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Karla Carvalho
Karla Carvalho
A presente Monografia foi aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau
de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof. MSc. Rogerio Dultra dos Santos - Orientador
_____________________________________________
Prof. MSc. Camila Cardoso de Mello Prando - Membro
______________________________________________
Prof. Esp. Giovani de Paula - Membro
Ao meu marido Miguel e aos meus filhos Carolina e Caio, que agora
colhem os louros da vitória junto comigo, já que fazem parte desta
conquista. Pelo carinho e compreensão que dispensaram, mesmo quando
estive ausente de suas vidas em busca de meu sonho profissional.
AGRADECIMENTOS
Mário Quintana
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ABREVIATURAS
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO..................................................................................................................14
1 SEGURANÇA PÚBLICA E POLÍCIA NO BRASIL....................................................16
1.1 SEGURANÇA PÚBLICA..............................................................................................16
1.1.1 Origem Remota do Termo ............................................................................................16
1.1.2 História da Segurança Pública no Brasil.........................................................................17
1.1.3 Função.........................................................................................................................22
1.1.4 Estrutura Organizacional...............................................................................................23
1.2 POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA...................................................................25
1.3 POLÍCIA – ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA.....................................................36
1.3.1 Conceito e Modelos de Organização ............................................................................36
1.3.2 Organização Policial.....................................................................................................37
1.3.3 Organização Policial no Brasil.......................................................................................38
1.3.4 Modelo Profissional......................................................................................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................112
REFERÊNCIAS .................................................................................................................117
APÊNDICES.......................................................................................................................120
APÊNDICE A.....................................................................................................................121
APÊNDICE B .....................................................................................................................122
APÊNDICE C.....................................................................................................................123
APÊNDICE D.....................................................................................................................124
ANEXO ...............................................................................................................................142
RESUMO
This study aimed at investigating whether the existence of Community Police allows an
improvement in comfort and public safety in places where they are implemented. The
hypothesis was that when community police are well oriented, implemented and
respected, they bring changes to the community, improving its safety and comfort. This
study was divided into three chapters: the first discusses subjects concerning public
safety and the role of the police force in Brazil; the second describes the community
police service; and, finally, the third chapter reports the data collected in the community
of Grande Forquilhinhas, in the city of São José-SC. In the present study it was found
that community police are of great importance to the community, provided that they
work totether with the police, putting in practice the principles and suggestions offered
by the philosophy community police themselves have. And, thus, with the aid of the
community police, it will be possible to work for improving public safety in the
community, providing its dwellers with a better quality of life.
LISTA DE ABREVIATURAS
art. Artigo
BOPE Batalhão de Operações Especiais
CF Constituição Federal do Brasil
CONSEG Conselho Comunitário de Segurança
CSN Conselho de Segurança Nacional
DSN Doutrina de Segurança Nacional
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FNSP Fundo Nacional de Segurança Pública
GEATs Grupamentos Especiais de Ação Tática
MP Medida Provisória
SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública
SEPLANSEG Secretaria de Ações Nacionais de Segurança Pública
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Portanto, demonstra o texto mencionado acima que não basta o povo ter liberdade
sem ordem, para que obtenha segurança, ou seja, saúde geral. É necessário que o Estado se
faça presente estabelecendo normas, que contenham equilíbrio de todas as ordens,
proporcionando à sociedade segurança, concórdia, união, paz, fortalecendo através destas a
justiça.2
Ainda, Cícero faz uma comparação no que diz respeito a vida privada e a boa
constituição política, pois segundo ele “nada há de mais útil e necessário à vida e aos
costumes do que o matrimônio legal, os filhos legítimos, o culto do lar doméstico, para que
1
CÍCERO, Marcus Túlio. Da República. 5 ed. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 81/82
2
Cf. CÍCERO, Marcus Túlio. Da República. p. 87
17
todos tenham assegurado seu bem-estar pessoal no meio da felicidade comum.”3 Enquanto
que para a sociedade em geral a verdadeira felicidade só será possível se houver uma perfeita
4
constituição política, através de uma República bem organizada.
Diante disso, percebe-se que desde a origem remota da idéia de segurança pública o
Estado tem o dever de manter equilíbrio em todas as suas atividades, proporcionando ao povo
segurança, paz, harmonia, evitando que os mesmos sejam perturbados quanto ao seu bem-
estar pessoal e coletivo.
3
Cf. CÍCERO, Marcus Túlio. Da República. p. 114
4
Cf. CÍCERO, Marcus Túlio. Da República. p. 114
5
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. In:
MORAES, Bismael B. Segurança Pública e Direitos Individuais. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2000, pp-1-22. p. 4
6
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 4/6
18
7
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 6
8
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 7
9
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 5/6
10
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 7
11
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 4/6
12
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade, p. 7/8
19
13
Cf. FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. In: PINHEIRO, Paulo Sérgio.
O Brasil Republicano: sociedade e instituições (1889-1930) – Volume 2. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1997, pp-235/256. p. 242/243
14
FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 243
15
FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 244
20
16
Cf. FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 244/245
17
Missão Francesa ocorreu em 1920 com a contratação de militares franceses, no intuito de repassar
ensinamentos à Força Terrestre brasileira, já que os franceses possuíam uma concepção de guerra estritamente
defensiva. Essa influência atuou sobre os três campos básicos da doutrina – a organização, o material e o
emprego da força terrestre, além de ter refletido positivamente no padrão profissional dos oficiais do estado-
maior, produzindo fértil acervo de publicações sobre tática, serviços em campanha, chefia e liderança. Essa
Missão Francesa durou até o início da década de 40. (Exército Brasileiro. Notícias – Verde Oliva nº 170 e 174.
Disponível em: http://www.exercito.gov.br/01Instit/Historia/Artigos/0011005.htm e
http://www.exercito.gov.br/05Notici/VO/174/eceme.htm. Acesso em 16 jun. 2004).
18
Cf. FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 245
19
FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 245
20
FERNANDES, Heloísa Rodrigues. A Força Pública do Estado de São Paulo. p. 245
21
Com o art. 3º, a, do Decreto-lei acima descrito, torna-se claro que o policiamento das
cidades é de competência das Constituições e Leis estaduais, exceto os casos estabelecidos
pela própria lei.
21
MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 10
22
Cf. MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 10
23
Ato Institucional é a “manifestação do poder constituinte originário, decorrente de governo revolucionário ou
de emergência, encerrando normas de caráter constitucional, apesar de transitórias, sem que haja qualquer
tramitação pelo Parlamento, com o intuito de restabelecer a ordem jurídica, garantindo a soberania nacional e
os Poderes Públicos. É, portanto, ato subsidiário à Constituição de um país”. (DINIZ, Maria Helena,
Dicionário Jurídico – V-1. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 320).
Já o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, “foi o instrumento de uma revolução dentro da
revolução (...). O presidente da República voltou a ter poderes para fechar provisoriamente o Congresso. Podia
além disso intervir nos Estados e municípios, nomeando interventores. Restabeleciam-se os poderes
presidenciais para cassar mandatos e suspender direitos políticos, assim como para demitir ou aposentar
servidores públicos. (...) Estabeleceu-se na prática a censura aos meios de comunicação; a tortura passou a
fazer parte integrante dos métodos de governo. Um dos muitos aspectos trágicos do AI-5 consistiu no fato de
que reforçou a tese dos grupos de luta armada”. (FAUSTO, Boris. História do Brasil. 8 ed. São Paulo: Editora
Universidade de São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2000, p. 480).
24
MORAES, Bismael B. Uma introdução à segurança pública e à polícia brasileira na atualidade. p. 13
22
Após o Regime Militar houve mais uma transição, onde a República do Brasil
assumiu características institucionais mais democráticas através da Constituição Federal do
Brasil de 1988 (CF/88)25 . E, com ela, veio o que mais interessa neste momento do estudo: a
regulamentação da Segurança Pública, conforme dispõe:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III
– polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares
e corpos de bombeiros militares.
1.1.3 Função
25
Para chegar no modelo de Segurança Pública, como é conhecida hoje, o tema passou pelo formato de Doutrina
da Segurança Nacional (DSN) que teve início com a Constituição de 1934. “Desde então os textos de 37, 46,
67 e 69 mantiveram essa instituição aperfeiçoando e estendendo seu conteúdo. É a partir da Carta
Constitucional de 67 que se pode esboçar o quadro evolutivo da DSN no que diz respeito ao Conselho e ao
próprio conceito de Segurança Nacional. A Constituinte de 46, no que se referia ao CSN utilizava a
expressão “defesa do País”, ao passo que na de 67 e na Emenda de 69 essa expressão foi atualizada para
“Política de Segurança Nacional”. No texto de 46 era da competência da União “organizar as Forças
Armadas, a segurança das fronteiras e a defesa externa”, já na de 67 a matéria recebeu outra conotação, onde
cabia à União “Organizar as Forças Armadas, planejar e garantir a Segurança Nacional”, evoluindo,
finalmente em 69 para “planejar e promover o desenvolvimento e a segurança nacional”. (FILHO, Nilson
Borges. Sobre o Sagrado e o Profano: civis e militares na política brasileira – Coleção Ensaios – V-II.
Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2001, p. 75). E por Segurança Nacional se entende: “o conjunto de
instituições nacionais permanentes, destinadas a assegurar a integridade e soberania do Estado contra toda a
23
Estado. Mas, embora a segurança pública seja principalmente dever do Estado, ela não é de
sua exclusividade, conforme preceitua o mesmo artigo constitucional, quando invoca à
população a responsabilidade sobre a segurança pública. Para tanto, a sociedade é co-
responsável nesta empreitada, já que para enfrentar este tipo de problema, deve-se vislumbrar
a possibilidade de uma parceria sólida entre Estado e população, haja vista que o Estado numa
posição solitária provavelmente não conseguirá resolver este tipo de problema.
Há algum tempo percebe-se que a segurança pública vem se tornando provavelmente a
maior preocupação nacional, já que existe uma sensação generalizada de insegurança, em
razão da vida ser o bem maior de todo e qualquer ser humano, e este bem não está sendo
ameaçado somente nas grandes cidades brasileiras, mas na maioria das regiões brasileiras.
Portanto, entende-se por função do Estado, a manutenção da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, isto é, o Estado deve proporcionar a segurança
pública aos seus cidadãos e residentes, visando à garantia e ao desfrute dos respectivos
direitos básicos à vida, à integridade física, à liberdade, à propriedade pessoal e à
inviolabilidade de seu domicílio.26 Como visto, não resta somente proporcionar à sociedade as
necessidades básicas a eles inerentes, é muito mais do que isso. Inclusive, para determinada
camada social nem ao menos estas necessidades básicas são garantidas.
violência estrangeira, e a garantir as demais instituições civis do país, em respeito à lei e à ordem interna”
(SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 740).
26
Cf. BOEHEME, Gerhard Erich. A Reforma da Segurança Pública. Disponível em:
http://www.viaseg.com.br/artigo_040305.htm. Acesso em 05 maio 2004
27
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 740
24
No tocante a ordem pública, convém relembrar o que foi mencionado por Cícero
anteriormente, pois dizia que através da ordem e do equilíbrio do imposto pelo Estado se terá
a verdadeira República, oportunizando segurança, concórdia, união, paz e harmonia.
Vale ressaltar que segurança pública está inserida na ordem pública, de acordo com
Rui César Melo, conforme se verifica
a Segurança Pública é apenas um aspecto ou um dos aspectos daquilo que se entende
por ordem pública; a ordem pública na verdade, constitui-se de três aspectos: a
salubridade pública, a tranqüilidade pública e finalmente a Segurança Pública.
Quero ressaltar que a missão das Polícias Militares no Brasil, insculpida no art. 144
da Constituição Federal, é exatamente a preservação da ordem pública e a polícia
ostensiva. A preservação da ordem pública no seu sentido amplo, compreendendo os
seus três aspectos acima mencionados.28
28
MELO, Rui César. O papel da polícia militar na segurança pública e as garantias fundamentais do indivíduo.
In: MORAES, Bismael B. Segurança Pública e Direitos Individuais. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2000, pp-23/35. p. 24
29
Cf. BRASIL, Constituição Federal. In: CAHALI, Yussef Said (Organizador). Constituição Federal, Código
Civil, Código de Processo Civil. 5 ed. São Paulo: RT, 2003. p. 94/95
25
30
MELO, Rui César. O papel da polícia militar na segurança pública e as garantias fundamentais do indivíduo.
p. 25
31
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2003. p. 6
26
32
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 84
33
BRASIL, Constituição Federal. p. 20
34
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 84
35
Violência é “a ofensa a pessoas e seus bens, protegidos estes pela definição nos tipos penais, qualquer que seja
ela, efetiva ou virtual”. São considerados bens virtuais “os de natureza moral, os chamados danos morais que
podem ferir a auto-estima, o bom nome, a respeitabilidade e outros atributos aos quais é emprestado um valor
considerável”. (ROSA, Felippe Augusto de Miranda. Criminalidade e Violência Global. Rio de janeiro:
Lumem Juris, 2003. p. 15)
36
“Criminalidade é, sobretudo, conduta violenta contra pessoas e seus bens particularizados na lei como bens
juridicamente tutelados. (...) Criminalidade configura condutas juridicamente condenáveis segundo padrões
pré-definidos no sistema vigente, em complementação àquelas valorações já referidas. A anterioridade da lei
penal é condição sine qua non da existência do crime”. (ROSA, Felippe Augusto de Miranda.
Criminalidade e Violência Global. p. 20/24)
37
Primeiro governo, porque mais tarde ela retorna ao posto de Governador do Rio de Janeiro.
27
O momento, na época, era de abertura política, além de não haver mais censura à
imprensa, onde diariamente eram noticiadas as ações ilegais, violentas das forças policiais.
Ocorriam denúncias das arbitrariedades cometidas pelos policiais, com acréscimo de
criminalidade e constantes violações dos direitos humanos.
Com isso, surge como primeira medida do governo, a criação do Conselho de
Justiça, Segurança e Direitos Humanos, por Decreto de abril de 198339 , “com o objetivo de
ser um fórum de reflexão e debates visando assessorar as ações do governo do estado nos
assuntos referentes à segurança pública, atuação policial, justiça e cidadania, além de ser uma
canal aberto à população”. 40
A princípio, quando as medidas do Plano de Desenvolvimento Social foram
adotadas, a população das áreas menos favorecidas (pobres) e as lideranças comunitárias
receberam-na bem, mas, os policiais não, pois estes deveriam agir dentro da lei, respeitando
os moradores da favela e as suas casas. Isto é, ao invés dos policiais invadirem as casas da
população de baixa renda, utilizando a política do “pé na porta”, deveriam adotar medidas
preventivas e políticas sociais nestas áreas menos privilegiada. Em contrapartida, houveram
inúmeras críticas vindas das classes média e alta, além dos políticos mais conservadores.
É de ser relevado a transcrição literal do Plano de Desenvolvimento Social, para uma
melhor compreensão do assunto em tela, conforme o que segue
A mudança da conduta do Governo em relação à comunidade deve começar pelo
respeito aos direitos humanos em todos os níveis, particularmente no que diz
respeito à segurança do cidadão comum. É necessário criar, junto à população, a
consciência do fim da arbitrariedade e da impunidade no que diz respeito às
autoridades estaduais. O cidadão não deve temer a polícia, que será acionada para
protegê-lo e não para reprimi-lo. Não haverá prisões sem flagrante delito e não se
entra nas favelas arrombando portas de barracos, mas ao contrário, a nova
administração vem tentando atuar em colaboração com a comunidade. A
manutenção da ordem pública se fará através do policiamento ostensivo, do diálogo
e da ação política, e o governo garante ao cidadão o direito de se manifestar
livremente.41
38
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 140
39
Este Decreto era válido somente para o Estado do Rio de Janeiro.
40
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 142
41
SENTO-SÉ, João Trajano. Imagens da ordem, vertigens do caos: O debate sobre as políticas de segurança
pública no Rio de Janeiro, nos anos 80 e 90, in Arché Interdisiplinar. Rio de Janeiro: Faculdades Integradas
28
sociais e econômicos da sociedade brasileira. Para o governo o que mais importava era a
questão da educação, pois através desta seria possível reverter as estruturas que provocam os
crimes.42
Oportuno se torna dizer que a política de segurança pública implantada pelo primeiro
governo Brizola visava
o respeito aos princípios dos direitos humanos e a busca de políticas sociais nas
áreas mais carentes, principalmente no campo da educação, com a implantação do
projeto Darcy Ribeiro baseado nos Centros Integrados de Educação Popular – CIEPs
– e, na área de habitação, com o programa “Cada Família um Lote”. Na concepção
do governo, estes programas convergiam de forma articulada para a questão da
segurança. Tratava-se de implementar um modelo de políticas públicas de
segurança, articulando uma séria de intervenções de caráter social que ampliasse o
exercício da cidadania, principalmente para os segmentos mais pobres e vulneráveis
da população.43
Cândido Mendes – Ipanema, nº 19, 1998. Apud. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança:
Entre Pombos e Falcões. p. 142/143
42
Cf. SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general: 500 dias no front da segurança pública no Rio de
Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 110
43
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 144
44
SENTO-SÉ, João Trajano. Imagens da ordem, vertigens do caos: O debate sobre as políticas de segurança
pública no Rio de Janeiro, nos anos 80 e 90, in Arché Interdisiplinar. Rio de Janeiro: Faculdades Integradas
Cândido Mendes – Ipanema, nº 19, 1998. Apud. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança:
Entre Pombos e Falcões. p. 145
45
Conforme informação anterior, a política de segurança pública tende a ser modificada de acordo com o
governo que assume o poder de determinado Estado brasileiro. Até porque, este tema foi de grande
especulação no período de campanha política para o cargo de Governador do Estado, onde cada partido
tentava encontrar uma solução para uma política de segurança pública eficiente.
29
46
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general: 500 dias no front da segurança pública no Rio de Janeiro.
p. 111
47
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general: 500 dias no front da segurança pública no Rio de Janeiro.
p. 111
48
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 144
49
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 149
30
Neste período, Leonel Brizola montou uma equipe de peso para tratar da segurança
pública, já que tinha se tornado um caos maior do que havia deixado em seu governo anterior,
conforme veremos,
O governo Brizola contava em seus quadros com o Vice-governador Nilo Batista,
advogado criminalista reconhecido pela sua militância em favor dos direitos
humanos, e com o Coronel Carlos Magno Nazaret Cerqueira, que assumiu o
comando da Polícia Militar estadual com uma concepção transformadora e a
preocupação com práticas policiais preventivas, que assegurassem direitos e
ampliassem os espaços democráticos do exercício da cidadania. O modelo adotado
no Rio de Janeiro, assim, voltou a privilegiar as medidas preventivas, realçando a
necessidade de levar a presença e os serviços do Estado às áreas carentes. Um bom
exemplo foi a retomada da construção dos CIEPs (Centro Integrado de Educação
Pública, iniciada no primeiro governo Brizola) e dos núcleos de cidadania.50
50
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 152
51
A “ECO 92” foi o nome que os meios de comunicação deram à 2ª Conferência Mundial sobre Mio Ambiente,
patrocinada pela ONU (Organização das Nações Unidas).
52
Apresentado pela Organização das Nações Unidas.
53
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 68
31
54
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 89/90
55
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 153
56
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 154
57
Neste mesmo período, após a ocorrência das tragédias acima descritas, surgiu o Movimento Viva Rio, em
outubro de 1993, que visou unir forças para uma mudança de atitude referente ao tema segurança pública.
Esta união se deu através de lideranças da sociedade civil organizada, representantes da CUT, empresários,
entre outros.
32
58
O Vice-governador Nilo Batista assumiu o governo do Rio de Janeiro no início do ano de 1994, para que o
Governador Leonel Brizola pudesse concorrer às eleições ao cargo de Presidente da República.
59
A Operação Rio aconteceu após um convênio realizado com o governo federal de Itamar Franco (Presidente
da República). E este convênio fez o que a tempos o governo do Rio de Janeiro queria: intensificar o controle
e o patrulhamento das vias aéreas, terrestres e marítimas de acesso ao Rio de Janeiro para combater o tráfico
de armas e de drogas.
60
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 153
61
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 167
62
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 168
33
63
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 170/171
64
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 172
65
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 173
66
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 174/175
67
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 175
34
defesa da dignidade humana e nos princípios de direitos humanos, no que se refere à política
de segurança pública.68
Convém destacar que a equipe do então governador carioca, Anthony Garotinho, era
qualificada, tendo inclusive o sociólogo Luiz Eduardo Soares, o “pai” da nova política de
segurança pública. Esta nova proposta no campo da segurança pública, seriam privilegiadas as
práticas preventivas, mas se estas não fossem suficientes e houvesse a necessidade de uma
ação mais repressiva, esta seria qualificada, conforme bem descreve Luiz Eduardo Soares,
Sempre que a prevenção falhasse e a repressão fosse necessária, que ela fosse
qualificada, isto é, competente, firme, porém cuidadosa, sensível aos limites
impostos pelas leis. Se nossa prática obedecesse a essa norma, os direitos humanos e
civis estariam automaticamente preservados.69
Convém ressaltar que esta proposta exigia uma polícia bem preparada e bem armada,
gerando um pouco de confusão entre a população, conforme o seguinte
Segundo a política proposta, seria fundamental a qualificação de grupamentos
policiais fortes e tecnicamente preparados para uma “repressão qualificada” nos
casos excepcionais. Era o inverso do que o senso comum entende, ou seja, que
somente com operação de tropas fracas se tem uma atuação que evite danos,
violência, mortes e que respeite as leis. Para Luiz Eduardo, seria justamente com a
presença de um grupamento organizado e fortemente armado, combinando força e
inteligência, equilíbrio e técnica, que se conseguiria alcançar resultados dentro da lei
e garantir a observância dos direitos humanos. Para isto, foi proposta a criação dos
Grupamentos Especiais de Ação Tática – GEATs, que seriam treinados pelo
Batalhão de Operações Especiais – BOPE.70
68
Cf. DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 194
69
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general: 500 dias no front da segurança pública no Rio de Janeiro.
p. 109
70
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 195
35
Este Plano Nacional de Segurança Pública, pretendia ser visto como um plano de
ações. E, tinha como seu objetivo
aperfeiçoar o sistema de segurança pública brasileiro, por meio de propostas que
integrem políticas de segurança, políticas sociais e ações comunitárias, de forma a
reprimir e prevenir o crime e reduzir a impunidade, aumentando a segurança e a
tranqüilidade do cidadão brasileiro.71
71
Brasil. Plano Nacional de Segurança Pública. Disponível em: http://www.mj.gov.br/senasp. Acesso em: 09
maio 2004
72
Cf. Brasil. Plano Nacional de Segurança Pública. Disponível em: http://www.mj.gov.br/senasp. Acesso em: 09
maio 2004
73
Brasil. Plano Nacional de Segurança Pública. Disponível em: http://www.mj.gov.br/senasp. Acesso em: 09
maio 2004
74
Cf. Projeto Segurança Pública para o Brasil. Disponível em: http://www.mj.gov.br/senasp. Acesso em 09 maio
2004
36
Posta assim a questão, cabe dizer que a organização tem como finalidade, segundo
Karina Rabelo Leite,
a produção de um bem – material ou simbólico -, através da utilização de energia
humana e não humana. Contudo, uma organização depara-se constantemente com
fatores que lhe são externos, uma vez que não se constitui como uma sociedade. Os
indivíduos nela inseridos desempenham outros papéis que não o relacionado às suas
atividades profissionais. Ocorre, todavia, que tais papéis diversos afetam de várias
maneiras a realização das tarefas na organização.75
75
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário.
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (Mestrado em
Sociologia), Belo Horizonte, 2002. p. 59
37
76
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p 60
77
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p 60
78
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p 14
79
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário.
38
p 14/15
80
Assunto abordado no item 1.2.
81
Decreto Lei número 667. Apud. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação
do policiamento comunitário. p 22
82
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário.
p 22
83
Estes modelos foram retirados da experiência Norte Americana. Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento
e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. São Paulo: IBCCRIM, 2000. p. 19/20
39
polícia, em vista de haver a desvinculação dos partidos políticos (este tema será aprofundado
no decorrer deste item). E por último, aparece a “era comunitária”84 que vem com o intuito de
aproximar a polícia e a sociedade, em virtude de encontrar uma solução dos problemas
criminais locais.85
Segundo Karina Rabelo Leite, o modelo profissional de policiamento se caracteriza
por
uma forte centralização burocrática, pelo estabelecimento de regras para a
coordenação das ações dos membros organizados, pela aplicação de técnicas pré-
estabelecidas de modo a obter a diminuição das incertezas no desenvolvimento das
atividades cotidianas e por um circuito de informações hierárquico – vertical – e
centralizado.86
84
Este assunto será abordado de forma contundente no capítulo seguinte.
85
Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p.
19/20
86
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p 78
87
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento Comunitário. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 2001. Apud. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação
do policiamento comunitário. p 24
88
Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p.
30/32
89
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p 24
40
Não se pode perder de vista que, além do rompimento da relação polícia – sociedade,
e da necessidade de técnica para a atuação de tal função, esta mudança organizacional
concebeu-se “no intuito de isolar a instituição policial de pressões políticas, concedendo-lhe
maior autonomia em relação aos mecanismos de controle externo (administrativos,
legislativos e judiciais) e vinculando suas decisões a critérios estritamente técnicos”90 .
Neste tipo de modelo, as organizações tem como característica fundamental a
eficiência, segundo colaciona Karina Rabelo Leite,
características organizacionais são moldadas sob critérios burocráticos de eficiência,
com clara divisão de trabalho e unidade de comando. A padronização da atividade
policial afasta qualquer incentivo às iniciativas dos policiais, ou seja, qualquer
situação excepcional na consecução das atividades deverá ser resolvida por unidades
especiais e não por meio do discernimento pessoal dos policiais. Ora, como já
mencionado, tal coordenação das atividades de trabalho demanda forte controle da
atividade policial, sob um sistema burocrático centralizador.91
90
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 26
91
LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento comunitário. p.
24/25
92
Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 28
93
Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 34
41
Então, se não existe controle por parte dos superiores sobre as decisões dos policiais
que estão diretamente envolvidos com a população e sobre as funções que os mesmos
exercem, por serem estas muito amplas, torna-se difícil evitar a discricionariedade e as
irregularidades cometidas pelos policiais enquanto atuam longe das vistas de seus superiores.
Entretanto, a intenção do modelo profissional é proporcionar entre a polícia e sociedade
uniformidade, previsibilidade e imparcialidade, impedindo o policial de cometer alguma
discricionariedade.
Por fim, cabe analisar o cometimento de métodos impróprios e arbitrários por parte
de determinados policiais, que dizem cometer atos violentos para intimidar a população e, daí,
manter a ordem pública e a vantagem sobre a sociedade. Vale a pena citar o depoimento de
dois policiais, conforme seguem:
1º policial - Você deve ser forte nas ruas. Senão, eles vão para cima de você e você
pode acabar também entregando a eles a chave da cidade... Quando eu cheguei eu
pensava que era possível ser legal e ainda assim seguir seu caminho. Mas eu
descobri que se você não parecer mau, não falar como mau, e não agir como se
soubesse exatamente o que está fazendo, ninguém jamais fará aquilo que você
disser.
2º policial - Você não pode parecer um escoteiro quando está nas ruas. Você deve
fazer com que eles pensem que de uma hora para outra, no meio da conversa, você
pode explodir suas cabeças.
Esta subcultura policial, como é conhecida pela classe de policiais que cometem
abusos, impedem que a instituição seja aprimorada, pois nem mesmo o alto escalão consegue
influenciar na conduta destes policiais transgressores. Inclusive, há de se destacar que entre os
94
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 34/35
95
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 29
42
próprios policiais existe um acordo para que não venha à tona o que ocorreu em determinada
localidade, já que normalmente os únicos espectadores são o companheiro do policial e a
vítima.96
Em virtude dessas considerações, mostra-se relevante que à eficácia de um sistema
de controle depende de uma boa atuação policial, tanto no que se refere em relação ao respeito
aos direitos da hierarquia policial, seja ele do maior ou menor escalão, quanto do seu
relacionamento com os cidadãos.
96
Cf. DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p.
37/38
2 POLÍCIA COMUNITÁRIA
2.1 CONCEITO
Ainda, para estes autores, o conceito de Polícia Comunitária não se restringe a esta
parceria da polícia e comunidade, pois esta filosofia exige uma mudança comportamental
de toda a corporação policial e funcionários civis, isto é, é importante que todo o
departamento policial ou civil estejam engajados nesta filosofia, para daí obterem os
resultados esperados. Além disso, estes policiais deverão encontrar meios criativos de
expor esta nova filosofia na busca da prevenção, antes mesmo de os problemas
acontecerem ou se tornarem graves.98
Com esta nova estratégia organizacional, os policiais trabalham de maneira
descentralizada, desenvolvendo seu trabalho com mais autonomia e liberdade, pois tendem
a ser solucionadores de problemas locais, haja vista que sua área de atuação é limitada.99
97
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
Tradução Mina Seinfeld de Carakushansky. 2 ed. São Paulo: Editora Parma, 1999. p. 4/5
98
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 5
99
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 5
44
Então, após verificar os conceitos, percebe-se que a base central para a aplicação
deste novo modelo de polícia, é a existência da parceria entre a polícia e a comunidade, no
intuito de identificar, priorizar e resolver os problemas com criatividade, através de novas
estratégias utilizadas pela polícia. Entretanto, observa-se que devem ser tomados certos
cuidados por parte do corpo policial, pois as estratégias serão diferenciadas de acordo com
a necessidade de cada comunidade, já que as diferenças entre elas possam ser inúmeras.
100
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 44
101
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário 3 ed. Porto Alegre: Ediletras, 2001. p. 10
102
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H.; tradução de Ana Luísa Amêndola Pinheiro.
Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do Mundo. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2002, p. 17
103
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H.. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas
através do Mundo. p. 17/18
45
Além disto, para que a polícia consiga desenvolver esta nova forma de trabalho,
ela precisará modificar desde sua estrutura organizacional até sua forma de agir. Pois, de
acordo com Skolnick e Bayley, esta nova filosofia deve ser incutida pelos policiais através
de reflexão no nível tático e estratégias de operação, senão, não estarão fazendo o
verdadeiro policiamento comunitário.
Interessa, a partir destes conceitos, ratificar a importância da participação mais
ativa e coordenada da população neste novo modelo, na questão de segurança pública.
Lembrando que a gestão de segurança é também de responsabilidade da sociedade,
conforme preceitua o artigo 144 da Constituição Federal, onde diz: “A segurança pública,
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação a ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. 104
Esta necessidade de juntar as forças policiais e os cidadãos na tentativa de reverter
o quadro atual da segurança pública, seja ela local ou mundial, surge para suprir uma
lacuna existente desde a época do modelo tradicional, onde se mantém um forte
distanciamento entre os policiais e o público, devido as suas características centralizadoras
e burocráticas. E, a partir desta nova estratégia de polícia comunitária, tem-se a expectativa
de que, além de fortalecer a relação cidadão-polícia, se obtenha, o aumento da eficácia
policial quanto a prevenção e controle do crime. 105
No intuito de situar a polícia comunitária, torna-se necessário que se tenha uma
breve noção histórica de onde surgiram seus primeiros passos, estes que serão descritos a
seguir.
2.2 HISTÓRICO
104
BRASIL, Constituição Federal, p. 20
105
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 11/12
46
106
Os kobans (sistema de policiamento japonês) eram vistos como bases fixas de patrulhamento - recebiam
queixas e solicitações de serviço, realizavam o patrulhamento a pé, de bicicletas, e de patinetes motorizados,
respondendo, quando fosse viável, a chamadas de serviços de emergência e dando atenção especial para a
ligação com a comunidade e para a prevenção do crime. (Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H.
Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do Mundo. p. 89). Os Kobans, localizam-se
normalmente nos locais onde haja grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de serviço,
próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto trabalham equipes compostas por 03 ou
mais policiais, conforme o fluxo de pessoas na área delimitada como circunscrição do posto, funcionando
24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. (Cf. CAVALCANTE NETO,
Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. Encontro Nacional de Polícia
Comunitária, realizado em Brasília/DF, de 13 a 16 de dezembro de 2001. Disponível em:
http://www.estacaodocomputador.com.br. p. 1).
107
É uma casa que serve de posto policial 24 horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua
ausência a esposa atende aqueles que procuram o posto. Localiza-se normalmente nos bairros residenciais e
conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade. (Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel
Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. p. 1
108
Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. p.
1
109
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 52
110
Cf. CAVALCANTE NETO, Miguel Libório. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira. p.
1
47
2.2.2 Brasil
111
SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do
Mundo. p. 57
112
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 60
113
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 53
48
114
Plano Nacional de Segurança Pública. p. 19
115
Cf. OLIVEIRA, Nilson Vieira. Policiamento Comunitário: experiências no Brasil 2000 – 2002. São
Paulo: Página Viva, 2002. p. 16
116
Medida Provisória nº 2.045-2, de 28 de julho de 2000
49
117
LIBÓRIO, Miguel. (Texto baseado em entrevistas feitas em Out/2002 com membros do escalão superior
do SENASP do Ministério da Justiça). Apud. OLIVEIRA, Nilson Vieira. Policiamento Comunitário:
experiências no Brasil 2000 – 2002. p. 16
118
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 71/72
50
Como este trabalho está sendo desenvolvido através de uma pesquisa de campo
sobre a realização prática da Polícia Comunitária no Estado de Santa Catarina, não
poderíamos deixar de apresentar quando e como foi implantada a polícia comunitária neste
Estado.
Em Santa Catarina, a busca de novos modelos ou novos programas para tentar
diminuir a violência e a criminalidade do Estado, surgiu antes da criação do Plano Nacional
de Segurança Pública/ 2000.
Foi em 1995, quando alguns membros da Polícia Militar de Santa Catarina
reuniram-se para procurar novos conhecimentos na tentativa de propiciar uma melhora na
qualidade do serviço de polícia, para a adoção de um programa de qualidade total dentro da
própria Polícia Militar. Após a busca de informações, houve a disseminação destas no meio
policial, para a melhoria dos processos produtivos. Entretanto, havia uma preocupação
quanto a melhoria dos processos produtivos da polícia, pois se a polícia estivesse fazendo
algo errado, os processos produtivos estariam aptos a fazer melhor a coisa errada, o que
acarretaria num prejuízo da qualidade do serviço policial. 120
A preocupação maior destes membros envolvidos no processo, era de que a polícia
não poderia servir apenas como repressora, autoridade máxima, mas
um instrumento de geração de qualidade de vida das pessoas, não pode ser
alguma coisa, algum instrumento de governo seja lá ele qual for de uma ideologia
para subjugar as pessoas, tem que ser uma organização que trabalha na sociedade
para gerar qualidade de vida para essa sociedade, de forma tal que desse trabalho
resulte muito mais felicidade do que infelicidade, embora pela natureza do
serviço, eventualmente nós temos que fazer o uso da força necessária, vindo até a
atingir as outras pessoas até o limite da letalidade.121
Segundo Nazareno Marcineiro, havia algo errado, é era preciso reverter o quadro.
E, para alcançar a qualidade de que a polícia queria, deveria ocorrer uma interação com o
cliente, buscando as suas necessidades e desejos, para que o trabalho policial fosse
119
Folder elaborado pela Coordenadoria Estadual de Polícia Comunitária do Estado de Santa Catarina
120
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). Lages/SC: Comando do 6º Batalhão da Polícia Militar, 06 ago 2004. p.1
121
MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira Carvalho).
p. 1/2
51
122
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 2
123
MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira Carvalho).
p. 2
124
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 3
125
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 3
52
2.3 REESTRUTURAÇÃO
126
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 4
127
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 9
128
LIBÓRIO, Miguel. (Texto baseado em entrevistas feitas em Out/2002 com membros do escalão superior
do SENASP do Ministério da Justiça). Apud. OLIVEIRA, Nilson Vieira. Policiamento Comunitário:
experiências no Brasil 2000 – 2002. p. 18
53
129
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento
comunitário. p 45
130
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do patrulhamento ao policiamento comunitário. p. 88
131
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento
comunitário. p 86
132
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do patrulhamento ao policiamento comunitário. p. 23
54
qual os policiais atuantes neste novo modelo possam tomar decisões nos momentos em que
necessitem, por estarem mais próximos do processo produtivo.133
Com a descentralização das decisões táticas e operacionais, não significa o
afastamento das funções de comando, pois este ainda tem responsabilidade na definição das
estratégias, do acompanhamento da sua execução, e por fim de todas as obrigações
inerentes ao cargo.134
O trabalho dos policiais não se restringe ao controle do crime, mas a ajudar na
“manutenção da ordem, resolução de conflitos, resolução de problemas através da
organização e do fornecimento de serviços e outras atividades que possam atentar contra a
qualidade de vida da comunidade”. 135
Posta assim a questão, é de se dizer que as atividades policiais ganham maior
variabilidade e complexificação. Variabilidade no sentido de surgirem incertezas com
maior freqüência em seu trabalho diário com a comunidade, e complexificação em vista de
tornarem-se as atividades policiais menos rotineiras no desenvolvimento do trabalho
policial, acarretando uma maior dificuldade à padronização dos serviços, uma vez que a
comunidade encontra-se mais presente e atenta aos problemas em sua comunidade.136
Salienta-se ainda que, por motivo do policiamento comunitário ter como
característica essencial o trabalho em parceria com a comunidade, faz com que esta torne-se
“co-produtora da segurança e da ordem, juntamente com a polícia”137. Além disso, há de se
ressaltar que aumenta a responsabilidade da polícia, haja vista que esta deverá encontrar
maneiras apropriadas para engajar a sociedade na manutenção da lei e da ordem. 138
Neste novo modelo de policiamento verifica-se a sua natureza proativa onde “as
respostas da polícia são flexíveis e adequadas às necessidades da comunidade e à natureza
do problema, seja ele crime, seja ele desordem. A polícia procura prever as chamadas
futuras, analisando as causas dos problemas do crime e da desordem local.”139 Esta
133
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento
comunitário. p 86
134
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do patrulhamento ao policiamento comunitário. p. 23
135
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento Comunitário. p. 23
136
Cf. LEITE, Karina Rabelo. Mudanças organizacionais na implementação do policiamento
comunitário. p 87
137
SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do
Mundo. p. 18
138
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 18
139
CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento Comunitário. p. 27
55
140
DORNELLES, João Ricardo W. Conflito e Segurança: Entre Pombos e Falcões. p. 104/106
56
2.4.1 Princípios
141
Em Santa Catarina, por exemplo, os princípios adotados para o policiamento comunitário são: 1. É uma
filosofia cuja base é a comunidade; 2. O foco recai sobre a resolução criativa dos problemas; 3. A polícia
comunitária promove o desenvolvimento da confiança mútua; 4. Estabelece um raio de ação mais
abrangente para o policial; 5. Enfatiza a participação e o envolvimento da comunidade; 6. Antecipa-se e
não é meramente reativa; 7. Presta auxílio onde é necessário; 8. Melhora o policiamento tradicional; 9.
Envolve todo mundo, e, 10. Personaliza o serviço policial. (Folder elaborado pela Coordenadoria Estadual
de Polícia Comunitária do Estado de Santa Catarina)
142
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
9; CF. PERES, Júlio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 20
143
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 9/10
144
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.19
58
que estes devem se preocupar com a busca de novas e criativas maneiras na resolução dos
problemas da comunidade. 145
O policiamento comunitário implica em uma mudança dentro do departamento
que garanta uma maior autonomia (liberdade para tomar decisões) aos policiais
operacionais, o que também supõe um maior respeito por suas idéias como
profissionais de polícia.146
145
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.10
146
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 10
147
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.18
148
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 11
149
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.11; CF. PERES, Júlio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 21
150
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.19
59
Percebe-se que esta filosofia não raras vezes está calcada em atos que levarão
alguns anos para que obtenha determinado resultado, ou seja, se a prevenção ocorre, em
alguns casos, só se perceberá a longo prazo.
Utilizando a experiência norte-americana, a prevenção do crime está baseada na
comunidade, e por esta ser constituída por bairros, a prevenção se dá mediante um
programa de vigilância de bairro, que se dividem em três elementos: o primeiro, pela
vigilância pública, onde as pessoas de determinado bairro ficam atentos aos transeuntes e
veículos suspeitos, repassando em seguida a informação aos policiais; o segundo, trata da
marcação da propriedade em que as pessoas fazem sua identificação pessoal através de
iniciais em seus bens, a fim de desencorajar os ladrões de cometerem algum delito,
possibilitando se recuperado um bem roubado sua fácil identificação e devolução; e por fim
segurança da moradia, onde os policiais se propõem a fazer visitas as casas em toda a área
que atua para fazer recomendações naquilo que o cidadão pode melhorar para sua
152
segurança.
Contudo, há de se verificar que por ter o policiamento comunitário uma filosofia
que visa a prevenção na tentativa de reduzir os crimes da comunidade, não significa que os
policiais comunitários sejam condescendentes com o crime, pois eles continuam
151
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
11/12
152
Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através
do Mundo. p. 19/20
60
respondendo às chamadas e efetuar prisões como quaisquer outros policiais que operam no
sistema tradicional.153
Apresenta-se como quinto princípio, a ética, legalidade, responsabilidade e
confiança, pois após esta nova parceria entre polícia e comunidade pressupõe-se que a
comunidade esteja inserida no processo de tal modo que venha assumindo a
responsabilidade em conjunto com a polícia, ajudando a cuidar de preocupações mais
simples e menores, deixando que o policial se envolva nas questões que requeiram soluções
imediatas ou a longo prazo dos problemas da comunidade. Isto tudo através de métodos que
incentivam a responsabilidade e o respeito mútuo.154
A extensão do mandato policial, como princípio, tem o fim de não se limitar o
trabalho policial a apenas ao papel repressivo tradicional, mas, de uma forma mais
abrangente através da prevenção, já que busca proporcionar às comunidades maior
segurança. Até porque a instituição policial é a única que trabalha diuturnamente em todos
os dias da semana, mantendo a capacidade de responder imediatamente aos incidentes
criminais.155
Outro princípio é a ajuda para as pessoas com necessidades específicas, que
“enfatiza a exploração de novos caminhos para proteger e valorizar as vidas das pessoas
mais vulneráveis, como jovens, velhos, minorias, pobres, deficientes, sem teto”.156
A criatividade e apoio básicos, onde o policiamento comunitário buscará
encontrar soluções criativas para os problemas da comunidade, não se restringindo apenas
nas inovações tecnológicas, mas principalmente no contato com a comunidade. “O
policiamento inocula confiança nas pessoas que estão na linha de frente, juntas na rua, ao
confiar em seu discernimento, sabedoria e experiência, para fabricar novas abordagens
criativas para as preocupações contemporâneas da comunidade”. 157
Ressalte-se para tanto, que o policiamento comunitário não é anti-tecnologia, pois
beneficia-se destas novas tecnologias, tais como sistemas computadorizados de
153
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
16; Cf. SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas
através do Mundo. p. 93/94
154
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
12/13; CF. PERES, Júlio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 20
155
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.13
156
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 13
157
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 14
61
gerenciamento de chamadas, telefones celulares, entre outros, utilizando o tempo livre para
encontrar soluções para os problemas da comunidade.158
Tem-se como penúltimo princípio a mudança interna, que demonstra a
necessidade de mudanças dentro dos departamentos policiais, fazendo com que o
policiamento comunitário tenha uma integração bastante arraigada entre a polícia e a
comunidade, possibilitando além do apoio da comunidade nas realizações do departamento,
o fornecimento de informações e esclarecimentos sobre os problemas da comunidade. Para
que exista um envolvimento maciço dos policiais nesta nova estratégia de policiamento
comunitário, deve levar em média de 10 a 15 anos.159
E, por fim, a construção do futuro, visto que o policiamento comunitário estimula
as pessoas a pensar na polícia como um novo recurso a ser utilizado na tentativa de ajudá-
las a resolver os problemas da comunidade, os quais mudam com o passar do tempo. E que,
esta nova filosofia e estratégia organizacional não podem ser aplicadas e abandonadas, pois
correm o risco de fracassar e não alcançar seus objetivos. 160
Após verificados os princípios, ressalte-se que se seguidos, ou se ao menos forem
utilizados como base, adequando-os com a realidade de cada comunidade, para o
desenvolvimento desta nova estratégia que é o policiamento comunitário, há uma boa
expectativa de sucesso na sua implementação.
158
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
16
159
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.14
160
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
14/15
161
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 6
62
Faz-se necessário analisar-mos cada elemento, destacado acima, para que aja uma
melhor compreensão e entendimento do policiamento comunitário, conforme será descrito.
A filosofia, conforme visto anteriormente, baseia-se na idéia de que a polícia atue
de uma forma mais abrangente, realizando desde o trabalho preventivo e até o repressivo,
além de contar com a ajuda da comunidade na identificação, priorização e solução dos
problemas da comunidade.162 Então, para que esta nova filosofia seja aplicada, é necessário
haver um novo entendimento para o desenvolvimento do papel e da função policial, já que
este terá que atuar sobre o controle do crime e na manutenção da ordem pública. Em
virtude desta nova filosofia a polícia deverá investir em novas estratégias em conjunto com
a comunidade, na adoção de novas políticas e procedimentos para a consecução dos
objetivos emanados da filosofia do policiamento comunitário.163
Theodomiro Dias Neto, traz a filosofia como sendo uma nova filosofia operacional
possibilitando ao policial uma maior compreensão dos problemas vivenciados pelos
cidadãos, através de três características
(1) uma concepção mais ampla da função policial que abrange a variedade de
situações não-criminais que levam o público a invocar a presença da polícia; (2)
descentralização dos procedimentos de planejamento e prestação de serviços para
que as prioridades e estratégias policiais sejam definidas de acordo com as
especificidades de cada localidade; (3) maior interação entre policiais e cidadãos
visando ao estabelecimento de uma relação de confiança e cooperação mútua.164
162
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 6
163
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento Comunitário. p. 110
164
DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana. p. 15
165
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
6/7
63
166
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 7
167
Cf. CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento Comunitário. p. 54
168
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 7
169
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 7
170
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p.
7/8; DIAS NETO, Theodomiro. Policiamento e controle sobre a polícia: a experiência norte americana.
p. 52
171
TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 8
64
172
CF. PERES, Júlio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 21
173
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 12/13
65
174
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 13
175
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 3
66
Por isso, podem ser citados para este fim os seguintes objetivos:
a) Coordenação de estratégias para a solução de problemas específicos da
comunidade; b) Produzir programas de segurança pública comunitária; c)
Intensificar a participação comunitária em atividades de policiamento; d) Proteger
as pessoas, seus bens e atividades, fazendo cumprir a lei com imparcialidade; e,
e) Combater o crime tanto prevenindo como reprimindo os infratores.177
176
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar. p. 4
177
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 34
178
Cf. PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 29
179
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 27
180
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 27/28
67
181
SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do
Mundo. p. 998/100
182
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 28
183
SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do
Mundo. p. 93
68
Talvez um outro ponto que possa ser citado como dificuldade, é de que as pessoas
pensam que o policiamento comunitário seja uma panacéia, isto é, que seja o remédio para
todos os males que ocorrem na sociedade. Entretanto, não é somente o trabalho do
policiamento comunitário que irá resolver todos os problemas de segurança, são necessárias
outras medidas para que se obtenha tal fim, que é a paz e segurança nas comunidades.185
184
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário. p. 28/29
185
Cf. MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho). p. 15
3 CONSELHO COMUNITÁRIO DE SEGURANÇA E PESQUISA DE CAMPO
186
Folder elaborado pela Coordenadoria Estadual de Polícia Comunitária do Estado de Santa Catarina
187
MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho).
188
MARCINEIRO, Nazareno (Tenente Coronel). Entrevista (realizada por Karla de Oliveira
Carvalho).
70
3.1 METODOLOGIA
189
Folder elaborado pela Coordenadoria Estadual de Polícia Comunitária do Estado de Santa Catarina
190
Folder elaborado pela Coordenadoria Estadual de Polícia Comunitária do Estado de Santa Catarina
71
191
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 44
192
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 4 ed. São Paulo:
Atlas, 1999. p. 142
193
Cf. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. p. 142
194
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. p. 170
195
As tabelas não serão apresentadas neste trabalho para que este não fique muito extenso.
72
Esta amostra pode ser definida do tipo não probabilista intencional, onde
segundo Marconi e Lakatos “o pesquisador está interessado na opinião (ação, intenção,
etc.) de determinados elementos da população, mas não representativos dela. (...) O
pesquisador não se dirige à “massa”, isto é, a elementos representativos da população
em geral, mas àqueles que, segundo seu entender, pela função desempenhada, cargo
ocupado, prestígio social, exercem as funções de líderes de opinião na comunidade”. 197
O Conselho Comunitário de Segurança da Grande Forquilhinhas iniciou suas
atividades em 25 de junho de 2003.
O universo pesquisado foi constituído de três grupos compostos por Líderes
Comunitários, membros da Diretoria do Conselho Comunitário de Segurança e Policiais
Comunitários, inseridos nos bairros da área de atuação do Conseg da Grande
Forquilhinhas, sendo eles: Forquilhinhas, São Luiz, Santos Saraiva, Picadas do Sul,
Jardim Pinheiros, Flor Di Nápolis, Sertão do Imaruim, Vila Formosa, Forquilhas, Los
Angeles, Lisboa, Potecas, Jardim das Palmeiras, São Francisco e Área Industrial de São
José.198
Estes grupos encontram-se distribuídos da seguinte forma:
a) Líderes Comunitários – foram entrevistados 44 líderes comunitários da área
de atuação do Conseg da Grande Forquilhinhas. Estes Líderes
196
Líderes Comunitários “são pessoas com grande disposição de ajudar e prestar serviços comunitários,
transformando-se em líderes, passando a representar suas comunidades, através das associações de
bairros, Consepros e instituições religiosas”. (PERES, Julio César Araujo. Policiamento
Comunitário. p. 33).
197
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. p. 54
198
Informação extraída do Estatuto do Conselho Comunitário de Segurança da Grande Forquilhinhas, no
município de São José/SC, conforme anexo.
73
14%
Sim
Não
86%
3%
Convite para reunião
3%
5% Ouviu Falar
Pelo CONSEG
21%
Já participava de conselho
de líderes comunitários
18%
Sim
Não
82%
Através das respostas dos entrevistados, observa-se que 82% disseram que
conhecem ou já ouviram sobre o Conselho Comunitário de Segurança. Verifica-se,
então, que os entrevistados tem menor conhecimento ou informação sobre o Conselho
Comunitário de Segurança, do que sobre a polícia comunitária, conforme Gráfico 1,
embora a diferença entre os dois seja ínfima. Ainda, foi perguntado aos entrevistados de
que forma eles obtiveram a informação sobre o Conselho Comunitário de Segurança.
Portanto, serão analisadas as respostas no Gráfico 4.
Convite para
reunião
8% 8%
Ouviu alguém
falar
19% Divulgação pela
65% mídia
Participava de
grupo anterior
43%
Sim
Não
57%
Atenta-se para o índice de 57% que demonstra a não participação dos Líderes
Comunitários no Conselho Comunitário de Segurança. E, dá-se ênfase a esta resposta
negativa, por ser a participação dos Líderes Comunitários de extrema importância para
o bom desenvolvimento dos trabalhos do Conselho Comunitário, já que aqueles tem
mais conhecimento das necessidades de seu bairro.
Algo que chamou atenção durante as entrevistas, foi a questão de que alguns
entrevistados já fizeram parte do Conselho Comunitário de Segurança, porém saíram
porque não perceberam que o Conselho Comunitário de Segurança estivesse
desenvolvendo um bom trabalho.
Há de ser lembrado neste momento que este Conselho Comunitário de
Segurança da Grande Forquilhinhas está em atividade desde junho de 2003, o que faz
com que seja considerado novo, não tendo tempo para desenvolver grandes trabalhos,
até porque a filosofia de policiamento comunitário utilizado por este Conselho, diz que:
para se obter grandes mudanças na questão de segurança pública, esta deverá acontecer
a médio e longo prazo, ou seja, isto levará de 10 a 15 anos199 , conforme mencionado no
capítulo anterior.
199
Cf. TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como começar.
p.14
78
20%
Não
Sim
80%
11%
Palestra em
escola
Visitas as casas
89%
Dos tipos de orientação recebida, destaca-se que dos que disseram “sim” 89%
alegam ser por palestra em escola, onde o policial além de orientar os funcionários e
estudantes sobre o policiamento comunitário ele aproveita para fazer alguma palestra,
seja sobre a prevenção contra as drogas ou como se comportar no trânsito, sendo
pedestre ou motorista. Os outros 11% são referentes a visitas as casas realizadas pelos
policiais comunitários aos moradores do bairro.
79
Gráfico 8 - A polícia comunitária tem como base central a relação entre a polícia e
comunidade. Você percebe se existe esta relação em sua comunidade?
18%
Não
Sim
82%
Polícia mais
presente na
13% comunidade
13% Através do
disque denúncia
Pergunta 6 – Através desta pergunta quer se verificar como ficou o contato entre a
polícia e a comunidade após a implantação do policiamento comunitário.
2%
Melhorou um pouco
2%
2% Melhorou
5%
5% Melhorou bastante
9%
Ficou pior porque não tem
mais nada na comunidade
Verifica-se nesta pergunta que a maioria das respostas com 73% não percebem
diferença alguma no contato entre polícia e comunidade após a implantação da polícia
comunitária. Entretanto, agrupando todos os resultados que apresentam a melhora como
resposta, independente de seu grau, isto é, se melhorou pouco ou muito, constata-se que
apenas 25% perceberam uma maior aproximação entre a polícia e a comunidade. E por
fim, 2% diz que ao invés de melhorar piorou muito.
A piora a que se referem os entrevistados está diretamente relacionada ao
abandono da comunidade perante a polícia em seu bairro, pois até o posto de polícia que
existia no local foi desativado. Segundo o mesmo, a sorte da comunidade é que o bairro
em questão é um tanto quanto tranqüilo.
O percentual de 73% (gráfico 10) dos entrevistados que não perceberam
mudança referente ao contato entre comunidade e polícia, está confirmado através do
gráfico 8, em que demonstra que 82% dos pesquisados não perceberam a parceria entre
a polícia e a comunidade. Com isto, comprova-se que neste quesito de parceria e contato
entre polícia e comunidade, a grande maioria não percebeu melhora.
82
45%
Não
Sim
55%
Policiais mais
presentes
40% através de
rondas
Redução de
60%
criminalidade
2%
Tráfico de Drogas
3%
6% 1% Roubos
4% 4% Furtos
34%
Ausência de policial
4%
Homicídio
Assaltos
4% Tiroteio
Brigas
9%
Pensões sem alvará
29% Outros
Não tem problemas
Gráfico 14 - Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser
resolvidos primeiro em sua comunidade?
2% Tráfico de drogas
2%
Roubos
2%
2% Assalto
2%
Tráfico de drogas, Roubo
2%
5%
5% Brigas
mais policiamento
7%
71%
Furtos
Roubos e furtos
41%
Sim
Não
59%
Maior presença
4% policial
8% investigações,
4%
prisões
8%
Não respondeu
29%
Sim
Não
71%
Pergunta 2 – Esta pesquisa tem o intuito de instigar entre a diretoria do Conseg se estes
conhecem todos os Líderes Comunitários dentro de sua comunidade.
29%
Não
Sim
71%
Gráfico 19 - Se sua resposta foi negativa na questão 2, o que está faltando para que isto
ocorra?
Participação da
comunidade
Divulgação e
20% entrosamento
40%
Maior integração
20%
dos membros do
20%
Conseg
Maior participação
dos líderes
comunitários
Fonte: Dados do Questionário Conselho Comunitário de Segurança
89
14%
Não
Sim
86%
Percebe-se nas respostas que 86% responderam que não existe nenhuma
interferência externa durante a condução dos trabalhos, enquanto que 14% afirmam
existir interferência externa sobre o Conseg, a qual será demonstra no Gráfico 21.
90
Políticos
100%
Gráfico 22 - A polícia comunitária tem como base central a relação entre a polícia e
comunidade. Você percebe se existe esta relação em sua comunidade?
43%
Sim
Não
57%
De acordo com as respostas acima, 57% percebem que existe a parceria entre
polícia e comunidade, sendo que 43% dos entrevistados dizem não perceber a existência
de tal parceria.
Há de se fazer um comparativo entre as respostas do Gráfico 22 com o Gráfico
8, onde os Líderes Comunitários tiveram a oportunidade de responder sobre o mesmo
assunto. Então, do questionário do Líderes Comunitários observa-se que 82% dos
entrevistados não percebem a existência de parceria entre polícia e comunidade. E,
somente 18% sentem existir tal parceria.
Ocorre, portanto, uma inversão de valores, onde 57% dos membros da diretoria
do Conseg percebem a relação de parceria, enquanto que 82% dos Líderes Comunitários
não percebem a ocorrência desta parceria.
O que se verificará no Gráfico 23 é de que forma os entrevistados perceberam
esta parceria entre polícia e comunidade.
Melhorou
14%
Não mudou nada
43%
43%
Melhorou através
de disque
denúncia e polícia
mais presente
29%
Sim
Não
71%
Redução da criminalidade
Em virtude das respostas acima, percebe-se que 40% alegam ser a melhora da
segurança pública pela redução da criminalidade, enquanto que o agrupamento dos
outros no Gráfico 26 totalizam 60%, sendo que entre eles destaca-se uma maior atuação
da polícia na comunidade.
Vale aqui lembrar os dados apresentados pelos Líderes Comunitários no
Gráfico 12 referente a mesma pergunta, onde os mesmos afirmam que 60% dos
entrevistados consideram que a melhora da segurança em sua comunidade se deu em
razão da maior presença policial através de rondas e os outros 40% alegam ter percebido
a referida melhora pela redução da criminalidade, concordando com os membros do
Conseg.
Pergunta 8 – Esta pergunta foi formulada para verificar quais os problemas relacionados
a segurança pública que existem em sua comunidade, na área de atuação do Conseg.
5% Tráfico de Drogas
10%
35% Roubos
Furtos
25%
Assaltos
25% Vandalismo
Pergunta 9 – O que se pretende com esta pergunta é levantar entre os pesquisados quais
dos problemas mencionados no Gráfico 27 devem ser resolvidos primeiro.
Gráfico 28 - Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser
resolvidos primeiro em sua comunidade?
14%
Tráfico de drogas
Furtos
86%
Dos entrevistados, 86% consideram que o tráfico de drogas deve ser resolvido
primeiro e outros 14% afirmam que os furtos devam ser resolvidos antes de outro
problema.
Compactuam da mesma opinião Líderes Comunitários e Diretoria do Conseg,
nesta questão da resolução dos problemas de segurança pública, quando indicam que o
tráfico de drogas com 71% (Gráfico 14) deve ser resolvido primeiro, enquanto que no
Gráfico 28, 86% apresentam, também, o tráfico de drogas como principal causador de
outros problemas.
14%
Sim
Não
86%
Maior participação
policial
100%
Dos pesquisados que responderam “sim” no Gráfico 29, 100% consideram que
a melhora na segurança de sua comunidade se deu em vista da maior participação
policial.
97
Pergunta 11 – Os entrevistados foram questionados sobre o que eles acham que está
faltando em sua comunidade para que alcancem mais segurança e melhor qualidade de
vida.
Gráfico 31 - O que você acha que está faltando em sua comunidade para que obtenham
mais segurança e melhor qualidade de vida?
Maior participação da
comunidade
Pergunta 12 – O que se quer verificar nesta pergunta é se dos problemas que chegam ao
Conseg, existe alguma dificuldade para seu encaminhamento ou resolução do referido
problema.
29%
Não
Sim
71%
Observa-se que dos entrevistados, 71% responderam que não existe nenhuma
dificuldade no encaminhamento ou resolução dos problemas que são apresentados ao
Conseg, Ao contrário disso, 29% responderam que existe dificuldade para o
encaminhamento ou resolução dos problemas que chegam no Conseg, e estes problemas
estão apresentados no Gráfico 33.
Falta de
integração entre
os membros do
Conseg
100%
25%
Não
Sim
75%
Gráfico 35 – Qual?
Curso de polícia
comunitária
100%
200
Não foi possível obter informações a respeito do curso em tempo.
101
0%
Sim
Não
100%
As respostas desta pergunta foram unânimes, pois todos afirmaram que são
avaliados, e a forma pela qual eles são avaliados será apreciada no Gráfico 37.
Pela própria PM e a
comunidade
Verifica-se que 50% dos entrevistados são avaliados por seus superiores e pela
própria comunidade, seja através do Conseg ou do cidadão comum. Outros 25%
afirmam que são avaliados através de relatórios e atividades do Conseg, e por fim 25%
dizem ser avaliados pelo resultado dos projetos e pelo respaldo que recebem da
comunidade.
102
Gráfico 38 - Você, como policial comunitário, tem tempo suficiente para desenvolver
um relacionamento de confiança mútua com as pessoas da comunidade e para gerar
esforços preventivos?
Sim
50% 50% Não
Observa-se que 50% dos policiais não tem tempo suficiente para criar um
momento de maior aproximação com a comunidade e 50% percebem que tem o tempo
necessário para desenvolver uma relação de confiança mútua com os cidadãos da área
de sua abrangência e até mesmo criar meios preventivos para os problemas da mesma.
A forma que eles percebem esta aproximação com a comunidade está apresentada no
Gráfico 39.
Aqueles que responderam negativamente a pergunta do gráfico 38, alegam a
falta de tempo por trabalharem apenas meio período no comando da polícia
comunitária, e isto dificulta o desenvolvimento das ações e estratégias estipuladas pelo
policiamento comunitário.
103
Há continua
interação dentro
do próprio local de
trabalho
50% 50% Porém não
coincide as vezes
com os horários
da comunidade
25%
Sim
Não
75%
comunitário, e portanto, no Gráfico 41 será demonstrada o que está faltando para que
isto ocorra.
Entretanto, dos Líderes Comunitários entrevistados no Gráfico 6, 80%
responderam que não receberam nenhum tipo de orientação referente a polícia
comunitária. Enquanto que 20% disseram que receberam orientações sobre o assunto de
policiamento comunitário.
Pergunta 5 – Esta pergunta tem a intenção de verificar os que está faltando para que a
comunidade receba orientações a respeito de polícia comunitária.
Gráfico 41 - Se sua resposta foi negativa na questão 4, o que está faltando para que isto
ocorra?
Coincidir horário
com a
comunidade
100%
Pergunta 6 – Esta pergunta foi formulada para saber como ficou o contato entre polícia
e comunidade após a implantação do policiamento comunitário.
105
Melhorou
25%
Existe, porém é
instável
50%
25%
Não mudou muito
pela falta de
divulgação
25%
Sim
Não
75%
Controle,
33% prevenção da
criminalidade
A polícia está
67% muito mais
atuante
Tráfico de Drogas
Roubos
Furtos
7% 7%
30% Ausência de policial
7%
7% Homicídio
7% 14% 21%
Assaltos
Consumo de Drogas
Pergunta 9 – O que se pretende com esta pergunta é averiguar quais dos problemas
mencionados no Gráfico 45 deveriam ser resolvidos primeiro em sua comunidade.
Gráfico 46 - Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser
resolvidos primeiro em sua área de atuação?
Tráfico de drogas
100%
25%
Sim
Não
75%
Há maior
entrosamento
entre polícia e
comunidade
33% 34% Apoio da
comunidade
através do
Disque denúncia
33%
De forma muito
lenta
Contudo, no Brasil, esta participação da comunidade não é tarefa fácil, haja vista
nosso país ter uma cultura individualista e paternalista, dificultando qualquer esforço de
participação comunitária, principalmente no que se refere a segurança pública. Porém, não
há de desanimar, pois mesmo sendo um trabalho lento, que levará alguns anos a se perceber
um resultado, vale a pena tentar, já que se a comunidade permanecer inerte e acomodada, a
segurança pública tenderá a piorar.
A área de atuação do Conseg, já devidamente definida anteriormente, apresenta
características da classe baixa, sendo ratificada pela maioria dos entrevistados, entre os
líderes comunitários e os membros da diretoria do Conselho Comunitário de Segurança, já
grande parte dos policiais entendem ser a população da classe social média. O consenso
entre os entrevistados é que não existem bairros que pertençam a classe social alta.
Vale ressaltar que a comunidade pesquisada adotou a filosofia da polícia
comunitária a pouco mais de um ano, contribuindo o tempo de implementação para a não
consecução de tudo o que prevê o policiamento comunitário, até porque este novo sistema
deixa claro que não se terá a solução de todos os problemas imediatamente, já que a
obtenção de grandes mudanças no quesito segurança pública, deverá acontecer a médio e
longo prazo.
Após a implantação da polícia comunitária em sua comunidade, a maioria da
população não percebeu melhora no relacionamento polícia-comunidade, e isto traz uma
preocupação, haja vista ser a parceria entre polícia e comunidade a base central desta nova
filosofia. E em função disso, também, a grande maioria informou que o contato entre os
mesmos não sofreu modificação.
Outro ponto que chama atenção na pesquisa é de que a população tem necessidade
de sentir e ver a presença dos policiais nas ruas, pois esta presença policial foi um dos
motivos mais relevantes apresentados pela população, em que notaram melhora dos
problemas referentes a segurança pública em seu bairro.
No que se refere ao patrulhamento policial, a estratégia da polícia comunitária
incentiva o patrulhamento a pé, para possibilitar o policial comunitário a conhecer cada
cidadão de seu bairro, através de visitas as suas casas, dentro da área de atuação do
Conselho Comunitário de Segurança. Inobstante isso, a partir dos resultados obtidos na
114
pesquisa, verificou-se que esta estratégia ainda não está sendo utilizada como principal
fonte de aproximação entre polícia e comunidade.
Averiguou-se que os policiais estão tendo autonomia para fazer projetos e
implementá-los na comunidade, fazendo com que a estrutura organizacional da polícia
também esteja sendo alterada. O importante nisto é que, embora em pequeno número, a
população está se comprometendo em conjunto com os policiais na identificação,
priorização e solução dos problemas, além dos policiais estarem tentando encontrar novas e
criativas maneiras na resolução destes problemas.
Ainda, referente aos policiais, percebeu-se que estes estão desempenhando suas
atividades de forma descentralizada e personalizada, embora com dificuldades em razão da
falta de tempo de alguns policiais e pelo pouco tempo de funcionamento do policiamento
comunitário na comunidade da Grande Forquilhinhas.
Há de se ressaltar que esta descentralização não significa abandono por parte da
corporação policial, pois os policiais comunitários enviam relatórios sobre as atividades que
estão sendo realizadas na área de atuação, até porque estes sejam considerados a ponte
entre o cidadão e o departamento de polícia, fazendo parte da estratégia formada a partir da
parceria com a comunidade.
Dos problemas levantados por todos os grupos entrevistados, o tráfico de drogas
foi o mais cotado, e por estes pesquisados, também o tráfico de drogas foi o que mais
recebeu indicação para ser resolvido primeiro, por ser considerado a causa para o
cometimento de outros crimes, como, roubo, furto, entre outros.
Contudo, para resolução destes problemas deve-se identificar onde está a origem
dele, para que se possa fazer projetos para resolver de maneira preventiva, mesmo que o
resultado leve mais tempo que o desejado. Este novo sistema tem como um dos principais
princípios a prevenção dos problemas, e através disto, tem-se que haverá a redução da
criminalidade e da violência da comunidade.
É de ser relevado que o policial ao agir de acordo com este sistema de
policiamento comunitário, visa a prevenção na tentativa de reduzir a criminalidade, porém,
não significa que ele seja condescendente com o crime, pois continua atuando conforme o
sistema tradicional, de forma repressiva, e por isso há uma extensão do mandato policial,
haja vista este atuar de maneira mais abrangente.
115
que atuam nesta área pesquisada, apenas 25% receberam treinamento específico para
desenvolver seu trabalho neste novo sistema que é a polícia comunitária.
Em virtude dessas considerações, verifica-se que o policiamento comunitário na
comunidade da Grande Forquilhinhas está aquém do que prevê o policiamento comunitário,
contudo, há de se voltar na questão do tempo em que está funcionando a polícia
comunitária na região ora estuda, pois isto com certeza influi no desenvolvimento e
resultado dos projetos e trabalhos realizados por esta comunidade.
Em derradeiro, pode-se dizer que o modelo comunitário será de grande valia para a
comunidade, desde que esta se empenhe em conjunto com a polícia, colocando em prática
os princípios e sugestões oferecidas pela própria filosofia que a polícia comunitária possui.
E, com isso, estará se trabalhando efetivamente na busca da melhoria referente a segurança
pública na comunidade, proporcionando melhor qualidade de vida para a população.
REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena, Dicionário Jurídico – V-1. São Paulo: Saraiva, 1998
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 8 ed. São Paulo: Editora Universidade de São
Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 2000
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas,
1999
PERES, Julio César Araujo. Policiamento Comunitário 3 ed. Porto Alegre: Ediletras,
2001
SKOLNICK, Jerome H.; BAYLEY, David H.; tradução de Ana Luísa Amêndola
Pinheiro. Policiamento Comunitário: Questões e Práticas através do Mundo. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002
SOARES, Luiz Eduardo. Meu casaco de general: 500 dias no front da segurança
pública no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2000
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
5 – A polícia comunitária tem como base central a relação entre polícia e comunidade.
Você percebe se existe esta relação em sua comunidade? ( ) Sim ( ) Não
De que forma?__________________________________________________________
9 – Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser
resolvidos primeiro em sua comunidade?
______________________________________________________________________
10 – Os problemas de segurança de sua comunidade melhoraram ou foram resolvidos
em vista da atuação policial? ( ) Sim ( ) Não
De que forma? __________________________________________________________
QUESTIONÁRIO – CONSEG
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
Idade: ( ) menos de 20 anos
( ) de 20 a 25 anos
( ) de 26 a 30 anos
( ) de 31 a 35 anos
( ) de 36 a 40 anos
( ) mais de 40 anos
3 – Se sua resposta foi negativa na questão 2, o que está faltando para que isto ocorra?
______________________________________________________________________
5 – A polícia comunitária tem como base central a relação entre polícia e comunidade.
Você percebe se existe esta relação em sua comunidade? ( ) Sim ( ) Não
De que forma? __________________________________________________________
9 – Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser
resolvidos primeiro em sua comunidade?
______________________________________________________________________
11 - O que você acha que está faltando em sua comunidade para que obtenham mais
segurança e melhor qualidade de vida?
______________________________________________________________________
12 – Existe algum tipo de dificuldade para o encaminhamento ou resolução de problema
que vem ao conhecimento do Conseg? ( ) Sim ( ) Não
Qual seria? _____________________________________________________________
QUESTIONÁRIO – POLICIAIS COMUNITÁRIOS
Sexo: ( ) Masculino
( ) Feminino
5 – Se sua resposta foi negativa na questão 4, o que está faltando para que isto ocorra?
_________________________________________________________________________
9 – Dos problemas acima expostos, quais os que você considera que devam ser resolvidos
primeiro em sua área de atuação? ______________________________________________
“Bom, talvez para a gente poder falar do princípio da idéia de Polícia Comunitária, tem que
se reportar ao ano de 1995, quando eu estava na Coordenação do Centro de Estudos
Superiores, no Centro de Ensino da Polícia Militar, e fui convidado pelo então Tenente
Coronel Zinaldo José Guizi, para com ele compor uma equipe para buscar conhecimentos e
fazer a melhoria da qualidade do serviço de polícia, para adotar o programa de qualidade
total dentro da Polícia Militar. E daí nós fomos, começamos a buscar informações
participamos logo em seguida de um curso ministrado pela Fundação Serte e começamos a
participar das reuniões do Governo do Estado para entender um pouco melhor o que seria
qualidade o que a gente poderia fazer de qualidade total no serviço público. E iniciamos
todo um trabalho então de busca de informações e de seminação dessas informações em
nosso meio e de orientação para melhorias dos processos produtivos. Aí, chegou um
determinado momento, quando o Cel. Guizi já tinha saído da coordenação e tinha ido para a
Chefia do Estado Maior e eu assumi a coordenação estadual da polícia de qualidade total, e
eu estava pensando comigo... se nós melhorarmos os processos produtivos da polícia,
otimizarmos os processos produtivos da polícia, se nós estivermos fazendo a coisa errada,
nós vamos tornar os processos produtivos aptos a fazerem melhor a coisa errada, o que
decorreria num prejuízo da qualidade de nosso serviço. Coincidentemente nesta ocasião eu
estava lendo um livro denominado “Vigiar e Punir” de Michel Foucalt, que fala muito
sobre essa idéia da repressão, do supliciar o corpo para fazer o rei, se manter como a
autoridade máxima, e eu pensava comigo ... ora eu quero... a polícia não pode servir para
isso, a polícia tem que ser um instrumento de geração de qualidade de vida das pessoas, não
pode ser alguma coisa, algum instrumento de governo seja lá ele qual for de uma ideologia
para subjugar as pessoas, tem que ser uma organização que trabalha na sociedade para gerar
qualidade de vida para essa sociedade de forma tal que desse trabalho resulte muito mais
felicidade do que infelicidade, embora pela natureza do serviço eventualmente nós temos
que fazer o uso da força necessário vindo até a atingir as outras pessoas até o limite da
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letalidade. Mas isso tem que ser legitimado no meio social, as pessoas tinham que dizer
assim: não, a polícia tinha que fazer isso mesmo, não tinha outro jeito. E o que acontecia no
Brasil não era bem isso. Eventualmente nós praticávamos uma ação que agradava as
pessoas, na grande maioria das vezes as pessoas diziam: a polícia, meu Deus, não quero
nem chegar perto. Tinha alguma coisa errada, era preciso reverter o quadro e se
quiséssemos qualidade nós tínhamos que interagir com o cliente, nós tínhamos que buscar
as necessidades e desejos dos clientes para praticar o nosso trabalho a partir disso. Então
em decorrência da idéia de Michel Foucalt é vamos focar o cliente em nosso trabalho. O
que é focar o cliente para a polícia? E quem é o cliente? É preciso definir isso também, que
é toda uma conjuntura aí interessante, nós discutimos, trabalhamos muito tempo sobre o
assunto e a conclusão que nós chegamos então é o seguinte: é que a filosofia de trabalho
que nós adotávamos à época era da defesa do Estado, e nós precisávamos fazer um trabalho
vinculado e voltado para a defesa do cidadão. Em 1995 a Constituição de 88 ainda não era
muito antiga, embora hoje ainda não seja muito antiga e muita coisa a gente não
compreende bem, mas lá no art. 144 da Constituição tá bem expresso lá: É dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos fazer a preservação da ordem pública e da incolumidade
do patrimônio e da pessoa. Tá lá escrito. Bom, o que quer dizer isso? Isso é uma boa
pergunta, não é? O que quer dizer isso? E daí nós trabalhamos a partir disso do que diz a
Constituição e mais as leituras todas que a gente tinha feito e com o desejo de fazer
qualidade e buscar o que o cliente gostaria de ter. E daí, começamos em contato com essa
literatura de polícia aqui no Brasil, muito escassa ainda à época, ainda hoje é muito escassa,
mas em 95 muito mais, agora saiu algumas outras coleções. E um dos livros com os quais
nós entramos em contato foi com o caderno de polícia da Polícia Militar do Estado do Rio
de Janeiro, um texto escrito pelo Cel. Carlos Magno Nazaré Cerqueira, que foi o precursor
dessa filosofia de trabalho policial no Brasil e, que relatava a experiência iniciada tentada
no Rio de Janeiro. Daí ele fez menção, fazia menção nesse texto a uma experiência
praticada no Estado do Espírito Santo na cidade de Guaçuí, uma experiência que era de 94,
um pouquinho antes de nossa busca, lá tinha um sujeito Ten. Júlio Cesar, então que tinha
iniciado um trabalho de melhoria de relação com a comunidade, da busca da parceria com
a comunidade para gerenciar o assunto de segurança naquela cidade e que tinha feito uma
evolução interessante. Daí buscamos mais informações sobre o assunto e como o que tinha
disponível para a gente era muito pouco no Brasil eu fui em busca da literatura
internacional, daí, embora com um inglês macarrônico eu tive que levantar essa literatura,
3
pedir para fazer tradução, paguei traduções e, fui em busca de mais informações. Agora a
grande conclusão que eu cheguei é que nós não poderíamos praticar no Brasil o que os
outros países faziam, nós tínhamos que fazer uma polícia comunitária nossa, com as
características e as peculiaridades exigidas pela nossa sociedade. Daí começamos a
trabalhar nessa direção. Bom, como eu não gostaria de ter alguma coisa que mantivesse o
padrão anterior a primeira coisa que eu tentei fazer foi trocar o nome de polícia qualquer
coisa, no Espírito Santo eles faziam Polícia Interativa, no Rio de Janeiro, o Cel. Cerqueira
falava em Polícia Comunitária e eu imaginava assim: para Santa Catarina o ideal é fazer
alguma coisa que fuja desse parâmetro de vigiar para punir. ... o conceito de interação
social sendo a polícia uma das partes para gerar segurança. Daí nós chamamos à época, isso
também foi motivo de muita reflexão, chamamos de Segurança Interativa. Iniciamos um
projeto de segurança interativa no Estado, com a difusão da idéia em todos os Batalhões
com estabelecimento de alguns projetos pilotos, que na verdade foi frustrada, daí a geração
dos Conselhos Comunitários de Segurança, mas vinculado só à Polícia Militar, deixando de
lado outros órgãos, que foi um erro que nós também cometemos e, enfim, iniciamos todo
um trabalho e eu era o coordenador de qualidade total e tinha um rapaz que gerenciava a
parte de segurança interativa e seguindo a nossa orientação. Na coordenadoria tinha 3
pessoas eu era o coordenador, o Capitão Pacheco – Geovani Cardoso Pacheco – um amigo
pessoal meu, ainda hoje, gerenciava a parte de melhoria de ambiente e um outro lá
gerenciava, foram vários, não dá para denominar gerenciava a parte de monitoramento dos
projetos pilotos da segurança interativa. Bom, quando terminou o governo do Governador
Paulo Afonso o novo comandante chegou e disse: Nazareno, eu acho interessante essa sua
idéia, esse seu trabalho mas infelizmente tem bandeira política, é coisa do governo passado
já não podemos dar continuidade a isso. Eu disse: Sim, senhor. E, parei com o que estava
fazendo, mas ele por ser, talvez meu amigo, ele disse assim: embora eu não queira que você
continue a fazer isso, mas não quero que você fique longe de mim, vem para cá. Fica aqui
pertinho de mim que você vai ser meu assessor pessoal. Daí fui ser o assessor pessoal dele,
do comandante que assumiu o comando em 1999. Fui ser o assessor pessoal dele e eu
escrevia os textos deles, fazia as palestras dele e botava embutido sempre a idéia ali, para
finalmente, para poder dar continuidade ao trabalho. Até que chegou no ano de 2000, foi
editado o Plano Nacional de Segurança Pública em 2000, no ano de 2001 foi feito o Fundo
Nacional de Segurança Pública e tinha dinheiro para os Estados, só que o dinhe iro era
vinculado a filosofia de Polícia Comunitária. Daí o comandante me chamou de novo,
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Nazareno, aquele negócio que você falava, vamos botar em prática de novo? Eu disse:
vamos. E daí, o quê que precisa? Ë só o senhor me liberar, é só o senhor me soltar debaixo
da asa, e deixa que eu vou a campo. E daí logo em seguida estava sendo feito o primeiro
Curso Nacional de Polícia Comunitária, numa nova versão no Estado de São Paulo, eu fui
para lá e foi comigo a Delegada Sandra Mara Pereira, fomos para lá e tivemos uma
participação bastante interessante lá, até porque já tínhamos uma experiência aqui.
Tínhamos todo uma vivência. Em função das necessidades de conhecimento, eu fui para a
Universidade Federal, fiz um mestrado em Engenharia de Produção vinculando a isso, o
conceito de qualidade e, daí em São Paulo iniciamos uma nova vida uma nova etapa de
Polícia Comunitária. Quando eu voltei de São Paulo, o Secretário de Segurança Dr.
Antenor Dinato Ribeiro, foi procurador ele nos chamou e disse: vamos fazer uma
Coordenadoria estadual? Vamos. Aí tinha todo um processo de legalização e saímos então a
fazer as práticas. Como nós já tínhamos a experiência anterior da Segurança Interativa, com
a Polícia Comunitária nós entramos num viés que permitisse fazer as correções. A primeira
correção que nós fizemos foi a de quem envolver, porque na Segurança Interativa nós
envolvíamos só a Polícia Militar, por entender que o trabalho era essencialmente de Polícia
Administrativa, mas daí na segunda versão, até porque tinha o interesse de fazer a
integração das organizações de polícia, e a evolução da compreensão, nos fez puxar e
buscar a parceria com a Polícia Civil, e daí tinha a Delegada Sandra que estava comigo
buscar a parceria da Polícia Civil, porque efetivamente o trabalho de Polícia Comunitária é
um trabalho de polícia que busca uma parceria na comunidade para identificar, priorizar e
resolver criativamente os problemas de segurança da comunidade. Um trabalho de polícia
agindo sobre as causas, fazendo umas parcerias com a comunidade. E daí começamos a
envolver também a Polícia Civil neste processo todo. É um trabalho árduo, porque é um
trabalho de evolução cultural, não se implanta polícia comunitária, a gente evolui para a
prática de polícia comunitária, porque é uma filosofia e ela precisa permear a todos os
processos produtivos das polícias, e para a gente fazer isso não dá para fazer por decreto e
dizer assim: “A partir de hoje você vão agir orientados pela filosofia da Polícia
Comunitária”. O quê que é isso? Ah.. é o respeito a dignidade humana, é a busca da solução
dos problemas na comunidade. As pessoas não absorvem isto facilmente. Elas querem fazer
polícia. Sair perseguindo bandido. E o pressuposto é diferente. O pressuposto da polícia
comunitária é pega um caso em concreto, vai para dentro da comunidade, e entende a
comunidade e vai buscar as causas do problema lá dentro da comunidade, com a parceria da
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comunidade e com essa mesma parceria dá os encaminhamentos para as soluções dos
problemas, lá dentro da comunidade. Mais um olho no olho com a comunidade entendendo
as fragilidades e potencialidades de cada lugar, é uma polícia personalizada. Uma polícia
que vai atender as necessidades das pessoas lá dentro da comunidade. E daí como é que a
gente poderia fazer isso. Dizer: Você deve fazer assim. É muito difícil, tem que introduzir
na cultura organizacional e fazer mudança cultural, é só para quem já tentou fazer é que
sabe o que é. É complexa, ainda mais para uma organização com uma cultura tão firme
como são as organizações de polícia, e dispersa por todo o território estadual, pois todos os
lugares tem um policial. A mensagem tem que chegar lá, tem que chegar de alguma forma
lá. Então o que nós fizemos, uma das primeiras medidas foi o desenvolvimento de uma
marca, precisávamos criar uma marca de polícia comunitária, para ser identificado de
imediato. Isso é um pressuposto básico de marketing e como eu tinha feito mestrado na área
de Engenharia da Produção, tinha isso muito vivo na minha mente, que tinha que
desenvolver uma marca, em tem uma marca consagrada já no Brasil, da qual me orgulho
muito, tenho usado muito por aí afora e também dos Conselhos Comunitários de
Segurança, porque há quem confunda Polícia Comunitária com Conselho Comunitário de
Segurança, não é a mesma coisa, são coisas distintas. Polícia comunitária é a filosofia de
trabalho de polícia, é a polícia trabalhando na comunidade orientado por essa filosofia. O
Conselho Comunitário de Segurança é o foro é o lugar onde as pessoas da comunidade se
reúnem para tratar do assunto segurança pública na sua comunidade. A polícia entra lá
como membro nato com o desejo de fazer Polícia comunitária, mas Conselho Comunitário
de Segurança não é Polícia Comunitária, é só uma organização social. E então precisava ter
uma marca também aquilo lá, para as pessoas se vincularem a essa marca e daí também
saiu um símbolo que é bastante conhecido no Estado e que tem servido como orientação
para as pessoas”.
Karla – O senhor poderia me explicar o significado do símbolo do Conselho Comunitário
de Segurança
Nazareno – O símbolo do Conselho Comunitário de segurança tem uma heráldica muito
interessante que são pessoas de braços e pernas dadas, formando com as pernas a estrela
internacional de polícia e toda essa figura é inscrita num círculo que é o símbolo da
plenitude. Então quer dizer as pessoas com a polícia dentro da comunidade com um corpo
vivo, como um organismo lá dentro, buscando as soluções para os seus problemas. As
pessoas as vezes que não conseguem entender bem, e não captam de imediato a idéia, não
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conseguem entender perfeitamente a extensão. Eu até, eventualmente, me emociono porque
quantas madrugadas foram trabalhadas para poder gerar. Eu tenho a história dele aqui
comigo, e em momento oportuno eu até posso lhe mostrar de como evolui de como evolui o
símbolo e quais foram os passos que ele deu, quais foram as idéias iniciais, os conselhos
que eu acabei pegando com outras pessoas, várias pessoas, naturalmente, não é idéia
exclusiva, a gente vai construindo no debate na conversa e acaba saindo esse tipo de coisa
aí que tem um significado muito grande.”
Karla – Efetivamente, quando iniciou a Polícia Comunitária, essa nova filosofia, quando ela
foi posta em prática? Ou seja, depois desta participação em São Paulo, após o Plano
Nacional de Segurança Pública? Efetivamente, quando foi?
Nazareno – “Essa é uma pergunta interessante, porque nós não teríamos, eu diria assim: se
nós fossemos estabelecer uma data para dizer quando nós começamos eu diria que nós
começamos em janeiro de 1995, porque não tem um marco de tempo que possa ser
definido para dizer que a partir de hoje o policial lá da ponta começou a praticar a filosofia
de polícia comunitária, o que tem é o seguinte, por ser uma filosofia e sendo o que interessa
para a organização de polícia é que o soldado esteja praticando, não adianta ter um Cel.
ilustrado que conheça muito da teoria, mas o conhecimento não chega na prática do
policial, que é quem efetivamente faz a hora da verdade, porque é quem faz o contato com
o cidadão, isso aqui é o que interessa. É só isso que nós buscamos. É o fim. Mas para fazer
chegar é preciso planejamento nos escalões superiores muito grande, muito complexo.
Poucas pessoas conseguem entender isso que eu estou querendo dizer da complexidade
fazer chegar, porque poucas pessoas já tentaram implantar ou fazer evoluir uma
organização para uma mudança cultural. Só quem já passou por isso é que pode avaliar,
porque o que há de resistência é uma coisa espetacular. Quando nós começamos com isso,
com esse negócio e eu lembrei agora Terça-feira numa palestra lá em Blumenau, numa
mobilização comunitária, e eu lembrei disso lá porque tinha lá comigo uma pessoa que
também desde o começo tem acompanhado essa evolução e eu dizia para ele Major Dalriso
você lembra quando eu comecei com isso, ainda como capitão, quando eu chegava nos
lugares para falar sobre isso, os caras botavam a mão na cabeça e diziam: meu Deus, lá
vem aquele maluco de novo, com aquelas idéias loucas. Aquelas idéias de doente. E por
que esse cara não vai trabalhar? Por que você não vai trabalhar um pouco, aí no
policiamento na rua para ele aprender o quê que é bom, para ver como é que se faz polícia.
Ele vem aí com essas idéias loucas dele, tentando nos dizer o que nos devemos fazer. Eu
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passei uma cruz, Chapecó, não vou nominar a pessoa, mas Chapecó era um Cel sentado
num primeiro momento, e eu ainda capitão, o Cel. simplesmente não me deixou falar, cada
3, 4 palavras ele levantava a mão e dizia: o Nazareno, tu que vem de Florianópolis, tu acha
que nós somos idiotas aqui? Coisas desse tipo saíram aos montes. Enfim, para fazer chegar
a idéia para ele praticar tem que desenvolver uma estratégia enorme, porque o discurso não
pode ser o mesmo para todos os níveis, embora a filosofia seja a mesma, mas a forma de
passar a filosofia para as pessoas absorverem o conteúdo e daí transformar em uma prática
tem que ser diferente para cada nível.
Karla – São graus de convencimento diferente.
Nazareno – Para os comandantes, diretores ou alta cúpula da corporação tem que ser feito
um discurso numa direção. Para média gerência, que é que tem na mão o poder de
operacionalizar o serviço, lá de planejar, o discurso tem que ser outro que atinge o nível
deles. Pro soldado, sargento operador, o discurso tem que ser outro completamente
diferente, são sutilezas, detalhes que a gente só aprende com a prática. Não tem na
literatura, não tem nos livros isso, não constar em lugar nenhum, porque é só a prática que
pode permitir, e eu tive a felicidade de ver isso aí. Um marco temporal, para poder dizer
quando começou, começou em 95, quando nós começamos a questionar o que nós
estávamos fazendo e quando nós começamos a disseminar a idéia de que nós estávamos
fazendo não podia estar certo, porque tinha muita gente insatisfeita e que daí precisava ser
reconduzido. Bom para chegar nos dias que nós estamos vivendo, onde ainda não vivemos
o sétimo céu, não estamos melhores como gostaríamos de ter, mas já temos a filosofia
disseminada, já temos esse discurso de 95 que era chamado de louco, sendo proferido por
muita gente hoje, o gostoso é isso. O gostoso é que eu ando por aí e todo mundo diz: a
polícia comunitária, tá certo que eu vá fazer isso, ou vai fazer aquilo. Eu ouço nas palavras
das pessoas exatamente aquilo que eu dizia em 95, 96, 97, mas que é chamado de louco. E
o melhor de tudo isso, e novamente me emociona é que as pessoas absorvem esse discurso
como se fosse próprio. Não. Olha para mim polícia é isso, e fala daquilo que ouviram.
Então o marco seria esse. E hoje nós estamos aí em todo o Estado de Santa Catarina, em
muitos ambientes onde se pratica boa polícia comunitária, dentro da filosofia.
Karla – Mas depois do Plano Nacional de Segurança Pública, quanto tempo levou para a
base, a estrutura desta nova, última polícia Comunitária ser adequada aos moldes de Santa
Catarina?
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Nazareno – Nós começamos a trabalhar em 2000, em abril de 2000 e talvez o marco
temporal possa ser isso, foi quando foi assinada a portaria do Secretário de Segurança
Pública designando a Comissão coordenadora dos Conselhos Comunitários de Segurança,
ocasião em que eu fui conduzido a presidente e dali para diante nós iniciamos vamos dizer
a estruturação, daí montamos toda a legislação para regular os Conselhos Comunitários de
Segurança, eu volto a este ponto, normalmente a gente tende a se conduzir a uma postura
positivista, objetivada, um marco, ou alguma coisa escrita, segundo diz a lei tal, segundo
diz o que está escrito, mas não é assim na realidade, na prática não é assim, não alguma
coisa que pode ser definida. Então, em 2000 nós sentamos sem ter nada, absolutamente
nada nas mãos, eu e a Delegada Sandra, com a ajuda da Sargento Silvana, e ninguém mais,
e uma idéia na cabeça, com uma meia dúzia de folder, papel e livros, e agora vamos botar
isso no papel e vamos continuar a inseminação, porque nós já temos um ganho. Daí quando
eu percorria o estado de novo eu dizia sempre: olha não é novidade, é aquilo que nós já
havíamos falado, só que agora tem um nome, mudou o nome porque o grande problema
que nós tínhamos em 2000 e 1999 era o seguinte, na época eu já era major, e perguntaram:
Major a hora que o governo acabar esse negócio não vai acabar não? Daí eu dizia sempre o
seguinte: olha com certeza o novo governo vai querer colocarem prática as suas idéias,
agora eu posso lhes assegurar o seguinte, que polícia comunitária, segurança interativa não
é alguma uma coisa de governo, é alguma coisa de necessidade do Estado, não do governo.
Eu tenho certeza que talvez mude o nome, mas a idéia não se perde jamais, porque é
tendência internacional. A essa altura já estava instrumentalizado informação o suficiente
para saber que todos os países civilizados já estavam se conduzindo para isso. E
praticando em alguns lugares com bastante êxito. Eu tinha a certeza de que ia continuar, da
mesma forma como tinha certeza de que ia continuar depois que tivesse terminado o outro
governo, porque daí o próprio governador Amim aonde se manifestou sobre o assunto,
passou a dizer: isso não é do governo Amim, isso é do Estado de Santa Catarina, e vai
continuar. Tanto é que neste outro governo, continua a idéia, daí sem mudar absolutamente
nada, nos mesmos moldes, com uma única diferença é que se você tá lembrada quando
mudou o governo Paulo Afonso pro Governador Amim, eu fui considerado do PMDB, não
o Nazareno é do PMDB, vamos tirar ele daí. Daí quando me soltaram novamente fui
trabalhar muito forte por cima dessa linha do governo do PP. Entretanto, quando terminou o
governo do PP, quando o novo governo do PDB disse que o Nazareno é do PP. Tira esse
rapaz daí e bota ele num lugar bastante complicado, para ver se ele sabe colocar em prática
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teoria dele. Daí no começo do ano de 2003, eu fui mandado para Joinville, e trabalhei
durante 1 ano em Joinville e, quando no ano passado aqui (Lages) estava bastante
complicado e precisavam de um cara do meu perfil para colocar em ordem a casa, daí
foram me buscar e me convidaram, eu aceitei o convite, e até por ser um desafio para vir
para cá, mas hoje quem coordena a Polícia Comunitária, quando ainda a idéia é do Estado.
Karla – Esta cultura existe, essa insegurança, até porque os exemplos de política de
segurança pública mudava conforme mudava o governo. Isso gera uma insegurança.
Karla – Qual foi a primeira localidade a aderir a esta idéia?
Nazareno – Em 2001 nós fizemos em Florianópolis uma versão do Curso Nacional de
polícia comunitária, e à época foi decorrente de mais uma das estratégias que nós adotamos
para disseminar a idéia e forçar a prática na ponta. Então, como eu disse, em 2000, nós
assumimos a coordenação estadual e daí em 2001 nós conseguimos efetivar uma coisa que
foi planejada em 2002, que foi elaborar e praticar um curso de nível nacional e pegando
algumas pessoas escolhidas a dedo, no Estado de Santa Catarina, para fazer parte deste
curso, com a intenção de sensibilizar e motivar para que na hora que ele retornasse para
sua cidade ele levasse a idéia e começasse a praticar lá, desdobrando em multiplicadores da
idéia, da filosofia. E nós já estávamos estruturados da seguinte forma: havia uma
coordenação estadual e uma coordenação a nível de comando regional, uma coordenação a
nível de batalhão, e uma coordenação a nível de companhia. Então, havia toda uma
estruturação organizacional do desdobramento da filosofia. Todo o Estado estava
organizado com a obrigação de prestar contas, quer dizer, tinha esse planejamento, já essa
estruturação, isso é uma estrutura organizacional mesmo com o objetivo de disseminar. Em
2001 nós fizemos um curso e dos cinco policiais militares que estavam presentes no curso,
um é daqui de Lages. E o Major Edioner, um homem inteligente, dedicado, aguerrido,
pegou a idéia, veio para cá e já tinha aqui alguma prática de segurança interativa, do
momento anterior, eu já tinha vindo aqui umas duas ou três vezes ministrar curso de
segurança interativa, e já tinha um esboço aqui da segurança interativa, o Major Edioner
vindo para cá e com a idéia de polícia comunitária, organizou a cidade em setores e muito
rapidamente mobilizou a comunidade e montou 10 Conselhos Comunitários de Segurança
aqui na cidade de Lages. E com a cidade distribuída, uma distribuição de efetivo e de
recursos materiais muito boa e, desenvolveu então aqui o Conselho Comunitário de
Segurança nº 1. No Estado temos hoje cento e cinqüenta e pouco, mas o número 1 saiu aqui
na cidade de Lages. E, como foi o primeiro a coordenadoria estadual fomentou o que pode
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o desenvolvimento daqui para que nós pudéssemos ter um exemplo em todo o Estado, de
forma que quando nós íamos em todas as outras cidades do Estado, porque o funcionário
público é igual São Tomé, só acredita naquilo que vê, e diz: olha tá dando certo. Quem
tinha dúvida se dava certo ou não dava certo a idéia, precisava ter um referencial se tá
dando certo, vamos lá em Lages. Lá em Lages tá indo as mil maravilhas. Lá tá excelente, tá
o melhor lugar do mundo, vai lá vê os indicadores de criminalidade como é que está, vai vê
como é que é a relação da polícia com a comunidade. E estimulávamos isso, trazíamos
gente de lá para cá, para poder ver o modelo e é claro que não era a oitava maravilha do
mundo, mas ninguém precisava saber disso. Tinha que vender a idéia como um bom
mercador. Vendemos o que deu para vender o trabalho desenvolvido em Lages. Entretanto,
tinham alguns senões, algumas coisas que precisavam e tinham que ser corrigidas, e eu
também não me arvoro a dono da verdade, em saber tudo o que deve ser feito e que só o
que eu posso dizer é que foi muito valoroso o trabalho feito aqui, até porque não se tinha o
caminho das pedras e foi desenvolvido aqui a metodologia para a prática da filosofia que
foi bastante exitosa para a época, mas é claro que com alguns defeitos, agora nós estamos
num estágio tal que podemos pegar aquilo que já foi feito aqui e fazer as correções e fazer
um novo modelo. Entendeu, e evolui para isso. E eu estou aqui exatamente por isso, por
que em tese foi o camarada que estimulou a ser praticado isso e agora tem que domar esse
potro xucro que criou aqui um monte de problemas, brigas internas e coisas assim que
precisava ser controlada e por isso que estou aqui.
Karla – O senhor acredita que este modelo realmente contribui para a redução da
criminalidade na comunidade?
Nazareno – Eu estou muito certo disso, só que não oferece resultados imediatos como
algumas pessoas querem ver, é para médio e longo prazo porque a filosofia de polícia
comunitária ela age sobre aqueles pretensos agentes de violência. Age sobre a causa do
problema, quer dizer, evita que no futuro aquela criatura venha a praticar um ato violento
um ato criminoso. No futuro, mas no presente lida com o quadro que tem. A polícia jamais
vai deixar de reprimir o ato criminoso e violento, jamais vai deixar, vai fazer sempre. O que
a filosofia da polícia comunitária pretende ter de ganho real é diminuir a quantidade de
casos que a polícia tem que reprimir, para poder dar conta de um volume bastante
significativo do total existente. Hoje não é isso que acontece, hoje nós trabalhamos
exaustivamente, diuturnamente nós temos nossos policiais trabalhando feito loucos,
perseguindo criminosos e a coisa está cada vez aumentando mais, em números percentuais
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a quantidade de casos que nós atendemos é muito pequena em relação a quantidade de
casos que acontecem. Então, o que é que a gente precisa fazer: diminuir a quantidade de
casos que acontecem para a quantidade de casos que a gente atende ser percentualmente
muito maior do que atendíamos antes. Em decorrência disso um controle melhor na vida
humana e sociedade, uma sustentabilidade na prática do crime, porque uma outra idéia é a
seguinte, nós jamais vamos conseguir acabar com a prática do crime. Então, qual é o nosso
ideal? Se não lutamos para acabar, qual é o nosso ideal? Mantendo um parâmetro
sustentável, essa é uma expressão que eu gostaria de botar um “r” em cima, porque é uma
expressão que eu tenho usado e não vi em nenhum outro lugar. É manter a sustentabilidade
da prática do crime e da violência. O que eu quero dizer com isso é que sempre vão ocorrer
crimes mas a quantidade que acontece deve ser uma quantidade tal, que as pessoas não
entrem em pânico, como tem acontecido hoje.
Karla – A tendência que temos visto é de que está aumentando cada dia mais, independente
de região.
Nazareno – Em todos os lugares. Para quem estuda isso sabe que a tendência é de
recrudescimento, de agravamento do quadro, vai aumentar por todas as pesquisas feitas, por
todas as linhas de raciocínio feito, linhas antropológicas, sociológica, psicologia social,
todas elas conduzem à idéia de que vai agravar mais ainda, a menos que a gente.. há uma
alternativa para desviar o rumo, não tem. A idéia é a seguinte: a história segue para a frente,
as relações sociais evoluem sempre, para um novo momento, então, não tem retrocesso, não
dá para retroceder neste tipo de coisa, vai ter um novo momento sempre para a frente, o que
dá para fazer é desviar da tendência.
Karla – Seguir novos caminhos, novas experiências.
Nazareno – Desviar o caminho e isso é fundamental dentro da teoria de polícia comunitária,
a idéia de que você não consegue voltar atrás, você constrói um novo momento, a idéia da
construção de um novo momento. ... “Não, a mas no meu tempo,... a porque antigamente...”
isso já passou, isso é uma pena. Hoje nós vivemos porque no antigamente foi construído de
forma tal que gerasse esse efeito.
Karla - E a sociedade agia de forma diferente.
Nazareno – Tem que ir para a frente.
Karla – O senhor me falou que existiram resistências por parte das polícias. Mas o senhor
acha que esta resistência seja mais da hierarquia superior, ou dos níveis mais baixos
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(soldados), os que realmente praticam ou deveriam praticar. Qual o nível que apresenta
maior resistência?
Nazareno – A filosofia de polícia comunitária impõe uma mudança comportamental dos
profissionais de segurança, e essa mudança exige um pouco mais de engajamento, um
pouco mais de trabalho, um pouco mais de empenho, de todos os níveis: do corpo
administrativo, do corpo gerencial e do corpo operacional. Os três níveis precisam trabalhar
um pouco mais. O ser humano tende a lutar para preservar um status quão, a situação
vigente, e o serviço público, particularmente, tem uma possibilidade das pessoas se
acomodarem do que a literatura chama de zona de conforto, as pessoas fazem o que
rotineiramente lhes é exigido não criam nada de novo e, assim passa todo o tempo e se
aposenta com honra o mérito, desde que não cometa erros, não precisa fazer acertos
brilhantes. As pessoas preferem esta posição, como, então, se acomodam. Em todos os
níveis é assim. Agora, em cada um dos níveis tem detalhes, peculiaridades que justificam o
não gostar de polícia comunitária por alguém, uma apresenta uma razão, e outra.. outra.
Karla – As mais comuns, o senhor poderia me dizer
Nazareno – Por exemplo, no nível gerencial e superior a idéia é a de que eu estudei tanto
tempo para aprender como é que se faz segurança, porque eu vou ter que fazer o que o
cidadão quer que eu faça. No nível subordinado é então quer dizer que fui treinado para ser
polícia, para caçar bandido e agora vou ter tá conversando com as pessoas, levando
florzinha para bandido, levando cestinha básica para a comunidade. São coisas assim. Na
verdade, não corresponde com o que a teoria da polícia comunitária propõe, quer dizer não
tem nada a ver com isso. Isso ai eu também não concordo que seja feito, só que no
operacionalizar uma prática de polícia comunitária, algumas ações sociais são decorrentes,
são necessárias.
Karla – Até mesmo para poder ganhar a comunidade.
Nazareno – Ganhar a simpatia da comunidade, também, isso é um ganho residual que tem
na nossa prática, mas acima de tudo o raciocínio é o seguinte: o que é praticar polícia
comunitária? É fazer uma parceria com a comunidade para identificar, priorizar os
problemas da comunidade, agir sobre as causas desse problema. Se a causa de um problema
de criminalidade em uma determinada comunidade for a existência de um bolsão de
marginalidade, de exclusão que propicia e facilita a prática do ato violento, agir sobre a
causa significa intervir nesse bolsão, não reprimindo mas agindo proativamente para retirar
o fator que favoreceu a prática da violência seja ela qual for, até a fome, até a pouca ação
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no trabalho de mercado. Enfim, mas não é a polícia que vai fazer isso, a polícia vai fazer
também, porque ela vai estar inserida no seio social, no Conselho Comunitário de
Segurança e é o Conselho Comunitário de Segurança que vai buscar esses ganhos, com a
polícia junto, com o policial membro nato, junto ali, mas mais para orientar, não porque ele,
fazer polícia comunitária e levar cesta básica para gente necessitada, não. Se a cesta básica
vai diminuir a possibilidade da prática de determinado crime, isso foi entendido no
Conselho comunitário de segurança, o conselho comunitário de segurança é que vai fazer.
Entendeu, é sutil.
Karla – O senhor falou na questão de recebimento, busca de recursos para alcançar, talvez
algumas ações do Conseg, vamos supor, eles podem receber alguma doação, algum tipo de
recurso que for. O senhor é a favor de que o Conseg tenha esse poder de receber o recurso,
a ponto de criar o CNPJ para legaliza r o Conseg? O senhor acha que fugiria ou estaria
dentro da filosofia da polícia comunitária?
Nazareno – Quando nós iniciamos o trabalho, se você olhar no Decreto da criação do
Conselho Comunitário de Segurança, na composição mínima do Conselho não tem a figura
do Tesoureiro, para evitar que o Conselho comunitário criado por estímulo do poder
público, em tendo uma tesouraria criasse uma expectativa de receber recursos do governo
para poder gerenciar o conselho comunitário, essa que é a idéia. Entretanto, o artigo 15, não
sei se você já viu, fala sobre isso, o artigo 17 disse que poderão ser criados quaisquer outras
diretorias que se fizer necessário para gerenciamento do conselho. Ali, nós deixamos um
espaço, uma brechinha, exatamente para que as pessoas criem as tesourarias, porque é
necessário e que de forma criativa, mas sem buscar no poder público, angariasse algum
recurso para manutenção do trabalho do conselho. E tem diversas iniciativas por aí afora,
aqui em Lages em alguns Conselhos comunitários a comunidade foi mobilizada e permitiu
que se inserisse na conta de luz o acréscimo de R$ 1,00 por pessoa, destinado ao Conselho
comunitário de segurança. E o conselho comunitário de segurança usa aquele dinheiro para
diversas coisas, para interesse da própria comunidade.
Karla - Por exemplo, a experiência que eu tenho é lá de Forquilhinhas, pouca experiência
devido ao ter tido dois contatos. Mas uma das dificuldades que eles estão tendo, por
exemplo, é o Conseg funciona na base operacional da Polícia Militar, e impede que a
comunidade chegue, porque senão um vizinho vê ele lá dentro e pensa que ele está fazendo
alguma denúncia, então seriam, talvez recursos para que possibilitassem uma sede. Existe
essa possibilidade.
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Nazareno – A idéia básica mesmo é que não funcionasse o Conselho Comunitário de
Segurança dentro de estabelecimento público, porque é iniciativa da comunidade. Agora, o
que pode acontecer e está evoluindo para isso, a idéia original era aquela que eu lhe disse,
tá evoluindo agora para um novo momento onde o Conselho Comunitário é montado e
chama a polícia para ter ali também a sua base operacional, quer dizer, é um lugar da onde
vai se irradiar o policiamento para aquela região, não é o lugar da Polícia Militar, que a
Polícia Militar cuida, é um lugar da comunidade que serve também de base operacional
para a Polícia Militar para se irradiar. Quem cuida daquilo ali? Precisa alguém cuidar do
estabelecimento físico. Quem cuida normalmente é a própria comunidade um representante
do Conselho, um voluntário que a lei do voluntariado permite, enfim, alguém ali da
comunidade membro conselheiro, algum membro do conselho que se disponha a cuidar
daquilo também. Em vários lugares tá acontecendo isso e eu acho que é uma evolução
interessante, essa parceria. Agora voltando a questão do dinheiro, embora já seja uma
prática em vários lugares eu ainda tenho os meus receios, de que possa se desvirtuar pela
captação de recursos, que pela captação de recursos possa se desvirtuar. Meu sonho, que é
do meu sonho realmente, e a idéia era essa é haja efetivamente uma tesouraria, que haja
uma captação de recurso para poder gerenciar ali a parte administrativa, agora que estes
recursos venham de ações do tipo (me faltou a expressão usada agora, aquilo que o
promotor de justiça ou o juiz fazem a título de pena alternativa) prestação de serviço ou
pagamento de uma multa, como é que é o nome daquilo... enfim, esse recurso que sai dessa
figura jurídica para os Conselhos Comunitários de Segurança, a medida que eles vierem
evoluindo. Mas que também outras coisas venham acontecer nos Conselhos, por exemplo,
o controle dessa prestação de serviço à comunidade feita por quem tenha praticado um
crime, contemplado pela Lei 9.099, então, praticado e controlado pelo Conselho
Comunitário de Segurança, para que ele pague isso dentro da própria comunidade, para
que o criminoso ressarça a comunidade dos danos que causou a essa comunidade. Então, a
prática disso dentro da comunidade e a entidade que poderia controlar seria o próprio
conselho comunitário de segurança, que é o quê? É o foro da própria comunidade para lidar
com segurança, entendeu, e isso ainda não aconteceu, mas é um sonho meu.
Karla – Mas eu acho que realmente a evolução vai levar a isso.
Nazareno – Eu acredito que sim, bom, para que isso aconteça os Conselhos tem que criar
mais, tem que desenvolver o poder de influência na comunidade dos Conselhos
comunitários de segurança. Ele tem que criar mais notoriedade, tem que ser mais visíveis.
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Karla – Eu acho que ela não ocorre com tanta facilidade porque os policiais ajudam a fazer
esse contato, fazem esse contato com a comunidade, além do próprio Conselho
comunitário, mas mesmo assim as pessoas tem as suas vidas pessoais, tem seus trabalhos,
não há uma remuneração para que a pessoa possa se desvincular por um tempo. Então eu
acho que é uma das dificuldades que se encontra nesse sentido, não é?
Nazareno – Você quer ver Karla, eu tenho ao longo desses dez anos convivendo com esse
assunto, eu tenho tido tanta surpresa bonita, gostosa de pessoas da comunidade que vêem
no Conselho Comunitário de Segurança a razão de sua vida, que compreenda bem a idéia,
que se doe gratuitamente. As pessoas mais velhas, aposentadas tem uma participação,
passam a se sentirem úteis para a comunidade trabalhando ali, e pessoas das mais diversas
idades, das mais diversas etnias, mais diversos níveis sócio-econômicos que se doam a isso
de uma forma tão bonita e dedicada, que faz a gente se sentir orgulhoso de fazer parte da
idéia.
Karla – Realmente deve ser bastante gratificante.
Nazareno – Se tem frustrações também, muitas frustrações, por exemplo, aqui em Lages fiz
aquela evolução que nós vimos e daí o ano passado por uma série de razões deu uma
retroagida espetacular que estou aqui catando os cacos agora para poder reestruturar.
Internamente tem resistência, lá fora as pessoas estão sentidas porque foram
desconsideradas no momento anterior. O problema tem que ser gerenciado aqui agora.
Karla – O ser humano é muito difícil e não existe coisa mais difícil do que trabalhar com o
ser humano. Eu queria que o senhor me colocasse quais os aspectos positivos e quais os
negativos que o senhor vê na Polícia Comunitária.
Nazareno – Negativo eu não sei se tem algum, sou um apaixonado que está falando, agora o
que pode ser considerado relevante e talvez enquadrado na categoria de coisas, é o fato de a
Polícia Comunitária não ser uma panacéia, quer dizer, não é um remédio para todos os
males. Não é o que vai resolver todos os problemas de segurança, não é, isso a gente tem
que ter certeza, tem que ter outras; mas ela como filosofia de trabalho policial ela é o que
se pode esperar para uma sociedade democrática, uma sociedade vinculada a uma
sociedade de direito, o que se dispõe a gerenciar a vida pelos princípios legais. É o que se
pode existir de mais interessante atualmente, porque ela parte do pressuposto que é preciso
respeitar a dignidade humana, é preciso lutar pela garantia dos direitos constitucionais, ela
parte do pressuposto de que cada cidadão tem uma visão de mundo em relação a segurança
pública no seu lugar, no seu ambiente, e isso deva ser respeitado. Ela parte do pressuposto
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de que o policial não é um agente fiscalizador, e sim um construtor social que vai contribuir
na comunidade para que ela seja mais segura, para que haja mais ausência de medo (essa
também tem que ter um “r-zinho” do Nazareno, gerar a ausência de medo, que é uma coisa
que tem que ser trabalhado nas pessoas permanentemente. O policial trabalha nessa direção,
e por isso a polícia comunitária favorece. Então, estas vantagens que eu estou colocando
aqui deixam muito pouco espaço para desvantagem. Uma desvantagem que tem é que é
uma filosofia que muda a cultura anterior, por ser uma filosofia ela é cheia de idéias
revolucionárias que mudam a filosofia anterior, e de difícil compreensão por muita gente.
Precisaria entender melhor para poder praticar melhor, e as pessoas nem sempre se doam ao
prazer de buscar informação para entender melhor. E isso tem causado dificuldade para a
gente evoluir devidamente. Evoluir na velocidade que gostaríamos. Embora, nós sabíamos
desde logo, desde que começou que o horizonte temporal para que nós tivéssemos uma
prática de polícia comunitária, mesmo que persistíssimos permanentemente seria de 12 a 15
anos. Tá indo para dez anos. Hoje nós estamos com quase dez anos e já tem muitos lugares
com estágio bastante evoluído da prática da filosofia, mas ainda muito aquém do que nós
gostaríamos. Eu diria assim, que numa estrada de 100 metros a ser percorrida, nós
percorremos ai 12 ou 15 metros. Tem muita estrada pela frente para percorrer. Muita
estrada. Tem muita pesquisa científica a ser feita ainda para entender o que acertou o que
errou, muito trabalho de conclusão de curso para ser escrito, para ser discutido, para ser
aprimorado, tem muito livro para ser escrito, aqui ainda para entender melhor o que nós
temos, tem muito artigo para ser escrito decorrente de pesquisa, para a gente entender
melhor, tem muito trabalho a ser feito, tem muita prática a ser feita, tem muita cara na
parede para bater ainda também, tem muita coisa para ser feita ainda para a gente entender
melhor. Então, a pergunta do que tem de positivo e de negativo ela é bastante exigente, e
eu diria por ser um apaixonado no assunto que negativo teria muito pouca coisa pro nosso
momento.
Nazareno apresentará um projeto de como funciona a polícia comunitária em SC.
Estou fazendo esse plano pro comando... vamos pegar aqui o caso do Roberto, o Roberto
aqui é um coordenador dos Conselhos Comunitários de Segurança e eu comandante estou
fazendo um plano que o plano não é meu é de diversos projetos dos escalões subordinados.
Cada escalão subordinado tem um projeto com diversas ações e diversas medidas a
desenvolver, e eu como comandante vou fazer uma consolidação disso que vai ser o plano
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de comando do Batalhão. Eu consolido todo o grande documento e deixo como herança pro
meu sucessor. (Gravador desligado).
Eu estou fazendo um plano que vai ser assim: um horizonte até junho do ano que vem,
começando agora em agosto. Esse projeto aqui “Motivar os Consegs na consolidação da
prática de polícia comunitária”. Um projeto desse cara aqui, que eu ainda vou trabalhar
melhor, mas que tem várias ações: controlar as reuniões mensais; fazer avaliações contra
índices de criminalidade, buscando sua redução com apoio dos Consegs; criação de Clics
nos bairros de cada Conseg. Então, o quê que isso tem de peso para a desenvolver este
projeto...20%. Tem uma parte planejada, quanto ele vai fazer isso no mês de agosto, na
verdade ainda não tá concluído, esse ainda to consolidando ainda. Quanto ele vai fazer e eu
vou controlá-lo, do planejado e o executado, eu vou controlar, entendeu. Isso vai me jogar
tudo isso aqui, vai conduzir para esse gráfico aqui, para dizer o quanto está sendo
executado. Você conhece Excel? Então, são células vinculadas a essas células aqui, que vão
repercutir lá, na verdade ele repercute aqui e é projetado no gráfico lá. Agora cada uma
dessas planilhas é vinculada a essa planilha aqui, que é o plano de comando, meu plano é
esse aqui. Então cada uma das ações eu vou colocar cada um daqueles projetos aqui, que
vão ser as minhas ações, vão ser os projetos deles. Cada uma dessas ações aqui, minhas vão
dar o meu plano de comando que vai ter um percentual para cada uma. Então vamos dizer
assim, que o cara fez o projeto de criar uma escolinha de futebol num bairro porque a
criançada lá estava abandonada e estava praticando um crime, e quanto isso repercute no
meu comando, qual o percentual que eu acho que ele teria de implicância no meu comando,
três por cento, quatro por cento. Então eu coloco o peso dessa ação dele de três por cento, e
a hora que ele tiver realizado, três por cento do meu comando eu realizei. E assim por
diante. E tudo isso aqui vai também bater aqui no gráfico, para saber quanto eu to
realizando no eu comando. E os projetinhos, tenho todo já, cada um dos projetinhos, só que
agora só trabalhei com a 1ª companhia, tenho que trabalhar com a 2ª e 3ª companhia, que
uma é sediada em Otacílio Costa e Curitibanos. Então, ontem já determinei na 3ª
companhia que eles façam a mesma coisa, depois eu pego trago para cá e boto eles
sentadinhos aí onde você tá, cada um dos projetos, e chamo pro confessionário, já estão
chamando de confessionário. Cada um vem para cá e eu pergunto aqui, e o seu projeto
GRT, por exemplo, o projeto 2 do GRT, eu boto o Tenente sentado ai e o Tenente diz
assim: então tá: identificar as necessidades do grupo de resposta tática do GRT. Quanto
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vale isso no seu projeto Tenente Marzo? 20% de importância. Quando é que você vai
realizar isso? Cel. eu acho que até setembro eu quero ter 50% diagnosticado.
Karla – O senhor tem a previsão e depois a efetivação?
Nazareno – É o planejado e o executado, ele diz o que ele quer fazer e eu vou esperar de
braços cruzados chegar setembro.
Karla – O senhor vai cobrar dele ou ele mesmo já vem?
Nazareno – Ele vem pro confessionário ou eu cobro dele. Em setembro eu estou aqui
(assobios) só esperando... oh Marzo, vem cá quero bater um papinho com você, como está
o seu projeto? Ah... Cel. eu não (palavra incompreensível), vai lá levar para mim o que
você fez, porque senão vai ficar em aberto. Se ele não fez aquele, vai se desesperar para
fazer.
Aqui oh...Busca de recurso, busca de fornecedores, estimativa de preços para equipar,
reunir empresários do município e solicitar apoio financeiro. Tem prevê isso aqui como
uma coisa muito importante, mas só que aqui eu tenho que ajeitar, to começando agora. Até
agora eu trabalhei a base, agora faço o plano e todos os planos eu pedi para fa zer até
dezembro. Eu gerencio até junho que é para dá o espaço pro movimento inercial e na
esperança de que em fevereiro eu vá embora, o meu substituto daí receba isso na mão. Em
planinho assim: até junho você tem, agora você pode planejar daqui para frente.
Karla – Para receber isso de mãos beijadas é maravilhoso, é muito fácil. Olha eu queria lhe
agradecer muito por essa conversa, não foi nem uma entrevista. Muito obrigada, que o
senhor continue tendo essa luz e possa dar continuidade a este seu trabalho .