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RESUMO
II. Introdução
Factos clínicos e científicos estão a demonstrar que quer os ascendentes vivos quer os
falecidos da nossa família são realmente influentes não só como “objectos internos”
(como os psicanalistas os denominam) mas também como forças vivas, campos de
informação que estão tão activos como o nosso próprio código genético.
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II. Abordagem Teórica
A Transdisciplinaridade propõe uma nova visão e uma experiência vivida. É uma forma
de auto-transformação orientada para o conhecimento do “self”, da unidade do
conhecimento, e a criação de uma nova arte de viver.
(Basarab Nicolescu,1996)
Num dos seus mais recentes trabalhos publicados, Blatner (2007) afirma que uma
teoria, para ser útil, tem de ser flexivel o suficiente para se adaptar e ajudar a explicar
uma grande variedade de fenómenos.
Naturalmente seria desejável que seja encontrada uma maior coordenação e coerência
entre as várias teorias, mas a falta de um claro consenso nesta fase, não deve servir de
obstáculo á apreciação cruzada das varias teorias. Desta forma, de um ponto de vista
de compreensão meta-teórico e transdisciplinar, devemos dar as boas vindas á
presença de várias teorias-componentes, frequentemente em diferentes níveis de
análise e incidentes em diferentes focos da realidade. (ver imagem 1)
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Co-Inconsciente e
Aprendizagem Social
Grupos
Transgeracion
Incosciente
al
Colectivo
Familia |
Sociedade
individuo
Humana
Neurobiol
ogia
Seres vivos
Campos
Morfogenéticos
Ecossistema
Teoria do Caos
Cosmos
Vamos assim apresentar algumas das teorias mais pertinentes que poderão ajudar a
compreender as ligações transgeracionais e que poderão enriquecer a forma como
percebemos e praticamos a terapia transgeracional.
Estes modelos teóricos irão ser apresentados por ordem de um ponto de vista
epistemológico., de um nível de percepçaõ mais abstacto e global, para um nível mais
concreto e específico (ver imagem 1)
Teoria do Caos
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“ A Teoria do Caos olha para as dinâmicas dos padrões- sistemas e processos – de
uma forma mais básica, permitindo paralelismos e generalizações a níveis mais
profundos, talvez oferecendo “insights” e ligações mais universais” (Reimer,R.,
Guerreiro, J. e Riding-Malon,R., 2007).
Os recentes desenvolvimentos da Teoria do Caos e o entendimento dos fractais
(Mandelbrot 1975, 1982, 1997) poderão esclarecer as intermináveis repetições dos
mesmos eventos familiares. A Teoria do Caos foi aplicada em diversos domínios como
a análise de estruturas e a natureza dos padrões.
Pode também ajudar-nos a compreender as repetições fatais, tais como a replicação
das células cancerígenas.
Conceitos da Teoria do Caos tais como afinidade, imprevisibilidade, ressonância,
organização pessoal e equilíbrio. (Remer et al, 2007 1) poderiam ser muito úteis quando
aplicados a vários fenómenos no sistema social da família.
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muitas evidências que muitas especies de animais são telepáticos, e a telepatia parece
ser um meio normal de comunicação.
Telepatia significa literalmente “Sensação distante” . Este termos é a versão reduzida
de Telepatia Mental, e refere-se á leitura de mentes ou comunicação mente-com-
mente. O termos foi criado pelo físico Frederick W. H. Myers (1882) que era um
académico clássico e um dos fundadores da psicologia moderna.
Ressonância Mórfica é outro conceito proposto por Sheldrake (1981) e que ele define
como “a base da memória na natureza”. A ideia de interconexões do tipo telepático
entre organismos e de memórias colectivas entre espécies. A informação de
ressonância mórfica é transmitida sem limitações de tempo e espaço, sem perda de
energia, e presumivelmente sem perda ou alteração de conteúdo, através de uma
replicação semelhente à do DNA. Assim está criado espaço para a transmição de
informação física e psíquica.
Neurobiologia
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Mesmo que essas memórias possam estar para além da tomada de consciência, elas
podem actuar em nós, sem o nosso conhecimento. Até ao ponto de sermos
condicionados por estas memórias inconscientes, podemos ser até como marionetes
puxados por fios que estão fora da “vista do público” para além e por cima das nossas
cabeças e da nossa consciência
Inconsciente Colectivo
Tal como as ideias de Platão, os arquétipos não têm origem no mundo dos sentidos,
mas existem indepedentemente desse mundo e são conhecidos directamente através
da mente.
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Sincronicidade, é outro conceito relevante na análise transgeracional, refere-se a
coincidências significativas, tal como as descritas nos escritos de Jung, que abrem as
portas ás verdades transcendentes, da mesma forma uma crise abre a porta ao
inconsciente colectivo, e liberta um arquétipo que revela uma verdade profunda que se
ocultou da consciência.
Tele é o termo usado por Moreno para o que é medido pela Sociometria, referindo-se a
padrões de atracção recíproca.
Verificamos que quando a tele é fortemente positiva são observados fenómenos do tipo
telepático. (Blatner, 1994)
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considerado um modelo (ex: pai, mãe, ídolo) irá reproduzir os mesmos padrões quando
exposto a situações com características semelhantes.
Desta forma, em contexto terapeutico a consciencia progressiva de padrões aprendidos
(através de reforços positives ou negatives, ou punições) poderão ajudar a clarificar o
entendimento de padrões cognitivo-comportamentais repetidos na família.
O domínio do transgeracional começou por ser estudado por autores como Freud, que
foi o primeiro a falar de “alma colectiva”, para não falar dos Shamans com quem Bert
Hellinger aprendeu e adaptou o seu método de constelações familiares na sua missão
em Africa.
Poderemos usar vários métodos para o trabalho transgeracional, tanto num contexto de
terapia individual como num contexto de terapia de grupo.
Os métodos principais são:
- Genosociograma - um método de papel e lapis desenvolvido por Schutzenberger, que
é um genograma que enfatiza os fenómenos sociométricos e as lealdades invisíveis
dentro de uma família (que poderá ir até á 7ª geração anterior). O genosociograma é
uma investigação profunda rápida e muito útil para problemas familiares não resolvidos
e para padrões repetitivos. Permite ao terapeuta e ao cliente traçarem - - as
similaridades e ligações entre traumas, doenças e acidentes que ocorrem através das
gerações. Poderá, por exemplo, incluir ocorrências do “síndrome de Aniversário” e
lealdades familiares invisiveis.
Este trabalho é também a elaboração da história familiar – tipo uma novela –
acompanhando de 3 a 8 gerações, traçando e analisando caminhos, através dos
eventos que os marcaram. O olhar para o passado da história familiar, permite ao
cliente ver como o seu próprio passado individual é influenciado pelos caminhos de
outras pessoas significativas na sua história familiar. O genosociograma mostra até que
ponto um individuo é o produto de uma história familiar, em relação à qual ele procura
tornar-se autónomo.
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- O Átomo Familiar e a reconstrução do átomo familar
O “Átomo familiar” (J L Moreno,1946) ou a “constelação familiar” (Hellinger,1998)
poderão ser representados com pessoas reais ou com objectos em miniatura
escolhidos pelo cliente e que irão concretizar e representar os principais papeis
complementares e os mais significativos elementos da família relacionados com o
cliente e a sua pecepção.
Tabém se revela terapeutico pedir novas “formas” ideais para o átomo familiar
(conceito de realidade suplementar de Moreno) que procurem soluções sistémicas e
harmoniosas tanto para os familiares como para o cliente. Estes novos átomos criam
novos caminhos de informação, novos campos morfogénicos que eventualmente abrem
caminho para uma nova realidade, um novo equílibrio.
Casson (2007) diz sobre o psicodrama com miniaturas “ O carácter lúdico do método
atrai, energiza, liberta a pessoa para explorar dificuldades, resolver problemas e
encontrar novas soluções, descobrindo recursos e pontos de vista para os quais não
estavam despertos”
- Técnicas do Psicodrama
Após a compreensão/diagnóstico dos padrões repetitivos, poderemos usar várias
técnicas do psicodrama, tanto num grupo como em “psicodrama a dois”. A clarificação,
a libertação catártica e a devolução de padrões “congelados” no corpo-emoções-mente
é possível a partir da utilização de técnicas de psicodrama,tais como treino de papel,
troca de papel, solilóquio, espelho,etc.
Frequentemente a “reparação” de lealdades invisíveis que estão a ser prejudiciais ao
individuo vem através do diálogo com o parente identificado e com um ritual simbólico
de “devolver” o peso a quem realmente pertence.
O Psicodrama abre portas para o fecho das “situações inacabadas”, como por exemplo
dizendo adeus ou fazendo o luto pela perda de um antepassado e/ou pelo treino de
novos e mais autênticos papeis sociais.
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Caso Clínico C. – Exemplo de uma pequena terapia transgeracional
1ª Sessão:
C., uma jovem mulher, magra, de 19 anos que acabou de terminar o 12º Ano.
Apresenta sintomas de depressão ligeira, com dificuldades de longo-prazo para tomar
decisões (por exemplo, relativamente á escolha da Universidade e ao curso a
escolher), alguns traços moderados obssessivos-compulsivos (perfeccionismo e rituais
compulsivos), dificuldade em estabelecer relacionamentos amorosos com homens, um
relacionamento fusional com uma mãe ansiosa e depressiva, grande tristeza e
desapontamento por não ter mantido contacto com o pai (passava 1 ano desde que
tivera o último contacto entre eles, para além de que não recebe qualquer apoio
financeiro do pai).
A técnica usada nesta sessão foi uma entrevista com a construção de um
Genosociograma (ver imagem 2). Como resultado tanto a paciente como o terapeuta
ficaram mais conscientes do seguinte:
Aos 9 anos a C. passou a ser filha de pais divorciados, e a mãe de C. sentiu-se
rejeitada e abandonada pelo pai de C.;
C. e a mãe estabeleceram um relacionamento crescente e fusional;
O mesmo padrão fusional existiu entre a sua mãe e avó, e também uma relação
muito conflituosa entre avós.
De uma maneira similar a sua mãe tinha a percepção do avô como um pai
distante e persecutório.
A avó materna perdera a sua própria mãe muito jovem, e pouco tempo depois
também o seu pai, mas C. afirma inicialmente desconhecer as causas da sua morte
(no entanto mostra algumas tensões não verbais quando fala destas mortes
prematuras);
As familias do seu pai e mãe mostram claramente valores e vocações diferentes
e ela mostra-se identificada com ambos os lados. Lealdades invisíveis parecem ocorrer
tanto em relação ao pai (ex: os mesmo rituais compulsivos) e com a avó mencionada
acima (ex. traços físicos e psicológicos similares).
2ª Sessão
C. veio com a mãe á sessão e a terapeuta convidou a mãe para se juntar á sessão com
C. A terápeuta perguntou-lhe qual a sua percepção de C. e da história familiar.
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A mãe queixou-se da distância do ex-marido e do seu comportamento negligente em
relação a C., mostrando um grande envolvimento emocional e sentimento de rejeição
por ele após 10 anos de separação. Ela diz que irá ter uma cirurgia ao coração
brevemente e mostra sinais evidentes de depressão. Acerca da história familiar a mãe
revela um segredo de família, nunca antes contado a C.: a bisavó de C. – mãe da avó
materna – cometeu suicidio aos 37 anos quando estava grávida do seu 3º filho e
quando descobriu que o seu marido tinha outra mulher (“quebra-coração” amoroso). Foi
também, com uma idade próxima, 38 anos que a mãe de C. se divorciou e deprimiu
(“coração-partido”). A mãe também revelou que a sua mãe teve de brigar com o seu pai
quando estava grávida dela própria porque ele queria que ela interompesse a gravidez
do seu 3º filho, o mesmo que tinha acontecido com a sua avó….
A mãe sempre sentiu o seu próprio pai como distante e também persecutória em
relação a ela e também desenvolveu uma relação tensa embora fusional com a sua
própria mãe.
As técnicas usadas nesta sessão foram: completar o genosociograma, o átomo familiar
com objectos em miniatura, tanto para a mãe como para a filha. Como resultado, tanto
a mãe como a filha ficaram mais conscientes dos padrões familiares repetitivos de
rejeição e desconfiança em relação aos homens e as feridas de amor envolvidas,
associadas à depressão.
Também foi revelado o padrão em que a mãe se torna fusional com a filha, numa
espécie de aliança contra o pai (padrão repetido nas 3 gerações estudadas)
Ficou claro que a C. e a sua mãe tem lealdades invisíveis em relação a ambas as
famílias da mãe e do pai e também perceberam que o conflito e as diferenças
percepcionadas criaram conflitos internos que eventualmetne levaram ás dificuldades
na tomada de decisões.
3ª Sessão
C. veio com o seu pai, que revelou que também se sentia muito triste por estar afastado
da filha e deseja uma aproximação. Ele argumenta extensivamente porquê é que ele se
sentiu afastado pela sua ex-mulher e pela filha.
As técnicas usadas nesta sessão foram dialógo e átomo familiar pelo pai. Como
resultado deste encontro entre pai e filha, eles decidiram encontar-se mais e o pai
comprometeu-se a apoiar C. financeiramente.
4ªa Sessão
C. sentiu-se muito melhor de todos os sintomas relacionados coma primeira sessão. Ela até já
tinha decidido os seus estudos universitários, e parecia muito feliz por estar mais próxima do
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seu pai e da sua nova meia irmã. A sua mãe já não vai ser operada ao coração (!) e estava a
sentir-se muito melhor. Isto faz com que C. Se sinta menos preocupada e menos fusional com
a sua mãe.
Como recursos técnicos, usámos Psicodrama bipessoal entre C. e a sua avó e também com o
o seu pai para libertar as evidências de lealdades invisíveis disfuncionais.
Os resultados foram que que C. tornou-se mais consciente destas lealdades inisiveis e foi
capaz de se libertar de alguns padrões tais como os rituais compulsivos (do pai) e a
desconfiança acerca dos homens/pai (da parte das antepassadas da mãe).
Sessão de Follow-Up
Dois meses após, C. apareceu mais confiante acerca de um novo namorado. Ela falava dos
seus estudos em desenho gráfico, e relatou que vê o pai mais frequentemente, e mantêm um
relacionamento mais harmonioso. A mãe já não está deprimida e tem um namorado. Ela
também revelou que finalmente a sua mãe reconheceu que o seu próprio pai mostrou alguns
sinais de afecto mas que ela não os queria aceitar e que ela própria acabou por afastar o
próprio marido, de facto tal como a sua irmã (divorciada 2 vezes), ambas sendo influenciadas
pelo mesmo evento traumático com a sua avó.
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Conclusões
Não é inevitável aceitar-se este fado sobre nós e que nós tenhamos que ser
perseguidos e controlados pelos “fantasmas” das gerações precedentes. Quando uma
“lealdade invisível” está a condicionar a nossa liberdade e a acorrentar-nos, é
necessário torna-la visível e parar indesejáveis, infelizes, pouco saudáveis – mortais ás
vezes – repetições de traumas, mortes ou doenças.
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