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“A importância do planejamento urbano-ambiental para o

desenvolvimento sustentável da atividade turística: reflexões sobre o


Balneário de Armação dos Búzios.”

Autora: BIANCA DE FRANÇA TEMPONE FELGA DE MORAES

Instituição: docente/pesquisadora do Centro Federal de Educação Tecnológica


Celso Suckow da Fonseca /CEFET/RJ (Uned Nova Friburgo)/ pesquisadora do
NEITT – Núcleo de estudos inovação e tecnologia em turismo

Professora assistente de administração do curso de graduação tecnológica de gestão em turismo, Coordenadora da pós graduação
lato sensu em gestão patrimonial e ambiental e pesquisadora do CEFET/RJ. Pesquisadora e líder do NEITT. Bacharel em Turismo
pela Unesa/RJ, especialista em docência do ensino superior pela UFRJ e mestre em sistemas de gestão pela UFF. Temas
desenvolvidos: gestão, políticas públicas, planejamento urbano territorial e tecnologia e inovação. Contatos
biancatempone@gmail.com, bmoraes@cefet-rj.br, biancatempone@neitt.com.br e Lattes, http:/lattes.cnpq.br/6565572985211879.
Resumo

O segmento do turismo vem sendo entendido como atividade de ponta no


desenvolvimento econômico e social. Há necessidade dentro da atividade, de
planejamento urbano-ambiental com uma visão holística, e ancorada no principio do
desenvolvimento sustentável. O planejamento urbano-ambiental dever ser visto como
área embrionária de atuação e suporte para o desenvolvimento da mesma, que, muitas
vezes gerida sem planejamento e de forma predatória, vem interferindo no meio
ambiente, principalmente em seus estados de conservação e sustentabilidade. Tais
considerações motivaram o presente artigo sobre o Município de Armação dos Búzios,
no Estado do Rio de Janeiro.
Palavras chaves: turismo; planejamento urbano-ambiental; gestão.

Introdução

É relevante observarmos o desenvolvimento que o setor de turismo tem


alcançado. O turismo é um dos maiores segmentos da economia mundial, com
considerável potencial de geração de emprego e renda. Por outro lado, o
desenvolvimento das cidades turísticas e balneários tem sido feito de forma desordenada
e resultando em inúmeros problemas sociais, econômicos e principalmente ambientais.
Tais problemas se inter-relacionam numa rede complexa que pode ocasionar a
estagnação e a decadência do próprio destino. Esta decadência pode ser evitada com um
planejamento urbano-ambiental adequado onde, a preservação ambiental seja
priorizada, principalmente nas cidades de regiões costeiras.
Para ratificar a importância do poder público na gestão deste setor, podemos usar
as palavras de Beni (2001, p. 100) quando este afirma que “o turismo é uma atividade
que requer a intervenção proeminente do Estado pelo que representa em suas
características fundamentais”.
Conforme comprovam documentos já consolidados como a Agenda 21, o Brasil
vem demonstrando um alto grau de comprometimento com a proteção do seu
patrimônio ambiental com vistas ao desenvolvimento sustentável de suas regiões.
A criação do sistema nacional de unidades de conservação da natureza, instituído
por lei federal n.9985 de 18 de julho de 2000, torna-se instrumento fundamental na
eficácia deste processo de proteção ambiental.
Cabe ressaltar que as profundas mudanças ocorridas na sociedade transformaram
substancialmente o uso do termo “ócio”, fazendo com que as viagens de curta duração
passassem a fazer parte das características de vida da sociedade moderna.
Em muitos destinos turísticos, as viagens de fim de semana e feriados
prolongados passaram a representar mais de oitenta por cento do mercado turístico
interno. Um bom exemplo é o Estado do Rio de Janeiro, onde a região dos lagos atrai
fluxos turísticos de grande expressão, principalmente os destinos de Cabo Frio e Búzios,
cujos atrativos litorâneos e sua complexidade natural são conhecidos nacional e
internacionalmente.
Entre os vinte municípios costeiros do Estado do Rio de Janeiro, o município de
Armação dos Búzios destaca-se por ser um dos principais destinos turísticos, recebendo
turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. Localizada numa região marcada por
clima e natureza peculiares, a cidade vem se desenvolvendo no segmento turístico ao
longo das últimas três décadas, de modo que hoje o setor é considerado vocação natural
da cidade e motivador central da economia local.
Com uma área de 85 km2, o município de Armação de Búzios, localizado a duas
horas de carro da cidade do Rio de Janeiro, uma das principais portas de entrada do
turismo nacional e internacional do país, tem sua economia baseada no turismo, na
pesca artesanal e no petróleo e gás, sendo que a atividade turística representa 72% da
geração de empregos.
O comércio do município é predominantemente para o consumo dos turistas e são
inúmeras as pousadas e demais formas de hospedagem. O setor turístico é de interesse
de toda a sociedade, envolvendo moradores, pescadores, políticos, empreendedores,
ambientalistas, veranistas e, obviamente, turistas. Embora o clima da cidade seja
favorável ao turismo por praticamente todo o ano, a presença dos turistas acompanha
uma sazonalidade muito marcada, com a alta temporada restrita a cerca de três meses do
ano. Por tal razão, quando o movimento na alta temporada é menor do que o esperado,
muitos empreendimentos são inviabilizados, conseqüentemente, muitos empregos
perdidos.
A história da cidade comprova o valor da natureza para a população nativa e para
o desenvolvimento do turismo, sendo privilegiado o mar e as praias. Sabe-se que os
primeiros visitantes foram atraídos especialmente pelas belezas naturais, com ênfase à
riqueza da fauna marinha. Inúmeros estrangeiros fixaram residência na cidade, trazendo
novas influências culturais que ajudaram a transformar a pequena aldeia de pescadores.
A Búzios atual, exerce fascínio pela associação entre os elementos da natureza,
principalmente as praias, e a diversidade cultural, proporcionada pela presença dos
estrangeiros de diferentes nacionalidades em associação com as características de uma
comunidade praiana. Sendo a atratividade da cidade determinada por esses dois aspectos
(natureza e cultura) de forma indissociável, ambos devem ser considerados centrais no
planejamento turístico da cidade. Por outro lado, o âmbito natural torna-se mais urgente,
mesmo quando discutida a identidade cultural. Afinal, se as belezas naturais puderam
atrair os estrangeiros de Búzios, a descaracterização desta natureza pode impulsioná-los
à procura de outro local que atenda suas expectativas de vida. Assim, novamente se
conformaria uma outra Búzios, então com paisagens e tradições descaracterizadas,
certamente de maneira irreversível. Entre os ambientes naturais as praias são áreas
especialmente valorizadas por moradores e turistas, devendo ser alvo de grande atenção
e cuidado pelos planejadores públicos. As praias foram apontadas por turistas como
principais elementos motivadores da visitação e um dos melhores aspectos da cidade.
Tais áreas são também palcos principais de lazer e de encontro social, onde os turistas
passam a maior parte do dia.
A variedade dos usos e atividades praticados na interface terra-mar, entretanto,
ocorre desordenadamente, ocasionando inúmeros efeitos negativos. O esgoto é lançado
in natura em alguns pontos; o comportamento dos turistas, e até mesmo de moradores,
freqüentemente é predatório; casas e quiosques construídos sobre a areia praticamente
privatizando algumas áreas; barcos que transitam sem obedecer a nenhuma regra e
conseqüentemente, oferecem riscos à integridade física dos banhistas, a paisagem é
descaracterizada e são impactados ecossistemas sensíveis.
O município devido a pratica de atividades turísticas predatórias e o intenso
crescimento das cidades de Búzios e Cabo Frio, cuja expansão da malha urbana já se
apresenta vetorizada sobre o eixo viário Estrada do Guriri e Cabo Frio-Búzios,
estimulou a invasão de áreas de preservação permanente, alterou a estrutura social local
e contribui para a superlotação da cidade, e apresenta alguns comprometimentos
ambientais que já vem sido percebidos e que podem maximizar a deterioração ainda
mais de um valioso patrimônio natural e que se tiverem um planejamento urbano–
ambiental com bases realmente sustentáveis permitirá de forma positiva o
desenvolvimento das atividades turísticas aliada à preservação de seu patrimônio urbano
e ambiental.

Cuidados urgentes que amenizem, ou mesmo suprimam, os impactos ambientais


atualmente incidentes sobre o município de Búzios, são necessários e medidas de
planejamento urbano-ambiental que preservem as que ainda se encontram em bom
estado de conservação.
Tais medidas visam o bem estar da população em geral e a qualidade da
experiência do turista, o que pode significar uma estada maior, o retorno, ou ainda a
divulgação positiva da cidade.
A possibilidade de rejeição evidencia, finalmente, que a viabilidade das ações
necessárias de gestão ambiental requer intensas discussões entre todos os atores
envolvidos e ações de sensibilização ambiental. Mais uma vez surge a relevância do
trabalho de equipes de especialistas junto à sociedade. Sem um processo de gestão
efetivo, Búzios certamente enfrentará os problemas da velhice das cidades turísticas,
que envolve estagnação e declínio do movimento turístico, podendo até implicar na
perda das funções turísticas da cidade.
O processo de gestão ambiental, contudo, deve ser parte de um planejamento
mais amplo, que integre os problemas de outras categorias e todo o território municipal
de forma democrática, considerando os cenários atuais e as possibilidades futuras.
Todavia, tal processo não pode ser viabilizado sem a educação ampla e irrestrita, formal
ou não, que contemple todos os setores e classes sociais, informando sobre a realidade
da cidade e permitindo o desenvolvimento do pensamento crítico para o exercício pleno
da cidadania.
Com relação à oferta turística, Búzios, conta basicamente com pequenos e médios
hotéis, serviços de táxi marítimo, um aeroporto, marinas, clube de golf, restaurantes que
apresentam diversificada gastronomia nacional e internacional e um pequeno comércio
local sem contar, com o comércio de grife da Rua das Pedras destinado principalmente
aos turistas nacionais e internacionais, a exuberância de sua fauna, flora e suas vinte e
quatro praias, que são um verdadeiro cartão postal.
Quanto à educação não existe deficiência de escolas a nível fundamental e médio
e o sistema de saúde funciona com capacidade para atender a 70% da população. Outras
necessidades mais urgentes são atendidas pelos municípios de Cabo Frio e São Pedro da
Aldeia.
Atualmente somente 32% da população está coberta pela rede de esgoto e por isso
frequentemente são registrados o aparecimento de línguas negras em praias.
O município é conhecido por incentivar as atividades esportivas, com
campeonatos nacionais e internacionais de vela, golfe, body boarding e surf entre
outros.
A pesca artesanal está em declínio devido a pesca predatória e a concorrência dos
barcos industriais e a rigidez quanto a circulação no entorno das plataformas de
petróleo. Isso faz com que os pescadores sem maiores possibilidades de sustento
busquem alternativas de trabalho, no turismo.
Nos anos 50 o Dr. José Bento Ribeiro Dantas chega a Búzios, sendo considerado
desde então o maior benfeitor da cidade. A alta sociedade carioca passa a freqüentar
Búzios, atraída pela incrível beleza e pela quase privacidade desta pequena aldeia de
pescadores. A cidade desde a sua fundação em 1660, era um vilarejo de pescadores, em
1730, ficou conhecida pela produção de óleo de baleia, em 1950 pelo cultivo de banana
e somente em 1960 iniciou tímida participação no turismo que teve seu ápice
reconhecido internacionalmente com a visita da atriz Brigitte Bardot, trazida por seu
então namorado brasileiro Bob Zagury em 1964, a mais famosa artista de cinema da
época.
A pacata aldeia de pescadores aos poucos foi se transformando num lugar de
veraneio. No início os turistas alugavam as casas dos pescadores. Começou a ser
apreciada por representantes das elites carioca e paulista, que fizeram surgir as
primeiras casas de veraneio concentradas até a década de 60 nas praias de Manguinhos e
praias do Canto e Armação. Com isso, a fama da cidade foi crescendo entre pessoas de
alta classe socioeconômica e de diversos países.
Mas a cidade passou realmente a se desenvolver como núcleo turístico a partir da
chegada dos argentinos, no final dos anos 70. Fugindo da crise econômica em seu país.
estes chegaram em Búzios com muito dinheiro, compraram diversas propriedades e
estabeleceram suas residências e negócios. Até hoje uma fração significativa do
comércio e da hotelaria está nas mãos de argentinos.
A partir da década de 70, Búzios consolidou-se como destino turístico, com a
construção da ponte Rio-Niterói, em 1973, que atravessa a Baía da Guanabara, ligando
as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, e o surgimento de facilidades de acesso e infra-
estrutura, como a construção da Estrada Bento Ribeiro Dantas, para o acesso à área da
península, foi impulsionada ainda mais a procura por Búzios para veraneio e turismo.
Com o passar do tempo, grandes áreas foram compradas das famílias nativas, ou
mesmo invadidas, e posteriormente loteadas. Era baixo o preço da terra e não havia
restrições e controle sobre o uso do solo e edificações. Paulatinamente os moradores
locais se deslocaram para regiões mais afastadas do núcleo original após embolsarem
algum dinheiro com a venda de suas propriedades. Ao mesmo tempo migrantes pobres
foram chegando para trabalhar na construção civil e se estabeleceram nos bairros
periféricos. O lugar foi crescendo rapidamente, assumindo um padrão urbano, porém
sem a estrutura de suporte adequada. O município de Armação dos Búzios era distrito
de Cabo Frio e sempre teve tratamento secundário por parte dos antigos governos que,
no entanto, beneficiavam-se da situação caótica da ocupação e da especulação
imobiliária. A insatisfação promoveu grande movimentação em prol da emancipação,
que ocorreu em 1995. Búzios tem desde então passado por obras de infra-estrutura
constantes, visando melhorias das condições de vida na cidade e dos aspectos visuais.
Durante os últimos cinquenta anos a população quintuplicou, passando de 4.108
habitantes para 20.000 habitantes e nos meses de alta estação, tem uma população
flutuante de 200.000 mil habitantes, entre brasileiros e muitos estrangeiros,
principalmente os argentinos e os franceses.
O plano diretor de desenvolvimento sustentável (PDDS) do Município não
relaciona diretamente turismo com meio ambiente mas, identifica, classifica e prioriza
problemas municipais relacionados ao turismo e ao meio ambiente. Neste plano diretor
algumas questões foram identificadas como ações que devem ser fomentadas, visto que
o município durante os últimos anos tem passado por um processo de declínio em sua
atividade turística, tem sido alvo de invasão de terras, construções sem fiscalização e
deterioração do patrimônio ambiental.
Os aspectos ambientais são considerados propriamente como problemas por
ambientalistas e moradores, que demonstram grande preocupação com a preservação do
mar e das áreas verdes. O desenvolvimento desordenado da cidade, relacionando o fato
com a ocupação do solo, e com a poluição do mar por esgoto e lixo, tem sido um dos
“calcanhares de Aquiles” do município.
Alguns pontos que devem ser observados pela gestão pública e privada no
Município de Armação dos Búzios:

- Delimitação urgente das áreas verdes, inclusive as relevantes para a preservação


ambiental;

- Estabelecimento definitivo e elaboração de planos de manejo para a Áreas de


Proteção Ambiental (Apas);

- Fiscalização rigorosa quanto à remoção da vegetação pelas atividades turísticas


(golfe, jeep tour, etc) e controle da perda de cobertura vegetal (desmatamento; perda de
habitats) e degradação dos ecossistemas naturais provocadas por corte, queimadas,
construções desordenadas e aberturas de vias de acesso (estradas e servidão);

- Despoluição dos ambientes naturais afetados pelo turismo (inclusive poluição sonora,
incomodando os animais nativos);
- Fiscalização rigorosa quanto a ocupação de áreas protegidas por lei ou
ambientalmente frágeis;

- Fiscalização quanto à ocupação desordenada, especulação imobiliária e construção


civil, parcelamento excessivo do solo e problemas fundiários (invasões e legalização
de terras) dificultando ações de proteção e preservação ambiental;

- Sensibilização da construção civil quanto à não construção de muros altos que


atualmente tem dado a cidade uma aparência de corredor;

- Reconsideração de posicionamentos quanto à concessão ao direito de construir,


especificamente sobre a construção de condomínios e retirada de vegetação nativa;
- Bombeamento da água salgada das águas subterrâneas para evitar a contaminação
das reservas de água doce,

- Fiscalização rigorosa das ações da pesca predatória;

- Melhoraria das estradas que fazem ligação com as vinte e quatro praias da região;

- Aumento da cobertura de saneamento básico que afetam diretamente a população e o


ecossistema da região e melhoria no sistema de esgoto e tratamento de resíduos
sólidos;

- Identificação da carência de políticas voltadas para a atividade turística que orientem


o seu desenvolvimento sustentável;

O município apresenta pontos fortes como a grande quantidade de áreas intocadas


com situação fundiária definida, a consciência da comunidade quanto a necessidade de
planejamento urbano-ambiental, o arcabouço legal que impede a expansão
descontrolada da construção civil, seus atrativos naturais, assim como os royalties do
petróleo que trouxeram para o município um aumento do orçamento de quatro para
sessenta milhões de reais e que podem ser aplicados na melhoria da infra-estrutura da
cidade e na implantação de políticas e programas que visem o desenvolvimento local.
Sendo a atratividade da cidade determinada por esses dois aspectos (natureza e
cultura) de forma indissociável, ambos devem ser considerados centrais no
planejamento turístico da cidade. Por outro lado, o âmbito natural torna-se mais urgente,
mesmo quando discutida a identidade cultural.
É observado que, em geral, o processo de expansão urbana e demais alterações
sucedidas em Búzios têm acompanhado a hipótese de Smith (1992), que identifica uma
série de indicadores característicos das cidades litorâneas :

· físicos: estradas, hotéis, ocupação de áreas de preservação (ocupação rregular), uso de


estilos arquitetônicos não tradicionais, etc;
· ambientais: poluição das praias, poluição da água doce, processos erosivos,
inundações, etc;
· sociais: aumento da população, prostituição, mudanças nas condições de vida da
população residente, etc;
· econômicos: variação na contribuição dos turistas para a economia local, excesso de
oferta para a demanda;
· políticos: mudanças na autonomia política local, aumento da corrupção, inadequações
na gestão pública, envolvimento com interesses de grupos econômicos, etc.
Faz-se necessário o planejamento de diretrizes gerais que servirão de apoio a
futuras ações de gestão urbano-ambientais e diretrizes específicas para a gestão do
turismo no Município, com quatro eixos temáticos principais de ação: infra-estrutura
básica, proteção das áreas verdes, responsabilidade ambiental e gestão das atividades
turísticas.
Analisando as respostas institucionais para os problemas ambientais e da cidade e
a forma como a administração local percebe as relações meio Ambiente e turismo,
algumas conclusões são possíveis: pode ser afirmado que poucas ações diretas e efetivas
foram implementadas no combate aos problemas ambientais da cidade. Além disso, o
planejamento turístico é desvinculado do planejamento ambiental e do planejamento
geral da cidade, conseqüência de uma mentalidade de trabalho limitada e da atividade
extremamente autônoma das instituições públicas. A emancipação em 1995, se
desvinculando de Cabo Frio, dificulta um trabalho mais eficaz devido a carências
materiais e, principalmente, intelectuais. Por outro lado iniciativas como a criação dos
Conselhos Municipais e a busca por assessoria especializada de instituições com
tradição em pesquisa e planejamento sinalizam a intenção em desenvolver trabalhos
bem estruturados e definitivos. Também é interessante e bastante útil compreender
como o governo de Armação dos Búzios tem respondido às demandas ambientais locais
e a relação destas com o turismo. Neste caso, inicialmente deve ser citado Puppim de
Oliveira (2003), para quem as intervenções governamentais devem atentar:

“(...) to ensure minimum levels of negative externalities and maximum levels


of positive externalities to society, as well as help organize the different
actors in the tourism sector to avoid unintended longer-term negative
impacts. Governments play these roles though environmental planning,
regulation and provision of infra-structure and financing” (PUPPIM DE
OLIVEIRA, 2003).

A proposta tendo em vista o viés turístico que o município de Armação dos


Búzios possui, é verificar quais são os principais problemas urbano-ambientais do
Município e propor diretrizes prioritárias e específicas de manejo que possam ser úteis
para o planejamento urbano-ambiental do município, para a gestão do turismo e que
sejam efetivamente aplicadas evitando o declínio do principal setor da economia local, o
turismo e preservando também, o meio ambiente local.
De um modo geral, compreender a dinâmica social da cidade em relação ao
turismo e os atores envolvidos com este fenômeno e inventariar as atividades turísticas
de lazer e o uso que fazem da natureza, sobretudo quanto aos problemas ambientais que
acarretam, identificando os problemas ambientais do Município. Tendo em vista a
importância da balneabilidade das praias na composição do produto turístico e sua
ligação com a atividade de petróleo, é necessário priorizar parcerias que favoreçam o
intercâmbio de tecnologia, a criação de indicadores de poluição do meio ambiente na
região fomentando as políticas ambientais contemplando atividades contínuas de
monitoramento da região, visto que de nada adiante um arcabouço jurídico-ambiental se
a matéria tratada não for passível de implantação continua e monitoramento, contribuir
com a evolução da gestão pública de turismo no Brasil, especificamente no município
de Armação dos Búzios, através do desenvolvimento da atividade de forma sustentável
que permitam dar suporte à tomada de decisão dos gestores desta atividade; elaborar um
estudo que também possa ser útil para organizações do terceiro setor e sociedade, na
função de fiscalizadores do trabalho desenvolvido pelo Município, Estado e União e
pelas organizações privadas que direcionam o turismo do país.
Sem um processo de gestão efetivo, o Município de Armação dos Búzios
certamente enfrentará os problemas da velhice das cidades turísticas, que envolve
estagnação e declínio do movimento turístico, o que já vem acontecendo no município,
podendo até implicar na perda das funções turísticas da cidade.
O processo de planejamento urbano-ambiental, contudo, deve ser parte de um
planejamento mais amplo, que integre os problemas de outras categorias e todo o
território municipal de forma democrática, considerando os cenários atuais e as
possibilidades futuras.
Todavia, tal processo não pode ser viabilizado sem a educação ampla e irrestrita,
formal ou não, que contemple todos os setores e classes sociais, informando sobre a
realidade da cidade e permitindo o desenvolvimento do pensamento crítico para o
exercício pleno da cidadania.
Por fim, deve ser considerado que a própria responsabilização sobre o turismo a
um único órgão da administração é discutível, dada as fortes interfaces entre o turismo e
outras atividades sociais e produtivas (SANSOLO e CRUZ, 2004). Recomenda-se que a
administração municipal incorpore verdadeiramente, a preservação ambiental como
elemento essencial da gestão do turismo e do planejamento urbano-ambiental, que haja
uma integração efetiva e permanente das secretarias municipais e a participação social
com poder decisório em todos os processos do planejamento urbano-ambiental e da
gestão do turismo.

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