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TS – Aula 20 (Resumo)

Impactos socioculturais do turismo

Você pôde constatar que a atividade turística vem se revelando como um importante fator de
mudanças sociais e espaciais, principalmente nos grandes centros urbanos. De fato, os lugares
explorados pelo turismo são submetidos a uma nova dinâmica na sua organização socioespacial imposta
pelo intenso deslocamento de pessoas e pela concentração de empreendimentos e infraestruturas básica
e turística.

Você já sabe que a atividade turística tem sido um motor relevante do crescimento da economia de
muitos países, constituindo-se em uma das principais atividades econômicas e contribuindo para o
desenvolvimento de localidades com características turísticas. Trata-se de uma atividade com elevada
capacidade de gerar riquezas e de criar empregos, assim como de atrair investimentos em infraestruturas
e empreendimentos turísticos.

Essa interpretação, quando analisada desde uma perspectiva crítica, revela que ela é
extremamente focada no elemento econômico e a atividade turística não se restringe somente a esse
aspecto. É, antes de tudo, uma atividade social e assim sendo provoca impactos positivos e negativos em
todos os elementos que a envolvem, tais como a comunidade receptora, a cultura local, o meio ambiente,
dentre outros. Se privilegiarmos o aspecto econômico, certamente haverá um desequilíbrio entre os
componentes do fenômeno e da atividade turística. Na realidade, o enfoque centrado nos impactos
positivos do turismo na sociedade tem obscurecido alguns aspectos ou efeitos que estão implícitos na
dinâmica da atividade, como os impactos ambientais e socioculturais, por exemplo.

Reconhece-se que, em todo destino, existe uma capacidade de carga social ou grau de tolerância,
sem o qual os níveis de desenvolvimento turístico resultariam inaceitáveis, tornando a presença de turistas
intolerável por parte da população local. Nesse sentido, se os impactos negativos são percebidos com
maior nitidez que os positivos, poderíamos afirmar que a atividade turística estaria ultrapassando os limites
de sua capacidade de carga, podendo acarretar um posicionamento contrário ao turismo ou uma rejeição
da atividade por parte da comunidade.

Torna-se de grande interesse, portanto, a análise dos limites razoáveis da capacidade de carga
social dos destinos, assim como dos impactos negativos acumulados da atividade turística. Podemos
reconhecer que, enquanto o volume de turistas e os impactos negativos são mantidos nos limites
aceitáveis, a atividade turística é acolhida pelos residentes. Logo, ao ultrapassarem esses limites, a
população local começará a dar sinais de frustração e descontentamento. Dessa forma, ganham
relevância os estudos que buscam verificar como a população de uma localidade receptora experimenta
os impactos negativos produzidos pelo turismo e a importância que a mesma lhes atribui.

Desenvolvimento turístico sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável está presente nos recentes estudos do turismo, uma vez
que assegura alcançar as metas de desenvolvimento sem esgotar os recursos naturais e culturais e sem
deteriorar o meio ambiente. Nessa perspectiva, o turismo pode ser um elemento de mudanças positivas e
de inclusão social, desde que incorpore alguns princípios, tais como: a valorização do território; o
reconhecimento das diferenças étnicas, religiosas e de gênero; a solidariedade e a ética nas relações
políticas, econômicas e sociais; assim como os modelos de gestão e participação populares nas atividades
econômicas.

Esses princípios estão presentes no conceito de desenvolvimento turístico sustentável, o qual


garante assegurar a biodiversidade e a autenticidade cultural de um destino, ao mesmo tempo em que se
garante a rentabilidade da atividade turística em longo prazo. Através deste conceito, estabelecem-se as
condições sociais, econômicas e ambientais, consideradas desejáveis em uma destinação.
Podemos identificar, grosso modo, alguns impactos positivos e negativos gerados pelo turismo em
uma localidade receptora, a saber:

1 - Impactos econômicos: o turismo atrai maiores investimentos para o destino, sendo responsável pela
geração de trabalho e renda, pelo aumento do nível de vida e pela dotação de infraestruturas urbanas e
serviços públicos essenciais. Por outro lado, pode provocar um aumento dos preços e acentuar a
especulação imobiliária e, de alguma forma, as desigualdades de renda, tendo em vista que o turismo
pode gerar benefícios a um pequeno grupo de pessoas.

2- Impactos socioculturais: o turismo promove um maior intercâmbio cultural, possibilitando a


compreensão entre diferentes grupos culturais; pode servir como uma força para a conservação das
tradições culturais e ajudar a evitar a mobilidade urbana ao criar trabalhos locais; promove maior dotação
de equipamentos de entretenimento e lazer, além da restauração e conservação de monumentos de valor
histórico e do patrimônio artístico e cultural, bem como a construção de edificações e equipamentos para
fins turísticos. Entretanto, pode provocar mudanças na cultura e na identidade local, migração, difusão de
imagens estereotipadas da população receptora, assim como prejuízos na qualidade de vida. O uso da
água potável por parte dos hotéis, por exemplo, impõe uma diminuição da provisão deste recurso na
localidade, escassez que, além de reduzir o acesso a um serviço essencial e de uso coletivo, pode ter
como consequência o abandono de atividades econômicas tradicionais na localidade.

3- Impactos ambientais: a relação do turismo com o ambiente é complexa, na medida em que implica
atividades que podem ter efeitos adversos, destruindo recursos ambientais dos quais o turismo depende.
Em geral, esses impactos estão associados à construção de infraestrutura, como estradas, aeroportos e
instalações turísticas. Além disso, o turismo pode provocar congestionamento de zonas de entretenimento,
poluição sonora e ambiental, destruição do ambiente natural, degradação do entorno, além de problemas
relacionados ao saneamento básico, causados pelo aumento da demanda pelo uso da água e pela
quantidade de resíduos produzidos acima da capacidade do local. Por outro lado, o turismo pode criar
efeitos positivos sobre o meio ambiente, ao contribuir para a conservação e proteção do patrimônio natural
e artificial, podendo ainda criar uma consciência favorável aos valores ambientais.

É importante que você saiba que os impactos econômicos, ambientais e socioculturais provocados
pelo turismo quase sempre são percebidos ou experimentados pela população receptora, o que evidencia
a sua relevância para a análise da dinâmica da atividade e seus efeitos nas localidades. Nesse sentido, a
percepção social dos impactos do turismo constitui um indicador para o estudo do apoio da população
local ao turismo, assim como do seu esgotamento.

Para amenizar os impactos nas localidades turísticas, a gestão do turismo precisa considerar
conceitos antropológicos, abrangendo cultura, diversidade e identidade, a fim de que se coloquem em
prática ações que dinamizem a economia local sem danificar o legado cultural da cidade turística. Trata-se
de uma advertência aos agentes sociais que realizam o planejamento do turismo, para que os mesmos,
em suas ações propostas, busquem medidas necessárias para minimizar os efeitos negativos da atividade
nas localidades receptoras, sugerindo ainda o melhor encaminhamento para uma política de turismo.

Impactos socioculturais gerados pela atividade turística

A pluralidade cultural da sociedade brasileira tem sido uma das principais características do
patrimônio nacional e pode significar para o turismo a possibilidade de estruturação de novos produtos
diferenciados com o consequente aumento dos fluxos de turistas nacionais e internacionais no país. O
grande mérito desta possibilidade é fazer do turismo uma atividade capaz de promover e preservar a
nossa cultura, isto é, facilitar a valorização da cultura sem transformá-la em um espetáculo para
comercialização.

Cabe recordar que a noção de cultura, anteriormente ligada à ideia de civilização, ampliou-se e
passou a incluir todas as formas de ser e fazer humanos. Dessa forma, entende-se que todos os povos
são detentores de cultura, a qual é definida como o conjunto da produção social, de todo o fazer humano
de uma sociedade, suas formas de expressão e modos de vida constituídos como patrimônio histórico e
cultural.

Destacamos que o turismo apresenta importantes implicações socioculturais, tendo em vista que as
interações entre a comunidade receptora e os turistas provocam modificações em todos os indivíduos
envolvidos nesse processo. Cabe recordar que o processo de mudança social varia em cada sociedade,
devido aos contatos sociais com outros povos. Pois bem, os impactos socioculturais se apresentam quan-
do o turismo causa mudanças no sistema de valores e de comportamentos socialmente aceitos, na
identidade local, na estrutura da comunidade, nas relações familiares, nos costumes, no estilo de vida, nas
cerimônias, assim como na qualidade de vida individual e coletiva dos residentes. Cabe destacar, contudo,
que, quando se encontram diferentes culturas, esses impactos socioculturais são ambíguos. Os mesmos
impactos objetivamente descritos podem ser considerados positivos para alguns grupos e percebidos
como negativos por outros. Daí a necessidade de tratar o turismo não só como um vetor puramente
econômico ou como uma atividade produtiva, mas como um fenômeno sociocultural, baseado
essencialmente na interação entre pessoas diversas que em muitos casos estão na situação
“turista/residente”. Essa dimensão é tão ou mais importante que a dimensão econômica do turismo e
requer um olhar diferenciado para a condução de como aquela interação é construída e quais são suas
implicações para os indivíduos e os grupos sociais envolvidos direta ou indiretamente com o fazer turístico.
O turismo pode provocar alterações na estrutura social, transformando uma população rural em urbana,
modificando as relações internas da comunidade e até familiares. Isto porque o turismo favorece a
transferência de valores, padrões de consumo e comportamentais, provocando sérios problemas devido
ao abandono paulatino de valores tradicionais, constituindo-se em um risco para as identidades locais.

Estudos ressaltam que o caráter da relação entre turistas e residentes, somado às barreiras
linguísticas, não produz um conhecimento real entre os atores do processo. Tal relação ainda carrega o
risco de reproduzir relações bastante desiguais: de um lado turistas cercados de aparatos e de outro uma
população local em precárias condições de vida. Um exemplo característico é o da presença de turistas
em países pobres: o nível de vida dos visitantes contrasta com a pobreza cotidiana da população local. De
fato, a criação de espaços exclusivos, como as praias privativas dos hotéis impostas pela presença dos
turistas, aumenta as diferenças e as distâncias sociais.

Diferentemente de outras épocas, a viagem do turista atual está associada ao consumo e portanto,
desvinculada de qualquer pretensão que não tenha o lazer como referencial. Além disso, o mundo
globalizado é baseado na midiatização das imagens de qualquer evento e lugar. Isso faz com que o olhar
daquele que viaja se modifique, passando a perceber este mundo como mercadoria consumível. Contudo,
essas práticas associadas ao turismo atual não resolvem os possíveis impactos negativos causados pela
presença dos visitantes. Nesse caso, a experiência turística não funciona como meio de enriquecimento
pessoal, em que a apropriação dos lugares visitados permite a criatividade, a descoberta e as relações
espontâneas com uma cultura e modos de vida locais.

A relação estabelecida entre turistas e residentes pode ser construtiva para ambos quando, diante
da diferença do outro, a própria cultura é reconhecida. Uma das motivações para que as pessoas viajem
são as particularidades de outras manifestações culturais, afirmando a necessidade cada vez maior de se
conhecerem outros costumes e tradições locais. O sujeito precisa da cultura e da identidade para saber e
afirmar quem ele é, além de encontrar, dentro do contexto da modernidade, um caminho norteador para
sua vida, baseado na sua história e nas experiências vividas, para que se perpetue o legado cultural que
se recebeu. De fato, o contato intercultural promovido pelo turismo não permite apenas a aquisição de
conhecimentos sobre diferentes formas de comportamento, mas também a alteração do modo de vida e
dos costumes dos moradores da localidade receptora. Tal contato pode assumir um caráter negativo
quando provoca choques culturais e consequentes danos na identidade individual e coletiva do local
visitado, especialmente quando os visitantes desqualificam, implícita ou explicitamente, as manifestações
histórico-culturais dos residentes. Isto porque o turista, além de levar consigo seus valores e hábitos para
a destinação, não possui conhecimento e compreensão sobre os costumes e a cultura das comunidades
visitadas. Sobre esse tema, é importante advertir que catálogos de turismo ou guias de viagem, em vez de
ajudarem no conhecimento de novas realidades, ajudam a construir um mapa social dos lugares do
mundo, a partir de uma ideia preestabelecida, reforçando imagens estereotipadas.

A identidade na pós-modernidade (HALL, 2003) é construída a partir das redes de sociabilidade que
o indivíduo estabelece na vida em sociedade. Nesse sentido, a relação estabelecida entre um habitante
local e um visitante pode construir relações identitárias para os dois indivíduos, que passam a
compreender o espaço turístico como a possibilidade da integração das comunidades locais na produção
dos ícones culturais eleitos por eles próprios.

Os “estabelecidos” contribuem significativamente para a produção de espaços que consideram a


cultura produzida por eles como um elemento de valorização do local e a consequente potencialização do
lugar turístico. Os outsiders (ELIAS, 2000) estabelecem uma relação de poder com os moradores locais e
interferem no modo de vida deles. Nesse sentido, as relações sociais que ocorrem no espaço turístico
precisam ser repensadas com o objetivo de fortalecer os laços de solidariedade entre os indivíduos e não
fragmentar as possibilidades de transformação do meio social e da cultura existente.

Existem os produtos culturais, que são as construções, modos de vida ou alimentos típicos, e os
produtos sociais, que são os espaços produzidos e transformados pelos agentes sociais do turismo para
incentivar a visitação e o consumo no destino. Vale destacar que a preocupação com o consumo cons-
ciente é um elemento de que os indivíduos e a coletividade dispõem para conter a ação predatória do
homem em relação ao espaço turístico. As reflexões sobre as escolhas de consumo e sobre a origem dos
produtos são algumas das possibilidades de ação consciente que podem contribuir para o
desenvolvimento turístico em uma região.

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