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Clínica ampliada em saúde mental:

ARTIGO ARTICLE
cuidar e suposição de saber no acompanhamento terapêutico

Wide-spectrum clinical interventions in mental health:


“care” and “subject supposed to know” in therapeutic assistance

Carlos Estellita-Lins 1
Verônica Miranda Oliveira 2
Maria Fernanda Coutinho 2

Abstract This paper discusses the theme therapeu- Resumo Este trabalho investiga o acompanhamen-
tic assistance (TA), understood as homecare-based to terapêutico, entendido como intervenção em saú-
mental health intervention. We emphasize the im- de mental baseada em cuidados domiciliares. Desta-
portance of community interventions for dealing camos a importância de intervenções comunitárias
with psychic suffering, either through reading the privilegiando formas de lidar com o sofrimento, seja
symptoms based on visibility, or through a psycho- através de uma concepção médica dos sintomas, fun-
analytic approach mainly concerned with listening. dada na visibilidade, seja valorizando uma leitura
Lacking an independent theoretical background to psicanalítica que recorre à escuta. Carecendo de teo-
support this practice, therapeutic assistance makes rização independente que fundamente sua prática, o
use of theories coming from other related fields of AT (acompanhamento terapêutico) apropria-se de
knowledge. Therefore, we discuss the influence of teorias provenientes de outros campos do saber que
psychoanalysis and its role among broad spectrum guardam afinidades. Neste sentido, abordamos a in-
mental health practice through clinical interven- fluência da psicanálise e sua participação na clínica
tions belonging to the field of TA, focusing on two ampliada em saúde mental através da prática clínica
long-range operative concepts: Lacan’s subject sup- do AT, utilizando dois conceitos operatórios de am-
posed to know and Winnicott’s care (or caring pro- plo alcance, que são: sujeito suposto saber, prove-
cess). Both concepts guide the clinical action and niente da obra de Lacan, e cuidado, derivado de Win-
provide answers to theoretical problems within the nicott. Ambos respondem a questões do campo teóri-
TA field. We conclude that TA meets some require- co e orientam a atuação clínica. Concluímos que o
ments of the classical management of transference AT realiza exigências do manejo transferencial sob a
by means of a complex care process developed in the forma do cuidar exercido no cotidiano do sujeito, no
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Departamento de Ensino, daily life and environment of the patient, in which qual desejo e subjetividade são necessariamente re-
Programa de pós-graduação
desire and subjectivity are necessarily recognized conhecidos, sem que se configure como tecnologia
em saúde da criança e da
mulher/ Saúde coletiva, although no psychotherapic setting is intentionally psicoterápica, situando-se mais propriamente como
Instituto Fernandes settled. Therapeutic assistance performs the role of sentinela clínica no campo da psiquiatria comuni-
Figueira, Fiocruz. Av. Rui
an advanced clinical sentinel in the field of commu- tária e saúde coletiva.
Barbosa 716/4o andar,
Flamengo. 22250-020 nity psychiatry and public health. Palavras-chave Cuidado, Acompanhamento tera-
Rio de Janeiro RJ. Key words Home-care, Therapeutic assistance, pêutico, Psicanálise, Psiquiatria comunitária
cefestellita@alternex.com.br
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Psychoanalysis, Community psychiatry
Grupo de pesquisa
Psicalangue, Instituto
Fernandes Figueira, Fiocruz.
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Estelita-Lins C et al.

Raízes comunitárias adquire maior desenvoltura quando


a armadilha da luta de prestígio epistemológico é
Este trabalho investiga a influência da teoria psica- evitada11. Isabelle Stengers, estudando políticas cien-
nalítica no âmbito clínico da saúde mental. A rela- tíficas, fala em “captura conceitual” ao descrever a
ção da teoria e prática psicanalítica com as ativida- potência de divulgação e de persuasão intrínseca a
des de acompanhamento terapêutico (AT) será in- qualquer domínio científico contemporâneo12.
terrogada enquanto caso exemplar, no intuito de Pode-se supor que efeitos desta ordem alinham teo-
esclarecer o sentido desta influência na terapêutica. ria psicanalítica e intervenções em psiquiatria co-
A prática do AT e o lugar da psicanálise não se expli- munitária, fato que ocorre sem a necessária cons-
cam mutuamente. Sua interarticulação, contudo, ciência dos atores sociais envolvidos.
pode ser vista como sintoma de um modo peculiar Como foi mencionado acima, a potência heu-
de conceber a clínica no Brasil contemporâneo1-3. rística da teoria psicanalítica e seu impacto em saúde
Sigmund Freud sugere modificações no “ouro mental dependem de um afastamento estratégico
puro” da técnica da psicanálise visando ao atendi- de questões demarcacionistas ou identitárias por
mento das massas, vaticinando sua repercussão parte dos psicanalistas. Como descreve Mezan13, a
em formas de terapia mental que surgiriam no psicanálise contemporânea padece de tríplice obs-
futuro4. Desde então, é possível reconhecer formas taculização epistemológica – dispersão geográfica,
de atuação ambulatorial e institucional influencia- dispersão doutrinária e dispersão institucional.
das por teorias psicanalíticas. Admitir contribui- Trata-se, portanto, de reconhecer novas perspecti-
ções da psicanálise nos atendimentos da rede pú- vas em relação à transmissão de problemas e con-
blica significa destacar o tratamento de pacientes ceitos da psicanálise, assim como ao ensino e for-
como critério principal5. O AT, embora situado mação em saúde mental.
mais propriamente entre atividades de psiquiatria A experiência do acompanhamento terapêuti-
comunitária, mostra-se bastante representativo co, no Brasil e talvez na Argentina, pode ser consi-
desta questão na atualidade. derada um caminho particular quanto aos resul-
A psicanálise parece formar e informar profis- tados, embora se origine de um campo teórico
sionais de saúde mental no mercado de trabalho/ comum a todas as iniciativas de suporte e inter-
campo profissional das grandes capitais brasilei- venção comunitários (com psicóticos ou não), que
ras a partir dos anos setenta6,7. Isto ocorre de fato tomaram impulso na segunda metade do século
e justifica-se de direito. A legitimidade da influên- XX14,15. Deve-se reconhecer que experiências clíni-
cia psicanalítica provém de sua racionalidade, po- cas centradas na atitude de permanecer junto ao
rém a difusão de seu ensino se deve a aspectos paciente foram absolutamente decisivas para que
sociológicos particulares ao Brasil8 e à Argentina uma mutação profunda na mentalidade de psicó-
contemporâneos9. A teoria psicanalítica tem se logos, médicos e profissionais de saúde fosse efe-
mostrado capaz de responder a algumas questões tuada. Afastando-se do modelo contratual do con-
imanentes ao campo do cuidado intensivo em saú- sultório, ganha importância acompanhar o sofri-
de mental. Meandros da psiquiatria social mere- mento, compartilhar a experiência da loucura, psi-
cem ser revisitados a partir da prática do AT, em cose, angústia e estranhamento16. A antipsiquia-
plena consciência de seus impasses metodológicos tria trouxe vigorosas surpresas com impacto in-
e clínicos oriundos da diversidade de orientações questionável17,18. As investigações pioneiras na Ta-
teóricas, onde a teoria psicanalítica ocupa lugar vistock Clinic (Londres, Reino Unido) com crian-
privilegiado. ças, adolescentes e famílias, incluindo a colabora-
O prestígio na área terapêutica e no campo bio- ção do social work através da psicanálise kleiniana
médico depende de uma inserção no domínio cien- e winnicottiana, constituem outro sólido exemplo
tífico ou pelo menos da capacidade de diálogo e de corajosa inversão do foco de atuação.
colaboração com disciplinas científicas10. A psica- O acompanhamento terapêutico poderia ser
nálise atravessa um século de questionamento cer- situado no contexto da reforma psiquiátrica como
rado sobre seu estatuto epistemológico, enquanto uma modalidade de intervenção em saúde mental
as práticas de acompanhamento terapêutico, su- baseada em cuidados domiciliares, embora alguns
porte, intervenção domiciliar e comunitária perma- o situem entre modalidades psicoterápicas. Esta
necem como um ramo da psiquiatria. O estatuto prática se inicia com o “atendente psiquiátrico” ou
científico de ambas as disciplinas mostra-se pro- “auxiliar psiquiátrico”, continuando sua trajetória
blemático, impondo alguns obstáculos. A despeito através de várias formas de acompanhar psicóticos
da perda de prestígio no campo do tratamento, a visando à recreação, lazer e socialização, como por
interlocução da teoria psicanalítica com práticas exemplo, o “amigo qualificado”, para desembocar
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em formas de cuidado intensivo em saúde mental Deve-se mencionar a noção de reabilitação
que têm sido integradas ao escopo de atuação do como tensão intrínseca ao campo da psiquiatria
AT19. Pode-se afirmar que o AT evolui de um refe- comunitária36-39. Reabilitar pode significar elidir a
rencial antipsiquiátrico em sua origem nos anos perda ou, ao contrário, orientar-se a partir dela.
sessenta, passando por um modelo ligado à refor- Como reintegrar sem elidir conflitos? Como adap-
ma psiquiátrica e à luta antimanicomial, chegando tar sem esconder a cesura da subjetividade ou a
à incorporação de um instrumental psicanalítico divisão da sociedade? Ultrapassar este impasse exige
que prescinde do setting convencional20. A coexis- que se valorizem conceitos operatórios como nor-
tência dessas diferentes experiências e ideais da prá- matividade ou resiliência. O conceito de resiliência,
tica clínica, ao mesmo tempo em que contribui para explorando recursos individuais ocultos que pro-
a constituição de novas imagens do AT ainda em movem saúde e evitam doença, fornece elementos
curso, problematiza sua identidade ou dispersão. para fundamentar intervenções orientadas pela
Ao longo de trinta anos, desenha-se uma traje- reabilitação40,41. O intrincado conceito de norma-
tória. O modelo tradicional de acompanhamento tividade do vivente42,43 apresenta-se como funda-
restringia-se a casos cronificados de psicose reple- mento da capacidade do organismo em produzir
tos de longas internações e diversos tipos de aten- novas normas, revelando que a adaptação deve
dimento infrutífero. A inflexão contemporânea do ser entendida como processo complexo, conflitu-
AT solicita seu papel coadjuvante em urgências e oso e negociado, igualmente na esfera do meio in-
situações críticas em psiquiatria, além de percebê- terno e do meio social44. Deste modo, acreditamos
lo capaz de inestimável contribuição na clínica de que o conceito de normatividade vital pode ser es-
evidente cronicidade21,22 – descompensações da tendido ao domínio da reabilitação, observando-
esquizofrenia e transtorno bipolar do humor23,24, se as exigências erísticas e dialéticas implícitas neste
risco de suicídio25, demência vascular ou Alzhei- tipo de atividade45,46.
mer, quadros organocerebrais, clínica oncológica, Ainda que a reabilitação em saúde mental res-
além da psiquiatria infantil, acompanhando autis- peite a definição do vernáculo, apontando para
tas e deficientes mentais26-29. uma recuperação de algo, aprendemos com Sara-
Aspectos qualitativos são muito relevantes no ceno que este paralelismo esgota-se na medida em
follow-up de um paciente crônico. Necessidades da que uma nova solução não restitui um estado an-
clientela podem ser vistas “sob uma perspectiva dis- terior. Entendemos que intervenções incidindo so-
tinta da sintomatologia clínica”30. A partir de uma bre a deficiência (disability) melhoram efetivamente
descrição sintomatológica, devem-se buscar as vi- o estado de dano de pacientes psiquiátricos, inclu-
vências e a experiência singular do processo de adoe- sive acrescentando algo47. Este autor fala na “ne-
cimento, para além da inércia, rigidez ou implica- cessidade de se encontrar estratégias de ação que
ções de seus conteúdos sintomáticos. O que importa estejam em relação mais real com as variáveis que
no acompanhamento é a forma de lidar com o so- parecem mais implicadas na evolução [dos trans-
frimento que se presentifica. Uma concepção médi- tornos mentais]”48. Quando se pretende a adequa-
ca dos sintomas, fundada na visibilidade31-33, e uma ção de uma coisa com outra, deve-se pensar me-
leitura psicanalítica do Sinthome, recorrendo à es- nos em adequar um indivíduo ao seu meio ambi-
cuta34,35, tendem a ser reunidos pela prática do AT. ente e talvez, mais propriamente, em adequação de
O dia-a-dia, o contexto familiar, social, o lazer sua questão atual (do sujeito) com suas possibili-
vistos de dentro da realidade cotidiana vivenciada dades reais (existência).
nos atendimentos sinalizarão os caminhos a se- Delineia-se uma equação reunindo rotina e exis-
rem percorridos, os objetivos a serem traçados e o tência. O problema da reabilitação situa-se exata-
término do trabalho, constituindo um impulso mente na concepção de cuidado intensivo em saú-
para a reconstrução de uma autonomia de base e de mental. Em medicina interna, cuidado intensi-
para a plena utilização dos recursos e potenciais vo justifica-se por urgência, emergência, instabili-
disponíveis no cotidiano do paciente. Trata-se de dade e crise. Em saúde mental, compreende-se a
reabilitação enquanto reconstrução da existência. psiquiatria comunitária simplesmente enquanto
Esta reconstrução solicita rotinas e ritmos. As ne- prolongamento de cuidados, prevenção secundá-
cessidades psicossociais específicas dos pacientes ria ou terciária extensiva e distendida no tempo,
em reabilitação determinam esta reconstrução, portanto desprovida de urgência. As crises psíqui-
como a capacidade de lidar com problemas cotidi- cas precisam ser reconhecidas, consideradas e abor-
anos, desenvolvimento de auto-estima, habilida- dadas de modo adequado. Deve-se considerar que
des sociais, desenvolvimento de autonomia e prá- a experiência psíquica compreende crises nas quais
tica da cidadania. o nexo temporal torna relevantes noções de inten-
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sidade e intencionalidade além de intenção. O AT escuta diferenciada e o trabalho terapêutico multi-


dispensa cuidados intensivos que respeitam regi- profissional ocupam lugar de destaque57. A inser-
mes de temporalidade imanentes ao caso, ao pro- ção do AT neste debate é esperada. Sua contribui-
blema e à subjetividade envolvida49,50. ção é eminentemente clínica ou prática. Isto se deve
O novo paradigma do cuidado intensivo justifi- ao privilégio das psicoterapias e da psicanálise em
ca soluções teórico-práticas que deslocam o eixo sua organização, sem esquecer seu impacto em
tradicional da intervenção-identidade: home care, saúde coletiva ao situar-se como intervenção em
curta permanência, flexibilidade dos atendimentos, psiquiatria comunitária.
práticas de cuidado, integração e integralidade, no- A discussão pormenorizada sobre o escopo de
madismo clínico, etc. Articulado com novas deman- atuação em psiquiatria comunitária ainda mos-
das, o AT adquire paulatinamente abertura em sua tra-se incipiente na reforma psiquiátrica58. O de-
identidade (ou designação) assim como novas ta- senvolvimento de tecnologias de intervenção do
refas por cumprir. Acreditamos que a força e singu- AT representa significativa contribuição de caráter
laridade do trabalho do acompanhante provêm, técnico. Profissionais de saúde mental, em sua lide
exatamente, de sua identidade precária (profissio- cotidiana com pacientes fora do setting terapêuti-
nal ou institucional), porém flexível. O acompa- co, demandam orientação e organização de uma
nhante terapêutico, que abreviaremos como at (am- práxis em nível distinto das psicoterapias strictu
bas minúsculas), pode desempenhar papéis varia- sensu. Alguns referenciais teóricos provenientes da
dos na relação cotidiana com o paciente, desde se- psicanálise mostram-se úteis na reflexão sobre a
cretário, babá, governanta, “enfermeiro”, “assisten- atuação do AT. Sabe-se que a teoria psicanalítica
te social”, “terapeuta ocupacional”, dama de com- foi importante na renovação das práticas asilares e
panhia, anjo da guarda, indo até onde for possível institucionais, inclusive sob a rubrica de psicotera-
manter a aliança terapêutica. Esta multiplicidade de pia institucional. Mais do que função do prestígio
máscaras revela-se perfeitamente compatível com global da psicanálise, alguns conceitos psicanalíti-
as peculiaridades do trabalho habitual do At e com cos mostram-se diretamente responsáveis pela
as vicissitudes de sua imagem e identidade. operacionalidade transversal do AT. Especialmen-
A intervenção do AT busca a rua, mas também te dois serão considerados aqui – sujeito suposto
o lar/domicílio e o local de trabalho enquanto es- saber e cuidado transicional – pois representam
paços nômades51-53, evitando abordá-los a partir uma renovação da concepção de transferência, que
da polaridade público-privado54. A casa, assim repercute nas práticas de AT e de cuidado institucio-
como a rua, vêm sendo destacadas como áreas de nal ou domiciliar.
reflexão privilegiadas em saúde coletiva. Quando
emoldurados pela intervenção, estes espaços criam
possibilidades substitutivas à internação ou à “pri- Uma longa tradição com a transferência
são” domiciliar para os usuários de saúde mental.
A importância deste deslocamento do espaço tera- A transferência, Übertragung, significa levar algo
pêutico consiste em permitir ao cliente sentir-se de um lado para outro, indicando o processo psí-
novamente integrando um mundo social, através quico de transferir valor. Sua aparição na obra freu-
da convivência com a equipe de AT, com familiares diana está ligada à condensação e ao deslocamen-
e seus pares, exercendo seu direito à cidadania ou to no chamado processo primário dos sonhos, si-
ainda expressando a loucura de modo protegido tuada, portanto, em estreita relação com a signifi-
sem restrição de espaço, o que resulta em formas cação. Os artigos sobre a técnica, redigidos por
privilegiadas de empowerment com impacto em Freud em 1911, realizarão verdadeira canonização
saúde mental55,56. Os muros domiciliares e as pare- deste conceito no âmbito do “laboratório transfe-
des psíquicas devem ser transpostos depois de su- rencial” freudiano59. Como afirma Freud acerca
perado o muro asilar. da transferência: O que são as transferências? São
Com a reforma psiquiátrica brasileira, surgi- reedições, reproduções das moções e fantasias (Re-
ram modelos substitutivos para o “tratamento da gungen und phantasien) que, durante o avanço da
loucura”. A integração do planejamento de saúde análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes,
pública com a saúde mental, iniciada por volta de mas com a característica (própria do gênero) de subs-
1982, foi muito importante. Atualmente, tenta-se tituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico60.
criar hospitais-dia, CAPS e NAPS para suprir de- Experiências psíquicas anteriores são revividas
mandas oriundas da reforma. Estes equipamentos como algo atual, que será projetado na pessoa do
coletivos de saúde mental exigem cuidados extra- psicanalista. Estas transferências operam por subs-
hospitalares, nos quais a atenção aos usuários, a tituição, possuindo o valor de “reedições inaltera-
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das”. Verifica-se neste raciocínio que a repetição e a uma articulação essencial e secreta, ainda que cir-
transferência representam conceitos fundamentais cunstancialmente evidente. O sujeito fica implica-
para a prática psicanalítica, cujo alcance irá influ- do sob a lógica da frase, sob as categorias, perma-
enciar qualquer psicoterapia interpessoal baseada necendo suposto: sub-jectum.
em narrativa, biografia e reconstrução da expe- Este tipo de perspectiva, que distingue clara-
riência de doença. mente a presença do analista de seus efeitos, mos-
Lacan, na Proposição de 9 de outubro, afirma tra-se capaz de privilegiar discursos, deter-se em
que no princípio da psicanálise está a transferên- estruturas e destacar o acontecimento. O conceito
cia, situada de modo privilegiado graças ao anali- de sujeito suposto saber produziu renovações na
sando. Em que consiste efetivamente este conceito? psicanálise em extensão (ou aplicada) que foram
A utilização inconsciente da “pessoa” do psicana- retomadas por reflexões provenientes do campo
lista cumpre uma função imaginária que se articu- psiquiátrico de crítica institucional, constitutivo da
la com a insistência simbólica da resistência do re- reforma psiquiátrica francesa e italiana. As refle-
calcado, Verdrängungswiderstand, oriunda do dis- xões do AT reencontram esta sintonia, sendo be-
curso. Para Lacan, o conceito de sujeito suposto neficiadas pela promessa inerente ao conceito de
saber (SSS) funciona como articulador do campo sujeito suposto saber, mas também limitadas por
problemático derivado da transferência. Como seus impasses. A profunda renovação lacaniana
afirma: “O sujeito suposto saber é, para nós, o do conceito de transferência mostra-se revolucio-
eixo a partir do qual se articula tudo o que aconte- nária, porém, conduz a impasses sempre que o
ce com a transferência”61. Lacan pretende formali- manejo da transferência é esquecido ou corre o
zar de maneira unívoca a totalidade do domínio risco de diluir-se em uma experiência banalizada.
da transferência. A transferência também se presentifica duran-
Uma nova perspectiva em relação à transferên- te a performance do AT, entretanto desprovida do
cia será introduzida a partir dos seminários oito e imperativo de manejar sua dialética, interpretar,
onze62. Esta inflexão, na qual a transferência apare- intervir, realizar um ato ou tampouco tornar algo
ce fundamentalmente como a materialização de uma consciente. Não obstante, seria incompreensível que
operação que se relaciona com o engano, desloca o “os demônios fossem convocados”64 para serem
conceito tradicionalmente técnico de transferência ignorados logo a seguir. Quando Freud discute a
para uma dimensão ontológica e ética. O analisan- existência da transferência e sua resistência corre-
do instala o analista no lugar de “sujeito suposto lata em outras formas de tratamento, afirma pe-
saber”, ocorrendo uma atribuição estrutural de sa- remptoriamente que: Pode-se levantar ainda a ques-
ber. Uma vez organizado este lugar para o sujeito, a tão de saber por que os fenômenos de resistência, de
função pode ser encarnada em quem quer que seja, transferência só aparecem na psicanálise e não em
analista ou não, inaugurando-se a transferência. formas diferentes de tratamento (em instituições, por
Quando Lacan desloca o eixo do conceito de trans- exemplo). A resposta é que eles também se apresen-
ferência para a estrutura de uma não-relação do tam nestas outras situações, mas têm de ser identifi-
sujeito com o saber, ou seja, para o eixo da lingua- cados como tais. Freud acredita que transferências
gem, torna-se possível repensar a dialética do amor negativas são muito comuns nas instituições, dei-
e do ódio, da lembrança e do esquecimento, no xando implícito que há dificuldades insondáveis
sentido de um encontro organizado exclusivamen- em seu manejo. Permanece atual e instigante este
te em torno da fala e não mais definido por pressu- modo de colocar o problema, ainda que indubita-
postos da técnica, do setting ou de uma con-for- velmente concernente às exigências de uma prática
mação psicanalítica ortopédica63. e de uma época.
Nesta (não-)relação, o sujeito suposto saber Muitos autores estudaram o manejo instituci-
não é um indivíduo nem habita a realidade, pois onal ou grupal de questões transferenciais (J. Oury,
nenhum psicanalista poderia pretender represen- F. Tosquelles, G. Pankow, W. Bion entre outros).
tar, ainda que de modo reduzido, um saber que se Uma equipe ou instituição que dispense cuidados
pretenda absoluto. Trata-se de um cabide estrutu- regulares a pacientes provavelmente será capaz de
ral, de um dispositivo para pendurar fantasias, feito suscitar transferências múltiplas ou ainda resis-
de carne e osso, cujas aparas são constituídas por tências e incitações ao ato, que podem ser acolhi-
palavras. Para Lacan, “um sujeito não supõe nada, das pelo grupo enquanto experiência coletiva com-
ele é suposto pelo significante que o representa para partilhada. Aspectos relacionados com a contra-
outro significante”. O sujeito emerge sob alguma transferência demandam, do mesmo modo, uma
coisa, assujeitado. A significação e o psicanalista, escuta transversal que identifique o lugar do sujei-
enquanto suporte da cadeia significante, mantêm to, mas também os efeitos de grupo, seus ecos ins-
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titucionais. Não se trata aqui de pacientes subme- lugar privilegiado de precipitação fantasmática. Por
tidos a um tratamento psicoterápico padrão, mas analogia, diremos que o acompanhamento situa-
de estruturas psicóticas, borderline ou distúrbios se exatamente em uma região de fronteira entre o
do eixo 2 (DSM IV) que provocam efeitos incô- público e o privado. Trata-se de um espaço nôma-
modos no grupo, agindo contra ou a despeito do de quanto à atuação e de um espaço intersticial no
plano de tratamento. que concerne aos acontecimentos fantasmáticos.
Um fenômeno mostra-se corriqueiro durante Em função disto, problemas relacionados com a
a intervenção de AT. Os pacientes designam es- transferência e com a estrutura ternária do incons-
pontaneamente a função cardinal desempenhada ciente emergem de maneira intrincada. O interstí-
pelo acompanhante, atribuindo-lhe alguma iden- cio institucional não é um lugar público de traba-
tidade. A partir deste acontecimento, ocorre no- lho nem um espaço privado, pois seu valor regula-
meação. Esta identidade proposta é buscada nos dor fica suspenso pela indecidibilidade da questão,
acontecimentos inerentes ao cuidar, mas costuma que implica reconhecer aporia entre indivíduo e
apontar para uma história a ser reconstruída. Ad- grupo, relativizando sua distinção habitual. Tudo
mitimos que exista suposição de saber onde há se passa como se a subjetivação, enquanto proces-
fala. A hipótese de instaurar-se alguma forma de so, estivesse envolvida pela intersubjetividade como
transferência na atuação de AT recoloca o proble- modo de individuação.
ma da importância do conceito de transferência A psicanálise foi aplicada a grupos e institui-
para a relação médico-paciente, para qualquer psi- ções de diversas formas, com inspirações e recur-
coterapia interpessoal e especialmente para o de- sos engenhosos e criativos. Paradoxalmente, a tra-
sempenho do AT. O AT deve evitar interferir no dição lacaniana empurrou estas iniciativas para o
tratamento psicoterápico em curso, assim como desuso, embora conceitos como SSS e discurso di-
na relação médico-paciente, necessitando ser cui- rijam-se contra a noção comum de indivíduo ou
dadoso com aspectos transferenciais laterais. pessoa, o que supostamente permitiria uma flexi-
Como mencionamos, o AT atua em grupo, for- bilidade maior nos arranjos transferenciais tran-
mando uma equipe que compartilha um mesmo sindividuais. A atuação do AT permite revisitar-
plano de tratamento e atua em psiquiatria de liga- mos o terreno do pré-individual através de novos
ção. Desde a three bodies psychology de Rickman problemas clínicos.
ou os grupos terapêuticos de Bion, permanecem
sendo tematizados problemas transferenciais en-
volvendo múltiplos atores terapêuticos ou vários Cuidado enquanto novo paradigma
pacientes, através do repertório psicanalítico deri-
vado do manejo da transferência. A relação trans- O cuidado e o lidar – com algo, com alguém, com
ferencial e o inconsciente dos grupos e instituições problemas – constituem uma dimensão prática de
foram exaustivamente tematizados nos últimos compartilhamento da vida cotidiana, que se tra-
anos, gerando soluções tão díspares entre si como duz em atitude de suporte existencial com reper-
a análise institucional, a comunidade terapêutica cussões psicoterápicas insidiosas, mas significati-
(avatar do AT) e a psicoterapia de grupo. René vas. Além de um recorte transversal e da utilização
Kaës, que estudou aspectos psicanalíticos de gru- de um espaço intersticial, no qual o conceito de
po sob múltiplas perspectivas clínicas, parece san- sujeito suposto saber mostra-se legítimo e útil,
cionar a hipótese de um bloco de fenômenos trans- pode-se postular que o AT realiza algumas exigên-
ferenciais de grupo, envolvendo sofrimentos, de- cias do manejo transferencial clássico sob a forma
fesas e fantasias desejantes dirigidos para uma con- do cuidar. Trata-se do cuidado exercido no meio
formação institucional qualquer. ambiente do paciente e no cotidiano do sujeito.
A noção de espaço intersticial institucional65, Referimo-nos a uma forma peculiar e elaborada
por exemplo, permite abordar aspectos dinâmi- de reabilitação, em que desejo e subjetividade são
cos inerentes ao modo peculiar de transferência necessariamente reconhecidos. Partimos da pre-
com que o AT se defronta. René Roussillon destaca missa de que cuidar é sinônimo de tratar67, enfati-
três dimensões no âmbito do efeito de grupo, rela- zando a intervenção humana em sua contradição
cionadas com o espaço material quando este en- com o artifício tecnológico.
contra-se envolvido pelo espaço psíquico: retoma- Desde a reflexão heideggeriana na ontologia
da, depósito e encriptação66. Deste modo, tenta-se fundamental, o tema do cuidado enquanto pré-
descrever a relação que se estabelece entre uma ses- ocupação transcendental68 tem sido paulatinamen-
são psicanalítica e o espaço-tempo efetivo que a te reconhecido na área da saúde. Mostra-se perti-
contêm na esfera pública. O interstício constitui o nente introduzir a questão do cuidado em saúde
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mental e discutir seu estatuto relacionado ao do- jetivos polimorfos ou mesmo pré-subjetivos, o
mínio tecnológico. Observe-se que o campo de dis- cuidar assume suas formas possíveis somente
cussão sobre o cuidar estratifica-se em uma crítica quando a experiência do desejo, da alteridade e a
da tecnologia, especialmente enquanto denúncia questão do compartilhamento encontram-se es-
da ambição de controle que caracteriza a técnica. A boçadas ainda que de modo preliminar. O cuidar
discussão mais rigorosa sobre o cuidado e seu implica compartilhar experiências individuais e
Outro, a tecnologia, encontra sólidas raízes neste sociais. A riqueza da formulação heideggeriana
ponto. Por outro lado, reconhecemos que Heide- assim como winnicottiana está em situar-se antes
gger destaca um cuidar abstrato que fundamenta da gênese subjetiva e da individualidade, permitin-
qualquer atitude empírica de cuidar, desviando- do deste modo abordar fenômenos de indiferencia-
nos do problema clínico mais imediato, seja sob ção, fusão, simbiose psíquica e transicionalidade.
aspecto individual ou coletivo69. Em contraparti- O cuidado é organizado de modo intencional,
da, especialmente em disciplinas do cuidar, como atribuindo intencionalidade subjacente ao outro
enfermagem e psicologia, observa-se uma com- que é cuidado. Quando falamos em intencionali-
preensão do ato de cuidar comum às práticas clí- dade, não estamos nos referindo a um conheci-
nicas em saúde mental, ressaltando como expres- mento a priori, mas à dimensão fenomenológica
sões cardinais deste enquadramento: atenção, en- husserliana, que antecede qualquer conhecimento
gajamento, contenção psíquica e resiliência. de sujeito e objeto. Cuidar do outro pode equiva-
Winnicott opõe uma concepção de tratamento ler tanto a um saber o que fazer com o outro –
(pediátrico, psiquiátrico ou psicanalítico) apoiada cuidado meramente protocolar –, quanto a um
na técnica ou no exercício de uma determinada in- querer-saber, feito de pura disponibilidade, que
tervenção, àquela baseada no “cuidar-curar”. A ex- caracteriza o cuidar-tratar: “Eu cuido de você! Não
periência de necessitar de auxílio em funções ele- porque devo ou preciso, mas porque posso”. Mes-
mentares, de encontrar-se em absoluta dependên- mo que um outro precise ou demande cuidados,
cia esperadas em uma criança, um doente e um existe ali um sujeito a ser cuidado, fato que leva em
idoso é profundamente reorganizadora, do ponto consideração o cuidado-de-si. Assim, constata-se
de vista psicanalítico das relações de objeto mais que existe um manejo no cuidar que deve evitar
arcaicas. De acordo com Winnicott70, esta depen- atitudes que manipulem aquele que é cuidado, que
dência e a necessidade de confiança correlata pro- “sabem o que fazer com ele”, como se, de antemão,
duzem uma forma de regressão significativa, ca- o lugar de quem recebe cuidados fosse pré-orde-
paz de permitir aos pacientes uma retomada do nado e conhecido por aquele que cuida.
processo de maturação anteriormente coartado. Winnicott afirma que qualquer profissional de
Na matriz originária desta forma de cuidar en- saúde precisa ter a capacidade de, através da ima-
contra-se o holding, experiência de ser amparado ginação, penetrar nos pensamentos e nas esperan-
para andar, de receber apoio para não cair e ma- ças do outro. Somente exorcistas, feiticeiros, mé-
chucar-se, de estar seguro no colo, mas que respei- dicos tecnicistas e “curadores-através-de-tratamen-
ta a experiência individual do bebê fomentando sua to” dispensariam estas qualidades. Se não for man-
futura autonomia. Esta concepção psicanalítica do tida esta disponibilidade essencial para o cuidar, o
cuidar admite uma reverberação no manejo trans- AT ficará restrito ao exercício de uma função técni-
ferencial, em sentido clássico, pois acarreta aumen- ca e prática, sob risco de limitar sua atuação ao
to de confiabilidade no plano de dependência críti- cuidado meramente protocolar, fadado ao insu-
co, referido ao meio-ambiente e à transferência71. cesso, não-adesão, iatrogenia ou mesmo vindo a
O cuidar revela-se importante na terapêutica e trazer sofrimento para alguns pacientes. A experi-
no tratamento psicoterápico de pacientes “primi- ência humana supõe dependência e cuidado. Os
tivos”, psicóticos, borderline, em suma, daqueles cuidadores aprendem essa arte no início da vida,
que padecem de perturbações arcaicas nas rela- através do cuidado ministrado pela mãe, ou ainda,
ções objetais precoces72,73. O acompanhamento por mães suficientemente boas, como diria Winni-
organiza-se em torno de algumas funções priori- cott. Todos fomos cuidados por alguém em nos-
tárias exercidas junto ao paciente, seu corpo, seu sas vidas de forma mais ou menos satisfatória.
pathos físico, que certamente variam de caso para Caso exista alguma identidade no AT, ela certa-
caso, sem minimizar a dimensão do cuidado em mente poderá ser construída a partir do cuidado. A
saúde mental. O cuidado reúne várias formas de questão do cuidado permanece subjacente a qual-
intervenções constitutivas do tratamento, fato que quer referencial habitual no campo psicológico, sem
nos leva a conceber esta atividade enquanto inte- que esteja suficientemente esclarecida ou razoavel-
gralmente aberta e multifacetada. Sob regimes sub- mente formulada. Embora o conceito mais claro e
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Estelita-Lins C et al.

evidente de transferência não seja concebido a par- fixada, o analista é chamado a agir com o próprio
tir do cuidado, devemos reconhecer que ele não fica ser. Trata-se de um movimento que antecipa e pode
excluído do trabalho psicanalítico. O laboratório tornar possível o desenvolvimento da transferência
transferencial também envolve a questão do cui- sobre o eixo simbólico75. Este movimento antecipa-
dar. Desde os primórdios da psicanálise, a série da tório que viabiliza a transferência organiza-se a
persuasão-sugestão-hipnose é reconhecida como partir do cuidar, manifestando-se enquanto uma
operando a partir do cuidar (regressão, identifica- dialética entre dependência e confiança.
ção por apoio, imago parental), embora excluindo O AT ocupa um lugar de suposto saber, que se
seus nexos da atualização transferencial. especifica enquanto um suposto saber em cuidar,
A problemática do amor e do desamparo (Hil- introduzindo o acompanhante e o paciente na di-
flösigkeit) traz à tona o cuidar de modo profundo mensão transferencial. É esta relação estabelecida
e radical. Fomos cuidados enquanto bebês, o que entre esse par que possibilita o contexto seguro e
nos permite respeitar o Outro e aceitar a respon- confiável da díade, supondo-se que exista alguém
sabilidade para com o próximo. Desde Freud, quan- que sabe cuidar. Parece-nos inclusive pertinente
do destacamos a relação mãe-bebê como protóti- examinar a concepção de confiança winnicottiana,
po de qualquer relação de cuidado, não podemos construída a partir da transferência, através de uma
deixar de pensar que a forma como uma mãe cui- perspectiva estrutural de suposição de saber.
da de seu bebê é também função do que aquele Seria interessante admitir que uma concepção
bebê representa imaginariamente para ela, de um do Outro em psicanálise, articulada com a noção
diálogo arcaico que se estabelece em bases intensi- de SSS em Lacan, possa ser colocada em paralelo
vas e intencionais. Winnicott demonstra que o cui- com uma perspectiva de intervenção psicanalítica
dado satisfatório da mãe suficientemente boa ca- derivada do cuidar. Como já foi desenvolvido, a
racteriza-se por envolver a experiência de frustra- estruturação do AT detém um saber suposto, que
ção, sempre presente, com um espaço transicional se situa explicitamente a partir do cuidar. Este sa-
ilusório que também será matriz para a ilusão cri- ber em cuidar, desenvolvido no âmbito da saúde
adora do bebê. O próprio Lacan74 reconhece que o mental, aparece tanto para os familiares quanto
cuidado da mãe porta “um interesse particulariza- para o paciente como uma função ou tarefa deter-
do”. Neste sentido, a dimensão do cuidado sempre minada, a partir da qual se prefigura um diálogo
e necessariamente inclui o sujeito a ser cuidado e o clínico repleto de implicações transferenciais.
lugar em que o colocamos.
Condições de imaturidade, doença e velhice tra-
zem consigo uma dependência extrema de cuida- Terapêutica e intervenção
dos, que possuem relevância clínica. Assim, desde ou transferência e cuidado
o início somos – inclusive como acompanhantes
terapêuticos – convocados a cuidar, o que significa Estabelecer uma relação justa entre cuidado, trans-
permitir que alguém dependa de nós. Mas, como ferência e sujeito suposto saber revela-se tarefa
alguém pode se deixar depender ou ser cuidado complexa, ultrapassando os objetivos desta dis-
por alguém estranho, no sentido de que nunca foi cussão. Mostra-se difícil explicitar a hierarquia di-
re-conhecido? O que possibilita tal experiência? nâmica estabelecida entre uma perspectiva que pri-
Certamente a confiança, seja por um lado, cons- vilegia o cuidado como intervenção e outra que
truída a partir da atitude do AT, seja por outro supõe a dialética da transferência-resistência como
lado, sustentada por uma suposição de saber ao motor da terapêutica e princípio heurístico maior.
sujeito. Poucos autores esboçam uma comunica- Permanece uma questão - caso o trabalho do
ção entre o campo estruturalista e a reflexão acerca AT demande o reconhecimento incontornável da
de relações de objeto primitivas. Massimo Recal- transferência, deve-se escolher entre duas hipóte-
cati, ao colocar a hipótese de uma “retificação” do ses: admitir um manejo clínico de grupo para, en-
Outro, tenta abordar as psicopatologias contem- tão, percorrer conjecturas sobre a dimensão insti-
porâneas. Como afirma com precisão: Não é por tucional do AT utilizando um referencial teórico
acaso que a teoria winnicottiana do holding – que psicanalítico tradicional ou, ao contrário, adotar
indica uma operação analítica irredutível àquela da uma visada estrutural que pressuponha forma-
interpretação semântica – se desenvolve no contex- ções discursivas76. Nesse caso, predomina a valori-
to do trabalho clínico com pacientes graves, esqui- zação de uma orientação discursiva na qual quem
zóides ou chamados borderline, excêntricos à clíni- fala importa infinitamente mais do que o destina-
ca clássica da neurose. No holding, que nenhum stan- tário do pedido ou do discurso (uma carta sempre
dard está à altura de reduzi-lo a uma técnica pré- chega ao seu destino, etc.). Utilizando uma fórmu-
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la conciliatória, deveríamos admitir o trabalho ticos poderiam acreditar que foram treinados para
psicanalítico ocorrendo simultaneamente ao cui- este fim, que aprenderam técnicas e foram capazes
dar, sobredeterminando quaisquer atividades pro- de aplicá-las no momento oportuno. Contudo, a
priamente ligadas ao AT. A experiência de AT tende disponibilidade afetiva constitui sua principal ha-
a reconhecer o problema da transferência, admitir bilidade, pois o desenvolvimento de qualquer vin-
a pertinência e o alcance do conceito, esboçando culo terapêutico depende desta disposição.
inclusive respostas provisórias. Ocorre, portanto, Consideramos que a repercussão dos dois con-
algum reconhecimento destes acontecimentos em ceitos psicanalíticos abordados e seus desdobra-
níveis distintos, cabendo à atividade de acompa- mentos possui impacto considerável em saúde
nhamento fornecer um continente e um contorno mental, marcando sua presença no campo da psi-
provisório para a transferência. quiatria comunitária representado pelo AT. A im-
O acompanhamento terapêutico facilita aos portância de conceber e praticar uma clínica am-
pacientes um retorno a condições existenciais per- pliada em saúde mental não somente se beneficia
didas e por conseguinte ambicionadas. Do mesmo da problematização de dicotomias clássicas como
modo, permite que encontrem soluções para pro- indivíduo e sociedade, público e privado, casa e
blemas práticos da vida e das relações interpesso- rua, assim como da necessidade de discutir catego-
ais. A partir do momento em que o paciente admite rias ligadas à saúde mental como alteridade, de-
ser cuidado por alguém, inicia-se uma longa traje- pendência, autonomia e reabilitação.
tória até que possa voltar a ser capaz de cuidar de si Concluímos reiterando que uma grande área
próprio. Se o acompanhamento atinge este objeti- da atuação terapêutica mantém intersecção com o
vo, não se trata meramente de um tratamento bem- domínio discutido, podendo beneficiar-se de seus
sucedido, mas de ter atingido certa qualidade de desdobramentos e problemas. As disciplinas do
cuidados ministrados capaz de facilitar o crescimen- campo da saúde mental tendem a construir um
to individual e viabilizar processos maturacionais. campo problemático comum à medida que se tor-
Enquanto profissionais provenientes de diversas na possível atuar dentro de uma verdadeira atitu-
áreas da saúde mental, os acompanhantes terapêu- de interdisciplinar.

Colaboradores

F Coutinho e VM Oliveira participaram igualmente


de todas as etapas de elaboração do artigo.
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Estelita-Lins C et al.

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