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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E
EDAFOLOGIA
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
2 GÊNESE E FORMAÇÃO DOS SOLOS .................................................................. 6
2.1 A evolução dos estudos de solos na geografia ................................................... 6
3 O INTEMPERISMO DAS ROCHAS NA FORMAÇÃO DO SOLO ......................... 10
3.1 Agentes externos ou exógenos......................................................................... 11
3.1.1 Intemperismo .................................................................................................... 11
3.1.2 Erosão............................................................................................................... 13
4 OS PROCESSOS E OS FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS .................... 15
4.1 Fatores de formação dos solos ......................................................................... 15
4.2 Material de origem ............................................................................................ 16
4.3 Clima ................................................................................................................. 17
4.4 Organismos vivos ............................................................................................. 18
4.5 Relevo ............................................................................................................... 18
4.6 Tempo cronológico ........................................................................................... 19
5 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DOS SOLOS ........................................ 20
5.1 Conhecendo o perfil do solo ............................................................................. 20
5.2 Características morfológicas do perfil do solo .................................................. 21
5.2.1 Cor............... ..................................................................................................... 22
5.2.2 Textura............. ................................................................................................. 23
5.2.3 Estrutura....... .................................................................................................... 24
5.2.4 Consistência. .................................................................................................... 25
5.2.5 Cerosidade e superfícies de fricção .................................................................. 26
5.2.6 Cimentação, nódulos e concreções minerais ................................................... 26
5.3 Descrevendo um perfil de solo.......................................................................... 27
5.3.1 Objetivo da descrição morfológica .................................................................... 27
6 COMPOSIÇÃO GERAL DOS SOLOS .................................................................. 28
6.1 As composições líquidas dos solos .................................................................. 31
6.2 As composições gasosas dos solos ................................................................. 34
7 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS ........................................................................... 37
7.1 Níveis categóricos do sistema de classificação de solo .................................... 37
7.2 Distribuição geográfica dos solos brasileiros .................................................... 41
2
7.2.1 Argissolos (P).................................................................................................... 42
7.2.2 Cambissolos (C) ............................................................................................... 42
7.2.3 Chernossolos (M).............................................................................................. 42
7.2.4 Espodossolos (E) .............................................................................................. 42
7.2.5 Gleissolos (G) ................................................................................................... 42
7.2.6 Latossolos (L) ................................................................................................... 43
7.2.7 Luvissolos (L) .................................................................................................... 43
7.2.8 Neossolos (R) ................................................................................................... 43
7.2.9 Nitossolos (N) ................................................................................................... 43
7.2.10 Organossolos (O) ........................................................................................... 44
7.2.11 Planossolos (O) .............................................................................................. 44
7.2.12 Plintossolos (F) ............................................................................................... 44
7.2.13 Vertissolos (V) ................................................................................................ 45
8 SISTEMA ÁGUA-SOLO ........................................................................................ 46
8.1 Umidade e potencial da água no solo ............................................................... 47
8.1.1 Energia da água no solo ................................................................................... 47
8.1.2 Retenção de água no solo ................................................................................ 49
8.1.3 Movimento da água no solo .............................................................................. 49
8.2 Relações solo-planta-água ............................................................................... 50
8.3 Fatores que afetam a quantidade de água disponível para as plantas ............. 50
8.3.1 Textura......... ..................................................................................................... 50
8.3.2 Matéria orgânica ............................................................................................... 51
8.3.3 Compactação do solo ....................................................................................... 51
8.3.4 Salinização (potencial osmótico)....................................................................... 51
8.3.5 Profundidade do solo ........................................................................................ 51
9 ORGANISMOS E ECOLOGIA DO SOLO ............................................................. 52
9.1 A pedofauna...................................................................................................... 52
9.2 Os efeitos dos organismos do solo nas comunidades vegetais ........................ 55
9.3 Organismos prejudiciais às plantas .................................................................. 57
9.4 A ecologia do solo............................................................................................. 58
10 POLUIÇÃO DOS SOLOS...................................................................................... 61
10.1 Problemas dos resíduos gerados pelas atividades antrópicas ......................... 61
10.2 Contaminantes inorgânicos............................................................................... 64
3
10.3 Degradação física do solo ................................................................................ 65
10.3.1 Desertificação ................................................................................................. 66
10.3.2 Degradação estrutural do solo ........................................................................ 66
10.3.3 Erosão.......... .................................................................................................. 67
10.3.4 Degradação química do solo .......................................................................... 69
10.3.5 Salinização.... ................................................................................................. 71
10.3.6 Arenização.... .................................................................................................. 72
10.3.7 Acidificação..................................................................................................... 73
11 PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS ................................ 74
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82
4
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
5
2 GÊNESE E FORMAÇÃO DOS SOLOS
6
como a geologia, a agronomia, as ciências ambientais e a geografia, visto que o solo
é a base dos sistemas de produção agrícola e do desenvolvimento (ou da decadência)
de várias civilizações que dependem do uso desse recurso natural. (BERTOLLO,
2018).
Para realizar uma análise pedológica, são feitos estudos do perfil do solo no
meio natural, mediante a escavação de trincheiras. Na sequência, são descritas as
características do solo, como as propriedades dos horizontes e das camadas, a sua
cor, a sua reação a alguns materiais e a sua textura, por exemplo. Por meio da coleta
de amostras, os solos são categorizados de acordo com seus atributos, com base na
classificação de solos do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).
(BERTOLLO, 2018).
7
um recurso natural que ocupa todas as porções da superfície terrestre, como suporte
de toda a vegetação e da fauna, bem como das sociedades, das construções
humanas, das produções agrícola e silvícola e da criação de animais, demandando
um uso racional e a sua preservação.
O solo é um elemento poroso e biologicamente ativo que está em
desenvolvimento contínuo na crosta da superfície terrestre, como uma casca do
planeta, atuando sobre ele (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, [2020]).
O desenvolvimento da pedosfera, que é a camada mais externa do planeta, composta
pelo solo em constante processo de formação, ocorre por meio da interação entre a
atmosfera, que compõe o ar, a biosfera, que abrange toda a vida na Terra, a litosfera,
constituída por rochas e minerais, e a hidrosfera, que é a água em vários corpos
hídricos.
Os solos são compreendidos como elementos naturais compostos e
organizados, que ocupam certas superfícies do planeta e apresentam certas
características morfológicas. Seu estudo abrange os tipos de minerais que o
compõem, as suas propriedades químicas e físicas e o reconhecimento de processos
de origem e desenvolvimento. Tal estudo teve início em meados do século XIX e
evoluiu por meio de observações e registros. Os conceitos desenvolvidos nesse
período ainda são muito úteis para se obterem conhecimentos sobre o solo e a sua
aplicação para a nutrição das plantas e para entendê-lo como produto de
decomposição das rochas e como um corpo natural organizado (UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA, [2020]). Desde então, há um desenvolvimento contínuo
na área da ciência do solo, designada gênese de solos ou pedogênese. Essa
denominação vem da palavra pedon, que é utilizada para designar a menor porção ou
o menor volume de solo. Assim, um conjunto de pedons com as mesmas
características compõe o polipedon, que significa a repartição de um tipo de solo.
Cabe ressaltar que o solo é considerado um sistema aberto, pois troca tanto
matéria como energia nas formas de oxigênio, água líquida, vapor, gás carbônico e
outros com a atmosfera. Aqueles materiais que são solúveis, como o nitrato ou outros
orgânicos, são lixiviados do corpo do solo — isto é, são “lavados”. Os processos
físicos, químicos e biológicos que ocorrem no solo derivam da repartição desigual de
materiais nos horizontes e nos vários tipos de solos. Isso também ocorre nos
8
processos de erosão, transporte e deposição de vários tipos de materiais por
centenas, milhares ou milhões de anos.
Em uma escala de tempo menor, como nas atividades agrícolas, existem
variados fluxos de energia e de nutrientes, como os ciclos hidrológicos. Quando
ocorrem grandes transformações do solo, desde o preparo, o manejo, a fertilização, o
cultivo e a irrigação, há diferentes resultados nos processos de evaporação e
decomposição da matéria orgânica, por exemplo, que afetam toda a estrutura do solo
e os seus complexos sistemas. Por isso, estudar o solo é importante para o manejo
mais apropriado do mesmo.
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um dos principais teóricos da geografia, e seus
estudos abordam o ser humano, priorizando o ponto de vista biológico, sob a noção
do chamado determinismo geográfico, e tratando do solo em um contexto social. Para
o determinismo geográfico, o indivíduo seria produto das condições naturais, que
determinam a vida em sociedade. Ratzel (1983) desenvolveu também conceitos sobre
o Estado Moderno como um organismo vivo, que seria constituído pela sociedade,
organizada com o objetivo de desenvolver, proteger e ampliar seu território, sob um
conceito de espaço vital. Esse espaço, segundo Ratzel (1983), abrangeria as
qualidades espaciais e naturais necessárias para manter e consolidar o poder do
Estado sobre o território. A obra de Ratzel está fundamentada na noção do Estado
tendo como componente fundamental o solo e na relação entre o espaço e a
sociedade que nele se estabelece. Assim, para Ratzel (1983), o Estado não pode
existir sem território e sem fronteiras, sob uma noção da geografia política, e não pode
existir sem um solo.
Fonte: https://cerradocase.com.br/
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3 O INTEMPERISMO DAS ROCHAS NA FORMAÇÃO DO SOLO
Nas ciências da terra, o solo pode ser definido como o produto do intemperismo,
do remanejamento e da organização das camadas superiores da crosta terrestre, sob
ação da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e das trocas de energia envolvidas
(TEIXEIRA et al., 2000). Assim, os solos são conjuntos de corpos naturais que contêm
matéria viva e são resultantes da ação do clima e da biosfera sobre a rocha, e a sua
transformação ocorre permanentemente e é influenciada pelo tipo de relevo.
Os solos são formados a partir da transformação das rochas expostas na
superfície terrestre, que pode ocorrer por meio da decomposição, denominada
intemperismo químico, e/ou da desagregação, chamada de intemperismo físico. Elas
também podem ser transformadas mediante o acúmulo de matéria orgânica. Os
agentes atmosféricos e biológicos atuantes sobre a rocha matriz (ou rocha-mãe) criam
uma camada do chamado material inconsolidado, que pode ser entendido como rocha
alterada, que iniciará o processo de formação do solo — a pedogênese —, que se dá
ao longo do tempo.
A ação da gravidade e da água das chuvas dispõe o material inconsolidado em
camadas sobrepostas, formando os horizontes. Essa organização pode ter
características físicas e químicas diferentes, notadas pela variedade de cor,
granulometria, textura, porosidade, estrutura e densidade do solo. Cada solo tem
horizontes ou camadas com características próprias, em razão de sua pedogênese. A
intensidade da transformação das rochas pelo intemperismo depende do tipo de
rocha, do clima ao qual ela está exposta, do tipo de relevo e do tempo geológico.
Uma vez que a rocha é exposta na superfície, ela será intemperizada pelos
condicionantes atmosféricos, como a temperatura, a umidade e os ventos.
Gradualmente, ela será decomposta pelo intemperismo químico ou degradada pelo
intemperismo físico. Isso possibilitará que suas partículas minerais sejam
transportadas por meio do processo chamado de erosão, e esse material se deslocará
para aquelas áreas de menor declividade no terreno. Em virtude das fissuras formadas
por esses processos, os microrganismos adentram a rocha, o que acelera o processo
de decomposição do material. Isso também cria condições para que determinadas
plantas se fixem à rocha, ampliando a sua decomposição, por causa das raízes
dessas plantas, que favorecem a penetração da água, do ar e de animais menores
nas fendas da rocha.
10
3.1 Agentes externos ou exógenos
3.1.1 Intemperismo
Intemperismo químico
11
Outra ação química desse tipo de intemperismo é a latolização, quando ocorre
a remoção de bases e do elemento sílica do perfil do solo por meio da lixiviação, que
consiste na lavagem da camada mais superficial do solo por meio do escoamento das
águas, principalmente das chuvas. Assim, há o acúmulo de óxidos de ferro e alumínio,
um processo comum em relevos planálticos e topos de morros mais arredondados.
Intemperismo biológico
Esse tipo de alteração da rocha ocorre pela ação das plantas e dos animais
(desde os microscópicos até os maiores) sobre as rochas. As raízes das plantas, os
fungos e as bactérias aceleram a decomposição das rochas por meio do intemperismo
químico, ao mesmo tempo que, pela ação do crescimento das plantas, ocorre a
desagregação física, pelo chamado intemperismo físico. (TEIXEIRA et al., 2000).
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Intemperismo físico
Esse tipo de transformação das rochas ocorre nas regiões com menores
índices de chuva e regiões onde a água permanece a maior parte do tempo
congelada. O intemperismo físico promove a desagregação, isto é, a quebra das
rochas pela ação contínua e prolongada da variação das temperaturas, ou seja, pelo
aumento e pela diminuição da temperatura. No período do dia, as rochas expostas na
superfície sofrem dilatação, e, no período da noite, com a diminuição da temperatura,
as rochas se contraem. (TEIXEIRA et al., 2000).
Esse processo contínuo de dilatação e contração, ao longo do tempo, provoca
a quebra, isto é, a desagregação das rochas em pedaços, que são os sedimentos,
cada vez menores. O intemperismo físico é comum nas regiões polares, onde a água
se infiltra na fenda das rochas e expande seu volume no estado sólido, pressionando
as paredes das rochas.
3.1.2 Erosão
13
Esse processo de remoção e transporte dos sedimentos é denominado erosão,
que combina um conjunto de fatores que provocam a desagregação e o transporte de
partículas de rocha sobre a superfície terrestre. (BERTOLLO, 2018).
As Figuras a seguir mostram exemplos de diferentes tipos de erosão.
Erosão fluvial, ocasionada pelo transporte de sedimentos pelas águas dos rios, que aprofundam seu
leito sobre as rochas menos resistentes.
Fonte: Josephine Julian/Shutterstock.com.
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4 OS PROCESSOS E OS FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS
Constituição do solo.
Fonte: Adaptada de São Paulo (2020).
16
Solo argiloso e Solo arenoso, respectivamente.
Fonte: Silva (2019, documento on-line) / Elena Larina/Shutterstock.com
4.3 Clima
4.5 Relevo
O relevo tem influência importante na formação dos solos: nas áreas íngremes,
há dificuldade na formação dos solos, já que os sedimentos da rocha que sofreu
intemperismo são transportados pela água e/ou pelo vento, no processo de erosão,
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para as regiões mais baixas, por meio da ação da gravidade. Isso diminui o contato e
o tempo de permanência da água com a rocha, típico do intemperismo químico. Assim,
é comum, em vertentes inclinadas, a existência de rocha exposta.
É o que ocorre, por exemplo, na região da Serra do Mar, em que a vegetação
que cobre esse relevo é mais densa e alta entre as montanhas, área chamada de
fundos de vale. Ali, ocorre o acúmulo de sedimentos, água e nutrientes. Já nas áreas
mais íngremes, quando há vegetação, ela é rasteira ou dispersa pela baixa
concentração de nutrientes e água e devido à profundidade do solo ser muito
pequena, compondo o chamado neossolo. Nesse contexto, há também os fatores
que influenciam no tipo de solo, como a insolação, a altitude e a potência dos ventos.
A gênese dos solos no Brasil, que tem clima predominantemente quente e úmido,
deriva da atuação desses elementos sobre uma estrutura geológica antiga e
aplainada, proporcionando o desenvolvimento de solos mais profundos e espessos,
chamados de latossolos.
Para que possamos conhecer a morfologia dos solos, devemos observar várias
características, tanto da sua parte interna (ou do seu perfil) como da parte externa (ou
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da paisagem onde se situa). A seguir, conheceremos as principais características que
compõem a descrição morfológica do solo.
5.2.1 Cor
22
Valor ou tonalidade — refere-se à luminosidade relativa da cor ou dos tons
de cinza presentes (entre branco e preto). Varia de 0 (para o preto absoluto) a 10 (para
o branco puro).
Croma — é a proporção da mistura da cor pura em relação ao cinza (valor).
Também varia de 0 a 10.
5.2.2 Textura
5.2.3 Estrutura
24
Tipos de estruturas de solo.
Fonte: Adaptada de Santos e Reichert (2008).
5.2.4 Consistência
25
reconstruí-lo por nova compressão. Ocorrem os seguintes tipos de consistência: solta,
muito friável, friável, firme, muito firme e extremamente firme.
Solo molhado — avalia a plasticidade e a pegajosidade. A plasticidade se
refere à moldabilidade do solo e é feita pela formação de um fino cilindro de solo e
posterior tentativa de formar um círculo com o cilindro, entre o indicador e o polegar.
A resistência à deformação é expressa da seguinte maneira: não plástica, ligeiramente
plástica, plástica e muito plástica. A pegajosidade é avaliada pela sensação de
aderência que o solo produz entre o indicador e o polegar. Os graus de pegajosidade
são expressos pelos seguintes tipos: não pegajosa, ligeiramente pegajosa, pegajosa
e muito pegajosa.
A umidade, a textura, o tipo de argilominerais e a matéria orgânica do solo são
propriedades do solo que afetam sua consistência. Por meio dessa característica, é
possível inferir a dureza do solo e a plasticidade e a pegajosidade nos diferentes graus
de umidade, bem como o melhor estágio para a mecanização do solo (friabilidade).
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carbonato de cálcio, sílica ou óxidos de ferro e de alumínio. O material de solo
cimentado não é alterado com o umedecimento, mantendo a sua dureza quando
molhado. Podemos classificar a cimentação de três maneiras: fracamente cimentado,
fortemente cimentado e extremamente cimentado.
A cimentação se refere a materiais cimentados que podem ser removidos sem
se desfazer da massa do solo. Esses materiais apresentam composição química
variável, podendo ser de carbonato, de óxidos de manganês ou ferro e de sílica. A
descrição dos nódulos e das concreções minerais deve conter informações sobre a
quantidade, o tamanho, a dureza, a cor e a natureza.
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de irrigação e drenagem. Também têm atendido a instituições de ensino e pesquisa,
por exemplo, em estudos de identificação, caracterização, gênese e morfologia do
solo, constituindo bases para pesquisas e estudos em diversas áreas de agronomia,
engenharia e geociências. Quando a finalidade do levantamento é a representação
de unidades de mapeamento, é importante que o pesquisador tenha bastante cuidado
na escolha do(s) local(is) para a(s) descrição(ões) de perfil(is) e coleta de material. Os
locais devem ser representativos e devem permitir a caracterização adequada da
unidade referida.
28
Em se tratando das composições sólidas dos solos, é importante considerar
que o solo é constituído de elementos minerais e macronutrientes, como o nitrogênio
(N), o fósforo (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e enxofre (S), que
são vitais para as plantas. Também fazem parte da sua constituição os elementos
denominados micronutrientes, como o boro (B), o cloro (Cl), o cobre (Cu), o ferro
(Fe), o manganês (Mn), o molibdênio (Mo), o zinco (Zn), o silício (Si) e o níquel (Ni),
exigidos por vários tipos de cultivos. Portanto, os minerais e as rochas que compõem
a crosta terrestre apresentam grande diversidade, devido ao alto número de
elementos químicos presentes na litosfera (i.e., a camada exterior sólida da superfície
terrestre).
O solo é considerado um elemento reciclador do planeta, pois nele ocorre o
reaproveitamento de nutrientes que servem como alimento para plantas e animais e
desempenham um papel vital nesses ciclos geoquímicos. O solo pode assimilar
grandes quantidades de substâncias orgânicas, transformando-os em húmus, por
exemplo. (BERTOLLO, 2018).
30
Constituição do solo.
Fonte: Adaptada de Antoniolli (2010, documento on-line).
31
raízes das plantas. Uma série de reações e processos químicos e biológicos
dependem dos níveis relativos de í ons de hidrogênio (H) e hidroxila (OH) na solução
do solo, os quais são determinados de acordo com a medição do pH do solo.
As composições líquidas do solo, também chamadas de água do solo ou
solução do solo, são compostas por água e seus solutos. Na fase líquida, há a
possibilidade de deslocamento dos elementos, de modo que as plantas absorvem
nutrientes diretamente da água do solo.
32
Interações entre as fases da composição do solo.
Fonte: Adaptada de Antoniolli (2010, documento on-line)
34
Passagens de ar no solo.
Fonte: Lorelyn Medina/Shutterstock.com.
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7 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS
39
Conforme os levantamentos pedológicos foram sendo executados pela
Comissão de Solos e por outras instituições sucessoras, foram realizadas
modificações, acréscimos, reajustes e inovações, em função do avanço da pesquisa
de solos no Brasil (SANTOS et al., 2018). Ainda na década de 1960, em um
levantamento pedológico realizado no estado de São Paulo, foi reconhecido que
horizontes pedogenéticos distintivos são legítimos como critérios de diagnóstico para
o estabelecimento de classes de solo. Tal medida resultou em conceitos de horizonte
B latossólico e horizonte B textural (SANTOS et al., 2018). Ao longo do tempo, estudos
realizados em algumas regiões brasileiras reconheceram novos horizontes e novos
tipos de solo, em regiões como o sul de Minas Gerais, a região Sul do País, o estado
de São Paulo, a região Nordeste, entre outras.
Segundo a Embrapa (SANTOS et al., 2018), o SiBCS vem sendo
gradativamente construído pela comunidade científica brasileira há décadas, com a
participação de cientistas de diversas instituições de ensino, da própria Embrapa e de
outros centros de pesquisa. Atualmente, o SiBCS se encontra estruturado na forma
de chave taxonômica até o 4º nível categórico, com recomendações de
características/propriedades a serem empregadas na classificação de solos no 5º
nível categórico (família). Ainda assim, na forma em que se encontra, o SiBCS já
atende a praticamente todas as demandas atualmente conhecidas no Brasil acerca
dos solos. As sugestões de características/propriedades para o 6º nível categórico
são de caráter preliminar, e a sua implementação demandará um volume de
informação específico e suporte organizacional no país para a sua validação.
Fonte: https://agriculturaemar.com/
40
7.2 Distribuição geográfica dos solos brasileiros
41
7.2.1 Argissolos (P)
Esse tipo de solo tem baixa ocorrência no Brasil e ocupa 0,5% da área do país.
Apresenta cor escura na superfície, possui uma alta fertilidade e apresenta de médios
a altos teores de carbono, cálcio e magnésio, com alta saturação por bases.
(EMBRAPA, 2020).
Esse tipo de solo ocorre de maneira muito esparsa no Brasil, pela costa do país
(áreas de restinga) e no interior da Amazônia Ocidental, onde é expressivo. Ocupa
em torno de 2% do território brasileiro. Apresenta coloração escura (marrom escuro,
geralmente) na subsuperfície, onde há acúmulo de matéria orgânica e/ou alumínio e
ferro (podendo ou não ocorrer). (EMBRAPA, 2020).
42
ocupando aproximadamente 4% da área do Brasil. É caracterizado como mal ou muito
mal drenado, correspondendo a um solo hidromórfico. Dessa maneira, apresenta
baixo grau de desenvolvimento pedogenético, apresentando grande variabilidade em
relação à composição química e física, em decorrência da natureza do material
depositado. (EMBRAPA, 2020).
Esse tipo de solo cobre 39% do território brasileiro, sendo o que possui a maior
ocorrência. É altamente evoluído e intemperizado e sem incremento de argila em
profundidade; apresenta espessura acima de 1,50 m. A textura varia de média a muito
argilosa. As cores são geralmente brunadas, avermelhadas ou amareladas. Sua
coloração possui relação com a presença de óxidos de ferro e alumínio, que conferem
valores de capacidade de troca de cátions menores ou iguais a 17 cmolc kg-1.
(EMBRAPA, 2020).
Esse tipo de solo cobre 3% do território brasileiro, sendo que a área de maior
ocorrência é no Nordeste do Brasil, principalmente na zona semiárida. Possui
estrutura bem desenvolvida, com alta fertilidade química natural. É raso, de maneira
geral, e de coloração amarelada ou avermelhada. Possui um aumento significativo
dos teores de argila nos horizontes subsuperficiais, podendo apresentar mudança
textural abrupta. (EMBRAPA, 2020).
43
Paulo. Apresenta textura argilosa ou muito argilosa, com pouco argila em
profundidade. São solos profundos, evoluídos, de coloração variando de avermelhado
a bruno, sendo observada pouca diferenciação de coloração entre seus horizontes.
São bem drenados, moderadamente ácidos e de fertilidade natural variável.
44
segregação. As cores são cinzentas, avermelhadas e amareladas. É pobre em
carbono orgânico e rico em ferro e alumínio. É ácido e com baixa reserva de
nutrientes. (EMBRAPA, 2020).
8 SISTEMA ÁGUA-SOLO
46
algum tempo armazenada e disponível para as plantas e os microrganismos que ali
existem. No entanto, essa água pode se deslocar verticalmente e lateralmente — ou
seja, a água não fica parada, mesmo estando armazenada no solo. (PARREIRA,
2018).
No que tange à ecologia, podemos considerar a existência da relação solo-
água-planta, visto que a água desempenha o importante papel de levar nutrientes aos
organismos vivos. Da mesma maneira, a água possui uma importante função
pedológica, sendo esta essencial em determinados processos pedogenéticos, como
no intemperismo, na formação do húmus e na mobilização e no transporte de
substâncias ao longo do perfil do solo.
Nesta seção, você vai estudar o comportamento da água no solo, verificando
alguns conceitos básicos e os princípios fundamentais do sistema água-solo. Você
também vai compreender como se dá a influência da água nas funções ecológicas e
práticas de manejo do solo, particularmente os fatores que afetam a quantidade de
água armazenada e disponibilizada para as plantas.
48
Osmótica: representa a força gerada pela atração da água aos íons e outros
solutos. Essa força tende a reduzir o estado de energia da água na solução do solo.
Gravitacional: representa a força que sempre puxa a água para baixo, ou
seja, é a quantidade de energia despendida em uma dada elevação do perfil em
relação a um nível inferior, sendo este, portanto, de menor energia.
Hidrostática: representa a força da pressão positiva do peso da água em
solos saturados e aquíferos.
Toda água que cai sobre a superfície da Terra se movimenta na forma líquida
para os oceanos e na forma de vapor para a atmosfera, participando do sistema solo-
planta (evapotranspiração). Esse movimento ocorre, sobretudo, na forma líquida, e
somente uma pequena parcela se dá na forma de vapor. Portanto, temos basicamente
três tipos de movimento de água no solo, descritos a seguir (LEPSCH, 2011; BRADY;
WEIL, 2013).
49
Fluxo saturado: quando os fluxos ocorrem em percolação de água na forma
livre, em resposta à força da gravidade. Aqui, os poros do solo estão completamente
preenchidos por água.
Fluxo não saturado: acontece quando a água é retida por adesão, ou seja,
quando os poros maiores do solo estão cheios de ar, deixando apenas os poros
menores para reter e conduzir água.
Movimento de vapor: diferenças de pressão de vapor se desenvolvem em
solos relativamente secos.
8.3.1 Textura
50
aumenta nos solos arenosos para os francos e franco-siltosos. Em solos arenosos, a
vegetação tende a sofrer mais com a seca, se comparada à vegetação que se
encontra em solos franco-siltosos na mesma área. Por outro lado, normalmente, solos
argilosos fornecem menos água disponível do que solos franco-siltosos com boas
unidades estruturais, visto que as argilas tendem a ter um ponto de murcha
constantemente elevado (BRADY; WEIL, 2013).
51
9 ORGANISMOS E ECOLOGIA DO SOLO
Fonte: https://www.boletimambiental.com.br/
9.1 A pedofauna
52
habitantes do solo. Assim, o modo como o homem lida com o solo, pode beneficiar ou
prejudicar essa biodiversidade, que, apesar de aparentar aspectos repulsivos,
representa indicadores de um solo saudável e propenso a sustentar uma flora
abundante e diversificada (BRADY; WEIL, 2013).
No solo, é possível encontrar diversas espécies de artrópodes, vermes,
moluscos e demais organismos. No Quadro abaixo, são apresentadas algumas
espécies comuns representativas da fauna e da flora do solo. A fauna representa o
grupo dos animais, incluindo os protozoários unicelulares, e a flora representa o grupo
dos vegetais, incluindo as algas unicelulares e os microrganismos não animais. Os
seres vivos são classificados em três domínios, considerando a semelhança do
material genético (BRADY; WEIL, 2013):
Eukaria, representando todas as plantas, os animais e os fungos;
Bacteria; e
Archaea.
53
Organismos do solo
Descrição e dimensão (mm) Taxonomia Exemplos de organismos
Macrofauna (>2 mm)
Roedores da família Geomyidae
Vertebrados (geômis), tatus, camundongos,
Organismos heterótrofos, ou seja,
toupeiras
organismos incapazes de
Artrópodes: formigas, cupins, aranhas,
produzir seu próprio alimento;
larvas de moscas, besouros e suas
podem ser herbívoros,
Invertebrados larvas, tatuzinhos, centopeias,
detritívoros ou predadores
milípedes (piolho de cobra) Anelídeos:
minhocas Moluscos: caracóis, lesmas
Macroflora
Autótrofos, ou seja, produzem Plantas vasculares Comedores de raízes
seu próprio alimento Briófitas Musgos
Mesofauna (0,1 – 2 mm)
A maioria representada por
organismos heterótrofos e Artrópodes Ácaros, colêmbolos
detritívoros
Outros representados por
Anelídeos Vermes enquitreias
organismos heterótrofos e
Artrópodes Ácaros, proturos
predadores
Microfauna (< 0,1 mm)
Nematoides Nematoides
Constituída por organismos
Rotíferos Rotíferos
detritívoros, bacterívoros,
Protozoários Amebas, ciliados, flagelados Besouros
fungívoros e predadores
Tardígrados aquáticos, Macrobiotus sp
Microflora (< 0,1 mm)
Pelos radiculares.
Constituída por organismos Plantas vasculares
Diatomáceas verdes, verde-
autótrofos, na sua maioria Algas
amareladas
Constituída por organismos Leveduras, oídios, mofos, ferrugens,
Fungos
heterótrofos, na sua maioria cogumelos
Aeróbicas, anaeróbicas
Bactérias
Algas verde-azuladas (autótrofos)
Constituída por organismos Cianobactérias
Vários actinomicetos heterótrofos
heterótrofos e autótrofos Actinomicetos
Metanotróficos, Thermoplasma sp.,
Arqueias
halófilos
Fonte: Adaptado de Brady e Weil (2013).
54
Um solo saudável pode conter uma riquíssima variedade de macro, meso e
microfauna. Essa variedade é sustentada pela abundância de alimentos e pelos
diferentes habitats encontrados no solo. Uma pequena porção de solo pode conter
muita ou pouca aeração, baixa ou alta acidez, umidade ou não, variação de
temperatura, concentração ou ausência de nutrientes ou minerais, ausência ou
acúmulo de organismos concorrentes. De acordo com Brady e Weil (op. cit.), as
populações tendem a se reunir em pontos favoráveis ao seu desenvolvimento,
provocando uma não uniformidade na sua distribuição no solo. Assim, os agregados
dos solos se constituem em verdadeiros habitats, oferecendo, em microescala, zonas
de abrigo, alimentos, isolamento genético e cenário para interação entre as espécies.
Para os pedólogos, a diversidade de espécies resultará na maior qualidade do
solo, pois este terá maior capacidade de realizar variados processos. O solo também
é considerado um celeiro de inovações genéticas, devido à imensa variedade de
espécies ali presentes. Por isso, e com o avanço da engenharia biológica, o solo tem
sido considerado um banco de DNA para exploração (BRADY; WEIL, 2013).
55
disponibilidade de oxigênio e matéria orgânica para a proliferação desses
microrganismos. Porém, estes também podem atuar nas camadas mais profundas do
solo ou mesmo na água, utilizando-se de processos anaeróbicos para efetuarem a
desintoxicação do ambiente (BRADY; WEIL, 2013).
A presença de microrganismos no solo é fundamental para a disponibilização
de elementos como o ferro e o manganês em formas não tóxicas para as plantas,
além de promover o controle da toxicidade em solos contaminados com cromo ou
selênio. Porém, um dos processos microbianos mais importantes é a fixação do
nitrogênio gasoso em compostos que possam ser utilizáveis pelas plantas (BRADY;
WEIL, 2013).
Em ecossistemas florestais, os actinomicetos do gênero Frankia conseguem
fixar grandes quantidades de nitrogênio, ao passo que as cianobactérias conseguem
fixar esse elemento tanto em áreas alagadas, favorecendo, por exemplo, as culturas
de arroz, quanto em áreas desérticas. As bactérias do tipo rizóbio representam o grupo
mais importante dos microrganismos que capturam o nitrogênio gasoso e o
disponibilizam para as plantas. Esse processo se dá por simbiose, em que essas
bactérias se fixam em nódulos radiculares localizados nas raízes dos vegetais.
(BRADY; WEIL, 2013).
Nódulos radiculares presentes nas raízes da planta. Dentro desses nódulos, o gás nitrogênio (N2 ) é
convertido em amônia (NH3 ).
Fonte: Lidiane Miotto/Shutterstock.com.
56
A superfície das raízes das plantas, denominada de rizoplano, bem como o
seu entorno, denominado de rizosfera, abriga uma grande quantidade de bactérias
especialmente adaptadas a viver nessas áreas. Essas bactérias são denominadas de
rizobactérias e são benéficas para as plantas, pois ajudam no crescimento dos
vegetais, na absorção dos nutrientes retirados do solo e na produção de hormônios
(BRADY; WEIL, 2013).
57
dificultando a germinação dos esporos fúngicos causadores da hérnia das crucíferas
(BRADY; WEIL, 2013).
Os elevados níveis de adubação também favorecem o surgimento de doenças
fúngicas. Assim, altos níveis de amônia (NH³) aumentam as murchas causadas por
fungo Fusarium. Porém, adubos potássicos, bem como elevados níveis de cálcio e
manganês, ajudam a combater os fungos. Portanto, é muito importante o equilíbrio
nutricional do solo para mantê-lo saudável e resistente aos ataques de
microrganismos patógenos. Uma das formas para se obter esse equilíbrio se dá por
meio da rotação entre culturas (BRADY; WEIL, 2013).
As propriedades físicas do solo também influenciam a proliferação de
organismos patógenos. A compactação do solo cria um ambiente mal areado e úmido,
favorecendo o desenvolvimento de fungos, além de dificultar o crescimento das
raízes, que, por isso, são estimuladas a excretar substâncias que acabam por atrair
os organismos patógenos. Uma temperatura adequada e uma boa drenagem do
solo podem impedir o surgimento de diversas doenças. Outro fator importante é a
presença de bactérias e fungos benéficos, que agem como agentes inibidores de
diversos organismos prejudiciais às plantas (BRADY; WEIL, 2013).
Fonte: https://digital.agrishow.com.br/
60
10 POLUIÇÃO DOS SOLOS
61
a periculosidade em classe I (resíduos sólidos perigosos), classe IIa (resíduos sólidos
não inertes) e classe IIb (resíduos sólidos inertes). Os resíduos da classe I podem ser
inflamáveis, corrosivos, tóxicos, reativos ou apresentar contaminantes patogênicos,
sendo, por isso, perigosos para o meio ambiente. Já a classe IIa possui propriedades
como inflamabilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. Por fim, a classe
IIb representa os resíduos que podem ser dispostos em aterros sanitários por serem
constituídos de materiais não solúveis ou não alterados quando em contato com a
água (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).
De acordo com as atividades humanas, o destino final de determinados
resíduos é normatizado. Por exemplo, a Resolução CONAMA nº 358, de 29 de maio
de 2005, regulamenta o descarte oriundo das atividades biomédicas (hospitais,
clínicas, laboratórios clínicos ou de pesquisa, companhias farmacêuticas), indicando
que os seus resíduos devem ser incinerados ou dispostos em valas especiais dos
aterros após o tratamento prévio. Para as pilhas e baterias inutilizadas, a Resolução
CONAMA nº 257, de 30 de junho de 1999, determina a devolução ao fabricante e/ou
importador, que fica responsável não só pelo recolhimento, como também pelo
tratamento final, que deve atender à legislação vigente. Essa medida visa a evitar a
contaminação do ambiente por resíduos como chumbo, cádmio, níquel e mercúrio,
utilizados na fabricação desses materiais (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).
As formas de disposição e destinação final dos resíduos serão descritas a
seguir:
Vazadouros a céu aberto ou lixões: representam o meio mais barato e
mais danoso ao meio ambiente. Eles não possuem custo de tratamento nem controle,
e os resíduos são lançados e acumulados sobre o solo, gerando várias consequências
ao entorno, como a formação e a percolação de chorume no solo, ou a sua lixiviação
superficial para as bacias de drenagem nos eventos de chuva. O chorume é formado
por ácidos orgânicos voláteis, como ácido acético, ácidos graxos, bactérias e sais de
íons inorgânicos (p. ex., Ca²+). (FERRAZ; BIZZO, 2012).
Vazadouros em áreas alagadas: são áreas como mananciais, mangues,
leitos de rios, áreas alagáveis, lagoas, riachos, ribeirões e até mesmo mares e praias
que recebem clandestinamente o descarte dos resíduos antrópicos. (FERRAZ;
BIZZO, 2012).
62
Aterros controlados: nome inadequado, pois trata-se de um local onde os
resíduos são depositados e simplesmente cobertos por terra e vegetação. Isso evita
o mau cheiro e a presença de insetos e outros vetores, mas não resolve o problema
dos subprodutos líquidos e gasosos gerados pela decomposição do material. Além
disso, nenhum tratamento é dado ao chorume produzido, que permanece disponível
para percolar no substrato pedológico ou ser lixiviado pelas águas da chuva.
(FERRAZ; BIZZO, 2012).
Aterros sanitários: locais apropriados para a destinação final dos resíduos.
O terreno é devidamente impermeabilizado (manta impermeável ou argila), são
instalados drenos na base para a coleta de chorume e tubulações da base ao topo
para escape dos gases produzidos pela combustão. Esses gases são queimados ao
serem expelidos, ao passo que o chorume é direcionado para um tanque
impermeabilizado, no qual, posteriormente, é tratado, sendo a sua água devolvida
para uma lagoa. O aterro normalmente é circundado por área reflorestada, e sua
estrutura é monitorada e construída, a fim de evitar desabamento ou desagregação
do material amontoado. Após atingir os limites de altura e capacidade previamente
estabelecidos em estudos, o aterro sanitário não recebe mais resíduos, e o seu
encerramento só se dá após a total extração e tratamento do chorume e liberação e
queima do gás. A superfície do aterro é reflorestada, e a sua área é cercada para
evitar invasão, ficando desabilitada para obras ou uso humano por algumas décadas.
(FERRAZ; BIZZO, 2012).
Centros de transbordo: podem ser contêineres que recebem o lixo de
caminhões de coleta. Posteriormente, esses dispositivos são levados para os aterros
sanitários. Os resíduos podem ser prensados, a fim de aumentar a capacidade de
armazenamento. Trata-se de uma forma paliativa para lidar com a falta de espaço ou
a indisponibilidade momentânea de áreas próprias para o depósito final. É importante
ressaltar que os centros de transbordo não são áreas de destinação final dos resíduos,
e sim áreas de concentração para posterior recolhimento deles. (FERRAZ; BIZZO,
2012).
Centros de triagem: locais onde os resíduos sólidos são separados (metais,
vidros, papelões, plásticos) para posterior comercialização. O material orgânico
separado pode seguir para a compostagem. (FERRAZ; BIZZO, 2012).
63
Centros de compostagem: locais próprios para depositar os materiais
orgânicos retirados do centro de triagem. Nesses centros, os resíduos orgânicos
sofrem decomposição aeróbia, formando matéria orgânica própria para a deposição
no solo. (FERRAZ; BIZZO, 2012).
Centros de incineração: locais onde se processa a queima dos resíduos
baseados no carbono (restos de comida, resíduos de jardins, papéis, plásticos). A
incineração utiliza ar para que a combustão seja mais completa, e os resíduos gerados
por esse processo são efluentes gasosos, cinzas, escórias e energia térmica, que,
dependendo do projeto, podem ser aproveitados para a geração de energia
termoelétrica. (FERRAZ; BIZZO, 2012).
Tanque de chorume drenado do edifício do aterro para posterior tratamento e devolução da água ao
meio ambiente — Aterro São João, São Paulo/SP.
65
a química da estrutura pedológica será alterada, comprometendo a sustentabilidade
do ambiente (LEPSCH, 2002). Assim, sempre que um solo estiver desprovido da sua
vegetação natural, ele estará exposto a uma série de fatores que comprometerão a
sua constituição. Dentre as formas de degradação física, a desertificação, a
degradação estrutural e a erosão (hídrica e eólica) são as mais prejudiciais para a
preservação do solo (LEPSCH, 2011).
10.3.1 Desertificação
Fonte: https://www.todoestudo.com.br/
10.3.3 Erosão
67
erosão em sulcos, por sua vez, é o resultado da concentração da enxurrada da água
em determinados pontos do solo, escavando e removendo gradativamente o material
pedológico. Se a enxurrada não for contida desde o início, os sulcos se aprofundarão
e promoverão o surgimento das voçorocas. Por fim, a erosão em voçorocas
representa a forma mais agressiva da erosão, uma vez que forma verdadeiros rasgos
no solo, podendo, inclusive, atingir o horizonte C (LEPSCH, 2002, 2011).
Os fatores que afetam a erosão hídrica são: clima, natureza do solo, declividade
do terreno e manejo realizado. O clima afeta a erosão por meio da distribuição, da
quantidade e, principalmente, da intensidade das chuvas. A intensidade das chuvas
diz respeito ao volume de água descarregado em um curto espaço de tempo. É
importante ressaltar que chuvas rápidas, volumosas e formadoras de enxurradas
causam mais estrago ao solo do que as chuvas fracas e contínuas. Quanto à natureza
do solo, alguns solos são mais suscetíveis à erosão do que outros, a depender das
suas características físicas, principalmente a textura, a permeabilidade e a
profundidade. Os solos com textura arenosa são mais facilmente erodidos. Por
exemplo, os solos com horizonte B mais compactados e argilosos são menos
permeáveis e, por isso, mais erodidos do que os solos com horizonte B mais
permeáveis. Já os solos rasos com pouco ou nenhum horizonte B são mais erodidos,
pois a água acumula-se acima do embasamento rochoso que sustenta o solo,
encharcando todo o corpo pedológico, o que, consequentemente, promove a sua
68
desagregação e o seu escoamento. A fertilidade do solo também influencia na sua
maior ou menor erodibilidade, pois um solo fértil oferece condições para um
desenvolvimento mais robusto da vegetação, criando, assim, raízes mais consistentes
(LEPSCH, 2002).
A declividade ou o grau de inclinação do terreno influencia na velocidade da
enxurrada e, como consequência, no maior ou menor arrastamento das partículas.
Nas áreas planas, a água possui um tempo maior para infiltrar, o que não ocorre nos
relevos íngremes. Dessa forma, as regiões elevadas estão mais propensas à erosão,
principalmente se estiverem desprovidas de cobertura vegetal (LEPSCH, 2002).
Nas áreas elevadas, é comum a formação de ravinas, que constituem erosões
em forma de canais por onde o fluxo superficial se acumula, removendo o solo em
profundidades consideráveis (FRANCO, 2015).
Por fim, a forma de manejo do solo tem um papel fundamental no
desenvolvimento da erosão. O sistema de cultivo, a cobertura vegetal e o uso da terra
condicionarão uma maior ou menor mobilidade dos grãos. Os solos com superfície
preenchida por vegetação apresentam resistência à erosão, promovem uma melhor
absorção das águas das chuvas e, conforme o tipo de cultivo, a desagregação das
partículas e o seu transporte, podem variar. Assim, plantações perenes (p. ex.,
laranjeiras) ou semiperenes (p. ex., cana-de-açúcar) apresentam um grau de erosão
menor, se comparadas com os cultivos anuais de milho ou algodão, por exemplo
(LEPSCH, 2002).
69
representa a mineralização dos elementos, que são novamente adsorvidos pelas
argilas e pelo húmus do solo. Assim, esses elementos ficam novamente
disponibilizados para serem reutilizados pelas novas plantas que ocuparão o lugar
(LEPSCH, 2011).
Diante disso, a eliminação da vegetação representa, de forma indireta, a
retirada dos nutrientes que poderiam ser devolvidos ao solo. A ausência de reposição
dos cátions básicos trocáveis, como o cálcio (Ca²+) e o magnésio (Mg²+), permite que
os íons de hidrogênio (H+) presentes na água passem a substituí-los nos coloides
(argilas e húmus), promovendo, assim, o aumento da acidez do solo. Alguns tipos de
solos têm grandes reservas de minerais, ao passo que outros possuem um estoque
limitado, restringindo a sua capacidade de sustentar cultivos por longos períodos.
Além disso, existem solos com nutrientes mínimos, que não permitem cultivos sem
antes passarem por algum tipo de correção (LEPSCH, 2011).
Os cátions básicos são facilmente dissolvidos na água e lixiviados pela chuva.
Em seu lugar, os íons de hidrogênio (H+) ocupam os espaços deixados. Com o tempo,
esses íons são substituídos pelos íons de alumínio (Al3+), elemento muito tóxico para
o desenvolvimento da planta (LEPSCH, 2011).
Considerando-se a ação constante da água, os solos ácidos são mais comuns
em ambientes tropicais, onde se precipita um grande volume de chuva. Trata-se de
uma situação normal para esses ambientes, porém a retirada da vegetação intensifica
ainda mais a acidez natural desses solos, agravando não só as práticas agrícolas,
como também dificultando os programas de recuperação das áreas desflorestadas
(LEPSCH, 2002).
Além do processo natural de acidificação do solo, as indústrias e os veículos
emitem fumaças ricas em enxofre (S) e nitrogênio (N), o que provoca a acidez das
chuvas, que poderão se precipitar sobre as zonas de cultivo e as áreas naturais. Para
o controle da acidez do solo, utilizam-se práticas edáficas, como o uso de adubos para
compensar a perda de nutrientes e de corretivos para regular o seu pH. No entanto,
esses produtos possuem elementos químicos, e o excesso da sua aplicação pode
provocar não só a contaminação do solo, como também da água subterrânea ou
superficial.
70
10.3.5 Salinização
10.3.6 Arenização
A utilização dos recursos naturais, quer seja para o cultivo de alimentos ou para
a engenharia civil, deve ser realizada com planejamento e técnicas que visem à
conservação dos recursos, diminuindo os possíveis impactos da atividade. Dessa
forma, o entendimento dos processos que levam um solo à degradação e dos fatores
que estão envolvidos diretamente nesses processos precisa ser levado em
consideração. Nesse sentido, os órgãos responsáveis pelas políticas ambientais se
utilizam de modelos que expressam a predição da erosão dos solos e levam em
consideração diferentes fatores que envolvem a erosão do solo e que agem de forma
conjunta. Esses modelos se baseiam na equação universal de perda de solo,
expressa por (BRADY; WEIL, 2013):
A = R × K × LS × C × P
Onde:
A = perda de solo anual prevista
R = erodibilidade da chuva
K = erodibilidade do solo
L = comprimento da encosta
S = gradiente ou inclinação da encosta
C = cobertura e manejo
P = práticas conservacionistas
74
O resultado desse modelo permite estimar a quantidade de água que penetra
no solo, a quantidade que é perdida superficialmente e, principalmente, o volume de
solo que é transportado (BLADY; WEIL, 2013). O fator R representa a força motriz
que as chuvas podem apresentar, causando erosão do tipo laminar e em sulcos. Na
obtenção desse valor, é levado em consideração o somatório da precipitação pluvial
total, a intensidade e a sua distribuição. Esses valores são obtidos por meio de
observação por um longo espaço de tempo e são modificados em função do local.
Dessa forma, ao se projetarem obras de construção civil, esse fator se torna um bom
referencial para reduzir possíveis danos ocasionados pela erosão (BRADY; WEIL,
2013).
O fator K se refere à erodibilidade de um solo e indica a quantidade de solo
perdido por unidade de energia erosiva da chuva, que é obtida por meio de uma
parcela que possui medidas conhecidas (22 m de comprimento e 9% de declividade),
em que o solo é mantido descoberto. A capacidade de infiltração de um solo e a sua
estabilidade estrutural são os principais fatores que influenciam a tendência de erosão
de um solo, em que uma maior taxa de infiltração indica que o solo apresenta uma
menor probabilidade de sofrer o processo de escoamento superficial e formação de
poças. A estabilidade dos agregados diz respeito à resistência que os mesmos
apresentam, mantendo-se estruturados mesmo em volumes expressivos de
precipitação. Solos que apresentam um maior teor de argilas com presença de
hidróxidos de alumínio e ferro apresentam maior estabilidade, o que não é verificado
em solos que apresentam argilas expansíveis (BRADY; WEIL, 2013).
O fator LS representa a topografia do local e é mensurado a partir do
comprimento e da declividade da encosta; quanto maior o comprimento de uma
encosta, maior será a probabilidade de que a água adquira velocidade e a enxurrada
de concentre. Solos que estão localizados em regiões que apresentam um maior
comprimento, aliado à maior declividade, apresentam um maior valor de LS e maiores
riscos de erosão em sulcos e entressulcos (BRADY; WEIL, 2013).
O fator C representa a cobertura e o manejo do solo e possui grande influência
sobre a erosão e o escoamento superficial de um solo; os solos apresentam diferenças
de acordo com a espécie e o sistema de cultivo utilizado. Nesse sentido, as florestas
e vegetações densas, como os capinzais, oferecem uma maior proteção ao solo; já
as forrageiras perenes, como leguminosas e gramíneas, oferecem uma proteção em
75
um nível intermediário, por apresentarem variabilidade em sua densidade ao longo do
ano. As culturas anuais, ou seja, que completam seu ciclo em um ano, fornecem uma
menor proteção ao solo, sobretudo no início do cultivo a campo, quando o solo fica
totalmente descoberto e, por isso, torna-se mais susceptível à erosão.
77
utilizados, por apresentarem menor desperdício de solo e menor manutenção. Nesse
sistema, a água é fornecida por um local de captação e flui lentamente no campo para
preencher os canais. Caso o volume exceda, a água é direcionada para um
escoadouro (BRADY; WEIL, 2013).
Cultivo em terraços.
Fonte: rifky naufaldy /Shutterstock.com
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Palhada no sistema de plantio direto de soja.
Fonte: Alf Ribeiro/Shutterstock.com
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risco, a erosão urbana e os possíveis danos diretos e indiretos que poderão ser
ocasionados. A carta geotécnica é um documento elaborado em que constam as
características dos terrenos, identificando suas limitações e a aptidão a que se
prestam para sua ocupação. Devem ser mencionadas também as regiões
predispostas ao desenvolvimento de ravinas e voçorocas, e devem ser realizados
estudos de susceptibilidade às erosões, preventivos e corretivos, para que elas sejam
controladas de forma efetiva (GUERRA; SILVA; BOTELHO, 2007). A identificação
dessas áreas de risco deve fazer parte do plano diretor das cidades.
A elaboração de projetos de controle preventivo da erosão em meio urbano
deve levar em conta as atribuições geotécnicas do solo, em que devem ser
caracterizados fatores e mecanismos que estão relacionados à erosão do solo. Além
disso, deve ser abordado o aspecto urbanístico ao qual se refere a ocupação do
terreno (GUERRA et al., 2007).
De modo geral, o solo é um recurso natural essencial para a manutenção do
ecossistema terrestre, é um meio complexo e heterogêneo, não renovável, e sem este
não existiria vida. De acordo com a FAO (Organização para a Alimentação e
Agricultura), os solos saudáveis estão na base da agricultura familiar, na produção de
alimentos e na luta contra a fome e, ainda, cumprem um papel como reservatórios da
biodiversidade. (SOUSA, 2017).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
82
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente.
Resolução CONAMA nº 257, de 30 de junho de 1999. Estabelece a obrigatoriedade
de procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final
ambientalmente adequada para pilhas e baterias que contenham em suas
composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos. Diário Oficial da União,
Brasília, n. 139, seção 1, p. 28–29, 1999. Disponível em:
https://www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/36_09102008040356. pdf. Acesso
em: 01 jul. 2020.
DIAS, C. Solo brasileiro agora tem mapeamento digital. Brasília, DF: Embrapa,
2014. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
/noticia/2062813/solo-brasileiro- -agora-tem-mapeamento-digital. Acesso em: 1 jul.
2020.
IBGE. Manual técnico de pedologia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. (Manuais
Técnicos em Geociências, n. 4). Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ livros/liv37318.pdf. Acesso em: 22 jul.
2020.
83
LEPSCH, I. F. 19 lições de pedologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
PENA, R. F. A. Tipos de erosão. [S. l.]: Brasil Escola, c2020. Disponível em:
https://brasilescola. uol.com.br/geografia/tipos-erosao.htm. Acesso em: 1 jul. 2020.
84