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2 ED

LAWFARE BRASILEIRO
Como se constata da leitura dessa obra
estamos diante de um livro de história,
crítico aliando o sistema penal, que mesmo
sendo o protagonista, acaba ficando
como pano de fundo de uma
São capítulos bem diferentes que se estratégia de lawfare.”
articulam de tal forma que a leitura é leve Carolina Cyrillo
e bastante instrutiva. A solidez do texto Professora de Direito Constitucional
dá ao autor a ideia firme de ser uma coisa da UFRJ e da UBA
definitiva!”
O livro demonstra o uso da noção de
Sérgio Salomão Sheccaira
Lawfare no Brasil em caso específico.
NATÁLIA LUCERO Professor Titular da USP
Consegue comprovar que o jogo era outro; ANTONIO EDUARDO
FRIAS TAVARES quem não entende de lawfare é ingênuo ou
Nesse momento delicado da vida brasileira,
está de má-fé. Recomendo fortemente.”
RAMIRES SANTORO
Professora da Faculdade Nacional de o livro do Professor Santoro e da Professora
Direito da Universidade Federal do Rio Alexandre Morais da Rosa Professor Titular de Direito Processual
Natália é imprescindível.”
de Janeiro - FND/UFRJ e Professora da Juiz de Direito e Professor da UFSC Penal do IBMEC/RJ, Professor Adjunto
Geraldo Prado do Programa de Pós-Graduação em Di-
Academia Brasileira de Direito Consti- Professor de Direito Processual Penal da UFRJ
tucional - ABDConst. É Doutoranda em O livro de Antônio Santoro e Natalia reito da Faculdade Nacional de Direito
Direito pelo Programa de Pós-Gradua- Tavares é fruto de pesquisa séria e traz - PPGD/UFRJ, Professor Adjunto do Pro-
Bom e atualizadíssimo livro. Recomendo a leitura acadêmica do lawfare no grama de Pós-Graduação da Univer-
ção em Direito da Faculdade Nacional a leitura do livro intitulado “Impeachment
de Direito - PPGD/UFRJ. Possui Mestra- Brasil, a partir da análise de um processo Antonio Eduardo Ramires Santoro sidade Católica de Petrópolis - PPGD/
de 2016. Uma estratégia de lawfare que mudou os rumos do país. É leitura
Natália Lucero Frias Tavares UCP, Jovem Cientista do Nosso Estado

Natália Lucero Frias Tavares


Antonio Eduardo Ramires Santoro
do em Direito pela Universidade Católi- político instrumental.” fundamental para quem deseja sair das pela FAPERJ e Coordenador do Grupo
ca de Petrópolis - PPGD/UCP (onde foi
Afrânio Silva Jardim informações rasas de jornal e compreender de Pesquisa “O Sistema Penal sob Olhar
Bolsista Prosup-CAPES), Pós-Graduação Professor de Direito Processual Penal da UERJ como a contaminação entre direito, política Crítico” na UFRJ e na UCP. Possui Pós-
em Criminologia, Direito e Processo Pe-
e mídia pode gerar arbitrariedades e -Doutorado em Democracia e Direitos
nal pela Universidade Cândido Mendes Trata-se de um livro muitíssimo atual, violações não só ao devido processo legal, Humanos pela Universidade de Coimbra
e Bacharelado em Direito pela Universi- extremamente bem escrito, corajoso e, mas ao próprio Estado Democrático de
dade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. em Portugal, Pós-Doutorado em Direito
portanto, de leitura obrigatória. Recomendo!” Direito.”
É Pesquisadora membro do Grupo de Penal e Garantias Fundamentais pela
Rômulo de Andrade Moreira Maíra Fernandes Universidad Nacional de La Matanza
Pesquisa “O Sistema Penal sob Olhar Crí-
Procurador de Justiça e Professor da UNIFACS Advogada na Argentina, Doutorado e Mestrado em
tico” na UFRJ. É Advogada Criminalista.
Filosofia pela UFRJ, Mestrado em Direi-
to Penal Internacional pela Universidad
de Granada na Espanha, Especializa-
ção em Direito Penal Econômico pela
2ª edição Universidade de Coimbra em Portugal,
ISBN 978-65-80444-73-1 revista, atualizada Especialização em Direito da Economia
e ampliada do livro pela FGV/RJ, Bacharelado em Direito
Impeachment de 2016 pela UERJ. É licenciando em História
pela UNIRIO. É Advogado criminalista.
Antonio Eduardo Ramires Santoro
Natália Lucero Frias Tavares

2ª edição
revista, atualizada
e ampliada do livro
Impeachment de 2016
Copyright © 2019, D’Plácido Editora. Editora D’Plácido
Copyright © 2019, Antonio Eduardo Ramires Santoro Av. Brasil, 1843, Savassi
Copyright © 2019, Natália Lucero Frias Tavares.
Belo Horizonte – MG
Editor Chefe Tel.: 31 3261 2801
Plácido Arraes CEP 30140-007
Editor
Tales Leon de Marco W W W. E D I TO R A D P L A C I D O. C O M . B R

Produtora Editorial
Bárbara Rodrigues
Todos os direitos reservados.
Capa, projeto gráfico
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida,
Letícia Robini
por quaisquer meios, sem a autorização prévia
Diagramação do Grupo D’Plácido.
Leda Érica Câmara

Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha catalográfica

SOBRENOME, Nome.
Lawfare Brasileiro -- 2 ed. -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2019.
220p.

ISBN: 978-65-80444-73-1

1. Direito. 2. Direito Penal. I. Título.

CDD341.5CDU343
Dedico esse livro ao meu pai, Francisco João Santoro (in me-
moriam), meu exemplo, e minha querida amiga que nos deixou
muito antes da hora, Cecilia Caballero Lois.

Antonio Eduardo Ramires Santoro

Dedico esta obra a Giceli e Mario, em agradecimento por todo o


apoio e carinho que me foi dispensado ao longo da vida.

Natália Lucero Frias Tavares


AGRADECIMENTO

O agradecimento ao Plácido e à sua editora é sincero e muito neces-


sário. Em tempos muito difíceis como estes que vivemos em que direitos
são eliminados, verbas de pesquisa são cortadas, o ensino é desprezado e o
conhecimento é reduzido a treinamento, torna-se obrigatório registrar que
a Editora D’Plácido, na contramão do padrão, mas no rumo certo, coloca à
disposição de acadêmicos seu selo para publicação de livros que sejam resul-
tados de pesquisa, estudos, discussões, ainda que sujeitos à crítica ou mesmo
que sabidamente polêmicos. É um imenso prazer trabalhar com essa editora.
Sumário

PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO  15

PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO  19

INTRODUÇÃO  25

1. O USO DO SISTEMA PENAL COMO


LAWFARE POLÍTICO  29
1.1. Introdução 29
1.2. Origens do Lawfare 32
1.3. Definições de Lawfare: para uma compreensão
de Lawfare político 33
1.4. Tipologia de Lawfare e uso de instrumentos
legais do Lawfare político 37
1.5. Conclusão 46

2. MAXIPROCESSOS E DEMOCRACIA
CONSTITUCIONAL: A OPERAÇÃO LAVA JATO E A
PECULIAR PREMONIÇÃO VOLUNTÁRIA  49
2.1. Os maxiprocessos de Luigi Ferrajoli e sua
relação com o Lawfare Político 49
2.2. Os maxiprocessos e a negação do
processo penal democrático 53
2.3. A premonição de Sérgio Moro 55
2.4. A Operação Lava Jato e seu desenho maximizado 57
3. DENÚNCIAS DO PROCESSO DE IMPEACHMENT
DE 2016 E O ATO DE RECEBIMENTO: UMA
ANÁLISE TÉCNICO-PROCESSUAL
DA SUA ADMISSIBILIDADE  59
3.1. Introdução 59
3.2. Requisitos para o recebimento de uma denúncia 62
3.2.1. Requisitos necessários para considerar uma denúncia apta 62
3.2.2. Os pressupostos processuais e condições para o regular
exercício do poder de ação penal: o estado da arte 65
3.2.3 Justa causa para o exercício da ação penal 71
3.2.4. A compreensão dos autores e os elementos
a serem considerados na análise das
denúncias de impeachment 74
3.3. A denúncia do dia 31 de agosto de 2015 76
3.3.1. Conteúdo e elementos de convicção 76
3.3.2. Análise crítica  78
3.4. O aditamento à denúncia do dia
16 de setembro de 2015 79
3.4.1. Conteúdo e elementos de convicção 79
3.4.2. Análise crítica  81
3.5. A denúncia substitutiva do dia 21
de outubro de 2015 82
3.5.1. Conteúdo e elementos de convicção 82
3.5.2. Análise crítica  86
3.6. O recebimento da denúncia de
21 de outubro de 2015 90
3.7. O recebimento parcial sem ressalvas e
desfigurador da denúncia 91
3.8. Conclusão 92

4. SIGILO DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS


E O USO POLÍTICO DO CASO LAVA JATO: A
PERDA DA BASE PARLAMENTAR GOVERNISTA
NO PROCESSO DE IMPEACHMENT  95
4.1. Introdução 95
4.2. A decisão de afastamento do sigilo dos diálogos decorrentes
das conversas telefônicas interceptadas proferida pelo
juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba 98
4.3. A decisão de suspensão e remessa ao supremo tribunal
federal do Pedido de Quebra de Sigilo de Dados
e/ou Telefônico e procedimentos relacionados
proferida pelo ministro Teori Zavascki 100
4.4. O Ofício-resposta à determinação do Ministro Teori
Zavascki com um pseudo pedido de resposta
do Juiz Sérgio Moro 101
4.5. Análise dos fundamentos da decisão de levantamento
do sigilo e o uso indevido da ponderação 104
4.6. O entendimento da Corte Interamericana de Direitos
Humanos sobre a ilicitude da divulgação das
conversas telefônicas: o Caso Escher vs. Brasil 108
4.7. Conclusão 110

5. IMPEACHMENT DE 2016: DEVIDO


PROCESSO LEGAL OU AUTORITARISMO
PROCESSUAL PENAL  113
5.1. Introdução 113
5.2. O rito procedimental da Lei nº 1.079/50 para o
processo e julgamento do Presidente da República
por crime de responsabilidade 115
5.3. A adoção pelo Brasil de um modelo garantista
de processo penal  117
5.3.1. A necessidade de observância do devido
processo penal no impeachment 117
5.3.2 A previsão constitucional dos parâmetros
axiomáticos processuais garantistas 118
5.3.3 Adesão dos tratados internacionais sobre direitos
humanos ao ordenamento brasileiro: corolário
quanto à imparcialidade 121
5.4. As violações básicas do princípio da imparcialidade,
do princípio acusatório, da presunção de
inocência e do direito de defesa 122
5.4.1. Imparcialidade 123
5.4.2. Princípio acusatório 125
5.4.3. Presunção de inocência 126
5.4.4. Direito de defesa 127
5.5. A posição de Luigi Ferrajoli em relação ao impeachment
e sua instrumentalização autoritária 129
5.6. Conclusão 131

6. OCASO LULA: A EXECUÇÃO ANTECIPADA


DA PENA NO CONTEXTO
DO ATIVISMO JUDICIAL  133
6.1. Introdução – O caso do Triplex em seus
principais eventos processuais  133
6.2. Histórico sobre a prisão antes do trânsito em
julgado da sentença penal condenatória 138
6.2.1. A situação da prisão antes do trânsito em
julgado antes da constituição de 1988 138
6.2.2. A prisão decorrente de sentença condenatória
recorrível logo após a constituição de 1988 139
6.2.3. A Reforma de 2008 do CPP e o impacto sobre a prisão
decorrente de sentença condenatória recorrível 141
6.2.4. A mudança de entendimento do STF com o
julgamento do HC 84.078 em 2009 142
6.2.5. A Lei 12.403 de 2011 que reformou a
regulamentação sobre prisões processuais 143
6.2.6. A proposta de Emenda à Constituição 15/2011 e o
Projeto de Lei do Senado 402 de 2015 144
6.2.7. A estranha mudança de entendimento do
STF em fevereiro de 2016 no
julgamento do HC 126.292 146
6.2.8. As ADCs 43 e 44 e a decisão liminar
em outubro de 2016 147
6.2.8.1. Os fundamentos dos votos que
negaram a cautelar 148
6.2.8.2 Os fundamentos dos votos pela
concessão da cautelar 149
6.3. O Caso Lula: admissão do HC 152.752 e
concessão da liminar na sessão de
julgamento do dia 22 de março  150
6.3.1. O julgamento do mérito do HC 152.752 151
6.3.2. A máxima expressão do Lawfare no julgamento
do HC 5025614-40.2018.4.04.0000 152
6.4. Conclusão: a incompatibilidade da execução provisória da
pena com a proteção de direitos humanos e os motivos
políticos que podem estar determinando a posição atual 156
7. A ELEIÇÃO DE 2018: A VITÓRIA
AUTOPROCLAMADA  161
7.1. Introdução – o cenário eleitoral à Presidência
da República após a prisão de Lula 161
7.2. O indeferimento do pedido de registro
da candidatura de Lula 163
7.3. O Protocolo aditivo ao Pacto dos Direitos Civis
Políticos no contexto da jurisprudência dominante
do STF quanto à aplicação dos Tratados
Internacionais sobre Direitos Humanos 165
7.3.1. A positivação dos direitos humanos e os
sistemas constitucionais nacionais em
perspectiva comparada 167
7.3.2. A posição da jurisprudência dos tribunais
superiores no Brasil 172
7.3.3. O debate sobre a obrigatoriedade do cumprimento
das recomendações do Comitê de Direitos
Humanos das Nações Unidas 181
7.4. Conclusão: o fechamento do ciclo 186

8. CONCLUSÃO: AINDA HÁ DEMOCRACIA?  193

9. POSTSCRIPTUM: A CORRUPÇÃO DA
LUTA CONTRA A CORRUPÇÃO  197
9.1. Introdução 197
9.2. A motivação política da atuação dos órgãos de persecução oficial da
Operação Lava Jato 199
9.3. A interferência ilegal, não democrática e não republicana
do então juiz Sergio Moro na estratégia de atuação da
Força Tarefa da Lava Jato e da Polícia Federal 200
9.4. Conclusão – quais as consequências dessas revelações? 207

REFERÊNCIAS  209
P R E FÁ C I O À 2 ª E D I Ç Ã O

Recebi com surpresa e enorme deferência o convite para escrever o prefácio


da 2ª edição revista, atualizada e ampliada do livro Impeachment de 2016: uma estra-
tégia de lawfare político instrumental, de cuidadosa edição feita pela Editora D’Plácido.
Nessa 2ª edição o livro recebeu novas primorosas contribuições feitas
pelos autores que com sapiência aproveitaram o desenrolar da história e
conseguiram cunhar e identificar o conceito e o uso do Lawfare Brasileiro.
Obviamente essa percepção e identificação feita pelos autores é fruto da pers-
picácia e vocação de ambos para pesquisa de impacto na área da dogmática
processual penal, com um forte aporte de teoria do direito aplicada.
O Antonio Eduardo Ramires Santoro é desses presentes inusitados e ines-
perados que a vida acadêmica nos dá. Meu primeiro contato com ele foi na sala
dos professores da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, onde eu o encontrava sempre rodeado de outros professores e
alunos debatendo temas fundamentais do processo penal. Depois foi meu braço
direito, esquerdo e as pernas na chefia do Departamento de Direito do Estado da
mesma Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, culminando a sua importante
passagem na minha trajetória acadêmica como meu professor do doutorado.
Antonio é dos mais curiosos, ativos e competentes professores da área, foi uma
honra ter sido sua aluna, além de colega.Antonio forma com dedicação, uma nova
geração de operadores de direito na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ
e na Universidade Católica de Petrópolis – UCP. Antônio é um advogado que
alia história, filosofia e prática jurídica como poucos de sua (nossa) geração. Sua
contribuição para o estudo do Lawfare Brasileiro é prova dessa minha percepção.
A Natália Lucero Frias Tavares eu conheci no dia do lançamento da
primeira edição desse livro, quando ainda se tratava do lawfare na esfera do
impeachment. No ano seguinte, já mestre em Direito pela Universidade Católica
de Petrópolis – UCP, foi contratada para ser professora de prática e processo
penal na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, depois de uma disputada
seleção com outros brilhantes candidatos.Tive a satisfação de acompanhar seu

15
contrato na UFRJ e conviver com uma advogada, professora e pesquisadora
que sempre me mostrou coisas inovadoras. Uma mente inquieta por vocação,
produz um enorme leque de pesquisas que vão desde o uso político do direito
até a profunda reflexão sobre os bancos genéticos e sua relação com a política
criminal. Natália produz e pesquisa muito. Sem dúvidas uma das grandes vozes
femininas do processo penal e política criminal, que também pode ser ouvida
nos cursos de pós-graduação da Academia Brasileira de Direito Constitucional
– ABDConst. Seu olhar apurado e preciso aparece entremeado no estudo do
Lawfare Brasileiro, como poderão todos conferir na leitura desse livro.
E para falar em Lawfare Brasileiro, dessa obra que a Editora D’Plácido dis-
ponibiliza no mercado editorial num momento tão crítico do pensamento livre e
independente, é preciso recordar um pouco do passado e das estratégias anteriores
de controle dos movimentos políticos através de práticas doutrinárias reiteradas.
Como se constata da leitura dessa obra estamos diante de um livro de
história, crítico aliando o sistema penal, que mesmo sendo o protagonista,
acaba ficando como pano de fundo de uma estratégia de lawfare. Durante toda
leitura atenta e da máxima conceituação do lawfare como “o Direito como arma
de guerra, às disputas entre grupos políticos no âmbito interno dos Estados soberanos”
o leitor é instigado a mergulhar na história e lembrar do passado recente
e da estratégia de dominação da América Latina, no período das ditaduras
militares da região, na segunda metade do século XX, em plena guerra fria.
Dentro deste contexto de ditaduras militares e ancorada pela Doutrina
de Segurança Nacional e suas normas, foi criada a chamada Operação Condor,
uma espécie de organização supranacional do terror de Estado que propunha
acordo de inteligência militar entre os países da América do Sul, entre eles
Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru e Equador.
Este “acordo” de flexibilização da soberania dos Estados envolvidos se deu
com objetivo de garantir as fronteiras ideológicas e não as territoriais1, tal qual
indicava a Doutrina da Segurança Nacional2 que buscava num inimigo comum, o
suposto “comunismo”, a sustentação de sua base política e estratégica. Essa fronteira
ideológica que se pretendia integrar a região pode ser considerada um campo3,
onde se utilizou do monopólio da autoridade científica, abarcando a capacidade
técnica e o poder social, e também a competência científica para estruturar centros
de conhecimento e saber, que poderiam dar sustentáculo teórico e ideológico
para a Doutrina. No Brasil isso ocorreu através da Escola Superior de Guerra.
1
CHAVES, João Guilherme Pereira e MIRANDA João Irineu de Resende.Terror de Estado
e Soberania: Um Relato sobre a Operação Condor, in Passagens. Revista Internacional de
História Política e Cultura Jurídica Rio de Janeiro: vol. 7, no .3, setembro-dezembro, 2015.
2
PADRÓS, Enrique Serra. Repressão e violência: segurança nacional e terror de Estado nas
ditaduras latinoamericanas. In: ARAUJO, Maria Paula Nascimento; FERREIRA, Marieta
de Moraes; FICO, Carlos; QUADRAT, Samantha Viz (orgs.). Ditadura e Democracia na
América Latina. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
3
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo
científico. São Paulo: UNESP, 2004.

16
Com efeito, a Operação Condor representou uma verdadeira distorção do
Estado de Direito, pois, as mais altas autoridades de vários países concordaram em
cooperar no empreendimento do terrorismo de Estado, que consistiu precisamente
na total ausência de proteção dos direitos humanos de seus próprios cidadãos, pois,
tais autoridades conspiraram para violar as normas internacionais de proteção,
tais com o direito de asilo, a proteção aos refugiados, o habeas corpus, além de
empreenderem esforços para procedimentos de extradição dos que enfrentavam
acusações por crimes cometidos em um país e eram presos em outros.
Como um tratado secreto4 a Condor elevou os crimes contra os direitos
humanos ao mais alto nível de política de Estado, sob o controle direto de
mandatários e ministros. A Operação Condor era um verdadeiro “Mercosul do
terror”5 articulado pelas autoridades governantes dos países da América do Sul.
A Operação Condor foi um passo muito maior que a simples coor-
denação e troca de informações policias. A Condor dispunha de banco de
dados e sequestros além das fronteiras. A Condor era operacional. Cada país
membro permitia que as agências de inteligência dos outros países operassem
dentro das suas fronteiras, capturando exilados, interrogando e torturando
prisioneiros. Essa foi a integração indesejada dos estados da América do Sul,
principalmente nas décadas de 60 e 70 do século XX.
Mas se a Operação Condor é passado, por que sentimos a presença dela
ao lermos a conjunção do relato entre determinados processos penais e perdas
de garantias que nos trazem Antônio e Natália nesse livro?
Diferente de um tratado secreto de terror de Estado, de uma integração
indesejada, a prática de lawfare acontece escancarada na televisão. As violações
dos direitos e garantias fundamentais constitucionais e convencionais são
manifestadas e corriqueiras. São praticadas pelas instituições que deveriam
zelar pela democracia e pelo Estado de Direito, daquelas que Luigi Ferrajoli
chamaria de instituições de garantias6.
Portanto, o convite é para ler e refletir sobre o que consta nas próximas
páginas e com o futuro que ainda está por vir ....

UBA Outono de 2019.

Carolina Cyrillo7
4
DINGES. John. Os Anos do Condor - Uma Década de Terrorismo Internacional no Cone
Sul. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.
5
QUADRAT, Samantha Viz. Operação Condor: o ‘Mercosul’ do terror. In: Estudos Ibero-
-Americanos. PUCRS, v. XXVIII, n. 1, jun. 2002.
6
FERRAJOLI, Luigi. Para um Ministério Público como instituição de garantia. Revista do
Ministério Público 153: janeiro a março de 2018.
7
Professora de Direito Constitucional e Administrativo da Faculdade Nacional de Direito
- UFRJ Docente de Elementos de Derecho Constitucional de la Facultad de Derecho -

17
P R E FÁ C I O À 1 ª E D I Ç Ã O

Perguntaram-me certa vez o que tinha eu achado da atuação do Minis-


tério Público e do Poder Judiciário em 2016. Foi uma pergunta difícil de ser
respondida. No Ministério Público há muitos Promotores e Procuradores.
No Judiciário, muitos Magistrados. De uma tal maneira que alguma resposta,
por mais cautelosa que seja, sempre esbarraria no perigo da generalização, no
risco da afirmação temerária.
Mas, inegavelmente, o Ministério Público e o Judiciário são corporações
e, neste sentido, os seus integrantes estão todos nelas incorporados, sejam
onerados ou bonificados. Então, assim respondi: o saldo é muito negativo
naquele ano de 2016.
Negativo porque o Ministério Público foi um parceiro fundamental em
todas as arbitrariedades (do ponto de vista do Processo Penal constitucional)
cometidas na chamada Operação Lava Jato. Mais do que parceiro, na verdade,
foi um instigador quando, por exemplo, repetidamente, solicitou a prisão
preventiva de investigados sem que houvesse nenhum fundamento legal para
a decretação da medida cautelar (razão pela qual, milagrosamente - eu que
não creio -, alguns dos pedidos foram negados e outros tantos, nada obstante
terem sido deferidos, restaram, mais tarde, revogados).
Também na Lava Jato, o Ministério Público protagonizou cenas bizarras,
como o caso do power point ou da denúncia em que foram confundidos
Engels e Hegel. Patrocinou umas tais medidas anticorrupção, absurdamente
inconstitucionais (quase todas!), manipulando a opinião pública e angarian-
do assinaturas em templos religiosos, praças públicas, etc., clamando por
combatentes do bem, como se alguém, entre os incautos, fosse a favor da
corrupção. Aproveitou-se, igualmente, da possibilidade da delação premiada
(utilizando-se de um meio mais fácil, sem dúvidas), ao contrário de se valer
de uma investigação criminal efetivamente científica e sem coação física e
moral aos investigados. Degenerou-se, assim, a delação premiada, tornando

19
o que seria uma fonte de prova excepcional em estratégia investigatória e,
pior, em requisito (ilegal) para a prisão provisória. Neste caso, priorizou-se o
fim em detrimento dos meios. A propósito, já vimos isso e os seus resultados.
Os heróis de ontem, hoje são meras caveiras da História (às vezes, até fezes).
E o que dizer do Ministério Público no processo de impeachment da
Presidente da República? Ao contrário de defender a ordem constitucional, a
República e a Democracia brasileiras, sucumbiu a uma omissão imperdoável
e a uma leniência absurda. Aqui, o Procurador-Geral da República nada fez
para impedir os desmandos do Parlamento, muito pelo avesso.
Quanto ao Judiciário, e fazendo a ressalva primeira (em relação à vulgariza-
ção), o saldo também foi bem negativo.Vejamos, por exemplo, a Operação Lava
Jato e o seu timoneiro. Aqui foram subscritas as mais absurdas decisões contra a
lei e contra a Constituição Federal. O Juiz que está à frente das investigações e do
processo decidiu à sua maneira, em um solipsismo inaceitável, como se dissesse:
decido porque assim quero e assim será. E isso, nenhum Juiz pode fazê-lo, ainda
que se ache um Deus! Aliás, quem se acha Deus, um dia haverá de descobrir
quão humano é (e não me refiro, evidentemente, a ida ao vaso sanitário).
Bem, mas porque suas decisões foram referendadas (nem todas, vejam!)
pelos tribunais? Até um pedido (cínico) de desculpas foi expressado por ele
ao Supremo Tribunal Federal, sem que nada tenha sido feito pelo Conselho
Nacional de Justiça. Eis o busílis: é o medo de ser contramajoritário. O temor
da opinião pública (ou seria da opinião publicada?).
No âmbito da Operação Lava Jato institucionalizou-se a prisão provisória
para delatar, as conduções coercitivas de investigados, a exposição midiática
do Juiz e dos Procuradores, o vazamento de trechos das delações premiadas
e das interceptações telefônicas, seletivamente escolhidos.
E o Supremo Tribunal Federal? Assistiu a tudo calado, com uma mansidão
própria dos poltrões e dos tímidos. Não que sejamos a favor do ativismo judicial,
que também assistimos horrorizados neste ano de 2016 (razão pela qual decisões
da Suprema Corte foram solenemente descumpridas, desmoralizando-a). Mas,
obviamente, uma Corte Constitucional não poderia silenciar-se diante de uma
ruptura institucional que estava por vir (e que hoje se vê às claras!).
Bem, então, 2016 foi muito ruim, para falarmos apenas do Ministério
Público e do Judiciário. No mais, foi muito pior, obviamente! Em seguida,
perguntaram-me: e o que esperar de 2017? Disse eu: é difícil algum otimismo
neste momento em que se encontra o País. Não acreditava em melhoras
– e não acredito ainda hoje, muito pelo contrário. A tensão aumentará. O
cárcere ficará ainda mais lotado por desgraçados (graças, inclusive, ao Juiz
de Curitiba, cujas decisões repercutem, por óbvio). Os excluídos serão em
maior número (graças à política neoliberal). E a classe média seguirá, como
diria Jessé de Souza, tola, acreditando em duendes como Deltans, Moros,
Trumps, impeachment, etc.

20
Pois bem.
Agora, e muito a propósito, a Editora D´Plácido lança mais uma obra
digna de grandes autores, engrandecendo o seu já prestigiado catálogo. Sem
dúvidas, na crise em que vive o País, a Editora D´Plácido vem se destacando
no mercado editorial de livros jurídicos de uma maneira impressionantemente
reconfortante. Não são apenas obras jurídicas, mas livros com conteúdo científico
de indiscutível qualidade, razão pela qual não me surpreendeu mais este título.
É bem verdade que não seria mesmo surpresa para mim a excelência
do livro, tratando-se de um trabalho escrito pelos autores Antonio Eduardo
Ramires Santoro e Natália Lucero Frias Tavares. Ele, Professor de Direito
Processual Penal e Prática Penal da FND/UFRJ e do IBMEC/RJ e do Pro-
grama de Pós-Graduação em Direito da UCP – Universidade Católica de
Petrópolis. Pós-doutor pela Universidad Nacional de La Matanza – Argen-
tina. Doutor e Mestre em Filosofia pela UFRJ. Mestre pela Universidad de
Granada – Espanha, além de Especialista em Direito Penal Econômico pela
Universidade de Coimbra - Portugal.
Ela, Natália Lucero Frias Tavares, é Mestranda do Programa de em
Direito da Universidade Católica de Petrópolis – UCP - Bolsista CAPES e
pós-graduada em Direito e Processo Penal e Criminologia pela Universidade
Cândido Mendes – UCAM.
Ambos levam muito a sério a atividade acadêmica e o que escrevem
são sempre, e invariavelmente, de uma sofisticação científica ímpar. Se não
bastassem tais predicados, os autores debruçaram-se sobre um tema atualíssimo
e de dolorosa lembrança: o impeachment de 2016 que, tal como um golpe
de Estado, derrubou uma Presidenta democraticamente eleita.
Indiscutivelmente, um golpe parlamentar que, a cada dia que passa,
torna-se mais claro, seja nos seus mecanismos iniciais, seja nas consequências
desastrosas para o País e, especialmente, para o povo brasileiro.
Com incrível percuciência, os autores tratam o impeachment da Pre-
sidenta Dilma como uma verdadeira “estratégia de lawfare político institucional.”
A obra inicia-se a partir do pressuposto de que o sistema penal pode – e
foi – usado verdadeiramente como lawfare político, analisando-se, então, “a
aplicabilidade da teoria norteamericana do Lawfare, que entende o Direito como arma
de guerra, às disputas entre grupos políticos no âmbito interno dos Estados soberanos.”
A partir desta análise, questiona-se se “o sistema penal está sendo usado como
instrumento de condução política no Brasil e se a agenda da mídia afeta as ações jurídicas.”
Em seguida, mais detidamente, faz-se um estudo cronológico acerca das
“denúncias do processo de impeachment de 2016 e o ato de recebimento”, fazendo-se
“uma análise técnico-processual da sua admissibilidade”, a partir do estudo das “de-
núncias por crime de responsabilidade em face de Dilma Rousseff, o ato de recebimento e
sua adequação técnico-processual”, enfrentando-se a questão central: tais “atos podem
ser qualificados como instrumentos de Lawfare político”? A conclusão parece-me ser

21
absolutamente correta: “o processo de impeachment se iniciou a partir de denúncia
que tinha por objetivo instrumentalizar-se para alcançar objetivos políticos.”
No capítulo seguinte, o terceiro, trata-se do “sigilo das interceptações tele-
fônicas e o uso político do caso Lava Jato: a perda da base parlamentar governista no
processo de impeachment.”
Os autores, então, relembram o triste episódio, que manchará para
sempre a história do Poder Judiciário brasileiro, quando o Juiz Sérgio Moro,
deliberada e irresponsavelmente, “divulgou gravações contendo conversas de Lula
ao argumento de que nos casos de investigação de crimes contra a Administração Pú-
blica deve prevalecer a publicidade constitucional dos atos processuais em detrimento
da intimidade e do interesse social”, decisão – cujo conteúdo é muito bem, ana-
lisado, evidentemente, como afirmam os autores, incorreta “à luz dos direitos
fundamentais”, pois violou frontalmente “o direito ao sigilo das comunicações e
a intimidade.” Aqui, faz-se uma comparação bastante apropriada com o caso
Escher vs. Brasil, julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Já no último capítulo – “Impeachment de 2016: devido processo legal ou autori-
tarismo processual penal?” -, os autores, após notarem que “o processo de impeachment
de 2016 foi constantemente apontado como adequado à garantia do devido processo legal”,
discutem se houve, efetivamente, “a prática ou não de crime de responsabilidade.”
Outrossim, questionam, com razão,“se a previsão legal, bem como o respeito aos
prazos e ao rito são suficientes para, à luz da Teoria do Garantismo Penal de Luigi Ferrajoli,
considerar se o processo que condenou Dilma Rousseff à perda do cargo de Presidente da
República foi constitucionalmente adequado ou se apresentou como um processo autoritário.”
Por fim, e à guisa de conclusão, lançam um epitáfio em movimento,
efetivamente, “porque as peças ainda se movem no tabuleiro jurídico-político em
que se transformou o país.”
Com muita propriedade e coragem, afirmam que “o juiz Sérgio Moro, ain-
da midiatizado e agora secundado por outros colegas de magistratura e por membros do
ministério público federal, continua comandando a espetacularizada operação que ganhou
ares cinematográficos e vem condenando antigos e atuais protagonistas da política brasileira.”
Digo eu: o Juiz Sérgio Moro deslumbrou-se! Muito difícil para um
jovem não sucumbir a tantos holofotes e ao assédio da grande mídia e de parte
da população, especialmente da classe média, da qual ele faz parte. Mas, isso não
o isenta e a História não o perdoará, ao contrário do que ele e muitos acreditam.
Assim, ficou difícil impedi-lo de tais abusos.Tudo que ele faz, todas as suas decisões
têm uma presunção de legalidade e de justeza, o que é um equívoco, obviamente.
Como frear um “salvador da pátria”, o redentor! E é óbvio que assim o sendo, a
tendência é que as decisões do Juiz Sérgio Moro sejam confirmadas pelos demais
órgãos do Poder Judiciário que, muitas vezes, não ousam ser contra majoritá-
rios, como tinham que ser em uma República e em um Estado Democrático
de Direito. O Magistrado, ao contrário do que já se disse, não tem que decidir
conforme “a voz das ruas” ou para atender ao clamor popular. Magistrado tem

22
que ter compromisso, exclusivamente, com a Constituição Federal, isso é o que
o legitima, já que ele não tem a legitimidade popular. Os Juízes brasileiros têm
que ter essa consciência: como eles não são votados, a sua legitimidade decorre
da fundamentação de suas decisões e tal fundamentação, por sua vez, decorre da
observância das leis e das regras e dos princípios constitucionais. Passar em um
concurso público, marcando um “x” e discorrendo sobre a doutrina do jurista “A”
ou “B” ou sobre o entendimento do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo
Tribunal Federal sobre tal ou qual matéria, não lhes dá nenhuma, absolutamente
nenhuma, legitimidade constitucional para exercer a sua jurisdição. Neste sentido,
considero que, ao ratificarem as decisões do Juiz Sérgio Moro, todas as demais
instâncias do Poder Judiciário brasileiro, inclusive o Supremo Tribunal Federal,
cometem abusos. E, repito: a História não os perdoará!
Claro que a prática de um delito exige a punição pelo Estado (até que
se encontre algo mais humano para se fazer com quem o fez e se procure
entender porquê o fez), mas não se pode punir a qualquer custo. Há regras
a serem observadas. Regras e princípios constitucionais. E no Brasil, hoje,
isso não ocorre. E a Operação Lava Jato é um exemplo muito claro disso.
Vivemos um verdadeiro período de exceção. Hoje, não há Estado Demo-
crático de Direito. Isso é balela! Conduz-se coercitivamente que não pode
sê-lo. Invade-se domicílio que não pode ser invadido. Determina-se inter-
ceptações telefônicas de quem não pode ser interceptado. Prende-se quem
tem imunidade constitucional. Aqui faz o que o Judiciário quer ou o que o
Ministério Público pede. Dane-se a Constituição Federal! Estamos vivendo
dias verdadeiramente sombrios. A nossa única esperança, que era o Supremo
Tribunal Federal, virou uma desesperança. Apelar mais para quem? Isso sem
falar na pauta conservadora que assola o País.
Recordemos a Operação Mãos Limpas, na Itália. Lá, como aqui, pre-
tendeu-se acabar com a corrupção e, tal como na Itália (um dos Países mais
corruptos do mundo, que o diga Berlusconi, filhote da Operação Mãos Limpas),
a Operação Lava-Jato não vai acabar com a corrupção, muito pelo contrário. Se
ela vai acabar com alguma coisa é com algumas das maiores empresas brasileiras
(e, consequentemente, com o emprego de nossos trabalhadores – o que vai per-
mitir que as empresas estrangeiras voltem ao Brasil com os seus empregados ou
pagando uma miséria à nossa mão de obra) e com os direitos e garantias indivi-
duais arduamente conquistados com a redemocratização. Há outra semelhança:
pretende-se acabar também com um partido político, como ocorreu na Itália
(Partido Socialista Italiano). A corrupção, ao contrário do que muitos pensam,
não é um problema do Sistema Jurídico, mas do Sistema Político e do Sistema
Econômico, daí porque serem fundamentais reformas políticas e econômicas.
O neoliberalismo é perverso e o nosso modelo político favorece a corrupção.
Finalmente, os ilustres Professores concluem, com acerto,“que os autores do
impeachment efetivamente alcançaram seu objetivo de manejar o Direito, especialmente

23
o sistema penal, para destruir o adversário político. Uma estratégia de Lawfare político
instrumental: instauração de persecução criminais (denúncia por crime de responsabilidade
dando origem ao processo de impeachment) para alcançar objetivos políticos e com isso
jurisdicionalizaram discussões essencialmente reservadas ao campo político, reinterpretando
de forma criativa o ordenamento para afastar as garantias processuais do processo de im-
peachment. Isso tudo com o auxílio luxuoso da operação Lava Jato e suas divulgações de
persecuções criminais com a afetação de imagens pessoais para alcançar objetivos políticos.”
Pois é! Chegamos, definitivamente, ao fundo do poço. Tudo é possível.
Infelizmente, a razão está com Giorgio Agamben (Estado de Exceção, São
Paulo: Boitempo Editorial, 2004, p. 13) quando afirma que “o totalitarismo
moderno pode ser definido, nesse sentido, como a instauração, por meio do estado de
exceção, de uma guerra civil legal que permite a eliminação física não só dos adversá-
rios políticos, mas também de categorias inteiras de cidadãos que, por qualquer razão,
pareçam não integráveis ao sistema político. Desde então, a criação voluntária de um
estado de emergência permanente (ainda que, eventualmente, não declarado no sentido
técnico) tornou-se uma das práticas essenciais dos Estados contemporâneos, inclusive
dos chamados democráticos. (...) O estado de exceção apresenta-se, nessa perspectiva,
como um patamar de indeterminação entre democracia e absolutismo.”
Trata-se, como se vê, de um livro muitíssimo atual, extremamente bem
escrito, corajoso e, portanto, de leitura obrigatório. Recomendo! Parabéns
aos autores e à Editora D´Plácido.

Salvador, setembro de 2017.

Rômulo de Andrade Moreira

24
INTRODUÇÃO

O lawfare, além de colocar em sério risco a democracia dos


países, geralmente é utilizado para minar os processos políticos
emergentes e propor violações sistemáticas dos direitos sociais.
Para garantir a qualidade institucional dos Estados é fundamen-
tal detectar e neutralizar esse tipo de práticas que resultam da
imprópria atividade judicial em combinação com operações
multimidiáticas paralelas

Papa Francisco8

No dia 28 de outubro de 2018, Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da


República após disputar a eleição em segundo turno com Fernando Haddad, em
uma eleição marcada pela polarização entre discursos inflamados. Sua eleição só foi
possível porque Lula, que liderava as intenções de voto nas pesquisas de opinião,
foi condenado, preso e considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Pouco mais de dois anos antes, no dia 31 de agosto de 2016, o plenário
do senado federal, por 61 votos contra 21, julgou procedente a acusação de
prática de crime de responsabilidade no segundo processo de impeachment da
História do Brasil a terminar com a aplicação da pena de perda do mandato
de presidenta da República, o segundo no curto período democrático que o
país viveu a partir da reabertura pós ditadura civil-militar.
Não é demais frisar que de quatro presidentes diretamente eleitos a partir
de 1989, apenas dois terminaram seu mandato, conotando certa instabilidade
do nosso sistema político.
8
Declaração feita na Cúpula Pan-Americana de Juízes, em 04 de junho de 2019, promovida
pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais no Vaticano, sobre o tema “Direitos sociais e
doutrina franciscana”.

25
Depois de 13 anos de exercício do poder pelo partido dos trabalhadores,
chegava precipitadamente ao fim o governo de Dilma Rousseff, que foi substituída
pelo seu vice-presidente, o qual já ocupava o cargo interinamente e, de articulador
da base governista, passou a um dos principais algozes de sua companheira de chapa.
A relação entre a eleição de Bolsonaro e o impeachment só pode ser
compreendida a partir de uma detida análise do complexo processo jurídico-
-político em que se transformou o Brasil a partir da primeira metade do ano
de 2014, que imbricou as investigações daquela que ficou conhecida como
Operação Lava Jato e o impeachment, iniciado a partir da ruptura vivida pelo
país na eleição presidencial daquele mesmo ano.
Afinal, desde protestos que pediam a saída da presidenta da república
eleita diretamente pelo voto popular, passando por estapafúrdios pedidos de
intervenção militar até as acusações de que o impeachment seria um golpe
de estado parlamentar apoiado na espetacularização do processo penal pro-
tagonizado pelo poder judiciário, até a condenação e inelegibilidade de Lula,
passamos pela História viva e que ainda precisa ser contada.
O problema que se pretende enfrentar neste trabalho é se a eleição de
Jair Bolsonaro é a consequência de um complexo de atos de Lawfare político.
Para responder a essa indagação realizamos sete estudos que ora oferecemos
ao leitor. É importante dizer que embora os sete estudos se completem, todos
foram elaborados de maneira que possam ser lidos separadamente, com estru-
tura autônoma, problematização específica, metodologia e referências próprias.
Nenhum destes estudos enfrenta, propositalmente, as questões de mérito
dos processos criminais a que se referem. O único objetivo foi proceder a estudos
de natureza processual e política sobre o impeachment e a Operação Lava Jato.
O primeiro, terceiro, quarto e quinto capítulo integravam a primeira
edição deste livro, que se intitulava “Impeachment de 2016: uma estratégia
de Lawfare político instrumental”. Naquele momento a análise impeachment
como um instrumento de Lawfare político era a tônica do livro. Todavia,
como a própria conclusão prenunciava,“as peças ainda se movem no tabuleiro
jurídico-político em que se transformou o país”, por isso dissemos “impea-
chment chegou ao fim. Ou não”.
O curso dos acontecimentos mostrou que as peças se moviam e que a
Operação Lava Jato, que decisiva influência havia tido sobre o impeachment
de 2016, determinaria os rumos políticos do país e, bem assim, o próprio
resultado das eleições de 2018.
Daí porque a segunda edição não apenas teve o acréscimo de mais três
capítulos (o atual segundo, o sexto e o sétimo), como mudou de título, afinal
restou claro que não apenas a Operação Lava Jato foi instrumentalizada para
o resultado do impeachment, como este também foi mais um instrumento
de uma nova configuração política, o que conduz a um novo título mais
representativo da segunda edição e condizente com o desenrolar dos fatos e
da análise empreendida: Lawfare Brasileiro, que assim está estruturado:

26
O primeiro capítulo, intitulado “O uso do sistema penal como Lawfare
político” tem o objetivo de analisar a teoria norte-americana do Lawfare, que
entende o Direito como arma de guerra, e o aplica às disputas entre grupos
políticos para verificar se o sistema penal no Brasil vem sendo usado como
um instrumento de Lawfare político.
O segundo capítulo, “Maxiprocessos e democracia constitucional: a
Operação Lava e a peculiar premonição voluntária”, tem por finalidade expor
quais seriam as características dos maxiprocesso, sua relação com o Lawfare,
enquanto um de seus instrumentos, bem como identificar se a Operação Lava
Jato é um maxiprocesso.
O terceiro capítulo, que denominamos “As denúncias do processo de
impeachment de 2016 e o ato de recebimento: uma análise técnico-proces-
sual da sua admissibilidade” tem a pretensão de cotejar as peças processuais
acusatórias e o ato de recebimento praticado pelo então presidente da câmara
dos deputados, Eduardo Cunha, com os requisitos técnico-processuais de
admissibilidade da denúncia, bem como verificar que a acusação instrumen-
talizou o Direito como Lawfare político.
No quarto capítulo realizamos uma análise do fato mais midiatizado da já
espetacularizada Operação Lava Jato, a divulgação autorizada pelo juiz Sérgio
Moro da gravação da conversa entre o Lula e Dilma obtido por interceptação
telefônica. O “Sigilo das interceptações telefônicas e o uso político do caso
Lava Jato: a perda da base parlamentar governista no processo de impeach-
ment” expõe os motivos explícitos e implícitos que levaram o magistrado a
realizar aquele ato, que terminou por alavancar o processo de impeachment.
O quinto capítulo, “Impeachment de 2016: devido processo legal ou
autoritarismo processual penal?” tem o objetivo de responder à indagação do
próprio título, à luz da Teoria do Garantismo Penal de Luigi Ferrajoli, bem
como de sua palestra sobre a operação Lava Jato e o impeachment ministrada
no parlamento italiano no dia 11 de abril de 2017.
No sexto capítulo, nominado “Ocaso Lula: a execução antecipada da
pena no contexto do ativismo judicial”, realizamos uma análise do processo
criminal a que Lula foi submetido, dando especial relevo para a execução
antecipada da pena dentro de um contexto de ativismo judicial.
No sétimo capítulo, “A eleição de 2018: a vitória autoproclamada”,
analisamos a eleição de 2018, o contexto da vitória de Jair Bolsonaro, a im-
portância da inelegibilidade decorrente da condenação de Lula, a despeito
da recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU, e, por fim,
fizemos uma abordagem sobre a Teoria dos Jogos aplicada ao processo penal,
especialmente as estratégias, táticas e recompensas dos jogadores.
Na conclusão, com base nos fatos ocorridos entre 2014 e 2018, realizamos
uma abordagem da situação política atual do Brasil para incentivar o leitor a
realizar uma reflexão sobre a existência ou não de democracia no Brasil, bem
como para que lugar estamos caminhando.

27
2 ED

LAWFARE BRASILEIRO
Como se constata da leitura dessa obra
estamos diante de um livro de história,
crítico aliando o sistema penal, que mesmo
sendo o protagonista, acaba ficando
como pano de fundo de uma
São capítulos bem diferentes que se estratégia de lawfare.”
articulam de tal forma que a leitura é leve Carolina Cyrillo
e bastante instrutiva. A solidez do texto Professora de Direito Constitucional
dá ao autor a ideia firme de ser uma coisa da UFRJ e da UBA
definitiva!”
O livro demonstra o uso da noção de
Sérgio Salomão Sheccaira
Lawfare no Brasil em caso específico.
NATÁLIA LUCERO Professor Titular da USP
Consegue comprovar que o jogo era outro; ANTONIO EDUARDO
FRIAS TAVARES quem não entende de lawfare é ingênuo ou
Nesse momento delicado da vida brasileira,
está de má-fé. Recomendo fortemente.”
RAMIRES SANTORO
Professora da Faculdade Nacional de o livro do Professor Santoro e da Professora
Direito da Universidade Federal do Rio Alexandre Morais da Rosa Professor Titular de Direito Processual
Natália é imprescindível.”
de Janeiro - FND/UFRJ e Professora da Juiz de Direito e Professor da UFSC Penal do IBMEC/RJ, Professor Adjunto
Geraldo Prado do Programa de Pós-Graduação em Di-
Academia Brasileira de Direito Consti- Professor de Direito Processual Penal da UFRJ
tucional - ABDConst. É Doutoranda em O livro de Antônio Santoro e Natalia reito da Faculdade Nacional de Direito
Direito pelo Programa de Pós-Gradua- Tavares é fruto de pesquisa séria e traz - PPGD/UFRJ, Professor Adjunto do Pro-
Bom e atualizadíssimo livro. Recomendo a leitura acadêmica do lawfare no grama de Pós-Graduação da Univer-
ção em Direito da Faculdade Nacional a leitura do livro intitulado “Impeachment
de Direito - PPGD/UFRJ. Possui Mestra- Brasil, a partir da análise de um processo Antonio Eduardo Ramires Santoro sidade Católica de Petrópolis - PPGD/
de 2016. Uma estratégia de lawfare que mudou os rumos do país. É leitura
Natália Lucero Frias Tavares UCP, Jovem Cientista do Nosso Estado

Natália Lucero Frias Tavares


Antonio Eduardo Ramires Santoro
do em Direito pela Universidade Católi- político instrumental.” fundamental para quem deseja sair das pela FAPERJ e Coordenador do Grupo
ca de Petrópolis - PPGD/UCP (onde foi
Afrânio Silva Jardim informações rasas de jornal e compreender de Pesquisa “O Sistema Penal sob Olhar
Bolsista Prosup-CAPES), Pós-Graduação Professor de Direito Processual Penal da UERJ como a contaminação entre direito, política Crítico” na UFRJ e na UCP. Possui Pós-
em Criminologia, Direito e Processo Pe-
e mídia pode gerar arbitrariedades e -Doutorado em Democracia e Direitos
nal pela Universidade Cândido Mendes Trata-se de um livro muitíssimo atual, violações não só ao devido processo legal, Humanos pela Universidade de Coimbra
e Bacharelado em Direito pela Universi- extremamente bem escrito, corajoso e, mas ao próprio Estado Democrático de
dade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. em Portugal, Pós-Doutorado em Direito
portanto, de leitura obrigatória. Recomendo!” Direito.”
É Pesquisadora membro do Grupo de Penal e Garantias Fundamentais pela
Rômulo de Andrade Moreira Maíra Fernandes Universidad Nacional de La Matanza
Pesquisa “O Sistema Penal sob Olhar Crí-
Procurador de Justiça e Professor da UNIFACS Advogada na Argentina, Doutorado e Mestrado em
tico” na UFRJ. É Advogada Criminalista.
Filosofia pela UFRJ, Mestrado em Direi-
to Penal Internacional pela Universidad
de Granada na Espanha, Especializa-
ção em Direito Penal Econômico pela
2ª edição Universidade de Coimbra em Portugal,
ISBN 978-65-80444-73-1 revista, atualizada Especialização em Direito da Economia
e ampliada do livro pela FGV/RJ, Bacharelado em Direito
Impeachment de 2016 pela UERJ. É licenciando em História
pela UNIRIO. É Advogado criminalista.

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