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Orientadores
Como segundo objectivo, dado que esta aplicação é ainda muito pouco usual em
Portugal, definiu-se a análise do desempenho de diversos geossintéticos nestas
aplicações, apresentada no Capítulo 3, obtida pela exumação dos geossintéticos de
estruturas reais e por estudos laboratoriais realizados em pequena escala e a escala
real. Aí, desde logo se constata que a durabilidade dos geossintéticos é um
importante factor a considerar nestas aplicações, nomeadamente no que diz respeito
aos fenómenos de danificação durante a instalação e abrasão.
The use of geosynthetics in Civil Engineering Works is now very common and railway
tracks are no exception. Here the application of geosynthetics presents several
advantages such as technical, economical, speed of application (especially important
in rehabilitation works where interventions are limited) and environmental.
The first objective of this work is defined as the approach to the railway track
structure, presented in Chapter 1, and to the geosynthetic materials, presented in
Chapter 2, as an introduction to the application of geosynthetics in railway tracks.
The second objective of this work, being this application very unusual in Portugal is
defined as the analysis of the performance of several geosynthetics in this
application, presented in Chapter 3, obtained by the exhumation of geosynthetics
installed in railway structures and from laboratory studies. Here the durability aspect
of such materials is considered to play a major role on their performance especially
regarding the damage during installation and abrasion.
The third and last objective of this work, presented in Chapter 4, is a contribution to
the laboratorial study of damage during installation and abrasion on geosynthetics
involving the development of an equipment to simulate abrasion according to the
specifications on the EN ISO 13427 in witch is not yet known any published result.
Comme deuxième abjectif, puisque cette application est encore tréspeu usuelle au
Portugal on a défini l'analyse de l'exécution de plusieurs géosynthétiques dans ces
applications présentée dans le Chapitre 3, obtenue par l'exhumation des
géosynthétiques de structures réelles et par des études de laboratoire realisées en
petite échelle et échelle reélle. Lá, tout de suite on constate que la durabilité des
géosynthétiques est un important facteur à considérer dans ces applications,
notament dans ce qui concerne les phénomènes de dommage pendant l'installation et
abrasion.
INDICE .................................................................................................I
INDICE DE FIGURAS.....................................................................................V
SIMBOLOGIA ........................................................................................XVII
1.1 INTRODUÇÃO.................................................................................1
1.4.2 Sub-Balastro...........................................................................22
1.4.3 Plataforma.............................................................................25
2. GEOSSINTÉTICOS
2.2.2 Geogrelhas.......................................................................36
i
2.2.3 Barrreiras Geossintéticas............................................................37
2.3 PROPRIEDADES..............................................................................38
2.4 FUNÇÕES....................................................................................41
2.4.1 Reforço...........................................................................44
2.4.2 Separação........................................................................52
2.4.3 Filtragem.........................................................................54
2.4.4 Drenagem........................................................................61
3.1 INTRODUÇÃO................................................................................71
3.2.1.4 Conclusões..............................................................84
ii
3.2.2.3 Conclusões..............................................................88
3.2.3.4 Conclusões.............................................................101
3.4 CONCLUSÕES...............................................................................116
4.1 INTRODUÇÃO...............................................................................119
iii
4.5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS................................................................147
4.6 CONCLUSÕES...............................................................................150
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................165
iv
INDICE DE FIGURAS
Figura 1.5 - Resposta típica do balastro num ensaio triaxial cíclico (adaptado de Selig
e Waters, 1994)..............................................................................13
Figura 1.11 – Dimensionamento das camadas de balastro e sub-balastro com base nas
características mecânicas da plataforma (adaptado de ORE D117)..................28
v
Figura 2.1 – Principais tipos de componentes dos geossintéticos. (adaptado de
Koerner, R. 1999)............................................................................33
Figura 2.11 – Influência das tensões normais aplicadas aos geossintéticos (adaptado
de Palmeira e Gardoni, 2000)..............................................................63
vi
Figura 2.16 – Efeito de soluções alcalinas em geotêxteis não tecidos em PP e PET
(adaptado de Santos et al., 2002)........................................................70
Figura 3.5 – Influência dos geotêxteis na subida de finos (adaptado de Faure e Imbert,
1996). .........................................................................................77
Figura 3.9 – Evolução da taxa de poluição com o número de ciclos (adaptado de Faure
e Imbert, 1996). .............................................................................80
vii
Figura 3.13 – Geomembrana betuminosa incrustada de partículas de balastro
(adaptado de Imbert et al. 1996).........................................................86
Figura 3.22 - Variação da menor extensão principal mínima ε3 com o número de ciclos
(Indraratna et al., 2002)..................................................................100
viii
Figura 3.26 – Resultados de geotêxteis ensaiados à tracção pelo método da tira
(adaptado de Hausmann et al. 1990)...................................................106
Figura 3.27 – Perdas de resistência à tracção de geotêxteis não tecidos avaliadas pelo
método da tira após exumação (adaptado de Hausmann et al. 1990)............107
Figura 3.31 – Curvas granulométricas dos solos utilizados nos ensaios de danificação
de campo e de laboratório (adaptado de Paula, 2003)...............................114
Figura 4.6 – Pesos aplicados à placa superior para garantir a pressão de 6 kPa sobre o
geossintético................................................................................123
ix
Figura 4.8 – Leitura do número de ciclos do ensaio de abrasão........................124
Figura 4.9 – Dimensões dos provetes a utilizar no ensaio de tracção de acordo com a
EN ISO 10319................................................................................127
Figura 4.14 – Ensaio de porometria: peneiração por via húmida (prEN ISO 12956)...130
x
Figura 4.26 – Aspecto visual da abrasão no geotêxtil GT2................................141
Figura 4.33 – Resumo dos resultados obtidos no ensaio de tracção para o geotêxtil
GT2...........................................................................................148
Figura 4.34 - Resumo dos resultados obtidos no ensaio de tracção para o geotêxtil
GT1...........................................................................................148
xi
INDICE DE QUADROS
Quadro 2.1- Classificação dos geossintéticos de acordo com a sua estrutura (adaptado
de Ladeira, 1995)............................................................................30
xiii
Quadro 2.7 - Coeficientes de redução a adoptar em dimensionamento para funções
com relevância para a resistência (adaptado de Koerner,1999).....................43
xiv
Quadro 3.9 – Propriedades mínimas a exigir aos geotêxteis (adaptado de Braϋ,
1998).........................................................................................111
Quadro 3.10 – Coeficientes de redução a adoptar para ter em conta a DDI (adaptado
de AASHTO, 1997)..........................................................................113
xv
xvi
SIMBOLOGIA
Cu - Coeficiente de uniformidade
Cc - Coeficiente de curvatura
FI - Índice de Contaminação
ε - Extensão
Er - Módulo resiliente
xvii
ε3r - Extensão radial reversível
q - Tensão deviatória
εv - Extensão volumétrica
εq - Extensão distorcional
G - Módulo de distorção
γ - Coeficiente de anisotropia
B - Parâmetro
xviii
ε*1p - Extensão axial permanente, retirando o valor correspondente aos 100
primeiros ciclos de carga
L - comprimento do reforço
xix
ab - fracção da largura W da geogrelha disponível para a mobilização da
resistência passiva
F1 - Factor de escala
ψ - Transmissividade
k - Coeficiente de permeabilidade
t - Espessura do geotêxtil
i - Gradiente hidráulico
q - Caudal
∆h - Carga hidráulica
xx
∆a - Comprimento da zona filtrante
θ - Permissividade
RR - Razão de retenção
GR - Razão de gradiente
n - Porosidade do geotêxtil
xxi
CAPÍTULO 1
1.1 INTRODUÇÃO
Carril
Sistema de aperto Travessa
Balastro
Sub-Balastro
Solo Compactado
Solo de Fundação
1.3 SUPERESTRUTURA
Não sendo âmbito deste trabalho a descrição detalhada desta parte da estrutura
apenas se faz uma breve referência no sentido de compreender as funções
desempenhadas por cada componente.
2
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
O sistema de aperto fixa o carril à travessa, sendo interposto entre estes dois uma
palmilha de material elastómero, com a função de absorver parte das vibrações
produzidas durante a circulação dos comboios.
1.4 INFRAESTRUTURA
3
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Na Figura 1.2 pode ver-se a classificação dos materiais em função das curvas
granulométricas que apresentam. Assim, na curva 1 é representado um material com
granulometria extensa (com elementos de vários tamanhos e que geralmente
propiciam maior imbricamento entre partículas), na curva 2 uma material com
granulometria uniforme - típica de um material de balastro - (constituída
4
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Existem dois parâmetros, que podem ser obtidos a partir da curva granulométrica, e
que ajudam a caracterizar as suas diferenças. Estes são:
D60
Cu = (1.1)
D10
D30 2
Cc = (1.2)
D10 D60
5
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Um estudo Europeu realizado pela ORE (Office for Research and Experiments) sobre
as características de deformação do balastro, com carregamentos em amostras
confinadas por anéis metálicos, indicou que o módulo de elasticidade da amostra é
maior para partículas equidimensionais do que para partículas achatadas. Verifica-se
ainda que as partículas de forma achatada ou alongada dificultam as operações de
compactação, pelo que as partículas devem ser predominantemente do tipo
equidimensional.
Vallerga et al. (1975) realizou ensaios triaxiais sobre amostras de material granular
anguloso e rolado, chegando à conclusão de que o material angular oferece maior
resistência ao corte que o rolado.
Thom e Brown (1988 e 1989) mostram nos seus estudos, sobre as características
superficiais do agregado, que o aumento do atrito superficial das faces das partículas
causa um aumento do módulo de resiliência do agregado. Mostram ainda que o
aumento da rugosidade superficial das partículas provoca uma maior resistência às
6
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
deformações plásticas sob a acção de cargas repetidas. Por último, verifica-se que o
aumento da angularidade das partículas e da sua rugosidade superficial aumenta a
resistência ao corte da amostra. Esta angularidade é ainda favorável à dissipação de
energia por atrito interno entre grãos, garantindo assim o eficaz amortecimento das
vibrações produzidas pelo tráfego ferroviário. Este amortecimento de vibrações será
tanto maior quanto mais espessa for a camada constituída por este material.
Requisito Critério
Análise granulométrica
Dimensão do balastro da via férrea
Partículas finas
Geométrico
Finos
Forma das partículas (índice de achatamento)
Comprimento das partículas
7
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
nomeadamente a sua compacidade “in situ” inicial, sendo esta controlada por acções
de compactação.
Contaminação do balastro
8
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Fonte Origem
a) Operações de extracção, transporte, manuseamento e
deposição
b)Aumento de tensão quando exposto a altas temperaturas
(deserto)
c)Tensões internas devido ao congelamento de água nos seus
Degradação do balastro poros
d)Agentes químicos (incluindo chuvas ácidas)
e)Acções de manutenção (“tamping”)
f)Acções induzidas pelo tráfego: cargas repetidas, vibrações,
acção hidráulica da lama produzida
g) Máquinas de compactação
a)Aquando do fornecimento
Infiltração a partir da superfície do b)Partículas caídas dos comboios
balastro c)Trazidas pelo vento e água
d)Salpicos de locais molhados adjacentes
Travessas Desgaste das travessas
a)A partir de balastro antigo, quando em obras de reabilitação
Camadas granulares inferiores b)A partir do sub-balastro, quando este não apresenta a
granulometria adequada à função que desempenha
Fundação Infiltração a partir da fundação
Para além da formação da referida lama erosiva, é importante conhecer a origem dos
finos, isto porque, num estudo realizado por Kalcheff (1974) sobre a influência do
tipo de finos no comportamento mecânico de agregados granulares, mostra-se que a
presença de finos do tipo plástico lubrifica as partículas de maiores dimensões,
traduzindo-se isto em reduções da resistência ao corte (de pico) e aumento da
deformação na rotura para os agregados granulares, conforme se pode observar na
Figura1.3.
9
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
σ1−σ3
Não Plástico
Plástico
ε1
Figura 1.3 - Influência do tipo de finos no comportamento mecânico do balastro (adaptado de Kalcheff,
1974).
FI=P4+P200 (1.3)
10
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
O comportamento mecânico dos agregados não ligados das vias férreas deve ser
analisado sob três aspectos: resistência mecânica, rigidez e resistência às
deformações permanentes. Destes aspectos, a resistência mecânica é aparentemente
a menos considerada, visto que numa estrutura ferroviária o material raramente
11
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
rompe sob uma carga monotónica (um único carregamento), mas antes sob a acção
repetida de várias cargas rolantes.
Tensão
Extensão
Figura 1.4 – Curva típica do comportamento tensão/extensão de materiais granulares, obtida num ensaio
triaxial convencional (adaptado de Nunes, 1991).
Boyce (1980) considerou que a deformação dum material granular faz intervir o
atrito, o deslizamento e a deformação das partículas nos pontos de contacto, o que
explica o comportamento não linear. No primeiro ciclo de carga desenvolvem-se
rapidamente no balastro deformações que apenas são recuperadas parcialmente após
descarga. Cada ciclo adicional de carga contribui para outro incremento das
deformações plásticas ou permanentes, como se pode observar na Figura 1.5.
12
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
σ1-σ3
σ3
σ3
σ1-σ3
0
Extensão vertical
Diminuição de volume
Densificação
Figura 1.5 - Resposta típica do balastro num ensaio triaxial cíclico (adaptado de Selig e Waters, 1994).
A diferença entre a extensão sob carga de pico e a extensão permanente, após cada
ciclo de carga, é chamada a extensão resiliente, recuperável ou reversível. Assim
define-se módulo de resiliência como a razão entre a tensão deviatória (σ1-σ3) e a
extensão de resiliência (Figura 1.6).
13
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
σ1-σ3
Er
0
ε
Estensão Extensão
permanente resiliente
Após carregamentos repetidos, sob a acção de uma mesma carga, longe da rotura, as
extensões resilientes permanecem aproximadamente constantes, e o material
comporta-se elasticamente. Nota-se no entanto que, conforme o ciclo de
carregamento muda (descarga parcial, total, ou reversível), também o módulo de
resiliência muda. Na Figura 1.7 pode ver-se que quando o ciclo de carregamento vai
de descarga parcial a reversível, passando por total, o módulo de resiliência diminui,
mantendo-se durante isto, o valor da tensão de corte constante (Stewart, 1982).
Tensão
deviatória
(σ1-σ3) Módulo
Resiliente
Er
Descarga
parcial
Descarga
total Reversível
0 Extensão axial ε1
Figura 1.7 – Efeito do tipo de descarga no módulo de resiliência (adaptado de Stewart, 1982).
14
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Para o mesmo nível de tensão, o módulo reversível cresce com o aumento do índice
de vazios relativo, com o aumento da angularidade das partículas e da rugosidade das
suas faces e com a diminuição do grau de saturação. Por outro lado, o coeficiente
Poisson é pouco influenciado pelo índice de vazios relativo e geralmente diminui com
o aumento do grau de saturação (Hicks, 1970)
Comportamento plástico
O comportamento do material é não elástico, uma vez que as curvas de carga não
coincidem com as de descarga, dando-se a este fenómeno o nome de histerese do
material.
15
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
( ')
70
Diferentes tipos de
balastros
60
50
40
0
0 200 400 600 800 1000
Tensão de confinamento ( σ'3) em kPa
Figura 1.8 – Influência da tensão de confinamento no ângulo de atrito para diferentes tipos de balastros
(adaptado de Correia, 2003).
3,5
3,0
2,5
Extensão (%)
2,0
Aumento da razão
1,5
de tensão
1,0
0,5
0,0
1 10 100 1 000 10 000
Figura 1.9 – Efeito da razão tensão deviatória/tensão de confinamento no valor das extensões
permanentes (adaptado de Selig e Waters, 1994).
16
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
17
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
- Comportamento reversível
(σ1d − σ 3d )(σ1d + 2σ d )
Er = (1.4)
ε 1r (σ1d + σ 31d ) − 2ε 3r σ3d
onde:
σ1 + 2σ3
p= (1.5)
3
tensão deviatória
(1.6)
q = σ1 − σ 3
18
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
extensão volumétrica
ε v = ε 1 + 2ε 3 (1.7)
extensão distorcional
2
εq = (ε − ε 3 ) (1.8)
3 1
p
K= (1.9)
εv
q
G= (1.10)
3ε q
1− n
⎛ p ⎞
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ pa ⎠
K = (1.11)
(n − 1) ⎛ q ⎞
2
1
+ ⎜ ⎟
ka 6G a ⎝ p ⎠
1− n
⎛ p⎞
G = Ga ⎜ ⎟ (1.12)
⎝ pa ⎠
19
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
1 p n ⎡ (n − 1) K a ⎛ q ⎞ ⎤
2
εv = ⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥ (1.13)
K a p a n−1 ⎣ 6Ga ⎝ p ⎠ ⎦
1 pn q
εq = (1.14)
3Ga p a n−1 p
γσ 1 + 2σ 3
p* = (1.15)
3
q * = (γσ 1 − σ 3 ) (1.16)
ε1
ε *v = + 2ε 3 (1.17)
γ
2 ε1
ε *q = ( − ε3 ) (1.18)
3 γ
1− n
⎛ p* ⎞
⎜ ⎟
⎝ pa ⎠
K* = (1.19)
1 (n − 1) ⎛ q * ⎞
2
+ ⎜ ⎟
ka 6Ga ⎝ p * ⎠
20
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
1− n
⎛ p* ⎞
G = G a ⎜⎜
*
⎟⎟ (1.20)
⎝ pa ⎠
1 p *n ⎡ (n − 1) K a ⎛ q * ⎞ ⎤
2
εv *
= ⎢1 + ⎜ ⎟ ⎥ (1.21)
K a p a n−1 ⎣ 6Ga ⎝ p * ⎠ ⎦
1 p *n q *
ε q* = (1.22)
3G a p a n −1 p *
- Comportamento plástico
⎡ ⎛ N ⎞− B ⎤
ε1p *
( N ) = A1 ⎢1 − ⎜ ⎟ ⎥ (1.23)
⎣ ⎝ 100 ⎠ ⎦
onde:
21
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
1.4.2 Sub-Balastro
Para que esta possa ser considerada uma camada estrutural, deve apresentar as
características de resistência necessárias, nomeadamente um módulo de resiliência
bastante elevado e resistência às deformações permanentes. Estas propriedades
devem ser análogas às estudadas para a camada de balastro.
22
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
G4
20 G3
Deformações permanentes (mm)
G2
Remoção de água
10
Adição de água
Adição de água
G1
0
Número de ciclos de carga
Figura 1.10 – Influência da presença de água nas deformações permanentes de materiais granulares
(adaptado de Selig e Waters, 1994).
Função de separação
23
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Estes critérios foram obtidos a partir da experiência, pelos United States Corps of
Engineers. O normal dimensionamento de filtros, apenas contempla critérios
associados ao fluxo de água, ao passo que a situação real é de cargas cíclicas, daí o
peso da experiência e do empirismo, dado a estes critérios.
Função de drenagem
Dado que o balastro tem uma granulometria grosseira e descontínua, e é por isso
auto drenante, a grande maioria da água que chega à plataforma vinda da
superestrutura é imediatamente drenada lateralmente. A restante chega até ao sub-
balastro, que sendo uma camada de menor permeabilidade a deve conduzir ao
escoamento lateral. Para que assim funcione, o sub-balastro deve possuir uma
permeabilidade, no mínimo, com uma ordem de grandeza inferior à do balastro, e
uma superfície regular com pendente no sentido da drenagem lateral para fora da
plataforma.
24
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
geossintéticos.
1.4.3 Plataforma
25
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Condições hidrogeológicas
Deve ser identificada a posição do nível freático garantindo, para que se verifiquem
boas condições de drenagem, cerca de 1m de afastamento, relativamente à base do
balastro, caso contrário, devem ser previstos dispositivos de drenagem lateral que
garantam o efectivo rebaixamento do nível freático.
26
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Quadro 1.7 - Classificação geotécnica dos solos (adaptado da ficha 719R da U.I.C.)
Deval(seco)>9 - QS3
Los Angeles<30
Solo com partículas finas*<5%
Rocha de alta variabilidade
Boas QS3
6<Deval(seco)<9
30<Los Angeles<33
Areia com grãos finos uniformes<5%
Más QS2
Solos com grãos finos 5-15%
Xistos com IP>7
Boas QS2
Areia argilosa com IP>7
Solos com grãos finos 15-40%
Más QS1
Rocha fracturada com Deval<6 e Los Angeles>33
Argila ligeiramente plastificada
- QS1
Solos com grãos finos*>40%
Solos orgânicos - QS0
27
Capítulo 1
Constituição das Linhas-Férreas
Ev2(N/mm2)
10 20 30 40 50 100
CBR(%)
0 2 4 6 8 10 15 20 3040
50
D117
SBB
SNCF
100 CBR
DB
e(cm) balastro+sub-balastro
Figura 1.11 – Dimensionamento das camadas de balastro e sub-balastro com base nas características
mecânicas da plataforma (adaptado de ORE D117).
28
CAPÍTULO 2
GEOSSINTÉTICOS
2.1 INTRODUÇÃO
Os geossintéticos contam já com uma forte presença nas obras de engenharia civil
pelas vantagens técnicas, económicas e pela rapidez de aplicação que apresentam no
desempenho das suas funções relativamente aos materiais ditos tradicionais, ou seja,
os solos. São predominantemente usados em obras de carácter geotécnico e podem
desempenhar, isolada ou simultaneamente, várias funções: separação, filtragem,
controlo da erosão, protecção, reforço e barreira de fluidos.
Quadro 2.1- Classificação dos geossintéticos de acordo com a sua estrutura (adaptado de Ladeira, 1995).
Geossintéticos
Produtos
Geotêxteis Barreiras Geossintéticas Geocompósitos
Relacionados
30
Capítulo 2
Geossintéticos
Polímeros
A opção por um dos polímeros deve ser feita de acordo com as condições específicas
de uso, nomeadamente o tipo de solicitação a que estão sujeitos, o tipo de matéria ou
material com que estão em contacto directo, e o seu grau de exposição a agentes
atmosféricos. No Quadro 2.3 podem ser analisadas, comparativamente, as
propriedades dos 4 tipos de polímeros com maior utilização na indústria dos
geossintéticos. Aí pode ver-se que o polímero com características mais homogéneas,
tanto a nível mecânico como de durabilidade são as poliamidas, não querendo,
contudo, dizer que para determinadas exigências seja o mais adequado.
31
Capítulo 2
Geossintéticos
Polímeros
Resistência à tracção 3 2 1 1
Rigidez 3 2 1 1
Deformação na rotura 2 2 3 3
Fluência 1 2 3 3
Densidade relativa 3 2 1 1
Custo 3 2 1 1
Resistência às:
Estabilizado 3 2 3 3
Radiações UV Não
3 2 2 1
estabilizado
Bases 1 3 3 3
Fungos, vermes e insectos 2 2 2 3
Óleo 2 2 1 1
Detergentes 3 3 3 3
3-Elevado 2- Médio 1- Baixo
Após a escolha e produção do(s) polímero(s) mais adequado(s) a utilizar, estes vão ser
convertidos em componentes, para posterior constituição da estrutura do
geossintético.
Componentes
32
Capítulo 2
Geossintéticos
Estes componentes podem ser usados separada ou conjuntamente, dando origem, por
exemplo, a fios pelo entrelaçar de filamentos ou a tiras multifilamentos pelo
entrelaçar de tiras. Apresenta-se na Figura 2.1 os principais tipos de componentes de
geossintéticos, e que são: monofilamentos, multifilamentos, fibras (obtidas do corte
dos filamentos), fios, monofilamento reforçado e multifilamento reforçado.
Monofilamento Monofilamento
Fibras
reforçado
Fios Multifilamento
Multifilamento
reforçado
Figura 2.1 – Principais tipos de componentes dos geossintéticos. (adaptado de Koerner, R. 1999).
33
Capítulo 2
Geossintéticos
Os geotêxteis tecidos são formados na sua estrutura por uma distribuição regular de
filamentos, geralmente contínuos, entrelaçados paralela e perpendicularmente, como
se mostra na Figura 2.2 a). Normalmente esse tipo de geotêxtil não sofre qualquer
processo de ligação adicional, sendo esta garantida pelo entrelaçado de filamentos.
Nos geotêxteis não tecidos, a estrutura é formada por uma distribuição de filamentos
com carácter aleatório, como se pode ver na Figura 2.2b. Esses filamentos podem ser
do tipo contínuo, ou do tipo fibra (obtida por corte do filamento) com 50 a 100mm de
comprimento. A estrutura sofre um processo de ligação por um, ou mais, de três
existentes: o mecânico, térmico ou o químico.
A ligação térmica é realizada por aquecimento dos componentes, o que permite a sua
ligação nos pontos de contacto entre fibras. O geotêxtil resultante é pouco espesso e
apresenta-se rígido e áspero ao toque. O seu peso por unidade de área é
relativamente baixo, e atendendo a isso, apresenta uma elevada resistência à tracção
e baixa elongação na rotura. Estes geotêxteis não tecidos são vulgarmente designados
por termossoldados.
34
Capítulo 2
Geossintéticos
impermeáveis, devido à resina, pelo que, após a adição da resina se força a passagem
de ar para restabelecimento da estrutura dos poros. Os geotêxteis produzidos são mais
espessos do que os anteriores, apresentando o mesmo tipo de características
relativamente ao seu comportamento mecânico. Estes geotêxteis não tecidos são
designados por ligados quimicamente.
Por fim, a ligação mecânica, provavelmente o mais comum dos processos de ligação,
obtido pela passagem de milhares de agulhas rugosas (Figura 2.3b), em movimento
vertical, através de um emaranhado de filamentos, que provoca a sua ligação
mecânica, conforme se encontra esquematizado na Figura 2.3a. Este processo pode
ser repetido numa fase subsequente de agulhagem, conferindo aos geotêxteis
melhores características mecânicas e hidráulicas. De todos os geotêxteis não tecidos
aqui descritos estes são os que apresentam maior espessura, maior peso por unidade
de área, maior elongação na rotura e maior resistência à tracção. São vulgarmente
designados por agulhados.
Lâminas
Agulhas
Manta de Filamentos
Rolo de Geossintético
Agulhagem
35
Capítulo 2
Geossintéticos
2.2.2 Geogrelhas
A sua estrutura pode ser conseguida a partir de folhas ou barras de polímeros. Quando
são utilizadas folhas de polímeros, estas são perfuradas e esticadas numa direcção
(uniaxiais) ou em duas direcções (biaxiais). As barras de polímero são obtidas por
corte da folha de polímero, e posterior estiramento, sendo essas orientadas paralela e
perpendicularmente, com união nos pontos de contacto. A grande diferença em
termos estruturais destes dois processos é que no primeiro, os pontos de intersecção
entre barras é integral, ao passo que no segundo, nos pontos de intersecção é
realizada uma ligação entre as barras, geralmente por ligação térmica, ou por
tecelagem.
Tal como já foi referido, podem obter-se geogrelhas orientadas uniaxialmente (Figura
2.4a ou biaxialmente (Figura 2.4b), sendo a opção por uma destas baseada nas
condições específicas de uso, ou seja, se a geogrelha exerce a função de reforço numa
direcção (por ex. no reforço de taludes, ou muros de suporte) ou em duas direcções
(por ex. reforço da base de aterros ou das camadas de sub-base de vias de
comunicação).
36
Capítulo 2
Geossintéticos
Estes polímeros são então convertidos, por fusão, em folhas. Para a sua conversão em
folhas existem três métodos de processamento: extrusão, calandragem e
espalhamento superficial. Nestes dois últimos podem ser incluídos geotêxteis na sua
estrutura, que actuam como reforço.
37
Capítulo 2
Geossintéticos
Após esta breve descrição do método de produção e das principais características dos
geossintéticos, passar-se-á a analisar quais as propriedades de maior relevância que
estes devem possuir para que desempenhem correctamente as funções para as quais
são dimensionados.
2.3 PROPRIEDADES
38
Capítulo 2
Geossintéticos
Quadro 2.4– Certificação CE para as propriedades dos geossintéticos (adaptado de Pinto et al.,2002).
Propriedade Norma
Classe Terminologia
Amostragem e preparação de provetes de geotêxteis EN 963:1995
Determinação da espessura para várias espessuras – Parte I: camadas singulares prEN ISO 9863-1
Determinação da espessura para várias espessuras – Parte I: camadas singulares ou prEN ISO 9863-2
múltiplas
Determinação da massa por unidade área de (m.u.a.) em geossintéticos prEN ISO 9864
Amostragem e preparação de provetes de geossintéticos prEn ISO 9862
Termos e definições prEN 10318
Identificação em obra NP EN ISO
10320:2003
Determinação da massa por unidade área de (m.u.a.) em GCL’s. prEN 14196
Classe ensaios mecânicos
Resistência à tracção/extensão em tiras largas EN ISO 10319
Resistência ao punçoamento dinâmico EN 918:1996
Resistência ao punçoamento estático (ensaio CBR) EN ISO 12236:2003
Fluência em compressão EN 1897:2001
Fluência em tracção e comportamento na rotura EN ISO 13431:1999
Resistência à tracção das juntas dos geotêxteis EN ISO 10321:1995
Danificação durante a instalação (em materiais granulares) ENV 10722-1:1997
Características de resistência da interface em corte directo prEN ISO 12957-1
Características de resistência da interface em plano inclinado prEN ISO 12957-2
Resistência estrutural interna de juntas em geocélulas EN ISO 13426-
1:2002
Reistência à abrasão (ensaios do bloco deslizante) EN ISO 13427:1998
Resistência à protecção a longo prazo EN 13719:2002
Resistência ao arranque prEN 13738
39
Capítulo 2
Geossintéticos
Dependendo da função que vão desempenhar e das condições específicas nos locais da
aplicação, compreende-se que existam propriedades dos geossintéticos que tenham
maior peso e necessitem de ser verificadas, ou mesmo medidas. Algumas das
aplicações mais correntes dos geossintéticos são também objecto de normalização,
com o cumprimento obrigatório de determinadas propriedades, como é o caso das
linhas-férreas. A norma EN 13250: 2000 – “Geotêxteis e produtos relacionados -
Características exigidas para a utilização em caminhos de ferro.”, especifica,
conforme se pode ver no Quadro 2.5, o grau de relevância de um conjunto de
propriedades a exigir aos geossintéticos, quando aplicados em linhas férreas, e de
acordo com a função que aí venham a desempenhar.
40
Capítulo 2
Geossintéticos
Quadro 2.5 - Propriedades a exigir aos geossintéticos quando usados em linhas-férreas (adaptado de
EN13250).
Função
Propriedade Norma Europeia
Filtro Separação Reforço
1) Resistência à tracção EN ISO 10319 H H H
2) Elongação para a carga máxima EN ISO 10319 A A H
3) Resistência à tracção das juntas EN ISO 10321 S S S
4) Resistência ao punçoamento estático (CBR) EN ISO 12236 S H H
5) Resistência ao punçoamento dinâmico EN 918 H A H
6) Abrasão EN ISO13427 S S S
7) Resistência ao corte directo prEN ISO 12957–1 S S A
8) Fluência em tracção EN ISO 13431 -- -- S
9) Danificação durante a instalação ENV ISO 10722-1 A A A
10) Distribuição dos poros EN ISO 12956 H A --
11) Permissividade sem carga EN ISO 11058 H A A
12) Resistência à meteorização ENV 12224 A A A
ENV ISO 12960,
13) Resistência à degradação química S S S
12447 ou 13438
14) Resistência à degradação biológica ENV 12225 S S S
Relevância da função:
H:Obrigatória
A:Relevante para todas as condições de uso
S:Relevante para condições específicas de utilização
--:Característica não relevante para a função
Seguidamente será feita uma descrição das funções que maior relevância tem nas
obras ferroviárias: a de reforço com geogrelhas, separação, filtragem e drenagem com
geotêxteis.
2.4 FUNÇÕES
41
Capítulo 2
Geossintéticos
TLab.corrigido
FS = (2.1)
Tdim ensionamento
42
Capítulo 2
Geossintéticos
consoante as funções é a que a seguir se apresenta nos Quadros 2.6 e 2.7. Aí, os
valores unitários aplicam-se quando é possível medir, em laboratório, a propriedade,
e essa é representativa das condições de aplicação "in situ".
⎛ Tlaboratório ⎞
Tlab.corrigido = ⎜ ⎟ (2.2)
⎜R ×R ×R ×R ⎟
⎝ ddi f q b ⎠
em que:
Quadro 2.6 - Coeficientes de redução a adoptar em dimensionamento para funções com relevância para a
resistência (adaptado de Koerner,1999).
⎛ qlaboratório ⎞
q lab.corrigido = ⎜ ⎟ (2.3)
⎜R ×R ×R ×R ×R ⎟
⎝ CB f bv cq cb ⎠
em que:
43
Capítulo 2
Geossintéticos
2.4.1 Reforço
resistência à tracção
módulo de deformabilidade
resistência ao punçoamento
44
Capítulo 2
Geossintéticos
resistência ao rasgamento
resistência à abrasão (caso seja susceptível de ocorrer)
Corte directo: surge quando uma das faces do geotêxtil, em contacto com o solo e
sujeito a tensão normal, é obrigada a deslocar-se em relação ao solo. A tendência
para este movimento relativo entre os dois materiais mobiliza atrito na interface
solo/geossintético, conferindo resistência à tracção ao conjunto.
45
Capítulo 2
Geossintéticos
Dado que as geogrelhas são as que maior utilização têm na função de reforço no caso
das obras ferroviárias, opta-se por descrever o seu funcionamento num sistema de
reforço.
46
Capítulo 2
Geossintéticos
Estes três tipos de atrito surgem da existência de movimentos relativos entre o solo e
o reforço (atrito lateral e impulso passivo) e de movimentos relativos entre o solo
(atrito solo-solo). Estes movimentos podem ser de dois tipos: de corte directo ou de
arranque. Independentemente do tipo de movimento, sempre que se dá a rotura com
movimento relativo entre o solo e o reforço, significa que foi excedida a resistência da
interface (f). Pode também dar-se o caso de a resistência da interface ser superior à
resistência à tracção do próprio reforço e dar-se a rotura dita, “por tracção”, em que
há a cedência do próprio material de reforço.
em que:
em que:
47
Capítulo 2
Geossintéticos
Igualando a soma destas duas parcelas à definição da resistência ao corte, resulta para
o coeficiente da interface em corte directo:
⎛ tgδ ⎞
f = f cd = a s ⎜⎜ ⎟ + (1 − a s )
' ⎟
(2.7)
⎝ tgφ ⎠
em que:
⎛L⎞
T p = ⎜ ⎟abWBσ 'p (2.8)
⎝S⎠
em que:
Igualando a soma das duas parcelas à definição da resistência ao corte, resulta para o
coeficiente da interface em arranque:
⎛ tgδ ⎞ ⎛⎜ σ p ⎞⎛ ab B ⎞⎛ 1 ⎞
'
f = f a = a s ⎜⎜ ⎟⎟ + ⎟⎜ ⎜ ⎟
⎝ tgφ ' ⎠ ⎜⎝ σ n
' ⎟⎝ S ⎟⎠⎜⎝ 2tgφ ' ⎟⎠ (2.9)
⎠
-as equações atrás referidas são aplicáveis ao caso de solos soltos, considerando-se a
resistência do solo a volume constante.
48
Capítulo 2
Geossintéticos
Jewell et al. (1984), estudaram a influência das dimensões das partículas de solo na
interacção solo-geogrelha, quando o movimento é de corte directo, concluindo que o
coeficiente de resistência para essa interface é máximo quando a dimensão dos grãos
é idêntica à da abertura das geogrelhas, sendo mínimo quando as dimensões das
partículas de solo tenham dimensões tão grandes que impossibilitem a sua penetração
nas aberturas das geogrelhas, mobilizando-se, nesse caso, somente resistência nos
pontos de contacto solo-geogrelha. Estes mesmos autores aconselham para o reforço
de solos com geogrelhas a razão:
d
≥3 (2.10)
D50
onde:
d – menor dimensão da abertura da geogrelha;
D50 – Dimensão média das partículas de solo.
No entanto, outros autores (Sarsby et al., 1985), consideram que a máxima eficiência
na transferência de tensões geogrelha-solo se dá para um valor de 3,5 da mesma razão
acima referida.
49
Capítulo 2
Geossintéticos
um importante factor de escala (F1) relativo à dimensão média das partículas (D50) e à
espessura das barras transversais (B). Assim, para uma razão B/D50<10, verifica-se um
aumento da transferência de esforços do solo para a geogrelha que pode atingir o
dobro do valor quando B/D50>10. Mostram ainda que o impulso passivo pode ser
aumentado em cerca de 20% quando as barras transversais têm secção rectangular,
comparativamente às de secção circular.
⎛ tgδ ⎞ ⎛ σ 'p ⎞⎛ ab B ⎞⎛ 1 ⎞
f = f a = a s ⎜⎜ ⎟⎟ + F1 F2 ⎜ ' ⎟⎜ ⎜ ⎟
⎟⎝ S ⎟⎠⎜⎝ 2tgφ ' ⎟⎠
(2.11)
⎝ tg φ ' ⎠ ⎜σ
⎝ n ⎠
com
⎛ B ⎞
⎜⎜ 2 − ⎟
⎝ 10 D50 ⎟⎠
F1= quando B/D50<10
1 quando B/D50>10
Estudos mais recentes (Lopes, 1998), também através de ensaios de arranque, mas
utilizando geogrelhas em PEAD (Polietileno de Alta Densidade), confirmam o fenómeno
traduzido pelo factor de escala (F1), no entanto com valores inferiores, em cerca de
metade aos sugeridos por Jewell (1996) na equação anterior. Apesar da existência de
diferentes procedimentos de ensaio, nomeadamente o tipo de geogrelha utilizada, os
resultados de Lopes (1998) sugerem a adopção de novos valores para o factor de
escala F1, quando usadas geogrelhas extensíveis.
50
Capítulo 2
Geossintéticos
Lopes (1998) realizou ensaios de arranque com geogrelhas em PEAD em areias com
índices de compacidade (ID) de 50%, a uma tensão de confinamento de 24,5KPa. Nesse
estudo verificou que um aumento de 55% na tensão de confinamento provocou um
acréscimo na resistência ao corte mobilizada na interface e ainda um aumento de
cerca de 11% na resistência da interface solo-geogrelha.
51
Capítulo 2
Geossintéticos
⎛ σ 'p ⎞⎛ a b B ⎞⎛ 1 ⎞
fa = ⎜ ' ⎟⎜ ⎜ ⎟
⎟⎝ S ⎟⎠⎜⎝ 2tgφ ' ⎟⎠
(2.12)
⎜σ
⎝ n ⎠
e,
⎛ S ⎞ ⎛ σ 'p ⎞⎛ 1 ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜ ' ⎟⎜⎜ ⎟
' ⎟
(2.13)
⎜ ⎟
⎝ b ⎠ φ ' ⎝ σ n ⎠⎝ 2tgφ ⎠
a B
para (fa)max=1
⎛ S ⎞
⎜⎜ ⎟
⎝ ab B ⎟⎠
DI = 1 − (2.14)
⎛ S ⎞
⎜⎜ ⎟⎟
⎝ b ⎠φ '
a B
⎛ σ 'p ⎞⎛ ab B ⎞⎛ 1 ⎞
f a = (1 − DI )⎜ ' ⎟⎜ ⎜ ⎟
⎟⎝ S ⎟⎠⎜⎝ 2tgφ ' ⎟⎠
(2.15)
⎜σ
⎝ n ⎠
Ficou então visto que na função de reforço com geogrelhas, vários factores
influenciam o seu desempenho, devendo todos eles ser ponderados aquando do seu
dimensionamento.
2.4.2 Separação
52
Capítulo 2
Geossintéticos
flexibilidade;
resistência à tracção;
resistência ao punçoamento;
resistência ao rasgamento;
resistência à abrasão (caso seja susceptível de ocorrer);
retenção do solo e permeabilidade aos fluidos (caso acumule funções de filtro).
A esta função vêm normalmente associadas outras funções como a filtragem e/ou
drenagem, o que implica que o geossintético, para além de impedir a mistura dos dois
solos adjacentes tenha de ser permeável à passagem da água. Admite-se então que,
sendo o dimensionamento feito em termos de filtragem ou drenagem, esteja já
assegurada a função de separação.
Note-se que o facto de esta função ser normalmente associada às duas outras
referidas não lhe retira importância porque, como já foi dito anteriormente, é esta
função que impede a modificação, normalmente associadas à redução, das
características mecânicas e hidráulicas dos solos com que contacta.
53
Capítulo 2
Geossintéticos
2.4.3 Filtragem
Um dos factores que influencia o bom desempenho desta função é o tempo, ou seja,
deve ser assegurado que no decorrer da utilização do geossintético este não colmate
como resultado de uma acumulação excessiva de partículas de solo no interior da sua
estrutura.
Esta função, tradicionalmente desempenhada por filtros granulares, tem vindo a ser
preferida, em algumas utilizações, pela utilização de filtros em geossintéticos. Ambas
as soluções apresentam vantagens e desvantagens, quando comparadas, como se pode
ver no Quadro 2.8.
54
Capítulo 2
Geossintéticos
Filtros
Granulares Geossintéticos
Propriedades comuns:
Risco de colmatação interna por:
-Partículas do solo a filtrar
-Actividade de bactérias aeróbias (colmatação ocre)
-Precipitação de sais
-Cristais de gelo
Diferenças:
-Espessura -Elevada (>150 mm) -Baixa (<30 mm)
-Porosidade -25-40 % -75-95 %
-Capilaridade -Importante (hc = 500mm) -Baixa (hc = 50mm)
-Resistência à tracção -Não tem -Baixa a elevada
-Compressibilidade -Desprezável -Média a elevada
-Transmissividade sob tensão -Constante -Variável
-Uniformidade -Gradualmente variável -Controlada através da massa por
unidade de área e da espessura
-Durabilidade -Inerte -Sensível às radiações UV
-Instalação -Evitar contaminação pelo solo -Deve ser colocado em contacto
envolvente íntimo com o solo a filtrar
-Compactação -A instalação é facilitada pela
costura de juntas
-Risco de danificação -Não tem -Sensível ao rasgamento e ao
punçoamento
Kn
ψ= (2.16)
t
em que:
Ψ - transmissividade
kn – coeficiente de permeabilidade normal ao plano do geotêxtil
t – espessura do geotêxtil definido para uma determinada pressão normal (2, 20 e 200
KPa através da norma EN 964-1)
55
Capítulo 2
Geossintéticos
Figura 2.9 – Fenómenos susceptíveis de ocorrer na função de filtro (adaptado de Koerner, 1999).
Estes três mecanismos mostram que, para o geotêxtil ter um bom desempenho como
filtro, se devem compatibilizar as propriedades físicas do geotêxtil com o solo a
filtrar. Veja-se então quais os principais critérios a considerar no dimensionamento de
filtros.
56
Capítulo 2
Geossintéticos
Critério de retenção
D15
< RR (2.17)
d 85
em que:
D15 – Dimensão característica do filtro tal que, 15% das partículas têm dimensões
inferiores
d85 - Dimensão do solo de base tal que, 85% das partículas têm dimensões inferiores
57
Capítulo 2
Geossintéticos
O90
< RR (2.18)
di
em que,
Neste caso, o valor de RR varia consoante o tipo de geotêxtil e o tipo de solo, como se
pode ver no Quadro 2.9.
58
Capítulo 2
Geossintéticos
i sg Ks
GR = = (2.19)
is K sg
onde,
q
k= (2.20)
i
∆h
i= (2.21)
∆a
em que,
i – gradiente hidráulico
∆h – carga hidráulica
59
Capítulo 2
Geossintéticos
Pistão de carregamento Q
Porta de leitura Carga axial
Base rígida perfurada
LVDT
Célula do permeâmetro Porta de leitura
Solo
Geotêxtil Permeâmetro Medição de
caudal
Geotêxtil Solo
Base rígida perfurada Transdutor
Medição de caudal de pressão
Q
Base colectora
Bomba
Critério de Permeabilidade
D15
≥5 (2.22)
d15
60
Capítulo 2
Geossintéticos
kg ≥ c ks (2.23)
em que:
2.4.4 Drenagem
61
Capítulo 2
Geossintéticos
θ = kp *t (2.24)
em que:
θ - permissividade
t – espessura do geotêxtil definida para uma determinada pressão normal (2, 20 e 200
kPa através da norma EN 964-1)
Opta-se então por apresentar um estudo relativo à influência das tensões normais
aplicadas ao geossintético, na sua espessura e coeficientes de permeabilidade normal
e ao longo do plano. Os resultados destes estudos (Palmeira e Gardoni, 2000)
mostram, como se pode ver na Figura 2.11, a variação da espessura e dos coeficientes
de permeabilidade de um geotêxtil não tecido agulhado, com o nível de tensão
aplicado e o grau de impregnação por partículas de solo (λ).
62
Capítulo 2
Geossintéticos
Figura 2.11 – Influência das tensões normais. aplicadas aos geossintéticos (adaptado de Palmeira e
Gardoni, 2000).
Quando várias funções em simultâneo têm que ser conjugadas para um geossintético,
como é na estabilização do solo de fundação em linhas-férreas, duas propriedades
governam a sua capacidade de filtragem: a dimensão aparente dos poros e a
permeabilidade. A dimensão aparente dos poros (AOS- “Aparent Opening Size”)
controla a capacidade do geossintético na retenção das partículas de solo. A
permeabilidade mede a facilidade com que se estabelece o fluxo de água, quer ao
longo do plano do geossintético (transmissividade), quer através do geossintético
(permissividade).
O Quadro 2.10 mostra uma classificação das propriedades hidráulicas para aplicações
em estabilização de solos de fundação, segundo Lawson 1995. Este quadro encontra-se
dividido em três grandes grupos, de acordo com o regime de filtragem: filtragem
negligenciável; filtragem laminar; filtragem dinâmica. Os valores apresentados foram
63
Capítulo 2
Geossintéticos
Quadro 2.10 – Classificação das propriedades hidráulicas para estabilização de solos de fundação
(adaptado de Lawson, 1995).
64
Capítulo 2
Geossintéticos
Desde a existência dos geossintéticos que se tem apostado em estudar quais as causas
que levam a que, em algumas obras, a degradação destes seja mais acelerada do que
o previsto. Assim, tem vindo a atribuir-se estas degradações aceleradas a três tipos de
acções:
65
Capítulo 2
Geossintéticos
Quadro 2.11– Sobreposições aconselhadas de acordo com a resistência do solo de fundação (adaptado de
G.M.A.).
- a deposição do material granular sobre o geossintético pode ser feita por descarga
directa a partir de camiões e depois espalhada, no caso de solos de fundação firmes;
para solos com baixa capacidade de suporte, a descarga deve ser feita sobre o
material granular previamente descarregado e só posteriormente espalhado sobre o
geossintético;
66
Capítulo 2
Geossintéticos
A fluência, embora causada por acções externas, normalmente do tipo estático, deve-
se a factores internos, ao nível do polímero, por deslizamentos entre cadeias
poliméricas. A razão destes deslocamentos relativos é função dos agentes exteriores
(força aplicada e temperatura do meio), da estrutura molecular que constitui o
filamento, da intensidade das forças coesivas intermoleculares e ainda da estrutura do
próprio geossintético. A relaxação é normalmente motivada por solicitações
alternadas ou do tipo cíclico, e deve-se essencialmente ao tipo de estrutura do
geossintético e do seu processo de fabrico.
67
Capítulo 2
Geossintéticos
150
100
Polietileno
Poliamida
Poliéster
Polipropileno
50
0
-20 0 20 40 60 80 100
t (ºC)
Figura 2.12 – Efeito da temperatura na resistência à tracção dos polímeros constituintes (adaptado de
Pilarczyk, 2000).
140
120
100
Resistência retida (%)
70ºC,8%O2
80
80ºC,8%O2
60
90ºC,8%O2 70ºC,21%O2
40 80ºC,21%O2
90ºC,21%O2
20
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Exposição (dias)
Figura 2.13 – Influência da quantidade de oxigénio presente na degradação dos geossintéticos (adaptado
de Salman et al., 1998).
68
Capítulo 2
Geossintéticos
Referência
Resistência à tracção (kN/m)
16 16,0 Danificada
15,7
14,0
14 12,8 90
Deformação (%)
80
12 80 73 75
68
10 70
60
8 50
6 40
PET PP PET PP
a) b)
Estudos laboratoriais de Santos et al. (2002) sobre geotêxteis não tecidos em poliéster
e polipropileno em soluções ácidas e alcalinas mostram pouca sensibilidade dos
materiais a soluções ácidas (Figura 2.15) e uma importante sensibilidade dos materiais
a soluções alcalinas (Figura 2.16).
69
Capítulo 2
Geossintéticos
Referência
Deformação (%)
82
12,0 12,2 77
12 80 76
10 70
60
8 50
6 40
PET PP PET PP
a) b)
Figura 2.15 – Efeito de soluções ácidas em geotêxteis não tecidos em PP e PET (adaptado de Santos et
al., 2002).
22
Referência 20,5
Resistência à tracção (kN/m)
Danificada 20
16
15,0 Rigidez (kN/m2)
18
14 90
Deformação (%)
82 82
12,0 11,9 16
12 80 73 72
14,6 14,5
10 70 14 11,0
7,9 60
8 12
50
6 40 10
PET PP PET PP PET PP
a) b) c)
Figura 2.16 – Efeito de soluções alcalinas em geotêxteis não tecidos em PP e PET (adaptado de Santos et
al., 2002).
70
CAPÍTULO 3
3.1 INTRODUÇÃO
72
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Esta última observação, da maior concentração de finos por baixo dos pontos de
contacto dos agregados, foi já confirmada por vários autores (Lafleur et al., 1990),
que a justificam pela mudança na estrutura do geotêxtil sob tensão. Estes mesmos
autores, realizando ensaios com geotêxteis não tecidos, sujeitos a cargas cíclicas
numa célula de consolidação (Figura 3.1) com agregados de 2 e 6mm, observaram
uma mudança na distância entre fibras da estrutura do geotêxtil sob tensão,
conforme este se encontre por baixo ou entre partículas de agregado. Assim,
seguindo a técnica desenvolvida por Masounave et al. (1980) para análise da referida
distância entre fibras foi feita a impregnação da amostra de geotêxtil com resina e
posterior análise da sua microfotografia. Os resultados desse estudo permitiram
retiras as seguintes conclusões: sendo a distância entre pontos de contacto na
superfície do geotêxtil sensivelmente idêntica ao diâmetro das partículas do
agregado, vem que as tensões induzidas pelo agregado de 6mm são nove vezes
superiores às do de 2mm, já que os pontos de contacto por área unitária de
superfície são nove vezes inferiores. Assim, a modificação da estrutura do geotêxtil é
directamente proporcional à razão entre a dimensão média dos agregados e a
espessura do geotêxtil.
73
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Pistão de carregamento
Sub-base
Nível de água
Geossintético
Solo de fundação
74
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
3 Geotêxtil virgem
S1
2 C3
2mm
6mm
Geotêxtil colmatado
0.5
0.4 15mm
0.3
C3
0.2
6mm
0.1
1 5 10
Frequência(Hz)
3
Permeabilidade do geotêxtil(10^-3 m/s)
2 S1
C3
0.5
S1
0.4
0.3
C3
75
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
- argilas compactas
O equipamento utilizado pelos autores consistia num pistão acoplado a motores com
rodas excêntricas, que aplicava cargas a uma amostra contida num recipiente. Este
equipamento (Figura 3.4) é capaz de aplicar na amostra tensões até 200kPa à
frequência de 25 ou 50Hz.
Motores de
rodas
excêntricas
Transdutor de deslocamento
Transdutor de carga
Argila
Figura 3.4 – Equipamento utilizado em argilas compactas (adaptado de Faure e Imbert, 1996).
A amostra era constituída por 2 camadas que podiam, ou não, ser separadas por um
geossintético. As duas camadas pretendiam ser representativas do solo de fundação e
da camada granular que constitui o balastro/sub-balastro. As suas composições eram:
76
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
- o agulhado mostra ser o mais eficaz, com uma redução de 2/3 relativamente ao
termoligado.
25
20
15 Termoligado
10
5 Agulhado
0
10 12 14 16 18 20
Peso específico da argila(KN/m3)
Figura 3.5 – Influência dos geotêxteis na subida de finos (adaptado de Faure e Imbert, 1996).
77
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
- argilas moles
Quadro 3.1- Propriedades dos geotêxteis utilizados (adaptado de Faure e Imbert, 1996).
Dimensão característica dos
2
Geotêxtil Descrição M.u.a (g/m ) poros (peneiração
hidrodinâmica)
PF(150,125) Não tecido agulhado 150 125
PF(220,90) Não tecido agulhado 220 90
PF(320,75) Não tecido agulhado 320 75
TP(136,20) Não tecido termoligado 136 20
TP(200,70) Não tecido termoligado 200 70
tPT(48,120) Tecido monofilamento 48 120
AM(230,105) Fita tecida 230 105
A amostra foi comprimida simetricamente por dois pistões e aplicada uma carga
cíclica de 100kPa a uma frequência de 1Hz durante 40 000 ciclos. A argila era
saturada e ligeiramente consolidada, apresentando as seguintes propriedades:
- γd=11KN/m3
- W=48%
- Wl=53%
78
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
40
Massa de solo movimentada/(n.Of.Tg)
(106kg/m4)
35
PF(150,125)
30 PF(220,90)
PF(320,75)
25 TP(68,330)
Não tecido termoligado TP(136,120)
20
TP(200,70)
15
10
0
1000 10000 100000
Número de ciclos
Figura 3.6 – Variação da massa de solo movimentada com o número de ciclos (n: porosidade;
Tg:espessura; Of: Dimensão aparente dos poros do geotêxtil). (adaptado de Faure e Imbert, 1996).
PF(150,125)
tPT(48,120) PF(220,90)
1,5 PF(320,75)
TP(136,120)
TP(200,70)
1 tTP(48,120)
SC(150,90)
AM(230,105)
0,5
0
1000 10000 100000
Número de ciclos
79
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Figura 3.7 – Influência do tipo de estrutura na massa de solo que atravessa o geotêxtil. (adaptado de
Faure e Imbert, 1996).
0,9
Massa de solo presa na estrutura do geotêxtil
0,8 (kg/m2)
0,7
PF(150,125)
0,6 PF(220,90)
PF(320,75)
0,5 Agulhado
TP(68,330)
0,4
TP(136,120)
0,3 TP(200,70)
0,2
Termoligado
0,1
0
1000 10000 100000
Número de ciclos
Figura 3.8 – Quantidade de solo presa no interior da estrutura do geotêxtil (adaptado de Faure e Imbert,
1996).
0.9
Massa de solo presa/n.Tg PF(150,125)
0.8 (10-3 kg/m3)
PF(220,90)
0.7 PF(320,75)
0.6 TP(68,330)
Termoligado
TP(138,120)
0.5
TP(200,70)
0.4 Agulhado
0.3
0.2
0.1
0.0
1000 10000 100000
Número de ciclos
Figura 3.9 – Evolução da taxa de poluição com o número de ciclos (adaptado de Faure e Imbert, 1996).
80
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Figura 3.10 - Esquema representativo do equipamento em escala real “Vibrogir” (adaptado de Nancey e
Imbert, 2002).
81
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
- por observação visual, nas 20h para condições saturadas, foi vista uma grande
quantidade de finos (esta conclusão está de acordo com a de Faure e Imbert, 1996);
14
12
10
Permissividade (mm/s)
82
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
20kPa 200kPa
12
10
8
(10-6m2/s)
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
Duração do carregamento no "Vibrogir"
Numerosos estudos "in situ" têm vindo a ser realizados nos caminhos de ferro Norte
Americanos desde os anos 80, com o objectivo de promover a reabilitação das zonas
mais problemáticas das suas linhas-férreas. Esta investigação tem sido levada a cabo
pela Universidade de Queen's (liderada por G.P.Raymond) para a C.N.R.(Canada
National Rail), C.P.R.(Canada Pacific Rail) e T.C.(Transport Canada). Vários
documentos, Raymond et al. (1981), Raymond e Gerry (1982), Raymond (1984),
Raymond (1985) e Raymond (1999), com recomendações, têm vindo a ser elaborados
com as propriedades a exigir aos geossintéticos para aplicação aos caminhos de ferro.
Raymond, G.(1999) exumou vários tipos de geotêxteis tecidos, não tecidos finos
termoligados, não tecidos agulhados com filamentos contínuos e descontínuos, todos
eles com m.u.a. inferior a 475g/m2. Os resultados mostraram que em sítios com
graves deficiências do sistema de drenagem todos os geotêxteis falharam na função
de separação e filtragem/drenagem, ao ponto de permitirem o bombeamento de
finos. Tal como constatado em Raymond (1984) os geotêxteis tecidos e os não tecidos
finos termoligados colmataram, agindo como impermeáveis, criando-se por baixo
destes uma fina película de lodo plástico (com finos<75µm). A análise à superfície do
solo de fundação indica que o geotêxtil indicado para esta utilização deve ser do tipo
não tecido agulhado com m.u.a superior a 500g/m2.
83
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
3.2.1.4 Conclusões
5. uma maior m.u.a. e espessura dos geotêxteis não tecidos garante um melhor
desempenho no controlo do fenómeno de contaminação do balastro e
sobrevivência a fenómenos de danificação;
84
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
85
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Figura 3.13 – Geomembrana betuminosa incrustada de partículas de balastro (adaptado de Imbert et al.
1996).
86
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Figura 3.14 – Equipamento para simulação de tráfego ferroviário (Tebay et al. 2002).
Figura 3.15 – Perfil de carregamento das travessas (adaptado de Tebay et al. 2002).
87
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Uma aplicação mais recente, descrita num estudo de Selig et al.(2002), de uma
geomembrana betuminosa reforçada – Coletanche NTP4 - confirma a sua eficácia na
resolução do problema de "amolecimento" do solo de fundação causado pela entrada
de água na plataforma. Maior detalhe relativamente a esta aplicação pode ser
consultado no referido estudo.
3.2.2.3 Conclusões
88
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
89
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Ensaios em escala real, realizados por Jain e Kesheav (1999) num equipamento de
dimensões 13x3,75m com carregamentos de 20 a 32 ton aplicados a frequências de 2-
5 Hz mostram a eficácia da aplicação de 1 e 2 níveis de geogrelhas biaxiais,
colocadas no interior da camada de sub-balastro. As amostras são constituídas por
uma camada de balastro com 0,3m de espessura, outra de sub-balastro com 0,6m e o
solo de fundação com 2m. Os resultados desse mesmo estudo, segundo Montanelli e
Recalcati (2003), podem ver-se no Quadro 3.2 e correspondem somente às
solicitações dinâmicas. Estas solicitações dinâmicas são obtidas a partir das totais,
medidas à profundidade de 0,9m da base das travessas, deduzidas da carga estática,
correspondente ao peso das camadas de balastro e sub-balastro. Como se pode ver, a
introdução de 1 nível de geogrelhas reduz as solicitações dinâmicas entre 20 e 40%,
aumentando essa redução para 30 a 60% com dois níveis de reforço.
90
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Quadro 3.2– Influência da aplicação de reforços na redução das cargas dinâmicas medido 0,9m abaixo
das travessas (adaptado de Montanelli e Recalcati, 2003).
Sem reforço Um nível de reforço Dois níveis de reforço
Carga/eixo
Tensões Tensões Tensões
dinâmicas dinâmicas Redução(%) dinâmicas Redução(%)
(ton)
(KPa) (KPa) (KPa)
16,00 18,79 10,94 42 7,51 60
20,32 24,84 16,99 32 13,07 57
22,10 27,34 19,49 29 15,56 43
25,00 31,40 23,55 25 19,63 37
30,00 38,41 30,56 20 16,64 31
No estudo inicial de Jain e Kesheav (1999), a principal conclusão extraída foi que a
camada de 1m de espessura medida a partir da base das travessas é que realmente
governa a capacidade de carga da infraestrutura ferroviária, visto que é aqui onde se
processa a maioria das degradações de tensões; a partir deste ponto um aumento das
cargas de tráfego conduz apenas a aumento marginal das tensões no solo, conforme
se pode ver na Figura 3.17. Isto significa que intervenções na infraestrutura para o
aumento da capacidade de carga podem ser limitadas ao 1m de solo superficial, ou
seja, dentro das camadas que constituem a infraestrutura ferroviária.
Tensão(Kg/cm2)
Profundidade abaixo das travessas(cm)
40
80
120
Legenda:
160 20,32 ton/eixo
200 22,10 ton/eixo
23,50 ton/eixo
240 25,00 ton/eixo
30,00 ton/eixo
Figura 3.17 – Variação das tensões induzidas em profundidade (adaptado de Jain e Kesheav,1999).
91
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
valores para a rigidez da fundação (fundação rígida, fundação de média rigidez com
Em=4,4MN/m2 e fundação compressível com Em=0,0625MN/m2).
Ensaios sobre agregados angulares compactos com tensões de Wr=100 kPa mostraram
que o reforço conduziu a uma redução nos assentamentos plásticos de 30% (fundação
rígida) e a 37% (fundação compressível) após 10 000 ciclos de carga. O efeito de
reforço mostrou-se ainda de maior eficácia para os agregados em condições soltas. O
autor concluiu que a utilização de reforços nas estruturas ferroviárias reduz
efectivamente os assentamentos plásticos nos materiais granulares angulares.
No que toca à quebra de partículas, o autor verificou que a maior quebra se deu para
o solo de fundação de maior compressibilidade. A introdução do reforço reduz a
quebra de partículas em 30,2 a 36,7%. O autor afirma que o reforço do balastro é
benéfico na redução da quebra de partículas, aumentando a longevidade do balastro.
A monitorização de obras "in situ" com a aplicação de geogrelhas não é ainda muito
frequente e detalhada, sendo os resultados até à data apresentados em termos de
extensões medidas à profundidade de colocação dos elementos de reforço. Assim,
somente serão comparados os resultados obtidos com alguns valores já medidos
noutras monitorizações, consideradas de referência.
92
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
1m
Nível inferior da geogrelha
instrumentada
8 7 6 5 4 3 2 1
0,5m
6,5m
93
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Dada a escassez de materiais granulares que cada vez mais se verifica para as obras,
não só pela efectiva falta desses, mas também pelo impacte ambiental associado à
exploração de pedreiras, surge a reciclagem de balastro. A reciclagem do balastro
consiste na recolha do balastro usado em linhas-férreas e sua posterior peneiração. A
granulometria do material reciclado a utilizar deve ser idêntica à de um novo
balastro. Apesar de a granulometria ser idêntica, o seu comportamento não será
idêntico.
94
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
95
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Quadro 3.4 - Propriedades dos geossintéticos utilizados por Indraratna et al. (2002).
Propriedade Geogrelha Geogrelha+Geotêxtil
Resistência à tracção 30 x 30KN/m 30KN/m
Elongação na rotura 11 x 10 % 11%
Resistência à tracção a 2% de elongação 10,5 x 10,5KN/m -
Resistência à tracção a 5% de elongação 21 x 21KN/m -
2
Massa por unidade de área 420g/m 560g/m2
Dimensão das aberturas da geogrelha 40 x 40mm 40 x 40mm
Foram colocadas células de leitura na base das travessas e do balastro para medir
deformações verticais, assim como nas paredes verticais da célula para medir as
deformações horizontais.
Segundo os autores, e como se pode ver na Figura 3.20, no que respeita aos
assentamentos medidos na base das travessas, as principais conclusões são:
Nº de ciclos
15
20
Estabilização
Rápido incremento 25 ton/eixo a 15 Hz
25
dos assentamentos
Figura 3.20 - Assentamento da travessa versus número de ciclos de carga (adaptado de Indraratna et
al., 2002).
96
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
97
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Nº de ciclos
Figura 3.21 - Variação da extensão principal máxima ε1 com o número de ciclos (adaptado de Indraratna
et al., 2002).
As extensões laterais ε2 e ε3, apresentadas nas Figuras 3.22 e 3.23, foram calculadas
a partir da média dos deslocamentos laterais das paredes verticais e das dimensões
iniciais dos provetes. A extensão ε2 (extensão principal intermédia) é correspondente
à direcção perpendicular à orientação das travessas, ou seja, o alinhamento
longitudinal da linha-férrea, e ε3 (extensão principal mínima) corresponde à direcção
de orientação das travessas.
98
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Nº de ciclos
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
0,0
-0,4
Extensão intermédia ε2(%)
-0,8
ε1(+)
Figura 3.22 - Variação da extensão principal intermédia ε2 com o número de ciclos (adaptado de
Indraratna et al., 2002).
Para a extensão principal mínima ε3, apresentada na Figura 3.23, as conclusões são
semelhantes às referidas para ε2.
99
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Nº de ciclos
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
0.0
-0.5
ε1(+)
-1.5
Figura 3.23 - Variação da menor extensão principal mínima ε3 com o número de ciclos (adaptado de
Indraratna et al., 2002).
Note-se a eficiência que a aplicação deste tipo de reforço tem na contenção lateral
do balastro, diminuíndo, ou mesmo eliminando, a necessidade da existência de
ombreiras de balastro.
100
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
3.2.3.4 Conclusões
Do apresentado pode concluir-se que os estudos laboratoriais e "in situ" são unânimes
quanto à vantagem da aplicação de geogrelhas na infraestrutura da ferrovia. Como
principais conclusões dos estudos apresentados realça-se que a aplicação de
geogrelhas permite:
101
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
De acordo com a ISO 13427 (1998), define-se abrasão como o desgaste de qualquer
parte de um material por fricção com outra superfície. Nas aplicações ferroviárias, o
geossintético sofre desgaste maioritariamente provocado pelas partículas de balastro
com que contacta, que por acção das cargas cíclicas tende a ter pequenos mas
continuados deslocamentos. Este fenómeno vem já sendo constatado desde os anos
80, pelo que desde essa altura se têm vindo a desenvolver equipamentos
laboratoriais que simulem esse fenómeno. Os resultados da bibliografia
relativamente aos fenómenos de abrasão dizem respeito somente à perda de
resistência à tracção dos geossintéticos, não sendo feita qualquer referência à
alteração das suas propriedades hidráulicas.
102
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Quadro 3.5– Descrição dos processos de abrasão (adaptado de Raymond et al., 1982).
Processo de abrasão Descrição do fenómeno
Alihamento Filamentos de geotêxteis, previamente não alinhados, tendem a ficar
alinhados numa direcção preferencial.
Nódulos Filamentos individuais são parcialmente desagregados da estrutura ,
formando pequenos nódulos.
Corte Filamentos individuais são primeiramente quebrados e depois cortados
na direcção transversal do filamento.
Achatamento A espessura de filamentos individuais é reduzida, enquanto a sua largura
é aumentada, produzindo achatamento.
Desagregação superficial Os filamentos superficiais são total, ou parcialmente, desagregados da
estrutura que compõe o geotêxtil.
Perfuração Filamentos individuais sofrem desgaste por vários processos,
desenvolvendo-se uma abertura no geotêxtil.
Separação Filamentos individuais separam-se da estrutura. Limitado a geotêxteis
não tecidos.
103
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Os resultados obtidos podem ver-se no gráfico da Figura 3.25. É possível observar que
o número de rotações diminui com o aumento da duração do carregamento. Segundo
os autores, estima-se que uma duração de carregamento no Vibrogir de 250h
corresponda, potencialmente, a um período de vida útil de 25 a 30 anos na estrutura
ferroviária.
Número de rotações
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
0 50 100 150 200 250 300
Figura 3.25 - Evolução da resistência à abrasão segundo ASTM D 3884 (adaptado de Nancey e Imbert,
2002).
Pese embora o tipo de equipamento para simulação da abrasão não ser adequado ao
tipo de abrasão verificada nas estruturas ferroviáras, constata-se que os resultados
são condizentes com os obtidos "in situ" por Hausmann et al. (1990), na medida em
104
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
que o grau de abrasão dos geotêxteis aumenta com o volume de tráfego circulante
ou, neste caso o número de rotações.
105
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Contador de
rotações Eixo de rotação
Cilindros
Motor
Figura 3.26 – Ensaio de Deval segundo BS 812 (adaptado de Hausmann et al. 1990).
Os resultados dos ensaios de tracção podem ver-se na Figura 3.27a e Figura 3.27b,
correspondentes aos provetes intactos e após abrasão. Aí é visível que os
geocompósitos são os que menor perda de resistência sofrem, vindo inclusivé a sua
resistência aumentada. Isto é justificado pela protecção que os geotêxteis não
tecidos, colocados superiormente, oferecem aos geotêxteis tecidos, e pela maior
proximidade e interacção que estes dois materiais tendem a ter. Esta maior
proximidade e interacção surge em consequência do impacto provocado pelas
partículas de balastro na face do geocompósito. Também é visível que os geotêxteis
de maior m.u.a. são os que menor perda de resistência sofrem.
Resistência retida após abrasão (%)
200
2000
Carga de rotura (N)
100
1000
Tecido Tecido
Não-tecido Não-tecido
Combinação Combinação
0 0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Massa por unidade de área g/m2 Massa por unidade de área g/m2
Figura 3.27 – Resultados de geotêxteis ensaiados à tracção pelo método da tira (adaptado de Hausmann
et al. 1990).
106
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Figura 3.28 – Perdas de resistência à tracção de geotêxteis não tecidos avaliadas pelo método da tira
após exumação (adaptado de Hausmann et al. 1990).
Por último, será também de mencionar que estes valores de perda de resistência à
tracção foram comparados aos dos ensaios laboratoriais realizados na máquina de
Deval modificada, mostrando considerável paralelismo (Hausmann et al., 1990).
Um dos factores que mais influencia a abrasão que um geotêxtil sofre, para além dos
expostos, é a profundidade da sua colocação. Com efeito, quanto maior for a sua
profundidade de colocação, menores serão as tensões a que este estará sujeito, logo
potencialmente será sujeito a menor danificação por abrasão. Koerner (1999) refere
um estudo realizado por Raymond, onde este exumou um grande número de
geotêxteis, e quantificou (Figura 3.29) o desgaste verificado em função da sua
profundidade de colocação abaixo da base das travessas. Assim, segundo o autor,
para que seja evitada a perfuração do geotêxtil durante a sua instalação e abrasão
em serviço será necessário colocar o geotêxtil a uma profundidade superior a 41cm,
107
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
5.0
2.5
0 250 500
Profundidade de colocação do getêxtil medida por exumação(mm)
Figura 3.29 – Danificação do geotêxtil versus profundidade de colocação (adaptado de Koerner R. 1999).
3
4 6
12 1 - Placa metálica deslizante
2 - Placa metálica calibrada estacionária
3 – Pesos de calibração
5 4 – Movimento
5 – Motor com contador de ciclos
6 – Excentricidade de 12.5mm
Figura 3.30 – Equipamento para simulação da abrasão sofrida pelos geotêxteis em aplicações ferroviárias
(EN ISO 13427 - 1998).
108
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
A DDI tem vindo a ser constatada pela exumação de geossintéticos, após aplicação
em obra, e inspecção visual da sua superfície. A primeira impressão é geralmente de
poeira e sujidade e abrasão superficial da estrutura do material. Se a dimensão das
partículas do solo for grande (≥ 5mm) há áreas do geossintético que ficam
perturbadas, sendo o mesmo esperado se o subsolo for mole (Greenwood, 1998).
100
80
Resistência retida em %
80 Limite Superior
70
60
50
40
30 Limite Inferior
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120
2
Número de Perfurações por m
Figura 3.31 – Número de perfurações versus resistência retida (adaptado de Koerner e Koerner, 1990).
109
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Função de Filtragem/Separação
Quadro 3.6 – Forma e tipo de material granular a aplicar (adaptado de Braϋ, 1998).
110
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Condições de aplicação
Casos de aplicação
AB1 AB2 AB3 AB4
Quadro 3.9 – Propriedades mínimas a exigir aos geotêxteis (adaptado de Braϋ, 1998).
111
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
tipo de medida protectora foi inclusivé já confirmado por vários autores (Ashpiz et
al. 2002) após exumação de amostras "in situ" na linha-férrea St. Petersburg-
Moscovo, com um e cinco anos de utilização. Neste caso, tratava-se de uma obra de
reabilitação, em que o geossintético (geotêxtil não-tecido termoligado com m.u.a.
290g/m2) era aplicado entre duas camadas de balastro, uma nova e a já existente. Os
resultados mostraram que a camada de areia melhora o desempenho do geotêxtil,
sendo que ao fim do primeiro ano de utilização foram verificadas pequenas
perfurações no geotêxtil com 1-2mm, representando estas apenas cerca de 0,2% da
área do geotêxtil. Os resultados ao fim de cinco anos mostraram que a área
danificada do geotêxtil corresponde a cerca de 0,3%.
Função de reforço
112
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Quadro 3.10 – Coeficientes de redução a adoptar para ter em conta a DDI (adaptado de AASHTO, 1997).
Coeficiente de redução
Material de aterro tipo I Material de aterro tipo II
Nº Geossintético
Máx. Dimensão 102mm Máx. Dimensão 20mm
D50 na ordem dos 30mm D50 na ordem dos 0,7mm
1 Geogrelha uniaxial em PEAD 1,20 – 1,45 1,10 – 1,20
(1)
m.u.a. ≥ 270 g/m2
A DDI a que um geossintético fica exposto "in situ", pode ser simulada
laboratorialmente, adequando as condições em laboratório às que se irão verificar no
local de aplicação. O equipamento laboratorial actualmente utilizado para simulação
da DDI a nível Europeu é descrito na EN ISO 10722-1(Geotextiles and related products
– Procedure for simulating damage during installation – Part1 : installation in granular
materials).
113
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Khay et al. (1998) realizaram um estudo neste equipamento sobre dois geotêxteis
não tecidos e um geotêxtil tecido a fim de avaliar a influência que o número de
ciclos e a pressão têm na danificação das amostras. As conclusões desse estudo foram
que a resistência à tracção retida nos geotêxteis variou entre 50 e 100%, e que o
factor que mais influencia a danificação é a pressão aplicada pela placa de
carregamento. O aumento desta pressão leva a um decréscimo da resistência à
tracção retida. Foi ainda notório que os geotêxteis não tecidos agulhados são os mais
sensíveis à danificação.
No estudo de Lopes e Lopes (2001) foram danificados "in situ" geotêxteis tecidos,
geogrelhas tecidas biaxiais e geogrelhas extrudidas biaxiais, com energias de
compactação de 90 e 98%, e com os Solos 1 (tipo "tout-venant") e 2 (residual do
granito), apresentados na Figura 3.32. Estes mesmos geossintéticos foram também
danificados em laboratório, com o material sintético (Corundum) prescrito na EN ISO
10722-1.
100
90
80
70
% Passados
60
50 Granítico (lab.)
40 Calcário (lab.)
30 Solo 1
20 Solo 2
10
0
0,05 0,1 0,5 1 5 10 50 100
Dimensões das particulas (mm)
Areia Seixo
Silte Fina Média Grossa Fino Médio Grosso Calhau
Figura 3.32 – Curvas granulométricas dos solos utilizados nos ensaios de danificação de campo e de
laboratório (adaptado de Paula, 2003).
114
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
in situ_Solo 2_ 98%
101,3
99,1 98,8
95,1
90,3 90,6 89,3 88,7
76,0 77,5
75,2 74,7 74,9
64,7
62,6
59,9
56,1 55,1
43,2
34,2
Figura 3.33 – Resistência retida (em %) dos geossintéticos danificados no campo e em laboratório.
(adaptado de Paula, 2003).
115
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
Por último, para a geogrelha tecida biaxial, verificou-se que a utilização laboratorial
dos solos graníticos e calcários conduz a resultados muito optimistas. No entanto, a
utilização do material sintético conduz a resultados muito semelhantes aos obtidos
com o "tout-venant", cerca de 4,5% (do lado da segurança) e 9% (pelo lado da
insegurança) para graus de compactação de 90 e 98%, respectivamente.
3.4 CONCLUSÕES
Ao longo deste capítulo foi apresentada uma síntese dos factores que mais
directamente influenciam o desempenho dos geossintéticos quando aplicados em
linhas-férreas, tanto em termos de funções como de durabilidade. Nesse sentido,
foram apresentados os equipamentos laboratoriais que suportam os resultados
apresentados, e por fim, quando possível, os resultados obtidos pela exumação de
amostras "in situ".
116
Capítulo 3
Aplicação de Geossintéticos em Linhas-Férreas
117
CAPÍTULO 4
ESTUDO LABORATORIAL DOS FENÓMENOS DE DANIFICAÇÃO DURANTE A INSTALAÇÃO E ABRASÃO
4.1 INTRODUÇÃO
3
4 6
12 1 - Placa metálica deslizante
2 - Placa metálica calibrada estacionária
3 – Pesos de calibração
5 4 – Movimento
5 – Motor com contador de ciclos
6 – Excentricidade de 12,5mm
Figura 4.1– Representação esquemática do equipamento de simulação da abrasão (EN ISO 13427, 1998).
120
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Figura 4.2 – Equipamento laboratorial desenvolvido para simulação da abrasão de acordo com a EN ISO
13427 (1998).
121
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Ambas as placas são dotadas de garras nas extremidades para segurar quer o
geossintético quer a película abrasiva. Estas garras possuem rugosidade para evitar o
escorregamento do provete e da película abrasiva durante o ensaio de abrasão. A
Figura 4.4 apresenta o tipo de garras adoptadas para o equipamento desenvolvido.
Figura 4.5 – Esticador utilizado para eliminação de folgas entre o geossintético e a placa.
122
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Figura 4.6 – Pesos aplicados à placa superior para garantir a pressão de 6 kPa sobre o geossintético.
123
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
O programa de ensaios definido neste estudo foi realizado sobre dois geotêxteis não
tecidos distintos cujas características, de acordo com as especificações do
fabricante, se apresentam no Quadro 4.1. A escolha deste tipo de geotêxteis foi feita
de acordo com o sugerido na bibliografia da especialidade para funções de filtragem,
drenagem e separação, onde estes se revelam com melhor comportamento a longo
prazo.
Como se pode ver, foram escolhidos dois geotêxteis não tecidos com m.u.a.
diferente. O GT2 tem, segundo o fabricante, a m.u.a. mínima admissível para poder
ser aplicado em obras ferroviárias, daí que se tenha optado por ensaiar um
geossintético com esta m.u.a.. A opção pelo GT1 foi feita por ser um geossintético
com uma elevada m.u.a., e por isso mais adequado no uso em obras ferroviárias, e
sobre o qual já se dispõem de diversos resultados, obtidos no LGS da F.E.U.P.,
havendo neste sentido todo o interesse em complementar essa base de dados.
124
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
GT1 GT2
Espessura (2KPa)
(mm) 5,3 2,5
(EN 964-1)
Resistência ao punçoamento
KN 7,2 ± 10% 3,3 ± 10%
(EN ISO 12236)
Permissividade (∆h=50mm)
l/m2.s - 70 ± 30%
(EN ISO 11058)
125
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
126
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
200mm
50mm
50mm
Figura 4.9 – Dimensões dos provetes a utilizar no ensaio de tracção de acordo com a EN ISO 10319.
Uma vez cortados os provetes e apertadas as cunhas, com o provete no seu interior,
estas são colocadas paralelamente uma à outra no suporte (Figura 4.10a) que se
encontra ligado a uma célula de carga.
A célula de carga faz parte do braço da máquina de tracção que realiza o movimento
solicitante no provete. Este movimento, de acordo com a EN ISO 10319, é de
(20±5)%/minuto sendo continuamente registados, através da célula de carga, os
valores da relação força-extensão. O registo é feito num computador que se encontra
127
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
128
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
100
% passados acumulada
80
60
40
20
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
129
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Figura 4.14 – Ensaio de porometria: peneiração por via húmida (prEN ISO 12956).
O ensaio decorre durante 600 segundos, findos os quais devem ser desligados o
equipamento de peneiração e o abastecimento de água. O material que atravessa o
geotêxtil é recolhido num recipiente, sendo o provete retirado do equipamento e
colocado num recipiente separado. Estes dois recipientes são colocados em estufa a
uma temperatura de 60ºC, até que seja evaporada toda a água do material granular e
até que o provete do geotêxtil esteja seco.
São então pesados o material granular retido sobre o geotêxtil, o geotêxtil com o
material granular retido e o material granular passado através do geotêxtil. O
material passado é peneirado nos peneiros da série ISO 565/R20 e é traçada a curva
granulométrica desse material. Determina-se a dimensão das partículas do solo O90,
correspondente ao valor de 90% das partículas passadas.
130
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
3.Placa de carregamento – é constituída em aço inoxidável, com uma rigidez tal que
na transmissão da força ao agregado não sofra flexão, tendo dimensões de
100x200mm.
131
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
100mm
250mm
200mm
300mm
Placa de carga (100mmx200mm)
Provete de geossintético
Esta norma especifica que o material granular a utilizar seja um agregado sintético
de óxido de alumínio normalizado, tendo partículas de dimensões entre os 5 mm e os
10mm. O mesmo material deve ser peneirado, com o peneiro de 5mm, após 5
utilizações, e rejeitado ao fim de 20 utilizações.
132
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
dimensões das partículas e sua forma angular) tão uniformemente quanto possível ao
longo dos ensaios de todos os provetes.
a)Placa utilizada na compactação das camadas inferiores b)Aplicação de tensão na placa de compactação
900
800
700
600
q(kPa)
500
400
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
t(s)
133
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Terminada a aplicação dos 200 ciclos de carga, o material granular e o provete são
cuidadosamente removidos da caixa, sem que o provete sofra qualquer tipo de
danificação adicional à provocada pelo ensaio. Estes provetes são marcados com a
forma do provete do ensaio a realizar em seguida (de acordo com o programa de
ensaios pode realizar-se o ensaio de tracção, porometria ou abrasão) e cortados pela
marcação. Seguem-se então os procedimentos definidos para cada um dos referidos
ensaios.
Figura 4.19 – Fixação da película de abrasivo à placa inferior deslizante do equipamento de abrasão.
134
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Figura 4.20 – Colocação do provete de geotêxtil à placa superior do equipamento de simulação da abrasão.
135
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Aqui far-se-á a apresentação e análise dos resultados obtidos em cada um dos ensaios
realizados. Dar-se-á, naturalmente, maior relevância aos fenómenos observados no
ensaio de abrasão por este se tratar de um ensaio sobre o qual não são ainda
conhecidos resultados.
No Quadro 4.3, é possível observar o resumo dos resultados obtidos nos ensaios de
tracção para os provetes intactos. Estes geotêxteis apresentam comportamentos
distintos quando solicitados segundo a direcção de fabrico e segundo a direcção
perpendicuar à de fabrico, característica tipicamente exibida por geotêxteis não-
tecidos agulhados. O andamento das curvas força-extensão pode ser analisado no
Anexo 1, tendo o seu comportamento durante o ensaio sido considerado satisfatório,
não tendo ocorrido escorregamento de nenhum dos provetes nas garras, nem terem
existido roturas nos provetes a menos de 5mm destas.
Provetes Intactos
Ensaio Tracção Ensaio Elongação
(EN ISO 10319) (EN ISO 10319)
Valor
Valor médio
médio da
Geotêxtil Coef. da elongação Coef.
força Desvio Desvio
variação para a força variação
máxima na padrão padrão
(%) máxima (%)
rotura
(%)
(kN/m)
Direcção
24445,77 4,13 1010,68 134,08 5,33 7,15
Fabrico
GT2 Direcção
Perpendicular 24591,35 6,35 1560,59 57,46 11,87 6,82
Fabrico
Direcção
43983,82 6,25 2750,19 104,20 6,49 6,77
Fabrico
GT1 Direcção
Perpendicular 45146,11 4,20 1896,40 84,39 5,56 4,69
Fabrico
136
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Uma das características que mais acentuadamente diferencia estes dois geotêxteis,
para além da resistência à tracção, é a maior elongação na rotura exibida pelo GT2
nas duas direcções, o que poderá ser benéfico no contacto com as partículas de
balastro, na medida em que com maior facilidade se adapta à forma e dimensão
destas, sem sofrer rotura.
100 100
% Passados
% Passados
90 O90=0,137 90 O90=0,138
80 80
70 70
0,01 0,1 1 0,01 0,1 1
Diâmetro equivalente(mm) Diâmetro equivalente(mm)
a) GT1 b) GT2
137
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
a)GT1 b)GT2
Provetes Intactos
Ensaio Tracção Ensaio Elongação
(EN ISO 10319) (EN ISO 10319)
Valor Valor médio
médio da da
Geotêxtil Coef. Coef.
força Desvio elongação Desvio
variação variação
máxima padrão para a força padrão
(%) (%)
na rotura máxima
(kN/m) (%)
Direcção 15830,823 11,89 1881,83 70,78 9,47 6,71
Fabrico
GT2 Direcção
Perpendicular 16584,90 8,41 1394,52 38,03 14,53 5,52
Fabrico
Direcção 41241,92 12,70 5238,79 93,92 22,33 20,97
Fabrico
GT1 Direcção
Perpendicular 43635,92 7,89 3444,56 82,14 14,25 11,71
Fabrico
138
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
a) Pontos de fragilidade criados pela danificação b) Rotura dos provetes pelos pontos de fragilidade
100 100
90 90
%passados
%passados
O90=0,156 O90=0,157
80 80
70 70
0,01 0,1 1 0,01 0,1 1
Diâmetro equivalente(mm) Diâmetro equivalente(mm)
a) GT1 b) GT2
139
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Foi verificado que as partículas de balastro, pela elevada quebra de partículas que
apresenta, dá origem a um material de granulometria bastante fina que tende a
acomodar-se na estrutura dos geotêxteis (Figura 4.25), podendo alterar as
características da função de filtragem. No entanto, não foi possível isolar a influência
deste fenómeno na dimensão aparente dos poros devido à presença de cortes e
perfurações que facilitam a saída da água com solo misturado.
A observação dos ensaios no geotêxtil GT2 mostrou que a sua elevada elongação,
aliada à sua baixa resistência à tracção põe em causa os resultados do ensaio de
abrasão, isto porque se verifica que em muitos dos ensaios se geram folgas entre o
provete de geotêxtil e a placa superior do equipamento, aderindo o geotêxtil à
película de abrasivo e consequentemente anulando a simulação do fenómeno de
abrasão. Este tipo de comportamento pode, como já foi referido anteriormente, ser
benéfico nas aplicações que aqui se pretendem simular, já que permite ao geotêxtil
deformar-se, adaptando-se à forma das dimensões das partículas de balastro sem
sofrer rotura. Nos ensaios em que ocorreu abrasão, verificou-se que as suas
consequências são bastante gravosas, conforme se verifica na Figura 4.26,
apresentando desagregações superficiais parciais e totais, criação de nódulos,
alinhamento dos filamentos na direcção da abrasão e separação. Esta descrição dos
fenómenos de abrasão está de acordo com a apresentada no Quadro 3.5.
140
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Este efeito da abrasão na camada superficial faz com que o provete, quando
colocado na garra de tracção para ser solicitado, tenda a sofrer deslizamento pela
interface da camada desagregada com a restante estrutura. Esta tendência para o
deslizamento associada à elevada resistência à tracção levou a que tivesse de ser
adoptado, na zona das garras, uma colagem da zona de desagregação dos filamentos,
o que possibilitou a realização dos ensaios de tracção.
141
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
142
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Relativamente aos resultados dos ensaios de porometria, pode ver-se na Figura 4.29,
que o GT2 praticamente não sofreu qualquer alteração na dimensão aparente dos
seus poros, tendo aumentado de 0,138mm para 0,139mm. Isto deve-se ao facto de,
como já foi referido, o fenómeno de abrasão não ter sido simulado eficazmente neste
geotêxtil.
100 100
90 90
%passados
%passados
O90=0,102 O90=0,139
80 80
70 70
0,01 0,1 1 0,01 0,1 1
Diâmetro equivalente(mm) Diâmetro equivalente(mm)
a) GT1 b) GT2
O geotêxtil GT1 sofreu uma diminuição de cerca de 25% na dimensão aparente dos seus
poros, devida provavelmente ao destacamento parcial dos filamentos da estrutura do
geotêxtil, visível na Figura 4.27. Este destacamento parcial dos filamentos, dá origem à
formação de uma trama de filamentos superficiais solta, semelhante aquela presente
nos geotêxteis não tecidos antes da fase de agulhagem, com uma distribuição de poros
mais fechada. Repare-se também no facto de a colocação do provete de geotêxtil no
ensaio de porometria ter sido feita com a face que sofreu abrasão voltada no sentido
da colocação da camada uniforme de solo, o que pode dificultar, à partida, ainda mais,
143
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Da inspecção visual foi possível observar que o GT2 sofreu cortes e perfurações tendo
as dimensões de alguns desses atingido os 15mm, e alguma abrasão superficial
(Figura 4.30a), como resultado da DDI, e que o material granular fino resultante da
quebra das partículas de balastro ficou incrustado na estrutura do geotêxtil. Foi
observado que a incrustação dessas partículas finas permitiu a simulação mais eficaz
da abrasão (Figura 4.30b) devido a um aumento da rigidez da camada superficial da
sua estrutura. Este aumento da rigidez superficial deve-se, provavelmente, ao facto
de as partículas de solo incrustadas não permitirem a fácil movimentação dos
filamentos na estrutura do geotêxtil, não havendo por isso facilidade na elongação e,
como tal, permitindo a abrasão pela película de abrasivo. Esta abrasão causou um
ligeiro aumento nas aberturas dos cortes e perfurações, resultando em algumas
aberturas com 17mm.
O GT1, como consequência da DDI sofreu alguns cortes e perfurações (com cerca de
4mm) e alguma abrasão superficial, inferior ao GT2, apresentando partículas finas de
144
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Os resultados para o GT1 mostram que não houve grande variação na resistência
retida, tendo baixado somente cerca de 2% na direcção de fabrico, tendo inclusivé
aumentado cerca de 7% para a direcção perpendicular à de fabrico. Este aumento
pode dever-se à combinação da reorientação de alguns filamentos da estrutura do
geotêxtil com a presença de algumas partículas finas nessa mesma estrutura. Já
relativamente à elongação, foi verificada uma quebra, sem significado, em cerca de
145
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Provetes Intactos
Ensaio Tracção Ensaio Elongação
(EN ISO 10319) (EN ISO 10319)
Valor Valor médio
médio da da
Geotêxtil Coef. Coef.
força Desvio elongação Desvio
variação variação
máxima padrão para a força padrão
(%) (%)
na rotura máxima
(kN/m) (%)
Direcção 13723,22 23,23 3187,44 62,04 13,73 8,52
Fabrico
GT2 Direcção
Perpendicular 18200,30 6,49 1181,70 38,39 10,82 4,15
Fabrico
Direcção 43255,42 5,21 2254,04 75,23 9,01 6,78
Fabrico
GT1 Direcção
Perpendicular 48289,85 7,77 3752,95 80,94 15,60 12,63
Fabrico
146
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
100 100
90 90
%passados
%passados
O90=0,173
O90=0,252
80 80
70 70
0,01 0,1 1 0,01 0,1 1
Diâmetro equivalente(mm) Diâmetro equivalente(mm)
a) GT1 b) GT2
Figura 4.32 – Resultados do ensaio de porometria para provetes submetidos à D.D.I. e abrasão.
Este aumento do valor de O90 para o GT2 parece comprometer a sua utilização em
estruturas ferroviárias, pelo menos em contacto directo com o balastro, na medida
em a sua capacidade de retenção vem claramente diminuída (83%) e os cortes e
perfurações verificados permitem a passagem de partículas com dimensões máximas
de 17mm.
Nas Figuras 4.33 e 4.34 apresenta-se um resumo das variações da resistência retida à
tracção nos dois geotêxteis para os três níveis de danificação simulados
laboratorialmente. Aí, é visível que o tipo de danificação que mais influencia a
resistência dos geotêxteis, é a D.D.I. actuando isoladamente. Ao contrário do que
seria de esperar, a D.D.I. combinada com a abrasão, gera menores perdas de
resistência à tracção, sendo a justificação para este facto atribuída à reorientação
dos filamentos na estrutura dos geotêxteis.
147
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
GT 2
Direcção de Fabrico Direcção Perpendicular à de Fabrico
Variação percentual da resistência
120
100 99,9 100,0 98,7
100
à tracção retida(%)
74,0 Identificação
80 64,8 67,4
56,1 DDI
60
Abrasão
40
DDI+Abrasão
20
Figura 4.33 – Resumo dos resultados obtidos no ensaio de tracção para o geotêxtil GT2.
GT 1
Direcção de Fabrico Direcção Perpendicular à de Fabrico
Variação percentual da resistência
140 126,5
120,0
120 107,0
100,0 98,3 100,0 96,7
93,8
à tracção retida(%)
100 Identificação
80 DDI
60 Abrasão
40 DDI+Abrasão
20
0
Figura 4.34 - Resumo dos resultados obtidos no ensaio de tracção para o geotêxtil GT1.
Os resultados obtidos com para o GT2 revelam-se algo optimistas quando comparados
com os obtidos por Hausmann et al.(1990), realizados sobre amostras de geotêxteis
exumados de aplicações reais, e apresentados na Figura 3.28. Os dois geotêxteis
apresentam m.u.a. semelhantes, no entanto a perda de resistência varia de 67 a 74%
nos resultados obtidos por Hausmann et al. (1990), ao passo que no presente estudo
a máxima perda de resistência atinge os 45%. Este facto pode atribuir-se à
dificuldade de simulação laboratorial da abrasão no GT2.
148
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
aplicados " in situ" têm uma espessura bastante superior (cerca de 40cm) à utilizada
na presente parte experimental (15cm).
Porometria
200 183
dimensão aparente dos
Variação percentual da
50 DDI+Abrasão
0
GT2 GT1
Figura 4.35 – Variação da dimensão característica dos poros dos geotêxteis ensaiados.
Os aumentos verificados no valor de O90 para o GT1 não parecem comprometer a sua
utilização em aplicações ferroviárias, visto não existir a tendência para o aumento
das dimensões dos cortes e perfurações. Assim, justifica-se este aumento
149
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
4.6 CONCLUSÕES
150
Capítulo 4
Estudo Laboratorial da Danificação Durante a Instalação e Abrasão
Por último, deve ressalvar-se que a parte experimental aqui realizada, pretendeu
simular as condições de maior agressividade verificadas "in situ" para os geotêxteis,
ou seja, as obras de reabilitação, em que o geotêxtil é colocado em contacto com o
balastro nas suas duas faces, pelo que se julga que os resultados aqui obtidos se
possam considerar algo conservadores.
151
CAPÍTULO 5
DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
Será também de todo interessante avaliar a influência que estes dois fenómenos de
danificação têm nos coeficientes de permeabilidade dos geossintéticos, vista a
importância que a função de filtragem desempenha nesta aplicação e a tendência
para a existência nos geossintéticos de cortes e perfurações. Neste sentido será
também importante fazer o estudo sobre geossintéticos que revelem maior
resistência a cortes e perfurações, pela prática de técnicas especiais de fabrico com
adição de resinas, e conhecer qual a influência estas técnicas de fabrico podem ter
na sua função de filtro.
Por último, será também conveniente realizar o estudo destes fenómenos noutros
tipos de materiais geossintéticos, como geotêxteis tecidos, geotêxteis não tecidos
termossoldados e agulhados constituídos por filamentos contínuos e fibras, a fim de
conhecer o seu desempenho comparativamente ao dos materias aqui ensaiados.
- Anexo 1 -
156
Anexo1
- GT1 –
10000
9000
8000
7000
Amostra1
6000
Força(N)
Amostra2
5000 Amostra3
Amostra4
4000 Amostra5
Amostra6
3000
2000
1000
0
e(%)
10000
9000
8000
7000
Amostra1
6000
Força(N)
Amostra2
5000 Amostra3
Amostra4
4000 Amostra5
Amostra6
3000
2000
1000
0
e(%)
157
Anexo1
10000
9000
8000
Amostra1
7000
Amostra2
6000
Força(N)
Amostra3
5000
4000 Amostra4
3000 Amostra5
2000 Amostra6
1000
0
e(%)
10000
9000
8000 Amost
7000 ra1
Amost
6000 ra2
Forca (N)
5000 Amost
ra3
4000 Amost
3000
2000
1000
0
e(%)
158
Anexo1
14000
12000
10000 Amostra 1
Amostra 2
8000
Força(N)
Amostra 3
6000 Amostra 4
Amostra 5
4000 Amostra 6
2000
e(%)
12000
10000
Amostra 1
8000 Amostra 2
Força(N)
Amostra 3
6000 Amostra 4
Amostra 5
4000 Amostra 6
2000
e(%)
159
Anexo1
10000
9000
8000
Amostra 1
7000 Amostra 2
6000
Força(N) Amostra 3
Amostra 4
5000 Amostra 5
4000 Amostra 6
3000
2000
1000
0
0 20 40 60 80 100 120
e(%)
12000
10000
Amostra 1
8000 Amostra 2
Amostra 3
Força(N)
Amostra 4
6000
Amostra 5
Amostra 6
4000
2000
0 20 40 60 80 100 120
e(%)
160
Anexo1
- GT2 –
GT2_Identificação_Direcção de Fabrico
6000
5000
4000
Amost ra 1
Força(N)
Amost ra 2
3000 Amost ra 3
Amost ra 4
Amost ra 5
2000
1000
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
e(%)
6000
5000
4000
Amost ra 1
Força(N)
Amost ra 2
Amost ra 3
3000
Amost ra 4
Amost ra 5
Amost ra 6
2000
1000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
e(%)
161
Anexo1
4000
3500
3000
2500 Amostra 1
Força (N)
Amostra 2
Amostra 3
2000
Amostra 4
Amostra 5
1500 Amostra 6
1000
500
0
0 20 40 60 80 100 120
e(%)
4000
3500
3000
2500 Amost ra 1
Força(N)
Amost ra 2
Amost ra 3
2000
Amost ra 4
Amost ra 5
1500 Amost ra 6
1000
500
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
e(%)
162
Anexo1
7000
6000
5000
Amost ra 1
4000
Força(N)
Amost ra 2
Amost ra 3
Amost ra 4
3000 Amost ra 5
Amost ra 6
2000
1000
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
e(%)
6000
5000
4000
Amostra 1
Força(N)
Amostra 2
3000 Amostra 3
Amostra 4
Amostra 5
2000
1000
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
e(%)
163
Anexo1
4000
3500
3000
2500 Amost ra 1
Força(N)
Amost ra 2
Amost ra 3
2000
Amost ra 4
Amost ra 5
1500 Amost ra 6
1000
500
0
0 20 40 60 80 100 120
e(%)
4500
4000
3500
3000
Amostra 1
Força(N)
Amostra 2
2500
Amostra 3
Amostra 4
2000 Amostra 5
Amostra 6
1500
1000
500
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
e ( %)
164
BIBLIOGRAFIA
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