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José Luís Monteiro edificou a estação em estilo manuelino que está classificada desde
1971 como imóvel de interesse público, estando igualmente integrada numa zona de
proteção conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área
envolvente na cidade de Lisboa.
Experiência Sensorial
Com os pés assentes na praça D. Pedro VI e estando perto do teatro de D. Maria que
se encontra do nosso lado direto, é possível observar os contornos do edifício bege
manuelino. A cor clássica que é dada pela pedra utilizada transmite calma e
passividade devido ao seu caráter discreto; o bege promove a sensação de aconchego
e conforto por ser uma cor que nos aquece. O estilo manuelino é um estilo português
que se desenvolveu com base no gótico, tendo início no fim do século XV e início do
século XVI, e caraterizado pelos seus elementos naturalistas náuticos e vegetalistas
(Que podemos verificar ao olharmos para a Figura 1). A composição da fachada e dos
portais, dada pela decoração esculpida desde cordas e nós (que delimitam as janelas),
aos escudos, às esferas armilares e às peças heráldicas, é o verdadeiro ponto de
atenção da nossa visão. A sua riqueza plástica, com relevos que criam um verdadeiro
jogo de luz e sombra entre a cor clara da pedra e as sombras das esculturas, que atrai
o nosso olhar e nos convida a entrar.
Os portais, ao contrário de outras obras arquitetónicas góticas, não são arcos em ogiva
ou de volta perfeita, mas sim em forma de óvulo. Ainda entre os portais de pedra, tal
como as janelas, existem vidros suportados por desenhadas molduras de ferro (Figura
2) que possibilitam a reflexão das imagens do céu e dos edifícios ao nosso redor, que
cria um sentimento de inserção no espaço urbanístico da cidade. Os materiais
utilizados, a pedra, o metal e o vidro, são maus condutores de calor e, por
consequência, estes tornam a experiência tátil caraterizada sobretudo pelo frio, em
contraste com as suas cores quentes. A partir da pedra é possível sentir a robustez do
edifício, a rugosidade e o áspero, e pelo metal sente-se o suave polido.
Figura 1 Figura 2
O som das cancelas dizem se o nosso pedido para termos acesso ao outro lado é ou
não negado. Ouvimos as portas a abrirem e deparamo-nos com um espaço
completamente amplo que é permitido pelo grande vão estruturado com vigas de
ferro característico da arquitetura do século XIX. A iluminação é de luz natural durante
o dia que é permitida pela claraboia existente no centro da estação que acompanha
todo o seu comprimento; durante a noite, a estação é iluminada por candeeiros de
ferro de sabor a metal (Figura 4), sentido pelo seu cheiro e tato, decorados com alguns
acabamentos plásticos característicos do estilo. Esta arquitetura que veio com a
revolução industrial permitiu uma nova conceção do espaço interno, onde a grande
distância entre as paredes que limitam o espaço é realmente um aspeto importante
para a força e o prolongamento do som, pois permitem ecos e ressonâncias; neste
espaço a audição prevalece. O tremor do chão sentido pelas nossas pernas trás com
ele a luz refletida nos túneis ao fundo da estação, acompanhado pelos ecos dos
motores dos comboios e o chiar das rodas nos carris de ferro, seguido pelo som das
portas a abrirem e o aviso de portas a fechar, e por fim, ouve-se a desconexão dos
comboios e dos fios elétricos que acompanham os carris a cotas mais altas. Em horas
que existe menos frequência de passageiros é possível ouvir a mudança dos segundos
e dos minutos do relógio por debaixo do quadro de partidas e chegadas, e ouvir a
chuva a cair sobre os toldos, porém, em horas de ponta, a concentração do som dos
passos das pessoas, que nos passam e ultrapassam com cheiros característicos, das
suas conversas, dos choros e beijos de despedidas e dos abraços de alegria que vieram
com as chegadas, impossibilitam-no.
Figura 3 Figura 4
Esta obra arquitetónica, que não é só arquitetónica mas também obra de escultura e
de engenharia, desperta os nossos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e
tato) de maneira a vivermos mais intensamente o espaço a que somos obrigados a
frequentar, por necessidade ou com a finalidade de nos deslocarmos por diversos
locais. Esta construção, construída à escala do homem, enaltece e dá valor aos nossos
sentidos e, por essa razão, oferece-nos estímulos de modo a enriquecermos a nossa
experiência.
devido ao facto de uma pessoa a ter partido ao tentar tirar uma selfie.
Outra visão que nos pode transmitir a ideia de caos e ordem é o funcionamento da
estação em si. Por exemplo, a quantidade de movimento pedonal, devido às pessoas
que tentam chegar ao seu destino, em que todas tomam trajetórias diferentes no
interior da estação, e, em simultâneo, a chegada e partida dos comboios. Porém, mais
uma vez todo este caos de movimento típico da estação relaciona-se com a ordem do
seu funcionamento, pois os comboios cumprem horários organizados e, em função
disso, as pessoas também os cumprem, e mesmo quando não o fazem ou por alguma
razão perdem o comboio, existem locais onde estas podem esperar pelo próximo ou
podem aproveitar para vislumbrar esta magnífica obra arquitetónica.
Em suma, este edifício contém uma relação entre a ordem e o caos, quer ao nível
arquitetónico como ao nível do seu funcionamento.
Análise Espacial
(Rúben Mourato)
Conclusão
A Estação Ferroviária do Rossio é um edifício que se destaca por estar bem relacionado
com o tempo e o espaço urbanístico, como também o seu aspeto habitável, estético e
funcional. Sendo uma obra pública destinada ao homem, é um local onde se criam
vivências e memórias e que, dessa maneira, dá valor ao simples percurso que se faz
para se viajar em transportes públicos. Este edifício tornou-se numa obra fantástica
que nos deixa a pensar na grandiosidade da sua arquitetura.
Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7%C3%A3o_Ferrovi%C3%A1ria_do_R
ossio;
NUNES, Paulo Simões; História da Cultura e das Artes 10: 10º ano | Ensino
Secundário. 1 ed. Lisboa: raiz Editora, 2014;
NUNES, Paulo Simões; História da Cultura e das Artes 11: 11º ano | Ensino
Secundário. 1 ed. Lisboa: raiz Editora, 2016;
PALLASMAA, Juhani - The Eyes of the Skin;
RUBINOWICZ, Pawel - Chaos and Geometric Order em Architecture and Design;
ZEVI, Bruno - Saber ver a Arquitetura.