Você está na página 1de 28

Bioquímica Estrutural

e Metabólica Aplicada
à Biomedicina
Energética e Metabolismo: Carboidratos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Esp. Flávia Bonfim Lima

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Energética e Metabolismo: Carboidratos

• Carboidratos;
• Estrutura dos Carboidratos;
• Vias Metabólicas;
• Ciclo de Krebs;
• Cadeia Respiratória.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Apresentar a estrutura química e a classificação química dos carboidratos;
• Levar à compreensão da importância e os conceitos que envolvem o metabolismo dos car-
boidratos, incluindo absorção, digestão e transporte, além de apresentar os principais pro-
cessos geradores de energia como o ciclo de Krebs e como esses processos se mantêm em
equilíbrio por meio de regulação hormonal.
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

Carboidratos
Nesta Unidade, vamos falar sobre as macromoléculas mais abundantes na vida
terrestre. Elas são encontradas em diversos alimentos em concentrações variáveis e
atuam, principalmente, como fonte energética.

Podemos descrever algumas das principais funções dos carboidratos como:

Armazenamento
energético

Interações Estrutura de
intercelulares
Carboidratos ácidos nucleicos

Estrutura de
parede celular

Figura 1

Para entendermos melhor as funções dos carboidratos, é necessário conhecermos


a estrutura dessas macromoléculas.

Estrutura dos Carboidratos


O termo carboidrato foi adotado pelo fato de que essas moléculas são compostas
basicamente de carbono, hidrogênio e oxigênio, numa proporção de aproximada-
mente um carbono para uma molécula de água.

Depois, foram sendo descobertas outras formas de carboidratos, que não se encai-
xavam perfeitamente nessa definição.

Além disso, outras formas podem apresentar átomos de fósforo, nitrogênio e


enxofre em sua composição. Vejamos cada uma dessas estruturas a seguir.

Monossacarídeo
É a estrutura ou forma mais simples dos carboidratos. Não pode ser quebrado ou
reduzido a formas menores. Os mais simples contêm três átomos de carbono, cha-
mados de trioses, e podem ter até sete átomos de carbono.

8
Os monossacarídeos podem ser de dois tipos: aldeídos ou cetonas.

Gliceraldeído Di-hidroxiacetona
H
H O
C H C OH

H C CH C O

H C CH H C OH

H H
Aldose Cetose

Figura 2 – Em destaque, podemos observar a localização


das carbonilas em uma aldose e em uma cetose
Fonte: Adaptado de Khan Academy

Quando se tratar de um aldeído, a carbonila estará sempre na extremidade da


molécula, e é chamada de aldose. Quando se tratar de uma cetona, a carbonila esta-
rá entre outros átomos de carbono, e será chamada de cetose.

Os monossacarídeos podem ser, então, nomeados pelo grupo funcional, acres-


cido do número de carbonos, por exemplo, o gliceraldeído é uma aldose com três
átomos de carbono. Assim, ele é uma aldotriose. Uma molécula de diidroxicetona é
uma cetona com três átomos de carbono também, porém, é nomeada de cetotriose
e, assim por diante, para os monossacarídeos que podem conter até sete átomos de
carbono em sua estrutura.

Vejamos, a seguir, duas estruturas de monossacarídeos de alta relevância:

5’ 5’
HOCH2 O H HOCH2 O H
4’ 1’ 4’ 1’
H H H H
H OH H OH
3’ 2’ 3’ 2’
OH OH OH H

Ribose 2-Desoxirribose
Figura 3 – Estrutura da ribose e deoxiribose, dois monossacarídeos
de relevância biológica, pois participam da composição do DNA

Esses dois monossacarídeos, um chamado de ribose e o outro de desoxiribose,


são os monossacarídeos de cinco átomos de carbono que desempenham papel fun-
damental nas estruturas do RNA e DNA, respectivamente.

Outra característica dos monossacarídeos é a isomeria. Isso se dá porque os açú-


cares, assim, como os aminoácidos, são moléculas que apresentam um centro quiral
(carbono assimétrico). Eles são isômeros óticos que apresentam formas espelhadas
não sobreponíveis.

O Gliceraldeído é um exemplo clássico, que pode existir na forma D-gliceraldeído


ou na forma L-gliceraldeído. Outro exemplo é a glicose, a forma “D-glicose” é a for-
ma que nosso organismo utiliza. A diferença entre a forma D e a forma L, é que a
hidroxila do carbono quiral da forma D está posicionada do lado direito da molécula,

9
9
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

e na forma L, o grupo hidroxila está do lado esquerdo no mesmo carbono quiral, ou


seja, a imagem é espelhada e não sobreponível:

O H O H
C1 C
H C OH HO C H
2
HO C 3 H H C OH
H C OH HO C H
4
H C 5 OH HO C H
6 CH2OH CH2OH
D-glicose L-glicose

Figura 4 – Representação de fisher da D-glicose e L-glicose

Monossacarídeos cíclicos
A ciclização de açúcares com cinco ou seis átomos de carbono é muito comum.
Ela se dá pela interação de carbonos distantes (C-1 e C-5) e forma o que chamamos
de hemiacetal cíclico (no caso das aldohexoses) e, nos carbonos C-2 e C-5, formam
o hemicetal, no caso das cetohesoses.

O fato é que essa ciclização gera um novo centro quiral, o carbono carbonílico
assume a posição de carbono quiral que agora, nessa estrutura, chamaremos de
carbono anomérico.

Na sua forma cíclica, o mossacarídeo pode apresentar duas formas: forma α e β.


Em se tratando da forma “D”, o tipo α é caracterizado quando a hidroxila do carbono
anomérico está posicionada para baixo, e o β para cima do plano do anel. Na forma
“L”, ocorre o inverso.

Vejamos na imagem a seguir:

CH2OH

H O H
H Lados Opostos =
Glicose OH H Glicose
CH2OH HO OH
H OH
O H OH
H Glicose
OH H
H CH2OH
HO
H O OH
H OH Mesmo Lado =
H
OH H Glicose
HO H

H OH
Glicose

Figura 5 – Conversão da forma linear para cíclica


da glicose e as duas formas isômeras
Fonte: Adaptado de Khan Academy

10
Na forma α glicose, as duas hidroxilas destacadas em vermelho estão em sentidos
opostos. Podemos dizer, ainda, que essa é a forma trans. Na forma β, as hidroxílas
estão no mesmo plano, e por isso podemos dizer que essa é a forma cis.

Açúcares redutores
São denominados açúcares redutores quaisquer monossacarídeos que apresen-
tam um grupo aldeído ou cetona livre e que, em alcalino, são capazes de reduzir o
íon Cu2+.

Os mais conhecidos são: glicose, frutose e galactose. Os dissacarídeos também


podem apresentar essa função, assim como os oligossacarídeos, desde que apresen-
tem as características descritas anteriormente.

A sacarose, por exemplo, é um dissacarídeo que, ao sofrer ação enzimática,


é convertida em frutose e glicose, sendo ambos açúcares redutores.

R-CHO + 2CuO [O] R-COOH + Cu2O


Ácido Óxido Cuproso
Aldeído Solução de Fehling Carboxílico (Vermelho)

Figura 6
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

Nesta reação, o grupo aldeídico disponível da molécula de açúcar reduz o


íon Cu2+ em meio alcalino sob aquecimento, formando um precipitado de
óxido cuproso de cor alaranjado tijolo ou vermelho.

Esse conhecimento é útil na determinação do teor de açúcar em alimentos como


indicador de qualidade e, inicialmente, na medicina diagnóstica era utilizado como
marcador para dosagem de açúcar na urina e no sangue.

Os dois testes desenvolvidos e empregados com fins de determinação de açúcares


redutores são: Método de Fehling e reação de Maillard.

O emprego do método de Fehling é preconizado pela Legislação brasileira para


análise de alimentos. Eles podem ser mel, caldo de cana, bebidas destiladas, vinhos,
doce de leite, geleias e produtos de origem animal, entre outros. Esse teste pode
revelar possíveis casos de adulteração em alimentos.

Oligossacarídeos
Os monossacarídeos são estruturas conhecidas por serem formados por dois até
dez monossacarídeos, ligados entre si por meio de ligações glicosídicas.

Ligações glicosídicas
Como falamos, os monossacarídeos são a forma mais reduzida de um carboidrato.
Sendo assim, quando ligados entre si, podem formar grandes polímeros.

11
11
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

Vejamos a Figura 7 a seguir:

6 CH2OH
1 CH2OH
H O O H
5
H
4 1 2 5
OH H HO
3 2
HO OH 3 4 CH2OH
OH 6
H OH OH

Glicose Frutose

CH2OH
CH2OH
H
H O O H
H
1 2
OH H H HO
OH O OH CH2OH

H OH OH H

Ligação Glicosídica

Figura 7 – Demonstração da ligação glicosídica


Fonte: Adaptado de Khan Academy

Nessa Figura, temos uma molécula de glicose e uma de frutose, originando um dissa-
carídeo conhecido como sacarose. Pois bem, o que acontece entre essas duas moléculas?

Note que o grupo hidroxila do carbono anomérico da glicose (destacado em


vermelho, carbono 1) liga-se ao hidrogênio da frutose (destacado em vermelho no
carbono 2) (ligação β 1→2). Como resultado, é liberada uma molécula de água,
portanto, é uma reação de condensação, formando uma ligação covalente entre os
dois monômeros, originando um dissacarídeo.

Essa ligação covalente entre o carbono anomérico de um monossacarídeo com a


hidroxila de um segundo mossacarídeo é denominada ligação glicosídica e, por meio
dela, é possível formar estruturas ainda maiores, que terão funções importantíssimas
de reserva de energia no organismo humano, que são os chamados polissacarídeos.

Polissacarídeos
São polímeros naturais de carboidratos. São estruturas formadas a partir da vá-
rios monossacarídeos ligados entre si por meio de ligações glicosídicas. As duas
funções principais dos polissacarídeos são:
• Estrutural: os polissacarídeos estruturais mais relevantes são a celulose (em plantas)
e a quitina (animais). A celulose glicosídica é do tipo β-1 → 4, que confere à celulose
a característica de não ser digerível, pois os animais não possuem enzimas para
degradar esse tipo de ligação. São responsáveis por conferirem estabilidade física
às células e aos órgãos e, em alguns casos, por conterem alto teor de água em sua
estrutura, evitando que estruturas importantes sofram algum tipo de desidratação;

12
• Reserva de energia: os polissacarídeos com função de reserva energética são
estruturas que, ao sofrerem hidrólise, são capazes de liberar os monômeros
de açúcar (monossacarídeos) para que sejam metabolizados e gerem energia.
O monossacarídeo que é a principal fonte de energia para o ser humano e para
outros animais é a glicose. Sendo assim, ela é estocada em nosso organismo na
forma de um polissacarídeo, que chamamos de glicogênio. Já as plantas arma-
zenam glicose na forma de amido, que é uma estrutura formada por dois tipos
de polissacarídeos: amilopctina e amilose.

O que acontece quando ingerimos o amido na dieta?


Na Figura a seguir, podemos ver todo o processo de digestão do amido, que co-
meça na boca, com a ação da enzima amilase salivar, que quebra o amido em regiões
específicas, gerando fragmentos menores. No estômago, a digestão continua, mas
agora, com a ação da enzima amilase pancreática, que quebra novamente o amido
em fragmentos ainda menores, gerando dissacarídeos como a maltose, a sacarose e
a lactose. A etapa final acontece no intestino, onde as enzimas, maltase, sacarase e
lactase, converterão os dissacarídeos em monossacarídeos e, assim, estarão prontos
para serem absorvidos no intestino.

Na imagem temos uma representação do processo de digestão do amido: https://bit.ly/34ColTv

A intolerância à lactose é um distúrbio da digestão da lactose. Pode ser de caráter


genético ou secundário. É uma doença caracterizada pela ausência, ou pela insufici-
ência da atividade da enzima lactase. Com isso, o portador dessa doença tem a sua
capacidade de digerir a lactose diminuída. Como consequência da não conversão da
lactose em glicose e galactose, a lactose acaba sendo fermentada pela microbiota
intestinal, gerando compostos que são irritantes para a mucosa intestinal, que levam
à alteração do equilíbrio osmótico intestinal e gases.

Os sintomas da doença são diarreia, dores abdominais e flatulência, variando


a intensidade. Sendo assim, como a lactose é um carboidrato abundante no leite
de origem animal e seus derivados, recomenda-se a abstenção do consumo desses
alimentos por pessoas que possuem essa doença.

O glicogênio é a fonte de reserva energética rápida dos animais, é armazenado na


forma de grânulos e concentra-se na maior parte no fígado (glicogênio hepático), pode
atingir cerca de 10% do peso do fígado e, em menor concentração no músculo esquelé-
tico (glicogênio muscular), podendo corresponder a cerca de 1 a 2% do peso muscular.

O glicogênio hepático é direcionado para a manutenção da glicemia em períodos


de jejum ou entre as refeições (de 12 a 24 horas), e tem importância fundamental
na manutenção de células que dependem exclusivamente da glicose como fonte de
energia, como as do cérebro.

Já o glicogênio muscular é utilizado como fonte de energia rápida, durante uma


atividade física mais vigorosa, e pode ser consumido em menos de uma hora.

13
13
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

Glicogênese
O processo de formação do glicogênio é chamado de glicogênese, e ele acon-
tece quando a concentração de glicose circulante é maior que a demanda de
gasto energético.

Nesse momento, o hormônio predominante é a insulina que, por sua vez, é res-
ponsável por ativar as enzimas envolvidas nesse processo, consistindo em 3 etapas:
1. Síntese do precursor do glicogênio, chamado de UDP-glicose: Essa
reação é catalisada pela enzima UDP glicose pirofosforilase e a reação
é irreversível;
2. Alongamento da cadeia, feito pela enzima glicogênio sintase: Um fato
importante é que, nesse momento, a enzima glicogênio sintase só é ca-
paz de adicionar resíduos se a cadeia tiver pelo menos quatro unidades.
Para realizar essa tarefa, a glicogenina é uma proteína utilizada como
agente iniciador, formando essa pequena cadeia inicial, e a glicogênio
sintase, então, pode continuar com a extensão da cadeia;
3. Ramificação: Etapa final, que é realizada pela enzima glicosil 4-6 –
transferase, que realiza a transferência de um fragmento de 6 a 7 resí-
duos de glicose, de uma extremidade não redutora para o carbono 6 de
um resíduo de glicose mais interno dela ou de outra cadeia de glicogênio.

Figura 8 – Síntese do glicogênio


Fonte: Adaptado de NELSON; COX (2014)

14
Figura 9 – Etapa de ramificação do glicogênio
Fonte: NELSON; COX (2014)

Glicogenólise
A glicogenólise é o processo conhecido pela liberação de unidades de glicose arma-
zenada na forma de glicogênio no músculo esquelético e fígado por enzimas específicas.

São elas: glicogênio-fosforilase (que é ativada por altos níveis de glucagon), enzima
de desramificação do glicogênio e fosfoglicomutase:

Figura 10 – Liberação de unidades de glicose do glicogênio


Fonte: NELSON; COX (2014)

A glicose é liberada do glicogênio na forma de glicose-1-fosfato que, posterior-


mente, é convertida em glicose-6-fosfato pela enzima fosfoglicomutase e pode seguir
para a via da glicólise, ou para o fígado, repondo a glicemia sanguínea ou, ainda,
pode entrar na via das pentoses, para a produção de ribose e NADH.

15
15
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

Importante!
A partir de agora, vamos falar sobre as vias metabólicas que envolvem diretamente a
glicose, como sobre algumas moléculas que são muito importantes. Então, antes de ini-
ciarmos, vamos conhecê-las!
• ATP: Trifosfato de adenosina, é uma molécula armazenadora de energia. A energia
é armazenada entre as ligações de fosfato;
• GTP: Trifosfato de guanosina, molécula transportadora de energia;
• FADH: Flavina-adenina-dinucleotídeo, é uma coenzima que atua como transpor-
tador de elétrons;
• NADH: Nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato, é uma coenzima que atua
como transportador de elétrons.

Vias Metabólicas
Glicólise
A glicólise é um processo bioquímico anaeróbico que ocorre no citoplasma das
células. É composto por uma série de reações que resultam na conversão da glicose,
proveniente da dieta, em piruvato e moléculas de ATP.
Essa via metabólica é dividida em duas fases: a primeira que consiste na prepara-
ção, na regulação e no gasto de energia, e a segunda, que consiste na produção de
energia na forma de ATP.
O piruvato formado será utilizado para a formação do acetil CoA, um composto
chave no ciclo de Krebs, que veremos mais à frente. Vejamos cada etapa dessa via,
quais os intermediários e enzimas envolvidas.

Fase 1: Preparação, Regulação e Gasto de Energia


A primeira fase da glicólise é também conhecida como fase de investimento.
É aracterizada pela fosforilação da glicose, que ocorre duas vezes, gerando dois com-
postos instáveis (trioses).
Para que isso ocorra, há um gasto energético na forma de ATP. O produto gerado
no final dessa fase inicial será utilizado na etapa seguinte para, de fato, gerar energia.

Figura 11 – Glicólise: fase de investimento


Fonte: Adaptado de Khan Academy

16
• Reação 1: Na primeira etapa, após a glicose entrar no tecido, é convertida em
glicose-6-fosfato e ADP. Isso se dá pela fosforilação que ocorre na hidroxila do C6.
Essa reação é irreversível e demanda gasto energético de uma molécula de ATP;
A enzima que cataliza essa reação é a hexoquinase. Essa etapa é muito impor-
tante, pois o fato de a glicose se encontrar fosforilada e, portanto, com carga
negativa, é o motivo pelo qual a glicose fosforilada não pode sair livremente da
célula, garantindo seu destino final;
• Reação 2: Nesta etapa, a glicose-6-fosfato sofre uma conversão, passando de
aldose para cetose, assumindo a forma de frutose-6-fosfato. Essa reação é uma
reação de isomerização muito importante, pois trata de uma preparação para
as próximas duas reações na sequência do ciclo;
• Reação 3: A frutose-6-fosfato sofre uma fosforilação com gasto de mais uma
molécula de ATP, sendo convertida em frutose-1,6-bisfosfato. Assim, a molécula
assume uma forma simétrica, favorecendo a ação enzimática na próxima etapa.
Essa reação é irreversível, catalizada pela enzima fosfofrutocinase e é mais um
ponto de controle da via metabólica;
• Reação 4: A frutose-1,6-bisfosfato é convertida em gliceraldeído-3-fosfato e dihi-
droxiacetona fosfato, ambos trioses. A reação é catalisada pela enzima aldolase;
• Reação 5: O gliceraldeído-3-fosfato e a dihidroxiacetona fosfato são convertidos em
dosi isômeros facilmente interconversíveis entre si pela enzima triosefosfato isomerase.

Ocorre, então, a conversão da dihidroxicetona-fosfato em gliceraldeído-3-fosfato.


A única triose que pode continuar sofrendo oxidação no ciclo.

Fase 2: Produção de energia na forma ATP


Nesta etapa, ocorre a produção de ATP e NADH a partir da oxidação do gliceraldeí-
do-3-fosfato (uma triose fosfato) por meio do NAD e fosforilada, usando fosfato inorgânico.

Após algumas transformações, teremos como produto final dessa série de reações
a produção de 4 moléculas de ATP e duas de NADH e Piruvato.

Figura 12 – Produção de energia na forma ATP


Fonte: Adaptado de Khan Academy

17
17
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

• Reação 6: A primeira reação dessa fase, a número 6 na Figura acima, é catali-


zada pela enzima gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase, na qual temos a forma-
ção de 1,3-Bifosfoglicerato (1,3 BPG) a partir da oxidação de uma molécula de
gliceraldeído-3-fosfato por meio do NAD+ que, por sua vez, passa a ser NADH,
e pela fosforilação por meio de um fosfato inorgânico;
• Reação 7: Nesta reação, temos a primeira produção de ATP originada direta-
mente desta via, pois ocorre a transferência de um grupo fosfato da 1,3 BPG
para uma molécula de ADP pela enzima 1,3 BiP glicerato cinase, formando
uma molécula de ATP, e se forma o 3-fosfoglicerato;
• Reação 8: Ocorre a conversão 3-fosfoglicerato em seu isômero 2-fosfoglicerato
(grupo fosfato ligado ao carbono 2), pela enzima fosfogliceromutase;
• Reação 9: Nesta reação de desidratação, o 2-fosfoglicerato é desidratado, for-
mando uma molécula de água e fosfoenolpiruvato (PEP), um composto instável
e altamente energético;
• Reação 10: A enzima piruvato cinase cataliza a reação de transferência de um
grupo fosfato do fosfoenolpiruvato para uma molécula de ADP, que passa a ser
uma molécula de ATP;
O fosfoenolpiruvato é convertido em piruvato, no final da reação. O piruvato
formado terá dois possíveis destinos. Nas células musculares, ele será fermen-
tado até gerar o lactato em casos de exercícios físicos vigorosos, nos eritrócitos
e outras células, outro destino é a formação de acetil CoA, que será oxidado a
CO2 e H2O gerando moléculas de ATP, GTP e FDH2.

Balanço energético
Ao final do ciclo da glicólise, podemos dizer que cada molécula de glicose é capaz
de produzir 2 moléculas de ATP e 2 NADH. Durante o processo, cada molécula
de gliceraldeído-3-fosfato origina 2 moléculas de ATP. Sendo assim, teoricamente,
4 moléculas de ATP são geradas, porém, duas delas são consumidas no ciclo, o que
resulta no final em duas moléculas de ATP.

Gliconeogênese
O termo neoglicogênese refere-se à formação de uma nova molécula de glicose a
partir de compostos aglicados, isto é, compostos que não são carboidratos (piruvato,
lactato e intermediários do ciclo do ácido cítrico).

Essa via metabólica acontece, na sua maior parte, no fígado, e, em especial, sob
condições de jejum. Essa via pode acontecer nos rins também, mas em proporção
relativamente menor quando comparada ao fígado, assim podemos dizer que ela
ocorre predominantemente no fígado.

Essa via é muito importante, pois indica sinais críticos de necessidade de energia
do organismo. Quando a glicose liberada do glicogênio hepático e muscular não é su-

18
ficiente para atender a demanda de gasto energético em determinada situação, como
jejum prolongado, exercícios vigorosos, ou deficiência na absorção de glicose, pois o
glicogênio hepático pode suprir a demanda energética apenas por um período de 10 a
18 horas, essa via serve como fonte para produzir glicose a partir de outros compostos.

Em outras, a reserva fisiológica esgotou. Desse modo, não devemos pensar que
a neoglicogênese é simplesmente o contrário da glicogenólise, pois estamos falando
de estados fisiológicos diferentes.

A glicogenólise é a produção de energia a partir da glicose e este processo ocorre


naturalmente, sendo favorável que ocorra para manutenção de órgãos vitais, por
exemplo. Na neoglicogênese, a glicose está sendo formada a partir de outros com-
postos para que, a partir dela, seja gerada energia e, por isso, a maioria das reações
ocorrem no sentido contrário da via glicolítica. A regulação é feita por dois hormô-
nios: insulina e glucagon.

A insulina tem ação pós prandial de induzir o transporte da glicose para a célula
(muscular ou tecido adiposos) e o glucagon, que está presente predominantemente no
período de jejum, faz a ação contrária. Ele estimula a disponibilização de substratos
para que seja gerada energia.

Desse modo, as enzimas envolvidas são direcionadas para que apenas um dos
ciclos funcione, dependendo do estado fisiológico, ou a glicólise ou a gliconeogênese
estará ativa.

As mesmas enzimas que participam da glicólise atuam na neoglicogênese. Entre-


tanto, o sentido da via é reverso ao da glicólise. Como falamos anteriormente, existem
3 pontos da glicólise, ou três reações, que são irreversíveis: a formação da glicose-6-
-fosfato, a formação do 1,6-bifosfato e a conversão do fosfenolpiruvato em piruvato.

Para contornar essas reações, enzimas específicas terão papel fundamental no


que chamamos os três desvios, comentados a seguir.
• 1° desvio: Esta reação ocorre na mitocôndria, e é catalisada pela enzima
piruvato-carboxilase, que forma oxalacetato a partir do piruvato, ATP e CO2,
liberando ADP + fósforo inorgânico;

A partir daí, podemos ter duas reações:


» Formação do fosfoenolpiruvato a partir de GTP pela Ação da PEP-carboxilase
(PEPCK) mitocondrial;
» Redução do oxalacetato para produção de malato, ganhando dois H. O malato,
por sua vez, irá sair da mitocôndria e será oxidado, perdendo 2 H e voltando
a ser oxalacetato. Esse oxalacetato sofrerá ação da PEP-carboxilase citosólica,
que o transformará em fosfoenolpiruvato.
• 2º desvio: No citosol, a frutose-1,6-bifosfato é hidrolisada pela frutose-1,6-
-bifosfatase, liberando um fosfato inorgânico e formando frutose-6-fosfato que,
em seguida, será isomerizada a glicose-6-fosfato pela fosfoglicose-isomerase;

19
19
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

• 3º desvio: Nesta etapa, ocorre a conversão de glicose-6-fosfato em glicose.


Essa reação é catalisada pela enzima glicose-6-fosfatase. É uma reação de
hidrólise no carbono 6 da glicose-6-fosfato.

Figura 13 – Comparação entre as vias da gliconeogênese e glicólise


Fonte: NELSON; COX (2014)

Ciclo de Krebs
O Ciclo de Krebs é também conhecido como o ciclo do ácido cítrico ou ciclo do
ácido tricarboxílico.

Essa via metabólica complexa e importante foi descoberta pelo bioquímico Hans
Adolf Krebs, em 1938. Esse ciclo, composto por 8 reações, tem como função gerar
energia a partir de um composto chave chamado de Acetil CoA, proveniente do
metabolismo de lipídeos, carboidratos (glicólise).

20
A ideia, quando falamos sobre cadeia respiratória, é que o Acetil CoA utilizado
como precursor dessa via será oxidado até gerar ATP, CO2 e H2O.

O ATP gerado é a energia que as células precisam para sobreviver e funcionar


corretamente. Esta é a função principal desse ciclo, gerar energia celular!

As reações desse ciclo acontecem na matriz mitocondrial das células. Vejamos as


etapas dele, na Figura a seguir:

Figura 14 – Ciclo de Krebs


Fonte: NELSON; COX (2014)

1. Formação de Citrato: o Ácido acético combinado com a coenzima


A forma o Acetil-CoA, que entra no ciclo ligando-se ao oxalacetato e,
após a reação de condensação catalisada pela enzima citrato sintase,
forma-se o citrato e a saída da coenzima A na forma de CoASH. Esta
etapa da reação ocorre na matriz mitocondrial;
2. Formação do Isocitrato: a partir de uma reação de desidratação catalisada
pela enzima aconitase, origina-se o isocitrato. Essa reação é importante,
pois prepara o isocitrato para as reações que acontecerão na sequência;

21
21
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

3. Formação do α cetoglutarato: nesta reação, o isocitrato sofre uma des-


carboxilação e uma desidrogenação. Podemos observar que há partici-
pação do NAD, que é convertido em NADH. Como resultado, temos o
composto α cetoglutarato;
4. Formação do Succil-CoA: nesta etapa, o α cetoglutarato, após uma
reação de descarboxilação oxidativa origina o composto succinil CoA.
Essa reação é catalisada pela enzima a-cetoglutarato-desidrogenase;
5. Formação de succinato:  o Succinil - CoA é convertido a succinato
por meio de uma reação reversível catalisada pela enzima succinil CoA-
-sintetase. O succinato é um composto com maior potencial energético.
Ocorre a entrada de GDP, que é convertido em GTP. Essa reação é re-
sultado do aproveitamento da energia liberada quando a coenzima A é
desligada do succinil. Esse GTP, posteriormente, será convertido em
ATP e a coenzima A é liberada;
6. Succinato Fumarato: o succinato formado na reação anterior é oxidado
pela enzima succinato desidrogenase e uma molécula de FAD é conver-
tida em FADH2;
7. Fumarato Malato: o fumarato é hidratado por meio de uma reação
reversível catalisada pela enzima fumarato-hidratase (ou fumarase),
formando malato;
8. Regeneração do Oxalacetato: nesta última etapa do ciclo, o malato é
oxidado a oxalacetato por meio de uma reação catalisada pela enzima
L-malato desidrogenase. Como produto desta reação, também veremos
a participação do NAD, que é convertido em NADH.

Balanço energético
Ao término do ciclo temos a seguinte equação:

3 NAD+ +FAD + GDP + Pi + acetil CoA + 2 H2O  →


3 NADH +H+ + FADH2 + GTP + CoA + 2CO2

Temos, então, para cada molécula de acetil CoA oxidada, a produção de 3 NADH,
FADH2, 1 GTP como forma de energia produzida.

Cadeia Respiratória
A cadeia respiratória, ou cadeia transportadora de elétrons, é como chamamos a
terceira etapa da respiração aeróbica.

Nós já estudamos duas delas: a primeira é a glicólise, na qual a glicose é conver-


tida em aceil coenzima A, em um processo anaeróbico (não depende do oxigênio).
A acetil CoA será utilizada na segunda etapa, que é o ciclo de Krebs, no qual temos

22
a geração de energia na forma de ATP e, como subprodutos, termos também a for-
mação de CO2 e H2O.

Agora, vamos conhecer a última etapa dessa cadeia, que consiste em gerar ener-
gia na forma de ATP. Nessa etapa ocorre a maior parte da geração de energia na
forma de ATP.

A cadeia respiratória acontece no interior da mitocôndria, e é basicamente um


sistema de transporte de elétrons do FADH2 e NADH que foram gerados no ciclo
de Krebs e na glicólise, realizado por quatro grandes complexos proteicos inseridos
na membrana interna da mitocôndria.

Todo esse processo é dependente de oxigênio, que apresenta grande afinidade


pelos elétrons carregados pelo FADH2 e NADH.

Sendo assim, podemos dizer que sem a presença do oxigênio, esse processo fica
impedido de acontecer, ou seja, a produção de energia celular fica comprometida na
ausência de oxigênio.

Vejamos as etapas e os principais complexos desse sistema, a seguir.


• Complexo I: Chamado de DADH-desidrogenase ou ubiquinona-oxiredutase (Q),
é uma grande enzima formada por 42 cadeias polipeptídicas diferentes. O com-
plexo I é um bombeador de prótons que os move em uma direção específica e,
para isso, utiliza a energia da transferência de elétrons catalisada a partir de dois
processos simultâneos:
» A transferência de um H+ do NADH para a ubiquinona e de um próton da matriz:
NADH + H+ + Q → NAD + + QH2;
» A transferência endergônica de quatro prótons da matriz para o espaço
intermembrana.

A reação global que ocorre nesse complexo pode ser representada por:

NADH + 5H+ + Q → NAD + + QH2 + 4H+


• Complexo II: É a enzima succinato desidrogenase, a mesma que vimos no ciclo
de Krebs, porém, aqui, ela está ligada à membrana;
• Complexo III: Complexo ubiquinona: citocromo c-oxidorredutase, responsável
por transferir os elétrons da ubiquinol (QH2) para o citocromo c;
• Citocromo C: É uma proteína solúvel que apresenta um grupo heme capaz de
transportar um elétron do complexo III para o complexo IV;
• Complexo IV: Também chamado de citocromo oxidase, é responsável pela
etapa final do transporte de elétrons. O complexo IV transfere elétrons para o
oxigênio molecular, que atua como aceptor final reduzindo-o a H2O;

Resumidamente, o fluxo de elétrons pelos complexos acontece da seguinte forma:


os elétrons chegam à Q, que é um pequeno carreador de elétrons, por meio dos
complexos I e II. A Q reduzida (QH2) serve como carregador móvel de elétrons

23
23
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

e prótons. Ela passa a membrana e entrega os elétrons ao complexo III, que os


passa a outro elemento móvel de ligação, o citocromo c. O complexo IV, então,
transfere elétrons do citocromo c reduzido ao O2. O fluxo de elétrons pelos
complexos I, III e IV é acompanhado pelo fluxo de prótons da matriz ao espaço
intermembrana. Lembre-se de que os elétrons da b-oxidação de ácidos graxos
também podem entrar na cadeia respiratória por meio de Q (NELSON, 2014).

Figura 15 – Cadeia de transporte de elétrons


Fonte: Khan Academy

E, por fim, temos o processo chamado de geração de ATP, pela enzima ATP-sintase.

A ATP-sintase é constituída por duas regiões: F0, localizada dentro da membrana


e F1 , acima da membrana.

O fluxo de elétrons gerado pelo transporte entre os complexos I, II, III e IV gera
um gradiente de prótons através da membrana pela região F0 , que gira quando os
prótons passam por ela que, por sua vez, movimenta a região F1, fazendo com que
uma série de mudanças ocorra, para que haja a conversão de ADP em ATP.

Esquema da enzima ATP-sintase: https://go.aws/2z3OCOT

24
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livro
Princípios de bioquímica de Lehninger
NELSON, D. L.; COX, M. M.  Princípios de bioquímica de Lehninger.  6.ed.
Porto Alegre: Artmed, 2014. Cap. 13 sobre os tipos de reações bioquímicas
envolvidas na bioenergética e 15 sobre os princípios da regulação metabólica.

Vídeo
Fosforilação oxidativa e cadeia transportadora de elétrons
https://youtu.be/kwqaP_rnxAU

Leitura
Mel com própolis: considerações sobre a composição e rotulagem
Emprego do método de Fehling na determinação de açúcares redutores.
https://bit.ly/2VA1Evf

25
25
UNIDADE Energética e Metabolismo: Carboidratos

Referências
AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia em Contexto. São Paulo: Moderna, 2013.

BAYNES, J. W.; DOMINICZAK, M. H. Bioquímica médica. 3.ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2010.

BERG, J. M.; STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L. Bioquímica. 7.ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2014.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria de Defesa Agropecuária. Métodos


Analíticos Físico-Químicos para Controle de Leite e Produtos Lácteos. Instrução
Normativa 68, 12/12/06. Brasília: Ministério da Agricultura, 2006. Disponível
em: <https://wp.ufpel.edu.br/inspleite/files/2016/03/Instru%C3%A7%C3%A3o-
normativa-n%C2%B0-68-de-12-dezembro-de-2006.pdf>.

______. Ministério da Saúde. Secretaria da Vigilância sanitária. Resolução-RDC


nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento técnico sobre rotulagem
nutricional de alimentos embalados. [on-line] Disponível em: <http://e-legis.bvs.
br/leisref/public/showAct.php?id=9059>. Acesso em: 20 de abril de 2005. 

CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O.  Bioquímica – Parte 4. 3.ed. São Paulo:


Cengage Learning, 2006.

MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007.

MURRAY R. K. H. Bioquímica Ilustrada. 27. Ed. Rio de Janeiro: McgrawHill, 2007

NELSON, D. L.; COX, M. M.  Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6.ed. Porto


Alegre: Artmed, 2014. Cap. 13,14 e 15.

Site Visitado
<https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-respiration-and-fermentation/
oxidative-phosphorylation/a/oxidative-phosphorylation-etc>. Acesso em: 20/08/2019.

26

Você também pode gostar