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MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
JULHO DE 2010
MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2009/2010
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
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Editado por
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Este documento foi produzido a partir de versão electrónica fornecida pelo respectivo
Autor.
Medição do teor de humidade em materiais de construção
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Vasco Freitas por todo apoio, atenção e simpatia com que sempre me recebeu.
Ao Engenheiro Pedro Pereira agradeço a sua simpatia, disponibilidade e pela ajuda que me forneceu
no laboratório.
Aos meus pais pela sólida formação que me ofereceram e pelo apoio, encorajamento que sempre me
deram.
À minha família e ao André obrigada pelo apoio, conselhos e incentivos e por estarem sempre do meu
lado.
i
Medição do teor de humidade em materiais de construção
RESUMO
A humidade é uma das principais causas de patologias em edifícios. Neste trabalho pretende-se
sensibilizar os intervenientes da construção para a importância do teor de humidade de materiais de
construção e para a sua determinação experimental.
O teor de humidade é um parâmetro importante para a engenharia civil, requer cuidados em projecto,
na execução e no controlo de qualidade. A sua especificação em projecto e o seu controlo na execução
são decisivos, pelo que é necessário o conhecimento das propriedades físicas e higrotérmicas dos
materiais de construção, de forma a evitar a sua degradação precoce. Não é admissível que os actores
da construção continuem a usar materiais dos quais desconhecem as propriedades.
Apresentam-se as diferentes formas de expressão do teor de humidade, bem como as definições dos
diferentes níveis de teor de humidade que um material pode atingir. Elaborou-se um quadro com as
propriedades dos materiais de construção correntes (valores de referência), baseadas nas escassas
referências bibliográficas disponíveis, o que demonstra claramente a necessidade de investigação nesta
área. Estabeleceu-se a ligação entre o teor de humidade e a simulação numérica, pois os programas de
cálculo automático são ferramentas essenciais para a investigação de novos materiais, ou
simplesmente para simular o comportamento dos materiais face a diferentes solicitações.
Na parte principal deste trabalho apresentam-se onze técnicas de ensaio para a determinação do teor de
humidade, cada uma com as suas vantagens e inconvenientes. Apresenta-se o princípio de medição
(física), o equipamento experimental e a sua calibração, bem como o procedimento de ensaio e os
erros de medição associados. Salienta-se que a maioria dos equipamentos apresentados não está
disponível no Laboratório de Física das Construção da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto (LFC - FEUP) e são pouco conhecidos em Portugal. Assim sendo, o trabalho desenvolvido
procura melhorar os conhecimentos ligados à determinação experimental do teor de humidade.
Realça-se que a escolha da técnica adequada, depende do material/ elemento a analisar e da precisão
pretendida.
Tendo em conta a necessidade crescente de utilização de equipamentos de medição do teor de
humidade, propõe-se um modelo de fichas de ensaio para poderem ser aplicadas em obra ou em
laboratório, que explicam de forma sucinta como realizar o ensaio, quais os equipamentos necessários
e como interpretar os resultados obtidos. As fichas estão organizadas e redigidas de modo a que
qualquer utilizador, independentemente do nível de formação, interpreta a informação disponibilizada.
Finalmente, com alguns dos equipamentos de medição disponíveis no LFC realizou-se um ensaio
muito simples com provetes de pedra calcária, que permitiram a familiarização com os aparelhos e
com as dificuldades de medição e manuseamento que estes envolvem, bem como a interpretação dos
resultados obtidos.
iii
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ABSTRACT
The humidity is one of the main causes of pathologies in buildings. This work aims to raise awareness
among stakeholders of the construction for the importance of moisture content of building materials
and for its experimental determination.
The moisture content is an important parameter for civil engineering, requires care in project,
implementation and quality control. Its specification in project and its control in the execution are
decisive, it is necessary to know the physical and hygrothermal properties of building materials in
order to prevent their premature degradation. It is unacceptable that actors involved in construction
continue to use materials which properties are unknown.
The different forms of expressing moisture content are presented, as well as definitions of different
levels of moisture content that a building material can achieved. It was created a table with properties
of current building materials (reference values), based on existing bibliographies that reveal
themselves scarce, which clearly demonstrated the need for research in this area. It was established the
link between the moisture content and numerical simulation, because the automatic calculation
programs are essential tools for research on new materials, or simply to simulate the behavior of
materials against different requests.
The main part of this study presents eleven experimental techniques for the determination of moisture
content, each with its advantages and disadvantages. Here is presented the measurement principle
(physics), the experimental equipment and its calibration, as well as the experimental procedure and
measurement error associated. It is noted that most of the presented equipment is not available at the
Laboratory of Building Physics (LFC) FEUP- Engineering Faculty of Oporto’s University- and are
little known in Portugal. Thus, the work seeks to improve knowledge related to the experimental
determination of moisture content. It is emphasized that the choice of appropriate technique depends
on the material to be analyzed and the accuracy desired.
Having in account the increasing need for the use of equipment for measuring the moisture content, a
model for experimental sheets is proposed, which can be applied at work or at laboratory, explaining
briefly how to perform the experiment, including the necessary equipment and how to interpret the
results. The sheets are organized and written so that any user, regardless of the level of formation, can
use the technique described in it.
Finally, with some measuring equipment available at the LFC was performed a very simple
experiment with limestone samples, which allowed familiarization with the equipment and the
difficulty of measuring and handling that these involve, as well as the interpretation of results.
v
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... i
RESUMO ................................................................................................................................. iii
ABSTRACT .............................................................................................................................. v
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1. ENQUADRAMENTO ............................................................................................................ 1
1.2. INTERESSE E OBJECTIVOS DO TRABALHO ........................................................................... 3
1.3. ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO ...................................................................... 4
vii
Medição do teor de humidade em materiais de construção
viii
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ix
Medição do teor de humidade em materiais de construção
7. CONCLUSÕES................................................................................................................ 73
7.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................... 73
7.2. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................................................... 74
x
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig.2.5 – Tabela com dados para traçado de curva higroscópica [21] .................................................. 12
Fig.3.4 – Tabela de conversão para uma temperatura ambiente de 20ºC (kg/kg) [30] ......................... 23
Fig.3.11 – Mapeamento dos valores recolhidos através do equipamento de microondas [43] ............. 30
Fig.3.12 – Curva de calibração para a madeira (kg/kg) [46] .................................................................. 31
3 3
Fig.3.13 – Comparação das medições efectuadas com microondas e o método gravimétrico (m /m )
[27] ......................................................................................................................................................... 32
Fig.3.14 – Equipamento TDR para medição do teor de humidade da CAMPBELL SCIENTIFIC [52] .. 33
Fig.3.15 – Equipamento TDR para medição do teor de humidade e sondas [55] ................................. 34
Fig.3.16 – Comparação das medições efectuadas com o TDR e método gravimétrico para o tijolo [56]34
Fig.3.17 – a) Detector e protecção com colimador. b) Protecção e colimador da fonte radioactiva [14]36
xi
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.25 – Teor de humidade do betão leve obtido através de NMR; calibração através do método
gravimétrico [65] .................................................................................................................................... 41
Fig.3.26 – Medição do perfil do teor de humidade num pilar em betão leve. O diagrama à esquerda
ilustra o resultado da medição no local (linha vermelha), bem como os perfis de humidade (linha
preta) e os valores do teor de humidade integral (linha recta) de laboratório [65]................................ 42
Fig.3.30 – Mancha de água no provete do ensaio detectada visualmente e na imagem térmica [66] . 44
Fig.3.33 – Imagem da cobertura plana à esquerda, mapeamento com identificação das zonas
húmidas à direita [67] ............................................................................................................................ 46
xii
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 2.1. – Teor de humidade de equilíbrio da madeira para a temperatura T [7] ............................. 9
Quadro 4.2 – Material que pode ser analisado com o método .............................................................. 54
xiii
Medição do teor de humidade em materiais de construção
xiv
Medição do teor de humidade em materiais de construção
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
b – factor de aproximação
S – grau de saturação
3
u – teor de humidade ponderal [kg/m ]
3
V – volume da amostra seca [m ]
HR – Humidade relativa
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Medição do teor de humidade em materiais de construção
xvi
Medição do teor de humidade em materiais de construção
1
INTRODUÇÃO
1.1. ENQUADRAMENTO
Sobre formas distintas e através de mecanismos diferentes, a água, é considerada uma das maiores
causas de degradação precoce dos materiais de construção. Em elementos ou materiais de construção,
a humidade pode ter diversas origens, ou seja, humidade de precipitação, de condensação, do terreno
(ascensional), de construção, devida a fenómenos de higroscopicidade e humidade devido a causas
fortuitas. Muitas patologias estão ligadas à humidade, por exemplo, a deterioração estrutural, variações
dimensionais, a alteração das condições de conforto e de habitabilidade, como também a perda de
revestimentos, diminuição da resistência mecânica e aumento da condutibilidade térmica. São ainda a
causa de degradação da qualidade do ar interior de edifícios, e consequentemente, provoca efeitos
negativos na saúde dos utentes. Resumidamente, a presença de humidade, modifica consideravelmente
as propriedades físicas, mecânicas e térmicas dos materiais de construção e ainda afecta a durabilidade
dos mesmos.
Quais as razões porque se deve medir o teor de humidade? A aplicação de uma pintura, verniz ou
parquet sobre um suporte húmido, leva a anomalias graves tais como: destacamento do revestimento
aplicado, deformações e empolamento. Além disso, a humidade favorece o desenvolvimento de
microrganismos. Segundo a norma CEN/TC89 N338E [1], a necessidade de determinação do teor de
humidade de materiais de construção pode ter diferentes objectivos:
Analisar o comportamento do material face à humidade;
Caracterizar o estado do material;
Necessidade de comparar o teor de humidade actual com um teor crítico ou seguro, ou
ainda para ter acesso à distribuição do teor de humidade.
Os métodos de ensaio para determinação do teor de humidade, são de grande interesse e desempenham
um papel fundamental na engenharia civil, pois as propriedades finais dos materiais são afectadas,
particularmente, pelas condições de temperatura e de humidade. Assim sendo, o estudo de materiais e
elementos de construção reveste-se de grande importância para a caracterização do seu desempenho e
qualidade.
Hoje em dia, constata-se uma preocupação crescente com a qualidade da envolvente dos edifícios,
embora o produto final nem sempre apresenta um comportamento adequado. As patologias associadas
à humidade devem-se principalmente aos seguintes factores:
Falta de compatibilização das exigências;
Falta ou inadequada pormenorização construtiva;
Ausência de dimensionamento das soluções do ponto de vista da física das construções.
1
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Quando um material/ componente apresenta anomalias ligadas à humidade interessa conhecer qual a
zona afectada e qual o teor de humidade presente? A abordagem às técnicas de medição do teor de
humidade tem crescido nos últimos anos, devido ao aumento das patologias nas construções. Para uma
avaliação e um diagnóstico completo, a medição do teor de humidade é incontornável, visto que uma
proposta de reparação/ reabilitação apenas é possível após um correcto diagnóstico. A execução de
intervenções de recuperação sem prévio diagnóstico da situação e sem um projecto de recuperação
suficientemente pormenorizado leva, na maioria dos casos, ao insucesso.
É essencial que os projectistas tenham em conta o teor de humidade aquando do dimensionamento de
um edifício. A física das construções lida com diversos critérios, por um lado os requisitos para o
conforto humano e a saúde, por outro, factores económicos e ecológicos, e ainda as características/
propriedades dos materiais. Assim sendo os objectivos dos projectistas devem ser os seguintes [2]:
Evitar deterioração prematura dos edifícios;
Criar condições desejáveis para o ar interior/ conforto;
Proporcionar economia na utilização da energia e materiais.
É possível evitar a deterioração dos materiais de construção, se estes forem escolhidos de modo a dar
resposta às solicitações previstas.
O projectista deve propor soluções para evitar condensações superficiais e/ou internas, deve controlar
a entrada de água por infiltrações, e ainda proteger as fundações e paredes enterradas da humidade do
solo, garantindo condições de conforto e habitabilidade.
É fundamental que o projecto de execução seja claro e que não suscite dúvidas em termos de
interpretação, considerando as exigências funcionais e regulamentares. O caderno de encargos faz
parte das peças escritas do projecto, e contém as condições técnicas gerais e específicas onde deve
constar toda informação necessária à execução do projecto. Resumidamente, o caderno de encargos
específica os materiais de construção a usar e como deve ser controlada a sua recepção e aplicação. O
autor do projecto especificará neste documento quais os ensaios que deverão ser realizados, bem como
as regras para apreciação dos resultados dos mesmos [3].
Quanto à execução, é fundamental que cada actor tenha conhecimento dos trabalhos a realizar, ou seja
ter acesso ao projecto, não apenas às peças desenhadas, mas também às peças escritas, que muitas
vezes não são tidas em consideração. A má execução corresponde a 25% [4] da origem de patologias,
isto deve-se à inexperiência dos operários qualificados e à consequente má aplicação dos materiais e
ao desconhecimento das propriedades dos materiais de construção.
Resumidamente, as empresas estão mais preocupadas com aspectos de prazos e custos, a
subcontratação tem vindo a crescer com reflexão na redução da qualidade das obras e, por último, há
falta de formação de muitos intervenientes na construção.
Mencionou-se o projecto e a execução, mas tal não é suficiente para garantir a qualidade da
construção. Os fabricantes de materiais também são actores importantes da construção civil, pois sem
materiais não é possível executar os projectos. Os fabricantes de materiais de construção devem
fornecer todo tipo de propriedades que o material possui, permitindo aos projectistas escolher de modo
mais fundamentado os materiais a usar na execução do projecto.
Os projectistas e as empresas de construção devem exigir a publicação das propriedades dos materiais,
pois não é possível continuar a aplicar materiais dos quais se desconhecem as propriedades. Muitas
patologias estão associadas aos próprios materiais. Os erros inerentes ao comportamento dos materiais
são resultado [5]:
2
Medição do teor de humidade em materiais de construção
O estudo dos materiais de construção reveste-se de enorme relevância, pois da sua boa ou má
qualidade dependerá a solidez, a duração e a estabilidade duma obra [7]. No entanto, na maioria dos
casos, aquando da escolha dos materiais prevalece o preço em detrimento da qualidade.
Para promover o conhecimento das características dos materiais devia-se utilizar os laboratórios
existentes, de forma a permitir a avaliação experimental das características dos materiais,
principalmente para as exigências que muitas vezes são esquecidas ou postas em segundo plano, como
o caso do comportamento térmico, estanquidade à água, etc..
É essencial que o responsável pela fiscalização de obra conheça os meios disponíveis para a
determinação do teor de humidade, como os utilizar, quais os cuidados a ter e como interpretar os
resultados.
Em suma, através da medição do teor de humidade é possível acompanhar o processo de
secagem/humidificação de um elemento ou material de construção, ou simplesmente avaliar o seu teor
de humidade. Dispõe-se de ensaios destrutivos e ensaios não intrusivos, estes últimos são considerados
mais vantajosos pelo facto de serem não destrutivos, de rápida aplicação e geralmente permitem a
obtenção de resultados imediatos. Os ensaios podem ser de grande relevância para a avaliação de
patologias e um correcto diagnóstico, sem o qual o sucesso das mediadas de reparação podem ficar
comprometidas. Em obra é necessário acompanhar o processo de secagem de um elemento para
posterior revestimento do mesmo. A dificuldade está em conhecer o momento em que o material
apresenta o teor de humidade adequado para aplicação dum revestimento. Para tal, deve-se recorrer a
valores de referência que são abordados neste trabalho. Esta informação deverá estar contida no
caderno de encargos.
3
Medição do teor de humidade em materiais de construção
4
Medição do teor de humidade em materiais de construção
2
VALORES DE REFERÊNCIA DO
TEOR DE HUMIDADE
ିೞ
=ݓ ∗ 100 (2.1.)
ೞ
5
Medição do teor de humidade em materiais de construção
O teor de humidade expresso pela fórmula (2.2.) também é designado por teor de humidade ponderal:
ିೞ
=ݑ ∗ 100 (2.2.)
ߩ ∗ ݓ = ݑ (2.3.)
ఘ
ߐ = ∗ ݓఘబ (2.4.)
ೢ
௪ ௨
ܵ=௪ ; ܵ=௨ ; ܵ= (2.5.)
ೌೣ ೌೣ ೌೣ
Em que:
w, u, ϴ – teor de humidade do material (kg/kg, kg/m3, m3/m3)
wmax, umax, ϴmax – teor de humidade máximo do material (kg/kg, kg/m3, m3/m3)
Assim sendo, o grau de saturação varia entre 0 e 1.
6
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Na figura 2.1. referenciam-se os vários níveis de teor de humidade. Também se pode visualizar os
diferentes mecanismos de transferência ligados a cada nível de teor de humidade. Salienta-se que o
mecanismo de transferência associado ao domínio higroscópico é a difusão de vapor de água,
enquanto que no domínio capilar é a difusão de água líquida.
7
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Ilustra-se na figura 2.2. uma curva higroscópica, observam-se três fases distintas no processo de
adsorção dum material [15, 16]:
adsorção molecular (1ªfase), que ocorre para humidades relativas baixas (<20%) e
caracteriza-se pela fixação de um camada de moléculas de água na superfície interior dos
poros;
adsorção plurimolecular (2ªfase), que ocorre para humidades relativas da ordem dos 50%
e caracteriza-se pela fixação de várias camadas de moléculas de água na superfície
interior dos poros;
condensação capilar (3ªfase), corresponde à junção das camadas plurimoleculares, este
fenómeno dá-se quando o diâmetro dos poros é suficientemente pequeno e a humidade
relativa mais elevada.
Para humidades mais elevadas no domínio higroscópico (3ªfase), até humidades relativas de
aproximadamente 95%, existem fluxos simultâneos de vapor e líquido [17].
No quadro 2.1. estão representados os teores de humidade de equilíbrio (em kg/kg) que a madeira
atinge para diferentes humidades relativas do ar e da temperatura. Neste quadro é perfeitamente visível
que o teor de humidade de equilibro não depende apenas da humidade relativa do ar mas também da
temperatura. No entanto, a variação do teor de humidade provocada pela temperatura (humidade
relativa constante) na madeira é relativamente pequena quando comparada com a diferença causada
pela alteração da humidade relativa (temperatura constante).
8
Medição do teor de humidade em materiais de construção
90 22 22 22 21 20 19 18 17 15,5
70 14 13,5 13 13 12 11,5 11 10 9
30 6 6 6 6 5,5 5 5 4,5 4
20 4,5 4,5 4,5 4 4 3,5 3 3 2,5
9
Medição do teor de humidade em materiais de construção
10
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Na figura 2.3. pode-se observar uma curva higroscópica dum material poroso. Aqui encontra-se o
domínio higroscópico ente B e C. No ponto C assinala o teor de humidade crítico. O intervalo entre C
e D corresponde ao domínio capilar. O teor de humidade de saturação está indicado na figura pela letra
D. A partir desta e até E é a humidificação sob pressão até atingir o teor de humidade máximo em E.
3
Fig.2.4. – Níveis de teor de humidade do programa de simulação (kg/m ) [21]
O uf corresponde ao teor de humidade de saturação livre, o que foi definido neste trabalho como teor
de humidade de saturação (2.2.7.).
Quanto ao umax, este representa o teor de humidade máximo que é determinado pela porosidade, tal
como definido em 2.2.8.
11
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Entre o uf e o umax o teor de humidade varia, mas a humidade relativa é sempre 100%, ou seja, neste
intervalo o teor de humidade não depende da humidade relativa do ar, é determinado pelas condições
de contorno: aumenta sob condições de condensação e diminui em condições de evaporação. Neste
intervalo o WUFI considera humidades relativas entre 1 e 1,01, estas são apenas fictícias, mas
permitem ao programa diferenciar o domínio em que se encontra, neste caso no domínio de
humidificação sob pressão.
O u80 corresponde à humidade de equilíbrio para uma humidade relativa de 80%, este também é
considerado o teor de humidade de referência que pode ser determinado segundo a norma alemã
DIN52620.
Quanto ao u95 (não representado na figura), este representa a separação do domínio higroscópico e o
domínio capilar, no fundo é o teor de humidade crítico apresentado em 2.2.5.
Como referido anteriormente, o programa já contém uma vasta gama de materiais, no entanto, é
possível editar dados ou inserir novos materiais. Para o caso em estudo basta conhecer vários valores
(número arbitrário) do teor de humidade, e inserir os mesmos no WUFI para este traçar a curva
higroscópica. Apresenta-se um exemplo de dados que consta no “Help” deste programa na figura 2.5.,
onde HR representa a humidade relativa do ar.
Caso não seja possível ter acesso aos dados mencionados anteriormente, o WUFI apenas necessita de
conhecer o u80 e o usat (uf). Com estes valores é lhe possível traçar a curva higroscópica, para grande
parte dos materiais. Esta curva passa pelas humidades relativas de 0% (u=0), 80% (u80) e 100% (uf), e
é descrita pela seguinte função de armazenamento de humidade:
(ିଵ)∗ுோ
ݑ = )ܴܪ(ݑ௦௧ (2.6.)
(ିுோ)
Em que:
u(HR)- teor d humidade em função da humidade relativa (kg/m3)
usat – teor de humidade de saturação (kg/m3)
12
Medição do teor de humidade em materiais de construção
3
Betão de 259 a 792 - - 489 (ρ=422) kg/m
poliestireno [23]
3
Contraplacado [23] 445 a 799 435 435 435 kg/m
3
Cortiça [23] ≥ 111 60 - - kg/m
(1,2) (1)
Espuma fenólica 32,6 25,76 30 (HR=0,98) 29,8 kg/kg
[22]
3
Fibrocimento [23] 823 a 2052 350 358 (ρ=1495) 430 (ρ=1495) kg/m
(ρ=840)
3
Gesso [23] 975 - 310 - kg/m
(1) (1)
Gesso [22] 1245 1,00 3,2 (HR=0,99) 0,39 kg/kg
13
Medição do teor de humidade em materiais de construção
(1,2) (1)
Poliestireno 10,3 1,58 1,7 (HR=0,98) 96,1 kg/kg
expandido [22]
3
Tijolo [23] 1505 a 2047 ±100 730- 0,287ρ 1032- 0,4036ρ kg/m
Nota: (1) Valor em %. (2) Valores obtidos através de interpolação (HR=95%). (3) Conhecido por WWCB
(Wood Wool Cement Board)
Os materiais estudados por Kumar Kumaren[11] são muito parecidos com os da International Energy
Agency (IEA) [23] por este ter usado, em parte, esta bibliografia como referência.
Resumindo, o quadro 2.2. apresenta um total de 19 materiais de construção diferentes, alguns
repetidos mas expressos em unidades diferentes ou simplesmente para densidades diferentes. Conclui-
se que este número de materiais é relativamente reduzido em relação ao universo de materiais
existentes. Assim sendo, este tipo de quadro necessita de ser aumentado, pois é uma ferramenta
essencial para os actores da construção civil.
Insere-se aqui alguns extractos retirados dum documento [25] publicado pelo LNEC que se refere à
preparação de superfícies para posterior revestimento por pintura e contém informações interessantes
para este capítulo, ou seja, contêm a informação que deve constar no caderno de encargos.
“A pintura de qualquer substrato exige que, pelo menos, se tenha atingido o grau de secagem
correspondente ao estado de equilíbrio com a atmosfera circundante, o qual varia em função da
natureza do material, das condições exteriores, etc.
14
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A pintura da madeira apenas se deverá iniciar quando o material apresenta um teor de humidade que
não exceda 16 a 20% (kg/kg) para as peças expostas e 10 a 12% (kg/kg) para as peças mantidas ao
abrigo da intempérie.
A presença de humidade em paredes e tectos favorece a agressividade química dos rebocos e estuques
e pode conduzir à formação de manchas e eflorescências, à diminuição da adesão, ao retardamento no
endurecimento da película de tinta e até mesmo ao seu ataque, se for hidrolisável; assim, as pinturas de
paredes e tectos apenas deverão ser efectuadas desde que apresentem um teor de humidade inferior a
5% (kg/kg).”
2.5. SÍNTESE
A dificuldade encontrada neste capítulo deve-se ao facto de cada autor ter as suas próprias definições
dos diferentes níveis de teor de humidade. Assim sendo, chegou-se à conclusão que para facilitar a
compreensão e para que no meio técnico todos falem a “mesma linguagem” há a necessidade de usar
definições universais.
A simulação numérica é um instrumento essencial para simular o comportamento dos elementos de
construção, face à presença de humidade, para diversas condições climáticas interiores e exteriores.
Pode ser uma ajuda preciosa na escolha de materiais e também para o desenvolvimento de novos
materiais. Contudo, a concretização de programas de cálculo automático exige a existência de uma
base de dados com as características físicas e higrotérmicas dos materiais, sem as quais a simulação
numérica não é possível.
O desenvolvimento dos quadros com os valores de referência do teor de humidade é fundamental, pois
o quadro apresentado apenas representa uma pequena amostra de materiais existentes na construção.
No início deste trabalho estava previsto anexar uma listagem completa, contudo a informação
disponível é escassa e tal não foi possível. Assim sendo, conclui-se que é importante desenvolver mais
investigação nesta área.
15
Medição do teor de humidade em materiais de construção
16
Medição do teor de humidade em materiais de construção
3
MEDIÇÃO DO TEOR DE HUMIDADE
– TÉCNICAS EXPERIMENTAIS
17
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A classificação dos métodos apresentada no quadro 3.1. é bastante simples, pode-se ainda dividir os
processos em métodos directos e indirectos. Em que o método directo corresponde ao processo de
secagem em estufa e ao processo químico. Os métodos indirectos são processos que apenas indicam
valores aproximados (a sua calibração baseia-se num processo de referência). Estes, são geralmente
não destrutivos, como se pode confirmar no quadro 3.1.
ିೞ
=ݓ ∗ 100 (3.1.)
ೞ ିೡ
em que:
mh – massa da amostra com as características recolhidas in situ (kg)
ms – massa da amostra após secagem em estufa (kg)
mv – massa da cápsula de vidro (kg)
w – teor de humidade em percentagem (%)
18
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A utilização de um berbequim de baixa rotação (cerca de 300 rpm) serve para evitar o aquecimento
excessivo e a consequente secagem do material. Mesmo assim, deve-se evitar furações prolongadas,
pois pode-se produzir calor suficiente para provocar a evaporação da água.
Os provetes, depois de recolhidos devem ser guardados em frascos plásticos estanques (ou sacos
estanques) até serem ensaiados, afim de não perderem o teor de humidade neles contidos.
Os equipamentos necessários no laboratório para prosseguir com o ensaio são:
Balança (figura 3.1.) de elevada precisão (não inferior a 1mg);
Estufa ventilada (figura 3.2.) que permita obter temperaturas de cerca de 105ºC;
Cápsula de vidro.
19
Medição do teor de humidade em materiais de construção
20
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A reacção descrita ocorre apenas na superfície da amostra, assim a água deve deslocar-se do interior
da amostra para a sua superfície, para poder reagir com o carboneto de cálcio. Devido ao facto de a
água ter de percorrer um percurso mais longo até atingir a superfície, o aumento de pressão no interior
do recipiente torna-se demorado.
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Medição do teor de humidade em materiais de construção
Ampolas de controlo;
Balança digital ou de mola (no caso da balança de mola é ainda necessário o seu suporte);
Esferas de aço;
Juntas de reserva;
Material para recolha e preparação do provete;
Material de limpeza.
Este equipamento é de fácil utilização, é usado in situ e fornece valores fiáveis.
As esferas de aço têm três funções:
Iniciam a reacção (destruição das ampolas);
Efeito de esmagamento do material;
Garantem a mistura dos dois materiais sólidos.
22
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Começa-se por colocar as esferas de aço dentro do recipiente, com cuidado introduz-se a ampola de
água e de seguida, a de carboneto de cálcio. Fecha-se o recipiente, e agita-se o equipamento durante
alguns minutos. Após o tempo de reacção, o manómetro deve indicar uma determinada pressão, para
uma determinada temperatura, por exemplo 1±0.05 bar (20ºC) [30]. Se o valor indicado no manómetro
não estiver dentro do intervalo indicado pelo fornecedor, deve-se substituir a junta e repetir o
processo. Se após este controlo o manómetro ainda indica um valor fora do intervalo, considera-se que
este está com defeito.
Fig.3.4. – Tabela de conversão para uma temperatura ambiente de 20ºC (kg/kg) [30]
Após o ensaio, é essencial proceder à limpeza do equipamento, pois torna-se mais fácil a limpeza
directamente após sua utilização.
23
Medição do teor de humidade em materiais de construção
24
Medição do teor de humidade em materiais de construção
25
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.6. – Exemplo de aplicação do equipamento baseado na resistência eléctrica para medição do teor de
humidade em rodapés
26
Medição do teor de humidade em materiais de construção
constante dieléctrica da água apresentar um valor muito superior (ε =80) em relação a materiais em
estado seco (ε= 3 a 6). Através desta propriedade é então possível determinar o teor de humidade
existente num determinado material. No fundo, é a capacidade de um capacitor (ou condensador) que
se mede. Dependendo do tipo de dieléctrico, altera-se a capacidade do condensador, isto é, ao
encontrar material com elevado teor de humidade no campo de dispersão, este aponta para uma
constante dieléctrica elevada. O teor de humidade é, geralmente, apresentado como percentagem de
peso (kg/kg) no aparelho. Este equipamento permite efectuar medições até uma profundidade de 7cm
[32].
No fundo a constante dieléctrica é como a resistência eléctrica, são características de materiais, em que
os valores se alteram, quando o teor de humidade aumenta. Como o intervalo dos valores é
relativamente elevado, consegue-se, através deste método, determinar pequenos teores de humidade
[29].
27
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Deve-se ter em conta a espessura do material em análise, no caso de espessuras reduzidas (< 3cm) é
conveniente colocar uma base, que pode ser uma placa de poliestireno (não se deve em caso algum
usar material metálico) ou simplesmente colocar o material no ar . Deve-se ter o cuidado de colocar os
eléctrodos a uma distância superior a 1cm do limite (bordo) do material [39].
3.6. MICROONDAS
3.6.1. PRINCÍPIO DE MEDIÇÃO
As microondas são ondas electromagnéticas com frequências de 300MHz a 30GHz que conseguem
penetrar matérias. O funcionamento destes equipamentos é baseado nas propriedades dieléctricas da
água, nomeadamente a constante dieléctrica relativa. Esta é composta por duas partes, a constante
dieléctrica real e a parte imaginária. A parte real, é a mesma que possibilita a medição do teor de
humidade baseada na constante dieléctrica, enquanto que a parte imaginária corresponde à perda
dieléctrica que se caracteriza pela deslocação de fase do movimento das moléculas [46].
Em materiais compostos por moléculas polares, como o caso da água, as moléculas são postas em
movimento de rotação (polarização) através dum campo electromagnético alternado à frequência de
microondas (geralmente, cerca de 2,45GHz). Este efeito é caracterizado pela constante dieléctrica
[49]. Com o aumento da frequência, as moléculas de água não conseguem acompanhar o campo
28
Medição do teor de humidade em materiais de construção
electromagnético alternado exterior, devido a forças de ligação internas. Entre o movimento de rotação
das moléculas (polarização) e o campo electromagnético induzido gera-se uma deslocação de fase
(aquecimento) [46]. A energia necessária para pôr as moléculas em rotação é retirada ao sinal de
microondas. A parte de energia absorvida, bem como a deslocação de fase, está ligada à quantidade de
moléculas de água presentes no material [41]. No caso da medição por reflexão, mede-se as ondas
electromagnéticas induzidas no material, bem como as reflectidas pelo mesmo [26,46].
Assim sendo, no domínio das microondas além da elevada constante dieléctrica da água, ainda se tira
partido da perda dieléctrica para determinar o teor de humidade.
Há aparelhos nos quais é possível trocar a cabeça de medição, ou seja, pode-se utilizar a que melhor se
adapta à medição pretendida (em profundidade ou apenas superficial). As profundidades atingidas
com este aparelho podem chegar aos 30cm [31].
29
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Tem-se a possibilidade de registar um grande número de medições num curto espaço de tempo. Com
um software adequado, pode-se em posterior analise, criar um gráfico que ilustra a distribuição do teor
de humidade através de um elemento (figura 3.11.).
30
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Apresenta-se, a título de exemplo de aplicação, a figura 3.13. onde são comparados os valores obtidos
pelo método gravimétrico com os obtidos através do método de microondas.
31
Medição do teor de humidade em materiais de construção
3 3
Fig.3.13. – Comparação das medições efectuadas com microondas e o método gravimétrico (m /m ) [27]
3.7. TDR
3.7.1. PRINCÍPIO DE MEDIÇÃO
O método TDR (Time Domain Reflectometry) baseia-se na medição do tempo de percurso (t) e da
atenuação da amplitude de um impulso electromagnético, transmitido a partir de sondas com
comprimento (L) conhecido, para o interior do elemento em análise. Os impulsos electromagnéticos
de alta frequência (cerca de 1GHz) criam um campo entre as sondas e consequentemente no interior
do material. A energia não dissipada no trajecto é reflectida na extremidade das sondas e regressa ao
receptor, mede-se o tempo decorrido entre a emissão do sinal e a recepção da sua reflexão. O tempo de
percurso da onda electromagnético ao longo dos condutores paralelos fornece a constante dieléctrica
(expressão 3.3.) do material que os separa [51].
∗௧
ε = ( ଶ ).ଶ (3.3.)
Em que:
ε – constante dieléctrica do meio
c – velocidade da luz (3,0*108 m/s)
32
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Onde:
u – teor de humidade ponderal (kg/m3)
Fig.3.14. – Equipamento TDR para medição do teor de humidade da CAMPBELL SCIENTIFIC [52]
O equipamento ilustrado na figura 3.14. gera um impulso electromagnético, que é transmitido através
do cabo coaxial à sonda, apresenta e regista as ondas reflectidas para uma análise posterior.
Hoje em dia, existem aparelhos compactos e facilmente transportáveis como é o caso do equipamento
ilustrado na figura 3.15., este vem acompanhado dum software que permite a sua programação,
calibração e análise dos dados recolhidos.
33
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.16. – Comparação das medições efectuadas com o TDR e método gravimétrico para o tijolo [56]
34
Medição do teor de humidade em materiais de construção
ூ ଵ
ߐ = −(݊ܮூ ∗ ) ∗ ௗ ఘ (3.5.)
బ ೢ ஜೢ
ou
ϴ
= ݓ (3.6.)
em que
I – Intensidade de radiação recebida (contagens/s)
I0* - Intensidade de radiação recebida do provete seco (contagens/s)
d – Espessura do material em estudo (m)
ρw – Massa volúmica da água (kg/m3)
µ w – Coeficiente de atenuação da água (m2/kg)
ρ0 – Massa volúmica do material em estudo (kg/m3)
w – Teor de humidade ponderal (kg/kg)
θ – Teor de humidade (m3/m3)
Vários estudos para a determinação do valor do coeficiente de atenuação da água (para uma fonte de
Americium 241) apresentam valores ligeiramente abaixo do valor teórico que é de 0,0204 m2/kg. Os
35
Medição do teor de humidade em materiais de construção
valores obtidos experimentalmente por vários autores (Nielson, Kumaran/Bomberg, Cid, Vasco
Freitas) são praticamente iguais, pelo que se pode optar por usar o valor de 0,0192 m2/kg [14].
A fonte radioactiva do equipamento do LFC é o Americium241, mas existem outras fontes possíveis,
tal como o césio. O equipamento pode estar equipado com uma ou mais fontes radioactivas. O número
de detectores é igual ao número de fontes [58].
A protecção do detector (cristal de iodeto de sódio) destina-se a reduzir o fundo natural da radiação
gama.
As referidas protecções são importantes, pois a fonte radioactiva requer cuidados especiais de
segurança, uma vez activada emite constantemente radiação. É portanto fundamental a existência de
uma blindagem adequada ao tipo de fonte radioactiva, esta pode ser constituída por diversos materiais,
como por exemplo o chumbo.
A unidade electrónica (figura 3.18.) é composta pelos seguintes 7 módulos [14]:
Alimentação (alta tensão) AT;
Alimentação (baixa tensão) BT;
Voltímetro;
Temporizador;
Contador;
Medidor da taxa de contagem;
Discriminador Disc 02;
36
Medição do teor de humidade em materiais de construção
37
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.20. – Perfis hídricos de embebição do betão celular obtidos com uma fonte radioactiva de Americium
[14]
38
Medição do teor de humidade em materiais de construção
O facto da emissão de fotões na fonte radioactiva ser estatisticamente aleatória, pode levar a uma
contagem errada no caso do número de contagens ser baixo, pois para uma precisão mais elevada é
necessário um maior número de contagens.
3.9. NMR
3.9.1. PRINCÍPIO DE MEDIÇÃO
O princípio de determinação do teor de humidade através de NMR (Ressonância Magnética Nuclear)
baseia-se no momento angular de protões carregados positivamente (Spin) e o momento magnético
resultante. A molécula de água é composta por dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio. No
interior do núcleo de cada hidrogénio existe um protão. Estes protões estão constantemente em
movimento de rotação, que os envolve dentro de um pequeno campo magnético. Esse campo
intrínseco é orientado aleatoriamente, isto é, não apresenta uma orientação específica. Num campo
magnético constante os protões orientam-se a favor (paralelamente ao campo magnético) ou contra a
direcção deste. Através da propagação perpendicular ao campo magnético constante, dum impulso
electromagnético alternado, com determinada frequência (rádio frequência RF, na faixa dos
megahertz), os protões podem absorver energia através da alteração de nível de energia rotacional. A
energia absorvida pela amostra depende do número de protões que esta contém e serve como medida
para determinação do teor de humidade, desde que o núcleo de hidrogénio ocorra apenas sob forma de
água. Esta energia é devolvida no fim do impulso, com isto o núcleo regressa ao nível anterior [27,61].
Para facilitar a compreensão do princípio de medição, apresenta-se a figura 3.21.
39
Medição do teor de humidade em materiais de construção
40
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.25. – Teor de humidade do betão leve obtido através de NMR; calibração através do método gravimétrico
[65]
Pela observação da figura 3.25. conclui-se que a função de correlação do sinal NMR e o teor de
humidade é linear. Na maioria dos casos, a mesma curva de calibração pode ser usada para diferentes
materiais, isto é, uma curva de calibração valida para grande parte dos materiais de construção [62].
41
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Fig.3.26. – Medição do perfil do teor de humidade num pilar em betão leve. O diagrama à esquerda ilustra o
resultado da medição no local (linha vermelha), bem como os perfis de humidade (linha preta) e os valores do
teor de humidade integral (linha recta) de laboratório [65]
A figura 3.26. apresenta um exemplo de aplicação da técnica, onde se usou o equipamento portátil
com o qual foi possível medir até uma profundidade máxima de 26mm, de seguida foram retiradas
amostras para medir com um equipamento NMR de laboratório. Por último, usou-se o método
gravimétrico para obter o teor de humidade integral.
3.10. OUTROS
3.10.1. TERMOGRAFIA
A termografia baseia-se segundo o princípio de que todos os corpos emitem radiação térmica, sendo
possível através dum equipamento próprio, visualizar e registar os diversos graus de emissão na faixa
do infravermelho.
Os raios infravermelhos correspondem à emissão de energia por parte da matéria para as temperaturas
que se encontram geralmente à superfície da Terra. Todos os corpos com temperaturas superiores ao
zero absoluto (-273ºC) emitem continuamente energia na região dos infravermelhos, com diferentes
intensidades e comprimentos de onda, função da temperatura absoluta e das características da sua
superfície [66].
42
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Este método possibilita localizar anomalias que se manifestam através da variação da temperatura
superficial. Isto de uma forma rápida, à distância (sem contacto) e através de um processo não
destrutivo. Ou seja, a termografia não permite determinar o teor de humidade de um material, mas
possibilita a sua localização. A presença de humidade provoca uma descida de temperatura à
superfície do elemento, isto é, existe uma diferença de temperatura entre a zona seca e húmida do
mesmo.
O equipamento capta a energia infravermelha emitida pela superfície do material e converte-a em
sinais electrónicos através de um detector de infravermelhos internos do tipo Mercúrio- Cádmio-
Telúrio, arrefecido por azoto líquido [66]. Este é composto através dos seguintes elementos:
Unidade de detecção (figura 3.27.);
Unidade de controlo (figura 3.28.);
Monitor a cores (figura 3.29.);
Acessórios.
43
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Apesar de parecer um método de simples interpretação, este pode conduzir a conclusões erradas, pois
o equipamento não distingue, a título de exemplo, entre diferenças de temperaturas devidas a pontes
térmicas e devidas à humidade. Se o teor de humidade for baixo pode não ser visível através da
termografia. É também fundamental ter alguns cuidados antes e durante a realização do ensaio.
Ilustra-se na figura 3.30. um exemplo de aplicação desta técnica, em que se pretende usar a
termografia para visualizar a humidificação pontual de um provete de betão celular autoclavado.
Fig.3.30. – Mancha de água no provete do ensaio detectada visualmente e na imagem térmica [66]
3.10.2. RADIOACTIVIDADE
Este processo de determinação do teor de humidade baseia-se na travagem de neutrões. O
equipamento cria através duma fonte radioactiva, neutrões com elevada energia cinética e emite estes
para o interior do material. Aqui os inicialmente rápidos neutrões colidem com os átomos do material,
assim esses neutrões passam a ser neutrões lentos, pois sofreram uma travagem através da colisão. O
efeito de travagem através do embate com átomos de água é bastante acentuada, isto porque estes
átomos possuem praticamente a mesma massa que um neutrão. O percurso de travagem é do tipo zig-
zag, os neutrões embatem em média 19 vezes [67] com átomos de água até se tornarem neutrões
44
Medição do teor de humidade em materiais de construção
lentos. Estes sofram mudança de direcção, ou seja, deles voltam a sair do material e embatem no
equipamento.
Quanto ao equipamento, este é portátil, com um peso de cerca 4kg. Contém uma sonda que cria
neutrões rápidos (Americium-241 e Beryllium) e dois detectores de neutrões lentos (tubos de hélio,
tubos de contagem). A densidade dos neutrões lentos reflectida é avaliada electronicamente no
equipamento, pode ser visualizado um valor adimensional no aparelho. Através deste é possível
conhecer o teor de humidade.
45
Medição do teor de humidade em materiais de construção
O aparelho é colocado sobre a superfície (horizontal) do material em estudo. A fonte emite neutrões
quer a partir da superfície, quer a partir do interior do mesmo, estes processos são de transmissão
indirecta e transmissão directa, respectivamente. Para o último caso é necessária a prévia furação do
material. Como já referido, a intensidade da resposta detectada é proporcional ao teor de humidade.
Apresenta-se na figura 3.33. um exemplo de aplicação numa cobertura plana.
Fig.3.33. – Imagem da cobertura plana à esquerda, mapeamento com identificação das zonas húmidas à direita
[67]
46
Medição do teor de humidade em materiais de
d construção
Na figura 3.34. é possível observar a medição da humidade relativa no interior de uma parede para
posterior determinação do teor de humidade.
47
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Quanto à termografia, esta é eficaz para a obtenção de informação inicial sobre as anomalias, sendo a
sua principal função inspeccionar o elemento construtivo numa fase preliminar do estudo. É então uma
ferramenta de diagnóstico para a manutenção e reabilitação, pois permite a detecção de defeitos.
48
Medição do teor de humidade em materiais de construção
4
VANTAGENS E INCONVENIENTES
DAS DIFERENTES TÉCNICAS DE
MEDIÇÃO DO TEOR DE HUMIDADE
4.1. INTRODUÇÃO
Após a apresentação das diferentes técnicas de medição, interessa agora conhecer as vantagens e os
inconvenientes destas. Convém conhecer as potencialidades e limites dos ensaios e dos seus
resultados, para poder escolher mais facilmente e de forma mais fundamentada o que se melhor adapta
à situação em estudo e precisão pretendida. Como já referido no capítulo anterior, nem todos os
métodos são aplicáveis a qualquer material, o que limita a escolha do ensaio. Assim sendo, opta-se por
indicar neste capítulo o material ao qual se pode aplicar os diferentes métodos de ensaio.
49
50
Custo do
Ref. Método Destrutivo Execução Outras vantagens Outros inconvenientes
equipamento
3 Resistência Não Baixo Fácil e rápido Facilidade e rapidez na Depende do material (tipo,
eléctrica obtenção de valores densidade, homogeneidade,
In situ temperatura)
Boa precisão para madeira Dependente do teor em sais e
da presença de metais
Contacto com o material
Valores aproximados (excepto
Quadro 4.1. – Principais vantagens e inconvenientes dos métodos de ensaio
para madeira)
Medição superficial
Nota: (1) Não se pode usar amostras com mais de 1,5g de água, devido ao facto de esta quantidade de água poder gerar uma pressão muito elevada no interior do
recipiente, provocando fugas de gás incontroladas através da cabeça do manómetro [29].
Ref. Método Destrutivo Custo do Execução Outras vantagens Outros inconvenientes
equipamento
distribuição do teor de
humidade nos materiais
Medição do teor de humidade em materiais de construção
51
52
Ref. Método Destrutivo Custo do Execução Outras vantagens Outros inconvenientes
equipamento
6 TDR Não Elevado Fácil Medição superficial e em Influenciado pela presença
profundidade de quantidades elevadas de
Medição em contínuo sais
Garantir um bom contacto
com o material
7 Raios gama Provete Muito Elevada Boa precisão que, no entanto, é Protecção contra radiação
e raios X específico elevado qualificação do variável com a duração da radioactiva
operador
medida
Reutilização do mesmo
exemplar um grande número
de vezes, dado que não é
Medição do teor de humidade em materiais de construção
necessário instrumentar os
provetes
Determinação do teor de
humidade de uma forma
dinâmica quase contínua
Preservação das características
da estrutura porosa dos
provetes [14]
8 NMR Não/ Muito Rápido e fácil Boa precisão Mede a água de ligação e
Provete elevado Não induz alterações nas não apenas a água livre
específico
propriedades físicas dos Problemas de medição em
materiais materiais que contêm
Quadro 4.1. – Principais vantagens e inconvenientes dos métodos de ensaio (cont.)
10 Radio- Não Elevado Fácil, mas exige Independente do teor em sais, Protecção contra radiação
actividade experiência do metais e temperatura radioactiva
operador
Medição em profundidade (até Não distingue entre água
30cm) livre e água de ligação
In situ Cuidados e autorização de
Grandes áreas transporte
11 Variação Não Baixo Demorada Não é influenciado pela Não aplicável a grande
da presença de sais ou metais número de materiais de
impedânc
Possibilidade de medição construção
ia dum
semi- contínua ao longo do tempo Apenas aplicável a um ponto
condutor Medição do teor de humidade de Furações devem ser feitas
materiais soltos e do papel [29] 24h antes da medição [70]
Quadro 4.1. – Principais vantagens e inconvenientes dos métodos de ensaio (cont.)
Medição do teor de humidade em materiais de construção
53
Medição do teor de humidade em materiais de construção
No quadro 4.2., apresentam-se os materiais que podem ser analisados através dos diversos métodos.
Quadro 4.2. – Material que pode ser analisado com o método
1 Gravimétrico Qualquer
9 Termografia Qualquer
10 Radioactividade Qualquer
4.3. SÍNTESE
Resumidamente, as vantagens dos métodos não destrutivos são as seguintes:
Simplicidade e rapidez, e a consequente economia da aplicação dos métodos;
O próprio facto de serem não destrutivo;
Ensaios realizados in situ.
54
Medição do teor de humidade em materiais de construção
55
Medição do teor de humidade em materiais de construção
56
Medição do teor de humidade em materiais de construção
5
CATÁLOGO DE FICHAS DE ENSAIO
5.1. INTRODUÇÃO
Num ambiente de trabalho como o da construção civil o nível de formação dos executantes é difícil de
assegurar e controlar (sobretudo porque se recorre à subcontratação). Assim sendo, mostrar o que se
deve fazer e como, será uma das melhores formas de transmitir o objectivo da tarefa a executar.
Pretende-se apresentar fichas de ensaio, que permitem aos interessados perceber rapidamente como se
processa o ensaio, que equipamento é necessário e como se procede à avaliação dos resultados.
Resumidamente, as fichas devem representar uma ferramenta de fácil utilização quer em obra, quer em
laboratório, as quais permitem ao utilizador familiarizar-se rapidamente com a técnica experimental.
Na elaboração das fichas de ensaio, optou-se por recorrer aos relatórios de ensaios produzidos pelo
Laboratório de Física das Construções (LFC), de modo a obter dados e imagens para ilustrar alguns
exemplos.
Com este tipo de divisão é possível uma leitura rápida e organizada da ficha de ensaio.
No campo designado por aplicabilidade, indica-se o material que se pode analisar, de onde podem ser
retirados os provetes ou onde podem ser executadas as medições (no caso de ensaios in situ). Esta
informação é ser acompanhada por umas imagens, ou esquemas relevantes para a compreensão.
Em equipamentos, é possível enumerar os equipamentos necessários para proceder à execução do
ensaio. Neste campo há a possibilidade de colocar uma imagem do aparelho.
Quanto ao campo designado por técnica, neste é possível resumir o ensaio, com referência a eventuais
normas existentes. Se houver necessidade de calibrar o equipamento, tal será mencionado neste
campo.
57
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Com base nos dados recolhidos é possível preencher o campo resultados e sua interpretação. Explica-
se como tratar os valores obtidos, ou seja como chegar ao teor de humidade, bem como representar os
mesmos, por exemplo, sob forma de quadro ou gráfico. No fundo deste campo são apresentadas as
unidades em que os resultados devem ser expressos.
Elaborou-se um total de 4 fichas de ensaio que estão disponíveis para consulta a seguir.
58
Medição do teor de humidade em materiais de construção
FICHA
MÉTODO GRAVIMÉTRICO 001
DETERMINAÇÃO DO TEOR DE HUMIDADE – APLICAÇÃO GERAL
APLICABILIDADE EQUIPAMENTO
Os provetes são recolhidos in situ com equipamento DE RECOLHA:
adequado à situação em estudo. Estes podem ser -Berbequim de baixa rotação ou escopro e martelo ou
recolhidos sob forma de pó (requer alguns cuidados), caroteadora
com determinada geometria (imagem) ou sem -Saco estanque ou frascos plásticos com tampa
geometria específica. estanque
DE LABORATÓRIO:
-Balança de precisão (a)
-Estufa ventilada (b)
-cápsula de vidro (se necessário)
59
Medição do teor de humidade em materiais de construção
APLICABILIDADE EQUIPAMENTO
Este equipamento pode ser usado em paredes, Humidimètre CEBTP MX-HU ou semelhante
pavimentos e tectos para a verificação da humidade
antes do revestimento por pintura, da colocação de
papel de parede, localizar zonas húmidas ou verificar
o excesso de humidade.
Escolhe-se os diversos pontos para a medição, como
por exemplo: paredes exteriores e interiores, assim
como diversos pontos da laje do tecto do R/chão. As
paredes e tectos estudados são ilustradas e
enumerados nas figuras seguintes através da sigla
Hum-P ou Hum-T, respectivamente.
60
Medição do teor de humidade em materiais de construção
APLICABILIDADE EQUIPAMENTO
Este equipamento pode ser usado para o mapeamento Humidimètre CEBTP ou semelhante
do teor de humidade Apresenta-se, a título de
exemplo, um mapeamento de medição dum pavimento
de madeira, onde se pretende localizar as zonas com
humidade mais elevada.
Unidades:
kg/kg
61
Medição do teor de humidade em materiais de construção
APLICABILIDADE EQUIPAMENTO
Esta técnica pode ser aplicada a qualquer tipo de Protimeter ou semelhante
madeira, já aplicada em obra ou peças soltas. Aqui
representa-se a medição do teor de humidade num
rodapé de madeira.
Intervalo Cor
6 a 15 Verde
Nota: Este equipamento pode ser aplicado a outros
materiais de construção, no entanto, funciona apenas 17 a 19 Amarelo
com código de cores. Verde: seco; Amarelo: ligeiro
excesso de humidade; Vermelho: humidade excessiva. ≥ 20 Vermelho
Não sendo possível obter o teor de humidade do
material.
Unidades:
kg/kg
62
Medição do teor de humidade em materiais de construção
6
APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS
EXPERIMENTAIS
6.1. INTRODUÇÃO
A aplicação de algumas das técnicas experimentais apresentadas no capítulo 3 reveste-se da maior
importância e permite a familiarização com a utilização dos equipamentos de ensaio. Neste capítulo
recorre-se aos equipamentos de medição do teor de humidade existentes no LFC, nomeadamente:
Método gravimétrico;
Método baseado na resistência eléctrica (Protimeter);
Método baseado na constante dieléctrica (Humidímetro).
Realizou-se um ensaio simples com provetes de pedra calcária, e posterior análise dos resultados.
63
Medição do teor de humidade em materiais de construção
3
Provete Dimensões Massa (g) ρ (kg/m )
(mm)
mnatural* ms
A=300,67
A=300,98
A=300,56
3 B=301,05 7900 7896 2155,7
H=40,48
A=300,97
4 B=301,03 8037 8033 2182,2
H=40,63
A=300,98
A=298,98
64
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A figura 6.1. ilustra a curva higroscópica de uma pedra calcária, muito parecida com a pedra usada
para o estudo, com densidade de 2155 kg/m3.
3
Fig.6.1. – Curva higroscópica da pedra calcária (kg/m ) [16]
Pela observação da figura 6.1. pode-se concluir que no domínio higroscópico o teor de humidade se
mantém praticamente constante e baixo, apresentando características de um material praticamente não
higroscópico. No entanto, para uma humidade relativa igual a 1 a pedra calcária apresenta um valor
elevado para o teor de humidade (usat).
Após os provetes terem atingido a massa constante e o seu respectivo arrefecimento. Um destes
provetes segue para a imersão horizontal, dentro de um recipiente com água, até atingir massa
constante. Tem-se o cuidado de manter a face superior do material abaixo da superfície livre da água.
Com esta imersão obter-se-ia o teor de humidade de saturação para a pedra calcária em análise.
65
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Retira-se o provete da água, limpa-se com um pano limpo e seco, e pesa-se. Quanto aos restantes
provetes, estes são colocados em contacto com a água durante um curto espaço de tempo de modo a
obter quatro teores de humidade que se situem entre o zero e o teor de humidade de saturação (figura
6.3.)
Assim sendo, coloca-se o primeiro provete (provete 2) durante 1 minuto em contacto com a água,
depois de decorrido o tempo retira-se o provete da água, procede-se à sua limpeza como explicado
anteriormente. Pesa-se o provete. Embrulha-se o mesmo em película aderente para conservar a água
no seu interior de modo a permitir que esta se possa uniformizar/distribuir pelo seu todo. Volta-se a
repetir com os restantes provetes, aumentando o tempo de contacto com a água de modo a obter-se
diferentes teores de humidade.
A estabilização dos provetes é um processo demorado, enquanto esse estado não for atingido não se
pode proceder à medição do teor de humidade através dos equipamentos disponíveis.
66
Medição do teor de humidade em materiais de construção
O provete 6 foi imerso dentro de água a temperatura ambiente até obtenção de massa constante. A
pesagem final apontou para uma massa de 8665g, o que significa que o provete saturado contém 660g
de água.
Apresenta-se o quadro 6.2. que indica os teores de humidade dos diversos provetes determinados
através do método gravimétrico.
Quadro 6.2. – Teores de humidade
Para ligar o aparelho basta retirar a tampa (a figura 6.5. já ilustra o referido aparelho com a tampa
retirada). Para iniciar o processo de medição apenas se necessita de introduzir firmemente as agulhas
para o interior da madeira ou material de construção. Como se pode observar na figura 6.5. o
equipamento contém uns eléctrodos fixos, dependendo do tipo de superfície apresentada pelo material,
é possível usar diferentes eléctrodos que são ligados ao aparelho através de uma entrada que este
possui. Para medições mais profundas é necessário proceder à prévia furação do elemento, cerca de
6mm de diâmetro, e introduzir as sondas que acompanham o aparelho.
Para verificar a calibração, o equipamento vem acompanhado dum dispositivo “ Protimeter Check”
(figura 6.6.). Este deve ser colocado em contacto com os eléctrodos, e o equipamento deve indicar o
67
Medição do teor de humidade em materiais de construção
valor 17 ou 19. Se tal não for o caso, este deve ser devolvido ao fornecedor visto não estar a funcionar
correctamente. Assim sendo, antes de proceder às medições foi verificada a calibração do
equipamento, o qual indicou o valor 19 que está dentro do intervalo desejado.
Este equipamento está calibrado de maneira a que em conjunto com a tabela de calibração (figura
6.7.), consegue-se obter o teor de humidade existente nos diferentes tipos de madeira listados na
referida tabela. Para os restantes materiais de construção, o equipamento funciona com código de
cores (quadro 6.3.). O verde indica um material seco, o amarelo indica que o material tem um ligeiro
excesso de humidade e o vermelho aponta para uma humidade excessiva.
Intervalo Cor
6 a 15 Verde
17 a 19 Amarelo
≥ 20 Vermelho
68
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Como o material em estudo é a pedra calcária, apenas se obtém uma indicação qualitativa sobre o teor
de humidade presente. Aqui, apesar do equipamento indicar um valor, apenas interessa a cor que está
ligada a esse valor.
Para cada provete fez-se dez medições, nomeadamente cinco de cada lado. O quadro 6.4. mostra a
média das medições obtidas.
Quadro 6.4. – Resultados obtidos através do Protimeter
1 Verde (9,4)
2 Vermelho (23)
3 Vermelho (23,9)
4 Vermelho (24,1)
5 Vermelho (25,3)
6 Vermelho (26)
Com o objectivo de calibrar o Protimeter para a medição do teor de humidade na pedra calcária,
relacionou-se os teores de humidade obtidos através do método gravimétrico com a leitura efectuada
no aparelho (figura 6.8.).
9
8
7
6
5
w (%)
4
3
2
1
0
0 5 10 15 20 25 30
leitura
A figura 6.8. ilustra a curva de calibração do Protimeter para a pedra calcária, que não apresenta
sensibilidade nenhuma, ou seja, é difícil conseguir medir o teor de humidade com alguma precisão em
materiais de construção com este equipamento (excepto madeira que apresenta uma curva sensível).
69
Medição do teor de humidade em materiais de construção
Este equipamento baseia-se na variação das propriedades dieléctricas dos materiais. Para assegurar um
bom contacto com o material em análise, o aparelho dispõe de uma borracha na parte inferior.
As medições podem atingir profundidades entre 3 a 5cm, dependendo da natureza do material.
Este equipamento pode ser usado para verificação da humidade antes do revestimento por pintura, da
colocação de papel de parede, da aplicação de um hidrofugo ou para localizar zonas húmidas e
verificar o excesso de humidade.
Em primeiro lugar o humidímetro deve estar em contacto com o ar, segurando-se com uma mão, a
mesma deve estar a pressionar sobre o botão de calibragem enquanto que a outra mão roda o botão
lateral esquerdo até aparecer no visor o valor 200. Quando atingido larga-se o botão de calibragem.
Agora basta simplesmente encostar o equipamento à superfície e carregar sobre o botão (o mesmo que
se pressionou aquando da calibragem), espera-se pela estabilização do aparelho e procede-se à leitura
no visor. Para conhecer a percentagem em volume de água livre contida no material é necessário
consultar a curva correspondente ao material (figura 6.10.).
70
Medição do teor de humidade em materiais de construção
A calibração do equipamento pode ser obtida através do processo descrito no capítulo 3 (ponto
3.5.2.1.).
Efectuou-se cinco medições de cada lado do provete, ou seja, um total de dez. Como o equipamento
não dispõe de curva de calibração para a pedra calcária não foi possível determinar o teor de
humidade. No entanto, através das medições efectuadas é possível traçar a curva de calibração para a
pedra calcária, representada na figura 6.11., que poderá ser usada para futuras medições do teor de
humidade da pedra calcária.
71
Medição do teor de humidade em materiais de construção
9
8
7
6
5
w(%)
4
3
2
1
0
155 160 165 170 175 180 185
leitura
Na figura 6.11. é possível observar uma curva sensível, isto é, este equipamento permite a
determinação do teor de humidade em materiais de construção com alguma precisão.
72
Medição do teor de humidade em materiais de construção
7
CONCLUSÕES
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Medição do teor de humidade em materiais de construção
simples, é complexa. Pressupõe-se ainda que muitos utilizadores dos equipamentos de medição do teor
de humidade, não sabem utilizar os mesmos de forma correcta.
Este trabalho pode ser sintetizado da seguinte forma:
Foi referida a importância do teor de humidade em termos de dimensionamento, execução
e controlo de qualidade;
Foram definidos os diversos níveis do teor de humidade;
Criou-se um quadro com valores de referência do teor de humidade;
Salientou-se a importância da simulação numérica;
Apresentaram-se diferentes técnicas de ensaio para a determinação do teor de humidade;
Caracterizaram-se as vantagens e inconvenientes das técnicas experimentais;
Criaram-se fichas de ensaio de fácil interpretação;
Foi medido o teor de humidade da pedra calcária através de métodos diferentes.
Face ao exposto, espera-se que o presente trabalho, seja um contributo para a medição do teor de
humidade.
74
Medição do teor de humidade em materiais de construção
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