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ISSN: 0103-1104
revista@saudeemdebate.org.br
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
Brasil
I Professor do Programa de Pós~ RESUMO Neste artigo são apresentados eanalisados três momentos da trajetória
graduação em Psicologia da Pontifícia
dos psicólogos no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir do campo da Saúde
Universidade Católica de Minas Gerais
(PUe Minas); doutor em psicologia da
Mental, no município de Belo Horizonte, Minas Gerais. O primeiro é aqui
rue São Paulo. chamado de implantação, o segundo de antimanicomial e o terceiro de apoio
j lei rc.bhe@terra.com.br matricial. Trabalha-se com revisão de literatura e com documentos da drea.
Conclui-se que o psicólogo na Saúde Mental tem, por um lado, uma firmação
clínica que não o preparava para a opção prioritdria do Programa de Saúde
Mental e, conseqüentemente, sua firmação ocorreu em serviço. Por outro lado, a
ênlase presente em sua firmação para prdticas grupais o capacita para a presente
prdtica matricial.
Stltid~ em Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 18-26. jan./de'L. 2008
FERREIRA NETO, J.L. • Psicologia c saúde menlal: três momentos de uma hisl6ria 19
Quando a psicologia foi reconhecida como profis- dados será um conjunto de documentos produzidos
no decorrer da história mineira e da nacional.
são em 1962, suas três áreas de atuação eram: as psicote-
rapias, dentro do modelo liberal-privado de consultório,
a organizacional e a educacional. A saúde pública ainda
não era tratada como campo de atuação, e após 44 anos
MOMENTO 'IMPLANTAÇÃO' - ANOS 1980
essa situação mudou drasticamente.
Uma pesquisa realizada a partir dos dados do Ca-
O Programa de Saúde Mental foi oficialmente
dastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)
• implantado em Minas Gerais, na Região Mettopolitana
contabilizou 14.407 psicólogos no Sistema Unico de
de Belo Horizonte, em 1984, durante a gestão do go-
Saúde (SUS) em 2006, o que representa 10,08% dos
vernador Tancredo Neves pelo Partido do Movimento
profissionais registrados no Sistema Conselhos de Psi-
Democrático Brasileiro (PMDB). Nesse período, um
cologia (SPINK, 2007). Diversos estudos apontam que a
número expressivo de profissionais de saúde com perfil
crescente presença dos psicólogos na saúde pública no
progressista ocupou posros importantes na Secretaria de
Brasil aconteceu em associação com a reforma psiquiátri-
Estado de Saúde. É importante lembrar que o período
ca e com a criação do campo chamado de Saúde Mental
de abertura democrática no país consolidou uma
(DIMENSfEI , 1998; FERREIRA NETO, 2004).
O objetivo deste artigo é a apresentação de al- { ..} ttitica desenvolvida inicialmente no seio do mo-
guns elementos da história da entrada e do percurso vimento sanittirio, de ocupação de espaços públicos
de poder e de tomada de decisão como forma de in-
dos psicólogos no SUS, a partir do campo da Saúde
troduzir mudanças no sistema de saúde. (AMARANTE,
Mental, no município de Belo Horizonte, Minas 1998, p. 91).
Gerais. As fontes bibliográficas e documentais pesqui-
sadas indicam que a construção desse percurso nesse A chamada Nova República tornou-se o apogeu
município ocorreu em três momentos, marcados por dessa tática de ocupação, quando o movimento sanitário,
características próprias, em que a noção de Saúde juntamente com o da reforma psiquiátrica, se confundiu
Mental sofreu variações quanto a seu sentido e à suas com o próprio Estado.
diretrizes, na direção de sua consolidação e de sua Os antecedentes dessa iniciativa são: o Programa
integração no contexto do SUS. Na década de 1980, Integrado de Saúde Mental (PISAM), proposto na VI
ocorreu o primeiro período chamado de implantaçãO, Conferência Nacional de Saúde, que teve curta duração
seguido pelo antimanicomial e o apoio matricial, entre 1977 e 1979 e, grupos de profissionais isolados
respectivamente nas décadas de 1990 e 2000. Essa atendendo em centros de saúde sem ligação com um
análise histórica abordará com maior atenção a pre- projeto ou programa que organizasse ações em Saúde
sença de duas polaridades que atravessam este campo. Mental.
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de bairro), atendimento à criança e avaliação periódica PISAM, quando a questão do atendimento aos casos gra-
do programa. Apenas no primeiro eixo é mencionada a ves aparece, essa clientela aparece ainda como domínio
necessidade de uma atenção especial aos egressos. Final- da psiquiatria. Somente quando Programa de Ações é
mente, as equipes foram cogitadas para um trabalho de implantado, em 1984, esse quadro começa a se alterar,
'integração' com os hospitais psiquiátricos, no sentido e o momento seguinte 'antimanicomial' consolidará a
de evitar 'internações desnecessárias' (SECRETAIUA DE atuação dos psicólogos aos pacientes graves.
EsTADO DE SAÚDE, 1985, p. 8). Ainda não se falava em Nesse momento, é marcante a preocupação da
substituição do modelo hospitalar. integração da Saúde Mental no contexto geral da saúde
A ênfase nas ações coletivas permanecia: "o aten- e a participação de seus profissionais em ações cole-
dimento em grupos tem lugar privilegiado como forma tivas com outros profissionais do serviço. As práticas
de abordagem das questões de Saúde Mental" (SECRE- de grupo se constituem numa importante diretriz de
TARIA DE ESTADO DE SAÚDE, 1985, p. 7). Aponta ainda trabalho, tendo nos psicólogos um de seus principais
que a intervenção em grupos é um trabalho que exige agentes. Além disso, é preconizado O apoio técnico ao
constante discussão e aprofundamento por parte dos nível primário, estratégia que somente se consolidará
profissionais envolvidos e deve ser acompanhada por no terceiro momento de 'apoio matricial'.
avaliação de seus impactos.
A partir desse período os psicólogos continuam
envolvidos com as práticas coletivas nos programas dos
serviços, mas também começam a receber a clientela MOMENTO 'ANTIMANICOMIAL -ANOS 1990
prioritária do Programa de Saúde Mental e os pacientes
com transtornos graves e persistentes. Como notificado A passagem entre os dois primeiros momenros
no documento, a formação em serviço por meio de su- analisados está atravessada por alguns importantes
pervisões de casos clínicos passa a ser uma prática mais eventos. O primeiro deles, no ano de 1987, foi o II
constante. Além disso, inicia-se o curso de Especializa- Encontro Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental
ção em Saúde Mental, formando os primeiros grupos em Bauru. Nesse encontro foi produzida a consigna por
de psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais da rede, uma sociedade sem manicâmios e instituído o dia 18 de
oferecido pela Escola de Saúde de Minas Gerais (EsMlG), maio como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Os
com forte acento na prática clínica de base psicanalítica psiquiatras já não são mais maioria entre os trabalhadores
lacaniana tendo parte do corpo docente pertencente presentes, grande parte desses são psicólogos. Contando
ao Simpósio do Campo Freudiano, que mais tarde se com a participação de intelectuais de diversas áreas, ela-
tornará Escola Brasileira de Psicanálise. borou-se uma pauta de conceiros para instrumentalizar
Conclui-se que o momento de 'implantação' é por- a luta pela reforma psiquiátrica, visando à autonomia do
tador de algumas características. Anterior à implantação movimento em relação ao Estado. As diretrizes apon-
oficial temos a presença da ação dispersa de profissionais tavam para um caminho de alargamento das fronteiras
de Saúde Mental, com uma concepção genérica desse da luta para uma ação no interior da própria cultura,
campo. No caso dos psicólogos, a ênfase é nos progra- trazendo a discussão sobre a loucura para o cotidiano
mas gerais de promoção da saúde já desenvolvidos e na da sociedade, numa estratégia que ampliava a atividade
atenção clínica voltada à criança. Mesmo no período do puramente assistencial e criava pontes entre as ações no
âmbito do Estado com a sociedade civil. Prevaleceu, centros de referência em Saúde Mental (CERSAM, versão
desde então, um ideário de "desinstitucionalização ou mineira dos Centros de Atenção Psicossocial- CAPS).
da desconstrução/invenção" (AMARANTE, 1998, p. 93), Um importante documento que avalia esse período
induzindo a uma disjunção com O movimento sanitarista foi publicado numa coletânea organizada por técnicos
e sua tática de ocupação da máquina estatal. Desde essa da saúde, com a assessoria do professor Emerson Merhy,
nova direção, seriam visadas alianças com a sociedade sobre a gestão da saúde. O capítulo que nos interessa
civil e os movimentos populares e com as associações de é assinado pela coordenadora do Fórum Mineiro de
usuários e de familiares, em busca da rua, da imprensa Saúde Mental e pela coordenadora da Saúde Mental
e da opinião pública. da SMSA (LOBOSQUE; ABou-YD, 1998). Nesse docu-
Através do segundo evento, em 1989, a reforma men to, inti tulado A cidade e a loucura - en trelaces, o
psiquiátrica assumiu repercussão nacional com a inter- projeto de Saúde Mental é apresentado em uma versão
venção da Secretaria de Saúde do Município de Santos marcadamente antimanicomial, tendo como perspectiva
na Casa de Saúde Anchieta e a seqüen te criação de dis- "a extinção do hospital psiquiátrico" e sua substituição
positivos antimanicomiais na cidade, numa gestão que por outro modelo de atenção (p. 244).
inspirou várias experiências posteriormente conduzidas O texto, que possui uma função de relatório da
por todo O país (AMARANTE, 1998, p. 83). gestão, possui um marcado tom político de ruptura
Finalmen te, no mesmo ano temos a apresentação comparado ao de anteriormente. Essa ruptura é afirmada
ao Congresso do Projeto de Lei 3.657/89 visando re- em pelo menos quatro aspectos. O primeiro deles, de
gulamentar o processo de reestruturação da atenção à cunho mais ideológico e organizacional, era a postulação
Saúde Mental no país, de autoria do depurado federal de uma incompatibilidade com certa vertente do movi-
Paulo Delgado (Partido dos Trabalhadores de Minas mento sanitário com seu acenro nos cuidados primários,
Gerais, PT/MG). em detrimento do tratamento das doenças. Segundo as
Em Belo Horizonte, somente durante a gestão auroras esse modelo sanitarista, considerado autoritário,
municipal do prefeito Patrus Ananias, do PT (1993 é estabelecida uma divisão indesejada
a 1996), a Secretaria de Municipal de Saúde (SMSA)
de Belo Horizonte definiu e conduziu suas ações para r..} nos hospícios, os loucos; nos centros de saúde, os
pequenos desviantes - crianças ditas problemdticas,
priorizar, essencialmente, o atendimento clínico dos
mulheres ditas deprimidas - easprdticaspreventivistas
pacientes graves, impedindo assim que as agendas dos em geral. (1998, p. 245).
profissionais ficassem comprometidas e congestionadas
com a inesgotável demanda espontânea ou encaminha- O projeto propõe o abandono do modelo america-
da de crianças com dificuldade escolar, pacientes com no de psiquiatria comunitária, adotado anteriormente
quadros de ansiedade, aqueles pertencentes à 'clientela pelo Programa da Região Metropolitana de 1985, com
cativa' dos centros de saúde. Nessa gestão, foi nomeado seus níveis primário (rede básica), secundário (serviços
para a SMSA o psiquiatra César Campos, engajado, já especializados) e terciário (hospital), pois valida a perma-
de longa data, com os movimentos de lura contra o nência do hospital no topo do modelo assistencial. Por
aparato asilar. Iniciou-se a construção de dispositivos isso, afirma que os CERSAM "não se caracterizam como
substitutivos ao hospital, os centros de convivência e os serviços intermediários ou secundários" (p. 252), mas
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compõem uma rede de assistência que visa substituir Mental foi o procedimento de garantir a cada paciente,
os hospitais psiquiátricos, sem hierarquizar os níveis antes de sua alta hospitalar, o agendamento de consulta,
de atenção. via Distrito Sanitário, com um profissional de Saúde
O segundo tem componentes de gestão de pessoal, Mental no centro de saúde mais próximo de sua casa. A
uma vez que a coordenação encOntrou certa "oposição organização desse fluxo impediu que os pacientes em alta
por parte de profissionais de Saúde Mental", os quais ficassem sem atendimento ambulatorial e fossem rein-
se mostravam resistentes "a assumir as novas diretrizes ternados após nova crise. Garantiu também a chegada
do trabalho" (LOBOSQUE; ABou-Yo, 1998, p. 253). A dos egressos nas unidades básicas de saúde, rompendo o
proposta aponta uma mudança de foco da atenção das circuito: alta, residência, crise e nova internação.
"crianças robustas e gestantes saudáveis", consideradas Pacientes e familiares passaram a conhecer uma
clientela majoritária das unidades básicas, para os nova possibilidade de atenção profissional, próxima de
psicóticos e neuróticos graves, que passam a ser quali- suas casas. Decorridos alguns anos após esse conjunto
ficados como "prioridades assistenciais" (p. 247). Isso de ações, é possível deduzir que para romper com Ocir-
acarretou, por parte da gestão, uma ação de desestímulo cuito hospitalar não é suficiente somente a implantação
ao atendimento dos casos considerados mais leves, bem de equipes nas unidades, é necessário uma política de
como a presença em grupos de outros programas, como organização do fluxo da demanda. Caso contrário, os
aqueles voltados para "gestantes ou diabéticos" (p. 246). profissionais permaneceriam com sua atividade drenada
O tom depreciativo de avaliação do trabalho em grupos com a clientela cativa do serviço, sem que os egressos se
e da participação em outros programas de promoção da tornassem parte de sua clientela habitual.
saúde, questionável, deve ser entendido a partir desse O quarto aspecto, de caráter ético e técnico, diz
contexto de uma gestão que se compromete com a respeito à concepção de clínica que subsidia um projeto
direção antimanicomial da Saúde Mental. No presente antimanicomial. De um lado, existe o destaque à psica-
momen to o debate se faz no esforço de evitar a dissocia- nálise: "sem a psicanálise, [...] sem a referência que nos
ção entre ações clínicas e de promoção de saúde. inspira, nossas práticas de pensamento e de trabalho não
O terceiro aspecto, de caráter político-adminis- seriam o que são" (LOBOSQUE; ABOu-YO, 1998, p. 249).
trativo, configurou-se como passo fundamental para As autoras reconhecem que a psicanálise usualmente não
garantir a reorganização da assistência a partir das di- está presente em momentos políticos incisivos, sendo,
retrizes antimanicomiais: a nova relação da SMSA com portanto esta uma rara articulação. Ainda é necessário
os hospitais psiquiátricos. Isso envolveu a gestão dos se fazer uma análise mais acurada dos limites e dificul-
hospitais privados conveniados por parte da Secretaria. dades oriundos da hegemonia da psicanálise no campo
Nesse sentido, foram realizadas várias ações visando efe- da Saúde Mental (FERREIRA NETO, 2008).
tivar a desmontagem do aparato manicomial: supervisão De qualquer modo, a contribuição da psicanálise,
hospitalar efetiva nos hospitais privados conveniados isoladamente, não é suficiente para se pensar sobre
ao SUS, proibição de novas internações fora dos dois a atuação na saúde pública. Permanece a dificuldade
hospitais públicos, disponibilização de todos os leitos presente no despreparo para conduzir uma clínica
hospitalares privados conveniados na central de inter- sem setting definido. É necessário, então, desfazer sua
nação municipal. Uma das medidas mais eficazes para colagem com a clínica de consultório, uma vez que os
a organização da nova rede de assistência em Saúde espaços da primeira são múltiplos, ou seja, abordagem
de um pacieme morador de rua, visita domiciliar, etc. atenção à saúde (BRASIL, 2004A). É um movimento de
Isso não se apresema como tarefa simples, uma vez que reorientação do modelo assistencial, operacionalizado
a formação prevalente ainda atende a esse modelo. As mediame a implantação de equipes multiprofissionais
autoras reconhecem que os profissionais não receberam em unidades básicas de saúde, tendo vínculo formal
anteriormeme este tipo de formação e perguntam: com uma parcela da população adscrita. Foi formulado
"quem a recebe, aliás?!" (p. 263). pelo Ministério da Saúde em 1994, mas começou a ser
O texto relata também duas importantes ações implantado, em Belo Horizonte, em 2002 com O nome
extraclínicas desenvolvidas pela Saúde Memal junto à de BH -Vida.
demanda infantil. A primeira foi a criação de fóruns O documen to municipal a ser analisado, datado
regionais de Atenção à Saúde Memal da Criança e do de 2 de julho de 2003, foi imitulado Saúde Mental
Adolesceme, envolvendo variados segmemos, tais como na assistência bdsica (SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE,
os técnicos de Saúde Memal e da educação, membros de 2003), e visava estabelecer parâmetros para as relações
Conselhos Tutelares e de outras instâncias comunitárias, emre o projeto de Saúde Mental e o BH-Vida. Seu
com O objetivo de criar espaços de diálogo e busca de contorno busca atender à função de 'apoio matricial'
soluções na atenção à infância tamo individual quamo preconizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004B).
coletivamente. A ação dos psicólogos nesse processo foi Seu diferencial em relação a outros documentos é sua
de suma relevância. O segundo foi o Projeto Arte na redação conjuma emre a coordenação de Saúde Mental e
Saúde, como postura clínico-política de não psicologizar as gerências de Atenção à Saúde, ainda que a linguagem
as dificuldades infantis, utilizando espaços comunitários e o ideário que ele apresema tenham clara ligação com
com monitores da própria comunidade, desenvolvendo a Saúde Memal.
atividades com crianças, idealizado por uma psicóloga O documento apoma para o desenvolvimento de
de unidade básica. ações "que vão da assistência e da clínica às dimensões
Vemos, portanto, nesse segundo momemo, a psi- relativas à reabilitação/reinserção no mundo do trabalho,
cologia comparecer com suas fraquezas e virtudes. No da cultura, da reprodução social amplà' (p. 2). Discute
âmbito da ação clínica jumo ao pacieme com transtor- também a importância do atendimemo na crise, even-
nos graves e persistemes, havia muito que aprender, o to que alimema o sistema manicomial sem a busca
que ocorreu processualmeme e não sem dificuldades apressada da imernação. Finalmeme, indica o traba-
e resistências. No âmbito das ações extra-clínicas, a lho em equipe como instrumemo para superação do
trajetória da psicologia jumo às crianças, adolescemes e paradigma médico, "alargando competências comuns,
até mesmo jumo ao diálogo imerinstitucional agregou desmomando e reorganizando poderes e saberes esta-
comribuições importames ao projeto. belecidos" (p. 3).
No âmbito da imegração das Equipes de Saúde
Memal (ESM) com as Equipes de Saúde da Família
(ESF), o documento preconiza que as primeiras
MOMENTO 'APOIO MATRICIAL - ANOS 2000
[ ..} priorizarão o atendimento aos portadores de
sofrimento mental grave e persistente e as ESF se
O Programa de Saúde da Família (PSF) é a principal responsabilizarão pelas necessidades clínicas desta
estratégia para reoriemação do modelo assistencial de clientela. (p. 4).
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As ESM continuariam acolhendo outras demandas maneira de evitar dissolver aconteeimentos singulares em uma
mais leves, mas estas seriam atendidas pelas ESF com suposta "continuidade ideal" teleológica (FOUCAULT, 1979, p.
apoio das ESM. Os usuários e familiares devem par- 28). Também cerceia a tentação sempre presente da produção
ticipar da formulação dos projetos terapêuticos, e do de uma versão oficial da 'histórii que, em geral representa
controle e planejamento das ações de Saúde Mental. As uma mitologia constnúda por um grupo hegemônico.
ações de apoio matricial devem realizar a O recorte histórico aqui apresentado, que tem por
eixo a atuação do psicólogo, possui várias hipóteses de
{..} discussão conjunta dos casos entre ESMIESF, como interpretação. Uma delas é que as direções previstas em
fOrma de intercambiar cotidianamente, no trabalho
1984 na implantação do programa, o ideário de inte-
concreto, saberes e competências, bem como, progres-
sivamente, ir delimitando a clientela. (p. 5). gração na saúde geral de prática de apoio às equipes de
saúde e da valorização das práticas grupais, retorna com
Em janeiro de 2008, o Ministério da Saúde aprovou vigor no apoio matricial. Podemos deduzir também que a
a portaria 154, que cria os Núcleos de Apoio à Saúde da ação antimanicomial, que num primeiro momento opôs
Família (NASF), fortalecendo as ações de apoio matricial, a ação clínica às práticas grupais, se configurou como um
através da criação de núcleos multi profissionais, numa momento essencial para garantia do projeto de atenção
composição escolhida entre 13 opções profissionais, com ao paciente grave. O antagonismo 'clínica versus promo-
ênfase nas ações de planejamento, educação continuada, ção' foi estrategicamente necessário para permitir uma
promoção da saúde e atendimento de casos. No caso da conjunção de esforços dos profissionais de Saúde Mental
Saúde Mental deve-se priorizar as abordagens coletivas. na rede, sempre escassos frente à demanda de trabalho.
Recomenda também a presença de pelo menos um pro- Contudo, com a consolidação da assistência ao paciente
fissional de Saúde Mental em cada NASF (DIÁRIO OFICIAL grave, é possível pensarmos em fazer uma agenda de
DA UNIÃO, 2008, p. 39). Na portaria são considerados integração em que ações de promoção caminhem juntas
profissionais de Saúde Mental: psicólogos, psiquiatras e te- com ações clinicas nas práticas de apoio matricial. A Saúde
rapeutas ocupacionais (e não mais os assistentes sociais). Mental é um projeto sempre em movimento, composto
Esse apoio matricial ainda dá seus primeiros passos, por diferentes atores sociais, que em diferentes momentos,
sendo que avaliar seu real impacto necessitará de um têm contribuído para sua contínua reinvenção.
tempo maior. Inicialmente nota-se uma preocupação No caso do psicólogo, encontramos inicialmente as
muito centrada na diminuição e qualificação da demanda deficiências de uma formação clínica baseada num modelo
para a Saúde Mental (SIRlMIM, 2007). Contudo, podemos liberal-privado de consultório, o que não o preparava para
esperar que a aproximação no trabalho cotidiano entre as a opção prioritária do programa. Sua formação se deu,
ESM e as ESF, terá vários outros desdobramentos. portanto, em serviço, através das práticas de atendimento
aliada às supervisões. Sua entrada no SUS transformou
sua concepção de clínica e introduziu novas perspectivas
de clínica ampliada (FERREIRA NETO, 2008).
CONSIDERAÇ6ES FINAIS Mais recentemente, a ênfase presente em sua for-
~ , . .. ~ . ..
maçao para prancas grupals e mtervençoes pSICOSSOClalS
Refletir a partir de estudos hisróricos com enfoques e pode capacitá-lo de modo diferencial para a presente
=ortes variados sobre trajetória da Saúde Mental é uma prática de apoio matricial.
AMARANTE, P. (Org.). Loucos pela vida: a trajetória da SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORlZONTE.
reforma psiquiátrica no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Relatório de atividades de saúde mental em centros de saúde
Fiocruz, 1988. da SMSA. 14 dez. 1984. (Mimeo)
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção básica e a Saúde da ___ o Saúde mental na assistência bdsica. Grupo de
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Recebido: abr.l2008
Aprovado: out.l2008
DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. N. 43, 4/03, 2008, p. 38-42.
Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. n. 78/79/80, p. 18-26. jan./de'L. 2008