Você está na página 1de 59

TOMADA DE DEPOIMENTO

(transcrição)

Ubirajara Bezerra da Costa


21/10/2014 – Completo

DEPOENTE: UBIRAJARA BEZERRA DA COSTA

Categoria do depoente: Agente institucional militar

Tipo de arquivo: Áudio e vídeo

Duração: 02:01:11

Ocasião: Depoimento colhido por integrantes da CNV

Data: 21/10/2014

Local: Brasília

Responsáveis pela
GlendaMezarobba
tomada de depoimento:

NUP: 00092.002765/2014-14
Rubens Paiva, Manoel Lins de Queiroz, Mujica, Vinícius de Moraes,
Nomes citados: Maurício Azedo, Dona Brenda, José Rasuk, Walter, Rogério, José Paes de
Azevedo, Wilson Paes de Azevedo, Solon, Peçanha.
Delegacia de Piraí, Batalhão de Infantaria Blindada em Barra Mansa, Batalhão
Locais citados: de Polícia do Exército na Barão de Mesquita, Justiça Federal, Presidente
Vargas, Campo de Santana, siderúrgica nacional em Volta Redonda, estrada
de ferro Paraná-Piacaba, casa na rua Salim Rasuk, Forte Imbuí, Mesquita,
Azuladinho.
Organizações citadas: UNE.
1 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – 21 de outubro de 2014, Salão
2 Nobre do Arquivo Nacional. Estão presentes para ouvir o testemunho do senhor
3 Ubirajara Bezerra da Costa o doutor José Carlos Dias, membro da Comissão Nacional
4 da Verdade, o senador José Luís Del Roio, que também trabalha na Comissão da
5 Verdade e eu Glenda Mezarobba, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade. O
6 senhor poderia se apresentar, por favor? Por gentileza diga seu nome e que cargos o
7 senhor ocupava durante o regime militar.

8 Ubirajara Bezerra da Costa – Meu nome é Ubirajara Bezerra da Costa, eu trabalhei


9 no serviço reservado, pessoal tirou até cópia. Então naquela época a pessoa que era
10 presa, começou com um casal de argentino na Serra das Araras. Esse casal de
11 argentinos...tinha um automóvel, placa de automóvel que estava na serra das Araras,
12 então a Polícia Rodoviária Federal prendeu, era um casal de argentinos e trouxe para a
13 delegacia. Mas tinha ordens de encaminhar para um órgão do Exército, então isso em
14 Piraí. Em Pirai nós fomos para o Batalhão de Infantaria Blindada em Barra Mansa.
15 Chegando lá, o oficial não aceitou. Aí eu fui encaminhado ao Batalhão de Polícia do
16 Exército na Barão de Mesquita. Na Barão de Mesquita, foi no dia que estavam
17 torturando o Rubens Paiva. Eu tenho certeza porque pela descrição. Bom, então eu não
18 sei dizer o senhor qual era a patente, se era oficial, eu sei que era membro do Exército
19 que arrumou um alicate e rancou o bico dos seios da moça. Ocasionando... Isso onde
20 foi? Na Barão de Mesquita...

21 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse era o casal de


22 argentinos que o senhor disse que prendeu em Barra do Piraí?

23 Ubirajara Bezerra da Costa – Quem prendeu foi a Polícia Rodoviária.

24 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Isso. Café, ele quer. Só para
25 lembrar, como o senhor já deu outros testemunhos para a gente, então o senhor está se
26 referindo àquele casal de argentinos que a Polícia Rodoviária Estadual...

27 Ubirajara Bezerra da Costa – Que eu estupidamente não panhei o endereço deles...

28 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, mas então esse casal foi
29 levado à delegacia de Barra do Piraí onde o senhor trabalhava, não é isso?

30 Ubirajara Bezerra da Costa – É, Piraí.

31 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É Barra do Piraí?

32 Ubirajara Bezerra da Costa – É Piraí.

33 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É Piraí, só. Então o senhor


34 trabalhava na delegacia lá e o casal foi levado lá e o senhor ficou incumbido de
35 transportar esse casal?
36 Ubirajara Bezerra da Costa – Levei até o Batalhão de Infantaria Blindada em Barra
37 Mansa

38 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Por que o senhor teve que
39 levar o casal?

40 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque tinha ordem...

41 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – De quem?

42 Ubirajara Bezerra da Costa – Do Exército. Uma ordem verbal.

43 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quem que deu a


44 ordem?

45 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, meu senhor. Aparecia lá na delegacia. Não posso
46 dizer ao senhor o nome...

47 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas a ordem consistia em


48 quê? Que quem fosse preso...

49 Ubirajara Bezerra da Costa – Fatos assim, como poderia ser subversivo. Eu dei um
50 retrato para a senhora, a senhora guardou...Aquilo foi também em Piraí.

51 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Só para a gente não se


52 perder. Havia uma ordem verbal então, que os senhores, que os senhores entendiam
53 que...

54 Ubirajara Bezerra da Costa – Fatos assim semelhante a...

55 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Subversão...? Não era tratado


56 na delegacia.

57 Ubirajara Bezerra da Costa – Era encaminhado para um Batalhão do Exército.

58 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não. Não porque o delegado também não aceitava
59 essas coisas, ele recomendava para tratar bem as pessoas quando aparecesse.

60 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E porque esse caso seria um


61 caso de subversão?

62 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque eles acharam as placas...Virou um automóvel


63 antigas, antigamente as placas eram feitas no Rio de Janeiro. Então o casal de argentino,
64 como se diz, era souvenirs que eles falavam, “mas foi souvernir, isso é pra souvenir”, aí
65 para as placas de automóvel botaram dentro do carro. Eles vinham de um Fiat pulga que
66 vinham da lá da Argentina.

67 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eram muitas placas?


68 Ubirajara Bezerra da Costa – Muitas, muitas...Tanto que elas falaram “isso aí é para
69 souvenires, para lembrança” mas aí...

70 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Eu não estou


71 entendendo, vocês pararam o carro?

72 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, foi a polícia, foi a Polícia Rodoviária que, dando
73 blitz lá na Dutra, encontrou eles com as placas. Eles não souberam explicar aí
74 encaminhou para a delegacia...

75 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que era onde o senhor


76 trabalhava?

77 Ubirajara Bezerra da Costa – É, que eu trabalhava.

78 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E aí mandaram o


79 senhor levar para o Exército?

80 Ubirajara Bezerra da Costa – Como existia a ordem verbal de levar para o Exército...

81 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor levou pra


82 onde?

83 Ubirajara Bezerra da Costa – Levei para o Batalhão de Infantaria Blindada em Barra


84 Mansa.

85 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E lá que o senhor


86 assistiu à tortura?

87 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, lá o oficial não aceitou...

88 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E daí?

89 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí encaminhou para o Batalhão de Polícia do Exército


90 na Barão de Mesquita.

91 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E é lá que o senhor


92 viu a moça ser torturada?

93 Ubirajara Bezerra da Costa – E possivelmente o Rubens... Naquela época, sabe o que


94 é? É porque mudou tudo...

95 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, mas é que a gente


96 queria, se você puder a gente gostaria de tentar que o seu raciocínio fosse um pouco
97 mais linear. O senhor podia descrever a cena, o senhor chega com o casal... Por favor,
98 descreva a cena como se o senhor estivesse vivendo hoje. O senhor está no carro...

99 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí perguntaram qual o motivo.

100 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem perguntou?


101 Ubirajara Bezerra da Costa – Minha senhora, eu não posso dizer assim quem era.

102 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas tenta descrever a cena, o
103 casal está dentro da viatura policial que o senhor está dirigindo ou seu colega?

104 Ubirajara Bezerra da Costa – Quem me levou foi Manoel Lins de Queiroz que era
105 perito, ele faleceu. Ele morreu do coração. Então, a maioria desse pessoal está morto,
106 sabe?

107 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas está o senhor e
108 ele no carro e mais o casal. O casal está algemado?

109 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Eu inclusive, no meio do caminho, dei almoço
110 para eles, procurei tratá-los com dignidade que era isso que o delegado pedia. Isso da
111 minha própria formação, sabe?

112 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E quando eles chegam na


113 Barão de Mesquita, o senhor poderia descrever o que o senhor viu quando entrou. Tudo
114 que aconteceu, se o senhor pudesse descrever como se o senhor estivesse vivendo.

115 Ubirajara Bezerra da Costa – Olha, não foi pela parte da frente que nós entramos.
116 Mandaram entrar pela partedo fundos e lá eu não sei quem era o cidadão, eu sei que ele
117 estava comandando a tortura. Então ele garrou um alicate a arrancou o bico do seio da
118 menina.

119 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Ele tinha


120 patente?

121 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, meu senhor, não tinha.

122 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele estava fardado?

123 Ubirajara Bezerra da Costa – Estava de boot, calça e uma camiseta branca. Aí eu
124 passei mal porque eu não imaginava aquilo. Aí ficaram rindo de mim “pô, tá com
125 medo”. Aí eu vim embora, eu contei isso para minha mulher, o que tinha acontecido.
126 Mas aí o tempo passou, isso me incomodava e eu pedi minha filha para entrar em
127 contato com a Comissão, e foi a Daniela que entrou em contato.

128 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que mais o senhor viu
129 quando o senhor chegou no Batalhão da Barão de Mesquita.

130 Ubirajara Bezerra da Costa – Olha, eu não posso afirmar que era o Rubens... é
131 Rubens?

132 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Paiva.

133 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu não posso afirmar, mas pelo tamanho dele, que de
134 vez em quando falam...
135 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor poderia descrever a
136 cena que você viu?

137 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Como é que era
138 ele?

139 Ubirajara Bezerra da Costa – Era um homem alto, forte. Estava muito espancado.
140 Tinha saído dos fundos lá do batalhão, que tinha uma área reservada para torturar essas
141 pessoas.

142 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu essa área?
143 Como ela era?

144 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi.

145 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como ela era?

146 Ubirajara Bezerra da Costa – Era na parte dos fundos.

147 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como você sabe
148 que era reservado?

149 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque depois eu me interessei em saber como é que
150 era...

151 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor passou a


152 trabalhar lá?

153 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não senhor.

154 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor se


155 interessou como?

156 Ubirajara Bezerra da Costa – Aconteceu de uma vez prenderem...

157 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Não, mas vamos
158 voltar a história do Rubens Paiva. O que o senhor viu?

159 Ubirajara Bezerra da Costa – É porque ele ia depor na Justiça Federal. Teria que
160 seguir na Barão de Mesquita, sair na presidente Vargas, contornar o que seria aqui atrás,
161 que a Justiça Federal. Não tem um órgão da Justiça Federal ali à esquerda?

162 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Uhhm.

163 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele ia depor na...

164 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas não era de noite quando
165 o senhor levou o casal?

166 Ubirajara Bezerra da Costa – Não... Eu saí era cedo.


167 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então descreve a cena que o
168 senhor viu...

169 Ubirajara Bezerra da Costa – Então, ele teria que sair direto pela Barão de Mesquita,
170 panhar a Presidente Vargas, contornar o Campo de Santana para encontrar o prédio da
171 Justiça Federal. Mas ele não saiu, ele saiu em frente.

172 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas como o


173 senhor sabe que ele ia depor a Polícia Federal?

174 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah meu senhor eu comecei a pesquisar...

175 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Se eu bem me lembro que o


176 senhor disse antes foi a posteriori é que ele montou esse quebra cabeça. O senhor teria
177 que descrever primeiro aquilo que o senhor já falou para a gente, a cena que o senhor vê
178 quando entra. O que o senhor disse que viu? Primeiro o senhor viu alguém no pátio
179 sendo torturado não era isso?

180 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu poderia ir no banheiro, por favor?

181 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Poderia.

182 [interrupção no depoimento]

183 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu não vou inventar coisas, não vou mentir. Mas a
184 verdade que eu souber eu falo. Não vou ficar inventando coisas.

185 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, por favor, conta o que
186 o senhor viu quando o senhor entra com o carro na Barão de Mesquita.

187 Ubirajara Bezerra da Costa – Então, o casal foi chamado. Para me dizer porque eles
188 que estavam sendo presos. Aí foram, eu errei de não tinha anotado o endereço deles. Eu
189 fui para Barra Mansa e voltei.

190 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quando o senhor diz que
191 errou por não ter anotado o endereço, o que o senhor quer dizer com isso?

192 Ubirajara Bezerra da Costa – Se eu tivesse o endereço deles eu poderia ter ido na
193 Argentina para conversar com os pais né.

194 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor acha que eles foram
195 mortos?

196 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, não tenho a menor dúvida.

197 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor pode descrever


198 como eram fisicamente?

199 Ubirajara Bezerra da Costa – O rapaz era parecido com esse motorista.
200 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que te trouxe hoje?

201 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

202 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Estatura mediana, olhos


203 claros...

204 Ubirajara Bezerra da Costa – Olhos esverdeados, e a mocinha tinha olhos azuis...

205 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Cabelo da moça?

206 Ubirajara Bezerra da Costa – Também. Cabelo...muito loirinha. Aquelas pessoas


207 loiras.

208 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que idade mais ou menos?

209 Ubirajara Bezerra da Costa – Ela devia ter uns 15 anos e ele uns 19.

210 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Tão jovens assim?

211 Ubirajara Bezerra da Costa – Eram jovens, eles vinham passear aqui no Brasil em um
212 carrinho que fabricavam na Argentina chamado Fiat Pulga.

213 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Pulha, né, eu acho. Eles eram
214 namorados o senhor acha?

215 Ubirajara Bezerra da Costa – Não...

216 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – De que lugar da Argentina


217 eram?

218 Ubirajara Bezerra da Costa – Minha senhora, eles falaram, mas eu não anotei o
219 endereço. É esse negócio que me fez pedir pra minha filha telefonar, para a minha filha
220 entrar em contato com a Comissão.

221 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tem remorso?

222 Ubirajara Bezerra da Costa – Tenho. Tenho.

223 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Por quê?

224 Ubirajara Bezerra da Costa – Poderia ter anotado o endereço deles não é? Os pais não
225 sabem o que que houve.

226 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor acha que sabe o que
227 aconteceu com os garotos argentinos.

228 Ubirajara Bezerra da Costa – Foram, mortos, disso não tem a menor dúvida.

229 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Por que o senhor
230 acha?
231 Ubirajara Bezerra da Costa – Pela maneira como foram tratados, meu senhor?

232 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como eles foram
233 tratados?

234 Ubirajara Bezerra da Costa – Arrancou o bico do seio da menina...

235 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E depois?

236 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí ficaram debochando de mim porque eu passei mal.
237 Eu não esperava aquilo.

238 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, e daí?

239 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí, o que fizeram com o
240 casal?

241 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Conta, e depois, o


242 que aconteceu?

243 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí quando surgiu esse cidadão que eu acho, acho não,
244 tenho certeza pela descrição, pelos acompanhamentos que eu venho fazendo, que é o
245 Rubens Paiva.

246 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas aí é outro


247 problema, eu quero saber com referência ao casal? O que aconteceu? O senhor viu fazer
248 isso com a moça, e depois?

249 Ubirajara Bezerra da Costa – São levados para os fundos, que hoje dizem, eu tenho
250 um amigo que tá servindo na polícia do Exército ele falou que não existe mais esse
251 prédio nos fundos, eles alteraram tudo. Tanto que tem outra cor, está tudo diferente. Aí
252 eles foram levados. É que eu fiquei muito emocionado com a cena sabe. Aí levaram
253 para os fundos de maneira brutal, aí aquilo me deixou muito mal.

254 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Fizeram isso com a
255 moça, e com o rapaz o que fizeram?

256 Ubirajara Bezerra da Costa – O rapaz também foi muito maltratado.

257 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O que fizeram com
258 ele?

259 Ubirajara Bezerra da Costa – Meu senhor, eles bateram, com não era um cassetete era
260 uma espécie de uma barra de ferro, tanto que ele ficou caído, não levantou mais.

261 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor não
262 disse que levaram para o fundo?

263 Ubirajara Bezerra da Costa – Levaram, levaram.


264 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor diz
265 que derrubaram no chão.

266 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas, vem um, vem outro e recebe ordens e segura pelo
267 [trecho incompreensível] sai arrastando.

268 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como o senhor


269 sabe que foi ao fundo?

270 Ubirajara Bezerra da Costa – Amigo, os torturadores saíram em uma espécie de uma
271 sala, foi quando o colega apresentou o casal a esse pessoal.

272 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Eles perguntaram


273 alguma coisa para o casal? Eles foram torturando e não perguntaram nada?

274 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles perguntavam “você são da onde?”. Existia uma
275 comissão entre Argentina, Brasil e... O Mujica hoje é dessa época, presidente do
276 Uruguai. Era Brasil, Argentina e tinha um... Inclusive o maestro do Vinicius de Moraes
277 morreu na Argentina nessas condições. Um telefonava para o outro. Prendiam
278 Argentinos no Brasil e telefonavam. Prendiam, na Argentina, brasileiros e sumia.

279 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O Vinicius de


280 Moraes morreu na Argentina?

281 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, o músico dele.

282 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade)– Se o senhor pudesse


283 descrever a cena na Barão de Mesquita, que acho que é isso que o dr. José Carlos Dias
284 quer entender melhor. Eles descem do carro, como é? Por favor, descreva. Que o senhor
285 já contou pra gente uma vez.

286 Ubirajara Bezerra da Costa – Naquele dia eu não falei para os senhores, porque tem
287 coisa que eu não posso provar. Que eu pensei que nos íamos lá.

288 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Não, fale, não
289 precisa... só queremos escutar.

290 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu até fiquei naquele dia que a senhora tava...nós
291 ficamos em frente à polícia do Exército.

292 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Depois a gente fala sobre o
293 Forte.

294 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Vamos lá, vai
295 nisso aí. O senhor desce do carro, tem o seu chofer, tem o senhor, tem o casal de
296 argentinos, entra, evidentemente o senhor apresenta a alguém, esse alguém deve
297 perguntar alguma coisa, um nome, ou qualquer coisa...

298 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí eles falaram que aquilo era a souvenires.
299 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Exato. E daí?

300 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí eles começaram a bater. E num tinha...

301 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Sem perguntar


302 nada?

303 Ubirajara Bezerra da Costa – É, por que é estrangeiro, né? Principalmente... existia...
304 eu não esqueço o nome tinha, o senhor lembra do nome que falavam, dessa coisa, era
305 um grupo.

306 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Montonero?

307 Ubirajara Bezerra da Costa – Não!

308 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Operação Condor.

309 Ubirajara Bezerra da Costa – Perfeitamente. A senhora falou certa, era Operação
310 Condor.

311 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, mas o que a gente
312 queria era que o senhor descrevesse o que o senhor viu.

313 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles foram espancados, essa moça torturada. Depois
314 eles ficaram debochando de mim.

315 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles estavam vestidos os


316 dois?

317 Ubirajara Bezerra da Costa – Vestidos, o rapaz depois tiraram a blusa dele. Mas a
318 moça arrancaram os seios assim estupidamente. Sem falar nada.

319 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E quando aconteceu isso com
320 a moça o que acontecia com o rapaz?

321 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele ficou pedindo pra não... que era só souvenirs, “não
322 somos bandidos”. Mas aí não tinha, como é que se diz, não havia uma pessoa que
323 intercedesse, cada um fazia mais violência.

324 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quantos tinham lá?

325 Ubirajara Bezerra da Costa – Tinham uns quinze, todos fardados de boot, calça verde
326 e camisa branca. Não tinha identificação.

327 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Os quinze


328 torturavam?

329 Ubirajara Bezerra da Costa – Uns batiam mais, outros batiam menos.
330 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Qual era a cor das
331 botas?

332 Ubirajara Bezerra da Costa – O boot era preto. Que quando são da aeroterrestre o
333 boot é amarelo, né?

334 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Aí o senhor vê, o que


335 acontece com esse casal quando acaba? O senhor fica lá assistindo a isso tudo?

336 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí deu a noite, aí eu tinha que voltar para Piraí, né? Aí
337 nos voltamos para casa. Paramos no meio do caminho e ficamos comentando Manuel
338 Lins de Queiroz o nome dele.

339 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Que horas o senhor
340 viu o Rubens Paiva?

341 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu acho que era pelo tamanho... pela descrição.

342 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Que hora foi isso?

343 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí já era de tarde...

344 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – De tarde ou de


345 noite?

346 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, nos ficamos lá até a hora do ocaso, sabe? Foi a
347 hora que saímos.

348 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Vocês chegaram de manhã?

349 Ubirajara Bezerra da Costa – Chegamos de manhã, nós fomos primeiro em Barra
350 Mansa.

351 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E aí o senhor viu


352 fazer o que com Rubens Paiva.

353 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele já saiu de lá todo machucado. Eu tô dizendo para o
354 senhor, não posso dizer que é ele...

355 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas foi na sua
356 presença?

357 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu fiquei de longe...

358 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Descreve a cena, por favor.
359 Como se o senhor estivesse vendo agora a cena.

360 Ubirajara Bezerra da Costa – Então, ele já foi muito espancado, saiu desse cantinho
361 machucado, muito machucado. Aí botaram ele em uma viatura. Foi por isso que...
362 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Que viatura?

363 Ubirajara Bezerra da Costa – Uma viatura militar.

364 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O que? Um jipe?

365 Ubirajara Bezerra da Costa – Um jipão... Ele teria que sair pela Presidente Vargas...

366 Interlocutor não identificado2 (Comissão Nacional da Verdade) – Eu quero saber do


367 jipão. Conta um pouco do jipão.

368 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E como ele foi colocado no
369 jipe?

370 Ubirajara Bezerra da Costa – Como se diz, a trancos e barrancos, né? Empurrado,
371 espancado.

372 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Ele estava vivo?

373 Ubirajara Bezerra da Costa – Semi vivo...

374 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Com


375 movimentos ainda?

376 Ubirajara Bezerra da Costa – Andava, falava alguma coisa...

377 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O que ele falava?

378 Ubirajara Bezerra da Costa – “Estão me batendo, mas eu não fiz nada de mau”,
379 porque, na realidade, pelo que eu sei, se ele cometeu algum erro, foi só verbal, porque
380 ele era politico, num é isso?

381 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É mais importante que o


382 senhor descreva para a gente o que o senhor viu. Se o senhor puder, por favor, lembrar
383 como já descreveu outras vezes, descreve a cena...

384 Ubirajara Bezerra da Costa – Então, ele foi muito espancado, minha senhora...

385 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como é que ele tá, quem é
386 que tá do lado dele, as roupas.

387 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele estava com uma camisa dessa normal, mas muito
388 rasgada, sabe?

389 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor disse


390 que ele estava machucado, descreva...

391 Ubirajara Bezerra da Costa – Muito machucado, muito mesmo. Ele tinha sido
392 altamente espancado.
393 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Colocaram
394 dentro do jipe?

395 Ubirajara Bezerra da Costa – Dentro do jipe...

396 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como foi isso?

397 Ubirajara Bezerra da Costa – Agarraram pela perna e jogaram. É por isso que eu acho
398 que nesse dia ele foi assassinado... Porque ele devia sair pela... Bom.

399 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Essa história de


400 como saiu o senhor já contou, já registramos, sair pelo norte, pelo sul. Quer dizer, ele
401 foi pego por uma pessoa que jogou ou teve que ser carregado em dois, três, quatro?

402 Ubirajara Bezerra da Costa – Foram duas pessoas que seguraram pela perna e pelo
403 braço e jogaram dentro da viatura...

404 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E aí partiram?

405 Ubirajara Bezerra da Costa – Partiram.

406 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Para a Tijuca.


407 Sim, sim, o senhor já nos contou, está registrado...

408 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas, por que o
409 senhor acha que foi para a Tijuca?

410 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque tinha que sair pela Presidente Vargas, porque
411 ele ia depor aqui atrás, aqui tem um órgão da justiça federal, por ele ser político teria
412 que depor na justiça federal...

413 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Isso era um fim de tarde?

414 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – O caso, o senhor


415 falou.

416 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

417 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Hora do ocaso


418 deve ser 6 horas da tarde, 7...

419 Ubirajara Bezerra da Costa – Por aí, por aí.

420 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Que mês foi isso, o
421 senhor se lembra? Mês e ano?

422 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, isso aí eu não posso precisar. Eu posso precisar
423 porque eu sou de julho, então possivelmente era agosto. Porque eu tinha feito
424 aniversário e teve uma festa. Eu sou de julho, então foi em agosto. Nos primeiros dias
425 de agosto.
426 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quando o senhor deixa o
427 casal, quando o senhor vai embora, como é que tá o casal, onde eles estão? Como é a
428 cena?

429 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles estavam caídos aí tiraram eles e levaram.

430 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas você acha que estavam
431 mortos?

432 Ubirajara Bezerra da Costa – A moça possivelmente, ela perdeu muito sangue. Muito
433 sangue mesmo. O rapaz ainda se debatia, falando que não era bandido. Mas a moça
434 possivelmente já estava morta.

435 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Eu vou lhe fazer
436 uma pergunta pesada. Para o senhor que diz que quer responder a verdade. O senhor
437 eliminou os corpos argentinos?

438 Ubirajara Bezerra da Costa – Se eu vi?

439 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor foi


440 quem deu fim aos corpos dos argentinos?

441 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, meu senhor! Isso ficou lá na polícia do Exército
442 mesmo. Eu não fazia parte desse grupo. Eu fazia parte desse, do presidente da Agência
443 Brasileira de Imprensa, morreu agora, Mauricio Azedo. Eu fui no funeral dele.

444 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, a ABI é


445 outra coisa.

446 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu fui no funeral dele. Então, alguns desses caras da
447 polícia do Exército tavam lá. Porque o ABI era...

448 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas alguma vez o
449 senhor eliminou cadáveres? O senhor foi encarregado de acabar com os corpos, jogar os
450 corpos em algum lugar.

451 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, em Magé nós encontramos corpos...

452 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor fez
453 descarte de cadáveres?

454 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, senhor, é que eu fiquei sabendo que faziam isso.

455 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nunca


456 fez, nunca participou,o senhor nunca viu?

457 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

458 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nunca viu? Nunca viu?
459 Ubirajara Bezerra da Costa – A senhora fala onde nós fomos aquele dia?

460 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Não, num sei, onde
461 o senhor achar que foi...

462 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Lembra do que o senhor nos
463 contou de uma faca, um instrumento especial.

464 Ubirajara Bezerra da Costa – A faca chilena, né, que a senhora diz...

465 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eu não digo, quem disse foi
466 o senhor. Seria bom se o senhor pudesse contar tudo que o senhor esta disposto a contar.

467 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas tem muita coisa que eu...

468 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não precisa provar,
469 a gente só quer ouvir.

470 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Eu vou lhe fazer
471 uma pergunta muito concreta, senhor. Vamos voltar a este ano, a este momento da
472 Barão de Mesquita e talvez a gente vá um pouquinho mais pra trás no tempo e vamos
473 falar de três operários. Provavelmente de Volta Redonda...

474 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles eram da siderúrgica, aí se envolveram em


475 subversão, querendo fazer greve. Aí trouxeram para a polícia do Exército... Trouxeram
476 para a delegacia de Piraí.

477 Interlocutor não identificado2 (Comissão Nacional da Verdade) – E aí?

478 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí eles foram conduzidos a polícia do Exército?

479 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Pelo senhor?

480 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, pelo grupo que veio trazê-los.

481 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – E daí? O que


482 aconteceu com esses três operários, que queriam fazer greve?

483 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu posso deduzir que tenham sido assassinados, porque
484 eles foram mal vistos. Que subversivo... Greve naquela época na siderúrgica nacional
485 era...

486 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Mas como


487 foram? Foram assassinados. E o corpos como desapareceram? Nós temos três
488 desaparecidos realmente, naquele período.

489 Ubirajara Bezerra da Costa – É, mas acontece que eu também não era uma pessoa
490 influente. Eu só acompanhei, porque foi conduzido a minha delegacia que eu
491 trabalhava, só por isso.
492 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Mas os corpos de
493 algumas pessoas desapareciam como? Eram enterrados ou jogados ao mar?

494 Ubirajara Bezerra da Costa – Depois tinham comentários, de Magé, né? “Sumiram
495 com os corpos”.

496 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Como?

497 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles usavam faca para a pessoa não boiar...

498 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor nunca


499 participou disso?

500 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não.

501 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não viu isso?

502 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, minha senhora, tinham comentários, né?...

503 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Faca chilena?


504 Era uma faca própria para isso?

505 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

506 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor disse que tinha uma
507 faca dessas lembra? O senhor tinha esse instrumento, lembra?

508 Ubirajara Bezerra da Costa – É que naquela época, minha senhora, eu estava com
509 outro pensamento.

510 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Tudo bem...

511 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não importa. A gente


512 gostaria que o senhor falasse tudo que o senhor sabe. O senhor não precisa provar e o
513 senhor não precisa se justificar. O que a gente precisa é tentar montar esse quebra
514 cabeças para tentar esclarecer o caso. O senhor disse que tem remorso em relação aos
515 argentinos. Então tudo que o senhor falar a respeito de mortos que o senhor viu e
516 pessoas torturadas, certamente pode aliviar um pouco seu remorso no sentido que a
517 gente pode tentar esclarecer esses crimes.

518 Ubirajara Bezerra da Costa – Naquela época, que eu fui a primeira vez eu estava com
519 medo, porque de arrumar inimigos perigosos.

520 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tem


521 medo ainda?

522 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, senhor, eu não vou dizer que tenho medo. É que
523 eu confio de repente se os senhores entregasse meu depoimento logicamente eu correria
524 perigo.
525 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Por quê?

526 Ubirajara Bezerra da Costa – Ué.

527 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor sabe demais?

528 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles poderiam deduzir isso.

529 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor conheceu


530 o coronel Malhães?

531 Ubirajara Bezerra da Costa – De Nova Iguaçu? Que foi assassinado? De vista eu
532 conhecia...Porque eu tenho amigos que até hoje...

533 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Por quem você
534 acha que ele foi assassinado por quem?

535 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, ele cometeu um erro estúpido, ele tinha muitas
536 armas dentro de casa. Foi o conhecimento que me chegou. Porque eu tenho amigos que
537 até hoje se interessam por isso. No dia que a senhora foi entrevistada no Jô Soares, eu
538 estava na casa de um deles, que é Curitiba-Paranaguá desce serra, eu estava na casa
539 deles. Aí essa senhora que é a Dona Brenda, aí escutou... “ela vai falar? Não, ela não vai
540 falar, cara...”.

541 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Quem estava


542 com o senhor?

543 Ubirajara Bezerra da Costa – Dois amigos?

544 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Dois amigos


545 policiais?

546 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles estavam na comissão do Mauricio Azedo.

547 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – No funeral? Eles


548 estavam na ABI?

549 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

550 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles faziam a escolta? Eram
551 policiais do Mauricio Azedo? Protegiam? Seguranças?

552 Ubirajara Bezerra da Costa – É faziam a segurança.

553 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor também em algum


554 momento? Mas é que o senhor não está conseguindo responder o que a gente precisa
555 que o senhor responda. Vamos tentar. A gente já lhe ouviu tantas vezes e o senhor disse
556 hoje que veio disposto a nos falar definitivamente. A hora é agora porque a gente não
557 vai mais poder ouvi-lo nenhuma vez. Tenta falar de cada caso o que o senhor sabe, o
558 que o senhor viu. Lembrar o máximo de detalhes para que a gente, por exemplo, possa
559 tentar achar os pais desses argentinos como o senhor disse que gostaria. Então, por
560 favor...

561 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu até fiz amizade com um cidadão argentino pra,
562 contei essa história. Mas não adianta, já passou. Não tem a maior possibilidade. Eu até
563 iria na embaixada, no consulado e contaria. Mas as pessoas naquela época eu não posso
564 identificá-los.

565 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Me diz uma coisa,
566 como é essa faca que o senhor tem? Essa faca argentina. Para que serve?

567 Ubirajara Bezerra da Costa – Ela é chilena, é para introduzir no abdômen da pessoa e
568 cortar um órgão interno e a pessoa fica boiando.

569 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor usou faca
570 quantas vezes?

571 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não usei não.

572 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E por que o senhor
573 tinha então?

574 Ubirajara Bezerra da Costa – Foi um colega desses que me deu.

575 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Para quê? Para
576 coleção? Pra souvenirs?

577 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Não é pra isso não. É que depois que nós
578 começamos a investigar esse negócio, estava todo mundo com medo.

579 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Investigar o quê?

580 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse negócio do Exército. Desse, desse... eu até achei
581 que tinha sido que tinham sido eles que mataram esse coronel. Mas não foi não,
582 porque...

583 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles, quem? O Exército?

584 Ubirajara Bezerra da Costa – É, coronel do Exército. Ele tinha muitas armas em casa
585 aí correu o boato. Até comentei com um colega que mora no Paraná.

586 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Vamos voltar


587 àquela época. Descarte de cadáver, o que o senhor pode informar para a gente disso?

588 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Tudo que o senhor viu e tudo
589 o que o senhor sabe.

590 Ubirajara Bezerra da Costa – Naquela época não foi porque a maioria das pessoas
591 morreram, foram assassinadas, deram sumiço neles.
592 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Tudo bem, mas
593 como faziam os descartes?

594 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles jogavam em Magé.

595 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quem jogava?

596 Ubirajara Bezerra da Costa – Essas pessoas.

597 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Que pessoas?

598 Ubirajara Bezerra da Costa – Que vieram de Barra Mansa, Volta Redonda, da
599 siderúrgica...

600 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor está falando das
601 vítimas. Mas quem jogava esses cadáveres, quem jogava essas pessoas que foram
602 torturadas no mar?

603 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, porque eles levaram a delegacia de Piraí. Aí de lá
604 eles pediram para mim vir com eles porque eles não conheciam, tinham ordem de jogar
605 em Magé, mas eles não sabiam onde era. Eu vim com eles. Aí realmente eles mataram
606 três pessoas.

607 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu


608 matar?

609 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi. Agora...

610 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor localizou


611 inclusive que eles estavam em uniformes de operários, justo? Ou não? O senhor achava
612 que eram metalúrgicos? Da siderurgia?

613 Ubirajara Bezerra da Costa – Poderia ser.

614 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu eles
615 sendo mortos?

616 Ubirajara Bezerra da Costa – No dia que eles trouxeram esses de lá de Volta
617 Redonda, quer dizer eu não vi propriamente, mas eu sei que mataram.

618 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como o senhor


619 sabia?

620 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, meu senhor, comentários né...

621 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quem comentou?

622 Ubirajara Bezerra da Costa – O nome desse cidadão era... eu sou capaz de lembrar...
623 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Foram mortos por
624 quê?

625 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque fizeram greve, na Volta Redonda, o Exército
626 deu ordem pra sumir com as pessoas.

627 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – De que maneira


628 eles foram mortos?

629 Ubirajara Bezerra da Costa – Com essa faca que eu falo para a senhora, que é para
630 não ficar boiando.

631 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas essa faca era usada para
632 matar ou só para evitar que o corpo boiasse?

633 Ubirajara Bezerra da Costa – Era introduzida no estômago e aí provocava uma lesão
634 muito profunda. Aí entrava água o cara não boiava. Tanto que é que dias depois eu
635 estive com um colega lá Magé e não vi, conforme aquele cemitério em São João de
636 Miriti, que nos fomos.

637 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Cemitério do


638 Éden?

639 Ubirajara Bezerra da Costa – Éden quer dizer paraíso.

640 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – É esse o nome?

641 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

642 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É esse ou o Venda Velha ou


643 o é o São João?

644 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não. É o...

645 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É o Éden. O senhor acha que
646 os corpos dos três estavam lá? Não, eles foram jogados no mar, eles não estavam no
647 Éden.

648 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas levaram lá pra Éden. Aí eu fui conversar com...

649 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas jogaram no mar e depois
650 tiraram do mar?

651 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não. Quando foi para Magé, já está com o
652 destino... Mas depois eu soube que entregavam no cemitério de Éden. Então eu fui
653 conversar com...

654 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor quer dizer que no
655 cemitério do Éden também eram enterrado corpos de pessoas que foram assassinadas
656 pela ditadura.
657 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu só não posso provar. Tem um cemitério judaico em
658 São João de Meriti. Eu não posso afirmar que usaram esse cemitério. Mas o Éden tenho
659 certeza, eu fui conversar com esse cidadão, eu dei o nome dele... Ele foi subdelegado
660 em São João de Meriti, essa pessoa me falou “não adianta, cara, o máximo que ficam
661 aqui é três anos, depois de três anos é retirado o corpo, depois já vem outro”.

662 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então você acha que, por
663 exemplo, lá não tem?

664 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não tem. Ele falou isso para mim e eu acredito,
665 porque parece que fica enterrado só três anos, depois trocam.

666 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor conheceu


667 quando estava em atividade a casa da morte de Petrópolis.

668 Ubirajara Bezerra da Costa – Conheci.

669 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – E depois o senhor


670 nos levou a outra casa da morte por assim dizer...Na rua...

671 Ubirajara Bezerra da Costa – Da família Rasuk...

672 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Nos fale


673 rapidamente da questão da casa de Petrópolis, o que o senhor viu? Por que o senhor foi
674 lá?

675 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, amigo, foi uma coincidência. Nós estávamos em
676 uma festa e um rapaz muito vaidoso ele estava fazendo uma comida que exige muito...

677 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Fondue.

678 Ubirajara Bezerra da Costa – Fondue. Aí o fogo diminuiu ele foi botar fogo no fogão
679 e explodiu e nós fomos levar para o hospital, as meninas e rapazes. Aí ele comentou “aí
680 tem o lugar, aqui que fica a casa da morte, que fica no alto”. Aí por isso que eu tomei
681 conhecimento, [trecho incompreensível]. Mas eles comentaram.

682 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não entrou na casa
683 da morte?

684 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, senhora.

685 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Bom, o senhor


686 tinha nos falado que conhecia alguém...

687 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E que tinha entrado, e nos
688 descreveu...

689 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu posso ter entrado, o que acontece é que eu de
690 repente eu fiquei muito doente, eu tô com 72 anos, eu acredito que a qualquer momento
691 eu venha a falecer, porque às vezes eu passo mal mesmo. Hoje eu não vinha, eu falei
692 “Dani, eu não vou, que eu tô passando mal”. Aí ela falou “pai, vai lá ajudar”. Eu tinha
693 mostrado esses jornais, sempre mostro...

694 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Eu não vou falar
695 da casa de Petrópolis, eu vou falar do centro de tortura clandestino da Rua Salim Rasuk.

696 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nos levou lá


697 lembra?

698 Ubirajara Bezerra da Costa – Lembro...

699 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Conta essa história
700 para gente.

701 Ubirajara Bezerra da Costa – Um dia estavam torturando uma pessoa lá, o José Rasuk
702 era banqueiro de bicho aí facilitava, aí guardavam lá nessa casa. Essa casa hoje está
703 alugada porque o José Rasuk morreu. Aí estavam torturando uma pessoa...

704 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Aí o senhor viu isso?

705 Ubirajara Bezerra da Costa – Acho que lá na sacada.

706 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor viu isso?

707 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu vi porque o cara caiu no meio da rua. Eu tinha
708 vários colegas que eu pedia auxílio sobre alguma coisa... Um destes até lá na estrada de
709 ferro que desce a Serra, Paraná...

710 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Paraná-piacaba.

711 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas, fala da casa, como era a
712 casa?

713 Ubirajara Bezerra da Costa – Então esse cidadão, que era um rapaz de cor escura, ele
714 fugiu da casa que é na Salim Rasuke, caiu no meio da rua. Aí o Walter me chamou “pô,
715 cara, tem um cara ali morto, mas ninguém socorre, vamos dar uma ajuda” aí ele foi
716 levado ao hospital e São João do Merigi não tem hospital, só tem maternidade. Aí ele já
717 chegou morto.

718 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor que levou ele?

719 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu e o Walter socorremos.

720 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como é o nome dele?

721 Ubirajara Bezerra da Costa – O nome dele... Eu não posso falar, sabe por quê? Na
722 hora que o médico pediu o nome dele, não tinha documento, não tinha documento
723 nenhum. Foi por isso ficou assim.
724 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, isso é mais uma
725 pessoa que morreu que o senhor sabe.

726 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Como era dentro
727 da casa?

728 Ubirajara Bezerra da Costa – Nós estivemos, o senhor não lembra? É uma casa
729 elegante.

730 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Quero saber


731 dentro, por fora conheço. Eu não podia entrar. Como era mais ou menos por dentro?

732 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí corria esses boatos que o Zé Rasuk facilitava...

733 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, mas como
734 era por dentro? Uma casa normal? Como se torturava, esquisito, em uma casa normal?

735 Ubirajara Bezerra da Costa – Pendurava as pessoas. Depois eu perguntei ao Rogerio


736 por ser neto do Zé Rasuk, aí ficou nessa situação... É, porque aí eu tinha vontade de
737 entrar

738 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como o senhor


739 sabe que penduravam?

740 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, isso foi fala do... meu senhor...

741 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quem que falou?

742 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse pessoal que mora agora, eles estão fugidos...
743 Agora não... Quando eu vou lá eu sou obrigado a telefonar...

744 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – A última vez que o
745 senhor foi quando foi?

746 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, deve ter uns...A senhor lembra quando foi
747 entrevistada pelo Jô Soares?

748 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, foi em dezembro.

749 Ubirajara Bezerra da Costa – Dezembro... Eu estava nessa casa.

750 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Agora o senhor esta falando
751 dos amigos que trabalhavam na época da ditadura com o senhor, né? E que o senhor foi
752 visitar, é isso?

753 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

754 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não, é a casa que teve a
755 tortura. E se eu bem me lembro, o senhor tinha dito para a gente que o senhor ia
756 conversar com eles para ver se eles também concordavam em falar com a Comissão...
757 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas eles têm medo. Eles têm medo.

758 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles mataram pessoas?

759 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, isso eu não posso falar, que eu estaria cometendo
760 uma injustiça. Eles trabalhavam para o Mauricio Azedo.

761 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Isso não pode
762 ser, o Mauricio Azedo [trecho incompreensível] outra história...

763 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Na época da ditadura eles


764 trabalhavam com quem?

765 Ubirajara Bezerra da Costa – A ditadura eram contra, eles eram visto como inimigos,
766 não gostavam dele.

767 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Eu sei, Mauricio


768 estava na cadeia. Quero saber esse seu grupo.

769 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E do que eles têm medo?

770 Ubirajara Bezerra da Costa – A senhora sabe como é os boatos que correm desse
771 pessoal do Exército, eles torturam, dão sumiço. Eles não prendem, se pegarem [trecho
772 incompreensível] dá sumiço na pessoa.

773 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor acha que isso
774 poderia acontecer com o senhor?

775 Ubirajara Bezerra da Costa – Poderia, eu tenho me... poderia...

776 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tem medo ou não
777 tem medo?

778 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah, tanto é que eu falei “Dani, eu não vou porque estou
779 passando mal” e outro dia teve um caminhão do Exército lá na rua onde eu moro pra
780 prender um cara. Esse cara parece que passou a desertor e fugiu com uma pistola do
781 quartel, aí o pessoal, que eu peço a me avisar.

782 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tem um olheiro?

783 Ubirajara Bezerra da Costa – Tenho, num é no sentido de tomar conta, mas é para
784 qualquer coisa me avisar...

785 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Você acha que o
786 Exército ainda faz isso? Dar sumiço nas pessoas? Ainda?

787 Ubirajara Bezerra da Costa – Meu amigo, também não duvido, não duvido, porque
788 eles são vingativos.
789 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Me permite uma pergunta? O
790 que o senhor viu no forte do Imbuí, não quando a gente foi com o senhor. O senhor
791 disse-nos que viu um tipo de treinamento lá. Que treinamento o senhor viu lá?

792 Ubirajara Bezerra da Costa – Os presos eram levados para lá. Lá eles torturavam.
793 Mas eu também eu não falei para a senhora corretamente é porque não tenho provas. Eu
794 gostaria de chegar e mostrar “aqui a parede suja de sangue”.

795 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – É, mas não vai
796 estar.

797 Ubirajara Bezerra da Costa – É, já limparam.

798 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É, já se passaram muitas


799 décadas. Mas o que o senhor via lá?

800 Ubirajara Bezerra da Costa – Torturavam.

801 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Torturavam que pessoas?

802 Ubirajara Bezerra da Costa – Por que que eu fui lá? Eu fui cumprir uma missão. Que
803 eu trabalhei no serviço reservado, muitos anos mesmo. Então às vezes era mandado para
804 essas missões. Acho que forte Imbuí foi um...

805 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Alguém morreu lá?

806 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas era espancado...

807 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Alguém morreu?


808 Chegou a morrer espancado?

809 Ubirajara Bezerra da Costa – Possivelmente.

810 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não viu

811 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não vi.

812 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Lá não tinha uma aula a que
813 o senhor disse que assistiu. Como era essa aula?

814 Ubirajara Bezerra da Costa – Tinha. Era tortura. A pessoa pendurada com cordas.
815 Enforcavam as pessoas. Agora estou lembrando... eu fui lá cumprir uma missão. Um
816 colega tinha sido preso usando uma pistola do Exército e aí foi para o Imbuí. Foi por
817 isso que fui lá. Trazer o... Isso acontecia comigo sabe por quê? Porque, quando entrei
818 para a polícia, eu estava quase me formando, então me colocaram nessas aulas novas.

819 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Quando a ditadura


820 estava acabando, tentaram eliminá-lo, matá-lo, apagar arquivo em cima do senhor?
821 Ubirajara Bezerra da Costa – Meu senhor, se eles tentaram contra mim... Eu nunca
822 sofri nenhum atentado.

823 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor quer


824 levantar a camisa e demostrar como é seu peito.

825 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu tenho uma perfuração ao lado e uma laparatomia no
826 estômago. E tenho aqui no dedo também...

827 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Você tem sinais de
828 bala no corpo, várias...

829 Ubirajara Bezerra da Costa – Tenho, eu fiz uma laparatomia.

830 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Quem é que


831 tentou matá-lo

832 Ubirajara Bezerra da Costa – Isso aí foi...

833 Interlocutor não identificado 2 (Comissão Nacional da Verdade) – Foi amigos do


834 senhor?

835 Ubirajara Bezerra da Costa – Não... Acho que foi um aviso que me mandaram...

836 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Um aviso? Quatro


837 balas é um aviso?

838 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu não morri de sorte. Amigo, eu sinceramente


839 agradeço terem me chamado, eu ia até falar para a Dani que eu tô doente e não podia
840 andar. Lamento não poder ajudar o senhor, mas estou à disposição, qualquer dúvida que
841 houver. Sabe onde eu moro, estarei à disposição...

842 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Como é que


843 fazemos, alguém vem buscá-lo?

844 [trecho incompreensível]

845 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Só um minutinho...

846 [interrupção no depoimento]

847 Ubirajara Bezerra da Costa – E esse negócio aqui, os senhores guardaram?

848 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Nós sabemos.

849 Ubirajara Bezerra da Costa – Estão a par, né? Porque esse sargento que trabalha com
850 o banqueiro da Beija Flor...

851 [interrupção no depoimento]


852 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu também não posso estar inventando coisas pra
853 agradar os senhores, sabe? Ficar contando mentira... Mas...

854 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Não precisa me


855 agradar.

856 Ubirajara Bezerra da Costa – Na realidade eu queria ver esse casal de argentino, eu
857 gostaria que eles...

858 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – [trecho


859 incompreensível].

860 Ubirajara Bezerra da Costa – Será?

861 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – [trecho


862 incompreensível].

863 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu num duvido que aconteça isso mesmo. É porque
864 realmente às vezes à noite eu passo mal...

865 Interlocutor não identificado (Comissão Nacional da Verdade) – Pois é.

866 [interrupção do depoimento]

867 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Só um minutinho, tá, estamos


868 pedindo o carro agora.

869 [trecho incompreensível]

870 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor precisa ir ao toillete


871 ainda? Ah, eu preciso que o senhor assine aqui. Por gentileza, assine aqui autorizando, a
872 gente gravou seu depoimento, né? Por gentileza, o senhor assine aqui...

873 Ubirajara Bezerra da Costa – A não ser que a senhora avise o Exército sobre... Assina
874 aqui?

875 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É, em cima dessa linha. O


876 senhor quer sigilo do seu testemunho, ou não?

877 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Eu não gostaria de falar é mentir aqui...

878 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor falou tão pouco
879 hoje... O senhor não contou quase nada.

880 Ubirajara Bezerra da Costa – Oh, minha senhora...

881 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eu tenho certeza que o


882 senhor sabe mais do que o senhor nos falou... O que é que o senhor sabe mais?
883 Ubirajara Bezerra da Costa – O que o senhor gostaria de dizer se o senhor pudesse
884 chegar e dizer foi aqui, acontece que o tempo passou.

885 [trecho incompreensível]

886 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É uma pena que o senhor não
887 tenha nos contado, que o senhor quer contar, mas que às vezes o senhor

888 Ubirajara Bezerra da Costa – Tem coisa que eu não posso mentir, de repente eu posso
889 provar, como é que posso falar pra senhora...

890 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas não precisa provar, é só
891 relatar o que o senhor viu e ouviu.

892 Ubirajara Bezerra da Costa – Então a senhora pergunte o que...pode falar.

893 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então senta ali. Pode sentar.
894 Eu vou perguntar.

895 Ubirajara Bezerra da Costa – À vontade.

896 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu o casal


897 argentino ser morto?

898 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi. Vi.

899 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como eles foram mortos?
900 Tenta responder só a pergunta, porque aí já tá na hora do senhor ir embora.

901 Ubirajara Bezerra da Costa – No momento que usaram o alicate para tirar uma parte
902 íntima da menina é lógico que ela foi morta.

903 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o rapaz como foi morto?

904 Ubirajara Bezerra da Costa – Bateram muito nele. Era uma espécie de uma barra de
905 ferro. Batiam nas costas, na cabeça, pontapé.

906 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele foi levado pra algum
907 instrumento de tortura?

908 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, ele apanhou muito. Na frente da moça.

909 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor imagina que ele
910 morreu em virtude do espancamento e a moça de uma hemorragia decorrente da retirada
911 do mamilo. E os corpos deles?

912 Ubirajara Bezerra da Costa – Falavam que jogavam aqui na Tijuca, onde tinha um...

913 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nunca levou corpos
914 na Tijuca?
915 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, senhora.

916 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nunca viu levarem
917 corpos na Tijuca?

918 Ubirajara Bezerra da Costa – Escutava comentários e depois comecei a me interessar.

919 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E quem comentava? Seus


920 colegas?

921 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

922 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Em relação a esses três


923 operários da CSN. O senhor viu eles serem mortos?

924 Ubirajara Bezerra da Costa – Espancados. No meio do caminho.

925 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor estava dentro do


926 carro?

927 Ubirajara Bezerra da Costa – Dentro do carro.

928 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como é que foi essa cena?

929 Ubirajara Bezerra da Costa – Batiam muito.

930 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem batia?

931 Ubirajara Bezerra da Costa – Dois era da Polícia Civil e o outro era da Polícia
932 Militar, que depois mataram. Ele apareceu morto.

933 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor lembra o nome


934 desse que apareceu morto?

935 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele morava aqui na...

936 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Tudo bem, mas eram quantos
937 carros? Porque eram três presos, o senhor já me falou de vários policiais. Quantos carros
938 eram nesse dia da CSN de Volta Redonda?

939 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu tô quase lembrando, tinha um nome... José Pains de
940 Azevedo.

941 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse foi morto?

942 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele apareceu morto aqui em Mesquita.

943 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Durante a ditadura?

944 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah foi. Aí o pessoal “está vendo como é que tá
945 acontecendo”. O pessoal era contra eu falar...
946 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Pois é, mas a sua consciência
947 parece pedir que o senhor fale, não é? O senhor não acha que ia se sentir melhor se
948 falasse?

949 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, minha senhora, eu não tenho nada para esconder...

950 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Em relação a esses três


951 operários da CSN. Vamos lá. Quantos carros eram?

952 Ubirajara Bezerra da Costa – Eram dois carros...

953 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Melhor só nós dois aqui, só
954 nós dois conversando? Ele não viu as fotos né? É, então senhor estava falando dos
955 carros da CSN, quantos carros eram?

956 Ubirajara Bezerra da Costa – Um que trouxe e depois foi uma escolta que saiu da
957 delegacia de Piraí.

958 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor estava em qual


959 carro?

960 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu fui no carro da delegacia.

961 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu eles sendo
962 mortos ou só espancados?

963 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles já chegaram espancados.

964 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quando o senhor recebe


965 essas pessoas eles já estavam espancadas?

966 Ubirajara Bezerra da Costa – Com ordens de levar a polícia do Exército.

967 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas já espancados?

968 Ubirajara Bezerra da Costa – Já espancado.

969 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí o senhor foi um dos que
970 conduziu essas pessoas vivas para a polícia do Exército?

971 Ubirajara Bezerra da Costa – Começaram na siderúrgica mesmo, que virou uma
972 delegacia lá. Tinha homens especializados lá para...

973 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Para...?

974 Ubirajara Bezerra da Costa – Tratar destes assuntos. Eu tenho fotografia do delegado
975 de Piraí que eu não sei onde ele está.
976 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o que eu precisava mais
977 é que o senhor lembrasse. Então essas pessoas, três pessoas já estavam muito
978 espancadas quando chegam para o senhor levá-las para?

979 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu ia guiá-los para... como é o nome da...

980 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor já tinha que se


981 encarregar de jogá-las? Já era hora de jogar os corpos? Elas já estavam mortas?

982 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, que eles não sabiam o caminho... que tinha uma
983 ordem de levá-los para Magé.

984 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então elas estavam mortas ou
985 elas estavam vivas?

986 Ubirajara Bezerra da Costa – Espancados...

987 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas ainda vivos?

988 Ubirajara Bezerra da Costa – Ainda vivos...

989 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então o senhor levou...?

990 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu ia com eles.

991 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor foi com eles?

992 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu vou falar o que para a senhora?

993 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A verdade.

994 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas eles foram muito espancados...

995 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor levou eles até
996 Magé?

997 Ubirajara Bezerra da Costa – Foi.

998 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí o que o senhor fez?

999 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí chegou lá e deram sumiço.

1000 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor também?

1001 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu não participava porque eu comecei a mudar de
1002 opinião.

1003 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o senhor ficava
1004 olhando?

1005 Ubirajara Bezerra da Costa – Olhava.


1006 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, por favor, descreva a
1007 cena da morte destes três.

1008 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles faziam perguntas indigestas.

1009 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como qual?

1010 Ubirajara Bezerra da Costa – “Quem está com vocês?”. Queriam saber quem era o
1011 resto das pessoas.

1012 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor sabe o nome destas
1013 três vitimas?

1014 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu infelizmente me arrependo, poderia anotar o nome


1015 dessas pessoas, mas eu não tinha essa ideia. Eu só mudei de ideia depois que o pessoal
1016 começou a trabalhar no Maurício Azedo.

1017 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É, mas eu preciso voltar a


1018 esse episódio de Magé. Então essas três pessoas são levadas para CSN, da CSN? Só um
1019 minuto.

1020 [interrupção no depoimento]

1021 Ubirajara Bezerra da Costa – Naquela vez eu não falei direto para a senhora porque
1022 eu não tinha provas.

1023 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O que a gente precisa é


1024 assim, se o senhor acha que tem alguma coisa para me contar, e eu sempre acho que o
1025 senhor tem para me contar muito mais que o senhor sabe, porque foi por isso que o
1026 senhor pediu para sua filha ligar para a Comissão Nacional da Verdade, lembra, que o
1027 senhor pediu?

1028 Ubirajara Bezerra da Costa – Pedi.

1029 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então vamos tentar


1030 resolver...

1031 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu fiquei preocupado com o negócio do casal de


1032 argentinos.

1033 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo. Mas agora, nesse
1034 momento, a gente tava falando dos três operários da CSN. Então o senhor viu, o senhor
1035 levou os corp... as pessoas ainda estavam vivas, tinham sido muito torturadas.

1036 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu não tive a inteligência de anotar o nome deles...

1037 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas hoje o senhor
1038 pode ter a inteligência de nos contar o que o senhor viu. Isso é muito importante pra
1039 Comissão da Verdade, de saber o que aconteceu com... O senhor tem certeza que eles
1040 eram operários da CSN?

1041 Ubirajara Bezerra da Costa – Eram! Eram!

1042 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E eles foram mortos em


1043 Magé?

1044 Ubirajara Bezerra da Costa – Sim, em Magé. Foram. Em Magé.

1045 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como eles foram mortos?

1046 Ubirajara Bezerra da Costa – Possivelmente com essas facas que eles usavam.

1047 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu isso?

1048 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi, vi.

1049 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor pode descrever a


1050 cena?

1051 Ubirajara Bezerra da Costa – Era introduzido ao estômago da pessoa.

1052 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles estavam vivos?

1053 Ubirajara Bezerra da Costa – Vivos.

1054 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí o primeiro como foi?

1055 Ubirajara Bezerra da Costa – O primeiro era um operário, alto, forte, que falava
1056 muito.

1057 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O que ele falava?

1058 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele era contra esse negócio, desse regime...

1059 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles choravam, gritavam?

1060 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, falavam que não eram bandidos.

1061 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Pedia para ter a vida
1062 preservada?

1063 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1064 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem usava a faca?

1065 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse cidadão me parece que era o policial civil.

1066 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Qual era o codinome dele?
1067 Ubirajara Bezerra da Costa – Tem muitas coisas que eu, nem tenha esquecido, é que
1068 de repente eu resolvi dar um tempo, sabe? Tanto que agora esse coronel...

1069 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor pode afirmar que
1070 estava no carro que levou os três operários da CSN, e o senhor viu os três serem
1071 assassinados?

1072 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi, vi não, tenho certeza absoluta.

1073 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu eles sendo
1074 assassinados?

1075 Ubirajara Bezerra da Costa – É. Não deram chance nenhuma deles se defenderem.

1076 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí eles foram mortos com
1077 essa faca?

1078 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1079 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E jogados ao mar?

1080 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1081 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor ajudou a jogar no


1082 mar?

1083 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu vi. Eu vi.

1084 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor ficava só


1085 olhando?

1086 Ubirajara Bezerra da Costa – É na realidade a minha função não era fazer mal a eles,
1087 era só levá-los até o local.

1088 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E como o senhor se sentia em


1089 assistir? O senhor assistiu crimes, como se sentia?

1090 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu me sentia mal.

1091 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E porque o senhor nunca


1092 denunciou isso?

1093 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu sempre estava esperando de repente aparecer um


1094 pessoal para me prender. Até hoje eu penso isso.

1095 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tem pesadelos?

1096 Ubirajara Bezerra da Costa – Às vezes tenho. E hoje tem celular, se tivesse teria
1097 gravado, né?
1098 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nunca usou a faca?
1099 O senhor nunca matou ninguém?

1100 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu vi, minha senhora.

1101 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor nunca matou
1102 ninguém?

1103 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1104 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nunca? O senhor juraria


1105 pelos seus filhos?

1106 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, minha senhora, eu juro pela minha honra. Eu sou
1107 uma pessoa...

1108 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E pelas suas filhas?

1109 Ubirajara Bezerra da Costa – A Dani, coitada, a Dani nem sabe por que que eu tô
1110 envolvido nisso. Senão não teria pedido, foi ela. Tanto que eu não pedi outra pessoa,
1111 eu...

1112 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor nunca matou
1113 ninguém?

1114 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1115 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Torturou?

1116 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Eu vi. Na realidade eu não fazia parte desse grupo.
1117 Eu comecei porque eu fui levar, foi a partir que levei esse casal de argentinos eu
1118 comecei, vez em quando, eu levava preso lá pra Barão de Mesquita. Aí fiquei até
1119 conhecido.

1120 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Me conta mais, o que o


1121 senhor lembra. Esses três operários da CSN o senhor viu serem assassinados e seus
1122 corpos jogados ao mar?

1123 Ubirajara Bezerra da Costa – No mar, vi. Tenho certeza.

1124 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor é capaz de falar


1125 isso diante...

1126 Ubirajara Bezerra da Costa – Falo, falo.

1127 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor não falou na
1128 frente do doutor José Carlos Dias. Porque o senhor prefere falar para mim?

1129 Ubirajara Bezerra da Costa – Por nada, eu nem sei a autoridade deles... Ele é ministro
1130 da Justiça?
1131 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não, ele foi, no passado. Ele
1132 não é ministro mais, ele é um dos sete membros da Comissão Nacional da Verdade.

1133 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele trabalhou para o Lula, é isso?

1134 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não, pra Fernando Henrique
1135 Cardoso. O que eu queria que o senhor dissesse quantas pessoas estão envolvidas no
1136 assassinato desses três operários da CSN? O senhor assistiu a cena...

1137 Ubirajara Bezerra da Costa – Três... cinco pessoas.

1138 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Além do senhor mais cinco?

1139 Ubirajara Bezerra da Costa – Sim. É, já veio algemado.

1140 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Os três estavam algemados?

1141 Ubirajara Bezerra da Costa – Tavam, tavam.

1142 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor acredita que tem
1143 cinco militares envolvidos na morte deles?

1144 Ubirajara Bezerra da Costa – Isso é lá de Barra Mansa. É porque... como é que se
1145 diz?

1146 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eram militares, eram


1147 policiais civis? O que que eram? Estavam uniformizados.

1148 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não, estavam em trajes civil. É porque às vezes
1149 algemava a pessoa com a mão no pé. Algemados aqui no braço.

1150 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Descreve esses três. Isso é
1151 importante. Se a gente pelo menos reconstruir esse caso desses três operários da CSN.
1152 Então vamos tentar reconstruir. Como eles chegaram? Que horas eram? Eles foram
1153 levados, como o senhor diz, tinha uma estrutura de repressão dentro da companhia
1154 siderúrgica e eles foram levados para onde o senhor trabalhava, que era a delegacia de
1155 Piraí? Ou de Barra Mansa?

1156 Ubirajara Bezerra da Costa – É, porque em Barra Mansa não estavam aceitando mais,
1157 mandavam para a polícia do Exército.

1158 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o senhor recebe
1159 essas pessoas aonde? Como o senhor entra nessa cena do crime?

1160 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eles falaram que eram subversivos.

1161 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Na delegacia de? Piraí?

1162 Ubirajara Bezerra da Costa – Piraí.


1163 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tava lá?

1164 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1165 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Aí o senhor foi encarregado


1166 de conduzi-los?

1167 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí vinha ordens de levá-los a Magé.

1168 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ordens da onde?

1169 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu acredito que tenha sido do Batalhão de Infantaria
1170 Blindada porque...

1171 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem lhe passou a ordem?

1172 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles me falaram, “olha, é subversivo”,

1173 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles quem?

1174 Ubirajara Bezerra da Costa – ...não falava com essa delicadeza.

1175 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Se o senhor pudesse falar as


1176 palavras não tem problema que são palavras brutas.

1177 Ubirajara Bezerra da Costa – Então, “a ordem é dar sumiço nele”.

1178 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem falou isso?

1179 Ubirajara Bezerra da Costa – Wilson Paes de Azevedo, isso eu lembro o nome. Já
1180 morreu, mataram.

1181 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Assassinado? E o senhor


1182 ouviu da boca dele que a ordem era dar sumiço?

1183 Ubirajara Bezerra da Costa – Sumiço, porque eles haviam dado problema na
1184 siderúrgica.

1185 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E eles ainda estavam vivos
1186 quando chegaram na sua delegacia?

1187 Ubirajara Bezerra da Costa – Vivos, algemados e machucados.

1188 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como eles estavam vestidos?

1189 Ubirajara Bezerra da Costa – Traje comum, como um operário que está trabalhando
1190 mesmo e de repente é preso.

1191 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como era?


1192 Ubirajara Bezerra da Costa – Uma camiseta escrita companhia siderúrgica nacional
1193 bem rota, bem usada. Eles estavam preso lá na siderúrgica, deve ter ficado preso lá eu
1194 calculo uns 10 dias.

1195 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Antes de chegar a vocês?

1196 Ubirajara Bezerra da Costa – É, é que Piraí era uma delegacia modesta, não era
1197 famosa por ter... Aí começaram a trazer pra Piraí. Como aquele retrato, [trecho
1198 incompreensível] aquele moço também mataram.

1199 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor não conta
1200 quem é. Então vamos acabar esse da CSN. Então os três operários aí qual é o seu papel?
1201 Quantas viaturas e qual o seu papel.

1202 Ubirajara Bezerra da Costa – Conduzi para Magé.

1203 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor dirige um


1204 carro?

1205 Ubirajara Bezerra da Costa – Não quem conduzia era o Manuel Lins de Queiroz que
1206 também morreu, não sei se foi assassinado. Eu gostaria até que estivesse vivo, porque às
1207 vezes eu tenho dúvida porque a gente foi parar na Barão de Mesquita.

1208 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor dirige um dos
1209 carros?

1210 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu acompanhei.

1211 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quantos carros eram?

1212 Ubirajara Bezerra da Costa – Dois, um que veio de Barra Mansa da Siderúrgica e o
1213 da delegacia, que tava em serviço. Nessa época o Manuel Lins de Queiroz estava, tinha
1214 feito um serviço, foi fazer um serviço, parece que é briga de casal.

1215 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Vamos tentar focar no crime.
1216 Alguém dirige o carro e você faz o que?

1217 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu fui ao lado do motorista.

1218 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo. Era uma viatura? Que
1219 carro era?

1220 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, era um carro marca Ford...

1221 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas era um carro com
1222 identificação?

1223 Ubirajara Bezerra da Costa – Com identificação.

1224 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Da onde?


1225 Ubirajara Bezerra da Costa – Da siderúrgica.

1226 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor esta nesse carro?

1227 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu fui no carro da delegacia, esperei o...

1228 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E no carro da siderúrgica


1229 estão três presos?

1230 Ubirajara Bezerra da Costa – Três presos e mais três condutores.

1231 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Todos da siderúrgica, os


1232 condutores?

1233 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não era não, devia ser da delegacia ou então...
1234 Porque foram chamados.

1235 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – No seu carro quem estava?

1236 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu, Manuel Lins de Queiroz e o Wilson Paes Azevedo.

1237 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E as facas estavam aonde?

1238 Ubirajara Bezerra da Costa – Essa faca estava com eles mesmo.

1239 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Com quem?

1240 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse pessoal que vieram da siderúrgica.

1241 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Era uma ou eram varias?

1242 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, esse pessoal foram mortos à faca, isso eu tenho
1243 certeza, porque o cara gritava...

1244 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor viu?

1245 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi.

1246 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas não usou a faca?

1247 Ubirajara Bezerra da Costa – O primeiro que saiu da caminhonete já foi agredido à
1248 faca.

1249 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor ajudou a levar os


1250 corpos até a beira da água.

1251 Ubirajara Bezerra da Costa – Um deles eu fui conduzindo, porque eu queria mostrar
1252 aonde que jogava.

1253 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como é que é? O senhor


1254 carregou, arrastou o corpo?
1255 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu ajudei a segurar, pelos pés e mãos. Dois seguraram
1256 pelas mãos e eu pelos pés.

1257 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E tinha que andar muito do
1258 lugar que foram mortos?

1259 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah é. Até chegar essa praia, não sei se Azuladinho, não
1260 sei, uma praia dessas.

1261 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A pessoa já estava morta.

1262 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah estava, pela tortura.

1263 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A faca já tinha sido usada?

1264 Ubirajara Bezerra da Costa – Pela tortura, estava morta.

1265 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor não torturou?

1266 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1267 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas carregou o corpo?

1268 Ubirajara Bezerra da Costa – Carreguei.

1269 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – De quantas pessoas?

1270 Ubirajara Bezerra da Costa – Eram três pessoas.

1271 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor ajudou a carregar


1272 os três?

1273 Ubirajara Bezerra da Costa – Um só, os outros dois eles mesmos levaram.

1274 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E aí levaram na beira da


1275 água, era um despenhadeiro, o que era?

1276 Ubirajara Bezerra da Costa – Na beira do, é mar. É uma praia. Tem um nome que eu
1277 não lembro.

1278 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então esses três casos o
1279 senhor viu ser assassinado? O senhor nunca tentou contar essa história antes? Porque o
1280 senhor sabe que as famílias dessas vítimas, é muito dolorido não saber até hoje o que
1281 aconteceu com eles.

1282 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu sei. É por isso que naquela época eu não falei direto.
1283 Porque não tenho provas.

1284 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não importa, não precisa de
1285 provas. Aqui basta a sua palavra. Que mais o senhor viu? O senhor viu outras pessoas
1286 serem torturadas além do casal argentino e desses três operários da CSN? No Imbuí o
1287 que o senhor via?

1288 Ubirajara Bezerra da Costa – O Imbuí como eu falei eu fui tentar trazer o Solon, era o
1289 nome dele.

1290 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o que o senhor via em
1291 termos de tortura? Havia tortura no Imbuí? E como era?

1292 Ubirajara Bezerra da Costa – Tinha, tinha. Geralmente era espancamento, corredor
1293 polonês.

1294 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E como era o corredor


1295 polonês?

1296 Ubirajara Bezerra da Costa – Junta vinte homens de um lado, um batalhão e o cara
1297 passa no meio aí toma uma porção de tapas.

1298 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esses militares estão


1299 fardados?

1300 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, normalmente boot, calça verde e camiseta branca.

1301 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E essa pessoa que passa no
1302 meio está vestida ou sem roupa?

1303 Ubirajara Bezerra da Costa – Normalmente vestida. Até o ouvido sair sangue, muito
1304 tapa pra ferir os tímpanos.

1305 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Isso o senhor viu no Imbui?

1306 Ubirajara Bezerra da Costa – Vi, vi.

1307 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor disse que teve
1308 aulas de tortura lá.

1309 Ubirajara Bezerra da Costa – Também.

1310 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como eram?

1311 Ubirajara Bezerra da Costa – Como eu vou falar para a senhora?

1312 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É só descrever como eram as


1313 aulas...

1314 Ubirajara Bezerra da Costa – Nesse forte faz muito curso de pessoas avançadas,
1315 inclusive eu assisti à solenidade das primeiras paraquedistas brasileiras.
1316 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o que a gente precisa se
1317 o senhor puder falar antes de encerrar é: como eram as aulas de tortura? Havia aulas de
1318 tortura lá?

1319 Ubirajara Bezerra da Costa – Haviam...

1320 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor foi aluno de lá?

1321 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1322 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor viu uma aula
1323 lá? Como era uma aula?

1324 Ubirajara Bezerra da Costa – O que eu vi mesmo foi o corredor polonês, isso aí eu
1325 tenho certeza.

1326 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Da outra vez o senhor disse
1327 que tinha uma aula diferente...

1328 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu posso ter falado mais coisas que eu não lembro bem,
1329 gostaria de lembrar. O corredor polonês tenho certeza disso. Foi uma das vezes que eu
1330 fui, porque a solução desse militar não resolveu no dia, aí teve que falar com outros, aí
1331 teve que voltar acho que dois dias depois...

1332 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor não tinha me
1333 dito que lá ensinavam como matar as pessoas?

1334 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah ensinavam, não, eu não, eu escutei comentários.

1335 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas da outra vez você disse
1336 que tinha visto. E a gente foi lá com o senhor, lembra?

1337 Ubirajara Bezerra da Costa – Fomos.

1338 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E o senhor identificou o


1339 lugar?

1340 Ubirajara Bezerra da Costa – É por isso que eu fiquei daquela maneira, porque tem
1341 coisas que não dá, poderia... eu queria chegar em um lugar, foi aqui, aqui tá a marca de
1342 sangue...

1343 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas se passaram muitos


1344 anos, não tem mais marca. Mas o senhor tem certeza que no Forte do Imbuí, por
1345 exemplo, que o senhor viu o corredor polonês?

1346 Ubirajara Bezerra da Costa – Sim, isso tenho certeza.

1347 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E as aulas de tortura que o


1348 senhor tinha contado?
1349 Ubirajara Bezerra da Costa – Minha senhora, isso não é que eu não quero, é que eu
1350 não me lembro. Eu estou muito doente.

1351 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor quer encerrar?


1352 Chega ou o senhor quer falar mais? É nossa última oportunidade, infelizmente a gente
1353 poderá mais... Se o senhor acha que a sua consciência vai ficar melhor, o senhor vai em
1354 alguma medida poder aliviar o sofrimento de muitas famílias, se o senhor puder falar,
1355 por favor, faça agora.

1356 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu gostaria de resolver a questão do argentino. Eu


1357 gostaria mesmo.

1358 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não lembra os


1359 nomes deles mesmo?

1360 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, num lembro.

1361 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E quem poderia lembrar? O


1362 senhor disse que era por volta de quinze homens espancando esse casal, nenhum desses
1363 homens está vivo? A gente não poderia ir atrás de nenhum...

1364 Ubirajara Bezerra da Costa – A maioria era da Polícia Rodoviária

1365 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas foi na Barão de


1366 Mesquita?

1367 Ubirajara Bezerra da Costa – Barão de Mesquita.

1368 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nenhum dessas pessoas está
1369 viva? O senhor não poderia nos dizer o nome?

1370 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas eles não usavam identificação.

1371 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor não reconheceria


1372 nenhum?

1373 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não reconheço.

1374 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, não há mais nada em
1375 relação aos crimes e às vitimas que você possa dizer?

1376 Ubirajara Bezerra da Costa – Infelizmente, minha senhora, tem coisa que eu não...

1377 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Isso o senhor já falou muitas
1378 vezes. O senhor quer falar, o momento é agora. O senhor pediu para sua filha nos
1379 procurar, a gente já conversou com o senhor, acho que essa é a quinta vez. Eu tenho
1380 sempre a sensação, eu vou ser honesta, eu tenho sempre a sensação de que você quer
1381 falar, mas não fala.

1382 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tem mais nada, eu gostaria...


1383 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E por que você nos
1384 telefonou?

1385 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu pedi à Dani pra telefonar, eu fiquei surpreso, “ó,
1386 querem falar contigo” e falei “Estou muito doente, não estou podendo andar”.

1387 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Voltando para o fim aos seus
1388 amigos do Paraná. Quando o senhor os procurou no final do ano, o senhor disse que viu
1389 o programa do Jô Soares lá em dezembro. O senhor os procurou para convencê-los a
1390 que? O senhor foi convidá-los a quê?

1391 Ubirajara Bezerra da Costa – É que primeira vez que eu fui lá, eu fui mal recebido...

1392 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas depois o senhor queria
1393 que eles também testemunhassem?

1394 Ubirajara Bezerra da Costa – Explicasse por que eu fui lá. Aí eu contei o caso da
1395 Comissão, aí eles ficaram aborrecidos.

1396 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles eram torturadores?

1397 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles eram do Mauricio Azedo.

1398 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, mas o que eles
1399 poderiam contar para a Comissão Nacional da Verdade, porque o senhor foi procurá-
1400 los?

1401 Ubirajara Bezerra da Costa – É que o Mauricio Azedo contava as coisas, né?

1402 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas eles também
1403 torturavam pessoas? A gente não sabe quem são seus amigos, a gente não tem os nomes
1404 deles nem onde eles moram. O senhor pode falar livremente. Eles torturavam? Eles
1405 matavam?

1406 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1407 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, porque eles ficaram
1408 chateados.

1409 Ubirajara Bezerra da Costa – [trecho incompreensível]. Eu falei o negócio da


1410 Comissão eles ficaram revoltados...

1411 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Por quê?

1412 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque a maior fama que têm esses elementos, esse
1413 cidadão perguntou se eles continuam. Não com aquela febre, mas, se cair na rede, eles
1414 torturam.
1415 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas por que o senhor disse
1416 que eles não eram violadores de Direitos Humanos na ditadura, por que eles não
1417 apoiariam a sua decisão de falar com a Comissão?

1418 Ubirajara Bezerra da Costa – É que nós estivemos juntos na UNE.

1419 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que o senhor era estudante
1420 infiltrado.

1421 Ubirajara Bezerra da Costa – Sim.

1422 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ou seja, eles sabem muita
1423 coisa também.

1424 Ubirajara Bezerra da Costa – Sabem, sabem...

1425 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles poderiam contar coisas
1426 como o senhor conta? Eles viram crimes?

1427 Ubirajara Bezerra da Costa – Não que eu tenha visto, coisas que eu comentei, que eu
1428 vi.

1429 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, mas o senhor pode
1430 comentar sobre eles porque nós não sabemos quem são eles, nós não sabemos onde
1431 moram, não sabemos nada.

1432 Ubirajara Bezerra da Costa – Se fosse necessário, tenho certeza que um deles viria eu
1433 falaria, se eu falasse “está acontecendo um caso, estão duvidando de mim”.

1434 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nós não estamos duvidando,
1435 queremos que o senhor diga...

1436 Ubirajara Bezerra da Costa – Aí eu convidaria para ele vir. Mas no momento estão
1437 assim... Escutam os comentários não é, estão escondidos por causa disso.

1438 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles estão escondidos...?

1439 Ubirajara Bezerra da Costa – É...

1440 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles têm medo?

1441 Ubirajara Bezerra da Costa – Têm...

1442 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Do quê?

1443 Ubirajara Bezerra da Costa – Mistura negócio da UNE, negócio do Mauricio Azedo...

1444 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eles têm medo de ser
1445 mortos?

1446 Ubirajara Bezerra da Costa – Não sei, de repente, ser preso.


1447 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então é porque eles
1448 cometeram crimes...

1449 Ubirajara Bezerra da Costa – É por que tinham pessoas que às vezes ficavam na casa
1450 deles...

1451 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que tipo de pessoa?

1452 Ubirajara Bezerra da Costa – Envolvidos nesse negócio de subversão. Até um caso
1453 que sumiu um militar sumiu, e sumiu um rapaz, naquela época, era o Volkswagen, até
1454 hoje não tá explicado, quem foi que fez, por quê.

1455 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Tem alguma coisa ainda que
1456 o senhor julgue relevante nos contar e não nos contou? Porque a gente já tinha se
1457 despedido e o senhor disse para eu perguntar que o senhor ia me falar... O senhor quer
1458 falar mais alguma coisa. O senhor viu que meus colegas já foram embora inclusive.

1459 Ubirajara Bezerra da Costa – A senhora pode. Fica mais fácil a senhora perguntando
1460 que eu respondo.

1461 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, eu lhe perguntei, os


1462 crimes que o senhor viu. O senhor viu de casal de argentinos, o senhor viu o assassinato
1463 desse casal de argentinos que o senhor não sabe para onde foi os corpos...

1464 Ubirajara Bezerra da Costa – O pessoal da Siderúrgica.

1465 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O pessoal da siderúrgica o


1466 senhor viu o assassinato e carregou os corpos. O senhor não carregou mais nenhum
1467 corpo para o mar? Foram só esses ou em outras oportunidades também foi solicitado?

1468 Ubirajara Bezerra da Costa – Minha senhora, eu vi, mas na realidade eu era contra
1469 esse negócio...

1470 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A gente entendeu, o senhor


1471 era contra. Mas o senhor viu e carregou corpos?

1472 Ubirajara Bezerra da Costa – Umas duas vezes...

1473 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então, uma vez foi com esse
1474 operário. E a outra?

1475 Ubirajara Bezerra da Costa – Daquele retrato que eu dei para a senhora.

1476 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Do helicóptero?

1477 Ubirajara Bezerra da Costa – É. Caiu um avião...

1478 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas ali o senhor não me
1479 disse quem estava dentro do avião...
1480 Ubirajara Bezerra da Costa – Eles foram, como se diz... O avião pegou fogo.

1481 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o senhor deve
1482 saber quem estava dentro. Depois alguém lhe contou?

1483 Ubirajara Bezerra da Costa – Tinham dois homens que estavam totalmente
1484 carbonizados...

1485 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E quem eram?

1486 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tinham documentos...

1487 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O avião foi derrubado?

1488 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu acredito que eles estavam transportando. Piraí tinha
1489 uma serra com muito eucalipto.

1490 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O avião era do Exército?

1491 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu não posso... Eu sei que era um avião da Força
1492 Aérea.

1493 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o que o avião
1494 teria a ver com a história então? A força aérea estava transportando presos?

1495 Ubirajara Bezerra da Costa – É, poderia, acredito. É. A Marinha também fez isso.
1496 Todo mundo usou de força.

1497 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu mais algum
1498 crime que queira nos falar? Se não, vamos encerrar.

1499 Ubirajara Bezerra da Costa – Olha minha senhora, eu gostaria imensamente de poder,
1500 mas tem coisas que eu não lembro mais.

1501 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas das coisas que o
1502 senhor lembra. Há alguma coisa que o senhor queira dizer? É nossa última
1503 oportunidade.

1504 Ubirajara Bezerra da Costa – Se algum dia os senhores conseguirem descobrir aonde
1505 encontrar o corpo desses argentinos, eu gostaria.

1506 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor que tem que
1507 nos ajudar, nós não sabemos.

1508 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas eu não tenho noção onde eles botaram.

1509 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E se o senhor perguntasse


1510 para os seus colegas?
1511 Ubirajara Bezerra da Costa – O Manuel Lins de Queiroz também não sei se ele foi
1512 assassinado.

1513 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas os que estão
1514 vivos...

1515 Ubirajara Bezerra da Costa – O Wilson Paes de Azevedo também morreu.

1516 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E os outros?

1517 Ubirajara Bezerra da Costa – A maioria morreu, eu não sei por quê.

1518 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor suspeita que os


1519 corpos tenham ido aonde? Quando as pessoas morriam na Barão de Mesquita, os corpos
1520 eram levados aonde?

1521 Ubirajara Bezerra da Costa – É o caso do Rubens Paiva, eu achava que foi na Tijuca.

1522 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o casal também você
1523 acha?

1524 Ubirajara Bezerra da Costa – Não sei, eu fui embora. O Rubens Paiva foi uma
1525 coincidência de eu ter ido lá com esse casal e ver um cara fortão, grandão.

1526 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A única mulher que o senhor
1527 viu ser torturada foi essa?

1528 Ubirajara Bezerra da Costa – A maioria eles torturavam era homem. Mulher quase
1529 não se envolve nesses negócios.

1530 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor só viu essa
1531 mulher ser torturada?

1532 Ubirajara Bezerra da Costa – Tem uma moça que ela tem uma Rua em Copacabana
1533 com o nome da família dela.

1534 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Villas-Boas?

1535 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não.

1536 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Essa que o senhor contou que
1537 viu ser jogada...?

1538 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu mostrei pra senhora.

1539 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eu lembro. O senhor


1540 participou de alguma sessão de tortura?

1541 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu vi.


1542 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor sempre viu, e nunca
1543 torturou ninguém?

1544 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, eu sou contra.

1545 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nunca matou ninguém?

1546 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, senhora. Não. Essa moça eu tenho certeza, porque
1547 ela enfrentava os batalhões de choque. Ela esfregou... Acho que um pedaço...

1548 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas ela foi morta? Ela foi
1549 vítima de violência sexual?

1550 Ubirajara Bezerra da Costa – É. Ela foi em um batalhão que agora está em Brasília.

1551 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu algum homem
1552 ser vítima de violência sexual? Empalamento?

1553 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não. Eu via pessoa ser torturada.

1554 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Choques nos genitais,


1555 empalhamento?

1556 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, usavam choque...

1557 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nos genitais?

1558 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1559 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu?

1560 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas isso foi aqui no Barão de Mesquita.

1561 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem o senhor viu?

1562 Ubirajara Bezerra da Costa – Um homem.

1563 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem era?

1564 Ubirajara Bezerra da Costa – Ah minha senhora, o nome... porque nem se comentava
1565 no assunto.

1566 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor chegou a operar


1567 uma dessas máquinas de choque?

1568 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu via, eu via.

1569 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor nunca operou

1570 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não. Na minha função, eu não era nada. Só entrava
1571 ali porque estava no serviço reservado.
1572 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Acho que a gente pode
1573 terminar então, né?

1574 Ubirajara Bezerra da Costa – Então tá.

1575 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A não ser que o senhor
1576 queira dizer mais alguma coisa.

1577 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tem nada. Se algum dia a senhora vier a descobrir
1578 onde estão os argentinos, para mim ninguém vai assumir. Esse casal de argentinos,
1579 ninguém vai assumir.

1580 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Nesse momento o que a


1581 gente precisava é descobrir o que aconteceu com os corpos, isso era o mais importante.
1582 E identificar esse casal para poder entregar, se ainda existirem, os restos mortais para a
1583 família.

1584 Ubirajara Bezerra da Costa – Na verdade encontraram o corpo do Rubens Paiva?

1585 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ainda não. O senhor tem
1586 alguma pista que poderia nos dar?

1587 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tenho. Gostaria imensamente, quem sou eu? Eu só
1588 posso dizer para a senhora que ele saiu pelo lado errado.

1589 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O que leva o senhor a


1590 acreditar que foi assassinado naquele dia.

1591 Ubirajara Bezerra da Costa – Foi isso. É e depois retirado. É que nem aquele
1592 cemitério que tem lá nome grego.

1593 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, o senhor falou agora há
1594 pouco. Então, a gente...acho que pode terminar né?

1595 Ubirajara Bezerra da Costa – Tá, minha senhora. Vai encerrar?

1596 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A menos que tenha algo mais
1597 a dizer, nome de vítima, nome de torturador.

1598 Ubirajara Bezerra da Costa – Mas nome, eu só sei o nome do Wilson porque ele foi
1599 assassinado estupidamente.

1600 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele é um dos que


1601 assassinaram os três operários de Volta Redonda?

1602 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1603 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Qual o nome dele todo?

1604 Ubirajara Bezerra da Costa – Wilson Paes de Azevedo.


1605 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor diria que foi um
1606 dos que matou?

1607 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele de repente apareceu morto...

1608 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o senhor o viu
1609 matar os operários da CSN.

1610 Ubirajara Bezerra da Costa – Ele estava no grupo...

1611 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim, o senhor também estava
1612 e o senhor disse que não matou. O senhor disse que só ajudou a transportar. Ele o
1613 senhor viu usar a faca?

1614 Ubirajara Bezerra da Costa – Não posso precisar, tinha muita gente falando. Um fala
1615 uma coisa, outro fala outra.

1616 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas o senhor disse
1617 que era uma faca e a mesma pessoa matou os três ou mais de uma pessoa usou a faca?

1618 Ubirajara Bezerra da Costa – Não foi um só não. Existia também o negócio do
1619 princípio da vaidade.

1620 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo, mas esse senhor que o
1621 senhor mencionou o nome, que já está morto, o senhor acha que ele foi assassinado em
1622 queima de arquivo. Ele participou da morte dos operários.

1623 Ubirajara Bezerra da Costa – Não diretamente, ele estava no grupo.

1624 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor também estava
1625 no grupo. Se eu lhe perguntar se participou da morte dos operários...

1626 Ubirajara Bezerra da Costa – De repente, se houvesse um inquérito...

1627 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas se eu lhe perguntar hoje.
1628 O senhor participou da morte dos operários de volta redonda?

1629 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, em absoluto. É porque essas pessoas choravam
1630 muito.

1631 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele participou? Sim ou não?

1632 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu acredito que tenha participado.

1633 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim.

1634 Ubirajara Bezerra da Costa – Porque dividiu o grupo, lá, não agora, mas naquela
1635 época era muito escuro.
1636 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele ajudou a carregar os
1637 corpos?

1638 Ubirajara Bezerra da Costa – Ajudou.

1639 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor ajudou a carregar


1640 os corpos?

1641 Ubirajara Bezerra da Costa – Só um.

1642 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então podemos terminar né.

1643 Ubirajara Bezerra da Costa – Tá, minha senhora.

1644 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eu agradeço mais uma vez a
1645 sua disposição em vir nos atender.

1646 [trecho incompreensível]

1647 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Eu queria lhe mostrar umas
1648 imagens se o senhor puder dizer se reconhece ou não. O senhor reconhece essas pessoas
1649 ou não? Pode por as suas coisinhas pra lá, por favor. O senhor conhece essas pessoas,
1650 conhece ou não? Se reconhecer, por favor, me diga aonde e em qual circunstância.
1651 Conhece essa moça?

1652 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Me parece que ela tem um rosto semelhante...

1653 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor acha que pode ter
1654 visto essa moça em algum lugar na ditadura?

1655 Ubirajara Bezerra da Costa – Não... Na casa do Zé Rasuk, uma vez eu vi uma moça
1656 semelhante a essa... Parecida.

1657 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Como ela era?

1658 Ubirajara Bezerra da Costa – Assim mesmo,

1659 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Assim mesmo como?

1660 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse rosto.

1661 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O nome?

1662 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não se falava nome.

1663 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Roupa, como ela estava?

1664 Ubirajara Bezerra da Costa – De vestido longo.

1665 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que ano?

1666 Ubirajara Bezerra da Costa – Muito difícil precisar...


1667 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Acha que pode ter visto essa
1668 moça?

1669 Ubirajara Bezerra da Costa – Poderia, porque ela é semelhante.

1670 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O que o senhor lembra dela?

1671 Ubirajara Bezerra da Costa – Que ela estava discutindo com um, ali na casa do Zé
1672 Rasuk. O Zé Rasuk também faleceu.

1673 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ela estaria discutindo com
1674 quem?

1675 Ubirajara Bezerra da Costa – Tinha um grupo, eu acho que estavam interrogando ela
1676 e eu acho que não conseguiram nada, ela estava sendo liberada.

1677 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Torturada?

1678 Ubirajara Bezerra da Costa – Ela estava sendo liberada, não conseguiram nada dela.

1679 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas ela foi torturada?

1680 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu acredito, porque lá era lugar de tortura.

1681 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu ela machucada?

1682 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, estava vestida.

1683 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas machucada?

1684 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, ela só tava conversando.

1685 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que ano mais ou menos?

1686 Ubirajara Bezerra da Costa – Deve ter sido em 71...

1687 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Tudo bem, o senhor imagina
1688 que pode ter sido 71? Antes do senhor ir embora, vamos tentar fazer esse esforço. O
1689 senhor acha que pode ter visto ela. Quanto por cento de chance o senhor acha? Como
1690 era a moça?

1691 Ubirajara Bezerra da Costa – É porque é uma pessoa semelhante... Talvez o cabelo
1692 um pouco mais comprido.

1693 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que cor eram os olhos?

1694 Ubirajara Bezerra da Costa – Possivelmente esverdeado.

1695 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ela usava alguma coisa que o
1696 senhor lembra?

1697 Ubirajara Bezerra da Costa – Nesse caso, isso aí ela já tá morta, né?
1698 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sim... Se o senhor tiver
1699 certeza, por favor, nos diga é muito importante.

1700 Ubirajara Bezerra da Costa – Certeza absoluta não posso ter.

1701 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor acha que tenha
1702 visto. Quanto por cento de chance o senhor diria?

1703 Ubirajara Bezerra da Costa – Uns 80%.

1704 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Na casa Rasuk? Em 71?

1705 Ubirajara Bezerra da Costa – Por aí...

1706 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mês?

1707 Ubirajara Bezerra da Costa – Muito difícil.

1708 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mais alguma coisa que o
1709 senhor queira falar dela? Vamos ver outro. Esse rapaz?

1710 Ubirajara Bezerra da Costa – Olha, tem pessoas que são assemelhadas, né?

1711 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor diz, eu acho que eu
1712 lembro, eu acho que eu vi, se não...

1713 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tenho certeza, mas ele é parecido com certas
1714 pessoas...

1715 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Com quem, o senhor teria
1716 visto aonde? Lembre-se que informações podem nos ajudar muito em elucidar e a levar
1717 paz para a família. Com quem seria parecido?

1718 Ubirajara Bezerra da Costa – Esse aí, tem pessoas que são assemelhadas.

1719 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não tem problema, eu estou
1720 entendendo que ele está parecendo alguém que o senhor viu. A pessoa que o senhor viu
1721 o senhor viu aonde?

1722 Ubirajara Bezerra da Costa – Não...

1723 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Então o senhor não viu? Esse
1724 não? Ok. Esse senhor?

1725 Ubirajara Bezerra da Costa – Não é que eu tenha visto, mas é assemelhada que de
1726 repente cruzou a minha vida por aí.

1727 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Quem? Aonde? Por que
1728 aquela moça o senhor disse que pode ter visto na casa azul, que é 80% de chance, e esse
1729 senhor?
1730 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não é. Não dá para dizer quem é.

1731 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu ele em algum
1732 lugar, como viu a moça?

1733 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não...

1734 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Também não?

1735 Ubirajara Bezerra da Costa – É que no funeral do Mauricio Azedo tinha pessoas que
1736 há muitos anos eu não via.

1737 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas esse aqui morreu antes
1738 do funeral. Então não pode ser... Esse aqui?

1739 Ubirajara Bezerra da Costa – Pois é, são pessoas muito comuns.

1740 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse não é comum? Eu não
1741 acho.

1742 Ubirajara Bezerra da Costa – Será que não? É.

1743 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor viu?

1744 Ubirajara Bezerra da Costa – Não

1745 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E esse? Olha que nessas
1746 fotos podem estar os argentinos.

1747 Ubirajara Bezerra da Costa – Será?

1748 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor é que vai me dizer,
1749 você que os viu, eu não os vi.

1750 Ubirajara Bezerra da Costa – Não... Os argentinos era uma moça assim branquinha...

1751 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse rapaz pode ter visto?

1752 Ubirajara Bezerra da Costa – Não. Parece ser gaúcho.

1753 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E esse?

1754 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu gostaria de ver uma pessoa que tivesse semelhança
1755 ao argentino, sinceramente.

1756 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse não?

1757 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não.

1758 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Esse?


1759 Ubirajara Bezerra da Costa – Pra senhora ter uma ideia, o Chico Buarque tá fazendo
1760 campanha pra Dilma...

1761 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não, mas e esse o senhor
1762 viu?

1763 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ele parece ligeiramente com
1764 o Chico Buarque.

1765 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas não é, são pessoas que
1766 morreram. O senhor viu esse moço?

1767 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não...

1768 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Se os três da CSN estiverem


1769 aqui o senhor vai reconhecer será? O senhor viu esse?

1770 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, não...

1771 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Não? Certeza?

1772 Ubirajara Bezerra da Costa – Não, tenho certeza.

1773 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E esse?

1774 Ubirajara Bezerra da Costa – Não posso falar um negócio que não é verdade, de
1775 repente estaria mentindo, inventando.

1776 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor disse que pode ter
1777 visto a moça. Esse o senhor pode ter visto?

1778 Ubirajara Bezerra da Costa – Não.

1779 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – É só isso que precisa dizer,
1780 sim ou não. Pode ter visto?

1781 Ubirajara Bezerra da Costa – Eu conheci uma pessoa semelhante a esse aqui, que era
1782 o Peçanha, sargento do Exército na época.

1783 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Certo. O que aconteceu com
1784 ele?

1785 Ubirajara Bezerra da Costa – O Peçanha também mataram.

1786 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que ano que o senhor
1787 conheceu?

1788 Ubirajara Bezerra da Costa – Peçanha era envolvido com negócio de auxiliar coronel,
1789 esses escândalos aí.
1790 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Que ano o senhor conheceu
1791 ele?

1792 Ubirajara Bezerra da Costa – Nessa época mesmo da revolução, 70, 71. Mas era
1793 muito semelhante a ele.

1794 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O que o senhor conheceu era
1795 militar? Sargento do Exército?

1796 Ubirajara Bezerra da Costa – Era... Não tem nenhum loirinho não, assim?

1797 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – E essa senhora?

1798 Ubirajara Bezerra da Costa – Lá em Piraí, tinha uma senhora semelhante que também
1799 não sei por que ela sumiu.

1800 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Foi assassinada?

1801 Ubirajara Bezerra da Costa – Na época, o prefeito, era o atual Pezão.

1802 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas o senhor acha que essa
1803 mulher sumiu?

1804 Ubirajara Bezerra da Costa – Sumiu por aí.

1805 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas seria ela ou não?
1806 Parecida?

1807 Ubirajara Bezerra da Costa – Parecidíssima.

1808 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Mas tem mais chance que a
1809 outra? O senhor está reconhecendo com mais precisão ou menos? Porque essa a gente
1810 sabe o que aconteceu com ela, então é importante que diga.

1811 Ubirajara Bezerra da Costa – Não poderia identificar o DNA, não?

1812 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – A gente sabe o que


1813 aconteceu? Se acha que ela passou em Piraí?

1814 Ubirajara Bezerra da Costa – Não tenho certeza, mas semelhante a ela. Uma pessoa
1815 alegre.

1816 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Ok, ok. Então por ultimo o
1817 senhor só acha que poder ter visto essa moça? É a única?

1818 Ubirajara Bezerra da Costa – Semelhante, é uma pessoa parecidíssima mesmo, não
1819 posso dizer o local.

1820 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – O senhor tinha dito que era
1821 na casa Rasuk, por volta de 71. Ou não?
1822 Ubirajara Bezerra da Costa – É.

1823 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) –Viva?

1824 Ubirajara Bezerra da Costa – Viva.

1825 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Sem ter sido torturada?
1826 Estava sozinha?

1827 Ubirajara Bezerra da Costa – Estava. É que ali naquele prédio da família Rasuk foi
1828 torturada muitas pessoas.

1829 Glenda Mezarobba (Comissão Nacional da Verdade) – Acabou. Pode entrar. Aliás,
1830 teria que chamar o pessoal da técnica pra desligar também. Não, já acabou. Vamos?

Você também pode gostar