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PUC/SP
MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2019
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
MESTRADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2019
Autorizo, para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação, desde que devidamente citada a fonte.
__________________________
Banca Examinadora:
_____________________________________
_____________________________________
_____________________________________
DEDICATÓRIA
(Nelson Mandela)
RESUMO
Introdução......................................................................................................11
1. Educação.................................................................................................13
1.1. Conceito e processo educacional............................................13
2. Direito à educação na Constituição Federal de 1988................................15
2.1. Direito fundamental................................................................15
2.2. Direito social...........................................................................20
2.3. Competência legislativa.........................................................23
2.4. Objetivos................................................................................25
2.5. Deveres do Estado.................................................................30
2.6. Recursos financeiros..............................................................43
3. Gênero.....................................................................................................49
3.1. Transexualidade....................................................................51
3.2. Grupos minoritários................................................................55
4. Constituição como garantidora dos direitos dos transexuais....................62
4.1. Princípio da dignidade da pessoa humana.............................63
4.2. Princípio da igualdade............................................................67
4.3. Direito à não discriminação...................................................71
4.4. Direito à liberdade..................................................................73
5. Âmbito internacional.................................................................................77
6. Ensino inclusivo........................................................................................90
6.1. Aspectos da Educação inclusiva............................................93
7. Jurisprudência........................................................................................101
7.1. ADI 4277..............................................................................102
7.2. ADPF 186.............................................................................110
7.3. ADI 5357..............................................................................115
7.4. ADO 26................................................................................121
8. Papel do Estado como garantidor do direito à educação aos
transexuais.............................................................................................129
8.1. Ações afirmativas.................................................................129
8.2. Programa Transcidadania....................................................133
Conclusão....................................................................................................137
Referências bibliográficas............................................................................140
11
INTRODUÇÃO.
Também, tal peculiaridade muitas vezes não é bem vista pela sociedade,
mesmo não possuindo conhecimento suficiente e acertado de sua definição, fator
este responsável por ocasionar situações discriminatórias que acabam por excluir,
ceifar direitos e até vidas desta parcela da população por não se enquadrar no
posicionamento e ideais dominantes da respectiva comunidade.
1. Educação.
1
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
2
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder
familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
3
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda,
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
15
4
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
5
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Uma teoria geral dos direitos fundamentais
na perspectiva constitucional. Porto Alegre: Editora livraria do advogado, 2011, p. 61/62.
16
principalmente no que se refere aos direitos fundamentais, visto que o Estado ideal
é determinado por eles.
6
ARAUJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Editora Verbatim, 2018, p. 196/197.
7
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Malheiros Editores, 1997, p. 176/177.
17
8
ROTHENBURG, Walter Claudius. Direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Editora Método, 2014, capítulo2.
18
Outro ponto que demonstra a importância conferida pela Carta Magna aos
direitos fundamentais é a posição de cláusula pétrea12, ou seja, foram impostos
limites ao poder constituinte reformador sendo vedadas propostas de emenda ao
texto constitucional tendentes a abolir, atenuar, mitigar ou reduzi-los, havendo, por
9
Ressalta-se que a Declaração de Viena de 1993 reconhece a universalidade, a indivisibilidade, a
interdependência e ainterrelação como características próprias dos direitos fundamentais. Disponível em:
http://centrodireitointernacional.com.br/wp-content/uploads/2014/05/Declarac%CC%A7a%CC%83o-e-
Programa-de-Ac%CC%A7a%CC%83o-de-Viena-Confere%CC%82ncia-Mundial-sobre-DH.pdf. Acesso em:
06/10/2019.
10
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
11
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos
seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
12
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
IV - os direitos e garantias individuais.
19
Dito isso é manifesto que o direito à educação faz parte do rol dos direitos
fundamentais devendo ser aplicado e interpretado de modo a conferir a maior
eficácia e assim atingir os anseios constitucionais.
13
CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2001, p 69.
20
14
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Malheiros Editores, 1997, p. 228.
15
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.
21
16
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de
1988. Porto Alegre: Editora livraria do advogado, 2008, p.99.
22
Desta feita o direito à educação, que faz parte dos direitos fundamentais sociais,
pertence a segunda geração, ou seja, exigem uma prestação positiva do Estado para
sua concretização, de modo a assegurar o princípio da igualdade material ao atender
as necessidades coletivas da população e enfrentar obstáculos sociais.
17
ARAUJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Editora Verbatim, 2018, p. 185/186.
23
Assim a Constituição Federal prevê em seu artigo 22, inciso XXIV18 ser
competência privativa da União legislar sobre as diretrizes e bases da educação
nacional, ou seja, apenas a União poderá legislar sobre este ponto. Tal como foi
feito na Lei federal nº 9.394/9619, a qual possui natureza estrutural, uma vez que
consagra as diretrizes constitucionais e dispõe sobre princípios e regramentos que
devem ser observados pelas demais pessoas políticas, traz o mínimo necessário
para concretizar o direito à educação em seu aspecto formal e para assegurar o
direito fundamental social à educação, respeitando o disposto no artigo 214 20, da
Carta Magna.
18
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
19
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em 20/jun/2019.
20
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular
o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias
de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis,
etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas
que conduzam a:
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - melhoria da qualidade do ensino;
IV - formação para o trabalho;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País.
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto
interno bruto.
24
A partir disso a lei em apreço logo em seu primeiro artigo21 traz a amplitude
da educação ao envolver a família, sendo que as relações familiares representam
o primeiro contato do indivíduo com a sociedade auxiliando na formação de sua
personalidade, na convivência com os demais, incluindo todos os contatos que
influenciam positiva ou negativamente o trabalho referente às relações
profissionais, além de demais movimentos sociais, manifestações culturais,
instituições de ensino e organizações importantes para desenvolver o cidadão
conforme for seu interesse.
Também importa destacar que no caso de a União não editar norma geral
poderá o Estado fazê-la, a qual será aplicada apenas em seu território, permitindo
o exercício da legislação estadual plena, e, ao ser editada a norma geral pela União
esta irá suspender a eficácia dos dispositivos presentes na norma estadual que lhe
forem contrários, conforme determinado pelos últimos parágrafos do artigo em
apreço24.
21
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais.
22
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
23
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados.
24
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para
atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for
contrário.
25
Art. 30. Compete aos Municípios:
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
25
Nesse sentido, cumpre desde logo verificar que o art. 30, II, da
Constituição Federal atribui aos Municípios competência para
“suplementar a legislação federal e estadual no que couber”. Assim sendo,
parece claro que a divisão das competências concorrentes próprias ocorre
em três níveis: no federal onde foi conferido à União o poder de edição de
normas gerais; no estadual, em que foi outorgada competência
suplementar aos Estados-membros; e no municipal, onde os Municípios
ficaram encarregados da suplementação das normas gerais e estaduais
em nível local todas as vezes em que este interesse ficar evidenciado. 26
Ressalta-se que por representar uma garantia mínima trazida pela União
tanto os Estados como os Municípios poderão ampliar o alcance da norma geral de
modo a conferir maior eficácia ao direito à educação, a depender de suas
possibilidades, interesses e necessidades e que os entes federados deverão atuar
de forma colaborativa visando alcançar a universalização do ensino, ou seja, o
acesso de todos.
2.4. Objetivos.
26
ARAUJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Editora Verbatim, 2011, p. 306.
27
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
26
28
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
II - a cidadania
29
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça
sociais.
30
Art. 170, CF. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
27
Neste ponto cabe destacar duas decisões das Cortes Superiores que
invocam os objetivos do direito à educação.
31
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Malheiros Editores, 1997, p. 106/107.
32
Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=46256&num_
registro=200100228437&data=20050321&formato=PDF. Acesso em: 20/jun/2019.
28
33
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE888815mAM.PDF. Acesso
em: 20/jun/2019.
29
Todavia nos votos deste julgamento cabe ressaltar os destaques feitos pelos
Ministros Lewandowski e Luiz Fux os quais observaram que a escola é importante
30
Assim com base nos princípios o ensino básico formado pelo nível infantil,
fundamental e médio deve ser acessível à todos, inclusive para aqueles que não o
concluíram em idade própria, sendo proibido a imposição de restrições ou
condições, tanto nas instituições públicas como nas privadas, com igualdade de
condições para os alunos acessarem, permanecerem nas escolas, bem como com
o acompanhamento em recuperação ou atividades didáticas complementares.
34
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei
federal.
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados profissionais da educação
básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
35
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial.
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida.
36
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a
toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
32
37
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
38
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
39
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual.
40
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.
41
DE SOUZA, Motauri Ciocchetti. Direito Educacional. Editora Verbatim, 2010, p. 40.
42
DE SOUZA, Motauri Ciocchetti. Direito Educacional. Editora Verbatim, 2010, p. 41.
33
43
Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão,
grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente
constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1o O poder público, na esfera de sua competência federativa, deverá:
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
44
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os
casos de:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;
45
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13803.htm. Acesso em:
20/jun/2019.
34
Deste modo tem-se que o indivíduo pode exigir do Estado a garantia de seu
direito à educação nos termos constitucionais e legais e este pode exigir que o
primeiro seja educado, por tratar-se de direito fundamental, importante componente
do mínimo existencial, e, portanto, irrenunciável.
46
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
47
Disponível em: https://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8558025/apelacao-em-mandado-de-
seguranca-ams-2703-rs-900402703-3-trf4?ref=serp. Acesso em: 20/jun/2019.
35
48
Súmula Vinculante 12: A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art.
206, IV, da Constituição Federal. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1223. Acesso em: 20/jun/2019.
49
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6579829. Acesso
em: 20/jun/2019.
36
50
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional;
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público.
51
Artigo 26°
1.Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao
ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser
generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do
seu mérito.
2.A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e
das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações
e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para
a manutenção da paz.
3.Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos.
52
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive
sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa
responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
53
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
seguinte forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;
37
Deste modo tal artigo, logo no primeiro inciso, dispõe que a educação básica
é obrigatória e ressalta o princípio da universalidade ao assegurá-la a todos,
inclusive àqueles que não tiveram acesso em idade adequada.
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram na idade
própria;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de
cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso
e permanência na escola;
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno,
de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a
toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
54
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;
55
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores.
56
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de
promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias
de trabalho educacional;
38
O ensino fundamental tem início aos seis anos de idade e duração de nove
anos, compreende ao menos quatro horas diárias referente ao trabalho em sala de
aula e em regra deve ser presencial, uma vez que o ensino à distância deve ser
usado apenas de forma complementar ou em situação de emergência, estando
previsto nos artigos 32 ao 3457, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
para a jornada integral;
IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
(sessenta por cento) do total de horas;
V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
criança.
57
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública,
iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
que se assenta a vida social.
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos.
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o
regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem,
observadas as normas do respectivo sistema de ensino.
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades
indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da
aprendizagem ou em situações emergenciais.
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto
da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como tema transversal nos currículos do ensino
fundamental.
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e
constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito
à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para
a definição dos conteúdos do ensino religioso.
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta
Lei.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de
ensino.
39
A tal nível de ensino foi conferido grande importância pelo legislador visto
que este almejava acabar com o analfabetismo, bem como por objetivar a formação
básica do cidadão, impondo no §3º, do artigo 208 a obrigação conjunta do Poder
Público e da família em zelar pela matrícula e frequência dos alunos, buscando a
concretização do princípio da universalidade.
58
DE SOUZA, Motauri Ciocchetti. Direito Educacional. Editora Verbatim, 2010, p. 74.
59
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental.
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades
indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
40
Por sua vez o ensino médio, previsto nos artigos 35 ao 3660, da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, possui duração mínima de três anos nos
60
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como
finalidades:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando
o prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a
ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
com a prática, no ensino de cada disciplina.
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conhecimento:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
§ 1o A parte diversificada dos currículos de que trata o caput do art. 26, definida em cada sistema de
ensino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a partir do contexto
histórico, econômico, social, ambiental e cultural.
§ 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e
práticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
§ 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática será obrigatório nos três anos do ensino médio,
assegurada às comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas maternas.
§ 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acordo com a
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
§ 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior
a mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de acordo com a definição dos sistemas
de ensino.
§ 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho esperados para o ensino médio, que serão referência
nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Comum Curricular.
§ 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar
um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos,
cognitivos e socioemocionais.
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação processual e formativa serão organizados nas
redes de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e
atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna;
II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários
formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a
relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
I - linguagens e suas tecnologias;
II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
V - formação técnica e profissional.
§ 1o A organização das áreas de que trata o caput e das respectivas competências e habilidades será feita de
acordo com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
§ 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
composição de componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários
formativos, considerando os incisos I a V do caput.
41
61
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração
seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino
públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência
técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular.
62
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades
regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
43
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em
lei.
63
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.
64
Art. 167. São vedados:
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da
arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e
serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades
da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a
prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem
como o disposto no § 4º deste artigo;
44
65
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto
neste artigo, receita do governo que a transferir.
§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no "caput" deste artigo, serão considerados os sistemas de
ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos do
plano nacional de educação.
§ 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão
financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários.
§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-
educação, recolhida pelas empresas na forma da lei.
§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão
distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes
públicas de ensino.
66
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com
vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os níveis, compreendendo
as que se destinam a:
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação;
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de instalações e equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade
e à expansão do ensino;
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamento dos sistemas de ensino;
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de transporte escolar.
67
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de
ensino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua expansão;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial, desportivo ou cultural;
III - formação de quadros especiais para a administração pública, sejam militares ou civis, inclusive
diplomáticos;
IV - programas suplementares de alimentação, assistência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica,
e outras formas de assistência social;
V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
45
70
Art. 107. Ficam estabelecidos, para cada exercício, limites individualizados para as despesas primárias:
§ 1º Cada um dos limites a que se refere o caput deste artigo equivalerá:
I - para o exercício de 2017, à despesa primária paga no exercício de 2016, incluídos os restos a pagar pagos
e demais operações que afetam o resultado primário, corrigida em 7,2% (sete inteiros e dois décimos por
cento); e
II - para os exercícios posteriores, ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido
pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, ou de outro índice que vier a substituí-lo, para o período de doze meses encerrado
em junho do exercício anterior a que se refere a lei orçamentária.
47
71
ARAUJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Editora Verbatim, 2018, págs. 603 e 604.
72
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao
Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades.
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino
fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver
falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à inovação realizadas por universidades
e/ou por instituições de educação profissional e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Poder
Público.
48
Insta consignar, por fim, que com o intuito de garantir a efetividade das
determinações constitucionais a não aplicação, total ou parcial, destes percentuais
mínimos de verbas públicas pode ensejar tanto a intervenção federal nos Estados
quanto intervenção estadual nos Municípios, conforme o disposto nos artigo da
Constituição Federal 34, VII, “e”73 e 35, III74, respectivamente.
73
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
74
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território
Federal, exceto quando:
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;
49
3. Gênero.
75
CERQUEIRA, Elizabeth Kipman (Org). Sexualidade, gênero e desafios bioéticos. São Paulo: Difusão Editora,
2011, p. 172.
50
Por fim importa destacar o termo “ideologia de gênero”, o qual possui forte
carga pejorativa para tratar a questão da identidade de gênero. Não se sabe ao
certo como surgiu tal expressão, mas acredita-se que foi emitida pela primeira
76
MAZZARIELLO, Carolina Cordeiro & FERREIRA, Lucas Bulgarelli. 2015. "Gênero". In: Enciclopédia de
Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em:
http://ea.fflch.usp.br/conceito/g%C3%AAnero?fbclid=IwAR3xYpeGJQWQzYiwqq8z3QJLT_Ejr3-
WNPNHCxaaXDopGaraIZ11-Gyesuw. Acesso em: 15/09/2019.
77
CERQUEIRA, Elizabeth Kipman (Org). Sexualidade, gênero e desafios bioéticos. São Paulo: Difusão Editora,
2011, p. 178.
51
Assim é preciso ressaltar que esta expressão não condiz com a realidade,
visto que não há que se falar em uma ideologia, pois a perspectiva e identidade
de gênero não representam a criação de valores e pensamentos que visem
orientar comportamento de indivíduos, trata-se apenas de como a pessoa se
identifica e, portanto, o uso do termo “ideologia de gênero” além de errado acaba
por confundir a sociedade acerca da essência do direito de identidade de gênero
e propiciar a continuidade de um pensamento eivado por preconceito.
3.1. Transexualidade.
78
Comentários disponíveis em:
https://img.cancaonova.com/noticias/pdf/281960_IdeologiaDeGenero_PerigosEAlcances_ConferenciaEpisc
opalPeruana.pdf. Acesso em: 15/09/2019.
52
79
Disponível em: https://www.dicio.com.br/sexo/. Acesso em: 20/jun/2019.
80
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
53
81
COELHO, Maria Thereza Ávila Dantas (org.); SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral (org.). Transexualidades, um
olhar multidisciplinar. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2014, página 13.
82
APARECIDA DE SOUZA, H.; HESPANHOL BERNARDO, M. Transexualidade: as consequências do preconceito
escolar para a vida profissional. Bagoas - Estudos gays: gêneros e sexualidades, v. 8, n. 11, p.3. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/6548/5078. Acesso em 22/09/2019.
54
Neste ponto importa destacar que a pessoa pode desejar ou não a realização
da cirurgia de transgenitalização, não sendo elemento essencial para a
caracterização da transexualidade, pois essa se apoia em como o indivíduo em
questão se identifica, na sua identidade de gênero e não na presença ou ausência
de determinado órgão genital.
Por esta razão o Supremo Tribunal Federal em março de 2018, por meio da
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.275, decidiu ser possível a alteração do
83
ARAUJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional do transexual. São Paulo: Editora Saraiva, 2000,
página 111.
55
Fator esse de grande relevância para a população transexual, uma vez que
a imputação da transexualidade como doença mental é prejudicial a esses
indivíduos, pois além de ser evidente não se tratar de doença desse porte tal
enquadramento acaba por trazer uma imagem danosa a pessoas que já encontram
dificuldades diárias por barreiras impostas pelo preconceito. A partir disso grupos
sociais defendem não ser adequado utilizar o vocábulo “transexualismo”, visto que
o sufixo “ismo” traz a ideia de patologia.
Desta feita existem diversos grupos minoritários que diante de, por exemplo,
determinados atributos, características, ideologias e crenças em comum são
estigmatizados e possuem maior dificuldade para se inserir na sociedade
56
(vulnerabilidade social) fator este que deve ser percebido pelo Estado, o qual deve
tomar medidas protetivas com o intuito de promover a igualdade e preservar o
princípio da dignidade da pessoa humana, assim como demais direitos
fundamentais estabelecidos no âmbito interno e externo.
84
BAUMAN, Zygmunt. Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 102.
57
85
SIQUEIRA, Dirceu Pereira; CASTRO, Lorenna Roberta Barbosa. Minorias e grupos vulneráveis: a questão
terminológica como fator preponderante para uma real inclusão social, v.5, n 1, pags. 111/112. Disponível
em: http://www.unifafibe.com.br/revista/index.php/direitos-sociais-politicas-pub/article/view/219/pdf.
Acesso em: 22/09/2019.
86
NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais: trunfos contra a maioria. Coimbra: Coimbra, 2006, páginas 17
e 18.
58
87
NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais: trunfos contra a maioria. Coimbra: Coimbra, 2006, página 33.
59
88
COELHO, Maria Thereza Ávila Dantas; SAMPAIO, Liliana Lopes Pedral (Organizadoras).
Transexualidades um olhar multidisciplinar. Salvador: Editora EDUFBA, 2014, páginas 18 e 19.
89
De acordo com dados coletados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), no Brasil,
cerca de noventa por cento dos travestis e transexuais recorrem a profissões de caráter sexual em algum
momento da vida. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-
assassinatos-2017-antra.pdf. Acesso em: 20/jun/2019.
90
Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2018/02/relatc3b3rio-mapa-dos-assassinatos-
2017-antra.pdf. Acesso em: 20/jun/2019.
91
Disponível em: https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/disque-100. Acesso em: 20/jun/2019.
60
92
Disponível em: https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relat%C3%B3rio-de-crimes-contra-
lgbt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf. Acesso em: 20/jun/2019.
93
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/expectativa-de-vida-
de-transexuais-e-de-35-anos-metade-da-media-nacional/expectativa-de-vida-de-transexuais-e-de-35-anos-
metade-da-media-nacional. Acesso em: 20/jun/2019.
94
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/brasil-segue-no-primeiro-lugar-do-ranking-de-
assassinatos-de-transexuais-23234780. Acesso em 28/jun/2019.
61
Assim com relação ao setor da educação não poderia ser diferente uma vez
que os colegas, alunos e funcionários em geral da instituição de ensino por estarem
inseridos nessa sociedade discriminatória a reproduzem no âmbito escolar
resultando na evasão como forma de o indivíduo transexual tentar evitar o
sofrimento da discriminação, fator este que futuramente resultará numa dificuldade
maior em inserir-se no mercado de trabalho.
Também não há uma preocupação dos setores públicos e privados que
incentive de modo suficiente a inserção e a manutenção desta parcela da
população nos ambientes de ensino, como professores preparados para lidar com
o assunto da discriminação e da inclusão e políticas públicas que tenham essa
finalidade, e, desta feita, os transexuais acabam por ter seu direito à educação
negado e os demais acabam por não conviver com as diferenças, fator este que
facilitaria o aprendizado sobre a aceitação e o respeito.
É evidente, ainda, a necessidade de se promover a empatia, de colocar-se
no lugar do outro com o intuito de tentar compreender o sofrimento alheio e
estimular que se busque a convivência pacífica, baseada no respeito, sendo
imperioso, para tanto, a familiaridade com a diversidade.
À luz dessas informações tem-se que a aversão, a discriminação e o
preconceito aos transexuais (transfobia) é responsável por trazer situações
desumanas com consequências gravíssimas inclusive no âmbito da educação,
ocasionando a exclusão e até a morte destes indivíduos. Por essa razão é
imperioso que sejam tomadas atitudes que visem à proteção e à inclusão deste
grupo minoritário, visto que a falta de políticas pelo Estado para esse fim tem como
resultado as estatísticas absurdas apresentadas.
95
Disponível em: http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
62
96
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.076/AC foi decidido que o preâmbulo não possui força
normativa devendo ser utilizado apenas como fonte de interpretação do texto constitucional, discussão esta
que ocorreu diante da existência da expressão “sob a proteção de Deus”. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=375324. Acesso em: 27/jun/2019.
63
97
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo. A
construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Editora fórum, 2014,
página 61.
64
98
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;
99
SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição de 1988.
Editora: livraria do advogado, 2008, p. 74.
100
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/adi3510CL.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
65
101
SARMENTO, Daniel (Coord.); PIOVESAN, Flávia (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.643.
102
SARLET. Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição de 1988.
Editora: livraria do advogado, 2008, p. 115/116.
66
Por isso, quando se quer proteger e se quer emancipar os grupos que são
vítimas de preconceito, torna-se necessário travar o combate em dois
fronts: no campo da distribuição e no campo do reconhecimento. No
campo da distribuição, trata-se de corrigir as desigualdades decorrentes
de uma partilha não equitativa dos recursos existentes na sociedade. E no
103
BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo. A
construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Editora fórum, 2014,
página 66.
104
SARMENTO, Daniel (Coord.); PIOVESAN, Flávia (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.644/645.
67
105
SARMENTO, Daniel (Coord.); PIOVESAN, Flávia (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.645.
106
Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na
utilidade comum. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-
apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf. Acesso em: 20/jun/2019.
68
107
Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
69
Destarte a lei irá alçar determinados elementos diferenciais aos quais irá
atribuir efeitos jurídicos desuniformes com relação aos demais, não sendo possível,
todavia, que o traço diferencial singularize o seu destinatário de modo absoluto,
definitivo e particular.
Pode a lei, entretanto, atingir tanto uma parcela de pessoas quanto apenas
um indivíduo, desde que quando da criação da legislação tal sujeito seja
indeterminado ou indeterminável.
108
Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello deve-se avaliar se há “critérios distintivos justificadores
de tratamentos jurídicos díspares”.
70
Desta feita, uma vez que a igualdade material preocupa-se com a finalidade
almejada ela deve atentar-se à diversidade em seus variados aspectos, com o
109
DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. Malheiros Editores,
2013, páginas 21 e 22.
110
PIOVESAN, Flávia (Coord.); SARMENTO, Daniel (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, página 49.
71
111
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
112
Disponível em: http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
113
Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da
informação inclui o direito ao esquecimento.
72
114
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
115
ARAUJO, Luiz Alberto David; JÚNIOR, Vidal Serrano Nunes. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:
Editora Verbatim, 2018, página 228.
73
Diante das definições existentes pra tal direito destaca-se como elemento
comum e central a autonomia, ou seja, liga o direito à liberdade a ideia de que cada
indivíduo pode fazer aquilo que bem entender de sua vida sem causar prejuízos a
terceiros. As pessoas possuem liberdade de autodeterminar-se, conduzir sua vida
em conformidade com suas aspirações, ideais e posicionamentos.
116
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de
seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.
117
Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício
dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da
sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei.
118
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. Malheiros Editores, 1997, página 227.
74
Por outro lado, tendo em conta que uma série de dimensões essenciais à
dignidade pessoal não foi contemplada (direta e expressamente) no texto
constitucional, é preciso ter presente que o direito ao livre
desenvolvimento da personalidade e o direito geral de personalidade que
dele resulta, sendo “expressão direta do postulado básico da dignidade
humana”, abarcam toda a manifestação essencial à personalidade, de
119
SARMENTO, Daniel (Coord.); PIOVESAN, Flávia (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p.646.
75
modo especial o direito à identidade pessoal e moral, que, por sua vez,
inclui o direito à identidade genética do ser humano, o direito ao nome, o
direito ao conhecimento da paternidade, de tal sorte que, embora sempre
presentes zonas – maiores ou menores – de confluência com os direitos
especiais de personalidade, o direito geral de personalidade, como já
referido, segue sendo um direito autônomo e indispensável à proteção
integral e sem lacunas da personalidade. Ainda neste contexto, vem,
portanto, a calhar a lição de Paulo Mota Pinto, ao afirmar que “o direito
geral de personalidade é, nesse sentido, também ‘aberto’, sincrônica e
diacronicamente, permitindo a tutela de novos bens, e face a renovadas
ameaças à pessoa humana, sempre tendo como referente o respeito pela
personalidade, quer numa perspectiva estática, quer na sua dimensão
dinâmica de realização e desenvolvimento”.120
120
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, página 401.
121
Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20627236/acao-direta-de-
inconstitucionalidade-adi-4277-df-stf. Acesso em 07/09/2019.
122
Ementa: Altera o artigo 6º da Constituição Federal para incluir o direito à busca da Felicidade por cada
indivíduo e pela sociedade, mediante a dotação pelo Estado e pela própria sociedade das adequadas
condições de exercício desse direito.
123
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes:
76
5. Âmbito internacional.
O próprio texto constitucional estabelece em seu artigo 5º, §3º que tratados
e convenções internacionais que versem sobre direitos humanos e que forem
aprovados com o mesmo quórum qualificado necessário para a aprovação de
emendas constitucionais serão equivalentes às últimas, ou seja, aqueles que forem
aprovados nas duas casas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e
Senado Federal), em dois turnos de votação, por três quintos dos votos de seus
membros. Medida essa que comprova que o rol de direitos e garantias
fundamentais estabelecidos no artigo quinto não é taxativo.
124
PIOVESAN, Flávia (Coord.); SARMENTO, Daniel (Coord.); IKAWA, Daniela (Coord.). Igualdade, diferença e
direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, página 53.
125
Disponível em: https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14716540/recurso-extraordinario-re-466343-
sp. Acesso em 07/09/18.
78
126
Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8606935/recurso-especial-resp-914253-sp-
2006-0283913-8-stj/relatorio-e-voto-13677534?ref=juris-tabs. Acesso em: 07/09/2019.
79
Artigo III
A fim de eliminar e prevenir qualquer discriminação no sentido da presente
Convenção, os Estados partes se comprometem a:
127
Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
128
Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
129
Disponível em : https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000132598_por. Acesso em: 20/jun/2019.
83
130
Disponível em: http://www.tjrr.jus.br/cij/arquivospdf/ConvencaoAmericana-pacjose-1969.pdf. Acesso
em: 20/jun/2019.
131
Artigo 24. Igualdade perante a lei - Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito,
sem discriminação, a igual proteção da lei. Disponível em:
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm. Acesso em:
20/jun/2019.
84
132
Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em:
20/jun/2019.
133
Disponível em: http://www.clam.org.br/uploads/conteudo/principios_de_yogyakarta.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
134
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI4277CM.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
85
Desta feita são essenciais atitudes dos Estados para coibi-las, assim como
para facilitar a inserção desta parcela da população na sociedade tratando
expressamente dos setores da educação, emprego e saúde, mas sem olvidar da
existência de discriminação em outras áreas relativas a serviços básicos.
135 DA SILVA, Beatriz Pereira. A efetividade da proteção da identidade de gênero e do nome da pessoa
transexual: análise da constitucionalidade e da convencionalidade. 2016. 168f. Dissertação de Mestrado
– Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, página 72.
136
Disponível em: https://www.sertao.ufg.br/up/16/o/pplgbt-180.pdf. Acesso em: 20/06/2019.
137
Disponível em:
https://www.ohchr.org/Documents/Publications/BornFreeAndEqualLowRes_Portuguese.pdf. Acesso em:
20/jun/2019.
86
Além disso há a agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas 139 que
consiste em planos de ação decididos por líderes mundiais com objetivos e metas
para o planeta buscando, dentre outros, a concretização dos direitos humanos.
Desta agenda destaca-se para o presente trabalho o objetivo quatro, qual seja
“assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover
oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.
138
Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_24_esp.pdf. Acesso em: 20/jun/2019.
139
Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 20/jun/2019.
87
Dito isso deve o Estado adotar providências para prevenir violações aos
direitos humanos no âmbito jurídico, político e administrativo com o intuito de evitar
sanções internacionais e cumprir as obrigações fixadas e admitidas pelo próprio
Estado em Tratados e Convenções.
140
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. “Curso de Direito Constitucional.
Revista dos Tribunais”, 2014, página 1337.
141
Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1059446&filename=%20PL+50
02/2013. Acesso em: 21/jun/2019.
88
142
Disponível em: https://legislativo.parlamento.gub.uy/temporales/docu2407969750245.htm. Acesso em:
21/jun/2019.
143
Disponível em: https://www.leychile.cl/Navegar?idNorma=1126480. Acesso em: 21/jun/2019.
89
Argentina já prevê tal possibilidade por meio da lei nº 26.273144 desde 2012,
ressaltando que em 2010 foi o primeiro país latino americano a permitir o
casamento entre pessoas do mesmo sexo, assim como o Equador também permite
tal alteração nos documentos de identidade por meio da “Lei Orgânica do Serviço
Nacional de Gestão de Identidade e Dados Civis de 2015” (R.O. 684, Segundo
Suplemento, del 04-02-2016)145 e a Bolívia em 2016 com a Lei nº 807146.
144
Disponível em: http://www.saij.gob.ar/26743-nacional-ley-identidad-genero-lns0005735-2012-05-
09/123456789-0abc-defg-g53-75000scanyel. Acesso em: 21/jun/2019.
145
Disponível em: https://www.asambleanacional.gob.ec/es/leyes-aprobadas?leyes-
aprobadas=485&title=&fecha=&page=1. Acesso em 21/jun/2019.
146
Disponível em: http://www.diputados.bo/leyes/ley-n%C2%B0-807. Acesso em: 21/jun/2019.
90
6. Ensino inclusivo.
Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram sua
humanidade negada, mas os que a negaram, negando também a
sua.147
147
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz & Terra, 2017, págs. 58/59.
148
Disponível em: http://especiais.correiobraziliense.com.br/violencia-e-discriminacao-roubam-de-
transexuais-o-direito-ao-estudo. Acesso em:01/jul/2019.
149
Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000244652_por. Acesso em: 01/jul/2019.
92
150
MITTLER, Peter. Educação inclusiva. Contextos sociais. Artmed editora S.A., 2003, página 25.
151
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm. Acesso em:
03/jul/2019.
152
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/1991/decretolegislativo-226-12-dezembro-
1991-358251-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em 03/jul/2019.
95
ARTIGO 13
153
Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000244652_por. Acesso em: 04/jul/2019.
97
154
Disponível em: file:///C:/Users/Ana%20Santos/Downloads/jogo-aberto---respostas-do-setor-de-
educacao-a-violencia-com-base-na-orientacao-sexual-e-na-identidade-expressao-de-genero%20(3).pdf.
Acesso em: 07/09/2019.
99
Figura 2 – Trazida na página 83 do Relatório da UNESCO de 2017 ao tratar acerca das políticas
escolares que buscam combater a violência homofóbica e transfóbica.155
155
Disponível em: file:///C:/Users/Ana%20Santos/Downloads/jogo-aberto---respostas-do-setor-de-
educacao-a-violencia-com-base-na-orientacao-sexual-e-na-identidade-expressao-de-genero%20(3).pdf.
Acesso em: 07/09/2019.
100
156
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz & Terra, 2017, p. 57.
101
7. Jurisprudência.
157
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade:
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
§ 1º O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e
em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será
dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em trinta dias.
§ 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato
normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.
158
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9868.htm. Acesso em: 05/10/2019.
159
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm. Acesso em 05/10/2019.
102
160
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de
seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
161
Art. 11. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de argüição de
descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir
os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado.
162
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635. Acesso em:
23/09/2019.
163
Ressalta-se que tal demanda tem como objeto a situação vivenciada pelas uniões homoafetivas dos
servidores cíveis do Estado do Rio de Janeiro.
103
Antes de ingressar nos votos dos Ministros cabe ressaltar que na ADPF
nº 132 o governo do Estado do Rio de Janeiro alegou que não reconhecer a
união homoafetiva como entidade familiar contraria o direito a igualdade, a
liberdade, a vedação de discriminações odiosas e o princípio da dignidade da
pessoa humana.
Afirma, ainda, que a Constituição Federal não trata acerca das funções
sexuais das pessoas ou com quem elas devem se relacionar sexualmente,
estando ao livre arbítrio de cada indivíduo (liberdade sexual), apenas distingue
107
164
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento)
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela
mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional
nº 66, de 2010)
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
Regulamento
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
108
Cabe expor neste momento trecho do voto do ministro Luiz Fux acerca da
instituição familiar.
O que faz uma família é, sobretudo, o amor – não a mera afeição entre
os indivíduos, mas o verdadeiro amor familiar, que estabelece relações
de afeto, assistência e suporte recíprocos entre os integrantes do
grupo. O que faz uma família é a comunhão, a existência de um projeto
coletivo, permanente e duradouro de vida em comum. O que faz uma
família é a identidade, a certeza de seus integrantes quanto à
existência de um vínculo inquebrantável que os une e que os identifica
uns perante os outros e cada um deles perante a sociedade. Presentes
esses três requisitos, tem-se uma família, incidindo, com isso, a
respectiva proteção constitucional.
165
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
166
Art. 19 - Conceder-se-á licença:
II - por motivo de doença em pessoa da família, com vencimento e vantagens integrais nos primeiros 12 (doze)
meses; e, com dois terços, por outros 12 (doze) meses, no máximo;
V - sem vencimento, para acompanhar o cônjuge eleito para o Congresso Nacional ou mandado servir em
outras localidades se militar, servidor público ou com vínculo empregatício em empresa estadual ou
particular;
Art. 33 - O Poder Executivo disciplinará a previdência e a assistência ao funcionário e à sua família,
compreendendo:
110
I - salário-família;
II - auxílio-doença;
III - assistência médica, farmacêutica, dentária e hospitalar;
IV - financiamento imobiliário;
V - auxílio-moradia;
VI - auxílio para a educação dos dependentes;
VII - tratamento por acidente em serviço, doença profissional ou internação compulsória para tratamento
psiquiátrico;
VIII - auxílio-funeral, com base no vencimento, remuneração ou provento;
IX - pensão em caso de morte por acidente em serviço ou doença profissional;
X - plano de seguro compulsório para complementação de proventos e pensões.
Parágrafo único - A família do funcionário constitui-se dos dependentes que, necessária e comprovadamente,
vivam a suas expensas.
167
Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6984693. Acesso
em: 28/09/2019.
111
social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam
converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de
determinado grupo social, mas em detrimento da coletividade como um
todo, situação – é escusado dizer – incompatível com o espírito de
qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo,
outrossim, respeitar a proporcionalidade entre os meios empregados e
os fins perseguidos.
Ainda, o Estado deve se mobilizar e agir nesse sentido, por exemplo, por
meio de ação afirmativas nas instituições de ensino que visem à inclusão das
minorias, como é o caso das cotas raciais, uma vez que a questão étnico-racial
113
O Ministro Gilmar Mendes, por sua vez, chamou atenção para a existência
de outros critérios que devem ser levados em conta quando da política de cotas,
por exemplo o aspecto econômico, e, ainda citou a dificuldade em classificar e
designar quem se enquadraria como branco ou como negro, todavia enfatizou a
necessidade de ações afirmativas de inclusão social concluindo seu voto pela
improcedência da ADPF.
Cumpre neste ponto ressaltar a definição de discriminação trazida pelo
Ministro Ayres Britto, a qual deve ser combatida.
115
168
Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf
?seqobjetoincidente=4818214. Acesso em: 26/jun/2019.
169
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e
avaliar:
116
30170, caput, ante a presença da palavra “privadas”, uma vez que a confederação
em questão defende ser inconstitucional determinar que as escolas particulares
devam receber todo e qualquer portador de deficiência, excluindo também a
possibilidade de cobrança de valores extras, por não possuir estrutura para tanto
e nem capacidade financeira, ou seja, alegam que os artigos citados traduzem
uma imposição à iniciativa privada de encargos e custos que são de
responsabilidade exclusiva do Estado.
Desta feita inicia-se pelo voto do relator o Ministro Edson Fachin, o qual
ressalta a importância da inclusão em uma sociedade pluralista, sendo dever da
escolar prezar pela convivência no sentido geral, inclusive com o diferente, ao
invés de segregar, e expõe acerca da necessidade de mecanismos que
propiciem a concretização do princípio da igualdade, sendo devido tanto nas
escolas públicas quanto nas particulares.
Explico: essa atuação não apenas diz respeito à inclusão das pessoas
com deficiência, mas também, em perspectiva inversa, refere-se ao
direito de todos os demais cidadãos ao acesso a uma arena
democrática plural. A pluralidade - de pessoas, credos, ideologias, etc.
119
Tenho uma declaração de voto escrita, vou juntá-la aos autos, Senhor
Presidente, mas gostaria aqui, ao afirmar meu voto no sentido e na
mesma linha do proferido pelo eminente Relator, apenas de destacar
uma compreensão pessoal de que muitas das mazelas que hoje
estamos enfrentando, e de que a nossa sociedade tem se ressentido,
no sentido de intolerância, de ódio, de competição, de desrespeito, de
sentimento de superioridade em relação ao outro - como diz o Ministro
Fachin, um legítimo estrangeiro diante de nós -, talvez deitem raízes
no fato de nós, a nossa geração, não ter tido a oportunidade, quem
sabe, de participar da construção diária de uma sociedade inclusiva e
acolhedora, em que valorizada a diversidade, em que as diferenças
sejam vistas como inerentes a todos os seres humanos, a tornar a
deficiência um mero detalhe na nossa humanidade. É essa sociedade
que seria capaz - e que queremos -, de se tornar livre, justa, solidaria
e promotora do bem de todos, sem qualquer discriminação, em
verdadeira reverência ao art. 3º, nos seus incisos I e IV, da nossa
Constituição Federal.
e Classes Comuns da Rede Regular” e que busca tratar do ensino inclusivo para
alunos com deficiência no ensino regular.
O Ministro Luiz Fux ressalta o objetivo de criar uma nação justa e solidária
trazido no preâmbulo da Carta Magna, o qual tem como cerne o princípio da
dignidade da pessoa humana, sendo preciso, para tanto, a implementação do
ensino inclusivo.
deficiência, ele também deve ser aplicado aos indivíduos transexuais, os quais
representam uma minoria que tem seu direito à educação afrontado diante da
discriminação e do preconceito existente, necessitando da implementação de
medidas e instrumentos que possibilitem sua inserção em diversos âmbitos,
assim como ocorre com os portadores de deficiências.
171
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADO26ementaassinada.pdf.
Acesso em: 21/10/2019.
172
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm. Acesso em: 28/out/2019.
122
Desta feita ressalta que todos nascem iguais não podendo, principalmente
em um regime democrático, serem privados ou sofrerem quaisquer restrições
em seus direitos devido a identidade de gênero ou a orientação sexual, assim é
imperioso o respeito às liberdades fundamentais, bem como a busca em
assegurar a cidadania plena.
173
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;
174
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei;
125
175
Nessa sigla estão inclusos lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros (abrangendo transexuais e travestis),
queer (não se definem como homem ou mulher), intersexo (biologicamente não se enquadram no binário
sexo feminino ou masculino), assexuais (pessoas que não sentem, ou de forma muito rara, atração sexual) e
pan (sentem atração independente do gênero).
129
176
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Ação afirmativa. O conteúdo democrático do princípio da igualdade
jurídica. Página 3. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176462/000512670.pdf?sequence=3. Acesso em:
09/jul/2019.
177
Para tanto devem ser utilizadas as lições de Celso Antônio Bandeira de Mello aludidas no capítulo 4.2. do
presente trabalho.
178
DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros Editores, 1997, p.
178/179.
131
No campo da educação Paulo Freire critica o que ele denomina como uma
“concepção bancária da educação” no qual ao invés de priorizar a força
transformadora que o sistema educacional pode proporcionar tem-se a relação de
educador-educandos como uma narrativa na qual se busca a memorização de um
conteúdo de forma mecânica, assim o alunos seriam vasilhas a serem preenchidas
pelos educadores.
179
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Ação afirmativa. O conteúdo democrático do princípio da igualdade
jurídica. Página 13. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/176462/000512670.pdf?sequence=3. Acesso em:
09/jul/2019.
132
Então uma medida importante para ser aplicada nesse âmbito é a figura do
“professor mediador”, surgida na década de setenta com a ideia da “pedagogia
progressiva”, o qual condiz com uma postura do docente que procure incentivar e
facilitar o aprendizado com o intuito de formar cidadãos com o espírito participativo,
onde todos possam se expressar, e que busquem o conhecimento como meio de
melhorar a sociedade, instigar o aluno a ter vontade de aprender e assim contribuir
para a construção pessoal e crítica do conhecimento de cada indivíduo.
180
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz & Terra, 2017, págs. 80/81.
181
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz & Terra, 2017, págs. 95/101.
133
Por fim cabe mencionar que apesar de não existir lei federal que regule cotas
para transexuais algumas universidades estabelecem tais políticas afirmativas
como a Universidade Estadual da Bahia (Uesb), a Universidade Federal do Sul da
Bahia (UFSB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Estadual
do Mato Grosso do Sul (UEMS) e a Universidade do ABC Paulista (UFABC).
Também há instituições federais que adotam o sistema de cotas para transexuais
em seus programas de pós graduação.182
182
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/cotas-para-trans-ganham-espaco-em-
universidades-e-geram-questionamentos/. Acesso em: 11/jul/2019.
183
Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-paulo/decreto/2015/5587/55874/decreto-n-
55874-2015-institui-o-programa-transcidadania-destinado-a-promocao-da-cidadania-de-travestis-e-
transexuais-em-situacao-de-vulnerabilidade-social-altera-disposicoes-dos-decretos-n-44484-de-10-de-
marco-de-2004-e-n-40-232-de-2-de-janeiro-de-2001. Acesso em: 09/jul/2019.
184
Disponível em: https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-paulo/decreto/2018/5822/58227/decreto-n-
58227-2018-confere-nova-regulamentacao-ao-programa-transcidadania-instituido-pelo-decreto-n-55874-
de-29-de-janeiro-de-2015-bem-como-institui-e-inclui-no-calendario-de-eventos-da-cidade-de-sao-paulo-o-
mes-da-visibilidade-trans. Acesso em: 09/jul/2019.
134
Prezada requerente,
185
Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/lgbti/programas_e_projetos/index.
php. Acesso em: 09/jul/2019.
135
Bolsistas atuais:
- sem informação: 0
Bolsistas desligadas:
Atenciosamente,
Chefe de Gabinete
Por meio de tal resposta conclui-se que apesar das poucas informações
existentes representantes da sociedade civil se organizaram e confirmaram o nível
baixo de escolaridade dos transexuais e travestis sendo pertinente a existência de
políticas públicas voltadas a essa parcela da população.
CONCLUSÃO
Por essa razão caso haja ofensa à tal direito é cabível ao indivíduo ingressar
com demanda judicial, uma vez que trata-se de direito público subjetivo devendo,
portanto, ser aplicado de forma imediata e eficaz, não sendo adequado à utilização
por parte do Estado da alegação de cláusula de reserva do possível no caso de
direito pertencente ao mínimo existencial para uma existência digna.
Assim, a angústia vivenciada pelas minorias somente pode ser acolhida por
uma sociedade preparada, mormente, no que concerne ao campo da educação.
E, deste modo ficaria mais evidente que o fato de uma pessoa possuir
orientação sexual ou identidade de gênero diferente da maioria não a faz um
cidadão pior, assim como não é critério de idoneidade moral, apenas referem-se às
características pessoais que devem ser respeitadas.
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