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O Parlamento de Portugal*

Jorge Miranda

Sumário
1. O regime constitucional português. 2. A
constituição actual. 3. O Parlamento ao longo
do constitucionalismo português. 4. As com-
petências do actual Parlamento. 5. O mandato
parlamantar e a organização da Assembléia da
República. 6. Os Deputados. 7. Os grupos parla-
mentares. 8. Parlamento, Deputados e partidos.

1. O regime constitucional
português
I – O Estado português remonta a 1140 e
vem como entidade independente em conti-
nuidade histórica nunca interrompida (mes-
mo quando houve entre 1580 e 1640 uma
união pessoal com a Coroa espanhola) até
aos nossos dias. Neste largo período
sucederam-se diferentes formas políticas,
desde a monarquia tradicional à república
democrática.
Na Idade Média, havia em Portugal, as-
sim como noutros países europeus, assem-
bleias estamentais, as Cortes (semelhantes
aos Parlamentos, aos Estados Gerais ou às
Dietas), e que integravam, a partir de 1254,
quer a nobreza e o clero quer procuradores
dos municípios. E os seus momentos áure-
Jorge Miranda é Professor das Faculdades os viriam a ser 1385 e 1640 (em que elege-
de Direito da Universidade de Lisboa e da Uni- ram e aclamaram, respectivamente, o pró-
versidade Católica Portuguesa. prio Rei). Com o absolutismo deixaram, po-
*Texto em português europeu. rém, de ser convocadas.
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Em 1820, com a primeira revolução li- nores do que aquilo que as une (a separação
beral vitoriosa, abrir-se-ia caminho ao de poderes e os direitos individuais).
constitucionalismo moderno. Em vez de Vem a seguir, entre 1926 e 1974, a quase
Leis Fundamentais do Reino, de base consu- obnubilação do Estado constitucional, re-
etudinária, passar-se-ia a Constituições presentativo e de Direito ou, doutro prisma,
escritas de tipo francês. E com estas sur- a pretensão de se erguer um constituciona-
giria um Parlamento assente no princípio lismo diferente, um “Estado Novo”, um
da representação política, na linha de constitucionalismo corporativo e autoritá-
Burke e dos grandes políticos e juristas rio. Eis o período da Constituição de 1933
do século XVIII, com Deputados que re- (apesar de tudo, uma Constituição, ao con-
presentam toda a colectividade e não ape- trário do que se passou em Itália, Alemanha
nas quem os designa. e Espanha), cujo despontar não surpreende
Mas implantada essa ideia, a instituição no paralelo com a situação europeia dos
parlamentar viria a conhecer múltiplas vi- anos 20 e 30, mas cuja longa duração não se
cissitudes – as vicissitudes corresponden- afigura facilmente explicável.
tes às da conturbada história do País du- Com a revolução de 1974, entra-se na
rante os séculos XIX e XX. época actual, muito recente e já muito rica
II – Como não podia deixar de ser, existe de acontecimentos, ideologias e contrastes
uma relação constante entre história políti- sociais e políticos – em que se consolida um
ca1 e história constitucional portuguesa2. regime democrático pluralista com garan-
Por um lado, aqui como por toda a parte, tia dos direitos, liberdades e garantias e afir-
são os factos decisivos da história política mação de direitos económicos, sociais e cul-
que, directa ou indirectamente, provocam o turais. A Constituição de 1976, resultante
aparecimento das Constituições, a sua mo- dessa revolução, significa, em primeiro lu-
dificação ou a sua queda. Por outro lado, gar, o termo daquele interregno e, depois, a
contudo, as Constituições, na medida em abertura para horizontes e aspirações de
que consubstanciam ou condicionam certo Estado social e de Estado de Direito demo-
sistema político e na medida em que se re- crático. E só nesta altura pode falar-se em
percutem no sistema jurídico e social vêm a constitucionalismo democrático, porque só ago-
ser elas próprias, igualmente, geradoras de ra está consignado o sufrágio universal.
novos factos políticos.
Daí que, sem se confundirem as perspec- 2. A Constituição actual
tivas peculiares de uma e outra, seja possí-
vel e necessário considerar a experiência I – A Constituição de 1976 é a mais vas-
constitucional portuguesa a partir de três ta e a mais complexa de todas as Constitui-
grandes períodos: o período das Constitui- ções portuguesas – por receber os efeitos do
ções liberais, o da Constituição de 1933 e o denso e heterogéneo processo político do
da Constituição de 1976. tempo da sua formação, por aglutinar con-
A época liberal vai de 1820 a 1926. Du- tributos de partidos e forças sociais em luta,
rante ela sucedem-se quatro Constituições por beber em diversas internacionais ideo-
– de 1822, de 1826, de 1838 e de 1911 que se lógicas e por reflectir a anterior experiência
repartem por diferentes vigências; há duas constitucional do país3.
efémeras restaurações do antigo regime; e Ela tem como grandes fundamentos a
passa-se da monarquia à república. E, a dis- democracia representativa e a liberdade
tância, as principais diferenças entre essas política. Admitiria, no entanto, a subsistên-
Constituições (relativas aos poderes recípro- cia até à primeira revisão constitucional
cos do Rei ou Presidente e do Parlamento e (efectuada em 1982) de um órgão de sobera-
à forma de eleição deste) parecem bem me- nia composto por militares, o Conselho da

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Revolução. Por outro lado, consignaria as ou conflitual, como se queira) de três secto-
grandes reformas de fundo que (de direito res de propriedade dos meios de produção
ou de facto) se efectuaram nos dois anos de – público, cooperativo e privado (ou, depois
revolução e apontaria para um objectivo de da revisão constitucional de 1989, sectores
transformação social a atingir, a que, pri- público, privado e cooperativo e social); 2º)
meiro, chamaria “transição para o socialis- através da coordenação entre mercado (de-
mo” e, mais tarde, “democracia económica, finido em termos de “equilibrada concorrên-
social e cultural”. cia entre as empresas”) e plano democráti-
É uma Constituição-garantia e, simulta- co; 3º) através da tensão entre o reconheci-
neamente, uma Constituição prospectiva. mento da iniciativa privada e a participa-
Tendo em conta o regime autoritário derru- ção dos trabalhadores.
bado em 1974 e o que foram as tentativas de A organização política, por seu turno,
tomada de poder pelos comunistas em 1975, consiste em três grandes relações: 1ª) entre
é uma Constituição muito preocupada com unidade do Estado, por uma banda, e auto-
os direitos fundamentais dos cidadãos e dos nomia político-administrativa dos Açores e
trabalhadores e com a divisão do poder. da Madeira e poder local, por outra banda;
Mas, surgida em ambiente de repulsa do 2ª) entre democracia representativa e demo-
passado próximo e em que tudo parecia cracia participativa; 3ª) entre Presidente da
possível, procura vivificar e enriquecer o República e Assembleia da República, um e
conteúdo da democracia, multiplicando as outro baseados no sufrágio universal e di-
manifestações de igualdade efectiva, parti- recto, no âmbito de um sistema de governo
cipação, intervenção, socialização, numa semipresidencial ou misto.
visão ampla e não sem alguns ingredientes Finalmente, a fiscalização da constituci-
de utopia. onalidade abrange todos os tipos possíveis
Constituição pós-revolucionária, a Cons- – de acções e de omissões, abstracta e con-
tituição de 1976 é também uma Constitui- creta, preventiva e sucessiva, concentrada e
ção compromissória – tal como outras o têm difusa – e cabe aos tribunais e a órgãos con-
sido em análogas circunstâncias quer em centrados (entre 1976 e 1982, Conselho da
Portugal quer no estrangeiro (assim, Weimar Revolução e Comissão Constitucional, e
e Bona, as Constituições espanholas de 1931 após 1982, Tribunal Constitucional).
e 1978, as francesas de 1946 e 1958, a italia- A Lei Fundamental de 1976 não é só isto,
na de 1947 ou a brasileira de 1988). Ela tra- mas é primacialmente isto. E as cinco revi-
duz um compromisso – um “compromisso sões que teve até agora não afectaram este
histórico” –, de resto, menos desejado pelos quadro.
partidos do que imposto pelas circunstânci- III – O compromisso constitucional foi
as e pelo estado das forças políticas e sociais múltiplo e diversificado, não se reduziu a
em presença. um enlace entre apenas quaisquer dois
II – O carácter compromissório da Cons- princípios.
tituição está patente em cada uma das suas Por outro lado, para além da influência
quatro partes. de diversas correntes ideológicas, a compa-
Assim, o tratamento dos direitos funda- ração permite descobrir afinidades com
mentais assenta na consagração simultânea Constituições diversas de países estrangei-
dos direitos, liberdades e garantias e dos di- ros. As regras gerais sobre direitos, liber-
reitos económicos, sociais e culturais, numa dades e garantias em parte reproduzem as
dicotomia com proeminência dos primeiros que constam da Constituição alemã de 1949.
(como é próprio do Estado social de Direito). São as Constituições italiana e alemã, am-
A organização económica desenvolve- bas do pós-guerra e do pós-fascismo, que
se: 1º) através da coexistência (concorrencial mais se aproximam da nossa na enumera-

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ção dos direitos, liberdades e garantias. Con- da expulsão, na previsão do estatuto
tudo, nos direitos económicos, sociais e cul- de refugiado político e, após 1982, na
turais toma-se palpável alguma parecença assunção do respeito dos direitos do
com Constituições da Europa oriental dos homem como princípio geral das re-
anos 70. A institucionalização dos partidos lações internacionais;
tem paralelo nas Constituições italiana, ale- – No apelo à participação dos ci-
mã federal e francesa, entre outras. A con- dadãos, associações e grupos diver-
cepção do Presidente da República e das sos nos procedimentos legislativos e
relações entre Governo e Parlamento vem administrativos;
dos países de parlamentarismo racionali- – No tratamento sistemático pres-
zado e de semipresidencialismo. O Prove- tado às eleições, aos partidos, aos gru-
dor de Justiça equivale ao Ombudsman nór- pos parlamentares e ao direito de opo-
dico. As autonomias regionais estão na es- sição;
teira da Constituição italiana. – Na redobrada preocupação com
Não pouco abundantes, muito natural- os mecanismos de controlo recíproco
mente, se bem que menos fortes no plano dos órgãos de poder e na constitucio-
das opções de fundo, são os traços das nalização do Ombudsman (o Provedor
Constituições portuguesas anteriores que de Justiça);
perduram. A Constituição de 1976 restaura – Na coexistência de semipresiden-
a legalidade democrática, reafirma a demo- cialismo a nível de Estado, sistema de
cracia política (liberal, pluralista), reabre o governo parlamentar a nível de regi-
Parlamento, mas não repõe a ordem liberal ões autónomas e sistema directorial a
individualista; o seu intervencionismo so- nível de municípios;
cial e económico, mesmo se de rumo oposto, – No sistema de fiscalização da
só pode cotejar-se com o da Constituição de constitucionalidade, com as quatro
1933; e não faltam os institutos que ou vin- vias referidas, e no carácter misto de
dos de longe ou vindos de 1933 são recebi- fiscalização concreta, com competên-
dos ou consagrados. cia de decisão de todos os tribunais e
IV – Mas a Constituição de 1976 ostenta recurso, possível ou necessário, para a
algumas marcas de originalidade (ou de re- Comissão Constitucional, primeiro, e
lativa originalidade): depois para o Tribunal Constitucional.
– Não só no dualismo complexo Os constituintes pretenderam ainda
das liberdades e garantias e de direi- construir uma organização económica mui-
tos económicos, sociais e culturais to original, conjugando o princípio da
mas também no enlace entre eles; apropriação colectiva dos principais meios
– Na constitucionalização de no- de produção, um socialismo autogestioná-
vos direitos e na vinculação das enti- rio e a iniciativa privada. A realidade do
dades privadas pelos direitos, liber- país, as revisões constitucionais e a integra-
dades e garantias; ção comunitária viriam mostrar que só po-
– Na recepção formal da Declara- deria subsistir se entendida como economia
ção Universal dos Direitos do Homem mista ou pluralista, algo diferente, mas não
enquanto critério de interpretação e oposta ao modelo de Estado social europeu.
integração das normas sobre direitos
fundamentais; 3. O Parlamento ao longo do
– Na perspectiva universalista tra- constitucionalismo português
duzida no princípio da equiparação
de direitos de portugueses e estran- I – A primeira assembleia política em
geiros, nas garantias da extradição e sentido moderno que houve em Portugal foi

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a Assembleia Constituinte de 1821/1822, II – Com a Revolução de 1926, durante
que tomou o nome de “Cortes Gerais, Extra- nove anos, Portugal não teria nenhuma as-
ordinárias e Constituintes da Nação Portu- sembleia política, pois a Assembleia Nacio-
guesa”4. Era uma assembleia com Deputa- nal, prevista na Constituição de 1933, só
dos eleitos não só em Portugal como tam- entraria em funcionamento em 1935.
bém em todos os territórios portugueses de Eleita ainda por sufrágio directo e não
fora da Europa, designadamente no Brasil; universal, a Assembleia Nacional subsisti-
e, além de constituinte, era também legisla- ria sempre, com composição monocolor e
tiva, tendo pois assumido a plenitude dos homogénea, sem quaisquer Deputados da
poderes do Estado. oposição, quer devido aos constrangimen-
A Constituição de 1822, no seguimento tos do regime autoritário, quer devido ao sis-
dessa mesma Assembleia, criaria um Parla- tema eleitoral de representação maioritária.
mento unicameral, eleito por sufrágio direc- De resto os seus poderes jurídicos seriam
to e tendencialmente universal, admitindo- também sempre limitados.
se, inclusive, direito de voto dos analfabetos. Havia, igualmente, uma Câmara Corpo-
Já a Carta Constitucional de 1826 – que, rativa, em parte baseada no sufrágio corpo-
depois do interregno absolutista da Vila- rativo. Mas era um órgão meramente consul-
francada, sucedeu à Constituição de 1822 – tivo, embora, em termos práticos e nalguns
estabelecia, ao lado da Câmara dos Deputa- momentos, tivesse assumido maior importân-
dos eleita por sufrágio indirecto (passando cia política do que a Assembleia Nacional,
a directo após o Acto Adicional de 1852), por nela estarem representados certos inte-
uma Câmara dos Pares, eminentemente aris- resses sociais cujos sujeitos exerciam verda-
tocrática, composta por pares hereditários e deira pressão sobre o poder político.
pares vitalícios nomeados pelo Rei. III – Com a Revolução de 1974, foi con-
Em 1837/1838, voltariam a reunir-se vocada uma Assembleia Constituinte. Elei-
Cortes Gerais, Extraordinárias e Constitu- ta um ano depois exactamente, teria o du-
intes, igualmente com poder constituinte e plo significado histórico de primeira assem-
legislativo. E a Constituição delas saída bleia portuguesa baseada no sufrágio uni-
manteria o bicameralismo, mas alteraria a versal e de assembleia cuja eleição radica-
composição das Câmaras: a Câmara dos ria, finalmente, entre nós – como se disse já
Deputados passaria a ser eleita por sufrá- – o princípio da legitimidade democrática.
gio directo, do mesmo passo que era criada Ao invés do que sucedera nas três As-
uma Câmara dos Senadores, e ambas eram sembleias Constituintes anteriores, esta As-
baseadas no sufrágio censitário. sembleia era apenas constituinte, não tinha
A Constituição de 1911 resultaria tam- poder legislativo, nem a sua composição po-
bém de uma Assembleia Constituinte e iria lítica tinha de se reflectir no Governo Provi-
criar, de novo, um Parlamento bicameral sório. Assim estabeleceu a Lei nº 3/74, de 14
(chamado Congresso da República, por in- de Maio (a lei constitucional transitória), por-
fluência da Constituição brasileira de 1891). ventura por receio de concentração de pode-
Haveria uma Câmara dos Deputados e res e de medidas demagógicas (o que, afinal,
um Senado, uma e outra Câmaras eleitas por viria a dar-se em 1975, mas por obra dos ór-
sufrágio directo, mas não por sufrágio uni- gãos revolucionários, não da Assembleia).
versal. Este Senado seria modificado por Contudo, porque dotada de poder cons-
Sidónio Pais, na sua efémera ditadura de tituinte, juridicamente nada impediria a
1917-1918, numa linha de representação Assembleia de revogar aquela Lei nº 3/74;
pré-corporativa, nele integrando, a par dos e, se não o fez, no contexto histórico que se
representantes dos distritos, representantes conhece, ela não deixou de assumir – a par-
das profissões. tir do seu regimento – a discussão de pro-

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blemas do país no período de antes da or- Só a Assembleia da República pode fa-
dem do dia e a faculdade de fazer requeri- zer estas leis e questões a elas pertinentes
mentos ao Governo sobre questões de inte- estão excluídas do âmbito do referendo po-
resse público; e não viria a ser pequena a lítico vinculativo a nível nacional criado em
importância desta intervenção política na 1989 (por receio de tendências plebiscitári-
conjuntura em que o país então vivia. as, até porque a Constituição autoritária de
A Assembleia Constituinte prefiguraria 1933 tinha sido aprovada por referendo pro-
a Assembleia da República, unicameral, que posto por Salazar).
a Constituição de 1976 viria a instituir. Pre- IV – As competências legislativas direc-
figurá-la-ia no modo de eleições, no número tas ou independentes traduzem-se na feitu-
de Deputados e nas regras de organização e ra de leis ordinárias, como tais, imediata-
funcionamento. Tal como o Direito eleito- mente, pela Assembleia.
ral, também o vigente Direito parlamentar As competências indirectas ou por co-
português tem aí a sua origem. nexão podem ser prévias e subsequentes. No
primeiro caso, o Parlamento vota leis de
4. As competências do actual autorizações legislativas ao Governo ou às
Parlamento assembleias legislativas regionais. Na se-
gunda hipótese, aprecia, para efeito de sus-
I – A Constituição divide as competên- pensão, de cessação de vigência ou de alte-
cias da Assembleia da República em políti- ração, quaisquer decretos-leis do Governo
co-legislativa (arts. 161º, 164º e 165º), de fis- (salvo os respeitantes à própria organiza-
calização (art. 162º) e quanto a outros ór- ção e ao funcionamento interno deste) e de-
gãos (art. 163º)5. cretos legislativos regionais emanados ao
Afigura-se, porém, mais elucidativo dis- abrigo de autorizações legislativas.
tinguir não três, mas quatro grandes áreas V – As competências legislativas gené-
de funções: funções de decisão normativa ricas abrangem quaisquer matérias.
ou legislativas, funções de dinamização das As competências legislativas específicas
instituições, funções de orientação política dizem respeito a matérias que, por razões
e funções de controlo político. históricas, ou de maior relevância ou de con-
II – As competências ou funções de deci- fluência com outras funções, aparecem au-
são normativa ou legislativas lato sensu po- tonomizadas: estatutos político-administra-
dem ser analisadas do seguinte modo: tivos das regiões autónomas, amnistias e
– Competências de legislação cons- perdões genéricos; e de certo modo, grandes
titucional e de legislação ordinária; opções dos planos de desenvolvimento eco-
– E nas competências de legisla- nómico e social, orçamento, realização de
ção ordinária: empréstimos e outras operações de crédito,
a) Competências legislativas direc- limites aos avales.
tas ou independentes e competências VI – As competências legislativas reser-
legislativas indirectas ou por conexão; vadas podem ser de reserva absoluta e de
b) Competências legislativas gené- reserva relativa.
ricas e competências legislativas es- Na reserva legislativa absoluta entram
pecíficas; as matérias correspondentes a competênci-
c) Competências legislativas reser- as legislativas específicas e certas matérias
vadas e competências legislativas não tidas como mais importantes ou substanci-
reservadas ou concorrenciais. almente constitucionais. Aqui só o Parla-
III – A competência de legislação consti- mento legisla.
tucional traduz-se na aprovação de leis de Na reserva relativa entram outras ma-
revisão constitucional. térias, igualmente tidas por importantes,

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mas em que se admite que o Governo tam- – Autorizar e confirmar a declara-
bém legisle observados certos requisitos e ção do estado de sítio e do estado de
limites. emergência;
VII – As funções de dinamização das – Autorizar o Presidente da Repú-
instituições incluem: blica a declarar a guerra e a fazer a
– Testemunhar a posse do Presi- paz;
dente da República; – Pronunciar-se, nos termos da lei,
– Tomar a iniciativa do processo sobre as matérias pendentes de deci-
contra o Presidente da República por são com órgãos no âmbito da União
crimes cometidos no exercício das Europeia que incidam na esfera da sua
suas funções; competência legislativa reservada.
– Decidir sobre a detenção ou a IX – Funções de controlo político são:
prisão ou sobre a suspensão de mem- a) Relativamente a outros órgãos :
bros do Governo para efeito de efecti- – Dar assentimento à ausência do
vação da responsabilidade criminal; Presidente da República do território
– Eleger, segundo o sistema de nacional;
representação proporcional, cinco – Apreciar o programa do Gover-
membros do Conselho de Estado, no e, sendo caso disso, votar moções
cinco membros da Alta Autoridade de rejeição;
para a Comunicação Social e os – Votar moções de confiança e de
membros do Conselho Superior do censura ao Governo;
Ministério Público que lhe competir – Pronunciar-se sobre a dissolução
designar; dos órgãos de governo próprio das
– Eleger, por maioria de dois ter- regiões autónomas (arts. 163º, alínea
ços dos Deputados presentes, desde g) e 234º).
que superior à maioria absoluta dos b) Relativamente a actos e actividades:
Deputados em efectividade de fun- – Vigiar pelo cumprimento da Cons-
ções, dez dos juízes do Tribunal Cons- tituição e das leis e apreciar os actos do
titucional, o Provedor de Justiça, o Pre- Governo e da Administração6;
sidente do Conselho Económico e So- – Apreciar, para efeito de suspen-
cial, sete vogais do Conselho Superi- são, de cessação de vigência ou de al-
or da Magistratura e os membros de teração, decretos-leis do Governo e
outros órgãos constitucionais que lhe decretos legislativos regionais;
competir designar. – Tomar anualmente as contas
VIII – As funções de orientação política do Estado e das demais entidades
compreendem: públicas;
– Aprovar as leis das grandes op- – Apreciar os relatórios de execu-
ções dos planos de desenvolvimento ção, anuais e finais, dos planos;
económico e social; – Acompanhar e apreciar a parti-
– Aprovar o orçamento; cipação de Portugal no processo de
– Aprovar os tratados, bem como construção da União Europeia;
os acordos internacionais que versem – Acompanhar, nos termos da lei e
matérias da sua competência reserva- do Regimento, o envolvimento de con-
da ou que o Governo entende subme- tingentes militares portugueses no
ter à sua apreciação; estrangeiro;
– Propor ao Presidente da Repú- – Apreciar a aplicação da declara-
blica a sujeição a referendo de ques- ção do estado de sítio e do estado de
tões de relevante interesse nacional; emergência.

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X – O Parlamento tem exercido estas A Assembleia pode ainda também fun-
competências de acordo com as circuns- cionar por deliberação do Plenário, prorro-
tâncias, com relevo maior para as compe- gando esse período; bem como por iniciati-
tências legislativas e as de orientação e de va da Comissão Permanente ou, na impos-
controlo político. A sua efectiva autonomia sibilidade desta e em caso de emergência,
dos Deputados tem sido, contudo, menor em por iniciativa de mais de metade dos Depu-
face do peso determinante dos aparelhos tados; e pode ainda ser convocada extraor-
dos partidos7. dinariamente pelo Presidente da República
para se ocupar de assuntos específicos.
5. O mandato parlamentar e As comissões podem funcionar indepen-
a organização da Assembleia dentemente do funcionamento do Plenário,
mediante deliberação deste.
da República
III – A Assembleia da República é um
I – O Parlamento português é eleito de órgão complexo, um órgão de órgãos, um
quatro em quatro anos; pode ser dissolvido órgão que, para efeitos funcionais, desdo-
pelo Presidente da República, ouvido o Con- bra-se em vários órgãos.
selho de Estado e os partidos nela represen- Mas há que distinguir os órgãos median-
tados (mas não pode haver dissolução em te os quais a Assembleia exerce as suas com-
estado de sítio ou de emergência, nos pri- petências institucionais e materiais,
meiros seis meses após eleições gerais ou praticando actos imputáveis ao Estado; e os
nos últimos seis meses do mandato presi- órgãos internos, confinados a poderes e a
dencial). actos somente com incidência no funciona-
Ao contrário do que sucede na Grã- Bre- mento interno da Assembleia nos termos do
tanha, o Primeiro-Ministro não tem aí ne- regimento.
nhum poder de iniciativa ou de decisão. O Os primeiros são a Assembleia em Ple-
poder pertence ao Presidente da República nário, ou o Plenário; a Comissão Permanen-
e essa é uma das diferenças entre o sistema te, como seu órgão de substituição; e as co-
português e o sistema parlamentar. missões.
Realizadas eleições, a Assembleia reúne Os segundos são o Presidente, a Mesa e
por direito próprio no terceiro dia posterior a Conferência dos Representantes dos Gru-
ao apuramento dos seus resultados gerais pos Parlamentares.
ou, tratando-se de eleições por termo de le- IV – O Presidente, além de órgão da As-
gislatura, se aquele dia recair antes do ter- sembleia, é órgão constitucional a se, visto que:
mo desta, no primeiro dia da legislatura – Assegura a substituição interina
subsequente. do Presidente da República;
II – Legislatura corresponde ao tempo de – Tem poder de iniciativa da fisca-
quatro anos entre, em princípio, duas elei- lização sucessiva da constitucionali-
ções. Em caso de dissolução, a Assembleia dade e da legalidade de normas jurí-
então eleita inicia nova legislatura. dicas.
Esse tempo, chamado legislatura, divide- E o respectivo titular faz parte do Conse-
se em outras tantas sessões legislativas, cada lho de Estado.
uma das quais com a duração de um ano e V – A Assembleia da República tem as
início em 15 de Setembro. comissões previstas no seu regimento e
O período normal de funcionamento da pode constituir comissões eventuais de in-
Assembleia decorre de 15 de Setembro a 15 quérito ou para qualquer outro fim determi-
de Junho, sem prejuízo das suspensões que nado (cf. MIRANDA, 2000, p. 33 et seq.).
ela deliberar por maioria de dois terços dos A composição das comissões deve reflec-
Deputados. tir – como corolário da regra da representa-

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tividade democrática – as relações de voto Por outro lado, são marcadas reuniões
dos partidos na Assembleia. A indicação em que os membros do Governo vêm res-
dos seus membros cabe aos respectivos gru- ponder a perguntas e pedidos de esclareci-
pos parlamentares, faz-se pela legislatura. mento de Deputados, formulados oralmen-
Os membros do Governo podem partici- te ou por escrito, as quais se realizarão com
par nos trabalhos das comissões, a solicita- a periodicidade mínima fixada no regimen-
ção destas ou por sua iniciativa. to e em data a estabelecer por acordo com o
VI – Se o período de funcionamento da Governo. Porém, como as perguntas são pre-
Assembleia da República pode considerar- viamente anunciadas, o seu impacto não
se relativamente longo, isso não significa tem comparação com o que se verifica na
que se consiga, durante esse tempo, obter o Câmara dos Comuns.
tratamento de todas as questões que se quer
submeter ao Plenário. 6. Os Deputados
O problema da fixação da ordem do dia
revela-se – em Portugal, como aliás na mai- I – No Estado contemporâneo, primeiro
or parte dos países – um problema político sob a veste do governo representativo clássi-
de extrema importância, a que as normas co, depois sob a feição democrática, Deputa-
constitucionais e regimentais em vigor até do é o nome constitucional ou convencional
agora não têm dado resposta satisfatória8. atribuído a cada um dos membros do Parla-
Já quanto à organização dos debates, o regi- mento ou, no caso de se adoptar o bicamera-
mento, especialmente após a sua última re- lismo, o nome atribuído a cada um dos mem-
visão, representa um bom progresso. bros da primeira câmara ou câmara baixa.
Ao Presidente da Assembleia compete Em Portugal, nas Cortes tradicionais
fixar a ordem do dia, de acordo com certos (como já se disse), havia os procuradores
critérios formais e materiais. dos concelhos, dos quais recebiam poderes
Antes da fixação da ordem do dia, o Pre- para defender as prerrogativas e imunida-
sidente ouve, a título indicativo, a conferên- des dos povos perante o Rei e os outros esta-
cia dos representantes dos grupos parla- dos. Outra é, porém, a denominação que sur-
mentares – na qual cada um tem um núme- ge após a revolução liberal: nas Cortes Ge-
ro de votos igual ao número de Deputados rais, Extraordinárias e Constituintes de 1821
que representa. Na falta de consenso, a con- e 1822 os seus membros vão agora chamar-se
ferência pronuncia-se por maioria, estando Deputados e será essa a denominação que,
representada a maioria absoluta dos Depu- constante das Bases da Constituição aprova-
tados em efectividade de funções. Admite- das em 9 de Março de 18211, irá perdurar.
se ainda recurso para o Plenário, que deli- Muito significativamente diz o art. 32º
bera em definitivo. da Constituição de 1822:
Domina, pois, a regra da maioria, impos- A Nação Portuguesa é representada em
ta pelo princípio democrático – a maioria Cortes, isto é, no ajuntamento dos Deputa-
parlamentar determina, directa ou indirec- dos, que a mesma Nação para esse fim elege
tamente, a ordem do dia – embora atenuada com respeito à povoação de todo o território
por duas outras regras: pela definição regi- Português.
mental de prioridades de matérias; e pela E o art. 94º acrescentava:
atribuição a cada grupo parlamentar do di- Cada Deputado é procurador e represen-
reito de determinação de certo número de tante de toda a Nação, e não o é somente da
reuniões, segundo critérios a estabelecer no divisão que o elege.
regimento, ressalvando-se sempre a posição Em suma, com a mudança de nome não
dos partidos minoritários ou não represen- se trata simplesmente de capricho verbal,
tados no Governo. mas de uma diferença profunda entre a na-

Brasília a. 40 n. 159 jul./set. 2003 233


tureza e as atribuições dos antigos procura- meira reunião após as eleições subsequen-
dores e as que a partir de agora vão assumir tes (art. 153º, nº 1). É a regra geral de início e
os Deputados. termo colectivos do mandato.
Implícita ou explicitamente (art. 1º do E pode haver início e termo individuais,
Acto Adicional à Carta de 1885, art. 7º, § 1º, durante a legislatura, em consequência de
da Constituição de 1911, arts. 150º, hoje 147º, vicissitudes várias: início, quando o Depu-
e 152º, da Constituição de 1976), as Consti- tado venha preencher, nos termos da lei elei-
tuições posteriores irão consagrar o mesmo toral (art. 153º, nº 2), a vaga aberta por outro
princípio. Deputado; e cessação, quando além da mor-
II – A Assembleia da República tem o te e da impossibilidade fisica ou psíquica
mínimo de 180 e o máximo de 230 Deputa- permanente, o Deputado renuncie ao man-
dos, nos termos da lei eleitoral (art. 148º, da dato ou o perca por qualquer das causas
Constituição, no texto actual). tipificadas na Constituição.
O número de Deputados por cada círcu- V – A perda do mandato só pode dar-se
lo plurinominal do território nacional, ex- nos casos previstos na Constituição (art.
ceptuando o círculo nacional quando exis- 160º, nº 1):
ta, é proporcional ao número de cidadãos a) Verificação de alguma das inca-
eleitores nele inscritos (art. 149º, nº 2). É uma pacidades (eleitorais) ou incompati-
lógica decorrência do princípio da igualda- bilidades previstas na lei;
de política dos cidadãos. Com os actuais 230 b) Não comparência na Assem-
Deputados9, 226 Deputados são eleitos no bleia ou falta de assiduidade, exceden-
território nacional – por círculos correspon- do-se o número de faltas estabelecido
dentes aos distritos continentais e às regi- no Regimento;
ões autónomas – e 4 eleitos fora dele – em c) Inscrição em partido diverso
dois círculos. daquele por que o Deputado se tenha
III – O sistema eleitoral é proporcional. apresentado a sufrágio;
Segundo a Constituição, na sua última d) Condenação por crime de res-
versão, os Deputados são eleitos por círcu- ponsabilidade no exercício da sua
los eleitorais geograficamente definidos na função ou por participação em orga-
lei, a qual pode determinar a existência de nizações racistas ou que perfilhem a
círculos plurinominais e uninominais, bem ideologia fascista.
como a respectiva natureza e complementa- As três últimas hipóteses correspondem
ridade, por a assegurar o sistema de repre- a sanções11.
sentação proporcional e o método da média VI – Os poderes dos Deputados no exer-
mais alta de HONDT na conversão dos vo- cício do seu mandato são fundamentalmente
tos em número de mandatos. de duas grandes classes: poderes de dina-
Apesar de parecer apontar-se assim para mização da competência constitucional da
um sistema de representação proporcional Assembleia e poderes de participação nos
personalizado à semelhança do alemão e seus trabalhos.
do neozelandês, até agora a eleição tem-se Os mais importantes são os da primeira
feito sempre por círculos plurinominais, de espécie, pois são eles que revelam a medida
dimensão variável consoante o número de de autonomia de que dispõem a Assembleia
eleitores; e, como alguns destes elegem pou- e cada um dos seus membros relativamente
cos Deputados, a proporcionalidade aí pou- aos outros órgãos, em particular relativa-
co se efectiva10. mente ao Governo.
IV – O mandato dos Deputados inicia-se Quanto aos poderes de participação na
com a primeira sessão da Assembleia da actividade parlamentar, eles não são sim-
República após eleições e cessa com a pri- plesmente instrumentais em face dos pode-

234 Revista de Informação Legislativa


res de dinamização. Têm valor em si, por- – Requerer e obter do Governo ou
que são eles que permitem à Assembleia – dos órgãos de qualquer entidade pú-
órgão colegial e órgão representativo, no blica os elementos, informações e
pleno sentido destas expressões – funcio- publicações oficiosas que considerem
nar e deliberar. Mesmo que a iniciativa das úteis para o exercício do seu mandato.
leis e de outros actos estivesse subtraída ao Os poderes de participação consistem
Parlamento, estes poderes teriam, pois, de em, entre outros:
ser sempre dados aos seus membros. – Usar da palavra para, entre ou-
Os poderes de dinamização traduzem- tros fins, apresentar projectos de lei,
se, por um lado, em iniciativa de actos ou de participar em debates e fazer pergun-
deliberações da Assembleia: tas ao Governo, não podendo nenhum
– Iniciativa de alterações à Consti- Deputado presente deixar de votar sem
tuição; prejuízo do direito de abstenção e não
– Iniciativa de abertura de revisão sendo admitido o voto por procura-
constitucional extraordinária; ção ou por correspondência;
– Iniciativa de lei; – Eleger os titulares de cargos de
– Iniciativa de proposta de refe- designação da Assembleia e os titula-
rendo; res de órgãos internos da Assembleia;
– Iniciativa de apreciação parla- – Requerer a urgência do proces-
mentar de decretos-leis e de decretos samento de qualquer projecto de lei
legislativos regionais autorizados; ou de resolução;
– Iniciativa de candidaturas a car- – Propor a constituição de comis-
gos exteriores à Assembleia; sões eventuais;
– Iniciativa de inquéritos parla- – Interpor recurso para o Plenário
mentares; das decisões do Presidente sobre a fi-
– Iniciativa de moções de censura xação da ordem do dia e sobre a ad-
ao Governo; missão de qualquer projecto ou pro-
– Iniciativa de apreciação preven- posta de lei ou de resolução;
tiva da constitucionalidade de normas – Interpor recurso para o Tribunal
constantes de decretos para serem pro- Constitucional relativamente a elei-
mulgados como leis orgânicas; ções realizadas na Assembleia.
– Iniciativa de apreciação sucessi- VII – Os Deputados gozam de imunida-
va da constitucionalidade e da lega- des, que se desdobram em irresponsabilidade
lidade de quaisquer normas; civil, criminal e disciplinar dos Deputados
– Iniciativa de processo para efec- pelos votos e opiniões que emitirem no exer-
tivação da responsabilidade criminal cício das suas funções e em inviolabilidade
do Presidente da República; ou não sujeição dos Deputados a detenção,
– Iniciativa de votos de congratu- prisão ou procedimento criminal por quais-
lação, protesto, saudação e pesar; quer outros actos, salvo nos casos especifi-
– Iniciativa de alterações ao regi- cados na Constituição e com as formalida-
mento. des nela previstas.
E compreendem, por outro lado, pode- Com origem no Parlamento britânico,
res de fiscalização: constam, em Portugal, de todas as Consti-
– Fazer perguntas ao Governo so- tuições, em maior ou menor grau.
bre quaisquer actos deste ou da Ad- As fórmulas respeitantes à irresponsa-
ministração Pública e obter repostas em bilidade e à inviolabilidade são sensivel-
prazo razoável, salvo o disposto na lei mente idênticas em todas as Constituições.
em matéria de segredo de Estado; No caso português, apenas a Constituição

Brasília a. 40 n. 159 jul./set. 2003 235


de 1933 – em consonância com a natureza truturação dos partidos. Muito menos eles
autoritária do regime – abre desvios quanto se conceberiam na fase autoritária de 1926
a difamação calúnia e injúria, ultraje à mo- a 1974, com uma Assembleia Nacional toda
ral pública ou provocação pública ao crime ocupada por Deputados do regime.
e quanto a opiniões “contrárias à existência Seria apenas depois de 1975, na Assem-
de Portugal como Estado independente” ou bleia Constituinte e na Assembleia da Re-
de incitamento “à subversão violenta da or- pública, que se conheceriam verdadeiros
dem política e social” (§§ 1º e 2º, do art. 89º). grupos parlamentares, idênticos aos dos
Já no concernente à inviolabilidade (ou demais países ocidentais e com estatuto bas-
garantia reforçada de liberdade pessoal) se tante avançado.
observa alguma variação, correspondente à II – Os Deputados à Assembleia da Re-
evolução das regras de processo penal. pública eleitos por cada partido ou coliga-
O mesmo se verifica ao longo da vigên- ção de partidos podem constituir-se em gru-
cia da Constituição actual, em que tem per- pos parlamentares. E isto significa que:
manecido intocado o preceito respeitante à a) Grupo parlamentar requer plu-
irresponsabilidade (nº 1 do art. 160º, hoje ralidade de Deputados (embora não
157º), em contraste com as alterações sofri- mais de dois, ao contrário do que se
das pelos preceitos relativos à inviolabili- verifica noutros países, onde se exige
dade em 1982, 1989 e 1997 (cf. GOMES, 1998). um número superior);
b) A constituição de um grupo par-
7. Os grupos parlamentares lamentar é uma faculdade, não uma
necessidade ;
I – O aparecimento dos grupos parla- c) Cada Deputado somente pode
mentares é coevo do Parlamento moderno, pertencer a um grupo;
quer em Inglaterra após 1689, quer no resto d) A cada partido há-de correspon-
da Europa a seguir à Revolução Francesa. der um só grupo (o que veda o desdo-
Assembleia simultaneamente unitária bramento do grupo parlamentar do
pela referência globalizante à comunidade mesmo partido);
política e pluralista de opiniões e interesses, e) A cada grupo parlamentar há-
o Parlamento tende a dividir-se em grupos, de corresponder um só partido, não
contrapostos entre si; só o monolitismo dos podendo haver grupos mistos de De-
regimes autoritários ou totalitários impedirá putados de diversos partidos.
a sua constituição ou a sua manifestação. III – Os grupos parlamentares são órgãos
No plano da realidade constitucional, os dos respectivos partidos por mediatizarem
grupos parlamentares são (a par das comis- a participação destes na Assembleia, mas
sões eleitorais) uma das vias de formação exactamente por isso não são órgãos da
dos partidos políticos; precedem, pois, os Assembleia.
partidos. Pelo contrário, no plano da Cons- Não são equiparáveis ao Presidente, às
tituição formal, é por os partidos no séc. XX comissões ou (se existissem) às secções
se institucionalizarem que adquirem rele- como expressões da vontade da Assembleia.
vância os correspondentes grupos parla- A regra é, antes, da concorrência plura-
mentares; aqui, os partidos precedem os lista dos grupos: eles são, com os Deputa-
grupos, têm nestes uma sua expressão. dos, os sujeitos internos da actividade par-
Durante o constitucionalismo liberal lamentar, os elementos que dinamizam a
não terá sido muito nítido o significado dos competência da Assembleia. Órgão auxili-
grupos parlamentares em Portugal: nem ar do Presidente apenas poderá ser a atrás
admira que assim tenha sido, em face da referida conferência dos presidentes dos
fragilidade das instituições e da pouca es- grupos parlamentares, não os grupos.

236 Revista de Informação Legislativa


8. Parlamento, Deputados partidos, que juridicamente representam
e partidos todo o povo. Levada às últimas consequên-
cias, com as comissões políticas ou os secre-
I – Adopte-se a representação proporcio- tariados, exteriores ao Parlamento, a dizer
nal ou a maioritária, reserve-se ou não aos como os Deputados deveriam votar, essa
partidos o exclusivo da apresentação de concepção transformaria a assembleia polí-
candidaturas, em todos os países democrá- tica em câmara corporativa de partidos e
ticos são os Deputados eleitos por partidos retirar-lhe-ia a própria qualidade de órgão
que ocupam a totalidade ou a quase totali- de soberania, por afinal deixar de ter capa-
dade dos lugares dos Parlamentos. E, ainda cidade de livre decisão. Somente regimes
que em círculos uninominais como em In- totalitários ou partidos totalitários, e não
glaterra o contacto eleitor-deputado seja aqueles que se reclamam da democracia re-
muito mais forte do que aquele que pode dar- presentativa e pluralista, a poderiam, aliás,
se em círculos plurinominais com sufrágio adoptar: porque, se a democracia assenta
por lista como sucede em Portugal, mesmo na liberdade política e na participação,
ali os Deputados aparecem enquadrados como admitir que nos órgãos dela mais ex-
por organizações partidárias tal como, em pressivos, os Parlamentos, os Deputados,
contrapartida, não deixa nunca de ser rele- ficassem privados de uma e outra coisa?
vante o factor pessoal na escolha dos candi- O entendimento mais correcto, dentro do
datos e na sua colocação nas listas nos paí- espírito do sistema, parece dever ser outro.
ses de representação proporcional. A representação política hoje não pode dei-
Que relação deve haver, porém, entre xar de estar ligada aos partidos, mas não
Deputados e partidos? Qual o grau de auto- converte os Deputados em meros porta-vo-
nomia de cada Deputado enquanto mem- zes dos seus aparelhos. Pode dizer-se que o
bro do Parlamento? Como inserir os Depu- mandato parlamentar é (salvo em situações
tados eleitos pelos diversos partidos uns em marginais) conferido tanto aos Deputados
face dos outros, formando todos uma mes- como aos partidos; não é aceitável substi-
ma câmara? E como proceder em caso de tuir a representação dos eleitores através dos
conflito? eleitos pela representação através dos diri-
II – Uma tese radical tenderia a afirmar gentes partidários, seja qual for o modo por
que a representação política se converteu em que estes são escolhidos. E, se em partidos
representação partidária, que o mandato fortemente ideológicos correspondentes a
verdadeiramente é conferido aos partidos e bem identificadas minorias políticas como
não aos Deputados e que os sujeitos da acção os colocados em extremos do espectro polí-
parlamentar acabam por ser não os Depu- tico, não será muito grande o desfasamento
tados, mas os partidos ou quem aja em nome entre eleitores e militantes, já nos restantes
destes. Por conseguinte, deveriam ser os ór- partidos ele será acentuado; e cabe pergun-
gãos dos partidos a decidir, com maior ou tar se os Deputados eleitos pelas listas de
menor democraticidade ou com maior ou um partido estão mais vinculados aos mili-
menor centralismo democrático, sobre as tantes do que aos cidadãos eleitores, ou se
orientações de voto dos Deputados, sujeitos têm mais base de apoio os órgãos represen-
estes a uma obrigação de fidelidade a que tativos de menos de 100.000 cidadãos12 ou
não poderiam escusar-se senão em casos- os Deputados votados por um milhão.
limite de consciência. Dando como certo o carácter bivalente
Esta concepção ignora que, embora pro- da representação política, é preciso procu-
postos pelos partidos, os Deputados são elei- rar o enlace, o ponto de encontro específico
tos por todos os cidadãos e não apenas pe- dos Deputados e partidos. Ora, esse enlace
los militantes ou pelas bases activistas dos não pode ser senão o que oferecem os gru-

Brasília a. 40 n. 159 jul./set. 2003 237


pos parlamentares como conjuntos dos De- III – É esta maneira de encarar o manda-
putados eleitos pelos diversos partidos. São to dos Deputados a que melhor se harmoni-
os grupos parlamentares que exercem as za com as regras que sobre o assunto, direc-
faculdades de que depende a actuação dos ta ou indirectamente, constam da Constitui-
partidos nas assembleias políticas e só eles ção portuguesa.
têm legitimidade democrática para delibe- A representação do povo conferida aos
rar sobre o sentido do seu exercício, não Deputados está patente na definição da
quaisquer outras instâncias ou centros de Assembleia como assembleia representati-
decisão extraparlamentares. E por aqui se va de todos os cidadãos portugueses (art.
afastam quer uma pura concepção individu- 147º) e no princípio de que os Deputados
alista, vendo o Deputado isolado ou desinse- representam todo o país e não os círculos
rido de uma estrutura colectiva, quer uma pura por que são eleitos (art. 152º, nº 2). Daí o seu
concepção partitocrática em que os homens estatuto como titulares de um órgão de so-
dos aparelhos ou as bases se sobrepusessem berania (arts. 153º et seq.), e não como co-
aos Deputados e aos seus eleitores. missários ou funcionários dos partidos.
Nem se excluem, assim, os corolários Por outra parte, sem esquecer a regra da
mais importantes do regime de eleição me- apresentação de candidaturas só pelos par-
diatizada pelos partidos, designadamente tidos (citado art. 151º, nº 1), como a Consti-
quanto à disciplina de voto ou à perda de tuição autoriza a existência de Deputados
mandato do Deputado que mudar de parti- não inscritos em nenhum partido – quer
do. Pelo contrário, coloca-os à sua verda- porque desde logo assim tenham sido pro-
deira luz que em sistema democrático, só postos como candidatos (art. 151º, nº 1), quer
pode ser a da liberdade e da responsabili- porque, tendo saído do partido por que fo-
dade políticas. Pois, se os grupos parlamen- ram eleitos, não tenham entrado para outro
tares implicam uma avançada instituciona- [art. 160º, nº 1, alínea c)] – ressalta a distin-
lização dos partidos, são, ao mesmo tempo, ção entre a função dos partidos e a dos Depu-
um anteparo ou um reduto da autonomia tados e concede-se mesmo que, em caso de
individual e colectiva dos Deputados – dos ruptura, o Deputado prevalece sobre o par-
Deputados que, por serem eles a deliberar, tido (se bem que outras razões possam im-
mais obrigados ficam a votar, salvo objec- por a renúncia ao mandato). Tampouco têm
ção de consciência, conforme a maioria se os partidos qualquer meio de substituir os
pronunciar. Deputados durante a legislatura: tal substi-
Que, não obstante, possam surgir diver- tuição faz-se nos termos da lei eleitoral e,
gências entre os grupos parlamentares e quando temporária, é um direito dos Depu-
outros órgãos dos partidos, não se exclui a tados, e não dos partidos (art.153º, nº 2).
priori. Mas serão concretas e pontuais e não Sem os Deputados e os grupos parla-
degenerarão em conflitos, desde que se veri- mentares os partidos não podem agir no Par-
fiquem autenticidade na vida interna dos lamento. Todavia, a prática não tem salva-
partidos e constante diálogo (eventualmen- guardado plenamente a liberdade de acção
te, por meio de comissões mistas ou de reu- dos Deputados e dos grupos, num Parlamen-
niões alargadas) e desde que os principais to crescentemente dominado pelos partidos
dirigentes partidários sejam também Depu- (cf. CRUZ; ANTUNES, 1989, p. 351 et seq.).
tados – como deverão ser, se quiserem pres-
tigiar a instituição parlamentar – e partici-
pem nos trabalhos dos grupos parlamenta- Notas
res. Só um partido em crise conhecerá opo- 1
Sobre a história política contemporânea por-
sição permanente entre o partido e o parti- tuguesa, ver, em geral, Oliveira MARQUES (1973);
do parlamentar. História de Portugal (1935); Veríssimo SERRÃO

238 Revista de Informação Legislativa


(1984–1990); José MATTOSO, (1993– 1994); e ain- BANDEIRA, C. L. A assembléia da república de
da SERRÃO (1975–). 1976 a 1999: da legislação à legitimação. Análise
2
Sobre a história constitucional, ver, entre tan- Social, [S. l.], p. 175-, 2000.
tos, Lopes PRAÇA (1884); José Alberto dos REIS
______. O impacto das maiorias absolutas na acti-
(1908, p. 21 et seq.); Marnoco e SOUSA (19- -?, p.
vidade e na imagem do parlamento português.
367 et seq.); Fezas VITAL (1936–1937 p. 334 et
Análise Social, [S. l.], n. 135, p. 164-, 1996.
seq.); José Carlos MOREIRA (1958, p. 161 et seq.);
Marcello CAETANO (1972–1978); Miguel Gal- BRUNEAU, T. L. Politics and nationhood: post-revo-
vão TELES (19- -?, p. 1504 et seq.); Christian lutionary Portugal. New York: [s. n.], 1984.
DU SAUSSAY (1973); Marcelo Rebelo de SOUSA
(1983?, p. 136 et seq.); A. P. Ribeiro dos SANTOS CAETANO, M. Constituições portuguesas. Lisboa:
(1990); Jorge MIRANDA (1997, p. 241 et seq.); Verbo, 1978.
Gomes CANOTILHO, (2002, p. 107 et seq.). ______. Manual de ciência política e direito consti-
3
Conferir, para uma introdução, Giuseppe DE tucional. 6. ed. rev. e ampl. Lisboa: Coimbra,
VERGOTTINI (1977); Estudos sobre a Constituição 1972. 2 v.
(1977– 1979); Jorge MIRANDA (1978;1997, p. 324
at seq.); Francisco Lucas PIRES (1988); Études de CANOTILHO, G. Direito constitucional e teoria da
Droit Constitutionnel Franco-Portugais (1990); Go- constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002.
mes CANOTILHO e Vital MOREIRA (1991;1993); ______; MOREIRA, V. Constituição da república por-
Perspectivas constitucionais: nos 20 anos da consti- tuguesa anotada. 3. ed. Coimbra: Coimbra, 1993.
tuição de 1976 (1996– 1998); Nos 25 anos da Cons-
tituição da República Portuguesa de 1976 (2001). ______; MOREIRA, V. Fundamentos da constituição.
Sobre a revolução e a pós-revolução conducen- Coimbra: Coimbra, 1991.
te à Constituição, a bibliografia é imensa. Ver, por
CRUZ, M. B. da.; ANTUNES, M. L. Parlamento,
exemplo, em língua inglesa, Thomas L. BRUNEAU
partidos e governo: acerca da institucionalização
(1984); ou Kenneth MAXWELL (1995).
4 política. In: Portugal: o sistema político e constitu-
O nome “Cortes” iria manter-se durante todo
cional: 1974/1987. Lisboa: [S. l.], p. 351-, 1989.
o tempo da monarquia constitucional, em homena-
gem à tradição. ______. Sobre o parlamento português: partidari-
5
Citamos os artigos na numeração subsequente zação parlamentar e parlamentarização partidá-
às revisões constitucionais e com o conteúdo delas ria. Análise Social, [S. l.], p. 97-, [19—?].
resultante. Porém, não são muito significativas, para
o que aqui interessa, as diferenças relativamente ao DE VERGOTTINI, G. Le origini della seconda republi-
tempo em que Natália Correia foi Deputada. ca portoghese. Milano: A Giuffrè, 1977.
6
Conferir, por exemplo, José FONTES (1999). ESTUDOS sobre a constituição. Lisboa: [s. n.], 1977-
7
Conferir, designadamente, M iguel Lobo 1979. 3 v.
ANTUNES (1988, p. 77 et seq.); Manuel Braga
da CRUZ (1988, p. 97 et seq.); Luís SÁ (1993); ÉTUDES de droit constitutionnel franco-portugais.
Cristina Leston BANDEIRA (2000, p. 175 et seq.). Paris: [s. n.], 1991.
8
Sobre a prática, conferir C ristina L eston FONTES. J. Do contrato parlamentar da administração
BANDEIRA (1996, p. 164 et seq.). pública. [S. l.] : Coimbra, 1999.
9
Em 1976, eram 263; e após 1979, 250.
10
Comprovando na prática Douglas W. RAE GOMES, C. A. As imunidades parlamentares no direito
(1971). português. Coimbra: COI, 1998.
11
Desde 1997, garante-se recurso para o Tribu- HISTÓRIA de Portugal. [S. l.]: Barcelos, 1935. Com
nal Constitucional de deliberação da Assembleia suplementos de 1954 e 1983.
relativa à perda do mandato.
12
Os maiores partidos políticos em Portugal MARQUES, O. História de Portugal. Lisboa: [s. n.],
não ultrapassam esse número de militantes. 1973. v. 2.
MATTOSO, J. História de Portugal. Lisboa: [s. n.],
1993-1994. v. 5-8.

Bibliografia MAXWELL, K. The making of portuguese demo-


c r a c y. C a m b r i d g e : C a m b r i d g e U n i v e r s i t y ,
1995.
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consolidação da democracia em Portugal. Análise MIRANDA, J. A constituição de 1976. Lisboa: [s. n.],
Social, [S. l.], v. 24, n. 100, p. 77-95, 1988. 1978.

Brasília a. 40 n. 159 jul./set. 2003 239


______. Manual de direito constitucional. 6. ed. SÁ, L. O lugar da assembléia da república no sistema
Coimbra: Coimbra, 1997. político. Lisboa: [s. n.], 1993.
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Coimbra: [s. n.], 1958. Portugal contemporain: de la revolution de 1820 à l‘
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240 Revista de Informação Legislativa

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