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INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

CURSO BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

LUÍSA INÁCIO SOARES

ENSAIO ACADÊMICO

CAMPUS PATOS DE MINAS - MG


2023
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LUÍSA INÁCIO SOARES

ENSAIO ACADÊMICO

DOCENTE: PROF. ME. MUNÍS


PEDRO ALVES

CAMPUS PATOS DE MINAS - MG


2023
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
2. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 6
3. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 9
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 10
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1. INTRODUÇÃO

A transformação do mercado de trabalho impulsionada pela uberização tem


sido um tema de grande significado e preocupação. Esse modelo de negócios
baseados em plataformas digitais, como o Uber, tem alterado profundamente a forma
como o trabalho é organizado e realizado. No entanto, juntamente com os benefícios
e vantagens oferecidas por essas plataformas, surgem também questionamentos
sobre os impactos na vida dos trabalhadores e na sociedade como um todo.
O ensaio acadêmico proposto tem como objetivo explorar especificamente os
problemas da precarização e do desgaste dos trabalhadores nesse contexto de
uberização do trabalho. Para isso, serão utilizadas as perspectivas projetadas no texto
Uberização do trabalho e transferência capitalista e no livro Sociedade do Cansaço de
Byung-Chul Han.
O texto Uberização do trabalho e transferência capitalista analisa o fenômeno
da uberização sob a ótica da transferência capitalista. Ele argumenta que a exploração
dos trabalhadores nesse modelo está intrinsecamente ligada à lógica do capitalismo,
que busca maximizar os lucros e reduzir os custos de produção. A uberização do
trabalho permite que as empresas se beneficiem da flexibilização e precarização das
relações de trabalho, transferindo os riscos e encargos para os trabalhadores. Isso
resulta em uma maior vulnerabilidade desses trabalhadores, que muitas vezes não
têm acesso a direitos trabalhistas básicos, como salário mínimo, férias remuneradas
e proteção social.
Já o livro Sociedade do Cansaço"de Byung-Chul Han oferece uma perspectiva
mais ampla sobre os efeitos da sociedade contemporânea na vida dos indivíduos. Han
argumenta que viver em uma sociedade caracterizada pelo excesso de informação,
exigências constantes de segurança e a ilusão da liberdade individual. Nesse
contexto, a uberização do trabalho pode contribuir para o agravamento do cansaço e
do desgaste dos trabalhadores, uma vez que eles estão constantemente sufocados a
estar disponíveis, a trabalhar longas horas e se auto gerenciarem. Além disso, a
competição entre trabalhadores na plataforma, em busca das melhores previsões e
mais oportunidades de trabalho, também pode gerar um ambiente de estresse e
exaustão.
Dessa forma, o ensaio acadêmico terá como base teórica os conceitos
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apresentados nesses textos. Ele explorará como a uberização do trabalho contribui


para a precarização das condições de trabalho e para o desgaste físico e mental do
trabalhador. Será discutido como essa forma de organização do trabalho intensifica
as demandas e expectativas sobre os trabalhadores, levando a uma crescente
exploração e uma possível busca da qualidade de vida.
Ao abordar essas questões, o ensaio acadêmico contribuirá para um debate
crítico sobre a uberização do trabalho e seus impactos na vida dos trabalhadores e na
sociedade como um todo.
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2. DESENVOLVIMENTO

A uberização do trabalho é marcada por uma transferência do capital para o


trabalhador, que passa a assumir a responsabilidade pelos principais meios de
produção da atividade produtiva. Embora inicialmente essa transferência possa ser
vista como uma aparente autonomia e liberdade, ela esconde uma dinâmica de
subordinação estrutural. A sensação sobre como executar o trabalho, os padrões e as
metas produtivas são definidas pela empresa detentora da plataforma de
intermediação, o que coloca o trabalhador em uma posição de submissão, sujeito às
imposições protegidas sob o risco de desligamento da ocupação. Essa subordinação
estrutural reforça a necessidade do trabalhador de vender sua força de trabalho para
a subsistência, confiante para a precarização das condições de trabalho.
A precarização do trabalho na era da uberização se manifesta de diversas
formas. Primeiramente, a flexibilidade e a informalidade são características marcantes
desse modelo. Os trabalhadores trabalham como geradores de serviços autônomos,
sem vínculos formais, o que resulta em falta de segurança e estabilidade contratual.
Além disso, a ausência de um contrato de trabalho formal implica na exclusão de
benefícios e direitos trabalhistas, como férias remuneradas, licença médica e
contribuições previdenciárias, ampliando a desigualdade social e fragilizando a
proteção social do trabalhador.
Essas questões são importantes levantadas em relação à chamada
"uberização do trabalho". A transformação digital e as plataformas de intermediação,
como o Uber, criaram novas formas de organização do trabalho, nas quais os
trabalhadores são autônomos ou parceiros, ao invés de empregados formais.
Embora a flexibilidade possa ser vista como uma vantagem por alguns,
permitindo que os trabalhadores escolham seus horários e a quantidade de trabalho
que desejam realizar, ela também pode resultar em insegurança e insegurança. Os
trabalhadores da gig economy (economia dos bicos) muitas vezes se deparam com
uma falta de estabilidade contratual, com a possibilidade de não ter trabalho suficiente
para se sustentar financeiramente.
Outra questão é a falta de benefícios e direitos trabalhistas. Sem um contrato
formal de trabalho, os trabalhadores da uberização geralmente não têm acesso a
benefícios como seguro saúde, férias remuneradas, licença médica, contribuições
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previdenciárias e outros direitos previstos em legislações trabalhistas. Isso pode levar


a uma maior desigualdade social, já que os trabalhadores ficam desprotegidos em
casos de doença, acidente ou desemprego.
Outrossim, a subordinação estrutural mencionada no texto também é uma
preocupação. Embora os trabalhadores tenham uma aparência de autonomia, as
plataformas de intermediação mantêm um alto controle sobre as condições de
trabalho. Elas definem as regras, os preços, as metas e até mesmo o sistema de
avaliação dos trabalhadores, podendo puni-los ou desativá-los da plataforma da caso
não omitissem os critérios. Isso cria uma relação de dependência, em que os
trabalhadores precisam se adequar às exigências da plataforma para manterem seu
sustento.
No entanto, a precarização do trabalho na uberização não se limita apenas às
condições contratuais. Ela também se reflete no desgaste físico e mental dos
trabalhadores, o que se conecta com o pensamento de Byung-Chul Han sobre a
sociedade do cansaço. A lógica da uberização impulsionou uma busca incessante por
produtividade, levando a uma intensificação do trabalho. Os trabalhadores se veem
constantemente sofridos a atender às demandas dos clientes e cumprir metas
alcançadas pelas plataformas, sofreram em uma sobrecarga física e mental. A
autonomia aparente concedida aos trabalhadores na uberização muitas vezes se
torna uma armadilha, pois eles são levados a se autoexplorar, gerenciando suas
próprias atividades e ritmos de trabalho, sem pausas ou descanso educacional.
Diante dessas considerações, torna-se evidente como a uberização do trabalho
contribui para a precarização das condições de trabalho e para o desgaste físico e
mental do trabalhador. A transferência de responsabilidades e a ausência de direitos
e proteção social resultam em insegurança e vulnerabilidade. Além disso, a
intensificação do trabalho e a pressão por produtividade constante levam ao
esgotamento dos trabalhadores, afetando sua saúde e bem-estar.
A lógica da produtividade e da busca incessante por atender às demandas dos
clientes e cumprir metas alcançadas pelas plataformas pode levar a uma
intensificação do trabalho, desenvolvida em sobrecarga física e mental. Embora os
trabalhadores tenham a liberdade de gerenciar suas próprias atividades e ritmos de
trabalho, essa liberdade é limitada pelas metas e padrões pelas plataformas. A
pressão para trabalhar constantemente, sem pausas ou descanso adequado, pode
levar ao esgotamento e à exaustão dos trabalhadores. Essa intensificação do trabalho
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e a falta de controle de proteção social funcionaram para a precarização das


condições de trabalho. Os trabalhadores da uberização muitas vezes enfrentam
longas jornadas de trabalho, insegurança financeira e ausência de benefícios e
direitos trabalhistas. Isso pode ter efeitos negativos não apenas na saúde física e
mental dos trabalhadores, mas também em sua qualidade de vida de forma mais
ampla.
A conexão com o pensamento de Byung-Chul Han sobre a sociedade do
cansaço é pertinente. Han argumenta que, na sociedade contemporânea, estamos
constantemente buscando a produtividade e o sucesso, o que nos leva a nos
esgotarmos. A uberização do trabalho parece se alinhar a essa lógica, trabalhando o
trabalhador em um ciclo de esforço constante, sem pausas adequadas para descanso
e recuperação.
Diante desse cenário, é importante considerar formas de mitigar os impactos
negativos da uberização do trabalho. Isso pode envolver a implementação de
regulamentações trabalhistas mais adotadas para proteger os direitos dos
trabalhadores da economia de trabalho, bem como promover políticas de bem-estar e
saúde ocupacional. Além disso, a conscientização e a organização dos trabalhadores
também desempenham um papel crucial na busca por melhores condições de
trabalho e na defesa de seus direitos.
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3. CONCLUSÃO

A uberização do trabalho apresenta uma série de desafios impostos para os


trabalhadores, que vão desde a precarização das condições de trabalho até o
desgaste físico e mental. Ao conectarmos as reflexões de Byung-Chul Han sobre a
sociedade do cansaço com a realidade da uberização, fica claro que é essencial
repensar os modelos de trabalho e buscar alternativas que garantam condições
dignas e saudáveis para os trabalhadores.
A discussão sobre a uberização do trabalho e seus sentimentos deve ser
ampliada e aprofundada, levando em consideração não apenas os aspectos
psicológicos, mas também os sociais e éticos. Nesse sentido, é fundamental que
medidas políticas e regulatórias sejam adotadas para mitigar os efeitos negativos
desse modelo e promover relações de trabalho mais justas e equitativas.
Além disso, é importante fomentar a conscientização sobre os direitos dos
trabalhadores e encorajar o diálogo entre as partes envolvidas, incluindo plataformas
digitais, trabalhadores e autoridades reguladoras. Somente por meio do engajamento
coletivo e de um conjunto de esforço será possível buscar soluções que protejam os
trabalhadores da precarização e do esgotamento, garantindo um futuro laboral mais
sustentável e inclusivo.
Sabe-se que, a uberização do trabalho não pode ser vista como um fenômeno
isolado, mas sim como parte de um panorama maior de transformação na economia
e nas relações de trabalho. Portanto, é fundamental que as discussões e ações em
relação à uberização estejam inseridas em um contexto mais amplo, levando em conta
questões como a proteção social, a redistribuição de renda e a promoção de
oportunidades igualitárias. Somente assim poderemos construir uma sociedade em
que o trabalho seja valorizado, respeitado e capaz de proporcionar uma vida digna a
todos.
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REFERÊNCIAS

Antunes, Ricardo. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. In Trabalho


digital e capitalismo: globalização, acumulação e crise, pp. 193-217. Boitempo
Editorial, 2018.

Braga, Ruy. A economia dos bicos: trabalho e valorização. Boitempo Editorial,


2017.

FRANCO, D. Uberização do trabalho e acumulação capitalista. In: Cadernos


EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 330-333, 2020. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/cebape/a/9NJd8xMhZD3qJVwqsG4WV3c/?format=pdf&lang
=pt#:~:text=%E2%80%A2-
,A%20uberiza%C3%A7%C3%A3o%20do%20trabalho%20representa%20um%20mo
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Galvão, Andréia. Uberização e a nova configuração do trabalho. In Direito,


Tecnologia e Trabalho, pp. 81-94. LTr Editora, 2020.

Han, Byung-Chul. A Expulsão do Outro: Sociedade do Desempenho e Vazio


Existencial. Petrópolis: Vozes, 2017.

Han, Byung-Chul. A Agonia do Eros. Petrópolis: Vozes, 2019.

Han, Byung-Chul. Psychopolitics: Neoliberalism and New Technologies of Power.


Nova Iorque: Verso, 2017.

Han, Byung-Chul. No Enxame: Perspectivas do Digital. Petrópolis: Vozes, 2019.

Han, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017. (Edição original


em alemão: Müdigkeitsgesellschaft, Matthes & Seitz Berlin, 2010)

Han, Byung-Chul. Psychopolitics: Neoliberalism and New Technologies of Power.


Nova Iorque: Verso, 2017.

Han, Byung-Chul. No Enxame: Perspectivas do Digital. Petrópolis: Vozes, 2019.

Pasquot Polido, Fabrício Bertini. A Uberização do Trabalho: Subordinação e


Precarização no Capitalismo Digital. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da
2ª Região, v. 1, n. 67, 2018.
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