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Marcelo Assafin
OV/UFRJ
Apresentação......................................................................................................................3
1. Introdução........................................................................................................................4
2. Posições de Objetos Astronômicos.................................................................................5
2.1. Sistema de Coordenadas Equatorial Celeste e Altazimutal.....................................7
2.1.1 A Esfera Celeste ....................................................................................................7
2.1.2 Sistema de Coordenadas Altazimutais.................................................................10
2.1.3 Sistema de Coordenadas Equatoriais Celestes....................................................11
2.2 Variação de Coordenadas Devido a Rotação da Terra ...........................................13
2.2.1 Marés .....................................................................................................................15
2.3 Variação de Coordenadas Devido a Precessão e Nutação .....................................16
2.4 Variação de Coordenadas Devido ao Movimento do Polo ......................................18
2.5 Variação de Coordenadas Devido ao Movimento Orbital da Terra...........................19
2.5.1 Paralaxe Anual.......................................................................................................20
2.5.2 Aberração Anual.....................................................................................................21
2.6 Movimento do Sol na Galáxia....................................................................................22
2.6.1 Sistema de Coordenadas Galácticas......................................................................23
2.7 Relação entre Sistemas de Coordenadas .................................................................24
3. Tempo..............................................................................................................................27
3.1 Tempo Solar ..............................................................................................................28
3.1.1 Fusos Horários .......................................................................................................29
3.2 Tempo Sideral ...........................................................................................................31
3.3 Tempo das Efemérides e Tempo Dinâmico................................................................32
3.4 Tempo Atômico...........................................................................................................32
3.5 Tempo Universal Coordenado....................................................................................33
3.6 Calendários.................................................................................................................34
4. Catálogos Astrométricos ..................................................................................................35
4.1 Catálogos de Posição - Histórico................................................................................35
4.2 Catálogos de Posição Modernos................................................................................39
4.3 Os Novos Catálogos Astrométricos na Era HIPPARCOS..........................................41
4.4 Catálogos Astrométricos: como se apresentam e como acessá-los?........................44
4.5 Catálogos das Futuras Missões Espaciais: Astrometria Aplicada a Astrofísica.........45
4.5.1 A Missão SIM...........................................................................................................45
4.5.1.1 Populações Galácticas.........................................................................................47
4.5.1.2 Estrutura da Galáxia.............................................................................................48
4.5.1.3 Astronomia Extragaláxia.......................................................................................48
4.5.2 A Missão GAIA.........................................................................................................49
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APRESENTAÇÃO
O texto está estruturado de forma que as idéias centrais estão no texto principal, que é
subdivido em seções, algumas delas com subseções. No meio do texto, alguns exercícios são
apresentados, quando necessário, as vezes com sugestões e roteiros para serem
solucionados. Eles devem ser examinados, analisados cuidadosamente e resolvidos pelos
estudantes interessados em bem assimilar o conteúdo do curso. A dificuldade destes
exercícios é variável e muitos deles apresentam resultados interessantes. Não são dadas
respostas, os alunos devem trazer os exercícios resolvidos e discutí-los em sala.
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1. INTRODUÇÃO
Na figura 1.1 vemos o campus do Observatório do Valongo (OV), da UFRJ. Ele está
localizado no alto de um morro, bem próximo ao centro financeiro da cidade do Rio de Janeiro.
A partir da Rua Marechal Floriano, segue-se a pé (pela calçada) ou de carro (pelo asfalto),
seguindo o sentido do trânsito, por uma rua secundária, a Rua Senador Pompeu, até chegar
ao No. 43 da Ladeira do Pedro Antônio. Veja abaixo, na fig.1.2, o mapa da região, que mostra
como chegar ao OV, para fazer Astronomia.
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específicas (Rua, números, etc), representamos esses elementos com símbolos específicos, e
com regras específicas. Com a Astronomia Fundamental, dá-se o mesmo. É a Astronomia
Fundamental a ciência responsável pela cartografia do Universo, isto é, pela definição de
sistemas de referência espaciais e temporais, segundo um conjunto de convenções e normas
de valor universal. É seu papel realizar o censo de todos os corpos celestes, isto é, determinar
suas posições espaciais no tempo.
De um ponto de vista mais conceitual, não é qualquer sistema de referência que nos
permite acessar a posição, distância e movimento de um corpo celeste, rigorosamente de
acordo com a Mecânica Newtoniana. Neste caso, o sistema de referência a ser adotado deve
ser inercial e a medida do tempo associada a medida de movimento, deve ser uniforme. Em
outras palavras, um corpo se movendo no espaço tendo sobre ele a ação de uma força
resultante nula, deve ter uma trajetória descrita como sendo igual a de uma linha reta, onde
distâncias iguais são cobertas em intervalos de tempos iguais nesse referencial. A trajetória do
corpo pode ainda ser descrita por um ponto fixo, no caso particular de velocidade nula. Sendo
assim, há dois tipos de referenciais astronômicos que precedem a própria Mecânica
Newtoniana, um espacial, outro temporal. Eles devem estar previamente disponíveis, para
que o movimento dos corpos celestes possa ser descrito e interpretado de forma coerente na
Mecânica Newtoniana. São eles o referencial inercial, ligado ao espaço propriamente dito, e
ao qual nós vínhamos nos referindo, e o referencial de tempo uniforme, mais comumente
referido em termos de escalas de tempo.
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Fig. 2.1. Evolução da precisão das posições de catálogos representativos de cada época.
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relativamente abundantes, tornam-se pontos fiduciais ideais para representar um dado sistema
de referência. No Capítulo 4, damos um histórico da evolução dos catálogos, desde a
antiguidade até os dias atuais.
A medida que o tempo passa, mais estrelas, de brilho mais fraco, vão sendo incluídas
nos catálogos, com precisão cada vez melhor. Pergunta: você sabe o que é “precisão”?
(responda como exercício).
Tendo em vista levar o sistema inercial a objetos de brilho cada vez menor,
modernamente tem sido levado a cabo programas de construção de catálogos astrométricos
de virtualmente milhões de estrelas. É o caso do catálogo UCAC (do inglês “USNO CCD
Astrograph Catalog”) do United States Naval Observatory (USNO), de 40 milhões de estrelas
com precisão de 20mas a 70mas (1mas = 0”,001 ou 1 mili-segundo de arco), e do USNO-B1
de 500 milhões de estrelas com precisão de 200mas.
Estude a Fig. 2.1. Pergunta: qual deve ser a precisão da posição para daqui a 30
anos? (responda como exercício).
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A Fig. 2.2 ilustra a visão da Esfera Celeste, para um observador situado na superfície da
Terra. O ponto imediatamente a sua cabeça recebe o nome de Zênite. O Plano do Horizonte,
ou simplesmente Horizonte, é o plano perpendicular a linha imaginária que liga o observador
ao Zênite. Todos os elementos descritos estão envolvidos pela Esfera Celeste. É em sua
superfície que descrevemos a posição aparente dos astros no céu.
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Fig. 2.3b – Vista do céu projetada numa Esfera Celeste, de dentro para fora, centrada
em um observador na superfície terrestre.
A Fig. 2.3b apresenta a Esfera Celeste, com algumas das principais estrelas,
constelações, o equador terrestre e o Pólo Sul projetados, mais a indicação da trajetória
aparente do Sol (linha tracejada, que passa pelas chamadas Constelações do Zodíaco).
Apesar de parecer à mesma distância, por um efeito de perspectiva, as estrelas das
constelações estão na verdade distribuídas tridimensionalmente em regiões distintas no
espaço, como mostra a Fig. 2.3c.
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partes iguais, definindo-se assim um grande círculo (Ex: o Horizonte na Fig. 2.2; veja a Fig.
2.4 abaixo). Definimos arbitrariamente um ponto de origem neste círculo principal, por onde
passa o meridiano principal, outro grande círculo perpendicular ao grande círculo
precedente. Os (pequenos) círculos paralelos ao círculo principal definem as latitudes da
esfera, enquanto que os grandes círculos perpendiculares ao círculo principal definem as
longitudes. Estes ângulos são similares ao que utilizamos para localizar um ponto na
superfície terrestre, a longitude e a latitude.
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Devemos notar ainda que neste sistema, as coordenadas de um astro variam com o
tempo devido sobretudo ao movimento diário (rotação da Terra). De fato, o azimute de um
astro sempre aumenta durante o decorrer de um dia (exceto pela descontinuidade a 3600).
Este sistema é uma realização muito boa de um referencial inercial, motivo pelo qual é
na prática muito utilizado até hoje. No sistema equatorial, o plano principal é a projeção do
Equador Terrestre na esfera celeste, chamado Equador Celeste (Fig. 2.5). As projeções dos
pólos terrestres na esfera celeste definem os Pólos Celestes Norte e Sul. A origem do sistema
de coordenadas é definido pela intersecção do Equador Celeste com a Eclíptica (a trajetória
aparente do Sol na esfera celeste durante um ano). Este ponto é chamado Equinócio Vernal
ou Primeiro Ponto de Áries (usamos o símbolo g ). Quando o Sol está neste ponto, temos o
início do outono no hemisfério Sul, e da primavera no Norte. Veja a Fig. 2.6a.
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Nas próximas seções deste Capítulo, mostraremos de forma superficial, sem entrar em
grandes detalhes, fenômenos ligados ao movimento da Terra no espaço que têm, entre outras
consequências, a de causar importantes variações nas coordenadas dos astros. Aqui, é
importante ter a noção da ordem de grandeza dessas variações, e criar uma idéia da relação
dessa ordem de grandeza com a ordem de grandeza das escalas de distância envolvidas.
Paralelamente, algumas noções de Tempo irão sendo naturalmente introduzidas, antes de
tomarmos efetivamente este tema, já no próximo Capítulo 3.
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A rotação da Terra pode ser constatada por vários fenômenos, como por exemplo pelo
movimento diurno aparente do Sol ao longo do dia, que nasce no horizonte a leste e se põe a
oeste, ou pelo movimento aparente das estrelas a noite, no mesmo sentido. Aliás, esse
movimento aparente que todos os astros compartilham no céu recebe o nome indistinto de
movimento diurno.
Constata-se que leva um certo período de tempo para que a rotação da Terra se
complete para que ela dê uma volta completa em torno de seu eixo de rotação. Esse período
pode ser medido tomando-se como referência um corpo celeste qualquer e a própria Terra. Se
queremos escolher um ponto fixo como referência, podemos escolher uma estrela, já que no
período de rotação da Terra, podemos considerar que para todos os efeitos práticos uma
estrela, pela sua distância a Terra, está parada no espaço (o que, a rigor, não é verdadeiro).
Por outro lado, se queremos escolher um astro de fácil reconhecimento, de importância na
marcação do tempo na vida civil, podemos escolher o Sol. Dependendo de qual desses astros
é tomado como referência, medimos o mesmo período de rotação da Terra em escalas de
tempo diferentes, cada uma arbitrada em 24hs. Assim, tomando a estrela como referência,
temos que o período de rotação da Terra é de “24 horas siderais”. Tomando o Sol como
referência, temos que o período de rotação terrestre é de “24 horas solares”. Em outras
palavras, o período de rotação da Terra define o dia sideral (24 horas siderais) ou o dia solar
(24 horas solares), conforme o astro de referência seja respectivamente uma estrela ou o Sol.
O importante aqui é perceber que a medida do tempo, do ponto de vista da Astronomia, é feita
associando-se a passagem do tempo com configurações de astros (no caso, o alinhamento do
centro da Terra e do observador, com uma estrela ou com o Sol). Essas duas escalas de
tempo, sideral e solar, apresentam uma marcha de tempo diferente, pois as configurações
(alinhamento) dos astros estrela ou Sol repetem-se em intervalos diferentes de tempo, como
mostra a Fig. 2.7.
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Se definimos como sendo 24hs solares ou um dia solar, o intervalo de tempo decorrido entre
dois alinhamentos sucessivos entre o centro da Terra, o observador e o Sol, fica fácil perceber
que o intervalo de tempo decorrido para que haja o alinhamento com a estrela é mais curto,
devido ao movimento orbital da Terra em torno do Sol e devido ao sentido da rotação da Terra
em torno se seu eixo (ambos dando-se no sentido trigonométrico, i.e., contrário ao ponteiro dos
relógios, quando vistos de cima). Assim, o dia sideral que tem 24hs siderais, quando medido
em horas solares mede 23h 56m 04s. O alinhamento com o Sol dá-se 3m 56s solares depois
de a Terra alinhar-se com a estrela. Do mesmo modo, 1 dia solar medido em horas siderais
leva 24hs 03m 56s. Se dois relógios, um marcando horas siderais outro marcando horas
solares, forem deixados funcionando, ao fim de 1 dia solar o relógio sideral estará marcando
mais 0hs 3m 56s, enquanto que ao fim de 1 dia sideral o relógio solar estará marcando 23h
56m 04s.
O movimento diurno dos astros é realmente prova da rotação da Terra? Não poderia a
Terra estar de fato parada e toda a abóboda celeste estar afinal, girando ao nosso redor? A
prova definitiva de que é a Terra que de fato gira foi dada por Galileu Galilei, ao aplicar a
experiência do Pêndulo de Foucalt em um ponto bem ao norte da Europa. Já era sabido que o
plano de oscilação do Pêndulo de Foucalt muda quando o ponto de apoio do pêndulo é
submetido a uma força externa, como o atrito por exemplo, e vice-versa, na ausência de forças
externas, o plano permanece invariante. Galileu idealizou um experimento. Construiu um
Pêndulo de Foucalt o mais próximo que podia do polo norte, garantindo dentro da capacidade
tecnológica da época que não houvesse atrito no ponto de sustentação, e garantindo um
perfeito alinhamento do prumo na vertical, em repouso. Também montou um sistema preciso
de medição da orientação do plano de oscilação. Sua hipótese era a de que, na ausência de
forças externas, a constatação de uma eventual mudança na orientação do plano de oscilação
seria a prova do giro da Terra. E foi o que de fato aconteceu. A explicação era a de que o plano
de oscilação de fato ficava parado, mas era o próprio chão que girava, e no sentido coerente
com o movimento de rotação da Terra. Evidentemente, seria no polo que o efeito seria
maximizado. O esquema da experiência é mostrado na Fig. 2.8.
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Fig. 2.8 – Experiência com o Pêndulo de Foucault no polo: prova da rotação da Terra.
2.2.1 Marés
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Devido a órbita da Lua em torno da Terra, e mesmo pela órbita da Terra em torno do
Sol, as marés tem uma natureza cíclica. O resultado é que as marés causam atrito em todos
os constituintes da Terra: magma, crosta, oceanos. Com esse atrito há dissipação de energia
cinética de rotação, resultando na diminuição da taxa de rotação da Terra em torno de seu eixo
como um todo, a uma taxa de 1,5 milisegundos/dia/século. O mesmo aconteceu com a Lua,
que foi diminuindo a sua taxa de rotação até que o seu período de rotação ficasse igual ao
período de revolução em sua órbita em torno da Terra, de cerca de 28 dias. De fato, num
futuro distante, o período de rotação da Terra tenderá a igualar-se com o período orbital da
Lua, e ambos tenderão a diminuir ainda mais a sua taxa de rotação, igualando no final seu
período de rotação com o período orbital da Terra em torno do Sol, devido a maré causada
pelo Sol.
Assim como os constituintes de nosso planeta apresentam um caráter até certo ponto
“fluido”, resultando no fenômeno da marés, não podemos esquecer que o planeta acima de
tudo apresenta características de um corpo rígido. Assim, o mesmo desbalanço gravitacional
responsável pelo fenômeno das marés, aplicado a um corpo rígido em rotação causa um
torque que faz com que o eixo de rotação, antes fixo, gire. Quando consideramos as atrações
gravitacionais de vários corpos, como o Sol, a Lua e os planetas, percebemos que o resultado
final no giro do eixo de rotação no espaço é a soma dos vários torques. Esse resultado final,
entretanto, costuma ser apresentado na forma de um somatório de várias componentes, cada
uma com amplitudes e períodos cada vez menores.
A Terra orbita o Sol num plano denominado de Eclítica. A projeção para cima, de uma
normal a Eclítica, define o polo norte da Eclítica (PNE). O eixo de rotação da Terra forma um
ângulo de aproximadamente 230 27’ com o PNE. Este ângulo é chamado de obliquidade da
Eclítica. É o mesmo ângulo formado entre a Eclítica e o Equador da Terra, projetado no
espaço. As componentes mais importantes do torque gravitacional gerado por Sol, Lua e
planetas no eixo de rotação da Terra, são chamadas de Precessão e de Nutação. As Figs.
10a,b ilustram de forma qualitativa o giro do eixo de rotação, segundo a Precessão, e o efeito
associado a Nutação. Na precessão, o eixo de rotação da Terra gira em relação ao PNE, de
forma a descrever um cone completo com ângulo de vértice igual a obliquidade da eclítica, a
cada 26 mil anos. Se imaginarmos uma linha representando a interseção entre a Eclítica e o
Equador, esta linha dá um giro completo de 26 mil anos devido a precessão, movendo-se a
uma velocidade de 51” por ano. É a Linha dos Equinócios.
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Fig. 2.10b – Nutação. PNE = polo norte da eclítica (plano orbital da Terra ao redor do Sol)
A nutação tem como período principal o de 18,6 anos, com amplitude máxima de 9”,2
em relação ao PNE, e de 17”,2 de atraso ou adiantamento na direção da precessão.
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Fig. 2.14 – Representações do plano orbital da Terra, a Eclítica, no espaço ena representação
em Esfera Celeste (ver mais tarde uma definição de Esfera Celeste).
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A Terra orbita o Sol, a uma distância média de 1 U.A., numa trajetória aproximadamente
circular (é, a rigor, uma elipse), num período de aproximadamente 365,25 dias solares, isto é,
passam-se aproximadamente 365,25 dias solares para a Terra completar uma volta em torno
do Sol em relação a um ponto fixo. O plano orbital da Terra em sua órbita em torno do Sol é
chamado de Plano da Eclítica, ou simplesmente, Eclítica. A linha resultante da interseção do
plano da Eclítica com o Plano do Equador, é chamada Linha dos Equinócios. Essa linha
aponta para dois sentidos. Um deles é o chamado Primeiro Ponto de Aires ou Equinócio Vernal
(g). Veja a Fig 2.14.
Que provas temos de que o movimento orbital é efetivamente da Terra ao redor do Sol,
e não o contrário? Há duas constatações que provam que de fato é a Terra que orbita o Sol.
São efeitos mensuráveis, causados por esse movimento orbital, que ocasionam variações na
posição aparente das estrelas. Esses efeitos recebem o nome de paralaxe anual e de
aberração anual.
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posição da estrela num dado instante e 6 meses depois recebe o nome de paralaxe anual.
Falaremos sobre isso de novo no Capítulo 5, pois é com medidas de paralaxe anual que se
determina de forma a mais independente possível, a distância de um astro. Nenhuma estrela
possui paralaxe maior que 1”, sendo o valor típico em geral bem menor. O efeito é ilustrado na
Fig. 2.16.
Em 1728, o astrônomo Inglês Bradley observou outro tipo de variação na posição das
estrelas, que dependia da época do ano em que fossem observadas. O efeito fazia com que a
posição de todas as estrelas aparentemente se deslocassem na direção de um mesmo ponto
no espaço, que era, na verdade, a direção para a qual a Terra se movia. O efeito é análogo ao
que observamos dentro de um carro em movimento, quando chove. Os pingos parecem
inclinados, mas se paramos o carro, verificamos que os pingos caem na horizontal. Mudança
de ventos? Não. A explicação está na relação da direção de um ponto observado, quando nos
encontramos em um referencial parado e em um referencial em movimento.
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Novamente, aqui, se a Terra estivesse imóvel, tal fenômeno não poderia ser observado. Além
disso, conforme Bradley demonstrou, a direção do desvio relacionava-se diretamente com a
direção da velocidade orbital que a Terra teria em uma órbita ao redor do Sol. A esse
fenômeno de variação na posição aparente dos astros, dá-se o nome de aberração anual. O
efeito é tal que as estrelas, em verdade, parecem descrever no céu, durante o ano, um círculo
com a forma perfeitamente proporcional a órbita da Terra (elas descrevem, a rigor, uma elipse,
já que a órbita da Terra ao redor do Sol não é perfeitamente circular). As Figs. 2.17a,b ilustram
o efeito. Seu tamanho é da ordem de 0”,3.
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A velocidade orbital das estrelas da Galáxia segue um padrão tal que é mais intensa
no bojo (seu centro) em menos pronunciada nos braços, havendo um ponto máximo, a partir
do qual se distingue o bojo do disco.
É preciso lembrar que o movimento da Terra “não pára por aí”. A nossa Galáxia está
inserida, e orbita o centro de massa, de um grupo local de Galáxias, compreendendo
distânicas da ordem de Mpcs. Este grupo, por sua vez, orbita o centro de massa de um super-
aglomerado bem maior, compreendendo dezenas de Mpcs, e assim sucessivamente. A medida
desses movimentos torna-se menos precisa, a medida em que as variações nas posições
desses objetos é cada vez menor, forçando o emprego de métodos indiretos de detecção
desses movimentos.
Para as coordenadas galácticas, o plano principal é definido pelo plano do disco da Via
Láctea (nossa Galáxia é uma espiral, provavelmente barrada). A origem é dada pela direção do
centro galáctico, que se encontra na Constelação de Sagitário (veja Fig. 2.20). Este sistema é
utilizado normalmente em Astronomia Extragaláctica (como no estudo do grupo local de
galáxias, no qual a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda são seus membros principais) ou em
problemas ligados à nossa Galáxia como um todo (por exemplo, o movimento das estrelas do
disco da Via Láctea).
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Como dissemos, existem outros sistemas de coordenadas, mais úteis que os aqui
apresentados, de acordo com o problema astronômico abordado. Por exemplo, existe o
Sistema de Coordenadas Elípticas, onde o plano fundamental é, no lugar do Equador Celeste,
o plano da Eclíptica. Este sistema é particularmente útil no estudo do movimento dos planetas
e de corpos do sistema solar que orbitam o Sol. Outro é o Sistema Horário de Coordenadas,
muito similar ao Equatorial Celeste, mas onde no lugar da Ascensão Reta, a posição é medida
em função do chamado Ângulo Horário, que mede a distância angular do astro ao meridiano
do observador.
Na maioria dos telescópios de hoje, para apontá-lo em direção ao objeto que se quer
observar, basta introduzir as coordenadas Ascensão Reta e Declinação nos círculos graduados
do instrumento, ou eventualmente o Ângulo Horário. Muitos telescópios, automatizados,
dispensam uma interferência direta do observador no instrumento, bastando fornecer por
computador as coordenadas (a,d), que o mesmo se encarrega de acionar os motores e apontar
o telescópio na direção desejada.
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Fig. 2.21a – Movimento diurno e a visibilidade das estrelas. N = ponto cardeal norte, S = ponto
cardeal Sul, Z = Zênite, PN = polo norte, PS = polo sul. O plano da figura é o plano do
meridiano do lugar.
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lugar, pois contém o Zênite e o polo elevado. Se medirmos a altura h de um astro quando
esse cruza o meridiano do lugar, em seu movimento diurno, obtemos a Declinação d do
astro. Pergunta: qual é a fórmula que relaciona a altura h do astro, a latitude geográfica f e
a Declinação d do astro na sua passagem pelo meridiano do lugar? (Resolva como
exercício).
Mais ainda, o próprio meridiano do lugar define os pontos cardeais Norte, Sul, Leste
e Oeste de um observador. Os pontos cardeais norte e sul resultam da intersecção do
Meridiano do Lugar e do Horizonte com a Esfera Celeste, sendo o ponto Norte aquele
voltado para o lado do Polo Norte, e o ponto Sul aquele voltado para o lado do Polo Sul. Os
pontos Leste e Oeste são definidos a partir de linhas perpendiculares a linha Norte-Sul.
Pergunta: o Sol sempre nasce no ponto cardeal Leste e sempre põe-se no ponto cardeal
Oeste? (responda como exercício).
Ainda analisando a Fig. 2.21a, podemos notar que, para um dado observador a uma
dada latitude geográfica f qualquer, nem todas as estrelas ficam visíveis. No exemplo da
figura, a partir de uma dada declinação d, nenhuma estrela ao norte do equador é visível. Por
outro lado, dentro de uma certa faixa de declinações, no Hemisfério Sul Celeste, próximas ao
polo elevado, no caso o polo Sul, todas as estrelas dessa faixa ficam visíveis: são as estrelas
circumpolares. Numa situação intermediária, há ainda aquelas estrelas que permanecem
visíveis por um determinado período, e invisíveis no outro. Pergunta 1: Dada a latitude
geográfica f de um local, deduza expressões para determinar quando uma estrela é
circumpolar, e quando é invisível, em função de sua declinação d. Pergunta 2: como
determinar a latitude f de um lugar observando a passagem meridiana de estrelas
circumpolares? (dica: use a altura h no problema). (Responda como exercício).
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duração do dia claro (Sol acima do Horizonte) seja diferente. No Verão, é maior o período de
iluminação, ao passo que no inverno, é maior a noite. Para saber se uma estrela é ou não
observável em uma data e instante qualquer, é fundamental saber se ela está acima do
Horizonte, à noite. Isso é possível, usando as expressões de visibilidade que você deduziu no
problema anterior, estabelecendo os instantes de nascer e ocaso da estrela para a data, e
finalmente, descobrindo se o Sol está abaixo do Horizonte no instante dado.
3. TEMPO
Evitaremos falar aqui de Tempo como conceito filosófico. Em Astronomia, o Tempo vale
mais pela sua materialização em escalas, de preferência uniformes, dentro do escopo da
Mecânica Newtoniana. Em relação a essas escalas, medimos outras grandezas de interesse
astrofísico.
Fig. 3.1 - Escalas de tempo e seus elementos padrão: origem, época, data, instante, intervalo
de tempo, unidade, mecanismo de contagem.
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Essa escala de tempo depende da rotação da Terra, e tem como referência o Sol. A
unidade de tempo, o dia solar, é definido pelo intervalo de tempo entre duas passagens
consecutivas do Sol pelo meridiano de um lugar (ver Fig. 3.3a).
O tempo civil como o conhecemos está de forma indireta relacionada a essa escala de
tempo, usando-se um Sol médio como ponto de referência, isto é, um Sol artificial que, se
existisse, equivaleria a uma Terra ideal orbitando esse Sol num círculo perfeito. Quando o Sol
médio passa pelo meridiano do lugar, é meio dia. À diferença entre o tempo solar verdadeiro
local (TQVL) e o tempo solar médio local (TQML) dá-se o nome de Equação do Tempo (Fig.
3.3b). A forma dela reflete as diferenças na velocidade orbital da Terra em sua órbita ao redor
do Sol, e a inclinação do eixo de rotação com o plano orbital (Eclítica).
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A Hora Legal, também denominada Tempo Legal (TL) está baseada no padrão de
tempo solar médio. Ela é igual ao TQML de meridianos bem definidos, distribuídos de modo a
formar os 24 fusos horários da Terra (veja as Fig. 3.4a e b). Ela vem da necessidade de os
países estabelecerem sua hora de acordo com sua conveniência, mas respeitando convenções
que viabilizam, entre outras coisas, o transporte aéreo, marítimo e terrestre entre as nações.
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O Tempo Sideral também é baseado na rotação da Terra, mas tendo como ponto de
referência um ponto fixo no espaço. No lugar de uma estrela, que pode ter movimento próprio,
esse ponto fixo é o Ponto Vernal (veja a Fig. 3.5a). Da mesma forma que com o Tempo Solar,
aqui temos o tempo sideral verdadeiro (TSV) e o tempo sideral médio TSM. Porém, os
significados mudam: o TSV está associado ao Ponto Vernal propriamente dito, que na verdade
move-se no espaço por causa da Precessão e Nutação, principalmente, ao passo em que o
TSM é associado a um ponto que corresponde a direção do Ponto Vernal, se apenas o termo
constante da Precessão fosse considerado. Se o Meridiano local for o de Greenwhich, temos
TSVG e TSMG, analogamente a nomenclatura do Tempo Solar. A Fig. 3.5b mostra a relação
linear que existe entre a marcha de Tempo Solar e a de Tempo Sideral médios (veja a
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Já nos anos 20 ficou claro que a escala de tempo baseada no dia solar ( e mesmo no
dia sideral) sofria de muitas irregularidades, devido à rotação terrestre, principalmente devido à
diminuição progressiva da velocidade de rotação da Terra, causada pelos efeitos de maré
luni-solar. A necessidade de uma escala mais uniforme levou ao desenvolvimento do Tempo
das Efemérides (ET) nos anos 40 e sua adoção em 1952, baseada nas equações de
movimento dos planetas e da Lua. Para tanto, foi introduzido um fator de conversão entre o
Tempo Universal UT e o Tempo das Efemérides ET (do inglês “Ephemeris Time”), tal que
DET = ET-UT, valor esse de ano em ano publicado.
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Fig. 3.7 – Relações entre as escalas de tempo uniformes TE, TD, TAI e UCT.
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girasse em torno do seu eixo no mesmo período de tempo que a Lua leva para orbitar a
Terra, isto é, 28 dias? (Resolva este exercício).
Além do mais, é muito provável que a frenagem era mais importante no passado, que
hoje. Contudo, atualmente o dia medido em Tempo Universal ganha cerca de 0,002 segundos
(de TAI) por dia. Este efeito é cumulativo e a cada 400–500 dias (ou um ano e meio)
aproximadamente, a diferença entre UT1 e UTC chega a um segundo. Disto, vem a
necessidade da introdução de um segundo a mais no ano. Este segundo é chamado segundo
intercalar (em inglês, “leap second”). Por convenção, o segundo intercalar é sempre somado ao
último segundo do mês de Junho ou Dezembro, quando necessário (ver Fig. 3.7).
Curiosamente, não temos “leap second” desde 1999, como era de se prever, o que significa
que as irregularidades na taxa de rotação da Terra foram mínimas.
3.6 Calendários
O primeiro conceito de tempo do homem, e o mais natural de todos, é o passar dos dias
e noites. Também é dos primórdios da humanidade o conhecimento do mês lunar, que se dá
com o retorno sucessivo das fases lunares. Mais tarde, em função de necessidades religiosas
surgiu o conceito de semana. O conhecimento do ano solar foi uma necessidade do homem,
quando se tornou sedentário e passou a cultivar a terra. Precisava, então, prever as estações
de chuva de seca, frio e calor, para corretamente plantar e colher.
Como os anos não tem sempre o mesmo tamanho, para se fixar instantes separados
por grandes intervalos de tempo, os astrônomos, por sugestão de Joseph Scaliger (1540 –
1609), introduziram o chamado Período Juliano. O período juliano tem seu início fixado às 12
horas do dia 1o de janeiro de 4713 AC. A partir de então, é calculada dia a dia, a Data Juliana.
A Data Juliana 2.451.545 tem seu início às 12 horas do dia 1o de janeiro de 2000. O século
Juliano é um período de 36.525 dias julianos.
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tarde em doze horas. A noite não era dividida. Os romanos dividiram a noite em quatro vigílias
de modo a estabelecer as trocas de guarda. Na medida em que os relógios foram adquirindo
precisão, foi que se tornou possível dividir a hora em minutos, e mais tarde, no segundo
minuto, ou simplesmente em segundos, como hoje o designamos. Essa notação hexadecimal
para o tempo, que já era adotada para as coordenadas angulares, vem dos Babilônios.
4. CATÁLOGOS ASTROMÉTRICOS
Desde que a Humanidade se reconhece como tal, isto é, há mais de pelo menos 10 mil
anos, o Homem necessitou de referências geográficas e de maneiras para contar a passagem
do tempo, para sobreviver no seu dia a dia. Com a necessidade de exploração de novos
terrenos e rotas de migração, pelos nossos ancestrais primatas, o Homem aprendeu a
assimilar aspectos do relevo, por exemplo, e aprendeu a contagem do tempo pela noção de
dia claro e da noite. Aos poucos e continuamente, foi desenvolvendo e aprimorando seus
mapas com a concepção de sistemas de referência espaciais e temporais, cada vez mais
abstratos. O grau de sofisticação dos mesmos era suficiente para atender as necessidades de
cada época do desenvolvimento de cada civilização.
Interessante notar que, nesse contexto, o uso do céu como sistema de referência, foi
universal, aparecendo em todas as civilizações da História, independentemente do grau de
complexidade das mesmas (Fig. 4.1). Com suas configurações de estrelas tão familiares
quanto eternas, acessíveis em qualquer lugar do globo, do polo norte ao polo sul, não era o
céu um mapa perfeito? Um perfeito sistema de referência? Para onde quer que o Homem
migrasse, principalmente nas longas distâncias, a atenção à localização no céu das
constelações, ou mesmo à estrelas em particular, sempre seria um guia seguro. No decorrer
do ano, a mesma atenção permitia ao Homem prever a chegada das estações, conferindo-lhe
então um sistema de contagem de tempo cíclico de escala mais longa – os primórdios de
nosso calendário.
Na Fig. 4.1, mapas rudimentares, representativos de objetos celestes como Lua, Sol e
planetas, ilustram as primeiras tentativas de registrar a localização de astros no céu. Assim
como os mapas geográficos do Homem moderno, as representações das estrelas pelas
constelações, um dia representaram um elemento importante na História da Civilização (Fig.
4.2).
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Cerca de 4mil anos A.C., começaram a ser produzidas as primeiras tabelas com
posições de estrelas, planetas, Sol e Lua, pelas civilizações da China, da Arábia e pelos
Gregos. Essas tabelas eram grifadas em pedras ou material durável, e representam um marco.
Pela primeira vez o Homem explicitamente demonstra a importância na perpetuação e
disseminação dos registros da posição de astros no céu. Essas tabelas são os primórdios do
que hoje chamamos de catálogos astrométricos de posição. A Tabela 4.1 resume essas
primeiras tentativas bem sucedidas de registro da posição de corpos celestes.
Com relação a Tabela 4.1, é digno de nota a introdução do sistema sexagesimal dos
Babilônios, seguido pelos Gregos e até hoje empregados nos sistemas de medida angulares e
de tempo, em particular nos sistemas de coordenadas espaciais e de medida de tempo
astronômicos.
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Tycho Braher teve como mérito principal a idealização e confecção de novos e precisos
instrumentos de medida da posição de estrelas e planetas no céu. Dentre eles, temos por
exemplo o enorme Círculo Vertical de mais de 27m de diâmetro. As medidas da época eram
precisas ao nível do minuto de arco. A forma sistemática de observar os astros, principalmente
os cuidados em repetir as condições metrológicas e metodológicas, conferiam ao astrônomo
alemão que morava na Bélgica, o título de melhor observador de sua geração. De fato, foram
suas observações de décadas dos planetas e do Sol, que permitiram a Kepler confirmar
definitivamente a Teoria Heliocêntrica de Copérnico, e ir um pouco além, postulando 3 leis de
movimento planetário, as famosas Leis de Kepler. Estas leis formaram um importante anteparo
para que Isaac Newton em seu Principia (1670) formulasse, com a sua a Mecânica
Newtoniana, a Lei da Gravitação Universal.
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outra seção mais adiante). Assim, outra motivação, agora de caráter náutico-militar, surgia no
sentido de se aprimorar ainda mais os sistemas de coordenadas empregados para descrever a
posição das estrelas no céu. A Tabela 4.3 aponta algumas das principais contribuições da
Astronomia nesse novo período.
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desdobrando-se nas outras atuais grandes áreas da Astronomia: Astrofísica Estelar, Galáctica
e Extragaláctica. Isso se deu graças ao grande desenvolvimento da Física ao longo do século
passado, com o advento da Espectroscopia, o desenvolvimento do Eletromagnetismo e com o
estabelecimento da Mecânica Quântica e da Relatividade. Aliás, a Cosmologia como hoje a
conhecemos, é agora uma grande área da Física, mas com importantes interseções com a
Astrofísica Extragaláctica.
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Esta missão espacial de fato acabou por se realizar entre 1989 e 1993, e teve a
designação de HIPPARCOS (‘’HIgh Precision PARalax COllecting Sattelite’’, em inglês Coletor
de Alta Precisão de Paralaxes), um anacronismo em homenagem ao ilustre astrônomo Grego
Hiparco de Nicea. Dela resultou 2 catálogos, o catálogo HIPPARCOS propriamente dito, e o
catálogo TYCHO-1. A precisão de posição, paralaxe e movimento próprio para as 100mil
estrelas do catálogo ficou em 1mas, e 25 mas para as 1 milhão de estrelas do TYCHO-1.
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posições que materializam o ICRS, vêm de medidas de interferometria com antenas rádio
dispostas em vários continentes, com precisões melhores que 1mas. Essas posições, obtidas
na faixa rádio do espectro, constituem um catálogo fundamental, chamado ICRF (do linglês
‘’Internatinal Celestial Reference Frame’’, ou Rede Internacional de Referência Celeste).
O catálogo TYCHO-1 é, por sua vez, referido ao HIPPARCOS. A razão de sua menor
precisão em relação ao catálogo principal, vem do fato de que ele é na verdade um
sub-produto da missão, oriundo do uso de detetores secundários dispostos no satélite apenas
para sua orientação espacial. A combinação destes catálogos com outros catálogos obtidos a
partir de observações de solo, resultou na confecção de outros importantes catálogos
astrométricos da Era contemporânea, ou Era HIPPARCOS da Astronomia Fundamental: os
catálogos ACT (do inglês ‘’Astrograph Catalog – TYCHO’’) e seu sucessor, o TYCHO-2. O
quadro abaixo resume as principais características desses catálogos.
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Fig. 4.4 – Cobertura observacional do catálogo UCAC em todo o céu. As faixas de baixo
para cima representam os anos de observação, desde 1999.
Ressaltamos aqui ainda, os importantes catálogos USNO A2.0 e USNO B1, este último
publicado em 2003, resultado do uso de microdensitômetros avançados na re-redução de
antigos surveys de placas fotográficas obtidas em Telescópios Schmidt. Uma visão da
densidade de estrelas em todo o céu, em um tipo de projeção em coordenadas galácticas é
mostrado na Fig. 4.5, para o catálogo USNO-B1. São 526 milhões de estrelas até magnitude
22, com uma precisão média de 200mas.
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Na Fig. 4.6, as 2 primerias colunas são as coordenadas no céu que indicam a posição
da estrela (o tema sistemas de coordenadas será visto mais adiante). As coordenadas foram
listadas apenas com os valores aproximados. A 3a coluna indica o movimento próprio da
estrela, isto é, a variação em segundos de arco por ano no céu da posição da estrela, causada
apenas pelo movimento no espaço da própria estrela. As demais colunas mostram o tipo
espectral, valores de magnitude, massa estimada e designação.
(*) Obs.: Linha de base entre primeira época (AC2000) e segunda (TYCHO 1
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Até bem poucas décadas atrás, antes da revolução da informática e dos computadores
pessoais, o registro dos catálogos era feito de forma impressa. Depois, em forma de fitas
magnéticas, e finalmente na forma digital como hoje a conhecemos, em arquivos de
computador. A maioria desses catálogos é distribuída pelas Universidades e Observatórios dos
centros de pesquisa em Astronomia Fundamental em todo o mundo, pela internet. Um
exemplo é o sítio do SIMBAD (ver Fig. 4.7), um banco de dados astronômicos mantido pela
Universidade de Strasburg na França (catálogos astrométricos constituem apenas uma parte
dos dados ali disponíveis). No caso de muitos catálogos astrométricos, a distribuição é feita em
CDs, como o HIPPARCOS (6 CDs), TYCHO-2 (1), UCAC(3), USNO-A2 (11), etc.
Das futuras missões espaciais astrométricas, cujo planejamento está sendo levado a
cabo pela NASA e pela ESA, destacamos a Missão SIM e a missão GAIA. A precisão prevista,
sem precedentes, em posição, paralaxe, movimento próprio e magnitude, promete revolucionar
o quadro atual de informações cinemáticas e de brilho de nossa Galáxia e, pela primeira vez
com toda essa precisão, de nossas galáxias satélites (as Nuvens de Magalhães). Além de
expormos as características principais dessas missões (instrumental, etc), citamos também
alguns objetivos científicos pretendidos. O texto está cheio de exemplos de como a Astronomia
Fundamental e a Astrometria podem servir à Astrofísica, pelo conhecimento de distâncias
(paralaxes) e movimentos próprios. A primeira leitura desse texto é reconhecidamente difícil. O
objetivo é que o estudante retorne recursivamente a esse texto, à medida que ganhe mais
informação e conhecimento, durante este Curso, e mesmo depois dele. (algumas figuras estão
em inglês; recorra ao dicionário, e faça um curso!).
A missão SIM (Space Interferometry Mission) da NASA, está para entrar na 3a e última
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fase de planejamento em 2007, com lançamento previsto para 2009, e duração de 5 anos. O
satélite SIM, através de técnicas interferométricas no ótico, e usando uma linha de base de 10
m, realizará medidas astrométricas em centenas de milhares de objetos entre magnitudes 12 <
mV < 20, com até 4 mas de erro nas posições e paralaxes trigonométricas, e 1 – 2 mas ano-1 de
erro nos movimentos próprios.
A Fig. 4.8 ilustra a planta atual do satélite. Este possui sete espelhos coletores
(siderostatos), dos quais três linhas de base arbitrárias podem ser formadas (o siderostato
extra é incluído por redundância). Duas das linhas de base são dedicadas ao controle de
estado e atitude do satélite, enquanto a terceira fornece os dados científicos. Paralelamente,
sistemas metrológicos a laser, internos e externos, monitoram as variações geométricas
relativas, por onde passa a luz.
Fig. 4.8 – Planta atual do satélite SIM Este possui sete espelhos coletores (siderostatos), dos
quais três linhas de base arbitrárias podem ser formadas (o siderostato extra é incluído por
redundância). Duas das linhas de base são dedicadas ao controle de estado e atitude do
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Fig. 4.9 – Diagrama dos horizontes de precisão astrométrica, em termos da magnitude V, para
a missão SIM e os catálogos FK5 e HIPPARCOS.
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Os modelos de evolução estelar serão postos a prova, com a obtenção das distâncias
dos aglomerados galácticos e globulares.
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Para uma astrometria espacial precisa a grandes ângulos, deve-se medir ao mesmo
tempo regiões distantes no céu, tal como feito com o HIPPARCOS. No caso do GAIA, isto
poderá ser feito com um espelho duplo colimador (como antes), ou mais provavelmente serão
montados dois interferômetros com linhas de base formando um ângulo fixo entre si. O ângulo
será em torno de 600, sendo controlado por metrologia a laser. As linhas de base deverão ficar
em 2,5m. A abertura deve ficar em 0,5 m, para medir-se estrelas mais fracas. Os detetores
CCD a serem usados serão sensíveis na faixa de 350 – 800 nm, e melhorados na direção de
900 nm, pelo interesse de observações no infravermelho. As figuras de interferência são
imageadas diretamente em varredura síncrona, dispensando o uso de grades moduladoras.
Ainda há a possibilidade de se usar um prisma para medir a dispersão das franjas,
melhorando a astrometria e obtendo informação espectroscópica (baixa resolução) e
fotométrica diretamente.
Fig. 4.10 - À esquerda, uma ilustração dos interferômetros de Fizeau a bordo. À direita,
mosaico de CCDs “multi-banda”, responsáveis pela detecção dos feixes luminosos.
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Fig. 4.11 – Horizonte de distâncias para o projeto GAIA. As precisões astrométricas previstas,
levam a determinação de distâncias (trigonométricas) com erros de 10% a 10 Kpc, e de
velocidades transversais com precisões de 1 Km/s a 20 Kpc, O satélite GAIA irá sondar com
medidas diretas uma grande parte da Galáxia, incluindo a maior parte do halo, e até mesmo as
Nuvens de Magalhães.
A duração de 5 anos prevista para a missão, além de permitir o aumento natural das
precisões de posição, fornece uma base de tempo importante para os estudos da dinâmica de
asteróides, fortalece as soluções paramétricas de sistemas múltiplos e de estrelas variáveis, e
permite a detecção de planetas e de companheiras anãs marrons.
Existe uma enorme gama de aplicações para os dados GAIA em multicanal (7 bandas),
multi-época (5 anos), e de 20 mas e 20 mas ano-1 de precisão, tais como em Física e Evolução
Estelar (luminosidades estelares e idades; estrelas massivas; novas e variáveis tipo novas;
nebulosas planetárias; Cefeidas e RR Lyrae; aglomerados abertos e globulares; estrelas
pobres em metal e nucleosíntese primordial), Dinâmica de Sistemas Estelares(binárias visuais
e astrométricas; sistemas binários interagentes; binárias tipo Be emissoras de raios X; dinâmica
de aglomerados abertos e fechados), Estrutura Galáctica (dinâmica da Galáxia; sua formação;
o bojo; o halo; matéria escura no disco e no halo; a massa da Galáxia) detecção de sistemas
planetários e de anãs marrons, Astrofísica Extragalática e Relatividade Geral(escalas de
distância e idade do Universo; movimentos próprios das Nuvens de Magalhães; galáxias e
AGNs; quasares; desvio de luz pelo Sol e planetas; lentes gravitacionais e ondas
gravitacionais). A Figura 4.12 mostra os horizontes de precisão astrométrica em termos de
magnitude, para HIPPARCOS e GAIA, indicando as regiões associadas a objetos de interesse.
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