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Estação Ferroviária do Rossio

Cultura da Arquitetura e da Cidade

Trabalho realizado por:

Joana Constant Vidal nº20181222

Luís Henrique Sousa nº20181184


Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 3
Estação Ferroviária do Rossio (Joana Constant Vidal) .................................................................. 3
Experiência Sensorial (Joana Constant Vidal) ........................................................................... 4
Relação entre Caos e Ordem (Luís Henrique Sousa) ................................................................. 8
Análise Espacial (Rúben Mourato) ............................................................................................ 9
Conclusão (Joana Constant e Luís Sousa).................................................................................... 10
Bibliografia .................................................................................................................................. 10
Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da disciplina de Cultura da Arquitetura e da


Cidade com o objetivo de, após a escolha de um edifício – à Estação Ferroviária do
Rossio, realizar uma pesquisa sobre o mesmo para uma boa compreensão da obra em
estudo. Posteriormente, foi nos proposto elaborar uma análise baseada no texto The
Eyes of the Skin de Juhani Pallasmaa, e no texto Chaos and Geometric Order em
Architecture and Design da autoria de Pawel Rubinowicz e no livro Saber ver a
Arquitetura do autor Bruno Zevi, tendo em conta as suas dimensões experienciais, a
organização do espaço, e conceitos de volumetria e espaço interior e exterior.

Estação Ferroviária do Rossio

A Estação Ferroviária do Rossio, originalmente conhecida como a Gare do Rocio ou


Estação Central de Lisboa, é a estação terminal de ligação à Linha de Sintra, sendo uma
das principais estações de Lisboa, e encontra-se situada junto à Praça de D. Pedro VI,
no centro da cidade. Começou a ser planeada e construída em 1880, tendo sido
inaugurada em 18 de maio de 1890, embora só tenha iniciado o serviço em 11 de
Junho de 1891. Como estação central de Lisboa, tornou-se o terminal dos principais
comboios nacionais e internacionais de passageiros, como o Sud Expresso, que
possibilitou a deslocação de passageiros até Calais passando por Madrid e Paris. A
estação foi alvo de várias intervenções ao longo dos anos, incluindo a instalação da
iluminação elétrica em 1894, e de novos relógios em 1900. Nos anos 50, foram feitas
grandes obras de modernização na Gare do Rossio, que incluíram a eletrificação da via-
férrea, embora a estação tenha perdido grande parte da sua importância com a
transferência dos comboios de longo curso para Lisboa-Santa Apolónia.

José Luís Monteiro edificou a estação em estilo manuelino que está classificada desde
1971 como imóvel de interesse público, estando igualmente integrada numa zona de
proteção conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área
envolvente na cidade de Lisboa.

Originalmente, o complexo incluía o edifício da estação com a cobertura metálica, um


prédio anexo que albergava o hotel, o Túnel do Rossio, e as rampas de acesso ao Largo
do Carmo. A nave da gare, de grandes dimensões, é coberta por um alpendre de ferro
e vidro e tem 130 m de comprimento e 21 m de altura, tendo nove vias em 1989.

O complexo da estação compreende-se por vários níveis, vencendo, através de pisos


intermédios, o grande desnível entre a altura das vias férreas e a cota do Rossio e dos
Restauradores. Este tipo de estação é raro em Portugal, sendo o Rossio o principal
exemplo no país.

Experiência Sensorial

“A medida real das qualidades de uma cidade é se conseguimos nos imaginar a


apaixonarmo-nos por alguém nessa cidade." – Juhani Pallasma em The Eyes of the Skin
A estação do Rossio, sendo um edifício situado na cidade de Lisboa e com acesso pela
Rua 1º de Dezembro, na freguesia de Santa Maria Maior (Santa Justa) e perto do
teatro D. Maria (em frente à praça D. Pedro VI), é destacada, pelos seus aspetos visuais
e plásticos, sobretudo da fachada, dos restantes edifícios pombalinos. Sendo o edifício
constituído por duas entradas - a principal no piso inferior e a lateral no piso superior -
estas vão dar origem, no mínimo, a dois vestíbulos diferentes, embora semelhantes
que, no entanto, têm o mesmo ponto de chegada – as plataformas. Esses diferentes
percursos que o observador toma para se deslocar no espaço, podem e vão alterar a
maneira como estes são vividos e experienciados pelo mesmo.

Com os pés assentes na praça D. Pedro VI e estando perto do teatro de D. Maria que
se encontra do nosso lado direto, é possível observar os contornos do edifício bege
manuelino. A cor clássica que é dada pela pedra utilizada transmite calma e
passividade devido ao seu caráter discreto; o bege promove a sensação de aconchego
e conforto por ser uma cor que nos aquece. O estilo manuelino é um estilo português
que se desenvolveu com base no gótico, tendo início no fim do século XV e início do
século XVI, e caraterizado pelos seus elementos naturalistas náuticos e vegetalistas
(Que podemos verificar ao olharmos para a Figura 1). A composição da fachada e dos
portais, dada pela decoração esculpida desde cordas e nós (que delimitam as janelas),
aos escudos, às esferas armilares e às peças heráldicas, é o verdadeiro ponto de
atenção da nossa visão. A sua riqueza plástica, com relevos que criam um verdadeiro
jogo de luz e sombra entre a cor clara da pedra e as sombras das esculturas, que atrai
o nosso olhar e nos convida a entrar.

Os portais, ao contrário de outras obras arquitetónicas góticas, não são arcos em ogiva
ou de volta perfeita, mas sim em forma de óvulo. Ainda entre os portais de pedra, tal
como as janelas, existem vidros suportados por desenhadas molduras de ferro (Figura
2) que possibilitam a reflexão das imagens do céu e dos edifícios ao nosso redor, que
cria um sentimento de inserção no espaço urbanístico da cidade. Os materiais
utilizados, a pedra, o metal e o vidro, são maus condutores de calor e, por
consequência, estes tornam a experiência tátil caraterizada sobretudo pelo frio, em
contraste com as suas cores quentes. A partir da pedra é possível sentir a robustez do
edifício, a rugosidade e o áspero, e pelo metal sente-se o suave polido.
Figura 1 Figura 2

Ao subir os poucos degraus da escadaria de entrada, penetramos num espaço com pé


direito de dois pisos revestido por mármore bege iluminado por painéis de luz de
plástico translúcido. A luz refletida pela pedra ilumina a maior parte do espaço e ainda
cria a ilusão da sua ampliação, dá-nos uma sensação de liberdade pela sua dimensão. A
atenção pode também ser desviada pelo cheiro suave do café do estabelecimento da
direita que torna o espaço quente, acolhedor e confortável, um espaço enchido de
sentimentos agradáveis.

Seguidos para as escadas rolantes em direção às plataformas. Subimos um lance de


escadas que tem uma altura equivalente a um piso e, em ligação com este meio piso,
deparamo-nos com outro lance de escadas, mas desta vez com um tamanho muito
superior que nos enche o olhar e nos cria espanto. Um percurso de lenta subida que
nos faz observar o movimento a partir do andar das pessoas que percorrem as duas
pontes de vidro oblíquas por cima de nós (Figura 3), acrescentado por o som das
escadas a trabalharem que fica no fundo desse cenário. Chegados ao cimo das
escadas: do lado esquerdo deparamo-nos com a entrada lateral e à direita as cancelas
que nos separam do espaço das plataformas.

O som das cancelas dizem se o nosso pedido para termos acesso ao outro lado é ou
não negado. Ouvimos as portas a abrirem e deparamo-nos com um espaço
completamente amplo que é permitido pelo grande vão estruturado com vigas de
ferro característico da arquitetura do século XIX. A iluminação é de luz natural durante
o dia que é permitida pela claraboia existente no centro da estação que acompanha
todo o seu comprimento; durante a noite, a estação é iluminada por candeeiros de
ferro de sabor a metal (Figura 4), sentido pelo seu cheiro e tato, decorados com alguns
acabamentos plásticos característicos do estilo. Esta arquitetura que veio com a
revolução industrial permitiu uma nova conceção do espaço interno, onde a grande
distância entre as paredes que limitam o espaço é realmente um aspeto importante
para a força e o prolongamento do som, pois permitem ecos e ressonâncias; neste
espaço a audição prevalece. O tremor do chão sentido pelas nossas pernas trás com
ele a luz refletida nos túneis ao fundo da estação, acompanhado pelos ecos dos
motores dos comboios e o chiar das rodas nos carris de ferro, seguido pelo som das
portas a abrirem e o aviso de portas a fechar, e por fim, ouve-se a desconexão dos
comboios e dos fios elétricos que acompanham os carris a cotas mais altas. Em horas
que existe menos frequência de passageiros é possível ouvir a mudança dos segundos
e dos minutos do relógio por debaixo do quadro de partidas e chegadas, e ouvir a
chuva a cair sobre os toldos, porém, em horas de ponta, a concentração do som dos
passos das pessoas, que nos passam e ultrapassam com cheiros característicos, das
suas conversas, dos choros e beijos de despedidas e dos abraços de alegria que vieram
com as chegadas, impossibilitam-no.

Figura 3 Figura 4

Esta obra arquitetónica, que não é só arquitetónica mas também obra de escultura e
de engenharia, desperta os nossos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e
tato) de maneira a vivermos mais intensamente o espaço a que somos obrigados a
frequentar, por necessidade ou com a finalidade de nos deslocarmos por diversos
locais. Esta construção, construída à escala do homem, enaltece e dá valor aos nossos
sentidos e, por essa razão, oferece-nos estímulos de modo a enriquecermos a nossa
experiência.

Joana Constant Vidal

Relação entre Caos e Ordem

Estivemos também a analisar a arquitetura da Estação do Rossio com a sua relação


quanto ao Chaos and Geometric Order em Architecture and Design de Pawel
Rubinowicz e chegamos à seguinte conclusão: que a decoração de estilo manuelino
presente na estação, muito acentuada, principalmente na sua fachada, representa
muito a ideia do texto de Pawel Rubinowicz, nos termos em que esta provoca uma
espécie de caos devido aos seus elementos naturalistas e orgânicos, como podemos
ver no caso das cordas, conchas, correntes, plantas, entre outros - presentes nessa
decoração manuelina tipicamente portuguesa, mas que se encontram organizadas
geometricamente, como podemos verificar também na fachada principal. Existe uma
espécie de linha vertical imaginária que divide a fachada exatamente ao meio,
dividindo-a em duas partes iguais, o que causa essa sensação de caos e ordem ao
observar o edifício, pois mesmo com todos esses elementos decorativos, existe uma
geometrização quanto ao seu posicionamento (Figura 5), por exemplo no
posicionamento dos vãos da fachada (janelas e portas).
Figura 5

Nesta imagem podemos ainda verificar a existência da estátua de

D. Sebastião que hoje em dia, infelizmente, não se encontra no local,

devido ao facto de uma pessoa a ter partido ao tentar tirar uma selfie.

Outra visão que nos pode transmitir a ideia de caos e ordem é o funcionamento da
estação em si. Por exemplo, a quantidade de movimento pedonal, devido às pessoas
que tentam chegar ao seu destino, em que todas tomam trajetórias diferentes no
interior da estação, e, em simultâneo, a chegada e partida dos comboios. Porém, mais
uma vez todo este caos de movimento típico da estação relaciona-se com a ordem do
seu funcionamento, pois os comboios cumprem horários organizados e, em função
disso, as pessoas também os cumprem, e mesmo quando não o fazem ou por alguma
razão perdem o comboio, existem locais onde estas podem esperar pelo próximo ou
podem aproveitar para vislumbrar esta magnífica obra arquitetónica.

Em suma, este edifício contém uma relação entre a ordem e o caos, quer ao nível
arquitetónico como ao nível do seu funcionamento.

Luís Henrique Sousa

Análise Espacial
(Rúben Mourato)
Conclusão

A Estação Ferroviária do Rossio é um edifício que se destaca por estar bem relacionado
com o tempo e o espaço urbanístico, como também o seu aspeto habitável, estético e
funcional. Sendo uma obra pública destinada ao homem, é um local onde se criam
vivências e memórias e que, dessa maneira, dá valor ao simples percurso que se faz
para se viajar em transportes públicos. Este edifício tornou-se numa obra fantástica
que nos deixa a pensar na grandiosidade da sua arquitetura.

Em suma, a ordem geométrica e o caos estão extremamente interligados e presentes


nesta obra arquitetónica. A coexistência destes componentes torna este espaço
arquitetónico muito natural e a sua repetida alternância fornece a energia necessária
para que a obra se sustente e prevaleça, mantendo-se em uso até aos dias de hoje,
pois a melhor maneira de preservar um edifício é mantê-lo em uso.

Bibliografia

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7%C3%A3o_Ferrovi%C3%A1ria_do_R
ossio;
 NUNES, Paulo Simões; História da Cultura e das Artes 10: 10º ano | Ensino
Secundário. 1 ed. Lisboa: raiz Editora, 2014;
 NUNES, Paulo Simões; História da Cultura e das Artes 11: 11º ano | Ensino
Secundário. 1 ed. Lisboa: raiz Editora, 2016;
 PALLASMAA, Juhani - The Eyes of the Skin;
 RUBINOWICZ, Pawel - Chaos and Geometric Order em Architecture and Design;
 ZEVI, Bruno - Saber ver a Arquitetura.

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