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Reitoria, Campus de Bauru

CURSO BÁSICO DE METEOROLOGIA E


UTILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DOS
RADARES DO IPMet

Ana Maria Gomes Held - Pesquisadora (Dra.)


Carlos Alberto de Agostinho Antonio - Analista de Sistemas(Ms.)
Geórgia Pellegrina - Assist. Sup. Acadêmico II (Ms.)
Gerhard Held - Pesquisador (Dr.)
Jaqueline Murakami Kokitsu– Analista de Sistemas (Ms.)
Mateus da Silva Teixeira - Meteorologista (Dr.)
Rita de Cássia César Cerqueira Lopes - Meteorologista (Ms.)

Curso Básico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet ©


CURSO BÁSICO DE METEOROLOGIA E UTILIZAÇÃO DAS
INFORMAÇÕES DOS RADARES DO IPMet

SUMÁRIO

PARTE 1 : INSTITUCIONAL.......................................................5
1.1. IPMet - METEOROLOGIA COM RADAR DESDE 1974................. 6
1.1.1. Instalações do IPMet/Bauru em 1972 ................................................................. 6
1.1.2. Última Modernização.......................................................................................... 9
1.2. APLICAÇÃO DOS RECURSOS: .......................................................... 11
PARTE 2 : METEOROLOGIA ...................................................12
2.1. O QUE É METEOROLOGIA? .............................................................. 13
2.2. ATMOSFERA TERRESTRE ................................................................. 13
2.2.1.Composição da atmosfera .................................................................................. 15
2.3. RADIAÇÃO SOLAR E TERRESTRE. BALANÇO DE CALOR ...... 16
2.3.1. Movimentos da Terra ........................................................................................ 16
2.3.2. Radiação Eletromagnética ................................................................................ 19
2.3.3.Transferência de calor........................................................................................ 20
2.3.4. Balanço de Radiação Global ............................................................................. 22
2.4. VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS ..................................................... 23
2.4.1. Temperatura ...................................................................................................... 23
2.4.2. PRESSÃO ......................................................................................................... 26
2.4.3. UMIDADE........................................................................................................ 28
2.5. ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA....................................................... 29
2.6. CONDENSAÇÃO, NUVENS E PRECIPITAÇÃO .............................. 32
2.6.1. Saturação em baixos níveis ............................................................................... 32
2.6.2. Nuvens .............................................................................................................. 33
2.6.3. Precipitação....................................................................................................... 34
2.6.4. Vento................................................................................................................. 36
2.7. CIRCULAÇÃO GLOBAL ...................................................................... 39
2.8. SISTEMAS METEOROLÓGICOS ....................................................... 41
2.8.1. Escalas de Movimentos..................................................................................... 41
2.8.2. Massas de Ar.......................................................Erro! Indicador não definido.
2.8.3. Sistemas Meteorológicos que atuam na América do Sul e no Brasil ............... 43
2.8.4. Sistemas Meteorológicos que atuam na Região Sudeste do Brasil .................. 44

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2.8.4.1. Ciclones extratropicais ............................................................................................. 44
2.8.4.2. Sistemas Frontais ..................................................................................................... 45
2.8.4.3. Alta da Bolívia .......................................................................................................... 48
2.8.4.4. Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) ........................................................... 49
2.8.4.5. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) .................................................... 50
2.8.4.6. Bloqueio Atmosférico ............................................................................................... 51
2.8.4.7. Corrente de Jato ....................................................................................................... 52
2.8.4.8. Vírgula Invertida ...................................................................................................... 53
2.8.4.9. Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM)....................................................... 54
2.8.4.10. Linhas de Instabilidade .......................................................................................... 55
2.8.4.11. Ciclone Tropical ..................................................................................................... 56
2.8.4.12. Tornardo ................................................................................................................. 57
2.9. TÓPICOS ADICIONAIS......................................................................... 58
2.9.1. Descarga Atmosférica....................................................................................... 58
2.9.2. Satélite Meteorológico ...................................................................................... 59
2.10. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 61
PARTE 3 : INTERPRETAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES DO RADAR 62
3.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS EM METEOROLOGIA COM RADAR..... 63
3.2. MODOS DE VARREDURA PARA COLETA DE DADOS DO
RADAR............................................................................................................. 64
3.2.1. Modo PPI – Indicador de Posição no Plano ..................................................... 64
3.2.2. Construção do PPI............................................................................................. 64
3.2.3. Filtro de Imagens de Radar ............................................................................... 66
3.2.4. Ecos de Terreno ................................................................................................ 66
3.2.5. Propagação Anômala ........................................................................................ 68
3.3. CONSTRUÇÃO DO CAPPI ................................................................... 69
3.4. TOPO DOS ECOS (Echo Top) .............................................................. 70
3.5. ALERTA (Warning) ............................................................................... 71
3.6. OUTROS FENÔMENOS ........................................................................ 72
PARTE 4 : SESSÃO PRÁTICA (Página Interna do IPMet / Restrito).. 75
4.1. EXEMPLOS DOS PRODUTOS EM MODO OPERACIONAL,
POSSIBILITANDO A VISUALIZAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E
MANIPULAÇÃO DAS INFORMAÇÕES.................................................... 76
4.2. FERRAMENTAS DISPONÍVEIS PARA VISUALIZAÇÃO,
INTERPRETAÇÃO E MANIPULAÇÃO DAS INFORMÇÕES .............. 80
4.3. EXEMPLOS DA APLICABILIDADE DO SISTEMA (eventos
verídicos)........................................................................................................... 84
PARTE 5: CONFECÇÃO DO BOLETIM DE RADAR.............88
PARTE 6: SISTEMA DE ALERTA DE TEMPO SEVERO E
VISUALIZADOR GIS ................................................................................ 1000
6.1 Introdução ................................................................................................ 100
6.2 Sistema TITAN ...................................................................................... 1000

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6.3 Sistema de Alerta de Tempo Severo ...................................................... 102
6.4 Visualizador Web-GIS ............................................................................ 108
6.5 Interação e Feedback .............................................................................. 114

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PARTE 1 : INSTITUCIONAL

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1.1. IPMet - METEOROLOGIA COM RADAR DESDE 1974
O Instituto de Pesquisas Meteorológicas - IPMet - é uma Unidade Complementar da
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP, localizado na cidade de
Bauru (SP), cujo principal objetivo é a pesquisa meteorológica voltada à utilização em
previsão do tempo para o Estado de São Paulo, além do monitoramento e quantificação de
chuvas ocorrendo nessa mesma região, com o uso de radar meteorológico.

Sua história teve início no final da década de 60, mais precisamente 1969, quando a então
Fundação Educacional de Bauru, instituição de ensino superior e futura mantenedora da
Universidade de Bauru, implantou o seu Instituto de Pesquisas, com o objetivo de subsidiar
as diversas áreas de ensino com as informações provenientes de suas pesquisas. A área
escolhida pela instituição foi a meteorologia, ciência multidisciplinar que permite a interação
com diversas áreas do ensino tecnológico e mesmo com as ciências humanas. Esse instituto
contava a princípio, com um aparelho de recepção de imagens de satélite meteorológico.
Nessa fase os trabalhos e projetos eram desenvolvidos por professores da instituição, alunos,
pesquisadores e professores visitantes.

Com os trabalhos de pesquisa


meteorológica ganhando importância, em
1972 o Instituto passou a ser denominado
Instituto de Pesquisas Meteorológicas.
Nesse mesmo ano aconteceu a assinatura de
convênio com o BNDE - Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico, para a
aquisição de equipamentos a serem
utilizados em pesquisas. No ano seguinte
foi apresentado à FAPESP - Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
um projeto de objetivos múltiplos de
operação e pesquisa meteorológica com o
uso de radar.

1.1.1. Instalações do IPMet/Bauru em 1972

Graças a esse projeto, em 1974 foi instalado o primeiro radar meteorológico banda-C do
IPMet em Bauru, o que garantiu o pioneirismo no país em relação à utilização desse tipo de
equipamento.

Iniciou-se também a prestação de serviços à comunidade, com a divulgação diária de


boletins meteorológicos. A Rádio Eldorado de São Paulo foi o primeiro veículo de
comunicação a divulgar boletins meteorológicos diários fornecidos pelo IPMet, boletins
esses que incluiam a localização dos pontos de chuva no Estado.

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Radar Banda-C com câmera (1974-1992) Precipitação na tela do Banda-C

Os anos seguintes foram dedicados ao aprimoramento do pessoal técnico no Brasil e no


exterior, principalmente no Canadá, em função de convênios de colaboração firmados com a
Universidade de Quebéc em Montréal, e com o Conselho de Pesquisas de Alberta.

Em 1979, com o auxílio da FINEP -


Financiadora de Estudos e Projetos , foi
adquirido um sistema dedicado ao
processamento de sinais de radar. Com esse
sistema, o radar do IPMet teve sua capacidade
operacional ampliada e melhorada, passando a
dispor de informação digital de dados para
tratamento e armazenamento.
PDP-11/34-Digitalização Banda-C (79-92)

A partir de 1982, com auxílio da FAPESP, o


IPMet passou a dispor de um sistema central
de processamento para trabalhos de
pesquisa, processamento e disseminação de
dados e produtos de radar.

VAX-11/780 computador (82-94)

O ano de 1988 marcou a incorporação da Universidade de Bauru, e consequentemente do


IPMet, pela UNESP. Novas linhas de pesquisa começaram a ser trabalhadas: Modelagem do
Tempo em Escala Regional, Climatologia e posteriormente, Camada de Ozônio.

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VIRA-1988 Imagens de Radar visualizadas em PC-XT

Em 1992, com recursos obtidos junto à FINEP, o antigo radar banda C foi substituído por
um equipamento mais atual, modelo banda S. Técnicos do Instituto aprimoraram um
software desenvolvido no IPMet em 1988 denominado VIRA - Visualização de Imagens de
Radar, que tornou possível a qualquer interessado visualizar, em seu micro computador, as
áreas de ocorrência de chuvas. Esse software vem sendo utilizado com sucesso por diversos
setores produtivos da sociedade.

Em função de programa de pesquisa desenvolvido junto à secretaria de Ciência, Tecnologia


e Desenvolvimento Econômico do estado de São Paulo - SCTDE -, outro radar Banda S foi
adquirido e instalado na cidade de Presidente Prudente. Esse sistema opera remotamente a
partir de Bauru.

Instalações dos Radares em Bauru e Presidente Prudente

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Além do monitoramento propriamente dito, os dados obtidos a partir dos radares de Bauru e
Presidente Prudente fornecem subsídio para as diversas áreas de pesquisa do IPMet.
A pesquisa e a prestação de serviços à comunidade sempre nortearam os trabalhos do IPMet,
que presta relevante contribuição à sociedade em geral e aos seus setores produtivos. De seu
rol de usuários constam empresas agrícolas, de construção civil, de lazer e turismo, de
produção e distribuição de energia, Defesa Civil, Polícia Rodoviária, prefeituras, imprensa,
além do público em geral, que pode contar com o serviço de previsão do tempo 24 horas por
dia, todos os dias do ano.

1.1.2. Última Modernização

Em 2005/2006, através de uma cooperação com o National Center for Atmospheric Research
(NCAR), foi disponibilizado um sistema de software especializado para o tratamento e
aplicações das informações de radares meteorológicos, denominado TITAN (Thunderstorm
Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting). A implementação deste software foi
realizada com a assistência do NCAR, dentro dos objetivos propostos do Projeto SIHESP
(Sistema Hidrometeorológico do Estado de São Paulo) e financiado pela FAPESP.

Nowcasting
(Previsão imediata):
Tempestade multicelular
produzindo granizo em
17 de outubro de 1999
(Tibiriçá) - pós-análise.
Campo composto de
refletividade dos radares
de Presidente Prudente e
Bauru, raio de alcance de
240 km a partir de ambos.
A elipse em vermelho é a
previsão de deslocamento
para 60 minutos indicado
pelo TITAN.

No inicio do ano de 2006 foi realizada a atualização dos radares de Bauru e Presidente
Prudente, em termos de software e hardware através de um projeto de pesquisa submetido
junto a FAPESP. Em meados de 2007 foi necessário propor a FAPESP um projeto aditivo
que contemplasse a utilização de tecnologia de estado sólido, uma vez que ambos os radares
deixaram de funcionar propriamente pois a capacidade Doppler de um deles foi perdida em
função de problemas no sistema para a geração das informações de velocidades radiais. Tal
atualização foi implementada em janeiro de 2008 tendo sido realizada totalmente por pessoal
capacitado do IPMet.

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Sala do transmissor do radar (visto através da Sala de operações com display das imagens
janela de vidro) e controle console/monitor. dos radares Presidente Prudente e Bauru.

Graças ao projeto de atualização dos radares foi possível com parte da reserva técnica do
projeto adquirir equipamentos de informática necessários para a composição do atual
Laboratório Didático do IPMet. Sua recente inauguração em 2007, foi feita com
apresentações de cursos em meteorologia com radar para aplicações / interpretação dos
vários produtos gerados pelos radares do IPMet, oferecidos aos usuários públicos e privados.

Grupo de oficiais da Policia Ambiental do Estado de São Paulo em curso sobre a utilização
dos diversos produtos meteorológicos gerados pelo setor operacional do IPMet, no
Laboratório Didático recém inaugurado.

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1.2. APLICAÇÃO DOS RECURSOS:
O acesso livre à área restrita no Site do IPMet, permite ao usuário, acompanhar as
ocorrências de chuva dentro da área de cobertura dos radares de Bauru e Presidente
Prudente.
Para melhor identificação o usuário poderá acessar as imagens individualmente ou de ambos
os radares, o acesso oferece ainda a facilidade de visualizar, com efeitos de animação,
múltiplas imagens em horários seqüenciais.
Com a utilização dos recursos oferecidos pelo monitoramento meteorológico (PPI - CAPPI -
ALERTA) é possível verificar o deslocamento da chuva acompanhando sua trajetória,
portanto, subsidiando e orientando os processos de tomada de decisões com vistas à proteção
da vida e patrimônio, além da segurança, produtividade, pontualidade e qualidade do produto
ou serviço.
O monitoramento meteorológico pode ser uma importante ferramenta para:
 Planejamento de manutenções;
 Prevenção de riscos;
 Alocação de recursos humanos;
 Decisões operacionais;
 Manejo de frotas;
 Planejamento de trabalhos a céu aberto;

USUÁRIOS:

Iniciativa Privada:
Agrícolas, Construção Civil, Lazer e Turismo, Produção e Distribuição de
Energia,Transporte e Logística, Aviação Civil, Indústrias Químicas; Hidroviários, Produção
Industrial.

Órgãos e Instituições Públicas:


Universidades, Defesa Civil do Estado de São Paulo, Polícia Militar Rodoviária, Polícia
Militar Ambiental, Corpo de Bombeiros, Prefeituras, Secretaria Municipais, Ministério
Público Estadual e Federal, Marinha do Brasil, Ministério da Aeronáutica.

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PARTE 2 : METEOROLOGIA

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2.1. O QUE É METEOROLOGIA?
A meteorologia (meteoros = alto no céu) é a ciência que estuda a atmosfera terrestre e os
seus fenômenos. O principal objetivo desta ciência é a previsão do estado do tempo.
Fenômenos meteorológicos são eventos temporais observáveis e são explicados pela
meteorologia.

A diferença entre Tempo e clima é que o Tempo é a condição instantânea da atmosfera em


determinado lugar e pode ser definida por alguns elementos como a temperatura, pressão,
umidade, nuvens, chuva e visibilidade. O clima é o acúmulo dos eventos de Tempo diários e
sazonais em um longo período de tempo.

As condições do tempo são descritas em termos de alguns elementos básicos, que são
quantidades ou propriedades medidas regularmente, tais como: temperatura do ar, umidade
do ar, pressão atmosférica, velocidade e direção do vento, tipo e quantidade de precipitação e
tipo e quantidade de nuvens.

A Meteorologia é uma ciência extremamente vasta e complexa, mas idéias e conceitos


básicos são abordados nas áreas tradicionais da Meteorologia como a Meteorologia Física,
Meteorologia Sinótica, Meteorologia Dinâmica e a Climatologia.

A Meteorologia Física estuda os fenômenos atmosféricos relacionados diretamente com a


Física e a Química.

A Meteorologia Sinótica está relacionada com a descrição, análise e previsão do tempo.

A Meteorologia Dinâmica trata dos movimentos atmosféricos e sua evolução temporal,


baseada nas leis da Mecânica dos Fluídos e da Termodinâmica Clássica.

A Climatologia estuda os fenômenos atmosféricos do ponto de vista de suas propriedades


estatísticas (médias e variabilidade) para caracterizar o clima em função da localização
geográfica, estação do ano, hora do dia, etc.

2.2. ATMOSFERA TERRESTRE


A atmosfera pode ser definida como sendo uma fina camada de gases, presa à Terra pela
força da gravidade. A Figura 1 apresenta a estrutura vertical da atmosfera.

A região da atmosfera entre a superfície e até aproximadamente 11 km contém todos os


fenômenos meteorológicos aos quais estamos familiarizados. Também, esta região mantém-
se bem agitada pelas correntes de ar ascendentes e descendentes. Aqui, é comum moléculas
de ar circularem por profundidades maiores de 10 km em apenas alguns dias. Esta região de
ar circulante que se estende para cima da superfície terrestre até onde o ar não se tornar mais
frio é chamada de troposfera – do grego “tropein”, que significa mudança.

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Figura 1: Estrutura vertical da atmosfera terrestre.

Acima desta camada encontra-se a estratosfera, onde, aproximadamente acima de 20 km de


altitude, o ar começa a se aquecer com a altura, produzindo uma inversão na temperatura. A
região de inversão tende a reduzir a quantidade de movimento vertical na própria
estratosfera. Mesmo que a temperatura do ar esteja aumentando com a altura, o ar em uma
altitude de 30 km é extremamente frio, em média menor que -46ºC. A razão para a existência
da inversão na estratosfera deve-se, em grande parte, ao aquecimento provocado pelo
ozônio, o qual absorve a radiação ultravioleta do Sol. Se o ozônio não estivesse presente, o
ar provavelmente tornar-se-ia mais frio com a altura.

Acima da estratosfera está a mesosfera. O ar, nesta camada, é extremamente rarefeito e a


pressão atmosférica é muito baixa. Mesmo que as porcentagens de oxigênio e nitrogênio na
mesosfera sejam aproximadamente as mesmas da troposfera, o ar mesosférico contém uma
quantidade muito menor de moléculas que o ar troposférico. Neste nível, uma pessoa sem
equipamento para a respiração de oxigênio ficaria sem oxigênio e sufocaria.

A “camada quente” acima da mesosfera é a termosfera. Aqui, as moléculas de oxigênio


absorvem os raios solares, aquecendo o ar. Na termosfera, existem relativamente poucos
átomos e moléculas. Consequentemente, a absorção de uma pequena quantidade de energia
solar pode causar um grande aumento na temperatura do ar, a qual pode exceder 500ºC.
Mesmo que a temperatura na termosfera seja extremamente alta, uma pessoa protegida do
Sol não se sentiria, necessariamente, quente. A razão para isto é que existem poucas
moléculas nesta região da atmosfera para bater em algo (pele exposta, por exemplo) e
transferir calor suficiente para aquecê-lo. A baixa densidade da termosfera também significa
que uma molécula de ar se moverá por uma distância média de mais de 1 km antes de colidir
com outra molécula. Uma molécula de ar similar, na superfície terrestre se moveria por uma

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distância média menor que um milionésimo de um centímetro antes de colidir com outra
molécula.

2.2.1.Composição da atmosfera

O ar seco contém, em volume, cerca de 78,09% de nitrogênio, 20,95% de oxigênio 0,93% de


argônio 0,039% de gás carbônico e pequenas quantidades de outros gases, conforme mostra
a figura 2. O ar contém uma quantidade variável de vapor de água, em média 1%.

Figura 2: Composição da atmosfera terrestre.

Tabela 1- Abundância dos elementos na atmosfera terrestre.

O nitrogênio e o oxigênio ocupam 99% do volume de ar seco e limpo. Dentre os gases


variáveis, o dióxido de carbono, o vapor d'água e o ozônio ocorrem em pequenas
concentrações, mas são importantes para os fenômenos meteorológicos e para a vida.

O vapor d'água - (0-4%) é um importante gás do efeito estufa. Sua concentração é altamente
variável (em espaço e tempo), libera ou adquire grande quantidade de calor latente, quando
muda de fase. O vapor d’água tem grande capacidade de absorção, tanto da energia radiante
emitida pela Terra, como da energia emitida pelo Sol, portanto também atua para reter calor

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na baixa atmosfera. Durante as mudanças de fases da água, o calor absorvido em uma região
é transportado pelos ventos para outras locais e liberado. E o calor latente liberado, fornece
energia que alimenta as tempestades ou modifica a circulação atmosférica.

O dióxido de carbono - CO2 (0,037%) - importante gás do efeito estufa.

Suas fontes são o decaimento da vegetação, as erupções vulcânicas, a respiração da vida


animal, a queima de combustíveis e o desmatamento. E seus sumidouros são as plantas
(fotossíntese) e os oceanos. O dióxido de carbono é essencial para a fotossíntese e por ser um
ótimo absorvedor da radiação (de onda longa) emitida pela terra, faz com que a baixa
atmosfera retenha calor, tornando a terra própria para a vida.

O percentual de dióxido de carbono vem crescendo devido à queima dos combustíveis


fósseis tais como carvão, petróleo e gás natural. A maioria do dióxido de carbono adicional é
absorvido pelas águas dos oceanos ou pelas plantas, mas em torno de 50% permanece no ar.
Projeções indicam que na segunda metade do próximo século, os níveis de CO2 serão o
dobro do que eram no início do século 20. Embora o impacto desse crescimento seja difícil
de prever, acredita-se que ele trará um aquecimento na baixa troposfera e, portanto produzirá
mudanças climáticas globais.

O ozônio - O3 → nosso escudo contra os raios UV.

A formação do ozônio na camada entre 10-50 km é resultado de uma série de processos que
envolvem a absorção da radiação solar. Moléculas de oxigênio- O2 são dissociadas em
átomos de oxigênio após absorverem radiação ultravioletas. Na ausência da camada de
ozônio a radiação ultravioleta seria letal para a vida. Acredita-se que o maior responsável
pela redução da camada de ozônio sejam os clorofluorcarbonos (CFCs).

2.3. RADIAÇÃO SOLAR E TERRESTRE. BALANÇO DE CALOR


O Sol é a maior fonte de energia para o sistema terra-atmosfera. O Sol emite energia
eletromagnética, e parte dessa energia penetra no sistema terra-atmosfera e se converte em
outras formas de energia como calor e energia cinética. A distribuição espacial da energia
solar é desigual, gerando as correntes oceânicas e a circulação atmosférica que transportam
calor do equador para os polos.

2.3.1. Movimentos da Terra

Os dois principais movimentos da terra são os movimentos de rotação e translação.

Movimento de rotação – é o movimento que a terra realiza em torno de seu eixo imaginário
(no sentido contrário aos ponteiros do relógio) com duração de 24 horas, definindo os dias e
as noites da Terra (Fig. 3).

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As consequências desse movimento são: a sucessão de dias e noites, o movimento aparente
do Sol durante o dia, o movimento aparente das estrelas durante a noite e a variação da
obliquidade dos raios solares ao longo do dia.

Figura 3: Movimento de rotação da terra.

Movimento de translação – é o movimento que a Terra realiza em torno do Sol (no sentido
contrário aos ponteiros do relógio) com duração de 365 dias (1 ano) definindo as estações do
ano (Fig. 4). O ano não bissexto tem um défice de 6 horas e 4 minutos em relação ao
movimento real de translação, somando um total de 24 horas ao longo de 4 anos, sendo
compensado pelo ano bissexto, onde se acrescenta um dia para corrigir o nosso calendário
com a translação da Terra.

No dia 3 de janeiro a Terra está mais próxima do Sol é o periélio (147 x 106 km), no dia 4 de
julho a Terra está mais afastada do Sol é o afélio (152 x 106 km). As estações são causadas
pela inclinação do eixo de rotação da Terra.

Figura 4: Movimento de translação da terra.

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A quantidade total de radiação solar recebida pela Terra, depende da duração do dia e da
altura do Sol. Como a Terra é curva, a altura do Sol varia com a latitude (Fig. 5).

Figura 5: Variação da altura do Sol com a latitude

Quando os raios solares atingem a Terra verticalmente, eles são mais concentrados. Quanto
menor a altura solar, mais espalhada e menos intensa a radiação (Fig. 6). Se a altura do sol
decresce, o percurso dos raios solares através da atmosfera cresce (Fig. 5) e a radiação solar
sofre maior absorção, reflexão ou espalhamento, o que reduz sua intensidade na superfície.
Portanto, quanto menor a altura do sol, mais espalhada e menos intensa a radiação e quanto
maior a altura, maior a energia recebida.

Figura 6: Variação da altura do Sol.

Existe uma variação anual dos raios solares em relação a Terra. No dia 21 ou 22 de
dezembro os raios solares incidem verticalmente (h=90°) em 23°27’ S Trópico de
Capricórnio (Solstício de verão para o Hemisfério sul) e o dia 21 ou 22 de junho os raios
solares incide verticalmente (h=90°) em 23°27’ N Trópico de Câncer (Solstício de inverno
no Hemisfério sul). Entre os solstícios ocorrem os equinócios (os dias e noite tem duração
iguais) quando os raios solares atingem verticalmente o equador (latitude de 0°). No

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hemisfério sul o equinócio da primavera ocorre no dia 22 ou 23 de setembro e o equinócio
de outono no dia 21 ou 22 de março.

2.3.2. Radiação Eletromagnética

A radiação eletromagnética pode ser considerada como um conjunto de ondas (elétricas e


magnéticas) propagando-se com velocidade da luz (c = 3 x 108 m/s).

As várias formas de radiação, caracterizada pelo seu comprimento de onda, compõem o


espectro eletromagnético (Fig.7). Cerca de 43% da energia radiante do Sol está na parte
visível, 49% está no infravermelho próximo, 7% no ultravioleta e menos de 1% é emitida
como raios X, raios gama e ondas de rádio. Quando qualquer forma de energia radiante é
absorvida por um objeto, o resultado é o crescimento do movimento molecular e
correspondente crescimento da temperatura.

Figura 7: Espectro eletromagnético.

Cerca de metade desta energia solar é emitida como luz visível na parte de freqüência mais
alta do espectro eletromagnético e o restante na do infravermelho próximo e como radiação
ultravioleta (Fig. 8).

Figura 8: Radiação solar e radiação terrestre.

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2.3.3.Transferência de calor

Antes de começarmos a falar sobre os processos de transferência de calor, é importante


discutir sobre o calor latente. O calor latente (ou escondido) é aquele que não detectamos em
um termômetro, ou seja, ele não diminui nem aumenta a temperatura da substância (Fig. 9).

Assim, quando a água evapora, transformando-se em vapor d’água, o calor latente adquirido
pela substância é carregado com ela. Quando este vapor d’água condensa, libera o calor
latente absorvido quando da sua evaporação e aquece a vizinhança.

Note que são necessárias, aproximadamente, 600 calorias para evaporar uma única grama de
água. Devido a isto, a formação de uma grande nuvem (condensação do vapor d’água) libera
uma grande quantidade de energia a sua vizinhança, aquecendo-a. Este processo é
extremamente importante para os transportes de energia dentro da atmosfera.

Figura 9: Transferência do calor latente de acordo com as mudanças de fase ocorridas em


uma substância. Para a direita a substância ganha energia e para a esquerda ela perde.

A transferência de calor pode ocorrer por diferentes mecanismos, condução, radiação ou


convecção (Fig. 10).

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Figura 10: Mecanismos de transferência de calor.

1) Condução: transferência molécula a molécula dentro da substância ou entre substâncias


que estão em contato físico direto.

A capacidade das substâncias para conduzir calor (condutividade) varia consideravelmente


(Tab. 2). Os sólidos são os melhores condutores do que os líquidos e os líquidos são
melhores condutores que os gases. Os metais são ótimos condutores de calor e o ar é um
péssimo condutor de calor, portanto, a condução só é importante entre a superfície da Terra e
o ar diretamente em contato com a superfície. Sendo assim, como meio de transferência de
calor para a atmosfera a condução é o menos significativo e pode ser omitido na maioria dos
fenômenos atmosféricos.

Tabela 2: Condutividade térmica

2) Convecção: transferência por movimento de massa

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A convecção ocorre entre líquidos e gases e ocorre pela transferência de calor dentro de um
fluido através do movimento do próprio fluido.

3) Radiação: transferência por ondas eletromagnéticas.

A radiação consiste de ondas eletromagnéticas viajando com velocidade da luz. A radiação é


a única que pode ocorrer no espaço vazio, portanto ela é a principal forma de transferência
de calor.

Na atmosfera, o aquecimento envolve os três processos, que ocorrem simultaneamente. O


calor transportado pelos processos combinados de condução, convecção e radiação é
denominado calor sensível.

2.3.4. Balanço de Radiação Global

O sistema terra-atmosfera estaria progressivamente se aquecendo ou resfriando, caso não


houvesse um balanço quase perfeito entre a quantidade de radiação solar incidente e
quantidade de radiação terrestre para o espaço.

Das 100 unidades da radiação solar total que chega na atmosfera, 30 unidades são refletidas
de volta ao espaço, 70 unidades são absorvidas (19 unidades pela atmosfera e 51 unidades
pela superfície da Terra). Alguns gases que estão presentes na atmosfera retardam a perda da
radiação para o espaço absorvendo e reirradiando parte desta energia para a terra, resultando
em uma grande quantidade de radiação de onda longa da atmosfera (95 unidades) (Fig. 11).
Portanto, a atmosfera emite mais energia que a quantidade de energia solar absorvida pela
Terra, devido ao efeito estufa.

A terra irradia 116 unidades de energia de onda longa para a atmosfera. A atmosfera tem um
ganho de 15 unidades e a Terra tem uma perda líquida de 21 unidades e 6 unidades vão
direto para o espaço. Das 30 unidades, 23 são transferidas da superfície da Terra para a
atmosfera pelo calor latente (por moléculas de água durante a evaporação) e 7 pela
convecção e turbulência.

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Figura 11: Balanço de radiação

2.4. VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS

2.4.1. Temperatura

A temperatura do ar é uma medida da velocidade média dos seus átomos e moléculas, ou em


outras palavras, da sua energia cinética média.

As três principais escalas de temperatura são a escala Kelvin, a Celsius e a Fahrenheit. A


escala Kelvin (introduzida por Lord Kelvin) não possui valores negativos e é largamente
empregada nos estudos científicos. A escala Celsius, introduzida no século dezoito, tem seu
valor de 0ºC (zero) no ponto de fusão da água e 100ºC no ponto de ebulição da água. A
escala Fahrenheit, introduzida no início do século dezessete pelo físico G. Daniel Fahrenheit,
tem, no ponto de fusão da água o valor de 32ºF e 212ºF no ponto de ebulição da água (Fig.
12).

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Figura 12: Comparação das escalas de temperatura

Medida da temperatura

O instrumento utilizado para medir a variação da temperatura do ar é o termômetro (Fig. 13).


O termômetro é formado por um tubo graduado com um líquido (geralmente álcool ou
mercúrio). Esse tipo de termômetro, também é utilizado para medir a temperatura máxima
(elemento sensível é o mercúrio) e mínima (elemento sensível é o álcool)

Figura 13: Conjunto de termômetro (termômetro de bulbo seco, bulbo úmido, máxima e de
mínima)

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Controles da Temperatura

A temperatura do ar é variável, no tempo e no espaço. Ela pode ser regulada por vários
fatores (chamados controles da temperatura) tais como a radiação, advecção de massas de ar,
aquecimento diferencial da terra e da água, correntes oceânicas, altitude e posição
geográfica.

A radiação: os fatores que influem no balanço local de radiação e consequentemente na


temperatura local do ar incluem: (1) latitude, hora do dia e dia do ano, que determinam a
altura do sol e a intensidade e duração da radiação solar incidente; (2) cobertura de nuvens,
pois ela afeta o fluxo tanto da radiação solar como da radiação terrestre e (3) a natureza da
superfície, pois esta determina o albedo e a percentagem da radiação solar absorvida usada
para aquecimento por calor sensível e aquecimento por calor latente. Em consequência
destes fatores, a temperatura do ar é usualmente maior nos trópicos que em latitudes médias,
maior em janeiro que em julho (no Hemisfério Sul), durante o dia que à noite, sob céu claro
do que nublado (durante o dia) e com solo descoberto ao invés de coberto de neve e quando
o solo está seco ao invés de úmido.

A advecção de massas de ar: refere-se ao movimento de uma massa de ar de uma localidade


para outra e pode ser fria ou quente.

Aquecimento diferencial da Terra e da Água: cada superfície absorve e refletem energia


solar em diferentes quantidades, sendo o maior contraste observado entre terra e água. As
variações nas temperaturas do ar são muito maiores sobre a terra que sobre a água. As
localidades costeiras sofrem a influência da presença da água, apresentam menores variações
anuais de temperatura.

Correntes oceânicas: os efeitos de correntes oceânicas sobre as temperaturas de áreas


adjacentes são variáveis. As correntes oceânicas quentes que se dirigem para os pólos têm
efeito moderador do frio. O efeito de correntes frias é mais pronunciado nos trópicos ou
durante o verão em latitudes médias.

Altitude: o fato da temperatura em lugares com maior altitude ser maior que a calculada
através da taxa de variação vertical resulta da absorção e reirradiação da energia solar pela
superfície do solo. Como a densidade do ar também diminui com a altitude, o ar absorve e
reflete uma porção menor de radiação solar incidente. Consequentemente, com o aumento da
altitude a intensidade da insolação também cresce, resultando num rápido e intenso
aquecimento durante o dia. À noite, o resfriamento é também mais rápido.

Posição geográfica: uma localidade costeira na qual os ventos dominantes são dirigidos do
mar para a terra e outra na qual os ventos são dirigidos da terra para o mar podem ter
temperaturas consideravelmente diferentes. Localidades não tão distantes do mar podem ser
privadas da influência marítima pela existência de uma de montanhas próxima à costa.

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2.4.2. Pressão

A pressão atmosférica é, basicamente, a força exercida pelas moléculas que compõem a


atmosfera numa determinada área. Sua medida é feita pelo de barômetros (Fig. 14). As
unidades utilizadas são: polegada ou milímetros de mercúrio (mmHg), quilopascal (kPa),
atmosfera (atm), milibar (mbar) e hectopascal (hpa), sendo as três últimas, as mais utilizadas
no meio científico.

Figura 14: Barômetro

Variações com altitude

Devida à atração gravitacional, aproximadamente 99% da massa da atmosfera está abaixo


dos 20 km de altitude. Portanto, conforme subimos na atmosfera, há menos moléculas de ar
sobre nós e, consequentemente, sofremos uma menor pressão atmosférica. A figura 15
ilustra esta variação de pressão com a altitude.

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Figura 15: Pressão atmosférica e a sua variação com a altitude.

Variações Horizontais

Além da variação da pressão com altitude, a atmosfera possui variações horizontais de


pressão (Fig. 16). Estas são mais variáveis e mudam de acordo com as diferenças horizontais
de temperatura, de umidade e por meio de fenômenos atmosféricos. A diferenças horizontais
de pressão também podem ser representadas graficamente, por meio de isolinhas de igual
pressão, as isóbaras.

Figura 16: Representação gráfica das diferenças horizontais de pressão (carta de pressão ao
nível médio do mar), sendo: A - Alta Pressão e B - Baixa Pressão.

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2.4.3. Umidade

A umidade refere-se a qualquer um dos meios de se especificar a quantidade de vapor d’água


no ar. Desde que existem várias maneiras de expressar o conteúdo de vapor d’água
atmosférico, existem vários significados para o conceito de umidade.

Imagine, por exemplo, um volume de ar em um fino balão. Se extrairmos o vapor d’água


deste volume, ou parcela, especificaríamos a umidade de diversas maneiras.

Meios de especificarmos a quantidade de vapor d’água: (a) massa de vapor d’água X volume
da parcela = umidade absoluta [g/m3]; (b) massa de vapor d’água X massa total da parcela =
umidade específica [g/kg]; (c) massa do vapor d’água X massa do ar seco da parcela = razão
de mistura [g/kg] e (d) pressão do vapor d’água.

Há um outro meio de expressarmos a umidade do ar: a conhecida umidade relativa. A


umidade relativa nos dá uma relação entre a quantidade de vapor d’água presente no ar e a
máxima quantidade de vapor d’água possível, para uma determinada temperatura. Ela é
representada, geralmente, em unidades de porcentagem. Note que por esta característica, ela
não nos informa a real quantidade de vapor d’água presente no ar, apenas a relação descrita
acima.

Um outro meio de especificarmos a umidade presente no ar dá-se por meio da temperatura


do ponto de orvalho. Esta temperatura refere-se àquela temperatura a qual o ar deve atingir
para que o vapor d’água comece a condensar. Quanto maior a temperatura do ponto de
orvalho, maior a quantidade de vapor d’água presente no ar. Além disso, a diferença entre a
temperatura do ar e a temperatura do ponto de orvalho pode ser usada para indicar a umidade
relativa.

A medida da umidade pode ser feita através do psicrômetro (Fig. 17) que é composto por um
termômetro de bulbo seco e outro de bulbo úmido (bulbo envolvido em uma gase
umidecida).

Figura 17: Psicrômetro

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Ciclo Hidrológico

É o incessante movimento das águas entre os continentes, atmosfera e oceanos. Este sistema
é alimentado pela energia solar que faz evaporar a água dos oceanos e continentes para
atmosfera, formando as nuvens. Os ventos também transportam ar úmido por grandes
distâncias, novamente a precipitação cai no oceano e começa um novo ciclo. A água que cai
no continente pode se infiltrar no solo, ir para os rios e lagos ou ir para o oceano. Parte da
água que se infiltra no solo pode evaporar ou ser absorvida pelas plantas, sendo devolvido
para atmosfera pela transpiração (Fig. 18).

Figura 18: Ciclo Hidrológico

2.5. ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA


Sabemos que a maioria das nuvens se forma quando o ar sobre, expande e resfria. Mas por
que o ar sobe em algumas ocasiões enquanto que em outras não? E por que a forma e o
tamanho das nuvens varia tanto quanto o ar sobe? Para responder estas questões vamos focar
o conceito de estabilidade atmosférica.

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Quando falamos de estabilidade nos referimos à condição de equilíbrio. A Figura 19 ilustra
este conceito: a parte superior desta figura mostra um exemplo de equilíbrio estável, no qual
a rocha sempre volta rapidamente à sua posição original após ser deslocada. Já a parte
inferior da figura mostra um exemplo de equilíbrio instável, no qual a rocha não retorna mais
à sua posição de equilíbrio após ser deslocada.

Figura 19: Condições de equilíbrio; estável (parte superior da figura) e instável


(parte inferior da figura).

Aplicando estes conceitos à atmosfera, podemos ver que o ar está em equilíbrio estável
quando uma parcela de ar retorna à sua posição inicial após ser deslocada para cima ou para
baixo – ela resiste à movimentos para cima e para baixo. O ar que está em equilíbrio instável
quando não retornar à sua posição inicia, após um pequeno deslocamento – favorece os
movimentos verticais (Fig. 20).

Entretanto, a atmosfera é ainda mais complexa. Devido à presença do vapor d’água, há um


outro tipo de condição de equilíbrio: o condicionalmente instável. Numa situação deste tipo,
uma determinada parcela de ar tem características estáveis até uma determinada altitude, mas
torna-se instável ao elevar-se acima desta altitude. A esta altitude dá-se o nome de Nível de
Condensação por Levantamento (NCL), ou seja, a altitude na qual uma parcela de ar deve
ser levantada para que a condensação se inicie. A partir desta altitude ocorre a liberação do
calor latente de condensação que, dependendo da quantidade liberada e da diferença de
temperatura entre a atmosfera ao redor desta parcela de ar, pode tornar esta parcela de ar
instável. Veja na Figura 21 um exemplo gráfico deste tipo de equilíbrio.

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(a) (b)

Figura 20: Aplicação dos conceitos de estabilidade na atmosfera. (a) Equilíbrio


estável e (b) equilíbrio instável.

Figura 21: Aplicação do conceito de instabilidade na atmosfera: a condição


condicionalmente instável.

Fatores que causem aquecimento do ar mais próximo à superfície em relação ao ar mais


acima aumentam a instabilidade e fatores que resfrie o ar mais próximo à superfície tornam o
ar mais estável.

A estabilidade é aumentada por: Resfriamento radiativo da superfície da terra após o pôr do


sol, e consequentemente do ar próximo a ela; resfriamento de uma massa de ar por baixo
quando ela atravessa uma superfície fria; subsidência de uma coluna de ar.

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A instabilidade é aumentada por: Intensa radiação solar que aquece o solo, e por
conseqüência o ar por baixo; aquecimento de uma massa de ar por baixo quando ela
atravessa uma superfície quente; movimento ascendente do ar associado a convergência;
levantamento forçado, pelas montanhas ou superfícies frontais; resfriamento radiativo do
topo de nuvens.

2.6. CONDENSAÇÃO, NUVENS E PRECIPITAÇÃO

2.6.1. Saturação em baixos níveis

Quando uma massa de ar é resfriada, próximo à superfície da Terra, este ar pode atingir a
saturação (100% de umidade), possibilitando a formação de orvalho, geada ou nevoeiro.

Geada e Orvalho

À noite os objetos sobre a superfície da Terra emitem radiação terrestre (infravermelha) para
atmosfera resfriando-se, e a atmosfera emite radiação terrestre de volta para a terra
aquecendo o objeto. Em noite de céu limpo (pouco efeito estufa) sem convecção o objeto
emite mais radiação do que recebe da atmosfera. Consequentemente, o objeto torna-se mais
frio que o ar adjacente e resfria esse ar, tornando-o saturado. Se o ar está com temperatura
acima do ponto de congelamento, o vapor d’água pode condensar sobre o objeto, formando
orvalho. Se a temperatura está abaixo do ponto de congelamento, o vapor d’água pode
depositar-se como geada.

Nevoeiro

O nevoeiro é um tipo de nuvem estratiforme que se forma na superfície ou muito próximo a


ela. Os nevoeiros podem ser formados quando uma massa de ar que sofre um resfriamento à
superfície, torna-se saturado. A saturação dessa massa de ar, pode ocorrer devido ao
resfriamento radiativo, resfriamento por expansão ou por adição de vapor d’água. Portanto, o
nevoeiro pode ser formado pelo resfriamento da temperatura do ar até a temperatura do
ponto de orvalho ou por adição de vapor d'água até que a temperatura do ponto de orvalho
fique igual a temperatura do ar.

Existem vários tipos de nevoeiros: o nevoeiro de radiação que ocorre pelo resfriamento
radiativo da superfície e do ar adjacente, em noites de céu limpo, ventos calmos e muita
umidade; o nevoeiro de advecção que ocorre quando o ar quente e úmido passa sobre uma
superfície fria; o nevoeiro orográfico que ocorre quando o ar úmido sobe uma montanha, se
expande e se resfria; o nevoeiro de vapor que ocorre quando o ar frio se move sobre águas
mais quente; o nevoeiro frontal ou de precipitação que se forma quando ocorre a saturação
pela adição de vapor ou por evaporação da chuva em ar frio.

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2.6.2. Nuvens

São um conjunto de minúsculas gotículas de água ou cristais de gelo, ou uma mistura de


ambos.

Formação das nuvens

Nos processos de condensação, o ar deve estar saturado e deve existir uma superfície sobre a
qual o vapor d'água possa condensar. Quando o orvalho se forma, os objetos servem para
este propósito. Quando a condensação ocorre no ar acima do solo, são as minúsculas
partículas conhecidas como núcleo de condensação (partículas microscópicas de poeira,
fumaça e sal) que servem como superfície sobre a qual o vapor d'água condensa.

Classificação das Nuvens

Podemos classificar as nuvens baseadas na sua aparência e altitude (Fig. 22). Quanto à
aparência, existem três tipos; os cirrus, os cúmulos e os estratos. Quanto à altitude podem ser
classificadas em nuvens altas (base acima de 6000 m) nuvens médias (base entre 2000 e
6000 m), nuvens baixas (base até 2000 m) e as nuvens com desenvolvimento vertical.
Lembrando que há variações sazonais e latitudinais nesses valores.

Figura 22: Classificação das nuvens quanto a altura e a aparência (ou forma).

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2.6.3. Precipitação

A precipitação descreve qualquer tipo de fenômeno relacionado à queda do céu, tais como
chuva, neve ou granizo. As gotículas de nuvens precisam crescer o suficiente para vencer as
correntes ascendentes nas nuvens e sobreviver como gotas ou flocos de neve a uma descida
até a superfície sem se evaporar. Para isso seria necessário em torno de um milhão de
gotículas de nuvem numa única gota de chuva. Existem dois importantes mecanismos para
explicar a formação de gotas de chuva; o processo de Bergeron e o processo de colisão-
coalescência.

Processo de Bergeron

Aplicado às nuvens frias, que estão em temperaturas abaixo de 0° C. Nuvens com


temperaturas entre 0 e 10° C são tipicamente compostas de gotículas de água superesfriada.
Entre -10 e -20° C gotículas líquidas coexistem com cristais de gelo. Abaixo de -20° C
(temperatura de ativação de muitos núcleos de deposição) as nuvens consistem de cristais de
gelo.

O processo de Bergeron (Fig. 23) é um processo de crescimento de cristais de gelo que


ocorre em nuvens na fase mista (contendo uma mistura de água arrefecida e gelo). A pressão
de vapor saturado sobre a água é maior do que a pressão de vapor de saturação sobre gelo (à
mesma temperatura), criando um ambiente saturado (UR=100%) para a água líquida, mas
um ambiente supersaturado para gelo. Isto resulta em uma rápida evaporação da água líquida
e crescimento de cristais de gelo rápido através de deposição de vapor. Se a densidade do
gelo é pequeno comparado com a água líquida, os cristais de gelo podem crescer o suficiente
para cair fora da nuvem, fundindo-se em gotas de chuva se temperaturas nos níveis mais
baixos é quente o suficiente.

Figura 23: Processo de Bergeron

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Processo de colisão-coalescência

Este processo ocorre em nuvens quentes, ou seja, com temperaturas acima de 0° C. Ocorre
quando duas ou mais gotículas se fundem, formando uma única gotícula. As pequenas
gotículas são arrastadas pelos ventos ascendentes e descendentes no interior de uma nuvem,
colidindo-se e coalescendo-se (Fig. 24). Quando as gotículas tornam-se muito grande para
serem sustentadas pelas correntes de ar, começam a cair em forma de chuva, neve ou
granizo.

Figura 24: Processo de colisão-coalescência

Medidas de Precipitação

A forma mais comum de precipitação é a chuva e a mais fácil de medir. O pluviômetro


padrão (Fig. 25a) tem um diâmetro de 20 cm no topo. Quando a água é recolhida, um funil a
conduz a uma pequena abertura num tubo de medida cilíndrico que tem área de seção reta de
somente um décimo da área do coletor. Portanto, a espessura da chuva precipitada é
aumentada 10 vezes, o que permite medidas com precisão de até 0,025 cm, enquanto a

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abertura estreita minimiza a evaporação. O pluviógrafo (Fig. 25b), que não só registra a
quantidade de chuva, mas também seus instantes de ocorrências e intensidade.

(a) (b)

Figura 25: (a) Pluviômetro, (b) Pluviógrafo

2.6.4. Vento

O vento consiste na circulação, no movimento da atmosfera. Existem várias forças que


causam este movimento, tais como; a força do gradiente de pressão, a força de Coriolis, a
força centrífuga, a força de atrito e a força da gravidade. Aqui, falaremos rapidamente sem
maiores detalhes sobre algumas dessas forças.

O gradiente de pressão é a maior taxa de variação da pressão com a distância. Isóbaras mais
próximas indicam gradiente de pressão mais forte. Se o ar esta sujeito a uma pressão mais
num lado do que em outro, este desequilíbrio produzirá uma força resultante da região de
maior pressão para a região de menor pressão. Como o aquecimento desigual da superfície
da Terra gera diferenças de pressão, a radiação solar pode ser considerada como a força
geradora do vento. As brisas marítimas e terrestres (Fig. 26) são um bom exemplo, de como
as diferenças de temperaturas, pode gerar um gradiente de pressão e por isso gerar ventos.

Figura 26: Modelo esquemático da brisa marítima e terrestre

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A força de coriolis atua sobre os corpos em movimento (parcelas de ar) em relação a um
sistema fixo (Terra) e sempre em direção perpendicular ao movimento, alterando apenas a
direção do movimento. Esta força induz desvio para direita no Hemisfério Norte e para
esquerda no Hemísferio Sul. Quanto maior o deslocamento maior será o desvio. Esta força
também é dependente da latitude, sendo nula no equador e máxima nos polos. A força
desviadora de coriolis pode ser omitida para movimentos com escala de tempo muito
pequena em relação ao período de rotação da Terra (ex; dinâmica das nuvens ou tornardos),
mas é muito importante para os fenômenos de escala sinótica (ex; ciclones).

O vento geostrófico é um vento horizontal, que resulta do equilíbrio entre a força do


gradiente de pressão e a força de Coriolis. Este equilíbrio só é aproximadamente possível
sem o efeito do atrito, portanto só em altitudes (acima de alguns quilômetros). E se este
equilíbrio é atingido, o vento passa a ter velocidade constante e paralela às isóbaras. Na
realidade o vento nunca será puramente geostrófico, mas o vento geostrófico idealizado é de
fundamental importância pois ele dá uma aproximação dos ventos em níveis superiores da
atmosfera. Portanto, medindo o campo da pressão em ar superior, poderemos determinar a
direção e a velocidade do vento, pois a direção é paralela às isóbaras e a velocidade só
depende do espaçamento entre as isóbaras.

Ventos na camada de Atrito

O atrito atua para frear o movimento do ar nos primeiros quilômetros da atmosfera próximo
à superfície. O atrito reduz a força de Coriolis já que ela é proporcional à velocidade do
vento. Portanto, como o atrito reduz a velocidade ela também reduz a força de Coriolís,
porém a força do gradiente de pressão não é afetada pela velocidade do vento, surgindo
assim um desequilíbrio entre a força do gradiente de pressão e a força de Coriolis, fazendo
com que o ar cruze as isóbaras em direção à área de menor pressão. O ângulo de cruzamento
depende da magnitude do atrito (Fig. 27).

Figura 27: Vento sem atrito e com atrito

O vento cruza as isóbaras da alta para a baixa pressão. Num ciclone a pressão decresce para
o centro, o vento sopra no sentido horário e para dentro, enquanto num anticiclone o vento
sopra sentido anti-horário e para fora no hemisfério sul. No hemisfério Norte os sentidos são
ao contrário. Mas em qualquer hemisfério o atrito causa convergência em um ciclone e
divergência em um anticiclone (Fig. 28).

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Figura 28: Circulação em superfície.

Movimentos Verticais Geradas pelo Vento

Embora o transporte vertical seja pequeno, se comparado com os movimentos horizontais,


ele é muito importante para o Tempo na atmosfera. O ar ascendente está relacionado à
formação de nebulosidade e precipitação, enquanto a subsidência está relacionado às
condições de céu limpo.

A convergência em superfície sobre um ciclone (baixa pressão) causa movimento para cima
(Fig. 29a). O ar sofre resfriamento e consequentemente aumenta a umidade relativa e nuvem
e precipitação podem se desenvolver. A divergência em superfície sobre um anticiclone gera
subsidência na camada, comprimindo e aquecendo o ar, dificultando a formação de nuvem e
precipitação (Fig. 29b).

Figura 29: Esquema das correntes de ar associados com ciclones e anticiclones.

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Quando o ar se move da superfície do oceano (relativamente lisa) para a terra (rugosa), o
atrito cresce e diminui a velocidade do vento resultando em um acúmulo de ar. Portanto,
ventos convergentes e ar ascendente acompanham a corrente de ar do oceano para a terra
(pode contribuir para formação de nebulosidade sobre a terra) e divergência e subsidência
acompanha a corrente de ar da terra para o oceano, devido à velocidade crescente (Fig. 30).

Figura 30: Divergência e convergência devido ao atrito.

2.7. CIRCULAÇÃO GLOBAL


No modelo de 3 células (1920) (Fig 31), a zona entre o equador e 30° de latitude a circulação
se dirige para o equador na superfície e para os pólos em nível superior formando a célula de
Hadley. O vento para o equador é desviado pela força de Coriolis, adquirindo uma
componente para oeste formando os ventos Alísios (no HN os alísios vêm de nordeste e no
HN vêm de sudeste). Eles se encontram próximo ao equador formando a Zona de Baixa
pressão equatorial. A circulação entre 30° e 60° de latitude é oposta à célula de Hadley a
corrente na superfície é para os pólos e devido à força de Coriolis, os ventos tem uma forte
componente para oeste, formando os ventos de oeste em latitudes médias, que são mais
variáveis que os alísios. Acredita-se que a subsidência nas proximidades dos pólos produz
uma corrente superficial em direção ao equador, que é desviada, formando os ventos polares
de leste em ambos hemisférios. Quando estes ventos polares se movem para o equador, eles
encontram a corrente de oeste de latitudes médias, que é mais quente. A região na qual estas
duas correntes se encontram é uma região de descontinuidade, chamada de frente polar.

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Figura 31: Circulação global idealizada no modelo de circulação de três células.

Vento e Pressão Observada em Superfície

Se a Terra fosse uniforme teríamos faixas zonais de alta e baixa pressão (Fig. 32a), mas
devido à presença dos oceanos e continentes essa distribuição zonal (faixas zonais) é
substituída por células semipermanentes de alta e baixa pressão (Fig. 32b).

Figura 32: (a) Distribuição idealizada zonal de pressão. (b) "Quebra" desta distribuição
zonal causada pela distribuição dos continentes.

Mas na realidade essa distribuição é ainda mais complicada devido às variações sazonais de
temperatura que enfraquecem ou intensificam essas células de pressão. Portanto, as
configurações de pressão na terra variam muito no decorrer do ano. As figuras 33 (a) e (b)
mostram a distribuição global de pressão e dos ventos mais aproximada da realidade.

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Figura 33: (a) Pressão e circulação na superfície em janeiro. (b) Pressão e circulação na
superfície em julho.

No Hemisfério Sul a variação entre verão e inverno é muito menor que no Hemisfério Norte,
o que pode ser atribuído a maior quantidade de água do que de continente no Hemisfério Sul.
A migração da ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) é maior sobre os continentes que
sobre os oceanos, devido à maior estabilidade térmica dos oceanos.

2.8. SISTEMAS METEOROLÓGICOS

2.8.1. Escalas de Movimentos

A escala de um determinado fenômeno meteorológico refere-se à sua dimensão espacial e


temporal. Grosseiramente, ela pode ser classificada como na figura abaixo.

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Figura 34: Escala de movimentos atmosféricos

2.8.2. Massas de ar

É uma parcela extensa e espessa da atmosfera, com milhares de quilômetros quadrados de


extensão, que apresenta características próprias de pressão, temperatura e umidade,
determinadas pela região na qual se originam. Devido às diferenças de pressão, as massas de
ar que compõem a atmosfera estão em constante movimento.

Existem grandes extensões da superfície terrestre que têm características semelhantes (Fig.
35a) como, por exemplo, as regiões polares, desérticas, as vastidões marítimas quentes ou
frias, etc. Desde que o ar permaneça estacionário durante muito tempo sobre essas
superfícies, ocorre a formação de massas de ar influenciadas pelas características da
superfície em contato. Por exemplo, as massas de ar oceânicas são úmidas e as continentais
geralmente são secas. Podemos concluir então que as diferenças nas incidências dos raios
solares na superfície da Terra são repensáveis pela formação das massas de ar. Podemos citar
vários tipos de massas de ar que atuam no território Brasileiro (Fig. 35b). Durante o verão
temos a Massa Equatorial Atlântica, Equatorial Continental, Tropical Atlântica, Polar
Atlântica e a Tropical Continental. No inverno temos a massa Equatorial Atlântica,
Equatorial Continental, Tropical Atlântica, Polar Atlântica.

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Figura 35 (a): Regiões de origem das massas de ar ao redor do mundo

Figura 35 (b): Massas de ar que atuam no Brasil no verão e inverno

2.8.3. Sistemas Meteorológicos que atuam na América do Sul e no Brasil

Os sistemas atmosféricos são muito diferentes de acordo com a região observada, no planeta
Terra. O Brasil sofre influência dos sistemas de latitudes médias e tropicais tais como:
Crista, Cavados, Correntes de Jato, Ciclones Extratropicais, Ciclones Tropicais, Sistemas
Frontais, Massas de Ar, ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), ZCAS (Zona de
Convergência do Atlântico Sul), Correntes de Jato, Alta da Bolívia, Linhas de Instabilidade,
Brisas, CCMs (Complexo Convectivo de Mesoescala), Tornado e Ondas de Leste. As figuras
36 (a) e (b) mostram um resumo esquemático com os sistemas meteorológico que atuam na
América do Sul.

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(a) Baixa troposfera (b) Alta troposfera

Figura 36: Esboço das importantes feições da circulação sobre a América do Sul (a) Baixa
troposfera (b) alta troposfera. (RSA = região semi-árida, LI = linha de instabiliadade, CONV
= atividade convectiva, CE = cavado equatorial, AST = alta subtropical, JBN = jato de
baixos níveis, CCM = complexo convectivo de mesoescala, BC = baixa do Chaco, VC =
vórtice ciclônico de altos níveis, RA = região árida, T = tornado, FF = frente fria, F =
furacão, AE = anticiclone extratropical, CG = ciclogênese, B = centro de baixa pressão,
ZCIT = zona de convergência intertropical, ZCAS = zona de convergência do Atlantico Sul,
CO = escoamento dos cirrus, AB = alta da Bolívia, VCAN = vórtice ciclônico de altos
níveis, VC = vórtice ciclônico, JST = jato subtropical, JP = jato polar.

2.8.4. Sistemas Meteorológicos que atuam na Região Sudeste do Brasil

O Sudeste do Brasil é uma região altamente complexa, com um relevo bastante acidentado e
próximo ao Oceano Atlântico, é considerada uma região de transição entre climas úmidos e
quentes dos trópicos e o clima temperado de latitudes médias, possuindo desta forma
características de ambas. Além disso, é uma das regiões mais urbanizadas do mundo. A
região sudeste é afetada por sistemas sinóticos e sub-sinóticos devido a fatores de grande
escala e circulações locais.

2.8.4.1. Ciclones extratropicais

É um sistema de baixa pressão atmosférica de escala sinótica que ocorrem nas regiões de
latitudes médias. Seu desenvolvimento ocorre nas zonas baroclínicas ou zonas frontais
através do gradiente (diferenças) de temperatura e de ponto de orvalho. Estes ciclones são

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chamados de "extratropicais" porque se formam quase que exclusivamente fora das regiões
tropicais, e também por se originarem em massa de ar de origem não tropical. Os ciclones
extratropicais formam-se em massas atmosféricas com alta instabilidade meteorológica e
perdem as suas forças quando se tornam barotrópicos, ou seja, quando as diferenças de
temperatura ocorrem juntamente com as diferenças de pressão. Os ventos fluem no sentido
anti-horário em volta de um centro no Hemisfério Norte, e no sentido horário no Hemisfério
Sul, devido ao efeito de Coriolis. Os ciclones extratropicais inclinam-se em direção às
massas de ar frias e se fortalecem com a altura. Logo acima da superfície,
a temperatura diminui da periferia para o centro do ciclone. Por isso, os ciclones
extratropicais são chamados de "áreas de baixa pressão de núcleo frio". Dependendo de sua
localização geográfica e intensidade pode receber diferentes nomes, tais como; ciclones de
latitudes médias, depressão extratropical, baixa extratropical, ciclone frontal, ou baixa não
tropical. Geralmente ocasionam ventos fortes e chuvas moderadas a torrenciais (Fig. 37a),
podendo também ocasionar maré de tempestade. No Brasil muitas vezes provoca as
chamadas “ressacas” no litoral das regiões sul e sudeste. Estes ciclones formam-se em
qualquer área dentro das regiões extratropicais da Terra, normalmente entre as latitudes 30° e
60° de cada hemisfério. A figura 37b mostra as regiões de formação desses ciclones na
América do Sul.

(a) (b)

Figura 37: Ciclone extratropical e o tempo associado a ele (a) e as regiões de


formação destes ciclones, na América do Sul.

2.8.4.2. Sistemas Frontais

A Frente é uma zona de transição entre duas massas de ar de diferentes densidades e


temperaturas, causando uma grande mudança nas variáveis meteorológicas. Um sistema
frontal clássico é geralmente composto por frente fria, frente quente e centro de baixa
pressão na superfície chamado ciclone (Fig. 38).

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Figura 38: Carta de superfície mostrando um ciclone extratropical e as frentes
associadas.

Frente Fria

É a borda dianteira de uma massa de ar frio, em movimento (fig. 39). O ar frio, relativamente
denso, introduz-se sob o ar mais quente e menos denso, provocando uma queda rápida de
temperatura junto ao solo, seguindo-se tempestades e também trovoadas. A chuva para
abruptamente após a passagem da frente. As frentes frias chegam a deslocar-se a 64 Km/h.

Figura 39: Tempo associado a uma frente fria (corte vertical) indicada no canto
direito superior.

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Frente Quente

É a parte dianteira de uma massa de ar quente em movimento. O ar frio é relativamente


denso e o ar quente tende a dominá-lo, produzindo uma larga faixa de nuvens e uma chuva
fraca e persistente e às vezes nevoeiro esparso (Fig. 40).

Figura 40: Tempo associado a uma frente quente (corte vertical) indicada no canto
direito superior.

Frente Estacionária

Quando não há o avanço do ar frio nem o avanço do ar quente, gera então entre eles uma
frente estacionária. A precipitação associada é geralmente leve e estratiforme, mas pode
tornar-se bem significativa se a frente permanecer estacionária por muito tempo.

Frente oclusa (também chamada de oclusão)

É uma zona de transição onde uma frente fria, movendo-se mais depressa, ultrapassa (e
obstrui) uma frente quente, fazendo elevar-se todo o ar quente (Fig. 41). A chuva contínua
característica das frentes quentes é seguida imediatamente pelos aguaceiros associados às
frentes frias.

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Figura 41: Tempo associado a uma oclusão.

Os sistemas frontais são as mais importantes perturbações atmosféricas responsáveis por


precipitação e mudanças na temperatura em quase todo o Brasil, formam-se em ondas
baroclínicas de latitudes médias, imersos nos ventos de oeste. Estes sistemas são
provenientes do Pacífico, onde se propagam de oeste para leste, essas ondas modificam-se ao
atravessar os Andes, interagindo com a circulação da América do Sul e adquirindo uma
componente em direção ao equador, tendo propagação típica de sudoeste para nordeste ao
longo da costa da América do Sul; podem atingir latitudes tropicais. Seu desenvolvimento
está ligado à intensificação de sucessivos cavados e cristas no Pacífico, que causa a
propagação de energia de oeste para leste. Após a passagem de um sistema frontal, pode
haver a ocorrência de geadas propiciadas pela entrada de ar extremamente frio oriundo de
regiões polares devido à presença de cavados bastante meridionais, principalmente no
inverno. Durante a maior parte do ano (exceto no inverno) esses sistemas frontais interagem
com a convecção tropical, em geral acentuando-a.

2.8.4.3. Alta da Bolívia

Extensa faixa de circulação anticiclônica na alta troposfera da parte central da América do


Sul (Fig. 42). A posição do centro e a configuração deste anticiclone modificam-se ao longo
do verão e sua existência associa-se a convecção de verão e, portanto contribui para a
formação de diversos aglomerados de Cbs. A direção do vento também pode ser determinada
com o auxílio da posição dos Cbs. Suas "bigornas" alinham-se paralelamente em direção ao
vento em altitude.

A precipitação intensa e persistente sobre a região tropical da América do Sul e a


correspondente liberação de calor latente é o mecanismo que mantém anticiclones de altos
níveis de “núcleo quente” em larga escala durante o verão. Ou seja, a convecção é a
responsável pela manutenção da Alta da Bolívia.

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(a)

(b)
Figura 42: (a) Carta de altitude (250 hPa) e (b) imagem de satélite no
infravermelho, para o dia 11 de janeiro de 2004, às 2240 UTC.

2.8.4.4. Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN)

Sistemas que se desenvolvem no Sul e Sudeste do Brasil associado à padrões em altos níveis
que chegam pela costa oeste da América do Sul vindos do Pacífico, penetrando no
continente e provocando instabilidade no seu setor leste e nordeste. Seu mecanismo de
formação se baseia na amplificação de uma crista corrente acima (Fig. 43), antes de penetrar
no continente (onde a nebulosidade é maior), sendo mais facilmente detectável na imagem
do vapor d'água. Quando se desloca para leste, atinge o Sul e Sudeste do Brasil, em geral
provocando chuvas. Formam-se o ano inteiro primeiramente nos altos níveis e depois se
propagam para altitudes menores, às vezes estando associado a um ciclone de superfície ou
mesmo propiciando ciclogênese. Na média, uma centena de vórtices por ano cruza o
continente, sendo que grande parte destes são gerados ou intensificados na região, e são mais
numerosas as ocorrências de verão do que os de inverno. É conhecido como baixa fria por

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terem o centro mais frio do que sua periferia. Ele pode durar de algumas horas até duas
semanas. A figura 44 mostra um caso de vórtice ciclônico sobre a região sul do Brasil

Figura 43: Formação esquemática do Vórtice Ciclônico de Altos Níveis

(a) (b)
Figura 44: (a) Carta de altitude e (b) imagem de satélite no infravermelho, para o dia
15 de dezembro de 2011, às 12 UTC.

2.8.4.5. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)

Definida como uma persistente faixa de nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste,


que se estende do sul da Amazônia ao Atlântico Sul-Central por alguns milhares de
quilômetros, bem caracterizada nos meses de verão. Observações indicam evidente
associação entre períodos de enchentes de verão na região sudeste e veranicos na região sul
com a permanência da ZCAS por períodos prolongados sobre a região sudeste; por outro
lado, períodos extremamente chuvosos no sul coincidem com veranicos na região sudeste,
indicando a presença de ZCAS mais ao sul (Fig. 45).

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(a) (b)

Figura 45: (a) Carta de superfície e (b) imagem de satélite no infravermelho, para o dia
14 de dezembro de 2007, às 18 UTC.

2.8.4.6. Bloqueio Atmosférico

É caracterizado por um persistente sistema de alta pressão em superfície que impede a


propagação de sistemas transientes (como os sistemas frontais). Na região do bloqueio, o céu
é sem nebulosidade e as temperaturas são muito altas. A bifurcação do jato sub-tropical é
indicação da presença de bloqueio. Este sistema faz com que haja um desvio das
perturbações, de modo que exista uma espécie de "zona de sombra". Segundo Casarin
(1983), no outono há um máximo de dias com atuação de bloqueio, enquanto que no inverno
e na primavera ocorre um mínimo. A posição do sistema de bloqueio é fundamental, pois, se
estiver muito próximo à América do Sul a região Sul passa por um período mais seco e a
região Sudeste sofre grande precipitação e se estiver mais para oeste, o inverso acontece
(Fig. 46).

(a)

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(b) (c)
Figura 46: (a) Ilustração da situação sinótica associada ao bloqueio atmosférico
presente no Oceano Atlântico, (b) carta de superfície e (c) imagem de satélite no
infravermelho para o dia 14 de setembro de 2007, às 18 UTC.

2.8.4.7. Corrente de Jato

Corrente de jato subtropical (JST) são ventos fortes em altos níveis, caracterizando uma
"corrente de jato". Estas correntes são também responsáveis pelo desenvolvimento ou
intensificação da atividade convectiva sobre o sul e sudeste da América do Sul. Sistemas que
se organizam no Sul e Sudeste do Brasil com intensa convecção associada à instabilidade
causada pelo jato subtropical. A região de aumento do jato subtropical (entrada) em altos
níveis apresenta confluência na parte sul e difluência na parte norte, enquanto que a região
de diminuição (saída) apresenta difluência na parte sul e confluência na parte norte. Isto quer
dizer que pode existir convergência em superfície ao norte da entrada do jato e ao sul da
saída, o que pode intensificar ou atenuar condições de superfície, ou seja, as instabilidades
do jato são bastante importantes no sentido de fornecer suporte em altitude para sistemas
subsinóticos (CCM) se desenvolverem à superfície (Fig. 47).

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(a) (b)
Figura 47: (a) Carta de Altitude (250 hPa) e (b) Imagem de Satélite no canal
Infravermelho, para o dia 19 de janeiro de 2010, às 00 UTC.

2.8.4.8. Vírgula Invertida

Ocorrem na região sudeste (escala de ~1500 km), associada à geração de ciclones. Podem se
desenvolver como manifestação de instabilidade baroclínica, estando próximo das zonas
baroclínicas ou após a passagem de um sistema frontal. Estes sistemas formam-se
preferencialmente nas estações de transição (primavera e outono) e produzem chuvas
intensas, mas em geral, de curta duração (comparada aos sistemas sinóticos). Possuem
estreita ligação com ciclogênese e ciclones extratropicais. Sua origem é semelhante a de
perturbações de escala sinótica de latitudes médias, mas para compreender sua escala e
estrutura vertical é necessário entender os processos de liberação de calor latente (devido à
precipitação) na coluna atmosférica (Fig. 48).

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Figura 48: Sequência de imagens do infravermelho (GOES) para o período entre
14 e 15 de abril de 1979, mostrando a formação de uma nuvem vírgula invertida
no extremo sul do Brasil.

2.8.4.9. Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM)

Conjuntos de Cbs cobertos por densa camada de cirrus, particularmente bem organizados. O
acompanhamento dos estágios de evolução dos CCMs é geralmente feito através das em
imagens de satélite no Infra-Vermelho. Os CCMs são formados pela interação entre jatos de
altos e baixos níveis. A interação dos jatos de altos níveis (com ar mais frio e seco) e os jatos
de baixos níveis (de ar mais quente e úmido) provocam uma instabilidade térmica que leva à
convecção intensa. Tipicamente sobre a região de planície do Paraguai, a circulação vale-
montanha pode ocasionar alguns aglomerados convectivos que na presença de jatos de altos
e baixos níveis, podem levar à formação de grandes CCMs no início da manhã. Este sistema
surge durante a noite e pode adquirir grandes proporções no início da manhã. Pode-se citar
casos de frontogênese no Sul do Brasil quando estes sistemas se deslocam para leste (Fig.
49).

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(b)

(a) (c)

Figura 49: (a) Posição de formação de CCM de acordo com a época do ano, (b)
deslocamento de CCM formados no norte da Argentina e (c) imagem de satélite
realçada de um CCM no nordeste na Argentina.

2.8.4.10. Linhas de Instabilidade

São formações, organizadas em linha ou curvadas, de Cbs de diversos tamanhos que se


desenvolvem associados à circulação de mesoescala (pré-frontal, vale-montanha, brisa, etc.),
com duração de vários dias e propagação por milhares de quilômetros. A linha de
instabilidades pode ser gerada pelo efeito das correntes descendentes geradas pela
precipitação, que ao atingirem a superfície divergem em todas as direções, porém
encontrando contraste térmico e de umidade apenas adiante da banda de precipitação; geram
novas células acima da frente de rajada definindo a nova posição da linha. Em latitudes
subtropicais e médias, as LI são mais frequêntemente associadas a situações frontais,
podendo aparecer tanto no setor quente quanto no setor frio e podendo ser paralelas ou
perpendiculares à frente. A identificação das linhas de instabilidade nas cartas sinóticas não é
muito fácil, em virtude da baixa densidade da rede de observações e da pequena extensão das

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linhas. Entretanto, o radar meteorológico é uma excelente ferramenta para identificar e
acompanhar seu desenvolvimento, deslocamento assim como para e prevê-las (Fig, 50).

(a) (b)

Figura 50 (a) Exemplo de formação de linhas de instabilidade associadas à frentes e um (b)


exemplo de uma linha de instabilidade sobre o Estado de São Paulo (1980).

2.8.4.11. Ciclone Tropical

É um sistema de baixa pressão atmosférica de escala sinótica, com núcleo morno. O ciclone
tropical é alimentado pelo calor latente quando o ar úmido sobe e o vapor d’água associado
se condensa. São chamados de ciclone tropicais por se formarem quase que exclusivamente
em regiões tropicais e também por se originarem em massas de ar tropical marítimas.
Dependendo de sua localização geográfica e de sua intensidade, os ciclones tropicais podem
ser chamados de furacão, tufão, tempestade tropical, tempestade ciclônica, depressão tropical
ou simplesmente ciclone. Estes sistemas produzem ventos fortes e chuvas moderadas a
torrenciais, podendo gerar a maré de tempestade. Os ciclones tropicais formam-se sobre
grandes massas de água morna e perde sua intensidade quando se movem sobre a terra. Os
ciclones tropicais são caracterizados e guiados pela liberação de grandes quantidades de
calor de condensação que ocorre quando o ar úmido é levantado para cima e seu vapor se
condensa. Este calor é distribuído verticalmente em torno do centro do ciclone. Desta forma
em qualquer altitude, o interior do ciclone tropical é mais quente do que as partes externas
ou áreas em torno, exceto ao nível do mar, onde a temperatura da superfície do ar controla a
temperatura ambiente. O primeiro furacão registrado no Brasil foi o furacão Catarina que
ocorreu no dia 26 de março de 2004 e atingiu o sul do Brasil, com ventos equivalentes a um
furacão de categoria 2 na escala de furacões de Soffir-Simpson. Existem alguns fatores
necessários para a formação de um ciclone tropical entre elas é que a temperatura da água
esteja no mínimo em 26,5° C (80°F) e que esta temperatura esteja presente até 50 m de
profundidade, outro fator é o rápido resfriamento com altitude. Também muita umidade,
especialmente na baixa e média troposfera. Além de pouco cisalhamento do vento. Os

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ciclones também precisam estar a uma distância de pelo menos 5 graus (500 km) da linha do
equador (Fig. 51).

Figura 51: Corte transversal de um ciclone tropical. As setas indicam a direção do vento

2.8.4.12. Tornardo

É um fenômeno meteorológico que se manifesta como uma coluna de ar que gira de forma
violenta, ligando a base de uma nuvem cumuloninbus (excepcionalmente nuvens cumulus)
com o solo. É o fenômeno atmosférico mais intenso, tem formato cônico e sua extremidade
mais fina toca o solo, provocando nuvens de pó e outras partículas. Podem provocar ventos
de 65 a 180 km/h medir aproximadamente 75 m de altura e percorrer vários metros, ou até
quilômetros. Os mais violentos podem registrar ventos de 480 km/h e medir até 1,5 hm de
altura e percorrer mais de 100 km de distância. O tornado pode ser de vários tipos, como os
landspouts (pequenos e relativamente fracos), tornados múltiplos e as trombas marinhas. A
tromba marinha forma-se sobre corpos de água conectando-se com a nuvem cumulus e
nuvens de tempestade de menor tamanho. Estes são mais freqüentes próximo ao equador e
menos comum em latitudes médias, próximo aos pólos. Existem também alguns fenômenos
similares aos tornados que são os gustnados, os redemoinhos de poeira e os redemoinhos de
fogo. Os tornados são observados em todos os continentes, exceto na Antártica. A região
onde mais ocorre formação de tornado é na “Alameda dos tornados” que fica nos Estados
Unidos. Na América do Sul é mais comum no “corredor dos tornados da América do Sul”
que inclui o Uruguai, Paraguai, sul da Bolívia, norte da Argentina e porção centro-sul do
Brasil. Os tornados podem ser detectados pelos radares Doppler ou visualmente. Eles
normalmente se formam associados às tempestades severas que produzem ventos fortes,
precipitação pluviométrica elevada e freqüentemente granizo. Normalmente se formam no
final da tarde, quando a atmosfera está mais instável, mas também pode ocorrer durante a
noite (Fig. 52). A intensidade do tornado é classificada pela escala Fujita que vai de F0 até
F5.

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(a) (b)

Figura 52: (a) modelo esquemático do deslocamento de tornado e (b) Imagem de um


tornado

2.9. TÓPICOS ADICIONAIS

2.9.1. Descarga Atmosférica

Um raio é uma descarga eletrica produzida pelo contato entre nuvens de chuva ou entre uma
destas nuvens e a terra. A descarga é visível a olho nu, com trajetórias sinuosas e de
ramificações irregulares às vezes com muitos quilômetros de distância até o solo. Este
fenômeno produz um clarão conhecido como relâmpago e também uma onda sonora
chamada trovão. Para um raio acontecer é necessário que existam cargas opostas entre uma
nuvem e o chão, quando isso acontece, a atração é muito forte, então temos uma enorme
descarga elétrica. A descarga se inicia quando o campo elétrico produzido por estas cargas
excede a rigidez dielétrica (capacidade isolante do ar) em um dado local na atmosfera.
Geralmente os raios ocorrem em tempestades de chuvas, mas também pode ocorrer em
tempestade de neve, de areia e erupções vulcânicas.

A eletricidade atmosférica está associada a nuvens do tipo cumulus-nimbus. Essas nuvens,


extremamente comuns, são formadas em ar instável, por correntes convectivas de ar quente
subindo cada vez mais alto na atmosfera. A maioria das descargas elétricas ocorre entre o
topo e a base de uma mesma nuvem, gerando o relâmpago. Entretanto, ocorrem descargas de
eletricidade para o solo e também para a alta atmosfera, assim como para outras células
próximas.

Como a base da nuvem está mais próxima do solo, a maioria dos raios é negativa, já que a
base da nuvem tem carga elétrica negativa. Inicialmente, as cargas elétricas ionizam um
trajeto entre a nuvem e o solo. Esse caminho de ar ionizado segue o caminho de menor
resistência dielétrica do ar, sendo muito tortuoso, e pode se originar tanto da nuvem quanto
do solo (Fig. 53). Quando uma corrente iônica se aproxima do solo, ou da nuvem, induz à
formação de outras, originadas no sentido oposto. Esse caminho, chamado de líder ou
precursor, fornece um condutor iônico por onde o raio irá passar.

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O verão é a época das tempestades rápidas e dos raios. Estes são extremamente perigosos
para a nossa integridade física e equipamentos elétricos. O Brasil é o país no qual mais se
registra ocorrências de raios em todo o mundo. Os raio causam prejuisos para vários setores,
tais como: o setor elétrico,os serviços de telecomunicações, os setores de seguro,
eletroeletrônicos, construção civil, aviação, agricultura e até pecuária. Os raios também são
responsáveis por muitas mortes no Brasil. Uma explicação para essa grande quantidade de
raios deve-se ao tamanho do território, condições climáticas e a ausência de grandes
elevações no seu relevo.

Figura 53: Modelo esquemático das descargas atmosféricas

2.9.2. Satélite Meteorológico

Satélite meteorológico é um tipo de satélite artificial que é primariamente usado para


monitorar o tempo e o clima da Terra, embora monitorem também efeitos da atividade
humana, como luzes das cidades, queimadas, níveis de poluição, além de auroras polares,
tempestades de raios e poeira, superfícies cobertas por neve e gelo, desmatamento e
correntes oceânicas, entre outros. Para monitorar o Tempo, utiliza-se três faixas do espectro
(Fig. 54) que são o canal visível (0,55-0,75µm), canal de vapor d’água (6µm) e o canal
infravermelho (11µm).

Canal visível

As imagens nesse canal representam mais ou menos a intensidade do brilho que seria
percebida desde o espaço com os próprios olhos, exceto no azul. Desta forma nas imagens
deste canal os continentes e o mar são escuros, as nuvens mais espessas são mais brilhantes

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(tais como, as nuvens de grande desenvolvimento vertical e os bancos de nuvens estratos
com grande espessura) e as nuvens altas, mas de espessura fina (como os cirrus) são pouco
ou nada visível.

Canal de vapor d'água

O vapor d’água costuma está presente até níveis em torno de 300mb (em torno de 8000 m de
altitude). Neste canal não é percebida a superfície do planeta, pois, a radiação emitida por ela
é absorvida pelo vapor. Percebe-se apenas a radiação emitida nos níveis altos da troposfera
que não chega a ser absorvido completamente. Como o vapor, também as nuvens médias e
altas emitem radiação, e poderão ser detectadas nas imagens.

Canal infravermelho

Neste canal a atmosfera absorve pouca radiação. Porem, as nuvens são muito densas e
absorvem (portanto emitem) fortemente. Desta forma na ausência de nuvens pode ser
observada a radiação que vem diretamente do solo (permite estimar a temperatura). A nuvem
mais fria aparecerá mais brilhante na imagem (pois, é apresentado o negativo). Uma nuvem
absorve boa parte da radiação térmica que vem do solo e da atmosfera e volta a emitir de
acordo com sua temperatura, e medindo essa temperatura de emissão pode-se estimar sua
altitude. Uma nuvem cirrus tem pouca absorção da luz solar, mas absorve bastante radiação
térmica, podendo ser visualizada neste canal.

(a) (b) (c)


Figura 54: Imagens de satélite do dia 30 de abril de 2011, 1800 Z: (a) Infravermelho,
(b) Visível e (c) Vapor.

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2.10. REFERÊNCIAS
AHRENS, C. D. Essentials of Meteorology: An Invitation to the Atmosphere. 3 ed.
Brooks/Cole Publishing Company, 2000. 464 p.

BONATTI, J. P.; RAO, V. B. Moist Baroclinic Instability in the Development of North


Pacific and South American Intermediate-Scale Disturbances

CPTEC (http://www.cptec.inpe.br)

GAN, M. A.; RAO, V. B. Surface cyclogenesis over South America. Monthly Weather
Review, v. 11, n. 4, p. 1293-1302, 1991.

Google- Wikipédia, a enciclopédia Livre (http://pt.wikipedia.org)

GRIMM, A.M. Meteorologia Básica “um professor que acredita em você”


(http://www.profesron.spaceblog.com.br)

GUEDES, R. L.; SILVA DIAS, M. A. F. Estudo de Tempestades Severas associadas com o


jato subtropical na América do Sul. In: Congresso Brasileiro de Meteorologia, 3, Belo
Horizonte, 1984. Anais. Belo Horizonte, Sociedade Brasileira de Meteorologia, 1984, v. 2, p.
289-296.

KAROLY. D. J.: VINCENT. D. G. Meteorology of the Southern Hemisphere-


Meteorological Monographs. volume 27 number 49, decemder 1998.

MASTER – IAG/USP (http://www.master.iag.usp.br)

VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia, Versão Digital, Recife, 2005. 516


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VELASCO, I; FRITSCH, J.M. Mesoscale convective complexes in the Americas. Journal of


Geophysical Research, v. 92, n. D8, p. 9591-9613, 1987.

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PARTE 3 : INTERPRETAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES
DO RADAR

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3.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS EM METEOROLOGIA COM RADAR
Radares têm um importante papel no campo da meteorologia. Basicamente os radares
enviam e recebem sinais eletromagnéticos que provém informação valiosa sobre a
localização e intensidade da precipitação.

Um radar envia um pulso de energia para a atmosfera, Figura 1, e se uma precipitação é


interceptada por essa energia, parte da energia é retroespalhada, Figura 2, para o radar.

Figura 1 Figura 2

Estes sinais retornados, chamados de “ecos de radar”, compõem as informações para


produzir as imagens do radar, como ilustrado pela imagem na Figura 3.

Figura 3

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A localização dos ecos coloridos de radar indica onde a precipitação está caindo e as várias
cores indicam a intensidade da precipitação através do código de cores localizado no canto
direito da imagem acima. O exemplo de imagem de radar acima mostra várias tempestades
que se deslocam sobre a região central do Estado de São Paulo, no dia 29 de março de 2006.
Regiões em tons de verde indicam áreas de precipitação mais leve enquanto que as regiões
em laranja e vermelho indicam regiões de tempestades intensas associadas a tempestades
potencialmente severas.

Normalmente é difícil distinguir os tipos de precipitação com base apenas na refletividade do


radar, no entanto altos valores de refletividade estão quase sempre associados com granizo.
Tecnologia avançada de radares Doppler vai além da simples detecção dos alvos provendo
dados com alta resolução em refletividade e velocidade estimada dos alvos meteorológicos,
que são vitais para a previsão de curtíssimo prazo e o monitoramento de tempo severo.

3.2. MODOS DE VARREDURA PARA COLETA DE DADOS DO


RADAR

3.2.1. Modo PPI – Indicador de Posição no Plano

Quando um radar está coletando informações utilizando um modo de varredura em PPI, o


mesmo mantém seu ângulo de elevação da antena constante variando seus ângulos
azimutais, Figura 4 . Os ecos retornados podem então ser mapeados num plano horizontal.

Figura 4

3.2.2. Construção do PPI

A imagem de PPI (Plan Position Indicator) é obtida a partir de uma única varredura (volta
completa - 360o) com elevação da antena do radar em 0o (zero grau), por exemplo. Seu
alcance é limitado em 450 km de raio, a partir do radar, uma vez que para distâncias além
dos 450 km, o feixe do radar estaria monitorando regiões muito acima dos topos das nuvens

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de precipitação. Como a propagação do pulso de microonda emitida pelo radar, para
detecção de área de precipitação, é aproximadamente retilínea, Figura 5, a medida que esse
pulso se distancia de sua origem (antena do radar) sua altura em relação à superfície da terra
aumenta continuamente. Dessa forma, para distâncias acima de 450 km o pulso de
microonda estará muito acima das áreas de precipitação.

Figura 5: Caminho do feixe em zero graus

Figura 6: Exemplo de um produto PPI dos Radares de Bauru e Presidente Prudente.


Veja a imagem do radar exemplificada na Figura 6-A.

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Figura 6-A: Imagem do PPI de Bauru e Presidente Prudente, detectando uma extensa área
de chuva.

3.2.3. Filtro de Imagens de Radar

A imagem gerada pelo produto PPI, Figura 6, é contaminada pela interferência causada por
características atmosféricas e pela reflexão do solo. Essa contaminação é freqüentemente
confundida com áreas de precipitação, mesmo quando utilizada por pessoal técnico. A
finalidade da aplicação do filtro é melhorar visualmente as imagens dos produtos PPI.

3.2.4. Ecos de Terreno


Varreduras com a antena do radar em baixa elevação são suscetíveis a bloqueios e
interferências no sinal de microondas, emitido pela antena do radar, em regiões próximas a
sua localização devido a obstáculos naturais e artificiais, é a reflexão do solo ou ground
clutter, ocasionada pela dispersão de sinais de microondas emitidos pela antena de formato
parabólico, chamados de lóbulos secundários. Essas interferências que ocasionam ecos falsos
variam de acordo com a localização do equipamento de radar e possuem posição e
intensidade de reflexão com pouca variação, principalmente quanto a sua posição
aproximada.

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Figura 7: Representa a formação de ecos de terreno ocasionados pela dispersão do sinal de
microondas emitido pela antena do radar.
Veja a imagem exemplificada na figura 7-A.

Figura 7-A: Imagem composta dos radares de Bauru e Presidente Prudente, detectando
chuvas e ecos de terreno.

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3.2.5. Propagação Anômala

A propagação de microondas está sujeita às condições atmosféricas, que em determinadas


situações causam o curvamento do feixe de microondas emitido pela antena do radar,
ocasionando a reflexão do solo em distâncias que variam até próximo ao alcance máximo de
varredura. Esse fenômeno, super-refração, não possue um padrão de intensidade de
refletividade ou de posicionamento o que torna sua identificação, utilizando somente a
imagem de PPI, muito criteriosa.

Figura 8: Representa a ocorrência de propagação anômala (superrefração) ocasionada pelo


dobramento do feixe de microonda emitido pela antena do radar.
Veja a imagem exemplificada na figura 8-A.

Figura 8-A: Imagem do PPI de Bauru e Presidente Prudente, mostrando super-refração na


faixa norte do radar e chuva na faixa sul do radar de Bauru.

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3.3. CONSTRUÇÃO DO CAPPI
Para a composição de um CAPPI (Constant Altitute Plan Position Indicator), programa-se a
antena do radar para dar uma volta completa (360o) e mudar sua elevação em relação ao
horizonte, Figura 9. Com isso consegue-se "varrer" completamente a atmosfera, do solo até o
topo das nuvens. De cada elevação é extraído um anel de informações cuja altura média
corresponde a um valor pré-estabelecido. Agrupando-se seqüencialmente os anéis de todas
as varreduras, ter-se-á um campo de precipitação de 240 km de raio, a partir do radar, com
altura média constante.

Figura 9: Movimento da antena composição do CAPPI

Figura 10: Exemplo de um produto CAPPI dos Radares de Bauru e Presidente Prudente.

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Veja a imagem exemplificada na figura 10-A.

Figura 10-A: Imagem de um CAPPI do radar de Bauru a 3,5 Km de altura acima do nível
médio do mar num raio de 240 Km detectando chuvas.

3.4. TOPO DOS ECOS (Echo Top)

O produto Topo dos Ecos, Figura 11, é uma imagem da altura da máxima ocorrência de um
limiar de dBZ selecionado e amostrado em km, é um excelente indicador de tempo severo e
granizo. Por exemplo, o topo de 50 dBZ, localizado a 1km acima do nível de congelamento,
estará certamente relacionado a uma tempestade convectiva severa.

Para aplicações ao tráfego aéreo, por exemplo, deve-se considerar um limiar menor, tal como
10 dBZ, para se determinar a altura das tempestades na área de monitoramento do radar. A
legenda deste produto, como se refere a altura, é apresentada em km, e o valor ??? significa
que existe topo indeterminado!

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Figura 11: Exemplo de um produto Echo Top do Radar de Bauru

3.5. ALERTA (Warning)


O produto ALERTA é uma ferramenta auxiliar na identificação de áreas de possível
ocorrência de tempo severo. Por tempo severo entende-se uma variedade de fenômenos
meteorológicos tais como ventos fortes, precipitação muito intensa, enchentes súbitas,
granizo e raios associados à atividade convectiva.

O produto ALERTA, Figura 12, sintetiza outros três produtos indicadores de atividade
convectiva intensa: Água líquida Integrada na Vertical (VIL), Topo de Ecos e Limiar de
Refletividade(*). O produto VIL dá um indicativo de atividade severa, principalmente ao que
se refere ao potencial de chuva de uma tempestade. O Topo de Ecos é um excelente
indicador de atividade convectiva e a presença de granizo. O produto Limiar de
Refletividade inclui critérios adicionais para a redução de falsos alarmes.
O alerta representa as condições necessárias, mas nem sempre suficientes, para a ocorrência
de tempo significativo em superfície. Por isso é chamado de ALERTA. Este produto
fundamenta-se em dados históricos de radar na chamada climatologia local. Os usuários

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podem ajudar na climatologia local, informando ao IPMet a ocorrência de tempo
significafivo, ou mesmo relatando as vantagens ou limitações deste produto.
(*) Refletividade = Sinal medido pelo radar.

Figura 12: Exemplo de um produto Alerta do Radar de Bauru

3.6. OUTROS FENÔMENOS


A seguir, outros fenômenos também detectados pelos radares, como por exemplo, as
queimadas, o nascer e o pôr-do-sol e revoadas de pássaros ao amanhecer, conforme as
figuras 13, 14 e 15.

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Figura 13: Queimadas detectadas pelo radar.

Figura 13A: Análise das queimadas (Cortes)

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Figura 14: Nascer do sol detectado pelos radares de Bauru e Presidente
Prudente.

Figura 15: Anéis de revoadas de pássaros detectados pelos radares.

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PARTE 4 : SESSÃO PRÁTICA (Página Interna do IPMet /
Restrito)

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4.1. EXEMPLOS DOS PRODUTOS EM MODO OPERACIONAL,
POSSIBILITANDO A VISUALIZAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E
MANIPULAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

PÁGINA INICIAL DE ACESSO AOS DADOS E PRODUTOS DO IPMet/UNESP

http://www.ipmet.unesp.br/restrito

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PPI - Plan Position Indicator (Indicador de Posição no Plano)

(exibição normal em janela de 790 x 650 pixels)

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CAPPI - Constant Altitude Plan Position Indicator
(Indicador de Posição no Plano em Altitude Constante)

(exibição normal em janela de 910 x 650 pixels)

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ALERTA (áreas de tempestades potencialmente severas)

(exibição normal em janela de 910 x 650 pixels)

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4.2. FERRAMENTAS DISPONÍVEIS PARA VISUALIZAÇÃO,
INTERPRETAÇÃO E MANIPULAÇÃO DAS INFORMÇÕES

Seleção de imagens para animação: atualização


automática com armazenagem de imagens das últimas
48 horas, podendo ser ampliado.

Possibilita o acompanhamento da evolução e


deslocamento das áreas de chuvas e tempestades.

Marcador de coordenadas: apresenta as coordenadas


geográficas da posição do cursor sobre a imagem,
inclusive durante a animação.

Controle de imagens: possibilita o controle da


animação, velocidade de exibição e visualização quadro
a quadro.

Máscaras sobre as imagens: permite a inclusão de delimitações e


referências sobrepostas as imagens. Há a possibilidade de
desenvolvimento e elaboração de máscaras personalizadas.

Fundo das imagens: permite a inclusão de cores de fundo para contraste


das imagens ou mapas de fundo. Há a possibilidade de desenvolvimento
e elaboração de mapas personalizados.

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Distância entre pontos: possibilita a determinação da distância retilínea
entre dois pontos quaisquer, indicados diretamente sobre a imagem.

Ampliação: amplia a imagem em 200% com um “click” sobre a área de


interesse na imagem. O fator de ampliação pode ser aumentado.

Identificação e escala: informação de tipo de imagem, data e


horário. Tabela com intensidades das chuvas.

Adição de referência: possibilita a utilização dinâmica de pontos


referência na imagem. Arquivo atualmente disponível é dos
municípios do Estado de São Paulo.

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CRIAR OVERLAYS:

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DELETAR OVERLAY:

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4.3. EXEMPLOS DA APLICABILIDADE DO SISTEMA (eventos
verídicos)

REGISTROS DE OCORRÊNCIAS DA COORDENADORIA DA DEFESA CIVIL DO


ESTADO DE SÃO PAULO NOS DIAS 19 E 20, DE JANEIRO DE 2008.

Chuva em Sorocaba
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
Em 21/01/2008 às 9: 57: 55 A.M.

Por volta das 09:30 horas de domingo (20JAN08), uma forte precipitação pluviométrica,
alternando entre moderada e forte, com duração de aproximadamente duas horas e meia,
atingiu o município de Sorocaba (REDEC/I-4), ocasionando transbordamento de córrego e
rio. De acordo com informações do Centro de Operações do Corpo de Bombeiros (COBOM)
e da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), o Rio Sorocaba transbordou
inundando parte da Avenida Dom Aguirre, bairro Abaeté, uma equipe do Corpo de
Bombeiros resgatou uma pessoa que ficou ilhada sobre veículo. FONTES: COBOM e
COMDEC

(Radar Cidades)

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Forte Precipitação Pluviométrica em Ribeirão Preto
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
Em 21/01/2008 às 10: 43: 33 A.M.

Por volta das 15:40 horas de sábado (19JAN08), uma forte precipitação pluviométrica,
alternando entre moderada e forte, com duração de aproximadamente duas horas, atingiu o
município de Ribeirão Preto (REDEC/I-6), ocasionando transbordamento de córrego e queda
de árvores. FONTES: 9º GB e COMDEC.

(Zoom ativado)

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Chuva na Região de Campinas
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil
Em 21/01/2008 às 10: 45: 52 A.M.

As chuvas que atingiram a Região de Campinas (REDEC/I-5) neste sábado (19JAN08),


geraram ocorrências nos seguintes municípios: Indaiatuba - Por volta das 15:00 horas, uma
chuva de forte intensidade acompanhada de rajadas de vento atingiu o município,
ocasionando ocorrências de alagamento de vias públicas e queda de árvores.
HORTOLÂNDIA - Por volta das 15:30 horas uma chuva de forte intensidade atingiu o
município, ocasionando ocorrências de deslizamento de terra. FONTES: REDEC/I-5 e
COMDEC

(Cidades adicionadas)

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Produto “Hydromet”
(disponível experimentalmente)

O “Hydromet” é um produto do Software IRIS, que produz os campos de chuva acumulada


em áreas especificadas para monitoramento de reservatórios ou mesmo regiões sujeitas à
enchente relâmpago, possibilitando a emissão de alertas sempre que a quantidade da chuva é
acima dos limites pré-estabelecidos.

Parte de um CAPPI (3.5 km) em 29 de março de 2006 mostrando a Bacia do Corumbataí


contendo cinco sub-bacias (numeradas 1-5). A chuva média acumulada (mm) em cada uma
está representada pelas cores (ver escala precipitação a direita). Os gráficos “pop-up”
mostram a distribuição da chuva horária media na área de cada sub-bacia durante o período
de 24 horas. O símbolo+ na sub-bacia 3 marca a posição do pluviógrafo.

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PARTE 5: CONFECÇÃO DO BOLETIM DE RADAR

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Site do IPMET:
www.ipmet.unesp.br

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MONITORAMENTO METEOROLÓGICO

IMAGEM DO RADAR

DESCRIÇÃO DO TEMPO, DAS INFORMAÇÕES DOS RADARES E PREVISÃO

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PARTE 6: SISTEMA DE ALERTA DE TEMPO SEVERO E
VISUALIZADOR GIS

6.1 Introdução
Os dois radares do IPMet cobrem as áreas centrais e oeste do estado de São Paulo
fornecendo informações meteorológicas em tempo real e compondo um banco de dados para
análise e pesquisa de fenômenos de tempo severo.

Desde 2005, o IPMet está processando previsões de curtíssimo prazo (nowcasts) baseadas no
uso do software aberto do RAL/NCAR/EUA, denominado TITAN (Thunderstorm
Identification, Tracking, Analysis and Nowcasting). O sistema TITAN identifica células de
tempestades a partir de dados de radar, calcula as propriedades dessas tempestades e faz o
acompanhamento e a previsão de seus deslocamentos.

Os objetivos para o desenvolvimento do Sistema de Alerta de Tempo Severo e Visualizador


Web-GIS foram:
- disseminar aos usuários externos os produtos e as previsões de tempo fornecidas pelo
TITAN;
- desenvolver um sistema automático de emissão de alertas baseado nas características das
tempestades identificadas pelo TITAN;
- oferecer uma interface avançada para integração, visualização e análise de dados
meteorológicos usando recursos de Web-GIS.

6.2 Sistema TITAN


O projeto TITAN, ( http://www.ral.ucar.edu/projects/titan ), teve início em 1982 com o
objetivo de identificar e acompanhar tempestades medidas por radares meteorológicos, para
avaliação de atividades de indução artificial de chuvas por semeadura de nuvens na África
do Sul. No início dos anos 90, o desenvolvimento do TITAN foi transferido para o National
Center for Atmospheric Research (NCAR), em Boulder, Estados Unidos, onde teve os
algoritmos do pacote estatístico e do cálculo de propriedades da tempestade aprimorados.
Além disso, um novo algoritmo para o acompanhamento das tempestades foi implementado
utilizando a teoria da otimização.

A aplicação TITAN identifica uma tempestade como sendo uma região contígua
tridimensional de tal forma que certos parâmetros, como a refletividade, o volume, a altura,
entre outros, satisfaçam determinadas condições. Na configuração do TITAN do IPMet
foram utilizados os valores de 40 DBZ de refletividade mínima, o volume mínimo de 16 km3
e altura máxima de 30 km como parâmetros de identificação de uma tempestade. O
deslocamento das tempestades identificadas é determinado pelo uso de um método de
otimização que calcula a melhor associação lógica entre tempestades ocorridas em duas
observações consecutivas de radar (ver figura 6.1). Este método assume o menor caminho
entre as tempestades, aquelas com características similares (tamanho, forma, etc) e um limite
máximo de distância que uma tempestade pode se mover num determinado intervalo de

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 100
tempo para se encontrar a correta associação entre as tempestades. Essa combinação
determina uma tendência no comportamento da tempestade, sobre a qual a previsão é
realizada. Fusões e divisões de células de tempestades são identificadas através de lógica
geométrica considerando as posições e formas das tempestades.

Fig. 6.1: Localização das tempestades em duas varreduras de radar sucessivas.

A figura 6.2 apresenta o visualizador CIDD do TITAN que é capaz de mostrar as áreas de
chuva detectadas pelos radares de Bauru e de Presidente Prudente juntamente com os
polígonos destacando as tempestades identificadas (em azul) e a previsão de suas
localizações nos próximos 30 minutos (em vermelho). O visualizador CIDD permite a
integração dos dados dos radares com outros dados meteorológicos, como satélite, estações
meteorológicas, descargas atmosféricas, modelos numéricos, entre outros.

Fig. 6.2: Visualizador CIDD

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 101
A Figura 6.3 apresenta o visualizador Rview do TITAN, que permite a visualização do
histórico das propriedades de uma tempestade. Ao clicar sobre uma determinada tempestade,
é possível visualizar o comportamento de suas propriedades ao longo do tempo. Dessa
forma, através da análise histórica das propriedades da tempestade pode-se qualificar uma
tempestade e perceber se ela está em fase de intensificação ou enfraquecimento. Algumas
propriedades da célula de tempestade são: velocidade e direção de deslocamento, volume,
topo, área, DBZ máximo, altura do máximo DBZ, VIL, probabilidade de granizo, etc.

Fig. 6.3: Visualizador Rview apresentando o histórico das propriedades de uma tempestade.

6.3 Sistema de Alerta de Tempo Severo


Estudos de caso de tempestades severas conduziram ao estabelecimento de certos limiares de
alerta de risco de tempestades. Estes indicadores estatísticos podem ser associados às
propriedades da tempestade identificada pelo TITAN, sendo utilizados para gerar mapas
indicativos de locais de ocorrência de tempo severo.

Operações espaciais de Sistemas de Informações Geográficas (SIG ou GIS) são utilizadas


para computar as áreas de alerta e realizar a sobreposição ou intersecção dessas áreas com o
mapa de contorno dos municípios.

Alertas de tempo severo são enviados ao Twitter do IPMet ou e-mail especificando as


cidades afetadas e o evento severo previsto para ocorrência nos próximos 30 minutos.

No momento, o sistema está configurado para emitir alertas de tempo severo quando da
ocorrência de valores acima de 2 do índice de severidade de granizo definido por Foote-
Krauss e quando o percentual de probabilidade de granizo for superior a 80%.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 102
O sistema utiliza dados volumétricos em formato cartesiano, dos radares de Bauru e de
Presidente Prudente, escalonados para execução a cada 7.5 minutos quando da ocorrência de
chuvas em sua área de abrangência (240km de raio a partir da localização do radar). A
resolução espacial cartesiana é de 750m (xyz).

Os alertas emitidos pelo sistema podem ser visualizados na página do IPMet


(www.ipmet.unesp.br), tanto a descrição textual (Twitter) quanto a visualização gráfica
(opção Sistema de Alerta). A figura 6.4 mostra o site do IPMet, destacando as áreas para
acesso às mensagens de alerta publicadas no Twitter do IPMet e o link para o visualizador
gráfico. Este mostra a chuva e as áreas de alerta sobrepostas à imagem do Google Street. O
visualizador da área livre somente é atualizado com novos dados de radar quando alguma
mensagem de alerta de tempo severo é publicada no Twitter.

Fig. 6.4: Site do IPMet com destaques (contorno vermelho) para o Sistema de Alerta.

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Fig. 6.5: Site do Twitter do IPMet mostrando as últimas mensagens postadas.

Fig. 6.6: Visualização das áreas de alerta (azul).

As propriedades da célula de tempestade identificada pelo TITAN podem ser visualizadas ao


se clicar sobre uma tempestade, como mostrado na figura 6.7. As propriedades destacadas
em amarelo estão sendo utilizadas na emissão dos alertas. É possível, também, visualizar a
tempestade corrente detectada que é apresentada como um polígono em vermelho (figura
6.8).

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Fig. 6.7: Propriedades da tempestade. Fig. 6.8: Tempestade corrente e prevista.

Para seguir o Twitter do IPMet é necessário fazer o cadastramento de sua conta no Twitter
no site https://twitter.com/signup (figura 6.9). Entrar na sua conta do Twitter através do link
http://twitter.com (figura 6.10) e clicar sobre a opção “Who to Follow” para procurar o
usuário IPMet. Digitar “ipmet alerta” no espaço para texto e clicar no botão Search (figura
6.11). Ao aparecer a opção “IPMet – Alerta Automático de Tempo Severo” clicar no botão
“Follow”.

Fig. 6.9: Cadastramento de conta no Twitter.

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Fig. 6.10: Site do Twitter para login de conta.

Fig. 6.11: Procurando o IPMet (Alerta de Tempo Severo) no Twitter.

Uma forma de ser avisado automaticamente no seu computador, quando do recebimento de


alguma mensagem (tweet) do IPMet é através da instalação de aplicativos do Twitter. Um
exemplo é o aplicativo Twhirl. O Twhirl é um programa projetado para quem quer receber
os tweets mas não gosta de ficar sempre atualizando o navegador para visualizar as
novidades. O programa é muito simples de operar e é baseado em Adobe AIR, ou seja, para
fazer a instalação do Twhirl, é necessário ter o Adobe AIR instalado na sua máquina. O
download do Twhirl pode ser feito em http://www.twhirl.org/download . Para baixar o
Adobe Air acesse o site: http://get.adobe.com/br/air/ . A instalação dos dois aplicativos é
simples e segue o padrão “next”. Abra o programa. Aparecerá uma pequena janela. Em
“accounts”, coloque seu nome de usuário no Twitter e clique em +. A figura 6.12 apresenta a
janela do Twhirl aberta para o usuário murakamij.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 106
Fig. 6.12: Aplicativo Twhirl para Twitter.

Existe também a possibilidade de recebimento dos tweets no seu celular que, por enquanto,
está restrito a algumas operadoras (fig. 6.13).

Fig. 6.13: Recebendo tweets pelo celular.

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6.4 Visualizador Web-GIS
A proposta do visualizador Web-GIS é possibilitar a análise mais detalhada das precipitações
que estejam ocorrendo dentro da área de interesse do usuário, possibilitando o zoom ao nível
de detalhes das quadras e ruas de uma cidade.

O visualizador com recursos completos de funções e de camadas de sobreposição (layers)


que é atualizado a cada nova execução da tarefa volumétrica de radar (a cada 7.5 minutos)
somente pode ser acessado por usuários cadastrados (figura 6.14, opção Login Usuários
Cadastrados). Usuários não cadastrados podem acessar a página “Sistema de Alerta” para
visualização das áreas dos alertas postados no Twitter do IPMet, ou visualizar a página de
exemplo de produtos para usuários cadastrados, clicando na opção Cadastro e sobre o link
“Clique aqui para uma demonstração” (figura 6.15).

Fig. 6.14: Página inicial do IPMet e acesso para o visualizador GIS.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 108
Fig. 6.15: Acessando a página de exemplo do visualizador GIS.

A opção para acesso ao visualizador GIS, tanto na área restrita a usuários cadastrados quanto
na página demonstração de produtos, é a “Alerta-GIS” (figura 6.16)

Fig. 6.16: Link para o visualizador com recursos completos.

O visualizador é composto pelas seções: Menu Esquerdo (contendo as opções: Atualizar,


Destaque de Cidades, Apresentação de Legendas, Animação e Cálculos de Distância e
Área), Visualização do Mapa, Controles (Layers ou Camadas, Overview ou Visão Geral do
Mapa e Posição do Cursor) e Informações.

A figura 6.17 mostra o novo visualizador com destaque para a data e o horário do dado de
radar, controles de zoom e pan do mapa, seção layers com opções de underlays (círculos) e
overlays (quadrados) e a posição corrente do cursor. A figura 6.18 apresenta o visualizador
com outras opções selecionadas. Os menus Controles e Informações podem ficar ocultos,
aumentando a área de visualização do mapa.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 109
Fig. 6.17: Visualizador GIS.

Fig. 6.18: Opções de underlays, overlays e legenda do CAPPI.

Um dos recursos mais interessantes do visualizador é a capacidade de visualizar o local da


ocorrência de chuvas dentro dos limites de um município, identificando zonas rurais, urbanas
e áreas de risco.

Para dar destaque a alguns municípios pode-se usar a opção Cidades do Menu Esquerdo, e
adicionar as cidades que aparecerão coloridas no mapa. Observem que a opção de Cidades
do menu Layers precisa estar ativa para a apresentação dos municípios incluídos na área do
mapa (figura 6.19).

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 110
Fig. 6.19: Inclusão de cidades.

Outra forma de visualização dos contornos dos municípios é através da ativação das Layers:
Municípios-Contornos e Sedes Municipais (fig. 6.20). Há também a possibilidade de usar o
underlay Google Street ou Google Hybrid, que possibilitam, ao usarmos um alto nível de
zoom, a visualização de ruas, casas, estradas, rios, vegetação, entre outros (figura 6.21). O
recurso de Zoom também pode ser obtido utilizando-se o botão de Scrool do mouse sobre a
área do mapa. Da mesma forma, o recurso de Pan, também pode ser realizado pressionando-
se o botão esquerdo do mouse e movimentando-o com o botão pressionado.

Fig. 6.20: Visualização de todos os municípios e sedes municipais.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 111
Fig. 6.21: Usando o Google Street como underlay junto com os contornos dos municípios.

O recurso da Animação prevê a seleção da quantidade de imagens a serem animadas e


abertura da janela de animação, contendo a região do zoom ativa no momento na seção
Mapa. É possível aumentar ou diminuir a velocidade da animação e avançar ou retroceder
quadro-a-quadro (figura 6.22).

Fig. 6.22: Animação de imagens.

Curso Basico de Meteorologia e Utilização das Informações dos Radares do IPMet © 112
As funcionalidades de cálculo de distâncias e áreas são realizadas através da opção
Distâncias do menu esquerdo do visualizador (figura 6.23 e 6.24). Os valores calculados são
apresentados no menu Informações. Desenhar cada ponto clicando-se com o botão esquerdo
do mouse e finalizar com dois cliques rápidos.

Fig. 6.24: Cálculo de distância.


Fig. 6.23: Cálculo de área.

As opções de camadas (layers) disponíveis no visualizador são: Estados, Relevo, Google


Streets e Google Hybrid (underlays) e Cidades, Estados, Municípios, Sedes Municipais,
Rios, Rodovias, CAPPI 3.5km, Chuva Acumulada em 1h, Tempestades Atuais, Tempestades
Previstas e Alerta (overlays). A seguir são apresentadas algumas figuras que mostram as
chuvas distribuídas pelos estados de São Paulo e Paraná juntamente com os mapas de
hidrografia e rodovias (fig. 6.25), uma imagem contendo uma aproximação na região de
Bauru contendo células de tempestades detectadas pelo TITAN (fig. 6.26) e um zoom nesta
mesma célula, numa região onde ocorreu queda de granizo por cerca de 10 minutos (fig.
6.27).

Fig. 6.27: Chuva de granizo


na área em vermelho.
Fig. 6.26: Zoom na célula
Fig. 6.25: Rios e Rodovias. próxima a Bauru.

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O campo de Chuva Acumulada destaca áreas que podem vir a sofrer com problemas de
inundação ou enchentes (fig. 6.28).

Fig 6.28: Produto Chuva Acumulada em 1 hora.

Os requisitos mínimos de hardware para execução do visualizador GIS são:

•PC Dual Core


•Memória RAM de 2GB
•Internet Banda Larga de 1MB

Quanto maior a velocidade de processamento e a memória do computador do usuário e


melhor a sua velocidade de conexão à internet, mais rapidamente a página será carregada.

Na Unesp nosso link de internet de 34 Mbps foi recentemente atualizado para 200 Mbps,
melhorando o fluxo de entrada e saída de dados através da internet. Outra atualização em
andamento é a do novo servidor Web, máquina esta que irá contar com 2 processadores
Xeon quadcore, memória RAM de 16GB e disco SAS de alta performance.

6.5 Interação e Feedback


Os parâmetros de configuração do TITAN devem ser ajustados de acordo com as
características das tempestades de cada região. Para aprimorar a configuração do sistema é
necessário conhecer e analisar os casos de eventos de tempo severos ocorridos na região de
monitoramento dos radares. Portanto, é muito importante que os usuários façam o relato das
ocorrências de tempo de suas regiões de vigilância, para que estes casos sirvam de estudos
para o refinamento dos parâmetros de configuração do TITAN e para a criação de novos
produtos e categorias de alerta. As observações do tempo podem ser feitas por meio de e-
mail, telefone ou página do Observador Voluntário.

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