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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CRISTIANO FICK
Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)
Banca examinadora:
ESTRUTURA DO DOCUMENTO
PARTE I
CRISTIANO FICK
Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)
Banca examinadora:
Sumário
3. SISTEMA PRAIAL........................................................................................ 16
3.1. Definição e zonação do sistema praial .................................................................................. 16
3.2. Ondas ....................................................................................................................................... 19
3.3. Processos associados a tempestades em sistemas deposicionais de águas rasas................ 20
7. REFERÊNCIAS ............................................................................................. 63
V
Lista de Figuras
Figura 1.3 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Dunham (1962). ................. 6
Figura 1.4 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Embry & Klovan
(1971). .............................................................................................................. 7
Figura 2.3 – Modelo tectônico de lagos rifte (meio-gráben). Modificado de Platt &
Wright (1991). ................................................................................................ 15
VI
Figura 3.1 – Delimitação das zonas do perfil praial, de acordo com Short (1999), e
suas respectivas nomenclaturas faciológicas segundo Walker (1984). .......... 18
Figura 4.6 – Mapa da Sequência das Coquinas da Bacia de Campos, onde destaca-se
(em preto) os calciruditos (rudstones) de “alta energia”. Modificado
e traduzido de Dias et al. (1988). .................................................................... 31
Figura 4.7 – Imagens de duas litofácies (testemunho) das Sequência das Coquinas. A)
calciruditos (rudstones) de pelecípodes e gastrópodes, com intenso
retrabalhamento. B) bioacumulado de pelecípodes, sem
retrabalhamento. Modificado de Dias et al. (1988). ....................................... 32
Figura 4.11 – Fotomicrografias das rochas carbonáticas do Grupo Lagoa Feia. (A)
rudstone. (B) grainstone. Modificado de Altenhofen (2013)......................... 37
Lista de Tabelas
Tabela 6.1 – Distinção entre acumulações de borda geradas por ondas e correntes.
Modificado de Futterer (1982). ...................................................................... 62
Tabela 6.2 – Distinção entre acumulações bandadas lineares geradas por ondas e
correntes. Modificado de Futterer (1982). ...................................................... 62
1
Introdução
Na margem continental brasileira, a Bacia de Campos por ser a primeira a produzir petróleo
em coquinas, é a bacia que possui o maior número de estudos sobre a sequencia carbonática
eoaptiana, sendo realizados desde a década de 70. Desta maneira, são de estudos realizados
principalmente na Bacia de Campos que esta monografia se baseia para apresentar os aspectos
sedimentológicos das rochas carbonáticas lacustres tipo coquinas.
Esta monografia está estruturada em seis capítulos, que abordam os seguintes temas:
1. Tipos de sedimentos e classificação das rochas carbonáticas com ênfase em rochas tipo
coquinas;
2. Ambientes carbonáticos lacustres;
3. Definição de sistema praial e processos associados à dinâmica de ondas;
4. Sequência carbonática do Grupo Lagoa Feia da Bacia de Campos, com ênfase na Formação
Coqueiros que possui os espessos pacotes de coquinas;
5. Rochas e depósitos recentes análogos às coquinas lacustres do pré-sal;
6. Modelagem física de ondas em laboratório.
2
Neste capítulo será apresentada uma breve revisão conceitual sobre carbonatos, abordando
principalmente a mineralogia, os tipos de partículas e a classificação das rochas carbonáticas. Além
disto, será destacada a definição de coquinas, foco deste estudo, enfatizando como este tipo de
rocha se enquadra nas classificações vigentes. Aspectos relacionados à diagênese dos carbonatos
não serão abordados, pois este estudo foca os processos e sistemas deposicionais das coquinas.
1.1.Definição
As rochas carbonáticas têm um grande valor econômico, pois possuem cerca de metade das reservas
mundiais de petróleo, além de hospedar minérios epigenéticos e sulfeto de zinco, e também ter uma
grande variedade de uso industriais e químicos, como matéria prima da fabricação de cimento
(Tucker, 2001).
De acordo com Tucker (2001), os componentes carbonáticos podem ser divididos em quatro
grupos: (1) grãos não-esqueletais, (2) grãos esqueletais, (3) micrita (lama carbonática) e (4)
cimento.
3
Grãos não-esqueletais são aqueles gerados por precipitação química ou orgânica em volta de
núcleos pré-existentes, e também podem ser chamados de partículas aloquímicas. Oólitos,
oncólitos, pisólitos, pellets, pelóides, agregados e intraclastos são os principais tipos de partículas
não-esqueletais (Fig. 1.1).
Figura 1.1 – Estrutura interna e morfologia dos grãos não-esqueletais. Traduzido de Tucker (2001).
Oólitos são partículas esféricas, geralmente com tamanhos entre 0,2-0,5 mm (podem atingir
até 2 mm) geradas pela precipitação química da água do mar, formando camadas concêntricas de
aragonita em torno de um núcleo, que pode ser um grão de areia ou um bioclasto (Fig. 1.2A). Após
a diagênese a aragonita geralmente é substituída por calcita. Oólitos são precipitados geralmente até
a uma profundidade de 5 m, mas podem atingir até 10-15 m. São formados em águas agitadas e
movimentados como dunas e ripples por correntes de marés e tempestades. Partículas que possuem
tamanho acima de 2 mm são chamadas de pisólitos. Caso as camadas em torno do núcleo sejam
formadas por precipitados orgânicos, como algas ou organismos microbiais, a partícula recebe o
nome de oncólito. Caso haja um agregado de oólitos envelopados, usa-se o termo oólito composto
(mais de um núcleo).
Pelóides são partículas esféricas, elipsoidais ou angulares sem estrutura interna. São
compostos por carbonatos micro-cristalinos e, geralmente, possuem tamanhos entre 0,1-0,5 mm
4
(Fig. 1.2B). Caso o pelóide seja de origem fecal, usa-se o termo pellet. Pellets possuem forma
regular e são ricos em matéria orgânica, sendo bastante comuns em ambientes protegidos como
lagunas e planícies de maré.
Sendo o foco deste estudo as rochas tipo coquinas, constituídas principalmente por grãos
esqueletais do filo molusco, serão reportadas as classes deste filo, que são principalmente os
bivalves (Fig. 1.2A, 1.2B e 1.2C) e os gastrópodes. Os bivalves constituem um extenso grupo de
espécies, ocupando ambientes marinhos e de água doce, fornecendo grande parte dos sedimentos
carbonáticos marinhos. Possuem modo de vida bastante variado, desde infaunal, vivendo entre o
sedimento de fundo, até planctônico, boiando na coluna d’água. As conchas de bivalves são
compostas por diversas camadas de aragonita microcristalina, enquanto que ostras são calcíticas. As
conchas são facilmente dissolvidas na diagênese, deixando sua forma moldada que posteriormente é
preenchida por calcita. Os gastrópodes são organismos bentônicos e ocorrem através de todo
ambiente marinho raso, em águas salobras e hiper-salinas como em ambientes de planície de maré e
estuários. Gastrópodes são constituídos por aragonita e possuem estrutura cristalina semelhante a
dos bivalves.
principais tipos de algas são as algas vermelhas, algas verdes, algas amarelo - verdes e as
cianobactérias, ocorrendo em águas rasas e formando recifes ou estromatólitos.
1.2.3. Micrita
Micrita ou lama carbonática são sedimentos carbonáticos finos que geralmente ocorrem
como matriz, mas também podem ocorrer como o constituinte principal dos carbonatos. Estas
partículas são formadas por calcita ou aragonita microcristalina, possuindo tamanho de grão menor
que 0,004 mm. Micritas são suscetíveis a diagênese e podem ser substituídas por mosaicos mais
grossos (0,005 – 0,015 mm) chamados de microespatitos. Micritas são formadas em ambientes de
baixa energia rasos, como planícies de maré e lagunas, ou mesmo em ambientes de águas
profundas. Os processos geradores de micrita são: a bioerosão por esponjas e micróbios que atacam
partículas carbonáticas; a quebra mecânica de grãos esqueletais por ondas e correntes; e a
precipitação bioquímica pela fotossíntese e decomposição de micróbios.
1.2.4. Cimento
Neste estudo, serão usadas as classificações de Dunham (1962) e Embry & Klovan (1971).
Porém, anteriormente a essas classificações, é importante mencionar as classificações de
Grabau (1904), que usou unicamente o critério do tamanho de grão das partículas carbonáticas,
chamando de calcilutito (maioria dos grãos < 0,062 mm), calcarenito (maioria dos grãos entre 0,062
– 2 mm) e calcirudito (maioria dos grãos > 2 mm); e Folk (1959) que focou sua classificação na
composição, diferenciando três tipos de componentes: grãos, matriz e cimento.
Dunham (1962) classifica as rochas de acordo com a textura deposicional, levando em conta
se a textura é reconhecível (diferenciando se durante a deposição os componentes originais estão
ligados organicamente ou não) ou se a textura não é reconhecível (carbonato cristalino). Além disto,
também considera a relação de grãos versus matriz presente na rocha, diferenciando se o arcabouço
é suportado pela matriz ou pelos grãos (Fig. 1.3). Relaciona a quantidade de lama carbonática
(micrita) com a energia do ambiente deposicional, onde rochas com pouca lama ou ausente indicam
ambientes de alta energia e rochas com maior quantidade de lama indicam ambientes com baixa
energia.
Figura 1.4 – Classificação das rochas carbonáticas. Modificado de Embry & Klovan (1971).
1.4. Coquinas
1.4.1. Definição
O termo coquinas foi definido por Pettijohn (1975) como sendo uma rocha carbonática
formada por detritos de fosseis (principalmente conchas de moluscos), maiores que 2 mm,
retrabalhados e depositados mecanicamente, mais ou menos cimentados. Depósitos de fósseis que
se formaram e foram cimentados in situ durante a deposição, não devem ser chamados de coquina,
sendo bioacumulado a denominação mais correta (segundo classificação de Grabau, 1904;
Brankamp & Powers, 1958; Folk, 1959). Tavares et al. (2015) comenta que as classificações de
rochas carbonáticas mais usuais, como de Dunham (1962) e Embry & Klovan (1971), não
diferenciam em suas nomenclaturas, a ocorrência ou não de retrabalhamento mecânico no depósito
conchífero.
sem presença de matriz; além dos bioacumulados, quando há preservação das duas valvas, podendo
ter matriz. Deste modo, observa-se certa incompatibilidade do uso do termo coquina entre a
definição de Pettijohn (1975) e as classificações utilizadas nas rochas carbonáticas das bacias
marginais brasileiras.
Do ponto de vista paleontológico, Kidwell et al. (1986) definiu coquina como “qualquer
acumulação relativamente densa de partes biológicas rígidas (fragmentos esqueletais),
independente da composição taxonômica, estado de preservação, ou grau de modificações pós-
morte”.
De modo a contemplar as variadas definições, neste estudo o termo coquina será empregado
para designar rochas ou depósitos carbonáticos cujos principais componentes são conchas de
moluscos (grãos esqueletais), onde a fábrica da rocha ou depósito seja suportada pelos componentes
esqueletais, independente do tamanho e a presença ou não de matriz (packstone, grainstone e
rudstone). Além disto, do ponto de vista sedimentológico, tais rochas ou depósitos devem ter se
formado por acumulações de conchas que tenham sofrido a ação de algum processo mecânico de
retrabalhamento.
Quanto ao tipo de organismos que compõem as coquinas, conchas de moluscos das classes
dos bivalves (antigamente pelecípodes) e gastrópodes são os grãos esqueletais mais comuns em
coquinas geradas em ambientes lacustres do Fanerozóico (Cohen, 2003; Park & Gierlowski-
Kordesch, 2007). Estes organismos habitam principalmente a zona litoral e sublitoral lacustre, ou
até mesmo zonas profundas lacustres, desde que bem oxigenadas. Os moluscos vivem na superfície
ou enterrados no substrato de fundo do lago (Dillon, 2000; Cohem, 2003), obtendo os nutrientes
para o desenvolvimento de sua carapaça (CaCO3) na água do lago. Nos carbonatos lacustres das
bacias marginais brasileiras, as principais espécies de bivalves encontradas foram: Agelasina cf. A.
plenodonta, Arcopagella longa n.sp., Kobayashites brasiliensis n.sp., Remondia (Mediraon) magna
n.sp., Sphaerium cf. S. ativum, Trigonodus camposensis n.sp; e gastrópodes: família Limneidae
(Carvalho et al., 2000).
9
Kidwell et al. (1986) caracterizou três tipos de acumulações de grãos esqueletais, de acordo
com sua gênese: concentrações sedimentológicas, concentrações biogênicas e concentrações
diagenéticas (Fig. 1.5). Concentrações sedimentológicas resultam da ação de processos físicos,
principalmente hidráulicos, em que os componentes esqueletais se comportam como partículas
sedimentares e a matriz não-bioclástica é retrabalhada ou ausente. Concentrações biogênicas são
aquelas geradas por acumulação dos organismos em posição de vida (in situ), geralmente
relacionadas com eventos de grande produtividade de organismos “oportunistas” (Levington, 1970;
apud Kidwell et al, 1986). Concentrações diagenéticas são geradas por processos físicos e químicos
após o soterramento, principalmente a compactação e a dissolução de matriz em carbonatos
bioclásticos. Partido desta classificação tem-se que a definição de coquina, utilizada neste estudo
(subitem 1.4.1), vai de encontro com as concentrações tipo sedimentológicas, enquanto que as
concentrações tipo biogênicas designam mais precisamente as rochas ou depósitos de
bioacumulados.
Figura 1.5 – Tipos genéticos de acumulações esqueletais. Área 1 indica acumulações biogênicas;
área 2 indica concentrações sedimentológicas e área 3 indica acumulações diagenéticas. Áreas 4, 5 e
6 indicam origem mista. Modificado e traduzido de Kidwell et al. (1986).
em afloramentos, na qual determina os controles das concentrações de fósseis (Fig. 1.6). Este
modelo diferencia dois tipos de regimes deposicionais: erosivo e não-deposicional (omission). O
modelo erosivo atribui a concentração de conchas pela (1) remoção seletiva da matriz (winnowing),
deixando fósseis acumulados na interface sedimento-fluído, ou concentração devido ao (2)
retrabalhamento hidráulico, tanto da matriz quanto dos fósseis, em eventos de tempestade. O
modelo não-deposicional atribui a geração de acumulações por (1) ausência de deposição de
sedimentos clásticos no fundo por bypassing de sedimentos finos em suspensão; (2) ausência de
deposição por intensa migração de formas de fundo; e (3) ou simplesmente pela falta de aporte
sedimentar clástico (sediment starvation).
Os modelos faciológicos de sistemas carbonáticos lacustres de Platt & Wright (1991) são
divididos em dois tipos de associações (Fig. 2.1): fácies de margem de lago (lake margin), no que
seriam os ambientes mais rasos e subaéreos, e fácies de bacia de lago (lake basin), que seriam as
zonas mais profundas do lago.
Banco de baixa-energia - zona marginal íngreme, dominada por partículas carbonáticas finas.
Apresentam padrão granocrescente ascendente, passando de laminitos micriticos finos, intercalados
com siltitos e finos turbiditos ou fluxos de grãos de material marginal ressedimentado, a fácies mais
grosseiras na zona marginal com areias e seixos bioclásticos, lâminas micríticas com bioclastos de
moluscos, e no topo seixos de oncólitos e pisólitos. Pode apresentar turfa de pântano no topo da
sequencia progradante (Fig. 2.1A e 2.2A).
Rampa de baixa-energia - zona marginal pouco íngreme que apresentam carbonatos com baixo
conteúdo de material siliciclástico. Fácies são extensas lateralmente com muitas feições de
exposição subaérea. Intercalações com evaporitos são comuns. A sucessão vertical progradante
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Rampa de alta-energia - zona marginal pouco íngreme. A sucessão vertical progradante começa
com fácies de mudstones carbonáticos ricos em matéria orgânica, passando camadas micríticas ricas
em moluscos e ostracodes, areias e seixos de oncólitos, estromatólitos e finalizando com
grainstones oolíticos e bioclásticos. O topo da sequência é recoberto por lutitos dissecados. (Fig.
2.1D e 2.2D).
14
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Figura 2.3 – Modelo tectônico de lagos rifte (meio-gráben). Modificado de Platt & Wright (1991).
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3. SISTEMA PRAIAL
Grande parte dos depósitos de coquinas do pré-sal são interpretados como pertencentes aos
sistemas praiais associados às margens lacustres (capítulo 4). Dentro deste sistema, as coquinas
são posicionadas em diferentes zonas, de acordo com as suas características faciológicas. Desta
maneira, aqui neste capítulo serão apresentados as zonações do sistema praial, os processos que
definem as zonas ou subambientes costeiros, e os fenômenos associados às ondas.
O sistema praial é definido por Short (1999) como uma acumulação de sedimentos
depositada pela ação das ondas, situada entre nível de base de ação das ondas normais (NBON)
e o limite superior do swash. NBON corresponde à máxima profundidade em que as ondas
podem transportar sedimentos em direção à costa, enquanto que o limite do swash corresponde
ao limite subaéreo da ação das ondas e transporte de sedimentos. O desenvolvimento de praias
está condicionado a três principais fatores: disponibilidade de sedimentos, clima de ondas e
espaço de acomodação.
O sistema praial pode ser subdividido, bidimensionalmente, em três zonas, de acordo com a
morfologia do fundo e os processos ondulatórios atuantes (Short, 1999): praia subaérea
(subaerial beach), a zona de surfe (surf zone) e zona próxima à praia (nearshore zone). Neste
trabalho adotaremos o modelo de Short (1999) para o sistema praial, em conjunto com a
nomenclatura existente para o modelo de fácies de sistemas costeiros dominado por ondas de
Walker (1984), a fim correlacionar a nomenclatura usada nos modelos deposicionais das rochas
do Grupo Lagoa Feia, que utilizam nomenclatura do ponto de vista litológico e estratigráfico. É
importante ressaltar, que não existe uma nomenclatura padronizada para as zonas praiais, tanto
em âmbito internacional quanto nacional, logo se faz necessária essa mescla de modelos.
A Figura 3.1 apresenta o perfil longitudinal do modelo praial de Short (1999) e suas zonas
praiais, associadas à nomenclatura de Walker (1984). A seguir, serão apresentados os
processos, morfologia e os depósitos de cada zona praial:
Praia subaérea – zona compreendida entre o nível do mar na maré baixa de sizígia até a base
de uma duna frontal ou falésia. Nesta zona ocorre o processo de swash da onda (espraiamento),
além de serem fortemente afetadas por ressacas marinhas. Apresenta morfologia relativamente
plana, podendo possuir uma crista proeminente chamada de crista de berma. Compreende as
fácies deposicionais de backshore e foreshore. Fácies de backshore estão relacionadas aos
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sedimentos depositados da crista de berma até a duna, podendo também sofrer processos
eólicos. Fácies de foreshore são depositadas na face da praia, entre o nível d’água de maré baixa
até a crista de berma.
Zona de surfe – estende-se da primeira linha de quebra das ondas até a linha da última quebra
sobre a face da praia. Zona sob influência direta do processo de quebra e colapso da onda, além
de estar sob ação de correntes de deriva litorânea e de retorno. Morfologia de fundo apresenta
bancos e cavas. Compreende as fácies de shoreface superior, que se caracterizam por
apresentarem feições de fluxos trativos e oscilatórios.
Zona próxima à praia ou antepraia – estende-se do NBON até a linha da primeira quebra das
ondas. Zona de atuação do processo de empolamento das ondas, ou seja, a deformação das
linhas de fluxo circulares devido ao atrito com o fundo. Geralmente, possui fundo plano e
suavemente inclinado, podendo ocorrer bancos de tempestade. O NBON é também denominado
como a profundidade de fechamento costeiro (PFC), que é uma linha variável, modificando-se
de acordo com a altura média (Eq. 5.1) das ondas normais ou de tempo bom. Compreende as
fácies deposicionais de shoreface inferior, que se caracterizam por apresentar feições de fluxos
oscilatórios.
onde:
Plataforma interna ou offshore – é uma zona que a princípio não pertence estritamente ao
sistema praial, mas está relacionada à ação das ondas de tempestade e é onde o fundo do mar
começa a afetar as ondas produzindo ondulações suaves na superfície d’água. Estende-se desde
o limite oceânico (LO – Eq. 3.2), que depende do comprimento de onda, até o NBON. Seu
limite em direção ao oceano, também pode ser estabelecido como o nível de base de ação das
ondas de tempestade (NBOT). Possui fundo plano e, relativamente, menos inclinado do que a
antepraia. Compreende as fácies de offshore, que se caracterizam por apresentar intercalações
de sedimentos finos e arenosos, além de poderem apresentar feições de fluxos oscilatórios de
grande energia.
𝐿𝑂 (3.2)
18
Figura 3.1 – Delimitação das zonas do perfil praial, de acordo com Short (1999), e suas respectivas
nomenclaturas faciológicas segundo Walker (1984).
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Short (1999) também apresenta variados tipos modais de praia, que vão de praias
dissipativas (mais baixa declividade e menor tamanho de grão) até reflectivas (mais alta declividade
e maior tamanho de grão), podendo alternar-se em tipos intermediários que apresentam variadas
configurações e números de bancos internos.
3.2. Ondas
As ondas são geradas pelos ventos, e dependem da sua velocidade, duração e extensão da
pista em que atuam. Bidimensionalmente, as ondas apresentam transformações em sua forma à
medida que se aproximam da costa, pois vão sofrendo interações com o fundo à medida que
diminui a profundidade de lâmina d’água. As principais modificações da forma das ondas são o
empolamento e a quebra (arrebentação). O empolamento corresponde às modificações na forma das
linhas de fluxo internas, passando de circular para semicircular achatada, provocando
movimentações das partículas de fundo, e modificações na forma da onda em superfície,
acentuando a sua esbeltez. A quebra ocorre quando a esbeltez (H/L) da onda atinge seu limite
crítico de equilíbrio (Eq. 3.3), ocorrendo o colapso da massa de água e promovendo intensa
movimentação de partículas no fundo (Komar, 1976).
,
(3.3)
onde:
ws – velocidade de queda da partícula;
g – aceleração da gravidade;
T – período da onda;
H – altura da onda;
L – comprimento de onda.
Além da esbeltez, o período (T) e a altura (H) (Fig. 3.2) são os principais parâmetros físicos
das ondas, pois controlam o fluxo de energia em uma praia, influenciando em todos os processos
costeiros induzidos pela ação de ondas (Komar, 1976). As condições de energia de uma praia, do
ponto de vista de transporte de sedimentos, são diretamente proporcionais a esbeltez e a altura, e
inversamente proporcional ao período das ondas.
20
posição no sentido da bacia, fazendo com que ocorram processos sedimentares sobre áreas do fundo
que, em condições de tempo normal (fair-weather), não eram afetadas pelas ondas.
Neste capítulo serão abordados aspectos sedimentológicos e estratigráficos das rochas tipo
coquinas do Grupo Lagoa Feia, Bacia de Campos, onde será apresentada uma breve revisão sobre a
Bacia de Campos e uma detalhada descrição sedimentológica das fácies de rochas carbonáticas do
Grupo Lagoa Feia. Embora a sequência carbonática lacustre se estenda da Bacia de Santos até a
Bacia de Sergipe Alagoas, apenas da Bacia de Campos é que se tem informações e estudos sólidos a
respeito das rochas desta sequência e, portanto, a Bacia de Campos é enfatizada aqui.
4.1.Bacia de Campos
Do ponto de vista exploratório, a Bacia de Campos é a bacia brasileira que mais produz
hidrocarbonetos, responsável por cerca de 2/3 da produção nacional (ANP, 2012), sendo que o
início de sua exploração se deu na década de 70.
25
Figura 4.2 – Carta cronoestratigráfica da Bacia de Campos (Winter et al., 2007). Em destaque,
retângulo vermelho, a sequência carbonática lacustre do Grupo Lagoa Feia.
26
O Grupo Lagoa Feia (Winter et al. 2007, inicialmente chamado de Formação Lagoa Feia
(Schaller, 1973; Bertani & Carozzi 1985, Rangel et al. 1994), foi definida como a sequencia não
marinha da Bacia de Campos, depositada durante a fase sin-rifte, onde prevalecem sucessões
clásticas, carbonáticas e evaporíticas de idade Cretáceo-Inferior (120 Ma). O Grupo Lagoa Feia é
atualmente subdividido em seis formações: Itabapoana, Atafona, Gargaú, Coqueiros, Retiro e
Macabu (Fig. 4.3).
Figura 4.3 – Cenário tectono-estratigráfico do Grupo Lagoa Feia. Modificado de Muniz (2013).
de conchas são rudstones e floatstones porosos, ou seja, coquinas com centenas de metros de
espessura. São depósitos retrabalhados, interpretados como gerados em lagos-rifte de alta
energia. Uma descrição detalhada das fácies carbonáticas desta formação será apresentada
no subitem seguinte.
Formação Macabu – é formada por carbonatos microbiais depositados em águas rasas em
clima árido (Rangel et al. 1994). Ocorrem em áreas distais da Bacia de Campos. Idade
Aptiana (Winter et al. 2007).
Formação Retiro – é formada por evaporitos (alita e anidrita).
Este item reúne uma compilação de alguns estudos feitos na Formação Coqueiros, do ponto
de vista descritivo de fácies em testemunhos de sondagem ou lâminas petrográficas, assim como as
interpretações dos ambientes e processos deposicionais que geraram tais depósitos. Os estudos
reportados aqui são: Bertani & Carozzi (1985), Dias et al. (1988), Abrahão & Warme (1990),
Carvalho et al. (2000), Winter et al. (2007), Altenhofen (2013) e Muniz (2013).
Bertani & Carozzi (1985) fizeram descrições petrográficas de rochas da Formação Lagoa
Feia (posteriormente classificado como Grupo), identificando 17 microfácies. O pacote analisado
foi dividido em quatro sequências, de acordo com a granulometria dos componentes terrígenos,
proporção relativa entre componentes terrígenos e carbonáticos e proporção relativa entre matriz e
cimento mais porosidade primária. As sequências identificadas foram: sequência dominada por
componentes terrígenos, sequência dominada por ostracodes, sequência dominada por pelecípodes e
sequência por componentes vulcanoclásticos (básicos). Destas quatro sequências, duas são
compostas predominantemente por componentes carbonáticos esqueletais: uma dominada por
ostracodes e outra por pelecípodes (bivalves). A seguir, as descrições das microfácies destas
sequências.
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O modelo de playa lake (Fig. 4.4) consiste em quatro principais sub-ambientes: planície
aluvial, planície carbonática, margem de lago e bacia de lago (offshore). A sequência carbonática
que domina neste ambiente é a de ostracodes, componentes carbonáticos esqueletais com
retrabalhamento inexistente ou de baixo grau. A planície carbonática é representada pelas fácies que
apresentam marcas de dissecação, baixo conteúdo de bioclastos e compostas principalmente por
micrita peloidal (microfácie M1). A margem do lago é caracterizada pelas fácies ricas em
sedimentos terrígenos e biogênicos carbonáticos, sendo que a zona de foreshore é representada
pelos calcarenitos de oncólitos (microfácie OT2) com pouca matriz, indicando boa remoção de
partículas finas pela alta energia do ambiente; e a zona de shoreface representada por arenitos e
siltitos ricos em conchas de ostracodes (microfácie OT3) com intensa bioturbação, que formariam
cinturões paralelos a margem do lago num local de baixa energia. A bacia do lago é representada
por calcarenitos e calcisiltitos de bioclastos com baixo conteúdo terrígeno (microfácie OS4) e
bioacumulados de conchas de ostracodes (microfácie OS6) depositados in situ formando bancos.
Figura 4.4 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo playa-lake. Modificado e traduzido de
Bertani & Carozzi (1985).
30
O modelo de pluvial lake (Fig. 4.5) é dividido em quatro sub-ambientes: planície arenosa e
lamosa, planície carbonática, margem de lago e bacia de lago. A sequência carbonática dominante
neste modelo é composta por componentes esqueletais de pelecípodes com alto grau de
retrabalhamento. Na margem do lago, a zona de foreshore é representada por calcarenitos
bioclásticos arenosos bem selecionados, sem matriz (microfácie PT2), que formariam depósitos
praiais de alta energia. A zona de shoreface é representada por calcarenitos bioclásticos arenosos
grãos-suportados, com matriz (microfácie PT3), indicando deposição abaixo do nível de base das
ondas, sob condições de baixa energia. A bacia do lado é representada por calcarenitos bioclásticos
grãos-suportados, com matriz pseudo-microesparritica (microfácie P4), indicando deposição abaixo
do nível de base das ondas, mas com retrabalhamento de conchas por correntes de tempestade;
calcarenitos bioclásticos bem selecionados, sem matriz (microfácie P5), indicando deposição em
alta energia de ondas e correntes que formariam barras de bioclastos; e bioacumulados de conchas
com matriz micrítica, sem retrabalhamento (microfácie P6), indicam deposição em condições de
baixa energia, formando bancos.
Figura 4.5 – Modelo deposicional de sistema lacustre tipo pluvial-lake. Modificado e traduzido de
Bertani & Carozzi (1985).
31
Dias et al. (1988) apresenta análise petrográfica de rochas da Formação Lagoa Feia
(posteriormente classificado como Grupo), dividindo-o em quatro sequencias deposicionais:
sequência basal clástica, sequência talco-estevensítica, sequência das coquinas e sequência clástica-
evaporítica. A sequência das coquinas é caracterizada pela expressiva quantidade de deposição
carbonática ao longo da bacia (Fig. 4.6), destacando-se os calcilutitos (wackstones?); calcarenitos
(grainstones?) peloidais, oolíticos ou bioclásticos; calciruditos (rudstones?) de pelecípodes
(bivalves) e gastrópodes retrabalhados (Fig. 4.7A); e bioacumulados de pelecípodes in situ (Fig.
4.7B). Esses depósitos são interpretados como sendo de altos estruturais da bacia, com indícios de
condições hidráulicas de alta energia. Os campos petrolíferos de Badejo, Pampo e Linguado
produzem óleo nessas rochas. Aferições de ambientes e processos deposicionais mais detalhados
não são apresentados.
Figura 4.6 – Mapa da Sequência das Coquinas da Bacia de Campos, onde destaca-se (em preto) os
calciruditos (rudstones) de “alta energia”. Modificado e traduzido de Dias et al. (1988).
32
Figura 4.7 – Imagens de duas litofácies (testemunho) das Sequência das Coquinas. A) calciruditos
(rudstones) de pelecípodes e gastrópodes, com intenso retrabalhamento. B) bioacumulado de
pelecípodes, sem retrabalhamento. Modificado de Dias et al. (1988).
do lago, que progradavam para dentro do lago na forma de fan-deltas, indicando que tais
organismos foram soterrados próximos ao local de posição de vida. Além disso, os autores
concluem que as camadas de carbonato bioclástico (coquinas) foram geradas em períodos de alta
produtividade de moluscos bivalves. Essa alta produtividade está relacionada a períodos de clima
úmido, quando os lagos expandiam e se interconectavam devido ao maior aporte de água doce no
sistema, favorecendo um clímax de produção de organismos bivalves.
Carvalho et al. (2000) dividiram a sequência das Coquinas, do Formação Lagoa Feia
(posteriormente classificado como Grupo), em duas principais séries deposicionais do complexo
aluvial-lacustre. Uma associação dominada por fácies siliciclásticas, consistindo de conglomerados
polimíticos, arenitos (arcoseanos ou líticos), siltitos e folhelhos vermelhos, representando depósitos
de leques e planícies aluviais. A outra associação é dominada por fácies lacustres, consistindo
principalmente de coquinas de bivalves (conchas desarticuladas, fragmentadas e retrabalhadas) e
coquinas de gastrópodes ou ostracodes, localmente interdigitadas com fácies siliciclásticas. As
coquinas representam depósitos de zonas de foreshore/backshore ou shoreface do paleolago, que
34
possuem uma grande complexidade lateral e vertical, sugerindo uma alta frequência de flutuações
do nível de base do lago (Fig. 4.9).
Figura 4.9 – Distribuição vertical e lateral de fácies da sequencia lacustre. Modificado e traduzido
de Carvalho et al. (2000).
Winter et al. (2007) eleva a até então Formação Lagoa Feia para Grupo Lagoa Feia,
individualizando as sequências deposicionais da fase rifte (K20-K34, K36 e K38) e suas respectivas
formações. A denominada sequência K38, corresponde á porção intermediária do Grupo Lagoa
Feia, compreendendo as Formações Itapaboana e Coqueiros. A Formação Coqueiros representa
intercalações de folhelhos e carbonatos lacustres (coquinas de bivalves). Estes pacotes de conchas
formam espessas (> 100 m) camadas porosas, interpretadas como barras de coquinas depositadas
em ambientes de alta energia hidráulica. Estas coquinas constituem importantes reservatórios
produtores de petróleo.
37
Figura 4.11 – Fotomicrografias das rochas carbonáticas do Grupo Lagoa Feia. (A) rudstone. (B)
grainstone. Modificado de Altenhofen (2013).
O autor sugere que o alto grau preservação (pouca abrasão e fragmentação das conchas) dos
bioclastos bivalves e ostracodes, implica em um limitado retrabalhamento por ondas e correntes em
áreas rasas do paleolago, contrapondo as interpretações de estudos anteriores
(Bertani & Carozzi, 1985; Dias et al., 1988; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000). O
modelo deposicional interpretado seria o depósitos gerados por resedimentação em zonas profundas
do lago (bacia do lago - offshore), durante eventos iniciados por pulsos tectônicos, em que
ocorreriam escorregamentos de material de zonas mais rasas do lago.
identificou e interpretou seis tipos de fácies de rochas carbonáticas (sensu Embry & Klovan, 1971):
mudstones, wackestones, packstones, grainstones, floatstones e rudstones.
Figura 4.12 – Fotografias das diferentes fácies de rudstones da Formação Coqueiros. A) Fácie R-cb.
B) Fácie Rmb. C) Fácie R-gb. D) Fácie Rg-b. E) Fácie R-o. Modificado de Muniz (2013).
profunda (offshore do lago), zona subaquosa intermediária, zona subaquosa rasa e zona emersa
(subaérea).
abaixo do NBOT para depósitos tipo packstones/grainstones bioclástico com matriz de finos
ostracodes.
A zona sub aquosa intermediária é a zona de maior energia, podendo ser afeta por eventos
de tempestade que transportam e retrabalham a maioria do material bioclástico, formando rudstones
de conchas de bivalves quebradas e desarticuladas, sob a forma de bancos, cordões de praia e
depósitos de shoreface. Esses depósitos formariam os espessos pacotes de coquinas ao longo da
margem do lago. Em áreas marginais protegidas do lago, rudstones de oncólitos e packstones
peloidais são gerados.
Neste capítulo serão apresentados estudos relacionados às rochas carbonáticas tipo coquinas
lacustres, que servem como modelos análogos à Formação Coqueiros, do Grupo Lagoa Feia, Bacia
de Campos. Esses análogos, tanto rochas do registro geológico aflorante quanto depósitos atuais,
subsidiam informações de mais fácil observação e descrição, melhorando o entendimento dos
modelos deposicionais das coquinas lacustres. Portanto, a seguir serão apresentados os trabalhos de
Tavares et al. (2015), que estuda coquinas da Formação Morro do Chaves – Bacia Sergipe-Alagoas;
Jahnert et al. (2012), que estuda um depósito praial recente constituído por conchas; e
Thompson et al. (2015), que apresenta depósitos de margens lagos do leste africano.
1. Coquina fragmentada sem micrita - Cf (Fig. 5.1A e 5.1B) – coquina com mais de 80% de
conchas fragmentadas, menos que 10% de micrita e menos que 10% de sedimentos
siliciclásticos na matriz. Grãos esqueletais de tamanho areia muito grossa a grânulo,
moderado a bem selecionados. Conchas interiras ocorrem em matriz de areia bioclástica.
Apresenta acamamento plano-paralelo, estratificação cruzada de baixo ângulo ou aspecto
maciço. As camadas possuem espessura métrica e podem apresentar pacotes amalgamados
de até 6,7 m, sendo que os contatos entre as camadas são erosivos. Esta fácie foi interpretada
45
Figura 5.1 – Fotografias e fotomicrografias de fácies da Formação Morro do Chaves. A,B) Fácies
Cf. C,D) Fácies Cfi. E,F) Fácies Cm. G,H) Fácies Cmi. Modificado de Tavares et al. (2015).
lacustres, que são subdivididas de acordo com os níveis de base de ação das ondas: condição normal
(NBON) e condição de tempestade (NBOT), e com aporte ou não de material siliciclásticos (Fig.
4.2). Em um contexto geral, o paleoambiente em que se formaram as coquinas da Formação Morro
do Chaves corresponde a uma margem lacustre tipo rampa (baixo gradiente de relevo) de alta
energia, conforme o modelo de Platt & Wright (1991) apresentado no capítulo 2. A fácie Cf sugere
uma deposição na zona costeira acima do NBON, onde houve intenso retrabalhamento das conchas
pela ação de ondas e correntes induzidas pelos ventos e tempestades, gerando estratificações
cruzadas de baixo ângulo e plano-paralelas. A fácie Cm sugere deposição entre o NBON e NBOT,
onde a ação das ondas é menos persistente (mais baixa energia), gerando estrutura maciça, pouco
retrabalhamento e deposição de micrita. As fácies Cfi e Cmi correspondem, respectivamente, as
mesmas zonas das fácies Cf e Cm, porém com aporte de sedimentos siliciclásticos, o que sugere a
presença de um sistema fluvio-deltaico associado à margem lacustre.
Figura 5.2 – Modelo deposicional da Formação Morro do Chaves, mostrando dois cenários de
rampa carbonática. A) rampa sem aporte de sedimentos siliciclásticos, correspondente às fácies Cf e
Cm. B) rampa carbonática com aporte de sedimentos siliciclásticos, correspondente às fácies Cfi e
Cmi. Modificado e traduzido de Tavares et al. (2015).
48
Conforme apresentado no capítulo 4, vários estudos (Bertani & Carozzi, 1984; Dias et al.,
1987; Abrahão & Warme, 1990; Carvalho et al., 2000; Muniz, 2013) sugerem que os depósitos
lacustres de coquinas foram gerados na zona marginal subaquosa de um lago (zonas de foreshore e
shoreface de um sistema praial), cujos principais agentes de retrabalhamento e transporte de
conchas seriam as ondas e as correntes associadas.
Desta maneira, depósitos praiais recentes constituídos por conchas podem servir de modelo
análogos às margens paleolacustres, permitindo a observação espacial e temporal in locu do sistema
praial e dos processos atuantes. Jahnert et al. (2012) estudou um depósito de cordões de praia
holocênico constituído principalmente por conchas, localizado na praia de Shark Bay, Baía de
Hamelin Pool, litoral oeste da Austrália.
O depósito se caracteriza por uma sequência de cordões praiais progradantes (regressivos),
posicionados na zona de supramaré, estando associados a depósitos microbiais (estromatólitos e
trombólitos) da zona intramaré. As conchas que constituem os cordões são de bivalves Fragum
erugatum. A partir de análises de Ground Penetrating Radar (GPR), testemunhagem e imagens
(aéreas e perfil longitudinal) foram caracterizados três tipos de elementos internos dos cordões
praiais (Fig. 5.3), diferenciados pela geometria e empilhamento das camadas, além do grau de
organização das conchas nas camadas: complexo de camadas tabulares, cordões convexos e
depósitos de washover (leques de sobrelavagem).
49
Figura 5.3 – Arquitetura, arranjo textural e morfologia do sistema de cordões litorâneos da Praia de
Shark Bay – Austrália, caracterizando três tipos de elementos geométricos internos: complexo de
camadas tabulares, cordões convexos e depósitos de washover. Modificado e traduzido de
Jahnert et al. (2012).
50
Depósitos de washover – são formas lobadas que se espalham atrás dos cordões convexos,
compostas por conchas pobremente selecionadas, que podem atingir tamanhos de até 5 cm.
Camadas de washover possuem morfologia de leque e progradam no sentido do continente
(retrogradam) ou agradam apresentando geometria sigmoidal. Estes depósitos foram gerados por
severas ondas de tempestade, capazes de transportar sedimentos esqueletais para trás das cristas
convexas.
Os autores concluem ainda que o modelo deposicional dos cordões praiais de coquinas de
Shark Bay, podem ser aplicados como análogos aos reservatórios de coquinas depositados em
ambientes lacustres, pois as condições de baía semifechada afetada por tempestades e os processos
51
hidrodinâmicos são semelhantes aos sugeridos nos modelos deposicionais usados aos reservatórios
de coquinas da Bacia de Campos.
aporte de sedimentos siliciclásticos é baixo e em altos estruturais durante o estágio de nível alto do
lago (Cohen, 1990). Em períodos de nível baixo do lago, espessos pacotes de coquinas
(gastrópodes) são formados pela ação das ondas em zonas rasas, que removem a lama intersistial
(winnowing) de depósitos previamente formados (Cohen, 1990). Segundo Thompson et al. (2015),
este processos de concentração de conchas é muito semelhante aos atuantes nas coquinas do pré-sal.
Três principais fácies de coquinas ocorrem no Lagoa Tanganyika: coquina pura, depositadas como
cordões de praia; coquina arenosa/siltosa, depositadas em plataformas deltaicas de baixo gradiente;
e coquina cascalhosa, depositadas por fluxos de detritos em embaiamentos de alto gradiente
(McGlue et al., 2010). Thompson et al. (2015) conclui que as coquinas que se formam atualmente
no Lago Tanganyika representam o melhor ambiente deposicional análogo aos modelos conhecidos
na literatura para as coquinas do pré-sal.
O Lago Malawi atualmente não gera expressivos depósitos de conchas, devido as atuais
condições químicas da água do lago, pobre em cálcio, que inibi o crescimento de conchas.
Entretanto, durante o Plioceno em condições de nível de base alto, ocorreram importantes
acumulações de conchas na borda flexural do Malawi (Betzeler & Ring, 1995). Duas associações de
fácies são encontradas: fácies de rampa de alta energia e fácies de rampa de baixa energia. Fácies de
rampa de baixa energia são formadas por margas laminadas ricas em moluscos
(Betzeler & Ring,1995). Fácies de rampa de alta energia são constituídas de barras bioclásticas de
bivalves, apresentado estratificações cruzadas e plano-paralelas (Betzeler & Ring, 1995). O
processo associado à formação dessas barras é a remoção de lama intersistial por ação de correntes
durante níveis baixos de água no lago (Betzeler & Ring, 1995). Este modelo deposicional também é
considerado muito semelhante aos reservatórios de coquinas da Bacia de Campos
(Thompson et al. (2015).
53
Neste capítulo, serão apresentados alguns conceitos referentes à modelagem física, com
enfoque em modelagem de processos sedimentares costeiros, cujo principal agente físico são as
ondas. A utilização de modelagem física para estudos de processos sedimentares vem se
estabelecendo de maneira contundente desde a década de 1930, com Keunen (1937), como uma
ferramenta de importante utilidade na observação de processos sedimentares em escala reduzida.
Sendo os processos hidrodinâmicos costeiros uma corriqueira linha de aplicação do uso da
modelagem física, se faz oportuno realizar uma revisão conceitual e bibliográfica para corroborar
com a futura utilização da modelagem física na investigação dos processos sedimentares atuantes
nos depósitos praiais de conchas.
A definição de modelagem física pode ser dada segundo Hughes (1993): “Um modelo físico
é um sistema físico reproduzido (geralmente em tamanhos reduzidos), onde as principais forças
dominantes que atuam no sistema estão representadas no modelo em corretas proporções ao
sistema físico original”
A modelagem física vem sendo utilizada em estudos de hidráulica desde o século XVI,
quando Leonardo Da Vinci reproduziu diversos fenômenos hidráulicos em experimentos,
caracterizando-os a partir de observações visuais (Price, 1978). A partir de então, diversos
cientistas, como Issac Newton, William Froude, Osborn Reynolds, entre outros, foram
aperfeiçoando técnicas e descrevendo leis que governam os princípios da modelagem física em
escala reduzida. A modelagem pode ser aplicada para diversos fins, como estudo de estruturas de
obras de engenharia, processos sedimentares, escoamento em tubulações, etc.
As vantagens de se utilizar modelagem física em processos costeiros são de que ela oferece,
em escala reduzida de observação, um caminho alternativo de examinar fenômenos que não são
possíveis de se analisar com as técnicas atuais em sistemas naturais, além de permitir a simulação
de várias condições experimentais que, no protótipo natural, são difíceis de observar (Hughes,
1993). Já Dalrymple (1985), diz que o menor tamanho do modelo permite uma fácil coleta de dados
e a custos mais baixos do que a coleta em campo.
54
Apesar das inúmeras vantagens, o uso de modelos físicos em escala reduzida também
apresentam desvantagens, dentre os quais, se destacam os efeitos de escala e efeitos de laboratório
(Hughes, 1993). Os efeitos de escala estão relacionados ao menor tamanho do modelo em relação
ao protótipo, de modo que não se torna possível simular todas as variáveis em correta relação. Os
efeitos de laboratório são aqueles que estão relacionados à estrutura física do modelo, que podem
limitar ou influenciar um determinado fenômeno atuante no experimento, a ponto de prejudicar a
correlação com o sistema natural. Além destas desvantagens, também se pode destacar o mais alto
custo de execução de uma simulação física, em comparação com a modelagem numérica, exceto
por raras exceções.
escoamento de um fluído sobre uma superfície, que determina se o regime de fluxo é turbulento (Re
> 2000) ou laminar (Re < 500). Já o Número de Froude (Eq. 6.2), representa a relação entre as
forças de inércia e as forças gravitacionais de um escoamento, caracterizando o fluxo em subcrítico
(Fr < 1), crítico (Fr = 1) e supercrítico (Fr > 1).
𝑅𝑒 (6.1)
𝐹𝑟 (6.2)
onde:
V – velocidade do fluído;
L – dimensão característica;
g – aceleração da gravidade.
𝐿 tanh (6.3)
onde:
L - comprimento de onda;
g - aceleração da gravidade;
T - período da onda;
h – profundidade d’água.
µ
𝛱 𝑓 , , , , , ,𝑡 , (6.4)
∗ ∗
𝛱 𝑔 , , , (6.5)
µ
onde:
H - altura da onda;
L - comprimento de onda;
𝜆 - comprimento característico;
x e y - coordenadas horizontais;
z - coordenada vertical;
t - tempo;
g - aceleração de gravidade;
ks - rugosidade de fundo;
57
𝑣∗ - velocidade de cisalhamento;
Quanto às relações e suas variáveis apresentadas na expressão 6.4, Hughes (1993) comenta
que o relacionamento explícito entre elas é desconhecido, entretanto a semelhança cinemática e
dinâmica requer que todos os seus produtos adimensionais sejam os mesmos entre o modelo e o
protótipo. A perfeita similaridade entre a geometria e a hidrodinâmica do modelo será atingida caso
as cinco primeiras relações ou produtos adimensionais da Expressão 6.4 sejam atingidas. O sexto,
sétimo e oitavo produtos se referem, respectivamente, à rugosidade do fundo, escala de tempo (pelo
critério de Froude) e Número de Reynolds. Quanto a esses três últimos adimensionais, Hughes
(1993) destaca que a rugosidade e a escala de tempo são mais facilmente atingidas em modelos
costeiros do que o Número de Reynolds, devido à dificuldade de se manter a similaridade entre as
forças viscosas do modelo e do protótipo, sendo que em modelos costeiros essa relação é ignorada.
No entanto, para tal problema, procura-se assumir ao menos um fluxo em regime turbulento
próximo ao fundo móvel (Kamphuis, 1985).
fixo e modelos de fundo-móvel. Segundo Hughes (1993), modelos de fundo-fixo são aqueles que
possuem superfícies sólidas que não podem ser modificadas pelo processo hidrodinâmico atuante
no modelo, sendo usados, principalmente, em estudos de engenharia que envolvam ondas e
correntes interagindo sobre estruturas fixas, como por exemplo, testes de resistência de quebra-
mares (2D) e propagações de ondas em zonas portuárias (3D). Já os modelos de fundo-móvel são
aqueles que possuem o fundo composto por materiais que reagem à aplicação de forças
hidrodinâmicas, como por exemplo, estudos de erosão, transporte e deposição de sedimentos pela
ação de ondas e correntes associadas, perfil de equilíbrio de praias, evolução de formas de fundo,
ação de tempestades em zonas praiais (2D); ou estudos de erosão em ilhas de areia de perfurações
petrolíferas e deriva litorânea (3D).
Além dos aspectos estruturais e temporais, os modelos físicos também possuem outro
aspecto relevante: a geometria do canal utilizado na modelagem. Os modelos físicos podem ser
bidimensionais – 2D – ou tridimensionais – 3D (Fig. 6.1). Modelos 2D são realizados em canais
alongados, representando um perfil longitudinal do sistema modelado. Modelos 3D são realizados
em condutos amplos, mais conhecidos como tanques ou bacias, representando a integralidade
espacial do fenômeno estudado.
59
Figura 6.1 – Tipos de canais de geração de ondas em laboratório. A,B) Canal bidimensional (2D).
C) Canal tridimensional ou bacia (3D). *Obs.: fotos dos canais do laboratório do Instituto de
Pesquisas Hidráulicas (IPH) – UFRGS, Porto Alegre, RS.
Os resultados obtidos neste trabalho indicam que há uma orientação diagnóstica para cada
tipo de fluxo. Conchas submetidas a ação de correntes tendem a se orientar com seu eixo de maior
comprimento paralelo a direção da corrente e com uma único sentido preferencial de alinhamento
(rozeta unimodal), de acordo com a geometria da concha (Fig. 6.2A). Conchas submetidas a ação de
ondas na zona de empolamento (nonswash) tendem a alinhar seu eixo de maior comprimento
paralelo a direção da crista da onda, produzindo dois sentidos preferenciais de alinhamento (rozeta
bimodal), também dependendo da geometria da concha (Fig. 6.2B). Em zonas de swash, as conchas
também apresentam dois sentidos preferenciais de alinhamento, porém na direção perpendicular em
relação às cristas das ondas incidentes.
Figura 6.2 – Padrões de orientações diagnósticas de conchas. A) Padrão de orientação gerado por
correntes, apresentando diagrama de rozeta assimétrico, com um sentido preferencial de orientação
paralelo a direção da corrente. B) Padrão de orientação gerado por ondas (zona de empolamento) ,
apresentando diagrama de rozeta simétrico, com dois sentidos preferenciais antagônicos paralelos a
direção de alinhamento das cristas de ondas incidentes. Modificado e traduzido de Nagle (1967).
Além destes resultados, o autor também comenta que conchas maiores e mais pesadas são
mais dificilmente orientadas quando estão sobre um fundo com sedimentos finos ou semienterradas.
61
O autor discute que estas orientações diagnosticas podem ser aplicadas no registro geológico, de
modo a indicar os processos deposicionais ocorridos em rochas sedimentares, mesmo em rochas em
que tenha ocorrido intensa bioturbação, desde que conchas de grande porte estejam densamente
presentes.
Tabela 6.1 – Distinção entre acumulações de borda geradas por ondas e correntes. Modificado de
Futterer (1982).
Tabela 6.2 – Distinção entre acumulações bandadas lineares geradas por ondas e correntes.
Modificado de Futterer (1982).
Neste estudo, os autores usaram um canal oval para investigar a mobilidade de conchas de
bivalves desarticuladas (C. edulis) sobre um fundo de sedimentos coesivos, a partir de correntes
unidirecionais com energia crescente. Os autores constataram que as conchas se moveram como
carga de fundo, primeiramente sendo arrastadas sobre o fundo e, posteriormente, rolando. A
velocidade de início de movimento das conchas está diretamente relacionada com sua velocidade de
queda, que foi medida antes do experimento. Além disto, verificou-se que o movimento das
conchas acentuou o processo de erosão do fundo coesivo onde estas estavam dispostas, pois se
movimentavam por arrasto e não por saltação, ou seja, a erosão se deu mais propriamente pela
movimentação das conchas no fundo, do que pela interação com o fluxo de água.
63
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tavares, A.C., Borghi, L., Corbett, P., Nobre-Lopes, J. & Câmara, R. 2015. Facies and depositional
environments for the coquinas of the Morro do Chaves Formation, Sergipe-Alagoas Basin,
defined by taphonomic and compositional criteria. Brazilian Journal of Geology, 45(3): 415-429.
Terra, G.J.S., Spadini, A.R., França, A.B., Sombra, C.L., Zambonato, E.E, Juschaks, L.C.S.,
Arienti, L.M., Erthal, M.M., Blauth, M., Franco, M.P., Matsuda, N.S., Silva, N.G.C., Moreti-
Junior, P.A., D’Avila, R.S.F., Souza, R.S., Tonietto, S.N., Anjos, S.M.C., Campinho, V.S. &
Winter, W.R. 2010. Classificação das rochas carbonáticas aplicável às bacias sedimentares
Thompson, C.E.L. and Amos, C.L. 2002. The impact of mobile disarticulated shells of
Thompson, D.L., Stilwell, J.D. & Hall, M. 2015. Lacustrine carbonate reservoirs from Early
Cretaceous rift lakes of Western Gondwana: Pre-Salt coquinas of Brazil and West Africa.
Tucker, M.E. 2001. Sedimentary Petrology (3rd. ed). Oxford, Blackwell Science, 262p.
Walker, G.W. 1984. Facies Models (2nd ed.). St. John’s – Canada, Geological Association of
Canada, 317p.
Williamson, C.R. & Picard, M.D. 1974. Petrology of carbonate rocks of the Green River Formation
Winter, W. R., Jahnert, R. J. & França, A. B. 2007. Carta estratigrafica da Bacia de Campos.
Boletim de Geociências da Petrobras, 15(2): 511-529.
IX
PARTE II
CRISTIANO FICK
Orientador: Prof. Dr. Elírio Ernestino Toldo Jr. (DEMIPE, IG, UFRGS)
Banca examinadora:
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1
2. SÍNTESE DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................. 3
3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 10
4. JUSTIFICATIVAS ........................................................................................... 11
5. HIPÓTESE ........................................................................................................ 12
6. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 13
6.1. Modelagem física de ondas ............................................................................... 13
6.1.1. Canal de ondas bidimensional............................................................................. 14
6.1.2. Sedimentos .......................................................................................................... 15
6.1.3. Experimentos ...................................................................................................... 17
6.2. Análise de fácies e descrição morfológica de depósito praial recente de
coquinas .............................................................................................................................19
6.2.1. Local.................................................................................................................... 19
6.2.2. Métodos............................................................................................................... 20
6.3. Descrição de fácies de rochas de coquinas no registro geológico.................. 21
6.4. Aprofundamento do estado da arte ................................................................. 22
7. RESULTADOS ESPERADOS ........................................................................ 23
8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ................................................................ 24
9. FONTES DE FINANCIAMENTO .................................................................. 25
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 26
XI
Lista de Figuras
Figura 1 – Modelo deposicional lacustre e suas fácies carbonáticas alóctones das
bacias marginais brasileiras, apresentados na revisão bibliográfica.
Este modelo se baseia numa compilação de informações retiradas
dos estudos de Bertani & Carozzi (1985), Dias et al. (1988),
Abrahão & Warme (1990), Carvalho et al. (2000), Altenhofen
(2013), Muniz (2013), Tavares et al. (2015). A descrição e a
interpretação das fácies (letras minúsculas) estão na Tabela 1. ............................ 8
Figura 2 – Fluxograma da metodologia a ser aplicada neste projeto. ...................................... 13
Figura 3 – Geometria e dimensões do canal de ondas. A) Vista lateral. B) Vista
em planta. ............................................................................................................ 14
Figura 4 – A) Elementos do gerador de ondas. Foto de Clemente (2013). B) Sonda
DHI 201. Foto do fabricante. .............................................................................. 15
Figura 5 – Fotos das principais espécies de conchas dos depósitos da planície
costeira do sul de Santa Catarina, Brasil. A) Anomalocardia
brasiliana. B) Divaricella quadrisulcata. C) Codakia. D) Diplodonta
punctata. Modificado de Fornari (2010). ............................................................ 16
Figura 6 – Granulometria da areia quartzosa. A) Histograma. B) Frequência
acumulada. .......................................................................................................... 16
Figura 7 – Localização da praia de Las Conchillas e imagens do concheiro. A)
Localização de San Antonio Este. B) Localização do trecho com
ocorrência do concheiro. C) Localização da praia de Las Conchillas.
D) Aspecto longitudinal (leste –oeste) da praia de Las Conchillas. E)
Aspecto transversal (continente-oceano) da praia de Las Conchillas e
detalhe das conchas. Imagens adquiridas do Google Earth e
Panorâmio. .......................................................................................................... 20
XII
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Lista de fácies de rochas carbonáticas alóctones lacustres descritas em
estudos relacionados às bacias da margem continental brasileira......................... 5
Tabela 2 – Séries experimentais que serão realizadas na etapa de modelagem
física. ................................................................................................................... 18
Tabela 3 – Parâmetros e procedimentos da análise de fácies em relação aos grãos
esqueletais (conchas) e presença de matriz. ........................................................ 21
Tabela 4 – Cronograma de execução do projeto. ..................................................................... 24
1
1. INTRODUÇÃO
Coquinas são rochas carbonáticas constituídas por grãos esqueletais maiores do que
2 mm, principalmente de moluscos bivalves e gastrópodes, com ou sem matriz e fábrica
suportada pelos grãos; e cujo o processo de acumulação dos seus constituintes se deu por
retrabalhamento mecânico (Pettijohn, 1975; Kidwell et al., 1986). No entanto, no contexto
das rochas carbonáticas das bacias da margem continental brasileira, o termo coquina é usado
genericamente para designar rudstones, grainstones e packstones (sensu Dunham, 1962;
Embry & Klovan, 1971), além de bioacumulados sem retrabalhamento (Terra et al., 2010).
Desta maneira, percebe-se certa inconformidade quanto ao uso do termo coquina,
principalmente no que diz respeito ao tamanho das partículas constituintes e ocorrência ou
não de retrabalhamento mecânico.
altos estruturais da bacia do lago, formando bancos ou barras bioclásticas (Bertani & Carozzi,
1985; Dias et al., 1988; Carvalho et al., 2000).
Sub-ambiente/
Código
Fácie / Estudo Descrição Processo
zona
águas calmas e
rasas (laguna ou
baía) mudstone - com matéria orgânica e bioclastos de
d MD / Muniz (2013)* baixa energia
bivalves
pós praia ,packstone - bivalves, gastrópodes e pelóides com pouca ondas e correntes
f P / Muniz (2013)
(washover) fragmentação em matriz lamosa, contatos erosivos de tempestade
alta energia,
OT2 / Bertani & packstone - calcarenito oncolítico, pouca matriz
i remoção de finos
Carozzi (1985) micrítica, bioclastos de ostracodes
(winnowing)
baixa
offshore (abaixo
energia,abaixo
do NBOT)
OS4 / Bertani & packstone/wackstone - calcarenito a calcisiltito, do NBOT, mas
z
Carozzi (1985) suportado pela matriz, fragmentos de conchas com
retrabalhamento
de conchas
fluxo
gravitacionais de
aa Altenhofen (2013) grainstone - grãos esqueletais de bivalves escorregamentos
/
ressedimentação
ab Altenhofen (2013) rudstone - grãos esqueletais de bivalves fluxo
7
gravitacionais de
escorregamentos
/
ressedimentação
ac Carvalho et al. (2000) mudstone - lama carbonática e folhelhos laminados baixa energia
ad Dias et al. (1988) wackstone - calcilutitos alta energia
ae Dias et al. (1988) grainstone - calcarenitos alta energia
af Dias et al. (1988) rudstone - calciruditos alta energia
ag Dias et al. (1988) bioacumulados alta energia
alta energia,
rudstone - barras bioclásticas / calciruditos de bivalves, tempestades,
ah Carvalho et al. (2000)
estrat. cruzadas baixa
profundidade
alta energia de
bancos/barras
P5 / Bertani & grainstone - calcarenito bioclástico, conchas de bivalves ondas e
Altos estruturais
ai
Carozzi (1985) retrabalhadas correntes, entre o
NBON e NBOT
OS6 / Bertani & baixa energia,
aj bioacumulado - conchas de ostracodes, com matriz
Carozzi (1985) deposição in situ
P6 / Bertani & bioacululado - bivalves com matriz micrítica, sem baixa energia,
ak
Carozzi (1985) retrabalhamento deposição in situ
bioacumulado - bioconstruções com sedimentos baixa energia,
al Carvalho et al. (2000)
siliciclásticos (areia e lama) alta profundidade
Figura 1 – Modelo deposicional lacustre e suas fácies carbonáticas alóctones das bacias
marginais brasileiras, apresentados na revisão bibliográfica. Este modelo se baseia numa
compilação de informações retiradas dos estudos de Bertani & Carozzi (1985),
9
Dias et al. (1988), Abrahão & Warme (1990), Carvalho et al. (2000), Altenhofen (2013),
Muniz (2013), Tavares et al. (2015). A descrição e a interpretação das fácies (letras
minúsculas) estão na Tabela 1.
10
3. OBJETIVOS
Objetivo principal:
Objetivos secundários:
A identificação dos padrões diagnósticos dos depósitos de coquinhas terão por base
modelagem física em canais de ondas 2D, para os processos e depósitos da zona subaquosa; e
depósitos de coquinas em praias atuais, mais provavelmente na praia de Las Conchillas, em o
San Antonio Este - Argentina, para os depósitos de praia subaérea.
11
4. JUSTIFICATIVAS
5. HIPÓTESE
Coquinas com baixo grau de retrabalhamento (conchas inteiras e sem abrasão) e com
pouca ou nenhuma matriz sugerem zonas praiais de mais baixa energia e maior profundidade
(acima do NBOT), como a zona de shoreface inferior, onde o empolamento das ondas
(associado a alguma corrente de fundo) provoca o processo de winnowing, que remove o
sedimento mais fino intersticial aos grãos esqueletais. Coquinas com alto grau de
retrabalhamento (conchas fragmentadas e com abrasão) e sem matriz lamosa sugerem zonas
praiais de maior energia e baixa profundidade (acima do NBON) ou subaéreas, como as zonas
de shoreface superior, foreshore e backshore, onde a quebra e o swash da onda causam a
fragmentação e o desgaste das conchas.
6. MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia que será utilizada neste projeto seguirá três linhas de abordagem:
modelagem física de fluxos oscilatórios, descrição faciológica e morfológica de depósito
conchífero praial recente e descrição de rochas carbonáticas de coquinas lacustres das bacias
da margem continental brasileira. O fluxograma da Figura 2 apresenta a organização da
metodologia a ser realizando, especificando cada etapa e o seu objetivo.
O canal de geração de ondas que será usado nas simulações físicas está localizado no
laboratório do Pavilhão Fluvial do Instituto de pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade
Federal do rio Grande do Sul (UFRGS). As dimensões e a geometria do canal estão
apresentadas na Figura 3. O fundo e as paredes do canal são de alvenaria, sendo que em um
trecho, nas laterais, há uma janela de vidro que permite a visualização dos processos.
A geração de ondas é produzida por um batedor articulado no fundo (Fig. 4A), que
consiste em uma pá movimentada por um motor elétrico, em uma das extremidades do canal.
Através de uma cabine de comando, localizada ao lado do canal, é a realizada o controle da
geração de ondas, podendo-se variar o período e a altura da ondulação gerada. A alteração do
período é realizada pelo controle de frequência da rotação do motor do batedor, enquanto que
a altura é controlada pela dimensão do cursor do batedor, de modo a alterar a amplitude de
deslocamento lateral do batedor. Segundo o estudo de Clemente (2013), que construiu a curva
do batedor de ondas do IPH, a altura máxima que pode ser gerada é de 20 cm, enquanto que o
período possui um intervalo entre 1,2 e 2,2 s.
Figura 4 – A) Elementos do gerador de ondas. Foto de Clemente (2013). B) Sonda DHI 201.
Foto do fabricante.
6.1.2. Sedimentos
Os sedimentos utilizados nas simulações serão conchas de moluscos bivalves (Fig. 5), das
espécies Anomalocardia brasiliana (Gemelin, 1791; apud Fornari, 2010), Divaricella
quadrisulcata (Orbigny, 1846; apud Fornari, 2010), Codakia (Fornari, 2010) e Diplodonta
punctata (Fornari, 2010), provenientes das jazidas de conchas holocênicas da planície costeira
de Santa Catarina. Mais precisamente, este material carbonático foi adquirido da Mineração
16
Figura 5 – Fotos das principais espécies de conchas dos depósitos da planície costeira do sul
de Santa Catarina, Brasil. A) Anomalocardia brasiliana. B) Divaricella quadrisulcata. C)
Codakia. D) Diplodonta punctata. Modificado de Fornari (2010).
Além das conchas, será utilizada areia quartzosa para construir o perfil praial e servir
de sedimento intersticial. A areia possui tamanho de grão médio (D50) de 200 μm e é bem
selecionada (Fig. 6).
6.1.3. Experimentos
Os experimentos que serão realizados no canal bidimensional de ondas terão duas linhas
de abordagem: (1) uma do ponto de vista de reprodução dos processos de acumulação de
conchas e outra (2) visando determinar padrões diagnósticos de orientação e grau de
retrabalhamento de conchas, ao longo do perfil praial simulado.
Com isto, espera-se que as conchas, posicionadas abaixo do NBON, sejam remobilizadas
ou até mesmo transportadas para zonas adjacentes, quando sob efeito de cenários de maior
energia de ondas. No entanto, espera-se que o transporte longitudinal de conchas não seja tão
efetivo, devido a impossibilidade de se reproduzir correntes de fundo ou superficiais, que
ocorrem em sistemas costeiros naturais, durante a geração de ondas no canal 2D. O
acompanhamento dos processos ocorrentes no canal será realizado por câmeras localizadas na
janela lateral de vidro e por câmeras subaquáticas.
Alternância de condições
Winniwing e
Simular processos de de energia de ondas
1 retrabalhamento seletivo
acumulação de conchas (clima normal e de
(sensu Kidwell, 1986)
tempestade)
Determinar padrões Orientação, grau de Condições constantes de
2 diagnósticos nas zonas retrabalhamento, máxima energia de onda,
praiais geometria da acumulação simulando tempestades
Quanto aos efeitos-de-escalas envolvidos nas simulações, espera-se que haja alguns
problemas quanto ao tamanho das conchas, por elas serem demasiadas grandes em relação à
profundidade e a altura de onda gerada nas simulações, o que dificulta o seu movimento pelo
19
fluxo oscilatório. Para contornar esta situação, possivelmente será utilizado fragmentos
menores de conchas.
6.2.1. Local
O local de estudo será na praia de Las Conchillas, em San Antonio Este, na província de
Rio Negro, Argentina (Fig. 7). Esta praia se caracteriza pela abundante presença de conchas
em sua porção emersa, ao longo de um trecho de aproximadamente 50 km. Apesar de ser uma
praia oceânica e não lacustre, o concheiro é válido para análise, pois representa um depósito
gerado por ondas. A área desta praia a ser estudada ainda não foi especificamente definida,
mas provavelmente se dará em um trecho reduzido deste concheiro, de aproximadamente 1
km. O uso deste local como estudo de campo, depende de recursos financeiros provenientes
de projetos de pesquisa em fase de contratação. Caso o referido projeto não seja confirmado,
locais alternativos de mais fácil acesso poderão ser utilizados, como por exemplo, os
Concheiros do Albardão, em Santa Vitória do Palmar – RS, ou os depósitos de conchas do sul
do estado de Santa Catarina.
20
6.2.2. Métodos
Grau de Quantidade de
Característica Tamanho Orientação
retrabalhamento matriz
direção do eixo de
maior
comprimento,
eixo de maior índice de relação matriz x
Parâmetros sentido do umbo,
comprimento fragmentação grãos esqueletais
convexidade para
baixo ou para
cima
percentual de percentual de
medição com régua medição com
Procedimento fragmentos (por matriz (por peso
e peneiramento bússula
peso da amostra) da amostra)
Perfis de GPR (Ground Penetrating Radar) serão realizados tanto paralelamente, quanto
perpendicularmente a linha de praia, para avaliar a geometria interna do depósito, permitindo
a determinação do arcabouço estratigráfico do depósito.
Nesta etapa serão aplicados os padrões diagnósticos gerados nas etapas experimentais e de
descrição de depósito recente, bem como padrões conhecidos na literatura (Nagle, 1967;
Kidwell et al., 1986; Janhert et al., 2012; Tavares et al., 2015) em rochas de coquinas do pré-
sal das bacias marginais brasileiras. Para tal serão analisados testemunhos das coquinas da
22
7. RESULTADOS ESPERADOS
Acima do NBOT:
8. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
9. FONTES DE FINANCIAMENTO
O projeto será financiado por recursos provenientes da taxa de bancada da bolsa CNPq
e de projeto de pesquisas entre IPH e Petrobras, atualmente em fase de contratação.
26
Abrahão, D. & Warme, J.E. 1990. Lacustrine and associed deposits in a rifted continental
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28
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depositional environments for the coquinas of the Morro do Chaves Formation, Sergipe-
Alagoas Basin, defined by taphonomic and compositional criteria. Brazilian Journal of
Geology, 45(3): 415-429.
Terra, G.J.S., Spadini, A.R., França, A.B., Sombra, C.L., Zambonato, E.E, Juschaks, L.C.S.,
Arienti, L.M., Erthal, M.M., Blauth, M., Franco, M.P., Matsuda, N.S., Silva, N.G.C.,
Moreti-Junior, P.A., D’Avila, R.S.F., Souza, R.S., Tonietto, S.N., Anjos, S.M.C.,
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bacias sedimentares brasileiras. Boletim de Geociências da Petrobras, 18(1): 9-29.
Thompson, C.E.L. and Amos, C.L. 2002. The impact of mobile disarticulated shells of
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