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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE GEOLOGIA

TECTONISMO, VULCANISMO,
SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS
NO SEGMENTO NORDESTE
DA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

Paulo Otávio Gomes

TESE DE DOUTORADO

Programa de Pós-graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis

RIO DE JANEIRO

2005
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE GEOLOGIA

TECTONISMO, VULCANISMO,
SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS
NO SEGMENTO NORDESTE
DA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

AUTOR
Paulo Otávio Gomes

ORIENTADOR
Dr. Jorge Carlos Della Fávera

CO-ORIENTADOR
Dr. Adriano Roessler Viana

TESE DE DOUTORADO

Programa de Pós-graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis

RIO DE JANEIRO

2005
II
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


FACULDADE DE GEOLOGIA

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS


NO SEGMENTO NORDESTE DA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

Paulo Otávio Gomes

Tese submetida ao corpo docente da Faculdade de Geologia


da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor.

Aprovada por:

NOME ASSINATURA

Prof. Dr. Antônio Thomaz Filho __________________________

Prof. Dr. Hernani A. F. Chaves __________________________

Prof. Dr. Jorge Carlos Della Fávera __________________________

Prof. Dr. José Antônio Cupertino __________________________

Prof. Dr. Luiz Antônio P. Gamboa __________________________

RIO DE JANEIRO

2005
III
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

FICHA CATALOGRÁFICA

GOMES, PAULO OTÁVIO.


Tectonismo, Vulcanismo, Sedimentação e Processos Erosivos no
Segmento Nordeste da Margem Continental Brasileira. [Rio de Janeiro] 2005.
XIX, 184 p., 29,7 cm (Faculdade de Geologia – UERJ, Dsc., Programa de
Pós-Graduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis, 2005).
Tese – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, realizada na Faculdade
de Geologia.
1. Geologia da Margem Continental Nordeste Brasileira. 2. Evolução
Tectono-Sedimentar da Margem Nordeste. 3. Erosão Submarina. Contornitos.
I. FGEL/UERJ II – Título (série)
IV
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

SUMÁRIO

FICHA CATALOGRÁFICA .............................................................................. III

SUMÁRIO.........................................................................................................IV

LISTA DE APÊNDICES E ILUSTRAÇÕES .....................................................VI

APRESENTAÇÃO..........................................................................................VIII

RESUMO .........................................................................................................XII

ABSTRACT .................................................................................................... XV

AGRADECIMENTOS .................................................................................. XVIII

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1
1.1. Trabalhos anteriores...................................................................................5
1.2. Aquisição e processamento dos dados geofísicos .................................8
1.3. Metodologia de interpretação dos dados sísmicos .................................9
1.3.1. Limitações no mapeamento sísmico.................................................... 13
2. FISIOGRAFIA DA ÁREA................................................................... 16
2.1. Plataforma continental ............................................................................. 16
2.2. Talude continental .................................................................................... 19
2.3. Sopé continental ....................................................................................... 21
2.3.1. Zonas de fratura................................................................................... 25
3. TRANSIÇÃO CROSTA CONTINENTAL-OCEÂNICA ...................... 27
3.1. Bacias de Sergipe e Alagoas ................................................................... 30
3.2. Platô de Pernambuco ............................................................................... 39
3.3. Bacia Potiguar ........................................................................................... 43
4. CROSTA OCEÂNICA ........................................................................ 47
4.1. Zonas de Fratura ....................................................................................... 47
4.1.1. Reativações tectono-magmáticas associadas a zonas de fratura ....... 55
4.2. Alinhamentos de direção NW-SE............................................................. 57
4.2.1. Contexto continental das estruturas..................................................... 61
5. COBERTURA SEDIMENTAR............................................................ 64
5.1. Supersseqüências, sismofácies e depósitos sedimentares
associados ........................................................................................................... 64
5.1.1. Sedimentos pré-Fm. Calumbi/Urucutuca ............................................. 68
5.1.2. Seqüência cretácea superior ............................................................... 70
V
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

5.1.3. Seqüência paleocênica........................................................................ 72


5.1.4. Seqüência eocênica............................................................................. 72
5.1.5. Seqüência oligo-miocênica .................................................................. 76
5.1.6. Seqüências neogena média e neogena superior-quaternária ............. 78
5.2. Considerações eustático-estratigráficas ................................................ 80
5.2.1. Sobre a correlação global das supersseqüências mapeadas.............. 80
5.2.2. Sobre o controle eustático e/ou tectônico na deposição das
supersseqüências............................................................................................... 88
5.2.3. Sobre os eventos geológicos envolvidos na formação dos limites das
supersseqüências............................................................................................... 90
5.2.4. Sobre a aplicabilidade dos conceitos da estratigrafia de seqüências
na margem continental profunda (sopé continental)........................................... 98
5.2.4.1. Diacronismo das discordâncias interregionais.................... 104
6. PROCESSOS EROSIVOS SUBMARINOS ..................................... 105
6.1. Conceituação oceanográfica ................................................................. 105
6.1.1. Circulação e estratificação das massas d’água oceânicas ................ 105
6.1.2. Efeito de Coriolis................................................................................ 107
6.1.3. Paleoceanografia e evolução do Atlântico Sul ................................... 109
6.1.4. O rastro erosivo da AABW na Margem Continental Brasileira ........... 113
6.2. Controle tectono-fisiográfico sobre os processos erosivos .............. 116
6.3. Correntes de contorno e depósitos associados .................................. 119
6.3.1. Interação entre correntes turbidíticas e correntes de contorno na
margem continental nordeste ........................................................................... 120
6.3.2. Implicações exploratórias das correntes de contorno ........................ 124
6.3.2.1. Retrabalhamento de depósitos turbidíticos por correntes de
contorno ............................................................................................ 128
6.4. O Canal Submarino de Pernambuco ..................................................... 129
6.4.1. Aspectos morfológicos....................................................................... 131
6.4.2. Aspectos genético-evolutivos............................................................. 135
6.4.3. Depósitos contorníticos associados................................................... 138
6.4.4. Análogos mundiais............................................................................. 140
7. POÇOS DO DSDP ........................................................................... 142

8. MAPAS DE ISÓPACAS................................................................... 147

9. CONCLUSÕES ................................................................................ 154

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 159

ANEXOS........................................................................................................ 184
A1 – Artigo sobre transição crustal e evolução tectônica da crosta
oceânica
A2 – Artigo sobre correntes de contorno e erosão submarina
VI
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

LISTA DE APÊNDICES E ILUSTRAÇÕES


Apêndices / Figuras Página

Apêndice i.......................................................................................................................... X
Apêndice ii ........................................................................................................................ XI
Figura 1.1 – Mapa de localização da área estudada.........................................................2
Figura 1.2 – Mapa fisiográfico-estrutural da margem continental nordeste. .....................6
Figura 1.3 – Seção-tipo para interpretação da crosta oceânica. .....................................11
Figura 1.4 – Significado cronoestratigráfico de um hiato erosivo ....................................15
Figura 2.1 – Bloco-diagrama do assoalho oceânico da margem continental nordeste. .17
Figura 2.2 – Mapa fisiográfico do Projeto REMAC. .........................................................18
Figura 3.1 – Mapa de localização das linhas geofísicas..................................................28
Figura 3.2 – Mapa de gravidade 3-D Bouguer ................................................................29
Figura 3.3 – Seção geológica de Mohriak et alii (1995) na Bacia de Sergipe.................31
Figura 3.4 – Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica da linha 500-0160.........32
Figura 3.5 – Versão não interpretada da 500-0160 com perfis de gravidade ar-livre .....34
Figura 3-6 – Modelo de implantação de crosta oceânica a partir de cunhas de SDRs ..35
Figura 3.7 – Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica da linha 500-0162.........37
Figura 3.8 – Versão não interpretada da 500-0162 com perfis de gravidade ar-livre .....38
Figura 3.9 – Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica da linha 500-0163.........40
Figura 3.10 – Versão não interpretada da 500-0163 com perfis de gravidade ar-livre ...41
Figura 3.11 – Detalhe dos blocos rotacionados no Platô de Pernambuco .....................42
Figura 3.12 – Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica da linha 500-0165.......45
Figura 3.13 – Versão não interpretada da 500-0165 com perfis de gravidade ar-livre ...46
Figura 4.1 – Mapa de gravidade ar-livre do GEOSAT.....................................................49
Figura 4.2 – Transect proximal com os sistemas de lineamentos/zonas de fratura .......50
Figura 4.3 – Transect distal com os sistemas de lineamentos/zonas de fratura.............51
Figura 4.4 – Morfologia típica de uma zona de fratura ....................................................53
Figura 4.5 – Calha do embasamento associada à Zona de Fratura Bode Verde...........56
Figura 5.1 – Carta estratigráfica parcial da Bacia de Sergipe-Alagoas...........................66
Figura 5.2 – Amarração cronoestratigráfica dos limites de seqüências com poços .......67
Figura 5.3 – Seção tipo para a identificação das supersseqüências e sismofácies .......69
Figura 5.4 – Características sísmicas das supersseqüências.........................................71
Figura 5.5 – Sismofácies associada a processos de escape de fluidos .........................74
VII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

Figura 5.6 – Estruturas antiformes presentes na seqüência eocênica............................75


Figura 5-7 – Feições sísmicas associadas à migração lateral de canais........................77
Figura 5-8 – Marcas de onda (megaripples) geradas por correntes de contono ............79
Figura 5.9 – Principais discordâncias interregionais do Fanerozóico..............................82
Figura 5.10 – Carta cronoestratigráfica de Haq et alii (1988) ..........................................83
Figura 5.11 – Principais eventos geológicos na margem Atlântica dos EUA..................84
Figura 5.12 – Distribuição paleogeográfica dos eventos erosivos no Atlântico Sul ........85
Figura 5.13 – Sismo-estratigrafia regional da Margem Continental Sudeste Africana....87
Figura 5.14 – Hiatos eocênicos observados em poços do DSDP no Atlântico Sul ........95
Figura 5.15 – Linha 500-161 destacando as discordâncias e erosão abissal...............102
Figura 6.1 – Estratificação das massas d’água no Atlântico Sul ...................................108
Figura 6.2 – Assimetria de levees em canais submarinos ............................................110
Figura 6.3 – Mapa fisiográfico-estrutural da margem continental norte ........................115
Figura 6.4 – Distribuição global das formas de leito abissais ........................................117
Figura 6.5 – Efeitos das correntes de contorno sobre leques submarinos ...................122
Figura 6.6 – Relação espacial entre correntes turbidíticas e de contorno (modelo) .....123
Figura 6.7 – Velocidades das correntes de fundo e formas de leito associadas ..........126
Figura 6.8 – Reservatórios turbidíticos e contorníticos do Golfo de Cádiz....................127
Figura 6.9 – Retrabalhamento de reservatórios turbidíticos por correntes de fundo ....130
Figura 6.10 – Imagens sísmicas do Canal Submarino de Pernambuco (LEPLAC)......132
Figura 6.11 – Imagens sísmicas do Canal Sub. de Pernambuco (CENTRATLAN) .....133
Figura 6.12 – Confluência de cânions provenientes do talude para o CSP..................136
Figura 6.13 – Exemplos de drifts sedimentares contorníticos .......................................139
Figura 7.1 – Projeção dos poços DSDP-23 e DSDP-24A na linha 500-0172...............143
Figura 7.2 – Carta estratigráfica sumária dos poços DSDP-24/24A .............................145
Figura 8.1 – Mapa de isópacas do Cretáceo Superior ..................................................148
Figura 8.2 – Mapa de isópacas do Paleogeno ..............................................................150
Figura 8.3 – Mapa de isópacas do Mioceno Inferior ao Recente ..................................151
Figura 8.4 – Mapa de isópacas totais de sedimentos ...................................................153
VIII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

APRESENTAÇÃO

Em março de 1999, a versão original deste trabalho, intitulada “Tectonismo,


Vulcanismo, Sedimentação e Processos Erosivos no Segmento Nordeste da
Margem Continental Brasileira” foi encaminhada ao Prof. Dr. Jorge Carlos Della
Fávera, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em
Geologia pela UERJ. Após análise da dissertação, aquele orientador concluiu
que, em função de seus aspectos inéditos e pela profundidade com a qual os
temas foram tratados, o trabalho reunia os requisitos necessários para ser
apresentado como tese de doutoramento, na mesma universidade.

Assim, em abril do mesmo ano, o orientador encaminhou correspondência


à coordenadoria de pós-graduação, onde, ao destacar as qualidades da
dissertação, sugeria sua transformação em tese de doutoramento (Apêndice i).
Para tanto, este aluno deveria adquirir os créditos adicionais necessários ao curso
de doutoramento, então em processo de implantação na UERJ.

Todavia, como a implantação do curso de doutorado não ocorreu dentro


dos prazos originalmente previstos, fez-se necessária uma reavaliação de planos.
Dessa forma, após discussões envolvendo este aluno, seu orientador e a
Coordenação de Pós-Graduação, optou-se por enfocar uma particularidade do
trabalho original, defendendo-a como Dissertação de Mestrado, para
posteriormente apresentar o estudo como um todo, dentro do Programa de
Doutorado, na ocasião ainda pendente de aprovação final por parte da CAPES.

No intuito de oficializar tal decisão, a Coordenadora de PG/FGEL/UERJ,


Profa. Dra. Maria Antonieta Rodrigues, enviou, em agosto de 1999,
correspondência à Gerência Geral de Exploração da Petrobrás (Apêndice ii),
relatando o novo planejamento. Naquela carta, a coordenadora reiterou que o
trabalho deste autor, tendo ultrapassado os requisitos necessários para
caracterizar uma dissertação de mestrado, poderia ser apresentado como Tese
de Doutoramento.

Assim, em abril de 2000, foi apresentada e aprovada a dissertação


intitulada “Distensão Crustal, Implantação de Crosta Oceânica e Aspectos
IX
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

Evolutivos das Zonas de Fratura e da Sedimentação no Segmento Nordeste da


Margem Continental Brasileira”, que representa uma parte da tese ora submetida,
enfatizando questões ligadas à evolução tectono-estrutural da margem nordeste.

Após mais de seis anos do trabalho original, é com grande satisfação que
apresento esta nova versão de “Tectonismo, Vulcanismo, Sedimentação e
Processos Erosivos no Segmento Nordeste da Margem Continental Brasileira”,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Geologia
pela UERJ. Nesta versão, procedeu-se a uma revisão conceitual e a uma
atualização bibliográfica de todo o corpo do trabalho, incluindo os capítulos
“Transição Crosta Continental-Oceânica” e “Crosta Oceânica”, os quais,
constituindo o tema principal da dissertação de 2000, foram aqui reapresentados
de forma condensada.

Na presente tese, procurou-se enfatizar questões relativas ao


preenchimento sedimentar e análise estratigráfica da margem continental
nordeste, as quais foram suprimidas ou apresentadas de forma superficial na
dissertação de mestrado. No item introdutório e nas conclusões, entretanto,
prevalece o caráter holístico do trabalho, de modo que os pontos de destaque da
dissertação foram reapresentados conjuntamente com as novas abordagens
enfocadas na tese.

Dentro desta nova abordagem, merece destaque uma inédita discussão


sobre a aplicabilidade dos conceitos da estratigrafia de seqüências nos domínios
profundos da margem continental, apresentada ao final do capítulo “Cobertura
Sedimentar”. Todo um capítulo dedicado aos processos erosivos submarinos e
depósitos associados a correntes de contorno foi também introduzido nesta tese,
sendo considerado um dos tópicos principais da mesma, em função do caráter
inédito de alguns dos pontos discutidos.

Para finalizar, ressalta-se que algumas das conclusões deste estudo já


renderam duas publicações no exterior (ver anexos A1 e A2), incluídas em volumes
da American Geophysical Union (Geophysical Monograph 115) e da Geological
Society of London (Memoir 22). Espera-se, a partir dos temas inéditos apresentados
nesta tese, preparar um terceiro e definitivo trabalho, em publicação ainda a definir.
X
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

Apêndice i
XI
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

Apêndice ii
XII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

RESUMO

Dados geofísicos do Projeto LEPLAC, adquiridos entre 1988 e 1992, foram


regionalmente integrados no intuito de analisar a evolução tectono-sedimentar do
segmento nordeste da Margem Continental Brasileira. Procurou-se enfatizar, em
particular, processos erosivos e deposicionais atuantes durante o preenchimento
sedimentar da região, assim como questões ligadas aos processos de distensão
crustal e implantação de crosta oceânica na margem nordeste. Zonas de
cisalhamento sub-horizontais, representadas por falhas do tipo detachment,
controlaram a distensão crustal nas bacias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco-
Paraíba. Nas duas primeiras bacias, situadas a sul da Zona de Fratura Ascensão,
a transição para crosta oceânica ocorreu a partir de um rápido afinamento da
crosta continental, envolvendo intensa atividade magmática e implantação de
cunhas de seaward-dipping reflectors. Na Bacia de Pernambuco-Paraíba, ao
norte da ZF Ascensão, o estiramento crustal ocorreu de forma mais gradual,
possibilitando um rifteamento distal, que levou à formação do Platô de
Pernambuco. A região de transição crustal da Bacia Potiguar, por sua vez,
mesmo tendo evoluído em uma margem continental transformante, apresenta um
comportamento similar ao de uma margem passiva normal, quando analisada em
uma direção semi-paralela às zonas de fratura. Com o auxílio de seções sísmicas
e de mapas gravimétricos, procedeu-se a um re-estudo da conexão entre os
lineamentos na margem continental nordeste e as zonas de fratura oceânicas. A
partir desta análise, foram identificadas cinco zonas de fratura oceânicas
principais (Chain, Charcot, Fernando Poo, Ascensão e Bode Verde) e duas
secundárias, que exerceram importante controle no processo de espalhamento do
assoalho oceânico, logo após a ruptura continental da margem nordeste, em torno
do Eo-Aptiano. Todas as zonas de fratura estão correlacionadas a lineamentos
estruturais na margem continental, sendo que a maior parte dos quais se estende
para domínios de crosta continental distendida. Neste cenário, os lineamentos
também exerceram um papel de destaque na evolução tectônica da região, ao
acomodar taxas de estiramento crustal diferencial, durante o processo de
rifteamento. Além dos sistemas de lineamentos/zonas de fratura, de direção
aproximada E-W, foram também estudados os alinhamentos de montes
XIII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

submarinos na direção NW-SE, que são bastante conspícuos na margem


continental nordeste. Mudanças na movimentação das placas litosféricas e/ou
migração da Placa Sul-Americana sobre hotspots são os mecanismos evocados
para explicar tais alinhamentos. O estudo da cobertura sedimentar da margem
continental nordeste embasou-se no mapeamento de cinco supersseqüências
deposicionais, limitadas por superfícies de discordâncias regionais, que se
estendem desde a plataforma continental até as proximidades da planície abissal.
É possível correlacionar todas estas superfícies limítrofes a rebaixamentos
globais do nível relativo do mar. Todavia, a ocorrência de discordâncias erosivas
abissais só é esperada para períodos pós-eocênicos, a partir de quando se
desenvolveu uma vigorosa circulação oceânica termo-halina. Assim, admite-se
que os limites de seqüências mais antigos, que justapõem as unidades
deposicionais cretácea superior, paleocênica e eocênica, carreguem considerável
influência tectônica, sobreposta sobre eventuais flutuações eustáticas. Mudanças
na movimentação das placas, variações na taxa de espalhamento oceânico e
flexura litosférica são alguns dos fenômenos que podem induzir a estresses
intraplaca e provocar efeitos tectono-eustáticos. O controle sobre as superfícies
de discordância mais jovens, que limitam as seqüências oligo-miocênica, neogena
média e neogena superior-quaternária, é intrinsecamente glácio-eustático. É
provável que o limite de seqüência oligocênico registre as primeiras atividades
erosivas da corrente de fundo da Antártica (AABW) na margem continental
nordeste, em torno de 30 Ma. A AABW, fluindo para norte, exerceu o controle
principal na escavação do Canal Submarino de Pernambuco (CSP), uma feição
que se estende por mais de 750 km no fundo oceânico, perfazendo um percurso
meandrante por entre os Montes Submarinos da Bahia, onde sua calha atinge
profundidades superiores a 450 metros. O CSP recebe a afluência de uma rede
de canais tributários ligados tanto a cânions no talude, como também a outras
canalizações da AABW provenientes do sul. Mais do que um simples canal
profundo, ele constitui um complexo sistema de drenagem submarino que
desemboca na Planície Abissal de Pernambuco, criando condições para a
deposição de um grande leque sedimentar submarino – o Leque Contornítico de
Pernambuco. Além do leque submarino propriamente dito, as correntes de
contorno são também responsáveis pela formação de uma variada gama de
XIV
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

depósitos sedimentares, conhecidos como drifts contorníticos. Nas seções


sísmicas, estes contornitos podem ser identificados em uma ampla região do
sopé continental, principalmente ao longo da margem oeste do Canal Submarino
de Pernambuco, sob a influência da força de Coriolis.
XV
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

ABSTRACT
Between 1988 and 1992, the Brazilian Navy and PETROBRAS carried out
regional geophysical surveys along the continental margin off northeastern Brazil,
as part of the LEPLAC Project. As a result, the geological evolution of this part of
the Brazilian continental margin can be better understood, particularly regarding
the ocean-continent transition process, the tectonic framework of the oceanic
crust, and the depositional history of the region. On the Sergipe and Alagoas
basins, located to the south of the Ascension Fracture Zone, the ocean-continent
transition is associated with rapid crustal thinning, involving intense magmatic
activity and emplacement of wedges of seaward-dipping reflectors. To the north of
that structural lineament, a rifted marginal plateau (Pernambuco Plateau) evolved
as a result of differential crustal stretching. Detachment faulting was the main
mechanism that controlled extension along all these basins. Farther north, near to
a major transform margin, the Potiguar Basin ocean-continent boundary was
analyzed using a single seismic profile, collected in an East-West direction. In this
direction, parallel to the fracture zones and to the extension, the basin shows a
normal passive margin-style, instead of transform-related structures. Using
multichannel seismic profiles and gravity data derived from GEOSAT altimetry,
seven oceanic fracture zones were properly located and correlated to their
counterpart lineaments in the continental margin. Besides the E-W oriented
fracture zones/lineament systems, this study also focussed on the NW-SE
seamount alignments which are very conspicuous in the northeastern continental
margin off Brazil. Changes in sea-floor spreading directions and/or plate drift over
hotspots are the mechanisms evoked to explain such structural alignments.
Dealing with the sedimentary evolution of the region, five depositional super-se-
quences were mapped, from the shelf to the lower continental rise. All of them are
bounded by regional erosional unconformities, which can be correlated to relative
sea-level falls on the global cycle chart. The erosional character of these surfaces
in the deep continental rise was the key for interpreting their origin: since abyssal
erosional surfaces were not supposed to be formed prior to the development of a
strong thermohaline oceanic convection, during Oligocene times, one can infer
that tectonic causes, superimposed on eustatic sea-level changes, played an
XVI
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

important role on the generation of the older sequence boundaries, which limit the
Upper Cretaceous and the Paleocene depositional units. Some tectono-eustatic
influences can be ascribed to changes in plate motion, variation on sea-floor
spreading rates and lithospheric flexure, all of them leading to intraplate stresses.
While the older unconformities are likely to carry a strong tectonic imprint, the
younger ones, which limit the Oligo-Miocene, the Mid-Neogene and the Upper
Neogene-Quaternary sequences, are undoubtedly linked to glacio-eustatic events.
The Oligocene sequence boundary is probably associated with the initiation of the
Antarctic Bottom Water (AABW) flow in the Brazil Basin, c. 32 Ma. The northward-
flowing AABW is supposed to be the main cause for the excavation of the 800-km-
long and up to 480-m-deep Pernambuco Seachannel across the Bahia Seamounts
region. This feature appears to have an interconnected network of tributary
channels that are linked up with slope canyons and other paths of the AABW
coming from the south. So, rather than a single deep-sea channel, it forms a
complex submarine drainage system, which debouches in the Pernambuco
Abyssal Plain, where a contouritic fan-like deposit was built up – the Pernambuco
Contourite Fan. In the seismic profiles, bottom-current-controlled deposits - the
contourite drifts - can be recognized over a broad region, mainly along the western
margin of the Pernambuco Seachannel, under the influence of the Coriolis force.
XVII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

À Valéria e meus filhos,


Rafael e Mariana
XVIII
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

AGRADECIMENTOS
Primeiramente, o autor expressa agradecimentos à PETROBRAS e sua
Gerência Geral de Exploração, pela oportunidade de desenvolvimento
profissional, bem como ao Comitê Executivo para o LEPLAC, na pessoa de seu
coordenador, Alexandre Tagore M. de Albuquerque, pela liberação dos dados
utilizados nesta tese.

Aos Drs. Jorge Carlos Della Fávera e Adriano Roessler Viana, pelas
sugestões, discussões e, principalmente, pela orientação segura, competente e
serena.

Ao Dr. Luiz Antônio Pierantoni Gamboa, co-orientador da dissertação de


mestrado da qual se originou esta tese, pelo entusiasmo e valiosas discussões.

Um especial agradecimento a Jairo Marcondes de Souza, coordenador do


Projeto LEPLAC na PETROBRAS, pelo apoio e incentivo ao longo dos sete anos
de trabalho no projeto.

O autor é particularmente grato ao colega Benedito Souza Gomes, pelo


fundamental apoio na interpretação dos dados de métodos potenciais e na
confecção de mapas e modelagens gravimétricas.

A gratidão é extensiva aos diversos geocientistas, da PETROBRAS e de


outras instituições, que auxiliaram na consolidação deste trabalho. Dentre as
inúmeras contribuições recebidas, destacamos as seguintes:

- o geólogo Pedro Victor Zalán prestou valiosa orientação em questões


relacionadas a estilos tectônicos e feições estruturais, além de manter um
constante incentivo aos estudos;

− o geólogo Jorge J. da Cunha Palma, da UFF-LAGEMAR, manteve


reiterado suporte aos trabalhos, principalmente nos assuntos vinculados à
geomorfologia e à evolução das zonas de fratura oceânicas;
XIX
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE

− o geólogo Saulo F. Santos contribuiu com importantes observações


acerca da evolução tectono-sedimentar das bacias de Sergipe, Alagoas e
Pernambuco-Paraíba.

− o geofísico Luiz Fernando S. Braga foi um referencial em questões


relacionadas a métodos potenciais e tectonofísica;

− o geólogo Roberto S. F. D’Avila gentilmente permitiu a apresentação de


suas idéias sobre a influência das correntes de contorno no retrabalhamento de
depósitos turbidíticos;

Também por importantes contribuições geológico-geofísicas, o autor


agradece a César Cainelli, Carlos E. de Souza Cruz, Webster U. Mohriak, Mário
Carminatti, Renato O. Kowsmann e Gilberto H. N. Masiero.

Aos colegas do Projeto LEPLAC, Luiz Romano Russo (in memoriam),


Maria do Carmo G. Severino, Sávio F. de Melo Garcia, João Alberto B. de
Oliveira, João Luiz B. da Silva, Desidério Pires Silveira e Márcio B. D’Ávila Franca,
minha gratidão pelo apoio e companheirismo.

Finalmente, à Gerência de Exploração da Amerada Hess Corporation, pela


liberação para conclusão deste trabalho, bem como às colegas da Amerada Hess
Ltda., Bárbara Reis e Jacqueline Brito, pelo escaneamento de figuras e ajuda na
preparação dos vários volumes da tese.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 1

1. INTRODUÇÃO

Embora caracterizado pela presença de relevantes feições fisiográficas e


intrigantes estruturas tectono-sedimentares, o segmento nordeste da Margem
Continental Brasileira permanece como uma região relativamente pouco
conhecida, em termos geológico-geofísicos. Até o momento, a indústria do
petróleo – tradicional impulsora de avanços nas geociências marinhas –
focalizou seus esforços preferencialmente na plataforma e talude continental
das bacias de Sergipe e Alagoas e na porção offshore setentrional da Bacia
Potiguar. Toda a região que separa estes dois alvos exploratórios, entre as
latitudes de 5o S e 10o S, para oeste do meridiano de 35o W, caracteriza-se por
uma relativa deficiência de dados geológicos e geofísicos (Fig. 1.1). Algo similar
ocorre ao sul da bacia de Sergipe, particularmente na região de sopé continental
adjacente às bacias de Jacuípe e Camamu, entre as latitudes de 12o S e 15o S.

Alguns levantamentos efetuados no âmbito do Projeto REMAC –


Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira – fomentaram as
pesquisas ao longo dessa região na década de setenta e no início da década de
oitenta, resultando em importantes trabalhos reunidos em uma conhecida série de
publicações (Chaves, 1979). Novos avanços no conhecimento geofísico da área
foram obtidos em meados dos anos oitenta com o Projeto CENTRATLAN, conduzido
conjuntamente pelo Naval Research Laboratory (NRL) dos Estados Unidos e pela
Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil (Gorini e Fleming,
1982). Todavia, somente os dados de sísmica de reflexão multicanal, gravimetria,
magnetometria e batimetria de precisão do Projeto LEPLAC – Plano de
Levantamento da Plataforma Continental Brasileira –, coletados no início da década
de noventa, por intermédio de uma parceria entre a Marinha do Brasil e a
PETROBRAS1 , permitiram levar as pesquisas a um nível mais detalhado. Os dados
altimétricos coletados pelo satélite GEOSAT foram também fundamentais no
aprimoramento dos estudos, possibilitando uma melhor compreensão das feições
estruturais presentes na porção nordeste de nossa margem continental.

1
O Projeto LEPLAC é um programa governamental que tem por objetivo redimensionar a área
oceânica sob jurisdição brasileira, em consonância com os preceitos estabelecidos pela
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
2

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Figura 1.1 - Mapa batimétrico do segmento nordeste da Margem Continental Brasileira e bacia oceânica adjacente, mostrando a localização das linhas
geofísicas utilizadas neste estudo (adaptado de Cherkis et alii, 1989).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 3

No presente trabalho, procura-se apresentar os resultados da


interpretação deste volume de dados em uma área situada entre as latitudes de
4o S e 14o S, que se estende desde o flanco sul da Cadeia Fernando de
Noronha até o limite meridional dos Montes Submarinos da Bahia (Fig. 1.1). Os
resultados representam, na verdade, uma evolução das conclusões advindas da
última etapa de mapeamento do Projeto LEPLAC na PETROBRAS, as quais
foram preliminarmente apresentadas no Simpósio “Geologia e Geofísica das
Margens Continentais”, durante o V Congresso Internacional da Sociedade
Brasileira de Geofísica (Gomes e Gomes, 1997; Gomes, 1997). Ainda como
resultado deste encontro técnico-científico, foi editado o volume “Atlantic Rifts
and Continental Margins” (Mohriak e Talwani, 2000), que engloba uma série de
estudos geofísicos ao longo de várias regiões do globo, incluindo os aspectos
relativos à evolução tectônica de nossa margem continental nordeste (Gomes et
alii, 2000; ver Anexo A1).

As conclusões expostas naquele evento, que envolvem basicamente


aspectos relativos à evolução tectônica da margem continental nordeste, foram
aqui desenvolvidas e correlacionadas com o processo de preenchimento
sedimentar da região, na tentativa de aumentar a abrangência temática da tese,
impondo-lhe um caráter multidisciplinar. O estudo foi então sub-dividido em
quatro tópicos principais, que tratam, respectivamente, da transição crosta
continental/crosta oceânica, da evolução tectônica da crosta oceânica, das
seqüências que compõem a cobertura sedimentar da área e dos processos
erosivos submarinos que afetam o pacote de sedimentos.

No primeiro tópico (Capítulo 3) discute-se, por intermédio de imagens


sísmicas e modelagens gravimétricas, aspectos relativos à distensão crustal e à
implantação de crosta oceânica. A partir da observação de mudanças no estilo
de transição crustal, procura-se também inferir possíveis alterações no regime
termomecânico ao longo das bacias sedimentares.

No capítulo seguinte, é apresentada e discutida uma interpretação


atualizada do posicionamento das zonas de fratura na margem continental
nordeste. Neste item, são também abordados aspectos evolutivos da crosta
oceânica relacionados às zonas de fratura, à atuação de plumas do manto e a
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 4

possíveis anomalias no processo de espalhamento do assoalho oceânico que


afetaram a região.

Outro importante tópico, no capítulo 5, refere-se ao estudo do pacote


sedimentar que recobre os domínios profundos do segmento nordeste de nossa
margem continental. Seis supersseqüências sismicamente mapeadas – cretácea
superior, paleocênica, eocênica, oligo-miocênica, neogena média e neogena
superior-quaternária – são caracterizadas quanto às sismofácies dominantes e
tipos de depósitos sedimentares associados. Os limites de seqüências são
tentativamente correlacionados a rebaixamentos globais do nível relativo dos
mares, ligados tanto a eventos glácio-eustáticos, – que envolvem a
intensificação da circulação oceânica termo-halina e da erosão ligada às
correntes de fundo –, como também a eventos tectônicos, que podem
compreender mecanismos magmáticos, isostático-flexurais, bem como a própria
dinâmica das placas litosféricas. No término deste capítulo procura-se ainda
analisar, de uma forma bastante crítica, a aplicabilidade dos conceitos da
estratigrafia de seqüências na margem continental distal.

A impressionante intensidade dos processos erosivos submarinos em


profundidades abissais, particularmente no sopé continental adjacente às bacias
de Sergipe e Alagoas, constitui o tema central abordado no tópico final da tese
(Capítulo 6). Nesse capítulo, discute-se brevemente as diferenças entre
correntes turbidíticas e correntes termo-halinas e especula-se sobre a atuação
conjugada das mesmas em períodos de rebaixamento do nível marinho. Faz-se
uma descrição genético-morfológica do Canal Submarino de Pernambuco, uma
feição erosiva que se estende por mais de 750 km no sopé continental defronte
aos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas, conduzindo correntes de fundo entre
os contornos batimétricos de 4.600 e 5.000 metros (Fig. 1.1). Finalmente, tenta-
se associar este canal a um modelo deposicional de águas profundas, onde os
depósitos associados a correntes de contorno, conhecidos como contornitos,
assumem destacada importância.

Um sumário parcial dos temas abordados nos capítulos 5 e 6 desta tese


(Gomes e Viana, 2002, ver Anexo A2) foi publicado no Memoir 22 da Geological
Society of London, intitulado “Atlas of Deep-Water Contourite Systems: modern
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 5

drifts and ancient series, seismic and sedimentary characteristics” (Stow et alii,
2002). O referido Memoir, que faz parte do Projeto 432 do IGCP (International
Geological Correlation Programme), representa o mais atualizado e completo
compêndio sobre sedimentação associada a correntes de contorno já publicado.

1.1. Trabalhos anteriores

Alguns trabalhos fundamentais envolvendo a evolução tectono-


sedimentar da margem continental nordeste foram produzidos ao longo do
Projeto REMAC, na década de setenta e início dos anos oitenta. O controle
tectônico sobre a sedimentação na bacias marginais do nordeste brasileiro foi
discutido por Asmus e Carvalho (1978). Aspectos geomorfológicos da margem
continental leste/nordeste e bacia oceânica adjacente foram pormenorizados por
França (1979). Algumas das principais estruturas dessa porção de nossa
margem continental foram identificadas por Guazelli e Carvalho (1981). Os
primeiros mapas de isópacas da região foram confeccionados e analisados por
Carvalho e Francisconi (1981).

Ainda na década de setenta, é importante mencionar o trabalho de


reconhecimento geofísico efetuado por Summerhayes et alii (1976) na margem
continental adjacente aos estados de Sergipe e Alagoas. Damuth e Hayes
(1977) definiram padrões de ecogramas e suas relações com processos
sedimentares no segmento leste da Margem Continental Brasileira. Kowsmann e
Costa (1976) realizaram a primeira tentativa de estabelecer uma estratigrafia
sísmica na região do Platô de Pernambuco. Aspectos genético-estruturais deste
e de outros platôs marginais da região nordeste foram investigados por
Fainstein e Milliman (1979).

Em um trabalho que pode ser considerado como uma síntese do


conhecimento geológico até aquela data, Gorini e Carvalho (1984)
apresentaram um mapa com as principais feições fisiográficas e estruturais da
margem continental nordeste (Fig. 1.2). Os resultados deste trabalho foram
antecipados no “Mapa Geológico do Brasil e Área Oceânica Adjacente incluindo
Depósitos Minerais” (Schobbenhaus et alii, 1981), que reproduz basicamente as
mesmas feições geológicas destacadas por Gorini e Carvalho (op. cit.).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 6

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0
5

Figura 1.2 - Mapa fisiográfico-estrutural do segmento nordeste da Margem Continental Brasileira


(adaptado de Gorini e Carvalho, 1984), utilizado na compilação que deu origem ao Mapa Geológico do
-3
1
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5

Brasil e Área Oceânica Adjacente (Schobbenhaus et alii, 1981).


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 7

Os dados coletados durante o Projeto CENTRATLAN (1980-1989)


fomentaram importantes pesquisas, envolvendo aspectos morfoestruturais das
zonas de fratura Bode Verde e Ascensão (Fleming et alii, 1982a ; Gorini et alii,
1984; Palma et alii, 1984), bem como dos Montes Submarinos da Bahia
(Fleming et alii, 1982b; Cherkis et alii, 1992). As investigações sobre este
agrupamento de montes submarinos prosseguiram, culminando na proposição
de modelo genético-evolutivo para tal feição (Bryan e Cherkis, 1995). Ainda a
partir de dados do CENTRATLAN, Gorini et alii (1982) apresentaram algumas
considerações sobre a sedimentação na margem continental nordeste, discor-
rendo brevemente sobre a presença de canais submarinos e sobre a migração
das águas de fundo da Antártica através dessa região.

Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF)


também conduziram vários estudos na região, tratando da transição crosta
continental/crosta oceânica nos platôs de Pernambuco e do Rio Grande do
Norte (Costa e Maia, 1986; Sperle et alii, 1989), de zonas de fratura e evolução
da crosta oceânica (Palma, 1989; Sperle et alii, 1991; Mello e Dias, 1996) e da
sismoestratigrafia do Platô de Pernambuco e área adjacente (Alves e
Costa, 1986; Costa et alii, 1991; Alves et alii, 1993).

Entre o final dos anos oitenta e a década de noventa, a integração


de dados exploratórios da PETROBRAS propiciou um avanço nos estudos,
particularmente no que concerne à evolução tectono-estratigráfica (Guimarães,
1988; Lana, 1991; Chang et alii, 1992; Cainelli, 1992) e ao processo de
distensão e transição crustal nas bacias da margem continental leste-nordeste
(Castro Jr., 1988; Mohriak et alii, 1993; Mohriak et alii, 1995).

Merecem também destaque alguns trabalhos que procuram


investigar a atuação de hotspots no Atlântico Sul (Duncan,1981, O’Connor e
Duncan, 1990; O’Connor e le Roex, 1992). Entre as áreas associadas por esses
autores a possíveis anomalias mantélicas, estão aquelas ocupadas pelos
montes submarinos da Bahia e de Pernambuco e pela Cadeia Fernando de
Noronha (figs. 1.1 e 1.2), as quais são discutidas no capítulo 4 desta tese.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 8

Mais recentemente, estudos integrados trouxeram relevantes


avanços no entendimento da evolução tectono-sedimentar da margem
continental nordeste. Darros de Matos (1999) detalhou a história do rifteamento
da região e discutiu a paleogeografia regional imediatamente anterior ao
rompimento continental e instalação do Atlântico Sul. Seguindo uma linha
similar, mas com enfoque em modelagem quantitativa de bacias, Karner e
Driscoll (1999) discorreram sobre a evolução conjugada das margens leste-
Brasileira e oeste-Africana. Gomes et alii (2000), por sua vez, detalharam
aspectos da transição crosta continental-crosta oceânica e da evolução
tectônica da crosta ocêanica na margem nordeste brasileira. No mesmo ano,
Mohriak et alii (2000a) e Mohriak et alii (2000b) rediscutiram a arquitetura crustal
e evolução tectônica da região, com ênfase na Bacia de Sergipe. Por fim,
Gomes e Viana (2002) estudaram os processos de erosão e sedimentação
submarina em regiões abissais da margem nordeste, vinculados à atuação de
corrente de contorno termo-halinas naquela região.

1.2. Aquisição e processamento dos dados geofísicos

Os dados geofísicos mapeados neste trabalho, componentes dos


prospectos LEPLACs II, VII e X, foram coletados durante três campanhas entre
agosto de 1988 e setembro de 1992, por intermédio dos navios oceanográficos
"Almirante Câmara" (equipe sísmica ES-500) e "Almirante Álvaro Alberto"
(equipe sísmica ES-501), da Marinha do Brasil. Os levantamentos sísmicos
foram executados com um intervalo de tiro de 50 m, tendo como fonte sísmica
canhões de ar-comprimido do tipo air-gun. Os dados foram registrados em um
sismógrafo modelo DFS-V, com um intervalo de amostragem de 4 ms e um
comprimento de registro variando entre 10 e 12 segundos. Foi utilizado um cabo
sismográfico de 2.500 m de comprimento, com 96 ou, em algumas situações, 72
canais ativos, sempre com um intervalo de grupo de 25 metros. Dados de
gravimetria, magnetometria e batimetria de precisão foram coletados
simultaneamente com a aquisição sísmica

Os dados sísmicos foram processados na PETROBRAS (linhas da


ES-500) e na PROMON Geofísica Ltda (linhas ímpares da ES-501), seguindo
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 9

uma seqüência de processamento adequada para levantamentos profundos.


Embora empregando softwares distintos, ambas as companhias seguiram um
fluxograma básico similar, que se iniciou por uma etapa de edição e
demultiplexação dos dados, seguida por uma compensação do efeito de
espalhamento geométrico das frentes de onda. Posteriormente, os dados foram
submetidos a uma deconvolução estatítico-determinística, visando remover os
efeitos do instrumento de registro e dos fantasmas da fonte e do receptor, bem
como comprimir o pulso sísmico e atenuar múltiplas de curto período.

Na seqüência, o dados foram arranjados em famílias de ponto


comum em profundidade (CDP), visando à determinação das velocidades de
empilhamento sísmico. As análises de velocidades, foram efetuadas em perfis
de correlação a cada 2,5 km, em locais de maior complexidade geológico-
geofísica, ou a cada 5 ou 10 km, em regiões de monotonia estrutural. Em
seguida, os dados foram empilhados com correção de Dip Move Out (DMO)
(somente na PETROBRAS) e silenciamento interno e externo. Feito isso,
efetuou-se uma soma de dois traços adjacentes previamente à etapa de
migração dos dados empilhados pelo método de diferenças finitas.

No estágio final do processamento, procedeu-se à remoção de


ruídos aleatórios por filtragem preditiva radial, a qual foi seguida por um
processo de filtragem de freqüências e equalização dos traços.

1.3. Metodologia de interpretação dos dados sísmicos

O volume de dados sísmicos componente desta tese foi carregado


e interpretado em estações de trabalho, em integração com o projeto de águas
profundas das bacias de Sergipe e Alagoas, da PETROBRAS. Durante a fase
inicial de mapeamento, ligada a trabalhos específicos do Projeto LEPLAC, foram
rastreados os horizontes correspondentes ao fundo do mar, embasamento
cristalino ou oceânico, base da Formação Calumbi e topo do Cretáceo Superior.
Ainda nesta etapa, foram identificados os principais sistemas de falhamento e
possíveis superfícies de descolamento intra-crustais, bem como trechos da
Descontinuidade de Mohorovicic.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 10

Em regiões de crosta continental/transicional, o rastreamento do


topo do embasamento foi feito a partir de uma análise conjunta dos dados do
LEPLAC e da PETROBRAS, incluindo poços exploratórios. Todavia, na
ausência de uma interpretação prévia confiável do horizonte na porção distal
das bacias, foi necessário inferir seu posicionamento na maior parte das
situações.

Em domínios de crosta oceânica, o embasamento foi interpretado


a partir de uma correlação de sismofácies com as camadas um, dois e três de
Ewing (in: Kennett, 1982), que possuem as seguintes propriedades petrofísicas
e litológicas:

camada um – é a cobertura sedimentar da crosta, incluindo rochas


vulcanoclásticas. Tem espessura variável desde zero km, na cadeia
mesoceânica, até mais de 15 km, em grandes depocentros, como o Cone do
Amazonas, na margem equatorial. A densidade média é de 2.300 kg/m3 e a
velocidade média de propagação da onda sísmica compressiva (onda P) varia
entre 1,6 km/s e 2,5 km/s. A predominância de uma sismofácies
paralela/subparalela traduz a estratificação sedimentar. O contato entre as
camadas um e dois é marcado, via de regra, por uma forte reflexão (Fig. 1.3);

camada dois – compõe a parte superior da crosta oceânica


propriamente dita. Tem espessura média de 1,7 km, densidade de 2.700 kg/m3 e
velocidade de propagação da onda P entre 4,0 km/s e 6,0 km/s. É composta
predominantemente por rochas vulcânicas basálticas, e caracteriza-se por uma
sismofácies caótica, com reflexões de grande amplitude. O contato entre as
camadas dois e três, marcado por uma mudança gradual de sismofácies, não
possui boa representação sísmica (Fig. 1.3). O mapeamento da camada dois é
um meio seguro de reconhecer, sismicamente, o topo da crosta oceânica;
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
Fundo do mar

Camada 1

Topo do Embasamento

Camada 2

7
-1
0
5

Camada 3

Moho

Manto

-3
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0
5

Figura 1.3 - Seção-tipo para interpretação sísmica em crosta oceânica. O topo da camada dois representa o embasamento acústico. A base da camada três
representa o contato crosta/manto, ao qual está associada a Descontinuidade de Mohorovicic.

11
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 12

camada três – sotoposta à anterior, tem espessura média de 4,7


km, densidade de 3.000 kg/m3 e velocidade de propagação da onda P em torno
de 6,7 km/s. Litologicamente, estima-se que seja formada por rochas de
composição gabróica. Sua homogeneidade petrofísica traduz-se pela
predominância de uma sismofácies transparente (Fig. 1.3). Seu limite inferior é a
descontinuidade de Mohorovicic, na transição entre a crosta e o manto.

Uma segunda etapa de mapeamento, priorizando os horizontes


internos ao pacote sedimentar, foi efetuada com vistas ao desenvolvimento
desta tese. Nessa etapa, procurou-se identificar as principais superfícies de
discordância da margem continental nordeste, as quais caracterizam limites de
supersseqüências deposicionais, provavelmente associados a flutuações
globais do nível marinho (ver itens 5.1 e 5.2). Aproveitou-se esta nova etapa de
mapeamento para proceder a uma revisão dos horizontes previamente
interpretados, em especial o Cretáceo Superior e a base da Formação Calumbi,
a qual, embora sismicamente concordante nas regiões mais distais, representa
um marcante horizonte, em termos de refletividade, em várias bacias da
margem continental nordeste 2 .

Foram rastreadas, em toda a área, cinco superfícies


megarregionais de discordância estratigraficamente associadas, da base para o
topo, ao Cretáceo Superior, à base do Eoceno, à base do Oligoceno, ao
Mioceno Inferior e ao Mioceno Médio Superior. As três superfícies mais basais
representam uma continuidade dos limites de seqüências mapeados por Cainelli
(1992), em sua tese de doutoramento sobre a evolução sedimentar
neocretácea/terciária na Bacia de Sergipe. Dessa forma, foram sismicamente
amarradas a linhas geofísicas da PETROBRAS, as quais, por sua vez, foram
correlacionadas a poços exploratórios perfurados na plataforma continental da
referida bacia.

2
Nas bacias de Jacuípe e Camamu, situadas imediatamente ao sul da Bacia de Sergipe, o
horizonte rastreado representa a base da Formação Urucutuca, uma unidade litoestratigráfica
correlata à Fm. Calumbi. As idades relativas a este horizonte, situadas sempre dentro do
Cretáceo Superior, variam desde turonianas (± 90 Ma), na Bacia de Jacuípe, até campanianas
(± 75 Ma), na Bacia de Pernambuco-Paraíba.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 13

A quarta superfície de discordância, situada imediatamente acima


da base do Oligoceno, não pôde ser amarrada com dados de poços, uma vez
que os intensos processos gravitacionais do tipo slide e slump junto ao talude
continental impediram seu rastreamento até a região plataformal. Não obstante,
procurou-se referenciar tal horizonte ao poço DSDP-24A, no objetivo de estimar
uma idade aproximada para o evento sísmico. Nesta tentativa, obteve-se uma
idade referente ao Mioceno Inferior para reflexões situadas próximo ao nível da
discordância rastreada (ver cap. 7).

Um quinto e último evento sísmico discordante, intrinsecamente


associado à ação das correntes de fundo e à deposição de drifts sedimentares
contorníticos (ver ítens 5.1.6 e 6.2), foi também identificado na metade norte da
área. A partir da amarração com o poço DSDP-24A, este evento foi
correlacionado ao Mioceno Médio Superior.

No capítulo 5 é apresentada uma discussão envolvendo a natureza


das superfícies de discordância mapeadas e as características das seqüências
limitadas por tais desconformidades, onde se procura identificar os diferentes
tipos de sismofácies e depósitos sedimentares correlatos.

1.3.1. Limitações no mapeamento sísmico


A principal limitação encontrada nos trabalhos de
interpretação sísmica refere-se à escassez de dados estratigráficos de poços,
particularmente no talude e sopé continentais, impossibilitando uma melhor
amarração das diversas superfícies rastreadas. As correlações efetuadas na
plataforma continental da Bacia de Sergipe e transportadas para domínios de
talude foram extrapoladas para regiões abissais, onde existem apenas dois
poços do Deep Sea Drilling Project (DSDP), perfurados em 1969, a mais de
1.000 km do ponto de amarração.

Além disso, a própria malha sísmica, com linhas espaçadas


de 300 km, em média, constituiu um fator limitante no processo de mapeamento.
Problemas envolvendo interrupções na continuidade de refletores, devido à
freqüente ocorrência de montes submarinos e outras elevações vulcânicas,
dificultaram sobremaneira o rastreamento. Na impossibilidade de contornar os
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 14

obstáculos vulcânicos, em função da malha insuficiente de dados, foi necessário


inferir a continuidade lateral das superfícies rastreadas, tomando-se por base as
características dos refletores, a similaridade das sismofácies e as espessuras
dos pacotes de sedimentos.

Para o caso de eventos discordantes, que representa a


situação predominante na área, pôde-se proceder a uma correlação lateral
razoavelmente confiável. Todavia, no extremo sul da área mapeada, em
especial nas linhas 501-0002 e 501-0003 (Fig. 1.1), onde os mesmos eventos
apresentam-se como concordâncias correlativas, ocorreu uma redução na
confiabilidade do rastreamento. Tentou-se, nessa região, compensar tal
deficiência a partir de uma correlação estratigráfica com poços na plataforma
continental da Bacia de Camamu. A tentativa, entretanto, não obteve sucesso,
visto que os poços mais distais desta bacia não apresentam um adequado
registro da seção sedimentar terciária. Além disso, a própria fisiografia da
região, caracterizada por um talude íngreme, é responsável por uma deterioração
na qualidade sísmica, que impede a transposição dos refletores da plataforma
continental até domínios mais profundos.

Se o próprio exercício de rastreamento de discordâncias já


apresenta uma série de limitações, deve-se considerar também o grau de
incerteza relacionado à amarração cronoestratigráfica destes eventos, que é
proporcional ao hiato envolvido na superfície mapeada. Este hiato caracteriza a
ausência de um pedaço do registro sedimentar em um determinado intervalo
cronológico, durante o qual ocorreu erosão e/ou não-deposição. Sua duração
varia regionalmente, podendo envolver desde centenas de milhares de anos, na
plataforma continental, a alguns milhões de anos, no sopé continental, ou vice-
versa. Dessa forma, deve-se destacar que a denominação aqui empregada para
referenciar as discordâncias, embora vinculada a uma idade específica (p. ex.,
base do Oligoceno), refere-se mais propriamente a um intervalo temporal, que
engloba um período situado entre o início dos processos erosivos e a retomada
da sedimentação (Fig. 1.4).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 15

POLARIDADE
TEMPO MAGNÉTICA ZONAS TIMING DE UM EVENTO T
HISTÓRIA CHRONS P NP

C20
P11
SEÇÃO A

NP15

seq.
50 sobrejac ente

C21 P10

seq.
sobrejac ente

NP14 Superficie superior (mais jovem)


T3

hiato T2 discordância

7
-1
0
5

P9 T1 Superficie inferior (mais antiga)

C22
NP13 seq.
subjacente

seq.
subjacente

P8
C23 NP12

55

C24 P7 NP11

Figura 1.4 - Significado cronoestratigráfico de um hiato erosivo. Um limite de seqüências discordante é


composto por duas superfícies genéticas, entre as quais está envolvido um hiato cuja duração só poderá
ser estimada a partir de estudos magnetobiocronológicos. O evento responsável pelo desenvolvimento da
discordância na seção A (i.e., um rebaixamento no nível relativo do mar) pode ter ocorrido em qualquer
-3
1
0
5

tempo entre T1 e T3. Se aconteceu exatamente no tempo T1, nem erosão nem deposição ocorreram até
a formação da seqüência sobrejacente, a partir de outro ciclo eustático. Se o evento aconteceu no
tempo T3, a seqüência subjacente teria se depositado continuamente até este tempo, sendo, então,
submetida a um rápido processo erosivo imediatamente antes da deposição da seqüência superior.
Tendo ocorrido em qualquer tempo T2, entre T1 e T3, o hiato envolveria os efeitos combinados de erosão
e não deposição, subseqüentes a uma queda no nível marinho relativo (adaptado de Aubry, 1991).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 16

2. FISIOGRAFIA DA ÁREA

As três principais províncias fisiográficas que constituem uma margem


continental, de acordo com Heezen et alii (1959) – plataforma, talude e sopé ou
elevação continental –, estão bem representadas no bloco-diagrama do
assoalho oceânico da Figura 2.1, confeccionado a partir de um mapa batimétrico
integrado do segmento nordeste da Margem Continental Brasileira.
Verticalmente exagerado em 15 vezes, o bloco individualiza, além das referidas
províncias, feições fisiográficas de destaque tais como cânions e canais
submarinos, platôs marginais, zonas de fratura e montes e picos submarinos. A
Bacia Oceânica do Brasil, da qual fazem parte a Planície Abissal de
Pernambuco e as províncias de colinas abissais adjacentes (Fig 2.2), não
chegou a ser recoberta pelo volume de dados analisado neste trabalho.

2.1. Plataforma continental 3


A área estudada apresenta uma plataforma continental
comparativamente mais estreita que os demais segmentos da Margem
Continental Brasileira. De acordo com o Mapa Fisiográfico da Margem
Continental Leste do Brasil (Fig. 2.2), publicado no Projeto REMAC a partir de
um trabalho de França (1979), a largura da plataforma na região varia desde 48
km, na Ponta do Calcanhar (RN), em torno da latitude de 5o S, até um mínimo
de 8 km, defronte a Salvador (BA). Para França (op. cit.), as razões para tal
estreitamento envolvem tanto a configuração estrutural dessa porção da Placa
Sul-Americana como as reduzidas taxas de erosão terrestre e de sedimentação
marinha, em função das dimensões restritas e do caráter tropical das bacias de
drenagem da faixa emersa adjacente (Summerhayes et alii, 1976).

3
Apenas dois perfis geofísicos recobriram a borda da plataforma continental na porção sul da
área estudada. As demais linhas de orientação dip foram registradas somente a partir do talude
superior.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
17

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 2.1- Bloco-diagrama do assoalho oceânico da margem continental nordeste.


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
18

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 2.2 - Mapa fisiográfico do Projeto REMAC abrangendo o


segmento leste da Margem Continental Brasileira (adaptado de
França,1979). 1) Plataforma continental; 2) talude continental; 3)
sopé continental; 4) planície abissal.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 19

Em termos de declividade, os valores médios da plataforma


continental situam-se em torno de 1:500 (2 m/km). A quebra da plataforma,
marcando uma transição relativamente abrupta para o talude, desenvolve-se
entre as isóbatas de 50 e 80 metros. As feições erosivas mais destacadas,
principalmente na plataforma externa, de norte para sul, são o Cânion de Natal
(RN), os canais de Cabedelo (PB), Maceió e Coruripe (AL), bem como os
cânions São Francisco, Piranhas/Sapucaia, Japaratuba, Vaza-Barris, Real (SE),
Salvador, Itaparica e Camamu (BA).

2.2. Talude continental

O talude continental da margem continental nordeste apresenta


uma largura média de 95 km, variando desde um mínimo de 45 km, nas
imediações de Natal, até atingir 140 km, na região do Platô de Pernambuco
(França, 1979). Suas declividades situam-se na faixa de 1:5 (12o) e 1:130 (0,4o),
e seu limite com o sopé continental, conhecido como pé do talude, ocorre de
forma suave, entre as cotas batimétricas de 3.400 e 4.400 m, conforme mostra o
mapa fisiográfico do REMAC (Fig. 2.2). Dentre as feições fisiográficas mais
importantes nos domínios do talude continental estão os platôs do Rio Grande
do Norte e de Pernambuco e a continuação dos canais e cânions observados na
plataforma, com destaque para os cânions São Francisco, Japaratuba e
Salvador.

O segmento de talude continental mais intensamente afetado por


processos erosivos é o da Bacia de Sergipe, onde se encontra instalado um
importante sistema de cânions e canais submarinos, detalhadamente estudado
por Cainelli (1992). Segundo aquele autor, a atual superfície do talude nessa
região está sujeita a um generalizado processo de escavação de cânions e
perda de massa, num panorama similar ao de um talude destrutivo (Brown e
Fisher, 1980 apud Cainelli, op. cit.) ou de uma margem de plataforma
retrogradacional (Winker, 1984 apud Cainelli, op. cit.).

O mesmo autor aponta a existência de dois tipos de cânions


modernos: os grandes cânions maduros, que recortam profundamente a
plataforma continental (Japaratuba – Fig. 3.4 – e São Francisco), e os imaturos,
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 20

cujas cabeceiras escavam somente a plataforma externa e o talude superior


(Piranhas/Sapucaia e Real). Os cânions de São Francisco e Japaratuba (Fig.
2.1) estendem-se por 18 km e 24 km plataforma continental adentro, com
profundidades máximas de 850 m e 1.300 m junto à quebra da plataforma,
respectivamente. Suas larguras variam de 2 a 13 km, e sua atividade erosiva
pode ser observada a cerca de 200 km da linha de costa, em torno da cota
batimétrica de 4.200 metros. Os dois mais expressivos cânions imaturos –
Piranhas/Sapucaia e Real –, que atingem larguras de 5 km e 4 km, bem como
profundidades de 800 m e 510 m, respectivamente, têm a sua influência erosiva
bastante reduzida após a isóbata de 3.000 metros.

Mais ao sul, na Bacia de Camamu, uma outra série de cânions –


todos incidentes até a plataforma interna – encontra-se instalada no talude
continental (figs. 1.1 e 1.2), cuja porção superior é uma das mais íngremes de
toda a região estudada, com declividades da ordem de 1:5 (12o). A feição mais
expressiva é o Cânion Salvador, que apresenta 10 km de largura entre as
paredes da incisão na cota batimétrica de 200 m, bem como uma profundidade
de 1.000 m junto à isóbata de 20 metros (França, 1979). Esta canalização
estende-se para domínios de sopé continental, podendo ser observada junto ao
pé do talude da linha 501-0003.

Dois expressivos platôs marginais encontram-se inseridos no


talude continental da região nordeste, formando extensos patamares com
declividades médias relativamente mais baixas. O Platô do Rio Grande do Norte
(figs. 2.1 e 2.2), situado em torno da latitude de 5o S, possui um eixo maior de 70
km na direção norte-sul, bem como uma largura média de 18 km, entre as cotas
batimétricas de 800 e 1.200 m. Seu topo, fisiograficamente pouco acidentado,
compreende cerca de 1.350 km2 de área, e seu escarpamento externo, com
declividades maiores na borda leste, estende-se até a batimetria de 3.600
metros (França, op. cit.).

O Platô de Pernambuco (figs. 2.1 e 2.2), com uma área total de


2
2.940 km entre as isóbatas de 800 e 2.400 m, é composto por dois patamares,
que estão desnivelados entre si por cerca de 1.100 m e separados por uma
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 21

escarpa íngreme e irregular, de direção geral leste-oeste. O patamar norte é o


maior, ocupando 1.840 km2 entre as batimetrias de 1.000 e 1.200 m,
predominantemente. O patamar sul, por sua vez, possui uma superfície de
1.100 km2 disposta entre as cotas batimétricas de 2.400 e 2.500 metros (França,
1979). Ambos são intensamente afetados por processos erosivos, os quais são
responsáveis pela escavação de inúmeros cânions submarinos (ver Fig. 3.10).

Um conceito bastante difundido, que remonta à aplicação da teoria


da tectônica de placas no Atlântico Sul, relaciona a origem dos platôs da
margem continental à barragem da progradação sedimentar junto a franjas de
montes submarinos ou cadeias vulcânicas paralelas à borda do continente.
Estudos mais recentes indicam, contudo, que tanto os platôs marginais da
região nordeste, como o Platô de São Paulo, na margem continental sudeste,
estão intimamente ligados a processos de distensão crustal diferencial (Macedo,
1987; Gomes e Gomes, 1997), onde determinados segmentos de crosta
continental sofreram um estiramento mais gradual, com importante controle a
partir das zonas de fratura.

2.3. Sopé continental

Constituindo a província mais extensa da Margem Continental


Brasileira, o sopé ou elevação continental é composto de duas porções (Palma,
1984): a superior possui gradientes horizontais entre 1:60 e 1:200, com um
relevo formado por colinas baixas e arredondadas, com suas depressões
intermediárias, nas quais os desníveis relativos são inferiores a 100 m; a porção
inferior tem gradientes médios variando de 1:300 a 1:1.000, com um relevo
dominado por planícies e, ocasionalmente, regiões suavemente onduladas. Na
margem continental nordeste, essa monotonia fisiográfica é quebrada pela
presença de expressivos canais submarinos e, principalmente, de montes, picos
e outras elevações vulcânicas submarinas, que ocorrem de forma isolada ou em
agrupamentos alinhados.

No extremo norte da área, elevando-se acima do sopé continental


entre 3 S e 4,5o S e estendendo-se da base do talude até cerca de 31o W,
o

destaca-se a Cadeia Fernando de Noronha (figs. 2.1 e 2.2). Próximo da


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 22

extremidade oriental da cadeia, uma elevação vulcânica com cerca de 60 km de


diâmetro basal emerge para formar o Arquipélago Fernando de Noronha. Outros
montes submarinos, também originados por vulcanismo e alinhados na mesma
direção leste-oeste, ascendem até batimetrias de 250 m; alguns quase
alcançam a superfície, como no caso do Atol das Rocas; e vários constituem
guyots – montes com topo aplainado por erosão marinha (Damuth e Palma,
1979).

Outros importantes agrupamentos de elevações vulcânicas no


sopé continental são os montes submarinos da Paraíba, Pernambuco e Bahia,
em torno das latitudes de 7o S, 9o S e 13o S, respectivamente (figs. 2.1 e 2.2).
Os montes submarinos da Paraíba e de Pernambuco possuem uma relativa
continuidade entre si, formando um alinhamento de direção geral NW-SE que
vai do Lineamento da Paraíba à Zona de Fratura Ascensão, aproximadamente
entre 6o S e 10o S (Fig. 1.2). O alinhamento, na verdade, é composto por uma
alternância de segmentos N-S e NW-SE, formando um característico arranjo en
échelon, cuja origem é tentativamente discutida no item 4.2. O mais alto monte
submarino desse agrupamento, situado em torno do PT 8.600 da linha 500-0172
(ver Fig. 4.3), eleva-se a cerca de 3.000 m acima do fundo marinho 4 e a mais de
4.200 m do embasamento oceânico adjacente.

A cerca de 200 km para sul, ao largo dos estados da Bahia,


Sergipe e Alagoas, encontram-se os Montes Submarinos da Bahia, que
correspondem a mais de quarenta montanhas vulcânicas dispostas ao longo de
três alinhamentos aproximadamente paralelos, de direção NW-SE (Fleming et
alii, 1982b). Destes alinhamentos, o mais conspícuo é o meridional, do qual faz
parte a Cadeia Ferraz (Cherkis et alii, 1988; Ferraz Ridge na Fig. 1.1), cujos
picos, partindo de profundidades de 4.500 m, ascendem a batimetrias situadas
na faixa de 2.200 a 990 metros. Compondo os alinhamentos mais setentrionais
dos Montes Submarinos da Bahia, também se destacam os montes Almirante
Câmara, Gröll e Stocks, cujos topos se encontram a profundidades de 1.975 m,
1.860 m e 1.480 m, respectivamente (Fig 1.1). Alguns aspectos

4
Para efeito de comparação, o ponto mais elevado na porção terrestre do Brasil é o Pico da
Neblina (RO), com 3.014 m de altitude.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 23

tectono-magmáticos relativos à implantação destas elevações submarinas são


abordados no item 4.2.

Interceptando os Montes Submarinos da Bahia, o Canal Submarino


de Pernambuco (Gorini et alii, 1984; Cherkis et alii, 1989) destaca-se como uma
expressiva feição erosivo-deposicional no segmento nordeste da Margem
Continental Brasileira, conduzindo as correntes de fundo entre os contornos
batimétricos de 4.600 e 5.000 metros. As primeiras inflexões nas curvas
batimétricas associadas à incisão do canal podem ser observadas em torno da
latitude de 15o S, a partir de onde, numa direção SW-NE, ele segue até
encontrar uma constrita passagem de cerca de 35 km entre montes submarinos
da Cadeia Ferraz. A partir daí, já dentro da área ocupada pelos Montes
Submarinos da Bahia, o canal aprofunda-se, devido ao aumento da velocidade
da corrente associado à constrição, seguindo uma orientação aproximada norte-
sul até a latitude de 11o S. Nesse ponto, ao sofrer uma inflexão
topograficamente controlada para leste, à semelhança de um meandro fluvial, o
canal recebe dois tributários, vindos de sudoeste e sudeste, respectivamente.

“Revigorado” pela chegada dos tributários, o canal retoma a


direção inicial SW-NE e segue nesse rumo até sua desembocadura final, na
Planície Abissal de Pernambuco. Antes disso, porém, ele atravessa uma região
fisiograficamente monótona, situada logo após a última constrição dos Montes
Submarinos da Bahia. Nessa área, a corrente perde velocidade e capacidade
erosiva, favorecendo a deposição sedimentar. Todavia, inflexões nas curvas de
contorno batimétrico indicam que uma canalização suavizada prossegue para
nordeste, chegando a transpor os Montes Submarinos de Pernambuco. Vencido
o último obstáculo, o Canal Submarino de Pernambuco “deságua” na planície
abissal homônima, em torno de 9o S, após um percurso de cerca de 800 km de
extensão no fundo marinho. Outros detalhes morfológicos deste canal, bem
como aspectos relativos à sua origem, evolução e depósitos sedimentares, são
apresentados no item 6.4.

Um aspecto curioso, ainda relativo ao Canal Submarino de


Pernambuco, é que a feição não está representada tanto nos mapas
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 24

batimétricos e fisiográficos do Projeto REMAC (Chaves et alii, 1979), como no


Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica Adjacente (Schobbenhaus et alii,
1981). Na verdade, apesar da escassez de dados na época da confecção
destes mapas, sabia-se da existência de canais profundos na margem
continental nordeste. Todavia, vigorava fortemente o conceito de que correntes
de fundo turbidíticas e deslizamentos gravitacionais, carreando sedimentos
terrígenos a partir da plataforma continental através do talude, seriam os
principais processos construtores da cobertura sedimentar no sopé continental e
planície abissal (Fairbridge, 1966 apud Chaves et alii, op. cit.).

Influenciados por tal paradigma, os pesquisadores, tendo em mãos


perfis isolados de batimetria ou de sísmica monocanal, nos quais se destacavam
expressivos canais no sopé continental, inferiram uma conexão destes com
cânions no talude superior, segundo uma direção predominante leste-oeste. Daí
originaram-se feições como o “Cânion Oceânico Alagoas” (França, 1979), no
mapa fisiográfico do Projeto REMAC (Fig. 2.2), e os “Cânions e Canais do São
Francisco” (Gorini e Carvalho, 1984), no Mapa Geológico do Brasil (Fig. 1.2).
Estes, em particular, possuem expressividade fisiográfica e realmente atingem o
sopé continental, mas não apresentam a extensão e a continuidade sugerida por
aqueles autores.

Somente os dados coletados no Projeto CENTRATLAN (ver item


1.1) permitiram o mapeamento do Canal Submarino de Pernambuco, de direção
geral norte-sul. As primeira menções à sua existência, já considerando a
migração de águas de fundo da Antártica, partiram de Gorini et alii (1982) e
Gorini e Carvalho (1984). O mapa batimétrico do Atlântico Sul (Fig. 1.1),
publicado por Cherkis et alii (1989), evidenciou definitivamente a feição. Mais
adiante, já com ampla aceitação e difusão dos conceitos de circulação termo-
halina e correntes de contorno (ver item 6.3), Cherkis et alii (1992) reiteraram a
relação entre o canal e a migração da corrente de fundo da Antártica (AABW) na
margem continental nordeste.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 25

2.3.1. Zonas de fratura

Zonas de fratura oceânicas (ZFs) são estruturas intraplaca


que limitam segmentos crustais de diferentes idades, representando “cicatrizes”
de antigas falhas transformantes. No sopé continental adjacente à costa
nordeste, algumas ZFs constituem também importantes feições fisiográficas,
pois formam conspícuos alinhamentos de topografia positiva, facilmente
reconhecíveis nos mapas batimétricos. Esta topografia positiva, associada à
presença de cadeias vulcânicas transversais, é denunciada por fortes inflexões
nas curvas batimétricas, as quais podem ser acentuadas pela presença de
desníveis regionais no fundo marinho, ligados à barragem da sedimentação
pelas ZFs, e pela instalação de correntes submarinas paralela ou
tranversalmente à tais estruturas.

As primeiras investigações em zonas de fratura foram


realizadas por Murray (1939) e Menard e Dietz (1952), no Pacífico Norte. A partir
de então, diversos estudos, tendo à frente os pesquisadores H. W. Menard e B.
C. Heezen, permitiram também o reconhecimento dessas estruturas no Pacífico
Sul e nos oceanos Atlântico e Índico. Feições estruturais lineares possivelmente
ligadas a zonas de fratura foram também identificadas na Margem Continental
Brasileira, a partir dos trabalhos de Gorini et alii (1974), Rezende et alii (1977),
Asmus e Carvalho (1978), Guazelli e Carvalho (1981), Fleming et alii (1982a) e
Gorini e Carvalho (1984). Os seguintes sistemas de lineamentos 5 /zonas de
fratura foram reconhecidos no segmento nordeste de nossa margem continental:
Zona de Fratura Fernando de Noronha, lineamentos da Paraíba, Pernambuco,
Maceió, Sergipe e Zona de Fratura Bode Verde/Lineamento de Salvador.

Todas estas estruturas constam do Mapa Geológico do


Brasil e da Área Oceânica Adjacente (Schobbenhaus et alii, 1981), cuja versão
simplificada, abrangendo a região da margem continental nordeste, foi
apresentada na Figura 1.2. Fisiograficamente, as feições mais destacadas são a
Cadeia Fernando de Noronha, descrita anteriormente, e o Lineamento de

5
O termo “lineamento”, amplamente utilizado nos trabalhos do Projeto REMAC, refere-se às
estruturas transversais que não possuem comprovada conexão com a Cadeia Meso-Atlântica,
de acordo com a acepção de Asmus e Guazelli (1981).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 26

Salvador, uma cadeia vulcânica transversal identificada por Guazelli e Carvalho


(1981), em torno da latitude de 14o S, que se estende por cerca de 400 km na
direção leste-oeste, entre as longitudes de 28o W e 31,5o W (Fig. 2.1). As
elevações componentes desta feição, partindo de cotas batimétricas de mais de
5.000 m, ascendem até profundidades situadas entre 4.000 e 2.800 metros.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 27

3. TRANSIÇÃO CROSTA CONTINENTAL-OCEÂNICA

Os mecanismos atuantes no processo de transição de crosta continental


para crosta oceânica mudam consideravelmente desde a Bacia de Sergipe,
localizada ao sul da Zona de Fratura Ascensão (Fig. 3.1), até o Platô do Rio
Grande do Norte, na Bacia Potiguar, em função de alterações nos regimes
termomecânicos e nas próprias características reológicas da crosta rifteada.
Enquanto que nas Bacias de Sergipe e Alagoas tem-se a transição a partir de
um afinamento crustal extremamente rápido, envolvendo intensa atividade
magmática e implantação de cunhas de seaward-dipping reflectors (Mohriak et
alii, 1995), na Bacia de Pernambuco-Paraíba tem-se a formação de um platô
marginal nos domínios distais da crosta continental, onde as evidências de
vulcanismo nas seções sísmicas não são tão marcantes quanto às constatadas
ao sul. Mais ao norte, na Bacia Potiguar, a transição ocorre de forma brusca,
num contexto tectônico de “margem transformante”, onde os esforços
cisalhantes assumem destacada importância.

Nos sub-itens a seguir, são apresentadas e discutidas algumas imagens


sísmicas que recobrem a região de transição crustal das bacias de Sergipe,
Alagoas, Pernambuco-Paraíba e Potiguar 6 . As seções sísmicas são mostradas
em versões interpretadas e não-interpretadas, acompanhadas, respectivamente,
das modelagens gravimétricas e dos perfis de gravidade ar-livre (figs. 3.4 a
3.18). Na Figura 3.1, pode-se conferir a localização dos trechos de linhas
modelados, juntamente com o posicionamento das zonas de fratura na margem
continental nordeste, assunto a ser discutido no capítulo seguinte. A Fig. 3.2, por
sua vez, mostra a localização das linhas geofísicas sobre um mapa de
anomalias Bouguer, elaborado a partir de uma composição de dados do Projeto
LEPLAC, da PETROBRAS e do GEOSAT.

6
Este estudo não abrange a área mais meridional, onde estão localizadas as bacias de Jacuípe
e Camamu. Nesta região, o mapeamento restringiu-se aos domínios de crosta oceânica.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 28

(LINEAMENTO DE TOUROS)

7
-1
0
5

Figura 3.1 - Mapa de localização das linhas geofísicas utilizadas neste trabalho. A conexão sugestiva
dos lineamentos de Schobbenhaus et alii (1981) com zonas de fratura baseia-se, principalmente, na
análise dos dados do GEOSAT. A interpretação sísmica dos trechos das linhas dip destacados em
highlight é apresentada nas figuras 3.4, 3.7, 3.9 e 3.12, com as respectivas modelagens gravi-
métricas. As seções strike megarregionais apresentadas nas figuras 4.2 e 4.3 estão também desta-
cadas em highlight.
-3
1
0
5
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 29

Cadeia F. de Noronha

Platô do
RGN

Mts. Submarinos
de Pernambuco
Platô de
Pernambuco
7
-1
0
5

Z. F. Ascensão

Z. F. Sergipe (?)

Mts. Submarinos
da Bahia

-3
1
0
5

Fig. 3.2 - Mapa da gravidade Bouguer 3-D da margem continental nordeste (densidade Bouguer
= 2,2 g/cm3). Notar os alinhamentos NW-SE associados aos Montes Submarinos da Bahia, cuja
origem parece estar vinculada a um hotspot (adaptado de Gomes et alii, 2000).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 30

3.1. Bacias de Sergipe e Alagoas

A região de transição crustal das bacias de Sergipe e Alagoas foi


amplamente estudada pela PETROBRAS, com destaque para os trabalhos de
Pontes et alii (1991), Chang et alii (1992), Mohriak e Rabelo (1994), Mohriak et
alii (1995) e Mohriak et alii (2000b). Nos estudos mais recentes, em especial,
foram fundamentais alguns levantamentos de sísmica de reflexão profunda
encomendados por aquela companhia (Mohriak et alii, 1993), a partir dos quais
se pôde imagear eventos intra-crustais e feições vulcano-sedimentares
associados aos processos de estiramento litosférico e instalação de crosta
oceânica.

Com o apoio do conjunto de dados de sísmica profunda,


acompanhado de informações de gravimetria e magnetometria, Mohriak et alii
(1995) apresentaram um consistente modelo de transição crustal para a Bacia
de Sergipe, apresentado na Figura 3.3. Neste modelo, situado ao sul da bacia, o
rifteamento é tectonicamente controlado por falhas sintéticas de alto ângulo que
convergem para um horizonte intracrustal, sendo marcante a ocorrência de
feições magmáticas na região de transição para crosta oceânica, tais como
plugs vulcânicos e cunhas de seaward-dipping reflectors (SDRs).

O trecho proximal da linha 500-0160 (vide localização na fig. 3.1)


recobre praticamente a mesma área da seção geológica da Figura 3.3. Apesar
das limitações de qualidade sísmica dos dados do LEPLAC, várias das feições
identificadas por Mohriak et alii (1995) – especialmente aquelas associadas a
vulcanismo – podem ser observadas na linha 500-0160. A interpretação dessa
linha (Figura 3.4), bastante concordante com o esquema proposto pelos
referidos autores, baseia-se em modelos que envolvem distensão crustal ao
longo de zonas de cisalhamento sub-horizontais, representadas por falhas do
tipo detachment 7 (Lister et alii, 1986).

7
Modelos similares para o desenvolvimento das bacias de Sergipe e Alagoas foram propostos
por Castro Jr. (1988) e Guimarães (1988). No presente trabalho, são também utilizados na Bacia
de Pernambuco-Paraíba, para explicar a evolução do Platô de Pernambuco (item 3.2).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 3.3 – Seção geológica esquemática de Mohriak et alii (1995), com base na interpretação de uma linha sísmica da PETROBRAS, mostrando a região de
transição para crosta oceânica na Bacia de Sergipe. Notar a ocorrência de cunhas de seaward-dipping reflectors (SDR) na metade oriental do modelo. Os

31
autores sugerem também a existência de fenômenos de acreção crustal (underplating) na região.
Bacia de Figura 3.4 - Transição crustal e modelagem gravimétrica da linha 500-0160 (localizada na Fig.3.1).
Sergipe Para a bacia, como um todo, foi adotado um modelo no qual os falhamentos do rifte convergem
Cânion
Japaratuba para uma superfície de detachment. A cunha de seaward-dipping reflectors (SDR) recobrindo
sedimentos da fase rifte é uma interpretação simplificada do processo que envolve os estágios

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Sal? iniciais de implantação de crosta oceânica. Notar as feições sísmicas associadas a halocinese na
extremidade NW da seção. A versão não interpretada da linha pode ser conferida a seguir.

Fm

Rift

TKs

SDR
Crosta Cont. Estirada Emb
BCal

Crosta Oceânica

7
-1
0
5

Deta c hme
nt (
?)

Fm=fundo do mar; Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior ; BCal= base da Fm. Calumbi Manto

0
NW SE
Calha marítima Linha 500-0160
1,027

Sedimentos
2,40 2,35
2,45
Embasamento
Profundidade (km)

10
Crosta continental estirada Crosta oceânica
2,78 2,78
d
i
n
fu
ro
)P
(km
e
a

BA
-3
1
0
5

Moho

67 km Manto superior
3,27
20 = Fonte magnética, calculada a partir do sinal analítico
km

32
50 100 150 187
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 33

Em torno do PT 1.200 das linhas 500-0160 (figs. 3.4 e 3.5), podem


ser observados seaward-dipping reflectors (SDRs) 8 , as cunhas de refletores
divergentes que são comumente encontradas em regiões de transição para
crosta oceânica nas margens passivas. Os SDRs representam a expressão
sísmica de um episódio vulcânico sub-aéreo 9 , que pode tanto ocorrer em um
momento imediatamente anterior à instalação de um eixo de espalhamento
(Hinz, 1981), como corresponder aos estágios iniciais da formação de crosta
oceânica (Mutter et alii, 1982; Mutter, 1985; Fig. 3.6).

Além das questões ligadas a fenômenos vulcânicos, outras


constatações apontadas por Mohriak et alii (1995) podem também ser
observadas nos dados do LEPLAC. Em particular, destacam-se a ocorrência de
um rápido afinamento crustal na região e a atuação de um processo erosivo
sobre os blocos falhados da seqüência rifte. A presença de uma província
evaporítica de águas profundas no segmento norte da Bacia de Sergipe foi
sugerida por Pontes et alii (1991), a partir de evidências sísmicas em dados da
PETROBRAS. Tal sugestão adquiriu solidez a partir de uma integração de
dados geofísicos efetuada por Mohriak (1995). Na porção meridional da bacia, a
linha 500-0160 apresenta também algumas feições sísmicas que sugerem a
ocorrência de halocinese nas proximidades da transição para crosta oceânica
(Fig. 3.4). Todavia, a magnitude dessas feições não é significativa a ponto de
produzir anomalias nos perfis magnéticos e/ou gravimétricos (Benedito S.
Gomes, informação verbal).

8
Nesta tese, os SDRs são considerados como componentes da camada oceânica dois,
conforme sugestão de Goldshmidt-Rokita et alii (1994). No modelo geológico apresentado por
esses autores para a Bacia de Lofoten, Noruega, as primeiras extrusões magmáticas
componentes da crosta oceânica recobrem crosta continental estirada. Ainda na margem
continental norueguesa, Smythe (1983) postula a ocorrência de crosta continental sob a cunha
mais proximal de SDRs, hipótese reforçada por Olafsson et alii (1992). No modelo interpretativo
aplicado às linhas geofísicas do presente trabalho, admite-se que a fase inicial do vulcanismo
associado aos SDRs tenha recoberto crosta continental.
9
O Ocean Drilling Project (ODP), leg 104, site 642, perfurou uma seqüência correlata no Vøring
Plateau, Noruega, encontrando derrames toleíticos característicos de ambiente meso-oceânico
intercalados com sedimentos piroclásticos contendo fragmentos continentais (Parson et alii,
1989).
Figura 3.5 - Versão não interpretada do segmento ocidental da linha 500-0160.
Abaixo, os perfis de gravidade ar-livre registrado e modelado.

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Linha 500-0160

7
-1
0
5

20

NW SE
50

Perfil registrado
30
Gravidade free-air (mGal)

i
fre-a

Perfil modelado
0 -3
1
0
5

l)
e(m
id
rav
G

-30

34
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 35

7
-1
0
5

Figura 3.6 – Modelo de Mutter et alii (1982) para a construção de cunhas de seaward dipping reflectors
-3
1
0
5

(SDRs). Nos estágios iniciais de implantação de crosta oceânica, um vulcanismo anomalamente voluminoso
em um centro de espalhamento subaéreo produziria uma superfície plana no embasamento (topo dos
SDRs, situações 2 e 3). Posteriormente, com a submersão do centro de espalhamento (situação 4), a taxa
de erupção vulcânica decairia e as lavas, tendo maior dificuldade para fluir, produziriam a “tradicional”
estrutura caótica no topo da crosta oceânica. O modelo difere, contudo, daquele adotado nesta dissertação,
uma vez que não admite a ocorrência de crosta continental subjacente às cunhas de SDRs.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 36

A região de transição crustal da Bacia de Alagoas foi recoberta


pela linha 500-0162, em torno da latitude de 10o S (localização na fig. 3.1). É
uma área com escassa malha geofísica, que apresenta uma diferença básica,
no que diz respeito à evolução tectônica, em relação aos exemplos da Bacia de
Sergipe aqui apresentados. A diferença reside na presença de um proeminente
alto externo, que separa uma crosta de caráter nitidamente continental, a
noroeste, de uma região de caráter ambíguo, que parece estar intensamente
afetada por vulcanismo, a sudeste. Em direção a águas profundas, esta zona
transiciona para uma crosta francamente oceânica, a partir da ocorrência de
seqüências de SDRs (figs. 3.6 e 3.7).

O volume de dados geofísicos estudado foi insuficiente para definir


se o alto externo da linha 500-0162 (figs. 3.7 e 3.8) está associado a um evento
vulcânico ou a falhamentos do embasamento cristalino. Pontes et alii (1991),
com base em dados geofísicos da PETROBRAS, sugerem uma natureza
vulcânica para a estrutura, tendo em vista a ocorrência de feições sísmicas
associadas a vulcanismo nas imediações. As mesmas feições podem ser
constatadas nos dados do LEPLAC, e, de fato, parecem estar associadas a
atividades vulcânicas. Todavia, não se pode descartar a hipótese de que um alto
pré-existente do embasamento tenha sido recoberto por esse possível
vulcanismo. Imediatamente a sudeste do alto externo em questão, entre os PTs
7.500 e 8.700, interpretou-se a seqüência subjacente à base da Fm. Calumbi
como a componente mais distal das fases rifte e transicional da Bacia de
Alagoas. Desse modo, a seqüência faria parte de uma crosta continental
altamente estirada e contaminada por intrusões vulcânicas.
Bacia de Alagoas Figura 3.7 - Transição crustal e modelagem gravimétrica da linha 500-0162, Bacia de Alagoas
(localização na Fig. 3.1). À exceção do proeminente alto externo, o modelo interpretativo é similar
ao adotado nas linhas anteriores. Os dados geofísicos não foram suficientes para que se pudesse
caracterizar, de forma conclusiva, a natureza crustal desse alto externo (ver texto). Notar a espessa

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


seção pré-Calumbi, entre os PTs 8.600 e 7.500, que está possivelmente asssociada a um rifteamento
distal. A versão não interpretada da linha pode ser analisada na figura seguinte, juntamente com os
perfis de gravidade ar-livre.

Fm

Crosta Cont. Estirada TKs


BCal
Rift ?
SDR
Emb

Crosta Oceânica

7
-1
0
5

Fm=fundo do mar; Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior ; BCal= base da Fm. Calumbi Manto

NW SE
0
Calha marítima Linha 500-0162
1,027
2,30

Sedimentos
2,45 2,35

Embasamento

10
Crosta continental estirada Crosta oceânica
Profundidade (km)

2,78 2,78

Moho

d
i
n
fu
ro
)P
(km
e
a

Manto superior
3,27
20 -3
1
0
5

= Fonte magnética, calculada a partir do sinal analítico


50 km

37
27 100 150 185
Figura 3.8 - Versão não interpretada do segmento ocidental da linha 500-0162. Notar a estabilização dos perfis gravimétricos
em torno da marca dos -20 mGal, que ocorre após o PT 8.200. Isto caracteriza um limite crustal, ou seja, um ponto a partir do
qual se implantou uma crosta de natureza francamente oceânica. Antes de tal limite, ocorre uma crosta continental altamente

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


estirada e possivelmente "contaminada" por intrusões vulcânicas.

Linha 500-0162

7
-1
0
5

NW SE
20

WNW
Gravidade free-air (mGal)

0
Perfil registrado
Perfil modelado

i
fre-a
-20

-3
1
0
5

l)
e(m
id
rav
G

-40

38
-60
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 39

3.2. Platô de Pernambuco

O Platô de Pernambuco é uma feição fisiográfica do tipo platô


marginal (ver item 2.2), que representa um extenso patamar “embutido” no
talude continental, entre as latitudes de João Pessoa e Maceió (figs. 2.1 e 3.1).
Considerando o platô como uma província tectônica da Bacia de Pernambuco-
Paraíba, Mabesoone e Alheiros (1988) inferiram a presença de espessuras
sedimentares de até 4.000 m sob a feição. Quanto à natureza crustal do
embasamento subjacente ao platô, investigações efetuadas por Fainstein e
Milliman (1979) e Costa e Maia (1986) indicaram a presença, ao menos parcial,
de crosta continental distendida.

Duas linhas geofísicas do Projeto LEPLAC recobriram,


respectivamente, a porção centro-sul e o extremo norte do Platô de Pernambuco
(Fig. 3.1). A interpretação sísmica da linha 500-0163 (figuras 3.9 a 3.11) indica
uma estruturação típica de crosta continental distendida, com a presença de
uma seqüência contínua de blocos rotacionados sintéticos. Uma estruturação
semelhante foi observada pelo geólogo D. L. Bisol (in: Alves e Costa, 1986) em
linha sísmica da PETROBRAS, no segmento setentrional do platô. A partir da
conversão tempo-profundidade e do cálculo das isópacas totais de sedimentos,
foram encontradas espessuras máximas da ordem de 4.600 m no bloco mais
proximal, situado em torno do PT 450 da linha 500-0163.

A geometria estrutural interpretada assemelha-se à utilizada em


modelos que envolvem distensão crustal ao longo de zonas de cisalhamento
sub-horizontais, representadas por falhas do tipo detachment (Lister et alii,
1986). Modelos desse tipo foram propostos para o desenvolvimento das bacias
de Sergipe e Alagoas, ao sul do Platô de Pernambuco, por Castro Jr. (1988) e
Guimarães (1988). Na verdade, a superfície de detachment aqui interpretada,
embora embasada em uma reflexão com razoável continuidade na porção
central do platô (Fig. 3.9), é apenas sugestiva, uma vez que o modelo deve se
desenvolver ao longo de múltiplos sistemas de descolamento, cuja
complexidade impede um adequado imageamento em seções sísmicas.
Figura 3.9 - Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica de um trecho da linha 500-0163 (ver localização na Fig. 3.1),
mostrando a estruturação e a transição crustal no Platô de Pernambuco. A interpretação do embasamento é tentativa, uma
vez que a qualidade sísmica da linha é bastante prejudicada pelas múltiplas e pela própria morfologia irregular do fundo

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


oceânico. O horizonte indicado como detachment é sugestivo, uma vez que os falhamentos devem se desenvolver por meio
Platô de Pernambuco de várias superfícies de descolamento intra-crustais. A delgada cobertura sedimentar pós-Calumbi, principalmente na
porção leste do platô, sugere a atuação de um intenso processo de erosão submarina sobre a seqüência drift nesta região,
Fm possivelmente como resposta a soerguimentos regionais do embasamento. As duas figuras seguintes mostram, respectiva-
mente, uma versão não-interpretada da linha e a uma imagem detalhada do trecho destacado por um retângulo.

BCal

Emb
Escarpamento
marginal

e n t (?)
ta chm
De 7
-1
0
5

Crosta Continental

Ks

Fm=fundo do mar; Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior ; BCal= base da Fm. Calumbi Crosta Oceânica

WNW ESE
0 Calha marítima
1,03
Linha 500-0163
Sedimentos
5 Embasamento
2,45 2,20

Crosta oceânica
10 2,78
Profundidade (km)

Crosta continental estirada


2,78
15
Manto superior
3,27
20 Moho
-3
1
0
5

d
i
n
fu
ro
)P
(km
e
a

25

= Fonte magnética, calculada a partir do sinal analítico


km

40
30 0 50 100 150 173,7
Figura 3.10- Versão não interpretada do segmento ocidental da linha 500-0163. Devido à complexidade fisiográfica
(i.e., variações na lâmina d´água), os perfis gravimétricos não apresentam uma distinção clara entre os padrões de
crosta continental e de crosta oceânica. Não obstante, a modelagem gravimétrica da figura anterior indica que a cros-

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


ta oceânica franca começou a se implantar a partir do escarpamento marginal do Platô de Pernambuco, em torno do
PT 2.800. O retângulo tracejado destaca o trecho da seção que é apresentado em versão ampliada, na figura seguinte.

Linha 500-0163

7
-1
0
5

WNW 14185m ESE

20
Gravidade free-air (mGal)

-20
i
fre-a

-3
1
0
5

-40 Perfil modelado


l)
e(m
id
rav
G

-60
Perfil registrado

41
-80
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

w E

A
Fm

BCal

Sedimentos Rift ?
Emb ?

-3
1
0
5

Crosta Cont. Estirada Detachment (?)


Figura 3.11 - Detalhe dos blocos rotacionados na
porção central do Platô de Pernambuco.
w E

42
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 43

A modelagem gravimétrica da linha 500-0163 (Fig. 3.9) confirma a


ocorrência de crosta continental estirada no segmento centro-sul do Platô de
Pernambuco, posicionando o contato ou transição para crosta oceânica junto ao
seu escarpamento marginal, próximo ao PT 2.700. A espessura crustal média
nesta região vai desde 19,5 km no trecho inicial até em torno do PT 1.200,
reduzindo-se para 15 km deste ponto até o PT 2.450, até chegar a cerca de 6
km no domínios de crosta oceânica, após a ocorrência de um “estrangulamento”
crustal, na altura do PT 2.850.

3.3. Bacia Potiguar

A Bacia Potiguar, assim como as demais bacias sedimentares


costeiras do nordeste equatorial brasileiro, está inserida em um contexto
tectônico de margem continental transformante, onde o regime de esforços
cisalhantes exerce destacada influência. Os mecanismos que regem a transição
crustal em tal contexto apresentam particularidades em relação aos processos
atuantes na maior parte das bacias costeiras situadas abaixo da latitude de 5o S.
Espera-se, por exemplo, uma transição muito brusca de crosta continental para
crosta oceânica, sem a ocorrência de significativas feições associadas a
vulcanismo, tais como SDRs. Neste ambiente, as zonas de fratura, muitas
vezes, passam a controlar a zona de transição crustal.

Apenas o extremo ocidental da linha 500-0165 foi registrada na


região de transição crustal da Bacia Potiguar (figs. 3.12 e 3.13), a nordeste do
Platô do Rio Grande do Norte (Fig. 3.1). Todavia, a direção WNW-ESE da linha
500-0165, semi-paralela às zonas de fratura, não foi favorável para que se
pudesse caracterizar adequadamente uma estrutura crustal transformante nesta
região, tal como efetuado por Mascle e Blarez (1987), Edwards et alii (1997) e
outros na margem continental de Gana, África. Para se obter tal caracterização
e proceder a uma comparação da Bacia Potiguar com a margem transformante
africana, seria necessário ao menos uma linha sísmica regional com orientação
SSW-NNE, não disponível no presente estudo.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 44

Na direção da linha 500-0165, a transição de crosta continental


para crosta oceânica parece ocorrer mais ao estilo de um margem passiva
distensiva normal, sendo comandada por processos de rifteamento e
estiramento crustal. Uma situação semelhante, envolvendo o estudo de dados
geofísicos coletados adjacentemente à margem continental transformante de
Gana, em uma linha de direção ENE-WSW, foi observada por Peirce et alii
(1996). A espessura da crosta continental estirada modelada por esses autores,
no extremo oeste de sua linha, situa-se na faixa dos 12-14 km. Espessuras da
mesma ordem foram encontradas na região de transição crustal da Bacia
Potiguar, conforme mostra a modelagem gravimétrica da Figura 3.12.
Bacia Potiguar Linha 500-0165

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Fm

Ks
Emb

Crosta Oceânica

M
Crosta Cont. Estirada 7
-1
0
5

Fm=fundo do mar; Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior ; M=Moho Manto

NW SE
0
Figura 3.12 - Interpretação sísmica e modelagem gravimétrica de um trecho da linha 500-0165,
Calha marítima mostrando a transição crustal no segmento oriental da Bacia Potiguar (ver localização na Fig.
1,03
3.1). A estrutura individualizada por um retângulo está vinculada a processos de transpressão
na margem equatorial. A versão não-interpretada desta linha é mostrada na figura a seguir.

5 Sedimentos
2,45
Embasamento
Profundidade (km)

10
Crosta oceânica
2,78
Crosta continental estirada
2,78
d
i
n
fu
ro
)P
(km
e
a

15 Moho
-3
1
0
5

Manto superior
3,27
= Fonte magnética, calculada a partir do sinal analítico
km

45
0 50 100 150 175
20
Linha 500-0165

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


7
-1
0
5

NW SE
-20
Perfil modelado
Gravidade free-air (mGal)

-40 Perfil registrado

i
fre-a

-60

l)
e(m
id
rav
G

-80

-3
1
0
5

Figura 3.13 - Versão não interpretada do segmento ocidental da linha 500-0165. A feição em forma de mound localizada entre os PTs 400 e 900, em
torno de 6,0 s de tempo de reflexão, está associada à presença de estruturas compressivas que se formam pelo cavalgamento de falhas lístricas na seção
sedimentar pós-rifte. A interpretação do embasamento está possivelmente subestimada nesta região, em termos de tempo de reflexão. Abaixo da seção
sísmica, os perfis de gravidade ar-livre mostram uma notável mudança de patamar em torno do PT 1.000, relacionada à implantação de crosta oceânica.

46
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 47

4. CROSTA OCEÂNICA

Nos domínios de crosta oceânica do segmento nordeste da Margem


Continental Brasileira, as mais marcantes feições fisiográfico-estruturais estão
representadas pelos alinhamentos de elevações vulcânicas submarinas nas
direções E-W e NW-SE. Gomes (2000) demonstrou que, nas imediações dessas
cadeias vulcânicas, existem fortes indícios de reativações tectônicas,
envolvendo a atuação de esforços distensivos, compressivos e/ou strike-slip.
Essa recorrência tectônica, com vulcanismo associado, parece ter se
manifestado de forma esporádica, ao longo dos diversos estágios evolutivos de
nossa margem continental.

4.1. Zonas de Fratura

A crosta oceânica é gerada a partir de vários segmentos axiais de


cordilheira, relativamente deslocados entre si pelas falhas transformantes
(Wilson, 1965). Nesse processo, porções crustais de diferentes idades, que
evoluem de forma distinta em termos de resfriamento e subsidência, são
justapostas pelas zonas de fratura. Como conseqüência dessa evolução
diferencial, desníveis no embasamento, formados nas proximidades da cadeia
mesoceânica, podem permanecer impressos na placa litosférica à medida que
esta vai se desenvolvendo. Estas mudanças na profundidade regional do
embasamento, encerradas ao longo de alinhamentos de elevações vulcânicas
submarinas, representam as mais claras evidências para a identificação de ZFs
em seções sísmicas. A morfologia do tipo cadeia vulcânica linear permite ainda
que estas estruturas atuem como barreiras no processo de sedimentação na
margem continental/bacia oceânica, propiciando a formação de desníveis no
fundo do mar.

Embasando-se nos conceitos mencionados acima e assumindo o


mapa de gravidade ar-livre do GEOSAT como referência (Fig. 4.1), procurou-se
reconhecer, nos dados sísmicos do LEPLAC, os sistemas de lineamentos/zonas
de fratura previamente identificados, por diversos pesquisadores, em nossa
margem continental nordeste (Gorini et alii, 1974; Rezende et alii, 1977; Asmus
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 48

e Carvalho, 1978; Guazelli e Carvalho, 1981; Fleming et alii, 1982a; Gorini e


Carvalho, 1984). O mapa da Figura 3.1 mostra o resultado desse trabalho de
reconhecimento, entre as latitudes aproximadas de 4o S e 14o S. O
posicionamento das estruturas interpretadas pode também ser conferido nas
figuras 4.2 e 4.3, em imagens sísmicas megarregionais.

A Figura 4.2 representa uma seqüência de três linhas sísmicas


strike situadas a uma distância de 200 km, em média, da linha de costa, as
quais, interligadas, formam uma transect que recobre desde o flanco sul da
Cadeia Fernando de Noronha até as proximidades da latitude de Aracaju. Com
exceção do Lineamento de Salvador, estão identificados, nesta figura, todos os
demais sistemas de lineamentos/zonas de fratura mencionados no item 2.3.1.
De forma semelhante, em um posicionamento mais distal, próximo ao limite das
200 milhas marítimas (≅371 km), a Figura 4.3 permite a identificação das
mesmas estruturas. A localização das linhas geofísicas pode ser conferida na
Figura 3.1.

Pode-se observar, na interpretação apresentada na Figura 3.1,


discrepâncias em relação ao mapa geológico da Figura 1.2, essencialmente no
que diz respeito à conexão da Cadeia Fernando de Noronha com a Zona de
Fratura Chain, uma proeminente estrutura situada nos domínios da Cadeia
Meso-Atlântica. Tal conexão, previamente sugerida por Bryan et alii (1972), foi
postulada principalmente com base nos novos mapas gravimétricos
confeccionados a partir dos dados do satélite GEOSAT (Fig. 4.1). No Mapa
Geológico do Brasil, a Zona de Fratura Fernando de Noronha, identificada por
Gorini et alii (1974) a oeste da longitude de 31o W, representaria uma extensão
sul-americana da Zona de Fratura Charcot (Gorini, 1981). Esta ZF apresenta, de
acordo com tal mapa, uma inflexão para noroeste, conectando-se com a Cadeia
Fernando de Noronha na direção da Margem Continental Brasileira.
-40o -30o -20o -10o 0o 10o
10o

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


0o hain
ZF C

arcot oo
CFN ZF Ch do P
Fernan
Lin. Touro
s ZF
a ZF ?
Lin. Pa íb
ra
o
mbuco censã
Lin erna
. P
ZF As
eió
Lin. Mac
7
-1
0
5

-10o ZF ?
ipe rde
Lin. Serg e
ode V
ZF B
Lin. Salvador

-20o

-3
1
0
5

-30o

Figura 4.1 – Mapa de gravidade ar-livre gerado a partir de dados altimétricos do GEOSAT, mostrando as zonas de fratura nas proximidades da Cadeia
Meso-Atlântica, sua extensão na direção das bacias oceânicas e margens continentais e sua possível conexão com os lineamentos identificados em

49
Schobbenhaus et alii (1981). A área estudada nesta tese encontra-se individualizada pelo retângulo tracejado (adaptado de Karner, 1997).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
50

Linha 500-0169 Linha 500-0170

Zona de Fratura Chain Zona de Fratura Charcot (?) Zona de Fratura (?)
(Cadeia F. de Noronha) (Lineamento de Touros) (Lineamento da Paraíba)

Fm

Ks

Emb
Crosta Oceânica

Manto

NW SE N S

Linha 500-0170 Linha 500-0171


Zona de Fratura Fernando Poo Zona de Fratura Ascensão
(Lineamento de Pernambuco) (Lineamento de Maceió)

7
-1
0
5

Fm

Ks
Emb

Crosta Oceânica

Continuação da linha
500-0170 M
Manto

N S NE SW

Manto

SW
Linha 500-0171 Linha 501-0013
Zona de Fratura (?)
(Lineamento de Sergipe)

Fm

Ks
Emb

Crosta Oceânica
Continuação da linha
500-0171

M
Manto
-3
1
0
5

NE SW N S

Figura 4.2 - Linhas sísmicas strike proximais do Projeto LEPLAC (localização na Fig. 3.1). Nesta visão megarregional, é fácil reconhecer as mudanças na profundidade regional do embasamento e os altos
vulcânicos associados às zonas de fratura. Os desníveis no embasamento são menos proeminentes nas zonas de fratura de pequeno deslocamento axial (offset), como parece ser o caso das duas
estruturas situadas ao sul da Cadeia Fernando de Noronha. Notar que não existem indícios da presença do Lineamento de Salvador/Zona de Fratura Bode Verde na extremidade sul da transect (linha 501-
0013), denotando que esta estrutura teve um desenvolvimento tardio, ou seja, não esteve presente nos estágios iniciais de implantação de crosta oceânica da margem continental nordeste (Fm= fundo do mar;
Ks= Cretáceo Superior; Emb=embasamento; M=Moho).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
51

DSDP-23 DSDP-24A
(proj. 20 km) (proj. 600 m)

Linha 500-0172

Zona de Fratura Charcot (?) Zona de Fratura (?) Zona de Fratura Fernando Poo
(Lineamento de Touros) (Lineamento da Paraíba) (Lineamento de Pernambuco)

Fm

DSDP-23 Ks
(proj. 20 km)
Emb

Crosta Oceânica

M
Manto

NE SE

Linha 500-0172 Linha 500-0173


Zona de Fratura Ascensão
(Lineamento de Maceió)

7
-1
0
5

Fm

Ks
Emb

Crosta Oceânica
Continuação da linha
500-0172 M

NE SW NE SW

Zona de Fratura (?) Linha 500-0173


(Lineamento de Sergipe)

Fm

Ks

Emb

Crosta Oceânica

-3
1
0
5

Continuação da linha
500-0173 Manto

NE SW

Figura 4.3 - Linhas sísmicas strike distais do Projeto LEPLAC (localização na Fig. 3.1), com a projeção dos poços DSDP-23 e 24A. Novamente, altos vulcânicos e escarpas associadas a falhamentos, encerrando
mudanças na profundidade do embasamento, marcam a intersecção dos perfis sísmicos com as zonas de fratura (Fm=fundo do mar; Ks=Cretáceo Superior; Emb=embasamento; M=Moho).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 52

O mapa do GEOSAT (Fig. 4.1) mostra que, na verdade, as zonas


de fratura sofrem uma inflexão curva para sudoeste na direção de nossa
margem continental, como resultado da dinâmica global envolvida na abertura
do Atlântico Sul, conforme o modelo proposto por Sibuet e Mascle (1978). Desse
modo, a ZF Charcot, sofrendo inflexão semelhante, estaria conectada com
feições estruturais posicionadas mais ao sul, de acordo com o esboço da Figura
3.1. Salienta-se, contudo, que a extensão desta zona de fratura para a área
mapeada no Projeto LEPLAC é apenas sugestiva, uma vez que sua expressão
nos dados sísmicos não é tão destacada como em outras situações observadas.

Ainda menos conspícuo em termos de expressão sísmica, se


comparado às demais estruturas, é o Lineamento da Paraíba (figs. 4.2 e 4.3).
Não obstante, como possui representação no mapa de gravidade ar-livre (Fig.
4.1), pode-se admitir que constitua uma zona de fratura de pequeno
deslocamento axial (offset), sem desníveis crustais significativos e com
continuidade até a margem continental.

Uma típica morfologia de zona de fratura, com marcantes


desníveis entre segmentos crustais, tanto no embasamento como também no
fundo do mar, pode ser observada na Figura 4.4. Neste exemplo, que
representa um detalhe da linha 500-0170 na região do Lineamento de
Pernambuco, o desnível no fundo do mar supera os 400 metros. No
embasamento, o desnível ocorre em degraus, que correspondem aos diversos
patamares da elevação vulcânica. No patamar situado em torno do PT 4.200,
falhamentos com rejeitos normais e reversos, afetando níveis rasos da coluna
sedimentar, denotam algum tipo de reativação tectônica nesta ZF.
Curiosamente, a despeito da notável expressão sísmica, o Lineamento de
Pernambuco não se apresenta tão destacado nos dados gravimétricos (Fig.
4.1). Supõe-se que este lineamento deva representar uma extensão, na direção
da Margem Continental Brasileira, da ZF Fernando Poo, identificada na placa
Africana por Emery et alii (1975).
Line F
Zona de Fratura Fernando Poo
(Lineamento de Pernambuco)

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Fm

Ks

Emb

7
-1
0
5

Figura 4.4 - Parte da linha 500-0170 que cruza uma zona de fratura (localização em
Natal
destaque no mapa ao lado). Uma típica morfologia deste tipo de estrutura pode ser
observada, com marcantes diferenças nas profundidades regionais do embasamento
e do fundo do mar separando os segmentos crustais justapostos pela ZF. Alguns
falhamentos no segmento mais rebaixado afetam camadas relativamente recentes,
sugerindo a ocorrência de algum tipo de reativação tectônica ao longo desta zona de
J. Pessoa
fratura. Na metade esquerda da figura, notar as estruturas antiformes na porção in-
200 n. m.
termediária do pacote sedimentar, que são discutidas com mais detalhe no item 5.1.4
(Fmar=fundo do mar; Ks=Cretáceo Sup.; Emb=embasamento).
Recife -3
1
0
5

7
-1
0
5

Maceió
BA

53
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 54

O Lineamento de Maceió, por sua vez, possui expressões sísmica


e gravimétrica marcantes o suficiente para caracterizá-lo como uma extensão
ocidental da Zona de Fratura Ascensão. A conexão entre tais estruturas lineares
e sua continuidade em direção à Margem Continental Brasileira foi sugerida por
Palma (1989), em mapeamento morfoestrutural da ZF Ascensão, e reforçada
por Mello e Dias (1996), em trabalho envolvendo magnetoestratigrafia da crosta
oceânica da região. Os dados do GEOSAT (Fig. 4.1) ressaltam, ainda, que o
prolongamento desse lineamento/ZF na direção da Bacia de Alagoas sofre uma
inflexão para sudoeste, tal como previsto por Sibuet e Mascle (1978) em seu
modelo cinemático para a abertura do Atlântico Sul, mencionado anteriormente.

Mais ao sul, o Lineamento de Sergipe também caracteriza uma


expressiva mudança na profundidade regional no embasamento, bastante
destacada nos dados sísmicos (figs. 4.1. e 4.2). A estrutura, todavia, não está
conectada a nenhum alinhamento contínuo desde a Cadeia Meso-Atlântica até a
margem continental nordeste (Fig. 4.1). Mello e Dias (1996) apontam a
existência, entre as zonas de fratura Ascensão e Bode Verde, de duas ZFs
secundárias, de pequeno deslocamento axial, que seriam identificáveis desde a
anomalia magnética 30, em torno da longitude de 26o W, até a cordilheira
mesoceânica. Para os autores, estas ZFs representam estruturas efêmeras,
originadas em uma crosta jovem, unicamente a partir de estresses diferenciais
ligados à expansão oceânica. Não obstante, pode-se inferir que alguma destas
ZFs secundárias, ou mesmo ambas, representem um estágio evolutivo atual de
uma zona de fratura de maior expressão, formada nos primórdios da abertura do
Atlântico Sul, cujo vestígio é o Lineamento de Sergipe. Por algum motivo, ligado
à dinâmica de implantação da crosta oceânica, esta ZF ancestral teria perdido
importância durante o processo de evolução da margem continental/bacia
oceânica.

A ligação entre o Lineamento de Salvador e a Zona de Fratura


Bode Verde, bastante evidente no mapa do GEOSAT (Fig. 4.1), foi constatada
por Fleming et alii (1982a) e Gorini et alii (1984), que caracterizaram a estrutura
como uma zona de fratura dupla, composta por duas calhas topográficas
paralelas justapostas por uma faixa elevada do embasamento oceânico, com
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 55

continuidade desde a Cadeia Meso-Atlântica até a Margem Continental


Brasileira. Para Fleming et alii (1982a), a ZF Bode Verde perde sua identidade
na região dos Montes Submarinos da Bahia, os quais constituem um
alinhamento à parte, de direção NW-SE. Gorini et alii (1984), por sua vez,
baseando-se em anomalias magnéticas, inferiram que, prolongando-se no
sentido E-W até 35o W, a ZF interceptaria o alinhamento dos referidos montes
submarinos. Os dados sísmicos aqui analisados não permitem corroborar tal
sugestão, uma vez que o ponto mais ocidental no qual se pode identificar a
estrutura situa-se em torno de 32,5o W, no cruzamento das linhas 501-0001 e
500-0519 (Fig. 4.5), ainda dentro, portanto, da região ocupada pelos Montes
Submarinos da Bahia. A despeito da falta de evidências sísmicas, os dados
gravimétricos do GEOSAT (Fig. 4.1) sugerem alguma interceptação entre os
alinhamentos E–W e NW–SE.

De qualquer forma, o Lineamento de Salvador/ZF Bode Verde não


parece representar uma estrutura herdada dos estágios iniciais de ruptura
continental e implantação de crosta oceânica na margem continental nordeste.
Cherkis et alii (1992) sugerem que esta ZF tenha se implantado a partir de um
processo de mudança na direção do espalhamento oceânico, em uma idade não
anterior a 62-65 M.a., durante ou após a formação inicial do setor ocidental dos
Montes Submarinos da Bahia, cuja origem é discutida no item 4.2.

4.1.1. Reativações tectono-magmáticas associadas a zonas


de fratura

Em sua tese de dissertação, este autor estudou o


comportamento termo-mecânico das zonas de fratura, apontando fortes indícios
de reativações tectônicas e magmáticas da crosta oceânica associadas a tais
estruturas (Gomes, 2000). Naquele trabalho, concluiu-se que a sismicidade
recorrente em zonas de fratura afeta diversos níveis da coluna sedimentar,
podendo envolver tanto esforços distensivos - com vulcanismo e falhamentos
normais -, como esforços compressivos - com soerguimento da crosta e dos
sedimentos sobrejacentes.
Linha 500-0519
Montes Submarinos
da Bahia

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Zona de Fratura
Bode Verde

Fm

Ks

7
-1
0
5

Emb

Crosta Oceânica

Manto

SW NE

Aracaju
Figura 4.5 - Calha do embasamento associada à Zona de Fratura Bode Verde.
Como esta estrutura não se estende em direção à margem continental proximal,
pode-se concluir que evoluiu posteriormente aos estágios iniciais de abertura do
-3
1
0
5

Atlântico Sul (ver texto). Notar as falhas junto a um dos Montes Submarinos da
Salvador
Bahia, que afetam até a discordância da base do Eoceno (M=Moho;Emb=emba-
samento; Ks=Cretáceo Superior; Fm=fundo do mar).
500-0519

56
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 57

No mesmo estudo, foram apontados fenômenos


relacionados a flexura litosférica nas adjacências da Cadeia Fernando de
Noronha (CFN) e do Lineamento de Maceió/Zona de Fratura Ascensão. Gomes
(2000) concluiu que tais processos flexurais podem representar tanto uma
compensação isostática à implantação de edifícios vulcânicos sobre uma crosta
relativamente mais jovem (caso da CFN), como, alternativamente, uma resposta
à subsidência diferencial que ocorre nos segmentos litosféricos justapostos por
uma zona de fratura (caso da ZF Ascensão).

4.2. Alinhamentos de direção NW-SE

Dois expressivos alinhamentos de elevações vulcânicas


submarinas na direção NW-SE – ambos bem representados no mapa do
GEOSAT (Fig. 4.1) e nos dados de sísmica de reflexão multicanal do LEPLAC –
podem ser reconhecidos no segmento nordeste da Margem Continental
Brasileira (ver item 2.3). O mais setentrional é composto por agrupamentos de
montes submarinos que, no Mapa Geológico do Brasil e da Área Oceânica
Adjacente (Schobbenhaus et alii, 1981), aparecem sob a denominação de
Montes Submarinos de Pernambuco e da Paraíba (figs. 1.1, 1.2 e 2.1). Mais ao
sul, defronte aos estados de Sergipe e Bahia, jazem os Montes Submarinos da
Bahia, também dispostos na direção NW-SE (figs. 1.1, 2.1 e 6.10).

A origem desses alinhamentos, que, em conjunto com os


lineamentos/zonas de fratura descritos no item 4.1, formam estruturas en
échelon, é ainda incerta. Três hipóteses principais podem explicar sua formação:
1) a direção NW-SE representaria a orientação inicial das zonas de fratura, nos
primórdios da abertura do Atlântico Sul; 2) os alinhamentos de montes
submarinos estariam associados a processos de mudança na direção do
espalhamento oceânico e na movimentação das placas litosféricas; 3) cadeias
vulcânicas NW-SE seriam originadas a partir da migração da placa sobre
hotspots.

Para aceitar a primeira hipótese, seria necessária na adoção de


modelos alternativos aos de Francheteau e Le Pichon (1972), Sibuet e Mascle
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 58

(1978) e Nürberg e Müller (1991) para a abertura inicial do Atlântico Sul. Além
disso, o mapa do GEOSAT indica que grande parte das ZFs atuais possui
continuidade desde a Cadeia Meso-Atlântica até a margem continental proximal,
onde ocorre uma inflexão curva para sudoeste. Eventuais modelos alternativos
de deriva continental 10 implicariam, então, na coexistência de duas direções
distintas para zonas de fratura, o que representa uma situação dinamicamente
questionável, no caso da Margem Continental Brasileira.

Na linha da segunda hipótese, Mello e Dias (1996) sugerem que os


montes submarinos formadores dos alinhamentos NW-SE na margem
continental nordeste tenham se originado a partir de reativações magmáticas
associadas a mudanças na taxa de expansão oceânica e na direção de
espalhamento, que podem produzir alterações na direção das zonas de fratura.
Os autores apontam ainda que tais mecanismos induzem à propagação de
estresses intraplaca, provocando, localmente, aumento da atividade tectônica e
vulcanismo.

Mudanças estruturais em ZFs associadas a alterações na


movimentação de placas litosféricas foram também estudadas por Kruse et alii
(1996) e McCarthy et alii (1996), no Oceano Pacífico. Por não considerarem as
ZFs do Pacífico como descontinuidades litosféricas significativas, os primeiros
autores advogam que estruturas anômalas, tais como as observadas em nossa
margem continental nordeste, são predominantemente sin-transformantes,
tendo se formado durante ou imediatamente após períodos de mudança nas
direções de espalhamento oceânico 11 .

Tanto as sugestões de Mello e Dias (1996) como as conclusões de


Kruse et alii (1996) parecem ter aplicabilidade no caso dos montes submarinos
da Paraíba e de Pernambuco, componentes do alinhamento NW-SE mais
setentrional. Os dados sísmicos mostram que a cobertura sedimentar adjacente

10
Existe um preprint, datado de 1990, de um trabalho de J.M. Brozena, N.Z. Cherkis, e H.S.
Fleming, pesquisadores do Naval Research Laboratory dos Estados Unidos, que propõe a
direção NW-SE como a orientação inicial das zonas de fratura na margem continental nordeste.
Todavia, não se tem notícia de que tal trabalho, preliminarmente intitulado “A Model for the Early
Opening of the South Atlantic”, tenha sido publicado.
11
Para os autores, o único tipo de reativação admitido para as zona de fratura seria pela
passagem da placa sobre hotspots.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 59

a estas feições não apresenta reativações tectono-magmáticas tardias, tais


como aquelas observadas por Gomes (2000) junto à Cadeia Fernando de
Noronha, ao norte, e nas imediações dos Montes Submarinos da Bahia, mais ao
sul. Tampouco são evidentes fenômenos flexurais regionais na litosfera, como
os reportados no item 4.3. Tudo isto é indicativo de que a diferença de idade
entre a implantação dos montes submarinos e a formação da crosta oceânica é
relativamente pequena naquela região.

De fato, Sperle et alii (1991), embasando-se em uma análise


isostática, sugeriram que os Montes Submarinos de Pernambuco tenham se
implantado sobre uma crosta oceânica relativamente jovem, com idade entre 20
e 25 Ma. Dessa forma, estimando uma idade entre 95 e 100 Ma. para a crosta
oceânica da região 12 , Mello e Dias (1996) concluíram que uma reativação
magmática, ocorrida há cerca de 75-80 Ma., teria originado os Montes
Submarinos de Pernambuco. Esta reativação, por sua vez, estaria associada a
um processo de mudança na direção de espalhamento do assoalho oceânico,
ocorrido no Cretáceo Superior.

Embora tenham se implantado em uma crosta relativamente mais


jovem, tal como os montes da Paraíba e de Pernambuco, os Montes
Submarinos da Bahia parecem ter uma origem mais complexa, tendo em vista a
generalizada presença de intrusões vulcânicas e falhamentos no pacote
sedimentar que recobre a região. Mesmo morfologicamente a complexidade é
maior, já que os montes estão dispostos segundo três alinhamentos NW-SE
subparalelos (ver item 2.3), os quais, para sul, se confundem com o Lineamento
de Salvador/ZF Bode Verde, de direção leste-oeste (ver item 4.1). Para explicar
tal complexidade, recorre-se à terceira hipótese citada na introdução deste item:
a atuação de plumas do mato ou hotspots.

O'Connor e le Roex (1992) sugeriram a ligação dos alinhamentos


NW-SE da margem continental nordeste, incluindo os montes submarinos de
Pernambuco e da Bahia, com o hotspot responsável pela formação da Cadeia
Santa Helena, na placa Africana, onde também se encontra a ilha homônima.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 60

Bryan e Cherkis (1995), por intermédio da determinação de


paleopolos magnéticos, atribuíram idades para vários dos Montes Submarinos
da Bahia, associando sua origem à passagem da placa sobre um sistema duplo
de hotspots, distanciados entre si por cerca de 150-200 km. As idades
estimadas por esses autores, decrescentes de noroeste para sudeste, situam-se
dentro do intervalo de 73 a 56 Ma (Ksup-Pal/Eoc), que contrasta com o range
esperado de idades para a crosta oceânica subjacente, que seria de 105 a
85 Ma.

As inúmeras reativações tectono-magmáticas observadas por


Gomes (2000) nas imediações dos Montes Submarinos da Bahia, que afetam
até a base do Eoceno sismicamente rastreada 13 (Fig. 4.5), sustentam o modelo
e os resultados de Bryan e Cherkis (op. cit.). Estas reativações, na forma de
falhamentos transcorrentes, diques e soleiras, encontram-se
predominantemente concentrados no pacote sedimentar próximo à porção
sudeste do agrupamento de montes submarinos, onde, supostamente, se
formaram as construções vulcânicas mais jovens, de idade
paleocênica/eocênica, segundo aqueles autores.

A maior parte das soleiras está intrudida em um nível estratigráfico


preferencial, que corresponde ao Cretáceo Superior, sendo que nenhuma
ultrapassa a base do Eoceno. Se considerarmos que as feições intrusivas de
pequeno porte representem um efeito magmático precoce, relacionado à fase
inicial de implantação dos Montes Submarinos da Bahia, durante o Cretáceo
Superior, as soleiras poderiam ter chegado próximo à superfície, ou mesmo ter
constituído pequenos derrames. Se tal atividade magmática for tardia, a concen-
tração de soleiras junto ao topo do Cretáceo Superior pode estar associada a al-
gum tipo de mudança litológica ou faciológica, que tenha favorecido à formação
de uma zona de alívio de pressão das intrusões. De fato, o horizonte representa
uma discordância erosiva regional, associada, em boa parte da região, a uma

12
Esta estimativa teve por base a escala temporal de polaridade geomagnética de Cande et alii
(1988).
13
Os sedimentos assentados sobre a base do Eoceno possuem, teoricamente, uma idade em
torno de 55 Ma. Deve-se considerar, todavia, que a superfície representa uma discordância
erosiva regional, podendo encerrar um considerável hiato em sua evolução.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 61

mudança de sismofácies (ver item 5.1).

Da mesma forma que as feições intrusivas, os falhamentos


transcorrentes não parecem atingir camadas mais jovens que a base do Eoceno
sismicamente mapeada. Como a maior parte das estruturas observadas
extingue-se muito próximo ou junto a esse nível, pode-se inferir que o
tectonismo esteja relacionado a um estágio mais avançado de formação dos
Montes Submarinos da Bahia, provavelmente no limite Paleoceno/Eoceno.
Deve-se considerar ainda a influência do processo de implantação da ZF Bode
Verde, discutido no item 4.1, o qual parece ter ocorrido concomitantemente à
formação dos referidos montes submarinos, a partir de uma mudança na direção
de espalhamento oceânico (Cherkis et alii, 1992).

Pode-se concluir, após toda essa discussão, que a origem das


estruturações de direção NW-SE na margem continental nordeste envolve a
conciliação da hipótese de mudanças na taxa de expansão do assoalho
oceânico e na direção do movimento relativo das placas litosféricas com a
atuação de plumas do manto. Todavia, a influência destas anomalias térmicas
na formação daqueles alinhamentos, bem como sua interação com zonas de
fratura, dando origem às conhecidas estruturas en échelon, é uma questão que
merece maiores investigações. À luz do conhecimento atual, pode-se apenas
inferir que, a depender da dinâmica de separação das placas Sul-Americana e
Africana, os hotspots poderiam ser temporariamente "capturados" por zonas de
fratura ou outras descontinuidades pretéritas, resultando na alternância de
segmentos alinhados nas direções NW-SE e E-W.

4.2.1. Contexto continental das estruturas

Se considerarmos os alinhamentos NW-SE da região


nordeste como uma resposta regional a um processo tectônico continental ou
mesmo global, pode-se correlacioná-los com outras estruturações de direção
similar, tais como a Cadeia Norte-Brasileira (Hayes e Ewing, 1970; Bryan et alii,
1972) e a Zona de Deformação Cruzeiro do Sul (Souza, 1991), situadas,
respectivamente, nos segmentos equatorial e sudeste da Margem Continental
Brasileira. Também o alinhamento entre os bancos Royal Charlotte e Abrolhos e
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 62

a porção inicial da Cadeia Vitória-Trindade, na margem continental leste,


poderia estar inserido neste contexto, que envolveria uma reorganização
dinâmica da Placa Sul-Americana, como resposta a um rearranjo global das
placas litosféricas, durante o Cenozóico Inferior (Rona e Richardson, 1978).
Dentro deste possível processo global, importantes reflexos tectônicos teriam
resultado da interação entre as placas Sul-Americana e Caribenha (Donnely,
1971; Nairn e Stehli, 1975).

Um notável episódio deformacional neste mega-rearranjo


tectônico estaria concentrado na região sudeste do Brasil, onde um movimento
relativo entre dois segmentos da Placa Sul-Americana teria gerado um princípio
de rifteamento, posteriormente abortado, e uma série de manifestações
vulcânicas e tectônicas associadas, durante um período situado entre o
Santoniano e o Meso-Eoceno (Souza, 1991). A Zona de Deformação Cruzeiro
do Sul registraria tal episódio, estendendo-se desde o continente, na região de
Cabo Frio, até a Elevação do Rio Grande, na Bacia Oceânica do Brasil,
passando pelo Platô de São Paulo. Também como reflexo dessa reorganização
da Placa Sul-Americana, dentro do intervalo temporal mencionado, podem ter se
originado os demais alinhamentos NW-SE mencionados, alguns dos quais
superpostos pela atividade de plumas do manto.

Terminando o processo de reorganização da placa,


possivelmente no Eoceno Médio, alguns hot-spots teriam permanecido ativos,
interagindo com descontinuidades crustais representadas por zonas de fratura.
Este seria o caso das anomalias mantélicas que originaram as cadeias
Fernando de Noronha (Duncan, 1981) e Vitória-Trindade (Herz, 1977; Fainstein
e Milliman, 1979, Rangel e Sperle, 1999), de direção leste-oeste. Outras plumas
do manto, tais como as responsáveis pela implantação dos Montes Submarinos
da Bahia (Bryan e Cherkis, 1995), teriam se extinguido próximo ao limite Paleo-
ceno/Eoceno, deixando seu registro somente ao longo de uma direção principal
NW-SE.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 63

Mais adiante, no item 5.3.3, são também discutidas algumas


implicações deste processo megarregional em termos de variação do nível
relativo do mar e de formação de limites de supersseqüências.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 64

5. COBERTURA SEDIMENTAR

Neste capítulo, procura-se identificar os principais depósitos


sedimentares da porção distal da margem continental nordeste, tendo por base
as características sísmicas de cada unidade deposicional individualizada. Por
região distal entenda-se o talude inferior e o sopé continental adjacente, onde
predominam depósitos marinhos profundos, transportados ou por processos
gravitacionais – sliding, slumping, debris flow e correntes de turbidez – ou a
partir de correntes termo-halinas, também conhecidas como correntes de
contorno. Em profundidades abissais, pode-se ainda destacar a importância da
sedimentação hemipelágica, e, mais localizadamente, dos depósitos
vulcanoclásticos e nódulos polimetálicos.

Essa cobertura sedimentar profunda é fortemente afetada por algumas


das imponentes feições fisiográficas presentes na região. Cadeias vulcânicas
associadas aos sistemas de lineamentos/zonas de fratura, assim como outros
agrupamentos de montes submarinos, condicionam a distribuição dos
sedimentos, ora servindo de anteparo ao aporte terrígeno e favorecendo a
acumulação sedimentar, ora propiciando a canalização das correntes
responsáveis pela erosão submarina (Gorini et alii, 1982). Além da influência
morfológico-deposicional, o próprio processo de implantação das elevações
vulcânicas submarinas na margem continental nordeste, com estresses
intraplaca e efeitos flexurais associados, pode ter produzido reflexos no nível
relativo do mar, superpondo-se a possíveis fenômenos glácio-eustáticos.

5.1. Supersseqüências, sismofácies e depósitos


sedimentares associados

Conforme a metodologia apresentada no item introdutório desta


tese, foram rastreadas cinco superfícies regionais de discordância no pacote
sedimentar, as quais estão estratigraficamente associadas, da base para o topo,
ao topo de Cretáceo Superior, à base do Eoceno, à base do Oligoceno, ao
Mioceno Inferior e ao Mioceno Médio Superior (ver item 1.3.1 e Fig 1.4). Dessa
forma, foram individualizadas seis seqüências sedimentares básicas, entre o
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 65

embasamento oceânico e fundo do mar: cretácea superior, paleocênica,


eocênica, oligo-miocênica, neogena média e neogena superior-quaternária.

Os três limites de seqüências mais basais – topo do Cretáceo


Superior, base do Eoceno e base do Oligoceno – representam uma continuação
profunda daqueles limites mapeados por Cainelli (1992), na região de
plataforma e talude continental da Bacia de Sergipe (Fig 5.1). Exceto pelas
limitações apontadas no item 1.3.1, a datação destes horizontes está amarrada
com os mesmos parâmetros restritivos descritos pelo autor, ou seja, envolve o
cruzamento de linhas sísmicas com poços exploratórios nos quais as idades
foram estimadas a partir de dados paleontológicos e de perfis VSP ou WST
(Fig. 5.2). Os limites de seqüências da seção neogena, não mapeados por
Cainelii (op. cit.), foram estratigraficamente amarrados a poços do DSDP (ver
ítens 1.3 e 7).

Como as unidades sedimentares mapeadas são limitadas por


superfícies de discordância, é possível correlacioná-las com as seqüências
deposicionais de Mitchum et alii (1977). Em termos de escala temporal e
ciclicidade, elas podem ser associadas aos ciclos de segunda ordem ou
superciclos de Haq et alii (1988), com duração não inferior a 8 Ma. Suas
discordâncias limítrofes devem, portanto, ter-se originado a partir de
rebaixamentos globais no nível dos mares, vinculados não só a processos
glácio-eustáticos, mas também a importantes eventos tectônicos, que podem
envolver expansão da litosfera continental (Sloss, 1991), variações na taxa de
espalhamento oceânico (Pitman, 1978) e mudanças na movimentação das
placas litosféricas, com estresses intraplaca e processos flexurais associados
(Karner, 1986; Cloething et alii, 1988). Uma discussão mais detalhada a respeito
dos processos envolvidos na geração de cada limite de seqüência é
apresentada mais adiante, no item 5.2.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

Figura 5.1 – Carta estratigráfica simplificada da Bacia de Sergipe-Alagoas* do Cretáceo Superior ao Quaternário, mostrando as discordâncias
regionais (limites de seqüências) mapeadas por Cainelli (1992). Com alguma reserva em relação à exata amarração cronoestratigráfica, estas
discordâncias possuem continuidade em domínios abissais, e foram tentativamente rastreadas em toda a margem continental nordeste. As cores
seguem à convenção utilizada na interpretação sísmica.
-3
1
0
5

*A divisão estratigráfica entre as bacias de Serpipe e Alagoas (Feijó, 1994) somente foi formalizada após a publicação desta carta.

66
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 67

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 5.2 – Carta estratigráfica mostrando as idades médias dos limites de seqüências mapeados por
Cainelli (1992), com base em dados de 32 poços exploratórios das bacias de Sergipe e Alagoas. Assim
como na figura anterior, as cores indicam a correlação com as superfícies erosivas mapeadas nesta
dissertação.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 68

A Figura 5.3 representa uma seção-tipo da margem continental


nordeste, na qual se pode identificar os limites de seqüências e algumas das
sismofácies características de cada unidade deposicional. Os truncamentos
erosionais associados às superfícies de discordância, assim como as mudanças
no padrão das reflexões sísmicas, são bastante evidentes na seção. Dada a
grande extensão areal envolvida no mapeamento, significativas variações
laterais ocorrem nas seqüências, tanto no que diz respeito aos depósitos
sedimentares predominantes, como no comportamento de suas superfícies limí-
trofes, já que, em muitas situações, a discordância erosiva transiciona para uma
concordância correlativa.

5.1.1. Sedimentos pré-Fm. Calumbi/Urucutuca


Por apresentar uma distribuição areal restrita, que limitou
seu mapeamento ao segmento sudeste da área, a cunha de sedimentos pré-
Fm. Calumbi/Urucutuca (ver nota de rodapé 2) não foi tratada individualmente
como seqüência deposicional. Não obstante, a “discordância pré-Calumbi”
representa um importante evento sísmico, que pode também ser correlacionado
à carta eustática global (ver item 5.2.3).

Na região de crosta continental da Bacia de Sergipe, a


cunha pré-Calumbi engloba também os clásticos terrígenos da seção rifte e os
sedimentos carbonáticos albianos. Em crosta oceânica, predominam os
folhelhos bacinais, que possivelmente registram um evento anóxico ocorrido no
Oceano Atlântico, durante o Turoniano (De Graciansky et alii, 1984; Thiede e
Van Andel, 1977). Em algumas situações, esses folhelhos possuem uma
“assinatura sísmica” característica, representada por uma sismofácies plano-
paralela (Mitchum et alii, 1977), com reflexões de amplitude comparativamente
maior que as observadas na seqüência sobrejacente (Fig. 5.4).
Linha 500-0171

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Fm
MioMS
MioInf
BOlig

BEoc

Ks

Emb
7
-1
0
5

7
-1
0
5

SW NE

71
AL -01
0
50 Figura 5.3 - Seção tipo para a identificação das supersseqüências e
SE sismofácies. Neste exemplo, todas as superfícies de discordância possuem um
caráter erosivo, que facilita o mapeamento sísmico (Emb=embasamento;
Ks=Cretáceo Superior; BEoc=base do Eoceno; BOlig = base do Oligoceno;
-3
1
0
5
MioInf=Mioceno Inferior; MioMS=Mioceno Médio Superior).

BA

69
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 70

5.1.2. Seqüência cretácea superior

Na maior parte da área estudada, o limite basal da


seqüência cretácea superior corresponde ao próprio embasamento oceânico.
Todavia, na margem continental proximal adjacente aos estados da Bahia,
Sergipe e Alagoas, esta unidade deposicional tem como limite inferior a base da
Fm. Calumbi/Urucutuca. Em domínios de crosta oceânica, suas espessuras
máximas, computadas conjuntamente com as isópacas dos sedimentos pré-
Calumbi, são da ordem de 3.500 m, e ocorrem em um depocentro situado no
extremo sudoeste da área (ver item 8 e Fig. 8.1).

O topo desta seqüência é a discordância cretácea superior,


gerada provavelmente a partir de um rebaixamento no nível relativo do mar
ocorrido no limite Cretáceo-Terciário, em torno de 65 Ma. (ver item 5.2.3). Esta
superfície tem um caráter francamente erosivo na região centro-sul da área
mapeada, registrando as primeiras e expressivas incisões de canais associadas
a uma drenagem continental pretérita (Fig. 5.4). Por outro lado, no extremo sul e
na parte norte da região estudada, a superfície comporta-se predominantemente
como uma concordância correlativa.

A sismofácies característica desta unidade é plano-paralela,


com reflexões de amplitude moderada a baixa. Em boa parte da área, as
amplitudes são tão baixas que chegam a conferir uma transparência sísmica à
seqüência (Fig. 5.4), permitindo uma fácil identificação visual da mesma. Esta
“assinatura” sísmica deve refletir uma deposição predominantemente
hemipelágica, na região mais distal, com um aumento na contribuição de
turbiditos e outros processos sedimentares gravitacionais, em direção ao talude
continental.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
MioInf

Fm
BOlig

BEoc

Ks

Emb

Crosta Oceânica

NW SE
7
-1
0
5

AL

SE

50
0-0
1 60

BA

Figura 5.4 - Vista regional do segmento médio da linha 500-0160 (ver localização no mapa acima), mostrando algumas feições características das seqüências.
A seta indica a base da Fm. Calumbi, que corresponde a uma reflexão de alta amplitude e de grande continuidade nesta região. Ela também representa a base
da seqüência cretácea superior, cujo aspecto quase transparente pode ser facilmente percebido neste exemplo. No topo dessa unidade, entre os PTs 2.200 e
4.200, foi escavado um grande canal, cujo preenchimento, dentro da seqüência paleocênica, parece ter grande contribuição de sedimentação turbidítica. A
discordância da "base do Eoceno“ possui um caráter erosivo menos pronunciado que as demais superfícies mapeadas. A partir da forte erosão que marca a "base do
-3
1
0
5

Oligoceno", iniciou-se um regime de sedimentação fortemente influenciado pelas correntes de contorno. O trecho ampliado destaca algumas feições possivelmente
associadas a marcas de onda, que registrariam a passagem destas correntes. Todavia, feições sísmicas similares podem ser
originadas por correntes de turbidez e também por processos gravitacionais do tipo creeping (Fm=fundo do mar; Emb=embasamento; Ks=Cretáceo superior;
BEoc=discordância da "base do Eoceno"; BOlig=discordância da "base do Oligoceno"; MioInf=discordância do Mioceno Inferior; MioMS=discordância do

71
Mioceno Médio Superior).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 72

5.1.3. Seqüência paleocênica

A seqüência paleocênica, assentada sobre a discordância


cretácea superior, possui como limite superior a discordância da “base do
Eoceno”, uma superfície que, comparativamente aos demais horizontes
mapeados, possui um caráter erosivo menos pronunciado e mais localizado.
Embora truncamentos erosionais sejam comuns, principalmente na região de
transição entre crosta continental e crosta oceânica, na maior parte da área este
limite de seqüências representa uma concordância correlativa. Sua origem deve
estar associada a um rebaixamento global no nível marinho relativo ocorrido
entre o Paleoceno Superior e o Eoceno Inferior, possivelmente sob considerável
influência tectono-eustática (item 5.2.3).

No setor sudeste da área mapeada, o topo da seqüência


paleocênica marca o contato entre uma seção sedimentar basal tectonicamente
deformada e uma seção superior depositada sob condições relativamente
tranqüilas, onde se observa drapes hemipelágicos e preenchimento em onlap.
Em termos de espessuras sedimentares, a seqüência encontra-se mais
desenvolvida no sopé continental defronte aos estados da Bahia e Sergipe (ver
item 8).

A sismofácies característica desta unidade deposicional é


plano-paralela a sub-paralela, com amplitudes relativamente maiores do que na
seqüência cretácea, possivelmente em função de um aumento da contribuição
turbidítica na sedimentação (Fig. 5.4). Na região do talude continental, também
se observa uma sismofácies caótica ou contorcida, que está associada à
ocorrência de depósitos gerados por movimentos de massa gravitacionais.

5.1.4. Seqüência eocênica

Depositada sobre a discordância da “base do Eoceno”, esta


seqüência encontra seu limite superior na superfície discordante conhecida
como “base do Oligoceno”, que representa um importante evento erosivo
interregional, possivelmente associado a um rebaixamento glácio-eustático do
Oligoceno Médio (ver item 5.2.3). Esta unidade deposicional varia bastante ao
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 73

longo da área, tanto em termos de espessura, como em termos de sismofácies e


depósitos correlatos.

A sismofácies mais característica da seqüência eocênica,


encontrada de forma esparsa por toda a região mapeada, está associada à
presença de reflexões descontínuas, quebradas e/ou contorcidas, de baixa
amplitude (Fig. 5.5-B), formando um padrão sísmico que varia entre caótico e
hummocky (Mitchum et alii, 1977). Essa configuração de reflexões é muito
similar àquela descrita por Cartwright (1994), em seqüências lamosas do
Cenozóico Inferior da Bacia do Mar do Norte (Fig. 5.5-A). Segundo o autor, a
sismofácies possui um fabric deformacional, originado por milhares de
falhamentos ou “hidrofraturamentos” associados ao escape de fluidos,
representando um colapso regional, que ocorre em compartimentos bacinais
submetidos a condições de pressão anomalamente altas.

No caso da margem continental nordeste, um fenômeno


regional de escape de fluidos nas porções mais argilosas da seqüência
eocênica pode ter sido desencadeado não apenas devido a pressões
diferenciais, mas também por influência de sismicidade. Basta lembrar que o
Cenozóico Inferior foi um período de intensa atividade tectônico-magmática em
toda a Margem Continental Brasileira, com rearranjos nas placas litosféricas e
vulcanismo associado a plumas do manto (ver ítens 4.2 e 5.2.3).

São também comuns na seqüência eocênica a sismofácies


plano-paralela, mais ligada à sedimentação turbidítica, e a sismofácies semi-
transparente, associada à deposição hemipelágica. Outras feições sísmicas de
destaque nesta unidade sedimentar são as estruturas antiformes ou mounds
que se formam nas imediações de montes submarinos (Fig. 5.6). Estas feições
são tentativamente explicadas a partir de processos do tipo slumping, que
teriam ocorrido nos sedimentos hemipelágicos depositados nas encostas
dessas elevações vulcânicas. Tal como no caso do escape de fluidos, o
desencadeamento de tais processos pode ter sido controlado por abalos
sísmicos eventuais.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 74

200ms
0 1km
0

7
-1
0
5

Figura 5.5 - A seta indica a sismofácies contorcida e "quebrada", bastante comum nas seqüências
eocênica e oligo-miocênica, caracterizando os pacotes sedimentares submetidos a processos de escape
de fluidos. No exemplo A, proveniente da Bacia do Mar do Norte, a expulsão de fluidos é controlada
por um hidrofraturamento das rochas, o qual, por sua vez, é desencadeado a partir de pressões
anômalas (adaptado de Cartwright, 1994). No exemplo B, na margem continental nordeste (linha 500-
-3
1
0
5

0170), a fluidização pode ter a influência adicional do fator sismicidade.


A
Linha 500-0170 onlap
drape

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


BOlig

BEoc

Emb

Emb=embasamento; BEoc=disc. base do Eoceno; BOlig=disc. base do Oligoceno Crosta Oceânica

S N
7
-1
0
5

B
Linha 500-0172

Natal

J. Pessoa

A
Recife
B

BEoc

Maceió
Emb

Crosta Oceânica

S N
Figura 5.6 - Estruturas antiformes presentes na seqüência eocênica. Como estas feições ocorrem sempre nas imediações de montes submarinos, é
-3
1
0
5

provável que estejam associados a processos de slumping, que teriam afetado sedimentos finos (hemipelágicos ?) depositados nas encostas dessas
elevações vulcânicas. Sobre os antiformes, interpreta-se a ocorrência e uma cobertura hemipelágica, depositada sob forma de drape, seguida por
uma seção contornítica e/ou turbidítica, depositada em onlap. Uma explicação alternativa para a origem as estruturas envolve fenômenos similares à
argilocinese, que poderiam se desencadear a partir de sobrecarga diferencial. Na situação A, notar a diminuição progressiva do comprimento de onda

75
dos antiformes na direção norte, onde ocorre uma elevação vulcânica que serviu de anteparo à movimentação sedimentar (ver Fig. 4.4).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 76

5.1.5. Seqüência oligo-miocênica

Discordantemente assentada sobre a seqüência eocênica, a


unidade deposicional oligo-miocênica é limitada, no seu topo, pela discordância
do Mioceno Inferior, uma superfície que também tem sua origem ligada a
flutuações glácio-eustáticas de influência global (ver item 5.2.3). Tal como na
unidade sotoposta, esta seqüência varia consideravelmente, em termos de
espessura, sismofácies e depósitos sedimentares.

Na região do talude continental, são comuns os depósitos


associados a processos do tipo slumping, com sismofácies caótica. No sopé
continental superior defronte à foz do Rio São Francisco, ocorrem conspícuas
feições ligadas à migração lateral de canais, formando depósitos
geometricamente similares àqueles encontrados nas barras em pontal de
ambientes fluviais (Fig. 5.7). Neste cenário, a migração de canais pode estar
associada tanto a correntes de turbidez como a correntes de contorno termo-
halinas (ver ítens 5.2 e 5.3.2). A medida que se avança em direção ao sopé
continental distal, típicos exemplos de drifts contorníticos evidenciam um
aumento do controle das correntes de contorno sobre a sedimentação (ver Fig.
6.13 e item 5.2). Neste contexto, belíssimas clinoformas registram a
progradação dos drifts para oeste, sob a influência do efeito de Coriolis 14 (ver
Fig. 6.13-B.).

A sismofácies “contorcida” presente na seqüência eocênica,


que parece estar vinculada a processos de fluidização, é recorrente na seção
oligo-miocênica. Drapes hemipelágicos (Fig. 5.6) e preenchimentos turbidíticos,
ambos com um padrão de reflexões paralelo, também são comuns nesta seção.

14
O efeito de Coriolis representa a tendência de qualquer objeto em movimento de ser desviado
de uma trajetória retilínea, em função da força de deflexão associada à rotação da Terra. Sendo
diretamente proporcional ao seno da latitude, o efeito – na verdade uma aceleração – é inócuo
na região equatorial, aumentando gradativamente em direção aos pólos. Assim, a aceleração de
Coriolis faz com que as massas d’água dinâmicas sejam defletidas para a direita (sentido
horário) no hemisfério norte, e para a esquerda (sentido anti-horário) no hemisfério sul. Na
prática, as correntes de fundo são defletidas para o limite oeste dos oceanos, instalando-se junto
à base das margens continentais, onde retrabalham sedimentos terrígenos e hemipelágicos.
Nesses domínios, elas seguem um curso aproximadamente paralelo aos contornos batimétricos,
motivo pelo qual são referenciadas como correntes de contorno.
Linha 500-0161

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Fm

BOlig

BEoc
Ks

Crosta Oceânica

Emb

SDR (?)
7
-1
0
5

Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior;


BEoc=disc. base do Eoceno; BOlig=disc. base do Oligoceno

NW SE

AL

SE
50
0-0
16
1

BA

Figura 5.7 - Superimposição de discordâncias erosivas no sopé continental defronte à foz do Rio São Francisco. As setas indicam feições
sismoestratigráficas associadas à migração lateral de canais, tanto na seqüência eocênica quanto na seqüência oligo-miocênica. Na seção
-3
1
0
5

pós-eocênica, deve ocorrer uma interação entre processos sedimentares gravitacionais, que ocorrem talude abaixo, e processos controlados
por correntes de contorno, que se desenvolvem paralela ou obliquamente ao talude continental. A seção sedimentar em torno da seta mais
à direita possui um padrão sísmico comumente vinculado à deposição de contornitos. Notar que, na crosta oceânica em torno do PT
2.800, ocorrem algumas feições sísmicas provavelmente associadas à presença de seaward-dipping reflectors (ver item 3.1).

77
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 78

5.1.6. Seqüências neogena média e neogena


superior-quaternária

Constituindo as unidades deposicionais superiores do


pacote sedimentar da margem continental nordeste, estas seqüências são
justapostas por uma superfície de discordância interregional correlacionada ao
Mioceno Médio Superior, que foi mapeada somente na metade setentrional da
área. Assim como as demais discordâncias pós-eocênicas, ela tem sua origem
associada a processos glácio-eustáticos, que serão discutidos com mais detalhe
nos ítens 5.3.2 e 5.3.3. O topo da seqüência neogena superior-quaternária
corresponde ao fundo do mar atual.

A sismofácies mais característica destas unidades é plano-


paralela com reflexões de amplitude moderada, retratando uma sedimentação
hemipelágica ou, na maior parte da região, uma deposição controlada por
correntes de contorno (ver item 6.3), que origina grandes drifts sedimentares
contorníticos com geometria do tipo “lençol” ou mound (ver item 6.4.3). Algumas
clinoformas podem também ser observadas, como registro de uma progradação
sedimentar associada à migração lateral das correntes de fundo. Neste cenário,
também foram escavados inúmeros canais submarinos, com incisões
localmente acentuadas pela presença de constritas passagens abissais por
entre montes submarinos (ver Fig. 6.10).

Feições do tipo marcas de onda (megaripples ou sediment


waves), cuja ocorrência é bastante comum nos fundos oceânicos varridos por
correntes de contorno, foram observadas em duas situações: na linha 500-0160,
defronte à Bacia de Sergipe, onde o caráter sísmico das estruturas deixa
margem a interpretações alternativas (ver Fig. 5.4); em um perfil sísmico da
PETROBRAS que cruza a linha 500-0162, defronte à Bacia de Alagoas, onde
ocorrem típicos megaripples (Fig. 5.8). As feições sísmicas apresentadas nesta
figura são bastante similares àquelas identificadas em exemplos clássicos de
contornitos em margens continentais variadas, em diversos pontos do globo (ver
item 6.3).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

Figura 5.8 – Perfil sísmico registrado


pela Petrobras nas proximidades da
-3
1
0
5

linha 500-162. A passagem das


correntes de contorno deu origem às
formas de leito do tipo marcas de
onda (megaripples), cujo comprimento
de onda é de 2,8 km.

79
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 80

5.2. Considerações eustático-estratigráficas

5.2.1. Sobre a correlação global das supersseqüências


mapeadas

A presença de discordâncias de caráter global em


sedimentos marinhos foi sugerida por Vail e Wilbur (1966), Rona (1973) e Van
Andel et alii (1977), entre outros autores. Posteriormente, a partir de estudos
paleontológicos em dados do DSDP, foi possível confirmar a presença de hiatos
associados a tais superfícies (Moore et alii, 1978; Keller e Barron, 1983), que
são produzidos por erosão mecânica ou química no fundo oceânico. Tanto os
hiatos do Neogeno como os eventos erosivos mais expressivos do Paleogeno
Superior parecem estar relacionados à circulação de massas d’água profundas,
que se intensifica durante períodos de resfriamento e rebaixamento eustático
globais (Keller e Barron, op. cit.; Keller et alii, 1987). Os últimos autores apontam
também a distribuição global de pequenos hiatos associados à não-deposição
ou dissolução carbonática, e alertam para a ocorrência de outros hiatos erosivos
geograficamente mais restritos, concentrados nas elevações oceânicas, platôs
marginais, bem como ao longo do talude das margens continentais.

Neste ponto, uma questão se sobressai: como comprovar a


existência de um vínculo entre as superfícies de discordância da margem
continental nordeste e eventos erosivos de influência global? Na ausência de
uma malha de dados de poços em águas profundas e, portanto, de informações
paleontológicas que permitissem uma correlação com eventos conhecidos,
procedeu-se a um rápido exercício de mapeamento sísmico, envolvendo a
extrapolação do rastreamento de alguns horizontes discordantes para outros
pontos da Margem Continental Brasileira. Com o auxílio de dados do Projeto
LEPLAC, verificou-se a continuidade dos horizontes pelo menos até a margem
continental sudeste/sul 15 , o que significa uma considerável extensão dos

15
A continuidade aqui alegada não implica em um comportamento ininterruptamente erosivo das
superfícies de discordância. Na verdade, em boa parte da área estudada, elas constituem concordâncias
correlativas, onde a presença de hiatos pode ser apenas inferida pela mudança de sismofácies. Todavia, o
caráter erosivo é alternadamente retomado nas regiões onde as condições geomorfológicas favorecem a
aceleração das correntes de fundo.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 81

eventos, somente justificável a partir de rebaixamentos do nível marinho


(relativo) de expressão ao menos continental.

Para checar as conclusões advindas do exercício de


rastreamento sísmico, procurou-se correlacionar as idades relativas atribuídas
aos horizontes mapeados com as idades de algumas das mais importantes
discordâncias interregionais do Fanerozóico, apresentadas em Vail et alii (1977),
que estão associadas a quedas globais no nível dos mares (Fig. 5.9). Da mesma
forma, fez-se uma correlação tentativa das seqüências mapeadas com a carta
de ciclos eustáticos globais de Haq et alii (1988), apresentada na Figura 5.10.

Na etapa seguinte da checagem cronoestratigráfica,


efetuou-se uma indispensável comparação com a margem continental Atlântica
dos Estados Unidos, onde foram conduzidos estudos similares aos desta tese,
envolvendo o mapeamento sísmico de supersseqüências e discordâncias
limítrofes, com razoável amarração a partir de poços do DSDP (Poag, 1985a;
Poag et alii, 1987). A Figura 5.11 mostra alguns dos resultados destes estudos
na região de Nova Jérsei, e sua relação com os principais eventos geológicos,
paleobiológicos e paleoceanográficos dos últimos 84 Ma. As discordâncias
mapeadas na nossa margem continental encaixam-se adequadamente na
seqüência de eventos apresentada na figura.

Restringindo as correlações para o âmbito do Atlântico Sul,


pôde-se observar um excelente ajuste entre as discordâncias rastreadas e os
principais eventos erosivos interpretados em Van Andel et alii (1977), os quais
se encontram paleogeograficamente discriminados na Figura 5.12. As
superfícies mapeadas são também cronoestratigraficamente correlatas às
discordâncias I a IV identificadas por Gamboa et alii (1983a), na região
meridional da Bacia Oceânica do Brasil, junto ao poço DSDP-515. As analogias
se estendem às seqüências individualizadas por aqueles autores, inclusive
aquelas na região do Rio Grande gap-Canal Vema, que apresentam ranges de
idades, sismofácies e tipos de depósitos similares aos descritos na presente
tese.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 82

7
-1
0
5

Figura 5.9 – Relação das principais discordâncias interregionais do Fanerozóico (coluna central) de
acordo com Vail et alii (1977). A correlação tentativa com as superfícies erosivas mapeadas no segmento
nordeste da Margem Continental Brasileira é indicada pelas cores, cuja convenção é apresentada abaixo.

Disc. do Mioceno Médio Superior


Disc. do Mioceno Inferior
Disc. do OIigoceno
Disc. da base do Eoceno
Disc. do Cretáceo Superior

-3
1
0
5
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 83

7
-1
0
5

Disc. do Mioc. Médio Superior


Disc. do Mioceno Inferior
Disc. do OIigoceno
Disc. da base do Eoceno
Disc. do Cretáceo Superior

Figura 5.10 – Carta de ciclos eustáticos globais do Cenozóico (adaptada de Haq et alii, 1988). Assim como na
figura anterior, as cores indicam uma provável correlação com as superfícies de discordância mapeadas na
margem continental nordeste. Duas opções são apresentadas para a correlação da discordância da “base do
Eoceno”.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
? ? ?
7
-1
0
5

Figura 5.11 – Sumário esquemático dos principais eventos geológicos, paleobiológicos e paleoceanográficos ocorridos na margem continental Atlântica dos
Estados Unidos (região de Nova Jérsei) do Campaniano ao Holoceno. O quadro, adaptado de Poag e Mountain (1987), representa uma compilação de dados de
-3
1
0
5

diversas fontes. Os superciclos da coluna 16 são baseados em uma versão antiga da carta global de Haq et alii (1988), motivo pelo qual ocorrem algumas
discrepâncias da ordem de 1 a 2 milhões de anos com relação aos limites dos ciclos mostrados na Figura 5.9. Notar a coluna 5, onde as discordâncias regionais
norte-americanas são correlacionadas com as discordâncias de nossa margem continental nordeste, com o auxílio da convenção de cores utilizada na
interpretação sísmica (ver Fig. 5.8).

84
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 5.12 – Distribuição paleogeográfica dos eventos erosivos no Atlântico Sul, a partir de uma integração de poços do DSDP
(adaptado de Van Andel et alii, 1977). O poço destacado em azul é o DSDP 24/24A, utilizado para a amarração cronoestratigráfica das
discordâncias da margem continental nordeste. As cores na linha de costa indicam a provável correlação destas discordâncias com

85
alguns dos eventos intercontinentais discriminados na figura, de acordo com a convenção utilizada nesta dissertação (ver Fig. 5.8).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 86

Concluindo a correlação estratigráfica, procurou-se verificar


a correspondência dos eventos rastreados na margem nordeste Brasileira com
hiatos/discordâncias identificados nas margens continentais Atlântica e Índica da
África. Na margem Atlântica africana, defronte à região do Congo/Zaire, Jansen
(1985), identificou hiatos em torno das idades de 66 Ma. (Ksup/Pal), 32 Ma.

(Oliinf) e 13 Ma. (Miomed), que são diretamente correlacionáveis às discordâncias


do Cretáceo Superior, do Oligoceno e do Mioceno Médio Inferior, mapeadas
neste trabalho. Niemi et alii (2000), em trabalho bastante similar ao desta tese,
mapearam linhas sísmicas regionais na Margem Continental Sudeste Africana,
identificando discordâncias em escala de bacia, que se estendem para os
domínios do sopé continental e planície abissal. Assim como a discordância
oligocênica desta tese, seu “Refletor O” registra o início da ação das correntes
frias abissais no Oligoceno (Fig. 5.13). Igualmente, acima desta discordância
erosiva, depositou-se um drift contonítico (Oribi Drift), a partir da migração de
correntes no sentido nordeste, a mais de 4.000 m de profundidade.

Niemi et alii (op. cit.) também identificaram o “Refletor M”,


outra discordância erosiva de possível idade miocênica média, que marca um
processo erosivo abissal, em lâminas d’água acima de 4500 m. Acima deste,
depositaram-se drifts contorníticos (M-Drift) e sistemas turbidíticos. As
similaridades são novamente notáveis, e o refletor M representa o correlato
sudeste-africano da discordância do Mioceno Médio descrita nesta tese (ver
item 5.1.6). Para ser ter uma idéia das similaridades apontadas acima,
recomenda-se fazer uma comparação visual entre as seções sísmicas da Figura
5.13-A e da Figura 6.13-A (pág. 139), que recobre o sopé continental da Bacia
de Alagoas. Niemi et alii (op.cit.) identificaram ainda uma terceira discordância,
de idade pliocênica, que não foi rastreada no trabalho que deu origem a esta
tese. A Figura 5.13-B mostra também um exelente exemplo de mound
contornítico, o Drift Agulhas, bem como um didático diagrama que indica as
relações entre a direção de migração da corrente de fundo e a migração do drift
contornítico.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
87

Agulhas Contourite Drift


B

Figura 5.13 – Sismo-estratigrafia regional da Margem Continental Sudeste Africana, bacias de Transkei e Natal (Natal Valley).
Das três discordâncias interregionais identificadas (refletores “O”, “M” e “P”), as duas mais basais são correlatas às mapeadas na
margem continental nordeste do Brasil. A) Perfil sísmico regional, com seção esquemática mostrando as discordâncias mapeadas
(“O” = disc. Oligocênica; “M” = disc. miocênica média; “P” = disc. pliocênica). B) Trecho de perfil sísmico detalhando o Drift de
Agulhas. A seção ao lado esquematiza o processo de migração do mound contornítico. Para localização das linhas sísmicas, ver
mapa abaixo (adaptado de Niemi et alii, 2000).

(turbidite packages M1-M4) 7


-1
0
5

Oribi Contourite Drift

South
Africa A
A

B
-3
1
0
5

NW SE
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 88

5.2.2. Sobre o controle eustático e/ou tectônico na deposição


das supersseqüências
Desde a publicação do Memoir 26 da AAPG, com os
conceitos básicos da estratigrafia de seqüências (Vail et alii, 1977), estabeleceu-
se uma acirrada polêmica em torno da assunção de que ciclos eustáticos
globais seriam os mecanismos de controle fundamentais no preenchimento
sedimentar das bacias. Embora reconhecendo a importância da migração da
linha de praia e da variação da profundidade da lâmina d’água, tanto na
deposição das seqüências sedimentares, como na geração dos limites que
separam estas unidades deposicionais, muitos pesquisadores argüiram uma
subestimação da importância dos processos tectônicos na sedimentação
(Pitman, 1978; Watts, 1982; Thorne and Watts, 1984; Karner, 1986; Cloething,
1986; Sloss, 1991; Aubry, 1991).

A partir dos anos oitenta, travou-se então uma contenda


entre os defensores da glácio-eustasia, que relacionam as variações globais do
nível marinho predominantemente a processos de glaciação e deglaciação, e os
partidários da tectono-eustasia, que advogam um controle tectônico sobre os
rebaixamentos e ascensões relativos dos mares. Não se pretende entrar aqui
neste debate, mesmo porque no item anterior ficou explícita a relação das
seqüências mapeadas com a curva eustática global (Haq et alii, 1988) e com
seqüências individualizadas em outros continentes (Poag, 1987), as quais, por
sua vez, também são correlacionáveis à mesma curva. O objetivo deste item é
apresentar, dentro da acepção de variacão do nível relativo do mar de
Posamentier e James (1993), algumas evidências da influência tectônica sobre
os processos erosivo-deposicionais, principalmente na margem continental
distal.

Independente de um controle principal a partir de um evento


glácio-eustático ou tectônico, ou de uma interação entre ambos, a origem de um
limite de seqüência na plataforma continental (i.e., uma discordância) é bem
conhecida: se o nível do mar relativo sofre um rebaixamento tal que permita a
emersão de parte da plataforma, criam-se condições para erosão subaérea da
mesma, que ficará registrada pela ocorrência de paleossolos, vales incisos,
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 89

dissolução carbonática, dolomitização e retração do onlap costeiro (Vail et alii,


1977; Van Wagoner et alii, 1990). Sabe-se também que a presença de
superfícies de discordância no talude continental, além de intrinsecamente
associada a movimentos gravitacionais de massa, está vinculada à ação erosiva
de correntes geostróficas superficiais e correntes termo-halinas intermediárias
(Popenoe, 1985; Mountain e Tucholke, 1985; Souza Cruz, 1995; Viana, 1998;
Viana et alii, 1998).

Os mecanismos que levam à formação de uma discordância


erosiva no sopé continental, por sua vez, são relativamente pouco estudados,
em particular no Atlântico Sul. Eles envolvem, principalmente, a intensificação
da circulação de massas d’água profundas em períodos de rebaixamento glácio-
eustático e também processos tectônicos diversos, que, ao causar um
soerguimento regional no embasamento, provocam uma mudança do “nível-
base de erosão” submarino, potencializando a atividade erosiva das correntes
de fundo.

A circulação oceânica global só merece o papel principal no


processo de erosão submarina a partir do limite Eoceno/Oligoceno, com o
estabelecimento de uma divergência de temperatura entre as águas superficiais
e de fundo – a psicrosfera (Kennett e Shackleton, 1976) –, cujo resultado foi a
implantação inicial da corrente de fundo da Antártica (AABW) na direção sul-
norte, em torno de 32 Ma. (Johnson, 1983). Embora já houvesse condições
geomorfológicas para a conexão entre as águas intermediárias e profundas do
oceano meridional com o Atlântico Norte desde o final do Cretáceo (Van Andel
et alii, 1977), não existem dados que evidenciem uma circulação oceânica mais
vigorosa antes do Oligoceno, quando o fator salinidade controlava a
estratificação das massas d’água (Thierstein, 1979).

Neste ponto, faz-se necessário diferenciar a vigorosa


circulação oceânica termo-halina estabelecida após o Eoceno, com controle
principal a partir do gradiente de temperatura entre os pólos e o Equador – que
deu origem à atual estratificação das massas d’água (ver item 6.1.1 e Fig. 6.1) –,
daquela circulação pré-oligocênica mais branda, balizada por diferenças de
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 90

salinidade, e por isso dita halo-termal. Neste ambiente mais antigo, o potencial
erosivo das correntes de fundo seria, ao menos teoricamente, bastante inferior
ao das correntes termo-halinas pós-eocênicas.

Como explicar, então, a ocorrência de erosões no fundo


oceânico abissal, ainda que de forma localizada, entre o Cretáceo Superior e o
Eoceno? É justamente este caráter localizado, contrastante com a distribuição
interrregional das discordâncias oligo-miocênicas, que constitui uma indicação
de que processos tectônicos podem ter exercido uma importante influência na
formação dos limites de seqüências do Cretáceo Superior/Cenozóico Inferior,
potencializando eventualmente a capacidade de remobilização sedimentar das
paleo-correntes de fundo.

No item a seguir, discute-se individualmente cada limite de


seqüência mapeado, procurando associá-lo a eventos geológicos específicos,
entre os quais alguns episódios tectono-magmáticos discutidos no capítulo 4.
Salienta-se, contudo, que os efeitos tectônicos aventados devem estar
superpostos a rebaixamentos eustáticos globais, de modo a produzir variações
no nível relativo dos mares.

5.2.3. Sobre os eventos geológicos envolvidos na formação


dos limites das supersseqüências

Na maior parte da região estudada, o limite basal da


seqüência cretácea superior corresponde à própria crosta oceânica. Todavia,
conforme apontado no item 5.1.2, na porção sudoeste da área mapeada, junto
às bacias de Camamu, Jacuípe, Sergipe e Alagoas, este limite representa a
base da Fm. Calumbi/Urucutuca. Embora não tenha sido abordada como um
limite de seqüências nesta tese, em função de sua distribuição mais proximal 16 ,
esta superfície está associada, nas cartas estratigráficas das referidas bacias, a
um evento discordante com idade em torno de 90 Ma. (ver nota de rodapé 2).
Este evento, também identificado regionalmente na Margem Continental
Africana (Seiglie e Baker, 1984), coincide com o rebaixamento global do nível

16
Optou-se por utilizar a base da Fm. Calumbi/Urucutuca apenas como um referencial para
estimar a idade da crosta oceânica a ela subjacente, em conjunto com a escala temporal de
polaridade geomagnética de Cande e Kent (1992).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 91

marinho que caracteriza o início do superciclo UZA-3 de Haq et alii (1988; Fig.
5.10).

Feita esta ressalva, onde se assume a seqüência cretácea


superior como a unidade sedimentar basal deste estudo, pode-se discutir a
origem da superfície limítrofe que a separa da seqüência paleocênica.
Supostamente formada próximo à fronteira entre o Cretáceo e o Terciário, em
torno de 65 Ma., esta superfície foi correlacionada por Cainelli (1992) ao limite
dos megaciclos Zuni e Tejas, de Haq et alii (1988; Fig. 5.10). Sugere-se,
entretanto, que o efeito deste conhecido rebaixamento eustático global pode ter
sido amplificado, principalmente nos domínios profundos do sopé continental, a
partir de alguns eventos tectônicos regionais, capazes de induzir a estresses
intraplaca. Estes eventos, ligados à formação dos alinhamentos NW-SE na
margem continental nordeste (ver item 4.2), envolvem tanto mudanças na taxa
de expansão do assoalho oceânico e na direção do movimento relativo das
placas litosféricas (Mello e Dias, 1996), como a atuação de plumas do manto
(Bryan e Cherkis, 1995).

A exata correlação temporal destes processos tectono-


magmáticos – ocorridos entre o Cretáceo Superior e o limite Paleoceno/Eoceno
– com as flutuações no nível relativo do mar é uma questão complexa, que não
será abordada nesta tese. Todavia, a suposição de que mudanças na taxa de
espalhamento do assoalho oceânico exerceram influência eustática no Cretáceo
é antiga (Hallam, 1963; Russel, 1968; Hays e Pitman, 1973), sendo inclusive
considerada por Vail et alii (1977). Hays e Pitman (op. cit.) mostraram
quantitativamente que tanto a transgressão do Cretáceo Superior como a
subseqüente regressão Cenozóica podem ser explicadas em termos de
expansão e contração do sistema mesoceânico.

Na variação do nível relativo do mar, deve-se considerar,


adicionalmente, a influência dos processos de flexura litosférica, que estão
vinculados tanto à sobrecarga sedimentar em uma bacia, como à implantação
de cadeias vulcânicas sobre uma crosta oceânica relativamente mais jovem
(Gomes, 2000). A magnitude e a regionalidade de eventuais soerguimentos do
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 92

embasamento associados a tais fenômenos dependem, basicamente, do


volume da carga sedimentar/vulcânica e da diferença de idade entre esta carga
e a crosta subjacente (Watts, 1978, 1982; Turcotte e Schubert, 1982).

Conforme concluído no item 4.2, tanto os montes


submarinos da Paraíba e de Pernambuco, como a porção mais setentrional dos
Montes Submarinos da Bahia, parecem ter se implantado no Cretáceo Superior.
Para se estimar seu efeito flexural na crosta adjacente, com possíveis reflexos
na variação do nível marinho e na formação do limite das seqüências
cretácea/paleocênica, deve-se recorrer a modelagens isostáticas ao estilo de
Sperle et alii (1991), já que a simples análise de dados sísmicos não é
conclusiva neste nível de complexidade.

Tal como sugerido no item anterior, o caráter


localizadamente erosivo da discordância cretácea superior parece reforçar a
hipótese de influência tectônica na formação deste limite de seqüências no sopé
continental. Um exemplo desta erosão intensa e localizada pode ser observado
na linha 500-0160 (Fig. 5.4), onde a seqüência cretácea encontra-se escavada
por canais submarinos 17 , possivelmente associados ao sistema de drenagem
continental da Bacia de Sergipe. Eventuais soerguimentos do embasamento,
vinculados a quaisquer dos processos tectônicos aventados acima, podem ter
amplificado a capacidade erosiva das correntes submarinas na região, inclusive
no que diz respeito à atividade das marés e do longshore drift.

Seguindo nesta mesma linha, pode-se também inferir algum


controle tectônico na formação do limite entre as seqüências paleocênica e
eocênica, aqui denominado simplificadamente de “base do Eoceno”. Vários
estudos vêm indicando que o período entre o Paleoceno e o Eoceno foi
marcado por intensa atividade tectônica e vulcânica, particularmente no
segmento sudeste da Margem Continental Brasileira e porção emersa adjacente
(Cordani, 1970; Asmus e Guazelli, 1981; Chang et alii, 1992). Neste contexto,
pode também ser inserido o vulcanismo eocênico da margem continental leste,

17
A ocorrência de cânions submarinos na seqüência cretácea superior foi também observada
por Cainelli (1992, pág. 101).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 93

ao qual estão associados os bancos de Abrolhos e Royal Charlotte (Cordani,


1970; Fainstein e Summerhayes, 1982; Chang et alii, 1992).

Ao início do Terciário também remonta a formação do Rifte


Continental do Sudeste do Brasil (Riccomini, 1989), do qual fazem parte as
bacias de Curitiba, São Paulo, Taubaté, Resende, Volta Redonda e Itaboraí.
Ainda neste período teria ocorrido um importante evento deformacional na
margem continental sudeste, a partir de um movimento relativo entre dois
segmentos da Placa Sul-Americana, resultando na formação de um conspícuo
lineamento NW-SE, conhecido como “Zona de Deformação Cruzeiro do Sul”
(Souza, 1991), que atravessa a Elevação do Rio Grande e o Platô de São Paulo
(ver item 4.2.1).

Para Scarton (1993), todo este conjunto de eventos,


relacionado a um rearranjo global das placas litosféricas no Cenozóico Inferior
(Rona e Richardson, 1978), teria forte reflexo na flutuação do nível relativo do
mar e, por conseqüência, na origem das marcantes discordâncias regionais que
estão associadas aos limites das seqüências Eo e Meso-eocênicas na Bacia de
Campos. O autor teve sua suposição reforçada por uma análise da subsidência
termo-mecânica da bacia, que evidenciou a ocorrência de soerguimentos do
embasamento de idade eocênica/paleocênica.

A margem continental nordeste também deve ter sido


influenciada por esta reorganização dinâmica da Placa Sul-Americana,
particularmente se os alinhamentos NW-SE associados aos montes submarinos
da Paraíba, de Pernambuco e da Bahia estiverem vinculados a este processo,
conforme aventado no item 4.2.1. Considerando que a porção mais meridional
dos Montes Submarinos da Bahia tenha se formado junto ao limite
Paleoceno/Eoceno, conforme sugerido por Bryan e Cherkis (1995), pode-se
também esperar um efeito flexural regional associado à sobrecarga vulcânica,
causando soerguimento no sopé continental e favorecendo a atuação de
correntes erosivas.

Dessa forma, é possível adicionar uma forte componente


tectônica ao limite superior da seqüência paleocênica, o qual, por falta de uma
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 94

amarração mais precisa, situa-se em uma posição intermediária entre os


rebaixamentos globais do nível marinho que marcam o final dos superciclos
TA1(58,5 Ma.) e TA2 (49,5 Ma.) de Haq et alii (1988; Fig. 5.10). Mais próximo do
topo do ciclo TA1, entre 54 e 57 Ma., Van Andel et alii (1977) definiram um hiato
megarregional no Atlântico Sul (Fig. 5.12), com o auxílio de poços do DSDP,
entre os quais os DSDP 23, 24 e 24A, utilizados nesta tese. Aubry (1995), por
sua vez, interpretando o registro estratigráfico eocênico em cerca de meia
centena de poços do DSDP no Oceano Atlântico, com o auxílio de uma escala
magnetobiocronológica integrada, encontrou um overlap de hiatos em torno de
51 Ma., no Atlântico Sul ocidental (Fig. 5.14). Esta idade poderia ser ajustada
mais facilmente ao topo do ciclo TA2 da carta eustática global.

O limite de seqüências seguinte na sucessão sedimentar,


que separa as unidades eocênica e oligo-miocênica, é representado por uma
discordância regional na Bacia de Sergipe, denominada informalmente de “base
do Oligoceno”. Tendo encontrado sedimentos do Oligoceno Inferior acima desta
discordância, em sua análise estratigráfica, Cainelli (1992) foi impedido de
correlacioná-la com o importante rebaixamento eustático global da base do
Chatiano, que é extremamente conspícuo na curva de Haq et alii (1988).
Abstendo-se de fazer uma associação com qualquer outro evento representativo
na referida curva, o autor preferiu discutir a atuação de outras causas, como
subsidência tectônica e aporte sedimentar, na formação deste limite de
seqüências. Ainda segundo Cainelli (op. cit.), o evento da base do Chatiano,
embora presente na bacia, não foi considerado expressivo a ponto de merecer
um mapeamento sistemático.

Cainelli (comun. verbal) considera, entretanto, que dados adi-


cionais ou uma revisão bioestratigráfica poderiam resultar em uma correlação alterna-
tiva. A despeito disso, pode-se manter a interpretação original do referido autor, desde
que se admita uma situação onde a discordância mapeada esteja representando,
sismicamente, a superposição de dois (ou mais) eventos erosivos. Dado o caráter
fortemente discordante e regionalmente erosivo da “base do Oligoceno” no sopé
continental, pode-se correlacioná-la, nesses domínios profundos, com o rebaixamento
glácio-eustático do Oligoceno Médio, ocorrido a cerca de 30 Ma.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 95

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 5.14 – Hiatos eocênicos interpretados em seis poços do DSDP no Atlântico Sul.
Notar o overlap de hiatos em torno de 51 Ma. (adaptado de Aubry, 1995).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 96

Esta correlação encontra suporte na medida em que esta


superfície denuncia, entre outros aspectos, as primeiras atividades erosivas
associadas à instalação do Canal Submarino de Pernambuco (ver Fig. 6.10),
que transporta a água de fundo da Antártica (AABW) através da margem
continental nordeste (ver item 2.3). De forma similar, as primeiras erosões
associadas à incursão desta corrente de fundo termo-halina para a bacia
oceânica sul-brasileira estão registradas na paleobase do Canal Vema (a
“discordância A” de Gamboa et alii, 1983a, 1983b). Assim, os horizontes
sísmicos que registram a escavação original de ambos os canais estão genética
e temporalmente relacionados 18 .

Como se atribuiu uma idade aproximada de 32 Ma. para os


sedimentos que recobrem a “discordância A” de Gamboa et alii (1983a),
amostrados no poço DSDP-515 (Berggren et alii, 1983 apud Johnson, 1985),
pode-se inferir que sedimentos de idade semelhante estejam recobrindo a
paleobase do Canal Submarino de Pernambuco. Esta, por sua vez, está
associada ao limite entre as seqüências eocênica e oligo-miocênica, que teria se
originado a partir de um evento erosivo global, vinculado à intensificação da
circulação das massas d’água profundas, como resultados dos conhecidos
processos glácio-eustáticos do Oligoceno Médio.

Sabe-se, por intermédio do registro de isótopos de oxigênio


em foraminíferos bentônicos, que, pelo menos desde o Eo-Oligoceno, as
flutuações do nível relativo do mar vêm sendo controladas por processos de
crescimento e derretimento das calotas polares (Miller et alii, 1985; Miller et alii,
1991). Desse modo, além da discordância oligocênica, também os limites de
seqüências neogenos estão intrinsecamente associados a esses processos, que
induzem a ascensões e rebaixamentos glácio-eustáticos.

18
Conforme apontado no item 5.2.1, um exercício de mapeamento sísmico interregional permitiu
a correlação destes horizontes entre os segmentos nordeste e sul da Margem Continental
Brasileira.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 97

A discordância miocênica inferior 19 , então, pode ser


correlacionada à queda eustática que marca o topo do superciclo TB1 de Haq et
alii (1988), ocorrida em torno de 20 Ma. Nesta época, o rebaixamento marinho
trouxe consigo uma revigoração da circulação oceânica profunda, como reflexo
do processo de ampliação e aprofundamento do Estreito de Drake, no final do
Oligoceno (Barker e Burrel, 1977; Keller e Barron, 1983). O limite de seqüências
associado a esta discordância, que marca o início de um período de intensa
deposição de drifts e lençóis contorníticos (ver ítens 5.1.6 e 6.3), possui um
caráter erosivo quase onipresente, ao longo da margem continental nordeste.
Alternativamente, seria possível correlacionar esta superfície limítrofe ao evento
eustático ocorrido em torno de 16,5 Ma., o qual, embora não represente um
limite de superciclo na carta global, parece estar associado a uma intensa
atividade erosiva das correntes de fundo, responsável pela formação da
discordância “vermelha” na Bacia de Campos (Souza Cruz, 1995).

Na base da seção neogena superior-quaternária, foi


mapeado o último e mais jovem limite de supersseqüências da região,
correspondente ao Mioceno Médio Superior. Esta superfície pode ser
correlacionada ao topo do superciclo TB2 de Haq et alii (1988; Fig. 5.10), que
caracteriza um dos mais expressivos rebaixamentos do nível relativo do mar de
todo o Cenozóico, ocorrido em torno de 10,5 Ma. A ele está vinculado um
grande evento erosivo neogeno no Atlântico Sul, responsável pela geração de
superfícies de discordância regionais, cuja representação, na Bacia de Campos,
é o horizonte conhecido como “Marco Cinza” (Viana et alii, 1990).
Reconhecidamente glácio-eustático, este evento estaria associado ao processo
de expansão da calota polar no leste da Antártica (Burckle et alii, 1982 apud
Viana et alii, op. cit.), o qual, aumentando a produção de águas salgadas, frias e
densas, teria induzido à intensificação das correntes marinhas profundas pelo
aumento do gradiente térmico latitudinal (Souza Cruz, 1995).

19
Esta idade baseia-se em uma correlação tentativa com os poços DSDP-23 e DSDP-24/24A,
conforme destacado no item 1.3. Sua precisão está sujeita às limitações impostas pela processo
de conversão de valores de profundidade para tempos de reflexão sismica (ver item 7).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 98

No período pós-eocênico, o único evento tectono-magmático


significativo na margem continental nordeste diz respeito à implantação da
Cadeia Fernando de Noronha, durante o Neogeno. Gomes (2000) e Gomes et
alii (2000) reportaram expressivos soerguimentos no embasamento oceânico,
associados a processos flexurais regionais na litosfera, que são causados pela
sobrecarga vulcânica da Cadeia. Todavia, dada a prevalência da glácio-eustasia
neste período, estes fenômenos tectônicos estariam, a princípio, apenas am-
plificando ou atenuando as variações do nível relativo do mar, a depender do
timing entre a flexura litosférica e as oscilações eustáticas. De qualquer forma,
os eventuais reflexos destes processos estariam restritos à Bacia Potiguar e
crosta oceânica adjacente.

5.2.4. Sobre a aplicabilidade dos conceitos da estratigrafia de


seqüências na margem continental profunda (sopé
continental)

Desenvolvida e aprimorada por profissionais ligados à


indústria do petróleo, a estratigrafia de seqüências (ES) teve sua arquitetura
básica planejada para o sistema plataforma-talude continental, até lâminas
d’água de 2.500-3.000 metros, no máximo. A falta de interesse comercial na
margem continental mais profunda refletiu-se em um volume comparativamente
menor de dados de poços e de sísmica de reflexão nessa região, retardando a
análise de uma possível continuidade das seqüências deposicionais, bem como
o próprio estudo do preenchimento sedimentar no sopé continental.

Como exemplo desse eventual desinteresse, pode-se citar a


terminologia geomorfológica utilizada em alguns dos principais modelos da ES,
que se referem a plataforma, talude e ... bacia ou planície bacinal (p. ex., figs. 1,
2 e 3 de Posamentier et alii, 1988; figs. 1, 2 e 3 de Posamentier e Vail, 1988). A
princípio, isto representa somente uma corruptela da conceituação
geomorfológica clássica (Heezen et alii, 1959), pelo abandono do termo “sopé
(ou elevação) continental”. Todavia, por trás desta aparente simplificação
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 99

terminológica, a ES esconde uma limitação em sua pretensa abordagem


holística, que está vinculada a prioridades econômico-exploratórias 20 .

Ainda assim, existem vários trabalhos, coordenados por


órgãos governamentais e/ou acadêmicos, que procuram relacionar eventos
identificados na margem continental distal e na bacia oceânica com seqüências
e limites de seqüências definidos em regiões plataformais. Dentre estes, vale
destacar os que fazem uma correlação global de hiatos profundos (Keller e
Barron, 1983; Keller et alii, 1987; Aubry, 1991; Aubry, 1995) e aqueles que
estudam a deposição sedimentar na margem continental Atlântica dos Estados
Unidos (Tucholke e Mountain, 1979; Popenoe, 1985; Mountain e Tucholke,
1985; Poag, 1985a; Poag e Mountain, 1987; Poag, 1987; Poag e Ward, 1988;
Miller et alii, 1990; Locker e Laine, 1992). Haq (1991; 1993) também fez
importantes considerações sobre a resposta dos sedimentos marinhos
profundos às variações eustáticas.

Na Margem Continental Brasileira, em particular, Braga e


Della Fávera (1978) mapearam seqüências deposicionais e supersseqüências
desde a Bacia de Pelotas até a Foz do Amazonas, correlacionando-as
tentativamente com a curva de freqüência de hiatos do Atlântico Sul construída
por Van Andel et alii (1977). Cainelli (1992) mapeou sismicamente as principais
seqüências meso-cenozóicas da Bacia de Sergipe até o limite talude-sopé
continental, num trabalho que representou um ponto de partida para esta tese.

Poag (1987), estudando a margem continental de Nova


Jérsei (EUA), aponta que muitas das discordâncias associadas a rebaixamentos
eustáticos cíclicos “podem ser traçadas desde afloramentos na planície costeira
até o sopé continental, por distâncias de 700 km”. De forma similar, as
superfícies discordantes aqui mapeadas partem da plataforma continental, onde
há indícios de exposição sub-aérea e retração do onlap costeiro em direção à
bacia (Cainelli, op. cit.), e se estendem quase até o limite sopé continental-
planície abissal, onde seu único rastro é a descontinuidade sísmica.

20
Embora possa parecer um tanto preciosista, esta crítica implica em questões estratégicas, já
que o sopé continental, como a mais extensa província da Margem Continental Brasileira,
guarda importantes recursos naturais, que podem vir a ser explorados no futuro.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 100

Todavia, Aubry (1991), ao discutir a origem dos ciclos de


terceira ordem do Eoceno Médio/Superior, afirma ser quase impossível
estabelecer uma correlação genética entre um limite de seqüência na
plataforma com uma discordância no talude/sopé continental, mesmo que se
identifique uma correlação estrátigráfica entre essas superfícies, representada
por um overlap entre hiatos 21 . Para a autora, as discordâncias no talude/sopé,
uma vez associadas a slumping ou outros processos sedimentares
gravitacionais, não representam limites de seqüência, já que podem estar
associadas tanto a rebaixamentos como a ascensões relativas do nível marinho.
A pesquisadora sugere ainda que estas discordâncias profundas seriam
formadas de maneira independente uma em relação a outra, sendo tão pequena
a diferença de timing entre dois eventos erosivos em duas localidades
diferentes, que a discordância resultante seria aparentemente síncrona.

Duas críticas podem ser feitas ao trabalho de Aubry (op.


cit.): a primeira relaciona-se à total subestimação, pela autora, dos processos
erosivos profundos ligados às correntes termo-halinas (ver cap. 6); a segunda
crítica refere-se ao fato de que a autora simplesmente não menciona a
existência de dados sísmicos regionais como ferramenta de correlação
estratigráfica. Além disso, a ocorrência de dois ou mais episódios erosivos sem
superposição cronoestratigráfica não significa, absolutamente, que não estejam
relacionados a um único evento de variação do nível relativo do mar. Esta é uma
questão que remete basicamente à escala da análise, ou seja, à ordem ou
período de duração do ciclo considerado.

21
A erosão sub-aérea na porção proximal de uma discordância é, de fato, geneticamente distinta
da erosão submarina que ocorre na parte distal da mesma. O objetivo indireto da autora, neste
apontamento, é justificar a influência de um controle tectônico sobre os ciclos de variação
relativa do nível do mar no Eoceno Inferior/Médio, hipótese que encontra algum suporte nesta
tese (ver item anterior).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 101

Uma seção sísmica como a linha 500-0161 (Fig. 5.15), que


recobre desde a plataforma até o sopé continental distal, permitindo o contínuo
e seguro reconhecimento de discordâncias erosivas, permite uma boa
correlação entre um limite de seqüência na margem continental proximal e sua
superfície correlativa em regiões mais profundas. A ocorrência de slumping junto
ao talude desta seção não interfere na correlação da maioria das discordâncias,
já que este processo ocorre em uma extensão areal limitada, sendo sucedido
por mecanismos erosivos ligados às correntes de fundo, na região do sopé
continental.

É possível concluir, então, que ao menos os elementos da


arquitetura básica da estratigrafia de seqüências, mais especificamente limites
de seqüências deposicionais de segunda ordem, relacionados aos superciclos
de Haq et alii (1988), podem ser rastreados desde a plataforma até domínios
profundos da margem continental. Embora geneticamente distintos, os
processos erosivos subaéreos e/ou submarinos que originam os limites de
supersseqüências parecem estar vinculados a um mesmo evento
intercontinental de variação do nível relativo do mar, que pode englobar efeitos
glácio-eustáticos e tectônicos.

Não se exclui a possibilidade de que, com um mapeamento


de maior detalhe, possam também ser individualizadas seqüências de terceira
ordem na margem continental distal. A tentativa de identificar tratos de sistema,
entretanto, não parece fazer sentido nestes domínios. Isto porque a fisiografia
plana, localmente perturbada por construções vulcânicas, não confere aos
depósitos do sopé continental aquela clara expressão geométrica que
caracteriza os tratos de sistema em uma típica geomorfologia do tipo
plataforma/talude. Além disso, os processos que envolvem transporte e
deposição de sedimentos pela influência das correntes de contorno,
extremamente importantes neste ambiente, não parecem se ajustar a qualquer
trato de sistema em particular (Faugères et alii, 1999; ver item 6.4.3).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
102

4,5
a
Drifts contorníticos

8 km

MioMS Drift contornítico


5,5 MioInf

MioInf

Bolig

BEoc

6,5 KS

Embasamento

Crosta Oceânica
7,5
7
-1
0
5

Figura 5.15 – Linha sísmica 500-161, que atravessa a margem continental nordeste desde a quebra da plataforma até a
planície abissal (ver localização na Fig.1.1). As setas, apontadas para a discordância oligocênica, mostram que a atividade
erosiva da AABW, mais do que confinada aos domínios do canal submarino, afeta uma região bem mais ampla da margem
continental. Acima, as imagens ampliadas salientam notáveis feições sísmicas associadas a migração lateral da corrente de
contorno, tanto sobre a discordância oligocênica, como sobra a discordância miocênica inferior (Emb=embasamento;
Ks=Cretáceo Superior; BEoc=base do Eoceno; BOlig=base do Oligoceno; MioInf=Mioceno Inferior; MioMS=Mioceno Médio
Superior).

NW m
ite
l
rv
y
-a
o
w
T SE
0 Quebra da Plataforma
0

Bacia de Sergipe Line A


Canyon 37 km Montes Submarinos
2,0 São Francisco Da Bahia 2,0
Tempo duplo de reflexão (s)

4,0 4,0
Canal Submarino
de
Pernambuco
Erosão abissal
6,0 6,0

SDRs
-3
1
0
5

8,0 Crosta Cont. Distendida Crosta Oceânica 8,0

10,0 10,0
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 103

Uma outra conclusão a que se pode chegar é que um limite


de seqüência na margem continental profunda – considerado nos modelos
clássicos da ES como um local de condensação sedimentar, associado a uma
concordância correlativa, que envolveria hiatos pouco significativos –, pode
apresentar um comportamento tão ou mais erosivo e complexo do que na
plataforma continental. Pode-se inferir, inclusive, a ocorrência de uma situação
curiosa, na qual uma discordância regional no sopé continental poderia estar
estratigraficamente associada a uma concordância correlativa na plataforma,
representando a inversão de um paradigma da estratigrafia de seqüências. Para
tanto, basta que se tenha um sopé continental intensamente varrido por
correntes de contorno, como no caso da região nordeste, em posição adjacente
a uma área plataformal que, por motivos diversos, não esteja submetida à
atuação de processos erosivos, durante um rebaixamento no nível marinho.

Correlacionando dados de meia centena de poços do DSDP


e do ODP no Oceano Atlântico, com o auxílio de uma escala
magnetobiocronológica integrada, Aubry (1995) chegou a uma conclusão
bastante semelhante àquela aqui apresentada, no tocante ao comportamento
descontínuo do registro sedimentar profundo 22 . Complementando seu trabalho
anterior (Aubry, 1991), a autora encontra correspondência estratigráfica entre
eventos eocênicos observados na plataforma e em ambiente marinho profundo,
tanto em termos de hiatos como no próprio registro sedimentar. Entre as
inúmeras idéias discutidas neste trabalho, vale mencionar as que consideram as
unidades aloestratigráficas como elementos fundamentais da arquitetura
estratigráfica. Para a autora, estas seriam as únicas unidades passíveis de
mapeamento desde a (paleo)costa até os ambientes marinhos profundos. Ela
sugere, inclusive, que o registro sedimentar, atualmente interpretado como uma
sucessão de seqüências deposicionais superpostas, poderia ser mais

22
Citando textualmente as conclusões desta autora, Miall (1997), em sua revisão crítica da
estratigrafia de seqüências, ataca a assunção de que uma conformidade correlativa, num
ambiente de bacia profunda, seria o local mais apropriado para estimar a idade de um limite de
seqüências. Para o autor, o trabalho de Aubry (1995) refuta o conceito de que sedimentos
marinhos profundos conteriam hiatos comparativamente menores do que aqueles encontrados
em ambientes rasos.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 104

apropriadamente analisado em termos de unidades aloestratigráficas


imbricadas.

A aloestratigrafia representa uma abordagem alternativa


para estudos estratigráficos na margem continental. Embasada no
reconhecimento de unidades megarregionais limitadas por desconformidades
(North American Commission on Stratigraphic Nomenclature, 1983), ela
engloba, num senso mais amplo, a própria estratigrafia de seqüências (vide a
Fig. 1 de Posamentier e James, 1993). Uma eventual abordagem aloestrati-
gráfica na área deste estudo implicaria em uma diferença conceitual básica, em
relação ao mapeamento de seqüências deposicionais de segunda ordem (≥ 8
Ma.): a possibilidade de imbricação de unidades sedimentares, ao invés de uma
simples superposição de seqüências (Aubry, 1991).

5.2.4.1. Diacronismo das discordâncias interregionais

Miall (1997) já apontara o diacronismo de algumas


superfícies de discordância, que podem representar a amalgamação de um ou
mais eventos geológicos (ver Fig. 1.4). Este caráter diácrono é particularmente
evidente em discordâncias interregionais, quando se correlaciona eventos
erosivos plataformais com discordâncias abissais.

Não se deve imaginar que a formação de vales incisos em


um ambiente plataformal submetido a um rebaixamento do nível relativo do mar
ocorra de forma absolutamente síncrona a um processo erosivo submarino
associado à passagem de uma corrente de contorno. Embora ambos os
processos possam estar relacionados a um mesmo rebaixamento marinho
glácio-eustático, existe um retardo entre a regressão da linha de costa e a
aceleração da circulação oceânica termo-halina, causadora da erosão
submarina. A magnitude temporal de tal retardo deve variar em função de
diversos fatores, entre os quais a rapidez da queda relativa do nível do mar e o
gradiente de temperatura entre os pólos e o Equador. Não obstante o
diacronismo, este autor considera plenamente válida a correlação estratigráfica
de eventos erosivos de grande escala, em um trabalho de caráter
megarregional.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 105

6. PROCESSOS EROSIVOS SUBMARINOS

Ao longo do capítulo anterior, foram abordados muitos aspectos relativos


à atividade erosiva submarina na margem continental nordeste. Discutiu-se
sobre a correlação global das superfícies de discordância geradas por tal
atividade (item 5.2.1), sobre os mecanismos geológicos que controlam os
processos erosivos (item 5.2.2) e sobre os eventos globais e/ou regionais que
podem ter acelerado e erosão submarina, especialmente em domínios abissais
(item 5.2.3).

Neste capítulo, parte-se para uma abordagem mais descritiva, onde se


procura analisar o registro da atividade erosiva no pacote sedimentar, o qual é
representado pelos truncamentos de refletores nas seções sísmicas. Nesse
escopo, restringe-se a análise à seção sedimentar pós-eocênica, onde os
efeitos da erosão foram amplificados pela atuação de uma vigorosa circulação
oceânica profunda. Retorna-se à discussão que envolve os aspectos genéticos
dos processos erosivos, com o objetivo de estabelecer uma diferenciação, ao
menos conceitual, entre correntes de fundo de natureza diversa. Discute-se
ainda o controle fisiográfico sobre a erosão submarina, ressaltando que a
presença de passagens abissais constritas induz a uma aceleração das
correntes, aumentando a capacidade de remobilização sedimentar das mesmas.

6.1. Conceituação oceanográfica

Para que se possa exemplificar e discutir os processos erosivos


submarinos associados às correntes de fundo, é importante introduzir alguns
conceitos oceanográficos. Nesse intuito, apresenta-se, a seguir, uma sinopse da
oceanografia atual e pretérita, baseada, principalmente, em Johnson (1983),
Souza Cruz (1995) e Viana (1998).

6.1.1. Circulação e estratificação das massas d’água


oceânicas

A circulação das massas d’água oceânicas é um processo


resultante da interação entre a atmosfera e o oceano, sendo dirigida pela
energia fornecida pelos raios solares, tal como na circulação atmosférica. A
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 106

diferença entre os processos circulatórios oceânicos e atmosféricos reside,


principalmente, na restrição geográfica das bacias oceânicas e na maior
densidade do meio aquoso. Nos oceanos atuais, existem essencialmente dois
sistemas circulatórios, conduzidos por mecanismos distintos: a circulação
termo-halina e a circulação impelida pelo vento.

A circulação termo-halina é controlada pelo gradiente de


temperatura entre os pólos e o Equador, o qual, em conjunto com as variações
de salinidade, provoca mudanças na densidade das massas d’água. As águas
superficiais frias e densas das altas latitudes afundam, sendo substituídas por
águas superficiais vindas das latitudes mais baixas. As águas densas que
afundaram, por sua vez, passam a fluir como correntes de fundo na direção do
Equador, mantendo-se em movimento enquanto persistirem as condições de
desequilíbrio. Influenciadas pelo efeito de Coriolis, estas correntes são defletidas
para o limite oeste dos oceanos (ver item 6.1.2), instalando-se junto à base das
margens continentais, onde retrabalham sedimentos terrígenos e hemipelágicos.
Nesses domínios, elas seguem um curso aproximadamente paralelo aos
contornos batimétricos, motivo pelo qual são referenciadas como correntes de
contorno.

A circulação impelida pelo vento, de uma forma geral, reflete


o padrão global dos ventos da atmosfera inferior, que são as forças primárias
principais para a formação das correntes superficiais dos oceanos. Estas, por
sua vez, exercem um importante papel na remobilização de sedimentos
plataformais. O potencial erosivo das correntes pode ainda ser amplificado, caso
ocorram condições para a formação de vórtices, na região limítrofe entre
massas d’água superficiais de temperatura distinta.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 107

Tendo em vista sua estratificação densimétrica, um oceano


pode ser considerado como um sistema de várias massas d’água empilhadas,
que são limitadas por superfícies de mudança de densidade ou picnoclinas. A
Figura 6.1 mostra um diagrama esquemático da estratificação das massas
d’água na margem continental sudeste, na latitude de 22oS. Entre as águas
superficiais, influenciadas principalmente pelo regime anticiclônico dos ventos,
estão compreendidas tanto a Água Superficial Tropical (STW), até cerca de 300
m, como também a Água Central do Atlântico Sul (SACW), que flui entre 300 m
e 550 m de profundidade. Entre as massas d’água mais profundas, estão a
Água Intermediária da Antártica (AAIW), que flui para o norte ao longo do talude
médio, entre as isóbatas de 550 m e 1.200 m; a Água Profunda do Atlântico
Norte (NADW), com fluxo no sentido norte-sul, desde 1.200 m até mais de 3.500
m de lâmina d’água; e a densa e fria Água de Fundo da Antártica (AABW), que,
deslocando-se para o norte, varre o sopé continental em profundidades
próximas ou superiores a 4.000 metros. Mais adiante, serão discutidos aspectos
relativos à origem e evolução desta última massa d’água, que têm influência
fundamental nos processos erosivos observados nas linhas sísmicas.

6.1.2. Efeito de Coriolis

Tanto as correntes superficiais como as profundas são


afetadas pela fisiografia da bacia e pelo efeito de Coriolis, que representa a
tendência de qualquer objeto em movimento de ser desviado de uma trajetória
retilínea, em função da força de deflexão associada à rotação da Terra. Sendo
diretamente proporcional ao seno da latitude, o efeito – na verdade uma
aceleração – é inócuo na região equatorial, aumentando gradativamente em
direção aos pólos. Assim, a aceleração de Coriolis faz com que as massas
d’água dinâmicas sejam defletidas para a direita (sentido horário) no hemisfério
norte, e para a esquerda (sentido anti-horário) no hemisfério sul.
0
SW

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


SACW

1 AAIW

2
7
-1
0
5
NADW
d
i
n
fu
ro
)p
(km
e
a

4
AABW
5

6 W E
0 40°W 500 30°W 1000
distância (km)

Figura 6.1 – Estratificação das massa d'água na margem continental sudeste, em torno da latitude de 22oS
(adaptado de Viana, 1998).
SW = Superficial water (i.e., Corrente do Brasil);
SACW = South Atlantic Central Water;
-3
1
0
5

AAIW = Antartic Intermediate Water; X = corrente entrando no plano da figura (sul-norte)


NADW= North-Atlantic Deep Water; . = corrente saindo do plano da figura (norte-sul)
AABW= Antartic Bottom Water.

108
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 109

À força de Coriolis pode também ser imputada a origem da


curiosa assimetria de levees, que ocorre nas margens de alguns canais
submarinos. Isto porque, como resposta à tal força, a superfície de um fluxo
gravitacional ou termo-halino sofre uma inclinação, causando um maior
extravasamento de sedimentos para uma das margens do canal, onde será
construído um levee mais elevado (Menard, 1955). Um fantástico exemplo deste
processo é o Northwest Atlantic Mid-Ocean Channel, um canal submarino que
se extende por mais de 3,5 km no Mar do Labrador (Fig. 6.2), cujo desnível de
altura entre os levees pode alcançar 90 metros (Hesse, 1989). Mais adiante, no
item 6.4.1, será discutida a influência de um fenômeno similar nas margens do
Canal Submarino de Pernambuco.

6.1.3. Paleoceanografia e evolução do Atlântico Sul

As características até agora enumeradas são pertinentes


aos oceanos modernos, sujeitos aos atuais regimes climáticos. Todavia, deve-se
considerar que o sistema oceânico moderno é pobremente análogo aos
oceanos antigos. Através da evolução da Terra, a configuração das margens
continentais e bacias oceânicas foi submetida a profundas mudanças, que
afetaram significativamente as zonas climáticas do globo. Desse modo, o padrão
de circulação oceânica pretérito deve ter sido bastante diferente do atual, onde o
clima e a disposição das bacias oceânicas induziram ao estabelecimento de um
sistema circulatório que impede a estagnação das massas d’água.

A composição isotópica do oxigênio, registrada a partir da


carapaça de foraminíferos bentônicos, tem sido largamente utilizada como
método de avaliação das paleotemperaturas das massas d’água, permitindo,
com isso, melhores inferências sobre a circulação oceânica pretérita. Sabe-se,
também, que a salinidade teve um papel fundamental na paleocirculação
oceânica, especialmente no Atlântico, durante o Paleogeno.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 6.2 – Perfil sísmico (3,5 kHz) que cruza o Northwest Atlantic Mid-Ocean Channel (NAMOC), ressaltando a assimetria de seus levees. Como
a força de Coriolis exerce uma influência no sentido horário no hemisfério norte, a corrente, que se desloca para sul, extravasa mais material para o
lado direito, construindo um levee mais elevado na margem oeste do canal (adaptado de Hesse, 1989)

110
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 111

O Atlântico Sul começou a se formar no Cretáceo Inferior,


em torno de 130 milhões de anos. O grau de interação entre este oceano em
abertura e a circulação global era controlado pelo processo de alargamento e
aprofundamento das passagens norte-sul que se instalaram nas barreiras
transversais, situadas em latitudes meridionais (50o S), temperadas (30o S) e
equatoriais. Antes do Albiano, o Atlântico Sul constituía um mar restrito,
semelhante ao Mediterrâneo, muito embora uma conexão com o Mar de Tétis
tenha possivelmente se estabelecido já em tempos eo-Aptianos, a partir de
correntes vindas da região do Golfo do México/Caribe (Dias-Brito, 1995). O
Atlântico Sul meridional, em particular, teve suas condições de restrição
acentuadas pela presença do complexo Cadeia Walvis/Dorsal de São Paulo,
que atuava como barreira à circulação das massa d’água.

Durante o Eo e Meso-Cretáceo, o regime climático era


severo e árido nas latitudes equatoriais, e frio e seco nas latitudes temperadas.
Os gradientes de temperatura eram muito menores que os valores atuais, sendo
que as regiões polares não se encontravam recobertas por geleiras. A
circulação atmosférica e das águas superficiais era relativamente fraca. A
ausência de calotas de gelo polares tanto retardou o rebaixamento da
temperatura a níveis congelantes, como impediu o estabelecimento de um fluxo
termo-halino nas latitudes mais altas. Se é que existiu, a circulação termo-halina
foi controlada pelo excesso de evaporação em mares marginais de latitudes
baixas e médias, que apresentavam passagens abissais profundas o suficiente
para permitir um fluxo para o sistema oceânico global.

A sedimentação biogênica pelágica do Cretáceo Superior,


que veio a recobrir os folhelhos anóxicos do Cretáceo Médio em boa parte do
Atlântico Sul, constitui um indicativo de uma gradual “ventilação” das águas
intermediárias e profundas. O limite Cretáceo/Terciário marca uma dramática
mudança nas propriedades e, talvez, na circulação das águas superficiais
oceânicas, com a ocorrência de um colapso quase total na produtividade
primária do Atlântico Sul. A despeito disso, as características oceânicas em
domínios abissais foram relativamente pouco alteradas.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 112

O Eo-Paleogeno caracterizava-se por climas relativamente


mais amenos, por uma coluna d’água altamente estratificada e por um fluxo
termo-halino relativamente baixo em profundidades intermediárias a abissais. A
temperatura das águas de fundo situava-se no range de 10-12o C; a das águas
superficiais, entre 12 e 20o C.

Somente em torno de 36 Ma. as condições climáticas


globais, com um intenso resfriamento da Antártica, induziram à divergência
psicrosférica entre as temperaturas das águas superficiais e de fundo. Nesse
contexto, ao final do Eoceno, o Mar Norueguês (proto-NADW 23 ) começou a fluir
para o sul, suprindo os domínios intermediários e abissais do Atlântico central e
meridional com águas altamente salinas. Estendendo-se até as margens
antárticas, esta proto-corrente misturou-se com as águas frias sub-superficiais
locais, originando uma convecção termo-halina a partir de um fluxo de retorno
na direção norte (proto-AABW 24 ). Instalado no fundo abissal, este fluxo de
retorno atingiu o Atlântico Norte em torno do Oligoceno Médio, substituindo a
proto-NADW por águas mais velhas e corrosivas de origem meridional.

A ampliação e o aprofundamento do estreito de Drake,


ocorrido ao final do Oligoceno, embora não tenha alterado significativamente os
fluxos mais profundos das massas d’água NADW e AABW, permitiu a formação
de um fluxo raso circunpolar na região antártica (CPW-Circumpolar Water). Este,
por sua vez, teve reflexos diretos na formação e expansão da calota polar do
leste da Antártica, entre o Eo e o Meso-Mioceno, que aumentou o gradiente de
temperatura em direção ao pólo, induzindo a uma intensificação da circulação
atmosférica e oceânica, a fim de manter o balanço de temperatura global. A
circulação termo-halina profunda foi também influenciada por esses processos.

De uma forma geral, pode-se dizer que o padrão de


circulação oceânica atual é essencialmente o mesmo daquele estabelecido no
Neogeno. Vale destacar que importantes eventos neo-miocênicos, envolvendo o
isolamento e dessecação do Mar Mediterrâneo e a formação da calota polar do
oeste da Antártica, também exerceram influência oceanográfica global.

23
North Atlantic Deep Water.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 113

6.1.4. O rastro erosivo da AABW na Margem Continental


Brasileira

A iniciação de uma vigorosa circulação termo-halina na


Bacia Oceânica do Brasil é marcada por uma discordância erosiva no poço
DSDP-515 (Barker et alii, 1983), onde lamas hemipelágicas do Oligoceno médio
(32 Ma.) recobrem chalks pelágicos eo-eocênicos (54 Ma.). A descontinuidade
sísmica nesta discordância é correlativa à paleobase do Canal Vema, que se
encontra nas proximidades (Gamboa et alii, 1983a). Johnson (1985) sugere que
esta feição erosiva represente o rastro inicial da passagem da água de fundo da
Antártica (AABW) nas bacias do sudoeste Atlântico, em uma idade proxima à
dos sedimentos que recobrem a referida discordância, ou seja, 32 Ma.

No item 5.2.3, este evento foi correlacionado a um


importante rebaixamento do nível relativo do mar, ocorrido no Oligoceno Médio
(Haq et alii, 1988). Associada a um período de glaciação, esta queda eustática
também intensificou a circulação da AABW 25 , permitindo a escavação de canais
submarinos em passagens abissais geomorfologicamente controladas. A mais
meridional delas teria sido o Canal Vema, que está situado entre as porções
oeste e central da Elevação do Rio Grande, conectando as bacias oceânicas
brasileira e argentina.

Após esculpir o Canal Vema e depositar um leque


contornítico na sua desembocadura (Mézerais et alii, 1993), a AABW teria
seguido seu curso setentrional até encontrar uma barreira na Cadeia Vitória-
Trindade, na época em pleno processo de formação a partir da atuação de um
hotspot (Herz, 1977; Fainstein e Summerhayes, 1982). Impossibilitada de
transpor tal barreira, a massa d’água teria contornado a mesma e prosseguido
sua incursão até a região dos Montes Submarinos da Bahia, onde uma nova

24
Antartic Bottom Water.
25
Souza Cruz (1995) aponta que os mecanismos responsáveis pelo rebaixamento glácio-
eustático também causam a intensificação das correntes superficiais e de fundo. Ao estabelecer-
se um maior gradiente térmico entre os pólos e o Equador, as correntes superficiais levam águas
de baixa salinidade e calor latente para a evaporação e formação de gelo nos pólos, de modo
que estas águas se tornam mais salgadas, frias e, portanto, densas, retornando como correntes
de fundo.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 114

passagem abissal constrita teria acelerado as correntes, permitindo a escavação


do Canal Submarino de Pernambuco (Fig. 1.1; ver ítens 5.2.3 e 6.4)

Após também depositar um leque contornítico junto à saída


do Canal Submarino de Pernambuco (item 6.4.3), a AABW teria continuado seu
caminho para a região equatorial, encontrando um grande obstáculo na cadeia
vulcânica associada à Zona de Fratura Romanche. A partir daí, infere-se que ao
menos parte da corrente termo-halina tenha se dirigido para noroeste, seguindo
mais ou menos os contornos batimétricos da margem continental norte até
encontrar alguma abertura por entre as zonas de fratura equatoriais e conseguir
ingressar na a Planície Abissal do Ceará.

Ao cruzar esta planície abissal, a corrente de fundo


deparou-se com uma nova passagem abissal, separando o flanco oriental da
Elevação do Ceará da encosta ocidental da Cadeia Meso-Atlântica (Fig. 6.3).
Nesta região, foi escavado o Canal do Ceará, ao longo de 400 km de extensão,
na direção SE-NW (Kumar e Embley, 1977; Damuth e Palma, 1979). Tendo por
base ecogramas e fotografias de fundo, Kumar e Embley (op. cit.) reportam a
ocorrência de marcas de onda no eixo principal e na desembocadura do canal,
associando tais feições ao fluxo da AABW na região norte.

Pode-se ainda conjeturar que a corrente de fundo da


Antártica tenha atravessado toda a Planície Abissal de Demerara, para escavar
o Canal Vidal (Embley et alii, 1970 apud Damuth e Palma, op. cit.), nas
vizinhanças da Cadeia Meso-Atlântica (Fig. 6.3). O canal se estende por mais de
800 km na direção SE-NW, no mesmo alinhamento onde está situado o Canal
do Ceará. Caso esteja, de fato, associado à passagem da AABW, o Canal Vidal
representaria o derradeiro registro da atividade erosiva dessa corrente termo-
halina na bacia oceânica sul-americana.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
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Figura 6.3 – Mapa fisiográfico-estrutural da margem continental norte, destacando, em azul escuro, os canais submarinos que podem servir de
conduto à AABW, durante seu trânsito pela região equatorial sul-americana (adaptado de Damuth e Palma, 1979).

115
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 116

Vale ainda ressaltar a ocorrência de outra expressiva feição


erosiva canalizada, em meio ao longo percurso que vai da desembocadura do
Canal Submarino de Pernambuco até a Planície Abissal do Ceará: o Cânion
Mesoceânico Equatorial (Heezen et alii, 1960). Estendendo-se por mais de
1.200 km entre a Cadeia Fernando de Noronha e a Zona de Fratura Romanche,
numa direção SEE-NWW (Fig. 6.3), este canal submarino foi originado, segundo
Damuth e Gorini (1976), pela atividade de correntes turbidíticas que
dispersavam sedimentos para a Bacia Fernando de Noronha, na direção
sudeste. Os mesmos autores sugerem que a feição tenha sido abandonada
entre o Mioceno Médio e o Mioceno Superior, sendo gradualmente soterrada
desde então.

Muito embora Damuth e Gorini (op. cit, pág. 344) não


tenham identificado evidências da atuação de correntes de fundo na região, não
se pode descartar que o leito do Cânion Mesoceânico Equatorial tenha sido
aproveitado pela AABW, na sua incursão pela margem continental norte. Tendo
em vista a localização do canal, exatamente na rota proposta para a migração
daquela massa d’água profunda, sugere-se uma reanálise da feição, sob a luz
de uma conceituação mais recente, envolvendo erosão e deposição sedimentar
associadas às correntes de contorno.

O mapa da Figura 6.4, com a distribuição global das formas


de leito abissais, indica uma nítida trajetória para as correntes de fundo, que é
idêntica àquela aqui sugerida, na região da Margem Continental Brasileira.

6.2. Controle tectono-fisiográfico sobre os processos


erosivos

O item anterior deixou tácita a relação entre a presença de


passagens abissais e a escavação de canais submarinos na margem
continental distal. Estas passagens representam constrições fisiográficas que
aceleram localmente as correntes de fundo, aumentando a capacidade erosiva
das mesmas.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
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Figura 6.4 – Distribuição global das formas de leito abissais observadas em fotografias do fundo oceânico (adaptado de Hollister, 1993). Os círculos em preto e
em preto-e-branco indicam a presença de marcas de onda (ripples) associadas à passagem das correntes de fundo. Pode-se observar que a trajetória dessas
correntes tangencia as porções leste e equatorial da margem continental sul-americana e também a margem continental sudeste africana.

117
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 118

Condições geomorfológicas propícias à formação de passagens


abissais ocorrem, por exemplo, junto à zonas de fratura e outras cadeias
vulcânicas lineares, tais como a Cadeia Norte-Brasileira e os montes
submarinos da Paraíba e de Pernambuco. Expressivas elevações oceânicas,
como as elevações do Rio Grande e do Ceará, também criam condições para a
instalação de canais submarinos associados à migração das correntes de
contorno.

Grandes agrupamentos de montes submarinos, em particular,


podem criar situações extremamente favoráveis à aceleração das correntes de
fundo, com a ocorrência de várias passagens abissais, que induzem à erosão
generalizada de uma região do fundo oceânico. Este parece ser o caso dos
Montes Submarinos da Bahia, que ocupam uma vasta área do sopé continental
defronte aos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas. Seu alinhamento geral na
direção NW-SE permitiu, inclusive, que parte da água de fundo da Antártica
fosse deflectida para as proximidades do talude continental, onde ocorreu
interação com correntes turbidíticas (ver item seguinte).

Embora o eixo principal da atividade erosiva esteja concentrado no


Canal Submarino de Pernambuco, as seções sísmicas mostram inequívocos
indícios de que a erosão é um processo regional naquela área (ver Fig. 5.15),
fundamentalmente controlado pela intensificação da circulação termo-halina nos
períodos de rebaixamento do nível relativo do mar (ver item 5.2). Nos períodos
de mar alto, a erosão, se ocorrer, estará basicamente restrita aos domínios do
canal, onde a constrição topográfica é mais acentuada.

Todas as situações geomorfológicas até aqui exemplificadas têm


origem em processos tectono-magmáticos, que podem envolver mudanças na
movimentação das placas litosféricas, variações na taxa de espalhamento
oceânico e migração das placas sobre plumas do manto, entre outros
mecanismos.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 119

6.3. Correntes de contorno e depósitos associados

Durante décadas, predominou o conceito de que correntes


turbidíticas e deslizamentos gravitacionais, carreando sedimentos terrígenos a
partir da plataforma continental através do talude, seriam, quase que
exclusivamente, os processos construtores da cobertura sedimentar no sopé
continental e planície abissal. A possibilidade de que as correntes de fundo
associadas à circulação oceânica pudessem exercer um importante papel no
transporte de sedimentos abissais demorou a ser encarada com seriedade pela
comunidade geológica, muito embora já fosse considerada desde a década de
trinta (Wust, 1936 apud Hollister, 1993).

Somente com o advento das fotografias submarinas foi possível


obter fortes evidências da atuação das correntes de contorno, pela identificação
de marcas de onda e de escavação abissais. A partir daí, foi introduzido o
conceito de “contornitos” para caracterizar os sedimentos depositados pela ação
dessas correntes de fundo (Hollister e Heezen, 1972 apud Holllister, 1993), e
diferenciá-los dos sedimentos transportados e depositados por correntes de
turbidez. O conceito pioneiro foi submetido a uma fase de refinamento, na qual
se reconheceu que grandes volumes de material fino são também transportados
paralelamente aos contornos batimétricos, formando grandes drifts
sedimentares ao longo de dezenas de milhões de anos, como resposta à
capacidade remobilizadora da circulação oceânica termo-halina (Hollister e
Ewing, 1972 apud Holllister, 1993; Stow e Lovell, 1979; ver ítens 6.1.1 e 6.4.3).
As dimensões destes drifts contorníticos são diretamente comparáveis àquelas
dos leques submarinos construídos por correntes turbidíticas e processos
relacionados.

Já com ampla aceitação do conceito de correntes de contorno,


passou-se ao reconhecimento de depósitos contorníticos no registro sedimentar
antigo e recente (Stow e Lovell, 1979; McCave e Tucholke, 1986; Stow e
Faugères, 1993; Séranne e Nzé Abeigne, 1999; Stow et alii, 2002, entre outros).
Nesse escopo, procurou-se diferenciar e classificar tipos diversos de contornitos,
tendo por base o contexto morfo-estrutural da bacia, a morfologia geral dos
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 120

depósitos e também as condições hidrodinâmicas atuantes (McCave e


Tucholke, 1986; Faugères et alii, 1993; Faugères et alii, 1999; Stow et alii, 2002;
ver item 6.4.3). Procurou-se ainda investigar a interação entre correntes de
contorno e correntes turbidíticas na construção da cobertura sedimentar da
margem continental profunda (Tucholke e Mountain, 1986; Locker e Laine, 1992;
Massé et alii, 1998, Faugères et alii, 2002; Knutz et alii, 2002; Rebesco et alii,
2002; Escutia et alii, 2002, entre outros).

Na Margem Continental Brasileira, a influência das correntes de


fundo termo-halinas no processo de transporte e deposição de sedimentos foi
particularmente reconhecida na Bacia de Campos (Mutti et alii, 1980; Carminatti
e Scarton, 1991; Souza Cruz, 1995; Viana, 1998; Viana et alii, 1998; Viana e
Faugères, 1998; Viana et alii, 2002b). Na região nordeste, Cainelli (1992)
limitou-se a discutir a influência das correntes superficiais, mostrando que as
plumas sedimentares despejadas pelo Rio São Francisco na plataforma
continental de Sergipe e Alagoas são defletidas para sul devido à ação da
Corrente do Brasil. Gomes e Viana (2002), por sua vez, consideram uma
atuação conjugada entre processos sedimentares gravitacionais (correntes de
turbidez) e sedimentação controlada por correntes de contorno, na região entre
o talude e o sopé continental da Bacia de Sergipe-Alagoas, onde se depositou o
Leque Submarino do São Francisco. É deste processo interativo entre correntes
de fundo – gravitacionais e de contorno – de que trata o item a seguir.

6.3.1. Interação entre correntes turbidíticas e correntes de


contorno na margem continental nordeste

Cainelli (op. cit.) destacou a importância do processo de escavação


de cânions e canais no sistema plataforma/talude, bem como os depósitos
associados a processos gravitacionais na Bacia de Sergipe. A atual superfície
do talude continental na região, caracterizada por uma intensa escavação e
perda de massa, chega a ser comparada pelo autor ao panorama de um talude
destrutivo ou de uma margem de plataforma retrogradacional (ver item 2.2). Por
outro lado, vem-se também destacando, em várias passagens desta tese, a
importância dos processos erosivos associados à circulação da AABW no sopé
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 121

continental, em particular na região adjacente àquela estudada por Cainelli


(1992.). Como no item anterior apontou-se que a barreira dos Montes
Submarinos da Bahia faz com que parte desta água de fundo seja desviada
para noroeste, dirigindo-se para o talude das bacias de Sergipe e Alagoas,
pode-se esperar uma interação entre correntes turbidíticas e correntes de
contorno nesta área.

Dessa forma, na região de transição entre o talude e o sopé


continental, deve ocorrer o desenvolvimento simultâneo de leques submarinos,
tais como o Leque Submarino do São Francisco (Cainelli, op. cit.) e drifts
sedimentares contorníticos (Gomes e Viana, 2002). Locker e Laine (1992)
descreveram uma situação similar na margem continental Atlântica dos Estados
Unidos, onde os leques submarinos associados aos Cânions Norfolk e
Washington interagem com a corrente de fundo WBUC (Western Boundary
Undercurrent), resultando nos cenários deposicionais exemplificados na
Figura 6.5. Quaisquer dos cenários C, D ou E podem ter ocorrido nas bacias de
Sergipe e Alagoas a partir do Oligoceno, quando a circulação oceânica termo-
halina começou a exercer reconhecida influência na remobilização sedimentar
(ver item 5.2.3).

Vale ressaltar que os modelos de Locker e Laine (1992) tratam


apenas do resultado final da interação entre processos sedimentares
gravitacionais e contorníticos, a partir da modificação de um leque submarino
pela passagem de uma corrente de contorno. O que aconteceria, entretanto,
quando da atuação simultânea de duas correntes de fundo de natureza
distinta ? Shanmugan et alii (1993) mostram, conceitualmente, o interessante
efeito de uma corrente de contorno sobre um fluxo gravitacional em movimento,
bem como alguns dos depósitos associados a este processo (Fig. 6.6).

Outra situação na qual a cobertura sedimentar do talude pode estar


sendo retrabalhada pela ação das correntes de contorno ocorre no Platô de
Pernambuco, onde os processos erosivos submarinos são bastante intensos (Fig.
3.10). Lá, o fundo marinho atual encontra-se entre as cotas batimétricas de 2.000 m
e 3.500 m, sob a influência da NADW (Fig. 6.1), que flui pra o sul (ver item 6.1.1).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 122

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5

Figura 6.5 – Modelos representativos dos efeitos das correntes de contorno sobre um leque submarino.
(A) O fluxo uniforme da corrente pode suavizar o relevo do leque e facilitar a avulsão de canais; (B) a
velocidade diferencial de algumas partes do fluxo pode erodir partes do depósito em leque, enquanto
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outras permanecem preservadas; (C) sistema transicional leque/drift, onde a margem distal do leque é
retrabalhada pelas correntes de contorno; (D) sistemas de leque e drift adjacentes, onde os canais
alimentadores do leque permanecem ativos ao lado de um drift em construção; (E) superposição de
sistemas de leque e drift (adaptado de Locker e Laine, 1992).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
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5

Figura 6.6 – Modelo conceitual mostrando as relações parciais entre correntes turbidíticas axiais, correntes turbidíticas de overbank e correntes de
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5

contorno. As correntes turbidíticas axiais deslocam-se talude abaixo, enquanto que as correntes de contorno fluem paralelamente ao “plano” do talude
(adaptado de Shanmugan et alii, 1993).

123
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 124

6.3.2. Implicações exploratórias das correntes de contorno

É bastante difundida a idéia de que as correntes de contorno


podem produzir alterações na qualidade dos reservatórios arenosos depositados
por correntes de turbidez, com consequentes reflexos na exploração de
hidrocarbonetos. Na Bacia de Campos, vários estudos apontam este tipo de
retrabalhamento sedimentar (Mutti et alii, 1980; Barros et alii, 1982; Souza Cruz,
1995; Viana, 1998; Viana e Faugéres, 1998; Viana et alii, 2002a; Moraes et alii,
no prelo).

Stow et alii (2002) vão mais além, ao considerar os próprios


pacotes de contornitos arenosos, juntamente com arenitos turbidíticos
retrabalhados por correntes de contorno, como potenciais reservatórios para
hidrocarbonetos, desde que adequadamente selados e soterrados em
associação com um sistema petrolífero ativo. Na prática, são ainda escassos os
exemplos comprobatórios de tal teoria, destacando-se os reservatórios plio-
pleistocênicos portadores de hidrocarbonetos no Golfo do México (Shanmugan
et alii, 1993; Shanmugan, 2000) e na margem oeste da África (Famakinwa et alii,
1997; Famakinwa e Shanmugan, 1998), classificados como “contornitos
arenosos” e “areias retrabalhadas por correntes de fundo”, respectivamente.

Todavia, a comprovação efetiva na natureza contornítica


dos reservatórios supramencionados parece carecer de uma base de dados
mais abrangente, que envolva múltiplas bacias em margens continentais
diversas. Vale ressaltar que esta é uma caracterização interpretativa, e,
portanto, subjetiva. Dada esta subjetividade, intrínseca à interpretação dos
processos sedimentares, pode-se especular em direções opostas, onde muitos
dos reservatórios descritos como turbiditos seriam, na verdade, depósitos
contorníticos, e vice-versa.

A despeito de eventuais controvérsias, é importante


enfatizar que, do ponto de vista exploratório, uma corrente de contorno
representa um mecanismo viável capaz de depositar areias limpas em águas
profundas, tal como destacado por Shanmugan (2000). Uma simples análise
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 125

das velocidades das correntes de fundo serve como reforço para esta afirmação:
embora as velocidades medidas usualmente situem-se no intervalo entre 1 e 20
cm/s (Hollister e Heezen, 1972 apud Shanmugan et alli, 1993), existem registros de
velocidades de 73 cm/s no sopé continental da Nova Escócia, a 5.000 m de
profundidade (Richardson et alii, 1981 apud Shanmugan et alii, 1993), de até 300
cm/s, no Estreito de Gibraltar (Gonthier et alii, 1984 apud Shanmugan et alii, 1993),
e superiores a 1 m/s, no sistema de canais Faroe-Shetland/Faroe Bank (Hansen e
Osterhus, 2000 apud Masson et alii, 2004). Em face das magnitudes de velocidade
apontadas, pode-se concluir que as correntes de contorno seriam capazes de
erodir, transportar e redepositar areias finas a grossas (Shanmugan et alii, op. cit,),
incluindo frações do tamanho cascalho (Masson et alii, op. cit., Fig. 6.7).

Feita esta ressalva, merecem destaque as ótimas condições


permo-porosas dos (possíveis) reservatórios contorníticos mencionados de
antemão: no Golfo do México, Shanmugan (2000) reporta a presença de
contornitos arenosos com excelentes porosidades, da ordem de 25 a 40%, e
permeabilidades de 100 a 1.800 mD; de forma similar, as “areias retrabalhadas
por correntes de contorno” do campo de Zafiro, em águas profundas da Guiné
Equatorial, apresentam permo-porosidades muito boas (ø=20-30 %, k=1000-
3000 mD), com razão areia/folhelho de 40 % (Famakinwa et alii, 1997). Os
mesmos autores reportam ainda a presença de um possível intervalo
contornítico em águas profundas da Nigéria, mais ao norte, o qual teria fluído
2.200 barris de óleo por dia.

Pode-se apontar um exemplo adicional no Golfo de Cádiz, a


sudoeste da Península Ibérica, onde contornitos pliocênicos, embora ainda não
produtores, são efetivamente considerados como a próxima fronteira
exploratória de águas profundas (Fig. 6.8), representando uma alternativa ao
play turbidítico já produtor de gás biogênico na bacia (Garcia-Mojonero e
Martínez del Olmo, 2001; Cakebread-Brown et alii, 2003). Segundo Garcia-
Mojonero e Martínez del Olmo (op. cit.), os contornitos do Golfo de Cádiz
compreendem mais de 800 m de seção areno-argilosa, com razão areia folhelho
média de 75 %, contendo camadas de areia de até 40 m de espessura, com
notável continuidade lateral e porosidades superiores a 30 %.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
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5

Figura 6.7 – Velocidades de correntes de fundo associadas às várias formas de leito observadas no fundo oceânico (adaptado
de Masson et alli, 2004).
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126
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
SPAIN
Late Messin.
turbidites

Plioc. – Quat.
contourites
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SW NE

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Figura 6.8 – Reservatórios turbidíticos e contorníticos do Golfo de Cádiz, Península Ibérica. A) Mapa de localização. B) Mapa de
distribuição dos sistemas turbidíticos e contorníticos. C) Seção esquemática mostrando os modelos deposicionais turbidíticos ( 2 - cunha
de mar baixo; 3 - preenchimento multi-fásico de canyon) e contorníticos (4). Nove campos de gás biogênico foram encontrados no

127
sistema turbidítico, com reservas recuperáveis de 140 BCFg (adaptado de Garcia-Mojonero e Martinez del Olmo, 2001).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 128

No caso específico das bacias de Sergipe e Alagoas, é


possível que, num futuro próximo, os contornitos venham a ser considerados
como alvos exploratórios, já que alguns dos blocos arrematados na 6ª rodada de
licitação de blocos da ANP jazem sobre lâminas d’água superiores a 3.000 m
(parte dos blocos BM-SEAL-10 e BM-SEAL-11), já sob provável influência da
AABW. Deve-se salientar, contudo, que este é um domínio predominantemente
de crosta oceânica (vide figura 3.4, na interseção do tempo duplo 4 s com o
fundo do mar), onde, para compor o sistema petrolífero, faz-se necessária a
presença de uma rocha geradora marinha (turoniana ?), adequadamente matura
para a geração de hidrocarbonetos.

Estritamente sob o ponto de vista de reservatórios,


especula-se que contornitos oligocênicos, contituídos por areia fina a média,
poderiam apresentar boas qualidades permo-porosas, assim como grande
extensão lateral. A Figura 6.8 dá uma idéia das dimensões relativas envolvidas
nos depósitos contorníticos. Um risco adicional estaria associado à
biodegradação do óleo eventualmente migrado para tais reservatórios, em
função do baixo soterramento dos mesmos. Todavia, é possível mitigar tal risco
com base na excelente qualidade de óleos da bacia, que não apresenta um
histórico de biodegradação em sua porção marinha, tal como ocorre nos
reservatórios rasos das bacias de Santos e Campos.

6.3.2.1. Retrabalhamento de depósitos turbidíticos por


correntes de contorno

É possível vislumbrar ao menos quatro situações


teóricas onde as correntes de fundo poderiam alterar a qualidade de
reservatórios turbidíticos previamente depositados no assoalho oceânico, a
depender da velocidade das correntes (tal como concebido por Roberto S. F.
D’Ávila, Petrobras, comunicação verbal):

a) Considerando um modelo simples, composto


inicialmente por um turbidito A, que se encontra recoberto por uma camada de
folhelho, assume-se a passagem uma corrente de fundo de alta velocidade, que,
além de remover os finos, erodiria o topo da camada A, redepositando areias
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 129

finas/médias, com estruturas do tipo marcas de onda (camada C na Fig. 6.9-A).


Posteriormente, um segundo evento turbidítico depositaria a camada B. O
resultado deste processo seria a justaposição de dois reservatórios,
aumentando a espessura porosa total.

b) Ainda considerando uma corrente de alta


velocidade, porém inferior à da situação anterior, haveria apenas a remoção dos
folhelhos do topo da camada A, sem a ocorrência de processos erosivos no topo
da mesma (Fig. 6.9-B). Da mesma forma, haveria o aumento da espessura
porosa total do reservatório, a partir da justaposição dos pacotes turbitíticos, os
quais estariam separados for uma camada impermeável na ausência de
correntes de fundo.

c) Admitindo agora uma corrente de fundo de


velocidade mais baixa, incapaz de remover sedimentos finos, ainda assim
poderia haver uma melhoria na conectividade dos reservatórios A e B, a partir
de processos de bioturbação na camada de folhelho (Fig. 6.9-C). Assume-se,
neste caso, uma camada A relativamente espessa.

d) Em uma situação similar à anterior, porém com


diversas camadas delgadas de areia, separadas por folhelhos, ocorreria uma
situação inversa, onde os processos de bioturbação, induzidos pelas correntes
de fundo, teriam efeitos negativos na qualidade do reservatório (6.9-D). Neste
caso, ocorreria uma redução na permeabilidade horizontal do reservatório,
dificultando a recuperação dos hidrocarbonetos a partir de poços horizontais.

6.4. O Canal Submarino de Pernambuco


O Canal Submarino de Pernambuco (Gorini e Carvalho, 1984;
Cherkis et alii, 1989) é uma expressiva feição erosivo-deposicional no segmento
nordeste da Margem Continental Brasileira, que conduz as correntes de fundo entre
os contornos batimétricos de 4.600 e 5.000 metros (Fig 1.1). Atravessando os
montes submarinos da Bahia e de Pernambuco, o canal desemboca na Planície
Abissal de Pernambuco, após ter escavado uma calha de cerca de 800 km de
extensão, no fundo marinho (Gomes e Gamboa, 1999; Gomes e Viana, 2002).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 130

A) V >>> Erosão e redeposição de areia (fina/média)

B
C
Kv ~ 0 Kv > 0
A A

B) V >> Remoção de finos do topo das camadas

Kv ~ 0 Kv > 0
A
7
-1
0
5

C) V > Bioturbação no topo de


camadas espessas B

Kv ~ 0 Kv > 0
A A

D) V > Bioturbação em camadas delgadas

Kv ~ 0 Kv ~ 0
-3
1
0
5

Kh ~ X Kh ~ X - Y

Figura 6.9 – Alteração da qualidade de reservatórios turbidíticos pela passagem de


correntes de fundo (modelos concebidos por Roberto S. F. D’Avila, Petrobras, 1999).
Kv = Permebilidade vertical (entre reservatórios); Kh = Permeabilidade horizontal.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 131

Junto à sua desembocadura, O CSP deposita um drift sedimentar


de natureza contornítica – o Leque Contornítico de Pernambuco –, em processo
análogo à formação de um leque submarino em processos sedimentares
gravitacionais (Gomes e Viana, 2002). Inflexões nas curvas batimétricas desta
região sugerem que este leque sedimentar, formado a partir de material
retrabalhado pelas correntes de contorno, possua grande extensão areal.

No item 2.3, foi apresentada uma descrição fisiográfica detalhada


do Canal Submarino de Pernambuco. Mais adiante, no item 5.2.3, discutiu-se a
origem da discordância associada à paleobase deste canal, e suas possíveis
relações com eventos glácio-eustáticos. A seguir, procura-se descrever outros
detalhes geológicos desta feição, com base nos dados sísmicos e batimétricos.

6.4.1. Aspectos morfológicos

Na linha sísmica 501-0003, no extremo meridional da área


mapeada, já se pode observar os primeiros indícios do Canal Submarino de
Pernambuco (CSP), sob forma de uma calha bastante suave com cerca de 200
km de largura, entre os PTs 7.000 e 11.000 (Fig. 6.10-A), onde o desnível em
relação ao fundo do mar não ultrapassa os 120 metros. A partir daí, o canal vai
gradativamente aprofundando, em função da aceleração das correntes junto às
constritas passagens abissais que ocorrem na região dos Montes Submarinos
da Bahia. A Figura 6.10 apresenta uma composição de seis segmentos de
linhas sísmicas mostrando a progressiva incisão do CSP. Para complementar,
outras três imagens sísmicas do canal, derivadas do Projeto CENTRATLAN, são
mostradas na Figura 6.11.

Na situação B da Figura 6.10, o desnível máximo da base


do canal em relação à profundidade média do fundo do mar é de 310 metros.
Nas três situações seguintes (C,D e E), a feição está confinada entre elevações
vulcânicas submarinas, que exercem o papel de “margens” do canal. Estes
trechos comportam-se como pequenas bacias confinadas, podendo apresentar
uma sedimentação diferencial. Assim, não é possível reconhecer com precisão o
nível médio do fundo do mar, para que se possa estimar a profundidade do
canal nestes locais.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
132

A B
Linha 501-0003
120 m Linha 501-0002
BOlig 0

BEoc

Ks
310 m

BOlig
0
Emb
BEoc

W E
Ks

C
Drifts confinados Linha 501-0001 Emb

350 m
BOlig NW SE
0 BEoc

Ks
E
Emb Linha 500-0173

Drifts confinados

7
-1
0
5
Canal tributário
450 m
NW SE

0
F BOlig

Aracaju Ks
E
Emb

NW SE

Figura 6.10 - Expressão sísmica do Canal Submarino de Pernambuco ao longo de vários perfis. Dada a variação das escalas verticais e horizontais a cada exemplo, indicou-se
C uma escala métrica junto ao talvegue do canal, para que se possa ter uma idéia aproximada da profundidade da feição. Na situação A, próximo ao extremo sul da área
estudada, o canal é representado por uma ampla e suave calha; na situação B, a incisão restringe-se e aprofunda-se nas proximidades dos Montes Submarinos da Bahia; nos
exemplos C, D e E, o canal encontra-se confinado entre as encostas de montes submarinos, podendo-se observar tributários provenientes de sudoeste (caso D) e de sudeste
A B
(caso E). Notar o talvegue meandrante, que ora está posicionado junto à margem esquerda, ora ao centro e ora junto à margem direita do canal (Emb=embasamento;
Ks=Cretáceo Superior; BEoc=disc. base do Eoceno; BOlig=disc. base do Oligoceno).

D F
Linha 500-0161 470 m Linha 500-0162

BOlig 0
Drift confinado
BEoc
Canal tributário
Ks

420 m
Emb
-3
1
0
5

0 BOlig
Ks
Emb

NW SE NW SE
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 6.11 – Imagens sísmicas do Canal Submarino de Pernambuco derivadas do Projeto CENTRATLAN. No levantamento, foram
utilizados quatro canais para o registro de dados de reflexão sísmica (adaptado de Cherkis et alii, 1992).

133
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 134

A situação F, por outro lado, é bastante favorável para o


cálculo da profundidade do canal, já que a seção sísmica é quase perpendicular
à feição e não se observam montes submarinos nas adjacências. Estimou-se,
então, uma profundidade de 470 m, relativa ao desnível entre o talvegue do
canal (PT 6.150) e a superfície média do sopé continental. Este valor deve estar
associado a uma das incisões máximas do canal, pois ocorre na saída de uma
constrição fisiográfica, sob a influência hidrodinâmica de dois tributários que,
vindo de sudoeste e de sudeste, afluíram para a drenagem principal, juntando-
se a esta poucos quilômetros antes da situação F (Fig. 6.10).

A Figura 6.10-F também é propícia para que se discuta


outra importante feição morfológica comumente presente nos canais
submarinos: os diques marginais ou levees. Correntes de contorno não
costumam construir típicos levees, uma vez que varrem uma região mais ampla
do fundo oceânico, que não se restringe aos domínios do canal, como no caso
de correntes turbidíticas. Além disso, em muitas ocasiões, uma canalização
associada a uma corrente de contorno encontra-se confinada entre altos do
embasamento, tais como montes submarinos, que impedem o extravasamento
de material para as margens. Desse modo, não se pode esperar a construção
de levees com aquela expressividade exemplificada na Figura 6.2.

Não obstante todas estas observações, pode-se notar que, no


caso F da Figura 6.10, a margem oeste do CSP encontra-se topograficamente mais
elevada que sua margem leste. Isto não representa meramente um efeito da
morfologia do fundo oceânico, mas um processo de deposição diferencial
governado pela força de Coriolis (ver item 6.1.3). Como a corrente de fundo
desloca-se de sul para norte, ocorre um maior extravasamento de material para a
margem esquerda (oeste) do canal, como resposta à tal força, no hemisfério sul
(Menard, 1955). Sob esta ótica, os drifts sedimentares depositados à oeste do
canal representariam análogos contorníticos dos depósitos de transbordamento
responsáveis pela construção de levees 26 .

26
Gamboa et alii (1983b) descrevem os depósitos laterais ao Canal Vema, na margem
continental sudeste, como amplos “terraços” marginais, que registram a progradação sedimentar
associada ao processo erosivo-deposicional da passagem da AABW.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 135

O último aspecto morfológico a ser destacado diz respeito


ao comportamento meandrante do talvegue do Canal Submarino de
Pernambuco, que também pode ser observado na Figura 6.10. Nas situações A
e B, ainda não ocorre um talvegue definido; no caso C, ele está posicionado ao
centro do canal; na situação D, o talvegue desenvolve-se a oeste; nos casos
restantes (E e F), ele migra progressivamente para leste. Um comportamento
similar foi observado no talvegue do Northwest Atlantic Mid-Ocean Channel, que
atravessa o Mar do Labrador, na margem continental canadense (Cough e
Hesse, 1976).

6.4.2. Aspectos genético-evolutivos

Conforme destacado no item 2.3, as primeiras suspeitas de


que a água de fundo da Antártica seria responsável pela escavação de canais
na região dos Montes Submarinos da Bahia partiram dos trabalhos de Gorini et
alii (1982) e Gorini e Carvalho (1984). Posteriormente, com o Canal Submarino
de Pernambuco adequadamente mapeado, Cherkis et alii (1992) confirmaram
estas suspeitas. Esta tese segue uma linha similar, de modo que a origem do
CSP vem sendo insistentemente imputada à passagem da AABW na margem
continental nordeste. O vínculo entre esta corrente termo-halina e aquela feição
erosiva foi abordado, com algum detalhe, nos itens 5.2.3 e 6.1.4.

Vai-se discutir, a partir de agora, como as correntes


turbidíticas interagem com as correntes termo-halinas, formando um verdadeiro
sistema de drenagem submarino no fundo abissal da região nordeste. Para
subsidiar tal discussão, o mapa da Figura 6.12 apresenta uma batimetria
detalhada da margem continental adjacente aos estados da Bahia, Sergipe e
Alagoas. Neste mapa, pode-se observar que vários sistemas de cânions/canais
submarinos, vindos da plataforma externa e talude continental da região de
Salvador e do Banco Royal Charlotte, convergem para uma passagem abissal
na Cadeia Ferraz, a partir de onde se desenvolve o Canal Submarino de
Pernambuco. Um outro grupo de cânions/canais na região de Sergipe e Alagoas
parece confluir mais para norte, juntando-se ao CSP em torno da latitude de
11o S.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 136

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 6.12 - Mapa batimétrico de detalhe da margem continental leste, abrangendo a região do Canal Submarino de
Pernambuco. Notar a confluência de cânions e canais do talude para o canal principal, formando uma rede de tributários
que caracteriza um sistema de drenagem submarino. As setas coloridas indicam as duas regiões de maior convergência
de canais secundários. Junto à seta amarela, confluem as canalizações provenientes do talude da Bahia e de Sergipe,
indicadas pelas setas pretas. Na região apontada pela seta laranja, convergem tanto "afluentes" do talude de Sergipe e
Alagoas, como também outras canalizações formadas pela AABW, provenientes de sudeste (Fig. 6.10-E).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 137

Na região proximal, as correntes que descem o talude são


governadas por processos gravitacionais ligados ao gradiente topográfico. No
sopé continental, abaixo da cota batimétrica de 3.800 m, todo este sistema de
drenagem está sob influência das correntes de contorno termo-halinas, que,
nessa profundidade, fluem para norte (AABW). Deve-se também considerar a
influência da força de Coriolis nesse processo, a qual, num primeiro momento,
faz com que os canais migrem para sul, talude abaixo, devido à construção de
um levee mais elevado na margem norte (esquerda) desses canais (Menard,
1955; Bruhn e Moraes, 1989; Santos, 1994). No sopé continental, entretanto,
onde as correntes turbidíticas vão gradativamente perdendo velocidade e não
ocorrem mais as barreiras morfológicas dos levees, o efeito de Coriolis exerce o
seu verdadeiro papel, deflectindo as correntes para a esquerda, ou seja, no
sentido anti-horário, no caso do hemisfério sul (ver item 6.1.2).

Resumindo, pode-se dizer que nos domínios do sopé


continental, ao interagir com correntes de contorno, os sistemas de
cânions/canais provenientes do talude cedem à influência da circulação
oceânica termo-halina e da força de Coriolis. Em tal contexto, supõe-se que,
num processo contínuo, uma corrente de turbidez pode vir a se transformar em
uma corrente de contorno. Aplicando o mesmo raciocínio aos depósitos
sedimentares originados por correntes de fundo, pode-se ter uma transição
contínua entre turbiditos e contornitos, tal como no modelo de Stanley (1993).

Além de capturar as “drenagens” provenientes da plataforma


e do talude continental, o Canal Submarino de Pernambuco também recebe
outros afluentes, vindos de sudeste, que representam caminhos alternativos
percorridos pela AABW por entre os Montes Submarinos da Bahia (ver Fig. 6.10-
E). Desse modo, forma-se um complexo sistema de drenagem submarino,
composto por inúmeros tributários que confluem para um canal principal, cuja
desembocadura final é a Planície Abissal de Pernambuco. Esta interconexão de
sistemas de cânions/canais da margem continental proximal com canais de mar
profundo também foi observado nas margens continentais do Atlântico Norte
(ver item 6.4.4) e na margem continental sul/sudeste do Brasil (Castro, 1992;
Viana, 1998).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 138

6.4.3. Depósitos contorníticos associados

Os sedimentos remobilizados pelas correntes de contorno


vinculadas à circulação termo-halina dos oceanos formam acumulações
conhecidas como drifts contorníticos, cujas dimensões são diretamente
comparáveis àquelas dos leques submarinos construídos por correntes
turbidíticas e processos relacionados. Sumarizando e desenvolvendo os
conceitos apresentados por McCave e Tucholke (1986) e Faugères et alii
(1993), Faugères et alii (1999) e Stow et alii (2002) apontam a ocorrência de
cinco a seis tipos diversos de drifts na escala de uma bacia, a depender do
contexto morfo-estrutural, da morfologia geral dos depósitos e das condições
hidrodinâmicas atuantes. Os tipos são os seguintes: lençóis contorníticos
(contourite sheet drifts); mounds alongados (elongate mounded drifts); drifts
associados a canais (channel-related drifts), que incluem depósitos laterais
(lateral patch drifts) e leques contorníticos (contourite fans); drifts confinados
(confined drifts); drifts de preenchimento (infill drifts); e sistemas drift-turbidito
modificados (modified drift-turbidite systems), onde há interação entre processos
gravitacionais e correntes de contorno.

Tomando por base esta classificação, apresenta-se, a


seguir, alguns exemplos de drifts contorníticos identificados na margem
continental nordeste. Vale lembrar, entretanto, um ponto ressaltado pelos
próprios autores, relativo à existência de um espectro contínuo entre os diversos
depósitos, que possibilita a evolução de um tipo de drift para outro.

Lençóis contorníticos são encontrados ao longo de uma


vasta área, principalmente a noroeste do Canal Submarino de Pernambuco,
assentados sobre a discordância do Mioceno Médio Superior (Fig. 6.13-C).

Típicos mounded drifts alongados registram a migração


lateral de canais e a progradação sedimentar associados ao processo erosivo-
deposicional da passagem da corrente de contorno, em vários pontos da região
estudada (Fig. 6.13-A,B,D).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE
139

A
Drifts associados a canais
Mounds contorníticos

MioInf

BOlig

BEoc

Ks

NW SE

Figura 6.13 - Exemplos de depósitos sedimentares


associados a correntes de contorno (drifts contorníticos).
Drifts associados a canais Mounds contorníticos A) Paleocanal (moat) escavado junto a um alto do
B embasamento, na base do talude continental; as setas
7
-1
0
5

indicam drifts associados a canal e drifts em forma de


MioMS
CSP mound; este é também um local propício à interação entre
turbiditos e contornitos; B) margem esquerda do Canal
Submarino de Pernambuco (CSP), onde as setas indicam
BOlig
a progradação dos drifts contorníticos sobre a
discordância da base do Oligoceno; acima da discordância
do Mioceno Médio Superior, depositaram-se mounds
BEoc
contorníticos, de forma concomitante a uma sedimentação
Ks hemipelágica; C) proximidades da desembocadura do
CSP, onde os mounds e lençóis contorníticos fazem parte
do leque sedimentar associado ao canal submarino
Emb
(Leque Contornítico de Pernambuco); D) margem direita
do CSP, com a deposição de drifts em forma de mound e
lençóis contorníticos na seção sedimentar pós-eocênica
(Emb=embasamento; Ks=Cretáceo Superior; BEoc= disc.
base do Eoceno; BOlig=disc. base do Oligoceno;
MioInf=disc. do Mioceno Inferior; MioMS=disc. do Mioceno
NW SE Médio Superior).

LEQUE CONTORNÍTICO DE PERNAMBUCO C Mounds contorníticos D


Drift associado a canal Lençol contornítico
CSP
Lençol contornítico

MioInf
BOlig

-3
1
0
5
BEoc

Ks Ks
Emb
Emb

SW NE SW NE
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 140

Drifts associados a canais podem ser encontrados na


base, nas margens e na desembocadura de (paleo)canais submarinos (Fig.
6.13-A). O Leque Contornítico de Pernambuco 27 , que representa um drift
associado a canal, foi somente recoberto pela extremidade NE da linha 500-162
(Fig. 6.13-C).

Drifts confinados são comuns na área estudada, podendo


ser identificados nas bacias semi-isoladas que se formam entre elevações
vulcânicas, na região dos Montes Submarinos da Bahia (ver Fig. 6.10-C,D,E).

Sistemas drift-turbidito modificados, ou seja, depósitos


gerados a partir da interação entre correntes turbidíticas e correntes de
contorno, são encontrados preferencialmente na região de transição entre o
talude e o sopé continental da Bacia de Sergipe (Fig. 5.7 e item 6.3.1), onde
está depositado o Leque Submarino do São Francisco, descrito por Cainelli
(1992).

6.4.4. Análogos mundiais

O Canal Submarino de Pernambuco apresenta analogias


em relação ao Canal Maury, no Atlântico Norte (Ballard et alii, 1971), que se
estende por 3.500 km, desde a margem continental da Islândia até a Bacia
Ibérica. Recebendo a afluência de vários canais submarinos associados a
correntes turbidíticas, este canal abissal passa, em um certo ponto, a ser
controlado pela circulação oceânica profunda (Cherkis et alii, 1973).

Pode-se também encontrar analogias com o gigantesco


Northwest Atlantic Mid-Ocean Channel, no Mar do Labrador, que representa o
sistema de drenagem submarina mais bem estudado até o momento (Hesse,
1989; Hesse e Rakofsky, 1992). Embora esteja associado a um processo
eminentemente turbidítico, ele também é composto por um canal principal

27
A falta de cobertura sísmica na Planície Abissal de Pernambuco, onde desemboca o canal
submarino homônimo, não permitiu que se obtivesse uma visualização dos depósitos
sedimentares naquela região. Não obstante, inflexões nas curvas batimétricas denunciam a
presença uma feição construcional no local, provavelmente associada à presença do Leque
Contornítico de Pernambuco.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 141

(trunk-channel), para o qual confluem inúmeros outros canais secundários,


provenientes do talude continental. É possível, inclusive, que alguns pontos do
modelo deposicional proposto para este sistema de drenagem (Hesse e
Rakofsky, 1992) tenham aplicabilidade na bacia de captação de drenagens
situada a oeste e sudoeste do Canal Submarino de Pernambuco. Um importante
ponto, que diz respeito à ocorrência de um padrão convergente de dispersão
sedimentar, alternativo aos tradicionais modelos de leques submarinos, foi
também destacado por Castro (1992), em estudo dos cânions e canais no
segmento sudeste/sul da Margem Continental Brasileira.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 142

7. POÇOS DO DSDP

No início de 1969, três poços foram perfurados no segmento nordeste da


Margem Continental Brasileira, durante o Leg 4 do Deep Sea Drilling Project
(DSDP): DSDP-23, DSDP-24 e DSDP-24A (figs. 1.1 e 3.1). Seu objetivo foi
amostrar e datar rochas do embasamento e determinar a natureza do
preenchimento sedimentar da Bacia Oceânica Brasileira (Bader et alii, 1970). O
Quadro 7.1 indica as coordenadas, lâmina d’água, profundidades perfuradas e
sedimentos mais antigos amostrados por esses poços.

Quadro 7.1 – Poços do DSDP perfurados na margem continental nordeste.

Poço Latitude Longitude Lâmina d’água Profundidade Sedimento mais


(m) perfurada (m) antigo
DSDP-23 6o 08.75’ S 31o 02.60’ W 5.079 208 Mioceno Inf.
DSDP-24 6o 16.30’ S 30o 53.53’ W 5.148 234 Mioceno Inf.
DSDP-24A 6o 16.58’ S 30o 53.46’ W 5.148 558 Campaniano

O DSDP-23 perfurou 208 m da cobertura sedimentar, ao longo dos quais


foram efetuadas nove testemunhagens, que amostraram, do topo para a base,
as seguintes litologias: sedimentos pleistocênicos/pliocênicos ricos em
foraminíferos e nanoplâncton calcário; “argilas vermelhas” do Mioceno
Médio/Superior pobres em fósseis calcários; turbiditos arenosos do Mioceno
Inferior ricos em quartzo e fósseis calcários; basalto alterado de textura
diabásica ou porfirítica. O poço foi abandonado antes de atingir o embasamento,
devido a problemas de perfuração. A amostra de basalto, recuperada a cerca de
183 m abaixo do fundo do mar, foi associada por Bader et alii (1970) a um
monte submarino de pequenas dimensões que ocorre nas adjacências.

De fato, a Figura 7.1, que apresenta a projeção do DSDP-23 sobre um


trecho da linha 500-0172, mostra que ocorre uma pequena elevação vulcânica
nas proximidades. É importante ressaltar que todas as indicações de litologias e
idades na figura representam os dados de profundidades da testemunhagem
convertidos para tempos de reflexão. Para tanto, foram levadas em
consideração tanto as velocidades sônicas do poço como as velocidades
sísmicas da linha em questão.
DSDP-24A DSDP-23

Fm

TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE


Emb

Crosta Oceânica

SW 7
-1
0
5
NE
DSDP-24A DSDP-23

DSDP-24A DSDP-23
(Proj. 600 m) (Proj. 20 km)
Fm
Fm
Natal
MioMS
DSDP-23
MioInf MioInf

DSDP-24A
Ks
Emb
J. Pessoa

Recife

-3
1
0
5

SW NE
Figura 7.1 –- Projeção dos poços DSDP-23 e DSDP-24A na linha 500-0172, mostrando alguns níveis estratigráficos interpretados por Bader et alii (1970).
Para lançar estes níveis na seção sísmica, dados de profundidade foram convertidos para tempos de reflexão sísmica.

143
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 144

Os poços DSDP-24 e DSDP-24A, localizados a cerca de 20 km a sudeste


do DSDP-23, perfuraram, respectivamente, 234 m e 558 m do pacote
sedimentar. Em ambos, não houve amostragem da porção superior (0-200 m)
do pacote sedimentar, em função da relativa proximidade com o poço DSDP-23.

Considerando os testemunhos recuperados pelo DSDP-24, entre as


profundidades de 200 m e 250 m abaixo do fundo do mar, juntamente com o
material amostrado pelo DSDP-24A, entre as profundidades de 500 m e 558 m,
foram descritas as seguintes litologias: na zona superior, de idade miocênica
inferior, argila compactada afossilífera interacamadada com areias turbidíticas
fossilíferas finas a médias; na zona inferior, de idade paleocênica/cretácea
superior, argilitos compactados contendo 20 % de detritos terrígenos e pequeno
conteúdo de fauna radiolária, gradando, em profundidade, para grauvacas
argilosas.

Na sua base, a 5.706 m de profundidade, o DSDP-24A amostrou olivina-


basalto de granulação fina, provavelmente componente da camada dois da
crosta oceânica. Tal profundidade, convertida para tempo de reflexão e
projetada na linha 500-0172 (Fig. 7.1), aproxima-se do topo do embasamento
interpretado. A Figura 7.2 apresenta a carta estratigráfica sumária do
DSDP-24/24A.

Segundo a descrição de Bader et alii (1970), toda a seqüência


testemunhada nos poços DSDP-24/24A – que excede os 350 m de espessura –,
se assemelha a depósitos do tipo flysch, devendo estar associada à erosão de
uma massa terrígena de volume considerável. Essa assertiva vai de encontro às
observações apontadas na Figura 3.10, as quais sugerem que a cobertura
sedimentar do Platô de Pernambuco tenha sido fortemente afetada por um
episódio erosivo.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 145

7
-1
0
5

-3
1
0
5

Figura 7.2 – Carta estratigráfica sumária dos poços DSDP-24 e DSDP-24A (adaptado de Bader et alii, 1970).
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 146

Vale ressaltar, entretanto, que a referida descrição segue um paradigma


vigente na época, segundo o qual correntes turbidíticas, carreando sedimentos
terrígenos a partir da plataforma continental através do talude, seriam, quase
que exclusivamente, os processos construtores da cobertura sedimentar no
sopé continental e planície abissal. O papel das correntes de fundo nos
processos de erosão, transporte e deposição de sedimentos abissais somente
teve sua importância reconhecida no início dos anos setenta, com a introdução
dos conceitos de correntes de contorno e contornitos (Hollister, 1993; ver item
6.3). Dessa forma, uma re-análise dos testemunhos coletados nos poços do
DSDP na margem continental nordeste, sob a ótica de uma atuação conjugada
de correntes turbidíticas e correntes de contorno, poderia alterar
substancialmente as interpretações apresentadas em Bader et alii (1970), ainda
mais se forem efetuados estudos magnetobiocronológicos nas amostras.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 147

8. MAPAS DE ISÓPACAS

Foram confeccionados, ao todo, quatro mapas de isópacas da área em


estudo, relacionados aos diversos horizontes sismicamente mapeados. Eles
foram traçados segundo processo automático de contornos via computador,
sobre uma malha regular de dados calculados pelo método dos mínimos
quadrados, adotando-se os seguintes parâmetros:

• Malha definida por celas quadradas de 4 km de lado;

• Sistema de projeção: Universal Transversa de Mercator – UTM;

• Meridiano central da projeção: 33 ° W;

• Escala: 1/4.000.000.

A não ser pelo trecho inicial das linhas 500-0160, 0161 e 0162, que
abrange a região de transição crustal das bacias de Sergipe e Alagoas, os
mapas expressam as espessuras sedimentares sobrejacentes à crosta oceânica
da margem continental nordeste. Dada a pouca cobertura sísmica,
comparativamente menor que a amostragem batimétrica, algumas feições
fisiográficas não puderam ser adequadamente representadas nos mapas. Isso
não impede, porém, que se extraia algumas importantes informações relativas à
evolução sedimentar da área.

O mapa de isópacas do Cretáceo Superior (Fig. 8.1) reflete,


basicamente, um maior aporte de sedimentos terrígenos na margem continental
proximal e uma sedimentação com grande contribuição de hemipelágicos na
margem continental distal. Nos grandes depocentros situados defronte aos
estados de Sergipe e Alagoas estão computados sedimentos relacionados à
fase rifte, presentes nos baixos de Mosqueiro e São Francisco, na Bacia de
Sergipe, e na região de transição crustal da Bacia de Alagoas, interpretada na
linha 500-0162 (Fig. 3.8). Os depocentros situados nos extremos sudoeste e
noroeste da metade meridional do mapa denotam um maior aporte sedimentar
na região de crosta oceânica adjacente às bacias de Camamu e Potiguar,
respectivamente. Outros pequenos depocentros isolados representam
predominantemente calhas do embasamento associadas a zonas de fratura.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 148

36o0’0’’

34o0’0’’

32o0’0’’
500-0
165

172
500-0
50
0-
01
69
6o0’0’’

9300000

500-0164

8o0’0’’

7
-1
0
5

500-0170
500-0163

9000000

73
500
-016 01
2
0-
50

71 10o0’0’’
01
00-
5

8700000

12o0’0’’

50
0-0 50
16 0-0
501-0013

0 16
1

501-0
-3
1
0
5

001

501-00
02 14o0’0’’

501-0003

0 300000 600000

Figura 8.1 – Mapa de isópacas de sedimentos do Cretáceo Superior (i.c. = 200m)


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 149

O mapa de isópacas do Paleogeno (Fig. 8.2) já mostra os efeitos da


erosão submarina associada à vigorosa circulação oceânica termo-halina que se
iniciou no Oligoceno (ver item 5.3). Estes efeitos podem ser observados na
porção sudeste do mapa, onde a diminuição das espessuras sedimentares está
principalmente vinculada à remobilização de material sedimentar pela passagem
da corrente de fundo da Antártica (AABW). As curvas de contorno denunciam,
inclusive, o processo de instalação inicial do Canal Submarino de Pernambuco
(ver item 5.3.3). Embora grandemente “amplificado” pelo programa de
mapeamento automático, o depocentro situado defronte à divisa dos estados de
Alagoas e Pernambuco indica a presença de um segmento crustal mais
rebaixado, ao sul da Zona de Fratura Ascensão. A cobertura sedimentar neste
depocentro pode conter uma grande contribuição de material proveniente do
Platô de Pernambuco, o qual, supostamente, foi submetido a processo de
soerguimento e erosão, sob influência da corrente NADW, que flui no sentido
norte-sul.

O mapa de isópacas do Mioceno Inferior ao Recente (Fig. 8.3) mostra


dois eixos principais de sedimentação. Um deles encontra-se paralelo à costa,
refletindo o aporte de sedimentos clásticos provenientes da margem continental
proximal, principalmente a partir de processos gravitacionais. A espessura
sedimentar relativamente pequena neste eixo, na região da Bacia de Sergipe,
pode refletir, entre outros fatores, o intenso processo de escavação de material
e perda de massa ao qual vem sendo submetido o talude continental dessa área
(ver ítem 2.2). Outro importante eixo deposicional encontra-se disposto
transversalmente à costa, numa direção aproximada SW-NE. Ele reflete,
provavelmente, a remobilização de sedimentos pela passagem das correntes de
contorno ao redor e através dos Montes Submarinos da Bahia. Estima-se que o
depocentro mais distal, na latitude de Recife, esteja associado à construção de
um grande leque submarino contornítico junto à desembocadura do Canal
Submarino de Pernambuco (ver item 2.3), cuja presença é sugerida pelas
inflexões nas curvas de contorno no setor sudeste do mapa.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 150

36o0’0’’

34o0’0’’

32o0’0’’
500-0
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500-0
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6o0’0’’

9300000

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8o0’0’’

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0
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500-0170
500-0163
9000000

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500
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10o0’0’’
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01
00-
5

8700000

12o0’0’’

50
0-0 50
16 0-0
501-0013

0 16
1

501-0
-3
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5

001

501-00 14o0’0’’
02

501-0003
0 300000 600000

Figura 8.2 – Mapa de isópacas de sedimentos do Paleogeno (i.c. = 50m)


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 151

36o0’0’’

34o0’0’’

32o0’0’’
500-0
165

172
500-0
50
0-
01
69
6o0’0’’

9300000

500-0164

8o0’0’’

7
-1
0
5

500-0170
500-0163
9000000

73
500
-016 01
2
0-

10o0’0’’
50

1
17
0-0
50

8700000
12o0’0’’

50
0-0 50
16 0-0
501-0013

0 16
1

501-0
-3
1
0
5

001

14o0’0’’
501-00
02
501-0003
0 300000 600000

Figura 8.3 – Mapa de isópacas de sedimentos do Mioceno Superior ao Recente (i.c. = 100m)
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 152

O mapa de isópacas totais de sedimentos (Fig. 8.4) representa um


somatório dos mapas anteriores, refletindo, portanto, todas as características
apontadas de antemão. O maior depocentro, contendo espessuras máximas da
ordem de 6.200 m, encontra-se defronte à Foz do Rio São Francisco, onde, a
partir do Neogeno Superior, desenvolveu-se o Leque Submarino do São
Francisco (Cainelii, 1992). Destaca-se também o espessamento sedimentar na
margem continental distal adjacente à Bacia de Camamu, como resultado de um
forte aporte de material ocorrido entre o Cretáceo Superior e o Eoceno.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 153

36o0’0’’

34o0’0’’

32o0’0’’
500-0
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50
0-
0
16
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1 10o0’0’’
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12o0’0’’

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0-0 50
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0 0-0
16
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501-0
001
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0
5

501-00 14o0’0’’
02

501-0003
0 300000 600000

Figura 8.4 – Mapa de isópacas totais de sedimentos (i.c. = 200m)


TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 154

9. CONCLUSÕES

As conclusões deste estudo podem ser divididas em dois temas


principais, que tratam, respectivamente, da evolução tectônica da margem
continental nordeste e da história deposicional dessa região. Com relação ao
primeiro tema, foram abordados fenômenos geológicos complexos, que
envolvem distensão crustal, ruptura continental e implantação de crosta
oceânica. No que diz respeito ao segundo tema, procurou-se, com o
mapeamento de seqüências deposicionais de segunda ordem, estabelecer um
vínculo preliminar entre o preenchimento sedimentar da margem continental
nordeste e rebaixamentos globais do nível relativo dos mares. Nesta linha de
pesquisa, aventou-se a influência de alguns importantes eventos tectônicos
sobre as flutuações eustáticas pré-oligocênicas. Investigou-se, ainda, a
influência da circulação oceânica termo-halina na seção sedimentar pós-
eocênica, particularmente no que se refere aos processos erosivos abissais e ao
retrabalhamento sedimentar associado às correntes de contorno. A seguir,
encontram-se sumarizados os principais resultados deste trabalho.

Transição crosta continental-crosta oceânica e estruturação da


crosta oceânica

¾ A transição crosta continental/crosta oceânica na Bacia de Sergipe


ocorre a partir de um brusco afinamento crustal, sendo controlada por falhas
sintéticas de alto ângulo que convergem para um horizonte intracrustal, tal como
no modelo de Mohriak et alii (1995). Os estágios iniciais de implantação de
crosta oceânica envolveram a formação de cunhas de seaward-dipping
reflectors, cuja porção mais proximal parece recobrir crosta continental.

¾ A região de transição crustal da Bacia de Alagoas apresenta um


proeminente alto externo, que pode tanto estar associado a vulcanismo como a
falhamentos do embasamento cristalino. A seção sedimentar basal (pré-
Calumbi) situada imediatamente a sudeste deste alto foi interpretada como uma
componente mais distal das fases rifte e transicional da bacia. Lateralmente,
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 155

esta seção é sucedida por cunhas de seaward-dipping reflectors, que registram


os primórdios da ruptura continental e da formação de crosta oceânica.

¾ Na porção centro-sul do Platô de Pernambuco, foram interpretadas


estruturações características de crosta continental distendida, envolvendo
blocos rotacionados por falhamentos que convergem para uma superfície de
descolamento intra-crustal (detachment). A modelagem gravimétrica indica que,
nesta região, a crosta oceânica parece ter sido implantada somente a partir do
limite externo ou escarpamento marginal do platô.

¾ Localizada em uma margem continental transformante, a região de


transição crustal da Bacia Potiguar foi recoberta apenas por um segmento de
linha sísmica, coletado em uma direção semi-paralela às zonas de fratura. Neste
curso, ao invés de uma estrutura transformante, a transição crosta
continental/crosta oceânica ocorre num estilo normal de margem passiva, tendo
o rifteamento e a distensão crustal como processos controladores.

¾ Os sistemas de lineamentos/zonas de fratura do segmento nordeste


da Margem Continental Brasileira foram muito bem imageados pelos dados
sísmicos do LEPLAC. Com o auxílio de dados gravimétricos derivados do
GEOSAT, procurou-se revisar o posicionamento destas estruturas e discutir
alguns aspectos de sua evolução tectônica. Considerando as zonas de fratura
como feições ligadas à Cadeia Meso-Atlântica e os lineamentos como suas
extensões na margem continental, pôde-se identificar cinco sistemas principais,
de norte para sul: ZF Chain / Cadeia Fernando de Noronha; ZF Charcot /
Lineamento de Touros; ZF Fernando Poo / Lineamento da Paraíba; ZF
Ascensão / Lineamento de Maceió; e ZF Bode Verde / Lineamento de Salvador.
Dois outros reconhecidos lineamentos, da Paraíba e de Sergipe, foram
correlacionados a zonas de fratura secundárias, de pequeno deslocamento
axial, as quais representam estruturas efêmeras geradas em uma crosta
oceânica relativamente jovem.

¾ Duas hipóteses são aventadas para explicar a origem dos


alinhamentos de montes submarinos na direção NW-SE que ocorrem na
margem continental nordeste. O alinhamento mais setentrional, formado pelos
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 156

montes submarinos da Paraíba e de Pernambuco, parece ter origem em


reativações magmáticas associadas a variações na taxa de expansão oceânica
e na movimentação das placas litosféricas, tal como sugerido por Mello e Dias
(1996). Mais ao sul, os Montes Submarinos da Bahia encaixam-se
adequadamente no modelo de plumas do manto proposto por Bryan e Cherkis
(1995). As estimativas de idade do vulcanismo efetuadas por estes autores,
situadas dentro de um intervalo que vai do Cretáceo Superior ao Eoceno
Inferior, são concordantes com as idades das deformações observadas no
pacote sedimentar circunvizinho àqueles montes submarinos.

Cobertura sedimentar e processos erosivos submarinos

¾ Foram mapeadas cinco superfícies de discordância regionais ao longo


de toda a margem continental nordeste. Elas representam limites de seqüências
deposicionais que são correlacionáveis aos superciclos da carta eustática global
de Haq et alii (1988).

¾ Os três limites de seqüências mais basais, correspondentes às


discordâncias do Cretáceo Superior, da “base do Eoceno” e da “base do
Oligoceno”, estendem-se desde a plataforma continental, onde foram mapeados
por Cainelli (1992), até o limite sopé continental/planície abissal. Os dois limites
de seqüências da seção sedimentar superior, correspondentes às discordâncias
do Mioceno Inferior e do Mioceno Médio Superior, só puderam ser rastreados na
margem continental distal, onde foram estratigraficamente amarrados aos poços
DSDP-23 e DSDP-24/24A.

¾ Dada a continuidade mar adentro das discordâncias mapeadas, pode-


se concluir que um rebaixamento do nível relativo do mar pode desencadear
uma sucessão de eventos geológicos na margem continental, incluindo erosão
subaérea na plataforma, intensificação da escavação de cânions no talude, a
partir de processos gravitacionais, e potencialização do efeito erosivo das
correntes de contorno no sopé continental.

¾ Em épocas anteriores ao Oligoceno, não existem evidências


paleoceanográficas que permitam defender a existência de uma circulação
oceânica vigorosa, a ponto de provocar erosão generalizada no fundo oceânico
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 157

abissal. Não obstante, as discordâncias pré-oligocênicas mapeadas na região


profunda da margem continental nordeste apresentam, localizadamente, um
caráter fortemente erosivo. Sugere-se que eventos tectônicos, causando
soerguimentos regionais do embasamento, tenham induzido a uma
intensificação das correntes de fundo, potencializando sua atividade erosiva, de
forma concomitante a eventuais efeitos eustáticos. O processo de formação dos
alinhamentos NW-SE, que envolve tanto a atuação de plumas do manto, como
também mudanças na movimentação relativa das placas litosféricas, com
estresses intraplaca e processos flexurais associados, pode ter exercido alguma
influência tectono-eustática, entre o Cretáceo Superior e o Eoceno.

¾ A forte circulação oceânica termo-halina, estabelecida pelo menos a


partir do Oligoceno, levou à formação de discordâncias abissais interregionais, a
partir da intensificação da corrente de fundo da Antártica (AABW), nos períodos
de rebaixamento glácio-eustático. A discordância oligocênica, que registra as
primeiras atividades erosivas da AABW na margem continental nordeste, foi
correlacionada a um importante evento na curva eustática global, situado em
torno de 30 Ma. As discordâncias neogenas, por sua vez, estão relacionadas a
outros importantes eventos glácio-eustáticos, situados em torno de 20 Ma. e
10,5 Ma.

¾ A constrição fisiográfica formada pelos Montes Submarinos da Bahia


provocou um aumento na velocidade da corrente de fundo AABW, levando à
escavação do Canal Submarino de Pernambuco (CSP), uma calha com
profundidades de até 470 metros que se estende por mais de 750 km no sopé
continental da região nordeste, perfazendo um curso aproximadamente sul-
norte. Mais do que um simples canal submarino, ele constitui um complexo
sistema de drenagem, que se encontra interconectado a inúmeros
cânions/canais tributários provenientes do talude continental e a outras
canalizações da AABW procedentes de sudeste. Junto à sua desembocadura
final, na Planície Abissal de Pernambuco, foi construído um leque sedimentar
contornítico – o Leque Contornítico de Pernambuco.

¾ A paleobase do Canal Submarino de Pernambuco é correlacionável à


paleobase do Canal Vema, que registra as incursões iniciais da AABW no fundo
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 158

oceânico abissal da região sul, em torno de 30 Ma. (Johnson, 1985).


Prosseguindo no seu rastro erosivo, após a passagem pela região nordeste, a
AABW parece ser a responsável pela escavação de outros expressivos canais
submarinos, junto a constritas passagens abissais na margem continental
equatorial.

¾ A ação da AABW na margem nordeste não está restrita à incisão do


CSP. Os Montes Submarinos da Bahia fazem com que parte daquela massa
d’água seja defletida para noroeste, de modo a varrer o sopé continental
proximal e a base do talude defronte às bacias de Sergipe e Alagoas. Outra
parte da corrente erode intensamente o sopé continental ao norte do
Lineamento de Salvador. O material sedimentar remobilizado pela corrente de
fundo é redepositado sob forma de drifts contorníticos de geometrias variadas.
Nas linhas sísmicas, os depósitos contorníticos podem ser identificados mais
facilmente ao longo da margem esquerda do CSP, sob a influência da força de
Coriolis.

¾ Pelo menos nos últimos 30 milhões de anos, as correntes de contorno


associadas à AABW vem controlando tanto a formação de discordâncias
erosivas regionais, como a deposição de contornitos (drifts) no segmento
nordeste da Margem Continental Brasileira. Dessa forma, deve-se reconsiderar
a cobertura sedimentar pós-eocênica dessa região em termos de uma interação
entre processos gravitacionais e processos controlados por correntes de
contorno, tal como ocorre em nossa margem sudeste e também ao longo de
diversas outras margens continentais, em pontos distintos do globo terrestre.
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 159

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TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 184

ANEXOS
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 1

A1 – Artigo sobre transição crustal e


evolução tectônica da crosta
oceânica
(publicado no livro “Atlantic Rifts and Continental Margins”,
Geophysical Monograph Series vol. 115, American Geophysical
Union - AGU , 2000)
TECTONISMO, VULCANISMO, SEDIMENTAÇÃO E PROCESSOS EROSIVOS NA MARGEM CONTINENTAL NORDESTE 2

A2 – Artigo sobre correntes de


contorno e erosão submarina
(publicado no livro “Atlas of Deep-Water Contourite Systems:
Modern Drifts and Ancient Series, Seismic and Sedimentary
Characteristics”, Geological Society of London, Memoir 22, 2002)
SF19 Gomes (to/d) 12/13/02 10:54 AM Page 239

Contour currents, sediment drifts and abyssal erosion on the northeastern continental
margin off Brazil

P. O. GOMES1 & A. R. VIANA2


1Amerada Hess Limited, 33 Grosvenor Place, London SW1X 7HY, UK (e-mail: Paulo.Otavio@Hess.com)
2Petróleo Brasileiro S.A., PETROBRAS E&P, Campos Basin branch, Av. Elias Agostinho, 665 Macae, RJ 27.913-350, Brazil

Abstract: Seismic reflection data collected as part of the Brazilian Continental Shelf Survey has allowed the recognition of
large sediment drifts related to bottom currents along the continental rise off northeastern Brazil. Antarctic Bottom Water
(AABW), which flows northward across a physiographic constriction – the hotspot-related Bahia Seamounts – has controlled
the deposition of these contourite drifts. Following this pathway since the Middle Oligocene, AABW has also led to the
formation of regional unconformities and the excavation of the 800 km long and up to 470 m deep Pernambuco Seachannel.
This feature, which represents the ‘trunk channel’ of a complex submarine drainage system, flows into the Pernambuco
Abyssal Plain, building a large fan-like deposit – the Pernambuco Countourite Fan. As observed elsewhere along continen-
tal margins, the geometry of the sediment drifts alternates from mounded to sheeted, channel-related or confined, depending
on the physiographic setting and on the velocity of the flow. The so-called ‘modified drift-turbidite systems’, formed by an
interplay between downslope sediment gravity flows and alongslope bottom-current-controlled deposition, are well
developed near the continental slope region, particularly in the Sergipe Basin, where the São Francisco River has built its
deep-sea fan.

The important role of thermohaline oceanic circulation in mute, stacking with dip-move-out correction, finite-difference
shaping and reworking the sedimentary apron of continental migration, noise attenuation, frequency filtering and trace
margins and oceanic basins has been realized in the last years, equalization.
with the recognition of ancient and recent sediment drifts formed
by bottom (contour) currents all over the world. Publications
have defined a number of aspects related to bottom-current- Geological and oceanographic setting
controlled sedimentation, including the definition of contourites,
depositional processes, facies associations, contourite drift types This study concentrates on the deep oceanic region adjacent to
and their seismic expression. Also considered are the interactions the Jacuípe, Sergipe and Alagoas Brazilian coastal basins,
between turbidity and contour current processes, and the cor- between the 9º30S and 13º30S latitudes (Fig. 1). All the seismic
relation of these processes with global eustatic and climatic features discussed are located on the continental rise, in water
changes (Locker & Laine 1993; Stow & Faugères 1993, 1998; depths from 3000 m to 5000 m. This is a typical passive margin
Faugères et al. 1999). developed since the Late Aptian after rifting and continental
On the Brazilian continental margin, the influence of thermo- break-up. The ocean-continent transition processes at the region
haline bottom currents on the transportation and deposition of were studied by Mohriak et al. (1995), who presented an abrupt
sediments has been investigated in the Campos Basin (Mutti et al. crustal thinning model, controlled by high-angle synthetic faults
1980; Carminatti & Scarton 1991; Souza Cruz 1995; Viana 1998; that converge to a intracrustal horizon, with intense magmatic
Viana et al. 1998; Viana & Faugères 1998). Gamboa et al. (1983b) activity and emplacement of seaward-dipping reflector wedges
recognized seismic features related to deep-sea erosion and pro- (Figs 4 & 5). This crustal transition style, along with sediment
gradation, generated by cold deep water flow in the southern supply and denudation processes, has strong influences on the
Brazil Basin. In the same region, located at the downstream exit shelf-slope morphology. In fact, the study area is characterized by
of Vema Channel, Mézerais et al. (1993) characterized a con- a narrow shelf and a steep slope, which is strongly affected by
tourite fan. canyon carving and mass wasting processes (Cainelli 1992). The
On the northeastern continental margin, however, except for most prominent erosional features in this setting are the
some brief discussions by Gorini et al. (1982) and Gorini & Japaratuba Canyon and the São Francisco Canyon (Fig. 2), which
Carvalho (1984), little work has been conducted on the effects of captures the continental drainage of the São Francisco River. This
the deep oceanic circulation on the sedimentary record. A study river has built a large deep-sea fan on the lower slope and upper
by Cherkis et al. (1992) in the Bahia Seamounts region described continental rise – the São Francisco Deep-Sea Fan – since the Late
an important deep-sea channel (Pernambuco Seachannel) as a Neogene (Cainelli 1992).
pathway for cold bottom waters (AABW) into the eastern Brazil Other important features of the continental rise are the E–W
Basin. Gomes & Gamboa (1999) pointed out some morphological, fracture zones (Bode Verde and Sergipe fracture zones) and
stratigraphic and depositional aspects of that channel. NW–SE volcanic chains (Bahia Seamounts), which merge
The multichannel seismic reflection data used in this study were together to form a natural physiographic barrier on the ocean
collected in 1992, as part of the ‘Brazilian Continental Shelf floor (Fig. 1). The Bahia Seamounts are formed by a group of
Survey Plan’ (LEPLAC Project), a regional geophysical survey volcanic ridges and/or isolated elevations, which constitute con-
conducted by the Brazilian Navy and PETROBRAS. The acqui- spicuous NW–SE chains at the continental rise off Bahia coastal
sition was performed by RV ‘Almirante Câmara’, with a shot state (Fleming et al. 1982a; Cherkis et al. 1992). These seamounts
interval of 50 m, using high-pressure air guns as source. Data were are believed to have been emplaced during the South American
recorded with a sampling interval of 4 ms and a record length of plate drift over a pair of hotspots, which were concurrently active
12 seconds. A 2500 m long streamer was used, with 96 channels from the Late Cretaceous to Early Eocene (Bryan & Cherkis
and a group interval of 25 m. The seismic processing sequence 1995). Recent studies based on seismic data support this hotspot
comprised demultiplexing, source-receiver deconvolution, pre- model (Gomes 2000).
dictive deconvolution, correlation-type velocity analysis, external The most important E–W structure in the study area is the

From: STOW, D. A. V., PUDSEY, C. J., HOWE, J. A., FAUGÈRES, J.-C. & VIANA, A. R. (eds)
Deep-Water Contourite Systems: Modern Drifts and Ancient Series, Seismic and Sedimentary Characteristics.
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240 P. O. GOMES & A. R. VIANA

Fig. 1. Bathymetric chart of the northeastern continental margin off Brazil, with the location of LEPLAC geophysical profiles. The study area is singled-out
by a dashed rectangle. The yellow lines (A, B and C) are displayed at Figures, 3, 4 and 5. The arrows point out to the Pernambuco Seachannel (modified
from Cherkis et al. 1989).

Bode Verde Fracture Zone, a double large-offset-fracture zone Stratigraphic context


(Fleming et al. 1982b; Gorini et al. 1984) that probably resulted
from a change in spreading direction during the Late Cretaceous In an attempt to analyse the stratigraphic evolution of the region
(Cherkis et al. 1992). Another E–W structure, here called Sergipe under the sequence stratigraphy paradigm, Gomes (2000) mapped
Fracture Zone (Fig. 5), merges with the the northern part of the five main regional unconformities over the seismic dataset shown
Bahia Seamounts. According to the concepts of Mello & Dias in Figure 1. These deep seismic surfaces, with a local or wide-
(1996), this feature can be considered as a short-lived, small- spread erosional character (see Discussion), represent the bound-
offset-fracture zone. aries of stratigraphic sequences with a minimum duration of 9 Ma,
Another outstanding feature of the continental rise setting is which were correlated to the supercycles of Haq et al. (1988). The
the 800 km long and up to 470 m deep Pernambuco Seachannel following second order sequences, with their probable correlative
(Gorini & Carvalho 1984; Cherkis et al. 1989), a sinuous deep-sea global cycles, were individualized: the Upper Cretaceous,
channel which follows an approximately N–S course across the Paleocene (Tejas A1+A2), Eocene (TA3+TA4), Oligo–Miocene
Bahia Seamounts region (Cherkis et al. 1992), between the 4600 m (Tejas B1), Mid-Neogene (TB2) and Upper-Neogene/Quaternary
and 5000 m bathymetric contours (Figs 1 & 2). (TB3) sequences (Fig. 3).
The Antarctic Bottom Water (AABW), following the bathy- Oceanic basement underlies the Upper Cretaceous sequence,
metric contours in a northward flow, is the cold deep-water mass which is overlain by the Upper Cretaceous (UK) unconformity;
that sweeps the ocean floor in the study area. This bottom current, above this unit, the Paleocene sequence was deposited and
which is deviated to the left due to the Coriolis effect in the partially eroded during the development of the Lower Eocene
southern hemisphere, is believed to have been active at least since (LEoc) unconformity; the following Eocene sequence is topped
the Oligocene, when the temperature gradient between poles and by a strong erosional surface, represented by the Mid-Oligocene
equatorial regions, plus tectonic reorganization, created the right (MOlig) unconformity; this unit was covered by the Mid-Neogene
conditions for development of global thermohaline deep oceanic sequence which also has a well-defined erosional top – the Lower
circulation (Johnson 1985). Miocene (LMioc) unconformity; the sediment package was
In its northward flow along the continental rise off NE Brazil, overlain by the Upper-Neogene/Quaternary sequence (Fig. 3),
the AABW encounters a physiographic barrier formed by the which extends to the seafloor.
Bahia Seamonts and the Bode Verde Fracture Zone. Part of the The three older unconformities have biostratigraphic and well-
flow is accelerated through an abyssal gap, leading to the excava- log control, and represent continental rise extensions of the
tion of a confined deep-sea channel (the Pernambuco Sea- surfaces mapped by Cainelli (1992) in the shelf-slope system of
channel); another flow, also accelerated by physiographic the Sergipe Basin. The two younger unconformities, which could
constriction, is deflected toward the slope, under the influence of not be tied to shelf events due to slope gravitational processes,
the Coriolis force, causing lateral channel migration and deep-sea were correlated to DSDP wells 23 and 24, located on the Pernam-
progradation. buco Abyssal Plain (Fig. 1).
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Fig. 2. Detailed bathymetric map of the continental margin around Pernambuco Seachannel. The black arrows indicate the confluence of slope canyons
and channels to a main (trunk) channel, forming a submarine drainage system which is controlled by oceanic circulation. The map does not capture the
total extension of the seismic profiles.

Seismic characteristics (line C). A similar morphology was observed for the giant
Northwest Atlantic Mid-Ocean Channel, in the Labrador Sea
Abyssal erosion (Cough & Hesse 1976).
The oldest base of PSC, better observed on line C (Fig. 6),
Seismic data show impressive erosional events related to bottom coincides with the inter-regional Mid-Oligocene unconformity.
currents along the continental rise off NE Brazil. The most This horizon can be seismically correlated to the unconformity ‘A’
prominent erosional feature is the Pernambuco Seachannel, which of Gamboa et al. (1983a), and thus to the paleobase of Vema
conducts the northward-flowing Antarctic Bottom Water across Channel, in the southern Brasil Basin, which footprints the onset
the Bahia Seamounts region (see Geological and Oceanographic of AABW flow in the southwestern Atlantic, c. 30 Ma (Johnson
Setting). Rather than an isolated deep-sea channel, the Pernam- 1985). This Mid-Oligocene unconformity, which can be correlated
buco Seachannel (PSC) represents a complex submarine drainage to the well-known ‘Chattian base’ eustatic event on the global
system, with an interconnected network of tributary channels that cycle chart, records the initial erosional activity of the AABW
are linked up both with slope canyons and with other AABW both in the southern and in the northeastern parts of the Brasil
pathways (Fig. 2). The system debouches in the Pernambuco Basin.
Abyssal Plain, where a large deep-sea fan is built – the Pernam- It is important to emphasize that the erosional–depositional
buco Contourite Fan. action of the AABW is not only restricted to channel settings,
Seismic lines A, B and C cross the PSC at three different points, where the flow is accelerated throughout physiographic constric-
from south to north (Fig. 1). At lines A and B (Figs 4 & 5) the tions. This bottom current affects a broad region of the continen-
channel is confined between seamounts; line C (Fig. 6) shows one tal margin, and has been controlling the formation of regional
of the maximum incisions (about 470 m deep) carved by the unconformities and the deposition of contourite drifts over the
bottom current. An interesting feature is the meandering thalweg last 30 Ma (see discussion). This concept is well-illustrated on
of the PSC, which migrates from the western flank (line A) to the seismic profile A (Fig. 4), which shows extensive unconformities
center (line B), and from there to eastern flank of the channel generated by widespread erosion in the deep-sea.
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Fig. 3. Summary chart of ages and seismic characteristics for sequences of the northeastern continental margin off Brazil, showing possible equivalents on
the global cycle chart of Haq et al. (1988). The two younger unconformities were only mapped in the continental rise.

Sediment drifts flow (Faugères et al. 1993, 1999). Together with the so-called
‘modified drift-turbidite systems’, also important in the region,
Contourite drift types in the study area include elongate- they form a continuous spectrum of deposits, where one type can
mounded, sheeted, channel-related and confined geometries, evolve into another through time and space1.
depending on the physiographic setting and on the velocity of the Elongate-mounded drifts, with an average width of 10 km, are

1Unfortunately, due to a complete absence of core data, there is no direct information about the sedimentology of these sediment drifts. Two wells were
drilled in 1969 by the Deep Sea Drilling Project, in a site located hundreds of kilometres away from the region of main contouritic deposition. Furthermore,
by the time of DSDP-23/24 core description, there was a strong turbidite paradigm in force, and the early concepts of contourites (Hollister & Heezen 1972)
were just about to be introduced.
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Fig. 4. Dip seismic line A, which crosses the continental margin from the shelf break of the Sergipe basin to the abyssal plain border (see Fig. 1 for location). The arrows point out the Mid-Oligocene
unconformity, showing that the erosional activity of the bottom current (AABW), rather than restricted to a confined deep-sea channel setting, affects a broader region of the continental margin. The selected
zoom displays remarkable seismic features related to lateral (landward) channel migration of the contour current, over both the Mid-Oligocene and the Lower Miocene unconformities. The geometry of these
channel-related drifts resemble that of fluvial point bars. The slope region, where the São Francisco Canyon is carved, is an ideal setting for an interplay between turbidity and contour current processes. One
can notice the presence of volcanic plugs and seaward-dipping reflectors wedges (SDRs) at the ocean-continent boundary region (UK, Upper Cretaceous unconf.; LEoc, Lower Eocene unconf.; MOlig, Mid-
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Oligocene unconf.; LMio, Lower Miocenc unconf.; UMMio, Upper Middle Miocene unconf.).
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Fig. 5. Strike seismic line B, which traverses the lower continental rise off NE Brazil, showing the Pernambuco Seachannel and its tributary, the Bahia Seamounts, and the Sergipe Fracture Zone (see Fig. 1 for
location). Mounded, sheeted, channel-related (a) and confined (b) contourite drifts can be observed. The northwestern edge of the profile crosses the Pernambuco Contourite Fan, where the predominant
depositional pattern is aggradational. The arrow at the upper zoom (a) points out to a progradational unit, maybe related to an eventual increase on the velocity of the flow. One can notice that the main
channel morphology is reproduced, as a small-scale equivalent, in the tributary channel. The estimated depth of the confined main channel at this crossing is about 450 m (UK, Upper Cretaceous unconf.; LEoc,
Lower Eocene unconf.; MOlig, Mid-Oligocene unconf.; LMio, Lower Miocenc unconf.; UMMio, Upper Middle Miocene unconf.).
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Fig. 6. Dip seismic line C, which traverses the continental margin off Alagoas basin (see Fig. 1 for location). Channel-related drifts and mounded drifts can be observed in both upper zooms. At the case b,
arrows point out to seismic features related to drift westward progradation over the Mid-Oligocene unconformity. The lower profile (case c), which crosses line C, shows typical sediment waves, with an average
wavelength of 3 km. The Pernambuco Seachannel, with a 470 m-deep incision at this situation, has a higher left margin, which resembles an asymmetrical levee of a turbidity channel. This similarity, however, is
apparent, since the higher margin is not formed by true overbanking deposition, but mainly by drift aggradation/progradation during lateral channel migration, under the influence of Coriolis force. One can
observe, at case b, a different seismic character for each sequence: an almost transparent aspect at the Upper Cretaceous unit; plane-parallel reflectors at the Palaeocene sequence; chaotic fluid-escape-related
character at the Eocene unit; low-frequency and moderate amplitude reflectors at the post-Eocene sequences, with a predominant progradational pattern at the lower unit, which changes to a more
aggradational style toward the top units. At the ocean-continent boundary region, volcanic plugs and seaward-dipping reflectors wedges (SDRs) borders a distal rift(?) sequence (UK, Upper Cretaceous
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unconf.; LEoc, Lower Eocene unconf.; MOlig, Mid-Oligocene unconf.; LMio, Lower Miocenc unconf.; UMMio, Upper Middle Miocene unconf.).
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well-developed on the left (west) margin of the Pernambuco trolled by temperature gradient, from a sluggish pre-Oligocene
Seachannel (Figs 5a,b and 6a,b). The best examples can be halothermal circulation, driven by salinity changes.
observed in the uppermost sedimentary unit (Upper- Hence, abyssal erosional surfaces of broad regional extent are
Neogene/Quaternary sequence), particularly on line C (Fig. 6), less likely to be found prior to the Oligocene. However, as
showing a low-frequency-moderate-amplitude seismic character. pointed out previously, all the depositional supersequences
Contourite sheets form extensive low-relief accumulations in mapped on the continental margin off NE Brazil are bounded by
regions swept by low-velocity bottom currents. In the study area, unconformities (and their correlative conformities), which extend
typical sheeted drifts can be found near the mouth of PSC, outside from the shelf to the lower rise and can be correlated to sea-level
the physiographic constriction of the Bahia Seamounts (Figs falls on the global cycle chart.
5a,b). As the flow velocity increases and decreases from time to How can one explain, therefore, the presence of abyssal uncon-
time, there is an alternation between the deposition of mound and formities, which show evidence of erosional activity at several
sheet-like contourite drifts. Both types can be covered by large- points of the study area (e.g. UK unconformity, Fig. 6)? A
scale sediment waves (Fig. 6c). possible clue to solving this question is the different seismic
Channel-related drifts have a remarkable seismic expression on character of the unconformities. The local erosional character of
the continental margin off NE Brazil. They are of three types: the older ones, contrasting with the regional widespread erosional
those deposited on the floor and flanks of channels (Fig. 5a) or aspect of the post-Eocene unconformities, may indicate that
moats (Fig. 6a); the westward prograding clinoforms that records tectonic events have been partly responsible for pre-Oligocene
the lateral migration of the bottom current under the influence of unconformities, magnifying the erosional activity of the ‘sluggish’
the Coriolis force (Figs 4a & 6b); the large fan-like deposit formed bottom currents at some sites. Some tectono-eustatic influences,
at the downcurrent exit of the Pernambuco Seachannel, here always considered in relative sea-level changes, can be ascribed to
called Pernambuco Contourite Fan, of which only the fringe has changes in plate motion, variation in sea-floor spreading rates and
been captured on our seismic data (Fig. 5a). lithospheric flexure, all of these leading to intraplate stresses
Typical examples of confined drifts can be found in small semi- (Thorne & Watts 1984; Cloething 1986, among many others).
isolated basins located between seamounts (Figs 4 & 5). Apart On the other hand, there is no need to invoke possible tectonic
from their confinement, the seismic character of these deposits influences for the post-Eocene unconformities, since they appear
resembles those of elongate-mounded drifts, as pointed out by more likely to have a glacio-eustatic control. As discussed earlier,
Faugères et al. (1999). the Oligocene sequence upper boundary is probably associated
Modified drift-turbidite systems (Faugères et al. 1999) are with the initiation of Antarctic Bottom Water flow in the Brazil
expected to play an important role in the sedimentary evolution of Basin. From that event on, all evidence indicates the presence of
the study area, particularly in the slope region of the Sergipe intermittent deep-sea erosional activity, as a response to strong
basin, where the São Francisco Deep-Sea Fan (Cainelli 1992) was thermohaline oceanic circulation. Thus, AABW is considered
deposited (see Geological and Oceanographic Setting). Line A responsible for both the formation of regional unconformities and
(Fig. 4a), which crosses the edge of this submarine fan, is a the deposition of contourite drifts in the last 30 Ma, with a
suitable site for an interplay between downslope sediment gravity climatic-controlled alternation of erosional and depositional
flows and alongslope bottom-current-controlled deposition. events.
Similar process interaction was studied along the US Atlantic Another relevant point in the present discussion is the differen-
margin (Locker & Laine 1992) and on the southeastern Brazilian tiation between downslope sediment gravity flows and alongslope
continental margin (Souza Cruz 1995; Massé et al. 1998; Viana & bottom current controlled deposition. With virtually no core data
Faugères 1998). or seabed photographs to provide sedimentological information,
seismic reflection data remain as the only available means for
describing the deposits of the study area. Whereas along the Per-
Discussion nambuco Seachannel and its margins the seismic character is
typical of contouritic deposition, in the tributary drainage network
The relationship between eustasy and the formation of erosional region towards the slope (Fig. 2), there is some uncertainty, so
unconformities on the continental rise is still controversial (Poag that the deposits can be characterized either as contourites or tur-
1987; Aubry 1991; Faugères et al. 1999). Seismic evidence along bidites, or even as process interaction-related deposits (Fig. 4a).
Atlantic margins suggest that abyssal erosion is driven by the Hence, considering the overall drainage system, including slope
intensification of deep-water circulation during glaciation periods2 canyons, the network of tributary channels and the main deep-sea
(Tucholke & Embley 1984; Mountain & Tucholke 1985; Souza channel, along with the Pernambuco Contourite Fan and the São
Cruz 1995; Gomes 2000). Tectonic events, however, causing Francisco Deep-Sea Fan, this region can be regarded as a truly
regional basement uplifts, can also magnify the erosional capacity mixed turbidity current/contour current construction. As a matter
of bottom currents. Regardless of the driving mechanism, one of fact, in deep marine settings there is a turbidite-to-contourite
must always consider the importance of the physiographic setting. continuum and multiple process transport, as pointed out by
It can be argued that global oceanic circulation has only played Stanley (1993). However, such turbidite-contourite interaction
a lead role in abyssal erosion process since the Eocene/Oligocene still needs better understanding, and represents an important
boundary, when the temperature divergence between surface and challenge for hydrocarbon exploration in the Sergipe Basin, since
bottom waters (Kennet & Shackleton 1976) led to the formation it has strong implications for reservoir quality and distribution.
of a cold northward-flowing AABW, around 32 Ma (Johnson
1983). Even though morphological conditions for intermediate to We are very grateful to our PETROBRAS colleagues B. S. Gomes and J.
deep water connections between the southern ocean and the M. de Souza for their support throughout this study. Discussions and col-
North Atlantic were in existence since the Late Cretaceous (Van laborative work with L. A. P. Gamboa, S. F. Santos, and R. S. F. D’Ávila
Andel et al. 1977), there is no evidence of a vigorous oceanic were particularly helpful. We also thank D. A. V. Stow and J. Howe for
critically reviewing the original manuscript. A special gratitude goes to J.
circulation in pre-Oligocene times, when the water mass stratifi-
C. Della Fávera, supervisor of the first author’s studies at U.E.R.J.
cation was controlled by salinity (Thierstein 1979). So, one can
differentiate a strong post-Eocene thermohaline circulation, con-
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placed somewhere between (glacio-eustatic) sea-level falls and early sea- AUBRY, M-P. 1991. Sequence Stratigraphy: Eustacy or Tectonic Imprint?
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