Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DIVÓRCIO E RECASAMENTO
Reflexões sobre o ensino de Jesus em Mateus 19.1-12 e sua harmonia com o N.T.
Atibaia
2007
SUMÁRIO
Páginas
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 4
1
4. O ENSINO DE JESUS: CORRIGINDO A HERMENÊUTICA
FARISAICA ........................................................................................................ 24
2
8. CONCLUSÃO.............................................................................................. 73
3
1. INTRODUÇÃO
“...Até que a morte nos separe”. Que casal nunca usou esta frase como
conclusão em seu voto matrimonial? Ainda que não tenha sido verbalizada, ela certamente
fazia parte dos desejos e dos sentimentos daqueles que casavam: “- Separação?! Nem
morto!...ou melhor, só morto”. Casamento era para toda a vida; só a morte poderia dissolver e
determinar o rompimento daquela união. Essa era a mentalidade que predominava décadas
atrás. Qualquer desvio dessa idéia era encarado como uma lamentável exceção e reprovado
fortemente pela sociedade de então.
1 Dados extraídos do artigo “Não quero mais brincar de casamento!” da revista Lar Cristão, nº 98.
4
estatísticas comprovam exatamente o contrário. Na realidade, o divórcio é um dos maiores
vilões que tem corroído os alicerces da sociedade pós-moderna. Dennis Rainey apresenta
alguns dados preocupantes de pesquisas feitas nessa área que denunciam o caráter monstruoso
da ruptura dos casamentos:
O risco de suicídio é 29% mais alto entre as pessoas divorciadas do que entre as
casadas.
As crianças que cresceram num lar de pais solteiros têm duas vezes mais
probabilidade de se divorciar do que as que cresceram numa família em que os
dois pais biológicos estão presentes.
Jovens em famílias de pais solteiros ou em família substituta têm duas a três vezes
mais probabilidade de portar algum problema emocional ou comportamental que
os que vivem com os pais biológicos no mesmo lar.
A probabilidade de uma filha sofrer abuso sexual de seu padrasto é pelo menos
sete vezes maior que as chances de sofrer abuso por parte de seu pai biológico.2
2 RAINEY, Dennis. Ministério com Famílias no Século 21. São Paulo: Vida, 2001. p.277 e 279.
5
eles, infelizmente, há um grupo que, a cada ano, tem contribuído mais e mais para o
crescimento daquelas tenebrosas estatísticas: o de casais “evangélicos”.
1.1. Necessidade
Como foi exposto acima, a atual situação da igreja “evangélica” brasileira
indica que há um clamor das famílias. O motivo: é cada vez maior o número de lares que,
direta ou indiretamente, sofrem em virtude do divórcio e do recasamento. Sofrem por causa
da experiência, mas também por causa da ausência de absolutos. Pastores, diáconos, líderes
em geral, membros “comuns” de comunidades cristãs, todos buscam respostas convincentes
que orientem a postura da igreja em relação à tão grave problema. Este trabalho é uma
tentativa inicial de suprir esta necessidade.
1.2. Propósito
Este trabalho se propõe a verificar como o Novo Testamento se posiciona
quanto ao problema do divócio e recasamento a partir do texto de Mateus 19.1-12 e apresentar
respostas que orientem a igreja contemporânea diante desse tão grave dilema.
3 Juízes 21.25.
6
1.3. Metodologia
Por fim, como último passo, serão levantadas algumas questões a respeito
do assunto deste trabalho. Isso será feito no formato de perguntas e respostas com o objetivo
de, não só responder a dúvidas práticas a respeito de divórcio e recasamento, mas também,
demonstrar que a posição concluída aqui se harmoniza melhor com o ensino de todo o Novo
Testamento.
1.4. Limitações
Não há dúvida que o conteúdo envolvendo o assunto que será abordado aqui
é amplamente extenso. Por isso, levando-se em conta que o objetivo desta monografia não é
esgotar a questão, é importante ressaltar que, de um modo geral, os textos, tanto do Antigo
quanto do Novo Testamento, não serão alvos de uma exegese exaustiva. Não haverá, de igual
forma, preocupação quanto a questões como autoria, data e estilo literário, particularmente, no
que se refere ao texto base deste trabalho. Sendo assim, serão aceitos, sem questionamento, os
aspectos introdutórios da maneira como têm sido historicamente adotados por intérpretes
conservadores.
8
2. ASPECTOS CONTEXTUAIS4
Na seção que trata das limitações deste trabalho, afirmou-se que detalhes
como a crítica da autoria, da data, do estilo literário, entre outros, não seriam alvos de análise
pormenorizada neste trabalho. Contudo, isso não significa que os aspectos contextuais do
texto base desta monografia serão ignorados. Qualquer texto sob investigação depende de um
Sitz im Leben e de uma intenção autoral que estabelecem fronteiras interpretativas da
passagem em questão. Isso inclui Mateus 19.
4Todas as informações contextuais registradas neste trabalho podem ser encontradas principalmente em Jesus
Teaching on Divorce, de John MacArthur Jr., e no comentário de Mateus, do mesmo autor.
9
“As chamadas 'citações de fórmula', introduzidas com essa oração, são os próprios
comentários de Mateus sobre a história e ilustram a habilidade fértil de seu
pensamento em notar e chamar a atenção para as ligações entre a revelação do
Antigo Testamento e a história de Jesus.”5
Além disso, Mateus apresenta outros elementos que fazem do seu
evangelho totalmente diferenciado. Sua obra contém “... mais de quarenta citações literais e
mais de sessenta alusões ao Antigo Testamento”6 , característica que lhe rendeu o título de
“Evangelho Judaico”. E mais, ele faz questão de apresentar a pessoa de Jesus não só como o
clímax de uma árvore genealógica que começa com Abraão e passa pelo rei Davi, mas
também como aquele que se autodenominava superior a eles e aos outros maiores ícones do
povo judeu: Moisés, a Lei e o templo; ou seja, Jesus era o Messias. Em virtude disso, Jesus foi
alvo da mais profunda oposição e das mais ardilosas conspirações por parte dos representantes
de um judaísmo institucionalizado e incrédulo, como bem registrou o evangelista.
Diante do que foi exposto, ficou claro que Mateus, ao escrever seu livro,
tinha em mente um propósito duplo: um didático e outro apologético, que Carlos Osvaldo
resume bem em uma única sentença:
5 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2004. p.286.
6 GONÇALVES, Eder Lourenço. Apostila de Síntese do Novo Testamento. Atibaia: SBPV, 2003. p.24.
7 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Apostila de Teologia Bíblica do Novo Testamento. Atibaia: SBPV, 2000. p.4.
8 Idem, Ibid.
9 Idem, Ibid.
10
Essa intenção autoral permeia o evangelho de Mateus, dando uma
compreensão mais clara do livro como um todo. Os eventos e ensinos registrados ali, de uma
maneira ou de outra, são as peças que o evangelista usa para atingir seus propósitos, de forma
que, não há como interpretar as partes sem considerar o todo. A intenção do autor (Mateus),
portanto, será a “bússola” orientadora da hermenêutica do livro inteiro. Isso inclui o capítulo
19.
11
novamente do Mestre sob o pretexto da dúvida quanto ao divórcio e recasamento; mas, na
verdade, por trás daquela inocente questão, havia um plano, uma armadilha para tirar o
Senhor Jesus de cena.
Mateus 19, versículo 2, afirma que Jesus deixou a Galiléia e foi para o
território da Judéia, além do Jordão. A princípio, essa informação não passa de um mero
detalhe geográfico. Contudo, apesar da aparente irrelevância, esse detalhe fornece mais que
um esclarecimento da geografia do texto. Há um dado significativo ali do qual os fariseus,
com toda perversidade, iriam se aproveitar.
10 Mt 19.3
11 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
12
No momento em que os fariseus abordaram o Senhor Jesus, é quase certo
que eles se encontravam na região da Peréia, que era um território sob a tetrarquia de Herodes
Antipas. Por ali, também, situava-se o seu palácio, o mesmo lugar onde João Batista fora
encarcerado. Esse detalhe é extremamente importante, visto que, de acordo com Mt 14.3, João
fora preso ali por causa de Herodias, mulher de Filipe, irmão de Herodes. Sabe-se que este
tomou a mulher do seu irmão para si e que, por isso, foi duramente repreendido por João, que
afirmou categoricamente não ser lícito tomar a mulher de outro. O resultado: o profeta foi
encarcerado e, posteriormente, executado. Aqui, é importante destacar: João Batista foi preso
e decapitado por expor a Lei de Deus a respeito do divórcio confrontando um casal de
adúlteros.
A pergunta tinha uma “roupagem” inocente, mas por trás havia uma
intenção sórdida e perversa. A questão, ao invés de estar impregnada por dúvidas, estava, sim,
carregada de emboscadas: uma delas, pôr o Filho de Deus contra o Estado. Mas, essa não era
a única armadilha. Os fariseus, como será discutido, intentavam, também, colocar Jesus contra
as maiores escolas judaicas da época.
Os fariseus viam, naquele encontro com Jesus, uma oportunidade real para
tirá-lo de circulação. Da parte deles, não havia a menor disposição de poupar esforços para
eliminar o Filho de Deus. O plano era cercá-lo de tal maneira que não houvesse escapatória.
Foi por isso que eles levantaram a questão do divórcio e recasamento. Os fariseus sabiam que
o assunto não só colocaria o Senhor Jesus em posição contrária ao Estado, mas também o
lançaria no meio de um “fogo cruzado”, na disputa entre as duas mais tradicionais escolas de
interpretação dentro do judaísmo: Hilel e Shammai.
13
O famoso historiador judeu, Josefo, afirmou que os fariseus nunca foram um
grupo muito numeroso e que, nos tempos de Herodes, eles não ultrapassavam em muito seis
mil indivíduos. Mesmo assim, havia divergências entre eles no que diz respeito à
interpretação das Escrituras. E essas discordâncias ficavam bem cristalizadas na hermenêutica
adotada por Hilel e Shammai, como salienta Champlin:
“O grupo não era totalmente homogêneo. Shammai foi uma figura severa que
interpretava tudo de acordo com o rigor da letra. Hilel, em contraste, era homem do
povo, e interpretava as questões com brandura, favorecendo as debilidades do
povo”12
As diferenças entre Hilel e Shammai se acentuavam mais ainda quando o
assunto era divórcio e recasamento. Shammai, seguindo seu caráter mais rigoroso, ensinava
que não havia a menor possibilidade para o divórcio, não sendo, por isso, muito popular
naquela época. Do outro lado, estava Hilel, cuja perspectiva era por demais liberal. Para se ter
uma idéia, ele defendia que o divórcio era possível por quase qualquer motivo. John
MacArthur comenta que aquele rabino “ensinava que você poderia se divorciar de sua mulher
por ela ter queimado o jantar, por ter colocado muito sal na refeição, ...por falar com outro
homem, ou por ser indelicada com a sogra”.13 Ela, ainda, poderia ser repudiada caso fosse
estéril, ou por não “conseguir” gerar uma criança do sexo masculino. Em suma, a posição
defendida por Hilel era muito condescendente e, em virtude disso, extremamente popular
entre os judeus.
12 CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol.2. São Paulo: Hagnos, 2004. p.689.
13 MACARTHUR JR., John. Jesus Teaching on Divorce. California: Word of Grace Communications, 1983.
p.8.
14
2.3.3. Pondo Jesus contra o Povo
15
farisaicas, mas vai, também, apresentar o padrão de Deus quanto ao relacionamento conjugal
e suas obrigações definitivas.
16
3. O ENSINO DE JESUS: PRÓ-CASAMENTO
A questão foi levantada. As atenções se voltam, agora, para Aquele cujo
ensino provocava profunda admiração nas pessoas. Todos, indubitavelmente, se
concentrariam na resposta de Jesus. Sua fama já havia se espalhado por toda parte e sabia-se
que as multidões se maravilhavam com o seu ensino, “...porque Ele as ensinava como quem
tem autoridade, e não como os mestres da lei”.14 Suas palavras, portanto, despertavam o
fascínio das pessoas de maneira que, quando falava, elas lhe prestavam rigorosa atenção.
Sendo assim, não seria exagero afirmar que a audiência estava numa profunda expectativa
pelo que o Mestre iria dizer.
3.1. Pró-Escrituras
“Então respondeu ele: Não tendes lido... desde o princípio... ?”15 Que
constrangimento! Convencidos de que sua questão daria cabo ao ministério de Jesus naquele
momento, os fariseus foram, na verdade, amargamente humilhados. A resposta que eles
receberam, carregada de ironia, foi um golpe fatal no orgulho daqueles religiosos. Conhecidos
tanto pela rigorosa observância das leis rabínicas quanto da mosaica, como poderiam ser tão
negligentes no que diz respeito aos aspectos mais elementares das Escrituras? “Vocês não têm
14 Mt 7.29
15 Mt 19.4
17
lido? Vocês, por acaso, ignoram o que elas dizem? Vocês que têm a Moisés em tão alta conta,
como podem desconhecer o que ele mesmo registrou?” Naquele momento, os fariseus
receberam publicamente um atestado de estupidez.
3.2. Pró-Criador
A pergunta que Jesus propôs como introdução à sua resposta aos fariseus
apresentava elementos que faziam referência a Gênesis. Neste livro (o primeiro do
Pentateuco) encontram-se dois relatos da criação do homem. O primeiro não é tão detalhado
18
quanto o segundo, mas certamente os dois fornecem as bases para se crer que o casamento era
produto da iniciativa e obra de Deus.
“Então respondeu ele: Não tendes lido que o Criador desde o princípio os
fez homem e mulher...? A primeira parte da resposta de Jesus aponta para o texto de Gn 1.27.
O contexto daquela passagem é o da criação de todas as coisas. Em cinco dias, Yahweh
trouxe à existência o mundo. No sexto, depois de povoar a terra com uma diversidade de
animais, Deus declara sua intenção em criar aquele que seria o clímax de toda a criação: o
homem (Gn 1.26). No versículo 27, Deus executa sua obra-prima: “Criou Deus, pois o
homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Não havia nada
comparável; homem e mulher se constituíam na obra mais excelente de todas. A razão:
somente eles, em toda a terra, carregavam em si a imagem do próprio Deus. Não há dúvida de
que a criação, assim como diz o Salmo 19, declara a glória do Altíssimo; contudo, somente a
humanidade revela o caráter dEle. Não obstante o céu e o firmamento fornecerem boas
noções a respeito do Criador, elas, ainda assim, são insuficientes; a melhor referência, o
melhor modelo, o melhor parâmetro da pessoa de Deus é aquele que foi criado à imagem e
semelhança do próprio Criador. Quem na criação poderia, como o Senhor, se relacionar
inteligentemente? Quem, à semelhança do Criador, poderia exercer autoridade e domínio
sobre todas as coisas? Quem, similarmente a Deus, poderia “criar” outros seres capazes de
refletir a glória do Grande Eu Sou? Só há uma resposta: o homem.
16 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
17 Idem.
19
totalmente distintos da criação, mas também criou uma sexualidade (macho e fêmea) que, em
essência, mais do que com o desejo humano, estava relacionada com a glória do próprio Deus.
Uma vez criada, Deus traz a mulher ao homem. É muito interessante que o
verbo que descreve essa ação é o mesmo usado quando os animais foram apresentados a ele
(awb). Deus conduziu, Deus levou, Deus apresentou a mulher ao homem e, diferente da
ocasião em que dava nome aos seres viventes, agora, sua reação demonstra profundo
contentamento, pois, afinal, lhe é apresentada sua correspondente (Gn 2.23).
20
homem e da mulher, a primeira parte da resposta de Jesus certamente “refrescou” a memória
deles. Se, por acaso, aqueles religiosos ignoraram a Palavra de Deus, Jesus fez questão de
chamá-los à atenção para o fato de que ela ensinava claramente que homem e mulher e,
conseqüentemente, o casamento, eram obra do Criador. Não se tratava de algo que era fruto
da engenhosidade humana, mas de um projeto divino diretamente relacionado com a pessoa,
caráter e glória de Deus.
O texto começa com uma expressão: “por isso”. Ela indica que há uma
relação entre o assunto anterior e o argumento a ser apresentado. Qual era, então, o assunto
anterior? A resposta: o projeto de Deus - a criação do homem e da mulher; ou, em termos de
contexto mais próximo, o momento em que Eva é apresentada por Deus a Adão. É nesse
ponto que surge a expressão “por isso”, cujo funcionamento pode ser ilustrado a partir de
sentenças do tipo: “é em virtude de Deus ter criado homem e mulher que...”; ou, “sabendo que
Deus é o autor daquele projeto, então...”; ou ainda, “as implicações do fato de Deus ter
apresentado a mulher ao homem são...” É nesse sentido que o “por isso” conduz seus
ouvintes: na direção das decorrências do projeto de Deus. E quais são elas? São, basicamente,
quatro: a prioridade do relacionamento; a exclusividade do relacionamento; a
heterossexualidade do relacionamento e a indissolubilidade do relacionamento.
21
no singular. O que significa dizer que não há espaço para outras possibilidades. É um homem
para uma mulher. Nesse sentido, a relação entre Adão e Eva era extremamente ilustrativa e
normativa, visto que, na época, eles não tinham outras opções. Do mesmo modo, no
casamento, o relacionamento não contempla outras opções; numericamente falando, trata-se
de uma única e exclusiva mulher para um único homem e vice-versa; em termos de gênero,
trata-se de uma única e exclusiva fêmea para um único e exclusivo macho (heterossexualidade
relacional).
18 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
19Em Gn 2.24, o verbo qbd (unir, colar, grudar) é um 3ms do perfeito do Qal, cuja tradução normal seria “ele
uniu”. Contudo, como a frase começa com um verbo no imperfeito do Qal ( bze - deixará) e o verbo “unir” está
precedido por um waw conjuntivo, é natural que qbd siga o tempo de bze .
A voz do verbo qbd em Gn 2.24 apresenta uma aparente discordância com citado por Jesus
em Mt 19.5. O primeiro sugere uma iniciativa humana, o segundo, uma passividade do homem. Esse aparente
problema pode ser solucionado levando-se em consideração o resultado da união: tornar-se uma só carne. O
produto da união constitui-se em algo tão misterioso e sobrenatural que nenhum esforço humano seria capaz de
produzir; só Deus poderia fazer aquilo. Jesus, ao usar o verbo na voz passiva, não negou a validade do fato do
homem ter tomado a mulher para se unir, em termos humanos, a ela. Mas, demonstrou que, da perspectiva de
Deus e por ação dele, aquela aliança humana uni espiritualmente duas pessoas de tal maneira que elas se tornam
uma só. Nesse sentido, Deus é o único agente e o homem é totalmente passivo.
22
Deus era o seu autor. Ser pró-casamento era uma conseqüência natural de ser pró-Escrituras e
pró-Criador. Ao responder a questão daqueles religiosos, o Messias deixou claro que, quando
se tratava de casamento, o assunto era sério, visto que era um projeto de Deus que implicava
na prioridade, na exclusividade, na heterossexualidade e na indissolubilidade daquela relação.
Não tendo como driblar a contundência dos argumentos de Jesus, restou aos
fariseus recorrer a um outro texto das Escrituras na tentativa de encontrar algum espaço para a
manutenção do seu baixo padrão moral. O campo da discussão vai, portanto, se deslocar de
Gênesis para Deuteronômio, onde os fariseus apresentarão sérios problemas hermenêuticos
que Jesus habilmente corrigirá.
23
4. O ENSINO DE JESUS: CORRIGINDO A HERMENÊUTICA
FARISAICA
Constrangidos por causa dos argumentos de Jesus, que estavam estritamente
em conformidade ao testemunho das Escrituras, os fariseus precisavam encontrar meios
escriturísticos que respaldassem as práticas adotadas por eles no âmbito do casamento. Jesus,
habilmente, fundamentara sua resposta nos escritos de Moisés, contra os quais a comunidade
judaica, que incluía os fariseus, jamais se levantaria. Diante deste impasse, os fariseus se
viram obrigados a apresentar um argumento da lei que fosse à altura daquele de Jesus, caso
contrário, tanto eles quanto seus planos seriam totalmente desarticulados.
24
supostamente, usando as palavras dele, os fariseus contra-argumentaram o que Jesus havia
dito propondo um debate entre gigantes: os textos de Gn 2.24 e Dt 24.1-4.
25
daqueles três pontos, confirmando assim, que a ignorância dos fariseus fora responsável por
uma interpretação completamente inválida daquele texto.
20 GRUDEM, John Piper e Wayne. Homem e Mulher. São José dos Campos-SP: Fiel, 1996. p.38
26
conseqüência: sua natureza se petrificou para todos os outros aspectos da sua vida, inclusive o
casamento. O homem, infelizmente, já não era mais o mesmo.
Deve-se partir do fato histórico de que a sociedade pagã egípcia tinha um baixíssimo
conceito de casamento, de modo que, a dissolubilidade do casamento era tão fácil
que, um egípcio bastava dizer quatro vezes para a esposa: ‘eu repudio você’ e após a
quarta vez da repetição desta frase o casamento estava completamente desfeito. 21
Apesar dos pais terem morrido no deserto em conseqüência da sua insistente
rebeldia para com o Deus da aliança, o público de Deuteronômio – filhos daquela geração
paganizada no Egito – viveu e assimilou o caótico padrão moral dos seus antepassados.
Prestes a receber a terra que o Senhor havia prometido dar por herança a Abraão, Isaque e
Jacó, aquela nova geração, que à semelhança dos pais, também já havia sido caracterizada
27
como de dura cerviz (Dt 9.6,13), precisava tomar conhecimento das estipulações que
regulamentariam a vida daquela sociedade embrionária.
Diferente daquilo que poderia sugerir a questão dos fariseus, Moisés não
estava diante de um povo ingênuo, mas, sim, de pessoas experimentadas no pecado tanto por
natureza quanto por prática. Não havia vítimas, só culpados. Ao corrigir a antropologia dos
fariseus, Jesus também reorientou a perspectiva contextual daqueles religiosos. Entretanto,
ainda havia um outro elemento a ser corrigido; uma sutileza textual proposta pelos fariseus
que Jesus não ignorou.
Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos
seus olhos, por ter ele achado cousa indecente nela, e se lhe lavrar um termo de
divórcio, e lho der na mão e a despedir de casa; e se, saindo da sua casa, for, e se
casar com outro homem, e se este a aborrecer, e lhe lavrar termo de divórcio e lho
der na mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si
por mulher, vier a morrer, então seu primeiro, que a despediu, não poderá tornar a
desposá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada: pois é
abominação perante o Senhor; assim não farás pecar a terra que o Senhor te dá por
herança.
O texto apresenta treze situações condicionadas. Tecnicamente, orações
condicionadas se apresentam “em períodos de duas orações: a primeira das quais (prótase)
contém a suposição, e a segunda (apódose, ou oração principal) contém a conclusão ou
22 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
23 Idem.
28
resultado dependente da suposição.”24 As condições podem ser reais ou hipotéticas,
dependendo da conjunção da frase. Se a condição for introduzida pela conjunção yk, a
suposição será real; se for pela conjunção wl, então, a suposição será irreal. Deuteronômio
24.1-4 é introduzido pela primeira conjunção, o que determina que as condições propostas por
Moisés naquela ocasião eram reais. Isso implica em assumir que, ao registrar aquelas orações
condicionais, Moisés não estava se baseando em situações que eram fruto de um exercício
imaginativo. Pelo contrário, certamente sua referência estava em circunstâncias já observadas
no contexto onde estava inserido. Ou seja, era provável que aquele tipo de ocorrência já tinha
sido notada no meio daquele povo. Sendo assim, e à luz do que foi visto na seção anterior,
confirma-se o fato de que Moisés se defrontou com uma realidade já estabelecida. Aquele
povo sob a sua liderança reproduzia os mesmos erros dos seus antepassados, de modo que não
era improvável encontrar os relacionamentos familiares em profunda desordem. José Laérton
faz esse destaque, ao escrever:
Após a saída do Egito da grande multidão de hebreus, Moisés se depara com uma
espantosa realidade, já solidamente estabelecida entre o povo que acabava de ser
redimido: o divórcio e os recasamentos tinham criado uma gigantesca crise familiar
entre o povo de Deus. Exatamente o povo que fora escolhido para gerarem o
Messias, no contexto de uma família santa e sob a bênção de Deus.
A situação realmente estava fora de controle, pois devido aos múltiplos casamentos,
divórcios e recasamentos, a mesma mulher, poderia ter filhos de vários maridos
diferentes, gerando com isso uma grande confusão, injustiças e sofrimento sem
conta.25
Os múltiplos divórcios seguidos de repúdio eram, portanto, o cenário que
caracterizava aquela sociedade. Como dito acima, a desordem relacional estava solidamente
instalada; não há como negar isso. Mas, de que maneira essa informação responde se Moisés
ordenou ou permitiu aquelas práticas? Preliminarmente, pode-se concluir, a partir do que foi
visto, que Moisés não ordenaria praticar algo que já era praticado. Entretanto, há outro detalhe
do texto que fortalece a interpretação de Jesus: o divórcio e o repúdio não se encontram na
apódose. Em termos mais claros, para que aquelas práticas fossem ordenadas, elas
necesariamente deveriam estar na oração principal (apódose), que contém o resultado da
suposição (ou, onde, satisfeitas as condições, está uma ordem a ser obedecida). No entanto, a
24 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos para Exegese do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida
Nova, 1998. p.98.
25 LAÉRTON, José. Op. cit. p.49.
29
estrutura de Deuteronomio 24 demonstra que o divórcio e o repúdio estavam relacionados na
lista de condições (na prótase). Sendo assim, a única ordem do texto é: não casar com uma
mulher contaminada. Moisés não ordenou o divórcio e o repúdio, mas, sim, proibiu o
casamento com uma adúltera. O divórcio e o repúdio foram concessões reorientadoras de um
cenário social gravemente desordenado. Em suma, mais uma vez, os fariseus estavam errados.
30
5. O ENSINO DE JESUS: A CLÁUSULA DE EXCEÇÃO
Jesus sabia que a dureza do coração humano havia transformado o
casamento em uma mera transação comercial, cujo objeto sob negociação – a mulher – era
tido como uma mercadoria qualquer. Em sua abordagem, os fariseus demonstraram
claramente essa realidade quando perguntaram se era lícito repudiar por qualquer motivo
(grifo pessoal). Ou seja, a dignidade da mulher e a preservação da instituição divina pouco
interessavam. Por isso, antes de responder àquela questão, era necessário resgatar os
fundamentos do casamento que, não só o posicionavam em seu elevado lugar, mas também
protegiam o valor e a dignidade feminina. Feito isso e, depois de corrigir a hermenêutica
farisaica, Jesus, finalmente, responde à primeira pergunta, dizendo: “Eu, porém, vos digo:
quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra
comete adultério [e o que casa com a repudiada comete adultério]”.
31
foi dito da parte do Senhor pelo profeta...” é uma citação de presença marcante em Mateus,
pois enfatiza, repetidamente, a pessoa de Jesus como o ponto para onde convergia toda a Lei –
ou seja, ele era o cumprimento das esperanças de Israel.
Seis vezes nesta passagem Jesus parece estar firmando seus próprios
pronunciamentos em antítese ao que havia sido previamente dito, e em cada caso o
que vem antes consiste numa citação da lei mosaica ou pelo menos a inclui. Se,
entretanto, houvesse qualquer antítese real entre o que a lei afirmava e suas
implicações mais plenas apontadas por Jesus, as afirmações dos versos 17-19 seriam
incompreensíveis.26
Ora, se a citação não está em oposição a Moisés, a que (ou a quem) Jesus
contradiz? A resposta é indicada no próprio texto de Mt 5.17-48 pela expressão “ouvistes o
que foi dito”. Quando foi tentado no deserto, Jesus citou alguns textos de Deuteronômio (Dt
6.13,16; 8.3; 10.20). Ao citá-los, em todas as oportunidades ele disse: “está escrito”. Por que
ele não fez o mesmo em Mt 5.17-48? Segundo Champlin,
A maior parte do povo não sabia ler, e ainda que soubesse isso de pouco adiantaria,
porque as Bíblias (Escrituras) não eram numerosas e não eram acessíveis ao povo
comum. Portanto, o povo conhecia as Escrituras de ouvido, devido à leitura feita nas
sinagogas e à exposição feita pelos escribas.27
O contato do povo com a Lei ocorria, portanto, quando alguém lhe expunha as Escrituras.
Como os responsáveis por essa exposição eram os representantes de uma religião distanciada
da mensagem essencial da Palavra de Deus, era natural que a interpretação apresentada por
eles acompanhasse aquele distanciamento. Desse modo, quando ouvia as Escrituras, o povo
recebia com ela todo um conteúdo interpretativo que se afastava radicalmente do espírito da
própria lei. Onde, nas Escrituras, o mandamento para não matar vinha seguido de uma
26 TASKER, R.V.G.. Mateus: Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 1991. p.51-2.
27 CHAMPLIN, R. N.. O Novo Testamento Interpretado: Volume 1. São Paulo, SP: Hagnos, 2002. p.310.
32
emenda obrigando aquele que matou a passar por um julgamento (5.21)? Que porção da
Palavra de Deus afirmava que o homem que repudiava sua mulher devia dar a ela carta de
divórcio (5.31)? Em que parte da lei, Moisés incentivava a vingança (5.38)? A expressão
“ouvistes o que foi dito” indicava que a citação a seguir não era literal, mas interpretada.
Quando Jesus se pronunciou dizendo: “Eu, porém, vos digo”, ele não estava, portanto,
contradizendo a Moisés, mas, sim, repudiando aquelas complementações legalistas que, ao
invés de aproximar, mais afastavam o povo do Deus da aliança.
Por outro lado, a citação “Eu, porém, vos digo” revelava a autoridade de
Cristo. Ladd confirma essa idéia ao afirmar que... “Jesus é aquele para quem a lei apontava;
ela encontra seu objetivo nele. De agora em diante, portanto, a lei deve ser entendida e
aplicada somente em relação a ele, que sozinho tem o direito de declarar: ‘Eu, porém, vos
digo’ e que ensina com a sua própria autoridade, de modo diferente dos escribas”. 28
Champlin, comentando que aquela citação era usada com freqüência por Jesus como meio de
expressar uma lei ou uma interpretação superior, principalmente, quando rejeitava as
propostas legalistas como interpretação dos escritos de Moisés, assegurou que “...com aquela
expressão, pois, Jesus assumia a posição de outro Moisés, e falava com grande autoridade.”29
E, não podia ser diferente, afinal, ele era o Messias e como tal “...se declarou autorizado a
suplantar a lei, tirar conclusões e princípios nela latentes, bem como desautorizar as deduções
falsas anteriormente extraídas dela”30
28 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2004. p.290.
29 CHAMPLIN, R. N.. O Novo Testamento Interpretado: Volume 1. São Paulo, SP: Hagnos, 2002. p.481.
30 TASKER, R.V.G.. Mateus: Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 1991. p.53.
33
5.2. O Objeto da Exceção
34
como negar que assumir qualquer posição existente implica, necessariamente, em
discordâncias intermináveis. Entretanto, as divergências não podem ser uma razão para
interromper um estudo sério sobre a questão. Apesar do presente trabalho não ser um
desenvolvimento que se proponha a esgotar o assunto, pretende-se pelo menos iniciar uma
reflexão consistente que aponte uma solução.
cláusula excetiva [para efeito de exercício], fica evidente que o adultério se perfaz apenas
quando as duas condições são satisfeitas.35 Se o texto fosse assim, a questão seria facilmente
resolvida. Porém, há uma dificuldade: a cláusula excetiva encontra-se entre as duas prótases
(se divorciar + exceção + se recasar). Com qual delas a exceção se relaciona? Há no mínimo
três possibilidades.
34 LASOR, William Sanford. Gramática Sintática do N.T.. São Paulo, SP: Vida Nova, 1973. p.133.
35 É importante enfatizar que esta colocação não quer afirmar que o adultério ocorre somente em casos de
repúdio seguido de recasamento. Ela assegura, apenas, que o divórcio acompanhado de um subseqüente novo
casamento é adultério.
35
De imediato, pode-se descartar a segunda opção pelo fato de que, se ela
fosse possível, seria necessário assumir que o Senhor Jesus estaria autorizando o repúdio por
qualquer motivo, concordando, assim, com a desordem matrimonial tão defendida pelos
falsos religiosos da época. Vale lembrar que Cristo demonstrou claramente seu repúdio àquela
realidade caótica, de modo que seria um absurdo considerar possível a segunda possibilidade.
36O divórcio, de modo algum, é uma prática desejada, ou mesmo, incentivada por Cristo. Entretanto, por causa
da dureza do coração e, conseqüentemente, da indisposição humana para a reconciliação, Jesus, à semelhança de
Moisés, permite o divórcio. Contudo, esta concessão tem limites elevadíssimos que, somados à impossibilidade
do novo casamento, restabelece a ordem no núcleo conjugal.
36
trata apenas de um recasamento impossível, mas também da possibilidade de um divórcio sob
uma elevada restrição. Que restrição era essa? O ponto a ser analisado a seguir se concentrará
em responder a esta questão.
37 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
38 PLEKKER, Robert J.. Divórcio à Luz da Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 2000. p.51.
39 Enhanced Strong’s Lexicon. Op. cit.
37
termos. Contudo, além de Mt 5.32 e Mt 19.9, o único outro lugar onde Mateus registra aquelas
palavras juntas é Mt 15.19 e, lá, o evangelista parece usar os termos com significados distintos. John
Piper, ao analisar a questão, concordou com a distinção do uso daquelas palavras e concluiu:
Portanto, não podemos fugir do fato de que a distinção entre o que era considerado
como porneia e o que era considerado como moicheia foi minuciosamente mantido
na literatura judaica pré-cristã e no NT. Porneia pode, é claro, denotar diferentes
formas de relações sexuais proibidas, mas não podemos encontrar exemplos
inequívocos do uso desta palavra para denotar o adultério conjugal. Sob estas
circunstâncias dificilmente poderíamos assumir que esta palavra significa adultério
na cláusula em Mateus.40
Outra razão que impossibilita (porneia) ser traduzida como
adultério diz respeito à conseqüência sofrida pelos adúlteros. A Lei Mosaica punia o adultério
com a morte. Em Mateus 19.9, tudo indica que o adultério só se estabelecia quando do
recasamento; do contrário, se alguém repudiasse a sua esposa, não sendo em caso de porneia,
e não se casasse com outra mulher, não estaria cometendo adultério. Se porneia tivesse o
mesmo significado que moicheia, o adultério se estabeleceria antes do recasamento e, já nesse
momento, haveria motivo suficiente para aplicar a pena de morte. Em Jo 8.41 e.g., os líderes
judeus acusaram Jesus, indiretamente, de ter nascido de porneia. Esta acusação poderia ser
uma óbvia alusão ao episódio ocorrido em Mt 1.18,19. Naquela ocasião, José resolveu
divorciar-se secretamente de Maria por causa da sua gravidez. É importante lembrar que, na
época, José e Maria eram noivos, ou seja, socialmente falando, eram vistos como marido e
mulher (casados), ainda que sem terem consumado todos os compromissos matrimoniais
(entre eles, a plenitude da aliança de casamento e a relação sexual). Como José ainda não
sabia que aquela gravidez era fruto de uma intervenção divina, concluiu que a condição de
Maria fosse conseqüência de porneia e por isso, não querendo difamá-la, a deixou. Se Maria
fosse considerada adúltera, ela deveria ser penalizada com a morte por apedrejamento;
entretanto, como neste caso parecia estar caracterizada porneia e não moicheia, a pena capital
não veio a ser aplicada. Alguns estudiosos usam este fato para defender que porneia era um
pecado que só poderia ser cometido no período de noivado. Contudo, não é possível sustentar
essa tese. Em Deuteronômio 22.22 e 24.1, um mesmo termo é usado para se referir ao
casamento, a saber, leb (ba‘al)41. Quando, porém, se trata de noivado (Dt 22.25-27), outra
40 PIPER, John. Divórcio e Novo Casamento: Uma declaração. www.monergismo.com, 1986. p.10-1.
41 Op. cit.
38
palavra é usada: sra (‘aras)42. Se a porneia de Mt 19.9 fosse uma referência somente ao
período do noivado, o contexto indicaria alguma passagem usando o termo ‘aras. Como o
contexto de Mateus 19 alude à passagem em Dt 24, onde o termo em questão é ba‘al, a idéia
de que porneia ocorre somente durante o noivado perde todo o sentido. Na verdade, à luz de
Mt1.18-20, fica comprovado que porneia poderia acontecer também no período do noivado,
pois, como já foi dito, naquela sociedade, o noivado já tinha status de casamento. De qualquer
forma, o Senhor Jesus em momento algum se prendeu ao “quando” o divórcio era permitido,
mas sim “àquilo” que o tornava possível: porneia e, não moicheia.
42 Op. cit.
43 Idem.
44 MACARTHUR JR., John. Jesus Teaching on Divorce. Panorama City, California: Word of Grace
Communications, 1983.p.43.
39
como a indecência poderia ser praticada, particularmente, por aqueles que tivessem
conhecimento das conseqüências de um adultério:
Se você soubesse que adultério implicaria em morte, certamente você faria muitas
coisas (até aquelas que se aproximassem bastante do adultério), mas, de um modo
geral, você tentaria controlar-se ao máximo para evitar o adultério propriamente
dito, não é verdade? Pois bem, aparentemente, havia pessoas que estavam
mergulhadas em situações vergonhosas, indecentes, bem próximas do adultério,
sem, contudo, cometê-lo.45
Não se pode negar a possibilidade desta proposta, mas ela certamente não é a única. A
indecência não está restrita à questões de sexualidade. O próprio contexto de Dt 23.14 indicou
que a “coisa indecente” estava associada a um procedimento impróprio dentro do
acampamento do Senhor, cuja natureza não era essencialmente sexual.46 Por isso, à luz do
significado abrangente de porneia proposto aqui, a saber: qualquer coisa de caráter impuro,
sujo, vergonhoso, impróprio e embaraçoso que fosse socialmente constatável e ferisse a
santidade de Deus, pode-se afirmar que outros pecados se encaixam nesta definição. Assim,
diferente do que muitos estudiosos asseveram, dizendo que o termo não contempla todas as
situações contemporâneas que possibilitam o divórcio, podem ser, sim, consideradas porneia
práticas como violência doméstica persistente, o uso desenfreado de drogas no lar (bem como
a coação a esta prática), disfunções neurológicas irreversíveis que põem em risco a
integridade física da família ou qualquer atitude que ameace os entes de morte.
40
abrangente47, era extremamente restrita como bem revelou a reação dos discípulos diante do
conhecimento daquilo que estabelecia a exceção.
Uma das evidências mais fortes de que o padrão de Jesus para o casamento
era elevado foi a reação dos discípulos ao ensino do seu Mestre. Acostumados com um
modelo matrimonial extremamente licencioso, que tratava as mulheres como verdadeiras
mercadorias, os discípulos, ao ouvirem as palavras de Cristo concernentes à aliança conjugal,
não se contiveram e, quase que em desabafo, precipitaram sua conclusão: “Se essa é a
condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar”. Por que eles reagiram
assim? Por que eles sugeriram o celibato como uma condição melhor que a de casado?
47Não obstante o termo que “justifica” o divórcio ser abrangente, de acordo com o argumento do Senhor Jesus,
este recurso sempre é resultado da dureza do coração humano. Em outras palavras, divórcio é coisa de incrédulo.
Por isso, os crentes, quando buscam a separação, agem equivalentemente aos que não crêem no Senhor Jesus.
41
A continuação de Jesus, longe de ser um incentivo ao celibato, foi um
reconhecimento de que aquela situação não era das mais fáceis. John Piper comenta que
“Jesus não nega a tremenda dificuldade deste mandamento. Pelo contrário, ele diz no verso 11
que a capacidade de cumprir o mandamento de não casar-se novamente é um dom divino aos
seus discípulos”.48 É interessante que na sentença “aqueles a quem é dado”(v.11) o verbo está
na voz passiva, ou seja, aquela situação difícil (receber aquela palavra) só poderia ser vivida
por pessoas que receberam a capacidade para isso. E quem são essas pessoas? O versículo
seguinte responde. Ali, Jesus apresenta três categorias de celibato: por defeito físico, por
intervenção humana, e por causa do reino de Deus. Tasker defende a idéia de que esta última
categoria refere-se a pessoas que “deliberadamente se negaram a fazê-lo [união física com
uma mulher], para dar-se mais incondicionalmente ao serviço do reino de Deus”.49 Essa
proposta é possível, mas a idéia do Senhor Jesus certamente não era ilustrar que o celibato
facilitava um maior empenho ministerial (ainda que isso seja verdade). Não se pode perder de
vista que o texto trata sobre casamento e não sobre como melhor servir a Deus. Por isso,
levando-se em consideração a afirmação de Cristo de que o celibato, particularmente,
daqueles que vieram a se divorciar, era uma capacidade recebida, e que das três categorias de
celibato, apenas uma envolvia voluntariedade, pode-se concluir então que os celibatários aos
quais Jesus se referiu certamente eram aqueles que receberam a capacidade de obedecer às
exigências do reino de Deus especificamente em questões relacionadas ao casamento. Isso
significa dizer que todos aqueles que crêem em Jesus são capacitados a se manterem castos
mesmo depois de um indesejado divórcio. Piper concorda com isso ao afirmar:
Jesus não está dizendo que alguns de seus discípulos têm a habilidade de obedecer
este mandamento de não casar-se novamente e outros não. Ele está dizendo que a
marca de um discípulo é que eles receberão um dom de contigência, enquanto os
não-discípulos não.50
Jesus encerra a questão dizendo: “Quem é apto para o admitir
admita”(v.12). O verbo traduzido por “apto”51 [(dunamai)] está no particípio
presente e admite tanto a voz média quanto a passiva. Das duas, a opção mais largamente
usada é a primeira. Contextualmente falando, porém, parece melhor assumir a voz passiva,
42
pois ela se harmoniza melhor com a voz usada na sentença “aqueles a quem é dado” do
versículo anterior. Desse modo, ao assumir a tradução “é capacitado” para dunamai, a idéia de
uma capacidade recebida (que já tinha sido destacada no v.11) é mantida. Isso, somado ao
fato do último verbo – (choreo: admitir, receber)52 – estar no imperativo, indica
indiscutivelmente que aqueles que receberam a capacidade do celibato, deveriam
(obrigatoriamente) se manter assim.
52 Idem.
43
6. O ENSINO DE JESUS: A HARMONIA COM O NOVO
TESTAMENTO
Até aqui, a questão do divórcio e recasamento foi analisada a partir do
ensino de Jesus registrado no evangelho de Mateus. O estudo do capítulo 19, particularmente
do texto que trata do assunto, forneceu diretrizes pouco confortáveis para aqueles que
pretendem casar. De acordo com o Mestre, o repúdio, que na época era desordenadamente
praticado, apesar de ser um indesejável recurso, ainda assim era possível, porém, sob
profundas restrições. O mesmo já não acontecia em relação ao recasamento, visto que para
esta possibilidade não havia a menor exceção. Ou seja, o ensino de Jesus, segundo o que
escreveu o evangelista Mateus, apresentou um elevadíssimo padrão matrimonial que
destacava, sobretudo, a indissolubilidade do casamento.
45
Por fim, a iniciativa feminina em repudiar – possibilidade levantada por
Marcos e não por Mateus – não representa um grande problema. Como a lei judaica não
permitia que uma mulher se divorciasse de seu marido, e como seu público alvo era
predominantemente de judeus, é perfeitamente compreensível Mateus não ter mencionado
esta possibilidade. Por outro lado, Marcos escreveu para uma audiência romana, cuja cultura
permitia que a mulher tomasse a iniciativa do divórcio; desse modo, é justificável não só o
registro de Marcos, mas também sua distinção com Mateus. De qualquer forma,
independentemente de quem tomasse a iniciativa pelo divórcio, ambos seriam considerados
adúlteros caso casassem novamente.
46
O terceiro fator distintivo é muito importante, pois, se os outros evangelhos
deixam dúvida quanto à situação da parte inocente no divórcio, Lucas esclarece a questão.
Quando o texto de Mateus 19.9 foi analisado, não se mencionou uma sentença com problema
textual: () (“e o que casar com a
repudiada comete adultério”). Normalmente, as versões, quando a registram, apresentam-na
entre colchetes para indicar que não há total segurança em relação ao seu registro nos
manuscritos originais. Champlin, por exemplo, considera muito provável que aquela frase
tenha sido acrescentada por copistas acomodando-a à declaração ao texto de Mt 5.32. Já
Tasker acha que aquela cláusula foi inserida no texto de alguns manuscritos de versões
antigas (ou dos Pais da Igreja) para ajeitar a passagem com Mc 10.12. Seja como for,
considerando a hipótese de que aquela sentença não tenha sido registrada em Mateus, seria
seguro afirmar que aquela que foi repudiada “justamente” não poderia contrair um novo
casamento; porém, não seria totalmente seguro afirmar o mesmo em relação ao “inocente”
que a repudiou. Contudo, se o silêncio de Mateus dava margem para duas possibilidades em
termos da posição do inocente quanto ao recasamento, Lucas resolve o impasse. Em seu
evangelho, ele registra (sem problema textual) a sentença “e aquele que casa com a mulher
repudiada pelo marido também comete adultério”. Ora, aquele que casa com a divorciada é
um “inocente” também; e, se ele, sendo inocente, comete adultério quando casa com uma
mulher repudiada, é certo que o inocente que repudiou também comete o mesmo pecado
quando contrai um novo casamento. É possível contra-argumentar dizendo que o primeiro
adultera por firmar uma aliança com uma mulher ligada a outro homem. Mas, o segundo, por
mais inocente que seja, também está ligado àquela que repudiou de maneira que, se casar de
novo, adultera. Portanto, Lucas, além de lançar luz sobre uma implicação obscura em Mateus,
ainda reafirma contundentemente o argumento deste: o casamento é indissolúvel. A
evidência: tanto inocente quanto culpado cometem adultério quando se lançam ao
recasamento.
47
desafios que a Igreja de Cristo enfrenta. O casamento foi um destes aspectos da prática
eclesiológica que ele não ignorou. Na verdade, ninguém escreveu tanto a respeito quanto ele.
Por isso, deixar de fora uma observação do seu ensino concernente àquele tema seria atestar o
presente trabalho como insuficiente.
Portanto, à semelhança do que foi feito com Marcos e Lucas, será verificada
a harmonia do ensino de Paulo com o de Cristo. Não há, como já dito anteriormente, nenhuma
pretensão de exaurir o pensamento de Paulo até aos seus menores detalhes, mas, sim, destacar
os pontos principais do seu ensino sobre o tema divórcio e recasamento em face das
orientações estabelecidas pelo Mestre Jesus.
53Vale fazer uma observação aqui: o dom ao qual Paulo se refere não é o mesmo que Jesus mencionou em Mt
19.11,12. Em Mateus, Jesus tratou de uma capacidade que todos os crentes receberam, particularmente, aqueles
que se divorciaram: obedecer às exigências do reino de Deus. Nesse caso, os divorciados especificamente (e não
só solteiros e viúvos) teriam totais condições de seguir a orientação de não se casarem novamente porque foram
capacitados a se submeterem à Palavra de Deus. Em 1 Coríntios, Paulo destaca um dom que nem todos recebem:
o celibato enquanto solteiro ou viúvo. Aqui, apenas alguns solteiros e viúvos poderiam seguir o conselho de não
se casar. Aqueles que não fossem devidamente capacitados nessa área, se se casassem, não estariam pecando,
pois para estes – solteiros e viúvos – era melhor casar do que viver abrasado (1 Co 7.9).
48
seja, Paulo segue o mesmo argumento desenvolvido por Cristo, que fez eco a Moisés: não há
outra possibilidade; no casamento, é um homem para uma mulher.
Alguns entendem erroneamente que, ao dizer ‘eu mesmo digo isto, e não o Senhor’,
Paulo não fora inspirado como foi no versículo 10, onde diz ‘não eu, mas o Senhor’.
Entretanto, sabemos que não há nada nas Escrituras que não tenha sido inspirado.
Portanto, o que Paulo realmente quer dizer nesses versículos é que, no primeiro
caso, ele faz referência a uma passagem do Antigo Testamento ou de algo que
recebeu dos apóstolos em Jerusalém e que tornou-se material para formação dos
evangelhos. No segundo caso, ele dá a sua opinião que é tão inspirada quanto o
mandamento ao qual ele se refere anteriormente. Todas as afirmações de Paulo são
igualmente inspiradas e válidas para os nossos dias.54
Paulo dá a sua opinião em virtude daquele caso não ter sido alvo das considerações do Senhor
Jesus, ou seja, o Mestre não havia enfocado a situação de incrédulos casados com crentes.
Isso não significa, entretanto, que as orientações de Cristo eram insuficientes. Deve-se
entender que, como Paulo, Jesus não se propôs a explorar todos os contornos que o assunto
apresentava. Quando falou do tema, ele forneceu respostas específicas aos questionamentos
específicos feitos a ele. Não faria sentido ele tratar de um assunto que não estava sob
discussão.55 Outro detalhe que merece esclarecimento é o fato de que, ao legislar a situação de
No versículo 15, Paulo reconhece, entretanto, que por mais que o crente
deva se esforçar para manter seu casamento com um incrédulo, se este quiser se separar, não
deve ser impedido. Alguns defendem a idéia de que, por ter afirmado que nem o irmão, nem a
irmã ficam sujeitos à escravidão, Paulo estaria autorizando o recasamento para aqueles que
foram abandonados pelo cônjuge incrédulo. Contudo, essa tese é difícil de ser sustentada à luz
do contexto da passagem. A orientação do apóstolo para os crentes afirma que, em caso de
separação, o crente não deve casar de novo ou que se reconcilie com seu cônjuge. Se o
incrédulo resolveu se apartar e deseja permanecer assim, só resta uma opção para o crente:
permanecer sem casar. Outro detalhe contextual que invalida o recasamento do crente
abandonado é que a servidão está, claramente, relacionada com a insistência em manter um
casamento para levar o incrédulo, que quer se separar, à conversão. O versículo 15 termina
com a frase “Deus vos tem chamado à paz” que, na seqüência, é explicada no versículo 16:
“Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás o teu marido?” Ou seja, a discordância de fé não
pode ser motivo para guerras no lar; o crente deve se empenhar, sim, em testemunhar do
evangelho, mas se o incrédulo rejeita essa pregação e ainda decide deixar seu cônjuge crente,
este deve parar de insistir em manter a relação, visto que não tem garantia nenhuma que seu
testemunho (no casamento) redundará na conversão do descrente. Neste caso, o irmão ou a
irmã está livre deste compromisso.56 Qualquer outra explicação fere o contexto do capítulo,
além de levar o apóstolo Paulo a uma contradição impossível de acontecer.
56A idéia de que este compromisso refere-se às obrigações conjugais não é inválida. Entretanto, à luz do
versículo 16, é mais natural entender a servidão como a insistência em manter o casamento com um incrédulo
50
Outra passagem controvertida é a dos versículos 27 e 28. Ali, Paulo, afirma
que o homem livre de mulher deve permanecer assim, mas se casar, não peca. A polêmica
reside no fato de que “estar livre de mulher” pressupõe um período em que se estava “preso a
ela”, ou seja, casado. Sendo assim, “estar livre de mulher” significaria estar separado –
condição que, segundo o apóstolo Paulo, deveria ser mantida; contudo, se um novo casamento
acontecesse, não haveria pecado. Esse argumento se apóia no verbo (libertar, deixar ir,
despedir)57 usado tanto na sentença “Estás casado? Não procures separar-te” quanto na frase
seguinte: “Estás livre de mulher? Não procures casamento.” Defende-se, com isso, que se o
verbo na primeira frase foi usado com uma conotação de divórcio, certamente, a mesma
conotação deveria ser aplicada à frase seguinte, uma vez que o verbo é o mesmo. Desse modo,
o segundo casamento estaria autorizado com a garantia de que as novas núpcias não seriam
pecado. A proposta é interessante, mas há três fatores que devem ser considerados. O
primeiro: seria extremamente contraditório Paulo incentivar a permanência no divórcio (v.27),
quando ele mesmo, pouco antes, motivou a reconciliação dos divorciados (v.11). Segundo:
quando o Senhor Jesus foi abordado pelos fariseus em Mt 19, o verbo traduzido por
“repudiar”58 () usado por aqueles religiosos em sua pergunta (Mt 19.3), não foi o
mesmo da resposta do Mestre (Mt 19.6), que usou (separar, dividir, ir embora)59. Ora,
se verbos diferentes podem se referir a uma mesma situação, por que verbos iguais não podem
se referir a situações diferentes? Terceiro, o contexto demonstra que Paulo havia começado a
tratar da condição das virgens, ou seja, das solteiras. Nessa seção, Paulo mantém seu conselho
das pessoas permanecerem em sua condição atual: se solteiro, solteiro; se casado, casado; se
viúvo, viúvo. Estas eram as três únicas condições incentivadas por Paulo. O incentivo a
permanecer separado não ocorre em lugar nenhum e, mesmo que ocorresse, o apóstolo não
caracterizaria a situação como envolvendo divorciados, mas casados, pois o divórcio não
dissolvia os laços matrimoniais. Contextualmente falando, Paulo usou a situação de homens
casados e viúvos para mostrar às virgens que as orientações dadas a eles, se aplicavam a elas
também. Ou seja, se era melhor que homens casados e viúvos permanecessem assim, o
que quer se separar para levá-lo à conversão. Uma vez abandonado, aí sim, o cônjuge cristão, naturalmente,
estará desobrigado de suas responsabilidades conjugais.
57 Enhanced Strong’s Lexicon, (Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.) 1995.
58 Idem.
59 Idem.
51
mesmo valia para as virgens; se, entretanto, elas viessem a casar, à semelhança dos viúvos (ou
solteiros)60, não estariam pecando. É muito mais coerente e natural entender os versículo 27 e
28 dessa forma, do que defender uma autorização ao recasamento que desde o início do
capítulo o apóstolo vem proibindo.
60O “estar livre de mulher” pode ser uma referência aos solteiros ou viúvos. Contudo, diante da progressão do
texto, que primeiro se dirige aos casados e, depois, termina com as virgens (solteiras), parece ser natural entender
que o grupo intermediário era o de viúvos. Assim, em seu argumento, Paulo teria falado a todos os grupos.
52
Corinto, Paulo agora desfrutava de uma tranqüilidade, ou seja, de uma situação que
propiciava condições ideais para o pensar teológico e fazer planos, dentre eles, traçar
estratégias para levar o evangelho à Espanha. A igreja de Roma, cuja fundação não contou
com a participação do apóstolo, sendo já bastante conhecida e ocupando uma posição
geográfica muito favorável, seria um ótimo ponto no roteiro que levaria Paulo à península
ibérica. A carta, portanto, prepararia sua visita aos romanos e, ainda, forneceria a eles material
teológico consistente, tendo em vista que não se sabia como aquela igreja havia surgido.
É óbvio que Paulo não propôs o casamento como tema principal do seu
argumento em Rm 7.1-6, mas ficou claro, no entanto, que a indissolubilidade e as implicações
da união entre marido e mulher eram assumidas pelo apóstolo como reais e aplicáveis. Sendo
assim, fazendo eco aos registros de 1 Coríntios, só a morte poderia encerrar o vínculo
matrimonial; do contrário, uma separação, ou qualquer recurso humano, seguida de
recasamento seria considerada adultério. Estaria Paulo fazendo uma alusão ao texto de Mt 19?
Não é possível dizer com segurança; mas, indubitavelmente, os alicerces do seu argumento
estavam no ensino do Senhor Jesus.
53
preso em Roma. Aparentemente, esta carta não trata de nenhum problema específico das
igrejas da Ásia Menor. Por isso, ao lado de Romanos, Efésios é mais uma daquelas obras de
forte teor doutrinário, facilmente constatável na segunda divisão da epístola (1.3 – 3.21), que
o apóstolo Paulo escreveu. Não obstante apresentar esse profundo conteúdo teológico, a carta
não deixa de trabalhar com aspectos práticos da igreja. A terceira divisão da carta (4.1 – 6.9),
particularmente, é a seção que vai tratar da postura dos crentes a partir da consciência da
posição que eles ocupavam em Cristo; ou seja, o que se espera daqueles que foram assentados
nos lugares celestiais em Cristo Jesus? A resposta vai apontar para questões bem práticas da
vida cristã, dentre elas, a vida familiar. Nesse ponto, Paulo vai se referir à relação entre
marido e esposa como jamais havia feito antes e, com isso, revelará as bases do seu ensino.
54
mulher é comparável ao vínculo mais misterioso e profundo que já se tomou conhecimento: o
de Cristo com a igreja. Foi a respeito dessa relação que Paulo, certa vez, afirmou:
Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que
nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem
a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. 61
A união da igreja com Cristo é indestrutível. Não há nada que possa desfazer esse vínculo de
amor; nada é capaz de interromper esse “casamento”, nem a morte. À exceção desta, da
mesma forma, nada pode dissolver a união estabelecida por Deus quando homem e mulher se
casam. Pode-se dizer, com isso, que o casamento é uma união cujo padrão é tão elevado que
ela só pode ser comparada com a união de Cristo com a igreja, que é indestrutível. Em outras
palavras: o casamento é indissolúvel.
61 Rm 8.37-39
55
depois da ascensão de Cristo concordava com sua teologia, pois ela era a base para o
tratamento de quaisquer facetas que o assunto poderia vir a apresentar. Portanto, a conclusão
desta seção não poderia ser outra senão, que Paulo está perfeitamente harmonizado com o
ensino de Jesus.
6.3. Conclusão
57
7. O ENSINO DE JESUS: DÚVIDAS E RESPOSTAS
No início deste trabalho, colocou-se que a igreja contemporânea vive num
tempo onde muitas vozes opinam a respeito do divórcio e recasamento. O fruto dessa
multiplicidade conceitual é um verdadeiro caos eclesiológico. Tanta confusão pode ser vista
na variedade de alternativas que a própria igreja criou para a questão. O tratamento do assunto
muda tanto de igreja para igreja que fica difícil acreditar na possibilidade de um consenso
real. Aliás, nesta matéria, o único ponto de concordância é a incerteza, a insegurança e a falta
de respostas para dúvidas que, com o tempo, se intensificam cada vez mais.
Apesar das limitações deste trabalho, ele não se propõe a ser mais uma voz
naquela já extensa confusão. Pelo contrário, o objetivo era o de apresentar uma perspectiva
neotestamentária sobre o divórcio e o recasamento que pudesse servir de auxílio para aqueles
que estão lidando direta ou indiretamente com a questão. Mesmo assim, e sabendo que as
conclusões apresentadas aqui não são das mais populares, é natural esperar que dúvidas
surjam em face das implicações que elas, naturalmente, vão exigir.
58
1 . Se o recasamento, à exceção dos casos que envolvem viuvez, é pecado, por que Deus nada
fez com aqueles seus servos que tinham mais de uma mulher (Abraão, Davi, Salomão, etc.)?
2 . Um homem se divorciou da sua mulher e recasou com outra. Passados alguns anos, a
primeira faleceu. Pode-se considerar que os recasados passaram a ser legitimamente
casados?
Essa questão é complexa e lida com algo que não está claramente registrado nas Escrituras:
afinal, o segundo casamento é ou não um casamento? É fundamental reconhecer que é difícil
afirmar algo quando a Bíblia se silencia. Porém, com muito cuidado, pode-se afirmar que o
Senhor Jesus, quando se referiu às novas núpcias, ele às chamou de novo casamento. É claro,
ele não negou que aquela situação era imprópria; mas, ao mesmo tempo, ele também não
disse que o segundo casamento não era casamento (um “possível” exemplo deste caso seria o
da mulher samaritana: “cinco maridos tiveste...” – Jo 4.18). Inclusive, o adultério se perfazia
exatamente por causa de um duplo casamento. Por isso, se por um lado pode-se afirmar com
toda convicção que um segundo casamento é pecado, por outro, não há segurança nenhuma
59
para se afirmar que ele não aconteceu.62 Pensando na pergunta que foi feita, conclui-se que
(com o devido temor), mesmo antes da sua primeira mulher morrer, apesar de estar em
pecado, aquele homem estava efetivamente casado; contudo, sua situação era profundamente
irregular, pois quem recasa comete adultério. Ao falecer a primeira mulher, o segundo
casamento, que já era real, passou para uma nova condição porque o adultério não poderia ser
cometido sem que houvesse um terceiro envolvido.
4 . Seria certo orientar uma mulher recasada a se divorciar para voltar ao primeiro
casamento?
Robert J. Plekker respondeu a uma questão semelhante a essa dizendo que não se pode
esquecer que um segundo divórcio é tão sem efeito quanto o primeiro. Pecado não anula
pecado. Se o primeiro divórcio não foi capaz de resolver o problema do primeiro casamento,
como o segundo o seria? Incentivar a separação no segundo casamento seria equivalente a
acumular pecado sobre pecado. Deus nunca exigirá que pequemos na tentativa de apagar
pecados já cometidos anteriormente.
62 Afirmar que um segundo casamento aconteceu não implica em dizer que o primeiro foi dissolvido. A
indissolubilidade defendida aqui permanece intacta, pois é justamente a legitimidade do segundo casamento que
reforça a realidade do adultério e, conseqüentemente, a indissolubilidade do primeiro.
60
5 . Depois de algum tempo de casados, a esposa descobriu que seu marido era viciado em
drogas. Sofrendo diariamente com a violência daquele homem, ela estava desesperada por
não saber que atitude tomar. O que fazer? Ela pode se divorciar dele?
O texto da primeira carta de João pode esclarecer esta questão: “Meus filhinhos, escrevo-lhes
estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto
ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo 2.1). Antes um pouco, o apóstolo já havia afirmado: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos
purificar de toda injustiça”(1 Jo 1.9). Seria muita ingenuidade achar que alguns dos membros
de uma igreja jamais pecariam, particularmente, em pecados como o recasamento. O próprio
apóstolo João reconheceu que a possibilidade de pecar existia. E caso acontecesse (e
aconteceria) daqueles irmãos pecarem, havia uma solução: recorrer àquele que perdoa todos
os pecados. Seria o recasamento um pecado que o Senhor Jesus não perdoaria? Se a resposta
61
for afirmativa, então há um problema textual sério, pois João afirma que Cristo perdoa os
pecados e purifica de toda injustiça. Se, contudo, a resposta for negativa (e, de fato, deve ser),
então, o caso daquela mulher tem solução. Se o Senhor Jesus a perdoa, por que a igreja não
pode fazer o mesmo? Na verdade, ela deve fazê-lo. O problema é que muitas comunidades
cristãs querem ser mais justas que o próprio Justo. Portanto, aquela mulher pode ser aceita na
igreja, contanto que se submeta às limitações ministeriais que a sua atual condição impõe,
afinal, perdão de pecados não significa anulação das suas conseqüências.
7 . Um rapaz separou-se da sua esposa (com quem não teve filhos) e agora mora com outra
mulher (com quem tem dois filhos). Apesar de não ter casado com a segunda, o fato é que já
existe uma família fruto daquela relação. Seria correto orientá-lo a voltar para sua esposa
(que ainda está sozinha) sabendo que isso implicaria no sofrimento dos filhos, que não tem
culpa pelos erros do pai?
Em primeiro lugar, deve-se levar em consideração que antes dos filhos da situação irregular
sofrerem, a verdadeira esposa já sofria. Em segundo lugar, o sofrimento de um indivíduo que
desobedece à Palavra de Deus, bem como das pessoas envolvidas com ele, é uma
conseqüência natural. Terceiro, a questão essencial não trata de quem deve ou não sofrer, mas
de que as Escrituras devem ser obedecidas. Nesse sentido, o seu primeiro relacionamento, que
é oficial, deve ser priorizado. Quanto ao sofrimento dos filhos, cabe ao pai assumir as
conseqüências das suas más escolhas e se esforçar para dar a assistência devida aos seus.
Retomar o relacionamento com sua esposa não significa que ele abandonará aos filhos; pelo
contrário, agora é que aquele homem terá que se desdobrar na educação, no sustento e no
amor a eles. Vale destacar que ao voltar para a esposa, o pai estará dando exemplo de
obediência a Deus para os filhos. Em termos de futuro, é melhor o exemplo de submissão ao
Senhor do que evitar um sofrimento imediato dos filhos.
8 . Uma moça de 19 anos de idade foi abandonada pelo seu marido seis meses depois do
casamento. Seria justo orientá-la a permanecer sozinha a vida inteira sendo tão jovem e
considerando que seu marido sumiu completamente?
A dúvida levantada nesta questão toca na condição de uma pessoa inocente. E é verdade, a
moça nada fez para que o marido a abandonasse. E pior, sendo tão jovem, e tendo uma vida
inteira pela frente, seria extremamente injusto exigir que ela permaneça assim sem a menor
expectativa de que o marido volte. Não se pode negar que o raciocínio anterior é lógico; mas
será que ele é bíblico? Um dos grandes problemas das pessoas e de algumas igrejas é achar
62
que elas podem ser mais justas que o próprio Senhor Jesus. Em Mt 19.11,12, ficou claro que o
celibato dos separados é possível, pois os crentes receberam a capacidade de obedecer a Deus;
se o divórcio seguido de um recasamento é pecado, então, para evitar o pecado, o crente deve
permanecer na condição em que está. O texto de Lucas 16.18, por outro lado, finaliza a
questão deixando claro que a parte inocente que recasar é tão culpada de adultério quanto a
que tomou iniciativa em repudiar. É verdade que orientar a jovem moça ao celibato é uma
medida dura, mas é, também, amorosa, pois visa protegê-la de uma possível rebeldia contra
Deus. Cabe à igreja dar a ela todo o suporte possível para ajudá-la a se manter firme na
condição em que está.
9 . Uma mulher tomou conhecimento de que seu ex-marido se casou. Aparentemente, ele
estava muito satisfeito com sua atual relação e nem passava pela sua cabeça voltar para ela.
Diante desse quadro “irreversível”, ela poderia pensar em um novo casamento?
Objetivamente, não. O erro do seu marido não justifica, nem autoriza um novo casamento.
Concordar com isso significaria afirmar que o pecado autoriza o pecado (o que é uma
profunda mentira). Só há uma condição que permitiria um novo casamento: a morte do
marido (Rm 7.2,3; 1 Co 7.39). Portanto, enquanto o marido viver, o recasamento será uma
opção impossível para aquela mulher.
10 . Se Jesus permitiu o divórcio, por que não autorizaria o recasamento, visto que a
separação pressupõe uma liberdade para um novo relacionamento?
63
11 . Um homem e uma mulher eram divorciados e resolveram se casar. Em visita a uma
igreja, ouviram o evangelho e foram convertidos. Como o texto de 2 Co 5.17 afirma que os
convertidos são nova criatura, que as coisas velhas já passaram e que tudo se fez novo, pode-
se afirmar, então, que o casamento daquele casal foi automaticamente regularizado?
Antes de chegar a qualquer conclusão a respeito de um texto bíblico é seguro adotar uma
medida: verificar o contexto da passagem sob análise. Não é necessário retroceder muito para
perceber que a maneira como a questão lida com o texto de 2 Co 5.17 é profundamente
equivocada. Uma breve observação do versículo 15, por exemplo, já dá claras indicações do
erro de interpretação cometido no 17. “E ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”(2 Co 5.15).
Portanto, as novas criaturas, bem como as coisas velhas que passaram, não significam que os
pecados antes da conversão deixaram de ser pecado depois dela. Antes, significa que aqueles
que viviam de uma maneira egoísta, centrados em si mesmos, e interessados em satisfazer
suas próprias paixões, em Cristo, passaram a ser novas criaturas no sentido de que, depois da
conversão, tudo o que são e têm servem agora para satisfazer e agradar a Cristo. Assim,
diferente do que a presente questão sugere, o texto de 2 Co 5.17 confirma aquilo que Mt
19.11,12 já havia dito, ou seja, que o discípulo de Jesus é capacitado a responder
positivamente às exigências do reino. Sem Cristo, a única realidade esperada era a
desobediência persistente; com Cristo, porém, a atitude esperada é a obediência crescente,
visto que uma das marcas da nova criatura é viver para aquele que por ela morreu e
ressuscitou. Dessa forma, ao invés de se sentirem tranqüilos com sua atual condição, os
recasados que vieram a se converter, como é esperado dos crentes no Senhor Jesus, devem se
arrepender e buscar o perdão de Deus, pois quem recasa adultera, e adultério é pecado.
Defender a idéia de que a conversão transforma o pecado numa condição normal, seria
admitir que o perdão daria direito ao convertido de continuar pecando, o que não é verdade
como bem registra Rm 6.1,2.
64
12 . Um casal realizou sua cerimônia de casamento num terreiro de candomblé. O marido,
que já vinha sendo evangelizado, foi convertido. A esposa, no entanto, estava irredutível
quanto a sua permanência naquela religião. Lendo a Bíblia, o marido se deparou com um
versículo que dizia: “Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem”(Mt 19.6). Ele
concluiu a partir daquela leitura que, como seu casamento fora realizado no candomblé,
certamente Deus não participara daquele ato e, portanto, aquele matrimônio nunca havia
sido consumado. Dessa forma, ele não só poderia deixar a sua esposa, como também, teria
liberdade para casar com outra. Teria ele encontrado uma solução bíblica para o seu caso?
Se o casamento citado acima não fosse legítimo e reconhecido por Deus, nenhuma aliança
matrimonial envolvendo jugo desigual o seria também. No entanto, em 1 Co 7, Paulo, em
momento algum se referiu aos casamentos mistos como sendo ilegítimos. É verdade que o
jugo desigual era pecado e que o casamento de crentes com incrédulos era fortemente
proibido. Contudo, se o casamento acontecesse (fora da igreja, evidentemente), ele seria tão
casamento quanto o dos crentes. E mais, em 1 Co 7.12-16, Paulo regulamentou a situação de
casais que, antes de chegarem para a igreja, já haviam casado e um dos cônjuges se converteu.
Em outras palavras, aqueles casamentos aconteceram fora da igreja. O que fez Paulo diante
daquela realidade? Realizou novos casamentos? Não, ele deu orientações para aquelas
pessoas que ele já reconhecia como legitimamente casadas. Outro detalhe importante, é que,
como foi visto, o texto de Mt 19.6, não afirma que há casamentos que não foram consumados
por Deus. A passagem, de acordo com seu contexto, indica que quando as pessoas se casam,
Deus promove uma aliança espiritual indestrutível entre as pessoas envolvidas, de tal modo
que, elas não poderiam buscar recursos humanos (divórcio) para dissolver o que, por ação de
Deus, era indissolúvel. Sendo assim, ao invés de achar uma referência que defendesse o
divórcio e o recasamento, o homem desta questão encontrou, sim, mais um texto que o
obrigava a permanecer com a mulher com quem casou.
13 . Mas, em Esdras capítulo 10, os homens foram orientados a deixarem suas mulheres,
justamente por serem elas pagãs (incrédulas). O homem do caso anterior não teria, assim,
respaldo bíblico para buscar um divórcio e, posteriormente, um recasamento?
Objetivamente, não. Considerar o texto de Esdras capítulo 10 uma base para o divórcio seria,
na verdade, uma ingenuidade exegética e, por isso, um erro grave. Não se pode ignorar que o
65
livro de Esdras “registra o cumprimento da promessa divina de restaurar Israel à sua terra
depois de setenta anos de cativeiro na Babilônia (Jr 25.11)”.63 Este exílio se deu em virtude da
desobediência do povo de Israel à aliança mosaica, uma vez que a observância da lei era o
fator fundamental para a bênção e permanência na terra prometida. Em Esdras, o povo que
retornava para Israel precisava passar por um profundo reavivamento espiritual, visto que,
depois de quase um século em Babilônia, já havia sido contaminado pela cultura daquela
sociedade pagã. E não poderia ser diferente, afinal, a permanência na terra (como já foi dito)
dependia da obediência aos preceitos da lei mosaica, entre eles, os que tratavam do casamento
misto. Êxodo 34.12-16, por exemplo, deixa claro que Israel estava terminantemente proibido
de fazer alianças com os povos pagãos e isso incluía o casamento. Em Deuteronômio 7, Deus
orienta seu povo a não só descartar a possibilidade de casamento com outros povos, mas
também, a não estabelecer qualquer tipo de aliança ou tratado com eles (Dt 7.1-3). Em Josué,
Deus adverte seu povo quanto à desobediência a esta ordem: seu povo teria que dividir espaço
com os outros povos que seriam, para Israel, armadilha, laços, chicote e espinhos nos olhos
(Js 23.12,13).
Diante deste panorama, vale uma pergunta: Por que a Lei proibia o casamento misto, que era
caracterizado pela união de um judeu com um não-judeu? A experiência de Salomão pode
responder com toda clareza. Suas mulheres o levaram a desviar-se. E mais, à medida que ele
envelhecia, elas o induziam cada vez mais a voltar-se para os seus deuses, de modo que
Salomão não se dedicava mais totalmente ao Senhor (1 Rs 11.3,4). O mesmo aconteceu com
Acabe, que passou a prestar culto a Baal e a adorá-lo (1 Rs 16.30,31). Ao proibir o casamento
misto, a Lei estava levantando cercas de proteção para o seu povo. Yahweh sabia que este tipo
de união levaria seu povo a transgredir o primeiro mandamento, de forma que o coração de
Israel se dividisse com os ídolos pagãos. Permitir o casamento misto seria lançar seu povo na
ruína. A restrição da Lei visava preservar a saúde espiritual de Israel. Os exemplos de Sansão,
Salomão e Acabe são advertências eloqüentes quanto às conseqüências desastrosas da não
observância dessa ordem divina.
Qual era a situação do povo de Israel depois de setenta anos em Babilônia? Milhares de
Judeus casados com pagãos. O que isso significava na antiga aliança? Significava que a
66
bênção e a permanência na terra não estavam garantidas; e pior, o relacionamento com o Deus
da aliança estava seriamente comprometido.
Esdras ordenou divórcios em massa? Claro que sim; mas aquela orientação foi dada a judeus,
no período pós-exílico, sob a antiga aliança, para preservar a saúde espiritual de Israel e sua
permanência na terra prometida. Quais são as correspondências entre o texto de Esdras e a
situação do homem da questão anterior? A resposta é simples: não há correspondências. O
homem não era um judeu que veio a casar com uma pagã; era, na verdade, um pagão que
casou com uma pagã e, que depois, foi convertido. Ele não estava sob o contexto da antiga
aliança, mas da nova. Mesmo que aquele homem se propusesse a observar todos os preceitos
da lei mosaica (o que seria impossível sem Cristo), ele não garantiria nem um centímetro
quadrado de terra em Israel. Se não há correspondências, pode-se dizer que o casamento
misto, sob a nova aliança, é permitido? Não, porque o Novo Testamento mantém essa
proibição. Entretanto, casos como o do homem da questão anterior são possíveis (o casamento
se deu quando os cônjuges eram incrédulos e um deles foi convertido). Para os tais, o apóstolo
Paulo deixou as seguintes orientações:
Não impeça o cônjuge incrédulo de ir embora caso ele não queira viver com o crente
(1 Co 7.15);
14 . Se o problema em Esdras estava nos casamentos dos filhos de Israel com mulheres de
outros povos, o que dizer do caso de Rute? Ela era uma estrangeira e, no entanto, seu
casamento com Boaz não foi considerado pecado. Como resolver essa aparente contradição?
De fato, Rute era uma estrangeira, uma moabita, nora de Noemi cujo marido era um homem
de Belém de Judá. Porém, é preciso observar o caso de Rute com mais atenção. Com a morte
do marido e dos filhos, Noemi resolve voltar para seu povo. Antes disso, ela incentiva suas
noras a voltarem para sua terra e para seu deus. Após a partida de Órfã, uma das noras, Noemi
67
se volta para Rute insistindo que ela fizesse o mesmo. Contudo, Rute não somente se recusa a
fazer isso, como declara sua firme decisão em assumir Israel como seu povo e Yahweh, como
o seu Deus. O coração de Rute já estava transformado. Não se tratava mais de uma
estrangeira, mas de uma estrangeira convertida. Isso muda completamente a situação,
tornando o casamento de Boaz e Rute aceitável e legítimo.
15 . Por que os membros comuns de uma igreja têm que adotar um padrão tão elevado para
o casamento quando, na verdade, segundo a Bíblia (1 Tm 3), esse rigor só é aplicado aos
presbíteros e diáconos?
16 . Um pastor recebeu em seu gabinete um homem que, aos prantos, reconhecia a Jesus
como Salvador da sua vida. Marcados o dia e a hora do seu batismo, ao entrevistar aquele
homem, o pastor descobriu que ele já havia se divorciado e estava casado há cinco anos com
outra mulher. Diante deste cenário, o pastor deveria orientá-lo a não se batizar?
17 . Paulo, ao orientar as viúvas mais novas a que se casassem novamente (1 Tm 5.14), não
estaria reconhecendo que o celibato era uma condição difícil de ser sustentada na juventude
e que, por isso, no caso das jovens divorciadas, o recasamento seria a melhor solução para
evitar o pecado, visto que pelo menos assim, ou seja, nos limites de um casamento, elas
poderiam ter uma vida sexual ativa?
O apóstolo Paulo nunca deixou de mostrar sua preferência pelo celibato. Se a pessoa fosse
solteira, ele a orientava a permanecer assim; se ela era viúva, da mesma forma; se separada,
em caso da ausência de reconciliação, ela deveria ficar só. Entretanto, ele tinha total
consciência de que nem todos os solteiros e viúvos tinham recebido a capacidade de não se
envolverem emocionalmente. Ele reconhecia que alguns optariam pelo celibato, mas outros
não. De qualquer forma, seja qual fosse a decisão dos solteiros e viúvos, eles não pecariam.
Quanto à ordem de Paulo, em 1 Tm 5.14, para que as jovens viúvas se casassem, é necessário
fazer algumas observações. A primeira: ele não estava se contradizendo por dar aquela
orientação, pois, mesmo que sua preferência fosse pelo celibato, o casamento de uma pessoa
viúva, como ele mesmo já havia ensinado, não era pecado (Rm 7.2,3; 1 Co 7.39). A segunda:
sua ordem foi direcionada para viúvas. O fato de que eram jovens não era um fator que
pesasse em favor do recasamento. A possibilidade de um novo matrimônio para elas estava,
primordialmente, na realidade de que não estavam mais comprometidas com ninguém em
virtude da morte dos seus cônjuges. A terceira: a razão para Paulo orientar às jovens viúvas a
um novo casamento era por causa do mau testemunho de algumas, que estavam se desviando;
provavelmente, se envolvendo com relações sexuais fora do casamento. Talvez, elas
quisessem até permanecer sem se casar e não ter as responsabilidades de uma mulher casada;
mas, por causa do apetite sexual, que na juventude é intenso, muitas delas estivessem usando
sua sexualidade de forma indevida. Para evitar esse tipo de coisa, Paulo, então, ordena que
elas re-orientassem suas vidas dentro dos limites do casamento. Com isso, pretende-se afirmar
que, apesar da realidade do celibato ser extremamente difícil para um jovem, não é a
dificuldade e nem a sua juventude que autorizam um casamento, mas sim, se são solteiros ou
viúvos. No caso dos divorciados, um novo matrimônio era algo totalmente fora de cogitação,
69
pois o recasamento era pecado. Como os divorciados crentes, têm todos os recursos, mesmo
sendo jovens, para viverem de acordo com a vontade de Deus, o celibato é a única condição
que devem adotar para evitar o pecado.
18 . Pode-se afirmar que pessoas divorciadas que contraíram novas núpcias estão numa
condição de pecado permanente?
De antemão, é preciso reconhecer que a questão é muito complexa. Grande porção dessa
complexidade se deve ao silêncio das Escrituras. A Bíblia não trata nem categoriza
explicitamente uma situação como essa. Muitos, na tentativa de refutar a idéia do pecado
continuado, recorrem ao texto de Jo 4.16,17, afirmando que Jesus reconheceu todos os
supostos casamentos da mulher samaritana. Por outro lado, outros recorrem a Jo 8.1-11,
particularmente ao “vá e não peques mais”, como uma evidência de que se o cenário do
adultério não for abandonado, as partes envolvidas continuam pecando. Em relação ao
primeiro texto é preciso levar em consideração dois detalhes. O primeiro, a palavra que foi
traduzida como “marido” admite o termo “homem” como outra possibilidade de tradução. De
qualquer forma, fosse “homem” ou “marido”, o fato é que a mulher samaritana afirmou que
não tinha homem (ou marido). Isso torna possível, pelo menos, três situações: a mulher se
casou com cinco homens solteiros, se separou deles e agora estava casada com o sexto; a
mulher viveu com cinco homens sem se casar com eles e agora vivia com o sexto; a mulher
foi amante de cinco homens casados e agora era de mais um. O segundo detalhe, se a mulher
tivesse realmente casado com cinco homens, o fato do Senhor Jesus reconhecer aquela
realidade não implica em Sua concordância com ela. Admitir um fato não significa concordar
com ele. Portanto, pode-se concluir, à luz desses dois detalhes, que o texto de Jo 4.16,17 não é
suficiente para derrubar a idéia do pecado permanente.
Em relação ao segundo texto (Jo 8.1-11), não se pode ignorar o fato de que nenhuma
informação a respeito da mulher adúltera foi fornecida. Ela traía seu marido com um homem
solteiro? O texto não diz. Ela traía seu marido com um homem casado? A passagem não fala.
Ela era solteira, mas amante de um homem casado? A resposta: silêncio. De qualquer
maneira, parece ser muito improvável que o adultério em questão seja resultado de um
segundo casamento. Portanto, à semelhança de Jo 4.16,17, Jo 8.1-11 não é suficiente para
categorizar o segundo casamento como pecado permanente. E a razão para a inconsistência da
aplicabilidade das duas passagens reside no fato delas não tratarem explicitamente de um
contexto envolvendo o recasamento.
70
Questões complexas como a presente não podem ser respondidas na base da especulação. Por
isso, para se fornecer uma resposta aceitável (o que não significa definitiva) é fundamental
que o ponto de partida se apóie em referências bíblicas claras, simples e objetivas. O texto de
1 Jo 1.9 afirma que Deus perdoa aqueles que confessam os pecados. Paulo, em 1 Co 6.9-11,
afirmou que alguns dos seus destinatários se encaixavam na categoria dos adúlteros. E,
inclusive, estes foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor
Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. Disso, pode-se afirmar com plena convicção que
Deus perdoa o pecador que, sinceramente, confessa arrependido o seu pecado, seja ele qual
for. Será que é possível, então, uma pessoa recasada compreender que o recasamento é pecado
e se arrepender de todo o coração? Não há dúvida que a resposta é positiva e que a evidência
maior do arrependimento é o abandono das práticas pecaminosas. Daí surge a difícil questão:
como o recasamento pode ser abandonado? Alguns responderiam: “separando-se do segundo
cônjuge e voltando para o primeiro”. O problema é que essa “solução” implicaria em um novo
divórcio, o que seria ilegítimo, ou seja, pecado; e, além disso, voltar para o primeiro cônjuge
seria tão recasamento quanto o anterior. Portanto, por mais que uma pessoa recasada se
arrependa genuinamente, ela sempre estará limitada na expressão do seu arrependimento, pois
a sua plenitude pode levá-la a outro pecado. Seria correto, por isso, afirmar que ela está numa
condição de pecado permanente? Se houve arrependimento genuíno, biblicamente, é muito
difícil dar uma resposta conclusiva. A única afirmação que se pode fazer com segurança
bíblica é a de que a pessoa sofrerá permanentemente as conseqüências do seu pecado. Parece,
então, que a situação do recasado arrependido não é tanto caracterizada por um pecado
continuado, mas por conseqüências irreversíveis e permanentes.
71
Diante dessas observações, pode-se concluir que o sexo poderá ocorrer mesmo sem
penetração e, ainda assim, continuará a ser sexo; um casamento, com ou sem relação sexual,
continuará a ser casamento; e, finalmente, um recasamento é um casamento real, claro, sob
circunstâncias impróprias, mas é real. Sendo assim, com ou sem sexo, o matrimônio
continuará a ser o que é e sempre foi. Portanto, ainda que a interrupção das relações sexuais
possa hipoteticamente alargar as expressões de arrependimento, elas ainda assim estarão sob
profundas e permanentes restrições, de maneira que a abstenção sexual em pouco (ou em
nada) ajudará.
72
8. CONCLUSÃO
A igreja contemporânea está em colapso; salvo poucas exceções, a realidade
é que o ambiente eclesiástico está mergulhado num profundo caos comportamental, numa
grave e generalizada confusão existencial. Cada vez mais, pastores e líderes, que deveriam ser
modelo para o rebanho que Deus colocou aos seus cuidados, contribuem para o crescimento
das tenebrosas estatísticas sobre divórcio e recasamento. À medida que o tempo passa, maior
é o número de crentes que já transitaram por dois, três ou, até mais casamentos. Não são
poucos os que, com uma longa estrada na vida cristã, fazem coro com a mentalidade
corrompida deste século simpatizante dos múltiplos casamentos. Mais e mais jovens cristãos
se aproximam do “altar” resistentes à idéia do duradouro “foram felizes para sempre”, mas
receptivos ao romântico, porém diabólico conceito transitório do “eterno enquanto dure”. O
mundo, que antes era veementemente advertido pela maneira egoísta como encarava os
relacionamentos, aos poucos, infelizmente, vem ganhando desenfreada adesão por parte
daquele que o repreendia: a igreja. O cenário, como se pode perceber, não é dos mais
favoráveis.
Mas sabemos uma coisa. O divórcio não é o problema. O divórcio não é o problema
entre os crentes, não no Brasil, nem mesmo dentro da igreja. Jesus Cristo mesmo
nunca rotulou o divórcio como um problema de tantos casamentos. Antes, ele
identificou o divórcio como o sintoma de uma situação mais profunda. 64
Em outras palavras, e com toda a razão, Plekker sabia que o divórcio e o recasamento não
eram a doença fundamental; eram, sim, sintomas, expressões, evidências externas de uma
64 PLEKKER, Robert J..Divórcio à Luz da Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 2000. p.14.
73
patologia interna. Da mesma forma que a fumaça, por mais densa e escura que possa ser, seja
apenas uma clara indicação da tragédia de um incêndio, o divórcio e o recasamento são uma
dramática evidência de uma tragédia crônica agregada à humanidade: a dureza de coração.
Por isso, ninguém deve se enganar achando que o Senhor Jesus não sabe
qual é o cerne da questão. Ao escrever para as sete igrejas da Ásia, o apóstolo João registrou
um refrão que percorre todas aquelas cartas: “Conheço as tuas obras”. O verbo traduzido por
“conhecer” transmite a idéia de discernir, desvendar, saber a respeito de tudo; ou seja, Cristo
não apenas percebia as expressões visíveis das atitudes daqueles irmãos, mas, principalmente,
discernia o que estava por trás daquelas obras. A graça que Cristo oferece e o perdão que ele
disponibiliza aos arrependidos são reais e eficazes; mas ninguém se engane achando que o
Senhor Jesus não conhece a intenção daqueles que querem se aproveitar da abundância da sua
graça para potencializar mais as expressões pecaminosas do coração. Isso seria estupidez.
Pensar que a realidade da misericórdia de Deus equivale a uma licença para pecar; achar que
contrair um novo casamento, mesmo sabendo que é pecado, escorado no fato de que Deus,
sendo paciente e longânimo, perdoará aquela desobediência no futuro; julgar que uma vez
perdoado, as conseqüências dos atos serão automaticamente interrompidas; alegar que o
divórcio e o recasamento foi um recurso buscado depois de muita oração e de “sentir” a paz
de Deus, enfim, fazer tudo isso achando que o Senhor Jesus está alheio às verdadeiras
expressões motivacionais do coração é uma imperdoável estupidez.
74
experimentarem sucesso na vida conjugal e restauração para aqueles cuja relação
aparentemente não tem mais solução. Contudo, nada disso será alcançado se as igrejas não
ouvirem o que o Espírito diz a elas.
75
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOOR, Werner de. Cartas aos Coríntios. São Paulo, SP: Esperança, 1993.
BUCKLAND, Rev. A. R.. Dicionário Bíblico Universal. Rio de Janeiro, RJ: Livros
Evangélicos, 1957.
CALVINO, João. Comentário à Sagrada Escritura: Exposição de 1 Coríntios. São Paulo, SP:
Paracletos, 1996.
CHAMPLIN, R. N.. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo, SP: Candeia,
1991.
________ . O Novo Testamento Interpretado: Volume 1. São Paulo, SP: Hagnos, 2002.
CLEMENTS, R. E.. O Mundo do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Paulus, 1995.
COENEN, Colin Brown e Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento:
Volume 1. São Paulo, SP: Vida Nova, 2000.
CONDE, Emílio. Tesouro de Conhecimentos Bíblicos. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2000.
ELWELL, Walter A.. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo, SP:
Vida Nova, 1988.
GONÇALVES, Éder Lourenço. Apostila de Síntese do Novo Testamento. Atibaia, SP: SBPV,
2003.
GRANCONATO, Marcos Mendes. A Prática da Igreja de Deus. Atibaia, SP: Imprensa da Fé,
2002.
GRUDEM, John Piper e Wayne. Homem e Mulher. São José dos Campos, SP: Fiel, 1996.
GUGLIELMINETTI, Rose, VASCONCELOS, Iara, MELLO, Rafaela. “Não quero mais
brincar de casamento!”. Lar Cristão: A Revista da Família, São Paulo, ano 20, n.98,
julho/agosto 2007, p.6-9.
GUNDRY, Robert H.. Panorama do Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 1998.
HARRIS, R. Laird. Dicionário Internacional do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida
Nova, 1998.
HOUSE, Paul H.. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida, 2001.
MACARTHUR JR., John. Homens e Mulheres. Rio de Janeiro, RJ: Textus, 2001.
________ . Jesus Teaching on Divorce. Panorama City, California: Word of Grace
Communications, 1983.
________ . The MacArthur New Testament Commentary: Matthew 1-7. Chicago, USA:
Moody, 1985.
________ . The MacArthur New Testament Commentary: Matthew 16-23. Chicago, USA:
Moody, 1988.
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: SP: Hagnos, 2004.
76
LAÉRTON, José. A Santidade e Indissolubilidade do Casamento. Igreja Batista Regular
Emanuel, 2001.
LASOR, William Sanford. Gramática Sintática do Grego do N.T.. São Paulo, SP: Vida Nova,
1973.
LEITE, Fernando. Quando a resposta é o divórcio.www.ibcu.org.br, 2004.
LOPES, Augustus Nicodemus Lopes e Minka Schalkwijk. A Bíblia e a sua Família. São
Paulo, SP: Cultura Cristã, 2001.
LOPES, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento. São Paulo, SP: Hagnos,
2005.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2003.
PICKERING, Gilberto. Divórcio e Novo Casamento. www.esgm.org/portugues/DIVORCIO.
r.rtf, 2001
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Apostila de Teologia Bíblica do Novo Testamento. Atibaia,
SP: SBPV, 2000.
________ . Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo, SP: Hagnos, 2006.
________ . Fundamentos para Exegese do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova,
1998.
PIPER, John. Divórcio e Novo Casamento: Uma declaração. www.monergismo.com, 1986.
PLEKKER, Robert J..Divórcio à Luz da Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 2000.
POHL, Adolf. Carta aos Romanos. Curitiba, PR: Esperança, 1999.
RAINEY, Dennis. Ministério com Famílias no Século 21. São Paulo, SP: Vida, 2001.
REA, Charles F. Pfeiffer, Howard F. Vos, John. Wycliff Bible Encyclopedia. Chicago: Moody
Press, 1975.
REGA, Johannes Bergmann e Lourenço Stelio. Noções do Grego Bíblico. São Paulo, SP:
Vida Nova, 2004.
SILVA, Esequias Soares. Analisando o Divórcio à luz da Bíblia. Rio de Janeiro, RJ: CPAD,
1997.
SMITH, Ralph L.. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Vida Nova, 2001.
TASKER, R.V.G.. Mateus: Introdução e Comentário. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 1991.
VAUX, Roland de. Ancient Israel – Its life and Institutions. Grã-Bretanha: McGraw-Hill
Bock Company, 1961.
WENHAM, William A. Heth and Gordon J. Jesus and Divorce. Nashville, NY: Nelson, 1984.
77