PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGADM
DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO PENSAMENTO CRÍTICO E PENSAMENTO ORGANIZACIONAL PROFº FERNANDO G. TENORIO
Nome: Wendell Lima Bandeira
Pergunta: Qual a principal contradição descrita no texto relacionado ao pensamento organizacional? Referência: PAES DE PAULA, Ana Paula. Tragtenberg e a resistência da crítica: pesquisa e ensino na administração hoje. ERA – Revista de Administração de Empresas, v. 41, n. 3, p. 77-81, jul./set. 2001.
Mauricio Tragtenberg (1929-1998) foi um importante sociólogo brasileiro,
desenvolveu trabalhos críticos às teorias administrativas, ganhou destaque juntamente com outros pensadores críticos brasileiros – Guerreiro Ramos e Prestes Motta – a partir da década de 1990, quando os estudos críticos em administração ganharam maior espaço no campo dos estudos organizacionais, principalmente na luta contra o mainstream do pensamento organizacional por meio da teoria crítica (PAES DE PAULA, 2008). Neste trabalho, foi analisado à percepção crítica do pensamento de Mauricio Tragtenberg para os estudos organizacionais, baseado na sua observação sobre a pesquisa e o ensino da administração até os dias atuais. Cabe destacar que o texto de Paes de Paula foi escrito há 20 anos, porém, o pensamento descrito de Tragtenberg ainda permanece bastante atual dentro das universidades atualmente, que se demonstra que pensadores clássicos nunca envelhecem, e também nos faz refletir sobre o verdadeiro papel das universidades e, principalmente, dos cursos de Administração. Paes de Paula (2001) demonstra em seu texto o posicionamento crítico de Mauricio Tragtenberg referente ao ensino da Administração das Universidades Brasileiras, sendo enfático ao denunciar que as universidades estariam virando “Multiversidades” e “Cemitério de Vivos”. Tais mudanças nas formas de ensino nas universidades denunciadas pelo autor é pela forma tecnicista e acrítica que os professores, burocratas e alunos desenvolvem o ensino e aprendizagem dentro deste ambiente, sem exercer seu principal papel que é a responsabilidade social de formar cidadãos e não indivíduos técnicos dentro de caixas plugadas ao reducionismo do mainstream norte americano. Como Tragtenberg era um defensor da emancipação humana pelo poder transformador da educação, valorizando sua autonomia e fugindo das formas de dominação impostas pelas organizações da sociedade. Considerava as universidades como instrumentos importantes nesse processo de desamarra das formas de dominação. Porém, o que se observava era a reprodução e criação de novas formas de dominação que estava acontecendo nas universidades, em especial na área da Administração. Crítico do pensamento instrumental organizacional, Tragtenberg observou a existência de uma “delinquência acadêmica” criada dentro das universidades. Professores e pesquisadores preocupavam-se em reproduzir um pensamento organizacional baseado nas grandes escolas de management norte americana, sem traçar um posicionamento analítico crítico para a realidade social do país. Nesse sentido, as universidades estavam se “transformando em multinacionais da educação que, ao “mercantilizarem” o ensino, se afastavam de seu papel social” (PAES DE PAULA, 2001, p. 78). Ou seja, as universidades estavam se preocupando em apenas entregar mão de obra técnica para as empresas multinacionais, sem se dar conta das constantes mudanças contingenciais que ocorre todo momento na vida social. A comprovação da tese de Tragtenberg foi comprovada por Paes de Paula (2001) ao realizar um levantamento sobre a produção acadêmica publicada pela RAE – Revista de Administração de Empresas, entre 1961 e 1993, em que constatou-se que as produções do campo da Administração estava baseada no pensamento do mainstream internacional (norte americano), em que os pesquisadores brasileiros estavam apenas reproduzindo e divulgando as ideias produzidas por pesquisadores de fora da realidade nacional, e, ainda mais grave, sem se posicionar ou fazer uma reflexão crítica das teorias dominantes do management. Nesta perspectiva, apesar de haver nos últimos anos um movimento, principalmente das pós-graduações scrictu sensu em Administração e do crescimento da área do pensamento organizacional, a fim de resgatar a responsabilidade social das instituições educacionais a fim de garantir a formação cidadão dos administradores, ainda é predominante o produtivismo de publicação, tecnicismo e gerencialismo dentro da graduação, ampliando a “percepção de que a Administração é uma área fundamentalmente instrumental e já “globalizada”. [...] Desta forma, consolida-se a prática de reprodução e disseminação de um saber acrítico e descontextualizado” (PAES DE PAULA, 2001, p.80).
REFERÊNCIAS
PAES DE PAULA, Ana Paula. Tragtenberg e a resistência da crítica: pesquisa e ensino na
administração hoje. ERA – Revista de Administração de Empresas, v. 41, n. 3, p. 77-81, jul./set. 2001. _________. Maurício Tragtemberg: contribuições de um marxista anarquizante para os estudos organizacionais críticos. Ana Paula Paes de Paula. RAP – Rio de Janeiro, 42(5), p.949 -68, set. – out. 2008.