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MINERALOGIA – NOTAS DE AULA

Corumbá
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SUMÁRIO

SUMário ................................................................................................... 3

AO ESTUDANTE ...................................................................................... 5

ESTRUTURA DA TERRA .......................................................................... 6

1. Modelos e estrutura e composição .............................................. 7


1.1 A crosta terrestre ......................................................................................... 7

1.2 Manto............................................................................................................... 9
1.3. Núcleo........................................................................................................... 10

2. O calor do interior da Terra......................................................... 11


2.1 Origem do calor do interior da Terra ................................................. 11

2.2 O fluxo de calor do interior da Terra .................................................. 11


2.3 O transporte de calor e as temperaturas no interior da Terra .. 12

TECTÔNICA GLOBAL ............................................................................ 14


1. A teoria da deriva continental .................................................... 14

2. O surgimento da teoria da tectônica global ............................. 17


3. Placas tectônicas........................................................................... 18

3.1 A natureza das placas tectônicas ......................................................... 19


3.2 Tipos de limites entre placas litosféricas ........................................... 20

3.3 As forças que movem as placas tectônicas ...................................... 20


3.4 As colisões entre placas tectônicas ..................................................... 22

3.5 Margens continentais ............................................................................... 24

O CICLO DA ÁGUA................................................................................ 26

1. Movimento da água no sistema Terra - Ciclo hidrológico ...... 26


1.1 Origem da água ...................................................................................... 26

1.2 Ciclo hidrológico ........................................................................................ 27


1.3 Formação e consumo de água no ciclo hidrológico .................... 29
4

2. Água no subsolo: água subterrânea........................................... 30

2.1 Infiltração ...................................................................................................... 30


2.2 Distribuição e movimento de água no solo ..................................... 31

2.3 Aquíferos: reservatórios da água subterrânea ................................ 35


3. Ação geológica da água subterrânea ......................................... 35

INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO.......................................... 38


1. Tipos de intemperismo ................................................................ 39

1.1 Intemperismo físico .................................................................................. 40


1.2 Intemperismo químico............................................................................. 42

2. Intemperismo, erosão e sedimentação ...................................... 42


3. Fatores que controlam a alteração intempérica ....................... 43

3.1 Material parental ........................................................................................ 44


3.2 Clima............................................................................................................... 44

3.3 Topografia .................................................................................................... 45


3.4 Biosfera .......................................................................................................... 46

3.5 Tempo ............................................................................................................ 46

SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES ................................... 47


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AO ESTUDANTE

Caro estudante,
Este manuscrito consiste em uma seleção de conceitos básicos de

geologia que serão posteriormente empregados no estudo da mineralogia e


conceitos de mineralogia. A unidade curricular de mineralogia tem por

objetivo fornecer subsídios para o estudo das demais disciplinas,


especialmente as unidades curriculares da área de metalurgia extrativa.

Ademais, a disciplina visa subsidiar o estudante com conceitos que permitam


a identificação dos minerais e rochas quanto a sua gênese e, quando possível,

sua composição com uso poucas ferramentas.


O processo de ensino, em sala de aula, será conduzido a partir do

manuscrito e é de fundamental importância a leitura do material, seja antes


das aulas (que seria ideal) ou após as aulas. Caso você esteja com

dificuldades, qualquer que seja o momento, após a saída da aula, você deve
procurar auxílio extraclasse.

Não esqueça: “A causa da derrota, não está nos obstáculos, ou no rigor


das circunstâncias, está na falta de determinação e desistência da própria
pessoa.” Siddhartha Gautama

Leandro Gustavo Mendes de Jesus


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ESTRUTURA DA TERRA

Desde o século 19, cientistas especulam sobre a estrutura da Terra.


Charles Darwin, por exemplo, sugeriu que a Terra era uma massa fundida

coberta por uma fina casca, denominada crosta. Na segunda metade do


século, partindo de estimativas para o raio e massa da Terra, a densidade

média da terrestre foi calculada em 5,5 g/cm3 aproximadamente.


Observando-se a baixa densidade da maioria das rochas encontradas na

crosta (2,5 - 3,0 g/cm3) concluiu-se que pelo menos parte do interior da Terra
deveria ser composta por material denso.

A partir da detecção, por observatórios sismográficos, de ondas


elásticas produzidas por terremotos que se propagam por todo interior da

Terra foi possível se observar reflexões, refrações e difrações dessas ondas.


Esses fenômenos ocorrem sempre que há superfícies de duas camadas

distintas onde se alteram parâmetros elásticos (compressibilidade e rigidez) e


composição mineralógica e química. A partir dessas observações se deduziu

que a estrutura interna da Terra que poderia ser descrita como na figura 1.
Figura 1. Estrutura interna da Terra.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


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1. Modelos e estrutura e composição

1.1 A crosta terrestre

A crosta terrestre corresponde à camada mais externa da Terra. Embora

a camada mais externa da terra seja a camada de mais fácil acesso ao homem
não se é viável a obtenção de dados físicos (amostras retiradas por

sondagens), pois o processo de sondagem em grandes profundidades é


muito custoso e demanda equipamentos de elevada tecnologia.

Dessa maneira, a composição e estrutura da crosta não pode ser


inferida por sondagens. Entretanto, pode-se encontrar as rochas presentes no

interior da Terra por meio das rochas encontradas na superfície terrestre.


Essas rochas são expostas por meio de processos geológicos, por meio do

soerguimento das cadeias montanhosas e de forças geológicas externas, tais


como erosão, que contribui para o desgaste das montanhas com exposição

de rochas cada vez mais profundas. Com esses indícios é possível validar o
modelo feito a partir da transmissão das ondas sísmicas.

1.1.1 Crosta continental

A crosta continental apresenta espessura variável, em regiões menos


ativas, mais estáveis (chamadas de crátons), ela tem espessura de 30 a 40 km.
Já em regiões de maior atividade sísmica (Himalaias e os Andes) a espessura

da crosta tem entre 60 a 80 km. A crosta continental é dividida em três


camadas onde a densidade das rochas aumenta conforme o aumento da

profundidade, a figura 2 mostra o modelo da estrutura da crosta terrestre


continental juntamente com os tipos de rochas encontradas nas camadas.
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Figura 2. Estrutura da crosta continental sugerida


pelas observações de seções crustais expostas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

1.1.2 Crosta oceânica

O modelo da crosta oceânica também é disposto em três camadas. A

primeira camada, a menos espessa, é composta por principalmente de


fragmentos inconsolidados. A segunda e terceira camada possuem

progressivamente maior densidade. A camada possui espessura média de 7,5


km mas é bastante variável, podendo, em algumas localidades, chegar a 3 a 4

vezes a espessura média. A figura 3 mostra um exemplo de estrutura de


rochas na crosta oceânica de Omã, no Golfo Pérsico.
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Figura 3. Estrutura da crosta oceânica observada


no ofiolito de Omã, Golfo Pérsico.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

1.2 Manto

No manto o perfil de progressivo aumento de densidade com o

aumento da profundidade também é notado. Conforme se aumenta a


profundidade do manto, os minerais presentes vão perdendo átomos de

baixo peso atômico, como o magnésio, que vai progressivamente sendo


substituído por átomos de maior peso atômico, como o ferro. Outro efeito de
variação da densidade dos minerais conforme vai se aumentando a
profundidade é o polimorfismo, quanto maior a profundidade minerais de

composição semelhantes adotam formas mais densas.


Conforme a profundidade vai aumentando podemos observar também

o aumento da temperatura e pressão. A função de variação da temperatura


em relação a pressão é chamada de geoterma (figura 4). A pressão está

intimamente relacionada com a profundidade vigente.


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Figura 4. Diagrama esquemático mostrando os formatos da


geoterma e do solidus de peridotito, e a faixa de pressões (P1
a P2) onde deve ocorrer a fusão parcial (em laranja).

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Ao observarmos a figura 4, podemos ver que ao descer da crosta rumo

ao topo do manto, passamos por uma região rígida (que juntamente com a
crosta terrestre é chamada de litosfera), com aumento de temperatura e

pressão, passamos por uma zona plástica (dúctil, chamada de astenosfera). A


baixo da zona plástica, temos uma nova zona rígida, chamada de mesosfera. A

mesosfera, embora tenha temperaturas maiores, devido ao aumento (maior)


de pressão as rochas tornam ao estado sólido.

A densidade dos minerais no topo do manto é de cerca de 3,2 g/cm 3 e


na parte mais inferior do manto, cerca de 5,0 g/cm3.

1.3. Núcleo

O núcleo externo possui densidade de cerca de 10 g/cm3 e possui a

composição de uma liga de Fe-Ni. A liga pura de Fe-Ni, deveria ter densidade
em torno de 11,5 g/cm3, mas acredita-se que a liga possua elementos de

menor peso atômico, que baixariam a densidade como H, O, Na, Mg e S. O


núcleo externo está no estado líquido.

Já o núcleo interno, sólido, deve ser composto de uma liga de ferro e


níquel no estado sólido. O núcleo interno gira em uma velocidade maior que

o resto do planeta o que somente é possível devido ao núcleo interno está


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isolado pelo núcleo externo (líquido) do resto do planeta. Este fato também

indica que o planeta já esteve em velocidade maior. O núcleo interno está em


constante crescimento, uma vez que o núcleo externo está progressivamente

se solidificando.

2. O calor do interior da Terra

2.1 Origem do calor do interior da Terra

O calor dos corpos do Sistema Solar possuem duas origens. A primeira,

é fruto do processo chamado de acresção, que se trata agregação dos


materiais ocorrida no momento da formação dos planetas. Essa agregação

provocou colisões de grandes rochas e a energia cinética das rochas que se


colidiram foi convertida em energia térmica elevando a temperatura do corpo

alvo.
A segunda fonte térmica é a radiação de átomos radioativos,

especialmente os que possuem meias vidas da mesma ordem que a idade do


Sistema Solar, como urânio, tório, rádio e potássio. Os isótopos de meias vidas

curtas, por sua vez, tiveram um papel mais relevante na formação do sistema
solar.
O calor gerado por ambos processos depende do volume do corpo e
parte do calor é irradiada para o espaço que é proporcional à área superficial

do corpo.

2.2 O fluxo de calor do interior da Terra

Os fenômenos que ocorrem na superfície da Terra e na atmosfera


ocorre devido ao calor gerado pela radiação solar. Entretanto, algumas

dezenas de centímetros abaixo da superfície terrestre o calor gerado pela


radiação da Terra é praticamente irrelevante. O aumento da temperatura
ocorrido conforme vamos entrando no interior da Terra se deve basicamente
12

ao fluxo de calor do interior da Terra. Isso pode ser observado quando

entramos em uma mina subterrânea.


Esse fluxo de calor oriundo do interior da Terra é chamado de fluxo

geotérmico. O fluxo geotérmico é o fluxo de energia mais significativo


existente no planeta, superando a energia da desaceleração da rotação da

Terra pela ação das marés e a energia liberado pelos terremotos. O fluxo
geotérmico através de uma camada da Terra é definido como o produto da

variação da temperatura com a profundidade pela condutividade térmica das


rochas daquela camada.

2.3 O transporte de calor e as temperaturas no interior da Terra

O transporte de calor no interior da Terra ocorre por dois processos:

condução e convecção. A condução é um processo mais lento, com


transferência de energia de uma molécula para as vizinhas. Esse processo

acontece no estado sólido e é importante na crosta e na litosfera. A


convecção é um processo mais rápido e eficiente, com movimento de massa,

que ocorre nos fluidos. A convecção ocorre no núcleo externo e também no


manto.

A figura 5 mostra a curva de variação de temperatura em relação a


profundidade, a geoterma. Juntamente no gráfico temos a curva de variação

da temperatura de fusão das rochas em relação à profundidade. A


temperatura de fusão muda com o tipo de material, como na interface mato-

núcleo, mas muda também com a pressão, como ilustrado na interface núcleo
externo-núcleo interno.
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Figura 5. A relação entre a geoterma e o solidus de liga de ferro.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


14

TECTÔNICA GLOBAL

A Terra é um planeta dinâmico, se pudéssemos fazer um filme do


planeta filmado do espaço, desde seu surgimento, veríamos movimentações

constantes dos continentes ora colidindo, ora se afastando. Acredita-se que a


litosfera terrestre é fragmentada por cerca de uma dúzia de placas tectônicas,

que se formam nas dorsais meso-oceânicas e se chocam e nos pontos onde


há choques entre as placas há o mergulho da placa mais densa sob a menos

densa, retornando ao manto.


A constatação da existência das placas tectônicas deu uma nova

roupagem a antiga teoria da deriva continental. Esta teoria é bastante


razoável e explica uma vasta gama de fenômenos geológicos.

1. A teoria da deriva continental


A teoria da Tectônica de placas revolucionou às geociências. A primeira

vez que a hipótese foi documentalmente registrada foi em 1620, por Francis
Bacon. Bacon, ao observar os recém criados mapas das Américas e o encaixe

perfeito das Américas na Africa, sugeriu que em algum momento estes


continentes estiveram unidos. Essa hipótese foi, por diversas vezes retomada,

mas nunca teve argumentações científicas que lhe dessem suporte teórico.
Somente no século XX Alfred Wegener formulou a teoria da tectônica

de placas. Wegener supôs que inicialmente os continentes estavam todos


juntos e formavam um supercontinente que ele atribuiu o nome de Pangea,

ele considerou que a fragmentação da Pangea começou há cerca de 220


milhões de anos. A Pangea teria se dividido em dois continentes: Laurásia

(setentrional) e Gondwana (austral), como na figura 6.


15

Figura 6. Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia a norte e Gondwana a sul,
pelo mar de Tethys.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Embora não tenha sido o primeiro, nem o único, a fazer este tipo de

suposição Wegener foi o primeiro a coletar evidências que a comprovassem.


Dentre as evidências mais marcantes, encontradas por Wegener, estão: fosseis

de uma gimnosperma em regiões da África e do Brasil, onde a ocorrência se


correlacionava perfeitamente ao juntar-se os continentes e evidências de

glaciação há aproximadamente 300 milhões de anos na região Sudeste do


Brasil, Sul da África, Índia, Oeste da Austrália e Antártica. Estas evidências

sugerem que grandes porções de Terras do hemisfério sul estavam


submetidos a um clima glacial (figura 7).
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Figura 7. a. Distribuição atual das evidências geológicas de existência


de geleiras há 3 Ma. b. Simulação de como seria a distribuição das
geleiras com continentes juntos, mostrando que estariam restritas a
uma calota polar no hemisfério Sul.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Apesar de ter encontrado diversas evidências que comprovavam sua

teoria Wegener não conseguiu explicar alguns pontos importantes da teoria.


Como por exemplo, que forças seriam capazes de mover blocos continentais?

Como uma crosta rígida como a crosta continental deslizaria sobre a crosta
oceânica sem que fossem quebradas pelo atrito? Infelizmente, na época não

se conheciam as propriedades plásticas da astenosfera e Wegener morreu


deixando essas questões sem resposta e a teoria ficou esquecida até os anos

50.
A chave para explicar a dinâmica da Terra, ao contrário do que os

cientistas pensavam, não estava nas rochas continentais, mas sim no fundo
dos oceanos. Na década de 40 durante a Segunda Guerra Mundial, devido a

necessidade de mapeamento do fundo dos oceanos para localização de


submarinos foram desenvolvidos diversos equipamentos como sonares, que
permitiam traçar mapas detalhados sobre o relevo do fundo do oceano.
17

Inicialmente, se imaginava que o fundo dos oceanos fossem compostos

basicamente por uma planície extensa. Com a criação desses mapas do fundo
dos oceanos foram relevadas cadeias de montanhas, fendas, fossas ou

trincheiras muito profundas, mostrando um cenário muito mais


geologicamente ativo do que se imaginava.

A partir da década de 50 diversos estudos de universidades americanas


que visavam estudar o fundo do oceano conseguiram cartografar uma

enorme cadeia de montanhas submarinas, denominadas Dorsal ou Cadeia


Meso-Oceânica. Também se conseguiu constatar que quanto mais próximo se

chegava da Dorsal, mais jovens eram as rochas ali presentes. Por fim, se
descobriu que a Dorsal é a linha onde está constantemente acontecendo a

separação de duas placas tectônicas, a Placa Norte-Americana e a Placa


Africana (a figura 8 mostra as idades geocronológicas do fundo oceânico do

Atlântico Norte).
Figura 8. Distribuição das idades geocronológicas do fundo do oceânico do Atlântico Norte, onde se
observam as idades (em Ma) mais jovens próximas à dorsal meso-oceânica.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

2. O surgimento da teoria da tectônica global

No início da década de 60, Harry Hess postulou que o assoalho


oceânico estava em constante expansão. Com base nos dados geológicos e

geofísicos coletados até então Hess propôs que as estruturas do fundo


oceânico estariam relacionados a processos de convecção no interior da Terra.
18

Esses processos são causados pelo alto fluxo de calor emanado na

dorsal meso-oceânica que provocaria a ascensão do material do manto,


devido ao aumento de temperatura que o torna menos denso (figura 9).

Conforme o magma vai ascendendo a ele se solidifica formando a crista da


dorsal meso-oceânica num processos contínuo. A constância deste processo

produziria, portanto, a expansão do assoalho oceânico. A Deriva Continental e


a expansão do fundo dos oceanos seriam uma consequência das correntes de

convecção.
Figura 9. Esquema de correntes de convecção atuantes na dorsal meso-oceânica.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

O consumo da crosta oceânica mais antiga ocorreria nas zonas de


subducção, que seriam locais onde a crosta oceânica mais densa mergulharia

para o interior da Terra até atingir pressão e temperatura suficientes para


sofrer fusão e ser incorporada novamente ao manto.

3. Placas tectônicas
Como já visto a Terra possui alguns domínios concêntricos em relação

aos seu estado físico. O domínio externo é constitui a litosfera, que se


apresenta no estado sólido. A parte superior da litosfera é composta por

rochas da crosta e a parte inferior é composta por rochas do manto externo. A


litosfera tem espessuras variadas, com uma média próxima de 100 km. Ela é

dividida por falhas e fraturas profundas em Placas Tectônicas. A distribuição


dessas placas na Terra é ilustrada na figura 10.
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Figura 10. Distribuição geográfica das placas tectônicas da Terra.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

O limite inferior da Litosfera é marcado pela Astenosfera que consiste


em uma zona do manto superior onde a temperatura alcança valores

próximos a temperatura de fusão das rochas mantélicas, o processo de fusão


inicia-se produzindo uma fina película líquida em torno dos grão minerais.

Desta forma o estado plástico desta zona permite que a litosfera rígida deslize
sobre a Astenosfera, tornando possível o deslocamento lateral das placa

tectônicas.

3.1 A natureza das placas tectônicas

As placas tectônicas podem ser de natureza oceânica ou mais


comumente compostas de porções de crosta continental e crosta oceânica. As

características das crostas oceânicas e continentais são muito distintas,


especialmente no sentido da composição litológica e química, morfologia,

idades, espessuras e dinâmica. A crosta continental tem uma composição


litológica muito variada. A crosta continental pode ser dividida em superior e

inferior onde a camada superior contém rochas sedimentares, ígneas e


metamórficas, já a camada interior é constituída predominantemente por
rochas metamórficas de baixo a médio grau de metamorfismo.
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A crosta continental possui idade avançada (pelo menos 3,96 bilhões

de anos) e, por isso, apresenta estruturas complexas, produzidas por diversos


eventos geológicos que a afetaram. A crosta oceânica tem uma composição

litológica bem mais homogênea, consistindo basicamente de rochas ígneas


com uma fina camada de material sedimentar.

3.2 Tipos de limites entre placas litosféricas

• Limites divergentes: onde há o afastamento mútuo das placas

tectônicas, como ocorre das dorsais meso-oceânicas.


• Limites convergentes: onde há a colisão entre as placas tectônicas, com

o mergulho da placa mais densa sob a outra gerando uma zona de


intensa atividade magmática a partir dos processos de fusão parcial da

crosta que mergulhou.


• Limites conservativos: onde as placas tectônicas deslizam lateralmente

uma em relação a outra, sem destruição ou geração de crostas, ao


longo de fraturas denominadas Falhas Transformantes.

É próximo a esses limites que a atividade geológica do planeta é mais


intensa. Nesses limites podemos observar fenômenos como sismos,

vulcanismo e orogênese.

3.3 As forças que movem as placas tectônicas

A principal oposição a teoria de Wegener é que não se conseguia


explicar quais forças moveriam os continentes. Hoje, se sabe qual é a força

motriz, só não se sabe explicar todos os mecanismos que geram essa força
motriz. Sabe-se que a astenosfera e a litosfera estão intrinsecamente

relacionadas. Se a astenosfera se mover, a litosfera será movida também.


Sabemos ainda que a litosfera possui uma energia cinética cuja a fonte é fluxo

térmico interno da Terra, e que o calor chega a superfície através das


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correntes de convecção do manto superior. O que não se sabe com certeza é

como as convecções do manto iniciam o movimento das placas.


Figura 11. Modelos sugeridos para mecanismos
de correntes de convecção. a – Correntes de
convecção ocorrendo somente na astenosfera.
b – Correntes de convecção envolvendo todo
manto.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Muitos cientistas acreditam que as correntes de convecção (figura 11)


do manto por si só não seriam suficientes para movimentar as placas

litosféricas mas constituiriam apenas um dentre outros fatores que em


conjunto produziriam esta movimentação. O processo de subducção teria

início quando a parte mais fria e velha da placa (portanto mais distante da
dorsal meso-oceânica) se quebra e começa a mergulhar por debaixo de outra

placa menos densa, e a partir daí os outros fatores (ilustrados na figura 12)
começariam a atuar em conjunto com as correntes de convecção.
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Figura 12. Processos geológicos que causam a movimentação das placas tectônicas: a - criação de nova
litosfera oceânica na dorsal meso-oceânica; b - mergulho da litosfera para o interior do manto, puxada
pela crosta oceânica descendente mais densa; c – espessamento da placa litosférica, à medida que se
distância da dorsal meso-oceânica, tornando o limite entre a placa e a astenosfer uma superfície
inclinada.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

a - Pressão sobre a placa provocada pela criação de nova litosfera;

b - Mergulho da litosfera para o interior do manto em direção à


astenosfera, puxada pela crosta descendente mais densa e mais fria do que a

astenosfera mais quente a sua volta.


c - A placa litosférica torna-se mais fria e mais espessa à medida que se

afasta da dorsal meso-oceânica onde foi criada.

3.4 As colisões entre placas tectônicas

O movimento das placas tectônicas produz ao longo de seus limites

convergentes colisões que, em função da natureza e composição das placas


envolvidas, irão gerar rochas e feições fisiográficas distintas. Nesse sentido, o

choque entre placas litosféricas pode envolver:


• Crosta oceânica com crosta oceânica: a placa mais densa, mais antiga,

mais fria e mais espessa mergulha sob a outra placa, em direção ao


manto, carregando consigo parte dos sedimentos acumulados sobre

ela, que irão se fundir em conjunto com a crosta oceânica em


subducção (figura 13a);

• Crosta continental com oceânica: provocará subducção desta última


sob a placa continental (figura 13b);
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• Crosta continental com continental: pode ocorrer após o processo

colisional do tipo que envolve crosta continental com oceânica onde a


continuidade do processo de subducção da crosta oceânica sob a

crosta continental leva uma massa continental ao choque com o arco


magmático formado inicialmente. Quando os dois continentes colidem,

a crosta continental levada pela crosta oceânica mais densa mergulha


sob a outra (figura 13c).
Figura 13. Processos colisionais envolvendo: a) crosta oceânica
com crosta oceânica; b) crosta continental com crosta
oceânica; c) crosta continental com crosta continental (os
traços representam rupturas).

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Associado aos processos colisionais entre placas tectônicas ocorrem


uma série de feições geológicas e associações litológicas características, como

bacias de ante-arco e retro-arco, fossas e associações de rochas típicas de


zonas de subducção como mélanges e ofiolitos (figura 14).
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Figura 14. Perfil de um limite de placa convergente mostrando as principais feições geológicas formadas
e as associações de rochas relacionadas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

3.5 Margens continentais

Como consequência da tectônica de placas , os continentes

fragmentam-se e juntam-se periodicamente ao longo do tempo geológico. As


evidências geológicas destas aglutinações e rupturas são encontradas em

áreas de margens dos continentes atuais ou que foram no passado geológico


e hoje se encontram suturadas no meio dos continentes. Nesse contexto

podemos reconhecer dois tipos de margens continentais:


• Margens continentais ativas: situadas nos limites convergentes de

placas tectônicas onde ocorrem zonas de subducção e falhas


transformantes; nestas margens estão em desenvolvimento atividades

tectônicas importantes, como por exemplo, formação de cordilheiras,


no processo chamado de orogênese;

• Margens continentais passivas: desenvolvem-se durante o processo de


formação de novas bacias oceânicas quando da fragmentação de

continentes. Este processo é denominado rifteamento, que significa um


vale de grande extensão formado a partir do movimento distensivo na

crosta, que produz falhas, como ilustrado na figura 15.


25

Figura 15. Esquema evolutivo de fragmentação de uma massa


continental e desenvolvimento de margens continentais
passivas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


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O CICLO DA ÁGUA

A água é a substância mais abundante na superfície de nosso planeta,


ela participa do processos que modelam as feições do planeta, nos processos

de dissolução de materiais terrestres e no transporte de partículas. É o melhor


e mais abundante solvente disponível na natureza e sua função no

intemperismo químico é evidenciada na hidrólise. Nos rios, a água faz o


transporte de partículas, desde a forma iônica (em solução) até cascalho e

blocos, representando o meio mais eficiente de erosão da superfície terrestre.


Na forma de gelo, acumula-se em grandes volumes, inclusive geleiras,

escarificando o terreno, arrastando blocos rochosos e esculpindo a paisagem.

1. Movimento da água no sistema Terra - Ciclo hidrológico

A água está distribuída pela atmosfera e na parte superficial da crosta


até profundidades de cerca de 10 km abaixo da interface atmosfera/crosta e

constitui a hidrosfera. A hidrosfera é composta por uma série de reservatórios


como os oceanos, geleiras, rios, lagos, vapor de água atmosférica, água

subterrânea e água retida nos seres vivos. O constante intercâmbio entre


estes reservatórios compreende o ciclo da água, ou ciclo hidrológico,

movimentando pela energia solar e representa o processo mais importante da


dinâmica externa da Terra.

1.1 Origem da água

A origem da primeira água na história da Terra está relacionada com a

formação da atmosfera, ou seja, a degaseificação do planeta. Este termo


refere-se ao fenômeno de liberação de gases por um sólido ou líquido

quando este é aquecido ou resfriado. Este processo, atuante até hoje, teve
início na fase de resfriamento geral da Terra, após a fase inicial de fusão
parcial. Neste gradativo resfriamento e formação de rochas ígneas, foram
27

liberados gases, principalmente vapor de água (H2O) e gás carbônico (CO2),

entre vários outros, como subprodutos voláteis da cristalização do magma. A


geração de água sob forma de vapor é observada atualmente em erupções

vulcânicas, sendo chamada de água juvenil.

1.2 Ciclo hidrológico

Partindo de um volume total de água relativamente constante no


Sistema Terra, podemos acompanhar o ciclo hidrológico exposto na figura 16.

Iniciando com o fenômeno da precipitação meteórica, que representa a


condensação de gotículas a partir do vapor de água presente na atmosfera,

dando origem à chuva. Quando o vapor de água transforma-se diretamente


em cristais de gelo e estes, por aglutinação, atingem tamanho e peso

suficientes, a precipitação ocorre sob a forma de neve ou granizo, responsável


pela geração e manutenção do importante reservatório representado pelas

geleiras nas calotas polares e nos cumes das montanhas.


Figura 16. O ciclo hidrológico.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


28

Parte da precipitação retorna para atmosfera por evaporação direta

durante seu percurso em direção à superfície terrestre. Esta fração evaporada


na atmosfera soma-se ao vapor de água formado sobre o solo e aquele

liberado pela atividade biológica de organismos, principalmente as plantas,


através da respiração. Esta soma de processos é denominada

evapotranspiração, na qual a evaporação direta é causada pela radiação solar


e vento, enquanto a transpiração depende da vegetação. A evapotranspiração

em áreas florestadas de clima quente e úmido devolve à atmosfera até 70%


da precipitação. Em ambientes glaciais o retorno da água para atmosfera

ocorre pela sublimação do gelo, na qual a água passa diretamente do estado


sólido para o gasoso, pela ação do vento.

Em regiões florestadas uma parcela de precipitação pode ser retida


sobre folhas e caules, sofrendo evaporação posteriormente. Este processo é a

interceptação. Com a movimentação das folhas pelo vento, parte da água


retida continua seu trajeto para o solo. A interceptação, portanto, diminui o

impacto das gotas sobre o solo, reduzindo sua ação erosiva.


Uma vez atingido o solo, dois caminhos podem ser seguidos pela

gotícula de água. O primeiro é a infiltração que depende principalmente das


características do material de cobertura da superfície. A água de infiltração,

guiada pela força gravitacional, tende a preencher os vazios no subsolo,


seguindo em profundidade, onde abastece o corpo de água subterrânea. A

segunda possibilidade ocorre quando a capacidade de absorção de água pela


superfície é superada e o excesso de água inicia o escoamento superficial,

impulsionado pela gravidade para zonas mais baixas. Este escoamento inicia-
se através de pequenos filetes de água, efêmeros e disseminados pela

superfície do solo, que convergem para córregos e rios, constituindo a rede


de drenagem. O escoamento superficial, com raras exceções, tem como

destino final os oceanos. É bom lembrar ainda que parte da água de


infiltração retorna à superfície através de nascentes, alimentando o
29

escoamento superficial ou, através de rotas de fluxo mais profundas e lentas,

reaparece diretamente nos oceanos.


Durante o trajeto geral do escoamento superficial nas áreas emersas e,

principalmente na superfície dos oceanos, ocorre a evaporação,


realimentando o vapor de água atmosférico, completando assim o ciclo

hidrológico. Estima-se que os oceanos contribuem com 85% do total anual


evaporado e os continentes com 15% da evapotranspiração.

1.3 Formação e consumo de água no ciclo hidrológico

O ciclo hidrológico pode ser comparado a uma grande máquina de

reciclagem da água, na qual operam processos tanto de transferência entre os


reservatórios como de transformação entro os estados gasoso, líquido e

sólido. Processos de consumo e formação de água interferem neste ciclo, em


relativo equilíbrio através do tempo geológico, mantendo o volume geral de

água constante no Sistema Terra. Há portanto um balanço entre a geração de


água juvenil e consumo de água por dissociação e sua incorporação em

rochas sedimentares.
Considerando o tempo geológico, o ciclo hidrológico pode ser dividido

em dois subciclos: o primeiro opera a curto prazo envolvendo a dinâmica


externa da Terra; o segundo de longo prazo, é movimentado pela dinâmica

interna, onde a água participa do ciclo das rochas.


No ciclo rápido, a água é consumida nas reações fotoquímicas

(fotossíntese) onde é retida principalmente na produção de biomassa vegetal


(celulose e açúcar). Com a reação contrária à fotossíntese, a respiração, esta

água retorna ao ciclo.


No ciclo lento o consumo de água ocorre no intemperismo químico

através das reações de hidrólise e na formação de rochas sedimentares e


metamórfica, com a formação de minerais hidratados. A produção de água
30

juvenil pela atividade vulcânica representa o retorno desta água ao ciclo

rápido.

2. Água no subsolo: água subterrânea

Trataremos agora da fração de água que sofre infiltração,


acompanhando seu caminho pelo subsolo, onde a força gravitacional e as

características dos materiais presentes irão controlar o armazenamento e o


movimento das águas. De maneira simplificada, toda água ocupa vazios em

formações rochosas ou no regolito é classificada como água subterrânea.

2.1 Infiltração

Infiltração é o processo mais importante de recarga da água no


subsolo. O volume e a velocidade de infiltração depende de vários fatores.

• Tipo e condições dos materiais terrestres: a infiltração é favorecida por


materiais porosos, permeáveis, rochas muito fraturadas e porosas.

Argilas e rochas pouco fraturadas são desfavoráveis à infiltração.


Fragmentos inconsolidados que recobrem a rocha subjacente ajudam

na retenção de água que é transmitida lentamente à rocha


subjacente.
• Cobertura vegetal: áreas vegetadas favorecem a infiltração devido às
raízes que abrem caminho para água descendente e retarda o

movimento da água. Em áreas densamente florestadas 1/3 da


precipitação interceptada sofre evaporação.

• Topografia: de modo geral aclives acentuados não favorecem a


infiltração.

• Precipitação: a distribuição da precipitação é um fator importante,


precipitação uniforme durante o ano favorece a infiltração em relação a

precipitação concentrada e sazonal.


31

• Ocupação do solo: cobertura por construções não favorecem a

infiltração, portanto, a urbanização é um fator danoso à infiltração. O


desmatamento causado pela atividade agropecuária aliado a

plantações sem terraceamento são extremamente prejudiciais à


infiltração.

2.2 Distribuição e movimento de água no solo

A água ao infiltrar na superfície tende, devido a gravidade, a ocupar a

porção mais inferior do solo, até cerca de 10.000 m. A água ocupa,


efetivamente, os poros e espaços no interior das rochas. Estabelece-se assim

uma zona onde todos os poros estão cheios de água, denominada zona
saturada ou freática (figura 17). Acima desse nível, os espaços vazios estão

parcialmente preenchidos por água, contendo também ar, definindo a zona


não saturada, também chamada de vadosa ou zona de aeração. O limite entre

estas duas zonas é uma importante superfície denominada superfície freática


ou nível de água subterrânea facilmente identificado na prática, ao se

perfurarem poços, nos quais a altura de água marca a posição do nível da


água. A superfície gerada por vários pontos do nível de água constitui a

superfície freática.
32

Figura 17. Distribuição da água no subsolo.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

O nível freático acompanha aproximadamente as irregularidade da

superfície do terreno, como mostrado na figura 18. Em áreas úmidas, com alta
pluviosidade tende a ser mais raso e em ambientes áridos tende a ser

profundo.
Figura 18. O nível freático e o relevo da superfície.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

O nível freático tem uma relação íntima com os rios. Os rios cuja vazão
aumenta para jusante são chamados de rios efluentes, e são alimentados pela

água subterrânea, situação típica de regiões úmidas (figura 19 esq.). Ao


33

contrário, no rios influentes, a vazão diminui a jusante, como consequência da

recarga da água subterrânea pelo escoamento superficial (figura 19 dir.).


Figura 19. Rios efluentes e influentes conforme a posição do nível freático em relação ao vale.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Porosidade

A porosidade é uma propriedade física definida pela relação entre o


volume de poros e o volume total de um certo material e os tipos de

porosidade estão expostos na figura 20.


34

Figura 20. Os três tipos fundamentais de porosidades conforme diferentes


materiais numa seção geológica.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Permeabilidade
O principal fator que determina a disponibilidade de água subterrânea

não é a quantidade de água que os materiais armazenam, mas a sua


capacidade em permitir o fluxo de água através dos poros. Esta propriedade

dos materiais conduzirem água é chamada de permeabilidade, que depende


do tamanho dos poros e da conexão entre eles.

Fluxo de água no subsolo


Além da força gravitacional, o movimento de água subterrânea

também é guiado pela diferença de pressão entre dois pontos, exercida pela
coluna de água sobrejacente aos pontos e pelas rochas adjacentes. Esta
35

diferença de pressão é chamada de (potencial hidráulico) e promove o

movimento da água subterrânea de pontos com alto potencial, como nas


cristas do nível freático, para zonas de baixo potencial, como em fundos de

vales.

2.3 Aquíferos: reservatórios da água subterrânea

Unidades rochosas ou de sedimentos, porosas e permeáveis, que


armazenam e transmitem volumes significativos de água subterrânea são

chamados de aquíferos. O estudo dos aquíferos visando a exploração e


proteção subterrânea constitui um dos objetivos mais importantes da

hidrogeologia.
Em oposição ao termo aquífero, utiliza-se o termo aquiclude para

definir unidades geológicas que, apesar de saturadas, e com grandes


quantidades de água absorvida lentamente, são incapazes de transmitir um

volume significativo de água com velocidade suficiente para abastecer poços


ou nascentes, por serem rochas relativamente impermeáveis. Por outro lado,

unidades geológicas que não apresentam poros interconectados e não


absorvem e nem transmitem água são denominados de aquifugos.

3. Ação geológica da água subterrânea


Ação geológica é a capacidade de um conjunto de processos causar

modificações nos materiais terrestres, transformando minerais, rochas e


feições terrestres. O esculpimento de formas de relevo da superfície terrestre

é um tipo de ação geológica, dominada pela dinâmica externa do planeta


Terra, conhecida como ação geomórfica.

A zona de ocorrência da água subterrânea é uma região onde é


iniciada a maioria das formas de relevo, pois a água subterrânea é o principal

meio das reações do intemperismo químico. O movimento da água


subterrânea, somado ao da água superficial, são os principais agentes
36

geomórficos da Terra. A ação geomórfica da água subterrânea se traduz por

vários processos de modificação da superfície terrestre, como por exemplo:


• Escorregamento de enconstas (figura 21);

• Boçorocas (figura 22);


• Carste (figura 23);
Figura 21. A saturação em água do material
inconsolidado devido à subida do lençol freático em
longos períodos de chuvas intensas promove o
escorregamento de encostas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


37

Figura 22. Morfologia de sulcos e boçorocas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Figura 23. Componentes principais do sistema cárstico.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


38

INTEMPERISMO E FORMAÇÃO DO SOLO

Habitamos a superfície da Terra e dependemos, para viver, dos


materiais aí disponíveis. Estes, em sua maior parte, são produto das

transformações que a crosta terrestre sofre na interação com a atmosfera, a


hidrosfera e a biosfera, ou seja, são produtos do intemperismo.

O intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física


(desagregação) e química (decomposição) que as rochas sofrem ao aflorar na

superfície da Terra. Os produtos do intemperismo, rocha alterada e solo, estão


sujeitos aos outros do ciclo supérgeno – erosão, transporte e sedimentação –

os quais acabam levando à denudação continental, com o consequente


aplainamento de relevo.

Os fatores que controlam a ação do intemperismo são o clima, que se


expressa na variação sazonal da temperatura e na distribuição das chuvas, o

relevo, que influi no regime de infiltração e drenagem das águas pluviais, a


fauna e flora, que fornecem matéria orgânica para reações químicas e

remobilizam materiais, a rocha parental, que segundo sua natureza, apresenta


resistência diferenciada aos processos de alteração intempérica e, finalmente,
o tempo de exposição da rocha aos agentes intempéricos.
A pedogênese (formação do solo) ocorre quando as modificações

causadas nas rochas pelo intemperismo, além de serem químicas e


mineralógicas, tornam-se sobretudo estruturais, com importante

reorganização e transferência dos minerais formadores do solo entre os


níveis superiores do manto de alteração.

O intemperismo e a pedogênese levam a formação de um perfil de


alteração ou perfil de solo. O perfil é estruturado verticalmente, a partir da

rocha fresca, na base, sobre a qual formam-se o saprolito e o solum, que


constituem juntos, o manto de alteração ou regolito (figura 24). Os materiais

do perfil vão se tornando tanto mais diferenciados com relação à rocha


39

parental em termos de composição, estruturas e texturas, quanto mais

afastados se encontram dela. Sendo dependentes do clima e do relevo, o


intemperismo e a pedogênese ocorrem de maneira distinta nos diferentes

compartimentos morfo-climáticos do globo, levando à formação de perfis de


alteração compostos de horizontes de diferentes espessura e composição.
Figura 24. Perfil de alteração ou perfil de solo típico, constituído, da base para o topo, pela rocha
inalterada, saprolito e solum. O solum compreende os horizontes afetados pela pedogênese (O, A, E e B).
O solo compreende o saprolito (C) e o solum.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

1. Tipos de intemperismo
Os processos intempéricos atuam através de mecanismos

modificadores das propriedades físicas dos minerais e rochas (morfologia,


resistência, textura, etc.), e de suas características químicas (composição

química e estrutura cristalina). Em função dos mecanismos predominantes de


atuação, são normalmente classificados em intemperismo físico e
intemperismo químico.
40

1.1 Intemperismo físico

Todos os processos que causam desagregação, das rochas, com


separação dos grãos minerais antes coesos e com sua fragmentação,

transformando a rocha inalterada em material descontínuo e friável,


constituindo o intemperismo físico.

As variações de temperatura ao longo dos dias e noites e ao longo das


diferentes estações do ano causam expansão e contração térmica nos

materiais rochosos, levando à fragmentação dos grãos minerais. A mudança


cíclica de umidade também pode causar expansão e contração e, em

associação com a variação térmica, provoca um efetivo enfraquecimento e


fragmentação das rochas.

O congelamento da água nas fissuras das rochas acompanhado por um


aumento de volume de cerca de 9%, exerce pressão nas paredes, causando

esforços que terminam por aumentar a rede de fraturas e fragmentar a rocha


(figura 25).
Figura 25. Fragmentação por ação do gelo. A água líquida ocupa as fissuras da rocha (esq.), sendo
posteriormente congelada, expandindo e exercendo pressão nas paredes (dir.).

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

A cristalização de sais dissolvidos nas águas de infiltração tem o


mesmo efeito. Com o passar do tempo, o crescimento desses minerais

também causa expansão das fissuras e fragmentação das rochas.


O intemperismo físico também ocorre quando as partes mais

profundas dos corpos rochosos ascendem a níveis crustais mais superficiais.


Com o alívio da pressão, os corpos rochosos expandem, causando a abertura
41

de fraturas grosseiramente paralelas à superfície ao longo da qual a pressão

foi aliviada. Estas fraturas recebem o nome de juntas de alívio. Finalmente,


outro efeito do intemperismo físico é a quebra de rochas pela pressão

causada pelo crescimento de raízes em suas fissuras.


Fragmentando as rochas e, portanto, aumentando a superfície exposta

ao ar e à água, o intemperismo físico abre caminho e facilita o intemperismo


químico. A figura 26 mostra o aumento da superfície específica de um bloco

de rocha quando dividido em blocos menores.


Figura 26. A fragmentação de um bloco de rocha é acompanhada por um aumento da superfície
exposta à ação dos agentes intempéricos.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


42

1.2 Intemperismo químico

O ambiente da superfície da Terra, caracterizado por pressões e


temperaturas baixas e riqueza de água e oxigênio, é muito diferente daquele

onde a maioria das rochas se formaram. Por esse motivo, quando as rochas
afloram à superfície da Terra, seus minerais entram em desequilíbrio e, através

de uma série de reações químicas, transformam-se em outros minerais, mais


estáveis nesse novo ambiente.

O principal agente do intemperismo químico é a água da chuva, que


infiltra e percola as rochas. Essa água, rica em O2, em interação com o CO2 da

atmosfera, adquire caráter ácido. Em contato com o solo, onde a respiração


das plantas pelas raízes e a oxidação da matéria orgânica enriquecem o

ambiente em CO2, tem seu pH ainda mais diminuído.


Quando a degradação da matéria orgânica não é completa, vários tipos

de ácidos orgânicos são formados e incorporados às águas percolantes,


tornando-as muito ácidas e, consequentemente, aumentando seu poder de

ataque em relação aos minerais, intensificando assim o intemperismo


químico.

Os constituintes mais solúveis das rochas intemperizadas são


transportados pelas águas que drenam o perfil de alteração (fase solúvel). Em

consequência, o material que resta no perfil de alteração (fase residual) torna-


se progressivamente enriquecido nos constituintes menos solúveis. Esses

constituintes estão nos minerais primários residuais, que resistiram à ação


intempérica, e nos minerais secundários que se formaram no perfil.

2. Intemperismo, erosão e sedimentação


O intemperismo é um elo importante no ciclo das rochas, estando sua

atuação estritamente relacionada à gênese das rochas sedimentares. Os


processos intempéricos atuando sobre as rochas individualizam uma fase
43

residual que permanece in situ, cobrindo os continentes, e que é formada por

minerais primários inalterados e minerais secundários transformados.


Em períodos de estabilidade tectônica, quando os continentes estão

recobertos por vegetação, essas soluções são lentamente drenadas do perfil


de alteração, indo depositar-se nos compartimentos rebaixados das

paisagens, entre os quais os mais importantes são as bacias de sedimentação


marinhas. Assim, enquanto o continente sofre principalmente erosão química,

que leva ao rebaixamento de sua superfície, nas bacias sedimentares


precipitam-se essencialmente sedimentos químicos, que darão origem às

rochas sedimentares químicas, tais como os calcários.


Mudanças climática e fenômenos tectônicos podem colocar em

desequilíbrio o manto de alteração dos continentes, removendo a vegetação


e tornando-o mais vulnerável à erosão mecânica. Dessa forma, os minerais

primários e secundários formados no perfil serão carregados pelas águas e


depositados nas bacias de sedimentação. Essa etapa de aplainamento dos

continentes dominada pela remoção mecânica dos materiais do manto de


alteração está relacionada à geração das rochas sedimentares clásticas.

Ambientes de intemperismo e ambientes de sedimentação podem ser


vistos, portanto, como complementares, sendo dominantes nos primeiros os

processos de subtração de matéria e, nos últimos, os processos de adição de


matéria.

3. Fatores que controlam a alteração intempérica


Várias características do ambiente em que se processa o intemperismo

influem diretamente nas reações de alteração, no que diz respeito à sua


natureza, velocidade e intensidade. São chamados de fatores de controle de

intemperismo, basicamente representados pelo material parental, clima,


topografia, biosfera e tempo.
44

3.1 Material parental

A alteração intempérica das rochas depende da natureza dos minerais


constituintes, de sua textura e estrutura. Entre os minerais constituintes das

rochas, alguns são mais sucetíveis que outros à alteração. A série de Goldich
(figura 27) representa a sequência normal de estabilidade dos principais

minerais frente ao intemperismo.


Figura 27. Série de Goldich: ordem de estabilidade frente ao intemperismo dos minerais mais comuns.
Comparação com a série de cristalização magmática de Bowen.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

3.2 Clima

O clima é o fator que isoladamente, mais influencia no intemperismo


(figura 28). Mais do que qualquer outro fator, determina o tipo e a velocidade

do intemperismo numa dada região. Os dois mais importantes parâmetros


45

climáticos, precipitação e temperatura regulam a natureza e a velocidade das

reações químicas. Assim, a quantidade de água disponível nos perfis de


alteração, fornecida pelas chuvas, bem como a temperatura, agem no sentido

de acelerar ou retardar as reações do intemperismo, ou ainda modificar a


natureza dos produtos neoformados, segundo a possibilidade de eliminação

de componentes potencialmente solúveis.


Figura 28. O gráfico mostra as variações das
condições de intemperismo em função da
pluviosidade anual e da temperatura média anual.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

3.3 Topografia

A topografia regula a velocidade do escoamento superficial das águas

pluviais (que também depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a


quantidade de água que se infiltra nos perfis, de cuja eficiência depende a

eliminação dos componentes solúveis. As reações químicas do intemperismo


ocorrem mais intensamente nos compartimentos dos relevos onde é possível

uma boa infiltração da água, percolação por tempo suficiente para a


consumação das reações e drenagem para lixiviação dos produtos solúveis.

Com a repetição desse processo, os componentes solúveis são eliminados e o


perfil se aprofunda.
46

3.4 Biosfera

A qualidade da água que promove o intemperismo químico é bastante


influenciada pela ação da biosfera. A matéria orgânica morta no solo

decompõe-se, liberando CO2, cuja concentração nos poros do solo pode ser
até 100 vezes maior que na atmosfera, o que diminui o pH das águas de

infiltração. Em torno das raízes das plantas, o pH é ainda menor, na faixa de 2


a 4, e é mantido enquanto o metabolismo da planta continua (figura 29). Isso

é particularmente importante para o comportamento do alumínio que, sendo


muito pouco solúvel nos meios normais, torna-se bastante solúvel em pH

abaixo de 4.
Figura 29. A concentração hidrogeniônica nas imediações das
raízes das plantas pode ser muito grande (baixo pH), facilitando
trocas iônicas com os grãos minerais.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

3.5 Tempo

O tempo necessário para intemperizar uma determinada rocha


depende dos outros fatores que controlam o intemperismo, principalmente

da suscetibilidade dos constituintes minerais e do clima. Em condições de


intemperismo pouco agressivas, é necessário um tempo mais longo de

exposição às intempéries para haver o desenvolvimento de um perfil de


alteração.
47

SEDIMENTOS E PROCESSOS SEDIMENTARES

Neste capítulo, estudaremos a relação entre os processos sedimentares


e a modelagem da superfície terrestre. Para isso, veremos que cada forma

deposicional corresponde a uma série de processos modeladores que serão


estudados a seguir.

O sedimento pode ser definido como um material passível de se


depositar. O processo de deposição pressupõe movimento, que implica em

algum tipo de transporte. Os tipos de transporte podem ser físicos, onde o


sedimento já começa a existir a partir do transporte, e transporte químico,

onde o sedimento só se forma após da deposição a partir de íons.


Pode-se dizer que, por exemplo, a trajetória típica de um grão começa

em uma serra por onde esse grão passou muitos milhares (ou milhões) de
anos fazendo parte de uma rocha ígnea ou metamórfica. Esse grão, ao ser

exposto a uma gama de processos de desintegração, estudados no capítulo


anterior, desagrega-se da rocha que foi exposta à superfície. A rocha, no

período que o grão fazia parte dela é denominada rocha mãe.


A partir do nascimento do grão, começa o processo de deposição. A
principal força que atua (e motiva o processo de deposição) é a força
gravitacional. Esta força vai “puxando” o grão gradualmente serra abaixo.

Entretanto, é importante não ignorar a existência das forças de empuxo,


responsáveis pela flutuação do grão, no transporte pela água, de fricção

(resultante do atrito entre os grão), de coesão (resultante da atração


eletrostática e eletroquímica superficial entre os grãos), a força ascendente

produzida por turbulência e as forças de ação e reação na interface


grão/fluido.

Essas forças influem no movimento individual dos grãos e também no


movimento coletivo por meio da criação de fluxos viscosos, que tornam o
48

movimento mais lento e, também, quando na ocasião do movimento,

conseguem arrastar partículas mais pesadas.


Essas força podem acarretar em dois tipos de fluxos. O primeiro tipo de

fluxo ocorre quando as partículas individuais tem certo grau de liberdade e é


denominado de transporte de grãos livres. O segundo tipo de fluxo ocorre

quando as forças entre partícula/partícula e partícula/fluido criam uma massa


viscosa, que acarreta em movimento coletivo e é denominado fluxo denso ou

transporte gravitacional.
Após o transporte inicial do grão, seja por torrentes pluviais ou por

força gravitacional, o grão é incorporado à carga de rios e corredeiras da


escarpa. O transporte do grão da serra ao mar corresponde a um período

onde o grão pode ser submetido a alterações químicas (mineralógica) ou


física (texturais), em resposta à ação dos agentes de intemperismo e

transporte.
Observando-se os grãos e sua movimentação de maneira mais

abrangente, podemos dizer que existem três diferentes cenários geográficos


principais maiores: o intemperismo, a erosão, o transporte e a deposição

figura 30.
Figura 30. Cenários da existência de um grão sedimentar, com qualificação relativa das taxas de erosão
(E), intemperismo (I) e deposição (D), tomando como exemplo o caso atual do leste do Paraná.
49

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

A atuação do intemperismo é diretamente proporcional ao tempo de


residência em superfície do grão e da matéria prima geológica em geral.

Assim, o intemperismo é menos atuante em nas partes mais íngremes da


escarpa, onde os processos de remobilização dos produtos de alteração são

acelerados pela intensa ação da gravidade. E é mais atuante no topo da serra


e na planície litorânea, onde o baixo declive favorece a longa manutenção, em

superfície, de solos, depósitos sedimentares e sedimentos em trânsito.


O transporte domina onde cria um saldo negativo de matéria. Trata-se

aí da remobilização sistemática de grãos e partículas, que se pode chamar de


erosão. Relevos muito acidentados e abruptos favorecem curtas distâncias de

transporte, a base de fluxos e torrentes espisódicos e de alta viscosidade, bem


como o soterramento rápido, que reduz o contato dos sedimentos com os

agentes intempéricos. Relevos suaves propiciam transporte contínuo e


prolongado, atuante sobre grãos livres, com longo tempo de ação dos

agentes de intemperismo.
A deposição ocorre preferencialmente em algumas porções da planície

litorânea e em grande parte do oceano, embora possam existir pequenos


depósitos temporários também nas drenagens que descem a escarpa.

Sendo assim, pode-se dizer que nas serras temos a predominância dos
processos de intemperismo, nas escarpas o processos de erosão e na região

do mar o predomínio da deposição. Por isso as serras e escarpas são


denominadas áreas fontes enquanto a região do mar é denominada bacia

sedimentar.
Além do transporte mecânico, não pode ser desprezado o transporte

de íons transportados em solução. Este soluto tem uma origem e uma história
bastante parecida com a dos sedimentos, com a diferença de que seu

transporte é químico, portanto não envolve carreamento de material sólido. O


destino final do soluto é igualmente a bacia sedimentar, onde parte dos íons
50

pode agrupar-se, adquirir a forma de composto sólido e transformar-se assim

em sedimento. A transformação de soluto em sedimento, dentro da bacia


sedimentar, pode ocorrer por pelo menos três modos diferentes: pela

precipitação química, por exemplo um evaporito (sais formados num mar


restrito ou no solo devido à taxa de evaporação maior que a de precipitação);

pela ação direta de organismos vivos, por exemplo em uma carapaça de


molusco ou em recifes de corais; ou pela precipitação química induzida pelo

metabolismo dos seres vivos, por exemplo em um carbonato precipitado


devido à redução de concentração de gás carbônico na água absorvido na

fotossíntese de algas verde-azuis (cianobactérias).


51

DEPÓSITOS E ROCHAS SEDIMENTARES

Anteriormente foram estudados os processo que originam sedimentos


e o transporte desses sedimentos até suas respectivas bacias sedimentares.

Nessa seção terá foco no processo de deposição e seus produtos,


principalmente de formação de rochas sedimentares.

Os depósitos sedimentares podem ser de dois tipos. O primeiro é o de


rochas sedimentares terrígenas oriundas de transporte mecânico. O segundo

é de rochas sedimentares calcárias que são oriundas de transporte químico


que é propiciado em condições de chuvas sazonais (climas secos), climas

quentes e relevo pouco acidentado, típico de baixas latitudes (próximos a


linha do Equador).

A diagênese é o processo de mudança dos sedimento, inclusive para a


formação de rochas sedimentares caracterizada por um conjunto de

processos e por seus respectivos produtos. A importância de cada processo


diagenético varia na dependência do estágio de soterramento e do tipo de

rocha sedimentar, se calcária ou terrígena. Os processos mais conhecidos são:


1. compactação;
2. dissolução;
3. cimentação;

4. recristalização diagenética.
A compactação pode ser mecânica ou química. A compactação química

resulta do efeito de dissolução dos minerais sob pressão e, por isso é tratada
como etapa seguinte.

A dissolução pode ocorrer sem ou com efeito significativo da pressão


de soterramento. A dissolução sem pressão ocorre apenas pelo efeito da

percolação de soluções pós-deposicionais, ainda na diagênese precoce. Os


minerais suscetíveis ao caráter químico da água intersticial (comumente

alcalina) são corroídos ou dissolvidos totalmente.


52

Figura 31. Diagrama esquemático simplificado


das etapas de compactação e cimentação.

A cimentação é a precipitação química de minerais a partir de íons em

solução na água intersticial. Sob esse aspecto, ocorre em conjunto com o


processo da dissolução, através da qual a concentração iônica da água é

gradualmente aumentada.
O termo recristalização diagenética designa a modificação da

mineralogia e textura cristalina de componentes sedimentares pela ação de


soluções intersticiais em condições de soterramento.
53

ROCHAS ÍGNEAS

As rochas ígneas são rochas oriundas da solidificação do magma ou


lava. Essas rochas podem se formar na superfície da Terra ou em seu interior.

Rochas ígneas são de fundamental importância desde os primórdios da


civilização humana. Desde ferramentas de pedra lascada e pedra polida da

pré-história até jazidas minerais de ouro, prata, chumbo, cobre, cromo,


diamantes que são amplamente exploradas na atualidade.

As rochas ígneas se formam a partir da fusão de partes do manto onde


formam plumas mantélicas com diferentes morfologias (figura 32). A fusão é

produto das condições de elevada temperatura e pressão encontradas no


manto. Embora o magma esteja predominantemente no estado líquido, parte

dele encontra-se no estado sólido, quando as condições de temperatura e


pressão estão abaixo da curva liquidus da rocha em questão, e outra parte

encontra-se no estado gasoso, parte composta predominantemente de H2O e


CO2 dissolvido no magma líquido.
Figura 32. Seção esquemática da crosta/manto (astenosfera/litosfera), indicando a localização
dos sítios formadores de magmas nos modelos de Tectônica de Placas.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.

Os fenômenos de erupções que podem ser observados em

determinadas regiões é fruto da ascensão do magma rumo a crosta terrestre


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devido a sua menor densidade em relação as rochas do manto. Ao extravasar

à superfície da crosta terrestre, esse magma é denominado lava.


Rochas ígneas, como previamente mencionado, podem se formar no

interior da Terra, formando rochas ígneas intrusivas (ou plutônicas), ou se


formar a partir da solidificação de magma (lava) que extravasou a superfície

da Terra para formação de rochas ígneas extrusivas (ou vulcânicas). A


disposição de formas de ocorrência de rochas magmáticas são expostas na

figura 33.
Figura 33. Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas (derrame,
sill, dique, batólito, stock, neck vulcânico, diques radiais e lacólito).

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


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ROCHAS METAMÓRFICA

As rochas metamórfica são formadas quando os minerais das rochas


preexistentes são mudados, física e/ou quimicamente, sob influência de

temperaturas e/ou pressões nas quais eles são instáveis. As mudanças que as
rochas e os minerais que as constituem sofrem são denominadas

metamorfismo. Essas condições de mudança geralmente ocorrem em


determinados ambientes geológicos abaixo da superfície da Terra.

O metamorfismo pode ser dividido em alguns tipos dependendo das


variáveis do ambiente onde ocorre. As mudanças dependem de variáveis

como calor, pressão e contato com fluidos que podem (ou não) atuar ao
mesmo tempo. O calor do interior da Terra e do magma (rochas fundidas),

bem como a pressão e fricção, acelera a atividade química. A pressão pode


aumentar por um simples afundamento, mas os movimentos da crosta são

mais efetivos em alterar texturas. A água e o gás asseguram a mobilidade


para mudanças se processarem e podem carrear elementos de um magma

próximo para facilitar as mudanças químicas.


Figura 34. O campo do metamorfismo em diagrama P x T.

Fonte: Teixeira et al (orgs.), 2003.


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De acordo com os fatores envolvidos as rochas metamórficas dividem-

se em três grupos: as rochas formadas por metamorfismo regional, de


deslocamento (ou cinético), e de contato.

O metamorfismo regional resulta do agrupamento profundo das


rochas. É desenvolvido em áreas de muitos milhares de quilômetros

quadrados nas regiões profundas. O processo de metamorfismo se


desenvolve numa faixa de 200 ˚C a 1000 ˚C e em pressões de 100 atm a 10000

atm.
O metamorfismo de deslocamento se refere às mudanças produzidas

por falhamento e dobramento da crosta, usualmente em regiões pouco


profundas.

O metamorfismo de contato engloba os efeitos complexos resultantes


da intrusão de um magma na rocha encaixante, que provoca nela uma

alteração maior ou menor. Reconhecem-se duas espécies de metamorfismo


de contato: termal e hidrotermal.

O termal é decorrente do aquecimento da rocha encaixante pela


intrusão da rocha ígnea. O hidrotermal é quando há contato com soluções

emanadas da rocha ígnea, assim como o calor, reagiram com a rocha


encaixante e formaram os minerais metamórficos de contato. Nesse caso, o

metamorfismo resulta da percolação de soluções quentes ao longo de


fraturas e espaços intergranulares das rochas sendo um importante processo

gerador de depósitos minerais em veios ou filões.

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