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FLORIANÓPOLIS
2020
Leonardo Schorcht Bracony Porto Ferreira
Florianópolis
2020
Leonardo Schorcht Bracony Porto Ferreira
Microbioma e parâmetros de operação de MBBR em um sistema de
recirculação na piscicultura intensiva
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado
adequado para obtenção do título de doutor em Aquicultura
___________________________________________________
Prof. Dra. Leila Hayashi
Coordenação do Programa de Pós Graduação em Aquicultura
________________________________________
Prof. Dr. Alex Pires de Oliveira Nuñer
Orientador
Florianópolis, 2020
Este trabalho é dedicado aos meus queridos familiares, em
especial meu pai José Lauro e aos meus queridos amigos.
AGRADECIMENTOS
Dos muitos privilégios que tive na vida, destaco a minha família, que me permite viver
em harmonia, com afeto, amor e cuidado. Minha Mãe Liz, Meu Pai José Lauro, minha irmã
Laura, e a Ângela que juntos me ensinaram a sonhar e me deram todas as possibilidades de
realizar todos os meus sonhos.
Meu agradecimento especial ao meu orientador Professor Alex Pires de Oliveira Nuñer,
pela oportunidade concedida, agradeço sobretudo, à seriedade, serenidade, paciência e
dedicação que desde 2008, sempre me guiou no sentido de fazer o melhor. E além de tudo
aceitou me orientar e construir uma grande amizade.
Ao Carlito, Secretario da Pós-Graduação por sua presteza e orientações em todas as
dúvidas do programa. Profa. Leila Hayashi, Professora Debora Fracalossi. Agradeço também
pelos muitos anos de parceria o professor Evoy Zaniboni Filho.
No meu percurso acadêmico fui agraciado por grandes professores que me inspiraram
profissionalmente. Além disso tive o privilégio de compartilhar grande parte dessa caminhada
com a minha Coorientadora professora Katt Regina Lapa obrigado por me ensinar, por me
acolher e tudo mais. Será um exemplo que levarei para toda a vida.
Aos colegas e amigos da pós-graduação, Bruno, Marilyse, Clara, Bruna. À Izabella,
minha estagiária, por toda a dedicação e paciência.
Aos meus queridos colegas do LAPAD, todo o meu amor e agradecimentos, Edson,
Mauricio, Ronaldo, Jeanderson, David, Jana, Josiane, Sunshine, Carol, Luciano, Vinicius,
Renata (RÊ), A todo o pessoal do LABNUTRI, Michele, Katharinne, Bruna, Jorge e em
especial para a Rosa que esteve junto e me acompanhou em parte dessa caminhada. Um
agradecimento muito especial à Claudinha, que tanto me ensinou e por tantas conversas
esclarecedoras. Obrigado
Ao meu grande amigo/chefe/coordenador, Celso Lopes de Albuquerque Junior, por
tudo, mas principalmente pela amizade.
A todos os amigos que carrego no peito. O presente trabalho foi realizado com apoio
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código
de Financiamento 001.
E um agradecimento especial para o Oliver da empresa que acreditou na ideia e cedeu
material para execução da pesquisa.
“É preciso, antes de mais nada, querer” (Amyr Klink)
RESUMO
O crescimento da indústria aquícola, nas últimas décadas, tem estimulado a produção intensiva
de organismos aquáticos, o que gera resíduos mais concentrados que podem levar a problemas
de poluição. Os sistemas de recirculação da aquicultura (RAS) são uma alternativa
potencialmente sustentável para a atividade. O Biorreator de Leito Móvel com Biofilme,
conhecido como MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) é uma tecnologia que foi desenvolvida
para melhorar o desempenho e aumentar a capacidade de carga das estações de tratamento. A
amônia e o nitrito, mesmo em concentrações reduzidas são danosas aos peixes, e devem ser um
dos principais parâmetros de dimensionamento dos sistemas de tratamentos em RAS. O
objetivo desse estudo foi avaliar o desempenho de biorreatores de leito móvel com biofilme em
escala piloto no tratamento da água de um sistema de recirculação aquícola no cultivo de tilápias
(Oreochromis niloticus). O primeiro artigo teve como objetivo analisar o processo e a
maturação de reatores de biofilme de leito móvel (MBBR) sem inoculação bacteriana,
avaliando os biofilmes e investigando as comunidades microbianas viáveis por 122 dias. Dois
biorreatores (MBBR1 e MBBR2) acoplados em série receberam água de tanques de cultura de
peixes que abrigavam a espécie Oreochromis niloticus. A biomassa para armazenamento de
peixes foi aumentada e registrada no início de cada fase experimental, ou seja, fase 1 (duração:
28 dias, biomassa: 2,40 kg / m3), fase 2 (40 dias, 4,95 kg / m3), fase 3 (25 dias, 8,71 kg / m³) e
fase 4 (25 dias, 12,23 kg / m³). O sucesso da maturação dos biorreatores ocorreu em torno de
100 dias do experimento, quando o índice de nitração aumentou para ~ 57% no MBBR1 e ~
38% no MBBR2. Identificamos 105 espécies nos biofilmes, que foram agrupados em 65
gêneros, 3 dos quais foram além da adição: Pseudomonas (21,7%), Nitrospira (15,1%) e
Gemmobacter (11,2%). Nitrospira foi identificada como o principal gênero bacteriano
responsável pelo processo de nitrificação (ou seja, responsável por 12,0%). O segundo artigo
teve como objetivo avaliar o impacto do tempo de retenção hidráulica (TRH) e da Fração de
enchimento (FE) no desempenho de biorreator de leito móvel (MBBR) para o tratamento da
água em um cultivo de tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). Foram avaliados dois diferentes
tempos de retenção hidraulico TRH (Alta e Baixa) e três frações de enchimento de suporte FR
de 60%, de 45% e de 15%. Foram utilizados seis tratamentos em esquema fatorial 3x2, para os
quais foram avaliados os parâmetros NH4+, NO2-, NO3-, N-Total, P-total e a porcentagem de
células bacteriana vivas. As taxas de remoção no biorreator de amônia e o nitrito foram as que
mais sofreram influência da TRH, quanto maior a TRH mais eficiente foi remoção destes
compostos. Foi observada influência dos fatores na quantidade de células bacterianas viáveis
no biofilme, indicando que as células bacterianas possuem capacidade adaptativa as condições
operacionais do MBBR. Esse é o primeiro trabalho que descreve os efeitos na qualidade da
água, variando-se FE e TRH em RAS.
The growth of the aquaculture industry, in the last decades, has stimulated the intensive
production of aquatic organisms, which generates more concentrated residues that can lead to
pollution problems. Aquaculture recirculation systems (RAS) are a potentially sustainable
alternative to the activity. The Biofilm Moving Bed Bioreactor, known as MBBR (Moving Bed
Biofilm Reactor) is a technology that was developed to improve performance and increase the
loading capacity of treatment plants. Ammonia and nitrite, even in lower concentrations, are
harmful to fish, and should be one of the main parameters for sizing treatment systems in RAS
The objective of this study was to evaluate the performance of moving bed bioreactors with
biofilm at scale pilot in the treatment of water from an aquaculture recirculation system in the
cultivation of tilapia (Oreochromis niloticus). The first article aimed to analyze the process and
the maturation of moving bed biofilm reactors (MBBR) without bacterial inoculation,
evaluating the biofilms and investigating their viable bacterial colonies for 122 days. Two
bioreactors (MBBR1 and MBBR2) coupled in series received water from fish culture tanks that
housed the species Oreochromis niloticus. The biomass for fish storage was increased and
recorded at the beginning of each experimental phase, that is, phase 1 (duration: 28 days,
biomass: 2.40 kg / m3), phase 2 (40 days, 4.95 kg / m3 ), phase 3 (25 days, 8.71 kg / m³) and
phase 4 (25 days, 12.23 kg / m³). The successful maturation of the bioreactors occurred around
100 days after the experiment, when the nitration index increased to ~ 57% in MBBR1 and ~
38% in MBBR2. We identified 105 species in the biofilms, which were grouped into 65 genera,
3 of which went beyond the addition: Pseudomonas (21.7%), Nitrospira (15.1%) and
Gemmobacter (11.2%). Nitrospires were identified as the main bacterial genus responsible for
the nitrification process (that is, responsible for 12.0%). The second article aimed to evaluate
the impact of hydraulic retention time (TRH) and filling fraction (FE) on the performance of
moving bed bioreactor (MBBR) for water treatment in a culture of Nile tilapia (Oreochromis
niloticus). Two TRH (High and Low) and three fractions of 60%, 45% and 15% FR support
were evaluated. Six treatments in a 3x2 factorial scheme were used, where the parameters NH4
+, NO2-, NO3-, N-Total, P-total and% of live bacterial cells were evaluated. The removal rates
in the ammonia bioreactor and nitrite were the most affected by TRH, the higher the TRH the
more efficient the removal of these compounds was. The influence of factors on the amount of
viable bacterial cell in the biofilm was observed, indicating that the bacterial cells have adaptive
capacity to the operational conditions of MBBR. This is the first work that describes the effects
on water quality varying FE and TRH in RAS.
Figura 7 - Gráficos demonstrando o comportamento dos parâmetros: (A) N-H4+, NO2-, (B)
NO3-; N-total e P-total monitorados nos tanques dos peixes (P1). ........................ 53
Tabela 1 - Parâmetros gerais da qualidade da água para a cultura de peixe em RAS. ........... 19
Tabela 2 - Fases experimentais, durações das fases e biomassa armazenada em tilápia do Nilo
(Oreochromis niloticus). ........................................................................................ 30
Tabela 4 - Gêneros e espécies mais abundantes presentes nas amostras de biofilme analisadas
nas mídias dos reatores MBBR.............................................................................. 38
Tabela 6 - Representação dos resultados da biomassa inicial dos peixes, peso inicial médio dos
peixes, peso final médio e sobrevivência. ............................................................. 51
Tabela 8 - Resultados dos valores de DQO (mg/l) medidos nos diferentes ........................... 54
Tabela9- Valores médios (± DP) dos parâmetros químicos e biológicos da água ao longo do
experimento, utilizando diferentes tempos de retenção hidráulica (TRH) Alta e
Baixa, adicionando diferentes Frações de Enchimento de mídias (FE) no biorreator
(60%, 45% e 15%). ................................................................................................ 55
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
1.1 AQUICULTURA, SISTEMAS DE RECIRCULAÇÃO E TRATAMENTO DE
EFLUENTES ........................................................................................................... 14
1.2 QUALIDADE DA ÁGUA PARA PEIXES EM RAS .............................................. 18
1.3 NITRIFICAÇÃO ..................................................................................................... 19
1.3.1 Processos gerais e microbiologia ................................................................... 19
1.4 BIOFILME ............................................................................................................... 21
1.5 FATORES QUE AFETAM A ESTRUTURA E A DINÂMICA DO BIOFILTRO .. 22
1.5.1 Concentração de Amônia e Nitrito ................................................................ 22
1.5.2 Oxigênio dissolvido ........................................................................................ 23
1.5.3 Temperatura .................................................................................................. 23
1.5.4 pH ................................................................................................................... 23
1.6 IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS COM BIORREATORES EM MBBR .............. 24
1.7 OBJETIVOS ............................................................................................................ 25
1.7.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 25
1.7.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 25
2 CAPÍTULO I – PRIMEIRO ARTIGO ................................................................ 26
2.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 27
2.2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 29
2.2.1 Instalação e operação do MBBR ................................................................... 29
2.2.2 Qualidade de Água ........................................................................................ 30
2.2.3 Métodos Analíticos ......................................................................................... 30
2.2.4 Análise da Microbiota .................................................................................... 31
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 32
2.3.1 Desempenho do RAS e do MBBR.................................................................. 32
2.3.2 Estrutura da Comunidade Microbiana ......................................................... 36
2.4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 40
2.5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 40
3 CAPÍTULO II – SEGUNDO ARTIGO ................................................................ 43
3.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 44
3.2 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 46
3.2.1 Configuração e operação experimental do MBBR ....................................... 46
3.2.2 Métodos Analíticos ......................................................................................... 48
3.2.3 Microscopia e Ensaios de Viabilidade bacteriana LIVE / DEAD®
BacLightTM ................................................................................................... 49
3.2.4 Estatística ....................................................................................................... 50
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 50
3.4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 62
3.5 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 63
3.6 CONCLUSÕES GERAIS ........................................................................................ 66
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTRODUÇÃO ............................. 67
14
1 INTRODUÇÃO
Esses sistemas podem ainda ser classificados quanto ao tipo de biorreator, que pode
apresentar crescimento dos flocos de microrganismos em suspensão livre na massa líquida ou
de crescimento da biomassa de microrganismos aderida a algum substrato. Nos reatores de
crescimento em suspensão livre não há suporte inerte para a aderência dos microrganismos, e
normalmente esses reatores são utilizados em sistemas do tipo lagoas de estabilização ou de
lodo ativado (DONG et al., 2015; MINEGATTI, 2015; TIMMONS e EBELING, 2010).
Nos biorreatores com biomassa aderida ao substrato são utilizados suportes
poliméricos que podem estar fixos ou livres (móveis) dentro do reator, o que garante a aderência
da biomassa microbiana sob a forma de biofilme aderido ao meio de suporte. Os biorreatores
com biomassa aderida ao meio de suporte são geralmente utilizados em filtros biológicos,
biodiscos, biofiltros aerados, filtros anaeróbios, reatores anaeróbios de fluxo ascendente e
reatores de leito (fluxo) móvel com biofilme para tratamento da água (ALMADA, 2012;
TIMMONS e EBELING, 2010).
Ainda que o princípio da degradação biológica da água seja o mesmo para ambas as
formas de sustentação e crescimento dos microrganismos, a eficiência e a estabilidade funcional
para a remoção de nutrientes da água está diretamente relacionada com o tempo de contato dos
microrganismos com o efluente (CRAB et al., 2007; VON SPERLING, 1996) e com o grupo
de microrganismos presentes no processo de degradação, sendo que as bactérias representam o
principal grupo de microrganismos responsáveis pela biodepuração dos efluentes. No biofilme
outros organismos também estão presentes, mas realizam, sobretudo, ação de regulação das
populações bacterianas (QIQI et al., 2013).
Quando biorreatores de crescimento em suspensão livre na massa líquida são
utilizados, a retenção dos microrganismos do biorreator é realizada através da recirculação doo
lodo sedimentado em decantadores posicionados depois do reator biológico, o que mantém por
mais tempo os microrganismos em contato com o efluente. Já nos filtros biológicos de biomassa
aderida de fluxo móvel, a retenção é garantida pela aderência dos microrganismos ao meio
suporte e pelo maior contato dos microrganismos com o efluente dentro do biorreator, o que
propicia a formação de biofilmes. Estes são conhecidos como sistemas compactos, pois além
de propiciarem maior concentração de microrganismos apresentam maior capacidade para
processamento de carga de matéria orgânica do que outros sistemas com biofilme, e deste modo,
este modelo pode reduzir significativamente o tamanho e a capacidade operacional das plantas
de tratamento de efluente (VON SPERLING, 1996; ALMADA, 2012).
16
1.3 NITRIFICAÇÃO
Essa separação das duas etapas de nitrificação em diferentes organismos leva a uma
estreita interação de alimentação cruzada e à co-agregação frequentemente observada de AOB
com NOB em consórcios de nitrificação (ARP; BOTTOMLEY, 2006). No entanto, a separação
de funções é um fenômeno intrigante, pois a nitrificação completa produziria mais energia do
que qualquer passo único. Assim, um organismo que catalisa a nitrificação completa deve ter
vantagens de crescimento sobre a AOB e as NOB "incompletos".
A capacidade de nitrificação completa foi estudada mais profundamente inicialmente
como uma ação hipotética, onde Costa e Perez (2006), apontaram que um nitrificador completo
pode ser competitivo sob condições que favorecem a maximização do rendimento do
crescimento, e inventou o termo “comammox” (oxidador completo de amônia) para descrever
um micróbio hipotético. As condições selecionadas para o comammox podem ser
caracterizadas por um crescimento lento, limitado pelo influxo de substrato, com um
agrupamento espacial de biomassa em agregados microbianos e biofilmes.
21
1.4 BIOFILME
Biorreatores são caracterizados por terem bactérias nitrificantes aderidas a um meio
de suporte sólido formando o biofilme, que é uma elevada concentração de populações
microbianas embebidas numa matriz polimérica, que aderem entre si e/ou a superfícies ao
excretar substâncias poliméricas extracelulares (EPS). Numa reduzida área de superfície podem
desenvolver grandes agregados, chamados de Zoogleias, que proporcionam estabilidade e
efeito protetor, aumentando assim a resistência a tóxicos, predadores e condições
hidrodinâmicas (FLEMMING; WINGLINDER, 2001).
Diversos fatores não biológicos influenciam no processo inicial de adesão das
bactérias nitrificantes, sendo que a concentração e difusão dos nutrientes no interior do biofilme
terão autoridade direta na sua estruturação (WIJEYEKOON et al., 2004). O biofilme de um
Biofiltro em um RAS é constituído por populações bacterianas de crescimento bastante
diferenciado, com uma camada interior geralmente formada por uma população rica em
22
1.5.3 Temperatura
A temperatura da água no RAS está diretamente relacionada com a eficiência dos
biorreatores (MASSER et ai., 1999). A faixa ideal para o crescimento bacteriano é próximo de
25°C, e existe uma relação de resposta linear entre 7 e 35°C. No entanto, para temperaturas
inferiores e superiores a taxa de Nitrificação tende a decrescer de forma rápida (HAGOPIAN;
RILEY, 1998).
A influência da temperatura na taxa de Nitrificação em biorreatores que utilizam
biofilme fixo, quando comparados aos de crescimento em suspensão, é mais reduzida, e a sua
influência na taxa de nitrificação depende do OD e das concentrações de amônia total (ZHU &
CHEN, 2002). Além do mais as bactérias nitrificantes são mais sensíveis a variações de
temperatura do que as heterotróficas, e o biofilme nos reatores estabiliza mais rapidamente em
temperaturas mais altas do que em temperaturas mais baixas (CHEN et al., 2006).
1.5.4 pH
O pH é um parâmetro que influencia diretamente a Nitrificação, tendendo a diminuir
nos sistemas de recirculação e biorreatores à medida que as bactérias nitrificantes metabolizam
a amônia e produzem H+ consumindo alcalinidade. Da mesma forma o pH tende a diminuir com
o tempo através da geração de CO2 pelos peixes e pelos microrganismos (MASSER et al., 1999).
24
A faixa ideal para os processos de Nitrificação está entre 7,0 e 9,0 (CHEN et al., 2006),
contudo, o valor de pH considerado ideal para o desenvolvimento das bactérias nitrificantes é
7,80 (HAGOPIAN; RILEY., 1998).
Em alguns casos pode existir paralização total da Nitrificação, em águas com pH
inferior a 6,45 e superiores a 9,05 (RUIZ et ai., 2003). Além do mais o aumento de uma unidade
de pH pode provocar um acréscimo de até 13% na taxa de Nitrificação (VILLAVERDE et al.,
1997). A inibição causada pelo NH3 e HNO2 no processo de nitrificação é dependente dos
valores de pH, pois estes são formados, respectivamente, a partir de NH4+ em pH alto, Eq. (3)
e a partir do NO2- em pH baixo, Eq. (4) (EDING et al., 2006).
MBBR para tratamento de efluentes (BROWN et al, 2013; CHEN,. et al, 2006), porém poucos
são os trabalhos que utilizam efluentes da piscicultura intensiva, tornando difícil o
entendimento da dinâmica de funcionamento do biofiltro e sua aplicação na realidade da
aquicultura. A maior parte das informações disponíveis sobre o uso do MBBR está ligada a
efluentes domésticos e resíduos industriais (MINEGATTI, 2015), para os quais geralmente
demonstra boa eficiência na remoção de compostos nitrogenados. Entretanto, o efluente gerado
na aquicultura, de modo geral, apresenta carga de nutrientes e matéria orgânica muito inferior
à produzida por efluentes domésticos, sendo que pouco se sabe sobre seu uso em sistemas de
recirculação aquícola especialmente para a piscicultura intensiva em água doce.
Com isso, a busca de informações concretas acerca da eficiência da remoção de
nitrogênio e do fósforo se faz relevante para a aplicação na produção aquícola, assim como a
busca das caraterísticas do biofilme, da atividade biológica do reator e das demandas
bioquímicas de oxigênio dentro do reator, que podem servir de base para o desenvolvimento de
projetos de sistemas de recirculação com tecnologia MBBR voltados especificamente para a
aquicultura.
1.7 OBJETIVOS
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar o processo e a maturação de reatores de biofilme de leito
móvel (MBBR) sem inoculação bacteriana, avaliando os biofilmes e investigando suas colônias
bacterianas viáveis por 122 dias. Dois biorreatores (MBBR1 e MBBR2) acoplados em série
receberam água de tanques de cultura de peixes que abrigavam a espécie Oreochromis niloticus.
A biomassa para armazenamento de peixes foi aumentada e registrada no início de cada fase
experimental, ou seja, fase 1 (duração: 28 dias, biomassa: 2,40 kg / m3), fase 2 (40 dias, 4,95
kg / m3), fase 3 (25 dias, 8,71 kg / m³) e fase 4 (25 dias, 12,23 kg / m³). O sucesso da maturação
dos biorreatores ocorreu em torno de 100 dias do experimento, quando o índice de nitração
aumentou para ~ 57% no MBBR1 e ~ 38% no MBBR2. Identificamos 105 espécies nos
biofilmes, que foram agrupados em 65 gêneros, 3 dos quais foram além da adição:
Pseudomonas (21,7%), Nitrospira (15,1%) e Gemmobacter (11,2%). A Nitrospira foi
identificada como o principal gênero bacteriano responsável pelo processo de nitrificação (ou
seja, responsável por 12,0%).
Palavras-chave: MBBR; Comunidade microbiana; Nitrificação; RAS.
27
Abstract
The objective of this study was to analyze the process and the maturation of moving bed biofilm
reactors (MBBR) without bacterial inoculation, by assessing the biofilms and investigating their
viable bacterial colonies over 122 days. Two bioreactors (MBBR1 and MBBR2) coupled in
series, received water from fish culture tanks housing the species Oreochromis niloticus. Fish
stocking biomass was increased and recorded at the start of each experimental phase, i.e. phase
1 (length: 28 days, biomass: 2.40 kg/m3), phase 2 (40 days, 4.95 kg/m3), phase 3 (25 days, 8.71
kg/m³), and phase 4 (25 days, 12.23 kg/m³). Maturation success of the bioreactors occurred
around 100 days of the experiment, when the nitration index had increased to ~57% in MBBR1
and ~38% in MBBR2. We identified 105 species in the biofilms, which were grouped into 65
genera, 3 of which were beyond addition: Pseudomonas (21.7%), Nitrospira (15.1%), and
Gemmobacter (11.2%). Nitrospira was identified as the main bacterial genera responsible for
the nitrification process (i.e., accounting for 12.0% of it).
Keywords: MBBR; Microbial community; Nitrification; RAS.
2.1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a aquicultura contribui para ~ 50% da produção global de peixes e é
provavelmente o setor produtor com o crescimento mais rápido. Considerando o aumento da
população humana, mas a estagnação ou diminuição das populações de peixes capturados na
natureza, espera-se que o suprimento de peixes da aquicultura aumente bastante para atender à
demanda por essa proteína animal
O crescimento da indústria da aquicultura estimula a produção intensiva, que gera
resíduos mais concentrados que podem levar a problemas de poluição e a consequente
degradação dos ecossistemas aquáticos (Turcios e Papenbrock, 2014). Os sistemas de
recirculação da aquicultura (RAS) apresentam alternativas potencialmente sustentáveis a essa
atividade, pois reduzem o uso da água e limitam as concentrações de nutrientes descarregadas
nas águas receptoras (FAO, 2015; Timmons e Ebeling, 2010). Em um RAS, a descarga de
resíduos pode ser minimizada em até 99%, recirculando e filtrando a água (Badiola et al., 2012).
O efluente gerado na aquicultura intensiva contém quantidades significativas de
desperdício de alimentos, excrementos de peixes e nitrogênio. Os níveis de nitrogênio da
amônia, mesmo em baixas concentrações (2,0 mg / L), são altamente tóxicos para a maioria dos
peixes em cultura (Zhu e Chen, 1999). Assim, A remoção do nitrogênio amoniacal é a principal
melhoria no projeto e operação do RAS.
28
Figura 1 - Diagrama esquemático do sistema de recirculação (RAS) construído, bem como suas
estruturas e pontos de monitoramento.
122 dias e dividido em quatro fases, conforme mostrado na Tabela 1. Após cada fase, o sistema
teve 1 dia para se adaptar ao aumento da biomassa dos peixes. A vazão da água foi medida
diariamente e registrada em 293,36 ± 5,92 L / h (média ± DP). Todo o sistema compreendeu
um volume total de 1.900 L.
Os peixes foram alimentados com dieta comercial (Guabi, Aqua, Brasil, 5,0 mm), com
perfil nutricional medido e conteúdo garantido: umidade 10%, proteína 36%, gordura 6,5%,
matéria mineral 14%, fósforo 6% sódio 1,85% , fibra bruta 6%, vitamina A8000 UI, vitamina
D3 2250 UI, vitamina E; e micronutrientes (ac de acordo com o produtor): Cu 0,01%, ferro
0,06%, manganês 0,03% e zinco 0,1%. Os peixes foram alimentados de acordo com sua
biomassa (ou seja, 2,5% do seu peso vivo). O feed foi dividido em duas rações diárias,
oferecidas às 10:00 e 16:00.
realizadas usando o sequenciamento de alto rendimento das regiões V3 / V4 do gene 16S rRNA.
O sequenciamento foi realizado no equipamento MiSeq (Illumina Inc., EUA), usando o kit V2
de 300 ciclos de extremidade única, sem normalização da biblioteca.
As sequências de DNA dos microrganismos foram analisadas através de um pipeline
proprietário (Neoprospecta Microbiome Technologies, Brasil), considerando um máximo de
1,0% de erro acumulado no sequenciamento. Para identificar os microrganismos presentes nas
amostras, as sequências de DNA foram comparadas com um banco de dados contendo outras
sequências de DNA já caracterizadas para as espécies de interesse. Após a aplicação das análises
básicas de bioinformática, os resultados foram carregados na plataforma Neobiome para
visualização.
Tabela 3 - Temperatura, pH, concentração de oxigênio dissolvido e alcalinidade das amostras dos diferentes
reatores de biofilme de leito móvel (MBBRs) durante as diferentes fases do experimento (124 dias).
Oxigênio
Temperatura Alcalinidade
MBBR Fase pH Dissolvido
(°C) (mg - CaCO3 /L)
(mg/L)
Fase 1 26,14 ± 0,59 8,07 ± 0,52 120,01 ± 5,52 7,17 ± 0,96
Figura 3 - Evolução dos compostos de nitrogênio dentro de todos os reatores de biofilme de leito móvel
(MBBRs) utilizados. A) Concentrações totais de amônia e nitrito no MBBR1.
B) Concentrações totais de amônia e nitrito em MBBR2
C) Concentração de nitrato em MB MBBR1. D) Concentração de nitrato em MBBR2.
C D
O sequenciamento HTS do gene 16S rRNA produziu uma visão mais aprofundada da
comunidade bacteriana nos reatores. Neste estudo, identificamos 14.320 sequências de DNA de
bactérias presentes nas amostras de biofilme. No geral, foram observados 65 grupos (Figura 5)
e 105 espécies bacterianas diferentes foram identificadas nas amostras de biofilme, com
predominância nos gêneros Pseudomonas (21,74%), Nitrospira (15,13%) e Gemmobacter
(11,24%) (Fig. 5).
Como observado na Tabela 4, as espécies desses três grupos que apresentaram maior
abundância de biofilme foram Pseudomonas pseudoalcaligenes (com 199 sequências de DNA
encontradas na amostra), Candidatus Nitrospira defluvii (sequências de 1785) e Gemmobacter
aquaticus (sequências de 1533). Três outros gêneros bacterianos com abundância considerável
também foram encontrados: Devosia, Altererythrobacter e Woodsholea, comumente
encontrados em água doce e em sedimentos marinhos.
38
Tabela 4 - Gêneros e espécies mais abundantes presentes nas amostras de biofilme analisadas nas mídias dos
reatores MBBR.
Número de sequencias de
Gênero Espécie
DNA identificadas
Pseudomonas Pseudomonas pseudoalcaligenes 1997
Pseudomonas putida 599
Pseudomonas koreensis 472
Pseudomonas alcaligenes 21
Pseudoclavibacter soli 15
Pseudomonas stutzeri 15
Pseudomonas moraviensis 9
Nitrospira Candidatus Nitrospira defluvii 1785
Nitrospira sp. 381
Gemmobacter Gemmobacter aquaticus 1533
Gemmobacter tilapiae 68
Gemmobacter lanyuensis 9
Assim, essas três espécies representaram 37% de todas as bactérias presentes nos dois
MBBRs. Os desnitrificadores detectados em maior abundância foram dos gêneros
39
metabolismo energético dessa espécie compreende uma cadeia respiratória ramificada para a
oxidação de NO2-, que resulta em uma afinidade com doadores de elétrons de baixo potencial,
como substratos orgânicos (Maixner et al., 2008; Lücker et al., 2010). Embora a capacidade de
desnitrificação desta espécie ainda não tenha sido demonstrada experimentalmente, segundo
Lücker et al. (2010) pode desnitrificar NO2- usando substratos orgânicos como doador de
elétrons. Essa C. N. defluvii apresenta capacidade para um estilo de vida mixotrófico, ou seja,
usar compostos orgânicos, NO2- 'e CO2 para a sobrevivência, demonstra um potencial
importante para a colonização de biorreatores nitrificantes e desnitrificantes.
2.4 CONCLUSÃO
A maturação dos MBBRs ocorreu após 97 dias de início e, ao final do experimento
(124 dias), três gêneros de bactérias foram identificados como os mais abundantes, com duas
espécies desses gêneros, Pseudomonas e Nitrospira, ou seja, P. pseudoalcaligenes e CN defluvii,
sendo os representantes com maior potencial para metabolizar compostos nitrogenados.
Destacou-se a presença abundante, sem inoculação inicial, de C. N. defluvii, pois é descrita
como uma das bactérias mais relevantes para processos específicos de nitrificação.
Agradecimentos
O Autor Agradece ao Laboratório Central de Microscopia Eletrônica - UFSC (LCME)
por imagens de microscopia. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
001.
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43
Leonardo Schorcht Bracony Porto Ferreiraa,b *, Katt Regina Lapab, Alex Pires de Oliveira
Nuñera, b
a
Laboratory of Biology and Freshwater Fish Cultivation, Federal University of Santa Catarina,
Florianopolis, 88066-260, Brazil.
b
Aquaculture Department, Federal University of Santa Catarina, Florianópolis 88034-001,
Brazil.
* Corresponding author. Email address: leo.portoferreira@hotmail.com (Ferreira, L. S. B. P.).
Laboratory of Biology and Freshwater Fish Cultivation, Federal University of Santa Catarina,
Florianopolis, 88066-260, Brazil, Brazil. 55+48999342598
Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto do tempo de retenção hidráulica (TRH) e da
Fração de enchimento (FE) no desempenho de biorreator de leito móvel (MBBR) para o
tratamento da água em um cultivo de tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). Foram avaliados
duas TRH (Alta e Baixa) e três frações de enchimento de suporte FR de 60%, de 45% e de 15%.
Foram utilizados 6 tratamentos esquema fatorial 3x2, onde foram avaliados os parâmetros
NH4+, NO2-, NO3-, N-Total, P-total e % de células bacteriana vivas. As taxas de remoção no
biorreator de amônia e o nitrito foram as que mais sofreram influência da TRH, quanto maior a
TRH mais eficiente foi remoção destes compostos. Foi observada influência do dos fatores na
quantidade de célula bacteriana viáveis no biofilme, indicando que as células bactérias possuem
capacidade adaptativa as condições operacionais do MBBR. Esse é o primeiro trabalho que
descreve os efeitos na qualidade da água variando FE e TRH em RAS.
44
Abstract
The objective of this study was to evaluate the impact of hydraulic retention time (HRT) and
drilling fraction (FE) on the performance of the moving bed bioreactor (MBBR) for the
treatment of water in the cultivation of nile tilapia (Oreochromis niloticus). Two TRHs (High
and Low) and three fractions of FR support support were reduced by 60%, 45% and 15%. Six
treatments of the factorial factor 3x2 were used, where the parameters NH4 +, NO2-, NO3-, N-
Total, P-total and% of live bacterial cells were used. As ammonia and nitrite bioreactor removal
rates were the ones that most influence HRT, the higher the HRT the more efficient the removal
of substances used. It was observed that bacterial cellulite factors are not viable in biofilm,
including those that celiac bacteria have adaptable capacity as operational conditions of MBBR.
This is the first work that describes the effects on water quality varying FE and HRT in RAS
3.1 INTRODUÇÃO
O crescimento da indústria aquícola, nas últimas décadas, tem estimulado a produção
intensiva de organismos aquáticos, o que gera resíduos mais concentrados que podem levar a
problemas de poluição, com a consequente degradação dos ecossistemas aquáticos e da
qualidade de água de ambientes de cultivo (Turcios and Papenbrock, 2014).
Os sistemas de recirculação da aquicultura (RAS) para a produção de peixes
confinados são uma alternativa potencialmente sustentável em comparação com os sistemas
tradicionais, pois reduzem as necessidades de água e limitam a concentração de nutrientes
descarregados nos efluentes. (Brown et al., 2013).
Os RAS requerem filtros biológicos para oxidar amônia e nitrito tóxicos e aerar a água
para remover o dióxido de carbono e aumentar as concentrações de oxigênio (Ebeling, 2000).
Os biofiltros nitrificantes tendem a manter as concentrações de amônia e nitrito abaixo
dos níveis tóxicos, a nitrificação é um processo de duas etapas no qual a amônia é oxidada em
nitrito pelas bactérias oxidantes de amônia (AOB) e o nitrito é oxidada em nitrato pelas
bactérias oxidantes de nitrito (NOB). A sensibilidade da AOB e NOB a uma ampla variedade
de fatores ambientais é bem conhecida, tanto que a nitrificação foi considerada uma das maiores
barreiras ao tratamento de águas residuais (Daims et al., 2006). As bactérias nitrificantes estão
presentes principalmente no biofilme e têm um papel importante no controle da qualidade da
água, convertendo nitrogênio amoniacal em nitrito e posteriormente em nitrato. Ou seja, a
nitrificação ocorre no biofilme e sua eficiência está relacionada a uma série de parâmetros,
45
75%) em reatores biológicos alimentados com efluente sintético mostraram uma diminuição
nos níveis de demanda química de oxigênio em frações de 50% da carga de suporte. Calderón
et al., (2012) concluíram que a FE foi o fator operacional de maior influência na estruturação
e equilíbrio da comunidade bacteriana e na estrutura do biofilme.
Outro parâmetro importante para a operação dos biorreatores é o Tempo de Retenção
Hidráulica (TRH), que pode ser definido como uma relação entre o volume dos biorreatores e
o fluxo de alimentação de efluentes ou, no caso de RAS, o fluxo de recirculação ou o tempo
que o efluente permanece dentro do biorreator. A TRH está sujeita a variações dependendo do
efluente utilizado (Ødegaard, 2006). Além disso, tempos mais longos para o processo de
nitrificação mais complexo são usados devido ao lento crescimento das bactérias ativas (Rusten
et al., 2006). Sistemas caracterizados com altos valores de TRH, podem propiciar o processo
de nitrificação, uma vez que há tempo suficiente para o desenvolvimento de bactérias
quimiolitoautotróficas ativas na nitrificação (Dezotti et al., 2011).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho no tratamento de efluentes
da aquicultura em RAS em biorreator de leito móvel MBBR para diferentes condições de taxas
de retenção hidráulica e fração de fração de suporte no cultivo de tilápia (Oreochromis niloticus).
Figura 6 - Diagrama esquemático do sistema de recirculação (RAS) construído, bem como suas estruturas e
pontos de monitoramento.
Antes do início da fase experimental, o sistema ficou funcionando, com peixes, por
um período de 125 dias para colonização biológica de biofiltros. Após a estabilização dos
principais parâmetros, os peixes que estavam no sistema para maturação dos filtros foram
removidos e novos peixes foram alocados no sistema. Estes novos peixes foram coletados em
uma cultura mantida separada. A partir do novo momento, a fase de testes experimentais
começou. Nesta fase, foram testadas três frações de enchimento (FE) do mídias no biorreator,
de 60% (FE60), 45% (FE45) e 15% (FE15) do volume total do reator e dois tempos de retenção
hidráulica (ALTA e BAIXA), primeiro com 292,27 ± 0,86 L / hora (ALTA) e depois com 586,60
± 2,58 L / hora (BAIXA). Ou seja, quanto menor a vazão de recirculação do sistema maior será
o tempo de retenção hidráulica (TRH).
O delineamento experimental utilizado foi em esquema fatorial 2x3, resultando em
seis tratamentos com cinco repetições ao longo do tempo em cada tratamento. O experimento
foi realizado durante um período de 150 dias em que cada tratamento foi realizado em 25 dias
(Tabela 5). Em cada início e fim de cada tratamento, foram realizadas biometrias; no final de
cada tratamento, todos os peixes foram substituídos por amostras de peso semelhantes para
garantir a mesma biomassa entre os tratamentos (Tabela 6).
48
Tabela 5 - Etapas do delineamento experimental, em que foram comparadas três frações diferentes de
enchimento (FE) dos biorreator (FE60: 60%, FE45: 45%; FE15: 15%) e dois tempos de retenção hidráulica
diferentes - TRH (Alto e Baixo).
Tempo de Fração de enchi- Taxa de Retenção Hidráulica
Tratamentos
cada estágio mento (FE) (TRH)
T1 25 Dias F60 ALTO
T2 25 Dias F60 BAIXO
T3 25 Dias F45 ALTO
T4 25 Dias F45 BAIXO
T5 25 Dias F15 ALTO
T6 25 Dias F15 BAIXO
S0 - Sf
ƞ (%) = ___________ x 100
S0
onde,
ƞ: Eficiência de Remoção DQO, N-NH4+, NO2-, NO3-, P-total e N-total (mg/l);
S0: Concentração Inicial (P2) de DQO, N-NH4+, NO2-, NO3-, P-total e N-total (mg/
l);
Sf: Concentração Final (P3) de DQO, N-NH4+, NO2-, NO3-, P-total e N-total (mg / l).
usando o programa ImageJ 1.52a National Institute of Health, USA. Posteriormente, foi
calculada a porcentagem de células vivas em relação às células mortas.
3.2.4 Estatística
Os dados sobre eficiência de remoção de nutrientes e DQO (ƞ), concentração de
nutrientes (N-NH4 +, NO2-, NO3-, P-total e N-total) nos tanques de peixes (P1) e DQO (P2)
na entrada do o biorreator e as células vivas (%) foram submetidas à análise de variância e as
médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância, utilizando o software
STATISTICA 11 (software de análise de dados), versão 10, StatSoft, Inc. (2011). Os dados
percentuais foram transformados em √P / 100 arco seno para fins de análise, com as médias
originais sendo apresentadas nos resultados.
Tabela 6 - Representação dos resultados da biomassa inicial dos peixes, peso inicial médio dos peixes,
peso final médio e sobrevivência.
TRH: ALTO TRH: BAIXO
Sobrevivência
100 100 98.18 100 100 96.36
(%)
estudo, Schubert et al. (2013) também observaram que, com o crescimento do biofilme, a
concentração de OD diminui rapidamente devido à maior atividade bacteriana. Assim, neste
trabalho, as concentrações de OD foram mantidas acima de 6 mg / L para garantir o oxigênio
necessário à nitrificação.
Tabela 7 - Resultados dos parâmetros físicos e químicos de tempo de retenção hidráulica (TRH), temperatura
(ºC), alcalinidade (mgCaCO3 / L), pH e oxigênio dissolvido (mg / L), medidos diariamente nos diferentes trata-
mentos.
Vazão T Alcalinidade
Tratamentos pH DO (mg/l)
(l/h) (ºC) (mgCaCO3/l)
TR1 293,18± 5,92 24,51±0,76 130,05±5,25 8,06±0,33 6,41±0,82
Tabela 8 - Resultados dos valores de DQO (mg/l) medidos nos diferentes Tratamentos.
DQO (mg/l)
Tratamentos
P2* P3**
TR1 129.78 ± 11.13 116.46 ± 17.59
TR2 144.6 ± 3.06 116.30 ± 12.15
TR3 145.60 ± 2.15 116.46 ± 1.80
TR4 141.10 ± 3.30 124.62 ± 4.24
TR5 143.10 ± 1.09 120.46 ± 1.86
TR6 147.10 ± 2.5 127.79 ± 4.38
*
Entrada do MBBR.
**
Saída do MBBR.
bactérias capazes de crescer mais e com mais estabilidade sob essas condições (Martin-Pascual
et al. 2012; 2014).
Tabela9- Valores médios (± DP) dos parâmetros químicos e biológicos da água ao longo do experimento,
utilizando diferentes tempos de retenção hidráulica (TRH) Alta e Baixa, adicionando diferentes Frações de
Enchimento de mídias (FE) no biorreator (60%, 45% e 15%).
Fração de Enchimento (FE)
Variáveis TRH (L/h)
FE60 FE45 FE15
Alto 37,86 ± 7,35 bA 65,76 ± 8,6 aA 48,96 ± 4,12 bA
N-NH4+ (ƞ %)
Baixo 36,83 ± 3,55 aA 43,98 ± 9,32 aB 35,04 ± 7,98 aB
Alto 32,97 ± 12,27 bB 66,12 ± 3,79 aA 42,46 ± 3,60 bA
NO2- (ƞ %)
Baixo 47,57 ± 6,46 aA 40,78 ± 10,25 aB 37,38 ± 16,37 aA
Alto -5,14 ± 8,96 aB 4,51 ± 11,81 aA -3,29 ± 5,32 aA
NO3- (ƞ %)
Baixo 7,65 ± 10,15 aA 4,34 ± 5,68 aA -10,55 ± 7,28 bA
Alto 0,93 ± 3,58 bB 31,7 ± 11,55 aA 13,33 ± 5,72 bA
N-total (ƞ %)
Baixo 27,21 ± 4,82 aA 35,75 ± 16,87 aA 1,69 ± 6,77 bA
Alto 4,43 ± 8,34 8,33 ± 4,23 4,62 ± 2,56
P-Total (ƞ %)
Baixo 3,42 ± 4,17 4,76 ± 1,32 0,90 ± 1,60
Alto 10,58 ± 7,46 bB 20,01 ± 0,47 aA 15,82 ± 1,24 abA
DQO (ƞ %)
Baixo 19,42 ± 10,12 aA 11,62 ± 4,24 aB 13,14 ± 2,10 aA
Alto 90,45 ± 2,36 a 88,41 ± 2,60 a 73,47 ± 4,65 b
Células Vivas (%)
Baixo 86,88 ± 6,20 a 74,58 ± 3,54 b 73,43 ± 2,81 b
ANOVA two-way
Células
Fatores N-NH4+ NO2- NO3- N-Total P-Total DQO
Vivas
TRH < 0,001 0,1594 0,5708 0,0827 0,0977 0,7153 < 0,001
FE < 0,001 0,0076 0,0188 < 0,001 0,1645 0,8623 < 0,001
TRH x FE 0,0120 < 0,001 0,0445 < 0,001 0,7417 0,0062 0,0018
* Efeito TRH: Representa o efeito dos diferentes tempos de retenção hidráulica nos parâmetros analisados, p<0,05
representa que houve efeito.
** Efeito FE: Representa o efeito das diferentes frações de enchimento de suporte (FE) nos parâmetros analisados,
p<0,05 representa que houve efeito.
*** Interação (TRH x FE): Representa se houve interação entre os diferentes tempos de retenção hidráulica e
fração de enchimento nos dos parâmetros mensurados.
Os dados representam médias ± desvios padrão (n = 5 amostras). Letras minúsculas representam diferenças
significativas entre as três frações de enchimento (FE60, FE45 e FE15) e uma única TRH (Alto ou Baixo). Letras
maiúsculas representam diferenças entre as duas TRH (Alto e Baixo) para uma única FE (FE60 ou FE45 ou FE15).
56
resultado de eficiência de remoção demonstrado na Figura 8D, onde foi observada influência
da FE sobre a eficiência de remoção do nutriente (p<0,05), Pois com FE45 tanto faz a TRH
(baixa ou alta) e a eficiência fica próxima de 35%. Com FE60 e TRH baixa, a eficiência de
remoção foi superior aos demais. Ao utilizar a FE 15% não foi observada diferença significativa
quando se altera o TRH. Provavelmente porque existia pouca área superficial de contato
efluente/bactéria, resultando em uma reduzida eficiência de remoção (Magdum e Kayanraman,
2019) para TRH.
O parâmetro fosforo total (Figura 8E) não sofreu mudanças significativas (p>0,005)
com as alterações nos fatores testados e os valores estiveram próximo de zero. Resultando em
um acúmulo de fósforo no sistema, independentemente dos tratamentos realizados
Os esforços para reduzir as concentrações de fósforo nos sistemas de aquicultura tra-
taram principalmente de melhorar a biodisponibilidade do fósforo na alimentação dos peixes,
pois as rações possuem um teor de fosforo muito elevados (Barak e Van Rijn, 2000). A efici-
ência de remoção do fosforo em RAS é limitada conforme aumentam as concentrações de ni-
trato, normalmente pela ação das bactérias nitrificantes. E o consumo de fosforo total no sis-
tema é mais celerado quando ocorre a desnitrificação com consumo de nitrato por bactérias que
utilizam o fosforo para formação bacteriana (Barak and Van Rijn, 2000)
Para a demanda química de oxigênios (DQO), observada na Figura 8 F. O valor de
eficiência de remoção de DQO em TRH alto com FE60 é inferior as demais frações de
enchimento, em TRH baixo os valores de eficiência de remoção não sofrem alteração na
modificação das FE. Ainda em TRH baixo não foi observada diferença entre as diferentes FE.
58
Figura 8 - Gráfico representando as diferentes comparações entre cada nutriente analisado os tratamentos e as
taxas de eficiência de remoção (%) do biorreator. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas entre os
tratamentos e são comparados apenas dentro de cada nutriente (p < 0,05). Valores expressos em média ± desvio
padrão. Letras minúsculas representam diferenças significativas entre as três frações de enchimento (FE60, FE45
e FE15) e uma única TRH (Alto ou Baixo). Letras maiúsculas representam diferenças entre as duas TRH (Alto e
Baixo) para uma única FE (FE60 ou FE45 ou FE15).
Nas figuras exibidas abaixo (Figura 10) são apresentadas imagens da comunidade
bacteriana presente no biofilme durante os diferentes tratamentos testados. De forma geral
observa-se um biofilme com elevada concentração de micro-organismos ativos em todas as
regiões do biofilme. No entanto, observa-se uma quantidade de micro-organismos com morte
celular.
Durante a observação microscópica, conforme se alterava o foco e o aumento para as
fotomicrografias era observado que havia baixa concentração de bactérias filamentosas, com
exceção do tratamento T6 (TRH Alto e FE 15%) e presença de leveduras, bem como, de
rotíferos e demais protozoários. O biofilme microbiano apresentou considerável variabilidade
na espessura apresentando diferenças em cada região da membrana.
No entanto de acordo com a coloração e a conformação da comunidade bacteriana é
possível observar que nas diferentes fases, as bactérias se comportam de forma diferente para
manutenção das colônias.
Na Figura 10A é apresentado a formação do biofilme quando o biorreator foi
submetido a um TRH alto e uma FE de 60% (T1), nessas condições as células bacterianas
coradas se apresentam com formação mais dispersa e com maior presença de células vivas com
relação as células mortas. Na Figura 10B, onde é representado o biofilme formado em uma
condição de TRH alto e FE de 60% (T2), é observada a presença de aglomerados bacterianos
menos disperso e mais densos, a relação células mortas/vivas se manteve a mesma do
tratamento anterior de aproximadamente 90% de células vivas.
61
O biofilme formado nas mídias submetidas ao tratamento com TRH alta e FE de 45%
é apresentado na
Figura 10 C (T3), e representa a formação de uma colônia que possui células
bacterianas dispersas e alguns grupos formando aglomerados bacterianos. A porcentagem de
células vivas nesse tratamento não apresentou diferença significativa dos tratamentos anteriores
estando próxima dos 90%.
Na Figura 10D com TRH baixo e FE45 (T4), observa-se a presença de poucas bactérias
no total porem com alguns aglomerados em atividade, no entanto a % de células vivas é mais
reduzida que os tratamentos anteriores com 74,58 ± 3,54 %.
Assim como em outros estudos, as colônias bacterianas presentes nos biofilmes dos
MBBR, apresentam uma alta capacidade de readaptação a noivas condições operacionais,
reafirmando a capacidade de reorganização das comunidades constantes (Brown et al., 2013;
Martín-Pascual et al., 2014; Van Duc et al., 2018).
As imagens analisadas do tratamento com TRH alto e FE15 (T5), apresentam poucas
colônias bacterianas dispersas (Figura 10) e com algumas colônias ativas, porém os valores de %
de células ativas também foi mais baixa que os tratamentos anteriores com 73,47 ± 4,65 % das
células em atividade no biofilme, sendo o único tratamento que em vazão baixa possui uma
reduzida porcentagem de células vivas. Da mesma forma em TRH alto e FE15 (T6) o biofilme
(Figura 10F) apresentou comportamento de formação de colônias aglomeradas porem com
reduzida porcentagem de células vivas 73,43 ± 2,81 %. Não diferindo significativamente do
tratamento com TRH alto.
Martín-Pascual et al. (2014) avaliaram diferentes tempos de retenção hidráulica em
MBBR e mostraram que a variável com maior influência no coeficiente de decaimento da
biomassa heterotrófica foi a TRH, ou seja, um aumento da TRH propiciou uma maior
quantidade de bactérias nitrificantes quimioautotróficas. Esse resultado mostrou a
adaptabilidade das bactérias nitrificantes a diferentes condições.
Nas figuras exibidas abaixo (Figura 10) estão apresentadas imagens da comunidade
bacteriana presente no biofilme durante os diferentes tratamentos.
62
3.4 CONCLUSÃO
Os sistemas MBBR estão se disseminando para o tratamento de águas em sistemas de
recirculação, e os estudos sobre o impacto das condições de operação sobre composição e
desempenho da comunidade bacteriana estão ganhando importância na melhoria dos projetos e
otimização dos biorreatores. Os resultados apresentados, mostram que a fração de enchimento
63
de mídias (FE) e o tempo de retenção hidráulico são importantes fatores que influenciam a
estrutura da comunidade bacteriana dos Biofilmes, em um RAS e em escala piloto para cultivo
de tilápia. Esses resultados estão de acordo com trabalhos anteriores vinculando o desempenho
do MBBR a FE e TRH, em termos de remoção biológica de DQO e nitrogênio. Portanto, os
dados apontam que existe uma otimização dos biorreatores em FE e TRH específicos para cada
sistema e fases de operação de um RAS com MBBR. Esse é o primeiro resultado que descreve
os efeitos na qualidade da água variando FE e TRH em RAS.
Agradecimentos
O Autor Agradece ao Laboratório Central de Microscopia Eletrônica - UFSC (LCME)
por imagens de microscopia. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento
001.
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