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Breve Historia Do Ceara
Breve Historia Do Ceara
A historia do Ceará propriamente dito tem inicio em 1603 com tentativa de colonização
empreendida pelo açoriano Pero de Coelho de Souza. No entanto, é fato conhecido e reconhecido
pela historiografia nacional a possível aportagem de espanhóis no litoral cearense, antes mesmo
da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500.
Esse evento teria se dado em torno do dia 02 de fevereiro daquele ano e protagonizado por
uma frota sob o comando do navegador Vicente Yanes Pizón, companheiro de Cristovão Colombo
na viagem de descoberta da América. Além dessa, outra frota sob o comando de Diogo de Lepe,
também espanhol, teria tocado o litoral cearense antes de Cabral apontar a Bahia.
Existem muitas controvérsias quanto ao local onde teria se dado a aportagem. Na verdade,
ele teria tocado o litoral do Ceará por duas vezes. Para Capistrano de Abreu, teria sido no cabo de
Santo Agostinho, em Pernambuco. Já o Rio Branco esposa a tese de ter sido a ponta do calcanhar ,
no Rio Grande do Norte. Thomáz Pompeu, com quem Raimundo Girão concorda, aponta ser o
local conhecido por Jabarana ou Ponta Grossa, no município de Aracati, aquele teria sido batizado
de Santa Maria de La Consolación, e a enseada do Mucuripe como segundo ponto de parada de
Pizón. Segundo ele, seria o Mucuripe que Diogo de Lepe, seguindo o rastro de Pizón, teria
batizado de Rostro Hermoso. Para Varnhagem, o Santa Maria de La Consolación seria a enseada
do Mucuripe e o Rostro Hermoso estaria situado na praia de Jericoacoara, próximo à foz do rio
Acaraú.
Os espanhóis, no entanto não puderam tomar posse da nova terra em respeito ao Tratado
de Tordesilhas, firmado em 1494, entre os reis de Portugal e Espanha, dividindo as regiões
descobertas e a descobrir, entre os dois soberanos.
³... a moça tabajara, com quem quebrava a flecha da paz, símbolo do conúbio racial que
gerou Moacir, o filho, aqui, da miscigenação luso-ameríndia.´
p
A origem e significado do nome do Ceará são bastante controvertidos. Os mais renomados
historiadores cearenses arriscam explicações, ou se aliaram em torno de uma versão, sem,
contudo chegarem uma conclusão definitiva.
Em alguns estudiosos existe a convicção que o nome é de origem tupi, significando canto
da jandaia: SEMO ± Cantar forte; ARÁ ± Jandaia. Essa interpretação foi utilizada por Alencar, no
seu livro Iracema.
Há os que acreditam se tratar de uma corruptela do nome do deserto africano, SAARA, pois
assim, os colonizadores chamaram o litoral cearense, devido à grande quantidade de dunas;
explicação muito improvável.
Antônio Bezerra entende que o nome se origina dos termos SOÓ ou COÓ ± caça e ARÁ ±
papagaio.
Capistrano, por sua vez, vai contestar a origem Tupi do nome e defende o berço Cariri;
vendo nos termos DZU ± rio, pronunciado ao modo francês, e ERA ± verde. Pompeu Sobrinho
lembra, no entanto, que, na língua dos cariris, DZU, no significado de rio, não tem essa pronuncia
de verde não é ERÁ e sim ERÃ, daí não ter havido qualquer evolução no sentido de SIARÁ.
Paulino Nogueira insiste na origem Tupi: ÇOO ou SÕO, ou ainda SUU, significando caça, e ARÁ ±
tempo, portanto, tempo de caça.
João Brígido acreditava ser o nome uma corruptela de CIRI ou SIRI ± andar para trás,
referindo-se às várias espécies de caranguejos existentes no litoral; e ARÁ ± branco, claro.
O mais provável, entretanto, é que nenhuma d as explicações seja encontrada no próprio território
cearense, pois já designava um rio no vizinho Rio Grande do Norte: o Siará -mirim. Aqui se adotou o
Siará-Grande. Embora, o rio nosso fosse menor que o de lá, porém, mais povoado e de território
mais extenso, conforme observação de Barão de Studart.
³Encontrando a nova terra µdescoberta¶ já habitada os portugueses chegaram dividiram a
indiada os Tupis (Língua Geral) E µTapui´ Língua Travada´.
No Ceará viviam cerca de vinte e dois povo s indígenas cada um com seu idioma próprio. Do
grupo tupi basicamente dois povos: Tabajaras, que viviam na Serra de Ibiapaba ou Buapavas; e os
Potiguaras, que se situavam entre o Jaguaribe e o Camocim. Estes índios se mostravam mais
cordatos e mantinham um grau de relação mais amigáveis com os portugueses; até porque sua
língua foi mais facilmente assimilada com os brancos.
As demais tribos foram chamadas genericamente de Tapuia, que em Tupi significa: ³aquele
que fala a língua travada´, ou seja, eram difer entes, inimigos. Quando a chegada dos portugueses
ao Brasil, essas nações já viviam um processo de interiorização, empurrados pelos Tupis que eram
em maior quantidade.
Desses povos, faziam parte os Tarariu (Kanindé, Paiakú, Genipapo, Jenipabuçú, Arariú,
Anacé, Karatiú); os Karirís (Kaririaçú,Kariú...); Tremembé; Guanacé (Guanacésguakú, Guanacé -
mirim); Jaguaruana; Aimoré; Tukurijú; Xiriró; Ilko; Apujaré; Kariré; Akonguaçú; Pitaguary; e muitos
outros.
³Durante os primeiros séculos da tal colonização com aquelas tribos ³Tapuia´ não houve
aproximação, pois aos colonizadores não interessavam o sertão´.
Enquanto os portugueses permaneceram no litoral, os choques com esses não foram tão
intensos, porém, na medida em que a penetração foi se dando, por conta principalmente do
criatório de gado o confronto foi se tornando inevitável. Embora o colonizador fosse superior, do
ponto de vista tecnológico, encontrou entre os índios do Ceará forte resistência, sendo que estes
em determinados momentos, conseguiram sérias derrotas àqueles, fazendo retardar o processo de
ocupação da terra. Muitas foram as ³confederações´ que reuniram as mais diferentes tribos para
enfrentar os brancos; em 1688, por exemplo, os Paiakú, os primeiros atingidos pela implantação
das fazendas de criar, aliados aos Ikó, Janduim e Karatiú quase conseguiram recuperar a capitania
das mãos dos colonos. Em 1694, outro levante, os Janduin conseguiram um feito inédito: serem
reconhecidos como um reino autônomo e um tratado de paz com o rei de Portug al que, claro, não
cumpriu seus termos. Em 1713, uma confederação indígena destruiu Aquiráz, expulsando seus
habitantes para junto da Fortaleza.
Diante dessa resistência só restava pedir o socorro dos bandeirantes paulistas, mais
experientes na arte de aprisionar e matar índios. O ano de 1713 vai marcar o início do recuo
indígena com a derrota da Confederação dos Kariri, às margens do rio Choró, para o paulista João
de Barros Braga.
³E assim nosso valente nordestino silenciou depois dessa guerra o branco quase tudo
dominava naquele vasto sertão que livre pro gado estava.´
Ao chegarem os missionários tinham seus planos de ação escoltados por soldados com
armas e munição recrutavam índios no mato pra compor ar Missão.´
Nos aldeamentos os índios eram transformados em mão -de-obra barata para os padres ou
eficientes soldados no combate às tribos mais rebeldes. Muitas cidades cearenses têm origem
nesses aldeamentos: Caucaia (antiga vila do Soure), Ibiapaba ou Viçosa Real (o primeiro deles,
hoje é a cidade de Viçosa do Ceará, muito antiga, ainda mantém seu aspecto colonial), Telha
(Iguatu), Miranda (Crato), Monte -mor ³O Novo d¶América´ (Baturité), Palma (Quixadá), Monte-mor
³O Velho´ (Pacajús), Aracati, Uruburetama, Paupina (Messejana), Arronches (Parangaba), e muitas
outras. As missões religiosas também contribuíram no sentido da preservação física dos índios.
Quanto a estes, no Ceará ainda encontramos algumas tribos que, a duras penas,
conseguiram se salvar da destruição absoluta. Os tremembés vivem no litoral norte do estado, no
distrito de Almofala, municípios de Itarema. Exímios nadadores, profundamente familiarizados com
o mar, derrotaram as diversas expedições enviadas para destruí -los. Vivem da pesca e do
artesanato e em ocasiões especiais dançam o torém. ³O torém é uma pantomima transmitida
oralmente de pai para filho,... Já perdeu seu primitivo significado e função, hoje se constituindo
numa dança diversional. Seus versos misturam palavra de origem tremembé, tupi e portuguesa e
embora utilizem formas sincréticas do folclore regional, conservaram-se suas características mais
ressaltantes.´
Almofala é uma palavra de origem árabe, vindo de AlMahalla (Acampamento); é um
pequeno povoado situado em terras que foram doadas no final do século XVII pela coroa
portuguesa, aos Tremembés. Sua igreja foi concluída em 1712, sob a invocação de Nossa Senhora
da Conceição. No século passado foi soterrada pelas areias da praia, ³... para aflorar lenta daquele
imenso areal sua única e bela torre setencista, moçárabe, até descobrir -se inteiro com suas
volutas, nichos, seu crucifixo de ferro para ³luz.´ Foi reconhecida como Monumento Nacional.
Os índios Tapebas não constituem exatamente uma nação indígena e sim um grupo de
descendentes de Tremembé, Kariri e Potiguara, reunidos no aldeamento jesuítico de Nossa
Senhora dos Prazeres de Caucaia. Habitam as margens do rio Ceará, na BR -222, município de
Caucaia. Vivem de pequenas roças, pesca e artesanato. O nome Tapepa é de origem tupi,
possivelmente uma corruptela de Itapeva: pedra limpa, polida. Embora suas terras tenham sido
delimitadas pela FUNAI, não foram garantidas ainda por portaria apropriada, devido à ação de
fazendeiros que se sentiram prejudicados por essa demarcação. Os Pitaguary e os Jenipapo-
Kanindé ainda estão sendo objetos de estudo pela FUNAI para o devido reconhecimento de seu
trabalho de índio.
³Os índios nesse Nordeste Têm também a sua história Têm os seus valores Suas lutas e
Vitórias Pra conservar seus valores Não dão mão à palmatória.´
³... cada fazenda representava uma família, caracterizada pelo extremo patriarcalismo... os
laços de parentesco uniam todos ao senhor. Havia os parentes sangüíneos (legítimos e ilegítimos) e
o restante, em número maior, por parentescos canônicos ou convencionais.
Nestes últimos, encontravam-se os moradores e agregados. São as relações do regime de
³compadrio...´
Em finais do século XVIII a indústria saladeril cearense viria a entrar em declínio. Vários
fatores concorreram para isso: a seca de 1790/93, que dizimou quase todo rebanho cearense; a
transferência da técnica do charque para Rio Grande do Sul, operada pelo charqueador José Pinto
Martins, onde encontrou melhores condições para seu crescimento, e finalmente, o plantio do
algodão, que quebraria o exclusivismo pastoril no Ceará.
A essa altura, as oficinas de Açu e Mossoró, no Rio Grande do Norte, já tinham sido
proibidas pela coroa portuguesa porque prejudicavam o fornecimento de carne fresca de
Pernambuco. As de Parnaíba, no Piauí, que se projetam junto com as do Ceará, acompanharam a
estas em seu declínio.
O crescimento da cultura algodoeira no Ceará não significou necessariamente o fim da
pecuária, e sim, a convivência dessas duas atividades. A valorização da cotonicultura cearense
ocorreu na segunda metade do século XVIII, obedecendo a estímulos externos, a saber: a
Revolução Industrial na Inglaterra, que tinha como carro chefe a indústria têxtil, a guerra da
independência dos Estados Unidos e, mais tarde, a guerra da Secessão americana.
A cotonicultura marcou profundamente o Ceará, a começar pelo fato de q ue Fortaleza só
passou a assumir ares de capital na medida em que se tornou o centro receptor da produção
algodoeira, adquirindo uma importância econômica que, até então, estava reservadas às cidades
inseridas no ciclo da pecuária, conforme vimos acima.
A guerra da Secessão nos Estados Unidos, que era principal fornecedor de algodão para as
indústrias inglesas e francesas, provocou uma queda significativa de sua produção. O Ceará viu -se
então, beneficiado com esse conflito, pois as nações industrializadas passaram a comprar a
matéria prima de outros centros fornecedores. Dessa maneira, através do algodão, o Ceará foi
inserido no mercado internacional. Nesse período instalaram -se na província inúmeras firmas
estrangeiras ou de estrangeiros associados a brasi leiros que lidavam principalmente com o
beneficiamento e exportação do algodão. Em1860, dos 353 estabelecimentos comerciais
existentes em Fortaleza, 84 eram estrangeiros.
Com o fim da guerra, os americanos foram paulatinamente recuperando sua capacidade
produtiva e o algodão cearense perdendo terreno no exterior. Para absorver a produção passou -se
a industrializar o produto na própria região. Hoje, o Ceará é possuidor de um dos principais pólos
da indústria têxtil brasileira.
A 17 de janeiro de 1799, por determinação de uma carta régia de D. Maria I, ³Amor e
Delícias do seu ³Povo´, o Ceará foi desmembrado de Pernambuco, tornando -se independente. Foi
seu primeiro governo o chefe de esquadra, Bernardo Manoel de Vasconcelos, que fez grand e
esforço no sentido de estabelecer contatos comerciais diretos da capitania com a metrópole.
Entretanto, os próprios comerciantes cearenses resistiam a essa relação, uma vez que mantinham
vínculos estreitos com os de Recife. Somente a partir de 1808 é que o comércio externo da
capitania recebeu grande impulso, devido à exportação do algodão e a abertura dos portos às
nações amigas. No seu governo veio para o Ceará o naturalista João da Silva Feijó, com a
incumbência de estudar o potencial de suas riquezas naturais.
Em 1803, com a morte de Vasconcelos, veio substituí -los Carlos Augusto de Oeynhausen,
futuro Marquês de Aracati. O terceiro governador foi Luiz Barba Alardo de Menezes que procurou
incentivar o comércio coma Inglaterra, favorecendo a instalação d e firmas inglesas na capitania.
Governou de 1808 a 1812, quando foi substituído por Manuel Inácio de Sampaio (1812 -1820)
Entre suas realizações podemos citar a reforma do Forte de Nossa Senhora de Assunção, o
traçado da vila de Fortaleza, contando com os s erviços do engenheiro Antonio José da Silva Paulet
e a criação da alfândega de Fortaleza. Além disso, promovia em sua residência reuniões de
literatos, conhecidas como Outeiros, precursoras dos futuros movimentos literários, muitos comuns
em Fortaleza. Porém, o que marcou de forma mais acentuada a seu governo foi a severa
repressão ao movimento revolucionário de 1807.
O sucessor de Sampaio, Francisco de Alberto Rubim (1820 -1821), governando em
momento de grande instabilidade, foi tragado pelos acontecimentos que desembocariam a
chamada Revolução Liberal do Porto, em Portugal. Incapaz de enfrentar a oposição interna ao seu
governo e ao novo regime renunciou em favor de uma junta provisória, sob a presidência de
Francisco Xavier Torres.
³Depois de revistados dos pés à cabeça e ainda carregando grilhões, os presos são atirados
no estreito e imundo calabouço do quartel, !"#$%!&'(!%$%)!#%)*$(#+!!%
*('%,!-%.Incomunicáveis, alguém só pode falar-lhes de uma distância de dez metros e
com sentinela a vista. Estão nus e dormirão no chão. Dentro de alguns tempos estarão
cobertos de cabelos, comidos de pulga, piolhos e percevejos. São tratados como
animais... Bárbara é reconhecida só, em um outro cubículo,com menos martírio, mas
sem o consolo de ver os filhos´.
Depois, foram enviados para a Bahia onde permaneceram presos até 182 0. A repressão
promovida por Sampaio fora dura e severa, tendo ele aproveitado a ocasião para perseguir
desafetos, como o naturalista Feijó, que foi preso por simples suspeita.
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A primeira reação positiva à proclamação da independ ência no Ceará só veio a ocorrer em
16 de outubro de 1822, quando o colégio eleitoral reunido na vila Içó rebelou -se contra a junta
provisional de Fortaleza, que se mantinha obediente às cortes portuguesas. Elegeu -se, então, um
governo temporário, que tinh a à cabeça o capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, que tomou
posse em Fortaleza, após a rendição da antiga junta. No ano seguinte foi substituído por um
governo permanente, sob a direção do Padre Francisco Pinheiro Landim.
No Piauí, o comandante Português, João José da Cunha Fidié, não aceitou a nova
realidade e resistiu à independência, reprimindo cruelmente os patriotas. Para enfrentá -lo, formou-
se no Ceará uma tropa sob o comando do major Luis Rodrigues Chaves, de João da Costa Alecrim
e Alexandre Néri Ferreira. Esta, no entanto, foi derrotada pelos portugueses na batalha de
Jenipapo.
Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves uniram -se no esforço de libertar o Piauí do jugo de
Fidié; arregimentaram um grande número de homens vindos de toda província e, em 23 de julho de
1823, conseguiram a rendição de Fidié. Estava dada a contribuição do Ceará à consolidação da
independência no norte do Brasil.
A participação dos cearenses na guerra contra Solano López foi significativa. Destacaram -
se as figuras do General Sampaio, General Tibúrcio e Clarindo de Queirós. Sampaio, que morreu
em conseqüência dos ferimentos recebidos na Batalha de Tuiuti, foi agraciado com o titulo de
Patrono da Infantaria.
Uma jovem de Tauá, Jovita Feitosa, tentou incorporar -se na luta, trajando -se de homem,
descoberto o embuste, foi, mesmo assim, engajada na tropa. No Rio de Janeiro, entretanto, seus
serviços foram rejeitados. Suicidou -se naquela cidade com uma punhalada no c oração.
As secas acompanham o Ceará desde o início de sua história. A crônica e a tradição oral
guardam relatos terríveis dos efeitos desse fenômeno com o qual o sertanejo mal conseguiu
aprender a conviver. A primeira seca que a história registra foi a q ue acossou Pero Coelho,
1605/07, obrigando -o a fugir na direção do Rio Grande do Norte. Sobre a segunda, de 1614,
poucas informações se têm. Vieram, em seguida, as de 1692, 1711 e 1721. A primeira de que se
têm documentos oficiais é a de 1723/27. Esta quase pôs em risco a colonização incipiente da
colônia. Depois foi de 1736/37. A de 1777/78, chamada seca dos três setes, e a de 1798/99,
contribuíram para aniquilar com a indústria do charque cearense.
Famosas, foram, a de 1877 a 1879, chamada seca dos do is setes, e a de 1915, a seca do
15, celebrizada pela Iiteratura através do romance "O Quinze", de Rachei de Queiróz. Enfim, as
secas continuam a assolar periodicamente o Ceará, ocorrendo normalmente em espaços de dez
anos. Para combate problema da falta d 'água, a solução mais freqüentemente utilizada foi a
construção de barragens. Se a primeira delas o açude do Cedro, na cidade de Quixadá, no sertão
central. Sua construção foi realizada entre os anos de 1884 e 1906, sendo que no seu início fez -se
uso da mão de obra escrava. O reservatório é formado de quatro barragens, sendo a principal, de
alvenaria ciclópica e traçado semicircular; duas auxiliares de terra, com revestimento de granito e
cerca de 300 metros de extensão, além de outra pequena represa, denom inada de "forges" e dois
sangradouros. Sua construção foi decidida pelo governo imperial após a seca de 1877. sendo
famosa a frase do famosa a frase do Imperador ³que se venda a última pedra da minha coroa, mas
que não morra um cearense de fome". O açude do Cedro foi o primeiro tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional.
Em 1909 foi criada a Inspetoria Nacional de Obras Contra as Secas (IFOCS), mais tarde,
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Em 1960 inaugurou -se o Açude de
Orós, na época o maior da América Latina. Atualmente projeta -se a construção do açude
Castanhão na região do baixo Jaguaribe, que deverá ser o maior do mundo.
Em face da última seca, que se estendeu de 1989 a 1993, a capital do Estado se viu na
contingência de raciocinar o uso da água, devido ao esvaziamento de seus reservatórios.
Construiu-se então o Canal do Trabalhador, de 100 quilômetros de extensão e que alimenta, com
as águas do rio Jaguaribe, o sistema Pacoti-Riachão, que abastece Fortaleza. A partir dessa
magnífica obra ë à tona uma discussão em torno da possibilidade de se transpor as águas do rio
São Francisco para o Ceará, resolvendo definitivamente o problema da falta de água por ocasião
das secas periódicas.
Por muitos anos a vila da Fortaleza permaneceu desassistida. Seu aspecto era deplorável:
as casas eram rústicas, feitas de taipa e pouco numerosas; as ladeiras e areias abundantes
dificultavam a locomoção. Até o século XIX ela permaneceu pobre e medíocre, perdendo em
beleza e funcionalidade para as outros que surgiam em posições Ta is favoráveis.
Somente quando o Ceará tornou -se independente da capitania de Pernambuco, é que os
governadores, que passaram a residir na vila, lhe imprimiram algumas melhorias. Bernardo Manuel
de Vasconcelos instalou na ponta do Mucuripe um Fortim, de nom e São Bernardo, de onde sempre
que chegava um navio, se disparava um tiro de canhão, anunciando sua presença. Anos depois,
um acidente que vitimou os operadores do canhão levou o governador a desativá-Io.
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As primeiras grandes modificações na paisagem urbanística de Fortaleza ocorreram no
governo de Inácio de Sampaio, que contou com a colaboração do Tenente -Coronel Antonio José
da Silva Paulet. Reconstruiu a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, construiu o mercado
público e vários chafarizes.
Entretanto, a maior obra desses dois homens foi imprimir à cidade o traçado quadrangular
que apresenta até hoje, principalmente na sua área central. A primeira rua de Fortaleza foi a da
matriz seguida pela dos Mercadores, correspondendo hoje , respectivamente, às ruas Conde D'Eu e
Sena Madureira. Elas acompanhavam as sinuosidades do riacho Pajeú; Silva Paulet ajustou as
demais ruas de modo a que elas se cortassem em ângulo reto. "A primeira rua em linha reta..., fez-
se a partir de Fortaleza, tomando como referência a praça da Carolina (onde hoje se encontram a
sede dos correios, o Banco do Brasil e o Palácio do Comércio) e aproveitando os arruados como a
rua das Belas, a rua das Pitombeiras e a rua da Alegria, correspondendo os três à rua da Boa
Vista, hoje Floriano Peixoto."
Foram se construindo os primeiros sobrados, acabando com o preconceito de que o terreno
não suportava edificações com mais de um andar.
Em outra planta, a primeira de Herbster, registrava -se distante, o Matadouro, na atual Praça
Clóvis Beviláqua, e a lagoa do Garrote que, em 1890, se transformaria no Parque da Liberdade,
depois Cidade da Criança. Noutra, de 1875, já se faz referência à rua da aldeota (Nogueira
Accioly), para leste; e para sul, a rua dos Coelhos (Domingos Olímpio); algumas ruas foram
sacrificadas para manter o tracejado, ëa entrada da Messejana (Visconde do Rio Branco).
As praças sempre constituíram marcos importantes na história de Fortaleza. Antes da Praça
do Ferreira houveram outras que funcionaram como centros aglutinadores das mais diversas
formas de manifestação humana da cidade. No período colonial havia a praça do Conselho, onde
estava postado o Pelourinho, símbolo da autoridade real, depois transferido para a praça da
Carolina, ao lado do mercado, ponto de encontro de feirantes, daí o nome de "Feir a Velha". Mais
tarde a feira foi transferida para o local onde a praça do Ferreira, que passou a ser chamado "Feira
Nova". Quanto ao Pelourinho, não se sabe foi seu destino, presume -se que foi arrancado com a
Proclamação da Independência. Ocupando junto com a "Feira Nova", o espaço da futura praça,
havia também a rua do Cotovelo, uma viela de mocambos que cortava em diagonal o terreno. Esse
ajuntamento desordenado de casebres foi erradicado em 1942. O lugar passou a chamar -se Largo
das Trincheiras e depois Pedro II. Só em 1871 é que viria a ser batizado com o nome do Boticário.
Além da Botica, outros elementos contribuíram para tomar a futura praça o pronto mais
agitado da cidade. Havia a feira; a sede da Câmara Municipal, localizada no Sobrado do Pacheco;
o Pachecão, o primeiro construído em tijolo e telha, em 1825. Havia também a livraria do Oliveira,
no lugar em que está hoje o cine São Luiz, palco de animadas palestras. Logo, as melhores casas
comerciais da cidade fo ram se fixando em tomo da praça.
Com a proclamação da República, a febre positivista que acometeu os legisladores, quis
mudar o nome do logradouro para Praça Municipal, assim como retirar os nomes das ruas para
numerá-Ias. A modificação, no entanto, não agradou aos fortalezenses e tudo voltou a ser como
era antes. Para fazer crescer mais ainda a agitação da praça foram instalados nelas, em 1880, os
trilhos da Companhia Ferro Carril, cujos bondes puxados a burros, ar estacionavam. Em 1913, os
burros foram substituidos por bondes elétricos.
Completando a preferência pela praça, foram implantados nela, nos anos 80, os famosos
quiosques. Eram cafés-restaurante, que se tomaram a alegria dos palradores da cidade. O iniciador
desses pontos de reunião foi o aracatiense Manuel Pereira dos Santos, conhecid o por Mané Coco.
Eram em número de quatro: o Java, no ponto nordeste da praça; o Café do Comércio, no noroeste;
o Iracema, no sudoeste e o Elegante, a sudeste. Na reforma de 1920, promovida pelo prefeito
Godofredo Maciel, foi decretada a extinção dos quios ques.
Também na praça estava o "cajueiro da mentira", à sombra do qual se elegia todos os anos,
no dia 12 de abril, em meio a bombas e bandeirinhas, o "Coronel Comandante do Batalhão dos
Potoqueiros (mentirosos) de Fortaleza", batalhão que tinha como única finalidade combater a
verdade. O copado cajueiro também não escapou à reforma do Godofredo.
Houve também "o banco" que reuniu várias gerações de intelectuais e que foi sendo
lentamente abandonado, até restar apenas o banco com seu nome inscrito no chão da praça;
mesmo essa singela homenagem desapareceu.
A praça foi testemunha também de tragédias como a que vitimou, em 1894, Joaquim
Vitoriano, o Paulo Kandalascaia, da Padaria Espiritual, o tenente Heitor Ferraz e o poeta Mário da
Silveira. mortos por motivos semelhantes. Foi palco igualmente da covardia da polícia de Accioly,
que assassinou crianças indefesas, nas manifestações de 1912.
Ao logo de sua existência, a praça sofreu várias reformas: a primeira com Guilherme Rocha,
em 1906, que nela construiu jard ins e alamedas. Em 1920, Godofredo Maciel tirou os quiosques e
pôs um coreto para a apresentação de peças musicais. Em 1933, Raimundo Girão demoliu o
coreto e colocou em seu lugar a coluna da hora. Em 1946 foi construído o Abrigo Central, com casa
de merenda, bancas de bicheiros e engraxates no seu interior. Este foi derrubado em 1966 e em
1967, foi a vez da coluna, para dar lugar a nova reforma em 1968, muito criticada pela estranha
roupagem com que vestiu a praça. Finalmente, em 1991, sofreu uma reforma p rofunda, que
recuperou a coluna da hora, os bancos e até a cacimba construída no século passado. Foram
autores do projeto os arquitetos Fausto Nilo Costa e Delberg Ponce de Leon que procuraram
evocar as diversas fases da praça. A. cacimba, três com bancas de revistas, a seqüência de
pórticos em torno deles, feitos em aço especial que homenageiam o espírito da praça; galhoteiro,
brincalhão, onde até o sol foi vaiado nos anos 40; tudo feito num esforço de resgatar a história do
espaço mais democrático da cida de.
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As primeiras manifestações literárias do Ceará começaram nas reuniões feitas na casa do
governador Sampaio, os concorridos outeiros. Era início do século XIX. Freqüentavam essas
reuniões, Costa Barros, Pacheco Espinosa, Castro e Silva e outros que não produziram nada de
muito significativo. Outro grupo só surgiria na década de 70; era a Academia Francesa que contou
com figuras de peso como, Rocha Lima, Tomás Pompeu e Capistrano de Abreu. Muitos,
influenciados pelas idéias positivistas, combatiam o Romantismo. Publicavam o Jornal
FRATERNIDADE.
Em 1886 surgiu o Clube Literário, que reunia Juvenal Galeno, Antonio Bezerra, Justiniano
de Serpa, Oliveira Paiva, Farias Brito, Rodolfo Teófilo e o moço Ant onio Sales. Apesar da matriz
romântica de muitos esses escritores, o grupo começou a se enquadrar na escola realista. Seu
órgão na imprensa era AQUINZENA.
Foi no final do século que o Ceará conheceu o seu mais expressivo e criativo movimento
literário: A PADARIA ESPIRITUAL. O seu mentor foi Antonio Sales e a idéia de sua criação se deu
nas mesas do Java. Seu órgão era O PÃO e tinha um Padreiro -mor Padeiro-mor (Presidente), dois
Forneiros (secretários) e os demais membros eram chamados de Padeiros. Os Padeir os tinham
nomes fictícios: Antonio Sales era Moacir rema, Adolfo Caminha era Feliz Guanabari no, Rodolfo
Teófilo era Marcos Serrano, Antonio Bezerra era André Carnaúba e assim por diante. Entre outras
coisas, seus estatutos determinavam que fosse "proibido o tom oratório, sob pena de vara", ser
severamente punido o Padeiro que passasse uma semana sem dizer um chiste e, recitar ao pia'1o,
dava "expulsão imediata e sem apelo". Declarava como "inimigos naturais (...) o clero, os alfaiates
e a polícia", Além de escritores, haviam também músicos, Henrique Jorge (Sarasate Mirim) e seu
irmão Carlos Vítor, e um pintor, Luis Sá. Havia um que era nada disso, Joaquim Vitoriano, o Paulo
Kandalascaia, que por sua coragem e físico avantajado atuava como guarda costas dó g rupo. No
interior do movimento conviviam estilos literários diferentes, com maior predominância do
Realismo. Através da Padaria foi introduzido o Simbolismo no Ceará, bebido diretamente de
Portugal.
A Padaria Espiritual viveu duas fases: a primeira, de 10 de julho de 1892 a 24 de dezembro
desse ano, com a publicação de seis números d'O PÃO apesar do sexto estar numerado como
quinto, porque saiu dois números 2. E a segunda fase, que se iniciou a 1º de janeiro de 1895 e foi
até 1898, quando extinguiu -se o movimento, apesar d'O PÃO ter deixado de circular já em 1896.
A 15 de agosto de 1894 foi fundada a Academia Cearense de Letras, portanto, antes da
Academia Brasileira que é de 1896. Seus objetivos iam além da literatura, abarcando o campo das
ciências, educação, artes, de um modo geral. Alguns de seus principais fundadores foram Tomás
Pompeu, Guilherme Studart Farias Brito, Justiniano de Serpa, Padre Valdevino, Henrique
Théberge, para citar os mais conhecidos.
Nessa primeira fase, publicou de 1896 a 1914, a R EVISTA DA ACADEMIA CEARENSE.
Digo primeira fase porque deixou de funcionar várias vezes, sendo reorganizado em 1922, 1930 e
1951. Funciona atualmente no Palácio da Luz, antiga sede do governo e tem como presidente o
poeta Arthur Eduardo Benevides. Em data recente, elegeu como membro a escritora Rachei de
Oueirós. O Centro Literário foi criado por uma dissidência da Padaria Espiritual em 1894. Não tinha
a mesma originalidade mas contava com escritores de grande talento como Papi Júnior, Guilherme
Studart, Farias Brito, e outros. Muitos faziam parte de um e outro movimento, pois não se exigia
fidelidade de seus membros. Publicava a revista IRACEMA e funcionou até o início do presente
século.
Os grupos literários brotavam como ervas nos canteiros da "lourinha" afrancesada. Surgiam
das rodas que se formavam em torno dos bancos da Praça do Ferreira e do Passeio Público, nas
livrarias e, principalmente, nos cafés. Assim surgiram, inspirados pelo bucolismo da Fortaleza
"Belle Époque", grupos como a Plêiade, onde se sobressaia a figura de Soriano Albuquerque; a
Academia Rebarbativa, que publicou a revista A JANGADA; e a Polimática, nascida no Café Riche.
Os cafés, reflexo da influência francesa, existiram em grande quantidade em Fortaleza.
Houve época em que a cada esquina encontravam-se um. A moda começou com os quiosques da
Praça do Ferreira.
Depois, os cafés foram contornando a praça e se estendendo para outros espaços. Neles.
encontravam-se figuras como Quintino Cunha, poeta e piadista fino; o poeta José Albano, admirado
pela beleza, cultura elevada e excentricidade; o· teatrólogo Carlos Câmara, o mestre da burleta;
enfim, as figuras mais interessantes da Fortaleza provinciana. Havia a "Maison Art -Nouveau", na
Major Facundo com Guilherme Rocha; funcionou de 1907 a 1930, quando foi consumida por um
incêndio. O Café Riche foi inaugurado em 1913, sendo seus proprietários Alfredo Salgado, o
notável abolicionista, e Luis Severiano Ribeiro, que se tomaria o Rei do Cinem a no Brasil. E vieram
outros; Avenida, Globo, Confeitaria Glória, Éden Café, Café do Comércio, a Rotisserie. Esses
"antros" luxuosos e tão agradáveis acompanharam a cidade no seu crescimento até os idos dos
anos quarenta quando conheceram o ocaso.
O primeiro teatro de Fortaleza, o "Concórdia", iniciou suas atividades em torno do ano de
1830 e funcionava em um prédio em frente à Igreja do Rosário. Em 1842, já com o nome de
"Taliense", foi transferido para a rua Formosa, hoje Barão do Rio branco. Era bem freq üentado,
apesar do amadorismo de seus artistas. Encerrou suas atividades no ano de 1872.
Já naquela época, as autoridades pensavam na construção de um teatro de maior
envergadura, sem que se tomasse iniciativa nesse sentido. Continuaram, então, os teatros de
pequeno porte a servir como único espaço disponível para as atividades cênicas da cidade. Eram
eles o São José, na rua Amélia; o das variedades, fundado em 1877, cujas representações eram
feitas ao ar livre; o São Luis, que funcionou de 1880 a 1896. Nel e, em 1882, esteve o maestro
Carlos Gomes. apenas de passagem, sem executar nenhuma de suas peças musicais. Além
desses, funcionaram vários outros, verdadeiros teatros de "fundo de quintal".
Em 1896, o Presidente Bezerril Fontenele lançou a pedra fundament al do que seria mais
tarde o Teatro José de Alencar. As obras, no entanto, só seriam iniciadas em 1908, concluindo -se
em 1910, no governo de Nogueira Accioly. Foi construído em metal vindo da Inglaterra, como
quase todas as construções de qualidade da époc a (ver pág.41).
Outro teatro construído nessa fase, em 1915, foi o São José. Desde sua construção nunca
tinha sido reformado, o que ocorreu há pouco tempo. No projeto foram previstas melhorias, que
não implicarão na alteração de sua estrutura.
Outras casas de espetáculo da cidade, atualmente ou estão em reforma, como o Teatro
Carlos Câmara, no Centro de Turismo da CODITUR, ou em pleno funcionamento, como o Teatro
Universitário, o Teatro do IBEU, o ARENA Aldeota e o Paurillo Barroso, sendo os três últimos de
propriedade de instituições privadas.
Os primeiros "cinemas" chegaram na forma dos bioscópios e kinetoscópios ou kinefones.
Foram introduzidos por um italiano de nome Pascoal, e se constituía de uma lanterna mágica, que
projetava numa tela imagens sem mov imento. Os kinefones foram introduzidos antes, em 1891.
Sendo uma combinação do bioscópio com o gramofone . O primeiro cinematógrafo foi exposto pela
Empresa Oliveira & Coelho no teatro no Clube Iracema, em 1907. Depois, o italiano Vitor Di Maio
montou o primeiro cinema fixo. No prédio da "Maison Art-Nouveau", na rua Major Facundo com
Guilherme Rocha, daí, ser chamado também de "Art -Nouveau". Em seguida vieram o Politeama, o
Rio Branco, o Cassino. o Riche e o American Cinema. Em 1917, foi aberto o Majestic Pálace, do
milionário Plácido Carvalho. O mesmo que construiu o Excelsior Hotel, que além de belo é o maior
edifício de alvenaria do mundo. Com o Majestic, o cinema tornou -se hábito para a elite social. Que
freqüentava vestida a caráter, glamourizando suas "soirées". Aliás, naquela época, as pessoas, de
um modo geral, andavam bem vestidas. Mais tarde, em 1922, veio o Cinema Moderno, e o Majestic
foi perdendo a importância, até que na década de 40, já se apresentando como um cinema poeira,
freqüentado por ge nte de classe social inferior, foi destruído por um incêndio. Surgiu então o Diogo
e posteriormente o São Luis, marcando o início do monopólio do grupo Severiano Ribeiro.
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Fortaleza já foi chamada de "Cidade dos Clubes", dada a grande quantidade dessas
agremiações que reuniam os membros das classes média e alta. O primeiro deles foi o Recreação
Familiar Cearense, surgiu em 1851. Depois foi a vez do Cearense. fundado em 1867, em um
Casarão da Senador Pompeu. Torou-se tão elitista que alguns de seus membros resolveram fundar
um outro, o Iracema, em 1884. Nesses clubes se fazia de tudo: jogos, danças, flertes, concertos,
peças teatrais, reuniões políticas, ou simplesmente encetavam-se relaxadas conversações. O
Iracema tornou-se o clube mais freqüentado de sua época, dividindo mais tarde com o Clube dos
Diários, surgido em 1913, as preferências dos boêmios da cidade.
Nas festas de carnaval, o pessoal do Cearense se convertia no "antro" dos Dragões do
Averno. Os do Iracema nos Conspiradores Infernais do Iracema. O desfile começava com uma
parada dos camelos que haviam sido trazidos da Argélia, pelo governo Imperial, para resolver o
problema dos transportes do sertão. Embora se adaptassem bem à região, desistiu -se da idéia e
eles ficaram reduzidos a simples atração zoológica, para os habitantes da capital. Comparado com
os dias de hoje, o Carnaval era uma brincadeira de jardim da infância. Consistia em promover
"assaltos" nas casas de família, ocultas por
"Tem planta quadrada, constante do núcleo central, contornado por alpendres. O telhado
é piramidal, com vértice apoiada numa coluna central de alvenaria de tijolos. Todo
madeiramento é de carnaúba e o traçado das peças estruturais se desenvolve no espírito
de pesquisa das linhas internas do quadrado. A impressão sensorial do espaço interior
pede experiência pessoal, já que não pode ser transmitida por descrições verbais e nem
mesmo por fotografias".
Quando Pero Coelho dirigia -se ao Maranhão, para dar combate aos france ses instalados
naquela capitania, deparou -se com índios hostis. "a foz do rio Jaguaribe. Para pacificá -Ios, fez. ali
um fortim. Que batizou de São Lourenço. Mais tarde surgiria a povoação de Santa Cruz do Aracati
do Porto das Barcas.
Aracati se tomaria o p rincipal ponto de penetração para os que pretendiam descer o
Jaguaribe. Logo conheceria o progresso através da indústria do charque. Com a decadência desta.
a cidade conheceu seu ocaso. só vindo a conhecer um certo renascimento em data recente. com
seu agitado carnaval e suas belas praias.
Seu conjunto arquitetônico do século XIX é o mais importante do Ceará. contando ainda
com edificações do século anterior. Relacionaremos aqui algumas delas:
Metrópole da zona norte do Estado, conheceu a prosperidade com o cha rque. Apresenta
numeroso acervo arquitetônico em quatro fases diferenciadas de estilos que se configuraram ao
longo do século XIX. Suas Igrejas apresentam -se bastante modificadas. como de resto aconteceu
em todo o Ceará. Seus espaços urbanos são bastante ricos. testemunho da sua proeminência
ancestral. Destacam-se do conjunto:
IGREJA DO MENINO DEUS. que foi erguida no início do século passado. Salienta -se no
forro, baixo relevo em talha poli cromada. representando a sagrada família em fuga para o
Egito.
TEATRO MUNICIPAL SÃO JOÃO, construído no final do século XIX. edifício de estilo
neoclássico.
CASA DA CÂMARA, edifício de aspecto austero. consoante com o objetivo para o qual foi
construído. Sofreu várias reformas.
MUSEU DIOCESANO DOM JOSÉ, sobrado dos idos do século XIX. o museu guarda peças
colecionadas por D. José Tupinambá da Frota, bispo de Sobral de 1916 a 1959.
Um dos mais antigos aglomerados urbanos do Ceará teve entre seus colonizadores os
membros das famílias Monte e Feitosa, protagonistas de uma grande guerra incruenta, que assolou
o sertão dos Inhamuns por muitos anos, no século XVIII.
A cidade está localizada num ponto de confluência de diferentes correntes do comércio,
favorecendo seu crescimento, tomando-a uma das mais progressistas do interior do Ceará, no
período colonial. Foi favorecida pelos ciclos da pecuária e do algodão. Por seu intermédio se
faziam os negócios entre as capitanias de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia,
Piauí e a zonas e centro do Ceará. Ainda conserva seu aspecto arquitetônico colonial, destacando -
se a Antiga Casa de Câmara e Cadeia, o Teatro da Ribeira dos Icós e outros prédios de estilo
Barroco. Seu patrimônio também está a exigir uma política de conservação.
"No concedente às Igrejas fortalezenses ..., são em quase sua totalidade, edificações de
meados ou fins de século passado, concluídas já neste século... misturam, à planta de esquema
basilical, influências dos movimentos historicistas do século passado, através de ecos amortecidos
de um neoclassicismo ou de um neogoticismo sem pretensões.
Assinale-se, entre elas, a do Pequeno Grande, inaugurada com o século, coberta de placas de
ardósia - montadas em estrutura metálica procedentes da Bélgica, segundo um projeto de
inspiração neogótica, em cujo telhado os materiais e o caimento íngreme se uniam num desenho
para escorrer a neve".
No mesmo estilo apresentava -se a antiga Sé, que foi demolida para dar lugar à nova.
Construções que faziam uso de estruturas metálicas importadas das nações européias, que
no início do século exerciam sua hegemonia sobre o mercado internacional. Modelos copiados, que
não raro, já vinham preparados para montar. Destacam -se desse período, o Teatro José de
Alencar, o prédio da Alfândega, o Mercado de Ferro que após ser desmontado desdobrou -se no
Mercado da Aerolândia e o dos Pinhões; a Igreja do Pequeno Grande e o desaparecido Cine
Majestic.
c) ECLETISMO ARQUITETÔNICO
Dos antigos sobrados que definiam as vias centrais do início do século restam muito poucos,
destacando-se, ainda, em bom estado de conservação, o dos Fernandes Vieira, restaurado
recentemente para dar lugar ao Arquivo Público do Estado. As demais edificações consideradas
antigas, se enquadram nos esquemas do dito ecletismo arquitetônico, vigente na França do século
XIX, sob Napoleão III. Remanescentes desse estilo são o prédio do antigo IFOCS (DNOCS), de
1907; o Palacete Ceará, (Caixa Econômica), na Praça do Ferreira, de 1914; o Teatro José de
Alencar, de 1910; o Prédio da Fênix Caixeiral, criminosamente demolido na década de 70, que e ra
construção de 1915, e estava localizada na Praça José de Alencar.
Destacavam-se, também, nesse período, as casas chácaras, inseridas em meio a amplos
jardins, como o palacete do Coronel João Gentil, que deu lugar à Reitoria da Universidade Federal.
Nesse estilo notabilizou-se também o Palacete do Plácido, demolido na década de 70, onde
atualmente está localizado o Centro Artesanal Luiza Távora, na Avenida Santos Dumont. Registra -
se também as influências do movimento "Art -Nouveau", perceptível ainda um pe queno conjunto de
casas situadas entre as ruas General Sampaio e 24 de Maio, modificadas em sua parte inferior
para adaptação de lojas.
Vigoram também nesse período os preceitos do movimento tradicionalista, que na Europa
se expressava no retorno aos valor es de épocas passadas, principalmente os da Idade Média e do
período que marca o surgimento das nacionalidades. No caso brasileiro, o esforço centrou -se na
recuperação do aceno arquitetônico do período colonial, embora não se possa falar de um estilo
colonial. No Ceará, a obra do arquiteto Armando Oliveira se encaixou dentro dos parâmetros desse
movimento, destacando se o prédio do Grupo Escolar Visconde do Rio Branco e as grades do
Parque da Liberdade
(Cidade da Criança).
Finalizando esse período, às vésperas da revolução de 30, vamos ter o Excelsior Hotel e
alguns palacetes localizados no fim das linhas dos bondes, principalmente na Jacarecanga.
Prédio construído em 1914 pelo Cel. José Gentil Carvalho, abrigou, no seu andar térreo, o
"Rotisserie Sportman" e nos altos. o Clube Iracema. Foi por muito tempo um dos pontos mais
refinados da cidade. Em 1955. o prédio foi adquirido pela Caixa Econômica Federal que aí instalou
uma de suas agências. Em 1982, um incêndio deixou apenas sua fachada de pé. Feito os
levantamentos, juntamente com o Patrimônio Histórico. optou -se por sua restauração.
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Antiga residência do capitão -mor Antonio de Castro Viana, tendo funcionado aí a Câmara
Municipal. Foi sede do governo do Estado até a década de 60 do corrente século. Abrigou também
a Secretaria Estadual de Cultura e Biblioteca Pública, além da Casa de Cultura Raimundo Cela.
Atualmente sedia a Academia Cearense de Letras.
Ao lado do Palácio se encontra a Praça General Tibúrcio, mais conhecida como Praça dos
Leões. Era o pátio do Palác io e servia de depósito de animais e lixo. Idelfonso Albano embelezou -
a, dando-lhe a dignidade que até hoje apresenta. Antes disso, durante os choques que levaram à
queda do Presidente Clarindo de Queiróz, em 1892, a estátua do General Tibúrcio foi atingid a por
um tiro de canhão que a derrubou do pedestal.
O Arquivo Público do Estado, que abriga os documentos mais antigos do Estado, está
instalado no casarão que pertenceu ao deputado Miguel Fernandes Vieira (1819 -1879). O prédio foi
adquirido pelo governo Imperial em 1883 para a Tesouraria da Fazenda. Sediou outras instituições
públicas, entre as quais a Delegacia da Receita Federal. Cedido ao governo do Estado, foi
adaptado para sediar o arquivo; sua inauguração se deu a 15 de junho de 1993.
Na extremidade sul da Praça dos Leões está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Fundada em 17 teve sua primeira festa em homenagem à Santa, em 27 de dezembro de 1747. O
templo tinha paredes de taipa e teto de palha, sendo utilizado pelos negros para suas orações.
Foi construído entre os anos 1908 e 1910 no governo de Nogueira Accioly. É uma das mais
notáveis as em arquitetura metálica, apresentando características ecléticas, onde são observados
estilos clássico, moderno e "Art-Nouveau", com aspectos da arte greco-romana. Suas estruturas
foram ebeberadas da Escócia, sendo seu corpo feito todo em ferro, aço e ferro fundido, com três
pavimentos, do térreo, onde ficam a platéia, as frisas, camarotes e torrinhas, contendo ainda
cadeiras austríacas de palhinha, balcão e elegante escadaria. A elaboração de sua planta esteve a
cargo do engenheiro militar, capitão Bernardo José de Meio. A cenografia esteve a cargo de
Herculano Ramos, os trabalhos de pintura foram realizados por Ramos Cotoco, Antonio Rodri gues,
José Vicente, Jacinto Matos, José de Paula Barros e Rodolfo Amoedo.
Com fachada em estilo Coríntio, de acordo com os preceitos dos teatros -jardins, sendo que
o jardim só Foi construído na reforma de 1974/75, de acordo com projeto do paisagista Burle Marx,
recentemente falecido. O mesmo participou da reformulação do jardim na reforma de 1989/91.
Inaugurado em 17 de junho de 1910, teve sua primeira encenação em 23 de setembro daquele
ano. todo está formado de: bloco frontal ou "foyer", em estilo eclétic o: sala de espetáculos, na linha
"ar ³nouveau´, jardim; caixa do palco e terreno onde funcionou a Faculdade de Odontologia, que as
para ensaio de dança, teatro, música, sala para figurino, oficinas, palco ao ar livre, sala de
espetáculos com 100 lugares, restaurante, copa, salas da administração, galeria de arte e
biblioteca.
A sala de espetáculos comporta 764 lugares. O interior do Teatro está decorado com
pinturas em alto referem à mitologia grega e à obra de José de Alencar.
O teatro foi tombado em 10 de agosto de 1964, como Monumento Nacional, pela Sociedade do
Patrimônio Histórico e Artístico.
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O templo que deu origem a primeira Catedral de Fortaleza foi construído entre os anos 1820
e 1854. Recebeu o nome de Sé e só foi receber os foros de Catedral em 1861, com a criação do
bispado de Fortaleza, sendo o primeiro bispo, D. Manuel da Silva Gomes. Apresentava aspecto
neoclássico e foi demolida no final da década de 30 para dar lugar à nova catedral. Sua demolição
foi amplamente criticada, porém, nada foi feito para impedir o fim da velha catedral, que estava no
seu 84º aniversário.
A nova catedral teve sua pedra fundamental lançada em 15 de agosto de 1939, mas só foi
concluída em 1978, tendo sido inaugurada em 22 de dezembro daquele ano , no bispado de D.
Aluísio Lorscheider. Sua construção teve hiatos e reanimações, sendo famosa a campanha da
papeleta amarela, que visava angariar fundos para a conclusão do templo.
O projeto é de autoria do engenheiro francês Georges Mounier, que o elabor ou segundo o
estilo "gótico estilizado" ou neogótico. A construção tem forma de cruz, com 96m de comprimento e
28 de largura, sendo que na parte dos braços, a largura se amplia para 60m. O pé direito é 32m
(altura do chão ao teto).
O altar tem 5m por 1m, o piso é granito, e possui mármores de Verona nos lambris. Seu
interior está decorado com vitrais vindos da Itália, que contam passagens da Bíblia e vida dos
Santos. Acima da porta principal, está o vitral com as armas da Catedral. A entrada ou saída do
templo é feita por três portas frontais e quatro laterais, sendo a circulação no seu interior facilitada
pela disposição dos bancos nas partes centrais.
Ocupa um terreno de 3.000m 2 com área coberta de 1.820m 2, sendo 1.726m 2 de área útil.
Está localizada no centro da célula originária do município.
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A antiga Ponte Metálica foi construída entre os anos de 1902 e 1906, sendo projetada pelo
engenheiro Domingos Sérgio de Sabóia e Silva. Foram responsáveis por sua montagem o
Engenheiro Hildebrando Pompeu e o escocês Robert Gow Blasby.
Era um viaduto com estrutura de ferro e piso de madeira. Para a subida e descida de
passageiros fazia se uso de uma ponte móvel, o que a tornava muito insegura. Funcionou por
muitos anos, sendo, inclusive, reformada em 1928.
A ponte, que é popularmente chamada de metálica, é, na verdade, a Ponte dos Ingleses,
que nunca foi concluída. Tinha o objetivo de fazer a ligação de um cais -ilha com a terra firme.
Preferida pelos adoradores do sol que ao fin al da tarde vêm assistir ao ocaso do astro -rei,
encontrava se em adiantado estado de degradação. O governo do estado restaurou o concorrido
"point", dentro de um projeto que prevê a criação de um centro cultural na Praia de Iracema. A nova
Ponte é constituída de três etapas: a primeira tem iluminação mais forte. Na intermediária estão os
quiosques em fibra de vidro, bares e restaurante. A terceira, mais distante, e stá reservada à
contemplação, com pouca luz.
O Centro Cultural será administrado pela Fundação Dragão do Mar e ganhará um Museu da
Imagem e do Som, cinemas, teatros, um aquário e um planetário, além do Centro de Artes Visuais
Raimundo Cela.
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A 20 de junho de 1861, o Bispo D. Luiz Antonio dos Santos lançou a pedra fundamental do
Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição. O objetivo era construir uma instituição destinada
a escolher jovens para o estudo convencional. O prédio funcionou também como sede do Colégio
da Imaculada Conceição. Em 1864 tornou -se o Seminário do Outeiro da Prainha.
o Seminário foi o responsável pela formação de algumas das melhores cabeças do Ceará.
Funciona hoje, no prédio, o Instituto de Ciências, Religiosas e o Instituto Teológico Pastoral.
Atualmente, ele passa por reformas em suas instalações.
No projeto está previsto a criação de um Museu Sacro, podendo se constituir num dos mais
importantes do Nordeste. O Seminário conta também com uma biblioteca de dez mil exemplares,
uma das maiores no campo religioso.
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Em 1846 foi instalado um precário farol na Ponta do Mucuripe. Em 29 de julho de 1872, em
comemoração ao aniversário da Pr incesa Isabel, foi ali inaugurado outro. Sua luz era vista a quatro
léguas, de minuto em minuto. Desativado, o velho farol foi utilizado para abrigar o Museu do
Jangadeiro. No momento está sendo Restaurado e será transformado no Museu de Fortaleza.
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