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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE RÁDIO ASTRONOMIA E ASTROFÍSICA MACKENZIE - CRAAM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS E APLICAÇÕES GEOESPACIAIS (CAGE)

GASTÓN ALBERTO CONCHA HENRIQUEZ


JOSUÉ GABRIEL ANCA CCOPA
MYRNA YOSHIE KAGOHARA

ANÁLISE DOS EFEITOS IONOSFÉRICOS E GEOMAGNÉTICOS CAUSADOS


PELA REGIÃO ATIVA 12673 (S09W34) EM SETEMBRO DE 2017

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA GEOFÍSICA ESPACIAL, MINISTRADA PELO


CAGE NO 2° SEMESTRE DE 2019 PELOS PROFESSORES
DRA. EMÍLIA CORREIA E DR. JEAN-PIERRE RAULIN.

SÃO PAULO
2019
3

RESUMO

Eventos dinâmicos na superfície do Sol podem afetar a Terra e os sistemas


tecnológicos importantes para a sociedade moderna. Explosões solares intensas
liberam subitamente grandes quantidades de radiação, que podem atingir a Terra em
questão de minutos (por se propagarem à velocidade da luz) e surtir efeitos sobre a
atmosfera – em especial, a ionosfera – caracterizados por tempestades de radiação
solar e blackouts de rádio. Também pode ocorrer emissão de um fluxo de partículas
relativísticas e ejeções de massa coronal, que podem chegar ao nosso planeta após
a radiação.
As partículas carregadas do vento solar interagem com o campo magnético
gerado pelo nosso planeta. Geralmente, essa interação é relativamente moderada,
mas de vez em quando essa perturbação da atmosfera superior terrestre é causada
por ejeções de massa coronal (CMEs) – isto é, grandes erupções superficiais de
plasma magnetizado, sendo este constituído principalmente por partículas de altas
energias (p.e. prótons e elétrons), podendo atingir alguns milhares de elétron-volts.
Essa rajada de matéria solar se move através do meio interplanetário em velocidades
10 e 2000 km/s, de modo que o material mais energético pode chegar à Terra em
aproximadamente 20 horas. Às vezes o Sol emite uma CME e no momento em que
as linhas do campo magnético da Terra e do Sol estão diretamente conectadas
(polaridade magnética sul) e podemos experimentar uma tempestades magnéticas
substanciais. Este material chega perturbando a parte externa do campo magnético
da Terra, gerando correntes elétricas associadas, que por sua vez geram também
variações adicionais no campo magnético – todas elas constituindo uma tempestade
geomagnética.
Neste trabalho, analisamos uma região ativa que, tendo produzido muitas
explosões solares, ejeções de massa coronal e emissões de partículas de alta
energia, causou muitos fenômenos geomagnéticos na Terra: a RA 12763 (S09W34),
que ocorreu no Sol no início de setembro de 2017.

Palavras chave: TEMPESTADE GEOMAGNETICA, IONOSFERA, SOL,


ATIVIDADE SOLAR
4

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO................................................................................. 12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 14
2.1 O Sol ................................................................................................................... 14
2.1.1 Observação do Sol em diversos comprimentos de onda ................................. 15
2.1.2 Atividade solar .................................................................................................. 16
2.1.3 Vento solar ....................................................................................................... 21
2.1.4 Explosões solares ............................................................................................ 24
2.1.5 Ejeção de massa coronal ................................................................................. 26
2.1.6 SEP – Solar Energetic Particles ....................................................................... 28
2.1.7 Emissões associadas a fenômenos solares ..................................................... 29
2.2 A Terra ................................................................................................................ 31
2.2.1 Magnetosfera ................................................................................................... 31
2.2.2 Atmosfera ......................................................................................................... 32
2.2.3 Ionosfera .......................................................................................................... 34
2.3 Clima Espacial..................................................................................................... 35
2.3.1 Tempestade geomagnética .............................................................................. 37
2.3.2 Outros efeitos ................................................................................................... 41
2.4 Técnicas e instrumentos de medição .................................................................. 42
2.4.1 Magnetômetros ................................................................................................ 42
2.4.2 VLF ................................................................................................................... 42
2.4.3 Riômetro ........................................................................................................... 42
2.4.4 Ionossonda ....................................................................................................... 43
2.4.5 GPS .................................................................................................................. 44
2.4.6 Coronógrafo ..................................................................................................... 44
2.4.7 Monitores de nêutrons ...................................................................................... 45
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 46
3.1 Instrumentos........................................................................................................ 48
4 ANÁLISE DA EXPLOSÃO, CME E EFEITOS IONOSFÉRICOS........................... 51
4.1 Tipos de emissão ................................................................................................ 51
4.1.1 Raios X ............................................................................................................. 51
4.1.2 Rádio ................................................................................................................ 54
4.2 Características da CME associada ..................................................................... 58
5

4.3 Meio interplanetário ............................................................................................. 59


4.3.1 Partículas ......................................................................................................... 59
4.3.2 Campos magnéticos ......................................................................................... 60
4.3.3 Ondas de choque ............................................................................................. 61
4.4 Tempestade geomagnética ................................................................................. 62
4.4.1 Índice Kp .......................................................................................................... 63
4.4.2 Índice DST........................................................................................................ 64
4.4.3 Índice AE .......................................................................................................... 64
4.5 Efeitos ionosféricos ............................................................................................. 65
4.6 Outros efeitos associados à RA12673 ................................................................ 72
4.6.1 Reversão do drift da bolha de plasma equatorial (de Paula, et al., 2019) ........ 72
4.6.2 Interferência em sistemas de comunicações e navegação (Berdermann, et al.,
2018) (Yasyukevich, et al., 2018) .............................................................................. 72
4.6.3 Crochê magnético e mudança de fase do sinal VLF ........................................ 73
4.6.4 Ground level enhancement associado à RA12673 – dia 10 de setembro de
2017 (Tassev, Velinov, Tomova, & Mateev, 2017) (Gopalswami, et al., 2018)
(Redmon, Seaton, Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018) (Kurt, Belov, Kudela, &
Yushkov, 2018) ......................................................................................................... 74
4.6.5 Auroras na Finlândia e na Escócia - fotos ........................................................ 76
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 77
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 79
6

LISTA DE ACRÔNIMOS

ACE Advanced Composition Explorer


AE Auroral Index, Índice auroral
CDAW Coordinated Data Analysis Workshop
CIR Corrotating Interaction Region, Região de interação corrotante
CME Coronal Mass Ejection, Ejeção de massa coronal
DST Disturbance Storm Time, Tempo de perturbação da tempestade
EMBRACE Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial
F10.7 Fluxo de emissões de rádio em 10,7 cm
FoF2 Frequência crítica da camada F2 da ionosfera
Geomagnetically Induced Current, Corrente induzida
GIC
geomagneticamente
GLE Ground Level Enhancement
Global Navigation Satellite System, Sistema de navegação global
GNSS
por satélite
GOES Geostationary Operational Environment Satellite
GPS Global Positioning System, Sistema de posicionamento global
HSS High Speed Streams, Correntes de alta velocidade
HSS High Speed Steams, Fluxos de alta velocidade
Interplanetary Coronal Mass Ejection, Ejeção de massa coronal
ICME
interplanetária
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Kp Índice planetário de atividade geomagnética
LASCO Large Angle And Spectrometric Coronagraph
NASA National Aeronautics and Space Administration
NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration
RA Região ativa
Radio Solar Telescope Network, Rede de telescópios solares de
RSTN
rádio
SEP Solar Energetic Particles, Partículas energéticas solares
SIDC Solar Influences Data Analysis Center
SOHO Solar and Heliospheric Observatory
7

SWPC Space Weather Prediction Center


TEC Total Electronic Content, Conteúdo total de elétrons
TRACE Transition Region And Coronal Explorer
UTC Coordinated Universal Time, Hora universal coordenada
VLF Very Low Frequency, Frequência muito baixa
8

LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1: Representação do interior solar com os respectivos valores para raio,
temperatura e densidade. (Priest, 2014) ................................................................... 14
Figura 2-2 – Observação solar nos diversos comprimentos de onda/frequências
(Tegnell, 2016) .......................................................................................................... 15
Figura 2-3 – Fenômenos de clima espacial (NOAA, 2019) ....................................... 16
Figura 2-4 – Exemplo de região ativa no Sol sob dois pontos de vista. (Scharmer &
Löfdahl, 2002), à esqueda, e (NASA/SDO, 2014), à direita. ..................................... 19
Figura 2-5 – Modelo de Babcock (Lang, 2009) ......................................................... 20
Figura 2-6 – Classificação de manchas solares segundo o sistema Zürich-McIntosh
.................................................................................................................................. 21
Figura 2-7 – Lâminas de corrente seguindo o campo magnético do Sol (Smith,
2001). ........................................................................................................................ 22
Figura 2-8 – Efeito ’bailarina’ do campo magnético do Sol (Jokipii) .......................... 23
Figura 2-9 – Distribuição de velocidades do vento solar em mínimo (esquerda) e
máximo (direita) de atividade solar (Lang, 2009) ...................................................... 23
Figura 2-10 – Relação entre a estrutura magnética da cromosfera e o vento solar em
um máximo de atividade solar (SOHO, 2005) ........................................................... 24
Figura 2-11 – Fluxos de partículas de escape descendentes, SEPs e ejeção de
massa coronal associadas a uma explosão solar (Liu, Petrosian, Dennis, & Jiang,
2008) ......................................................................................................................... 25
Figura 2-12 – Formação de uma ejeção de massa coronal na reconexão das linhas
de campo magnético de uma região ativa (Masson, Antiochos, & DeVore, 2013) .... 26
Figura 2-13 - Interação entre o vento solar e a CME (Vallée, 1998). ........................ 27
Figura 2-14 – CME normal e seus componentes. (U.S. Naval Research Laboratory,
s.d.) – com legendas dos autores ............................................................................. 28
Figura 2-15 – Emissões radiativas e linhas de campo magnético em uma região ativa
com CME associada (Youngblood, et al., 2019) ....................................................... 31
Figura 2-16 – A Magnetosfera terrestre (Space Weather Prediction Center) ............ 31
Figura 2-17 – Elementos da Magnetosfera terrestre. (Crochot, 2014) ...................... 32
Figura 2-18 – Alturas (km), temperaturas (K e °C), pressão (hPa) e densidade
(kg/m3) das camadas da atmosfera terrestre (Scott, 2016) ....................................... 33
Figura 2-19 – Camadas da atmosfera terrestre e a ionosfera (NASA, 2013) ............ 34
9

Figura 2-20 – Observações de eventos solares e possíveis alertas (Redmon, Seaton,


Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018) ........................................................................ 36
Figura 2-21 – À esquerda, aurora austral em setembro de 2005 (NASA, National
Aeronautics and Space Administration, 2006). À direita, aurora boreal em abril de
2016 vista da ISS (Northern Lights Photos: The Amazing Auroras of 2016, 2016) ... 40
Figura 2-22 – Representação esquemática da linha de campo “mangueira de jardim”
conectando o Sol e a Terra (Ground Level Enhancements, 1997) ............................ 41
Figura 2-23 – Gráfico típico de um riômetro. (HAARP, 2007) ................................... 43
Figura 2-24 – Ionograma (Reinisch, Galkin, Khmyrov, Kozlov, & Kitrosser, 2004).... 43
Figura 2-25 – Observação de raios cósmicos com detectores de partículas de
superfície (Bieber, 2010) ........................................................................................... 45
Figura 3-1 – Evolução temporal da região 12673 no espectro visível, de dois dias
antes do pico (04/09) até um dia após o pico (07/09). (Dublin Institute for Advanced
Studies & Northumbria University Newcastle, s.d.) ................................................... 47
Figura 3-2 – Magnetograma da região ativa 12673. (Solar Terrestrial Activity Report,
s.d.) e (NASA, s.d.). .................................................................................................. 48
Figura 3-3 – Tipo de emissão em rádio de acordo com o índice espectral. (Dulk,
1985) ......................................................................................................................... 49
Figura 4-1 – Região ativa 12673, em 6 de setembro de 2017, em 174 Å e raios X
(Dublin Institute for Advanced Studies & Northumbria University Newcastle, s.d.) ... 51
Figura 4-2 – Dados de raios X do GOES-13. (EMBRACE, s.d.) ............................... 52
Figura 4-3 – Fluxo em raios X em função do tempo. (UCB, s.d.) .............................. 53
Figura 4-4 – Imagem da fotosfera superior do Sol mostrando as estruturas
magnéticas escuras e brilhantes responsáveis pelas variações na radiação solar
total. (Foukal) ............................................................................................................ 54
Figura 4-5 – Parte superior: fluxo de diferentes frequências em relação ao tempo de
emissão. Parte inferior: evolução da área das manchas. Nota-se uma relação entre o
aumento do fluxo e o aumento da área das manchas. (Elaborada pelos autores).... 55
Figura 4-6 – Fluxo solar em diferentes frequências, em função do horário da
emissão. (Elaborada pelos autores) .......................................................................... 56
Figura 4-7 – Espectro de frequências para diferentes momentos da explosão da
região AR12673. (Elaborada pelos autores) ............................................................. 57
Figura 4-8 – CME associada à explosão solar em estudo (Robbrecht, Bourgoignie, &
ESA, s.d.) .................................................................................................................. 58
10

Figura 4-9 - Contagem de prótons e elétrons no meio interplanetário verificado pelo


GOES-13. Lado esquerdo: prótons. lado direito: elétrons. (SWPC, s.d.) .................. 59
Figura 4-10 – Variação do campo magnético do meio interplanetário devido a
passagem da CME da nossa análise. O gráfico foi gerado diretamente na base de
dados dos magnetômetros da Wind Magnetic Field Investigation (MFI). (NASA, s.d.)
.................................................................................................................................. 60
Figura 4-11 – Parâmetros da onda de choque causada pela propagação da CME
analisada. (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, s.d.) ............................... 61
Figura 4-12 - Índices geomagnéticos, DST, AE, Kp, as linhas coloridas indicam os
tempos onde ocorrem as mudanças mais importantes do campo magnético.
(Elaborada pelos autores.) ........................................................................................ 63
Figura 4-13 – Outros índices para análise da tempestade geomagnética. (Elaborada
pelos autores)............................................................................................................ 65
Figura 4-14 – Variação das camadas da atmosfera devido à tempestade de radiação
(EMBRACE, s.d.) ...................................................................................................... 66
Figura 4-15 - Dados da ionossonda digital de Cachoeira Paulista (EMBRACE, s.d.)
.................................................................................................................................. 67
Figura 4-16 – Dados do VTEC em várias estações (EMBRACE, s.d.) ...................... 68
Figura 4-17 – Dados da ionossonda digital de Cachoeira Paulosta referentes á
tempestade geomagnética de 8 de setembro de 2017 (EMBRACE, s.d.) ................. 69
Figura 4-18 – Dados da ionossonda digital de Campo Grande, para o dia 8 de
setembro de 2017. (EMBRACE, s.d.) ........................................................................ 70
Figura 4-19 – Dados da ionossonda digital de Fortaleza, para o dia 8 de setembro de
2017. (EMBRACE, s.d.) ............................................................................................ 71
Figura 4-20 – Posição da parte do planeta iluminada pelo Sol ................................. 73
Figura 4-21 – Mudança de fase do sinal de rádio recebido no Observatório de
Mikhnevo de três transmissores VLF: ICV, JXN e GBZ. ........................................... 74
Figura 4-22 – Dados do GLE 72 (Oulu University, s.d.) ............................................ 75
Figura 4-23 – Auroras (Kast) (BBC, 2017) ................................................................ 76
11

LISTA DE TABELAS

Tabela 2-1 – Regiões espectrais e faixa de temperatura das observações do TRACE


.................................................................................................................................. 16
Tabela 2-2 – Classificação magnética de manchas solares, segundo Hale .............. 21
Tabela 2-3 – Parâmetros médios do vento solar medidos nos satélites Helios 1 e 2
entre dezembro de 1974 e dezembro de 1976 normalizados para a distância da
órbita terrestre (1 UA) (Lang, 2009). ......................................................................... 23
Tabela 2-4 – Classificação em raios X de explosões solares e seus efeitos na Terra
.................................................................................................................................. 25
Tabela 2-5 – Tipos de emissões rádio solares .......................................................... 30
Tabela 2-6 – Escalas de Clima Espacial da NOAA ................................................... 36
Tabela 3-1 – Eventos solares em 06 de setembro de 2017. ..................................... 46
Tabela 3-2 – Eventos de 06 de setembro de 2017 .................................................... 47
Tabela 4-1 – As características da CME da nossa análise (Robbrecht, Bourgoignie,
& ESA, s.d.) ............................................................................................................... 58
12

1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO

O Sol, estrela ao redor da qual a Terra orbita, é de classe G2V, cuja fonte de
energia é a síntese de He a partir de H. Essa energia é emitida constantemente, na
forma de radiação em todo o espectro eletromagnético. O Sol também emite matéria.
Além de uma emissão de radiação de nível de base, emissões rápidas e intensas de
radiação e matéria podem ocorrer de forma esporádica em eventos de atividade solar,
como explosões solares e ejeção de massa coronal (CME). Em condições específicas,
isso pode atingir o nosso planeta e ter efeitos eletromagnéticos sobre ele, por exemplo
interferência em telecomunicações, erros na informação de posicionamento de
sistemas GNSS e arrasto extra sobre os satélites.
A Terra possui um campo magnético que é gerado no núcleo planetário e tem
linhas de campo que circulam do polo Sul ao polo Norte, de forma semelhante ao que
ocorre em um ímã. Isso nos oferece proteção adicional contra clima espacial,
especialmente no tocante a fenômenos relacionados com a atividade solar. que
constantemente nos envia partículas de alta energia. Em alguns casos, contudo,
podem ser provocadas variações abruptas da intensidade desse campo, como
tempestades geomagnéticas.
As tempestades geomagnéticas são causadas pela interação com reconexão
dos campos magnéticos provenientes do vento solar, da chegada de uma ICME,
nuvens magnéticas ou CIR´s (regiões de interação corrotantes, devidas aos ventos
solares provenientes de buracos coronais). A partir dessas reconexões, o campo
magnético é reduzido, elétrons do vento solar espiralam pelas linhas de campo
magnético e produzem correntes de anel e auroras nos polos. Há uma forte
precipitação de partículas energéticas na ionosfera, podendo adicionar energia na
forma de calor, aumentar e mudar a distribuição de densidade na atmosfera superior
e criar perigosas correntes induzidas geomagnéticas (GIC, Geomagnetically Induced
Currents) na rede de energia e gasodutos. Conhecer as tempestades geomagnéticas
desde sua causa no Sol até seus efeitos na Terra tem, portanto, grande relevância.
Este trabalho é uma revisão e complementação do trabalho “Análise do
evento solar de classe X9.3 e CME associada do dia 6 de setembro de 2017 devido à
região ativa 12673 (S09W34)”, por Geisa Ponte, Josué Gabriel Anca CCopa e
Raphael Malagoli, a fim de compor um estudo mais detalhado dessa região ativa, com
ênfase na tempestade geomagnética ocorrida em 8 de setembro de 2017 e outros
13

distúrbios ionosféricos e superficiais decorrentes da intensa atividade solar no


período.
14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O Sol

O Sol pode ser entendido como uma esfera de plasma ionizado, formado
principalmente por hidrogênio e hélio (99,9% em número de átomos). (Priest, 2014)
Assim como todas as estrelas situadas na sequência principal, o Sol possui sua
estrutura globalmente estável ao longo de escalas de tempo da ordem de bilhões de
anos. O interior do Sol pode ser estudado através da heliossismologia e, com isso,
demonstrou-se a existência de três principais regiões: (1) O Núcleo, responsável por
toda a produção de energia do Sol através de reações de fusão nuclear e que, através
da pressão de radiação emitida por estas reações, contrabalanceia a força
gravitacional, mantendo a estrela em equilíbrio hidrostático; (2) a Zona Radiativa, por
onde toda a radiação emitida pelo núcleo é absorvida e reemitida incalculáveis vezes;
e (3) a Zona Convectiva, onde a transferência de energia se caracteriza por
mecanismos de convecção do plasma. A Figura 2-1 ilustra a estrutura do Sol.

Figura 2-1: Representação do interior solar com os respectivos valores para raio, temperatura e densidade.
(Priest, 2014)

Mais externamente, tem-se a atmosfera solar, região da qual escapam fótons


diretamente para o espaço. Ela é composta por três camadas: Fotosfera, Cromosfera
e Coroa. A Fotosfera, que compreende uma região densa e opaca quando comparada
15

às outras duas partes, emite a maior parte da radiação solar. A Cromosfera, região
compreendida entre a Fotosfera e a Coroa, é opticamente fina para o ultravioleta
próximo, visível e infravermelho próximo, apresenta densidade menor que a Fotosfera
e temperaturas da mesma ordem de grandeza. E, por fim, a Coroa solar, que se
estende da região de transição com a Cromosfera até os limites do vento solar. Possui
densidades inferiores às outras duas regiões, porém sua temperatura pode variar até
milhões de Kelvin, quando aquecida pela alta atividade magnética do sol.
Essa atividade magnética tem origem no dínamo solar, que pode operar na
Zona Convectiva e em uma fina camada em sua base, chamada Tacoclina, que faz a
interface com a Zona Radiativa. A Seção “O campo magnético solar e a Tacoclina”
descreve sucintamente a explicação mais aceita para a geração do magnetismo solar.

2.1.1 Observação do Sol em diversos comprimentos de onda


O Sol emite radiação em todo o espectro eletromagnético. Com o uso de
detectores específicos para cada comprimento de onda, pode-se obter dados sobre
as diversas camadas observáveis do Sol: quanto menor o comprimento de onda rádio,
mais profunda a camada do Sol observada, até o limite da fotosfera (da ordem de
THz). Abaixo disso, o Sol é opaco à observação. A Figura 2-2 mostra as camadas e
respectivos comprimentos de onda e frequências rádio de observação.

Figura 2-2 – Observação solar nos diversos comprimentos de onda/frequências (Tegnell, 2016)
16

Com o uso de instrumentação de alta precisão, como o TRACE, é possível


observar em detalhes áreas do Sol menores do que o disco solar. A Tabela 2-1 mostra
os comprimentos de onda de observação desse instrumento.
Tabela 2-1 – Regiões espectrais e faixa de temperatura das observações do TRACE

 central Íon Região da Temp. (K) Faixa de


(nm) atmosfera solar temperatura (K)
250 Contínuo Fotosfera 5.000 4.000 a 6.300
170 Contínuo Tmin/Cromosfera 6.300 4.000 a 10.000
160 C I, Fe II, C IV Tmin/Cromosfera 6.300 4.000 a 250.000
155 C IV Região de transição 126.000 63.000 a 250.000
121,6 H Ly  Cromosfera 16.000 10.000 a 32.000
28,4 Fe XV Coroa 2.000.000 1.000.000 a 5.000.000
19,5 Fe XII Coroa 1.259.000 100.000 a 2.500.000
17,1 Fe IX/X Coroa 795.000 200.000 a 2.000.000

2.1.2 Atividade solar

Figura 2-3 – Fenômenos de clima espacial (NOAA, 2019)

A Figura 2-3 ilustra de forma geral o Clima Espacial, que compreende as


variações no ambiente espacial entre o Sol e a Terra e, em particular, os fenômenos
que têm impacto sobre os sistemas e tecnologias na Terra e em sua órbita. Tais
fenômenos podem ocorrer em qualquer lugar entre as superfícies solar e terrestre.
Quando uma tempestade solar parte do Sol, ela passa pela coroa e vai para o vento
solar. Ao atingir a Terra, ela energiza a magnetosfera terrestre e acelera elétrons e
íons ao longo das linhas do campo magnético terrestre, onde colidem com a atmosfera
e a ionosfera, especialmente em altas latitudes. Cada componente do clima espacial
17

tem impacto sobre uma tecnologia diferente. Os componentes do lado terrestre são
descritos no item 2.3 em diante e a atividade solar é descrita a seguir.
Atividade solar
No lado solar, observamos a atividade na atmosfera, a parte que nos é visível.
A energia associada a ela vem do campo magnético e é bem menor do que a energia
nuclear gerada no interior do Sol. Observa-se a existência de diferentes escalas de
tempo:
• 22 anos – ciclo do campo magnético global do Sol
• 11 anos – ciclo do número de manchas solares
• Semanas – vida das manchas solares
• Segundos a horas – duração de explosões

O campo magnético solar e a Tacoclina (Silva, 2006)


Conforme mencionado na Seção 2.1, a Tacoclina é uma camada muito fina
do Sol que fica no limite entre as rotações uniforme e diferencial, onde existe um
cisalhamento rotacional grande. Na grande maioria dos modelos de dínamo, um
campo magnético poloidal é gerado na zona convectiva e um campo toroidal é gerado
na Tacoclina, e ambos trabalham juntos para gerar o ciclo magnético solar.
De acordo com estudos de heliossismologia, a Tacoclina fica a
aproximadamente 0,693  0,003 raio solar na proximidade do equador, imediatamente
abaixo da zona convectiva. Em latitudes solares mais altas, a Tacoclina “sobe” e
atinge 0,717  0,003 raio solar em 60°. A base da zona convectiva não apresenta
nenhuma variação significativa com a latitude.
Segundo teorias modernas, campos magnéticos de cerca de 100.000 G são
gerados pela ação do dínamo na Tacoclina. Tubos de campo magnético flutuantes
sobem pela zona convectiva e emergem na fotosfera nas regiões ativas, onde formam
manchas solares com campos da ordem de 1000 G e laços coronais sobrepostos com
campos da ordem de 10 a 100 G.
A rotação diferencial enrola as linhas do campo magnético, que está
congelado no plasma, movendo-se com ele. Assim, quando uma região com
concentração de plasma magnetizado se desmancha sob a tensão, a concentração
das linhas de campo também se desfaz. Ainda por conta desse efeito de
congelamento do campo no plasma, ocorre circulação do campo meridionalmente nos
18

polos. Um contrafluxo meridional profundo no Sol muito provavelmente rege a


migração das manchas solares em direção ao equador.
A teoria de modelos de dínamo e dinâmica de grande escala da zona
convectiva turbulenta é muito complicada e objeto de trabalho de especialistas em
fluidodinâmica e magneto-hidrodinâmica. Os modelos atuais são do tipo transporte de
fluxo, que envolvem três processos básicos:
• Geração de campos toroidais pelo cisalhamento de campos poloidais
preexistentes pela rotação diferencial, no chamado efeito ômega;
• Regeneração dos campos poloidais pela elevação e torção dos tubos
de fluxo toroidais, no chamado efeito alfa,
• Circulação meridional.
Regiões ativas, manchas e ciclo solar
Uma região ativa do Sol é uma área onde o campo magnético é
particularmente intenso. A atividade magnética proporciona uma série de fenômenos
observáveis na superfície solar. Dentre eles, as manchas solares merecem atenção
especial, pois são fortes indicativos visuais da presença de campos magnéticos
intensos (Hale, 1908), sendo monitoradas sistematicamente desde o século XVII. O
nascimento de uma região ativa é geralmente anunciado pelo aparecimento de áreas
brilhantes na fotosfera e na cromosfera antes de qualquer mancha se tornar visível.
Manchas solares aparecem em uma ampla variedade de formas. A área mais
escura de uma mancha solar (também a primeira a ser observada) é chamada de
umbra. Essas regiões têm uma temperatura aproximada de 4000 K, enquanto a
fotosfera ao seu redor possui tipicamente 5772 K (Prša, et al., 2016). Por conta desse
contraste em temperatura, as umbras das manchas parecem ser "escuras" no visível
em comparação com a fotosfera solar. Vemos na Figura 2-4 uma imagem de região
ativa com detalhes de algumas manchas na fotosfera (à esquerda) e arcos coronais
associados mostrados em ultravioleta (UV, à direita).
19

Figura 2-4 – Exemplo de região ativa no Sol sob dois pontos de vista. (Scharmer & Löfdahl, 2002), à esqueda, e
(NASA/SDO, 2014), à direita.

À medida que a mancha solar amadurece (torna-se mais intensa), uma área
menos escura e periférica de estrutura bem definida semelhantes a fibras se
desenvolvem ao redor da umbra - chamada penumbra. As manchas solares podem
crescer de um ponto unipolar individual para grupos de pontos bipolares mais
organizados; ou até mesmo evoluir para grupos de manchas solares imensas e muito
complexas com polaridades magnéticas mistas em todo o grupo. Os maiores grupos
de manchas solares podem cobrir grandes áreas da superfície do Sol e ter muitas
vezes o tamanho da Terra.
Observa-se que existe um ciclo solar de surgimento e desaparecimento
destas manchas em um período médio de 11 anos. As manchas solares podem mudar
continuamente e podem durar apenas algumas horas a dias ou até meses para os
grupos maiores. O pico da atividade das manchas solares é conhecido como máximo
solar e a período calmo é conhecido como mínimo solar. Os ciclos solares começaram
a receber números consecutivos desde 1755 e neste momento (em 2019) estamos na
transição entre os ciclos 24, que começou em dezembro de 2008, e 25, com as
primeiras manchas já tendo aparecido próximas às regiões de 30-35 graus de latitude.
Sabemos que as novas manchas são do ciclo seguinte por conta da inversão da
polaridade magnética (regra de polaridade de Hale).
20

Figura 2-5 – Modelo de Babcock (Lang, 2009)

Um ciclo solar começa no mínimo de atividade, com o campo magnético do


Sol com configuração bipolar de sul a norte (polo a polo). Como ilustrado na Figura
2-5, o Sol gira mais rápido no equador e mais lentamente nos polos, ou seja, tem
rotação diferencial. Nela, ocorre cisalhamento dos gases eletricamente condutores do
interior solar e os campos magnéticos arrastados e congelados no gás são esticados
e comprimidos. As linhas de campo magnético são enroladas, agrupadas e
amplificadas à medida que são emaranhadas dentro do globo solar. Ao final, torna-se
forte o bastante para subir à superfície e romper-se através dela em faixas de regiões
ativas com seus pares de manchas bipolares.
No mínimo solar, quando as regiões ativas, em grande parte, se
desintegraram, submergiram ou se aniquilaram mutuamente, o transporte contínuo
dos detritos delas em direção aos polos pode formar um dipolo global. Como o campo
polar é criado a partir da polaridade do decaimento de regiões ativas, elas invertem a
polaridade bipolar global no mínimo solar, então os polos norte e sul são invertidos. O
magnetismo interno se reajustou a uma forma poloidal e o ciclo magnético recomeça.
As previsões de explosões solares dependem também das observações de
manchas solares, que são classificadas de acordo com suas características
magnéticas (sistema de classificação Hale, Tabela 2-2) e visíveis (sistema de
classificação Zürich-McIntosh, Figura 2-6).
21

Tabela 2-2 – Classificação magnética de manchas solares, segundo Hale

Classe Hale Características


 Grupo unipolar de manchas solares
 Grupo bipolar de manchas com divisão simples entre as polaridades
 Região complexa com polaridades positiva e negativa com distribuição irregular
complexa (perde caráter bipolar)
- Grupo bipolar; complexo ao ponto de não ser possível traçar uma linha entre as
manchas de polaridades opostas
 Umbras de polaridades opostas dentro de uma penumbra única
- Grupo; configuração de campo magnético ; uma ou mais manchas 
-- Grupo; configuração de campo magnético -; uma ou mais manchas 
- Grupo; configuração de campo magnético ; uma ou mais manchas 

Figura 2-6 – Classificação de manchas solares segundo o sistema Zürich-McIntosh

As regiões ativas estão associadas à atividade solar na forma de explosões


solares e ejeções de massa coronal (CME), que veremos em mais detalhes adiante.

2.1.3 Vento solar


Diferentes regiões do Sol produzem vento solar com distintas velocidades e
densidades, fluindo continuamente para fora do Sol. O campo magnético solar carrega
este plasma e flui junto com o vento solar.
O vento solar de alta velocidade, variando de 500 a 800 quilômetros por
segundo é produzido nos buracos coronais. Os polos norte e sul do Sol têm grandes
22

buracos coronais persistentes, de modo que altas latitudes são preenchidas com
ventos solares rápidos. No plano equatorial, onde a Terra e os outros planetas orbitam,
o estado mais comum do vento solar é o vento de baixa velocidade, com cerca de 400
km/s. Esta porção do vento solar forma a "lâmina de corrente equatorial" (Figura 2-7).
A Tabela 2-3 resume as propriedades deles.
Durante períodos de calma, a lâmina de corrente pode ser quase plana. À
medida que a atividade solar aumenta, a superfície solar se enche de regiões ativas,
buracos coronais e outras estruturas complexas, que modificam o vento solar e a
lâmina de corrente. Como o Sol gira, em média, a cada 27 dias, o vento solar torna-
se uma espiral complexa de altas e baixas velocidades e altas e baixas densidades
que se parece com a saia de uma bailarina girando (Figura 2-8). Quando o vento solar
de alta velocidade ultrapassa o vento de baixa velocidade, cria-se algo conhecido
como uma região de interação corrotante. Estas regiões de interação consistem em
vento solar com densidades muito altas e campos magnéticos fortes.
Acima da lâmina de corrente, o vento solar de velocidade mais alta
normalmente tem uma polaridade magnética dominante em uma direção e abaixo da
lâmina de corrente, a polaridade está na direção oposta. À medida que a Terra se
move através dessa saia de bailarina, por vezes entra dentro da lâmina de corrente
heliosférica, por vezes passa acima dela e por vezes abaixo dela. Quando o campo
magnético do vento solar muda de polaridade, é uma forte indicação de que a Terra
cruzou a lâmina. A localização da Terra em relação à lâmina de corrente é importante
porque os impactos do clima espacial são altamente dependentes da velocidade do
vento solar, da densidade do vento solar e da direção do campo magnético embutido
no vento solar.

Figura 2-7 – Lâminas de corrente seguindo o campo magnético do Sol (Smith, 2001).
23

Figura 2-8 – Efeito ’bailarina’ do campo magnético do Sol (Jokipii)

Tabela 2-3 – Parâmetros médios do vento solar medidos nos satélites Helios 1 e 2 entre dezembro de 1974 e
dezembro de 1976 normalizados para a distância da órbita terrestre (1 UA) (Lang, 2009).

Parâmetro Vento rápido Vento lento


Fonte Buracos coronais Jatos equatoriais
Composição, temperatura e densidade Uniforme Altamente variável
Densidade de prótons, Np 3 x 106 m-3 10,7 x 106 cm-3
Velocidade dos prótons, Vp 667 km/s 348 km/s
Fluxo de prótons, Fp = NpVp 1,99 x 1012 m-2 s-1 3,66 x 1012 m-2 s-1
Temperatura dos prótons, Tp 280.000 K 55.000 K
Temperatura dos elétrons, Te 130.000 K 190.000 K
Temperatura do hélio, T 730.000 K 170.000 K
Abundância de He em relação aos prótons 0,036, constante 0,025, muito variável

Figura 2-9 – Distribuição de velocidades do vento solar em mínimo (esquerda) e máximo (direita) de atividade
solar (Lang, 2009)
24

Figura 2-10 – Relação entre a estrutura magnética da cromosfera e o vento solar em um máximo de atividade
solar (SOHO, 2005)

Cada um dos elementos mencionados acima desempenham um papel no


clima espacial. Os ventos de alta velocidade provocam tempestades geomagnéticas
enquanto ventos de baixa velocidade permitem um clima espacial calmo. Regiões de
interação de corrotação e, em menor grau, os cruzamentos das lâminas de corrente,
podem causar perturbações geomagnéticas. Assim, especificar e prever o vento solar
é fundamental para o desenvolvimento de previsões do clima espacial e seus
impactos na Terra.

2.1.4 Explosões solares


Trata-se das mais potentes explosões no Sistema Solar (Lang, 2009). Elas
ocorrem na coroa solar, acima das regiões ativas, devido à reconexão das linhas de
campo magnético, São repentinas e breves, emitem muita radiação eletromagnética
– e eventualmente, partículas – e duram em média de menos de 10 min, aumentando
a temperatura de uma região relativamente pequena da coroa a temperaturas de até
50 x 106 K.
Em raios X e UV extremo, seu brilho supera o do disco solar. Em luz branca,
podem ser observadas próximo à linha vermelha do H, transição Balmer alfa em
656,3 nm. A energia liberada é da ordem de 1025 J em 100 a 1000 s e equivale à
explosão simultânea de 20 milhões de bombas nucleares. Grande parte dessa energia
causa a aceleração de elétrons e íons até altas velocidades, da ordem de grandeza
25

da velocidade da luz. Elas causam aumento da emissão de radiação em rádio, raios


X moles, raios X duros e raios gama.
A Figura 2-11 mostra um modelo de explosão solar. Nele, são ilustrados
fenômenos associados a ela: reconexão magnética, emissão de SEP (Solar Energetic
Particles, descrita no item 2.1.6) e precipitação de partículas de escape na
cromosfera.

Figura 2-11 – Fluxos de partículas de escape descendentes, SEPs e ejeção de massa coronal associadas a uma
explosão solar (Liu, Petrosian, Dennis, & Jiang, 2008)

As explosões solares são classificadas de acordo com a potência em raios X


moles medida em satélites GOES, de acordo com a Tabela 2-4.
Tabela 2-4 – Classificação em raios X de explosões solares e seus efeitos na Terra

Classe Pico de fluxo de Efeitos na Terra


raios X moles (W/m2)
A menos de 10-7 Pouco perceptíveis
B 10-7 a 10-6 Pouco perceptíveis
C 10-6 a 10-5 Pouco perceptíveis
M 10-5 a 10-4 Blackouts de rádio breves e tempestades de radiação
menores
X maior que 10-4 Tempestades geomagnéticas intensas; blackouts de
rádio de longa duração em todo o planeta.
26

A ocorrência de explosões solares varia de acordo com o ciclo de atividade


solar de 11 anos: quanto maior a complexidade das linhas de campo magnético solar,
mais frequentes são as reconexões de campo magnético e, portanto, maiores as
chances de ocorrência de explosões.

2.1.5 Ejeção de massa coronal


Uma ejeção de massa coronal (CME, da sua sigla em inglês) é uma bolha de
plasma com campo magnético que sai do Sol e se desloca pelo meio interplanetário.
Quando as CMEs ocorrem associadas a filamentos ou proeminências eruptivas de
H, são emitidas a baixa velocidade (aproximadamente 500 km/s) e chamadas
graduais. Associadas a explosões solares, são chamadas impulsivas, com
velocidades que podem atingir 2.000 km/s. A Figura 2-12 mostra a formação de uma
CME associada a uma explosão solar.

Figura 2-12 – Formação de uma ejeção de massa coronal na reconexão das linhas de campo magnético de uma
região ativa (Masson, Antiochos, & DeVore, 2013)

As CME´s podem ser ejetadas em diversas direções a partir do Sol. Em


particular, quando ocorrem no lado oeste do Sol, elas têm mais chances de atingir a
Terra (Figura 2-13). Quando está voltada frontalmente para a Terra, pode assumir a
configuração tipo halo e, nesse caso, se o seu campo magnético tiver orientação
oposta ao campo magnético terrestre, haverá reconexão dos campos magnéticos e
27

entrada de grandes quantidades de partículas energéticas na nossa atmosfera,


gerando tempestades geomagnéticas.

Figura 2-13 - Interação entre o vento solar e a CME (Vallée, 1998).

CMEs demoram de 1 a 4 dias para chegar à Terra e, quando chegam, têm


milhões de km de extensão e podem ter efeitos danosos sobre sistemas de
telecomunicações, redes de energia e geolocalização, por exemplo. A massa de uma
CME pode variar de 1011 a 1013 kg, podendo ser composta de várias partículas
(elétrons, prótons e íons). Essas bolhas de plasma solar podem ter em média uma
energia que varia de 1028 a 1030 erg.
A forma como é lançada no espaço também pode servir de classificação
(classificação morfológica), podendo ser normal, se for formada de um arco fechado,
ou do tipo jato. No tipo normal, a CME pode se dividir em três partes: núcleo, cavidade
escura e arco frontal (Figura 2-14).
28

Arco Frontal

Núcleo

N
Cavidade
escura

Figura 2-14 – CME normal e seus componentes. (U.S. Naval Research Laboratory, s.d.) – com legendas dos
autores

Se a CME for do tipo jato, será estreita e não terá esses componentes.
Segundo a literatura, a largura angular de uma CME varia de 2° a 360°, e quando uma
CME atinge uma largura de 360° é conhecida Full Halo. Dentro dessa análise ainda
pode ser classificada em: halo I (da < 90°), halo II (90° < da < 180°), halo III (180° <
da < 270°), e halo IV (270° < da < 360°).
A partir do momento que se deslocam pelo espaço interplanetário, passam a
ser denominadas ICME (Interplanetary CME) e ainda apresentam uma estrutura
magnética que pode acelerar as partículas que carrega consigo, bem como em sua
frente de choque, que ao colidir com as partículas do meio interplanetário podem gerar
energia e radiação. Se essa estrutura chegar e interagir com o campo magnético
terrestre, será responsável pela formação da tempestade geomagnética.

2.1.6 SEP – Solar Energetic Particles


Durante a ocorrência de explosões solares e ejeções de massa coronal, pode
haver emissão de partículas (prótons e elétrons) com velocidades relativísticas que
atravessam o plasma espacial mais rapidamente do que outras, podendo chegar à
Terra apenas em uma hora após a ocorrência do evento. Quando essas partículas
são prótons costuma-se dar nome de SEP. Elas podem fornecer indícios de como
ocorreu o processo de produção e aceleração das partículas de alta energia em
eventos solares, além de serem potencialmente perigosas para astronautas em
missões no espaço e passageiros que estiverem expostos a voos em aeronaves que
trafeguem a altas altitudes em regiões de alta latitude, causarem danos físicos e
29

problemas operacionais em satélites, bem como causar distúrbios na transmissão de


dados ou comunicação em altas frequências (Berdermann, et al., 2018) (Redmon,
Seaton, Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018). Uma forma de prever a chegada de uma
SEP é usar a detecção de elétrons de alta energia nos instrumentos dos satélites, tais
como o SOHO.

2.1.7 Emissões associadas a fenômenos solares


O monitoramento da atividade solar na faixa rádio constitui uma excelente
fonte de informações na análise de uma explosão solar, útil para a compreensão dos
processos físicos envolvidos no evento, na sua evolução temporal e na sua
localização espacial. Os principais mecanismos de emissão rádio de eventos solares
são:
• Emissão por giro-ressonância: Emissão por elétrons não-relativísticos
aprisionados nas linhas de campo dos arcos magnéticos. As frequências
emitidas correspondem aos primeiros harmônicos de giro frequência.
• Emissão giro-sincrotrônica: Emissão por elétrons ligeiramente relativísticos
aprisionados nas linhas de campo, cujas frequências emitidas correspondem
a harmônicos de ordem 10-100 da giro-frequência.
• Emissão por bremsstrahlung: Emissão por desaceleração de elétrons ao
defletir num campo coulombiano de íons.
• Emissão de plasma: Emissão produzida por elétrons energéticos nos
primeiros harmônicos da frequência de plasma (νp= 9000 x n1/2). Surge pela
interação devida às oscilações na densidade eletrônica do plasma com as
oscilações nos íons (ondas longitudinais). Dessa interação podem surgir
ondas transversais (eletromagnéticas) na frequência do plasma ou próxima a
ela.
Numa ejeção de massa coronal (CME), são produzidas ondas de rádio
basicamente por emissão bremsstrahlung térmica, giro-sincrotrônica não térmica e
plasma não térmico. Em uma explosão solar, as emissões são geradas em diferentes
partes da estrutura magnética, conforme mostrado na Figura 2-15.
As emissões rádio solares são classificadas de acordo com a Tabela 2-5.
30

Tabela 2-5 – Tipos de emissões rádio solares

Emissões Características
Tipo I Fontes de emissão rádio de longa duração (horas a dias) com temperaturas de
brilho de 10 milhões a um bilhão (107–109) de Kelvin. Embora essas tempestades
de ruído sejam o tipo mais comum de atividade observada no Sol em
comprimentos de onda métricos, elas não estão associadas a explosões solares.
Tempestades de ruído são atribuídas aos elétrons acelerados até energias
modestas de poucos keV dentro de laços magnéticos de grande escala que
conectam regiões ativas a áreas mais distantes do Sol.
Tipo II Explosões Tipo II de comprimentos de onda métricos foram observadas em
frequências entre 0,1 e 100 MHz. Um deslocamento lento para frequências
menores a uma taxa de aproximadamente 1 MHz/s sugere um movimento de
afastamento a aproximadamente 1.000 km/s, que tem sido atribuído a ondas de
choque.
Tipo III Explosões rádio mais comuns associadas a explosões solares em comprimentos
de onda métricos, observadas de 0,1 a 1.000 MHz. Explosões do Tipo III são
caracterizadas por um deslocamento rápido de alta para baixa frequência, a uma
taxa de 100 MHz/s. Elas são atribuídas a feixes de elétrons projetados pelo Sol
com energias cinéticas de 10–100 keV e velocidades de até metade da
velocidade da luz, ou seja, até 150.000 km/s. As emissões tipo U são uma
variante destas emissões, que primeiro diminuem em frequência e depois
aumentam novamente, indicando o movimento ao longo de linhas de campo
magnético fechadas.
Tipo IV Radiação contínua de banda larga que dura até 1 h após a ocorrência de uma
explosão solar. A radiação de uma emissão Tipo IV tem polarização circular
parcial e foi atribuída à emissão sincrotron de elétrons energéticos aprisionados
em nuvens magnéticas que viajam para o espaço com velocidades de várias
centenas a 1.000 km/s.
Centimétricas Radiação contínua impulsiva nos comprimentos de onda centimétricos que
duram apenas poucos minutos depois na ocorrência de uma explosão solar.
Essas emissões em micro-ondas são atribuídas à radiação giro-síncrotron dos
elétrons de alta velocidade, acelerados a energias de 100–1.000 keV. O local da
aceleração fica acima dos topos dos laços coronais.
Milissegundos Explosões rádio observadas a 200 a 1.400 MHz podem incluir literalmente
milhares de picos, cada um com duração de milissegundos, sugerindo tamanhos
menores do que 1.000 km e temperaturas de brilho de até 1015 Kelvin, o que
exige um mecanismo de radiação coerente.
31

Figura 2-15 – Emissões radiativas e linhas de campo magnético em uma região ativa com CME associada
(Youngblood, et al., 2019)

A Figura 2-15 ilustra a origem das emissões de acordo com a posição na


estrutura magnética de uma região ativa.

2.2 A Terra

2.2.1 Magnetosfera
A Magnetosfera é a região do espaço que envolve a Terra em que há
predominância do efeito do campo magnético terrestre e não do campo magnético
interplanetário. Ela é formada pela interação entre o vento solar e o campo magnético
terrestre. A Figura 2-16 mostra o campo magnético terrestre, que está em constante
mudança devido à ação do vento solar.

Figura 2-16 – A Magnetosfera terrestre (Space Weather Prediction Center)


32

A Magnetosfera é um escudo permeável. O vento solar e as CMEs podem


conectar-se à magnetosfera e causar a reconexão das linhas de campo, o que resulta
em fluxos de energia magnética e partículas energéticas carregadas. A Figura 2-17
ilustra seus componentes.

Figura 2-17 – Elementos da Magnetosfera terrestre. (Crochot, 2014)

2.2.2 Atmosfera
Trata-se da camada de gases que envolve a Terra e é retida pela força da
gravidade, sendo composta principalmente de nitrogênio, oxigênio e argônio. Os
gases restantes são muitas vezes referidos como gases traços, entre os quais estão
incluídos os gases do efeito estufa, como vapor de água, o dióxido de carbono,
metano, óxido nitroso e o ozônio. O vapor d'água na atmosfera encontra-se
principalmente nas camadas mais baixas da atmosfera (75% do total está abaixo dos
4000 m de altitude) e exerce o importante papel de regulador da ação do Sol sobre a
superfície terrestre. (Wikipedia, s.d.)
A temperatura da atmosfera terrestre varia entre camadas em altitudes
diferentes. Portanto, a relação matemática entre temperatura e altitude também varia,
sendo uma das bases da divisão da atmosfera em cinco diferentes camadas
(Troposfera, Estratosfera, Mesosfera, Termosfera, Exosfera) e respectivas interfaces.
A Figura 2-18 mostra as camadas e respectivas pausas, bem como o perfil de
33

temperatura e escalas de temperatura e densidade do ar em função da altura, até a


Termosfera.

Figura 2-18 – Alturas (km), temperaturas (K e °C), pressão (hPa) e densidade (kg/m3) das camadas da atmosfera
terrestre (Scott, 2016)

• Troposfera: estende-se até ~15 km do solo, no equador, e a ~ 10 km nos


polos. Esta camada responde por cerca de oitenta por cento do peso
atmosférico e é a única camada em que os seres vivos podem respirar
normalmente Praticamente todos os fenômenos meteorológicos estão
confinados a esta camada. Aqui, a temperatura decresce com o aumento
da altura.
• Estratosfera: de 15 a 50 km de altura. A temperatura aumenta com a altitude
e se caracteriza pelos movimentos horizontais do ar. Apresenta pequena
concentração de vapor de água; muitos aviões a jato circulam na
estratosfera devido à sua estabilidade. É nesta camada que está situada
a camada de ozônio, que absorve e dispersa a radiação solar ultravioleta, e
onde começa a dispersão da luz solar (que origina o azul do céu).
34

• Mesosfera: de 50 a 80 km de altura. A temperatura volta a diminuir com a


altura e chega a 180 K. É nela que ocorre a combustão dos meteoroides.
• Termosfera: de 80 a aprox. 450 km de altura, dependendo da atividade
solar. Sua temperatura aumenta rapidamente com a altitude até onde a
densidade das moléculas é tão pequena que se movem em trajetórias
aleatórias, chocando-se raramente. A temperatura média da termosfera é
de 1.500 °C, mas a densidade é tão pequena que a temperatura não é
sentida normalmente. É a camada onde ocorrem as auroras e onde orbita a
ISS.
• Exosfera: acima de 450 km de altura. Nesta camada, as partículas estão tão
distantes, que podem viajar centenas de quilômetros sem colidir umas com
as outras. Uma vez que as partículas colidem raramente, a exosfera não se
comporta como um fluido. Essas partículas que se movem livremente
seguem trajetórias retilíneas e podem migrar para dentro ou para fora
da magnetosfera ou da região de atuação do vento solar. A exosfera é
composta principalmente de hidrogênio e hélio.

2.2.3 Ionosfera

Figura 2-19 – Camadas da atmosfera terrestre e a ionosfera (NASA, 2013)


35

A Ionosfera não é uma camada distinta como as mencionadas no item


anterior, mas uma série de regiões que se estendem de 60 a 1000 km de altura, em
partes da Mesosfera e da Termosfera. Essa região dinâmica aumenta e diminui de
acordo com as condições solares e é subdividida nas camadas D, E e F, dependendo
do comprimento de onda da radiação solar que é absorvida (conforme mostrado na
Figura 2-18, lado direito). Trata-se de um elo crítico na cadeia de relações Sol-Terra.
Basicamente, a radiação de alta energia proveniente do Sol (ultravioleta
extremo e raios-X) provoca o desprendimento de elétrons dos átomos e moléculas
nessa região. Outros fenômenos, como a precipitação de partículas energéticas
carregadas e raios cósmicos, também têm efeito ionizante. Os átomos e moléculas
eletricamente carregados formados dessa maneira são os chamados íons e conferem
a essa região propriedades especiais. A existência da Ionosfera é que torna possíveis
as comunicações de rádio.

2.3 Clima Espacial

Segundo a NASA, “o termo clima espacial refere-se geralmente às condições


vigentes no Sol, no vento solar e na magnetosfera, ionosfera e termosfera da Terra
que podem influir no desempenho e na confiabilidade de sistemas tecnológicos
espaciais e em solo e que podem colocar em risco a vida ou a saúde humanas”.
Em especial, as explosões solares podem criar condições extremas de clima
espacial. Por isso, é feito monitoramento constante do Sol, sintetizando observações
de plataformas em terra e no espaço de modo a gerar informações relevantes para a
avaliação de possíveis impactos tecnológicos e sociais, e com isso emitir alertas e
advertências (Redmon, Seaton, Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018). A Figura 2-20
mostra uma linha do tempo de fenômenos aproximada de alertas eventos solares e
riscos. Quando ocorre uma explosão solar, o primeiro impacto possível sobre a Terra
é a incidência de raios X, que causa distúrbios na ionosfera iluminada pelo sol, e
ruídos de rádio, que podem provocar interferências de rádio que duram de horas a
dias. Isso está associado a blackouts de rádio. Cerca de 1 hora depois podem chegar
partículas energéticas emitidas nessa explosão, principalmente prótons, causando
tempestade de radiação solar e auroras nos polos. Por fim, caso tenha ocorrido uma
CME, ela pode atingir a Terra em uma escala de tempo de poucos dias, causando
uma tempestade geomagnética, que é de especial interesse para este trabalho.
36

Figura 2-20 – Observações de eventos solares e possíveis alertas (Redmon, Seaton, Steenburgh, He, &
Rodriguez, 2018)

Tabela 2-6 – Escalas de Clima Espacial da NOAA


37

Para informar ao público geral sobre as condições atuais e futuras de clima


espacial e seus possíveis efeitos sobre as pessoas e os sistemas, a NOAA criou suas
escalas de clima espacial, mostradas de forma resumida na Tabela 2-6. Uma
explicação mais detalhada para cada uma das classificações pode ser encontrada em
(NOAA, s.d.).

2.3.1 Tempestade geomagnética


Uma tempestade geomagnética é uma perturbação importante da
magnetosfera terrestre que ocorre quando há uma troca muito eficiente de energia do
vento solar para o ambiente espacial que circunda a Terra. Essas tempestades
resultam de variações no vento solar que produzem grandes mudanças nas correntes,
plasmas e campos na magnetosfera da Terra. As condições do vento solar que são
eficazes para criar tempestades geomagnéticas são sustentadas por períodos com
horas de duração com rajadas de vento solar de alta velocidade, e mais importante,
com campo magnético de vento solar direcionado para o sul (oposto à direção do
campo da Terra). Esta condição é efetiva para transferir energia do vento solar para a
magnetosfera da Terra.
As maiores tempestades que resultam dessas condições estão associadas às
CMEs, nas quais um bilhão de toneladas de plasma do Sol, com seu campo magnético
incorporado, chegam à Terra. Outro distúrbio do vento solar que cria condições
favoráveis às tempestades geomagnéticas é uma corrente de vento solar de alta
velocidade (HSS, High Speed Streams). As HSSs abrem caminho no vento solar mais
lento na frente e criam regiões de interação corrotantes, ou CIRs. Essas regiões são
relacionadas a tempestades geomagnéticas que, embora menos intensas que as
tempestades causadas por CMEs, frequentemente podem injetar energia na
magnetosfera da Terra por períodos mais longos.
Índices Solares e Geomagnéticos

Atividade solar – índice F10.7


As várias manifestações de atividade solar são regidas pela quantidade total
de fluxo magnético, que emerge da fotosfera e penetra na cromosfera e na coroa, e
sua distribuição temporal e espacial. O Fluxo Solar em 10,7 cm é uma medida da
emissão integrada no comprimento de onda de 10,7 cm feita por todas as fontes
presentes no disco. Ele tem origem quase totalmente térmica e está diretamente
relacionado à quantidade de plasma aprisionado nos campos magnéticos acima das
38

regiões ativas que, por sua vez, está relacionado à quantidade de fluxo magnético.
Uma comparação feita em mais de um ciclo de 11 anos de atividade solar mostra que
existe, de fato uma correlação linear entre o Fluxo Solar em 10,7 cm e o fluxo
magnético total na fotosfera nas regiões ativas (NOAA, s.d.).
O Fluxo Solar em 10,7 cm, ou seja, a densidade de fluxo solar nesse
comprimento de onda, é medido usando dois radiotelescópios totalmente
automatizados (chamados de Monitores de Fluxo), localizados no Observatório Rádio
Astrofísico de Dominion (British Columbia, Canadá). Os dois instrumentos fazem
registros diariamente, enquanto o Sol está acima do horizonte. Além disso, os
instrumentos interrompem o monitoramento contínuo todos os dias para fazer três
medidas precisas da densidade de fluxo solar. Essas medidas constituem o Índice de
Fluxo Solar de 10.7cm e são transferidas imediatamente para uma lista mundial de
usuários. Os dados atuais e passados estão disponíveis nas páginas do portal Natural
Resources Canada (Government of Canada, 2019).
Também estão disponíveis na internet os registros diários da saída do
receptor, conhecidos como arquivos CR ou Chart Record (Registro Gráfico). Eles
representam médias de 5 segundos da saída do receptor para cada dia de observação
e são interrompidos ocasionalmente para manutenção e testes do sistema.
Atividade geomagnética – DST, Kp e auroral
As tempestades também resultam em correntes intensas na magnetosfera,
mudanças nos cinturões de radiação e mudanças na ionosfera, incluindo o
aquecimento da região da ionosfera e da atmosfera superior (Termosfera). Em
altitudes ainda mais elevadas, pode se formar um anel de corrente em sentido oeste
em torno da Terra, produzindo distúrbios magnéticos no até o solo. Uma medida dessa
corrente, o índice do tempo de tempestade (DST), tem sido usado historicamente
para caracterizar o tamanho de uma tempestade geomagnética. O índice DST é
calculado a partir da variação na componente Bˆz do campo magnético B
interplanetário em determinadas estações de monitoramento, e ajuda a especificar a
intensidade de um distúrbio geomagnético de acordo em medias e baixas latitudes e
também é usado para inferir a intensidade do evento através do seu valor mínimo.
Para eventos com DST≤50 nT (nano Tesla), as tempestades são classificadas como
moderadas. Para valores inferiores a -100 nT elas são ditas como tempestades
intensas (Gonzalez, et al., 1994).
39

Além disso, existem correntes produzidas na magnetosfera que seguem o


campo magnético, chamadas de correntes alinhadas em campo, e estas se conectam
a intensas correntes na ionosfera, na região auroral: são os chamados eletrojatos
aurorais, que produzem grandes distúrbios magnéticos. Juntas, todas essas
correntes e os desvios magnéticos que produzem no solo são usados para gerar um
índice de perturbação geomagnética planetária chamado Kp. Este índice é a base
para uma das três Escalas do Clima Espacial da NOAA, a Tempestade
Geomagnética, ou a Escala G, que é usada para descrever o clima espacial que pode
perturbar os sistemas na Terra.
O índice Kp é derivado do índice K das medições de treze estações
localizadas ao redor da Terra entre latitudes geomagnéticas de 48 e 63 (médias),
quantifica as alterações na componente horizontal do campo magnético da Terra e é
obtido calculando a média ponderada dos índices K da rede de observatórios
geomagnéticos. Este índice quasi-log é processado a cada três horas e estima a
atividade geomagnética. Os valores de Kp estão dentro de um intervalo de 0 a 9 e
formam um conjunto de 28 valores discretos, sendo 0 o mínimo que representa
condições magnéticas extremamente calmas e 9 o valor máximo que representa uma
perturbação geomagnética muito alta (Gehred, Cliffswallow, Schröder, & Space
Environment Laboratory, 1995); (Takahashi, Toth, & Olson, 2001). Durante um dia,
entre 00h até 21h (horário universal, UT) oito valores de Kp são calculados em
intervalos de três horas.
Já o índice auroral (AE) mede o eletrojato auroral e é designado a prover uma
medida quantitativa global da atividade magnética na zona auroral produzida pela
intensificação de correntes ionosféricas que fluem abaixo e dentro da oval auroral.
Efeitos ionosféricos
A quantidade de energia (fluxo de fótons) nos comprimentos de onda EUV e
raios X e a densidade da ionosfera variam de um fator de quase dez vezes ao longo
do ciclo solar de 11 anos, entre o mínimo e o máximo de atividade do Sol. Como a
maior quantidade de ionização é causada pela irradiância solar, o lado noturno da
Terra e o polo apontado para longe do Sol (dependendo da estação) têm muito menos
ionização do que o lado diurno da Terra e o polo apontando para o Sol.
Fenômenos solares, como as explosões, CMEs, mudanças no vento solar e
tempestades geomagnéticas, também afetam o comportamento da ionosfera. Durante
as tempestades, as correntes elétricas e as partículas energéticas precipitadas
40

adicionam energia na forma de calor, o que pode aumentar a densidade e a


distribuição da densidade na atmosfera superior, causando um arrasto extra nos
satélites na órbita baixa. O aquecimento local também cria fortes variações horizontais
na densidade ionosférica que podem modificar o caminho dos sinais de rádio e criar
erros nas informações de posicionamento fornecidas pelos sistemas de navegação,
como o Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS), e criar correntes
geomagnéticas induzidas (GICs) na rede elétrica.
Outros efeitos são as auroras (boreal, no hemisfério norte, e austral, no
hemisfério sul), causadas por elétrons energizados através de processos de
aceleração na cauda do vento (lado noturno) da magnetosfera. Os elétrons acelerados
seguem o campo magnético da Terra até as regiões polares, onde colidem com
átomos e moléculas de oxigênio e nitrogênio na atmosfera superior da Terra. Nessas
colisões, os elétrons transferem sua energia para a atmosfera, excitando assim os
átomos e moléculas para estados de energia mais elevados. Quando eles retornam a
estados de energia mais baixos, liberam sua energia na forma de luz.
O campo magnético da Terra guia os elétrons de tal forma que a aurora forma
duas ovais aproximadamente centradas nos polos magnéticos. Durante grandes
tempestades geomagnéticas, essas ovais se expandem para longe dos polos, de
modo que a aurora pode ser vista em locais com latitudes mais baixas. Durante a
maior tempestade geomagnética já registrada pela humanidade em 1859, foi possível
ver aurora boreal na região do Caribe.

Figura 2-21 – À esquerda, aurora austral em setembro de 2005 (NASA, National Aeronautics and Space
Administration, 2006). À direita, aurora boreal em abril de 2016 vista da ISS (Northern Lights Photos: The
Amazing Auroras of 2016, 2016)
41

2.3.2 Outros efeitos


GLE (Ground Level Enhancement)
Ground level enhancements (GLEs – intensificações no nível do solo, em
tradução livre) são aumentos súbitos na intensidade de raios cósmicos registrada por
detectores de superfície. Invariavelmente, são associadas a grandes explosões
solares, mas o mecanismo de aceleração que produz partículas de até dezenas de
GeV não é conhecido (Duldig, 1997).
GLEs são muito raros – menos de 100 eventos foram observados desde que
tornou-se possível sua detecção por instrumentos. A maioria das explosões solares
associadas a GLEs ocorrem no lado oeste do Sol, onde o campo magnético
interplanetário está bem conectado com a Terra, conforme mostrado na Figura 2-22.
A geometria dessa linha de conexão magnética pode variar bastante, mas sua
estrutura média é bem representada pela figura. Devido à sua forma, é conhecida por
linha de campo “mangueira de jardim”.
GLEs associadas a explosões próximas ao pé dessa linha de campo
costumam chegar imediatamente e têm inícios muito nítidos, ao passo que GLEs
associadas a explosões distantes da linha de campo de “mangueira de jardim”
chegam à Terra depois de um tempo maior e têm aumentos mais graduais até a
intensidade máxima. É muito raro observar GLEs associadas a explosões no lado
leste da linha Sol-Terra.

Figura 2-22 – Representação esquemática da linha de campo “mangueira de jardim” conectando o Sol e a Terra
(Ground Level Enhancements, 1997)
42

Crochê magnético
Um crochê magnético surge a partir da maior ionização nas camadas D e E
da ionosfera causada por um grande aumento da incidência de raios X gerada por
uma explosão solar. Essa ionização muda as propriedades (especialmente a
condutividade) dessas camadas ionosféricas, permitindo que as correntes elétricas
fluam mais facilmente. O efeito magnético dessas correntes produz o salto no valor
do campo magnético da Terra. À medida que a intensidade da explosão diminui, as
camadas ionosféricas rapidamente retornam ao seu estado anterior, as correntes
elétricas nas camadas retornam ao normal e a mudança no campo magnético
desaparece.
Crochês magnéticos são muito raros, porque são observados somente
durante explosões grandes que atingem seu pico muito rapidamente. Além disso, são
observados em sua maioria nos locais próximos ao ponto em que o sol está a pino.

2.4 Técnicas e instrumentos de medição

2.4.1 Magnetômetros
Magnetômetros são amplamente usados no monitoramento de clima espacial,
tanto em satélites (para medição do campo magnético interplanetário) quanto em
superfície (para medir as componentes X, Y e Z do campo magnético terrestre). O
campo magnético terrestre é monitorado por estações distribuídas pelo planeta e
agrupadas conforme sua latitude. As medições feitas por esses equipamentos
permitem a obtenção dos índices AE, Kp e Dst (consulte no item 2.3 as descrições
detalhadas desses índices).

2.4.2 VLF
São receptores rádio que operam em frequências muito baixas (VLF – Very
Low Frequency), na faixa de 3 a 30 kHz. Nesta frequência as ondas eletromagnéticas
se propagam a longas distâncias por reflexões na base da ionosfera, durante o dia na
camada D (entre 80 e 90 km) e à noite na camada E (90 a 120 km). Variações na
amplitude e fase do sinal trazem informações do meio.

2.4.3 Riômetro
Do inglês Relative Ionospheric Opacity Meter (RIOMeter). Mede a absorção
de ondas eletromagnéticas pela ionosfera (opacidade) originadas do ruído de rádio
cósmico na faixa dos megahertz (entre 20 a 40 MHz). Monitora a região D, a 80-90
43

km de altitude. Seus gráficos apresentam as curvas de absorção comparando curvas


de dias calmos com curvas durante um evento (Figura 2-23).

Figura 2-23 – Gráfico típico de um riômetro. (HAARP, 2007)

2.4.4 Ionossonda
São um tipo de radar com duas antenas verticais, direcionais e próximas,
sintonizadas na frequência de transmissão. Emite pulsos com frequência entre 0,5 e
23 MHz e o receptor avalia o tempo de retorno (que fornece a distância do ponto de
reflexão) e sua potência. Monitoram as camadas E e F. O equipamento gera um
gráfico chamado Ionograma (Figura 2-24).

Figura 2-24 – Ionograma (Reinisch, Galkin, Khmyrov, Kozlov, & Kitrosser, 2004)
44

2.4.5 GPS
De Global Positioning System, é o sistema de posicionamento global por
satélite (GNSS) pertencente aos EUA. Composto por uma constelação de 24 satélites
orbitando a Terra a cerca de 20.000 km, usa duas de suas frequências de operação
(L1, 1.57542 GHz, e L2, 1.2276 GHz) para transmitir os sinais de geolocalização e
sincronização de tempo. Por se propagarem através da ionosfera em tempos
diferentes devido às frequências, essa diferença é aplicada a modelos matemáticos
para se calcular o TEC (Total Electron Content), o número total de elétrons dentro de
um cilindro de atmosfera com 1 m2 de área de base. Este é um importante indicador
da ionosfera como um todo e bastante afetado pela atividade solar (Kaplan, 1996).

2.4.6 Coronógrafo
Trata-se de um dispositivo inventado por Bernard Lyot em 1931, que se pode
acoplar a um telescópio para bloquear a luz de um objeto central, permitindo observar
outros objetos fracamente iluminados ao redor de uma estrela. Originalmente, o
coronógrafo foi desenvolvido para estudar a atmosfera solar, suas estruturas de
plasma e o campo magnético.
Satélites como o SOHO utilizam esse tipo de equipamento. Outras missões
anteriores, como o Skylab, também estudaram o Sol com a ajuda de um coronógrafo
(Wikipedia, s.d.).
45

2.4.7 Monitores de nêutrons

Figura 2-25 – Observação de raios cósmicos com detectores de partículas de superfície (Bieber, 2010)

Um monitor de nêutrons é um detector de solo projetado para medir o número


de partículas carregadas de alta energia vindas do espaço que atingem a atmosfera
da Terra. Por razões históricas, as partículas incidentes são chamadas de “raios
cósmicos”, mas na verdade são, em geral, prótons e núcleos de hélio. Na maior parte
do tempo, um monitor de nêutrons registra raios cósmicos galácticos e sua variação
com o ciclo de 11 anos de manchas solares e o ciclo magnético de 22 anos. Às vezes,
o Sol emite raios cósmicos com energia e intensidade suficientes para aumentar os
níveis de radiação na superfície da Terra ao ponto de poderem ser detectados
imediatamente pelos monitores de nêutrons, chamados de "ground level
enhancements" (GLE, conforme explicado no item 2.3.2).
O banco de dados oficial de contagens de nêutrons durante GLEs causadas
por partículas solares energéticas é da Universidade de Oulu, na Finlândia (Oulu
University, s.d.).
46

3 METODOLOGIA

Para o estudo e caracterização das tempestades geomagnéticas, procedeu-


se a uma coleta de diversas informações da ionosfera, dos campos magnéticos
terrestre e interplanetário e do Sol.
No dia 06 de setembro de 2017 havia 6 regiões ativas no Sol. A região 12673
(S09W34) foi a mais produtiva do ciclo solar 24, tendo produzido, no início de
setembro de 2017, quatro explosões classe X e 27 explosões classe M na
classificação GOES (Geostationary Operational Environmental Satellites) (Castro, et
al., 2018). Dentre esses eventos, às 12:00 UT do dia 6, foi produzida uma com
classificação X9.3 que teve grandes impactos sobre a Terra e que, por isso, foi
escolhida para ser analisada neste trabalho.

Tabela 3-1 – Eventos solares em 06 de setembro de 2017.

Tipo de explosão Hora (UT)

X9.3 11:53

C6.9 13:26

X2.2 08:57

C2.2 12:30

X2.2 08:57

C5.4 10:13

C1.5 20:00

M3.2 04:33

M2.3 17:37

M1.0 03:42

C4.6 17:11

M4.2 01:03

C3.7 16:14

C9.8 00:30

A Figura 3-1 mostra a evolução temporal da mancha que demarca a região


ativa 12673. Nota-se que com o passar dos dias a sua quantidade de manchas
aumenta, indicando a evolução da complexidade magnética. A explosão teve início no
dia 06/09/2017 às 11:53 UT, atingiu seu pico às 12:02 UT e término às 12:10 UT,
47

Tabela 3-2. Na classificação Hale, de origem magnética, Figura 2-6 a mancha foi
classificada como βγδ. Já na classificação Mcintosh, a classificação foi Dkc.

Figura 3-1 – Evolução temporal da região 12673 no espectro visível, de dois dias antes do pico (04/09) até um
dia após o pico (07/09). (Dublin Institute for Advanced Studies & Northumbria University Newcastle, s.d.)

Tabela 3-2 – Eventos de 06 de setembro de 2017

Evento Nome Início Pico Fim Classe GOES Posição derivada


4 gev_20170906_1153 11:53:00 12:02:00 12:10:00 X9.3 S09W34 (2673)
48

Figura 3-2 – Magnetograma da região ativa 12673. (Solar Terrestrial Activity Report, s.d.) e (NASA, s.d.).

A Figura 3-2 demonstra o perfil magnético (magnetograma) da região ativa


12673 no dia 06 de setembro de 2017 (laranja para pólo negativo e azul para pólo
positivo). À esquerda, é mostrado todo o disco solar e, à direita, a RA que originou o
evento da nossa análise em detalhe.

3.1 Instrumentos

Explosões de classificação GOES de classe X estão usualmente associadas


a CMEs e podem ser observadas em todas as faixas do espectro. Para esse trabalho
procurou-se enfatizar as emissões da radiação em raio X e rádio, a CME associada à
região ativa e os efeitos geomagnéticos da CME associada. Para isso foram coletados
dados públicos de diferentes equipamentos, nessa seção cita-se apenas os mais
relevantes para o trabalho.
A análise do fluxo de radiação nas frequências em rádio foi feita com dados
do Radio Solar Telescopes Network (RSTN), uma rede de rádio telescópios com
equipamentos localizados em 4 pontos da superfície do planeta. Os dados levantados
para esse trabalho foram fornecidos pela unidade de San Vito, Itália. Os dados foram
coletados em oito frequências diferentes 245 MHz, 410 MHz, 610 MHz, 1,415 GHz,
2,695 GHz, 8,8 GHz e 15,4 GHz. Essa variedade de frequências, do rádio a micro-
ondas, permite que seja calculado o índice espectral e a partir deste obter informações
sobre o tipo de emissão em rádio. Este índice é como uma assinatura da emissão em
rádio, medido como a inclinação da reta gerada pelo gráfico do espectro de
frequências.
49

A Figura 3-3 mostra um modelo do espectro de frequência de possíveis


emissões em rádio com seus respectivos índices espectrais.

Figura 3-3 – Tipo de emissão em rádio de acordo com o índice espectral. (Dulk, 1985)

Para a análise do espectro em raios-X os dados foram retirados do Space


Weather Prediction Center (SWPC). Análise da emissão em raios X também fornece
evidências para o mecanismo de emissão e para a composição do plasma, além de
ser a primeira emissão de uma CME que chega na ionosfera (cerca de 8 minutos após
a CME associada à explosão), algo que será mais bem abordado na Seção 4.1.
A CME associada à explosão solar da região ativa 12673 foi analisada
também com dados do SWPC, a partir de observações do coronógrafo Large Angle
and Spectrometric Coronagraph (LASCO), um instrumento a bordo da sonda SOHO
e que estuda a evolução e a estrutura da coroa solar através de um eclipse artificial
da fotosfera. É constituído de três coronógrafos, dois para luz branca (C2 e C3) e um
para interferometria de Fabry-Pérot (C1). Cada um deles observa regiões distintas da
coroa de acordo com a distância do Sol.
• C1: 1,1 a 3 Rs
• C2: 1,5 a 6 Rs
• C3: 3 a 32 Rs
Sendo Rs o raio solar.
50

Para o estudo do meio interplanetário, tempestades geomagnéticas e índices


geomagnéticos, foram retirados dados do Programa Estudo e Monitoramento
BRAsileiro de Clima Espacial (EMBRACE/INPE), juntamente com dados do Space
Weather Prediction Center(SWPC) e do World Data Center for Geomagnetism, Kyoto,
(WDC, Kyoto). Com a composição destes dados é possível analisar as alterações
geomagnéticas causadas pela CME associada a explosão do dia 06 de setembro de
2017 às 11h53min.
Para estudo dos efeitos ionosféricos, foram levantados dados das
ionossondas de Cachoeira Paulista, Fortaleza e Campo Grande.
51

4 ANÁLISE DA EXPLOSÃO, CME E EFEITOS IONOSFÉRICOS

4.1 Tipos de emissão

4.1.1 Raios X
CMEs e explosões do tipo X estão usualmente relacionados, não através de
uma relação de causa e efeito, mas ambas como diferentes aspectos do mesmo
processo eruptivo (Priest, 2014). As primeiras detecções de explosões são feitas em
raios X moles, que são as primeiras emissões região ativa. Já as CMEs acontecem
na coroa e são estudadas por coronógrafos de luz branca.
Para a visualização da região ativa em raios X foram utilizados dados de
alguns equipamentos que possuem imageadores como o HINODE XRE e o SWAP
174. A Figura 4-1 apresenta duas imagens da região ativa 12673. No painel esquerdo,
são mostradas regiões ativas pelo SWAP 174 Å no comprimento de onda do ferro IX.
A nossa região de interesse se encontra no quadrante direito inferior do Sol. No painel
direito, a região de interesse é vista ampliada através do HINODE XRT.
Na Figura 4-2 é possível ver a variação do fluxo juntamente com a mudança
das classificações de blackout de rádio causado pela explosão solar, conforme a
Tabela 2-6.
Para o estudo do fluxo em raios-X foram utilizados dados do GOES-13.

Figura 4-1 – Região ativa 12673, em 6 de setembro de 2017, em 174 Å e raios X (Dublin Institute for Advanced
Studies & Northumbria University Newcastle, s.d.)

Os dados do fluxo de raios-X do GOES na parte superior da Figura 3.3


mostram o padrão medido do fluxo desde dois dias antes da explosão até o momento
52

em que ela ocorre, no dia 06 de setembro de 2017. Pode-se perceber um aumento


significativo de emissão em raios X que faz com que a região ativa saia da
classificação C (dia 05/09/2017) e vá para a classificação X (dia 06/09/2017). A parte
inferior demonstra exclusivamente os fluxos do pico da explosão.
A linha cinza na imagem mostra os instantes de tempo em que não existem
dados do RHESSI sobre essa explosão o que se torna uma das dificuldades de se
montar um espectro com mais bandas de frequências.

Figura 4-2 – Dados de raios X do GOES-13. (EMBRACE, s.d.)

O evento da nossa análise é classificado como tipo R4 de acordo com a


Tabela 2-4, ou seja, é um evento de tipo severo e que causa "Blackout de
comunicação em HF na maioria da área iluminada por uma ou duas horas. Contacto
em rádio HF é perdido durante este período. Falhas no sinal de navegação em baixa
frequência causa aumento de erro no posicionamento por uma ou duas horas.
Disrupção pequena na navegação por satélite na área iluminada da Terra."
53

Figura 4-3 – Fluxo em raios X em função do tempo. (UCB, s.d.)

Na parte superior da Figura 4-3, vemos a distribuição do fluxo ao longo dos


dias de evento solar e na inferior, vemos o pico do dia 06 de setembro de 2017, que
54

mostra o evento classificado como X. Fonte:


http://sprg.ssl.berkeley.edu/~tohban/browser/?show=grth+ qlpcr+qli02+qlids&bar=1

4.1.2 Rádio
Componente S (componente lentamente variável)
Sabe-se que o Sol quase nunca fica calmo e, como resultado disso, as
emissões de rádio podem ser observadas simultaneamente nas bandas centimétricas
e decimétricas, sendo essas as emissões do sol quiescente e dos pontos brilhantes
(Figura 4-4), também conhecidas como condensações de rádio, que são as posições
de origem dessas emissões e que coincidem com as regiões ativas (no local onde as
manchas e as fáculas são encontradas). Geralmente, essas emissões têm uma
variação de emissão lenta e, em alguns casos, elas podem permanecer constantes
por vários dias; a quantidade de fluxo de radiação que elas emitem depende do
tamanho das manchas: quanto maior o tamanho, maior o fluxo. Tudo isso parece
indicar que o componente lentamente variável é de origem térmica e tem origem em
regiões muito densas.

Figura 4-4 – Imagem da fotosfera superior do Sol mostrando as estruturas magnéticas escuras e brilhantes
responsáveis pelas variações na radiação solar total. (Foukal)

Para conhecer o comportamento da região ativa 12673 e observar o


desenvolvimento da mancha solar (que causou a explosão X9.3), em rádio, ao longo
de sua vida utilizamos a componente S (fluxo médio diário da emissão em 2,8GHz).
Como dito na Seção 3.1, os dados da rede RSTN foram usados para observar
em diferentes frequências, o período de 15:00 UT foi considerado como como nível
de referência, pois nesse horário não há variação rápida do fluxo solar – ou seja, não
ocorreu nenhuma explosão.
55

De acordo com o gráfico da Figura 4-5 pode-se notar que o componente S


apresenta um crescimento que acompanha o aumento da área da região ativa no
disco. À medida que mais pontos aparecem, aumenta o fluxo nessa região. Através
do estudo do componente S, pode-se observar o comportamento do sol ainda sem
variações rápidas, como explosões. Os resultados que melhor representam os pontos
podem ser observados em frequências mais baixas.

Figura 4-5 – Parte superior: fluxo de diferentes frequências em relação ao tempo de emissão. Parte inferior:
evolução da área das manchas. Nota-se uma relação entre o aumento do fluxo e o aumento da área das
manchas. (Elaborada pelos autores)

A diminuição no fluxo em algumas frequências pode ser devido às explosões


ocorridas em 6 de setembro de 2017, onde uma grande quantidade de energia
armazenada na mancha solar foi liberada.
56

Figura 4-6 – Fluxo solar em diferentes frequências, em função do horário da emissão. (Elaborada pelos autores)

Índice Espectral
Ainda com os dados do RSTN é possível calcular o índice espectral
(inclinação da reta do espectro de frequências) para determinados instantes da
explosão e, comparando o índice obtido com os da Figura 3-3, é possível estimar o
processo de emissão rádio.
Na Figura 4-6, o índice espectral para o primeiro instante da (a) da parte
opticamente espessa o é α = 1.521, para frequências de 410 MHz, 1415 MHz,
2695 MHz e 4995 MHz. Com este índice espectral só podemos dizer que pode ser
uma emissão térmica. Para o caso da região opticamente fina, obtivemos um índice
espectral de α = −0.038, que pode corresponder a uma emissão bremsstrahlung, para
frequências de 4995 MHz, 8800 MHz, e 15400 MHz. O índice espectral para o
primeiro instante da figura (b) da parte opticamente espessa é α = 1.346, para
frequências de 410 MHz, 1415 MHz e 2695 MHz, com este índice espectral podemos
dizer que pode ser uma emissão térmica, para o caso da região opticamente fina,
57

obtivemos um índice espectral de α = −1.006, que pode corresponder a uma emissão


sincrotron, para frequências de 4995 MHz, 8800 MHz, e 15400 MHz.

Figura 4-7 – Espectro de frequências para diferentes momentos da explosão da região AR12673. (Elaborada
pelos autores)

Com relação às figuras (c) e (d) o tipo de radiação não pode ser definido
porque não foi possível determinar o índice espectral, pois os pontos não podem ser
ajustados por uma reta de forma satisfatória. Para ter uma ideia melhor sobre o tipo
de radiação, é necessário ter espectros de mais frequências de rádio. As emissões
rádio da explosão foram classificadas como tipo IV (Dulk, 1985): Pode durar de horas
a dias, sendo o plasma o mecanismo de radiação; começa em altas frequências
aproximadamente por 10 minutos e depois cai para frequências mais baixas durante
horas. Está associado a ejeção de massa coronal e tempestade de radiação solar.
58

4.2 Características da CME associada

As emissões rádio da CME foram classificadas como tipo II (Dulk, 1985): Pode
durar até 10 minutos, indicam ondas de choque vindas para fora da coroa do Sol e
são bons indicadores de ejeção de massa coronal. Pode estar associado com a
segunda fase de aceleração de partículas de alta energia, aproximadamente 1 GeV
para prótons e 10 MeV para elétrons.
Tabela 4-1 – As características da CME da nossa análise (Robbrecht, Bourgoignie, & ESA, s.d.)

CME 17 Número da CME, contagem mensal.


Data 06/09/2017
Horário (UT) 12:12 Horário de início, primeira indicação de
decolagem.
Duração [horas] 4 Duração da decolagem
Ângulo de saída (PA) [graus] 1 Ângulo principal, sentido anti-horário a partir do
norte .

Ângulo de abertura (DA) [graus] 360 Abertura angular.

Velocidade média [km/s] 978 Velocidade média.


Variação de velocidade [km/s] 530 Desvio padrão (1 sigma) da velocidade na largura
do CME.
Velocidade mínima [km/s] 376 a Menor velocidade detectada no CME (partículas
menos energéticas).
Velocidade máxima [km/s] 1955 Maior velocidade detectada no CME (partículas
mais energéticas).
Halo? Sim, IV II se DA > 90, III se DA > 180, IV se DA >
270, indicando halo potencial/halo parcial.

Figura 4-8 – CME associada à explosão solar em estudo (Robbrecht, Bourgoignie, & ESA, s.d.)
59

As características da CME associada a região ativa deste trabalho foram


retiradas da base de dados do Solar Influences Data Analisys Center (SIDC). A Tabela
4-1 mostra o resumo das características da CME. Na Figura 4-8, o lado esquerdo
mostra a imagem da CME obtida pelo coronógrafo LASCO-C2 e tratada pelo pacote
CACTus. O anel branco representa um eclipse artificial do Sol para o imageamento.
No lado direito, é mostrada a distribuição angular das velocidades das partículas
ejetadas.

4.3 Meio interplanetário

A verificação da chegada da CME no meio interplanetário pode ser feita de


diversas formas: pela análise do aumento da densidade de partículas, pelo aumento
repentino do campo magnético e até mesmo pelas emissões de ondas de choque
geradas. Nesta seção aborda-se cada uma destas possibilidades para a CME
associada à explosão X9.3.

4.3.1 Partículas
O aumento da densidade de partículas em direção ao meio interplanetário
pode ser medido através de equipamentos do GOES. A Figura 3.9 demonstra o
aumento da densidade de prótons e elétrons devido à explosão que ocorreu no dia 4
de setembro; no caso dos prótons, o nível de energia era maior que 10 MeV e menor
que 50 MeV. A explosão do dia 6 de setembro produziu um aumento significativo de
prótons com energias maiores que 50 MeV.

Figura 4-9 - Contagem de prótons e elétrons no meio interplanetário verificado pelo GOES-13. Lado esquerdo:
prótons. lado direito: elétrons. (SWPC, s.d.)

Esse aumento da densidade de partículas possui relação direta com o índice


geomagnético auroral, que será abordado em mais detalhes no item 4.4.
60

4.3.2 Campos magnéticos


O aumento da quantidade de partículas ionizadas em movimento no meio
interplanetário também aumenta significativamente a intensidade do campo
magnético deste meio e pode ser um indicativo da presença da CME nesta região. A
Figura 4-10 demonstra o aumento do campo magnético. A resolução de 1 min do
equipamento pode fornecer dados precisos sobre o momento da chegada da CME no
meio interplanetário. Neste caso, o primeiro aumento verificado é da componente Bˆz,
aproximadamente às 23h do dia 07 de setembro de 2017.

Figura 4-10 – Variação do campo magnético do meio interplanetário devido a passagem da CME da nossa
análise. O gráfico foi gerado diretamente na base de dados dos magnetômetros da Wind Magnetic Field
Investigation (MFI). (NASA, s.d.)
61

4.3.3 Ondas de choque

Figura 4-11 – Parâmetros da onda de choque causada pela propagação da CME analisada. (Harvard-
Smithsonian Center for Astrophysics, s.d.)
62

Um detalhamento mais completo da chegada da CME ao meio interplanetário


pode ser estudado através dos parâmetros da onda de choque gerada pelo encontro
da CME com o meio (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, s.d.).
Na Figura 4-11 pode-se verificar que a velocidade do vento solar variou de
400 km/s até 700 km/s, em valores aproximados. Essa variação da velocidade gera
um aquecimento do plasma do meio interplanetário que é condizente com o aumento
do campo magnético verificado na Figura 4-10 e replicado na quarta imagem dessa
figura. Esse aquecimento gera emissões em rádio descritas na seção 4.2.

4.4 Tempestade geomagnética

Para analisar os efeitos causados pela explosão do X9.3 de 6 de setembro de


2017 e a CME associada, analisaremos alguns índices geomagnéticos, que nos
permitirão conhecer a magnitude da tempestade geomagnética.
A tempestade geomagnética aconteceu em 08 de setembro de 2017 e teve
índice DST de -142 nT, o que a classifica como intensa. Também classificada como
severa (G4) de acordo com a escala do NOAA (Tabela 2-6) e assim como pelo índice
Kp de aproximadamente 8.2. O índice auroral AE atingiu cerca de 1700 nT junto de
eletrojatos na zona auroral, ocasionados pelas alterações geomagnéticas e
ionosféricas.
63

Figura 4-12 - Índices geomagnéticos, DST, AE, Kp, as linhas coloridas indicam os tempos onde ocorrem as
mudanças mais importantes do campo magnético. (Elaborada pelos autores.)

4.4.1 Índice Kp
De acordo com os dados da OMNIWEB, obtivemos um índice máximo de Kp
de 8, caracterizando uma tempestade geomagnética severa ou forte (G4) de acordo
com a classificação da NOAA. Isto não necessariamente significa que o componente
horizontal do campo magnético terrestre sofreu grandes flutuações como resultado da
CME que chegou aproximadamente em 8 de setembro, tendo um valor máximo às
64

01:00 UT, após o qual temos um outro máximo correspondente à chegada da segunda
parte da CME às 14:00 UT no mesmo dia.

4.4.2 Índice DST


No caso do índice DST com dados do OMNIWEB, podemos observar que no
dia 06 de setembro, por volta das 12:10 UT, há uma influência da radiação gerada
pela explosão do X9.3, depois disso temos a compressão máxima da magnetosfera,
no dia 07 às 1:00 UT, também temos a flutuação máxima no dia 08 às 1:00 UT com
um valor máximo de redução de DST = -140 nT (classificado como intenso), a segunda
flutuação máxima ocorre em 14:00 UT no mesmo dia com um valor máximo de
redução de DST de aproximadamente -120nT, para a segunda parte do CME, após
isso temos a fase de recuperação do campo magnético.

4.4.3 Índice AE
Para este índice, também com dados do OMNIWeb, podemos ver como a
atividade magnética varia na zona auroral em relação a um dia quieto devido às
intensas correntes ionosféricas produzidas pelo evento solar deste estudo. Às
12:00 UT do dia 6, em consequência da tempestade de radiação solar, podemos ver
um ligeiro aumento de intensidade do campo magnético. Em seguida, devido à
chegada da CME associada à mesma explosão, ocorre um aumento maior da
intensidade do campo magnético, com AE = 1050 nT após da compressão máxima da
magnetosfera. Também há um aumento de AE até 1150 nT após a entrada das
partículas da CME. Por fim, ocorre a variação máxima da atividade magnética, em
consequência da chegada da segunda parte da CME, com AE = 1400 nT.
65

Figura 4-13 – Outros índices para análise da tempestade geomagnética. (Elaborada pelos autores)

4.5 Efeitos ionosféricos

A ionossonda digital é um dos instrumentos que mede a densidade eletrônica


da baixa ionosfera através de radiofrequência, obtendo como resultado os
ionogramas: espectros de frequência em função da altura.
Na Figura 4-14 vemos o monitoramento das camadas da ionosfera de 11:50
às 12:00 UT do dia 06/09/2017 da ionossonda de Cachoeira Paulista. É possível notar
mudanças nas camadas E, F1, F2 e THP em altitude e frequência.
Vemos nos gráficos da Figura 4-15 os valores para frequência crítica da
camada F (foF2) a altura virtual da camada F (h’F), a altura máxima da camada F2
(hmF2) e a frequência máxima utilizável (MUF) para o dia 06/09/2017. É possível notar
uma perda significativa de sinal da ionossonda em torno de 11:58 até 13:34 associada
ao período de forte intensidade de emissão em raios X.
66

Figura 4-14 – Variação das camadas da atmosfera devido à tempestade de radiação (EMBRACE, s.d.)
67

Figura 4-15 - Dados da ionossonda digital de Cachoeira Paulista (EMBRACE, s.d.)


68

Figura 4-16 – Dados do VTEC em várias estações (EMBRACE, s.d.)

A Figura 4-16 mostra os valores de VTEC para os dias analisados na


tempestade geomagnética. A curva de referência verde corresponde à média dos dias
calmos para o mês de setembro, calculado para cada estação, com VTEC mínimo
entre 08:00 UT e 09:00 UT, antes do nascer sol, seguido por um crescimento que
atinge o máximo por volta de 16:20 UT, quando ocorre maior incidência de radiação
solar, e depois a queda devido à recombinação e ausência de iluminação no período
noturno.
No dia 06 de setembro, as estações apresentaram aumento do conteúdo total
de elétrons a partir das 12:00 UT, sendo mais pronunciado na estação de CEEU (que
está mais próxima do equador magnético) e mais leve nas estações de CHPI e MSCG.
A estação de CEEU apresentou máximo VTEC aproximadamente de 36
TECU, a CHPI 31 TECU e MSCG com 29 TECU. Este aumento é atribuído ao
aumento do fluxo de Raio X devido à explosão GOES X9.3 com pico às 12:12 UT, que
aumentou a taxa de produção.
No dia 07 de setembro a estação CEEU apresentou maior perturbação em
relação ao comportamento de um dia quieto em comparação a MSCG e CHPI
No dia 08 de setembro a estação CHPI apresentou o maior máximo (53,4
TECU) entre as demais, MSCG (43.8 TECU), CEEU (45 TECU). A estação MSCG
apresentou dois máximos bem pronunciados. A estação CHPI apresentou um
69

máximo muito acentuado uma região de estabilização e queda, e a estação CEEU


teve também um máximo muito acentuado, porém uma queda lenta.

Figura 4-17 – Dados da ionossonda digital de Cachoeira Paulosta referentes á tempestade geomagnética de 8
de setembro de 2017 (EMBRACE, s.d.)

A Figura 4-17 mostra a frequência crítica (foF2, acima) e o ionograma obtido


pela estação de Cachoeira Paulista às 16:30 UT (abaixo).
Nos dias 06 e 07 de setembro, a estação CHPI (UT-3), apresentou
comportamento muito próximo à curva do dia quieto, No caso do VTEC, nós podemos
ver que, no dia 06, há uma variação leve devido à explosão X9.3. Cabe ressaltar que
o TEC corresponde ao conteúdo integrado de elétrons (Camadas D, E, F1, F2), e a
ionossonda é restrito à camada F.
No dia 08 de setembro, na estação CHPI, tem-se o maior pico do valor VTEC entre as
três estações no período analisado. Entre o período de 12:00 UT até 17:40 UT ocorreu
um aumento no foF2, com valor máximo de 12.5 MHz as 16:30 UT. Entre 00:00 UT e
70

05:00 UT as curvas do foF2 e TEC apresentam comportamento muito similar, a


variação positiva devido à tempestade geomagnética pode ser vista em ambas as
curvas. Após 09:00 UT a curva do TEC apresenta uma variação muito maior do que a
do foF2, isso se deve a recomposição por fotoionização (durante o dia) das camadas
da ionosfera que foram elevadas.

Figura 4-18 – Dados da ionossonda digital de Campo Grande, para o dia 8 de setembro de 2017. (EMBRACE,
s.d.)

A Figura 4-18 mostra a frequência crítica (foF2, acima) e o ionograma obtido


pela estação de Campo Grande às 22:10 UT (abaixo).
Nos dias 6 e 7 de setembro, na estação MSCG (UT-4), a curva de foF2
apresentou comportamento semelhante à curva do dia quieto. A radiação da explosão
X9.3 não teve influência nessa região.
71

No dia 8 de setembro, estação MSCG foi a mais afetada pela tempestade


geomagnética. As curvas do foF2 e TEC apresentam variação positiva bastante
similares. Dois picos são bem visíveis em ambas as curvas 16:00 UT e 21:20 UT
(VTEC) - 22:00 UT (foF2), apesar de a curva do TEC ter uma variação maior
comparado aos dias anteriores do que a foF2. Isso é devido à fotoionozação das
camadas que tiveram o plasma elevado pelo efeito fonte. O segundo pico é
relacionado a fenômeno da pré-inversão.

Figura 4-19 – Dados da ionossonda digital de Fortaleza, para o dia 8 de setembro de 2017. (EMBRACE, s.d.)

A Figura 4-19 mostra a frequência crítica (foF2, acima) e o ionograma obtido


pela estação de Fortaleza às 21:20 UT (abaixo).
72

No dia 06 e 07 de setembro, para a estação CEEU (UT-3), embora seja


observado um aumento na curva VTEC, nenhum aumento é observado devido à
explosão X9.3 na curva foF2 em comparação com os outros dias.
No dia 08 de setembro, comparando os valores de TEC e f0f2 constata-se que
a estação de Fortaleza, devido à proximidade do equador magnético, apresenta
menor correspondência entre o comportamento das curvas. Isso pode ser atribuído à
localização próxima ao equador magnético, o efeito fonte gera a deriva do plasma do
equador para as cristas das anomalia. Outro ponto é a incidência de radiação solar
mais efetiva nesta área, facilitando a recomposição das camadas inferiores e fazendo
com que foF2 não tenha variações grandes, onde foF2 tem um valor máximo de
11.2 Mhz às 21:20 UT.

4.6 Outros efeitos associados à RA12673

4.6.1 Reversão do drift da bolha de plasma equatorial (de Paula, et al., 2019)
Na ionosfera, após o pôr do sol, o elevado gradiente da densidade de elétrons
na base da camada F da ionosfera pode causar o desenvolvimento de uma
irregularidade de plasma devido ao processo de instabilidade de Rayleigh-Taylor.
Nesse processo, o plasma de baixa densidade das alturas mais baixas sobe até a
parte superior da camada F, gerando estruturas rarefeitas alinhadas com o campo,
chamadas bolhas equatoriais, que se estendem de dezenas a centenas de
quilômetros.
Normalmente, as bolhas de plasma equatoriais se deslocam para leste ao
anoitecer, antes da meia-noite, durante períodos magneticamente quietos. No
entanto, sob o efeito das intensas perturbações geomagnéticas causadas pela região
ativa do nosso estudo, a bolha de plasma apresentou comportamento anômalo:
usando dados de VHF, digissonda e receptores de GPS, de Paula et.al. constataram
que a bolha de plasma se deslocou para oeste, em vez de se deslocar para leste,
devido à tempestade geomagnética ocorrida de 6 a 10 de setembro de 2017.

4.6.2 Interferência em sistemas de comunicações e navegação (Berdermann, et


al., 2018) (Yasyukevich, et al., 2018)
A explosão solar X9.3 do dia 6 de setembro de 2017 causou um blackout de
rádio classificado que atingiu a classificação R4 – severo. Com isso, houve relatos de
73

impactos sobre os sistemas de comunicação de emergência no Caribe, durante


operações de resgate após a passagem de um furacão (Redmon, Seaton,
Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018).
Também houve interferência prejudicial sobre os serviços de navegação na
Europa (Berdermann, et al., 2018) (Yasyukevich, et al., 2018).

4.6.3 Crochê magnético e mudança de fase do sinal VLF


Esta seção descreve em linhas gerais o trabalho de (Gavrilov, et al., 2018)
que utilizou uma análise da explosão X9.3 com dados de cinco estações:
• Arti - ARS (59.40 N, 58.60 E)
• Mikhnevo - MIK (54.96 N,37.75 E),
• Valência - VAL (51.90 N, 349.80 E)
• Sable Island - (43.90 N, 300.00 E)
• St. John - STJ (47.59 N, 307.32 E).
Os observatórios selecionados estão localizados de forma aproximadamente
simétrica, em uma faixa de cerca de 3.000 km a leste e a oeste do Observatório de
Valência, que está aproximadamente no eixo da área iluminada pelo Sol (Figura 4-20).

Figura 4-20 – Posição da parte do planeta iluminada pelo Sol

A tempestade de radiação causada pela explosão X9.3, classificada como S3,


não apenas foi muito violenta, mas também teve o pico de emissão de raios X às
12:00 UT, com o sol a pino na região estudada no trabalho descrito nesta seção. Isso
provocou aumento da ionização das camadas mais baixas da ionosfera e,
consequentemente, aumento da condutividade do plasma na camada D, resultando
74

no aumento da magnitude das correntes Sq e do campo magnético superficial da


Terra, que caracteriza o fenômeno de crochê magnético.

Figura 4-21 – Mudança de fase do sinal de rádio recebido no Observatório de Mikhnevo de três transmissores
VLF: ICV, JXN e GBZ.

Além disso, foi registrada também a mudança de fase na propagação de sinais


VLF, conforme mostrado na Figura 4-21. As estações emissoras consideradas forma
ICV (Sardenha, Itália), JXN (Gildeskål, Noruega) e GBZ (Skelton, Reino Unido) e a
estação receptora foi a do Observatório de Mikhnevo (Rússia).

4.6.4 Ground level enhancement associado à RA12673 – dia 10 de setembro de


2017 (Tassev, Velinov, Tomova, & Mateev, 2017) (Gopalswami, et al., 2018)
(Redmon, Seaton, Steenburgh, He, & Rodriguez, 2018) (Kurt, Belov, Kudela, &
Yushkov, 2018)
No dia 10 de setembro de 2017, a região ativa 12673 produziu uma explosão
solar X8.2 já estando no limbo solar. Nessa posição, houve ejeção de íons e elétrons
relativísticos em uma SEP. Essas partículas, combinadas com uma população de
partículas energéticas acumuladas após a ocorrência das explosões anteriores da
mesma região ativa, causou o GLE 72 (Redmon, Seaton, Steenburgh, He, &
Rodriguez, 2018).
75

Figura 4-22 – Dados do GLE 72 (Oulu University, s.d.)

A Figura 4-22 mostra os dados do GLE 72. Ele foi relativamente baixo, com
aumento de 6 a 7% aproximadamente (Kurt, Belov, Kudela, & Yushkov, 2018) e não
surtiu efeitos na ionosfera. No entanto, considera-se que é de especial interesse por
ter ocorrido em uma época de mínimo de atividade solar.
76

4.6.5 Auroras na Finlândia e na Escócia - fotos

Figura 4-23 – Auroras (Kast) (BBC, 2017)

Créditos das imagens: esquerda: Thomas Kast; superior direita: Alan O'Donnell; inferior direita: Paul Baralos
77

5 CONCLUSÃO

Analisamos as consequências da explosão solar e CME geoefetivo passando


pelo espaço interplanetário até a chegada à magnetosfera terrestre.
Além disso, observamos os índices que que registram as tempestades
geomagnéticas em diferentes latitudes e verificamos os efeitos da tempestade na
ionosfera. De forma sucinta:
• A explosão analisada foi classificada como X9.3 pelo fluxo de raios-X do satélite
GOES e foi originada na região ativa AR12673, durante o decréscimo do ciclo 24
de atividade magnética do Sol.
• O aumento da quantidade de partículas ionizadas em movimento no meio
interplanetário também aumenta significativamente a intensidade do campo
magnético como indicativo da presença da ICME. Neste caso o primeiro aumento
verificado é da componente Bˆz aproximadamente às 23h do dia 07 de setembro
de 2017.
• A tempestade geomagnética foi devida à chegada de uma CME geoefetiva
associada à explosão solar do dia 06 de setembro de 2017, às 11:53 (UT).
• Sua geoefetivadade provocou reconexão no campo magnético terrestre e uma
tempestade magnética categorizada como intensa pelo índice DST, tendo sido
registrada entre o 07 e 08 de setembro de 2017.
• A tempestade geomagnética foi classificada como severa (G4, NOAA) pelo índice
Kp.
• A tempestade geomagnética foi classificada como intensa (-140 nT) pelo índice
DST.
• O índice auroral AE atingiu cerca de 1700 nT junto de eletrojatos na zona auroral,
ocasionados pelas alterações geomagnéticas e ionosféricas, produzindo auroras
intensas.
• É possível notar uma perda significativa de sinal da ionossonda de Cachoeira
Paulista em torno de 11:58 até 13:34 associada ao período de forte intensidade de
emissão em raios X.
• A explosão X9.3 causou uma tempestade de radiação solar classificada como R3
e emitiu energia suficiente para provocar fenômenos mais raros como GLE e
crochê magnético.
78


79

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