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A historia do Ceará propriamente dito tem inicio em 1603 com tentativa de colonização
empreendida pelo açoriano Pero de Coelho de Souza. No entanto, é fato conhecido e reconhecido
pela historiografia nacional a possível aportagem de espanhóis no litoral cearense, antes mesmo
da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500.
Esse evento teria se dado em torno do dia 02 de fevereiro daquele ano e protagonizado por
uma frota sob o comando do navegador Vicente Yanes Pizón, companheiro de Cristovão Colombo
na viagem de descoberta da América. Além dessa, outra frota sob o comando de Diogo de Lepe,
também espanhol, teria tocado o litoral cearense antes de Cabral apontar a Bahia.
Existem muitas controvérsias quanto ao local onde teria se dado a aportagem. Na verdade,
ele teria tocado o litoral do Ceará por duas vezes. Para Capistrano de Abreu, teria sido no cabo de
Santo Agostinho, em Pernambuco. Já o Rio Branco esposa a tese de ter sido a ponta do calcanhar ,
no Rio Grande do Norte. Thomáz Pompeu, com quem Raimundo Girão concorda, aponta ser o
local conhecido por Jabarana ou Ponta Grossa, no município de Aracati, aquele teria sido batizado
de Santa Maria de La Consolación, e a enseada do Mucuripe como segundo ponto de parada de
Pizón. Segundo ele, seria o Mucuripe que Diogo de Lepe, seguindo o rastro de Pizón, teria
batizado de Rostro Hermoso. Para Varnhagem, o Santa Maria de La Consolación seria a enseada
do Mucuripe e o Rostro Hermoso estaria situado na praia de Jericoacoara, próximo à foz do rio
Acaraú.
Os espanhóis, no entanto não puderam tomar posse da nova terra em respeito ao Tratado
de Tordesilhas, firmado em 1494, entre os reis de Portugal e Espanha, dividindo as regiões
descobertas e a descobrir, entre os dois soberanos.

  



Após a descoberta e posse do Brasil pelos holandeses, esses não se mostraram, a
princípio, muito interessados na sua colonização, comportamento que obedecia a razões de ordem
econômica: o comércio com o Oriente se mostrava mais interessante e, no Brasil, não se tinha
detectado a existência de metais preciosos, além de não haver uma população organizada que se
pudesse tributar. Anos depois a coroa portuguesa se veria obrigada a mudar de atitude, em face à
crise do comércio oriental e do risco de perder o Brasil para as nações que só tardiamente
ingressaram na corrida maritimo comercial, no caso, França, Inglaterra e países baixos (Holanda).
O Brasil foi divido em capitanias hereditárias, que foram cedidas a particu lares, visando
dividir o peso da colonização com a iniciativa privada.
O território que viria a ser mais tarde o Ceará estava compreendido nas capitanias de Fernando
Álvares de Andrade, Antônio Cardoso de Barros, no 1° lote dos sócios João de Barros e Aire s da
Cunha e no 3° lote da capitania de Pero Lopes de Souza. Afora Álvares de Andrade e os sócios
João de Barros e Aires da Cunha, que intentaram e explorar seus quinhões, numa frustrada
iniciativa que iria custar a vida de Aires da Cunha e a dos filhos de seu sócio, as terras do Ceará
ficaram abandonadas: Antônio Cardoso de Barros, em cuja capitania estava situada a maior parte
do litoral cearense, sequer chegou a tomar posse dela.
Resultou então que os portugueses não se interessando pela capitania, apena s costeando-
a, sem nunca nela aportar, deixaram-na exposta à presença de outros povos, principalmente
franceses que intentavam se fixar no maranhão. Traficavam madeiras e outros produtos como um
âmbar, utilizado na perfumaria. Faziam escambo com os índios, trocando quinquilharias por essas
matérias primas.
Somente em 1603 é que ouve a primeira tentativa de colonização do Siará -Grande, pelo
capitão-mor Pero Coelho de Souza que, vindo da Paraíba, tencionava atingir o Maranhão por terra,
seduzido por notícias de riquezas nas regiões acima do Rio Grande. Abriu o caminho até a
Ibiapaba, enfrentando os índios e os franceses, vendo-se, entretanto, forçado a recuar até rio que
os índios chamavam de Siará, instalando uma pequena povoação que chamou de Nova Lisboa, e
que pretendia tornar a capital de Nova Lisutânia. Veio, então, à Paraíba, em busca de reforços e da
família. Nesse ínterim, seu preposto, Simão Nunes construiu uma fortificação tão frágil que se
duvida de sua existência, que denominou de São Tiago.
Voltando Pero Coelho para Nova Lisboa, aí não pôde permanecer por muito tempo, devido aos
índios e à seca de 1605/1607. Partindo na direção da foz do Jaguaribe, enfrentando terríveis
flagelos, teve que amargar a perda da maior parte de seus homens e de seus filho s. Retornando à
Paraíba, não foi, porém, ressarcido de seus prejuízos e veio a morrer pobremente em Lisboa. Se
não foi coberta de êxito a sua expedição, também não se pode afirmar que foi um fracasso
absoluto, como observa Raimundo Girão.

³A empresa de Pero Coelho frustou-se, porém só em parte. Se não atingiu o Maranhão,


pôde utilizar o já,..., perigoso enquistamento dos franceses no
Ceará..., exordiou a exploração civilizadora, preparando o terreno para aquele que
considerando o fundador, Soares Moreno.´

     



Martim Soares Moreno veio pela primeira vez ao Ceará, anda muito jovem, na bandeira de
Pero Coelho, por determinação de seu tio Diogo de Campos Moreno, que instruiu o rapaz no
sentido de aprender a língua e os costumes dos índios. Em 1612 retornou ao Ceará na companhia
do Padre Baltazar João Correia com o fim de consolidar a posse portuguesa da Capitania, que vivia
infestada de franceses instalados na França Equinocial no Maranhão. Deu grande demonstração
de coragem no enfrentamento com os estrangeiros chegando a degolar no ano de sua chegada,
mais de duzentos flibusteiros e enviar para Portugal, três navios tomados àqueles, segundo afirma
ele próprio em sua ³Relação do Siará´. No local onde Pero de Coelho instalou sua No va Lisboa, na
foz do rio Siará ergueu um fortim que chamou de São Sebastião, contando com a ajuda do cacique
Jacaúna. Em 1613 rumou com Jerônimo de Albuquerque na direção do Maranhão no intuito de
expulsar definitivamente os franceses daquela região. Instalou-se na Jericoacoara (buraco das
tartarugas) e, numa expedição de reconhecimento foi arrastado até a ilha de São Domingos, de
onde rumou para Servilha.
De volta ao Brasil, em 1615, participou da expulsão dos franceses e quando se dirigia ao
Ceará foi surpreendido por uma tempestade que o levou novamente a São Domingos. Quando
conduzia alguns navios para a Europa foi feito prisioneiro por piratas que o levaram para a França
onde foi condenado à morte, sendo salvo pelo embaixador da Espanha. Em Portugal foi
recompensado por seus serviços com a concessão da capitania do Siará Grande, por dez anos.
Aqui chegando, em 1621, refez o forte de São Sebastião e dirigiu a Capitania com
tranqüilidade, apesar das más condições advindas, principalmente o
fato de a capitania estar sob jurisdição do ³Estado do Maranhão´, que havia desmembrado do ³
Estado do Brasil´, apesar de sua maior proximidade com Pernambuco, onde mais uma vez se
destacou como grande soldado. Não mais voltou ao Ceará, mas seu nome foi imortalizado anos
mais tarde pelo escritor cearense José de Alencar, que talvez, inspirado por uma vida tão rica de
aventuras de heroísmo, colocou-o ao lado de Iracema.

³... a moça tabajara, com quem quebrava a flecha da paz, símbolo do conúbio racial que
gerou Moacir, o filho, aqui, da miscigenação luso-ameríndia.´

Iracema é, na verdade, um anagrama da palavra América, e, através desse romance, o escritor


alude à formação do novo continente pelo elemento ibérico, miscigenado ao indígena. Em
Fortaleza existe um monumento erigido na praia do Mucuripe em homenagem à obra de José de
Alencar e, nele, os membros inferiores da índia se encontram agigantados, numa referência á
longas caminhadas que fazia da lagoa de Messejana, onde se banhava a gruta de Ubajara, onde
dormia.
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Vieram os holandeses movidos pela fragilidade da defesa da capitania e pela possibilidade
de se obter sal, âmbar e cultivar cana de açúcar. Além disso, corriam notícias da existência de
prata na região. Chegaram ao Ceará em 1637, sob o comando de George Gatsman e dominaram
com facilidade o forte português, defendido por mais de 30 homens armados. Nessa primeira fase
os holandeses permaneceram em torno de sete anos; afora as salinas de Mossoró e Camocim e
algumas espécies vegetais úteis na Europa viram-se frustrados em algumas das suas expectativas.
Por tratarem mal os indígenas estes se revoltaram contra seu domínio, em 1644, matando
toda a guarnição holandesa e destruindo o forte, que se encontra registrado em uma pint ura de
Frans Post. Com a queda do forte construído por Soares Moreno, em 1612, a Barra do Ceará
deixou de ser um ponto de fixação do colonizador na capitania, pois novo posto se mostraria mais
interessante ao europeu com a chegada do holandês Matias Beck, em 1649, à frente de 298
homens, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais.
No comando militar estava o major Joris Garstman, o mesmo que comandara a primeira
invasão. O local escolhido para fixar a fortificação, projetada pelo engenheiro Ricardo Caar, foi o
monte ou duna, chamado Marajaitiba ou Marajaituba, na linguagem Tupi, formada pela palavra
Marajá, palmeira e Tiba ou Tuba, sufixo designativo de quantidade ou abundância. A palmeira ali
existente era o catolé ou coco babão. Ao sopé corria o riacho chamado Marajaík (rio das
palmeiras), que posteriormente passou a chamar-se Ipojuca, depois de Telha e, finalmente, Pajeú
(rio de feiticeiro).
A escolha deste local obedeceu às razões militares e não sem antes se estudar a
possibilidade de instalar no local do antigo forte que, daquele ponto de vista, mostrou -se
inadequado. Batizaram o forte de Schoonenborch em homenagem ao governador holandês do
Recife. Matias Beck ficou no Ceará até o ano de 1654, enfrentando, nesse intervalo situações
difíceis como quando ficou encurralado pelos índios no Schoonenborch, sendo obrigado a comer
os próprios cavalos, para não morrer de fome. Foi salvo pelo barco que lhes trazia a notícia as
capitulação holandesa. No dia 20 de maio daquele ano os holandeses entregaram a praça ao
capitão-mor Álvaro de Azevedo Barreto, retirando-se para a ilha de Barbados.

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A origem e significado do nome do Ceará são bastante controvertidos. Os mais renomados
historiadores cearenses arriscam explicações, ou se aliaram em torno de uma versão, sem,
contudo chegarem uma conclusão definitiva.
Em alguns estudiosos existe a convicção que o nome é de origem tupi, significando canto
da jandaia: SEMO ± Cantar forte; ARÁ ± Jandaia. Essa interpretação foi utilizada por Alencar, no
seu livro Iracema.
Há os que acreditam se tratar de uma corruptela do nome do deserto africano, SAARA, pois
assim, os colonizadores chamaram o litoral cearense, devido à grande quantidade de dunas;
explicação muito improvável.
Antônio Bezerra entende que o nome se origina dos termos SOÓ ou COÓ ± caça e ARÁ ±
papagaio.
Capistrano, por sua vez, vai contestar a origem Tupi do nome e defende o berço Cariri;
vendo nos termos DZU ± rio, pronunciado ao modo francês, e ERA ± verde. Pompeu Sobrinho
lembra, no entanto, que, na língua dos cariris, DZU, no significado de rio, não tem essa pronuncia
de verde não é ERÁ e sim ERÃ, daí não ter havido qualquer evolução no sentido de SIARÁ.
Paulino Nogueira insiste na origem Tupi: ÇOO ou SÕO, ou ainda SUU, significando caça, e ARÁ ±
tempo, portanto, tempo de caça.
João Brígido acreditava ser o nome uma corruptela de CIRI ou SIRI ± andar para trás,
referindo-se às várias espécies de caranguejos existentes no litoral; e ARÁ ± branco, claro.
O mais provável, entretanto, é que nenhuma d as explicações seja encontrada no próprio território
cearense, pois já designava um rio no vizinho Rio Grande do Norte: o Siará -mirim. Aqui se adotou o
Siará-Grande. Embora, o rio nosso fosse menor que o de lá, porém, mais povoado e de território
mais extenso, conforme observação de Barão de Studart.

     

³Encontrando a nova terra µdescoberta¶ já habitada os portugueses chegaram dividiram a
indiada os Tupis (Língua Geral) E µTapui´ Língua Travada´.
No Ceará viviam cerca de vinte e dois povo s indígenas cada um com seu idioma próprio. Do
grupo tupi basicamente dois povos: Tabajaras, que viviam na Serra de Ibiapaba ou Buapavas; e os
Potiguaras, que se situavam entre o Jaguaribe e o Camocim. Estes índios se mostravam mais
cordatos e mantinham um grau de relação mais amigáveis com os portugueses; até porque sua
língua foi mais facilmente assimilada com os brancos.
As demais tribos foram chamadas genericamente de Tapuia, que em Tupi significa: ³aquele
que fala a língua travada´, ou seja, eram difer entes, inimigos. Quando a chegada dos portugueses
ao Brasil, essas nações já viviam um processo de interiorização, empurrados pelos Tupis que eram
em maior quantidade.
Desses povos, faziam parte os Tarariu (Kanindé, Paiakú, Genipapo, Jenipabuçú, Arariú,
Anacé, Karatiú); os Karirís (Kaririaçú,Kariú...); Tremembé; Guanacé (Guanacésguakú, Guanacé -
mirim); Jaguaruana; Aimoré; Tukurijú; Xiriró; Ilko; Apujaré; Kariré; Akonguaçú; Pitaguary; e muitos
outros.

³Durante os primeiros séculos da tal colonização com aquelas tribos ³Tapuia´ não houve
aproximação, pois aos colonizadores não interessavam o sertão´.

Enquanto os portugueses permaneceram no litoral, os choques com esses não foram tão
intensos, porém, na medida em que a penetração foi se dando, por conta principalmente do
criatório de gado o confronto foi se tornando inevitável. Embora o colonizador fosse superior, do
ponto de vista tecnológico, encontrou entre os índios do Ceará forte resistência, sendo que estes
em determinados momentos, conseguiram sérias derrotas àqueles, fazendo retardar o processo de
ocupação da terra. Muitas foram as ³confederações´ que reuniram as mais diferentes tribos para
enfrentar os brancos; em 1688, por exemplo, os Paiakú, os primeiros atingidos pela implantação
das fazendas de criar, aliados aos Ikó, Janduim e Karatiú quase conseguiram recuperar a capitania
das mãos dos colonos. Em 1694, outro levante, os Janduin conseguiram um feito inédito: serem
reconhecidos como um reino autônomo e um tratado de paz com o rei de Portug al que, claro, não
cumpriu seus termos. Em 1713, uma confederação indígena destruiu Aquiráz, expulsando seus
habitantes para junto da Fortaleza.
Diante dessa resistência só restava pedir o socorro dos bandeirantes paulistas, mais
experientes na arte de aprisionar e matar índios. O ano de 1713 vai marcar o início do recuo
indígena com a derrota da Confederação dos Kariri, às margens do rio Choró, para o paulista João
de Barros Braga.

³E assim nosso valente nordestino silenciou depois dessa guerra o branco quase tudo
dominava naquele vasto sertão que livre pro gado estava.´

    



Os primeiros missionários a visitar o Ceará foram os padres Francisco Pinto e Luis
Filgueiras, da Companhia de Jesus. Sua ação evangelizadora restringiu -se à região da Ibiapaba e
Uruburetama, sendo que nela o padre Francisco Pinto perdeu a vida num ataque dos índios
Tocarijú, em 1607. Mais tarde, na ilha de Marajó, seu companheiro Luis Filgueiras conheceria o
mesmo destino.
O domínio do elemento indígena foi pos sível não só devido à força das armas, mas
principalmente, pelo desmantelamento de sua estrutura cultural e religiosa. Nesse sentido, os
padres e seus aldeamentos, onde juntavam índios de procedência diversa e lhes repassavam os
valores e a religião europé ia, desempenharam um papel fundamental.

Ao chegarem os missionários tinham seus planos de ação escoltados por soldados com
armas e munição recrutavam índios no mato pra compor ar Missão.´

Nos aldeamentos os índios eram transformados em mão -de-obra barata para os padres ou
eficientes soldados no combate às tribos mais rebeldes. Muitas cidades cearenses têm origem
nesses aldeamentos: Caucaia (antiga vila do Soure), Ibiapaba ou Viçosa Real (o primeiro deles,
hoje é a cidade de Viçosa do Ceará, muito antiga, ainda mantém seu aspecto colonial), Telha
(Iguatu), Miranda (Crato), Monte -mor ³O Novo d¶América´ (Baturité), Palma (Quixadá), Monte-mor
³O Velho´ (Pacajús), Aracati, Uruburetama, Paupina (Messejana), Arronches (Parangaba), e muitas
outras. As missões religiosas também contribuíram no sentido da preservação física dos índios.
Quanto a estes, no Ceará ainda encontramos algumas tribos que, a duras penas,
conseguiram se salvar da destruição absoluta. Os tremembés vivem no litoral norte do estado, no
distrito de Almofala, municípios de Itarema. Exímios nadadores, profundamente familiarizados com
o mar, derrotaram as diversas expedições enviadas para destruí -los. Vivem da pesca e do
artesanato e em ocasiões especiais dançam o torém. ³O torém é uma pantomima transmitida
oralmente de pai para filho,... Já perdeu seu primitivo significado e função, hoje se constituindo
numa dança diversional. Seus versos misturam palavra de origem tremembé, tupi e portuguesa e
embora utilizem formas sincréticas do folclore regional, conservaram-se suas características mais
ressaltantes.´
Almofala é uma palavra de origem árabe, vindo de AlMahalla (Acampamento); é um
pequeno povoado situado em terras que foram doadas no final do século XVII pela coroa
portuguesa, aos Tremembés. Sua igreja foi concluída em 1712, sob a invocação de Nossa Senhora
da Conceição. No século passado foi soterrada pelas areias da praia, ³... para aflorar lenta daquele
imenso areal sua única e bela torre setencista, moçárabe, até descobrir -se inteiro com suas
volutas, nichos, seu crucifixo de ferro para ³luz.´ Foi reconhecida como Monumento Nacional.
Os índios Tapebas não constituem exatamente uma nação indígena e sim um grupo de
descendentes de Tremembé, Kariri e Potiguara, reunidos no aldeamento jesuítico de Nossa
Senhora dos Prazeres de Caucaia. Habitam as margens do rio Ceará, na BR -222, município de
Caucaia. Vivem de pequenas roças, pesca e artesanato. O nome Tapepa é de origem tupi,
possivelmente uma corruptela de Itapeva: pedra limpa, polida. Embora suas terras tenham sido
delimitadas pela FUNAI, não foram garantidas ainda por portaria apropriada, devido à ação de
fazendeiros que se sentiram prejudicados por essa demarcação. Os Pitaguary e os Jenipapo-
Kanindé ainda estão sendo objetos de estudo pela FUNAI para o devido reconhecimento de seu
trabalho de índio.

³Os índios nesse Nordeste Têm também a sua história Têm os seus valores Suas lutas e
Vitórias Pra conservar seus valores Não dão mão à palmatória.´

     



A cana-de-açúcar, desde o século XVI se afirmou como principal produto de exportação do
Brasil colonial. Tornando -se monocultura por toda a zona da mata nordestina, expulsou para outras
áreas, as demais atividades que pudessem disputar o espaço. O rei de Por tugal, interessado nos
lucros que a cana carregava para seus cofres, proibiu a criação de gado, numa faixa de terra que
se estendia do litoral até a distância de 10 léguas.
O gado seguiu, então, sua marcha lenta em direção ao interior da colônia, bifurcand o-se em
dois movimentos migratórios que Capistrano de Abreu nomeou de ³sertão de dentro´ e ³ sertão de
fora´. A primeira veio da Bahia, margeando o rio São Francisco, tomou o rumo do norte, povoando
sua margem esquerda de Pernambuco; procurando atingir a b acia do Parnaíba, desbravou o sul do
Piauí e Maranhão e, desviando -se para o leste, atingiu a capitania do Siará -Grande. A do ³sertão
de fora´, vindo de Olinda, tomou o rumo do norte, atravessando o sertão da Paraíba e do Rio
Grande do Norte, desaguando no Siará-Grande. O gado, criado de forma extensiva, demonstrou
adaptar-se bem a vegetação xerófita da caatinga, pois nos períodos mais secos era com ela que se
alimentava. Além do mais, a pecuária se mostrou um empreendimento mais barato que a cana -de-
açúcar, uma vez que não necessitava de equipamentos e da grande quantidade de escravos de
que precisava aquela atividade.
A mão-de-obra era o índio domesticado. O pagamento era feito através da aquartação, ou
seja, a cada quatro bezerros nascido por ano, um era do vaqueiro. Isso lhe permitia montar, mais
tarde o seu próprio negócio. O tipo de sociedade que a pecuária produziu no Nordeste e,
especialmente no Ceará, o que Capistrano de Abreu chamou de ³Civilização de Ouro´, pois tudo
girava em torno do gado e dos seus derivados.
Tudo era feito em couro, desde os instrumentos de trabalho, até os apetrechos domésticos
e os objetos pessoais. A fazenda era a unidade econômica e social, e dentro dela o fazendeiro
exercia todo o poder.

³... cada fazenda representava uma família, caracterizada pelo extremo patriarcalismo... os
laços de parentesco uniam todos ao senhor. Havia os parentes sangüíneos (legítimos e ilegítimos) e
o restante, em número maior, por parentescos canônicos ou convencionais.
Nestes últimos, encontravam-se os moradores e agregados. São as relações do regime de
³compadrio...´

Os fazendeiros costumavam aceitar em seus domínios a presença do forasteiro,


principalmente os fugidos da justiça a fim de serem utilizados como jagunços para a resolução de
desavenças políticas e pessoais. ³Quem não era criador, era criado´. As casas desprovidas de
luxo, porém sólidas e espaçosas, voltadas de alpendre. Levava -se uma vida austera e sem
requintes, mesmo entre os familiares do fazendeiro. A alimentação era a base de carne, rica em
gorduras, e leite, nas várias formas, fazendo -se pouco uso das frutas e verduras.

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Na primeira metade do século XVIII, o gado já se apresentava como principal atividade
econômica do Siará-Grande. Apresentava um caráter complementar ao cultivo da cana -de-açúcar.
Levado para os mercados consumidores de Pernambuco e da Bahia, ao perfazer tão longos
trajetos, emagrecia e conseqüentemente, perdia parte de seu valor nas feiras, provocando enorme
prejuízo aos criadores cearenses. Além disso, o ³subsídio do sanguir´, taxação a quem estavam
expostos os donos de bois, prejudicava-lhes mais ainda os rendimentos.
Vendo que não podiam competir com seus vizinhos, nessas condições, os cearenses
passaram a industrializar a carne de boi, reduzindo -a a mantas, que eram salgadas e expostas ao
sol, tornando-as capazes de resistir a longas viagens. A essas fábricas chamavam de oficinas ou
charqueadas e não se sabe quando elas começaram a funcionar. Tem -se conhecimento da
existência delas no arraial de São José do Porto dos Barcos, mais tarde Vila de Santa Cruz do
Aracati ± em período anterior a 1740. Antes mesmo de tornar-se vila, Aracati já era ³o pulmão da
economia colonial da capitania´, por onde transitava, por onde transitava sua r iqueza. Seu
dinamismo econômico gerou uma elite bastante conceituada na capitania e, a imponência de seu
casario, que permanece até hoje, é um testemunho da sua importância.
Depois as charqueadas começaram a brotar na barra do Acaraú, na povoação de mesmo
nome, que servia como ponto de embarque da carne, estendo -se também para Sobral, Camocim e
Granja. Do Acaraú, assim como da Aracati, a carne era transportada para os outros portos da
colônia, principalmente Pernambuco, em embarcações assim chamadas ³sumaca s´.
Sobral tornou-se o pólo mais dinâmico da região; os habitantes da ³Princesa do Norte´
mostravam-se bastante requintados nos costumes; a elegância de seus trajes, o asseio de suas
casas e o som dos pianos nos sobrados denotavam o elevado grau de civilid ade daquele oásis
incrustado no sertão bárbaro.

³O conjunto arquitetônico de Aracati e Sobral é também a amostra de sua importância no


período colonial. Entre as obras de maior destaque encontram-se as igrejas, as casas da
câmara e as residências dos senhores donos das oficinas e comerciantes: exemplo típico
dos prédios de dois pavimentos revestidos de azulejos, ou ainda, uma arquitetura
pesada, feia aparência, mas realmente segura, pois suas muralhas são levantadas com cerca de dois
metros de espessura, no caso, a cadeia de Sobral... Conjunto
arquitetônico, este muito inferior, quanto o prisma plástico, dos prédios coloniais barrocos
da área açucareira... As próprias igrejas de início do século XVIII, principalmente as de
área pastoril, entre as quais se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário de
Aracati, apesar de apresentar influências daquelas de Pernambuco e da Bahia, de onde
muitas vezes provinham os materiais de construção, mostram uma aparência
singela, quase severa, principalmente nos interiores. Salientando, no entanto, que nesta
arquitetura simples, motivada pela falta de pedra de obragem apropriada, na modesta
alvenaria executada uma ornamentação própria, onde os artistas anônimos obtinham com
linhas, nas combinações ingênuas de curvas e ornatos retilíneos, os efeitos decorativos
da maior significação, surgindo daí, uma arte sertaneja, oficialmente desconhecida que
chama a atenção para sua originalidade tão peculiar que deve ser admirada como
testemunho material da ³Civilização do Sertão´.

Em finais do século XVIII a indústria saladeril cearense viria a entrar em declínio. Vários
fatores concorreram para isso: a seca de 1790/93, que dizimou quase todo rebanho cearense; a
transferência da técnica do charque para Rio Grande do Sul, operada pelo charqueador José Pinto
Martins, onde encontrou melhores condições para seu crescimento, e finalmente, o plantio do
algodão, que quebraria o exclusivismo pastoril no Ceará.
A essa altura, as oficinas de Açu e Mossoró, no Rio Grande do Norte, já tinham sido
proibidas pela coroa portuguesa porque prejudicavam o fornecimento de carne fresca de
Pernambuco. As de Parnaíba, no Piauí, que se projetam junto com as do Ceará, acompanharam a
estas em seu declínio.



O crescimento da cultura algodoeira no Ceará não significou necessariamente o fim da
pecuária, e sim, a convivência dessas duas atividades. A valorização da cotonicultura cearense
ocorreu na segunda metade do século XVIII, obedecendo a estímulos externos, a saber: a
Revolução Industrial na Inglaterra, que tinha como carro chefe a indústria têxtil, a guerra da
independência dos Estados Unidos e, mais tarde, a guerra da Secessão americana.
A cotonicultura marcou profundamente o Ceará, a começar pelo fato de q ue Fortaleza só
passou a assumir ares de capital na medida em que se tornou o centro receptor da produção
algodoeira, adquirindo uma importância econômica que, até então, estava reservadas às cidades
inseridas no ciclo da pecuária, conforme vimos acima.
A guerra da Secessão nos Estados Unidos, que era principal fornecedor de algodão para as
indústrias inglesas e francesas, provocou uma queda significativa de sua produção. O Ceará viu -se
então, beneficiado com esse conflito, pois as nações industrializadas passaram a comprar a
matéria prima de outros centros fornecedores. Dessa maneira, através do algodão, o Ceará foi
inserido no mercado internacional. Nesse período instalaram -se na província inúmeras firmas
estrangeiras ou de estrangeiros associados a brasi leiros que lidavam principalmente com o
beneficiamento e exportação do algodão. Em1860, dos 353 estabelecimentos comerciais
existentes em Fortaleza, 84 eram estrangeiros.
Com o fim da guerra, os americanos foram paulatinamente recuperando sua capacidade
produtiva e o algodão cearense perdendo terreno no exterior. Para absorver a produção passou -se
a industrializar o produto na própria região. Hoje, o Ceará é possuidor de um dos principais pólos
da indústria têxtil brasileira.

       

A 17 de janeiro de 1799, por determinação de uma carta régia de D. Maria I, ³Amor e
Delícias do seu ³Povo´, o Ceará foi desmembrado de Pernambuco, tornando -se independente. Foi
seu primeiro governo o chefe de esquadra, Bernardo Manoel de Vasconcelos, que fez grand e
esforço no sentido de estabelecer contatos comerciais diretos da capitania com a metrópole.
Entretanto, os próprios comerciantes cearenses resistiam a essa relação, uma vez que mantinham
vínculos estreitos com os de Recife. Somente a partir de 1808 é que o comércio externo da
capitania recebeu grande impulso, devido à exportação do algodão e a abertura dos portos às
nações amigas. No seu governo veio para o Ceará o naturalista João da Silva Feijó, com a
incumbência de estudar o potencial de suas riquezas naturais.
Em 1803, com a morte de Vasconcelos, veio substituí -los Carlos Augusto de Oeynhausen,
futuro Marquês de Aracati. O terceiro governador foi Luiz Barba Alardo de Menezes que procurou
incentivar o comércio coma Inglaterra, favorecendo a instalação d e firmas inglesas na capitania.
Governou de 1808 a 1812, quando foi substituído por Manuel Inácio de Sampaio (1812 -1820)
Entre suas realizações podemos citar a reforma do Forte de Nossa Senhora de Assunção, o
traçado da vila de Fortaleza, contando com os s erviços do engenheiro Antonio José da Silva Paulet
e a criação da alfândega de Fortaleza. Além disso, promovia em sua residência reuniões de
literatos, conhecidas como Outeiros, precursoras dos futuros movimentos literários, muitos comuns
em Fortaleza. Porém, o que marcou de forma mais acentuada a seu governo foi a severa
repressão ao movimento revolucionário de 1807.
O sucessor de Sampaio, Francisco de Alberto Rubim (1820 -1821), governando em
momento de grande instabilidade, foi tragado pelos acontecimentos que desembocariam a
chamada Revolução Liberal do Porto, em Portugal. Incapaz de enfrentar a oposição interna ao seu
governo e ao novo regime renunciou em favor de uma junta provisória, sob a presidência de
Francisco Xavier Torres.

          



O movimento de1817, de profundo caráter nativista, teve seu foco inicial na província de
Pernambuco, espalhando-se, em seguida, pelas províncias vizinhas. Em Pernambuco, havia um
grande descontentamento devi do á perda de sua importância no cenário da colônia. O cultivo da
cana-de-açúcar entrara em declínio e a saída do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte, de
sua jurisdição, causou -lhe mais prejuízos, criando as condições para o desencadeamento de
movimentos radicais.
As influências do liberalismo eram evidentes; os lideres do movimento eram, em sua
maioria, os membros da elite ilustrada, com passagem pela Europa, estudando ou mercadejando e,
conseqüentemente, se instruindo nas novas idéias. Vivia -se ainda sob o impacto das revoluções
americana e francesa. Com movimento, os pernambucanos, queriam recuperar sua antiga posição,
sob um novo regime, em um país independente.
Um dos lideres do movimento, Domingos José Martins, vivera no Ceará a serviço da firma
³BARROSO, MARTINS, DOURADO & CARVALHO´, da qual era sócio. Essa firma tinha sede em
Londres e intermediava negócios de algodão. Depois, um outro sócio, Antônio Rodrigues de
Carvalho, veio para o Ceará onde divulgou amplamente os ideais revolucionários, pr ocurando
recrutar seguidores para sua causa revolucionária.
Mas, o principal incendiário da revolução na Capitania foi o seminarista José Martiniano de
Alencar. Membro de uma importante oligarquia carirense, sua mãe Bárbara, também aderiu ao
movimento. Alencar tentou adesão de um outro potentado da região, o capitão Pereira Filgueiras e,
embora este a princípio se mostrasse simpático ao movimento, foi convencido pelo chefe de
milícias, Leandro Bezerra, da temeridade do envolvimento naquela empresa.
O movimento eclodiu em seis de março de 1817, mas, poucos meses depois, já estava
debelado. Durou apenas 75 dias em Pernambuco e oito dias no Ceará. José Martiniano foi preso
juntamente com seus familiares, mãe, irmãos, tios e primos que, de um modo geral, partici param
da malfadada revolução. Conduzidos para Fortaleza, por Pinto Madeira, ainda ensaiaram uma
fuga, mas recapturados, foram trazidos para a capital.

³Depois de revistados dos pés à cabeça e ainda carregando grilhões, os presos são atirados
no estreito e imundo calabouço do quartel,  !"#$%!&'(!%$%)!#%)*$(#+!!%
*('%,!-%.Incomunicáveis, alguém só pode falar-lhes de uma distância de dez metros e
com sentinela a vista. Estão nus e dormirão no chão. Dentro de alguns tempos estarão
cobertos de cabelos, comidos de pulga, piolhos e percevejos. São tratados como
animais... Bárbara é reconhecida só, em um outro cubículo,com menos martírio, mas
sem o consolo de ver os filhos´.

Depois, foram enviados para a Bahia onde permaneceram presos até 182 0. A repressão
promovida por Sampaio fora dura e severa, tendo ele aproveitado a ocasião para perseguir
desafetos, como o naturalista Feijó, que foi preso por simples suspeita.

      / 

A primeira reação positiva à proclamação da independ ência no Ceará só veio a ocorrer em
16 de outubro de 1822, quando o colégio eleitoral reunido na vila Içó rebelou -se contra a junta
provisional de Fortaleza, que se mantinha obediente às cortes portuguesas. Elegeu -se, então, um
governo temporário, que tinh a à cabeça o capitão-mor do Crato, José Pereira Filgueiras, que tomou
posse em Fortaleza, após a rendição da antiga junta. No ano seguinte foi substituído por um
governo permanente, sob a direção do Padre Francisco Pinheiro Landim.
No Piauí, o comandante Português, João José da Cunha Fidié, não aceitou a nova
realidade e resistiu à independência, reprimindo cruelmente os patriotas. Para enfrentá -lo, formou-
se no Ceará uma tropa sob o comando do major Luis Rodrigues Chaves, de João da Costa Alecrim
e Alexandre Néri Ferreira. Esta, no entanto, foi derrotada pelos portugueses na batalha de
Jenipapo.
Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves uniram -se no esforço de libertar o Piauí do jugo de
Fidié; arregimentaram um grande número de homens vindos de toda província e, em 23 de julho de
1823, conseguiram a rendição de Fidié. Estava dada a contribuição do Ceará à consolidação da
independência no norte do Brasil.

               



Em 1824, a chama ardente da revo lução voltaria a incendiar o Nordeste; e mais uma vez,
sairia de Pernambuco o grito de guerra. O decreto de 12 de novembro de 1823, de D. Pedro I,
dissolveu a Assembléia Constituinte, eleita com a finalidade de promulgar a constituição do novo
império. Esta, no entanto, se mostrou muito liberal para os desígnios do Imperador.
Em Pernambuco, mantiveram-se inalteradas as condições estruturais que geraram
movimentos com a Guerra dos Mascates no século XVIII e a insurreição de 17. O absolutismo de
D, Pedro tendia a se respaldar nos elementos mais conservadores da sociedade, principalmente os
portugueses que, aproximando-se do Imperador, pretendiam manter os privilégios que remontavam
ao período colonial.
As ligações do Ceará com Pemambuco eram profundas: a província, que nas suas origens
tinha sido povoada em sua maior parte por colonos pernambucanos, permaneceu por muitos anos
sob a jurisdição de Recife e seu porto ainda polarizava o comércio cearense. Além disso, a
independência projetou para todo o Ceará a oli garquia dos Alencar e outras figuras do Cariri, cujos
interesses estavam ligados a Pernambuco. A adesão à Confederação do Equador, que havia sido
proclamada em dois de julho de 1824, foi imediata, pois antes mesmo da proclamação, já haviam
eclodido vários focos insurrecionais no Ceará: em nove de janeiro, a Câmara de Quixeramobim
declarou decaída a dinastia de Bragança. O Padre Gonçalo Inácio de Loiola, mais tarde Mororó.
espalhou pelo Icó, São Bernardo das Russas e Aracati o fogo revolucionário; em dois de fevereiro,
Pereira Filgueiras e Tristão Gonçalves comandaram a adesão do Crato e se dirigiram à Fortaleza,
onde prenderam o comandante das armas, restabelecendo a autoridade da antiga junta
governativa, na qual Filgueiras era o presidente e Tristão o coma ndante das armas.
Muitos dos revolucionários, para salientar seu nacionalismo, alteraram seus nomes: Padre
Gonçalo passou a chamar-se Mororó; Tristão Gonçalves, Tristão Araripe. Surgiram, então,
Carapinima, Pessoa Anta, Ibiapina; Sucupira, etc. O presidente Costa Barros, indicado por D.
Pedro, foi deposto e em seu lugar constitui -se um conselho dirigido por Araripe, que enviou
emissários a outras províncias, visando sua adesão.
Logo o movimento entraria em refluxo, e em Pemambuco, a repressão, dirigida pelo
brigadeiro Luis Alves de Lima e Silva foi fulminante, eliminando em pouco tempo o governo
revolucionário; quem não conseguiu fugir, foi fuzilado. No Ceará, começou a se verificar deserções
nas hostes equatorianas: José Félix de Azevedo e Sá, substituto de Tristão Gonçalves, que tinha
ido dar combate aos monarquistas no Aracati rendeu-se lord Cochrane, sem esboçar nenhuma
reação ao cerco que este promoveu contra a Fortaleza, pelo mar; Luis Rodrigues Chaves, que foi a
Pemambuco dar auxílio ao conselho revolucionário, bandeou -se para os legalistas.
Os demais foram presos ou chacinados, resta'1do apenas Pereira Filgueiras e Tristão
Gonçalves, tendo o Padre José Martiniano sido preso no interior de Pemambuco. Não vendo mais
sentido em continuar a luta, Pereira Filgueiras depôs suas armas no Crato, vindo a falecer no
caminho do Rio de Janeiro, onde ia ser julgado.
Quanto a Tristão Gonçalves, em sua fuga desesperada pelo interior do Ceará, fugindo à
sanha assassina de seus perseguidores, escreveu uma das páginas ma is emocionantes da história
cearense. A maior parte de seus amigos e parentes mais queridos estavam mortos, muitos
trucidados de forma bárbara, sem direito sequer a um julgamento justo. Aos poucos, o cerco foi se
fechando em tomo dele, até que, em 31 de ou tubro de 1824, foi assassinado às margens do rio
Jaguaribe, no lugar de nome Santa Rosa, hoje Jaguaribara. No momento de sua morte várias
partes do corpo lhe foram arrancadas; o cadáver permaneceu insepulto por vários dias, até
resolverem enterrar ele à sombra da igrejinha do lugar. No local de sua morte foi erigido um
monumento que provavelmente será tragado pelas águas do açude Castanhão, projetado para ser
construído naquela área.
Para os que restaram prisioneiros, triste destino lhe foi reservado. Conde nados à forca,
nenhum carrasco se prontificou a executar a sentença, sendo a pena transformada em fuzilamento.
Os primeiros a serem executados foram o Padre Mororó e Pessoa Anta. O comportamento do
padre, na hora do fuzilamento, foi exemplar, não permitind o que lhe colocassem a venda nos olhos
e indicando, com a mão no coração, o local que deveria ser atingido pelas balas. Pessoa Anta, por
sua vez, não teve comportamento tão fleumático e, para seu azar, não morreu com a descarga do
pelotão de fuzilamento, sendo morto a coronhadas. Dias depois foi a vez de Ibiapina, que f oi
fuzilado deitado, pois a vari ola lhe atingira os pés, deixando-o incapaz de permanecer ereto. O
último a ser executado foi Carapinima que, não sucumbindo à primeira descarga, ficou rodopia ndo
no meio do Campo da Pólvora, enquanto os soldados iam ao quartel recarregar suas armas,
demorando o tempo suficiente para que o pobre homem fosse alvo dos risos da multidão. Sua
esposa, não suportando o espetáculo macabro, desmaiou, e só então, os exec utores completaram
o terrível ritual. Terminava assim, em tragicomédia, a mais heróica passagem da história do Ceará.
 0   

Em 1832 eclodiu outra insurreição no Ceará, só que desta vez, de caráter contrário às de 17
e 24. Joaquim Pinto Madeira era um grande proprietário e chefe político da vila de Jardim. no vale
do Cariri. Conservador convicto, participara ativamente da repressão àqueles dois movimentos. Era
um partidário da monarquia absolutista e liderava na sua região u ma sociedade secreta
ultraconservadora a "Coluna do Trono e do Altar", uma espécie de TFP (Tradição, Família e
Propriedade).
Com a abdicação de D. Pedro I. em 1831, seus adversários vislumbraram a oportunidade
de ir à forra das derrotas do passado, ainda não cicatrizadas. Passaram a hostilizá -Io
continuamente, empurrando -o no sentido da radicalização de suas posições, Arregimentou em
torno de si um verdadeiro exército, com a colaboração do vigário de Jardim, Antonio Manuel de
Sousa que, de tanto abençoar a s armas dos jagunços, sendo muito comum o uso de bastões de
madeira, por falta de armas de fogo, receberam a alcunha de "Padre Benze - Cacetes".
Com esse exército invadiu a vila do Crato, passando depois para o Icó, sendo dalí
rechaçado. Depois disso foram sofrendo reveses constantes até se renderem para o General Pedro
Labatut, um mercenário francês que atuava no Brasil desde as lutas pela independência. Os dois
insurretos foram presos e enviados para Recife e depois para o Maranhão. Pinto Madeira foi
mandado de volta para o Ceará, que se encontrava presidido por seu arquiinimigo José Martiniano
de Alencar. Este, não se fez de rogado; enviou o réu para a vila do Crato, onde foi julgado de forma
tendenciosa, sendo acusado da morte de um tal Joaquim Pinto Cid ade e não de crime politico.
Condenado à forca, foi fuzilado conforme pedido feito ao tribunal.
Seu companheiro, o " Benze - Cacetes", escapou da força, vindo a morrer bem mais tarde,
pobre e cego. Paralelo a esse conflito, ocorreram outros semelhantes, em pontos diferentes do
país, porém, não se verificaram vínculos mais estreitos entre eles.

   1   



Durante o período regencial (1831 - 1840) o Ceará foi governado por seis presidentes.
Destacou-se nesse período a figura de José Martiniano de Alencar (1834 - 1837), em cuja
administração se instalou, em 1835, a Assembléia Legislativa da Província. Além disso, criou o
Banco Provincial do Ceará. o primeiro a funcionar depois do Banco do Brasil, fundado por D. João
VI. Combateu o banditismo, abriu estradas e construiu açudes.
No reinado de D. Pedro 11 (1840 - 1889), o Ceará teve 44 presidentes, tendo o Padre
Alencar dirigido mais uma vez o destino da província de 1840 a 1841. O antigo revolucionário deu
lugar ao estadista. Sufocou pessoalmente um levante militar em Sobral, chefiado pelo coronel
Xavier Torres. O último presidente, no tempo da monarquia, foi Jerônimo Rodrigues de Morais
Jardim.

     

A participação dos cearenses na guerra contra Solano López foi significativa. Destacaram -
se as figuras do General Sampaio, General Tibúrcio e Clarindo de Queirós. Sampaio, que morreu
em conseqüência dos ferimentos recebidos na Batalha de Tuiuti, foi agraciado com o titulo de
Patrono da Infantaria.
Uma jovem de Tauá, Jovita Feitosa, tentou incorporar -se na luta, trajando -se de homem,
descoberto o embuste, foi, mesmo assim, engajada na tropa. No Rio de Janeiro, entretanto, seus
serviços foram rejeitados. Suicidou -se naquela cidade com uma punhalada no c oração.

    0  2  



O contingente de escravos no Ceará era pequeno, visto que sua economia sempre esteve
baseada em atividades que não exigiam o uso deste tipo de mão -de-obra em larga escala. A
pecuária utilizou o trabalho do índio domesticado ou semi-escravizado e Caboclo, que recebia sua
paga na forma da aquartação. Na cotonicultura foi utilizado o sistema de parceria, que permanece
até os dias de hoje. Nesse regime de trabalho, o parceiro produz na terra do grande pro prietário ou
em um pedaço de terra cedido por ele, em troca do pagamento de uma renda em forma de serviço
ou produto.
A maior parte dos escravos existentes na província eram utilizados em serviços domésticos.
Portanto, a proibição do tráfico de escravos, e m 1850, não representou grandes prejuízos para a
economia cearense. Ao contrário, a proibição gerou um comércio interprovincial de escravos, muito
vantajoso para os proprietários locais, que descobriam assim, nova forma de obtenção de
rendimentos. É bastante provável que essa pequena ou quase nenhuma dependência do trabalho
escravo, tenha constituído a base sobre a qual se assentou o pioneirismo abolicionista do Ceará.
As idéias abolicionistas cresceram no interior de entidades que se propunham a libertar o
escravo, a princípio, através de alforrias, assumindo depois caráter mais radical, com ações diretas.
A primeira dessas sociedades no Ceará foi a "PERSEVERANÇA E PORVIR", instalada em 28 de
setembro de 18 sendo seus principais dirigentes, José Correia do Amaral, José Teodorico de
Castro, Antonio Martins Júnior, Alfredo Salgado e outros. Entretanto, essa sociedade não foi a
pioneira na luta pela abolição no Ceará. Antes mesmo de sua existência, o deputado cearense,
Pedro Pereira da Silva Guimarães, tentara, já por duas vezes, colocar em discussão na Assembléia
Geral Legislativa, em 1850 e 1852, projete de lei que favorecia o elemento escravo, sendo
prontamente rechaçado.
Além da PERSEVERANÇA E PORVIR, foi criada em oito de setembro de 1880, a
Sociedade Liber tadora Cearense, que tinha à frente, João Cordeiro, Antonio Bezerra, José do
Amaral, José Barros, José Marrocos, etc. João Cordeiro era radical e tinha como proposta a
promoção da fuga de escravos, sem que se esperasse por meios legais. No ato de fundação da
sociedade, fincou um punhal sobre a mesa exigido que todos jurassem matar ou morrer pela
abolição dos escravos. A sociedade editava um periódico, Libertador, que divulgava suas idéias e
promovia eventos, visando angariar fundos para a causa.
Em 1882 foi fundado o Centro Abolicionista 25 de Dezembro, que reunia figuras
proeminentes da província como Guilherme Studart e Melton de Alencar. Antes já havia sido
fundado o CLUBE DOS LIBERTOS (20 de maio) e no interior, criaram -se a L1BERTADORA
Artística ACARAPENSE e a SOCIEDADE LIBERTADORA ICOENSE. Em 18 de dezembro de
1882, fundou -se na chácara de José do Amaral, no Benfica, contando com a presença de José do
Patrocínio, uma sociedade composta só de mulheres, que tinha como presidente, Maria Tomásia.
Essas sociedades tinham um caráter elitista, reunindo elementos das classes proprietárias
e, de certa forma, contavam com a ausência do poder público, sem se verificar sanções às suas
atividades. A adesão do elemento popular ocorreu quando os pescadores responsáveis pelo
transporte de mercadorias e escravos, do porto para os navios, se rebelaram sob a direção de
Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", e negaram -se a embarcar escravos, que seriam
vendidos para outras províncias Essa greve se deu nos dias 27, 30 e 31 de janeiro de 1881; nessa
ocasião foi proferida a frase clássica: "No porto do Ceará não se embarcam mais escravos", que
erroneamente se atribui ao Dragão do Mar, sem que se saiba de fato quem é seu autor.
O rastilho da abolição iniciou -se em 1º de janeiro de 1883, com a libertação dos escravos
em Acarapé hoje cidade de Redenção - e estendeu-separa várias cidades do interior até chegar a
Fortaleza, em dois de fevereiro. Finalmente, em 25 de março de 1884, a escravatura seria abolida
do Ceará em caráter definitivo. Entusiasmado com o feito dos cearenses, José do Patrocínio
homenageou a província com o título de "Terra da Luz".
     

As raízes do poder local e do mandonismo político no Ceará encontram -se principalmente
na forma de ocupação e apropriação da terra. O território cearense foi conquistado a ferro e fogo.
em detrimento de sua população primitiva. obrigada a submeter -se à vontade dos novos donos.
instalados em grandes propriedades que, em muitos aspectos. se assemelhava m aos feudos
medievais.
Exemplo típico é o da família Feitosa, dos Inhamuns, cuja história foi estudada de forma
brilhante pelo pesquisador americano Billy Chandler. Seu patriarca, Francisco Alves Feitosa, era
proprietário de inúmeras sesmarias ao longo do rio Jaguaribe e, disputando a posse da terra ou a:
hegemonia política na área de seus domínios, promoveu uma guerra sanguinária contra outra
família da região. os Montes, que as autoridades da colônia nada pudessem fazer para evitar as
arbitrariedades dos potentados a os colonos e os índios. Findo o conflito ainda no século XVIII, os
Feitosas mantiveram o seu placar com os Inhamuns até a primeira metade do seguinte século.
Nas áreas interioranas predominava as relações de compadrio, que se baseavam nas
trocas de favores na assistência econômica em troca da fidelidade política, enfim, nas práticas que
concorriam para fortalecer as oligarquias dominantes.
No século passado, após a derrota de Pinto Madeira, predominou em nível de toda a
província a hegemonia da família Alencar. Com a morte do senador Alencar e a preterição de seu
filho, José de Alencar, ao senado do Império, assumiu o poder político Thomaz Pompeu de Sousa
Brasil que, por sua vez, se opunha a outra oligarquia. a dos Fernandes Vieira. Com a morte do
senador Pompeu, substituiu seu genro, Antonio Pinto Nogueira Accioly.
Accioly dominou a política no Ceará de 1896 a 1912; governando de forma despótica,
perseguindo se adversários, fraudando, roubando, colocando seus familiares na máquina
administrativ a, enfim, reinando como um monarca absoluto.
Sua queda em 1912 deu-se em meio a uma verdadeira guerra civil nas ruas de Fortaleza.
Fato marcante desse conflito foi a repressão movida pela guarda estadual contra uma
manifestação de crianças na praça do Ferreira, matando várias delas. As cenas desse massacre
revoltaram mais ainda a população da cidade que não deu mais trégua ao oligarca. O povo perdeu
o medo e ocupou as ruas, cercando a casa de Accioly. Este, vendo -se sem saída, renunciou à
presidência do Estado e foi mandado embora para o Rio de Janeiro, não voltando mais ao Ceará
Porém, mesmo distante, continuou exercendo influência sobre a política local. Em seu lugar ficou o
vice-presidente do Estado, Antonio Frederico de Carvalho Mota, que entrego u o governo ao
Coronel Marcos Franco Rabelo, em 12 de julho de 1912, candidato vitorioso nas eleições de 11 de
abril.
Do período acciolino, uma das poucas obras dignas de menção foi a Faculdade de Direito,
criada governo de Pedro Borges, um preposto de Acc ioly. Sua fundação deu -se a 1º de março de
1903, tendo como diretor honorário, o próprio Nogueira Accioly. Instalou -se, a princípio, no prédio
do liceu do Ceará, sendo encampada pelo Governo Federal em 23 de novembro daquele ano. No
seu governo, em 1910, foi construído o Teatro José de Alencar.
Franco Rabelo enfrentou, logo de início, poderosa oposição; no plano nacional, com seu
antigo aliado, Pinheiro Machado e no âmbito interno, com a nova força que vinha do sertão, o
Padre Cícero, de Juazeiro.

  3$!(* !)#45*6 



Cícero Romão Batista nasceu a 24 de maio de 1844, na vila do Crato. Desde cedo
manifestou a vocação sacerdotal, vindo a Fortaleza para estudar no seminário da Prainha.
Auxiliado por seu padrinho, coronel Luis Antonio Pequeno , pode continuar seus estudos, apesar da
morte do pai.
Ordenou-se aos 26 anos e em 1872 foi enviado para o pequeno povoado de Juazeiro do Norte. No
seminário não registraram -se fatos estranhos com o jovem estudante, mas ele e seu primo José
Marrocos eram vistos como "arrivistas". José Marrocos foi mandado embora e Cícero ordenou -se
padre, por intervenção do bispo D. Luis, apesar da reprovação do Reitor do seminário. A princípio
Cícero não se afeiçoou ao povoado, e sua intenção era voltar para Fortaleza. No entanto, Jesus lhe
apareceu em um sonho, instruindo -o no sentido de cuidar dos pobres. Fixou -se então no
lugarejo e lá exerceu o sacerdócio, normalmente, até 1889, quando se deu o primeiro caso de
milagre, entre tantos outros atribuídos a ele: a hóstia rec ebida pela beata Maria de Araújo
transformou-se em sangue na sua boca.
Logo a sua fama se espalhou, e todos corriam para o Juazeiro em busca da proteção o
"santo milagreiro´. Juazeiro depressa se transformou ,em um enorme ajuntamento de pessoas,
vindas de todos os lugares do sertão. Em breve, Cícero deixou de ser apenas um Iíder religioso,
para se transformar na mais prestigiada liderança política do sertão nordestino. Em vão, a
hierarquia da Igreja tentou manter um controle sobre o padre, enviando -o até mesmo a Roma, para
entrevista com o Papa; mas isso só fez crescer seu prestígio junto ao povo.
Algumas pessoas exerciam grande influência sobre ele; a princípio foi seu primo José
Marrocos, jornalista de talento, que soube manipular com habilidade junto ao p ovo, as notícias em
tomo dos milagres. Depois, foi o médico baiano Floro Bartolomeu, que articulou a aproximação do
padre com os coronéis e a política acciolina. Com a transformação de Juazeiro em município,
padre Cícero foi seu primeiro prefeito.
A essa altura, o padre já estava mergulhado no complexo xadrez político das oligarquias.
Esse envolvimento culminou na "Guerra Santa" que apreendeu contra o presidente Franco Rabelo,
causando a sua queda do poder em 1914; foi a sedição de Juazeiro.
Mesmo depois de sua morte, em 1934, a influência do Padre Cícero permaneceu muito viva
entre o povo sertanejo. Essa influência não se limitou à região do Cariri, nem somente ao Ceará;
ele se estendeu por todo o Nordeste e até além dele. Diariamente a "Meca" do Ca riri, Juazeiro, é
procurada por romeiros vindos dos mais diversos lugares. Essas romarias são mais fortes nas
comemorações do dia da padroeira, Nossa Senhora das Dores, de Nossa Senhora das Candeias e
dia de Finados. O turismo religioso tomou -se a maior fonte de renda de Juazeiro, tornando -a uma
das maiores e mais prósperas cidades do Estado. No período das romarias, os hotéis ficam lotados
com os fiéis que vêm pagar suas promessas, bem como, adquirir " souvenires", para que a proteção
do "padim" lhe acompanhe sempre, deixar seu óbolo na Igreja, morada do santo querido. Nos
restaurantes não faltam o baião-de-dois com o piqui e a carne de sol. À noite, os repentistas
embalam seus ouvidos com histórias do padre e de outros heróis do imaginário sertanejo. E, com o
não poderia deixar de ser, junto com os repentes, as rezas.
Os locais mais visitados são a casa do Padre Cícero e o Horto. No alto dele, a estátua
esculpida em 1969, por Armando Lacerda, com 27 metros de altura. A casa foi transformada em
museu e conta no seu acervo com oratórios, imagens sacras, batinas, paramentos, prataria,
mobiliário e objetos, doados pelos romeiros. Objeto de peregrinação é também a Casa dos
Milagres, onde são depositados os ex-votos, peças de gesso, madeira e plástico, que representam
partes do corpo humano curadas por obra das promessas, além de retratos e cartas e a Capela do
Socorro, onde o padre está sepultado. Existe também o moderno prédio da Fundação Memorial
Padre Cícero, centro de promoções culturais, conferências, exposições e cursos, que inclui em seu
acervo, objetos pessoais, fotos e mais de 200 livros e opúsculos sobre o Padre.
Em 1994 comemorou-se o Sesquicentenário de seu nascimento, com realização de
romarias, seminários os em vários locais do Brasil e apresen tação de filmes, peças de teatro, além
de lançamentos de livros cordéis sobre o "Patriarca de Juazeiro". Vinculado ao fenômeno do Padre
Cícero em Juazeiro, surgiu na região do Cariri o Caldeirão da Santa Cruz do Desterro. Era uma
fazenda na serra do Ararip e, onde o padre havia abrigado um beato, de nome José Lourenço e
seus seguidores. O beato era antipatizado pelos coronéis, talvez porque seu estilo igualitário
pudesse se tomar um mau exemplo, semelhante ao de Canudos, na Bahia. Com a morte do padre,
recrudesceram as hostilidades contra o beato e sua gente, até que a fazenda foi evacuada pelas
autoridades políticas, inclusive com o uso de bombardeiro aéreo. O beato conseguiu escapar com
vida, falecendo em 1946, de morte natural, em Pernambuco.

    

As secas acompanham o Ceará desde o início de sua história. A crônica e a tradição oral
guardam relatos terríveis dos efeitos desse fenômeno com o qual o sertanejo mal conseguiu
aprender a conviver. A primeira seca que a história registra foi a q ue acossou Pero Coelho,
1605/07, obrigando -o a fugir na direção do Rio Grande do Norte. Sobre a segunda, de 1614,
poucas informações se têm. Vieram, em seguida, as de 1692, 1711 e 1721. A primeira de que se
têm documentos oficiais é a de 1723/27. Esta quase pôs em risco a colonização incipiente da
colônia. Depois foi de 1736/37. A de 1777/78, chamada seca dos três setes, e a de 1798/99,
contribuíram para aniquilar com a indústria do charque cearense.
Famosas, foram, a de 1877 a 1879, chamada seca dos do is setes, e a de 1915, a seca do
15, celebrizada pela Iiteratura através do romance "O Quinze", de Rachei de Queiróz. Enfim, as
secas continuam a assolar periodicamente o Ceará, ocorrendo normalmente em espaços de dez
anos. Para combate problema da falta d 'água, a solução mais freqüentemente utilizada foi a
construção de barragens. Se a primeira delas o açude do Cedro, na cidade de Quixadá, no sertão
central. Sua construção foi realizada entre os anos de 1884 e 1906, sendo que no seu início fez -se
uso da mão de obra escrava. O reservatório é formado de quatro barragens, sendo a principal, de
alvenaria ciclópica e traçado semicircular; duas auxiliares de terra, com revestimento de granito e
cerca de 300 metros de extensão, além de outra pequena represa, denom inada de "forges" e dois
sangradouros. Sua construção foi decidida pelo governo imperial após a seca de 1877. sendo
famosa a frase do famosa a frase do Imperador ³que se venda a última pedra da minha coroa, mas
que não morra um cearense de fome". O açude do Cedro foi o primeiro tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional.
Em 1909 foi criada a Inspetoria Nacional de Obras Contra as Secas (IFOCS), mais tarde,
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Em 1960 inaugurou -se o Açude de
Orós, na época o maior da América Latina. Atualmente projeta -se a construção do açude
Castanhão na região do baixo Jaguaribe, que deverá ser o maior do mundo.
Em face da última seca, que se estendeu de 1989 a 1993, a capital do Estado se viu na
contingência de raciocinar o uso da água, devido ao esvaziamento de seus reservatórios.
Construiu-se então o Canal do Trabalhador, de 100 quilômetros de extensão e que alimenta, com
as águas do rio Jaguaribe, o sistema Pacoti-Riachão, que abastece Fortaleza. A partir dessa
magnífica obra ë à tona uma discussão em torno da possibilidade de se transpor as águas do rio
São Francisco para o Ceará, resolvendo definitivamente o problema da falta de água por ocasião
das secas periódicas.

     



  6 7

Com a saída dos holandeses em 1654, o Schoonenborch t ë  seu nome modificado para
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, pelo capitão -mor Álvares de  ë  Barreto, que
passara a dirigir os destinos da capitania. Por muito tempo permaneceu a polêm ica sobre onde se
deveria instalar a ë  criada por Carta-régia de 13 de fevereiro de 1699. A princípio. os membros
da ë Câmara entenderam ser o melhor local, a barra do rio Pacoti, na praia do Iguape, embora
a Carta se referisse claramente à ë do Ceará, sendo que, por muito tempo, as pessoas
designavam a ë  surgida em torno do forte. Instalada a vila naquele primeiro ponto, em 25
de janeiro de 1700, o governador de Pernambuco reprovou a medida forçando a Câmara a
transferi-Ia para a ë  do forte. Em 1702 a Câmara mudou a ë para a Barra do Ceará;
voltando o pelourinho, símbolo da autonomia da ë em 1706, para junto da Fortaleza.
Enfim, depois de muito ë e ë   instalou-se definitivamente no Aquirás (27 de junho de
1713) a ë de São José de Ribamar do Siará Grande. No entanto, passado um mês apenas da
instalação da vila, esta foi atacada pelos índios, obrigando seus habitantes a fugirem para junto do
forte. Com esse incidente, os próprios habitantes do Aquirás passaram a defender a criação da ë
na Fortaleza. Esta, porém, só se tornaria uma realidade, em 13 de abril de 1726.
Quanto à ëde Aquirás continuou existindo, entretanto, devido à insegurança a que të
exposta, perdeu o estatuto de sede da capitania. Trata -se de uma cidade histórica situada na zona
metropolitana de Fortaleza; mantém ainda a arquitetura colonial em muitas de suas edificações.
Estão tombados a antiga Casa de Câmara e Cadeia, a Igreja Matriz de São José de Ribamar e o
Mercado da Carne. Muito interessante, também, é o Museu Sacro de São José de Ribamar que
conta em seu acervo com imagens talhadas em madeira, castiçais, turíbulos e prataria do século
XVIII.

    

Por muitos anos a vila da Fortaleza permaneceu desassistida. Seu aspecto era deplorável:
as casas eram rústicas, feitas de taipa e pouco numerosas; as ladeiras e areias abundantes
dificultavam a locomoção. Até o século XIX ela permaneceu pobre e medíocre, perdendo em
beleza e funcionalidade para as outros que surgiam em posições Ta is favoráveis.
Somente quando o Ceará tornou -se independente da capitania de Pernambuco, é que os
governadores, que passaram a residir na vila, lhe imprimiram algumas melhorias. Bernardo Manuel
de Vasconcelos instalou na ponta do Mucuripe um Fortim, de nom e São Bernardo, de onde sempre
que chegava um navio, se disparava um tiro de canhão, anunciando sua presença. Anos depois,
um acidente que vitimou os operadores do canhão levou o governador a desativá-Io.
   0 

As primeiras grandes modificações na paisagem urbanística de Fortaleza ocorreram no
governo de Inácio de Sampaio, que contou com a colaboração do Tenente -Coronel Antonio José
da Silva Paulet. Reconstruiu a Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, construiu o mercado
público e vários chafarizes.
Entretanto, a maior obra desses dois homens foi imprimir à cidade o traçado quadrangular
que apresenta até hoje, principalmente na sua área central. A primeira rua de Fortaleza foi a da
matriz seguida pela dos Mercadores, correspondendo hoje , respectivamente, às ruas Conde D'Eu e
Sena Madureira. Elas acompanhavam as sinuosidades do riacho Pajeú; Silva Paulet ajustou as
demais ruas de modo a que elas se cortassem em ângulo reto. "A primeira rua em linha reta..., fez-
se a partir de Fortaleza, tomando como referência a praça da Carolina (onde hoje se encontram a
sede dos correios, o Banco do Brasil e o Palácio do Comércio) e aproveitando os arruados como a
rua das Belas, a rua das Pitombeiras e a rua da Alegria, correspondendo os três à rua da Boa
Vista, hoje Floriano Peixoto."
Foram se construindo os primeiros sobrados, acabando com o preconceito de que o terreno
não suportava edificações com mais de um andar.

      c   



Em 1823, Fortaleza seria elevada à condição de cidade, por D. Pedro I, com a denominação
de "Cidade de Fortaleza de Nova Bragança". Ela iria conhecer outros benfeitores nas figuras do
boticário Antonio Rodrigues Ferreira e do engenheiro Adolfo Herbster. O primeiro era natural de
Niterói e veio ainda rapaz para o Ceará, vindo do Rio de Janeiro, de onde fugiu por causa de um
incidente político no qual fora envolvido por engano. No Recife, onde originalmente projetara ficar,
conheceu o comerciante português Manoel Caetano de Gouveia que, simpatizando com o rapaz,
trouxe-o para Fortaleza. Do Rio, já trazia os conhecimentos farmacêuticos e seu protetor, em
gratidão pelo fato do jovem ter -lhe salvo a esposa em um parto complicado, presenteou-o com uma
botica, que instalou no L argo da Feira Nova, a futura praça do Ferreira.
Os boticários, de um modo geral, eram pessoas muito prestigiadas nas comunidades,
principalmente em regiões onde o acesso a um médico era difícil, pela escassez desses
profissionais. O Ferreira não fugiu à regra; além disso, sua forte personalidade atraía para si a
atenção e o respeito dos fortalezenses. Foi vereador e presidente da Câmara, estimulando, na sua
gestão, a continuidade e aperfeiçoamento da obra de Paulet.
Na sua botica, reuniam -se seus correligionários, com tanta freqüência, que o Partido
Conservador era conhecido pelo nome de "partido da Botica". Faleceu no dia 29 de abril de 1859.
Casado com D. Francisca Áurea de Macedo, não deixou filhos. Adolfo Herbster era pernambucano
e veio para o Ceará em 1855, chegando aqui com 26 anos. Engenheiro, aliou -se ao boticário no
esforço de embelezamento da capital da província. Herbster elaborou inúmeras plantas de
Fortaleza, além de prédios como o Paço da Assembléia Legislativa, hoje Palácio Senador Alencar,
prédio de estilo neoclássico, onde funciona, atualmente, o Museu do Ceará Herbster faleceu em
1893, pobre e esquecido.
Uma planta da cidade elaborada antes de Herbster, pelo arruador Antonio Simões Ferreira,
é descrita da seguinte maneira por Raimundo Girão:

³Aludido desenho mostra-nos que a cidade já se definira integralmente no esquema


projetado por Paulet. A. rua da Boa Vista (Floriano Peixoto)..., aparece retificada, seguida
paralelamente, rumo sul, pelas ruas da Palma (Major Facundo), Formosa (Barão do Rio
Branco), Amélia (Senador Pompeu), Patrocínio (General Sampaio),' esta última apenas
esboçada. Cruzando-as perpendicularmente, vêem-se as travessas do Quartel (Dr. João
Moreira), das Flores (Castro e Silva), das Hortas (Senador Alencar), das Belas (São
Paulo), Municipal (Guilherme Rocha), Formosa (Liberato Barroso), Amélia (Pedra
Pereira), alegria (Pedro I), onde se acabavam as edificações ... A. rua do Quartel ou rua
Larga, ao lado leste da Carolina, não se achava completamente traçada e a travessa das
Flores ainda não atingia a Praça da Sé, o que se deu em 1859, com o sacrifício da
Travessa da Matriz. À. direita do Pajeú, o começo da rua do Sampaio (Governador
Sampaio), a esse tempo chamada rua do Norte; e,
na praia, algumas construções que formariam a ruas do Chafariz (José Avelino) e da
alfândega (Dragão do Mar)."

Em outra planta, a primeira de Herbster, registrava -se distante, o Matadouro, na atual Praça
Clóvis Beviláqua, e a lagoa do Garrote que, em 1890, se transformaria no Parque da Liberdade,
depois Cidade da Criança. Noutra, de 1875, já se faz referência à rua da aldeota (Nogueira
Accioly), para leste; e para sul, a rua dos Coelhos (Domingos Olímpio); algumas ruas foram
sacrificadas para manter o tracejado, ëa entrada da Messejana (Visconde do Rio Branco).
  

As praças sempre constituíram marcos importantes na história de Fortaleza. Antes da Praça
do Ferreira houveram outras que funcionaram como centros aglutinadores das mais diversas
formas de manifestação humana da cidade. No período colonial havia a praça do Conselho, onde
estava postado o Pelourinho, símbolo da autoridade real, depois transferido para a praça da
Carolina, ao lado do mercado, ponto de encontro de feirantes, daí o nome de "Feir a Velha". Mais
tarde a feira foi transferida para o local onde a praça do Ferreira, que passou a ser chamado "Feira
Nova". Quanto ao Pelourinho, não se sabe foi seu destino, presume -se que foi arrancado com a
Proclamação da Independência. Ocupando junto com a "Feira Nova", o espaço da futura praça,
havia também a rua do Cotovelo, uma viela de mocambos que cortava em diagonal o terreno. Esse
ajuntamento desordenado de casebres foi erradicado em 1942. O lugar passou a chamar -se Largo
das Trincheiras e depois Pedro II. Só em 1871 é que viria a ser batizado com o nome do Boticário.
Além da Botica, outros elementos contribuíram para tomar a futura praça o pronto mais
agitado da cidade. Havia a feira; a sede da Câmara Municipal, localizada no Sobrado do Pacheco;
o Pachecão, o primeiro construído em tijolo e telha, em 1825. Havia também a livraria do Oliveira,
no lugar em que está hoje o cine São Luiz, palco de animadas palestras. Logo, as melhores casas
comerciais da cidade fo ram se fixando em tomo da praça.
Com a proclamação da República, a febre positivista que acometeu os legisladores, quis
mudar o nome do logradouro para Praça Municipal, assim como retirar os nomes das ruas para
numerá-Ias. A modificação, no entanto, não agradou aos fortalezenses e tudo voltou a ser como
era antes. Para fazer crescer mais ainda a agitação da praça foram instalados nelas, em 1880, os
trilhos da Companhia Ferro Carril, cujos bondes puxados a burros, ar estacionavam. Em 1913, os
burros foram substituidos por bondes elétricos.
Completando a preferência pela praça, foram implantados nela, nos anos 80, os famosos
quiosques. Eram cafés-restaurante, que se tomaram a alegria dos palradores da cidade. O iniciador
desses pontos de reunião foi o aracatiense Manuel Pereira dos Santos, conhecid o por Mané Coco.
Eram em número de quatro: o Java, no ponto nordeste da praça; o Café do Comércio, no noroeste;
o Iracema, no sudoeste e o Elegante, a sudeste. Na reforma de 1920, promovida pelo prefeito
Godofredo Maciel, foi decretada a extinção dos quios ques.
Também na praça estava o "cajueiro da mentira", à sombra do qual se elegia todos os anos,
no dia 12 de abril, em meio a bombas e bandeirinhas, o "Coronel Comandante do Batalhão dos
Potoqueiros (mentirosos) de Fortaleza", batalhão que tinha como única finalidade combater a
verdade. O copado cajueiro também não escapou à reforma do Godofredo.
Houve também "o banco" que reuniu várias gerações de intelectuais e que foi sendo
lentamente abandonado, até restar apenas o banco com seu nome inscrito no chão da praça;
mesmo essa singela homenagem desapareceu.
A praça foi testemunha também de tragédias como a que vitimou, em 1894, Joaquim
Vitoriano, o Paulo Kandalascaia, da Padaria Espiritual, o tenente Heitor Ferraz e o poeta Mário da
Silveira. mortos por motivos semelhantes. Foi palco igualmente da covardia da polícia de Accioly,
que assassinou crianças indefesas, nas manifestações de 1912.
Ao logo de sua existência, a praça sofreu várias reformas: a primeira com Guilherme Rocha,
em 1906, que nela construiu jard ins e alamedas. Em 1920, Godofredo Maciel tirou os quiosques e
pôs um coreto para a apresentação de peças musicais. Em 1933, Raimundo Girão demoliu o
coreto e colocou em seu lugar a coluna da hora. Em 1946 foi construído o Abrigo Central, com casa
de merenda, bancas de bicheiros e engraxates no seu interior. Este foi derrubado em 1966 e em
1967, foi a vez da coluna, para dar lugar a nova reforma em 1968, muito criticada pela estranha
roupagem com que vestiu a praça. Finalmente, em 1991, sofreu uma reforma p rofunda, que
recuperou a coluna da hora, os bancos e até a cacimba construída no século passado. Foram
autores do projeto os arquitetos Fausto Nilo Costa e Delberg Ponce de Leon que procuraram
evocar as diversas fases da praça. A. cacimba, três com bancas de revistas, a seqüência de
pórticos em torno deles, feitos em aço especial que homenageiam o espírito da praça; galhoteiro,
brincalhão, onde até o sol foi vaiado nos anos 40; tudo feito num esforço de resgatar a história do
espaço mais democrático da cida de.
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As primeiras manifestações literárias do Ceará começaram nas reuniões feitas na casa do
governador Sampaio, os concorridos outeiros. Era início do século XIX. Freqüentavam essas
reuniões, Costa Barros, Pacheco Espinosa, Castro e Silva e outros que não produziram nada de
muito significativo. Outro grupo só surgiria na década de 70; era a Academia Francesa que contou
com figuras de peso como, Rocha Lima, Tomás Pompeu e Capistrano de Abreu. Muitos,
influenciados pelas idéias positivistas, combatiam o Romantismo. Publicavam o Jornal
FRATERNIDADE.
Em 1886 surgiu o Clube Literário, que reunia Juvenal Galeno, Antonio Bezerra, Justiniano
de Serpa, Oliveira Paiva, Farias Brito, Rodolfo Teófilo e o moço Ant onio Sales. Apesar da matriz
romântica de muitos esses escritores, o grupo começou a se enquadrar na escola realista. Seu
órgão na imprensa era AQUINZENA.
Foi no final do século que o Ceará conheceu o seu mais expressivo e criativo movimento
literário: A PADARIA ESPIRITUAL. O seu mentor foi Antonio Sales e a idéia de sua criação se deu
nas mesas do Java. Seu órgão era O PÃO e tinha um Padreiro -mor Padeiro-mor (Presidente), dois
Forneiros (secretários) e os demais membros eram chamados de Padeiros. Os Padeir os tinham
nomes fictícios: Antonio Sales era Moacir rema, Adolfo Caminha era Feliz Guanabari no, Rodolfo
Teófilo era Marcos Serrano, Antonio Bezerra era André Carnaúba e assim por diante. Entre outras
coisas, seus estatutos determinavam que fosse "proibido o tom oratório, sob pena de vara", ser
severamente punido o Padeiro que passasse uma semana sem dizer um chiste e, recitar ao pia'1o,
dava "expulsão imediata e sem apelo". Declarava como "inimigos naturais (...) o clero, os alfaiates
e a polícia", Além de escritores, haviam também músicos, Henrique Jorge (Sarasate Mirim) e seu
irmão Carlos Vítor, e um pintor, Luis Sá. Havia um que era nada disso, Joaquim Vitoriano, o Paulo
Kandalascaia, que por sua coragem e físico avantajado atuava como guarda costas dó g rupo. No
interior do movimento conviviam estilos literários diferentes, com maior predominância do
Realismo. Através da Padaria foi introduzido o Simbolismo no Ceará, bebido diretamente de
Portugal.
A Padaria Espiritual viveu duas fases: a primeira, de 10 de julho de 1892 a 24 de dezembro
desse ano, com a publicação de seis números d'O PÃO apesar do sexto estar numerado como
quinto, porque saiu dois números 2. E a segunda fase, que se iniciou a 1º de janeiro de 1895 e foi
até 1898, quando extinguiu -se o movimento, apesar d'O PÃO ter deixado de circular já em 1896.
A 15 de agosto de 1894 foi fundada a Academia Cearense de Letras, portanto, antes da
Academia Brasileira que é de 1896. Seus objetivos iam além da literatura, abarcando o campo das
ciências, educação, artes, de um modo geral. Alguns de seus principais fundadores foram Tomás
Pompeu, Guilherme Studart Farias Brito, Justiniano de Serpa, Padre Valdevino, Henrique
Théberge, para citar os mais conhecidos.
Nessa primeira fase, publicou de 1896 a 1914, a R EVISTA DA ACADEMIA CEARENSE.
Digo primeira fase porque deixou de funcionar várias vezes, sendo reorganizado em 1922, 1930 e
1951. Funciona atualmente no Palácio da Luz, antiga sede do governo e tem como presidente o
poeta Arthur Eduardo Benevides. Em data recente, elegeu como membro a escritora Rachei de
Oueirós. O Centro Literário foi criado por uma dissidência da Padaria Espiritual em 1894. Não tinha
a mesma originalidade mas contava com escritores de grande talento como Papi Júnior, Guilherme
Studart, Farias Brito, e outros. Muitos faziam parte de um e outro movimento, pois não se exigia
fidelidade de seus membros. Publicava a revista IRACEMA e funcionou até o início do presente
século.
Os grupos literários brotavam como ervas nos canteiros da "lourinha" afrancesada. Surgiam
das rodas que se formavam em torno dos bancos da Praça do Ferreira e do Passeio Público, nas
livrarias e, principalmente, nos cafés. Assim surgiram, inspirados pelo bucolismo da Fortaleza
"Belle Époque", grupos como a Plêiade, onde se sobressaia a figura de Soriano Albuquerque; a
Academia Rebarbativa, que publicou a revista A JANGADA; e a Polimática, nascida no Café Riche.
Os cafés, reflexo da influência francesa, existiram em grande quantidade em Fortaleza.
Houve época em que a cada esquina encontravam-se um. A moda começou com os quiosques da
Praça do Ferreira.
Depois, os cafés foram contornando a praça e se estendendo para outros espaços. Neles.
encontravam-se figuras como Quintino Cunha, poeta e piadista fino; o poeta José Albano, admirado
pela beleza, cultura elevada e excentricidade; o· teatrólogo Carlos Câmara, o mestre da burleta;
enfim, as figuras mais interessantes da Fortaleza provinciana. Havia a "Maison Art -Nouveau", na
Major Facundo com Guilherme Rocha; funcionou de 1907 a 1930, quando foi consumida por um
incêndio. O Café Riche foi inaugurado em 1913, sendo seus proprietários Alfredo Salgado, o
notável abolicionista, e Luis Severiano Ribeiro, que se tomaria o Rei do Cinem a no Brasil. E vieram
outros; Avenida, Globo, Confeitaria Glória, Éden Café, Café do Comércio, a Rotisserie. Esses
"antros" luxuosos e tão agradáveis acompanharam a cidade no seu crescimento até os idos dos
anos quarenta quando conheceram o ocaso.
O primeiro teatro de Fortaleza, o "Concórdia", iniciou suas atividades em torno do ano de
1830 e funcionava em um prédio em frente à Igreja do Rosário. Em 1842, já com o nome de
"Taliense", foi transferido para a rua Formosa, hoje Barão do Rio branco. Era bem freq üentado,
apesar do amadorismo de seus artistas. Encerrou suas atividades no ano de 1872.
Já naquela época, as autoridades pensavam na construção de um teatro de maior
envergadura, sem que se tomasse iniciativa nesse sentido. Continuaram, então, os teatros de
pequeno porte a servir como único espaço disponível para as atividades cênicas da cidade. Eram
eles o São José, na rua Amélia; o das variedades, fundado em 1877, cujas representações eram
feitas ao ar livre; o São Luis, que funcionou de 1880 a 1896. Nel e, em 1882, esteve o maestro
Carlos Gomes. apenas de passagem, sem executar nenhuma de suas peças musicais. Além
desses, funcionaram vários outros, verdadeiros teatros de "fundo de quintal".
Em 1896, o Presidente Bezerril Fontenele lançou a pedra fundament al do que seria mais
tarde o Teatro José de Alencar. As obras, no entanto, só seriam iniciadas em 1908, concluindo -se
em 1910, no governo de Nogueira Accioly. Foi construído em metal vindo da Inglaterra, como
quase todas as construções de qualidade da époc a (ver pág.41).
Outro teatro construído nessa fase, em 1915, foi o São José. Desde sua construção nunca
tinha sido reformado, o que ocorreu há pouco tempo. No projeto foram previstas melhorias, que
não implicarão na alteração de sua estrutura.
Outras casas de espetáculo da cidade, atualmente ou estão em reforma, como o Teatro
Carlos Câmara, no Centro de Turismo da CODITUR, ou em pleno funcionamento, como o Teatro
Universitário, o Teatro do IBEU, o ARENA Aldeota e o Paurillo Barroso, sendo os três últimos de
propriedade de instituições privadas.
Os primeiros "cinemas" chegaram na forma dos bioscópios e kinetoscópios ou kinefones.
Foram introduzidos por um italiano de nome Pascoal, e se constituía de uma lanterna mágica, que
projetava numa tela imagens sem mov imento. Os kinefones foram introduzidos antes, em 1891.
Sendo uma combinação do bioscópio com o gramofone . O primeiro cinematógrafo foi exposto pela
Empresa Oliveira & Coelho no teatro no Clube Iracema, em 1907. Depois, o italiano Vitor Di Maio
montou o primeiro cinema fixo. No prédio da "Maison Art-Nouveau", na rua Major Facundo com
Guilherme Rocha, daí, ser chamado também de "Art -Nouveau". Em seguida vieram o Politeama, o
Rio Branco, o Cassino. o Riche e o American Cinema. Em 1917, foi aberto o Majestic Pálace, do
milionário Plácido Carvalho. O mesmo que construiu o Excelsior Hotel, que além de belo é o maior
edifício de alvenaria do mundo. Com o Majestic, o cinema tornou -se hábito para a elite social. Que
freqüentava vestida a caráter, glamourizando suas "soirées". Aliás, naquela época, as pessoas, de
um modo geral, andavam bem vestidas. Mais tarde, em 1922, veio o Cinema Moderno, e o Majestic
foi perdendo a importância, até que na década de 40, já se apresentando como um cinema poeira,
freqüentado por ge nte de classe social inferior, foi destruído por um incêndio. Surgiu então o Diogo
e posteriormente o São Luis, marcando o início do monopólio do grupo Severiano Ribeiro.
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Fortaleza já foi chamada de "Cidade dos Clubes", dada a grande quantidade dessas
agremiações que reuniam os membros das classes média e alta. O primeiro deles foi o Recreação
Familiar Cearense, surgiu em 1851. Depois foi a vez do Cearense. fundado em 1867, em um
Casarão da Senador Pompeu. Torou-se tão elitista que alguns de seus membros resolveram fundar
um outro, o Iracema, em 1884. Nesses clubes se fazia de tudo: jogos, danças, flertes, concertos,
peças teatrais, reuniões políticas, ou simplesmente encetavam-se relaxadas conversações. O
Iracema tornou-se o clube mais freqüentado de sua época, dividindo mais tarde com o Clube dos
Diários, surgido em 1913, as preferências dos boêmios da cidade.
Nas festas de carnaval, o pessoal do Cearense se convertia no "antro" dos Dragões do
Averno. Os do Iracema nos Conspiradores Infernais do Iracema. O desfile começava com uma
parada dos camelos que haviam sido trazidos da Argélia, pelo governo Imperial, para resolver o
problema dos transportes do sertão. Embora se adaptassem bem à região, desistiu -se da idéia e
eles ficaram reduzidos a simples atração zoológica, para os habitantes da capital. Comparado com
os dias de hoje, o Carnaval era uma brincadeira de jardim da infância. Consistia em promover
"assaltos" nas casas de família, ocultas por

"A arquitetura antiga do Ceará evidenciará um caráter popular, utilitário e ecológico,


mesmo as edificações de maior envergadura. Trata-se de uma arquitetura reduzida ao
essencial. condicionada às poucas disponibilidades financeiras e erguidas com materiais
de construção local. utilizando-se técnicas imprevistas.

Esse quadro de austeridade arquitetônica só encontrará alguma alteração com a hegemonia


de Fortaleza sobre os demais centros regionais. com a construção de prédios que farão uso de
materiais importados
.
...que darão a Fortaleza aquela harmoniosa paisagem urbana, das mais belas do país,
gradativamente destruída, a partir da década de 30.
  

Sediou a primeira vila do Ceará (1699 -1713), com o nome de Vila de São José de Ribamar
do Siará Grande. Por motivo da insegurança a que estava exposta fo i descartada como centro
hegemônico da futura capitania. Hoje é uma cidade localizada na região metropolitana de
Fortaleza, mantendo um conjunto arquitetônico típico do período colonial, apesar de muito mal
conservado, além de não restar quase nada do núcl eo setecentista.

!(!$!+!&45*

— A IGREJA DE SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, que teve sua construção iniciada no século XVIII
sofreu várias modificações, mantendo. no entanto, alguns elementos originais como as
portas da entrada principal e os painéis pintados no for ro da capela-mor.

— AS RUÍNAS DO ANTIGO COLÉGIO DOS JESUÍTAS, construído na primeira metade do


século XVIII, foi abandonado em 1759, devido à expulsão dos jesuítas do Brasil. Demolido
em 1854, restando apenas as ruínas das paredes da capela -mor.

— A CASA DE CÂMARA E CADEIA, hoje, Museu de São José de Ribamar. O primeiro de


pavimento, que funcionou como cadeia, foi erguido no século no século XVIII; o segundo,
que servia de câmara. Data de 1877. O Museu Sacro conta em seu acervo com imagens
talhadas em madeira, castiçais, turíbulos e pratarias do século XVIII.

— O MERCADO DA CARNE se constitui numa das mais interessantes obras da arquitetura


popular, segundo o arquiteto cearense, Liberal de Castro. É dele a seguinte descrição:

"Tem planta quadrada, constante do núcleo central, contornado por alpendres. O telhado
é piramidal, com vértice apoiada numa coluna central de alvenaria de tijolos. Todo
madeiramento é de carnaúba e o traçado das peças estruturais se desenvolve no espírito
de pesquisa das linhas internas do quadrado. A impressão sensorial do espaço interior
pede experiência pessoal, já que não pode ser transmitida por descrições verbais e nem
mesmo por fotografias".

  

Quando Pero Coelho dirigia -se ao Maranhão, para dar combate aos france ses instalados
naquela capitania, deparou -se com índios hostis. "a foz do rio Jaguaribe. Para pacificá -Ios, fez. ali
um fortim. Que batizou de São Lourenço. Mais tarde surgiria a povoação de Santa Cruz do Aracati
do Porto das Barcas.
Aracati se tomaria o p rincipal ponto de penetração para os que pretendiam descer o
Jaguaribe. Logo conheceria o progresso através da indústria do charque. Com a decadência desta.
a cidade conheceu seu ocaso. só vindo a conhecer um certo renascimento em data recente. com
seu agitado carnaval e suas belas praias.
Seu conjunto arquitetônico do século XIX é o mais importante do Ceará. contando ainda
com edificações do século anterior. Relacionaremos aqui algumas delas:

— IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO ROSARIO, construída entre o s éculo XVIII e a


segunda metade do XIX. Está tombada pelo patrimônio histórico. Foi restaurada
recentemente.

— CASA DE CÂMARA E CADEIA, iniciada no século XVIII.

— SOBRADO DE BARÃO DE ARACATI, onde está localizado o Museu Jaguaribano, que


conta com peças de arte popular e documentos históricos. Apresenta uma fachada
revestida de azulejos portugueses.
A cidade apresenta vários conjuntos de sobrados, casas térreas e igrejas coloniais.

 

Metrópole da zona norte do Estado, conheceu a prosperidade com o cha rque. Apresenta
numeroso acervo arquitetônico em quatro fases diferenciadas de estilos que se configuraram ao
longo do século XIX. Suas Igrejas apresentam -se bastante modificadas. como de resto aconteceu
em todo o Ceará. Seus espaços urbanos são bastante ricos. testemunho da sua proeminência
ancestral. Destacam-se do conjunto:

— IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA CAlÇARA. apresenta belíssimo


acervo decorativo com portada com um aro de pedraria lavrada em Iiós e lampadário de
prata aceso permanentemente sobre o túmulo de D. José Tubinambá da Frota.

— IGREJA DO MENINO DEUS. que foi erguida no início do século passado. Salienta -se no
forro, baixo relevo em talha poli cromada. representando a sagrada família em fuga para o
Egito.

— TEATRO MUNICIPAL SÃO JOÃO, construído no final do século XIX. edifício de estilo
neoclássico.

— CASA DA CÂMARA, edifício de aspecto austero. consoante com o objetivo para o qual foi
construído. Sofreu várias reformas.

— MUSEU DIOCESANO DOM JOSÉ, sobrado dos idos do século XIX. o museu guarda peças
colecionadas por D. José Tupinambá da Frota, bispo de Sobral de 1916 a 1959.



Um dos mais antigos aglomerados urbanos do Ceará teve entre seus colonizadores os
membros das famílias Monte e Feitosa, protagonistas de uma grande guerra incruenta, que assolou
o sertão dos Inhamuns por muitos anos, no século XVIII.
A cidade está localizada num ponto de confluência de diferentes correntes do comércio,
favorecendo seu crescimento, tomando-a uma das mais progressistas do interior do Ceará, no
período colonial. Foi favorecida pelos ciclos da pecuária e do algodão. Por seu intermédio se
faziam os negócios entre as capitanias de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia,
Piauí e a zonas e centro do Ceará. Ainda conserva seu aspecto arquitetônico colonial, destacando -
se a Antiga Casa de Câmara e Cadeia, o Teatro da Ribeira dos Icós e outros prédios de estilo
Barroco. Seu patrimônio também está a exigir uma política de conservação.

    



Não se pode caracterizar a arquitetura fortalezense como antiga por conta do fato de seus
prédios serem, de um modo geral, de construção recente, datando a maioria deles, da passagem
do século passado para o atual e dos primeiros anos d estes. Podemos classificá-Ia em três
aspectos básicos, segundo Liberal de Castro:

a) ARQUITETURA RELIGIOSA NEOCLÁSSICA E NEOGÓTICA.

"No concedente às Igrejas fortalezenses ..., são em quase sua totalidade, edificações de
meados ou fins de século passado, concluídas já neste século... misturam, à planta de esquema
basilical, influências dos movimentos historicistas do século passado, através de ecos amortecidos
de um neoclassicismo ou de um neogoticismo sem pretensões.
Assinale-se, entre elas, a do Pequeno Grande, inaugurada com o século, coberta de placas de
ardósia - montadas em estrutura metálica procedentes da Bélgica, segundo um projeto de
inspiração neogótica, em cujo telhado os materiais e o caimento íngreme se uniam num desenho
para escorrer a neve".
No mesmo estilo apresentava -se a antiga Sé, que foi demolida para dar lugar à nova.

b) ARQUITETURA METÁLICA IMPORTADA

Construções que faziam uso de estruturas metálicas importadas das nações européias, que
no início do século exerciam sua hegemonia sobre o mercado internacional. Modelos copiados, que
não raro, já vinham preparados para montar. Destacam -se desse período, o Teatro José de
Alencar, o prédio da Alfândega, o Mercado de Ferro que após ser desmontado desdobrou -se no
Mercado da Aerolândia e o dos Pinhões; a Igreja do Pequeno Grande e o desaparecido Cine
Majestic.

c) ECLETISMO ARQUITETÔNICO

Dos antigos sobrados que definiam as vias centrais do início do século restam muito poucos,
destacando-se, ainda, em bom estado de conservação, o dos Fernandes Vieira, restaurado
recentemente para dar lugar ao Arquivo Público do Estado. As demais edificações consideradas
antigas, se enquadram nos esquemas do dito ecletismo arquitetônico, vigente na França do século
XIX, sob Napoleão III. Remanescentes desse estilo são o prédio do antigo IFOCS (DNOCS), de
1907; o Palacete Ceará, (Caixa Econômica), na Praça do Ferreira, de 1914; o Teatro José de
Alencar, de 1910; o Prédio da Fênix Caixeiral, criminosamente demolido na década de 70, que e ra
construção de 1915, e estava localizada na Praça José de Alencar.
Destacavam-se, também, nesse período, as casas chácaras, inseridas em meio a amplos
jardins, como o palacete do Coronel João Gentil, que deu lugar à Reitoria da Universidade Federal.
Nesse estilo notabilizou-se também o Palacete do Plácido, demolido na década de 70, onde
atualmente está localizado o Centro Artesanal Luiza Távora, na Avenida Santos Dumont. Registra -
se também as influências do movimento "Art -Nouveau", perceptível ainda um pe queno conjunto de
casas situadas entre as ruas General Sampaio e 24 de Maio, modificadas em sua parte inferior
para adaptação de lojas.
Vigoram também nesse período os preceitos do movimento tradicionalista, que na Europa
se expressava no retorno aos valor es de épocas passadas, principalmente os da Idade Média e do
período que marca o surgimento das nacionalidades. No caso brasileiro, o esforço centrou -se na
recuperação do aceno arquitetônico do período colonial, embora não se possa falar de um estilo
colonial. No Ceará, a obra do arquiteto Armando Oliveira se encaixou dentro dos parâmetros desse
movimento, destacando se o prédio do Grupo Escolar Visconde do Rio Branco e as grades do
Parque da Liberdade
(Cidade da Criança).
Finalizando esse período, às vésperas da revolução de 30, vamos ter o Excelsior Hotel e
alguns palacetes localizados no fim das linhas dos bondes, principalmente na Jacarecanga.

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Localizada no sítio do Alagadiço Novo, que pertenceu ao Senador Alencar, pai do escritor
José de Alencar. Pertence à Universidade Federal do Ceará e foi tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico, em 1965.
No sítio encontra-se a casa onde nasceu o escritor, as ruínas da casa grande e do engenho,
o primeiro a receber energia a vapor no Ceará. Segundo o arquiteto Liberal de Castro, a casa onde
nasceu o escritor tem, além do seu valor histórico -sentimental. grande significado arquitetônico.
pois demonstra o
processo evolutivo do emprego da carnaúba, como ma terial de cobrimento. O sítio abriga ainda um
centro de estudos da UFC, com o museu Artur Ramos. cujo acervo é composto de material
etnográfico.
Já existe um projeto de restauração em andamento, que irá fazer o aproveitamento dos 7.5
ha do sítio, em sua totalidade. Além das partes já existentes, serão acrescentados ciclovias,
restaurante é reativado o lago, com adaptação de áreas verdes para a prática de "cooper".
A casa foi construída pelo padre José Martiniano de Alencar para abrigar sua prima e
amante Ana Josefina de Alencar, juntamente com seus oito filhos.

    

Prédio construído em 1914 pelo Cel. José Gentil Carvalho, abrigou, no seu andar térreo, o
"Rotisserie Sportman" e nos altos. o Clube Iracema. Foi por muito tempo um dos pontos mais
refinados da cidade. Em 1955. o prédio foi adquirido pela Caixa Econômica Federal que aí instalou
uma de suas agências. Em 1982, um incêndio deixou apenas sua fachada de pé. Feito os
levantamentos, juntamente com o Patrimônio Histórico. optou -se por sua restauração.

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Antiga residência do capitão -mor Antonio de Castro Viana, tendo funcionado aí a Câmara
Municipal. Foi sede do governo do Estado até a década de 60 do corrente século. Abrigou também
a Secretaria Estadual de Cultura e Biblioteca Pública, além da Casa de Cultura Raimundo Cela.
Atualmente sedia a Academia Cearense de Letras.
Ao lado do Palácio se encontra a Praça General Tibúrcio, mais conhecida como Praça dos
Leões. Era o pátio do Palác io e servia de depósito de animais e lixo. Idelfonso Albano embelezou -
a, dando-lhe a dignidade que até hoje apresenta. Antes disso, durante os choques que levaram à
queda do Presidente Clarindo de Queiróz, em 1892, a estátua do General Tibúrcio foi atingid a por
um tiro de canhão que a derrubou do pedestal.
O Arquivo Público do Estado, que abriga os documentos mais antigos do Estado, está
instalado no casarão que pertenceu ao deputado Miguel Fernandes Vieira (1819 -1879). O prédio foi
adquirido pelo governo Imperial em 1883 para a Tesouraria da Fazenda. Sediou outras instituições
públicas, entre as quais a Delegacia da Receita Federal. Cedido ao governo do Estado, foi
adaptado para sediar o arquivo; sua inauguração se deu a 15 de junho de 1993.
Na extremidade sul da Praça dos Leões está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Fundada em 17 teve sua primeira festa em homenagem à Santa, em 27 de dezembro de 1747. O
templo tinha paredes de taipa e teto de palha, sendo utilizado pelos negros para suas orações.

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Foi construído entre os anos 1908 e 1910 no governo de Nogueira Accioly. É uma das mais
notáveis as em arquitetura metálica, apresentando características ecléticas, onde são observados
estilos clássico, moderno e "Art-Nouveau", com aspectos da arte greco-romana. Suas estruturas
foram ebeberadas da Escócia, sendo seu corpo feito todo em ferro, aço e ferro fundido, com três
pavimentos, do térreo, onde ficam a platéia, as frisas, camarotes e torrinhas, contendo ainda
cadeiras austríacas de palhinha, balcão e elegante escadaria. A elaboração de sua planta esteve a
cargo do engenheiro militar, capitão Bernardo José de Meio. A cenografia esteve a cargo de
Herculano Ramos, os trabalhos de pintura foram realizados por Ramos Cotoco, Antonio Rodri gues,
José Vicente, Jacinto Matos, José de Paula Barros e Rodolfo Amoedo.
Com fachada em estilo Coríntio, de acordo com os preceitos dos teatros -jardins, sendo que
o jardim só Foi construído na reforma de 1974/75, de acordo com projeto do paisagista Burle Marx,
recentemente falecido. O mesmo participou da reformulação do jardim na reforma de 1989/91.
Inaugurado em 17 de junho de 1910, teve sua primeira encenação em 23 de setembro daquele
ano. todo está formado de: bloco frontal ou "foyer", em estilo eclétic o: sala de espetáculos, na linha
"ar ³nouveau´, jardim; caixa do palco e terreno onde funcionou a Faculdade de Odontologia, que as
para ensaio de dança, teatro, música, sala para figurino, oficinas, palco ao ar livre, sala de
espetáculos com 100 lugares, restaurante, copa, salas da administração, galeria de arte e
biblioteca.
A sala de espetáculos comporta 764 lugares. O interior do Teatro está decorado com
pinturas em alto referem à mitologia grega e à obra de José de Alencar.
O teatro foi tombado em 10 de agosto de 1964, como Monumento Nacional, pela Sociedade do
Patrimônio Histórico e Artístico.

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O templo que deu origem a primeira Catedral de Fortaleza foi construído entre os anos 1820
e 1854. Recebeu o nome de Sé e só foi receber os foros de Catedral em 1861, com a criação do
bispado de Fortaleza, sendo o primeiro bispo, D. Manuel da Silva Gomes. Apresentava aspecto
neoclássico e foi demolida no final da década de 30 para dar lugar à nova catedral. Sua demolição
foi amplamente criticada, porém, nada foi feito para impedir o fim da velha catedral, que estava no
seu 84º aniversário.
A nova catedral teve sua pedra fundamental lançada em 15 de agosto de 1939, mas só foi
concluída em 1978, tendo sido inaugurada em 22 de dezembro daquele ano , no bispado de D.
Aluísio Lorscheider. Sua construção teve hiatos e reanimações, sendo famosa a campanha da
papeleta amarela, que visava angariar fundos para a conclusão do templo.
O projeto é de autoria do engenheiro francês Georges Mounier, que o elabor ou segundo o
estilo "gótico estilizado" ou neogótico. A construção tem forma de cruz, com 96m de comprimento e
28 de largura, sendo que na parte dos braços, a largura se amplia para 60m. O pé direito é 32m
(altura do chão ao teto).
O altar tem 5m por 1m, o piso é granito, e possui mármores de Verona nos lambris. Seu
interior está decorado com vitrais vindos da Itália, que contam passagens da Bíblia e vida dos
Santos. Acima da porta principal, está o vitral com as armas da Catedral. A entrada ou saída do
templo é feita por três portas frontais e quatro laterais, sendo a circulação no seu interior facilitada
pela disposição dos bancos nas partes centrais.
Ocupa um terreno de 3.000m 2 com área coberta de 1.820m 2, sendo 1.726m 2 de área útil.
Está localizada no centro da célula originária do município.

  


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Localizado no casarão onde funcionou a antiga Casa de Detenção. Foi projetado e


construído a partir de 1950, pelo engenheiro Manoel Caetano de Gouveia, sendo concluído, em
parte, no ano de 195 4 e definitivamente em 1866.
Sua originalidade encontra -se na adaptação de suas linhas neoclássicas à ecologia da terra
e aos nossos materiais, trata-se de uma construção que foge aos parâmetros comuns, ao
neoclassicismo, dispensando os adornos característicos daquele estilo.
Em torno do prédio central foi erguida uma muralha de 5 metros de altura, que estava
separada do prédio por quatro pátios, posteriormente transformados num imenso jardim, projetado
pelo escultor e paisagista Ricardo Vilela. No lado nor te do jardim foi construído um lago artificial, do
lado oeste, está o estacionamento e um palco de concreto para apresentações folclóricas. Cinco
portões externos dão acesso ao jardim, sendo dois deles em ferro trabalhado.
O prédio central tem dois pavimen tos, que ainda conservam as linhas arquitetônicas
originais, caracterizada por paredes largas em alvenaria, amplos portões de ferro, grades e telhado
em quatro águas.
O centro conta com 94 boxes de venda de artesanato, em três blocos e uma galeria na rua
Dr. João Moreira. Conta também com restaurante e no pavimento superior do prédio central, o
Museu de Arte e Cultura Popular, que conta com peças classificadas em três áreas: artes
recreativas, utilitárias e religiosas. O centro de Turismo foi aberto ao públ ico em 30 de março de
1973.

          



  


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A antiga Ponte Metálica foi construída entre os anos de 1902 e 1906, sendo projetada pelo
engenheiro Domingos Sérgio de Sabóia e Silva. Foram responsáveis por sua montagem o
Engenheiro Hildebrando Pompeu e o escocês Robert Gow Blasby.
Era um viaduto com estrutura de ferro e piso de madeira. Para a subida e descida de
passageiros fazia se uso de uma ponte móvel, o que a tornava muito insegura. Funcionou por
muitos anos, sendo, inclusive, reformada em 1928.
A ponte, que é popularmente chamada de metálica, é, na verdade, a Ponte dos Ingleses,
que nunca foi concluída. Tinha o objetivo de fazer a ligação de um cais -ilha com a terra firme.
Preferida pelos adoradores do sol que ao fin al da tarde vêm assistir ao ocaso do astro -rei,
encontrava se em adiantado estado de degradação. O governo do estado restaurou o concorrido
"point", dentro de um projeto que prevê a criação de um centro cultural na Praia de Iracema. A nova
Ponte é constituída de três etapas: a primeira tem iluminação mais forte. Na intermediária estão os
quiosques em fibra de vidro, bares e restaurante. A terceira, mais distante, e stá reservada à
contemplação, com pouca luz.
O Centro Cultural será administrado pela Fundação Dragão do Mar e ganhará um Museu da
Imagem e do Som, cinemas, teatros, um aquário e um planetário, além do Centro de Artes Visuais
Raimundo Cela.

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Não do restaurante, mas da casa do empresário José de Magalhães Porto, construída em


1925, se originou o bairro Praia de Iracema. Antes o local era chamado de Porto das Jangadas e
depois Praia do Peixe, sendo, em 1928, batizada com o ro mântico nome, que mantém até hoje.
A casa foi construída em alicerce de madeira de maçaranduba, revestida de argamassa de
cal e barro sobre estrutura de taipa. Foi feita assim, para resistir à invasão das águas que
constantemente inundavam a praia; pois co m a taipa, ela atravessava a parede sem derrubar toda
a casa. Era de dois andares, sendo que o terraço, no primeiro andar, em 1939 foi reforçado com o
cimento armado.
Com a 2ª Guerra, o empresário arrendou a Vila Morena para os americanos instalarem um
cassino, onde promoviam estrondosas festas, freqüentadas pelas garotas da sociedade. Eram as
"garotas coca cola", famosas por seu comportamento liberal, que chocava a moralidade da
província. Com a saída dos americanos, o prédio foi alugado para os comerciant es portugueses,
José Freitas de Almeida e Antonio Português que o transformaram no restaurante Estoril, eleito
pela alta roda. Desde a década de 60, funcionava como ponto de encontro de artistas e
intelectuais, que foram pouco a pouco se afastando, devido, principalmente, ao surgimento de
outros bares que concorriam com o velho restaurante.
A obra de urbanização da Praia de Iracema, paradoxalmente serviu para esvaziar mais
ainda o Estoril, até que na noite de 20 de abril de 1994, desabou parcialmente. Tomba do desde
1986 pelo Patrimônio Histórico, no entanto, nada se fez para preservá -Io. Seu desabamento
detonou uma grande polêmica sobre a política de preservação do patrimônio histórico da cidade.
O projeto de recuperação do Estoril, que visa transformá -Io em um novo Centro Cultural já
está em andamento.

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A 20 de junho de 1861, o Bispo D. Luiz Antonio dos Santos lançou a pedra fundamental do
Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição. O objetivo era construir uma instituição destinada
a escolher jovens para o estudo convencional. O prédio funcionou também como sede do Colégio
da Imaculada Conceição. Em 1864 tornou -se o Seminário do Outeiro da Prainha.
o Seminário foi o responsável pela formação de algumas das melhores cabeças do Ceará.
Funciona hoje, no prédio, o Instituto de Ciências, Religiosas e o Instituto Teológico Pastoral.
Atualmente, ele passa por reformas em suas instalações.
No projeto está previsto a criação de um Museu Sacro, podendo se constituir num dos mais
importantes do Nordeste. O Seminário conta também com uma biblioteca de dez mil exemplares,
uma das maiores no campo religioso.

   

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Em 1846 foi instalado um precário farol na Ponta do Mucuripe. Em 29 de julho de 1872, em
comemoração ao aniversário da Pr incesa Isabel, foi ali inaugurado outro. Sua luz era vista a quatro
léguas, de minuto em minuto. Desativado, o velho farol foi utilizado para abrigar o Museu do
Jangadeiro. No momento está sendo Restaurado e será transformado no Museu de Fortaleza.

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Alguns historiadores afirmam que a Alfâdega foi instalada em 12 de julho de 1812, ou um


pouco Depois, pelo Governador Sampaio. Entretanto, o prédio de pedras só foi inaugurado em 30
de outubro de 1893.
Com a instalação da Alfândega, foram levados a té a parte da frente os trilhos dos bondes
puxados a burro, e do outro lado, os ramais da linha de ferro. À sua frente, nasceu uma rua
chamada "Caminho da Praia", em 1932 passou a ser chamada de "Rua da Praia", hoje, chamada
Av. Pessoa Anta. Sua ferragem f oi importada da Inglaterra. A primeira construção estava instalada
no centro da atual Praça Almirante Saldanha. A edificação de pedra foi reformada em 1941 e 1945,
quando foi construído o andar superior, sediando a Receita Federal. Com a mudança dessa para
outra sede, passou a abrigar uma agência da Caixa Econômica Federal.

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Ultimamente vem crescendo no Ceará a discussão em torno da preservação do patrimônio


histórico do Estado. Em Fortaleza, ocorreram alguns eventos como o seminário "Fortaleza, Vários
Olhares" e o "Fórum Adolfo Herbster", que puseram em discussão os problemas da cidade nesse
fim de milênio. Uma das questões mais discutidas é relativa a deteriorização do patrimônio histórico
da cidade. É triste constatar o quanto esse acervo foi destruído ao longo dos últimos anos,
restando pouco para se preservar.
Entretanto, nem tudo está perdido, e o que ficou claro, foi a necessidade de se preservar o
que ainda resta. Algumas propostas interessantes foram feitas, como a qu e prevê a revitalização
do centro da cidade, com o desvelamento das fachadas antigas dos prédios e a recuperação dos
antigos nomes das ruas e logradouros públicos.
É importante que esses esforços não se detenham por aqui, cabendo aos profissionais de
turismo um papel muito importante nesse empreendimento, pois são profundas as relações entre
essa atividade, que se mostra cada vez mais como a verdadeira vocação do estado, e a história. p

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