1995 TCC Grtavares

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade

Curso: Ciências Econômicas
Disciplina: Monografia
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
DO NORDESTE SOB O ENFOQUE DA PRODETUR
Giordano Roldan Tavares - 893386-3
Fortaleza, Dezembro/ 1995

Giordano Roldan Tavares
0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

SOB O ENFOQUE DA PRODETUR
Monografia submetida à Coordenação do Curso
de Ciências Econômicas da Universidade Federal do
Ceará como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Ciências Econômicas.
Maria Cleide Carlos Bernal
Universidade Federal do Ceará
Fortaleza, Dezembro -1995

Esta monografia foi submetida a coordenação do curso de Ciências
Econômicas da Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade
como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Ciências
Econômicas, outorgado pela Universidade Federal do Ceará, encontrando-se a
disposição dos interessados na coordenação do curso.
A citação de qualquer trecho deste trabalho de pesquisa é permitida,
desde que seja feita de conformidade com as normas de ética científica.
Giordano Roldan Tavares
Monografia Aprovada em de dezembro de 1995.
Maria Cleide Carlos Bernal
Carlos Américo Leite Moreira
Agamenon Tavares de Almeida

Agradecimentos
0 Aos meus Pais pela dedicação e incentivo que me deram em todos os momentos dessa
caminhada.
0 À minha Orientadora, Maria Cleide Carlos Bernal pela dedicação e firmeza com que me
orientou.
0 Aos Professores Carlos Américo Leite Moreira e Agamenon Tavares de Almeida pela
enorme contribuição que deram na conclusão deste trabalho.
0 Aos profissionais do BNB Waldelanda Ramos de Souza e Marta Teresa Falcão Frota por
terem sido tão prestativos e de suma importância em todos os momentos deste trabalho.
0 Aos integrantes das ONG'S, que primam pela defesa da nossa natureza e comunidade,
especificamente aos integrantes do Fórum do Litoral, pela enorme contribuição que deram
no esclarecimento das mais diversas questões.
0 A todos os amigos que só me incentivaram durante todo esse tempo.

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 4
CAPÌTULO - 1
O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 7
CAPÍTULO - 2
OS PROJETOS DO PRODETUR 17
1.Rodovias 26
2. Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário 27
3. Meio Ambiente 29
4. Aeroporto 31
CAPÍTULO - 3
A PROPOSTA DO PRODETUR NO CON"1'hXTO DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL 33
CONCLUSÃO 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46
4
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

SOB O ENFOQUE DO PRODETUR
INTRODUÇÃO
O Nordeste, vem sofrendo acelerado processo de degradação ambiental, fruto da
ocupação e uso desordenado dos recursos naturais não renováveis. Esses problemas ambien-
tais vêm acompanhados de problemas sociais, tais como a pobreza, a fome, o analfabetismo,
má distribuição de renda e economia estagnada. O problemático quadro sócio-ambiental da
região Nordeste carece de soluções. Objetivando modificar esse quadro, elegeu-se o turismo,
líder mundial de movimentação de recursos e geração de empregos, como um dos fatores a
serem valorizados para efeito de transformação da realidade nordestina.
"O turismo no Nordeste tem amplas possibilidades de crescimento pois é uma regi-
ão que possui vocação natural, contendo belas praias, clima quente, diversidade cultural, e
ecossistemas diversificados, como a mata atlântica, manguezais e dunas, tendo plena condição
de desenvolver uma indústria turistica do mais alto nível. Porém, não se pode deixar que o
turismo venha a se tornar restritivo, isto é, beneficiando uma pequena parcela da popula-
cão. Para que isto não ocorra é necessário que se ofereça diferentes tipos de atrativos e for-
mas de lazer, a fim de atender às diferentes classes sociais. Assim o turismo no Nordeste deve
levar em conta a inclusão das populações mais carentes, através do aumento da oferta de em
5

pregos, da melhor distribuição de renda, do aproveitamento de mão de obra local nos empre-
endimentos, qualificando-a para bem desempenhar seu papel, e da criação de cooperativas de
seguimentos organizados da população e de outros incentivos, visando reter as populações
nativas em seus habitats originals, defendendo-a de risco ocasionado pelo capital especulativo
que acumula terras e investimentos" (Bernal, M. Cleide e Marques, J. Periandro, 1995).
"Dessa necessidade de desenvolver a indústria turistica no Nordeste criou-se o
PRODETUR - Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste. Este
programa visa dotar todo o Nordeste brasileiro de uma infra-estrutura capaz de atrair os in-
vestimentos privados e o turista nacional e estrangeiro com a oferta de serviços de boa quali-
dade" (Bernal, M. Cleide e Marques, J. Periandro, 1995)
Dentro desse contexto o presente trabalho pretende mostrar a importância de con-
frontar o conceito de Desenvolvimento Sustentável "definido como um processo de transfor-
mação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desen-
volvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial pre-
sente e futuro a fim de atender às necessidades e aspirações humanas, baseando-se na neces-
sidade de se manter a diversidade ecológica, social, cultural dos povos, das culturas e
modos de vida" (Carvalho, Horácio M.,1993) com o PRODETUR, ressaltando que não abor-
daremos este Programa na sua totalidade, isto é, nos nove Estados do Nordeste, nos detere-
mos apenas ao Estado do Ceará. Tentaremos mostrar a importância do PRODETUR - CE, os
seus problemas e as suas perpectivas dentro do conceito de Desenvolvimento Sustentável, ten-
do como parâmetros os objetivos declarados nos documentos oficiais: a construção de um

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SOB 0 ENFOQUE DO PRODETUR
novo modelo de gestão que atue de forma integrada, participativa e emancipatória, fortalecen-
do o papel desempenhado pelo Governo do Estado, buscando atender áreas preferenciais onde
se detectam prejuízos ao meio ambiente e à sociedade.
"As ações a serem desenvolvidas podem ser agrupadas nos seguintes campos: Ro-
dovias, Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Recuperação e Preservação do Meio
Ambiente e Aeroportos. Estas ações vão se localizar no litoral oeste do Estado do Ceará. O
Governo resolveu investir nesta área pelo fato da região ter um grande potencial turístico, não
podendo ser explorada pela falta de infra-estrutura." (BNB - Banco do Nordeste do Brasil
S.A, 1994).
Este é um projeto de longo prazo que durante e após sua implantação terá modifi-
cado bastante a estrutura econômica do Estado do Ceará, daí a importância da necessidade de
se acompanhar toda a sua execução, verificando se o conceito de desenvolvimento sustentá-
vel está sendo contemplado, se os objetivos e os beneficios do projeto estão alcançando de
forma democrática todos os segmentos da sociedade. O problema é que um projeto de tal
dimensão pode simplesmente vir a piorar a situação sócio-econômica do Estado do Ceará,
agravando as desigualdades sociais e a degradação do meio ambiente.

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CAPÍTULO - 1
O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Desenvolvimento sustentado é hoje um termo utilizado sobretudo nos discursos
governamentais e nos preâmbulos de projetos de investimentos a serem financiados por insti-
tuições financeiras internacionais. Daí a importância de se confrontar o conceito de desenvol-
vimento sustentável com os objetivos e resultados esperados do Prodetur -CE.
Há uma consciência crescente de que o modelo de sociedade industrial avançada
do Ocidente não poderá se manter a longo prazo com os padrões de produção e consumo ba-
seados no esbanjamento de energia não-renovável, na degradação ambiental, na marginali7ação
social e política de importantes grupos sociais, na expoliação da mão-de-obra e dos recursos
naturais dos países do Terceira Mundo e no crescente descompasso entre o Norte e o Sul.
Temos a necessidade de pensar em vários tipos de sociedades sustentáveis, ancoradas em mo-
dos particulares, históricos e culturais de relações com os vários ecossistemas existentes na
biosfera e dos seres humanos entre si. "Esse novo paradigma a ser desenvolvido se baseia,
antes de tudo, no reconhecimento da existência de uma grande diversidade ecológica, bioló-
gica e cultural entre os povos. Para que esse novo paradigma venha a se firmar é necessário
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abandonarmos o conceito de progresso herdado do positivismo, que dizia que as sociedades
podem progredir indefinidamente para níveis cada vez mais elevados de riqueza material"
( Sunkel O. do Paz, 1970).
" Essa sociedade é concebida como unidades econômicas que seguem processos
mecanicistas, cujas leis se podem conhecer cientificamente; essa idéia se agrega a noção de
evolução, como transformação gradual e constante, pela qual o progresso de uma nação ganha
um caráter quase natural" (Gudynas. E, 1989).
Segundo essa corrente de pensamento derivada do positivismo, o crescimento
econômico tem como mola propulsora a industrialização. Deriva-se daí três grandes aborda-
gens na teorização do crescimento econômico e do desenvolvimento: a primeira é a aborda-
gem neoclássica do crescimento econômico representada por Solow; a segunda é a abordagem
das "grandes" teorias de crescimento econômico, elas pretendem capturar o todo abrangente
do processo histórico do crescimento econômico e do desenvolvimento, representada por
Rostow; a terceira é a corrente cepalina que defendia que o crescimento econômico e o desen-
volvimento só seriam alcançados através de mudanças sociais e politicas estruturais.
• Primeiro - Desenvolvimento como crescimento - Aqui o desenvolvimento
se equipara a aumentos continuados dos níveis de produção e consumo material medidos por
indicadores como produto nacional bruto, renda per capita.

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• Segundo - Desenvolvimento como etapas - O desenvolvimento é constitu-
Ido por uma série sucessiva de etapas históricas que os países não-desenvolvidos devem atra-
vessar, para passar de uma sociedade tradicional para uma moderna e finalmente, para a de
consumo de massa.
• Terceiro - Desenvolvimento como processos de mudanças estruturais.
Nessa perspectiva o desenvolvimento não é considerado como um processo mecânico, mas
implica mudanças sociais e políticas estruturais.
"O que caracteriza a totalidade desses modelos é a crença na industrialização como
motor do desenvolvimento para se atingir os níveis de bem-estar alcançados pelos países ricos.
Até meados da década de 60 os custos ambientais em termos de uso intensivo de recursos na-
turais, da degradação da natureza, eram considerados normais e necessários no processo de
desenvolvimento. A Natureza, em todos esses modelos era considerada como um elemento
imutável, fonte inesgotável de matéria-prima, e não como um sistema vivo com processos e
funções próprias." (Diegues A. C. S, 1992). Isto nos mostra que os conceitos tradicionais de
desenvolvimento são limitados, merecendo assim um complemento, ou seja, a inclusão da
variável ambiental nas suas concepções.
As primeiras reações contra tais crenças, ou seja, contra a sociedade da abundância
não vieram necessariamente das sociedades não-desenvolvidas, mas de camadas de classe mé-
dia das sociedades industrializadas; já em 1964 analisava-se a degradação ambiental como sen-
do intimamente ligada ao crescimento do capitalismo, e não a fatores naturais. A partir dessa

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época, em vários círculos acadêmicos aumenta a preocupação com as relações homem-
natureza nas sociedades chamadas modernas.
Devido a essa nova consciência de desenvolvimento, houve uma preocupação de
se procurar novas formas de como evoluir sem degradar. Devido a isso houve temores por
parte dos países subdesenvolvidos, de que as novas propostas de controle dos efeitos do cres-
-- cimento econômico significassem uma arma contra o chamado desenvolvimento dos países
pobres.
Fica latente a necessidade de uma revisão dos conceitos desenvolvimentistas. Pro-
põe-se modelos alternativos de desenvolvimento e estilos de desenvolvimento diferentes, tanto
dos países industrializados como aqueles perseguidos pelos países subdesenvolvidos. Eis aqui
estilos alternativos de desenvolvimento:
• Deve-se renunciar a crença de um crescimento econômico exponencial ilimita-
do;
• Não se pode falar em desenvolvimento sustentado apoiado na exportação maci-
ça de recursos naturais locais;
• O ritmo crescente da degradação ambiental não pode ser mantido;
• A qualidade de vida deve ser o objetivo fundamental de qualquer desenvolvi-
mento;
11

e A fé indiscriminada no progresso através da ciência e tecnologia não pode ser
mantida;
• Não é possível se manter os altos níveis de consumo dos países industrializa dos
e das elites dos países do Terceiro Mundo.
Esses estilos alternativos de desenvolvimento, que salientavam a importância da
conservação do meio ambiente ganharam adjetivações, particulares como ecodesenvolvimento,
desenvolvimento sustentável, desenvolvimento alternativo.
Para o que pretendemos nesse trabalho vamos nos deter ao conceito de desenvol-
vimento sustentável, tentando mostrar até que ponto está sendo respeitado ou colocado em
prática esse novo paradigma, aquele que se baseia na necessidade de se manter a diversidade
ecológica, social, cultural dos povos, das culturas e dos modos de vida. "Este conceito de
desenvolvimento sustentável se baseia em dois pontos chaves; segundo a Comissão Brun-
dtland, a prioridade na satisfação das necessidades das camadas mais pobres da população, e as
limitações que o estado atual da tecnologia e da organização social impõe sobre o meio ambi-
ente." (Organização das Nações Unidas -ONU, 1987,pg.13)
"O desenvolvimento é um processo de mudança social, que implica transformações
das relações econômicas, sendo que não é só isso, a conservação dos ecossistemas e dos recur-
sos naturais são condições básicas para o desenvolvimento sustentado. Para que essa conser-
vação se realize são necessárias algumas condições básicas: A primeira é a de que o desenvol-
vimento sustentável deve prever a manutenção dos processos ecológicos fundamentais dos
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quais depende a sobrevivência humana, tais como a fotossíntese, os ciclos hidrológicos e a
reciclagem dos nutrientes. A segunda é a preservação das diversidades genéticas e biológicas
entendidas como o número de espécies vegetais e animais que hoje compõem a vida. O tercei-
ro pressuposto ecológico do desenvolvimento sustentado é a utilização sustentada das espécies
e dos ecossistemas" (Diegues, Antonio C.S., 1992)
Aspectos positivos do conceito de desenvolvimento sustentado é a tentativa de re-
solver as contradições entre o crescimento econômico, a distribuição de renda e a necessidade
de conservar os recursos ambientais, não somente em beneficio das gerações atuais, mas tam-
bém das futuras. "Um outro aspecto fundamental é a necessidade de uma outra ética, diferen-
te daquela subjacente ao crescimento econômico atual. Ética esta que se baseia na concepção
de que a natureza deve ser subjugada a qualquer preço, a serviço do homem. Esse jugo ou
dominação se expande também sobre as relações sociais. A nova ética se baseia; de um lado,
na noção de convivência e no respeito pela natureza como sendo composta de seres vivos"
(Illich I. 1971).
Os conceitos de desenvolvimento se baseiam na necessidade de se atingir o grau de
desenvolvimento atingido pelas sociedades industrializadas. Está cada vez mais claro que o
estilo de desenvolvimento dessas sociedades, baseada num consumo exorbitante de energia,
artificialmente barata e intensiva em recursos naturais, sobretudo aqueles vindos dos países do
Terceiro Mundo. Daí a necessidade de se pensar o problema global sob a perspectiva de soci-
edade ou sociedades "sustentáveis" como objetivo de promover o desenvolvimento. Isso si-
gnifica que é imperioso que cada sociedade se estruture em termos de sustentabilidade própri-
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as, segundo suas tradições culturais, seus parâmetros próprios e sua composição ética específi-
ca. O conceito de "sociedades sustentáveis" possibilita a cada uma delas definir seus padrões
de produção e consumo, bem como o de bem-estar a partir de sua cultura, de seu desenvolvi-
mento histórico e de seu ambiente natural. Desde que pautadas pelos princípios básicos da
sustentabilidade ecológica, econômica, social e política.
Para existir uma sociedade sustentável é necessária a sustentabilidade ambiental,
social e política, sendo um processo e não um estágio final. Ao mesmo tempo, não se propõe
um determinado sistema sócio-político que dure para sempre, mas deva ter capacidade para se
transformar.
"Os princípios ecológicos, como a conservação dos processos vitais dos ecossis-
temas, a diversidade biológica e o manejo cuidadoso dos recursos naturais continuam
sendo básicos para a reprodução das sociedades sustentáveis na busca do desenvolvimento
sustentável." (Diegues, Antonio C.S., 1992)
O conceito de Desenvolvimento Sustentável está sendo utilizado nos mais diversos
segmentos da sociedade, o que preocupa é o aparente consenso que existe a respeito do termo,
ainda que o conteúdo seja diferente segundo o grupo social que o utiliza. Um crescente núme-
-- ro de seminários são realizados no Brasil objetivando esclarecer esse conceito, alguns setores
sobretudo os governamentais e empresariais insistem em demonstrar grandes esforços para se
atingir o desenvolvimento sustentável. Mas o que se nota é que esse termo transita pelos mais
diversos círculos e grupos sociais, desde as organizações não-governamentais até o goveno,
com notável consenso. Uma análise mais aprofundada revela uma falta de consenso, quanto
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ao conceito de desenvolvimento sustentável. Para certos setores do movimento ambientalista
significa uma proteção do "verde" independente da realidade social envolvida.
"Para os empresários o grande desejo é que o desenvolvimento Sustentável é so-
bretudo uma questão tecnológica e de expansão do mercado objetivando maximizar o lucro. A
aceleração do crescimento econômico capitalista é entendida como fator de proteção ambiental
uma vez que a miséria é identificada como a grande causa da degradação ambiental, então o
Desenvolvimento Sustentável é um desafio, mas também uma grande oportunidade de impor-
tância estratégica para todos, especialmente para os empresários da América Latina. Este de-
safio consiste em idealizar meios de desenvolvimento econômico que permitam um crescimen-
to contínuo e duradouro sem destruir a base de recursos naturais, e sem investimento não pode
haver crescimento, e sem crescimento não há desenvolvimento. Como combinar o desenvol-
vimento sócio-econômico e a conservação? O processo de aprendizagem mútuo que começou
a ter lugar entre os defensores do meio ambiente e os industriais, está conduzindo a um enten-
dimento muito importante da situação ecológica no limitado planeta Terra. Os empresários
terão que assumir de uma maneira convincente seu papel de investidores, inovadores, gestores
econômicos capazes de competir a líderes. Isto começa na empresa, na fábrica mesmo, e con-
tinua na cooperação empresarial, dentro e fora das fronteiras nacionais. A liderança empresa-
rial se expressa na participação, na tomada de decisões políticas, na criação conjunta das con-
dições de mudanças. desta forma o Desenvolvimento Sustentável significa muito mais do que
conservação e proteção do meio ambiente, significa um novo caminho para o desenvolvimen-

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to,uma transformação profunda orientada para o longo prazo." (Revista Brasileira de Informa-
(ão Ambiental. N° 4. 1991).
Para o Estado, o termo muitas vezes constitui um preâmbulo de documentos ofi-
ciais para solicitação de empréstimos internacionais a organismos financeiros que foram obri-
gados a introduzir em seus critérios de aprovação dos projetos as varáveis ambientais.
"Já para as Organizações Sindicais é o trabalho a atividade humana por excelência,
capaz de transformar a natureza para garantir a sobrevivência e reprodução da espécie humana.
Porém o trabalho, em nossa sociedade, mais do que transformar a natureza com essa finalidade
está submetido á lógica do lucro, que tudo transforma em mercadoria. A força do trabalho e a
natureza - fonte da matéria-prima - tem o seu preço. Paga-se por ambos e criam-se dessa rela-
ção novas mercadorias que serão vendidas para satisfazer supostas necessidades humanas. O
resultado não poderia ser mais desastroso: trabalho alienado, natureza destruída, sobrevivência
da espécie humana comprometida. Com isso cresce a consciência de que, manter-se esse atual
modelo de desenvolvimento submetido a lógica do lucro e do mercado; a própria continuidade
da reprodução da vida humana se esgota. Cabe ao movimento sindical junto com outras orga-
nizações da sociedade civil, construir um projeto alternativo de sociedade que contemple os
verdadeiros interesses e necessidades humanas do presente e do futuro, assumindo assim uma
responsabilidade de apresentar propostas, junto com outros setores da sociedade, para supera-
ção dos problemas sócio-ambientais." (CUT- Central Única dos Trabalhadores, 1991. pg.08 ).
Este conceito de desenvolvimento sustentável de satisfazer as necessidades do pre-
sente sem comprometer as gerações futuras é freqüentemente utilizado como um adjetivo a

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mais, carente de uma reflexão mais ampla sobre as causas sociais e econômicas da degradação
ambiental e da marginalização cada vez mais crescente de amplos setores das populações. Na
perspectiva das ONG's (Organizações Não Governamentais) desenvolvimento sustentável tem
que ser aquele que não apenas é ecologicamente sustentável, mas principalmente socialmente
justo e politicamente baseado em regimes democráticos participativos, que garantam a sua
gestão.
Como se vê, a conceituação de sociedades sustentáveis baseia-se na necessidade de
se manter a diversidade ecológica, social, cultural dos povos, das culturas e modos de vida,
nos parece mais substantiva, mas portadora dos grandes desafios. Portanto, as transformações
que os governos pretendem ao intervir nos ecossistemas naturais e nos habitats das populações
requerem o seu envolvimento e a sua participação efetiva. É dentro dessa ótica que desenvol-
veremos o presente trabalho, ou seja, é esse conceito de desenvolvimento Sustentável que uti-
lizaremos no confronto com os objetivos e resultados esperados do Prodetur-CE.

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CAPÌTULO - 2
OS PROJETOS DO PRODETUR.
No presente capítulo apresenta-se uma síntese das linhas de ação do Programa de
Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste - PRODETUR, dando destaque ao
Estado do Ceará.
Esse programa tem por objetivo o financiamento da implantação e/ou expansão da
infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do Turismo na Região Nordeste do Brasil,
abrangendo ações nos nove Estados da Região.
As ações a serem desenvolvidas podem ser agrupadas nos seguintes campos:
• transportes: rodovias, sistemas viários, aeroportos.
• saneamento básico: abastecimento de água, esgotamento sanitário e lim-

peza urbana.
18
0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

• recuperação e preservação ambiental.
• recuperação do patrimônio histórico.
Além destas, serão também desenvolvidas ações visando o desenvolvimento e ca-
pacitação das instituições envolvidas com o Programa, a nível estadual e municipal.
O PRODETUR foi dividido em etapas, sendo que o presente trabalho trata da pri-
meira etapa do Programa, que será concluída em cinco (5) anos.
Os recursos para execução do Programa foram estimados em 685,920 (em milhões
US$) e terá como origem 50% dos valores financiados pelo Banco Interamericano de Desen-
volvimento- BID, devendo os 50% restantes serem financiados com recursos nacionais, como
contrapartida. O quadro a seguir, apresenta a síntese dos recursos necessários, por categoria
de uso, fazendo-se ainda, uma distribuição preliminar das fontes dos recursos, nacionais ou do
19

Usos e fontes dos Recursos Financeiros:
USOS FONTES
(em mil US$)
BID NACIONAL TOTAL %
1- Engenharia e Administração 46.495 46.495 6,8

1.1. Estudos e Projetos 9.327 9.327 1,4
1.2. Supervisão 18.455 18.455 2,7
1.3. Administração 18.713 18.713 2,7
2. - Custos Diretos 283.238 193.227 416.465 69,5
2.1. Abastecimento D'água 61.453 9,0
2.2. Esgotamento Sanitário 120.421 17,5
2.3. Limpeza Urbana 12.715 1,9
2.4. Rodovias 75.957 11,1
2.5. Sist. Viários/drenagem 39.372 5,7
2.6. Rec. e Preserv. Ambiental 21.777 3,2
2.7. Patrimônio Histórico 50.838 7,4
2.8. Aeroportos 93.172 13,6
2.9. Outros 760 0,1
3. - Custos Concorrentes 18.554 21.491 40.045 5,83
3.1. Aquisição de terrenos 8.076 8.076 1,2

3.2. Relocação de população 607 607 0,1
3.3. Desenvolvimento Institucional 18.554 12.395 30.949 4,5
3.4. Outros 413 413 -
4 - Custos s/ destinação específica 41.168 30.303 71.471 10.4
5 - Custos Financeiros 51.444 51.444 7,5
TOTAL 342.960 342.960 685.920 100,0
Fonte: BNB - Banco do Nordeste do Brasil S.A., Relatório Síntese dos Projetos - PRODETUR/NE. Departa-
mento de Projetos Integrados e de Infra-estrutura - DEPRI, Setembro/94
20

O Mutuário e os Executores serão os seguintes:
O Mutuário do Programa será o Banco do Nordeste do Brasil S.A. - BNB, a
quem caberá a coordenação geral do programa em relação ao BID. No entanto a utilização dos
recursos será através do Estado, que tomará esses recursos na forma de empréstimos.
Os Executores ou Unidades Executoras do Programa (U.E.L) serão determinadas
de acordo com cada um dos nove Estados envolvidos. A elas caberá a responsabilidade da
execução dos subprogramas de cada Estado. No caso do Estado do Ceará as Unidades Execu-
toras locais serão: UEP (Unidade Executora do Programa) e IPLANCE (Fundação Instituto de
Planejamento do Ceará).
A primeira etapa do PRODETUR é constituída por um conjunto de 177 projetos,
dividido pelos nove Estados do Nordeste, o Ceará é o Estado que vai ter um maior volume de
projetos, ao todo serão quarenta e seis (46) divididos em: rodovias, aeroportos, abastecimento
de água, esgotamento sanitário, meio ambiente.
Em volume de recursos o Ceará é o estado do Nordeste que vai receber maiores
recursos, na ordem de 128,700 (em milhões US$), conforme a exposição a seguir:

21
O DESENVOLVIMENTO SUS'I'LNTÁVEL DO NORDESTE

INVESTIMENTOS NO ESTADO DO CEARÁ
— Via Estruturante
~~~ Vias de Acesso
(;) Vias de Percurso
Demais Rodovias
BALEIA 6416
1JS$ (mil)
EDRINHA es Rodovias 29.191
(i Abast. Agua 7.100
Esgoto Sanitário 22A86
BARRENTO
LAGOINHA to O Rec.Pres. Ambiental 5.1Z
PARAIPABA sew Aeroporto 60L00
PARACURUass in Des. Institucional 4 300
TOTAL_128.700
IiisP6P6A PECEM GeSe

i
CUMBUCO
T-BUBA GAIN
ICARAI `~~
BR 222
Aim
FORTALEZA
CAUCAIA
Fonte: BNB - Banco do Nordeste do Brasil S.A., Departamento de Projetos Integrados e de Infra-
estrutura - DEPRI- PRODETUR/NE
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O PRODETUR NO ESTADO DO CEARÁ
O programa de Desenvolvimento do Turismo no Litoral Cearense está programa-
do para ser executado em duas etapas:
• Primeira - 1995 a 1998 - US$ 110,8 milhões. Investimentos em: infra-
estrutura aeroviária, rodoviária, de saneamento básico e no componente desenvolvimen-
to institucional.
• Segunda - 1999 a 2003 - US$ 17,9 milhões. Obras complementares da
infra-estrutura turistica, envolvendo projetos de saneamento básico nas localidades não
atendidas na primeira.
"Os Projetos propostos visam direcionar para áreas pré-selecionadas os esforços
governamentais, com o objetivo de aumentar o fluxo de turistas na Região e alongar a perma-
nência destes turistas, gerando desta forma empregos e renda, pela exploração direta e indireta
da atividade turistica." (Governo do Estado do Ceará, 1994)
A região prioritária para intervenção do PRODETUR no Estado do Ceará, deter-
minada pela estratégia do Governo do Estado em desenvolver o Turismo, foi a chamada Regi-
ão Turistica II - compreende a 133 Km da costa cearense é composta pelos municípios de Ita-
pipoca, Trairi, Paraipaba, São Gonçalo do Amarante e Caucaia. Toda essa região conta com
um rico acervo de atrativos naturais e sócio-culturais. Esse conjunto é representado por:
praias, coqueiros, lagoas, mangues, gamboas, ilhas, pontas, enseadas, dunas edafisadas, dunas
23

SOB O ENFOQUE DO PRODETUR.
móveis, rios lagos e lagamares; integra-se a esse ecossistema natural um conjunto de atrativos
sócio-culturais, artesanatos, culinárias, folclore, religião, organização produtiva, patrimônio
cultural e histórico, compondo a identidade e a imagem das comunidades inseridas na região.
Os municípios que compõem a Região Turística II apresentam um grande potencial
turístico, mas devido ao mal ordenamento do seu crescimento, surgiram problemas de degra-
dação ambiental e social que resultam em prejuízo para a indústria do turismo.
"Todos os municípios são de base produtiva agrícola. A predominância é de cultu-
ras extensivas com baixa produtividade. No cenário atual, a mandioca é transformada em fari-
nha e é o grande sustentáculo das famílias, seguida do feijão e outras. Os coqueiros em produ-
cão são importantes fontes geradoras de renda aos pequenos, médios e grandes produtores. A
pesca é uma atividade artesanal com baixa produtividade, com baixa lucratividade, porém é
muito importante pelo volume produzido e pelo envolvimento da população na atividade."
(Governo do Estado do Ceará, 1994).
♦Síntese dos Objetivos do Programa de Desenvolvimento do turismo no li-
toral Cearense.
O programa de desenvolvimento do Turismo no litoral Cearense, originariamen-
te denominado Prodeturis, nasceu com o objetivo de planejar o desenvolvimento do turismo
litorâneo.
24

Os Objetivos gerais do programa são:
a) Criação de infra-estrutura para o desenvolvimento e a integração do tu-
rismo na região, adequando essa necessidade ás potencialidades naturais, econômicas,
ecológicas e sociais da região;
b) Organizar especialmente o desenvolvimento das áreas indicadas para
investimentos turísticos;
c) Fortalecer os municípios do Litoral, regionalizar o desenvolvimento,
dotar núcleos de bens e serviços, gerar empregos e criar melhores condições de renda
para as populações descentralizando os investimentos a partir de ações em parceria com
a sociedade e a comunidade.
Objetivos específicos do Programa:
a) Elaboração e execução dos projetos de infra-estrutura básica, rodovias,
aeroviário, saneamento básico e limpeza pública;
b) Elaboração e execução do desenvolvimento institucional;
c) Elaboração e execução dos estudos e projetos relativos ao uso dos
ecossistemas envolvidos de forma sustentável.

25

Para se ter um turismo ordenado é necessário se ter pré-condições garantidas
como: infra-estrutura fisica, econômica, social, institucional e ambiental.
As ações necessárias para o desenvolvimento do turismo englobam três seg-
mentos principais.
a - A infra-estrutura básica
b - A infra- estrutura de apoio
c - A preservação e conservação do meio-ambiente.
O governo do Ceará entende que os investimentos em infra-estrutura básica e de
apoio e meio ambiente são os necessários para estruturar a ocupação turística na área, pois ao
mesmo tempo que ocorre o desenvolvimento da infra-estrura turistica percebe-se que aumenta
a necessidade com o monitoramento do meio ambiente objetivando a conservação do patri-
mônio ambiental.
Dentro desse contexto seguido pelo Prodetur serão analisados os projetos destina-
dos ao Estado do Ceará, discriminando-os em cinco grupos: Rodovias, Abastecimento de
Água, Esgotamento Sanitário, Aeroportos e Meio Ambiente.

26

1. RODOVIAS
As premissas do projeto do sistema rodoviário a ser implantado na Região Turísti-
ca II, são: o aproveitamento das instalações existentes e o tempo máximo de 15h de viagem
para atingir o ponto mais distante.
Este sistema possui a seguinte configuração:
a) uma via estruturante no sentido leste-oeste, que parte de Fortaleza e
atravessa toda a Região Turística II até Barrento no Município de Itapipoca;
b) vias de acesso que são iniciadas na via estruturante e que dão acesso di-
reto às redes municipais ou às localidades mais importantes do programa;
c) vias de percurso turistico que são iniciadas predominantemente nas vias
de acesso, e atingem os locais de interesse turistico e a núcleos costeiros não atendidos
pelas outras vias. As vias de percurso turistico devem obedecer normas de traçado es-
pecíficas de acordo com o terreno e formam uma rede descontínua de atendimento inter-
ligadas entre si por uma via de acesso ou pela estruturante;
d) instalações de transbordo constituídas pelo campo de pouso de Itapipo-
ca e terminais rodoviários;
27

e) infra-estrutura de apoio ao percurso turístico constituída por terminais e
estacionamentos de transportes turísticos, embarcadouros rústicos e trilha sinalizada para
buggy;
f) sistema de sinalizaçào urbana, turística e costeira, informação de equi-
pamentos turísticos, serviços turísticos e rotas turísticas;
g) linhas de ônibus regulares, serviços de transporte regulares entre termi-
nais, aeroportos, bases turísticas, serviços de transporte aquaviário regular entre portos
selecionados do litoral.
2) ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO
O Serviço de abastecimento de água da Região Turística II é feito na forma de
rede pública nas seis sedes municipais: Caucaia, São Gonçalo do Amarante, Paracuru, Trairi,
Pecém, Croatá e Itapipoca. Esses sistemas são supridos por mananciais superficiais ou subter-
râneos: lagoas, açudes ou poços, possuindo estação de tratamento, adução, rede de distribui-
ção e ligações domiciliares.
O nível de atendimento por esses sistemas gira em torno de 28% a 58% ( do volu-
me fornecido/volume necessário).
Os demais núcleos urbanos não possuem redes de abastecimento d'água, sendo
esse feito de forma isolada, em poços ou cacimbas ou de forma coletiva em chafarizes e fontes
naturais. As condições de abastecimento de água são extremamente precárias e insalubres.

28

De acordo com esse quadro exposto anteriormente teremos o detalhamento das
intervenções do Sistema de Abastecimento de Água, a ser implantado na Região Turistica II
sob a responsabilidade da CAGECE, compreenderá obras de implantação e de ampliação do
sistema no conjunto de núcleos de interesse do PRODETUR, e nas áreas dos empreendimen-
tos turísticos.
"Devido a presença de mananciais superficiais nas proximidades das localidades
atendidas, constituindo-se de lagoas e açudes ou até mesmo a possibilidade de utilização de
mananciais subterrâneos, não haverá grandes problemas de distância para a adução das águas."
(BNB - Banco do Nordeste do Brasil SA.,1994).
Já o serviço de esgotamento sanitário, este só existe na sede de Itapipoca, mesmo
assim atendendo somente a 10% da população. Os demais municípios, zonas de praia e demais
localidades; o esgotamento sanitário é feito de forma individual em fossas sépticas ou negras,
comprometendo assim o lençol freático e as condições de salubridade da água.
Vale ressaltar que nas aglomerações populacionais mais pobres, inexistem instala-
ções sanitárias domiciliares na maioria das habitações, o que ocasiona situações extremamente
danosas á saúde da população e ao meio ambiente.
O sistema de esgotamento sanitário deverá ser implantado de acordo com o porte
da localidade e é composto de rede coletora, tratamento de esgoto, destino dos efluentes e em
alguns casos reutilização das águas após tratamento. Este sistema tem como premissa afastar
29

o esgoto sanitário e mais rápido possível do conjunto de edificação das cidades e localidades,
de modo a não comprometer a saúde e o bem estar da população.
O tratamento dos esgotos não deverá ser efetuados através de lagoas de estabiliza-
ção e sim através de digestão anaeróbica em Reatores Anaeróbios de Manta de Lobo (VASB)
por serem sistemas modulares, isto é, podem ser construídos junto as localidades, prescindindo
de redes coletoras tronco compacto- exigindo pequena área, são de fácil operação e manuten-
ção, além de apresentarem grande eficiência.
"O projeto conclui que as condições atuais de abastecimento de água e de esgota-
mento sanitário são muito precárias ou inexistentes em toda a Região Turística II." (BNB -
Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1994).
3. MEIO AMBIENTE
Os projetos de Recuperação e Preservação Ambiental do PRODETUR vão ab-
sorver o seguinte montante de recursos: 5,123 (em milhões de US$), dividido em seis proje-
tos que para efeito do presente trabalho serão analisados, não na sua totalidade mas numa
amostra de três projetos mais representativos, são eles:
Praia do Pecém - "este projeto tem como objetivo o controle do processo erosivo
de origem eólica, que afeta a Praia do Pecém, o qual vem suprimindo áreas urbanizadas e re-
duzindo os locais de ancoragem e manutenção dos barcos pesqueiros. Com o Projeto preten-
de-se ampliar os resultados obtidos em uma área piloto. 0 projeto consta, basicamente, da
30

ampliação e monitoramento do conjunto de estruturas -guias de corrente eólica, e da amplia-
ção e monitoramento da bateria de células de sedimentação, trabalhos estes a serem executa-
dos ao longo de 4 anos (BNB - Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1994)
Praia de Paracuru - "este Projeto tem como meta implantar e manter 90 ha. de
dunas, que se somarão aos 10 ha atualmente mantidos. O Projeto consta basicamente da im-
plantação de guias de corrente eólica, desviando para a praia um volume de areia estimado em
144.000 m3/ano. Dessa forma pretende-se conter o avanço do campo de dunas móveis sobre o
manancial hídrico e sobre a cidade por ele abastecida através da fixação adequada."
(BNB - Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1994).
Educação Ambiental - "este Projeto tem como objetivo geral promover a educa-
ção ambiental junto a todos os segmentos envolvidos na implantação do PRODETUR-CE,
através da interação entre as atividades turísticas e as de preservação do meio ambiente. O
projeto abrangerá os municípios de Caucaia, Paracuru, Trairi, Paraipaba, São Gonçalo do
Amarante e Itapipoca, nos quais está prevista a realização de ações de implantação de infra-
estrutura na primeira etapa do PRODETUR, e terá três linhas mestras de trabalho: educação
ambiental formal [cursos de capacitação para professores], educação ambiental informal
[campanhas e eventos atingindo públicos específicos] e apoio aos Conselhos Municipais de
Desenvolvimento do Meio Ambiente -CODEMAS. (BNB- Banco do Nordeste do Brasil
S.A.,1994).
31

"O PRODETUR ao preconizar a implantação de ações voltadas para educação
ambiental no contexto do desenvolvimento do turismo no Estado do Ceará considera a urgên-
cia de se introduzir de modo sistemático conteúdos básicos de educação dentro de uma pers-
pectiva preservacionista do meio ambiente. A educação ambiental funcionará como elemento
catalisador e articulador das ações do PRODETUR-CE que tem no turismo seu carro chefe."
(Governo do Estadodo Ceará, 1994). Dessa forma, deve-se pensar na educação como uma
base de sustentação. A educação popular no Ceará realizará seus maiores esforços para con-
tribuir tanto na conscientização como na busca de soluções para os problemas que derivam das
relações sociais. Este é um processo formativo permanente que dentro de uma perspectiva
politica, proporciona elementos teóricos e práticos com a finalidade de modificar atitudes, ele-
var a compreensão e enriquecer o comportamento dos setores populares em suas relações só-
cio-culturais com o meio biofisico, através da construção de sociedades sustentáveis que com
eqüidade social respondam às particularidades culturais e ecológicas existente.
4. AEROPORTO
Este projeto tem como meta a ampliação e modernização do Aeroporto Pinto
Martins, devido ao crescimento das demandas de aeronaves e passageiros, consideram-se críti-
cas as condições operacionais do Aeroporto Pinto Martins, necessitando de imediato o plane-
jamento de novas instalações, visando a melhoria do atendimento dos atuais horários.
Localizado aproximadamente no centro geográfico do município de Fortaleza, o
Aeroporto Pinto Martins tem atualmente ocupada toda sua área patrimonial, carecendo de
ampliação para obras de expansão e modernização. Preparando-se para o atendimento de 3

32

milhões de passageiros no horizonte do ano 2005, torna-se imprescindível a construção de
novo Terminal de Passageiros, de Estacionamento de Veículos e dos demais componentes da
infra-estrutura operacional.
Faz-se necessário a modificação do acesso ao aeroporto, devido a sinais de satura-
ção da via atualmente utilizada, devido a isso verificou-se a necessidade de adotar a área de
novo acesso, escolhendo-se a BR 116, que corta o município de fortaleza no sentido Nor-
te/Sul tornando-a assim a principal via de acesso a Nova Área Terminal.
O Novo Terminal de Passageiros do tipo linear, com 2 níveis operacionais, dotado
de 6 Pontes de Embarque; mantendo-se o Terminal de Passageiros atual. O Saguão de Embar-
que e Desembarque terá cerca de 4,100 m2, está previsto para o atendimento de média de
1765 passageiros na hora-pico.
As obras necessárias à modernização e ampliação da Nova Área Terminal do Ae-
roporto Pinto Martins, serão dotadas de novo Terminal de Carga Aérea com 2,000 m2, em
local que permite no futuro sua duplicação, Pátio de Aeronaves que servirá principalmente às
atividades de movimentação de carga aérea, mas que atualmente poderá abrigar aeronaves, em
posição remota.
33

CAPÍTULO - 3
A PROPOSTA DO PRODETUR NO CONTEXTO
DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O Ceará é uma região com grave crise econômica e social, decorrente da conjun-
ção de problemas estruturais com fatores conjunturais de agravamento dos estrangulamentos e
das dificuldades crônicas. Por outro lado, é uma região rica em recursos naturais e com fatores
geo-econômicos particularmente favoráveis no Nordeste: condições climáticas e hidrológicas
favoráveis com uma satisfatória infra-estrutura de transporte, energia e comunicação, e mais
uma excepcional vantagem locacional, pela posição geográfica de todo o seu litoral, bem pró-
ximo da Região Metropolitana que é Fortaleza.
A região apresenta, portanto, uma gritante contradição entre as potencialidades,
de um lado, e a estagnação e vulnerabilidade econômicas e os elevados índices de pobrezas e
déficit sociais, do outro. Estas questões são colocadas como pressupostos na fundamentação
do PRODETUR.
34

Então a crise reabre a discussão e faz levantar novas propostas e formulações de
desenvolvimento para a nossa região, além de estimular a criatividade e as iniciativas dos
diversos agentes sociais, em busca de alternativas. Mas, por outro lado, a urgência dos pro-
blemas e a gravidade da situação pode estimular as demandas por soluções emergenciais e
imediatistas, que servem apenas para amenizar as conseqüências e termina perpetuando as
condições e causas da decadência econômica e pobreza social.
O projeto "PRODETUR" é uma tentativa de gerar novas alternativas de desenvol-
vimento da região Nordeste, numa perspectiva de médio e longo prazo, e com propostas de
curto prazo, que vá além das necessidades e problemas imediatos. Esta alternativa real e con-
creta se expressa na proposta de uma estratégia de desenvolvimento do Estado do Ceará, para
efeito do presente trabalho, estratégia essa orientada para o desenvolvimento sustentável da
região, articulando as variáveis econômicas, ambiental e social.
A tese central do PRODETUR é financiar a implantação e/ou expansão da infra-
estrutura necessária ao desenvolvimento do Turismo na Região Nordeste do Brasil, com fi-
nanciamento do Estado em parceria com a iniciativa privada, abrangendo ações nos nove Esta-
dos da Região. O presente trabalho aborda apenas o Estado do Ceará que é visto como o Es-
tado que tem todas as condições para se transformar numa região dinâmica, com qualidade de
vida e conservação do meio ambiente, opinião esta difundida pelo Governo do Estado.
Porém, a grande preocupação por parte de segmentos da nossa sociedade é o fato
de como está sendo conduzido e implementado o PRODETUR/CE dentro da nossa so-
ciedade.
35

É sabido da importância de tal programa para o desenvolvimento do nosso Esta-
do, porém não podemos nos deixar levar pelo caráter emergêncial, e nos colocamos apáticos
às mudanças e transformações, que tal programa trará para todos os segmentos da sociedade
cearense.
Vimos anteriormente a síntese dos Projetos que serão implantados no nosso Esta-
do, mas para que os beneficios de todos esses projetos sejam sentidos por todos nós é neces-
sário analisarmos os seus beneficios e custos dentro da óptica do conceito do desenvolvimento
sustentável.
No caso das rodovias foram tomados certos cuidados na tentativa de não se obe-
decer a tendência que é a de infra-estruturação do espaço obedecendo os imperativos de or-
dem econômica na decisão, deixando de lado outras variáveis de grande importância como a
preservação dos ecossistemas naturais, a ambivalência dos núcleos urbanos populacionais e a
acessibilidade da população a estes núcleos.
Esta tendência tem-se evidenciado na Região Turistica II onde a implantação de
infra-estrutura de transporte, cuja demanda é predominantemente decorrente da pressão do
mercado imobiliário, resultante da ocupação turística desordenada hoje existente, se faz a re-
velia do planejamento setorial, dos interesses da população local até mesmo em prejuízo do
ecossistema litorâneo.
Se persistir esta tendência, continuará a existir uma configuração espacial desorde-
nada, que não atenderá às necessidades da população, não atenderá à nucleação urbana, hoje
36

existente e que não leva em conta a preservação do meio ambiente, provocando uma explora-
ção da área com a degradação dos recursos naturais e ambientais. Dessa forma, pode-se notar
a preocupação do projeto em atingir uma ocupação ordenada da região, levando em conta não
só o fator econômico mas os fatores sociais e ambientais. Segundo o projeto de rodovias pro-
curou-se aproveitar ao máximo as vias já existentes, justamente para evitar grandes impactos
ambientais. Porém, nesta análise tem que se observar que apesar de serem construídos poucos
trechos novos, que representam apenas 13% do total, a simples melhoria das estradas vai in-
centivar a especulação imobiliária, sabidamente a mais perversa para uma comunidade litorâ-
nea. Outro fator de suma importância é que a melhoria da infra-estrutura trará um fluxo maior
de pessoas, prejudicando as comunidades locais. Isso ocorre devido a falta de preparo em que
essas comunidades se encontram, elas não resistirão à influência dos hábitos e costumes trazi-
dos pelos turistas, principalmente os mais jovens que aos poucos irão perder os seus hábitos,
suas tradições populares, correndo o risco da marginalização com drogas e prostituição,
exemplo da modificação cultural que o turismo trouxe para a comunidade de Canoa Quebrada,
situada no litoral Leste do Ceará. Lá pouco se vê dos costumes de uma comunidade de pesca-
dores, agora o que se tem é uma mistura cultural muito forte que culminou no enfraquecimento
da pesca, na expulsão dos pescadores de sua moradia que se transformou em pousada, na
marginalização de seus filhos através das drogas e da prostituição, na perda de suas tradições.
Mas sem dúvida, a melhoria e implantação de vias irão facilitar a vida da população
local, sendo que os efeitos negativos não podem ser esquecidos, tanto sobre as comunidades,
como sobre o meio ambiente. Dentro do conceito de desenvolvimento sustentável se faz neces-
sário que essas rodovias tragam beneficios gerais para a população, que estas vias não se
37

transformem no ponta pé inicial de uma nova avalanche especulativa, que só vai trazer desor-
dem para todo o litoral.
O projeto de rodovia, não trará impactos ambientais negativos muito significati-
vos, ela se faz até necessária e aceitável pelo que está descrito no projeto, do modo como foi
proposto. Temos que ressaltar que os grandes beneficiados da melhoria e criação de vias, serão
os empreendimentos turísticos de médio e grande porte. Dessa maneira, as reais necessidades
das comunidades não foram levadas em conta, desse modo foge um pouco do conceito de des-
envolvimento sustentável.
É nesse aspecto que temos que observar o PRODETUR/CE, até que ponto esse
Programa veio para beneficiar as comunidades locais onde ele será implantado, até que ponto
esses Projetos (as rodovias, o aeroporto, o esgotamento sanitário, abastecimento d'água) vão
beneficiar as comunidades.
Os projetos do setor de Meio Ambiente como, a recuperação da Praia do Pecém,
o manejo das dunas da Praia de Paracuru, a Educação Ambiental nos municípios atingidos pelo
Prodetur só trarão beneficios para as comunidades, melhorando a qualidade de vida e o meio
ambiente. Os projetos do setor de abastecimento de água trarão grandes beneficios para as
comunidades, sendo que temos que observar o seu direcionamento, ou seja, se a água vai che-
gar nas casas da maioria da população ou se a prioridade vai ser os empreendimentos turisti-
cos, como os hotéis e pousadas. É essa a preocupação e daí vem a necessidade da comunidade
se engajar e cobrar a democratização dos beneficios. Os projetos do setor de esgotamento
sanitário são de suma importância pela carência da própria região, mas deve-se ter a preocupa-
38

ção com o destino dos dejetos para não poluírem os mananciais d'água, tanto os subterrâneos,
como os superficiais e observar também se vai haver a democratização dos seus beneficios
para toda a comunidade e não apenas para os grandes empreendimentos turísticos. Os projetos
do setor rodovias será o de maior impacto para o meio ambiente, devido ao fato de ser preciso
desmatar algumas áreas, aterrar outras, remover famílias e outros, mas com o intuito de ame-
nizar os impactos negativos o projeto recomenda certas medidas, como o maior índice de
aproveitamento das vias já existentes, a proibição de construção de pontes nas embocaduras
dos rios e outras. Essas medidas, justamente com outras relativas à regulamentação de uso da
via e a instrumentação técnico-normativa de uso e ocupação do solo, que é uma lei, inclusive
aplicada no litoral Leste do Estado, mas por problemas políticos não foi aplicada justamente no
litoral Oeste, onde o PRODETUR/CE está sendo colocado em prática.
O Projeto relativo à reforma e ampliação do Aeroporto Pinto Martins é uma obra
nitidamente de caráter elitista, por beneficiar apenas uma pequena parcela da população do
Estado, o turista será o sujeito principal do investimento.
São questões que colocam o PRODETUR/CE em cheque, principalmente se con-
siderarmos os seus objetivos e confrontarmos com o conceito de desenvolvimento sustentável,
que se baseia na necessidade de se manter a diversidade ecológica, social, cultural dos povos,
das culturas e modos de vida. Com esta preocupação os diversos segmentos organizados da
sociedade começaram a debater e a exigir do Governo clareza nas suas atitudes em relação ao
PRODETUR/CE. As Organizações Não Governamentais, que integram o Fórum do Litoral e
outras começaram a questionar o programa, justamente devido ao modo como ele foi imposto;
39

a opinião desse segmento da sociedade é que o PRODETUR/ CE só vai trazer beneficios para
os grandes empresários, que não terão a mínima preocupação com a comunidade e o meio
ambiente, sem se falar no turismo de elite, que é pretendido, causando prejuízos tanto culturais
como ambientais para as comunidades litorâneas, pois se o turismo não for planejado com a
participação das comunidades, em vez de trazer beneficios, trará degradação.
Porém, não há dúvidas da importância do PRODETUR/CE, os projetos de abas-
tecimento d'água, esgotamento sanitário, recuperação e preservação ambiental, só trarão be-
neficios para as comunidades envolvidas. As localidades são muito carentes de serviços bási-
cos, como por exemplo o esgotamento sanitário e água tratada eram quase inexistentes na
Região Turística II, carência esta que ainda está longe de ser suprida, apesar do
PRODETUR/CE.
Analisando o programa ele é de suma importância, mas temos que avaliar efetiva-
mente, o desenvolvimento do turismo no litoral envolve as comunidades locais, isso só se faz
através de tempo e de um longo aprendizado, o que me parece não estar acontecendo nos
preâmbulos do programa. Isto é preocupaste por que teremos a perda de identidade de várias
comunidades, acontecendo até mesmo a expulsão do seu habitat natural, para locais periféri-
cos, problema esse de uma enorme gravidade. É por isso que ao analisar o programa levamos
em conta estas variáveis, de pouca relevância nos projetos. Verificou-se uma grande preocu-
pação nos projetos em mostrar uma comunidade domesticada, porém não esclarecida no senti-
do de questionar ativamente o seu próprio meio impondo respeito e sendo respeitada, defen-
dendo seus direitos básicos à vida.

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É devido a esta constatação que se faz uma critica ao "modus operandi" do projeto
de educação ambiental; não se discute a importância de tal projeto que objetiva promover a
educação ambiental junto a todos os segmentos envolvidos na implantação do PRODETUR,
através da integração entre as atividades turisticas e as de preservação do meio ambiente, asse-
gurando a melhoria da qualidade de vida da população local, apoiando a elaboração e imple-
mentação de Planos Municipais de educação ambiental, mobilizando a população local e flutu-
ante através de eventos massivos de caráter informativo e educativos, estimular mecanismo de
auto-sustentação das ações do Projeto de Educação Ambiental, apoiar processos de organiza-
ção e capacitação da população, instrumentalizando-a para a participação ativa e responsável
com a preservação ambiental. Dessa maneira o projeto de Educação Ambiental é um importan-
te instrumento de política ambiental, que requer uma abordagem multi e interdisciplinar, pres-
supondo um trabalho integrado entre todos os agentes envolvidos no projeto.
O que se questiona é o tempo em que o projeto será implantado, ou seja, para
que a educação ambiental fosse absorvida pela comunidade, isso requereria um certo periodo
de tempo, porque o processo de educação é lento, mas não houve esta preocupação. Os proje-
tos do PRODETUR como um todo estão sendo implantados concomitantemente, ficando a
educação ambiental prejudicada, tão importante para que a comunidade criasse uma consci-
ência critica, que lhe daria capacidade para questionar os outros projetos e até mesmo melho-
rá-los em seu beneficio.
Se o governo do Estado tivesse dado esse espaço de tempo, priorizando primeiro
a educação ambiental das comunidades, a participação das comunidades na definição e implan-

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tação do Programa seria bem maior, transformando o PRODETUR/CE de um programa im-
posto para um democrático, beneficiando toda a comunidade.
O programa de Ação para o desenvolvimento do Turismo no Nordeste -
PRODETUR/CE é justificável, devido ao fato de nossa economia ter uma agricultura quase
inexistente, uma indústria atrasada tecnologicamente e uma economia pouco dinâmica; através
do turismo o que era demais para a agricultura, no caso o sol o ano inteiro é de suma impor-
tância para o turismo, ou seja, matéria prima. O caminho para o desenvolvimento passa pelo
turismo, mas não se pode criar programas de tal dimensão sem haver uma discussão com todos
os agentes da sociedade, não se pode impor um modelo de crescimento; se faz necessário se
discutir como implementar o turismo na nossa região, que não seja aquele velho turismo de-
gradador da sociedade e do meio ambiete
Carecendo assim o PRODETUR/CE de muitas discussões, objetivando enquadrar
o conceito de desenvolvimento sustentável dentro do Programa para uma maior satisfação e
democratização dos seus beneficios, passando de grande concentrador para um grande vínculo
de oportunidade para toda a sociedade cearense.

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CONCLUSÃO
A análise anterior demonstra que o modelo econômico-social do Estado do Ceará
não contempla no seu conteúdo integralmente o conceito de desenvolvimento sustentável,
apresentando uma sintonia perversa de vulnerabilidade econômica, associada a um crescimento
excludente e a uma baixa qualidade de vida das camadas mais pobres da nossa sociedade.
Desta forma, o Programa de Ação para o desenvolvimento do Turismo no Nordes-
te-PRODETUR, terá que traçar uma estratégia de desenvolvimento sustentável, devendo as-
sim promover uma profunda reestruturação e reorientação do modelo de desenvolvimento, de
forma abrangente e integrada, procurando influenciar nos aspectos mais relevantes da organi-
zação econômica e das relações sociais. Não se pode deixar os beneficios nas mãos de poucos,
mas sim lutar para que os beneficios do turismo venham a trazer melhores condições de vida e
que se difunda pelas comunidades envolvidas, melhorando o nível de saúde, educação,
moradia, ou seja, que o turismo não venha apenas como mais um fator concentrador de renda
e depredador da cultura e do meio ambiente das populações mais desfavorecidas, e sim como
43

um dos fatores importantes na reestruturação econômica do Estado, proporcionando uma me-
lhor qualidade de vida para a população cearense.
Mas para que isso ocorra a estratégia não pode se concentrar nos problemas de
curto prazo e no equacionamento dos estrangulamentos conjunturais mesmo porque a solução
ou redução do problema pode significar a manutenção das suas causas e o adiantamento da
necessária reestruturação. O Governo não pode usar o PRODETUR/CE como medida de
emergência por que quase sempre quando isso ocorre, tende-se a conspirar contra o futuro e a
necessidade de um novo desenho da realidade, podendo assim ignorar a dimensão e dramatici-
dade com que tal Programa influencia as comunidades. Então para que o Governo do Estado
não caia nesse erro é de suma importância viabilizar atitudes de longo prazo, envolvendo de
fato a comunidade, perguntando, discutindo o melhor caminho a se traçar, colocando para si o
desafio em implementar um conjunto articulado de ações que, ao mesmo tempo, prepare e
construa um novo estilo de desenvolvimento, participativo e comprometido em amenizar os
impactos econômicos, sociais e ambientais no curto prazo, que são inevitáveis num processo
de implantação de um Programa complexo como este.
A dimensão dos problemas da nossa região é incompatível com soluções parciais,
por mais urgente e dramática que seja a realidade. Se o PRODETUR/CE não for articulado de
uma maneira participativa pelo Governo do Estado, estará fadado a se tornar um grande vilão,
vindo a assumir um papel contrário "não o de promover o desenvolvimento de uma forma
sustentável, dando infra-estrutura necessária para que isso ocorra", mas sim, promover o des-
envolvimento desordenado, dando assim infra-estrutura, mas não se preocupando em gerenciar

44

como se utilizaria essa infra-estrutura em beneficio da comunidade, ajudando o nosso empre-
sanado a transformar todo o nosso litoral, especificamente a Região Turística II em novos Ica-
rais, exemplo claro do mal gerenciamento do Governo do Estado e das Prefeituras.
Esse fato vai se concretizar se não houver o cuidado de se implementar a lei que
regulariza a ocupação e uso do solo, isto é, o Plano de Gerenciamento Costeiro, que já está
sendo reaii7ado litoral leste, mas que até o momento não foi implantado no litoral Oeste.
O ponto de partida central para compor uma estratégia de desenvolvimento susten-
tável dentro do PRODETUR/CE, é a convicção de que os problemas do Estado do Ceará são
profundos e não podem ser enfrentados por ações e iniciativas parciais. O desenvolvimento da
região depende de um conjunto integrado de iniciativas, o PRODETUR/CE é uma delas, e de
alternativas combinadas, que sejam capazes de enfrentar e contornar os estrangulamentos e
aproveitar ou explorar as potencialidades da região e a diversidade sócio-ambiental.
Para que o Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste -
PRODETUR/CE venha a alcançar seus objetivos é necessário elevar a qualidade de vida da
população em educação, saúde e oferta de serviços sociais básicos. Para tanto, o programa,
deve compensar o abandono histórico da região e concentrar investimentos públicos significa-
tivos na implantação de sistemas de educação básica e saúde. Desta forma o PRODETUR tem
um duplo papel na estratégia de desenvolvimento do nosso Estado: promover o desenvolvi-
mento do turismo, dando-lhe infra-estrutura; e reduzir os dramáticos déficits sociais da região,
melhorando as condições de vida da população, dando-lhes renda e saúde, devendo dar desta-
que especial à educação, objetivando conscientizar as comunidades de seu papel, incluindo um

45

projeto de peso de treinamento de mão-de-obra, protegendo-a contra o turismo depredador,
valorizando a sua cultura e principalmente o mais valioso dos seus bens, o meio ambiente onde
vivem..
O PRODETUR/CE certamente contribuirá para o estabelecimento de um modelo
de desenvolvimento no Estado do Ceará, mas também por considerar o objetivo do presente
trabalho, ressalvo que ficará dificil o Programa caminhar na linha do conceito de desenvolvi-
mento sustentável, dado o modo com que foi implantado pelo Governo do Estado, tomou-se
decisões que na realidade não foram devidamente discutidas e aprovadas pelas comunidades
envolvidas, ditou-se o modelo de uma forma autoritária, com a desculpa de caráter emergen-
ciai, ficando dificil se introduzir variáveis de suma importância para que se tenha um Programa
voltado para o desenvolvimento sócio-econômico e ambiental do Estado, com um só objetivo,
a melhoria da qualidade de vida da sua população.

46
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL DO NORDESTE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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no Nordeste - Beneficios para Quem?
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modelos aos novos paradigmas. São Paulo, 1992.
ECO. Rio. Revista Brasileira de Informação Ambiental. N° 17, 1994.

47

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1995 TCC Grtavares

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade

Giordano Roldan Tavares - 893386-3

Fortaleza, Dezembro/ 1995

0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

Monografia submetida à Coordenação do Curso

de Ciências Econômicas da Universidade Federal do

Ceará como requisito parcial para obtenção do título

de Bacharel em Ciências Econômicas.

Maria Cleide Carlos Bernal

Universidade Federal do Ceará

Fortaleza, Dezembro -1995

Econômicas da Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade

como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Ciências

Econômicas, outorgado pela Universidade Federal do Ceará, encontrando-se a

disposição dos interessados na coordenação do curso.

A citação de qualquer trecho deste trabalho de pesquisa é permitida,

desde que seja feita de conformidade com as normas de ética científica.

Giordano Roldan Tavares

Monografia Aprovada em de dezembro de 1995.

Maria Cleide Carlos Bernal

Carlos Américo Leite Moreira

Agamenon Tavares de Almeida

0 A todos os amigos que só me incentivaram durante todo esse tempo.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

O Nordeste, vem sofrendo acelerado processo de degradação ambiental, fruto da

má distribuição de renda e economia estagnada. O problemático quadro sócio-ambiental da

líder mundial de movimentação de recursos e geração de empregos, como um dos fatores a

serem valorizados para efeito de transformação da realidade nordestina.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

endimentos, qualificando-a para bem desempenhar seu papel, e da criação de cooperativas de

seguimentos organizados da população e de outros incentivos, visando reter as populações

que acumula terras e investimentos" (Bernal, M. Cleide e Marques, J. Periandro, 1995).

"Dessa necessidade de desenvolver a indústria turistica no Nordeste criou-se o

PRODETUR - Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste. Este

dade" (Bernal, M. Cleide e Marques, J. Periandro, 1995)

Dentro desse contexto o presente trabalho pretende mostrar a importância de con-

frontar o conceito de Desenvolvimento Sustentável "definido como um processo de transfor-

volvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial pre-

sente e futuro a fim de atender às necessidades e aspirações humanas, baseando-se na neces-

mos apenas ao Estado do Ceará. Tentaremos mostrar a importância do PRODETUR - CE, os

seus problemas e as suas perpectivas dentro do conceito de Desenvolvimento Sustentável, ten-

do como parâmetros os objetivos declarados nos documentos oficiais: a construção de um

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

se detectam prejuízos ao meio ambiente e à sociedade.

dovias, Abastecimento de Água, Esgotamento Sanitário, Recuperação e Preservação do Meio

cado bastante a estrutura econômica do Estado do Ceará, daí a importância da necessidade de

se acompanhar toda a sua execução, verificando se o conceito de desenvolvimento sustentá-

vel está sendo contemplado, se os objetivos e os beneficios do projeto estão alcançando de

forma democrática todos os segmentos da sociedade. O problema é que um projeto de tal

dimensão pode simplesmente vir a piorar a situação sócio-econômica do Estado do Ceará,

agravando as desigualdades sociais e a degradação do meio ambiente.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE

O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Desenvolvimento sustentado é hoje um termo utilizado sobretudo nos discursos

governamentais e nos preâmbulos de projetos de investimentos a serem financiados por insti-

tuições financeiras internacionais. Daí a importância de se confrontar o conceito de desenvol-

vimento sustentável com os objetivos e resultados esperados do Prodetur -CE.

Há uma consciência crescente de que o modelo de sociedade industrial avançada

seados no esbanjamento de energia não-renovável, na degradação ambiental, na marginali7ação

social e política de importantes grupos sociais, na expoliação da mão-de-obra e dos recursos

Temos a necessidade de pensar em vários tipos de sociedades sustentáveis, ancoradas em mo-

dos particulares, históricos e culturais de relações com os vários ecossistemas existentes na