base na Análise Envoltória de Dados (DEA). O indicador de eficiência dos
gastos do governo construído com base na DEA e sua utilização em estimações por dados
em painel para verificar como é impactada pela transparência fiscal representam outra
contribuição do presente estudo.

Em relação à transparência fiscal, é utilizado o índice de transparência fiscal do


International Budget Partnership (IBP) - o Open Budget Index (OBI)3. O uso do OBI é
devido à sua ampla cobertura de países, disponibilidade pública dos dados e aceitação na
literatura (PEAT et al. 2015; ARBATLI e ESCOLANO 2015). Além disso, de acordo
com Wehner e de Renzio (2013, pp. 99) “the thoroughness and independence of the OBI
research process, including the publication of peer reviews and editorial decisions, make
it far less susceptible to government manipulation”4. Além disso, este índice de
transparência fiscal está intimamente relacionado com a definição de transparência fiscal
apresentada por Kopits e Craig (1998).5

Comparando as pontuações de transparência fiscal para os 82 países entre 2006 e


2014, observa-se que cerca de 80 por cento dos países fizeram esforços para melhorar a
transparência fiscal. Em relação às estimações, os resultados indicam, para as três
amostras, que a transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar a
eficácia do governo e a eficiência do gasto público. Além disso, os resultados sugerem a
seguinte implicação para a política econômica: os países em desenvolvimento que visam

3 O IBP realiza pesquisas que cobrem a disponibilidade de documentos-chave do orçamento, que se relacionam com
formulação de orçamento, execução de orçamento e processos de auditoria orçamentária, a força legislativa e a força
da instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI cobre a disponibilidade, a clareza e a qualidade dos
diferentes documentos orçamentários. O OBI baseia-se em questões que cobrem a qualidade e a abrangência de oito
documentos-chave do orçamento: declaração pré-orçamento, proposta de orçamento do executivo, orçamento
promulgado, orçamento do cidadão, relatórios interanuais, revisão intercalar, relatório de fim de ano e auditoria
relatório. O Open Budget Survey é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma organização independente
que avalia em que medida os governos disponibilizam suas informações orçamentárias ao público em tempo hábil.
Para a nossa análise, o OBI representa uma melhor medida de transparência fiscal do que outras medidas - como os
Relatórios do Fundo Monetário Internacional sobre a Observância de Padrões e Códigos (ROSC) e ajustes de fluxo
de estoque (SFA). Os argumentos seguem Peat et al. (2015).
4
Wehner e de Renzio (2013) apresentam várias características que tornam os dados OBI superiores aos fornecidos
pelo FMI.
5
De acordo com Kopits e Craig (1998, p.1): “Fiscal Transparency is defined (…) as openness toward the public at
large about government structure and functions, fiscal policy intentions, public sector accounts, and projections. It
involves ready access to reliable, comprehensive, timely, understandable, and internationally comparable information
on government activities - whether undertaken inside or outside the government sector - so that the electorate and
financial markets can accurately assess the government’s financial position and the true costs and benefits of
government activities, including their present and future economic and social implications”.
ampliar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público devem adotar o regime de metas para inflação (RMI).

1.2 Evidências empíricas sobre os efeitos da


transparência fiscal
Do ponto de vista internacional, a relação entre transparência do setor público e
melhores resultados econômicos e sociais é algo cada vez mais reconhecido (BASTIDA
e BENITO, 2007). Até o momento, a literatura aponta que os efeitos da transparência
fiscal estão relacionados a menores níveis de corrupção, maior disciplina fiscal, maior
legitimidade e confiança no governo e resultados macro-fiscais desejáveis. De modo a
fornecer um panorama acerca dos trabalhos que abordam os efeitos da transparência fiscal
e, assim, evidenciar as contribuições do presente estudo para a literatura, são
apresentados, abaixo, os estudos empíricos que contribuem para a literatura abordando a
relação causal do impacto da transparência fiscal sobre a economia.

O trabalho de Gelos e Wei (2005) examina como as participações dos investidores


internacionais são afetadas pela transparência do país e se esse efeito se torna mais
pronunciado durante as crises. Eles sugerem que a melhoria da transparência pode levar
a um aumento nos fluxos de investimento. Eles constroem medidas de transparência e
usam um único conjunto de micro dados para avaliar o efeito da transparência nas
alocações de portfólio. Os resultados apontam que tanto a transparência governamental
como a transparência corporativa têm efeitos positivos separados e distintos sobre os
fluxos de investimento de fundos internacionais para um país específico. Além disso,
durante as crises, a fuga de capitais é maior nos países menos transparentes. Assim,
sugerem que tornar-se mais transparente é uma maneira eficaz de um país se beneficiar
da integração financeira internacional, ao mesmo tempo em que reduz seus efeitos
colaterais potencialmente indesejáveis.

Alt e Lassen (2006a) examinam como a transparência e, também, a polarização dos


partidos políticos afetam os ciclos eleitorais na política fiscal (a variável dependente é o
superávit fiscal do governo central como porcentagem do PIB). A ideia é mostrar como
o acesso à informação sobre política fiscal é importante para a existência de ciclos
eleitorais nas finanças públicas. A pesquisa mostra, para as economias industrializadas
avançadas da OCDE no período 1989-1998, que os ciclos eleitorais existem em países de
baixa transparência e que tais ciclos são estatisticamente e economicamente
significativos. Além disso, encontram evidências de que os ciclos eleitorais são induzidos
pela polarização política, um achado que, em alguns casos, se revela somente depois de
controlar o nível de transparência, mas isso acaba reforçando os efeitos da baixa
transparência.

Por sua vez, Alt e Lassen (2006b) investigam se um maior grau de transparência
fiscal está associado à menor dívida pública. O estudo analisa 19 países retirados de um
questionário da OCDE de 1999 enviado a todos os Diretores Orçamentários dos países
membros da OCDE. Os achados preliminares sugerem que uma maior transparência fiscal
está associada a menores níveis de dívida, embora uma dívida significativa persista
mesmo com alta transparência. Os resultados das estimativas indicam que a transparência
fiscal está associada a menores ciclos políticos orçamentários e a menores dívidas
públicas e déficits, mesmo depois de ter permitido os efeitos do partidarismo e da
polarização. Além disso, uma menor transparência também está associada a um ciclo
eleitoral marcadamente maior na emissão de dívida. Os autores concluem que o aumento
da transparência fiscal é um elemento importante para melhorar o desempenho fiscal e
que as instituições fiscais realmente afetam os resultados fiscais.

Para explorar o vínculo entre fluxos de informação e governança, Islam (2006)


desenvolve um indicador - chamado “transparency index" – o qual mede a frequência
com que os governos atualizam dados econômicos que disponibilizam ao público. A
análise baseia-se em regressões entre países utilizando um total de 170 países, dentre os
quais 136 são países em desenvolvimento e 34 desenvolvidos. O autor não analisa
separadamente os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, e não leva em
consideração a evolução das variáveis ao longo do tempo. A estimativa da regressão entre
países mostra que os países com melhores fluxos de informação também apresentam
melhor governança.

Bernoth e Wolff (2008) analisam se os mercados financeiros levam em conta as


atividades de contabilidade criativa, bem como a transparência fiscal, ao prever prêmios
de risco de inadimplência contidos nos rendimentos dos títulos públicos. Eles testam os
efeitos da contabilidade criativa e transparência fiscal sobre as premissas de risco nos
mercados de títulos públicos. Os autores analisam 15 países da UE (excluindo
Luxemburgo). As regressões são estimadas com efeitos fixos para país de modo a
controlar características não observadas nos países, e as verificações de robustez são feitas
por meio de regressões com variáveis instrumentais (IV). Os resultados indicam que
governos mais transparentes se beneficiam de um prêmio de risco significativamente
menor.

O trabalho de Glennerster e Shin (2008) examina se a adoção de reformas que


buscaram aumentar a transparência fiscal levou a menores custos de empréstimos nos
mercados de títulos soberanos. Os autores analisam 23 economias de mercado emergentes
entre 1999 e 2002 por meio da metodologia de dados em painel com efeitos fixos para
país. A ideia é estimar a diferença nos spreads de crédito médios dos países antes e depois
da adoção das reformas, controlando as mudanças nos spreads de outros países ao longo
do mesmo período. Os resultados sugerem que os países que adotaram reformas
experimentaram uma mudança estrutural para baixo em seus spreads de crédito. Além
disso, os resultados indicam que a elevação da transparência é particularmente benéfica
para os países com mercados de dívida menores e menos líquidos, onde os participantes
no mercado têm menos informações inicialmente, e há uma diminuição do benefício
marginal da transparência.

Benito e Bastida (2009) analisam se os orçamentos transparentes aumentam o


compromisso dos políticos de serem fiscalmente responsáveis. Os autores exploram as
relações entre transparência orçamentária, resultados fiscais e participação política em
uma amostra internacional de países (41 países da OCDE e não membros da OCDE). Eles
criam um novo índice para avaliar a transparência orçamentária dos países e a análise é
feita para o ano de 2003. Eles encontram uma relação positiva entre o equilíbrio fiscal do
governo e a transparência orçamentária: quanto mais informações o governo divulga em
relação ao orçamento, menos os políticos podem usar déficits fiscais para alcançar
objetivos oportunistas. Além disso, a análise mostra uma relação positiva entre a
participação política e a transparência.

Quanto ao efeito da transparência sobre a corrupção, Kolstad e Wiig (2009) analisam


se a transparência é um mecanismo capaz de reduzir a corrupção em países ricos em
recursos naturais. Os achados apontam que a transparência, ou acesso à informação, pode
afetar a corrupção. No entanto, eles enfatizam que a transparência tem efeito sobre a
corrupção somente em determinadas circunstâncias. O impacto da transparência depende
do nível de educação do eleitorado. Além disso, eles argumentam que, embora a
transparência possa ter um efeito sobre a corrupção, isso não implica necessariamente que
aumentar o acesso à informação deva receber maior prioridade no combate a corrupção
em países ricos em recursos naturais.

Por sua vez, com o objetivo de verificar se tornar as instituições políticas mais
transparentes é um mecanismo eficaz para combater a corrupção, Lindstedt e Laurin
(2010) apresentam um estudo empírico baseado em uma análise de corte transversal para
111 países. Usando dois índices de transparência (índice de transparência econômica e
institucional e índice de transparência política, ambos obtidos do Banco Mundial), os
autores sugerem que a transparência é um mecanismo eficaz para reduzir a corrupção
quando associada a níveis mais altos de democracia.

Blume e Voigt (2013) fazem as seguintes perguntas: as disposições orçamentais


explicitamente enunciadas na constituição de um país têm algum efeito significativo na
política fiscal? A transparência do processo orçamentário tem algum efeito significativo
na política fiscal? Essas duas variáveis têm impacto em outras variáveis, como a eficácia
e a produtividade do governo? Com base em uma análise entre países, eles encontram que
os limites de gastos constitucionalmente estabelecidos estão correlacionados com o
menor gasto total do governo e que a transparência do orçamento de uma nação está
correlacionada com a maior eficácia do governo, além de reduzir a corrupção.

A presente pesquisa difere do estudo de Blume e Voigt (2013) em vários aspectos.


Por exemplo, Blume e Voigt (2013) trabalham com uma análise de corte transversal para
a década de 1990, mas que contém dados invariantes no tempo para os anos 1990 até
2000. Além disso, eles usam o OBI como uma medida de transparência; mas, o OBI foi
coletado em 2006, enquanto a maior parte dos dados utilizados pelos autores abrange o
período de 1990 a 2000. Nesse sentido, os autores tiveram que assumir que o indicador é
invariante no tempo, o que não é uma suposição plausível. Os autores utilizam uma
amostra de 47 países da OCDE e não membros da OCDE, no entanto, eles não consideram
países em desenvolvimento e desenvolvidos em amostras separadas.
Arbatli e Escolano (2015) investigam se a transparência fiscal tem efeito sobre as
percepções do mercado de risco soberano, conforme medido pelas classificações de
crédito soberano. Eles argumentam que dois canais são importantes para esse efeito: em
primeiro lugar, a transparência melhora as políticas e, portanto, os resultados fiscais por
meio de uma maior responsabilidade; e, em segundo lugar, reduz a incerteza dos
participantes do mercado por meio de melhores informações e uma maior credibilidade -
mesmo que os resultados reais sejam mantidos constantes. Portanto, eles consideram dois
canais diferentes pelos quais a transparência pode afetar as classificações. O primeiro
canal é indireto e funciona pelo efeito da transparência nos resultados fiscais. Nesse
sentido, um sistema fiscal mais transparente fornece aos formuladores de políticas
incentivos para adotar melhores políticas. O segundo canal é o efeito direto que a
transparência tem na redução da incerteza associada a um determinado conjunto de
políticas fiscais e financeiras. Para avaliar o significado desses dois canais separados, eles
estimam um sistema de equações que relaciona a transparência fiscal com os indicadores
fiscais, como os índices de dívida e equilíbrio primário com o PIB, bem como a
transparência fiscal com as classificações de crédito diretamente. Eles usam duas medidas
separadas de transparência fiscal: o “Reports on the Observance of Standards and Codes”
(ROSCs) do FMI, e o OBI. Com base em regressões de corte transversal, os resultados
sugerem que a transparência fiscal tem um efeito positivo e significativo nas avaliações,
mas seu efeito funciona por meio de diferentes canais em economias avançadas e em
desenvolvimento. Nas economias avançadas, a transparência fiscal está associada a
melhores resultados fiscais, levando indiretamente a classificações de crédito mais altas.
Nas economias em desenvolvimento, o efeito da transparência fiscal sobre a redução da
incerteza é direto e parece ser mais importante.

Peat et al. (2015) analisam se países com maior opacidade fiscal experimentam um
custo de empréstimos mais elevado (maiores spreads de crédito). Assim, eles investigam
se o mercado de crédito soberano diferencia os países com maior opacidade fiscal, por
meio da imposição de um prêmio de opacidade. Eles usam o OBI de 45 países avançados
e emergentes e seus spreads soberanos de swap de inadimplência de crédito (Credit
Default Swaps - CDS). A evidência sugere uma relação positiva e não linear entre
opacidade fiscal e spreads de crédito soberano. Além disso, ao dividir a amostra em países
avançados e emergentes, os autores encontram efeitos de estrutura não-linear e de longo
prazo mais fortes em países avançados.

1.3 Dados e Metodologia

A pesquisa utiliza um conjunto de 82 países (14 economias desenvolvidas e 68


economias em desenvolvimento)6 agrupados em três amostras: a primeira amostra contém
todos os 82 países (amostra completa), a segunda amostra é formada por 68 países em
desenvolvimento e a terceira amostra é formada por 54 países em desenvolvimento que
não adotam o regime de metas para inflação (RMI). O RMI requer ausência de dominância
fiscal e, portanto, sugere mecanismos que possam melhorar a disciplina fiscal. O estudo de
Minea e Tapsoba (2014) evidencia que a adoção do RMI melhorou a disciplina fiscal,
especialmente nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, a transparência fiscal
representa um aspecto capaz de aumentar a disciplina fiscal e, portanto, uma condição
necessária que os países devem atender para aumentar a eficácia do RMI. Portanto, a ideia
de analisar os países em desenvolvimento que não adotam RMI é verificar se esses países
melhoram a eficácia do governo quando aumentam a transparência fiscal - mesmo que não
adotem uma tecnologia de compromisso para a estabilidade da inflação que exige disciplina
fiscal (como o RMI).

O período analisado vai de 2006 a 2014 com periodicidade anual. A escolha do período
é devida à disponibilidade de dados – os dados para o OBI (o indicador de transparência
fiscal), por exemplo, começam em 2006. As variáveis utilizadas na análise são descritas
abaixo.7

A variável dependente é o indicador de "Eficácia Governamental" (GOV_EFF), obtido


a partir da base de dados do Banco Mundial (The Worldwide Governance Indicators –
WGI).8 O indicador varia de -2.5 (fraca eficácia) a 2.5 (forte eficácia). Este indicador é
usado em estudos empíricos como regressor e, também, como variável dependente. Como

6 O APÊNDICE A.1 apresenta a lista de países. A classificação como países desenvolvidos e em desenvolvimento
segue o Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook - WEO).
7 A Tabela A.2 apresenta as estatísticas descritivas de todas as variáveis utilizadas na análise.
8
De acordo com a sua definição, o indicador reflete a percepção da qualidade dos serviços públicos, da qualidade do
serviço civil e do grau de independência em relação às pressões políticas, da qualidade da formulação e implementação
de políticas e da credibilidade do compromisso do governo com tais políticas.
variável dependente, o indicador foi utilizado, por exemplo, nos estudos de Garcia-Sanchez
et al. (2013) e Montes e Paschoal (2016).

Por sua vez, o principal efeito sobre a eficácia do governo que o presente estudo busca
avaliar vem da transparência fiscal. Assim, o “Open Budget Index" (OBI) é utilizado como
medida de transparência fiscal (denominada TRANSPARENCY).9 Em relação ao OBI, de
Renzio e Masud (2011) apontam que o índice é efetivo, que os governos em todo o mundo
estão cada vez mais interessados em suas pontuações, e que os grupos da sociedade civil
estavam usando suas recomendações para pressionar os governos a melhorar a
transparência das decisões orçamentárias. De acordo com Seifert et al. (2013), o OBI
contribui de forma exclusiva e independente, fornecendo dados objetivos sobre a
transparência relacionada aos procedimentos orçamentários de vários países ao longo do
tempo. Este processo independente garante a confiabilidade dos dados apresentados
(SEIFERT et al., 2013). O OBI varia de 0 a 100, onde 100 é o máximo de transparência
fiscal e zero representa opacidade total.

Além do efeito direto da transparência fiscal sobre a eficácia do governo, também é


analisado seu efeito indireto. A ideia desse efeito indireto vem de Arbatli e Escolano
(2015). Portanto, seguindo Alt e Lassen (2006b) e Arbatli e Escolano (2015), uma análise
é feita para o efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB (DEBT); e, seguindo
Montes e Paschoal (2016), é estimado o efeito da variável DEBT sobre o GOV_EFF. A
série de DEBT é a relação entre a dívida pública do país e seu PIB (obtido do International
Monetary Fund).

Por sua vez, de acordo com Montes e Paschoal (2016), a corrupção causa vazamentos
de recursos que prejudicam a eficácia do governo. Além disso, uma vez que a corrupção
cria desperdício, leva os governos a gastarem mais e, portanto, a se tornarem mais
endividados. Cooray et al. (2017) sugerem que um aumento da corrupção leva a um
aumento da dívida pública. Assim, a variável de corrupção é utilizada na análise para

9
O OBI é obtido da International Budget Partnership (IBP). Para o IBP, a transparência fiscal é central e deve ser
traduzida para um maior acesso da sociedade as informações sobre diferentes tipos de despesas e como as receitas
fiscais e outros recursos públicos são usados pelos governos. Nesse sentido, o IBP lançou a “Open Budget Initiative"
através do Open Budget Survey- uma análise abrangente e uma pesquisa que avalie se os governos oferecem ao
público acesso a informações orçamentárias e oportunidades para participar do processo orçamentário a nível nacional.
A partir desta iniciativa, a fim de medir o compromisso global dos países pesquisados com transparência e permitir
comparações entre países, o IBP criou - com base na pesquisa - o OBI.
explicar tanto DEBT como GOV_EFF. Para representar a corrupção, o Control of
Corruption Perception Indicator (denominado CORRUPTION) é utilizado – obtido a partir
da base de dados do Banco Mundial (WGI). A variável CORRUPTION varia entre -2.5 e
2.5, em que quanto maior o indicador, maior é a percepção em relação ao controle da
corrupção.

As variáveis de controle utilizadas para explicar a variável DEBT provêm da literatura


(por exemplo, Alt e Lassen, 2006b; Arbatli e Escolano, 2015). Nesse sentido, são
utilizadas: a taxa de crescimento do PIB (GROWTH)10, a despesa do governo em
porcentagem do PIB (EXPEND)11 e, o grau de globalização (GLOBAL).12

Além de usar DEBT e TRANSPARENCY para explicar GOV_EFF, o estudo segue a


literatura (por exemplo, Garcia-Sanchez et al. 2013; Montes e Paschoal 2016) e utiliza as
seguintes variáveis de controle: a taxa de inflação (INFLATION) 13, PIB per capita
(GDP_PC)14, abertura comercial (TRADE)15, o indicador de estado de direito (RULE)16 e
CORRUPTION (descrito acima).

Conforme mostrado no quadro 1 abaixo, os valores médios da transparência fiscal


(TRANSPARENCY) e da eficácia do governo (GOV_EFF) (para o período entre 2006 e
2014) são maiores na amostra completa. Além disso, é possível ver que a amostra de países
em desenvolvimento (sem RMI) é aquela que apresenta valores médios mais baixos de
transparência fiscal e eficácia do governo.

Tabela 1 – Valores médios de transparência fiscal e eficácia do governo

Fonte: Elaboração dos autores.

10 GROWTH é a taxa anual de crescimento percentual do PIB medido a preços de mercado constante com base na
moeda local - os agregados são baseados em US$ de 2005 - obtidos a partir do World Bank Data.
11
Obtido a partir do World Bank Data.
12
O overall globalization index é o índice de globalização proposto por Dreher (2006), obtido em
http://globalization.kof.ethz.ch/. A relação entre globalização e dívida pública segue o FMI (2007). A ideia é que a
globalização aumenta a disciplina fiscal, uma vez que reforça a disciplina de mercado das políticas fiscais, trazendo
melhorias nas estruturas da dívida.
13
Esta série é a inflação do índice de preços ao consumidor obtida do World Bank Data
14
Os dados estão em dólares correntes U.S. (obtidos do World Bank Data).
15
TRADE é a soma das exportações e importações de bens e serviços, medida em relação ao PIB. Todas as séries
foram obtidas a partir do World Bank Data.
16
RULE é obtida a partir da base de dados World Bank WGI. O indicador tem valores entre -2.5 (menor nível de
Estado de direito) e 2,5 (o mais alto nível de Estado de direito).
Em relação à transparência fiscal, seguindo Wehner e de Renzio (2013), os países
podem ser divididos em cinco grupos com base em suas pontuações gerais do Índice,
distinguindo os governos que divulgam informações de maneira extensa (81-100; Grupo
1), significativa (61-80; Grupo 2), alguma (41-60; Grupo 3), mínima (21-40; Grupo 4), e
pouca ou nenhuma informação sobre o orçamento (0-20; Grupo 5). Considerando a amostra
de todos os países, a figura 1 apresenta o gráfico com esses grupos e revela os países que
apresentaram melhorias na transparência fiscal em termos de mudança de um grupo para
outro ao longo do tempo (comparando entre 2006 e 2014). O gráfico usa cores mais escuras
para denotar grupos de países com mais opacidade fiscal, e no que as regiões se tornam
mais claras, isso significa mais transparência fiscal. Os resultados revelam as seguintes
mudanças: do Grupo 5 ao Grupo 4 (Angola e Burkina Faso); do Grupo 4 ao Grupo 3
(Albânia, Nicarágua, Honduras, Equador, Azerbaijão, El Salvador, Mongólia, Bangladesh
e Uganda); do Grupo 3 ao Grupo 2 (Filipinas, Malavi, México, Bulgária e Federação
Russa); do Grupo 2 ao Grupo 1 (Noruega e Suécia). Estes resultados são contrários à
hipótese levantada e assumida por Blume e Voigt (2013) de que o OBI é invariante no
tempo e que "o próprio índice parece ser bastante estável ao longo do tempo" (BLUME e
VOIGT, 2013, pp. 241). Pode-se observar que vários países fizeram esforços para melhorar
a transparência fiscal, justificando, nesse sentido, uma análise que também considera o
efeito desta variável ao longo do tempo.
Figura 1 – Comparação do índice de transparência fiscal (OBI) em 2006 e 2014
Evolução da Transparência Fiscal (de 2006 a 2014)

Fonte: Elaboração dos autores.

Com base na figura 1, é possível observar que 66 países aumentaram a transparência


fiscal (correspondendo a 80 por cento da amostra). Quando os 68 países em
desenvolvimento são considerados, é possível perceber que 56 países aumentaram a
transparência fiscal (o que corresponde a aproximadamente 82% da amostra de países em
desenvolvimento); e, quando são considerados os 54 países em desenvolvimento que não
adotam RMI, é possível observar que 44 países aumentaram a transparência fiscal (o que
corresponde a aproximadamente 81% da amostra de países em desenvolvimento que não
adotam RMI).

Por sua vez, a figura 2 mostra os gráficos para as correlações entre transparência fiscal
e eficácia do governo. As correlações para as três amostras são mostradas, e para cada
amostra a correlação para os anos de 2006 e 2014 são apresentadas, bem como para a
diferença observada entre os anos de 2006 e 2014 (portanto, Gov_eff-DIF = Gov_eff2014
– Gov_eff2006, e, Fiscal Transparency-DIF = Fiscal Transparency2014 – Fiscal
Transparency2006). Em relação às três amostras, os gráficos indicam correlações positivas
entre transparência fiscal e eficácia do governo para os anos de 2006 e 2014. Além disso,
é possível observar que os países que apresentam melhorias de transparência fiscal
(medidas por meio de “Fiscal Transparency – DIF”), em média, também apresentam
melhorias da eficácia do governo (medidas por meio de “Gov_eff – DIF").

Portanto, as primeiras evidências, obtidas por meio de análises das correlações,


apontam relações positivas entre transparência fiscal e eficácia do governo, e também,
entre as variações na transparência fiscal e as variações na eficácia do governo,
independente da amostra sendo analisada.

Figura 2 – Correlação entre Transparência Fiscal e Eficácia Governamental para as três


amostras (períodos 2006, 2014 e para a diferença de 2006 a 2014).

Fonte: Elaboração dos autores.


Para analisar a influência da transparência fiscal sobre a eficácia do governo, dois
canais diferentes pelos quais a transparência fiscal afeta a eficácia do governo são
considerados. O primeiro canal é indireto e segue Arbatli e Escolano (2015), os quais
analisaram o efeito da transparência fiscal nas classificações de crédito usando a dívida
como um canal de transmissão. Ademais, seguindo Alt e Lassen (2006b), a ideia é que a
transparência fiscal está fortemente associada a níveis mais baixos de dívida, porque um
sistema fiscal mais transparente fornece aos formuladores de políticas incentivos para
adotar políticas fiscais responsáveis. Portanto, o primeiro canal é analisado por meio da
equação (1) abaixo:

𝐷𝐸𝐵𝑇𝑖,𝑡 = 𝛿𝐶1𝑖,𝑡 + 𝛾𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆𝑃𝐴𝑅𝐸𝑁𝐶𝑌𝑡 + 𝜃𝑖 + 𝜗𝑡 + 𝜖𝑖,𝑡


(1)

onde o subscrito i=1,2,…,82 é o país e t=1,2,…,9 é o período. O conjunto de variáveis de


controle (𝐶1𝑖,𝑡 ) consiste em: GROWTH, EXPEND, CORRUPTION e GLOBAL. O
conjunto de variáveis de controle segue a literatura (por exemplo, Alt e Lassen 2006b; FMI
2007; Arbatli e Escolano 2015). Por sua vez, 𝜃𝑖 captura o efeito específico do país, 𝜗𝑡 leva
em consideração o efeito de tempo relevante e 𝜖𝑖,𝑡 é um termo de erro aleatório que captura
o efeito de todas as variáveis omitidas.

O segundo canal é o canal direto, e é analisado por meio da equação (2) abaixo:

𝐺𝑂𝑉_𝐸𝐹𝐹𝑖,𝑡 = 𝛽𝐶2𝑖,𝑡 + 𝜂𝐷𝐸𝐵𝑇𝑡 + 𝜑𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆𝑃𝐴𝑅𝐸𝑁𝐶𝑌𝑡 +  𝑖 + 𝜇𝑡 + 𝜀𝑖,𝑡 (2)

onde  𝑖 captura efeito específico do país, 𝜇𝑡 leva em consideração o efeito de tempo


relevante e 𝜀𝑖,𝑡 é um termo de erro aleatório que captura o efeito de todas as variáveis
omitidas. O termo 𝐶2𝑖,𝑡 representa um vetor de variáveis de controle. Para definir o conjunto
de variáveis de controle, o estudo segue Montes e Paschoal (2016) e Garcia-Sanchez et al.
(2013), que analisam os determinantes da eficácia do governo. Assim, o conjunto de
variáveis de controle (𝐶2𝑖,𝑡 ) consiste em: INFLATION, GDP_PC, TRADE, RULE e
CORRUPTION. Diferente de Garcia-Sanchez et al. (2013) e Montes e Paschoal (2016), a
presente análise inclui o efeito da transparência fiscal.

O estudo utiliza a metodologia de dados em painel. Além das estimações usuais por
Mínimos Quadrados Ordinários com efeitos fixos para países (EFc) e efeitos fixos para
países e tempo (EFct), também são utilizadas as estruturas de dados em painel dinâmico
(D-GMM e S-GMM). Conforme apontado por Arellano e Bond (1991), uma vantagem de
usar o método de dados em painel dinâmico por GMM é que este elimina os efeitos não
observados nas regressões e as estimativas ao mesmo tempo são confiáveis, mesmo no caso
de variáveis omitidas. Em particular, o uso de variáveis instrumentais permite a estimação
de parâmetros de forma mais consistente, mesmo no caso de endogeneidade em variáveis
explicativas e na ocorrência de erros de medição (BOND et al., 2001).

O modelo empírico desenvolvido neste estudo está sujeito aos problemas acima
mencionados. Em suma, nem todas as variáveis explicativas do modelo são conhecidas e
mensuráveis. Além disso, a taxa de crescimento do PIB real pode ser influenciada pela
dívida pública, o que, por sua vez, sugere um problema de simultaneidade. Além disso, no
que se refere ao problema da endogeneidade, por exemplo, um choque macroeconômico
pode afetar a dívida pública e, portanto, a taxa de crescimento do PIB real.

O modelo proposto por Arellano e Bond (1991) consiste na estimação de dados em


painel por GMM em primeiras diferenças (D-GMM) como forma de eliminar efeitos não
observados. No entanto, Alonso-Borrego e Arellano (1999), e Blundell e Bond (1998)
mostraram que o D-GMM tem um viés (para amostras grandes e pequenas) e baixa
acurácia. Além disso, o uso de defasagens pode gerar instrumentos fracos (STAIGER e
STOCK, 1997). Como forma de mitigar o problema de instrumentos fracos no D-GMM,
Arellano e Bover (1995) e Blundell e Bond (1998) sugerem a inclusão de condições de
momentos. Assim, o método sistêmico (S-GMM) combina equações de regressão nas
diferenças e nos níveis em um único sistema e usa diferenças defasadas e níveis defasados
como instrumentos.
Embora as estimações por D-GMM e S-GMM sejam adequadas para um pequeno
número de períodos de tempo (t) e um maior número de indivíduos (i), no caso de pequenas
amostras, quando os instrumentos são muitos, as estimações tendem a sobre ajustar as
variáveis instrumentais criando um viés nos resultados (Roodman, 2009). Assim, com o
objetivo de evitar o uso excessivo de instrumentos nas regressões e, por conseguinte, perder
o poder de teste, a razão entre o número de instrumentos e o número de cross-sections é
reportada, a qual deve ser menor do que 1 em cada regressão – como sugerido por Roodman
(2009). Além disso, a fim de confirmar a validade dos instrumentos nos modelos, será
utilizado o teste de restrições de sobreidentificação (J-statistic), conforme sugerido por
Arellano (2003). Além disso, de modo a detectar a presença de correlação serial, os testes
de primeira ordem (AR1) e de segunda ordem (AR2) serão realizados.

1.4 Resultados
Os resultados das estimativas são apresentados em duas etapas. Primeiro, são
apresentados os resultados obtidos a partir da especificação que considera o efeito da
transparência fiscal sobre a dívida pública (equação 1). Posteriormente, são mostrados os
resultados obtidos a partir da especificação que captura o efeito direto da transparência
fiscal sobre a eficácia do governo (equação 2).

De forma geral, para todas as estimativas (das equações 1 e 2), o uso de D-GMM e S-
GMM não altera os sinais dos coeficientes obtidos por meio de estimativas de efeitos fixos.
Além disso, todas as regressões GMM aceitam a hipótese nula dos testes de Sargan
(estatística J) e, portanto, as restrições de sobreidentificação são válidas. Além disso, os
testes AR (1) e AR (2) rejeitam a hipótese da presença de autocorrelação serial em todas
as estimativas.

As Tabelas 2, 3 e 4 mostram os resultados das estimativas para a equação 1 em relação


às amostras completa, de países em desenvolvimento e de países em desenvolvimento que
não adotam RMI, respectivamente. Os resultados para todas as amostras indicam que há
um efeito significativo da transparência fiscal sobre DEBT, ou seja, um aumento na
transparência fiscal reduz a relação dívida/PIB. Arbatli e Escolano (2015) encontram que
a transparência fiscal, nas economias avançadas, tem um efeito significativo sobre a relação
dívida / PIB, mas, em relação à amostra completa e à amostra das economias em
desenvolvimento, encontram evidências de que o efeito da transparência fiscal sobre dívida
é pequeno e não apresenta significância estatística. Por sua vez, no presente estudo, os
resultados sustentam a ideia de que a transparência fiscal é importante para o desempenho
fiscal, independentemente da amostra considerada.

Em termos de variáveis de controle, as estimativas mostram (para todas as três


amostras) que o baixo crescimento econômico leva a maior acumulação de dívida – esse
resultado corrobora a evidência apresentada por Ogawa et al. (2016). Por sua vez, os
coeficientes estimados para EXPEND apresentam sinal positivo e significância estatística
em todas as estimativas por GMM para as três amostras, o que implica que quanto maior o
gasto do governo, maior a relação dívida pública/PIB – esse resultado corrobora Cooray e
Schneider (2017). Além disso, as estimativas para as três amostras revelam que o efeito da
globalização sobre a dívida pública é negativo – este resultado está em linha com as ideias
apresentadas pelo FMI (2007): a globalização aumenta a disciplina fiscal uma vez que
reforça a disciplina de mercado das políticas fiscais, trazendo melhorias para a estruturação
da dívida.

Quanto à relação entre CORRUPTION e DEBT, os resultados revelam que países com
pontuações mais altas em termos de controle da corrupção também apresentam menor
dívida pública. Portanto, o controle da corrupção é um aspecto importante para melhorar o
desempenho fiscal. Esta constatação é consistente com a evidência fornecida por Elgin e
Uras (2013) e Cooray e Schneider (2013).

Tabela 2 – Estimações para o efeito da transparência fiscal na relação dívida/PIB


(amostra completa): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 3 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB
(países em desenvolvimento): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.

Tabela 4 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB


(países em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.

Em relação à equação 2, as tabelas 5, 6 e 7 mostram os resultados das estimações


para as amostras completa, de países em desenvolvimento e de países em desenvolvimento
que não adotam RMI, respectivamente. A Equação 2 capta o efeito direto que a
transparência fiscal tem sobre a eficácia do governo, bem como o efeito que a dívida
pública tem sobre a eficácia do governo (ou seja, o efeito indireto).

Em relação ao efeito direto, os resultados indicam que países com maiores


pontuações de transparência fiscal também apresentam níveis mais altos de eficácia do
governo. Portanto, procedimentos fiscais mais transparentes são importantes para melhorar
a eficácia do governo. Comparando os coeficientes obtidos das três amostras por meio de
estimações GMM (D-GMM e S-GMM), os resultados sugerem que o efeito da
transparência fiscal sobre a eficácia do governo é maior na amostra de países em
desenvolvimento. Esse efeito direto maior da transparência fiscal sobre a eficácia do
governo, encontrado para a amostra de países em desenvolvimento, pode ser devido ao fato
de que países desenvolvidos já apresentam maiores pontuações de transparência fiscal e
eficácia do governo. Assim, mesmo se os países desenvolvidos aumentam a transparência
fiscal, o ganho em termos de eficácia do governo é menor, pois, esses países já apresentam
melhores práticas fiscais e melhores políticas. No entanto, as estimativas revelam que o
RMI é importante, ou seja, os coeficientes estimados por meio de D-GMM e S-GMM para
o efeito de TRANSPARENCY sobre GOV_EFF para a amostra de países em
desenvolvimento que não adotam RMI são menores que os da amostra de países em
desenvolvimento (que também contêm países em desenvolvimento com RMI). Nesse
sentido, os resultados oferecem uma visão interessante que sugere a seguinte implicação
para a política econômica: os países em desenvolvimento que buscam alcançar efeitos
ampliados da transparência fiscal sobre a eficácia do governo devem adotar uma tecnologia
de compromisso, como o RMI.

Por sua vez, as estimações revelam (para as três amostras) que DEBT afeta
GOV_EFF. Em todas as estimações os sinais são negativos e estatisticamente
significativos. Esses resultados estão de acordo com as evidências apresentadas por Montes
e Paschoal (2015), os resultados indicam que os países mais endividados, em média, têm
governos menos eficazes. Nesse sentido, os resultados apontam a existência de um
mecanismo de transmissão e, portanto, o efeito indireto que a transparência fiscal tem sobre
a eficácia do governo por meio da dívida pública.

Em termos de variáveis de controle, os resultados para as três amostras sugerem que


os países com taxas de inflação mais elevadas apresentam níveis mais baixos de eficácia
do governo. Além disso, a evidência aponta – com significância estatística para todas as
amostras – que, um aumento no estado de direito representa uma boa estratégia para
melhorar a eficácia do governo. Além disso, as estimativas para o efeito do TRADE
apresentaram coeficientes positivos para todas as amostras e foi encontrada significância
estatística para todas as três amostras. Todos esses resultados para as variáveis de controle
estão de acordo com os achados de Montes e Paschoal (2015).

Quanto ao efeito da corrupção, a evidência aponta que a corrupção afeta a eficácia


do governo, e a significância estatística é encontrada para as três amostras. Assim, a
redução da corrupção é uma condição importante para melhorar a eficácia do governo.
Tabela 5 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (amostra completa): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct –
OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de Arellano
e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a
autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença
de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autore
Tabela 6 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países em desenvolvimento): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct –
OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de Arellano
e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a
autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença
de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 7 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct
– OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam
se a autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a
presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
1.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos:
análise de robustez
Nesta seção, a robustez dos resultados obtidos é verificada por meio de estimativas
para o efeito da transparência fiscal sobre a eficiência do gasto público. Para isso, um
indicador de eficiência de gastos do governo (GSE) foi construído para 75 países17 que
compõem a amostra total, compreendendo o período 2006-2014, e, posteriormente, foi
utilizado nas estimações. Seguindo Gupta e Verhoeven (2001) e Chan et al. (2017), a
eficiência dos gastos do governo é definida como a capacidade do governo de produzir
mais resultados para um determinado nível de recursos. Nesse sentido, o indicador de GSE
é construído pela técnica de análise envoltória de dados (DEA).

A DEA é uma técnica estatística não paramétrica utilizada para avaliar a eficiência
do setor público. Assim, para construir o indicador de GSE, o estudo seguiu a literatura que
usa DEA para avaliar a eficiência do setor público e eficiência dos gastos do governo (por
exemplo, AHN et al., 1988;. SMITH e MAYSTON, 1987; AFONSO et al., 2005 e 2010;.
AFONSO e AUBYN, 2005; AFONSO e FERNANDES, 2006; RAYP e de SIJPE, 2007;
HAUNER, 2008; KEMPKES e POHL, 2010; DUTU e SICARI, 2016; CHAN et al., 2017).
O indicador de GSE, além de proporcionar robustez aos resultados obtidos na seção
anterior, contribui para a literatura, pois, uma análise para a influência da transparência
fiscal sobre a eficiência do gasto público nunca foi realizada.

A DEA é um método de programação linear que foi popularizado por Charnes et


al. (1978).18 A DEA baseia-se na eficiência de Pareto, onde a Unidade de Decisão mais
Eficiente (DMU) é dita operar na fronteira e as DMUs abaixo da fronteira são consideradas
ineficientes em relação ao banco de referência (ou seja, em relação às DMUs mais

17 Inicialmente, a amostra foi composta por 82 países. No entanto, devido à disponibilidade de dados para a construção
do indicador, os seguintes países foram retirados da amostra: Congo, Argélia, Iraque, Níger, Papua Nova Guiné, Sudão
e Tuvalu.
18
Usando a programação linear, uma fronteira dos países com melhores práticas é construída com base nos dados de
insumo-produto, que é então usado como referência para avaliar o desempenho de unidades menos eficientes. A
fronteira estimada, portanto, "envolve" todas as observações disponíveis, e cada desvio dessa fronteira é interpretado
como uma combinação ineficiente de insumos e/ou resultados. Farrell (1957) primeiro sugeriu que essa abordagem
linear convexa do casco poderia ser usada para estimar a fronteira das possibilidades de produção e medir a eficiência.
Charnes et al. (1978) formalizaram então a metodologia DEA usando programação linear para construir a fronteira.
eficientes). No presente estudo, as DMU referem-se aos países, onde são assumidos que o
governo usa um insumo (despesas governamentais) para atingir objetivos.

A DEA foi inicialmente baseada na suposição de retornos constantes de escala


(CHARNES et al., 1978), onde se supõe que a DMU aumenta proporcionalmente seus
inputs e outputs no processo de produção para alcançar eficiência. Posteriormente, o estudo
de Banker et al. (1984) revisou o modelo DEA de modo a dar conta da situação de retorno
variáveis de escala (VRS). De acordo com Chan et al. (2017), o modelo com VRS é mais
realista para a aplicação no mundo real, onde as DMUs são restritas por imperfeições de
mercado, tais como a concorrência imperfeita, regulamentações governamentais e restrição
financeira, o que leva a um aumento desproporcional em inputs e outputs no processo de
produção. Assim, tal como Chan et al. (2017), no presente estudo foi adotado o modelo
DEA com retorno variáveis de escala (VRS).

Abaixo, por meio da Equação (3), é apresentada a descrição analítica do problema


de programação linear a ser resolvido na hipótese de VRS.

max  (3)
(,)

𝑠𝑡: 𝑥𝑖 − 𝑋𝜇 ≥ 0,
𝑄𝜇 − 𝑞𝑖 ≥ 0
𝐼1′ 𝜇 = 1
𝜇 ≥ 0.

onde,  é a eficiência para cada país i com 1/ como as pontuações de eficiência técnica
que variam entre 0 e 1.19 -1 é o aumento proporcional nos resultados (outputs) que
poderiam ser alcançados por um país com um determinado nível de entrada (input), sendo
1 ≤  < . O vetor xi é o insumo (input) para o país i e o vetor qi representa o resultado
(output) para o país i. Por sua vez,  é um vetor constante I × 1, que mede os pesos
utilizados para calcular a posição de uma DMU ineficiente, se essa tivesse que se tornar
eficiente. A restrição 𝐼1′ 𝜇 = 1 impõe a convexidade da fronteira, representando retornos
variáveis a escala. Soltar essa restrição equivaleria a admitir que os retornos à escala são
constantes. X é uma matriz formada pelos vetores transpostos de resultados (outputs) de

19 Alteramos a escala do indicador, multiplicando-a por 100, de modo que ela varie entre 0 e 100.
todas as DMUs na amostra; Q é uma matriz formada pelos vetores transpostos de entradas
(inputs) de todas as DMUs na amostra.

Os inputs e outputs utilizados na DEA seguem Afonso et al. (2005 e 2010). Foi
utilizado como input a “Despesa de Consumo Final das Administrações Públicas” (como
percentual do PIB)20 e, como outputs, foram utilizados indicadores de desempenho do setor
público divididos em dois tipos: "indicadores de oportunidade" e "indicadores de
Musgravian"21. Em relação aos indicadores de oportunidade, são utilizadas três variáveis
da dimensão administrativa (corrupção, burocracia e qualidade do judiciário) 22, uma
variável da dimensão educacional (qualidade da educação em matemática e ciências) 23 e
duas variáveis para a dimensão da saúde (expectativa de vida ao nascer e taxa de
sobrevivência infantil)24. Para os indicadores de Musgravian, são utilizadas uma variável
para capturar a distribuição (coeficiente de Gini)25, duas variáveis para a dimensão de
estabilidade (inflação e estabilidade do crescimento do PIB)26 e duas variáveis para a
dimensão do desempenho econômico (desemprego e taxa de crescimento do PIB) 27. Para
construir o indicador de GSE, o software R - pacote "Benchmarking" desenvolvido por
Bogetoft e Otto (2011) foi utilizado.

20 Obtido a partir dos dados das contas nacionais do World Bank.


21
De acordo com Musgrave (1959), o governo tem três funções básicas: alocativa, distributiva e estabilizadora.
22
Os dados de "corrupção" foram obtidos do Worldwide Governance Indicators (WGI). Os dados de "burocracia
(carga de regulação)" e "qualidade do judiciário" foram ambos obtidos do Global Competitiveness Report.
23
Obtidos do Global Competitiveness Report.
24
Os dados de "expectativa de vida ao nascer" foram obtidos do World Bank (WDI). A série de "taxa de sobrevivência
infantil" (ISR) é calculada usando a "taxa de mortalidade infantil" (IMR) obtida do World Bank, onde, ISR = (1000 -
IMR) / 1000.
25
Para esta série, usamos a construção (100 - Gini). Os dados são obtidos do World Bank.
26
A série de "inflação" foi calculada utilizando Consumer Price Index (variação percentual anual) obtida a partir dos
dados do World Bank- e para construir o indicador de GSE, usamos seu inverso. Para a série de "estabilidade do
crescimento do PIB", utilizamos o inverso do coeficiente de variação do " per capita GDP growth" (obtido do World
Bank (WDI)).
27
Tanto o "desemprego" como a "taxa de crescimento do PIB" são obtidos a partir dos dados do World Bank.
Figura 3 – Esquema de Construção do Indicador GSE

Fonte: Elaboração Própria, seguindo o esquema elaborado por Afonso et al. (2005).

Depois de construir o indicador para os 75 países, a equação 4 apresentada abaixo


é estimada por meio do S-GMM.

𝐺𝑆𝐸𝑖,𝑡 = 𝜆𝐶3𝑖,𝑡 + 𝜙𝐷𝐸𝐵𝑇𝑡 + 𝜌𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆𝑃𝐴𝑅𝐸𝑁𝐶𝑌𝑡 + 𝑘𝑖 + 𝜛𝑡 +𝜉𝑖,𝑡 (4)

onde, o subscrito i=1,2,…,75 é o país; t=1,2,…,9 é o período, 𝑘𝑖 captura o efeito específico


do país, 𝜛𝑡 leva em consideração o efeito relevante do tempo e 𝜉𝑖,𝑡 é um termo de erro
aleatório que captura o efeito de todas as variáveis omitidas. Por sua vez, 𝐶3𝑖,𝑡 é um vetor
de variáveis de controle formado pelas mesmas variáveis de controle da equação (2).
Novamente, as estimativas são feitas para a amostra completa, para a amostra de países em
desenvolvimento e para a amostra de países em desenvolvimento que não adotam RMI. A
Tabela 8 abaixo apresenta as correlações entre TRANSPARENCY e GSE para as três
amostras. Os resultados apontam que as variáveis são positivamente correlacionadas.

Tabela 8 – Correlações entre Transparência Fiscal e GSE


Amostra total Desenvolvimento Desenvolvimento sem RMI
TRANSPARENCY TRANSPARENCY TRANSPARENCY
GSE 0.297 0.214 0.256
Fonte: Elaboração dos autores.

A Tabela 9 apresenta os resultados das estimações feitas para a equação 4 para as três
amostras. Todos os coeficientes estimados para o efeito da transparência fiscal
(TRANSPARENCY) no indicador de eficiência do gasto público (GSE) apresentam os
sinais esperados e significância estatística (nas três amostras), indicando que um aumento
na transparência fiscal aumenta a eficiência do gasto público. Mais uma vez, as estimativas
revelam que o RMI é importante, ou seja, os coeficientes estimados para o efeito da
TRANSPARENCY sobre GSE para a amostra de países em desenvolvimento que não
adotam RMI são menores que para a amostra completa e para a amostra de países em
desenvolvimento (que também contém países em desenvolvimento com RMI). Portanto,
os países em desenvolvimento que buscam ampliar os efeitos da transparência fiscal, e ao
mesmo tempo, pretendem aumentar a eficiência dos gastos públicos, deveriam adotar o
RMI como forma de aumentar os compromissos com os lados fiscal e monetário.

No tocante ao efeito da dívida pública sobre o indicador de GSE, as estimativas


apontam (para as três amostras analisadas) que os países com maior dívida pública tendem
a ter menor eficiência dos gastos públicos. Como consequência, os resultados também
indicam a existência de um mecanismo de transmissão e, portanto, o efeito indireto que a
transparência fiscal tem sobre a eficiência do gasto público por meio da dívida pública.
Portanto, os resultados destacam a importância da transparência fiscal para manter os
governos responsáveis em relação às suas dívidas e gastos e, assim, aumentar a eficiência.

Em relação às variáveis de controle, os resultados obtidos para as três amostras


sugerem que as taxas de inflação mais altas estão relacionadas com menor GSE. Portanto,
a inflação é prejudicial ao processo de alocação de recursos e torna os governos menos
eficientes. Além disso, as estimativas para o efeito do PIB per capita e abertura comercial
sobre GSE apresentam coeficientes positivos para todas as amostras e com significância
estatística, corroborando os resultados relatados anteriormente e alguns achados na
literatura (por exemplo, AFONSO et al., 2010).

Os resultados também sugerem que um aumento no Estado de Direito (RULE)


melhora a eficiência do gasto público, com significância estatística para todas as amostras.
Por sua vez, um resultado importante diz respeito ao efeito do controle da corrupção sobre
a eficiência do gasto público. Uma vez que a corrupção distorce o processo de alocação de
recursos, torna os governos menos eficientes. Os resultados indicam – com significância
estatística para as três amostras – que o controle da corrupção afeta positivamente a
eficiência do gasto público.
Tabela 9 – Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o GSE: 2006 - 2014

Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. S-MGM – em dois estágios de Arellano e
Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem
nos resíduos de primeiras diferenças. Constante e GSE defasado apresentam os sinais esperados e são omitidos por conveniência. Fonte: Elaboração dos autores.
1.6 Considerações Finais

Este estudo teve como objetivos mostrar os esforços feitos pelos países no sentido de
aumentarem a transparência fiscal, e analisar a relação entre a transparência fiscal e a
eficácia do governo, e a relação entre a transparência fiscal e a eficiência do gasto público.
Com base em uma amostra de 82 países (14 países desenvolvidos e 68 países em
desenvolvimento) agrupados em três amostras, os resultados sugerem (para todas as
amostras) que a transparência fiscal (medida pelo Open Budget Index) tem efeito
estatisticamente significativo tanto sobre a eficácia do governo quanto sobre a eficiência
do gasto público (medido pelo indicador construído no presente estudo com base na
Análise Envoltória de Dados).

Com base nos resultados das estimações, a transparência fiscal exerce efeito direto
sobre a eficácia do governo e eficiência do gasto público, como também efeito indireto por
meio da dívida pública, enfatizando, assim, seu papel na promoção de melhores práticas
para a política fiscal. Os resultados indicam os países podem se beneficiar
significativamente com a redução da dívida pública, aumentando a transparência fiscal.

Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: governos que buscam melhorar sua eficácia e
apresentar gastos mais eficientes devem aumentar a transparência fiscal.
1.7 Apêndice

APÊNDICE A.1 – Lista de países


Amostra Completa

Albânia; Argélia; Angola; Argentina; Azerbaijão; Bangladesh; Burkina Faso; Bulgária;


Bolívia; Brasil; Botswana; Camarões; Chile; China; Colômbia; Congo; Costa Rica;
Croácia; República Checa; República Dominicana; Equador; Egito; El Salvador; France;
Gana; Guatemala; Alemanha; Honduras; Indonésia; Paquistão; Índia; Iraque; Itália;
Jordânia; Quênia; Cazaquistão; Líbano; Libéria; Malásia; Mali; Malaui; México;
Marrocos; Mongólia; Moçambique; Namíbia; Níger; Nigéria; Nicarágua; Noruega; Peru;
Papua Nova Guiné; Nova Zelândia; Filipinas; Polônia; Portugal; România; Rússia; Arábia
Saudita; Senegal; Sérvia; Serra Leoa; Eslováquia; Eslovênia; Espanha; Sri Lanka; África
do Sul; Senegal; Suécia; Sudão; Tailândia; Tunísia; Turquia; Tuvalu; Tanzânia; Ucrânia;
Uganda; Inglaterra; Estados Unidos; Venezuela; Vietnã; Iêmen; Zimbábue.

Países em Desenvolvimento

Albânia; Argélia; Angola; Argentina; Azerbaijão; Bangladesh; Burkina Faso; Bulgária;


Bolívia; Brasil; Botswana; Chile; Camarões; Colômbia; Costa Rica; Croácia; República
Dominicana; Equador; Egito; El Salvador; Gana; Guatemala; Honduras; Indonésia
Paquistão; Índia; Iraque; Jordânia; Quênia; Cazaquistão; Líbano; Libéria; Malásia; Mali;
Malaui; México; Marrocos; Mongólia; Moçambique; Namíbia; Níger; Nigéria; Nicarágua;
Peru; Papua Nova Guiné; Filipinas; Polônia; România; Rússia ; Arábia Saudita; Senegal;
Sérvia; Serra Leoa; Sri Lanka; África do Sul; Senegal; Sudão; Tailândia; Tunísia; Turquia;
Tuvalu; Tanzânia; Ucrânia; Uganda; Venezuela; Vietnã; Iêmen.; Zimbábue.

Países em Desenvolvimento sem RMI

Albânia; Argélia; Angola; Argentina; Azerbaijão; Bangladesh; Burkina Faso; Bulgária;


Bolívia; Botswana; Congo; Camarões; Costa Rica; Croácia; República; Equador; Egito; El
Salvador; Honduras; Índia; Iraque; Jordânia; Quênia; Cazaquistão; Líbano; Libéria;
Malásia; Mali; Malaui; Marrocos; Mongólia; Moçambique; Namíbia; Níger; Nigéria;
Nicarágua; Paquistão; Papua Nova Guiné; Rússia; Arábia Saudita; Senegal; Sérvia;
Serra Leoa; Sri Lanka; Sudão; Tailândia; Tunísia; Tuvalu; Tanzânia; Ucrânia; Uganda;
Venezuela; Vietnã; Iêmen; Zimbábue.
Fonte: Elaboração dos autores.

APÊNDICE A.2 – Estatísticas Descritivas

Fonte: Elaboração dos autores.


CAPÍTULO 2 – EFEITOS DA TRANSPARÊNCIA
FISCAL SOBRE OS GASTOS DO GOVERNO EM
EDUCAÇÃO E SOBRE A EFICIÊNCIA DESSES
GASTOS
2.1 Introdução
A educação é um direito humano fundamental, considerado essencial para o exercício
de todos os direitos do indivíduo, como o exercício da cidadania e da democracia, a
inclusão social e econômica, a luta contra a pobreza extrema e a geração de renda
(UNESCO, 2016a). Apesar disso, em 2014, existiam cerca de 781 milhões de analfabetos
e 263 milhões de crianças, adolescentes e jovens estavam fora da escola. (UNESCO,
2016a).
O governo é a principal fonte de gastos com educação, contudo, segundo a Unesco
(2016b), em pelo menos 35 países os governos gastaram menos de 4% do PIB e menos de
15% da sua despesa total na educação28. Esse volume precisaria aumentar pelo menos seis
vezes para preencher os US$ 39 bilhões de déficit anual de financiamento da educação,
porém em 2014, os níveis foram 8% menores do que seu pico em 2010.

Pelo fato da transparência aumentar a accountability (IMF, 2012; Montes et al.,


2019), ela pode ser usada como uma ferramenta para que o governo seja mais
comprometido com o alcance de suas metas. Transparência implica disponibilidade e
alcance da informação para a população em geral, o que ajuda a fornecer a necessária
verificação das ações governamentais adotadas em prol dos anseios da sociedade, além de
aumentar a responsabilização pública (NABAMITA, 2016). A transparência ao manter a
população bem informada, aumenta sua capacidade de participação e reivindicação de
políticas econômicas e sociais mais adequadas às suas prioridades e necessidades (UNDP,
2002). Segundo Bellver e Kaufmann (2005), a transparência está associada a melhores
indicadores de desenvolvimento socioeconômico e humano. A transparência é importante
para o desenvolvimento humano não apenas porque aumenta a eficiência na alocação de

28
Os dois indicadores-chave sobre o financiamento público da educação que aparecem no Quadro de Ação para a
Educação 2030, propôs dois pontos de referência como "pontos de referência cruciais": alocar pelo menos 4% a
6% do PIB para educação, e / ou alocar pelo menos 15% a 20% do gasto público em educação. Em 2014, a mediana
das despesas públicas globais com educação foi de 4,6% do PIB, ou seja, dentro do intervalo proposto pelo quadro.
As despesas variaram de 2,8% no Cáucaso e na Ásia Central a 5% na Europa e na América do Norte. Em termos
de renda do país, os países de baixa renda gastaram 3,9% do PIB em educação, no extremo inferior do intervalo.
Se os países forem considerados a unidade, 51 dos 138 países com dados gastaram menos de 4% do PIB em
educação. Entre eles estavam 13 países de baixa renda e 16 países de alta renda, (Unesco,2016b, p. 346).
recursos (MONTES ET AL., 2019), mas também porque pode ajudar a garantir que os
benefícios do crescimento sejam redistribuídos e não capturados pela elite.

Uma vez que a transparência está relacionada à melhores indicadores de


desenvolvimento socioeconômico e humano, uma questão se faz relevante: a transparência
fiscal, ao reduzir ineficiências no processo de alocação de recursos, é capaz de afetar os
gastos públicos em educação?

Utilizando a metodologia de dados em painel para 75 países no período de 2006 a


2016, este estudo tem como objetivo estimar os efeitos da transparência fiscal sobre os
gastos públicos em educação. Com base no argumento de que um governo com maior
transparência fiscal pressiona os policymakers a adotarem melhores políticas (ARBATLI
E ESCOLANO, 2015), o presente estudo sugere que a transparência fiscal aumenta os
gastos públicos em educação.

Ademais, existe a preocupação de que os gastos em educação não sejam eficientes


(UNESCO, 2016B). Assim, outra questão relevante a ser respondida é se a transparência
fiscal ajuda a aumentar a eficiência dos gastos públicos em educação. Nesse sentido, de
modo a fornecer mais evidências, um indicador de eficiência dos gastos públicos em
educação é criado com base na metodologia de Análise Envoltória de Dados – Data
Envelopment Analysis (DEA). O indicador de eficiência dos gastos do governo em
educação que elaboramos por DEA, e sua utilização em estimações por dados em painel
para verificar como a eficiência deste gasto é impactada pela transparência fiscal
representam outra contribuição do estudo.

Até o momento, o presente estudo é o primeiro a apresentar esse tipo de análise e o


primeiro a fornecer evidências empíricas acerca dessas relações, representando
contribuição para a literatura.

Os resultados mostram que a transparência fiscal afeta o gasto governamental em


educação, indicando que países com maior transparência fiscal alocam mais recursos em
educação. Quando são comparados os resultados para os países em desenvolvimento,
observa-se que as magnitudes dos coeficientes são maiores na amostra de países que
englobam os países desenvolvidos. Além disso, os resultados sugerem que a transparência
fiscal desempenha um papel importante para melhorar a eficiência do gasto público em
educação.

2.2 Evidências empíricas e importância da transparência


fiscal
A transparência nas contas públicas é considerada uma condição importante para a
sustentabilidade macroeconômica, para a consciência fiscal global e para consolidação
democrática. (KOPITS E CRAIG, 1998). A transparência é fundamental para a gestão
pública, por ser ingrediente essencial para o controle político efetivo e monitoramento do
setor público. A transparência no processo orçamentário é muito importante, pois, regula
as atividades financeiras do governo (GUILLAMÓN ET AL., 2011).
Uma definição chave e bem aceita na literatura para o termo transparência fiscal é
apresentada por Kopits e Craig (1998, p.1): “Transparência fiscal é definida (...) como o
acesso do público à estrutura e às funções governamentais, aos seus planos de política
fiscal, às suas contas públicas e de suas projeções. Trata-se de pronto acesso às
informações das atividades governamentais de modo confiável, abrangente, oportuna,
compreensiva e compreensível (...) de modo que o eleitorado e o mercado possam avaliar
a situação financeira dos governos, bem como os custos e benefícios reais de suas
atividades, incluindo as implicações sociais e econômicas no presente e no futuro. ”29

O conceito de transparência fiscal30 está relacionado, portanto ao acesso do público


à estrutura e às funções governamentais, aos seus planos de política fiscal, às suas contas
públicas e às suas projeções (OCDE, 2001). Os aspetos mais importantes da transparência
fiscal são: compromisso com a linguagem não arbitrária, possibilidade de verificação
independente e possibilidade de acessar mais informações em menos documentos (ALT
ET AL. 2006).

A transparência fiscal é um fator fundamental para a gestão eficaz e para prestação


de contas. Ela garante que os governos tenham um quadro preciso da sua situação e das

29
Tradução dos autores.
30
O FMI define a transparência fiscal como abrangência, clareza, confiabilidade, oportunidade e relevância da
informação pública sobre o passado, presente e futuro do estado das finanças públicas. (Hammed, 2005)
suas perspectivas fiscais, dos custos e dos benefícios de qualquer mudança na política e os
riscos potenciais que possam surgir. Fornece aos legisladores, mercados e cidadãos as
informações que necessitam para manter os governos responsáveis. Também é importante
para melhorar o debate entre os policymakers e o público e principalmente para destacar
os riscos quanto as perspectivas fiscais, permitindo uma resposta da política fiscal mais
rápida e mais suave para alterações nas condições econômicas, reduzindo a incidência de
graves crises (HAMMED, 2005). Transparência e prestação de contas são consideradas
críticas para o funcionamento eficiente de uma economia e para promover o bem-estar
social (NABAMITA, 2016).

Os possíveis efeitos da transparência fiscal estão relacionados à menor corrupção,


disciplina fiscal, gestão mais eficiente dos recursos públicos, aumento da legitimidade e da
confiança no governo, maiores receitas, melhor prestação dos serviços públicos, resultados
macrofiscais desejáveis e desenvolvimento humano.

De acordo com a análise de Alt et al. (2003) para os estados norte-americanos no


período de 1986-95, um alto nível da dívida está associada com baixa transparência,
enquanto que tanto déficits quanto superávits estão associados ao alto nível de
transparência, indicando que quando os governos incorrem em déficit, as condições
econômicas não estão favoráveis e eles precisam aumentar o nível de prestação de contas
para justificar suas escolhas. Ademais, quando os governos obtêm superávit, eles se tornam
mais propensos a apresentar seus resultados para evidenciar seu bom desempenho fiscal e
usá-lo contra seus opositores.

Hameed (2005) utiliza índices de transparência fiscal com base em relatórios de


adesão ao Código de Boas Práticas sobre Transparência Fiscal do FMI em uma análise para
57 países. A comparação entre países em relação à transparência fiscal mostrou que as
economias avançadas são mais transparentes, e os países emergentes, como grupo, são
também mais transparentes do que outras economias. O trabalho conclui que a
transparência fiscal está associada com classificações de crédito mais elevadas, maior
disciplina fiscal e controle da corrupção
Para explorar o vínculo entre fluxos de informação e governança31, Islam (2006)
desenvolve um indicador - chamado “transparency índex” – que mede a frequência com
que os governos atualizam dados econômicos que disponibilizam ao público. A análise
baseia-se em regressões entre países utilizando um total de 170 países. Os achados revelam
que os países com melhores fluxos de informação apresentam melhor governança.

De acordo com Alt et al. (2006), a dívida é negativamente relacionada com a


transparência fiscal. A análise foi conduzida utilizando dados de corte transversal sobre a
transparência fiscal limitado para 19 países da OCDE. Os resultados sugerem ainda que
transparência fiscal é um elemento importante para melhorar o desempenho fiscal e que
países politicamente competitivos tem instituições mais transparentes.

Bellver e Kaufmann (2005) construíram um índice de transparência para 194 países


baseados em mais de 20 fontes independentes, e concluíram que transparência está
associada a melhores indicadores de desenvolvimento socioeconômico e humano, e
também ao alto nível de competividade e baixa corrupção.

Com o objetivo de explorar os determinantes políticos da transparência fiscal,


Wehner e de Renzio (2013), usando dados para 85 países, realizaram uma análise de corte
transversal. Os resultados sugerem que eleições livres e justas (democracia) tem um
impacto direto sobre a prestação de contas por parte do governo. Os resultados sugerem
ainda que a competição política em governos democraticamente eleitos está associada com
um maior nível de transparência fiscal.

Blume e Voigt (2013) fazem as seguintes perguntas: as disposições orçamentárias


explicitamente enunciadas na constituição de um país têm algum efeito significativo na
política fiscal? A transparência do processo orçamentário tem algum efeito significativo na
política fiscal? Essas duas variáveis têm impacto em outras variáveis, como, por exemplo,
sobre a eficácia e a produtividade do governo? Com base em uma análise entre países, eles
encontram que os limites de gastos constitucionalmente estabelecidos estão
correlacionados com o menor gasto total do governo e que a transparência do orçamento

31
O conceito de governança incorpora como as decisões são tomadas, o equilíbrio de poderes e instituições,
e de que maneira os políticos e gerentes são responsabilizados. Refere-se não às políticas públicas per se,
mas às configurações dentro das quais a política pública é decidida e executada (Matheson e Kwon, 2002)
de uma nação está correlacionada com a maior eficácia do governo, além de reduzir a
corrupção.

Andreula e Chong (2016) analisam se qualidade institucional pode estar ligada à


transparência fiscal. A análise foi conduzida utilizando dados de corte transversal para 82
países. Os resultados mostram que níveis mais elevados de qualidade institucional geram
melhores indicadores de transparência fiscal. E ainda, instituições democráticas têm um
impacto positivo e significativo sobre a transparência fiscal.

Na literatura econômica, a falta ou baixa transparência orçamentária está


frequentemente relacionada à corrupção do governo. Tanzi (1998) argumenta que a falta
de transparência cria um terreno fértil para a corrupção. Hameed (2005) analisou a relação
entre transparência, disciplina fiscal e corrupção, construindo novos índices de
transparência fiscal e ampliando a escala de dados para 57 países. Eles descobriram que a
transparência fiscal poderia reduzir a corrupção e fortalecer as funções de auditoria interna
e externa, levando à redução do uso indevido / má administração dos recursos públicos.

Os efeitos nocivos da corrupção sobre o desenvolvimento econômico dos países são


amplamente reconhecidos. Diversos estudos abordam as consequências adversas da
corrupção sobre o desempenho econômico, e concluem que a corrupção é prejudicial aos
investimentos, afeta as expectativas dos empresários, reduz a eficácia das políticas públicas
e a eficiência dos gastos públicos, distorce a alocação de recursos e, por conseguinte, reduz
o crescimento econômico (e.g., AIDT ET AL., 2006; LI ET AL., 2000; MAURO, 1995;
MENDEZ E SEPULVEDA, 2006; MO, 2001; SVENSSON, 2005; DE MENDONÇA E
FONSECA, 2012; MONTES E PACHOAL, 2016; MONTES E ALMEIDA, 2017).
Estudos sugerem que dentre os maiores danos causados pela corrupção na economia estão
a desaceleração do crescimento e desenvolvimento econômico (AKÇA ET AL., 2012), e a
má distribuição dos recursos existentes na economia (AL-MARHUBI, 2000).

Sharman e Chaikin (2009) mostram que a corrupção traz sérios problemas


financeiros na maioria dos países em desenvolvimento, e talvez represente um dos maiores
obstáculos ao desenvolvimento econômico. O estudo de Ellis e Fender (2006) analisa a
relação teórica entre o aumento da taxa de produção e do nível de corrupção. Eles concluem
que essa relação depende da transparência do sistema fiscal. Eles também mostram que
economias altamente transparentes experimentam uma diminuição da corrupção em
relação ao produto ao longo tempo, enquanto as economias menos transparentes e que têm
instituições mais fracas enfrentam uma crescente corrupção.

Recentemente, Montes et al. (2019) forneceram evidências empíricas de que a


transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar a eficácia do governo
e a eficiência do gasto público para um conjunto de 82 países. Nosso estudo traz avanços
para a literatura que aborda as consequências da transparência fiscal, e, por outro lado, se
difere do estudo de Montes et al. (2019) uma vez que foca nos gastos públicos em educação
e na eficiência destes gastos.

2.3 Dados e Metodologia

Os dados utilizados no estudo são referentes a um conjunto de 75 países.32 Desse


conjunto serão consideradas duas amostras para fins de análise e comparação: a primeira
corresponderá ao total dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, e a segunda é
formada apenas pelos países em desenvolvimento (60 países).33 A escolha dos países e o
período considerado (entre 2006 e 2016) foram definidos em função da disponibilidade dos
dados.
A variável dependente considerada nas estimações corresponde aos gastos
governamentais em educação como proporção do Produto Interno Bruto (EDU_GDP),
incluindo as despesas financiadas por transferências de fontes internacionais.34 Os dados
foram obtidos junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO).
Em relação à medida de transparência fiscal, utilizamos o índice de transparência
fiscal do International Budget Partnership (IBP) – the Open Budget Index (OBI)35. Este

32
A lista de países está apresentada na Tabela A1 do Apêndice 2.8.
33
Para a classificação dos países em desenvolvimento e em desenvolvidos, é utilizada a definição adotada pelo
Fundo Monetário Internacional.
34
Os gastos governamentais em educação consideram gastos dos governos locais, regionais e centrais.
35
O IBP realiza pesquisas bi-anual que cobrem a disponibilidade dos documentos orçamentários chave, que se relacionam com
a formulação do orçamento, processos de execução orçamental e de auditoria do orçamento, a força legislativa e a força da
instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI abrange a disponibilidade, a clareza ea qualidade dos diferentes
documentos orçamentários. O OBI principal é baseado em perguntas que abrangem a qualidade e abrangência de oito
documentos orçamentários chave: relatório pré-orçamento, a proposta orçamental do executivo, orçamento promulgado, o
orçamento do cidadão, em anos relatórios, análise semestral, relatório de final de ano e de auditoria relatório. A Pesquisa do
Orçamento Aberto é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma organização independente que avalia a medida
em que os governos fazem suas informações de orçamento acessível ao público em tempo hábil. Para nossa análise, OBI
representa uma medida melhor da transparência fiscal do que outras medidas - tais como, relatórios do Fundo Monetário
índice é utilizado devido à sua ampla cobertura, disponibilidade pública e aceitação na
literatura (PEAT ET AL., 2015; ARBATLI E ESCOLANO, 2015; WEHNER E DE
RENZIO, 2013; MONTES ET AL., 2019).

As despesas em educação, como porcentagem (%) da despesa total do governo


(EDU_GOV) correspondem ao total das despesas públicas de todos os entes estatais
(locais, regionais e centrais) em educação, expressas em percentagem do total de despesas
das administrações públicas em todos os setores (incluindo saúde, educação, serviços
sociais e etc.), incluindo as despesas financiadas por transferências de fontes internacionais
para o governo. São considerados os gastos em instituições educacionais, sejam públicas
ou privadas, administração de educação e os subsídios para entidades privadas, incluindo
estudantes/famílias e outras entidades privadas. Os dados foram obtidos junto à UNESCO.
Essa variável foi utilizada, com o intuito de observar a importância que o governo confere
à educação na realização do seu orçamento, e verificar como essa representatividade dos
gastos em educação no total de gastos do governo impacta os gastos como proporção do
PIB.

Em relação aos controles, será utilizado um conjunto de variáveis capazes de afetar


os gastos do governo com educação. Assim, inspirado na literatura acerca dos efeitos de
déficits fiscais sobre os gastos do governo e decisões orçamentárias (e.g., CHANG ET.AL.,
2002; CELASUN ET.AL., 2006), incluímos o equilíbrio orçamentário (denominada
BUD_BAL) como uma variável capaz de afetar os gastos do governo com educação. Essa
variável sinaliza a situação em que o poder público tem recursos para atender às diversas
despesas orçamentárias. Em situações nas quais as despesas superam as fontes de custeio,
como atuará o governo para satisfazer a necessidade de atendimento da área de educação?
Os gastos em educação sofrem impacto com o descontrole fiscal? As séries
disponibilizadas pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foram transformadas, alterando-se
o sinal de cada entrada. Portanto, quanto maior o valor da variável, maior será o esforço do
governo com o equilíbrio de suas contas.

Internacional sobre a Observância de Padrões e Códigos (ROSC) e ajustamentos défice-dívida (SFA). Os argumentos seguem
Peat et al. (2015).
Dado as consequências adversas da corrupção sobre o desempenho e o
desenvolvimento econômico, a presente análise inclui uma variável relacionada à
corrupção nas estimações – tal como feito por Montes et al. (2019) quando analisam a
eficácia do governo e a eficiência dos gastos públicos. Para mensurar a corrupção, o estudo
utiliza o índice disponibilizado pelo Internacional Country Risk Guide (ICRG) (aqui
denominado CORRUP), que mede a corrupção dentro do sistema político, o qual representa
uma ameaça para o investimento estrangeiro ao distorcer o ambiente econômico e
financeiro, reduzindo a eficiência dos governos e dos negócios. O indicador tem valores
compreendidos entre 0 e 6 (em que, quando mais próximo de 6, menor é a corrupção). Para
fins de análise, o índice foi multiplicado por (-1) de modo a tornar mais intuitiva a sua
interpretação nas estimações. Assim, quando o indicador se aproxima se zero, significa
uma menor percepção acerca da corrupção.

Por sua vez, o ambiente no qual as pessoas interagem, cooperando, divergindo,


formando consensos ou dissensos pode interferir nas despesas direcionadas à educação. Ou
seja, um ambiente mais participativo por parte da sociedade onde decisões políticas são
tomadas pode ter impacto sobre o montante de gastos do governo com educação. Assim,
com base na literatura que aborda o efeito da democracia deliberativa sobre o processo de
tomada de decisões de políticas públicas (e.g., ABDULLAH E RAHMAN, 2015),
utilizamos uma variável que capta o nível de democracia deliberativa em cada país. O
princípio da democracia deliberativa (variável aqui chamada DELIB_DEM) concentra-se
no processo pelo qual as decisões são alcançadas em uma política pública. A variável está
preocupada em captar se a tomada de decisão em relação ao bem comum está dissociada
de apelos emocionais, apegos solidários, interesses paroquiais ou coerção, pois, a
democracia exige mais do que uma agregação de preferências existentes. Exige-se que os
participantes e interessados estejam abertos ao diálogo e à força dos melhores argumentos,
visto que devem ser participantes informados e competentes. Em sua composição,
considera-se também o nível de democracia eleitoral. Os dados foram obtidos do The
Varieties of Democracy Project, University of Gothenburg (V-Dem working paper 2015:6,
V-Dem codebook).

Outra variável de controle utilizada é o Produto Interno Bruto per capta


(GDP_CAPITA) – obtida no Banco Mundial. A hipótese é que países mais ricos tendem a
privilegiar os gastos do governo com educação de modo a manterem o desenvolvimento
do capital humano. Ademais, outra variável incluída nas estimações é a taxa de inflação
(INFLATION), que foi obtida no Fundo Monetário Internacional, a justificativa para a
inclusão dessa variável é que inflação gera distorções na alocação de recursos.36

Todas as estimativas contemplam o efeito da variável TRANSP sobre os gastos


governamentais em educação como porcentagem do PIB (EDU_GDP). As estimativas são
feitas por meio da equação (1) abaixo:

𝐸𝐷𝑈_𝐺𝐷𝑃𝑖,𝑡 = 𝛿𝐶1𝑖,𝑡 + 𝛾𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆𝑃𝑡 + 𝜃𝑖 + 𝜖𝑖,𝑡 (5)

onde o subscrito i=1,2,…,75 é o país e t=1,2,…,9 é o período. O conjunto de variáveis de


controle (𝐶1𝑖,𝑡 ) consiste em: EDU_GOV, BUD_BAL, CORRUP, DELIB_DEM,
INFLATION e GDP_CAPITA. Por sua vez, 𝜃𝑖 captura o efeito específico do país, e 𝜖𝑖,𝑡 é
um termo de erro aleatório que captura o efeito de todas as variáveis omitidas.

A análise é conduzida utilizando dados em painel. Além do usual método de mínimos


quadrados para dados em painel (controlando para efeitos fixos na cross-section) (FOLS),
será considerada a estrutura de dados em painel dinâmico sistêmico (S-GMM).

Foi utilizado o modelo de efeitos fixos, pois o mesmo capta o efeito de variáveis
omitidas que variam entre indivíduos e se mantém constantes ao longo do tempo. Contudo,
a desvantagem do modelo de Efeito Fixo, é que não é possível estimar o efeito de variáveis
que, apesar de variarem entre os indivíduos, não variam para o indivíduo ao longo do
tempo.

Nossos principais parâmetros de interesse são os gastos do governo em educação e


transparência fiscal. Uma preocupação potencial com o método FOLS é que variáveis
macroeconômicas estão sujeitas ao problema de endogeneidade, o que faz com que os
estimadores do parâmetro do modelo sejam inconsistentes. Tal como observado por
Wooldridge (2001), a presença de variáveis endógenas pode ser observada por três
motivos:

36
A tabela A2, no Apêndice apresenta as estatísticas descritivas das variáveis utilizadas em cada amostra.
(i) Omissão de variáveis relevantes para o modelo, que surge quando uma variável
resposta é omitida da regressão e quando pelos menos uma das variáveis explicativas é
correlacionada com a variável omitida;
(ii) Erro de medição das variáveis, que surge quando uma variável explicativa é
medida de forma imprecisa;
(iii) Simultaneidade, que surge quando além da variável explicativa determinar a
variável dependente, a variável dependente determina uma variável explicativa, ou seja,
simultaneidade na relação causal.

A solução geral para o problema da endogeneidade é o uso de variáveis


instrumentais. Segundo, Wooldridge (2001) para ser considerada adequada, uma variável
instrumental deve atender a dois pré-requistios: ser correlacionada com as variáveis
explicativas e ser ortogonal ao erro. Em particular, o estimador GMM permite a utilização
de instrumentos que são sequencialmente exógenos, evitando assim o problema de
endogeneidade. O uso de variáveis instrumentais permite estimativas de parâmetros de
forma mais consistente, mesmo em caso de ocorrência de erros de medição e de
endogeneidade nas variáveis explicativas (BOND, HOEFFLERE TEMPLE, 2001).

Além do problema de endogeneidade, um outro problema que pode surgir é


possibilidade do viés de Nickell37 dado um pequeno T = 11 anos e grande N = 75 países na
amostra com o índice OBI e T = 12 anos e grande N = 51 na amostra com o índice CPDI.
Assim, implementamos nossa estimativa usando o método GMM sistêmico desenvolvido
por Blundell e Bond (1998).

O método proposto por Arellano e Bond (1991) consiste em um modelo dinâmico


de dados em painel que considera a primeira diferença para remover os efeitos não
observados. No entanto, Alonso-Borrego e Arellano (1998), e Blundell e Bond (1998)
mostraram que o GMM dinâmico possui um viés para amostras infinitas (amostras grandes
e pequenas) e baixa precisão. Além disso, o uso de defasagens pode gerar instrumentos
fracos (Staiger e Stock, 1997). Blundell e Bond (1998) encontraram resultados que
sustentam o uso do método GMM sistêmico para estimação de dados em painel, ao invés
do GMM em diferenças (D-GMM).

37
Nickell (1981) forneceu expressões analíticas para o viés nas estimativas em modelos dinâmicos com efeitos
fixos individuais quando o período de tempo é curto e o número de indivíduos é grande.
Embora as estimações S-GMM sejam adequadas para um pequeno número de
períodos de tempo (t) e um grande número de indivíduos (i), quando os instrumentos são
muitos, elas tendem a sobreajustar as variáveis instrumentais e enviesar os resultados
(Roodman, 2009). Assim, com o objetivo de evitar o uso de um número excessivo de
instrumentos nas regressões e, portanto, perder a precisão dos testes, a razão do número de
instrumentos / número de cross-sections deve ser menor do que 1 em cada regressão. Além
disso, a fim de confirmar a validade dos instrumentos nos modelos, utilizamos o teste de
sobre-identificação (estatística J), conforme sugerido por Arellano (2003).

Para verificar se os termos dos erros não são serialmente correlacionados utilizamos
os testes de primeira ordem (AR1) e de segunda ordem (AR2) de correlação serial,
conforme destacado por Arellano e Bond (1991). Além disso, nas regressões, as matrizes
de covariância são corrigidas pelo método de White. É importante salientar que uma
premissa do modelo dinâmico S-GMM é a não correlação da primeira diferença de
regressores endógenos, o que implica que não é necessária a realização de testes de raiz
unitária.

2.4 Resultados

As tabelas 10 e 11 apresentam as estimações para a amostra total (países


desenvolvidos e em desenvolvimento) e para a amostra de países em desenvolvimento. De
forma geral, para todas as estimativas, o uso do S-GMM não altera os sinais dos
coeficientes obtidos por meio das estimativas por efeitos fixos. Além disso, todas as
regressões S-GMM aceitam a hipótese nula dos testes de Sargan (estatística J) e, portanto,
as restrições de sobreidentificação são válidas. Além disso, os testes AR (1) e AR (2)
rejeitam a hipótese da presença de autocorrelação serial em todas as estimativas.

Os resultados para a amostra total indicam que há um efeito positivo e significativo


da transparência fiscal (TRANSP) sobre os gastos públicos em educação, tanto nas
estimações por FOLS quanto nas estimações utilizando S-GMM. Quando são comparados
os resultados obtidos nas duas amostras, observa-se que as magnitudes dos coeficientes são
maiores na amostra total. Assim, a transparência fiscal exerce maior influência sobre o
volume de gastos em educação, quando se considera a amostra de países que incluí os
países desenvolvidos.

As estimações por S-GMM revelam que os recursos alocados em educação no


passado afetam positivamente os gastos em educação no período seguinte, indicando existir
persistência nesse tipo de gasto.

Os resultados obtidos para EDU_GOV indicam que quanto maior é a importância


que o governo confere a educação na realização do seu orçamento, maior é o gasto em
educação como percentual do PIB. Todos os coeficientes são positivos e estatisticamente
significativos para as duas amostras e pelos dois métodos de estimação. Ademais, as
estimações por S-GMM também revelam, com significância estatística para todos os
coeficientes de todas as amostras, que os recursos alocados em educação no passado afetam
positivamente os gastos em educação no período seguinte, indicando existir persistência
nesse tipo de gasto.

Todos os coeficientes obtidos para a variável BUD_BAL nas duas amostras e pelos
dois métodos possuem sinais positivos e significância estatística. Os resultados sugerem
que países com maior responsabilidade fiscal alocam mais recursos em educação, e vice-
versa. Ademais, quando comparamos os coeficientes obtidos em cada amostra, observamos
que esse efeito é maior na amostra que inclui os países desenvolvidos.

Quanto ao efeito da variável CORRUP, a evidência aponta que a corrupção afeta os


gastos públicos em educação, todos os coeficientes obtidos por S-GMM são negativos e
estatisticamente significantes nas duas amostras. Assim, um aumento da corrupção leva a
uma menor alocação de recursos públicos em educação.

No tocante aos resultados para a variável DELIBDEM, as estimações apontam


coeficientes positivos e com significância estatística em quase todas as especificações
(exceto nas equações 1 e 4 por FOLS). Assim, os achados revelam que nos países onde a
participação popular na elaboração e execução das políticas públicas é maior, a alocação
de recursos em educação também tende a ser maior.

Por sua vez, a inflação (INFLATION) afeta negativamente os gastos em educação,


pois cria distorções no processo de alocação de recursos, ao passo que quanto maior a renda
per capita (GDP_CAPITA) maior a alocação de recursos em educação.
Tabela 10 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação
(amostra total)
Variável depedente: Gastos em Educação % PIB
Estimador OLS - Efeito Fixo (Cross-section) S-GMM
Regressores: (I) (II) (III) (IV) (I) (II) (III) (IV)
EDU_GDP (-1) 0.3107*** 0.2618*** 0.2563*** 0.1795***
(0.0034) (0.0041) (0.0040) (0.0278)
EDU_GOV 0.1867*** 0.1885*** 0.1861*** 0.1843*** 0.0954*** 0.0910*** 0.0923*** 0.0641***
(0.0162) (0.0166) (0.0163) (0.0151) (0.0018) (0.0022) (0.0020) (0.0139)
BUD_BAL 0.0305*** 0.02949*** 0.0274*** 0.0258** 0.0404*** 0.0471*** 0.0466*** 0.0480***
(0.0092) (0.0097) (0.0098) (0.0107) (0.0006) (0.0011) (0.0010) (0.0146)
CORRUP -0.1309 -0.1368 -0.1288 -0.1183 -0.2519*** -0.2792*** -0.2745*** -0.3137***
(0.1094) (0.1040) (0.1017) (0.0914) (0.0202) (0.0248) (0.0173) (0.0708)
DELIB_DEM 0.6983* 0.8733** 0.8867** 0.8465 1.7711*** 2.4686*** 2.4599*** 2.9061***
(0.4122) (0.4028) (0.3933) (0.5602) (0.0370) (0.0542) (0.0499) (0.7074)
INFLATION -0.0190*** -0.0191*** -0.0156** -0.0437*** -0.0441*** -0.0327***
(0.0067) (0.0064) (0.0069) (0.0009) (0.0006) (0.0064)
GDP_CAPITA 0.00001** 1.00E-05 0.000003*** 0.00002***
(7.57E-06) (8.07E-06) (1.36E-06) (5.85E-06)
TRANSP 0.0106*** 0.0142***
(0.0024) (0.0023)

N 551 549 549 495 394 393 393 261


R² Ajustado 0.936 0.930 0.931 0.940
N.Instrum./N. Cross-Section 0.951 0.967 0.967 0.649
Estatística J 57.358 54.695 54.810 30.004
P-valor (I) 0.317 0.401 0.368 0.149
AR(1) -0.418 -0.358 -0.357 -0.264
P-valor 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.083 -0.098 -0.100 -0.128
P-valor 0.174 0.126 0.116 0.106
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. FOLS com efeito fixo para cross-section.
S-GMM – usa o estimador em dois estágios de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo.
Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2) checou a presença de correlação serial dos resíduos em
primeira e segunda ordem na primeira diferença. A constante foi omitida por conveniência.
Tabela 11 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação
(países em desenvolvimento)
Variavél depedente: Gastos em Educação % PIB
Estimador OLS - Efeito Fixo (Cross-section) S-GMM
Regressores: (I) (II) (III) (IV) (I) (II) (III) (IV)
EDU_GDP (-1) 0.2148*** 0.2580*** 0.2472*** 0.2723***
(0.0432) (0.0264) (0.0267) (0.0307)
EDU_GOV 0.1805*** 0.1828*** 0.1811*** 0.1797*** 0.1350*** 0.0932*** 0.0834*** 0.0932***
(0.0238) (0.0242) (0.0241) (0.0269) (0.0195) (0.0078) (0.0103) (0.0100)
BUD_BAL 0.0130*** 0.0121*** 0.0117*** 0.0330** 0.0688*** 0.0506*** 0.0481*** 0.0543***
(0.0016) (0.0017) (0.0016) (0.0162) (0.0126) (0.0137) (0.0142) (0.0167)
CORRUP -0.0643 -0.0762 -0.0640 -0.0477 -0.1570** -0.2193*** -0.2735*** -0.3020***
(0.1215) (0.1158) (0.1079) (0.1061) (0.0763) (0.0729) (0.0973) (0.0652)
DELIB_DEM 0.9019 0.9585* 0.9563* 0.7701 1.5346*** 2.2826*** 3.2431*** 2.4594***
(0.5734) (0.5786) (0.5704) (0.7406) (0.5868) (0.2824) (0.69231) (0.2907)
INFLATION -0.0149** -0.0153** -0.0116** -0.0321*** -0.0423*** -0.0266***
(0.0075) (0.0074) (0.0058) (0.0069) (0.0089) (0.0045)
GDP_CAPITA 0.00004** 0.00004* 2.00E-05 0.00003**
(1.82E-05) (2.38E-05) (2.35E-05) (1.68E-05)
TRANSP 0.0040 0.0293***
(0.0046) (0.0044)

N 523 521 521 464 240 212 212 226


R² Ajustado 0.883 0.886 0.888 0.892
N.Instrum./N. Cross-Section 0.531 0.704 0.682 0.773
Estatística J 22.571 28.215 27.593 26.148
P-valor (I) 0.310 0.298 0.232 0.455
AR(1) -0.253 -0.306 -0.302 -0.392
P-valor 0.001 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.128 -0.121 -0.115 -0.079
P-valor 0.132 0.175 0.195 0.335
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. FOLS com efeito fixo para cross-section.
S-GMM – usa o estimador em dois estágios de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo.
Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2) checou a presença de correlação serial dos resíduos em
primeira e segunda ordem na primeira diferença. A constante foi omitida por conveniência.

2.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos


em educação: análise de robustez

Uma preocupação que surge diz respeito à eficiência dos gastos públicos em
educação. Os críticos apontam que países com níveis semelhantes de gastos em termos de
renda per capita produzem resultados educacionais muito diferentes (UNESCO, 2016B).
Seguindo Levacic (1993), uma análise dos gastos públicos não pode se limitar à
quantidade, devendo se estender às dimensões de qualidade, como, por exemplo, à
eficiência. Portanto, no contexto do nosso estudo, quantificar a eficiência dos gastos
púbicos em educação é importante, pois, ajuda a revelar o impacto da transparência fiscal
sobre a eficiência destes gastos.

Nesta seção, a robustez dos resultados obtidos é verificada por meio de estimativas
para o efeito da transparência fiscal sobre a eficiência dos gastos públicos em educação.
Para isso, um indicador de eficiência dos gastos do governo em educação (EFF_EDU) foi
construído para um conjunto de 54 países38 desenvolvidos e em desenvolvimento, como
também para um conjunto de 42 países em desenvolvimento, compreendendo o período
2007-2016. Seguindo Gupta e Verhoeven (2001) e Chan et al. (2017), a eficiência dos
gastos do governo é definida como a capacidade do governo de produzir mais resultados
para um determinado nível de recursos. Nesse sentido, o indicador de EFF_EDU é
construído pela técnica de análise envoltória de dados (DEA).

A DEA é uma técnica estatística não paramétrica utilizada para avaliar a eficiência
do setor público. Assim, para construir o indicador de EFF_EDU, o estudo seguiu a
literatura que usa DEA para avaliar a eficiência do setor público e eficiência dos gastos do
governo (e.g., AHN ET AL., 1988;. SMITH E MAYSTON, 1987; AFONSO ET AL., 2005
E 2010;. AFONSO E AUBYN, 2005; AFONSO E FERNANDES, 2006; RAYP E DE
SIJPE, 2007; HAUNER, 2008; KEMPKES E POHL, 2010; DUTU E SICARI, 2016;
CHAN ET AL., 2017).

A DEA é um método de programação linear que foi popularizado por Charnes et al.
(1978).39 A DEA baseia-se na eficiência de Pareto, onde a Unidade de tomada de Decisão
(DMU) mais eficiente é dita operar na fronteira, e as DMUs abaixo da fronteira são
consideradas ineficientes em relação ao banco de referência (ou seja, em relação às DMUs
mais eficientes). Neste estudo, as DMUs referem-se aos países, onde são assumidos que o
governo usa um insumo (despesas governamentais) para atingir objetivos.

38 Inicialmente, a amostra foi composta por 75 países. No entanto, devido à disponibilidade de dados para a construção
do indicador, alguns países foram excluídos, a lista de países encontra-se no apêndice A1.
39
Usando a programação linear, uma fronteira dos países com melhores práticas é construída com base nos dados de
insumo-produto, que é então usado como referência para avaliar o desempenho de unidades menos eficientes. A
fronteira estimada, portanto, "envolve" todas as observações disponíveis, e cada desvio dessa fronteira é interpretado
como uma combinação ineficiente de insumos e/ou resultados. Farrell (1957) primeiro sugeriu que essa abordagem
linear convexa do casco poderia ser usada para estimar a fronteira das possibilidades de produção e medir a eficiência.
Charnes et al. (1978) formalizaram então a metodologia DEA usando programação linear para construir a fronteira.
A DEA foi inicialmente baseada na suposição de retornos constantes de escala
(Charnes et al., 1978), onde se assume que a DMU aumenta proporcionalmente seus inputs
e outputs no processo de produção para alcançar eficiência. Posteriormente, o estudo de
Banker et al. (1984) revisou o modelo DEA de modo a dar conta da situação de retorno
variáveis de escala (VRS). De acordo com Chan et al. (2017), o modelo com VRS é mais
realista para a aplicação no mundo real, onde as DMUs são restritas por imperfeições de
mercado, tais como a concorrência imperfeita, regulamentações governamentais e restrição
financeira, o que leva a um aumento desproporcional em inputs e outputs no processo de
produção. Assim, tal como Chan et al. (2017) e Montes et al. (2019), no presente estudo
foi adotado o modelo DEA com retorno variáveis de escala (VRS).

Abaixo, por meio da Equação (2), é apresentada a descrição analítica do problema de


programação linear a ser resolvido na hipótese de VRS.

max  (6)
(,)

𝑠𝑡: 𝑥𝑖 − 𝑋𝜇 ≥ 0,
𝑄𝜇 − 𝑞𝑖 ≥ 0
𝐼1′ 𝜇 = 1
𝜇 ≥ 0.

onde,  é a eficiência para cada país i com 1/ como as pontuações de eficiência técnica
que variam entre 0 e 1.40 -1 é o aumento proporcional nos resultados (outputs) que
poderiam ser alcançados por um país com um determinado nível de entrada (input), sendo
1 ≤  < . O vetor xi é o insumo (input) para o país i e o vetor qi representa o resultado
(output) para o país i. Por sua vez,  é um vetor constante I × 1, que mede os pesos
utilizados para calcular a posição de uma DMU ineficiente, se essa tivesse que se tornar
eficiente. A restrição 𝐼1′ 𝜇 = 1 impõe a convexidade da fronteira, representando retornos
variáveis a escala. Soltar essa restrição equivaleria a admitir que os retornos à escala são
constantes. X é uma matriz formada pelos vetores transpostos de resultados (outputs) de
todas as DMUs na amostra; Q é uma matriz formada pelos vetores transpostos de entradas
(inputs) de todas as DMUs na amostra.

40 Alteramos a escala do indicador, multiplicando-a por 100, de modo que ela varie entre 0 e 100.
Na DEA, os inputs e outputs são os seguintes: o gasto governamental em educação
como proporção do Produto Interno Bruto (EDU_GDP) entra como input, e os indicadores
de desempenho em educação41 – qualidade do ensino primário, qualidade do sistema
educativo, qualidade da educação em matemática e em ciências, qualidade da educação e
qualidade das instituições de pesquisa científica – entram como outputs. Para construir o
indicador de EFF_EDU, o software R - pacote “Benchmarking” desenvolvido por Bogetoft
e Otto (2011) foi utilizado.

Depois de construir o indicador de EFF_EDU, a equação 3 é estimada por meio do


S-GMM.

𝐸𝐹𝐹_𝐸𝐷𝑈𝑖,𝑡 = 𝜆𝐶2𝑖,𝑡 + 𝜌𝑇𝑅𝐴𝑁𝑆𝑃𝐴𝑅𝐸𝑁𝐶𝑌𝑡 + 𝑘𝑖 +𝜉𝑖,𝑡 (7)

onde, o subscrito i=1,2,…,54 é o país; t=1,2,…,9 é o período, 𝑘𝑖 captura o efeito específico


do país, e 𝜉𝑖,𝑡 é um termo de erro aleatório que captura o efeito de todas as variáveis
omitidas. Por sua vez, 𝐶2𝑖,𝑡 é um vetor de variáveis de controle formado pelas mesmas
variáveis de controle da equação (1), as estimativas são feitas para a amostra total de 54
países.

A Tabela 12 apresenta os resultados das estimações para o conjunto de 54 países


desenvolvidos e em desenvolvimento, e a tabela 13 apresenta as estimações para o conjunto
contendo os 42 países em desenvolvimento.

Analisando os resultados da tabela 3, observamos que o coeficiente estimado para o


efeito da transparência fiscal (TRANSP) sobre o indicador de eficiência do gasto público
em educação (EFF_EDU) apresenta sinal positivo e significância estatística, indicando que
um aumento na transparência fiscal aumenta também a eficiência do gasto público em
educação.

Em relação às variáveis de controle, os resultados apontam que uma maior alocação


de gastos em educação por parte do governo em relação ao seu gasto total (EDU_GOV)
não necessariamente aumenta a eficiência do gasto em educação, já que a variável embora
apresente o sinal esperado, não apresenta significância estatística. As estimações também

41
Obtidos do The Global Competitiveness do World Economic Forum (2017).
revelam que a corrupção não apresenta significância estatística. Portanto, menores níveis
de corrupção são mais importantes para aumentar os gastos em educação por parte do
governo42 do que para aumentar a eficiência do gasto.

Por outro lado, os resultados obtidos para a variável DELIBDEM em todas as


estimações apontam coeficientes positivos e com significância estatística. Assim, os
achados revelam que nos países onde a participação popular na elaboração e execução das
políticas públicas é maior, não só a alocação de recursos em educação tende a ser maior,
como também a eficiência do gasto público em educação é maior. Além disso, todos os
coeficientes estimados para o efeito do equilíbrio orçamentário (BUD_BAL) são positivos
e a maioria é estatisticamente significante, corroborando a ideia de que o esforço fiscal
aumenta a eficiência dos gastos públicos. Em relação às variáveis INFLATION e
GDP_CAPITA, observamos que a inflação afeta negativamente a eficiência dos gastos em
educação, pois cria distorções no processo de a alocação de recursos, e que quanto maior a
renda per capita maior a eficiência dos gastos públicos em educação.

42
Conforme obtido nas estimações anteriores.
Tabela 12 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o
EFF_EDU (países desenvolvidos e em desenvolvimento)
Variável depedente: Eficiência dos Gastos em Educação
Estimador S-GMM
Regressores: (I) (II) (III) (IV)
EFF_EDU (-1) 0.2667*** 0.3953*** 0.2009* 0.3792**
(0.0663) (0.0479) (0.1130) (0.1459)
EDU_GOV 0.0045* 0.0018 0.002 0.0041
(0.0024) (0.0029) (0.0052) (0.0045)
BUD_BAL 0.0027** 0.0032*** 0.0023*** 0.0011
(0.0010) (0.0007) (0.0007) (0.0012)
CORRUP -0.0053 -0.0125 -0.0108 -0.0195
(0.0123) (0.0076) (0.0143) (0.0182)
DELIB_DEM 0.3446*** 0.3608*** 0.5349*** 0.3515***
(0.0834) (0.0399) (0.0759) (0.0925)
INFLATION -0.0022*** -0.0043*** -0.0022*
(0.0004) (0.0005) (0.0013)
GDP_CAPITA 2.97E-07 0.0001***
(6.12E-07) (8.27E-07)
TRANSP 0.0020**
(0.0009)
N 171 135 142 136
N.Instrum./N. Cross-Section 0.700 0.909 0.879 0.812
Estatística J 31.175 28.494 27.107 22.491
P-valor (I) 0.118 0.240 0.207 0.211
AR(1) -0.351 -0.470 -0.476 -0.421
P-valor 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.063 -0.035 0.011 -0.150
P-valor 0.544 0.775 0.930 0.217
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.

No tocante ao efeito da transparência fiscal sobre a eficiência do gasto público em


educação nos países em desenvolvimento (tabela 4), o coeficiente estimado é positivo e
estatisticamente significante ao nível de 1%. Portanto, a transparência fiscal é importante
para aumentar a eficiência do gasto em educação. Observamos que o coeficiente obtido na
amostra de países em desenvolvimento possui maior magnitude do que aquele encontrado
na tabela 3, indicando que o efeito da transparência é ainda maior nos países em
desenvolvimento.
Em relação às variáveis de controle, observamos que todos os coeficientes de
BUD_BAL e DELIB_DEM são positivos e estatisticamente significantes, indicando que
quando a participação popular na elaboração e execução das políticas públicas e, também,
o esforço fiscal são maiores, a eficiência do gasto público em educação é maior. Por sua
vez, os coeficientes obtidos para CORRUP e INFLATION são negativos e a maioria
apresenta significância estatística, sugerindo que países mais corruptos e com taxas de
inflação maiores são menos eficientes em termos de alocação dos gastos públicos em
educação.

Tabela 13 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o


EFF_EDU (países em desenvolvimento)
Variável depedente: Eficiência dos Gastos em Educação
Estimador S-GMM
Regressores: (I) (II) (III) (IV)
EFF_EDU (-1) 0.3997*** 0.3803*** 0.3716*** 0.4327***
(0.0624) (0.0792) (0.0942) (0.0699)
EDU_GOV 0.0026* 0.0040 0.006 0.0021
(0.0014) (0.0040) (0.0043) (0.0044)
BUD_BAL 0.0021** 0.0029*** 0.0051*** 0.0071***
(0.0010) (0.0008) (0.0010) (0.0017)
CORRUP -0.0385* -0.0349* -0.0265* -0.0307*
(0.0150) (0.0187) (0.0150) (0.0167)
DELIB_DEM 0.3597*** 0.4717*** 0.4190*** 0.2801*
(0.0595) (0.1208) (0.1349) (0.1629)
INFLATION -0.0044** -0.0023 -0.0030*
(0.0018) (0.0021) (0.0017)
GDP_CAPITA 0.0001* 1.00E-04
(2.74E-06) (0.0001)
TRANSP 0.0029***
(0.0011)

N 73 73 73 73
N.Instrum./N. Cross-Section 0.950 0.850 0.950 0.900
Estatística J 18.371 15.500 17.125 12.123
P-valor (I) 0.190 0.161 0.144 0.277
AR(1) 0.346 -0.448 -0.387 -0.383
P-valor 0.009 0.001 0.004 0.006
AR(2) -0.247 -0.138 -0.227 0.240
P-valor 0.105 0.393 0.151 0.114
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.
2.6 Considerações Finais

Este estudo teve como objetivos analisar a relação entre a transparência fiscal e os
gastos públicos em educação, e a relação entre a transparência fiscal e a eficiência do gasto
público em educação. Com base em uma amostra de 75 países (60 países desenvolvidos e
15 países em desenvolvimento) agrupados em duas amostras, os resultados sugerem (para
as duas amostras) que a transparência fiscal (medida pelo Open Budget Index) tem efeito
estatisticamente significativo tanto sobre o gasto do governo em educação quanto sobre a
eficiência do gasto público em educação (medido pelo indicador construído no presente
estudo com base na Análise Envoltória de Dados).

Analisar se os gastos em educação são afetados pela transparência fiscal é


fundamental para as sociedades, devido a importância da educação. Os benefícios da
educação como apontado pela UNESCO (2006b) estão relacionados a redução das taxas
de fertilidade; na ajuda as pessoas ao acesso aos sistemas de justiça; aumento da
produtividade agrícola; redução da pobreza no trabalho; redução das desigualdades nas
cidades, dando às pessoas habilidades vitais para o trabalho; redução dos crimes nas
cidades e melhora na prosperidade das cidades.

Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: governos que buscam aumentar alocação e apresentar
gastos mais eficientes em educação devem aumentar a transparência fiscal.
2.8 Apêndice

APÊNDICE A.1 – Lista de países

Amostra Completa
Afghanistan; Albania; Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Benin; Bolivia, Plurinational
State of; Brazil; Bulgaria; Burkina Faso; Cambodia; Cameroon; Chad; Chile; Colombia;
Costa Rica; Croatia; Czech Republic; Ecuador; El Salvador; Fiji; France; Georgia;
Germany; Ghana; Guatemala; India; Indonesia; Iran; Italy; Kazakhstan; Kenya; Korea,
Republic of; Kyrgyzstan; Lebanon; Liberia; Malawi; Malaysia; Mali; Mexico; Mongolia;
Nepal; New Zealand; Nicaragua; Niger; Norway; Pakistan; Peru; Poland; Portugal; Qatar;
Romania; Russia; Rwanda; São Tomé e Príncipe; Senegal; Serbia; Sierra Leone; Slovakia;
Slovenia; South Africa; Spain; Sri Lanka; Sweden; Tajikistan; Tanzania, United Republic
of; Thailand; Timor-Leste; Tunisia; Turkey; Uganda; Ukraine; United Kingdom; US;
Vietnam.

Países em Desenvolvimento
Afghanistan; Albania; Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Benin; Bolivia, Plurinational
State of; Brazil; Burkina Faso; Cambodia; Cameroon; Chad; Chile; Colombia; Costa Rica;
Croatia; Ecuador; El Salvador; Fiji; Georgia; Ghana; Guatemala; India; Indonesia; Iran;
Kazakhstan; Kenya; Kyrgyzstan; Lebanon; Liberia; Malawi; Malaysia; Mali; Mexico;
Mongolia; Nepal; Nicaragua; Niger; Pakistan; Peru; Poland; Qatar; Romania; Russia;
Rwanda; São Tomé e Príncipe; Senegal; Serbia; Sierra Leone; South Africa; Sri Lanka;
Tajikistan; Tanzania, United Republic of; Thailand; Timor-Leste; Tunisia; Turkey;
Uganda; Ukraine; Vietnam.

Amostra de 54 países

Albania; Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Burkina Faso; Bulgaria; Benin; Bolivia,


Plurinational State of; Brazil; Chile; Cameroon; Colombia; Costa Rica; Czech Republic;
Germany; Ecuador; Spain; France; United Kingdom; Georgia; Ghana; Guatemala; Croatia;
Indonesia; India; Iran; Italy; Kenya; Kyrgyzstan; Cambodia; Korea, Republic of;
Kazakhstan; Lebanon; Sri Lanka; Mali; Mongolia; Malawi; Mexico; Malaysia; Nicaragua;
Norway; Nepal; New Zealand; Peru; Pakistan; Poland; Portugal; Qatar; Romania; Serbia;
Russia; Rwanda; Sweden; Slovenia; Slovakia; Senegal; El Salvador; Chad; Thailand;
Tajikistan; Timor-Leste; Tunisia; Turkey; Tanzania, United Republic of; Ukraine; Uganda;
US; Vietnam; South Africa.

Amostra de 42 países em desenvolvimento

Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Bulgaria; Benin; Brazil; Chile; Cameroon; Colombia;


Costa Rica; Ecuador; Georgia; Ghana; Guatemala; Croatia; Indonesia; Kenya; Kyrgyzstan;
Cambodia; Korea, Republic of; Sri Lanka; Mali; Mongolia; Malawi; Mexico; Malaysia;
Nepal; Peru; Pakistan; Poland; Qatar; Romania; Serbia; Senegal; El Salvador; Thailand;
Tajikistan; Tunisia; Ukraine; Uganda; Vietnam; South Africa.

APÊNDICE A.2– Estatística Descritiva


Amostra Completa
EDU_GDP EDU_GOV BUD_BAL CORRUP_ DELIB_DEM INFLATION GDP_CAPITA TRANSP
Média 4.41 15.08 0.99 2.61 0.49 5.39 11379.88 48.07
Mediana 4.34 15.06 0.00 2.50 0.49 4.10 4256.24 49.50
Máximo 10.68 37.52 83.77 5.50 0.90 48.70 103059.20 93.00
Mínimo 1.25 4.67 -129.18 0.50 0.05 -7.40 178.93 0.00
Desvio Padrão 1.42 4.67 6.91 1.03 0.23 5.30 17297.83 22.62
Observações 673 659 898 744 900 897 900 808

Amostra Completa - Análise de Robustez


EFF_EDUC EDU_GOV BUD_BAL CORRUP_ DELIB_DEM INFLATION GDP_CAPITA TRANSP
Média 0.81 15.00 -2.21 -2.78 0.53 4.89 13815.72 53.63
Mediana 0.80 14.85 -2.70 -2.50 0.56 3.60 5966.54 55.00
Máximo 1.00 37.52 19.70 -0.50 0.90 48.70 103059.20 93.00
Mínimo 0.46 5.65 -14.54 -5.50 0.05 -4.90 300.31 0.00
Desvio Padrão 0.13 4.63 4.05 1.07 0.23 5.17 19138.27 19.99
Observações 540 446 394 470 540 537 540 494
CAPÍTULO 3 – Transparência Fiscal, Corrupção e
Tamanho do governo: uma análise com dados em painel
3.1 Introdução

O tamanho do governo é uma variável importante para o resultado econômico. Isso


porque há uma necessidade de aumentar a tributação para apoiar um governo grande
(BARRO, 1990), e também existem benefícios em termos de infraestrutura e educação que
os gastos podem trazer (LUCAS, 1988; COLOMBIER, 2009).

O setor público é financiado pelos contribuintes. De acordo com Ferejhon (1999),


os contribuintes exigem alta transparência como um requisito para permitir que os governos
colecionem e gerenciem grandes quantidades de recursos financeiros, ou seja,
transparência pode estar associada ao tamanho da participação do governo na economia.

O tamanho do governo é convencionalmente medido, na literatura econômica, pela


participação do consumo do governo no PIB (GALÍ; 1984, RODRIK;1998, ALESINA E
WACZIARG, 1998; EPIFANIA e GANCIA, 2009; RAM, 2009; ERAUSKIN e
TURNOVSKY; 2019). Esses estudos têm se preocupado em fornecer evidências empíricas
sobre os fatores que explicam o tamanho do governo entre os países. Contudo, a relação
entre transparência e tamanho do governo, tem sido pouca explorada.

A discussão sobre o tamanho de governo ideal tem sofrido mudanças ao longo do


tempo. Por exemplo, o público em geral nos Estados Unidos parece estar mudando para
aceitar um governo maior. Enquanto 48% da população dos EUA preferem um governo
maior, fornecendo mais serviços, em 2017, apenas 30% da população tinham essa visão
em 1980 (PEW RESEARCH CENTER, 2018). Em contraste, as preferências na Europa
parecem se mover na direção de ter um governo menor. Na União Europeia, em 2016, 65%
da população achava que o Estado intervinha demasiado nas suas vidas, enquanto 30%
discorda dessa afirmação; em 2008, os números correspondentes foram de 58% e 37%,
respectivamente (COMISSÃO EUROPEIA 2008, 2016).

O presente trabalho busca analisar se a transparência fiscal e a corrupção ajudam a


explicar essas diferenças em relação às preferências sobre do tamanho do governo. Em
específico, a contribuição principal é analisar o papel da transparência fiscal e da corrupção
sobre o tamanho do governo. O nível de transparência fiscal e de corrupção influenciam a
preferência social sobre o quanto de recursos o governo deve gerenciar. Níveis elevados de
transparência estão associados com uma melhor gestão fiscal e uma maior capacidade de
fiscalização por parte da sociedade. Isto leva a preferências sociais mais inclinadas para
governos maiores. O inverso ocorre com a corrupção, que gera ineficiência no setor
público, inclinado as preferências sociais para menores governos.

O objetivo, portanto, é analisar o efeito da transparência fiscal e da corrupção sobre


o tamanho do governo. Em específico, o presente trabalho objetiva: (i) analisar o efeito da
transparência fiscal sobre o tamanho do governo; (ii) estudar o impacto da corrupção do
sobre o tamanho do governo; e (iii) verificar se ação da transparência fiscal em conjunto
com a corrupção tem um efeito mitigador ou amplificador. Desta forma, o trabalho
contribui fornecendo evidências do efeito individual da transparência fiscal e da corrupção,
e também do efeito conjunto de ambas sobre o tamanho do governo.

O trabalho utiliza dados em painel para um conjunto de 75 países, no período de


2006 a 2016. Além disso, possui uma amostra principal e três amostras alternativas
utilizadas como análise de robustez. O método econométrico utilizado é o Método Geral
do Momentos Sistêmico (S-GMM). Os principais resultados indicam que a transparência
fiscal possui um efeito positivo sobre o tamanho do governo.

Os resultados fornecem indícios de uma relação positiva entra transparência fiscal


e tamanho do governo. Este resultado indica que os contribuintes exigem uma maior
transparência fiscal para permitir que os governos aumentem seu consumo no PIB. Os
resultados também indicam que há uma relação negativa entre a corrupção e o tamanho do
governo. Isto implica que os contribuintes respondem à maiores níveis de corrupção
demandando governos menores.

Além desta introdução, o capítulo se divide em outras cinco sessões. A sessão dois
apresenta a revisão da literatura sobre transparência fiscal e tamanho do governo. A sessão
três aborda a metodologia e base de dados. A sessão quatro expõe os resultados
encontrados. A sessão seis apresenta as análises de robustez. A sessão sete conclui o
capítulo.
3.2 Revisão da Literatura

Transparência das contas públicas43 surgiu como uma demanda por parte da
sociedade e dos mercados no final da década de 80 e tem sido uma preocupação para
políticos no que diz respeito a divulgação das contas públicas e para os acadêmicos em
relação a seus efeitos sobre a economia. A literatura sobre transparência baseia-se nas
explicações fornecidas pela teoria da agência e pela teoria da legitimidade (PATTEN,
1992; SUCHMAN, 1995; FEREJHON, 1999).

De acordo com a teoria da agência, funcionários eleitos (políticos) estão em um


relacionamento de agência com seus eleitores, e o eleitorado é limitado, por uma razão ou
outra, em sua capacidade de descobrir o que seu agente está fazendo e por que está fazendo,
ou seja, existe assimetria de informação. Além disso, mesmo que o público possa observar
as ações de seus agentes, os eleitores podem não concordar com o que está sendo feito. E,
pior ainda, o conjunto de ferramentas que os eleitores têm para recompensar ou punir o
comportamento dos agentes é muito limitada (FEREJHON, 1999).

A divulgação de informações de forma voluntária ou compulsória, permite aos


eleitores fiscalizar os funcionários eleitos (LASWAD et al., 2005). Assim, uma maior
transparência reduz as assimetrias de informação e aumenta o grau de confiança do público
nos atores políticos, limitando os conflitos entre cidadãos e políticos (TEJEDO-ROMERO
E DE ARAÚJO, 2015).

A outra abordagem, relacionada à teoria da legitimidade, baseia-se no conceito de


contrato social, onde Shocker e Sethi ( 1974) defendem que qualquer instituição, social ou
privada, opera na sociedade por meio de um contrato social, expresso ou implícito, pelo
qual sua sobrevivência e crescimento se baseiam na entrega de alguns fins socialmente
desejáveis e na distribuição de benefícios econômicos, sociais ou políticos a grupos dos
quais deriva seu poder.

43
Transparência é característica de governos, empresas, organizações e indivíduos a serem abertos a clara
divulgação de informações, normas, planos, processos e ações. Em princípio, funcionários públicos, empregados,
gerentes e diretores de empresas ou organizações e administradores de conselhos tem o dever de agir de modo
visível, previsível e compreensível para promover a participação e accountability. (TRANSPARENCY
INTERNATIONAL, 2009, p. 44).
Portanto, uma instituição deve encontrar constantemente os testes gêmeos de
legitimidade e relevância, demonstrando que a sociedade exige seus serviços e que os
grupos que se beneficiam de suas recompensas tenham a aprovação da sociedade
(SHOCKER e SETHI ,1974, p. 67).

A transparência sobre as atividades das organizações é uma maneira de legitimar


ações para as partes interessadas e dar legitimidade às organizações (PATTEN, 1992).
Podemos entender, segundo essa teoria, que se a legitimidade organizacional de alguma
instituição estiver ameaçada, ela divulgará informações em um esforço para promover a
legitimidade organizacional, com o intuito de recuperar a confiança dos cidadãos e mudar
as percepções destes sobre o funcionamento da organização (TEJEDO-ROMERO E DE
ARAÚJO, 2015).

Segundo Heald (2003) a transparência fiscal deve ser valorizada por razões
intrínsecas, ligadas à legitimidade e, também, aos fundamentos instrumentais de que ela é
capaz de estimular o melhor desempenho do governo, ao ajudar a mudar o foco de atenção
dos insumos para os resultados. Ela também aumenta a credibilidade da política
macroeconômica e fornece aos atores econômicos um grau de previsibilidade sobre as
atividades fiscais, de modo que eles possam administrar seus próprios negócios com mais
eficiência.

Portanto, transparência é fundamental para a gestão pública. A importância da


transparência é reconhecida pelos profissionais em muitos campos de política. É um
ingrediente essencial para o controle político efetivo e monitoramento do setor público. A
transparência do setor público decorre de políticas, instituições e práticas que fornecem
informações de maneiras que melhoram compreensão das políticas públicas, aumentam a
efetividade política e reduzem a incerteza política. A transparência no processo
orçamentário é muito importante porque regula as atividades financeiras do governo
(GUILLAMÓN et al., 2011).

O setor público é financiado pelos contribuintes e é por isso que eles precisam de
transparência nas informações para supervisionar todas as atividades executadas pelo
governo (RÍOS et al., 2013). A transparência é um meio para melhorar os resultados do
governo, eficácia gerencial, bem como a eficácia da política (HIRSCH e OSBORNE,
2000).
O papel do setor público foi conceituado por Musgrave (1959). Segundo ele, o setor
público deve utilizar os instrumentos fiscais (arrecadação e gastos) a fim de garantir: a) a
alocação eficiente dos recursos na produção de bens e serviços; b) a distribuição de renda
e riqueza igualitária; e c) a estabilização de preços.

A transparência fiscal é um fator fundamental para a gestão eficaz e para prestação


de contas. Ela garante que os governos tenham um quadro preciso da sua situação e das
suas perspectivas fiscais, dos custos e dos benefícios de qualquer mudança na política e os
riscos potenciais que possam surgir. Fornece aos legisladores, mercados e cidadãos as
informações que necessitam para manter os governos responsáveis. Também é importante
para melhorar o debate entre os policymakers e o público e principalmente para destacar
os riscos quanto às perspectivas fiscais, permitindo uma resposta da política fiscal mais
rápida e mais suave para alterações nas condições econômicas, reduzindo a incidência de
graves crises (HAMEED, 2005).

A transparência fiscal, portanto, está relacionada com as funções do setor público:


alocativa, distributiva e estabilizadora. Isso porque uma maior prestação de contas, que
aumenta a transparência, pode diminuir a realização de políticas discricionárias e
inconsistentes por parte do governo, que teriam como objetivo se beneficiar ou beneficiar
determinados grupos ou regiões em detrimento de outros. Esse maior nível de prestação de
contas leva a um maior apoio por parte dos mercados e dos eleitores bem informados.

3.2.1 Evidências empíricas sobre o efeito da transparência orçamentária sobre as


contas públicas

A literatura sobre transparência fiscal se divide entre os trabalhos que discutem os


determinantes da transparência fiscal e os trabalhos que analisam os efeitos que a
transparência fiscal possui sobre a economia. Neste sentido, alguns trabalhos se preocupam
com o efeito da transparência fiscal sobre as contas públicas. Alt et al. (2002) encontram
que um alto nível da dívida está associado com baixa transparência. Ademais, tanto déficit
quanto superávit estão associados a alto nível de transparência. Esses resultados indicam
que quando os governos incorrem em déficit, as condições econômicas não estão
favoráveis e eles precisam aumentar o nível de prestação de contas para justificar suas
escolhas. Ademais, quando os governos obtêm superávit, eles se tornam mais propensos a
apresentar seus resultados para evidenciar seu bom desempenho fiscal e usá-lo contra seus
opositores. A análise foi feita para os estados americanos, utilizando dados em corte
transversal no período de 1986-95.

De acordo com Alt et al. (2006), a dívida é de fato negativamente relacionada com
a transparência fiscal. A análise foi conduzida utilizando dados de corte transversal sobre
a transparência fiscal limitado para 19 países da OCDE. Os resultados sugerem ainda que
transparência fiscal é um elemento importante para melhorar o desempenho fiscal e que
países politicamente competitivos têm instituições mais transparentes.

Para explorar o vínculo entre fluxos de informação e governança44, Islam (2006)


desenvolve um indicador – chamado transparency index – que mede a frequência com que
os governos atualizam dados econômicos que disponibilizam ao público. A análise baseia-
se em regressões entre países utilizando um total de 170 países. A estimativa da regressão
entre países mostra que os países com melhores fluxos de informação apresentam melhor
governança.

Benito e Bastida (2009), usando uma amostra de 41 países da OCDE e não-OCDE,


encontraram uma relação positiva entre o equilíbrio fiscal do governo nacional e a
transparência orçamentária: quanto mais informações o orçamento revela, menos os
políticos podem usar déficits fiscais para alcançar objetivos.

Parry (2007) discute a relação entre transparência orçamentária e crescimento


econômico e estabilidade em 12 países da América Latina. Eles argumentaram que a
transparência fiscal pode ajudar os países da região a alcançar a difícil restrição
orçamentária necessária para evitar o endividamento público excessivo.

Caamaño-Alegre et al. (2012) analisam os determinantes da transparência


orçamentária nos governos locais, para 33 municípios da Galiza. O trabalho é baseado em
um questionário para medir a transparência orçamentária dos municípios. Os resultados
sugerem que os governos são mais propensos a aumentar a transparência ao herdarem uma
pesada carga fiscal (endividamento elevado) e a promulgar políticas sólidas de gasto (baixo
déficit).

44
O conceito de governança incorpora como as decisões são tomadas, o equilíbrio de poderes e instituições,
e de que maneira os políticos e gerentes são responsabilizados. Refere-se não às políticas públicas per se,
mas às configurações dentro das quais a política pública é decidida e executada, Matheson e Kwon (2002).
Blume e Voigt (2013) fazem as seguintes perguntas: as disposições orçamentárias
explicitamente enunciadas na constituição de um país têm algum efeito significativo na
política fiscal? A transparência do processo orçamentário tem algum efeito significativo na
política fiscal? Essas duas variáveis têm impacto em outras variáveis, como a eficácia e a
produtividade do governo? Com base em uma análise entre países, eles encontram que os
limites de gastos constitucionalmente estabelecidos estão correlacionados com o menor
gasto total do governo e que a transparência do orçamento de uma nação está
correlacionada com a maior eficácia do governo, além de reduzir a corrupção.

Tejedo-Romero e de Araújo (2015) com o objetivo de analisar os determinantes


da transparência dos governos locais, utilizam dados em painel para o período de 2008 a
2012, para os maiores munícipios espanhóis e concluem que os municípios para reduzir a
assimetria de informações e legitimar as ações dos líderes políticos em relação aos cidadãos
vem aumentando o seu nível de transparência.

3.2.2 Transparência orçamentária e Tamanho do governo

A transparência orçamentária, portanto, é importante para manter os governos


responsáveis, tem impacto sobre a dívida pública e aumenta a eficiência dos gastos. Uma
pergunta que se levanta é se transparência orçamentária tem impacto sobre o tamanho do
governo?

Segundo Ferejhon (1999) os contribuintes exigem alta transparência como um


requisito para permitir que os governos colecionem e gerenciem grandes quantidades de
recursos financeiros, ou seja, alta transparência está associada ao tamanho da participação
do governo na economia.

Os resultados encontrados por Alt et al. (2002) sugerem que instituições fiscais
mais transparentes induzem maior esforço por parte das autoridades locais. Os eleitores
respondem confiando maiores recursos a eles, levando a um governo maior. Alt e Lassen
(2006) também descobriram que a fraca supervisão das finanças públicas e a falta de
transparência orçamentária também resultam em rápida expansão e em tamanho excessivo
do governo.
Persson, Roland e Tabellini (2000) argumentam que a transparência fiscal é capaz
de divulgar o desperdício do governo, aumentar as responsabilidades das autoridades locais
e diminuir sua renda, mantendo tudo mais constante, reduzindo o tamanho do governo.

Shi e Svensson (2002) apontam que os eleitores estão dispostos a selecionar


políticos talentosos, porque eles podem fornecer mais bens públicos com a receita tributária
dada. As preferências do eleitor estimulam os atuais funcionários a demonstrar sua
capacidade na provisão de mais bens públicos mediante a emissão de mais títulos
governamentais. Se a transparência fiscal for alta o suficiente, os eleitores podem observar
a tentativa dos funcionários e limitar seu comportamento para exibir a capacidade por meio
de títulos governamentais, levando à queda do tamanho dos títulos governamentais.

Os cidadãos querem obter o máximo benefício dos serviços públicos, pagando o


menor valor de impostos possíveis (Alcaraz-Quiles et al., 2015). Alta transparência e
prestação de contas é uma exigência dos contribuintes para permitir que os governos coletar
e gerenciar altos níveis de recursos financeiros. Isso é um incentivo para os cidadãos
avaliarem os níveis de impostos e serviços.

Guillamón et al. (2011), utilizando uma amostra que abrange os 100 maiores
municípios espanhóis em 2008, mostram que o imposto per capita tem relação positiva com
a transparência financeira no site do governo local. Os municípios que coletam mais
impostos e recebem mais transferências divulgam mais informações financeiras e,
consequentemente, são mais transparentes.

Zhang (2016) utilizando dados em painel para 31 províncias entre 1985,


investigam os determinantes do tamanho do governo local na China. Os autores concluem
que transparência orçamentária tem um efeito não linear em forma de “U” no tamanho do
governo local. Ou seja, o orçamento deve ser transparente o suficiente para reduzir os
fundos extra orçamentários e não-institucionais, impedir a fraude e a corrupção dentro do
governo a fim de diminuir o tamanho do governo local. Mas a transparência excessiva
produz superexposição, levando a perdas na eficácia da operação administrativa, através
de altos níveis de custos de transação e excessiva politização, isso resulta em novo
crescimento do governo.
3.2.3 Determinantes do Tamanho do governo

A literatura sobre os determinantes do tamanho do governo considera renda per


capita, abertura comercial, população, taxa de urbanização, taxa de dependência as varáveis
relevantes para o modelo.45

A relação entre renda per capita e tamanho do governo é explicada de acordo com
a Lei de Wagner, onde a demanda por serviços públicos aumenta quando a renda da
população aumenta, de modo que se espera que o tamanho do governo em relação ao PIB
aumente com o aumento da renda (RODRIK,1998)46.

Outras variáveis tipicamente consideradas no modelo são indicadores


demográficos e estruturais, como população, taxa de urbanização e taxa de dependência
(ALESINA E WACZIARG, 1998; RODRIK, 1998; RAM, 2009). A justificativa é que o
aumento da população e da taxa de dependentes (crianças e idosos) leva a uma maior
demanda por serviços públicos, como saúde e educação, (TAIT E HELLEN, 1982),
embora, empiricamente, não haja um consenso na literatura sobre os sinais dessas
variáveis.47

A relação entre abertura comercial e o tamanho do governo é explicada por Rodrik


(1998), com a justificativa de que os países expostos a um maior “risco externo” exigem
governos maiores como uma forma de seguro social, o trabalho mostra a existência de uma
correlação positiva entre a exposição de uma economia ao comércio internacional e o
tamanho do seu governo. Epifania e Gancia (2008), Ram (2009), Lin, et al. (2014),
confirmam os achados de Rodrik (1998), por outro lado Benaroch e Pandey (2008),
Benaroch e Pandey (2012), Jetter e Pameter (2015) concluem que não há evidências para
apoiar a relação sugerida por Rodrik (1998).

45
Ver Alesina e Wacziarg (1998), Rodrik (1998), Benaroch e Pandey (2008), Ram (2009), Jetter e Pameter
(2015).
46
Justificativa utilizada por Rodrick (1998), embora tenha obtido sinais contrários com suas estimações.
47
A relação entre população e tamanho do governo é negativa em Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey
(2012), Jetter e Pameter (2015) e negativa em Ram (2009), o mesmo acontece para taxa de urbanização. Rodrick
(1998) e Benaroch e Pandey (2008), encontram uma relação positiva entre a taxa de dependentes e tamanho do
governo, em contrapartida, Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey (2012) encontram uma relação
negativa.
3.3 Metodologia e dados
Com o objetivo de analisar os efeitos da transparência fiscal e da corrupção sobre o
tamanho do governo, o trabalho utiliza dados em painel, retirados do Banco Mundial, do
Open Budget Index e do International Country Risk Guide48. A análise faz uso de 2
amostras distintas. Nesta sessão apresentamos a amostra principal, e na sessão seguinte,
que contempla as análises de robustez, apresentamos amostra alternativa.

Como análise principal, utiliza-se o índice de transparência fiscal do International


Budget Partnership (IBP) - o Open Budget Index (OBI)49. O uso do OBI é devido à sua
ampla cobertura de países, disponibilidade pública dos dados e aceitação na literatura
(ARBATLI e ESCOLANO, 2015; PEAT et al., 2015). Ademais, de acordo com Wehner e
de Renzio (2013, p. 99) “the thoroughness and independence of the OBI research process,
including the publication of peer reviews and editorial decisions, make it far less
susceptible to government manipulation”. Além disso, este índice de transparência fiscal
está intimamente relacionado com a definição de transparência fiscal apresentada por
Kopits e Craig (1998)50. O índice varia de 0 a 100, no qual valores próximos de 100 indicam
elevados níveis de transparência fiscal. Com esse índice, a base de dados contém o período
de 2006 a 2016, com periodicidade anual, para um conjunto de 75 países agrupados.

48
O IBP realiza pesquisas que cobrem a disponibilidade de documentos-chave do orçamento, que se relacionam
com formulação de orçamento, execução de orçamento e processos de auditoria orçamentária, a força legislativa
e a força da instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI cobre a disponibilidade, a clareza e a
qualidade dos diferentes documentos orçamentários. O OBI baseia-se em questões que cobrem a qualidade e a
abrangência de oito documentos-chave do orçamento: declaração pré-orçamento, proposta de orçamento do
executivo, orçamento promulgado, orçamento do cidadão, relatórios interanuais, revisão intercalar, relatório de
fim de ano e auditoria relatório. O Open Budget Survey é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma
organização independente que avalia em que medida os governos disponibilizam suas informações orçamentárias
ao público em tempo hábil. Para a nossa análise, o OBI representa uma melhor medida de transparência fiscal do
que outras medidas - como os Relatórios do Fundo Monetário Internacional sobre a Observância de Padrões e
Códigos (ROSC) e ajustes de fluxo de estoque (SFA).
49
O índice é uma medida independente de comparação mundial da transparência do orçamento dos governos. O
OBI abrange os países pela Pesquisa do Orçamento Aberto atribuindo a transparência uma pontuação em uma
escala de 100 pontos usando 109 das 140 questões da pesquisa. Estas questões incidem especificamente sobre se
o governo proporciona ao público acesso oportuno a informações completas contidas em oito principais
documentos orçamentários, de acordo com padrões de boas práticas internacionais.
50
De acordo com Kopits e Craig (1998, p.1): “Fiscal Transparency is defined (…) as openness toward the public
at large about government structure and functions, fiscal policy intentions, public sector accounts, and projections.
It involves ready access to reliable, comprehensive, timely, understandable, and internationally comparable
information on government activities - whether undertaken inside or outside the government sector - so that the
electorate and financial markets can accurately assess the government’s financial position and the true costs and
benefits of government activities, including their present and future economic and social implications”.
U
mas das preocupações do trabalho é medir o efeito conjunto da transparência fiscal com a
corrupção sobre o tamanho do governo. Para tal, utiliza-se o índice que mede a corrupção
dentro do sistema político do Internacional Country Risk Guide (ICRG). O índice indica o
risco relacionado à corrupção, e quanto maior o valor do índice, menor a risco de corrupção.
Para transformar a interpretação, multiplica-se o índice por (-1), de forma que o índice
represente o grau de corrupção do país. Desta forma, quanto maior o valor do índice, maior
a corrupção.

Como proxy para o tamanho do governo, utiliza-se o consumo do governo em razão


do PIB, do Banco Mundial. As demais séries que são utilizadas como variáveis de controle
são: abertura comercial, renda per capita, taxa de urbanização, população e taxa de
dependentes51.

O apêndice A.2, da secção 3.7, fornece a estatísticas descritivas para as duas


amostras utilizadas nesse artigo. A amostra principal que utiliza o índice OBI de 75 países
e a amostra do exercício de robustez de 50 países.

Para facilitar a compreensão da especificação econométrica utilizada, nomeiam-se


as variáveis da seguinte forma: SIZE é o tamanho do governo, utiliza-se o logaritmo natural
do consumo do governo em relação ao PIB; GDPPC é o logaritmo natural do PIB per
capita; OPEN é o logaritmo natural da soma das exportações e importação em relação ao
PIB; URBPOP é o logaritmo natural da população urbana; POP é o logaritmo natural da
população total; DEP é o logaritmo natural da taxa de dependentes. Para a obtenção de
evidências empíricas, baseados no trabalho de Rodrik (1998), utilizamos o seguinte modelo
básico:
SIZEt  1  2 SIZEt 1  3GDPPCt  4OPENt  5URBPOPt  6 POPt  7 DEPt  1t (8)

No qual, ε1 é o termo de erro. Ademais, para analisar o efeito da transparência fiscal

(TRANSP), medida pelo logaritmo natural do índice do IBP, e da corrupção (CORRUP),


medido pelo índice de corrupção do ICRG, sobre o tamanho do governo, estimamos as
seguintes equações:

51
Para verificar a descrição das séries e sua respectiva fonte, ver APÊNDICE A.1, na secção 3.7.
SIZEt  1  2 SIZEt 1  i Zi  8TRANSP   2t (9)

SIZEt  1  2 SIZEt 1  i Zi  8CORRUP   3t (10)

SIZEt  1  2 SIZEt 1  i Zi  8TRANSP  9CORRUP   4t (11)

SIZEt  1  2 SIZEt 1  i Zi  8TRANSP  9CORRUP  10TRANSP * CORRUP  5t (12)

Nas quais, ε2 ε3 ε4 e ε5 são os termos de erro e Zi é um vetor de variáveis de controle

composto por GDPPC, OPEN, URBPOP, POP e DEP. É importante destacar que o efeito
completo da corrupção na equação 5 é condicionado pelo valor da transparência fiscal. Em
suma, o efeito marginal da corrupção sobre o tamanho do governo é dado por:

SIZE
 9  10 *TRANSP (13)
CORRUP

De
sta forma, podemos observar se o efeito da transparência fiscal mitiga ou amplifica os
efeitos da corrupção sobre o tamanho do governo.

Esse trabalho é conduzido utilizando análise de dados em painel. Os principais


parâmetros de interesse são tamanho do governo e as medidas de transparência e corrupção.
Uma preocupação potencial com o OLS é que variáveis macroeconômicas estão sujeitas
ao problema de endogeneidade, o que faz com que os estimadores do parâmetro do modelo
sejam inconsistentes. Tal como observado por Wooldridge (2001), a presença de variáveis
endógenas podem ser observados por três motivos:

(i) Omissão de variáveis relevantes para o modelo, que surge quando uma
variável resposta é omitida da regressão e quando pelos menos uma das variáveis
explicativas é correlacionada com a variável omitida;
(ii) Erro de medição das variáveis, que surge quando uma variável
explicativa é medida de forma imprecisa;
(iii) Simultaneidade, que surge quando além da variável explicativa
determinar a variável dependente, a variável dependente determina uma variável
explicativa, ou seja, simultaneidade na relação causal.

A solução geral para o problema da endogeneidade é o uso de variáveis


instrumentais. Segundo Wooldridge (2001), para ser considerada adequada, uma variável
instrumental deve atender a dois pré-requistios: ser correlacionada com as variáveis
explicativas e ser ortogonal ao erro. Em particular, o estimador GMM permite a utilização
de instrumentos que são sequencialmente exógenos, evitando assim o problema de
endogeneidade. O uso de variáveis instrumentais permite estimativas de parâmetros de
forma mais consistente, mesmo em caso de ocorrência de erros de medição e de
endogeneidade nas variáveis explicativas (BOND, HOEFFLER E TEMPLE, 2001). Neste
trabalho, utiliza-se as variáveis explicativas defasadas como variáveis instrumentais.

Além do problema de endogeneidade, um outro problema que pode surgir é


possibilidade do viés de Nickell52 dado um pequeno T e grande I na amostra. Assim, adota-
se o método GMM sistêmico desenvolvido por Blundell e Bond (1998).

O método foi proposto por Arellano e Bond (1991), consiste em um modelo


dinâmico de dados em painel que considera a primeira diferença para remover os efeitos
não observados. No entanto, Alonso-Borrego e Arellano (1998), e Blundell e Bond (1998)
mostraram que o GMM dinâmico possui um viés para amostras infinitas (amostras grandes
e pequenas) e baixa precisão. Além disso, o uso de defasagens pode gerar instrumentos
fracos (STAIGER e STOCK, 1997). Blundell e Bond (1998) encontraram resultados que
sustentam o uso do método GMM sistêmico para estimação de dados em painel, ao invés
do GMM dinâmico.

Embora as estimações S-GMM sejam adequadas para um pequeno número de


períodos de tempo (t) e um grande número de indivíduos (i) em pequenas amostras, quando
os instrumentos são muitos, elas tendem a sobreajustar as variáveis instrumentais e enviesar
os resultados (ROODMAN, 2009). Assim, com o objetivo de evitar o uso de um número
excessivo de instrumentos nas regressões e, portanto, perder a precisão dos testes, a razão
do número de instrumentos / número de cortes transversais deve ser menor do que 1 em

52
Nickell (1981) forneceu expressões analíticas para o viés nas estimativas em modelos dinâmicos com efeitos
fixos individuais quando o período de tempo é curto e o número de indivíduos é grande.
cada regressão. Além disso, a fim de confirmar a validade dos instrumentos nos modelos,
utilizamos o teste de sobreindentificação (estatística J), conforme sugerido por Arellano
(2003). A hipótese nula da estatística J consiste na existência de sobreindentificação na
regressão.

Para verificar se os termos dos erros não são serialmente correlacionados utilizamos
os testes de primeira ordem (AR1) e de segunda ordem (AR2) de correlação serial
conforme destacado por Arellano e Bond (1991). Além disso, nas regressões as matrizes
de covariância são corrigidas pelo método White. É importante salientar que uma premissa
de modelos de GMM sistêmico é a não correlação da primeira diferença de regressores
endógenos, o que implica que não é necessária a realização de testes de raiz unitária.

3.4 Resultados

Nesta seção são apresentados os resultados das equações 1 – 5 estimadas pelo


método S-GMM. As estimações são apresentadas na tabela 14. É possível observar que as
restrições em relação aos instrumentos são respeitadas. A relação entre o número de
instrumentos e o número de cortes transversais é menor que 1 em todas as equações.
Ademais, o teste J indica a ortogonalidade dos instrumentos. Em relação aos resíduos, o
teste AR(1) é negativo e significante em todas as equações, enquanto que o teste AR(2)
não possui significância estatística, resultados que indicam o comportamento adequado dos
resíduos.
Tabela 14 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE)
EQ(1) EQ(2) EQ(3) EQ(4) EQ(5)
SIZE (-1) 0.524*** 0.616*** 0.360*** 0.489*** 0.524***
(0.018) (0.017) (0.010) (0.021) (0.012)
GDPPC 0.287*** 0.124*** 0.164*** 0.203*** 0.253***
(0.032) (0.024) (0.016) (0.020) (0.017)
OPEN 0.080*** 0.023** 0.075*** 0.019 0.022***
(0.013) (0.011) (0.010) (0.012) (0.007)
URBPOP -0.540*** -0.230*** -0.364*** -0.508*** -0.621***
(0.076) (0.077) (0.080) (0.071) (0.054)
POP -0.044 -0.167*** -0.015 -0.230*** -0.058**
(0.040) (0.042) (0.025) (0.043) (0.029)
DEP -0.108* -0.052 -0.165* -0.126** -0.102**
(0.040) (0.042) (0.073) (0.058) (0.049)
TRANSP 0.019*** 0.054*** 0.134***
(0.002) (0.007) (0.012)
CORRUP -0.029*** -0.024*** -0.227***
(0.009) (0.003) (0.009)
TRANSP*CORRUP 0.058***
(0.003)

Observações 353 445 458 494 410


Rank/Cross-sections 0.662 0.743 0.756 0.770 0.882
Teste J (p-valor) 0.308 0.110 0.114 0.104 0.110
AR(1) -0.344 -0.387 -0.317 -0.338 -0.345
p-valor 0.000 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.048 -0.070 -0.030 -0.028 -0.086
p-valor 0.508 0.188 0.528 0.604 0.110
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.

Em relação às variáveis de controle, o componente autorregressivo apresenta sinal


positivo e significante em todas as estimações. O PIB per capta apresenta sinal positivo e
significante em todas as estimações. Este resultado contradiz a literatura recente sobre
assunto (RODRIK, 1998; BENAROCH E PANDEY, 2008 E 2012; EPIFANI E GANCIA,
2009), afirmando a lei de Wagner, que indica um aumento da necessidade de gastos
públicos conforme aumenta a renda per capita. Em relação à abertura comercial, os
coeficientes estimados são positivos e significantes, com exceção da equação 4 que não
apresenta significância estatística. Este resultado está de acordo com os resultados
encontrados por Epifani e Grancia (2009), Benaroch e Pandey (2012), Lin, et al. (2014),
Jetter e Parameter (2015). As variáveis de estrutura demográfica URBPOP, POP e DEP
apresentaram sinal negativo e significância na maioria das estimações. A literatura
apresenta resultados ambíguos em relação ao sinal destes controles, conforme apresentado
na sessão anterior.

Em relação à transparência fiscal, os coeficientes estimados são positivos e


significantes em todas as equações. O efeito positivo da transparência fiscal sobre o
tamanho do governo indica que ao tomar maior conhecimento sobre as contas públicas, o
que gera uma maior capacidade de fiscalização, os contribuintes mudam suas preferências
em prol de uma participação maior do governo na economia. Isto pode ser refletido a partir
da atribuição das decisões para policymakers com propensão a aumentar o tamanho do
governo. A transparência fiscal aumenta a confiança na gestão dos recursos, e permite o
acompanhamento da mesma. Os agentes econômicos, tendo a capacidade de fiscalizar e
cobrar o governo por resultados, ficam mais propensos a demandar governos grandes. Por
outro lado, a ausência de transparência fiscal leva à falta de confiança na gestão dos
recursos e à impossibilidade de acompanhamento das contas públicas. Neste caso, os
agentes econômicos preferem um governo pequeno, pois não possuem a capacidade de
fiscalizar as contas públicas e a alocação dos recursos feita pelo governo.

Em relação à corrupção, todos os coeficientes estimados são negativos e


significantes. Um maior nível de corrupção implica em menor confiança sobre a gestão
dos recursos públicos. Desta forma, os agentes econômicos preferem um governo menor,
tendo suas preferências representadas por gestores de política eleitos propensos à um
governo menor, uma vez que há uso indevido dos recursos públicos disponíveis. Por outro
lado, a redução da corrupção melhora a avaliação dos agentes sobre a gestão dos recursos,
o que permite um governo maior.

Além do efeito direto da corrupção sobre o tamanho do governo, também é possível


observar que o efeito conjunto da corrupção com a transparência fiscal é positivo. Isto
indica que a transparência fiscal mitiga os efeitos da corrupção sobre o tamanho do
governo. Este resultado indica que os agentes econômicos aceitam maiores níveis de
corrupção se o país possuir um alto grau de transparência fiscal. A transparência fiscal gera
a confiança de que mesmo na existência de corrupção, a gestão dos recursos pode ser
fiscalizada pela população. Desta forma, o desvio ou uso indevido de verbas teria maior
chance de ser revertido ou combatido. Assim, o efeito de redução do tamanho do governo
na presença de corrupção é mitigado por maiores níveis de transparência fiscal.

3.5 Robustez

Como forma de fornecer robustez para os resultados encontrados no capítulo


anterior, utiliza-se indicadores alternativos para a transparência fiscal, corrupção e tamanho
do governo, substituindo de forma alternada na base de dados inicial. Desta forma, na
análise de robustez obtém-se três análises adicionais. Cada análise é apresentada e tem seus
resultados analisados em uma subseção.

3.5.1 Índice de transparência fiscal Country Policy and Instituional Assessment


(CPIA)

O outro índice de transparência fiscal utilizado é do Banco Mundial - o Country


Policy And Institutional Assessment (CPIA)53. O índice mede a transparência, prestação
de contas e corrupção do setor público. A escolha do índice está relacionada a sua
disponibilidade pública. A base de dados para este índice inclui o período de 2005 a 2016,
com periodicidade anual, para um conjunto de 50 países.
Estimamos as equações 1-5 substituindo a variável TRANSP pela variável CPIA.
As novas especificações são chamadas de (1.1), (1.2), (1.3), (1.4) e (1.5), e somente diferem
das equações 1-5 por utilizar uma medida de transparência fiscal diferente.

53
O índice mede a Transparência, prestação de contas e corrupção no rating do setor público (1 = baixo a 6 = alto).
O índice avalia até que ponto o executivo pode ser responsabilizado pelo uso de fundos e pelos resultados de suas
ações pelo eleitorado e pela legislatura e pelo judiciário, e o grau em que os funcionários públicos no executivo
são obrigados a contabilizar decisões administrativas, uso de recursos e resultados obtidos.
Tabela 15 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com CPIA
EQ(1.1) EQ(1.2) EQ(1.3) EQ(1.4) EQ(1.5)
LN_SIZE (-1) 0.757*** 0.821*** 0.7274*** 0.7489*** 0.5110***
(0.007) (0.015) (0.024) (0.029) (0.067)
LN_GDPPC -0.028 -0.166*** 0.1261*** -0.0693 0.0156
(0.024) (0.047) (0.048) (0.076) (0.108)
LN_OPEN 0.063*** 0.046*** 0.0666** 0.1039*** 0.0852
(0.013) (0.018) (0.034) (0.034) (0.073)
LN_URBPOP 0.257*** 0.605*** -0.0046 0.4432 -0.0472
(0.090) (0.132) (0.150) (0.394) (0.499)
LN_POP -0.190*** -0.281*** -0.1511* -0.0429 0.2737
(0.039) (0.055) (0.084) (0.192) (0.251)
LN_DEPENDENT 0.316*** 0.298*** 0.1809 0.1198 0.3148*
(0.067) (0.081) (0.126) (0.183) (0.187)
CPIA 0.043*** 0.2220*** 0.8916***
(0.010) (0.030) (0.160)
CORRUP -0.0322** -0.0522*** -1.1885***
(0.014) (0.019) (0.256)
CPIA*CORRUP 0.4020***
(0.091)

Observações 367 334 256 226 226


Rank/Cross-sections 0.920 0.894 0.823 0.935 0.935
Teste J (p-valor) 0.279 0.233 0.362 0.270 0.323
AR(1) -0.451 -0.453 -0.385 -0.430 -0.394
p-valor 0.000 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.004 0.020 -0.024 0.010 0.014
p-valor 0.937 0.711 0.644 0.852 0.819
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.

Em relação aos resultados, assim como nas estimações da tabela 14, todos os testes
indicam a adequação do modelo e da escolha dos instrumentos. Em termos dos sinais das
variáveis de controle, é possível observar que a variável GDPPC apresenta sinal negativo
com significância nas equações (1.2) e (1.3), seguindo os resultados encontrados pela
literatura (RODRIK, 1998; BENAROCH E PANDEY, 2008 E 2012; EPIFANI E
GANCIA, 2009). As variáveis OPEN, URBPOP e POP apresentam os mesmos resultados
da tabela 14. A variável DEP apresentou sinal positivo em todas as estimações da tabela 2,
com significância estatística, corroborando os achados de Rodrick (1998) e Benaroch e
Pandey (2008).
Em relação às variáveis de interesse CORRUP e CPIA, os resultados repetem os
achados da tabela 14, indicando uma relação negativa da corrupção com o tamanho do
governo e uma relação positiva da transparência fiscal com o tamanho do governo. A
variável interativa também apresentou um sinal positivo, indicando um efeito mitigador da
transparência fiscal em relação ao efeito negativo da corrupção sobre o tamanho do
governo.

3.5.2 Índice de Controle da Corrupção (C_CORRUP)

O outro índice de corrupção utilizado é do The Worldwide Governance Indicators,


que reflete em que medida o poder público é usado para o ganho privado, incluindo
pequenas e grandes formas de corrupção (C_CORRUP). O índice tem valores entre –2.5
(maior corrupção) e 2.5 (menor corrupção). A escolha do índice deve-se a sua
disponibilidade pública e sua aceitação na literatura.54 A base de dados para este índice
inclui o período de 2005 a 2016, com periodicidade anual, para um conjunto de 50 países.
Estima-se três equações com este índice de corrupção. Substitui-se a variável
CORRUP pela variável C_CORRUP nas equações 3-5 e gera-se as equações (2.3), (2.4) e
(2.5). Os resultados das estimações são apresentados na tabela 16.

54
Ver Montes e Paschoal (2016).
Tabela 16 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com
Controle da corrupção
EQ(1) EQ(2) EQ(3)
LN_SIZE (-1) 0.406*** 0.486*** 0.419***
(0.008) (0.015) (0.018)
LN_GDPPC 0.077*** 0.447*** 0.407***
(0.018) (0.027) (0.050)
LN_OPEN 0.012 0.011 0.027*
(0.009) (0.009) (0.016)
LN_URBPOP -0.163*** -0.809*** -0.861***
(0.062) (0.077) (0.145)
LN_POP -0.119*** -0.050* 0.013
(0.023) (0.028) (0.046)
LN_DEPENDENT -0.105* -0.156** -0.177*
(0.060) (0.061) (0.096)
LN_TRANSP 0.013*** 0.035***
(0.029) (0.006)
CONTROL_CORRUP 0.053*** 0.131*** 0.065
(0.011) (0.002) (0.051)
LN_TRANSP*CORRUP 0.038***
(0.010)

Observações 494 336 362


Rank/Cross-sections 0.770 0.775 0.736
Teste J (p-valor) 0.105 0.267 0.498
AR(1) -0.338 -0.310 -0.290
p-valor 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.028 -0.097 -0.079
p-valor 0.604 0.158 0.263
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.

Os resultados apresentados na tabela 16 atendem às restrições em relação aos


instrumentos e aos resíduos. Em relação as variáveis de controle, os sinais repetem os
resultados encontrados na tabela 2 com exceção da variável URBPOP que apresenta sinal
negativo e significante em todas as equações55, o mesmo verificado na tabela 1.

55
Este resultado está de acordo com Rodrick (1998), Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey (2018 e
2012).
E
m relação ao sinal da variável C_CORRUP, as estimações indicam uma relação positiva
entre o controle da corrupção e o tamanho do governo. Este resultado está de acordo com
os resultados encontrados na tabela 14 e 15, nos quais observa-se uma relação negativa
entre a corrupção e o tamanho do governo. Um aumento do controle da corrupção implica
uma menor corrupção, e desta forma o coeficiente positivo estimado indica a mesma
relação já obtida. O aumento do controle da corrupção aumenta a confiança dos agentes na
gestão dos recursos públicos, de maneira que os agentes econômicos aceitam uma
participação maior do governo na economia.
A
variável transparência fiscal mantém o sinal positivo encontrado também nas tabelas 14 e
15. O efeito conjunto da transparência fiscal com o controle da corrupção é positivo,
indicando que a transparência fiscal potencializa os efeitos do controle da corrupção sobre
o tamanho do governo. Este resultado é similar ao efeito mitigador que a transparência
fiscal apresenta em conjunto com a variável CORRUP.

3.5.4 Gasto do governo (EXPENSE)

A outra proxy utilizada para mensurar o tamanho do governo é a despesa do governo


em razão do PIB (EXPENSE), retirada do Banco Mundial. Despesas são pagamentos em
dinheiro para atividades operacionais do governo no fornecimento de bens e serviços.
Inclui a remuneração de empregados (como salários e vencimentos), juros, subsídios,
benefícios sociais e outras despesas, como aluguel e dividendos. A utilização dessa série
como outra proxy para tamanho do governo segue Benarroch e Pandey (2012) e Liberati
(2007). A diferença entre as séries de tamanho e despesa do governo pode ser explicada
pelo fato da medida de despesa incluir pagamentos por transferência não incluídos na
medida de tamanho.
Para analisar o efeito da corrupção e da transparência fiscal sobre o tamanho do
governo, medido pelas despesas governamentais, substitui-se a variável dependente SIZE
pela variável EXPENSE. A partir das equações 1-5, considerando a variável EXPENSE
como variável dependentes, temos as equações (3.1), (3.2), (3.3), (3.4) e (3.5). As
estimações para estas equações são apresentadas na tabela 17.
Tabela 17 – Estimações por S-GMM para o gasto do governo (EXPENSE)

EQ(1) EQ(2) EQ(3) EQ(4) EQ(5)


LN_EXP (-1) 0.358*** 0.352*** 0.605*** 0.396*** 0.4646***
(0.051) (0.040) (0.015) (0.065) (0.088)
LN_GDPPC -0.044 0.082 0.027 0.087 -0.0169
(0.058) (0.083) (0.043) (0.114) (0.081)
LN_OPEN 0.080*** 0.097*** 0.017* 0.181** -0.0801*
(0.030) (0.034) (0.010) (0.087) (0.044)
LN_URBPOP -0.055 -0.126 -0.262** -0.049 0.1659
(0.140) (0.164) (0.117) (0.298) (0.246)
LN_POP 0.792*** 0.687*** 0.189*** 0.672*** 0.208
(0.152) (0.149) (0.029) (0.178) (0.145)
LN_DEPENDENT 0.128 0.088 -0.135*** 0.010 -0.0972
(0.146) (0.179) (0.041) (0.255) (0.148)
LN_TRANSP 0.037*** 0.021 0.3073**
(0.010) (0.024) (0.125)
CORRUP -0.010** -0.006 -0.4399*
(0.005) (0.032) (0.236)
LN_TRANSP*CORRUP 0.1254**
(0.059)

Observações 280 261 306 218 308


Rank/Cross-sections 0.597 0.586 0.907 0.566 0.555
Teste J (p-valor) 0.117 0.142 0.280 0.614 0.111
AR(1) -0.391 -0.370 -0.424 -0.400 -0.394
p-valor 0.000 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.132 -0.130 -0.104 -0.102 -0.106
p-valor 0.109 0.105 0.100 0.257 0.104
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.

Os resultados apresentados na tabela 17 indicam que as estimações respeitam as


condições de sobreidentificação dos resíduos, a relação entre o número de instrumentos e
o número de cross-sections está abaixo de 1 e os testes de resíduos apresentam os resultados
esperados. Em relação às variáveis e controle, somente a variável OPEN e a variável
apresentam significância estatística, ambas com coeficientes indicando uma relação
positiva com o tamanho do governo. Em relação à corrupção e à transparência fiscal, os
resultados apresentados na tabela 17 indicam a mesma relação já encontrada nas tabelas
14-16.
3.6 Conclusão

O presente trabalho analisou, a partir de uma perspectiva empírica, a relação entre


corrupção, transparência fiscal e tamanho do governo. Utilizando dados em painel com
duas amostras diferentes, uma para cada índice de transparência fiscal (TRANSP e CPIA),
o trabalho analisa o impacto da transparência fiscal e da corrupção sobre o tamanho do
governo. Ademais, o trabalho também analisa o efeito conjunto da transparência fiscal e
da corrupção sobre o tamanho do governo.

O trabalho apresenta exercícios de robustez utilizando diferentes medidas para a


transparência fiscal, corrupção e tamanho do governo. Em todas as estimações realizadas,
os efeitos da transparência fiscal e da corrupção sobre o tamanho do governo permanecem
os mesmos.

O trabalho fornece indícios de uma relação positiva entra transparência fiscal e


tamanho do governo. Este resultado indica o aumento da transparência fiscal muda as
preferências sociais na direção de governo maiores. Os resultados também indicam que há
uma relação negativa entre a corrupção e o tamanho do governo. Isto implica que os
contribuintes respondem à maiores níveis de corrupção demandando governos menores.

Por fim, o efeito conjunto entre a transparência fiscal e a corrupção apresenta um


sinal positivo. Isto indica um efeito mitigador da transparência fiscal sobre o efeito da
corrupção no tamanho do governo. Mesmo com elevados nível de corrupção, se os
contribuintes percebem um maior nível de transparência fiscal, isto mitiga o efeito da
corrupção sobre suas preferências de governos maiores.

Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: o aumento da transparência fiscal possui impactos
sobre as preferências sociais em relação ao tamanho do governo. A preferência por
governos maiores está associada com maior qualidade da gestão dos recursos públicos e
capacidade de fiscalização por parte da sociedade.
3.7 Apêndice
APÊNDICE A. 1 – Lista de Variáveis
Variáveis Descrição Fonte
Variáveis Dependentes
Despesas de consumo final das administrações
World Bank (2018)
SIZE públicas em % PIB.

Despesas são pagamentos em dinheiro para


atividades operacionais do governo no
fornecimento de bens e serviços. Inclui a
EXPENSE remuneração de empregados (como salários e World Bank (2018)
vencimentos), juros e subsídios, subsídios,
benefícios sociais e outras despesas, como aluguel
e dividendos em % PIB.

Variáveis Independentes
O índice é uma medida independente de
International Budget
TRANSP comparação mundial da transparência do
Partnership (2017)
orçamento dos governos.

Transparência, prestação de contas e corrupção


CPIA World Bank (2017)
no rating do setor público (1 = baixo a 6 = alto)

Medida de corrupção dentro do sistema político


que representa uma ameaça para o investimento
estrangeiro ao distorcer o ambiente econômico e
financeiro, reduzindo a eficiência dos governos e Internacional Country
CORRUP
dos negócios. Permitindo ainda que pessoas Risk Guide (2017).
assumam posições por meio do poder e patrocínio,
em vez da capacidade, introduzindo instabilidade
inerente ao processo político.

Reflete em que medida o poder público é usado The Worldwide


C_CORRUP para o ganho privado, incluindo pequenas e Governance Indicators
grandes formas de corrupção. (2017)

Soma das exportações e importações de bens e


OPEN serviços em relação ao produto interno bruto % World Bank (2018)
PIB.

.População Total que conta com todos os


POP World Bank (2018)
residentes

Produto interno bruto dividido pela população do


GDPPC World Bank (2018)
meio ano.

População urbana, refere-se a pessoas que vivem


URBPOP em áreas urbanas, conforme definido pelos World Bank (2018)
escritórios nacionais de estatística.

É a proporção de dependentes (crianças e idosos)


DEP World Bank (2018)
em relação a população em idade de trabalhar.
APÊNDICE A.2– Estatística Descritiva

Amostra Variáveis

75 países
Média Mediana Máximo Mínimo Desvio Padrão Observações
SIZE 14.765 14.442 30.003 2.047 4.920 805
DEP 63.249 56.754 112.683 34.493 18.935 824
C_CORRUP -0.219 -0.449 2.391 -1.614 0.894 814
CORRUP 2.477 2.229 5.500 0.000 1.088 748
EXPENSE 24.286 23.262 49.710 5.032 9.286 570
POP 79082772 27188328 1380000000 1303141 210000000 824
GDPPC 9817.550 3682.469 91594.180 291.971 15535.130 822
OPEN 73.172 66.836 321.632 19.101 33.358 814
TRANSP 44.711 46.375 93.000 0.000 23.212 740
URBPOP 55.013 56.437 91.893 8.352 21.923 825
50 países
SIZE 13.954 13.483 39.584 2.047 6.065 574
DEP 76.346 80.661 112.683 35.784 17.745 599
C_CORRUP -0.656 -0.744 2.248 -1.614 0.630 589
CORRUP 2.013 2.000 4.500 0.000 0.762 409
POP 54155613 12648545 1320000000 100858 177000000 598
GDPPC 2324.315 1001.384 52600.640 218.284 6555.952 596
OPEN 83.931 71.140 439.657 19.101 56.853 588
CPIA 2.780 3.000 4.500 1.000 0.640 558
URBPOP 37.800 35.601 100.000 9.375 16.495 599
Nota: A tabela mostra as estatísticas descritivas (média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo, desvio
padrão e número de observações) para todas as variáveis utilizadas, nas duas amostras. As estatísticas
descritivas são para o período de 2006 a 2016 para a amostra de 75 países e de 2005 a 2016 para a amostra
de 50 países.

APÊNDICE A.3– Lista de Países


Amostra de 75 países

Albania; Argentina; Bangladesh; Bolivia; Brazil; Botswana; Chile; China; Cameroon;


Colombia; Comoros; Germany; Dominican Republic; Algeria; Ecuador; Egypt, Arab Rep.;
Spain; France; United Kingdom; Ghana; Guatemala; Honduras; Indonesia; India; Iraq;
Italy; Jordan; Kenya; Cambodia; Korea, Rep.; Liberia; Morocco; Mexico; Macedonia,
FYR; Mali; Mongolia; Mozambique; Malawi; Malaysia; Namibia; Niger; Nigeria;
Nicaragua; Norway; Nepal; New Zealand; Pakistan; Peru; Philippines; Portugal; Romania;
Russian Federation; Rwanda; Saudi Arabia; Sudan; Senegal; Sierra Leone; El Salvador;
Sweden; Chad; Thailand; Tajikistan; Trinidad and Tobago; Tunisia; Turkey; Tanzania;
Uganda; Ukraine; United States; Venezuela, RB; Vietnam; South Africa; Congo, Dem.
Rep.; Zambia ; Zimbabwe.

Amostra de 50 países

Albania; Burundi; Benin; Bangladesh; Bolivia; Bhutan; Cote d'Ivoire; Cameroon; Congo,
Rep.; Colombia; Eritrea; Ghana; Guinea; Guinea-Bissau; Grenada; Guyana; Honduras;
Indonesia; India; Kenya; Cambodia; Liberia; Lesotho; Madagascar; Mali; Mongolia;
Mozambique; Mauritani; Malawi; Niger; Nigeria; Nicaragua; Nepal; Pakistan; Rwanda;
Sudan; Senegal; Singapore; Sierra Leone; Chad; Togo; Tajikistan; Tonga; Tanzania;
Uganda; Uzbekistan; Vietnam; Congo, Dem. Rep.; Zambia; Zimbabwe.
Considerações Finais

Este estudo teve como objetivo contribuir com a literatura sobre transparência
fiscal, ao preencher algumas lacunas encontradas nessa literatura. O objetivo, portanto, foi:
(i) analisar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público; (ii) estimar os efeitos da transparência fiscal sobre os gastos públicos em
educação e sobre a eficiência destes; e (iii) analisar o efeito da transparência fiscal e da
corrupção sobre o tamanho do governo, medido pelo consumo do governo no PIB.

Os achados mostram que foram realizados esforços pelos países no sentido de


aumentarem a transparência fiscal, comparando as pontuações de transparência fiscal para
os 82 países entre 2006 e 2014. Com base nos resultados das estimações, a transparência
fiscal exerce efeito direto sobre a eficácia do governo e eficiência do gasto público, como
também efeito indireto por meio da dívida pública, enfatizando, assim, seu papel na
promoção de melhores práticas para a política fiscal. Os resultados indicam os países
podem se beneficiar significativamente com a redução da dívida pública, aumentando a
transparência fiscal. Os resultados mostram ainda que a transparência fiscal afeta o gasto
governamental em educação, indicando que países com maior transparência fiscal alocam
mais recursos em educação. Quando são comparados os resultados para os países em
desenvolvimento, observa-se que as magnitudes dos coeficientes são maiores na amostra
de países que englobam os países desenvolvidos. Além disso, os resultados sugerem que a
transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar a eficiência do gasto
público em educação. O trabalho fornece indícios de uma relação positiva entra
transparência fiscal e tamanho do governo. Este resultado indica o aumento da
transparência fiscal muda as preferências sociais na direção de governo maiores. Os
resultados também indicam que há uma relação negativa entre a corrupção e o tamanho do
governo. Isto implica que os contribuintes respondem à maiores níveis de corrupção
demandando governos menores.

Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações


práticas para ações de políticas econômicas: governos que buscam melhorar sua eficácia e
apresentar gastos mais eficientes devem aumentar a transparência fiscal, e ainda, governos
que buscam aumentar alocação e apresentar gastos mais eficientes em educação devem
aumentar a transparência fiscal. O estudo fornece ainda outro importante insight: o
aumento da transparência fiscal possui impacto sobre as preferências sociais em relação ao
tamanho do governo. A preferência por governos maiores está associada com maior
qualidade da gestão dos recursos públicos e capacidade de fiscalização por parte da
sociedade.
Referências Bibliográficas

ABDULLAH N. N., RAHMAN M. F. A. (2015). The use of deliberative democracy in


public policy making process. Public Policy and Administration Research 5 (3), 221-229.

ALCARAZ-QUILES, F. J., NAVARRO-GALERA, A., & ORTIZ-RODRÍGUEZ, D.


(2014). Factors determining online sustainability reporting by local governments.
International Review of Administrative Sciences, 81(1), 79–109.

AFONSO A, AUBYN MSt (2005) Non-Parametric approaches to education and health


efficiency in OECD countries. Journal of Applied Economics 8(2): 227-246.

AFONSO A, FERNANDEZ S (2006) Measuring local government spending efficiency:


evidence for the Lisbon region. Regional Studies 40(1): 39-53.

AFONSO A, SCHUKNECHT L, TANZI V (2005) Public sector efficiency: an


international comparison. Public Choice 123(3): 321-347.

AFONSO A, SCHUKNECHT L, TANZI V (2010) Public sector efficiency - evidence


for new EU member states and emerging markets. Applied Economics 42(17): 2147-2164.

AHN T, CHARNES A, COOPER WW (1988) Some statistical and DEA evaluations of


relative efficiencies of public and private institutions of higher learning. Socio-Economic
Planning Sciences 22(6): 259-269.

AIDT, T.; DUTTA, J.; SENA, V. (2006). Governance Regimes, Corruption and
Growth: Theory and Evidence. Journal of Comparative Economics, 36 (2), 195-220.

AKÇA, H.; ATA, A. Y.; KARACA, C. (2012). Inflation and Corruption Relationship:
Evidence from Panel Data in Developed and Developing Countries. International Journal of
Economics and Financial Issues, 2 (3), 281-295.

AL-MARHUBI, F. A. (2000). Corruption and inflation. Economics Letters, 66, 199-


202.

ALESINA, A., WACZIARG, R., 1998. Openness, country size and government. J. Public
Econ. 69, 305–321.
ALONSO-BORREGO, C. AND ARELLANO, M., (1999). Symmetrically normalized
instrumentalvariable estimation using panel data. Journal of Business and Economic Statistics,
17 (1), 36-49.

ALT, JAMES E., AND DAVID D. LASSEN, (2003), “Fiscal Transparency and Fiscal
Policy Outcomes in OECD Countries,” Economic Policy Research Unit Working Paper, No.
2003-2 (Paris:OECD).

ALT JE, LASSEN DD (2006a) Transparency, political polarization, and political budget
cycles in OECD countries. American Journal of Political Science 50(3): 530-550.

ALT JE, LASSEN DD (2006b) Fiscal transparency, political parties, and debt in OECD
countries. European Economic Review 50: 1403-39.

Alt, J. E., Lassen, D. D., & Rose, S. (2006). The causes of fiscal transparency: evidence
from the U.S. States. IMF Staff Papers, 53, 3057. Recuperado de
http://www.jstor.org/stable/30036021

Alt, James E., And David D. Lassen, (2003), “Fiscal Transparency and Fiscal Policy
Outcomes in OECD Countries,” Economic Policy Research Unit Working Paper, No.
2003-2 (Paris:OECD).
ANDREULA, N. AND CHONG A. (2016). Do good institutions improve fiscal
transparency? Economics of Governance. 17( 3), 241–263.

ARBATLI E., ESCOLANO J (2015) Fiscal transparency, fiscal performance and credit
ratings. Fiscal Studies 36(2): 237-270.

ALONSO-BORREGO C, ARELLANO M (1999) Symmetrically normalized


instrumental variable estimation using panel data. Journal of Business & Economic Statistics
17(1): 36-49.

ARELLANO M (2003) Panel Data Econometrics. Oxford University press.

ARELLANO M, BOND S (1991) Some tests of specification for panel data: Monte
Carlo evidence and an application to employment equations. Review of Economic Studies
58(2): 277–297.
ARELLANO M, BOVER O (1995). Another look at the instrumental variable
estimation of error-components model. Journal of Econometrics 68(1): 29-51.

BANKER RD, CHARNES A, COOPER WW (1987) Some models for estimating


technical and scale inefficiencies in data envelopment analysis. Management Science 30(9):
1078-1092.

BARRO, R. J. (1990) Government spending in a simple model of endogenous growth,


Journal of Political Economy, 98, S103–25.
BASTIDA F, BENITO B (2007) Central government budget practices and transparency:
An international comparison. Public Administration 85(3): 667-716.

BELLVER, A., & KAUFMANN, D. (2005). Transparenting transparency: initial


empirics and policy applications. World Bank Policy Research Working Paper, 1-72.

BENARROCH, M., & PANDEY, M. (2008). Trade openness and government size.
Economics Letters, 101(3), 157–159.

BENARROCH, M., PANDEY, M., 2012. The relationship between trade openness and
government size: does disaggregating government expenditure matter? J.Macroecon. 34 (1),
239–252.

BENITO B, BASTIDA F (2009) Budget transparency, fiscal performance, and political


turnout: an international approach. Public Administration Review 69(3): 403-417.

BERNOTH K, WOLFF GB (2008) Fool the markets? Creative accounting, fiscal


transparency and sovereign risk premia. Scottish Journal of Political Economy 55(4): 465-487.

BOND SR, HOEFFLER A, TEMPLE J (2001) GMM estimation of empirical growth


models. CEPR Discussion Paper 3048 (London).

BOGETOFT P, OTTO L (2011) Benchmarking, with DEA, SFA and R. New York:
Springer.

BLUME L, VOIGT S (2013) The economic effects of constitutional budget institutions.


European Journal of Political Economy 29: 236-251.
BLUNDELL R, BOND S (1998) Initial conditions and moment restrictions in dynamic
panel data models. Journal of Econometrics 87(1): 115-143.

BLUNDELL, R., AND BOND, S., (1998). Initial conditions and moments restrictions
in dynamic panel data models. Journal of Econometrics, 86 (1), 115–143.

BLUME L, VOIGT S (2013) The economic effects of constitutional budget institutions.


European Journal of Political Economy 29: 236-251.

CAAMAÑO-ALEGRE, J., S. LAGO-PEÑAS, F. Reyes-Santias, and A. Santiago-Boubeta.


2012. Budget transparency in local governments: An empirical analysis. Local
Government Studies 20:693–705.
CELASUN, O., X. DEBRUN, AND J. D. OSTRY (2006), Primary Surplus Behavior
and Risks to Fiscal Sustainability in Emerging Market Countries: A “Fan-Chart” Approach.
IMF Staff Papers, 53 (3), 401-425.

CHANG, T. Y., W. R. LIU AND H. THOMPSON (2002), The Vaiability of Fiscal


Policy in South Korea, Taiwan and Thailand. ASEAN Economic Bulletin, 19 (2), 170-
177. 6.

CHAN SG, RAMLY Z, KARIM MZA (2017) Government spending efficiency on


economic growth: roles of value-added tax. Global Economic Review 46(2): 162-188.

CHARNES A, COOPER W, RHODES E (1978) Measuring the efficiency of decision


makers units. Europen Journal of Operational Research 2: 429-444.

COORAY A, DZHUMASHEV R, SCHNEIDER F (2017) How does corruption affect


public debt? An empirical analysis. World Development 90: 115-127.

COLOMBIER, C. (2009) Growth effects of fiscal policies: an application of robust


modified M-estimator, Applied Economics, 41, 899–912.

de RENZIO P, MASUD H (2011) Measuring and promoting budget transparency: the


Open Budget Index as a research and advocacy tool. Governance: An International Journal of
Policy, Administration, and Institutions 24(3): 607-616.
DUTU R, SICARI P (2016) Public spending efficiency in the OECD: benchmarking
health care, education and general administration. OECD Economics Department Working
Papers, 1278, OECD Publishing, Paris.

ELGIN C, URAS BR (2013) Public debt, sovereign default risk and shadow economy.
Journal of Financial Stability 9(4): 628–640.

EFIPANI, P. E GANCI, G., 2008. Openness, Government Size and the Terms of Trade.
Review of Economic Studies Limited, 76, 629–668.
ERAUSKIN, I., & TURNOVSKY, S. J. (2019). Financial Globalization and the Increase
in the Size of Government: Are They Related? Open Economies Review.
doi:10.1007/s11079-019-09525-x
EUROPEAN COMMISSION (2008) Standard Eurobarometer 66 Spring, available at
http://ec.europa.eu/commfrontoffice/publicopinion/archives/eb/eb66/eb66_en.pdf.
Accessed 29 Jan 2019
EUROPEAN COMMISSION (2016) Standard Eurobarometer 85 Spring, available at
http://ec.europa.eu/commfrontoffice/publicopinion/index.cfm/ResultDoc/download/
DocumentKy/75905. Accessed 29 Jan 2019
FARRELL M (1957) The measurement of productive efficiency. Journal of the Royal
Statistical Society Series A (General) 120(3): 253-281.

FEREJOHN, J. 1999. Accountability and authority: Towards a model of political


accountability. In A. Przeworski, S. C. Stokes, & B. Manin (Eds.), Democracy, accountability
and representation (pp. 131-153). New York, NY: Cambridge University Press.

GALÍ, J. (1994). Government size and macroeconomic stability. European Economic


Review, 38(1), 117–132

GARCIA-SANCHEZ IM, CUADRADO-BALLESTEROS B, FRIAS-ACEITUNO J


(2013) Determinants of Government Effectiveness. International Journal of Public
Administration 36: 567–577.

GELOS RG, WEI SJ (2005) Transparency and International Portfolio Holdings. Journal
of Finance 60(6): 2987-3020.
GLENNERSTER R, SHIN Y (2008) Does transparency pay? IMF Staff Papers 55: 183-
209.

GRIFFITHS, W. E., HILL, R. C. E JUDGE, G. G.(1993) Learning and Praciting


Econometrics. New York: John Wiley & Sons Inc.,.

GUILLAMÓN, M. D., BASTIDA, F., & BENITO, B. (2011). The determinants of local
government’s financial transparency. Local Government Studies, 37, 391-406.

GUPTA S, VERHOEVEN M (2001) The efficiency of government expenditure:


Experiences from Africa. Journal of Policy Modeling 23(4): 433-467.

HAMEED, F., (2005), ‘Fiscal Transparency and Economic Outcomes’, IMF Working
Paper WP/05/225

HAUNER D (2008) Explaining differences in public sector efficiency: evidence from


Russia regions. World Development 36(10): 1745-1765.

HEALD, D. A. (2003). “Fiscal Transparency: Concepts, Measurement and U.K.


Practice,” Public Administration, 81(4): 723–59.

HIRSCH, W. Z., & OSBORNE, E. W. (2000). Privatization of Government Services:


Pressure-Group Resistance and Service Transparency. Journal of Labor Research, 21 (2)

315-326.

INTERNATIONAL BUDGET PARTNERSHIP, (2011), ‘Open Budgets. Transform


Lives. The Open Budget Survey 2010,’ International Budget Partnership

INTERNATIONAL MONETARY FUND (2001) Manual on Fiscal Transparency.

IMF (2007) Globalization, financial markets, and fiscal policy. International Monetary
Fund, Prepared by the Fiscal Affairs Department, November 2007.

IMF (2012) Fiscal transparency, accountability, and risk. International Monetary Fund,
Prepared by the Fiscal Affairs Department in collaboration with the Statistics Department,
August.
ISLAM R (2006) Does more transparency go along with better governance? Economics
and Politics 18(2): 121-67.

JETTER, M. E PAMETER, C. F., 2015. Trade openness and bigger governments: The role
of country size revisited. European Journal of Political Economy, 37, 49-63.

KALIRAJAN, K. P., & SHAND, R. T. (1999). Frontier production functions and


technical efficiency measures. Journal of Economic surveys, 13(2), 149–172.

KEMPKES G, POHL C (2010) The efficiency of German universities – some evidence


from non-parametric and parametric methods. Applied Economics 40(16): 2063-2079.

KOLSTAD I, WIIG A (2009) Is transparency the key to reducing corruption in resource-


rich countries? World Development 37(3): 521-532.

KOPITS G, CRAIG JD (1998) Transparency in government operations. IMF


Occasional Paper 158.

LASWAD, F.; FISHER, R,; OYELERE, P. (2005) Determinants of voluntary Internet


financial reporting by local government authorities. Journal of Accounting and Public Policy
24 101–121.

LEVAČIĆ, R. (1993). Local management of schools as na organizational form: theory


and application, Journal of Education Policy, 8:2, 123-141.

LI, H.; XU, L. C.; ZOU, H.-F. (2000) Corruption, income distribution and growth.
Economics and Politics, 12 (2), 954-1985.

LIBERATI P (2007) Trade openness, capital openness and government size. J Publ Policy
27:215–247

LIN F., LI B. E SIM N., 2014. Trade openness and government size of small developing
countries. An instrumental approach. Economics of Transition, 22(4), 783–808.

LINDSTEDT C, LAURIN D (2010) Transparency is not enough: making transparency


effective in reducing corruption. International Political Science Review 31(3): 301-322.
LOVELL, C. (2000). Measuring efficiency in the public sector. Public provision and
performance: contributions from efficiency and productivity measurement Amsterdam:
Elsevier.

LUCAS, R. (1988). “On the mechanism of economic development’, Journal of Monetary


Economics, 22, 3-42.
MATHESON, A. 2002. Better public sector governance: the rationale for budgeting and
accounting reform in western nations. Models of public budgeting and accounting
reform, OECD Journal on budgeting, 2(1).
MAURO, P. (1995) Corruption and Growth. The Quarterly Journal of Economics, 110
(3), 681-712.

MENDEZ, F.; SEPULVEDA, F. (2006) Corruption, growth and political regimes: cross
country evidence. European Journal of Political Economy, 22, 82-98.

MENDONÇA, H.; FONSECA, A. D. (2012) Corruption, income, and rule of law:


empirical evidence from developing and developed economies. Brazilian Journal of Political
Economy, 32 (2), 305-314.

MINEA A, TAPSOBA R (2014) Does inflation targeting improve fiscal discipline?


Journal of International Money and Finance 40: 185-203.

MO, P. H. (2001). Corruption and Economic Growth. Journal of Comparative


Economics, 29 (1), 66-79.

MONTES, G. ; BASTOS, J. C. A., OLIVEIRA, A. J. (2018). Fiscal transparency,


government effectiveness and government spending efficiency: Some international evidence
based on panel data approach. ECONOMIC MODELLING, 2019.

MONTES, G. C.; ALMEIDA, A. F. G. (2017) Corruption and business confidence: a


panel data analysis. Economics Bulletin, 37, 2692-2702.

MONTES GC, PASCHOAL PC (2016) Corruption: what are the effects on government
effectiveness? Empirical evidence considering developed and developing countries. Applied
Economics Letters 23(2): 146-150.
MUSGRAVE RA (1959) The Theory of Public Finance: a study in public economy.
New York McGraw-Hill.

NABAMITA D. S. R., (2016)."State fragility and transparency", International Journal


of Development Issues, Vol.15 Iss 3 pp.

NICKELL, S.J., 1981. Biases in dynamic models with fixed effects. Econometrica 49,
1417—1426

OCDE. (2001). Organisation for Economic Cooperation and Development. OCDE Best
practices for budget transparency.

OGAWA K, STERKEN E, ICHIRO T (2016) Public debt, economic growth and the
real interest rate: a panel VAR approach to EU and OECD countries. Discussion Paper No. 955,
The Institute of Social and Economic Research, Osaka University.

PARRY, T. 2007. The role of fiscal transparency in sustaining growth and stability in Latin
America. International Monetary Fund Working Paper, September 2007.
doi:10.5089/9781451867848.001.
PATTEN, D. M. (1992) Intra-industry environmental disclosures in response to the
Alaskan oil spill: A note on legitimacy theory. Accounting, Organizations and Society, 17, 471-
475.

PEAT M, SVEC J, WANG J (2015) The effects of fiscal opacity on sovereign credit
spreads. Emerging Markets Review 24: 34-45.

PEW RESEARCH CENTER (2018) http://www.people-press.org/2018/03/01/2-views-of-


scope-of-government-trustin-government-economic-inequality/030118_2_1/.
Accessed 29 Jan 2019
PERSSON, T., G. ROLAND, AND G. TABELLINI. 2000. Comparative politics and
public finance. Journal of Political Economy 108 (6):1121–61. doi:10.1086/317686.
RAM, R., 2009. Openness, country size, and government size: additional evidence from a
large cross-country panel. J. Public Econ. 93, 213–218.
RAYP G, DE SIJPE NV (2007) Measuring and explaining government efficiency in
developing countries. The Journal of Development Studies 43(2): 360-381.
RÍOS A. M. , B. BENITO & F. BASTIDA (2013) Determinants of Central Government
Budget Disclosure: An International Comparative Analysis, Journal of Comparative Policy
Analysis: Research and Practice, 15:3, 235-254.

REINIKKA R, SVENSSON J (2004) The power of information: Evidence from a


newspaper campaign to reduce capture. World Bank Policy Research Working Paper, 3239.
Washington, DC: International Monetary Fund.

RODRIK, D., 1998. Why do more open economies have bigger governments? J. Polit.
Econ. 997–1032.
ROODMAN DM (2009) A note on the theme of too many instruments. Oxford Bulletin
of Economics and Statistics 71(1): 135-158.

SHARMAN, J. C. & CHAIKIN, D. (2009). Corruption and anti-money-laundering


systems: putting a luxury good to work, Governance: An International Journal of Policy,
Administration, and Institutions, 22(1), pp. 27–45.

SEIFERT J, CARLITZ R, MONDO E (2013) The Open Budget Index (OBI) as a


Comparative statistical tool. Journal of Comparative Policy Analysis: Research and Practice
15(1): 87-101.

SMITH, P., & MAYSTON, D. (1987). Measuring efficiency in the public sector.
Omega, 15 (3), 181-189.

SHI, M., AND J. SVENSSON. 2002. Conditional political budget cycles. CEPR
Discussion Paper No. 3352, Centre for Economic Policy Research, London.
SHOCKER, A. D. & SETHI, S. P.,. (1974) An Approach to Incorporating Social
Preferences in Developing Corporate Action Strategies, in Sethi, S. P. (ed.), The Unstable
Groun~ Corporate Social Policy in a Dynamic Society, pp. 67-80, Melville.

STAIGER D, STOCK JH (1997) Instrumental variables regression with weak


instruments. Econometrica 65(3): 557-586.

SVENSSON, J. (2005) Eight questions about corruption. Journal of Economic


Perspectives, 19 (3), 19-42.
SUCHMAN, M. C. (1995). Managing legitimacy: Strategic and institutional
approaches. Academy of Management Review, 20, 571-610.

TAIT, ALAN A., AND HELLER, PETER S. International Comparisons of Government


Expenditure. Occasional Paper no. 10. Washington: Internat. Monetary Fund, April 1982

TANZI, V. (1998). Corruption Around the World Causes, Consequences, Scope, and
Cures. IMF Staff Papers Vol. 45, No. 4.

TEJEDO-ROMERO, F. & ARAUJO, J. F. (2015). Determinants of Local


Governments’Transparency in Times of Crisis: Evidence From Municipality-Level Panel Data.
Administration & Society. 50(4). 527-554

TRANSPARENCY INTERNATIONAL. (2009) The Anti-Corruption Plain Language


Guide. . Disponível em: 135
<http://www.transparency.de/fileadmin/pdfs/Themen/Wirtschaft/TI_Plain_Language_Gu
ide_

280709.pdf/>. Acesso em: 13 novembro 2014.

WEHNER J, DE RENZIO P (2013) Citizens, legislators, and executive disclosure: the


political determinants of fiscal transparency. World Development 41: 96-108.

WOOLDRIDGE, J., (2001). Econometric Analysis of Cross Section and Panel Data.
Cambridge, Mass.: MIT Press.

UNDP. (2002). HUMAN DEVELOPMENT REPORT. Deepening democracy in a


fragmented world. Oxford University Press. New York.

UNESCO. (2016a). Education for all. United Nations Educational, Scientific and
Cultural Organization.

UNESCO, (2016b). Education for people and planet: creating sustainable futures for all.
Second edition, Place de Fontenoy, 75352 Paris 07 SP, France.
ZHANG, S. 2016. Fiscal Decentralization, Budgetary Transparency, and Local
Government Size in China. Emerging Markets Finance and Trade. 52:7, 1679-1697

Você também pode gostar