Você está na página 1de 23

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/363847309

Livro de Bioquímica CAPÍTULO: CARBOIDRATOS.

Chapter · September 2022

CITATIONS READS

0 1,293

1 author:

Rafael Salomão da Silva


Universidade Federal de Sergipe
16 PUBLICATIONS   75 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

salomaobit@hotmail.com View project

All content following this page was uploaded by Rafael Salomão da Silva on 26 September 2022.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Os carboidratos são biomoléculas capazes de fornecer energia para a maioria das células
não-fotossintéticas. Essa transferência de energia acontece devido ao processo de oxidação dos
carboidratos. Os carboidratos apresentam diferentes funções, incluindo: proteção e formação da
estrutura da parede celular e tecido conjuntivo, servem como lubrificantes das articulações
esqueléticas, coesão entre células e agem como sinais celulares. Por definição, são
poliidroxialdeidos-cetonas cíclicas, sendo representa pela fórmula geral, empírica (CH2O) n,
podendo conter, também elementos como N, P e S. Os carboidratos são divididos em três classes,
incluindo os Monossacarídeos: formados por uma única unidade de poliidroxialdeidos ou
poliidroxialdeidocetona (poliidroxialdeidos-cetonas), Oligossacarídeos: compostos por cadeia
curtas de unidades de monossacarídeos unidos por ligação glicosídica. Exemplo; dissacarídeo e
Polissacarídeos formados por 20 ou mais unidades de monossacarídeos, unidos por ligação
glicosídicas. Exemplo: celulose, amido.

O monossacarídeo é uma molécula orgânica formada por um aldeído (A) ou cetona (B),
ligado a uma cadeia de hidrocarbonetos (CH) e várias moléculas de hidroxilas (OH). Abaixo ire
representa essa estrutura. Imagine um lego, onde cada peça encaixa-se umas as outras. A
estrutura do monossacarídeo é similar. Por exemplo, para construir meu monossacarídeo ire
precisar da primeira peça do lego, que pode ser um o aldeído ou cetona. Usarei o aldeído como
exemplo:

O Representação estrutural do aldeído (A)


C
H

Esse é um aldeído, observe que ele é formado por uma carbonila C=O ligado ao H. O
aldeído também pode ser representado por sua fórmula empírica (CHO). Agora vamos encaixar
a peça aldeído a segunda peça, formada por uma cadeia linear e não ramificada de
hidrocarboneto. Essa representação é baseada na fórmula da projeção de Fischer.
22
O
C
H
H C
H H
H C
H
H C H
H H
H
H
Assim teremos as duas peças unidas, o aldeído ligado a cadeia de hidrocarboneto.

O Aldeído
C
H

H C
H H Cadeia não
H C ramificada de
H hidrocarbonetos
H C
H
H
H
Por fim, irei encaixar a última peça do lego, na estrutura acima. Estas serão moléculas de
hidroxila, representado por OH. Desta forma, teremos uma molécula de monossacarídeo.

O
C
H

H C OH
H H HH
H C H
OH
H
H C OH
H
H
H
Este monossacarídeo é formado por um esqueleto de 4 átomos de carbono, unidos entre
si por ligações covalentes simples. Como esse monossacarídeo possuí um aldeído em sua

23
extremidade, o monossacarídeo é uma aldose. Da mesma maneira, se o monossacarídeo for
formado por uma cetona (estrutura abaixo), o monossacarídeo é uma cetose.

H
H C OH

C O
H
H C OH
H
H C OH
H
H
H

Assim, por definição os monossacarídeos são aldeídos ou cetonas que contêm um ou


mais grupos hidroxilas em sua molécula. Esses podem ser classificados, de acordo com a
quantidade de átomos de carbonos presentes em seu esqueleto, em:

Triose = 3 carbonos
Tetrose = 4 carbonos
Pentose = 5 carbonos
Hexoses = 6 Carbonos
Heptoses = 7 Carbonos

Por exemplo, a estrutura abaixo pode ser classificada como uma tetrose (4 carbonos).
Esta classificação tanto pode acontecer em estruturas de monossacarídeo que apresentam um
aldeído (aldoses) ou cetona (cetose). Neste caso, temos uma aldosetetrose. Vale lembrar que as
hexoses, que incluem as aldohexoses D-glicose e cetoexose D-frutose, são os monossacarídeos
mais comuns na natureza.

24
O
C
H

H C OH
H H HH
H C H
OH
H
H C OH
H
H
H
Além desta classificação, é importante destacar que os monossacarídeos, com exceção
do diidroxiacetona, contêm pelo menos um ou mais carbonos assimétricos (quiral), e assim,
ocorrem em formas isoméricas opticamente ativas. Tá, mas, como posso entender essa
informação? E qual a relevância desta informação? A resposta é “toda”!. E eu vou explicar um
dos motivos, do porque essa informação é tão relevante. Mas, primeiros temos que relembrar
sobre isomeria espacial.
A isomeria espacial diz respeito a estereoisomeria, que conduz ao aluno, a entender que
por exemplo, essa aldotetrose apresentam átomos ligados na mesma ordem, mas cuja orientação
espacial é diferente. Essa propriedade, permite, por exemplo, que essa molécula tenha
comportamentos biológicos diferentes. Assim, supomos que a Forma A liga-se a uma
determinada enzima, que ativa sua função catalítica, em contrapartida, a forma B, não liga-se a
mesma enzima em questão. Irei explicar, de forma visual. Imagine que a aldotetrose tenham duas
formas de arranjos espaciais, a forma A e B.

Forma A (Forma espacial D) Forma B ( Forma espacial L)

25
As duas formas são possíveis, graças a presença de carbonos quirais. Estes carbonos
quirais apresentam, três ou quatro grupos substituintes diferentes. Na Forma A ou B, há dois
carbonos quirais. O carbono quiral C2. Obs. Os carbonos da estrutura são numerados a partir da
extremidade mais próxima ao grupo carbonil

Grupo substituinte 1
1

Grupo substituinte 4 Grupo substituinte 2


2

3
Grupo substituinte 3
4

Observe que o carbono C2 apresenta 4 grupos substituintes, que diferem entre si. Logo,
podemos concluir que o C2 é quiral, e permite desviar a luz polarizada, tanto para a direita, como
esquerda. Na isomeria espacial do tipo óptica. Carbonos quirais (assimétricos), permitem com
que a luz polarizada (esteja em um plano) sofra um desvio angular para a direita (ângulo positivo),
ou esquerda (ângulo negativo). Logo o carbono quiral C2 contêm um carbono assimétrico, e
portanto, ocorre em forma isoméricas ativas, sendo um dos centros quirais presente nessa
molécula (podem ter vários centro quirais, isso depende da quantidade de carbonos assimétricos
que a molécula possua, por exemplo nesta molécula, além do C2 o C3 também é quiral), e assim
tem dois isômeros opticamente diferentes para C2, ou seja, enantiômeros e dois para C3.

26
Para calcular a quantidade de estereoisômeros existente nesta molécula, ou em qualquer
outra molécula orgânica, pode ser usada a fórmula 2n, onde n é o número de carbonos quirais
presentes na molécula. Neste caso, existem carbonos quirais (, ou centros quirais, tanto faz mano,
o bagulho é o mesmo, e é louco, tá ligado) quirais C2 e C3. Logo, n = 2, logo 22 = 4
estereoisômeros. Ou seja, existe 4 moléculas ativas, com posições espaciais diferentes, e eu vou
mostrar para vocês a 4 possibilidades.

1 1 1
1

2 2 2
2

3 3 3
3

4 4 4
4

Possibilidade 1 C2 Possibilidade 2 C2 Possibilidade 3 C3 Possibilidade 4 C3

Observe que a diferença entre a possibilidade 1 e 2 do C2 está na posição da OH, na 1


na esquerda e 2 na direita. Essa diferença de posição é usada como forma comparativa ao modelo
mais simples de monossacarídeo que é o gliceraldeído e Di-hidroxicetona, com 3 carbonos, que
por conversão é utilizado como modelo padrão, para designar a isomeria dos demais
monossacarídeos em D e L. Para utilizar esse padrão deve-se comparar o gliceraldeído ou Di-
hidroxicetona à configuração do centro quiral mais distante do carbono do carbonil. No exemplo,
citado acima, o C3 é o centro quiral mais distante. Agora vamos colocar na prática essa
comparação.
Aqui estão os padrões de gliceraldeído nas suas formas D e L

27
L-Gliceraldeído D-Gliceraldeído
Comparando o padrão com a molécula, podemos afirmar que essa molécula é L.

L-Gliceraldeído L-Molécula

Agora comparando o padrão com essa molécula, podemos afirmar que essa molécula é
D.

D-Gliceraldeído D-Molécula

Esse mesmo raciocínio é utilizado para as cetoses, tendo como padrão o Di-hidroxicetona.
Um fato importante é que, nos organismos vivos, a maioria das hexoses são isômeros D. Por fim,
a imagem abaixo (Fig 1 e 2) mostrará todos os monossacarídeos D aldoses e cetoses que possuam
de 3 a 6 carbonos, em sua estrutura.

Observação importante: Quando dois monossacarídeos diferem apenas na configuração


isomérica de apenas um carbono, como por exemplo, D-glicose e D-galactose, são chamados
de epímeros. Observe que, a D-glicose difere da D-galactose, apenas no carbono C-4

28
D-Glicose D-Galactose

Esse mesmo raciocínio é utilizado para as cetoses, tendo como padrão o Di-hidroxicetona.
Um fato importante é que, nos organismos vivos, a maioria das hexoses são isômeros D. Por fim,
a imagem abaixo mostrará todos os monossacarídeos D aldoses e cetoses que possuam de 3 a
6 carbonos, em sua estrutura.

Figura 1. Monossacarídeos do tipo Aldoses

29
Figura 2. Monossacarídeos do tipo Cetoses

Não fiquem assustando ao verem,


por exemplo, um monossacarídeo
sendo representado, da seguinte
forma, essa representação é válida e
bastante usada.

Trata-se da representação
Da D-ribulose

Você observou até aqui, a representação dos monossacarídeos através de uma cadeia
aberta. Essa é a forma mais didática para representa-los. Porém, em meio aquoso, os
monossacarídeos tendem a formarem cadeias fechadas, também conhecidas como cíclicas. Esse
evento acontece principalmente em monossacarídeos com 4 carbonos (aldotetrodes) e todos os
monossacarídeos com 5 ou mais carbonos. A formação dessa estrutura cíclica, ou seja, em forma
de anel (conhecido como hemicetais - cetose, ou hemiacetais -aldose) é resultado da reação
química (Ver figura 5), que ocorre, naturalmente entre o grupo carbonila do carbono C1 (aldose)
ou C2 (cetose) com o oxigênio da hidroxila presente no carbono C5, ou C6 (cetose-hexose) da
cadeia. O resultado dessa reação produz um composto cíclico com 4 carbonos (furanose) ou 5
carbonos (denominado piranose) (Figura 3). Essa representação em traços, denominadas de
fórmulas em perspectiva de Haworth é mais comum para estruturas fechadas

O C5 O
C4 C1
C1
C4

C3 C2 C2
C3
Furanose Piranose

30
Figura 3. Monossacarídeo cíclico

Tanto a furanose como piranose apresentam um carbono anomêrico (C1), como também
configurações estereoisoméricas α e β. Na α o grupo OH do carbono anomêrico está voltado
para baixo (Figura 4 a), na β, para cima (Figura 4b).

Figura 4a. Formas cíclicas do tipo α


H H
H H

OH
OH
HH
HH
H
H
α -Furanose α -Piranose

Figura 4b. Formas cíclicas do tipo β

OH OH
HH HH
H H
H H
H H
β -Furanose β -Piranose

Figura 5. Reação para a formação cíclica do tipo α e β para uma aldose (ex. glicose)

Figura 6. Reação para a formação cíclica do tipo α e β para uma cetose (ex. frutose)
1
6 1
6
2
1
5 5 2
3
4
4 2 4 3
3
5
31
6
Lembrando que, as posições da OH, na forma cíclica, para cima ou para baixo, depende
da forma como está posicionada a OH na projeção de Fisher. A regra é o seguinte. Se a OH
estiver na direita da projeção de Fisher, na fórmula cíclica por perspectiva, a OH está para baixo,
se na esquerda, para cima. Veja como funciona na prática. Observe as estruturas, a aberta
representa a projeção de Fisher, a fechada a perspectiva de Haworth

C6

C5 O
C1
C4

C3 C2

Fisher Haworth

Vamos escolher o carbono C3, na estrutura de Fisher, quando projetamos esse carbono na
estrutura de perspectiva da cadeia fechada, a Hidroxila ficara para baixo, pois ela está na direita.

C6

C5 O
C1
C4 H
H
C3 C2

OH
HH
H
Mas, se a hidroxila estiver para a esquerda, como no caso do carbono C4, da projeção de
fisher, a hidroxila, será representada para cima, na fórmula de perspectiva, em uma cadeia cíclica.

32
C6

C5 O
OH
C1
HH
C4
H
H
H C3 C2

Desta forma, podemos construir a estrutura cíclica, com as Hidroxilas (OH), seguindo essa
regra, ficando desta maneira; lembrando que para o C1, anomêrico, a representação dependerá
da sua estereoisoméricas, nas configurações α e β. Na alfa o ataque da OH, do carbono 5 ocorre
por trás da carbonila, C1 na Beta pela frente do carbono da carbonil

H
H
OH
HH
H

Configuração α

Essas estruturas cíclicas apresentam uma peculiaridade em sua conformação espacial.


Estruturas cíclicas com 6 carbonos não são planares, mas sim, conformacionais, apresentando um
formado de “barca”. Essa alteração em seu formato, sem causar quebra nas ligações químicas
é denominada de confômeros (Figura 7). Essa informação é importante, já que a estrutura
tridimensional das moléculas, incluindo os carboidratos, são importantes para a determinação
das propriedades biológicas e funções de alguns polissacarídeos.

33
Figura 7. Reação para a formação cíclica do tipo α e β para uma aldose (ex. glicose)

Os monossacarídeos podem ocorrer na natureza de forma simples, ou complexados. As


hexoses possuem vários derivados. Os derivados são formados quando o grupo hidroxila de um
determinado carbono é substituído por outro grupamento (Fucose) ou oxidado de carbonil a
carboxil ( ácido glicônico), oxidado em carbonos da hidroxila. Abaixo estão alguns derivados de
hexoses importantes.

Derivados aminoácidos Desoxiaçúcares

α-D-Galactosamina α-D-Manosamina β-L-Fucose α-L-Ramnose

Derivados de açúcares

β -D-Glicosamina N-Acetil- β -D-glicosamina

34
Diante disto, podemos notar que os monossacarídeos podem ser oxidados por agentes
oxidantes (Cu2+). Monossacarídeos que reduzem o íon cobre são denominados açúcares
redutores.

Por definição são açúcares formados por dois monossacarídeos unidos covalentemente
por ligação O-glicosídica. Quimicamente, a ligação glicosídica é uma reação de condensação
(perda de água) entre uma hidroxila (OH) de um monossacarídeo com um OH de um carbono
anomêrico de outro monossacarídeo. A ligação glicosídica pode ser O ou N-glicosídica. Caso das
ligações O-glicosídicas, o carbono anomérico está ligado a um átomo de oxigénio, enquanto que
nas N-glicosídicas, está ligado a um átomo de azoto

A reação O-glicosídica, para a formação da maltose (dissacarídeo) acontece quando um


OH da molécula a direita se condensa com o hemiacetal intracelular da molécula a esquerda,
com a eliminação de H2O e uma formação de uma ligação glicosídica. O inverso dessa reação é
chamado de hidrolise, que ocorre me meio ácido, clivando a ligação glicosídica
(figura 8).

Figura 8. Formação a maltose


35
Os dissacarídeos apesar de serem clivados com ácidos diluídos, produzindo como produto
monossacarídeos, são agente não redutores, ou seja, não reagem com íons cúpricos, já que para
que a reação com o íon ocorra é necessário que a cadeia esteja aberta, e linear, o que não
acontece com os dissacarídeos. Porém, existem alguns dissacarídeos redutores, como a maltose,
lactose que são redutores, já que apresentam extremidade redutora. As extremidades do
dissacarídeo, do qual o carbono C1, anomêrico apresenta-se livre é denominado de extremidade
redutora.

Ligação O-
glicosídica

Extremindade
redutora

Os principais dissacarídeos são mostrados abaixo:

A nomenclatura do dissacarídeo segue algumas regras. Os monossacarídeos possuem


abreviações. Por exemplo, a glicose é abreviada com três letras em Glc, já a galactose Gal. As
pontas das setas indicam os carbonos anomêricos. Se a seta apresentar pontas, isso indica a
presenta de dois carbonos anomêrico ligados anomêrico (↔).

Os polissacarídeos são polímeros com alto peso molecular, sem massa molecular definida,
formados por várias unidades de monossacarídeos repetidas. Podem ser lineares ou ramificados,
homopolissacarídeos (contém apenas um tipo de monômero, exemplo; amido, glicogênio,

36
celulose, quitina) ou heteropolissacarídeos (contém mais
de um tipo de monômero, exemplo; peptideoglicano).

Sofrem enovelamento, apresentando estruturas


características. Essas estruturas apresentam rigidez,
devido as ligações covalentes, fracas e forma cíclica dos
monômeros (piranose ou furanose) formadas na
estrutura tridimensional dos polissacarídeos. O amido e
glicogênio, por exemplo, apresentam estruturas
tridimensionais mais estáveis para as cadeias ligadas por ligações α1→4 é uma hélice enrolada.

Já para a celulose, apresenta uma cadeia reta e


estendida. Todos os grupos –OH estão disponíveis para
ligações de hidrogênio com as cadeias vizinhas. Com
algumas cadeias estendendo-se lado a lado, uma rede
estabilizada por ligações de hidrogênio intercadeia e
intracadeia produz fibras supramoleculares retas e
estáveis, com grande resistência à tensão. Agora vamos
abordar um pouco sobre alguns polissacarídeos.
Começaremos com os homopolissacarídeos.

O amido assim como o glicogênio, são


homopolissacarídeos de armazenamentos. O amido ocorre
em células vegetais. Contém dois tipos de glicose presentes
em sua estrutura, a amilose e amilopectina. A amilose
consiste em cadeias longas, não ramificadas, de resíduos de
D-glicose conectados por ligações (α1→4) (como na
maltose). A amilopectina é altamente ramificada, com
resíduos de glicose conectados por ligação (α1→4) e Glicogênio
ramificação (α1→6). O glicogênio serve como fonte de
armazenamento, de energia, em células animais. O

37
glicogênio é um polímero de subunidades de glicose ligadas por ligações (α1→4), com ligações (
α1→6) nas ramificações; o glicogênio, porém, é mais ramificado (em média a cada 8 a 12 resíduos)
e mais compacto do que o amido. São abundantes no fígado, em forma de grânulos,
armazenados nas células hepatócitos, como também no músculo esquelético. Esses grânulos são
insolúveis em água, tornando sua molaridade menor que a glicose monomérica. Apresentam
enzimas que degradam seu polímero, liberando glicose para o corpo. Essas enzimas atuam na
extremidade não redutor.

Existem também os homopolissacarídeos estruturais como a celulose e quitina. A celulose


tem como característica: fibrosa, resistente e insolúvel em água, encontrada na parede celular das
células vegetais. São homopolissacarídeos lineares, não ramificados, constituídos por β-D-glicose,
ligados por ligação glicosídica (β1→4). Nosso corpo não possui enzimas que conseguem romper
esse tipo de ligação. Desta forma não conseguimos digerir esse polissacarídeo. Ao contrário, os
invertebrados, incluindo artrópodes e nematódeos, possuem genes para biossíntese destas
enzimas. A quitina é linear, de fibras longas, não digeridas por vertebrados, sendo principal
componente do exoesqueleto de artrópodes, insetos, crustáceos formados por unidades de N-
acetilglicosamina em ligações (β1→4).

Para os heteropolissacarídeos, podemos citar a estrutura que compõe a parede celular


bacteriana, como também os glicosaminoglicanos. O heteropolímero que compõe a parede
celular bacteriana é formado por resíduos alternados de N-acetilglicosamina e ácido N-
acetilmurâmico, unidos por ligação (β1→4). Essa ligação poderá ser quebrada, pela presença da
enzima lisozima. Algumas algas vermelhas também possuem parede celular, porém formada por
um componente que contém ágar (mistura de heteropolissacarídeos sulfatados compostos por
D-galactose e derivados de L-galactose, unidos entre C-3 e C-6. Já os glicosaminoglicanos são
heteropolissacarídeos da matriz extracelular. Esse composto está presente nos espaços
extracelulares dos tecidos dos animais multicelulares, que forma uma rede de polissacarídeos e
proteínas, pertinentes para manter as células unidas e facilitador para difusão de nutrientes via
meio extracelular. A membrana basal, por exemplo, é um tipo de matriz formada por

38
glicosaminoglicano. Formado por dissacarídeos, sendo um deles, obrigatoriamente, o N-
acetilglicosamina ou N-acetilgalactosamina; o outro, na maioria dos casos é um ácido urônico (
ou D-glicurônico ou L-idurônico). Exemplos podem ser citados desta variação

Ácido hialurônico contém resíduos alternados de e ácido D-glicurônico e N-


acetilglicosamina. Função: lubrificante no líquido sinovial das articulações, forma o humor vítreo
nos olhos e componente da matriz extracelular de cartilagens e tendões.

Sulfato de condroitina, diferentemente do ácido hialurônico, são curtos, covalentemente


ligado a proteínas. Formado por resíduos de l-iduronato (idoA). Função: auxilia na resistência à
tensão das cartilagens, dos tendões, dos ligamentos e das paredes da aorta.

Queratan-sulfatos: não contêm ácido urônico, e o conteúdo de sulfato é variável. Estão


presentes em cartilagens, ossos e várias estruturas córneas formadas por células mortas: chifres,
cabelos, cascos, unhas e garra.

Alguns glicosaminocliganos contêm grupo sulfato, somado a presença do grupo


carboxílico, torna a estrutura altamente negativa, fazendo com que a mesma adquira uma forma
de bastão estendido em hélice, como forma de minimizar o efeito de carga, como por exemplo
a encontrada em segmento de heparina (Figura 9.a). Esse padrão permite a ligação covalente de
proteínas a estrutura formando os proteoglicanos como o sulfato de condroitina, Queratan—
sulfato e Heparina, por exemplo (Figura 9.b).

Outras associações podem existir, encontradas nas glicoproteínas e glicoesfingolipídeos.


Logo, polissacarídeos ou oligossacarídeos associados a proteínas ou lipídeos são chamados de
glicoconjugados. Os glicoconjugados (proteoglicanos, glicoproteínas e glicoesfingolipídeos)
39
apresentam diferentes funções na célula e corpo animal,
dentre os quais, incluem: comunicação celular, sinalizadores de
proteínas, reconhecimento e adesão celular, migração celular
durante o desenvolvimento embrionário, coagulação
sanguínea, resposta imune, cicatrização de ferimentos e outros
processos celulares.

Os proteoglicanos são glicoconjugados formados por


macromoléculas que estão presentes na superfície celular e na
matriz extracelular. Este é composto por glicosaminoglicanos.
As células de mamíferos sintetizam, cerca de 40 tipos de
proteoglicanos, agindo como organizadores de tecido, e atividade celular, como ativadores de
fatores de crescimento e adesão celular. A unidade básica dos proteoglicanos é representada por
um cerne proteico, ou seja, uma proteína central, do qual partem os glicosaminoglicanos. Esse
ponto de partida, geralmente é um aminoácido de serina, no qual esse carboidrato, liga-se
covalentemente a proteína central. Existem duas famílias principais de proteoglicanos de
membrana ligados a heparan-sulfatados. Os sindecanos e glipicanos. A diferença entre essas
famílias está no tipo de resíduo e forma na qual se ligam a membrana. Os sindecanos têm um
único domínio transmembrana e um domínio extracelular que liga entre três e cinco cadeias de
heparan-sulfato e, em alguns casos, sulfato de condroitina. Os glipicanos são ligados à membrana
por uma âncora lipídica, um derivado do lipídeo de membrana fosfatidilinositol.

40
Apresar de presos ao cerne proteico, os sindecanos e glipicanos podem ser clivados, por
mecanismos regulatórios, através de proteases e fosfolipase liberando essas moléculas no espaço
extracelular. Esse processo permite que a célula altere sua superfície e são importantes em células
em proliferação, reconhecimento e adesão intracelular e diferenciação celular. Proteínas podem
ligar a domínios de glicosaminoglicanos, presentes nos proteoglicanos, servindo como receptor
de proteínas. Essa ligação permite modular a interação; alterando a conformação nas proteínas,
intensificação da interação proteína-proteína, interação com correceptores e servem como
atração de moléculas positivamente carregadas (lipase protéica)

Além disto, alguns proteoglicanos podem formar agregados proteoglicanos com muitas
proteínas centrais, todas ligadas a uma única molécula de ácido hialurônico. Do ácido hialurônico
partem várias proteínas centrais agregana, a partir de pontos conhecidos como proteínas de
ligação. Ligadas as proteínas centrais estão os sulfatos de condroitina e queratana-sulfato. Essa
estrutura quando ligada a colágenos contribui para o desenvolvimento, resistência, tensão e
elasticidade do tecido conectivo. Outros agregados podem existir, como por exemplo, o que
ocorre entre as células e a matriz extracelular. Essa associação entre células e MEC é mediada por

41
proteínas de membrana (integrina) e por proteínas extracelulares (fibronectina, que tem sitio de
ligação tanto para a integrina quanto para proteoglicano. Essa associação está intimamente ligada
a fibras de colágeno e fibronectina.

Já os glicoproteínas são estruturas formadas por um conjugado de proteínas ligados


covalentes a uma ou mais cadeias de oligossacarídeos (polissacarídeos pequenos, ramificados).
A ligação covalente é do tipo O-glicosídica ou N-glicosídica, e ocorre, entre o carbono anomêrico
do oligossacarídeo a resíduos de aminoácidos presentes nas proteínas. Estes podem ser ou Serina
ou tirosina (O-glicosídica), como também asparagina (N-glicosídica). As cadeias de glicoproteínas
são bem heterogêneas, tanto podem ser formadas por uma única cadeia de oligossacarídeo ou
várias. Facilmente são encontradas na parte externa da membrana celular de mamíferos. As
mucinas, por exemplo, são glicoproteínas de membrana ou secretadas que podem conter
grandes números de cadeias de oligossacarídeos O-ligadas. Estão presentes na maioria das
secreções, sendo responsáveis pela característica escorregadia do muco, já as imunoglobulinas
(anticorpos) e certos hormônios, como o hormônio folículo-estimulante, o hormônio luteinizante
e o hormônio estimulante da tireoide, são glicoproteínas. Muitas proteínas do leite, incluindo a
principal proteína do soro do leite, a-lactalbumina, e algumas das proteínas secretadas pelo
pâncreas, como a ribonuclease, são glicosiladas, assim como a maioria das proteínas contidas nos
lisossomos. Essas associações trazem diversas vantagens adaptativas, como por exemplo, os
agrupamentos altamente hidrofílicos de carboidratos alteram a polaridade e a solubilidade das
42
proteínas com as quais estão conjugados, ou cadeias de oligossacarídeos ligadas a proteínas que
recém sintetizadas no retículo endoplasmático (RE) e enviadas ao Golgi servem como marcadores
do destino da proteína, ou ainda volume de carga negativa das cadeias de oligossacarídeos
permitem proteger algumas proteínas do ataque por enzimas proteolíticas. Vale apena ressaltar
que a caracterização sistemática de todos os carboidratos componentes de uma determinada
célula ou tecido, incluindo aqueles ligados a proteínas ou lipídeos, é chamada de glicômica. Para
as glicoproteínas, isso também significa determinar quais proteínas são glicosiladas e onde, na
sequência de aminoácidos, cada oligossacarídeo está ligado.

Por fim temos os glicolipídeos e gangliosídeos são lipídeos anfipáticos, contendo uma
porção hidrofílica, geralmente referida como grupo cabeça polar (PHG - "polar head group") que
é composta por unidades de carboidratos, de onde origina seu nome. Como exemplo dessa
classe de carboidratos podemos citar a gliceroglicolipídeos que são glicolipídeos formados por
monossacarídeos ou oligossacarídeos ligados à uma hidroxila presente na unidade de glicerol.
Duas outras hidroxilas da molécula de glicerol são geralmente esterificadas por duas cadeias de
ácidos graxo de tamanho variável, embora possam ser encontrados com apenas uma ácido graxo
(liso-glicolipídeos). Exemplos de gliceroglicolipídeos são galactolipídeos e sulfonolipídeos
presentes nos vegetais. Temos também os glicoesfingolipídeos podem ser formados por
monossacarídeos ou oligossacarídeos ligados à uma base de cadeia longa (LCB - "long chain
base"), conhecida como esfingosina, (daí o nome do grupo) geralmente formada por 18 átomos
de carbono, embora existam variações estruturais. Os carbonos 1 e 3 da esfingosina apresentam
grupos hidroxila, enquanto o carbono 2 apresenta um grupo amina. À hidroxila do carbono 1 são
ligados os mono- ou oligossacarídeos, enquanto um ácido graxo é ligado ao grupo amina
(formando uma ligação amida). Glicoesfingolipídeos estão relacionados com o sistema sanguíneo
ABO. E não tão menos importantes os lipopolissacarídeos são as moléculas dominantes da
superfície da membrana externa de bactérias gram-negativas, como Escherichia coli e Salmonella
typhimurium. Essas moléculas são o alvo primordial dos anticorpos produzidos pelo sistema
imune dos vertebrados em resposta a uma infecção bacteriana

43

View publication stats

Você também pode gostar