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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS

COORDENAÇÃO DE CUROS LATO SENSU

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DE MINAS E TÉCNICAS


DE LAVRA À CÉU ABERTO
(GEOMINAS)

GEOLOGIA APLICADA À MINERAÇÃO


Módulo 2: unidades 4 e 5

Organização: Prof. Marcio D. Santos

Belém/PA
2019
SUMÁRIO
MÓDULO 2
minerais e rochas ............................................... 52
....................................................................................................... 52
unidades constituintes das rochas ............................................... 52
4.2.1- DEFINIÇÕES BÁSICAS ..................................................................................... 52
4.2.2- CRISTALOGRAFIA ............................................................................................ 55
Introdução ......................................................................................................... 55
Simetria dos cristais ......................................................................................... 57
Estrutura cristalina nos minerais .................................................................... 60
Formas cristalinas ............................................................................................ 61
Classes cristalinas ........................................................................................... 68
Agregados cristalinos e cristais geminados ................................................. 69
4.2.3- MINERALOGIA FÍSICA ...................................................................................... 71
Introdução ......................................................................................................... 71
Hábito dos minerais ......................................................................................... 71
Propriedades mecânicas ................................................................................. 77
Propriedades relacionadas com a massa ...................................................... 82
Propriedades relacionadas com a luz ............................................................ 84
Propriedades elétricas ..................................................................................... 91
Propriedades magnéticas ................................................................................ 92
Propriedades radioativas ................................................................................. 93
4.2.4- MINERALOGIA QUÍMICA .................................................................................. 96
Ligações químicas nos minerais .................................................................... 97
Arranjo espacial das partículas componentes dos minerais ..................... 101
Polimorfismo e Isoestruturalismo ................................................................ 104
Composição química dos minerais .............................................................. 105
4.2.5- CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS ................................................................. 108
unidades constituintes das camadas da Terra ............................ 113
4.3.1- O CICLO DAS ROCHAS .................................................................................. 113
4.3.2- ROCHAS ÍGNEAS OU MAGMÁTICAS ........................................................... 114
Introdução ...................................................................................................... 114
Magma: características, geração e consolidação ........................................... 115
Classificação e nomenclatura das rochas ígneas ....................................... 120
Magmatismo plutônico, vulcânico e hipabissal ......................................... 125
Plutonismo ..................................................................................................... 125
Vulcanismo ..................................................................................................... 126
4.3.3- ROCHAS SEDIMENTARES ............................................................................. 140
Introdução ....................................................................................................... 140
Intemperismo e erosão .................................................................................. 141
Transporte dos produtos sólidos e dissolvidos do intemperismo ........... 153
50
Deposição de materiais sólidos e dissolvidos nas bacias sedimentares. 155
Ambientes de sedimentação ........................................................................ 157
Ambientes de sedimentação continentais ........................................................ 158
Ambientes de sedimentação costeiros ............................................................ 163
Ambientes de sedimentação marinhos ............................................................ 166
Estruturas sedimentares ............................................................................... 170
Soterramento e diagênese dos sedimentos ................................................ 172
Classificação das rochas sedimentares ...................................................... 174
Rochas sedimentares clásticas ........................................................................ 174
Rochas sedimentares químicas e bioquímicas ................................................ 177
Bacias sedimentares e a tectônica de placas ............................................. 181
4.3.4- ROCHAS METAMÓRFICAS ............................................................................ 184
Introdução ....................................................................................................... 184
Fatores condicionantes do metamorfismo .................................................. 185
Paragêneses minerais e reações metamórficas ......................................... 187
Tipos de metamorfismo ................................................................................. 189
Grau e fácies metamórficas .......................................................................... 191
Texturas e estruturas de rochas metamórficas .......................................... 194
Nomenclatura das rochas metamórficas .................................................... 197
Metamorfismo e tectônica de placas ........................................................... 199

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 203

Atividades .................................................................................................................. 204

51
Minerais e rochas

No módulo anterior vimos como a tectônica de placas pode explicar a dinâmica e


as megaestruturas que condicionam os processos geológicos de escala global que
atuam sobre a Terra e a moldaram até a situação atual. Desvendar esses processos só
foi possível porque eles deixaram registros de sua atuação nos materiais terrestres ou
geológicos. A crosta terrestre é constituída por rochas consolidadas e materiais
inconsolidados superficiais, tais como solos e sedimentos (areias dos rios e das praias),
sendo que todos esses materiais são constituídos por associações de minerais que são
as unidades fundamentais dos materiais terrestres. Conhecer esses materiais (minerais
e rochas) que naturalmente compõem a crosta terrestre e o interior do nosso planeta,
suas características e propriedades, é de fundamental importância para avançarmos na
compreensão dos processos que governam a evolução geológica de nosso planeta. O
corpo humano possui diversos sistemas que são formados por vários órgãos, os quais
são formados de tecidos e estes de células. Em analogia a esta hierarquia, poderíamos
dizer que o corpo é a Terra, os sistemas são as placas tectônicas que formam a crosta
terrestre, os órgãos são as rochas, os tecidos correspondem aos minerais e as células
são as moléculas ou grupos iônicos formados pelos átomos de elementos químicos,
onde tudo começa. Vamos, então, nesse segundo módulo, mudar a escala de nosso
estudo, das placas tectônicas para as rochas e minerais, os quais, em detalhe, nos
remete para a escala atômica das estruturas cristalinas dos minerais.
Qualquer pessoa já teve algum contato direto com minerais, pois eles estão
presentes nos solos das florestas e jardins, nas areias das praias e nas rochas das
montanhas. Além disso, todo produto inorgânico utilizado pelo homem, se não é mineral
bruto, é derivado de substâncias minerais. O homem vem manuseando os minerais
desde os primórdios da civilização, quando começou a fazer pinturas rupestres e
utensílios de pedra e depois de metal. Da idade da pedra para cá, a importância dos
minerais na evolução da civilização humana tem sido crescente e o conhecimento sobre
as características e propriedades dos minerais, bem como o domínio da tecnologia de
beneficiamento das rochas mineralizadas (minérios) para extração de metais e outros
elementos e componentes químicos, têm sido fundamentais para alimentar a demanda
crescente de nossa sociedade tecnológica por bens industrializados.

Unidades constituintes das rochas


4.2.1- DEFINIÇÕES BÁSICAS: mineral, mineraloide, cristal, rocha e minério
Mineralogia é a parte das Geociências que estuda os minerais, suas
características e propriedades, identificação e classificação, ocorrência e processos de
formação. Existem várias definições de mineral na literatura. Klein & Dutrow (2007), um
dos autores de referência em mineralogia, define mineral como

.
Substância homogênea significa que não pode ser fisicamente subdividida em
componentes químicos mais simples. A homogeneidade dos minerais é, no entanto,
relativa porque depende da escala de observação. Por exemplo, uma substância
caracterizada como um mineral, ao ser analisada ao microscópio pode ser constatado
que, na verdade, é constituída por mais de um mineral. A condição de substância natural
impede a inclusão no reino mineral de substâncias sintetizadas em laboratório ou
formadas diretamente através de alguma atividade humana, tais como as gemas
sintéticas que mesmo idênticas as suas congêneres naturais, não podem ser
consideradas minerais. Do mesmo modo, o gelo das geladeiras e frigoríficos, por ser
artificial, não pode ser considerado mineral, mas o gelo natural, das calotas polares,
52
satisfaz todos os pontos da definição de mineral e pode, portanto, ser considerado como
tal. O mineral, por definição, tem que ser uma substância cristalina, caracterizada por
apresentar uma estrutura interna ordenada, na qual suas partículas constituintes (átomos
ou íons) encontram-se distribuídas geometricamente no espaço de maneira ordenada,
situação que só ocorre em substâncias sólidas, diferente das substâncias amorfas que
apresentam estrutura interna desordenada, com suas partículas componentes (átomos
e íons) distribuídos caoticamente no espaço, sem posições fixas, como nos gases,
líquidos e alguns sólidos amorfos, como o vidro (Fig. 4.1). Portanto, para ser considerado
mineral, a substância tem que ser um sólido cristalino. A estrutura cristalina dos minerais
é um padrão ordenado tridimensional de íons ou átomos na escala atômica, medida em
angstrom (Fig. 4.1e).
b c
a
e
d

Figura 4.1- Arranjo bidimensional, na escala macroscópica,


de tijolos e de pontos, ordenado em (a) e (b) e desordenado
em (c) e (d). Arranjo tridimensional ordenado de íons, na
escala atômica (em angstrom), da estrutura do mineral halita
NaCl. Na  esferas vermelhas e Cl  esferas cinzas.

A definição de mineral também estabelece que sua composição química tem que
ser definida, o que significa que a composição pode variar, ocorrendo, porém, entre
elementos e intervalos definidos, podendo ainda ser representada por uma fórmula
química, como nas olivinas (Mg,Fe)2SiO4, cuja proporção de Mg e Fe pode variar entre
0 e 100%. Alguns minerais, como o quartzo (SiO2), apresentam composição química
fixa, praticamente invariável. Entretanto, na maioria dos minerais a composição química
é variável de forma definida. A grande maioria dos minerais é de origem inorgânica, o
que justifica a expressão “formada por processos inorgânicos” em sua
definição. Entretanto, alguns compostos orgânicos naturais que ocorrem associados aos
minerais e satisfazem todos os outros pontos da sua definição, foram incluídos no reino
mineral com a denominação de minerais biogênicos, como a pérola e as carapaças de
organismos marinhos (carbonatos de cálcio), e a apatita (fosfato de cálcio) presente nos
ossos, dentes e cálculos renais.
Mineraloide é uma substância química natural, semelhante aos minerais que
ocorrem associados a eles, mas divergem da definição de mineral principalmente em
dois aspectos: na estrutura interna e/ou na composição química. Os mineraloides são
substâncias normalmente amorfas e, mesmo satisfazendo todos os outros pontos da
definição de mineral, não podem ser considerados como tal, pois não possuem estrutura
cristalina, como, por exemplo, a opala (sílica amorfa), obsidiana (vidro vulcânico). A água
e mercúrio são dois exemplos de mineraloides líquidos. Alguns mineraloides podem ser
cristalinos, mas divergem da definição de mineral por não possuírem composição
química definida. Os mineraloides são normalmente inorgânicos, mas, tal como os
minerais, existem mineraloides biogênicos, como a collofana (fosfato de cálcio amorfo
que ocorre em ossos fósseis) e o âmbar, uma resina vegetal fóssil que além de amorfo
53
não possui composição química definida. Para não excluir estas substâncias do reino
mineral, elas foram mantidas com a denominação de mineraloides. Alguns autores
incluem os minerais de origem orgânica (minerais biogênicos) no grupo dos
mineraloides. Ou seja, para esses autores, os minerais têm que ser inorgânicos.

REINO MINERAL  Minerais + Mineraloides


O termo cristal, ou substância cristalina, é aplicado para qualquer sólido
homogêneo cristalino, de qualquer origem, natural ou não. Portanto, todo mineral é um
cristal, mas nem todo cristal é um mineral. Os cristais artificiais, como as gemas
sintéticas, e aqueles sem composição química definida, como alguns cristais orgânicos,
não podem ser considerados minerais. A presença de faces naturais geometricamente
regulares é uma característica exclusiva das substâncias cristalinas (Fig. 4.2 a) que às
distingue das substâncias amorfas que nunca apresentam tais faces. Entretanto, a
presença de faces cristalinas em escala macroscópica (reconhecíveis à vista
desarmada) corresponde a situações particulares e excepcionais das substâncias
cristalinas. As faces regulares sempre estão presentes nessas substâncias, mas suas
dimensões dependem das condições de formação dos cristais, principalmente da
disponibilidade de espaço para o crescimento das faces e da velocidade de cristalização
(VC) que quanto mais lenta mais favorece o desenvolvimento das faces. Desse modo,
muitos minerais não apresentam faces cristalinas reconhecíveis na escala
macroscópica, mas isso significa apenas que elas são imperceptíveis à vista desarmada
e somente reconhecíveis com uso de lupas ou microscópio, pois cristalizaram
rapidamente ou não houve espaço suficiente para o seu crescimento até a escala
macroscópica (Fig. 4.2 b,c). Se a VC for muito rápida pode não haver tempo para
organizar a estrutura interna e, neste caso, forma uma substância amorfa (Fig. 4.2 d).
a b c d

Aumento: 2000 vezes

Figura 4.2- Agregado de cristais de quartzo + pirita (a). Caulinita (caulim) maciça, sem faces
cristalinas macroscópicas (b), vista ao microscópio eletrônico, mostrando os cristais hexagonais
(c). Opala amorfa, sem faces regulares (d).

Gema é um mineral, mineraloide ou rocha, que possui valor econômico e que


possa ser utilizado como artigo de ornamentação ou na indústria joalheira. São
normalmente minerais que se destacam por algumas propriedades físicas, como alta
dureza, e ópticas, como cor, brilho e transparência, conhecidos popularmente como
“pedras preciosas” (Figura 4.3).
a b c e

d
f Figura 4.3- Gemas naturais: diamante bruto (a) e lapidado (b), berilo
verde gemológica (esmeralda) bruto (c) e lapidado (d), berilo azul
gemológico (água marinha) bruto (e) e lapidado, em um anel (f).

54
Rocha é um agregado natural formado de um ou mais minerais (ou mineraloides)
que compõe as unidades básicas de constituição da Terra (crosta, manto e núcleo) e
que na superfície (ou subsuperfície) da crosta terrestre pode ser representada em mapas
geológicos.
Minério é uma rocha com concentração anômala de minerais ou elementos
químicos de interesse econômico, que podem ser minerados com lucro.

4.2.2- CRISTALOGRAFIA
Introdução
Uma das características mais expressivas dos minerais é o fato deles ocorrerem
frequentemente com formas geométricas regulares, típicas das substâncias cristalinas
ou cristais. O estudo dos cristais e das leis que governam seu crescimento, forma externa
e estrutura interna, denomina-se . Como nem todo cristal é um mineral, o
escopo da cristalografia é mais amplo que da mineralogia, incluindo cristais sintéticos.
A ocorrência de faces bem formadas e a ausência completa dessas feições são
apenas duas situações extremas, havendo estados intermediários entre elas que variam
continuamente de um extremo ao outro, conforme o grau de cristalinidade (GC). De
acordo com esse parâmetro, as substâncias cristalinas podem ser bem cristalizadas,
quando apresentam faces bem formadas e progressivamente mais mal cristalizadas, à
medida que as faces tornam-se mal formadas ou não identificadas. O termo cristal é
frequentemente utilizado com modificadores que expressam o GC das substâncias
cristalinas. Desse modo, um cristal com faces bem formadas, em escala macroscópica,
é denominado de ou idiomórfico, com alto GC e velocidade de
cristalização (VC) lenta; um cristal com faces imperfeitamente desenvolvidas é referido
como ou subdiomórfico com GC e VC intermediários, e um cristal sem
faces identificáveis macroscopicamente é denominado de ou informe,
com baixo GC e VC rápida (Fig. 4.4). Um cristal anédrico, para ser caracterizado como
tal, é necessário que sua natureza cristalina seja reconhecida. Se os diminutos cristais
só podem ser reconhecidos com auxílio de um microscópio, os mesmos são
denominados de . Certas substâncias cristalinas cristalizam-se
tão rapidamente que os diminutos cristais não são reconhecidos nem no microscópio e
sua natureza cristalina só pode ser identificada através da difração dos raios-X e, por
isso, são referidos como (Fig. 4.4 e 4.5 a). A ausência completa
de estrutura interna ordenada é reconhecida quando a substância não difrata os raios-
X, sendo denominada de (Fig. 4.4 e 4.5 b). O comportamento de uma
substância sob a ação dos raios-X é o critério definitivo para definir se ela é cristalina
(difrata os raios-X) ou amorfa (não difrata). Tal procedimento é realizado no equipamento
denominado difratômetro de raios-X.
GC Não difrata os Raios X
Cristais Substâncias amorfas
Cristais subédricos Estrutura desordenada
Cristais Cristais
euédricos anédricos Sem faces em
Faces imperfeitas
Faces perfeitas qualquer escala
Faces observadas Cristais Cristais Difrata os
ao microscópio microcristalinos criptocristalinos Raios X
Sem faces macroscópicas
VC
Figura 4.4- Relação inversa entre o grau de cristalinidade dos cristais e sua velocidade de
cristalização (VE), desde os cristais perfeitos (euédricos) até as substâncias amorfas.

55
b

a
Figura 4.5- Comportamento das substâncias cristalinas e amorfas submetidas a um feixe de
Raios-X. As substâncias cristalinas difratam os Raios-X (a), enquanto que as substâncias
amorfas não afetam os Raios-X (b). Comprimento de onda ( ) dos Raios X = 10 ‾1 a 10 2 A .

Os processos de formação das substâncias cristalinas, denominados processos


de cristalização, ocorrem a partir de um estado desordenado da matéria (líquido ou
gasoso) que evolui para um estado cristalino final (sólido). Em um estado desordenado,
os átomos ou grupos iônicos estão distribuídos de maneira aleatória (desordenada), os
quais se agregam em um arranjo ordenado característico do estado cristalino, através
de mudanças de temperatura, pressão e concentração. As substâncias cristalinas podem
se formar a partir de solução, massa em fusão ou vapor.
A (solução) ocorre por precipitação do
soluto quando a solução atinge o seu ponto de saturação ou solubilidade (quantidade
máxima de soluto que a solução consegue manter por unidade de volume). O ponto de
saturação pode ser alcançado por aumento da concentração, através da adição de soluto
ou evaporação do solvente (água), ou por diminuição da solubilidade através do
abaixamento da temperatura ou pressão. A partir de uma solução salina contendo halita
(NaCl), com uma determinada concentração abaixo de sua solubilidade (por exemplo,
água do mar), a concentração da solução pode aumentar progressivamente até atingir o
seu ponto de saturação, tornando-a saturada, a partir do qual começa a precipitação do
soluto, iniciando a cristalização da halita (Fig. 4.6). Se a precipitação da halita for lenta,
os íons de sódio e cloro que se juntam formam poucos núcleos de cristalização,
originando cristais bem formados e desenvolvidos. Ao contrário, se a precipitação for
rápida, muitos núcleos de cristalização se formarão, originando um agregado de muitos
cristais diminutos malformados.

Evaporação
Nível da água
Lago salino
saturado em HCl

Figura 4.6- Representação esquemática de um


lago salino saturado em halita (NaCl) com um
núcleo de cristalização (NC) de halita com 125
íons de Na+ e Cl‾, formado através da
evaporação da água que, com o contínuo
crescimento do NC, dará origem a um cristal de
halita.
1 angstrom (A)

56
A se inicia quando o ponto de fusão da
substância é alcançado, por abaixamento progressivo da temperatura. O exemplo mais
simples e comum é a formação de cristais de gelo a partir do congelamento da água,
quando as moléculas H2O que moviam-se livremente no líquido começam a ocupar
posições fixas no espaço, em uma ordem tridimensional definida, cristalizando-se em
gelo. A formação das rochas ígneas a partir de magmas é mais complexa, pois o magma
é uma fusão com muitos componentes, cada um com seu ponto de fusão. Quando o
magma resfria, a cristalização dos minerais inicia quando seus pontos de fusão são
alcançados, começando pelos minerais de maior ponto de fusão e terminando pelos de
menor ponto de fusão.
Os princípios da são basicamente os mesmos da
cristalização a partir de solução e fusão, embora seja bem menos frequente que estes
dois últimos processos. Com o resfriamento do gás, os átomos ou moléculas dissociadas
são atraídos entre si, podendo passar diretamente para o estado sólido com estrutura
cristalina. O exemplo mais comum deste modo de cristalização é a formação de flocos
de neve a partir do ar carregado de vapor de água. Outro exemplo é a formação de
cristais de enxofre a partir de vapores impregnados de enxofre das fumarolas vulcânicas.
O material já cristalizado pode ainda passar por um processo de recristalização. O
exemplo natural mais típico deste processo é o metamorfismo, responsável pela
formação das rochas metamórficas. A atuação do metamorfismo sobre as rochas
provoca recristalização das mesmas, através de mudanças de temperatura e pressão,
gerando novas rochas com novos minerais.
Simetria dos cristais
Em condições ideais de formação, a regularidade geométrica das formas externas
dos cristais tende a ser perfeita, o que é evidenciado pela simetria apresentada por estas
formas. A simetria consiste na repetição normal ou invertida de uma mesma feição
(objeto) do cristal (face ou grupo de faces), a qual pode ser visualizada através das
operações e seus respectivos elementos de simetria. As três operações fundamentais
de simetria e seus elementos de simetria, reconhecidas nos cristais e também em objetos
do cotidiano, são: Reflexão, cujo elemento de simetria é um plano; Rotação, cujo
elemento de simetria é um eixo; Inversão, cujo elemento de simetria é um centro.
Existe ainda uma quarta operação de simetria resultante da combinação entre rotação e
inversão, denominada Inversão Rotatória, cujos elementos de simetria são o eixo e o
centro.
A operação reflexão consiste na repetição do objeto (ou motivo) através de uma
reflexão em relação a um plano de simetria (representado por m), resultando em duas
imagens enantiomorfas (espelhadas) do motivo (Fig. 4.7).
a Figura 4.7- Simetria de reflexão em
um mineral (a) e em uma casa (b),
b
onde o plano de reflexão (espelho)
divide o objeto em duas bandas
simétricas (espelhadas).

57
A operação rotação é definida pela repetição do objeto (ou motivo) durante uma
rotação de 180o, 120o, 90o ou 60o em torno de um eixo imaginário (representado por A n)
que passa pelo centro geométrico do cristal, sendo n a ordem do eixo, ou seja, o número
de repetições do motivo, durante uma rotação completa (360 o). Em uma rotação de 360o,
o eixo de rotação pode ser binário (A 2), com 2 repetições (n = 2) a 180o cada uma (Fig.
4.8), ternário (A 3), com 3 repetições (n = 3) a 120o cada uma (Fig. 4.9), quaternário (A 4),
com 4 repetições (n = 4) a 90o cada uma (Fig. 4.10) e senário (A 6), com 6 repetições
(n = 6) a 60o cada uma (Fig. 4.11).

a b
Figura 4.8- Simetria de rotação
binária em um mineral (a) e em uma
balança (b), onde duas feições
repetidas e rotacionadas a 180 são
simétricas em relação ao eixo
binário (eixo com elipse na
extremidade superior). Observar
que o cristal possui 3 eixos binários
(a, b e c). Motivo em vermelho no
cristal.

b
a

Figura 4.9- Simetria de rotação


ternária em um mineral (a) e em uma
hélice de ventilador (b), onde três
feições repetidas e rotacionadas a
120 são simétricas em relação ao
eixo ternário (eixo com triângulo na
extremidade superior). Motivo em
vermelho no cristal.

a Figura 4.10- Simetria de rotação b


quaternária em um mineral (a) e
em uma hélice de cata-vento
(b), onde quatro feições
repetidas e rotacionadas a 90
são simétricas em relação ao
eixo quaternário (com quadrado
na extremidade superior).
Observar que o cristal possui 3
eixos quaternários (motivo:
faces vermelhas) e 4 eixos
ternários (motivo: faces cinzas).

A simetria de inversão é caracterizada pela presença de um centro de simetria


(representado por i) que coincide com o centro geométrico do cristal, em relação ao qual
as feições geométricas do cristal são invertidas (Fig. 4.12).

58
a Figura 4.11- Simetria de rotação b
senária em um mineral (a) e em
uma flor (b), onde seis feições
repetidas e rotacionadas a 60 
são simétricas em relação ao eixo
senário (eixo com hexágono na
extremidade superior). Observar
que o cristal, além do eixo
senário, contém 3 eixos binários
horizontais e um plano de simetria
(m) separando as duas
extremidades piramidais. Motivo
em vermelho no cristal.

a b
Figura 4.12- Simetria de
inversão em um mineral (a) e
em uma sala com aranhas em
dois cantos opostos no piso e
no teto (b), onde duas feições
invertidas são simétricas em
relação a um centro de simetria
(i).

A simetria de inversão rotatória caracteriza-se pela combinação de rotação com


inversão (eixo de rotação + centro de inversão = eixo de inversão). Ou seja, cada
repetição de feições dos cristais ocorre por meio de uma rotação seguida por uma
inversão. Os eixos de inversão são diferenciados com uma barra sobre A (A ) e podem
ser ternários (A 3), quaternários (A 4) e senários (A 6). O eixo binário de inversão (A 2)
equivale a um plano de simetria e, por isso, não é considerado. O eixo ternário de
inversão equivale a um eixo ternário (A3) + um centro de simetria (i), representado por
um triângulo + círculo na extremidade do eixo. O cristal da figura 4.10 contém um centro
de simetria (i) e, desse modo, os quatro eixos ternários são eixos ternários de inversão
(Fig. 4.13 a). O eixo quaternário de inversão contém um eixo binário, sendo representado
por um eixo com quadrado + elipse na ponta (Fig. 4.13 b). O eixo senário de inversão
equivale a um eixo ternário + um plano de simetria ( ) perpendicular ao eixo,
representado por um eixo com hexágono + triângulo na extremidade (Fig. 4.13 c).
Ao representar a simetria de um cristal deve-se esclarecer o número dos
elementos de simetria (planos m, eixos An , centro i e eixos de inversão A ). Por exemplo,
a simetria de um cristal com um centro, 1 eixo quaternário 4 binários e 5 planos é
representada Por: i, 1A 4, 4A 2, 5m e a simetria com 3 eixos quaternários, 4 ternários de
inversão, 6 binários e 9 planos, é representada por: 3A 4, 4A 3, 6A 2, 9m.

59
a b c

Figura 4.13- Eixos de inversão rotatória: Eixo ternário de inversão (A 3 = A3 + i)


representado por eixo com triângulo + círculo na extremidade (a). Eixo quaternário de inversão
(A 4) representado por eixo com quadrado + elipse na extremidade (b). Eixo senário de inversão
(A 6 = A3 + m), eixo com hexágono + triângulo na extremidade (c).

Estrutura cristalina nos minerais


A característica fundamental das substâncias cristalinas é a estrutura interna
ordenada, definida pela disposição ordenada no espaço das partículas constituintes dos
cristais (átomos, íons ou moléculas) que formam as unidades básicas das substâncias
cristalinas, denominadas . Como uma parede formada pela repetição
bidimensional de tijolos (Fig. 4.14 a), a estrutura cristalina dos minerais é considerada
como um retículo formado pela repetição tridimensional da cela unitária (Fig. 4.14 b). Os
parâmetros básicos que caracterizam a estrutura cristalina são os mecanismos de
repetição da cela unitária para formar o retículo cristalino e a forma e as dimensões da
cela, definidas no espaço pelos eixos cristalográficos a, b e c e os ângulos entre eles: (
entre b e c), ( entre a e c) e  (entre a e b), conforme a figura 4.14 c. A forma externa
dos cristais seria, então, um reflexo da sua estrutura interna ordenada, dependendo,
portanto, não só da forma da cela unitária, mas também do mecanismo de repetição
destas unidades (Fig. 4.15).
a b c

Figura 4.14- Arranjo ordenado de tijolos (a) e de íons na cela unitária da halita (b). Eixos
cristalográficos (a, b, c) e os ângulos (,  e ) entre os eixos (c).

De acordo com a forma da cela unitária, existem seis sistemas cristalinos,


diferenciados pelas dimensões dos eixos cristalográficos e dos ângulos entre eles, do
mais simétrico para o menos simétrico: Isométrico, Tetragonal, Hexagonal,
Ortorrômbico, Monoclínico e Triclínico (Tabela 4.1). O sistema hexagonal é referenciado
com 4 eixos cristalográficos, 3 horizontais (a1, a2 e a3) e um vertical (c). Os ângulos entre
os 3 eixos horizontais e o eixo vertical são ortogonais ( =  =  = 90 ) e o ângulo entre os
eixos horizontais ( ) é 120 .
60
a b c

5 angstrom (A)

Figura 4.15- Repetição de celas unitárias cúbicas, com tamanhos aproximado de 5 angstrom,
gerando cristais com diferentes formas: cúbica (a), octaédrica (b) e dodecaédrica (c).

No padrão cristalográfico americano o sistema hexagonal é subdividido em duas


divisões seguintes: hexagonal-H, com cela hexagonal, na qual o eixo c é um eixo
senário, e hexagonal-R, com cela romboédrica, na qual o eixo c é um eixo ternário (Fig.
4.16). Entretanto, a escola europeia de cristalografia considera a divisão Hexagonal-R
dos americanos como um sistema cristalino independente, denominado Trigonal,
totalizando, portanto, 7 sistemas cristalinos. Toda e qualquer substância cristalina
(natural ou não) se enquadra em um dos seis (ou sete) sistemas cristalinos.

a1 = a2 = a3
 =  =  = 90
 = 120

Figura 4.16- As duas divisões do sistema Hexagonal: Hexagonal-H, no qual o eixo c é um eixo
de simetria senária (a) e Hexagonal-R, no qual o eixo c é um eixo ternário (b). Nas duas divisões
o
do sistema hexagonal os eixos horizontais (a1, a2 e a3) fazem um ângulo de 120 entre eles e
são perpendiculares ao eixo vertical c.

Formas cristalinas
Forma em cristalografia consiste em um grupo de faces de um cristal que mantém
a mesma relação com os elementos de simetria (eixos ou planos), podendo haver mais
de uma forma em um mesmo cristal. São 48 formas, 33 não isométricas e 15 isométricas.
As formas não isométricas pertencem aos sistemas tetragonal, ortorrômbico, hexagonal,
monoclínico e triclínico, e podem ser fechadas (se encerram espaço) ou abertas (se não
encerram espaço). As formas abertas não isométricas só ocorrem associadas com
outras formas porque os cristais têm que encerrar espaço. Das 33 formas não
isométricas, 18 são abertas. As formas abertas mais simples são o pédio e o pinacoide,
constituídas por apenas uma face (pédio) e duas faces (pinacoide) perpendiculares a um
eixo cristalográfico, cuja simetria depende do sistema cristalino (Fig. 4. 17 a). O domo e
o esfenoide são duas formas do sistema monoclínico, também constituídas por duas
faces convergentes (Fig. 4.17 b), simétricas a um plano que contém os eixos a e c (domo)
ou ao eixo b (esfenoide).

61
Tabela 4.1- Os seis sistemas cristalinos e seus elementos de simetria característicos, conforme
o padrão cristalográfico americano.
62
a b c d

Figura 4.17- Formas abertas não isométricas simples constituídas por uma ou duas faces: Pédio
(uma face) e pinacoide (duas faces paralelas) simétricas a um eixo (a). Duas faces não paralelas
simétricas a um plano (domo) e a um eixo (esfenoide), do sistema monoclínico (b).

Os prismas formam uma família de 7 formas não isométricas abertas, constituídas


por faces verticais simétricas ao eixo c do cristal, cuja ordem depende do sistema
cristalino. Para fechar o espaço dos cristais, os prismas ocorrem sempre associados a
outras formas, como os pinacoides (bases dos prismas). Os prismas possuem centro de
simetria, com exceção dos prismas trigonal e ditrigonal (Fig. 4.18).

a b c
d

e f g

Figura 4.18- Família dos prismas: prismas trigonal (a) e ditrigonal (b) do sistema hexagonal-H,
com eixo c = A 6 . Prismas tetragonal (c) e ditetragonal (d) do sistema tetragonal, eixo c = A4.
Prisma rômbico do sistema ortorrômbico, com eixo c = A2 (e). Prismas hexagonal (f) e
dihexagonal (g) do sistema hexagonal-H, com eixo c = A6 .

As pirâmides formam outra família de 7 formas não isométricas abertas, sem


centro de simetria, constituídas por faces não paralelas que convergem para um vértice,
simétricas a um eixo de simetria (eixo c), cuja ordem depende do sistema cristalino. Para
fechar o espaço, as pirâmides ocorrem sempre associadas a outras formas, como os
pédios que formam a base das pirâmides (Fig. 4. 19).
15 formas não isométricas são fechadas. A família das bipirâmides compreendem
7 formas fechadas formadas por duas pirâmides justapostas inversas, separadas por um
plano m de simetria (Fig. 4.20). As faces das bipirâmides são simétricas em relação a
um eixo de simetria (eixo c), cuja ordem depende do sistema cristalino. As bipirâmides
possuem centro de simetria, exceto a trigonal e ditrigonal.

63
a b c d

e f

g
Figura 4.19- Família das pirâmides: pirâmide trigonal (a) e pirâmide ditrigonal (b), do sistema
hexagonal-R, com eixo c = A 3 . Pirâmides tetragonal (c) e ditetragonal (d), com eixo c = A 4.
Pirâmide rômbica (ortorrômbico), com eixo c = A 2 (e). Pirâmides hexagonal (f) e dihexagonal (g),
do sistema hexagonal-H, com eixo c = A 6 .

a b c d

e f

Figura 4.20- Família das bipirâmides: bipirâmides trigonal (a) e ditrigonal (b), do sistema
hexagonal-H, com eixo c = A6. Bipirâmides tetragonal (c) e ditetragonal (d), do sistema
tetragonal, com eixo c = A 4. Bipirâmide rômbica (ortorrômbico), com eixo c = A 2 (e). Bipirâmides
hexagonal (f) e dihexagonal (g) do sistema hexagonal-H, com eixo c = A 6.

Os trapezoedros são três: trigonal do sistema hexagonal-R, tetragonal (sistema


tetragonal) e hexagonal do sistema hexagonal-H, sem centro de simetria (Fig. 4.21 a, b,
c). Os escalenoedros são dois: tetragonal (sistema tetragonal) e hexagonal do sistema
hexagonal-R, este último com centro de simetria (Fig. 4.21 d, e).

64
a b e
c
d

Faces Faces
trapezoédricas escalenoédricas
Figura 4.21- Trapezoedros: trigonal (a), com faces simétrica ao eixo c (ternário), tetragonal (b),
com faces simétricas ao eixo c (quaternário) e hexagonal (c), com faces simétricas ao eixo c
(senário). Escalenoedros: tetragonal (d), com faces simétricas ao eixo c (quaternário de
inversão) e hexagonal (e), com faces simétricas ao eixo c (ternário de inversão).

Os biesfenoides são formas não isométricas fechadas formadas por dois


esfenoides justapostos, sem centro de simetria. São dois biesfenoides: tetragonal (Fig.
4.22 a), cujas faces são triângulos isósceles simétricas ao eixo (quaternário de
inversão) e rômbico, do sistema ortorrômbico (Fig. 4.22 b), cujas faces são triângulos
escalenos simétricas ao eixo c (binário). O romboedro (Fig. 4.22c) é uma forma não
isométrica fechada, com centro de simetria ( ) e faces losangulares simétricas ao eixo
(ternário de inversão).

a b c

Figura 4.22- Biesfenoides: tetragonal (a), com faces simétricas ao eixo c (quaternário de
inversão) e rômbico (b), com faces simétricas ao eixo c (binário). Romboedro (c), com faces
losangulares simétricas ao eixo c (ternário de inversão).

As formas isométricas são todas fechadas e equidimensionais (a = b = c), em um


total de 15 formas. Se caracterizam pela presença de 4 eixos de simetria ternária
inclinados em relação aos eixos cristalográficos, os quais são eixos de simetria
quaternários ou binários. Os cristais isométricos com eixos ternários de inversão (A 3)
possuem centro de simetria (A 3 = A3 + i), havendo nesse grupo dois conjuntos distintos:
1) aqueles em que os eixos cristalográficos (a, b, c) são eixos de simetria quaternária:
cubo, octaedro e suas formas derivadas: tetraexaedro (dividindo cada face do cubo em
4), trioctaedros trigonal e tetragonal (dividindo cada face do octaedro em 3 faces) e
hexaoctaedro (dividindo cada face do octaedro em 6 faces), além do dodecaedro (Fig.
4.23), e 2) aqueles em que os eixos cristalográficos são eixos de simetria binária:
piritoedros ou dodecaedro pentagonal, com faces pentagonais, e diploedro ou
didodecaedro, no qual cada face do dodecaedro é dividida em duas (Fig. 4.24).

65
a b c

d e f

g
Figura 4.23- Formas isométricas com 4 eixos ternários de
inversão (A3 = A3 + i) inclinados aos eixos cristalográficos de
simetria quaternária: Cubo (a), octaedro (b), dodecaedro (c),
tetraexaedro (d), derivada do cubo (dividindo cada face em
4), trioctaedros trigonal (e) e tetragonal (f) e hexaoctaedro
(g): derivadas do octaedro, dividindo cada face em 3
(trioctaedros) ou 6 (hexaoctaedro).

a b

Figura 4.24- Formas isométricas com 4 eixos ternários de inversão inclinados aos eixos
cristalográficos de simetria binária: Piritoedro ou dodecaedro pentagonal (a) e diploedro ou
didodecaedro (b)

Os cristais isométricos com eixos ternários comuns (A3) não possuem centro de
simetria, havendo nesse grupo dois conjuntos distintos: aqueles em que os eixos
cristalográficos são eixos de simetria quaternária de inversão (A 4) ou binária (A2):
tetraedro e suas formas derivadas: tritetraedros trigonal, tetragonal e pentagonal (cada
face do tetraedro é dividida em 3) e hexatetraedros, em que cada face do tetraedro é
dividida em 6 (Fig. 4.25 a, b, c, d, e), e aqueles em que os eixos cristalográficos são
eixos de simetria quaternária comum (A4): giroedros ou trioctaedro pentagonal (Fig.
4.25 f).
66
c
a b

d e f

Figura 4.25- Formas isométricas com 4 eixos ternários (sem centro de simetria), inclinados aos
eixos cristalográficos de simetria quaternária de inversão ou binária: Tetraedro (a), tritetraedros
trigonal (b), tetragonal (c) e pentagonal (d), e hexatetraedro (e): derivadas do tetraedro
(dividindo cada face em 3 ou 6). Formas com 4 eixos ternários inclinados aos eixos
cristalográficos de simetria quaternária: giroedro ou trioctaedro pentagonal (f).

Essas 48 formas cristalinas podem ocorrer nos minerais tanto de maneira isoladas
(uma única forma) ou, mais frequentemente, combinadas (2 ou mais formas no mesmo
cristal). Nos cristais não isométricos é comum a ocorrência de combinações entre
prismas e pirâmides ou bipirâmides (Fig. 4.26). No sistema isométrico existem muitas
possibilidades de combinações de formas, sendo frequentes as combinações
envolvendo o cubo, octaedro e dodecaedro (Fig. 4.27).

a b
c

Pédio

Figura 4.26- Combinação de prismas e bipirâmides:


sistema ortorrômbico (a) e hexagonal-H (b). Prisma
+ pirâmide tetragonal (c)

a b
Figura 4.27- Combinação de
formas no sistema isométrico:
Cubo, faces vermelhas +
dodecaedro, faces cinzas (a).
Cubo, faces vermelhas +
dodecaedro, faces cinza +
octaedro, faces azuis clara (b).

67
Classes cristalinas
Na natureza existem apenas 32 tipos de combinações entre os elementos de
simetria, as quais correspondem às 32 classes de simetria cristalina, distribuídas nos
seis sistemas cristalinos (Tabela 4.2).
Sistema Simetria
Formas cristalinas
Cristalino Classe cristalina
3A4 , 4A3 , 6A2 , 9m Cubo, octaedro, dodecaedro, tetraexaedro,
(1A 3 = 1A3 + ) trioctaedros (trigonal, tetragonal), hexaoctaedro
3A 4 , 4A3 , 6m Tetraedro, tritetraedros (trigonal e tetragonal)
Hexatetraedro
Isométrico
3A4 , 4A3 , 6A2 Trioctaedro pentagonal (Giroedro)
3A2 , 4A3 ,3m Piritoedro, didodecaedro (diploedro)
3A2 , 4A3 Tritetraedro pentagonal (tetartoedro)
, 1A6 , 6A2 , 7m Prisma e Bipirâmide hexagonal e dihexagonal
1A6 , 3A2 , 3m Prisma e Bipirâmide trigonal e ditrigonal
1A6 , 6m Pirâmide hexagonal e dihexagonal
1A6 , 6A2 Trapezoedro hexagonal
Hexagonal

, 1A6 , 1m Prisma e Bipirâmide hexagonal


1A6 (= 1A3 + m) Prisma e Bipirâmide trigonal
1A6 Pirâmide hexagonal e dihexagonal
1A3 , 3A2 , 3m Romboedro, escalenoedro hexagonal
1A3 , 3m Pirâmide trigonal e ditrigonal
1A3 , 3A2 Trapezoedro trigonal
1A3 (= + 1A3) Romboedro
1A3 Pirâmide trigonal e ditrigonal
, 1A4 , 4A2 , 5m Prisma e Bipirâmide tetragonal e ditetragonal
1A4 , 2A2 , 2m Biesfenoide, escalenoedro tetragonal
1A4 , 4m Pirâmide tetragonal e ditetragonal
Tetragonal 1A4 , 4A2 Trapezoedro tetragonal
, 1A4 , 1m Prisma e bipirâmide tetragonal e ditetragonal
1A4 Biesfenoide tetragonal
1A4 Pirâmide tetragonal e ditetragonal
, 3A2 , 3m Prisma e Bipirâmide rômbica
Ortorrômbico 1A2 , 2m Pirâmide rômbica
3A2 Biesfenoide rômbico
, 1A2 , 1m Prisma monoclínico
1m Domo (2 domos se fechando)
Monoclínico
1A2 Esfenoide (2 esfenoides se fechando)
Pinacoide (3 pinacóides fechados)
Triclínico
Nenhuma simetria Pédio (6ou mais pédios fechados)
Tabela 4.2- As 32 classes cristalinas distribuídas nos seis sistemas cristalinos e suas
respectivas formas cristalinas. Em negrito a simetria característica de cada sistema cristalino,
presentes em todas as classes do sistema.

68
A classificação dos cristais compreende não apenas a definição de seu sistema
cristalino e forma(s) presente(s), mas também a definição de sua classe cristalina. O
sistema isométrico contém 5 classes, o hexagonal 12 classes (7 do hexagonal-H e 5 do
hexagonal-R), o tetragonal 7 classes, o ortorrômbico 3, o monoclínico 3 e o triclínico 2,
que se diferenciam pelas formas e simetria das mesmas (Tabela 4.2).
Agregados cristalinos e cristais geminados
Os minerais ocorrem frequentemente na natureza formando agregados de cristais
malformados, do mesmo mineral ou de diferentes minerais, normalmente sem uma
ordem de relação entre os indivíduos cristalinos (Fig. 4.28 a, b). Mais raramente, os
agregados mostram uma certa ordem entre os cristais (Fig. 4.28 c).

a b c

Figura 4.28- Agregados aleatórios de cristais placosos (a) e prismáticos (b) de albita.
Agregados de cristais prismáticos paralelos de quartzo (c).

Excepcionalmente podem formar agregados cristalinos com uma ordem simétrica


entre os indivíduos cristalinos, denominada geminação. Dois ou mais cristais geminados
crescem simultaneamente controlados pelos elementos de simetria da geminação. A
ordem de simetria que define a geminação pode ser de dois tipos principais:
: os cristais geminados são simétricos em relação a um plano
(plano do geminado). Exemplos: geminação de cristais octaédricos do mineral espinélio
MgAl2O4 (Fig. 4.29 a, b, c); geminação do Japão no quartzo (Fig. 4.29 d, e); geminação
em cotovelo de cristais prismáticos tetragonais de cassiterita SnO 2 e rutilo TiO2 (Fig.
4.30). O zircão (ZrSiO4) também gemina em cotovelo.
a Octaedro não geminado b c
Plano do geminado

e
d

Figura 4.29- Geminação de contato do espinélio, mostrando um octaedro não geminado (a),
dois octaedros geminados em relação ao plano do geminado (b) e dois cristais naturais de
espinélios geminados (c). Geminação do Japão do quartzo, mostrando o plano do geminado (d)
e dois cristais prismáticos naturais geminados de quartzo.

69
a d Rutilo

Plano do
geminado Plano do
geminado

b c
Figura 4.30- Geminação de contato em cotovelo de dois cristais prismáticos de cassiterita (a) e
rutilo (b, c) mostrando o plano do geminado, e dois cristais naturais de rutilo geminado em
cotovelo (d).

: os cristais geminados são simétricos em relação a um eixo


(eixo do geminado). Exemplos: geminação de cristais cúbicos de fluorita CaF2 e de pirita
FeS2 (Fig. 4.31); geminação em cruz de prismas de estaurolita (silicato de Al, Fe e Mg),
Fig. 4.32; cruz de ferro da pirita: piritoedros geminados (Fig. 4.33).

a b c

Figura 4.31- Geminação de penetração de dois cubos de fluorita, mostrando o eixo do


geminado (a). Cristais cúbicos geminados naturais de fluorita (b) e pirita (c).

a c d

b
Figura 4.32- Geminação de penetração em cruz de prismas de estaurolita, mostrando o eixo do
geminado (a, b). Cristais prismáticos geminados naturais de estaurolita (c, d).

a c

b
Figura 4.33- Piritoedro não geminado natural de pirita (a). Geminação de penetração cruz de
ferro da pirita: dois cristais de piritoedros geminados, mostrando o eixo do geminado (b).
Agregado natural de cristais de piritoedros geminados de pirita (c).

70
Geminação com mais de dois cristais denomina-se geminação múltipla. Esta
categoria de geminação só ocorre por contato, com mais de um plano do geminado, e
pode ser de dois tipos: . Exemplo: geminação
polissintética da albita que ocorre nos plagioclásios (Fig. 4.34), e
. Exemplo: geminação cíclica do crisoberilo BeAl 2O4 , em forma
de roseta (Fig. 4.35).

a b
Figura 4.34- Geminação
polissintética da albita (a). Cristal
natural de plagioclásio, visto ao
microscópio, com geminação
polissintética da albita (b).

a
c
b

Figura 4.35- Geminação cíclica do crisoberilo, com seis planos do geminado não paralelos e
convergentes (a, b). Cristal natural de crisoberilo com geminação cíclica (c).

4.2.3- MINERALOGIA FÍSICA


Introdução
A Mineralogia Física compreende a parte da mineralogia que trata das
características e propriedades físicas dos minerais. Serão consideradas aqui apenas as
propriedades físicas observadas macroscopicamente ou através de testes relativamente
simples, não incluindo, portanto, aquelas propriedades que requerem preparação
especial das amostras e equipamentos mais sofisticados para sua observação, tais como
a difração de raios-x e as propriedades óticas que necessitam de microscópio. As
propriedades físicas dos minerais são consequências diretas de sua estrutura cristalina
e de suas características químicas, havendo, portanto, uma interrelação entre a
mineralogia física, cristalografia e mineralogia química.
Hábito dos minerais
Uma das características mais expressivas dos minerais é o fato deles ocorrerem
frequentemente com formas geométricas regulares. Embora a regularidade das formas
dos minerais seja variável e minerais bem cristalizados são mais exceções do que a
regra, suas formam são características diagnósticas importantes dos minerais que se
mantêm constante, assim como seus ângulos interfaciais, independentemente de sua
procedência.
O hábito é a maneira como os minerais ocorrem, sendo a característica física de
observação mais imediata dos minerais. Primeiramente deve-se distinguir se os minerais
ocorrem em cristais isolados ou em agregados cristalinos. Em ambos os casos os
indivíduos cristalinos podem ocorrer bem cristalizados ou não. Para os cristais bem
cristalizados (isolados ou em agregados) deve-se definir as formas presentes. No
71
sistema isométrico as formas mais frequentes são o cubo, p. ex. na pirita FeS2 , galena
PbS, halita NaCl e fluorita CaF2 (Fig. 4.36), octaedro, p. ex. na magnetita Fe 3O4 , fluorita,
diamante (Fig. 4.37) e dodecaedro, p. ex. na granada (Mg,Fe)3Al2(SiO4)3 , pirita (Fig.
4.38) e combinações destas três formas (Fig. 4.39).
a b c d

Halita

e Figura 4.36- Exemplos de minerais isométricos cúbicos:


Monocristais de pirita FeS2 (a, b); monocristal de galena PbS (c);
monocristal de halita NaCl (d); agregado de cristais cúbicos de
Fluorita CaF2 (e).

a Fluorita
b c

Diamante

Figura 4.37- Exemplos de minerais isométricos octaédricos: Monocristal de magnetita (a);


monocristal de fluorita (b); monocristal de diamante (c).

a Dodecaedro
b c

Piritoedro

Figura 4.38- Exemplos de minerais isométricos dodecaédricos: Monocristal de granada (a);


agregado de cristais dodecaédricos de granada, variedade uvarovita (b); monocristal de
piritoedro (dodecaedro pentagonal) de pirita (c).

Figura 4.39- Cristais de granada com


combinação de cubo e dodecaedro.

72
Nos sistemas não isométricos, são frequentes os prismas e associação destes
com pirâmide e bipirâmides, como por exemplo nos minerais rutilo e zircão (tetragonal),
turmalina e berilo Be3Al2(SiO3)6 (hexagonal), topázio Al 2SiO4(OH,F)2 (ortorrômbico),
conforme as figuras 4.40 (prismas) e 4.41 (primas + pirâmide ou bipirâmide). São
também comuns cristais romboédricos em carbonatos (Fig. 4.42).
a b c Berilo d
esmeralda
Rutilo

Berilo água
marinha
Turmalina

e Figura 4.40- Exemplos de minerais não isométricos prismáticos: Prisma


tetragonal de rutilo (a); prismas ditrigonais de turmalina (b); prismas
hexagonais de berilo água marinha (c) e esmeralda (d); prisma rômbico de
topázio imperial (e)

a b c
d

Rutilo Zircão

Berilo água
marinha
e f g

Figura 4.41- Exemplos de minerais não isométricos prismáticos associados com pirâmides ou
bipirâmides: Prisma piramidal tetragonal de rutilo (a); prisma bipiramidal tetragonal de zircão
(b); prismas piramidais ditrigonais de turmalina (c, d); prisma piramidal hexagonal-H de berilo
água marinha (e); prismas piramidais rômbicos de topázio imperial (f, g).

a b
Figura 4.42- Agregado de cristais
romboédricos (a) e monocristal
romboédrico de calcita transparente. (b).

73
Para os agregados de cristais diminutos ou mal cristalizados procura-se definir a
maneira de ocorrência do conjunto, de acordo com a morfologia dos indivíduos cristalinos
e com a relação espacial entre eles. Diversas terminologias existem na literatura
referindo-se ao modo de ocorrência desses agregados cristalinos.
1- são prismas cujos sistemas cristalinos são de
difícil identificação à vista desarmada, por serem muito finos.
cristais na forma de agulhas (Fig. 4.43 a). Ex. rutilo, turmalina, aragonita CaCO3 .
cristais na forma de fibras ou cabelos (Fig. 4.43 b, c). Ex. serpentina
variedade crisotila (asbesto), gipsita CaSO 4.2H2O, malaquita Cu2(CO3)(OH), millerita
NiS. Com agulhas ou fibras não paralelas: quando são convergentes (Fig. 4.43 d)
e quando ocorrem na forma de retículo (Fig. 4.43 e).
Rutilo no quartzo a b Crisotila c

d e
Figura 4.43- Cristais aciculares de
rutilo no quartzo (a). Cristais
fibrosos de serpentina crisotila (b) e
halotriquita (c). Cristais aciculares
radiais de aragonita (d). Cristais
aciculares reticulado de rutilo (e).
Aragonita Rutilo

Agregado de cristais prismáticos na forma de colunas (Fig. 4.44 a, b). São mais
grossos que os cristais aciculares. Ex. turmalina, berilo, aragonita (CaCO3)
cristais alongados na forma de lâminas (Fig. 4.44 c, d). Ex. cianita (Al 2SiO5),
talco Mg3Si4O10(OH)2 e estibinita (Sb2S3).

a b c

Esmeralda

Talco d
Figura 4.44- Exemplos de agregado de cristais prismáticos
colunares de turmalina (a) e de berilo esmeralda (b). Agregado
de cristais laminares de cianita (c) e talco (d).

74
2- Agregados de cristais achatados e planares: são minerais com estruturas
cristalinas constituídas por unidades planares interligadas por ligações químicas fracas.
agregados de placas finas (Fig. 4.45 a, b, c). Ex. micas, clorita,
barita.
agregado coeso de placas finas (Fig. 4.45 d, e). Ex. lepidolita,
serpentina variedade antigorita, gipso, talco.
Mica b c

Mica

a Barita

d e
Figura 4.45- Agregados de cristais
placosos de mica branca (a, b) e barita
(c). Cristais tabulares de lepidolita (d) e
serpentina antigorita (e).
Lepidolita Antigorita

agregado de esferas radiadas intercrescidas. Dependendo da morfologia


do agregado coloforme, ele recebe denominações específicas, como , na forma
de cacho de uvas (Fig. 4.46 a, b, c); , na forma de rim (Fig. 4.46 d) e ,
na forma de mamas (Fig. 4.46 e), mas as diferenças entre esses 3 tipos são sutis e o
termo coloforme pode ser utilizado quando não há uma boa definição da morfologia. Ex.
pirolusita MnO2, hematita Fe2O3 , malaquita Cu2(CO3)(OH), rodocrosita MnCO3 ,
smithsonita ZnCO3 .
a b Rodocrosita c

Pirolusita Malaquita

d e
Figura 4.46- Agregados coloforme
de cristais esféricos: pirolusita (a),
malaquita (b) e rodocrosita (c)
botrioidais. Hematita reniforme (d) e
Smithsonita mamilar (e).
Hematita

Se o agregado é constituído por esferas distintas (não intercrescidas), há dois


tipos de hábitos, dependendo da forma e tamanho das esferas: , na forma de
ovas de peixe (Fig. 4.47 a), p. ex. goethita FeO(OH), hematita, e , na forma de
ervilhas (Fig. 4.47 b, c), p. ex. calcedônia (sílica microcristalina) e calcita CaCO3.

75
a c

Calcedônia b Calcita

Figura 4.47- Nódulos oolíticos de goethita em bauxita (a) e pisólitos de calcedônia (b) e calcita
(c).

4- Agregado de cristais equidimensionais malformados:


agregado coeso de grãos, podendo ser de granulação grossa, média ou fina
(Fig. 4.48 a, b). Embora os cristais não isométricos não sejam equidimensionais, eles
podem formar grãos aproximadamente equidimensionais por desgaste erosivo. Ex.
quartzo, granada, magnetita, topázio, calcita, etc.
granular fino friável. Ex. laterita, bauxita (Fig. 4.48 c).
massa mineral compacta individual (Fig. 4.48 d, e) ou agregado granular fino,
sem forma definida (Fig. 4.48 f).
a b c

Dunito Conglomerado Bauxita

d e
f

Quartzo Caulinita

Figura 4.48- Dunito constituído por olivina granular grossa (a). Conglomerado com quartzo
granular médio (b). Bauxita terrosa, granular fina friável (c). Cristal anédrico de quartzo
maciço (d). Cristais de pirita anédricas maciças (e). Caulinita maciça, formada por agregado
de microcristais (f).

5- Hábitos especiais:
cavidade rochosa preenchida parcialmente por material normalmente
bandado na borda, frequentemente recoberto por cristais que se projetam para o centro
vazio da cavidade (Fig. 4.49 a). Ex. Ametista (cristal de quartzo lilás), cristal de rocha
(cristal de quartzo incolor), citrino (quartzo amarelo), turmalina.
superfície recoberta por uma camada de pequenos cristais que se projetam para
fora (Fig. 4.49 b, c, d). Normalmente é uma porção de um geodo. Ex. ametista, cristal de
rocha, citrino.

76
a Cristal de rocha
b c

d
Figura 4.49- Geodo de ametista (a).
Drusas de cristal de rocha (b), citrino (c) e
ametista (d).

massa mineral na forma de ramos de plantas (Fig. 4.50 a).


Ex. pirolusita, metais nativos (Cu, Au, Ag, Pt).
massa mineral formada por deposição de material em torno
de um núcleo (Fig. 4.50 b, c). Ex. calcita, hematita, malaquita, ágata
deposição de material fino em camadas. Ex. ágata bandada (Fig. 4.50c) e
cristal de rocha com borda bandada de ametista (Fig. 4.50 d).
deposição de material fino na forma de cilindros ou cones, a partir de águas
que gotejam do teto de cavernas (Fig. 4.50 e, f). Ex. calcita, calcedônia (quartzo
microcristalino).
a Pirolusita b c

Malaquita

f
d

e
Estalactite de carbonato Estalactite de calcedônia

Figura 4.50- Pirolusita dendrítica (a). Hábito bandado e concêntrico: malaquita (b) e ágata (c).
Geodo de cristal de rocha com borda bandada de ametista (d). Estalactites de carbonato (e) e
de calcedônia (f).

Propriedades mecânicas
Nesta categoria estão incluídas as propriedades relacionadas à deformação dos
minerais submetidos a algum tipo de esforço mecânico: 1) tenacidade; 2) clivagem,
partição e fratura; 3) dureza (resistência dos minerais ao risco).
77
é o comportamento dos minerais em relação aos esforços mecânicos,
tais como rompimento, esmagamento, encurvamento e rasgamento. Com base na
tenacidade os minerais podem ser enquadrados em três grupos seguintes:
Minerais que se deformam de maneira rúptil (quebradiços): se rompem ou quebram
sob a ação de esforços mecânicos, comportamento característico de materiais com
ligação iônica e/ou covalente. A maioria dos minerais são quebradiços. Exemplos:
quartzo, feldspatos, calcita, fluorita, córindon
Minerais flexíveis e elásticos: são minerais que, ao serem submetidos a esforços
mecânicos, antes de romper, se encurvam e podem retornar ou não à sua forma
original, quando cessa o esforço que os deformou, comportamento característico de
materiais com estrutura constituída por unidades com ligação relativamente forte
interligadas por ligação mais fraca. Minerais com ligação iônica fraca interligando
unidades mais coesas comportam-se de maneira elástica, ou seja, retornam a sua
forma original quando cessa o esforço, como por exemplo as micas. Por outro lado,
minerais cujas ligações mais fracas são do tipo van der Waals comportam-se de
maneira flexível, ou seja, não retornam a sua forma original quando cessa o esforço,
como por exemplo o talco e as serpentinas.
Minerais que se deformam de maneira plástica (não quebradiços): sob a ação de
esforços mecânicos normalmente se amassam e sob a ação de esforços adequados
podem ser transformados em lâminas (maleáveis), estirados para formar fios (dúcteis)
e podem romper sob uma ação cortante (sécteis), comportamento característico de
materiais com ligação metálica, como por exemplo os metais nativos (ouro, prata,
cobre e platina).
Quando um mineral é submetido a esforços
mecânicos suficientes para rompê-lo, o rompimento pode ocorrer de duas maneiras,
dependendo da intensidade das forças de ligação entre as partículas componentes do
mineral e da presença (ou ausência) de defeitos em sua estrutura cristalina. clivagem
e partição: o rompimento ocorre preferentemente ao longo de direções cristalográficas
(planos atômicos) de fraqueza em suas estruturas cristalinas, onde ocorrem ligações
químicas mais fracas ou defeitos estruturais. fratura: ocorre normalmente em minerais
com apenas um tipo de ligação química, cuja intensidade é aproximadamente igual em
todas as direções. A fratura não ocorre ao longo de direções cristalográficas planas
específicas e sim ao longo de superfícies irregulares.
Os planos de clivagem ocorrem ao longo de direções cristalográficas definidas,
normalmente paralelas às faces ou possíveis faces dos minerais. A caracterização
adequada da clivagem envolve dois parâmetros, a sua qualidade e suas direções
cristalográficas. A qualidade da clivagem pode ser perfeita ou excelente, como nas micas
e na calcita, boa como na maioria dos piroxênios, regular ou imperfeita como na
escapolita e aragonita, e má como na apatita e no berilo. Em muitos minerais a clivagem
é completamente ausente ou indistinta, como no quartzo, pirita, turmalina e olivina. As
direções das clivagens são expressas pelo nome da forma cujas faces são paralelas com
as clivagens. De acordo com as direções, existem cincos tipos de clivagens seguintes:
clivagem basal ou pinacoidal (Fig. 4.51 a, b, c). Exemplos:
micas, molibdenita MoS2 , wolframita (Fe,Mn)WO4 , topázio, grafita.
clivagem prismática (Fig. 4.51 d, e). Exemplos: piroxênios,
anfibólios, enargita.
clivagem cúbica (Fig. 4.52 a, b, c). Ex.: galena, halita, silvita
(KCl). Clivagem romboédrica (Fig. 4.52 d, e). Ex.: calcita, pirargirita Ag3SbS3.
clivagem octaédrica, caracterizada por feições triangulares
na superfície dos minerais (Fig. 4.53 a). Exemplos: fluorita, diamante (Fig. 4.53 b, c).
78
a b c

d
e
Figura 4.51- Clivagens em 1 direção (basal),
nas micas (a), molibdenita (b) e wolframita
(c). Clivagem prismática, em 2 direções (d),
no espodumênio LiAlSi2O6 , piroxênio de Li
(e).

a b c

d e
Figura 4.52- Clivagens em 3
direções: Clivagem cúbica (a) na
galena (b) e halita (c). Clivagem
romboédrica (d) na calcita (e).

a b c

Figura 4.53- Clivagem octaédrica, em quatro direções (a), na fluorita (b) e no diamante (c).

clivagem dodecaédrica, caracterizada por feições


losangulares na superfície dos minerais (Fig. 4.54 a). Exemplos: esfalerita ZnS (Fig.
4.54 b), sodalita Na4Al3(SiO4)3Cl.

79
a b
Figura 4.54- Clivagem dodecaédrica,
em 6 direções (a), na esfalerita (b).

A é o rompimento ao longo de planos de fraqueza na estrutura cristalina


que pode ocorrer em minerais submetidos à pressão, em planos de cristais geminados
por contato e em decorrência do processo de exsolução que ocorre ao longo de
determinadas direções cristalográficas. Como a partição é sempre controlada pela
estrutura cristalina dos minerais, ela assemelha-se à clivagem, mas, ao contrário desta
última, a partição não ocorre em todos os espécimes de um determinado mineral, mas
somente naqueles submetidos às condições especificadas acima. Além disso, os planos
de partição não se desenvolvem de maneira contínua em uma determinada direção,
como nas clivagens, pois somente um certo número de planos de partição ocorre em
uma determinada direção, entre os quais o mineral pode se fraturar irregularmente.
Exemplos notáveis de partição são a partição romboédrica da hematita e do coríndon
(Fig. 4.55a, b, c), octaédrica da magnetita (Fig. 4.55 d), e a partição basal dos piroxênios
(Fig. 4.55 e, f).
a b c d

e
f Figura 4.55- Partição romboédrica (a) da
hematita (b) e córindon (c). Partição
octaédrica da magnetita (d). Partição basal
(e) do piroxênio (f).

O rompimento dos minerais ao longo de superfícies irregulares, não controladas


pela estrutura cristalina, denomina-se . Os principais padrões de fratura
reconhecidos nos minerais são designados pelos seguintes termos:
Conchoidal: quando a fratura ocorre em superfícies curvas e lisas, semelhantes a
superfície interna de uma concha (Fig. 4.52 a). Ex. quartzo, vidro.
Fibrosa ou estilhaçada: quando o mineral se rompe em estilhaços ou fibras. Ex. gipso
(Fig. 4.52 b).
Serrilhada: quando o mineral se rompe segundo uma superfície irregular denteada,
com bordas cortantes. Ex. metais nativos (ouro, prata e cobre).
Irregular ou desigual: quando o mineral se rompe em superfícies rugosas e
irregulares.

80
a b

c
Figura 4.56- Fratura conchoidal no quartzo (a) e na obsidiana, vidro vulcânico natural (b).
Fratura fibrosa ou estilhaçada no gipso (c).

(representada por ) é a resistência que uma superfície lisa e fresca de


um mineral oferece ao ser riscada. A dureza reflete, portanto, a resposta dos minerais
aos esforços mecânicos sem rompimento. Minerais de características plásticas, como os
minerais metálicos, resultam em ranhuras ao serem riscados por materiais mais duros,
enquanto que minerais quebradiços reagem na forma de microfraturas ao serem
riscados. A dureza está diretamente relacionada com a intensidade das forças de ligação
que mantém as partículas componentes dos minerais unidas em suas estruturas
cristalinas. Em minerais duros, como o diamante e o coríndon, todas as ligações
químicas são fortes (como a ligação covalente), ao passo que em minerais moles, como
o talco e a grafita, a presença de ligações fracas na estrutura cristalina (como a ligação
de van der Waals) é responsável pela baixa dureza. Como a intensidade das ligações
químicas pode variar com a direção, os minerais também podem apresentar variações
na dureza conforme as direções em que são riscados. Entretanto, as variações
direcionais na dureza da maioria dos minerais comuns são imperceptíveis sem o uso de
instrumentos sofisticados para mensurá-las.
A dureza de um mineral é determinada observando-se a facilidade ou dificuldade
com que o mineral risca ou é riscado por outro mineral ou material de dureza conhecida.
O mineral mais duro risca (faz um sulco) no mais mole, enquanto que o mais mole deixa
um rastro (traço) no mais duro. Dez minerais comuns foram escolhidos pelo
mineralogista alemão Friedrich Mohs, em 1824, para compor uma escala de dureza, com
a finalidade prática de determinar a dureza relativa de qualquer mineral. Os 10 minerais,
em ordem crescente de dureza relativa, que compõem a escala de Mohs, são os
seguintes:

Escala de Dureza de Mohs Padrão auxiliar


Mg3(Si4O10)(OH)2
Ca(SO4).2H2O Unha humana (2 2,5)
CaCO3 Moeda de cobre (~ 3)
CaF2
Ca5(PO4)3(F,Cl,OH) Lâmina de aço (5 5,5), Vidro (5,5)
KAlSi3O8 Aço da lima (6,5)
SiO2 Porcelana (~ 7)
Friendrich Mohs
Al2SiO4(F,OH)2 1773 − 1839
Al2O3
C
Tabela 4.3- Escala de Dureza de Mohs

81
Para determinar a dureza relativa de qualquer mineral, deve-se definir quais
minerais da escala de Mohs riscam e quais os que são riscados pelo mineral. Neste teste
é importante observar que o rastro (traço) de um mineral mais mole deixado na superfície
de um mineral mais duro, pode ser confundido com um risco. Entretanto, ao contrário do
risco, o traço é facilmente removido. Outro detalhe importante é que o teste de dureza
deve ser feito em superfícies frescas dos minerais, pois crostas de alteração exibem
dureza diferente (normalmente mais baixa) que aquela do mineral original. A natureza
física de um mineral pode também dificultar a determinação de sua dureza. Por exemplo,
minerais pulverulentos, granulares ou estilhaçados podem ser rompidos e
aparentemente riscados por outro mineral mais mole. Desse modo, é sempre
aconselhável confirmar o teste da dureza, invertendo-se a ordem do processo, ou seja,
deve-se tentar riscar o mineral A com o mineral B e, vice-versa, riscar o mineral B com o
mineral A. A dureza relativa dos seguintes materiais é útil como referências auxiliares na
determinação da dureza dos minerais: unha do dedo (pouco acima de 2), moeda de
cobre (aproximadamente 3), aço do canivete (pouco acima de 5), vidro (5,5), aço da lima
(6,5).
A dureza absoluta dos minerais é
determinada por técnicas quantitativas
mais sofisticadas que o teste do risco,
através de equipamentos como os
durômetros. As diferenças na dureza
absoluta entre os minerais da escala de
Mohs são muito variadas, embora a ordem
relativa entre eles é mantida (Fig. 4. 57).
Por exemplo, o coríndon (D = 9) é 2 vezes
mais duro que o topázio (D = 8) e 4 vezes
mais duro que o quartzo (D = 7) e o
diamante (D = 10) é 4 vezes mais duro que
o córindon (D = 9). Os únicos minerais da
escala de Mohs cujas durezas relativas
Mohs correspondem à dureza absoluta são
o talco (D = 1) e gipso (D = 2).

Figura 4.57- Dureza absoluto dos minerais


da escala de Mohs.

Propriedades relacionadas com a massa


ou peso específico de uma substância é a razão entre seu peso e seu
volume, que expressa a quantidade de massa por unidade de volume, em g/cm3 ou
Kg/m3. A ou gravidade específica de uma substância (representada
por d) é a relação entre sua densidade (ou peso) e a densidade (ou peso) do mesmo
volume de uma substância de referência que, quando não especificada, é a água à
4 C (1). Como uma relação entre grandezas da mesma espécie (densidade ou peso), a
densidade relativa é um número adimensional que expressa quantas vezes a substância
pesa mais (ou menos) que o mesmo volume de água. Numericamente a densidade
relativa é aproximadamente igual a densidade medida em gramas por centímetro cúbico
(g/cm3) pelo fato de ser a densidade da água aproximadamente igual a 1 g/cm3. Por

1
Temperatura que correspondente a densidade máxima da água
82
exemplo, considerando um mineral com densidade igual a 2 g/cm3, a densidade relativa
de uma amostra desse mineral será igual à 2, independentemente do volume da amostra.
Considerando, por exemplo, que a amostra tenha um volume de 10 cm3, sua densidade
relativa será igual ao peso da amostra (2g  10 = 20g) dividido pelo peso de mesmo
volume (10 cm3) de água (10 g), ou seja, d = 20 g/10 g  d = 2 (numericamente igual a
densidade em g/cm3). Em mineralogia se usa normalmente a densidade relativa
(adimensional), referida simplesmente como densidade.
A densidade dos minerais varia dentro de um amplo espectro, sendo que os
minerais metálicos normalmente são mais densos que os não metálicos. No grupo dos
minerais não metálicos, a densidade varia de 1,96 na ulexita (borato de sódio) a 4,5 na
barita (sulfato de bário) e a densidade média situa-se entre 2,65 e 2,75, pois a densidade
do quartzo (d = 2,65), dos feldspatos (d = 2,60 2,75) e da calcita (d = 2,71), que são os
minerais não metálicos mais abundantes, estão dentro desta faixa. No grupo dos
minerais metálicos, a densidade varia de 2,2 na grafita a 19,3 no ouro e a densidade
média situa-se em torno de 5,0 que é a densidade da pirita, o mineral metálico mais
abundante
A densidade dos minerais pode ser determinada por
meio de métodos rápidos e simples em pequenas amostras
puras e compactas, sem fendas ou cavidades que possam
aprisionar bolhas ou películas de ar. O valor da densidade de
uma amostra pode ser obtido por meio dos pesos da amostra
no ar e na água. Qualquer objeto imerso em água pesa menos
que no ar pois, nesta condição, o objeto é impelido para cima
por uma força chamada empuxo, equivalente ao peso da
água deslocada (PH2Od). O peso do objeto na água será igual
à diferença entre o peso do objeto no ar e o empuxo, e a
diferença entre o peso do objeto no ar e o peso do objeto na
água será igual, portanto, ao empuxo (PH2Od). Como o volume
de água deslocada pelo objeto é igual ao volume do objeto, a
relação entre o peso do objeto no ar e o empuxo será igual à
densidade. Para a determinação da densidade dos minerais
é necessário obter-se, portanto, o peso do mineral no ar
(Pmar) e o peso do mineral na água (PmH2O) e a densidade
poderá ser obtida pela seguinte fórmula:
Pmar , sendo PmH
= 2O = Pmar PH2Od
Pmar PmH2O
Pmar PmH2O = PH2Od (empuxo)

Figura 4.58- Balança de Jolly

Essas medidas de pesos da amostra de mineral no ar e na água podem ser


obtidas em balanças mecânicas ou eletrônicas. Um tipo de balança mecânica muito
usada antes de surgir as balanças eletrônicas para medir densidade, é a balança de
Jolly, na qual os dados para o cálculo da densidade são obtidos através do alongamento
de uma mola espiral (Fig. 4.58). Duas pequenas cestas metálicas são suspensas pela
mola, uma acima da outra, estando a inferior imersa em um recipiente com água, de tal
modo que, ao ajustar a balança para fazer medidas, devem estar zeradas as duas
escalas graduadas e o indicador da mola espiral. Uma amostra adequada de um mineral
é primeiramente introduzida na cesta superior (sem água) e a medida do alongamento
da mola é proporcional ao peso do mineral no ar (Pmar). O fragmento é transferido em
seguida para a cesta inferior imersa em água que alongará novamente a mola, cuja
83
medida é proporcional ao peso do mineral na água. No tipo mais aperfeiçoado da balança
de Joly, a segunda medida do mineral imerso em água corresponde à diferença entre o
peso do mineral no ar e na água (Pmar PmH2O). A densidade é calculada dividindo-se
a primeira medida (Pmar), obtida na cesta superior, pela segunda medida
(Pmar PmH2O), obtida na cesta inferior imersa em água.
A balança de Berman (Fig. 4.59) é uma balança eletrônica de torção que foi
adaptada para medir densidades de pequenas partículas, particularmente importante em
trabalhos refinados de determinação da densidade.

Figura 4.59- Balança de Berman

Propriedades relacionadas com a luz


Serão tratadas neste tópico as propriedades relacionadas com a luz de
observação direta, ou seja, sem necessidade de equipamentos óticos, tais como
diafaneidade, brilho, cor, traço, jogo de cores, iridescência, acatassolamento e
luminescência.
A luz visível corresponde apenas a uma pequena parte do espectro
eletromagnético cujo comprimento de onda ( ) situa-se entre 0,4 e 0,7 m e com
frequência ( ) entre 8,5 1014 e 4,0 1014 Hz. Todo o resto do espectro eletromagnético
não é sensível ao olho humano. De acordo com o comprimento de onda (ou com a
frequência), a luz visível é caracterizada por uma cor, variando do violeta ao vermelho,
respectivamente, do menor para o maior comprimento de onda (Fig. 4.60). A mistura de
todas as radiações (cores) do espectro visível resulta em uma luz branca. Quando a luz
branca incide na superfície de um mineral ou de um objeto qualquer, ela pode ser
refletida, dispersada, refratada ou absorvida (Fig. 4.61). A reflexão e a dispersão ocorrem
quando a luz não consegue penetrar ou se propagar no interior do mineral. A luz
refratada é a luz que penetra e consegue efetivamente se propagar no interior do mineral,
sendo que, para algumas substâncias parte desta luz pode ainda ser absorvida. A luz
que sai do mineral e atinge nossos olhos, denominada luz transmitida é, portanto, igual
a diferença entre a luz refratada e a luz absorvida (se houver).

84
Figura 4.60- Espectro eletromagnético, mostrando em destaque a faixa denominada de luz
visível.

Figura 4.61- Na interação entre a luz e um mineral


pode-se destacar: a luz incidente, a luz refletida, a
luz dispersada, a luz refratada, a luz absorvida e a
luz transmitida.
Luz transmitida = luz refratada luz absorvida

Diafaneidade é a propriedade que expressa a capacidade de transmissão da luz


pelos minerais. Na maioria dos minerais predomina a transmissão da luz, havendo pouca
reflexão. Estes minerais são iônicos ou covalentes e são denominados transparentes ou
translúcidos. Denominam-se os minerais com alta capacidade de
transmissão da luz, permitindo que um objeto seja observado com nitidez através deles.
Exemplos: algumas variedades de quartzo (cristal de rocha) e de calcita (espato de
Islândia) são altamente transparentes (Fig. 4.62 a, b, c). A maioria das gemas é
transparente e a qualidade de sua transparência é um dos principais parâmetros que
definem seu preço. Denominam-se aqueles minerais que são capazes de
transmitir a luz, mas o fazem de maneira difusa, permitindo que um objeto seja observado
através dele, porém não com nitidez (Fig. 4.62 d). O caráter transparente ou translúcido
depende também da espessura da amostra, de tal modo que a maioria dos minerais
translúcidos pode tornar-se transparente em lâminas delgadas. Exemplos: gipso,
feldspatos, fluorita.
Os minerais com baixa capacidade de transmissão da luz são denominados
genericamente de , nos quais ocorre predominância da reflexão da luz (Fig.
4.62 e, f). Nos minerais opacos ocorre participação da ligação metálica, podendo haver
também a participação das ligações iônica e covalente, associadas à ligação metálica.
Exemplos: ouro, prata, cobre nativos, pirita, calcopirita, galena, magnetita.

85
a b c d

e f
Figura 4.62- Minerais transparentes: calcita
espato de islândia (a) e com dupla refração
(b), quartzo transparente (c) e gipsita
translúcida (d). Minerais opacos: pirita (e) e
hematita especular (f).

Brilho é a aparência geral da superfície de um mineral sob a ação da luz refletida.


De acordo com o brilho, os minerais são classificados em dois grupos seguintes:
metálicos e não metálicos, mas não há um limite rígido entre os dois tipos de brilho.
Embora não seja fácil descrever as diferenças entre os brilhos metálico e não-metálico,
o olho humano o distingue com certa facilidade.
é o brilho das substâncias metálicas que refletem muito a luz ( 75 %),
com diafaneidade normalmente opaca. Exemplos: ouro, prata, cobre nativos, pirita,
calcopirita, galena, magnetita, hematita (Fig. 4.62 e, f).
é o brilho das substâncias transparentes e translúcidas que refletem
pouco a luz ( 75 %), havendo normalmente predominância da transmissão da luz (Fig.
4.62 a, b, c, d). De acordo com a intensidade da luz refletida e algumas características
físicas que afetam a reflexão da luz, o brilho não metálico pode ser classificado em seis
tipos seguintes:
brilho do vidro. É o brilho não metálico mais comum. Exemplos: quartzo,
fluorita, calcita, feldspatos.
brilho da resina. Exemplos: esfalerita, algumas variedades de calcita.
brilho da pérola. É observado normalmente nas superfícies
dos minerais paralelas aos planos de clivagens. Exemplos: talco, pirofilita, apofilita.
brilho de alguns minerais que aparentam estar recoberto por uma delgada
camada de óleo. Exemplo: nefelina e quartzo leitoso.
brilho da seda. É normalmente observado em minerais fibrosos. Exemplos:
gipso fibroso, serpentina (variedade crisotila).
brilho não metálico caracterizado por alta cintilância da luz e apresentado
por minerais com alto índice de refração. Exemplos: diamante, cerussita, anglesita e
rutilo.
O brilho é uma propriedade diagnóstica importante dos minerais, normalmente
utilizado nas tabelas de identificação mineral que dividem o reino mineral, com base no
brilho, em dois grupos: metálicos e não metálicos. Embora a distinção entre esses dois
tipos de brilho nem sempre é evidente, pois existem brilhos intermediários entre os dois
tipos (brilho submetálico), a sua caracterização é fundamental para identificar e
classificar os minerais. Por outro lado, diferenciar entre os subtipos de brilho não
metálicos não é tão importante, até porque as diferenças entre alguns deles são muito
sutis.

Cor, é uma propriedade de percepção imediata nos mineras, mas nem sempre
ela é diagnóstica. Se a luz incidente no mineral não sofre nenhuma absorção, a luz
86
transmitida ou refletida atinge o olho humano como luz branca e o mineral será também
branco ou incolor. Minerais coloridos são aqueles que absorvem parte da luz incidente.
A cor do mineral resultará da combinação dos comprimentos de onda remanescentes
(luz refratada luz absorvida) que atinge os nossos olhos e dependerá, portanto, da faixa
de comprimento de onda absorvida pelo mineral. Em minerais coloridos os comprimentos
de onda remanescentes situam-se na faixa de energia da luz visível e, portanto, quando
a luz branca interage com tais minerais, certos comprimentos de onda são absorvidos,
tornando a luz branca incidente colorida. Esse fenômeno é mais comum em minerais
com metais de transição em sua composição, como Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni e Cu,
denominados elementos cromóforos em alusão ao cromo, cuja presença provoca cores
intensas nos materiais. Como o metal de transição mais abundante na crosta terrestre,
o ferro é o principal elemento cromóforo nos minerais.
Somente em alguns minerais a cor é fixa ou pouco variável, podendo ser utilizada
como propriedade diagnóstica para a identificação destes minerais. A maioria dos
minerais metálicos apresenta coloração constante, como o amarelo-latão da calcopirita,
o cinza-chumbo da galena, o preto da magnetita e o branco da prata e da arsenopirita
(Fig. 4. 63). Entretanto, A cor dos minerais deve ser observada em superfícies frescas,
pois as alterações superficiais podem mudar sua cor, mesmo naqueles minerais em que
a cor é constante. Por exemplo, a bornita Cu 5FeS4 que em superfície fresca exibe
coloração bronze parda, pode apresentar variações para azul e lilás, e o cinza chumbo
brilhante da galena pode escurecer e perder o brilho em superfícies alteradas.
a b c

Figura 4.63- Cores fixas de minerais metálicos: amarelo latão da calcopirita (a), branco da prata
(b) e preto da magnetita (c).

Ao contrário dos minerais metálicos, a maioria dos minerais não-metálicos


apresenta variações em suas colorações. Predominam variações restritas relacionadas
com variações composicionais como, por exemplo, os plagioclásios (branco nos sódicos
a cinza escuro nos cálcicos), as granadas (vermelho a marrom), os piroxênios (branco
ou bege nos magnesianos a verde ou marrom escuro nos ferrosos), os anfibólios (branco
ou verde claro nos magnesianos a verde escuro a preto nos ferrosos). A substituição
progressiva do zinco pelo ferro na esfalerita provoca variações em sua coloração, do
branco, passando pelo amarelo e castanho até preto. Em alguns minerais como a fluorita,
calcita, quartzo e turmalina, a cor varia tão amplamente que não pode ser utilizada como
propriedade diagnóstica (Fig. 4.64 e 4.65). Por outro lado, alguns minerais não metálicos
apresentam colorações constantes como, por exemplo, a malaquita (verde), azurita
(azul), rodonita (vermelho a róseo) e turquesa (verde azulado).
Traço, é a cor do pó do mineral. O traço é uma importante propriedade diagnóstica
dos minerais, pois embora a cor possa variar, o traço é constante. O traço pode ser
determinado esfregando-se o mineral em uma superfície rugosa de material mais duro,
como a placa de porcelana que possui dureza 7. Se o mineral é mais mole que a placa
de porcelana, ele deixará o traço (rastro) sobre a placa. O traço é muito útil também na
definição do brilho, pois os minerais metálicos exibem normalmente traço escuro (preto,
cinza, marrom e castanho escuros), conforme ilustrado na figura 4.66, enquanto que os
minerais não metálicos exibem traço claro (branco, castanho claro, amarelo).

87
a b c d e

Figura 4.64- Diversas cores de fluorita: branca (a),


amarela (b), azul (c), verde (d) e lilás (e).

a b c d

e f Figura 4.65- Diversas cores de calcita: incolor


transparente (a), branca leitosa (b), amarela (c),
róseo (d) verde (e) e azul (f).

Figura 4.66- Traço marrom avermelhado escuro sobre a


placa de porcelana, da hematita Fe 2O3.

Jogo de cores ou iridescência, é a produção de várias cores espectrais em


rápida sucessão quando o ângulo da luz incidente no mineral muda como, por exemplo,
no diamante e na opala preciosa. O jogo de cores é causado por interferência da luz
tanto no interior (iridescência interna) como na superfície do mineral (iridescência
externa).
Uma iridescência interna é causada por interferência da luz quando ela é difratada
ou refletida por planos de clivagens, lamelas de geminação ou exsolução estreitamente
espaçadas, ou ainda pequenas inclusões distribuídas em grupos planares. Exemplos:
algumas espécies de labradorita (plagioclásio cálcico) exibem iridescência interna,
denominada labradorescência, variando do azul ao verde ou amarelo ou vermelho,
causada por lamelas de geminação ou de exsolução extremamente finas e paralelas que
difratam a luz branca (Fig. 4.67). A iridescência interna nas opalas preciosas é causada
pela presença de esferas milimétricas de sílica amorfa com pequena quantidade de
água, formando uma rede tridimensional no interior da opala que difrata a luz branca,
produzindo as cores espectrais (Fig. 4.68).

88
a b c

Figura 4.67- Labradorescência na labradorita (a) e em uma peça lapidada em uma joia (b).
Fotografia em microscópio eletrônico de lamelas de exsolução muito finas em labradorita que
difratam a luz branca e produzem as cores espectrais da labradorescência (c).

a b c

Figura 4.68- Opalas preciosas (a, b) e peça lapidada de opala preciosa em uma joia (c).

Uma iridescência externa (superficial) é normalmente causada por interferência


da luz quando ela é refletida a partir de uma película delgada de oxidação ou alteração
na superfície dos minerais. Este tipo de iridescência é particularmente comum em alguns
minerais metálicos como a hematita, bornita, calcopirita e esfalerita (Fig. 4.69).
a b

Figura 4.69- Bornita Cu5FeS4 (a) e calcopirita CuFeS2 (b) com iridescência externa, com tons
vermelho, azul e lilás.

Acatassolamento ou chatoyance (do inglês chatoyancy) é a aparência sedosa


em luz refletida exibida por alguns minerais como, por exemplo, gipso “pedra de cetim”
crisoberilo “olho de gato” e quartzo “olho de tigre” (Fig. 4.70), causada pela presença de
pequenas fibras paralelas ou por um arranjo paralelo de inclusões ou cavidades. O efeito
fica mais acentuado em peças lapidadas em forma arredondada com superfície convexa
e base plana (cabochão), permitindo que a luz cruze as fibras em ângulo reto,
especialmente em amostras de olho de gato e olho de tigre (Fig. 4.70 b, c, d). Em alguns
cristais do sistema hexagonal, como o quartzo e os córindons gemológicos (rubi e safira),
as fibras ou inclusões podem ser arranjadas nas três direções dos eixos cristalográficos
horizontais, a 120 uma da outra, provocando o acatassolamento triplo, denominado
asterismo, caracterizado por raios de luz perpendiculares a cada uma das três direções
das fibras ou inclusões. Quando lapidados na forma de cabochão e observados na
direção do eixo vertical ( ), estes minerais exibem raios de luz na forma de uma estrela
de seis pontas (Fig. 4.70 e, f).

89
a b c d

e f Figura 4.70- Acatassolamento: gipso “pedra de cetim”


(a), crisoberilo “olho de gato” (b), quartzo “olho de tigre”
(c) e joia com uma peça de olho de tigre lapidada em
cabochão (d). Safira com acatassolamento triplo,
asterismo (e) e em um anel (f).

Luminescência, é qualquer emissão de luz por um mineral que não seja o


resultado direto da incandescência. A luminescência é normalmente tênue, podendo ser
observada somente em ambiente escuro e ocorre tipicamente em minerais não
metálicos. Existem três tipos de luminescência, dependendo da maneira como ela é
produzida: fluorescência, termoluminescência e triboluminescência.
Fluorescência é a emissão de luz por alguns minerais que se tornam
luminescentes durante exposição à luz ultravioleta (UV), aos raios-X ou raios catódicos.
Se a luminescência perdurar após a interrupção da radiação excitante, o fenômeno
denomina-se fosforescência, mas não há uma nítida distinção entre fluorescência e
fosforescência, já que em alguns minerais aparentemente apenas fluorescentes, a
luminescência, constatada por métodos refinados de observação, continua por pequenas
frações de segundo após a interrupção da radiação excitante. Por causa dessa
dificuldade em distinguir os dois fenômenos, para alguns autores existe apenas um
fenômeno e não dois.
A causa da fluorescência é similar à da cor, provocada pela presença de
elementos químicos estranhos à composição do mineral, denominados ativadores. Tal
como na cor, os elementos ativadores principais são os metais de transição. Quando um
mineral fluorescente é exposto à uma radiação invisível de curto comprimento de onda
(UV, por exemplo), os metais de transição absorvem parte desta radiação que excita
seus elétrons os quais saltam para um nível mais energético. Quando cessa a excitação,
os elétrons retornam a um nível energético intermediário, mais energético que o nível
original, porém menos energético que o estado excitado, e emitem radiação na faixa da
luz visível, denominada fluorescência, menos energética e de maior comprimento de
onda que a radiação ultravioleta. A habilidade dos minerais em absorver radiação UV
com um determinado comprimento de onda é variável. Alguns minerais fluorescem
somente sob o efeito de radiação UV de comprimento de onda curto, outros fluorescem
sob a ação de radiação UV de comprimento de onda longo, e outros ainda fluorescem
sob a ação de radiação UV tanto curta como longa. A cor da luz fluorescente emitida
varia consideravelmente com o comprimento de onda da radiação UV excitante.
A fluorescência é uma propriedade imprevisível, pois depende da presença dos
elementos ativadores. Algumas espécies de um mineral podem ser fluorescentes,
enquanto que outras espécies similares, mesmo procedentes da mesma localidade,
podem não ser. A fluorita é o principal mineral fluorescente, cujo nome derivou a
denominação da propriedade. Sua fluorescência azul (Fig. 4.71 a, b) pode estar
relacionada à presença de material orgânico ou elementos do grupo das terras raras.
Outros minerais fluorescentes são: scheelita (CaWO4), willemita (Zn2SiO4), calcita
(CaCO3), eucriptita (LiAlSiO4), escapolita (silicato de Al, Na e Ca), diamante e autunita
(fosfato de Ca e U). A fluorescência azul pálida da scheelita é atribuída ao molibdênio
90
que substitui o tungstênio, enquanto que a fluorescência verde brilhante da willemita e
vermelho-laranja da calcita é atribuída ao manganês (Fig. 4.71 c, d). A fluorescência tem
aplicação prática na prospecção mineral e na mineração. Com um aparelho portátil de
radiação UV (mineralight) pode-se detectar scheelita ou willemita, à noite, nos
afloramentos e, nas minas, os corpos de minério podem ser delimitados. Com o
desenvolvimento de substâncias fluorescentes sintéticas, a fluorescência vem se
tornando um fenômeno comumente aplicado em diversas situações, como lâmpadas,
pinturas e roupas fluorescentes, etc.

a b

c d
Figura 4.71- Fluorescência: fluorita antes (a) e durante a irradiação UV (b), com fluorescência
azul. Willemita e calcita antes (c) e durante a irradiação UV (d), com fluorescência vermelho-
laranja (calcita) e verde (willemita).

Existem pelo menos mais duas maneiras de produzir luminescência: por meio de
aquecimento (termoluminescência), e por ação mecânica que cause stress na rede
cristalina, por atrito, esmagamento, impacto, etc. (triboluminescência). A
termoluminescência ocorre em alguns minerais com metal de transição, nos quais a luz
visível inicial surge entre 50 e 100 C, cessando a emissão normalmente a partir de
475 C. Há muito tempo é conhecido o caráter termoluminescência da variedade
clorofana da fluorita. Outros minerais termoluninescentes são: calcita, apatita, escapolita,
lepidolita e alguns feldspatos. A triboluminescência ocorre em alguns minerais como boa
clivagem, como, por exemplo, fluorita, esfalerita e lepidolita.

Propriedades elétricas
A condutibilidade elétrica nos minerais está diretamente relacionada ao tipo das
ligações químicas. Minerais com ligação metálica pura são excelentes condutores, tais
como os metais nativos (Au, Ag, Cu, Pt), enquanto que minerais com ligação
parcialmente metálica, como alguns sulfetos e óxidos, são semicondutores. Minerais
iônicos ou covalentes são normalmente isolantes. Em minerais não-isométricos, a
condutibilidade elétrica varia com a direção cristalográfica. Por exemplo, no mineral
grafita a condutibilidade elétrica é muito mais intensa na direção perpendicular ao eixo
que paralela a ele. O desenvolvimento de cargas elétricas induzidas nos minerais são
propriedades denominadas piezoeletricidade e piroeletricidade.
é o desenvolvimento de cargas elétricas nas extremidades de
um eixo polar do mineral quando o eixo é pressionado em uma de suas extremidades. A
pressão sobre o eixo provoca o surgimento de um fluxo de elétrons em direção a uma
das extremidades do eixo, produzindo ali uma carga elétrica negativa e uma carga
elétrica positiva induzida na outra extremidade. Um eixo de simetria de um cristal é
considerado eixo polar se suas extremidades são diferentes, não relacionadas por
simetria, o que só ocorre se o cristal não tiver centro de simetria. 21 classes de simetria
sem centro possuem eixos polares, mas são poucos os minerais que desenvolvem a
piezoeletricidade de maneira notável. O quartzo é o mineral piezoelétrico mais importante
(Fig. 4.72 a). Além dele, a turmalina também apresenta esta propriedade. Uma placa de
quartzo cortada com orientação adequada, quando submetida a uma corrente alternada
sofre deformação mecânica que pressiona seu eixo polar gerando cargas elétricas
91
piezoelétricas, as quais provocam vibrações na placa com frequência constante e
inversamente proporcional à espessura da placa. A principal aplicação das propriedades
piezoelétricas do quartzo é no controle de rádio frequência em circuitos eletrônicos.
é o desenvolvimento de cargas elétricas negativas e positivas nas
extremidades e um eixo polar do mineral provocada por mudanças de temperatura.
Somente cristais com apenas um eixo polar podem desenvolver piroeletricidade, o que
só ocorre em apenas 10 classes. Entretanto, são poucos os minerais que desenvolvem
esta propriedade, como, por exemplo, a turmalina (Fig. 4.72 b). A principal aplicação
desta propriedade é na construção de pirômetros (Fig. 4.72c), um tipo de termômetro
eletrônico que mede irradiação térmica de um objeto sem contato com ele.

a b c

Figura 4.72- Piezoeletricidade e piroeletricidade: cristal de quartzo piezoelétrico (a), com seus
três eixos polares (a1, a2 , a3). Cristal de turmalina piroelétrico com seu único eixo polar c,
mostrando a posição das cargas elétricas positivas e negativas nas extremidades do eixo. (b).
Pirômetro ótico infravermelho (c).

Propriedades magnéticas
Alguns minerais são magnéticos, mas a grande maioria não apresenta nenhuma
propriedade magnética. O magnetismo é uma propriedade diagnóstica dos minerais
relacionada com a estrutura eletrônica de alguns elementos químicos. A força de atração
magnética tem a sua origem no movimento de rotação dos elétrons, denominado “spin”,
que cria um campo magnético em torno do elétron. O elétron em rotação pode ser
considerado um diminuto ímã ou um dipolo magnético com um momento magnético
definido pelo produto da carga do elétron pela área abrangida pela sua rotação. Como
em um orbital só podem existir dois elétrons com sentido dos movimentos de rotação
(spin) contrários, se o orbital estiver completo, os campos magnéticos dos dois elétrons
se anulam e o momento magnético resultante no orbital será nulo. Como na maioria das
substâncias, após a combinação dos elementos, os orbitais tendem a se completar, o
momento magnético resultante será nulo e estas substâncias não apresentam
propriedades magnéticas. Tais substâncias são denominadas que
corresponde à situação da grande maioria dos minerais. Exemplos: quartzo, calcita,
feldspatos, apatita, coríndon e esfalerita.
Os elementos que produzem momento magnético são os metais de transição que
apresentam orbitais 3d incompletos, tais como Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni e Cu. O momento
magnético destes elementos é diretamente proporcional ao número de orbitais
incompletos (com apenas um elétron). O Fe+3 e Mn+2 são os íons mais magnéticos, pois
os dois possuem os cinco orbitais incompletos.
Além do magnetismo dos íons, deve-se compreender também como tais íons
interagem na estrutura cristalina do mineral. Se a estrutura cristalina é constituída por
um arranjo caótico de dipolos magnéticos iônicos e, ao ser submetida ao efeito de um
campo magnético externo, apenas uma pequena parte dos dipolos magnéticos se alinha
ao campo magnético, o mineral é classificado como , o qual apresenta
92
uma fraca susceptibilidade magnética que não é permanente, pois quando o campo
magnético externo deixa de atuar na substância paramagnética os dipolos magnéticos
retornam ao estado caótico original, perdendo o seu magnetismo. Exemplos: olivina
(Mg, Fe)2SiO4 e augita (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)(Al,Si)2Si2O6 são minerais paramagnéticos.
Por outro lado, quando a maior parte dos dipolos magnéticos se alinha ao campo
magnético externo, o mineral é classificado como , com susceptibilidade
magnética forte e magnetização permanece, ou seja, os dipolos magnéticos continuam
alinhados, mantendo o magnetismo, quando o campo magnético externo deixa de atuar
(Fig. 4.73). Por exemplo, ferro metálico, hematita Fe2O3 e ilmenita FeTiO3. Em um outro
tipo de magnetismo, denominado , existe sempre um momento
magnético natural permanente, sem necessidade de interferência de um campo
magnético externo. Exemplos de minerais ferrimagnéticos: minerais da série magnetita
Fe3O4 Ulvoespinélio Fe2TiO4 e pirrotita Fe1 xS.

a b

Figura 4.73- Substância ferromagnética antes do efeito do campo magnético externo, com
dipolos magnéticos não alinhados (a) e após o efeito do campo magnético externo, com dipolos
magnéticos alinhados (b).

Tanto os minerais ferromagnéticos como os ferrimagnéticos, ao serem aquecidos


acima de uma determinada temperatura, denominada temperatura Curie, perdem o
ordenamento dos dipolos magnéticos e, portanto, o seu magnetismo. A temperatura
Curie do ferro metálico é 770 C e da magnetita é 580 C. Com base na susceptibilidade
magnética (capacidade dos materiais de se magnetizar sob a ação de um campo
magnético externo), os minerais podem ser separados por um eletroímã. Um
equipamento normalmente utilizado em separações magnéticas de minerais é o
Separador Isodinâmico Franz que pode separar os minerais diamagnéticos dos
paramagnéticos e dos ferromagnéticos e ferrimagnéticos.

Propriedades radioativas
Radioatividade é uma reação nuclear que ocorre espontaneamente em isótopos
radioativos de alguns elementos. O núcleo desses elementos é instável e se transforma
espontaneamente em outro elemento com liberação de energia radioativa, processo
denominado decaimento ou desintegração radioativa. O elemento com núcleo instável
que está decaindo é denominado elemento-pai e o elemento formado a partir do
decaimento do elemento-pai é o elemento-filho. Durante o decaimento radioativo, cada
elemento-pai leva um determinado tempo para se transformar em um elemento-filho e a
transformação continua até se formar um elemento-filho estável (isótopo radiogênico).
Estudos experimentais têm demonstrado que as taxas de decaimento dos elementos
radioativos, em um determinado intervalo de tempo, denominadas constante de
decaimento ou de desintegração, não são afetadas por mudanças químicas e físicas do
ambiente, sendo, portanto, constantes nos diversos ambientes geológicos. A taxa de
decaimento é normalmente expressa através do conceito de meia-vida que corresponde
93
ao tempo decorrido para que metade da quantidade original de átomos radioativos se
transforme em átomos radiogênicos (estáveis).
Isótopos são elementos químicos com o mesmo número atômico (Z) e diferentes
12
números de massa (A). Por exemplo, isótopos de carbono, com Z = 6: carbono 12 ( 6C),
13 14
carbono 13 ( 6 C) e carbono 14 ( 6 C), este último é radioativo. Três tipos de decaimento
seguintes ocorrem nos processos radioativos:
Decaimento alfa ( ): o núcleo instável emite uma partícula (2 prótons + 2 nêutrons)
e, portanto, o elemento-filho terá seu número atômico (Z) reduzido em 2 unidades e
seu número de massa reduzido em 4 unidades. Ex.: 238 92U
234
90Th + + + energia.
Decaimento beta (): um dos nêutrons do núcleo instável transforma-se em próton por
emissão de uma partícula  (semelhante ao elétron), aumentando o número atômico
(Z) do elemento-filho em 1 unidade, sem alterar sua massa.
Ex.: 87
37Rb
87

38Sr +  + energia.
Captura de elétrons: um próton do núcleo instável captura um elétron da camada de
elétrons que rodeia o núcleo e se transforma em nêutron, diminuindo o número
atômico (Z) do elemento-filho em 1 unidade, sem alterar seu número de massa.
Ex.: 40
19K + e‾
40

18Ar + + energia. Gama ( ) é uma radiação eletromagnética
energética e de pequeno comprimento de onda que surge como subproduto dos
decaimentos ,  e captura de elétrons. A radiação  é de extrema importância na
exploração mineral de elementos radioativos, pois ela pode ser detectada por
contadores Geiger e por gamaespectometria (inclusive aérea). Metais básicos (Cu,
Pb e Zn) e metais preciosos (Au, Ag, Pt) que estejam associados à minerais
radioativos também podem ser explorados por gamaespectrometria.
A meia-vida dos principais elementos radioativos geologicamente importantes já
é bem conhecida, conforme ilustrado na tabela 4.2, abaixo. Particularmente o isótopo
238
U é muito importante para o estudo sobre a origem da Terra, pois sua meia-vida de
4,5 bilhões de anos (4,5 Ga) é praticamente igual à idade da Terra.

Potássio 40
K 1,28 109 anos 40
Ca e
40
Ar 1 captura de elétron
Rubídio 87
Rb 10 87
4,88 10 anos Sr Emissão de 1 partícula 
Tório 232
Th 1,41 1010 anos Pb e 4He Emissão de 6 partículas  e 4 
208

238
U 4,51 109 anos 206Pb e 4He Emissão de 8 partículas  e 6 
Urânio 235
U 7,04 108 anos 207Pb e 4He Emissão de 7 partículas  e 6 
Tabela 4.4- Meia-vida e decaimento de 5 isótopos radioativos importantes para o estudo dos
ambientes geológicos da Terra.

Alguns isótopos radioativos se transformam em isótopos estáveis através de um


único tipo de decaimento como, por exemplo, 87Rb para 87Sr (decaimento ) e 40K para
40
Ar (captura de elétron). Entretanto outros isótopos radioativos sofrem decaimentos
consecutivos até se tornarem isótopos estáveis como, por exemplo, 232Th para 208Pb
com emissão de 6 partículas  e 4 partículas , 235U para 207Pb com emissão de 7
partículas  e 6 partículas  e 238U para 206Pb com emissão de 8 partículas  e 6
partículas  (Fig. 4.74).

94
Figura 4.74- Reações de decaimento
radioativo do 238U para 206Pb, com
meia-vida de 4,51 Ga.

A presença de isótopos radioativos na composição dos minerais torna-os


radioativos. A radioatividade é mais intensa em minerais com quantidades expressivas
de isótopos radioativos de U e Th ( 238U, 235U, 232Th), pois a série de decaimento destes
isótopos é longa, envolvendo vários pulsos de decaimento  e , com maior liberação de
energia, a qual pode ser medida com um contador Geiger ou um cintilômetro. Por
exemplo: uraninita UO2 , torianita ThO2 , coffinita U(SiO4)1 (OH)4 , autunita
Ca(UO2)2(PO4)2.10-12H2O, carnotita K2(UO2)2(VO4)2.nH2O e monazita
(Ce,La,Y,Th)PO4 ,são minerais intensamente radioativos, nos quais o urânio e tório são
componentes principais (Fig. 4.75). Minerais como zircão Zr(SiO4), Titanita CaTiO(SiO4),
allanita (Ca,Na,Ce,La)2(Al,Fe,Mn,Be,Mg)3O(SiO4)(Si2O7)(OH) e xenotímio YPO4 são
normalmente radioativos, pois em suas composições frequentemente estão presentes
isótopos radioativos de urânio e tório, embora não como elementos principais e sim
substituindo alguns dos elementos principais.

a b c
d

Figura 4.75- Minerais radioativos: uraninita (a), torianita geminada (b), autunita placosa (c) e
monazita (d).
A radioatividade proveniente dos minerais acima, principalmente aqueles que
contêm urânio e tório como elementos principais, é extremamente perigosa ao ser
humano não só pela sua intensidade normalmente alta, mas também pela presença de
isótopos radioativos de radônio (222Rn, 220Rn, 219Rn) na cadeia de decaimento dos
isótopos 238U, 235U e 232Th. O radônio é um gás nobre extremamente perigoso, pois não
é visível e não tem cheiro. Se for inalado pelo homem, a continuação do decaimento
radioativo do radônio produzirá metais nocivos, como o polônio, chumbo e bismuto (Fig.
4.68), no interior do pulmão, com sérias possibilidades de danos à saúde. A estrutura
cristalina dos minerais fortemente radioativos, portadores de urânio e tório, normalmente
apresenta-se profundamente afetada pela radioatividade, processo este denominado
95
metamictização. Nos casos extremos, este processo chega a destruir completamente a
estrutura cristalina dos minerais metamícticos, tornando-os amorfos.
A radioatividade proveniente de minerais portadores de potássio e rubídio
é de intensidade mais fraca e não representa perigo radiológico eminente para o ser
humano. Embora o potássio seja um elemento abundante nas rochas da crosta terrestre
e faça parte da composição de minerais abundantes como as micas muscovita
KAl2(AlSi3O10)(OH)2 e biotita K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2 e os K-feldspatos
(K,Na)AlSi3O8 , a intensidade da radiação proveniente do 40K nestes minerais é fraca e
não há emissão de partículas  e . O rubídio é um elemento traço nas rochas da crosta
terrestre mas ocorre principalmente substituindo o cálcio em alguns minerais abundantes
como os plagioclásio (Ca,Na)Al(Si,Al)3O8 . Embora ocorra emissão de partícula  no
decaimento do 87Rb para 87Sr, a intensidade da radiação é fraca em função do baixo
conteúdo de rubídio nas rochas e minerais.
Os minerais radioativos de urânio e tório são minérios energéticos que podem ser
utilizados na fabricação de reatores nucleares para produção de energia elétrica. Além
disso, a radioatividade desses minerais é utilizada para datação absoluta dos materiais
geológicos (minerais e rochas), ramo da geologia denominado geocronologia. O princípio
da datação radiométrica baseia-se no seguinte: conhecendo-se a quantidade de um
isótopo radioativo (pai) e do isótopo radiogênico estável (filho) e o tempo que o isótopo
radioativo leva para se transformar no isótopo estável (filho), é possível determinar a
idade absoluta do mineral ou rocha que contém os isótopos radioativo (pai) e radiogênico
(filho). Por meio de análises isotópicas quantitativas em equipamentos denominados
espectrômetros de massa, se obtém a quantidades que ainda resta do isótopo radioativo
(pai) e do isótopo estável (filho) gerado pelo decaimento do isótopo radioativo. Como as
taxas de decaimentos das reações nucleares que transformam os isótopos radioativos
nos isótopos estáveis são conhecidas (meia vida), é possível calcular a quantidade
original do isótopo radioativo e quanto tempo levou para produzir a quantidade de isótopo
estável (filho) obtida pelo espectrômetro de massa, que deve corresponder à idade do
mineral ou rocha que contém os isótopos radioativo e radiogênico. Existem vários
métodos para determinar idades de rochas com milhões e até alguns bilhões de anos.
Os principais são os métodos urânio-chumbo (238U/ 206Pb e 235U/ 207Pb), rubídio-
estrôncio (87Rb/ 87Sr) e potássio-argônio (40K/ 40Ar), isótopos com meia vida longa. Para
datação de eventos humanos, de milhares de anos, é utilizado o método do carbono 14
14 1
( 6 C), cuja meia vida é 5.730 anos para que a metade do 46 C original se transforme em
14
nitrogênio 7 N.

4.2.4- MINERALOGIA QUÍMICA: propriedades químicas dos minerais


A Mineralogia Química é a parte da Mineralogia que estuda as características e
propriedades químicas dos minerais. Os minerais são definidos como substâncias
cristalinas naturais normalmente inorgânicas. Consequentemente eles possuem as
mesmas propriedades dos sólidos cristalinos (estrutura interna ordenada) e das
substâncias químicas inorgânicas. Para uma substância ser considerada mineral, a
definição estabelece ainda que a sua composição química deve ser definida, ou seja,
podendo variar dentro de intervalos definidos, representada por uma fórmula química. A
composição química é uma característica básica dos minerais e de importância
fundamental na mineralogia, pois a maioria das outras propriedades dela depende direta
ou indiretamente. Outra característica básica dos minerais é a estrutura cristalina que
compreende o arranjo espacial das partículas componentes dos minerais e as forças de
ligação química que mantém unidas estas partículas. Estas três características básicas

96
(composição química, arranjo das partículas e forças de ligação) controlam a maioria das
propriedades dos minerais.
Essa relação das propriedades dos minerais com a estrutura cristalina e a
composição química, mostrada na figura 4.76, é o tema principal desta unidade e o
objetivo central da parte da mineralogia química denominada cristaloquímica.

Figura 4.76- Relações entre as propriedades


dos minerais com a composição química e
estrutura cristalina (arranjo das partículas
componentes + ligações químicas entre elas).

Ligações químicas nos minerais


Na formação das substâncias químicas, os átomos, ao se combinarem, tendem a
completar sua última camada de elétrons através de uma interação entre os elétrons
desta última camada, denominada camada de valência. Esta interação origina forças de
natureza elétrica que ligam entre si as partículas componentes das substâncias químicas
e, portanto, dos minerais, denominadas . A espécie e a intensidade
dessas forças exercem importante influência em muitas propriedades físicas e químicas
dos minerais. De acordo com o tipo de interação eletrônica predominante nas
combinações químicas, as ligações podem ser de cinco espécies principais seguintes:
ligação iônica, ligação covalente, ligação metálica, ligação de van der Waals e ligação
em ponte de hidrogênio.
Ligação iônica: a interação eletrônica se processa por transferência de elétrons,
originando íons. O elemento mais eletropositivo perde elétrons, formando o cátion, e o
elemento mais eletronegativo recebe elétrons, formando o ânion . Este tipo de ligação
ocorre entre elementos com grande diferença no potencial de eletronegatividade, ou
seja, entre metais, com poucos elétrons na última camada (eletropositivos), e não metais,
com a última camada próxima da saturação (eletronegativos). Os elementos metálicos
tendem a ceder seus poucos elétrons na última camada para elementos não metálicos,
formando íons. A atração entre os íons é mantida por forças eletrostáticas relativamente
fracas. Exemplos: halita NaCl e fluorita CaF2. O sódio tem apenas um elétron na sua
última camada e o cloro tem 7. Ao interagirem quimicamente, o sódio cede seu elétron
para o cloro, gerando íons, o cátion de sódio positivo (Na +) e o ânion de cloro negativo
(Cl ‾) que se atraem para formar a halita (Fig. 4.77 a). O cálcio tem 2 elétrons na última
camada e o flúor tem 7. Ao interagirem quimicamente, o cálcio cede seus dois elétrons
para dois átomos de flúor (um elétron para cada flúor), formando a fluorita (Fig. 4.77 b).

a b
Elétron

Halita NaCl
Fluorita CaF2

Figura 4.77- Ligação iônica (transferência de elétrons) nos minerais halita (a) e fluorita (b).

97
Ligação covalente: a interação eletrônica ocorre por emparelhamento de
elétrons, com a formação de pares eletrônicos, formados por dois orbitais incompletos
(cada um com um elétron) que se juntam num único orbital completo e estável. Este tipo
de ligação ocorre entre elementos não metálicos com diferença no potencial de
eletronegatividade menor que nos compostos iônicos. A atração entre os elementos no
par eletrônico é causada por forças eletromagnéticas relativamente fortes provenientes
de seus movimentos de rotação (spins) contrários, um horário e outro anti-horário que
criam campos magnéticos com polaridade opostas.
Na combinação entre átomos de um mesmo elemento químico, o par eletrônico
pertencerá igualmente aos dois átomos, pois não há diferença no potencial de
eletronegatividade, já que os átomos são iguais. A ligação covalente, neste caso, é do
tipo apolar (não polarizada). Exemplos: enxofre nativo (S) e diamante (C). O enxofre é
bivalente, com 2 orbitais incompletos em cada átomo que se ligam a 2 outros átomos de
S, formando uma molécula anelar com 8 átomos não coplanares (S8) em forma de um
octógono (Figura 4.78). No diamante, os átomos de carbono (C) são tetravalentes e cada
átomo de C se liga a 4 outros átomos que ficam nos vértices de um tetraedro imaginário,
formando uma estrutura não molecular muito estável (Fig. 4.79).

Figura 4.78- Ligação covalente apolar na


molécula do mineral enxofre nativo.

a Tetraedro de

b
interno da cela unitária
Par eletrônico
dos vértices e das faces
da cela unitária

Figura 4.79- Ligação covalente apolar na estrutura cristalina não


molecular do diamante, em que cada átomo de carbono (C) está
ligado a 4 outros átomos de (a). Tetraedro de (b).

Na combinação entre átomos de elementos químicos diferentes, o par eletrônico


se aproximará do elemento mais eletronegativo, originando polos elétricos. A ligação
covalente, neste caso, é do tipo polar, uma ligação intermediária entre a covalente pura
(apolar) e a iônica pura. Quanto maior a diferença no potencial de eletronegatividade
entre os elementos, maior será a polaridade da ligação, até o ponto de o elemento mais
eletronegativo capturar de vez o elétron do outro elemento, formando íons (ligação
iônica). Há, portanto, uma variação contínua entre as ligações covalente e iônicas puras.
Exemplos: gelo e carbonatos. O oxigênio é bivalente, com 2 orbitais incompletos que se
ligam, cada um, a um átomo de hidrogênio, formando uma estrutura molecular em que
cada molécula H2O está ligada a 4 outras moléculas situadas nos vértices de um
tetraedro imaginário (Fig. 4.80).
No radical (CO3)‾ 2 dos carbonatos, o carbono tetravalente se liga a três
átomos de oxigênio com ligação covalente polar, sendo duas ligações simples e uma
dupla, dispostas espacialmente no mesmo plano e fazendo um ângulo de 120 entre elas
(Fig. 4.81). O radical (CO3)‾ 2 se liga a cátions, como Ca+2, Mg+2, Fe+2 e Mn+2, através
das duas ligações iônicas livres, para formar os carbonatos. As três direções de clivagens
98
romboédricas dos carbonatos são condicionadas pelas direções das ligações iônicas
mais fracas que as covalentes.

b a

Figura 4.80- Ligação covalente polar na molécula de


água, na qual o par eletrônico se aproxima do oxigênio
(a). Estrutura cristalina do gelo em que cada molécula da
água está ligada a outras 4 (b).

a Par eletrônico

Figura 4.81- As três ligações


covalentes polares do radical
carbonato, uma dupla e duas
simples (a), fazendo um ângulo de
120 entre elas, nas quais o par
b eletrônico se aproxima do O (b).

A grande maioria dos minerais é iônica e/ou covalente que se caracteriza pela
tenacidade quebradiça, diafaneidade translúcida e brilho não metálico. Por causa da
maior força da ligação covalente, os minerais com predominância de ligações covalentes,
sem outros tipos de ligação, são muito duros, com pontos de fusão altos e insolúveis em
água, como, por exemplo, o diamante, córindon, espinélio, quartzo e feldspatos. Quando
ocorre ouros tipos de ligações mais fracas, associadas à ligação covalente, como no
caso de minerais moleculares, a dureza e os pontos de fusão são mais baixos, como,
por exemplo, o gelo e o enxofre nativo, formados por moléculas com ligação covalente
forte, interligadas por ligação mais fraca (van der Walls). Para fundir o diamante ou o
córindon, precisa de muita energia para romper a forte ligação covalente, ao passo que
para fundir o enxofre basta romper a ligação de van der Walls entre as moléculas, com
muito menos energia. A origem da fraca ligação de van der Walls são cargas residuais
na superfície das moléculas ou também de unidades não moleculares como na grafita,
formada por camadas de átomos de carbono interligados por ligação covalente apolar
muito forte, mas as camadas de carbono são interligadas por ligação fraca de van der
Walls (Fig. 4.82). Por causa da ligação de van der Walls a grafita é mole, mas como ela
não é molecular, seu ponto de fusão é muito alto, pois para fundi-la tem que quebrar a
forte ligação covalente.
O gelo é outro mineral molecular que, além da ligação covalente das moléculas,
possui uma ligação fraca interligando as moléculas, denominada ponte de hidrogênio
que é semelhante à ligação de van der Walls, mas recebe essa denominação específica,
pois entre duas moléculas de H2O sempre há um átomo de hidrogênio, fazendo a ponte.
Na estrutura do gelo cada molécula H2O é ligada a outras 4 moléculas por pontes de
hidrogênio, situadas nos vértices de um tetraedro imaginário (Fig. 4.83).

99
a b

Em azul, os átomos
alinhados das três
camadas
Figura 4.82- Estrutura da grafita formada por camadas
de átomos de carbono ligados covalentemente,
mostrando a ligação de van der Walls entre as
camadas de carbono (a). Vista bidimensional das 3
camadas, na direção do eixo c (b), mostrando o
deslocamento da camada intermediária (vermelha).

Figura 4.83- Estrutura molecular do gelo, na qual


cada molécula de água é ligada a outras 4
moléculas por pontes de hidrogênio, situadas nos
vértices de um tetraedro imaginário.

As ligações fracas (van der Walls e ponte de hidrogênio) nunca ocorrem sozinhas.
Elas sempre estão associadas a outra ligação mais forte (covalente ou iônica forte) que
forma unidades coesas ligadas pelas ligações fracas, condicionando a ocorrência de
clivagens ao longo das direções planares (ligações fracas) que interligam a unidades
mais coesas.
, é a ligação entre átomos de elementos metálico que tendem a
perder elétrons (eletropositivos) e quando se unem entre si, formam uma nuvem
eletrônica de elétrons liberados que ficam dispersos no retículo cristalino, sem posições
fixas (Fig. 4.84). A atração entre os átomos metálicos é mantida por forças eletrostáticas
fracas originadas pela polaridade eletrônica causada pela movimentação dos elétrons
em um estado de equilíbrio dinâmico em que os polos elétricos estão sempre presentes,
mas em constante movimentação. Exemplos metais nativos (Au, Ag, Cu, Pt).

Figura 4.84- Seção idealizada em uma estrutura de um


mineral metálico, mostrando os núcleos atômicos
envolvidos por uma nuvem de elétrons liberados de cada
átomo. Os elétrons circulam livremente entre os núcleos,
formando polos elétricos que mudam continuamente
conforme a movimentação dos elétrons. A linha, na figura,
mostra um possível caminho de um elétron entre os
núcleos.

100
Por causa da nuvem eletrônica e da força de ligação relativamente fraca, os
minerais metálicos são normalmente opacos, com brilho metálico, pois a nuvem dificulta
a passagem da luz. Apresentam tenacidade plástica (não quebradiços); se amassam ou
se amoldam aos esforços mecânicos, em vez de quebrar. Apresentam dureza baixa a
média e são bons condutores de eletricidade e calor, pois os eletros da nuvem se alinham
com facilidade diante de uma diferença de potencial elétrico, formando uma corrente
elétrica.

Arranjo espacial das partículas componentes dos minerais


As estruturas cristalinas dos minerais são definidas pelos sistemas cristalinos,
apresentados na cristalografia, pelo arranjo das partículas componentes dos minerais
(átomos e íons) e pelas ligações químicas que mantêm essas partículas unidas. Em uma
estrutura cristalina, cada íon tende a grupar ou coordenar, em torno de si, tantos íons de
cargas opostas quantos lhe permite o seu tamanho. O (cátions e
ânions) na estrutura cristalina ocorre de tal forma a compatibilizar o tamanho (volume) e
a carga elétrica das partículas no espaço do retículo cristalino, por meio do mecanismo
denominado . Os íons coordenados agrupam-se em torno do íon
coordenador central de modo que seus centros ficam nos vértices de um poliedro regular
denominado poliedro de coordenação. O número de íons coordenados no poliedro de
coordenação é denominado número de coordenação (NC) do íon coordenador em
relação aos íons coordenados. Exemplos:
NaCl (Fig. 4.85):
NC do Na+ em relação ao Cl ‾  NCNa Cl =6 Poliedro de coordenação
NC do Cl ‾ em relação ao Na+  NCCl Na =6 (octaedro)

NCCa F = 8  cubo
CaF2 (Fig. 4.86): Poliedro de coordenação
NCF Ca = 4  tetraedro

Nesses dois exemplos observa-se que os dois minerais (halita e fluorita), apesar
de pertencerem ao mesmo sistema cristalino (isométrico), possuem estruturas cristalinas
diferentes, com diferentes arranjos espaciais de suas partículas componentes, definidos
pela coordenação dessas partículas.

a b
Ânion Cl ‾

Cátion Na+

Figura 4.85- Estrutura cristalina da halita, com poliedro de coordenação octaédrico (NC = 6),
tanto para o Na+ como para o Cl ‾ (a). Cela unitária da halita (b).

101
a b
Ânion F ‾

Cátion Ca+2

Figura 4.86- Estrutura cristalina da fluorita, com poliedros de coordenação cúbico (NC = 8) do
Ca+2 e tetraédrico (NC = 4) do F ‾ (a). Cela unitária da fluorita (b).

O número de coordenação dos íons de um cristal depende de dois fatores


seguintes
1) Tamanho relativo dos íons (cátions e ânions)
2) Neutralidade elétrica do cristal  Em todo cristal estável, o número total de cargas
negativas deve ser igual ao número total de cargas positivas.
Os dois fatores influenciam conjuntamente no número de coordenação, mas a
neutralidade das cargas elétricas se impõe. Por exemplo, no caso da fluorita, o tamanho
relativo dos íons permitiria uma estrutura contendo números iguais de Ca +2 e de F ‾, com
ambos em coordenação 8. No entanto, para manter a neutralidade elétrica do mineral, o
número de cátions Ca+2 deve ser a metade do número de ânions F ‾, ou seja, o Ca+2 irá
ocupar somente metade dos lugares possíveis e seu número de coordenação será o
dobro do número de coordenação do F ‾.
O tamanho relativo dos íons é expresso pela relação dos raios iônicos em
angstrom (1 A = 10‾ 7 mm). Exemplo Halita (NaCl), RNa = 1,02 A, RCl = 1,81 A, RNa RCl =
0,56. Quando dois ou mais cátions estão presentes em uma estrutura cristalina,
coordenando o mesmo ânion, calcula-se a relação dos raios iônicos para cada um dos
cátions. Exemplo Espinélio (MgAl2O4), RMg = 0,57 A, RAl = 0,54 A, RO = 1,38 A 
RMg RO = 0,41, RAl RO = 0,39.
O arranjo de partículas de mesmo tamanho (com R C /R A = 1), como no caso de
metais nativos, constituídos de um único elemento (ouro, prata, cobre), resulta em
coordenação 12, a mais elevada que existe, denominada de empacotamento compacto
ou mais denso, pois minimiza o espaço vazio da estrutura cristalina. O empacotamento
mais denso pode ser facilmente verificado empilhando esferas idênticas, como bolas de
bilhar ou de pingue-pongue. Este experimento demonstra que existem dois tipos de
empacotamento mais denso, um no sistema hexagonal, denominado hexagonal mais
denso (HCP, sigla em inglês de hexagonal closest packing), e outro no sistema
isométrico, denominado cúbico mais denso (CCP, sigla em inglês de cubic closest
packing).
Metais nativos com empacotamento mais denso é uma situação excepcional no
reino mineral. A grande maioria dos minerais são constituídos por mais de um elemento
químico de diferentes raios iônicos ou atômicos que se arranjam para formar as
estruturas cristalinas. Em uma simplificação genérica das estruturas cristalinas iônicas,
os ânions formam empacotamento mais denso e os cátions, de menor tamanho, se
alojam nos interstícios dos arranjos aniônicos. Os diversos cátions ocupam os espaços
mais compatíveis a seus tamanhos e também para satisfazer a necessidade de carga
positiva da estrutura cristalina que deve ser neutra. A influência do tamanho relativos dos
102
íons no número de coordenação, medido pela relação dos raios iônicos, foi estudada
com base na relação do raio do cátion pelo raio do ânion (R C RA) e como o número de
coordenação do cátion varia em função desta razão (RC RA). Como os ânions são
normalmente maiores que os cátions, as razões (RC RA) serão menores que 1. O número
de coordenação do cátion (NCCat) diminui progressivamente à medida que o cátion for
cada vez menor em relação aos ânions coordenados, com razões (RC RA) cada vez
menores. As seis coordenações mais frequentes nos minerais, em ordem decrescente
de NC, são as seguintes:
1- (empacotamento mais denso): RC RA = 1 (Fig. 4.87)
 Empacotamento hexagonal mais denso (HCP). Exemplos: Zn, Co nativos (Fig. 4.87a)
 Empacotamento cúbico mais denso (CCP). Exemplo: Au, Ag, Cu e Pt (Fig. 4.87 b).
a b c d

Figura 4.87- Coordenação 12 (empacotamento mais denso): empacotamento hexagonal mais


denso HCP (a) e poliedro HCP (b). Empacotamento cúbico mais denso CCP (c) e poliedro
cuboctaedro (d).

2- : cátion coordenador ligeiramente menor que o ânion (Fig. 4.88 a, b).


Poliedro de coordenação: cubo (NC = 8). Exemplos: fluorita CaF2 (NCCa = 8), Uraninita
UO2 (NCU = 8), ferro nativo (NCFe = 8).
3- : cátion coordenador 30 a 60 % menor que o ânion (Fig. 4.88 c, d).
Poliedro de coordenação: octaedro (NC = 6). Exemplos: halita (NCNa = NCCl = 6),
espinélio MgAl2O4 (NCAl = 6).
4- : cátion coordenador 60 a 75 % menor que o ânion (Fig. 4.89 a, b).
Poliedro de coordenação: tetraedro (NC = 4). Exemplos: silicatos (NCSi = 4), sulfatos,
NCS = 4 no radical (SO4)‾2, fosfatos, NCP = 4 no radical (PO4)‾ 3.

a b c d

Figura 4.88- Coordenação 8, NC = 8 (a) e poliedro de coordenação cúbico (b). Coordenação 6,


NC = 6 (c) e poliedro de coordenação octaédrico (d).

5- : cátion coordenador 75 a 85 % menor que o ânion (Fig. 4.89 c).


Coordenação triangular (NC = 3): não forma poliedro e sim uma forma geométrica
bidimensional (triângulo). Exemplos: carbonatos, NCC = 3 no radical (CO3)‾2 e nitratos,
NCN = 3 no radical (NO3)‾.
6- : cátion coordenador muito pequeno, mais de 85 % menor que o ânion
Coordenação linear (Fig. 4.89 d): não forma poliedro e sim uma forma geométrica
unidimensional (linha). Exemplo: cuprita Cu2O (NCCu = 2).
103
a b c d

Figura 4.89- Coordenação 4, NC = 4 (a) e poliedro de coordenação tetraédrico (b). Coordenação


3 (NC = 3), triangular (c). Coordenação 2 (NC = 2), linear (d).

As coordenações 11, 10, 9, 7 e 5 existem, porém são raras ou muito raras nos
minerais. A estrutura cristalina influencia em várias propriedades dos minerais. As formas
cristalinas e suas simetrias dependem da geometria das celas unitárias. A clivagem e
densidade são propriedades que dependem tanto do arranjo estrutural das partículas
como também das ligações químicas. As clivagens são regiões planares de fraqueza na
estrutura cristalina definidas por ligações fracas e/ou maior espaçamento de planos
atômicos. A densidade dos minerais depende da composição química (peso atômico dos
elementos) e também da porcentagem de espaço da estrutura cristalina ocupada pelas
partículas que varia com o arranjo estrutural das partículas.

Polimorfismo e Isoestruturalismo
Polimorfismo é o fenômeno pelo qual dois ou mais minerais possuem a mesma
composição química e estruturas cristalinas diferentes. Os minerais nestas condições
são denominados genericamente de polimorfos, dimorfos (se são dois), trimorfos (se são
três) etc. O termo polimorfismo refere-se às formas cristalinas diferentes dos minerais
nessa condição, apesar de possuírem a mesma composição química. Os minerais
polimorfos não podem ser distinguidos por meios químicos, porém são diferentes em
quase todas as outras propriedades (Tabela 4.5). A tabela mostra que pode haver
polimorfos do mesmo sistema cristalino, como o rutilo e anatásio, cujos arranjos
estruturais dos íons de Ti e O são diferentes.

Isométrico NCC = 4 10 3,5


C
Hexagonal-H NCC = 3 1 2,2
Isométrico NCFe = 6 , NCS = 3 6 5,0
FeS2
Ortorrômbico NCFe = 6 , NCS = 3 6 4,89
Hexagonal-R NCCa = 6 , NCC = 3 3 2,71
CaCO3
Ortorrômbico NCCa = 9 , NCC = 3 3,5 2,95
Tetragonal NCTi = 6 , NCO = 3 6 6,5 4,2 4,25
TiO2 Ortorrômbico NCTi = 6 , NCO = 3 5,5 6,0 4,1 4,2
Tetragonal NCTi = 6 , NCO = 3 5,5 6,0 3,8 4,0
Tabela 4.5- Quatro exemplos de minerais polimorfos. O último exemplo são trimorfos.

Isoestruturalismo é o fenômeno pelo qual dois ou mais minerais possuem o


mesmo tipo de estrutura cristalina e composições químicas diferentes, ou seja, é o
inverso do polimorfismo. Nos minerais isoestruturais, ou isotípicos, suas partículas
componentes, independentemente dos seus tamanhos, possuem o mesmo arranjo
espacial e o mesmo sistema cristalino, embora as dimensões das celas unitárias dos
minerais sejam diferentes. Os centros destas partículas ocupam posições
104
geometricamente semelhantes nas estruturas dos minerais, com o mesmo número de
coordenação e normalmente exibem as mesmas formas cristalinas, razão pela qual são
denominados também de minerais isomórficos. (Tabela 4.6). As diferenças nas
propriedades físicas de minerais isoestruturais são provocadas, em alguns casos, pela
composição química (Ex. densidade, cor, etc.) e, em outros, pelas diferenças nas
relações axiais da cela unitária (Ex.: ângulos interfaciais, direções de clivagem, etc.).
Exemplos

NCcátion = 8 Isométrico NCCa = 8, NCF = 4


NCânion = 4 Isométrico NCU = 8, NCO = 4
Isométrico NCNa = 6, NCCl = 6
NCcátion = 6 Isométrico NCK = 6, NCCl = 6
NCânion = 6 Isométrico NCMg = 6, NCO = 6
Isométrico NCPb = 6, NCS = 6
Tabela 4.6- Dois exemplos de minerais isoestruturais. O segundo exemplo são 4 minerais
isoestruturais, 2 cloretos (halita e silvita), um óxido (periclásio) e um sulfeto galena).

Composição química dos minerais


A grande maioria dos minerais apresenta variações significativas em suas
composições químicas, em maior ou menor escala, ocorrendo, porém, entre elementos
e intervalos de variações definidos, conforme preconiza a definição de mineral, de tal
modo que os minerais podem ainda ser representados por uma fórmula química que
deve expressar essas variações composicionais. As origens dessas variações
composicionais situam-se no próprio ambiente de formação dos minerais, normalmente
constituindo sistemas quimicamente abertos, onde, além dos elementos principais dos
minerais, estão presentes muitos outros, inclusive elementos traços, com amplas
possibilidades de interação entre eles. Exemplos a esfalerita (ZnS) pode conter até 32 %
de ferro; a magnetita Fe3O4 pode conter Mg+2, Mn+2, Al+3, Cr+3 e Ti+4. As colorações de
algumas variedades de quartzo, como ametista, citrino e quartzo rosa, são provocadas
pela presença de elementos estranhos à sua composição, como o Fe, Mn, Li e Al.
As variações na composição dos minerais ocorrem principalmente através de um
mecanismo denominado substituição iônica que consiste na substituição de um íon ou
um grupo iônico por outro íon ou grupo iônico na estrutura de um mineral. Os elementos
em substituição iônica ocupam a mesma posição na estrutura cristalina do mineral e, na
fórmula mínima, aparecem entre parênteses, separados por vírgulas, como, por
exemplo, halita (Na,K)Cl, esfarelita (Zn,Fe)S, olivina (Mg,Fe,Mn)2SiO4 . Existem
essencialmente dois tipos de substituição iônica
Os íons que se substituem possuem a mesma carga,
como nos três exemplos citados acima: Na+ e K+ na halita, Fe+2 e Zn+2 na esfarelita e
Mg+2, Fe+2 e Mn+2 nas olivinas.
Os íons que se substituem são de cargas diferentes.
Neste caso precisa haver uma compensação de cargas para manter a neutralidade
elétrica do mineral. O excesso ou a deficiência de cargas causada pela substituição
normalmente é compensado por outra substituição iônica na estrutura do mineral. Por
exemplo, nos plagioclásios (Na,Ca)Al(Si,Al)3O8, a substituição de Si+4 por Al+3 (com
perda da carga positiva) é compensada pela substituição de Na+ por Ca+2 (com ganho
de carga positiva), de tal modo que a quantidade de Ca+2 que substitui o Na+ (ganho
105
de carga) é igual a quantidade de Al +3 que substitui o Si +4 (perda de carga).
Chamando essa quantidade de (x), a fórmula dos plagioclásios pode ser expressa da
seguinte maneira: (Na1 xCax)Al(Si3 xAlx)O8 . Existem outros mecanismos de
compensação de cargas em substituições acopladas, como, por exemplo, introdução
de cátions, quando a substituição provoca perda de carga, e omissão de cátions,
quando a substituição provoca ganho de carga. Por exemplo, na flogopita
KMg3(Si3Al)O10(OH)2, a substituição de 1Si+4 por 1Al+3 é compensada pela
introdução de 1K+.
De acordo com a extensão da substituição iônica, ela pode ser de dois tipos
1) os íons se substituem em todas as proporções, originando uma
de minerais entre dois ou mais termos extremos puros. Os termos
intermediários das séries contínuas podem ser representados pelas porcentagens dos
termos extremos, denominadas frações molares. Exemplo série continua das olivinas
(Mg,Fe)2SiO4 , cujos termos extremos são a Forsterita ( ) Mg2SiO4 e a Faialita ( )
Fe2SiO4 , com substituição completa entre Mg+2 e Fe+2 (Fig. 4.90). Nessa figura, as
olivinas magnesianas (Fo 50) são representadas pela faixa azul da série e as olivinas
ferrosas (Fa 50) pela faixa vermelha. As frações molares são representadas, nas
fórmulas mínimas dos termos intermediásios, pelas porcentagens numéricas dos
termos extremos: Fo80Fa20  (Mg0,8Fe0,2)2SiO4 Fa70Fo30  (Fe0,7Mg0,3)2SiO4.
Fo80Fa20
Mg2SiO4 (Mg,Fe)2SiO4 Fa70Fo30 Fe2SiO4 Fo80Fa20
80 % Fo e 20 % Fa
Fo Fa
Fa70Fo30
Olivinas 70 % Fa e 30 % Fo
Figura 4.90- Série contínua das olivinas, mostrando os termos intermediários Fo 80Fa20 e
Fa70Fo30.

Os termos intermediários das séries contínuas podem ser considerados como


misturas homogêneas em que um dos termos extremos estaria dissolvido no outro em
diversas proporções. Em função desta concepção, foi atribuído o termo
para as séries continuas de minerais.
2) substituição parcial entre dois ou mais íons, gerando uma
de minerais, na qual existe apenas uma parte do espectro completo de minerais
possíveis entre dois termos extremos puros. Exemplo série descontinua dos K-
feldspatos ou feldspatos alcalinos (K,Na)AlSi3O8 , com os termos extremos ortoclásio
( ) KAlSi3O8 e albita ( ) NaAlSi3O8 e substituição limitada entre K e Na (Fig. 4.94).
Compõem essa série os K-feldspatos sódicos (faixa vermelha, até 32,6 % Or) e os
potássicos (faixa azul, 70 % Or). A parte intermediária da série (entre 32,6 e 70 %
Or) não ocorre em temperaturas baixas, somente em temperaturas altas, como
Ab60Or40 (1) e Or60Ab40 (2) na figura 4.91.
Ab80Or20 Ab80Or20
NaAlSi3O8 (K,Na)AlSi3O8 Or75Ab25 KAlSi O
3 8
(Na0,8K0,2)AlSi3O8
Ab Or
1 2 Or75Ab15
K-feldspatos (K0,75Na0,25)AlSi3O8
Figura 4.91- Série descontínua dos K-feldspatos, mostrando os componentes intermediários
Ab80Or20 e Or75Ab25 (estáveis em quaisquer T) e Ab60Or40 (1) e Or60Ab40 (2) que são estáveis
somente em T altas.

106
A extensão da substituição iônica (se ela é completa ou limitada) é controlada
pelos três fatores seguintes
é o principal fator controlador da extensão da substituição
iônica. Dois ou mais íons só se substituem mutuamente, em condições normais, se
seus tamanhos são semelhantes. Até 15 % de diferença nos raios iônicos a
substituição ocorre amplamente. Entre 15 % e 30 %, a substituição pode ocorrer, mas
de maneira limitada e acima de 30 %, a substituição é muito limitada, ou praticamente
inexistente em condições normais.
quanto maior for a temperatura de formação
dos minerais, maior será a facilidade de substituição entre os íons, pois nestas
condições o retículo cristalino dilata e suas partículas componentes ficam em estado
de alta energia e excitação, tornando menos rigorosas as exigências de espaço.
Exemplo Em consequência da grande diferença nos raios iônicos dos cátions Na+ e
K+ (20 a 30 %), a substituição iônica entre eles, em condições normais, é limitada,
podendo ser mais ampla, entretanto, em temperaturas altas (Fig. 4.91).
A substituição iônica entre dois ou mais íons só poderá ser
completa, formando séries contínuas, se houver semelhança nos raios iônicos dos
íons que se substituem (diferença menor que 15 %), e se os termos extremos forem
isoestruturais. Por exemplo, na série continua magnesita − siderita (Mg,Fe)CO3 , além
da semelhança nos raios iônicos dos íons Mg+2 e Fe+2 (diferença menor que 10 %),
os termos extremos, magnesita (MgCO3) e siderita (FeCO3), são isoestruturais
(sistema hexagonal-R). No mineral esfalerita, o Fe+2 pode substituir o Zn em até 32 %
aproximadamente, formando uma série descontínua (Zn,Fe)S, embora a semelhança
nos raios iônicos destes íons (diferença em torno de 4,5 %), favoreça uma
substituição mais ampla. (Fig. 4.92) A limitação da substituição iônica, neste caso, é
condicionada pela estrutura cristalina, pois os termos extremos da série não são
isoestruturais; a esfalerita ZnS é isométrica e a troilita FeS é hexagonal-H, não sendo
possível uma substituição completa entre Zn e Fe+2, uma vez que esses íons ocupam
posições diferentes nas estruturas da esfalerita e da troilita.

Figura 4.92- Série descontínua esfalerita−troilita Zn−FeS

Denomina-se exsolução ou desmisturação ao processo de expulsão e


recristalização de íons de tamanhos anômalos, introduzidos por substituição iônica nos
domínios de um cristal desordenado, em condições instáveis de temperatura alta. Nos
cristais formados em temperaturas elevadas, pode haver substituição iônica entre íons
com grande diferença nos raios iônicos, em proporções que normalmente não
ocorreriam. Quando o cristal volta às condições normais, por resfriamento, a contração
da estrutura cristalina provoca forças de tensões que tendem a expulsar os íons de
tamanhos anômalos, como resultado da má adaptação deles na estrutura do mineral.
Esses íons rejeitados tendem a migrar e agruparem-se localmente, em coordenações
mais adequadas a seus tamanhos, formando núcleos com estrutura diferente
(intercrescimento ou inclusões) que crescem no corpo sólido do cristal hospedeiro.
Exemplos
T alta Exsolução T baixa
(1) Inclusões de KCl em halita (Na,K)Cl NaCl + KCl halita + silvita
1 fase mineral = halita c/K 2 fases minerais

107
(2) Inclusões de ilmenita FeTiO3 em magnetita Fe3O4
T alta Exsolução T baixa
(Fe,Ti)3O4 Fe3O4 + FeTiO3 magnetita + ilmenita
1 fase mineral = magnetita c/Ti 2 fases minerais
(3) Inclusões de albita NaAlSi 3O8 em K-feldspato (K,Na)AlSi3O8 Pertitas (Fig. 4.93)
T alta Exsolução T baixa
(K,Na)AlSi3O8 (K,Na)AlSi3O8 + NaAlSi3O8 K-feldspato pertítico
1 fase mineral = K-feldspato c/Na K-feldspato albita 2 fases minerais
(com pouco Na)

Figura 4.93- K-feldspato pertítico, mostrando a albita branca (pertita) exsolvida do K-feldspato.
Notar a orientação das pertitas de albita.

4.2.5- CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS


A classificação dos minerais mais utilizada, há mais de um século, baseia-se na
composição química que é uma das características mais importantes dos minerais, pois
muitas propriedades dos minerais dela depende em maior ou menor grau. Tal como a
classificação dos compostos inorgânicos adotada na química, os minerais são
classificados de acordo com o ânion ou grupo aniônico dominante, pois os minerais que
possuem o mesmo ânion são em geral mais semelhantes entre si, tendendo a ocorrerem
associados no mesmo ambiente geológico, do que aqueles que compartilham o mesmo
cátion. Embora a composição química tenha se revelada satisfatória como critério básico
para classificação dos minerais, em alguns casos precisa-se recorrer a outro critério para
distinguir e classificar os minerais, como por exemplo minerais polimorfos. O critério que
se impõe para distinguir minerais que não podem ser diferenciados quimicamente é a
estrutura cristalina que, na classificação dos minerais, funciona como um critério auxiliar.
1- Elementos Nativos: Au, Ag, Cu, Pt, diamante e grafita (polimorfos do carbono)
2- Sulfetos e sulfossais:
Metal + S (As, Te): pirita FeS2 , calcopirita CuFeS2 , galena PbS
lollingita FeAs2 , calaverita AuTe2
metal + semimetal (As, Sb) + S: pirargirita Ag3SbS3 ,
enargita Cu3AsS4
3- Óxidos e hidróxidos:
Metal + O: hematita Fe2O3 , espinélio MgAl2O4 , Rutilo TiO2
Metal + OH: gibbsita Al(OH)3 , goethita FeO(OH).
4- Haloides: Sais halogênicos. Exemplos: halita NaCl, silvita KCl
Fluorita CaF2, carnalita KMgCl3.6H2O
5- Oxissais: Sais oxigenados.
(NCCátion/O = 3)
: calcita e aragonita (polimorfos CaCO3), dolomita CaMg(CO3)2
: nitro KNO3
108
(NCCátion/O = 4)
: apatita Ca5(PO4)3(F, Cl)
mimetita Pb5(AsO4)3Cl, vanadinita Pb5(VO4)3Cl
: barita BaSO4 , crocoita PbCrO4
: scheelita CaWO4 , wulfenita PbMoO4
6- Minerais polimerizados: com estrutura em cadeia
: borax Na2B4O7.10H2O
: classe mineral mais importante, pois em torno de 25% dos minerais
conhecidos são silicatos e os minerais formadores de rochas são praticamente todos
silicatos. São minerais polimerizados cuja parte aniônica é constituída unicamente ou
predominantemente pelo grupo aniônico silicático (SiO4)‾ 4 que é a unidade
fundamental dos silicatos. O grupo aniônico silicato é estruturado na forma de um
tetraedro, com o Si+4 no centro do tetraedro e os 4 oxigênios nos vértices do tetraedro
(Fig. 4.94).

(SiO4)‾ 4
b

Vista lateral Vista superior

Figura 4.94- Tetraedro (SiO4)‾ 4 (a), mostrando o valor


unitário da ligação Si O (b).

XmYn(ZpOq)W r
Z são cátions pequenos altamente carregados (Si +4, Al+3).
X são cátions grandes fracamente carregados (Ca+2, Na+, K+).
Y: cátions médios, bi a tetravalentes (Mg+2, Fe+2, Fe+3, Mn+2, Al+3, Ti+4).
O (oxigênio), W: grupos aniônicos como a hidroxila (OH)‾, F ‾ e Cl ‾.
p e q: índices que dependem do grau de polarização da estrutura,
m, n e r índices que dependem das condições de neutralidade elétrica do mineral.

Classificação dos silicatos


Os silicatos são classificados em seis subclasses com base no tipo de estrutura
cristalina (arranjo dos tetraedros) em ordem crescente da polimerização dos oxigênios
nos tetraedros (SiO4)‾ 4. A polimerização nos silicatos ocorre através do
compartilhamento dos oxigênios, originando uma grande variedade de estruturas em
cadeia. O oxigênio compartilhado (polimerizado) interliga dois tetraedros e pertence
igualmente aos dois. O grau de polimerização (GP) corresponde ao número de oxigênios
compartilhados em cada tetraedro (SiO4)‾ 4, que pode variar de 0 a 4 (Fig. 4.95 a, b)

109
Figura 4.95 a- Classificação dos silicatos: subclasses nesossilicatos, sorossilicatos,
ciclossilicatos e inossilicatos de cadeia simples.

110
Figura 4.95 b- Classificação dos silicatos: subclasses inossilicatos de cadeia dupla, filossilicatos
e tectossilicatos.

Os feldspatos são os minerais mais abundantes nas rochas da crosta terrestre,


seguido pelo quartzo, ambos tectossilicatos. Os feldspatos compreendem duas séries:
feldspatos alcalinos ou K-feldspatos e os plagioclásios. Os K-feldspatos (Fig. 4.96)
formam uma série descontínua simples com substituição iônica limitada entre K + e Na+:
(K,Na)AlSi3O8. Os plagioclásios (Fig. 4.97) formam uma série contínua acoplada, com
111
substituição iônica completa entre Na+ e Ca+2, equilibrada com substituição iônica entre
Si+4 e Al+3 : (Na,Ca)Al(Si,Al)3O8 ou (Na1 xCax)(Si3 xAl1+x)O8.

a K-feldspato c
Quartzo
b

Fenocristais de K-feldspato

Figura 4.96- Granito com K-feldspato vermelho e quartzo (a). Cristal de K-feldspato (b). Granito
porfirítico com fenocristais de K-feldspato branco (c).

a b
K-feldspato

Plagioclásio

Quartzo
Figura 4.97- Cristal de plagioclásio (a). Granito porfirítico com fenocristais de K-feldspato em
matriz de plagioclásio, quartzo e biotita. (b).

O quartzo, feldspatos e a mica branca (muscovita) são os principais componentes


minerais das rochas claras, como os granitos e granodioritos. Minerais
ferromagnesianos, como olivina (Mg,Fe) 2SiO4, piroxênios (principalmente augita),
anfibólios (principalmente hornblenda), plagioclásio cálcico e a mica escura (biotita), são
os principais componentes mineralógicos das rochas escuras, como os basaltos e
gabros.

a b b

c
Figura 4.98- Dunito: rocha ígnea plutônica constituída principalmente por olivina (a). Cristais
prismáticos de augita (b) e hornblenda (c). Diorito: rocha ígnea plutônica constituída por
plagioclásio, piroxênio (augita), anfibólio (hornblenda) e biotita (c).

a b c
Feldspato
Quartzo
Biotita

Figura 4.99- Cristais placosos de muscovita (a) e biotita (b). Granito com biotita (c).

112
Unidades constituintes das camadas da Terra
4.3.1- O CICLO DAS ROCHAS
Rochas são materiais consolidados constituídos por agregados naturais de
minerais que compõem a crosta terrestre e o interior do planeta. Dependendo do
processo de formação, a consistência e rigidez das rochas variam, resultando em rochas
duras e rochas brandas. Denomina-se estrutura da rocha o seu aspecto geral externo
que pode ser maciça, isotrópica (sem orientações) e anisotrópica (com orientações, com
estratificação, bandamento, xistosidade). Uma característica importante das rochas é
sua constituição mineralógica, podendo-se distinguir os minerais essenciais e os
minerais acessórios. Os minerais essenciais são os mais abundantes e estão sempre
presentes em uma determinada rocha, e suas proporções determinam o nome da rocha.
Os minerais acessórios podem ou não estar presentes, sem que isso modifique a
classificação da rocha. Quando os minerais constituintes são da mesma espécie
mineralógica, a rocha é considerada monominerálica, como o calcário e o mármore
(constituídos por calcita) e o quartzito (constituído por quartzo), e quando são de
espécies diferentes, ela será poliminerálica, que é a situação mais frequente, como o
granito, basalto e gnaisse.
Um dos principais critérios de classificação das rochas baseia-se nos seus
processos de formação (classificação genética), pela qual as rochas se dividem em três
grandes grupos seguintes: Rochas ígneas ou magmáticas, formadas a partir da
consolidação de material rochoso fundido, denominado magma, podendo ocorrer em
profundidade (plutonismo) ou na superfície (vulcanismo); 2- Rochas sedimentares,
formadas por deposição e compactação de sedimentos (fragmentos minerais derivados
por intemperismo e erosão de outras rochas) nas bacias sedimentares; 3- Rochas
metamórficas, formadas por transformações mineralógicas e texturais (metamorfismo)
de outras rochas. O campo das geociências que estuda a origem e características das
rochas é denominado petrologia, com três subdivisões, conforme as três classes
principais de rochas: petrologia ígnea, sedimentar e metamórfica.
A crosta terrestre é constituída predominantemente por rochas ígneas e
metamórficas que representam em torno de 95 % de seu volume e as rochas
sedimentares ocupam os 5 % restantes. Por outro lado, em termos de área de exposição
na superfície da crosta, a situação se inverte, com as rochas sedimentares ocupando
75 % da superfície, enquanto que as rochas ígneas e metamórficas cobrem apenas 25 %.
Embora os processos genéticos de cada uma das três classes de rochas sejam
distintos, eles se relacionam, havendo progressão entre eles, constituindo um ciclo,
denominado ciclo das rochas (Fig. 4.100) que pode ser analisado a partir de qualquer
um dos três processos formadores de rocha, como, por exemplo, o magmatismo. O
magmatismo inicia quando rochas do interior terrestre (manto superior ou litosfera) são
submetidas a condições de temperatura e pressão que propicie o início da fusão dessas
rochas, gerando magma que formará as rochas ígneas plutônicas e vulcânicas (Fig.
100 a). Essas rochas ou qualquer outra, quando expostas na superfície, podem sofrer a
ação do intemperismo, formando um manto de alteração constituído por material friável
que pode formar um solo (Fig. 4.100 b). O material friável do manto de intemperismo
pode ser movimentado pelos agentes de erosão (principalmente água) que transporta
esse material para regiões baixas (bacias de sedimentação) e lá são depositados,
compactados e litificados, formando as rochas sedimentares (Fig. 4.100 c). As rochas
sedimentares e magmáticas, quando submetidas a condições de temperatura e pressão
elevadas, sem atingir seu ponto de fusão, podem ser metamorfisadas para formar as
rochas metamórficas, normalmente deformadas (Fig. 4.100 d). Em condições extremas
de metamorfismo, a rocha pode começar a fundir, gerando magma e formando
migmatito, uma rocha híbrida metamórfica-magmática (Fig. 4.100 e) que pode evoluir
para uma rocha magmática, começando um novo ciclo.
113
Figura 4.100- Ciclo das rochas: magmatismo, formando rochas plutônicas e vulcânicas (a);
intemperismo (b); erosão, deposição e litificação, formando uma rocha sedimentar (c);
metamorfismo, formando uma rocha metamórfica (d), início de fusão, formando migmatito (e).

4.3.2- ROCHAS ÍGNEAS OU MAGMÁTICAS

São rochas formadas pelo resfriamento e consolidação de material rochoso


fundido, denominado magma que ocorre nas profundezas da Terra. Quando o magma
se consolida no interior da crosta terrestre, a rocha é denominada plutônica ou intrusiva.
Se o magma chegar até a superfície, a rocha resultante será do tipo vulcânica ou
extrusiva. Quando o magma cristaliza em profundidade, porém próximo da superfície, a
rocha resultante é denominada hipoabissal ou subvulcânica. A distinção entre rochas
plutônicas e vulcânicas é feita através da textura das rochas. O resfriamento dos
magmas intrusivos é lento, dando tempo para que os minerais em formação cresçam o
suficiente para serem visíveis macroscopicamente, formando uma rocha de granulação
grossa (plutônica). O granito é a rocha plutônica mais abundante. Por outro lado, o
resfriamento dos magmas extrusivos é muito mais rápido, não havendo tempo suficiente,
normalmente, para formação de cristais visíveis macroscopicamente, formando uma
rocha de granulação fina (vulcânica). Frequentemente a cristalização é tão rápida que o
magma pode se consolidar sem cristalizar completamente, formando vidro vulcânico. A
rocha vulcânica mais abundante é o basalto. O magma, em profundidade, tende a se
deslocar para regiões de menor pressão, em direção à superfície. À medida que se
desloca para regiões mais frias perde calor e, quando atinge o ponto de fusão de seus
componentes minerais, começa a cristalizar, formando as rochas ígneas.
Desde os primórdios da civilização o homem vem utilizando as rochas ígneas para
sua sobrevivência e seu desenvolvimento. Rochas vulcânicas ou vítreas (como a
obsidiana) eram utilizadas para fazer ferramentas de pedra lascada. Por causa de sua
estrutura maciça e resistência mecânica, as rochas ígneas sempre foram muito utilizadas
114
na construção civil, como brita e revestimento. Além disso, importantes depósitos de
minérios metálicos (Au, Ag, Cu, Pb, Zn, Sn, Cr, etc.) e de gemas (diamante, esmeralda,
água marinha, etc.), estão relacionados geneticamente com processos magmáticos e
são explorados em todo o mundo.
Por fim, como as rochas ígneas são a classe de rochas predominante na crosta
terrestre, perfazendo em torno de 70% de seu volume, elas sustentam o arcabouço da
estrutura crustal. Desse modo, a compreensão da constituição, origem e e evolução
geológica de nosso planeta seria impossível sem o estudo das rochas ígneas. Nesse
tópico serão abordados os fundamentos da petrologia ígnea, incluindo ambientes
geológicos e processos de geração e consolidação dos magmas, características
mineralógicas, texturais/estruturais e classificação das rochas ígneas.
Magma: características, geração e consolidação.
Magma é qualquer material rochoso fundido, de consistência pastosa que, ao
consolidar-se, dá origem às rochas ígneas ou magmáticas. O magma é gerado em
profundidade, onde as condições de temperatura e pressão permitem a fusão parcial das
rochas. O magma que extravasa para a superfície, formando os derrames vulcânicos,
recebe a denominação específica de lava pois, nessa condição, sofre algumas
modificações físico-químicas (devolatização, reações de oxirredução), que a diferenciam
do magma retido e cristalizado em profundidade.
As temperaturas magmáticas situam-se entre 700 e 1200C e a composição dos
magmas compreende: parte líquida: material rochoso fundido; parte sólida:
minerais já cristalizados e eventuais fragmentos de rocha transportados pelo líquido
magmático; parte gasosa: voláteis dissolvidos na porção líquida, principalmente água
e CO2 , além de S, Cl e F. Esses três componentes ocorrem em proporções variadas,
dependendo da origem e evolução magmática.
Os magmas são originados por fusão parcial de rochas do manto superior e da
crosta inferior, causada por aumento de temperatura, por alívio de pressão confinante,
por variações no teor de fluidos, ou combinações desses fatores. O diagrama TP da
figura 4.101 mostra a fusão de rochas em sistemas saturados em água, subsaturados e
anidros (seco). A curva solidus (S) representa o início da fusão que coexiste com
minerais ainda não fundidos que são predominantes. O aumento da fusão implica no
aumento da razão líquido/sólido, até atingir a curva liquidus (L) que marca o fim da fase
sólida. Ou seja, com T menor que da curva solidus (à esquerda) só existe fase sólida,
com T maior que da curva liquidus (à direita) só existe fase líquida (fusão completa do
sistema) e com T entre as duas curvas (S e L) existe líquido + sólido.

Figura 4.101- diagrama T-P solidus-líquidus


para sistemas magmáticos saturados em
água e sistemas anidros.

115
Os magmas normalmente são silicáticos, em decorrência da composição também
silicática de suas rochas fontes do manto superior e crosta inferior. Entretanto, magmas
carbonáticos e sulfetados também são conhecidos. Apenas 12 elementos químicos
compõem essencialmente os magmas silicáticos. Oito elementos, com mais de 1% em
peso, denominados elementos maiores: O e Si (os mais abundantes), Al, Ca, Fe, Mg,
Na, K, além de mais 4 elementos com teores entre 1,0 e 0,1%, denominados elementos
menores: Ti, H, P e Mn. A tabela 4.7 mostra as composições dos três principais tipos de
rochas magmáticas (granito, andesito e basalto), também mostradas graficamente na
figura 4.102.

Tabela 4.7- Composição química, em


peso % de óxidos, dos três principais
tipos de rochas magmáticas,
mostrando os teores dos elementos
maiores e menores.

O teor de sílica (% SiO2) é o componente mais abundante nos três tipos de


magmas mostrados na tabela 4.7 e figura 4.102 e um dos principais parâmetros
composicionais das rochas magmáticas e seus respectivos magmas. Os magmas
graníticos (riolíticos) e basálticos são os dois tipos principais, o primeiro com 50,83 % e
o segundo com 72,08 % de sílica. O magma andesítico, de ocorrência mais restrita,
possui teor de sílica intermediário (54,2 %) entre o basáltico e granítico.

50,83 % 54,2 % 72,08 %

Figura 4.102- Diagrama de “pizza”, comparando as composições químicas médias de magmas


basáltico, granítico/riolítico e andesítico.

116
A mobilidade dos magmas depende de
sua consistência ou viscosidade que, por sua
vez, depende principalmente de quatro
parâmetros seguintes: composição química,
grau de cristalinidade (porcentagem de
material sólido), teor de voláteis e temperatura.
Magmas pobres em sílica, como os basálticos,
com temperatura entre 1000 e 1200 C, são
pouco viscosos (mais fluidos) e extravasam
com facilidade, formando corridas de lava que
podem estender-se por dezenas de
quilômetros. Magmas mais silicosos, como os
riolíticos (equivalente vulcânico do granito),
com temperatura entre 700 e 800C, são mais
viscosos e têm mais dificuldade para
extravasar, tendendo a cristalizar em
profundidade (Fig. 4.103). Vulcanismo
explosivo ocorre quando a pressão interna do
Figura 4.103- Relação entre composição
conduto vulcânico supera o peso do material
(teor de sílica), temperatura e viscosidade
dos principais tipos de magmas. sobrejacente.

Os magmas são gerados no manto superior, principalmente na astenosfera, mas


também no manto superior rígido e na crosta inferior, tanto em bordas de placas
tectônicas como em regiões intraplaca. Em regime de divergência de placas, nas dorsais
meso-oceânicas, o manto superior quente é conduzido pelas correntes de convecção
para regiões mais rasas, sofrendo descompressão e, consequentemente, fusão parcial,
formando grandes volumes de magma basáltico que extravasam nas dorsais e formam
crosta oceânica (Fig. 4.104). Em regimes convergentes, nas zonas de subducção, a
crosta oceânica subductada sofre fusão parcial em profundidade, gerando magma
andesítico que resulta na formação dos arcos de ilhas ou arcos magmáticos. Nas
grandes cadeias de montanhas, em margens continentais ativas (subducção oceano-
continente), a crosta continental se espessa e sua porção inferior pode sofrer fusão
parcial, gerando magma granítico (Fig. 4.104). Em regiões intraplaca, tanto continentais
como oceânicas, porções anomalamente aquecidas do manto superior, denominadas
plumas mantélicas ou hot spots, podem produzir fusão parcial localizada, gerando tipos
característicos de magmas, normalmente alcalinos, como, por exemplo, o vulcanismo
basáltico alcalino que formou as ilhas vulcânicas do Havaí no oceano Pacífico. No interior
dos continentes pode haver magmatismo granítico alcalino intraplaca.
Por apresentar densidade menor que a das rochas sobrejacentes, o magma tende
a se deslocar em direção à superfície, por meio de mecanismos complexos, dependendo
de sua composição e da estruturação das rochas encaixantes. Normalmente, os magmas
ascendem através de grandes falhas ou fraturas. Na ausência dessas estruturas,
formam-se grandes bolsões de magma na forma de gigantescas “gotas invertidas” ou
balões (diápiros), com vários quilômetros cúbicos de volume. Esses bolsões de magma
se deslocam por fluxo plástico, frequentemente forçando as rochas encaixantes, às
vezes quebrando-as e englobando seus fragmentos. Quando ocorre fusão e assimilação
das rochas encaixantes ou de seus fragmentos englobados, pode haver modificação da
composição original do magma. Frequentemente, grandes volumes de magma
estacionam em determinada profundidade, formando câmaras magmáticas que
fornecem material para manifestações vulcânicas em superfície por dezenas de milhares
de anos. O magma ascende da câmara para a superfície através dos condutos
magmáticos ou vulcânicos, cuja geometria é muito variável.
117
Figura 4.104- Seção esquemática da crosta/manto (astenosfera/litosfera), mostrando as regiões
de geração de magma, em bordas de placas tectônicas e regiões intraplaca.

A variedade composicional dos magmas e, por conseguinte, de seus produtos


magmáticos (rochas ígneas), é decorrências das diferentes composições de suas áreas
fontes que sofre fusão parcial, da taxa de fusão da rocha geradora e da profundidade em
que ocorre a fusão. Normalmente os magmas são enriquecidos em sílica em relação às
suas rochas geradoras. Por exemplo, magmas basálticos são mais silicosos que os
peridotitos mantélicos (constituídos essencialmente por olivina e piroxênio) que lhes dão
origem por fusão parcial; magmas andesíticos são também mais enriquecidos em sílica
que os basaltos geradores e magmas graníticos que podem formar-se por fusão de
andesitos, são ainda mais silicosos que estas rochas.
A consolidação de um magma para formar as rochas ígneas é um processo
complexo e, quando em profundidade, demorado, devido a sua constituição com muitos
componentes, cada um com seu ponto de fusão. Ao migrar em direção à superfície, o
magma perde calor para suas rochas encaixantes mais frias e quando atinge o primeiro
ponto de fusão (o mais alto) começa a cristalizar. A cristalização do magma evolui, com
o abaixamento da temperatura, à medida que os pontos de fusão de seus componentes
são alcançados, em um processo denominado cristalização fracionada. A sequência
ideal de cristalização dos minerais magmáticos foi inicialmente estabelecida para
magmas basálticos, pelo petrólogo canadense Norman L. Bowen, em 1928, em uma
série de reações, denominadas séries de Bowen que compreendem duas séries que se
juntam no final (Fig. 4.105 a). As series descontínuas (da esquerda) são formadas por
minerais ferromagnesianos (olivina, piroxênios, anfibólios e biotita), cada um formando
uma série contínua Fe-Mg, com pontos de fusão progressivamente mais baixos, da
olivina para biotita. A série da direita corresponde à série contínua (Ca-Na) dos
plagioclásios, com pontos de fusão progressivamente mais baixos, dos plagioclásios
cálcicos para os sódicos. Cristais de plagioclásio zonado normalmente exibem uma
borda mais cálcica que o interior mais sódico (Fig. 4.105 b), evidenciando que o
crescimento dos cristais seguiu a série contínua de Bowen. A cristalização começa com
olivina e plagioclásio cálcico, que são os minerais com maior ponto de fusão, e progride
paralelamente nas duas séries (descontínuas e contínua) até o feldspato alcalino que
118
forma uma série descontínua K-Na e que evolui para as micas brancas (muscovita) e
finalmente para quartzo, o último mineral a cristalizar. Deve ser enfatizado que as séries
de Bowen representam um modelo genérico simplificado de um processo natural mais
complexo que, portanto, nem sempre segue exatamente a sequência de Bowen.

b Figura 4.105- Séries de reações de Bowen (a). Do


lado esquerdo as séries descontínuas (olivina até
biotita) e do lado direito a série contínua dos
plagioclásios (cálcicos até sódicos). Plagioclásio
zonado (b), com bordas mais cálcicas que o interior
mais sódico.

Teoricamente é possível obter, a partir de um magma primário basáltico, uma


sequência de rochas ígneas, desde os peridotitos (muito pobres em sílica), passando
pelos gabros (pobres em sílica) até os granitos (ricos em sílica), por diferenciação
magmática (cristalização fracionada), conforme as séries de Bowen. Exemplos:
complexos estratiformes, gerados a partir de magmas basálticos, com rochas
peridotíticas na base, passando por rochas gabroicas, até anortositos, constituídos
somente de plagioclásio, na parte superior.
Outros processos que podem modificar a composição magmática são: misturas
de magmas, imiscibilidade de magmas e assimilação magmática. Mistura de magmas
originalmente diferentes pode gerar magmas de composições intermediárias entre os
dois magmas. Imiscibilidade de magmas pode ocorrer quando magmas inicialmente
homogêneos podem, com a evolução da cristalização, separar frações imiscíveis que
cristalizam separadamente. Assimilação magmática ocorre quando o magma abre
caminho para ascender em direção à superfície, incorporando pedaços das rochas
encaixantes ou dos condutos magmáticos que são assimilados (digeridos) pelo magma,
modificando sua composição.

119
Classificação e nomenclatura das rochas ígneas
Existem diversos critérios de classificação das rochas ígneas, sendo os mais
importantes os critérios texturais, critérios químicos e os critérios mineralógicos.
de uma rocha refere-se e às características e relações entre as fases
minerais constituintes das rochas, tais como dimensões absolutas e relativas dos
minerais (cristais), seus hábitos e formas e seus padrões de arranjo entre si. É definida
normalmente em escala macroscópica (amostra de mão) e/ou microscópica. Por outro
lado, de uma rocha refere-se às feições macroscópicas e mesoscópicas (escala
de afloramento) que especificam o arranjo de porções distintas da rocha, como, por
exemplo, se a rocha é bandada (em bandas ou estratos) ou maciça (homogênea). Um
dos parâmetros mais importantes que afeta as feições texturais das rochas ígneas é a
velocidade de cristalização que depende basicamente da profundidade em que o magma
cristaliza, com duas situações bem distintas:
cristalização superficial ou rasa (até algumas dezenas ou poucas centenas de
metros): típica dos processos vulcânicos, nos quais o magma (lava) perde calor
rapidamente em razão do grande contraste de temperatura entre as rochas
superficiais e a lava que cristaliza rapidamente, levando alguns meses ou até mesmo
dias quando o derrame vulcânico é superficial e pouco espesso. Em muitos casos a
consolidação é tão rápida (algumas horas) que não há tempo suficiente para a rocha
cristalizar completamente, formando vidro vulcânico (obsidiana) juntamente com
cristais, ou até mesmo somente vidro. Quando o derrame não chega a extravasar,
mas é raso, ou quando é muito espesso, a cristalização pode levar anos, décadas ou
alguns séculos. O vulcanismo basáltico é o mais comum e importante.
cristalização profunda (quilométrica ou decaquilométrica): típica dos processos
plutônicos, nos quais o magma perde calor lentamente por causa do menor contraste
de temperatura entre as rochas encaixantes e o magma que cristaliza lentamente,
podendo prolongar-se por milhares ou até dezenas de milhares de anos, como, por
exemplo, as rochas graníticas.
O magmatismo hipoabissal ou subvulcânico é uma situação intermediária entre
as duas descritas acima (vulcanismo e plutonismo) que ocorre em profundidade rasa,
porém mais profundo que os processos vulcânicos e mais raso que os plutônicos. O
desenvolvimento das fases minerais pode ser aferido pelo e
, dois importantes parâmetros texturais das rochas ígneas que depende
da velocidade de cristalização e profundidade de consolidação dos magmas.
1- Expressa a proporção relativa de cristais e vidro presentes na
rocha. Quando a rocha é constituída somente por cristais, é denominada
(Fig. 4.106 a, b, c) e quando é constituída somente de vidro, é denominada
(Fig. 4.106 d). Quando a rocha contém cristais e vidro é denominada
(cristais com vidro) ou (vidro com cristais).
2- diferencia dois tipos de texturas, dependendo se os minerais
(cristais) da rocha podem ou não ser reconhecidos macroscopicamente (a olho nu ou
com lupa de bolso). Depende basicamente da velocidade de cristalização.
(Fig. 4.106 a, b, c): minerais reconhecíveis macroscopicamente. É a
textura típica das rochas plutônicas que cristalizam lentamente. A granulometria da
textura fanerítica pode ser fina (cristais submilimétricos), média (cristais milímetros),
grossa (0,5 a 3 cm), muito grossa (cristais 3 cm). Esta última é típica de pegmatitos,
cujos cristais são centimétricos ou até métricos.
(Fig. 4.106 e): cristais não são reconhecíveis macroscopicamente,
somente ao microscópio (cristais microcristalinos) ou por difração de raios X (cristais
criptocristalinos não são reconhecíveis ao microscópio). É a textura típica das rochas
vulcânicas. As rochas hipabissais frequentemente exibem texturas com variações
granulométricas dos cristais, predominando a textura fanerítica fina.
120
a b c d

e
Figura 4.106- Rochas ígneas holocristalinas faneríticas (plutônicas):
granito (a), gabro (b), pegmatito (c). Rocha ígnea holohialina (d): vidro
vulcânico (obsidiana). Rocha ígnea holocristalina afanítica (vulcânica):
basalto (e).

O tamanho relativo das fases minerais (cristais) também é um importante


indicador da história de cristalização das rochas. Magmas que cristalizam em um único
episódio tendem a formar minerais (cristais) com dimensões da mesma ordem de
grandeza, sejam eles de granulação fina, média ou grossa. Texturas nesta situação são
denominadas equigranulares. Por outro lado, magmas que iniciam sua cristalização em
uma determinada profundidade e migram em direção à superfície, terminando sua
cristalização em uma profundidade mais rasa, podem mostrar duas ou mais gerações de
cristais com dimensões diferentes. Essa situação é frequente nas rochas hipabissais, em
condições subvulcânicas. Se a diferença na granulometria das duas gerações for de pelo
menos uma ordem de grandeza, a textura resultante é denominada porfirítica, com
cristais maiores (fenocristais) envolvidos por uma matriz relativamente mais fina, que
pode ser fina média ou até grossa (Fig. 4.107).

Figura 4.107- Rochas graníticas


porfiríticas, com fenocristais de
K-feldspato em matriz fanerítica.

As texturas relacionadas aos graus de cristalinidade e de visibilidade indicam o


ambiente de formação (consolidação) das rochas ígneas. Rochas portadoras de vidro
vulcânico formam-se em ambiente vulcânico superficial. Rochas holocristalinas
afaníticas (sem vidro) indicam ambiente vulcânico raso a superficial. Rochas porfiríticas
indicam ambiente hipabissal ou vulcânico raso. Rochas faneríticas finas se formam em
ambiente hipabissal, porções inferiores de derrames vulcânicos espessos ou em
pequenos corpos intrusivos rasos. Rochas faneríticas médias e grossas se formam em
grandes corpos intrusivos profundos. Rochas faneríticas muito grossas são típicas de
pegmatitos que se formam a partir de magmas muito ricos em fluidos (Tabela 4.8).
Holocristalina Hipohialina/hipocristalina Holohialina
TEXTURA (só cristais) (vidro + cristais) (só vidro)
Afanítica Vulcanismo raso Vulcanismo superficial Vulcanismo superficial
Porfirítica Hipabissal
Fina Hipabissal
Fanerítica

Média
Plutonismo
Grossa
+ Grossa Pegmatito
Tabela 4.8- Relações entre as texturas e o ambiente de formação das rochas ígneas.

121
As estruturas magmáticas são importantes fontes de informação complementares
sobre o ambiente de formação e consolidação das rochas ígneas. Estruturas maciças
isotrópicas (sem orientações), normalmente indicam regimes de alojamento e
consolidação isentos de tensões, conforme as amostras das figuras 4.106 e 4.107.
Entretanto, estruturas anisotrópicas magmáticas podem ocorrer, como as estruturas de
fluxo, tanto vulcânicas como plutônicas que expressam atuação de tensões.
Carbonatitos bandados são exemplos de estrutura de fluxo plutônica e Lavas em corda
(pahoehoe) de estrutura de fluxo vulcânica (Fig. 4.108 a, b). Escape de gases é um
fenômeno frequente nos processos vulcânicos que resulta em estruturas com cavidades
vazias, como as vesículas que, quando preenchidas com minerais tardios, são
denominadas de amígdalas (Fig. 4.108 c). O púmice é um tipo de rocha vulcânica com
alto índice de cavidades vazias (vesículas), resultando em uma estrutura esponjosa (Fig.
4.108 d).
a b c

d
Figura 4.108- Estruturas magmáticas: estrutura bandada em
amostra de testemunho de carbonatito, Caçapava do Sul, RS (a),
fluxo de lava em corda, pahoehoe (b), estrutura amigdaloidal em
basalto da bacia do Paraná (c) e púmice com estrutura esponjosa
(d).

Os basaltos continentais exibem


frequentemente uma estrutura peculiar
de resfriamento, denominada disjunção
colunar ou prismática, formada pela
contração e fraturamento em colunas
ou prismas com tendência hexagonal,
provocado pelo resfriamento brusco do
magma basáltico (Fig. 4.109).

Figura 4.109- Disjunção colunar ou


prismática em basaltos.

O componente químico mais abundante das principais rochas ígneas é a sílica


(SiO2) e seu teor é um dos parâmetros fundamentais para a caracterização
composicional das rochas ígneas. Com base no teor de sílica, as rochas ígneas podem
ser subdivididas em: (SiO2 66%), exemplo: granitos e riolito.
(SiO2 entre 66 e 52%), exemplo: andesito. (SiO2 entre 52 e 45%), exemplo:
basalto e gabro. (SiO2 < 45%), exemplo: peridotito. Nas rochas ácidas e
intermediárias, a abundância em sílica resulta na cristalização de quartzo que
corresponde ao excesso de sílica (maior nas rochas ácidas e menor nas intermediárias)
que não foi incorporado na estrutura dos demais silicatos (sílica livre). Nessas rochas
122
predominam minerais claros (félsicos), representados principalmente pelos feldspatos
(K-feldspatos e plagioclásio), feldspatoide e quartzo, constituídos principalmente por Si
e Al. Nas rochas máficas e ultramáficas, o baixo teor de sílica resulta na ausência ou
quase ausência de quartzo e, consequentemente, aumento de Ca, Mg e Fe que formam
silicatos ferromagnesianos de cor escura (máficos), como olivina, piroxênios, anfibólios
e biotita. Ressalta-se que os termos ácido e básico não tem nenhuma relação com os
mesmos termos utilizados na química que expressam o pH das substâncias.
Outros parâmetros químicos importantes das rochas ígneas são aqueles que se
referem aos teores relativos de álcalis (Na2O e K2O), alumina (Al 2O3) e sílica (SiO2).
apresentam teores elevados de álcalis, com minerais máficos
(piroxênios e anfibólios) alcalinos e feldspatoides que se formam porque a quantidade
de sílica é insuficiente para formar feldspatos, diante da quantidade elevada de álcalis
em relação à sílica e alumina. apresentam teor elevado de
alumina em reação aos álcalis Al2O3 (CaO + Na2O + K2O), com minerais aluminosos,
como cianita e andalusita Al 2SiO5 , córindon Al2O3 e muscovita (filossilicato de Al e K).
apresentam (CaO + Na2O + K2O) Al2O3 (Na2O + K2O).
O é um parâmetro mineralógico que expressa a proporção entre
minerais máficos e félsicos de uma rocha ígnea, definido pela porcentagem de minerais
máficos na constituição volumétrica da rocha. De acordo com esse parâmetro as rochas
ígneas podem ser subdivididas em 5 grupos, seguintes:
Hololeucocráticas: M < 10 Melanocráticas (ou máficas): M entre 60 e 90
Leucocráticos: M entre 10 e 30 Ultramelanocráticas (ou ultramáficas): M 90
Mesocráticas: M entre 30 e 60
Normalmente, utiliza-se apenas três categorias de rochas com base no índice de
cor: , quando há nítida predomínio de minerais félsicos (abrange os
termos hololeucocrático e leucocrático). , quando há nítido predomínio
de minerais máficos, até 90 % do volume da rocha (corresponde ao termo melanocrático),
, quando a rocha é constituída quase totalmente ou somente por
minerais máficos (corresponde ao termo ultramelanocrático). As rochas mesocráticas
(3 0 M < 60) são uma situação intermediária entre as rochas félsicas e máficas que pode
ser utilizada quando não há uma predominância clara entre os minerais félsicos e
máficos, isto é, quando há uma equivalência entre eles. Há uma correspondência
genérica entre teor de sílica e índice de cor das rochas ígneas, ou seja, rochas ácidas e
intermediárias, normalmente, são félsicas, rochas básicas, em geral, são máficas e
rochas ultrabásicas, normalmente, são ultramáficas.
A nomenclatura das rochas ígneas é definida com base nas suas composições
mineralógicas e suas texturas. Os critérios de nomenclatura são padronizados
internacionalmente pela União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS) que adotou
a proposta do geólogo suíço A. L. Streckeisen. Segundo essa classificação, o nome da
rocha é definido pela proporção modal de seus minerais essenciais, plotados em
diagramas triangulares com três componentes. Para as rochas félsicas e máficas, os três
componentes são: quartzo (Q), feldspato alcalino (A) e plagioclásio (P). Para rochas
alcalinas, com feldspatoides, é utilizado um outro diagrama triangular, com feldspatoide
no lugar do quartzo. Os dois diagramas são apresentados conjuntamente, separados
pela aresta A-P dos dois triângulos, o primeiro na parte superior, com o quartzo (Q) no
vértice superior, e o segundo na parte inferior, com o feldspatoide no vértice inferior (Fig.
4.110). As rochas plutônicas e vulcânicas são diferenciadas com base em suas texturas
e apresentadas em diagramas separados. Para denominar uma rocha, deve-se
primeiramente reconhecer, com base nas texturas, se a rocha é plutônica ou vulcânica
para definir qual dos dois digramas será utilizado (rochas plutônicas ou vulcânicas). Para
definir o nome da rocha, é necessário conhecer a composição mineralógica modal da
rocha (porcentagem dos minerais essenciais) e recalcular a porcentagem dos 3 minerais
123
do diagrama streckeisen (quartzo ou feldspatoide, K-feldspato e plagioclásio) para 100 %
e plotar a composição no diagrama que cairá em um dos campos delimitados e
identificados com os respectivos nomes das rochas.
No diagrama Streckeisen das rochas plutônicas (Fig. 4.110 a) estão plotadas seis
composições de rochas, quatro com quartzo (1, 2, 3 e 4) no triângulo superior (Fig. 4.111)
e duas com feldspatoide (5 e 6) no triângulo inferior. Na tabela 4.9 estão as composições
mineralógicas modais dos minerais essenciais das seis rochas (moda, lado esquerdo da
tabela), recalculadas para 100% com os três minerais do diagrama Streckeisen (QFAP,
lado direito da tabela). Para fazer o recálculo, despreza-se os teores de minerais máficos
e recalcula-se o total dos três minerais do diagrama para 100%. Por exemplo: Rocha 1:
Q + A + P = 84 recálculo do quartzo (29,4): 84 100
Q = 29,4  100  84 Q = 35 29,4 Q

a Q Quartzo (Qtz)
b
A K-feldspato (Kf)
P Plagioclásio

F feldspatoide (Foide)

Figura 4.110- Diagrama QFAP de Streckeisen (1976) para classificação das rochas ígneas com
índice de cor (M) < 90, com os principais nomes para as rochas plutônicas (a) e vulcânicas (b).

Moda 1 2 3 4 5 6 QFAP 1 2 3 4 5 6
Quartzo 29,4 31,5 12,0 4,5 − − 35 35 15 5
Feldspatoide − − − − 16,8 4,0 − − − − 20 5
K-feldspato 42,0 18,0 4,0 36,0 42,0 12,0 50 20 5 40 50 15
Plagioclásio 12,6 40,5 64,0 49,5 25,2 64,0 15 45 80 55 30 80
Máficos 13,0 8,0 17,0 7,0 13,0 15,0 − − − − − − −
Total 97,0 98,0 97,0 97,0 97,0 95,0 Total 100 100 100 100 100 100
Tabela 4.9- Porcentagem dos minerais essenciais (moda) das 6 rochas plotadas no diagrama
Streckeisen, recalculas para que os três minerais do diagrama QFAP totalizem 100 %.
124
1- sienogranito
2- granodiorito
3- Diorito ou gabro
4- Monzonito

Figura 4.111- Diagrama QAP de


Streckeisen para rochas ígneas
plutônicas, com até 60 % de quartzo
e índice de cor (M) < 90, com quatro
rochas plotadas.

No diagrama Streckeisen das rochas plutônicas com M < 90, as rochas


monzodiorito e monzogabro incidem no mesmo campo, assim como diorito, gabro e
anortosito (Fig. 4.110 a e 4.111). São rochas com índice de cor (M) alto, ricas em
plagioclásio, que podem ser distinguidas pelo índice M e composição dos plagioclásios.
Os gabros e monzogabros são rochas máficas (M 50), com plagioclásio cálcico
(An 50), enquanto que os dioritos e monzodioritos são rochas intermediárias
mesocráticas (M alto, porém normalmente < 50), com plagioclásio sódico (An < 50). Além
disso, os monzodioritos e monzogabros contêm menos plagioclásio e mais K-feldspato
que os dioritos e gabros. Os anortositos são rochas plutônicas constituídas somente de
plagioclásio cálcico. No diagrama Streckeisen das rochas vulcânicas (Fig. 110 b), os
andesitos e basaltos, correspondentes vulcânicos dos dioritos e gabros,
respectivamente, também incidem no mesmo campo e podem ser distinguidos do
mesmo modo que os dioritos e gabros. Ou seja, os basaltos são rochas máficas com
plagioclásio cálcico, enquanto que os andesitos são rochas intermediárias com M alto,
mas menor que 50, com plagioclásio sódico. Rochas máficas (basálticas) hipabissais
(subvulcânicas) são denominadas diabásio que ocorrem normalmente como diques.
As rochas máficas (M 50) e ultramáficas (M 90) são melhor representadas em
diagramas ternários com participação dos minerais máficos. Para as rochas máficas são
utilizados diagramas com plagioclásio, piroxênio e olivina, enquanto que para as rochas
ultramáficas (sem plagioclásio) utiliza-se apenas os minerais máficos (olivina, piroxênio
e hornblenda). Existem dois grupos principais de rochas ultramáficas, os peridotitos,
constituídos predominantemente por olivina, com pouco piroxênio e os piroxenitos, nos
quais predominam os piroxênios, com pouca olivina. Os peridotitos são os principais
constituintes rochosos do manto terrestre, fonte dos magmas basálticos.
Magmatismo plutônico, vulcânico e hipabissal
As diversas situações do magmatismo vulcânico, plutônico e hipabissal
(subvulcânico) são mostradas na figura 4.112.
Plutonismo
Os processos plutônicos resultam em corpos intrusivos (plutons) diversos.
Batólitos são plutons de grande porte ( 100Km2), enquanto que os stocks são plutons
menores, com área inferior a 100 Km2. Lacólito e lopólito são plutons que se alojaram
entre duas camadas sedimentares, o lacólito na forma de domo ou cogumelo (convexo),
com a base plana, que deforma (arqueia) a camada superior (Fig. 4.112 a) e o lopólito
na forma de pires (côncavo), com a parte central afundada (Fig. 4.112 b). Os principais
corpos hipabissais (subvulcânicos) são os diques, discordantes em relação às rochas
encaixantes (Fig. 4.112 a e 4.113 a), e os sill ou soleiras, concordantes (Fig. 4.112 b e
4.113 b). Xenólitos são porções das rochas encaixantes arrancados pelo magma
intrusivo (Fig. 4.143 a). Os condutos vulcânicos progridem em subsuperfície para diques.

125
Lopólito
a

Figura 4.112- Diversas situações dos corpos magmáticos vulcânicos, plutônicos e hipabissais.
Em (a): vulcão, derrame, neck, batólito, xenólitos, stock, dique, sill, lacólito. Em (b): lopólito.

b
a

Figura 4.113- Dique de rocha máfica, cortando gnaisses e migmatitos (a). Sill de diabásio,
intrusivo em calcários paleozoicos, Arizona, EUA (b).

Vulcanismo
Na superfície, os processos vulcânicos podem se manifestar por meio de vulcões
ou fissuras, derrames calmos ou explosivos. Neck são corpos intrusivos do conduto
vulcânico, preservados após a erosão do cone vulcânico. Processos vulcânicos ocorrem
desde a origem da Terra, há 4,5 bilhões de anos. Talvez eles sejam a melhor expressão
da liberação do calor interno do planeta, acumulado principalmente pelo decaimento de
elementos radioativos. Nos primórdios da evolução terrestre, o calor interno era muito
intenso, o que permitiu chegar ao estado de quase fusão, quando ocorreu a diferenciação
do planeta em núcleo, manto e crosta. Desde então, o fluxo de calor interno, embora
esteja diminuindo, nunca cessou e, como principal fonte de energia da dinâmica interna
do planeta, vem condicionando a tectônica de placas, acompanhada de terremotos e
processos magmáticos (plutônicos e vulcânicos), além de criação e destruição de crosta.
As altas temperaturas da Terra primitiva permitiram taxas de fusão parcial
elevadas no manto, originando magma ultramáfico que só ocorreu no arqueano ( 2,5
bilhões de anos). Ao atingir a superfície arqueana, o magma ultramáfico deu origem a
derrames vulcânicos de komatiitos, muito ricos em magnésio, associados a sequências
126
Vulcano sedimentares arqueanas, denominadas greenstone belts. Os komatiitos exibem
um tipo peculiar de textura, denominada spinifex, em alusão a uma espécie de gramínea
australiana homônima (Fig. 4.114). As menores taxas de fusão parcial atuais não
permitem mais geração de magma ultramáfico, mas os processos vulcânicos continuam,
com menor volume e intensidade.
Atividades vulcânicas foram também importantes na Lua, Marte e Vênus que
tiveram suas superfícies modelas pelo vulcanismo em diversos períodos de suas
evoluções. Entretanto, os exemplos mais impressionantes ocorrem no satélite mais
interno de Júpiter (Io), cujas erupções vulcânicas expelem lavas com altíssimas
temperaturas e jatos gasosos com mais de 300 Km de altura que podem ser vistos a
partir da órbita da Terra, há mais de 600 milhões de quilômetros. O ramo das geociências
que se dedica ao estudo dos processos vulcânicos denomina-se vulcanologia, surgido
na década de 1980, de grande importância para a redução de riscos para populações
situadas em regiões vulcânicas, como as bordas de placas tectônicas.
a b

Figura 4.114- Afloramento de Komatiito com textura spinifex (a) e detalhe da textura formada
por cristais esqueletais de olivina e/ou piroxênio (b).

Os vulcões, apesar das catástrofes por eles provocadas para os seres humanos,
são importantes fontes de observações científicas do interior terrestre (Fig. 4.115) e
podem revelar onde fontes geotermais de interesse para a humanidade podem ser
localizadas. Além disso, 25 % do O2, H2, C, Cl e N2 , presentes atualmente na biosfera,
são de origem vulcânica. Nos primórdios da evolução terrestre, milhares de vulcões
ativos liberaram grandes volumes de água, gás carbônico e outros compostos químicos
que deram origem aos primeiros oceanos e nossa atmosfera primitiva, cuja evolução
permitiu, mais tarde, a produção das substâncias essenciais para o desenvolvimento dos
primeiros organismos da Terra. Portanto, os vulcões tiveram uma importante
participação no desenvolvimento da vida em nosso planeta que culminou com o
surgimento do homem.
As erupções vulcânicas podem ser efusivas (derrames sem explosão) ou
piroclásticas (com explosões) e os componentes do magma vulcânico (lava) podem ser
líquidos, sólidos ou gasosos (tabela 4.10).

Figura 4.115- Sistema vulcânico como um


mecanismo de bombeamento de materiais
(rocha em fusão) do interior terrestre para a
superfície.

127
Tabela 4.10- Tipologia e características dos produtos vulcânicos

As lavas vulcânicas são constituídas predominantemente por material rochoso em


estado de fusão (líquido). Atualmente existem três tipos principais de lavas: basálticas
(correspondentes vulcânicos dos magmas gabroicos), riolíticas (correspondentes
vulcânicos dos magmas graníticos) e andesíticas (correspondentes vulcânicos dos
magmas dioríticos). As lavas basálticas são as mais abundantes e importantes. Com
temperaturas entre 1000 e 1200ºC e baixo teor de sílica, as lavas basálticas são muito
fluidas (baixa viscosidade), permitindo que o fluxo seja mais rápido, menos espesso e
atinja áreas distantes em relação à erupção. Recebem diferentes denominações,
dependendo de sua fluidez e morfologia de seus produtos rochosos:
1- (pillow lava): exibe forma de almofada, com diâmetro de até um
metro, típica de vulcanismo basáltico submarino (Fig. 4.116 a). Sua morfologia é
decorrência do comportamento plástico do magma basáltica que, em contato com a
água fria, resfria instantaneamente. É um tipo de lava muito importante, pois é a que
dá origem à crosta oceânica em formação nas cadeias meso oceânicas.
2- (pahoehoe): exibe formas retorcidas, semelhante a cordas, que se
formam em vulcanismo basáltico subaéreo, próximo do local de erupção, quando a
lava em contato com o ar resfria-se, formando uma crosta fina, enquanto o fluxo
magmático continua abaixo dela (Fig. 4.116 b).
3- : se forma em vulcanismo subaéreo, mais afastado do local da erupção,
quando o escape dos gases dissolvidos no magma durante a sua consolidação causa
rápido aumento na viscosidade do material mais superficial, produzindo uma capa
espessa (3 a 4 m) que se quebra em blocos irregulares por causa dos movimentos do
fluxo magmático interno que continua abaixo da capa (Fig. 4.116 c). As lavas em corda
e aa foram caracterizadas e descritas nas ilhas vulcânicas do Havaí.

128
a b

c
Figura 4.116- Lava almofadada (a). Lava em corda,
pahoehoe (b). Lava em corda em contato com lava
aa (c), lava em corda na parte superior e lava aa na
parte inferior da imagem.

As lavas riolíticas, com temperaturas entre 800 e 1000ºC, são mais silicosas
(ácidas) e mais viscosas. A baixa fluidez dessas lavas dificulta a sua movimentação até
a superfície. Por esta razão, o magma riolítico tende a se consolidar em profundidade,
formando corpos plutônicos graníticos. Quando chega à superfície, tende a obstruir os
condutos vulcânicos, tornando comuns os processos piroclásticos. As lavas andesíticas
são intermediárias e de ocorrência mais restrita, em arcos vulcânicos ou magmáticos,
em bordas de placas convergentes.
Os principais componentes sólidos das lavas são os fragmentos piroclásticos,
lançados na atmosfera pelas erupções explosivas. Dependendo do tamanho das
partículas, são denominadas de cinza fina ou grossa, lapilli, blocos e bombas (tabela
4.10) que depositam por gravidade (queda piroclástica), formando os tufos, lapillito,
brechas e aglomerados piroclásticas, respectivamente (Fig. 4.117). As lavas podem
também assimilar fragmentos líticos erodidos das rochas encaixantes, denominados
fragmentos vulcanoclásticos.
a b c

Figura 4.117- Rocha piroclástica fina, tufo, Monte da Guia, Horta, Açores (a), brecha piroclástica,
com fragmentos (blocos) angulosos, indicando condições rígidas, ilha Fernando de Noronha (b)
e aglomerado piroclástico, com fragmentos (bombas) não angulosos, indicando condições
plásticas, ilha Shetland do Sul, Antártica (c).
Os depósitos de fluxo piroclástico são formados por correntes explosivas de lavas
densas e de baixa turbulência e constituídos por misturas de fragmentos, partículas de
rocha e gases quentes que movem-se pelo seu próprio peso, condicionados à
129
declividade do terreno. O principal tipo de rocha formada por fluxo piroclástico são os
ignimbritos (Fig. 4.118) que se formam em volta dos vulcões explosivos, normalmente
de composição dacítica ou riolítica. São constituídos por uma mistura de fragmentos
variados (cinza, púmice, blocos e fragmentos líticos) soldados.

a b

Figura 4.118- Amostra de ignimbrito (a). Platô de ignimbrito dacítico do terciário inferior, Chubut,
Argentina (b).

As nuvens ardentes são erupções piroclásticas de lavas ricas em gases, de baixa


densidade, que se expandem com velocidade muito alta, de até 200 Km/h (Fig. 4.119).
Associados aos processos vulcânicos ocorrem ainda retrabalhamentos dos depósitos
vulcânicos e das rochas encaixantes, originando fluxo de lama (lahar) e de materiais
mais grosseiros (avalanches) que podem formar rochas vulcanoclásticas (Fig. 4.120).

Figura 4.119- Erupção piroclástica, em nuvem ardente, do vulcão Santa Helena, ocorrida em
maio de 1980, Washington, EUA.

130
Figura 4.120- Modelo teórico de um sistema vulcânico: a câmara magmática pode situar-se na
astenosfera ou na litosfera inferior e está conectada à cratera pelos condutos vulcânicos. Além
do conduto principal (central), ocorrem outros condutos que levam a cones satélites em erupções
de flanco. Estão mostrados também os diversos tipos de depósitos vulcânicos.

Denomina-se neck ao realce topográfico de uma chaminé vulcânica, formado pela


erosão diferencial dos flancos de um vulcão, mais suscetíveis à erosão (Fig. 4.121).
a b

Figura 4.121- Neck vulcânico, conhecido como torre do diabo, em Wyoming, EUA (a). Relevo
vulcânico da ilha brasileira de Trindade, no oceano Atlântico, há 1200 Km da costa do Espírito
Santo, destacando-se um neck vulcânico, à direita da imagem (b).

As caldeiras vulcânicas são outra feição morfológica importante nos terrenos


vulcânicos, formadas pelo colapso total ou parcial da cratera e do cone vulcânico,
formando grandes depressões circulares que podem ser superiores a 50 Km de diâmetro
(Fig. 4.122 a, b, c). O colapso ocorre por perda de sustentação interna do cone vulcânico,
seja por escape de gases ou por ejeção de grande volume de lava. Associado às
131
caldeiras normalmente ocorre um sistema de fissuras radiais preenchidas por diques em
forma de anel na rocha encaixante. Tanto as crateras como as caldeiras inativas podem
ser preenchidas por água, formando lagos (Fig. 4.122 d).

Figura 4.122- Esquema simplificado das etapas de formação de uma caldeira vulcânica: intensa
erupção vulcânica de lava e gases (a) leva ao colapso do teto do cone, originando um sistema
de fraturas que provoca a erupção explosiva imediata do magma (b), formando a caldeira (c).
Lago de caldeira vulcânica, Crater Lake, Oregon, EUA (d).
Estruturas circulares, como as
caldeiras vulcânicas, são feições
morfológicas diagnósticas importantes para
localizar depósitos minerais relacionados
com processos vulcânicos e hipabissais,
como complexos alcalinos e carbonatíticos
(Nb-Ta, Ti, TR) e kimberlitos (diamante). Por
exemplo, a caldeira vulcânica de Poços de
Caldas, relacionada com um complexo
alcalino rico em U, Th e TR (Fig. 4.123).
Figura 4.123- Imagem de satélite da região
sudoeste de Minas Gerais, mostrando a
estrutura circular da caldeira vulcânica,
relacionada com o complexo alcalino de Poços
de Caldas.
A fase tardia dos processos vulcânicos é caracterizada por exalações gasosas
(fumarolas) e fontes termais (geiseres) que podem persistir por décadas ou até séculos
após os eventos eruptivos. As fumarolas (Fig. 4.124) podem ser primárias (gases do
próprio magma) ou secundárias, quando ocorre interação com o sistema de água
subterrânea (meteórica). Os principais elementos químicos que entram na composição
dos gases são: hidrogênio, cloro, enxofre, nitrogênio, carbono e oxigênio que podem
ocorrer na forma elementar ou combinada, como H 2O, H2S, HCl, CO, CO2 , (NH4)+, SO2 ,
SO3 , CH4 , etc. Eventualmente, elementos como flúor, zinco, cobre, chumbo, arsênio,
132
prata, mercúrio e ouro se associam aos gases, podendo formar depósitos minerais
filonianos nas rochas encaixantes. Geiseres são exalações de água quente (hidrotermal)
e vapor em rupturas de terrenos vulcânicos (Fig. 4.125). Regiões vulcânicas na Islândia,
Nova Zelândia, Chile e EUA, são mundialmente conhecidas pelos seus campos de
geiseres. A evaporação e o resfriamento da água provocam precipitação química de
minerais dissolvidos, formando depósitos denominados terraços que podem ser,
principalmente, silicosos (sinter) ou carbonático (calcita), denominado travertino.
a b

Figura 4.124- Fumarola em lago termal, vulcão Poás, Costa Rica (a). Fumarola com enxofre,
vulcão Kilauea, Havaí (b).

a b

Figura 4.125- Campo de geiseres El Tatio, Chile (a) e terraço de sinter em El Tatio, Chile (b).

Normalmente as exalações de geiseres e fontes termais envolve a participação


de água subterrânea que se acumula em aquíferos. O calor de uma câmara magmática,
situada geralmente entre 5 e 7 Km, aquece o aquífero e a água se superaquece sem
ferver por causa da pressão da coluna de água e de rocha sobreposta, tornando-se
menos densa que a água fria que continua infiltrando no aquífero, tendendo a subir e
quando alcança a superfície forma as fontes termais. O geiser se forma quando o
aquecimento do aquífero continua até que uma parte da água entra em ebulição. O
aumento da pressão provoca o escape da água por uma abertura qualquer, formando
um jato violento de vapor e de água aquecida (Fig. 4.126 a). As fumarolas se formam em
temperaturas mais elevadas, quando maior parte da água entra em ebulição e escapa
somente como vapor. Exalações vulcanogênicas também ocorrem no fundo dos mares,
relacionadas com vulcanismo na borda das placas tectônicas, tanto em sistemas
divergentes (vulcanismo basáltico nas cadeias meso-oceânicas), como convergentes
(vulcanismo félsico-intermediário nos arcos magmáticos e arcos de ilhas). As exalações
submarinas enriquecidas em metais são denominadas black smokers, por causa de sua
coloração escura (Fig. 4.126 b), em oposição aquelas desprovidas de metais,
denominadas white smokers, de coloração clara. Na formação das exalações
submarinas, ocorre infiltração da água fria do mar no assoalho da crosta oceânico que
se mistura com as exalações vulcânicas. Enquanto a água marinha fria e oxidada (com
sulfato) desce, a água hidrotermal superaquecida e reduzida (com H 2S) sobe, formando
uma corrente convectiva, provocando o escapa da água hidrotermal no assoalho
oceânico (Fig. 4.126 c). O choque térmico entre os black smokers superaquecidos e a

133
água fria do mar provoca a deposição de importantes depósitos minerais sulfetados de
cobre, chumbo e zinco, denominados sulfetos maciços vulcanogênicos (SMV).
a b

Figura 4.126- Mecanismos de formação de fontes


termais, geiseres e fumarolas (a). Black smokers
no fundo do oceano (b). Mecanismo de formação
dos black smokers no fundo dos mares (c).

Existem dois estilos principais de vulcanismo: , com formação


de edifício ou cone vulcânico, e as , sem formação de cone vulcânico.
Embora as erupções centrais sejam mais visíveis aos seres humanos, pois são as mais
frequentes atualmente nos continentes, as mais abundantes são as erupções fissurais,
normalmente de composição basáltica, que ocorrem por meio de grandes fissuras na
crosta, condicionadas pelos movimentos divergentes de placas litosféricas ou ainda por
plumas mantélicas profundas que ascendem em regiões no interior das placas
tectônicas. O vulcanismo basáltico nas cadeias meso-oceânicas, responsável pela
formação de crosta oceânica, é do tipo fissural, também denominado de vulcanismo de
rift, pois as fissuras por onde extravasam o magma basáltico, são falhas subverticais
profundas do tipo rift valley (Fig. 4.127 a, b). Por ser submarino, esse tipo de vulcanismo
não é muito visível aos seres humanos, mas corresponde à 80 % do volume da atividade
vulcânica do planeta. Pode ser observado atualmente na Islândia, uma ilha no Atlântico
norte que corresponde a um segmento da cadeia meso-oceânica exposto acima do nível
do mar. O vulcanismo basáltico fissural ocorre também no interior das placas tectônicas,
tanto oceânicas como continentais, relacionado a plumas mantélicas. Nos oceanos, o
vulcanismo intraplaca ocorre em duas situações: ilhas oceânicas, como no Havaí, e em
extensos platôs submarinos, também denominados basaltos de inundação (flood
basalts). A figura 4.127 c mostra uma erupção fissural no Havaí, denominada “cortina de
fogo”.

134
a c

b
Figura 4.127- Erupção fissural de magma
basáltico, muito fluido, formando camadas
sucessivas de lava (a) em um rift submarino meso-
oceânico (b). “Cortina de fogo” de vulcanismo
fissural de lava basáltica no Havaí (c).

Os basaltos de platô (flood basalts) também ocorrem nos continentes, onde


formou extensos planaltos. Os mais expressivos são da Formação Serra Geral na bacia
do Paraná, de idade cretácea (133 a 129 Ma), do Rio Columbia, EUA, de idade miocena
(17 a 6 Ma), do Deccan, Índia, de idade cretácea superior (67 a 66 Ma) e os basaltos da
bacia de Karoo, Sul da África, de idade jurássica (183 a 180 Ma). São basaltos formados
por vulcanismo fissural (ou de rift) de grande porte que, no caso da Formação Serra
Geral, cobriu mais de 1.200.000 Km2. A beleza da paisagem dos derrames basálticos da
Formação Serra Geral pode ser observada nos paredões no litoral de Torres-RS, nos
cânions do parque dos Aparados da Serra-RS (Fig. 4.128), ou nas cataratas do Iguaçu-
PR. Os basaltos de platô intraplaca (oceânicos e continentais) são considerados como
produtos de um magmatismo anorogênico, relacionado com plumas mantélicas, sem
relação com as cadeias de montanhas formadas pela tectônica nas bordas das placas
litosféricas. Eles foram inseridos no conceito de “Grandes Províncias Ígneas” (LIP, da
sigla em inglês para Large Igneous Provinces), definido por Coffin & Eldholm (1994), que
inclui grandes extensões de rochas ígneas intraplaca ( 100.000 Km2).
a b

Figura 4.128- Basaltos da Formação Serra Geral: Paredões de basalto no litoral de Torres, RS
(a). Cânions em basaltos, no parque Aparados da Serra, RS (b).
135
com formação de cone vulcânico, são típicas de magmas mais
viscosos, de composição mais félsica. A alta viscosidade dificulta a mobilidade da lava
que costuma consolidar parcialmente no conduto, obstruindo a passagem da lava e
aprisionando gases no conduto vulcânico. Quando a pressão dos gases aumenta muito
ocorrem explosões típicas dos processos piroclásticos, com produção de cinzas, blocos,
bombas, púmice, além de derrames. As erupções centrais são classificadas de acordo
com os tipos de cone vulcânico e seus produtos, em 4 tipos:
1- É um tipo de vulcão característico de erupções de lavas félsicas
extremamente viscosas, como as riolíticas ou dacíticas. A dificuldade de mobilidade
da lava faz com ela acumule na cratera, formando um corpo dômico, com encostas
íngremes e topo abaulado (Fig. 4.129). Devido à alta viscosidade da lava que se
acumula no conduto, os gases ficam aprisionados e, quando a pressão aumenta
muito, ocorrem explosões que fragmentam as rochas já formadas, contribuindo para
o crescimento do domo. Quando o volume de gás acumulado é grande pode formar
nuvens ardentes.
a b

Figura 4.129- Esquema simplificado de um


domo vulcânico (a). Domo riolítico, vulcão
Chaitén, sul do Chile (b).

2- É um tipo que ocorre com magmas mais fluidos (menos viscosos),


normalmente de composição basáltica, e erupção calma. O cone normalmente é
suave e de grande dimensão, várias dezenas de quilômetros de base e alguns
quilômetros de altura (Fig. 4.130 a). O vulcão é edificado pela sucessão de derrames
de lava, com baixo conteúdo de gases e as erupções podem ocorrer pela cratera ou
pelos flancos, mas a lava, frequentemente, não extravasa imediatamente e se
acumula em câmaras magmáticas subjacentes, formando lagos de lava. Vulcões de
escudo ocorrem no Havaí, como o vulcão Mauna Loa, o maior do planeta, com 4,7 K m
acima do nível do mar, sendo que a maior parte está submersa, e 120 Km de largura
(Fig. 4.130 b).
a
b

Figura 4.130- Diagrama esquemático de um vulcão de escudo (a). Vulcão de escudo Mauna
Loa, no Havaí, o maior vulcão do planeta (b).
136
3- são as erupções centrais mais comuns, com um grande cone íngreme
e simétrico, constituído por camadas alternadas de lava e material piroclástico e, por
isso, são denominados também de vulcões compostos (Fig. 4.131), em cujos flancos
alojam-se eventualmente diques radiais. Os estratovulcões são típicos de lavas
intermediárias (andesito, latito, traquito), não tão viscosas como as félsicas (riolitos e
dacitos) e não tão fluidas como as lavas máficas (basálticas). Representam uma
situação intermediária entre os domos vulcânicos e os vulcões de escudo. Vulcões
como o Fuji (Japão), Santa Helena (EUA), Osorno e Lascar (Chile), Etna e Vesúvio
(Itália) são alguns exemplos clássicos de estratovulcões. São vulcões perigosos, pois
pode ocorrer reativação após séculos de inatividade e produzem explosões violentas
e nuvens incandescentes (ardentes).
a b

Figura 4.131- Diagrama esquemático de um


estratovulcão (a). Estratovulcão Osorno, Chile
(b).

4- São acumulações acamadadas de material


piroclástico, formando um pequeno cone (até 300 m de altura), geralmente ocorrendo
em grupos, como cones satélites nos flancos de grandes vulcões dômicos, ou nas
suas proximidades (Fig. 4.132). Erupções piroclásticas múltiplas podem formar
depósitos circulares em volta da cratera, denominados de tufos anelares ou Maar,
constituídos por uma mistura de fragmentos da rocha encaixante e material vulcânico.
As explosões piroclásticas que dão origem aos tufos anelares normalmente ocorrem
quando um magma ascendente entra em contato com água subterrânea fria do lençol
freático.
a b

Figura 4.132- Esquema simplificado de um


cone piroclástico (a). Cone piroclástico, vulcão
Paricutin, Michoacan, México (b).

137
Quando o material piroclástico preenche a chaminé (conduto) vulcânica, forma-se
uma estrutura vertical, em forma de cenoura, denominada . Os diatremas são
constituídos basicamente por brechas subvulcânicas e se formam a partir de magmas
profundos muito enriquecidos em gases e muito explosivos que cristalizam em condições
subvulcânicas. Esses magmas, durante sua ascensão, causam fusão parcial das rochas
encaixantes e carregam fragmentos (xenólitos) da crosta inferior e do manto superior
(astenosfera). Um tipo raro de magma que normalmente forma pipes (chaminés) de
diatrema, é o magma kimberlítico que forma a principal rocha fonte de diamantes
primários, denominada kimberlito (Fig. 4.133).
a b

Figura 4.133- Pipe kimberlítico, mostrando o diatrema,


onde normalmente ocorrem os diamantes (a). Kimberlito
porfirítico, jazida Braúna, Nordestina, BA (b).
Tal como os grandes derrames basálticos de platô, o vulcanismo félsico também
pode formar grandes províncias vulcânicas continentais, inseridas também na definição
de LIP que, pela redefinição de Bryan & Ernst (2008), passou a incluir rochas vulcânicas
e plutônicas, máficas ou félsicas. A província vulcânica Whitsundays, do cretáceo inferior,
no NE da Austrália, e a província jurássica Chon Aike, na Patagônia, são exemplos bem
conhecidos de LIPs silícicas (Bryan et al. 2002). O Grupo Uatumã, e unidades
correlacionadas, é uma superunidade de rochas magmáticas félsicas,
predominantemente vulcânicas, de idade paleoproterozoica (1,89 a 1,87 Ga), que
abrange uma área em torno de 1.500.000 Km2 no craton Amazônico, que se enquadra
na definição de LIP (Klein et al. 2012). A geração de grandes volumes de magma
intraplaca ( 106 Km3) e os mecanismos petrogenéticos que deram origem às LIPs, são
questões ainda em discussão, sobretudo das LIPs silícicas.
O magmatismo intraplaca de grande porte (máfico e félsico) tem sido explicado
pelo modelo de grandes plumas mantélicas (superplumas) no interior das placas
tectônicas, afetadas das cadeias meso-oceânicas e zonas de subducção. Anomalias
térmicas no núcleo externo teriam fundido porções rochosas no limite entre o núcleo e o
manto inferior, formando as plumas de magma basáltico que, pela sua menor densidade,
ascendem até o manto superior, provocando grandes rupturas (rifteamento) na crosta,
por onde ascendem até a superfície (Fig. 4.134). Nos oceanos, as superplumas podem
gerar grandes rupturas na crosta oceânica, por onde extravasam para formar os platôs
basálticos submarinos, ou formar pontos quentes (hot spots) que dão origem a ilhas
vulcânicas, como as do Havaí (Fig. 4.135). Nos continentes, as superplumas de magma
basáltico podem ascender por grandes rupturas na crosta continental para extravasar na
superfície, por meio de erupção fissural, e formar os extensos planaltos de basalto. Em
condições de maior temperatura, essas superplumas podem fundir parcialmente as
rochas da crosta inferior, gerando magma granítico que formará batólitos e plutons
menores de granitos e extensas erupções de ignimbritos e derrames riolíticos na
superfície, provavelmente através de grandes complexos de caldeira.
138
Figura 4.134- Superplumas mantélicas no
interior das placas litosféricas, originadas
no limite entre o núcleo e o manto inferior.

a b c d

Figura 4.135- Modelo de pluma mantélica para a formação de LIP máficas (basaltos de platô)
por meio de superplumas (a, b) e de vulcanismo mais restrito por meio de ponto quente (c, d).

As grandes províncias de rochas basálticas, que deram origem ao conceito de


LIP, é de compreensão mais fácil, pois o magma basáltico é muito fluido e, portanto, com
alta mobilidade para alcançar a superfície e se espalhar para formar extensos planaltos.
O magma félsico (ácido), entretanto, é muito viscoso, com mobilidade mais restrita e
tendência a processos plutônicos e, quando alcança a superfície, tende a formar
erupções centrais. Desse modo, a formação de grandes extensões de vulcanismo félsico
continental exigiria temperaturas bem mais elevadas e mecanismos de erupção mais
complexos, ainda não totalmente compreendidos. Discute-se ainda se o mecanismo das
plumas mantélicas ocorre somente no interior das placas litosféricas ou se pode haver
interação das plumas com a tectônica na borda das placas, como mostrado na figura
4.134. Atualmente, a tectônica na borda das placas continua ativa, mas não há nenhum
mecanismo de formação de LIP intraplaca, tanto nos oceanos como nos continentes; as
mais recentes aconteceram há 50 Ma. Existem plumas mantélicas em atividade no
interior das placas, mas não são superplumas e sim pontos quentes, como nas ilhas
havaianas. A ausência de superplumas atualmente pode ser uma consequência do
resfriamento do planeta. Outra questão em discussão é a coincidência temporal entre as
idades de diversos episódios de geração de LIP e períodos de extinção em massa no
planeta que tem provocado interpretações de causa e efeito entre os dois episódios
(Sauders 2005, Bryan 2007).

139
4.3.3- ROCHAS SEDIMENTARES

A maior parte da superfície da Terra, incluindo o assoalho oceânico, é recoberta


por rochas sedimentares ou sedimentos inconsolidados. As rochas sedimentares foram
sedimentos no passado e, desse modo, as condições da superfície terrestre da época
em que os sedimentos foram depositados ficam registadas nas rochas sedimentares.
Com base nesses registros, os geólogos podem reconstituir o caminho inverso, a partir
das rochas, para inferir as áreas (rochas) fontes dos sedimentos e os tipos de ambientes
onde foram originalmente depositados. Pode-se interpretar, por exemplo, se um arenito
foi depositado em rios, praias ou deserto. Ou pode-se formular hipóteses sobre o clima
antigo e o regime de intemperismo que predominava no ambiente em que os sedimentos
foram depositados. Ou seja, como os processos sedimentares acontecem próximo da
superfície terrestre, onde a humanidade vive, eles são importantes elementos para o
entendimento dos problemas ambientais. A importância das rochas sedimentares
estende-se também para os recursos minerais e energéticos, essenciais para a
civilização humana, que ocorrem em bacias sedimentares. Nossas principais fontes de
energia são petróleo e gás que ocorrem em rochas sedimentares, além do carvão
mineral, um tipo particular de rocha sedimentar, também utilizado para gerar energia.
Grande parte do urânio utilizado na produção de energia nuclear é retirado de rochas
sedimentares. As rochas fosfáticas e evaporitos, utilizadas como fontes de fósforo e
potássio na indústria de fertilizantes, bem como o caulim, utilizado para branquear o
papel, e grande parte do minério de ferro do mundo, são rochas sedimentares.
Os sedimentos e as rochas sedimentares, formadas a partir deles, são produzidos
durante os estágios superficiais do ciclo das rochas (Fig. 4.100). Ou seja, os sedimentos
e as rochas sedimentares se formam depois que as rochas formadas no interior da crosta
terrestre ficam expostas na superfície e antes de retornarem para níveis mais profundos.
Os processos sedimentares envolvem intemperismo das rochas ou áreas fontes, erosão
e transporte dos sedimentos até as bacias de deposição, onde lá são depositados e
soterrados e finalmente litificados para formar as rochas sedimentares (Fig. 4.136). Os
processos sedimentares também se comportam como um ciclo porque as rochas
sedimentares, uma vez expostas na superfície, sofrem os efeitos do intemperismo
também, iniciando um novo ciclo sedimentar.

Figura 4.136- Ciclo sedimentar: intemperismo e erosão das rochas fontes, gerando material
sólido e dissolvido, transportado para as bacias de deposição e lá são depositados e litificados.
140
As seis fases do ciclo sedimentar (Fig. 4.136):
1) Intemperismo físico e químico das rochas (áreas fontes) que desagrega e decompõe
as rochas, gerando partículas e fragmentos, ou substâncias originadas por alteração
química das rochas, que podem ser depositadas em depressões na superfície,
denominadas bacias de deposição ou de sedimentação.
2) Erosão: mobilização das partículas e fragmentos gerados pelo intemperismo e sua
remoção das rochas fontes.
3) Transporte das partículas e fragmentos para as regiões baixas (depressões ou bacias
sedimentares) através dos agentes de transporte: água (o principal), vento e gelo.
4) Deposição ou sedimentação das partículas e fragmentos quando o vento e as
correntes de água perdem força (desaceleram ou se aquietam), ou quando as bordas
das geleiras se fundem. A deposição destas partículas e/ou a precipitação química de
substâncias dissolvidas, formam camadas de sedimentos inconsolidados em
ambientes aquáticos continentais ou no fundo dos oceanos.
5) Soterramento: à medida que as camadas de sedimentos se acumulam, o material
anteriormente depositado é soterrado e, então, compactado nas bacias de deposição
pelas camadas de sedimentos subsequentes.
6) Diagênese: mudanças físicas (temperatura e pressão) e químicas (reações químicas)
sofridas pelas camadas de sedimentos soterrados, que promovem a litificação dos
sedimentos (processo de enrijecimento pelo qual os sedimentos se transformam em
rocha sedimentar).
Intemperismo e erosão
é o conjunto de modificações físicas (desagregação) e químicas
(decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na superfície da Terra, em decorrência
de sua interação com a atmosfera, hidrosfera e biosfera. Os fatores que controlam a
ação do intemperismo são as propriedades das rochas fontes ou parentais (dependendo
da natureza dessas rochas, apresentam resistências diferenciadas aos processos
intempéricos) clima (distribuição das chuvas e variação da temperatura), presença ou
ausência de solo (espessura do solo) e vegetação (fornecem matéria orgânica para
reações químicas) e finalmente o tempo de exposição das rochas aos agentes
intempéricos (tabela 4.11). Maior parte dos materiais terrestres superficiais que o homem
tem contato são rochas e minerais intemperizados que constituem a base de importantes
atividades humanas, como o cultivo dos solos para produção de alimentos e o
aproveitamento de recursos minerais na construção civil e na indústria.
TAXA DE ALTERAÇÃO
Lenta Rápida

Solubilidade do mineral Baixa, Moderada, por ex.


na água Por ex. quartzo feldspato, piroxênio Alta, por exemplo calcita
Algumas zonas de Muito fraturada ou aca-
Estrutura da rocha maciça
fraqueza mamento muito delgado

Chuva Baixa Moderada Alta


Temperatura Frio Moderada Quente

Espessura do perfil do solo Nenhuma Fina a moderada Espessa


Conteúdo orgânico Baixo Moderado Alto
Curto Moderado Longo

Tabela 4.11- Principais fatores controladores das taxas de intemperismo.

141
O principal agente do intemperismo é a água, a substância mais abundante na
superfície da Terra que cobre em torno de dois terços de sua área superficial. A água
distribui-se na atmosfera e na parte superficial da crosta até uma profundidade de
aproximadamente 10 Km abaixo da interface atmosfera/crosta, constituindo a hidrosfera,
representada por uma série de reservatórios como os oceanos, lagos, rios, geleiras,
vapor de água atmosférica, água subterrânea e água retida nos seres vivos. A constante
interação entre esses reservatórios é denominada de
que representa o processo mais importante da dinâmica externa do planeta,
movimentado pela energia solar (Fig. 4.137).

Figura 4.137- Ciclo hidrológico, o mais importante processo da dinâmica externa da Terra.
Pode-se analisar o ciclo hidrológico a partir de qualquer ponto dele como, por
exemplo, o processo de precipitação meteórica que corresponde a condensação de
gotículas de água líquida a partir do vapor de água presente na atmosfera, formando a
chuva que ocorre tanto nos continentes como nos oceanos. Nas regiões frias, esse
mecanismo ocorre na forma de neve ou granizo, responsável pela geração e
manutenção das geleiras nas regiões polares e topo das montanhas. Parte da
precipitação retorna para a atmosfera por evaporação direta da água durante a
precipitação ou quando chega à superfície que soma-se ao vapor de água liberado pela
atividade biológica de organismos (respiração), principalmente as plantas. A quantidade
de vapor de água que retorna para a atmosfera (evaporação direta + respiração das
plantas) é denominada evapotranspiração. Nas regiões glaciais, o retorno da água para
a atmosfera ocorre por sublimação do gelo que passa diretamente para o estado gasoso,
por ação do vento. A água que chega à superfície e não evapora, pode seguir dois
caminhos: infiltração, guiada pela força gravitacional e que depende principalmente
das características do material de cobertura da superfície, como a permeabilidade. A
água de infiltração tende a preencher os vazios no subsolo, recarregando os aquíferos
de água subterrânea. escoamento superficial, cujo destino final é o oceano, também
é impulsionado pela gravidade e ocorre quando o material superficial é impermeável ou
saturado de água. A água de escoamento forma a rede de drenagem, alimentada ainda
pelas nascentes, quando a água de infiltração (água subterrânea) retorna à superfície.
142
No percurso da água ao longo do ciclo hidrológico, ela entra em contato com as
rochas no continente, por meio da chuva, da infiltração e escoamento. Essa interação
provoca mudanças nas rochas, denominadas intemperismo químico. Ocorre ainda um
segundo tipo de intemperismo, denominado intemperismo físico, cuja ação não depende
da água e sim de fatores físicos.
O intemperismo físico é a desagregação física da rocha e separação dos grãos
minerais antes coesos (Fig. 4.138 a), originando partículas de minerais ou fragmentos de
rocha. É caudado pela expansão e contração térmica das rochas submetidas a variações
de temperatura ao longo dos dias e noites e diferentes estações do ano. Além disso, os
diferentes coeficientes de dilatação térmica dos minerais diante das variações de
temperaturas provocam dilatações e contrações diferenciadas, aumentando o stress
mecânico das rochas. O congelamento da água nas fissuras das rochas, com aumento
de volume, causa pressão nas paredes das fissuras, aumentando as aberturas (Fig.
4.138 b, c). A cristalização de sais dissolvidos nas águas de infiltração tem o mesmo
efeito nas fissuras, não somente pelo crescimento dos cristais salinos, mas também pela
sua expansão térmica causada pela variação de temperatura. Intemperismo físico
também ocorre quando corpos rochosos no interior da crosta ascendem a níveis mais
rasos, por soerguimento tectônico da região ou por denudação erosiva de sua cobertura.
Com o alívio da pressão, os corpos rochosos expandem originando juntas de alívio
aproximadamente paralelas à superfície ao longo da qual a pressão foi aliviada,
denominadas esfoliação esferoidal (Fig. 4.139). O intemperismo físico também pode ser
provocado por ação física de organismos vivos, denominado de físico-biológico como,
por exemplo, a fragmentação das rochas causada pela pressão do crescimento das
raízes das árvores (Fig. 4.140).

a b

Figura 4.138- Intemperismo físico: desagregação mecânica


das rochas (a). Cristalização de gelo em fissuras provocando
pressão em suas paredes (b, c).

a b

Figura 4.139- Corpo magmático em profundidade (a) ascendendo a níveis mais rasos por
soerguimento da região, com formação de esfoliação esferoidal por juntas de alívio (b).

143
Fragmentando as rochas e, portanto,
aumentando a superfície das mesmas
exposta ao ar e à circulação de água, o
intemperismo físico abre caminho e facilita a
ação do intemperismo químico.

Figura 4.140- Intemperismo físico


(fragmentação) das rochas provocado pelo
crescimento das raízes das árvores.

O ambiente superficial, com temperaturas e pressões baixas, é muito diferente


daquele onde a maioria das rochas se formaram. Desse modo, quando essas rochas
afloram na superfície, seus minerais entram em desequilíbrio e tendem a se
reequilibrarem através de uma série de reações químicas, se transformando em novos
minerais mais estáveis às condições superficiais. Mesmo as rochas vulcânicas, formadas
na superfície, mas em temperaturas bem mais elevadas, e as rochas sedimentares,
formadas no fundo das bacias sedimentares, tendem a se transformar em busca de um
novo equilíbrio químico na superfície. O principal agente do intemperismo químico é a
água meteórica (de chuva), que infiltra e percola as rochas através das fissuras
provocadas pelo intemperismo físico. A água meteórica é oxidante (rica em O 2) e, em
contato com o CO2 da atmosfera, adquire caráter ácido, por meio das seguintes reações:
H2O + CO2 H2CO3 ácido carbônico
H2CO3 H+ + HCO3‾ bicabornato HCO3‾ H+ + (CO3)‾ 2 radical carbonato
A decomposição da matéria orgânica dá origem a vários tipos de ácidos orgânicos
que podem ser assimilados pela água meteórica, tornando-a mais ácida ainda e
intensificando os efeitos do intemperismo químico nos minerais e rochas, denominado,
nesse caso, de intemperismo químico-biológico. As reações do intemperismo químico
provocam transformações mineralógicas nas rochas parentais que podem ser
generalizadas da seguinte maneira:
Mineral primário + solução de alteração mineral secundário + solução de lixiviação.
Portanto o intemperismo químico normalmente produz novos minerais (minerais
secundários ou neominerais) a partir da alteração dos minerais primários. As principais
reações do intemperismo químico são: hidratação, dissolução, hidrólise e oxidação. Na
hidratação, moléculas de água são incorporadas à estrutura do mineral primário,
formando um novo mineral. As moléculas dipolares de água são atraídas por cargas
elétricas residuais na superfície dos grãos minerais que atraem os polos de carga oposta
das moléculas de água (Fig. 4.141). Por exemplo, a transformação de anidrita em gipso:
(anidrita) CaSO4 + 2H2O CaSO4.2H2O (gipso).

Figura 4.141- Cargas elétricas residuais na


superfície de um mineral argiloso, atraindo
moléculas de água que são polarizadas, com
dois polos, um positivo e outro negativo.

144
Minerais solúveis, como calcita CaCO3 e halita NaCl, normalmente são dissolvidos
pela água meteórica ácida, conforme as reações abaixo:
CaCO3 Ca+2 + (CO3)‾ 2 NaCl Na+ + Cl ‾
Os principais minerais formadores das rochas são silicatos que, quando em
contato com a água meteórica, são hidrolisados. A hidrólise é uma reação de
decomposição ou alteração de uma substância pela água. É diferente da dissolução
simples, pois além de quebrar as ligações dos minerais e ionizá-los, a hidrólise consome
hidrogênio da água, adicionando-o ao neomineral. A hidrólise de um feldspato alcalino
(anidro), resulta na formação de caulinita (argila hidratada), liberando sílica, íons de
potássio e bicabornato que ficam dissolvidos na solução de lixiviação, conforme a reação
seguinte: 2 KAlSi3O8 + H2O + 2 H2CO3 Al2Si2O5(OH)4 + 4 SiO2 + 2K+ + 2 (HCO3)‾
água ácido sílica íons de bicabornato
carbônico potássio dissolvido
Nessa reação de hidrólise do K-feldspato, uma pequena porção das moléculas de ácido
carbônico (H2CO3) ioniza-se, formando íons de hidrogênio (H+) e de bicabornato (HCO3‾),
tornando as gotas de água meteórica levemente ácidas. A água ácida dissolve os íons
de potássio e silício do K-feldspato e os íons de hidrogênio são introduzidos na estrutura
do K-feldspato em decomposição para formar caulinita Al 2Si2O5(OH)4 (Fig. 4.142). Por
causa do consumo de hidrogênio da solução aquosa ela torna-se menos ácida (aumenta
o pH) à medida que a reação progride. O novo mineral secundário torna-se parte do solo
em formação ou é transportado mecanicamente como sedimento. Sílica, íons de potássio
e bicabornato dissolvidos na solução aquosa são transportados quimicamente pela
solução de lixiviação para os rios e oceano.

Figura 4.142- Alteração de um feldspato alcalino, por hidrólise,


em presença de água e ácido carbônico, formando caulinita e
liberando SiO2 , K+ e bicabornato que ficam dissolvidos.

Na formação de caulinita, por hidrólise do K-feldspato, foi eliminado todo o


potássio e parte da sílica que é mais resistente à dissolução. Entretanto a intensidade
da hidrólise depende das condições de pluviosidade (chuvas) e drenagem (relevo) da
área, além do pH. Em condições de baixa pluviosidade (clima seco), o potássio do K-
feldspato pode não ser totalmente eliminado, formando um filossilicato do grupo das
micas, denominado ilita, com baixo potássio (0,75 a 0,5), conforme a reação abaixo:
2,5 KAlSi3O8 + H2O + H2CO3 K0,5Al2,5Si3,5O10(OH)2 + 4 SiO2 + 2 K+ + HCO3‾ + (OH)‾
água ácido sílica íons de bicabor- hidro-
carbônico potássio nato xila

145
Em condições de alta pluviosidade, a sílica pode ser totalmente eliminada
(dissolvida) do K-feldspato (hidrólise total), restando apenas hidróxido de alumínio
Al(OH)3 (gibbsita), conforme a reação:
KAlSi3O8 + H2O + H2CO3 Al(OH)3 + 3 SiO2 + K+ + (HCO3)‾
água ácido sílica íons de bicabornato
carbônico potássio
A sílica é pouco solúvel na faixa de pH
que ocorre a hidrólise (5 a 9), mas em
condições de alta pluviosidade ela pode ser
totalmente solubilizada, assim como o
potássio. Por outro lado, o hidróxido de
alumínio Al(OH)3 (gibbsita) é praticamente
insolúvel na faixa de pH da hidrólise (Fig.
4.143), podendo ser solubilizado em meios
muito ácidos (pH < 4,5) ou muito alcalinos
(pH  9,5).

Figura 4.143- Solubilidade da sílica e do hidróxido


de alumínio Al(OH)3 (gibbsita), em função do pH,
à 25 C. A sílica é pouco solúvel em pH até 8 e a
gibbsita é praticamente insolúvel na faixa de pH
dos ambientes normais (4,5 a 9,5).

Quando a hidrólise intempérica atua em


minerais com ferro, como as olivinas,
piroxênios e anfibólios, o ferro ferroso (Fe +2)
nos silicatos normalmente se oxida para um
hidróxido ou óxido de ferro férrico (Fe +3), a
goethita FeO(OH) ou hematita Fe 2O3 ,
conforme a figura 4.144. O aumento do pH da
água meteórica, por causa do consumo de
hidrogênio, à medida que a hidrólise ocorre,
vai alterando as reações químicas por ela
desencadeadas.

Figura 4.144- Alteração intempérica de um


piroxênio ferroso, por hidrólise e oxidação, em
presença de água, ácido carbônico e oxigênio,
gerando um óxido de ferro férrico (hematita) e
liberando ânion carbonato (CO 3)‾ 2, sílica e ácido
silícico (H4SiO4) para a solução.

Reação de alteração por hidrólise e oxidação de um piroxênio ferroso:


2 FeSiO3 + H2O + H2CO3 + O2 Fe2O3 + SiO2 + (CO3)‾ 2 + H4SiO4
água ácido sílica ânion ácido silícico
carbônico carbonato
146
Em todas as reações do intemperismo químico, mostradas acima, ocorrem com a
participação do ácido carbônica (H2CO3), cuja formação depende do dióxido de carbono
(CO2) disponível na atmosfera, um gás estufa que provoca aquecimento do planeta com
o aumento de sua concentração na atmosfera. Desse modo, a variação de CO 2 na
atmosfera leva a uma variação correspondente na taxa de intemperismo que, por sua
vez, interfere na temperatura do planeta, formando um ciclo. Ou seja, o aumento da taxa
de intemperismo químico provoca redução da concentração de CO 2 na atmosfera que
resfria o planeta, causando, por sua vez, diminuição da taxa de intemperismo químico
que aumenta a concentração de CO2 na atmosfera e aquece o planeta (Fig. 4.145), em
um equilíbrio cíclico de períodos de resfriamento, com aumento da taxa de intemperismo
e redução da concentração de CO 2 , alternando-se com períodos de aquecimento, com
redução da taxa de intemperismo e aumento da concentração de CO 2 na atmosfera.

Água meteórica do
intemperismo consome
CO2 da atmosfera para
formar ácido carbônico,
através da reação:
H2O + CO2 H2CO3
ácido carbônico

Figura 4.145- Ciclo de interação do dióxido de carbono (CO 2) da atmosfera com os processos
intempéricos, influenciando no clima da Terra: aumento da taxa de intemperismo reduz a
concentração de CO2 da atmosfera, causando resfriamento, e diminuição da taxa de
intemperismo aumenta a concentração de CO 2 da atmosfera causando aquecimento.

Em climas frios, onde a matéria orgânica não se decompõe totalmente, formam-


se ácidos orgânicos que reduzem bastante o pH das águas, as quais são capazes de
complexar o ferro e até o alumínio, colocando-os em solução. Nesse caso, em meio
muito ácido (pH < 3), a decomposição das rochas silicáticas é mais intensa, restando
apenas minerais primários mais resistentes ao intemperismo, como o quartzo. A
estabilidade relativa dos minerais mais comuns e formadores de rocha sob a ação do
intemperismo é definida pela série de Goldich (tabela 4.12). Comparando com a série de
Bowen, os primeiros minerais magmáticos a cristalizar, como olivina, piroxênio e
plagioclásio cálcico, são os mais vulneráveis ao intemperismo.
147
Estabilidade dos minerais Taxa de alteração

Óxido de ferro (hematita)


Hidróxido de alumínio (gibbsita)
Quartzo
Argilominerais
Muscovita
Feldspato alcalino (ortoclásio)
Biotita
Plagioclásio sódico (albita)
Anfibólios
Piroxênios
Plagioclásio cálcico (anortita) Tabela 4.12- Série de Goldich:
Olivina estabilidade relativa dos
Calcita minerais mais comuns e
Halita formadores de rochas, sob a
ação do intemperismo.

Os minerais mais estáveis e resistentes ao intemperismo são denominados


resistatos que, além dos minerais comuns hematita, gibbsita e quartzo, são incluídos
também nessa classe minerais mais raros, como magnetita, ilmenita, rutilo, zircão,
estaurolita, cassiterita (minério de Sn), monazita, columbita-tantalita (óxido de Nb e Ta),
além de ouro e diamante. Esses minerais normalmente não são destruídos pelo
intemperismo e ocorrem frequentemente em depósitos de aluvião nos rios. Se não forem
removidos pela erosão, em relevos planos, podem permanecer nos solos.
Os dois tipos de intemperismo (físico e químico) atuam conjuntamente nas rochas,
um complementando o outro, como um processo único. Por exemplo, o intemperismo
físico desagrega mecanicamente as rochas, facilitando e aumentando a ação do
intemperismo químico, pelas águas meteóricas. Por outro lado, a alteração das rochas
pelo intemperismo químico facilita também a ação mecânica do intemperismo físico. Por
causa da heterogeneidade das rochas e dos fatores que condicionam os processos
intempéricos, frequentemente o intemperismo manifesta-se de maneira desigual nas
rochas, fenômeno denominado de intemperismo diferencial (Fig. 4.146). A erosão ou
denudação é o conjunto de processos que mobiliza e remove os fragmentos e partículas
geradas pelo intemperismo das rochas. O intemperismo e a erosão são dois processos
associados que, juntamente com a tectônica e o vulcanismo, modelam a superfície da
Terra.

Figura 4.146- Intemperismo diferencial, onde a


rocha da base foi mais intemperizada e erodida
que as rochas do topo da sequência.

O manto de intemperismo geralmente evolui, em suas porções mais superficiais,


para a formação dos que podem ser definidos como os principais produtos in situ
do intemperismo e do remanejamento e organização das porções superiores da crosta
terrestre, sob a ação da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e da troca de energia
envolvida nesses processos. O desenvolvimento dos solos, entretanto, depende dos
148
processos intempéricos e de todos os fatores a eles relacionados, principalmente do
tempo de duração do intemperismo, tipo de rocha parental, clima, relevo e cobertura
vegetal da região (tabela 4.13). O tempo tem uma relação direta com o intemperismo e
formação de solos, ou seja, mais tempo, mais intemperismo e formação de solos. A
composição mineralógica da rocha fonte (parental) influencia na intensidade do
intemperismo, ou seja, mais minerais resistatos menos intemperismo e vice-versa. O
clima é um fator muito importante na intensidade do intemperismo e erosão. Clima
quente implica em mais intemperismo químico e menos intemperismo físico, clima úmido
e alta acidez (baixo pH) da água meteórica resulta em mais intemperismo químico, físico
e erosão. Regiões de relevo acidentado, com pouca cobertura vegetal e má infiltração,
desfavorecem o intemperismo químico e a formação dos solos, pois grande parte das
partículas e fragmentos formados pelo intemperismo físico são removidos pela erosão e,
com pouca infiltração de água, o intemperismo químico é restrito. Ao contrário, regiões
de relevo plano, com densa cobertura vegetal e boa infiltração, favorecem o
intemperismo químico e a formação de solos, pois nessa condição o intemperismo
químico é efetivo e grande parte das partículas, fragmentos e neominerais formados pelo
intemperismo permanecem in situ na edificação dos solos (Fig. 4.147).
Quanto menos tempo, menos Quanto mais tempo, mais
1. Duração do intemperismo intemperismo, erosão e intemperismo, erosão e
formação de solo. formação de solo.
Mais minerais resistatos: Menos minerais resistatos:
2. Tipo de rocha parental intemperismo menos intenso intemperismo mais intenso
T baixas: menos intemperismo T altas: mais intemperismo
Temperatura (T) química e mais físico químico e menos físico.
Clima seco (pouca chuva): Clima úmido (muita chuva):
3. Clima Pluviosidade menos intemperismo químico, mais intemperismo químico,
intemperismo físico e erosão. intemperismo físico e erosão.
Baixa acidez (pH alto): menos Alta acidez (pH baixo): mais
Acidez da chuva intemperismo químico e físico intemperismo químico e físico.
Encosta íngreme, Menos intemperismo químico e Mais intemperismo físico e
pouca vegetação menos formação de solos mais erosão
Encosta suave, Intemperismo químico Intemperismo físico e erosão
4. Relevo pouca vegetação intermediário intermediários
Relevo plano e Menos intemperismo físico e Mais intemperismo químico e
densa vegetação menos erosão mais formação de solos
Tabela 4.13- Influência dos principais fatores do intemperismo: tempo, rocha parental, clima e
relevo, na intensidade do intemperismo químico e físico, erosão e formação de solos.

Figura 4.147- Influência do relevo


no intemperismo e erosão: Planalto
(A), com boa infiltração e
drenagem, favorece o intemperismo
químico. Baixo topográfico (B), com
boa infiltração e má drenagem,
desfavorece o intemperismo
químico. Relevo acidentado (C),
com má infiltração e drenagem,
favorece a erosão desfavorece o
intemperismo químico.

Os solos podem ser classificados, quanto a sua localização em relação às rochas


fontes, como residuais e transportados. Os primeiros permanecem sobre as rochas que
lhes deram origem, enquanto que os segundos não, pois foram transportados pela
erosão das encostas em direção às terras baixas, uma situação mais rara que os solos
149
residuais. Paleossolo refere-se aos solos antigos formados por um processo intempérico
que não existe mais, do passado geológico, que ficou preservado como rocha no registro
geológico. Alguns tem mais de 1 bilhão de anos. Atualmente tem havido muito interesse
nos paleossolo que estão sendo estudados para entender o clima antigo e para
quantificar a concentração de dióxido de carbono e oxigênio da atmosfera antiga do
planeta. As composições dos paleossolos mais antigos têm mostrado que não houve
oxidação dos solos nos primeiros estágios da história da Terra e que, portanto, o oxigênio
ainda não tinha se tornado um dos principais elementos da atmosfera.
O perfil de alteração intempérica, ou perfil de solo, é uma estrutura vertical que
pode ser observada em um corte de estrada (Fig. 4.148). A camada superior do solo,
denominada , com espessura de 1 a 2 m, é normalmente mais escura, com
maior concentração de matéria orgânica e constituída predominantemente por minerais
argilosos e resistatos, como o quartzo. Os minerais solúveis foram lixiviados do horizonte
A. Sotoposta ao horizonte A está o , onde a matéria orgânica é mais escassa.
Nesse horizonte, os minerais solúveis e os óxidos de ferro podem ocorrer em níveis
delgados, lentes ou crostas. A camada inferior, denominada , é o substrato
rochoso levemente alterado, decomposto e fragmentado, com porções argilosas
formadas pela alteração química. Esse horizonte inferior, também denominado saprólito,
é a zona de transição entre a rocha inalterada (fresca) sotoposta e o solo propriamente
dito (horizonte A + horizonte B), denominado por alguns autores de solum.

a c
b

Figura 4.148- Perfil de solo, mostrando os horizontes A, B e C dos três principais tipos de solos:
Pedalfer, clima temperado (a), Laterito, clima úmido (b) e Pedocal, clima seco (c).
A pedologia é o ramo das ciências naturais que estuda os solos. Os cientistas do
solo têm mapeado as características dos solos em todo o mundo, com o objetivo principal
de prevenir a erosão dos mesmos e desenvolver práticas agrícolas mais eficientes.
Existem diversas classificações de solos na pedologia. Uma classificação simples e de
grande aplicação prática, baseada no clima, divide os solos em três categorias: pedalfer,
laterito e pedocal (Fig. 4.148). Os três principais fatores que definem as características
dos solos são o clima, as rochas fontes (parentais) e o tempo que o solo teve para se
desenvolver. O intemperismo intenso e sua longa duração diminuem a influência das
rochas fontes. Em um curto período de tempo de intemperismo moderado, as
características dos solos dependem muito das rochas fontes e, nessas condições, um
150
solo de granito será bem diferente de um solo de calcário. Depois de muitos milhares de
anos, entretanto, as diferenças entre os dois solos podem diminuir e até mesmo
desparecer. Ambos podem desenvolver os mesmos minerais argilosos e terão perdido
todos os minerais solúveis das camadas superiores, dependendo somente da natureza
do clima. Desse modo, solos jovens são afetados pela composição das rochas fontes,
mas solos maduros são afetados principalmente pelo clima.
são típicos de regiões de clima temperado, com chuva e
temperatura moderadas (Fig. 4.148 a). Carbonatos e outros minerais mais solúveis são
ausentes. O nome deriva da palavra grega pedon que significa chão ou solo, e dos
símbolos dos elementos alumínio (Al) e ferro (Fe). Os horizontes superior e intermediário
(A e B) dos solos pedalfer contêm alta concentração de minerais resistatos, como o
quartzo, e insolúveis como minerais argilosos e óxido-hidróxidos secundários de ferro. A
abundância em minerais argilosos dos solos pedalfer os tornam muito apropriados para
a agricultura. são típicos de climas tropicais (quentes e úmidos), com
vegetação exuberante, intemperismo intenso e rápido e solos espessos (Fig. 4.148 b). O
intemperismo é tão intenso e acelerado que os minerais solúveis e facilmente alteráveis
são totalmente lixiviados da camada superior do solo, onde a matéria orgânica (húmus)
é constantemente reposta pela vegetação, mas chega a formar apenas uma delgada
camada de húmus. Esse processo de laterização deixa um resíduo composto por óxidos
e hidróxidos de ferro e alumínio, denominado laterito, um solo vermelho intenso, no qual
os silicatos foram completamente alterados. Embora os solos lateríticos possam
sustentar uma luxuriante vegetação, como as florestas equatoriais, não são muito
produtivos para a agricultura. O desmatamento e o cultivo do solo laterítico provocam a
oxidação rápida da camada superficial rica em húmus que desaparece em pouco tempo,
expondo o infértil horizonte sotoposto (B). Por esta razão, os solos lateríticos só podem
ser cultivados intensamente durante poucos anos, até se tornarem estéreis. O laterito é
o tipo de solo mais comum em países tropicais como o Brasil (Fig. 4.149 a).
Os lateritos podem ser economicamente importantes como minério de ferro,
manganês, níquel, nióbio, fosfato e alumínio. Nos grandes depósitos de ferro sedimentar
(formações ferríferas), como os de Carajás e Quadrilátero Ferrífero, o minério oxidado
superficial normalmente é laterítico. Minério primário de níquel, na forma de sulfeto (como
a pentlandita), forma-se em rochas máfica-ultramáficas. Nessas rochas, sob clima
tropical, pode haver concentração secundária de níquel em silicatos (principalmente
garnierita) e hidróxidos de ferro (goethita), em coberturas lateríticas, como em
Niquelândia e Barro Alto, Goiás, e Vermelho, no Pará. Minério de nióbio e fosfato
ocorrem na forma de óxido de nióbio (entre eles o pirocloro) e fosfato de cálcio (apatita),
em carbonatitos, uma rocha ígnea, constituída principalmente por carbonatos. O
pirocloro e apatita são dois minerais resistatos que se concentram no solo laterítico que
se forma sobre os carbonatitos, sob clima tropical, como em Araxá e Catalão, Minas
Gerais. As lateritas aluminosas são as bauxitas (Fig. 4.149 b), constituídas
predominantemente por hidróxidos de alumínio (gibbsita, boehmita e diásporo), de
coloração clara.
O terceiro tipo de solo, o , é típico de climas secos e áridos, com escassez
de água e ausência de vegetação, dificultando a ação do intemperismo que resulta em
solos pouco espessos (Fig. 4.148 c). Em regiões frias e secas, onde o intemperismo
químico é muito lento, a influência da rocha parental é preponderante, mesmo quando
os solos se formam em um longo período de tempo. Desse modo, o horizonte A contém
muitos minerais pouco ou não alterados e fragmentos da rocha parental, até mesmo
minerais solúveis, quando as chuvas são muito escassas. Os solos pedocais são ricos
em cálcio, derivado do carbonato de cálcio e de outros componentes solúveis, e pobres
em matéria orgânica. A maior parte da água nos solos pedocais encontra-se próximo da
superfície e evapora no período entre as chuvas, formando nódulos e concreções

151
precipitadas de carbonato de cálcio, principalmente no horizonte intermediário (B). A
composição mineralógica e o clima árido são pouco favoráveis para uma grande
população de organismos no solo, tornando-os menos férteis que os solos pedalfer.
a
b

Figura 4.149- Laterita, de coloração avermelho escuro (a) e bauxita de coloração vermelha clara
e porções brancas (b).
A erosão dos solos tem sido um tema recente de grande interesse não só na
pedologia, como também nas ciências ambientais, sociais e políticas, pois trata-se da
preservação do principal elemento (o solo) na agricultura, uma atividade fundamental na
produção de alimentos para a espécie humana. O problema surgiu porque a preparação
dos terrenos para as práticas agrícolas envolve desmatamento que expõe os solos a um
grau mais intenso de erosão. Como a formação dos solos envolve um longo tempo
(milhares de anos), eles não podem ser renovados rapidamente depois de terem sido
erodidos. Há um certo equilíbrio entre a erosão natural moderada dos solos e a lenta
formação de novos solos. As atividades agrícolas, feitas pelo homem, vêm interferindo
nesse equilíbrio, expondo os solos a um grau de erosão mais intenso do que a erosão
natural e provocando uma redução nas espessuras dos solos, mais rápida que a sua
reposição natural. Nos EUA, 2 bilhões de toneladas de solo arável são perdidos pela
erosão a cada ano, duas vezes a quantidade de solo formado naturalmente no mesmo
período. Se tais perdas persistirem no século 21, a agricultura em solos cada vez mais
delgados terá redução de rendimento, com provável abandono de áreas mais seriamente
afetadas. E, uma vez perdido, o solo leva milhares de anos para se recompor. É evidente
a constatação de que algo precisa ser feito urgentemente para estancar o desequilíbrio
entre erosão e formação de novos solos provocado pela agricultura. A estimativa e
previsão da erosão dos solos, assim como o desenvolvimento de técnicas agrícolas
adequadas, deveriam ser as bases para as decisões políticas com o objetivo de tornar a
agricultura uma atividade sustentável a longo prazo.
Pelo que foi apresentado acima, os dois tipos de intemperismo (físico e químico)
dão origem a três tipos de partículas e fragmentos: formados por minerais e
fragmentos de rocha que resistiram ao ataque intempérico e permaneceram na forma
mineral primária, constituídos principalmente por minerais resistatos; neominerais
formados pela alteração química de minerais primários que não resistiram ao ataque
intempérico, constituídos por minerais argilosos ou micáceos (caulinita, esmectita, ilita),
óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (hematita, goethita, gibbsita); componentes
solúveis formados pela alteração de minerais primários que permaneceram dissolvidos
na solução de lixiviação, como partículas iônicas.
As partículas e fragmentos constituídos por minerais resistatos e neominerais,
gerados pelo intemperismo das rochas, são denominadas partículas detríticas ou
clásticas e podem ter dois destinos: permanecer no manto de intemperismo para a
formação dos solos. ser removidos pela erosão e transportados mecanicamente (em
suspensão) pelos agentes de transporte até as bacias de sedimentação, onde lá serão
152
depositados para formar os depósitos sedimentares detríticos ou clásticos. Quase a
totalidade dos compostos solúveis permanece em solução e são transportados como
íons dissolvidos pelas correntes aquosas até as bacias de deposição, normalmente os
oceanos, para formar os depósitos sedimentares químicos. Somente uma pequena
porção dos compostos solúveis pode permanecer no manto de intemperismo, em
condições específicas de clima árido ou semiárido.
Transporte dos produtos sólidos e dissolvidos do intemperismo
Logo após a desagregação e decomposição das rochas pelo intemperismo,
começa o transporte das partículas e fragmentos clásticos erodidos e a dissolução dos
compostos solúveis, levando esse material (sólidos e dissolvidos) até as bacias de
sedimentação. Essa viagem pode ser muito longa, podendo estender-se por milhares de
quilômetros, desde as cadeias de montanhas nos continentes, passando pela rede de
drenagem, até desembocar em alguma bacia sedimentar (lago, mar ou oceano). Os
fragmentos clásticos são transportados mecanicamente pelas correntes de água
(principal) e ar para regiões mais baixas, por suspensão (partículas menores) ou
saltação, rolamento e arrastamento (partículas maiores). É um fragmento que cai de um
penhasco (saltando ou rolando), a areia levada pelos rios (por suspensão), as geleiras
que deslizam morro abaixo arrancando fragmentos por onde passam e o vento que
carrega areia de um lugar para outro (suspensão, arrastamento ou saltação), todos
condicionados pela força do agente de transporte e pela gravidade.
A força de um grande rio depende de seu gradiente, ou seja, da diferença de
altitude em relação à foz do rio, denominado nível de base (Fig. 4.150). Na nascente,
onde o rio tem o seu maior gradiente, sua força é grande, a qual vai diminuindo em
direção a sua foz, acompanhando a diminuição de seu gradiente. A capacidade de
transporte de partículas clásticas de um rio depende de seu gradiente (ou sua força) e
do tamanho e densidade das partículas ou fragmentos transportados. Como os minerais
mais comuns que compõem as partículas clásticas têm aproximadamente a mesma
densidade (2,6 a 2,9), pode-se avaliar a capacidade de transporte dos rios somente pelo
tamanho das partículas transportadas.
Com relação a sua capacidade de transporte, as correntes podem ser
classificadas em três grupos: (velocidade  50 cm/s): típicas de
riachos montanhosos, próximos de suas nascentes (com alto gradiente), que conseguem
carregar fragmentos grandes, como cascalho. As geleiras também conseguem
transportar fragmentos grandes. (velocidade entre 20 e
50 cm/s): típicas de rios pouco meandrantes, afastados de suas nascentes que
desaceleraram com a diminuição de sua força (com gradiente médio) e só conseguem
transportar areia e partículas menores. Os ventos também conseguem transportar areia,
especialmente nos desertos e nas parias. (velocidade < 20 cm/s):
típicas de rios meandrantes, próximo de sua foz, que perderam sua força (com baixo
gradiente) e, praticamente, só conseguem transportar lama.

Meandros

Figura 4.150- Perfil longitudinal do curso de


um rio, mostrando a variação de seu
gradiente, da nascente até a foz.
O transporte das partículas detríticas não é contínuo e sim intermitente porque a
força das correntes pode variar, interrompendo o transporte com breves períodos de
153
deposição. Durante a inundação das margens de rios em períodos de cheia, por
exemplo, o rio deposita material mais grosseiro nas margens quando a inundação recua
e pode voltar a carregar esse material na próxima cheia. As marés podem transportar
partículas depositadas anteriormente por elas, para lugares mais distante no litoral. Além
disso, os processos de intemperismo físico e químico continuam atuantes durante o
transporte das partículas detríticas pois, à medida que são transportadas, as partículas
chocam-se entre si ou contra o substrato rochoso, desbastando-as e arredondando suas
arestas (Fig. 4.151 a). A colisão entre partículas maiores pode quebra-las em dois ou
mais pedaços. O das partículas é um importante indicador da
distância do transporte a partir de suas áreas fontes. Quanto mais arredondadas as
partículas, mais distante das áreas fontes elas estão (Fig. 4.151 a). O
das partículas é outro importante indicador da distância e do tipo de agente de transporte.
Partículas bem selecionadas, com pouca ou nenhuma variação em seus tamanhos,
indicam transporte longo (Fig. 4.151 b) e partículas mal selecionadas, com variação
considerável em seus tamanhos, indicam transporte curto por fluidos densos (corrida de
lama) ou geleiras (Fig. 4.151 c).
a b c

Figura 4.151- Grau de arredondamento (a) e de


seleção das partículas detríticas: bem
selecionadas, transporte longo (b) e mal
selecionadas, transporte curto (c).
O intemperismo químico de partículas clásticas pode também ocorrer durante o
transporte em meio aquoso, mas é mais efetivo em períodos intermitentes de deposição
(inundações das margens de rios em períodos de cheia, por exemplo), antes de serem
apanhadas novamente pela corrente na próxima cheia. Desse modo, enquanto o
intemperismo físico ocorre de maneira contínua durante o transporte, o intemperismo
químico pode alternar-se com os episódios de transporte e deposição (Fig. 4.152).

Figura 4.152- Ocorrência de intemperismo físico e químico durante o transporte fluvial de


partículas clásticas: o intemperismo físico é contínuo e o intemperismo químico é intermitente.
154
Os compostos solúveis são transportados na forma de íons em solução, enquanto
a concentração da solução de lixiviação se manter abaixo do ponto de saturação, o que
normalmente se mantém ao longo de todo o transporte, até as bacias de deposição. Nos
ambientes marinhos, o transporte é feito pelas correntes marítimas que podem
transportar fragmentos clásticos e bioclásticos para os sítios de deposição, mas os
percursos são muito mais curtos que os dos grandes rios continentais. O destino final
dos compostos solúveis são os lagos, mares e oceanos que recebem toda a carga de
sais dissolvidos, disponibilizados pelo intemperismo, tornando salgada a água dos
oceanos e mares. Entretanto, tanto o volume de água como a salinidade dos oceanos
mantêm-se aproximadamente constantes em curtos períodos de tempo geológico
(séculos ou milhares de anos). Os oceanos estão constantemente perdendo grandes
volumes de água por evaporação que circula pelos continentes e acaba retornando para
os oceanos, conforme o ciclo da água, mantendo o volume aproximadamente constante.
Em uma escala de tempo maior (centenas de milhares ou milhões de anos), entretanto,
pode haver varrições no volume de água dos oceanos. Na última glaciação (entre 100 mil
e 12 mil anos atrás), por exemplo, o nível do mar baixou mais de 100 m.
Os oceanos recebem, continuamente, sais dissolvidos provenientes dos
continentes e também das atividades vulcânicas submarinas. As águas fluviais
despejam, continuamente, nos oceanos, íons de Ca +2, Na+, K+, Mg+2, SiO2 (sílica
solúvel), HCO3‾ (bicabornato), entre outros, provenientes da alteração intempérica dos
silicatos das rochas continentais. As atividades vulcânicas e hidrotermais submarinas
expelem, também continuamente, para os oceanos, além de água juvenil, muitos outros
componentes químicos e gases, como CO2, H2S, H2SO4, Cl, SiO2 e metais (Fe, Cu, Pb,
Zn, etc). Por outro lado, sais e outros componentes químicos despejados nos oceanos
são também consumidos pelo metabolismo de organismos marinhos e pela precipitação
de sedimentos químicos, sobretudo carbonáticos e silicosos, estabelecendo um
equilíbrio que mantém a salinidade média da água aproximadamente constante, em
torno de 35‰ (partes por mil). Os organismos marinhos segregam da água Ca +2 e HCO3‾,
para formar carbonato de cálcio (CaCO3), e também sílica (SiO2), para construir seus
casulos (conchas). O Na+ combina-se com o Cl‾ para formar halita (NaCl). As lavas
basálticas expelidas nas cadeias meso-oceânicas e nos platôs oceânicos interagem com
a água do mar, consumindo Na+ e alterando o plagioclásio cálcico para albita
(NaAlSi3O8), regulando e equilibrando a quantidade de sódio, que continuamente chega
aos oceanos, e a salinidade da água.
Deposição de materiais sólidos e dissolvidos nas bacias sedimentares
A deposição ou sedimentação começa onde termina o transporte. A força que
controla a deposição de partículas clásticas é predominantemente a gravidade. Ao
mesmo tempo que a força da gravidade aciona a movimentação das correntes fluviais,
de acordo com o gradiente do rio, ela também provoca a deposição das partículas
clásticas, quando a força do rio for suplantada pelo peso das partículas, não conseguindo
mais transportá-las. Os ventos se formam por diferenças de temperatura e densidade do
ar e, portanto, sua força e a capacidade de transporte dependem dessa diferença. A
deposição ocorre quando os ventos perdem energia e não conseguem mais transportar
as partículas de areia. As geleiras se movimentam por gravidade e transportam
fragmentos mal selecionados (de todos os tamanhos) e angulosos que elas vão
arrancando ou captando ao longo de seu percurso. A deposição dos fragmentos ocorre
com o degelo ou recuo das geleiras, causado por aumento de temperatura.
Denominam-se , os materiais geológicos inconsolidados, precursores
das rochas sedimentares, depositados nas bacias de deposição. Os sedimentos são
partículas ou fragmentos rochosos reunidos em três grupos seguintes:
originados pelo intemperismo de rochas continentais, constituídos
155
por minerais resistatos e neominerais do intemperismo que foram transportados em
suspensão e depositados mecanicamente nas bacias de deposição.
são substâncias inorgânicas solúveis, provenientes do intemperismo químico
de rochas continentais, transportadas em solução e precipitadas quimicamente nas
bacias de deposição. sedimentos bioquímicos
são restos de partes duras de organismos marinhos, secretados quimicamente pelo seu
metabolismo e depositados no fundo das bacias oceânicas, após sua morte. São
denominados bioclásticos se, antes de sua deposição, foram transportados
mecanicamente dentro das bacias sedimentares, como fragmentos clásticos.
partículas ou fragmentos formados pelo intemperismo
de rochas continentais sendo, por isso, denominados, por vezes, sedimentos terrígenos.
São também denominados de sedimentos siliciclásticos porque são constituídos
predominantemente por minerais silicáticos. Os sedimentos clásticos exibem uma ampla
variação granulométrica, desde cascalho ( 256 - 2,0 mm), areia (2,0 - 0,062 mm), silte
(0,062 - 0,004 mm), até argila (< 0,004 mm), conforme a tabela 4.14. Também variam
muito na forma. As formas de matacões, blocos e seixos são, frequentemente,
condicionadas pelas rupturas ao longo de juntas e planos de acamamento na rocha
matriz. Os grãos de areia tendem a herdar suas formas dos cristais originais na rocha
matriz onde eram encaixados uns nos outros.
SEDIMENTOS CLÁSTICOS Intervalo
Termo original (inglês) Tradução (português) granulométrico (mm)
Boulder Matacão 256
GRAVEL CASCALHO
Cabble Bloco (calhau) 256 - 64
( 256 - 2,0) ( 256 - 2,0)
Pebble Seixo 64 - 2,0
Very coarse muito grossa 2,0 - 1,0
Coarse grossa 1,0 - 0,5
SAND AREIA
Medium média 0,5 - 0,250
(2,0 - 0,062) (2,0 - 0,062)
Fine fina 0,250 - 0,125
Very fine muito fina 0,125 - 0,062
Coarse grosso 0,062 - 0,031
SILT Medium SILTE médio 0,031 - 0,016
(0,062 - 0,004) Fine (0,062 - 0,004) fino 0,016 - 0,008
Very fine muito fino 0,008 - 0,004
CLAY < 0,004 Clay ARGILA < 0,004 Argila < 0,004
Tabela 4.14- Classificação granulométrica dos sedimentos clásticos

A composição mineralógica dos sedimentos clásticos varia conforme as rochas


fontes, tipo e, principalmente, a intensidade do intemperismo que formou os sedimentos.
Em regime de intemperismo brando, podem ocorrer minerais instáveis (pouco resistentes
ao intemperismo), como piroxênios e anfibólios, os quais não resistem a um regime de
intemperismo intenso, ficando apenas os resistatos (tabela 4.15).
Intensidade do Intemperismo
Baixa Média Alta
Quartzo Quartzo Quartzo
Feldspato Feldspato Argilominerais Tabela 4.15- Composição mineralógica
Mica Mica de sedimentos clásticos derivados de
Piroxênio Argilominerais granito, com diferentes intensidades de
Anfibólio intemperismo.
156
são íons ou moléculas dissolvidas pelo intemperismo químico de
rochas continentais, transportadas em solução pelos rios até as bacias de deposição,
onde são precipitadas quimicamente por saturação da solução aquosa. Formam-se
tipicamente em lagos ou mares fechados, em regiões de clima árido ou semiárido, onde
a insolação predomina sobre a precipitação pluviométrica. Com a intensa evaporação da
água, a concentração salina atinge a saturação quando começa a precipitação.
Exemplos: depósitos de sal (halita) e gipsita (CaSO4).
fragmentos de partes duras de organismos
marinhos, como conchas ou casulos, inteiros ou quebrados, depositados em ambiente
marinho, após a morte dos organismos. Em ambiente marinho raso, são constituídos
principalmente por carbonatos de cálcio (calcita ou aragonita) e, antes de depositar,
podem ser transportados dentro da bacia por correntes marítimas (bioclásticos). Em
ambiente marinho profundo, são constituídos por carbonato de cálcio ou sílica, onde a
deposição normalmente é calma, sem transporte por correntes (bioquímicos).
Ambientes de sedimentação
É um conceito útil para melhor compreender e classificar os processos
sedimentares. Um ambiente sedimentar é caracterizado por uma combinação particular
de processos geológicos (posicionamento na placa tectônica, meio e agentes de
transporte) e ambientais (clima, processos orgânicos), condicionados pela interação
entre a litosfera, hidrosfera, atmosfera e biosfera (Fig. 4.153). Os processos
sedimentares podem ser inseridos em três tipos de ambientes de sedimentação e seus
subtipos seguintes: continentais (lacustre, aluvial, desértico e glacial) costeiros (delta,
praia e planície de maré), marinhos (mar profundo, plataforma continental, recifes
orgânicos e margem continental), conforme a tabela 4.16.

Figura 4.153- Ambientes de sedimentação: continental (lacustre, aluvial, desértico e glacial),


costeiro (delta, praia e planície de maré), marinho (profundo, plataforma continental, recifes
orgânicos e margem continental)

157
Tabela 4.16- Características dos três ambientes de sedimentação principais (continental,
costeiro e marinho) e seus subambientes.

Devido ao grande intervalo de variação de temperatura e de precipitação


pluviométrica na superfície continental, os ambientes continentais são diversificados, em
quatro tipos principais: lacustre, aluvial, desértico e glacial (1, 2, 3 e 4 na figura 4.153).
lagos são corpos de água intracontinentais, sem comunicação com
o oceano, normalmente de água doce, mas em climas áridos são salinos. Quando
conectado ao oceano denomina-se laguna. Os lagos normalmente são pequenos, mas
alguns são denominados de mares, por sua grande dimensão, como o mar Cáspio (371
mil Km2) e o mar Negro (650 mil Km2), ambos salgados, além dos grandes lagos da
América do Norte, sendo o maior deles o Superior, com 82,4 mil Km2 (Fig. 4.154). Lagos
também ocorrem em clima glacial, onde formam os depósitos glacio-lacustres (descritos
no ambiente glacial).

Figura 4.154- Grandes lagos da América do Norte,


na fronteira entre EUA e Canadá.

Os depósitos lacustres em clima úmido são tipicamente detríticos (areia, seixo e


lama). Sedimentos biogênicos, constituídos por plantas herbáceas e por plâncton que
depositam após sua morte, formam argilas escuras no fundo dos lagos. Em clima árido
ocorre sedimentação química que dá origem a depósitos salinos de evaporitos, assim
denominados por causa da grande predominância da evaporação da água sobre o
158
influxo de água doce dos rios e da chuva que torna os lagos salgados. Os evaporitos são
constituídos principalmente por cloretos de sódio (halita), potássio e magnésio (carnalita,
silvita), calcita e sulfatos de cálcio (gipso), associados com sedimentos clásticos finos
(siltitos e argilitos). Com a intensa evaporação, a concentração da água aumenta até
atingir o ponto de saturação, quando começa a precipitação.
são os ambientes de sedimentação relacionados aos rios e suas
bacias hidrográficas. São amplamente distribuídos em todos os continentes, exceto na
Antártida, e o clima nos ambientes aluviais pode varia de úmido a árido. Compreende,
além do canal fluvial, as margens dos rios no fundo do vale, inundadas quando o rio
transborda (Fig. 4. 155). Os depósitos aluviais ou aluviões se formam principalmente no
canal do rio e são constituídos por sedimentos grosseiros (cascalhos, principalmente
seixos) e areia, passando para sedimentos mais finos, próximo da foz. Quando o rio
transborda, em períodos de cheia, formam-se depósitos em suas margens, denominadas
planície de inundação. Os depósitos de inundação podem ser constituídos por
sedimentos grosseiros (seixos e areia) e,
principalmente, por sedimentos mais
finos, lamacentos (silte e argila), onde os
organismos são abundantes.

Figura 4.155- Sistema fluvial, mostrando o


canal principal, com sedimentos grosseiros,
encravado em uma planície de inundação
ampla, com sedimentos mais finos, situada
em um vale que foi escavado em um
planalto.

Em seu alto-médio curso (mais próximo da nascente), os rios são velozes (com
alto gradiente) e com uma alta carga sedimentar. Se o rio flui em terrenos facilmente
erodíveis, forma vales muito escavados e estreitos, denominados cânions (Fig.
4.156 a, b), com aluviões grosseiros (cascalhos). Uma pequena planície de inundação
aparece somente com nível de água baixo (por exemplo, no verão). Com o nível de água
alto (por exemplo, derretimento de neve na primavera), o rio normalmente forma um
padrão entrelaçado.
Em seu médio-baixo curso (mais próximo da foz), os rios são mais lentos (com
baixo gradiente) e com uma baixa carga sedimentar. Fluem em amplas planícies de
inundação quase planas, onde tendem a formar meandros que mudam de um lado para
o outro, em um movimento serpenteante (Fig. 4.156 c, d). A corrente é mais rápida na
margem externa dos meandros, que é erodida, e mais lenta na margem interna, onde
formam depósitos aluviais arenosos denominados barras de pontal (point bar deposits)
ou de meandro. À medida que os processos de erosão e deposição progridem, as curvas
dos meandros tornam-se mais apertadas, até que em uma grande inundação das
margens, o rio, com maior velocidade e volume de água, assume um novo e mais curto
percurso, abandonando o meandro que permanece como um lago em forma crescente.

159
a
Rios em
Rio com ampla
baixo nível planície de
de água em inundação,
cânion formando
escavado meandros
c A corrente é
mais rápida
na margem
b externa que
na interna,
onde forma
Rio com alto barras de
nível de pontal
água e
padrão
entrelaçado As curvas dos
em cânion meandros
tornam-se
mais
Figura 4.156- Alto-médio curso dos rios (alto apertadas
gradiente): rios velozes com alta carga
sedimentar em vales estreitos e escavados,
com nível de água baixo (a) e alto, com padrão
d Até ocorrer
uma grande
entrelaçado (b). Médio-baixo curso dos rios inundação e o
(baixo gradiente): rios lentos com baixa carga rio seguir um
sedimentar, em amplas planícies de inundação, novo percurso,
com formação de meandros (c) que, com sua ao abandonar
evolução, tendem a ficar abandonados (d). o meandro.

dominado por sedimentação eólica que ocorre em clima árido,


onde os sedimentos clásticos são transportados e depositados pela ação dos ventos,
combinada com ação de rios, normalmente intermitentes, que ocorrem nos desertos,
para formar os depósitos eólicos. A aridez inibe o crescimento de organismos nos
sedimentos eólicos dos desertos, constituídos predominantemente por areia,
frequentemente em forma de dunas. Grandes áreas desérticas cobertas por areia são
referidas como mares de areia, como no
deserto da Arábia Saudita, com mais de
um milhão de Km2 de sua superfície
coberta por areia (Fig. 4.157).

Figura 4.157- Mar de areia com dunas


eólicas, no deserto da Arábia Saudita.

Quatro tipos principais de dunas podem ser destacados: barcanas (forma


crescente, com as extremidades apontando na direção do vento), transversais (longas
cristas perpendiculares à direção do vento), parabólicas (forma crescente, com as
extremidades apontando na direção contrária do vento) e lineares (longas cristas de areia
submetidas a pressões do vento aproximadamente iguais em ambos os lados das
cristas), conforme a figura 4.158. O lado da duna que recebe o vento denomina-se
barlavento e o outro lado, protegido do vento, é o sotavento.

160
a

c
d

Figura 4.158- Tipos de dunas: barcanas (a), parabólicas (b), transversais (c) e lineares (d).

são os ambientes sedimentares onde o gelo e as águas de degelo


são os principais agentes de transporte dos sedimentos. Ocorre nas regiões polares,
Ártica (polo norte) e Antártica (polo sul) e nas porções mais altas de cadeias de
montanhas, ocupando atualmente em torno de 10 % da superfície da Terra, o que
representa a maior reserva de água doce do planeta. Denomina-se geleira uma grande
e espessa massa de gelo formada em regiões onde a precipitação de neve, e sua
posterior transformação em gelo, é superior a perda de gelo por ablação que inclui
derretimento ou degelo, sublimação, erosão eólica e desprendimento de icebergs ou por
avalanches. As geleiras se movimentam lentamente relevo abaixo, condicionadas pela
gravidade, provocando erosão e sedimentação glacial (Fig. 4.159). Em períodos de
glaciação, como a que ocorreu entre 100 mil e 12 mil anos atrás, a área das geleiras
aumenta e o nível do mar baixa.
a

Figura 4.159- Movimento de uma geleira e seu balanço de massa (a): diferença entre
acumulação (precipitação de neve) e ablação (derretimento, sublimação ou desprendimento de
iceberbs). Desprendimento de icebergs no Parque Nacional Wrangel-Saint Elias, Alaska (b).

161
Durante seu movimento, as geleiras produzem intemperismo físico e erosão nas
rochas por onde passam (polindo e formando estrias, Fig. 4.160 a), modelam a paisagem
(formando vales em U, Fig. 4.160 b), e transportam fragmentos rochosos de todos os
tipos e tamanhos, depositando-os onde o gelo derrete. O gelo é o mais efetivo meio de
transporte de detritos, com extrema competência (quanto maior a competência maior o
tamanho dos fragmentos) e capacidade (quantidade total de sedimento transportado).
Os sedimentos clásticos depositados diretamente a partir das geleiras são denominados
genericamente de till, caracterizados pela má seleção e angulosidade dos fragmentos
imersos em matriz mais fina e ausência de estratificação (Fig. 4.161 a). Os depósitos
glaciais formados pela deposição de till são denominados morenas (Fig. 4.161 b).
Depósitos glaciais também podem se formar a partir da água de degelo que
formam rios de padrão entrelaçados, transportando fragmentos de till que depositam
como depósitos fluvio-glaciais, os quais são estratificados e mais selecionados que as
morenas. A água de degelo também pode se acumular em depressões ou ser represada
pelos depósitos de morenas, formando lagos, nos quais são depositados sedimentos
glacio-lacustres. Um dos tipos comuns de depósitos glacio-lacustres são as varves,
constituídas por sedimentos clásticos grosseiros, depositados por correntes de turbidez
durante o verão, alternados por sedimentos finos, decantados durante o inverno, sob a
superfície congelada do lago (Fig. 4.162).

Figura 4.160- Intemperismo físico e erosão


(polimento e estrias) nas rochas (a), e
modificação da paisagem, formando vale em U
(b), causados pelo movimento das geleiras.

b
a

Figura 4.161- Till com fragmentos mal selecionados


e angulosos, em matriz mais fina (a). Morenas (em
marrom) da última glaciação, mostrando a forma
lobada das margens das geleiras, a partir do lago
Michigan, no nordeste dos EUA (b).

162
Figura 4.162- Varvito, formado pela litificação de
depósito de varve, formado pela alternância de
sedimentos glacio-lacustres grossos e finos.

Os registros geológicos preservados nas rochas e fósseis indicam que o nosso


planeta tem passado por períodos alternados de resfriamento (glaciação) e aquecimento
interglacial, como o período atual, após a última glaciação terminada há 12 mil anos.
Uma das hipóteses para explicar essa periodicidade climática estaria relacionada,
segundo o astrônomo iugoslavo Milutin Milankovitch, a três mecanismos rítmicos dos
movimentos orbitais da Terra (Fig. 4.163): variação da inclinação do eixo de rotação
em relação ao plano da eclíptica (plano da órbita terrestre em torno do Sol): o ângulo
atual é de 23,5, o qual oscila entre 24,5 e 21,5 a cada 41 mil anos. excentricidade
da órbita da Terra que passa de elíptica a circular, a cada 91 mil anos. movimento de
precessão (precessão dos equinócios): é o movimento circular que a Terra faz em torno
do eixo vertical da eclíptica, a cada 23 mil anos, causado pelo movimento de rotação,
com o eixo inclinado, juntamente com a translação em torno do Sol. Quando o eixo da
Terra está com sua inclinação mínima (21,5 ),
Excentricidade da órbita
(Período: 91 Ka) seria o ápice das glaciações, e quando está
com sua inclinação máxima (24,5 ), seria o
ápice dos aquecimentos globais. Os registros
geológicos das glaciações indicam que os
ritmos orbitais podem não ser suficientes para
provocar as glaciações. Outros fatores podem
interferir nesse processo climático, dentre os
quais as variações na concentração de gases
do efeito estufa na atmosfera, sobretudo o
CO2. As erupções vulcânicas, que provocam
aumento da concentração de CO2 na
atmosfera, e períodos de soerguimento
orogenético de cadeias de montanhas, que
aumentam o volume de rochas sob a ação do
intemperismo químico, com maior consumo
Precessão dos equinócios Obliquidade do eixo
(Período: 23 Ka) (Período: 40 Ka) de CO2 da atmosfera, seriam dois processos
importantes que podem interferir nos períodos
de glaciação e aquecimento da Terra.
Figura 4.163- Ritmos orbitais de Milankovitch:
obliquidade do eixo de rotação, precessão dos
equinócios e excentricidade da órbita da Terra.
Ka = 1000 anos.

São ambientes transicionais entre continentais e marinhos, dominados por ondas,


marés e correntes em praias arenosas. Os organismos podem ser abundantes nos
ambientes costeiros, mas não influenciam muito na sedimentação clástica, somente
163
onde a sedimentação química de carbonatos é abundante. Três tipos principais de
subambientes costeiros: deltaico, praia e planície de maré (5, 6 e 7 da figura 4.153).
corresponde a desembocadura ou foz dos rios que podem
desaguar no oceano ou em um lago, misturando-se com a água da bacia de
sedimentação, perdendo gradualmente seu ímpeto fluvial. Os maiores rios, como o
Amazonas e o Mississipi, podem manter suas correntes por quilômetros, além da foz,
mas as correntes fluviais de pequenos rios se desfazem logo após o delta, ao adentrarem
nas bacias. Os deltas dos rios são constituídos pelo canal principal e uma série de canais
menores distribuídos de maneira
aproximadamente divergente, a partir do
canal principal, em direção à bacia,
assumindo a forma de um leque ou da letra
delta () do alfabeto grego (Fig. 4.164).

Figura 4.164- Delta do rio Mississipi, EUA,


que desagua no golfo do México.

Quando um rio se aproxima de seu delta, onde o gradiente é quase zero, ele
inverte seu padrão de drenagem. Ao invés de coletar água de seus tributários, passa a
descarregar água e sedimentos por meio de seus distributários, canais menores que se
ramificam a jusante, a partir do canal principal (Fig. 4.165). Sedimentos clásticos mais
grossos, tipicamente areia, formam um pacote de camadas de topo, seguido por um
pacote de camadas frontais, na frente externa do delta, constituídas por areia fina e silte.
Adiante das camadas frontais, no assoalho marinho, forma o pacote de camadas basais
aproximadamente horizontais, compostas principalmente por argila e lama, depositadas
normalmente por correntes calmas, mas que em episódios de avalanches pode formar
correntes densas de turbidez. As camadas basais vão sendo soterradas à medida que o
delta cresce mar adentro (Fig. 4.165). O crescimento dos deltas cria as planícies
deltaicas, poucos metros acima do nível do mar, terras úmidas muito valiosas porque
armazenam água e são habitat de muitas espécies de plantas e animais. Ondas fortes,
correntes costeiras e marés afetam o crescimento e a forma dos deltas, deslocando os
sedimentos deltaicos ao longo da praia ou até impedindo a formação do delta. A tectônica
também influi na formação de deltas que são mais comuns em margens continentais
passivas que em margens ativas.

As correntes normalmente são


calmas e flutuam na água. À medida
que desaceleram decantam sua
carga sedimentar na água rasa.

Figura 4.165- Deltas e seus processos de deposição, formando Durante avalanches, formam-se
as camadas de topo (areia), as frontais (areia fina e silte) e as correntes densas de turbidez que
afundam e depositam sua carga no
basais (argila e lama). fundo, à medida que desaceleram.

164
região costeira dominada pela ação das ondas, marés e ventos
que erodem as rochas do litoral, distribuindo e depositando os sedimentos arenosos ou
mais grosseiros (seixos) que formam as praias. O sistema praial pode ser subdividido
em três subambientes (Fig. 4.166): situada acima do nível da maré alta e
só atingida pelas ondas durante períodos de tempestades. É dominada pela ação dos
ventos, com cinturão de dunas de areia (Fig. 4.167); compreende a zona
de espraiamento (entre maré alta e maré baixa), onde as ondas deslizam após a sua
arrebentação, e a zona de surfe, onde ocorre a arrebentação das ondas; costa afora,
onde o fundo não é mais afetado pelos movimentos das ondas, após a zona de surfe.

Figura 4.166- Perfil costeiro, mostrando as três fácies do ambiente praial: Pós-praia; Antepraial
(zona de espraiamento + zona de surfe); e Costa afora.

Figura 4.167- Dunas barcanas na ilha do Caju, delta do rio Parnaíba, litoral maranhense.

Os sedimentos praiais são tipicamente arenosos, bem selecionados, com marcas


onduladas e estratificação cruzada. Em ambientes praiais com ondas mais energéticas,
podem formar praias de sedimentos mais grosseiros, até de seixos. As regiões costeiras
rochosas (sem praias) indicam que a erosão costeira não está sendo suficiente para
formar uma praia, por duas razões principais: as rochas costeiras não são antigas o
suficiente para que a erosão tenha tido tempo para formar uma paria, ou a região está
em soerguimento com uma taxa superior ao do desgaste erosivo. Exemplo:
Escandinávia, em soerguimento desde o degelo da última glaciação há 12 mil anos.
ocorre nas margens de estuários, lagunas, baias ou atrás
de ilhas-barreira, típico de regiões costeiras muito planas e de baixa energia, onde a
ação das marés se sobrepõe à ação das ondas (Fig. 4.168). Pode-se destacar três zonas
nas planícies de marés: inframaré, mais externa, no lado do oceano, normalmente
submersa; intermaré, coberta pela água na preamar (maré alta) e exposta na baixa-
mar (maré baixa), com intensa atividade orgânica, como manguezais, supramaré, mais
interna, no lado do continente, normalmente emersa e frequentemente pantanosa. Nas
planícies de maré predominam sedimentos siliciclásticos, constituídos por areias finas,
silte e argila, mas sedimentos carbonáticos também podem ocorrer em regiões quentes
(úmidas ou áridas). Em regiões áridas pode ocorrer sedimentos salinos denominados
sabkha, na fácies supramaré.
165
Figura 4.168- Seção transversal de uma planície de maré na margem de uma laguna separa do
oceano por uma ilha-barreira, mostrando o manguezal da zona de intermaré.

São as bacias oceânicas (oceanos e mares), destino final dos materiais sólidos e
dissolvidos formados pelo intemperismo das rochas continentais. Os oceanos e mares
cobrem em torno de 70 % da superfície da Terra, justificando o termo planeta água,
utilizado por muitos autores. Essa imensidão dos ambientes marinhos, com todo esse
volume de água, evidentemente, tem grande importância em muitos aspectos do nosso
planeta, sobretudo como o principal agente no ciclo da água, transportando calor,
regulando o clima e favorecendo as condições para a manutenção da vida no planeta.
Os ambientes marinhos geralmente são classificados de acordo com a profundidade da
água, que determina os tipos de correntes que ocorrem nos oceanos. Quatro
subambientes marinhos principais podem ser destacados: marinho profundo, plataforma
continental, recifes orgânicos e margem continental (8, 9, 10 e 11 na figura 4.153).
corresponde ao fundo dos oceanos e mares, após o
talude continental, última porção da margem continental, onde a erosão e o intemperismo
são mínimos, predominando processos vulcânicos e deposição de sedimentos em
ambiente calmo, perturbado eventualmente apenas por correntes marítimas (Fig. 4.169).
A sedimentação modela a maior parte do fundo oceânico, coberto por sedimentos
inconsolidados que acumulam-se sobre as placas oceânicas à medida que elas se
expandem a partir das dorsais meso-oceânicas. Entretanto, o registro dos sedimentos
oceânicos é limitado no tempo porque as zonas de subducção estão continuamente
engolindo as placas oceânicas de volta para o manto e destruindo os sedimentos
oceânicos por metamorfismo e fusão. A existência desses sedimentos leva algumas
dezenas de milhões de anos, chegando até algumas centenas de milhões de anos. As
feições topográficas submarinas mais importantes são: dorsais meso-oceânicas, ilhas
vulcânicas de pontos quentes, fossas oceânicas, arcos de ilhas e margens continentais,
mostradas no perfil do oceano Atlântico (Fig. 4.170).

Figura 4.169- Margem


continental, mostrando a
plataforma continental, o
talude, a elevação
continental e o fundo
Escorregamentos no talude, muitas vezes deflagrados oceânico (planície abissal).
por terremotos, geram correntes de turbidez.
166
Figura 4.170- Perfil topográfico do oceano Atlântico, desde a Nova Inglaterra, EUA (A) até
Gibraltar, na Europa/África (B), mostrando a dorsal meso-oceânica no meio do oceano.

O fundo oceânico profundo é constituído fundamentalmente por rochas vulcânicas


em grande parte recoberta por sedimentos marinhos terrígenos, principalmente finos
(lama) e bioquímicos (principalmente carbonato de cálcio). A sedimentação terrígena
concentra-se em águas mais rasas, na maior parte da margem continental, até a
profundidade em torno de 2000 m. A baixo dessa profundidade, até em torno de 4000 m,
a sedimentação é principalmente carbonática, sobretudo biogênica, denominada
genericamente de vasa (Fig. 4.171 a, b) e dominada por carapaças de foraminíferos
planctônicos (globigerinas). Vasas silicosas (diatomáceas e radiolários) também ocorrem
mais restritamente.

a b

1m
m

Figura 4.171- Distribuição atual dos sedimentos marinhos, terrígenos, próximos da margem
continental, e bioquímicos (vasas), no fundo dos oceanos (a). Imagem de microscópio eletrônico
de varredura (MEV) de uma vasa oceânica (b). Nódulos de manganês no fundo oceânico (c).
167
Abaixo de 4000 m o carbonato de cálcio é solúvel nas águas frias muito profundas.
Sedimentos terrígenos finos (argilas castanhas e cinzas) também ocorrem mais
restritamente nos sedimentos marinhos profundos, denominados sedimentos pelágicos.
Alguns componentes dos sedimentos pelágicos formam-se por reações químicas da
água do mar com sedimentos do fundo oceânico, como os nódulos de manganês,
concreções escuras com diâmetro variando de poucos milímetros a alguns centímetros
(Fig. 4.171 c) que são recursos minerais que poderiam ser potenciais se fosse possível
desenvolver algum modo para minerá-los a partir do fundo oceânico. Em enseadas ou
braços de mar em clima árido, onde a taxa de evaporação da água é maior que a taxa
pluviométrica, pode haver depósitos salinos evaporíticos, formados por precipitação
inorgânica de sais, como cloretos (halita NaCl, silvita KCl e carnalita KMgCl3.6H2O) e
sulfatos (gipso CaSO4.2H2O). A taxa e o tempo de evaporação controlam a salinidade
da água do mar e os tipos de sedimentos salinos formados nesse ambiente.
são extensões submersas dos continentes que as margeiam,
formando uma faixa contínua em águas rasas, com pequena declividade em direção ao
oceano que se estende até o talude continental, uma quebra topográfica que marca o
início do ambiente marinho profundo (Fig. 4.169). Em margens continentais passivas, as
plataformas continentais são mais desenvolvidas e largas que em margens ativas, onde
elas são margeadas por fossas submarinas. As plataformas têm sido muito afetadas
pelas oscilações do nível do mar, ao longo da história geológica, ora expondo-as, ora
submergindo-as. Ostentam grande importância econômica, na atividade pesqueira e,
mais recentemente, na exploração de petróleo. O relevo do talude continental não é
homogêneo, ocorrendo quebras de declividade e também cânions e vales submersos,
formados por erosão da plataforma e do talude. Na parte inferior do talude ocorre uma
suavização da declividade até o fundo oceânico, denominada elevação ou sopé
continental, feições mais características em margens continentais passivas. O litoral, as
plataformas continentais, o talude e a elevação continental, compõem o que se denomina
margem continental (Fig. 4.169).
As margens continentais são dominadas por sedimentação terrígena, cujos
fragmentos são trazidos até a plataforma continental pelos rios. As ondas e as correntes
distribuem os sedimentos em longos cordões de areia e camadas de silte e argila. Na
elevação continental ocorrem leques submarinos de sedimentos terrígenos. Onde o
material terrígeno é escasso, na plataforma, ocorre sedimentação bioquímica em
camadas constituídas por carapaças de carbonato de cálcio de organismos que vivem
em águas rasas. Nesses locais predominam recifes de coral que acumulam-se em
grandes espessuras de sedimento carbonático. Os cânions e os leques submarinos no
talude e elevação continental indicam intensa atividades de erosão e transporte de
sedimentos para as águas mais profundas, compatível com correntes muito energéticas,
as quais foram denominadas correntes de turbidez, muito carregadas de lama em
suspensão, o que lhe confere alta densidade. Essas correntes turvas se formam quando
os sedimentos acumulados na borda da plataforma continental deslizam para o talude
(Fig. 4.169), acelerando-se à medida que descem a rampa do talude. Quando chegam
na elevação continental, sua velocidade diminui, provocando a deposição,
frequentemente na forma de leques submarinos de sedimentos mais grossos (arenosos).
Quando as correntes de turbidez atingem o fundo oceânico (planície abissal) depositam
camadas gradacionais de areia, silte e lama, denominadas turbiditos.
são estruturas orgânicas em forma de morrote
arredondado ou de uma crista alongada, constituídas por esqueletos de carbonato de
cálcio de colônias orgânicas de milhões de indivíduos que se formam em ambiente
marinho de clima tropical. Em contraste com os sedimentos inconsolidados de outros
ambientes sedimentares, o carbonato de cálcio dos recifes forma uma estrutura rígida e
resistente à ação das ondas marinhas, construída por corais e outros organismos
168
carbonáticos, como foraminíferos e moluscos, em águas rasas da plataforma continental
ou na margem de ilhas vulcânicas, onde a sedimentação terrígena é escassa. Com o
tempo, em condições climáticas tropicais favoráveis, um recife de coral pode crescer até
um pouco acima do nível do mar e transformar-se em uma ilha ou atol, uma ilha em forma
de anel com uma laguna no centro (Fig. 4.172 a). O calcário sólido do recife é produzido
diretamente pelo metabolismo dos organismos que secretam carbonato de cálcio da
água do mar para construir suas partes duras (exoesqueletos) que ficam preservadas
após sua morte para virar sedimento biogênico (Fig. 4.172 b), juntamente com outros
sedimentos não biogênicos. Esses organismos aproveitam a abundância de íons de Ca +2
e bicarbonato (HCO3)‾ na água do mar para secretar carbonato de cálcio, pela reação
química abaixo. Uma parte significativa da lama carbonática de lagunas e margens rasas
é precipitada diretamente da água do mar por processos inorgânicos, pela mesma
reação.
Ca+2 + 2(HCO3)‾ CaCO3 + H2CO3
Íons de Bicabornato Ácido
cálcio dissolvido carbônico
Recifes de coral são ecossistemas com grande biodiversidade suportada por uma
eficiente reciclagem de nutrientes entre os corais e outros organismos marinhos, como
zooxantelas, cianobactérias e algas. Além disso, os recifes servem de abrigo para uma
grande variedade de outros organismos, como esponjas, cnidários (como as águas vivas
ou caravelas), crustáceos (camarão, lagosta, caranguejo), moluscos, equinodermos,
como estrelas do mar e ouriços do mar.
a b

Figura 4.172- Atol de Bora Bora em torno de uma ilha vulcânica, no oceano Pacífico sul (a).
Sedimento biogênico formado por restos de partes duras de organismos marinhos recifais (b)
O crescimento rápido dos organismos dentro da laguna do atol é acompanhado
pelo crescimento também rápido do recife e da sedimentação carbonática. Se a placa
oceânica entra em subsidência, levando a ilha vulcânica com ela, ou o nível do mar sobe,
o recife cresce em direção à luz da superfície, formando uma plataforma carbonática
com laterais abruptas inclinadas em direção ao oceano aberto (Fig. 4.173). Plataformas
carbonáticas de maior porte podem se formar em grandes sistemas recifais em forma de
cristas alongadas, normalmente paralelas à linha de costa, como as Bahamas, no
oceano Atlântico norte, a leste da Flórida, EUA. O maior conjunto de recifes de corais
do mundo é a grande barreira de corais da Austrália, entre a costa NE da Austrália e
Papua-Nova Guiné, na forma de crista com 2.200 Km de comprimento e largura de 30 a
740 Km (Fig. 4.174), considerada a maior estrutura existente no mundo, construída por
seres vivos, que foi eleita pela UNESCO, em 1981, como patrimônio mundial da
humanidade. A grande barreira de corais condicionou a formação de uma grande laguna
alongada na costa nordeste australiana e uma grande plataforma carbonática após a
laguna, em direção ao oceano.

169
a

Um recife de franja
se forma em torno
de um vulcão
inativo (ilha)

Austrália

A ilha vulcânica
entra em
subsidência e o
b
recife cresce em
direção ao nível
do mar.

A subsidência continua e o recife cobre


completamente a ilha vulcânica,
formando uma plataforma carbonática
Figura 4.173- Evolução de formação de um atol Figura 4.174- Grande barreira de corais na
de recife de coral, em torno de uma ilha vulcânica costa nordeste da Austrália em vista aérea
inativa e de sua plataforma carbonática. (a) e em detalhe (b)
Os ambientes de plataforma continental e recifes orgânicos fazem parte do
ambiente marinho raso ou de margem continental (ambiente 11 na figura 4.153),
dominado pela ação das ondas e correntes, diferenciando-se do ambiente marinho
profundo, onde praticamente não há intemperismo e erosão e a calmaria pode ser
perturbada apenas por correntes marítimas.
Estruturas sedimentares
São feições planares que se formam durante a deposição dos sedimentos,
intimamente relacionadas com os tipos e mecanismos dos processos de deposição. A
estrutura sedimentar mais comum e frequente nos sedimentos e rochas sedimentares é
o , definida por camadas ou estratos de diferentes
tamanhos de grãos ou composição que indicam sucessivas superfícies deposicionais
(Fig. 4.175 a). Grande parte do acamamento é aproximadamente horizontal no momento
de deposição, podendo ser delgado (centimétrica ou até milimétrica) ou espesso (métrico
ou decamétrico). Entretanto, alguns tipos de acamamento formam-se com alto ângulo,
como a , formada por estratos depositados pelo vento ou água,
inclinados em relação a horizontal, com ângulos de até 35 (Fig. 4.175 b) que indicam
mudança na direção do agente de transporte.
a b
Figura 4.175- Arenito
estratificado (a) e
estratificação cruzada em
arenito (b).

170
O acamamento também pode se comportar como , na
qual a variação de tamanho dos grãos varia continuamente da base (mais grosseiro)
para o topo (mais fino), indicando perda de força da corrente durante a deposição dos
grãos. É frequente em turbiditos, formados por correntes de turbidez no fundo oceânico,
na base do talude continental.
são estruturas sedimentares formadas por correntes aquosas
ou vento em ambientes costeiro ou desértico. Formam longas cristas estreitas, com um
a dois centímetros de altura, separadas por calhas mais largas, cuja dimensão mais
longa é perpendicular à direção da corrente. São de dois tipos principais: simétricas,
formadas pelo movimento de vai e vem de ondas aquosas em praias (Fig. 4.176 a, b) e
assimétricas, com um lado suave e outro íngreme, na superfície de dunas formadas pelo
movimento em sentido único do vento (Fig. 4.176 c, d), ou da água em barras arenosas
subaquáticas em ambiente fluvial. A própria duna é uma marca ondulada assimétrica de
maior dimensão.
a b

c d

Figura 4.176- Marcas onduladas simétricas (a), feitas por ondas aquosas em praia (b). Marcas
onduladas assimétricas (c), feitas pelo vento em flanco de dunas (d).

, na forma de tubos aproximadamente cilíndricos de


poucos centímetros de diâmetro, que atravessam os estratos sedimentares, são
remanescentes de furos e túneis feitos e escavados por moluscos, vermes e outros
organismos marinhos que vivem no fundo do mar (Fig. 4.177). Os organismos ingerem
os sedimentos para captar a pouca quantidade de material orgânico contida neles e
deixam para traz sedimentos retrabalhados que
preenchem os furos.

Figura 4.177- Estrutura de bioturbação feitas por trilobitas


que viveram em sedimentos lamosos do cambriano médio,
há cerca de 500 Ma, em Montana, EUA.
171
O conceito de é baseado na variação estrutural da sequência de
rochas sedimentares que ocorre ao longo do processo de deposição de um determinado
ambiente sedimentar que fornece evidências sobre a história evolutiva dos eventos
sedimentares antigos que ocorreram na superfície terrestre. A figura 4.178 mostra um
ciclo sedimentar fluvial típico, uma sequência repetitiva que se forma com a migração do
canal no fundo do vale. A parte inferior de cada ciclo corresponde à porção mais profunda
do canal, onde as correntes são mais fortes e depositam sedimentos mais grosseiros, e
a parte superior corresponde à porção mais rasa, onde as correntes são mais fracas e
depositam sedimentos mais finos. A variação granulométrica entre a porção basal e
superior é gradacional, acompanhada também com variação no padrão da estratificação,
com estratificação cruzada de grande porte na porção basal (canal profundo), passando
para estratificação cruzada de pequeno porte na porção intermediária (canal raso) e
laminação horizontal no topo (planície de inundação).

a b

Figura 4.178- Ciclo aluvial típico,


formado pela migração de uma
barra de pontal em um rio
meandrante (a), com sedimentos
grosseiros (areia e cascalho) na
base, passando para sedimentos
finos (silte e lama) no topo (b).

Soterramento e diagênese dos sedimentos: formação das rochas sedimentares


As partículas clásticas e sobretudo os componentes solúveis produzidos pelo
intemperismo das rochas e erosão dos solos continentais, geralmente terminam como
sedimentos marinhos, levados por rios, ventos e geleiras, assim como os sedimentos
biogênicos depositados no fundo dos oceanos e mares. Uma pequena quantidade de
sedimentos clásticos e menor quantidade ainda de sedimentos químicos, deposita nos
ambientes continentais, em rios, ambientes costeiros, lagos e pântanos. Mas a história
sedimentar não termina na deposição ou precipitação. Uma vez depositados em bacias
oceânicas ou marinhas, os sedimentos clásticos, químicos e bioquímicos ficam ali
aprisionados, por um longo período de tempo, pelo provocado pela
continuidade das pilhas de deposição subsequentes. Tal processo não ocorre na
pequena porção de sedimentos depositados nos ambientes continentais.
Desse modo, o material sedimentar, terrígeno ou carbonático, depositado nas
bacias oceânicas e marinhas, passa a enfrentar as condições de um novo ambiente, o
de soterramento. Denomina-se ao conjunto de transformações, físicas e
químicas, que o depósito sedimentar sofre após sua deposição, em resposta a essas
novas condições, de soterramento, com aumento de temperatura e pressão. As
transformações diagenéticas prosseguem até que os sedimentos ou rochas
sedimentares fiquem novamente expostos ao intemperismo ou metamorfismo,
começando um outro o ciclo sedimentar ou metamórfico. O principal mecanismo da
172
diagênese física é a que ocorre por compressão sofrida pelos sedimentos
causada pelo peso dos sedimentos sobrepostos, que provoca redução de volume e de
porosidade, com perda de água contida nos sedimentos. A pressão aumenta com a
profundidade, a uma taxa média em torno de 1 atmosfera para cada 4,4 m. Esse aumento
de pressão é o principal fator responsável pela compactação dos sedimentos. A
temperatura também aumenta com a profundidade, a uma taxa média em torno de 30 C
para cada quilômetro de profundidade. Em uma profundidade de 4 Km, os sedimentos
soterrados podem alcançar 120 C, temperatura em que alguns tipos de matéria orgânica
associadas aos sedimentos soterrados podem ser convertidas em petróleo, gás ou
carvão. O principal mecanismo da diagênese química é a que ocorre por
precipitação química de carbonato ou sílica nos poros dos sedimentos, formando o
cimento que liga (cimenta) os grãos, diminuindo a porosidade e endurecendo o
sedimento.
A atuação conjunta desses dois mecanismos diagenéticos proporciona mudanças
texturais e composicionais dos sedimentos que resultam em sua que é a
transformação dos sedimentos moles em rocha sedimentar consolidada (Fig. 4.179).
Durante a diagênese, além da compactação e cimentação, podem ocorrer também
dissolução de minerais por percolação de soluções pós-deposicionais e recristalização
de minerais, como a transformação de aragonita em calcita (dois carbonatos de cálcio
polimorfos).

Figura 4.179- Processos diagenéticos (compactação e cimentação) promovem o endurecimento


(litificação) dos sedimentos moles que se transformam em rochas sedimentares consolidadas.

173
Classificação das rochas sedimentares
A classificação mais importante das rochas sedimentares é baseada na natureza
dos sedimentos que lhes deram origem, ou seja, rochas sedimentares clásticas,
formadas por litificação de sedimentos clásticos ou terrígenos, e rochas sedimentares
químicas e bioquímicas, formadas por litificação de sedimentos químicos e bioquímicos,
das quais as mais abundantes são as rochas carbonáticas. As rochas sedimentares
clásticas correspondem a 86 % do total das rochas sedimentares da crosta terrestre,
restando apenas 14 % para as rochas carbonáticas (Fig. 4.180).

Os componentes básicos das rochas clásticas são: os grãos de natureza clástica,


depositados nas bacias de sedimentação, e o cimento constituído por material
autigênico, precipitado quimicamente durante a diagênese. Dois tipos de grãos clásticos
são reconhecidos: a fração clástica principal, mais grosseira, que dá nome à rocha,
denominada de arcabouço, e a matriz, constituída por material detrítico de granulação
mais fina que os grãos do arcabouço (Fig. 4.181).

Figura 4.180- Abundância relativa dos Figura 4.181- Componentes básicos das rochas
principais tipos de rochas sedimentares. clásticas: arcabouço, matriz e cimento.
O principal critério de classificação dos sedimentos e rochas sedimentares
clásticas é baseado no tamanho dos grãos do arcabouço. Segundo esse critério, as
rochas clásticas são enquadradas em três grandes categorias granulométrica: rochas
rudáceas ou psefíticas, de granulação grossa, como conglomerados e brechas; rochas
arenáceas ou psamíticas, de granulação média, como os arenitos, e rochas lutáceas ou
pelíticas, de granulação fina, como siltitos, argilitos, lamitos e folhelhos (tabela 4.17).
Tamanho
da partícula Sedimento Rocha

 256 mm Matacão Conglomerado


256-64 mm Bloco (calhau) (bem arredondo)
64-2 mm Seixo Brecha (anguloso)

2-0,062 mm Areia Arenito

(silte + argila) Tabela 4.17- Classificação dos


0,062-0,004mm Silte Siltito (maciço) sedimentos e respectivas rochas
Argilito (maciço) sedimentares, com base no
< 0,004 mm Argila Folhelho tamanho dos grãos.
(estratificado)
As rochas clásticas de granulação grossa, tamanho cascalho ( 2 mm),
denominadas genericamente de rudáceas ou psefíticas, indicam que as correntes que
174
transportaram os cascalhos eram muito energéticas. Se os cascalhos são bem
arredondados, denominam-se conglomerados, constituídos principalmente por seixos.
Se, ao contrário, os cascalhos são angulosos, denominam-se brechas. O grau de
arredondamento dos grãos indica a distância da área fonte, ou seja, grãos bem
arredondados indicam que eles foram muito transportados (área fonte distante) e grãos
angulosos indicam que eles foram pouco transportados (área fonte próxima). Em poucos
ambientes, como rios de alto gradiente, praias rochosas de ondas energéticas e água de
degelo de geleiras, existem correntes fortes o suficiente para transportar cascalhos. Tais
correntes também transportam areia e normalmente ela é encontrada entre os seixos e
blocos, compondo a matriz dos conglomerados e brechas (Fig. 4.182 a, b). Se o
conglomerado é constituído predominantemente por seixo denomina-se
ortoconglomerado e se a matriz for predominante denomina-se paraconglomerado.
a b c

Figura 4.182- Rochas rudáceas: Conglomerado mal selecionado (a),


brecha sedimentar (b) e arenito bem selecionado e estratificado (c).

As rochas clásticas de granulação média (psamíticas) denominam-se arenitos


(Fig. 4.182 c), cujos sedimentos (areias grossas, médias ou finas) foram transportados
por correntes de energia moderada, como rios, ondas litorâneas e ventos em praias ou
desertos. Juntamente com as rochas clásticas rudáceas (de granulação grossa)
perfazem 11 % do total das rochas sedimentares (Fig. 4.180). O grau de seleção é um
importante indicativo do tipo de ambiente e tipo de corrente que formou o arenito,
enquanto que o grau de arredondamento dos grãos indica a distância da área fonte.
Arenitos bem selecionados (pouca variação granulométrica) são típicos de areias de
praia, enquanto que arenitos mal selecionados (variação granulométrica acentuada) são
característicos de geleiras. A composição mineralógica e a porcentagem de matriz dos
arenitos são outros parâmetros importante que podem ajudar a definir a procedência dos
arenitos. De acordo com a composição mineralógica e textura, os arenitos são
classificados em quatro grupos seguintes (Fig. 4.183):
constituídos quase que inteiramente por grãos de quartzo,
geralmente bem selecionados e arredondados, com pouca ou sem matriz. Areia muito
quartzosa resulta de um processo intempérico intenso e extenso, inclusive durante o
transporte, que removeu quase tudo da rocha, exceto o quartzo, o mineral resistato
mais estável.
contém mais de 25 % de feldspato. Os grãos tendem a
ser mal arredondados (pouco transportados) e menos selecionados que os quartzo
arenitos. Os arcósios são derivados de terrenos graníticos e metamórficos
rapidamente erodidos, com intemperismo químico subordinado ao físico.
contém muitos fragmentos de rocha de textura fina, principalmente
folhelhos, rochas vulcânicas e rochas metamórficas. A porcentagem de fragmentos
de rocha para aplicar a denominação arenito lítico varia conforme o autor, mas situa-
se principalmente entre 15 e 25 %.
arenito com predominância de matriz ( 50 %), normalmente
argilosa. Os grãos são constituídos por uma mistura heterogênea de grãos angulosos
de quartzo (dominante) e feldspato, além de fragmentos rochosos.

175
Os arenitos têm grande importância econômica. Além de serem usados na
construção civil, como revestimentos, são os melhores aquíferos armazenadores de
água subterrânea e de petróleo e gás. Além disso, grande parte do urânio utilizado na
indústria nuclear provém de arenitos, onde o urânio ocorre em minerais diagenéticos.

Figura 4.183- Mineralogia e


ambientes de formação dos quatro
principais tipos de arenitos.

As rochas clásticas de granulação fina, denominadas genericamente de lutáceas


ou pelíticas, são as rochas sedimentares mais abundantes, perfazendo em torno de 75 %
do universo sedimentar (Fig. 4.180). Os siltitos e argilitos são as rochas formadas pela
litificação do silte (tamanho 0,062 a 0,004 mm) e argila (< 0,004 mm), respectivamente
(Fig. 4.184 a, b). São rochas normalmente maciças (sem estratificação). O termo lama
refere-se a um sedimento clástico pelítico misturado com água, constituído por partículas
de tamanho silte ou argila, ou mistura de diversas proporções de ambos. Esse termo
geral é muito utilizado em trabalhos de campo, pois a distinção entre silte e argila, sem
um exame detalhado em microscópio, é difícil. A lama é rica em matéria orgânica e sua
deposição fertiliza as várzeas e planícies de inundação dos rios, após períodos de
inundação de suas margens. As lamas também são depositadas pelas marés vazantes
em planícies de marés, onde a ação das ondas é branda. As rochas formadas pela
litificação da lama são os lamitos, com estrutura normalmente maciça, e o folhelho que
apresenta uma estratificação ou laminação fina (Fig. 4.184 c). Os lamitos e folhelhos com
mais de 10% de carbonato são denominados lamitos ou folhelhos calcários. Os folhelhos
ricos em matéria orgânica são denominados folhelhos pretos ou carbonosos. Os
folhelhos também podem ser ricos em hidrocarbonetos (folhelhos betuminosos).
a b c

Figura 4.184- Siltito (a) e argilito (b) maciços e folhelho exibindo


uma fina laminação ou estratificação (c).

176
Embora a história dos sedimentos e rochas sedimentares químicas começa nos
continentes, onde seus componentes solúveis foram disponibilizados pelas soluções de
lixiviação do intemperismo das rochas, somente nas bacias de sedimentação, sobretudo
nos oceanos, esses componentes são precipitados para formar os sedimentos químicos
sólidos. Os sedimentos e rochas sedimentares bioquímicas, por sua vez, tem sua história
totalmente restrita aos oceanos. Portanto, os sedimentos e rochas químicas e
bioquímicas refletem as condições químicas do oceano, enquanto que os sedimentos e
rochas clásticas fornecem informação das rochas fontes continentais e do intemperismo
que lhes deram origem.
As rochas sedimentares químicas e bioquímicas são classificadas principalmente
pela composição química dos respectivos sedimentos (Tabela 4.18). As rochas
bioquímicas compreendem três grupos principais: , de longe, o
tipo de rocha mais abundante no ambiente químico e bioquímico. Formada por deposição
de partes duras carbonáticas (carapaças) de organismos marinhos ou precipitados por
processos biológicos do metabolismo dos organismos, constituídas por calcita ou
aragonita. , formadas pela deposição de carapaças silicosas de
organismos marinhos, constituídas por sílica criptocristalina (sílex ou chert).
que não são propriamente rochas, mas se formam
nas bacias de sedimentação, juntamente com as rochas sedimentares. Os
hidrocarbonetos normalmente se formam a partir da inundação marinha de áreas
continentais com vegetação, formando turfa que, quando soterrada pela sedimentação
subsequente, pode formar carvão e petróleo e gás.
As rochas sedimentares químicas de origem inorgânica compreendem quatro
grupos principais: , constituídos principalmente por dolomita CaMg(CO 3)2 de
origem diagenética e de ocorrência mais restrita que os calcários bioquímicos.
, constituídos por sais halogênicos (halita, silvita) e sulfatos de cálcio,
anidrita Ca(SO4) ou gipso Ca(SO4).2H2O, formados em mares fechados e clima árido.
, constituídas por óxido-hidróxidos de ferro (hematita, limonita),
além de silicatos e carbonatos de ferro (siderita). , constituídos
principalmente por fosfato de cálcio, apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl).
Sedimento Rocha Composição Química Minerais

Areia e lama Carbonato de cálcio


(originalmente bioclásticos) Calcário Calcita (aragonita)
CaCO3
Opala, calcedônia
Sedimentos silicosos Sílex Sílica (SiO2) e quartzo
Hidrocarbonetos: (carvão), (óleo),
Matéria orgânica, Turfa Orgânica carbono + O e H (gás)

Originalmente não sedimentar Carbonato de Ca e Mg


(formado pela diagênese) Dolomito Dolomita
CaMg(CO3)2
NaCl, KCl Halita, Silvita,
Sedimento evaporítico (sais) Evaporito gipso, anidrita.
Sulfato de Ca: Ca(SO4)
Formação Óxido, silicato e Hematita,
Sedimento de óxido de ferro
ferrífera carbonato de ferro limonita, siderita
Originalmente não sedimentar Fosfato de Ca
(formado pela diagênese) Fosforito Apatita
Ca5(PO4)3(OH,F,Cl)
Tabela 4.18- Classificação dos sedimentos e rochas sedimentares químicas e bioquímicas.
177
calcários e dolomitos
As rochas carbonáticas se formam a partir da acumulação de minerais
carbonáticos precipitados principalmente por processos orgânicos, com participação
mais restrita de processos inorgânicos. As rochas carbonáticas de origem orgânica são
constituídas basicamente por calcita ou aragonita (CaCO3), com predomínio da primeira
que é mais estável (Fig. 4.185 a). A participação inorgânica ocorre por precipitação
principalmente de dolomita CaMg(CO3)2 formada por transformação diagenética da
calcita ou aragonita que captam magnésio por meio de interação com a água do mar.
Denominam-se calcários as rochas carbonáticas constituídas predominantemente por
calcita e/ou aragonita, com participação menor de dolomita. Rochas com mais de 50 %
de dolomita são denominadas dolomitos calcíticos (até 90 % de dolomita) e dolomito,
com mais de 90 % de dolomita (Fig. 4.185 b). As rochas carbonáticas também podem
conter material terrígeno fino (argila ou silte, principalmente a primeira), especialmente
aquelas rochas de águas rasas, formadas em ambiente plataformal ou no fundo oceânico
próximo ao talude continental. Denomina-se marga uma rocha carbonática com 35 a
65 % de argila. Quando a argila está presente, porém em porcentagem inferior a 35 %
emprega-se o termo impuro (calcário impuro, dolomito impuro).
Figura 4.185- Amostra de calcário
estratificado (a). Diagrama triangular calcita- b
dolomita-terrígenos para classificação das
rochas carbonáticas (b).

As rochas carbonáticas bioquímicas antigas formam extensas camadas,


atualmente expostas no continente (Fig. 4.186 a). Se formam nas planícies abissais
oceânicas, por acumulação in situ de partes duras (carapaças) de organismos marinhos,
principalmente foraminíferos, micro-organismos unicelulares que vivem na superfície das
águas oceânicas (Fig. 4.186 b). Em ambiente marinho raso (plataforma continental), a
maioria das rochas carbonáticas bioquímicas também se forma por deposição in situ de
partes duras de organismos marinhos, como os recifes de coral. Parte dessas rochas,
entretanto, é formada por detritos de carapaças que foram quebrados e transportados
por ondas e correntes marítimas, classificadas como rochas bioclásticas (Fig. 4.218 c).
c
a

0,1 mm 5,0 cm
b
Figura 4.186- Afloramento de calcário estratificado (a). Carapaças microscópicas de
foraminíferos (b). Rocha bioquímica com fragmentos de carapaças de moluscos (c).

178
rochas sedimentares químicas salinas
Os evaporitos são rochas sedimentares químicas formadas por precipitação
inorgânica de sais quando a concentração da água da bacia sedimentar atinge a
saturação. Tal situação dificilmente ocorre no oceano aberto, onde, apesar da contínua
entrada de sais, a salinidade média mantém-se constante, em torno de 3,5 %. Os sais
são adicionados aos oceanos por duas fontes principais: intemperismo químico das
+ +2 +2 +
rochas continentais que libera íons como Na , Ca , Mg , K , que são lixiviados para os
rios que os transportam em solução para os oceanos; atividades vulcânicas que, ao
interagir com a água do mar, lixivia íons das rochas basálticas. Por outro lado, os sais
marinhos são consumidos pela formação dos sedimentos químicos e bioquímicos. Há
milhões de anos o balanço de entrada e saída de sais no oceano atingiu o equilíbrio, um
equilíbrio dinâmico, que mantém a salinidade média dos oceanos constante, abaixo do
ponto de saturação da água do mar, por isso ocorre pouca precipitação inorgânica de
sais. Entretanto, em ambientes específicos, como bacias fechadas (mares e lagos) ou
semiabertas para o oceano (golfo, baia, laguna), em clima árido ou semiárido, o ponto
de saturação da água pode ser alcançado. Isso pode ocorrer porque nesses ambientes
a taxa de evaporação da água, por insolação, é superior a entrada de água no sistema,
com pouca chuva e influxo restrito de água do mar.
Existem dois tipos de evaporitos: , em bacias com alguma
conexão com o oceano, como mares, golfo, lagunas ou baia, em clima árido (Fig. 4.187).
Nesses ambientes, o suprimento de água doce pelos rios é pequeno e a conexão com o
mar aberto é restrita, condicionando uma intensa evaporação da água. O influxo de água
do mar, embora restrito, repõe a água evaporada, mantendo o volume de água que vai
ficando progressivamente mais salina que a água do mar, até atingir o ponto de
saturação, com precipitação de carbonato de cálcio (calcita), gipso e sais halogênicos,
principalmente halita, silvita e carnalita KMgCl 3.6H2O, além de sulfatos de K e Mg
(polihalita, kainita).

Figura 4.187- Laguna em clima árido, com evaporação intensa, e formação de evaporito.

Quando o ponto de saturação da água é alcançado, em decorrência da intensa


evaporação, a precipitação inicia em uma sequência bem definida, precipitando primeiro
os sais menos solúveis e por último os mais solúveis, à medida que a água é evaporada.
O primeiro a se formar é o carbonato de cálcio (calcita), quando 50% da água inicial é
evaporada. Com a continuidade da evaporação, precipita-se a gipsita, quando resta 20 %
da água inicial, e depois a halita quando resta 10 % da água (Fig. 4.188 a, b, c). Quando
quase toda a água foi evaporada precipitam os sais mais solúveis, de potássio (silvita e
carnalita), conforme a figura 4.188 a. Muitos depósitos evaporíticos não contêm os sais
mais solúveis de potássio, indicando que a evaporação não foi suficiente para precipitar
tais sais.
179
a c

Figura 4.188- Sequência de precipitação de sais evaporíticos, em função da taxa de


evaporação, com temperatura constante (a). Cristal prismático de gipsita (b) e estratos
evaporíticos de halita (c).
, em lagos continentais, sem conexão com o oceano, sob
clima árido. As águas dos rios levam sais para o lago, mas a evaporação supera o influxo
de água fluvial e pluvial, aumentando a salinidade do lago até atingir seu ponto de
saturação. Nesses lagos salgados, podem se formar sais incomuns, como boratos, como
o borax Na2B4O5(OH)4.8H2O e até nitratos, como o Nitro NaNO3. Entre os ambientes
mais salgados do mundo estão o Grande Lago Salgado de Utah (EUA) e o mar Morto,
entre a Jordânia e Israel, onde a salinidade da água chega, respectivamente, a 8 e 10
vezes a média dos oceanos.
Os evaporitos podem formar importantes depósitos minerais de sal gema (halita),
utilizado na culinária, e de sais de potássio, utilizados como fonte de potássio para a
indústria de fertilizantes.

Assim como as rochas carbonáticas, grande parte das rochas silicosas é formada
por litificação de sedimentos silicosos (vasas) precipitados por processos químicos ou
bioquímicos e secretados por organismos marinhos, principalmente diatomáceas e
radiolários. As rochas silicosas são constituídas por quartzo criptocristalino, ocorrendo
duas variedades principais, o sílex, normalmente escuro, e chert, mais claro (Fig. 4.189).
Rochas silicosas recentes podem ser formadas por sílica amorfa ou não completamente
cristalizada, como a opala ou calcedônia. Sílex ou chert também podem se formar como
nódulos ou massas irregulares diagenéticas que substitui os carbonatos em calcários e
dolomitos. O sílex foi utilizado pelo homem primitivo para fazer pontas de lanças e outros
tipos de instrumentos, pois o sílex pode ser lascado e adquirir a forma de instrumentos
duros e afiados.
a b

Figura 4.189- Rochas bioquímicas silicosas: sílex (a) e chert


(b).
formações ferríferas
Rochas sedimentares químicas com mais de 15 % de ferro, principalmente na
forma de óxido, são denominadas formações ferríferas. Ocorrem como rochas
180
estratificadas, frequentemente bandadas, com bandas ferríferas alternadas com bandas
silicosas (Fig. 4.190). As bandas ferruginosas são constituídas principalmente por óxidos
(hematita Fe2O3 e magnetita Fe3O4) ou hidróxidos, como a goethita FeO(OH), além de
carbonato (siderita FeCO3) e silicatos, como a chamosita Fe4Si4O10(OH)8 , greenalita
Fe3Si2O5(OH)4 e minnesotaita Fe3Si4O10(OH)2. As bandas silicosas são constituídas por
chert (branco) ou jaspe (sílica microcristalina avermelhada, com ferro). As formações
ferríferas podem ser oxidadas (mais frequentes), carbonatadas ou silicatadas, ou ainda
combinações entre os três tipos composicionais, mas normalmente com predominância
de um deles. São os principais minérios de ferro, que ocorrem em depósitos de grande
porte, de dois tipos principais: itabirito, com estratos silicosos claros (chert), como no
Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais (Fig. 190 a), e jaspelito, com estratos silicosos
avermelhados (jaspe), como em Carajás no Pará (Fig. 4.190 b). As formações ferríferas
bandadas são rochas muito antigas, de idade pré-cambriana ( 542 Ma), não havendo
equivalentes em períodos geológicos posteriores. O grande dilema dessas rochas é
explicar a origem de tanto ferro, se por intemperismo e erosão das rochas continentais,
ou por exalações vulcanogênicas no fundo oceânico, ou ambos os processos.
a b

Figura 4.190- Formações ferríferas bandadas (minério de ferro) do tipo itabirito, com bandas
claras de chert (a) e jaspelito, com bandas avermelhadas de jaspe (b).

São rochas sedimentares químicas, denominadas fosforitos (Fig. 4.191),


constituídas por minerais terrígenos, normalmente pelíticos, e/ou carbonatos, com
fosfatos, principalmente apatita Ca5(PO4)3(OH,F,Cl) microcristalina ou criptocristalina
(colofana). Os fosforitos se formam em margens continentais, onde emergem correntes
profundas de água fria, ricas em fósforo, que
interagem com sedimentos terrígenos e/ou
carbonáticos, precipitando apatita durante a
diagênese. A litificação desses sedimentos ricos
em apatita dá origem aos fosforitos que são
importantes minérios fosfatados, utilizados como
fonte de fósforo para a indústria de fertilizantes.

Figura 4.191- Fosforito estratificado do Grupo Bambuí


na região de Campos Belos, Goiás.

Os ambientes de sedimentação, as características dos sedimentos e a geometria


das bacias onde foram depositados, estão relacionados com o local em que ocorrem na
placa tectônica. Por exemplo, os arenitos que se formam em deltas de margens
continentais passivas, são predominantemente constituídos por grãos de quartzo bem
arredondados e selecionados, enquanto que aqueles formados em fossas submarinas
profundas, em zonas de subducção, contêm abundantes fragmentos de rocha e os grãos
são menos arredondados e selecionados.
181
Em sistemas divergentes, os movimentos das placas tectônicas provocam
subsidência da crosta terrestre, formando depressões (bacias) onde ocorre vulcanismo
e acumulam-se espessas pilhas de sedimentos, cujo peso pressiona a crosta,
contribuindo com para a subsidência (Fig. 4.192).

Figura 4.192- Desenvolvimento de bacias em margens continentais passivas: a) bacia rift,


formada por subsidência mecânica causada pelo rifteamento do continente, formando um vale
em rift com vulcanismo basáltico; b) expansão do assoalho oceânico, com subsidência térmica
das margens continentais; c) deposição de evaporitos, sedimentos deltaicos e carbonáticos nas
bacias marginais; d) deposição de cobertura por sedimentos provenientes da erosão continental.
182
Dois tipos de bacias se formam em sistemas divergentes de placas tectônicas em
decorrência da subsidência da crosta: que se formam no estágio inicial da
divergência, com o rifteamento da crosta continental (Fig. 4.192 a). As forças divergentes,
de separação das placas, provocam adelgaçamento e aquecimento da litosfera
causados pela ascensão da astenosfera quente. A crosta se rompe, formando um
profundo, longo e estreito vale em rift (ou bacia rift), em decorrência da subsidência
mecânica causada por abatimento de blocos crustais, por onde extravasa magma
basáltico. A bacia rift é preenchida pelo magma e deposição de sedimentos. O mar
Vermelho e o vale em rift do rio Grande (EUA) são exemplos atuais de bacia rift.
que se formam nos estágios finais da divergência, com a expansão
do assoalho oceânico, afastamento das placas continentais e resfriamento da litosfera
(Fig. 4.192 b, c, d). O esfriamento provoca aumento de densidade da litosfera, causando
subsidência da crosta, ao longo das duas costas continentais opostas, e formação de
bacias de subsidência térmica, também denominadas bacias marginais. Nessas bacias
depositam-se sequências terrígenas (como os deltas) e evaporíticas, da plataforma
continental, formadas por sedimentos clásticos e químicos provenientes dos continentes,
além de rochas carbonáticas formadas por processos bioquímicos, como os recifes de
corais. As bacias marginais podem conter importantes depósitos salinos evaporíticos,
com sais de sódio e potássio, além de acumulações de petróleo e gás, como o pré-sal
brasileiro nas bacias marginais de Santos, Campos e Espírito Santos.
Em regimes convergentes, três tipos de bacias podem se formar, em decorrência
da subsidência da crosta (Fig. 4.193): , formadas por
subsidência mecânica, causada por abatimento de blocos entre o arco e o continente,
em decorrência de esforços distensivos que ocorrem na placa continental que contém o
arco, quando a crosta oceânica subducta em alto ângulo ( 45 ).
, formadas por subsidência flexural que provoca um arqueamento côncavo
(rebaixamento) entre o arco e a fossa tectônica, em decorrência do esforço compressivo
que a placa continental sofre na zona da subducção da placa oceânica. As bacias de
retroarco e antearco recebem sedimentos das rochas magmáticas do próprio arco.
, formadas por subsidência termal + flexural na zona de subducção,
causada pelo resfriamento da litosfera oceânica subductada e arqueamento flexural da
placa continental, com soerguimento na ponta da placa. As fossas recebem sedimentos
provenientes da erosão das rochas magmáticas do arco e também sedimentos marinhos.

Figura 4.193- Desenvolvimento de bacias em margens continentais ativas: bacias de


retroarco ou trás-arco, formadas por subsidência mecânica da placa continental. bacias de
antearco ou pós-arco, formadas por subsidência flexural da placa continental. fossas ou
trincheiras, formadas por subsidência termal da litosfera oceânica + flexural da placa continental.

183
4.3.4- ROCHAS METAMÓRFICAS
Introdução
A transformação de uma lagarta em borboleta denomina-se “metamorfose” que
significa transformação, mudança de forma, sem que se perca a essência da matéria em
transformação, no exemplo citado, a transformação de uma forma de ser vivo em outra.
, em geologia, compreende o conjunto de processos pelos quais uma
determinada rocha é transformada em outra, através de reações que se processam no
estado sólido. Essas reações promovem modificações texturais e mineralógicas ou até
mesmo químicas, na rocha original, que geralmente ocorrem de maneira combinada. As
condições de temperatura e pressão do metamorfismo situam-se entre aquelas da
diagênese sedimentar, de baixa temperatura (até em torno de 250 C), e o início da fusão
magmática, em altas temperaturas, entre 650 e 900 C (Fig. 4.194 a).
As rochas a partir das quais se originam as rochas metamórficas são
denominadas , que podem ser rochas sedimentares ou magmáticas, ou até
mesmo outra rocha metamórfica, e sua identificação tem grande importância em estudos
geológicos. No ambiente metamórfico, os protolitos se submetem a condições de T e P
diferentes daquelas em que se formaram, ou seja, T e P maiores se o protolito é uma
rocha sedimentar, ou menores se o protolito é uma rocha magmática. Em ambas as
situações, os protolitos ficam em desequilíbrio em seu novo ambiente metamórfico. É
justamente esse estado de instabilidade e desequilíbrio que provoca as transformações
e reações metamórficas, em busca de um novo equilíbrio. O tempo para que esse
equilíbrio seja alcançado é de pelo menos alguns milhões de anos, um tempo curto para
os padrões geológicos. Com o aumento da temperatura, a composição química e a
mineralógica podem manter-se inalterada, porém sua textura pode sofrer mudanças
drásticas, como, por exemplo, recristalização de um quartzo arenito poroso para um
quartzito, com textura em mosaico, praticamente sem porosidade (Fig. 4.194 b). Na
transformação de um folhelho em xisto, apenas a composição química se mantém
inalterada. A fina estratificação dá lugar a uma xistosidade definida pela cristalização de
micas a partir dos minerais argilosos que perdem maior parte da água presente em suas
estruturas para formar os cristais de micas. Se houver envolvimento de fluidos nas
reações metamórficas, podem haver modificações na composição mineralógica, textura
e, também, na composição química. Os fluidos metamórficos são, normalmente, gerados
pelas próprias reações metamórficas em protolitos hidratados ou com outros
componentes voláteis como CO2.
a

b
Figura 4.194- Diagrama P-T mostrando o campo do metamorfismo entre a diagênese e a fusão
magmática (a). O asterisco indica as condições de pressão mais elevada registrada em rochas
expostas na superfície terrestre. Curva de fusão para o granito em condições hidratadas (A) e
em condições anidras (B). Quartzo arenito com textura sedimentar clástica porosa, com grãos
arredondados de quartzo, e seu equivalente metamórfico, um quartzito com textura granoblástica
em mosaico e junções tríplices entre os grãos (120 ), praticamente sem porosidade (b).
184
Alguns minerais silicáticos são diagnósticos do ambiente metamórfico, como os
polimorfos Al2SiO5 (andalusita, cianita e sillimanita), a estaurolita e o epidoto. Outros são
comuns em rochas metamórficas e também em rochas ígneas, como granada, quartzo,
muscovita, anfibólio e feldspato. Os processos metamórficos normalmente ocorrem
associados aos processos tectônicos, com destaque para as margens continentais
ativas, onde se formam as grandes cadeias de montanhas, como os Andes, Rochosas,
Himalaia, ou arcos de ilhas como o arquipélago do Japão. Essas grandes estruturas
lineares são constituídas predominantemente por rochas metamórficas que formam
faixas, denominadas , frequentemente associadas com rochas
magmáticas. Embora a maioria das rochas metamórficas expostas na superfície terrestre
se formaram em profundidade, entre a crosta média e inferior (10 a 30 Km), elas podem
se formar também na superfície terrestre, como o cozimento de solos e rochas
sedimentares situadas abaixo de derrames de lavas vulcânicas.
Fatores condicionantes do metamorfismo
Os principais fatores que controlam o metamorfismo são a temperatura, pressão,
natureza dos protolitos, presença de fluidos e tempo de duração dos processos. O calor
afeta de maneira significativa a mineralogia e textura das rochas, uma vez que pode
quebrar as ligações químicas e alterar a estrutura cristalina dos minerais das rochas,
exercendo um papel muito importante na formação das rochas metamórficas. As
principais fontes de calor na Terra são o calor residual do manto e do núcleo e o calor
gerado pelas reações de desintegração radioativa. O principal mecanismo de
transferência de calor do interno da Terra para a superfície é promovido pelos processos
da tectônica de placas, pelos quais grande volume de material mantélico de alta
temperatura é trazido para a superfície nas cadeias meso-oceânicas. Na crosta
continental, o calor é transportado por meio de intrusões ígneas e por mecanismos de
ruptura das rochas, como zonas de cisalhamento e rifteamento, além de condução
térmica através das rochas. Tanto a temperatura como a pressão aumentam com a
profundidade. A pressão aumenta a uma taxa aproximadamente semelhante em todos
os lugares (0,25 a 0,3 Kb por quilômetro). Por outro lado, o aumento da temperatura com
a profundidade, denominado gradiente geotérmico, é variável, dependendo do ambiente
tectônico, ocorrendo a uma taxa média de 30 C/Km, variando de 15 até 60 C/Km.
Desse modo, com um gradiente geotérmico de 30 C/Km, em uma profundidade de
15 Km, a pressão será em torno de 4 Kb, aproximadamente 4 mil vezes a pressão
superficial (1 atm = 10 ‾3 Kb), e a temperatura será 450 C.
A pressão atuante na crosta pode ser de dois tipos: Pressão litostática ou
confinante (PLit), resultante do peso da coluna de rochas sobrejacentes, dependendo
somente da profundidade e da densidade das rochas. Como a pressão litostática tem o
mesmo valor em todas as direções, ela não causa deformação mecânica acentuada. A
pressão é medida em kilobar (Kb), onde 1 Kb = 1000 bar (1 bar  1 atm); Pressão
dirigida (PDir), produzida pelo movimento vetorial horizontal das placas tectônicas,
gerando tensões e deformações nas rochas que resultam em texturas e estruturas
orientadas e controlam a migração de fluidos. Os minerais placosos, como as micas, sob
a ação da pressão dirigida, se orientam segundo uma direção perpendicular à direção
da pressão máxima, formando rochas foliadas, como os mica xistos.
A figura 4.195 mostra a profundidade da isoterma de 1300C em três situações
tectonicamente distintas: arcos vulcânicos na zona de subducção, onde a isoterma de
1300 C situa-se a 50 Km de profundidade, com um gradiente de 26 C/Km; crosta
continental estendida, com adelgaçamento da litosfera e formação de bacias e cadeias
de montanhas (Bases and ranges provinces), como a Província Grande Bacia de
Nevada, EUA, onde a isoterma de 1300 C situa-se a 30 Km de profundidade, com um

185
gradiente de 43,3 C/Km; crosta estável, em uma região intraplaca, onde a isoterma
de 1300 C situa-se a 65 Km de profundidade, com gradiente de 20 C/Km.

Figura 4.195- Aumento da temperatura e pressão com a profundidade. A pressão aumenta a


uma taxa semelhante em todas as regiões, mas a taxa de aumento da T (gradiente geotérmico)
depende da situação tectônica da região. Profundidade da isoterma de 1300 C em três regiões
tectonicamente distintas: arcos vulcânicos, 50Km; crosta continental estendida, com bacias
e cadeias de montanhas (bases and ranges), 30Km; crosta continental estável, 65Km.
As reações metamórficas se desenvolvem principalmente no estado sólido.
Entretanto, os sistemas metamórficos podem conter uma fase fluida constituída
sobretudo por H2O e/ou CO2, evidenciada pela presença de minerais hidratados como
micas, anfibólios e clorita, além de carbonatos. Porções da fase fluida também podem
ficar preservadas no interior dos minerais, como inclusões fluidas (Fig. 4.196). A pressão
de fluidos pode ser equivalente à pressão litostática (P Fl = PLit), menor (PFl < PLit) ou maior
que a pressão litostática (PFl PLit). Neste último caso, se a pressão de fluidos superar a
resistência mecânica das rochas ocorrerá fraturamento e circulação de fluidos pelas
fraturas, podendo formar depósitos minerais filonianos. A presença de fluidos acelera as
reações metamórficas, facilitando a migração dos elementos. A composição do fluido
muda continuamente durante o processo metamórfico, à medida que o fluido interage
com os minerais recém-formados, com troca de elementos entre eles. A pressão da fase
186
fluida também interfere nos processos termodinâmicos do sistema, como a temperatura
de equilíbrio das reações entre os minerais, e o estado de oxidação de alguns elementos
químicos da assembleia mineral das rochas. Se a fase fluida do metamorfismo é
desprezível, não deverá haver mudanças na composição química do protolito e o
metamorfismo, neste caso, é denominado isoquímico. Ao contrário, se a fase fluida é
significativa, poderá haver alteração na composição química do protolito, processo
denominado metassomatismo. Normalmente, os processos metamórficos são sistemas
químicos parcialmente abertos, com alterações metassomáticas sutis ou desprezíveis,
mas podem haver situações com metassomatismo
mais intenso.

Figura 4.196- Inclusões fluidas aquo-carbônicas


bifásicas H2O - CO2 em berilo (água marinha) de rocha
metamórfica, que são amostras da fase fluida do
metamorfismo. A bolha central é de CO 2 .

O tempo é um parâmetro importante no metamorfismo, mas de difícil aferição. As


reações metamórficas ocorrem em respostas às mudanças das condições físicas,
principalmente temperatura e pressão, formando associações minerais e texturas que se
adaptam continuamente às novas condições que a rocha é submetida, registrando toda
a série de mudanças sofridas pela rocha. Como as reações metamórficas são
normalmente lentas, frequentemente elas não se completam, registrando apenas um
determinado instante do regime metamórfico,
aquele que as modificou por último ou as
condições metamórficas mais intensas que
afetam as rochas. Dados geocronológicos e
modelos teóricos de regimes termais atuantes
na crosta, indicam eventos de 10 a 50 Ma de
duração em terrenos metamórficos. A evolução
metamórfica temporal de um terreno
metamórfico costuma ser representada em
diagramas ou caminhos P-T-t (pressão-
temperatura-tempo), conforme a figura 4.197.

Figura 4.197- Possíveis caminhos P-T-t para


metamorfismo regional de alta, média e baixa
pressão, em diagrama P-T dos polimorfos Al2SiO5.
Caminhos de alta e média P são normalmente
horários e os de baixa P são anti-horários.

Paragêneses minerais e as reações metamórficas


A assembleia mineral em equilíbrio de uma rocha denomina-se
. Entretanto, nas assembleias minerais naturais, o desequilíbrio é a regra, ou seja,
a maioria das reações ainda estão em andamento, ou foram interrompidas antes de se
completarem. No entanto, as relações texturais e os trabalhos experimentais fornecem
elementos para reconhecer as tendências de equilíbrio, mesmo se este equilíbrio não
tiver sido plenamente atingido. Rochas de composições químicas equivalentes podem
gerar assembleias minerais distintas em função das condições metamórficas diferentes
em cada caso. Por exemplo, um mesmo protolito gerou duas paragêneses distintas:
paragênese A, constituída por clorita + epidoto + actinolita + albita e paragênese B,
constituída por biotita + granada + hornblenda + oligoclasio. As principais diferenças
entre as duas é que a paragênese A contém mais água que a B (a clorita contém 8
hidroxilas, enquanto que a biotita contém somente 2), o anfibólio da paragênese B
187
(hornblenda) contém alumínio e o da paragênese A (actinolita) não, e o plagioclásio da
paragênese B (oligoclasio) é mais cálcico que o da paragênese A (albita). Os estudos
experimentais revelam que a paragênese B equilibrou-se em temperatura mais elevada
que a paragênese A, mas ambas foram derivadas do mesmo protolito.
As reações metamórficas ocorrem para reduzir a energia livre do sistema diante
das condições físico-químicas modificadas, em busca do equilíbrio. Os principais tipos
de reações são: envolvendo apenas fases sólidas, sem fase fluida; entre uma fase
sólida (minerais) e uma fase fluida, produzindo assembleias minerais hidratadas e/ou
carbonatadas; reações, a partir de uma fase sólida, gerando uma assembleia anidra
+ fase fluida (devolatização). Se a fase sólida é hidratada, gerará uma fase fluida rica em
água (desidratação), e se a fase sólida é carbonatada, gerará uma fase fluida rica em
CO2 (descarbonatação). Nos processos metamórficos, as reações de devolatização
(perda de voláteis) são mais frequentes que as reações com consumo de voláteis
(hidratação ou carbonatação). Um exemplo de reação de descarbonatação metamórfica
(geração de CO2) é a formação de wollastonita a partir de calcita e quartzo:
CaCO3 + SiO2 CaSiO3 + CO2
Calcita Quartzo Wollastonita Fase fluida
Um exemplo de reação de desidratação metamórfica (geração de H2O) é a formação de
pirofilita a partir de argilominerais, como a caulinita, e quartzo:
Al2Si2O5(OH)4 + 2SiO2 Al2SiO4O10(OH)2 + H2O (reação 1 na Fig. 4.198)
Caulinita Quartzo Pirofilita Fase fluida
Esta reação acontece logo no início do metamorfismo de rochas pelíticas. Com o
aumento da temperatura, a pirofilita se desestabiliza para formar andaluzita ou cianita
anidras (polimorfos Al 2SiO5), com desidratação total.
Al2SiO4(OH)2 Al2SiO5 + SiO2 + H2O (reação 2 na Fig. 4.198)
Pirofilita Andaluzita Quartzo Fase fluida
ou cianita
O alumino silicato anidro que se forma depende da pressão: andalusita em baixa pressão
(< 2,5 Kb) ou cianita em alta pressão (Fig. 4.228). Em temperaturas mais elevadas,
alumino silicatos anidros também se formam a partir de muscovita. Em condições mais
brandas de metamorfismo (T e P mais baixas), a muscovita se desestabiliza para formar
andalusita + K-feldspato, e em condições mais severas (T e P mais elevadas), pode
formar sillimanita + K-feldspato, com liberação de H2O:
KAl3Si3O10(OH)2 + SiO2 Al2SiO5 + KAlSi3O8 + H2O (reação 3 na figura 4.198)
Muscovita Quartzo Andalusita K-feldspato Fase fluida
ou sillimanita

Figura 4.198- Diagrama P-T de estabilidade


de minerais metamórficos: reações
metamórficas formando pirofilita a partir de
caulinita e quartzo (reação 1), e polimorfos
Al2SiO5 (andalusita ou cianita), a partir de
pirofilita (reação 2), e formando andalusita
ou sillimanita a partir de muscovita e quartzo
(reação 3).
Kln: caulinita Qtz: quartzo
Prl: pirofilita Ky: cianita
And: andalusita Sill: sillimanita
Ms: muscovita Kf: K-feldspato
Tp: ponto tríplice (T = 530 C, P = 4,3Kb)

188
A cinética das reações depende de uma série de condicionantes, além da
temperatura e pressão, como a natureza da rocha protolito (composição mineralógica e
textura), presença de uma fase fluida e da sua composição, e a deformação sofrida pela
rocha durante o metamorfismo. As reações se desenvolvem de maneira mais efetiva em
rochas porosas que sofreram deformação, na presença de uma fase fluida abundante.
Tipos de metamorfismo
Os processos metamórficos se desenvolvem em diversos ambientes na crosta
terrestre, com extensões variáveis, desde áreas restritas com dimensões de poucos
centímetros, até grandes faixas com centenas a milhares de quilômetros de extensão,
em profundidades rasas até níveis mais profundos na crosta. Essa grande diversidade
pode ser sistematizada em poucos tipos de metamorfismo, dependendo dos parâmetros
físicos envolvidos (T e P), localização e extensão na crosta terrestre e tipos de rochas
metamórficas que se formam. Três tipos principais podem ser destacados:
metamorfismo regional ou dinamotermal; metamorfismo de contato ou termal;
metamorfismo dinâmico.
afeta extensas áreas e alcança níveis
profundos na crosta terrestre, relacionado geralmente a cinturões orogênicos em zonas
de convergência de placas tectônicas (Fig. 4.199 a). As transformações metamórficas se
processam pela ação conjunta da temperatura, pressão litostática (P Lit) e pressão
dirigida (PDir) que persistem durante centenas de milhares a alguns milhões de anos,
com grande fluxo de calor, cujo gradiente geotérmico pode chegar até 60 C/Km. Os
protolitos sofrem transformações mineralógicas e texturais, além de deformações
mecânicas (dobras e falhas) em graus variados.
O metamorfismo regional é responsável pela maior parte das rochas metamórficas
da crosta terrestre, frequentemente associado a expressivos volumes de rochas
graníticas, geneticamente relacionadas, ou seja, formadas quando as condições de
temperatura e pressão ultrapassam os limites metamórficos, iniciando a fusão parcial de
material crustal. Esse tipo de metamorfismo geralmente produz uma sequência de
rochas metamórficas estabilizada em condições físicas de temperatura e pressão
crescentes com a profundidade, definindo o que se denomina metamorfismo regional
progressivo. Uma sequência metamórfica progressiva típica é: ardósias, filitos, xistos,
anfibolitos e gnaisses. Temperatura e pressão, normalmente, aumentam
concomitantemente com a profundidade, chegando até 650 a 750 C e 8 a 10 Kb, nos
processos metamórficos. No entanto, há algumas situações de metamorfismo regional
com relações anômalas entre temperatura e pressão litostática, como terrenos de alta
pressão com temperaturas relativamente baixas, ou terrenos de baixa pressão com
temperaturas elevadas em decorrência de um gradiente geotérmico alto.
desenvolve-se nas rochas encaixantes em volta de
corpos magmáticos, principalmente plutônicos, formando auréolas de metamorfismo de
contato (Fig. 4.199 b). As principais transformações metamórficas que ocorrem nessas
auréolas são decorrentes do efeito termal do calor emanado do magma durante o seu
resfriamento, sem atuação significativa da pressão litostática ou dirigida. A rocha
resultante, denominada genericamente de hornfels, exibe uma textura granoblástica
isotrópica maciça, sem deformação acentuada.
A extensão da auréola de metamorfismo de contato depende do volume e da
natureza do magma intrusivo, da rocha encaixante e do gradiente térmico entre a
intrusão e a rocha encaixante. As dimensões das auréolas variam desde alguns
centímetros, no contato com pequenos corpos como sills e diques, até centenas de
metros, em volta de corpos com diâmetros quilométricos. O gradiente térmico nos
contatos de corpos intrusivos é mais acentuado em níveis superficiais a intermediários,
onda as rochas encaixantes são mais frias e o contraste de temperatura entre o corpo
189
magmático a rocha encaixante é maior. Em níveis profundos, onde as rochas
encaixantes são mais quentes, o gradiente térmico é menor. Auréolas expressivas
geralmente exibem zoneamento mineralógico, em que nas proximidades do corpo
magmático formam-se minerais de temperatura mais elevada, normalmente anidros,
como granada e piroxênio, enquanto que as porções mais externas da auréola são
constituídas por minerais normalmente hidratados, como micas e anfibólio, formados em
menor temperatura (Fig. 4.199 b).
a b

Figura 4.199- Metamorfismo regional ou dinamotermal em uma zona de subducção (a).


Metamorfismo termal ou de contato em uma sequência sedimentar intrudida por um pluton
granítico (b).

desenvolve-se em faixas longas e estreitas acompanhando as


zonas de falha ou cisalhamento, onde fortes pressões dirigidas provocam movimentação
e rupturas nas rochas crustais e também terremotos (Fig. 4.200). Em profundidades
rasas (< 10 Km), a energia mecânica do cisalhamento produz deformação rúptil,
caracterizada por intensa cominuição, quebramento ou moagem dos minerais na zona
de maior movimentação, reduzindo a granulação das rochas em intensidades variáveis.
As rochas formadas por metamorfismo dinâmico raso são denominadas cataclasitos,
caracterizados por estrutura brechóide, com fragmentos angulosos pequenos (< 5 mm),
em uma matriz dominante. Se os fragmentos são maiores ( 5 mm) e dominantes, a rocha
denomina-se brecha de falha (Fig. 4.201 a). Em maior profundidade ( 10 Km), com maior
temperatura e pressão litostática, prevalece a deformação dúctil. As rochas formadas
pelo metamorfismo dinâmico profundo são denominadas genericamente de milonitos,
cujas principais feições texturais são microbandamentos ou foliações (Fig. 4.201 b).

a b

Figura 4.200- Perfil de uma zona de cisalhamento, mostrando a zona profunda de rochas
miloníticas e a zona rasa de rochas cataclásticas (a). Nível profundo em planta de uma zona de
cisalhamentos mostrando as rochas miloníticas na zona central de maior movimentação da falha
(b).

190
a b

Figura 4.201- Produtos rochosos do metamorfismo dinâmico: Brecha de falha (a) e milonito (b).

Outros tipos de metamorfismo, de ocorrência mais restrita, são reconhecidos


pelos petrólogos, dentre os quais os mais importantes são: metamorfismo de
soterramento e metamorfismo de impacto. O metamorfismo de soterramento ocorre em
bacias sedimentares subsidente, onde espessas sequências de rochas sedimentares e
vulcânicas são soterradas no fundo da bacia, onde a temperatura pode chegar a 300 C
ou mais (Fig. 4.202 a). Tanto a temperatura como a pressão litostática são atuantes, mas
difere do metamorfismo regional pela ausência ou pouca atuação da pressão dirigida.
Uma sutil foliação horizontal, paralela à estratificação da rocha, é definida pela
cristalização de micas orientadas. O metamorfismo de impacto é de ocorrência muito
restrita na crosta terrestre, causado por grandes impactos de meteoritos (Fig. 4.202 b). A
energia do impacto se propaga através de ondas de choque que fraturam e deslocam as
rochas atingidas, formando uma cratera de impacto, onde a temperatura e a pressão
podem chegar até 5000 C e 1000 Kb, respectivamente, que volatiliza o meteorito e pode
fundir parcialmente as rochas impactadas. Coesita e a stishovita (sílica de alta pressão)
são minerais típicos de metamorfismo de impacto, um processo que deve ocorrer em
muitos corpos planetários marcados por grandes crateras, como a Lua. A cratera Meteor,
no Arizona, EUA, é um exemplo típico de cratera de impacto de um meteorito que atingiu
a região há 50.000 anos (Fig. 4.202 c).
a b

c
Figura 4.202- Metamorfismo de soterramento,
no fundo de bacias sedimentares subsidentes
(a) e metamorfismo de impacto de meteoritos
(b). Cratera Meteor, Arizona, EUA, com 1.200 m
de diâmetro e 170 m de profundidade (c).

Grau e fácies metamórficas


Em muitos terrenos metamórficos as variações sistemáticas na composição
mineralógica, textura e estrutura das rochas podem ser seguidas de maneira mais ou
menos contínua, tanto em terrenos metamórficos regionais, como em auréolas de
metamorfismo de contato. Essas variações indicam mudanças nas condições de
191
temperatura e pressão durante o processo metamórfico que ficam registradas nas
assembleias minerais. Entretanto, as assembleias minerais presentes nas rochas nem
sempre correspondem às paragêneses minerais, em equilíbrio, pois, frequentemente, as
lentas reações metamórficas são interrompidas ou não chegaram a se completar. Os
estudos experimentais fornecem informações sobre as condições termodinâmicas das
reações metamórficas e cristalização das paragêneses minerais metamórficas, o que
permite prever se as reações que deram origem às assembleias minerais reconhecidas
nas rochas metamórficas alcançaram o equilíbrio ou não.
A intensidade do metamorfismo é referida como que depende
basicamente da temperatura. Três graus metamórficos são, normalmente, reconhecidos:
baixo, médio e alto grau metamórfico (Fig. 4.203 a). Em cada um dos três tipos de graus
metamórficos, a pressão pode variar de baixa a alta, sendo que no baixo grau, a pressão
máxima situa-se em torno de 6 Kb. No limiar entre as condições diagenéticas e
metamórficas, alguns autores se referem ainda ao grau metamórfico incipiente. A
variação contínua do grau metamórfico pode ser constatada pela sequência de
determinados minerais, denominados por G. Barrow de minerais índices, cuja sequência
típica em rochas pelíticas, de grau baixo para grau alto (sequência Barrowiana) é: clorita,
biotita, granada, estaurolita, cianita e sillimanita (Fig. 4.203 b). Denomina-se de
um mineral índice, a linha definida pelos locais do primeiro aparecimento do mineral no
terreno. As isógradas dos minerais índices separam faixas mais ou menos paralelas,
denominadas , identificadas pelo mineral da isógrada anterior. O
mapa geológico esquemático das Terras Altas (Highlands), na Escócia oriental (Fig.
4.203 b), mostra uma sequência Barrowiana, com seis zonas metamórficas definidas
pelas suas respectivas isógradas. A zona da clorita (verde) inicia-se na isógrada da
clorita (não identificada na figura 4.203 b) e termina na isógrada da biotita (Bt), a partir
da qual inicia a zona da biotita (azul turquesa) que termina na isógrada da granada (Grt),
e assim por diante, até a zona da sillimanita (cinza). É importante destacar que, ao iniciar
uma zona metamórfica, o mineral índice da zona anterior não necessariamente
desaparece, como, por exemplo, a biotita que persiste nas zonas da granada, estaurolita,
cianita e até na zona da sillimanita.
a b

Figura 4.203- Diagrama P-T, mostrando os três Clorita ( não indicada)


graus metamórficos, baixo, médio e alto grau Biotita
(a). Sequência barrowiana, nas Terras Altas da Granada Sedimentos mais jovens
Escócia oriental, com seis zonas metamórficas, Estaurolita Zona de falha
definidas pelas suas respectivas isógradas Cianita (Highland Boundary)
minerais (b). Granito
Sillimanita
Em 1920, o petrólogo finlandês P. Eskola estabeleceu o conceito de
, com base no princípio de que as variações do grau metamórfico são
definidas por assembleias minerais características, essencialmente em função da
temperatura e pressão (PLit = PH2O). De acordo com esse princípio, rochas de mesma

192
composição, situadas em regiões diferentes, mas metamorfisadas sob condições
semelhantes de temperatura e pressão, deverão ser constituídas por paragêneses
minerais semelhantes, denominadas por Eskola de fácies metamórficas. As principais
fácies metamórficas em diagrama P-T são mostradas na figura 4.204, incluindo as fácies
do metamorfismo regional e aquelas do metamorfismo de contato (hornfelses). O
metamorfismo regional inclui 6 fácies, 4 de baixa a média pressão (grau incipiente, xisto
verde, anfibolito e granulito) e 2 de pressão média a alta (xisto azul e eclogito), enquanto
que o metamorfismo de contato compreende apenas duas fácies (hornblenda hornfels e
piroxênio hornfels).
corresponde às primeiras assembleias do
metamorfismo regional, incluindo duas fácies, a da zeólita e da prehnita - pumpellyita (Fig.
4.204), formadas pelo metamorfismo de rochas vulcânicas e sedimentares (basaltos e
grauvacas). A fácies da zeólita se forma a poucos quilômetros de profundidade. É
dominada por minerais do grupo das zeólitas que ocorrem normalmente associados com
clorita, quartzo, albita e carbonatos. Com aumento do grau metamórfico, a zeólita
desaparece e formam-se outros dois silicatos: prehnita (filossilicato) Ca2Al2Si3O10(OH)2
e pumpellyita (sorossilcato) Ca2(Mg,Fe+2)Al2Si3O11(OH)2.H2O que se formam em
condições de pressões mais altas.
Linha inferior do campo metamórfico
Curva de fusão mínima para granitos
(Ptot = PH2O)
zeólita, prehnita-pumpellyta,
xisto verde, anfibolito,
granulito, xisto azul,
eclogito, hornblenda hornfels,
piroxênio hornfels.

Figura 4.204- Diagrama P -T mostrando as


principais fácies metamórficas.

é uma fácies de baixo grau metamórfico e baixa a média pressão


(Fig. 4.204) que ocorre em cadeias de montanhas dobradas, áreas cratônicas pré-
cambrianas e no assoalho oceânico. As assembleias mineralógicas são constituídas por:
albita, epidoto, clorita, mica branca (fengita, muscovita) e anfibólio (actinolita) que, com
exceção da albita e mica branca, são minerais verdes. A transição para a fácies de grau
incipiente é caracterizada pela presença do epidoto em lugar da pumpellyita.
é uma fácies de grau metamórfico baixo e alta pressão (Fig. 4.204) que
ocorre em zonas de subducção jovens, como o Japão e Nova Caledônia. As assembleias
mineralógicas são caracterizadas pela presença de minerais de alta pressão azulados,
como a glaucofana (anfibólio alcalino) Na2(Mg,Fe+2)3Al2Si8O22(OH)2, lawsonita
CaAl2Si2O7(OH)2.H2O e aegirina-augita (piroxênio alcalino) (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)Si 2O6,
associados com minerais da fácies xisto verde, como clorita e albita. A transição para a
fácies xisto verde é caracterizada pela presença de glaucofana em lugar da actinolita.
é uma fácies de grau metamórfico médio e pressão baixa a média (Fig.
4.204). Em rochas básicas, a paragênese mineralógica é constituída por anfibólio
(hornblenda) e plagioclásio (An 20), típica dos anfibolitos. Em rochas pelíticas ocorrem
muscovita, biotita e granada (almandina), além de cianita e estaurolita em condições
metamórficas intermediárias da fácies. Em condições metamórficas mais intensas da
fácies anfibolito, a muscovita, em presença de quartzo, se desestabiliza, formando K-
feldspato e sillimanita. A transição para a fácies xisto verde é caracterizada pela
presença de hornblenda em lugar da actinolita e Ca-plagioclásio em lugar da albita.

193
é uma fácies de grau metamórfico alto e pressão média a baixa (Fig.
4.204) que ocorre em regiões cratônicas. Biotita e hornblenda desaparecem
paulatinamente para dar lugar, no limite inferior da fácies granulito, ao piroxênio
ortorrômbico (ortopiroxênio), em rochas metabásicas e metapelíticas, e a olivina em
mármores magnesianos silicosos. Calcita e quartzo reagem formando wollastonita
CaSiO3.
é uma fácies de grau metamórfico alto e pressão muito alta ( 12 Kb) que
ocorre possivelmente em placas oceânicas transportadas para o manto em zonas de
subducção (Fig. 4.204). É caracterizada por rochas granoblásticas (sem orientação),
constituídas pela paragênese granada (almandina ou piropo) + piroxênio alcalino,
onfacita (Ca,Na)(Mg,Fe,Al)Si 2O6 + coesita (sílica de alta pressão)  córindon.
ocorre nas zonas internas, de temperaturas mais elevadas,
em auréolas de metamorfismo de contato, próximas ao corpo magmático (Fig. 4.204). É
constituída pelas paragêneses ortopiroxênio + cordierita + K-feldspato + plagioclásio +
quartzo (em rochas metapelíticas), ou ortopiroxênio + clinopiroxênio (piroxênio
monoclínico) + plagioclásio + quartzo (em rochas metabásicas).
ocorre nas zonas externas, de temperaturas mais baixas,
em auréolas de metamorfismo de contato, em condições de baixa pressão (Fig. 4.204).
É constituída pelas paragêneses hornblenda + plagioclásio (em rochas metamáficas), e
cordierita + andalusita + granada (em rochas metapelíticas).
Texturas e estruturas de rochas metamórficas
As texturas das rochas metamórficas desenvolvem-se por nucleação e
crescimento mineral no estado sólido, mecanismo denominado de . Por esta
razão as denominações das texturas metamórficas sempre incluem o sufixo blasto ou
blástico. Texturas granulares isotrópicas são denominadas , com contatos
retilíneos entre os grãos, formando junções tríplices, com ângulo em torno de 120 entre
si (Fig. 4.205 a). Rochas com predomínio de minerais micáceos apresentam
(Fig. 4.205 b) e rochas com predomínio de minerais prismáticos exibem
(Fig. 4.205 c). Minerais que se destacam pelo seu tamanho, por
pelo menos uma ordem de grandeza, em reação aos outros minerais da rocha são
denominados de e a textura porfiroblástica (Fig. 4.205 d).
a b

c
d

Figura 4.205- Texturas metamórficas: textura granoblástica em quartzito (a). Textura


lepidoblástica em micaxisto (b). Textura nematoblástica em anfibolito (c). Porfiroblastos de
granada em matriz lepidoblástica de um xisto (d).
194
A deformação das rochas metamórficas está relacionada principalmente aos
efeitos da atuação da pressão dirigida, refletindo diretamente nas estruturas
metamórficas. Rochas geradas sem atuação da pressão dirigida, normalmente não são
afetadas por deformação significativa e exibem textura maciça, como os quartzitos e
granulito, ou preservam vestígios das estruturas primárias de seus protolitos. Por outro
lado, quando as paragêneses metamórficas são formadas durante a atuação da pressão
dirigida, as rochas adquirem estruturas orientadas, na forma de foliações de diversos
tipos, definidas pela orientação de minerais placosos (mica, clorita, talco) que se alinham
perpendicularmente à direção da compressão principal que afeta a rocha. Os minerais
prismáticos, como os anfibólios, tendem também a se alinhar paralelamente ao plano da
foliação que pode cortar a estrutura primária ou ser paralelo a ela. São três tipos
principais de foliação: clivagem ardosiana, xistosidade e bandamento, definidos
principalmente pela granulação dos minerais metamórficos, espessura da foliação e grau
metamórfico.
A clivagem ardosiana é uma foliação pouco definida por uma fina laminação em
rochas de grau metamórfico incipiente (ardósias), formadas na transição entre a
diagênese sedimentar e o regime metamórfico de rochas pelíticas (Fig. 4.206 a, 4.207 e
4.208 a). Os filitos são de baixo grau metamórfico, levemente mais alto que as ardósias,
mas suas características físicas, inclusive a foliação, e origem, são similares às ardósias
(Fig. 4. 207). O aumento do grau metamórfico provoca aumento no tamanho dos cristais
e na espessura da foliação. A xistosidade é uma foliação mais espessa e definida que a
clivagem ardosiana, característica de grau metamórfico médio, como nas diversas
variedades de xisto (Fig. 4.206 b, 4.207, 4.208 b). O bandamento é uma foliação
constituídas por bandas centimétricas de minerais diferentes, formadas em rochas de
médio a alto grau metamórfico, como os gnaisses (Fig. 4.207 e 4.208 c, d).

Figura 4.206- Formação da clivagem ardosiana em rochas metamórficas finas de baixo grau
(a). Fotomicrografia de textura lepidoblástica em xisto (b).
195
Grau incipiente Grau baixo Grau médio Grau alto

Figura 4.207- Classificação das rochas metamórficas foliadas de acordo com a espessura da
foliação e grau metamórfico.
O aumento extremo do grau metamórfico pode provocar início de fusão parcial da
rocha, ultrapassando o limite do campo metamórfico em direção ao magmatismo.
Rochas formadas no início da fusão são denominadas migmatitos, caracterizados por
uma estrutura bandada constituída por bandas claras, formadas por mobilizados
magmáticos quartzo-feldspáticos, denominados neossoma, e bandas mais escuras
formadas por material que resistiu à fusão, denominadas paleossoma (Fig. 4.207 e
4.208). Os migmatitos, portanto, são rochas híbridas, com porções metamórficas e
porções magmáticas.

a b

c d

Figura 4.208- Principais tipos de foliação das rochas metamórficas: clivagem ardosiana em
ardósia (a), xistosidade em mica xisto (b), bandamento em gnaisse (c) e em migmatito (d).

196
Nomenclatura das rochas metamórficas
O critério de nomenclatura mais adotado para as rochas metamórficas é
essencialmente petrográfico, com base na composição mineralógica e nas estruturas
metamórficas. Por meio desse critério foi definido os principais nomes das rochas
metamórficas as quais, majoritariamente, são constituídas por diversos minerais
(poliminerálicas), como ardósia, filito, xisto, anfibolito e gnaisse. Entretanto, existem
algumas rochas metamórficas monominerálicas, como quartzitos, mármores e talco
xistos. Tais nomes são utilizados como nome raiz que podem ser complementados com
informações adicionais, como presença de minerais diagnósticos ou feições texturais
específicas. Ao nome raiz podem ser adicionados os nomes dos minerais mais
importantes da rocha (acima de 5 % em volume) em ordem crescente de abundância,
antes do nome raiz, separados por hífen, exceto o último nome (mais abundante) que
precede o nome raiz. Minerais menos abundantes que deseja-se destacar podem ser
acrescentados após o nome raiz precedidos da palavra “com”. Por exemplo: granada-
biotita-quartzo-muscovita xisto porfiroblástico com estaurolita, é um mica xisto, cujo
mineral mais abundante é a muscovita, seguida pelo quartzo, biotita, granada e
estaurolita, este último, um mineral subordinado ( 5 %) que foi destacado porque indica
condições de fácies anfibolito. Quando a rocha, afetada por um metamorfismo de baixo
grau, exibe feições herdadas de seus protolitos, pode-se usar o prefixo “meta” antes do
nome do protolito, como metabasalto, metagrauvaca, ou metapelítica, metabásica,
quando se deseja realçar a natureza do protolito.

Ardósia, filito, xisto e gnaisse podem se formar, nessa ordem, a partir do


metamorfismo progressivo de uma rocha sedimentar pelítica, como o folhelho. é
uma rocha metassedimentar de grau metamórfico incipiente, granulação muito fina
(indistinta a olho nu), constituída principalmente por muscovita, clorita e quartzo. Uma
fina laminação (clivagem ardosiana) pode ser paralela ou transversal à estratificação
sedimentar, normalmente preservada. Com o aumento do grau metamórfico as ardósias
transformam-se em , constituídos também por muscovita, clorita e quartzo, porém
em cristais pouco mais desenvolvidos que formam uma foliação pervasivas pouco mais
espessa que confere à rocha um aspecto sedoso.
é a rocha que pode se forma a partir de um filito, com o aumento do grau
metamórfico. É constituído por muscovita, clorita e/ou biotita, além de andalusita,
granada, estaurolita, cianita, sillimanita ou cordierita, em grau metamórfico mais forte.
Xistos de origem sedimentar, pelítica ou psamo-pelítica, são normalmente micáceos
(micaxistos). Existem também xistos de origem ígnea, básica ou ultrabásica,
caracterizados pela presença de clorita, actinolita, epidoto e albita (derivados de rochas
básicas), ou de talco e serpentina (derivados de rochas ultrabásicas). é uma
rocha de médio a alto grau metamórfico, constituída essencialmente por feldspato e
quartzo e com uma foliação espessa (bandamento). Gnaisses derivados de rochas
sedimentares são denominados paragnaisses. Podem ser derivados pelo metamorfismo
progressivo de micaxistos, formando paragnaisses ricos em quartzo, podendo conter
granada, cordierita, cianita ou sillimanita. Paragnaisses podem ser gerados também a
partir de arcósios (arenitos feldspáticos) ou grauvacas (arenitos ricos em argilominerais).
Gnaisses derivados de rochas magmáticas são denominados ortognaisses,
normalmente sem minerais aluminosos, como granada e polimorfos Al 2SO5 (andalusita,
cianita e sillimanita).
Anfibolito é uma rocha maciça ou foliada, de grau metamórfico médio, formada
normalmente pelo metamorfismo de rochas ígneas básicas, como basaltos ou gabros
(ortoanfibolitos). Existem também para-anfibolitos, de ocorrência mais restrita, formados
pelo metamorfismo de margas (rochas sedimentares carbonáticas argilosas). Em ambos

197
os casos, são constituídas principalmente por anfibólio verde (actinolita e/ou hornblenda)
e plagioclásio, além de granada, quartzo, biotita ou epidoto.

é uma rocha formada pelo metamorfismo de ortoarenitos. Como nos


ortoarenitos só existe quartzo, o metamorfismo dessa rocha sedimentar, resulta apenas
na recristalização do quartzo, uma mudança textural, sem mudança mineralógica e
química. O metamorfismo das outras variedades de arenitos (arcósio e grauvaca), que
contêm outros minerais, além do quartzo, resulta em rochas metamórficas
poliminerálicas. é uma rocha formada pelo metamorfismo de calcários. Se o
calcário é constituído somente por carbonato de cálcio (calcita e/ou aragonita), o que é
raro, o mármore será constituído somente por calcita, formada pela recristalização dos
carbonatos de cálcio sedimentares. Por outro lado, se o calcário conter outro minerais,
além dos carbonatos de cálcio, como dolomita e quartzo, outros minerais metamórficos,
além da calcita, se formarão, como tremolita (anfibólio), diopsídio (piroxênio), olivina,
wollastonita e talco. Metamorfismo de baixo grau em rochas magmáticas ultrabásicas,
como os peridotitos, resulta na formação de talco xisto e serpentinito. é
constituído principalmente por talco Mg 3(Si4O10)(OH)2 , além de clorita, muscovita e
quartzo. Metamorfismo de marga dolomítica também pode formar talco xisto. Rocha
metamórfica rica em talco também pode ser maciça (sem xistosidade), denominada
esteatito. é uma rocha metamórfica constituída principalmente por minerais
do grupo das serpentinas (Mg,Fe+2)3(Si2O5)(OH)4 , além de olivina, magnetita e talco que
podem ocorrer como minerais acessórios.

Rochas formadas por metamorfismo dinâmico, sob a ação somente da pressão


dirigida em zonas de falha ou cisalhamento. Podem ser incluídas em dois grupos: com
estrutura não orientada e com estrutura orientada. No primeiro grupo incluem-se as
brechas de falha (não coesas) e os cataclasitos (coesos), formados por deformação rúptil
em metamorfismo dinâmico raso ( 10 Km), e o segundo grupo engloba os milonitos
(coesos e foliados), formados por deformação dúctil em metamorfismo dinâmico
profundo ( 10 Km), conforme a tabela 4.19.

Não coesa 0 - 10 % 5 mm 1 - 4 Km
Proto
cataclasito 10 - 50 %
Não 5 mm
Cataclasito 50 - 90 % Rúptil 4 - 10 Km
(coesa) orientada 0,2 mm
Ultra
cataclasito 90 %
Proto
milonito 10-50 %
Milonito 50 - 90 % Orientada 0,2 mm Dúctil 10 Km
(coesa)
Ultra
milonito 90 %

Tabela 4.19- Classificação das rochas cataclásticas, formadas por metamorfismo dinâmico:
brechas, cataclasitos e milonitos.

198
Metamorfismo e tectônica de placas
Os processos metamórficos ocorrem tipicamente em ambientes de convergência
de placas, tanto em zonas de subducção oceano-continente, como em colisões
continentais. Nessas zonas de convergência de placas observa-se que rochas
metamorfisadas em profundidade foram trazidas para a superfície. Para entender essa
dinâmica é necessário compreender a que pode registrar
muitos fatores importantes que influenciam o metamorfismo, como as fontes de calor que
provocam mudanças de temperatura e as taxas de transporte tectônico que provocam
mudanças de pressão. Uma trajetória P-T é normalmente obtida analisando-se minerais
metamórficos específicos em laboratório, dos quais o mais utilizado é a granada. Durante
o metamorfismo as granadas crescem uniformemente, mudando sua composição
conforme as mudanças de temperatura e pressão, registrando essas mudanças como
um gravador (Fig. 4. 209). Desse modo, as variações composicionais entre o núcleo da
granada (parte mais antiga) e sua borda externa (porção mais jovem) reflete a história
evolutiva das condições do metamorfismo, onde destacam-se dois segmentos: o
progressivo, com aumento de T e P, e o retrogressivo, com diminuição de T e P. A
trajetória retrogressiva é normalmente indicada por uma paragênese tardia de menor T
superimposta na rocha.

Figura 4.209- Trajetória P-T do metamorfismo registrada em cristais de granada: trajetória


progressiva, com aumento de T e P começa no núcleo da granada (1) e termina na sua borda
(2). A trajetória retrogressiva é indicada por mudanças composicionais superimpostas na
granada, compatíveis com diminuição de T e P.

Em zonas de subducção, o gradiente geotérmico é maior nos arcos magmáticos


que na placa oceânica em subducção, normalmente antiga e fria. As isotermas
acompanham a geometria da placa oceânica descendente e da cunha mantélica sob a
placa continental (Fig. 4.210). Na região da fossa, as isotermas acompanham o plano de
subducção até uma determinada profundidade e retornam seguindo o mesmo plano, com
uma geometria em forma de ponta de lápis.
199
Figura 4.210- Padrão das isotermas em geometria ponta de lápis e os regimes metamórficos
em uma zona de covergência de placas oceano - continente (subducção).
Em zonas de subducção, à medida que a placa oceânica é subductada a fossa é
preenchida com sedimentos erodidos do continente ou do arco de ilhas que depositam
sobre os sedimentos marinhos que são metamorfisados e deformados pela tectônica
convergente, juntamente com as rochas basálticas oceânicas, formando as melanges.
Essas sequências complexas de rochas (sedimentares e vulcânicas) normalmente são
metamorfisadas em regime de alta pressão (baixo gradiente geotérmico e alta P), porque
as melanges podem ser transportadas rapidamente para profundidades de até 30 Km,
onde a recristalização ocorre em ambiente de subducção de uma placa oceânica ainda
fria (Fig. 4.211 a). As rochas que se formam nesse regime metamórfico (alta P) são os
xistos azuis, formados entre o arco magmático e a fossa, durante a trajetória progressiva.
A trajetória retrogressiva desse regime de alta pressão ocorre quando a sequência
metamorfisada eleva-se de volta em direção à superfície. Esse processo de exumação
ocorre devido a menor densidade das rochas subductadas para o manto, o qual é
constituído por rochas de maior densidade. Ou seja, as rochas são puxadas para baixo
pela força da subducção, até uma determinada profundidade, após o que, retornam em
direção à superfície pela força do empuxo, para alcançar o equilíbrio isostático. Este
processo é comparável a uma bola de futebol cheia de ar empurrada para dentro da
água de uma piscina, cuja densidade é menor que a densidade da água. Para empurrar
a bola para baixo dentro da água, a força aplicada tem que ser maior que o empuxo que
tende a puxar a bola para cima. Quando ocorre o relaxamento da força que empurrou a
bola para dentro da água, ela tende a voltar à superfície pela força do empuxo.
Entretanto, o regime de alta pressão só ocorrerá se a velocidade de subducção for
suficientemente rápida, caso contrário o regime poderá ser normal, começando com
baixa T e baixa P e terminando com alta T e alta P. Por outro lado, os arcos magmáticos
são metamorfisados, normalmente, em regime de baixa pressão (alto gradiente
geotérmico e baixa P).
Em zonas de colisão continental, uma larga faixa de rochas metamórficas
intensamente deformadas se forma na zona de colisão durante a orogênese. No limite
200
da colisão entre os dois blocos continentais, denominada sutura, ocorre espessamento
crustal e formação de uma cadeia de montanha, como as do Himalaia, em que ambos
os continentes podem resistir à subducção e permanecer à tona. À medida que a colisão
progride e a litosfera é espessada, as partes mais profundas da crosta continental é
metamorfisada, chegando a fundir-se, formando uma mistura complexa de rochas
metamórficas e magmáticas no núcleo dos cinturões orogênicos que se desenvolvem
durante a formação das cadeias de montanhas, adjacentes à sutura.

a b

Figura 4.211- Trajetória P-T e sequência de rochas associadas em regime de subducção, com
menor grau geotérmico (a) e em regime de colisão continental, com maior grau geotérmico (b).

A trajetória P-T das rochas metamórficas formadas em regime de colisão


continental é diferente daquelas em regime de subducção. O regime de colisão inicia-se
no mesmo ponto da trajetória do regime de subducção, mas as temperaturas no regime
colisional aumentam mais rapidamente com a profundidade (maior grau geotérmico), ou
seja, a colisão desenvolve-se em um regime normal de baixa T e P no início e alta T e P
no final (Fig. 211 b), como nas províncias de bacias e cadeias de montanhas, com crosta
estendida (bases and ranges provinces). O segmento progressivo de uma trajetória P-T
colisional corresponde ao soterramento das rochas formadas sob as altas montanhas
durante a orogênese. Por outro lado, a trajetória retrogressiva corresponde à exumação
e soerguimento das rochas soterradas durante o colapso das montanhas, ou por erosão
ou por estiramento e adelgaçamento da crosta continental após a colisão, ou ainda pela
combinação dos dois processos.
A colisão continental é a fase final do ciclo de Wilson, o qual inicia-se com
rifteamento da crosta continental, formação de um oceano, com margens passivas, que
se expande pela força distensiva e depois começa a se fechar quando um regime de
subducção se instala em uma das margens do oceano que passa a ter margem ativa até
201
seu fechamento com a colisão dos dois blocos continentais. Portanto todo regime
colisional foi precedido por um regime de subducção oceano-continente (Fig. 4.212).

Argilas

Basalto

Folhelho

Filito

Xisto verde

Micaxisto
c/granada
13 Km

Xisto azul

Gnaisse

400 C
20Km
Eclogito

Migmatito

202
b
al
e nt tal
n tin i n en
co v a nt
e m ssi co a
rg p a em a tiv
Ma a rg
M

(subducção oceano-continente)
Menor grau geotérmico
(regime de alta P)

(formação de cadeia de montanha)


Maior grau geotérmico
(regime de alta P e alta T)

Figura 4.212- Evolução do metamorfismo regional em regime de placas tectônicas


convergentes: Zonas de subducção oceano-continente (a) e colisão continental (b).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Winkler. H.G.F. 1979. Petrogenesis of metamorphic rocks, 5th Edition. New York,
Springer-Verlag Inc, 348p.

ATIVIDADES

1- O reino mineral é constituído pelos minerais e mineraloides. A faz parte do reino


mineral? Em qual das duas categorias? Justifique a resposta.

2- Como é possível identificar macroscopicamente o mineral ? Além do Pb e S,


que outros elementos químicos podem ser esperados na estrutura deste mineral?
Como esses elementos entram na estrutura da galena?

3- Quantas podem ser identificadas no cristal da figura abaixo? Que sistema e


classe cristalina pertence o cristal? Posicione no cristal os elementos de simetria
principais (simetria característica do sistema cristalino).

204
4- O ea são dois minerais covalentes com dureza muito baixa por
causa da presença da ligação de van der Walls. Porque os dois minerais possuem
pontos de fusão muito diferentes? O enxofre funde a 115,2 C e a grafita a 3650C.

5- Porque não podemos dizer que o SiO2 é um óxido de silício? Sabendo-se que
a valência do Si é +4 e sua coordenação em relação ao oxigênio também é 4
(NCSi = 4), classifique este mineral de acordo com a classificação química dos
minerais, com base no conceito de valência eletrostática (Ve).

6- Calcular as porcentagens QAP a partir das análises modais das três amostras de
rochas magmáticas plutônicas da tabela abaixo. Plotar as porcentagens QAP no
diagrama Streckeisen abaixo, classificar e denominar as rochas das 3 amostras,
sabendo-se que o plagioclásio da amostra 3 é um oligoclasio Ab80An20.
Moda 1 2 3 QAP 1 2 3
Quartzo 36,0 22,0 12,75
K-feldspato 22,5 4,4 17,0
Plagioclásio 31,5 61,6 55,25
Máficos 8,7 11,3 14,0 − − − −
Total 98,7 99,3 99,0 Total 100 100 100

7- Um magma cristalizou uma rocha com textura porfirítica (abaixo) durante sua
ascensão em direção à superfície. A cristalização iniciou em profundidade e terminou
próximo da superfície. Como você estabeleceria a ordem cronológica e compararia as
profundidades de cristalização dos cristais porfiríticos e da matriz fina da rocha? Quem
cristalizou primeiro, em profundidade, e quem cristalizou posteriormente? Justifique a
resposta.

205
8- Como o intemperismo químico das rochas continentais pode afetar o clima da Terra,
em termos de aquecimento e resfriamento?

9- Em uma sequência evaporítica, em que posição estratigráfica você esperaria


encontrar sais de potássio, na base ou no topo da sequência? Porque? Em duas
sequências evaporíticas, uma com e outra sem sais de potássio, que considerações
você poderia fazer sobre os ambientes sedimentares e o clima em que as duas
sequências se formaram?

10- Como podem ser diferenciados os processos de formação de sequências


metamórficas formadas em regime de subducção e de colisão continental? Que
minerais podem ser utilizados para distinguir as duas sequências?

206
4.3.5- DEFORMAÇÃO DAS ROCHAS
Introdução
Na unidade 3 deste documento (tectônica de placas) foi mostrado a dinâmica da
litosfera de nosso planeta, com movimentos tectônicos dos continentes, formação de
oceanos e cadeias de montanhas, associados com metamorfismo e deformação das
rochas. Geologia estrutural é a parte das geociências que estuda a deformação das
rochas e as estruturas decorrentes dessas deformações que ocorrem desde a escala
microscópica, em cristais componentes das rochas, até a escala macroscópica dos
blocos continentais. O estudo das estruturas geológicas é de grande importância nas
ciências da Terra, pois evidencia o estado dinâmico da litosfera e da crosta terrestre,
onde vivemos. As estruturas geológicas têm grande importância prática também, no
armazenamento de hidrocarbonetos (petróleo e gás), água e minérios, e em obras de
engenharia civil como barragens, pontes, túneis e estradas.
As feições de deformação mais comuns nas rochas da crosta terrestre são
dobramentos e falhamentos. Dobras se formam por deformação sem rompimento (Fig.
4.213a), mas frequentemente as dobradas são apenas parcialmente expostas como uma
camada inclinada (Fig. 4.213b). Por outro lado, falhas se formam quando ocorre
rompimento das rochas (Fig. 4.213c), normalmente acompanhado por terremotos. A
atitude ou orientação de uma camada é um dado importante para reconstituir a história
da deformação das rochas. A atitude das camadas é definida por duas medidas obtidas
no campo por meio de uma bússola de geólogo: direção (strike) e mergulho (dip). A
direção é definida pela orientação geográfica da linha de intersecção da camada com
uma superfície horizontal (medida na bússola em graus), enquanto que o mergulho é a
inclinação da camada, medido na direção perpendicular à sua direção (Fig. 4.214).
a b

c
Figura 4.213- camada de rocha dobrada (a).
Camadas inclinadas de calcáreo e folhelho,
Somerset, Inglaterra (b). As crianças estão
andando ao longo da direção das camadas. Falha
mostrando o deslocamento das camadas, Monte
Carmel, Utah, EUA (c).

Mapas geológicos são instrumentos importantes para elucidar a evolução dos


processos deformacionais que afetaram as rochas de uma região. Nos mapas são
registados os tipos de rochas, localização de afloramentos e atitudes das camadas
rochosas, como aparecem na superfície (em planta). A terceira dimensão, com dados de
profundidade, é observada nas seções geológicas transversais que mostram as feições
que seriam visíveis se um corte vertical fosse feito na região mapeada, reconstituídas
pelas atitudes das camadas, estruturas geológicas mapeadas e afloramentos de
penhascos (face vertical) e cortes de estradas (Fig. 4.215).
207
N
Figura 4.214- Atitude de uma camada. Direção: 30 NE (N30E), Mergulho: 45 para NW
(45 NW).

Antes de abordar os principais tipos de estruturas geológicas, serão considerados


os fundamentos dos processos mecânicos da deformação e das forças que a provocam.
Forças e mecanismos de deformação
A dinâmica da litosfera impõe forças de tensão vetoriais (stress) aos maciços
rochosos, provocando movimentos de massa e deformação (strain) nesses maciços. As
tensões compressivas são positivas e as tensões negativas são negativas.
compressão (tensão positiva) extensão ou distensão (tensão negativa)
Uma força vertical F (tensão) atuando sobre um plano inclinado P, fazendo um
ângulo  com a horizontal, pode ser descomposta em duas componentes, uma
perpendicular ao plano inclinado, denominada componente normal (F N) e outra paralela
ao plano inclinado, denominada componente cisalhante (F S) e, portanto, F = FN + FS. O
ângulo  que o plano P faz com a horizontal será igual ao ângulo que a força vertical F
faz com a sua componente normal (F N) porque as duas linhas que definem o ângulo
entre a força F e sua componente norma F N são perpendiculares às duas linhas que
definem o ângulo entre o plano P e a horizontal. Desse modo, a componente normal
(FN) será igual ao produto da força F pelo cosseno de  (FN = Fcos) e a componente
cisalhante (FS) será igual ao produto da força F pelo seno de  (FN = Fsen), conforme
a figura 4.215.

Figura 4.215- Força (tensão F) vertical atuando sobre um plano


inclinado P, fazendo um ângulo  com a horizontal, decomposta
nas componentes normal (FN) e cisalhante (FS). F = FN + FS.
FN = Fcos FS = Fsen

Quando uma força vetorial (pressão dirigida) atua sobre uma superfície, o seu
efeito em relação à área da superfície denomina-se esforço (), medido pela razão entre
a força e a área (A) sobre a qual a força é aplicada ( = F/A), cuja magnitude será
inversamente proporcional à área (quanto maior a área menor o esforço e vice-versa).

208
Um corpo rochoso submetido a tensões e esforços mecânicos pode sofrer as
seguintes modificações ou deformações em relação a situação inicial: Rotação, em
que o corpo rochoso é rotacionado (mudança de atitude), Fig. 4.216 a; Translação, em
que o corpo rochoso é deslocado (mudança de posição), Fig. 4. 216 b; Dilatação, em
que o corpo rochoso muda de volume (Fig. 4. 216 c), podendo aumentar (dilatação
positiva) ou diminuir de volume (dilatação negativa ou contração), Distorção, em que
o corpo rochoso muda de forma (Fig. 4. 216 d). Um corpo rochoso sob a ação de um
esforço distensivo tende a sofrer dilatação positiva (aumento de volume), enquanto que
sob a ação de um esforço compressivo tende a sofrer dilatação negativa ou contração
(diminuição de volume).

a c
b

Figura 4.216- Tipos de deformação: mudança de atitude ou


rotação (a), mudança de posição ou translação (b), mudança de
volume ou dilatação (c) e mudança de forma ou distorção (d).

As forças vetoriais tectônicas (pressão dirigida) que deformam as rochas podem


ser de três tipos principais (Fig. 4.217): forças compressivas colineares (tensões
positivas) que comprimem e encurtam um corpo rochoso (dilatação negativa); forças
extensionais colineares (tensões negativas) que alongam um corpo rochoso (dilatação
positiva) e tendem a segmenta-lo; Forças de cisalhamento que são tensões não
colineares, formando um binário, que empurram cada lado de um corpo rochoso em
direções opostas, causando deformação por rotação. Esses três tipos de forças
tectônicas atuam nos três tipos de limites de placas litosféricas: forças compressivas
predominam em limites de placas convergentes, onde as placas se movimentam uma
contra a outra; forças extensionais predominam em limites de placas divergentes, onde
as placas se afastam uma da outra; e forças de cisalhamento que atuam em limites de
placas conservativos ou transformantes, onde as placas deslizam horizontalmente uma
em relação à outra. Existe ainda situações intermediárias de participação da uma
componente cisalhante (movimentação horizontal) associada tanto com esforços
compressivos como distensivos.
Em função da pressão litostática (PLit)/profundidade na crosta e temperatura, os
processos de deformação podem ser divididos em dois domínios principais (Fig. 4.218):
Rúptil ou frágil, com predominância de deformações com rompimento, em ambiente
raso ( 15 Km), e Dúctil ou plástico, com predominância de deformações plásticas
(sem rompimento), em ambiente profundo ( 15 Km). Um terceiro domínio mais restrito

209
ocorre entre a crosta superior e inferior e entre os regimes rúptil e dúctil, em que ocorrem
deformações elásticas (sem rompimento) que retornam à situação inicial quando cessa
o esforço que a provocou, ao contrário das deformações plásticas que, uma vez
ocorridas, são irreversíveis (Fig. 4.219). Entretanto, o comportamento da deformação
não depende somente da profundidade, depende também dos tipos de materiais que
compõem as rochas. Existem rochas naturalmente mais frágeis, como as rochas ígneas
e metamórficas e rochas mais dúcteis como as rochas sedimentares pelíticas (siltitos e
argilitos) que comportam-se plasticamente mesmo em profundidades rasas.

a b c

Figura 4.217- Tipos de forças tectônicas: compressivas (a), extensivas (b) e cisalhamento (c).

Em regiões de alto gradiente


geotérmico (linha AGT-BP, na figura
4.218), o regime dúctil inicia em menor
profundidade, com menor pressão
litostática. Por outro lado, em regiões de
baixo gradiente geotérmico (linha BGT-
AP, na figura 4.218), o regime dúctil inicia
em maior profundidade, com maior
pressão litostática.

Figura 4.218- Domínios de deformação em


função da pressão litostática (profundidade)
e temperatura. AGT (BP): alto gradiente
geotérmico (regime de baixa pressão). BGT
(AP): baixo gradiente geotérmico (regime de
alta pressão).

Figura 4.219- Modelo


sandwich dos domínios de
deformação rúptil, dúctil e
elástico na litosfera.

210
As feições estruturais que se formam em regime dúctil são: dobramentos
produzidos por forças de compressão (Fig. 4.220 a), estiramentos causados por forças
de extensão (Fig. 4.220 b), e deformações com rotação produzidas por cisalhamento
(Fig. 4.220 c). As rochas que se formam por metamorfismo dinâmico em regime dúctil
são os milonitos. Em regime rúptil, as principais feições estruturais são falhas reversas
ou de cavalgamento produzidos por compressão (Fig. 4. 221 a), falhas normais causadas
por forças de extensão (Fig. 4. 221 b) e falhas transcorrentes, com movimentação
horizontal, causadas por cisalhamento (Fig. 4. 221 c). As rochas que se formam em
regime rúptil são cataclasitos e brechas. Na região de transição rúptil-dúctil pode ocorrer
ainda rochas com associações de feições estruturais rúpteis (fraturas e falhas) e dúcteis
(dobras e estiramentos), podendo predominar feições rúpteis ou dúcteis.

a b c

Figura 4.220- Feições estruturais em regime dúctil: dobras produzidas por compressão (a),
estiramentos causados por extensão (b) e deformações com rotação provocadas por
cisalhamento (c).

a b c

Figura 4.221- Feições estruturais em regime rúptil: falhamentos de cavalgamento produzidos


por compressão (a), falhas normais provocadas por extensão (b) e transcorrentes causadas por
cisalhamento (c).

Feições de deformação rúpteis


As principais feições de deformação rúpteis são as juntas e falhas. As juntas ou
fraturas são fissuras em rochas frágeis, sem deslocamento dos blocos fraturados,
provocadas por forças tectônicas compressivas, extensivas ou de cisalhamento. Podem
ser formadas também por esforços não tectônicos causados por expansão e contração
provocados por aquecimento e resfriamento climático superficial ou por denudação
erosiva que alivia a pressão litostática, provocando expansão das rochas e formação de
juntas de alívio (esfoliação esferoidal).
211
Por outro lado, falha é uma fratura com
movimento relativo dos blocos rochosos, em
ambos os lados da fratura. As falhas são feições
estruturais comuns em cadeias de montanhas, em
margens continentais ativas, em vales rifts, em
margens de placas tectônicas divergentes e
também em margens de placas conservativas, com
movimentos horizontais. Os esforços tectônicos
também podem provocar falhamentos nas rochas
longe dos limites das placas. As falhas podem ser
muito grandes, com rejeitos de centenas de
quilômetros, como a falha de Santo André, na
Califórnia, EUA (Fig. 4.122), ou muito pequenas,
como a falha da figura 4.213.

Figura 4.222- Falha de Santo André, Califórnia, EUA,


entre a placa Pacífica e a placa Norte Americana.

é a superfície onde ocorreu o movimento da falha que pode


ser plana ou curva (Fig. 4.223). Falhas com superfície curva são denominadas falhas
lístricas. O é definido pela sua direção e mergulho, conforme ilustrado na
figura 4.214. é o bloco situado acima da superfície ou plano de falha, e
é o bloco situado abaixo do plano ou superfície de falha. Escarpa e traço ou
linha de falha correspondem a intersecção da superfície ou plano de falha com a
superfície topográfica. A é a parte exposta da falha na topografia, enquanto que
a o é uma linha que marca o traçado médio das diversas superfícies
subparalelas de uma zona de falha na superfície (Fig. 4.222 e 4.223). Outra feição
importante é a desenvolvida no plano de falha (Fig. 4.223 a e 4.224).

a
b

Figura 4.223- Principais elementos geométricos de uma falha (a): plano de falha, lapa ou teto,
capa ou muro, escarpa e linha de falha. Falha lístrica com superfície de falha curva (b).

212
Figura 4.224- Estrias de atrito sub-horizontais
em plano de falha em meta-arenitos do grupo
Camaquã, Rio Grande do Sul, Brasil.

Rejeito de uma falha é o deslocamento entre dois pontos previamente adjacentes,


situados em lados (blocos) opostos da falha e medido no plano da falha. Denomina-se
rejeito direcional o rejeito ao longo da direção de uma falha, e rejeito de mergulho o
rejeito na direção do mergulho da falha. A falha pode possuir somente rejeito direcional,
somente rejeito de mergulho ou os dois rejeitos. Neste último caso, a somatória dos
rejeitos direcional e de mergulho denomina-se rejeito total (Fig. 4.225).

R t = Rd + Rm

Figura 4.225- Rejeito de uma falha: Rejeito


direcional (Rd), rejeito de mergulho (Rm).
Rejeito total (Rt = Rd + Rm), rejeito aparente
(Ra = Rm).

As falhas podem ser classificadas em quatro tipos, de acordo com a direção do


movimento relativo entre os blocos. Quando o movimento ocorre na direção do mergulho
do plano de falha, existem dois casos, ambos com rejeito de mergulho (Rm):
, na qual a capa desce em relação a lapa, condicionado por esforços distensivos
(Fig. 4.226 a); , na qual a capa sobe em relação a lapa,
condicionado por esforços compressivos (Fig. 4. 226 b). Se as forças extensionais que
formam as falhas normais romperem uma placa tectônica, pode formar um vale em rift
(Fig. 4.227), como os rifts das dorsais meso-oceânicas e o rift do Mar Vermelho. Falhas
inversas de baixo ângulo ( 45 ) em que a capa é empurrada sobre a lapa, são
denominadas de falhas de cavalgamento (Fig. 4.228), muito frequentes em cadeias de
montanhas de cinturões orogênicos, como resultado do processo de encurtamento
crustal provocado pelas forças compressivas em margens continentais ativas.

a b

Figura 4.226- Falhas com movimento dos blocos na direção do mergulho do plano de falha:
Falha normal, condicionada por esforço distensivo (a), falha inversa ou de empurrão,
condicionada por esforço compressivo (b).

213
Figura 4.227- Rift do mar Vermelho mostrando os falhamentos normais dos blocos rochosos no
centro do vale, provocados pelo esforço extensional.

Figura 4.228- Falha de cavalgamento de


Keystone, Nevada, EUA, mostrando o
cavalgamento das camadas D, C, B sobre
as camadas D, C, B, A. A camada B é um
calcário cambriano que ficou sobreposto
a arenitos jurássicos, 350Ma mais jovens.

é aquela cujo movimento ocorre ao longo da direção


do plano da falha, com rejeito direcional (Rd), condicionado por esforços de cisalhamento
que provocam rotação dextral (sentido horário) ou sinistral (anti-horário, figura 4.229 a).
Uma falha transcorrente de grande porte que limita placas tectônicas é denominada falha
transformante.
é aquela cujo movimento é inclinado em relação à direção e ao mergulho
do pano da falha, com rejeito direcional (R d) e de mergulho (Rm), condicionados por
esforços de cisalhamento associados com compressão ou extensão. Esforços
extencionais associados com cisalhamento formam falhas oblíquoas equivalentes a
falhas normais com uma componente direcional de rejeito (Fig. 4.229 b), enquanto que
esforços compressivos associados com cisalhamento formam falhas oblíquoas
equivalentes a falhas inversas com uma componente direcional de rejeito.
214
a b

Figura 4.229- Falha inversa ou transcorrente, com movimento sinistral na direção do plano de
falha (a). Falha oblíqua, com movimento inclinado em relação à direção e mergulho da falha (b).

Feições de deformação dúcteis


As principais feições de deformações dúcteis são os dobramentos, observados
normalmente em rochas com uma estrutura planar anterior, como acamamento
sedimentar ou foliação metamórfica, encurvados por esforços tectônicos ou não
tectônicos compressivos, associados ou não com cisalhamento. As dobras são feições
estruturais comuns em cadeias de montanhas de cinturões orogênicos, com dimensões
muito variadas, desde a escala macroscópica, com dobras quilométricas representadas
em mapas, mesoscópica, com dobras métricas ou centimétricas observadas em
afloramentos e amostras de rochas, até a escala microscópica, com dobras milimétricas
ou submilimétricas observadas ao microscópio. O grau do encurvamento depende da
magnitude das forças aplicadas, do tempo de ação das forças e da natureza das rochas
afetadas. Feições de deformação dúcteis também se formam por efeitos de esforços
distensivos, originando feições estiradas, como foliações miloníticas, lineações minerais
e boudins que são camadas ou lentes de material mais rígido que sofre estiramento e
estrangulamento, normalmente com rompimento (Fig. 4.230).

a b

Figura 4.230- Feições de deformação dúcteis em regimes extensionais (estiramentos): foliação


milonítica associada com lineação mineral em quartzo estirado (a) e com boudins (b).

Em uma superfície dobrada pode-se destacar os seguintes elementos


geométricos (Fig. 4.231): é o elemento que define a morfologia das
dobras, com base na sua curvatura em relação a um arco de círculo inserido na
que é a zona de maior curvatura de uma dobra. é a linha que une os
pontos de curvatura máxima da superfície dobrada e é aquela que une
os pontos de curvatura mínima. Essas duas linhas podem ser retas ou curvas,
dependendo da geometria da superfície dobrada. Uma linha de charneira reta é
denominada e sua orientação permite definir a posição espacial da dobra,
horizontal, vertical ou inclinada. é uma superfície que contém o eixo ou

215
linha de charneira, podendo ser curva ou plana, neste último caso denomina-se
. A intersecção do plano axial com a topografia resulta em uma linha denominada
traço axial da dobra que é representada em mapas geológicos. são os dois lados
de uma dobra, separados pela superfície ou
plano axial. O eixo da dobra fica na zona da
charneira, enquanto que a linha de inflexão fica
nos flancos da dobra. de uma dobra é plano
perpendicular ao eixo da dobra, onde deve ser
observado a morfologia e o estilo das dobras
(Fig. 231).

Figura 4.231- Elementos geométricos de uma


superfície dobrada cilíndrica definida pelo arco do
círculo inserido: Plano axial (PA), linha de charneira
ou eixo (Lc), linha de inflexão (Li), zona de charneira
PA (Zc), flanco (Fl) e perfil da dobra (plano P).

As dobras tectônicas podem ser formadas por dois tipos de mecanismos de


deformação compressiva: (backling), com compressão na direção das
camadas, produzindo uma flexão (encurvamento) das camadas que deslizam entre elas,
com encurtamento perpendicularmente à superfície axial das dobras, denominadas
dobras flexurais (Fig. 4.232 a). Esse tipo de mecanismo é favorecido em sequências
estratificadas com alternâncias de camadas rúpteis, como arenitos e quartzitos, e
camadas mais dúcteis, como rochas pelíticas (siltitos, argilitos e xistos) e, normalmente,
preserva a espessura e o comprimento das camadas. Se a compressão é muito intensa,
a rocha sofre flexão inicial e posterior achatamento (flattening), com adelgaçamento nos
flancos e espessamento na zona da charneira da dobra. (shearing),
com esforço transversal à direção das camadas, produzindo encurvamento das camadas
causado pelos deslizamentos transversais (Fig. 4.232 b). As dobras de cisalhamento
sofrem mudança na espessura e comprimento das camadas, com espessamento na
zona da charneira e adelgaçamento dos flancos, sem encurtamento ortogonal às
camadas, podendo ocorrer rompimento dos flancos e formação de dobras apertadas
com planos axiais paralelos aos estratos, denominadas dobras intrafoliais (Fig. 4.232 c).

a b c

Figura 4.232- Mecanismos de dobramentos: Flambagem, com


dobras flexurais (a); dobra de cisalhamento (b). Dobras
intrafoliais em zona de cisalhamento (c).

As dobras atectônicas são de ocorrência restrita, provocadas pela força da


gravidade em ambiente sedimentar quando os sedimentos saturados em água, em

216
profundidade, adquirem fluidez. Os esforços de compactação dos sedimentos, durante
a diagênese, também podem levar à formação de dobras atectônicas.

Dependendo das propriedades das rochas e da magnitude e direção das forças


compressivas aplicadas, as rochas acamadas podem se dobrar de muitas maneiras,
havendo, portanto, diversos critérios de classificação das dobras. Um critério
fundamental, com base na situação espacial da curvatura da superfície dobrada,
distingue dois grupos (Fig. 4. 233): ou antiforme, com a concavidade da
curvatura para baixo e fechamento da estrutura para cima. Denomina-se anticlinório uma
estrutura antiformal de grande porte, com anticlinais e sinclinais menores em seus
flancos. ou sinforme, com a concavidade para cima e fechamento da estrutura
para baixo. Denomina-se sinclinório uma estrutura sinformal de grande porte, com
sinclinais e anticlinais menores em seus flancos.

Figura 4.233- Classificação das dobras com base na situação espacial da curvatura da superfície
dobrada: anticlinais, com concavidade para baixo e sinclinais, com concavidade para cima.

Com base na morfologia e geometria, três tipos de dobras podem ser distinguidas:
a superfície dobrada pode ser gerada pela translação de uma reta
que corresponde ao eixo e geratriz da dobra (linha de charneira reta). O eixo da dobra
é uma das retas da superfície de um cilindro, cuja base é o círculo que define a
curvatura da dobra (Fig. 4.234 a).
a superfície dobrada pode ser gerada pela translação de uma
linha curva que corresponde à linha de charneira e geratriz da dobra (Fig. 4.234 b).
mais raras. A superfície dobrada pode ser gerada pela rotação de
uma linha geratriz (linha de charneira) em torno de um eixo imaginário (Fig. 4.234 c).
a b c

Figura 4.234- Classificação das dobras com base em sua morfologia e geometria: Dobras
cilíndricas (a); dobras curviplanares (b), dobras cônicas (c).

O ângulo interflanco de uma superfície dobrada é definido pelo ângulo de duas


tangentes que passam nos dois pontos de inflexão da dobra (Fig. 4.234 a). Com base
217
nesse ângulo, as dobras são classificadas em: suaves (180 - 120 ), abertas (120 - 70 ),
fechadas (70 - 30 ), apertadas (30 - 0 ) e isoclinal (0 , flancos paralelos), figura 4.234 b.

a b
Ponto de inflexão no
perfil da dobra

Figura 4.234- Ângulo interflancos de uma superfície


dobrada (a). Classificação das dobras com base no ângulo
interflancos (b).

Classificação com base na posição espacial do eixo das dobras: três tipos
eixo horizontal ou sub-horizontal (0 a 10 ), figura 4.235 a e 4.236 a
eixo com caimento (10 a 80 ), figura 4.235 b e 4.236 b, c
eixo vertical ou subvertical (80 a 90 ), figura 4.235 c
a b c

Figura 4.235- Classificação das dobras, com base na orientação de seus eixos: dobra horizontal
(a), dobra inclinada ou com caimento (b), e dobra vertical (c).

a b

c
Figura 4.236- Posição espacial das dobras, com base na orientação de seus eixos: dobra
horizontal (a), anticlinal com caimento (b), sinclinal com caimento (c). Caimento

Classificação com base na posição espacial do plano axial das dobras: três tipos
plano axial vertical ou subvertical (80 a 90 ), figura 4.237a
plano axial inclinado (10 a 80 ), figura 4.237b
plano axial horizontal ou sub-horizontal (0 a 10 ), figura 4.237c
218
a b c

Figura 4.237- Classificação das dobras com base na posição espacial do plano axial (PA): dobra
normal (a), dobra inversa (b) e dobra recumbente (c).

Os dois critérios de classificação podem ser combinados em um mesmo diagrama,


com o mergulho do plano axial no eixo horizontal e o caimento do eixo da dobra no eixo
vertical do diagrama (Fig. 4.238). Percebe-se no diagrama que uma dobra normal
horizontal (plano axial vertical e eixo horizontal, campo 1) pode inclinar seu plano axial,
passando a ser inversa (campos 2, 3 e 4), até recumbente (campo 5), mantendo o eixo
e o plano axial com a mesma direção. A dobra normal horizontal também pode inclinar o
seu eixo, cuja direção fica inclinada em relação à direção do plano axial (dobras
inclinadas, campos 6, 7 e 8), até ficar vertical e perpendicular à direção do plano axial
(dobras verticais, campo 9). Entre as dobras verticais e recumbentes aparece um tipo
especial de dobra, denominada reclinada (campo alongado marrom), que apresenta
algumas características das dobras inversas, como flancos mergulhando na mesma
direção do plano axial, porém diferencia-se por apresentar a direção de seu eixo
perpendicular à direção do plano axial, tal como nas dobras verticais.

Eixo inclinado e PA inclinado e


PA vertical eixo horizontal

PA inclinado e
Eixo inclinado

Figura 4.238- Classificação das dobras


com base no mergulho do plano axial (PA)
verus caimento do eixo das dobras.

As dobras normais (plano axial vertical) em geral são simétricas, com os dois
flancos mergulhando com o mesmo ângulo em sentidos opostos, simetricamente em
relação ao plano axial (Fig. 4.239 a), independentemente do mergulho do eixo
(horizontal, inclinado ou vertical, ao longo do eixo vertical na Fig. 4.238). Por outro lado,
as dobras inversas e reclinadas (plano axial inclinado) normalmente são assimétricas,
com os flancos mergulhando com ângulos diferentes, em sentidos opostos, como em
algumas dobras inversas com mergulho suave do plano axial (Fig. 4.239 b), ou no mesmo
sentido, acompanhando a direção do plano axial, como nas dobras inversas com
mergulho forte do plano axial e dobras reclinadas (Fig. 4.239 c). Uma característica
comum das dobras inversas, recumbentes e reclinadas é a inversão estratigráfica em
um de seus flancos, com as camadas mais novas embaixo das mais antigas.
219
a b c

Figura 4.239- Dobra normal simétrica, com os flancos mergulhando com o mesmo ângulo em
sentidos opostos (a). Dobras inversas assimétricas, com os flancos mergulhando com ângulos
diferentes em sentidos opostos (b) e dobras reclinadas com os flancos mergulhando com
ângulos diferentes no mesmo sentido do plano axial (c).

Domos e bacias são estruturas circulares ou ovais, normalmente de grande porte,


com morfologia antiformal (relevo positivo), no primeiro caso, e sinformal (relevo
depressivo), no segundo. Nessas duas estruturas as camadas de seus flancos
mergulham radialmente em direção a um ponto central (convergente), no caso de uma
bacia, e a partir de um ponto central (divergente), no caso do domo (Fig. 4.240).

0 250 500 Km

Formação mais antiga


exposta na superfície
Figura 4.240- Perfil NW-SE da bacia
sedimentar do Paraná, mostrando as
camadas mergulhando para o centro par da
bacia (a). Domo de Sinclair, Wyoming, EUA,
mostrando as camadas mergulhando para
fora da estrutura (b).

Geralmente a história geológica de uma região envolve uma sucessão de


episódios de deformação, entre outros processos geológicos. Entretanto, o que se
observa é o estágio final da evolução geológica. Usando os conceitos geológicos, os
geólogos conseguem reconstituir os diversos episódios da evolução da região, como
exemplificado na figura 4.241.

220
1 Estagio 1: Deposição sedimentar em
camadas horizontais no fundo do mar.

Situação inicial (Interpretada)

2 Estagio 2: Forças compressivas causam


dobramentos e falhamentos na sequência
sedimentar.

Estagio 3: Soerguimento e erosão das


3 rochas, formando uma nova superfície
horizontal.

Estagio 4: Erupções vulcânicas cobrem a


4 nova superfície erosional com derrames e
lavas

Estagio 5: Forças extensionais causam


5 falhas normais, originando blocos abatidos
e seccionando as feições anteriores.

Situação final (atual)

Figura 4.241- Reconstituição da evolução geológica de uma província fictícia, em 5 estágios.

As estruturas geológicas, além de sua grande importância na reconstituição da


evolução geológica de uma região, são elementos de destaque na modelagem da
paisagem e de controle em diversos processos geológicos, como magmatismo e
221
sedimentação, sobretudo as fraturas e falhas que podem condicionar a migração do
magma e a formação de bacias sedimentares. Dobras e falhas são também importantes
no controle de formação de depósitos minerais, reservatórios de água subterrânea
(aquíferos), petróleo e gás, e em obras de engenharia civil, como barragens, túneis,
estradas, etc. Corpos mineralizados, como filões e pipes, podem ocorrer em zonas de
distensão (abertura de espaço) condicionadas tanto por falhamentos como por
dobramentos (Fig. 4.242).
a b c

Figura 4.242- Corpos mineralizados em zonas de


distensão em falha transcorrente curvas dextral (a)
e sinistral (b) e em charneiras de dobras (c).

222

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