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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA
ENGENHARIA CIVIL

MATERIAL DE APOIO

GNE 282 – GEOLOGIA DE ENGENHARIA

Profª. Raquel Linhares Versão 2021/02

GNE 282 – GEOLOGIA DE ENGENHARIA


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Sumário
I. Introdução à Geologia...................................................................... 5

1. Conceito de Geologia ................................................................. 5

2. Geologia de Engenharia ............................................................. 5

3. Importância ................................................................................ 6

4. Geologia aplicada ...................................................................... 6

II. A Terra ........................................................................................ 14

1. Origem e formação do Planeta Terra e Sistema Solar ............. 14

2. Camadas da Terra ................................................................... 14

3. Dinâmicas Interna e externa..................................................... 17

III. Mineralogia ................................................................................. 25

1. Conceito ................................................................................... 25

2. Classificação de minerais ......................................................... 27

3. Como identificar minerais ......................................................... 29

IV. Petrologia.................................................................................... 35

1. Ciclo das Rochas e Solos ........................................................ 35

2. Rochas Ígneas (Magmáticas ou Eruptivas) .............................. 36

3. Rochas Sedimentares .............................................................. 39

4. Rochas Metamórficas............................................................... 44

5. Passo-a-passo para Reconhecimento e Classificação das Rochas


50

V. Estruturas Geológicas (ou Descontinuidades) ............................ 51

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1. Conceito ................................................................................... 51

2. Domínio Rúptil de deformações ............................................... 53

3. Domínio Dúctil de deformações ............................................... 57

4. Outras descontinuidades .......................................................... 60

5. Caracterízação de Descontinuidades ....................................... 60

VI. Intemperismo .............................................................................. 70

1. Conceito ................................................................................... 70

2. Tipos e agentes de Intemperismo ............................................ 71

2.1. Intemperismo Químico ........................................................ 71

2.2. Intemperismo Físico ............................................................ 74

3. Fatores que influenciam no intemperismo ................................ 75

VII. Introdução à Mecânica dos Solos ............................................ 78

1. Origem, Formação e Classificação Genética dos solos ........... 78

2. Solos Lateríticos e Solos Orgânicos ......................................... 82

3. Classificação por granulometria ............................................... 83

4. Estruturas dos Solos e Índices Físicos ..................................... 85

VIII. Investigações Geotécnicas ...................................................... 90

1. Conceito ................................................................................... 90

2. Investigações Diretas e Indiretas ............................................. 91

3. Amostragem deformada e indeformada ................................... 91

4. SPT .......................................................................................... 94

5. Rotativa e RQD ........................................................................ 95


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IX. Hidrogeologia .............................................................................. 99

1. Conceito ................................................................................... 99

2. Aquíferos, Aquicludos e Aquitardos.......................................... 99

3. infiltração................................................................................ 102

4. Percolação ............................................................................. 103

5. Extração de água e Rebaixamento de lençol freático (RLF)... 105

6. Contaminação, profilaxia e remediação de aquíferos ............. 106

X. Representações Gráficas .......................................................... 108

1. Cartas e Mapas Geotécnicos ................................................. 108

2. Aerofotogrametria .................................................................. 111

3. Projeções Esféricas – Representações de planos e linhas .... 112

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I.INTRODUÇÃO À GEOLOGIA

1. CONCEITO DE GEOLOGIA

GEOLOGIA é a ciência responsável por estudar a origem, a história, a


composição e as características do planeta Terra. Não faz isso de forma
estática, mas através das constantes transformações que o planeta está
submetido desde sua formação (dinâmicas externa e interna).

Por meio do estudo de como a Terra é hoje e com a interpretação das


evidências geológicas na Terra e vindas do espaço, foi possível estabelecer
teorias muito bem fundadas sobre a origem e formação, não só do Sistema
Solar, como do Universo, e traçar previsões.

2. GEOLOGIA DE ENGENHARIA

Também conhecida como Geologia Aplicada, é a aplicação dos


conhecimentos das Geociências em estudos, projetos e obras de engenharia.

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3. IMPORTÂNCIA

A maioria dos empreendimentos de Engenharia Civil interage com o


subsolo e/ou com afloramentos de solos e rochas na superfície. Saber como
esses materiais naturais e extremamente diversos respondem a diferentes
solicitações é essencial para garantir a segurança e economia do
empreendimento.

Os profissionais que atuam em Geotecnia são:

a) Geólogos: Responsáveis por fazer investigações, estudar a


natureza e situação dos terrenos (composição, propriedades,
descontinuidades, etc);
b) Engenheiros Civis Geotécnicos e Engenheiros Geólogos:
Responsáveis por elaborar projetos e acompanhar a construção de obras
geotécnicas;
c) Engenheiros de Minas: Conhecimentos específicos de geotecnia
na escavação de maciços e extração de recursos minerais.

4. GEOLOGIA APLICADA

Estradas e pavimentos

Além da necessidade de se conter e escavar solos e rochas ao longo


de vias, solos também constituem as camadas do pavimento, podendo ter
revestimento flexível (asfáltica) ou rígido (concreto).

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O estudo de solos para uso em pavimentação leva em conta a formação


do solo (principalmente o processo de laterização), CBR, (capacidade de
suporte e desagregação do solo submerso), expansibilidade e colapso.

Explotação/Exploração de materiais geológicos:

Materiais geológicos (minerais, rochas e solo), podem ser explotados


para fins como:

Material de construção: britas e agregados para pavimentação e


concreto; argila para aterros; argila para cerâmica (tijolo, louças, revestimentos
e pisos); britas e areias para filtros e drenos, vidros; rochas para calçamento
(paralelepípedo), para bancadas, pisos e revestimentos, etc.

Minérios: ferro, carbono e platina para siderurgia em geral, materiais


cirúrgicos, próteses; chumbo, bauxita, sílica para tecnologia; calcário para
cimento, etc.

Ornamental: gemas, ouro, prata, cobre, níquel para jóias; minerais


ornamentais, etc.

Fundações

O objetivo das fundações é transferir carga da superestrutura para o


terreno de apoio: (i) com compatibilidade de cargas e (ii) sem causar
movimentações excessivas.

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Fundações podem ser superficiais ou profundas. As primeiras são


utilizadas quando se considera o terreno competente (rochas, areias
compactas, solos residuais, etc) e a transferência de carga se dá
principalmente pela base. Já as segundas são utilizadas em solos
incompetentes (argilas moles, areais fofas, etc) e a transferência de carga se
dá por atrito lateral e pela base.

As principais fundações superficiais são blocos (não armados), sapatas


(armadas) e radiers (lajes). As profundas são tubulões e estacas, estas últimas
podendo ser cravadas (concreto, metálicas, mega) ou escavadas (helicoidal,
moldada in situ, etc).

Ao se projetar fundações, deve-se ter em mente não apenas os


esforços mecânicos, mas também a agressividade do ambiente, efeitos de
grupo (superposição de bulbos de tensões) e o efeito Tschebotarioff.

Barragens/Diques

Possuem diversas finalidades principais e secundárias, tais como:


armazenamento de água para abastecimento e irrigação, geração de energia,

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contenção/manejo de cheias, contenção de rejeitos, lazer, piscicultura,


paisagismo, etc.

Solos e rochas interagem com o projeto sendo material de construção


(núcleos argilosos, filtros, enrocamento), suporte (ombreiras, fundação) ou a
ser contido no reservatório.

Perfis Típicos

∙ Núcleos argilosos e cut-offs: impedem/reduzem velocidade de fluxo;

∙ Enrocamento ou rip-rap: reduzem erosão por ondas e chuva.

∙ Filtros e drenos: conduzem o fluxo e reduzem carga de saída (piping


e areia movediça).

∙ Ombreiras e Fundações: provem suporte à barragem.

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Túneis/Escavações Subterrâneas

Algumas finalidades de túneis/escavações subterrâneas são:


mineração, transportes rodoviários e ferroviários, transporte de fluidos (água,
esgoto, gás), utilização do espaço subterrâneo (estacionamentos, estações de
metrô), geração de energia geotérmica, depósito de resíduos nucleares (minas
de sal), isolamento térmico e proteção contra acidentes nucleares/desastres
naturais (bunkers). As principais vantagens do uso de túneis, principalmente
em transportes são: melhor utilização dos espaços de superfície, menores
trajetos (economia de tempo e recursos) e, atualmente, grande confiabilidade
nas obras.

A grosso modo, túneis podem ser escavados em solo, rocha, ambos ou


podem ser construídos (túneis falsos/túneis imersos). Os métodos de
escavação podem ser:

VCAs são feitos com a escavação da seção e seu posterior reaterro.


Esta solução é muito utilizada quando há pouco solo de cobertura e/ou quando
a estabilização do furo é complexa. Pode ser Escavação Convencional ou
Invertida. A contenção pode ser realizada com: perfis metálicos+pranchas,
estacas-prancha, parede-diafragma, estacão+concreto projetado), etc.

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Túneis falsos ou Túneis imersos são túneis construídos pelo homem,


sem haver escavação. Podem ser para transpor cursos d’água ou para
minimizar impactos de instabilização de taludes ou blocos rochosos.

A escavação à fogo (D&B) utiliza explosivos e é muito vantajosa para


túneis curtos ou de seções variáveis.

Na Escavação Sequencial e/ou NATM, divide-se a seção a ser


escavada em partes que são, paulatinamente, escavadas e contidas com
suporte primário. Ao término da seção, executa-se o suporte secundário.

A escavação com couraça pode ser manual, semi-mecanizada ou


mecanizada (tuneladoras – “tatuzão”). Estas últimas possuem avanço rápido,
realizam escavação e suporte concomitantemente, garantem mínimos
deslocamentos, mas têm como desvantagem o alto custo (que se compensa
após 6,5 km) e a especificidade da tuneladora.

Estabilidade de Taludes

Instabilidade em solos podem ocorrer de 4 modos: planar, rotacional,


corridas (de detritos, de lama = Debris Flow) e rastejos (creep).

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Rotacional: Camadas espessas e


homogêneas de solo.

Planar: Quando a espessura da


camada instável é muito menor do
que o seu comprimento; quando há
materiais de diferentes resistências.

Corridas: Quantidade de água transforma solos finos em “lama”,


perdendo completamente a resistência ao cisalhamento e se comportando
como fluido, levando em seu caminho blocos, matacões, árvores, casas,
carros, pessoas.

Rastejos (creep): movimentos muito lentos (2 a 3 cm/ano), comumente


em colúvios. Pode ser observado com a movimentação de guias, árvores
tortas.

Já em rochas, essas instabilidades estão condicionadas às


descontinuidades e suas conformações. Pode ser planar, circular (maciço

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muito fraturado) em cunha, tombamento, queda e rolamento de blocos e


desabamento (intemperismo diferencial).

Diversas são as formas e estruturas de contenção disponíveis no


mercado. Algumas: mudança da geometria, concreto projetado,
tirantes/grampos, cortinas atirantadas/grampeadas, muros de peso (concreto,
solo reforçado), contrafortes, barreiras de flexíveis/rígidas de impacto, etc.

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II.A TERRA

1. ORIGEM E FORMAÇÃO DO PLANETA TERRA E SISTEMA SOLAR

Nosso planeta é formado pelos mesmos elementos que compõem os


demais corpos do Sistema Solar e tudo o mais no Universo. Logo, a formação
da Terra está ligada à do Sol, demais estrelas, planetas e corpos celestes.

Há de 13 a 14 bilhões de anos atrás, ocorreu o Big Bang, quando toda


a massa do universo, antes condensada num volume muito pequeno,
subitamente expandiu. Até os dias de hoje, a velocidade de expansão do
Universo vem aumentando com o tempo, por conta de um mecanismo
desconhecido. As primeiras pesquisas no assunto indicam que o Universo
ficará indefinidamente em expansão, contrariando a teoria do Big Crunch.

Foram necessários 100 milhões de anos para que se acumulasse 98%


do material que constitui a Terra num processo chamado Acreção Planetária.
Por conta das elevadas temperaturas do corpo planetário, houve
DIFERENCIAÇÃO QUÍMICA destes corpos, com núcleo metálico denso,
constituído predominantemente de Fe e Ni, e um manto de composição
silicática.

2. CAMADAS DA TERRA

A Terra pode ser dividida segundo propriedades físicas e segundo


composições químicas.

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PROPRIEDADES QUÍMICAS

(I) CROSTA: dividida em Crosta Oceânica, constituída de rochas


basálticas (Si+Mg), e Crosta Continental, constituída de rochas graníticas
(Si+Al), ou seja, grande parte de Sílica. Têm espessuras que variam de 5-10
km e 30-80 km, respectivamente.

Os limites entre Crosta e Manto não são rígidos, há uma zona de


transição.

(II) e (III) MANTOS Superior e Inferior: composto por substâncias ricas


em Fe e Mg.

(IV) e (V) NÚCLEOS Externo e Interno: Compostos predominantemente


por Fe e Ni.

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PROPRIEDADES FÍSICAS

(1) LITOSFERA: é formada pela Crosta e pela parte rígida do Manto


Superior, delimitada pela Descontinuidade de Mohorovic. É fragmentada em
12 placas que se movem sobre a Astenosfera.
(2) ASTENOSFERA: é a região onde o material do Manto Superior se
apresenta no estado plástico.
(3) MESOSFERA: é uma região plástica de alta temperatura e
pressão.
(4) ENDOSFERA: é a região sólida de alta temperatura e pressão.

Praticamente todas as informações que temos sobre as camadas e


composição do interior da Terra foram deduzidas a partir da análise de ondas
sísmicas, movimento do planeta e gravitação de corpos.

CURIOSIDADE: A forma como a crosta se projeta para fora ou


para dentro do manto superior, ou seja, sua espessura, pode ser
explicada pelo conceito de Isostasia. Existem dois modelos que
explicam essa projeção:

• Modelo de Airy (Teoria do Iceberg): a camada superior tem


densidade constante e inferior à do manto, fazendo-a boiar; por
isso, altas cadeias montanhosas têm “raízes” profundas.
• Modelo de Pratt: as montanhas têm seções com densidades
diferentes que, por isso, projetam-se para fora diferentemente.

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Abaixo, figuras explicativas dos dois modelos.

Mas qual dos dois está correto? Afinal, por que e como a crosta
se projeta para fora do manto? A resposta é: ambos os modelos estão
corretos. As montanhas são mais altas, pois se projetam para as
partes mais profundas do manto e os continentes se situam acima do
nível do mar em razão das diferenças de composição e densidade. A
erosão da crosta continental intensa acarreta o seu lento e constante
soerguimento.

3. DINÂMICAS INTERNA E EXTERNA

O CALOR NA TERRA

Todos sabemos que a Terra possui calor próprio, no seu núcleo. Este
calor fornece energia para atividades da dinâmica interna e condicionam a
formação do magma e demais manifestações da Tectônica Global (as placas
tectônicas se mexem – Lei de Lavoisier: nada se cria, tudo se transforma). Mas
qual a origem desse calor?

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São duas as principais fontes:


• Energia cinética do impacto dos fragmentos agregados quando
da Acreção Planetária (energia cinética da colisão inelástica);
• Emissão de átomos radioativos que constituíram a matéria-prima
original (energia de decaimento – radioativa).

CURIOSIDADE:

Esse calor não é infinito, pois não é retroalimentado. Ou


seja, ele aos poucos se dissipa através da atmosfera e a Terra
esfria. Mas não se preocupe! O tempo estimado para que a Terra
esfrie é de 2 bilhões de anos.
Lembrando que a fonte de calor é uma esfera com volume
relativo ao seu Raio³ e a dissipação de energia se dá por meio da
sua superfície com área relativa ao seu Raio². Ou seja, a razão R
(R³/R²) é que determina a velocidade de dissipação desse calor
interno, o que significa que planetas menores tendem a esfriar mais
rápido.

GEOMAGNETISMO

Todo mundo também tem muito claro que a Terra possui polos
magnéticos. Mas qual a origem desse magnetismo?

Lembrando de Física C que “A variação do campo magnético induz a


formação de corrente elétrica e vice-versa”. Acredita-se que o fluido metálico
do Núcleo Externo, na presença do Campo Magnético do Sistema Solar,
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induziu correntes elétricas que, por conta do movimento da Terra, formam


espirais que geram o campo magnético da Terra. Este sistema se
retroalimenta.

Na Terra, os polos magnéticos são


opostos aos polos geográficos. A
agulha da bússola tende a apontar
para o Sul Magnético – Norte
geográfico.

O geomagnetismo não é estático e se move à velocidade de 0,2 graus


por ano, geralmente de leste para oeste. Há, inclusive, um fenômeno relatado
por cientistas chamado Inversão de Polaridade ou Reversão, onde os polos
magnéticos se invertem totalmente. Isto aconteceu algumas vezes na Terra,
porém nenhuma registrada nos últimos milênios (será que a próxima será em
breve?). Mas COMO os cientistas descobriram que isso aconteceu?

PANGEA, DERIVA CONTINENTAL E TECTÔNICA GLOBAL:

O perfeito encaixe entre África e América do Sul já tinha sido observado


no século XVII, porém não havia FATOS que corroborassem a teoria de que
os continentes um dia já estiveram juntos.
No início do século XX, o alemão Alfred Wegener relatou
“coincidências” geológicas evidentes entre as duas costas (eventos glaciais
impressos nas rochas, derramamentos vulcânicos, mineralogia, direção do
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eixo magnético impresso nas rochas diferente do eixo naquele momento),


além da distribuição de fósseis, principalmente samambaias. Ou seja, ele
finalmente conseguiu os fatos que demonstravam que as costas da África e
da América do Sul um dia foram uma coisa só e definiu a Pangea, como sendo
a união da Laurásia (América do Norte e Eurásia) com Gondwana (América
do Sul, África, Índia, Austrália, Antártica). Contudo, Wegener morreu
desacreditado pela academia, pois não sabia explicar COMO que os
continentes tinham se separado, por que e se isso ainda acontecia ou por que
não acontecia mais.
Apenas na década de 1950 que Marie Tharp apresentou uma
explicação sobre COMO esta separação ocorreu: analisando dados de sonar
do fundo oceânico, ela descobriu as Cadeias Meso-Oceânicas (vales
profundos com o mesmo contorno das costas). Seu aluno H. Foster estava, ao
mesmo tempo, mapeando a localização de epicentros de terremotos ao redor
do planeta e Marie percebeu que os epicentros coincidiam com as cadeias
meso-oceânicas.
Jacques Cousteau, querendo provar que Marie estava errada, realizou
uma expedição para filmar o fundo do oceano e provou que Marie estava certa.
A partir daí, deu-se início ao estudo da tectônica global.

TERREMOTOS, ONDAS SÍSMICAS E INVESTIGAÇÕES


GEOFÍSICAS:
A crosta está em constante movimentação (v= 2 a 3 cm/ano). O
movimento ocorre por conta dos efeitos de convecção do manto.

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Os limites entre placas podem ser:

- Divergentes: Meso-oceânica, o magma afasta as crostas.


- Convergentes: Subducção, uma placa entra debaixo de outra
(Nazca+Sul-americana) ou Enrugamento, as placas se chocam e geram
cadeias montanhosas (Índico-australiana + Eurásia).
- Conservativo: se movem horizontalmente (Falha de San Andreas =
Pacífica + Norte-americana).

Após um extenso e lento acúmulo de tensões devido a esses


movimentos, há uma liberação rápida destas tensões por meio da ruptura da
crosta, que nem sempre chega à superfície, e são geradas ondas sísmicas.
São os terremotos.

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Em diversos pontos desse encontro, acumula-se energia em função do


acúmulo de forças entre os dois lados. É como se, em algum momento, o
movimento de uma placa sobre a outra ficasse “travado”, mas como a força
continua sendo exercida, chega-se a um ponto em que a resistência das
rochas não aguenta segurar esse “travamento” e acontece uma
reacomodação, causando os terremotos.

Essas ondas sísmicas podem ser de 4 tipos:

a) Internas:
- Ondas P (primárias): dilatação/compressão. Mais rápida, chega
primeiro.

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- Ondas S (secundárias): cisalhamento, não se propaga em líquidos.


Menos rápida.

b) Superficiais:

- Ondas Rayleigh

- Ondas Love

Com isso, desenvolveu-se a escala de medição Richter. Sabendo que


a direção de propagação das ondas sísmicas muda (refrata) e sua velocidade
varia ao passar de um meio para o outro, vieram os métodos sísmicos de
exploração do subsolo. Nestes métodos, emitem-se ondas que são captadas
por meio de receptores com distâncias conhecidas e variáveis do emissor.
Sabendo a direção e a velocidade com que a onda chega ao receptor, é
possível estimar as informações do subsolo como densidade, espessura da
camada e nível d’água.

Por meio da análise de centenas de tremores registrados durante


décadas, deduziu-se a estrutura principal da Terra.

𝐴
𝑀𝑠 = log ( ) + 1,66 . log ∆ + 3,3
𝑇

Onde:

𝐴 é a amplitude das ondas Rayleigh

𝑇 é o período das ondas Rayleigh

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∆ é a distância do ponto de medição ao epicentro do tremor, em graus.

Não há limite inferior, nem superior.

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III.MINERALOGIA

1. CONCEITO

Os minerais são formados por átomos organizados em um arranjo


periódico tridimensional denominado ESTRUTURA CRISTALINA que, apesar
de ocorrer em escala nanométrica, pode se manifestar visível a olho nu (às
vezes não se manifesta). Tem COMPOSIÇÃO QUÍMICA DEFINIDA que pode
variar dentro de intervalos restritos. Essa variação dentro de intervalos é o que
dá colorações diferentes a um mesmo mineral, por exemplo, o quartzo, que
pode se incolor ou apresentar cor roxa, rosa, verde, azul, amarela, entre
outras. Mesmo sendo de diferentes cores, ainda são o mesmo mineral quartzo.

Minerais são, por definição, formados por processos NATURAIS,


excluindo substâncias sintéticas ou artificiais de mesmas características
(diamantes sintéticos, por exemplo, muito usados em brocas de perfuração),
e INORGÂNICOS (excluindo conchas e pérolas, por exemplo, que são
formados por seres vivos). Materiais cristalinos naturais biogênicos e materiais
naturais inorgânicos sem estrutura cristalina são chamados de
MINERALÓIDES (mas este conceito diverge na literatura, ou seja, você pode
encontrar outra definição em um livro diferente do que eu usei). Minérios são
minerais com utilidade e importância econômicas.

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Resumindo: a definição de mineral é: (1) Composição química definida com


estrutura cristalina; (2) Origem natural e (3) Origem inorgânica. Quando um
material apresenta duas dessas três características, é chamado
mineralóide.

A obsidiana, também chamada de vidro


vulcânico, é um material vulcânico que foi
consolidado tão rapidamente que não
desenvolveu estrutura cristalina.

Mais algumas definições importantes: as ROCHAS são agregados


consolidados de UM OU MAIS tipos de minerais, formadas por diversos
processos da dinâmica terrestre (Petrologia – próxima aula). Dizemos “um ou
mais”, pois existem rochas formadas por apenas um tipo de mineral, por
exemplo, o arenito e o quartzito que são formados predominantemente por
quartzo. Existem arenitos e quartzitos que possuem outros minerais chamados
de minerais acessórios.

Os SOLOS são materiais advindos do processo de intemperismo de


rochas, podendo ter sofrido erosão e transporte neste processo. Nem sempre
os solos são resultado de erosão e transporte da rocha (vamos estudar isso
com detalhes na Aula. 7). Solos são não-consolidados. Solos e rochas são
materiais muito DISTINTOS entre si, então nada de dizer ou escrever por aí

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“o local possui solo rochoso” e muito cuidado para não confundir solo com
rocha nessa disciplina. Nas aulas 3, 4 e 5 trataremos apenas de rochas!

O SUBSOLO é todo material que está abaixo do Nível do Terreno (NT),


que pode ser rocha, solo, depósito mineral ou uma mistura de dois ou mais
destes.

2. CLASSIFICAÇÃO DE MINERAIS

Existem duas formas de classificar minerais: de acordo com sua


composição química e de acordo com seu momento de formação.

Quimicamente, minerais são classificados em classes de acordo com o


seu ânion ou grupo aniônico, pois, em geral, minerais com o mesmo ânion
possuem semelhanças físicas e morfológicas entre si.

As doze principais classes são:

1 – Silicatos 5 – Haletos 9 – Fosfatos


2 – Sulfetos 6 – Carbonatos 10 – Sulfatos
3 – Sulfossais 7 – Nitratos 11 – Tungstatos
4 – Óxidos 8 – Boratos 12 – Elementos Nativos

Existem milhares de minerais conhecidos, contudo por volta de 30 são


considerados minerais formadores de rochas, pois a crosta é formada quase
em sua totalidade por 8 elementos: O, Si, Al, Fe, Ca, Na, K, Mg.

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- Silicatos: são a classe mais abundante na crosta terrestre e formam por


volta de 90% do volume de todos os minerais na Terra. Ex: Feldspatos,
quartzo, olivinas, piroxênios, anfibólios, granadas e micas.

- Carbonatos: calcário, aragonita e dolomita. Usados para cal, cimento


Portland e mármore.

- Sulfatos: anidrita, barita e gipsita (gesso).

- Sulfetos: pirita (dióxido de enxofre e ácido sulfúrico, usados na


confecção de papel), galena (minério de chumbo).

- Óxidos: hematita, bauxita, coríndon.

- Fosfatos: Apatita (fertilizante).

- Elementos Nativos: Ouro, prata, cobre, grafite, diamante.

A outra classificação é em relação ao seu momento de formação:

- Minerais primários: formam-se juntamente com a rocha.

- Minerais secundários: resultantes do processo de intemperismo e


cimentação, ou seja, a matriz rochosa já existia e um mineral que já existia se
transformou em outro ou então precipitou de uma solução aquosa onde estava
solubilizado.

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3. COMO IDENTIFICAR MINERAIS

Identificar minerais é uma tarefa bastante complexa e que exige prática


e conhecimento, uma vez que existem mais de 10 mil minerais catalogados.
Contudo, como são poucos os que formam as rochas, ainda mais as rochas
brasileiras, essa tarefa pode se tornar um pouco menos difícil se analisarmos
as seguintes características macroscópicas.

CARACTERÍSTICAS MACROSCÓPICAS:

As principais características físicas para identificação de um mineral


são:

3.1 Cor

Idiocromáticos: minerais com cores características.


Exemplo: malaquita (verde – foto ao lado), ouro
(amarelo), prata, cobre, etc. Esses minerais não podem
se apresentar com cores distintas às pré-definidas, pois
sua estrutura cristalina não permite a entrada de átomos
ou moléculas acessórios (chamados de impurezas).

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Alocromáticos: apresentam cores variadas. Sua


estrutura cristalina permite a entrada de impurezas,
que podem modificar ou definir a cor com que os
minerais se apresentam. Exemplo: quartzo (foto ao
lado), coríndon, fluorita, berilo.

Minerais (e rochas) podem ser classificados segundo a sua cor como


FÉLSICOS ou MÁFICOS. Félsicos (o nome vem da junção Feldspato + Sílica)
são ricos em Si, O, Al, Na e K. Como a sílica é um elemento pouco denso e
de coloração clara, os minerais e rochas ricos em sílica acabam ficando mais
claros e menos densos também. Máficos (Magnésico + Ferro) são ricos em
compostos ferromagnesianos, portanto são minerais e rochas mais escuros e
densos.

3.2 Clivagem

É a propriedade de uma substância cristalina de dividir-se segundo


planos paralelos. É um PLANO NATURAL DE FRAQUEZA. Alguns minerais
não possuem clivagem (quartzo). Não confundir com Estrutura Cristalina ou
Hábito Cristalino.

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3.3 Hábito Cristalino

Manifestação macroscópica da estrutura cristalina do mineral. Nem


todos os minerais possuem hábito cristalino característico. Nas rochas,
geralmente não há espaço para os minerais desenvolverem seu hábito
cristalino. Abaixo, alguns exemplos de hábitos cristalinos.

Drusa Cúbico

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Laminar Fibroso

3.4 Dureza

Resistência ao risco, não é resistência à compressão ou ao choque


(tenacidade). A Escala Mohs não é uma escala absoluta, apenas
comparativa. Isso significa que o Diamante (10) não é 10 vezes mais duro que
o Talco (1). Isso só significa que o Diamante é mais duro que o Talco.

1 – Talco 6 – Ortoclásio
2 – Gipsita 7 – Quartzo
3 – Calcita 8 – Topázio
4 – Fluorita 9 – Coríndon
5 – Apatita 10 – Diamante

3.5 Tenacidade

Resistência à quebra.
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3.6 Transparência

Translúcidos ou opacos (a análise deve ser feita em lâminas). Elementos


Nativos metálicos, óxidos e sulfatos são comumente opacos.

3.7 Brilho

Metálico ou não-metálico (vítreo, gorduroso, sedoso, diamantino,


nacarado). Minerais opacos normalmente têm brilho metálico, pois refletem
mais de 75% da luz. Ver GIFs no slide para melhor entender a diferença entre
os brilhos.

3.8 Densidade ou Massa Específica

Os minerais formadores de rochas têm Gs entre 2,5 a 3,3. Abaixo uma


tabela com alguns valores característicos.

Mineral 𝑮𝒔 Mineral 𝑮𝒔
Anidrita 2,9 – 3,0 Halita 2,1 – 2,6
Atapulgita 2,30 Halosita 2,55
Barita 4,3 – 4,6 Ilita 2,6 – 3,0
Biotita 2,8 – 3,1 Magnetita 4,4 – 5,2
Calcedônia 2,6 – 2,64 Montmorilonita 2,74 – 2,78
Calcita 2,7 Muscovita 2,7 – 3,0
Caulinita 2,61 – 2,64 Olivina 3,2 – 3,6
Clorita 2,6 – 3,0 Pirita 4,9 – 5,2
Dolomita 2,8 – 3,1 Pirofilita 2,84
Feldspato-K 2,5 – 2,6 Piroxênio 3,2 – 3,6
Feldspato Na-Ca 2,6 – 2,8 Quartzo 2,65
Galena 7,4 – 7,6 Serpentita 2,2 – 2,7
Gesso 2,3 – 2,4

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*OBS: O Gs (Densidade Real dos Grãos) é uma grandeza


adimensional, pois se trata da razão da massa específica do mineral com a
da água:

𝑔
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑜 𝑚𝑖𝑛𝑒𝑟𝑎𝑙 ( )
𝑐𝑚3
𝐺𝑠 = 𝑔.
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎 á𝑔𝑢𝑎 (=1,000 3 )
𝑐𝑚

CARACTERÍSTICAS MICROSCÓPICAS:

Caso se deseje realmente determinar com absoluta certeza de qual


mineral se trata, é necessário utilizar algum método microscópico para tal.
Normalmente, esses métodos são embasados na comparação dos resultados
obtidos com um banco de dados de minerais já identificados. Os mais
utilizados são:

Microscopia de Luz Polarizada: Índice de refração e birrefringência do


mineral.

Difratometria de Raio-X: o fenômeno da difração permite medir as


distâncias entre planos de átomos.

MEV: o mineral é varrido por um feixe de elétrons.

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IV.PETROLOGIA

1. CICLO DAS ROCHAS E SOLOS

Rochas e solos estão em constante transformação. A rocha precursora


de todas as outras é a ÍGNEA, produto da solidificação do magma. As rochas
SEDIMENTARES são resultado da LITIFICAÇÃO de sedimentos (partículas
de solo, pedaços de rochas, conchas, etc) depositados em BACIAS
SEDIMENTARES. As rochas METAMÓRFICAS, por sua vez, são resultado do
processo de METAMORFISMO tanto das rochas ígneas, quanto das
sedimentares, quanto das próprias metamórficas. O SOLO é resultado do
processo de intemperização de qualquer uma dessas rochas. TODAS AS
ROCHAS podem sofrer FUSÃO, retornando ao estado de MAGMA, fechando
o círculo.

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2. ROCHAS ÍGNEAS (MAGMÁTICAS OU ERUPTIVAS)

CONCEITO

São precursoras de outras rochas e formam 90% do volume da crosta


terrestre. Possuem alta resistência mecânica e sua composição é intimamente
ligada à composição do magma de origem.

O magma entre 700 e 1200 graus celsius, possui três fases: líquida
(rocha fundida), sólida (minerais consolidados) e gasosa (voláteis dissolvidos
– H2O, CO2, CH4 e SO4).

COMPOSIÇÃO DO MAGMA

A composição do magma é majoritariamente silicática (≥40% em


qualquer tipo de magma). Há magmas carbonáticos e sulfetados, mas são
raros. São classificados pela porcentagem em PESO de SiO2 (acidez – NÃO
RELACIONADA AO pH):

• Ultrabásicos: Peridotitos, SiO2 < 45%;


• Básicos: Basálticos, 45%<SiO2<52%;
• Intermediários: Andesitos, 52%<SiO2<66%;
• Ácidos: Riolíticos e Graníticos, SiO2>66%.

A quantidade de SiO2 afeta também a viscosidade do magma. Quanto


mais ácido, mais viscoso, ou seja, menores as distâncias que esse magma
pode percorrer antes de se solidificar e mais íngremes as paredes dos cones
dos vulcões. Magmas ácidos normalmente entopem as cavidades dos

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vulcões, o que pode gerar explosões que aumentam o poder destrutivo destas
atividades.

Por outro lado, quanto menos SiO2, menos viscoso e mais abatidas as
paredes dos vulcões. Existem derramamentos basálticos que alcançam
centenas de km (bacia do Paraná).

CRISTALIZAÇÃO DOS MINERAIS

Os minerais não cristalizam do magma todos ao mesmo tempo. Alguns


dependem da cristalização prévia de outros (processo que modifica a
composição do magma restante) e da diminuição da temperatura, para serem
extraídos.

SÉRIE DE REAÇÃO DE BOWEN

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• Descontínua: o mineral anterior reage com o líquido residual magmático,


formando um mineral diferente.
• Contínua: a alteração gradual de íons não altera a estrutura interna.

ANTES DE SEGUIR ADIANTE: Diferença entre textura e estrutura:

Textura: forma, tamanho e arranjo entre os grãos constituintes da rocha, nas


relações de contato. Fina, Média, Grossa.

Estrutura: conjunto de caracteres que exprime descontinuidade ou variação


na textura. Pode ser maciça ou orientada (ver adiante).

LOCAL DE FORMAÇÃO E TEXTURA

As rochas ígneas podem ser INTRUSIVAS (PLUTÔNICAS) ou


EXTRUSIVAS (VULCÂNICAS). As intrusivas foram aquelas consolidadas no
interior da crosta, num resfriamento lento do magma que pode tomar alguns
anos (ou alguns milhares de anos). Por conta da DIFUSÃO, os minerais
conseguem se formar em dimensões visíveis a olho nu (textura FANERÍTICA).

Já as rochas extrusivas foram consolidadas no exterior da crosta


rapidamente, ao magma entrar em contato com a atmosfera. Não há tempo
hábil para os minerais se agruparem em tamanhos maiores, logo, não são
distinguíveis a olho nu (textura AFANÍTICA).

A Obsidiana (vidro vulcânico) se forma pela consolidação muito rápida


do magma na parte superior das bordas dos derrames, o que gera a ausência
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da estrutura cristalina e textura VÍTREA. É, por vezes, considerada rocha, por


vezes mineralóide.

Os tufos ou tufitos são rochas advindas da litificação de cinzas e poeiras


vulcânicas. São ígneas-sedimentares.

Há ainda os tipos de ocorrência de rochas ígneas chamados Dique, Sill,


Batólito e Stock (ver slides).

ESTRUTURA

• Maciça: quando se consolidam em regimes livres de tensões.


• Corda: quando a parte “de dentro” permanece fluindo mesmo após
a solidificação externa.
• Tabulares: Camadas sucessivas de derramamentos, um por cima
do outro.

COR

• Leucocrática: rica em minerais claros.


• Mesocrática: Entre 30% e 60% de minerais escuros.
• Melanocrática: >60% de minerais escuros.

3. ROCHAS SEDIMENTARES

CONCEITO

Após a deposição dos SEDIMENTOS (partículas de areia, silte, argila,


conchas, fragmentos de rochas) em BACIAS SEDIMENTARES, estes passam
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por um conjunto de transformações físicas, químicas e biológicas chamado


DIAGÊNESE. A diagênese começa no final da deposição e prossegue
indefinidamente, nem sempre levando o depósito à LITIFICAÇÃO. Quando
sim, formam as ROCHAS SEDIMENTARES. Durante a diagênese, as rochas
sedimentares não são submetidas a temperaturas ou pressões especialmente
altas (até 65°C), o que reflete na aparência física e constituição mineralógica.

Os principais processos diagenéticos são descritos a seguir.

COMPACTAÇÃO MECÂNICA

Se dá pela REDUÇÃO DA POROSIDADE ou quebra e deformação de


grãos individuais.

• Rochas Arenáceas:

Os sedimentos granulares (têm formatos de grãos praticamente


tridimensionais) podem passar de um arranjo cúbico (baixa energia
de deposição, n = porosidade = 47,6%) para um arranjo romboédrico
(alta energia de deposição, n = 26%).

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• Rochas Lutáceas (argilas):


As partículas de argila têm formato de folha de papel, com duas
dimensões significativamente maiores que a terceira. Essas
dimensões são da ordem de décimos de milímetros. Esse fato
modifica a relação da partícula de argila com a água.
Antes do adensamento, n pode ter valores de até 70%. Com
adensamento n = 15%.

Ou seja, a compactação de rochas lutáceas (n=15%) é mais eficiente do


que rochas arenáceas (n=26%). Mesmo assim, rochas sedimentares
costumam ter porosidades maiores (até 90%) que rochas ígneas (exceto
púmice – a pedra pomes) e metamórficas (até 2% em condições normais e
sem processo acentuado de intemperização).

Sob alta pressão, grãos rígidos, como o quartzo, quebram; grãos mais
flexíveis, como o feldspato, se acomodam. Micas (extremamente flexíveis),
acomodam-se aos grãos mais rígidos, envolvendo-os.

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DISSOLUÇÃO E COMPACTAÇÃO QUÍMICA

Ocorre pela PERCOLAÇÃO* DE SOLUÇÕES PÓS-DEPOSICIONAIS


NOS VAZIOS do depósito. Os minerais mais suscetíveis à dissolução são:
olivina, piroxênios, anfibólios e feldspatos (quimicamente instáveis).

Sob pressão, ocorre a COMPACTAÇÃO QUÍMICA quando a dissolução


altera a morfologia de contato dos grãos.

*OBS: Percolação é o nome que se dá ao fluxo em um meio poroso.

CIMENTAÇÃO

PRECIPITAÇÃO QUÍMICA de minerais a partir de íons em solução na


água intersticial. Ocorre em conjunto com a dissolução. Pode ocorrer de forma
heterogênea na rocha, a depender da composição, porosidade, etc, dando
origem a nódulos e concreções.

Os cimentos mais comuns são: silicosos (quartzo, opala), carbonáticos


(calcita, siderita), férricos e ferrosos (pirita e hematita) e aluminossilicatos
(argilominerais).

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RECRISTALIZAÇÃO DIAGENÉTICA

Modificação da mineralogia e na estrutura cristalina da matriz sedimentar


pela ação de soluções intersticiais em condições de soterramento. Pode ser
dada por:

• Neomorfismo: não há alteração na composição química, somente


na estrutura cristalina. Um mineral se dissolve, mas se precipita
com outra estrutura, dando origem a outro mineral. Ex: Aragonita
se transforma em Calcita.
• Substituição: Mudança drástica na composição química que ocorre
quando dois minerais têm comportamentos geoquímicos
diametralmente opostos: a dissolução de um ocorre em condições
química favoráveis à precipitação do outro. Carbonatos se
transformam em sílica e vice-versa.

Todos esses processos podem ocorrer simultaneamente numa mesma


bacia sedimentar. A depende de quais processos predominaram, a rocha
sedimentar pode apresentar texturas e estruturas diferenciadas.

TEXTURA E ESTRUTURA

Podem ter textura CLÁSTICA (predominância de processos mecânicos)


ou NÃO-CLÁSTICA (QUÍMICA ou cristalina – são aquelas onde predominam
processos químicos como compactação química, dissolução e precipitação).
As primeiras podem ser classificadas segundo o diâmetro dos sedimentos
clásticos (sólidos), como: Macroclástica (matacões, calhaus e seixos),
Mesoclástica (areias) e Microclástica (siltes e argilas).

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Outras texturas são: amorfas (material muito fino depositado por


precipitação química – muito densas), oolíticas (grãos concrecionários) e
bioclásticas (formada por sedimentos orgânicos).

Sua estrutura geralmente é ESTRATIFICADA, devido às acumulações


acamadas de sedimentos, podendo também ser maciça ou conglomerada
(formada quando os sedimentos são pedaços de rochas de tamanho de mão).
A estratificação é evidenciada por mudança na cor dos sedimentos, tamanho
das partículas ou composição mineral que definem os planos de estratificação.
Contudo, muitas rochas sedimentarem não apresentar essa mudança
característica nas cores dos minerais, logo, deve-se analisar a estrutura para
além da coloração. Normalmente a estratificação é paralela à superfície, pois
partículas sedimentam pela gravidade (não têm como sedimentar
inclinadamente).

4. ROCHAS METAMÓRFICAS

CONCEITO

São rochas originadas de outras rochas pré-existentes (PROTOLITOS)


em face das transformações por METAMORFISMO, um conjunto de
transformações na estrutura, textura, composição mineralógica e/ou química,
condicionado pelos fatores a seguir.

a) Natureza do Protolito

A composição mineralógica, a estrutura e textura do protolito são


determinantes para o desenvolvimento da rocha metamórfica. Em rochas
sedimentares, o metamorfismo é mais eficiente devido à alta quantidade de
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poros, que facilita a percolação d’água; logo, as transformações mineralógicas


e texturais ocorrem homogeneamente por todo o corpo. Em rochas ígneas e
metamórficas, como são maciças, o metamorfismo é menos eficiente e
condiciona o aparecimento de núcleos preservados de protolito (alterações
heterogêneas).

Protolitos diferentes geram rochas metamórficas diferentes.

b) Temperatura

A condução térmica, apesar da baixa eficiência, é a principal responsável


pela distribuição do calor nos terrenos metamórficos. O metamorfismo ocorre
em T≤ 1000°C (a depender da pressão); acima disso, ocorre a FUSÃO da
rocha (ela não mais se metamorfiza, mas se transforma em magma e, quando
solidificada, é classificada como ígnea).

c) Pressão

Pode ser LITOSTÁTICA (igual em todas as direções e dependente da


profundidade) ou DIRIGIDA (tensão desviadora), responsável por criar
estruturas orientadas e/ou torcidas (veremos essas estruturas na aula
seguinte).

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d) Fluidos

Aceleram o metamorfismo (dissolução, precipitação e substituição) e


muda de composição constantemente no processo devido aos processos
químicos. Quando a pressão do fluido é maior que a pressão litostática, ocorre
o faturamento hidráulico e perda de minerais dissolvidos (formação de veios).

e) Tempo

De difícil aferição, pois enquanto algumas rochas “registram” todo o


processo de metamorfismo, outras só registram a última transformação, ou a
mais intensa.

OBS: TODAS as rochas podem sofrer metamorfismo, inclusive as


metamórficas.

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TIPOS DE METAMORFISMO (conhecimento acessório)

a) Regional:

Ocorre em Zonas de Subducção e Zonas de Colisão Continental


Convergente. Nas primeiras, ao mesmo tempo há regiões de altas
temperaturas e baixas pressões e regiões de baixas temperaturas e altas
pressões. Nas segundas, com enrugamento das placas e seu empilhamento
(choque), há aumento de pressão e temperatura, os protolitos são altamente
deformados (dobrados e falhados). As rochas resultantes geralmente
apresentam estrutura foliada.

b) Hidrotermal:

Alto fluxo térmico nos poros das rochas por convecção. Ocorre em Zonas
de Fundo Oceânico (Dorsais Meso-oceânicas).

c) Cataclástico:

Ocorre em Zonas de Cisalhamento, sob pressões dirigidas de grande


intensidade. Reduz a granulação das rochas por processos mecânicos e
químicos sob alta pressão (COMINUIÇÃO).

d) Soterramento:

Ocorre em partes profundas de bacias sedimentares. Prevalece a


pressão litostática; a dirigida é ausente ou insuficiente. Causa sutil foliação
horizontal paralela com orientação de micas. Preserva a textura e estrutura do
protolito. É um metamorfismo fraco.

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e) Impacto:

Ocorre em decorrência das altas temperaturas e pressões causadas por


impactos de meteoritos. É local.

TEXTURA

A textura de rochas metamórficas é aferida por meio de microscópico


eletrônico, muito dificilmente consegue-se identificá-la a olho nu. Muitas
rochas metamórficas exibem orientação de minerais (mas nem todas). As
texturas mais comuns são:

• Granoblástica: arranjo
desordenado, sem orientação
preferencial.

• Lepidoblástica: predomínio
de minerais micáceos
orientados.

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• Nematoblástica: minerais
prismáticos orientados

• Porfiroblástica: presença de
grandes cristais (pórfiros)
desenvolvidos em uma massa de
cristais menores.

ESTRUTURA

• Maciça: rochas geradas sem atuação de pressões dirigidas


(Mármore).
• Laminada ou Foliada: orientação ou paralelismo dos minerais que
pode resultar em clivagem:
o Bandeada: É um tipo de foliação onde há alternância de
faixas de coloração diferentes. Indica alto grau de
metamorfismo. Também chamada de Estrutura Gnáissica
(Gnaisse).
o Xistosa: Arranjo paralelo de lamelas de micas ou outros
minerais tabulares, produzindo uma partição levemente
ondulada da rocha (Xisto).

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NO CAPÍTULO SEGUINTE, VEREMOS COM MAIS DETALHES A


FORMAÇÃO DESSAS ESTRUTURAS.

5. PASSO-A-PASSO PARA RECONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO DAS


ROCHAS

Para um correto reconhecimento, ou ao menos, direcionamento de qual


tipo de rocha se está lidando, é necessário:

1 – Saber onde a amostra foi coletada e cotejar com mapas geológicos


e predominância de rochas na região;

2 – Observar com cautela a rocha e anotar TODAS as características


que podem ser vistas a olho nu.

2.1 – Cores predominantes: claras ou escuras?

2.2 – Estrutura: Maciça ou Orientada? Que tipo de orientação se


observa: estratificação (plana horizontal), bandeamento, xistosidade? Se
observam estruturas geológicas como dobras, clivagem, milonitos?

2.2 – Qual a sua textura e granulometria?

2.3 – Quais os minerais são identificados? Alguns minerais são


característicos de rochas metamórficas (cianita, granada, clorita, serpentita,
talco, etc). A Rocha é macia (riscável pelo canivete) ou dura (não riscável pelo
canivete)?

A partir daí, pode-se consultar a Tabela IAEG (SLIDES) ou a Chave para


reconhecimento de rochas (PDF).

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V.ESTRUTURAS GEOLÓGICAS (OU DESCONTINUIDADES)

1. CONCEITO

A bibliografia descreve descontinuidades como um termo geral para


qualquer interrupção na continuidade mecânica no maciço rochoso, que tenha
pouca ou nenhuma resistência à tração perpendicularmente ao plano destas.
Tais descontinuidades podem se manifestar como: microfissuras, fissuras,
juntas, planos de acamamento (estratificação de rochas sedimentares),
horizontes preferenciais de alteração de rocha, planos de laminação e foliação
(como xistosidade), dobras, zonas de fraqueza e cisalhamento, fraturas,
falhas, fendas de tração, veios e diques, batólitos e sills.

VER SLIDES PARA EXEMPLIFICAÇÃO DESSAS


DESCONTINUIDADES.

Todas as rochas possuem descontinuidades e seu estudo é de extrema


importância em projetos de rochas, pois, muitas vezes, são elas que regem as
propriedades de resistência, deformabilidade e fluxo do maciço como um todo,
principalmente em baixas tensões de confinamento, onde raramente haverá
ruptura da rocha intacta. A existência de descontinuidades aumenta a
permeabilidade no seu plano, diminui sua resistência ao cisalhamento, torna
a resistência à tração nula perpendicularmente a elas, aumenta
deformabilidade e compressibilidade do maciço como um todo; logo, devem
ser tratadas como planos de fraqueza.

As ESTRUTURAS GEOLÓGICAS, como um todo, são resultado dos


processos de deformação da litosfera. Suas origens podem ser diversas:
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desde solicitações mecânicas e térmicas sobre o maciço ao longo de sua


criação e história até mesmo da ação humana, resultados do desmonte do
maciço com fogo descuidado e do reajuste das tensões do maciço devido à
abertura da obra.

Basicamente, a origem dessas descontinuidades naturais se divide em:


Deformações Rúpteis/Frágeis e Deformações Dúcteis.

OBS: O que é um comportamento Rúptil/Frágil ou Dúctil?

A rigor, quando solicitamos um material (à tração, à compressão ou


ao cisalhamento) podemos dividir os materiais entre aqueles que:

(i) Se deformam muito antes de romper: DÚCTEIS (exemplo,


borracha)
(ii) Se deformam pouco antes de romper: FRÁGEIS (exemplo:
ferro fundido ou porcelana).

Perceba que a fragilidade ou ductilidade do material NÃO ESTÁ


RELACIONADA À SUA RESISTÊNCIA, que pode ser a mesma em
ambos os casos, mas sim ÀS SUAS DEFORMAÇÕES até a ruptura!

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E a rocha? É Frágil ou Dúctil?

AMBAS! O comportamento da rocha (rúptil ou dúctil) depende da


pressão de confinamento (profundidade de soterramento) e da temperatura
ambiente!

Ou seja, rochas que não estão soterradas (estão superficiais) e/ou estão
à temperatura ambiente, vão se deformar de maneira frágil, como um vidro ou
porcelana (se deformam muito pouco antes de romper). Já rochas que estão
em grandes profundidades e/ou sob altas temperaturas, vão se deformar de
maneira dúctil, como um metal aquecido quase à temperatura de fusão, em
estado plástico.

À essas condições (confinamento e temperatura) chamamos de


DOMÍNIO. Sendo bastante generalista, podemos separar as descontinuidades
segundo dois grandes principais domínios de deformação. No domínio de
deformações RÚPTIL/SUPERFICIAL, formam-se FALHAS E FRATURAS. No
domínio de deformações DÚCTIL/PROFUNDO, formando DOBRAS E
FOLIAÇÕES.

2. DOMÍNIO RÚPTIL DE DEFORMAÇÕES

No Domínio Rúptil, a rocha irá se deformar por fraturamento quando sua


resistência à ruptura for excedida. Na maioria dos casos, há perda ou redução
significativa de coesão entre as partes que antes estavam juntas.

As fraturas podem ocorrer por cisalhamento, flexura, compressão (de


fechamento ou de contração), descompressão (de alívio ou esfoliação),
variações térmicas, etc, podem ter sofrido deslocamento ou não, estarem
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preenchidas ou não. Os nomes podem se confundir entre fissuras, fraturas,


juntas, veios e falhas. Para evitar confusão, foi feito o fluxograma abaixo para
definir a melhor maneira de chamar a sua fratura.

FLUXOGRAMA DE NOMENCLATURA*

FRATURA

Houve movimentação das partes?

Sim Não

Fratura Fissura

Essa movimentação foi perpendicular às partes?

Sim Não

Junta Fratura

Esta junta esta preenchida? Movimento > metro?

Sim Não Sim Não

Veio Junta Falhas Fraturas

*Diverge com a bibliografia. Analisar contexto!

As JUNTAS são bastante comuns e importantes, pois diminuem a


resistência das rochas e são condutos para os fluidos. Em profundidade, pode
ocorrer o fraturamento por pressão de fluidos (fraturamento hidráulico – assim
como em solos, em rochas há circulação de fluidos pelos seus poros). Esse
fluido pode conter minerais dissolvidos. Caso esses minerais dissolvidos
precipitem nas juntas, elas passam a se chamar VEIOS.

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Uma FALHA pode ser:

Normal Inversa Transcorrente

OBS: CAPA é a parte que se movimenta; LAPA, a que permanece


estática.

As falhas normal e inversa podem parecer a mesma coisa, num


primeiro olhar, mas são bastante distintas. Na falha normal, as duas metades
tendem a se separar, como se estivessem sendo tracionadas em sentidos
inversos. Já na falha inversa, uma das partes é empurrada sobre a segunda e
acaba “montando” nesta.

Duas maneiras de distinguir entre Normal e Inversa são:

1 – Com sondagens: Ao se realizarem sondagens em diferentes pontos


e, por meio da datação das camadas ou mineralogia presente nas camadas,
é possível identificar a posição relativa entre as camadas que deveriam estar
no mesmo nível.

Realizando a sondagem exatamente no plano de falha (ponto C do


desenho a seguir): a AUSÊNCIA de camadas é indício de FALHA NORMAL;
a REPETIÇÃO de camadas é indício de FALHA INVERSA (veja o desenho
acima para compreender melhor a falha inversa).

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2 – Analisando cataclasitos: Cataclasito é o nome que minerais recebem


após serem alongados por conta do deslocamento entre camadas, como se
você pegasse uma bola de tinta e rolasse sobre um plano (ver figura abaixo).
Indicam para que lado ocorreu a movimentação. Analisando esse
alongamento de minerais, é possível determinar em que sentido houve o
movimento.

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3. DOMÍNIO DÚCTIL DE DEFORMAÇÕES

A formação de DOBRAS se dá quando estruturas inicialmente planas se


transformam em estruturas curvas por deformação dúctil, e é ligada à prévia
existência de uma superfície anterior com Estratigrafia (Sedimentação) ou
Foliação (Metamórfica).

Podem ser formadas por esforços tectônicos ou atectônicos.

Tectônicos: (a) Flambagem (dobramento ativo), é necessário contraste de


viscosidade entre a camada dobrada e a matriz. São comumente
arredondadas, paralelas e com forma senoidal; (b) Cisalhamento (dobramento
passivo). São encontradas, em particular, em rochas monominerálicas
(quartzito, mármore e sal); (c) Flexura, como deposições de sedimentos em
cima de uma falha que pode vir a se reativar

Atectônicos: Flexura (dobras forçadas), exemplos: deposição diferencial em


cima de diápiros (curvas suaves); (d) intrusão forçada de magma pode dobrar
camadas sobrejacentes.

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Podem ser descritas por conceitos matemáticos como amplitude (a) e


comprimento de onda (λ), de dimensões variáveis (cm à km), e classificadas
com base em sua geometria e orientação (abertura das dobras, mergulho dos
flancos, posição da camada mais jovem, etc): normal, recumbente, vertical,
etc – VER SLIDES PARA MAIS DETALHES.

FOLIAÇÕES são feições lineares ou planares características de rochas


metamórficas, como xistos e ardósias. É a propriedade pela qual as rochas se
partem em fatias ou lâminas paralelas ou subparalelas. Não podem ser falhas,
fraturas ou juntas, pois devem ter coesão. Contudo, a foliação também
costuma desempenhar papel de plano preferencial de ruptura.

É muito importante entender que as foliações são produtos do


metamorfismo. Quando se submete um material a temperaturas e pressões
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diferentes da que ele foi formado, esse material pode mudar seu estado, sua
estrutura cristalina e seus átomos podem se rearranjar em moléculas
diferentes daquelas de origem. É assim que minerais diferentes “surgem” e se
alinham nesse processo de metamorfismo (estudaram diagrama de fases em
Materiais? É este princípio).

Variações das foliações podem ser encontradas em todas as rochas


metamórficas, dependendo do grau metamórfico a que foram submetidas, e
estão descritas a seguir:

Lineação: são feições lineares compostas por minerais, agregados minerais


e/ou seixos alongados. As mais importantes são: lineação de estiramento –
elongação de minerais ou agregados pela deformação, e lineação mineral –
delineada pela orientação de minerais gerados de forma alongada durante o
processo deformativo (recristralização e dissolução/precipitação de minerais).

Clivagem ardosiana: ocorre em rochas metamórficas de grau incipiente a


muito baixo (ardósia e xisto verde) e gnaisses micáceos. Ocorre sob baixas
temperaturas. Dificilmente percebida a vista desarmada.

Xistosidade: Ocorre em temperaturas mais elevadas (>350°C), há


concentração e reorientação paralela de minerais micáceos. Junto com a
clivagem, representam planos de fácil separação.

Bandamento: Segregação em camadas alternadas de minerais máficos e


félsicos. Alto grau de metamorfismo. Não representam planos de fácil
separação.

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4. OUTRAS DESCONTINUIDADES

Acamamento (estratigrafia): Como já visto na aula anterior, rochas


sedimentares são formadas a partir da deposição de sedimentos em camadas
e os planos de separação dos diferentes estratos apresentam propriedades
físicas distintas. Esses planos de acamamento ou estratigrafia são
normalmente paralelos e concordantes uns com os outros e podem se
estender por grandes áreas. Movimentos ao longo dos planos de acamamento
(tectonismo, por exemplo) dão origem a zonas de fraqueza extremamente
importantes.

Diques/Batólitos/Sills: São estruturas formadas por rochas ígneas que se


consolidam (solidificam) no meio de rochas que já existiam ali, ou seja, elas
se encaixam em rochas pré-existentes. As rochas encaixantes são
frequentemente afetadas pela temperatura desse magma e podem ter suas
propriedades de resistência mecânica e propensão ao intemperismo
alteradas. Além disso, o contato entre rocha encaixante e as novas rochas
ígneas facilita o ingresso ou movimentação de água superficial ou fluidos que
existem nos poros da rocha, se tornando planos preferenciais de fluxos que
podem levar a uma profunda alteração da rocha.

5. CARACTERÍZAÇÃO DE DESCONTINUIDADES

Pode-se caracterizar uma descontinuidade por seus parâmetros


geométricos e mecânicos. O ISRM determinou a descrição de dez parâmetros,
sendo eles (Figura V.1): orientação (C – mergulho, direção e direção do
mergulho), espaçamento (D), persistência (E), rugosidade (F), resistência das
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paredes (G), abertura (I), se há ou não preenchimento desta abertura (J),


condições de percolação (K), número de famílias (L) e tamanho dos blocos
(M). Pio Fiori (2015) também cita o grau de alteração da rocha (H) como fator
importante, além dos fatores geológicos (A) como a mineralogia, textura,
granulometria e material cimentante destas juntas.

Preenchimento

Família de
descontinuidades

Resistência
Rugosidade
das
paredes

Espaçamento SONDAGEM OU TRENA

Abertura

Percolação

Figura V.1 – Caracterização das descontinuidades (ADAPTADO DE nunes, 2009).

ORIENTAÇÃO

A orientação de uma descontinuidade pode ser descrita por meio de três


ângulos: mergulho, direção e direção do mergulho (Figura V.2).

Direção
do
mergulho

Direção

Figura V.2 - Orientação da descontinuidade.

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O mergulho é o ângulo que o plano da descontinuidade faz com o plano


horizontal. A direção é o azimute (ângulo com o norte geográfico) da crista do
talude. A direção do mergulho indica para que lado desta crista se dá o
mergulho, e sempre é igual à direção mais 90°.

A orientação é a característica mais importante de uma descontinuidade,


pois tem papel fundamental na estabilidade das obras. Na figura abaixo, fica
clara a influência da direção do mergulho. A descontinuidade vermelha é
desfavorável à estabilidade deste talude, pois condiciona a movimentação da
cunha de rocha potencialmente instável para fora deste talude. Caso essa
descontinuidade tivesse direção do mergulho inversa (linha azul), esta
descontinuidade seria considerada favorável, pois uma possível
movimentação não acarretaria a ruptura do talude.

ESPAÇAMENTO

O espaçamento entre descontinuidades é a distância perpendicular


entre as descontinuidades adjacentes e refere-se a uma família de
descontinuidades (ou seja, não é um parâmetro válido para descontinuidades
avulsas ou aleatórias, somente para aquelas que se repetem em um padrão).

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A classificação do espaçamento de descontinuidades de mesma família


se dá por meio da tabela abaixo.

Descrição da descontinuidade Espaçamento (mm)


Extremamente pouco espaçada < 20
Muito pouco espaçada 20 – 60
Pouco espaçada 60 – 200
Moderadamente espaçada 200 – 600
Espaçada 600 – 2000
Muito espaçada 2000 – 6000
Extremamente espaçada > 6000

PERSISTÊNCIA

A persistência é o comprimento da descontinuidade. Sua classificação


se dá por meio da tabela abaixo.

Grau de Comprimento da
Persistência descontinuidade (m)
Muito baixa <1
Baixa 1–3
Média 3 – 10
Alta 10 – 20
Muito alta > 20

Infelizmente, a persistência é de difícil aferição, pois só se consegue


medir o comprimento aflorante na face do talude. Sondagens geofísicas talvez
sejam necessárias para uma melhor caracterização no interior do maciço.

RUGOSIDADE

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A rugosidade é uma característica de grande influência na resistência


ao cisalhamento do maciço, principalmente no caso de juntas não
preenchidas.

Sem dúvidas, é o parâmetro com a maior subjetividade na sua


determinação. Deve-se comparar uma extensão de dois metros de extensão
da descontinuidade com a figura abaixo.

RESISTÊNCIA DAS PAREDES

A resistência das paredes das descontinuidades é aferida com o Martelo


de Schmidt (mesmo instrumento utilizado na aferição da resistência de
paredes, vigas e pilares de concreto - esclerômetro) e normalmente é menor
que da rocha intacta devido ao provável processo de intemperização da face
exposta.

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ABERTURA

A abertura é a distância perpendicular entre as paredes da


descontinuidade. Sua classificação se dá por meio da tabela abaixo. É
importante ressaltar que quando esta descontinuidade está aberta e
preenchida, chama-se de largura o espaço entre as duas paredes internas.

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Abertura Descrição Grupo


< 0,01 mm Muito estreita
Feições
0,1 – 0,25 mm Estreita
fechadas
0,25 – 0,5 mm Parcialmente estreita
0,5 – 2,5 mm Aberta
Feições
2,5 – 10 mm Moderadamente aberta
entreabertas
> 10 mm Larga
1 – 10 cm Muito larga
Feições
10 – 100 cm Extremamente larga
abertas
>1m Cavernosa

PREENCHIMENTO

O material de preenchimento pode ter diferentes origens: produto de


intemperização do próprio maciço rochoso (solo residual); transportado de
outros locais por meio de água, vento ou gravidade; resultado de cominuição
por falhamento (esmigalhamento da rocha) ou cristalização de minerais antes
dissolvidos em água (precipitação).

A sua espessura, resistência e permeabilidade são de extrema


importância para o comportamento do maciço. No gráfico abaixo, exalta-se a
influência da espessura. Quanto mais delgado o preenchimento, maior a
contribuição do atrito rocha-rocha para a estabilidade do maciço, e maior a sua
resistência. Por outro lado, quanto mais espesso o preenchimento, menor esta
contribuição do atrito rocha-rocha. Num determinado momento, este
preenchimento é tão espesso que não mais há cisalhamento entre as paredes
de rocha (espessuras de 25-50% da amplitude da rugosidade já causam esse
efeito), mas sim apenas no meio da camada de solo.

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Sem
preenchimento

Preenchimento
delgado

Preenchimento
espesso

Figura V.3 - Influência da espessura do material de preenchimento (adaptado de Hoek e Bray, 1974).

CONDIÇÕES DE PERCOLAÇÃO

As condições de percolação são de mais direta e fácil compreensão. A


água sempre tende a fluir pelo caminho mais fácil. Tendo um maciço rochoso
composto de rocha sã e descontinuidades, a água prefere percorrer as
descontinuidades aos poros da rocha (muito pequenos).

Em relação ao material de preenchimento, quanto mais fino for, menor a


permeabilidade do maciço como um todo.

FAMILIAS DE DESCONTINUIDADES

É raro encontrar maciços com descontinuidades verdadeiramente


aleatórias; comumente elas vêm dispostas em famílias. Uma família de
descontinuidades corresponde a um grupo de descontinuidades que ocorrem
num arranjo paralelo ou semi-paralelo e que possuam características
semelhantes. As famílias usualmente se cruzam, delimitando blocos
poliédricos de rocha.

Além da caracterização da descontinuidade por si só, também pode-se


classificar as famílias de descontinuidades segundo as feições que fornecem

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ao maciço, como preconiza a tabela (VER SLIDES PARA FOTOS DESTAS


FEIÇÕES).

Maciço Rochoso Características dos blocos


Maciço Poucas juntas ou grande espaçamento
Em blocos Blocos aproximadamente equidimensionais
Tabular Uma dimensão bastante menor que as outras
Colunar Uma dimensão bastante maior que as outras
Irregular Grandes variações de tamanho e formato
Britado Extremamente fraturado

TAMANHO DOS BLOCOS

O tamanho dos blocos é determinado pelo número de famílias e


espaçamento das descontinuidades.

GRAU DE ALTERAÇÃO

Também de classificação muito subjetiva, a alteração da rocha modifica


a sua mineralogia. A rapidez e a distribuição com que ocorre dependem, entre
outros fatores, da porosidade da rocha sã e do número de descontinuidades
do maciço fresco.

O Grau de Alteração pode ser classificado segundo a tabela abaixo.

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Termo Descrição Grau


Rocha fresca Sem evidências de material de alteração. IA
Muito pouco alterada Descoloramento ao longo das maiores superfícies de IB
descontinuidades.
Pouco alterada Descoloramento indicando alteração da rocha e das II
descontinuidades. Todas as rochas apresentam-se descoloridas por
ação do intemperismo e podem estar um pouco enfraquecidas em
relação ao estado fresco.
Moderadamente alterada Menos da metade da rocha apresenta-se decomposta, formando III
solo. Rocha fresca ou descolorida ocorre sob a forma de corpos
relativamente contínuos ou em blocos.
Muito alterada Mais da metade da rocha apresenta-se decomposta, formando solo. IV
Rocha fresca ou descolorida ocorre sob a forma de corpos
relativamente contínuos ou em blocos.
Completamente alterada Toda a rocha está decomposta. A estrutura da rocha original ainda V
está presente em grande parte.
Solo residual Toda a rocha é convertida em solo. A estrutura e a textura da rocha VI
original estão destruídas. Há grande mudança no volume, mas o solo
não sofreu transporte significativo.

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VI.INTEMPERISMO

OBS: As aulas de intemperismo (VI) e das diferentes origens dos


solos (VII) se misturam bastante. O ideal é ler ambas de uma só vez e,
após, reler para melhor compreensão.

1. CONCEITO

O INTEMPERISMO é o conjunto de modificações de ordem FÍSICA


(desagregação) e QUÍMICA (decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar
na superfície da Terra. São produtos do intemperismo: rocha alterada (alterita
ou saprolito) e solo. Ao processo de intemperismo que resulta na formação de
solos, dá-se o nome de pedogênese. O sucessivo processo de intemperização
de uma rocha leva à formação de um PERFIL DE ALTERAÇÃO ou PERFIL
DE SOLO (figura abaixo). Se o solo permanece no local de origem, ou seja,
sobre a rocha-mãe, é chamado de SOLO RESIDUAL; se é transportado para
outro local, chama-se SOLO TRANSPORTADO (assunto da próxima aula).

Quanto mais distantes da rocha matriz neste perfil de alteração, mais


diferenciados os materiais se tornam em relação à esta, ou seja, eles vão
perdendo as características que lembram a rocha que os deu origem.

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A espessura do manto de alteração pode variar, a depender,


principalmente, do relevo e do clima (veremos com mais detalhes adiante).
Locais com temperaturas quentes e clima úmido resultam em mantos de
alteração mais espessos (solos tropicais); já locais com clima temperado
resultam em mantos de alteração mais delgados (solos de climas
temperados).

TODAS as rochas sofrem intemperismo, inclusive as sedimentares.

2. TIPOS E AGENTES DE INTEMPERISMO

2.1. Intemperismo Químico


Causa DECOMPOSIÇÃO dos minerais, alterando sua composição
química e sua estrutura cristalina.

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Que o intemperismo ocorre, vocês já sabem desde o ensino


fundamental. Agora... vocês já se perguntaram POR QUE o intemperismo
químico ocorre? POR QUE os minerais vão se modificando e se
transformando em outros?

As transformações químicas, em sua grande parte, são causadas por


DESEQUILÍBRIOS. Então, se os minerais estão se transformando
quimicamente, deve ser porque estavam em desequilíbrio químico.

E que desequilíbrio químico é esse? As rochas e os minerais parecem


bastante estáveis, não é?

Acontece que os minerais são formados, em sua grande maioria, em


condições de temperatura e pressão diferentes daquelas presentes na
superfície da Terra. Relembrem a Série de Bowen do capítulo de petrologia:

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Percebam que a Olivina (primeiro mineral da série) é cristalizada numa


temperatura de 1.200°C e o quartzo (último mineral da série) é cristalizado
numa temperatura de 600°C. Isso dá uma diferença de aproximadamente 550
a 1150°C da temperatura de formação para a temperatura na superfície da
crosta terrestre. Isso é uma baita diferença e causa um desequilíbrio nessas
moléculas, que se decompõe para tentarem recobrar esse equilíbrio.

Todas as ações do intemperismo químico ocorrem em


descontinuidades, ou seja, é uma ação de superfície.

O principal agente é a água de chuva que, quando em contato com o


CO2 da atmosfera ou presente em matéria orgânica em decomposição, torna-
se mais ácida e solubiliza minerais. As principais reações químicas que
ocorrem no processo de intemperismo são: Hidrólise, Acidólise, Dissolução,
Hidratação e Oxidação.

a) Hidrólise: ocorre em ambientes de 9>pH>5. O íon H+ da água


substitui os cátions K+ e Si+ dos silicatos, deixando-os livres. Neste processo,
ocorre a LATERIZAÇÃO (formação de hidróxidos de alumínio e óxidos e óxi-
hidróxidos de ferro), concedendo ao solo cor tipicamente castanha, roxa,
vermelha, vermelha, laranja e amarela.

b) Acidólise: ocorre em ambientes de pH<5, tanto cátions quanto


ânions entram em solução.
c) Dissolução: solubilização completa de todos os elementos. Ocorre
predominantemente em terrenos calcários, gerando cavernas e dolinas
(terrenos cársticos).

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d) Hidratação: As moléculas de água, polares, entram nas moléculas


dos minerais, modificando-as.
e) Oxidação: oxidação de cátions de Fe2+ em solução.

2.2. Intemperismo Físico


Causa DESAGREGAÇÃO e FRAGMENTAÇÃO das rochas em grãos
minerais antes coesos. Transforma a rocha em material descontínuo e friável
(que se fragmenta facilmente), mais suscetível ao intemperismo químico.

São exemplos:

1) Variação térmica: minerais diferentes possuem coeficientes de dilatação


térmica diferentes. Quando submetidos ao mesmo ΔT, eles expandem
ou contraem diferencialmente, gerando fissuras.
2) Mudança cíclica de umidade: análoga ao exemplo anterior, os minerais
possuem coeficientes de expansibilidade diferentes. Quando
submetidos a variações na umidade, expandem diferencialmente e
geram fissuras.
3) Congelamento de água nas fissuras: a água aumenta de volume quando
congelada. Se estiver dentro de uma fissura, esse congelamento afasta
ainda mais as paredes e propaga as fraturas.
4) Recristalização de minerais dissolvidos na água de infiltração nas
fissuras: minerais antes em solução, cristalizam nas fissuras,
aumentando a pressão entre as paredes das descontinuidades.
5) Fraturamento por alívio: também chamadas de fraturas por
desconfinamento. Algumas rochas foram formadas com altas tensões de
confinamento (altas tensões verticais). Com o processo de intemperismo
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e erosão, essa tensão vertical vai se dissipando. Contudo, as tensões


horizontais (que são produto das verticais), não se dissipam na mesma
velocidade, gerando um acúmulo de tensão horizontal que culmina no
faturamento desta rocha em planos paralelos à superfície.
6) Crescimento de raízes nas fissuras: apesar da sensação geral de que
as raízes das árvores atuam na estabilidade de encostas (o que é válido,
em caso de solos), em rochas, o crescimento das raízes das árvores
aumenta a pressão nas paredes das descontinuidades e propaga
fraturas.
7) Outros.
OBS: Vento não causa intemperismo físico, ele causa EROSÃO E
TRANSPORTE. O choque das partículas carregadas pelo vento, sim.

3. FATORES QUE INFLUENCIAM NO INTEMPERISMO

Rocha-mãe: A natureza dos minerais, textura e estrutura das rochas


influenciam na suscetibilidade ao intemperismo. A textura e estrutura
influenciam por disponibilizarem maior ou menor infiltração de água e mais ou
menos superfície de contato para que as reações ocorram (porosidade e
planos preferenciais de fluxo – lembram das descontinuidades?). Rochas
sedimentares são mais porosas que metamórficas e ígneas. Além disso, as
sedimentares ARENÁCEAS são mais permeáveis que as LUTÁCEAS.

Clima: Quanto maior a disponibilidade de água (ou seja, mais intenso o regime
pluvial) e quanto mais elevadas as temperaturas, mais rapidamente ocorrerão
as reações químicas do intemperismo. Ou seja, quanto mais tropical, mais

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intenso o intemperismo químico. Por outro lado, quanto mais temperado,


predomina o intemperismo físico.

OBS: Relação água-temperatura. A cada


ΔT=+10°C, a velocidade de intemperismo
cresce de 2 a 3 vezes, contudo essa razão não
é linear, pois com o aumento da temperatura,
aumenta também a taxa de evaporação da
água.

Relevo: Regula a velocidade de escoamento superficial da água, controlando


a quantidade de água infiltrada e o tempo que esta água permanece na rocha,
alterando-a. Além disso, também controla a velocidade de transporte de
partículas, influenciando diretamente na espessura do manto de alteração.
Contudo, nas baixadas, a água por já estar saturada de elementos
solubilizados, perde a capacidade de promover intemperismo químico. Nestes
locais, o manto de alteração também é menos espesso, mas a espessura de
solos SEDIMENTARES é grande.

Lembrem-se: perfil de alteração se trata do solo que foi formado em cima


daquela rocha-mãe e ali ficou (solo residual). Partículas carregadas pela
água ou vento não compõem manto de alteração, mas sim perfis de solos
sedimentares!

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Biosfera: matéria orgânica libera CO2 em sua decomposição, alterando o pH


da água de infiltração. Também atua com a alteração física dos maciços, seja
por animais cavando ninhos, crescimento de raízes nas fissuras ou ação
antrópica.

Tempo: Em condições pouco agressivas, é necessário um tempo maior de


exposição da rocha matriz às intempéries para criar a mesma espessura de
manto de alteração que em condições mais agressivas. A velocidade costuma
ser de 20 a 50 metros de perfil de alteração a cada milhão de anos, sendo 50
metros para climas mais agressivos e 20 metros para menos agressivos.

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VII.INTRODUÇÃO À MECÂNICA DOS SOLOS

1. ORIGEM, FORMAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA DOS SOLOS

Solos podem ser classificados de acordo com uma diversidade de


características. Primeiro vamos aprender a sua classificação GENÉTICA, ou
seja, sua classificação segundo sua origem.

Se o solo permanece no local de origem, ou seja, sobre a rocha-mãe, é


chamado de SOLO RESIDUAL. De acordo com a sua idade de formação ou
grau de intemperismo, pode ser classificado em JOVEM (SRJ ou Saprolito:
SAPROS=podre, LITO=rocha) ou MADURO (SRM).

Os SRJ podem guardar características da rocha mãe como cor, textura e


estruturas (bandamentos, veios, fissuras, fraturas – tudo que vimos na aula V).
São as chamadas ESTRUTURAS RELIQUIARES (veja slides para exemplos).
Apresentam granulometria heterogênea e anisotropia. Quanto mais Maduros
os SR, mais homogêneos e isotrópicos se tornam, perdendo aos poucos as
estruturas reliquiares.

ANTES DE SEGUIR ADIANTE: Diferença entre


homogeneidade/heterogeneidade e isotropia/anisotropia:

Homogeneidade: é a constância nas características do material no espaço


(qualquer característica). Ou seja, se você analisar diferentes pontos do
mesmo material, observará exatamente as mesmas características em
ambos. Se o material for heterogêneo, as características variarão com o
ponto analisado.

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Isotropia: é a constância da resposta mecânica do material com a direção em


que foi solicitado. Por exemplo, se você comprime um material na direção Y
com uma tensão A, ele terá uma deformação de um valor B%. Se você
comprimir este mesmo material na direção X com uma tensão A e ele
também deformar B%, este material é isotrópico. Se a deformação dele em X
for diferente de em Y, mesmo tendo sido comprimido com a mesma tensão
de Y, este material é anisotrópico, ou seja, as respostas variam de acordo
com a direção que você solicita.

O solo, após formado por intemperismo, também pode ser


TRANSPORTADO, sendo nomeado de acordo com seu agente de transporte.

AGENTE NOME
Vento Eólico
Marinho
Água Aluvionar (Rios)
Glacial
Coluvionar (sem blocos)
Gravidade
Tálus (com blocos)
Solos eólicos e aluvionares sofrem SEGREGAÇÃO (separação por
granulometria) de acordo com a velocidade do agente de transporte. Quanto
mais veloz o agente, maiores as partículas transportadas (força de arraste
deve superar o peso) e menor a capacidade das menores mais leves se
depositarem (elas não conseguem, pois não têm peso suficiente e vão sendo
carregadas até a velocidade diminuir).

Isso pode ser observado nos perfis de rios. Abaixo, um perfil longitudinal,
ou seja, ao longo do caminho que o rio percorre.
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Inclinações Altas Inclinações Médias Inclinações Baixas


Solos Granulares Solos Granulares Areais Finas,
Grosseiros Médios e Finos Silte e Argila

No começo do seu percurso, as altas inclinações do terreno geram altas


velocidades de escoamento da água. Assim, só as partículas mais grosseiras
têm peso suficiente para se depositarem (pedregulhos e areias grossas). Com
a diminuição da inclinação, diminui também a velocidade de escoamento da
água e o diâmetro das partículas do solo que se depositam ali (areias médias
e finas). Ao chegar na sua área de deposição (lagos, mangues, etc), a
inclinação do leito do rio já está bastante baixa e sua velocidade é quase nula,
permitindo a deposição de partículas muito fininhas (como siltes e argilas).

Abaixo, vê-se um perfil longitudinal do canal do rio, onde a mesma lógica


se aplica. A área de várzea é a área ocupada pelo rio na época de cheias e
enchentes. É comum, após uma enchente, ver imagens nos noticiários das
pessoas varrendo e lavando a “lama” (argila) para fora de suas casas. Isso
acontece, porque a área de várzea é tão maior que a calha do rio que a sua
velocidade de escoamento é muito baixa e permite a deposição de partículas
muito finas.

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Solos marinhos e argilas sedimentares costumam apresentar


ESTRATIFICAÇÃO, devido à diferença no momento de deposição das
camadas.

Solos transportados pela gravidade comumente sofrem


EMPOLAMENTO, que é o aumento do volume de ar na estrutura do solo. Ou
seja, quando um solo rompe e rola encosta abaixo, ele vai se aerando com o
movimento. Ao se depositar no pé desta encosta, o seu volume total agora é
maior do que o inicial devido a esse processo de aeramento (empolamento).

Os solos glaciais podem ser ALTAMENTE SENSÍVEIS, ou seja, perdem


muita resistência com um pouco de deformação. Existe no campus virtual um
vídeo de um documentário sobre um evento famoso que aconteceu na cidade
de Rissa – Noruega, onde há forte presença de solos glaciais.

Estes solos foram formados em ambientes salinos (marinhos). O sal


garante uma maior estabilidade de solos argilosos, pois aumenta a atração
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entre suas partículas. Contudo, com o passar dos anos (geológicos), este sal
vai aos poucos sendo “lavado” da estrutura do solo, deixando as ligações entre
suas partículas mais fracas. Ao se solicitar este solo enfraquecido, ele
rapidamente perde resistência e rompe. Sua ruptura pode gerar catástrofes
como a do documentário.

Em 2020, aconteceu outro evento similar na Noruega, que pode ser visto
nesse link:

https://twitter.com/JanFredrikD/status/1268270255509512193

Ver slides para exemplos dos solos .

2. SOLOS LATERÍTICOS E SOLOS ORGÂNICOS

Solos lateríticos e orgânicos não se enquadram muito bem na


classificação genética, pois são produtos das transformações que estes solos
podem sofrer, por isso, normalmente são apresentados à parte dos Solos
Residuais e Solos Transportados.

Solos tropicais sofrem processo de laterização: lixiviação + oxidação


(formação de óxidos e hidróxidos, que causa cimentação de partículas de
argila e silte em grumos). Têm muita quantidade de argila, mas essa argila
está agrupada nesses grumos (ou concreções) oxidados, o que confere alta
capacidade de suporte e de resistência à submersão quando compactados.
São muito utilizados em base de pavimentos.

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Solos orgânicos são de cor escura, fibrosos, altamente compressíveis e


de baixa resistência ao cisalhamento. São formados por material orgânico
decomposto misturado a minerais, nas camadas superficiais dos horizontes.

3. CLASSIFICAÇÃO POR GRANULOMETRIA

Além da classificação genética, os solos também podem ser classificados


de acordo com a sua granulometria, o diâmetro das suas partículas.

A ABNT classifica os solos conforme tabela abaixo (esses intervalos


podem variar de acordo com o país de origem da classificação):

Tamanho da Nomenclatura
partícula (mm)
60 a 2,0 Pedregulho granulares
Solos

2,0 a 0,6 Areia grossa


0,6 a 0,2 Areia média
0,2 a 0,06 Areia fina
Solos
finos

0,06 a 0,002 Silte


< 0,002 Argila
O formato das partículas influencia no comportamento dos solos.
Pedregulhos, areias e siltes têm formato de grão, onde as 3 dimensões são da
mesma ordem de grandeza. Argilas são partículas lamelares ou fibrilares, de
dimensões até nanométricas, que interagem com as moléculas de água.
Lembrando que solos lateríticos têm formação de grumos de argila
(aglomerados de partículas de argila cimentados) por conta dos óxidos e
hidróxidos e podem se comportar como solos granulares.

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Areias e Siltes Argilas

A CURVA GRANULOMÉTRICA é a representação gráfica da distribuição


da porcentagem em peso do tamanho das partículas daquele solo.

No eixo Y, tem-se a “Porcentagem Passante” que é a porcentagem da


AMOSTRA TOTAL que possui diâmetro equivalente menor do que
determinada medida (passante na peneira fictícia de abertura de malha igual
àquela dimensão). No eixo X, tem-se o diâmetro, em mm, em ESCALA
LOGARITMICA, para abranger toda a diversidade do tamanho das partículas
de solo.

Curvas mais verticalizadas indicam uma uniformidade no diâmetro médio


das partículas (solos MAL GRADUADOS – poucas graduações). Curvas mais
horizontalizadas indicam uma maior faixa de diâmetros existentes naquele
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solo (solos BEM GRADUADOS – muitas graduações). Há curvas com


“degraus” (faixas horizontais), que indicam que aquela faixa de diâmetros é
inexistente naquele solo (descontinuidade).

4. ESTRUTURAS DOS SOLOS E ÍNDICES FÍSICOS

O solo é um meio trifásico, que pode ser composto simultaneamente por


partículas sólidas, água e ar.

Tudo que não é arcabouço sólido é considerado vazio, podendo estar


preenchido ou não com água ou outros fluidos. As relações entre esses

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diferentes volumes, pesos e massas são chamadas Índices Físicos, que são
usados em projetos e para estudos quali e quantitativos.

EQUAÇÕES BÁSICAS

𝑉𝑇 = 𝑉𝑠 + 𝑉𝑤 + 𝑉𝑎 ⇒ 𝑉𝑇 = 𝑉𝑠 + 𝑉𝑣

𝑃𝑇 = 𝑃𝑠 + 𝑃𝑤

𝑀𝑇 = 𝑀𝑠 + 𝑀𝑤

Os principais Índices Físicos são:

a) Teor de Umidade (w) e Grau de Saturação (S):


𝑀𝑤
𝑤 (%) = 𝑥 100 0→∞
𝑀𝑠
𝑉𝑤
𝑆 (%) = 𝑥 100 0 → 100%
𝑉𝑣

CUIDADO: A umidade na geotecnia é calculada com base na


massa de SÓLIDOS, não massa total! Não faz muito sentido, mas vocês
irão se acostumar.

b) Índice de Vazios (e) e Porosidade (n):


𝑉𝑣
𝑒= 0→∞
𝑉𝑠
𝑉𝑣
𝑛 (%) = 𝑥 100 0 → 100%
𝑉𝑇

CUIDADO: O índice de vazios é calculado com base no volume de


SÓLIDOS, não no volume total! Não confundir com porosidade.

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c) Pesos Específicos (γ), (kN/m³):


- Dos Sólidos, é o peso específico das partículas que compõe o solo,
apenas a parte sólida:
𝑃𝑠
𝛾𝑠 =
𝑉𝑠

- Do Solo ou natural, é o peso específico do solo na sua estrutura


natural, contabilizando os volumes e pesos dos sólidos e de todos os
vazios preenchidos ou não com água:
𝑃𝑇
𝛾𝑛𝑎𝑡 =
𝑉𝑇

- Seco (w=0%, S=0%), é como se você tivesse pego o seu solo e


secado em estufa. Ele ainda possui o volume dos vazios, mas o peso de
água foi evaporado:
𝑃𝑠
𝛾𝑑 =
𝑉𝑇

- Saturado (S=100%), é o peso específico que o solo teria se todos


os seus vazios estivessem preenchidos com água:
𝑃𝑠𝑎𝑡
𝛾𝑠𝑎𝑡 =
𝑉𝑇

- Submerso, é o peso específico descontando-se o empuxo da água


(mais utilizado para cálculo de tensões em Mec Solos 1):
𝑃𝑠𝑢𝑏
𝛾𝑠𝑢𝑏 = = 𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤
𝑉𝑇

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d) Massas Específicas (ρ), são AS MESMAS dos pesos


específicos apresentados anteriormente. Deve-se tomar muito
cuidado com as unidades:

PESO específico: Unidade de peso (kN) por volume (m³).


Utilizados em projetos de engenharia, onde comumente se
trabalha com pesos.

MASSA específica: Unidade de massa (g) por volume (cm³).


Utilizada para a determinação desses parâmetros em ensaios de
laboratório, onde comumente se utilizam balanças e paquímetros
(por isso gramas e cm).

Pode-se realizar a conversão de massa específica para peso


específico facilmente, apenas dividindo-se o peso específico pelo
valor da gravidade.
𝑘𝑁
𝑔 𝛾 ( 3)
𝜌 ( 3) = 𝑚
𝑐𝑚 𝑚
𝑔 (10 2 )
𝑠

EM GEOTECNIA, SEMPRE UTILIZAR:

Gravidade = 10 m/s²

𝜸𝒘 = 𝟏𝟎 𝒌𝑵/𝒎³

𝝆𝒘 = 𝟏, 𝟎𝟎𝟎 𝒈/𝒄𝒎³

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Ao se deparar com um problema de índices físicos, o ideal é escrever as


equações básicas e listar quais dos volumes, pesos ou massas você dispõe,
para assim conseguir visualizar quais você consegue calcular.

Tendo todos os volumes e pesos ou massas, você consegue calcular


qualquer índice físico que queira.

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VIII.INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

1. CONCEITO

A investigação geotécnica é um conjunto de metodologias responsável


por identificar a ESTRATIGRAFIA do subsolo, ou seja, os materiais que o
compõem, suas espessuras e profundidades, seus parâmetros físicos e
mecânicos, a existência ou não de Nível d’Água (NA) e sua profundidade.

Lente

Sabendo exatamente com que material se está trabalhando, otimizam-


se as obras civis, tornando-as mais seguras e econômicas, evitando
“surpresas geotécnicas” durante a execução e superdimensionamentos
movidos por um conservadorismo desnecessário.

Um plano de sondagens bem realizado deve abranger toda o volume de


influência da obra (área superficial E profundidade), mapeando possíveis
lentes de materiais diferentes (camadas de espessura muito delgada, ver
figura acima), blocos de rocha imprevistos (que podem ser confundidos com o
topo da camada rochosa – figura abaixo), e até mesmo a existência de
cavernas (dolinas).

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2. INVESTIGAÇÕES DIRETAS E INDIRETAS

As investigações podem ser DIRETAS ou INDIRETAS. As investigações


DIRETAS dão ao profissional acesso direto ao solo (ver e tocar os diferentes
materiais), e compreendem as escavações de poços, valas e trincheiras, a
retirada de amostras e ensaios in situ.

Já as investigações INDIRETAS são feitas em superfície e não dão ao


profissional acesso direto ao material (nem ver, nem tocar). São estimativas
do subsolo, dos seus materiais e propriedades por meio de métodos geofísicos
e sensoriamento remoto. Tem-se como exemplos de métodos geofísicos as
sondagens sísmicas, geoelétricas e potenciais.

3. AMOSTRAGEM DEFORMADA E INDEFORMADA

Por vezes, é necessário levar o material do campo para o laboratório, de


forma a determinar seus índices físicos ou alguma propriedade mecânica
(resistência ao cisalhamento, à compressão, permeabilidade,
compressibilidade).

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Lembrando que o solo é um meio trifásico, que pode ser composto


simultaneamente por partículas sólidas, água e ar, e que alguns índices físicos
e propriedades mecânicas dependem intrinsecamente do volume de vazios de
campo, torna-se necessário retirar amostras INDEFORMADAS, que são
aquelas que preservam a estrutura do solo intacta, incluindo seu volume de
vazios.

Se o solo possui estabilidade à escavação, retira-se um bloco


indeformado. Loca-se o bloco na profundidade e orientação desejados, mede-
se com uma trena as dimensões e escava-se com picareta/pá. Toda face
pronta já exposta deve ser selada com parafina derretida. Após a retirada do
bloco, este deve ser coberto por uma malha e novamente selado com parafina.
O bloco é acondicionado em uma caixa de madeira forrada com
serragem/isopor, selada e cuidadosamente transportada para o laboratório,
onde deve ser acondicionado numa câmara úmida.

Se for um solo mole (argila), então a amostra indeformada é retirada com


o amostrador Shelby: um tubo de aço de parede fina e ponta biselada, untado
com vaselina, que deve ser cravado ESTATICAMENTE no solo.
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No caso de solos não coesivos (areia), não é viável retirar amostras


indeformadas. Logo, para se estudar o comportamento do solo no estado
natural, deve-se moldar uma amostra em laboratório. Um método muito
utilizado é a pluviação de areia. Neste aparato, despeja-se a areia num funil,
ela atravessa um conjunto de peneiras e cria uma chuva no molde. A
porosidade do corpo de prova varia com a altura de queda e o diâmetro do
funil. O aparato deve ser calibrado para cada areia.

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Outras propriedades não dependem da estrutura natural do solo


(umidade, massa específica das partículas sólidas), e podem ser
determinadas por meio de amostras DEFORMADAS, que não têm como
objetivo preservar esta estrutura. Tal pode ser feito com trados (concha –
areias; helicoidal – argilas), pás ou enxadas. A amostra pode ser
acondicionada em bandejas, sacos plásticos ou vidros. Caso se queira
determinar a umidade, deve-se acondicionar a amostra em recipientes
herméticos.

4. SPT

O Standard Penetration Test, conhecido popularmente como SPT, é a


sondagem mais difundida no Brasil e no mundo. Basicamente, trata-se de um
ensaio de penetração de um amostrador no solo, por meio de golpes de um
martelo que cai em queda livre em cima de hastes ligadas o amostrador. A
energia destes golpes (determinada pela altura de queda e peso do martelo)
é de certa forma padronizada, de forma a facilitar a comparação de perfis e a
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disseminação de conhecimento científico. Os resultados desse ensaio são as


amostras retiradas da ponta do amostrador, o boletim de sondagens e o
Número SPT (NSPT) a cada metro de profundidade de solo ensaiado. Este
último é muito utilizado em correlações com a resistência à compressão do
solo (difundidamente utilizado projetos de fundações) e sua compressibilidade.

Detalhes da execução do ensaio e cálculo do NSPT podem ser vistos na


NBR 6484/01 e na aula em vídeo disponibilizada no Campus Virtual.

5. ROTATIVA E RQD

Quando o subsolo é impenetrável ao SPT, pode-se realizar a Sondagem


Rotativa. Esta sondagem é feita com a cravação de um barrilete (tubo
metálico) que possui uma coroa diamantada ou com pastilhas de vídia na
ponta (figura abaixo).

Esse barrilete é cravado por movimentos de rotação e percussão


mecanizada (não é queda livre, como o SPT), que cortam o material (rocha,
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saprolito ou solo residual jovem). Por não ser dependente da gravidade como
o SPT, a Sondagem Rotativa pode ser feita de forma em qualquer orientação
segura para os operadores. Os diâmetros dos furos podem variar de 37 à 100
mm.

Os produtos deste ensaio são os testemunhos de rocha (cilindros de


rocha), que devem ser dispostos em caixas plásticas identificadas,
sucessivamente numeradas, com as profundidades de início e fim da
amostragem claramente indicadas.

Os testemunhos podem ser utilizados para o traçado do perfil


estratigráfico do subsolo, para o mapeamento das descontinuidades, nível
d’água e também para o cálculo do Rock Quality Designation (RQD), ou Índice
de Qualidade da Rocha (IQR – a tradução não é muito utilizada no meio prático
ou acadêmico, todo mundo chama de RQD) e a Recuperação. É indicado

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utilizar barras metálicas para chumbar a amostra caso esta seja muito
fraturada (figura abaixo).

O RQD conta apenas os pedaços de rocha cujos comprimentos são


maiores que 10 cm, pois é uma determinação da qualidade do maciço e é
utilizado em alguns métodos de classificação de maciços rochosos e
determinação de estabilidade. Já a recuperação conta todos os pedaços
recuperados, independentemente dos seus tamanhos. Por conta desta
diferença, a Recuperação só pode ser maior ou igual ao RQD (nunca menor).

L= 38 cm

L= 17 cm

L = 0 cm
Nenhum pedaço > 10 cm 132 cm
Avanço total
da manobra
= 200 cm L = 20 cm

L = 35 cm

Quebra na perfuração

L=0
Sem recuperação

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Re cuperação =
 comprim. pedaços  100 =
132
= 66%
comprim. avanço total 200

RQD =
 comprim. pedaços  10cm  100
comprim. avanço total
38 + 17 + 20 + 35
RQD =  100 = 55%
200

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IX.HIDROGEOLOGIA

1. CONCEITO

A Hidrogeologia estuda ÁGUAS SUBTERRÂNEAS (AS), assunto de


suma importância, uma vez que a água no planeta Terra está: 97% nos
oceanos (salgada), 2% congelada (indisponível) e 1% superficial (rios,
córregos, etc) e subterrânea.

As AS podem ser captadas em meio urbano para o consumo doméstico.


Apesar do meio insaturado (solo ou rocha) funcionar como um filtro, deve-se
cuidar com contaminação do lençol freático por agentes externos ou
geológicos.

2. AQUÍFEROS, AQUICLUDOS E AQUITARDOS

Relembrando o CICLO HIDROLÓGICO.

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Parte da água do ciclo hidrológico penetra nos terrenos (infiltra),


formando três zonas: (i) não-saturada ou zona de fluxo não saturado: acima
do Nível d’Água ou Nível Freático (chamado de NA na engenharia), onde os
vazios contêm água e ar e água caminha em direção à zona saturada; (ii)
interfluxo: fluxo lateral na zona não saturada (ou seja, na direção que entra e
sai da tela que você está lendo) e (iii) saturada: constitui a recarga e/ou os
recursos renováveis dos aquíferos.

AQUÍFEROS são rochas ou solos saturados de água e permeáveis.


Armazenam e liberam água subterrânea para ser retirada em poços ou
surgências (também chamadas de fontes d’água). São alimentados
primordialmente por água da chuva infiltrada. Podem ser livres, suspensos
(acima de um aquicludo) ou confinados (entre dois aquicludos). Veja desenho
e definições a seguir.

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AQUICLUDOS são rochas ou solos impermeáveis que podem ou não


conter água, muitas vezes atingindo até seu grau de saturação, mas não
permitem a sua circulação.

AQUITARDOS são estrados semipermeáveis, embora armazenem


quantidades significativas de água no seu interior, permitem a circulação
apenas de forma muito lenta.

AQUÍFERO GUARANI

O Aquífero Guarani é a segunda maior fonte de água doce subterrânea


do planeta (≈1 milhão km²), estando presente em: Brasil, Paraguai, Uruguai e
Argentina. As reservas permanentes de água são de ≈ 45 mil km³ (≈ 65% no
Brasil).

Sua estrutura geológica é sedimentar, composta por camadas de arenito


(porosas e permeáveis), intercaladas com camadas mais argilosas. Grande
parte do aquífero é recoberto por lavas de basalto (baixa permeabilidade),
agindo sobre o Aquífero Guarani como um aquitardo, diminuindo a infiltração
e recarregamento.

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Em algumas cidades brasileiras (RS), o consumo de água é 100%


proveniente do AG. Porém, parte da água é imprópria para consumo humano
sem um prévio processo de tratamento, devido à contaminação por Cálcio que
é carregado da rocha Basalto que fica mais superficialmente até o aquífero.
Em SC e PR, o aquífero tem águas com alta salinidade, não sendo potáveis.
Na Argentina, a água pode apresentar concentração de sal até 3x a do mar.

A área do AG é caracterizada por apresentar solos férteis para práticas


agrícolas, por esse motivo, alerta-se contra o uso indiscriminado de agrotóxico
nas lavouras que pode infiltrar no solo e contaminar o aquífero.

3. INFILTRAÇÃO

Grande parte da água subterrânea tem origem pela infiltração da água


da chuva. A velocidade e o volume de água de infiltração dependem de:
porosidade e permeabilidade do maciço, umidade, cobertura vegetal,
topografia e ações antrópicas (ações do homem que modificam o estado
natural do solo, por exemplo, a impermeabilização da superfície).

Essa infiltração se dá diferentemente em solos e rochas. Nos solos, ela


infiltra pelos poros (vazios, que estudamos na aula passada); em rochas, essa
infiltração se dá preferencialmente pelas descontinuidades (fraturas,
principalmente, Aula V), mas também há infiltração por poros em rochas muito
porosas como as sedimentares e ígneas em estado avançado de alteração
(intemperização).

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4. PERCOLAÇÃO

Ao fluxo em meio poroso, dá-se o nome de PERCOLAÇÃO. A


percolação no solo e poros da rocha é um mecanismo bastante complexo e
que afetas os estados de tensão dos solos e das rochas. A percolação gera
forças de arraste entre a água se movendo e as partículas sólidas de rocha ou
solo. Essas forças de arraste podem tanto estabilizar ou desestabilizar
maciços, podendo levar empreendimentos (como barragens, fundações,
estruturas de contenção) à ruína.

Estudaremos esse assunto com mais profundidade na disciplina


Mecânica dos Solos 1. Aqui, será apresentada apenas uma introdução ao
tema.

Abaixo temos um PERMEÂMETRO, um instrumento de laboratório


utilizado para estudar a permeabilidade de solos em laboratório. Ao lado,
temos uma representação esquemática desse permeâmetro.

Área da
seção
transversal
(A)

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Dentro do permeâmetro, conseguimos moldar uma amostra de solo de


comprimento “L” e área da seção transversal “A”. Depois, submetemos essa
amostra a um fluxo d’água, variando a altura da coluna de água de um dos
lados do permeâmetro (o “h” do desenho). Perceba, se “h” for zero, não haverá
fluxo, pois os dois lados do esquema terão a mesma altura de coluna d’água,
ou seja, estarão em equilíbrio, a água não flui.

Se variarmos apenas “h”, a água começará a fluir da esquerda do


desenho para a direita e, quanto maior o “h”, maior será a vazão (Q) observada
saindo do permeâmetro.

Henry Darcy fundamentou experimentalmente que o fluxo em meio


poroso homogêneo e isotrópico tem velocidade constante, apresentando um
regime laminar e apresentou a Lei de Darcy:

𝑄 = 𝑘. 𝑖. 𝐴

Onde:

Q = vazão (em cm³/s);

k = coeficiente de permeabilidade (em cm/s);

i = gradiente hidráulico (h/L - adimensional) e

A = área da seção transversal (em cm²)

Pode-se haver variação de “k” com o meio estudado (tipos de solo ou


rocha, porosidade de um mesmo solo, etc), contudo EM UM MESMO MEIO
(solo ou rocha) o “k” NÃO VARIA (é uma característica intrínseca ao material).
Se você variar o “h”, o que varia é a VAZÃO (resposta mecânica ao gradiente

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imposto), não o “k”. O “k” só variará se você mudar a ESTRUTURA do solo


(aumentar ou diminuir os vazios ou alterar a disposição entre as partículas).

5. EXTRAÇÃO DE ÁGUA E REBAIXAMENTO DE LENÇOL FREÁTICO (RLF)

Podem ser feitos em caráter provisório (execução de obras a seco) ou


permanentes (manutenção de obra a seco ou provisão de água). Os métodos
mais conhecidos são: (i) ponteiras filtrantes: sucção (succionam a água de
cima), até 5 m de RLF, podem ser instaladas em série para maior
rebaixamento e (ii) poços: maior diâmetro, bombas submersas de recalques
(empurram a água de baixo para cima), apenas coletam água que chega ao
poço por gravidade.

O RLF provisório ou permanente pode acarretar deformações do solo


nas redondezas, pois a extração de água destes solos saturados, acarreta a
diminuição do volume dos vazios desse solo. Lembrem-se que água é vazio,
então se você tira volume de água, até certo ponto, você tira volume de vazios.
Depois deste ponto (que varia de solo a solo), a retirada de volume de água
não afeta mais o volume dos vazios, mas apenas a saturação do meio, ou
seja, você passa a ter ar ocupando esses vazios juntamente com a água.

Essa deformação do solo devida à saída de água se chama


ADENSAMENTO. Também é um mecanismo bastante complexo que será
estudado na disciplina Mecânica dos Solos 2. O adensamento do solo de uma
fundação gera o que chamamos de RECALQUE DE FUNDAÇÃO, quando
essa fundação se movimenta para baixo. Se as fundações de uma mesma
edificação tiverem recalques de valores diferentes, o chamado RECALQUE

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DIFERENCIAL, pode haver problemas de ordens estéticas (pequenas fissuras


e trincas, fica desconfortável de olhar), funcionais (a água de esgoto ou potável
não flui mais por gravidade, devido ao desaprumo da edificação) ou estruturais
(o desaprumo foi tão grande que comprometeu a estrutura da edificação).

Abaixo há um link de um vídeo muito interessante do YouTube onde uma


empresa conserta o desaprumo de um edifício causado por recalques
diferenciais. Uma obra de extrema responsabilidade e competência técnica.

https://www.youtube.com/watch?v=R22WWyFpjS0

6. CONTAMINAÇÃO, PROFILAXIA E REMEDIAÇÃO DE AQUÍFEROS

As AS podem ser contaminadas por elementos ou microorganismos, por


atividades como: mineração, despejo de esgoto doméstico e industrial não
tratados, armazenamento impróprio de combustíveis ou rejeitos industriais,
agropecuária (fertilizantes e agrotóxicos), falta de impermeabilização
adequada em lixões (a decomposição e lixiviação do lixo geram o famoso
chorume) e cemitérios (o não tão famoso necrochorume), e a própria
percolação da água em meio rochoso, que dissolve e carrega minerais que
podem ser impróprios para consumo humano.

Os contaminantes podem ser miscíveis (se misturam) ou imiscíveis (não


se misturam) à água. Dos imiscíveis, alguns são mais densos que a água
(afundam – DNAPLs, Dense Non-Aqueous Phase Liquid) outros são menos
densos que a água (flutuam – LNAPLs, Light Non-Aqueous Phase Liquid). A
remoção total desses compostos em meios porosos, principalmente quando

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frações argilosas estão presentes, é praticamente impossível (permeabilidade


da argila é baixíssima).

A vulnerabilidade de um aquífero é proporcional a sua permeabilidade,


sendo a sua remediação tão mais fácil quanto sua contaminação. A profilaxia
pode ser feita com barreiras físicas (geomembrana, barreiras de argila) e
correta condução e tratamento de efluentes. Já a remediação é comumente
feita com extração, tratamento e reinjeção da água contaminada no aquífero.

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X.REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS

1. CARTAS E MAPAS GEOTÉCNICOS

MAPA é um documento que REGISTRA as informações obtidas de um


determinado meio, sem fazer interpretações sobre aquelas informações. Já
CARTA é um documento cartográfico que apresenta INTERPRETAÇÕES
dessas informações para determinados fins. Cartas geotécnicas tem
informações interpretadas sobre litologia (tipo de rocha) e pedologia (tipo de
solo), estrutura de solos e rochas (descontinuidades ou perfis de alteração),
hidrogeologia (profundidade do NA), geomorfologia (picos e vales, que
definem padrões de drenagem) e processos geológicos (erosão,
intemperização, etc). Classifica e representa esses componentes que são de
grande significado para atividades de engenharia, como planejamento,
construção, exploração e preservação do meio ambiente.

Para serem considerados bem feitos, estes documentos devem ter:


precisão espacial, conteúdo específico para o interesse do projeto,
representação das informações qualitativas de interesse e ser realizado por
profissionais da geologia de engenharia. Informações essenciais são:
morfologia (relevo), litologia e pedologia (tipos de rochas e solos) e hidrologia.
Dependendo da finalidade da obra, pode-se classificar o material segundo sua
capacidade de suporte (o quanto ele aguenta de carga, por exemplo, se for
para fundações), escavabilidade (o quão duro é o material, para túneis ou
subsolos), materiais de interesse de exploração (presença de minérios),
estabilidade de encostas, etc.

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As técnicas utilizadas para a elaboração destes mapas e cartas variam


conforme o local e a tecnologia disponível. Algumas tecnologias são:
fotogeologia, geofísica, sondagens, amostragens, ensaios in situ e
laboratoriais. Durante o curso de engenharia civil, vocês irão aprender sobre
amostragens e diversos ensaios in situ e laboratoriais. Em geologia, vamos
apenas aprender superficialmente sobre fotogeologia e projeções esféricas.

Segundo as diferentes fases do projeto e da implantação, os


documentos cartográficos apresentam características específicas,
especialmente a escala de abordagem. Por exemplo, na época de inventário,
para barragens utiliza-se a escala de 1:50.000; para viabilidade, 1:20.000; em
projeto executivo, 1:500. Ou seja, quanto mais inicialmente estamos no
projeto, mais ampla é a carta. Com o desenvolvimento e aprofundamento do
projeto, precisamos de mais detalhes, então aumentamos a escala.

Veja a seguir um exemplo de carta geotécnica.

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2. AEROFOTOGRAMETRIA

A fotogrametria é a ciência que permite tirar medidas do terreno por meio


de fotografias. Antigamente era realizada por aviões ou helicópteros munidos
de câmeras fotográficas métricas, que sacavam fotografias a cada metro
horizontalmente. Toda a área deveria ser percorrida, garantindo uma
sobreposição mínima entre fotos de 30% na lateral e 60% frontal. Como a
altitude e velocidade de vôo são constantes, é possível realizar medições
precisas na fotografia em escala de formas, dimensões e posições dos
maciços e suas descontinuidades, além da geomorfologia como um todo
(padrão de drenagem, por exemplo). Em 1901, o alemão Pulfrich, introduziu
na fotogrametria a marca estereoscópica, estações referenciadas no solo, que
permitia observar o relevo. Com isso, foi possível estabelecer estimativas de
volume.

Atualmente, são utilizados para este fim veículos aéreos não tripulados
(VANTs ou DRONES) que permitem fazer uma varredura em 360° do local,
georreferenciados, conjuntamente ou não com câmeras terrestres. Com o
auxílio de softwares específicos para tal (Agisoft Metashape, Microsoft
PhotoModeler, 3DF Zephyr), é possível criar modelos tridimensionais fiéis aos
encontrados em campo, técnica chamada de Structure from Motion. Apesar
do custo operacional ser elevado (horas de processamento e volume de
dados), o trabalho humano em si é simplificado, trazendo a possibilidade de
comparar o mesmo maciço ao longo do tempo, monitorando os processos de
erosão e instabilização, por exemplo.

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Deve-se atentar para que as fotos sejam tiradas dentro de um intervalo


de 30 minutos e, preferencialmente, ao meio dia para evitar sombras. No caso
de fotos terrestres, deve-se utilizar um tripé nivelado. Deve-se evitar o uso de
zoom e flash. No caso de drones, a autonomia da bateria é um sério limitante.

No Campus Virtual, coloquei um artigo referente a um trabalho realizado


em parceria com a Universidade Federal do Pampa – Alegrete/RS. Neste
trabalho, fizemos o levantamento de uma ponte natural de pedra que existe no
município com um DRONE. Foram processados mais de 4 Gb de dados,
ininterruptamente por mais de 8 horas em computador de alta performance
para gerar os modelos tridimensionais.

O objetivo a longo prazo deste estudo era mapear os processos erosivos


do local e propor soluções de estabilização. Infelizmente a ponte caiu em Maio
de 2020.

3. PROJEÇÕES ESFÉRICAS – REPRESENTAÇÕES DE PLANOS E LINHAS

Muitas vezes, em campo, precisamos levar algumas características


importantes com mais detalhes para o escritório, como por exemplo, a
orientação de descontinuidades com o maciço. Vimos no REO 3 o quanto a
orientação das descontinuidades é importante e determinante na estabilidade
de um talude de rocha.

Uma das ferramentas para levar essas informações ao escritório e


utilizá-las em análises de estabilidade são as projeções esféricas. Nessas
projeções, definimos planos (o plano da face do talude e o plano da

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descontinuidade), anotamos mergulho, direção e direção do mergulho em


campo e analisamos essas informações conjuntamente.

Esse tratamento de dados não é trivial e exige muita prática para


conseguir entender os desenhos. Hoje em dia, existem softwares que geram
essas projeções fazem essas análises, contudo, é imperativo que o
engenheiro ou geólogo responsável consigam ter o mínimo de entendimento
sobre o assunto para conseguirem interpretar os resultados dos softwares e
verificar se houve algum erro por parte da ferramenta computacional ou se o
resultado está dentro do esperado.

Então vamos à parte prática:

A Orientação ou Atitude de uma descontinuidade ou de um plano, pode


ser definida com base nas três características abaixo:

Direção
do
mergulho

Direção

Mergulho (Dip): é a máxima inclinação do plano estudado em relação à


horizontal (Φ).

A Direção e a Direção do Mergulho definem um plano horizontal onde o


plano se projeta.

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Direção (Strike): é o azimute (o ângulo entre a direção norte e a linha


de intersecção do dado plano com a horizontal. É como se fosse a linha que
define a crista do talude. A direção é a localização daquele plano da Terra.

Direção do Mergulho (Dip Direction): é a direção da projeção horizontal


do plano estudado com o Norte, medida em sentido horário. Forma ângulo reto
com a Direção (α).

A Atitude pode ser registrada de duas formas:

a) Atitude Direcional em Quadrante: N40W/50NE (direção/mergulho)


b) Atitude Direcional em Azimute: 320/50NE (direção/mergulho)

A direção do mergulho sempre forma 90 graus com a Direção, logo, não


precisa ser registrada.

As duas formas de projeção esférica mais utilizadas são: Projeção


Estereográfica e Projeção de Igual Área.

Na PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA, imagina-se que o plano estudado


(plano de mergulho) está cruzando o centro de uma esfera. Na geologia,
trabalha-se apenas com o hemisfério inferior desta esfera, então pode-se
desconsiderar o superior (são simétricos), fazendo um corte horizontal
atravessando o centro da esfera. Este plano horizontal (plano da projeção) é
delimitado pelo chamado CÍRCULO PRIMITIVO.

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A interseção do plano estudado com a calota inferior da esfera desenha


uma linha chamada GRANDE CÍRCULO. Para projetar este grande círculo no
plano de projeção, deve-se ligar todos os pontos desta linha ao ZÊNITE da
esfera, que é o topo da calota superior. Os pontos onde estas linhas de zênite
cruzam o plano de projeção delimita o TRAÇO CICLOGRÁFICO, também
chamado de grande círculo informalmente (confuso, eu sei), que é a projeção
esférica do plano de mergulho.

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CASOS ESPECIAIS:

a) Plano horizontal: A sua projeção esférica irá coincidir com o círculo


primitivo.
b) Plano vertical: Será representado por uma linha reta passando pelo
centro.

No ESTEREOGRAMA (ou STEREONET), define-se uma malha de


referência neste círculo primitivo, com a indicação de N, S, E, W, dividida em
latitudes (de E a W) e longitudes (de N a S), delimitando os pequenos círculos,
em intervalos de 2 e 10 graus. É um diagrama de igual ângulo. A seguir está
um stereonet em branco.

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Coloquei um vídeo no Campus Virtual onde um aluno de geologia explica


didaticamente como traçar essas projeções sem precisar do esquema
tridimensional, utilizando apenas o STEREONET.

Na PROJEÇÃO DE IGUAL ÁREA, o método de construção é similar,


contudo, os elementos não estão mais dispostos em igual ângulo, mas em
igual área. O diagrama é chamado rede de SCHMIDT. As posições dos planos
e das linhas são levemente diferentes do STEREONET.

Neste caso, o círculo primitivo fica abaixo da semi-esfera (tangente ao


polo inferior da esfera). Os pontos são então projetados em raios da esfera
para o plano de projeção em perfil, de forma que as distâncias entre os pontos
na esfera e na projeção sejam iguais.

Além do grande círculo e do polo, também se indica o rumo de


mergulho com uma seta, que indica um plano potencial de escorregamento.

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