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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

PROJETO DE UMA EMBARCAÇÃO TIPO JANGADA


ANÁLISE DE ESTABILIDADE

IGOR GABRIEL LIMA SOARES


NATAL-RN, 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

PROJETO DE UMA EMBARCAÇÃO TIPO JANGADA


ANÁLISE DE ESTABILIDADE

IGOR GABRIEL LIMA SOARES


Trabalho de conclusão de curso apresentado
ao curso de Engenharia Mecânica da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos para obtenção do
título de Engenheiro Mecânico, orientado pelo
Prof. Dr. Carlos Magno de Lima.

NATAL-RN, 2018
1

Agradecimentos

Aos meus pais Francisco e Heliette e meus irmãos Yves e Cybelle, pelo apoio
incondicional nos bons momentos e nos momentos de dificuldade, e a toda a família
que sempre deu conselhos e apoio.

Aos amigos mais próximos com quem pude contar com sua compreensão,
paciência e companheirismo.

Aos colegas que foram se acumulando no decorrer dos cursos de Ciência e


Tecnologia e Engenharia Mecânica, que foram companheiros no aprendizado e
pudemos evoluir muito dividindo experiências e conhecimento um com o outro.

Aos professores que dedicam uma boa parcela de suas vidas em nos preparar
para seguirmos para a próxima fase da vida.

Ao Professor Carlos Magno, que me deu a oportunidade de participar de vários


projetos de pesquisa incluindo este.
2

SOARES, I. G. L. Projeto de uma embarcação tipo jangada – Análise de


estabilidade. 2018. 39 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Engenharia Mecânica) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN,
2018.

Resumo

O objetivo desse trabalho é utilizar engenharia reversa para realizar o projeto


de uma embarcação miúda do tipo jangada, que é o instrumento de trabalho essencial
na pesca artesanal realizada na região de Ponta negra-RN. Inicialmente é feita a
introdução da atividade pesqueira nos litorais da cidade Natal, os impactos na
economia e abastecimento de produto nas proximidades, introduzida a estrutura
principal e os meios de propulsão da embarcação e as ferramentas de fabricação. A
seguir são apresentados os principais estudos teóricos que irão fundamentar os
cálculos necessários para analisar as condições de estabilidade da embarcação.
Posteriormente serão apresentados os métodos usados para conceber o projeto, o
simular com a auxilio de softwares de arquitetura naval e sua simulação em ambiente
virtual utilizando HTML, fazer o desenho em CAD que será usado para os estudos de
inclinação. Finalmente, os cálculos de volume e peso foram feitos sobre variados
ângulos para compor os gráficos de braço de giração de momento restaurador e
emborcamento.

Palavras-chave: Projeto, engenharia reversa, embarcação, arquitetura naval,


hidrostática, FreeShip
3

SOARES, I. G. L. Projeto de uma embarcação tipo jangada – Análise de


estabilidade. 2018. 39 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Engenharia Mecânica) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN,
2018.

Abstract
The objective of this project is to use reversal engineering in designing a small
boat classified as a wooden raft, which is the main instrument of transportation for the
artisanal fishing that is done on the region of Ponta Negra-RN. Initially the fishing
activity on the coast of the city Natal is introduced, it’s impacts on local economy and
supplyment of the nearby market, introducting the main structure and propulsion
methods and the building tools used by the craftsman. Subsequently the main
theoretical studies are introduced and they will support all of the required hydrostactic
calculation that are vital for the analysis on stability of the boat. After that the method
for conception will be discussed and it’s simulation on auxiliary naval architecture
softwares and it’s simulation on virtual environment, the designs on CAD that will be
used on tilting studies. Finally the volume calculation will be presented alongside it’s
weigth and analysed in various angles in order to compose the righting arm graphics
for restorative and heeling momentum.

Keywords: Project, reverse engineering, boat, hydrostatics, FreeShip, naval


architecture
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Sumário

Agradecimentos _________________________________________________ 1

Resumo _______________________________________________________ 2

Abstract _______________________________________________________ 3

Sumário _______________________________________________________ 4

Lista de figuras __________________________________________________ 5

1. Introdução ___________________________________________________ 6
2. Fundamentação teórica _________________________________________ 8

2.1 Embarcações ________________________________________________ 8

2.2 Centro de massa _____________________________________________ 11

2.3 Hidrostática __________________________________________________ 13

2.4 Regra de Simpson ____________________________________________ 15

3. Metodologia __________________________________________________ 17

3.1 Concepção __________________________________________________ 17

3.2 FreeShip ____________________________________________________ 18

3.3 Desenho ____________________________________________________ 20

3.4 A-Frame ____________________________________________________ 21

4. Resultados e Discussões ________________________________________ 24


5. Conclusões ___________________________________________________ 31
6. Referências __________________________________________________ 32
7. Anexos ______________________________________________________ 33
5

Lista de Figuras

Figura 1 – Jangada com vela na praia de ponta negra ____________________ 7

Figura 2 – Jagada parada__________________________________________ 9

Figura 3 – Disposição dos cavernames _______________________________ 10

Figura 4 – Elemento infinitesimal de áreas _____________________________ 12

Figura 5 – Equações do centro de massa _____________________________ 13

Figura 6 – Posições do centro de gravidade e empuxo ___________________ 15

Figura 7 – Rolamento da jangada para ser lançada em alto-mar ____________ 17

Figura 8 – Parâmetros iniciais ______________________________________ 18

Figura 9 – Forma padrão criada pelo FreeShip _________________________ 19

Figura 10 – Modelo finalizado _______________________________________ 20

Figura 11 – Cavername 5 e inclinado 60° ______________________________ 20

Figura 12 – Intersections default e editadas ____________________________ 21

Figura 13 – Exemplo de coordenadas knuckles _________________________ 22

Figura 14 – Código HTML do ambiente virtual __________________________ 23

Figura 15 – Malha de linhas e pontos _________________________________ 23

Figura 16 – Curvas de momento restaurador ___________________________ 24

Figura 17 – Desenho parcial dos cavernames em inclinações distintas _______ 25

Figura 18 – Gráfico de braço de momento restaurador ___________________ 27

Figura 19 – Gráfico corrigido _______________________________________ 29

Figura 20 – Gráfico de efeito do peso _________________________________ 30

Figura 21 – Gráfico comparativo_____________________________________ 30


6

1. Introdução

A pesca artesanal é uma atividade de subsistência e comercial realizada por


comunidades moradoras das proximidades de oceanos ou rios, a comunidade nesse
projeto em questão se trata da Vila de Ponta Negra, a partir da venda do peixe o
pescador tira seu sustento e de sua família, o dinheiro gerado pela atividade tanto de
pesca como da fabricação de jangadas artesanais movimenta a economia da
comunidade e fornece também alimento para a sociedade como um todo, seja pela
comercialização na beira da praia com a gama de estabelecimentos que vendem
pratos regionais para visitantes, ou pela venda a distribuidoras que abastecerão os
mercados da região.

A atividade da pesca é realizada em alto-mar com a utilização de redes de


pesca fabricadas pelos próprios pescadores e suas famílias, os pescadores devem
respeitar os limites máximos para a realização da pesca imposto pela marinha, pois é
uma atividade considerada de risco. A tripulação de uma jangada consiste
normalmente de 3 pessoas e esse é o limite máximo permitido pelas normas e deve
também ser respeitado o limite de peso suportado pela embarcação pois qualquer
acidente em que o barco vire pode resultar na perda da carga e causar danos a
estrutura da jangada ou ferimentos nas pessoas, a embarcação deve contar também
com coletes de salvamento em número igual ao de tripulantes [3].

Assim como a venda do pescado outra forma de capitalização sobre a atividade


é a fabricação e venda das jangadas que são utilizadas na atividade. Alguns
pescadores trabalham também como carpinteiros projetando, construindo e
realizando reparos nas jangadas danificadas. A teoria de projeto utilizada é a
experiência passada de geração em geração pelos carpinteiros que utilizam medidas
já conhecidas e adaptadas com o passar dos anos.
7

A estrutura das jangadas vem sendo desenvolvida com o passar do tempo e


hoje apresentam melhorias que tornam a navegação mais fácil, seja a criação de um
fixador de mastro, o reforço no convés e no casco que se tornaram necessários após
a introdução do motor a diesel como substituto parcial da navegação a vela.

Figura 1 – Jangada com vela na praia de ponta negra. (Fonte: Prof. Christine Werba/UFPB)

A construção da jangada é feita com ferramentas manuais como martelo,


serrote, furadeira e serra circular entre outras. Os desenhos das laterais do barco são
feitos na madeira antes de ser cortada e todas as outras peças são montadas
posicionadas em relação às duas bordas laterais.
8

2. Fundamentação teórica

2.1 Embarcações

Barcos ainda são peça vital na economia de muitos países e compreendem


cerca de 90% das relações de comércio mundiais [1], embora o transporte de produtos
por meio de aviões de carga já tenha alcançado um número alto de transações entre
países situados através dos oceanos, os navios de transporte de carga ainda são o
meio de transporte mais amplamente difundido, uma vez que, permite o deslocamento
de grandes volumes de produtos de forma eficiente e barata [2], levando em
consideração apenas o preço do combustível necessário para transportar algum
produto de valor utilizando um avião de carga a quantia de dinheiro empregada é muito
superior a transportar o mesmo item por navio [2].

Embarcações são classificadas em variados grupos levando em consideração


suas dimensões, forma do casco, força motriz e função social etc. A Marinha brasileira
define normas para a classificação da embarcação de acordo com sua função e
dimensões, a NORMAM (Norma da autoridade marítima) classifica os barcos como:
Embarcação empregada em navegação em mar aberto, empregada em navegação
interior, embarcação de esporte entre outros [3].

A marinha também classifica os barcos com relação a seus comprimentos,


tendo por exemplo a classificação de embarcação miúda para barcos com
comprimento igual ou inferior a 5 metros ou que tenha até 8 metros sem propulsão
mecânica fixa e com motor de popa tendo no máximo 30 HP [5], sendo essa a
classificação das jangadas utilizadas na atividade de pesca artesanal em grande parte
da região nordeste do Brasil [4], as jangadas utilizadas na pescaria devem ser
registradas na marinha local seguindo as regras estabelecidas pela NORMAM 2.
9

Figura 2 – Jangada parada. (Fonte: Prof. Christine Werba/UFPB)

As jangadas utilizadas na região de Ponta negra – RN são classificadas como


embarcações miúdas e devem ser registradas na Capitania dos portos da marinha em
Natal, por utilizarem motor de popa de geralmente 10 HP e realizarem atividade
comercial as embarcações devem corresponder a uma série de exigências
estabelecidas pela Marinha com o objetivo de garantir a segurança do pescador e do
ecossistema marinho, exigências como a presença de coletes salva-vidas em número
igual ao de tripulantes, a atenção aos horários da saída em chegada da pesca, a
presença de no máximo 3 tripulantes por embarcação são importantes para a
preservação da vida e integridade física do pescador [3].

As jangadas de ponta negra têm formas muito semelhantes entre si e a


estrutura interna delas segue também um modelo preestabelecido, provavelmente
devido à presença escassa de carpinteiros e construtores de jangada que tem o
aprendizado passado de geração em geração e são normalmente acionados para
construir jangadas ou realizar reparos em embarcações danificadas [4].

A estrutura base da típica jangada de ponta negra consiste em: Costado, que
é o elemento lateral que passa pelos 2 lados e é a base para realizar a fixação dos
outros elementos e é feito com a madeira pequiá, as peças de proa e popa são
elementos fabricados com a madeira jenipapo e são os elementos de suporte que
definem as dimensões da popa e da proa, cavernames são as estruturas internas que
vão fornecer suporte vertical à jangada, são a princípio elementos com dimensões
iguais e são serrados de acordo com a deflexão do costado, que se adapta às medidas
10

de largura das peças de proa e popa e da dimensão da boca [6] é também feito de
pequiá.

A peça que fixará todos os cavernames no sentido longitudinal é a espinha, que


é uma peça feita com pequiá com comprimento igual ao da jangada e é responsável
por firmar os cavernames e garantir a firmeza da estrutura montada e reforçar a
estrutura da proa. O convés e o casco são feitos de compensado naval e são os
elementos com as maiores áreas.

Para possibilitar a navegação a vela em alto-mar é necessária a presença da


bolina ou patilhão [6], um elemento que evita o abatimento ou deriva [7], para fixar a
bolina, é também montada a caixa de bolina, que tem dimensões um pouco maiores
que a bolina e são posicionadas entre 2 cavernames da parte frontal da jangada. O
leme da jangada é desmontável e utilizado apenas na fase de navegação a vela.

Figura 3 – Disposição dos cavernames. Fonte: [6]

Os elementos do convés da jangada são o banco de governo, que é o local de


fixação do motor de popa e onde o pescador controla a navegação por propulsão
motora, o banco é fixado em duas tamancas compartilhadas com o espeque, que tem
a função de amarra, seja de cordas seja das redes de pesca. O convés tem duas
“tampas”, que são utilizadas para guardar utensílios pessoais na menor, e as redes
11

de pesca que são armazenadas no espaço interno da jangada são retiradas pela
tampa maior que fica no centro do convés. Último elemento de convés é o banco de
vela que também é apoiado em duas tamancas e tem como função apoiar e fixar a
vela, é feito de ipê nos bancos e as pernas são de maçaranduba.

O estudo da estabilidade da embarcação avalia a tendência da jangada retornar


a sua posição original de repouso quando sofre desvios através de ações exteriores
como a força que o vento incide sobre a vela ou a ação das ondas, e também das
forças que agem no interior do barco, como a movimentação de carga, tripulantes e
combustível [10].

A avaliação da estabilidade leva em consideração a flutuabilidade e a


manobrabilidade da embarcação, através da análise da flutuabilidade considerando
inclinações transversais na jangada é possível determinar braços de endireitamento
que auxiliarão na geração de momento restaurador fazendo com que o barco retorne
a sua posição original sem a ação de forças aplicadas, apenas o empuxo [10].

2.2 Centro de massa

Nos estudos de estática e dinâmica, seja no sistema de partículas ou no de


corpos rígidos é necessário definir um centro de gravidade ou centro geométrico para
que possam ser aplicados posteriormente efeitos de força ou movimento ao sistema
[8].

Para esses estudos, o sistema de força é substituído por um vetor resultante


aplicado em um determinado ponto do sistema em conjunto com a soma dos
momentos atuantes nos corpos.
12

Figura 4 – Elemento infinitesimal de área. (Fonte: Martins, 2010)

Para corpos que sofrem os efeitos da gravidade, pode-se caracterizar a ação


da gravidade como um conjunto de forças verticais com direção ao chão, sendo que
para cada elemento finito de massa em conjunto com a força gravitacional vai ter uma
resultante que compõe um sistema de forças. Para simplificar essa representação é
possível calcular um ponto em que os momentos causados pelas forças espalhadas
seja zero, esse ponto é o centro de massa ou centro gravitacional [8].

A posição desse ponto pode ser obtida através de integração ou utilizando uma
somatória numérica dependendo da forma e da distribuição da massa do corpo,
quando a massa é distribuída uniformemente o cálculo da integral se torna mais
simples, e pode ser representado pelas seguintes equações.
13

Figura 5 – Equações do centro de massa. (Fonte: Martins, 2010)

Utilizando integração é possível determinar com maior precisão a posição do


centro de massa de geometrias irregulares tendo em mão as equações da forma
estudada e utilizando os elementos de área infinitesimais do corpo. As equações de
integração que envolvem área podem também serem desenvolvidas utilizando os
eixos x, y e z para determinar o centro de gravidade em um volume de um sólido.

2.3 Hidrostática

Na mecânica dos fluidos existe o tópico da hidrostática, que estuda as


propriedades que definem o comportamento estático do corpo flutuante resultante da
interação do corpo com o fluido que o suporta [9], e a partir desses estudos é possível
afirmar que a flutuabilidade está diretamente ligada aos princípios da hidrostática que
estudam o equilíbrio de um corpo flutuando em água estática [9], o peso do corpo
14

sólido é definido pela relação P = m x g, posicionado em seu centro de massa, a força


do empuxo é resultado da soma de todas as componentes verticais das pressões que
agem na superfície do sólido, as componentes horizontais se cancelam entre si
garantindo que o objeto não se mova.

A pressão em um fluido é calculada através da relação de P = ρ x g x Δh e varia


de acordo com a altura submersa que é analisada, a força resultante de empuxo de
um objeto flutuante deve ser igual a força peso do objeto para que haja equilíbrio.
Considerando as forças hidrostáticas como atuantes em apenas pequenos elementos
da superfície é possível desenvolver a equação da seguinte forma [9].

P = ρ * g * y, onde se multiplica o elemento infinitesimal de área.

dA = ρ * g * y * dA,

(ρ * g * y) * cos(φ) = ρ * g * (volume do elemento),

Integrando sobre todo o volume a força vertical total é:

F= ρ * g * ∇, onde ∇ é o volume imerso do corpo.

Com isso é possível confirmar o princípio de Arquimedes, que afirma que a


força de flutuação de um objeto submerso é igual ao peso do fluido deslocado pelo
objeto, isso indica que em uma situação de flutuação vertical o centro de massa do
objeto estará alinhado com o centro de massa do volume submerso e não haverá
momento restaurador, uma vez que as duas forças irão se anular [9].
15

Figura 6 – Posições dos centros de gravidade e empuxo. (Fonte: Tupper,1996)

2.4 Regra de Simpson

A regra de Simpson é um método de integração numérica que consiste em criar


aproximações parabólicas de uma função tendo o conhecimento de um número ímpar
de pontos que se complementam com o desenvolvimento das equações, permitindo
a combinação de variadas parábolas associando-as aos pontos encontrados
anteriores.

Esse método parte da premissa de que a área abaixo de cada parábola assume
a seguinte forma:

Onde Yj são valores da função f(x) para cada xj, com j variando entre 0 e 2n.
Considerando a função f(x) por uma sequência de parábolas Y = a + bx + x², e fazendo
a mudança de variável 𝑥 = 𝑥 − 𝑥0 , obtém-se:
16

Em que s é o tamanho de cada intervalo.

Substituindo as equações Y na Equação Bi, pode-se desenvolver a equação


até o seguinte ponto:

Com isso podemos concluir que.

𝐾0 = 𝑠3𝐾1 = 4𝑠3𝐾2 = 𝑠3

Utilizando esse resultado e substituindo na equação Bi, pode-se alcançar a


equação genérica a seguir.

Agrupando os possíveis resultados dessa equação de área chega-se a uma


fórmula para realizar a soma de todas essas áreas particulares.

Com a fórmula acima é possível realizar o cálculo de área aproximada de


uma função conhecida, ou conhecendo apenas os valores de pontos equidistantes
de uma equação.
17

3. Metodologia

3.1 Concepção

Para realizar o projeto utilizou-se primeiramente das medidas de uma jangada


conhecida que está em atividade e foi construída com acompanhamento do grupo de
pesquisa Jangadeiros da UFRN e UFPB. A jangada pertence ao pescador Nona,
colaborador do projeto a anos, com seu auxílio pudemos obter as medidas principais
da jangada, além dos métodos utilizados por ele desde o desenho e escolha da
madeira até a posição de cada elemento montado na jangada.

Figura 7 – Rolamento da jangada para ser lançada em alto-mar. (Fonte: Prof. Christine
Werba/UFPB)

O carpinteiro utiliza métodos empíricos para determinar as medidas de cada


seção do barco a posição dos elementos, o que acaba coincidindo com as posições
determinadas pela teoria através da otimização vinda de vários testes e adaptações.
Esse método foi utilizado e adaptado para que o projeto resulte em uma embarcação
funcional, através de engenharia reversa.

Para a representação e realização de cálculos do projeto foram utilizados


softwares auxiliares de CAD, que foram utilizados para criar os desenhos, e o
18

FreeShip que é um software especializado em criar formas para barcos que também
realiza cálculos hidrostáticos.

Para a visualização do projeto, foram desenvolvidos os desenhos 2D e 3D em


ambiente virtual utilizando as linguagens de programação para internet HTML e
JavaScript com o auxílio da tecnologia para WebVR, A-Frame.

3.2 FreeShip

O software FreeShip é utilizado no design de barcos, nele é possível criar um


modelo genérico de embarcação informando 5 dados que são eles: comprimento,
largura, calado e as quantidades de pontos na direção vertical e horizontal. O
comprimento é a distância longitudinal da popa até a proa do barco, a medida
escolhida para o comprimento da jangada foi de 4,67 metros. A largura é a distância
entre os dois costados em sua seção central onde essa distância será a maior
encontrada e para esse projeto será 1,68 metro. O calado é a distância entre o fundo
do barco e a linha d’água (ref. livro) e foi determinado como 0,1 metro.

Figura 8 – Parâmetros iniciais.

No software, um novo projeto foi criado e informadas as 3 medidas primárias e


deixando os números de pontos no modo default obtém-se uma malha de pontos que
tem uma geometria diferente da de uma jangada, é preciso então manipular os pontos
19

da malha para que a proa e a popa da jangada tenham o formato correto utilizando a
função básica de edição dos pontos em conjunto com a função split para criar pontos
medianos em arestas.

Figura 9 – Forma padrão criada pelo FreeShip.

Em seguida foram criadas 14 seções transversais na malha utilizando a função


edge->split e edge->insert, essas 14 seções representam os 14 cavernames
conhecidos com suas medidas de altura e comprimento transversal, uma vez que os
pontos da malha do FreeShip correspondem aos 4 pontos externos da jangada
modelo. Após a definição de todos os pontos as peças de proa e popa são
redimensionadas com suas proporções reais. É feito ainda um pequeno desvio na
posição do meio do costado para criar a curva característica da embarcação.
20

Figura 10 – Modelo finalizado.

3.3 Desenho

Com a determinação das dimensões de cada elemento do projeto, foi feito o


desenho de cada uma separadamente com suas medidas individuais e em seguida a
montagem do sistema completo com todas as peças em suas devidas posições
longitudinais e de altura. A exportação do modelo através do FreeShip auxiliou na
definição dos ângulos de inclinação dos elementos e das curvas de costado e de
convés que são dificilmente medidas a mão livre.

Figura 11 – Cavername 5 e inclinado 60°.


21

A montagem do sistema sem o elemento de vela apresenta um ponto de centro


de massa que auxiliará nos cálculos de estabilidade da jangada. Para avaliação do
volume submerso utilizaram-se as dimensões de 11 seções selecionadas sendo
interceptadas pela linha d’água, fazendo uso de forma conjunta o AutoCAD e planilhas
do Excel, obtendo valores das áreas e centros de massa que integrados através do
método de Simpson 1/3 obtêm-se os volumes e braços de giro para inclinações desde
10° a 60°.

3.4 A-Frame

A partir do FreeShip é possível realizar a exportação dos pontos como


coordenadas x, y e z divididas em seções chamadas stations, é possível editar as
posições das stations indo em Calculations->Intersections... e clicar em delete all
stations deletando as seções geradas automaticamente e adicionando manualmente
as seções que representam os cavernames.

Figura 12 – Intesections default e editadas.


22

Com as stations alteradas realizou-se a exportação dos offsets do projeto que


vem agrupados em várias coordenadas, para cada seção existem 4 knuckles, que
representam os pontos das extremidades e serão isolados para serem utilizados na
representação, e também deve ser feita a troca dos valores de y pelos de z pois o
sistema de coordenadas do software não é o mesmo do ambiente virtual e essa troca
permite a criação do modelo na posição correta.

Figura 13 – Exemplo de coordenadas knuckles.

Utilizando a base de programação HTML que utiliza a biblioteca de criação de


geometrias 3D do A-Frame é feita a leitura do arquivo de coordenadas contendo
apenas os knuckles, levando em consideração que o FreeShip fornece as
coordenadas apenas do lado esquerdo da embarcação é preciso adicionar duas
coordenadas com os valores de z multiplicados por-1(menos um) para completar o
desenho da jangada.
23

Figura 14 – Código HTML do ambiente virtual.

Para fazer a representação da malha no ambiente virtual os pontos foram


representados pela geometria primitiva esfera de cor preta e de raio “0,1”, as
coordenadas estão organizadas no sentido horário ou anti-horário e essa ordem é
importante para a inclusão do elemento linha, que cria o caminho ide ponto a ponto
seguindo um dos sentidos citados.

Figura 15 – Malha de linhas e pontos.


24

4. Resultados e discussões

Para realizar o cálculo de estabilidade é necessário identificar todos os pontos


externos da estrutura da jangada e desenhar os 11 perfis das seções no AutoCAD
para que possa ser desenhada a linha d’água passando pela altura que se deseja ser
estudada para complementar os limites calculados no FreeShip, que tem a limitação
de calcular apenas até o ponto em que o convés toca o nível da água, o que não
corresponde com a situação real observada na navegação de jangadas de pesca.

Figura 16 – Curvas de momento restaurador.

Os desenhos do perfil externo da jangada são então delimitados pela linha de


fundo, que é a representação em todas seções do ponto mais baixo identificado na
seção central da embarcação, uma linha auxiliar vertical é também inserida em cada
desenho e auxilia na definição do ponto de rotação do desenho, que fica marcado
então pelo encontro da linha vertical com o nível d’água. Todas as seções são
inclinadas de ângulos de 10° a 60° e são separadas em blocos com diferentes
calados.
25

Figura 17 – Desenho parcial dos cavernames em inclinações distintas.

Utilizando a função limite e região são definidas as frações de área das seções
que se encontram submersas com a prática simples de apontar pontos internos de
seções fechadas e depois escolher essas áreas limitadas para formar uma região
dentro do software e habilitar a função propmass que calcula as propriedades de
massa da região selecionada como área, centro de gravidade e momento de inércia,
tendo ajustado anteriormente a posição da origem do desenho através do comando
ucs, a dimensão importante do centro de massa será a distância x uma vez que
representa o braço de giração para a força do empuxo [9].

Todos valores de área e distância x são anotados em uma planilha preparada


para fazer o cálculo do volume deslocado, do peso e do braço de giração para dado
calado e ângulo de inclinação.
26

Tabela – Valores de áreas e Xcg, e cálculo de P e ZG.

O cálculo do volume e do momento volumétrico nas tabelas segue a regra de


Simpson que realiza aproximações de áreas em funções de valores conhecidos e
nesse caso vai auxiliar na integração de todos os valores de área para resultar em um
volume aproximado

A jangada tem peso 463,45 kg calculada através da determinação do volume


de cada elemento em conjunto com o conhecimento da densidade da madeira
utilizada para cada peça, variando de madeiras como piquiá e jenipapo utilizadas na
fabricação do costado e das peças de proa e popa, até o compensado naval que é o
material utilizado no convés e no casco.

Com todos os valores de P e ZG calculados, cria-se também as tabelas de P e


ZG para definir valores a serem adicionados aos já conhecidos obtidos pelos cálculos
e plotagem do FreeShip, utilizando os valores das inclinações e o ZG plota-se o gráfico
de α-ZG, e com o ângulo de inclinação acompanhado dos valores de ZG plota-se o
gráfico do momento restaurador.

Tendo o conhecimento do peso da jangada, adicionando o peso da tripulação


de 3 pessoas como 240 kg (80 kg por pessoa em média) tem-se uma situação com
um total de 703,45 kg, o que nos gráficos produzidos representa o deslocamento de
0,703 aproximadamente, pode-se encontrar os valores de ZG para esse
deslocamento utilizando interpolação linear com no mínimo 2 pontos conhecidos que
se aproximam ao valor requerido.
27

Figura 18 – Gráfico de braço de momento restaurador.

O gráfico produzido é coerente com os resultados obtidos, mas o braço de


giração ainda deve ser corrigido, pois os cálculos da distância dos centros de massa
foram feitos assumindo que a posição do centroide de cada seção se encontra na
linha de base do desenho que é o eixo horizontal que tangencia o fundo da jangada.

Para determinar a altura real do centro de massa, utilizou-se as posições do


centro de massa de cada peça em conjunto com o peso de cada uma delas, com isso
foi preciso posicionar a altura do centro de massa de cada elemento, tendo como
origem a linha do fundo da jangada, no eixo z. Utilizando a fórmula discreta de centro
de massa, foi feita uma tabela com os valores de altura e de peso acompanhado da
multiplicação desses valores, dividindo a somatória da multiplicação pela somatória
do peso foi encontrada a altura real do centro de massa.
28

Tabela – Cálculo da altura do CG.

A correção dos valores de ZG é feita através da equação:

ZGr = ZGk – KGs*sen(θ)

Onde ZGr é a distância real dos centros de gravidade e o resultado procurado,


o ZGk é o ZG calculado anteriormente pela regra de Simpson, o KG é a altura
encontrada no centro de massa real. Calculando essas correções os valores obtidos
estão na tabela a seguir.

Tabela – Correção dos valores de ZG.


29

Com os valores corridos de ZG é criado outro gráfico que representará de forma


mais precisa a relação entre angulação e o braço de giro.

Figura 19 – Gráfico corrigido.

Foi criado uma tabela para realizar correções angulares nos braços de
emborcamento, levando em consideração o centro de gravidade real já calculado
anteriormente, utilizando a equação ZG = GG*cos(φ) os resultados obtidos foram os
seguintes.

Para criar o gráfico de momento causado pelo peso de tripulantes posicionados


na borda do barco é preciso ter a informação do número de pessoas no convés do
barco, o peso médio delas, a distância entre o ponto de posicionamento dos pesos
combinados dos tripulantes, e os ângulos avaliados nesse estudo.
30

Figura 20 – Gráfico do efeito do peso.

Tendo em mãos os resultados dos momentos, plota-se o gráfico junto ao de


momento restaurador e pode-se observar o ponto de encontro das duas curvas que
acontece primeiramente próximo ao ângulo de 8° e indica um limite de inclinação para
a embarcação com movimentação de peso no convés.

Figura 21—Gráfico comparativo.


31

5. Conclusões

Com a realização do projeto e feitas as análises de estabilidade da jangada foi


possível concluir que o resultado foi satisfatório, pois a partir dos gráficos de análise
hidrostática pode-se observar que a jangada em questão tem um grande alcance de
inclinação e dificilmente virará quando utilizada em condições ideais de trabalho.

As considerações de momento restaurador em conjunto com o momento


emborcador puderam ser observados parcialmente, para uma análise mais detalhada
recomenda-se a análise de um alcance maior de ângulos e mesmo ângulos negativos,
onde pode ser observada a área abaixo da curva e dar uma perspectiva maior da força
total envolvida no equilíbrio.

A jangada em si é um veículo que oferece pouca segurança para o pescador,


mas, com um projeto bem executado é possível dar uma garantia de integridade maior
para os tripulantes e menos risco ao produto que é base de seu sustento.

A utilização de métodos computacionais em diversas partes do projeto foi


importante para a flexibilidade e rapidez nos resultados, uma vez que o FreeShip
realiza cálculos hidrostáticos com limitações que podem ser contornadas com
simulações no AutoCAD junto com cálculos e plotagem das planilhas desenvolvidas.

Para análise mais profunda é ainda possível realizar testes estruturais de


resistência tendo o conhecimento da caracterização da madeira utilizada na
fabricação de cada elemento e suas relações de apoio.
32

6. Referências bibliográficas

[1] SHIPPING AND WORLD TRADE, ICS. Disponível em <http://www.ics-


shipping.org/shipping-facts/shipping-and-world-trade>. Acesso em 25 nov. 2018

[2] HOW MUCH FUEL DOES AN INTERNATIONAL… . Disponível em


<https://science.howstuffworks.com/transport/flight/modern/question192.htm>.
Acesso em 27 nov. 2018

[3] NORMAS DA AUTORIDADE MARÍTIMA, Marinha do Brasil. Disponível em


<https://www.marinha.mil.br/dpc/normas>. Acesso em 21 out. 2018

[4] SALDANHA, M. C. W. ; CARVALHO, R. J. M. ; VELOSO, I.T.B.M. ; JAESCHKE,


A. ; CELESTINO, J.E. ; OLIVEIRA, L. P. ; LIMA, I. M. A. F. ; SANTO, M. A. T ;
DANTAS, L.M . A PESCA ARTESANAL COM JANGADAS E SUAS
REPERCUSSÕES PARA A SEGURANÇA, SAÚDE DOS JANGADEIROS E
QUALIDADE DO PESCADO. AÇÃO ERGONÔMICA , v. 12, p. 82-90, 2017.
[5] INSCRIÇÃO DE EMBARCAÇÃO, Marinha do Brasil. Disponível em
<https://www.marinha.mil.br/cprn/inscricao_tie_tiem>. Acesso em 3 nov. 2018

[6] VELOSO, I. T. B. M., OFICINA COMO MÉTODO DE DESENVOLVIMENTO DE


PROJETO DO PRODUTO APLICADO A ATIVIDADE JANGADEIRA DE PONTA
NEGRA, NATAL-RN. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
[7] Miguens, A. P., 1996. Navegação: A ciência e a arte. Volume I – Navegação
Costeira, Estimada e em Águas Restritas. Diretoria de Hidrografia e Navegação

[8] MARTINS, M. R., Hidrostática e Estabilidade; Apostila da disciplina PNV2341,


São Paulo: USP, 2010.

[9] TUPPER, E. “Introduction to Naval Architecture”. 3rd ed. Oxford; Boston:


Botterworth-Heinemann, 1996. 361 p.

[10] BARROS, Geraldo Luiz Miranda de. Estabilidade para embarcações até 300 AB.
2. ed. Rio de Janeiro: Catedral das Letras, 2009.
33

7. Anexos

Foto – Jangada com vela na praia.


34

Foto – Jangada com vela a noite.


35

Figura – Código HTML na plataforma Glitch.

Figura – Layout do FreeShip.


36

Figura – Portaria de alterações na NORMAM.


37

Figura – 11 Seções da jangada.

Figura – Tabela ZG de peso e momento restaurador.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA A

COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECAN ICA

Natal , 06 de dezembro de 2018 .

Ao(s) seis dia(s) do mês de dezembro do ano de dois mil e dezoito, às quatorze
horas e cinquenta minutos, na sala 404 do CTEC, neste Campus Un ive rsitário,
instalou-se a banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso do(a) aluno(a)
IGOR GABRIEL LIMA SOARES , matrícula 20170009267, do curso de Engenharia
Mecânica. A banca examinadora foi composta pelos seguintes membros: CARLOS
MAGNO DE LIMA, orientador; WILLIAM FERNANDES DE QU EIROZ, exam inador
interno; FREDERICO SCHIMIDT FILHO, examinador externo . Deu-se início à
abertura dos trabalhos pelo CARLOS MAGNO DE LIMA, que após apresentar os
membros da banca examinadora , solicitou a (o) candidato (a) que iniciasse a
apresentação do trabalho de conclusão de curso , intitulado "PROJETOS DE
EMBARCAÇÕES MIÚDAS - ANÁLISE DE ESTABILIDADE" , marcando um te mpo
de trinta minutos para a apresentação. Concluída a exposição , CARLOS MAGNO DE
LIMA, orientador, passou a palavra aos examinadores para argu irem o(a)
candidato(a) ; após o que fez suas considerações sobre o trabalho em julgamento;
tendo sido ,r..'f~,av.~ o , o(a) candidato(a) , conforme as normas
vigentes na Un iversidade Federal do Rio Grande do Norte . A versão fina l do traba lho
deverá ser entregue à Coordenação do Curso de Engenharia Mecânica , no prazo de
__ dias; contendo as modificações sugeridas pela banca examinadora e constante
na folha de correção anexa . Conforme o que rege o Projeto Político Pedagóg ico do
Curso de Engenharia Mecânica da UFRN, o(a) candidato(a) não será o aprovado(a)
se não cumprir as exigências acima.

ILHO
Examinador externo

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