Você está na página 1de 80

CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

CARTOGRAFIA BÁSICA

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2 CONCEITOS E NOÇÕES DE CARTOGRAFIA ...................................................... 5
2.1 Cartografia: conceitos gerais .............................................................................. 5
2.1.1 Sistemas de coordenadas .................................................................................. 7
2.1.2 Escalas cartográficas .......................................................................................... 7
2.2 Classificação das projeções cartográficas .......................................................... 8
2.3 Projeções cartográficas mais usuais................................................................. 11
2.4 Comunicação cartográfica e sua essência para a leitura de mapas ................. 13
3 HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA ............................................................................ 15
3.1 Arte da cartografia: teorias e postulados da cartografia temática ..................... 18
4 FORMAS DA TERRA: SUPERFÍCIE TOPOGRÁFICA, GEOIDE, ELIPSOIDE E
ESFEROIDE.............................................................................................................. 21
4.1 Forma e dimensões da Terra ............................................................................ 22
4.2 Formas elipsoide, esferoide e geoide ............................................................... 23
4.2.1 Modelo geoidal.................................................................................................. 24
4.2.2 Modelo esférico................................................................................................. 25
4.2.3 Modelo elipsoidal .............................................................................................. 27
4.3 Superfície topográfica e suas características ................................................... 28
5 FUSOS HORÁRIOS, LOCALIZAÇÃO E LONGITUDES ....................................... 32
5.1 Sistemas de longitude e fusos horários ............................................................ 32
5.2 Elementos do sistema de meridianos e linha internacional de data.................. 36
5.3 Práticas pedagógicas para compreensão do sistema de fusos horários .......... 38
6 SISTEMAS DE COORDENADAS ......................................................................... 41
6.1 História da construção do sistema de coordenadas ......................................... 41
6.2 Sistema de coordenadas e suas funções ......................................................... 43
6.2.1 Sistemas de coordenadas geográficas ............................................................. 43
6.2.2 Sistemas de coordenadas projetadas ............................................................... 44
6.3 Usos dos sistemas de coordenadas ................................................................. 44
6.4 Sistemas de representações do globo terrestre no plano ................................. 45
7 CARTA TOPOGRÁFICA: PLANIMETRIA E ALTIMETRIA .................................... 48
7.1 Produtos cartográficos na topografia ................................................................ 48

2
7.2 Plantas e cartas topográficas e suas características gerais ............................. 50
7.3 Cartas planimétricas e suas aplicabilidades no ensino de geografia ................ 51
7.4 Cartas altimétricas e sua aplicabilidade no ensino de geografia ...................... 53
7.5 Mapas planialtimétricos .................................................................................... 54
7.6 Observação do relevo no ensino de topografia ................................................ 55
7.7 Atividades de geocartografia no ensino de geografia ....................................... 56
8 DECLIVIDADE E PERFIS ..................................................................................... 58
8.1 Formas de representação qualitativas e quantitativas na cartografia ............... 58
8.2 Representações quantitativas ........................................................................... 61
8.3 Tipos de relevo topográfico ............................................................................... 63
9 IMPORTÂNCIA DO ENSINO DAS ESCALAS E DOS SISTEMAS DE
PROJEÇÕES.............................................................................................................67
10 USO E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS ................................................................ 69
10.1 Mapas-múndi e suas possibilidades didáticas .................................................. 69
10.2 História da cartografia na era moderna ............................................................. 71
10.3 Tecnologias de informação aplicadas aos mapas em sala de aula .................. 72
10.4 Elementos presentes em mapas impressos ..................................................... 73
10.5 Interpretação dos mapas em sala de aula ........................................................ 74
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 78

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

4
2 CONCEITOS E NOÇÕES DE CARTOGRAFIA

A Associação Cartográfica Internacional definiu, em 1966, a cartografia como o


conjunto de estudos e de observações científicas, artísticas e técnicas que orienta a
elaboração de plantas, cartas e mapas geográficos.
A cartografia pode ser dividida em duas áreas. A primeira é a cartografia
matemática, que consiste na cartografia que trata dos aspectos matemáticos ligados
à concepção e construção dos mapas, ou seja, das projeções cartográficas. A
segunda é a cartometria, definição dada ao ramo da cartografia que trata das
medições efetuadas sobre mapas, designadamente a medição de ângulos e direções,
distâncias, áreas, volumes e contagem de número de objetos. (STEIN, 2018).
Nesta seção, você vai estudar as projeções cartográficas, os principais
conceitos de escala e de sistemas de coordenadas, os principais modelos de
projeções cartográficas e sua classificação, compreendendo que um dos maiores
desafios da cartografia é a representação de uma superfície curva em um plano.

2.1 Cartografia: conceitos gerais

Você sabe qual a diferença entre carta, mapa e planta?


A carta é vista como meio de transcrição gráfica dos fenômenos geográficos,
a qual constitui o principal objetivo da cartografia. Entre as características principais,
citam-se: apresenta escalas médias ou grandes; apresenta desdobramento em folhas
articuladas de maneira sistemática; possui avaliação precisa de direções, distâncias,
localização de pontos, áreas e detalhes; considera a curvatura terrestre. (STEIN,
2018).
O mapa é considerado uma representação gráfica, sendo normalmente sobre
uma superfície plana, da organização espacial de qualquer parte do universo físico
em qualquer escala. Entre as principais características, pode-se citar: representação
plana; apresenta escala pequena (grandes áreas); pode apresentar delimitações de
acidentes naturais (bacias, chapadas, planaltos, entre outros); pode apresentar fins
temáticos, culturais ou ilustrativos; apresenta uma análise qualitativa ou quantitativa
genérica. (STEIN, 2018).
A planta é a representação em escala grande de uma área muito limitada,
portanto, com maior quantidade de detalhes. (STEIN, 2018).
5
A Figura a seguir apresenta a diferenciação de mapa, carta e planta.

Mapa (a), carta (b) e planta (c).


Fonte: boreala; Tetiana Ch; MEgo-studio/Shutterstock.com

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1998), a


confecção de uma carta exige, antes de tudo, o estabelecimento de um método,
segundo o qual, a cada ponto da superfície da Terra corresponda um ponto da carta
e vice-versa. Diversos métodos podem ser empregados para se obter essa
correspondência de pontos, constituindo os chamados “sistemas de projeções”.
Porém, as projeções cartográficas enfrentam um problema, o qual consiste na
representação de uma superfície curva em um plano. Desta forma, pode- -se dizer
que todas as representações de superfícies curvas em um plano envolvem:
“extensões” ou “contrações”, resultando em distorções ou “rasgos” (conforme Figura
abaixo). Existem diferentes técnicas de representação, porém, é fundamental
entender primeiramente, os sistemas de coordenadas visando à representação
cartográfica.

Fonte: pzAxe; lady-luck/Shutterstock.com


6
2.1.1 Sistemas de coordenadas

Os sistemas de coordenadas consistem em linhas imaginárias que cortam o


planeta Terra nos sentidos horizontal e vertical, servindo para a localização de
qualquer ponto na superfície terrestre. A distância das coordenadas geográficas é
medida em graus, minutos e segundos, onde um grau corresponde a 60 minutos, e
um minuto corresponde a 60 segundos.
Pena (2017), comenta que estas linhas imaginárias são chamadas de
paralelos e meridianos, e suas medidas em graus são, respectivamente, latitudes
e longitudes. Em relação aos paralelos, estes cortam a Terra no sentido horizontal
(sentido Leste-Oeste), diferentemente dos meridianos, os quais cortam a Terra no
sentido vertical. Quando estas linhas se encontram, tem-se a existência das
coordenadas geográficas.
Tudo o que se encontra sobre a Linha do Equador possui a latitude 0º, sendo
que ela aumenta à medida que se desloca para o norte, e diminui à medida que se
desloca para o sul. As latitudes são a distância em graus de qualquer ponto da Terra
em relação à Linha do Equador. É importante ressaltar que suas medidas vão de -90º
até 90º. Da mesma forma ocorre com o Meridiano de Greenwich em relação às
longitudes. Tudo que estiver sobre essa linha possui 0º de longitude, aumentando à
medida que nos deslocamos para leste e diminuindo à medida que nos deslocamos
para oeste. Por isso, as longitudes são a distância em graus de qualquer ponto da
Terra em relação ao Meridiano de Greenwich. Suas medidas vão de -180º até 180º
(PENA, 2017).

2.1.2 Escalas cartográficas

A escala estabelece a relação entre o tamanho real do fenômeno na superfície


terrestre e sua representação no mapa. Essa representação necessita de uma
redução devido ao tamanho natural dos fatos geográficos. Desta forma, a escala é
definida como sendo a relação entre o tamanho representado no mapa e o tamanho
real na superfície terrestre. Existem dois tipos de escalas, sendo estas:
 Escala numérica: expressa por uma fração na qual o numerador representa
a distância do mapa e o denominador a distância na superfície real. Por exemplo, em
uma escala 1:50.000 (lê-se escala um por cinquenta mil), significa que a superfície
7
representada foi reduzida 50 mil vezes. Ou seja, neste caso, 1 cm no mapa equivale
a 50.000 cm, (ou 500 metros ou 0,5 km) na realidade.
 Escala gráfica: é uma linha reta graduada, na qual se indica a relação com
as distâncias representadas no mapa. Por exemplo: 1 cm = 100 km

A escala (E) de um mapa é a relação entre a distância no mapa (d) e a distância


real (D). Supondo que é necessário saber a escala utilizada em um mapa, onde a
distância entre duas cidades é de 10 km e está representada em um mapa por 20 cm.
Primeiramente, é preciso transformar todas as unidades em centímetros, ou seja, 10
km equivalem a 1.000.000 centímetros. Desta forma:

E = 20 / 1.000.000 = 1:50.000 (ou 1 para cinquenta mil)

2.2 Classificação das projeções cartográficas

A projeção cartográfica é definida como um traçado sistemático de linhas numa


superfície plana, destinado à representação de paralelos de latitude e meridianos de
longitude da Terra ou de parte dela, sendo a base para a construção dos mapas
(FRANCISCO, 2017). A Figura a seguir apresenta as principais classificações
utilizadas nas projeções cartográficas.

Fonte: adaptada de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1998).

8
O método de construção de uma projeção cartográfica pode ser geométrico,
analítico ou convencional. De acordo com Silva e Segantine (2015), as projeções
geométricas podem ser classificadas em três grandes grupos: projeções planas,
cônicas ou cilíndricas, as quais são apresentadas na Figura abaixo:

Fonte: Tuler e Saraiva (2016)

Nas projeções planas (ou perspectivas): o plano cartográfico à superfície é


tangente à superfície-objeto no ponto central. São considerados três aspectos ou
casos:
 o aspecto polar ou normal, quando o ponto central se situa num dos polos;
 o aspecto equatorial, ou transversal, quando o ponto central se situa no
equador;
 o aspecto oblíquo (horizontal), quando o ponto central se situa em qualquer
outro local da superfície de referência.
Nas projeções geométricas cônicas, embora esta não seja uma superfície
plana, já que a superfície de projeção é o cone, ela pode ser desenvolvida em um

9
plano sem que haja distorções, funcionando como superfície auxiliar na obtenção de
uma representação. Sua posição em relação à superfície de referência pode ser:
normal, transversal e oblíqua (ou horizontal).
Nas projeções geométricas cilíndricas tangentes são considerados três
aspectos:
 o aspecto normal (equatorial), em que o cilindro cartográfico é tangente à
superfície-objeto no equador;
 o aspecto transverso, onde o cilindro é tangente à superfície-objeto no
mediano central da projeção;
 o aspecto oblíquo (ou horizontal), onde o cilindro é tangente a uma das
secções normais que passa no ponto central.
Algumas projeções cartográficas correspondem a projeções geométricas, num
plano ou numa superfície planificável (cone ou cilindro), a partir de um ponto de vista
situado, por exemplo, no centro da superfície-objeto (esfera ou elipsoide). A maioria
das projeções cartográficas, porém, são constituídas por projeções analíticas (ou
também conhecidas de convencionais), as quais se baseiam em formulação
matemática obtidas com o objetivo de se atender condições (características)
previamente estabelecidas.
Quanto às propriedades das projeções, estas podem ser equidistantes,
equivalentes, conformes ou afiláticas. As propriedades das cartas permitem diminuir
ou eliminar parte das deformações de acordo com a aplicação desejada, pois, existe
a impossibilidade de desenvolver, sem deformações, uma superfície esférica ou
elipsoidal sobre um plano. No caso das projeções equidistantes, estas não
apresentam deformações lineares; nas equivalentes, não se alteram as áreas; nos
conformes, os ângulos são mantidos em torno de quaisquer pontos e não deformam
pequenas regiões; e nas afiláticas, não possuem nenhuma das propriedades citadas
anteriormente (TULER; SARAIVA, 2016).
Em relação ao tipo de contato entre as superfícies de projeção, estas podem
ser tangentes ou secantes em relação ao globo terrestre.
 Tangentes: a superfície de projeção é tangente à de referência (plano: um
ponto; cone e cilindro: uma linha).
 Secantes: a superfície de projeção secciona a superfície de referência
(plano: uma linha; cone: duas linhas desiguais; cilindro: duas linhas iguais).

10
2.3 Projeções cartográficas mais usuais

As projeções cartográficas utilizadas nos mapas geográficos, em escalas


pequenas, são projeções esféricas, ou seja, são aplicações de uma esfera de
referência no plano cartográfico. As cartas e as plantas topográficas, em escalas
maiores, baseiam-se em projetos elipsoidais, isto é, aplicações de um elipsoide de
referência no plano cartográfico (CASACA; MATOS; BAIO, 2017).
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (1998), entre as
projeções cartográficas mais usuais, cita-se: projeção de Robinson; projeção
policônica; projeção cônica conforme de Lambert; projeção cilíndrica conforme de
Mercator; projeção transversa de Mercator e Projeção de Peters. A seguir, cada uma
destas projeções está explicada de forma mais detalhada.
Pena (2017) ressalta que a projeção de Robinson é classificada como
cilíndrica, pois sua elaboração ocorre como se envolvesse o globo terrestre em torno
de um cilindro. Trata-se de uma das projeções cartográficas mais conhecidas em todo
o mundo. Nela, os meridianos são representados em linhas curvas ou elipse,
enquanto os paralelos permanecem em linhas retas.

Fonte: Artalis/Shutterstock.com

A grande vantagem da Projeção de Robinson é de ela se encontrar em um meio


termo entre esses dois tipos. Ela não preserva nem a forma e nem a correta área dos
continentes. No entanto, ela consegue minimizar as distorções que ocorrem nesses
11
dois aspectos. Por esse motivo, ela é ideal para mapas que procuram representar a
área da Terra como um todo e, assim, é a projeção mais utilizada em mapas e atlas,
sendo muito conhecida também como o mapa-múndi da Terra.
Em relação à projeção policônica, sua superfície de representação envolve
diversos cones. O Meridiano Central e o Equador são as únicas retas da projeção.
Onde o Meridiano Central é dividido em partes iguais pelos paralelos e não apresenta
deformações. Os paralelos são círculos não concêntricos (cada cone tem seu próprio
ápice) e não apresentam deformações. Os meridianos são curvas que cortam os
paralelos em partes iguais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 1998).
Em relação à aplicabilidade, são populares devido à simplicidade de seu
cálculo, pois existem tabelas completas para sua construção. Em território nacional,
são utilizados em mapas regionais, estaduais e temáticos.
Já a projeção cônica de Lambert adquiriu grande popularidade não apenas
nos mapas geográficos, na versão esférica, mas também na cartografia topográfica
na sua versão elipsoidal. A projeção cônica conforme a de Lambert, é muito
semelhante às projeções cônicas geométricas, sendo que os paralelos são
representados por arcos de circunferência concêntricos e os meridianos por retas
radiais centradas na imagem do polo. Isto faz com que esta projeção seja bastante
útil para regiões que se estendam na direção Leste-Oeste, porém pode ser utilizada
em quaisquer latitudes (CASACA; MATOS; BAIO, 2017).
A projeção cilíndrica de Mercator, uma projeção (analítica) cilíndrica, consiste
na representação por linhas retas das linhas laxodrômicas, que são as linhas com
azimute constante na esfera. Este tipo de projeção permite selecionar dois paralelos
isotérmicos, isométricos relativamente ao equador.
A projeção (analítica) transversa de Mercator é uma projeção conforme. A
projeção, adequada principalmente para a elaboração de mapas de regiões com um
desenvolvimento predominante na direção norte-sul, não é utilizada na elaboração do
mapa-múndi, devido sua deformação linear à medida que se afasta do meridiano
central (versão tangente).
Na projeção de Peters, ocorre o sacrificar das formas em benefício da
conservação da proporção das áreas. É, portanto, um tipo de projeção equivalente.
Os meridianos e os paralelos também são linhas retas.

12
2.4 Comunicação cartográfica e sua essência para a leitura de mapas

A comunicação é uma forma de reproduzir informações a partir de linguagens,


símbolos e representações. Já a comunicação cartográfica é feita por mapas, e sua
relevância encontra-se na representação de dados cartográficos. Desse modo, ela
antecede o mapa, utilizando cartas para determinar o conteúdo de novas informações.
A cartografia como comunicação concentra-se mais na carta existente: como foi feita
e como pode ser lida e interpretada. Essa não é a única forma de comunicação, mas
uma forma especializada que dá ênfase ao visual.

A cartografia como ciência vem do conhecimento de como comunicar, com


quais instrumentos e técnicas, para que a realidade representada fique bem
mais exata. É o conhecimento de quais símbolos colocar no mapa e quais
itens omitir. É o conhecimento da projeção usada no mapa e de como os
mapas são produzidos. Também, a ciência na cartografia permite o uso de
técnicas avançadas que proporcionam a produção de mapas através de
computadores, de imagens de satélites ou fotografias aéreas (ANDERSON,
c1982, p. 13).

Nesse sentido, o mapa é uma abstração científica da realidade. Essa afirmação


nos permite entender que o:

[...] mapa antecipava a realidade espacial, e não vice-versa. Em outros


termos, um mapa era um modelo para o que (e não um modelo do que) se
pretendia representar. [...] Ele havia se tornado um instrumento real para
concretizar projeções sobre a superfície terrestre (WINICHAKUL apud
ANDERSON, 2008, p. 239–240 apud FONSECA; OLIVA, 2012, p. 30).

Assim, podemos definir o mapa como um instrumento de representação dos


aspetos geográficos naturais ou artificiais da Terra destinado a fins culturais, políticos,
ilustrativos ou científicos. Trata-se de uma representação gráfica, na maioria das
vezes, de uma superfície plana com escala específica, que demonstra os terrenos
acidentados física ou culturalmente da superfície terrestre, podendo ser também de
algum planeta ou satélite. Suas posições devem apresentar precisão em conjunto com
um sistema de coordenadas. O mapa também deve denominar parte ou toda a
superfície da esfera celeste (OLIVEIRA, 1993).
Para Lacoste (1988), a geografia e o mapa sempre foram confundidos, ou seja,
fazer geografia era o mesmo que fazer mapas. Esse pensamento prevaleceu até o
final do século XIX, antes de a geografia constituir-se como ciência. Christian Jacob
(1992) relata que é de extrema relevância a desconstrução dos mapas antigos e das
13
representações imagéticas (paisagens), pois não desconsideram as concepções
espaciais explícitas (ou implícitas) nas representações do espaço (mapas e
paisagens). Fonseca e Oliva (2012, p. 28), ao explanarem sobre espaço e tempo,
falam sobre “[...] ‘virtudes e características’ universais da ‘categoria’ espaço, quando
o são na verdade parte de uma percepção (uma construção) histórica e limitada de
um espaço não generalizável”. Assim, podemos observar a relevância dos mapas na
análise histórica, cultural e política.
No que diz respeito à utilização dos mapas para auxílio na análise do espaço
geográfico, Jacques Lévy e Michel Lussalt (2003, p. 13, tradução nossa) abordam que:

O mapa é um bom exemplo de objeto híbrido: ele é uma representação do


espaço fixo na matéria e constitui em si mesmo um espaço próprio, suporte
de usos específicos. Este se situa na microescala, mas na interespacialidade,
via mapa e linguagens com outros níveis escalares, pode nutrir outras
práticas de espaço e vários imaginários. Este exemplo, tomado dentre os
objetos espaciais que os geógrafos mais utilizaram e naturalizaram, mostra
bem toda a complexidade do menor fenômeno que implica uma relação com
o espaço.

O mapa pode ou não ter caráter científico, além de relatar a respeito da


comunicação cartográfica três atributos imprescindíveis: Escala; Projeção;
Simbolização.
Nesse sentido, as vantagens e limitações derivam do grau pelo qual os mapas:
1. reduzem e generalizam a realidade;
2. comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção;
3. apresentam fenômenos selecionados por meio de sinais que, sem possuir
semelhanças com a realidade e comunicam as características visíveis ou invisíveis.
Assim, a linguagem cartográfica utiliza-se da representação de quatro
elementos fundamentais: os três primeiros elementos têm como referência o fundo do
mapa, ou seja, a base de informações contextuais julgadas úteis para esclarecer uma
situação. O quarto elemento refere-se às informações projetadas sobre o fundo. Os
elementos que compõem o mapa estão elencados no Quadro abaixo:

Elementos indispensáveis do mapa Função e posição


Escala Contexto, redução da área (fundo do mapa)
Projeção Controle de deformações (fundo do mapa)
Métrica Contexto, definição de áreas (fundo do mapa)
Simbólico Informações projetadas no fundo do mapa

14
3 HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA

Os estudos da cartografia tiveram início em épocas remotas, quando grupos


humanos começaram a representar seu modo de vida, principalmente, em relação à
localização e ao seu uso no cotidiano. Assim, a evolução da cartografia é muito
relevante até os dias atuais por sua importância no decorrer da evolução das
civilizações.
Os primeiros estágios sob a forma de mapas itinerários foram feitos por
populações nômades no período da Antiguidade. Após esse período, na Grécia
Antiga, o conhecimento geográfico e cartográfico esteve idealizado na obra Geografia
do astrónomo, geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90–168
d.C.). Em sua obra, ele apresenta os princípios da cartografia matemática, das
projeções e dos métodos de observação astronômica. A contribuição da Grécia Antiga
para a ciência cartográfica foi ignorada durante toda a Idade Média, retomada apenas
no século XV, quando teve grande influência sobre o pensamento geográfico da
época, em um período denominado Renascimento de Ptolomeu (ANDERSON,
c1982).
De acordo com Anderson (c1982), a evolução da cartografia foi
institucionalizada pelas guerras, pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento
das artes e ciências e pelos movimentos históricos, que possibilitaram maior precisão
na representação gráfica da superfície da Terra. Na Grécia Antiga, Hiparco (160–120
a.C.) mostrou os primeiros fundamentos da ciência cartográfica utilizando métodos
astronômicos para a determinação de posições na superfície da Terra. Além disso,
sugeriu a solução para o problema relativo ao desenvolvimento da superfície da Terra
sobre um plano idealizando a projeção cônica. Nessa época, os gregos obtiveram as
concepções da esfericidade da Terra, polos, equador e trópicos, que configuraram as
primeiras medidas geométricas, a idealização do primeiro sistema de projeção e a
introdução das noções de longitude e latitude.
No século XII, o geógrafo árabe Abdullah Al Idrisi introduziu a agulha magnética
com base no campo matemático teórico para atender às exigências náuticas
motivadas pelo desenvolvimento da navegação, dando início ao aspecto funcional da
cartografia nesse período. No início do século XIV, as cartas Portulanas obtiveram o
ressurgimento e a expansão da obra de Ptolomeu, principalmente, pelos navegadores

15
de Gênova. Essas cartas não obedeceram nenhum critério de projeção, pois eram
reservadas aos navegantes que possuíam o traçado das loxodromias (rumos) e o
delineamento das costas dos países mediterrâneos (MARTINELLI, 2003;
ANDERSON, c1982).
A revolução da cartografia teve início no século XV, e o advento da agulha
magnética permitiu a exploração dos mares, além de intensificar o comércio para
Leste, auge dos descobrimentos portugueses. A obra de Ptolomeu foi explanada
novamente na cartografia, sofrendo modificações e adaptações de acordo com o
interesse dessa época pela navegação. Com o conhecimento da gravação ou
impressão, foi possível uma produção cartográfica abundante, substituindo os
manuscritos dispendiosos. Assim, a navegação foi estudada a partir de métodos
racionais na Escola de Sagres, e o espírito aventureiro português a serviço dessa
Escola descobriu o mundo.
No século XVI, a vasta produção cartográfica teve destaque com os trabalhos
dos cartógrafos portugueses, espanhóis e italianos, como Fernão Vaz Dourado,
Toscaneli, Cantino e Pedro Nunes. Na Figura abaixo, podemos observar o mapa-
múndi do ano de 1500, confeccionado por Juan de La Cosa, o navegador de Cristóvão
Colombo, além da representação cartográfica da navegação e sua característica
rústica (ANDERSON, c1982).

Fonte: CRISTÓVÃO... ([2019], documento on-line).

16
Anos depois, ainda no século XVI, teve o surgimento da cartografia holandesa
com a representação de Mercator e Ortelius, sucedendo a cartografia mediterrânea.
Em 1569, surgiu o primeiro mapa do Mercator, nome latino de Guerhard Kramer, cuja
projeção mostra os meridianos em linhas retas e paralelas formando ângulos retos
com os paralelos, também representados por linhas retas e paralelas (Figura abaixo).
Assim, para manter a conformidade das áreas, a separação entre duas paralelas
aumenta em direção a cada polo ou em proporção direta com o afastamento dos
paralelos em relação à linha do Equador (ANDERSON, c1982).
O século XVIII foi marcado pela instituição de academias científicas, dando
início à ciência cartográfica moderna. A escola francesa Grandes apresentou
inovações como, por exemplo, a proposta do astrônomo francês Cesar-François
Cassini de Thury (1714–1784), que produziu a primeira série sistemática de mapas
topográficos para a França (MARTINELLI, 2003).

Fonte: Le Point.fr (2015, documento on-line).

Durante o Imperialismo, ao final do século XIX, ocorreu um grande impulso nos


mapeamentos devido aos novos conhecimentos. Nesse período, cada potência
necessitava de um inventário cartográfico com vistas às investidas nas áreas de
dominação para sua exploração espoliativa. Ao final do século XVIII e início do século
XIX, emergiu a cartografia temática, além do surgimento e sistematização de
diferentes ramos de estudos operados com a divisão do trabalho científico
(MARTINELLI, 2003).

17
Ao final do século XX e início do atual século, a cartografia tem sido vinculada
à área da informática. Existem as novas tecnologias que possibilitam que geógrafos e
profissionais da área confeccionem mapas atrelados a tecnologias da informação
(Sistema de Informação Geográfica [SIG], geoprocessamento e sensoriamento
remoto) com a utilização de softwares com o objetivo de representação do espaço
geográfico.
Entretanto, é possível observar como a geografia está relacionada com a
cartografia, segundo Lacoste (1988), o real, o espaço geográfico, é somente aquilo
que pode ser mapeado, colocado sobre a carta, delimitado, com precisão sobre o
terreno e definido em termos de escala cartográfica. Além disso, a geografia, em suas
premissas epistemológicas e análise do processo científico ligado a uma história, deve
ser entendida, de um lado, em suas relações ideológicas junto à ciência e, de outro,
como prática ou como poder, pelo interesse da sociedade, principalmente, ao uso da
cartografia.

3.1 Arte da cartografia: teorias e postulados da cartografia temática

A abordagem de teorias na cartografia tem sido desenvolvida, principalmente,


sobre a cartografia temática na segunda metade do século XIX. A cartografia teórica
moderna, pelo domínio da geografia, ainda esteve atrelada aos seus objetivos a
tecnologia de levantamentos e a topografia, e essa tendência teve mais destaque
sobre a técnica e prática da cartografia topográfica do que a teoria. A intenção dos
geógrafos era produzir mapas voltados a projeções e cores, representação de relevo
e elaboração de atlas (ARCHELA; ARCHELA, 2002).
A teoria da semiologia gráfica, preconizada pelo geógrafo Jacques Bertin,
salienta a necessidade da transmissão de mensagens com significado universal por
parte dos mapas (FONSECA, 2007). Segundo Bertin (1973), a cartografia, assim
como a representação gráfica, possibilita a linguagem, constituída pelos homens para
comunicar observações essenciais à sua sobrevivência, definida como linguagem
bidimensional atemporal e destinada à vista. Apresenta relevância sobre as demais
devido à percepção do leitor ao interpretar o mapa. Diante disso, o autor formulou o
sistema semiológico monossêmico como apoio a análise da representação
cartográfica.

18
Haja vista que a teoria da semiologia gráfica contribuiu para a construção de
mapas ou gráficos para serem vistos e não para serem lidos, com base na percepção
imediata, a apreensão deve ser nítida e acessível. O nível monossêmico de imagens
é construído por um sistema semântico a partir do estudo das regras relacionadas aos
signos.

Quando se utilizam as primitivas gráficas em uma representação cartográfica,


pode-se fazer com que os pontos, as linhas ou áreas sejam mais ou menos
perceptíveis. A maneira de conseguir isto é considerar a alteração da sua
forma, tamanho, orientação, cor, valor e textura. Denominadas variáveis
visuais segundo Bertin nos anos 1960 para representação gráfica compondo
uma linguagem bidimensional e atemporal destinada a visão humana
(NOGUEIRA, 2009, p. 128).

Bertin (1986) explana duas abordagens a respeito da representação gráfica,


explanadas a seguir.
a) Neográfica de tratamento: atenta analisar relações existentes entre dados
de uma tabela e como agrupá-las para constituir respostas satisfatórias às questões
que precisam ser formuladas.
b) Neográfica de comunicação: apresenta preocupação em fixar e transmitir às
pessoas o que foi descoberto nos dados, considerando as dimensões do plano (seja
na folha de papel ou tela de computador), chamando a atenção do leitor pela variação
visual de manchas. Todavia, a semiologia gráfica é utilizada na construção de mapas
temáticos (MARTINELLI, 2003; NOGUEIRA, 2009).
A teoria da informação tem influência na cartografia por meio dos sistemas
comunicacionais embasados na teoria geral da comunicação. Utiliza o método para
controlar os ruídos de canal que apresenta com o objetivo de transmitir,
independentemente de seu conteúdo, um número maior de sinais do que o necessário
para a recepção da mensagem, o que implica na repetição de sinais ou redundância.
Devido à comunicação cartográfica, vista como produção teórica e metodológica
ligada a teoria da informação, nesse caso, a produção de mapas é explanada com
base na dimensão sintática. Essa dimensão é um fenômeno da comunicação pelo
mapa, que compreende como construir mensagens que apresentem condições
excelentes para, quando veiculadas pelo canal, almejem de forma mais eficiente
possível o receptor.
Nesse sentido, o mapa é o resultado do processo de comunicação cartográfica,
pois permite que o conteúdo da realidade seja observado e processado pelo
19
cartógrafo. Além do ato de comunicação, tem que ter significado para que o cartógrafo
apresente a realidade do fenômeno a ser mapeado para, então, produzir mapas
eficientes, capazes de produzir o efeito que o cartógrafo almeja enquanto emissor da
informação. O cartógrafo deve ter em mente a codificação correta dos fenômenos para
que os objetivos da transmissão da informação cartográfica sejam alcançados por
meio da interseção do repertório do cartógrafo com o repertório do usuário de mapa
definido no campo comunicacional (GOMES et al., 2013).
Segundo Archela e Archela (2002), Taylor foi o precursor da teoria da
modelização, introduzida pela tecnologia SIG, resultado da intensiva utilização de
métodos matemáticos e estatísticos com diversas variáveis e também da evolução
tecnológica e da computação com o auxílio de programas gráficos. Desde então, é
possível acessar bases cartográficas que interagem com bancos de dados e produzir
documentos cartográficos para a análise espacial. Nos dias atuais, com a ampliação
do número de usuários dos SIGs, tornou-se inevitável a melhor capacitação de
profissionais em geografia e cartografia.
A teoria cognitiva utiliza como método cartográfico o envolvimento com
operações mentais lógicas como comparação, análise, síntese, abstração,
generalização e modelização cartográfica. Essa pesquisa cartográfica apresenta o
mapa como uma fonte variável de informações, dependendo das características do
usuário. Ela foi desenvolvida a partir da psicologia, contribuindo para a cartografia
tanto no processo de mapeamento quanto para o cartógrafo, pois gerou a
preocupação com as características do usuário, como no processo de leitura do mapa.
Portanto, o mapa é definido como um instrumento para a aquisição de novos
conhecimentos sobre a realidade representada. Essa teoria teve contribuições a
respeito dos mapas mentais e da alfabetização cartográfica (ARCHELA; ARCHELA
2002).
A teoria da visualização cartográfica permitiu para a cartografia uma nova
concepção de visualização. Sobre a cartografia contemporânea e sua visão particular
do que seria a visualização cartográfica no início da década de 1990, Mcormick et al.
comentam que:

A visualização é um método da computação em que a computação gráfica e


a tecnologia de processamento de imagens são usadas em aplicações
científicas de análise intensiva de dados, visando transformar o simbólico em
geométrico, capacitando assim o pesquisador a observar suas simulações e
cálculos (MCORMICK et al., 1987 apud WOOD; KELLER, 1996).
20
Assim, a visualização possibilita que o pesquisador produza rapidamente um
número de imagens com diversas combinações das variáveis de um conjunto de
dados. Essa teoria apresenta, a partir da visualização, o potencial de revitalizar a
cartografia para além do SIG e da cartografia digital, buscando os atlas eletrônicos
interativos e os sistemas de multimídia do SIG, entre as inúmeras tecnologias. As
definições e os conceitos desse tipo de atlas envolvem visualização da informação,
esquematização, análise comparativa, ordenação, animação, modelagem dinâmica,
projeção, navegação casual, hipertexto, base de dados e capacidade para o
processamento de interatividade. Nesse sentido, a visualização e os sistemas de
mapeamento eletrônico de multimídia envolvem três elementos conceituais,
tecnologias sofisticadas que estão na junção dessas novas tecnologias com a
cognição e a comunicação cartográfica (ARCHELA; ARCHELA, 2002).

4 FORMAS DA TERRA: SUPERFÍCIE TOPOGRÁFICA, GEOIDE, ELIPSOIDE E


ESFEROIDE

A cartografia é a ciência que representa aspectos da superfície terrestre por


meio de mapas e outras formas gráficas. Utiliza o apoio de diversas ciências,
principalmente da astronomia, a partir das coordenadas das estrelas em relação à
esfera celeste, e da geodésia, por meio da malha de pontos geodésicos com latitude,
longitude e altitude de alta precisão.
A geodésia “estuda a forma e as dimensões da Terra, a determinação de pontos
sobre a sua superfície ou próximos a ela, e o seu campo gravitacional e gravífico”
(MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 69).
Nessa perspectiva, para estudar as características da Terra, é necessário que
se compreenda sobre sua forma e suas dimensões, selecionando um modelo de
superfície de referência para simplificar o processo cartográfico e, com isso, analisar
os aspectos socioambientais que ocorrem no espaço geográfico, uma vez que as
bases cartográficas possibilitam uma visão holística e integrada da paisagem. Nesta
seção, você estudará alguns conceitos fundamentais da cartografia, como superfície
topográfica, geoide, esferoide e elipsoide.

21
4.1 Forma e dimensões da Terra

A representação gráfica da superfície terrestre é um tema fundamental para a


cartografia, logo, faz-se necessário conhecer o formato e as dimensões do planeta
Terra. Primeiramente, o homem imaginou a Terra como uma superfície plana, pois era
assim que ele via em seu redor. Na Grécia antiga, o homem já se preocupava em
descrever a verdadeira forma da Terra e a principal motivação para essa compreensão
estava relacionada com a necessidade de entendimento de mundo. Assim, um passo
importante foi dado por Pitágoras, em 528 a.C., que classificou a forma da Terra como
esférica. Aristóteles (384–322 a.C.) adicionou argumentos sobre o porquê a Terra
deveria ser uma esfera, como a curvatura do horizonte no mar e a mudança da sombra
da lua durante os eclipses. Porém, foi Eratóstenes (276–196 a.C.), por volta do ano
200 a.C., quem, efetivamente, demonstrou a esfericidade da Terra a partir do cálculo
da sua circunferência em aproximadamente 46.250 km. Atualmente, assume-se que
a circunferência real da Terra é de 41.761.478,94 metros (BAKKER, 1965; SEABRA;
LEÃO, 2012).
No entanto, durante a Idade Média, a superfície terrestre voltou a ser
considerada plana. Seabra e Leão (2012, p. 69) explicam que:

Nesse período, imaginava-se que a Terra tinha a forma de um disco plano,


com abismos e monstros marinhos ao seu final. Mas as grandes navegações
fizeram com que as reflexões e as questões apontadas pelos gregos
voltassem a ser consideradas, e a esfericidade terrestre voltou a ser pauta
importante nas discussões científicas. A percepção de que os barcos vão
sumindo lentamente ao afastarem-se no horizonte, a projeção da sombra da
Terra na Lua, durante os eclipses, e outros eventos importantes estimularam
ainda mais essas discussões.

Assim, a Idade Média marcou um período de retrocesso para a cartografia, mas


as grandes navegações possibilitaram que a esfericidade da Terra voltasse a ser
considerada. No final do século XVII, Newton mencionou sobre o achatamento da
Terra devido ao movimento de rotação e da força da gravidade, que faz com que sua
forma se assemelhe a um elipsoide achatado, segundo a linha dos polos. E foi no
século XIX que o matemático Carl Friedrich Gauss introduziu a concepção do geoide
para a forma da superfície teórica da Terra, uma vez que o formato da superfície
terrestre é muito irregular devido a diversas variações decorrentes de suas
montanhas, vales, oceanos, entre outros aspectos morfológicos, o que elimina a
22
hipótese da sua forma ser um elipsoide geometricamente regular (BAKKER, 1965;
SEABRA; LEÃO, 2012).
Dessa forma, para representar a Terra, a cartografia precisa de uma superfície
de referência geometricamente definida, utilizando alguns modelos mais simples,
regulares e geométricos. As formas de interesse para representação cartográfica são:
superfície topográfica, geoide, esferoide e elipsoide (Figura) (BAKKER, 1965; VEIGA;
ZANETTI; FAGGION, 2012).

Fonte: Seabra e Leão (2012, p. 75).

Os estudos e conceitos relacionados à determinação da forma e modelos de


representação da Terra são muito importantes para as geociências, sendo por isso
alvo de dedicação exclusiva de uma área específica da cartografia conhecida como
geodésia. Faz-se necessário sabermos corretamente a forma daquilo que estamos
representando (a superfície da Terra), compreendendo as dificuldades de sua
representação e as metodologias e os parâmetros utilizados para a resolução ou
mitigação desses obstáculos (SEABRA; LEÃO, 2012).

4.2 Formas elipsoide, esferoide e geoide

Para os estudos relacionados à representação da superfície da Terra, faz-se


necessário que se determine uma forma para o nosso planeta. A Terra pode ser
23
representada por alguns modelos geométricos para fins de simplificar a análise de
diversos parâmetros de sua superfície, sendo que as principais formas são geoide,
elipsoide e esferoide.

4.2.1 Modelo geoidal

O conceito de geoide foi sugerido pelo matemático alemão Carl Friedrich Gauss
(1777–1855) como sendo a forma da Terra (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1999). Timbó (2001, p. 9) define o geoide como:

Forma verdadeira da Terra subtraída das montanhas e vales, considerando


que estes elementos são muito pequenos (máximo 10 km) em relação ao
diâmetro da Terra (13.000 km). A superfície do geoide não tem definição
matemática, é aproximadamente esférica com suaves ondulações e achatada
nos polos, sendo o diâmetro equatorial cerca de 43 km maior que o diâmetro
polar. [...]. É utilizada como referência padrão para as medidas de altitudes.

Assim, nessa perspectiva, o geoide é considerado a origem, ou seja, o marco


zero das medidas altimétricas, sendo todas as medidas de altitude da superfície
topográfica calculadas tendo esse modelo como referência. É definido pelo
prolongamento da superfície do nível médio e inalterado dos mares sobre os
continentes, logo, a medida de altitude é sempre referenciada pelo termo “acima do
nível médio dos mares” (SEABRA; LEÃO, 2012).
Menezes e Fernandes (2013, p. 70) explicam que o geoide pode ser definido
de duas maneiras: a partir de uma visão mais simplista, conceituando esse modelo de
representação cartográfica “como a superfície do nível médio dos mares
supostamente prolongada sob os continentes. Assim, ora ele está acima, ora abaixo
da superfície definida como a superfície topográfica da Terra, ou seja, a superfície
definida pela massa terrestre”. E a partir de uma visão mais completa, na qual os
referidos autores abordam sobre o parâmetro que o geoide evidencia, uma vez que
se trata da “superfície física ao longo da qual o potencial gravitacional é constante e a
direção da gravidade é perpendicular (superfície equipotencial) ”.

A superfície do geoide, nível médio dos mares, é propriamente definida como


sendo uma superfície de igual potencial gravitacional, em que a direção da
gravidade é perpendicular a ela em todos os lugares. Assim, pelas variações
na densidade dos elementos constituintes da Terra e por serem esses
irregularmente distribuídos, o geoide normalmente se eleva sobre os
continentes e afunda nas áreas oceânicas (MENEZES; FERNANDES, 2013,
p. 70).
24
Vale ressaltar que a caracterização do geoide não é matemática, porém física
em cada ponto da superfície da Terra e que sua definição é afetada pela variação das
estruturas das massas terrestres. Logo, como o geoide é irregular (Figura abaixo), a
direção da gravidade não é direcionada para o centro da Terra em todos os lugares
do planeta.

Fonte: Adaptada de Timbó (2001).

4.2.2 Modelo esférico

Segundo Timbó (2001, p. 10), a esfera:

[...] é a forma da Terra definida matematicamente como sendo uma


simplificação do geoide, considerando que o achatamento da Terra é muito
pequeno (43 km em relação a 13.000 km de diâmetro). É a forma considerada
algumas vezes pela geodésia para cálculos auxiliares e trabalhos
simplificados.

Um exemplo de aplicação desse modelo é o globo terrestre, que utiliza a esfera


como superfície de projeção, representando, assim, a Terra de forma tridimensional e
apresentando poucas distorções.
Veiga, Zanetti e Faggion (2012, p. 8) explicam que um ponto pode ser
localizado sobre essa esfera por meio de sua latitude e longitude:
 Latitude astronômica (Φ): é o arco de meridiano contado desde o Equador
até o ponto considerado, sendo, por convenção, positiva no hemisfério Norte e
negativa no hemisfério Sul.

25
 Longitude astronômica (Λ): é o arco de equador contado desde o meridiano
de origem (Greenwich) até o meridiano do ponto considerado. Por convenção, a
longitude varia de 0º a +180º no sentido Leste de Greenwich e de 0º a -180º para
Oeste de Greenwich.
Dessa forma, a latitude e a longitude são uma rede de linhas imaginárias
horizontais e verticais que possibilitaram o desenvolvimento do sistema de
coordenadas geográficas, que é uma importante ferramenta para definir com precisão
a localização de pontos na superfície terrestre (Figura abaixo) (SEABRA; LEÃO,
2012).

As observações astronômicas e as mensurações efetuadas a partir do


movimento da Terra em relação à esfera celeste permitiram estabelecer o
sistema de referência sobre a sua superfície, sob a forma de rede de linhas
oriundas da intersecção de planos perpendiculares entre si e que cortam a
esfera terrestre. Essa rede de referência é determinada pelas coordenadas
do sistema, a partir do conhecimento de pontos astronômicos (coordenadas
geográficas) e da definição das duas séries de linhas: os meridianos e os
paralelos (BOCHICCHIO, 1989, p. 7).

Nessa perspectiva, as linhas horizontais chamam-se paralelos, pois são


paralelas à linha do Equador e servem para medir a latitude. No entanto, as linhas
verticais são os meridianos, que vão de um polo a outro e servem para medir a
longitude.

Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2012, p. 8).

26
4.2.3 Modelo elipsoidal

No final do século XVII, Newton mencionou sobre o achatamento da Terra


devido ao movimento de rotação (força centrífuga e força de Coriolis) e à força da
gravidade, que fazem com que sua forma se assemelhe a um elipsoide achatado,
segundo a linha dos polos. A força centrífuga atua nos corpos em rotação e seu efeito
é o afastamento desses corpos em relação ao centro de rotação. No entanto, a força
de Coriolis desempenha uma importante função na circulação da atmosfera e dos
oceanos, em que toda a água que está sendo empurrada pelo vento terá sua direção
alterada. No hemisférico Sul, o efeito da força de Coriolis é para a esquerda, em
direção à costa. Dessa forma, o nível do mar sobe e ressacas e marés meteorológicas
causam destruição e inundação na zona litorânea (SEABRA; LEÃO, 2012; VIEIRA;
ALVES; MATCHINSKE, 2005).
Timbó (2001) define o elipsoide de revolução como sendo o sólido geométrico
gerado por uma elipse que gira em torno do seu eixo menor (eixo polar). De todos os
modelos de representação da Terra, essa é a forma que permite a maior precisão e
que mais se aproxima da forma verdadeira do planeta, logo, é a forma padrão
considerada pela geodesia para trabalhos de precisão. Os mapas e as cartas
topográficas, o sistema GPS e a grande maioria dos sistemas e processos envolvidos
em cartografia e navegação trabalham sobre o modelo elipsóidico terrestre.
De acordo com Menezes e Fernandes (2013, p. 72), o elipsoide de revolução é
uma figura geométrica “gerada por uma elipse rotacionada em torno do seu eixo
menor (Figura abaixo). A elipse contém dois eixos: a (eixo maior) e b (eixo menor); a
e b representam os semieixos maior e menor, respectivamente”. A razão que exprime
o achatamento f ou a elipticidade é dada pela expressão:

a: semieixo maior da elipse


b: semieixo menor da elipse

27
Fonte: Veiga, Zanetti e Faggion (2012, p. 9)

A diferença entre esses modelos é a representação da medição de cada


superfície e dos parâmetros que mais são contemplados, como a planimetria no
elipsoide e a altimetria no geoide. Segundo Seabra e Leão (2012), o referencial de
planimetria define a origem e a orientação do sistema de coordenadas, logo, como o
geoide tem uma forma irregular, não se utiliza esse modelo para analisar esse
parâmetro. Assim, para cálculos planimétricos, utiliza-se o elipsoide, no qual o eixo
polar é ligeiramente menor que o eixo equatorial, fazendo com que a Terra seja
levemente achatada nos polos.
Todavia, para medidas altimétricas, em que todas as medidas de altitude da
superfície topográfica são calculadas, adota-se o geoide como referência, sendo a
origem (marco zero) de todas as nossas medidas de altitude. No entanto, no modelo
esférico, o raio equatorial e o raio polar são iguais, ou seja, nessa situação a Terra
não é achatada nos polos.

4.3 Superfície topográfica e suas características

A superfície da Terra corresponde à superfície física real da Terra, sua forma


verdadeira com suas montanhas, vales, oceanos e outras incontáveis saliências e
reentrâncias geográficas (TIMBÓ, 2001). Sofre constantemente alterações devido a
fenômenos ou processos de ordem natural (movimentos tectônicos, condições
climáticas, erosão, entre outros) e por ação do homem. Assim, podemos considerar
essa superfície como irregular, dinâmica, visível e material (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1999; SEABRA; LEÃO, 2012).

28
Fonte: Seabra e Leão (2012, p. 74).

A superfície topográfica tem variações de relevo que vão desde o ponto mais
alto do mundo, no Monte Everest, com 8.848 metros de altitude em relação ao nível
do mar, até o ponto mais baixo da Terra, no Mar Morto, a 400 metros abaixo do nível
do mar, apresentando uma significativa amplitude altimétrica. No entanto, no Brasil, o
ponto mais alto é o Pico da Neblina, localizado no norte do estado do Amazonas, na
serra do Imeri, com 2.995,30 metros de altitude em relação ao nível do mar. Vale
ressaltar que, segundo Florenzano (2008), a altitude é a altura do relevo em relação
ao nível do mar, ou seja, a altura absoluta do relevo. Todavia, a amplitude altimétrica
consiste na altura relativa do relevo, que se refere à diferença entre a cota máxima
(topo) e a cota mínima (fundo de vale).
O relevo de uma determinada área pode ser representado a partir das curvas
de nível, dos perfis topográficos, do relevo sombreado, das cores hipsométricas
(faixas altimétricas identificadas por cores), entre outros. De acordo com Afonso et al.
(2014), uma das etapas iniciais para estudar as formas de relevo é o levantamento
das bases cartográficas que representam a superfície terrestre. As cartas topográficas
são mapas temáticos que representam os contornos do relevo terrestre realizados de
forma mais precisa, por meio das curvas de nível ou cotas altimétricas, que são linhas
sinuosas que indicam a altitude do terreno. Essas linhas imaginárias representam com
valores expressos, em geral, em metros (m), todos os pontos do terreno que têm a
mesma altitude em relação ao nível do mar, assim, todos os pontos, ao longo de uma
curva de nível, têm a mesma cota (altitude). Nas cartas topográficas, nem todas as
curvas de nível têm seus valores altimétricos especificados, porém é possível
descobrir o seu valor, sabendo que o intervalo entre elas é sempre o mesmo, ou seja,

29
as curvas de nível são sempre equidistantes. As linhas de cor mais escura são
chamadas curvas mestras e ajudam a identificar intervalos maiores.
As curvas de nível vão indicar as características do terreno, se é plano,
ondulado, montanhoso ou se é liso, íngreme ou com declive suave. Por meio do
espaçamento existente entre as curvas de nível, percebe-se a inclinação do terreno,
em que quanto maior a distância entre duas curvas de nível, mais suave será a
topografia, e quando as curvas estiverem muito próximas umas das outras, o terreno
representado será íngreme, com declives acentuados (Figura abaixo) (AFONSO et
al., 2014)

Fonte: Adaptada de Afonso et al. (2014).

As curvas de nível permitem traçar perfis topográficos, que são gráficos que
auxiliam na interpretação das diferenças de altitudes, formas de relevo, gradientes e
contornos do terreno mapeado nos mapas topográficos. Os perfis indicam as
distâncias horizontais entre as curvas de nível mapeadas no eixo horizontal e as
altitudes no eixo vertical, com os valores altimétricos das curvas de nível. É importante
mencionar que ao se elaborar um perfil, faz-se necessário observar as escalas
representadas nos dois eixos do gráfico, horizontal e vertical. A escala horizontal é
feita a partir da escala do mapa, em que são medidas as distâncias horizontais entre
30
as curvas de nível, no entanto, na escala vertical, observa-se quantos metros de
altitude estão representados em cada centímetro do gráfico (AFONSO et al., 2014).

A escala vertical deverá ser muito maior que a horizontal, do contrário, as


variações ao longo do perfil dificilmente serão perceptíveis, por outro lado,
sendo a escala vertical muito grande, o relevo ficaria demasiadamente
exagerado, descaracterizando-o. A relação entre as escalas horizontal e
vertical é conhecida como exagero vertical. Para uma boa representação do
perfil, pode-se adotar para a escala vertical um número 5 a 10 vezes maior
que a escala horizontal. Assim, se H = 50.000 e V = 10.000, o exagero vertical
será igual a 5 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
1999, p. 86).

Vale ressaltar que em uma escala espacial é necessário interpretar a extensão


territorial onde o dado vigora e as circunstâncias em que ele ocorre em cada ponto do
espaço, assim, a escala adotada dita a natureza dos resultados. As cartas
topográficas representam uma diversidade de informações sobre o terreno, como:
corpos hídricos (rios, lagos, geleiras), limites políticos, uso e ocupação do solo,
edificações (estradas, cidades, portos), o contorno das formas de relevo (curvas de
nível), entre outros aspectos. Então, na escolha da escala, deve-se previamente julgar
qual informação é imprescindível e qual pode ser perdida (AFONSO et al., 2014;
SANTOS, 2004).
Nos mapas em escalas pequenas, além das curvas de nível, também são
utilizadas, com o intuito de facilitar o conhecimento geral do relevo, faixas de
determinadas altitudes em diferentes cores, como verde, amarelo, laranja, sépia, rosa
e branco. No entanto, para as cores batimétricas, as tonalidades do azul crescem no
sentido da profundidade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 1999).
Outra forma de representação do relevo é a partir do sombreado executado
diretamente em função das curvas de nível:

É executada, geralmente, à pistola e nanquim e é constituída de sombras


contínuas sobre certas vertentes dando a impressão de saliências iluminadas
e reentrâncias não iluminadas. Para executar-se o relevo sombreado,
imagina- -se uma fonte luminosa à noroeste, fazendo um ângulo de 45º com
o plano da carta, de forma que as sombras sobre as vertentes fiquem voltadas
para sudeste (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
1999, p. 85)

Assim, existem diversas técnicas que são utilizadas para a representação do


relevo, que é muito importante para a análise dos aspectos que ocorrem na superfície
31
terrestre, uma vez que as formas do relevo, que são objeto de estudo de uma área na
geomorfologia, chamada morfologia, determinam diversos processos
socioambientais, influenciando no clima, na formação de solos, na vegetação, nos
eventos de risco, no uso e ocupação do solo, entre outros, interferindo nos aspectos
econômicos.
Nos estudos de cartografia, mais especificamente de geodésia, é importante
estabelecer formas para se trabalhar a dimensão da Terra considerando os
parâmetros que se quer contemplar: a planimetria, no elipsoide; a altimetria, no
geoide; e a precisão, na superfície topográfica. Assim, o geoide, o esferoide e o
elipsoide são modelos que representam a superfície topográfica e auxiliam nos
trabalhos que envolvem cálculos matemáticos. (AFONSO et al., 2014).

5 FUSOS HORÁRIOS, LOCALIZAÇÃO E LONGITUDES

A geografia vem assumindo um papel cada vez mais importante na educação


básica, mesmo em uma época em que as informações são transmitidas pelos meios
de comunicação com muita rapidez e em grande volume. Dessa forma, é impossível
acompanhar e entender as mudanças, os fatos e os fenômenos que ocorrem no
mundo sem conhecimentos geográficos. Entre esses conhecimentos geográficos,
estão os conceitos de longitude, latitude, fusos horários, sistema de meridianos e linha
internacional de data.
Nesta seção, entenderemos como surgiram os sistemas de longitude e de fusos
horários. Além disso, compreenderemos a importância dos meridianos, das
coordenadas geográficas e da linha internacional de data.

5.1 Sistemas de longitude e fusos horários

Os sistemas de longitude e fuso horário surgiram juntos. No passado, antes do


século XIX, não existia o conceito ou definição de horas, mas de tempo. Esse tempo
baseava-se nos dias e nas noites. Contudo, ao longo do século XIX, com o avanço da
imprensa, dos meios de comunicação e de transporte, as pessoas começaram a se
deslocar mais e cada vez para mais longe. Logo, houve a necessidade de se criar os
fusos horários.

32
Löbler e Francisco (2016) mencionam que os fusos horários foram criados,
principalmente, devido às transações comerciais e viagens, prevendo certo controle
sobre as regiões colonizadas, negociações em bolsas internacionais, entre outros
motivos que impuseram a necessidade de se estabelecer critérios que padronizassem
a hora internacionalmente. Dessa forma, em 1884, foram criados os sistemas de fusos
horários, foi estabelecido que o meridiano de Greenwich serviria como o início da
contagem dos fusos, e seu antemeridiano passou a se chamar Linha Internacional de
Mudança de Data.

O primeiro fuso (no caso, o fuso de Londres) está compreendido entre 7º30’ O
e 7º30’ L do meridiano inicial, totalizando os 15º que formam um fuso horário. A
sequência dos demais fusos é contada a partir do fuso de Londres, levando em
consideração que a Terra, em seu movimento de rotação, gira de oeste para leste.
Como o sol surge antes nos lugares situados a leste, sempre que caminharmos para
essa direção, haverá um aumento das horas. Ao contrário, quando vamos para o
oeste, as horas diminuem (ALMEIDA; RIGOLIN, 2002).
Existem muitos países que acabam cortados por mais de um fuso horário, como
o Brasil. Muitos fusos horários não seguem as distâncias e divisões estabelecidas

33
pelas longitudes, e isso ocorre para adaptar os horários adotados nas diferentes áreas
de um mesmo território.
Assim, os países com mais de um fuso horário têm autonomia para fazer
modificações, principalmente, para não atrapalhar a economia. (ALMEIDA; RIGOLIN,
2002).

Representação dos 24 fusos horários mundiais, cada uma apresentando 15 graus. Cada fuso horário
representa uma hora.
Fonte: brichuas/Shutterstock.com.

Quando países possuem mais de um fuso horário e, dessa forma, diferenças


no horário, é preciso adotar uma hora oficial. Essa hora oficial recebe o nome de Hora
Legal. A hora oficial adotada no Brasil é o horário de Brasília (por ser a capital do País)
e, por isso, é comum escutarmos a expressão “horário de Brasília. ”
Para entender melhor o funcionamento dos fusos horários, precisamos recordar
alguns conceitos importantes de geografia, como paralelos e latitude, meridianos e
longitude. Eles formam o sistema de posição global (Global Positioning System

34
[GPS]), o qual é amplamente utilizado nos dias atuais, seja em computadores,
radares, smartphones, entre outros.
Paralelos: o principal paralelo é a linha do Equador, que divide a Terra em duas
partes iguais: hemisfério norte (ou setentrional) e hemisfério sul (ou meridional). A
partir da linha do Equador, é possível traçar os demais paralelos. Os paralelos indicam
a latitude de um polo ao outro. (ALMEIDA; RIGOLIN, 2002).
Latitude: distância em graus de qualquer lugar da superfície terrestre ao
Equador, medida pelos paralelos. O Equador tem 0º de latitude e é o ponto de partida
para calcular a latitude de um lugar. A latitude máxima é a dos polos, que corresponde
a 90º (N ou S). Todos os pontos que se encontram ao longo de um mesmo paralelo
têm a mesma latitude, o que é definido como distância do Equador. (ALMEIDA;
RIGOLIN, 2002).
Meridiano: círculos imaginários que cortam perpendicularmente os paralelos,
circundando a Terra a partir do Meridiano de Greenwich. Também medem a longitude,
estabelecendo os fusos horários. (ALMEIDA; RIGOLIN, 2002).
Longitude: distância medida em graus, de qualquer lugar da Terra ao
meridiano de Greenwich. O meridiano de Greenwich tem 0º de longitude e é o ponto
de partida para calcular a longitude de um lugar. A longitude máxima é a da Linha
Internacional de Data, que corresponde a 180º. (ALMEIDA; RIGOLIN, 2002).

Representação esquemática dos paralelos (a) e meridianos (b).


Fonte: Adaptada de (a) Bro Studio/0Shutterstock.com e (b) kulyk/Shutterstock.com

35
5.2 Elementos do sistema de meridianos e linha internacional de data

A Linha Internacional de Data refere-se a um traçado imaginário que,


geralmente, segue o meridiano 180, exceto por algumas irregularidades para separar
o Alasca e a Sibéria e para margear algumas ilhas do Pacífico, precisamente na região
que separa o continente americano da Oceania e da Ásia. A descoberta ocorreu entre
1510 e 1521, quando a tripulação do barco Magellan, ao retornar do oeste para a
Espanha, percebeu que um dia havia sido aparentemente perdido no diário de bordo.
O que ocorreu foi que, ao circum-navegar o mundo rumo a oeste, a tripulação tinha
experimentado um dia a menos de pôr do sol e de nascer do sol (PETERSEN et al.,
2014).
A principal função da Linha Internacional de Data é estabelecer a separação
entre o início e o final do dia civil na Terra. Ela separa o extremo oeste do planeta do
extremo leste que, apesar de distantes um do outro no mapa-múndi, são regiões muito
próximas, pois a Terra é uma esfera, e não um plano (PENA, 2019). A Figura a seguir
ilustra a Linha Internacional de Data.

Representação da Linha Internacional de Data


Fonte: Adaptada de frees/Shutterstock.com.

36
De acordo com Castrogiovanni et al. (2011) e Löbler e Francisco (2016), um
planeta pode ser definido como um objeto em órbita ao redor do Sol, bastante
massivo, com gravidade própria e aparência esférica. Os planetas giram em torno de
estrelas que atuam como fonte de energia para eles. A Terra, por exemplo, gira em
torno da estrela Sol, que lança sua luz sobre o planeta. O planeta Terra possui uma
forma esférica, mas com seus polos levemente achatados e, por esse fato, podemos
dizer que ele é geoide. Dois movimentos realizados pela Terra e descritos a seguir
têm significativa importância para a vida no planeta.
 Rotação: movimento que a Terra realiza ao redor de si mesma. Nesse

movimento, o planeta gira de oeste para leste, com uma velocidade média de 463
metros por segundo. A Terra leva 24 horas para realizar o seu movimento de rotação.
O tempo que a Terra demora para dar uma volta completa em torno de si mesma é
denominado dia.
 Translação: movimento que a Terra realiza ao redor do sol junto com os

outros planetas. Em seu movimento de translação, a Terra percorre um caminho que


tem a forma de um elipse, o qual é denominado órbita. O tempo que a Terra demora
para dar uma volta completa ao redor do Sol é chamado de ano, com duração de 365
dias, 5 horas e 48 minutos, em uma velocidade de 107 mil km/h. As 6 horas
excedentes por ano são agrupadas e, a cada quatro anos, é adicionado um dia a mais
ao ano, o dia 29 de fevereiro, gerando o chamado ano bissexto. A principal
consequência desse movimento é a sucessão das estações do ano, que ocorrem pelo
fato de o eixo do planeta apresentar uma inclinação de 23º27 (CASTROGIOVANNI et
al., 2011).

(a) Representação do movimento de rotação da Terra que constitui o dia. (b) Movimento de
translação da Terra que origina as estações do ano.
Fonte: Adaptada de (a) Soleil Nordic/Shutterstock.com e (b) Vitoriano Junior/Shutterstock.com.
37
Sabemos que a latitude se refere à distância entre os paralelos (em graus), e
que a longitude é a distância entre os meridianos (em graus). Além disso, a forma da
Terra assemelha-se a uma esfera e, portanto, mede 360°. O movimento de rotação
(sobre seu próprio eixo) demora, aproximadamente, 24 horas.
De acordo com Petersen et al. (2014), um sistema de coordenadas precisa
basear-se em pontos de referência, mas definir localidades em um planeta esférico é
difícil porque a esfera não possui um início ou fins naturais. O sistema de coordenadas
de latitude e longitude da Terra baseia-se em um conjunto de linhas de referência que
é definido pela rotação planetária e por outras linhas que foram arbitrariamente
definidas por meio de acordo internacional (o mesmo ocorrido em 1884, na cidade de
Washington, nos Estados Unidos).
O Polo Norte e o Polo Sul fornecem dois pontos de referência naturais, porque
marcam localidades opostas do eixo de rotação da Terra, ao redor do qual ela gira em
24 horas. O Equador, metade do caminho entre os polos, forma um grande círculo
que separa os Hemisférios Norte e Sul. O Equador fica na latitude 0º, a linha de
referência para medir a latitude em grau norte ou grau sul. O Polo Norte (90ºN) e o
Polo Sul (90ºS) são as latitudes máximas em cada hemisfério (PETERSEN et al.,
2014).
Segundo Casaca, Matos e Baio (2007), a força área dos Estados Unidos, na
década de 1960, criou o sistema Navy Navigational Satellite System (NSS), também
conhecido como sistema TRANSIT, o qual era composto, inicialmente, por sete
satélites com altitudes da ordem de 1.100 km e órbitas quase circulares. Em 1973, os
Estados Unidos iniciaram testes com um novo sistema, conhecido como Sistema de
Posicionamento Global NAVSTAR (Global Positioning System), também denominado
como Sistema GPS.
O GPS utiliza 24 satélites artificiais, colocados em órbitas artificiais de cerca de
20 mil km de altitude sobre a superfície terrestre. Essa posição permite observar, pelo
menos, quatro satélites, 24 horas por dia, em qualquer ponto da Terra. Trata-se de
um sistema de navegação e posicionamento global. (MCCORMAC, 2007).

5.3 Práticas pedagógicas para compreensão do sistema de fusos horários

Verri e Endlich (2009) descrevem que a qualidade dos procedimentos didático-


-pedagógicos utilizados pelos professores em sala de aula acaba refletindo na
38
compreensão e apreensão dos conteúdos pelos alunos de forma direta. Logo, os
professores devem incentivar a busca pela inovação de modo geral. Isso pode ser
feito por meio de jogos educativos no ensino de geografia, os quais objetivam
compreender os conteúdos, fixar conhecimentos, construir seu saber de modo prático,
dinâmico e eficiente.
De acordo com Oliveira e Lopes (2016), os fusos horários constituem um
conteúdo curricular clássico no ensino de geografia que, frequentemente, aparece
associado à aprendizagem das noções/habilidades de orientação e de localização.
Além disso, o ensino dos fusos horários é uma referência importante para a
compreensão de outros conteúdos geográficos, como a leitura crítica de mapas que,
até certo ponto, condiciona a compreensão da dinâmica de circulação de pessoas,
mercadorias e capitais pelo espaço geográfico mundial.
Löbler e Francisco (2016) mencionam que, durante o 5º ano do ensino
fundamental, os alunos devem compreender que os fusos padronizam o horário
mundial, beneficiando relações comerciais, viagens internacionais, entre outros.
Vamos supor que um professor tenha apresentado o mapa da Figura abaixo para uma
turma, mas como passar a ideia de fusos horários para os alunos?

Mapa com fusos horários mundiais.


Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.

39
O professor pode trabalhar com os alunos da seguinte forma, conforme
descreve Löbler e Francisco (2016):
 reconstruir, em uma placa de isopor, a figura plana do mapa, dividindo-a com
o uso de fitas colantes coloridas em 24 partes iguais;
 recortar, em isopor ou cartolina, com o uso de moldes, os continentes e seus
países;
 sobrepor os continentes à placa de isopor com os fusos horários.
É fundamental que o professor explique o conceito de fuso horário e sua
importância. Além disso, é indicado que os alunos apresentem para a turma as
dificuldades encontradas nas atividades e como resolvê-las. Para alunos dos anos
finais do ensino fundamental e início do ensino médio, ferramentas como o programa
Google Earth e vídeos, que podem ser obtidos no YouTube, são excelentes para
captar a atenção dos alunos por meio de uma metodologia ativa. O Google Earth e o
Google Maps são tecnologias que despertam o interesse dos alunos, além de facilitar
o entendimento do conceito de fusos horários e sua divisão ao longo do Planeta Terra.
De acordo com Assis e Lopes (2013), desenvolver práticas de ensino com o
uso de mapas fotográficos como o Google Earth nas aulas de geografia proporciona
novos ambientes de aprendizagem onde os alunos sentem-se interessados em
participar. A riqueza dos detalhes geográficos fica ainda mais exposta ao se fazer um
zoom da realidade socioespacial pretendida, em especial, quando essa realidade
parte do próprio espaço de vivência do aluno. Os vídeos do YouTube também
despertam a atenção dos alunos. Muitos vídeos trazem uma apresentação mais
dinâmica, com uma linguagem mais simples, o que auxilia o processo de
aprendizagem.
Löbler e Francisco (2016) descrevem que os movimentos de rotação e
translação não são conceitos tão simples de serem explicados, e mesmo professores,
estudantes de pedagogia e adultos em geral sentem dificuldades em explicar esses
movimentos terrestres. Os autores apresentam alguns exemplos de como os
conceitos de rotação e translação podem ser ensinados.
Com um feixe de luz (uma lanterna ou luminária) e uma bola de isopor, o
professor pode mostrar aos alunos o que acontece com a Terra durante a rotação.
Voltando parte de nosso planeta (representado pela bola de isopor) para o Sol (no
caso, a lanterna), a outra parte ficará no escuro. Além do uso da bola de isopor, os

40
alunos podem usar os seus próprios corpos, girando em torno de seus eixos para
mostrar que parte de seus corpos fica na região não iluminada e parte fica na região
iluminada pela lanterna ou luminária enquanto giram. A sucessão do dia e da noite
precisa ser relacionada com as posições relativas e com os movimentos.
Existem diferentes meios de transmitir o conhecimento, não apenas em relação
ao conceito de fusos horários, mas da geografia como um todo. Quanto mais interativa
uma aula for, maior será o interesse do aluno e mais rápido será o entendimento do
assunto. Compreender que a Terra se move em torno de seu eixo e em torno do Sol
propiciará ao aluno uma exploração do espaço sideral, além da compreensão de que
os dias, as noites e as horas (em seu país ou em outros) são fenômenos ou
convenções que têm explicação. (COSTA, 2014).

6 SISTEMAS DE COORDENADAS

Os sistemas de coordenadas foram concebidos dentro da ciência matemática


no conceito de plano cartesiano, o qual serve para localizar pontos de interseção nos
eixos x e y. Nas ciências cartográficas, as coordenadas possuem inúmeras funções
dentro da ferramenta de georreferenciamento de objetos, além de possibilidades de
manipulações em Sistemas de Informações Geográficas (SIGs).
As coordenadas geográficas nasceram a partir do plano cartesiano, em que os
paralelos e meridianos têm função fundamental, traçando linhas imaginárias com
equidistância uniforme ao redor do globo terrestre. As linhas de paralelos e meridianos
se encaixam perfeitamente na esfericidade do geoide da Terra e, ao inseri-las no plano
do papel, ocasionam algumas deformações em determinadas áreas da superfície
terrestre. Com isso, surge uma série de técnicas para transcrever o globo terrestre no
plano do papel, as chamadas projeções cartográficas. (COSTA, 2014).

6.1 História da construção do sistema de coordenadas

O sistema de coordenadas surgiu a partir do conceito do plano cartesiano


criado por René Descartes, com o objetivo de localizar pontos em um plano que
representaria o espaço. O plano cartesiano é formado por dois eixos perpendiculares:
um horizontal (x) e outro vertical (y) que se cruzam na origem das coordenadas no

41
ponto zero de cada um (COSTA, 2014). Descartes propôs a disposição dos eixos no
plano formando quatro quadrantes (Figura abaixo), da mesma forma como são
construídos os nossos conhecidos gráficos. Dos quatros quadrantes, dois possuem
valores positivos e dois possuem valores negativos, em sentidos opostos.

Eixos do plano cartesiano criado por René Descartes, em que os valores são negativos à esquerda e
abaixo de 0, e são positivos à direita e acima de 0.
Fonte: Yu_Peri/Shutterstock.com.

A partir disso e com a necessidade de localização dos povos e dos elementos


sobre a superfície terrestre, surgiu a localização determinada pelo sistema de
coordenadas geográficas, elaboradas a partir do sistema de coordenadas cartesianas.
Nesse sistema, o principal paralelo é a linha do equador que serve de eixo x, e o
principal meridiano é o de Greenwich que serve de eixo y, além de ser o ponto gerado
pelo cruzamento entre os eixos e o ponto zero (0). Na mesma sequência do plano
cartesiano, o sistema de coordenadas apresenta quatro quadrantes, em que dois
possuem valores positivos (Norte e Oeste) e dois possuem valores negativos (Sul e
Leste). Assim, formam-se quadrantes e, para simplificar a aplicação em coordenadas
métricas, foram atribuídos fusos entre as linhas paralelas do eixo y.
O astrônomo grego Hiparco (século 11 a.C.) foi quem dividiu, pela primeira vez,
a circunferência da Terra em 360º e, depois, cobriu o globo com uma rede de paralelos
e meridianos equidistantes. Assim, foi criado o sistema de coordenadas geográficas,
utilizando-se da matemática e da observação dos astros celestes nos mesmos
parâmetros que temos hoje, de latitude e longitude (JOLY, 1990). A partir das
42
coordenadas métricas e com a contribuição de Hiparco, surgiram as coordenadas
geográficas, que se estruturam, também, como um sistema de localização por meio
de linhas imaginárias, as quais são paralelas entre elas, indo nos sentidos Norte-Sul
e Leste-Oeste, porém medidas em graus. Com a combinação dessas linhas, criam-se
endereços específicos para cada ponto do mundo, permitindo a sua identificação
precisa.

Mapa-múndi dividido por meridianos (linhas verticais) e paralelos (linhas horizontais).

6.2 Sistema de coordenadas e suas funções

Um sistema de coordenadas, ou as coordenadas geográficas de um local, é a


melhor ferramenta para localizar elementos na superfície terrestre, medir distâncias e
áreas, estabelecer os fusos horários mundiais, além de uma infinidade de outras
utilizações. Portanto, com os sistemas de coordenadas, cada lugar na superfície
terrestre pode ser localizado por um conjunto de números. Os sistemas de
coordenadas podem ser divididos entre sistemas de coordenadas projetadas, também
designados como sistemas de coordenadas cartesianas ou retangulares, e sistemas
de coordenadas geográficas. (COSTA, 2014).

6.2.1 Sistemas de coordenadas geográficas

O uso de sistemas de coordenadas geográficas é muito comum dentro de


espacializações mais gerais, ou seja, com escalas menores. Esses sistemas utilizam

43
os graus para definir a latitude e a longitude e, quando necessário, também se
estabelece um valor de altura para determinar uma localização na superfície da Terra
(SISTEMAS..., 2017). As linhas de latitude são paralelas à linha do Equador — a maior
linha existente — e dividem a Terra em 180 seções espaçadas igualmente entre si,
indo de Norte a Sul ou de Sul a Norte. Portanto, cada hemisfério (Norte e Sul) é
dividido em 90 seções, representando um grau de latitude.
Assim, no hemisfério Norte, os graus de latitude vão de 0, no Equador, até 90
no polo Norte (0 a 90º). No hemisfério Sul, os graus de latitude vão de 0, no Equador,
até 90 no polo Sul (0 a –90º). Por outro lado, as linhas de longitude não são tão
uniformes, são perpendiculares ao Equador e convergem nos polos. A linha de
referência para a longitude, o meridiano de Greenwich, desenvolve-se a partir do polo
Norte até o polo Sul. As linhas de longitude são medidas de 0 a –180º para Leste e de
0 a 180º para Oeste em relação ao meridiano principal (SISTEMAS..., 2017). As linhas
de longitudes são responsáveis por definir os fusos horários.

6.2.2 Sistemas de coordenadas projetadas

Um sistema de coordenadas projetadas ou métricas é definido por dois eixos.


Esses eixos possuem ângulos retos entre si, formando o plano XY. O eixo horizontal
é, geralmente, marcado com X, e o eixo vertical é assinalado com Y. Em um sistema
tridimensional de coordenadas, outro eixo deve ser indicado, o eixo Z, da altitude do
ponto em relação ao nível do mar. Portanto, cada ponto pode ser expresso como uma
coordenada X, Y ou Z.
Um sistema de coordenadas métricas no hemisfério Sul (ao sul do Equador),
em geral, tem a sua origem no Equador em uma longitude específica. Isso significa
que os valores de Y aumentam para Sul, e os valores de X aumentam para Oeste. No
hemisfério Norte (ao norte do Equador), a origem é também o Equador em uma
longitude específica. Contudo, nesse caso, os valores de Y aumentam para Norte, e
os valores de X aumentam para Leste (SISTEMAS..., 2017).

6.3 Usos dos sistemas de coordenadas

As coordenadas são utilizadas em diversas áreas do conhecimento como


geografia, matemática, astronomia, física, entre outras. Em sala de aula, o uso de
44
sistemas de coordenadas pode ser trabalhado de maneira interdisciplinar, por
exemplo, englobando as áreas de geografia e matemática, calculando distâncias e
localizações com a aplicação de coordenadas métricas. Em atividades práticas
profissionais, as coordenadas apresentam uma infinidade de aplicações, todas dentro
do conceito de determinação de localização de pontos dentro da superfície terrestre.
Alguns desses trabalhos são os relacionados à topografia com cálculos de áreas e
distâncias para a elaboração de bases on-line georreferenciadas, como Google Maps,
Google Earth e Openstreetmap, além de uma infinidade de outros usos.

6.4 Sistemas de representações do globo terrestre no plano

O globo terrestre é a representação mais perfeita da superfície terrestre, uma


figura historicamente conhecida e associada à geografia, o retrato da Terra que mais
se assemelha à sua forma natural. Por esse motivo, é a forma que mais se aproxima
da realidade e a mais adequada por possibilitar uma visão geral do mundo em que
vivemos (CARVALHO; ARAÚJO, 2009). Contudo, devido à praticidade, é preciso
representarmos o globo terrestre no plano do mapa. Assim, existe uma dificuldade em
se constituir corretamente algo esférico como o planeta Terra como se fosse achatado
em uma folha de papel.
Diferentes projeções cartográficas foram desenvolvidas para permitir a
representação da esfericidade terrestre em um plano (mapas e cartas), cada uma
priorizando determinado aspecto da representação (dimensão, forma, entre outros).
Não existe uma projeção cartográfica livre de deformações devido à impossibilidade
de se representar uma superfície esférica em uma superfície plana sem que ocorram
extensões e/ou contrações.
As projeções cartográficas são classificadas, principalmente, quanto à
superfície de projeção e às propriedades, podendo ser: projeções planas, quando
forem utilizadas as superfícies de um plano; projeções cônicas ou cilíndricas,
utilizadas como base para planificar a esfera terrestre. As principais projeções que
fazem a transformação da superfície terrestre em uma superfície plana são: projeção
plana ou azimutal, projeção plana polar, projeção cônica, projeção cônica de Albers,
projeção cilíndrica e projeção cilíndrica de Peters (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, c2019).

45
Formas de projeção da esfericidade da Terra no plano do papel.
Fonte: Ramos (2015, documento on-line).

As classificações de acordo com as propriedades permitem minimizar as


deformações ocorridas pela planificação da superfície terrestre no que diz respeito às
áreas, aos ângulos ou às distâncias, mas nunca aos três simultaneamente. Os
exemplos a seguir demonstram a possibilidade de se alterar as projeções para
determinados locais, de acordo com as propriedades. (CARVALHO; ARAÚJO, 2009).
 Projeção conforme: não há deformação dos ângulos em torno de quaisquer
pontos, mesmo os menores. É uma das formas de projeção mais usadas e a mais
conhecida conforme a projeção de Mercator.
 Projeção equivalente: não altera as áreas, conservando uma relação
constante com a sua correspondência na superfície terrestre. É bastante utilizada em
mapas temáticos, que retratam situações ambientais, populacionais, econômicas,
entre outras.
 Projeção equidistante: os comprimentos são representados em escala
uniforme, utilizada por países ou lugares específicos que querem dar ênfase ao seu
território.
A seguir, estão elencadas as principais projeções cartográficas utilizadas na
representação do espaço geográfico.
 Projeção de Mercator: é uma projeção conforme cilíndrica, atualmente, muito
utilizada na navegação marinha.
 Projeção de Miller: é uma projeção equivalente cilíndrica.

46
 Projeção cilíndrica equidistante meridiana: os meridianos e paralelos são
igualmente espaçados. Esse tipo de projeção era muito empregado na navegação
marítima, mas foi substituído pela projeção de Mercator.
 Projeção de Berhmann: é uma projeção equivalente cilíndrica (não possui
superfície de projeção, porém apresenta características semelhantes às da projeção
cilíndrica).
 Projeção de Robinson: é uma projeção afilática (não é conforme, equivalente
ou equidistante) e pseudocilíndrica, ou seja, não possui superfície de projeção, porém
apresenta características semelhantes às da projeção cilíndrica.
As projeções que melhor se encaixam no cenário brasileiro e, portanto, as mais
utilizadas, são as projeções cilíndrica equatorial de Mercator e policônica. O
mapeamento oficial do País é elaborado na projeção policônica, que tem como
característica a diminuição da deformação da convergência dos meridianos,
mantendo uma melhor representação da região Sul do País. Essa é uma projeção
afilática (não é conforme, equivalente ou equidistante) e policônica (utiliza vários
cones como superfície de projeção). O mapeamento na escala de 1:1.000.000 é
realizado na projeção cônica conforme de Lambert, seguindo o padrão do
mapeamento mundial definido pela ONU.
Os sistemas de coordenadas métricas e geográficas são importantes
ferramentas na geoespacialização de dados geográficos no campo profissional,
auxiliando muitas atividades do dia a dia. Em sala de aula, o entendimento de como
se construiu essa ferramenta e como ela é aplicada dentro da cartografia é importante
para o aluno compreender os conteúdos, principalmente, aqueles relacionados com
análises espaciais mais complexas, como se comportam os fenômenos geográficos a
nível local e mundial.
As coordenadas geográficas foram concebidas para determinar os pontos da
superfície terrestre levando em conta a sua esfericidade. Assim, as diferentes
projeções cartográficas representam o globo terrestre no plano, cada uma oferecendo
um grau de distorção, em diferentes locais. Cabe ao professor apresentar aos alunos
as vantagens e desvantagens da utilização de cada um dos métodos de projeção.
(CARVALHO; ARAÚJO, 2009).

47
7 CARTA TOPOGRÁFICA: PLANIMETRIA E ALTIMETRIA

Topografia é uma ciência cartográfica que permite o estudo e a representação


de estruturas encontradas na superfície terrestre, além de favorecer o entendimento
de diferentes aplicações como, por exemplo, a astronomia, que busca a localização e
descrição de planetas e luas. Por definição, a altimetria pode ser resumida como o
estudo da medição de altitudes (elevação do terreno em relação ao nível do mar),
enquanto a planimetria configura o estudo da medição das superfícies planas. Por fim,
a planialtimetria pode ser definida como a representação combinada de informações
altimétricas e planimétricas em um único produto cartográfico.
Nesta seção, você vai estudar as principais características das cartas
topográficas (planimétricas e altimétricas), além de conhecer algumas aplicações
importantes da leitura e interpretação dos estudos de planimetria e altimetria no ensino
de geografia.

7.1 Produtos cartográficos na topografia

A palavra topografia tem etimologia grega: topos significa lugar, e graphein


significa descrever (SILVA; SEGANTINE, 2015). Dessa forma, o termo topografia
refere-se à descrição de um lugar ou, neste caso, à representação gráfica da
superfície física de uma área. Inicialmente, a topografia era descrita como a arte de
representar os objetos e o relevo da superfície terrestre (EYROLLES; PREVOT;
QUANON, 1938). Em seguida, foi definida como a ciência que visa descrever a
superfície da Terra, em conjunto com a geodésia, o sensoriamento remoto e o
geoprocessamento.
As plantas e os mapas topográficos são representações gráficas que mostram
as principais características físicas de um terreno, como a localização de edifícios,
cercas, estradas, corpos hídricos, cobertura vegetal, além das mudanças de altitude
entre as formas de relevo, como vales e colinas. Os recursos utilizados para a
obtenção de produtos cartográficos são coletados diretamente em levantamentos
topográficos por meio de inúmeros equipamentos. Entre eles estão o teodolito e,
recentemente, combinações de aparelhos de alta precisão, como o Sistema de
Posição Global (GPS), ou outros sistemas de navegação por satélite (SATNAV). Os

48
dados também podem ser extraídos de fotografias aéreas por meio de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), fazendo com que os processos sejam executados
com rapidez e acurácia, seja por meio de materiais para serem trabalhados on-line,
seja para a obtenção do arquivo para posterior tratamento e análise geoespacial.
Antes de iniciar uma nova pesquisa topográfica, recomenda-se que sejam
pesquisados e acessados os dados das plantas e dos mapas topográficos disponíveis
da área, ainda que eles não sejam exatamente o tipo de produto cartográfico que você
precisa. Esses materiais podem fornecer informações importantes, além de
peculiaridades sobre a área de estudo em questão, melhorando o planejamento para
a pesquisa topográfica.
Em geral, dados topográficos estão disponíveis em instituições governamentais
responsáveis por levantamentos geológicos ou levantamentos de uso e ocupação do
solo, por exemplo. No Brasil, algumas instituições que disponibilizam dados são: o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por meio do Banco de Dados
Geomorfométricos do Brasil (TOPODATA); o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); os departamentos de pesquisa geológica, como a Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais; os departamentos cadastrais de governos regionais
e/ou municipais (por exemplo, as secretarias públicas que geram o Imposto Predial e
Territorial Urbano [IPTU]); e as agências de desenvolvimento agropecuário, como a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para representar, em papel ou digitalmente, as distâncias que podemos medir
em campo, é necessário reduzi-las, e isso significa que você deve diminuir o tamanho
das distâncias de maneira proporcional de acordo com uma escala. A escala
expressa, portanto, a relação que existe entre a distância mostrada em um desenho
ou mapa e a distância real em um terreno. Por exemplo, uma escala 1:1000 representa
em 1 cm cerca de 10 m, enquanto uma escala 1:10000 representa 100 m por
centímetro de mapa.
Os termos mapas, cartas e plantas eram usados de maneira indiscriminada e
intercambiável. Contudo, Duarte (2002) sugere a definição de cartas como “uma
espécie de mapa”, confeccionada segundo aspectos técnicos resultantes de uma
organização internacional ou nacional sistemática e organizada que estabelece as
normas de apresentação do documento cartográfico, geralmente, em médias ou
grandes escalas, permitindo maior detalhamento.

49
As cartas e os mapas são resultado, portanto, de informações coletadas em
levantamentos topográficos. As cartas são, em geral, representações em escalas
maiores (por exemplo, 1:10.000), enquanto mapas são representações em pequena
escala (1:25.000, 1:50.000, 1:100.000, 1:250.000, entre outras escalas). Nota-se que
uma proporção com um número menor é uma escala maior, ou seja, 1:500 é uma
escala maior do que 1:1.000, e assim por diante. Vale ressaltar que, em produtos
cartográficos como perfis e plantas, podemos representar com escalas diferentes
horizontal e verticalmente, exagerando uma das duas dimensões, por exemplo, para
destacar algum detalhe importante.

7.2 Plantas e cartas topográficas e suas características gerais

As representações topográficas são documentos cartográficos gerados a partir


de métodos topográficos, utilizando instrumentos ou equipamentos topográficos
combinados com técnicas de representação gráfica (SILVA; SEGANTINE, 2015).
Recentemente, é possível utilizar dados também de imageamento por satélite com
altas resoluções.
O mapeamento topográfico visa projetar a forma tridimensional da superfície
da Terra, com linhas de contorno em intervalos específicos para representar a forma
e a elevação (ou relevo) do terreno em um plano bidimensional. Os mapas
topográficos, geralmente, retratam recursos naturais (relevo e hidrografia) e artificiais
(derivados das atividades antropogênicas). Seus intervalos de contorno são
determinados com base nas necessidades específicas do usuário: quanto menor o
intervalo do contorno, maior a precisão e a acurácia na representação dos detalhes
do terreno. Como esperado, a precisão da representação no produto cartográfico está
relacionada à resolução das imagens ou ao erro relativo dos levantamentos que
permitem a obtenção dos dados para análise.
Há tipos de cartas que levam em conta as irregularidades superficiais em
contextos específicos (cartas especiais), podendo ser em um contexto de
levantamentos batimétricos, ou seja, de medição da profundidade de corpos d’água
de modo similar às curvas de nível superficiais, em rios e oceanos (cartas náuticas),
navegação aérea (em cartas aeronáuticas) ou, ainda, com detalhamento maior para
operações militares como, por exemplo, no reconhecimento e proteção das fronteiras
dos países.
50
Nota-se que não há uma continuidade das representações topográficas
brasileiras e, por isso, uma forma de obtenção seria buscar materiais com abrangência
de importância regional ou estadual. Nos domínios do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, são disponibilizados mapas e cartas topográficas.
Em geral, as cartas topográficas são confeccionadas para planejamento e
análise do território. Uma carta topográfica pode ser considerada um tipo de
levantamento específico que mapeia as características físicas de uma propriedade
enquanto mostra características planimétricas (o estudo das medições de planos) e
altimétricas em relação às elevações do solo e aos contornos da superfície (relevo).
A seguir, destacam-se alguns elementos presentes nas cartas topográficas
brasileiras. (SCHUIT, 2011).
 Nome e identificação da carta topográfica: no topo das cartas, em geral,
são apresentados nome, localização e sigla referente às Cartas ao Milionésimo.
 Escala de representação: a escala de confecção do produto cartográfico é
indicada graficamente.
 Escala de declividade e equidistância das curvas de nível: para que seja
possível interpretar o relevo representado bidimensionalmente, é necessário saber
qual é a distância entre as curvas desenhadas na carta.
 Projeção cartográfica: cada projeção pode causar tipos diferentes de
distorções, assim, é importante saber qual é a projeção para minimizar os possíveis
erros gerados.
 Legenda: a legenda deve apresentar os símbolos (que podem ser
elementos planimétricos) e as cores presentes nas cartas, que podem ser explicados
e apresentados de forma ordenada visando melhorar a leitura do produto cartográfico
resultante (exemplos: hidrografia, cobertura vegetal, vias de rodagem, limites de
unidades territoriais, entre outros). Elementos altimétricos estão presentes na
legenda por meio da representação de cotas comprovadas ou não comprovadas, dos
pontos de referência e das curvas de nível.

7.3 Cartas planimétricas e suas aplicabilidades no ensino de geografia

Ao utilizarmos cartas, é possível observar a nomenclatura e organização de


suas folhas para que a ordem seja mantida, transpondo o caráter artístico que o

51
produto cartográfico possa apresentar, e isso pode ser visualizado nas cartas
disponibilizadas pelo IBGE. Uma carta planimétrica consiste em um recurso para
representações de características artificiais e naturais de uma localidade
demonstradas de modo tridimensional com linhas (vetores) e pontos. Os pontos
observados são projetados ortogonalmente no plano horizontal de referência
desconsiderando, portanto, a irregularidade do relevo. (SCHUIT, 2011).
Uma das principais aplicações das cartas planimétricas no ensino de geografia
é o trabalho com a escala (elemento básico de um produto cartográfico) de modo a
representar a superfície real em um plano projetado. Pela escala, é possível
estabelecer a distância real, por exemplo, em exemplos simples, distâncias entre
cidades importantes e, mais uma vez, explorar detalhes do planejamento urbano, da
ocupação não ordenada urbana, além de discutir conteúdos relacionados à
comercialização de mercadorias e ao oferecimento de trabalhos. Por meio das cartas
topográficas, ocorre a representação planimétrica de redes telefônicas e de energia
elétrica, e também de outros elementos como escolas, igrejas, praças e museus.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ([201–]c, documento on-line).

Na Figura acima, estão expostos os principais elementos planimétricos


referenciados nas folhas topográficas confeccionadas no Brasil. Vale destacar que os
elementos planimétricos estão representados por elementos gráficos
correspondentes apresentados na legenda para distinção (linhas, polígonos e
52
símbolos). Geralmente, eles também são associados aos elementos artificiais de uma
superfície terrestre (obras). Por outro lado, os elementos de altimetria, ainda na Figura,
são correlacionados ao relevo da referida área (cota, curvas de nível e, indiretamente,
hidrografia).

7.4 Cartas altimétricas e sua aplicabilidade no ensino de geografia

A altimetria (ou hipsometria) tem como finalidade principal a medição da


distância vertical ou diferença de nível entre diferentes pontos geoespaciais
(ESPARTEL, 1960). Espartel (1960) define que, quando as distâncias verticais têm
como referência a superfície média dos oceanos, recebem o nome de altitudes e,
quando essas distâncias são determinadas com a adoção de uma superfície de nível
fictícia, recebem o nome de cotas. Nos dias atuais, o termo cotas é referido de forma
intercambiável com o termo altitude, ambos relativos ao nível do mar. Altimetria,
portanto, é a área que estuda os métodos utilizados para a determinação de um relevo
do terreno (SILVA; SEGANTINE, 2015). Podemos considerar o levantamento
altimétrico como ferramenta fundamental para a aplicação da altimetria, definido por
Silva e Segantine (2015) como o conjunto de operações em campo para a
determinação das altitudes, cotas ou diferenças de alturas em pontos.
O desenho de curvas de nível é uma aplicação a ser reforçada em práticas das
aulas de geografia. Os valores dos pontos altimétricos a serem representados são
facilmente observáveis no levantamento de campo, por exemplo, em acidentes
geográficos, corpos hídricos e divisores de água. A superfície da Terra não é uniforme
de modo geral, portanto, os padrões das curvas de nível são, com frequência, não
uniformes, o que pode gerar confusão a princípio, podendo ser explorado na
identificação e interpretação pelos estudantes.
De forma geral, as aplicações das cartas topográficas podem ter diferentes
abordagens: reconhecimento de padrões da geologia e pedologia, extração de curvas
de nível (leitura do relevo de determinada região) e delimitação de bacias
hidrográficas. Essa delimitação é útil devido ao fato de o gerenciamento de recursos
hídricos no Brasil adotá-la como unidade básica de organização e planejamento
ambiental.

53
7.5 Mapas planialtimétricos

As representações planialtimétricas se valem da utilização simultânea da


altimetria e da planimetria. Dessa forma, os dados informados são tridimensionais (X,
Y, Z), tornando-se mais completos e fáceis de trabalhar. Em teoria, os mapas
planialtimétricos possibilitariam também uma aplicação mais ampla no ensino de
geografia e melhor interface com SIGs.
Frequentemente, em representações planialtimétricas, há aplicação de
conceitos de hipsometria ou de modelos digitais de elevação para facilitar a
identificação da variação da altimetria, com aplicação de degradação de cores ou com
o uso de classes de cores. Vale destacar que ambas as figuras tiveram suas curvas
de nível (variações de altimetria) delimitadas a partir de pontos cotados na região da
cidade do triângulo mineiro Ituiutaba. (SCHUIT, 2011).
Essa ferramenta também facilita o desenvolvimento de habilidades de leitura
de cartas e mapas topográficos para estudantes, uma vez que a diferença de cor ajuda
a evidenciar as variações dos relevos (no exemplo da Figura abaixo, por exemplo, em
tons magenta estão as regiões com menores cotas, como vales e leitos de rios; em
tons castanhos, os relevos correspondem às áreas de maior cota, como encostas,
morros e montanhas), mesmo de faixas etárias menores (em conjunto com a prática
de coloração de cartas).

Representação planialtimétrica simplificada aplicando variação de cores para a região de Ituiutaba


(MG).
Fonte: ArcGis... (2019, documento on-line).

54
Representação planialtimétrica simplificada aplicando variação de cores para a região de Ituiutaba
(MG).
Fonte: ArcGis... (2019, documento on-line).

7.6 Observação do relevo no ensino de topografia

Uma maneira eficiente de ensinar a leitura de mapas topográficos seria


acompanhar em campo e não apenas em sala de aula. Schuit (2011) sugere a
utilização de cartões de exercícios a serem preenchidos pelos estudantes em uma
atividade teórico-prática organizada pelo docente em uma área com relevo já
conhecido por ele e que fique no entorno do local em que acontecem as aulas. O
relevo pode ser compreendido como o conjunto de formas e irregularidades que
moldam a superfície da crosta terrestre (SILVA; SEGANTINE, 2015).
Nessa abordagem, o aluno pode verificar a sua resposta diretamente com o
docente e discutir as dificuldades que está enfrentando para atingir a resposta correta,
de maneira rápida e eficiente. Quando todos os alunos encontrarem a resposta
correta, o grupo deve seguir para um local próximo para realizar um novo exercício.
Esse método faz uso eficiente da aplicação de instrução individual e usa o ambiente
ao ar livre para motivar a realização de atividades práticas entre os estudantes. Dessa
forma, duas metodologias podem ser combinadas: o uso de mapas simplificados que
reduzem a complexidade do mapa e o uso de um formato de pergunta de múltipla
escolha com respostas visuais e feedback imediato. Obviamente, essa atividade não
seria possível de ser realizada com grupos grandes de estudantes ou monitores
poderiam ser requeridos.

55
7.7 Atividades de geocartografia no ensino de geografia

O ensino de conceitos básicos de geocartografia varia dependendo da estrutura


da aula, do ano de ensino dos estudantes e do número de aprendizes que serão
orientados por cada profissional. A seguir, estão elencadas algumas atividades que
podem ser aplicadas em aulas teórico-práticas, práticas ou em lições de casa para se
reforçar o ensino de topografia e mapas.
 Localização geográfica de objetos: é um dos exercícios mais comuns em
livros (SAFARALIYEVA; HOSANI; NUNEZ, 2019). O exercício pede para encontrar
uma ou mais características geográficas em atlas ou mapas de parede, mencionados
pelo nome ou mostrados por sua forma nos livros didáticos.
 Mapas (de esboço) para colorir: esses mapas podem ser aplicados
juntamente com o uso de atlas para reforçar conceitos de ensino de mapas, relevo e
topografia.
 Elaboração de plantas da vizinhança: o exercício faz parte das aulas
práticas e pode ser organizado como lição de casa. Ao fazer um plano de lugares
familiares, como sua moradia, escola e outros lugares que frequentem, os alunos
compreendem a lógica da elaboração de mapas na prática (SAFARALIYEVA;
HOSANI; NUNEZ, 2019). Esse exercício pode ser aplicado em consonância com os
cartões de exercícios expostos por Schuit (2011).
 Cálculos matemáticos: exercícios com base em cálculos em mapas são
usados para apoiar o processo de aprendizagem dos alunos sobre coordenadas e
fusos, por exemplo. Para isso, um conjunto de pontos é dado em um mapa para
descobrir sua posição a partir de um mapa predefinido.
 Desenho do perfil linear: o exercício serve para favorecer a compreensão
das representações de profundidade e altitude nos mapas. Para isso, é necessário
desenhar determinado perfil de linha de um mapa geográfico físico incluindo os nomes
das características geográficas cruzadas pela linha (SAFARALIYEVA; HOSANI;
NUNEZ, 2019). Caso os alunos tenham acesso a computadores, uma forma
interessante seria fazer um pequeno trecho à mão e depois utilizar o Google Earth
para comparar os resultados, precisões e detalhes topográficos.
O nível de complexidade do exercício vai depender do conhecimento prévio
dos estudantes, das ferramentas que eles têm acesso e do tamanho das turmas para

56
acompanhamento ao longo de aulas práticas. Em caso de turmas grandes, uma
solução é que os exercícios sejam aplicados de forma complementar (tarefas para
casa) ou com a demonstração das ferramentas em um computador.
Nesse contexto, Gillen et al. (2010) questionam até que ponto os instrutores
utilizam conceitos contemporâneos, como SIG ou GPS, para treinar seus alunos sobre
o significado dos mapas, uma vez que o GPS pode ser utilizado na topografia mesmo
em levantamentos planialtimétricos mais tradicionais. Essas questões são pertinentes
para a viabilidade da interpretação de mapas em futuras aulas teórico- -práticas de
geografia. Vale destacar que Gillen et al. (2010) contextualizam essas temáticas em
sua análise sobre os diferentes livros didáticos empregados no ensino.
A conclusão acerca dessas aplicações no ensino de geografia é que o docente
responsável por ensinar esses conteúdos (cartas topográficas, altimetria, planimetria
e suas aplicações) pode introduzir a interpretação de mapas em sua turma escolhendo
ferramentas em papel mais consolidadas, porém com atividades mais práticas e
atuais, considerando que, possivelmente, a adaptação a cada realidade se fará
necessária de acordo com os recursos financeiros, computacionais e humanos
disponíveis (é sempre mais efetivo trabalhar com grupos pequenos ou contar com
monitores para apoio na realização das atividades, mas a realização de atividades em
formato de tarefas para casa pode ser um bom começo para introduzir diferentes
abordagens).
Cartas planimétricas, altimétricas ou planialtimétricas, com representações de
características artificiais e naturais de um local, possibilitam representar abordagens
distintas e amplas. O reconhecimento do relevo (topografia) é importante e está
correlacionado com aplicações como: a determinação de padrões pedológicos,
hidrológicos ou geológicos, a extração de curvas de nível (reconhecimento do relevo
e melhor aproveitamento de uma área), o gerenciamento de recursos hídricos
(delimitação de bacias hidrográficas) e o planejamento ambiental.
A principal motivação para continuar utilizando cartas topográficas mesmo com
o surgimento de mapas digitais é facilitar o aprendizado de leitura e interpretação
(identificação) dos elementos de uma paisagem, possibilitando a medição de
distâncias, ângulos e desníveis das superfícies (reconhecimento do relevo). Todos os
esforços em ensino de geografia abordando temas variados e aplicação de cartas
topográficas propiciam que profissionais fomentem as discussões relacionadas ao

57
conhecimento do território amplamente, englobando novas ferramentas de ensino e
de confecção de produtos cartográficos.

8 DECLIVIDADE E PERFIS

Cartas e mapas são os produtos cartográficos mais amplamente utilizados, não


apenas visando às análises de fenômenos e às atividades antropogênicas, mas
também como ferramenta para aprender e para ensinar conceitos relacionados à
evolução da superfície terrestre.
Nesta seção, você vai poder aprender um pouco mais sobre representações
em cartas e mapas para entender a diferença entre representações qualitativas e
quantitativas.

8.1 Formas de representação qualitativas e quantitativas na cartografia

O uso de mapas nas últimas décadas, como parte das atividades cotidianas,
cresceu influenciado grandemente pela produção digital, pela disseminação de mapas
e pela disponibilidade de novos dispositivos a um menor custo (GRIFFIN;
FABRIKANT, 2012). Tal crescimento torna o trabalho dos cartógrafos e designers de
mapas mais desafiador e contrasta com a prática inicial da cartografia em que os
projetos eram cartas e mapas estáticos desenvolvidos em papel.
Em geral, a maioria dos mapas pode ser classificada como de uso geral ou
temática, sendo que, às vezes, alguns mapas parecerem mistos, encaixando-se em
qualquer uma das categorias (DENT; TORGUSON; HODLER, 2009).
O objetivo de um mapa temático é ilustrar as características estruturais de
alguma distribuição geográfica específica (ROBINSON et al., 1995). Os recursos
estruturais incluem relações de distância e direcional, padrões de localização ou
atributos espaciais de mudança de magnitude.
Um mapa temático é composto de três componentes importantes: um mapa
geográfico ou camada mapa-base, uma sobreposição temática e um conjunto de
elementos auxiliares do mapa, como títulos, legendas, linhas de referência e outros
elementos. O usuário de um mapa temático deve integrar essas informações, visual e
intelectualmente, durante a leitura do mapa. O objetivo do mapa de base geográfica é

58
fornecer informações de localização às quais a sobreposição temática pode ser
relacionada. O mapa-base deve ser bem projetado e incluir apenas a quantidade de
informações necessárias para transmitir a mensagem do mapa (DENT; TORGUSON;
HODLER, 2009).
Simplicidade e clareza são importantes recursos de design da sobreposição
temática, assim como escolher os símbolos corretos ou o tipo de mapa temático para
corresponder aos dados que estão sendo mapeados. Observe que em muitos
aplicativos de mapeamento (Sistemas de Informação Geográfica [SIG]), o mapa-base
e os dados temáticos usados para gerar os símbolos são vinculados em uma única
camada de dados.
Os elementos auxiliares do mapa em um layout de mapa devem descrever o
mapa de forma sucinta para o leitor de mapas e devem ser colocados para equilibrar
visualmente o mapa. Na maioria dos casos, os mais importantes são o título e a
legenda. A legenda é importante para ajudar o leitor a interpretar corretamente
símbolos, intervalos de dados e outros detalhes representados. A declaração de
origem reconhece a (s) fonte (s) para os dados utilizados no mapa.
Mapas temáticos apresentam, portanto, um tema gráfico sobre um assunto,
mas devemos lembrar que um único tema é escolhido para esse mapa e é isso que o
distingue de um mapa de referência. Os mapas temáticos podem ser subdivididos em
dois grupos, qualitativo e quantitativo.
Os mapas temáticos qualitativos podem mostrar a distribuição espacial ou a
localização de um único tema dos dados nominais. Esses tipos de mapas temáticos
não mostram quantidade, mas informações puramente qualitativas, e geralmente são
muito generalizados em seus registros.
Alguns tipos comuns de mapas qualitativos são os mapas de regiões com seus
ecossistemas (isto é, biomas), descrição de geologia, tipos de solo, mapas de uso e
ocupação do solo. Vale ressaltar que, nos mapas qualitativos, o leitor não é habilitado
a quantificar a partir das observações apresentadas, exceto de análises relativas,
como, por exemplo, a extensão relativa da área (porcentagem de área) e a expansão
de fronteiras (p. ex., agrícola, desmatamento e ocupação urbana). (DENT;
TORGUSON; HODLER, 2009).

59
Mapa de solos do Brasil na escala 1:5.000.000.
Fonte: Marques (2016, documento on-line).

Uma utilização comum das representações qualitativas se remente à


divulgação em veículos de comunicação. Apesar do lento processo de identificação
de culpados e de ações de controle da contaminação, após um vazamento de petróleo
atingir a costa da região Nordeste brasileira, a mídia, com apoio dos dados levantados
pelo IBAMA, pode relatar os pontos onde estavam sendo registrados os locais
afetados. (DENT; TORGUSON; HODLER, 2009).
Os mapas temáticos quantitativos, por sua vez, exibem os aspectos espaciais
dos dados numéricos. Na maioria dos casos, uma única variável, como tipo de
plantação, pessoas ou renda, é escolhida, e o mapa se concentra na variação do
recurso de um lugar para outro. Esses mapas podem ilustrar dados numéricos na
escala ordinal (comparativo: menor ou maior que) ou na escala de intervalo ou razão
(quão diferente). O mapeamento quantitativo funciona para mostrar em intensidade a
presença de algo específico na área a ser mapeada. Vale lembrar que se o leitor
precisar de quantidades exatas, um mapa temático quantitativo não é o produto mais
adequado, sendo melhor a apresentação por meio de tabelas, por exemplo.

60
No caso ilustrado anteriormente, podemos analisar que na mesma reportagem
do Jornal O Globo, contendo um mapa construído pelo Laboratório de Métodos
Computacionais em Engenharia da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro), há representação no mapa qualiquantitativo das possíveis fontes e trajetos
do contaminante. Como clara evidência das representações quantitativas, temos o
uso de uma escala de porcentagem de probabilidade (variando do azul para o
amarelo). (DENT; TORGUSON; HODLER, 2009).

.Possíveis localizações da fonte contaminadora do vazamento de óleo na região Nordeste brasileira.


Fonte: O GLOBO... (2019, documento on-line).

Então, podemos afirmar que a principal diferença entre os dois tipos de mapas
temáticos é a análise que cada uma pode propiciar, análises quantitativas e
estatísticas (mais precisas) por meio da utilização de mapas temáticos quantitativos e
análises subjetivas ou relativas de uma visualização de um tema específico.

8.2 Representações quantitativas

Os mapas temáticos quantitativos geralmente assumem uma das várias formas


comuns. Cada técnica temática quantitativa pode ser usada para uma variedade de
61
tópicos, embora as diferentes dimensões dos dados espaciais tenham um impacto
dramático na seleção da forma ou formas apropriadas. Alguns tipos de mapas
quantitativos são:
 O mapa coroplético ou mapa coropleto (Choropleth) é um tipo de mapa
comum para mapear dados coletados em unidades de enumeração. Cada unidade é
colorida de acordo com uma variável ou atributo, como a densidade populacional
(Figura abaixo).
 Os mapas de pontos tentam mostrar variações na densidade espacial. Esses
mapas têm uma lógica relativamente simples: que um ponto representa tantas
unidades de algum objeto ou aspecto observado.
 Os mapas de símbolos proporcionais têm símbolos dimensionados para
valores em pontos. O ponto pode ser um recurso de ponto real, como uma localidade
(Figura abaixo).
 Os mapas isarítmicos tentam mapear volumes contínuos em 3D, como
elevação, temperatura ou precipitação. Os isaritmos (também isolinhas) conectam
pontos ou locais de igual valor.
 No cartograma de valor por área, os valores da área das unidades de
enumeração são substituídos pela variável que está sendo representada, geralmente
criando uma aparência muito impressionante.
 Os mapas de fluxo mostram movimento linear entre os lugares. A espessura
e/ou cor das linhas indicam a magnitude do fluxo ou movimento.
Dentre os principais produtos cartográficos temáticos, podemos destacar as
cartas e os mapas topográficos. A cartografia topográfica é histórica e amplamente
utilizada devido, principalmente, à necessidade de melhor conhecer o local ocupado
pelo ser humano. A representação gráfica da topografia, do relevo (planícies,
montanhas, vales), da hidrografia, das estradas ou das ferrovias pode ocorrer em
escala local, regional, estadual, nacional ou global. Quando utilizamos cartas, é
necessário que haja uma ordem na nomenclatura e organização das folhas para que
a precisão seja mantida muito além do caráter artístico que tal produto cartográfico
pode apresentar. (DENT; TORGUSON; HODLER, 2009).
A superfície da Terra raramente é uniforme, se é que alguma vez foi uniforme;
portanto, os padrões de contornos são frequentemente misturados, o que pode
parecer confuso a princípio.

62
Exemplos de mapas quantitativos representando a mesma informação.
Fonte: o autor.

8.3 Tipos de relevo topográfico

Fotos aéreas e outras imagens detectadas remotamente, que geralmente estão


disponíveis em sites com mapas, normalmente não são consideradas mapas, mas
são frequentemente usadas no processo de criação de mapas (DENT; TORGUSON;
HODLER, 2009). Vale ressaltar que alguns softwares, como o Google Earth, podem,
além da superfície tridimensional do relevo, fornecer um perfil do relevo da área, e

63
algumas funções como a declividade (slope) podem ser utilizadas para a obtenção em
uma área específica a ser determinada pelo usuário.
A gênese e a classificação do relevo estão sujeitas a um estudo mais detalhado
em geomorfologia, embora sejam classificadas em cartografia e topografia em termos
das possibilidades de sua representação cartográfica. De acordo com o tipo, relevo
significa uma soma de certas formas de relevo repetidas por alguma regra e que
evoluíram em um determinado terreno geológico sob a influência do mesmo complexo
de fatores orogênicos.

Representação geral de declividades em um perfil genérico.


Fonte: Adaptada de Markoski (2018).

Por altitude, distinguimos (MARKOSKI, 2018):


a) Planícies até 500 m acima do nível do mar (a.s.l., do termo em inglês above
sea level)
■ planícies;
■ relevo de rolamento de até 200 m a.s.l.;
■ relevo montanhoso de 200 a 500 m a.s.l..
b) Platôs acima de 500 m a.s.l.;
■ baixo relevo da montanha de 500 a1000 m significa a.s.l.;
■ relevo de montanha intermediário de 1000 a 2000 m significa a.s.l.;
■ relevo alpino em alta montanha acima de 2000 m significa a.s.l..

Além da classificação anterior, os tipos de relevo topográfico são diferenciados


por características topográficas. A decisão final sobre os modos de representação
64
cartográfica do relevo leva em consideração tanto as classificações quanto outros
parâmetros diretamente relacionados ao relevo. De acordo com os processos
complexos durante a gênese, a formação do relevo é um fenômeno natural muito
complexo. Colinas são objetos de relevo que são notavelmente mais altos em
comparação com os arredores adjacentes. Os principais elementos das colinas são o
cume, o lado e a base. Montanhas são elevações de diversas formas, direção de
trecho, declives, altitude absoluta e altitude relativa acima de 500 m. Por altitude, eles
são divididos em (MARKOSKI, 2018):
 baixo (500 a 1.000 m e inclinação de 5 a 10°);
 médio (1.000 a 2.000 m, com uma inclinação de 10 a 25° e alturas relativas
entre os ramos de 500 a 700 m); e
 alta (acima de 2.000 m, com declives relativamente maiores e alturas
relativas entre os braços de 1.000 m).
O relevo da planície é o terreno caracterizado por uma inclinação menor que 5°
e tem extensão contínua da superfície com elevações ou depressões que não
excedem vários metros em distâncias maiores.
As depressões são as formas de relevo que são notavelmente mais baixas em
comparação com os arredores adjacentes. Por sua aparência e tamanho geral, as
depressões são classificadas como bacias estruturais, vales, voçorocas e sulcos.
Bacias estruturais são grandes depressões com um fundo de relevo principalmente
plano ou montanhoso, cercado por encostas de montanhas que se inclinam em
direção a alturas de montanhas com maior inclinação (DENT; TORGUSON; HODLER,
2009). Um vale é um recesso alongado que pode se estender por várias centenas de
metros e pode ainda ser um local onde há o leito de um corpo hídrico superficial.
Um exemplo famoso de um relevo marcado é o Parque Estadunidense Grand
Canyon, no qual é possível identificar platôs, vales, encostas e grandes depressões,
com diferença de nível de até 1.500 metros de profundidade.
O Grand Canyon não é o sistema de cânions mais profundo, tampouco o mais
extenso da Terra, no entanto, suas paisagens surpreendem pelo seu incrível relevo.
No desfiladeiro interno, há uma mistura de xisto com gnaisse escuro (rochas
metamórficas) e granitos rosa-claro (rochas ígneas). Sobre o desfiladeiro, é possível
observar camadas planas ou inclinadas de rochas sedimentares — arenitos, folhelhos,
pedras calcárias e conglomerados — formadas por rios, dividindo a paisagem entre

65
platôs, várzeas e desertos. A continuidade lateral apresenta as camadas que se
estenderão em todas as direções, expostas pela “escultura” do rio.
Complementarmente, o Horseshoe Bend (ainda no Grand Canyon) foi formado
também pela ação da água, e, nas paredes do penhasco, é possível observar o denso
e resistente arenito navajo.
No Brasil, simplificadamente, há planícies, planaltos e depressões. Vale
ressaltar que, em geral, o país não apresenta altitudes elevadas e há diversas
classificações possíveis.
A Resolução Conama n.º 303/2002, em seu art. 2º, descreve algumas
definições que se relacionam com o relevo para facilitar a definição de áreas de
proteção permanente:

IV - Morro: elevação do terreno com cota do topo em relação à base entre


cinquenta e trezentos metros e encostas com declividade superior a trinta por
cento na linha de maior declividade;
V - Montanha: elevação do terreno com cota do topo em relação à base
superior a trezentos metros;
VI - Base: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol d’água
adjacente, ou nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao
seu redor.

Nesse contexto com distintos relevos associados à geologia e à pedologia


diversa, os mapas topográficos representam os recursos da Terra com precisão e em
escala em uma superfície bidimensional. Os mapas topográficos são uma excelente
ferramenta de conhecimento de um local, facilitando a melhor utilização de uma área
qualquer.
O relevo é um elemento geográfico básico que tem sido representado nos
mapas desde os tempos antigos com desenhos em paredes de cavernas, rochas e
placas de argila e as formas de representação vêm sendo aprimoradas por diferentes
abordagens. Em primeiro lugar, ele pode ser representado por perfis esquemáticos
em relação à base do terreno (e unidades acima do mar). A representação do relevo
pode ser realizada utilizando-se sombras, hachuras ou linhas (curvas de nível).
Comparado a outros elementos geográficos, o mapeamento de relevo é feito
por vários métodos. Markoski (2018) cita:
 perspectiva;

 espacial ou plástico, que engloba hachuras;

 sombreamento e camadas;

66
 geométricos, como as elevações pontuais e linhas de contorno (curvas de

nível);
 combinações de diferentes métodos.

9 IMPORTÂNCIA DO ENSINO DAS ESCALAS E DOS SISTEMAS DE


PROJEÇÕES

A cartografia é a ciência da concepção, produção, difusão, utilização e análise


dos mapas, carta e planta. De acordo com Menezes e Fernandes (2013), a cartografia
é uma ciência de extrema importância, sendo uma forte ligação com a geografia, o
que permite que tanto fenômenos de ordem física quanto de ordem social sejam
generalizados e apresentados em representações planas ou tridimensionais,
impressas ou virtuais. A representação cartográfica auxilia muito na orientação dos
educadores brasileiros no processo de ensino-aprendizagem da geografia no âmbito
escolar, ainda mais com as novas tecnologias, com o GPS em todas as instâncias,
em que podemos viajar a outro país em instantes, em diferentes escalas e distâncias.
Atualmente, os mapas e as cartas estão cada vez mais populares em função
da acessibilidade permitida pelos computadores e softwares. Métodos de edição,
gravação e impressão possibilitam que os dados geográficos sejam rapidamente
processados, bem como representados (TULER; SARAIVA, 2016).
Os mapas e as cartas servem para:
 lançar limites geográficos (mapas políticos);
 realçar acidentes do relevo do terreno (linha de cumeada, delimitação de
bacias hidrográficas, divisores de água, talvegues, etc.);
 definir assuntos temáticos (transporte, vegetação, clima, solo, relevo,
geologia, ecologia, economia, litologia, pluviometria, geobotânica, educação, língua,
entre outros).
No entanto, as plantas, geralmente topográficas, podem apenas representar os
elementos naturais e artificiais de uma localidade (cadastro de benfeitorias,
identificação de acidentes do relevo por meio do traçado de curvas de nível, inventário
urbano, profundidade de cursos d’água e barragens, inventário industrial, etc.),
conforme descreve Tuler e Saraiva (2016). Na Figura abaixo, são apresentados
alguns dos propósitos da cartografia.

67
Propósitos da cartografia.
Fonte: Adaptada de Menezes e Fernandes (2013)

Ou seja, é fundamental que os alunos do ensino básico brasileiro entendam a


necessidade e a aplicabilidade da cartografia, e, consequentemente, das
representações cartográficas e escalas. Dentre as aptidões desenvolvidas pelos
alunos no estudo dessa ciência, Fontes e Souza (2018) descrevem: coordenação
motora, raciocínio lógico, entendimento das três dimensões (tridimensionais), obter
informações por meio de leituras e interpretação de mapas, além de complementar a
aprendizagem escrita e oral convencional.
Ao trabalhar com conteúdo que envolva representações cartográficas, o
professor deve fazer uso de recursos didáticos, visto que esse assunto envolve
noções demasiadamente abstratas, e, dessa forma, é de difícil compreensão para os
alunos. Como ferramentas, o professor pode utilizar mapas (analógicos e digitais),
globo terrestre, atlas, entre outros. (TULER; SARAIVA, 2016).
Projeções cartográficas são técnicas específicas de mapeamento, sendo que,
comumente, a mais utilizada é a projeção cilíndrica conforme de Mercator, a qual
conserva a forma dos continentes e, dessa forma, é denominada de “conforme”.
Porém, nenhum tipo de representação cartográfica conserva fielmente a realidade,
sendo que a representação de Mercator apresenta distorção das áreas dos
continentes, fazendo-os maiores quanto mais afastados estão da linha do Equador.
A projeção cilíndrica equivalente de Peters (com o ponto central na Linha do
Equador) é mais um tipo de representação cartográfica muito utilizada, sendo que
essa mantém as áreas dos continentes, mas deforma os seus contornos, tornando-os
mais alongados na medida em que se afastam do Equador.

68
Em relação à escala, esta serve para calcular, visando a ter uma boa
aproximação entre dois ou mais pontos representados em um mapa. Por exemplo,
quando um mapa apresenta uma escala de 1:100.000, isto significa que a realidade
foi reduzida cem mil vezes para representar a realidade no papel, ou seja, cada
centímetro do papel corresponde a 100.000 centímetros no espaço real.
A cartografia está presente de diferentes formas no cotidiano da humanidade.
Dessa forma, é imprescindível que os alunos entendam o seu significado. Além disso,
a cartografia, além de trabalhar a noção da geografia, também trabalha a questão da
matemática, da interpretação, do raciocínio lógico e da própria leitura. É fundamental
que os professores transmitam o conhecimento a respeito dessa ciência da forma
mais didática possível. (TULER; SARAIVA, 2016).

10 USO E INTERPRETAÇÃO DE MAPAS

A análise espacial em escala mundial com a utilização do mapa-múndi é uma


importante etapa na construção do conhecimento geográfico e interdisciplinar do
indivíduo. Estudar o mundo a partir do local em que vivemos, identificando outras
culturas, climas e vegetações, passa pelo reconhecimento das peculiaridades dos
diferentes espaços ao seu redor.
Algumas informações são fundamentais para que possamos ler um mapa,
como legenda, escala, título e orientação geográfica. O uso e a interpretação dos
mapas em sala de aula desperta a capacidade de localização e espaço nos alunos. O
professor deve estar atento às novas tecnologias do setor, além de apresentar
corretamente os processos analógicos.

10.1 Mapas-múndi e suas possibilidades didáticas

O mapa-múndi é a representação da superfície terrestre em um ambiente


plano. Nele, encontram-se os mais variados elementos físicos, como continentes,
oceanos, rios, montanhas, desertos, etc. Dependendo da sua finalidade, ou seja, do
uso que se quer dar ao mapa, pode-se enfatizar alguns dos seus elementos. Além
disso, os mapas-múndi podem auxiliar estudos em escala mundial sobre populações,
economia, qualidade de vida, etc. Quando os mapas são trabalhados em sala de aula,

69
uma reflexão inicial sobre os seus principais usos pode ser realizada, principalmente,
em relação aos mapas-múndi. Pode-se citar como exemplo histórico os portugueses,
que possuíam conhecimentos cartográficos sólidos e eram considerados, na época
das grandes navegações, uma nação poderosa. Naquele período, entre os séculos
XV e XVI, era fundamental para os países exploradores saberem a localização dos
territórios e dos oceanos para aumentar a sua soberania. Esses países deveriam ter
capacidade de produzir novos mapas e interpretar corretamente os já existentes
(SILVA; NASCIMENTO, 2015).
Em mapas-múndi temáticos, diferentes fenômenos em nível mundial são
estudados, como economia, população, clima, qualidade de vida com indicadores —
como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) —, aspectos físicos em geral
(relevo, vegetação, etc.), além da localização pontual dos principais países, estados
e cidades. Aliado a isso, o ensino contemporâneo vem trazendo as facilidades da
difusão de aparelhos de localização, como os receptores GPS (Global Positioning
System) e as imagens de satélites georreferenciados, como as do Google Earth, por
exemplo.

Mapa-múndi com as divisões políticas mundiais, os meridianos e paralelos e os nomes dos principais
países, cidades, oceanos e rios.
Fonte: frees/Shutterstock.com

Conhecer o espaço mundial por meio de mapas reproduzidos no plano do papel


deixou de ter a relevância que tinha no passado. Contudo, entender como é o
70
processo sem a tecnologia é fundamental para que os alunos tenham a noção de
como ocorria o processo analogicamente e como atua a tecnologia para intermediar
os processos até que cheguem ao usuário.

10.2 História da cartografia na era moderna

Na Inglaterra no final do século XVIII, a revolução industrial, propiciou tempos


modernos para muitos setores da economia. Após e durante esse período a
cartografia foi alavancada com a geração de riquezas, melhorando a precisão dos
trabalhos. Ocorreram mais investimentos na produção de cartas, mapas e
instrumentos. A Grã-Bretanha, na segunda metade do século XVIII, aparecia como
um grande centro de atividades cartográficas. John Hadley (1682–1744), responsável
pela construção do primeiro telescópio refletor usado em astronomia; John Harrison
(1693–1776), relojoeiro que inventou um cronômetro marinho, fundamental para a
solução do problema das longitudes; e Jesse Ramsden (1735–1800), que
desenvolveu o sextante e o teodolito, são exemplos de grandes nomes dessa época.
O cálculo das longitudes se apresentava como um grande desafio aos
cientistas modernos, dominar esses cálculos era fundamental para acabar com os
incidentes ocorridos com embarcações nas navegações da época. No período, ainda
não era possível determinar com precisão a forma e tamanho da Terra, ainda que, já
fosse aceita a ideia de que a Terra não era uma esfera perfeita. Os reis da França e
Inglaterra, a fim de solucionar esse problema, investiram muitos recursos investindo
em pesquisas desenvolvidas nos grandes centros de estudos da época, como a
Académie Royale des Sciences (1666) e a Royal Society of London (1662), que se
apoiavam, respectivamente, em trabalhos realizados no Observatoire Royal de Paris
(1667), sob o comando de Giovanni Cassini (1625–1712), e no Royal Observatory at
Greenwich (1676), coordenado por John Flamsteed (1646–1719).
Foram organizadas duas importantes expedições geodésicas pelos franceses,
com a finalidade de constatar se a Terra era mesmo achatada nos polos como previra
Isaac Newton (1643–1727). A primeira, iniciada em 1735 em Quito, buscava medir um
arco de meridiano em um ponto mais central na esfera terrestre. A segunda, realizada
em 1736 no Golfo de Bótnia, no Ártico, buscava efetuar medições na região polar. O
objetivo era buscar uma definição sobre a forma da Terra comparando os resultados

71
obtidos nas expedições efetuadas por Isaac Newton. Os ingleses também efetuavam
várias medições, chegando a valores divergentes dos obtidos pelos franceses. Para
acabar com essas diferenças, foi realizado um novo levantamento trigonométrico,
alcançando- -se, finalmente, um consenso, entre Londres (Observatório de
Greenwich) e Dover (cidade portuária localizada a sudeste de Londres).
Evoluindo daquela época, a cartografia, atualmente, conta com valiosos
recursos, como: aerofotos, imagens orbitais, sistemas de posicionamento por
satélites, programas e aplicativos computacionais que, além de facilitar as atividades
cartográficas e aumentar a sua eficiência de atualização, também possibilitam a rápida
disponibilização das informações coletadas (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, c2019).

10.3 Tecnologias de informação aplicadas aos mapas em sala de aula

A utilização de mapas digitais em sala de aula é uma tendência mundial que


conta com modelos interativos rápidos e de fácil manuseio. No mercado, existem
várias opções de aplicativos (programas) livres (free). Entre os principais, podemos
citar o Google Earth, em que se pode fazer, de maneira on-line, várias análises
espaciais em escala mundial, além da visualização tridimensional do relevo ou de
casas e prédios.
Alguns exercícios simples, de abrangência mundial, podem ser aplicados em
sala de aula usando a ferramenta Google Earth. Por exemplo, é possível conhecer e
entender as cadeias de montanhas de todo o Globo navegando até o local e fazendo
a visualização tridimensional da área. Os lugares podem ser vistos de qualquer
ângulo, como se o usuário estivesse ao rés do chão olhando a paisagem. Esse recurso
pode contribuir para uma aprendizagem significativa, além de fazer correlações com
a ocupação humana, a vegetação, os rios, entre outros (MOURA, [2013]). O aplicativo
mostra a realidade para os alunos, permitindo viajar por todo o mundo mostrando a
realidade local e como o local se encaixa no global. Para aplicar esse conceito de local
no global, pode-se pesquisar o endereço de algum aluno ou mesmo da escola e
mostrar a sua localização, bem como o melhor caminho para se chegar a qualquer
destino.

72
Análise espacial em escala mundial por meio do uso da ferramenta digital do Google Earth.
Fonte: Google (c2019, documento on-line).

10.4 Elementos presentes em mapas impressos

Os mapas são importantes meios de comunicação, tanto no dia a dia das


pessoas quanto em sala de aula para o professor explicar determinados assuntos. Os
mapas podem representar elementos naturais e antrópicos existentes na superfície
terrestre, como rios, lagos, montanhas, prédios, ruas, parques, entre outros,
demonstrando, assim, características macro ou micro, mundiais ou de um único bairro.
Contudo, para cumprir a sua função de comunicação, o mapa deve conter
alguns elementos específicos. Esses elementos permitem a leitura e análise do mapa
transmitindo a informação contida nele. Os principais elementos que um mapa deve
apresentar são o título, a escala, a legenda, a orientação geográfica e a projeção
cartográfica utilizada. Por convenção, alguns padrões de apresentação dos mapas
foram determinados e compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), em
1999.
 Título: fornece as informações gerais que serão apresentadas no mapa e
que são importantes para compreendê-lo, como local e período da representação
(importante em mapas históricos ou que representam fatos ocorridos anteriormente).

73
Na leitura do mapa, esse é o elemento de maior destaque, apresentado em local de
fácil visualização.
 Legenda: apresenta uma das principais funções para a leitura dos mapas,
traduzindo o que está sendo passado por meio de cores, formas, tamanhos e
símbolos. Por convenção, existem alguns padrões de cores e símbolos estabelecidos
pelo IBGE. Por exemplo, a cor azul é utilizada para água, enquanto a verde, para
vegetação, ou os padrões de tracejados, como os padrões para ferrovias e rodovias.
 Orientação cartográfica: fornece a posição do mapa em relação aos pontos
cardeais. Esse elemento é necessário para que o leitor se oriente corretamente pelo
mapa. A orientação pode ser apresentada nos mapas com uma seta apontando para
o norte (N) ou também pode ser indicada por uma rosa dos ventos.
 Escala: é a proporção matemática entre a área real do terreno e a sua
representação cartográfica, ou seja, a proporção que é dada pelo mapa. Os dois tipos
de escalas mais comuns são a numérica, composta unicamente por números, e a
gráfica, estabelecida por uma por uma linha ou barra desenhada no mapa no sentido
horizontal.
 Projeção cartográfica: é a forma ou a base cartográfica utilizada para
representar uma parte da superfície da Terra. Como a forma da Terra é esférica,
existem certos métodos a serem adotados para representá-la em um plano. Assim, o
autor deve sempre escolher o tipo de projeção cartográfica menos prejudicial ao seu
trabalho em termos de distorções do espaço representado. Nesse item, também é
importante indicar algumas coordenadas para o mapa, a fim de melhor localizar os
objetos.

10.5 Interpretação dos mapas em sala de aula

O mapa é a representação no plano e, geralmente, utilizando-se uma escala


pequena, representa os aspectos geográficos, naturais, culturais e artificias de uma
área delimitada da superfície terrestre. A delimitação da área de abrangência do mapa
pode levar em conta muitos aspectos, entre eles, os elementos físicos naturais (rios,
lagos, montanhas) e os elementos políticos administrativos (divisas de municípios,
estados ou países) (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
c2019).

74
Historicamente, o uso dos mapas surgiu antes mesmo do domínio da escrita
pelo homem, na região da Mesopotâmia. As sociedades locais elaboravam mapas
com o objetivo de registrar os lugares onde viviam e por onde passavam em seu dia
a dia. Com a expansão das civilizações antigas, tanto na Mesopotâmia quanto no
Egito e Grécia, os mapas passaram a ter uma importância ainda maior, pois era
necessário reconhecer e documentar os limites das áreas dominadas e também as
possibilidades de ampliação de suas fronteiras por meio das guerras da época. Assim,
os mapas eram utilizados para o planejamento das guerras (SILVA; NASCIMENTO,
2015).
Os mapas podem ser facilmente relacionados com os estudos de caráter
geográfico, contudo, também podem ser aplicados em muitas outras disciplinas, como
história, filosofia, química e matemática. Além disso, pode-se utilizar a ferramenta dos
mapas em caráter interdisciplinar e transdisciplinar em inúmeros projetos.

Mapa-múndi histórico do ano de 1860.


Fonte: RTimages/Shutterstock.com.

A linguagem cartográfica permite entender as diferentes territorialidades


organizadas e definidas pelas sociedades humanas, espacializando os fenômenos
naturais ou culturais ocorridos, estabelecendo a relação da cartografia com a
geografia. A linguagem cartográfica permite a apreensão e compreensão da

75
distribuição espacial dos fenômenos, contemplando as especificidades do objeto de
estudo da geografia, assim como toda a gama da relação homem e natureza (BITAR;
SOUSA 2009).
Os estudos cartográficos podem ser incluídos na rotina das crianças a partir
dos 6 ou 7 anos de idade, quando o aluno, com o auxílio do professor, poderá
desenvolver algumas habilidades, como a lateralidade, com os conceitos de esquerda
e direita e os pontos cardeais. Antes disso, ainda quando criança, o aluno deve ter
desenvolvido as primeiras relações espaciais denominadas de topológicas
elementares (conceito de dentro e fora, perto e longe), que começam a se estabelecer
desde o nascimento e são a base para o entendimento das relações espaciais mais
complexas (BITAR; SOUSA 2009).
Ao estimular o aluno a ter uma visão cartográfica, deve-se considerar o próprio
interesse da criança pelas diferentes formas de apresentação dos mapas ou das
imagens, pois isso refletirá positivamente no processo da alfabetização cartográfica.
Cabe ao professor oferecer os recursos adequados, trabalhando de forma lúdica e
explorando a linguagem visual produzida pelas ferramentas. É importante desenvolver
a capacidade de leitura e de comunicação oral e escrita por meio de desenhos, fotos,
gráficos, tabelas, mapas, animações em 3D, plantas, maquetes e imagens de satélite,
permitindo ao aluno a percepção e o domínio do espaço (SIMIELLI, 2007).

Mapa produzido a partir da perspectiva em 3D dos elementos.


Fonte: Alexzel/Shutterstock.com.

76
A produção de mapas é uma atividade muito antiga que surgiu antes da escrita,
tornando-se a memória de muitos povos antigos. Tanto no resgate dessas histórias
quanto na construção da história contemporânea do aluno, é importante a correta
atuação do professor de geografia dentro dos conceitos cartográficos. Assim, a
principal função do professor, principalmente, o da disciplina de geografia, é estimular
os seus alunos a perceberem melhor o mundo, partindo da sua capacidade de
compreender o local para o entendimento do global. Os mapas e globos são
importantes ferramentas para auxiliar esse processo, além de permitir que os alunos
viagem por diferentes locais sem sair de casa, percebendo o mundo de maneira
distinta e visual. (SIMIELLI, 2007).

77
REFERÊNCIAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

DUARTE, Paulo Araújo. Fundamentos de cartografia. 3. ed. Florianopolis: Ed.


UFSC, 2006. JOLY, Fernand. A cartografia. Campinas, SP: Ed. Papirus, 1990. FITZ,
Paulo Roberto. Cartografia básica. Nova ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BAKKER, M. P. R. Cartografia: noções básicas. Rio de Janeiro: Diretoria de


Hidrografia e Navegação, 1965. 242 p.

BITAR, J. C. M.; SOUSA, C. L. A geografia e o uso da linguagem cartográfica na


educação básica. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO — EDUCERE, 9.,
2009, Curitiba. Anais [...] Curitiba: PUCPR, 2009.

CARVALHO, E. A.; ARAÚJO, P. C. O globo terrestre e seu uso no ensino da


Geografia. Natal: EDUFRN, 2009. Disponível em:
http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fasciculos%20-
%20Material/Leituras_Cartograficas_II/Le_Ca_II_A06_ MZ_GR_260809.pdf. Acesso
em: 1 dez. 2019

CASACA, J.; MATOS, J.; BAIO, M. Topografia geral. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2017.

FITZ, P. R. Cartografia básica. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 144 p.

FONSECA, F. P. O potencial analógico da cartografia. Boletim Paulista de


Geografia, São Paulo, nº 87, p. 85–110, 2007.

FRANCISCO, W. de C. e. Projeções cartográficas. 2017. Disponível em: . Acesso


em: 15 set. 2017.

78
GIRARDI, G. Mapas desejantes: uma agenda para a cartografia geográfica. Pro-
Posições, v. 20, n. 3, p.147–157, 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/pp/v20n3/v20n3a10. pdf . Acesso em: 11 dez. 2019.

GOMES, C. S. N. et al. A comunicação na geografia. Revista Eletrônica de


Divulgação Científica da Faculdade Don Domênico, v. 1, p. 1–15, 2013.

GOOGLE. Google earth. c2019. Disponível em: https://www.google.com.br/maps/@-


29.141852,-56.526732,11480795m/data=!3m1!1e3?hl=pt-BR&authuser=0. ACesso
em: 26 nov. 2019.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas geográfico


escolar: história da cartografia na era moderna. c2019. Disponível em:
https://atlasescolar.ibge.gov.br/ conceitos-gerais/historia-da-cartografia/a-era-
moderna.html. Acesso em: 27 nov. 2019.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Noções básicas de


cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. (Manuais técnicos em geociências, 8).
Disponível em: https:// biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-
%20RJ/ManuaisdeGeociencias/Nocoes%20basicas%20de%20cartografia.pdf.
Acesso em: 27 nov. 2019.

LÖBLER, C. A.; FRANCISCO, M. A. S. Metodologia do ensino de geografia. Porto


Alegre: Sagah, 2016.

MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto,


2003.

MARTINELLI, M. Tempo e espaço no mapa. Boletim Paulista de Geografia, São


Paulo, v. 100, p. 39-55, 2018. Disponível em:
https://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/boletimpaulista/article/view/1498/1361.
Acesso em: 12 dez. 2019.

MCCORMAC, J. C. Topografia. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2007.

79
NOGUEIRA, R. E. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados
espaciais. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2009.

OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993

PENA, R. F. A. Coordenadas geográficas. 2017. Disponível em: Acesso em 16 set.


2017.

STEIN, Ronei. Conceitos e noções de cartografia. Soluções Educacionais


Integradas – SAGAH, 2018.

TIMBÓ, M. A. Elementos de cartografia. Belo Horizonte: Departamento de


Cartografia da UFMG, 2001. 57 p. Disponível em:
http://www.csr.ufmg.br/carto1/elementoscartografia_timbo.pdf. Acesso em:
17 dez. 2019.

TULER, M; SARAIVA, S. Fundamentos de geodé sia e cartografia. Porto Alegre:


Bookman, 2016. (Série Techne).

VEIGA, L. A. K.; ZANETTI, M. A. Z.; FAGGION, P. L. Fundamentos de topografia.


Curitiba: Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, Universidade Federal do Paraná,
2012. 274 p. Disponível em:
http://www.cartografica.ufpr.br/docs/topo2/apos_topo.pdf. Acesso em: 17 dez. 2019.

80

Você também pode gostar