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Curso: O Poder Legislativo


Instituto Legislativo Brasileiro
Senado Federal
Sumá rio
Módulo I – Aspectos gerais........................................................................................3
Unidade 1 – Origem e evolução do Poder Legislativo...........................................3
Unidade 2 – Conceito, papel e especificidades do Poder Legislativo....................5
Módulo II – Aspectos constitucionais e históricos do Legislativo brasileiro...............8
Unidade 1 – O Legislativo no Império....................................................................8
Unidade 2 – O Legislativo na República..............................................................13
Módulo III – O Legislativo hoje em dia Unidade 1 – O Congresso Nacional...........27
Unidade 2 – O Senado Federal............................................................................31
Módulo IV – O Legislativo e suas relaçõesinstitucionais..........................................33
Unidade 1 – O Congresso Nacional e o Governo Federal...................................33
(Fim do sumário)
O Poder Legislativo

Módulo I – Aspectos gerais

Unidade 1 – Origem e evolução do Poder Legislativo

Para discorremos sobre a origem do Poder Legislativo é necessário remontarmos à


Idade Média, especificamente à Inglaterra do século XIII.
Foi naquele País que surgiu a ideia de “Parlamento”, conforme se depreende do
seguinte trecho:
“A Magna Carta Inglesa, assinada em 1215, mas tornada definitiva só em 1225,
tornou- se um símbolo da liberdade, por ter sido a base do desenvolvimento
constitucional e fonte de inspiração para que juristas dela extraíssem os
fundamentos da ordem jurídica democrática inglesa. Trazia em seu bojo os
primeiros traços do governo representativo, a organização das assembleias
políticas, as imunidades parlamentares, a ilegitimidade da tributação sem
participação dos representantes do povo (...). ” (Fonte: Charles Soares de Oliveira.
A representação política ao longo da História).
Para compreender melhor as atribuições do Legislativo em vários países, bem
como sua evolução no Brasil, sugerimos a leitura do texto 'Os Poderes do
Legislativo brasileiro - uma análise comparada e histórica', do Professor Júlio
Roberto de Souza Pinto, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos
complementares'.
Absolutismo
Esse processo foi complexo e longo. Iremos apenas contextualizá-lo para que você
tenha uma noção básica sobre o seu surgimento.
O Poder, na Inglaterra, era exercido pelo rei, senhor soberano que encarnava em
si todo o Poder daquela sociedade. Vivia-se o período conhecido como
Absolutismo.
Mas o que significava uma sociedade pautada pelo Absolutismo?
“...aquela forma de Governo em que o detentor do poder exerce este último sem
dependência ou controle de outros poderes, superiores ou inferiores...”;
Ou então:
“Sistema político em que a autoridade soberana não tem limites constitucionais. ”
Ou:
“Sistema político que se concretiza juridicamente através de uma forma de Estado
em que toda a autoridade (poder legislativo e executivo) existe, sem limites nem
controles, nas mãos de uma única pessoa. ”
Assembleia
Nesse contexto, o monarca, a seu bel-prazer, instituía impostos seja para captar
recursos para fazer frente às diversas guerras da época, seja para manter a
estrutura da corte.
Entretanto, esses tributos oneravam os diversos segmentos sociais. Assim, a
aristocracia e os comerciantes reuniam-se em assembleias para debater essas – e
outras – dificuldades que afligiam toda a comunidade.
Após um longo processo de disputa de Poder, essa assembleia evoluiu para o
modelo de Poder Legislativo, existente nos dias atuais.
O Juiz
Surgiu, então, a divisão de Poderes na qual o rei só poderia instituir ou aumentar
os tributos com a concordância do Parlamento.
Com o tempo, essa função de limitar o poder monárquico de instituir taxas e
impostos evoluiu no sentido de o Parlamento representar um espaço público de
repercussão de toda e qualquer situação relevante ocorrida na sociedade. Surge o
embrião dos poderes Legislativo e Executivo. Entretanto, a relação entre o
monarca e a assembleia às vezes era conflituosa e tensa. Necessitava- se de outro
ator social para pôr fim aos impasses: nasce, neste momento, a figura de um
mediador com poder de decisão para decidir os conflitos: o “juiz”, que será o
embrião do nosso Poder Judiciário.
Organização do Estado
No âmbito teórico, diversos estudiosos se debruçaram sobre esse assunto, em
especial o pensador e filósofo Montesquieu, que nos legou a clássica organização
dos Poderes do estado moderno e suas respectivas funções: Executivo, Legislativo
e Judiciário.
Montesquieu sugeriu que não haveria melhor garantia para a liberdade dos
cidadãos e para o funcionamento das instituições políticas do que a divisão
tripartite dos poderes do Estado.
Essa divisão do Poder nas funções Executiva, Legislativa e Judiciária não é
absoluta.
Atribuições
De fato, a cada Poder é atribuída uma função primordial. Isto é, ao Executivo cabe,
principalmente, administrar os bens e recursos de toda sociedade; ao Legislativo
compete, fundamentalmente, elaborar as normas legais; e, por fim, ao Judiciário
cabe a função de dirimir os conflitos existentes na sociedade. Esses papéis são
realizados de forma harmoniosa e cooperativa entre tais instituições
Podemos afirmar que legislar é típica função do Poder Legislativo, embora ele
também exerça, de forma atípica, a função jurisdicional quando julga seus
processos administrativos, bem como a função administrativa em relação aos
seus bens, recursos e patrimônios.
Temos então:
Curiosidade
No entanto, no decorrer dos tempos, o Parlamento mudou muito. Não só no que
diz respeito ao seu papel institucional, mas a sua própria composição se alterou:
se, de início, era um espaço político exclusivamente masculino, com o passar dos
anos permitiu-se o acesso das mulheres às cadeiras legislativas, bem como a
outras minorias sociais que cada vez mais estão presentes nos parlamentos dos
países democráticos.
Voto Feminino
E, no Senado Federal, a primeira mulher a ocupar uma cadeira foi Eunice Michiles,
que assumiu o posto, em 1979, com a morte do titular do cargo, o Senador João
Bosco de Lima.
Origem do termo “Parlamento”
O professor Vamireh Chacon, em sua obra História do Legislativo Brasileiro –
Congresso Nacional, expõe que “Parlamento vem do latim medieval parlare, falar,
isto é, parlatório, lugar onde falavam politicamente os conselheiros do rei. Em
muitos dos iniciais Países europeus tinham sido institucionalizadas suas periódicas
reuniões, de início na Corte, depois em edifícios próprios e com cada vez maior
autonomia. As primeiras reivindicações, daí as primeiras competências do
Parlamento, foram a fiscalização das despesas do Estado e as garantias
individuais da nobreza à burguesia, em seguida ao povo, por sucessivas
revoluções e reformas. ”
Aproveite navegue em nossa legislação.

Unidade 2 – Conceito, papel e especificidades do Poder


Legislativo

Conceituar o que seja o Poder Legislativo não é uma das tarefas mais fáceis.
Talvez as frases seguintes, em seu conjunto, permitam-nos compreender o
significado de tão importante instituição:
 “O Legislativo é a instituição responsável pela elaboração das leis de uma
determinada comunidade. ”
 “O Legislativo é o Poder que sintetiza e encarna a ideia de democracia. ”
 “O Legislativo é a instituição representativa dos diversos segmentos da
sociedade. ”
 “O Legislativo é o espaço público em que as disputas sociais e os conflitos
de interesses são redimensionados e transformados em consensos. ”
 “O Legislativo é a caixa de ressonância da sociedade. ”
 “O Legislativo é o local em que os grandes temas de um país são debatidos
e solucionados. ”
 “O Legislativo é o depositário da Soberania nacional. ”
 “O Legislativo é o espelho da opinião nacional. ”
Função do Poder Legislativo
De fato, o Parlamento se caracteriza por ser o local por excelência do debate, da
discussão, da negociação, na busca do consenso, o que o torna a instância mais
afinada com os princípios e as regras democráticas.
É o Parlamento a instituição por excelência que melhor reflete a diversidade de
opiniões, valores e tendências existentes em uma determinada sociedade.
Norberto Bobbio, em seu Dicionário de Política, expõe a seguinte definição de o
que seja o Parlamento:
E qual é a função do Poder Legislativo?
Entre as funções que o Legislativo exerce nas sociedades modernas,
destacaremos três que se destacam pela sua visibilidade:
 Função Legiferante;
 Função Fiscalizadora;
 Função Educativa.
Função Legiferante
Quando pensamos no papel do Poder Legislativo, a primeira coisa que nos vem à
mente é a elaboração das leis, isto é, das normas jurídicas que irão nos dizer o que
podemos ou não fazer, quais são os nossos direitos e os direitos dos outros. Em
resumo, as regras de cumprimento obrigatório que norteiam uma determinada
sociedade. Como já visto antes, o papel de legislar é, indubitavelmente, a função
primordial dos Parlamentos modernos.
Função Educativa
Mas como assim “educar”?
É nesse espaço público – o Legislativo – que as propostas que afetam diretamente
o interesse de todos os cidadãos são apresentadas, debatidas transformadas em
normas legais. Nesse processo de criação das leis é muito comum que os
segmentos organizados da sociedade (sindicatos, confederações de trabalhadores
e empregadores, ONGs, associações, etc.) sejam ouvidos, apresentem suas ideias
e colaborem com os parlamentares. Por exemplo, isto ocorre frequentemente nas
Audiências Públicas realizadas pelas duas Casas Legislativas.
Norberto Bobbio, em seu Dicionário de Política, classifica as funções
fundamentais dos Parlamentos da seguinte forma:
 de Representação: o Parlamento é o espaço para as manifestações dos
diversos segmentos e grupos sociais.
 de Legislação: o Parlamento tem como a sua mais típica função a atividade
legislativa.
 de Controle do Executivo: o Parlamento exerce o controle do Executivo
e das atividades dos seus setores burocráticos.
 de Legitimação: o Parlamento ajuda a conferir ou a subtrair legitimidade
política ao Governo.
Curiosidade
O orçamento Geral da União é encaminhado pelo Poder Executivo (Governo
Federal) ao Congresso Nacional para apreciação e aprovação. Nas leis
orçamentárias estão previstos todos os recursos e fixados todas as despesas do
Governo Federal relativas aos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Neste
aspecto, os Deputados Federais e os Senadores possuem um papel fundamental
na medida em que são eles que ratificam ou não a proposta encaminhada pelo
Presidente da República.
(fim da caixa curiosidade)
Para refletir
Diversas pesquisas de opinião apontam uma grande desconfiança, por parte de
uma significativa parcela dos cidadãos, em relação à legitimidade de nosso
Congresso Nacional. É comum, em nosso trabalho, em nosso bairro, na nossa
comunidade, ouvirmos pessoas falarem que “não acreditam nos políticos” ou que
“somente voto porque é obrigatório” e, ainda “os parlamentares legislam em causa
própria”. Esse descrédito e insatisfação – exageros à parte – não é exclusivo de
nosso País. Diversas democracias do mundo vivem esse conflito. Tendo em vista
essas informações, reflita sobre o quê você pode fazer para modificar essa
realidade.
(fim da caixa para refletir)
Responda os Exercícios de Fixação do Módulo I na plataforma SABERES.

Módulo II – Aspectos constitucionais e históricos do


Legislativo brasileiro

Unidade 1 – O Legislativo no Império

Em 1823, O Imperador D. Pedro I convoca a Assembleia Geral, Constituinte e


Legislativa do Império do Brasil, que se instala na cidade do Rio de Janeiro.
Octaciano Nogueira, em seu livro O Poder Legislativo no Brasil (1821-1930),
observou o seguinte sobre o processo eleitoral daquela época: “As freguesias ou
povoações indicavam compromissários que, reunidos nas 81 cabeças de Distrito
em que foi dividido o Brasil (incluindo a Cisplatina), elegiam os Deputados
mediante o voto exarado em cédula escrita. ”
Continua o autor: “Os Deputados para a Assembleia Geral Constituinte e
Legislativa do Reino do Brasil não podem por ora ser menos de 100. ”
Voto Censitário
Frisa-se que as províncias de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, juntas, foram
responsáveis pela eleição de quase a metade dos Deputados naquele pleito:
exatos 46 parlamentares.
À época, para se ter direito ao voto exigia-se das pessoas uma determinada renda
mínima, era o que se chamava de voto censitário, que caracterizava as eleições
em toda a Europa, com a exceção da Suíça, que adotara o voto universal já em
1830.
Como reflexo do voto censitário, são oportunos os comentários do professor
Vamireh Chacon:
“Com o resultado de, em 1881, próximo da proclamação da República, o Brasil só
ter cento e cinquenta mil eleitores numa população de doze milhões de
habitantes. Acontece que esta regra [do voto censitário] se originava em
inspiração europeia: a Grã-Bretanha praticou o critério censitário nada menos que
até 1918”. (grifo nosso). (Fonte: História do Legislativo Brasileiro – Congresso
Nacional. Volume IV. Brasília. 2008).
Conflitos
À época, são notórios os conflitos entre o monarca e a Assembleia
Constituinte, como se observa do próprio Projeto de Constituição engendrado pelo
Parlamento, que não previa a existência nem do Poder Moderador, nem tampouco
do direito de dissolver a Câmara dos Deputados, prerrogativas vislumbradas pelo
Imperador.
Em 12 de novembro de 1823, a Assembleia Constituinte foi dissolvida por
Decreto do Imperador, e, em seu lugar, cria-se um Conselho de Estado com o
objetivo de elaborar novo Projeto de Constituição.
Alguns meses depois, em 25 de março de 1824, D. Pedro I outorga à Nação a
primeira Constituição brasileira.
Constituição de 1824
A Constituição de 1824 reconhecia, em seu art. 10, a existência, no Brasil, de
quatro poderes: o Legislativo, o Moderador, o Executivo e o Judicial.
O Poder Moderador, exercido diretamente pelo Imperador, situava-se acima dos
demais Poderes previstos na clássica tripartição de Montesquieu, permitindo ao
monarca interferir nos assuntos do Executivo e do Legislativo.
Na verdade, a estrutura de Poder existente naquela época estava fundamentada
na concentração do poder nas mãos do Imperador. E isso se refletia,
sobremaneira, no perfil do Poder Legislativo que iria marcar todo o período de
nossa história Imperial.
Organograma da Constituição de 1824
O imperador reinava absoluto sobre os outros poderes do império Organização dos
poderes segundo a Constituição de 1824
Poder Legislativo
Em relação ao Poder Legislativo, temos que ele sempre foi, no Brasil, em nível
nacional, bicameral, isto é, constituído por duas Casas de Leis.
Prova disso é a previsão, estabelecida já na Constituição de 1824, de que o Poder
Legislativo seria delegado à Assembleia Geral, constituída pela Câmara de
Deputados e Câmara de Senadores (Senado), com a sanção do Imperador.
Temos então:
 Poder Legislativo
 Assembleia Geral
 Câmara de Deputados
 Câmara de Senadores (ou Senado)
Eleições
Como funcionavam as eleições?
Os cidadãos ativos reuniam-se nas Assembleias Paroquiais para elegerem os
eleitores de Província, e estes, por sua vez, elegiam os Deputados e Senadores.
E quem eram esses cidadãos ativos?
Nas eleições primárias votavam: os cidadãos brasileiros no gozo de seus direitos
políticos e os estrangeiros naturalizados que tivessem a renda líquida anual de 100
mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou emprego.
Eram excluídos de votar nas Assembleias Paroquiais:
 os menores de 25 anos (salvo os casados; os oficiais militares maiores de
21 anos; os bacharéis formados e clérigos de Ordens Sacras);
 os filhos de famílias que estivessem na companhia de seus pais (salvo se
servissem ofícios públicos);
 os criados de servir (em cuja classe não entram os guarda-livros e
primeiros- caixeiros das casas de comércio, os criados da Casa Imperial que
não fossem de galão branco, e os administradores das fazendas rurais
efábricas);
 os religiosos e quaisquer que vivessem em comunidade claustral. E quem
eram os eleitores de província?
Todos aqueles que podiam votar nas Assembleias Paroquiais, estavam aptos a
eleger os deputados e senadores do Império, exceto:
 os que não tivessem de renda líquida anual 200 mil réis por bens de raiz,
indústria, comércio ou emprego;
 os libertos;
 os criminosos pronunciados em querela ou devassa.
Quem poderia ser eleito Deputado ou Senador
E quem poderia ser eleito Deputado ou Senador?
Podia ser eleito Deputado todo e qualquer eleitor de província, exceto:
 os que não tivessem 400 mil réis de renda líquida anual;
 os estrangeiros naturalizados;
 os que não professassem a religião do Estado.
Podia ser eleito Senador todo e qualquer eleitor de província que:
 fosse cidadão brasileiro no gozo dos direitos políticos;
 tivesse a idade mínima de 40 anos;
 fosse pessoa de saber, capacidade e virtudes, com preferência os que
tivessem prestado serviços à Pátria;
 tivesse rendimento anual, por bens, indústria, comércio ou emprego, de 800
mil réis.
Domicílio Eleitoral
No Império, os cidadãos eram elegíveis em cada distrito eleitoral para o cargo de
Deputado ou de Senador mesmo que ali não tivessem nascido ou fossem
residentes ou domiciliados. O princípio do domicílio eleitoral é regra que, no Brasil,
só surge com a República, quando a lei passa a impor, como condição de
elegibilidade, um número determinado de anos de residência no Estado por onde o
candidato deseja ser eleito.
A questão da Escravidão
Se hoje em dia, o voto é universal, exercido por cerca de 140 milhões de
cidadãos, não podemos esquecer que durante o Império (até 1888, com a
Abolição da Escravatura) uma imensa parcela da população brasileira estava
alijada do processo eleitoral: os escravos.
E, sem dúvida, o Parlamento Imperial foi palco de inúmeros debates entre os
abolicionistas e os defensores do sistema escravocrata.
Curiosidade
Você sabia que pela Constituição de 1946...
 Cada legislatura durava 4 anos?
 Os Deputados e senadores recebiam anualmente igual subsídio e ajuda de
custo. Esse subsídio era dividido em duas partes: uma fixa, que se pegava
no decurso do ano, e outra variável, correspondente ao comparecimento?
 O Deputado ou Senador investido na função de Ministro de Estado, inventor
federal ou secretário de Estado não perdia o respectivo mandato. Nesses
casos, convocava-se o respectivo suplente?
 Cada Território era representado por 1 Deputado?
(fim da caixa curiosidade)
Da Câmara dos Deputados e do Senado no Império
Da Câmara dos Deputados no Império
À Câmara Dos Deputados, eletiva e temporária, cabia a iniciativa privativa sobre
impostos, reforma da Constituição, discussão das propostas feitas pelo Poder
Executivo e escolha da nova Dinastia no caso de extinção da existente.
Além disso, cabia a ela apresentar acusação contra ministros e conselheiros de
Estado.
Do Senado no Império
Conforme a Constituição, cada província tinha tantos Senadores, todos vitalícios,
quantos fossem a metade de seus respectivos deputados.
Sobre essa questão da vitaliciedade senatorial, oportuno o seguinte comentário: “A
vitaliciedade do Senado foi sempre, desde 1831, objeto de ampla e permanente
contestação dos liberais, tendo permanecido, no entanto, como preceito
constitucional até a proclamação da República. ” (Constituições Brasileiras – 1824.
Volume I. Octaciano Nogueira). Se o número de Deputados da Província fosse
ímpar, o número de Senadores se restringiria à metade do número imediatamente
menor. Como exemplo, uma província que tivesse 11 Deputados, elegeria 5
Senadores.
A província que elegesse apena um Deputado tinha garantida a eleição de um
Senador, independentemente da regra acima.
As eleições eram feitas da mesma maneira que as eleições para Deputados, mas
em listas tríplices, com o Imperador escolhendo o terço na totalidade da lista.
Diferentemente de hoje em dia, em que cada Senador é eleito com 2 suplentes,
quando se vagava o cargo de Senador realizava-se nova eleição, isto é, não havia
a figura do Suplente de Senador.
Hoje

Curiosidade
Você já ouviu falar dos “Senadores por Direito”? Pois é, a Constituição de 1824
estabelecia que todos os Príncipes da Casa Imperial, ao completarem 25 anos,
eram considerados “Senadores por Direito”, ou seja, ganhavam um assento no
Senado.
(fim do quadro curiosidade)
Algumas atribuições exclusivas do Senado durante o Império:
 Conhecer dos delitos individuais cometidos pelos membros da Família
Imperial, Ministros de Estado, Conselheiros de Estado e Senadores, e dos
delitos dos Deputados durante o período da Legislatura.
 Convocar a Assembleia Geral no caso de morte do Imperador para a
eleição da Regência.
No Império, o Poder Legislativo exerceu – além da típica função legislativa – um
papel político fundamental, adaptando-se às especificidades de cada um de seus
períodos, seja durante o primeiro reinado, na fase da regência ou mesmo no
decorrer do longo reinado de Dom Pedro II.
Atenção: Nesse sentido, oportuno o comentário do historiador Boris Fausto, em sua
obra História do Brasil: “Afora a abolição da escravatura, uma das medidas mais
importantes do Império na década de 1880 foi a aprovação de uma reforma
eleitoral conhecida como Lei Saraiva, em janeiro de 1881. (...) A reforma eleitoral
estabeleceu o voto direto para as eleições legislativas, acabando assim com a
distinção restritiva entre votantes e eleitores. Todos, isto é, as pessoas em
condições de votar, eram agora eleitores. Manteve-se a exigência de um nível
mínimo de renda – o censo econômico – e introduziu-se claramente, a partir de
1882, o censo literário, isto é, daquele ano em diante só poderiam votar as
pessoas que soubessem ler e escrever. O direito de voto foi estendido aos não-
católicos, aos brasileiros naturalizados e aos libertos.”
Para refletir
O Parlamento no Império caracterizou-se, de forma geral, por ser composto por
representantes das elites sociais da época. A aristocracia rural, alguns membros da
burguesia ascendente, intelectuais e membros da nobreza, como exemplo. Embora
a vaga de Senador fosse obtida por meio do voto, o eleito passava pelo crivo
pessoal do Imperador. Além disso, o cargo de Senador era exercido de forma
vitalícia. Muito tempo se passou e vivemos em um período de democracia em que
os cargos legislativos são obtidos competitivamente por meio das eleições. Não
obstante, já tramitaram nas duas Casas do Congresso Nacional (encontram-se
arquivadas) Propostas de Emenda à Constituição (PECs) investindo os ex-
presidentes da República no cargo de Senador Vitalício, sem direito a voto. Tendo
em vista os comentários acima, reflita sobre a pertinência ou não dessas
propostas, levando em consideração os princípios democráticos que norteiam a
nossa sociedade.
(fim do quadro para refletir)

Unidade 2 – O Legislativo na República

O Parlamento à luz da Constituição de 1891


Com a Proclamação da República, o Brasil ganha, em 1891, uma nova
Constituição.
Já não fazia sentido a existência de um Poder Moderador, marca registrada da
nossa fase Imperial, sobreposto aos demais Poderes do Estado.
O sistema eleitoral sofre modificações substanciais, haja vista a lógica republicana
ter como fundamento a ideia de que o poder tem como legítimo titular o povo,
que, direta ou indiretamente, escolhe os seus representantes.
Coronelismo
Evidentemente, precisamos relativizar a perspectiva desse poder popular. As
primeiras décadas de nossa República caracterizaram-se pela concentração do
poder nas mãos de uma elite que comandava e orientava o voto da grande massa
da população brasileira. Foi o período do fenômeno do “coronelismo” e do “voto
de cabresto”.
O conceito de “coronelismo” foi construído pelo saudoso professor Victor Nunes
Leal: “...concebemos o coronelismo como resultado da superposição de formas
desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social
inadequada. (...) o coronelismo é sobretudo um compromisso, uma troca de
proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente
influência social dos chefes locais, notadamente, dos senhores de terras. ”
(Retirado da obra de Victor Nunes Leal: Coronelismo, Enxada e Voto – o Município
e o Regime Representativo no Brasil).
Congresso Nacional
Agrega-se, ainda, a questão de que o nosso colégio eleitoral era extremamente
reduzido (não votavam as mulheres e os analfabetos, por exemplo).
A Constituição de 1891 estabelecia que o Poder Legislativo fosse exercido pelo
Congresso Nacional, este composto de dois ramos: a Câmara dos Deputados e o
Senado Federal.
Foi com a República que se consagrou a expressão Congresso Nacional para
denominar a reunião conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
A mudança de regime político não alterou o formato bicameral de nosso
Parlamento. De fato, o princípio do bicameralismo é marca registrada de nossa
história política seja na fase Imperial, seja na Republicana.
O Congresso Nacional se reunia, independentemente de convocação, em 3 de
maio de cada ano, funcionando por 4 meses, podendo esse prazo prorrogado,
adiado ou haver convocação extraordinária, se necessário.
Uma peculiaridade interessante nessa questão é de que a faculdade de prorrogar
as sessões legislativas era algo facultado apenas ao próprio Parlamento,
diferentemente da fase Imperial, em que essa prerrogativa era exclusividade do
Poder Executivo.
Curiosidade
 Você sabia que no início da República: A legislatura durava três anos?
 Vagando cargo no congresso Nacional, por qualquer causa, inclusive
renúncia, o Governo do Estado determinava imediatamente que se
procedesse a nova eleição?
 As deliberações eram tomadas por maioria de votos, achando-se presente a
maioria absoluta de seus membros?
 Durante as sessões os Senadores e os Deputados recebiam o
mesmo subsídio pecuniário?
(fim do quadro curiosidade)

Condições de elegibilidade para o Congresso Nacional


 Estar na posse dos direitos de cidadão brasileiro e ser alistado como
eleitor.
 Para a Câmara, ser cidadão brasileiro há mais de 4 anos e para o
Senado Federal há mais de 6 anos.
 Para o Senado Federal era necessário ter mais de 35 anos de idade.
Da Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados era composta de representantes do povo eleitos pelos
Estados e pelo Distrito Federal, mediante o sufrágio direto, garantindo-se a
representação da minoria.
O número de Deputados era fixado por lei em proporção que não excedia de um
por 70 mil habitantes, não devendo esse número ser inferior a 4 por Estado.
Do Senado Federal
A Constituição de 1891 estabeleceu em 3 o número de Senadores por Estado e
pelo Distrito Federal, todos eleitos pelo mesmo processo da eleição dos
Deputados. O mandato dos Senadores eleitos durava 9 anos e a renovação do
Senado ocorria pelo terço trienalmente.
Naquela época, o Vice-Presidente da República ocupava o cargo de Presidente do
Senado. Entretanto, a ele só era dado o direito de voto de qualidade (desempate).
Algumas das atribuições privativas do Congresso Nacional segundo a
Constituição de 1891:
 Autorizar o Poder Executivo a contrair empréstimos e a fazer operações de
crédito.
 Orçar a receita, fixar a despesa federal anualmente e tomar as contas da
receita e despesa de cada exercício financeiro.
 Autorizar o governo a declarar guerra, se não tiver lugar ou malograr-se o
recurso do arbitramento, e a fazer a paz.
 Mudar a capital da União.
 Criar e suprimir empregos públicos federais, fixar-lhes as atribuições,
estipular- lhes os vencimentos.
Para refletir
A República, diferentemente da fase Imperial, tem como pressuposto básico a ideia
de “povo” ser o legítimo detentor do Poder do Estado. O voto torna-se cada vez mais
universal (as mulheres adquirem o direito ao voto com o Código Eleitoral de 1932) e
as eleições cada vez mais competitivas. O cargo de Senador deixou de ser vitalício e
os Deputados eram eleitos para uma Legislatura de 3 anos. Embora diversos
avanços tenham ocorrido, a lógica do clientelismo, das trocas de favores, da
corrupção eleitoral, do empreguismo e do nepotismo marcou profundamente a fase
conhecida como “República Velha” (1889-1930). Na atualidade, as instituições
públicas – em especial, as Casas Legislativas do Congresso Nacional – cada vez
mais combatem o fenômeno do Nepotismo. Tendo em vista os comentários acima,
reflita sobre os avanços que ocorreram no combate aos desmandos e distorções
existentes na apropriação indevida dos cargos, bens e recursos públicos.
(fim da caixa para refletir)
O Legislativo à luz da Constituição de 1934

Com a Revolução de 1930 e o fim da República Velha, chega ao Poder Getúlio


Vargas, representante de novos atores políticos. A estrutura legal herdada da
República Velha já não mais correspondia aos anseios do povo e, principalmente,
das novas elites políticas.
Esse período da história parlamentar brasileira restringe o papel exercido pela
Casa Alta – O Senado Federal – ao determinar, conforme a CF/1934, que o Poder
Legislativo fosse exercido pela Câmara dos Deputados com a colaboração do
Senado Federal.
A Lei Maior previa, ainda, que a Câmara dos Deputados fosse composta de
representantes do povo, eleitos mediante o sistema proporcional e sufrágio
universal, igual e direto, e de representantes eleitos pelas organizações
profissionais na forma que a lei indicasse.
Representação Classista
De fato, essa é a grande novidade em nosso Legislativo: a existência da
representação classista, isto é, indivíduos eleitos por sindicatos de empregados e
de empregadores.
O número total de Deputados era calculado da seguinte maneira: o de deputados
representantes do povo era calculado proporcionalmente à população de cada
Estado e do Distrito Federal, não podendo exceder de um por 150 mil habitantes
até o máximo de vinte, e deste limite para cima, de um por 250 mil habitantes. Os
representantes das profissões, em total equivalente a um quinto da representação
popular.
Frisa-se que os Deputados representantes das profissões eram eleitos, na
forma de lei ordinária, por sufrágio indireto de associações profissionais que
representassem as seguintes divisões: 1 – lavoura e pecuária; 2 – indústria; 3 –
comércio e transportes; e 4 – profissões liberais e funcionários públicos.
Essa representação profissional deveria garantir a representação igual, para as
três primeiras categorias, de empregados e de empregadores.
Condições de elegibilidade
Eram elegíveis para a Câmara dos Deputados os brasileiros natos, alistados
eleitores e maiores de 25 anos, sendo que os representantes das profissões
deveriam, ainda, pertencer a uma associação compreendida na classe e grupo que
os elegessem.
Curiosidade: Você sabia que ...
 A legislatura durava 4 anos?
 A Câmara dos Deputados reunia-se, anualmente, no sia 3 de maio?
 A Câmara dos Deputados funcionava durante 6 meses, podendo ser
convocada extraordinariamente por iniciativa de um terço dos seus
membros, pela Seção Permanente do Senado Federal ou pelo Presidente
da República? Era extensiva aos suplentes de Deputados a imunidade
prevista aos titulares dos cargos que não podiam ser processados
criminalmente, nem presos, sem licença da Câmara dos Deputados, salvo
no caso de flagrância em crime inafiançável?
 Os territórios elegiam 2 Deputados?
 Os deputados recebiam uma ajuda de custo por sessão legislativa e durante
a mesma percebiam um subsídio pecuniário mensal?
(fim do quadro curiosidade)
Atribuições privativas do Poder Legislativo
 Votar anualmente o orçamento da receita e da despesa.
 Criar e extinguir empregos públicos federais, fixar-lhes e alterar-lhes os
vencimentos sempre.
 Por lei especial.
 Legislar sobre todas as matérias de competência da União.
Extensão do direito do voto às mulheres

Com o Código Eleitoral de 1932, as mulheres brasileiras obtiveram o direito ao


voto. A inclusão dessa grande parcela da população representou a eliminação dos
obstáculos existentes à universalização do voto. A grande barreira que
persistiu foi a proibição do voto aos analfabetos, que conquistaram esse direito
com a Constituição de 1988.
O direito ao voto feminino em alguns países do mundo:
 Estados Unidos (1920);
 Grã-Bretanha (1928);
 Portugal (1931);
 França (1945); e
 Suíça (1971).
Para refletir
Conforme estudado, a Constituição de 1934 previa a representação classista, isto
é, representantes eleitos pelas organizações profissionais. A Constituição de 1934
estabelecia que os Deputados das profissões seriam eleitos na forma da lei
ordinária, por sufrágio Indireto das associações profissionais. Esse tipo de
representação foi previsto pelo Código Eleitoral de 1932 e chegou a ser implantado
na Assembleia Constituinte de 1933/1934, que contou com 214 deputados
populares e 40 deputados representantes das associações profissionais.
Atualmente, o nosso Legislativo Nacional não comporta esse tipo de
representação. Todos os 594 cargos (513 cargos de Deputado Federal+ 81 cargos
de Senador da República) são disputados, de forma competitiva, pelos candidatos
apresentados pelos partidos políticos. Tendo em vista as informações acima, reflita
sobre a pertinência ou não de se estabelecer, hoje em dia, algum tipo de
representatividade parlamentar baseada em determinados crivos sociais, como
exemplo: classes profissionais (nos moldes estabelecidos na década de 1930) ou
qualquer outro grupo de relevância política (representantes de Igrejas, de minorias
sociais, do segmento negro, de pessoas com deficiência física etc.).
(fim do quadro para refletir)
O Poder Legislativo à luz da Constituição de 1937
Em 1937, Getúlio Vargas rompe com os princípios democráticos e instaura o
período conhecido na história como Estado Novo.
A Constituição de 1937 estabelecia, em seu art. 38, que o Poder Legislativo
seria exercido pelo Parlamento Nacional com a colaboração do Conselho da
Economia Nacional e do Presidente da República. O Parlamento Nacional
colaboraria com pareceres nas matérias da sua competência consultiva, e o
Presidente da República colaboraria com a iniciativa e sanção dos projetos de
lei e promulgação dos decretos-leis autorizados pela própria Constituição.
Parlamento Nacional
Por sua vez, o Parlamento Nacional seria composto por duas câmaras: a
Câmara dos Deputados e o Conselho Federal.
Anualmente, o Parlamento Nacional se reuniria na Capital Federal na data de 3
de maio e funcionaria por 4 meses. Qualquer prorrogação, adiamento ou
convocação extraordinária somente se daria por iniciativa do Presidente da
República. Cada Legislatura duraria 4 anos.
De fato, infelizmente, esse período de nossa história parlamentar, na prática,
transferiu todo o Poder Legislativo ao então Presidente da República, Getúlio
Vargas, que o exercia por meio de Decretos-Lei.
Mas os mais jovens poderiam pensar que essa “história” de Decreto-Lei é algo
do passado, da década de 1930, algo que não nos afeta mais, não é?
Não é assim, e a sobrevivência de legislações antigas confirma isso.
Vivemos em um “mundo jurídico” em que algumas imposições legais (isto é,
leis que não foram devidamente elaboradas, debatidas e votadas pelo órgão
mais democrático de uma sociedade moderna: o Legislativo) são frutos de uma
vontade não democrática. Exemplo:
Código Penal: Decreto-Lei nº 2.848/1940.
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT: Decreto-Lei nº. 5.452/1943.
Preenchimento de vagas no Parlamento
As vagas que surgissem seriam preenchidas por eleição suplementar (no caso
da Câmara dos Deputados) e por eleição ou nomeação, conforme o caso (em
se tratando do Conselho Federal).
A Constituição de 1937 previa, ainda, que em caso de manifestação contrária à
existência ou independência da Nação ou incitamento à subversão violenta da
ordem pública ou social, poderia qualquer das duas Casas, por maioria de
votos, declarar vago o lugar do Deputado ou membro do Conselho Federal,
autor da manifestação ou incitamento.
Da Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados seria composta de representantes do povo, eleitos
mediante sufrágio indireto. Os eleitores eram os vereadores das Câmaras
Municipais, e, em cada município, 10 cidadãos eleitos por sufrágio direto no
mesmo ato da eleição da Câmara Municipal.
Essa Constituição estabelecia, ainda, que o número de Deputados por Estado
deveria ser proporcional à população e fixado por lei, não podendo ser superior
a 10 nem inferior a 3 por Estado.
Do Conselho Federal
O Conselho Federal era composto de representantes, com mandatos de 6
anos, dos Estados e de 10 membros nomeados pelo Presidente da República.
Cada Estado elegeria seu representante por meio de sua Assembleia
Legislativa. Entretanto, o Governador do Estado poderia vetar o nome escolhido
e, neste caso, só seria definitivamente eleito se confirmada sua eleição por dois
terços de votos da totalidade dos membros da Assembleia.
Para ser eleito representante dos Estados era necessário ser brasileiro nato
maior de 35 anos, alistado eleitor e que houvesse exercido, por espaço nunca
menor de 4 anos, cargo de governo na União ou nos Estados.
Frisa-se, ainda, que o Conselho Federal era presidido por um Ministro de
Estado, designado pelo Presidente da República.
Iniciativa das Leis
A Constituição de 1937 previa em seu art. 64 que a iniciativa dos projetos de lei
cabia, em princípio, ao Governo. Além disso, em todo caso, não seriam
admitidos como objeto de deliberação projetos ou emendas de iniciativa de
qualquer das Câmaras que versassem sobre matéria tributária ou que
resultassem aumento de despesa.
Ademais, a nenhum membro de qualquer das Câmaras caberia a iniciativa de
projetos de lei. Essa iniciativa só poderia ser tomada por um terço de
Deputados ou de membros do Conselho Federal.
Qualquer projeto iniciado em uma das Câmaras teria suspenso o seu
andamento se o Governo comunicasse o seu propósito de apresentar projeto
que regulasse o mesmo assunto.
Curiosidade Você sabia que...
 Embora a Constituição de 1937 seja reflexo de um período ditatorial, ela
foi a que, até então, mais vislumbrou as práticas plebiscitárias. As
Constituições de 1824, 1891 e 1934, em seus textos, não se referiam
momento ao instrumento do plebiscito, tipicamente presente nos países
democráticos?
 Francisco Campos, jurista e político nomeado Ministro da Justiça, foi o
elaborador intelectual da Carta de 1937?
 Todos os partidos políticos foram dissolvidos, de acordo com o Decreto-
lei n° 37, de 2 de dezembro de 1932, e os trabalhos legislativos foram
suspensos de 10 de novembro de 1937 a 31 de janeiro de 1946?
(fim do quadro curiosidade)
Para refletir
O Estado Novo representou uma ruptura com os conceitos básicos que definem
uma sociedade democrática. O Legislativo, enquanto espelho e síntese da
sociedade, perdeu sua autonomia e representatividade. Entretanto, a principal
legislação trabalhista (que muitos criticam hoje em dia), a CLT, remonta àquela
época. Tendo em vista as informações acima, reflita sobre os “ganhos e
perdas”, para nós cidadãos, da existência de uma estrutura estatal que impõe,
no caso em específico, a forma de se organizar o mundo do trabalho.
(fim do quadro para refletir)
O Poder Legislativo à luz da Constituição de 1946
Com a queda de Getúlio Vargas e o processo de redemocratização do país,
torna-se necessária a elaboração de uma Constituição que refletisse esse novo
período: cria-se, assim, a Constituição de 1946.
Essa Constituição devolveu as prerrogativas inerentes ao Poder Legislativo, ao
estabelecer, em seu artigo 37, que esse Poder fosse exercido pelo Congresso
Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal.
Sobre essa Constituição, o historiador Boris Fausto, na obra História do Brasil,
comenta que:
“No capítulo referente à cidadania, o direito e a obrigação de votar foram
conferidos aos brasileiros alfabetizados, maiores de dezoito anos, de ambos os
sexos. Completou-se assim, no plano dos direitos políticos, a igualdade entre
homens e mulheres. A Constituição de 1934 determinava a obrigatoriedade do
voto apenas para as mulheres que exercessem função pública remunerada. ”
Decoro Parlamentar
Em relação ao Poder Legislativo, frisa-se que até então as constituições
brasileiras não previam a punição dos parlamentares indisciplinados ou de
procedimento incompatível com as suas funções. A Constituição de 1946
previa que perderia o mandato, por 2/3 dos votos, o Deputado ou Senador cujo
procedimento fosse reputado incompatível com o decoro parlamentar.
Aliomar Baleeiro e Barbosa Lima Sobrinho apontam, na obra Constituições
Brasileiras
– 1946, que já na primeira Legislatura desse período de redemocratização esse
comando constitucional foi aplicado:
“Essa pena extrema foi aplicada, logo na primeira legislatura, ao Deputado E.
Barreto Pinto, que permitia a jornais e revistas fotografá-lo de casaca e cuecas
com uma garrafa de champanhe sob o chuveiro, além de criar repetidos
incidentes no curso dos debates. ”
Para você se aprofundar nas relações entre participação e representação
políticas, especificamente considerando os aspectos éticos, sugerimos a leitura
do texto 'Para um modelo das relações entre eticidade universalista e
sociedade política democrática no Brasil', do Professor Eurico Gonzales
Cursino dos Santos, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos
complementares'.
Condições de elegibilidade para o Congresso Nacional
 Ser brasileiro.
 Estar no exercício dos direitos políticos.
 Ser maior de 21 anos (para a Câmara dos Deputados).
 Ser maior de 35 anos (para o Senado Federal).
Inicia-se uma nova fase para o Parlamento, com o Congresso Nacional
reunindo-se por um período maior de tempo no decorrer do ano: de 15 de
março até 15 de dezembro de cada ano.
Nessa fase surgem os primeiros partidos políticos nacionais, com programas
ideológicos definidos que expressavam as diversas correntes de opinião
existentes naquela época. Embora no período 1945/1964 tenha existido mais
de uma dúzia de partidos políticos, 3 deles dominaram o cenário político: o
Partido Social Democrático (PSD), a União Democrática Nacional (UDN) e o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Sobre esse período, o cientista político Gláucio Ary Dillon Soares, em sua
paradigmática obra Sociedade e Política no Brasil, expõe que: “A evolução do
sistema político baseado na extensão da cidadania pode ser aquilatada a
partir do crescimento da própria participação eleitoral. Esta evolução
apresentou um grande salto quantitativo do período 1910 (quando tivemos a
primeira eleição presidencial competitiva) para as eleições de 33-34 quando,
pela primeira vez, a relação votantes/população supera os 5% e outro grande
salto em 1945, quando votam mais de 6 milhões de eleitores, um
aumento de 400% sobre 1933-1934. ”
Curiosidade
Você sabia que:
 Pela Constituição de 1946... cada legislatura durava 4 anos?
 Os Deputados e senadores recebiam anualmente igual subsídio e ajuda
de custo. Esse subsídio era dividido em duas partes: uma fixa, que se
pegava no decurso do ano, e outra variável, correspondente ao
comparecimento?
 O Deputado ou Senador investido na função de Ministro de Estado,
inventor federal ou secretário de Estado não perdia o respectivo
mandato. Nesses casos, convocava-se o respectivo suplente?
 Cada Território era representado por 1 Deputado?
(fim do quadro curiosidade)
Poder Legislativo
A CF/1946 determinava, em seu art. 37, que o Poder Legislativo fosse exercido
pelo Congresso Nacional, composto da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal.
Câmara dos Deputados
Era composta de representantes do povo eleitos segundo o sistema de
representação proporcional pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Territórios.
O número de Deputados seria fixado por lei, em proporção que não excedesse
um para cada 150 mil habitantes até 20 Deputados, e, além desse limite, um
para cada 250 mil habitantes.
O número mínimo de Deputados por Estado e pelo Distrito Federal era de 7
parlamentares.
Senado Federal
O Senado Federal era composto de representantes dos Estados e do Distrito
Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
Cada Estado e o Distrito Federal elegiam 3 Senadores para mandato de
8 anos. A representação de cada Estado e a do Distrito Federal renovar-se-ia
de 4 em 4 anos, alternadamente, por um e por dois terços. O Senador seria
substituído ou sucedido pelo suplente com ele eleito.
O Vice-Presidente da República exercia a função de Presidente do Senado
Federal, onde só teria voto de qualidade.
Iniciativa das Leis
O artigo 67 da Constituição de 1946 estabelecia que a iniciativa das leis,
ressalvados os casos de competência exclusiva, caberia ao Presidente da
República e a qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal.
Para refletir
Entre 1945 e 1962 o colégio eleitoral brasileiro foi acrescido em mais de 10
milhões de novos eleitores. O Legislativo Nacional foi palco de calorosos
debates promovidos pelos representantes de diversos partidos políticos. Não
obstante, o requisito da alfabetização deixou de fora do processo eleitoral a
maioria da população adulta brasileira. Tendo em vista os comentários acima,
reflita sobre os avanços e limitações relativos à democracia existente entre
1945-1964.
(fim do quadro para refletir)
O Poder Legislativo à luz da Constituição de 1967
Com o Golpe militar de 1964, tivemos um refluxo em nossa história
democrática. Nesse período de exceção, os militares outorgam ao povo
brasileiro a Constituição de 1967, feita sem a aprovação de uma assembleia
constituinte. Essa Constituição foi substancialmente modificada em 1969 por
meio de um decreto-lei baixado pela junta militar que governou durante o
impedimento, por motivo de saúde, do então presidente General Costa e Silva.
Reuniões e Condições de elegibilidade
CF/67 determinava que o Poder Legislativo fosse exercido pelo Congresso
Nacional, composto da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
As reuniões do Congresso Nacional eram marcadas para ocorrerem,
anualmente, na Capital da União, de 1º de março a 30 de junho e de 1º agosto
a 30 de novembro. No caso das reuniões extraordinárias, a convocação poderia
ser feita por um terço dos membros de qualquer de suas Câmaras ou pelo
Presidente da República.
Condições de elegibilidade:
 Ser brasileiro nato.
 Estar no exercício dos direitos políticos.
 Ser maior de 21 anos para a Câmara dos Deputados e 35 anos para o
Senado.
Reunião Conjunta
A CF/1964 previa que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal se
reunissem em sessão conjunta para:
 inaugurar a sessão legislativa;
 elaborar o Regimento Comum;
 receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
 deliberar sobre veto;
 atender aos demais casos previstos naquela Constituição.
O art. 33 da CF/64 estabelecia que, salvo disposição constitucional em
contrário, as deliberações de cada Câmara serão tomadas por maioria de
votos, presente a maioria de seus membros.
Da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
Da Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados era composta por representantes do povo, eleitos por
voto direto e secreto, em cada Estado e Território.
 Cabia privativamente à Câmara dos Deputados declarar, por 2/3 dos
seus membros, a procedência de acusação contra o Presidente da
República e os Ministros de Estado.
Do Senado Federal
O Senado Federal era composto de representantes dos Estados, eleitos pelo
voto direto e secreto, segundo o princípio majoritário. Cada Estado elegia 3
Senadores, com mandato de 8 anos, renovando-se a representação de 4 em 4
anos, alternadamente, por um e por dois terços. Competia privativamente ao
Senado Federal julgar o Presidente da República e os Ministros de Estado,
havendo conexão, nos crimes de responsabilidade.
Curiosidade
Você sabia que pela Constituição de 1967...
 Cada Legislatura durava 4 anos?
 O número de Deputados era fixado por lei, na proporção em que
excedesse de uma para cada 300 mil habitantes até o número de 25
Deputados, e, além desse limite, um para cada milhão de habitantes?
 Era de 7 o número mínimo de Deputados por Estado? Cada território
teria 1 deputado?
(fim do quadro curiosidade)
O Legislativo no âmbito da ditadura militar

Esse período da história nacional foi marcado pela existência de duas


agremiações políticas que atuavam no Parlamento: a Aliança Renovadora
Nacional (ARENA), de base governista, e o Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), que agrupava as correntes de oposição - diga-se de passagem, uma
“oposição consentida”.
Para refletir
A ditadura implantada em 1964 manteve o funcionamento do Congresso
Nacional. Embora o poder, de fato, estivesse nas mãos dos militares, este
regime quase nunca assumiu expressamente sua feição autoritária. Exceto
por pequenos períodos de tempo, o Parlamento continuou funcionando
"normalmente". No Congresso Nacional, 50 parlamentares tiveram o
mandato cassado. Entre as diversas estratégias impostas pelo regime
militar para garantir a formação de uma base de apoio no legislativo,
ressalta-se a criação da figura do "senador biônico", eleito de forma indireta
por um colégio eleitoral. O processo de redemocratização de nosso país foi
feito lenta e gradualmente, culminando com as eleições diretas para
Presidente da República em 1989, onde 72 milhões de brasileiros foram às
urnas. Entretanto, embora os direitos políticos e civis tenham sido
reestabelecidos, grande parcela da população ainda se encontra excluída
das benesses da sociedade moderna (são os "sem terra", "sem teto", "sem
emprego", "sem escola" etc.). Tendo em vista os comentários acima,
reflita sobre o papel do Parlamento, hoje em dia, na redução das
desigualdades sociais que ainda assolam o nosso Brasil.
(fim do quadro para refletir)
Responda os Exercícios de Fixação do Módulo II na plataforma SABERES.

Módulo III – O Legislativo hoje em dia Unidade 1 – O


Congresso Nacional

A Constituição de 1988, popularmente conhecida como “Constituição Cidadã”


em razão dos diversos direitos de cidadania nela incorporados, estabeleceu,
em seu art. 2º, que os Poderes da união, independentes e harmônicos entre si,
são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Três níveis de Poder
O Legislativo, objeto deste nosso curso, encontra-se presente nos três níveis de
Poder existentes no Brasil: federal (Câmara dos Deputados e Senado Federal),
estadual (nos Estados, as Assembleias Legislativas, e, no Distrito Federal, a
Câmara Legislativa do Distrito Federal) e municipal (as Câmaras de
Vereadores).
Como já salientado anteriormente, este nosso estudo restringe-se ao Poder
Legislativo no âmbito federal, que é exercido pelo Congresso Nacional,
composto pela Câmara dos Deputados e Senado Federal (art. 44 da CF/88).
Funcionamento do Congresso Nacional
O Congresso Nacional reúne-se, anualmente, na Capital Federal, de 2 de
fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.
Quando as datas acima recaírem nos sábados, domingos ou feriados, as
reuniões são transferidas para o primeiro dia útil subsequente.
Além disso, a sessão legislativa não será interrompida, em 17 de julho, caso
não se aprove o projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
Além de outros casos previstos na Constituição Federal, a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal reúnem-se em sessão conjunta para:
 inaugurar a sessão legislativa;
 elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às
duas Casas;
 receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
 conhecer do veto e sobre ele deliberar;
 discutir e votar o orçamento;
 delegar ao Presidente da República poderes para legislar;
 promulgar emendas à Constituição.
Caso você, estudante, tenha interesse em se aprofundar na temática sobre as
relações entre representação política e participação popular, sugerimos a leitura
do artigo 'Representação e participação no Parlamento' do Professor Fernando
Sabóia Vieira, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos
complementares'.
Como se compõe a Mesa do Congresso Nacional?
A Constituição determina que a Mesa do Congresso Nacional seja presidida
pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos exercidos,
alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal.
Complicado? Não é!
Para compreendermos a composição da Mesa do Congresso Nacional,
precisamos vislumbrar a composição das Mesas Diretoras das duas Casas
Legislativas, a saber:
 Mesa do Senado Federal
 Mesa da Câmara dos Deputados
 Mesa do Congresso Nacional
 Presidente
 Presidente
 Presidente (do Senado)
 1º Vice-Presidente
 1º Vice-Presidente
 1º Vice-Presidente (da Câmara)
 2º Vice-Presidente
 2º Vice-Presidente
 2º Vice-Presidente (do Senado)
 1º Secretário
 1º Secretário
 1º Secretário (da Câmara)
 2º Secretário
 2º Secretário
 2º Secretário (do Senado)
 3º Secretário
 3º Secretário
 3º Secretário (da Câmara)
 4º Secretário
 4º Secretário
 4º Secretário (do Senado)
Convocação
Todos já devem ter visto na televisão ou lido nos jornais que “o Congresso
Nacional foi convocado extraordinariamente” para aprovar essa ou aquela
matéria, não é?
Mas quem convoca? E em quais casos? Quais os assuntos que são objetos de
deliberação?
O Presidente do Senado Federal convoca extraordinariamente o Congresso
Nacional nos seguintes casos: decretação de estado de defesa ou de
intervenção federal; pedido de autorização para a decretação de estado de
sítio; compromisso e posse do Presidente e Vice-Presidente da República.
O Presidente da República, os Presidentes da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal e a maioria dos membros de ambas as Casas, por meio de
requerimento, convocam extraordinariamente o Congresso Nacional nos
seguintes casos: de urgência ou interesse público relevante (em todas as
hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das
Casas do Congresso Nacional).
Nessas convocações extraordinárias, o Congresso Nacional somente delibera
sobre a matéria para a qual foi convocado, e havendo medidas provisórias em
vigor na data da convocação extraordinária, serão elas automaticamente
incluídas em sua pauta.
Curiosidade
Você sabia que segundo a Constituição atual...
 A legislatura dura 4 anos?
 O quórum necessário para as deliberações de cada Casa e de suas
respectivas comissões é o da maioria dos votos, presente a maioria
absoluta seus membros?
 Cada território elege 4 deputados?
 O mandato de senador da República dura 8 anos?
(fim do quadro curiosidade)
Quais são as atribuições do Congresso Nacional?
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 48, estabeleceu que compete ao
Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, dispor sobre
todas as matérias de competência da União.
Outras matérias, conforme previsto no art. 49 da Constituição, são de
competência exclusiva do Congresso Nacional, isto é, após aprovadas não irão
se submeter ao veto ou sanção presidencial – por exemplo: autorizar o
Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam
temporariamente (ressalvados os casos previstos em lei complementar); sustar
os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
ou dos limites de delegação legislativa; mudar temporariamente sua sede;
escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União; autorizar
referendo e convocar plebiscito, e outras matérias assemelhadas.
O Legislativo e sua função fiscalizatória
A Câmara dos Deputados, o Senado Federal e suas respectivas Comissões
podem convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos
diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem,
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado. A
ausência, sem justificativa adequada, importa crime de responsabilidade.
Além disso, as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal podem
encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a
qualquer das autoridades citadas anteriormente, importando em crime de
responsabilidade a recusa, ou o não atendimento no prazo de 30 dias, bem
como a prestação de informações falsas.
Função Fiscalizadora
Embora a elaboração de leis seja uma função fundamental de qualquer
parlamento, ela não é a única atribuição dos modernos legislativos. Outra tão
importante quanto a de elaborar as leis é a função fiscalizadora exercida pelo
Legislativo.
As Casas legislativas do Congresso Nacional – Câmara dos Deputados e
Senado Federal – contam com instrumentos, previstos tanto na Constituição
Federal como nos respectivos regimentos internos, que permitem aos
parlamentares ou às comissões exercerem a fiscalização dos atos do Poder
Executivo.
Entre esses instrumentos, destacam-se:
 as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPIs;
 os Requerimentos de Informações, que podem ser solicitados a todo e
qualquer titular de órgão diretamente subordinado à Presidência da
República, entre os quais os Ministros de Estado;
 os Requerimentos de Convocação de Ministros de Estado e de titulares
de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República.

Unidade 2 – O Senado Federal

O Senado Federal é composto, conforme o art. 46 da CF/88, de representantes


dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.
Cada Estado e o Distrito Federal elegem 3 Senadores, cada um com dois
suplentes, com mandato de 8 anos.
A representação de cada Estado e do Distrito Federal é renovada de quatro em
quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.
Frisa-se, então, que o mandato dos Senadores da República corresponde ao
período de 2 Legislaturas (cada Legislatura dura 4 anos).
Parece complicado, não é?
Vamos, então, descomplicar as informações acima!
Eleições para o Senado Federal
O Brasil, atualmente, é formado por 27 unidades federativas (26 Estados e o
Distrito Federal). Em cada uma delas há, de quatro em quatro anos, eleições
para o Senado Federal.
Temos então: 27 unidades federativas x 3 Senadores = 81 Senadores (o total
de Senadores que compõe o Senado Federal).
Entretanto, esses 3 Senadores não são eleitos de uma vez só! Em uma eleição
são eleitos 2 Senadores e na eleição seguinte apenas 1 Senador, e assim
sucessivamente.
Como exemplo, observe o número de Senadores eleitos nas últimas eleições
em cada Estado e no Distrito Federal:

Matérias de competência privativa do Senado Federal


Alguns assuntos de grande importância para o Brasil são discutidos e votados
apenas no âmbito do Senado Federal, ou seja, não são nem objeto de votação
na Câmara dos Deputados, nem sofrem a sanção ou o veto presidencial.
Mas quais são essas matérias de competência privativa do Senado Federal?
São várias. Como exemplo, cabe privativamente ao Senado Federal processar
e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade.
Além disso, o Senado Federal também processa e julga os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o
Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade.
As competências privativas do Senado Federal não se restringem a processar e
julgar ilustres autoridades públicas. Cabe a essa Casa Legislativa também
aprovar previamente, por voto secreto (após arguição pública), a escolha de
diversos ocupantes de importantes cargos públicos, como por exemplo os
Ministros do Tribunal de Contas da União que sejam indicados pelo Presidente
da República.
A Câmara dos Deputados
A Câmara dos Deputados, conforme o art. 45 da CF/88, é composta de
representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado,
em cada Território e no Distrito Federal.
O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo
Distrito Federal, é estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às
eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos
de 8 ou mais de 70 Deputados.
Sabemos que, atualmente, não existem territórios em nosso País. Não
obstante, caso futuramente se crie algum Território, a própria Constituição
Federal já determina que ele seja representado por 4 parlamentares na Câmara
dos Deputados.
Assim como há assuntos de competência privativa do Senado Federal, há
também determinadas matérias que são deliberadas e votadas privativamente
pela Câmara dos Deputados.
É a Câmara dos Deputados que autoriza, por 2/3 de seus membros, a
instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República.
Além disso, caso o Presidente da República não preste contas ao Congresso
Nacional dentro do prazo de 60 dias após a abertura da sessão legislativa, cabe
privativamente à Câmara dos Deputados proceder a essa tomada de contas.
Curiosidade: Você sabia que...
 Os Deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos?
 Desde a expedição do diploma, os Deputados e Senadores são
submetidos a julgamento somente perante o Supremo Tribunal federal?
 Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
podem ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável (neste caso,
os autos são remetidos, dentro de 24 horas, à respectiva Casa, para
que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão)?
 Os Deputados e Senadores não são obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato,
nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
informações?
 As imunidades de Deputados ou Senadores subsistem durante período
de estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois
terços dos membros da respectiva Casa, nos casos de atos praticados
fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a
execução da medida?
(fim do quadro curiosidade)
Para compreender os desafios enfrentados pela atual conjuntura político-
partidária brasileira, sugerimos o texto 'Reforma política: desenho de um
debate', do Professor Caetano Araújo, disponível na Biblioteca deste curso, em
'Textos complementares'.
Responda os Exercícios de Fixação do Módulo III na plataforma SABERES.

Módulo IV – O Legislativo e suas relações institucionais


Unidade 1 – O Congresso Nacional e o Governo Federal

No Brasil, o Poder Executivo é exercido, na esfera federal, pelo Presidente da


República, que governa com o auxílio dos Ministros de Estado.
Entre as diversas atribuições desse Poder, destacamos o fundamental papel
que ele exerce na formulação e confecção das políticas orçamentárias (o Plano
Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, o orçamento anual e os créditos
adicionais).
Para compreender melhor as coalizões governativas, sugerimos o texto 'Notas
sobre coalizões políticas e democracia: diz-me com quem andas...', de Fátima
Anastasia e Magna Inácio, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos
complementares'.
Competência exclusiva do Presidente da República
Além da prerrogativa de apresentar os projetos de lei relativos ao orçamento, o
Presidente da República detém competência exclusiva para iniciar o processo
legislativo em diversos outros assuntos, como por exemplo nos projetos que
tratam:
 da fixação ou modificação dos efetivos das Forças Armadas;
 da criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração
direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;
 da organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos
Territórios;
 dos servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
 da organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União,
bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da
Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Além disso, cabe ao Poder Executivo vetar no todo ou em parte os projetos
aprovados pelo Poder Legislativo.
O Congresso Nacional e a sociedade civil
O Congresso Nacional é uma Casa viva, pulsante e extremamente
diversificada.
A frase acima surpreende muita gente que acredita que o Parlamento seja um
espaço público dissociado da realidade social. Muitos, erroneamente, imaginam
um Parlamento descolado das questões sociais, dos conflitos, dos dilemas e
dos problemas que ocupam as capas de jornais e as discussões entre
familiares e amigos.
Na verdade, o Parlamento é o lugar por excelência do convívio, nem sempre
harmônico, entre, de um lado, os representantes eleitos, e de outro, os
eleitores, as organizações da sociedade civil, os partidos políticos, as
associações e demais organizações que diariamente ocupam o espaço do
Congresso Nacional trazendo suas demandas, apresentando suas
necessidades e expondo suas ideias sobre todo e qualquer assunto da agenda
política e social.
Convívio
Na verdade, o Parlamento é o lugar por excelência do convívio, nem sempre
harmônico, entre, de um lado, os representantes eleitos, e de outro, os
eleitores, as organizações da sociedade civil, os partidos políticos, as
associações e demais organizações que diariamente ocupam o espaço do
Congresso Nacional trazendo suas demandas, apresentando suas
necessidades e expondo suas ideias sobre todo e qualquer assunto da agenda
política e social.
De fato, a nossa democracia só será plena e ampla se garantirmos a atuação
livre, autônoma e plural da sociedade civil organizada.
Crise
Se observarmos durante alguns dias a movimentação existente nas diversas
comissões temáticas de qualquer uma das Casas do Congresso Nacional, ou
mesmo nos próprios Gabinetes Parlamentares, perceberemos nitidamente que
o Parlamento se constrói e se reorganiza substancialmente em torno de
diversas demandas que esses atores sociais lançam diariamente na agenda
política de nosso País.
Alguns estudos acadêmicos ressaltam que vivemos em um período de crise da
representação política, crise de legitimidade das instituições representativas e,
consequentemente, do próprio significado do Parlamento.
De fato, infelizmente, um número significativo de cidadãos apenas cumpre, de
quatro em quatro anos, o papel obrigatório do voto, esquecendo-se de
acompanhar o desempenho de seu parlamentar e de cobrar dele as ações e
atitudes para as quais foi eleito.
A realidade
Como consequência, a imagem que se tem de alguns políticos – no caso, de
alguns parlamentares – é de que eles se “preocupam” com os eleitores, com a
população de seu Estado, região ou até mesmo sua cidade, apenas nos
períodos eleitorais, momento em que são postos à prova novamente.
Entretanto, essa é uma leitura superficial da realidade. O Congresso Nacional –
e suas Casas, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados – é um espaço
público de intenso trabalho, onde centenas, ou milhares, de pessoas,
sindicatos, associações, Organizações Não Governamentais (ONGs),
entidades de trabalhadores e de empregadores, apresentam, diariamente, suas
demandas, seus anseios e seus interesses.
E essas demandas são, sim, ouvidas, absorvidas e respondidas! Quer ver um
exemplo atual e de grande repercussão na sociedade?
Ficha Limpa e Lei Maria da Penha
A Lei Complementar nº 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) é exemplar. Ela surgiu
da iniciativa da sociedade civil a partir da coleta de mais de 1 milhão de
assinaturas em seu favor.
Outro exemplo paradigmático da atuação da sociedade civil – e logo, da
realidade social – na atuação parlamentar pode ser vista com a aprovação da
Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
O projeto inicial foi elaborado por um grupo interministerial, a partir da demanda
de organizações que formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que o
encaminhou à análise do Congresso Nacional.
No Parlamento, essa proposta foi transformada em Projeto de Lei, sendo
debatida em diversas audiências públicas com a presença de inúmeras
entidades da sociedade civil.
Em 7 de agosto de 2006, essa Lei, que previa mecanismos para coibir a
violência no âmbito das relações familiares, foi sancionada pelo Presidente da
República.
Código Florestal
Outro exemplo clássico da participação da sociedade civil temos com a
discussão atual do novo Código Florestal, em tramitação no Congresso desde
1999, que, embora seja uma iniciativa tecnicamente parlamentar, envolve
profundamente diversos segmentos da sociedade civil organizada, que
defendem ou não a sua aprovação.
O importante, com esses poucos exemplos, é constatarmos que todo e
qualquer assunto debatido no âmbito do Legislativo nacional não passa
despercebido. Esses temas agregaram ao seu redor uma parcela significativa
de nosso povo.
Democracia
O nome disso é democracia. O Legislativo, enquanto instituição fundamental
nas atuais democracias modernas, é, críticas à parte, uma instituição
fundamental para a nossa sociedade.
Precisamos, sem dúvida, melhorá-lo a cada dia. Como tudo na vida, seja nossa
casa, nossas relações com os vizinhos, amigos, colegas de trabalho, seja com
a forma de lidarmos e respeitarmos os bens e recursos públicos.
Talvez, tanto como aprimorarmos o Poder Legislativo – incluído aí o seu (e o
nosso) papel – precisamos, também, nos imbuir do papel de cidadão ativo, não
é?
E, nesse sentido, as Casas Legislativas do Congresso Nacional, hoje em dia,
possuem diversos canais de comunicação com os cidadãos de todas as partes
do país. Listamos, a seguir, algumas delas:
Na Câmara dos Deputados:
Conheça os Deputados Federais
Fiscalize o orçamento
Entre em contato com a Ouvidoria Parlamentar
Encaminhe sua proposta para a Comissão de Legislação Participativa
No Senado Federal:
Conheça os Senadores
Fiscalize o orçamento
Entre em contato com a Ouvidoria do Senado
Conheça o Portal da Transparência do Senado Federal
Responda os Exercícios de Fixação do Módulo IV na plataforma SABERES.
Avalie o curso na plataforma Saberes.
Realização:
Coordenação de Capacitação Treinamento e Ensino
Instituto Legislativo Brasileiro
Senado Federal

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