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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

EXAME DE QUALIFICAÇÃO DE DOUTORAMENTO EM


GEOCIÊNCIAS

TÍTULO DA MONOGRAFIA: SEDIMENTOLOGIA DE ROCHAS


CARBONÁTICAS LACUSTRES TIPO COQUINAS: PROCESSOS, FÁCIES E
SISTEMAS DEPOSICIONAIS

TÍTULO DO PROJETO: PADRÕES DIAGNÓSTICOS E PROCESSOS


SEDIMENTARES DE COQUINAS EM SISTEMAS COSTEIROS DOMINADOS
POR ONDAS

CRISTIANO FICK

Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)

Co-orientador: Prof. Dr. Eduardo Puhl (DHH, IPH, UFRGS)

Banca examinadora:

Prof. Dra. Valesca Brasil Lemos (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Sérgio Rebello Dillenburg (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Luiz Augusto Magalhães Endres (IPH/UFRGS)

Porto Alegre, 05 de DEZEMBRO de 2016.


I

ESTRUTURA DO DOCUMENTO

O presente documento está divido em duas partes. A primeira parte consiste em


uma monografia da revisão bibliográfica e estado da arte sobre o tema proposto para a
tese. A segunda parte corresponde ao projeto de tese.
II

PARTE I

MONOGRAFIA DO EXAME DE QUALIFICAÇÃO DE DOUTORAMENTO

SEDIMENTOLOGIA DE ROCHAS CARBONÁTICAS LACUSTRES


TIPO COQUINAS: PROCESSOS, FÁCIES E SISTEMAS
DEPOSICIONAIS

CRISTIANO FICK

Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)

Co-orientador: Prof. Dr. Eduardo Puhl (DHH, IPH, UFRGS)

Banca examinadora:

Prof. Dra. Valesca Brasil Lemos (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Sérgio Rebello Dillenburg (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Luiz Augusto Magalhães Endres (IPH/UFRGS)

Porto Alegre, 05 de DEZEMBRO de 2016.


III

Sumário

1. ROCHAS SEDIMENTARES CARBONÁTICAS .......................................... 2


1.1. Definição .................................................................................................................................... 2
1.2. Componentes dos carbonatos (sedimentos carbonáticos) ..................................................... 2
1.2.1. Grãos não-esqueletais ................................................................................................................. 3
1.2.2. Grãos esqueletais ........................................................................................................................ 4
1.2.3. Micrita ........................................................................................................................................ 5
1.2.4. Cimento ...................................................................................................................................... 5
1.3. Classificação das rochas carbonáticas .................................................................................... 6
1.4. Coquinas .................................................................................................................................... 7
1.4.1. Definição .................................................................................................................................... 7
1.4.2. Componentes fósseis .................................................................................................................. 8
1.4.3. Tipos e processos de acumulação de conchas ............................................................................ 9

2. SISTEMAS CARBONÁTICOS LACUSTRES ............................................. 11

3. SISTEMA PRAIAL........................................................................................ 16
3.1. Definição e zonação do sistema praial .................................................................................. 16
3.2. Ondas ....................................................................................................................................... 19
3.3. Processos associados a tempestades em sistemas deposicionais de águas rasas................ 20

4. COQUINAS LACUSTRES DA MARGEM CONTINENTAL


BRASILEIRA................................................................................................. 23
4.1. Bacia de Campos .................................................................................................................... 23
4.2. Grupo Lagoa Feia ................................................................................................................... 26
4.3. Fácies e ambientes deposicionais da sequência de coquinas (Formação Coqueiros) ....... 27
4.3.1. Bertani & Carozzi (1985) ......................................................................................................... 27
4.3.2. Dias et al. (1988) ...................................................................................................................... 31
4.3.3. Abrahão & Warme (1990) ........................................................................................................ 32
4.3.4. Carvalho et al. (2000) ............................................................................................................... 33
4.3.5. Winter et al. (2007) .................................................................................................................. 36
4.3.6. Altenhofen (2013) .................................................................................................................... 37
4.3.7. Muniz (2013) ............................................................................................................................ 37

5. ROCHAS E DEPÓSITOS ANÁLOGOS À FORMAÇÃO


COQUEIROS DO GRUPO LAGOA FEIA, BACIA DE CAMPOS ............. 44
IV

5.1. Tavares et al. (2015)................................................................................................................ 44


5.2. Jahnert et al. (2012) ................................................................................................................ 48
5.3. Thompson et al. (2015) ........................................................................................................... 51

6. MODELAGEM FÍSICA DE AMBIENTES COSTEIROS ........................... 53


6.1. Definição, vantagens e objetivos da modelagem física. ....................................................... 53
6.2. Análise dimensional e princípios de semelhança dos modelos físicos ................................ 54
6.3. Tipos de modelagem física aplicadas a sistemas costeiros dominados por ondas............. 57
6.4. Estado da arte de estudos de modelos de fundo-móvel compostos por conchas ............... 59
6.4.1. Nagle (1967) ............................................................................................................................. 60
6.4.2. Brenchley & Newall (1969) ..................................................................................................... 61
6.4.3. Thompson & Amos (2002)....................................................................................................... 62

7. REFERÊNCIAS ............................................................................................. 63
V

Lista de Figuras

Figura 1.1 – Estrutura interna e morfologia dos grãos não-esqueletais. Traduzido de


Tucker (2001). .................................................................................................. 3

Figura 1.2 – Imagens de microscopia ótica de sedimentos carbonáticos: A) oólitos e


conchas de bivalves (centro); B) pelóides e conchas de bivalves
(centro); C) conchas de bivalve. Modificado de Tucker (2001)....................... 5

Figura 1.3 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Dunham (1962). ................. 6

Figura 1.4 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Embry & Klovan
(1971). .............................................................................................................. 7

Figura 1.5 – Tipos genéticos de acumulações esqueletais. Área 1 indica acumulações


biogênicas; área 2 indica concentrações sedimentológicas e área 3
indica acumulações diagenéticas. Áreas 4, 5 e 6 indicam origem
mista. Modificado e traduzido de Kidwell et al. (1986)................................... 9

Figura 1.6 – Processos sedimentológicos de acumulação de grãos esqueletais. A


duração e magnitude do aporte sedimentar, deposição, erosão e
transporte governam os padrões de acumulação de grãos esqueletais
durante regimes de baixa sedimentação de matriz. Modificado e
traduzido de Kidwell (1986). .......................................................................... 10

Figura 2.1 – Associações de fácies de ambientes carbonáticos lacustres. A) margem de


baixa energia tipo banco; B) margem de alta energia tipo banco; C)
margem de baixa energia tipo rampa; D) margem de alta energia tipo
rampa. Modificado de Embry & Klovan (1971). ........................................... 12

Figura 2.2 – Exemplos de fácies e morfologias de margens de ambientes carbonáticos


lacustres. A) margem de baixa energia tipo banco (Lago Litllefield,
Michigan – EUA); B) margem de alta energia tipo banco (Plioceno,
Formação Glenns Ferry – EUA); C) margem de baixa energia tipo
rampa (sequencia basal do Cretaceo do Centro-Norte da Espanha);
D) margem de alta energia tipo rampa (Green River Formation).
Modificado de Williamson & Picard (1974), Swirydczuk et al.
(1980), Murphy & Wilkinson (1981), Platt (1989), Platt & Wright
(1991). ............................................................................................................ 15

Figura 2.3 – Modelo tectônico de lagos rifte (meio-gráben). Modificado de Platt &
Wright (1991). ................................................................................................ 15
VI

Figura 3.1 – Delimitação das zonas do perfil praial, de acordo com Short (1999), e
suas respectivas nomenclaturas faciológicas segundo Walker (1984). .......... 18

Figura 3.2 – Parâmetros dimensionais das ondas. ...................................................................... 20

Figura 3.3 – Processos costeiros associados à tempestades. Modificado e traduzido de


Aigner (1985). ................................................................................................ 22

Figura 4.1 – Localização da Bacia de Campos. .......................................................................... 23

Figura 4.2 – Carta cronoestratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007). Em


destaque, retângulo vermelho, a sequência carbonática lacustre do
Grupo Lagoa Feia. .......................................................................................... 25

Figura 4.3 – Cenário tectono-estratigráfico do Grupo Lagoa Feia. Modificado de


Muniz (2013). ................................................................................................. 26

Figura 4.4 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo playa-lake. Modificado e


traduzido de Bertani & Carozzi (1985). ......................................................... 29

Figura 4.5 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo pluvial-lake. Modificado e


traduzido de Bertani & Carozzi (1985). ......................................................... 30

Figura 4.6 – Mapa da Sequência das Coquinas da Bacia de Campos, onde destaca-se
(em preto) os calciruditos (rudstones) de “alta energia”. Modificado
e traduzido de Dias et al. (1988). .................................................................... 31

Figura 4.7 – Imagens de duas litofácies (testemunho) das Sequência das Coquinas. A)
calciruditos (rudstones) de pelecípodes e gastrópodes, com intenso
retrabalhamento. B) bioacumulado de pelecípodes, sem
retrabalhamento. Modificado de Dias et al. (1988). ....................................... 32

Figura 4.8 – Modelo deposicional do Grupo Lagoa Feia. Modificado e traduzido de


Abrahão & Warme (1990). ............................................................................. 33

Figura 4.9 – Distribuição vertical e lateral de fácies da sequencia lacustre. Modificado


e traduzido de Carvalho et al. (2000). ............................................................ 34

Figura 4.10 – Fotografias da fácies da sequência lacustres (testemunhos). A) Praia


arenosa-bioclástica. B) Calcarenitos bioclásticos praiais. C) Margem
de lago. D) Barras bioclásticas. E) Lençóis/franjas de barras
VII

bioclásticas. F) Bancos de bioacumulados. Modificado de


Carvalho et al. (2000). .................................................................................... 36

Figura 4.11 – Fotomicrografias das rochas carbonáticas do Grupo Lagoa Feia. (A)
rudstone. (B) grainstone. Modificado de Altenhofen (2013)......................... 37

Figura 4.12 – Fotografias das diferentes fácies de rudstones da Formação Coqueiros.


A) Fácie R-cb. B) Fácie Rmb. C) Fácie R-gb. D) Fácie Rg-b. E)
Fácie R-o. Modificado de Muniz (2013). ....................................................... 41

Figura 4.13 – Modelo de fácies da sucessão Barremiana/Aptiana (Formação


Coqueiros) do Grupo Lagoa Feia. A) Perfil esquemático
longitudinal. B) Parassequência característica do Grupo Lagoa Feia.
Modificado e traduzido de Muniz (2013). ...................................................... 42

Figura 5.1 – Fotografias e fotomicrografias de fácies da Formação Morro do Chaves.


A,B) Fácies Cf. C,D) Fácies Cfi. E,F) Fácies Cm. G,H) Fácies Cmi.
Modificado de Tavares et al. (2015). ............................................................. 46

Figura 5.2 – Modelo deposicional da Formação Morro do Chaves, mostrando dois


cenários de rampa carbonática. A) rampa sem aporte de sedimentos
siliciclásticos, correspondente às fácies Cf e Cm. B) rampa
carbonática com aporte de sedimentos siliciclásticos, correspondente
às fácies Cfi e Cmi. Modificado e traduzido de Tavares et al. (2015). .......... 47

Figura 5.3 – Arquitetura, arranjo textural e morfologia do sistema de cordões


litorâneos da Praia de Shark Bay – Austrália, caracterizando três
tipos de elementos geométricos internos: complexo de camadas
tabulares, cordões convexos e depósitos de washover. Modificado e
traduzido de Jahnert et al. (2012). .................................................................. 49

Figura 5.4 – Localização dos Lagos Tanganiyka e Malawi........................................................ 51

Figura 6.1 – Tipos de canais de geração de ondas em laboratório. A,B) Canal


bidimensional (2D). C) Canal tridimensional ou bacia (3D). *Obs.:
fotos dos canais do laboratório do Instituto de Pesquisas Hidráulicas
(IPH) – UFRGS, Porto Alegre, RS. ................................................................ 59

Figura 6.2 – Padrões de orientações diagnósticas de conchas. A) Padrão de orientação


gerado por correntes, apresentando diagrama de rozeta assimétrico,
com um sentido preferencial de orientação paralelo a direção da
corrente. B) Padrão de orientação gerado por ondas (zona de
empolamento) , apresentando diagrama de rozeta simétrico, com
VIII

dois sentidos preferenciais antagônicos paralelos a direção de


alinhamento das cristas de ondas incidentes. Modificado e traduzido
de Nagle (1967). ............................................................................................. 60

Lista de Tabelas

Tabela 6.1 – Distinção entre acumulações de borda geradas por ondas e correntes.
Modificado de Futterer (1982). ...................................................................... 62

Tabela 6.2 – Distinção entre acumulações bandadas lineares geradas por ondas e
correntes. Modificado de Futterer (1982). ...................................................... 62
1

Introdução

A presente monografia foi realizada para o exame de qualificação de tese de doutorado, na


área de Geologia Marinha do Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Esta monografia consiste numa revisão bibliográfica do tema proposto que,
no caso, aborda a gênese de depósitos de conchas que formam as rochas carbonáticas do tipo
Coquinas.

As coquinas representam um considerável pacote de rochas carbonáticas nas bacias


sedimentares da margem continental brasileira. Estas rochas foram depositadas durante a fase rifte
(Barremiano/Aptiano – Cretáceo Inferior) em grandes lagos continentais (Bertani & Carozzi, 1985;
Dias et al., 1988; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000), ocorrendo desde a Bacia de
Santos até a Bacia de Sergipe-Alagoas e posicionadas estratigraficamente abaixo da camada de
evaporitos (pré-sal). Coquinas constituem expressivos reservatórios de hidrocarbonetos no Atlântico
Sul (margem brasileira e oeste-africana), produzindo cerca de 1000-3000 barris de petróleo por dia
(Thompson et al., 2015), o que confere a essas rochas uma grande importância econômica e, que
por consequência, atrai também um grande interesse acadêmico-científico.

Na margem continental brasileira, a Bacia de Campos por ser a primeira a produzir petróleo
em coquinas, é a bacia que possui o maior número de estudos sobre a sequencia carbonática
eoaptiana, sendo realizados desde a década de 70. Desta maneira, são de estudos realizados
principalmente na Bacia de Campos que esta monografia se baseia para apresentar os aspectos
sedimentológicos das rochas carbonáticas lacustres tipo coquinas.

Esta monografia está estruturada em seis capítulos, que abordam os seguintes temas:

1. Tipos de sedimentos e classificação das rochas carbonáticas com ênfase em rochas tipo
coquinas;
2. Ambientes carbonáticos lacustres;
3. Definição de sistema praial e processos associados à dinâmica de ondas;
4. Sequência carbonática do Grupo Lagoa Feia da Bacia de Campos, com ênfase na Formação
Coqueiros que possui os espessos pacotes de coquinas;
5. Rochas e depósitos recentes análogos às coquinas lacustres do pré-sal;
6. Modelagem física de ondas em laboratório.
2

1. ROCHAS SEDIMENTARES CARBONÁTICAS

Neste capítulo será apresentada uma breve revisão conceitual sobre carbonatos, abordando
principalmente a mineralogia, os tipos de partículas e a classificação das rochas carbonáticas. Além
disto, será destacada a definição de coquinas, foco deste estudo, enfatizando como este tipo de
rocha se enquadra nas classificações vigentes. Aspectos relacionados à diagênese dos carbonatos
não serão abordados, pois este estudo foca os processos e sistemas deposicionais das coquinas.

1.1.Definição

Rochas sedimentares carbonáticas ou carbonatos são aquelas em que a fração de


constituintes carbonáticos, carbonato de cálcio e carbonato de magnésio, superam os constituintes
não carbonáticos (Pettijohn, 1975). Os minerais carbonáticos mais comuns nessa rochas são a
calcita (CaCO3 trigonal), aragonita (CaCO3 ortorrômbico) e a dolomita (CaMgCO3), enquanto que
os minerais não carbonáticos mais comuns são o quartzo, argilominerais detríticos, glauconita,
pirita e hematita.

Os carbonatos são rochas sedimentares bastante comuns, constituindo aproximadamente


20% - 25% do registro sedimentar do mundo (Pettijohn, 1975), ocorrendo em abundância desde o
período Cambriano, embora também sejam abundantes no período Pré-Cambriano, porém
predominando rochas mais ricas em dolomita (dolomitos) (Tucker, 2001). Sua gênese é bastante
variada, podendo ser gerada por fragmentos e detritos mecanicamente transportados e depositados
por ondas e correntes (alóctones), ou gerados por precipitados químicos ou bioquímicos que se
depositam in situ (autócTones).

As rochas carbonáticas têm um grande valor econômico, pois possuem cerca de metade das reservas
mundiais de petróleo, além de hospedar minérios epigenéticos e sulfeto de zinco, e também ter uma
grande variedade de uso industriais e químicos, como matéria prima da fabricação de cimento
(Tucker, 2001).

1.2. Componentes dos carbonatos (sedimentos carbonáticos)

De acordo com Tucker (2001), os componentes carbonáticos podem ser divididos em quatro
grupos: (1) grãos não-esqueletais, (2) grãos esqueletais, (3) micrita (lama carbonática) e (4)
cimento.
3

1.2.1. Grãos não-esqueletais

Grãos não-esqueletais são aqueles gerados por precipitação química ou orgânica em volta de
núcleos pré-existentes, e também podem ser chamados de partículas aloquímicas. Oólitos,
oncólitos, pisólitos, pellets, pelóides, agregados e intraclastos são os principais tipos de partículas
não-esqueletais (Fig. 1.1).

Figura 1.1 – Estrutura interna e morfologia dos grãos não-esqueletais. Traduzido de Tucker (2001).

Oólitos são partículas esféricas, geralmente com tamanhos entre 0,2-0,5 mm (podem atingir
até 2 mm) geradas pela precipitação química da água do mar, formando camadas concêntricas de
aragonita em torno de um núcleo, que pode ser um grão de areia ou um bioclasto (Fig. 1.2A). Após
a diagênese a aragonita geralmente é substituída por calcita. Oólitos são precipitados geralmente até
a uma profundidade de 5 m, mas podem atingir até 10-15 m. São formados em águas agitadas e
movimentados como dunas e ripples por correntes de marés e tempestades. Partículas que possuem
tamanho acima de 2 mm são chamadas de pisólitos. Caso as camadas em torno do núcleo sejam
formadas por precipitados orgânicos, como algas ou organismos microbiais, a partícula recebe o
nome de oncólito. Caso haja um agregado de oólitos envelopados, usa-se o termo oólito composto
(mais de um núcleo).

Pelóides são partículas esféricas, elipsoidais ou angulares sem estrutura interna. São
compostos por carbonatos micro-cristalinos e, geralmente, possuem tamanhos entre 0,1-0,5 mm
4

(Fig. 1.2B). Caso o pelóide seja de origem fecal, usa-se o termo pellet. Pellets possuem forma
regular e são ricos em matéria orgânica, sendo bastante comuns em ambientes protegidos como
lagunas e planícies de maré.

Agregados são conjuntos de partículas carbonáticas cimentadas por cimento micro-cristalino


ou envelopadas por matéria orgânica. Originam-se em áreas protegidas rasas de infra-maré.
Intraclastos são partículas constituídas por fragmentos de sedimentos litificados ou parcialmente
litificados, gerados por retrabalhamento, sendo erodidos e redepositados no mesmo ambiente
deposicional.

1.2.2. Grãos esqueletais

Grãos esqueletais ou fósseis são fragmentos ou esqueletos inteiros de invertebrados


carbonáticos, muito abundantes e dispersos em qualquer tipo de carbonatos ou rocha sedimentar em
geral. A mineralogia original dessas partículas é aragonítica, sendo substituída posteriormente, na
diagênese, por calcita. Possuem formas e tamanhos bastante variados, dependendo do tipo de
organismo. Diferentes filos de organismos constituem os grãos esqueletais, sendo os mais comuns
os moluscos, braquiópodes, cnidários, equinodermos, briozoários, foraminíferos, esporos e
artrópodes.

Sendo o foco deste estudo as rochas tipo coquinas, constituídas principalmente por grãos
esqueletais do filo molusco, serão reportadas as classes deste filo, que são principalmente os
bivalves (Fig. 1.2A, 1.2B e 1.2C) e os gastrópodes. Os bivalves constituem um extenso grupo de
espécies, ocupando ambientes marinhos e de água doce, fornecendo grande parte dos sedimentos
carbonáticos marinhos. Possuem modo de vida bastante variado, desde infaunal, vivendo entre o
sedimento de fundo, até planctônico, boiando na coluna d’água. As conchas de bivalves são
compostas por diversas camadas de aragonita microcristalina, enquanto que ostras são calcíticas. As
conchas são facilmente dissolvidas na diagênese, deixando sua forma moldada que posteriormente é
preenchida por calcita. Os gastrópodes são organismos bentônicos e ocorrem através de todo
ambiente marinho raso, em águas salobras e hiper-salinas como em ambientes de planície de maré e
estuários. Gastrópodes são constituídos por aragonita e possuem estrutura cristalina semelhante a
dos bivalves.

Algas e micróbios constituem grande parte dos grãos esqueletais, principalmente em


carbonatos bastante antigos, formando sedimentos laminados a partir do trapeamento de partículas.
Carbonatos do Pré-Cambriano foram formados dominantemente por algas e micróbios. Os
5

principais tipos de algas são as algas vermelhas, algas verdes, algas amarelo - verdes e as
cianobactérias, ocorrendo em águas rasas e formando recifes ou estromatólitos.

Figura 1.2 – Imagens de microscopia ótica de sedimentos carbonáticos: A) oólitos e conchas de


bivalves (centro); B) pelóides e conchas de bivalves (centro); C) conchas de bivalve. Modificado de
Tucker (2001).

1.2.3. Micrita

Micrita ou lama carbonática são sedimentos carbonáticos finos que geralmente ocorrem
como matriz, mas também podem ocorrer como o constituinte principal dos carbonatos. Estas
partículas são formadas por calcita ou aragonita microcristalina, possuindo tamanho de grão menor
que 0,004 mm. Micritas são suscetíveis a diagênese e podem ser substituídas por mosaicos mais
grossos (0,005 – 0,015 mm) chamados de microespatitos. Micritas são formadas em ambientes de
baixa energia rasos, como planícies de maré e lagunas, ou mesmo em ambientes de águas
profundas. Os processos geradores de micrita são: a bioerosão por esponjas e micróbios que atacam
partículas carbonáticas; a quebra mecânica de grãos esqueletais por ondas e correntes; e a
precipitação bioquímica pela fotossíntese e decomposição de micróbios.

1.2.4. Cimento

Cimento carbonático é gerado durante a diagênese por precipitação química, a partir da


percolação de fluídos saturados nos poros dos depósitos de sedimentos carbonáticos. A mineralogia
do cimento depende da química do fluído percolante, principalmente da pressão de CO2 e da razão
Mg/Ca, gerando calcita, dolomita ou aragonita.
6

1.3. Classificação das rochas carbonáticas

Neste estudo, serão usadas as classificações de Dunham (1962) e Embry & Klovan (1971).
Porém, anteriormente a essas classificações, é importante mencionar as classificações de
Grabau (1904), que usou unicamente o critério do tamanho de grão das partículas carbonáticas,
chamando de calcilutito (maioria dos grãos < 0,062 mm), calcarenito (maioria dos grãos entre 0,062
– 2 mm) e calcirudito (maioria dos grãos > 2 mm); e Folk (1959) que focou sua classificação na
composição, diferenciando três tipos de componentes: grãos, matriz e cimento.

Dunham (1962) classifica as rochas de acordo com a textura deposicional, levando em conta
se a textura é reconhecível (diferenciando se durante a deposição os componentes originais estão
ligados organicamente ou não) ou se a textura não é reconhecível (carbonato cristalino). Além disto,
também considera a relação de grãos versus matriz presente na rocha, diferenciando se o arcabouço
é suportado pela matriz ou pelos grãos (Fig. 1.3). Relaciona a quantidade de lama carbonática
(micrita) com a energia do ambiente deposicional, onde rochas com pouca lama ou ausente indicam
ambientes de alta energia e rochas com maior quantidade de lama indicam ambientes com baixa
energia.

Figura 1.3 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Dunham (1962).

Posteriormente, Embry & Klovan (1971) ampliaram e complementaram a classificação de


Dunham (1962), adicionando os calciruditos, no qual dividiu em floatstone e rudstone, e
subdividindo os boundstone em bafflestone, bindstone e framestone. Além disto, incorporou os
7

termos carbonatos alóctones, para componentes originais não-ligados organicamente durante a


formação, e autóctones, para componentes originais ligados durante a formação (Fig. 1.4).

Figura 1.4 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Embry & Klovan (1971).

1.4. Coquinas

1.4.1. Definição

O termo coquinas foi definido por Pettijohn (1975) como sendo uma rocha carbonática
formada por detritos de fosseis (principalmente conchas de moluscos), maiores que 2 mm,
retrabalhados e depositados mecanicamente, mais ou menos cimentados. Depósitos de fósseis que
se formaram e foram cimentados in situ durante a deposição, não devem ser chamados de coquina,
sendo bioacumulado a denominação mais correta (segundo classificação de Grabau, 1904;
Brankamp & Powers, 1958; Folk, 1959). Tavares et al. (2015) comenta que as classificações de
rochas carbonáticas mais usuais, como de Dunham (1962) e Embry & Klovan (1971), não
diferenciam em suas nomenclaturas, a ocorrência ou não de retrabalhamento mecânico no depósito
conchífero.

Especificamente para as rochas carbonáticas ricas em bivalves das bacias da margem


continental brasileira, Terra et al. (2010) usam o termo coquina de forma genérica, para designar
três tipos de fácies: packstones/rudstones com matriz, quando há retrabalhamento das valvas e
presença de matriz; e grainstone/rudstone sem matriz, quando há retrabalhamento das conchas e
8

sem presença de matriz; além dos bioacumulados, quando há preservação das duas valvas, podendo
ter matriz. Deste modo, observa-se certa incompatibilidade do uso do termo coquina entre a
definição de Pettijohn (1975) e as classificações utilizadas nas rochas carbonáticas das bacias
marginais brasileiras.

Do ponto de vista paleontológico, Kidwell et al. (1986) definiu coquina como “qualquer
acumulação relativamente densa de partes biológicas rígidas (fragmentos esqueletais),
independente da composição taxonômica, estado de preservação, ou grau de modificações pós-
morte”.

De modo a contemplar as variadas definições, neste estudo o termo coquina será empregado
para designar rochas ou depósitos carbonáticos cujos principais componentes são conchas de
moluscos (grãos esqueletais), onde a fábrica da rocha ou depósito seja suportada pelos componentes
esqueletais, independente do tamanho e a presença ou não de matriz (packstone, grainstone e
rudstone). Além disto, do ponto de vista sedimentológico, tais rochas ou depósitos devem ter se
formado por acumulações de conchas que tenham sofrido a ação de algum processo mecânico de
retrabalhamento.

1.4.2. Componentes fósseis

Quanto ao tipo de organismos que compõem as coquinas, conchas de moluscos das classes
dos bivalves (antigamente pelecípodes) e gastrópodes são os grãos esqueletais mais comuns em
coquinas geradas em ambientes lacustres do Fanerozóico (Cohen, 2003; Park & Gierlowski-
Kordesch, 2007). Estes organismos habitam principalmente a zona litoral e sublitoral lacustre, ou
até mesmo zonas profundas lacustres, desde que bem oxigenadas. Os moluscos vivem na superfície
ou enterrados no substrato de fundo do lago (Dillon, 2000; Cohem, 2003), obtendo os nutrientes
para o desenvolvimento de sua carapaça (CaCO3) na água do lago. Nos carbonatos lacustres das
bacias marginais brasileiras, as principais espécies de bivalves encontradas foram: Agelasina cf. A.
plenodonta, Arcopagella longa n.sp., Kobayashites brasiliensis n.sp., Remondia (Mediraon) magna
n.sp., Sphaerium cf. S. ativum, Trigonodus camposensis n.sp; e gastrópodes: família Limneidae
(Carvalho et al., 2000).
9

1.4.3. Tipos e processos de acumulação de conchas

Kidwell et al. (1986) caracterizou três tipos de acumulações de grãos esqueletais, de acordo
com sua gênese: concentrações sedimentológicas, concentrações biogênicas e concentrações
diagenéticas (Fig. 1.5). Concentrações sedimentológicas resultam da ação de processos físicos,
principalmente hidráulicos, em que os componentes esqueletais se comportam como partículas
sedimentares e a matriz não-bioclástica é retrabalhada ou ausente. Concentrações biogênicas são
aquelas geradas por acumulação dos organismos em posição de vida (in situ), geralmente
relacionadas com eventos de grande produtividade de organismos “oportunistas” (Levington, 1970;
apud Kidwell et al, 1986). Concentrações diagenéticas são geradas por processos físicos e químicos
após o soterramento, principalmente a compactação e a dissolução de matriz em carbonatos
bioclásticos. Partido desta classificação tem-se que a definição de coquina, utilizada neste estudo
(subitem 1.4.1), vai de encontro com as concentrações tipo sedimentológicas, enquanto que as
concentrações tipo biogênicas designam mais precisamente as rochas ou depósitos de
bioacumulados.

Figura 1.5 – Tipos genéticos de acumulações esqueletais. Área 1 indica acumulações biogênicas;
área 2 indica concentrações sedimentológicas e área 3 indica acumulações diagenéticas. Áreas 4, 5 e
6 indicam origem mista. Modificado e traduzido de Kidwell et al. (1986).

Direcionando os processos de concentrações de conchas para as concentrações do tipo


sedimentológicas, Kidwell (1986) apresenta um modelo empírico concebido a partir de observações
10

em afloramentos, na qual determina os controles das concentrações de fósseis (Fig. 1.6). Este
modelo diferencia dois tipos de regimes deposicionais: erosivo e não-deposicional (omission). O
modelo erosivo atribui a concentração de conchas pela (1) remoção seletiva da matriz (winnowing),
deixando fósseis acumulados na interface sedimento-fluído, ou concentração devido ao (2)
retrabalhamento hidráulico, tanto da matriz quanto dos fósseis, em eventos de tempestade. O
modelo não-deposicional atribui a geração de acumulações por (1) ausência de deposição de
sedimentos clásticos no fundo por bypassing de sedimentos finos em suspensão; (2) ausência de
deposição por intensa migração de formas de fundo; e (3) ou simplesmente pela falta de aporte
sedimentar clástico (sediment starvation).

Figura 1.6 – Processos sedimentológicos de acumulação de grãos esqueletais. A duração e


magnitude do aporte sedimentar, deposição, erosão e transporte governam os padrões de
acumulação de grãos esqueletais durante regimes de baixa sedimentação de matriz. Modificado e
traduzido de Kidwell (1986).
11

2. SISTEMAS CARBONÁTICOS LACUSTRES

As coquinas da Bacia de Campos são interpretadas como depósitos gerados em ambientes


lacustres de rifte (sabkha continental) durante o processo de rifteamento do supercontinente
Gondwana, no período Cretáceo Inferior (Bertani & Carozzi, 1985; Abrahão & Warme, 1990;
Carvalho et. al., 2000; Muniz, 2013; Thompson et al., 2015). Desta maneira, neste capítulo, serão
apresentados os modelos de fácies e a distribuição espacial dos carbonatos lacustres segundo os
modelos de Platt & Wright (1991), que são os mais aceitos na literatura de rochas carbonáticas.

Os modelos faciológicos de sistemas carbonáticos lacustres de Platt & Wright (1991) são
divididos em dois tipos de associações (Fig. 2.1): fácies de margem de lago (lake margin), no que
seriam os ambientes mais rasos e subaéreos, e fácies de bacia de lago (lake basin), que seriam as
zonas mais profundas do lago.

Em ambientes de margem de lago (~< 10 m de profundidade), a produção de carbonatos é


principalmente biogênica e em menor importância pela precipitação inorgânica. Fácies de
mudstones são dominantes na maioria dos ambientes lacustres rasos, enquanto que grainstones
ocorrem mais pobremente, principalmente se comparados com ambientes marinhos. A zona da linha
de praia lacustre (shoreline) é dominada por sedimentos bioclásticos (conchas de moluscos e
ostracodes) e algais (charófitas). Pequenas bioconstruções de algas verdes e cianobactérias podem
ocorrer, como por exemplo, os estromatólitos, que sugerem possíveis variações na salinidade e
composição química da água.

Ambientes de bacia de lagos profundos não possuem evidência de sedimentação por


vegetação in situ. As taxas de sedimentação são baixas, sendo a produção de carbonatos realizada
por precipitação bio-induzida pelos fitoplanctons e por processos de resedimentação de sedimentos
mais rasos. O conteúdo de sedimentos siliciclásticos é maior nas fácies baciais do que nas
marginais. As fácies baciais são fortemente controladas pela dinâmica do lago, estando sobre
permanente estratificação. Lagos muito profundos (ex.: Tanganyica, 150 – 250 m) possuem cerca
de 10% de matéria orgânica nos sedimentos de fundo. As fácies apresentam alternância de
sedimentação rica em matéria orgânica e sedimentação carbonática, gerando ritmitos com camadas
finas sem bioturbação. Lagos pouco profundos muitas vezes não produzem fácies de bacia.
12

Figura 2.1 – Associações de fácies de ambientes carbonáticos lacustres. A) margem de baixa


energia tipo banco; B) margem de alta energia tipo banco; C) margem de baixa energia tipo rampa;
D) margem de alta energia tipo rampa. Modificado de Embry & Klovan (1971).

Além de apresentar esses dois modelos de fácies, os autores subdividem o ambiente


marginal em 4 tipos, de acordo com sua morfologia e energia: banco de baixa-energia, banco de
alta-energia, rampa de baixa-energia e rampa de alta-energia.

Banco de baixa-energia - zona marginal íngreme, dominada por partículas carbonáticas finas.
Apresentam padrão granocrescente ascendente, passando de laminitos micriticos finos, intercalados
com siltitos e finos turbiditos ou fluxos de grãos de material marginal ressedimentado, a fácies mais
grosseiras na zona marginal com areias e seixos bioclásticos, lâminas micríticas com bioclastos de
moluscos, e no topo seixos de oncólitos e pisólitos. Pode apresentar turfa de pântano no topo da
sequencia progradante (Fig. 2.1A e 2.2A).

Banco de alta-energia - zona marginal íngreme em que ocorrem packstones e grainstones de


oólitos com estratificação cruzada de baixo ângulo, lentes conchíferas, bioconstruções carbonáticas.
Em zonas marginais protegidas podem ocorrer mudstones cabonáticos bioturbados. Em zonas mais
profundas apresentam fácies de fluxos de grãos e slumps de areia oolítica (Fig. 2.1B e 2.2B).

Rampa de baixa-energia - zona marginal pouco íngreme que apresentam carbonatos com baixo
conteúdo de material siliciclástico. Fácies são extensas lateralmente com muitas feições de
exposição subaérea. Intercalações com evaporitos são comuns. A sucessão vertical progradante
13

começa com grainstones e packstones de pellets e intraclastos ressedimentados, além de raras


lâminas de evaporitos, passando para fácies micríticas com bioclastos de moluscos e caules de
charófitas. No topo ocorrem carbonatos brechados com feições de pedogênese, como cavidades
microcárticas (Fig. 2.1C e 2.2C).

Rampa de alta-energia - zona marginal pouco íngreme. A sucessão vertical progradante começa
com fácies de mudstones carbonáticos ricos em matéria orgânica, passando camadas micríticas ricas
em moluscos e ostracodes, areias e seixos de oncólitos, estromatólitos e finalizando com
grainstones oolíticos e bioclásticos. O topo da sequência é recoberto por lutitos dissecados. (Fig.
2.1D e 2.2D).
14
15

Figura 2.2 – Exemplos de fácies e morfologias de margens de ambientes carbonáticos lacustres. A)


margem de baixa energia tipo banco (Lago Litllefield, Michigan – EUA); B) margem de alta
energia tipo banco (Plioceno, Formação Glenns Ferry – EUA); C) margem de baixa energia tipo
rampa (sequencia basal do Cretaceo do Centro-Norte da Espanha); D) margem de alta energia tipo
rampa (Green River Formation). Modificado de Williamson & Picard (1974), Swirydczuk et al.
(1980), Murphy & Wilkinson (1981), Platt (1989), Platt & Wright (1991).

Em lagos rifte, inseridos em um ambiente tectônico de meio-graben, podem coexistir as


margens tipo rampa e banco, sendo a rampa localizada na borda flexural menos íngreme, e o banco
na borda ativa do falhamento, que é mais íngreme (Fig. 2.3). É neste contexto que se insere os
ambientes carbonáticos lacustres da Bacia de Campos (abordados neste estudo, capítulo 4).

Figura 2.3 – Modelo tectônico de lagos rifte (meio-gráben). Modificado de Platt & Wright (1991).
16

3. SISTEMA PRAIAL

Grande parte dos depósitos de coquinas do pré-sal são interpretados como pertencentes aos
sistemas praiais associados às margens lacustres (capítulo 4). Dentro deste sistema, as coquinas
são posicionadas em diferentes zonas, de acordo com as suas características faciológicas. Desta
maneira, aqui neste capítulo serão apresentados as zonações do sistema praial, os processos que
definem as zonas ou subambientes costeiros, e os fenômenos associados às ondas.

3.1. Definição e zonação do sistema praial

O sistema praial é definido por Short (1999) como uma acumulação de sedimentos
depositada pela ação das ondas, situada entre nível de base de ação das ondas normais (NBON)
e o limite superior do swash. NBON corresponde à máxima profundidade em que as ondas
podem transportar sedimentos em direção à costa, enquanto que o limite do swash corresponde
ao limite subaéreo da ação das ondas e transporte de sedimentos. O desenvolvimento de praias
está condicionado a três principais fatores: disponibilidade de sedimentos, clima de ondas e
espaço de acomodação.

O sistema praial pode ser subdividido, bidimensionalmente, em três zonas, de acordo com a
morfologia do fundo e os processos ondulatórios atuantes (Short, 1999): praia subaérea
(subaerial beach), a zona de surfe (surf zone) e zona próxima à praia (nearshore zone). Neste
trabalho adotaremos o modelo de Short (1999) para o sistema praial, em conjunto com a
nomenclatura existente para o modelo de fácies de sistemas costeiros dominado por ondas de
Walker (1984), a fim correlacionar a nomenclatura usada nos modelos deposicionais das rochas
do Grupo Lagoa Feia, que utilizam nomenclatura do ponto de vista litológico e estratigráfico. É
importante ressaltar, que não existe uma nomenclatura padronizada para as zonas praiais, tanto
em âmbito internacional quanto nacional, logo se faz necessária essa mescla de modelos.

A Figura 3.1 apresenta o perfil longitudinal do modelo praial de Short (1999) e suas zonas
praiais, associadas à nomenclatura de Walker (1984). A seguir, serão apresentados os
processos, morfologia e os depósitos de cada zona praial:

Praia subaérea – zona compreendida entre o nível do mar na maré baixa de sizígia até a base
de uma duna frontal ou falésia. Nesta zona ocorre o processo de swash da onda (espraiamento),
além de serem fortemente afetadas por ressacas marinhas. Apresenta morfologia relativamente
plana, podendo possuir uma crista proeminente chamada de crista de berma. Compreende as
fácies deposicionais de backshore e foreshore. Fácies de backshore estão relacionadas aos
17

sedimentos depositados da crista de berma até a duna, podendo também sofrer processos
eólicos. Fácies de foreshore são depositadas na face da praia, entre o nível d’água de maré baixa
até a crista de berma.

Zona de surfe – estende-se da primeira linha de quebra das ondas até a linha da última quebra
sobre a face da praia. Zona sob influência direta do processo de quebra e colapso da onda, além
de estar sob ação de correntes de deriva litorânea e de retorno. Morfologia de fundo apresenta
bancos e cavas. Compreende as fácies de shoreface superior, que se caracterizam por
apresentarem feições de fluxos trativos e oscilatórios.

Zona próxima à praia ou antepraia – estende-se do NBON até a linha da primeira quebra das
ondas. Zona de atuação do processo de empolamento das ondas, ou seja, a deformação das
linhas de fluxo circulares devido ao atrito com o fundo. Geralmente, possui fundo plano e
suavemente inclinado, podendo ocorrer bancos de tempestade. O NBON é também denominado
como a profundidade de fechamento costeiro (PFC), que é uma linha variável, modificando-se
de acordo com a altura média (Eq. 5.1) das ondas normais ou de tempo bom. Compreende as
fácies deposicionais de shoreface inferior, que se caracterizam por apresentar feições de fluxos
oscilatórios.

𝑃𝐹𝐶 2𝐻 11𝜎 (3.1)

onde:

Hs – altura de onda significativa;

𝜎 - desvio padrão de altura de onda (média anual).

Plataforma interna ou offshore – é uma zona que a princípio não pertence estritamente ao
sistema praial, mas está relacionada à ação das ondas de tempestade e é onde o fundo do mar
começa a afetar as ondas produzindo ondulações suaves na superfície d’água. Estende-se desde
o limite oceânico (LO – Eq. 3.2), que depende do comprimento de onda, até o NBON. Seu
limite em direção ao oceano, também pode ser estabelecido como o nível de base de ação das
ondas de tempestade (NBOT). Possui fundo plano e, relativamente, menos inclinado do que a
antepraia. Compreende as fácies de offshore, que se caracterizam por apresentar intercalações
de sedimentos finos e arenosos, além de poderem apresentar feições de fluxos oscilatórios de
grande energia.

𝐿𝑂 (3.2)
18

onde: L é o comprimento de onda.

Figura 3.1 – Delimitação das zonas do perfil praial, de acordo com Short (1999), e suas respectivas
nomenclaturas faciológicas segundo Walker (1984).
19

Short (1999) também apresenta variados tipos modais de praia, que vão de praias
dissipativas (mais baixa declividade e menor tamanho de grão) até reflectivas (mais alta declividade
e maior tamanho de grão), podendo alternar-se em tipos intermediários que apresentam variadas
configurações e números de bancos internos.

3.2. Ondas

As ondas são geradas pelos ventos, e dependem da sua velocidade, duração e extensão da
pista em que atuam. Bidimensionalmente, as ondas apresentam transformações em sua forma à
medida que se aproximam da costa, pois vão sofrendo interações com o fundo à medida que
diminui a profundidade de lâmina d’água. As principais modificações da forma das ondas são o
empolamento e a quebra (arrebentação). O empolamento corresponde às modificações na forma das
linhas de fluxo internas, passando de circular para semicircular achatada, provocando
movimentações das partículas de fundo, e modificações na forma da onda em superfície,
acentuando a sua esbeltez. A quebra ocorre quando a esbeltez (H/L) da onda atinge seu limite
crítico de equilíbrio (Eq. 3.3), ocorrendo o colapso da massa de água e promovendo intensa
movimentação de partículas no fundo (Komar, 1976).

,
(3.3)

onde:
ws – velocidade de queda da partícula;
g – aceleração da gravidade;
T – período da onda;
H – altura da onda;
L – comprimento de onda.
Além da esbeltez, o período (T) e a altura (H) (Fig. 3.2) são os principais parâmetros físicos
das ondas, pois controlam o fluxo de energia em uma praia, influenciando em todos os processos
costeiros induzidos pela ação de ondas (Komar, 1976). As condições de energia de uma praia, do
ponto de vista de transporte de sedimentos, são diretamente proporcionais a esbeltez e a altura, e
inversamente proporcional ao período das ondas.
20

Figura 3.2 – Parâmetros dimensionais das ondas.

A altura e o período da onda, juntamente com a declividade da praia, também influenciam


em outros aspectos, como no tipo de quebra da onda na zona de arrebentação. Segundo
Galvin (1968), existem quatro tipos de quebra da onda:
1. Deslizante (spilling) – ocorre em praias de baixa declividade, onde a onda empina-se para
deslizar pelo seu perfil, dissipando energia por uma larga faixa;
2. Mergulhante (plunging) – ocorre em praias de declividade moderada a alta, onde a onda
empina-se abruptamente ao aproximar-se da costa e quebra violentamente formando um
tubo, dissipando energia por uma pequena faixa praial;
3. Ascendente (surging) – ocorre em praias de muito alta declividade, onde a onda não quebra
propriamente, mas se espraia sobra a face da praia;
4. Frontal (collapsing) – ocorre em praias de pendente abrupta, sendo um tipo de quebra
intermediário entre mergulhante e ascendente.
Outros dois fenômenos relacionados à dinâmica das ondas, importantes de serem
mencionados são o set-up e o run-up. O set-up é a sobre elevação do nível médio da água na costa,
causado pela incidência do trem de ondas na face da praia. O run-up corresponde à altura máxima
que o swash da onda atinge na face da praia. Estes dois fenômenos combinados com a ação de
fortes ventos, sob condições de tempestades ou não, e ação da pressão atmosférica que desloca água
contra a costa, são os fatores que causam sobre-elevações do nível do mar, conhecidos como
ressacas.

3.3. Processos associados a tempestades em ambientes de águas rasas

Aigner (1985) realizou uma revisão sobre a influência de tempestades em sistemas


deposicionais de águas rasas modernos. Segundo o autor, o nível base de ação das ondas (ou
profundidade de fechamento costeiro) é um importante parâmetro controlador da sedimentação em
águas rasas. Durante tempestades (condições de maior energia), este nível de base modifica sua
21

posição no sentido da bacia, fazendo com que ocorram processos sedimentares sobre áreas do fundo
que, em condições de tempo normal (fair-weather), não eram afetadas pelas ondas.

No entanto, segundo o autor, a profundidade de fechamento ou retrabalhamento das ondas é


um parâmetro que também varia muito de acordo com as estações do ano. O NBOT durante o
inverno pode ser duas vezes mais profundo do que no verão (Aigner & Reineck, 1983). Desta
maneira, esta variação do nível de base das ondas parece ser um espectro contínuo de condições
que, sob o ponto de vista de processos de mais ampla escala temporal (milênios), não possui muita
distinção.

Segundo Allen (1982), a sedimentação em águas rasas, associada à tempestades, é


controlada por uma combinação de três processos físicos (Fig. 3.3):

1. Pressão atmosférica – gradiente horizontal de pressão atmosférica, produzidos por


depressões ciclônicas, que aumentam o nível de água na zona costeira. Ciclones tropicais
podem aumentar em até 0,5 m o nível de água na costa, estendendo a área de atuação dos
processos para zonas subaéreas.
2. Vento – envolve dois principais fatores: correntes superficiais (wind-drift current) induzidas
pelo cisalhamento do vento com água, que contribuem para o aumento do set-up na praia, e
correntes de fundo (near-botton return flow) que se movimentam no sentido contrário ao
vento incidente. Estes dois processos promovem grande transporte de sedimentos que, em
água rasas, possui direção para a costa e, em águas profundas, direção para offshore.
3. Ondas – causam fluxos oscilatórios próximos ao fundo responsáveis pela remobilização dos
sedimentos do fundo. Essa remobilização de sedimentos combinada às correntes induzidas
pelo vento geram fluxos combinados que transportam grandes quantidades de sedimentos.
22

Figura 3.3 – Processos costeiros associados à tempestades. Modificado e traduzido de


Aigner (1985).
23

4. COQUINAS LACUSTRES DA MARGEM CONTINENTAL BRASILEIRA

Neste capítulo serão abordados aspectos sedimentológicos e estratigráficos das rochas tipo
coquinas do Grupo Lagoa Feia, Bacia de Campos, onde será apresentada uma breve revisão sobre a
Bacia de Campos e uma detalhada descrição sedimentológica das fácies de rochas carbonáticas do
Grupo Lagoa Feia. Embora a sequência carbonática lacustre se estenda da Bacia de Santos até a
Bacia de Sergipe Alagoas, apenas da Bacia de Campos é que se tem informações e estudos sólidos a
respeito das rochas desta sequência e, portanto, a Bacia de Campos é enfatizada aqui.

4.1.Bacia de Campos

A Bacia de Campos está localizada na plataforma continental brasileira, 99% em água


profundas (offshore) e 1% em águas rasas (onshore), entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito
Santo, compreendendo uma area de aproximadamente 100.000 km2 (Carvalho et al., 2000;
Muniz, 2013). Estruturalmente, a bacia é limitada a norte pelo lineamento do alto vulcânico de
Vitória e a sul pelo lineamento do alto vulcânico de Cabo Frio (Fig. 4.1). O limite leste se dá pela
isóbada de 3400 m e o limite oeste pela distância de 15 km onshore.

Figura 4.1 – Localização da Bacia de Campos.


24

A Bacia de Campos se originou durante a quebra do Supercontinente Gondwana, no período


Cretáceo-Inferior, caracterizando um ambiente tectônico de vale-rifte (Guardado et al., 2000).
Estratigraficamente (Fig. 4.2), a Bacia de Campos está sobre o embasamento cristalino do Pré-
Cambriano (pré-rifte). A fase sin-rifte começou no Neocomiano, onde predominam sedimentos
vulcanoclásticos, passando por uma sucessão de talco-estevensita no Barremiano-Aptiano, e
terminando com uma sucessão de rochas carbonáticas e siliciclásticas no Aptiano (Baumgarten,
1983). A fase pós-rifte é marcada inicialmente por sedimentos siliciclásticos de ambiente costeiro,
carbonatos microbiais e evaporitos (Dias et al., 1988). Sobrejacente aos evaporitos, no Cretáceo-
Superior, ocorreu a incursão marinha, gerando uma sequência siliciclástica, onde destacam-se os
turbiditos e a sedimentação pelágica e hemipelágica.

Do ponto de vista exploratório, a Bacia de Campos é a bacia brasileira que mais produz
hidrocarbonetos, responsável por cerca de 2/3 da produção nacional (ANP, 2012), sendo que o
início de sua exploração se deu na década de 70.
25

Figura 4.2 – Carta cronoestratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007). Em destaque,
retângulo vermelho, a sequência carbonática lacustre do Grupo Lagoa Feia.
26

4.2. Grupo Lagoa Feia

O Grupo Lagoa Feia (Winter et al. 2007, inicialmente chamado de Formação Lagoa Feia
(Schaller, 1973; Bertani & Carozzi 1985, Rangel et al. 1994), foi definida como a sequencia não
marinha da Bacia de Campos, depositada durante a fase sin-rifte, onde prevalecem sucessões
clásticas, carbonáticas e evaporíticas de idade Cretáceo-Inferior (120 Ma). O Grupo Lagoa Feia é
atualmente subdividido em seis formações: Itabapoana, Atafona, Gargaú, Coqueiros, Retiro e
Macabu (Fig. 4.3).

Figura 4.3 – Cenário tectono-estratigráfico do Grupo Lagoa Feia. Modificado de Muniz (2013).

 Formação Itabapoama – é formada por conglomerados polimíticos, arenitos siliciclásticos,


siltitos e folhelhos, associados a borda de falha (oeste), possuindo espessura de 5.000 m
(Rangel et al. 1994). São interpretados com fan-deltas e leques aluviais em margens de
lagos.
 Formação Atafona – é formada por arenitos e siltitos ricos em minerais de talco-estenvensita
(atividade hidrotermal) e folhelhos intercalados por carbonatos (Rangel et al. 1994,
Bertani & Carozzi, 1985). Idade Barremiana (Winter et al. 2007).
 Formação Gargaú – é formada folhelhos, siltitos, margas e arenitos, intercalados com
argilitos que gradam para carbonatos microbiais. São interpretados como depósitos de lagos
rasos com contribuição siliciclástica. Idade Aptiana (Winter et al. 2007).
 Formação Coqueiros – é formada por intercalações de camadas de folhelhos lacustres e
carbonatos compostos predominantemente de moluscos (Rangel et al. 1994). Os depósitos
27

de conchas são rudstones e floatstones porosos, ou seja, coquinas com centenas de metros de
espessura. São depósitos retrabalhados, interpretados como gerados em lagos-rifte de alta
energia. Uma descrição detalhada das fácies carbonáticas desta formação será apresentada
no subitem seguinte.
 Formação Macabu – é formada por carbonatos microbiais depositados em águas rasas em
clima árido (Rangel et al. 1994). Ocorrem em áreas distais da Bacia de Campos. Idade
Aptiana (Winter et al. 2007).
 Formação Retiro – é formada por evaporitos (alita e anidrita).

O Grupo Lagoa Feia é interpretado como uma sequencia aluvio-lacustre resultante de


episódios deposicionais cíclicos que oscilam entre um ambiente de playa lake, lago com nível de
base baixo, e pluvial lake, lago com nível de base alto, (Schaller, 1973; Bertani & Carozzi, 1985;
Abrahão & Warme, 1990).

4.3. Fácies e ambientes deposicionais da sequência de coquinas (Formação Coqueiros)

Este item reúne uma compilação de alguns estudos feitos na Formação Coqueiros, do ponto
de vista descritivo de fácies em testemunhos de sondagem ou lâminas petrográficas, assim como as
interpretações dos ambientes e processos deposicionais que geraram tais depósitos. Os estudos
reportados aqui são: Bertani & Carozzi (1985), Dias et al. (1988), Abrahão & Warme (1990),
Carvalho et al. (2000), Winter et al. (2007), Altenhofen (2013) e Muniz (2013).

4.3.1. Bertani & Carozzi (1985)

Bertani & Carozzi (1985) fizeram descrições petrográficas de rochas da Formação Lagoa
Feia (posteriormente classificado como Grupo), identificando 17 microfácies. O pacote analisado
foi dividido em quatro sequências, de acordo com a granulometria dos componentes terrígenos,
proporção relativa entre componentes terrígenos e carbonáticos e proporção relativa entre matriz e
cimento mais porosidade primária. As sequências identificadas foram: sequência dominada por
componentes terrígenos, sequência dominada por ostracodes, sequência dominada por pelecípodes e
sequência por componentes vulcanoclásticos (básicos). Destas quatro sequências, duas são
compostas predominantemente por componentes carbonáticos esqueletais: uma dominada por
ostracodes e outra por pelecípodes (bivalves). A seguir, as descrições das microfácies destas
sequências.
28

Sequência dominada por ostracodes:

 Microfácie M1 – micrita peloidal (pellets) com raros fragmentos de ostracodes, presença de


argilominerais, grãos de feldspato e vidro tamanho silte, marcas de raízes e dissecação.
 Microfácie OT2 – calcarenito suportado por grãos de oncólitos com matriz micrítica
(packstone), raros bioclastos de ostracodes geralmente formando núcleos de oncólitos.
 Microfácie OT3 – arenito muito fino a siltito (vidro, quartzo e feldspato), pobremente
selecionado, rico em fragmentos de conchas de ostracodes e matriz de mícrita e
argilominerais.
 Microfácie OS4 – calcarenito matriz suportado (wackestone) a calcisiltito (mudstone) com
bioclastos de fragmentos de conchas de ostracodes e, em menos quantidade, pelecípodes.
Matriz micrítica, bioturbação e marcas de dissecação.
 Microfácie OS6 – bioacumulado de espessas conchas de ostracodes, matriz composta por
pseudomicroesparrito e fragmentos de conchas tamanho silte.
 Microfácie OS7 – folhelho rico em micríta bem laminado, com detritos de peixes e raras
conchas de ostracodes. Apresenta sedimentos ricos em matéria orgânica.

Sequência dominada por pelecípodes (bivalves):

 Microfácie PT2 – calcarenito (grainstone) arenoso a arenito arcoseano rico em bioclastos


bem selecionados. Bioclastos são de conchas de pelecípodes retrabalhas e os componentes
siliciclásticos são de grãos detríticos de basalto, vidro, quartzo e feldspato.
 Microfácie PT3 – calcarenito bioclástico (packstone) arenoso suportado por grãos, com
matriz terrígena e carbonática. Bioclastos são conchas de pelecípodes retrabalhadas, e os
componentes siliciclásticos são grãos tamanho areia fina de vidro, quartzo e feldspato.
Matriz é composta por uma mistura de micrita, bioclastos tamanho silte, argilominerais e
detritos de vidro.
 Microfácies P4 – calcarenito bioclástico grão-suportado (packstone) com matriz
pseudoesparrítica. Fragmentos de conchas de pelecípodes apresentam intenso
retrabalhamento.
 Microfácies P5 – calcarenito bioclástico bem selecionado (grainstone), com conchas de
pelecípodes retrabalhadas.
 Microfácies P6 – bioacumulado de pelecípodes grão-suportado com matriz micrítica.
Conchas quebradas e deformadas por compactação.
29

O ambiente deposicional interpretado é de um ambiente fluvio-lacustre, devido a ausência


de organismos marinhos, presença de componentes biogênicos típicos de lago e sedimentos
siliciclásticos imaturos. A alternância simétrica das sequências descritas acima indica um
comportamento cíclico do nível do lago, variando entre um ambiente de playa lake (baixo nível de
base do lago e clima seco) e pluvial lake (elevado nível de base do lago e clima úmido).

O modelo de playa lake (Fig. 4.4) consiste em quatro principais sub-ambientes: planície
aluvial, planície carbonática, margem de lago e bacia de lago (offshore). A sequência carbonática
que domina neste ambiente é a de ostracodes, componentes carbonáticos esqueletais com
retrabalhamento inexistente ou de baixo grau. A planície carbonática é representada pelas fácies que
apresentam marcas de dissecação, baixo conteúdo de bioclastos e compostas principalmente por
micrita peloidal (microfácie M1). A margem do lago é caracterizada pelas fácies ricas em
sedimentos terrígenos e biogênicos carbonáticos, sendo que a zona de foreshore é representada
pelos calcarenitos de oncólitos (microfácie OT2) com pouca matriz, indicando boa remoção de
partículas finas pela alta energia do ambiente; e a zona de shoreface representada por arenitos e
siltitos ricos em conchas de ostracodes (microfácie OT3) com intensa bioturbação, que formariam
cinturões paralelos a margem do lago num local de baixa energia. A bacia do lago é representada
por calcarenitos e calcisiltitos de bioclastos com baixo conteúdo terrígeno (microfácie OS4) e
bioacumulados de conchas de ostracodes (microfácie OS6) depositados in situ formando bancos.

Figura 4.4 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo playa-lake. Modificado e traduzido de
Bertani & Carozzi (1985).
30

O modelo de pluvial lake (Fig. 4.5) é dividido em quatro sub-ambientes: planície arenosa e
lamosa, planície carbonática, margem de lago e bacia de lago. A sequência carbonática dominante
neste modelo é composta por componentes esqueletais de pelecípodes com alto grau de
retrabalhamento. Na margem do lago, a zona de foreshore é representada por calcarenitos
bioclásticos arenosos bem selecionados, sem matriz (microfácie PT2), que formariam depósitos
praiais de alta energia. A zona de shoreface é representada por calcarenitos bioclásticos arenosos
grãos-suportados, com matriz (microfácie PT3), indicando deposição abaixo do nível de base das
ondas, sob condições de baixa energia. A bacia do lado é representada por calcarenitos bioclásticos
grãos-suportados, com matriz pseudo-microesparritica (microfácie P4), indicando deposição abaixo
do nível de base das ondas, mas com retrabalhamento de conchas por correntes de tempestade;
calcarenitos bioclásticos bem selecionados, sem matriz (microfácie P5), indicando deposição em
alta energia de ondas e correntes que formariam barras de bioclastos; e bioacumulados de conchas
com matriz micrítica, sem retrabalhamento (microfácie P6), indicam deposição em condições de
baixa energia, formando bancos.

Figura 4.5 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo pluvial-lake. Modificado e traduzido de
Bertani & Carozzi (1985).
31

4.3.2. Dias et al. (1988)

Dias et al. (1988) apresenta análise petrográfica de rochas da Formação Lagoa Feia
(posteriormente classificado como Grupo), dividindo-o em quatro sequencias deposicionais:
sequência basal clástica, sequência talco-estevensítica, sequência das coquinas e sequência clástica-
evaporítica. A sequência das coquinas é caracterizada pela expressiva quantidade de deposição
carbonática ao longo da bacia (Fig. 4.6), destacando-se os calcilutitos (wackstones?); calcarenitos
(grainstones?) peloidais, oolíticos ou bioclásticos; calciruditos (rudstones?) de pelecípodes
(bivalves) e gastrópodes retrabalhados (Fig. 4.7A); e bioacumulados de pelecípodes in situ (Fig.
4.7B). Esses depósitos são interpretados como sendo de altos estruturais da bacia, com indícios de
condições hidráulicas de alta energia. Os campos petrolíferos de Badejo, Pampo e Linguado
produzem óleo nessas rochas. Aferições de ambientes e processos deposicionais mais detalhados
não são apresentados.

Figura 4.6 – Mapa da Sequência das Coquinas da Bacia de Campos, onde destaca-se (em preto) os
calciruditos (rudstones) de “alta energia”. Modificado e traduzido de Dias et al. (1988).
32

Figura 4.7 – Imagens de duas litofácies (testemunho) das Sequência das Coquinas. A) calciruditos
(rudstones) de pelecípodes e gastrópodes, com intenso retrabalhamento. B) bioacumulado de
pelecípodes, sem retrabalhamento. Modificado de Dias et al. (1988).

4.3.3. Abrahão & Warme (1990)

Abrahão & Warme (1990) apresentam interpretações dos ambientes deposicionais da


Formação Lagoa Feia (posteriormente classificado como Grupo), a partir de uma compilação de
descrições de litofácies de trabalhos anteriores. Em relação às rochas carbonáticas desta formação,
os autores reportam que se tratam, em grande maioria, de grainstones a wackstones finos a grossos,
compostos principalmente por grãos esqueletais, caracterizando rochas tipo coquinas. Os grãos
esqueletais são constituidos principalmente por conchas de pelecípodes, ostracodes e gastrópodes
com tamanhos entre 0,3 a 5,0 cm de comprimento. As camadas de conchas variam entre
desarticuladas e inteiras (sem retrabalhamento) a quebradas (com retrabalhamento).

O ambiente deposicional interpretado é de um complexo fluvio-lacustre (Fig. 4.8), devido,


entre outros fatores, a ausência de organismos marinhos na sequência carbonática, como
braquiópodes, equinodermos, cefalópodes e briozoários. Dentro deste ambiente fluvio-lacustre, as
coquinas são interpretadas como sendo depósitos de sistemas praiais de foreshore ou bancos de
shoreface, ou até mesmo acumulações em zonas profundas do lago, resultado de retrabalhamento
por ondas de tempestade. Esses depósitos tendem a ser alongados e paralelos à borda de falha da
bacia. Variações do grau de preservação das conchas ao longo da sequência podem refletir
diferentes espécies ou diferentes paleoambientes. Logo, conchas de pelecípodes com baixo grau de
retrabalhamento presentes em fácies conglomeráticas, estão associadas a leques aluviais na borda
33

do lago, que progradavam para dentro do lago na forma de fan-deltas, indicando que tais
organismos foram soterrados próximos ao local de posição de vida. Além disso, os autores
concluem que as camadas de carbonato bioclástico (coquinas) foram geradas em períodos de alta
produtividade de moluscos bivalves. Essa alta produtividade está relacionada a períodos de clima
úmido, quando os lagos expandiam e se interconectavam devido ao maior aporte de água doce no
sistema, favorecendo um clímax de produção de organismos bivalves.

Figura 4.8 – Modelo deposicional do Grupo Lagoa Feia. Modificado e traduzido de


Abrahão & Warme (1990).

4.3.4. Carvalho et al. (2000)

Carvalho et al. (2000) dividiram a sequência das Coquinas, do Formação Lagoa Feia
(posteriormente classificado como Grupo), em duas principais séries deposicionais do complexo
aluvial-lacustre. Uma associação dominada por fácies siliciclásticas, consistindo de conglomerados
polimíticos, arenitos (arcoseanos ou líticos), siltitos e folhelhos vermelhos, representando depósitos
de leques e planícies aluviais. A outra associação é dominada por fácies lacustres, consistindo
principalmente de coquinas de bivalves (conchas desarticuladas, fragmentadas e retrabalhadas) e
coquinas de gastrópodes ou ostracodes, localmente interdigitadas com fácies siliciclásticas. As
coquinas representam depósitos de zonas de foreshore/backshore ou shoreface do paleolago, que
34

possuem uma grande complexidade lateral e vertical, sugerindo uma alta frequência de flutuações
do nível de base do lago (Fig. 4.9).

Figura 4.9 – Distribuição vertical e lateral de fácies da sequencia lacustre. Modificado e traduzido
de Carvalho et al. (2000).

Os autores descreveram sete principais tipos de depósitos do ambiente lacustre:

1. Depósitos de praia arenosa-bioclástica (Fig. 4.10A) – associação de fácies (<10 m de


espessura) de calciruditos arenosos (rudstones), suportado por grãos, com cerca de 30% a
50% de conchas de bivalves e estratificação de baixo ângulo. Cada fácie possui de 30 cm a
70 cm de espessura. Ocorrem interdigitações de conglomerados, arenitos com estratificação
cruzada e folhelhos. Sucessões deste tipo de associação de fácies apresentam 40 m a 500 m
de espessura. Estes depósitos são interpretados como de margem de lago com sedimentos
siliciclásticos, que foram misturados com conchas por correntes de tempestade.
2. Calcarenitos bioclásticos praiais (Fig. 4.10B) – associações de fácies (<10 m de espessura)
de calcarenitos bioclásticos (grainstones) associados com camadas (<5 m de espessura) de
siltitos, folhelhos e calcilutitos (mudstones). As fácies apresentam 20 cm a 50 cm de
espessura, estratificação de baixo ângulo e fragmentos de conchas de bivalves, raramente
gastrópodes, com alto grau de abrasão. Estas sucessões de associações de fácies possuem 50
m a 150 m de espessura.
35

3. Depósitos de margem de lago (Fig. 4.10C) – associações de fácies de sedimentos


siliciclásticos e carbonáticos finos, que exibem feições de exposição subaérea como olhos de
pássaro, cracks de lama e marcas de raízes. Apresentam pequenas ripples e laminação
horizontal. Associações de fácies com 40 m a 100 m de espessura, interpretadas como áreas
lacustres rasas, com baixo gradiente de relevo e baixa energia.
4. Depósitos de barras bioclásticas (Fig. 4.10D)– associações de fácies (>10 m) de
calciruditos, suportado por grãos, com gradação do empacotamento de conchas de bivalves,
de normal (50-70% de conchas) a denso (>70% de conchas), associados com camadas (<5 m
de espessura) de calcarenitos e calcilutitos bioclásticos. Fácies apresentam de 20 cm a 100
cm d espessura. Sucessões desta associação de fácies possuem de 20 m a 550 m de
espessura. Localmente apresentam estratificações cruzadas, que sugerem condições de alta
energia (tempestades) e baixa lâmina d’água, associados a paleoaltos (encostas íngremes) do
fundo lacustre.
5. Depósitos de lençóis/franjas de barras bioclásticas (Fig. 4.10E)– associações de fácies
(>10 m de espessura) de calciruditos com empacotamento normal a denso, intercalados com
camadas de sedimentos siliciclásticos e carbonáticos finos. Sucessões de associações de
fácies com 100 m a 200 m de espessura. Representam depósitos de detritos de conchas de
bivalves e gastrópodes espalhados nos flancos das barras bioclásticas, em áreas com baixo
gradiente de relevo, sugerindo relação com depósitos de tempestade.
6. Depósitos de bioacumulados e bioconstruções (Fig. 4.10F) – associações de fácies (5 cm a
5 m de espessura) de camadas de conchas depositadas in situ, com areia e lama. Sugerem
condições de baixa energia e rasa a profunda lâmina d’água.
7. Depósitos lacustres profundos – intercalações de sedimentos siliciclásticos finos e
mudstones de ostracodes laminados. Sucessões possuem de 100 m a 1000 m de espessura.
Sugerem deposição em condições de baixa energia hidráulica e profunda lâmina d’água.

Os autores também identificam as principais espécies de bivalves: Agelasina cf. A.


plenodonta, Arcopagella longa n.sp., Kobayashites brasiliensis n.sp., Remondia (Mediraon) magna
n.sp., Sphaerium cf. S. ativum, Trigonodus camposensis n.sp; e gastrópodes: família Limneidae.

Dentre outras conclusões, os autores concluem os espessos depósitos de coquinas de


bivalves foram acumulados pelo resultado da ação de ondas e correntes de tempestades, que
retrabalharam, transportaram e redepositaram conchas em camadas com ou sem matriz.
36

Figura 4.10 – Fotografias da fácies da sequência lacustres (testemunhos). A) Praia arenosa-


bioclástica. B) Calcarenitos bioclásticos praiais. C) Margem de lago. D) Barras bioclásticas. E)
Lençóis/franjas de barras bioclásticas. F) Bancos de bioacumulados. Modificado de
Carvalho et al. (2000).

4.3.5. Winter et al. (2007)

Winter et al. (2007) eleva a até então Formação Lagoa Feia para Grupo Lagoa Feia,
individualizando as sequências deposicionais da fase rifte (K20-K34, K36 e K38) e suas respectivas
formações. A denominada sequência K38, corresponde á porção intermediária do Grupo Lagoa
Feia, compreendendo as Formações Itapaboana e Coqueiros. A Formação Coqueiros representa
intercalações de folhelhos e carbonatos lacustres (coquinas de bivalves). Estes pacotes de conchas
formam espessas (> 100 m) camadas porosas, interpretadas como barras de coquinas depositadas
em ambientes de alta energia hidráulica. Estas coquinas constituem importantes reservatórios
produtores de petróleo.
37

4.3.6. Altenhofen (2013)

Altenhofen (2013) analisou lâminas petrográficas extraídas de testemunhos de sondagem


das sequências carbonáticas e carbonática-estenvensíticas do Grupo Lagoa Feia. Dentre os tipos de
rochas encontrados destacam-se os rudstones de bioclastos de bivalves e os grainstones de
bioclastos de ostracodes. Os rudstones apresentam bivalves de aproximadamente 1 cm,
desarticulados, por vezes fragmentados e com abrasão (Fig. 4.11A), acompanhados por areia
oolítica e peloidal, bioclastos de ostracodes, grãos siliciclásticos e fragmentos vulcânicos. Os
grainstones apresentam bioclastos de ostracodes inteiros ou, por vezes, articulados (Fig. 3.11B),
acompanhados por pelóides e oóides de estevensita e, raramente, grãos siliciclásticos.

Figura 4.11 – Fotomicrografias das rochas carbonáticas do Grupo Lagoa Feia. (A) rudstone. (B)
grainstone. Modificado de Altenhofen (2013).

O autor sugere que o alto grau preservação (pouca abrasão e fragmentação das conchas) dos
bioclastos bivalves e ostracodes, implica em um limitado retrabalhamento por ondas e correntes em
áreas rasas do paleolago, contrapondo as interpretações de estudos anteriores
(Bertani & Carozzi, 1985; Dias et al., 1988; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000). O
modelo deposicional interpretado seria o depósitos gerados por resedimentação em zonas profundas
do lago (bacia do lago - offshore), durante eventos iniciados por pulsos tectônicos, em que
ocorreriam escorregamentos de material de zonas mais rasas do lago.

4.3.7. Muniz (2013)

Muniz (2013) descreveu lâminas petrográficas e testemunhos da Formação Coqueiros,


Grupo Lagoa Feia, tanto de zonas proximais quanto de zonas distais do paleolago rifte. O autor
38

identificou e interpretou seis tipos de fácies de rochas carbonáticas (sensu Embry & Klovan, 1971):
mudstones, wackestones, packstones, grainstones, floatstones e rudstones.

1. Mudstones – são rochas que contém, predominantemente, lama carbonática, ocorrendo em


camadas decimétricas (10 cm – 30 cm de espessura), intercaladas com packstones,
wackestones e folhelhos. Localmente apresenta matéria orgânica e bioclastos de bivalves e
ostracodes dispersos. São interpretados como produto de precipitação abiótica ou biogênica,
ou mesmo material de abrasão de conchas, sendo depositados em ambientes de águas
profundas, abaixo do nível de base de ação das ondas de tempestade, ou em zonas rasas de
águas calmas (baixa energia hidráulica).
2. Wackestones – ocorrem em camadas centimétricas a métricas, contendo grãos esqueletais
(conchas de 0,5 mm a 1 mm) de bivalves, ostracodes e, raramente, gastrópodes, dispersas
em matriz lamosa. Apresentam pelóides em camadas maciças, mas também podem ser
laminadas ou bioturbadas e brechadas. Os contatos das camadas são abruptos, com erosão
na base e gradação inversa para o topo. Ocorrem intercalados com rudstones. São
interpretados como depósitos de zonas subaquosas, abaixo do nível de base de ação das
ondas de tempestade, ou de águas rasas e calmas do lago, associadas a sistemas
transgressivos. Apresentam exposição subárea.
3. Packstones – camadas deste tipo de rocha possuem espessura que variam entre alguns
centímetros a 1 m, pobremente laminadas e com estratificação cruzada de baixo ângulo na
base. Ocorrem associados com mudstones e siltitos e, localmente, com rudstones com
contatos erosivos. Possui bioclastos de bivalves, gastrópodes e ostracodes, além de pelóides.
Bivalves apresentam-se normalmente desarticulados, e raramente articulados ou quebrados,
juntamente com matriz lamosa ou siltosa. Majoritariamente, as conchas dos bioclastos
possuem tamanho menor do que 2 mm, sendo que algumas conchas dispersas podem ter de
0,5 cm a 5 cm. Possuem bioturbação moderada em camadas mais lamosas. A concentração
de conchas aumenta da base para o topo das camadas. As características desta rocha
sugerem várias interpretações para a sua geração: infiltração de lama em grainstones
previamente depositado, produção de grãos esqueletais em ambientes calmos juntamente
com deposição de lama, transporte de partículas maiores para zonas lamosas por ação de
correntes de turbidez (contato basal erosivo e, localmente, gradação normal nas camadas),
washover (matriz siltosa – depósitos lagunares) ou correntes de tempestades (base erosiva e
bioturbada, bioclastos desorganizados), entre outros.
39

4. Graistones – ocorrem em camadas isoladas ou associações de camadas (>3 m de espessura),


associadas com camadas finas de folhelhos (<30 cm) ou intercaladas com packstones e
rudstones. Os grainstones são formados essencialmente por grãos esqueletais de bivalves
(majoritariamente), gastrópodes e ostracodes, além de pelóides ou por uma mistura destes
componentes. Conchas de bivalves apresentam-se tanto desarticuladas e quebradas, quanto
articuladas e inteiras, variando em tamanho de 0,5 mm a 5 mm, mas podendo atingir 1 cm
de comprimento. Dois gêneros de bivalves de ambientes lacustres foram identificados:
Trigonodus e Composella,. Conchas de gastrópodes são normalmente de tamanho grosso,
enquanto que ostracodes são de tamanho fino e ocorrem juntos com conchas de bivalves
quebradas e com abrasão. Estes grainstones sugerem deposição sob condições de alta
energia, como em zonas de foreshore ou bancos de shoreface, onde ocorre a remoção de
sedimentos finos (argila e silte) pela ação de ondas e correntes.
5. Floatstones – rocha matriz suportada com bioclastos de conchas de bivalves desarticuladas,
que possuem tamanho maior do que 3 cm, ou conchas articuladas de 1 cm. Matriz micrítica
de tamanho argila a silte.. Raramente ocorrem grãos de gastrópodes e oncólitos. Camadas
individuais possuem até 1 m de espessura, sendo que o teor de conchas aumenta para o topo.
São interpretados como depósitos de zonas subaquosas, abaixo do nível de base de ação das
ondas de tempestade, ou de águas rasas e calmas do lago.
6. Rudstones (Fig. 3.12) – é a fácie que mais ocorre nos testemunhos analisados. Nas áreas
proximais, encontra-se encontram-se interdigitados com fácies terrígenas, enquanto que em
porções mais distais, ocorrem apenas associados a fácies carbonáticas. As camadas
individuais de rudstones possuem espessura centimétrica, enquanto que pacotes
amalgamados desta fácie podem atingir dezenas de metros. Devido à diversidade de
características, os rudstones foram subdivididos em 5 fácies: rudstones de bivalves sem
matriz (R-cb), rudstones de bivalves com matriz lamosa ou peloidal (Rmb), rudstones de
gastrópodes e bivalves (R-gb), rudstones de bivalves com matriz terrígena (Rt-b) e
rudstones de oncólitos (R-o). A fácie R-cb (Fig. 4.12A) apresenta conchas desarticuladas e
quebradas, dos gêneros bivalves (não-marinhos) Trigonodus, Composella e Desertella, com
tamanhos de 0,3 cm a 2 cm; possui aspecto maciço com arranjo desorganizado. A fácie
Rmb (Fig. 4.12B) apresenta conchas desarticuladas e inteiras, do gênero Trigonodus,
Kobayshites e Camposella, dispersas na matriz lamosa, peloidal ou bioclástica, de forma
desorganizada; as conchas variam em tamanho de 1 cm a 3 cm e aumentam de concentração
para o topo das camadas. A fácie R-gb (Fig. 4.12C) possui espessuras métricas, textura
homogênea e é bem selecionada, contendo conchas de bivalves desarticuladas inteiras ou
40

quebradas, e conchas de gastrópodes de tamanho 2 mm a 5 mm. A fácie Rt-b (Fig. 4.12D)


contém conchas de bivalves do gênero Camposella, desarticuladas, tamanho 1 cm a 2 cm,
quebradas na base da camada e inteiras no topo, com abrasão, e com orientação
predominante de concavidade para baixo. A fácie R-o (Fig. 4.12E) contém oncólitos com
tamanho máximo de 0,5 cm, sendo bem selecionados em uma matriz carbonática granular.
De forma geral, os rudstones são interpretados como fácies depositadas em águas rasas sob
condições de alta energia hidráulica, produto de retrabalhamento de sedimentos bioclásticos
grossos por ondas de tempestades em margens de lago. As diversas texturas encontradas
sugerem deposição em variadas profundidades, porém acima do nível de base de ação das
ondas de tempestade.
41

Figura 4.12 – Fotografias das diferentes fácies de rudstones da Formação Coqueiros. A) Fácie R-cb.
B) Fácie Rmb. C) Fácie R-gb. D) Fácie Rg-b. E) Fácie R-o. Modificado de Muniz (2013).

O autor também apresenta um modelo de fácies carbonáticas lacustres para a Formação


Coqueiros, de acordo com as fácies descritas e interpretações. O modelo proposto abrange uma
hipotética distribuição lateral de fácies, numa seção longitudinal que inicia na costa atual (NW),
através das zonas subaéreas e de águas rasas do paleolago, até as zonas mais profundas da bacia
(SE). Quatro principais ambientes deposicionais (Fig. 4.13) foram definidos: zona subaquosa
42

profunda (offshore do lago), zona subaquosa intermediária, zona subaquosa rasa e zona emersa
(subaérea).

Figura 4.13 – Modelo de fácies da sucessão Barremiana/Aptiana (Formação Coqueiros) do Grupo


Lagoa Feia. A) Perfil esquemático longitudinal. B) Parassequência característica do Grupo Lagoa
Feia. Modificado e traduzido de Muniz (2013).

A zona subaquosa profunda é subdividida em dois subambientes: abaixo e acima do nível de


base de ação das ondas de tempestade (NBOT). Abaixo do NBTO, ocorrem mudstones e folhelhos
laminados com matéria orgânica, sem ocorrência de fósseis, e raramente ocorrem camadas pouco
espessas de correntes de turbidez. Acima do NBTO e abaixo do nível de base de ação das ondas
normais (NBON), é caracterizada o subambiente onde ocorre grande produtividade de bivalves,
podendo formar depósitos tipo bioacumulados (conchas in situ), que gradam em direção à zona
43

abaixo do NBOT para depósitos tipo packstones/grainstones bioclástico com matriz de finos
ostracodes.

A zona sub aquosa intermediária é a zona de maior energia, podendo ser afeta por eventos
de tempestade que transportam e retrabalham a maioria do material bioclástico, formando rudstones
de conchas de bivalves quebradas e desarticuladas, sob a forma de bancos, cordões de praia e
depósitos de shoreface. Esses depósitos formariam os espessos pacotes de coquinas ao longo da
margem do lago. Em áreas marginais protegidas do lago, rudstones de oncólitos e packstones
peloidais são gerados.

A zona subaquosa rasa engloba o ambiente de margem do lago, apresentando carbonatos


microbiais, intercalados com siltitos e sedimentos terrígenos, devido à flutuação do nível do
paleolago. Ocorre influência fluvial.

A zona emersa compreende as áreas carbonáticas em que ocorre exposição subaérea,


caracterizada pela presença de feições cársticas, cracks, brechação e dissecação. Área muito afetada
pelas flutuações sazonais do nível do lago. Locais próximos das bordas de falha, ocorrendo
influência de sedimentos de leques e planícies aluviais.
44

5. ROCHAS E DEPÓSITOS ANÁLOGOS À FORMAÇÃO COQUEIROS DO GRUPO


LAGOA FEIA, BACIA DE CAMPOS

Neste capítulo serão apresentados estudos relacionados às rochas carbonáticas tipo coquinas
lacustres, que servem como modelos análogos à Formação Coqueiros, do Grupo Lagoa Feia, Bacia
de Campos. Esses análogos, tanto rochas do registro geológico aflorante quanto depósitos atuais,
subsidiam informações de mais fácil observação e descrição, melhorando o entendimento dos
modelos deposicionais das coquinas lacustres. Portanto, a seguir serão apresentados os trabalhos de
Tavares et al. (2015), que estuda coquinas da Formação Morro do Chaves – Bacia Sergipe-Alagoas;
Jahnert et al. (2012), que estuda um depósito praial recente constituído por conchas; e
Thompson et al. (2015), que apresenta depósitos de margens lagos do leste africano.

5.1.Tavares et al. (2015)

Tavares et al. (2015) descreveram e interpretaram um afloramento de carbonatos lacustres


da Formação Morro do Chaves, andar Jequiá (Barremiano/Aptiano), na Bacia de Sergipe -
Alagoas. O afloramento, de mais de 50 m de exposição, se localiza na pedreira Atol, no município
de São Miguel dos Campos, Sergipe. As rochas predominantes neste pacote carbonático são as
coquinas, compostas principalmente de conchas de moluscos, em menor quantidade gastrópodes e
ostracodes, e sedimentos siliciclásticos. As principais espécies de moluscos que ocorrem na
Formação Morro do Chaves são: Anodontophora sp., Gonodon sp., Psammobia? Nuculacea sp. e
Astarte sp. (Borges 1937; Oliveira 1937; apud Souza Lima et al. 2002).

A partir de parâmetros tafonômicos (porcentagem de conchas fragmentadas e ou inteiras) e


composicionais da matriz (relação de material carbonático e siliciclástico), seis fácies foram
definidas:

1. Coquina fragmentada sem micrita - Cf (Fig. 5.1A e 5.1B) – coquina com mais de 80% de
conchas fragmentadas, menos que 10% de micrita e menos que 10% de sedimentos
siliciclásticos na matriz. Grãos esqueletais de tamanho areia muito grossa a grânulo,
moderado a bem selecionados. Conchas interiras ocorrem em matriz de areia bioclástica.
Apresenta acamamento plano-paralelo, estratificação cruzada de baixo ângulo ou aspecto
maciço. As camadas possuem espessura métrica e podem apresentar pacotes amalgamados
de até 6,7 m, sendo que os contatos entre as camadas são erosivos. Esta fácie foi interpretada
45

como depósitos de conchas retrabalhados por fluxos trativos, na zona subaquosa


intermediária do lago. Corresponde a 45% do perfil vertical descrito.
2. Coquina fragmentada impura sem micrita - Cfi (Fig. 5.1C e 5.1D) – coquina com mais
de 40% de conchas fragmentadas, menos que 10% de micrita e mais que 10% de sedimentos
siliciclásticos na matriz. Grãos esqueletais de tamanho areia muito grossa a seixo, moderado
a pobremente selecionados. Matriz composta de areia quartzosa imatura. Apresenta
estratificação cruzada de baixo ângulo a plano-paralela. As camadas são decimétricas a
métricas, e quando amalgamadas podem atingir 3 m. Contatos planares. Está fácie foi
interpretada como depósitos de conchas retrabalhados por fluxos trativos, na zona subaquosa
intermediária do lago que possuía aporte de material siliciclástico. Corresponde a 10% do
perfil vertical descrito.
3. Coquina não fragmentada com micrita - Cm (Fig. 5.1E e 5.1F) - Coquina com mais de
20% de conchas inteiras, mais que 10% de micrita e menos que 10% de sedimentos
siliciclásticos na matriz. Grãos esqueletais de tamanho grânulo a seixo, moderadamente
selecionados. Denso empacotamento, apresentado conchas com orientação plano-paralela
devido à compactação. As camadas são decimétricas, e quando amalgamadas podem atingir
mais do que 2 m. Está fácie foi interpretada como depósitos de conchas formados na zona
subaquosa profunda do lago. Corresponde a 20% do perfil vertical descrito.
4. Coquina não fragmentada impura com micrita – Cmi (Fig. 5.1G e 5.1H) – coquina com
mais do que 20% de conchas inteiras, mais que 10% de micrita e mais que 10% de
sedimentos siliciclásticos na matriz. Grãos esqueletais de tamanhos grânulo a seixos,
pobremente selecionados. Denso empacotamento de conchas bivalves. Gastrópodes e
ostracodes também presentes na matriz, além de areia quartzosa. Está fácie foi interpretada
como depósitos de conchas formados na zona subaquosa profunda do lago, que possuía
aporte de material siliciclástico. Corresponde a 20% do perfil vertical descrito.
5. Folhelho verde (Fv) e Folhelho preto (Fp) – folhelho verde laminado com níveis de
ostracodes e fragmentos de peixes; e folhelho preto laminado com níveis de ostracodes,
fragmentos de peixes e pirita. Estas duas fácies ocorrem intercaladas. Fácies interpretadas
como depósitos de zona subaquosa profunda do lago, sob condições anóxicas. Corresponde
a 5% do perfil vertical descrito.
46

Figura 5.1 – Fotografias e fotomicrografias de fácies da Formação Morro do Chaves. A,B) Fácies
Cf. C,D) Fácies Cfi. E,F) Fácies Cm. G,H) Fácies Cmi. Modificado de Tavares et al. (2015).

Os autores também apresentam uma discussão sobre as condições paleoambientais e os


processos atuantes. O modelo de fácies apresentado é baseado no de Muniz (2013) para a Formação
Coqueiros da Bacia de Campos, onde as fácies descritas acima são posicionadas em zonas costeiras
47

lacustres, que são subdivididas de acordo com os níveis de base de ação das ondas: condição normal
(NBON) e condição de tempestade (NBOT), e com aporte ou não de material siliciclásticos (Fig.
4.2). Em um contexto geral, o paleoambiente em que se formaram as coquinas da Formação Morro
do Chaves corresponde a uma margem lacustre tipo rampa (baixo gradiente de relevo) de alta
energia, conforme o modelo de Platt & Wright (1991) apresentado no capítulo 2. A fácie Cf sugere
uma deposição na zona costeira acima do NBON, onde houve intenso retrabalhamento das conchas
pela ação de ondas e correntes induzidas pelos ventos e tempestades, gerando estratificações
cruzadas de baixo ângulo e plano-paralelas. A fácie Cm sugere deposição entre o NBON e NBOT,
onde a ação das ondas é menos persistente (mais baixa energia), gerando estrutura maciça, pouco
retrabalhamento e deposição de micrita. As fácies Cfi e Cmi correspondem, respectivamente, as
mesmas zonas das fácies Cf e Cm, porém com aporte de sedimentos siliciclásticos, o que sugere a
presença de um sistema fluvio-deltaico associado à margem lacustre.

Figura 5.2 – Modelo deposicional da Formação Morro do Chaves, mostrando dois cenários de
rampa carbonática. A) rampa sem aporte de sedimentos siliciclásticos, correspondente às fácies Cf e
Cm. B) rampa carbonática com aporte de sedimentos siliciclásticos, correspondente às fácies Cfi e
Cmi. Modificado e traduzido de Tavares et al. (2015).
48

Para fins de comparação, as coquinas da Formação Morro do Chaves se mostram um


interessante análogo às coquinas da Formação Coqueiros da Bacia de Campos, descritas no capítulo
4, pois apresentam muitas semelhanças faciológicas e estratigráficas, tais como alternância de
camadas com conchas fragmentadas e inteiras, espessura das camadas individuais, espécies de
conchas (predominância de bivalves, com raros gastrópodes e ostracodes) e importante
concentração de material siliciclástico, além de serem correlatas cronoestratigraficamente e
possuírem o mesmo contexto tectônico de fase rifte. O afloramento, no entanto, permitiu uma
melhor observação e descrição das estruturas sedimentares das fácies, geometrias das camadas e
comportamento lateral das mesmas, o que forneceu importantes informações para a interpretação
dos ambientes e processos deposicionais das coquinas de lago rifte.

5.2. Jahnert et al. (2012)

Conforme apresentado no capítulo 4, vários estudos (Bertani & Carozzi, 1984; Dias et al.,
1987; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000; Muniz, 2013) sugerem que os depósitos
lacustres de coquinas foram gerados na zona marginal subaquosa de um lago (zonas de foreshore e
shoreface de um sistema praial), cujos principais agentes de retrabalhamento e transporte de
conchas seriam as ondas e as correntes associadas.
Desta maneira, depósitos praiais recentes constituídos por conchas podem servir de modelo
análogos às margens paleolacustres, permitindo a observação espacial e temporal in locu do sistema
praial e dos processos atuantes. Jahnert et al. (2012) estudou um depósito de cordões de praia
holocênico constituído principalmente por conchas, localizado na praia de Shark Bay, Baía de
Hamelin Pool, litoral oeste da Austrália.
O depósito se caracteriza por uma sequência de cordões praiais progradantes (regressivos),
posicionados na zona de supramaré, estando associados a depósitos microbiais (estromatólitos e
trombólitos) da zona intramaré. As conchas que constituem os cordões são de bivalves Fragum
erugatum. A partir de análises de Ground Penetrating Radar (GPR), testemunhagem e imagens
(aéreas e perfil longitudinal) foram caracterizados três tipos de elementos internos dos cordões
praiais (Fig. 5.3), diferenciados pela geometria e empilhamento das camadas, além do grau de
organização das conchas nas camadas: complexo de camadas tabulares, cordões convexos e
depósitos de washover (leques de sobrelavagem).
49

Figura 5.3 – Arquitetura, arranjo textural e morfologia do sistema de cordões litorâneos da Praia de
Shark Bay – Austrália, caracterizando três tipos de elementos geométricos internos: complexo de
camadas tabulares, cordões convexos e depósitos de washover. Modificado e traduzido de
Jahnert et al. (2012).
50

Complexo de camadas tabulares – apresenta camadas tabulares de espessuras entre 10 cm e 60


cm, inclinadas para a direção do mar em ângulos menores do que 20º, composta por conchas de
bivalves de tamanho grosso, pobremente organizadas e com seixos dispersos, intercaladas com
camadas sub-horizontalizadas, com espessuras entre 1 cm e 20 cm, compostas por conchas
organizadas e/ou fragmentos de conchas quebradas. São depósitos construídos por ondas de
tempestade e ressacas (surges) que transportam a maior parte das conchas para a face da praia.
Camadas de conchas desorganizadas indicam ação do movimento de ida e volta do swash da onda e
camadas organizadas indicam fluxos trativos.
Cordão convexo – são cristas suaves paralelas à costa que ocorrem sobre as camadas tabulares ou
altos do revelo pré-existentes. Apresentam camadas centimétricas de conchas arranjadas numa
orientação de convexidade para cima, estratificação de baixo ângulo com truncamentos. As
conchas, em sua maioria, são frágeis e estão bastante retrabalhadas. Estes depósitos foram
construídos provavelmente por elevações do nível d’água durante ressacas de tempestade, que
avançariam sobre a crista praial e, ao retornarem ao seu nível normal, gerariam correntes trativas na
direção do mar que depositavam camadas centimétricas de conchas orientadas no alto.

Depósitos de washover – são formas lobadas que se espalham atrás dos cordões convexos,
compostas por conchas pobremente selecionadas, que podem atingir tamanhos de até 5 cm.
Camadas de washover possuem morfologia de leque e progradam no sentido do continente
(retrogradam) ou agradam apresentando geometria sigmoidal. Estes depósitos foram gerados por
severas ondas de tempestade, capazes de transportar sedimentos esqueletais para trás das cristas
convexas.

Além da descrição e interpretação dos depósitos, os autores discutem o sistema de cordões


do ponto de vista evolutivo, onde apontam que a construção da sequências de cordões se deu em
períodos com eventos de grandes tempestades e ressacas, concomitante com o rebaixamento do
nível relativo do mar durante os últimos 4500 anos. A progradação do sistema também está
relacionada ao extraordinário montante de bivalves adaptados as condições hipersalinas das águas
da Baía Hamelin Pool, fornecendo grande aporte de sedimentos esqueletais para o sistema, e as
condições geomorfológicas de baía semi-fechada, altamente afetada por ressacas e tempestades.

Os autores concluem ainda que o modelo deposicional dos cordões praiais de coquinas de
Shark Bay, podem ser aplicados como análogos aos reservatórios de coquinas depositados em
ambientes lacustres, pois as condições de baía semifechada afetada por tempestades e os processos
51

hidrodinâmicos são semelhantes aos sugeridos nos modelos deposicionais usados aos reservatórios
de coquinas da Bacia de Campos.

5.3.Thompson et al. (2015)

Thompson et al. (2015) realizou estado da arte de coquinas lacustres do pré-sal,


apresentando os grandes lagos do leste africano (Fig. 5.4), localizados no Vale do Rifte, como
modelos atuais análogos aos sistemas lacustres do Grupo Lagoa Feia – Bacia de Campos. Entre os
diversos lagos existentes naquela região, o Lago Tanganiyka (Tanzânia, R.D. do Congo, Burundi e
Zâmbia) e o Lago Malawi ou Niassa (Malawi, Tanzânia e Moçambique) representam os melhores
exemplos.

Figura 5.4 – Localização dos Lagos Tanganiyka e Malawi.

As coquinas do Tanganyika possuem 40 km de extensão lateral e 5 km de largura, ocorrendo


ao longo da borda flexural (hangingwall) do meio-grábem em que o lago se desenvolve, onde o
52

aporte de sedimentos siliciclásticos é baixo e em altos estruturais durante o estágio de nível alto do
lago (Cohen, 1990). Em períodos de nível baixo do lago, espessos pacotes de coquinas
(gastrópodes) são formados pela ação das ondas em zonas rasas, que removem a lama intersistial
(winnowing) de depósitos previamente formados (Cohen, 1990). Segundo Thompson et al. (2015),
este processos de concentração de conchas é muito semelhante aos atuantes nas coquinas do pré-sal.
Três principais fácies de coquinas ocorrem no Lagoa Tanganyika: coquina pura, depositadas como
cordões de praia; coquina arenosa/siltosa, depositadas em plataformas deltaicas de baixo gradiente;
e coquina cascalhosa, depositadas por fluxos de detritos em embaiamentos de alto gradiente
(McGlue et al., 2010). Thompson et al. (2015) conclui que as coquinas que se formam atualmente
no Lago Tanganyika representam o melhor ambiente deposicional análogo aos modelos conhecidos
na literatura para as coquinas do pré-sal.

O Lago Malawi atualmente não gera expressivos depósitos de conchas, devido as atuais
condições químicas da água do lago, pobre em cálcio, que inibi o crescimento de conchas.
Entretanto, durante o Plioceno em condições de nível de base alto, ocorreram importantes
acumulações de conchas na borda flexural do Malawi (Betzeler & Ring, 1995). Duas associações de
fácies são encontradas: fácies de rampa de alta energia e fácies de rampa de baixa energia. Fácies de
rampa de baixa energia são formadas por margas laminadas ricas em moluscos
(Betzeler & Ring,1995). Fácies de rampa de alta energia são constituídas de barras bioclásticas de
bivalves, apresentado estratificações cruzadas e plano-paralelas (Betzeler & Ring, 1995). O
processo associado à formação dessas barras é a remoção de lama intersistial por ação de correntes
durante níveis baixos de água no lago (Betzeler & Ring, 1995). Este modelo deposicional também é
considerado muito semelhante aos reservatórios de coquinas da Bacia de Campos
(Thompson et al. (2015).
53

6. MODELAGEM FÍSICA DE AMBIENTES COSTEIROS

Neste capítulo, serão apresentados alguns conceitos referentes à modelagem física, com
enfoque em modelagem de processos sedimentares costeiros, cujo principal agente físico são as
ondas. A utilização de modelagem física para estudos de processos sedimentares vem se
estabelecendo de maneira contundente desde a década de 1930, com Keunen (1937), como uma
ferramenta de importante utilidade na observação de processos sedimentares em escala reduzida.
Sendo os processos hidrodinâmicos costeiros uma corriqueira linha de aplicação do uso da
modelagem física, se faz oportuno realizar uma revisão conceitual e bibliográfica para corroborar
com a futura utilização da modelagem física na investigação dos processos sedimentares atuantes
nos depósitos praiais de conchas.

6.1. Definição, vantagens e objetivos da modelagem física.

A definição de modelagem física pode ser dada segundo Hughes (1993): “Um modelo físico
é um sistema físico reproduzido (geralmente em tamanhos reduzidos), onde as principais forças
dominantes que atuam no sistema estão representadas no modelo em corretas proporções ao
sistema físico original”

A modelagem física vem sendo utilizada em estudos de hidráulica desde o século XVI,
quando Leonardo Da Vinci reproduziu diversos fenômenos hidráulicos em experimentos,
caracterizando-os a partir de observações visuais (Price, 1978). A partir de então, diversos
cientistas, como Issac Newton, William Froude, Osborn Reynolds, entre outros, foram
aperfeiçoando técnicas e descrevendo leis que governam os princípios da modelagem física em
escala reduzida. A modelagem pode ser aplicada para diversos fins, como estudo de estruturas de
obras de engenharia, processos sedimentares, escoamento em tubulações, etc.

As vantagens de se utilizar modelagem física em processos costeiros são de que ela oferece,
em escala reduzida de observação, um caminho alternativo de examinar fenômenos que não são
possíveis de se analisar com as técnicas atuais em sistemas naturais, além de permitir a simulação
de várias condições experimentais que, no protótipo natural, são difíceis de observar (Hughes,
1993). Já Dalrymple (1985), diz que o menor tamanho do modelo permite uma fácil coleta de dados
e a custos mais baixos do que a coleta em campo.
54

Apesar das inúmeras vantagens, o uso de modelos físicos em escala reduzida também
apresentam desvantagens, dentre os quais, se destacam os efeitos de escala e efeitos de laboratório
(Hughes, 1993). Os efeitos de escala estão relacionados ao menor tamanho do modelo em relação
ao protótipo, de modo que não se torna possível simular todas as variáveis em correta relação. Os
efeitos de laboratório são aqueles que estão relacionados à estrutura física do modelo, que podem
limitar ou influenciar um determinado fenômeno atuante no experimento, a ponto de prejudicar a
correlação com o sistema natural. Além destas desvantagens, também se pode destacar o mais alto
custo de execução de uma simulação física, em comparação com a modelagem numérica, exceto
por raras exceções.

Os três principais objetivos almejados ao se utilizar modelos físicos, segundo


Svendsen (1985), são:

1. Procurar compreender qualitativamente um fenômeno ainda não descrito ou compreendido;


2. Obter medidas quantitativas para testar uma teoria;
3. Obter medidas quantitativas de um fenômeno de tão difícil obtenção de dados, a ponto de
impedir uma abordagem teórica a seu respeito.

6.2. Análise dimensional e princípios de semelhança dos modelos físicos

Em modelagem física, a análise dimensional constitui um importante elemento


metodológico que visa definir quais das variáveis físicas de um determinado fenômeno, têm efeito
dominante sobre a dinâmica de tal fenômeno estudado. Hughes (1993) define análise dimensional
como um “processo racional para combinação de variáveis físicas em produtos adimensionais, de
modo a reduzir o número de variáveis que necessitam ser consideradas”. O processo de análise
dimensional envolve quatro etapas:

1. Identificar as principais variáveis independentes do processo;


2. Decidir qual das variáveis será a variável dependente;
3. Determinar quantos produtos adimensionais independentes podem ser formados a partir das
variáveis;
4. Reduzir o sistema de variáveis a um número adequado de variáveis adimensionais.

Como principais exemplos de produtos adimensionais utilizados em modelagem física de


processos sedimentares e/ou hidrodinâmicos, o Número de Reynolds (Re) e o Número de Froude
(Fr) expressam adequadamente a análise dimensional dos fenômenos físicos de um sistema. O
Número de Reynolds (Eq. 6.1) representa a razão entra as forças de inércia e as forças viscosas do
55

escoamento de um fluído sobre uma superfície, que determina se o regime de fluxo é turbulento (Re
> 2000) ou laminar (Re < 500). Já o Número de Froude (Eq. 6.2), representa a relação entre as
forças de inércia e as forças gravitacionais de um escoamento, caracterizando o fluxo em subcrítico
(Fr < 1), crítico (Fr = 1) e supercrítico (Fr > 1).

𝑅𝑒 (6.1)

𝐹𝑟 (6.2)

onde:

V – velocidade do fluído;

𝜌 – massa específica do fluído;

L – dimensão característica;

𝜇 – viscosidade cinemática do fluído;

g – aceleração da gravidade.

O princípio de semelhança está relacionado ao grau de representação de um modelo físico


em relação ao sistema natural (protótipo). De maneira geral, em modelos costeiros, as principais
grandezas do escoamento envolvidas são a velocidade, a aceleração e o transporte de massa, além
das forças que esse fluxo exerce nas partículas de fundo e em superfícies. O que se deseja em um
modelo físico é que as principais forças e dimensões estejam em proporção com o modelo, de modo
que outras forçantes secundárias se tornem insignificantes durante a simulação de um fenômeno
(Hughes, 1993).

A semelhança completa exige três tipos de semelhança: geométrica, cinemática e dinâmica.


Critérios geométricos estão relacionados com a proporção entre as dimensões físicas (comprimento,
largura, altura, inclinação) do modelo e o protótipo, de modo que as escalas de redução destas
dimensões sejam as mesmas. Critérios cinemáticos estão relacionados a movimentação de partículas
ou fluidos, como exemplificado pela Equação da Dispersão (Eq. 6.3), que relaciona as dimensões e
o período das ondas. Critérios hidráulicos são aqueles relacionados às forças atuantes em
escoamentos de fluidos, sendo que os principais critérios usados para se atingir uma boa
semelhança entre o modelo e o protótipo são os produtos adimensionais Número de Reynolds (Re) e
Número de Froude (Fr). Diz-se que, um modelo físico possui boa semelhança hidráulica com o
56

protótipo, quando o Re e Fr do escoamento simulado são iguais ou próximos ao do sistema natural.


Porém, tal condição é raramente alcançada devido às relações entre os parâmetros do escoamento.

𝐿 tanh (6.3)

onde:

L - comprimento de onda;

g - aceleração da gravidade;

T - período da onda;

h – profundidade d’água.

Especificamente, em modelagem de sistemas costeiros, Kamphuis (1985) elaborou as


condições de semelhança para modelos físicos a partir de parâmetros hidrodinâmicos e parâmetros
de transporte de sedimentos de fundo. Os conjuntos de relações dos parâmetros
hidrodinâmicos e de transporte de sedimentos de fundo são apresentados nas expressões 6.4 e 6.5,
respectivamente.

µ
𝛱 𝑓 , , , , , ,𝑡 , (6.4)

∗ ∗
𝛱 𝑔 , , , (6.5)
µ

onde:

H - altura da onda;

L - comprimento de onda;

𝜆 - comprimento característico;

x e y - coordenadas horizontais;

z - coordenada vertical;

t - tempo;

h - profundidade local d’água;

g - aceleração de gravidade;

ks - rugosidade de fundo;
57

ρ - massa específica do fluído;

viscosidade cinemática do fluído;

d - diâmetro dos sedimentos;

ρs - massa específica dos sedimentos;

𝑣∗ - velocidade de cisalhamento;

𝛾 - massa específica do sedimento submerso.

Quanto às relações e suas variáveis apresentadas na expressão 6.4, Hughes (1993) comenta
que o relacionamento explícito entre elas é desconhecido, entretanto a semelhança cinemática e
dinâmica requer que todos os seus produtos adimensionais sejam os mesmos entre o modelo e o
protótipo. A perfeita similaridade entre a geometria e a hidrodinâmica do modelo será atingida caso
as cinco primeiras relações ou produtos adimensionais da Expressão 6.4 sejam atingidas. O sexto,
sétimo e oitavo produtos se referem, respectivamente, à rugosidade do fundo, escala de tempo (pelo
critério de Froude) e Número de Reynolds. Quanto a esses três últimos adimensionais, Hughes
(1993) destaca que a rugosidade e a escala de tempo são mais facilmente atingidas em modelos
costeiros do que o Número de Reynolds, devido à dificuldade de se manter a similaridade entre as
forças viscosas do modelo e do protótipo, sendo que em modelos costeiros essa relação é ignorada.
No entanto, para tal problema, procura-se assumir ao menos um fluxo em regime turbulento
próximo ao fundo móvel (Kamphuis, 1985).

Na Expressão 6.5, os quatro produtos adimensionais são, respectivamente, o Número de


Reynolds da partícula, o Número de Froude densimétrico, densidade relativa da partícula e
comprimento relativo. Hughes (1993) destaca, assim como para os parâmetros hidráulicos e
geométricos, que a completa similaridade do transporte de sedimento de fundo se dá quando todos
esses quatros produtos adimensionais sejam mantidos no modelo assim como no protótipo, porém
em modelos costeiros, dependendo da escala a ser utilizada, tais semelhanças são bastante difíceis
de se atingir.

6.3.Tipos de modelagem física aplicadas a sistemas costeiros dominados por ondas

Direcionando o uso de modelagem física em escala reduzida para processos sedimentares de


sistemas costeiros, Hughes (1993) apresenta dois tipos principais de modelos: modelos de fundo-
58

fixo e modelos de fundo-móvel. Segundo Hughes (1993), modelos de fundo-fixo são aqueles que
possuem superfícies sólidas que não podem ser modificadas pelo processo hidrodinâmico atuante
no modelo, sendo usados, principalmente, em estudos de engenharia que envolvam ondas e
correntes interagindo sobre estruturas fixas, como por exemplo, testes de resistência de quebra-
mares (2D) e propagações de ondas em zonas portuárias (3D). Já os modelos de fundo-móvel são
aqueles que possuem o fundo composto por materiais que reagem à aplicação de forças
hidrodinâmicas, como por exemplo, estudos de erosão, transporte e deposição de sedimentos pela
ação de ondas e correntes associadas, perfil de equilíbrio de praias, evolução de formas de fundo,
ação de tempestades em zonas praiais (2D); ou estudos de erosão em ilhas de areia de perfurações
petrolíferas e deriva litorânea (3D).

Outra característica inerente à modelagem física de sistemas costeiros se dá em virtude da


amplitude temporal dos fenômenos estudados (Hughes, 1993). Modelos de curto-prazo (short-term)
são aqueles que estudam fenômenos com duração de horas a dias, como por exemplo, eventos de
tempestades. Modelos de longo-prazo (long-term) estão relacionados à modelagem que estuda
fenômenos com duração de dias a anos, como deriva litorânea. No caso de modelagem de ondas, a
temporalidade se aplica também no período da onda simulada. Modelos de ondas-curtas (short-
wave) simulam condições de swell, enquanto que modelos de ondas-longas (long-wave) simulam
marés e tsunamis.

Além dos aspectos estruturais e temporais, os modelos físicos também possuem outro
aspecto relevante: a geometria do canal utilizado na modelagem. Os modelos físicos podem ser
bidimensionais – 2D – ou tridimensionais – 3D (Fig. 6.1). Modelos 2D são realizados em canais
alongados, representando um perfil longitudinal do sistema modelado. Modelos 3D são realizados
em condutos amplos, mais conhecidos como tanques ou bacias, representando a integralidade
espacial do fenômeno estudado.
59

Figura 6.1 – Tipos de canais de geração de ondas em laboratório. A,B) Canal bidimensional (2D).
C) Canal tridimensional ou bacia (3D). *Obs.: fotos dos canais do laboratório do Instituto de
Pesquisas Hidráulicas (IPH) – UFRGS, Porto Alegre, RS.

6.4. Estado da arte de estudos de modelos de fundo-móvel compostos por conchas

Do ponto de vista de processos sedimentares, há poucos trabalhos na literatura que


utilizaram modelagem física sobre um fundo-móvel composto por conchas. Aqui, serão
apresentados três estudos que investigaram a ação de fluxos unidirecionais (corrente) e oscilatórios
(ondas) sobre sedimentos bioclásticos a partir de modelagem física: Nagle (1967),
Brenchley & Newall (1969), Futterer (1982) e Thompson & Amos (2002).
60

6.4.1. Nagle (1967)

Este autor investigou a orientação de conchas (bivalves e gastrópodes), de variadas


geometrias, sob a ação de fluxos oscilatórios e unidirecionais a partir de modelagem física em
laboratório de correntes e ondas, além de também realizar experimentos de campo.

Os resultados obtidos neste trabalho indicam que há uma orientação diagnóstica para cada
tipo de fluxo. Conchas submetidas a ação de correntes tendem a se orientar com seu eixo de maior
comprimento paralelo a direção da corrente e com uma único sentido preferencial de alinhamento
(rozeta unimodal), de acordo com a geometria da concha (Fig. 6.2A). Conchas submetidas a ação de
ondas na zona de empolamento (nonswash) tendem a alinhar seu eixo de maior comprimento
paralelo a direção da crista da onda, produzindo dois sentidos preferenciais de alinhamento (rozeta
bimodal), também dependendo da geometria da concha (Fig. 6.2B). Em zonas de swash, as conchas
também apresentam dois sentidos preferenciais de alinhamento, porém na direção perpendicular em
relação às cristas das ondas incidentes.

Figura 6.2 – Padrões de orientações diagnósticas de conchas. A) Padrão de orientação gerado por
correntes, apresentando diagrama de rozeta assimétrico, com um sentido preferencial de orientação
paralelo a direção da corrente. B) Padrão de orientação gerado por ondas (zona de empolamento) ,
apresentando diagrama de rozeta simétrico, com dois sentidos preferenciais antagônicos paralelos a
direção de alinhamento das cristas de ondas incidentes. Modificado e traduzido de Nagle (1967).

Além destes resultados, o autor também comenta que conchas maiores e mais pesadas são
mais dificilmente orientadas quando estão sobre um fundo com sedimentos finos ou semienterradas.
61

O autor discute que estas orientações diagnosticas podem ser aplicadas no registro geológico, de
modo a indicar os processos deposicionais ocorridos em rochas sedimentares, mesmo em rochas em
que tenha ocorrido intensa bioturbação, desde que conchas de grande porte estejam densamente
presentes.

6.4.2. Brenchley & Newall (1969)

Neste estudo, os autores realizaram uma série de experimentos em diferentes tipos de


substratos. Substratos com oito diferentes espécies de conchas (pelecípodes/bivalves e gastrópodes)
dispostas em uma base de areia média ou lama, foram utilizados para investigar a orientação das
conchas e os efeitos da corrente incidente no fundo. Os experimentos demonstraram que as conchas
são orientadas durante o seu transporte, possuindo direção preferencial, do seu eixo de maior
comprimento, no sentido da corrente incidente, e dispostas em posição de concavidade para baixo.
Além disto, foi constatado que as conchas se movem mais facilmente e percorrem maiores
distâncias em um fundo arenoso, do que em fundo lamoso.

6.4.3. Futterer (1982)


Futterer (1982) investigou as diferenças entre acumulações de conchas (bivalves,
gastrópodes e amonites) geradas por ondas e correntes, através de dados experimentais obtidos em
canais de laboratório. É importante salientar que neste trabalho, o autor realizou experimentos com
acumulações de conchas e não com conchas isoladas, pois em acumulações partículas e objetos
vizinhos podem exercer impedimentos no movimento das conchas. As tabelas abaixo (Tab. 6.1 e
6.2) apresentam as diferenças entre a ação de ondas e de correntes para dois tipos de acumulações:
acumulações de borda (edgewise) e acumulações bandadas lineares (stringers). Acumulações de
borda estão mais relacionadas a eventos de tempestade (episódicas), enquanto que as bandadas
sugerem clima normal (permanente). O autor ressalta que em ambientes de águas rasas as forçantes
ondas e correntes ocorrem mutuamente, no entanto, a forçante dominante determina o tipo de
acumulação gerada.
62

Tabela 6.1 – Distinção entre acumulações de borda geradas por ondas e correntes. Modificado de
Futterer (1982).

Característica Ondas Correntes

Direção do eixo de maior Uniforme, perpendicular a


Diferentes orientações
comprimento corrente

Várias direções Constante para montante


Inclinação
Empilhamento em variadas Imbricação em uma direção
Acumulações
direções (jusante)

Tabela 6.2 – Distinção entre acumulações bandadas lineares geradas por ondas e correntes.
Modificado de Futterer (1982).

Característica Ondas Correntes

Uniforme (distância entre


Distância entre as bandas Variável
wave ripples)

Frequencia das bandas Sempre numeroso Isolada, raramente numerosas

Posição das conchas nas


Eixo maior paralelo às bandas Imbricação em uma direção
bandas
Somente na parte de
Partículas finas Em ambos os lados das bandas
"sotavento" da banda

6.4.4. Thompson & Amos (2002)

Neste estudo, os autores usaram um canal oval para investigar a mobilidade de conchas de
bivalves desarticuladas (C. edulis) sobre um fundo de sedimentos coesivos, a partir de correntes
unidirecionais com energia crescente. Os autores constataram que as conchas se moveram como
carga de fundo, primeiramente sendo arrastadas sobre o fundo e, posteriormente, rolando. A
velocidade de início de movimento das conchas está diretamente relacionada com sua velocidade de
queda, que foi medida antes do experimento. Além disto, verificou-se que o movimento das
conchas acentuou o processo de erosão do fundo coesivo onde estas estavam dispostas, pois se
movimentavam por arrasto e não por saltação, ou seja, a erosão se deu mais propriamente pela
movimentação das conchas no fundo, do que pela interação com o fluxo de água.
63

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abrahão, D. & Warme, J.E. 1990. Lacustrine and associed deposits in a rifted continental margin –

Lower Cretaceous Lagoa feia Formation, Campos Basin, offshore Brazil. American Association

of Petroleum Geologists Memoir, 50: 287-305.

Aigner, T. 1985. Storm depositional systems: dynamic stratigraphy in modern and ancient shallow-

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IX

PARTE II

PROJETO DE TESE DE DOUTORAMENTO

PADRÕES DIAGNÓSTICOS E PROCESSOS SEDIMENTARES DE COQUINAS EM


SISTEMAS COSTEIROS DOMINADOS POR ONDAS

CRISTIANO FICK

Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)

Co-orientador: Prof. Dr. Eduardo Puhl (DHH, IPH, UFRGS)

Banca examinadora:

Prof. Dra. Valesca Brasil Lemos (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Sérgio Rebello Dillenburg (IG/UFRGS)

Prof. Dr. Luiz Augusto Magalhães Endres (IPH/UFRGS)

Porto Alegre, 05 de DEZEMBRO de 2016.


X

Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1
2. SÍNTESE DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................. 3
3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 10
4. JUSTIFICATIVAS ........................................................................................... 11
5. HIPÓTESE ........................................................................................................ 12
6. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 13
6.1. Modelagem física de ondas ............................................................................... 13
6.1.1. Canal de ondas bidimensional............................................................................. 14
6.1.2. Sedimentos .......................................................................................................... 15
6.1.3. Experimentos ...................................................................................................... 17
6.2. Análise de fácies e descrição morfológica de depósito praial recente de
coquinas .............................................................................................................................19
6.2.1. Local.................................................................................................................... 19
6.2.2. Métodos............................................................................................................... 20
6.3. Descrição de fácies de rochas de coquinas no registro geológico.................. 21
6.4. Aprofundamento do estado da arte ................................................................. 22
7. RESULTADOS ESPERADOS ........................................................................ 23
8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ................................................................ 24
9. FONTES DE FINANCIAMENTO .................................................................. 25
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 26
XI

Lista de Figuras
Figura 1 – Modelo deposicional lacustre e suas fácies carbonáticas alóctones das
bacias marginais brasileiras, apresentados na revisão bibliográfica.
Este modelo se baseia numa compilação de informações retiradas
dos estudos de Bertani & Carozzi (1985), Dias et al. (1988),
Abrahão & Warme (1990), Carvalho et al. (2000), Altenhofen
(2013), Muniz (2013), Tavares et al. (2015). A descrição e a
interpretação das fácies (letras minúsculas) estão na Tabela 1. ............................ 8
Figura 2 – Fluxograma da metodologia a ser aplicada neste projeto. ...................................... 13
Figura 3 – Geometria e dimensões do canal de ondas. A) Vista lateral. B) Vista
em planta. ............................................................................................................ 14
Figura 4 – A) Elementos do gerador de ondas. Foto de Clemente (2013). B) Sonda
DHI 201. Foto do fabricante. .............................................................................. 15
Figura 5 – Fotos das principais espécies de conchas dos depósitos da planície
costeira do sul de Santa Catarina, Brasil. A) Anomalocardia
brasiliana. B) Divaricella quadrisulcata. C) Codakia. D) Diplodonta
punctata. Modificado de Fornari (2010). ............................................................ 16
Figura 6 – Granulometria da areia quartzosa. A) Histograma. B) Frequência
acumulada. .......................................................................................................... 16
Figura 7 – Localização da praia de Las Conchillas e imagens do concheiro. A)
Localização de San Antonio Este. B) Localização do trecho com
ocorrência do concheiro. C) Localização da praia de Las Conchillas.
D) Aspecto longitudinal (leste –oeste) da praia de Las Conchillas. E)
Aspecto transversal (continente-oceano) da praia de Las Conchillas e
detalhe das conchas. Imagens adquiridas do Google Earth e
Panorâmio. .......................................................................................................... 20
XII

Lista de Tabelas
Tabela 1 – Lista de fácies de rochas carbonáticas alóctones lacustres descritas em
estudos relacionados às bacias da margem continental brasileira......................... 5
Tabela 2 – Séries experimentais que serão realizadas na etapa de modelagem
física. ................................................................................................................... 18
Tabela 3 – Parâmetros e procedimentos da análise de fácies em relação aos grãos
esqueletais (conchas) e presença de matriz. ........................................................ 21
Tabela 4 – Cronograma de execução do projeto. ..................................................................... 24
1

1. INTRODUÇÃO

As coquinas do pré-sal constituem importantes reservatórios de hidrocarbonetos


existentes nas bacias da margem continental brasileira, principalmente na Bacia de Santos e
na Bacia de Campos. Estas coquinas são rochas carbonáticas constituídas de material
bioclástico, geralmente conchas de bivalves, que representam depósitos lacustres de idade
Barremiana-Aptiana gerados na fase sin-rifte do supercontinente Gondwana. De acordo com
as principais classificações vigentes (Dunham, 1962; Embry & Klovan, 1971), as rochas
carbonáticas tipo coquinas são mais bem designadas como rudstone, grainstone ou packstone,
caracterizadas principalmente por serem grão-suportadas, mas variando no tamanho dos grãos
bioclásticos e na presença ou não de matriz. Além disto, coquinas representam depósitos de
bioclastos que sofreram algum tipo de retrabalhamento mecânico (Kidwell et al., 1986), não
sendo considerado coquinas depósitos de bioacumulados que foram soterrados em posição de
vida (in situ).

Dentre as rochas carbonáticas tipo coquinas da sequencia lacustre sin-rifte, apenas os


rudstones representam bons reservatórios. Fácies de rudstones possuem diferentes descrições,
alternando principalmente em grau de retrabalhamento (conchas quebradas ou inteiras, com
ou sem abrasão), presença de matriz (siliciclástica ou carbonática), tamanhos de grãos
bioclásticos, estrutura e espessuras. Estas diferenças de características remontam diferentes
processos de acumulação de conchas e condições ambientais lacustres, nos quais estas
coquinas foram geradas. De acordo estudos realizados na sequência carbonática do Grupo
Lagoa Feia - Barremiano/Aptiano da Bacia de Campos, as coquinas estão relacionadas desde
o ambiente de bacia do lago, tanto nas porções mais profundas (offshore) sob ação de fluxos
gravitacionais (Altenhofen, 2013), quanto em altos estruturais, sob ação de ondas de
tempestade (Bertani & Carozzi, 1985; Dias et al., 1988; Carvalho et al., 2000); até o ambiente
de margem do lago, em zonas costeiras subaquosas de shoreface/foreshore sob ação de ondas
e correntes de tempestade (Bertani & Carozzi, 1985; Abrahão & Warme, 1990; Muniz, 2013)
ou zonas costeiras subáreas de praia e pós-praia (Carvalho et al., 2000; Muniz, 2013). Embora
alguns estudos indicarem atuação de fluxos gravitacionais nas coquinas de zonas mais
profundas dos lagos, fluxos oscilatórios e unidirecionais são os agentes mais indicados para a
geração das coquinas, tanto nos altos estruturais de bacia do lago, quanto no ambiente de
margem de lago.
2

Acerca da geração de acumulações de grãos esqueletais, Kidwell (1986) sugere que


dependem de fatores sedimentológicos, biológicos e diagenéticos, sendo que os fatores
sedimentológicos são divididos em processos erosivos (winnowing de matriz e
retrabalhamento seletivo) e processos não-deposicionais (bypass de finos, migração de formas
de fundo e falta de aporte siliciclástico). Porém no que diz respeito a esses processos de
acumulação, as informações obtidas nas descrições de fácies e microfácies dos estudos da
sequência carbonática lacustres da Bacia de Campos, carecem de informações sobre padrões
diagnósticos que possam determinar precisamente os fatores de acumulação, bem como os
agentes hidrodinâmicos (fluxos oscilatórios e unidirecionais) e as condições ambientais
(tempestades vs clima normal de ondas) atuantes num ambiente de margem de lago com
abundância de material bioclástico do tipo conchas.

Estudos auxiliares em depósitos análogos do recente (Jahnert et al., 2012) ou do


registro geológico (Tavares et al., 2015) e simulações físicas em escala reduzida de
laboratório (Nagle, 1967, Brenchley & Newall, 1969; Thompson & Amos, 2002), vem sendo
realizados para reunir informações que possibilitem uma melhor interpretação dos processos
sedimentares atuantes na geração de coquinas do pré-sal, bem como estabelecer padrões
diagnósticos de grau de retrabalhamento, orientação e organização das conchas, estruturas
sedimentares, etc.

No entanto, os modelos deposicionais para a geração de coquinas ainda carecem de


padrões diagnósticos sólidos que permitam uma interpretação precisa dos diversos processos
sedimentares (retrabalhamento, transporte, deposição) atuantes em sistemas costeiros, sejam
marinhos ou lacustres, cujo principal agente hidrodinâmico é a onda. Partindo deste problema,
a pergunta científica que se lança é saber como os diferentes processos oscilatórios que
ocorrem em sistemas costeiros de praia (empolamento, quebra e swash; sensu Short, 1999)
atuam nos processos sedimentares de acumulação e retrabalhamento mecânico de grãos
esqueletais, como o winnowing e o retrabalhamento seletivo (sensu Kidwell, 1986) e quais as
feições faciológicas que permitem identificar tais associações de processos.
3

2. SÍNTESE DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Coquinas são rochas carbonáticas constituídas por grãos esqueletais maiores do que
2 mm, principalmente de moluscos bivalves e gastrópodes, com ou sem matriz e fábrica
suportada pelos grãos; e cujo o processo de acumulação dos seus constituintes se deu por
retrabalhamento mecânico (Pettijohn, 1975; Kidwell et al., 1986). No entanto, no contexto
das rochas carbonáticas das bacias da margem continental brasileira, o termo coquina é usado
genericamente para designar rudstones, grainstones e packstones (sensu Dunham, 1962;
Embry & Klovan, 1971), além de bioacumulados sem retrabalhamento (Terra et al., 2010).
Desta maneira, percebe-se certa inconformidade quanto ao uso do termo coquina,
principalmente no que diz respeito ao tamanho das partículas constituintes e ocorrência ou
não de retrabalhamento mecânico.

Segundo Kidwell (1986), os processos sedimentológicos de acumulação de grãos


esqueletais em ambientes subaquosos podem ser enquadrados em dois grupos: (1) erosivos,
cujos processos atuantes são o winnowing (remoção seletiva de sedimentos intersistiais) e o
retrabalhamento (seleção de grãos e matriz); (2) não-deposicionais, onde o bypassing de
sedimentos em suspensão, a migração de formas de fundo e a falta de aporte sedimentar, faz
com que os constituintes fósseis se acumulem.

Coquinas são os principais reservatórios de hidrocarbonetos nas rochas carbonáticas


da sequencia sedimentar pré-sal, existentes nas bacias da margem continental brasileira
(Thompson, 2015). Dentre estas bacias, a Bacia de Campos é a que possui a maior quantidade
de informações e estudos publicados. Na Bacia de Campos, as coquinas pertencem a
Formação Coqueiros, Grupo Lagoa Feia, de idade Barremiana/Aptiana, caracterizadas
principalmente por rudstones bioclásticos (bivalves e gastrópodes) com mais de 100 m de
espessura, intercalados com sedimentos siliciclásticos depositados em lagos tectônicos (meio-
graben) com níveis de água bastante oscilantes, durante a fase sin-rifte do supercontinente
Gondwana (Bertani & Carozzi, 1984; Dias et al., 1988; Abrahão & Warme, 1990; Rangel et
al., 1994; Carvalho et al., 2000; Winter et al., 2007; Muniz, 2013). Do ponto de vista de
ambientes carbonáticos lacustres, as coquinas da Formação Coqueiros foram geradas em
rampas ou plataformas de alta energia (sensu Platt & Wright, 1991), posicionadas acima do
nível de base de ação das ondas de tempestade (Muniz, 2013; Tavares et al., 2015), ou em
4

altos estruturais da bacia do lago, formando bancos ou barras bioclásticas (Bertani & Carozzi,
1985; Dias et al., 1988; Carvalho et al., 2000).

No Grupo Lagoa Feia, as fácies carbonáticas apresentam variadas caracterizações e


classificações, assim como variados processos e ambientes sedimentares, abrangendo desde
ambientes de bacia do lago até margem do lago. A Tabela 1 e a Figura 1 apresentam uma
compilação das fácies descritas nos principais estudos realizados na sequência carbonática
lacustre da Bacia de Campos (testemunhos) e da Bacia Sergipe-Alagoas.

Processos relacionados a ondas e correntes são os mais relacionados à geração de


coquinas, principalmente quando amplificados por condições climáticas de tempestade
(Bertani & Carozzi, 1985; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000;
Jahnert et al., 2012; Muniz, 2013; Tavares et al., 2015). Sob este ponto de vista, o nível de
base de ação das ondas (NBO) constitui um elemento chave para na geração de coquinas.
Durante tempestades, com ondas de mais alta energia, o NBO tende a se deslocar para zonas
mais profundas, adentrando na zona de transição de shoreface-offshore que é o local de
habitat dos bivalves (Gierlowski-Kordesch, 2010), retrabalhando e deslocando este material,
junto com correntes de fundo (Muniz, 2013).

Como uma ferramenta importante para a investigação de processos sedimentares, a


modelagem física em tanques e canais de laboratório foi utilizada em alguns estudos
(Nagle, 1967; Brenchley & Newall, 1969; Thompson & Amos, 2002) a fim de observar
padrões diagnósticos em depósitos de conchas sob a ação de correntes unidirecionais e ondas.
Os experimentos demonstraram que as conchas são orientadas durante o seu transporte,
possuindo direção preferencial, do seu eixo de maior comprimento, no sentido da corrente
incidente, e dispostas em posição de concavidade para baixo, além de se moverem mais
facilmente e percorrem maiores distâncias em um fundo arenoso, do que em fundo lamoso
(Brenchley & Newall, 1969). Correntes unidirecionais com menor energia tendem transportar
conchas por escorregamento sobre o fundo e, com o aumento de energia, por rolamento,
provocando erosão de fundo com material coesivo (Thompson & Amos, 2002). Sob ação de
ondas, conchas tendem se orientar com concavidade para baixo, e com eixo de maior
comprimento paralelo a direção das cristas de ondas (Nagle, 1967).
5

Tabela 1 – Lista de fácies de rochas carbonáticas alóctones lacustres descritas em estudos


relacionados às bacias da margem continental brasileira.
Ambiente

Sub-ambiente/

Código
Fácie / Estudo Descrição Processo
zona

planície M1 / Bertani & mudstone - micrita peloidal, raros ostracodes, marcas de


a nd
carbonática Carozzi (1985) dissecação e raízes

b F / Muniz (2013)* floatstone - bivalves desarticulados em matriz micritica baixa energia

wackstone - bivalves em matriz lamosa, bioturbação,


c WK / Muniz (2013)* baixa energia
brechas

águas calmas e
rasas (laguna ou
baía) mudstone - com matéria orgânica e bioclastos de
d MD / Muniz (2013)* baixa energia
bivalves

mudstone - sedimentos finos carbonáticos e


e Carvalho et al. (2000) siliciclásticos com feições de exposição subaerea, baixa energia
laminações e ripples
Margem do Lago

pós praia ,packstone - bivalves, gastrópodes e pelóides com pouca ondas e correntes
f P / Muniz (2013)
(washover) fragmentação em matriz lamosa, contatos erosivos de tempestade

graistone - calcarenitos bioclásticos de conchas de


g Carvalho et al. (2000) bivalves fragmentadas e com abrasão, estrat. de baixo tempestades
ângulo
praia / backshore

rudstone - calciruditos de bivalves com areia


h Carvalho et al. (2000) tempestades
siliciclástica, estrat. de baixo ângulo,

alta energia,
OT2 / Bertani & packstone - calcarenito oncolítico, pouca matriz
i remoção de finos
Carozzi (1985) micrítica, bioclastos de ostracodes
(winnowing)

foreshore alta energia,


PT2 / Bertani & grainstone - calcarenito bioclástico, rico em bioclastos
j retrabalhamento
Carozzi (1985) de bivalves e sedimentos terrígenos
de conchas

Abrahão & Warme grainstone - grãos esqueletais de bivalves, gastrópodes e ondas de


l
(1990) ostracodes tempestade
6

grainstone - grãos esqueletais de bivalves, gastrópodes, alta energia,


foreshore/shorefac
m G / Muniz (2013) ostracodes e pelóides, conchas inteiras e/ou quebradas winnowing por
e
com abrasão ondas e correntes

Abrahão & Warme wackestone - grãos esqueletais de bivalves, gastrópodes ondas de


n
(1990) e ostracodes tempestade
ondas e correntes
packstone - bivalves, gastrópodes e pelóides com de tempestade ou
o P / Muniz (2013)
poucafragmentação, matriz lamosa, contatos erosivos correntes de
shoreface
turbidez
Cfi / Tavares et al. rudstone - coquina não-fragmentada, com matriz ondas de
p
(2015) micrítica e sedimentos terrígenos tempestade
Cf / Tavares et al. ondas de
q rudstone - coquina fragmentada, com matriz micrítica
(2015) tempestade
baixa energia,
PT3 / Bertani & packstone - calcarenito bioclástico com matriz terrígena mas com
r
Carozzi (1985) e carbonática retrabalhamento
de conchas
Cmi / Tavares et al. rudstone - coquina fragmentada, com matriz micrítica e ondas de
s
(2015) sedimentos terrígenos tempestade
shoreface/offshore Cm / Tavares et al. rudstone - coquina não-fragmentada, com matriz ondas de
t
(entre o NBON e (2015) micrítica tempestade
NBOT) alta energia,
rudstones - gastrópodes e bivalves fragmentados, retrabalhamento,
u R / Muniz (2013)
inteiros e com abrasão, matriz carbonática ou terrígena ondas de
tempestades
baixa energia,
P4 / Bertani & packstone - calcarenito bioclástico, conchas de bivalves
v correntes de
Carozzi (1985) retrabalhadas
tempestades
baixa energia, ou
w F / Muniz (2013)* floatstone - bivalves desarticulados, matriz micritica aguas calmas e
rasas
baixa energia, ou
wackstone - bivalves, matriz lamosa, bioturbação,
x WK / Muniz (2013)* aguas calmas e
brechas
rasas
baixa energia, ou
y MD / Muniz (2013)* mudstone - matéria orgânicae bioclastos de bivalves aguas calmas e
rasas
Bacia do Lago

baixa
offshore (abaixo
energia,abaixo
do NBOT)
OS4 / Bertani & packstone/wackstone - calcarenito a calcisiltito, do NBOT, mas
z
Carozzi (1985) suportado pela matriz, fragmentos de conchas com
retrabalhamento
de conchas
fluxo
gravitacionais de
aa Altenhofen (2013) grainstone - grãos esqueletais de bivalves escorregamentos
/
ressedimentação
ab Altenhofen (2013) rudstone - grãos esqueletais de bivalves fluxo
7

gravitacionais de
escorregamentos
/
ressedimentação
ac Carvalho et al. (2000) mudstone - lama carbonática e folhelhos laminados baixa energia
ad Dias et al. (1988) wackstone - calcilutitos alta energia
ae Dias et al. (1988) grainstone - calcarenitos alta energia
af Dias et al. (1988) rudstone - calciruditos alta energia
ag Dias et al. (1988) bioacumulados alta energia
alta energia,
rudstone - barras bioclásticas / calciruditos de bivalves, tempestades,
ah Carvalho et al. (2000)
estrat. cruzadas baixa
profundidade
alta energia de
bancos/barras
P5 / Bertani & grainstone - calcarenito bioclástico, conchas de bivalves ondas e
Altos estruturais

ai
Carozzi (1985) retrabalhadas correntes, entre o
NBON e NBOT
OS6 / Bertani & baixa energia,
aj bioacumulado - conchas de ostracodes, com matriz
Carozzi (1985) deposição in situ
P6 / Bertani & bioacululado - bivalves com matriz micrítica, sem baixa energia,
ak
Carozzi (1985) retrabalhamento deposição in situ
bioacumulado - bioconstruções com sedimentos baixa energia,
al Carvalho et al. (2000)
siliciclásticos (areia e lama) alta profundidade

rudstone - franjas de barras bioclásticas / calciruditos de alta energia,


lençóis/franjas am Carvalho et al. (2000)
bivalves fragmentados e gastrópodes tempestades
8

Figura 1 – Modelo deposicional lacustre e suas fácies carbonáticas alóctones das bacias
marginais brasileiras, apresentados na revisão bibliográfica. Este modelo se baseia numa
compilação de informações retiradas dos estudos de Bertani & Carozzi (1985),
9

Dias et al. (1988), Abrahão & Warme (1990), Carvalho et al. (2000), Altenhofen (2013),
Muniz (2013), Tavares et al. (2015). A descrição e a interpretação das fácies (letras
minúsculas) estão na Tabela 1.
10

3. OBJETIVOS

Objetivo principal:

Criar um modelo deposicional de rochas carbonáticas tipo coquinas em ambiente de águas


rasas dominado por ondas, que seja aplicado tanto em sistemas de margem de lago ou
marinho-raso.

Objetivos secundários:

1. Identificar padrões diagnósticos para depósitos de coquinas nas diferentes zonas


praiais: (I) zona praial subaérea (backshore e pós-praia); (II) zona praial subaquosa
(offshore-shoreface e foreshore);
2. Reproduzir os processos de winnowing e retrabalhamento de conchas em tanque de
ondas;
3. Aplicar os padrões diagnósticos nos depósitos da Pedreira Atol – Ex: Formação Morro
do Chaves, Bacia de Sergipe-Alagoas; bem como em testemunhos de coquinhas
lacustres das bacias da margem continental brasileira (coleção da Litoteca
CENPES/Petrobrás).

A identificação dos padrões diagnósticos dos depósitos de coquinhas terão por base
modelagem física em canais de ondas 2D, para os processos e depósitos da zona subaquosa; e
depósitos de coquinas em praias atuais, mais provavelmente na praia de Las Conchillas, em o
San Antonio Este - Argentina, para os depósitos de praia subaérea.
11

4. JUSTIFICATIVAS

Este projeto de estudo se justifica pela possibilidade de um melhor entendimento dos


processos sedimentares atuantes na geração de depósitos de conchas em sistema costeiro
dominado por ondas (margem de lago ou marinho-raso), consistindo em uma contribuição
científica aos modelos deposicionais das rochas carbonáticas lacustres das bacias
sedimentares marginais do Brasil, mais especificamente as coquinas do pré-sal. Por serem de
relevante valor econômico, as coquinas, rochas reservatórios de hidrocarbonetos, acabam
atraindo um maior interesse acadêmico acerca do conhecimento da sua gênese e de suas
características físicas como rocha. A criação de modelos deposicionais robustos podem
significar um melhoramento das condições de exploração de óleo, de modo a diminuir
incertezas durante as atividades exploratórias.

Além disto, o uso de modelagem física de fluxos oscilatórios (canais de ondas)


consiste em justificativas para o desenvolvimento deste Plano de Tese. Primeiramente, pelo
fato de existirem poucos estudos utilizando este tipo de modelagem de processos
sedimentares que envolvam forçantes induzidas por ondas e sedimentos biogênicos do tipo
conchas de moluscos (grãos esqueletais). Segundo, por que a modelagem física em
laboratórios permite construir diferentes cenários e eventos através do controle das condições
de contorno, podendo-se testar relações de causa-e-efeito de determinados parâmetros no
processo simulado.
12

5. HIPÓTESE

Partindo da premissa de que grande parte das rochas de coquinas (packstones,


graisntones e, principalmente, rudstones) foram depositadas em sistemas praiais de margem
de lagos tectônicos, durante a fase sin-rifte do supercontinente Gondwana (Bertani & Carozzi,
1985; Dias et al, 1988, Abrahão & Warme, 1990; Rangel et al., 1994; Carvalho et al., 2000;
Muniz, 2013), em eventos de tempestades, a hipótese levantada é de que os processos de
acumulação de grãos esqueletais, principalmente de moluscos bivalves, são diferenciados em
cada zona praial, variando de acordo com a forçante ondulatória (empolamento, quebra e
swash) e correntes associadas, os quais devem produzir elementos faciológicos distintos.

Coquinas com baixo grau de retrabalhamento (conchas inteiras e sem abrasão) e com
pouca ou nenhuma matriz sugerem zonas praiais de mais baixa energia e maior profundidade
(acima do NBOT), como a zona de shoreface inferior, onde o empolamento das ondas
(associado a alguma corrente de fundo) provoca o processo de winnowing, que remove o
sedimento mais fino intersticial aos grãos esqueletais. Coquinas com alto grau de
retrabalhamento (conchas fragmentadas e com abrasão) e sem matriz lamosa sugerem zonas
praiais de maior energia e baixa profundidade (acima do NBON) ou subaéreas, como as zonas
de shoreface superior, foreshore e backshore, onde a quebra e o swash da onda causam a
fragmentação e o desgaste das conchas.

Além dessa zonação de processos e produtos, é importante salientar que tais


acumulações de grãos esqueletais (conchas) são relacionados a condições de tempestades e
ressacas (Aigner, 1985), quando as forçantes ondulatórias e as correntes de fundo amplificam
seu poder de retrabalhamento mecânico e transporte, assim como expandem sua área de
influência, remobilizando a zona de habitat de moluscos (offshore/shoreface inferior), abaixo
do NBON, e transportando conchas até as zonas de praia subaérea.
13

6. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia que será utilizada neste projeto seguirá três linhas de abordagem:
modelagem física de fluxos oscilatórios, descrição faciológica e morfológica de depósito
conchífero praial recente e descrição de rochas carbonáticas de coquinas lacustres das bacias
da margem continental brasileira. O fluxograma da Figura 2 apresenta a organização da
metodologia a ser realizando, especificando cada etapa e o seu objetivo.

Figura 2 – Fluxograma da metodologia a ser aplicada neste projeto.

6.1.Modelagem física de ondas

A modelagem física de ondas em canal bidimensional será empregada para testar e


observar o comportamento de conchas e sedimentos sob a ação de ondas, ao longo de um
perfil praial análogo a uma margem de lago de alta energia. A modelagem permite simular
diferentes cenários de energia de ondas (clima normal ou de tempestade) e reproduzir
processos subaquosos de difícil visualização. Com isso, poderá se determinar padrões
diagnósticos de acumulação e orientação de conchas que poderão ser empregados em
descrições de fácies de depósitos e rochas de coquinas.
14

6.1.1. Canal de ondas bidimensional

O canal de geração de ondas que será usado nas simulações físicas está localizado no
laboratório do Pavilhão Fluvial do Instituto de pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade
Federal do rio Grande do Sul (UFRGS). As dimensões e a geometria do canal estão
apresentadas na Figura 3. O fundo e as paredes do canal são de alvenaria, sendo que em um
trecho, nas laterais, há uma janela de vidro que permite a visualização dos processos.

A geração de ondas é produzida por um batedor articulado no fundo (Fig. 4A), que
consiste em uma pá movimentada por um motor elétrico, em uma das extremidades do canal.
Através de uma cabine de comando, localizada ao lado do canal, é a realizada o controle da
geração de ondas, podendo-se variar o período e a altura da ondulação gerada. A alteração do
período é realizada pelo controle de frequência da rotação do motor do batedor, enquanto que
a altura é controlada pela dimensão do cursor do batedor, de modo a alterar a amplitude de
deslocamento lateral do batedor. Segundo o estudo de Clemente (2013), que construiu a curva
do batedor de ondas do IPH, a altura máxima que pode ser gerada é de 20 cm, enquanto que o
período possui um intervalo entre 1,2 e 2,2 s.

Figura 3 – Geometria e dimensões do canal de ondas. A) Vista lateral. B) Vista em planta.


15

Figura 4 – A) Elementos do gerador de ondas. Foto de Clemente (2013). B) Sonda DHI 201.
Foto do fabricante.

Além do batedor, outro elemento importante a se destacar é o medidor de altura e período


das ondas geradas. Estas medições são realizadas por sensores elétricos, a partir da
condutividade entre dois eletrodos paralelos de aço inoxidável, que ficam imersos na água. À
medida que as ondulações geradas provocam frequentes variações de nível de água,
repercutem variações da condutividade elétrica nos eletrodos. O registro destas oscilações de
condutividade é feito por um software (National Instruments LabView Signal Express),
permitindo a construção de uma série temporal de altura e período das ondas ao longo dos
experimentos. Estão disponíveis 8 sondas da marca DHI modelo 201 (Fig. 4B), com as
especificações: 100 cm de altura, resolução <1 mm, temperatura de operação entre 5 - 40ºC.

6.1.2. Sedimentos

Os sedimentos utilizados nas simulações serão conchas de moluscos bivalves (Fig. 5), das
espécies Anomalocardia brasiliana (Gemelin, 1791; apud Fornari, 2010), Divaricella
quadrisulcata (Orbigny, 1846; apud Fornari, 2010), Codakia (Fornari, 2010) e Diplodonta
punctata (Fornari, 2010), provenientes das jazidas de conchas holocênicas da planície costeira
de Santa Catarina. Mais precisamente, este material carbonático foi adquirido da Mineração
16

CYSY, em Jaguaruna-SC. As conchas inteiras possuem tamanho médio (D50) de


aproximadamente 12 mm, variando de 4 a 20 mm (mínimo e máximo).

Figura 5 – Fotos das principais espécies de conchas dos depósitos da planície costeira do sul
de Santa Catarina, Brasil. A) Anomalocardia brasiliana. B) Divaricella quadrisulcata. C)
Codakia. D) Diplodonta punctata. Modificado de Fornari (2010).

Além das conchas, será utilizada areia quartzosa para construir o perfil praial e servir
de sedimento intersticial. A areia possui tamanho de grão médio (D50) de 200 μm e é bem
selecionada (Fig. 6).

Figura 6 – Granulometria da areia quartzosa. A) Histograma. B) Frequência acumulada.


17

6.1.3. Experimentos

Os experimentos que serão realizados no canal bidimensional de ondas terão duas linhas
de abordagem: (1) uma do ponto de vista de reprodução dos processos de acumulação de
conchas e outra (2) visando determinar padrões diagnósticos de orientação e grau de
retrabalhamento de conchas, ao longo do perfil praial simulado.

A primeira linha terá por objetivo reproduzir os processos de winnowing e


retrabalhamento seletivo através das ondas geradas, em cenários experimentais que simulem
condições extremas de energia (maior altura e período de onda, nível de água alto), de modo a
reproduzir eventos de tempestades e ressacas. Para tal, serão construídos perfis de praia sob
um clima de ondas normal, que reproduzam as características de um ambiente de margem de
lago do tipo rampa ou plataforma, em termos de declividade e posicionamento de organismos
(conchas) em sua zona de habitat, abaixo do NBON. Desejando reproduzir um ambiente atual
análogo de lago tectônico, o Lago Tanganyika, que é considerado o lago atual com maior
semelhança aos lagos que existiram durante o rifteamento do Gondwana (Thompson et al.,
2015), será um elemento explorado, do ponto de vista dos parâmetros das ondas geradas e
declividade do terreno.

Com isto, espera-se que as conchas, posicionadas abaixo do NBON, sejam remobilizadas
ou até mesmo transportadas para zonas adjacentes, quando sob efeito de cenários de maior
energia de ondas. No entanto, espera-se que o transporte longitudinal de conchas não seja tão
efetivo, devido a impossibilidade de se reproduzir correntes de fundo ou superficiais, que
ocorrem em sistemas costeiros naturais, durante a geração de ondas no canal 2D. O
acompanhamento dos processos ocorrentes no canal será realizado por câmeras localizadas na
janela lateral de vidro e por câmeras subaquáticas.

A segunda linha de abordagem experimental terá como objetivo determinar padrões


diagnósticos de posicionamento (convexidade para cima ou para baixo) e orientação de
conchas (orientação do eixo de maior comprimento) para cada tipo de processo ondulatório
atuante: empolamento, quebra e swash. Para tal, serão espalhadas homogeneamente conchas
inteiras ao longo do perfil praial e, depois de decorrido um clima de geração de ondas, será
feita uma avaliação visual do posicionamento e orientação das conchas ao longo das zonas
praiais análogas. Além disto, será avaliada também a ocorrência de fragmentação de conchas
nos experimentos, observando em qual zona do perfil simulado acontece a quebra e como os
fragmentos se depositam.
18

Estas duas linhas de abordagem experimental serão desenvolvidas em séries


experimentais distintas. Uma primeira estimativa da quantidade de experimentos a ser
realizados indica um mínimo de 12, onde em duas (2) séries experimentais, pretende-se usar
três (3) declividades diferentes e dois (2) tipos de materiais: conchas inteiras e fragmentos. A
Tabela 2 apresenta estas séries e seus objetivos.

Tabela 2 – Séries experimentais que serão realizadas na etapa de modelagem física.

Série Objetivo Aspectos de análise Cenários de simulação

Preparação do perfil Rampa carbonática de


Preliminar Declividade, morfologia
praial margem de lago

Alternância de condições
Winniwing e
Simular processos de de energia de ondas
1 retrabalhamento seletivo
acumulação de conchas (clima normal e de
(sensu Kidwell, 1986)
tempestade)
Determinar padrões Orientação, grau de Condições constantes de
2 diagnósticos nas zonas retrabalhamento, máxima energia de onda,
praiais geometria da acumulação simulando tempestades

A determinação da escala experimental envolvida, bem como os efeitos de escala


ocorrentes nas simulações, serão mais precisamente determinados e avaliados na fase
preliminar aos experimentos. No entanto, é possível apontar previamente alguns números e
considerações. Em termos da altura de onda máxima, se comparar as ondas geradas no canal,
aproximadamente 0,20 m (Clemente, 2013), e as ondas geradas em condições de fortes
tempestades no Lago Tanganyica, que podem atingir até 6 m de altura (Lakepedia: Lake
Tanganyika - The Second Deepest Lake in the World.
http://www.lakepedia.com/lake/tanganyika.html), temos um fator de escala de 1/30.

Quanto aos efeitos-de-escalas envolvidos nas simulações, espera-se que haja alguns
problemas quanto ao tamanho das conchas, por elas serem demasiadas grandes em relação à
profundidade e a altura de onda gerada nas simulações, o que dificulta o seu movimento pelo
19

fluxo oscilatório. Para contornar esta situação, possivelmente será utilizado fragmentos
menores de conchas.

6.2. Análise de fácies e descrição morfológica de depósito praial recente de coquinas

A descrição faciológica e morfológica de um depósito de coquinas recente se dará para


complementar os resultados obtidos nas simulações físicas, principalmente quanto os padrões
diagnósticos de acumulações de conchas localizados na zona praial subaérea (backshore e pós
praia), que são difíceis ou impossíveis de se reproduzir em laboratório.

6.2.1. Local

O local de estudo será na praia de Las Conchillas, em San Antonio Este, na província de
Rio Negro, Argentina (Fig. 7). Esta praia se caracteriza pela abundante presença de conchas
em sua porção emersa, ao longo de um trecho de aproximadamente 50 km. Apesar de ser uma
praia oceânica e não lacustre, o concheiro é válido para análise, pois representa um depósito
gerado por ondas. A área desta praia a ser estudada ainda não foi especificamente definida,
mas provavelmente se dará em um trecho reduzido deste concheiro, de aproximadamente 1
km. O uso deste local como estudo de campo, depende de recursos financeiros provenientes
de projetos de pesquisa em fase de contratação. Caso o referido projeto não seja confirmado,
locais alternativos de mais fácil acesso poderão ser utilizados, como por exemplo, os
Concheiros do Albardão, em Santa Vitória do Palmar – RS, ou os depósitos de conchas do sul
do estado de Santa Catarina.
20

Figura 7 – Localização da praia de Las Conchillas e imagens do concheiro. A) Localização de


San Antonio Este. B) Localização do trecho com ocorrência do concheiro. C) Localização da
praia de Las Conchillas. D) Aspecto longitudinal (leste –oeste) da praia de Las Conchillas. E)
Aspecto transversal (continente-oceano) da praia de Las Conchillas e detalhe das conchas.
Imagens adquiridas do Google Earth e Panorâmio.

6.2.2. Métodos

Os métodos de análise empregados serão descritivos/visuais e geofísicos, tomando como


base a metodologia empregada por Janhert et al. (2012), que estudou cordões litorâneos de
coquinas em Shark Bay, Australia.

A descrição de perfis verticais de fácies em trincheiras longitudinais (escavadas ou


naturais) será realizada a partir de uma análise de fácies (metologia de Borghi, 2000) que
21

avaliará o aspectos sedimentológicos/estratigráficos - tamanho dos grãos, fábrica, quantidade


relativa de matriz (arenosa e/ou lamosa), espessura das camadas, orientação - e
tafonômicos/biológicos - grau de retrabalhamento das conchas, espécies. Estes parâmetros
serão tanto estimados e medidos em campo, quanto em amostras coletadas. A Tabela 3
apresenta os parâmetros e procedimentos que serão utilizados para caracterizar as fácies do
concheiro. Amostras serão coletadas manualmente e por trado manual.

Tabela 3 – Parâmetros e procedimentos da análise de fácies em relação aos grãos esqueletais


(conchas) e presença de matriz.

Grau de Quantidade de
Característica Tamanho Orientação
retrabalhamento matriz
direção do eixo de
maior
comprimento,
eixo de maior índice de relação matriz x
Parâmetros sentido do umbo,
comprimento fragmentação grãos esqueletais
convexidade para
baixo ou para
cima

percentual de percentual de
medição com régua medição com
Procedimento fragmentos (por matriz (por peso
e peneiramento bússula
peso da amostra) da amostra)

Perfis de GPR (Ground Penetrating Radar) serão realizados tanto paralelamente, quanto
perpendicularmente a linha de praia, para avaliar a geometria interna do depósito, permitindo
a determinação do arcabouço estratigráfico do depósito.

6.3. Descrição de fácies de rochas de coquinas no registro geológico

Nesta etapa serão aplicados os padrões diagnósticos gerados nas etapas experimentais e de
descrição de depósito recente, bem como padrões conhecidos na literatura (Nagle, 1967;
Kidwell et al., 1986; Janhert et al., 2012; Tavares et al., 2015) em rochas de coquinas do pré-
sal das bacias marginais brasileiras. Para tal serão analisados testemunhos das coquinas da
22

Bacia de Campos ou Santos, ou afloramentos da Bacia de Sergipe-Alagoas, como o da


Formação Morro do Chaves, que possui um contexto deposicional e temporal correlato ao da
Bacias de Campos (Tavares et al., 2015).

6.4. Aprofundamento do estado da arte

Ao longo da execução do projeto, também será dado prosseguimento à pesquisa


bibliográfica referente ao assunto dos processos deposicionais de rochas tipo coquinas, de
modo a corroborar e embasar as descrições e interpretações que serão realizadas.
23

7. RESULTADOS ESPERADOS

Espera-se encontrar diferentes padrões diagnósticos de fácies de coquinas e processos


sedimentares para cada zona praial.

Acima do NBOT:

- Zona de empolamento de ondas (Shoreface inferior) – grãos esqueletais constituídos, em sua


maioria, por conchas inteiras, indicando baixo retrabalhamento mecânico; pouca matriz;
conchas (eixo de maior comprimento) orientadas paralelas a linha de ondulação (crista das
ondas), posicionadas com convexidade para cima; predomínio do processo de winnowing.

- Zona de quebra da onda (shoreface superior / foreshore) – grãos esqueletais constituídos, em


sua maioria, por conchas quebradas (fragmentos), indicando acentuado retrabalhamento
mecânico; pouquíssima matriz; orientação e posição caóticas das conchas; predomínio do
processo de retrabalhamento seletivo;

- Zona de swash da onda (foreshore/backshore) – grãos esqueletais constituídos por uma


mistura equilibrada de conchas inteiras e quebradas; indicando oscilação das condições de
retrabalhamento mecânico; pouca matriz; conchas orientadas perpendicularmente a linha de
praia, convexidade para cima; predomínio de fluxos trativos.

Abaixo do NBOT (offshore): predominância de bioacumulados constituídos por conchas


inteiras, posicionadas verticalmente em posição de vida, com matriz; sem retrabalhamento
mecânico.
24

8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Tabela 4 – Cronograma de execução do projeto. Em azul, o tempo já decorrido, e em laranja,


o período restante.
Etapa de Etapa de Produção
Disciplinas Elaboração
Pesquisa Etapa campo campo e Defesa
Período do e redação
Bibliográfica experimental (depósito (registro submissão da tese
PPGGEO do projeto
recente) geológico) de artigos
mar/15 x
abr/15 x
mai/15 x
jun/15 x
jul/15 x
ago/15 x
set/15 x
out/15 x
nov/15 x
dez/15 x
jan/16 x
fev/16 x
mar/16 x x
abr/16 x x
mai/16 x x
jun/16 x x
jul/16 x x
ago/16 x x x
set/16 x x x
out/16 x x x
nov/16 x x x
dez/16 x x x
jan/17 x
fev/17 x
mar/17 x
abr/17 x
mai/17 x x
jun/17 x x
jul/17 x x
ago/17 x x
set/17 x
out/17 x
nov/17 x
dez/17 x
jan/18 x
fev/18 x
mar/18 x x
abr/18 x x
mai/18 x
jun/18 x
jul/18 x x
ago/18 x x
set/18 x x
out/18 x x
nov/18 x
dez/18 x
jan/19 x
fev/19 x
mar/19 x
25

9. FONTES DE FINANCIAMENTO

O projeto será financiado por recursos provenientes da taxa de bancada da bolsa CNPq
e de projeto de pesquisas entre IPH e Petrobras, atualmente em fase de contratação.
26

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Curso, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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