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Carta de Reivindicações - Greve dos Estudantes da Escola Politécnica da USP

REPUDIAMOS a falta de mobilização do Grêmio Politécnico!

A existência da USP enquanto espaço público de ensino, pesquisa e extensão de altíssima


qualidade está sob grave ameaça. Embora a Universidade tenha sido recentemente reconhecida como
a melhor da América Latina e uma das cem melhores do mundo (QS ranking), sofremos com a
precarização da instituição em diversas instâncias. A USP peca na permanência estudantil e na
execução de medidas efetivas que garantam a continuidade da educação. As estruturas dos prédios
são, em muitas unidades, completamente precárias. O CRUSP sofre com problemas estruturais,
hidráulicos e elétricos. Atualmente, cursos de graduação e pós-graduação na área de humanidades -
como a especialização do Coreano na FFLCH e a Música na ECA - são vítimas da falta de docentes e
correm o risco de fechamento em curto prazo. Na Poli, embora haja previsão de contratação de
professores até 2025, até lá, 16% do corpo docente atual da Poli (62 professores) se aposentarão
compulsoriamente e mais 14% (60 professores) poderão se aposentar, segundo estudo feito pelo
Conselho Técnico Administrativo (CTA). Além disso, a Escola também depende de docentes do IME
e do IF, unidades que também são vítimas da falta de contratações e já manifestaram seu apoio à
greve. Todas as instâncias da Universidade estão sendo afetadas e nossa educação está ameaçada.
A greve não é um fenômeno imediato que surgiu espontaneamente ou de forma precipitada;
ela representa a última instância à qual recorremos após diversas tentativas e falhas em estabelecer um
diálogo funcional com a Reitoria, tradicionalmente alinhada com ideais elitistas e segregadores. As
demandas das instituições não estão sendo contempladas há anos e a Universidade sofre com o projeto
de sucateamento do ensino público brasileiro - dada a urgência do cenário em que nos encontramos, a
greve consiste na manifestação pela defesa da USP e da permanência de seus estudantes. A Escola
Politécnica não pode se eximir das recentes organizações em defesa da greve!
Portanto, nós, alunos politécnicos e estudantes da USP, reivindicamos:

1) Sobre a contratação de professores


As reivindicações defendidas para a USP de forma geral são as seguintes:
a) Retorno do gatilho automático, que prevalece a abertura imediata de concurso para
professores que se aposentaram ou faleceram;
b) Planejamento para reposição das aposentadorias que ocorreram depois de março de
2022 ou ainda vão ocorrer até 2025;
c) Reposição das exonerações acontecidas a partir de 2014;
d) Fim imediato do edital por concorrência;
e) Que todas as contratações de professores ocorram em regime RDIDP (Regime de
Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa), e que seja aplicada a reserva de vagas
de 20% para a contratação de professores pretos, pardos e indígenas (PPI)
considerado o número total de concursos a serem realizados até 2025.

No e-mail enviado pela reitoria há a informação de que haviam 457 docentes em


janeiro de 2014, e que atualmente há 398, com a estimativa de chegar a 432 após a finalização
dos concursos que estão previstos. Afirma-se que "com estes novos 40 cargos, a Poli terá 432
docentes ao fim deste processo de contratações, aproximando-se novamente do número de
docentes em 2014”. Entretanto, é necessário considerar o aumento do número de alunos ao
decorrer dos últimos anos, além da abertura de um novo curso na Poli (Engenharia Nuclear).
Ao pesquisar o número total de alunos de graduação em Jan/2013 no anuário estatístico da
USP, chega-se à informação de 4.852 alunos da Poli no 1º semestre. Para o anuário do ano
passado, havia um total de 5.260 alunos da Poli no 1º semestre do ano. Em 2014, o número de
professores representava 9,418% do total de alunos. Já no ano passado, esse valor caiu para
7,56%. Com o aumento previsto de 40 professores, teremos 432 professores, representando
apenas 8,212% da quantidade atual de alunos. As contratações estão previstas para ocorrer até
2025, mas até lá 16% do corpo docente atual da Poli (62 professores) se aposentarão
compulsoriamente e mais 14% (60 professores) poderão se aposentar (segundos dados
divulgados pelo estudo do CTA). Supondo um cenário em que os 60 professores que podem
se aposentar não se aposentem de imediato, o balanço final (considerando a aposentadoria
compulsória até 2025) será de 370 professores no total, número menor do que os atuais.
Com esse número, teríamos uma porcentagem de professores de 7,03% do número total de
alunos. Para alcançar novamente a porcentagem de 2014, que era de 9,418%, seria
necessário que houvesse 495 professores, havendo um déficit de 125 no total.
Fizemos o levantamento de dados do Anuário Estatístico da USP de quantos alunos
totais estão na Poli entre 2010 e 2022, no gráfico abaixo podemos observar o crescimento de
alunos no período indicado. Em 2010 haviam 4654 alunos na Poli, já no ano de 2022 haviam
5260, um aumento de 13,02%. Enquanto isso, no mesmo período o número de professores
caiu drasticamente, pois em 2010 o número total de professores era de 458, enquanto no ano
passado estava em 389, uma redução de aproximadamente 15,06%.
Gráfico I - Número de professores vs Alunos na Poli

Fazendo essa separação por departamento, temos a tabela abaixo:

Tabela 1: Quantidade de alunos atendidos por departamento.

Quantidade
Quantidade de Porcentagem
de alunos por Porcentagem de
alunos por de Professor
Curso/ Departamento Quantidade Quantidade departamento departamento Professor por
por aluno em
de professores de professores atualmente aluno em 2022
em 2010 2010
em 2010 em 2022 em 2022

PCC 28 25 937 868 3,0 2,9

Civil PEF 42 34 937 868 4,5 3,9

PTR 19 13 937 868 2,0 1,5

Ambiental PHD/PHA 23 15 206 325 11,2 4,6

PCS 37 34 186 314 19,9 10,8

PEA 33 29 1056 1146 3,1 2,5


Elétrica e Comp (PCS)
PSI 34 31 1056 1146 3,2 2,7

PTC 31 22 1056 1146 2,9 1,9

Mecânica PME 48 41 474 483 10,1 8,5

Mecatrônica PMR 35 33 356 410 9,8 8,0


Metalúrgica, Materiais
e Nuclear PMT 25 22 155 355 16,1 6,2

Minas e Petróleo PMI 15 23 131 264 11,5 8,7

Química PQI 30 26 483 365 6,2 7,1

Produção PRO 41 30 426 473 9,6 6,3

Naval PNV 17 11 244 289 7,0 3,8


Total de
Professores
Poli 458 389
Para quem quiser visualizar os dados completos do levantamento, basta acessar o link
a seguir: Dados - Alunos e Professores na Poli.
Dado o cenário supracitado, é perceptível que precisamos da contratação urgente de
mais professores no corpo da EP. Atualmente, sofremos com a impossibilidade de turmas de
reoferecimento em muitas disciplinas, como ocorre com as matérias do IME e IF (institutos
que já manifestaram seu apoio à greve). A disciplina de Mecânica dos Fluidos está atualmente
com apenas 6 professores na equipe, não havendo assim número suficiente para ministrar
todas as turmas de laboratórios. Caso mais contratações não sejam realizadas até ano que
vem, há o risco da matéria não ser oferecida para o curso de Engenharia Naval, no qual ela é
obrigatória. Além disso, módulos acadêmicos, como o da Mecânica e o de Renováveis, não
estão sendo presentemente oferecidos devido à falta de docentes.

2) Sobre Defesa dos Espaços Estudantis


É necessário reafirmar frente à USP a autonomia dos espaços dos centros acadêmicos
e demais organizações estudantis, garantindo a liberdade de expressão e manifestação dos
mesmos em um espaço protegido e seguro dentro da universidade. Somos contra a instalação
de catracas e apoiamos a remoção de catracas nas dependências da faculdade, por apenas
restringir a livre circulação dos alunos e simbolizar uma limitação do espaço estudantil
público. Adicionalmente, destacamos a urgência de duas reivindicações:
a) Compromisso da Diretoria em garantir a continuidade do espaço do Centro
Moraes Rêgo (CMR) após a reforma modular do mesmo;
b) Compromisso da Diretoria e da CAEC em garantir um espaço estudantil para o
Centro Acadêmico da Engenharia Ambiental (CAEA) no projeto a ser aprovado
nas próximas semanas para a reforma do Edifício Paula Souza, sem diminuição da
área ocupada pelo CEC ou Espaço Piloto e respeitando reivindicações históricas do
CAEA acerca das características do espaço, como abertura para a parte externa do
prédio.

3) Sobre Permanência Estudantil


a) Bolsas PAPFE
a) Aumento anual nas bolsas do PAPFE e do PUB acompanhando a inflação a
partir do índice do DIEESE, partindo do piso inicial de R$1000,00; b)
aumento da oferta das bolsas do PAPFE - contemplando todos os estudantes
que solicitaram - e das bolsas PUB; c) fim das contrapartidas do PAPFE; d)
fim das contrapartidas de nota e frequência mínima atreladas ao oferecimento
do PAPFE; concessão automática de bolsas do PAPFE para estudantes
cotistas; f) volta da vinculação da bolsa PUB à alunos em situação de
vulnerabilidade socioeconômica estabelecido pela pontuação da PAPFE; g)
classificação do PAPFE separada por campi e o retorno do auxílio EACH de
R$400,00.

b) Conjunto Residencial da USP (CRUSP)


O CRUSP vem passando por ondas de sucateamento e processos
antidemocráticos, com a expulsão dos residentes, falta de reformas, segurança
precária e até mesmo crimes de ódio dentro do campus da faculdade. Os estudantes
socialmente mais vulneráveis do CRUSP sofrem uma ameaça direta a sua
permanência na mesma. Deve-se estruturar um amplo plano de reforma,
aprimoramento dos espaços e maior segurança para os moradores.
Assim, requisitamos a) devolução dos blocos K e L para moradia estudantil e
finalização das obras do bloco D; b) regularização imediata de todos os estudantes
pobres (graduação e pós) moradores do CRUSP; c) que a USP, junto ao Governo do
Estado de São Paulo e em diálogo com movimentos sociais de luta por moradia,
apresente alternativas humanizadas de moradia para moradores do CRUSP sem
vínculo com a universidade e que estejam em situação de vulnerabilidade
socioeconômica; d) aumento do auxílio parcial para moradores do CRUSP para
R$500,00; e) passe livre estudantil para os moradores do CRUSP; f) contratação de
mais funcionários no bandejão central via concurso público, no sentido de oferecer
janta aos finais de semana e todas as refeições em feriados; g) que se considere como
critério de vulnerabilidade socioeconômica pessoas trans e travestis expulsas de casa
e que não contem com rede de apoio na cidade de São Paulo.

c) Regras de estágio
As regras de estágio da Poli possuem caráter elitista e não contemplam alunos
socialmente vulneráveis que necessitam de estágio para se manterem na graduação.
Além disso, a rigidez das regras e a demora no atendimento tornam todo o processo
de estágio pouco fluido e eficiente para os alunos. É necessário adaptar as regras da
seção, estabelecer tempos hábeis de resposta e remover limitações não condizentes
aos alunos que desejam e precisam estagiar.

d) Acessibilidade nos prédios


É notável a falta de recursos para alunos com deficiência na USP. Faltam
rampas de acesso, elevadores, portas adaptadas e outros recursos que permitam a
inclusão de todos os estudantes, para que o acesso à educação de qualidade seja
comum ao corpo discente.
e) Funcionamento 24h de locais de estudo
Levando em consideração a carga horária de estudos massiva que os alunos
da Escola Politécnica enfrentam para se manter no ritmo das provas e lições, os locais
de estudos dentro da instituição são um símbolo de acolhimento, suporte e garantia de
estudo digno, principalmente para aqueles que residem longe da universidade. Assim,
é necessário que os espaços estejam disponíveis 24h por dia e sejam adequadamente
equipados e preparados para receber os estudantes.

4) Sobre a Infraestrutura dos Prédios da Poli


Com prédios datados desde a inauguração oficial da cidade universitária, em 1968, a
Escola Politécnica apresenta uma estrutura predial extremamente antiga e histórica que
necessita de reparos e modernizações. A situação atual se dá com cenas de tetos caindo sobre
os alunos, pisos e rachaduras por toda a sua extensão, edifícios com problemas de saneamento
e fornecimento de água, prédios com constantes infiltrações ou problemas elétricos e
sanitários com a maioria de suas cabines ou mictórios interditados.

a) Prédio da Ambiental e Civil


Um dos prédios mais antigos e que mais apresentam precariedade em suas
instalações. O teto consta com rachaduras e pedaços caindo, e chegou a ser isolado
ano passado em um curto período de tempo por questões de segurança. Há um plano
de reforma com a isolação total do prédio previsto apenas para o final do ano,
enquanto estudantes da graduação e pós graduação, professores e funcionários
frequentam as instalações em estado crítico;

b) Prédio da Mecânica, Mecatrônica e Naval


Sofre com falhas no fornecimento de água para os bebedouros e banheiros,
queda do teto do banheiro feminino que ainda não foi reparado adequadamente e
demais sanitários interditados sem previsão de reforma;

c) Prédio da Produção
Por constante ação da reitoria, o prédio da produção sofre com ameaças de
privatização do espaço e limitação de movimentação estudantil com implementação
de catracas em suas dependências;
d) Prédio da Elétrica e Computação
No momento, o prédio está passando por algumas reformas, mas a instalação
ainda sofre com iluminação precária e pavimentação irregular em seus arredores,
inclusive no caminho para o Galpão Didático, no qual fica instalado o CEE.

e) Prédio de Minas, Materiais, Nuclear, Petróleo e Metalurgia


Os prédios sofrem com falta de abastecimento de água noturno e diversos
problemas de infiltração nos banheiros das instalações, assim como encanamento
interno muito velho, causando problemas de infiltração. Além da exigência da Escola
Politécnica de retirada do espaço estudantil do CMR para tornar o espaço um
restaurante privado.

5) Sobre Reestruturação do Programa Pedagógico da Escola Politécnica


A Poli é reconhecida pelos altos índices de reprovação em todos os seus cursos. Com
o panorama estudantil sendo modificado desde a implementação de cotas, urge a necessidade
da reestruturação do programa pedagógico da Escola, atualmente antiquado e classicista.
Alunos da escola pública são vítimas do desamparo acadêmico e sofrem com a disparidade
frente aos estudantes que tiveram acesso a educação de qualidade, o que contribui para os
altos índices de reprovação nas disciplinas. É necessário desenvolver projetos de ensino que
contemplem de forma homogênea a realidade de todos os estudantes, levando em
consideração as necessidades dos novos grupos que passam a fazer parte da Escola de forma
cada vez mais consolidada.

6) Sobre Contratação de Técnicos-Administrativos


Os alunos encontram-se desamparados frente ao número reduzido de funcionários nas
equipes de atendimento da graduação e pós graduação. A sessão de estágios, por exemplo,
atua na Poli inteira com um número mínimo de funcionários. O processo de estágio é
extremamente burocratizado e sistematizado dentro da EP, o que cria empecilhos na trajetória
de aprendizado, permanência e desenvolvimento estudantil de todos os estudantes.

7) NENHUMA punição aos estudantes!


É essencial que não haja qualquer tipo de penalidade (de viés acadêmico ou não) para
os estudantes que manifestaram apoio à greve. A reitoria, junto às unidades, deve propor um
calendário de reposição de aulas para todos os estudantes, que conte com poder decisório do
corpo estudantil.
O futuro da USP está em risco e a realidade da Escola Politécnica participa deste cenário.
Para que os futuros estudantes possam se formar como grandes engenheiros e líderes e para que
possamos retornar à sociedade os frutos do ensino de excelência a que tivemos acesso, devemos lutar
pela garantia da existência e da manutenção de nossa universidade. Tentativas de diálogo e
manutenção foram realizadas incessantemente, e dada a urgência do cenário e iminência do desmonte
de diversos cursos, a greve é o último recurso para que a voz dos estudantes seja ouvida. Não
podemos aceitar o sucateamento das instituições da USP!

— Comando de Greve da Escola Politécnica da USP e seus Associados.

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