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Niterói
2019
i
ANA JORDÂNIA DE OLIVEIRA
Niterói
2019
ii
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU
iii
Nome: Ana Jordânia De Oliveira
Título: Efeitos da Transparência fiscal sobre eficácia e eficiência do gasto público e tamanho
do governo: Uma análise com dados em painel para o período de 2006 a 2016.
Aprovada em: / / .
BANCA EXAMINADORA
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que sempre está olhando por mim, me
guardando, me curando, me guiando e sendo minha companhia.
Dedico esse trabalho aos meus pais e minha irmã, que sempre me acompanharam e nunca
mediram esforços para que eu alcançasse meus sonhos.
Dedico esse trabalho também ao meu noivo e companheiro nessa vida, Rodolfo. Seus
conselhos e sua ajuda foram fundamentais para a realização desse trabalho.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao PPGE/UFF pela oportunidade de ter estudado aqui ao longo desses 6 anos onde
realizei o mestrado e o doutorado.
Agradeço a CAPES por ter me concedido uma bolsa de estudos nesse último ano do
doutorado que foi fundamental para que eu conseguisse concluir minha tese.
Agradeço a UFRRJ e aos professores do ICSA, por terem me acolhido primeiro como aluna
na graduação e anos depois como professora substituta. Agradeço, pois, novamente
continuaram me ensinando e agregando a minha vida acadêmica.
Agradeço a UCAM por ter me acolhido como professora e permitir que eu aprenda e ensine
todos os dias.
Agradeço aos meus amigos da pós-graduação Tatiana Acar e Caio Ferrari, pela amizade ao
longo desses anos.
Agradeço a minhas amigas de vida, Natália Akemi, Júlia Craveiro, Amanda Soares, Laura
Petrilho, e minhas primas, Ana Elise e Isabel, pelos momentos de alegria e memes
compartilhados, que me permitiram rir um pouco nesse período.
vi
EPÍGRAFE
vii
RESUMO
A presente tese tem como objetivos verificar se os países têm realizado esforços para
aumentar a transparência fiscal e analisar por meio de estimações de dados em painel se a
transparência fiscal afeta a eficácia do governo, eficiência do gasto público e o tamanho do
governo. No primeiro capítulo, a análise considera dois canais pelos quais a transparência
fiscal afeta eficácia do governo e a eficiência do gasto público. O primeiro canal é indireto
e funciona por meio da dívida pública. O segundo canal é o efeito direto que a transparência
fiscal exerce sobre a eficácia do governo e a eficiência do gasto público, uma vez que a
transparência aumenta a responsabilidade e, portanto, melhora a tarefa de alocar recursos de
forma mais eficiente. As evidências apontam que a transparência na gestão das contas
públicas (transparência fiscal) melhora o desempenho e a sustentabilidade fiscal. A análise
utiliza uma amostra de 82 países (68 em desenvolvimento e 14 desenvolvidos) para o período
2006-2014, e estimações são realizadas pela metodologia de dados de painel. Comparando
os escores da transparência fiscal entre 2006 e 2014, observamos que aproximadamente 80%
dos países se esforçaram para melhorar a transparência fiscal. Os resultados das estimações
sugerem que a transparência fiscal é importante para melhorar a eficácia do governo e,
também, a eficiência do gasto público. No segundo capítulo, O estudo analisa o efeito da
transparência fiscal sobre os gastos do governo em educação para um total de 75 países,
sendo 15 países desenvolvidos e 60 países em desenvolvimento, para o período entre 2006
e 2016. Utiliza-se análise de dados em painel por meio de estimações pelo método dos
mínimos quadrados controlando para efeitos fixos e painel dinâmico pelo método dos
momentos generalizados sistêmico. Como análise de robustez um indicador da eficiência
dos gastos públicos em educação é construído, com base na técnica de Análise Envoltória
de Dados (DEA). Os resultados mostram que a transparência fiscal afeta o gasto
governamental em educação, indicando que países com maior transparência fiscal alocam
mais recursos em educação. Quando são comparados os resultados para os países em
desenvolvimento, observa-se que as magnitudes dos coeficientes são maiores na amostra de
países que englobam os países desenvolvidos. Além disso, os resultados sugerem que a
transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar a eficiência do gasto
público em educação. No terceiro capítulo explora-se, de forma empírica, a relação entre
transparência fiscal, corrupção e tamanho do governo. O estudo utiliza índices de
transparência fiscal, de corrupção e de tamanho do governo já reconhecidos na literatura.
Como forma de obter robustez nos resultados, utiliza-se outras medidas paras estas variáveis
centrais, gerando 3 novas amostras. A análise é conduzida por meio de estimações utilizando
dados em painel dinâmico pelo método dos momentos generalizados sistêmico (S-GMM)
para diferentes amostras de países no período de 2006 a 2016. Os resultados indicam que a
transparência fiscal aumenta o tamanho do governo, e a corrupção reduz o tamanho do
governo. Ademais, o efeito conjunto da transparência fiscal com a corrupção indica que a
transparência mitiga o efeito da corrupção sobre o tamanho do governo. O trabalho contribui
fornecendo evidências do efeito individual da transparência fiscal e da corrupção, e também
do efeito conjunto de ambas sobre o tamanho do governo.
viii
ABSTRAT
ix
Lista de Ilustrações
Figura 1 – Comparação do índice de transparência fiscal (OBI) em 2006 e
2014............................................................................................................................21
x
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Valores médios da transparência fiscal e eficácia do governo.................20
Tabela 2 – Estimações para o efeito da transparência fiscal na relação dívida/PIB (amostra
completa): 2006-2014 ................................................................................28
Tabela 3 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB (países
em desenvolvimento): 2006-2014 ................................................................29
Tabela 4 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB (países
em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014 ..............................29
Tabela 5 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (amostra
completa): 2006-2014 ................................................................................32
Tabela 6 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países
em desenvolvimento): 2006-2014 ................................................................33
Tabela 7 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países
em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014 ..............................34
Tabela 8 – Correlações entre Transparência Fiscal e GSE
........................................................................................39
Tabela 9 – Estimações Sistema GMM para o efeito da transparência fiscal no
GSE............................................................................................................................41
Tabela 10 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação (amostra
total).............................................................................................................
Tabela 11 - Estimações: Efeito da transparência Fiscal sobre o gasto em educação (países
em desenvolvimento)..........................................................................
Tabela 12 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o EFF_EDU
(países desenvolvidos e em desenvolvimento)..............................................
Tabela 13 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o EFF_EDU
(países em desenvolvimento)...........................................................................................
Tabela 14 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE)....................
Tabela 15 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com CPIA
Tabela 16 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com Controle da
corrupção...........................................................
Tabela 17 – Estimações por S-GMM para o gasto do governo (EXPENSE).............
xi
SUMÁRIO
PRÓLOGO ............................................................................................................................................. xiv
Introdução................................................................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1 - TRANSPARÊNCIA FISCAL, EFICÁCIA DO GOVERNO E EFICIÊNCIA DO
GASTO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DE DADOS EM PAINEL ....................................................... 4
1.1 Introdução 6
1.2 Evidências empíricas sobre os efeitos da transparência fiscal 9
1.3 Dados e Metodologia 14
1.4 Resultados 22
1.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos: análise de robustez 30
1.6 Considerações Finais 37
1.7 Apêndice 38
CAPÍTULO 2 – EFEITOS DA TRANSPARÊNCIA FISCAL SOBRE OS GASTOS DO
GOVERNO EM EDUCAÇÃO E SOBRE A EFICIÊNCIA DESSES GASTOS .............................. 40
2.1 Introdução 41
2.2 Evidências empíricas e importância da transparência fiscal 43
2.3 Dados e Metodologia 47
2.4 Resultados 52
2.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos em educação: análise de robustez 55
2.6 Considerações Finais 62
2.8 Apêndice 63
CAPÍTULO 3 – Transparência Fiscal, Corrupção e Tamanho do governo: uma análise com dados
em painel ................................................................................................................................................. 65
3.1 Introdução 66
3.2 Revisão da Literatura 68
3.2.1 Evidências empíricas sobre o efeito da transparência orçamentária sobre as contas
públicas............................................................................................................................................ 70
3.2.2 Transparência orçamentária e Tamanho do governo ........................................................ 72
3.2.3 Determinantes do Tamanho do governo ............................................................................. 74
3.3 Metodologia e dados 75
3.4 Resultados 79
3.5 Robustez 82
3.5.1 Índice de transparência fiscal Country Policy and Instituional Assessment (CPIA) ........ 82
3.5.2 Índice de Controle da Corrupção (C_CORRUP) ............................................................... 84
3.5.4 Gasto do governo (EXPENSE) ............................................................................................. 86
xii
3.6 Conclusão 88
3.7 Apêndice 89
Considerações Finais .............................................................................................................................. 92
Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 94
xiii
PRÓLOGO
Transparência das contas públicas1 surgiu como uma demanda por parte da sociedade
e dos mercados no final da década de 80 e tem sido uma preocupação para políticos no que
diz respeito a divulgação das contas públicas e para os acadêmicos em relação a seus efeitos
sobre a economia. A literatura sobre transparência baseia-se nas explicações fornecidas
pela teoria da agência e pela teoria da legitimidade (PATTEN (1992); SUCHMAN, (1995);
FEREJHON (1999)).
1
Transparência é característica de governos, empresas, organizações e indivíduos a serem abertos a clara divulgação
de informações, normas, planos, processos e ações. Em princípio, funcionários públicos, empregados, gerentes e
diretores de empresas ou organizações e administradores de conselhos tem o dever de agir de modo visível,
previsível e compreensível para promover a participação e accountability. (TRANSPARENCY
INTERNATIONAL, 2009, p. 44).
xiv
Portanto, uma instituição deve encontrar constantemente os testes gêmeos de
legitimidade e relevância, demonstrando que a sociedade exige seus serviços e que os
grupos que se beneficiam de suas recompensas tenham a aprovação da sociedade
(SHOCKER & SETHI ,1974, p. 67).
Segundo Heald (2003) a transparência fiscal deve ser valorizada por razões
intrínsecas, ligadas à legitimidade e, também, aos fundamentos instrumentais de que ela é
capaz de estimular o melhor desempenho do governo, ao ajudar a mudar o foco de atenção
dos insumos para os resultados. Ela também aumenta a credibilidade da política
macroeconômica e fornece aos atores econômicos um grau de previsibilidade sobre as
atividades fiscais, de modo que eles possam administrar seus próprios negócios com mais
eficiência.
O setor público é financiado pelos contribuintes e é por isso que eles precisam de
transparência nas informações para supervisionar todas as atividades executadas pelo
governo (Ríos et al., 2013). A transparência é um meio para melhorar os resultados do
governo, eficácia gerencial, bem como a eficácia da política (HIRSCH & OSBORNE,
2000).
xv
A transparência fiscal é um fator fundamental para a gestão eficaz e para prestação
de contas. Ela garante que os governos tenham um quadro preciso da sua situação e das
suas perspectivas fiscais, dos custos e dos benefícios de qualquer mudança na política e os
riscos potenciais que possam surgir. Fornece aos legisladores, mercados e cidadãos as
informações que necessitam para manter os governos responsáveis. Também é importante
para melhorar o debate entre os policymakers e o público e principalmente para destacar
os riscos quanto as perspectivas fiscais, permitindo uma resposta da política fiscal mais
rápida e mais suave para alterações nas condições econômicas, reduzindo a incidência de
graves crises (HAMEED, 2005).
A criação de normas fiscais que garantam uma maior transparência fiscal ganhou
destaque no final dos anos 90, devido as sucessivas crises internacionais que exigiram
programas de resgate internacional para garantir o equilíbrio do sistema financeiro global.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) começou a estabelecer princípios de boas práticas
para reforçar a vigilância fiscal, apoiar a formulação de políticas e aumentar a
responsabilidade fiscal. Isso foi feito por meio de relatórios sobre o desempenho e
Relatórios de Normas e Códigos, por exemplo o Código de Boas Práticas de Transparência
Fiscal e o Padrão Especial de Disseminação de Dados, que foram aprovados em 1996 e
1998, respectivamente. Orientação semelhante também foi criada pela OCDE em 2002 no
guia de Melhores Práticas para a Transparência Orçamentária.
xvi
Introdução
A crise financeira global, a crise da dívida dos países da União Europeia (EU),
e as práticas de contabilidade criativa e trapaças fiscais adotadas por diversos países
revelaram graves deficiências nos relatórios fiscais fornecidos pelos governos e, assim,
as falhas na maneira como governos se relacionam com as sociedades. Como
consequência, as incertezas em relação à situação real das contas públicas dos países
levantaram dúvidas quanto à eficácia das políticas governamentais e eficiência dos gastos
públicos. Como resultado da forte demanda por parte das sociedades e dos apelos de
organizações internacionais (tais com FMI e Banco Mundial) para que governos
melhorem suas práticas de prestação de contas, a transparência fiscal vem sendo tema de
intenso debate entre acadêmicos e policymakers. Como resultado desse debate, o que se
observa é que governos de diferentes países têm se empenhado em elevar os níveis de
transparência com a sociedade.
Pelo fato da adoção de práticas mais transparentes ser uma tendência na gestão
das contas públicas, as seguintes questões surgem: Os países estão realmente fazendo
esforços para aumentar a transparência fiscal? Países com maior transparência fiscal
também apresentam maior eficácia do governo e maiores níveis de eficiência do gasto
público? Países com maior transparência fiscal aumentam seus gastos em educação?
Países com maior transparência fiscal aumentam seu consumo em relação ao PIB? Essas
questões são relevantes e ainda não foram totalmente respondidas dentro da literatura
econômica.
1
trabalho tem por objetivo contribuir com a literatura a respeito do tema, preenchendo
essas lacunas.
No primeiro capítulo, os esforços feitos por 82 países em termos de aumento da
transparência fiscal são avaliados, e em seguida, utilizando a metodologia de dados do
painel, são estimados os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a
eficiência do gasto público, para o período de 2006 a 2014. Com base no argumento de
que um sistema com maior transparência fiscal fornece aos policymakers incentivos para
adotar melhores políticas (ARBATLI e ESCOLANO 2015), o presente estudo sugere que
a transparência fiscal melhora a eficácia e a eficiência do governo. Até o momento, o
presente estudo é o primeiro a apresentar esse tipo de análise e o primeiro a fornecer
evidências empíricas acerca dessas relações, representando uma importante contribuição
para a literatura. Comparando as pontuações de transparência fiscal para os 82 países
entre 2006 e 2014, observa-se que cerca de 80 por cento dos países fizeram esforços para
melhorar a transparência fiscal. Em relação às estimações, os resultados indicam, para as
três amostras, que a transparência fiscal desempenha um papel importante para melhorar
a eficácia do governo e a eficiência do gasto público. Além disso, os resultados sugerem
a seguinte implicação para a política econômica: os países em desenvolvimento que visam
ampliar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público devem adotar o regime de metas para inflação (RMI).
3
CAPÍTULO 1 - TRANSPARÊNCIA FISCAL,
EFICÁCIA DO GOVERNO E EFICIÊNCIA DO
GASTO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DE DADOS EM
PAINEL
4
1.1 Introdução
A crise financeira global, a crise da dívida dos países da União Europeia (EU), e as
práticas de contabilidade criativa e trapaças fiscais adotadas por diversos países revelaram
graves deficiências nos relatórios fiscais fornecidos pelos governos e, assim, as falhas na
maneira como governos se relacionam com as sociedades. Como consequência, as
incertezas em relação à situação real das contas públicas dos países levantaram dúvidas
quanto à eficácia das políticas governamentais e eficiência dos gastos públicos. Como
resultado da forte demanda por parte das sociedades e dos apelos de organizações
internacionais (tais com FMI e Banco Mundial) para que governos melhorem suas
práticas de prestação de contas, a transparência fiscal vem sendo tema de intenso debate
entre acadêmicos e policymakers. Como resultado desse debate, o que se observa é que
governos de diferentes países têm se empenhado em elevar os níveis de transparência com
a sociedade.
Pelo fato da adoção de práticas mais transparentes ser uma tendência na gestão das
contas públicas, as seguintes questões surgem: Os países estão realmente fazendo
esforços para aumentar a transparência fiscal? Países com maior transparência fiscal
também apresentam maior eficácia do governo e maiores níveis de eficiência do gasto
público? Esta última questão é importante, uma vez que as incertezas quanto à situação
real das contas públicas dos países levantam dúvidas em relação à eficácia e eficiência
das políticas governamentais.
2Esta variável é definida da seguinte forma: o indicador de “government effectiveness" reflete a percepção da
qualidade dos serviços públicos, da qualidade do serviço público e do grau de independência das pressões políticas,
da qualidade da formulação e adoção de políticas e da credibilidade do compromisso do governo com tais políticas
(Worldwide Governance Indicators).
robustez e fornecer mais evidências, um indicador da eficiência dos gastos do governo é
criado com base na Análise Envoltória de Dados (DEA). O indicador de eficiência dos
gastos do governo construído com base na DEA e sua utilização em estimações por dados
em painel para verificar como é impactada pela transparência fiscal representam outra
contribuição do presente estudo.
3 O IBP realiza pesquisas que cobrem a disponibilidade de documentos-chave do orçamento, que se relacionam com
formulação de orçamento, execução de orçamento e processos de auditoria orçamentária, a força legislativa e a força
da instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI cobre a disponibilidade, a clareza e a qualidade dos
diferentes documentos orçamentários. O OBI baseia-se em questões que cobrem a qualidade e a abrangência de oito
documentos-chave do orçamento: declaração pré-orçamento, proposta de orçamento do executivo, orçamento
promulgado, orçamento do cidadão, relatórios interanuais, revisão intercalar, relatório de fim de ano e auditoria
relatório. O Open Budget Survey é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma organização independente
que avalia em que medida os governos disponibilizam suas informações orçamentárias ao público em tempo hábil.
Para a nossa análise, o OBI representa uma melhor medida de transparência fiscal do que outras medidas - como os
Relatórios do Fundo Monetário Internacional sobre a Observância de Padrões e Códigos (ROSC) e ajustes de fluxo
de estoque (SFA). Os argumentos seguem Peat et al. (2015).
4
Wehner e de Renzio (2013) apresentam várias características que tornam os dados OBI superiores aos fornecidos
pelo FMI.
5
De acordo com Kopits e Craig (1998, p.1): “Fiscal Transparency is defined (…) as openness toward the public at
large about government structure and functions, fiscal policy intentions, public sector accounts, and projections. It
involves ready access to reliable, comprehensive, timely, understandable, and internationally comparable information
on government activities - whether undertaken inside or outside the government sector - so that the electorate and
financial markets can accurately assess the government’s financial position and the true costs and benefits of
government activities, including their present and future economic and social implications”.
ampliar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público devem adotar o regime de metas para inflação (RMI).
Por sua vez, Alt e Lassen (2006b) investigam se um maior grau de transparência
fiscal está associado à menor dívida pública. O estudo analisa 19 países retirados de um
questionário da OCDE de 1999 enviado a todos os Diretores Orçamentários dos países
membros da OCDE. Os achados preliminares sugerem que uma maior transparência fiscal
está associada a menores níveis de dívida, embora uma dívida significativa persista
mesmo com alta transparência. Os resultados das estimativas indicam que a transparência
fiscal está associada a menores ciclos políticos orçamentários e a menores dívidas
públicas e déficits, mesmo depois de ter permitido os efeitos do partidarismo e da
polarização. Além disso, uma menor transparência também está associada a um ciclo
eleitoral marcadamente maior na emissão de dívida. Os autores concluem que o aumento
da transparência fiscal é um elemento importante para melhorar o desempenho fiscal e
que as instituições fiscais realmente afetam os resultados fiscais.
Por sua vez, com o objetivo de verificar se tornar as instituições políticas mais
transparentes é um mecanismo eficaz para combater a corrupção, Lindstedt e Laurin
(2010) apresentam um estudo empírico baseado em uma análise de corte transversal para
111 países. Usando dois índices de transparência (índice de transparência econômica e
institucional e índice de transparência política, ambos obtidos do Banco Mundial), os
autores sugerem que a transparência é um mecanismo eficaz para reduzir a corrupção
quando associada a níveis mais altos de democracia.
Peat et al. (2015) analisam se países com maior opacidade fiscal experimentam um
custo de empréstimos mais elevado (maiores spreads de crédito). Assim, eles investigam
se o mercado de crédito soberano diferencia os países com maior opacidade fiscal, por
meio da imposição de um prêmio de opacidade. Eles usam o OBI de 45 países avançados
e emergentes e seus spreads soberanos de swap de inadimplência de crédito (Credit
Default Swaps - CDS). A evidência sugere uma relação positiva e não linear entre
opacidade fiscal e spreads de crédito soberano. Além disso, ao dividir a amostra em países
avançados e emergentes, os autores encontram efeitos de estrutura não-linear e de longo
prazo mais fortes em países avançados.
O período analisado vai de 2006 a 2014 com periodicidade anual. A escolha do período
é devida à disponibilidade de dados – os dados para o OBI (o indicador de transparência
fiscal), por exemplo, começam em 2006. As variáveis utilizadas na análise são descritas
abaixo.7
6 O APÊNDICE A.1 apresenta a lista de países. A classificação como países desenvolvidos e em desenvolvimento
segue o Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook - WEO).
7 A Tabela A.2 apresenta as estatísticas descritivas de todas as variáveis utilizadas na análise.
8
De acordo com a sua definição, o indicador reflete a percepção da qualidade dos serviços públicos, da qualidade do
serviço civil e do grau de independência em relação às pressões políticas, da qualidade da formulação e implementação
de políticas e da credibilidade do compromisso do governo com tais políticas.
variável dependente, o indicador foi utilizado, por exemplo, nos estudos de Garcia-Sanchez
et al. (2013) e Montes e Paschoal (2016).
Por sua vez, o principal efeito sobre a eficácia do governo que o presente estudo busca
avaliar vem da transparência fiscal. Assim, o “Open Budget Index" (OBI) é utilizado como
medida de transparência fiscal (denominada TRANSPARENCY).9 Em relação ao OBI, de
Renzio e Masud (2011) apontam que o índice é efetivo, que os governos em todo o mundo
estão cada vez mais interessados em suas pontuações, e que os grupos da sociedade civil
estavam usando suas recomendações para pressionar os governos a melhorar a
transparência das decisões orçamentárias. De acordo com Seifert et al. (2013), o OBI
contribui de forma exclusiva e independente, fornecendo dados objetivos sobre a
transparência relacionada aos procedimentos orçamentários de vários países ao longo do
tempo. Este processo independente garante a confiabilidade dos dados apresentados
(SEIFERT et al., 2013). O OBI varia de 0 a 100, onde 100 é o máximo de transparência
fiscal e zero representa opacidade total.
Por sua vez, de acordo com Montes e Paschoal (2016), a corrupção causa vazamentos
de recursos que prejudicam a eficácia do governo. Além disso, uma vez que a corrupção
cria desperdício, leva os governos a gastarem mais e, portanto, a se tornarem mais
endividados. Cooray et al. (2017) sugerem que um aumento da corrupção leva a um
aumento da dívida pública. Assim, a variável de corrupção é utilizada na análise para
9
O OBI é obtido da International Budget Partnership (IBP). Para o IBP, a transparência fiscal é central e deve ser
traduzida para um maior acesso da sociedade as informações sobre diferentes tipos de despesas e como as receitas
fiscais e outros recursos públicos são usados pelos governos. Nesse sentido, o IBP lançou a “Open Budget Initiative"
através do Open Budget Survey- uma análise abrangente e uma pesquisa que avalie se os governos oferecem ao
público acesso a informações orçamentárias e oportunidades para participar do processo orçamentário a nível nacional.
A partir desta iniciativa, a fim de medir o compromisso global dos países pesquisados com transparência e permitir
comparações entre países, o IBP criou - com base na pesquisa - o OBI.
explicar tanto DEBT como GOV_EFF. Para representar a corrupção, o Control of
Corruption Perception Indicator (denominado CORRUPTION) é utilizado – obtido a partir
da base de dados do Banco Mundial (WGI). A variável CORRUPTION varia entre -2.5 e
2.5, em que quanto maior o indicador, maior é a percepção em relação ao controle da
corrupção.
10 GROWTH é a taxa anual de crescimento percentual do PIB medido a preços de mercado constante com base na
moeda local - os agregados são baseados em US$ de 2005 - obtidos a partir do World Bank Data.
11
Obtido a partir do World Bank Data.
12
O overall globalization index é o índice de globalização proposto por Dreher (2006), obtido em
http://globalization.kof.ethz.ch/. A relação entre globalização e dívida pública segue o FMI (2007). A ideia é que a
globalização aumenta a disciplina fiscal, uma vez que reforça a disciplina de mercado das políticas fiscais, trazendo
melhorias nas estruturas da dívida.
13
Esta série é a inflação do índice de preços ao consumidor obtida do World Bank Data
14
Os dados estão em dólares correntes U.S. (obtidos do World Bank Data).
15
TRADE é a soma das exportações e importações de bens e serviços, medida em relação ao PIB. Todas as séries
foram obtidas a partir do World Bank Data.
16
RULE é obtida a partir da base de dados World Bank WGI. O indicador tem valores entre -2.5 (menor nível de
Estado de direito) e 2,5 (o mais alto nível de Estado de direito).
Em relação à transparência fiscal, seguindo Wehner e de Renzio (2013), os países
podem ser divididos em cinco grupos com base em suas pontuações gerais do Índice,
distinguindo os governos que divulgam informações de maneira extensa (81-100; Grupo
1), significativa (61-80; Grupo 2), alguma (41-60; Grupo 3), mínima (21-40; Grupo 4), e
pouca ou nenhuma informação sobre o orçamento (0-20; Grupo 5). Considerando a amostra
de todos os países, a figura 1 apresenta o gráfico com esses grupos e revela os países que
apresentaram melhorias na transparência fiscal em termos de mudança de um grupo para
outro ao longo do tempo (comparando entre 2006 e 2014). O gráfico usa cores mais escuras
para denotar grupos de países com mais opacidade fiscal, e no que as regiões se tornam
mais claras, isso significa mais transparência fiscal. Os resultados revelam as seguintes
mudanças: do Grupo 5 ao Grupo 4 (Angola e Burkina Faso); do Grupo 4 ao Grupo 3
(Albânia, Nicarágua, Honduras, Equador, Azerbaijão, El Salvador, Mongólia, Bangladesh
e Uganda); do Grupo 3 ao Grupo 2 (Filipinas, Malavi, México, Bulgária e Federação
Russa); do Grupo 2 ao Grupo 1 (Noruega e Suécia). Estes resultados são contrários à
hipótese levantada e assumida por Blume e Voigt (2013) de que o OBI é invariante no
tempo e que "o próprio índice parece ser bastante estável ao longo do tempo" (BLUME e
VOIGT, 2013, pp. 241). Pode-se observar que vários países fizeram esforços para melhorar
a transparência fiscal, justificando, nesse sentido, uma análise que também considera o
efeito desta variável ao longo do tempo.
Figura 1 – Comparação do índice de transparência fiscal (OBI) em 2006 e 2014
Evolução da Transparência Fiscal (de 2006 a 2014)
Por sua vez, a figura 2 mostra os gráficos para as correlações entre transparência fiscal
e eficácia do governo. As correlações para as três amostras são mostradas, e para cada
amostra a correlação para os anos de 2006 e 2014 são apresentadas, bem como para a
diferença observada entre os anos de 2006 e 2014 (portanto, Gov_eff-DIF = Gov_eff2014
– Gov_eff2006, e, Fiscal Transparency-DIF = Fiscal Transparency2014 – Fiscal
Transparency2006). Em relação às três amostras, os gráficos indicam correlações positivas
entre transparência fiscal e eficácia do governo para os anos de 2006 e 2014. Além disso,
é possível observar que os países que apresentam melhorias de transparência fiscal
(medidas por meio de “Fiscal Transparency – DIF”), em média, também apresentam
melhorias da eficácia do governo (medidas por meio de “Gov_eff – DIF").
O segundo canal é o canal direto, e é analisado por meio da equação (2) abaixo:
O estudo utiliza a metodologia de dados em painel. Além das estimações usuais por
Mínimos Quadrados Ordinários com efeitos fixos para países (EFc) e efeitos fixos para
países e tempo (EFct), também são utilizadas as estruturas de dados em painel dinâmico
(D-GMM e S-GMM). Conforme apontado por Arellano e Bond (1991), uma vantagem de
usar o método de dados em painel dinâmico por GMM é que este elimina os efeitos não
observados nas regressões e as estimativas ao mesmo tempo são confiáveis, mesmo no caso
de variáveis omitidas. Em particular, o uso de variáveis instrumentais permite a estimação
de parâmetros de forma mais consistente, mesmo no caso de endogeneidade em variáveis
explicativas e na ocorrência de erros de medição (BOND et al., 2001).
O modelo empírico desenvolvido neste estudo está sujeito aos problemas acima
mencionados. Em suma, nem todas as variáveis explicativas do modelo são conhecidas e
mensuráveis. Além disso, a taxa de crescimento do PIB real pode ser influenciada pela
dívida pública, o que, por sua vez, sugere um problema de simultaneidade. Além disso, no
que se refere ao problema da endogeneidade, por exemplo, um choque macroeconômico
pode afetar a dívida pública e, portanto, a taxa de crescimento do PIB real.
1.4 Resultados
Os resultados das estimativas são apresentados em duas etapas. Primeiro, são
apresentados os resultados obtidos a partir da especificação que considera o efeito da
transparência fiscal sobre a dívida pública (equação 1). Posteriormente, são mostrados os
resultados obtidos a partir da especificação que captura o efeito direto da transparência
fiscal sobre a eficácia do governo (equação 2).
De forma geral, para todas as estimativas (das equações 1 e 2), o uso de D-GMM e S-
GMM não altera os sinais dos coeficientes obtidos por meio de estimativas de efeitos fixos.
Além disso, todas as regressões GMM aceitam a hipótese nula dos testes de Sargan
(estatística J) e, portanto, as restrições de sobreidentificação são válidas. Além disso, os
testes AR (1) e AR (2) rejeitam a hipótese da presença de autocorrelação serial em todas
as estimativas.
Quanto à relação entre CORRUPTION e DEBT, os resultados revelam que países com
pontuações mais altas em termos de controle da corrupção também apresentam menor
dívida pública. Portanto, o controle da corrupção é um aspecto importante para melhorar o
desempenho fiscal. Esta constatação é consistente com a evidência fornecida por Elgin e
Uras (2013) e Cooray e Schneider (2013).
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 3 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a relação dívida/PIB
(países em desenvolvimento): 2006-2014
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre
parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct – OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM
– em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period).
Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a autocovariância média de primeira ordem e de
segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM
verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras
diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Por sua vez, as estimações revelam (para as três amostras) que DEBT afeta
GOV_EFF. Em todas as estimações os sinais são negativos e estatisticamente
significativos. Esses resultados estão de acordo com as evidências apresentadas por Montes
e Paschoal (2015), os resultados indicam que os países mais endividados, em média, têm
governos menos eficazes. Nesse sentido, os resultados apontam a existência de um
mecanismo de transmissão e, portanto, o efeito indireto que a transparência fiscal tem sobre
a eficácia do governo por meio da dívida pública.
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct –
OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de Arellano
e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a
autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença
de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autore
Tabela 6 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países em desenvolvimento): 2006-2014
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct –
OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de Arellano
e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam se a
autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença
de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
Tabela 7 – Estimações do efeito da transparência fiscal sobre a eficácia do governo (países em desenvolvimento que não adotam RMI): 2006-2014
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. EFc - OLS efeitos fixos (cross-section), EFct
– OLS efeitos fixos (cross-section e tempo). D-GMM – em dois estágios de Arellano e Bond (1991) sem efeitos de período de tempo. S-MGM – em dois estágios de
Arellano e Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. EFc e EFct estimados com matriz de White (period). Os testes para AR (1) e AR (2) para o D-GMM verificam
se a autocovariância média de primeira ordem e de segunda ordem dos resíduos, respectivamente, são iguais à zero. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a
presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem nos resíduos de primeiras diferenças. Fonte: Elaboração dos autores.
1.5 Transparência fiscal e eficiência dos gastos públicos:
análise de robustez
Nesta seção, a robustez dos resultados obtidos é verificada por meio de estimativas
para o efeito da transparência fiscal sobre a eficiência do gasto público. Para isso, um
indicador de eficiência de gastos do governo (GSE) foi construído para 75 países17 que
compõem a amostra total, compreendendo o período 2006-2014, e, posteriormente, foi
utilizado nas estimações. Seguindo Gupta e Verhoeven (2001) e Chan et al. (2017), a
eficiência dos gastos do governo é definida como a capacidade do governo de produzir
mais resultados para um determinado nível de recursos. Nesse sentido, o indicador de GSE
é construído pela técnica de análise envoltória de dados (DEA).
A DEA é uma técnica estatística não paramétrica utilizada para avaliar a eficiência
do setor público. Assim, para construir o indicador de GSE, o estudo seguiu a literatura que
usa DEA para avaliar a eficiência do setor público e eficiência dos gastos do governo (por
exemplo, AHN et al., 1988;. SMITH e MAYSTON, 1987; AFONSO et al., 2005 e 2010;.
AFONSO e AUBYN, 2005; AFONSO e FERNANDES, 2006; RAYP e de SIJPE, 2007;
HAUNER, 2008; KEMPKES e POHL, 2010; DUTU e SICARI, 2016; CHAN et al., 2017).
O indicador de GSE, além de proporcionar robustez aos resultados obtidos na seção
anterior, contribui para a literatura, pois, uma análise para a influência da transparência
fiscal sobre a eficiência do gasto público nunca foi realizada.
17 Inicialmente, a amostra foi composta por 82 países. No entanto, devido à disponibilidade de dados para a construção
do indicador, os seguintes países foram retirados da amostra: Congo, Argélia, Iraque, Níger, Papua Nova Guiné, Sudão
e Tuvalu.
18
Usando a programação linear, uma fronteira dos países com melhores práticas é construída com base nos dados de
insumo-produto, que é então usado como referência para avaliar o desempenho de unidades menos eficientes. A
fronteira estimada, portanto, "envolve" todas as observações disponíveis, e cada desvio dessa fronteira é interpretado
como uma combinação ineficiente de insumos e/ou resultados. Farrell (1957) primeiro sugeriu que essa abordagem
linear convexa do casco poderia ser usada para estimar a fronteira das possibilidades de produção e medir a eficiência.
Charnes et al. (1978) formalizaram então a metodologia DEA usando programação linear para construir a fronteira.
eficientes). No presente estudo, as DMU referem-se aos países, onde são assumidos que o
governo usa um insumo (despesas governamentais) para atingir objetivos.
max (3)
(,)
𝑠𝑡: 𝑥𝑖 − 𝑋𝜇 ≥ 0,
𝑄𝜇 − 𝑞𝑖 ≥ 0
𝐼1′ 𝜇 = 1
𝜇 ≥ 0.
onde, é a eficiência para cada país i com 1/ como as pontuações de eficiência técnica
que variam entre 0 e 1.19 -1 é o aumento proporcional nos resultados (outputs) que
poderiam ser alcançados por um país com um determinado nível de entrada (input), sendo
1 ≤ < . O vetor xi é o insumo (input) para o país i e o vetor qi representa o resultado
(output) para o país i. Por sua vez, é um vetor constante I × 1, que mede os pesos
utilizados para calcular a posição de uma DMU ineficiente, se essa tivesse que se tornar
eficiente. A restrição 𝐼1′ 𝜇 = 1 impõe a convexidade da fronteira, representando retornos
variáveis a escala. Soltar essa restrição equivaleria a admitir que os retornos à escala são
constantes. X é uma matriz formada pelos vetores transpostos de resultados (outputs) de
19 Alteramos a escala do indicador, multiplicando-a por 100, de modo que ela varie entre 0 e 100.
todas as DMUs na amostra; Q é uma matriz formada pelos vetores transpostos de entradas
(inputs) de todas as DMUs na amostra.
Os inputs e outputs utilizados na DEA seguem Afonso et al. (2005 e 2010). Foi
utilizado como input a “Despesa de Consumo Final das Administrações Públicas” (como
percentual do PIB)20 e, como outputs, foram utilizados indicadores de desempenho do setor
público divididos em dois tipos: "indicadores de oportunidade" e "indicadores de
Musgravian"21. Em relação aos indicadores de oportunidade, são utilizadas três variáveis
da dimensão administrativa (corrupção, burocracia e qualidade do judiciário) 22, uma
variável da dimensão educacional (qualidade da educação em matemática e ciências) 23 e
duas variáveis para a dimensão da saúde (expectativa de vida ao nascer e taxa de
sobrevivência infantil)24. Para os indicadores de Musgravian, são utilizadas uma variável
para capturar a distribuição (coeficiente de Gini)25, duas variáveis para a dimensão de
estabilidade (inflação e estabilidade do crescimento do PIB)26 e duas variáveis para a
dimensão do desempenho econômico (desemprego e taxa de crescimento do PIB) 27. Para
construir o indicador de GSE, o software R - pacote "Benchmarking" desenvolvido por
Bogetoft e Otto (2011) foi utilizado.
Fonte: Elaboração Própria, seguindo o esquema elaborado por Afonso et al. (2005).
A Tabela 9 apresenta os resultados das estimações feitas para a equação 4 para as três
amostras. Todos os coeficientes estimados para o efeito da transparência fiscal
(TRANSPARENCY) no indicador de eficiência do gasto público (GSE) apresentam os
sinais esperados e significância estatística (nas três amostras), indicando que um aumento
na transparência fiscal aumenta a eficiência do gasto público. Mais uma vez, as estimativas
revelam que o RMI é importante, ou seja, os coeficientes estimados para o efeito da
TRANSPARENCY sobre GSE para a amostra de países em desenvolvimento que não
adotam RMI são menores que para a amostra completa e para a amostra de países em
desenvolvimento (que também contém países em desenvolvimento com RMI). Portanto,
os países em desenvolvimento que buscam ampliar os efeitos da transparência fiscal, e ao
mesmo tempo, pretendem aumentar a eficiência dos gastos públicos, deveriam adotar o
RMI como forma de aumentar os compromissos com os lados fiscal e monetário.
Notas: níveis marginais de significância: *** denota 0,01, ** denota 0,05 e * denota 0.1. O erro padrão está entre parênteses. S-MGM – em dois estágios de Arellano e
Bover (1995), sem efeitos de período de tempo. Os testes AR (1) e AR (2) para o S-GMM verificam a presença de correlação serial de primeira ordem e segunda ordem
nos resíduos de primeiras diferenças. Constante e GSE defasado apresentam os sinais esperados e são omitidos por conveniência. Fonte: Elaboração dos autores.
1.6 Considerações Finais
Este estudo teve como objetivos mostrar os esforços feitos pelos países no sentido de
aumentarem a transparência fiscal, e analisar a relação entre a transparência fiscal e a
eficácia do governo, e a relação entre a transparência fiscal e a eficiência do gasto público.
Com base em uma amostra de 82 países (14 países desenvolvidos e 68 países em
desenvolvimento) agrupados em três amostras, os resultados sugerem (para todas as
amostras) que a transparência fiscal (medida pelo Open Budget Index) tem efeito
estatisticamente significativo tanto sobre a eficácia do governo quanto sobre a eficiência
do gasto público (medido pelo indicador construído no presente estudo com base na
Análise Envoltória de Dados).
Com base nos resultados das estimações, a transparência fiscal exerce efeito direto
sobre a eficácia do governo e eficiência do gasto público, como também efeito indireto por
meio da dívida pública, enfatizando, assim, seu papel na promoção de melhores práticas
para a política fiscal. Os resultados indicam os países podem se beneficiar
significativamente com a redução da dívida pública, aumentando a transparência fiscal.
Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: governos que buscam melhorar sua eficácia e
apresentar gastos mais eficientes devem aumentar a transparência fiscal.
1.7 Apêndice
Países em Desenvolvimento
28
Os dois indicadores-chave sobre o financiamento público da educação que aparecem no Quadro de Ação para a
Educação 2030, propôs dois pontos de referência como "pontos de referência cruciais": alocar pelo menos 4% a
6% do PIB para educação, e / ou alocar pelo menos 15% a 20% do gasto público em educação. Em 2014, a mediana
das despesas públicas globais com educação foi de 4,6% do PIB, ou seja, dentro do intervalo proposto pelo quadro.
As despesas variaram de 2,8% no Cáucaso e na Ásia Central a 5% na Europa e na América do Norte. Em termos
de renda do país, os países de baixa renda gastaram 3,9% do PIB em educação, no extremo inferior do intervalo.
Se os países forem considerados a unidade, 51 dos 138 países com dados gastaram menos de 4% do PIB em
educação. Entre eles estavam 13 países de baixa renda e 16 países de alta renda, (Unesco,2016b, p. 346).
recursos (MONTES ET AL., 2019), mas também porque pode ajudar a garantir que os
benefícios do crescimento sejam redistribuídos e não capturados pela elite.
29
Tradução dos autores.
30
O FMI define a transparência fiscal como abrangência, clareza, confiabilidade, oportunidade e relevância da
informação pública sobre o passado, presente e futuro do estado das finanças públicas. (Hammed, 2005)
suas perspectivas fiscais, dos custos e dos benefícios de qualquer mudança na política e os
riscos potenciais que possam surgir. Fornece aos legisladores, mercados e cidadãos as
informações que necessitam para manter os governos responsáveis. Também é importante
para melhorar o debate entre os policymakers e o público e principalmente para destacar
os riscos quanto as perspectivas fiscais, permitindo uma resposta da política fiscal mais
rápida e mais suave para alterações nas condições econômicas, reduzindo a incidência de
graves crises (HAMMED, 2005). Transparência e prestação de contas são consideradas
críticas para o funcionamento eficiente de uma economia e para promover o bem-estar
social (NABAMITA, 2016).
31
O conceito de governança incorpora como as decisões são tomadas, o equilíbrio de poderes e instituições,
e de que maneira os políticos e gerentes são responsabilizados. Refere-se não às políticas públicas per se,
mas às configurações dentro das quais a política pública é decidida e executada (Matheson e Kwon, 2002)
de uma nação está correlacionada com a maior eficácia do governo, além de reduzir a
corrupção.
32
A lista de países está apresentada na Tabela A1 do Apêndice 2.8.
33
Para a classificação dos países em desenvolvimento e em desenvolvidos, é utilizada a definição adotada pelo
Fundo Monetário Internacional.
34
Os gastos governamentais em educação consideram gastos dos governos locais, regionais e centrais.
35
O IBP realiza pesquisas bi-anual que cobrem a disponibilidade dos documentos orçamentários chave, que se relacionam com
a formulação do orçamento, processos de execução orçamental e de auditoria do orçamento, a força legislativa e a força da
instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI abrange a disponibilidade, a clareza ea qualidade dos diferentes
documentos orçamentários. O OBI principal é baseado em perguntas que abrangem a qualidade e abrangência de oito
documentos orçamentários chave: relatório pré-orçamento, a proposta orçamental do executivo, orçamento promulgado, o
orçamento do cidadão, em anos relatórios, análise semestral, relatório de final de ano e de auditoria relatório. A Pesquisa do
Orçamento Aberto é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma organização independente que avalia a medida
em que os governos fazem suas informações de orçamento acessível ao público em tempo hábil. Para nossa análise, OBI
representa uma medida melhor da transparência fiscal do que outras medidas - tais como, relatórios do Fundo Monetário
índice é utilizado devido à sua ampla cobertura, disponibilidade pública e aceitação na
literatura (PEAT ET AL., 2015; ARBATLI E ESCOLANO, 2015; WEHNER E DE
RENZIO, 2013; MONTES ET AL., 2019).
Internacional sobre a Observância de Padrões e Códigos (ROSC) e ajustamentos défice-dívida (SFA). Os argumentos seguem
Peat et al. (2015).
Dado as consequências adversas da corrupção sobre o desempenho e o
desenvolvimento econômico, a presente análise inclui uma variável relacionada à
corrupção nas estimações – tal como feito por Montes et al. (2019) quando analisam a
eficácia do governo e a eficiência dos gastos públicos. Para mensurar a corrupção, o estudo
utiliza o índice disponibilizado pelo Internacional Country Risk Guide (ICRG) (aqui
denominado CORRUP), que mede a corrupção dentro do sistema político, o qual representa
uma ameaça para o investimento estrangeiro ao distorcer o ambiente econômico e
financeiro, reduzindo a eficiência dos governos e dos negócios. O indicador tem valores
compreendidos entre 0 e 6 (em que, quando mais próximo de 6, menor é a corrupção). Para
fins de análise, o índice foi multiplicado por (-1) de modo a tornar mais intuitiva a sua
interpretação nas estimações. Assim, quando o indicador se aproxima se zero, significa
uma menor percepção acerca da corrupção.
Foi utilizado o modelo de efeitos fixos, pois o mesmo capta o efeito de variáveis
omitidas que variam entre indivíduos e se mantém constantes ao longo do tempo. Contudo,
a desvantagem do modelo de Efeito Fixo, é que não é possível estimar o efeito de variáveis
que, apesar de variarem entre os indivíduos, não variam para o indivíduo ao longo do
tempo.
36
A tabela A2, no Apêndice apresenta as estatísticas descritivas das variáveis utilizadas em cada amostra.
(i) Omissão de variáveis relevantes para o modelo, que surge quando uma variável
resposta é omitida da regressão e quando pelos menos uma das variáveis explicativas é
correlacionada com a variável omitida;
(ii) Erro de medição das variáveis, que surge quando uma variável explicativa é
medida de forma imprecisa;
(iii) Simultaneidade, que surge quando além da variável explicativa determinar a
variável dependente, a variável dependente determina uma variável explicativa, ou seja,
simultaneidade na relação causal.
37
Nickell (1981) forneceu expressões analíticas para o viés nas estimativas em modelos dinâmicos com efeitos
fixos individuais quando o período de tempo é curto e o número de indivíduos é grande.
Embora as estimações S-GMM sejam adequadas para um pequeno número de
períodos de tempo (t) e um grande número de indivíduos (i), quando os instrumentos são
muitos, elas tendem a sobreajustar as variáveis instrumentais e enviesar os resultados
(Roodman, 2009). Assim, com o objetivo de evitar o uso de um número excessivo de
instrumentos nas regressões e, portanto, perder a precisão dos testes, a razão do número de
instrumentos / número de cross-sections deve ser menor do que 1 em cada regressão. Além
disso, a fim de confirmar a validade dos instrumentos nos modelos, utilizamos o teste de
sobre-identificação (estatística J), conforme sugerido por Arellano (2003).
Para verificar se os termos dos erros não são serialmente correlacionados utilizamos
os testes de primeira ordem (AR1) e de segunda ordem (AR2) de correlação serial,
conforme destacado por Arellano e Bond (1991). Além disso, nas regressões, as matrizes
de covariância são corrigidas pelo método de White. É importante salientar que uma
premissa do modelo dinâmico S-GMM é a não correlação da primeira diferença de
regressores endógenos, o que implica que não é necessária a realização de testes de raiz
unitária.
2.4 Resultados
Todos os coeficientes obtidos para a variável BUD_BAL nas duas amostras e pelos
dois métodos possuem sinais positivos e significância estatística. Os resultados sugerem
que países com maior responsabilidade fiscal alocam mais recursos em educação, e vice-
versa. Ademais, quando comparamos os coeficientes obtidos em cada amostra, observamos
que esse efeito é maior na amostra que inclui os países desenvolvidos.
Uma preocupação que surge diz respeito à eficiência dos gastos públicos em
educação. Os críticos apontam que países com níveis semelhantes de gastos em termos de
renda per capita produzem resultados educacionais muito diferentes (UNESCO, 2016B).
Seguindo Levacic (1993), uma análise dos gastos públicos não pode se limitar à
quantidade, devendo se estender às dimensões de qualidade, como, por exemplo, à
eficiência. Portanto, no contexto do nosso estudo, quantificar a eficiência dos gastos
púbicos em educação é importante, pois, ajuda a revelar o impacto da transparência fiscal
sobre a eficiência destes gastos.
Nesta seção, a robustez dos resultados obtidos é verificada por meio de estimativas
para o efeito da transparência fiscal sobre a eficiência dos gastos públicos em educação.
Para isso, um indicador de eficiência dos gastos do governo em educação (EFF_EDU) foi
construído para um conjunto de 54 países38 desenvolvidos e em desenvolvimento, como
também para um conjunto de 42 países em desenvolvimento, compreendendo o período
2007-2016. Seguindo Gupta e Verhoeven (2001) e Chan et al. (2017), a eficiência dos
gastos do governo é definida como a capacidade do governo de produzir mais resultados
para um determinado nível de recursos. Nesse sentido, o indicador de EFF_EDU é
construído pela técnica de análise envoltória de dados (DEA).
A DEA é uma técnica estatística não paramétrica utilizada para avaliar a eficiência
do setor público. Assim, para construir o indicador de EFF_EDU, o estudo seguiu a
literatura que usa DEA para avaliar a eficiência do setor público e eficiência dos gastos do
governo (e.g., AHN ET AL., 1988;. SMITH E MAYSTON, 1987; AFONSO ET AL., 2005
E 2010;. AFONSO E AUBYN, 2005; AFONSO E FERNANDES, 2006; RAYP E DE
SIJPE, 2007; HAUNER, 2008; KEMPKES E POHL, 2010; DUTU E SICARI, 2016;
CHAN ET AL., 2017).
A DEA é um método de programação linear que foi popularizado por Charnes et al.
(1978).39 A DEA baseia-se na eficiência de Pareto, onde a Unidade de tomada de Decisão
(DMU) mais eficiente é dita operar na fronteira, e as DMUs abaixo da fronteira são
consideradas ineficientes em relação ao banco de referência (ou seja, em relação às DMUs
mais eficientes). Neste estudo, as DMUs referem-se aos países, onde são assumidos que o
governo usa um insumo (despesas governamentais) para atingir objetivos.
38 Inicialmente, a amostra foi composta por 75 países. No entanto, devido à disponibilidade de dados para a construção
do indicador, alguns países foram excluídos, a lista de países encontra-se no apêndice A1.
39
Usando a programação linear, uma fronteira dos países com melhores práticas é construída com base nos dados de
insumo-produto, que é então usado como referência para avaliar o desempenho de unidades menos eficientes. A
fronteira estimada, portanto, "envolve" todas as observações disponíveis, e cada desvio dessa fronteira é interpretado
como uma combinação ineficiente de insumos e/ou resultados. Farrell (1957) primeiro sugeriu que essa abordagem
linear convexa do casco poderia ser usada para estimar a fronteira das possibilidades de produção e medir a eficiência.
Charnes et al. (1978) formalizaram então a metodologia DEA usando programação linear para construir a fronteira.
A DEA foi inicialmente baseada na suposição de retornos constantes de escala
(Charnes et al., 1978), onde se assume que a DMU aumenta proporcionalmente seus inputs
e outputs no processo de produção para alcançar eficiência. Posteriormente, o estudo de
Banker et al. (1984) revisou o modelo DEA de modo a dar conta da situação de retorno
variáveis de escala (VRS). De acordo com Chan et al. (2017), o modelo com VRS é mais
realista para a aplicação no mundo real, onde as DMUs são restritas por imperfeições de
mercado, tais como a concorrência imperfeita, regulamentações governamentais e restrição
financeira, o que leva a um aumento desproporcional em inputs e outputs no processo de
produção. Assim, tal como Chan et al. (2017) e Montes et al. (2019), no presente estudo
foi adotado o modelo DEA com retorno variáveis de escala (VRS).
max (6)
(,)
𝑠𝑡: 𝑥𝑖 − 𝑋𝜇 ≥ 0,
𝑄𝜇 − 𝑞𝑖 ≥ 0
𝐼1′ 𝜇 = 1
𝜇 ≥ 0.
onde, é a eficiência para cada país i com 1/ como as pontuações de eficiência técnica
que variam entre 0 e 1.40 -1 é o aumento proporcional nos resultados (outputs) que
poderiam ser alcançados por um país com um determinado nível de entrada (input), sendo
1 ≤ < . O vetor xi é o insumo (input) para o país i e o vetor qi representa o resultado
(output) para o país i. Por sua vez, é um vetor constante I × 1, que mede os pesos
utilizados para calcular a posição de uma DMU ineficiente, se essa tivesse que se tornar
eficiente. A restrição 𝐼1′ 𝜇 = 1 impõe a convexidade da fronteira, representando retornos
variáveis a escala. Soltar essa restrição equivaleria a admitir que os retornos à escala são
constantes. X é uma matriz formada pelos vetores transpostos de resultados (outputs) de
todas as DMUs na amostra; Q é uma matriz formada pelos vetores transpostos de entradas
(inputs) de todas as DMUs na amostra.
40 Alteramos a escala do indicador, multiplicando-a por 100, de modo que ela varie entre 0 e 100.
Na DEA, os inputs e outputs são os seguintes: o gasto governamental em educação
como proporção do Produto Interno Bruto (EDU_GDP) entra como input, e os indicadores
de desempenho em educação41 – qualidade do ensino primário, qualidade do sistema
educativo, qualidade da educação em matemática e em ciências, qualidade da educação e
qualidade das instituições de pesquisa científica – entram como outputs. Para construir o
indicador de EFF_EDU, o software R - pacote “Benchmarking” desenvolvido por Bogetoft
e Otto (2011) foi utilizado.
41
Obtidos do The Global Competitiveness do World Economic Forum (2017).
revelam que a corrupção não apresenta significância estatística. Portanto, menores níveis
de corrupção são mais importantes para aumentar os gastos em educação por parte do
governo42 do que para aumentar a eficiência do gasto.
42
Conforme obtido nas estimações anteriores.
Tabela 12 - Estimações S-GMM para o efeito da Transparência Fiscal sobre o
EFF_EDU (países desenvolvidos e em desenvolvimento)
Variável depedente: Eficiência dos Gastos em Educação
Estimador S-GMM
Regressores: (I) (II) (III) (IV)
EFF_EDU (-1) 0.2667*** 0.3953*** 0.2009* 0.3792**
(0.0663) (0.0479) (0.1130) (0.1459)
EDU_GOV 0.0045* 0.0018 0.002 0.0041
(0.0024) (0.0029) (0.0052) (0.0045)
BUD_BAL 0.0027** 0.0032*** 0.0023*** 0.0011
(0.0010) (0.0007) (0.0007) (0.0012)
CORRUP -0.0053 -0.0125 -0.0108 -0.0195
(0.0123) (0.0076) (0.0143) (0.0182)
DELIB_DEM 0.3446*** 0.3608*** 0.5349*** 0.3515***
(0.0834) (0.0399) (0.0759) (0.0925)
INFLATION -0.0022*** -0.0043*** -0.0022*
(0.0004) (0.0005) (0.0013)
GDP_CAPITA 2.97E-07 0.0001***
(6.12E-07) (8.27E-07)
TRANSP 0.0020**
(0.0009)
N 171 135 142 136
N.Instrum./N. Cross-Section 0.700 0.909 0.879 0.812
Estatística J 31.175 28.494 27.107 22.491
P-valor (I) 0.118 0.240 0.207 0.211
AR(1) -0.351 -0.470 -0.476 -0.421
P-valor 0.000 0.000 0.000 0.000
AR(2) -0.063 -0.035 0.011 -0.150
P-valor 0.544 0.775 0.930 0.217
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.
N 73 73 73 73
N.Instrum./N. Cross-Section 0.950 0.850 0.950 0.900
Estatística J 18.371 15.500 17.125 12.123
P-valor (I) 0.190 0.161 0.144 0.277
AR(1) 0.346 -0.448 -0.387 -0.383
P-valor 0.009 0.001 0.004 0.006
AR(2) -0.247 -0.138 -0.227 0.240
P-valor 0.105 0.393 0.151 0.114
Nota: Níveis de significância marginal: (***) para 0.01, (**) para 0.05, e (*) para 0.1. Matriz de covariância
de White foi aplicada na regressão. Erros padrão entre parêntesis. S-GMM – usa o estimador em dois estágios
de Arellano e Bover (1995) sem efeito de período de tempo. Estimador S-GMM – testado para AR(1) e AR(2)
checou a presença de correlação serial dos resíduos em primeira e segunda ordem na primeira diferença. A
constante foi omitida por conveniência.
2.6 Considerações Finais
Este estudo teve como objetivos analisar a relação entre a transparência fiscal e os
gastos públicos em educação, e a relação entre a transparência fiscal e a eficiência do gasto
público em educação. Com base em uma amostra de 75 países (60 países desenvolvidos e
15 países em desenvolvimento) agrupados em duas amostras, os resultados sugerem (para
as duas amostras) que a transparência fiscal (medida pelo Open Budget Index) tem efeito
estatisticamente significativo tanto sobre o gasto do governo em educação quanto sobre a
eficiência do gasto público em educação (medido pelo indicador construído no presente
estudo com base na Análise Envoltória de Dados).
Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: governos que buscam aumentar alocação e apresentar
gastos mais eficientes em educação devem aumentar a transparência fiscal.
2.8 Apêndice
Amostra Completa
Afghanistan; Albania; Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Benin; Bolivia, Plurinational
State of; Brazil; Bulgaria; Burkina Faso; Cambodia; Cameroon; Chad; Chile; Colombia;
Costa Rica; Croatia; Czech Republic; Ecuador; El Salvador; Fiji; France; Georgia;
Germany; Ghana; Guatemala; India; Indonesia; Iran; Italy; Kazakhstan; Kenya; Korea,
Republic of; Kyrgyzstan; Lebanon; Liberia; Malawi; Malaysia; Mali; Mexico; Mongolia;
Nepal; New Zealand; Nicaragua; Niger; Norway; Pakistan; Peru; Poland; Portugal; Qatar;
Romania; Russia; Rwanda; São Tomé e Príncipe; Senegal; Serbia; Sierra Leone; Slovakia;
Slovenia; South Africa; Spain; Sri Lanka; Sweden; Tajikistan; Tanzania, United Republic
of; Thailand; Timor-Leste; Tunisia; Turkey; Uganda; Ukraine; United Kingdom; US;
Vietnam.
Países em Desenvolvimento
Afghanistan; Albania; Argentina; Azerbaijan; Bangladesh; Benin; Bolivia, Plurinational
State of; Brazil; Burkina Faso; Cambodia; Cameroon; Chad; Chile; Colombia; Costa Rica;
Croatia; Ecuador; El Salvador; Fiji; Georgia; Ghana; Guatemala; India; Indonesia; Iran;
Kazakhstan; Kenya; Kyrgyzstan; Lebanon; Liberia; Malawi; Malaysia; Mali; Mexico;
Mongolia; Nepal; Nicaragua; Niger; Pakistan; Peru; Poland; Qatar; Romania; Russia;
Rwanda; São Tomé e Príncipe; Senegal; Serbia; Sierra Leone; South Africa; Sri Lanka;
Tajikistan; Tanzania, United Republic of; Thailand; Timor-Leste; Tunisia; Turkey;
Uganda; Ukraine; Vietnam.
Amostra de 54 países
Além desta introdução, o capítulo se divide em outras cinco sessões. A sessão dois
apresenta a revisão da literatura sobre transparência fiscal e tamanho do governo. A sessão
três aborda a metodologia e base de dados. A sessão quatro expõe os resultados
encontrados. A sessão seis apresenta as análises de robustez. A sessão sete conclui o
capítulo.
3.2 Revisão da Literatura
Transparência das contas públicas43 surgiu como uma demanda por parte da
sociedade e dos mercados no final da década de 80 e tem sido uma preocupação para
políticos no que diz respeito a divulgação das contas públicas e para os acadêmicos em
relação a seus efeitos sobre a economia. A literatura sobre transparência baseia-se nas
explicações fornecidas pela teoria da agência e pela teoria da legitimidade (PATTEN,
1992; SUCHMAN, 1995; FEREJHON, 1999).
43
Transparência é característica de governos, empresas, organizações e indivíduos a serem abertos a clara
divulgação de informações, normas, planos, processos e ações. Em princípio, funcionários públicos, empregados,
gerentes e diretores de empresas ou organizações e administradores de conselhos tem o dever de agir de modo
visível, previsível e compreensível para promover a participação e accountability. (TRANSPARENCY
INTERNATIONAL, 2009, p. 44).
Portanto, uma instituição deve encontrar constantemente os testes gêmeos de
legitimidade e relevância, demonstrando que a sociedade exige seus serviços e que os
grupos que se beneficiam de suas recompensas tenham a aprovação da sociedade
(SHOCKER e SETHI ,1974, p. 67).
Segundo Heald (2003) a transparência fiscal deve ser valorizada por razões
intrínsecas, ligadas à legitimidade e, também, aos fundamentos instrumentais de que ela é
capaz de estimular o melhor desempenho do governo, ao ajudar a mudar o foco de atenção
dos insumos para os resultados. Ela também aumenta a credibilidade da política
macroeconômica e fornece aos atores econômicos um grau de previsibilidade sobre as
atividades fiscais, de modo que eles possam administrar seus próprios negócios com mais
eficiência.
O setor público é financiado pelos contribuintes e é por isso que eles precisam de
transparência nas informações para supervisionar todas as atividades executadas pelo
governo (RÍOS et al., 2013). A transparência é um meio para melhorar os resultados do
governo, eficácia gerencial, bem como a eficácia da política (HIRSCH e OSBORNE,
2000).
O papel do setor público foi conceituado por Musgrave (1959). Segundo ele, o setor
público deve utilizar os instrumentos fiscais (arrecadação e gastos) a fim de garantir: a) a
alocação eficiente dos recursos na produção de bens e serviços; b) a distribuição de renda
e riqueza igualitária; e c) a estabilização de preços.
De acordo com Alt et al. (2006), a dívida é de fato negativamente relacionada com
a transparência fiscal. A análise foi conduzida utilizando dados de corte transversal sobre
a transparência fiscal limitado para 19 países da OCDE. Os resultados sugerem ainda que
transparência fiscal é um elemento importante para melhorar o desempenho fiscal e que
países politicamente competitivos têm instituições mais transparentes.
44
O conceito de governança incorpora como as decisões são tomadas, o equilíbrio de poderes e instituições,
e de que maneira os políticos e gerentes são responsabilizados. Refere-se não às políticas públicas per se,
mas às configurações dentro das quais a política pública é decidida e executada, Matheson e Kwon (2002).
Blume e Voigt (2013) fazem as seguintes perguntas: as disposições orçamentárias
explicitamente enunciadas na constituição de um país têm algum efeito significativo na
política fiscal? A transparência do processo orçamentário tem algum efeito significativo na
política fiscal? Essas duas variáveis têm impacto em outras variáveis, como a eficácia e a
produtividade do governo? Com base em uma análise entre países, eles encontram que os
limites de gastos constitucionalmente estabelecidos estão correlacionados com o menor
gasto total do governo e que a transparência do orçamento de uma nação está
correlacionada com a maior eficácia do governo, além de reduzir a corrupção.
Os resultados encontrados por Alt et al. (2002) sugerem que instituições fiscais
mais transparentes induzem maior esforço por parte das autoridades locais. Os eleitores
respondem confiando maiores recursos a eles, levando a um governo maior. Alt e Lassen
(2006) também descobriram que a fraca supervisão das finanças públicas e a falta de
transparência orçamentária também resultam em rápida expansão e em tamanho excessivo
do governo.
Persson, Roland e Tabellini (2000) argumentam que a transparência fiscal é capaz
de divulgar o desperdício do governo, aumentar as responsabilidades das autoridades locais
e diminuir sua renda, mantendo tudo mais constante, reduzindo o tamanho do governo.
Guillamón et al. (2011), utilizando uma amostra que abrange os 100 maiores
municípios espanhóis em 2008, mostram que o imposto per capita tem relação positiva com
a transparência financeira no site do governo local. Os municípios que coletam mais
impostos e recebem mais transferências divulgam mais informações financeiras e,
consequentemente, são mais transparentes.
A relação entre renda per capita e tamanho do governo é explicada de acordo com
a Lei de Wagner, onde a demanda por serviços públicos aumenta quando a renda da
população aumenta, de modo que se espera que o tamanho do governo em relação ao PIB
aumente com o aumento da renda (RODRIK,1998)46.
45
Ver Alesina e Wacziarg (1998), Rodrik (1998), Benaroch e Pandey (2008), Ram (2009), Jetter e Pameter
(2015).
46
Justificativa utilizada por Rodrick (1998), embora tenha obtido sinais contrários com suas estimações.
47
A relação entre população e tamanho do governo é negativa em Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey
(2012), Jetter e Pameter (2015) e negativa em Ram (2009), o mesmo acontece para taxa de urbanização. Rodrick
(1998) e Benaroch e Pandey (2008), encontram uma relação positiva entre a taxa de dependentes e tamanho do
governo, em contrapartida, Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey (2012) encontram uma relação
negativa.
3.3 Metodologia e dados
Com o objetivo de analisar os efeitos da transparência fiscal e da corrupção sobre o
tamanho do governo, o trabalho utiliza dados em painel, retirados do Banco Mundial, do
Open Budget Index e do International Country Risk Guide48. A análise faz uso de 2
amostras distintas. Nesta sessão apresentamos a amostra principal, e na sessão seguinte,
que contempla as análises de robustez, apresentamos amostra alternativa.
48
O IBP realiza pesquisas que cobrem a disponibilidade de documentos-chave do orçamento, que se relacionam
com formulação de orçamento, execução de orçamento e processos de auditoria orçamentária, a força legislativa
e a força da instituição suprema de auditoria. A principal pesquisa OBI cobre a disponibilidade, a clareza e a
qualidade dos diferentes documentos orçamentários. O OBI baseia-se em questões que cobrem a qualidade e a
abrangência de oito documentos-chave do orçamento: declaração pré-orçamento, proposta de orçamento do
executivo, orçamento promulgado, orçamento do cidadão, relatórios interanuais, revisão intercalar, relatório de
fim de ano e auditoria relatório. O Open Budget Survey é uma iniciativa da International Budget Partnership, uma
organização independente que avalia em que medida os governos disponibilizam suas informações orçamentárias
ao público em tempo hábil. Para a nossa análise, o OBI representa uma melhor medida de transparência fiscal do
que outras medidas - como os Relatórios do Fundo Monetário Internacional sobre a Observância de Padrões e
Códigos (ROSC) e ajustes de fluxo de estoque (SFA).
49
O índice é uma medida independente de comparação mundial da transparência do orçamento dos governos. O
OBI abrange os países pela Pesquisa do Orçamento Aberto atribuindo a transparência uma pontuação em uma
escala de 100 pontos usando 109 das 140 questões da pesquisa. Estas questões incidem especificamente sobre se
o governo proporciona ao público acesso oportuno a informações completas contidas em oito principais
documentos orçamentários, de acordo com padrões de boas práticas internacionais.
50
De acordo com Kopits e Craig (1998, p.1): “Fiscal Transparency is defined (…) as openness toward the public
at large about government structure and functions, fiscal policy intentions, public sector accounts, and projections.
It involves ready access to reliable, comprehensive, timely, understandable, and internationally comparable
information on government activities - whether undertaken inside or outside the government sector - so that the
electorate and financial markets can accurately assess the government’s financial position and the true costs and
benefits of government activities, including their present and future economic and social implications”.
U
mas das preocupações do trabalho é medir o efeito conjunto da transparência fiscal com a
corrupção sobre o tamanho do governo. Para tal, utiliza-se o índice que mede a corrupção
dentro do sistema político do Internacional Country Risk Guide (ICRG). O índice indica o
risco relacionado à corrupção, e quanto maior o valor do índice, menor a risco de corrupção.
Para transformar a interpretação, multiplica-se o índice por (-1), de forma que o índice
represente o grau de corrupção do país. Desta forma, quanto maior o valor do índice, maior
a corrupção.
51
Para verificar a descrição das séries e sua respectiva fonte, ver APÊNDICE A.1, na secção 3.7.
SIZEt 1 2 SIZEt 1 i Zi 8TRANSP 2t (9)
composto por GDPPC, OPEN, URBPOP, POP e DEP. É importante destacar que o efeito
completo da corrupção na equação 5 é condicionado pelo valor da transparência fiscal. Em
suma, o efeito marginal da corrupção sobre o tamanho do governo é dado por:
SIZE
9 10 *TRANSP (13)
CORRUP
De
sta forma, podemos observar se o efeito da transparência fiscal mitiga ou amplifica os
efeitos da corrupção sobre o tamanho do governo.
(i) Omissão de variáveis relevantes para o modelo, que surge quando uma
variável resposta é omitida da regressão e quando pelos menos uma das variáveis
explicativas é correlacionada com a variável omitida;
(ii) Erro de medição das variáveis, que surge quando uma variável
explicativa é medida de forma imprecisa;
(iii) Simultaneidade, que surge quando além da variável explicativa
determinar a variável dependente, a variável dependente determina uma variável
explicativa, ou seja, simultaneidade na relação causal.
52
Nickell (1981) forneceu expressões analíticas para o viés nas estimativas em modelos dinâmicos com efeitos
fixos individuais quando o período de tempo é curto e o número de indivíduos é grande.
cada regressão. Além disso, a fim de confirmar a validade dos instrumentos nos modelos,
utilizamos o teste de sobreindentificação (estatística J), conforme sugerido por Arellano
(2003). A hipótese nula da estatística J consiste na existência de sobreindentificação na
regressão.
Para verificar se os termos dos erros não são serialmente correlacionados utilizamos
os testes de primeira ordem (AR1) e de segunda ordem (AR2) de correlação serial
conforme destacado por Arellano e Bond (1991). Além disso, nas regressões as matrizes
de covariância são corrigidas pelo método White. É importante salientar que uma premissa
de modelos de GMM sistêmico é a não correlação da primeira diferença de regressores
endógenos, o que implica que não é necessária a realização de testes de raiz unitária.
3.4 Resultados
3.5 Robustez
53
O índice mede a Transparência, prestação de contas e corrupção no rating do setor público (1 = baixo a 6 = alto).
O índice avalia até que ponto o executivo pode ser responsabilizado pelo uso de fundos e pelos resultados de suas
ações pelo eleitorado e pela legislatura e pelo judiciário, e o grau em que os funcionários públicos no executivo
são obrigados a contabilizar decisões administrativas, uso de recursos e resultados obtidos.
Tabela 15 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com CPIA
EQ(1.1) EQ(1.2) EQ(1.3) EQ(1.4) EQ(1.5)
LN_SIZE (-1) 0.757*** 0.821*** 0.7274*** 0.7489*** 0.5110***
(0.007) (0.015) (0.024) (0.029) (0.067)
LN_GDPPC -0.028 -0.166*** 0.1261*** -0.0693 0.0156
(0.024) (0.047) (0.048) (0.076) (0.108)
LN_OPEN 0.063*** 0.046*** 0.0666** 0.1039*** 0.0852
(0.013) (0.018) (0.034) (0.034) (0.073)
LN_URBPOP 0.257*** 0.605*** -0.0046 0.4432 -0.0472
(0.090) (0.132) (0.150) (0.394) (0.499)
LN_POP -0.190*** -0.281*** -0.1511* -0.0429 0.2737
(0.039) (0.055) (0.084) (0.192) (0.251)
LN_DEPENDENT 0.316*** 0.298*** 0.1809 0.1198 0.3148*
(0.067) (0.081) (0.126) (0.183) (0.187)
CPIA 0.043*** 0.2220*** 0.8916***
(0.010) (0.030) (0.160)
CORRUP -0.0322** -0.0522*** -1.1885***
(0.014) (0.019) (0.256)
CPIA*CORRUP 0.4020***
(0.091)
Em relação aos resultados, assim como nas estimações da tabela 14, todos os testes
indicam a adequação do modelo e da escolha dos instrumentos. Em termos dos sinais das
variáveis de controle, é possível observar que a variável GDPPC apresenta sinal negativo
com significância nas equações (1.2) e (1.3), seguindo os resultados encontrados pela
literatura (RODRIK, 1998; BENAROCH E PANDEY, 2008 E 2012; EPIFANI E
GANCIA, 2009). As variáveis OPEN, URBPOP e POP apresentam os mesmos resultados
da tabela 14. A variável DEP apresentou sinal positivo em todas as estimações da tabela 2,
com significância estatística, corroborando os achados de Rodrick (1998) e Benaroch e
Pandey (2008).
Em relação às variáveis de interesse CORRUP e CPIA, os resultados repetem os
achados da tabela 14, indicando uma relação negativa da corrupção com o tamanho do
governo e uma relação positiva da transparência fiscal com o tamanho do governo. A
variável interativa também apresentou um sinal positivo, indicando um efeito mitigador da
transparência fiscal em relação ao efeito negativo da corrupção sobre o tamanho do
governo.
54
Ver Montes e Paschoal (2016).
Tabela 16 – Estimações por S-GMM para o tamanho do governo (SIZE) com
Controle da corrupção
EQ(1) EQ(2) EQ(3)
LN_SIZE (-1) 0.406*** 0.486*** 0.419***
(0.008) (0.015) (0.018)
LN_GDPPC 0.077*** 0.447*** 0.407***
(0.018) (0.027) (0.050)
LN_OPEN 0.012 0.011 0.027*
(0.009) (0.009) (0.016)
LN_URBPOP -0.163*** -0.809*** -0.861***
(0.062) (0.077) (0.145)
LN_POP -0.119*** -0.050* 0.013
(0.023) (0.028) (0.046)
LN_DEPENDENT -0.105* -0.156** -0.177*
(0.060) (0.061) (0.096)
LN_TRANSP 0.013*** 0.035***
(0.029) (0.006)
CONTROL_CORRUP 0.053*** 0.131*** 0.065
(0.011) (0.002) (0.051)
LN_TRANSP*CORRUP 0.038***
(0.010)
55
Este resultado está de acordo com Rodrick (1998), Alesina e Wacziarg (1998), Benaroch e Pandey (2018 e
2012).
E
m relação ao sinal da variável C_CORRUP, as estimações indicam uma relação positiva
entre o controle da corrupção e o tamanho do governo. Este resultado está de acordo com
os resultados encontrados na tabela 14 e 15, nos quais observa-se uma relação negativa
entre a corrupção e o tamanho do governo. Um aumento do controle da corrupção implica
uma menor corrupção, e desta forma o coeficiente positivo estimado indica a mesma
relação já obtida. O aumento do controle da corrupção aumenta a confiança dos agentes na
gestão dos recursos públicos, de maneira que os agentes econômicos aceitam uma
participação maior do governo na economia.
A
variável transparência fiscal mantém o sinal positivo encontrado também nas tabelas 14 e
15. O efeito conjunto da transparência fiscal com o controle da corrupção é positivo,
indicando que a transparência fiscal potencializa os efeitos do controle da corrupção sobre
o tamanho do governo. Este resultado é similar ao efeito mitigador que a transparência
fiscal apresenta em conjunto com a variável CORRUP.
Com base nos achados, o estudo fornece importantes insights e implicações práticas
para ações de políticas econômicas: o aumento da transparência fiscal possui impactos
sobre as preferências sociais em relação ao tamanho do governo. A preferência por
governos maiores está associada com maior qualidade da gestão dos recursos públicos e
capacidade de fiscalização por parte da sociedade.
3.7 Apêndice
APÊNDICE A. 1 – Lista de Variáveis
Variáveis Descrição Fonte
Variáveis Dependentes
Despesas de consumo final das administrações
World Bank (2018)
SIZE públicas em % PIB.
Variáveis Independentes
O índice é uma medida independente de
International Budget
TRANSP comparação mundial da transparência do
Partnership (2017)
orçamento dos governos.
Amostra Variáveis
75 países
Média Mediana Máximo Mínimo Desvio Padrão Observações
SIZE 14.765 14.442 30.003 2.047 4.920 805
DEP 63.249 56.754 112.683 34.493 18.935 824
C_CORRUP -0.219 -0.449 2.391 -1.614 0.894 814
CORRUP 2.477 2.229 5.500 0.000 1.088 748
EXPENSE 24.286 23.262 49.710 5.032 9.286 570
POP 79082772 27188328 1380000000 1303141 210000000 824
GDPPC 9817.550 3682.469 91594.180 291.971 15535.130 822
OPEN 73.172 66.836 321.632 19.101 33.358 814
TRANSP 44.711 46.375 93.000 0.000 23.212 740
URBPOP 55.013 56.437 91.893 8.352 21.923 825
50 países
SIZE 13.954 13.483 39.584 2.047 6.065 574
DEP 76.346 80.661 112.683 35.784 17.745 599
C_CORRUP -0.656 -0.744 2.248 -1.614 0.630 589
CORRUP 2.013 2.000 4.500 0.000 0.762 409
POP 54155613 12648545 1320000000 100858 177000000 598
GDPPC 2324.315 1001.384 52600.640 218.284 6555.952 596
OPEN 83.931 71.140 439.657 19.101 56.853 588
CPIA 2.780 3.000 4.500 1.000 0.640 558
URBPOP 37.800 35.601 100.000 9.375 16.495 599
Nota: A tabela mostra as estatísticas descritivas (média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo, desvio
padrão e número de observações) para todas as variáveis utilizadas, nas duas amostras. As estatísticas
descritivas são para o período de 2006 a 2016 para a amostra de 75 países e de 2005 a 2016 para a amostra
de 50 países.
Amostra de 50 países
Albania; Burundi; Benin; Bangladesh; Bolivia; Bhutan; Cote d'Ivoire; Cameroon; Congo,
Rep.; Colombia; Eritrea; Ghana; Guinea; Guinea-Bissau; Grenada; Guyana; Honduras;
Indonesia; India; Kenya; Cambodia; Liberia; Lesotho; Madagascar; Mali; Mongolia;
Mozambique; Mauritani; Malawi; Niger; Nigeria; Nicaragua; Nepal; Pakistan; Rwanda;
Sudan; Senegal; Singapore; Sierra Leone; Chad; Togo; Tajikistan; Tonga; Tanzania;
Uganda; Uzbekistan; Vietnam; Congo, Dem. Rep.; Zambia; Zimbabwe.
Considerações Finais
Este estudo teve como objetivo contribuir com a literatura sobre transparência
fiscal, ao preencher algumas lacunas encontradas nessa literatura. O objetivo, portanto, foi:
(i) analisar os efeitos da transparência fiscal sobre a eficácia do governo e a eficiência do
gasto público; (ii) estimar os efeitos da transparência fiscal sobre os gastos públicos em
educação e sobre a eficiência destes; e (iii) analisar o efeito da transparência fiscal e da
corrupção sobre o tamanho do governo, medido pelo consumo do governo no PIB.
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