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OS VINTE LIVROS QUE FIZERAM A MINHA CABEÇA.

Domingão rolando. Casado filho. No almoço, alguns acadêmicos da USP, amigos hoje formados,
todos da FFLCH, em dois institutos, o de História e o de Filosofia. Os meus amigos (as) leitores
(as) podem imaginar o rumo da conversa. A prosa caminha para a literatura e um desafio. Listar 10
livros que fizeram a cabeça dos presentes e porquê. Duas conclusões. O número “10” seria pequeno.
A segunda, que a tarefa deveria ser realizada quando o teor alcoólico estivesse mais reduzido e
compartilhada entre o grupo.

Então, elaborei minha lista hoje pela manhã.

01. ODISSEIA – JACQUES COUSTEAU – eu fui alfabetizado muito cedo, aos 4 ou 5 anos pela
minha mãe. Desde então não parei de ler. Na biblioteca do Grupo Escolar Mario de Andrade me
caiu nas mãos um livro ilustrado sobre as maravilhas marinhas que iria mudar a minha infância e
me jogar em um mundo até então desconhecido, e incutir em mim a paixão que tenho até hoje pelo
mar.

02. MANIFESTO COMUNISTA – MARX E ENGELS – por volta dos 15 anos, esse livrinho me
caiu nas mãos. E foi uma resposta para minhas ansiedades adolescentes, criado em uma década de
absolutas injustiças no meu país e no mundo. Na verdade, não me tornei marxista ao ler o
Manifesto. Ele apenas abriu o caminho. Eu iria compreender as teses do marxismo mais tarde, na
faculdade, em uma cadeira de dois semestres chamada “Teoria do Valor,” dedicada ao profundo
estudo de “O Capital.” O Manifesto apenas ascendeu a chama.

03. FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO – CAIO PRADO JR. - se o Manifesto me


deu condições para entender as macrorrelações sociais no mundo – e posteriormente a leitura de “O
Capital” - o livro de Caio Prado me colocou no caminho de entender o país. Entender o Brasil e os
rumos de sua história. Mais tarde, outros autores vieram a se juntar a ele, como Celso Furtado e
Maria da Conceição Tavares.

04. REVOLUÇÃO NA REVOLUÇÃO – REGIS DEBRAY – na esteira dos acontecimentos no


Brasil da década de 70, como muitos outros, me vi acuado entre conciliar e resistir a uma ditadura
que esmagava o país e cada indivíduo. Na pulsão juvenil da coragem, só havia um caminho para
combater essa ditadura, a violência revolucionária. Ledo engano que cometemos e que levou
centenas de maravilhosos quadros para a morte. Nunca realmente peguei em armas, mas durante
algum tempo defendi a tese da luta armada como uma alternativa à opressão. Não me envergonho
disso. Ao contrário, me amadureceu para que mais tarde, eu entrasse para minha verdadeira escola
de política e cidadania que foi o Partido Comunista Brasileiro, o velho Partidão.

05. CONCEPÇÃO DIALÉTICA DA HISTÓRIA – GRAMSCI – na tentativa de rever e avaliar a


postura política revolucionária armada, Gramsci e Palmiro Togliatti, intelectuais da esquerda
comunista europeia trouxeram a análise que mais se adequava ao momento de autocrítica que eu
vivia, no final da década de 70, começo da década de 80.

06. IDEOLOGIA DA SOCIEDADE INDUSTRIAL – MARCUSE – como Gramsci, a leitura de


Marcuse foi consolidando em mim uma nova visão transformadora da sociedade.

07. ENCONTRO COM RAMA – ARTHUR CLARKE – nem só de marxismo vivia o adolescente
da década de 70. Ao contrário, tudo que me caia às mãos eu lia. Bom ou ruim. Ler sempre foi
paixão e, porque não dizer, vício. Os livros de Clarke, Asimov e outros semearam em mim a paixão
pela ficção científica. Carl Segan me fez olhar para o céu e contemplar a minha própria finitude.
08. O ANJO DOS ESQUECIDOS – KONSALIK – esse autor, não muito conhecido entre os
brasileiros, me foi apresentado pelo meu avô que, de fato, me apresentou muito da literatura que eu
consumi avidamente durante a minha vida. O livro trata dos dramas de um médico alcoólatra em
um leprosário no interior da Índia e sua luta em favor da autossuperação. Ele se inscreve em uma
perspectiva nietzshiniana de uso da força ativa e da das forças reativas que se opõem ao indivíduo
diferenciado.

09. CRIAÇÃO – GORE VIDAL – esse livro é uma inversão. Em uma literatura histórica focada nos
grandes feitos de Grécia e Roma, como as grandes civilizações do mundo antigo, ele coloca no foco
a perspectiva dos Persas, um império multifacetado, pluralista, onde todas as religiões da época
conviviam em harmonia. Narrado por um suposto neto de Zaratustra, ele desenha uma visão “do
outro lado” do poder na antiguidade.

10 – ASSIM FALOU ZARATUSTRA – NIETZSCHE – e por falar nele, leitura obrigatória para
quem quer entender o mundo onde está inserido. Como muitos, passei um tempo colocando
Nietzsche no rol dos “filósofos fascistas.” Ler Nietzsche foi começar a romper com as amarras de
um preconceito causado pelo ambiente onde eu fui inicialmente intelectualmente criado. Longe de
me afastar dos meus princípios, a leitura do austríaco só tem complementado a minha formação.

11 – ÉTICA – SPINOZA – em um judeu espanhol do século XVII eu fui encontrar muitas das
respostas para uma série de questões que não se casavam no grande quebra-cabeças da minha
formação intelectual. Interessante é que Spinoza é uma leitura tardia na minha vida, feita apenas a
partir da idade adulta e retomada recentemente. Penso que perdi tempo. Ou não. Talvez eu
precisasse de maturidade intelectual para encará-lo.

12 – DA CONDIÇÃO HUMANA – HANNAH ARENDT – o que leva o ser humano a cometer as


maiores atrocidades, atos inimagináveis? Encontrei essa resposta na tese da “banalização do mal”
de Arendt.

13.

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