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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E
EDAFOLOGIA

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
2 GÊNESE E FORMAÇÃO DOS SOLOS .................................................................. 6
2.1 A evolução dos estudos de solos na geografia ................................................... 6
3 O INTEMPERISMO DAS ROCHAS NA FORMAÇÃO DO SOLO ......................... 10
3.1 Agentes externos ou exógenos......................................................................... 11
3.1.1 Intemperismo .................................................................................................... 11
3.1.2 Erosão............................................................................................................... 13
4 OS PROCESSOS E OS FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS .................... 15
4.1 Fatores de formação dos solos ......................................................................... 15
4.2 Material de origem ............................................................................................ 16
4.3 Clima ................................................................................................................. 17
4.4 Organismos vivos ............................................................................................. 18
4.5 Relevo ............................................................................................................... 18
4.6 Tempo cronológico ........................................................................................... 19
5 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DOS SOLOS ........................................ 20
5.1 Conhecendo o perfil do solo ............................................................................. 20
5.2 Características morfológicas do perfil do solo .................................................. 21
5.2.1 Cor............... ..................................................................................................... 22
5.2.2 Textura............. ................................................................................................. 23
5.2.3 Estrutura....... .................................................................................................... 24
5.2.4 Consistência. .................................................................................................... 25
5.2.5 Cerosidade e superfícies de fricção .................................................................. 26
5.2.6 Cimentação, nódulos e concreções minerais ................................................... 26
5.3 Descrevendo um perfil de solo.......................................................................... 27
5.3.1 Objetivo da descrição morfológica .................................................................... 27
6 COMPOSIÇÃO GERAL DOS SOLOS .................................................................. 28
6.1 As composições líquidas dos solos .................................................................. 31
6.2 As composições gasosas dos solos ................................................................. 34
7 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ........................................................................... 37
7.1 Níveis categóricos do sistema de classificação de solo .................................... 37
7.2 Distribuição geográfica dos solos brasileiros .................................................... 41

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7.2.1 Argissolos (P).................................................................................................... 42
7.2.2 Cambissolos (C) ............................................................................................... 42
7.2.3 Chernossolos (M).............................................................................................. 42
7.2.4 Espodossolos (E) .............................................................................................. 42
7.2.5 Gleissolos (G) ................................................................................................... 42
7.2.6 Latossolos (L) ................................................................................................... 43
7.2.7 Luvissolos (L) .................................................................................................... 43
7.2.8 Neossolos (R) ................................................................................................... 43
7.2.9 Nitossolos (N) ................................................................................................... 43
7.2.10 Organossolos (O) ........................................................................................... 44
7.2.11 Planossolos (O) .............................................................................................. 44
7.2.12 Plintossolos (F) ............................................................................................... 44
7.2.13 Vertissolos (V) ................................................................................................ 45
8 SISTEMA ÁGUA-SOLO ........................................................................................ 46
8.1 Umidade e potencial da água no solo ............................................................... 47
8.1.1 Energia da água no solo ................................................................................... 47
8.1.2 Retenção de água no solo ................................................................................ 49
8.1.3 Movimento da água no solo .............................................................................. 49
8.2 Relações solo-planta-água ............................................................................... 50
8.3 Fatores que afetam a quantidade de água disponível para as plantas ............. 50
8.3.1 Textura......... ..................................................................................................... 50
8.3.2 Matéria orgânica ............................................................................................... 51
8.3.3 Compactação do solo ....................................................................................... 51
8.3.4 Salinização (potencial osmótico)....................................................................... 51
8.3.5 Profundidade do solo ........................................................................................ 51
9 ORGANISMOS E ECOLOGIA DO SOLO ............................................................. 52
9.1 A pedofauna...................................................................................................... 52
9.2 Os efeitos dos organismos do solo nas comunidades vegetais ........................ 55
9.3 Organismos prejudiciais às plantas .................................................................. 57
9.4 A ecologia do solo............................................................................................. 58
10 POLUIÇÃO DOS SOLOS...................................................................................... 61
10.1 Problemas dos resíduos gerados pelas atividades antrópicas ......................... 61
10.2 Contaminantes inorgânicos............................................................................... 64

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10.3 Degradação física do solo ................................................................................ 65
10.3.1 Desertificação ................................................................................................. 66
10.3.2 Degradação estrutural do solo ........................................................................ 66
10.3.3 Erosão.......... .................................................................................................. 67
10.3.4 Degradação química do solo .......................................................................... 69
10.3.5 Salinização.... ................................................................................................. 71
10.3.6 Arenização.... .................................................................................................. 72
10.3.7 Acidificação..................................................................................................... 73
11 PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS ................................ 74
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 GÊNESE E FORMAÇÃO DOS SOLOS

O estudo sobre o solo na Geografia tem como objetivo compreender as


influências externas para conhecer sua formação e desenvolvimento, para utilizar com
maior eficiência esse elemento para diversas atividades econômicas, para o
desenvolvimento das sociedades e Estados e para implementar construções e
preservar a fauna e flora que depende dele. (BERTOLLO, 2018).
Nesta disciplina, você vai estudar como se dá a evolução dos estudos de solo,
conhecer os tipos de intemperismo e os processos e agentes que agem sobre as
rochas e o solo. Verá também como as transformações contínuas pelas quais o solo
passa estão ligadas aos vários tipos de intemperismo e fatores variados nas
configurações distintas que possui em vários lugares do planeta, considerando
também as distintas formas de acumulação de material orgânico e os fatores que
resultam no processo de origem e constituição dos solos.

2.1 A evolução dos estudos de solos na geografia

O estudo do solo, ou pedologia, tem grande importância, por ser um recurso


natural fundamental, tanto quanto a água e a atmosfera. O solo supre e sustenta a
existência tanto das sociedades quanto dos elementos naturais, como as florestas e
os recursos hídricos, uma vez que filtra e serve de depósito de parte da água
consumida. No solo, crescem e se desenvolvem as plantas que produzem grande
massa de oxigênio e umidade e regulam o clima; além disso, ele é essencial para o
cultivo dos alimentos de origem vegetal. Ainda, é no solo que ocorrem os ciclos da
água. (BERTOLLO, 2018).
Dada a importância do solo, é necessário conhecer suas propriedades e
preservá-lo por meio de diagnósticos, considerando que os solos variam de acordo
com o relevo, o tipo de rocha de origem, a vegetação e o clima. O seu estudo permite
planejar o uso das terras, principalmente no Brasil, cuja vocação e economia são
baseadas sobretudo na agropecuária. Por meio do estudo do solo, podem ser
corrigidos os níveis de fertilidade do solo e a sua acidez; ainda, pode-se caracterizar
os solos para cada tipo de cultivo, acompanhar os elementos presentes neles e
preservá-los. O objetivo da pedologia é oferecer uma base para algumas ciências,

6
como a geologia, a agronomia, as ciências ambientais e a geografia, visto que o solo
é a base dos sistemas de produção agrícola e do desenvolvimento (ou da decadência)
de várias civilizações que dependem do uso desse recurso natural. (BERTOLLO,
2018).
Para realizar uma análise pedológica, são feitos estudos do perfil do solo no
meio natural, mediante a escavação de trincheiras. Na sequência, são descritas as
características do solo, como as propriedades dos horizontes e das camadas, a sua
cor, a sua reação a alguns materiais e a sua textura, por exemplo. Por meio da coleta
de amostras, os solos são categorizados de acordo com seus atributos, com base na
classificação de solos do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).
(BERTOLLO, 2018).

Mapa de solos do Brasil, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.


Fonte: Dias (2014, documento on-line).

Como componente principal dos ecossistemas do planeta, o solo tem papel


fundamental no balanço da energia e no ciclo hidrológico, por exemplo. Trata-se de

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um recurso natural que ocupa todas as porções da superfície terrestre, como suporte
de toda a vegetação e da fauna, bem como das sociedades, das construções
humanas, das produções agrícola e silvícola e da criação de animais, demandando
um uso racional e a sua preservação.
O solo é um elemento poroso e biologicamente ativo que está em
desenvolvimento contínuo na crosta da superfície terrestre, como uma casca do
planeta, atuando sobre ele (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, [2020]).
O desenvolvimento da pedosfera, que é a camada mais externa do planeta, composta
pelo solo em constante processo de formação, ocorre por meio da interação entre a
atmosfera, que compõe o ar, a biosfera, que abrange toda a vida na Terra, a litosfera,
constituída por rochas e minerais, e a hidrosfera, que é a água em vários corpos
hídricos.
Os solos são compreendidos como elementos naturais compostos e
organizados, que ocupam certas superfícies do planeta e apresentam certas
características morfológicas. Seu estudo abrange os tipos de minerais que o
compõem, as suas propriedades químicas e físicas e o reconhecimento de processos
de origem e desenvolvimento. Tal estudo teve início em meados do século XIX e
evoluiu por meio de observações e registros. Os conceitos desenvolvidos nesse
período ainda são muito úteis para se obterem conhecimentos sobre o solo e a sua
aplicação para a nutrição das plantas e para entendê-lo como produto de
decomposição das rochas e como um corpo natural organizado (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA, [2020]). Desde então, há um desenvolvimento contínuo
na área da ciência do solo, designada gênese de solos ou pedogênese. Essa
denominação vem da palavra pedon, que é utilizada para designar a menor porção ou
o menor volume de solo. Assim, um conjunto de pedons com as mesmas
características compõe o polipedon, que significa a repartição de um tipo de solo.
Cabe ressaltar que o solo é considerado um sistema aberto, pois troca tanto
matéria como energia nas formas de oxigênio, água líquida, vapor, gás carbônico e
outros com a atmosfera. Aqueles materiais que são solúveis, como o nitrato ou outros
orgânicos, são lixiviados do corpo do solo — isto é, são “lavados”. Os processos
físicos, químicos e biológicos que ocorrem no solo derivam da repartição desigual de
materiais nos horizontes e nos vários tipos de solos. Isso também ocorre nos

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processos de erosão, transporte e deposição de vários tipos de materiais por
centenas, milhares ou milhões de anos.
Em uma escala de tempo menor, como nas atividades agrícolas, existem
variados fluxos de energia e de nutrientes, como os ciclos hidrológicos. Quando
ocorrem grandes transformações do solo, desde o preparo, o manejo, a fertilização, o
cultivo e a irrigação, há diferentes resultados nos processos de evaporação e
decomposição da matéria orgânica, por exemplo, que afetam toda a estrutura do solo
e os seus complexos sistemas. Por isso, estudar o solo é importante para o manejo
mais apropriado do mesmo.
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um dos principais teóricos da geografia, e seus
estudos abordam o ser humano, priorizando o ponto de vista biológico, sob a noção
do chamado determinismo geográfico, e tratando do solo em um contexto social. Para
o determinismo geográfico, o indivíduo seria produto das condições naturais, que
determinam a vida em sociedade. Ratzel (1983) desenvolveu também conceitos sobre
o Estado Moderno como um organismo vivo, que seria constituído pela sociedade,
organizada com o objetivo de desenvolver, proteger e ampliar seu território, sob um
conceito de espaço vital. Esse espaço, segundo Ratzel (1983), abrangeria as
qualidades espaciais e naturais necessárias para manter e consolidar o poder do
Estado sobre o território. A obra de Ratzel está fundamentada na noção do Estado
tendo como componente fundamental o solo e na relação entre o espaço e a
sociedade que nele se estabelece. Assim, para Ratzel (1983), o Estado não pode
existir sem território e sem fronteiras, sob uma noção da geografia política, e não pode
existir sem um solo.

Fonte: https://cerradocase.com.br/
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3 O INTEMPERISMO DAS ROCHAS NA FORMAÇÃO DO SOLO

Nas ciências da terra, o solo pode ser definido como o produto do intemperismo,
do remanejamento e da organização das camadas superiores da crosta terrestre, sob
ação da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e das trocas de energia envolvidas
(TEIXEIRA et al., 2000). Assim, os solos são conjuntos de corpos naturais que contêm
matéria viva e são resultantes da ação do clima e da biosfera sobre a rocha, e a sua
transformação ocorre permanentemente e é influenciada pelo tipo de relevo.
Os solos são formados a partir da transformação das rochas expostas na
superfície terrestre, que pode ocorrer por meio da decomposição, denominada
intemperismo químico, e/ou da desagregação, chamada de intemperismo físico. Elas
também podem ser transformadas mediante o acúmulo de matéria orgânica. Os
agentes atmosféricos e biológicos atuantes sobre a rocha matriz (ou rocha-mãe) criam
uma camada do chamado material inconsolidado, que pode ser entendido como rocha
alterada, que iniciará o processo de formação do solo — a pedogênese —, que se dá
ao longo do tempo.
A ação da gravidade e da água das chuvas dispõe o material inconsolidado em
camadas sobrepostas, formando os horizontes. Essa organização pode ter
características físicas e químicas diferentes, notadas pela variedade de cor,
granulometria, textura, porosidade, estrutura e densidade do solo. Cada solo tem
horizontes ou camadas com características próprias, em razão de sua pedogênese. A
intensidade da transformação das rochas pelo intemperismo depende do tipo de
rocha, do clima ao qual ela está exposta, do tipo de relevo e do tempo geológico.
Uma vez que a rocha é exposta na superfície, ela será intemperizada pelos
condicionantes atmosféricos, como a temperatura, a umidade e os ventos.
Gradualmente, ela será decomposta pelo intemperismo químico ou degradada pelo
intemperismo físico. Isso possibilitará que suas partículas minerais sejam
transportadas por meio do processo chamado de erosão, e esse material se deslocará
para aquelas áreas de menor declividade no terreno. Em virtude das fissuras formadas
por esses processos, os microrganismos adentram a rocha, o que acelera o processo
de decomposição do material. Isso também cria condições para que determinadas
plantas se fixem à rocha, ampliando a sua decomposição, por causa das raízes
dessas plantas, que favorecem a penetração da água, do ar e de animais menores
nas fendas da rocha.
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3.1 Agentes externos ou exógenos

As estruturas da crosta terrestre e as rochas foram criadas por forças internas


e são expostas na superfície terrestre, podendo ser modificadas quando expostas, por
meio da sedimentação e do metamorfismo. Elas também estão sujeitas às forças
atmosféricas, que esculpem o relevo e propiciam alterações nas estruturas rochosas,
mediante intemperismo, que é a transformação que ocorre pelo transporte de
materiais, e deposição, que é o depósito de sedimentos. Os elementos que causam
essas mudanças são as chuvas, os movimentos dos rios e dos oceanos, as alterações
de temperatura, o movimento das geleiras, a ação dos ventos, as dinâmicas dos
microrganismos, a cobertura vegetal e a ação humana. Portanto, esses são os
principais fatores que estruturam as formas esculturais do relevo e que modelam a
paisagem terrestre. (BERTOLLO, 2018).

3.1.1 Intemperismo

O intemperismo é um conjunto de modificações físicas, como a desagregação


das rochas, químicas, como a decomposição, e biológicas, de forma física e química,
em que as rochas são modificadas ao serem expostas na superfície terrestre.

Intemperismo químico

Esse tipo de transformação se dá pela ação da água, que é solvente universal,


sobre os agregados de minerais que formam as rochas, causando a decomposição.
O intemperismo químico é mais intenso nas regiões de clima mais quente e úmido,
em que os altos índices de chuvas e as altas temperaturas aceleram a decomposição
das rochas, proporcionando a formação de solos mais profundos. (BERTOLLO, 2018).
O processo químico que ocorre nas rochas é chamado de hidrólise e ocorre por
meio da quebra de moléculas pela ação da água (H2 O). Assim, a molécula de água
libera para a solução íons H+, em que o elemento hidrogênio da água perde seu
elétron, e OH-, em que o oxigênio adquire elétrons. Nesse caso, quando uma molécula
é quebrada, ocorre a formação de novos compostos, ocorrendo, assim, o processo de
intemperismo químico.

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Outra ação química desse tipo de intemperismo é a latolização, quando ocorre
a remoção de bases e do elemento sílica do perfil do solo por meio da lixiviação, que
consiste na lavagem da camada mais superficial do solo por meio do escoamento das
águas, principalmente das chuvas. Assim, há o acúmulo de óxidos de ferro e alumínio,
um processo comum em relevos planálticos e topos de morros mais arredondados.

Intemperismo químico sobre calcário.


Fonte: Azeredo (c2015, documento on-line).

Intemperismo biológico

Esse tipo de alteração da rocha ocorre pela ação das plantas e dos animais
(desde os microscópicos até os maiores) sobre as rochas. As raízes das plantas, os
fungos e as bactérias aceleram a decomposição das rochas por meio do intemperismo
químico, ao mesmo tempo que, pela ação do crescimento das plantas, ocorre a
desagregação física, pelo chamado intemperismo físico. (TEIXEIRA et al., 2000).

Intemperismo biológico sobre rocha calcária.


Fonte: Atjanan Charoensiri/Shutterstock.com.

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Intemperismo físico

Esse tipo de transformação das rochas ocorre nas regiões com menores
índices de chuva e regiões onde a água permanece a maior parte do tempo
congelada. O intemperismo físico promove a desagregação, isto é, a quebra das
rochas pela ação contínua e prolongada da variação das temperaturas, ou seja, pelo
aumento e pela diminuição da temperatura. No período do dia, as rochas expostas na
superfície sofrem dilatação, e, no período da noite, com a diminuição da temperatura,
as rochas se contraem. (TEIXEIRA et al., 2000).
Esse processo contínuo de dilatação e contração, ao longo do tempo, provoca
a quebra, isto é, a desagregação das rochas em pedaços, que são os sedimentos,
cada vez menores. O intemperismo físico é comum nas regiões polares, onde a água
se infiltra na fenda das rochas e expande seu volume no estado sólido, pressionando
as paredes das rochas.

Intemperismo físico sobre rocha calcária.


Fonte: Moreira (2009, documento on-line).

3.1.2 Erosão

Uma vez que as rochas já tenham sofrido ações do intemperismo, seus


sedimentos são transportados pela ação das águas das chuvas, dos rios, dos mares,
das geleiras e dos ventos para as regiões mais baixas da superfície terrestre.

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Esse processo de remoção e transporte dos sedimentos é denominado erosão,
que combina um conjunto de fatores que provocam a desagregação e o transporte de
partículas de rocha sobre a superfície terrestre. (BERTOLLO, 2018).
As Figuras a seguir mostram exemplos de diferentes tipos de erosão.

Erosão fluvial, ocasionada pelo transporte de sedimentos pelas águas dos rios, que aprofundam seu
leito sobre as rochas menos resistentes.
Fonte: Josephine Julian/Shutterstock.com.

Erosão eólica, ocasionada pela ação dos ventos.


Fonte: Gabriel (2012, documento on-line)

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4 OS PROCESSOS E OS FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS

A constituição dos solos engloba quatro elementos principais: as partículas


minerais, a matéria orgânica, a água e o ar. As partículas minerais e orgânicas
compõem a parte sólida dos solos, enquanto a água e o ar ocupam o espaço poroso
dos solos, isto é, os poros e os espaços no solo. As partículas minerais dos solos
podem ser classificadas tanto pelo tamanho, abrangendo desde a argila, o silte, a
areia, o cascalho, o calhau e o matacão, quanto pela origem e pela composição dos
resíduos da rocha que dão origem ao solo. A matéria orgânica é formada pelo
acúmulo de plantas e animais em estágio de decomposição nas camadas superiores
do solo, e esse processo é influenciado principalmente pelo clima e pela atividade
biológica. (BERTOLLO, 2018).

Constituição do solo.
Fonte: Adaptada de São Paulo (2020).

4.1 Fatores de formação dos solos

Os solos variam dependendo de sua localização, podendo se diversificar ao


longo de grandes áreas ou mesmo em uma pequena parcela de terra. As ações
conjuntas do tipo de material da rocha de origem, do tipo de clima, do relevo, dos
seres vivos que estão sobre o solo e do tempo são os principais fatores de formação
dos inúmeros tipos de solos.
O clima e os organismos são denominados fatores ativos, pois agem, durante
certo tempo e em certas condições de relevo, diretamente sobre o material de origem,
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que pode ter algum ou nenhum fator de resistência. Por exemplo, uma camada de 2
centímetros de solo pode levar de 100 a 2 mil anos para se formar. Assim, a formação
dos solos não ocorre por meio de um único processo, isoladamente, mas por meio de
vários deles.

4.2 Material de origem

Na pedogênese, os agentes externos, como o intemperismo e a erosão,


transformam as rochas e se relacionam com a velocidade e a forma como eles atuam.
Essas mudanças também se relacionam com a resistência física e química de cada
tipo de rocha. Logo, os diferentes tipos de solos resultam do material de origem, que
é a chamada rocha-mãe ou rocha matriz, e das inúmeras combinações que induzem
os processos de intemperismo e pedogênese.
A rocha-mãe tem papel importante na formação dos variados tipos de solos, já
que suas propriedades e características dependem, primeiramente, da composição
do material de origem. Alguns minerais constituintes do material de origem continuam
inalterados, enquanto outros sofrem decomposição, como por ação química, e se
transformam em minerais úteis no solo.
Um exemplo de como essas rochas resultam do intemperismo é a
decomposição do calcário, que forma o solo de massapé, com cor cinza-escuro e alto
teor de argila; ele é predominante no litoral nordestino e tem grande fertilidade. Outro
exemplo é a ocorrência, no Centro-Sul do Brasil, de um solo também muito fértil e
utilizado para atividades agrícolas, que é o nitossolo vermelho, popularmente
chamado de terra, resultante da decomposição do basalto e do diabásio, que são
rochas de origem vulcânica.
A fertilidade do solo está ligada a um processo químico chamado de oxidação
e redução (ou oxirredução), que é um processo em que há transferência de elétrons,
isto é, quando o íon receptor de elétrons é reduzido, e o que doa o elétron é oxidado.
Os elementos mais comuns do solo que sofrem essa transformação são o ferro e o
manganês, que têm maior importância na formação do solo, e o elemento nitrogênio,
que tem um papel fundamental na fertilidade do solo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SANTA MARIA, [2020]).

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Solo argiloso e Solo arenoso, respectivamente.
Fonte: Silva (2019, documento on-line) / Elena Larina/Shutterstock.com

4.3 Clima

O clima, que abrange a temperatura e a umidade, regula a velocidade e o tipo


de intemperismo que agem sobre as rochas. Nas regiões de climas quentes e secos,
áridos e semiáridos, prevalece o intemperismo físico, em que há desagregação sobre
as rochas, originando solos rasos e pedregosos. Já nas áreas quentes e úmidas,
equatoriais e tropicais, são gerados solos profundos e bem desenvolvidos. (LEPSCH,
2010). A Figura a seguir traz um mapa das principais zonas climáticas do globo
terrestre.

Principais zonas climáticas do globo e diferentes tipos de intemperismo.


Fonte: Lepsch (2010, p. 64).

Como exemplo, podemos citar as regiões desérticas, onde o intemperismo


físico prevalece. A exposição da rocha à insolação e ao calor intenso durante o
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período diurno provoca sua dilatação, e, no período noturno, devido à diminuição da
temperatura, a rocha se contrai. Esse processo de dilatação e contração, ao longo do
tempo, gera pequenas fendas na rocha, principiando sua fragmentação em partes
cada vez menores.
Em lugares de clima quente e úmido, como a região amazônica, o intemperismo
químico prevalece. Por causa das elevadas temperaturas e da pluviosidade intensa,
ocorre a acelerada decomposição das rochas, produzindo solos profundos e
desenvolvidos. É importante compreender que esses tipos de intemperismos podem
acontecer simultaneamente. Um exemplo são os rochedos localizados no litoral, que,
durante o dia, são aquecidos, dilatando-se. Quando ocorre a maré alta ou ondas mais
fortes, há um resfriamento brusco dessa superfície rochosa, resultando em pequenas
trincas. A água do mar ou das chuvas acaba penetrando nessas trincas e acelera o
processo de destruição da rocha, por meio da decomposição de seus componentes.

4.4 Organismos vivos

Os organismos vivos são elementos ativos no processo de formação dos solos


e são constituídos pela microflora e pela microfauna, em pequena escala, e pela flora,
pela fauna e pelo ser humano. A vegetação tem a capacidade de proteger os solos da
incidência de energia e luz solar e do impacto direto das gotas de chuva na superfície,
fornece material para decomposição, como galhos e folhas, e gera intemperismo físico
durante o crescimento reticular das raízes das plantas. Os animais agem sobre o solo
ao revolvê-lo e distribuir matéria orgânica, ação feita principalmente pelas minhocas,
pelos cupins e pelas formigas, que fazem galerias que distribuem ar, água e matéria
orgânica. Os estágios iniciais dos intemperismos químico e físico por meio dos
organismos vivos se dão por meio de líquenes, bactérias e fungos (a microflora e a
microfauna) sobre a rocha matriz que formará o solo. A ação humana também pode
transformar o solo, conforme o tipo de atividade realizada sobre ele. (LEPSCH, 2010).

4.5 Relevo

O relevo tem influência importante na formação dos solos: nas áreas íngremes,
há dificuldade na formação dos solos, já que os sedimentos da rocha que sofreu
intemperismo são transportados pela água e/ou pelo vento, no processo de erosão,
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para as regiões mais baixas, por meio da ação da gravidade. Isso diminui o contato e
o tempo de permanência da água com a rocha, típico do intemperismo químico. Assim,
é comum, em vertentes inclinadas, a existência de rocha exposta.
É o que ocorre, por exemplo, na região da Serra do Mar, em que a vegetação
que cobre esse relevo é mais densa e alta entre as montanhas, área chamada de
fundos de vale. Ali, ocorre o acúmulo de sedimentos, água e nutrientes. Já nas áreas
mais íngremes, quando há vegetação, ela é rasteira ou dispersa pela baixa
concentração de nutrientes e água e devido à profundidade do solo ser muito
pequena, compondo o chamado neossolo. Nesse contexto, há também os fatores
que influenciam no tipo de solo, como a insolação, a altitude e a potência dos ventos.
A gênese dos solos no Brasil, que tem clima predominantemente quente e úmido,
deriva da atuação desses elementos sobre uma estrutura geológica antiga e
aplainada, proporcionando o desenvolvimento de solos mais profundos e espessos,
chamados de latossolos.

4.6 Tempo cronológico

Um fator essencial para a formação dos solos é o tempo. O solo começa a se


desenvolver tomando como início o chamado tempo zero, que se dá a partir do
momento em que a rocha fica exposta aos agentes atmosféricos e biológicos e, se
não houver erosão, atinge o estágio de maturidade. O tempo cronológico permite a
interação dos fatores que atuam na formação dos solos, como o material de origem,
o tipo de clima, o relevo e a ação dos organismos vivos. (LEPSCH, 2010).

Fonte: Adaptada de Lopes (2015).


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5 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DOS SOLOS

A morfologia dos solos é a anatomia pedológica que corresponde à estrutura e


à configuração de um solo. Por meio do conhecimento morfológico desses corpos
naturais, tem-se o resultado da história evolutiva e também da dinâmica atual dos
constituintes do solo.
Nesse sentido, a morfologia permite a dedução sobre vários dos atributos
físicos, químicos e biológicos do solo, assim como interpretações relacionadas ao seu
uso e manejo.
A morfologia do solo trata do estudo da sua aparência no meio ambiente
natural e da sua descrição segundo as características perceptíveis, visíveis a olho nu
ou sensíveis ao tato, geralmente diagnosticadas em um perfil de solo. A descrição
morfológica constitui a base para identificar o conjunto de características do solo e é
realizada por meio do emprego da metodologia padronizada descrita por Santos et al.
(2015). Esse conjunto de características morfológicas é complementado com as
análises de laboratório para identificação do solo (SANTOS; REICHERT, 2008).
Tendo em vista que o solo é um corpo natural dinâmico e integrado na
paisagem, que se compõe de horizontes, o estudo dessa ciência é complexo. Por isso,
é muito importante que as formas de um solo sejam primeiramente descritas em
campo, antes da retirada das amostras para as análises laboratoriais (LEPSCH,
2010).

5.1 Conhecendo o perfil do solo

Um solo se forma sob a ação de um conjunto de fenômenos biológicos, físicos


e químicos. A partir de uma rocha e um saprolito relativamente homogêneos, surge
uma série de camadas, ou “bandas”, aproximadamente paralelas à superfície e de
aspecto e constituição diferentes, chamadas horizontes. É possível visualizar a
sequência de camadas sobrepostas, embora a transição entre elas nem sempre seja
bem definida.
A sequência vertical de horizontes da superfície até a rocha, quando um solo é
cortado como em um barranco de estrada, denomina-se perfil de solo. O perfil de um
solo completo e bem desenvolvido, normalmente, apresenta cinco tipos de horizontes
pedogenéticos (horizontes principais): O, A, E, B e C.
20
Esquema de um perfil de solo em um corte de talude de estrada e seus principais horizontes.
Fonte: Adaptada de Lepsch (2010).

Na Figura, o horizonte O é a camada de acumulação de matéria orgânica


(pouco decomposta) que recobre o solo mineral. Essa camada se constitui
basicamente da decomposição primária das folhas e dos galhos que caem dos
vegetais. O horizonte A é dominantemente mineral, mas com acúmulo de matéria
orgânica (parcial ou totalmente humificada) e com elevada atividade biológica. O
símbolo E denomina o processo de eluviação que ocorre com perdas de materiais
translocados (argilas e/ou óxidos de ferro e húmus) para o horizonte B. A camada
representada pelo símbolo B é o horizonte mineral de máxima expressão de cor,
consistência e estrutura e de concentrações de argila e matéria orgânica removidas
dos horizontes superiores (A e/ou E). Sob esse horizonte, situa-se a camada C, que
normalmente corresponde a um material inconsolidado, pouco afetado pelos
organismos, mas que pode estar intemperizado; trata-se da rocha pouco alterada
pelos processos de formação do solo e, portanto, com características mais próximas
ao material parental (do qual o solo presumivelmente se formou). O símbolo R
representa a rocha inalterada (material de origem/material parental). (LEPSCH, 2010).

5.2 Características morfológicas do perfil do solo

Para que possamos conhecer a morfologia dos solos, devemos observar várias
características, tanto da sua parte interna (ou do seu perfil) como da parte externa (ou
21
da paisagem onde se situa). A seguir, conheceremos as principais características que
compõem a descrição morfológica do solo.

5.2.1 Cor

A cor é uma das feições pedológicas de mais fácil visualização e identificação.


A variação da cor do solo está ligada à inferência sobre a ocorrência de processos
pedogenéticos ou à avaliação de características importantes no solo. Por exemplo,
solos escuros costumam indicar altos teores de matéria orgânica decomposta. A cor
vermelha está ligada a solos naturalmente bem drenados e com altos teores de óxidos
de ferro. A tonalidade cinza pode indicar excesso de água por longo tempo no perfil,
como em solos situados em áreas baixas próximas aos rios. A cor deve ser descrita
seguindo uma padronização mundial, denominada de sistema Munsell de cores,
fazendo-se uso da carta de cores Munsell para solos. (LEPSCH, 2010).
A anotação da cor do solo é feita pela comparação de um fragmento (torrão)
de um determinado horizonte do solo com os retângulos da carta de Munsell. A cor
mais aproximada do torrão de solo amostrado deve ser escolhida, e anotam-se os três
elementos básicos que compõem uma determinada cor: matiz, valor e croma,
descritos a seguir.

Carta de cores Munsell para solos


Fonte: https://coralis.com.br/munsell-solos

 Matiz — cor pura (do espectro da luz), estando relacionado com o


comprimento de onda de luz refletida na amostra de solo (p. ex.: amarelo, marrom,
cinza).

22
 Valor ou tonalidade — refere-se à luminosidade relativa da cor ou dos tons
de cinza presentes (entre branco e preto). Varia de 0 (para o preto absoluto) a 10 (para
o branco puro).
 Croma — é a proporção da mistura da cor pura em relação ao cinza (valor).
Também varia de 0 a 10.

5.2.2 Textura

A textura do solo (ou granulometria) se refere ao conteúdo percentual unitário


dos constituintes minerais dos agregados ou torrões de um determinado horizonte do
solo nas seguintes frações (SANTOS et al., 2015):
 calhaus (ou pedras) (200 a 20 mm de diâmetro);
 cascalho (de 20 a 2 mm);
 areia (partículas maiores do que 2 mm);
 silte (entre 0,05 a 0,002 mm); e
 argila (menor que 0,002 mm).
Existem classes texturais para classificar o solo quanto aos seus percentuais
de areia, silte e argila. Para isso, utilizamos o triângulo textural, que é um diagrama
generalizado que determina 13 classes texturais do solo em cinco principais
agrupamentos: muito argilosa, argilosa, média, arenosa e siltosa.

Fonte: Santos et al. (2015).


23
A determinação da classe da textura pode ser feita no laboratório ou no campo.
Sua determinação no campo se baseia na sensibilidade ao tato, em que, quando há
predomínio de areia, a sensação é de aspereza (tipo lixa, pouco pegajosa). Em caso
de prevalência de argila, a sensação é de suavidade e pegajosidade (tipo barro), e
quando a fração silte é predominante, a sensação é de suavidade (tipo talco em pó).
A facilidade de mecanização do solo, a suscetibilidade à erosão, a porosidade, o
armazenamento de água, entre outras, são características importantes do solo que a
textura é responsável por informar.

5.2.3 Estrutura

Refere-se ao padrão de arranjamento das partículas primárias do solo (areia,


silte e argila), aglomerados em unidades chamadas de agregados ou unidades
estruturais, separadas entre si pelas superfícies de fraqueza. Os agregados são,
portanto, unidades naturais secundárias compostas das partículas primárias do solo,
que são ligadas entre si por substâncias orgânicas, óxidos de ferro e de alumínio,
carbonatos, sílica e a própria argila (SANTOS et al., 2015). A descrição de estrutura é
feita no campo, observando-se detalhadamente os agregados, quando removidos do
perfil. Existem basicamente sete classes de estrutura, conforme mostra a Figura a
seguir:

24
Tipos de estruturas de solo.
Fonte: Adaptada de Santos e Reichert (2008).

Além do tipo, a estrutura pode ser classificada quanto ao seu grau de


desenvolvimento, podendo ser maciça, moderada, fraca e forte, e quanto ao seu
tamanho, podendo ser muito pequena, pequena, média, grande e muito grande. A
estrutura do solo é um atributo fundamental, pois faz dele um meio poroso. Várias
propriedades físicas e processos biológicos e químicos são afetados pelo tipo, pelo
tamanho e pelo grau de desenvolvimento dos agregados dos solos, como: resistência
à compactação, suscetibilidade à erosão, porosidade do solo, infiltração de água,
permeabilidade do solo, crescimento de raízes, entre outras. (SANTOS E REICHERT,
2008).

5.2.4 Consistência

Termo usado para designar as manifestações das forças físicas de coesão


(solo-solo) e adesão (solo-água) entre as partículas do solo, conforme variações do
grau de umidade (teor de água) do solo. Podemos conhecer três estados de umidade
determinados pela consistência, descritos a seguir.
 Solo seco — avalia a dureza ou tenacidade, medida pela resistência do
torrão seco à ruptura ou fragmentação, quando comprimido, entre o polegar e o
indicador. Pode ser classificada como: solta, macia, ligeiramente dura, dura, muito
dura e extremamente dura.
 Solo úmido — avalia a friabilidade em um estado médio de umidade e
consiste em comprimir um torrão, fragmentando-o, e, posteriormente, tentar

25
reconstruí-lo por nova compressão. Ocorrem os seguintes tipos de consistência: solta,
muito friável, friável, firme, muito firme e extremamente firme.
 Solo molhado — avalia a plasticidade e a pegajosidade. A plasticidade se
refere à moldabilidade do solo e é feita pela formação de um fino cilindro de solo e
posterior tentativa de formar um círculo com o cilindro, entre o indicador e o polegar.
A resistência à deformação é expressa da seguinte maneira: não plástica, ligeiramente
plástica, plástica e muito plástica. A pegajosidade é avaliada pela sensação de
aderência que o solo produz entre o indicador e o polegar. Os graus de pegajosidade
são expressos pelos seguintes tipos: não pegajosa, ligeiramente pegajosa, pegajosa
e muito pegajosa.
A umidade, a textura, o tipo de argilominerais e a matéria orgânica do solo são
propriedades do solo que afetam sua consistência. Por meio dessa característica, é
possível inferir a dureza do solo e a plasticidade e a pegajosidade nos diferentes graus
de umidade, bem como o melhor estágio para a mecanização do solo (friabilidade).

5.2.5 Cerosidade e superfícies de fricção

A cerosidade é um atributo dos solos que apresentam um aspecto lustroso e


brilho graxo, que pode ser bem observado no plano de ruptura de um bloco e que se
relaciona à formação de películas ou filmes de argila. Normalmente ocorre na
manifestação de cor de matiz mais intenso, e as superfícies cerosas são,
frequentemente, livres de grãos cobertos de areia. Podemos classificar a cerosidade
quanto ao grau de desenvolvimento (fraca, moderada e forte) e à quantidade de
ocorrência (pouco, comum e abundante). As superfícies de fricção, também
comumente chamada de slickensides, são superfícies alisadas e lustrosas geradas
pelo deslizamento e pelo atrito da massa do solo em função de expansão e contração
de argilominerais expansivos, por processos alternados de umedecimento e secagem.
(SANTOS E REICHERT, 2008).

5.2.6 Cimentação, nódulos e concreções minerais

A cimentação existe quando o material do solo apresenta consistência


quebradiça e dura, devido à presença de um agente cimentante, que pode ser

26
carbonato de cálcio, sílica ou óxidos de ferro e de alumínio. O material de solo
cimentado não é alterado com o umedecimento, mantendo a sua dureza quando
molhado. Podemos classificar a cimentação de três maneiras: fracamente cimentado,
fortemente cimentado e extremamente cimentado.
A cimentação se refere a materiais cimentados que podem ser removidos sem
se desfazer da massa do solo. Esses materiais apresentam composição química
variável, podendo ser de carbonato, de óxidos de manganês ou ferro e de sílica. A
descrição dos nódulos e das concreções minerais deve conter informações sobre a
quantidade, o tamanho, a dureza, a cor e a natureza.

5.3 Descrevendo um perfil de solo

A descrição do perfil do solo compõe o levantamento dos solos (ou


levantamento pedológico), sendo este um prognóstico da distribuição dos solos
enquanto corpos naturais. Por meio dele, é feita a classificação taxonômica e técnica
para a identificação do solo. No Brasil, a classificação é realizada por meio do Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e corresponde à ferramenta mais tradicional e mais utilizada para se obter
informações a respeito de uma área (SANTOS et al., 2015).
Por meio do levantamento, é possível prever e delinear as áreas nos mapas
por meio de classes. Para Lepsch (2011), os levantamentos de solos apresentam a
distribuição espacial das classes de solos, bem como sua descrição e interpretação,
fornecendo informações essenciais para a tomada de decisões em áreas agrícolas e
urbanas. As informações provenientes do levantamento pedológico são base de
dados para projetos, planejamento de uso, manejo e conservação de solos, auxiliando
na avaliação do potencial e das limitações de uma área (EMBRAPA, 2016).

5.3.1 Objetivo da descrição morfológica

As informações contidas em um levantamento pedológico servem de base para


atender variados órgãos de assistência técnica, de planejamento e de execução de
projetos, com finalidades diversas, como estudos de manejo e fertilidade do solo
(agronomia), estudos de compactação (engenharia) e viabilidade técnica de projetos

27
de irrigação e drenagem. Também têm atendido a instituições de ensino e pesquisa,
por exemplo, em estudos de identificação, caracterização, gênese e morfologia do
solo, constituindo bases para pesquisas e estudos em diversas áreas de agronomia,
engenharia e geociências. Quando a finalidade do levantamento é a representação
de unidades de mapeamento, é importante que o pesquisador tenha bastante cuidado
na escolha do(s) local(is) para a(s) descrição(ões) de perfil(is) e coleta de material. Os
locais devem ser representativos e devem permitir a caracterização adequada da
unidade referida.

6 COMPOSIÇÃO GERAL DOS SOLOS

O solo é muito importante para o desenvolvimento da vida na Terra, sendo


utilizado para o cultivo de alimentos e para a implementação de infraestruturas.
Considerado um recurso fundamental para a sobrevivência de todas as espécies do
Planeta tanto quanto a água e o ar, o solo é formado por compostos sólidos, líquidos
e gasosos que, juntos, desenvolvem-no de forma contínua e lenta por meio da ação
das águas das chuvas, dos ventos, da temperatura e de vários tipos de reações de
organismos microscópicos e outros maiores. Esses compostos interagem entre si e
com o ambiente ao redor, já que o solo é um sistema aberto, sofre influência e interfere
em diversos elementos do Planeta.
Em todos os períodos da história humana, as atividades desenvolvidas sempre
tiveram como base a relação do ser humano com o solo. Na Pré-História, os seres
humanos colhiam os produtos oriundos da terra. Contudo, com o passar dos anos e a
evolução das técnicas, eles passaram a desenvolver diversos tipos de cultivo da terra
para a obtenção de alimentos. Portanto, o solo é um recurso tão importante quanto a
água e o ar para a sobrevivência humana e de todas as espécies do planeta.
O solo é o resultado de processos contínuos e lentos, em que partículas
minerais e orgânicas se depositam gradualmente em camadas — os chamados
horizontes —, por meio da ação das chuvas, dos ventos, da temperatura (calor e frio)
e de vários tipos de organismos, desde os microscópicos, como fungos e bactérias,
até as minhocas, as formigas e os cupins. Esses organismos degradam e desgastam
os elementos do solo, porém o processo de formação do solo é muito lento: para o
desenvolvimento de um centímetro de solo, são necessários 400 anos (MELO, 2020).

28
Em se tratando das composições sólidas dos solos, é importante considerar
que o solo é constituído de elementos minerais e macronutrientes, como o nitrogênio
(N), o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e enxofre (S), que
são vitais para as plantas. Também fazem parte da sua constituição os elementos
denominados micronutrientes, como o boro (B), o cloro (Cl), o cobre (Cu), o ferro
(Fe), o manganês (Mn), o molibdênio (Mo), o zinco (Zn), o silício (Si) e o níquel (Ni),
exigidos por vários tipos de cultivos. Portanto, os minerais e as rochas que compõem
a crosta terrestre apresentam grande diversidade, devido ao alto número de
elementos químicos presentes na litosfera (i.e., a camada exterior sólida da superfície
terrestre).
O solo é considerado um elemento reciclador do planeta, pois nele ocorre o
reaproveitamento de nutrientes que servem como alimento para plantas e animais e
desempenham um papel vital nesses ciclos geoquímicos. O solo pode assimilar
grandes quantidades de substâncias orgânicas, transformando-os em húmus, por
exemplo. (BERTOLLO, 2018).

As minhocas presentes no solo produzem húmus e galerias.


Fonte: Naillin (2018, documento on-line).

Além disso, no solo, ocorre a conversão de nutrientes minerais em formas que


podem ser aproveitadas pelos animais e pelas plantas, em um processo que retorna
o carbono (C) para a atmosfera como dióxido de carbono (CO²). Assim,
sistematicamente, ele se tornará parte dos organismos vivos através da fotossíntese
das plantas, um processo bioquímico realizado a partir do dióxido de carbono (CO²)
presente na atmosfera e na água, utilizando a luz solar como fonte de energia.
Os minerais presentes no solo são definidos como elementos ou compostos
químicos sólidos, formados por processos geológicos inorgânicos. Dessa forma, para
29
se distinguir os mais de 4 mil tipos de minerais encontrados no planeta Terra, verifica-
se as seguintes propriedades: composição química; arranjo geométrico que organiza
os átomos que constituem os minerais; cor; dureza e consistência; brilho;
transparência; e densidade (TEIXEIRA, 2000).
Quando há uma grande concentração de minerais em determinado lugar da
crosta terrestre, com viabilidade econômica para ser explorada, os minerais são
denominados minério ou jazida mineral. Exemplos desses minerais são: ágata,
galena e ametista.
Por meio de minerais, rochas e compostos orgânicos, o solo também tem o
papel de canalizar a água da chuva para os rios e outros corpos hídricos, transferindo
os elementos antes contidos nos minerais das rochas para os oceanos. Em geral, a
rocha que está exposta na superfície terrestre se desintegra e se altera, produzindo
uma camada de detritos desintegrados, que cobrem a rocha dura. Essa camada não
consolidada, denominada regolito, pode ter uma espessura muito fina ou dezenas de
metros de espessura. O material do regolito pode ser transportado por muitos
quilômetros do local onde foi formado inicialmente e é depositado. Logo, esse material
pode ou não estar relacionado com a rocha que ele cobre.
Quando essa rocha se intemperiza e fica solta para ser revolvida por alguma
ferramenta (p. ex., uma pá), esse material pode ser chamado de saprolito. Dessa
maneira, há efeitos físicos e bioquímicos onde organismos, como bactérias, fungos e
raízes de plantas, transformaram o regolito, revelando a interação entre os elementos
que constituem os solos, como rocha, ar, água e seres vivos (BRADY; WEIL, 2013).
A composição sólida do solo resulta de processos sintetizadores, como o
intemperismo das rochas, a decomposição de elementos orgânicos, a formação de
novos minerais (p. ex., argilas) e a formação de camadas, chamadas de horizontes
do solo. O regolito interage com a atmosfera, as rochas, a água e os seres vivos, e as
proporções relativas desses componentes influenciam as propriedades e a
produtividade dos solos. Assim, a composição sólida é composta por uma fração de
origem mineral, formada por partículas de areia, silte (i.e., fragmentos de rocha
menores que um grão de areia) e compostos argilosos, e por uma fração de matéria
orgânica. Em geral, a fração só lida do solo é composta por cerca de 5% de matéria
orgânica e 95% de material mineral.

30
Constituição do solo.
Fonte: Adaptada de Antoniolli (2010, documento on-line).

6.1 As composições líquidas dos solos

A presença da água no solo promove a dissolução dos seus elementos, além


de ser fundamental para a sobrevivência e o desenvolvimento de plantas e
organismos que vivem nesse ambiente. As características do clima têm forte influência
na umidade do solo, um dos principais condicionantes para a vida dos ecossistemas
e para a produção agrícola. (BRADY; WEIL, 2013).
O movimento e a circulação da água e das substâncias que estão dissolvidas
pelo solo garante a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos. A água que circula
pelo regolito proporciona a formação do solo. Quando há um maior conteúdo de
matéria orgânica no solo, há maior capacidade de reter a água, ao contrário do que
ocorre em solos com pouca matéria orgânica. Quando o teor de umidade do solo é
propício para o crescimento de plantas, a água se move pelos poros para ser usada
pelas plantas.
Quando a água do solo não está em estado puro, em virtude de ter substâncias
inorgânicas e orgânicas dissolvidas, ela é denominada solução. Assim, a parte só lida
dos solos, sobretudo as partículas menores orgânicas e inorgânicas (p. ex., argila e
húmus), desprendem nutrientes para a solução do solo, os quais são absorvidos pelas

31
raízes das plantas. Uma série de reações e processos químicos e biológicos
dependem dos níveis relativos de í ons de hidrogênio (H) e hidroxila (OH) na solução
do solo, os quais são determinados de acordo com a medição do pH do solo.
As composições líquidas do solo, também chamadas de água do solo ou
solução do solo, são compostas por água e seus solutos. Na fase líquida, há a
possibilidade de deslocamento dos elementos, de modo que as plantas absorvem
nutrientes diretamente da água do solo.

Raiz da planta no solo que absorve nutrientes dissolvidos na água.


Fonte: Santos (2020, documento on-line)

Portanto, as três principais fases do solo — sólida, líquida e gasosa —


interagem entre si por meio de interações elétricas e ligações químicas e requerem
água para ocorrer (Figura). Os cátions (i.e., íons com carga elétrica positiva) de
elementos como potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) se ligam às cargas
negativas da parte só lida do solo e se deslocam para a solução do solo, sendo, assim,
transportados. O nitrogênio também pode constituir a fase só lida e se desloca na
solução do solo ou na forma de gás nitrogênio e óxidos nitrosos na fase gasosa
(ANTONIOLLI, 2010).
Assim, a interação entre as fases do solo é uma dinâmica fundamental para os
processos químicos, físicos e biológicos. Por esse motivo, o solo é um sistema ativo
e aberto, realizando trocas com os outros sistemas do seu entorno, a fim de
desempenhar funções essenciais para a vida na Terra.

32
Interações entre as fases da composição do solo.
Fonte: Adaptada de Antoniolli (2010, documento on-line)

O desenvolvimento e as dinâmicas do solo estão relacionados de forma


inseparável com o ciclo da água no planeta. Nesse contexto, o solo — que é um meio
poroso — proporciona a infiltração da água das chuvas e a armazena. (ANTONIOLLI,
2010).
O solo é um sistema aberto, pois troca matéria e energia com os outros
sistemas. Uma das principais matérias trocadas é a água, que se desloca da
atmosfera e penetra no solo. Contudo, também ocorre o movimento inverso, quando
a água sai do solo e vai para a atmosfera. Por meio dessa dinâmica, a água entra na
superfície do planeta por meio de infiltração e pode ser armazenada em lençóis
freáticos e aquíferos. A Figura a seguir, apresenta os componentes do ciclo da água.

Fonte: Adaptada de Antoniolli (2010, documento on-line).


33
A ligação da água e dos demais componentes líquidos com o solo também
influencia a qualidade e a quantidade de água que está disponível aos seres vivos.
Além das condições naturais, isso depende do tipo de manejo nos sistemas de
produção agrícola. Por exemplo, revolver o solo, aplicar agrotóxicos, utilizar produtos
orgânicos para fertilizá-lo ou compactá-lo causará consequências tanto no solo quanto
na água.
Os fatores que afetam o conteúdo da água no solo podem ser: ambientais,
como aqueles relacionados a intensidade e volume das chuvas, topografia,
intensidade de radiação solar e declividade; relacionados com as próprias
características do solo, como textura, profundidade, estrutura, densidade, porosidade
e quantidade de matéria orgânica; e relacionados com as práticas de manejo, como o
tipo de revolvimento do solo, a manutenção ou ausência de cobertura vegetal e
irrigação.

6.2 As composições gasosas dos solos

As composições gasosas do solo têm como principal e fundamental


característica o gás oxigênio. Utilizado por todos os seres vivos, mais especificamente
aqueles presentes no solo, o oxigênio tem nas raízes das plantas um vetor de
transferência de elementos minerais das rochas da crosta terrestre para a vegetação.
Além disso, ele processa os restos orgânicos de plantas e animais terrestres e, em
uma escala de poucos milímetros, favorece a produção de diversos micro-hábitats
para os microrganismos que conduzem água e outros nutrientes para as raízes das
plantas e fornecem várias possibilidades de reações bioquímicas.
Assim, os espaços entre as partículas do conteúdo só lido do solo são
essenciais, pois é por meio deles que o ar e a água se deslocam, as raízes das plantas
se desenvolvem e os microrganismos vivem. Para uma condição de crescimento
eficiente para a maioria das plantas, o espaço poroso tem de estar dividido com, pelo
menos, 25% do volume de solo formado por água e os restantes 25% formados por
ar. Se houver mais água do que nessa divisão, o solo poderá encharcar; ao passo
que, se tiver menos água, as plantas podem morrer com a seca (ANTONIOLLI, 2010).
A Figura a seguir, apresenta as passagens de ar no solo.

34
Passagens de ar no solo.
Fonte: Lorelyn Medina/Shutterstock.com.

As proporções relativas de água e ar de um solo variam de acordo com a adição


ou subtração de água no solo. Os solos com a maior parte do seu volume constituí do
de só lidos são muito compactados, de modo que afetam o desenvolvimento das
plantas. Ao comparar as camadas mais superficiais do solo, as mais profundas
tendem a ter menos espaço poroso e matéria orgânica, com uma maior proporção de
poros pequenos, que podem ser preenchidos por água, em vez de ar.
A fase gasosa, também chamada de atmosfera do solo, é geralmente composta
por diversos gases, principalmente oxigênio (O²), gás carbônico (CO²) e nitrogênio
(N²), que sã o os mesmos gases presentes na atmosfera terrestre. Entretanto, o que
muda é a concentração em que ocorrem: a concentração de CO² na atmosfera é de
0,03%, ao passo que, no solo, é de 0,9%.
Aproximadamente metade do volume do solo é constituído por poros de vários
tamanhos, geralmente preenchidos por água ou ar. Assim que a água penetra no solo,
ela é capaz de deslocar o ar de alguns dos poros. Dessa maneira, a quantidade de ar
do solo é inversamente proporcional ao conteúdo de água. A rede de poros do solo
funciona como um sistema de ventilação, ligando os seus espaços vazios à atmosfera.
Assim, quando os poros são preenchidos por água em excesso, esse sistema de
ventilação é interrompido. (ANTONIOLLI, 2010).
Pode-se comparar essa situação com uma sala sem espaços para a ventilação,
onde o oxigênio não poderia entrar, tampouco o dióxido de carbono poderia sair.
Assim, o ar dentro da sala logo ficaria pobre em oxigênio e com grande teor de dióxido
de carbono e vapor de água, em virtude da respiração (pela atividade de inalação e
exalação) das pessoas que ali estivessem. O mesmo resultado ocorre em um poro do
35
solo ocupado com ar, circundado de poros menores cheios de água, onde ocorrem as
reações químicas e biológicas de raízes das plantas e dos microrganismos (BRADY;
WEIL, 2013).
Dependendo da localização do solo, a composição do ar que está em seu
interior pode variar. Em compartimentos pequenos e isolados, certos gases são
consumidos pelas raízes das plantas ou pelas reações químicas dos micróbios, ao
mesmo tempo que outros são liberados, o que altera significativamente a composição
do ar presente no solo. O teor de certos gases e a composição do ar do solo são
motivados pelo teor de água, pois o ar é encontrado nos poros que não são ocupados
por líquido. Quando o solo é drenado, após receber uma chuva intensa ou irrigação,
em um contexto em que a água vai sendo deslocada pela evaporação ou a
transpiração das plantas, os primeiros poros deixados pela água sã o os grandes,
depois os de tamanho médio, seguidos pelos menores. Assim, há uma tendência de
os solos com grande proporção de poros pequenos serem deficientes em aeração. A
falta de oxigênio, tanto no ar do solo como dissolvido na água, altera as reações
químicas que ocorrem na solução do solo. O impacto de qualquer elemento nas
propriedades do solo ocorre de forma dependente dos outros, já que eles interagem
entre si e determinam as características do solo. Por exemplo, a matéria orgânica tem
capacidade de aglutinação de materiais e influencia no arranjo de partículas minerais
em agregados, o que aumenta o número dos poros maiores do solo e as interrelações
entre o ar e a água (BRADY; WEIL, 2013).
No contexto das inter-relações entre elementos, as raízes das plantas podem
absorver todos esses nutrientes da solução do solo quando o oxigênio presente for
suficiente para sustentar o metabolismo da planta.
Logo, entre as funções desempenhadas pelas composições gasosas dos solos,
principalmente pelo oxigênio, está a participação das reações dos organismos que
vivem no solo, que realizam a decomposição e a estabilização da matéria orgânica.
Esses organismos promovem a disponibilização e a reciclagem de nutrientes, além
de utilizarem esses gases como energia para desempenhar funções físicas, como a
agregação e a produção de poros biológicos. Essas funções são fundamentais para
um funcionamento eficiente do solo, bem como para a saúde, a fertilidade e a
produtividade das diversas culturas.

36
7 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Constantemente, se tem contato com as rochas e o solo. E é nessas condições


que se constrói, se planta e se vive. O processo de intemperismo físico, químico e
biológico resulta no processo de pedogênese e formação do solo, que é fundamental
para a vida na Terra. Os solos encontrados na superfície da Terra apresentam
diversidade em função das condicionantes de formação. Por isso, são classificados.
É fundamental ao profissional da Geografia conhecer os critérios e fatores para a sua
classificação. Os solos encontrados na superfície da Terra apresentam grande
diversidade, e sua classificação pode ser feita segundo diferentes critérios. As
diferentes combinações de fatores de formação genéticos, morfológicos ou
morfogenéticos dão origem a diferentes classificações pedológicas.

7.1 Níveis categóricos do sistema de classificação de solo

O solo é resultado do processo de intemperismo, que leva à pedogênese, ou


seja, à formação do solo. De acordo com Teixeira et al. (2003), essa situação ocorre
quando as modificações se tornam estruturais, com organização e transferência de
minerais formados no solo. Nesse sentido, torna-se importante classificar os solos em
função, principalmente, de suas características morfológicas, físico-químicas e
mineralógicas. Todas as características morfológicas são de extrema relevância, mas
algumas são indispensáveis para o entendimento das condições dos solos, como: as
cores úmidas e secas dos horizontes e as cores úmidas dos subsuperficiais, conforme
a carta de cores de Munsell, a estrutura, a cerosidade, a consistência e a transição
(EMBRAPA, 2020).
A ciência que estuda o solo, denominada pedologia, é bastante recente (1870),
se a compararmos com as demais ciências. O cientista russo Vasily Dokuchaev e seus
discípulos conceberam que os solos existem como corpos da natureza e, então,
desenvolveram um sistema para classificá-los. Porém, as dificuldades de
comunicação internacional naquela época retardaram o processo. Foi apenas em
1920 que Curtis F. Marbut, um cientista do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos (USDA), compreendeu o conceito de solos como corpos da natureza e
desenvolveu um esquema de classificação com base nesse princípio (BRADY; WEIL,
2013).
37
Ao se abordar o sistema de classificação, convém definirmos o termo
taxonomia, que se refere ao estudo teórico da classificação, incluindo bases,
princípios, procedimentos e regras, sendo o termo táxon utilizado para designar um
grupo de organismos de qualquer categoria. No campo, os solos são heterogêneos,
e, por isso, há necessidade de se caracterizar um indivíduo solo em termos de uma
unidade tridimensional imaginária, denominada pedon, sendo considerada a menor
unidade de amostragem e aquela que apresenta toda a gama de propriedades de um
determinado solo.
Um conjunto de pedons similares, com tamanho suficiente para ser
reconhecido como um componente da paisagem, é denominado polipedon ou
indivíduo solo (BRADY; WEIL, 2013). Todos os indivíduos solo do mundo, que
possuem um conjunto de propriedades do perfil e horizontes em comum, pertencem
a uma mesma série de solo. Assim, uma série de solo corresponde a uma classe de
solos, e não a um indivíduo solo. Veja a ilustração na Figura a seguir (BRADY; WEIL,
2013).

Diagrama esquemático ilustrando os conceitos de pedon e do perfil do solo que o caracteriza.


Fonte: Brady e Weil (2013, p. 67).

Apesar de a classificação científica dos solos ter se iniciado com os trabalhos


de Dokuchaev na Rússia, muito países desenvolveram, e continuam desenvolvendo,
os seus sistemas próprios de classificação, sendo o Brasil um deles (BRADY; WEIL,
2013). De acordo com Brady e Weil (2013), o órgão do USDA denominado Soil Survey
Staff começou, em 1951, a colaborar com pedólogos de vários países na elaboração
de um sistema de classificação abrangente, para retratar a realidade de todos os solos
do planeta Terra. Tais estudos foram publicados em 1975 (revisados em 1999) e
38
resultaram em um importante documento, intitulado Soil Taxonomy, que tem sido
utilizado nos EUA e em outros 50 países, permanecendo vigente até hoje.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2004),
o Soil Taxonomy é um sistema que abrange a classificação americana de solo, e os
agrupamentos obtidos inicialmente são os chamados táxons, que constituem o
esqueleto desse sistema. O sistema está definido com base em propriedades
mensuráveis e observadas no campo. São seis as categorias utilizadas pelo sistema
americano, sendo ordem, subordem, grande grupo, subgrupo, família e série.
A nível mundial, a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações
Unidas (FAO) desenvolveu uma classificação comum para todos os países,
denominada Base de Referência Mundial para Recursos do Solo, ou World Reference
Base for Soils (WRB/FAO)( BRADY; WEIL, 2013). No Brasil, a classificação de solos
teve início no final do século XIX, a partir dos conceitos estabelecidos por Dokuchaev.
Mais adiante, na década de 1950, foram realizadas as primeiras modificações na
classificação americana, com os primeiros levantamentos pedológicos realizados pela
extinta Comissão de Solos do Centro Nacional de Ensino e Pesquisa Agronômica. De
acordo com Teixeira et al. (2003), os solos brasileiros vêm sendo estudados
gradativamente pela Embrapa, com levantamentos cartográficos sistemáticos em todo
o território brasileiro.
Esses trabalhos, ao longo do tempo, permitiram o desenvolvimento de uma
classificação própria, publicada em 1999, com o esforço de diversas instituições de
ensino. Trata-se da 1ª edição do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
(SiBCS), que teve como influência as escolas francesas e americanas e suas várias
publicações, como Soil Taxonomy, WRB/FAO, Référentiel Pédologique Français e
Référentiel Pédologique (EMBRAPA, 2020). Ela consiste em uma evolução do antigo
sistema americano, escrito por Baldiw et al. (1938) e, posteriormente, modificado por
Thorp e Smith (1949). Segundo a Embrapa (SANTOS et al., 2018), foram mantidos os
conceitos centrais do antigo sistema americano, porém, a classificação brasileira
realizou modificações de critérios, criou classes de solo, desmembrou outras classes
e formalizou o reconhecimento de subclasses de transição e intermediária. O SiBCS
é continuamente aprimorado, em decorrência da evolução científica e do uso de
escalas reduzidas, por meio de novos levantamentos técnicos in loco. O SiBCS teve
sua 5º edição lançada no ano de 2018.

39
Conforme os levantamentos pedológicos foram sendo executados pela
Comissão de Solos e por outras instituições sucessoras, foram realizadas
modificações, acréscimos, reajustes e inovações, em função do avanço da pesquisa
de solos no Brasil (SANTOS et al., 2018). Ainda na década de 1960, em um
levantamento pedológico realizado no estado de São Paulo, foi reconhecido que
horizontes pedogenéticos distintivos são legítimos como critérios de diagnóstico para
o estabelecimento de classes de solo. Tal medida resultou em conceitos de horizonte
B latossólico e horizonte B textural (SANTOS et al., 2018). Ao longo do tempo, estudos
realizados em algumas regiões brasileiras reconheceram novos horizontes e novos
tipos de solo, em regiões como o sul de Minas Gerais, a região Sul do País, o estado
de São Paulo, a região Nordeste, entre outras.
Segundo a Embrapa (SANTOS et al., 2018), o SiBCS vem sendo
gradativamente construído pela comunidade científica brasileira há décadas, com a
participação de cientistas de diversas instituições de ensino, da própria Embrapa e de
outros centros de pesquisa. Atualmente, o SiBCS se encontra estruturado na forma
de chave taxonômica até o 4º nível categórico, com recomendações de
características/propriedades a serem empregadas na classificação de solos no 5º
nível categórico (família). Ainda assim, na forma em que se encontra, o SiBCS já
atende a praticamente todas as demandas atualmente conhecidas no Brasil acerca
dos solos. As sugestões de características/propriedades para o 6º nível categórico
são de caráter preliminar, e a sua implementação demandará um volume de
informação específico e suporte organizacional no país para a sua validação.

Fonte: https://agriculturaemar.com/
40
7.2 Distribuição geográfica dos solos brasileiros

Segundo o Programa Nacional de Solos do Brasil (2016), conhecido como


PronaSolos, o Brasil dispõe apenas de levantamentos de solo de caráter geral, com
mapas de pequena escala, sendo que menos de 5% do território nacional conta com
mapas de solos em escala 1:100.000 ou maior. Ou seja, ainda não conhecemos com
detalhes boa parte do solo brasileiro.
Levantar e mapear com detalhes os solos brasileiros é importante porque os
resultados mostram, dentre outras coisas, as propriedades dos solos que afetam o
uso da terra, a localização exata de cada tipo de solo de uma determinada área
(fazenda, município, microbacia, estado) e a sua caracterização. Por esse motivo, foi
criado, no ano de 2015, o PronaSolos.
A importância dessa temática é tão grande que, por meio de uma exigência do
Tribunal de Contas da União, o governo federal criou o Decreto Federal n°. 9.414, de
19 de junho de 2018, que institui o Programa Nacional de Levantamento e
Interpretação de Solos do Brasil, a ser financiado por meio de orçamentos
disponibilizados pelo governo federal (BRASIL, 2018).
Em todo o caso, os estudos de classificação e mapeamento do solo realizados
no Brasil ao longo das últimas décadas resultaram em um conhecimento técnico
avançado, que, mesmo em pequena escala, nos mostra um panorama sobre a
realidade do país. É isso que abordaremos a seguir. O mapa de solos do Brasil
atualizado foi apresentado no ano de 2011 pela Embrapa Solos, na escala de
1:5.000.000 (ou seja, um centímetro linear no mapa equivale a 50 km no terreno),
sendo reconhecido internacionalmente pelas contribuições relevantes aos solos
tropicais. Esse mapeamento foi atualizado conforme a primeira versão do SiBCS
(SANTOS et al., 2006), possibilitando a visualização e a identificação das classes
gerais de solos do país.
Desse modo, temos, no Brasil, as seguintes classes de solos: argissolos,
cambissolos, chernossolos, espodossolos, gleissolos, latossolos, luvissolos,
neossolos, nitossolos, organossolos, planossolos, plintossolos e vertissolos. Vamos
estudar detalhadamente cada um deles a seguir.

41
7.2.1 Argissolos (P)

Esse tipo de solo é encontrado em todas as regiões brasileiras, sendo o


segundo mais representativo, abrangendo aproximadamente 24% da superfície do
país. Sua coloração pode variar de acinzentada a avermelhada, sendo os matizes
amarelos e vermelhos. Identifica-se pelo maior teor de argila nos horizontes
subsuperficiais em relação aos superficiais. (EMBRAPA, 2020).

7.2.2 Cambissolos (C)

Esse tipo de solo é encontrado em todas as regiões brasileiras, ocupando 2,5%


da área do país. Possui uma alta quantidade de matéria orgânica e alumínio extraível
e é importante principalmente nos estados da região Sul do Brasil. Sua coloração é
escura (preta), com pouco diferenciação dos horizontes (cor e estrutura). Apresenta
elevada fertilidade natural. É comum também no Nordeste do Brasil, principalmente
no Acre. (EMBRAPA, 2020).

7.2.3 Chernossolos (M)

Esse tipo de solo tem baixa ocorrência no Brasil e ocupa 0,5% da área do país.
Apresenta cor escura na superfície, possui uma alta fertilidade e apresenta de médios
a altos teores de carbono, cálcio e magnésio, com alta saturação por bases.
(EMBRAPA, 2020).

7.2.4 Espodossolos (E)

Esse tipo de solo ocorre de maneira muito esparsa no Brasil, pela costa do país
(áreas de restinga) e no interior da Amazônia Ocidental, onde é expressivo. Ocupa
em torno de 2% do território brasileiro. Apresenta coloração escura (marrom escuro,
geralmente) na subsuperfície, onde há acúmulo de matéria orgânica e/ou alumínio e
ferro (podendo ou não ocorrer). (EMBRAPA, 2020).

7.2.5 Gleissolos (G)

Esse tipo de solo é encontrado principalmente na planície amazônica, nos


estados de Goiás, Tocantins, Rio de Janeiro e São Paulo e no Rio Grande do Sul,

42
ocupando aproximadamente 4% da área do Brasil. É caracterizado como mal ou muito
mal drenado, correspondendo a um solo hidromórfico. Dessa maneira, apresenta
baixo grau de desenvolvimento pedogenético, apresentando grande variabilidade em
relação à composição química e física, em decorrência da natureza do material
depositado. (EMBRAPA, 2020).

7.2.6 Latossolos (L)

Esse tipo de solo cobre 39% do território brasileiro, sendo o que possui a maior
ocorrência. É altamente evoluído e intemperizado e sem incremento de argila em
profundidade; apresenta espessura acima de 1,50 m. A textura varia de média a muito
argilosa. As cores são geralmente brunadas, avermelhadas ou amareladas. Sua
coloração possui relação com a presença de óxidos de ferro e alumínio, que conferem
valores de capacidade de troca de cátions menores ou iguais a 17 cmolc kg-1.
(EMBRAPA, 2020).

7.2.7 Luvissolos (L)

Esse tipo de solo cobre 3% do território brasileiro, sendo que a área de maior
ocorrência é no Nordeste do Brasil, principalmente na zona semiárida. Possui
estrutura bem desenvolvida, com alta fertilidade química natural. É raso, de maneira
geral, e de coloração amarelada ou avermelhada. Possui um aumento significativo
dos teores de argila nos horizontes subsuperficiais, podendo apresentar mudança
textural abrupta. (EMBRAPA, 2020).

7.2.8 Neossolos (R)

Esse tipo de solo se apresenta em 15% do território brasileiro, com ocorrência


em todas as regiões do Brasil. São solos pouco evoluídos, jovens, constituídos por
material mineral ou por matéria orgânica com menos de 0,20 m de espessura.
(EMBRAPA, 2020).

7.2.9 Nitossolos (N)

Esse tipo de solo se apresenta em 1,5% do território brasileiro, com ocorrência,


principalmente, nos estados da região Sul; porém, é visto também no estado de São

43
Paulo. Apresenta textura argilosa ou muito argilosa, com pouco argila em
profundidade. São solos profundos, evoluídos, de coloração variando de avermelhado
a bruno, sendo observada pouca diferenciação de coloração entre seus horizontes.
São bem drenados, moderadamente ácidos e de fertilidade natural variável.

7.2.10 Organossolos (O)

Esse tipo de solo se apresenta de forma dispersa, em pequenas manchas pelo


território brasileiro. É constituído por material orgânico (restos de vegetais), por isso,
possui elevados teores de carbono e coloração preta, cinzenta, muito escura ou
brunada. O material orgânico acumulado pode ocorrer em condições de drenagem
livre, em altitude elevada e com baixas temperaturas, ou com forte restrição de
drenagem, como em vales/baixas ou depressões. (EMBRAPA, 2020).

7.2.11 Planossolos (O)

Esse tipo de solo se apresenta em aproximadamente 2% da área do país,


principalmente em áreas de relevo plano ou suave ondulado, especialmente no Rio
Grande do Sul, onde se planta arroz irrigado, e em pastagens na região Nordeste do
país e no Pantanal. A textura é arenosa em superfície, porém, com presença de argila
em subsuperfície, podendo ocorrer mudança textural abrupta. São extremamente
duros quando secos, com baixa permeabilidade em subsuperfície, propiciando cores
acinzentadas ou variegadas e mosqueadas, devido aos ciclos de redução e oxidação
do ferro. (EMBRAPA, 2020).

7.2.12 Plintossolos (F)

Esse tipo de solo se apresenta em aproximadamente 6% da área do país,


principalmente em áreas de relevo plano ou suave ondulado, em áreas deprimidas,
em planícies aluvionais e em terços inferiores de encosta, ou seja, em locais que
impliquem no escoamento lento da água do solo. Encontra-se com extensões
significativas na região Amazônica, no Amapá, na Ilha de Marajó, no Maranhão, no
norte do Piauí, no sudeste de Tocantins, no nordeste de Goiás, no Pantanal, na Ilha
do Bananal e nas chapadas do Planalto Central. É constituído por material mineral de
drenagem imperfeita e ciclos de redução e oxidação do ferro, levando à sua

44
segregação. As cores são cinzentas, avermelhadas e amareladas. É pobre em
carbono orgânico e rico em ferro e alumínio. É ácido e com baixa reserva de
nutrientes. (EMBRAPA, 2020).

7.2.13 Vertissolos (V)

Esse tipo de solo se apresenta em aproximadamente 2% da área do país,


principalmente na zona seca do Nordeste, no Pantanal Mato-Grossense, na
Campanha Gaúcha e no Recôncavo Baiano. É constituído por material mineral e altos
teores de argila, com baixo grau de desenvolvimento pedogenético. Sua coloração é
acinzentada ou preta, com o mesmo teor de argila na parte subsuperficial ou
superficial. Tem elevada fertilidade química, relacionada aos calcários e aos
sedimentos ricos em cálcio, magnésio e tochas básicas, mas apresenta problemas
físicos, como baixa permeabilidade e drenagem lenta. (EMBRAPA, 2020).

Perfis de argissolo, gleissolo, cambissolo, chernossolo, espodossolo e latossolo.


Fonte: Adaptada de EMBRAPA (2020).
45
Perfis de luvissolos, neossolos, nitossolos, vertissolos, plintossolos, organossolos e planossolos.
Fonte: Adaptada de EMBRAPA (2020).

8 SISTEMA ÁGUA-SOLO

De toda a água doce disponível no planeta, menos de 1% se concentra nos


solos, entretanto é uma das fontes que mais participam ativamente do ciclo
hidrológico. A água nos solos tem funções importantes e promove uma variedade de
processos físico-químico-biológicos. Tais processos induzem notadamente quase
todos os aspectos de desenvolvimento e comportamento do solo: no intemperismo
dos minerais, na decomposição da matéria orgânica e no crescimento das plantas.
(PARREIRA, 2018).
Para a compreensão do sistema água-solo, é necessário conhecer e entender
alguns dos princípios que regem suas interações. A sequência de eventos repetidos
de troca contínua de água entre a hidrosfera, a atmosfera e a pedosfera, conhecida
como ciclo da água ou ciclo hidrológico, permite que a água no solo permaneça por

46
algum tempo armazenada e disponível para as plantas e os microrganismos que ali
existem. No entanto, essa água pode se deslocar verticalmente e lateralmente — ou
seja, a água não fica parada, mesmo estando armazenada no solo. (PARREIRA,
2018).
No que tange à ecologia, podemos considerar a existência da relação solo-
água-planta, visto que a água desempenha o importante papel de levar nutrientes aos
organismos vivos. Da mesma maneira, a água possui uma importante função
pedológica, sendo esta essencial em determinados processos pedogenéticos, como
no intemperismo, na formação do húmus e na mobilização e no transporte de
substâncias ao longo do perfil do solo.
Nesta seção, você vai estudar o comportamento da água no solo, verificando
alguns conceitos básicos e os princípios fundamentais do sistema água-solo. Você
também vai compreender como se dá a influência da água nas funções ecológicas e
práticas de manejo do solo, particularmente os fatores que afetam a quantidade de
água armazenada e disponibilizada para as plantas.

8.1 Umidade e potencial da água no solo

Propriedades e fenômenos associados à água, como polaridade, coesão,


adesão e tensão superficial, influenciam significativamente seu comportamento no
solo. A polaridade das moléculas de água provoca a dissolução dos sais na água. Por
meio das forças de coesão e adesão, é possível, para os sólidos do solo, reter água
e controlar o seu uso e movimento. A plasticidade também é uma característica das
argilas presentes no solo que só é possível em função da coesão e da adesão. A
tensão superficial, por sua vez, é um fator importante para o fenômeno da
capilaridade, que determina como a água é retida no solo (BRADY; WEIL, 2013).
Essas e outras características se dão em função do tipo de estrutura da
molécula de água, que determina, portanto, a capacidade da água de influenciar
diversos processos do sistema solo

8.1.1 Energia da água no solo

A tendência espontânea e universal de toda a matéria na natureza é se mover


do local com maior energia para o local com menor energia, buscando o equilíbrio
47
energético. No solo, a água se comporta da mesma maneira, ou seja, ela tende a
passar de um estado de alta energia para um de baixa energia. De acordo com Cooper
(2016), a diferença nos níveis de energia da água nos pontos afastados no perfil do
solo é o que faz com que ela se movimente. Esses movimentos acontecem:
 internamente no solo — fluxo de água no solo;
 do solo para a planta — absorção;
 do solo para a atmosfera — evaporação; e
 da planta para a atmosfera — transpiração.
Essa busca constante por equilíbrio energético gera a força motora responsável
pelo ciclo da água na natureza. Porém, não só a diferença nos níveis de energia da
água em relação à posição vai influenciar a direção e a velocidade do movimento da
água nos solos e nas plantas, mas também a diferença do nível de energia da água,
de uma condição para a outra (p. ex., entre um solo saturado com água e um solo
seco) (BRADY; WEIL, 2013).
A água no solo pode conter energia em diferentes formas e quantidades,
conforme descrito a seguir.
 Energia cinética: significante no fluxo rápido e agitado da água em um rio,
mas o movimento da água nos solos é tão lento que esse componente é praticamente
desconsiderado.
 Energia potencial: é fundamental para determinar o estado e o movimento
da água no solo. Depende da posição e das condições internas da matéria.
É importante compreender que toda matéria, incluindo a água, tende a se
movimentar ou variar de estado de energia. Então, conhecendo-se os níveis de
energia em diferentes pontos no solo, é possível prever a direção do movimento da
água. O movimento da água é influenciado diretamente por essas diferenças nos
níveis de energia entre um local e outro no perfil do solo. As propriedades e os
fenômenos associados à água mencionados anteriormente (coesão, adesão, tensão
superficial e capilaridade) indicam uma relação com o nível de energia da água no
solo, que é afetado por algumas forças (potenciais) importantes, descritas a seguir.
 Mátrica ou matricial: representa a força da atração da água pela matriz do
solo (adesão, ou a atração da água pelos sólidos do solo). A força mátrica,
responsável pela adsorção e pela capilaridade, reduz o estado de energia da água
próximo às superfícies das partículas.

48
 Osmótica: representa a força gerada pela atração da água aos íons e outros
solutos. Essa força tende a reduzir o estado de energia da água na solução do solo.
 Gravitacional: representa a força que sempre puxa a água para baixo, ou
seja, é a quantidade de energia despendida em uma dada elevação do perfil em
relação a um nível inferior, sendo este, portanto, de menor energia.
 Hidrostática: representa a força da pressão positiva do peso da água em
solos saturados e aquíferos.

8.1.2 Retenção de água no solo

Os solos variam muito na sua capacidade de retenção de água, em função de


algumas características, como textura, natureza da argila, matéria orgânica e
estrutura. Fatores antrópicos, como a compactação do solo, também influenciam a
sua capacidade de retenção de água e, consequentemente, a disponibilidade de água
para as plantas.
Vamos imaginar que, por meio da chuva ou da irrigação, a água vai sendo
adicionada a um solo seco, que, aos poucos, vai penetrando nos poros e aderindo à
sua matriz (sólidos do solo), de maneira que os espaços entre as moléculas e as
partículas sólidas vão aumentando. Quanto mais distantes as moléculas de água
estiverem da superfície das partículas, com menos energia elas estarão retidas. Se a
água é incorporada continuamente a um solo seco, ela será aderida por ele com
menos energia, até o ponto em que a distância entre as moléculas de água e a matriz
do solo ainda permita a atração entre uma e outra. Conforme essa distância vai
aumentando, a força da gravidade aumenta até superar as forças de adesão e coesão,
e, assim, a água pode começar a percolar solo abaixo (LEPSCH, 2011).

8.1.3 Movimento da água no solo

Toda água que cai sobre a superfície da Terra se movimenta na forma líquida
para os oceanos e na forma de vapor para a atmosfera, participando do sistema solo-
planta (evapotranspiração). Esse movimento ocorre, sobretudo, na forma líquida, e
somente uma pequena parcela se dá na forma de vapor. Portanto, temos basicamente
três tipos de movimento de água no solo, descritos a seguir (LEPSCH, 2011; BRADY;
WEIL, 2013).
49
 Fluxo saturado: quando os fluxos ocorrem em percolação de água na forma
livre, em resposta à força da gravidade. Aqui, os poros do solo estão completamente
preenchidos por água.
 Fluxo não saturado: acontece quando a água é retida por adesão, ou seja,
quando os poros maiores do solo estão cheios de ar, deixando apenas os poros
menores para reter e conduzir água.
 Movimento de vapor: diferenças de pressão de vapor se desenvolvem em
solos relativamente secos.

8.2 Relações solo-planta-água

De acordo com Lepsch (2011), a quantidade de água de que as plantas


necessitam para sua sobrevivência compreende a porção que retorna à atmosfera em
forma de vapor pelo efeito da transpiração das folhas e da evaporação da superfície
do solo. Todo esse processo recebe o nome de evapotranspiração.
Para uma quantidade adequada de água às plantas, é preciso considerar:
1. a quantidade e a distribuição de água precipitada e/ou irrigada;
2. a capacidade de armazenamento de água disponível do solo; e
3. a evaporação potencial do local.
A evaporação potencial indica a quantidade de água que passaria pela planta,
somada àquela que evaporaria do solo, quando úmido. Tendo em vista que essa
situação nem sempre acontece, é preciso considerar a evapotranspiração real, ou
seja, a evapotranspiração que realmente ocorre com as variações de umidade do solo.

8.3 Fatores que afetam a quantidade de água disponível para as plantas

A seguir, serão descritos os fatores que influenciam a quantidade de água


disponível às plantas.

8.3.1 Textura

A textura é um dos fatores que afetam a quantidade de água disponível para


as plantas. Conforme a textura do solo fica mais fina, a capacidade de água disponível

50
aumenta nos solos arenosos para os francos e franco-siltosos. Em solos arenosos, a
vegetação tende a sofrer mais com a seca, se comparada à vegetação que se
encontra em solos franco-siltosos na mesma área. Por outro lado, normalmente, solos
argilosos fornecem menos água disponível do que solos franco-siltosos com boas
unidades estruturais, visto que as argilas tendem a ter um ponto de murcha
constantemente elevado (BRADY; WEIL, 2013).

8.3.2 Matéria orgânica

A matéria orgânica apresenta alta capacidade de retenção de água — a qual é


muito maior em áreas saturadas —, se comparada a um igual volume de material
mineral. Ela auxilia na estabilização das estruturas do solo e no aumento do seu
volume total, assim como no tamanho dos seus poros. A consequência dessas
funções é o aumento da infiltração, da capacidade de retenção da água e da
quantidade de água retida disponível para as plantas (ponto de murcha).

8.3.3 Compactação do solo

A compactação do solo reduz a capacidade de água disponível para as plantas,


pois as argilas se tornam mais unidas, o que aumenta a resistência do solo, podendo
limitar a penetração das raízes. (PARREIRA, 2018).

8.3.4 Salinização (potencial osmótico)

O aumento de sais solúveis em um solo, seja por condições naturais ou


antrópicas, eleva o seu potencial osmótico, podendo influenciar na absorção de água
no solo pelas plantas. Isso ocorre devido à tendência que o potencial osmótico tem
em reduzir o teor de água disponível. (PARREIRA, 2018).

8.3.5 Profundidade do solo

A quantidade de água disponível para uma dada profundidade corresponde à


profundidade efetiva do sistema radicular da cultura ou do vaso que contenha a planta.

51
9 ORGANISMOS E ECOLOGIA DO SOLO

O solo sustenta um ecossistema complexo, formado por uma comunidade


diversificada de microrganismos que é responsável pelo funcionamento do ciclo da
vida. A reciclagem dos resíduos orgânicos, a formação do húmus, a liberação do
dióxido de carbono, a fixação do nitrogênio, as relações simbióticas entre organismos
e plantas e as influências desses organismos na estrutura do solo são alguns dos
efeitos ocasionados pelas suas atividades e interações. (BACHA, 2018).
Os microrganismos do solo constituem elementos fundamentais à reciclagem
de nutrientes e à configuração de um ambiente pedológico ideal para a sustentação
dos ecossistemas superiores. Nesta seção, você vai estudar a diversidade de
organismos que habitam a pedosfera e vai descobrir a sua importância para a
sustentação da vegetação superior que alimenta a fauna da superfície. Você também
vai compreender as relações ecológicas que ocorrem na pedosfera e a sua
importância para o funcionamento do ciclo da vida.

Fonte: https://www.boletimambiental.com.br/

9.1 A pedofauna

O solo, tal como as florestas ou os oceanos, apresenta uma biodiversidade


riquíssima em variadas espécies, que ficam responsáveis pela ciclagem e pela
decomposição do material orgânico, resultando no aporte de nutrientes para o solo.
Muitas dessas espécies se utilizam de enzimas para corroer e destruir as substâncias
orgânicas deixadas pelos habitantes da superfície ou mesmo pelos próprios

52
habitantes do solo. Assim, o modo como o homem lida com o solo, pode beneficiar ou
prejudicar essa biodiversidade, que, apesar de aparentar aspectos repulsivos,
representa indicadores de um solo saudável e propenso a sustentar uma flora
abundante e diversificada (BRADY; WEIL, 2013).
No solo, é possível encontrar diversas espécies de artrópodes, vermes,
moluscos e demais organismos. No Quadro abaixo, são apresentadas algumas
espécies comuns representativas da fauna e da flora do solo. A fauna representa o
grupo dos animais, incluindo os protozoários unicelulares, e a flora representa o grupo
dos vegetais, incluindo as algas unicelulares e os microrganismos não animais. Os
seres vivos são classificados em três domínios, considerando a semelhança do
material genético (BRADY; WEIL, 2013):
 Eukaria, representando todas as plantas, os animais e os fungos;
 Bacteria; e
 Archaea.

Podem também ser classificados de acordo com o que comem:

 herbívoros — alimentam-se de plantas vivas;


 Detritívoros — alimentam-se de plantas mortas;
 Predadores — alimentam-se de outros animais;
 Fungívoros — alimentam-se de fungos;
 bacterívoros — alimentam-se de bactérias; e  parasitas — vivem à custa de
outros organismos, sem consumi-los.

O tamanho da fauna do solo varia em macrofauna (minhocas, tatus, besouros


etc.), mesofauna (pequenos colêmbolos, ácaros etc.) e microfauna (protozoários,
nematoides, etc.). O tamanho da flora também varia de raízes das plantas superiores
até as algas microscópicas. Fungos, bactérias e microrganismos tendem a predominar
numericamente e metabolicamente no solo. Os organismos heterótrofos dependem
de compostos orgânicos contidos em outros organismos. Já os organismos autótrofos
retiram o carbono do CO² e obtêm energia por meio da fotossíntese ou da oxidação
de outros elementos, conforme aponta Lepsch (2011) e Brady e Weil (2013).

53
Organismos do solo
Descrição e dimensão (mm) Taxonomia Exemplos de organismos
Macrofauna (>2 mm)
Roedores da família Geomyidae
Vertebrados (geômis), tatus, camundongos,
Organismos heterótrofos, ou seja,
toupeiras
organismos incapazes de
Artrópodes: formigas, cupins, aranhas,
produzir seu próprio alimento;
larvas de moscas, besouros e suas
podem ser herbívoros,
Invertebrados larvas, tatuzinhos, centopeias,
detritívoros ou predadores
milípedes (piolho de cobra) Anelídeos:
minhocas Moluscos: caracóis, lesmas
Macroflora
Autótrofos, ou seja, produzem Plantas vasculares Comedores de raízes
seu próprio alimento Briófitas Musgos
Mesofauna (0,1 – 2 mm)
A maioria representada por
organismos heterótrofos e Artrópodes Ácaros, colêmbolos
detritívoros
Outros representados por
Anelídeos Vermes enquitreias
organismos heterótrofos e
Artrópodes Ácaros, proturos
predadores
Microfauna (< 0,1 mm)
Nematoides Nematoides
Constituída por organismos
Rotíferos Rotíferos
detritívoros, bacterívoros,
Protozoários Amebas, ciliados, flagelados Besouros
fungívoros e predadores
Tardígrados aquáticos, Macrobiotus sp
Microflora (< 0,1 mm)
Pelos radiculares.
Constituída por organismos Plantas vasculares
Diatomáceas verdes, verde-
autótrofos, na sua maioria Algas
amareladas
Constituída por organismos Leveduras, oídios, mofos, ferrugens,
Fungos
heterótrofos, na sua maioria cogumelos
Aeróbicas, anaeróbicas
Bactérias
Algas verde-azuladas (autótrofos)
Constituída por organismos Cianobactérias
Vários actinomicetos heterótrofos
heterótrofos e autótrofos Actinomicetos
Metanotróficos, Thermoplasma sp.,
Arqueias
halófilos
Fonte: Adaptado de Brady e Weil (2013).

54
Um solo saudável pode conter uma riquíssima variedade de macro, meso e
microfauna. Essa variedade é sustentada pela abundância de alimentos e pelos
diferentes habitats encontrados no solo. Uma pequena porção de solo pode conter
muita ou pouca aeração, baixa ou alta acidez, umidade ou não, variação de
temperatura, concentração ou ausência de nutrientes ou minerais, ausência ou
acúmulo de organismos concorrentes. De acordo com Brady e Weil (op. cit.), as
populações tendem a se reunir em pontos favoráveis ao seu desenvolvimento,
provocando uma não uniformidade na sua distribuição no solo. Assim, os agregados
dos solos se constituem em verdadeiros habitats, oferecendo, em microescala, zonas
de abrigo, alimentos, isolamento genético e cenário para interação entre as espécies.
Para os pedólogos, a diversidade de espécies resultará na maior qualidade do
solo, pois este terá maior capacidade de realizar variados processos. O solo também
é considerado um celeiro de inovações genéticas, devido à imensa variedade de
espécies ali presentes. Por isso, e com o avanço da engenharia biológica, o solo tem
sido considerado um banco de DNA para exploração (BRADY; WEIL, 2013).

9.2 Os efeitos dos organismos do solo nas comunidades vegetais

Muitas comunidades de insetos, vermes e microrganismos fornecem nutrientes


às plantas, protegem suas raízes contra pragas ou doenças e ajudam a recuperar o
solo degradado pelas atividades humanas. Mas a grande contribuição dos organismos
está na sua capacidade de aproveitamento e reciclagem dos detritos vegetais, da
matéria morta, dos dejetos orgânicos da fauna e, até mesmo, do esgoto humano.
Esses materiais são sintetizados pelos microrganismos em novas substâncias, que
contribuirão para a estabilização dos agregados do solo e para a formação do húmus.
Arqueias, bactérias e alguns fungos assimilam o nitrogênio, o fósforo e o enxofre a
partir dos materiais orgânicos digeridos. O excedente desses elementos é excretado
no solo, tornando-os novamente disponíveis para as plantas superiores (BRADY;
WEIL, 2013) (LEPSCH, 2011).
Outra vantagem dos microrganismos está na sua capacidade de se alimentar
de substâncias muitas vezes tóxicas para as plantas, como os produtos agroquímicos
não sintéticos (LEPSCH, 2011). A atuação dos fungos e procariontes contra os
elementos tóxicos é facilitada nas camadas superiores do solo, que oferece maior

55
disponibilidade de oxigênio e matéria orgânica para a proliferação desses
microrganismos. Porém, estes também podem atuar nas camadas mais profundas do
solo ou mesmo na água, utilizando-se de processos anaeróbicos para efetuarem a
desintoxicação do ambiente (BRADY; WEIL, 2013).
A presença de microrganismos no solo é fundamental para a disponibilização
de elementos como o ferro e o manganês em formas não tóxicas para as plantas,
além de promover o controle da toxicidade em solos contaminados com cromo ou
selênio. Porém, um dos processos microbianos mais importantes é a fixação do
nitrogênio gasoso em compostos que possam ser utilizáveis pelas plantas (BRADY;
WEIL, 2013).
Em ecossistemas florestais, os actinomicetos do gênero Frankia conseguem
fixar grandes quantidades de nitrogênio, ao passo que as cianobactérias conseguem
fixar esse elemento tanto em áreas alagadas, favorecendo, por exemplo, as culturas
de arroz, quanto em áreas desérticas. As bactérias do tipo rizóbio representam o grupo
mais importante dos microrganismos que capturam o nitrogênio gasoso e o
disponibilizam para as plantas. Esse processo se dá por simbiose, em que essas
bactérias se fixam em nódulos radiculares localizados nas raízes dos vegetais.
(BRADY; WEIL, 2013).

Nódulos radiculares presentes nas raízes da planta. Dentro desses nódulos, o gás nitrogênio (N2 ) é
convertido em amônia (NH3 ).
Fonte: Lidiane Miotto/Shutterstock.com.
56
A superfície das raízes das plantas, denominada de rizoplano, bem como o
seu entorno, denominado de rizosfera, abriga uma grande quantidade de bactérias
especialmente adaptadas a viver nessas áreas. Essas bactérias são denominadas de
rizobactérias e são benéficas para as plantas, pois ajudam no crescimento dos
vegetais, na absorção dos nutrientes retirados do solo e na produção de hormônios
(BRADY; WEIL, 2013).

9.3 Organismos prejudiciais às plantas

Apesar da boa relação que alguns microrganismos têm com as plantas,


algumas situações podem transformar esses organismos em potenciais concorrentes
na obtenção de nutrientes como o nitrogênio ou mesmo o oxigênio. Em solos mal
aerados, as plantas concorrem com os microrganismos para a obtenção do escasso
oxigênio presente no solo. Solos muito deficitários em nitrogênio podem provocar a
concorrência das plantas com os microrganismos na obtenção desse elemento
(BRADY; WEIL, 2013).
A macrofauna também é prejudicial à vegetação. Roedores podem
comprometer árvores e plantações, lesmas e caracóis representam uma preocupação
para quem cultiva hortaliças, e nematoides e larvas de inseto representam um sério
risco a vários tipos de lavoura. Os fungos também são responsáveis por inúmeros
problemas causados nas plantas. Apodrecimento da raiz, ferrugem, murcha da folha
e tombamento são alguns dos efeitos causados pelos fungos do gênero Pythium,
Fusarium, Phytophthora e Rhizoctonia. Sua permanência no solo pode acontecer por
um longo período. Outras bactérias que habitam a rizosfera ou o rizoplano também
podem ser prejudiciais, inibindo o crescimento e as funções das raízes, causando
murchamento foliar, descoloração, nanismo, deficiência de nutrientes e até a morte
da planta afetada (BRADY; WEIL, 2013).
O controle das doenças das plantas se dá por meio de um adequado manejo
do solo, como por meio da quarentena, que visa a restringir a transferência dos
patógenos de uma área para outra. A regulagem do pH do solo representa um
método eficaz no combate a doenças, podendo ser um pH baixo (<5,2), para controlar
o actinomiceto causador da sarna da batata, por exemplo, ou um pH próximo a 7,0,

57
dificultando a germinação dos esporos fúngicos causadores da hérnia das crucíferas
(BRADY; WEIL, 2013).
Os elevados níveis de adubação também favorecem o surgimento de doenças
fúngicas. Assim, altos níveis de amônia (NH³) aumentam as murchas causadas por
fungo Fusarium. Porém, adubos potássicos, bem como elevados níveis de cálcio e
manganês, ajudam a combater os fungos. Portanto, é muito importante o equilíbrio
nutricional do solo para mantê-lo saudável e resistente aos ataques de
microrganismos patógenos. Uma das formas para se obter esse equilíbrio se dá por
meio da rotação entre culturas (BRADY; WEIL, 2013).
As propriedades físicas do solo também influenciam a proliferação de
organismos patógenos. A compactação do solo cria um ambiente mal areado e úmido,
favorecendo o desenvolvimento de fungos, além de dificultar o crescimento das
raízes, que, por isso, são estimuladas a excretar substâncias que acabam por atrair
os organismos patógenos. Uma temperatura adequada e uma boa drenagem do
solo podem impedir o surgimento de diversas doenças. Outro fator importante é a
presença de bactérias e fungos benéficos, que agem como agentes inibidores de
diversos organismos prejudiciais às plantas (BRADY; WEIL, 2013).

9.4 A ecologia do solo

As plantas e os animais da superfície influenciam ou são influenciados pelos


organismos da pedofauna, seja de forma direta ou indireta. De forma direta, a
influência pode acontecer por meio de danos causados pelos fungos às plantas
superiores, a partir dos benefícios gerados pelas interações das bactérias na rizosfera,
ou ainda por meio dos dejetos de origem animal benéficos para o crescimento das
populações de microrganismos. De forma indireta, a influência ocorre por meio das
complexas relações geradas na cadeia alimentar dentro do solo, resultando em
nutrientes importantes para as plantas que vão alimentar e nutrir a fauna superior
(BRADY; WEIL, 2013).
As simbioses entre as plantas e os organismos não se restringem à rizosfera
ou à fixação do nitrogênio. Outras formas de interação ocorrem fora do solo, como é
o caso dos líquenes, que se fixam sobre os troncos ou as rochas, e das crostas
microbióticas, que se fixam sobre a superfície dos solos de regiões áridas (BRADY;
WEIL, 2013).
58
As crostas microbióticas são associações mutualísticas entre organismos da
microflora (fungos, algas, musgos, bactérias) que se formam na superfície de solos
de regiões áridas. Essas crostas são de cor escura e se distribuem irregularmente na
superfície em áreas situadas entre as moitas de vegetação e os arbustos. Trata-se de
uma associação ocasionada por condições ideais de temperatura, umidade, nutrientes
e ausência de poluição, fazendo desses organismos, excelentes indicadores de
ambientes preservados e equilibrados. As crostas microbióticas, além de fornecerem
nutrientes para as plantas, ajudam na reciclagem do material orgânico, contribuem na
produção de matéria orgânica e melhoram a infiltração da água. Porém, são
extremamente sensíveis a perturbações causadas na superfície, como o pisoteio ou
mesmo fortes chuvas ou ventos (BRADY; WEIL, 2013).

Crostas microbióticas em um solo árido do Arizona (Estados Unidos).


Fonte: Corrie Mick/Shutterstock.com.

No estudo realizado por Gonçalves (2019), a autora levantou vários trabalhos


de diversos autores que evidenciaram as relações ecológicas abaixo e acima do solo.
Por exemplo, Blomqvist et al. (2000) estudaram interações multitróficas, em que
animais vertebrados pastando na superfície, influenciavam as formigas amarelas a
cavarem mais profundamente o solo, criando montes de terras mais altas na
pastagem. Esses montes de terras removidos apresentavam menor teor de umidade,
diferenças na densidade, no pH e no teor de nutrientes, favorecendo, assim, o
desenvolvimento de outras espécies vegetais sobre estes montes, gerando
diversidade vegetacional nas pastagens.
59
A respeito da conservação da biodiversidade do solo, Gonçalves (2019)
observa que tanto os fatores bióticos quanto os abióticos têm a sua devida
importância, não podendo indicar exclusivamente um ou outro fator, como sendo o
principal.
A alteração da paisagem natural para sustentar as atividades agrícolas muda
drasticamente o equilíbrio da biota do solo. As monoculturas ou mesmo as culturas
rotativas oferecem rizosferas limitadas, quando comparadas com as florestas e
demais formações naturais. As operações de preparo do solo com maquinário
representam perturbações invasivas para o ecossistema do solo, provocando o
rompimento das redes de hifas de fungos, a destruição das tocas de minhocas e a
perda de matéria orgânica (BRADY; WEIL, 2013).
Por outro lado, o preparo reduzido do solo associado à adição de esterco
estimula a atividade e o crescimento de minhocas e outros organismos da microfauna.
A influência dos pesticidas na ecologia do solo é variável, podendo tanto estimular o
crescimento de determinados microrganismos quanto reduzir ou exterminar outros.
Assim, os efeitos das intervenções humanas sobre o solo são difíceis de mensurar,
devido às complexas inter-relações entre os organismos e o ambiente pedológico
(BRADY; WEIL, 2013).
Com isso, para a conservação dos ecossistemas florestais, é necessária uma
correta compreensão da ecologia da fauna e da flora do solo. O sucesso de programas
conservacionistas ou de recuperação de áreas degradadas depende de uma correta
compreensão da complexidade das interações ocorridas na rizosfera, bem como do
equilíbrio das comunidades da microfauna. Trata-se, portanto, de enxergar o solo
como um ambiente contendo uma rica diversidade de organismos, que estabelecem
importantes relações que resultam no correto funcionamento do ciclo da vida.

Fonte: https://digital.agrishow.com.br/
60
10 POLUIÇÃO DOS SOLOS

Nos dias de hoje, o solo se tornou um dos principais depósitos para os


manufaturados descartados pelo homem. Esses produtos feitos à base de compostos
orgânicos, tais como plásticos, lubrificantes, conservantes, pesticidas, combustíveis e
solventes, provocam efeitos diversos durante a sua composição, liberando fluidos
tóxicos para o meio ambiente. Além disso, o solo está constantemente exposto a
acidentes e ao manejo inadequado, causando, com isso, alterações em seus atributos
naturais e comprometendo tanto a sua funcionalidade quanto a sua existência.
As características físicas do solo, como a sua estrutura e porosidade, e suas
características químicas, como a presença de nutrientes ou pH equilibrado, podem
atuar como importantes elementos na sustentação da vegetação para o benefício das
atividades agrícolas.
Nesta seção, você vai aprender sobre as principais fontes e formas de poluição
do solo, identificando como a degradação física afeta a sua estrutura e a sua
funcionalidade e compreendendo como a degradação química compromete o
desenvolvimento da vegetação e a qualidade do ambiente pedológico.

10.1 Problemas dos resíduos gerados pelas atividades antrópicas

A produção de resíduos intensificou-se a partir da Revolução Industrial, com o


aprimoramento das manufaturas e da confecção de bens constituídos por elementos
e compostos mais complexos, à medida que a química e a descoberta de minerais se
desenvolviam. O crescimento das cidades também colaborou para o declínio da
qualidade do ambiente, comprometendo a água e o solo devido ao acúmulo de rejeitos
provenientes de uma população cada vez mais numerosa. (BACHA, 2018).
A norma ABNT NBR 10004:2004 define resíduos sólidos como resíduos no
estado sólido ou semissólido resultantes das atividades antrópicas, que podem ter
origem nas indústrias, nas atividades comerciais e residenciais, nos serviços
hospitalares, na agricultura e até mesmo nos serviços de tratamento e
descontaminação do meio ambiente, seja da água, do solo ou do ar.
O resíduo é classificado de acordo com a sua composição, natureza física,
origem e a periculosidade que apresenta. A norma ABNT NBR 10004:2004 classifica

61
a periculosidade em classe I (resíduos sólidos perigosos), classe IIa (resíduos sólidos
não inertes) e classe IIb (resíduos sólidos inertes). Os resíduos da classe I podem ser
inflamáveis, corrosivos, tóxicos, reativos ou apresentar contaminantes patogênicos,
sendo, por isso, perigosos para o meio ambiente. Já a classe IIa possui propriedades
como inflamabilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Por fim, a classe
IIb representa os resíduos que podem ser dispostos em aterros sanitários por serem
constituídos de materiais não solúveis ou não alterados quando em contato com a
água (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).
De acordo com as atividades humanas, o destino final de determinados
resíduos é normatizado. Por exemplo, a Resolução CONAMA nº 358, de 29 de maio
de 2005, regulamenta o descarte oriundo das atividades biomédicas (hospitais,
clínicas, laboratórios clínicos ou de pesquisa, companhias farmacêuticas), indicando
que os seus resíduos devem ser incinerados ou dispostos em valas especiais dos
aterros após o tratamento prévio. Para as pilhas e baterias inutilizadas, a Resolução
CONAMA nº 257, de 30 de junho de 1999, determina a devolução ao fabricante e/ou
importador, que fica responsável não só pelo recolhimento, como também pelo
tratamento final, que deve atender à legislação vigente. Essa medida visa a evitar a
contaminação do ambiente por resíduos como chumbo, cádmio, níquel e mercúrio,
utilizados na fabricação desses materiais (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).
As formas de disposição e destinação final dos resíduos serão descritas a
seguir:
 Vazadouros a céu aberto ou lixões: representam o meio mais barato e
mais danoso ao meio ambiente. Eles não possuem custo de tratamento nem controle,
e os resíduos são lançados e acumulados sobre o solo, gerando várias consequências
ao entorno, como a formação e a percolação de chorume no solo, ou a sua lixiviação
superficial para as bacias de drenagem nos eventos de chuva. O chorume é formado
por ácidos orgânicos voláteis, como ácido acético, ácidos graxos, bactérias e sais de
íons inorgânicos (p. ex., Ca²+). (FERRAZ; BIZZO, 2012).
 Vazadouros em áreas alagadas: são áreas como mananciais, mangues,
leitos de rios, áreas alagáveis, lagoas, riachos, ribeirões e até mesmo mares e praias
que recebem clandestinamente o descarte dos resíduos antrópicos. (FERRAZ;
BIZZO, 2012).

62
 Aterros controlados: nome inadequado, pois trata-se de um local onde os
resíduos são depositados e simplesmente cobertos por terra e vegetação. Isso evita
o mau cheiro e a presença de insetos e outros vetores, mas não resolve o problema
dos subprodutos líquidos e gasosos gerados pela decomposição do material. Além
disso, nenhum tratamento é dado ao chorume produzido, que permanece disponível
para percolar no substrato pedológico ou ser lixiviado pelas águas da chuva.
(FERRAZ; BIZZO, 2012).
 Aterros sanitários: locais apropriados para a destinação final dos resíduos.
O terreno é devidamente impermeabilizado (manta impermeável ou argila), são
instalados drenos na base para a coleta de chorume e tubulações da base ao topo
para escape dos gases produzidos pela combustão. Esses gases são queimados ao
serem expelidos, ao passo que o chorume é direcionado para um tanque
impermeabilizado, no qual, posteriormente, é tratado, sendo a sua água devolvida
para uma lagoa. O aterro normalmente é circundado por área reflorestada, e sua
estrutura é monitorada e construída, a fim de evitar desabamento ou desagregação
do material amontoado. Após atingir os limites de altura e capacidade previamente
estabelecidos em estudos, o aterro sanitário não recebe mais resíduos, e o seu
encerramento só se dá após a total extração e tratamento do chorume e liberação e
queima do gás. A superfície do aterro é reflorestada, e a sua área é cercada para
evitar invasão, ficando desabilitada para obras ou uso humano por algumas décadas.
(FERRAZ; BIZZO, 2012).
 Centros de transbordo: podem ser contêineres que recebem o lixo de
caminhões de coleta. Posteriormente, esses dispositivos são levados para os aterros
sanitários. Os resíduos podem ser prensados, a fim de aumentar a capacidade de
armazenamento. Trata-se de uma forma paliativa para lidar com a falta de espaço ou
a indisponibilidade momentânea de áreas próprias para o depósito final. É importante
ressaltar que os centros de transbordo não são áreas de destinação final dos resíduos,
e sim áreas de concentração para posterior recolhimento deles. (FERRAZ; BIZZO,
2012).
 Centros de triagem: locais onde os resíduos sólidos são separados (metais,
vidros, papelões, plásticos) para posterior comercialização. O material orgânico
separado pode seguir para a compostagem. (FERRAZ; BIZZO, 2012).

63
 Centros de compostagem: locais próprios para depositar os materiais
orgânicos retirados do centro de triagem. Nesses centros, os resíduos orgânicos
sofrem decomposição aeróbia, formando matéria orgânica própria para a deposição
no solo. (FERRAZ; BIZZO, 2012).
 Centros de incineração: locais onde se processa a queima dos resíduos
baseados no carbono (restos de comida, resíduos de jardins, papéis, plásticos). A
incineração utiliza ar para que a combustão seja mais completa, e os resíduos gerados
por esse processo são efluentes gasosos, cinzas, escórias e energia térmica, que,
dependendo do projeto, podem ser aproveitados para a geração de energia
termoelétrica. (FERRAZ; BIZZO, 2012).

Tanque de chorume drenado do edifício do aterro para posterior tratamento e devolução da água ao
meio ambiente — Aterro São João, São Paulo/SP.

10.2 Contaminantes inorgânicos

Os contaminantes inorgânicos são mais perigosos que os contaminantes


radioativos e orgânicos. Os elementos principais do grupo dos contaminantes
inorgânicos são: mercúrio, cádmio, arsênio, chumbo, níquel, cobre, zinco, cromo,
molibdênio, manganês, selênio, boro e flúor. De acordo com a dosagem, esses
elementos são tóxicos aos seres humanos e aos animais.
O arsênio (As) acumulou-se por anos no solo, em virtude de ter sido muito
utilizado em inseticidas para diversas culturas. Trata-se de um elemento-traço
64
presente em muitos minerais, que, se absorvido pelo organismo humano, pode
acometer diversas enfermidades, como câncer, doenças cutâneas, vasculares, entre
outras. O chumbo (Pb) pode ser encontrado como componente de antigas tintas ou
liberado nas descargas de gases de veículos. Quando presente no solo, é fixado tanto
sob a forma de carbonato e sulfato como na forma de óxidos de ferro, alumínio e
manganês, permanecendo indisponível para as plantas ou imune à lixiviação (BRADY;
WEIL, 2013).
O boro (B) pode estar presente na água de irrigação ou em adubos minerais.
Além disso, pode ser encontrado nas escórias de siderurgias, estas sendo
subprodutos das usinas siderúrgicas e largamente utilizadas na correção da acidez
do solo. A toxicidade do flúor (F) é pontual, ou seja, pode estar presente na água ou
nos vapores oriundos dos processos industriais. Quando adsorvido nas partículas do
solo, a sua absorção pelas plantas é restrita (BRADY; WEIL, 2013).
O mercúrio (Hg) é liberado pela queima do carvão mineral, sendo bastante
tóxico e bioacumulável. A sua forma insolúvel nos solos é convertida pelos
microrganismos em metilmercúrio (sua principal forma orgânica), e ele é absorvido por
plantas e animais, acumulando-se nos tecidos gordurosos destes últimos. O cromo
(Cr) é muito utilizado em aços, ligas metálicas e pigmentos de tinta e, assim como o
arsênio, é cancerígeno quando absorvido em doses elevadas. No solo, ele pode se
apresentar em dois estados oxidados: cromo III e cromo VI, este sendo a sua forma
mais solúvel. O selênio (Se) tende a se acumular em grandes quantidades nos solos
de regiões áridas, e sua concentração nas plantas torna-as tóxicas para o consumo
(BRADY; WEIL, 2013).

10.3 Degradação física do solo

O depauperamento dos solos é um problema mundial que preocupa desde


pesquisadores até agricultores. Os sinais da degradação do solo são facilmente
perceptíveis, ao contrário da previsão de suas consequências e evolução.
Solo e vegetação são corpos interdependentes. A água e o ar conseguem
penetrar através das raízes das plantas, habilitando o ambiente pedológico a
desenvolver uma microbiota que dinamizará as trocas químicas no solo. Com a
retirada da vegetação, além da pedofauna, representada por macro e microrganismos,

65
a química da estrutura pedológica será alterada, comprometendo a sustentabilidade
do ambiente (LEPSCH, 2002). Assim, sempre que um solo estiver desprovido da sua
vegetação natural, ele estará exposto a uma série de fatores que comprometerão a
sua constituição. Dentre as formas de degradação física, a desertificação, a
degradação estrutural e a erosão (hídrica e eólica) são as mais prejudiciais para a
preservação do solo (LEPSCH, 2011).

10.3.1 Desertificação

A desertificação representa um estado de degradação física do solo em que os


grãos de argila, silte e areia se encontram completamente desagregados e sujeitos à
ação do vento e da chuva. Ela pode estar associada tanto a fatores antrópicos
(agricultura e pastoreio) quanto a fatores climáticos (áreas localizadas em regiões
áridas e semiáridas). No caso do uso incorreto do solo, a remoção da sua umidade
favorece o avanço dos pontos desertificados sobre as áreas ainda preservadas. Tal
fato é bastante comum ao redor do deserto do Saara, por exemplo.

Fonte: https://www.todoestudo.com.br/

10.3.2 Degradação estrutural do solo

A modificação dos agregados do solo constitui uma das principais formas da


sua degradação física. Os espaços porosos do interior do solo são extremamente
66
importantes para o desenvolvimento da biota e para a presença de gases, como O² e
CO². As interações químicas dependem indiretamente da presença dos poros no solo.
Assim, algumas práticas agrícolas ou usos de determinadas áreas alteram a sua
estrutura, inviabilizando o seu uso para o plantio, para o desenvolvimento da
vegetação ou mesmo para a captação e a infiltração das águas da chuva.
A compactação e o encrostamento constituem as principais alterações
estruturais no solo. A compactação é resultado da compressão mecânica do solo
pela força exercida tanto pelo maquinário quanto pelo pastoreio de rebanhos. O peso
do arado provoca compactação na parte inferior da camada revolvida, e o peso do
trator exercido através das suas rodas intensifica essa compactação, causando
dificuldades para o crescimento e a expansão das raízes nas zonas profundas do solo.
Assim, não só o pleno desenvolvimento da planta fica restrito, como também a
percolação da água nas zonas profundas do solo, causando problemas relacionados
com a umidade e o armazenamento hídrico (LEPSCH, 2002, 2011).
Já o encrostamento se dá quando as gotas da chuva caem diretamente sobre
a superfície do solo, promovendo, por meio do impacto, a dispersão das argilas ali
presentes. Como resultado, tem-se a diminuição da infiltração da água, porém esse
problema pode ser evitado com a cobertura do solo pela vegetação ou pela
escarificação da superfície através de material pontiagudo.

10.3.3 Erosão

A erosão é um problema que tem afetado os solos em várias partes do mundo.


Devido às diversas formas de exploração da terra, como aração, cultivo em áreas
íngremes, queimadas, pisoteio excessivo dos rebanhos, formação de taludes na
construção de rodovias, destruição da vegetação nativa e revolvimento do solo, o
surgimento da erosão tem se intensificado em vários pontos da superfície.
A erosão pode ser causada pelo vento (erosão eólica), formando grandes
nuvens de poeira, ou pela água (erosão hídrica), através das enxurradas. A erosão
hídrica pode ser laminar (ou superficial), em sulcos e em voçorocas (ou boçorocas). A
erosão laminar atua discretamente, removendo as camadas delgadas e uniformes
de solos das superfícies que não possuem cobertura vegetal. Dessa forma, ela se
torna um problema imperceptível e que pode evoluir para a erosão em sulcos. A

67
erosão em sulcos, por sua vez, é o resultado da concentração da enxurrada da água
em determinados pontos do solo, escavando e removendo gradativamente o material
pedológico. Se a enxurrada não for contida desde o início, os sulcos se aprofundarão
e promoverão o surgimento das voçorocas. Por fim, a erosão em voçorocas
representa a forma mais agressiva da erosão, uma vez que forma verdadeiros rasgos
no solo, podendo, inclusive, atingir o horizonte C (LEPSCH, 2002, 2011).

Voçorocas em paisagem na Ucrânia. Após estabilizar a erosão, o ambiente começa a se recuperar e


pode se transformar em refúgio para pássaros, que fazem seus ninhos nos barrancos.
Fonte: Yuri Kravchenko/Shutterstock.com.

Os fatores que afetam a erosão hídrica são: clima, natureza do solo, declividade
do terreno e manejo realizado. O clima afeta a erosão por meio da distribuição, da
quantidade e, principalmente, da intensidade das chuvas. A intensidade das chuvas
diz respeito ao volume de água descarregado em um curto espaço de tempo. É
importante ressaltar que chuvas rápidas, volumosas e formadoras de enxurradas
causam mais estrago ao solo do que as chuvas fracas e contínuas. Quanto à natureza
do solo, alguns solos são mais suscetíveis à erosão do que outros, a depender das
suas características físicas, principalmente a textura, a permeabilidade e a
profundidade. Os solos com textura arenosa são mais facilmente erodidos. Por
exemplo, os solos com horizonte B mais compactados e argilosos são menos
permeáveis e, por isso, mais erodidos do que os solos com horizonte B mais
permeáveis. Já os solos rasos com pouco ou nenhum horizonte B são mais erodidos,
pois a água acumula-se acima do embasamento rochoso que sustenta o solo,
encharcando todo o corpo pedológico, o que, consequentemente, promove a sua

68
desagregação e o seu escoamento. A fertilidade do solo também influencia na sua
maior ou menor erodibilidade, pois um solo fértil oferece condições para um
desenvolvimento mais robusto da vegetação, criando, assim, raízes mais consistentes
(LEPSCH, 2002).
A declividade ou o grau de inclinação do terreno influencia na velocidade da
enxurrada e, como consequência, no maior ou menor arrastamento das partículas.
Nas áreas planas, a água possui um tempo maior para infiltrar, o que não ocorre nos
relevos íngremes. Dessa forma, as regiões elevadas estão mais propensas à erosão,
principalmente se estiverem desprovidas de cobertura vegetal (LEPSCH, 2002).
Nas áreas elevadas, é comum a formação de ravinas, que constituem erosões
em forma de canais por onde o fluxo superficial se acumula, removendo o solo em
profundidades consideráveis (FRANCO, 2015).
Por fim, a forma de manejo do solo tem um papel fundamental no
desenvolvimento da erosão. O sistema de cultivo, a cobertura vegetal e o uso da terra
condicionarão uma maior ou menor mobilidade dos grãos. Os solos com superfície
preenchida por vegetação apresentam resistência à erosão, promovem uma melhor
absorção das águas das chuvas e, conforme o tipo de cultivo, a desagregação das
partículas e o seu transporte, podem variar. Assim, plantações perenes (p. ex.,
laranjeiras) ou semiperenes (p. ex., cana-de-açúcar) apresentam um grau de erosão
menor, se comparadas com os cultivos anuais de milho ou algodão, por exemplo
(LEPSCH, 2002).

10.3.4 Degradação química do solo

A degradação química do solo representa um problema que não pode ser


percebido visualmente: a perda de nutrientes do solo, provocada, principalmente, pela
retirada da vegetação natural. O solo desnudo fica submetido à lixiviação de seus
elementos pela ação da água, e estes não podem mais ser repostos, devido à
ausência da vegetação.
A planta retira água e elementos nutritivos do solo para serem metabolizados e
oferecerem condições para o seu desenvolvimento. Ao chegar ao final da vida, ela
passa pelo processo de decomposição, que culmina na devolução de todos os
nutrientes retirados do solo anteriormente. Dessa forma, a decomposição da planta

69
representa a mineralização dos elementos, que são novamente adsorvidos pelas
argilas e pelo húmus do solo. Assim, esses elementos ficam novamente
disponibilizados para serem reutilizados pelas novas plantas que ocuparão o lugar
(LEPSCH, 2011).
Diante disso, a eliminação da vegetação representa, de forma indireta, a
retirada dos nutrientes que poderiam ser devolvidos ao solo. A ausência de reposição
dos cátions básicos trocáveis, como o cálcio (Ca²+) e o magnésio (Mg²+), permite que
os íons de hidrogênio (H+) presentes na água passem a substituí-los nos coloides
(argilas e húmus), promovendo, assim, o aumento da acidez do solo. Alguns tipos de
solos têm grandes reservas de minerais, ao passo que outros possuem um estoque
limitado, restringindo a sua capacidade de sustentar cultivos por longos períodos.
Além disso, existem solos com nutrientes mínimos, que não permitem cultivos sem
antes passarem por algum tipo de correção (LEPSCH, 2011).
Os cátions básicos são facilmente dissolvidos na água e lixiviados pela chuva.
Em seu lugar, os íons de hidrogênio (H+) ocupam os espaços deixados. Com o tempo,
esses íons são substituídos pelos íons de alumínio (Al3+), elemento muito tóxico para
o desenvolvimento da planta (LEPSCH, 2011).
Considerando-se a ação constante da água, os solos ácidos são mais comuns
em ambientes tropicais, onde se precipita um grande volume de chuva. Trata-se de
uma situação normal para esses ambientes, porém a retirada da vegetação intensifica
ainda mais a acidez natural desses solos, agravando não só as práticas agrícolas,
como também dificultando os programas de recuperação das áreas desflorestadas
(LEPSCH, 2002).
Além do processo natural de acidificação do solo, as indústrias e os veículos
emitem fumaças ricas em enxofre (S) e nitrogênio (N), o que provoca a acidez das
chuvas, que poderão se precipitar sobre as zonas de cultivo e as áreas naturais. Para
o controle da acidez do solo, utilizam-se práticas edáficas, como o uso de adubos para
compensar a perda de nutrientes e de corretivos para regular o seu pH. No entanto,
esses produtos possuem elementos químicos, e o excesso da sua aplicação pode
provocar não só a contaminação do solo, como também da água subterrânea ou
superficial.

70
10.3.5 Salinização

A salinização resulta no acúmulo de sais na superfície do solo. Trata-se de um


processo de alcalinização, em que sais como cloreto de sódio, cálcio, magnésio e
potássio se acumulam naturalmente no solo, em virtude das condições climáticas e
pluviométricas da região.
A salinização se dá principalmente nas áreas de clima árido e semiárido, onde
as chuvas ocorrem de forma concentrada e em um curto espaço de tempo durante o
ano. Nas áreas costeiras, a maresia e a inundação da água do mar são responsáveis
pelo processo de salinização do solo local. Já nas regiões áridas, os solos
normalmente são pouco desenvolvidos e apresentam infiltração deficitária,
prejudicando o fluxo interno da água, que é facilmente evaporada do perfil. Assim, os
sais dissolvidos permanecem no solo, sendo realocados e acumulados nas camadas
superiores ou mesmo na superfície. A alta proporção relativa de sódio em relação a
outros cátions compromete a capacidade de infiltração do solo, pois o acúmulo de
sódio promove a dispersão das argilas, provocando a desestabilização da estrutura,
a diminuição da macroporosidade e o endurecimento dos torrões.

Salinidade nos solos do sul da Índia dificultando as práticas agrícolas.


Fonte: Maksimilian/Shutterstock.com

O excesso de irrigação também pode causar a salinização. Nas regiões áridas


e semiáridas, a água do lençol freático costuma ter um teor de sais mais elevado, de
modo que a irrigação nesses locais pode provocar a elevação do nível freático por
meio da ascensão capilar. O perfil pedológico, umedecido pela irrigação, sorve a água
71
salobra do lençol freático, fazendo-a ascender pelos capilares que se encontram entre
o lençol e o solo. Assim, ao preencher o perfil, a água começa a evaporar devido à
aridez do ambiente, deixando no solo os sais anteriormente dissolvidos.
Para solucionar o problema da salinização, faz-se necessária a formação de
um sistema de drenagem nas partes baixas do terreno, para a retirada da água
contendo sais dissolvidos. Todavia, se o solo estiver com a permeabilidade
comprometida pelo acúmulo de sódio, é preciso acrescentar sais de cálcio (gesso)
junto à água, para que estes floculem (aglutinem) as argilas, separando-as do sódio
dissolvido, que, assim, poderá ser drenado do perfil. Além disso, é importante utilizar
água de boa qualidade durante a irrigação, a fim de evitar o acréscimo de sais contidos
em águas de origem desconhecida (LEPSCH, 2011).

10.3.6 Arenização

A arenização é um processo que ocorre em locais onde existem depósitos


arenosos pouco ou não consolidados, em que o sistema radicular das plantas
apresenta dificuldades em fixar suas raízes, em virtude da mobilidade do material
sedimentar por ação das chuvas e dos ventos. Esse tipo de degradação ocorre em
regiões de clima úmido e se diferencia de uma região desértica, por apresentar um
potencial biológico não característico dessa região. Estima-se que, no estado do Rio
Grande do Sul, existam regiões de ocorrência desse processo, na região que possui
fronteira com Argentina e Uruguai. Nesses locais, é possível encontrar areais que
ocupam territórios pertencentes a nove cidades (FLORES et al., 2002).

Arenização em Manoel Viana – RS


Fonte: https://docplayer.com.br/
72
10.3.7 Acidificação

A acidificação dos solos é um processo que pode ocorrer de maneira natural,


pela ação do intemperismo, em regiões que apresentam elevados volumes de
precipitação, o que promove a lixiviação das bases dos solos. Ocorre também por
meio da produção de íons de hidrogênio, resultantes das reações químicas que
ocorrem no solo envolvendo ácido carbônico e outros ácidos orgânicos, que são
originados das raízes das plantas e dos microrganismos presentes no solo. Esses
processos ocorrem de forma natural. Porém, com o uso dos solos para fins agrícolas,
a acidificação é acelerada; dessa forma, ocorre a degradação e a modificação dos
solos (BRADY; WEIL, 2013).
O uso de fertilizantes nitrogenados em excesso, principalmente os de origem
amoniacal, que não são utilizados pelas plantas, acaba acidificando os solos. Além
disso, os dejetos de animais, o lodo e o esgoto produzido nas cidades alteram o pH
dos solos, em virtude das reações de oxidação do nitrogênio e dos ácidos orgânicos
e inorgânicos produzidos na decomposição. A acidificação dos solos prejudica o
desenvolvimento das culturas, tornando o alumínio, um elemento tóxico para as
plantas, disponível, e o fósforo indisponível (BRADY; WEIL, 2013).

Representação da formação da chuva ácida pelos poluentes, da acidificação do solo e da lixiviação


de nutrientes.
Fonte: Brady e Weil (2013, p. 318).
73
A produção de gases pelas indústrias, pelos automóveis e pela geração de
energia aporta maior quantidade de nitrogênio e enxofre na atmosfera, que reagem,
originando as moléculas HNO³ e H²SO4, responsáveis pela chuva ácida. Esta, por
sua vez, tem efeito sobre os organismos aquáticos; observa-se, então, a morte de
peixes. Nas florestas, a chuva ácida promove a lixiviação das bases, em especial do
cálcio, que é um nutriente essencial para a produção de madeira (BRADY; WEIL,
2013).

11 PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS

A utilização dos recursos naturais, quer seja para o cultivo de alimentos ou para
a engenharia civil, deve ser realizada com planejamento e técnicas que visem à
conservação dos recursos, diminuindo os possíveis impactos da atividade. Dessa
forma, o entendimento dos processos que levam um solo à degradação e dos fatores
que estão envolvidos diretamente nesses processos precisa ser levado em
consideração. Nesse sentido, os órgãos responsáveis pelas políticas ambientais se
utilizam de modelos que expressam a predição da erosão dos solos e levam em
consideração diferentes fatores que envolvem a erosão do solo e que agem de forma
conjunta. Esses modelos se baseiam na equação universal de perda de solo,
expressa por (BRADY; WEIL, 2013):

A = R × K × LS × C × P

Onde:
A = perda de solo anual prevista
R = erodibilidade da chuva
K = erodibilidade do solo
L = comprimento da encosta
S = gradiente ou inclinação da encosta
C = cobertura e manejo
P = práticas conservacionistas

74
O resultado desse modelo permite estimar a quantidade de água que penetra
no solo, a quantidade que é perdida superficialmente e, principalmente, o volume de
solo que é transportado (BLADY; WEIL, 2013). O fator R representa a força motriz
que as chuvas podem apresentar, causando erosão do tipo laminar e em sulcos. Na
obtenção desse valor, é levado em consideração o somatório da precipitação pluvial
total, a intensidade e a sua distribuição. Esses valores são obtidos por meio de
observação por um longo espaço de tempo e são modificados em função do local.
Dessa forma, ao se projetarem obras de construção civil, esse fator se torna um bom
referencial para reduzir possíveis danos ocasionados pela erosão (BRADY; WEIL,
2013).
O fator K se refere à erodibilidade de um solo e indica a quantidade de solo
perdido por unidade de energia erosiva da chuva, que é obtida por meio de uma
parcela que possui medidas conhecidas (22 m de comprimento e 9% de declividade),
em que o solo é mantido descoberto. A capacidade de infiltração de um solo e a sua
estabilidade estrutural são os principais fatores que influenciam a tendência de erosão
de um solo, em que uma maior taxa de infiltração indica que o solo apresenta uma
menor probabilidade de sofrer o processo de escoamento superficial e formação de
poças. A estabilidade dos agregados diz respeito à resistência que os mesmos
apresentam, mantendo-se estruturados mesmo em volumes expressivos de
precipitação. Solos que apresentam um maior teor de argilas com presença de
hidróxidos de alumínio e ferro apresentam maior estabilidade, o que não é verificado
em solos que apresentam argilas expansíveis (BRADY; WEIL, 2013).
O fator LS representa a topografia do local e é mensurado a partir do
comprimento e da declividade da encosta; quanto maior o comprimento de uma
encosta, maior será a probabilidade de que a água adquira velocidade e a enxurrada
de concentre. Solos que estão localizados em regiões que apresentam um maior
comprimento, aliado à maior declividade, apresentam um maior valor de LS e maiores
riscos de erosão em sulcos e entressulcos (BRADY; WEIL, 2013).
O fator C representa a cobertura e o manejo do solo e possui grande influência
sobre a erosão e o escoamento superficial de um solo; os solos apresentam diferenças
de acordo com a espécie e o sistema de cultivo utilizado. Nesse sentido, as florestas
e vegetações densas, como os capinzais, oferecem uma maior proteção ao solo; já
as forrageiras perenes, como leguminosas e gramíneas, oferecem uma proteção em

75
um nível intermediário, por apresentarem variabilidade em sua densidade ao longo do
ano. As culturas anuais, ou seja, que completam seu ciclo em um ano, fornecem uma
menor proteção ao solo, sobretudo no início do cultivo a campo, quando o solo fica
totalmente descoberto e, por isso, torna-se mais susceptível à erosão.

Redução da erosão entressulcos obtida com o aumento da porcentagem de solo coberto.


Fonte: Brady e Weil (2013, p. 322)

Em cultivos perenes, como os pomares, os espaçamentos entre as linhas de


cultivo são maiores, e é comum o cultivo de uma cobertura de solo que forneça
proteção permanente, bem como o uso de coberturas mortas, como o mulching. As
práticas de manejo da cobertura do solo, como a introdução de espécies que
produzem uma maior densidade de material vegetal em rotação com as culturas
anuais, apresentam ganhos no controle da erosão do solo e do escoamento
superficial. A adoção de preparos do solo conservacionistas aporta material vegetal
ao sistema, o que também contribui para esse fim. (BRADY; WEIL, 2013).
O fator P se refere à adoção de medidas de contenção da erosão do solo em
locais que possuam grandes valores de declividade. Dessa forma, o plantio de
cobertura vegetal, a utilização de resíduos e um manejo conservacionista do solo
devem ser implementados em conjunto com estruturas físicas de contenção e
medidas que busquem diminuir o fluxo de água que desce pela encosta na forma de
76
enxurrada. A perda de solo é estimada pela relação entre a perda de solo com o fator
de apoio e a perda de solo sem este. Portanto, o fator P sem a utilização de práticas
de apoio é igual a 1,0 (BRADY; WEIL, 2013).
O plantio em curvas de nível tem como finalidade diminuir o fluxo da
enxurrada, fazendo com que a água siga o caminho de acordo com o nível do terreno.
Para isso, são utilizadas fileiras de plantas, e pode ser utilizado o próprio solo na
construção de terraços para contenção do fluxo. Os canais devem conduzir a água
para fora do terreno.

Plantio de arroz em curva de nível.


Fonte: Reggie Lee/Shutterstock.com

As encostas que têm um comprimento maior apresentam uma maior


possibilidade de sofrer uma erosão do tipo laminar e em sulcos. Dessa forma, a
contenção é realizada em faixas dispostas transversalmente ao sentido da maior
inclinação. Devem ser cultivadas culturas que necessitam de um manejo mais
agressivo do solo, com movimento, como milho e batatas, e outra faixa contendo
culturas de grãos pequenos ou pastagem. Dessa forma, a água não adquire
velocidade para transportar o solo (BRADY; WEIL, 2013).
Outra forma de contenção da água em encostas são os terraços. Os mesmos
são indicados para diminuir o comprimento efetivo da encosta e a sua declividade. A
variação dos terraços na forma de patamares e o volume de água controlado são
utilizados no cultivo de arroz inundado, em que os terraços de base larga são mais

77
utilizados, por apresentarem menor desperdício de solo e menor manutenção. Nesse
sistema, a água é fornecida por um local de captação e flui lentamente no campo para
preencher os canais. Caso o volume exceda, a água é direcionada para um
escoadouro (BRADY; WEIL, 2013).

Cultivo em terraços.
Fonte: rifky naufaldy /Shutterstock.com

As práticas conservacionistas do solo buscam promover um menor impacto


sobre as atividades humanas no ambiente. Dessa maneira, nas práticas
convencionais, o preparo do solo é realizado com o revolvimento do solo e a retirada
da vegetação nativa, o que desestrutura os agregados do solo e promove a perda da
fertilidade natural, ao eliminar a matéria orgânica no solo e a vegetação. Ainda, faz-se
uso de queimadas, que deixam o solo desprotegido e sujeito à erosão (BRADY; WEIL,
2013).
O plantio direto é uma das técnicas de cultivo conservacionista, amplamente
difundida e utilizada na atualidade. Consiste em deixar uma cobertura morta sobre a
superfície, denominada palhada, e semear o solo utilizando uma plantadeira, que
permite abrir um pequeno sulco no solo e colocar as sementes em profundidade.
Outras técnicas podem ser implementadas, diminuindo-se o revolvimento do
solo e os tratos culturais e reduzindo-se os impactos no solo, principalmente a erosão
superficial (FILIZOLA et al., 2011).

78
Palhada no sistema de plantio direto de soja.
Fonte: Alf Ribeiro/Shutterstock.com

A utilização de implementos específicos para o cultivo conservacionista inclui o


escarificador, que permite uma movimentação mínima do solo para incorporação de
matéria orgânica em profundidade, mantendo a superfície do solo coberta (cerca de
30%). A cobertura morta possui inúmeras vantagens para o solo, preservando sua
superfície da erosão hídrica e aportando matéria orgânica, beneficiando o sistema
como um todo. Em regiões onde o inverno é mais marcado, deve-se prever a
semeadura de plantas de cobertura de inverno e, assim, manter o solo coberto durante
todo o ano. Nessas regiões, o solo, ao se manter coberto durante todo o ano,
apresenta um ganho em matéria orgânica nas camadas superficiais (BRADY; WEIL,
2013). Pode-se utilizar o plantio de culturas, como as leguminosas, as quais, além da
matéria orgânica, promovem um aporte de nutrientes ao sistema, sendo essa prática
conhecida como adubação verde (FILIZOLA et al., 2011).
Outras práticas de manejo conservacionistas podem incluir o consórcio de
culturas, em que se utilizam duas ou mais espécies que possuam hábitos de
crescimento distintos e ofereçam proteção ao solo conforme se desenvolvem. A
rotação de culturas é uma prática que prevê alternar o plantio de culturas em uma
mesma área, regulando os nutrientes absorvidos, além da utilização de agroquímicos
para controle de pragas e doenças. As práticas que visam ao controle da velocidade
da enxurrada, em locais onde a declividade é alta, como o cultivo em terraços, a
utilização de curvas de nível e o plantio em faixas, preveem a contenção da erosão
do solo (FILIZOLA et al., 2011).
79
A classificação do uso das terras é um sistema em que os solos são
classificados de acordo com a sua aptidão para o uso, indicando as práticas
necessárias para minimizar impactos como a erosão hídrica. De acordo com o Manual
para Levantamento Utilitário e Classificação de Terras no Sistema de Capacidade de
Uso (LEPSCH et al., 2015), os solos são classificados conforme descrito a seguir.
 Grupos de capacidade de uso: A, B e C, com base na intensidade de uso da
terra.
 Classes de capacidades de uso: I a VIII, com base no grau de limitação.
 Subclasses de capacidade de uso: IIs, IIIs, Va, com relação à natureza da
limitação.
 Unidade de capacidade de uso: IIs4, IIIe1, VIIe4, identificando as condições
específicas que podem afetar o seu uso e manejo.

Com base na capacidade de uso, tem-se a classificação descrita a seguir:


 Grupo A: compreende as classes I, II, III e IV, em que podem ser cultivadas
culturas anuais, perenes, pastagens, reflorestamentos ou proteção da vida silvestre.
 Grupo B: compreende as classes V, VI e VII, adaptadas para pastagens e/ou
reflorestamento e/ou proteção e manejo da vida silvestre, que podem ser utilizadas
com culturas especiais protetoras de solos e de encostas.
 Grupo C: compreende a classe VIII, imprópria para cultivos, pastagens ou
reflorestamento e indicada para preservação e conservação da natureza, recreação,
armazenamento de água e manejo sustentado da flora e fauna silvestres.
As subclasses de capacidade de uso são divididas em oito e representam as
limitações de seu uso, dentro do mesmo grupo de solos, sendo a última classe a que
mais apresenta limitações (LEPSCH et al., 2015).
Os problemas ocasionados pela erosão nas estradas estão concentrados na
falta de estruturas que possibilitem captar e manejar de forma adequada as águas
decorrentes das precipitações. Isso deveria ser feito de forma que a água renascente
dos campos não chegue nas estradas e que as águas da estrada não sejam
direcionadas para os campos e causem problemas de erosão nos mesmos (FILIZOLA
et al., 2011).
O controle da erosão no meio urbano deve ser baseado em um planejamento.
As cidades devem dispor de estudos preventivos, que visem a avaliar as áreas de

80
risco, a erosão urbana e os possíveis danos diretos e indiretos que poderão ser
ocasionados. A carta geotécnica é um documento elaborado em que constam as
características dos terrenos, identificando suas limitações e a aptidão a que se
prestam para sua ocupação. Devem ser mencionadas também as regiões
predispostas ao desenvolvimento de ravinas e voçorocas, e devem ser realizados
estudos de susceptibilidade às erosões, preventivos e corretivos, para que elas sejam
controladas de forma efetiva (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2007). A identificação
dessas áreas de risco deve fazer parte do plano diretor das cidades.
A elaboração de projetos de controle preventivo da erosão em meio urbano
deve levar em conta as atribuições geotécnicas do solo, em que devem ser
caracterizados fatores e mecanismos que estão relacionados à erosão do solo. Além
disso, deve ser abordado o aspecto urbanístico ao qual se refere a ocupação do
terreno (GUERRA et al., 2007).
De modo geral, o solo é um recurso natural essencial para a manutenção do
ecossistema terrestre, é um meio complexo e heterogêneo, não renovável, e sem este
não existiria vida. De acordo com a FAO (Organização para a Alimentação e
Agricultura), os solos saudáveis estão na base da agricultura familiar, na produção de
alimentos e na luta contra a fome e, ainda, cumprem um papel como reservatórios da
biodiversidade. (SOUSA, 2017).

Fonte: Cetesb - Companhia Ambiental


81
REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

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edição. Ed. Bookman. 2012.

EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos. 2013.

LEPSCH, Igo F. Formação e Conservação dos Solos. Ed. Oficina de Textos. 2


edição. 2010.

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de Graduação Tecnológica em Agricultura Familiar e Sustentabilidade. Disponível em
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/16169/Curso_Agric-Famil-Sustent_
Manejo-Biodinamico-Solo.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 29 jun. 2020.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10004:2004.


Resíduos sólidos – Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

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ambientalmente adequada para pilhas e baterias que contenham em suas
composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos. Diário Oficial da União,
Brasília, n. 139, seção 1, p. 28–29, 1999. Disponível em:
https://www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/36_09102008040356. pdf. Acesso
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84

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