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CAPÍTULO 10 – COMUNICAÇÕES VERTICAIS

CONSTRUÇÕES I
CAPÍTULO 10 – COMUNICAÇÕES VERTICAIS

ÍNDICE DO CAPÍTULO

Pág.

10.1 - Introdução 10.3


10.2 - Escadas 10.3
10.3 - Rampas 10.11
10.4 - Meios mecânicos 10.12
10.5 - Ventilações 10.14
10.6 - Condutas técnicas 10.21
10.7 - Legislação específica 10.22
10.8 - Bibliografia específica 10.23

10.1
10.2
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10.1 INTRODUÇÃO

O homem vive e desloca-se em planos horizontais que comunicam entre si


através de elementos construtivos genéricamente designados por comunicações
verticais.

As comunicações verticais possibilitam assim o desenvolvimento das mais


diversas actividades humanas e mesmo múltiplos aspectos do funcionamento dos
edifícios.

As comunicações verticais incluem assim escadas e rampas, bem como os


diversos meios mecânicos disponíveis (elevadores, monta-cargas, etc.) e, numa
perspectiva alargada, chaminés e sistemas similares de ventilação, condutas de
evacuação de lixos, condutas técnicas (água, electricidade, etc.).

10.2 ESCADAS

10.2.1 Definição

A escada é o elemento construtivo típico que liga dois planos horizontais


consecutivos e é constituída por um número de degraus compatível com a
distância entre esses dois planos, dimensionados em função da legislação, da
funcionalidade e de uma noção subjectiva de conforto humano, critérios que
levam igualmente à introdução de plataformas entre degraus.

A escada está necessariamente presente em todas as edificações com mais de


um plano horizontal e pode ser complementada com rampas ou meios mecânicos.

10.3
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10.2.2 Materiais

Básicamente podem-se construir escadas com madeira, perfis metálicos, vidro,


betão armado ou pedra (neste último caso, escadas maciças e continuamente
apoiadas).

10.2.3 Dimensionamento

O correcto dimensionamento dos degraus de uma escada é fundamental para que


a sua utilização pelo homem não se torne cansativa, desconfortável. Uma das
fórmulas mais usadas para dimensionar os degraus de uma escada, também
chamada “regra de ouro” ou “regra de conforto”, é:

2E + C = 60 / 64 cms

Em que E significa espelho e é igual à altura de um degrau, C significa cobertor


e é igual à largura de um degrau.

Fig. 10.1

10.4
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Esta fórmula permite obter relações de dimensões de degraus que conduzam a


escadas de trânsito fácil.
No entanto, normalmente começa-se por dividir a altura a percorrer por um
número de degraus que proporcione uma dimensão de espelhos próxima de
17 cms e devidamente constante, usando para tal a seguinte fórmula:

L + 2H
n=
61 a 64 cms

sendo o número n de degraus igual à parte inteira do resultado obtido, L o


comprimento e H a altura a vencer pelo lanço de escadas.
Após determinado o nº n de degraus, calculam-se as dimensões do degrau de
acordo com:

L H
C= E=
N n+1

Em princípio, estas dimensões devem satisfazer as condições da primeira


fórmula. No entanto, se tal não acontecer, será necessário modificar os valores de
L ou de H, sendo mais normal modificar o rpimeiro.

É fundamental garantir que todos os degraus tenham exactamente a mesma


altura (espelho), ou seja, não incorrendo no erro de ter um degrau de remate com
altura (de acerto) diferente de todos os outros, o que poderá originar acidentes.

Em qualquer caso, devem ser observados os valores limite estabelecidos pela


legislação em vigor (RGEU).

Espelhos baixos (15 - 16 cms) estão geralmente associados a cobertores largos


(30 - 35 cms) e usam-se em escadas exteriores.

10.5
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Para escadas interiores selecionam-se de preferência espelhos mais altos (aprox.


17 cms) associados a cobertores mais curtos (25 - 27 cms).

É particularmente importante garantir a existência de um “degrau roubado” no


ínicio de cada lançe de escadas (no sentido descendente), ou seja, que o primeiro
degrau ao descer constitua ainda o prolongamento do respectivo patamar,
evitando-se assim possíveis quedas por distração.

Também a largura dos lanços de escada deve ser correctamente dimensionada,


considerando-se normalmente os seguintes valores mínimos:

- 0,80 m, em moradias unifamiliares


- 0,90 m, em habitações colectivas até 2 pisos ou 4 habitações servidas
pela mesma escada (1,00 m, se for entre paredes)
- 1,10 m, em habitações colectivas com mais de 2 pisos ou mais de 4
habitações servidas pela mesma escada (1,20 m, se for entre paredes)
- 1,40 m, em edifícios com altura superior a 30 metros

Considera-se igualmente que:

- 1,25 m é a largura confortável para o cruzamento de 2 pessoas


- 1,80 m é a largura confortável para o cruzamento de 3 pessoas

Quanto aos patamares, devem ter exactamente a mesma largura das escadas a
que pertencem, considerando-se ainda os seguintes valores mínimos para
patamares com portas de acesso a habitações:

- 1,10 m, em habitações colectivas até 2 pisos ou 4 habitações servidas


pela mesma escada
- 1,40 m, em habitações colectivas com mais de 2 pisos ou mais de 4
habitações servidas pela mesma escada
- 1,50 m, em edifícos com altura superior a 30 metros

10.6
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É óbviamente suposto que o posicionamento dos patamares não interfira com o


bom funcionamento das portas.

No que respeita os corrimões das guardas de escada, a sua altura deve situar-se
entre 0,90 e 1,00 m, de preferência medidos a partir de cada focinho de degrau.

10.2.4 Traçado

Fig. 10.2 - Método gráfico para o traçado de escadas em leque

10.7
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10.2.5 Terminologia

Fig. 10.3 - Terminologia de escadas

10.8
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10.2.6 Tipologias

Fig. 10.4

10.9
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Fig. 10.5 - in “NEUFERT”


10.10
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10.3 RAMPAS

10.3.1 Definição

Uma rampa é um plano inclinado (com inclinação contínua ou variável), que liga
dois planos horizontais consecutivos, permitindo assim o trânsito de pessoas e
bens.

10.3.2 Dimensionamento e Traçado

Recomenda-se que o seu declive (inclinação) varie entre 0º e 12º, sendo em todo
o caso compatível com a distância entre dois planos e uma noção subjectiva de
conforto humano, ao ser percorrida a pé (situação em que um declive superior a
6º será provavelmente cansativo).

Uma rampa para o trânsito de deficientes tem óbviamente requisitos especiais, ou


seja, uma inclinação menor e corrimões em ambos os lados.

Uma rampa pode servir igualmente para o trânsito de veículos, devendo nesse
caso ser dimensionada tomando em consideração os seguintes aspectos:

- declive, em função do tipo de veículos


- raio de viragem (eventual)
- sinalização em ambos os sentidos
- aderência do piso

10.11
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Fig. 10.6

10.4 MEIOS MECÂNICOS

Básicamente, os equipamentos mecânicos destinados a transportar, na vertical ou


em plano inclinado, pessoas, bens ou veículos, são de quatro tipos:

a) manual, como os monta-cargas e monta-papeís.

b) eléctrico, como elevadores, monta-cargas, monta-carros, monta-


pratos, plataformas elevatórias, escadas rolantes, etc.

c) hidráulico (óleo), como elevadores, monta-cargas, plataformas


elevatórias.

d) pneumático (ar comprimido), como plataformas elevatórias.

A escolha e respectivo dimensionamento devem ser tratados a nível de projecto,


dadas as implicações inerentes, sobretudo em termos de ocupação de espaço,
bem assim como p. ex. alimentação, proteção e potência eléctrica necessárias.

10.12
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Fig. 10.7

Para efeito de pré-dimensionamento, reproduz-se uma tabela do “AJ Metric


Handbook”.

10.13
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Fig. 10.8

10.5 VENTILAÇÕES

Ventilar significa proporcionar uma corrente de ar novo susceptível de renovar o


ar viciado de um local.

A legislação em vigor prevê, consoante as diversas funções dos diversos locais, a


respectiva taxa de renovação (nº de renovações / hora), pressupondo uma
velocidade do ar inferior a 0,5 m/s.

Neste tema englobam-se os diversos sistemas de ventilação / extração das


habitações, designadamente cozinhas, casas de banho e lareiras.

10.14
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As extrações podem ser manuais ou estáticas e forçadas, mecânicas ou


dinâmicas, sendo óbvio que as segundas se socorrem da acção de ventiladores
eléctricos (de insuflação ou de extração).
Cai fora do âmbito deste tema o estudo dos sistemas de ventilação de tubagens
de esgoto e loiças sanitárias.
Assim:

a) Cozinhas

Fig. 10.9 - Ventilação natural Fig. 10.10 - Ventilação forçada

Cada cozinha dispõe de uma conduta Instalação de uma conduta de


vertical individual em tijolo de “fuga”, de ventilação de grande dimensão,
2
barro vermelho (20 x 20 cms = 4 dm ) ligada a um ventilador exterior de
sobre a zona do fogão. extração, a que estão associadas
“hottes” de exaustão sobre cada
fogão.

10.15
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b) Casas de banho

A legislação em vigor prevê que todas as instalações sanitárias interiores (sem


janela para a rua) devem obrigatoriamente dispor de um sistema de ventilação
natural. Acrescentamos que todas as instalações sanitárias sem excepção
(interiores e com janela) devem dispor de ventilação natural.

Fig. 10.11 - Ventilação natural Fig. 10.12 - Ventilação mecânica

Utiliza os tijolos de “fuga” da casa de A solução correcta é similar à


banho , em barro vermelho, em que descrita para cozinhas.
cada furo serve um piso. A solução expedita aplica pequenos
ventiladores de extração à boca de
saída de cada casa de banho,
ajudando assim a extração natural.

10.16
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c) Chaminés

Requisitos comuns: - devem permanecer estanques


- os materiais usados devem poder acompanhar as
dilatações e contrações derivadas das variações de
temperatura
- devem, em qualquer momento, proporcionar a tiragem
necessária
- a temperatura da face externa da conduta não deve
ser muito elevada, para evitar queimaduras

A tiragem é a subida dos fumos e gases de combustão na conduta, originada


básicamente pela diferença de peso entre o ar e fumos no interior e o ar exterior,
o que ocasiona não só a subida do ar quente como também uma depressão na
base, que chama mais ar a ser aquecido e assim sucessivamente até se acabar o
combustível (desde que haja uma entrada alternativa de ar novo, claro…).

A tiragem depende de vários factores, como sejam o dimensionamento da


chaminé, da conduta, ventos descendentes ou remoinhos, verticalidade e
estanquecidade da conduta, temperatura do ar exterior, etc.

A secção da conduta determina-se empíricamente por:

Q
S=
1000 √h / 10

em que: Q = potência do aparelho em Kcal / h


h = altura manométrica da conduta
S = secção da conduta, em dm2

10.17
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A legislação em vigor prevê que a secção mínima da chaminé de casas de


habitação é de 4 dm2, a dimensão maior não pode exceder três vezes a menore a
chaminé deve subir 0,50 m acima do ponto mais alto do telhado, num raio de
10,00 m.

d) Lareiras de fogo aberto

As lareiras de fogo aberto têm sempre pelo menos uma face aberta para o local a
aquecer e devem:

- dispor de uma entrada inferior de ar fresco


- permitir uma boa combustão da lenha
- proporcionar a completa evacuação dos fumos
- irradiar a maior quantidade possível de calor para o local a aquecer
- ser à prova de fogo
- ser fácilmente utilizáveis

Fig. 10.13 - Diferentes soluções em planta


10.18
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Nomeadamente, para uma boa irradiação, a geometria do local do fogo é


fundamental,

Fig. 10.14 - Condições de uma boa irradiação

Tal como é igualmente fundamental a geometria da conduta de evacuação da


chaminé,

Fig. 10.15 - Geometria da chaminé

10.19
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A subida dos fumos na conduta é originada pela diferença entre o peso da coluna
de fumos quentes no seu interior e a coluna de ar exterior. A evacuação dos
fumos quentes cria uma depressão que tende a ser compensada com mais ar frio
exterior à lareira. Assim, a tiragem de uma chaminé depende da sua secção, do
seu isolamento(1), da natureza do percurso (chuvas e inclinações), do local e da
natureza do ambiente exterior da conduta, bem assim como de uma entrada
de ar novo de compensação.
O dimensionamento das lareiras de fogo aberto (e suas chaminés) (fundamental
para o seu bom funcionamento) deve ser feito de acordo com o seguinte
esquema:

Fig. 10.16

(1)
Quanto mais quentes forem os fumos, melhor será a tiragem.
10.20
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Fig. 10.17

10.6 CONDUTAS TÉCNICAS

10.6.1 Uma conduta técnica(2) é um espaço confinado, normalmente vertical


(embora possa ter partes inclinadas ou horizontais), normalmente
acessível (embora possa não ser visitável) e destinado a acomodar a
instalação de infraestruturas técnicas do edifício.

10.6.2 Podem ser previstas condutas técnicas para:


- instalações mecânicas
- instalações eléctricas
- ventilação e ar condicionado
- lixos

(2)
Courette, shaft
10.21
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10.6.2.1 É recomendável que as diversas infraestruturas técnicas sejam


instaladas em condutas técnicas fisicamente separadas (p. ex. tubagem
de água separada da cablagem eléctrica).

10.6.4 Uma vez que são componentes verticais contínuas, servindo


sucessivamente todos os pisos do edifício, em situação de incêndio
comportam-se como chaminés de fogo e ajudando à sua propagação,
razão pela qual é imperioso proceder à selagem horizontal corta-fogo
passiva ao nível de cada piso, utilizando para tal sistemas certificados e
homologados pelo SNB.

10.7 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

A principal legislação em vigor e aplicável consta de:

- RGEU, Regulamento Geral de Edificações Urbanas


(ver artº 45º a 52º, 112º e 113º)
- RSEP, Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes
(ver artº 19º - Sobrecargas em acessos)
- Portaria 398 / 72
- Decreto-Lei 43 / 82 - Barreiras de deficientes
(ver artº 45º)
- Disposições camarárias (ver caso a caso)

10.22
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10.8 BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA

Os temas introduzidos e os conceitos apresentados são, de uma maneira geral,


esquemáticos e sucintos.
Para uma abordagem mais aprofundada recomenda-se a consulta da seguinte
bibliografia:

- VIEGAS, João Carlos


Ventilação natural de edifícios de habitação. (2ª edição)
Lisboa, ed. LNEC - E4, 1996
ISBN 972 - 49 - 1671 - 5

10.23

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