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Regienne Peixoto
É claro que apenas esses três elementos não são os únicos necessários ao
entendimento da visão analítico-comportamental sobre as psicopatologias, mas, para fins de
um texto [bastante!] introdutório sobre o tema, considero-os os essenciais.
Em primeiro lugar, o próprio termo “doença mental” torna-se vazio de sentido dentro
desse contexto teórico-metodológico. O adjetivo “mental” remete à existência de uma mente,
entidade metafísica que seria determinante do comportamento. A visão interacionista,
externalista, monista e antimentalista proposta pelo Behaviorismo Radical vai de encontro à
ideia de que tal entidade exista. O comportamentalismo entende que os determinantes do
comportamento se encontram no ambiente.
Aliás, uma das críticas mais frequentes ao Behaviorismo Radical é a de que ele é
“mecanicista”, por rejeitar a existência da mente, ou a subjetividade e por utilizar as noções de
condicionamento para a explicação do comportamento. Essa crítica, entretanto, carece de
coerência interna. Vejamos: as noções da mecânica newtoniana pressupõem que um corpo se
movimente a partir da ação de uma força sobre ele. Caso contrário, esse corpo permaneceria
em estado de inércia. A ideia de que a mente determinaria o comportamento, não soa, afinal,
como uma força que age sobre um corpo (o indivíduo) tirando-o da inércia? Não seria a noção
de mentalismo, por si só, mecanicista? A proposição behaviorista, ao contrário, fala em
interação entre organismo e ambiente, numa mútua influência entre essas duas instâncias, o
que modificaria tanto o organismo que se comporta e quanto o ambiente em que o
comportamento ocorre.
Mas voltando à desconstrução do conceito de doença mental, a palavra “doença” não
se encaixa na proposta behaviorista radical. Uma rápida análise dos manuais diagnósticos em
psiquiatria pode mostrar que a lista de sinais e sintomas psiquiátrivos traz, nada mais, nada
menos que descrições morfológicas de comportamentos. “Humor depressivo”, “anedonia”,
“alucinações”, “delírios”, “catatonia” são termos que comportam descrições topográficas de
eventos públicos e privados. Os manuais são portanto, listas topográficas de
COMPORTAMENTOS presentes em quadros ditos patológicos. Uma explicação analítico-
comportamental não pode, dessa forma, concordar que comportamentos sejam considerados
doença, uma vez que eles são explicados pela interação entre organismo e ambiente.
Uma abordagem mais completa dos quadros psiquiátricos deve incluir, portanto,
descrição e classificação de padrões comportamentais e suas implicações clínicas, sociais e
ocupacionais para o indivíduo bem como a compreensão dos aspectos funcionais do
repertório-problema. Compreender que o sofrimento do indivíduo é função de um conjunto
de contingências presentes em sua história de vida tem um efeito revelador para clínico e para
o cliente, além de ampliar as possibilidades de condutas terapêuticas não só dos profissionais
que acompanham o cliente, mas, ainda, de sua família e de todos aqueles envolvidos em seu
círculo social.