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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE GEOLOGIA

Aglaia Trindade Brandão


Alessandra de Oliveira Santos
Daniela Lima Oliveira
Isabela de Oliveira Carmo
Maria Rosilene Ferreira de Menezes

GEOLOGIA E SISTEMAS PETROLÍFEROS


DAS BACIAS DO SOLIMÕES E DO AMAZONAS

RIO DE JANEIRO
2006

IV
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE GEOLOGIA

GEOLOGIA E SISTEMAS PETROLÍFEROS


DAS BACIAS DO SOLIMÕES E DO AMAZONAS

Aglaia Trindade Brandão


Alessandra de Oliveira Santos
Daniela Lima Oliveira
Isabela de Oliveira Carmo
Maria Rosilene Ferreira de Menezes

Orientadores: Prof. Dr. Wilson LANZARINI


Prof. Dr. René Rodrigues

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DO PETRÓLEO

RIO DE JANEIRO
2006

V
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE GEOLOGIA

GEOLOGIA E SISTEMAS PETROLÍFEROS


DAS BACIAS DO SOLIMÕES E DO AMAZONAS

Aglaia Trindade Brandão


Alessandra de Oliveira Santos
Daniela Lima Oliveira
Isabela de Oliveira Carmo
Maria Rosilene Ferreira de Menezes

Trabalho Final de Curso submetido ao corpo docente


da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro - UERJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Especialista.

Aprovado por:

Prof. Dr. Wilson Luiz LANZARINI

_______________________________________________

(Petrobras – RH/UP/ECTEP) - orientador

Prof. Dr. René Rodriguez


_______________________________________________
(UERJ) - orientador

Prof. Dr. Flávio Juarez Feijó

_______________________________________________

(Petrobras – RH/UP/ECTEP)

RIO DE JANEIRO

2006

VI
FICHA CATOLOGRÁFICA

BRANDAO, AGLAIA TRINDADE; SANTOS,


ALESSANDRA DE OLIVEIRA; OLIVEIRA,
DANIELA LIMA; CARMO, ISABELA DE
OLIVEIRA; MENEZES, MARIA ROSILENE
FERREIRA.
Geologia e Sistemas Petrolíferos das Bacias
do Solimões e do Amazonas. [Rio de Janeiro]
2006.
XVII, 77 p. 29,7 cm (Faculdade de Geologia
- UERJ, Esp., Curso de Especialização em
Geologia do Petróleo).
Monografia - Universidade Petrobras e
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
realizada no Curso de Formação em Geologia
e Faculdade de Geologia.
1. Bacias do Solimões e do Amazonas. 2.
Evolução geológica. 3. Sistemas petrolíferos.
4. Reservas e produção.
I - FGEL/UERJ II - Título (série)

VII
ÍNDICE

FICHA CATOLOGRÁFICA .............................................................................. VII

ÍNDICE ............................................................................................................ VIII

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... X

LISTA DE TABELAS ...................................................................................... XIII

LISTA DE FOTOGRAFIAS ............................................................................ XIV

RESUMO......................................................................................................... XV

ABSTRACT.................................................................................................... XIX

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.1 Localização .......................................................................................... 1
1.2 Evolução do conhecimento geológico .............................................. 4
1.2.1 ESTRATIGRAFIA E ASPECTOS SEDIMENTARES................... 5
1.2.2 ASPECTOS ESTRUTURAIS ...................................................... 6
1.2.3 SISTEMAS PETROLÍFEROS ..................................................... 7
1.3 Histórico de exploração e produção de hidrocarbonetos ............... 5

2 ORIGEM DA BACIA DO AMAZONAS, ARCABOUÇO ESTRUTURAL


E EVENTOS TERMAIS.................................................................................... 14
2.1 Origem da Bacia ................................................................................ 14
2.2 Arcabouço estrutural ........................................................................ 16
2.2.1 LIMITES ENTRE AS BACIAS ................................................... 19
2.2.2 AS RELAÇÕES DAS PRINCIPAIS ESTRUTURAS
BACINAIS COM O EMBASAMENTO ....................................... 19
2.2.3 FALHAS NORMAIS .................................................................. 20
2.2.4 ARCO DE IQUITOS .................................................................. 21
2.2.5 ARCO DE PURUS .................................................................... 21
2.2.6 ARCO DE CARAUARI .............................................................. 21
2.2.7 MEGAZONA DE CISALHAMENTO DO SOLIMÕES (OU
TREND DE JURUÁ).................................................................. 22
2.2.8 ARCO DE GURUPÁ ................................................................. 23
2.2.9 ARCO DE MONTE ALEGRE .................................................... 24
2.3 Eventos termais ................................................................................. 19

VIII
3 SEQÜÊNCIAS ESTRATIGRÁFICAS E EVOLUÇÃO TECTONO-
SEDIMENTAR.................................................................................................. 26
3.1 Introdução .......................................................................................... 26
3.2 Seqüência Paleozóica (Plz)............................................................... 28
3.2.1 SEQÜÊNCIA ORDOVICIANO-DEVONIANA (O-D) .................. 28
3.2.2 SEQÜÊNCIA DEVONIANO-CARBONÍFERA (D-C).................. 31
3.2.3 SEQÜÊNCIA CARBONÍFERO-PERMIANA (C-P) .................... 36
3.3 Seqüência Cretáceo-Terciária (K-T) ................................................. 38

4 SISTEMAS PETROLÍFEROS..................................................................... 40
4.1 Sistemas petrolíferos da Bacia do Amazonas ................................ 44
4.1.1 ROCHAS GERADORAS ........................................................... 44
4.1.2 MATURAÇÃO ........................................................................... 47
4.1.3 TRAPAS, RESERVATÓRIOS E SELOS................................... 48
4.1.4 GERAÇÃO E MIGRAÇÃO ........................................................ 51
4.2 Sistemas petrolíferos da Bacia do Solimões .................................. 54

5 RESERVATÓRIOS..................................................................................... 58
5.1 Caracterização de fácies................................................................... 59
5.1.1 FÁCIES SEDIMENTARES DA FORMAÇÃO MONTE
ALEGRE NA ÁREA DO JURUÁ................................................ 60
5.1.2 ARENITOS EÓLICOS DA FORMAÇÃO JURUÁ NA ÁREA
DE URUCU ............................................................................... 64
5.2 Evolução diagenética ........................................................................ 65
5.3 Condições permoporosas ................................................................ 66
5.4 Qualidade dos reservatórios ............................................................ 66

6 RESERVAS E PRODUÇÃO ....................................................................... 68

7 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................ 70

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 73

IX
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da Bacia do Amazonas (adaptado de Wanderley


Filho 2005). ....................................................................................... 2
Figura 2 – Classificação de bacias sedimentares (fonte: Raja Gabaglia &
Figueiredo 1991). .............................................................................. 3
Figura 3 – Localização dos escudos que limitam as bacias do Solimões e
do Amazonas a norte e a sul (fonte: Gonzaga et al. 2000). .............. 4
Figura 4 – Localização das sub-bacias e seus limites estruturais (adaptado
de Cordani et al. 1984). ..................................................................... 4
Figura 5 – Bloco licitado pela ANP durante a segunda rodada de
licitações, em 2000 (ANP 2006). ..................................................... 12
Figura 6 – Bloco licitado pela ANP na quarta rodada de licitações, em
2002 (ANP 2006)............................................................................ 12
Figura 7 – Bloco licitado pela ANP na sétima rodada de Licitações, em
2005 (ANP 2006)............................................................................ 13
Figura 8 – Bacias intracratônicas brasileiras (Adaptado de Almeida et al,
2000). .............................................................................................. 14
Figura 9 – Esboço da direção de esforços que originaram o rifte em
terrenos precambrianos do Cráton Amazônico: a) Esforços
extensionais oriundos do ambiente compressional na Faixa
Araguaia-Tocantins (notar que a geometria arquitetural dos
grábens na Bacia do Amazonas também é compatível com esta
direção de esforços) (adaptado de Cordani et al. 1984); b)
Anomalias magnéticas ao longo do substrato da Bacia do
Amazonas e o modelo de rifteamento com extensão N-S
(adaptado de Wanderley Filho 1991 e Neves et al. 1989 apud
Cunha 2000).................................................................................... 16
Figura 10 – (a) Cenário e estruturas do núcleo cratônico proterozóico: -
Província Amazônica Central e as faixas móveis circundantes.
Destacam-se as principais feições estruturais transversais às
bacias do Solimões e do Amazonas: arcos de Iquitos, Purus,
Monte Alegre e Gurupá (adaptado de Cordani et al. 1984); (b)
Arcabouço estrutural da Bacia de Solimões: a Sub-Bacia Juruá
tem como substrato a Faixa Móvel Rio Negro-Juruena e a Sub-
bacia de Jandiatuba foi implantada sobre o Cinturão
Rondoniano; o Alto de Carauari é a zona de sutura entre as
duas províncias; e a megazona de cisalhamento do Solimões
ou trend do Juruá (fonte: Silva 1988). ............................................. 18
Figura 11 – Diagrama estratigráfico, destacando o anacronismo entre a
atividade magmática das bacias paleozóicas do Solimões e do
Amazonas e as demais bacias paelozóicas brasileiras
(modificado de Eiras et al. 1994, Cunha et al. 1994, Góes &
Feijó et al. 1994, Milani et al. 1994 )................................................ 25

X
Figura 12 – Reconstrução tectônica e paeogeográfica dos continentes e
oceanos entre o fim do Proterozóico e início do Paleozóico
(fonte: Scotese 2000). ..................................................................... 27
Figura 13 – Seqüências deposicionais presentes nas cartas estratigráficas
das bacias do Solimões e do Amazonas (modificado de Eira et
al. 1994 e Cunha et al. 1994). ......................................................... 29
Figura 14 – Seção estratigráfica e mapa paleoecológico dos ambientes
deposicionais das formações Altás Mirim (a) e Nhamundá,
Bacia do Amazonas (Carozzi et al. 1973). ...................................... 30
Figura 15 – Seção estratigráfica e mapas paleoecológicos dos ambientes
deposicionais das formações Pititinga (a) Manacapuru (b) e
Maecuru (c), Bacia do Amazonas (Carozzi et al. 1973). ................. 32
Figura 16 – Mapas paleoecológicos e modelos deposicionais das
formações Ererê (a), Cururi (b), Bacia do Amazonas (Carozzi et
al. 1973). ......................................................................................... 34
Figura 17 – Mapas paleoecológicos e modelos deposicionais das
formações Oriximiná (a) e Faro (b), Bacia do Amazonas
(Carozzi et al. 1973). ....................................................................... 35
Figura 18 – Correlação entre as seqüências estratigráficas das Bacias do
Solimões e Amazonas e seus sistemas petrolíferos (Modificado
de Eiras et al., 1994 e Cunha et al., 1994). ..................................... 41
Figura 19 – Carta estratigráfica da Bacia do Solimões (fonte: Eiras et al.
1994). .............................................................................................. 42
Figura 20 – Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas (fonte: Cunha et al.
1994). .............................................................................................. 43
Figura 21 – (a) Mapa de isópacas dos folhelhos radioativos da porção
basal da Formação Barreirinha e localização de alguns poços
selecionados para o estudo de Gonzaga et al. (2000). (b) Perfil
geoquímico do poço B, mostrando que os maiores valores de
COT, S2 e IH são encontrados na parte basal da Formação
Barreirinha (fonte: Gonzaga et al. 2000). ........................................ 46
Figura 22 – Análise geoquímica de amostras da Formação Barreirinha –
Devoniano Superior – na Bacia do Amazonas. Os altos valores
de COT e índices de oxigênio e hidrogênio correspondem à
superfície de máxima inundação (fonte: Eiras et al. 1998).............. 46
Figura 23 – Índice de potencial gerador (IPG) calculado para algumas
formações do Paleozóico Inferior da Bacia do Amazonas (fonte:
Gonzaga et al. 2000). ...................................................................... 47
Figura 24 – Diagrama mostrando a relação entre a reflectância da vitrinita
(%Ro) e a profundidade em dois poços da Bacia do Amazonas
(localização na figura 21a). Observe o efeito termal das
intrusões ígneas na seção sedimentar (fonte: Gonzaga et al.
2000). .............................................................................................. 48
Figura 25 – Coluna sedimentar de um poço selecionado na Bacia do
Amazonas mostrando a composição litológica e perfis de GR,

XI
resistividade e sônico. Os melhores reservatórios são as
camadas de arenito das Formações Curiri e Monte Alegre
(fonte: Gonzaga et al. 2000)............................................................ 50
Figura 26 – Evolução da razão de transformação (TR) e eficiência de
expulsão (EE) em dois poços e um falso poço (baseado em
dados de seções sísmicas) na Bacia do Amazonas. Note o
aumento da conversão do querogênio e expulsão do petróleo
do poço B (margem da bacia) para o falso poço (depocentro)
(fonte: Gonzaga et al. 2000)............................................................ 52
Figura 27 – Correlação de curvas, calculada e observada, de razão de
transformação em função da reflectância da vitrinita para os
poços estudados na Bacia do Amazonas (fonte: Gonzaga et al.
2000). .............................................................................................. 53
Figura 28 – Localização e extensão das cozinhas de óleo na Bacia do
Amazonas em quatro diferentes idades. Note que nos dias
atuais, a cozinha de óleo foi atingida pelo fim do evento ígneo
(200 Ma) e se manteve assim desde então (fonte: Gonzaga et
al. 2000). ......................................................................................... 53
Figura 29 – Carta de eventos do sistema petrolífero da Bacia do
Amazonas (fonte: Gonzaga et. al, 2000) ......................................... 54
Figura 30 – Carta de eventos da Bacia do Solimões (Modificado de Mello
et al., em AAPG Memoir 60, 1994).................................................. 56
Figura 31 – Exemplo de típica trapa estrutural na Bacia do Solimões:
Fault-propagation fold associadas com falhas reversas
mesozóicas (fonte: Figueiredo & Milani 2000)................................. 57
Figura 32 – Escala de observação da geometria de reservatórios,
exemplificadas a partir de depósitos fluviais (fonte: Dreyer et al.
1990 in Lanzarini 1995). .................................................................. 58
Figura 33 – Modelo deposicional da Formação Monte Alegre na área do
Juruá (adaptado de Lanzarini 1984 e Sneider et al. 1981).............. 60
Figura 34 – Produção de gás no estado do Amazonas (Fonte: Boletim
Mensal de Gás Natural – ANP 2005). ............................................. 69

XII
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Reservas das bacias do Amazonas e Solimões em 31/12/2005


(fonte: Boletim Anual de Reservas, ANP)........................................ 69

XIII
LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Arenito grosso, mal selecio-nado. ....................................................... 62


Fotografia 2 – Arenito bimodal com estratifi-cação cruzada. ...................................... 62
Fotografia 3 – Cimentação carbonática dife-rencial, ressaltando a estratificação....... 62
Fotografia 4 – Arenito argiloso com laminação ondular irregular................................ 62
Fotografia 5 – Arenito fino com ôndulas trans-ladantes gerando laminação de
baixo ângulo........................................................................................ 63
Fotografia 6 – Arenito muito fino com micro-estratificação cruzada e ôndulas
ascendentes........................................................................................ 63
Fotografia 7 – Folhelho com nódulos de anidrita........................................................ 64

XIV
RESUMO

As Bacias do Amazonas e Solimões (980.000 km2) localizam-se na região


norte do Brasil, dentro da Floresta Amazônica, e fazem parte do conjunto das
bacias intracratônicas paleozóicas do interior na Plataforma Sul-Americana.
Situam-se entre os escudos da Guiana a norte, e Central ou Guaporé a sul, e o
eixo principal destas bacias orienta-se na direção E-W, estando segmentada
transversalmente por estruturas de direções N-S e NW (arcos ou altos de
Iquitos, Purus e Gurupá), compartimentando-a em três grandes domínios ou
sub-bacias: Alto Amazonas (Bacia do Solimões), Médio e Baixo Amazonas
(Bacia do Amazonas). As bacias do Solimões e do Médio e Baixo Amazonas
também são segmentadas internamente por estruturas NW (arcos de Caruari e
Monte Alegre arches, respectivamente).
O A evolução do conhecimento geológico nesta região está
intrinsecamente relacionada ao interesse na exploração de petróleo. O
aumento do conhecimento científico na região se deu com a criação da
PETROBRAS e o interesse na exploração de petróleo em bacias paleozóicas,
o que acabou frustrando as expectativas na época. No final dos anos 80, com a
aquisição de novas tecnologias, e investimento exploratório, ocorreu a
descoberta do campo de Urucu (Bacia do Solimões/Sub-bacia do Juruá), fato
que impulsionou a continuidade das pesquisas geológicas na região, somado à
melhora na resolução sísmica, permitindo novas interpretações e descobertas
geológicas. Já outros fatores, tais como as restrições legais brasileiras para
pesquisar petróleo em áreas indígenas e reservas florestais, dificultam as
atividades exploratórias na parte oriental da Bacia do Solimões (Sub-bacia de
Jandiatuba).
A origem da calha da Bacia do Solimões/Amazonas é controversa, assim
como das demais bacias paleozóicas brasileiras; no entanto a presença de
uma anomalia gravimétrica positiva no eixo principal da bacia, associada à
presença de intrusões magmáticas cambrianas e de estudos tectono-
estruturais, permitiram que vários estudos indicassem que sua formação inicial

XV
se deu por rifteamento, ocorrido no início do Cambriano. Após o rifteamento, a
subsidência térmica regional proporcionou o desenvolvimento de uma sinéclise
intracontinental. Durante o Fanerozóico, ocorreu a deposição das maiores
espessuras sedimentares (3.000-5.000 m em seu depocentro), sendo as
unidades paleozóicas as mais importantes do ponto de vista de sistemas
petrolíferos. A evolução tectono-estratigráfica caracteriza-se por uma
alternância de fases de subsidências e de soerguimentos (com discordâncias
regionais associadas), correlacionáveis aos grandes eventos orogênicos que
ocorrem nas bordas das placas tectônicas. Esses processos resultaram na
reativação de arcos regionais, formação de importantes arcos locais e
controlaram as invasões marinhas, as depressões deposicionais e os
processos erosivos.
A evolução tectono-estratigráfica é marcada por duas seqüências
deposicionais de 1a ordem: uma principal, Paleozóica, intrudida por diques e
soleiras de diabásio, e outra Mesozóica-Cenozóica. A seqüência deposicional
Paleozóica é subdividida em quatro seqüências de menor ordem: Ordoviciano-
Devoniana (O-D), Devoniano-Carbonífera (D-C) e Carbonífera-Permiana (C-P).
O fim destes ciclos tectono-sedimentares do Paleozóico é marcado por um
intenso magmatismo básico (Magmatismo Penatecaua), que perdurou do
Triássico tardio e o Jurássico inicial, estando relacionado a processos
tectônicos de abertura do Oceano Atlântico. Durante o Mesozóico e o
Cenozóico, as bacias do Solimões e do Amazonas são afetadas pela orogenia
andina, a oeste, e abertura do Oceano Atlântico Equatorial, a leste. Esses
processos provocaram deformações intraplaca, gerando, na Bacia do
Solimões, importantes estruturas transpressivas (evento ou trend Juruá) de
interesse para a prospecção petrolífera. Durante o Mioceno-Plioceno, a
orogenia andina afetou significativamente as porções mais a oeste da calha do
Amazonas, e, muito provavelmente reativou estruturas pré-existentes no
conjunto de bacias do Amazonas. As unidades sedimentares mesozóicas-
cenozóicas recobrem as unidades paleozóicas na Bacia do Solimões, não
permitindo que estas aflorem.

XVI
Os principais sistemas petrolíferos das bacias do Solimões e do Médio
Amazonas foram desenvolvidos durante o Paleozóico. As rochas geradoras
mais importantes foram formadas durante o Devoniano, representadas por
folhelhos negros, marinhos, de idade frasniana. Ambas as bacias apresentam
seqüências predominantemente siliciclásticas, além de uma notável seqüência
carbonático-evaporítica permiana, que atuam como selos. Os reservatórios são
formados essencialmente por arenitos depositados em diferentes ambientes
durante o Paleozóico, sendo os principais os arenitos eólicos da Formação
Juruá, na Bacia do Solimões, e os arenitos eólicos da Formação Monte Alegre,
na Bacia do Amazonas. As condições permoporosas dos arenitos da Formação
Monte Alegre têm as melhores características associadas à fácies de dunas
(porosidades entre 20 e 25% e permeabilidades entre 150 e 380 mD),
enquanto que os arenitos da Formação Juruá possuem porosidade similar
(máxima é de 26%) e permeabilidade máxima superior (ca. 1400 mD). O
principal mecanismo de trapeamento é estrutural, com ocorrência de trapas
estratigráficas também na Bacia do Amazonas. A maturação das rochas
geradoras desses sistemas petrolíferos é decorrente das taxas de subsidência
associadas ao efeito termal causado pela intrusão de corpos de diabásio
mesozóicos.
No que diz respeito à produção, reservas e expectativas exploratórias, o
conjunto de bacias do Amazonas possui a segunda maior reserva provada de
gás natural do Brasil (cerca de 51.000 milhões de m3). As reservas totais de
petróleo e gás somam 613 milhões de barris de óleo equivalente. A produção
diária da província petrolífera de Urucu é de 54.000 barris de petróleo, 9,7
milhões de m3 de gás natural e 1.600 toneladas de GLP (gás de cozinha),
processados no complexo industrial de Urucu. Para dar suporte a esta
crescente produção, mais uma etapa do sistema de escoamento de petróleo na
Amazônia tem previsão de conclusão de dois anos, quando entrará em
operação o gasoduto Urucu-Manaus. Com um percurso de 383 km, este
gasoduto poderá transportar até 10,5 milhões de m3 de gás natural por dia,
gerando uma economia de US$ 1 milhão por dia. As expectativas exploratórias
nas bacias do Solimões e do Amazonas estão tornando-se cada vez mais

XVII
promissoras, face à introdução do gás natural na indústria energética do país e
face às incertezas que circundam a exploração e importação de gás do
território da Bolívia, em virtude da recente nacionalização das reservas de
petróleo, neste país.

XVIII
ABSTRACT

The Paleozoic intracratonic Amazon basin (980.000 km2) is an E-W


elongated feature in the South American Platform, northern of Brazil, in the
forested Amazon region, between the Guiana and the Central cratons. It is
segmented by NW structures (Iquitos, Purus and Gurupá arches), which
subdivide the basin in three sub-basins: Upper Amazon (Solimões Basin),
Middle and Low Amazon (Amazonas Basin). The Solimões and the Middle
Amazon basins are also segmented by NW structures (Caruari and Monte
Alegre arches, respectively).
The geological knowledge in the region is related to the hydrocarbon
exploration. Many studies were performed when PETROBRAS was created, in
the 50’s, and at that time there was an increasing focus on Paleozoic basins.
Because the initial exploration did not achieve successful results, there was a
time gap in the hydrocarbon studies. By the end of the 80’s, when new
geophysical technologies and new investments were applied in the region,
PETROBRAS discovered Urucu field (Solimões Basin/Juruá Sub-basin), that
incentivated new geological studies and investments in the region. Nevertheless,
legal Brazilian constraints do not allow hydrocarbon exploration in indigenous
areas and forest reserves; then, the geological exploration could not be
extended to the eastern part of Solimões Basin (Jandiatuba Sub-basin).
The origin of the Paleozoic basins is still a controverse; meanwhile, the
presence of a positive gravimetric anomaly along the major axis of the
Solimões/Amazon basins associated with the presence of Cambrian magmatic
intrusions and data from tectono-structural studies, suggest that the origin of the
initial trough was by rifting process, initiated during Early Cambrian. After the
rifting, a regional thermal subsidence promoted the evolution of a
intracontinental syneclise. During the Fanerozoic, thick sedimentary rocks were
deposited within the syneclise (3.000-5.000 m in its depocenter) and the most
important units for the petroleum system were the Paleozoic units. The tectono-
stratigraphic evolution is characterized by alternated phases of subsidences and

XIX
uplifts, associated with regional unconformities, which can be correlated to major
orogenic events at the border of the tectonic plates. These processes promoted
the reactivation of regional highs, the formation of local arches and controlled
marine transgressions, the position of depositional sites and erosive processes.
The tectono-stratigraphic evolution is marked by two first order depositional
sequences: a) the major, Paleozoic, intruded by diabase dykes and sills; and b)
Mesozoic-Cenozoic. The Paleozoic depositional sequences are subdivided in
four minor sequences: a) Ordovician-Devonian (O-D); b) Devonian-
Carboniferous (D-C); and Carboniferous-Permian (C-P). The end of the Palezoic
tectono-sedimentary cycles is characterized by a mafic magmatism (Penatecaua
Magmatism), which lasted from the Late Triassic to the Early Jurassic, related to
the tectonic processes of the Atlantic Ocean opening. During the Mesozoic and
the Cenozoic, the Solimões/Amazon basins are affected by the Andean orogeny
and the continuing opening of the Atlantic Ocean. These processes promoted
intraplate deformation, creating, in the Solimões Basin, transpressive structures
(Juruá trend or event) important to the hydrocarbon exploration. During the
Miocene-Pliocene, the Andean Oregeny also intensively affected the western
part of the Solimões/Amazon basins and probably has reactivated previous
structures along these basins. The Paleozoic units do not outcrop at Solimões
Basin because of the extensive Mesozoic and Cenozoic sedimentary cover.
The major petroleum systems in the Solimões/Amazon basins were
developed during the Paleozoic. The most important source rocks are Devonian,
composed by black marine shales (Frasnian). The seals are represented by
siliciclastic and Permian carbonatic-evaporitic sequences, present in both
basins. The reservoirs are composed by sandstones from different depositional
environments, deposited during the Paleozoic, but the major reservoirs are
eolian sandstones (Juruá Formation, in the Solimões Basin, and Monte Alegre
Formation, in the Middle Amazon Basin). The best permo-porosity of the eolian
sandstones are associated with dunes facies (porosity = 20-25% and
permeability = 150-380 mD for Monte Alegre Formation; and similar porosity =
26% and higher permeability = ca. 1400 mD for Juruá Formation). Structural
traps are the major trapping mechanism but stratigraphic traps also occur in the

XX
Middle Amazon Basin. The source rocks maturation occurred due to subsidence
rates associated with the thermal effect of the Mesozoic mafic intrusions.
Concerning the production, reserves and exploration expectations, the
Solimões/Amazon basins have the second major proved reserve of natural gas
in Brazil (ca. 51.000 millions m3). The total amount of oil and gas reserves is 613
millions boe. The daily production of Urucu petroliferous province is 54,000 bbl,
9.7 millions m3 of natural gas and 1,600 tons of LPG, processed in the industrial
complex of Urucu. To support the increasing production, the Urucu-Manaus gas
pipeline will be completed in two year, and will operate along 383 km, with the
capability to transport up to 10.5 millions m3 of natural gas, providing savings of
US$ 1 million per day. The exploration expectations in the Solimões/Amazon
basins are promising, in view of the introduction of natural gas as a source of
energy in the Brazilian industry and the uncertainties surrounding the exploration
and importation of gas from Bolivia, due to the recent nationalization of their
hydrocarbon reserves.

XXI
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho expõe uma síntese da geologia das bacias do


Amazonas e do Solimões, abordando os aspectos da evolução do
conhecimento geológico, o histórico da produção de hidrocarbonetos, o
arcabouço estrutural e eventos magmáticos, origem e evolução tectono-
sedimentar, descrevendo, ainda, a geologia de reservatórios e os sistemas
petrolíferos destas bacias e suas reservas.
O objetivo maior desse tema é aprimorar o conhecimento dos autores
sobre a origem das bacias do Amazonas e do Solimões, correlações tectono-
estratigráficas entre ambas, os eventos de geração, migração e acumulação de
hidrocarbonetos, e tipos de estruturas de acumulação. Também discutiremos as
expectativas exploratórias destas bacias, abordando seu potencial petrolífero,
sobretudo o aproveitamento econômico das reservas de gás, a serem discutidos
face aos novos rumos geopolíticos na América do Sul.

1.1 Localização

As Bacias do Amazonas e Solimões possuem uma estrutura alongada


segundo a direção E-W, com aproximadamente 2.500 km de comprimento e até
800 km de largura. A Bacia do Amazonas ocupa uma área de aproximadamente
980.000 km2, atingindo 5.000 m de profundidade (EIRAS et al, 1994; CUNHA et
al, 1994; GONZAGA et al, 2000 ; WANDERLEY FILHO, 2005), localizada na
região norte do Brasil (Fig. 1).
A Bacia do Solimões possui uma área de aproximadamente 480.000 km2,
sendo que a extensão de ocorrência dos sedimentos paleozóicos ocupa cerca
de dois terços desta área. Esses sedimentos não afloram e estão recobertos por
sucessões cretáceas e cenozóicas (EIRAS, 1996; EIRAS et al, 1994). A Bacia
do Amazonas tem cerca de 515.000 km2, com formações paleozóicas mais
antigas aflorando nas bordas da bacia e as mais novas afloram em direção ao
centro (BIZZI et al, 2003; CUNHA et al, 1994).

1
Figura 1 – Localização da Bacia do Amazonas (adaptado de Wanderley Filho 2005).

O nome “Bacia do Amazonas”, atualmente, corresponde às antigas bacias


do Médio e Baixo Amazonas (Eiras et al. 1994), enquanto que a denominação
“Bacia do Solimões” corresponde à Bacia do Alto Amazonas (Caputo 1984). Em
estudos mais antigos, o nome “Bacia do Solimões” se aplicava à cobertura
cenozóica do oeste da Amazônia (Santos 1974), mas Caputo (1984) sugeriu a
substituição do nome Alto Amazonas por Solimões, devido a esta apresentar
uma história tectono-sedimentar diferenciada da Bacia do Amazonas. Neste
trabalho, utilizaremos as denominações: Bacia do Solimões (Caputo 1984) para
a Sub-Bacia do Alto Amazonas, e Bacia do Amazonas para as sub-bacias do
Médio e Baixo Amazonas (Eiras et al. 1994).
Classificada por Raja Gabaglia & Figueiredo (1991) como Bacia
Intracratônica Tipo I – Interior Simples (Fig. 2), a Bacia do Amazonas, como um
todo, é uma das três bacias intracratônicas paleozóicas do interior na
Plataforma Sul-Americana, situada entre os escudos da Guiana, a norte, e
Central ou Guaporé, a sul, estando segmentada por estruturas de direções N-S
e NW, compartimentando-a em três grandes domínios ou sub-bacias: Alto
Amazonas (Bacia de Solimões), Médio e Baixo Amazonas; esses dois últimos
agrupados em Bacia do Amazonas (Figs. 3 e 4).

2
A Bacia do Solimões limita-se a oeste com a Bacia do Acre, pelo Arco de
Iquitos, e a leste com a Bacia do Amazonas, pelo Arco de Purus. A Bacia do
Amazonas limita-se a leste com a Bacia do Marajó (Gráben do Marajó ou Bacia
da Foz do Amazonas), pelo Arco de Gurupá (Fig.4).
A seqüência sedimentar tem profundidade de aproximadamente 5.000 m,
e consiste basicamente por rochas paleozóicas intrudidas por diques e sills de
diabásio do Triássico-Jurássico, subseqüentemente recobertas por rochas do
Cretáceo-Terciário ao recente (Gonzaga et al. 2000, Matsuda 2002).

Figura 2 – Classificação de bacias sedimentares (fonte: RAJA GABAGLIA & FIGUEIREDO,


1991).

3
Figura 3 – Localização dos escudos que limitam as bacias do Solimões e do Amazonas a norte
e a sul (fonte: Gonzaga et al. 2000).

Figura 4 – Localização das sub-bacias e seus limites estruturais (adaptado de Cordani et al.
1984).

4
1.2 Evolução do conhecimento geológico

O primeiro estudo geológico na Bacia do Amazonas foi realizado por


Coutinho (1862 apud Matsuda 2002), quando encontrou fósseis de idade
carbonífera ao longo do Rio Cupari, na área do Rio Tapajós (Caputo 1984 apud
Matsuda 2002). Contudo, o boom da investigação geológica ocorreu com a
criação da PETROBRAS, em 1953, quando houve um incremento do interesse
pela exploração de petróleo em bacias paleozóicas, intensificando-se os
estudos nessas bacias. Já no final da década de 50, a PETROBRAS perfurou
14 poços a fim de definir a estratigrafia. Porém, os resultados dos poços,
aliados à má infra-estrutura e resposta sísmica de baixa resolução, levaram ao
abandono das pesquisas na região (Porsche 1985).

1.2.1 ESTRATIGRAFIA E ASPECTOS SEDIMENTARES


Vários estudos (Hartt 1874, Derby 1877, Evans 1906, Paiva 1929 e Moura
1938 apud Matsuda 2002 e Wanderley Filho 1991) descreveram e
caracterizaram várias unidades litológicas, por mapeamento geológico, ao longo
dos principais rios da região. No entanto, a primeira coluna estratigráfica foi
confeccionada somente entre as décadas de 40 e 50, por vários autores
(Oliveira & Leonardos 1943, Petri 1952 e Oddone 1953 apud Wanderley Filho
1991), e essa coluna foi revisada por Caputo et al. (1972), que propôs um novo
arranjo lito-estratigráfico, o qual se mantém até hoje.
Em 1994, foi publicada pela PETROBRAS uma nova carta estratigráfica
para as bacias do Amazonas e do Solimões (Eiras et al. 1994, Cunha et al.
1994), onde a litoestratigrafia ganha um cunho de seqüências deposicionais,
possíveis de serem correlacionadas entre ambas as bacias, considerando os
grandes eventos erosionais associados às orogenias. Atualmente, as cartas
estratigráficas, publicadas em 1994, passam por um processo de revisão, que
resultará em uma nova versão a ser publicada até o fim deste ano (F. Feijó,
informação verbal).

5
1.2.2 ASPECTOS ESTRUTURAIS
No final da década de 50 a Petrobrás perfurou 14 poços a fim de definir a
estratigrafia. Porém, os resultados destes poços, aliados à má infra-estrutura e
resposta sísmica, levaram ao abandono das pesquisas na região (Porche
1985). Szatmari et al. (1975 apud Porsche 1985), re-analisando esses dados,
perceberam que havia duas feições estruturais proeminentes na Bacia do Alto
Amazonas: o Alto de Jutaí e o Baixo de Juruá. Foi sugerido, então, que fosse
realizado um novo programa sísmico na região, o que detectou uma anomalia
estrutural correspondente à porção leste do trend do Juruá. Este resultado
levou à perfuração do poço descobridor de gás (1-JR-1-AM) nos arenitos da
Formação Monte Alegre.
Szatmari (1981 apud Porsche 1985), estudando as fases orogênicas na
evolução da Cordilheira dos Andes, relaciona a estruturação do Juruá com a
Orogenia Tardiherciniana, afirmando que a estruturação seria resultante do
empurrão para leste do alto granítico de Iquitos, granítico, raso, para leste,
contra a seqüência sedimentar da Bacia do Amazonas.
Muhlmann et al. (1982 apud Porsche 1985) identificaram três eventos
tectônicos que afetaram a Bacia do Amazonas, baseado em dados de reflexão
sísmica: a) tectonismo extensional, concomitante à deposição da seqüência
permo-triássica; b) tectonismo compressivo de idade jurássica; c) tectonismo
compressivo de idade miocênica-pliocênica.
Diversos autores (Andrade & Cunha 1971, Araújo 1972, Rezende & Brito
1973, Cunha 1982, Miranda 1983, Neves 1989 apud Wanderley Filho 1991)
concluíram que os principais lineamentos orientados na direção NW-SE, no
contexto do embasamento, tem continuidade sob os conjuntos sedimentares da
bacia.
Szatmari (1983) descreveu os elementos tectônicos maiores do norte da
América do Sul e as influências das orogenias andinas sobre a sedimentação
na Bacia do Amazonas.
Caputo (1984) analisa o modelo proposto por Szatmari (1981 apud
Porsche 1985), fazendo críticas a alguns pontos, e propondo novos modelos
alternativos de compressão: a) o primeiro modelo seria baseado no modelo de

6
Szatmari (1981 apud Porsche 1985), em que haveria distensão no Rifte do
Tacutu e compressão na área do Juruá, devido à abertura do Atlântico Norte,
sem intervenção de movimentos transcorrentes; b) o segundo modelo propõe a
subducção de uma placa oceânica na parte oeste do continente.
Caputo (1985) apresentou outro modelo estrutural, afirmando que o
alinhamento do Juruá seria decorrente de uma colisão da borda NW do
continente Sul Americano com um arco de ilhas, durante a abertura do Atlântico
Sul.

1.2.3 SISTEMAS PETROLÍFEROS


Rodrigues et al. (1984 apud Porsche 1985) identificaram os folhelhos da
Formação Barreirinha do Grupo Curuá como os principais geradores, admitindo
que a fase principal de geração de hidrocarbonetos foi na época de maior
soterramento, entre o Permiano Superior e o Triássico, propondo, ainda, dois
modelos de geração e acumulação dos hidrocarbonetos: a) no primeiro modelo,
a geração teria ocorrido antes da estruturação, ficando os hidrocarbonetos
acumulados em trapas estratigráficas dentro da Formação Monte Alegre e,
posteriormente, remobilizados com a estruturação, acumulando-se em trapas
formadas a partir dessa estruturação; b) no segundo modelo, o tempo de
geração seria concomitante com a estruturação.
Lanzarini (1984), estudando os arenitos da Formação Monte Alegre,
concluiu que a porosidade nesses reservatórios é essencialmente secundária,
gerada por uma fase de dissolução que removeu os cimentos precipitados em
fases diagenéticas anteriores, estando as melhores condições de permo-
porosidade associadas aos arenitos eólicos, principalmente aos depósitos de
dunas e interdunas.
Alves & Rodrigues (1985), estudando os argilominerais dos folhelhos
devonianos da Bacia do Amazonas, na região do Baixo Amazonas, concluíram
que a espessura de pelitos com modificações mineralógicas, induzidas pelas
intrusivas, corresponderia cerca de uma vez à espessura do corpo vulcânico, e
a evolução da matéria orgânica presente nesses folhelhos atingiram um estágio
diagenético avançado, posicionando-a na zona de gás e condensado.

7
1.3 Histórico de exploração e produção de hidrocarbonetos

A história da exploração do petróleo no Brasil se resume a três fases


principais: antes do monopólio da PETROBRAS (entre 1858 a 1953), a fase do
monopólio (1953 a 1997), e a fase após o monopólio (a partir de 1997).
As primeiras tentativas de encontrar petróleo e gás na Amazônia datam do
início do século. A pesquisa na Amazônia começou em 1917, quando o Serviço
Mineralógico e Geológico do Brasil (SMG), órgão do governo federal, foi criado
em 1905 com o objetivo de localizar jazida de carvão e outros combustíveis
fósseis (PETROBRAS 2006). O SMG perfurou na Bacia do Amazonas o poço S-
1 (Sondagem No 1), visando os propósitos do SMG. Em 1925, os primeiros
indícios de óleo e gás, nas proximidades de Itaituba, no Pará, levaram à
intensificação das pesquisas (Wanderley Filho 1991). O SMG inaugurou, nesta
cidade, a primeira cidade com iluminação pública a gás natural. Até o ano de
1934, quando surgiu o Departamento Nacional da Produção Mineral, foram
realizados 17 poços numa fase caracterizada pela exploração nas proximidades
dos grandes rios, precariedade dos conhecimentos geológicos e predomínio de
informações orais (Wanderley Filho & Eiras 1990).
A partir de 1938, a pesquisa de petróleo em todo o Brasil ficou a cargo do
então recém-criado Conselho Nacional do Petróleo (CNP), o qual perfurou sete
poços que contribuíram para o melhor entendimento das bacias sedimentares
dessa área (Wanderley Filho & Eiras 1990). Em 1948, foram iniciados os
primeiros levantamentos sísmicos na Amazônia, com o objetivo de encontrar
especificamente gás natural e petróleo (PETROBRAS 2006).
Com a criação da PETROBRAS em 1953, através da Lei no 2004, pelo
então Presidente da Republica Getúlio Vargas, é iniciada uma nova etapa da
pesquisa petrolífera no Brasil e em especial na Amazônia.
Somente em meados de 1955, a PETROBRAS começou a descobrir as
primeiras reservas de petróleo na região, mais precisamente nos municípios
amazonenses de Nova Olinda, Autás Mirim e Maués, localizados dentro da
Bacia do Amazonas, o que constituiu um episódio de grande repercussão na
época (PETROBRAS 2006). Em dez anos de atividades, foram perfurados 192
poços profundos, às margens dos grandes rios, baseados em informações

8
gravimétricas e geologia de superfície. Desse total de poços, apenas 10% foram
perfurados na Bacia do Solimões (Wanderley Filho & Eiras 1990).
A continuação das pesquisas foi incentivada por algumas descobertas sub-
comerciais de óleo e gás, a exemplo daquela registrada na madrugada do dia
13 de março de 1955, em Nova Olinda, quando jorrou pela primeira vez óleo na
Bacia do Amazonas, a partir dos arenitos devonianos da Formação Curiri, a
uma profundidade de 2.718 m. Esta foi a primeira de uma série de descobertas
não comerciais de óleo entre 1953 e 1963. As outras descobertas foram na
região dos rios Autás Mirim, a sudeste de Manaus, Abacaxis e Maués
(Wanderley Filho & Eiras 1990).
Os esforços exploratórios dessa fase foram creditados a Walter Link,
geólogo americano responsável pela exploração da PETROBRAS, desde sua
criação até 1961. Dada sua experiência com as descobertas de campos
gigantes de idade paleozóica, nos Estados Unidos, W. Link esperava encontrar
campos correspondentes nos terrenos paleozóicos brasileiros. Entretanto, ao
final de sua carreira na PETROBRAS, W. Link concluiu que as bacias
paleozóicas brasileiras não corresponderam às expectativas, e que não se
deveria mais tentar investir em esforços exploratórios nesta região
(PETROBRAS 2003).
A partir de 1970, a PETROBRAS passou a pesquisar, também, na foz do
Rio Amazonas, e descobriu, em 1976, o campo de gás Pirapema.
Na Bacia do Solimões, a pesquisa para exploração de petróleo foi
retomada em 1976 com um reconhecimento de sísmica de reflexão, feito pela
equipe ES-36, onde apareceu uma inversão estrutural no bloco alto de uma
falha reversa, posteriormente detalhada. Foi o primeiro levantamento de sísmica
de reflexão feito na bacia, sendo utilizadas técnicas aplicadas desde 1970. Em
1978, ocorreu a primeira descoberta significativa de gás na Amazônia: a atual
província gaseífica do Juruá (Eiras 1996), no município de Tefé, cerca de 750
km a oeste de Manaus. Esta província possui vários campos, e um volume de
gás recuperável da ordem de 30 bilhões de metros cúbicos (Wanderley Filho &
Eiras 1990).

9
Com o prosseguimento da atividade exploratória, novas descobertas de
gás foram feitas na Bacia do Solimões: província gaseífera do Ipoca-Biá, em
1983-1984; e campo gaseífero do Copacá e província gaseífera do São Mateus,
ambos em 1996. Nesta fase pós-Juruá, foram perfurados mais de 220 poços,
sendo 160 explotatórios e 60 exploratórios (Wanderley Filho & Eiras 1990), e
adquiridos mais de 60.000 km de linhas sísmicas 2D de reflexão (Eiras 1996).
Na segunda metade da década de 70 até 1990, empresas como a Texaco,
Elf Aquitane, Esso, Idemitsu, British Petroleum e Pecten assinaram contrato de
risco com a PETROBRAS, sem, no entanto, realizarem descobertas de valor
comercial na Amazônia. O melhor resultado foi no poço 1-RCM-1-AM (Riacho
Castanho Mirim No 1), o qual queimou gás, durante teste de formação, em
reservatórios da Formação Monte Alegre (Wanderley Filho & Eiras 1990).
A partir da descoberta de Juruá, a pesquisa de petróleo foi intensificada na
Bacia do Solimões, tendo o êxito a partir de 1986, quando foi descoberta a
Província Petrolífera de Urucu (Eiras 1996).
Nos anos 80, a PETROBRAS perfurou alguns poços na região do Baixo e
Médio Amazonas, e ao longo do Rio Tapajós. Em 1985, perfurou o poço
denominado Igarapé Cuia (100 km a sudeste de Manaus), o qual produziu 3.790
m3 de óleo e 2.521 m3 de água salgada e gás durante 6 meses. Em 1986, à
margem direita do Rio Tapajós, foi encontrado gás a 2.700 m de profundidade
no poço Tauari No 1 (Wanderley Filho & Eiras 1990). Nesse mesmo ano, após
sete décadas de pesquisas, mais precisamente em outubro de 1986, o poço 1-
RUC-1-AM (Rio Urucu No 1), perfurado na região entre os rios Tefé e Coari
revelou-se produtor de óleo, gás e condensado. Esta descoberta abriu novas
perspectivas para a exploração de petróleo em toda a região (Wanderley Filho &
Eiras 1990). Dois anos depois, em 1988, começava a produção comercial na
“Província Petrolífera de Urucu”. Na ocasião, a produção inicial foi de 3.500
barris de petróleo por dia, transportados por meio de pequenas balsas, pelos
rios Urucu e Solimões até a Refinaria Isaac Sabbá (UN-REMAN), em Manaus
(PETROBRAS 2006).
Na Região de Urucu foram realizados 3.940 km de seções sísmicas 3D,
em uma área de 921 km2; mais de 60.000 km de perfis gravimétricos; cerca de

10
16.000 km de perfis magnetométricos, e quase 213.000 km de perfis
aeromagnetometricos (Eiras 1996). Foram perfurados novos poços em Urucu,
resultando na descoberta de novos campos: Leste de Urucu (1987), Sudoeste
do Urucu (1988), Carapanaúba e Cupiúba (1989) e extensão do Igarapé Marta
(1990). O conjunto desses campos passou a ser conhecido como “Província
Petrolífera de Urucu” (PETROBRAS 2006).
Com a confirmação da existência de uma reserva significativa na área,
deu-se início à produção comercial, que na ocasião foi de 3.500 barris de
petróleo por dia (PETROBRAS 2006).
Entre 1990 e 1996 não foram perfurados poços na Bacia do Amazonas.
(Wanderley Filho & Eiras 1990).
Com a quebra do monopólio em 1997, a PETROBRAS requereu blocos
para pesquisa nas bacias do Amazonas e Solimões. Na segunda e quarta
rodadas de licitações (Figs. 5 e 6, respectivamente), foi ofertado, pela ANP, um
bloco na Bacia do Amazonas, e na quarta e sétima rodadas (Fig. 7), um bloco
na Bacia do Solimões (ANP 2006). Em 1997 e 1998, foi dada continuidade aos
levantamentos sísmicos e perfuração de poços nos blocos requeridos a ANP.
Em 1998, a PETROBRAS encontrou uma nova reserva de gás natural na
Bacia do Amazonas, em uma área localizada no Município de Silves, 200 km a
leste de Manaus. Após as etapas de perfuração e testes de produção, no poço
denominado Rio Uatumã No 1, confirmou-se um reservatório de gás com 12 m
de espessura, situado a 1.650 m de profundidade na Formação Nova Olinda
(Wanderley Filho & Eiras 1990). O teste de produção indicou um potencial da
ordem de 700.000 m3/d de gás e um pequeno percentual de condensado.
Calcula-se, com base na área, um volume de gás in place da ordem de 8
bilhões de metros cúbicos e volume recuperável equivalente de 6 bilhões de
metros cúbicos de gás (Wanderley Filho & Eiras 1990).

11
Figura 5 – Bloco licitado pela ANP durante a segunda rodada de licitações, em 2000 (ANP
2006).

Figura 6 – Bloco licitado pela ANP na quarta rodada de licitações, em 2002 (ANP 2006).

12
Figura 7 – Bloco licitado pela ANP na sétima rodada de Licitações, em 2005 (ANP 2006).

13
2 ORIGEM DA BACIA DO AMAZONAS, ARCABOUÇO ESTRUTURAL E
EVENTOS TERMAIS

2.1 Origem da Bacia

As bacias intracratônicas fanerozóicas do Brasil (Amazonas/Solimões,


Parnaíba e Paraná) situam-se no interior da Plataforma Sul-Americana (Fig. 8),
sobre a qual foram depositadas espessas seqüências de rochas sedimentares
paleozóicas e mesozóicas, cujas principais áreas de deposição foram
controladas por estruturas do embasamento pré-cambriano, herdadas do ciclo
Brasiliano (Almeida et al. 2000 e Milani & Thomaz Filho 2000).

Figura 8 – Bacias intracratônicas brasileiras (Adaptado de Almeida et al, 2000).

Entre o final do Proterozóico e o início do Paleozóico, a Plataforma Sul-


Americana sofreu as últimas manifestações tectônicas do ciclo Brasiliano, com
o qual tem-se associado uma tectônica rúptil, caracterizada pela formação de
riftes e por relaxamento termal da litosfera, seguidos por um evento termal.
Estes processos caracterizariam a tectônica formadora para o sítio

14
deposicional da sedimentação paleozóica, que preenchem as extensas bacias
intracratônicas fanerozóicas do Brasil (BIZZI et al , 2003).
Segundo Neves et al (1989 apud CUNHA ,2000), a origem das bacias do
Solimões e do Amazonas está relacionada à dispersão dos esforços
provenientes da Faixa de Dobramento Araguaia-Tocantins, no final do Ciclo
Brasiliano, no Proterozóico. Essa faixa de dobramento, associada à Orogenia
Brasiliana-Pan Africana, apresenta vergência tectônica e feições estruturais
com direção de esforços compressivos E-W, e uma direção de alívio (extensão)
N-S, provavelmente responsável pelas estruturas extensionais adjacentes ao
cinturão (CUNHA, 2000). O rifte precursor das bacias de Solimões e
Amazonas, de acordo com esses autores, pode ter-se iniciado segundo esse
mecanismo, sendo sua propagação de leste para oeste controlada por
reativação de falhas e fraturas precambrianas (Fig. 9a).
Alguns autores ( AMARAL,1984; CUNHA et al ,1994; Teixeira ,2001)
sugerem idades mais antigas, Paleozóico Inferior ou Eopaleozóico, para os
depósitos que preenchem o rifte (Formação Prosperança). No entanto, é mais
provável que estes depósitos tenham idades mais novas (SILVA et al 2003),
entre o Cambriano e Ordoviciano (SANTOS et al, 1975; SCHOBBENHAUS et
al ,1984), ou princípio do Paleozóico ( SCHOBBENHAUS et al ,1984; MILANI
& ZALÁN, 1999).
A implantação do rifte precursor da bacia está associada a movimentos de
uma pluma mantélica que produziu a Província Magmática Piranhas, no
Cambriano Médio (507 Ma) (NUNN & AIRES, 1988 ; SANTOS et al ,2002).
Após o rifteamento, ocorreu o resfriamento das massas plutônicas, iniciando-se
a subsidência térmica regional e o desenvolvimento da sinéclise
intracontinental. A existência de uma anomalia gravimétrica positiva,
coincidente com o eixo da sinéclise (Fig. 9b), aponta para a ocorrência de
corpos ultrabásicos rasos, que provavelmente controlaram o mecanismo inicial
de subsidência da bacia (WANDERLEY FILHO, 1991). Considerando essa
idade cambriana para o início do rifteamento, a ruptura teria ocorrido posterior
ao encerramento do Ciclo Brasiliano, no Cambriano-Ordoviciano Inferior.

15
a
( )

(b)

Figura 9 – Esboço da direção de esforços que originaram o rifte em terrenos precambrianos


do Cráton Amazônico: a) Esforços extensionais oriundos do ambiente compressional na Faixa
Araguaia-Tocantins (notar que a geometria arquitetural dos grábens na Bacia do Amazonas
também é compatível com esta direção de esforços) (adaptado de Cordani et al. 1984); b)
Anomalias magnéticas ao longo do substrato da Bacia do Amazonas e o modelo de rifteamento
com extensão N-S (adaptado de Wanderley Filho 1991 e Neves et al. 1989 apud Cunha 2000).

16
2.2 Arcabouço estrutural

A Bacia do Amazonas como um todo, Alto Amazonas (Solimões), Médio e


Baixo Amazonas (Amazonas), está implantada sobre o Cráton Amazônico de
idade e evolução pré-Ciclo Brasiliano (Almeida et al. 2000). Esse cráton é uma
unidade geotectônica maior, constituída por um núcleo central mais antigo,
denominado de Província Amazônica Central, envolvido por faixas móveis
desenvolvidas posteriormente a este núcleo: Faixa Móvel Araguaia-Tocantins e
Faixa Móvel Maroni-Itacaiúnas (Proterozóico Inferior), a E-NE; Faixa Móvel Rio
Negro-Juruena (Proterozóico Médio) e Cinturão Rondoniano (Proterozóico
Médio a Superior), a S-SW (Fig.10a).
As principais estruturas reconhecidas nas bacias do Amazonas e do
Solimões são relacionadas à tectônica formadora destas bacias ou a vários
eventos deformadores, de natureza tectônica e/ou termal, sendo que várias
delas apresentam relações evidentes com o embasamento adjacente. As
estruturas formadoras da bacia não têm significado para o processo de
geração-migração-trapeamento de hidrocarbonetos, enquanto que algumas
das estruturas deformadoras, desempenham um importante papel neste
processo. Estas estruturas são: a) falhas normais, paralelas ao eixo de
subsidência da bacia (Petri & Fúlfaro 1983, Wanderley Filho & Costa 1991); b)
feições positivas (altos ou arcos), transversais ao eixo principal da calha do
Amazonas, que separam ou subdividem as bacias do Solimões e do Amazonas
(arcos de Iquitos, Purus, Gurupá, Carauari e Monte Alegre; Figs. 10a e b; e c)
megazona de cisalhamento do Solimões (Caputo & Silva, 1990) ou trend do
Juruá (Porsche 1985), na Bacia do Solimões (Fig. 10b). As relações destas
estruturas com o embasamento, suas principais características e seu tempo de
atuação estão descritos a seguir.

17
(a)

(b)

Figura 10 – (a) Cenário e estruturas do núcleo cratônico proterozóico: - Província Amazônica


Central e as faixas móveis circundantes. Destacam-se as principais feições estruturais
transversais às bacias do Solimões e do Amazonas: arcos de Iquitos, Purus, Monte Alegre e
Gurupá (adaptado de Cordani et al. 1984); (b) Arcabouço estrutural da Bacia de Solimões: a
Sub-Bacia Juruá tem como substrato a Faixa Móvel Rio Negro-Juruena e a Sub-bacia de
Jandiatuba foi implantada sobre o Cinturão Rondoniano; o Alto de Carauari é a zona de sutura
entre as duas províncias; e a megazona de cisalhamento do Solimões ou trend do Juruá (fonte:
Silva 1988).

18
2.2.1 LIMITES ENTRE AS BACIAS
A Bacia do Solimões está separada, a oeste, da Bacia do Acre, pelo Arco
de Iquitos, e a leste, da Bacia do Amazonas, pelo Alto/Arco de Purus (Fig. 10a).
Esta bacia possui um arco interno (Arco de Carauari, Fig. 10b), que a divide em
duas sub-bacias: Jandiatuba, a oeste, e Juruá, a leste (Eiras et al. 1994). A
Bacia do Solimões implantou-se sobre um substrato paleozóico, constituído por
rochas ígneas e metamórficas na sub-bacia de Jandiatuba, enquanto que na
sub-bacia de Juruá, além destas rochas, ocorrem rochas sedimentares
depositadas em uma sucessão de bacias que constituíam um sistema de riftes
proterozóicos (Bizzi et al. 2003, Eiras 1996).
A Bacia do Amazonas separa-se, a leste, do rifte mesozóico de Marajó
pela ombreira do rifte, denominado de Arco de Gurupá (Fig. 10a).
Internamente, esta bacia é segmentada pelo Alto de Monte Alegre, com direção
NNW, separando-a nas sub-bacias do Médio e Baixo Amazonas, situado a
leste das cidades de Santarém e a oeste de Monte Alegre (Fig. 10a). Essa
feição é inexistente durante o Paleozóico, quando estas duas sub-bacias
estavam ligadas, tendo surgido no Mesozóico, relacionada ao magmatismo
basáltico (Petri & Fúlfaro 1983).

2.2.2 AS RELAÇÕES DAS PRINCIPAIS ESTRUTURAS BACINAIS


COM O EMBASAMENTO
O embasamento onde se instalou a Bacia do Solimões/Amazonas
constitui-se de um núcleo central antigo (quasi-cratons Pakaraima e Xingu ou
Província Central Amazônica), de idade arqueana, envolvido por faixas móveis
do Proterozóico Inferior a Médio (Maraoni-Itacaiunas, Rio Negro-Juruena e
Cinturão Rondoniano; Fig. 10a) (Cordani et al. 1984, Tassinari et al. 1996 e
Santos et al. 2000). O eixo da subsidência da Bacia do Solimões/Amazonas é
transversal a orientação das faixas supracitadas, com orientação aproximada
E-W (N70E), corta quase que perpendicularmente as direções preferenciais do
embasamento adjacente (Petri e Fúlfaro, 1983).
Estudos realizados por Porsche (1985) mostram que a identificação de
províncias crustais, originadas durante o Pré-Cambriano, a norte e a sul das

19
bacias dos Amazonas e Solimões, permitiu a correlação de ambos os lados da
bacia, assim como inferir os prolongamentos destas unidades por sob a
cobertura sedimentar do Paleozóico e do Cretáceo-Terciário. Esse autor
observa que o embasamento da Bacia do Solimões seria o prolongamento da
faixa móvel Rio Negro-Juruena, e os limites da bacia coincidiriam com os
limites desta província: o Arco de Iquitos coincide com o limite das faixas
móveis com o Cinturão Rondoniano, e o Arco de Purus é coincidente com o
limite entre Faixa Móvel do Rio Negro-Juruena e quasi-cráton Xingu, ou,
segundo Santos et al. (2000), entre as províncias Rio Negro e Tapajós-Parima
(Fig. 10a). Para o Arco de Carauari, que subdivide a Bacia do Solimões,
Porsche (1985) sugere que esteja relacionado ao limite entre o Cinturão
Rondoniano e a Faixa Móvel Rio Negro-Juruena (Fig. 10a).
No limite oriental da Bacia do Amazonas, o Arco de Gurupá, não mostra
relações evidentes com as estruturas do embasamento (Petri & Fúlfaro 1983).
Enquanto que o arco que subdivide esta bacia (em Médio e Baixo Amazonas),
o Alto de Monte Alegre, juntamente com o de Purus, acompanhariam
aproximadamente os limites da província da Amazônia Central (Amaral 1974
apud Petri & Fúlfaro 1983).

2.2.3 FALHAS NORMAIS


Estas falhas são evidentes em seções sísmicas, mostrando-se ativas
apenas no estágio inicial de implementação da bacia, uma vez que não se
observam camadas fortemente basculadas, discordâncias angulares ou a
presença de dobras. Nos sedimentos paleozóicos, o que se constata são zonas
de charneiras como reflexo da atividade dessas falhas. Wanderley Filho &
Costa (1991) observam que essas falhas tendem a se unir em direção ao Arco
de Purus, mostrando que a bacia abriu mais a leste do que a oeste. Petri &
Fúlfaro (1983), observando um perfil transversal da bacia, sugerem que a
assimetria observada seria causada pelo Arco de Rio Branco, estrutura que
controlaria o desenvolvimento transversal da bacia. O Arco de Rio Branco
representa um arqueamento localizado a norte da Bacia do Amazonas, paralelo
ao seu eixo longitudinal, sugerindo um sistema de antéclise-sinéclise.

20
2.2.4 ARCO DE IQUITOS
O Arco de Iquitos representa o limite oriental da Bacia do Solimões com a
Bacia do Acre. Sua origem está ligada à evolução da Cordilheira dos Andes
(Caputo 1985) e migrou em direção ao continente durante o tempo geológico,
na medida em que as bacias subandinas, incluindo a Bacia do Acre, sofriam
subsidência devido à sobrecarga do soerguimento dos Andes. Caputo (1985) e
Porsche (1985) sugerem que tanto o Arco de Iquitos como o alinhamento
estrutural do Juruá, na Bacia do Solimões, são decorrentes de um mesmo
processo tectônico: arqueamento e intumescência lateral da litosfera, em
resposta ao tectonismo na borda do continente.

2.2.5 ARCO DE PURUS


Este arco separa as bacias do Amazonas e Solimões, orientado NW-SE,
tendo sido caracterizado em mapas gravimétricos, de isópacas, seções
geológicas e sísmicas (Wanderley Filho & Costa 1991). Anomalias Bouguer
sugerem rochas com densidades baixas, correlacionáveis com os pacotes de
rochas sedimentares das formações Prosperança e Acari (preenchimento
sedimentar do aulacógeno). Dados de poços na região do Arco de Purus
indicam, também, a existência de riolitos e granitos com idades entre 1900 e
1000 Ma, similares a rochas de mesma natureza no embasamento da
Amazônia. A sudeste deste arco, orientações NW-SE são interpretadas como
falhas normais do Proterozóico Médio, que compõem a geometria geral do
Gráben do Cachimbo. Essas estruturas desaparecem por baixo das
seqüências sedimentares paleozóicas e mesozóicas da Bacia do Amazonas.
De acordo com a natureza e a distribuição das unidades lito-estruturais,
sugere-se que o Arco de Purus represente o prolongamento do Gráben do
Cachimbo para noroeste.

2.2.6 ARCO DE CARAUARI


O Arco de Carauari é uma feição positiva (Cunha & Carneiro 1978 apud
Eiras 1996), de direção N-S, que exerceu forte controle sobre a sedimentação.
Essa feição não é bem visível nas seções sísmicas, mas está bem delimitado

21
por mapas de isópacas, isólitas, faciológicos e estruturais e de seções
geológicas (Eiras 1996). Essa feição migrou ao longo do tempo (para leste ou
para oeste). Esse arco começou a se esboçar no Ordoviciano, quando a sub-
bacia do Juruá era uma plataforma estável, estava separada por uma charneira
(que viria a se desenvolver no Arco de Carauari) de uma área subsidente (Sub-
bacia de Jandiatuba). A primeira manifestação deste arco, como divisor
bacinal, ocorreu no Neo-Siluriano, e no Meso-Devoniano este arco já está bem
evidente. Do Meso-Carbonífero ao Eo-Permiano, este arco também foi ativo,
com soerguimento prolongando-se até o limite Paleozóico-Mesozóico, quando
a região do arco foi afetada por uma discordância de forma mais intensa que
nas demais áreas da bacia. A influência deste arco na seqüência cretácica
ainda é intensa, e menos acentuada na seqüência cenozóica. As relações
entre o Arco de Carauari e as estruturas do embasamento pré-cambriano
adjacente sugerem que esse arco represente uma antiga sutura de colisão de
massas continentais, constantemente reativada como conseqüência das
interações ocorridas nas bordas das placas litosféricas, onde se situava a
Bacia do Solimões durante o Fanerozóico.
Sob o ponto de vista petrolífero, o Arco de Carauari pode ter favorecido a
formação de fácies sedimentares de alta energia (rocha-reservatório) e pode
também ter atuado como área de captação do petróleo, eventualmente gerado
e migrado para os reservatórios posicionados nesse alto.

2.2.7 MEGAZONA DE CISALHAMENTO DO SOLIMÕES (OU


TREND DE JURUÁ)
Na interpretação de Caputo (1985) o alinhamento de Juruá formou-se
devido à colisão da borda NW do continente sul-americano com um arco de
ilhas, quando da abertura e expansão do Oceano Atlântico Sul. A convergência
entre as placas Sul-americana e do Pacifico causou a destruição de uma bacia
marginal e a colisão com um arco de ilhas próximo à costa, gerando esforços
compressivos que alcançaram grandes distâncias no interior do continente sul-
americano. Os esforços compressivos produziram um sistema dextrógiro de
falhas transcorrentes na parte ocidental da Bacia do Solimões com inúmeras

22
dobras e falhas reversas, onde se acumulou gás em reservatórios carboníferos.
A estruturação ocorreu após o magmatismo básico distensivo do fim do
Jurássico e antes da deposição da Formação Alter do Chão (Neo-Cretáceo-
Terciário).
Este modelo de tectônica transcorrente (Caputo 1985) explica as
estruturas prospectáveis en echelon de segunda ordem que ocorrem na
metade ocidental da Bacia do Solimões. O modelo ainda permite prever que na
parte oriental da bacia, no prolongamento do alinhamento estrutural, seguindo
a direção N75E, poderão ocorrer estruturas com possibilidades de reter gás em
quantidades comerciais.
O evento tectônico transpressional de Juruá foi responsável pelo
desenvolvimento de falhas reversas com direção NE e anticlinais assimétricos,
os quais afetaram as seqüências sedimentares paleozóicas e os sills de
diabásio (Gonzaga et al. 2000). Essa estruturação, associada a outros fatores,
tais como a presença de rocha geradora e boa permoporosidade do
reservatório, é importante para a acumulação de gás na Bacia do Solimões
(Porsche 1985).

2.2.8 ARCO DE GURUPÁ


Esse arco representa o limite entre a Bacia do Amazonas e Gráben de
Marajó, com direção NW-SE, identificado a partir de seções sísmicas,
geológicas, mapas gravimétricos e informações de poços (Wanderley Filho &
Costa 1991). Dentre as hipóteses levantadas para o desenvolvimento deste
arco, destacam-se os trabalhos (Miura et al. 1983 e Carneiro & Jucá 1985 apud
Wanderley Filho & Costa 1991) que sugerem que ele tenha se formado no final
do Permo-Carbonífero, antecedendo o tectonismo que culminou com a intensa
atividade ígnea do Jurássico-Triássico e ruptura do supercontinente Pangea.
Caputo et al. (1983 apud Wanderley Filho & Costa 1991) e Caputo (1984),
atestam a correspondência do soerguimento deste arco com a presença de um
hot spot sob o estado da Flórida, EUA, durante o Permo-Triássico, que
promoveria a formação do Rifte do Marajó. O atual arco corresponde apenas a
ombreira deste rifte. Rochas do embasamento precambriano sedimentar

23
(sedimentação da fase rifite?) ocorrem na região desse arco. A idade de sua
instalação é dada pela Formação Alter do Chão, que à medida que avança
sobre o arco, recobre unidades cada vez mais antigas. A idade da Formação
Alter do Chão (neo-cretácea a terciária) representa a idade mínima do
soerguimento dessa região.
A leste, esta feição é caracterizada por falhamentos normais de grande
rejeito, enquanto que, a oeste, as falhas têm rejeito sensivelmente menores.
Falhas de crescimento relacionadas à deposição da Formação Alter do Chão
também são identificadas em seções sísmicas.
A herança tectônica deste arco é bem ativa, tendo sido alvo de
soerguimentos desde o Frasniano (Neodevoniano), como é constatado pelo
mapa de minerais de argila da Formação Barreirinha (Carozzi et al. 1973).
Nesse mapa, a fácies de caulinita, característica de área proximal, está
localizada adjacente ao Arco de Gurupá, confirmando a tendência de isostasia
positiva neste período.

2.2.9 ARCO DE MONTE ALEGRE


O Arco de Monte Alegre corresponde a um alto gravimétrico, de forma
dômica (Costa 2002), causado por intrusão de rochas básicas (Petri & Fúlfaro
1983). De uma forma geral, há uma escassez de informações na literatura a
respeito desta estrutura. No entanto, estudos da tectônica de sal na região de
Monte Alegre, (Costa 2002) indicam significativas movimentações e
estruturações relacionadas a este processo, apesar de não apontarem para
uma relação entre as estrutura presentes e esse processo.

2.3 Eventos termais

As rochas sedimentares paleozóicas foram intrudidas por rochas ígneas


entre o Triássico tardio e o Jurássico inicial, caracterizando um evento de
magmatismo conhecido como Penatecaua (Eiras et al. 1994). A este evento
associa-se a geração, expulsão, migração e transformação do petróleo. O
Magmatismo Penatecaua (Fig. 11), registrado ao longo da calha do Amazonas,

24
possui idades mais antigas que o magmatismo registrado nas demais bacias
paleozóicas brasileiras (Cunha et al. 1994, Eiras et al. 1994). Mizusaki et al.
(1992) obtiveram idades K-Ar para esse magmatismo que variam de 230 Ma a
140 Ma. Esse evento pode ser relacionado à abertura do Oceano do Atlântico
Norte (as mais antigas), iniciada no Triássico, e do Oceano do Atlântico Sul (as
mais novas), iniciada no Juro-Cretáceo (Porsche 1985). No entanto, esse
grande intervalo de tempo não reflete com precisão a duração desse evento,
considerando as imprecisões inerentes ao método K-Ar, aliado ao fato de que
os resultados do método K-Ar não evidenciam a presença de rochas alteradas,
que forneceriam idades mais antigas.
Na Bacia do Solimões, o magmatismo básico mesozóico resultou na
intrusão de três soleiras de diabásio (soleiras 1, 2 e 3), dentro de seqüências
permo-carboniferas, ocorrendo em níveis estratigráficos bem definidos
(Porsche 1985). Do topo para a base, a soleira 1 ocorre na Formação Andirá,
nas partes mais profundas da bacia, estando ausente nas bordas, decorrente
de erosão; a soleira 2 ocorre na Formação Nova Olinda; e a soleira 3 ocorre
dentro da Formação Itaituba. Essas duas últimas apresentam maiores
espessuras a leste do Arco de Carauari, diminuindo em direção ao Arco de
Iquitos e ausentes, por erosão, em alguns blocos elevados de falhas.

Figura 11 – Diagrama estratigráfico, destacando o anacronismo entre a atividade magmática


das bacias paleozóicas do Solimões e do Amazonas e as demais bacias paleozóicas
brasileiras (modificado de Eiras et al. 1994, Cunha et al. 1994, Góes & Feijó et al. 1994, Milani
et al. 1994 ).

25
3 SEQÜÊNCIAS ESTRATIGRÁFICAS E EVOLUÇÃO TECTONO-
SEDIMENTAR

3.1 Introdução

A história deposicional das bacias intracratônicas caracteriza-se por uma


alternância de fases de subsidências e de soerguimentos, e estas últimas
resultam em amplas discordâncias regionais, correlacionáveis aos grandes
eventos orogênicos que ocorrem nas bordas dos continentes.
As reconstruções paleotectônicas/paleogeográficas feitas por Scotese
(2000) mostram os seguintes quadros entre o fim do Proterozóico e início do
Paleozóico (Fig. 12).
A aproximadamente a 750 Ma, o supercontinente Rodínia fragmentou-se
em duas partes, com a abertura do Oceano Pantalassa; uma metade (América
do Norte) rotacionou em direção ao pólo sul e a outra metade em direção ao
pólo norte. Entre essas duas metades, havia um terceiro continente, o Cráton
do Congo, formado principalmente pelas partes norte e central da África.
A cerca de 550 Ma (fim do Pré-Cambriano), os três continentes voltaram a
colidir para formar um novo supercontinente (Pannotia). A orogenia associada
a esse evento é chamada de Orogenia Pan-Africana/Brasiliana e a porção
continental conhecida como Gondwana foi agregada ao Pannotia durante essa
orogenia.
No Cambriano, o supercontinente Pannotia começou a se quebrar,
resultando na formação de um novo oceano, Iapetus, entre os antigos
continentes da Laurentia (América do Norte), Báltica (norte da Europa) e
Sibéria. Para alguns autores, a exemplo de Nunn & Aires (1988), o rifteamento
que deu origem ao conjunto de bacias do Amazonas teve início nesse período,
entre o Cambriano e Ordoviciano Inferior, conforme mencionado no capítulo 2.
O registro sedimentar dessa fase rifte é atribuído aos conglomerados e arenitos
continentais afossilíferos – aluviais/fluviais da Formação Prosperança (Grupo
Purus), pré-Ordoviciano (no Cambriano - Cunha et al. 1994, Cunha 2000),
assentado discordantemente sobre um substrato proterozóico de rochas

26
graníticas, meta-vulcânicas e meta-sedimentares da Província Amazônica
Central (Proterozóico Médio a Inferior) e Província Maroni-Itacaiunas (com
granitóides transamazônicos), na Bacia do Amazonas; e da Província Rio
Negro-Juruena, na Bacia de Solimões (Cordani et al. 1984).

Figura 12 – Reconstrução tectônica e paleogeográfica dos continentes e oceanos entre o fim


do Proterozóico e início do Paleozóico (fonte: Scotese 2000).

Após o rifteamento, a subsidência térmica regional proporcionou o


desenvolvimento de uma sinéclise intracontinental. A fase sinéclise dessas
bacias teve seu primeiro registro sedimentar atribuído a uma fase transgressiva
do mar durante esse período (vindo de leste para oeste), resultando na
sedimentação dos argilitos, folhelhos, siltitos e dolomitos de um sistema de
planície de maré (Backheuser 1988), reconhecida na Bacia do Amazonas como
Formação Acari, também incluída no Grupo Purus (Cunha et al. 1994). Devido
a posterior regressão marinha e acomodação isostática dos diferentes blocos,
instalaram-se fases erosivas, gerando a discordância no topo do Grupo Purus,

27
preservando esses depósitos nas proximidades do Alto de Purus (Backheuser
1988).
A sedimentação pronunciada é desenvolvida nas bacias do Solimões e
Amazonas somente a partir do Fanerozóico, no Ordoviciano Médio a Superior.
O prisma sedimentar fanerozóico possui cerca de 3000 m a 4500 m na Bacia
de Solimões, atingindo 5000 m na calha central da Bacia do Amazonas. Esse
prisma resultou de diferentes processos geológicos que estabeleceram e
modificaram a estrutura e geometria dessas bacias intracratônicas. O
arcabouço estratigráfico (Fig. 13; Cunha et al. 1994) pode ser dividido em duas
seqüências deposicionais de 1ª. Ordem: uma principal, Paleozóica (Plz),
intrudida por diques e soleiras de diabásio, e outra Mesozóico-Cenozóica (K-T).

3.2 Seqüência Paleozóica (Plz)

A Seqüência Paleozóica é subdividida em três seqüências de 2a Ordem:


Ordoviciano-Devoniana (O-D), Devoniano-Carbonífera (D-C) e Carbonífera-
Permiana (C-P).

3.2.1 SEQÜÊNCIA ORDOVICIANO-DEVONIANA (O-D)


Essa seqüência corresponde a um ciclo transgressivo-regressivo,
representado pelos clásticos marinhos do Grupo Trombetas, na Bacia do
Amazonas. Uma invasão marinha vindo de leste estabelece assim uma nova
fase de sedimentação representada por arenitos e folhelhos neríticos da
Formação Autás-Mirim (Fig. 14a). A existência de abundantes camadas
vermelhas em sua base, nas proximidades do Alto de Purus, constitui para
Rodrigues et al. (1971 apud Backheuser 1988) a evidência de que esta área
corresponderia à borda da Bacia do Amazonas no Pré-Devoniano. Na Bacia de
Solimões, o início da Seqüência Ordoviciano-Devoniana corresponde aos
pelitos e arenitos de shoreface a offshore da Formação Bejamim Constant (Eo-
Ordoviciano).

28
Figura 13 – Seqüências deposicionais presentes nas cartas estratigráficas das bacias do Solimões e do Amazonas (modificado de Eira et al. 1994 e Cunha et al. 1994).

29
a)

b)

Figura 14 – Seção estratigráfica e mapa paleoecológico dos ambientes deposicionais das


formações Altás Mirim (a) e Nhamundá, Bacia do Amazonas (Carozzi et al. 1973).

No Siluriano, com o crescimento do onlap costeiro, o mar recobriu toda


Bacia do Amazonas, e a presença de degelo também nesse período
proporciona a deposição de sedimentos marinhos intercalados a glaciais. São
registros dessa sedimentação os arenitos e folhelhos neríticos (landoverianos e

30
wenlockianos)1 da Formação Nhamundá (Fig. 14b); folhelhos marinhos e
diamictitos glaciais (neo-landoverianos e eo-ludlovianos)2 da Formação Pitinga
(Fig. 15a); e arenitos e pelitos nerítcos e costeiro (ludlovianos a eo-
lockovianos)3 da Formação Manacapuru (Fig. 15b), no final do Siluriano ao Eo-
Devoniano.
Ainda nesse período, a Bacia do Solimões se comunicava com o Oceano
Pacifico através de uma passagem que provavelmente se localizava onde hoje
existe a Bacia do Acre. Esta reconstituição paleogeográfica é bastante
dificultada pela erosão quase total dos sedimentos paleozóicos sobre o Arco de
Iquitos. Na Bacia de Solimões, arenitos, folhelhos e argilitos da Formação
Jutaí, depositados em ambientes deltáicos, marinho raso e offshore,
correspondem também a esse intervalo de tempo.
Após a sedimentação ordoviciano-siluriana, ocorreu a Origenia
Famatiniana ou Caledoniana. Os efeitos intraplaca da Origenia Famatiniana na
Bacia do Amazonas são atribuídos a pequenas reativações verticais de blocos
do embasamento cristalino (ZALÁN, 1991). Associado a essa orogenia,é
reconhecido um grande rebaixamamento do nível do mar. Nunn & Aires (1988)
calculam um rebaixamento eustático em torno de 100 m, o que certamente
resultou na discordância do Eo-Devoniano.

3.2.2 SEQÜÊNCIA DEVONIANO-CARBONÍFERA (D-C)


No Eo-Devoniano/Eo-Carbonífero um novo ciclo transgressivo-regressivo
implantou-se nessas bacias, sendo representado por sedimentos marinhos
intercalados com periglaciais. Esse evento está presente na Bacia do
Amazonas e tem correlação no noroeste africano, mas sem ocorrência no Eo-
Devoniano da Bacia do Solimões, que passa a registrar essa sedimentação
somente a partir do Meso-Devoniano.

1
As idades entre parênteses foram determinadas por análises bioestratigráficas em
quitinozoários (QUADROS et al,1990 apud CUNHA ,2000).
2
Idades determinadas por análises bioestratigráficas em quitinozoários (GRAHN,1991, 1992).
3
Idades determinadas por análises bioestratigráficas em quitinozoários (GRAHN & PARIS,
1992).

31
(a)

(b)

(c)

Figura 15 – Seção estratigráfica e mapas paleoecológicos dos ambientes deposicionais das


formações Pititinga (a) Manacapuru (b) e Maecuru (c), Bacia do Amazonas (Carozzi et al.
1973).

32
Na Bacia do Amazonas essa sedimentação corresponde aos grupos
Urupadi e Curuá. O Grupo Urupadi compreende as formações Maecuru e
Ererê. Os sedimentos da Formação Maecuru foram depositados no final do Eo-
Devoniano por um sistema fluvio-deltaico influenciado por marés (Fig. 15c),
representado por arenitos quartzíticos e subordinadamente folhelhos, com
níveis de hematita e siderita intercalados (Membro Jatapu, basal), que gradam
para arenitos intercalados por níveis conglomeráticos e sílticos na porção
superior. No Meso-Devoniano um pulso transgressivo seguido de um nível de
mar alto propicia a deposição de uma sucessão de fácies progradacionais que
compõe a Formação Ererê (Fig. 16a), representada na base por siltitos
intercalados a folhelhos passando no topo para arenitos de sistema deltaico.
No início Neo-Devoniano, após um pulso regressivo de menor expressão,
seguiu-se à deposição do Grupo Curuá, que teve sua fase inicial associada à
rápida subida relativa do nível do mar, representada por uma espessa seção de
folhelhos negros betuminoso, que caracterizam a máxima transgressão
marinha atingida na Bacia do Amazonas. Correspondem aos folhelhos basais,
radioativos, da Formação Barreirinha, que passam para folhelhos cinza menos
radioativos e siltitos, no topo dessa unidade. A intensa deposição de matéria
orgânica nesse período, presente nos folhelhos radioativos da Formação
Barreirinha, de acordo com Backheuser (1988) é conseqüência da existência
de um amplo mar anóxico e um clima equalizado durante o Fransniano, com
gradual depleção global de CO2. A combinação desses fatores, segundo essa
autora, resultou na acumulação de grande quantidade de matéria orgânica em
várias bacias de todo globo, conduzindo a um sensível abaixamento de
temperatura (evento de anoxia global).
No final do Neo-Devoniano foram depositados, ainda na Bacia do
Amazonas, os folhelhos, siltitos e diamictitos de ambiente periglacial, da
Formação Cururi (Fig. 16b), relacionados a uma elevação do nível do mar, no
Fameniano (Daemon & Contreiras 1971). A continuação dessa subida do nível
do mar depositou os arenitos e siltitos fluvio deltaicos da Formação Oriximiná
(Fig. 18a), sob influencia de tempestades (Miura et al. 1983 apud Backheuser
1988), e ao final dessa fase, já no Neo-Carbonífero, houve uma regressão

33
marinha e deposição dos espessos pacotes arenosos com cruzadas
unidirecionais de alto ângulo da Formação Faro, em ambiente costeiro (Fig.
17b), ainda com influência marinha e de pântano, sugerido pelas intercalações
de folhelhos, com restos de plantas preservados, presentes na porção superior
dessa unidade.

(a)

(b)

Figura 16 – Mapas paleoecológicos e modelos deposicionais das formações Ererê (a), Cururi
(b), Bacia do Amazonas (Carozzi et al. 1973).

34
(a)

(b)

Figura 17 – Mapas paleoecológicos e modelos deposicionais das formações Oriximiná (a) e


Faro (b), Bacia do Amazonas (Carozzi et al. 1973).

Na Bacia de Solimões a Seqüência Devoniano-Carbonífera iniciada no


Meso-Devoniano e findada no Eo-Carbonífero, corresponde aos sedimentos
pelíticos marinhos raso a offsore da Formação Jandiatuba que interdigitam-se
lateralmente aos depósitos fluvio-deltaicos e glaciais da Formação Uerê (Lima
e De Ros 2003).

35
O recuo do Mar pós-deposição eo-carbonífera proporcionou um
pronunciado processo erosivo nas bacias do Amazonas e do Solimões, em
toda sua extensão. Essa erosão teve contribuição significativa do ápice da
Orogenia Eo-Herciniana (Neves et al. 1989 apud Cunha 2000), que de acordo
com Dalmayrac et al. (1980) ocorreu entre 359-330 Ma, iniciada assim já no
Neo-Devoniano.
A Orogenia Eo-Herciniana foi manifestada no oeste do Gondwana (proto-
continente América do Sul) por esforços compressivos provenientes da Cadeia
Herciniana Andina e da colisão do proto-continente africano com a Laurásia,
que possivelmente originou o Cinturão Mauritanides, superpostos ao Cinturão
Rockelides, tido como uma extensão da Faixa Móvel Araguaia-Tocantins. O
soerguimento do Cinturão Mauritanides ocasionou a separação das bacias do
noroeste africano das bacias do norte do Brasil, Amazonas e Parnaíba
(Dalmayrac et al. 1980). Os arcos de Gurupá e Tocantins certamente foram
formados durante essa orogenia, resultando na descontinuidade entre as
bacias do Amazonas e Parnaíba, e proporcionando o basculamento da Bacia
do Amazonas, para oeste.
A partir da Orogenia Herciniana, iniciou o levantamento da Cordilheira dos
Andes, e os reflexos na sedimentação passaram a ser mais evidentes. A fase
Eo-Herciniana, relacionada à discordância regional entre o Devoniano e o
Carbonífero, criou um elemento de restrição para a entrada do mar, resultando
na deposição de uma seqüência evaporítica. Ainda não é claro se o elemento
de restrição seria um arco de ilhas (precursor da cordilheira andina) ou se
estaria localizado mais no interior do continente, como um paleo-Arco de
Iquitos.

3.2.3 SEQÜÊNCIA CARBONÍFERO-PERMIANA (C-P)


Após a Orogenia Eo-Herciniana, com conseqüente rebaixamento do nível
do mar e erosão, nova transgressão marinha atinge as bacias do Amazonas e
Solimões, com entrada do mar pela parte baixa do basculamento (vindo de
oeste). Nessa fase ocorrem ainda importantes variações climáticas, passando
de clima frio para quente, com as mudanças de paleo-latitude dos continentes.

36
O registro dessa ingressão marinha e mudanças paleoclimáticas compõem a
Seqüência Carbonífero-Permiana, representada na Bacia do Amazonas pelo
Grupo Tapajós e, na Bacia de Solimões pelo Grupo Tefé.
No final do Mississipiano e sobre a discordância resultante da Orogenia
Eo-Herciniana foram depositadas na Bacia do Amazonas areias continentais de
um sistema eólico (Lanzarini 1984) e de um sistema fluvial de deserto (wadis),
intercalados por siltitos de interdunas e lacustre (Costa 1984). Essa
sedimentação é correlata na Bacia de Solimões aos depósitos dominantemente
fluvio-eólico da Formação Juruá (Lanzarini 1982, Elias et al. 2004), que passam
para fácies de praia no topo dessa unidade (Cunha et al. 1994).
A entrada efetiva do mar no Eo-Pensilvaniano ultrapassou o Arco de
Purus, afogando e retrabalhando o campo de dunas, interligando a Bacia do
Solimões e do Amazonas, até as proximidades do Arco de Gurupá, com o
desenvolvimento de uma sedimentação dominantemente carbonática. Na Bacia
do Amazonas, as Formações Itaituba e Nova Olinda atestam a fase
transgressiva implantada na bacia: a Formação Itaituba (Eo a Meso-
Pensilvaniano) é composta por carbonatos de águas rasas e anidritas, com
intercalação de folhelhos, e a Formação Nova Olinda (Meso a Neo-
Pensilvaniano) é representada na base por arenitos fluviais que passam
verticalmente para carbonatos com fusulinídios, halitas e silvinita,
caracterizando a presença do mar em um ambiente restrito (Matsuda 2002). Na
Bacia de Solimões os carbonatos e evaporitos da Formação Carauari,
depositados no Neo-Pensilvaniano correspondem a essa sedimentação.
No final do Carbonífero, início do Permiano, a retomada da sedimentação
continental é associada aos efeitos da Orogenia Tardi-Herciniana, que atingiu
principalmente as áreas próximas aos arcos de Gurupá e Purus. Na Bacia do
Amazonas essa sedimentação é atribuída aos arenitos, siltitos, folhelhos, além
de silexitos, anidritas e carbonatos, oriundos de um sistema fluvio-lacustre,
atribuídos a Formação Andirá, depositados entre o Eo e o Neo-Permiano. Na
Bacia do Solimões essa sedimentação corresponde aos depósitos fluvio-
lacustre da Formação Fonte Boa. Ainda nesse período, continuava a restrição
para a passagem do mar. As Bacias do Acre e do Solimões permaneceram

37
emersas e sob processos de erosão; os sedimentos triássicos e jurássicos se
restringiram às proximidades da cordilheira oriental.
No Neo-Permiano/Eo-Triássico a Orogenia Gonduanide, associada à
colisão final do Gondwana com a Laurásia, causou o fechamento do paleo-
oceano lapetus e a completa evolução da Cadeia Apalachiana, que resultou no
soerguimento do Gondwana e conseqüente erosão de parte da seqüência
paleozóica. Na América do Sul essa orogenia provocou um soerguimento
generalizado, com esforços N-S afetando transversalmente a Bacia do
Amazonas (Zalán 1991). Nesta bacia esse soerguimento está marcado por
uma discordância de idade permiana, no topo da Formação Andirá, que se
estendeu até a Bacia do Paraná (Milani & Thomaz Filho 2000).
No Neo-triássico/Eo-Jurássico, extensões E-W afetaram as bacias do
Solimões e do Amazonas, gerando fraturamentos N-S que serviram de dutos
para um magmatismo básico, sob a forma de diques e soleiras. Essas
extensões são atribuídas ao final da Orogenia Gonduanide.
A formação do Atlântico Norte no Jurássico é assinalada a norte da Bacia
do Amazonas pela formação dos riftes Marajó e Tacutu, com o Arco de Gurupá
comportando-se como um divisor entre as bacias do Amazonas e da Foz do
Amazonas (Rifte Marajó).

3.3 Seqüência Cretáceo-Terciária (K-T)

No Eo-Cretáceo, os esforços ENE-WSW provenientes da Zona de


Subducção Andina cretácea e da contínua abertura do Atlântico Equatorial,
provocaram na porção oeste da Placa Sul-Americana reativação de fraturas e
deformações cisalhantes ou compressivas, gerando na Bacia do Solimões
importantes alinhamentos estruturais de interesse a prospecção petrolífera, o
trend Juruá (Campos & Teixeira 1988 apud Cunha 2000). Esse estágio
tectônico corresponde também às orogenias Kimeridgiana e Oregoniana.
Após o relaxamento desses esforços compressivos, houve a deposição
da Seqüência Cretáceo-Terciária (K-T) de 2ª Ordem, representadas nas bacias
do Amazonas e do Solimões pelo Grupo Javari, composto pelas formações
Alter do Chão e Solimões. A Formação Alter do Chão é atribuída a arenitos

38
fluviais depositados, no Neo-Cretáceo, sobre a discordância do topo do
Paleozóico. Esses sistemas fluviais se desenvolveram em clima úmido, com as
drenagens correndo para oeste, em direção ao Oceano Pacífico.
Com o soerguimento da Cadeia Andina no Paleogeno, esses sistemas
fluviais transformaram-se em lagos rasos, alimentados por rios meandrantes de
baixa energia, depositando maior percentual de pelitos, restos de conchas e
vegetais (Cunha 2000). Com o contínuo soerguimento da referida cadeia, as
bacias do Solimões e do Amazonas passaram a ser alimentadas a partir do
Neogeno por sedimentos oriundos da Cordilheira Andina, depositando-se
nessa fase os pelitos lacustres da Formação Solimões, havendo a
reorganização dos sistemas de drenagem que passam a correr para o Atlântico
Norte.
A fase mio-pliocênica da Orogenia Andina afetou fortemente a Bacia do
Acre, reativando falhas e gerando rejeito de até 4000 m, e certamente reativou
estruturas pré-existentes no conjunto de bacias do Amazonas.

39
4 SISTEMAS PETROLÍFEROS
Os mega sistemas petrolíferos das bacias intracratônicas do Amazonas e
Solimões foram desenvolvidos durante o Paleozóico (Fig. 18). Essas bacias
têm em comum suas formas alongadas, a sua grande extensão, apresentam
grandes volumes de diques e soleiras de diabásio de idade mesozóica,
intrudidos nas seqüências siliciclásticas, além de um contexto estrutural e
estratigráfico relativamente simples.
Por outro lado, a geologia do petróleo não usual e muito complexa
poderia ser incluída nessa lista de similaridades, o que certamente foi
responsável por uma baixa resposta no esforço exploratório realizado nessas
bacias desde a década de 50.
Essas sinéclises foram preenchidas por seqüências predominantemente
siliciclásticas, além de uma notável seqüência carbonático-evaporítica de idade
permiana presente nas duas bacias.
Nas duas bacias, as rochas geradoras mais importantes estão localizadas
no intervalo devoniano, representadas por folhelhos negros, marinhos, de idade
frasniana (Fig. 18).
Os reservatórios são formados essencialmente por arenitos depositados
em diferentes ambientes durante o Paleozóico, sendo os principais os arenitos
eólicos da Formação Juruá, na Bacia do Solimões (Fig. 19) e os arenitos
eólicos da Formação Monte Alegre, na Bacia do Amazonas (Fig. 20), que serão
abordados no próximo capítulo.
O principal mecanismo de trapeamento é estrutural. Na Bacia de
Solimões, a maioria das reservas de óleo e gás foram trapeadas por falhas de
propagação em anticlinais associados a falhas inversas de idade mesozóica.
Várias ocorrências e pequenas acumulações de óleo foram encontradas em
trapas estratigráficas, descobertas em reservatórios devonianos das Bacias do
Solimões e Amazonas. De todas as bacias paleozóicas brasileiras, a Bacia do
Solimões contém as maiores reservas de hidrocarbonetos do mega sistema
petrolífero intracratônico.
Uma particularidade desses sistemas petrolíferos foi como a maturação
das rochas geradoras foi atingida. Em nenhuma dessas bacias, um modelo

40
para a evolução da maturação pode ser explicado baseado somente em taxas
de subsidência associados a um aumento do gradiente geotérmico.
A intrusão de espessos corpos de diabásio de idade mesozóica provocou
um grande efeito termal sobre a rocha geradora, influenciando a maturação da
matéria orgânica dessas rochas, bem como afetando a taxa de transformação
de hidrocarbonetos previamente acumulados. No caso da Bacia do Solimões, o
nível de maturação da janela de óleo foi rapidamente aumentado para o nível
de maturação da janela de gás pelo efeito dessas intrusões.

Figura 18 – Correlação entre as seqüências estratigráficas das Bacias do Solimões e


Amazonas e seus sistemas petrolíferos (Modificado de Eiras et al., 1994 e Cunha et al., 1994).

41
Figura 19 – Carta estratigráfica da Bacia do Solimões (fonte: Eiras et al. 1994).

42
Figura 20 – Carta estratigráfica da Bacia do Amazonas (fonte: Cunha et al. 1994).

43
4.1 Sistemas petrolíferos da Bacia do Amazonas

4.1.1 ROCHAS GERADORAS


Segundo Rodrigues (1973), a análise geoquímica de toda a seqüência
sedimentar da Bacia do Amazonas permite classificar os folhelhos devonianos
da Formação Barreirinha, como o mais importante geradores de
hidrocarbonetos.
Gonzaga et. al (2000) realizou uma avaliação do potencial gerador de
petróleo (S2), baseado em abundantes dados geoquímicos de superfície e
amostras de poços (testemunhos e cortes de afloramento), que incluem um
total de 3948 resultados de carbono orgânico total (COT), 1986 análises de
pirólise, 180 resultados de isótopos estáveis de carbono, 280 análises de
petrografia orgânica, 59 análises cromatográficas de gás (CG) e análises
cromatográficas de gás – espectrometria de massa (CG-EM). Os dados de
COT e a avaliação da rocha em amostras imaturas indicam que as formações
Pitinga, Barreirinha e Curiri são as únicas unidades com potencial gerador
significante como mostra o perfil geoquímico (Fig. 21).
A espessura da Formação Pitinga varia de 20 a 40 m na margem da
bacia, chegando a atingir 120 m no seu depocentro, com valores de COT
geralmente inferiores a 2%, contendo cerca de 4 mg HC/g de rocha (S2) e
índices de hidrogênio e oxigênio (IH e IO) indicando a predominância de
querogênio do tipo II. Em poucas amostras da parte basal da Formação Pitinga
(Llandoveriano Superior – Wenlockiano Superior), valores de COT e S2
atingem 4% e 14 mg HC/g de rocha, respectivamente. Análises de petrografia
orgânica mostram uma predominância de liptinita e subordinadamente matéria
orgânica amorfa.
A Formação Barreirinha pode ser subdividida em duas partes distintas
(Fig. 21): uma seção basal, informalmente chamada de “Barreirinha Inferior”
(Frasniano Inferior – Fameriano Inferior) ou “Barreirinha radioativo”, constituída
por folhelhos negros com altos valores de GR e resistividade; e uma seção
superior ou “Barreirinha Superior”, formada por folhelhos cinza escuros. A

44
seção basal da Formação Barreira (Barreirinha Inferior) varia em espessura de
30–40 m, na margem da bacia, a 150–160 m, no depocentro (Fig. 21).

(a)

(b)

45
Figura 21 – (a) Mapa de isópacas dos folhelhos radioativos da porção basal da Formação
Barreirinha e localização de alguns poços selecionados para o estudo de Gonzaga et al.
(2000). (b) Perfil geoquímico do poço B, mostrando que os maiores valores de COT, S2 e IH
são encontrados na parte basal da Formação Barreirinha (fonte: Gonzaga et al. 2000).
Análises geoquímicas de amostras maturas e precocemente maturas
mostram altos valores de COT (3–8%), bom potencial gerador de HC (S2 de 5–
20 mg⋅HC/g de rocha) e IH variando de 100 a 400 mg⋅HC/g de rocha, neste
caso indicando a presença de querogênio do tipo II. Tais valores, junto com a
predominância de matéria orgânica amorfa superior a liptinita, indicam um
ambiente anóxico profundo, batial (Fig. 22).

Figura 22 – Análise geoquímica de amostras da Formação Barreirinha – Devoniano Superior –


na Bacia do Amazonas. Os altos valores de COT e índices de oxigênio e hidrogênio
correspondem à superfície de máxima inundação (fonte: Eiras et al. 1998).

Os folhelhos da Formação Curiri têm baixos valores de COT (1–2%) e


baixos valores de S2 (até 3 mg⋅HC/g de rocha); dados petrográficos e valores
de IH e IO apontam para uma predominância de querogênio oxidado ou do tipo
III.

46
A classificação genética dos sistemas petrolíferos proposta por
Demaison & Huizinga (1991 apud Gonzaga et al. 2000) foi aplicada para
potenciais rochas geradoras da Bacia do Amazonas. Dados de avaliação da
rocha e a espessura máxima de cada formação foram levados em
consideração para o cálculo do índice de potencial gerador (IPG). Assumindo
que a drenagem de hidrocarbonetos foi essencialmente lateral, Gonzaga et al.
(2000) concluiu que somente a seção Barreirinha Inferior tem valores
significantes de IPG (Fig. 23).

Figura 23 – Índice de potencial gerador (IPG) calculado para algumas formações do


Paleozóico Inferior da Bacia do Amazonas (fonte: Gonzaga et al. 2000).

4.1.2 MATURAÇÃO
A integração de parâmetros ópticos (índice de coloração de esporo,
reflectância da vitrinita e fluorescência), químicos (Tmáx) e moleculares (razão
de isomerização de esteranos) permitiram uma avaliação da evolução termal
dos geradores nas bacias (Gonzaga et. al. 2000). Ao longo dos flancos norte e
sul e na plataforma oeste, onde o Barreirinha Inferior está raso (1500 m de
profundidade), a maturação é baixa (< 0,65% Ro). Na calha central, a
maturidade da rocha geradora atinge 1% Ro por volta dos 4000 m de
profundidade. Os gradientes extrapolados de poços sugerem que a rocha

47
geradora pode atingir 1,3–1,4% Ro) como resultado do efeito de sobrecarga
sedimentar. Um alto grau de maturação (Ro>1,4%) foi atingido somente por
causa do efeito de aquecimento provocado pelos diques e sills de diabásio.
Dados de maturidade indicam que a evolução termal da rocha geradora
foi controlada principalmente pela história de subsidência, enquanto que o
aquecimento provocado pelas intrusões ígneas teve um papel importante
somente nas áreas onde diques e sills foram intrudidos na sequência
devoniana (Mullin 1988 apud Gonzaga et al. 2000) (Fig. 24). Deste modo, a
parte leste da bacia, onde a intrusão de diques e sills foi mais considerável na
seqüência devoniana, a rocha geradora está senil, enquanto que na parte
oeste, a maturação é controlada pela subsidência.

Figura 24 – Diagrama mostrando a relação entre a reflectância da vitrinita (%Ro) e a


profundidade em dois poços da Bacia do Amazonas (localização na figura 21a). Observe o
efeito termal das intrusões ígneas na seção sedimentar (fonte: Gonzaga et al. 2000).

4.1.3 TRAPAS, RESERVATÓRIOS E SELOS


Segundo Gonzaga et. al (2000), a principal ocorrência de hidrocarbonetos
na Bacia do Amazonas foi encontrada nos arenitos das Formações Monte
Alegre, Curiri e Ererê. Dados de poço (perfis elétricos) e análises de laboratório
indicam que os arenitos eólicos da Formação Monte Alegre têm características
de permeabilidade e porosidade mais favoráveis à acumulação de
hidrocarbonetos. Suas características permo-porosas, bem como a análise
seqüencial de fácies serão abordadas com maior ênfase no capítulo seguinte.

48
O selo do reservatório Monte Alegre é composto de evaporitos,
carbonatos (principalmente mudstones) e folhelhos da Formação Itaituba
(sobrejacente à Formação Monte Alegre) (Fig. 25).
Os reservatórios da Formação Curiri foram depositados em ambiente
marinho sob condições glaciais. Eles são representados por lentes de areia
depositadas em vales incisos, como uma resposta à queda relativa do nível do
mar. A espessura desse reservatório varia de poucas a dezenas de metros,
enquanto que os valores de porosidade e permeabilidade variam bastante de 6
para 20% e 1 para 4 mD, respectivamente. As lentes de arenitos estão
associadas a folhelhos e diamictitos que representam seu selo.
Os reservatórios da Formação Ererê são constituídos por corpos de
barras de arenitos depositados sobre uma superfície erosiva, durante o evento
transgressivo no Frasniano. Esses reservatórios ocorrem por toda a bacia,
alcançando até 10 m de espessura com porosidades e permeabilidades
máximas de 20% e 10 mD, respectivamente. Os selos desses reservatórios
são os folhelhos da base da Formação Barreirinha, relacionados ao pico do
evento de máxima transgressão.
Os hidrocarbonetos são aprisionados por trapas estratigráficas e
estruturais. A principal trapa estratigráfica com acumulação de hidrocarbonetos
é no campo de óleo de Autás-Mirim, que contém 0,1 × 106 m3 (0,63 × 106 bbl)
de óleo e 10,9 × 106 m (0,39 × 109 ft3) de gás in place, trapeados em lentes de
arenito da Formação Curiri. A principal trapa estrutural com acumulação de
hidrocarbonetos é o campo de óleo de Igarapé Cuia, com 0,03 × 106 m3 (0,19 ×
106 bbl) de óleo e 5,90 × 106 m3 (0,21 × 106 ft3) de gás in place trapeado nos
arenitos da Formação Monte Alegre. A estrutura é um anticlinal relacionado ao
evento tectônico Juruá. Outro exemplo que pode ser levado em consideração
é o Campo do Rio Uatumã, no estado do Amazonas.

49
Figura 25 – Coluna sedimentar de um poço selecionado na Bacia do Amazonas mostrando a
composição litológica e perfis de GR, resistividade e sônico. Os melhores reservatórios são as
camadas de arenito das Formações Curiri e Monte Alegre (fonte: Gonzaga et al. 2000).

50
4.1.4 GERAÇÃO E MIGRAÇÃO
Uma modelagem de geração e migração foi realizada por Gonzaga et. al
(2000) e mostra que o querogênio da seção inferior da Formação Barreirinha
atinge condições termais apropriadas para iniciar a geração a uma
profundidade de 1800 m. Tais condições foram alcançadas entre o Carbonífero
(no depocentro da bacia) e o Permiano (nas áreas de plataforma) (Fig. 26). A
maior parte da geração de petróleo foi completada no Triássico Inferior. Razões
de transformação modeladas para os dias atuais variam de 10–20%, nas
plataformas, para 95–100%, no depocentro, estando de acordo com as curvas
de razão de transformação obtidas da análise regressiva de dados
geoquímicos de séries naturais (Fig. 27).
A simulação de expulsão e dados de biomarcadores de maturidade de
amostras de óleo indicam que a principal fase de expulsão iniciou quando a
rocha geradora atingiu uma razão de transformação de aproximadamente 50%
e um nível de maturação de 0,80% Ro. Tais condições foram alcançadas
somente na área da calha central (Fig. 28). A maior parte do petróleo foi
expulsa entre o Permiano Inferior e o Triássico Inferior. De acordo com os
estudos do autor, a evolução da cozinha de óleo através do tempo se deu de
acordo como mostra a figura 28.
Os eventos relacionados aos sistemas petrolíferos da Bacia ao Amazonas
encontram-se resumidos na carta da figura 29.

51
Figura 26 – Evolução da razão de transformação (TR) e eficiência de expulsão (EE) em dois
poços e um falso poço (baseado em dados de seções sísmicas) na Bacia do Amazonas. Note o
aumento da conversão do querogênio e expulsão do petróleo do poço B (margem da bacia)
para o falso poço (depocentro) (fonte: Gonzaga et al. 2000).

52
Figura 27 – Correlação de curvas, calculada e observada, de razão de transformação em
função da reflectância da vitrinita para os poços estudados na Bacia do Amazonas (fonte:
Gonzaga et al. 2000).

Figura 28 – Localização e extensão das cozinhas de óleo na Bacia do Amazonas em quatro


diferentes idades. Note que nos dias atuais, a cozinha de óleo foi atingida pelo fim do evento
ígneo (200 Ma) e se manteve assim desde então (fonte: Gonzaga et al. 2000).

53
Figura 29 – Carta de eventos do sistema petrolífero da Bacia do Amazonas (fonte: Gonzaga
et. al, 2000)

4.2 Sistemas petrolíferos da Bacia do Solimões

Segundo Eiras (2000), apesar de ser uma área produtora de petróleo, a


Bacia do Solimões ainda é pouco conhecida. A ausência de afloramentos das
seqüências sedimentares paleozóica e cretácea, e a presença de áreas ainda
bastante inóspitas, com algumas reservas indígenas e florestais,
desestimularam durante muito tempo a pesquisa nesta bacia. Por esses e
outros motivos, a ausência de trabalhos mais completos na Bacia do Solimões
é um fato.
A Bacia do Solimões é dividida em duas sub-bacias, sendo que a sub-
Bacia do Juruá (parte oriental; Fig. 10) é a melhor conhecida, em função da
intensa pesquisa de petróleo desenvolvida pela PETROBRAS a partir de 1978.
A sub-Bacia do Jandiatuba (parte ocidental) é pouco conhecida, devido às
restrições legais encontradas no Brasil para pesquisar petróleo em região
dominada por áreas indígenas e reservas florestais.
Na Bacia do Solimões, as rochas paleozóicas são as mais importantes
porque contêm as rochas geradoras, reservatório e selante. Pelo menos dois
sistemas petrolíferos podem ser identificados nesta bacia: Jandiatuba-Juruá (!)
e Jandiatuba-Uerê (.), definidos de acordo com a classificação de Magoon &
Dow (1994).
O sistema Jandiatuba-Juruá (!) é, disparadamente, o mais importante. O
termo "Jandiatuba-Juruá" refere-se ao folhelho devoniano (Frasniano Superior -
Fameniano Inferior), da Formação Jandiatuba e aos arenitos mesocarboníferos
(Morrowano) da Formação Juruá, que são as rochas geradora e reservatório
desse sistema, respectivamente. Essa terminologia foi usada de acordo com a
proposta feita por Magoon & Dow (1994).
Esse sistema petrolífero contém, até o momento, a quase totalidade
(99,8% de óleo equivalente) das acumulações comerciais de óleo, gás e

54
condensado da Bacia do Solimões. Os elementos essenciais desse sistema
estão presentes na bacia:

 rocha geradora devoniana com mais de 40 m de espessura, mais de 4%


de teor médio de carbono orgânico e Ro acima de 1%;
 rocha-reservatório carbonífera com mais de 40 m e cerca de 18% de
porosidade;
 excelente rocha selante evaporítica, também carbonífera, situada acima
da rocha-reservatório;
 a pouca carga sedimentar foi compensada pelo efeito térmico de rochas
intrusivas básicas jurássicas-triássicas, o que permite classificar esse
sistema como atípico, segundo o conceito de Magoon & Dow (1994) (Fig.
30);
 a formação de trapas se deu no Paleozóico;
 início da geração do petróleo no Carbonífero por efeito do soterramento,
com taxa de transformação de até 50% e expulsão do petróleo no
Triássico por efeito do calor das intrusões básicas, com taxa de
transformação de quase 100% (Gonçalves et al. 1995);
 migração primária para os arenitos devonianos situados acima e abaixo
da rocha geradora; migração secundária através dessas camadas
carreadoras ou através de falhas antigas;
 acumulação do petróleo em amplas trapas mistas formadas em paleoaltos
ou linhas de charneira, ou ainda em trapas estratigráficas, em
discordâncias angulares, pinch outs ou onlaps; reativação das estruturas
pela tectônica compressiva Juruá no Jurássico-Cretáceo e remobilização
e concentração do petróleo, nas novas trapas.

55
Figura 29 – Carta de eventos da Bacia do Solimões (Modificado de Mello et al., em AAPG
Memoir 60, 1994)

O elevado grau de maturação térmica, sofrida pelo folhelho Jandiatuba


dificultou a preservação de biomarcadores que poderiam ser usados para fazer
a correlação entre o petróleo armazenado na Formação Juruá e o extrato
orgânico obtido desse folhelho, o que poderia confirmar a relação de aliança
geradora-reservatório. Entretanto, Rodrigues et al. (1990 apud Eiras 2000)
afirmam que "os dados geoquímicos básicos (carbono orgânico, pirólise e
petrografia orgânica) evidenciam que o óleo e o gás da Bacia do Solimões
foram gerados pelos folhelhos do Devoniano…". Esses autores apresentam
resultados de análises da composição química e cromatografia da fração C12
do óleo e do extrato orgânico, mostrando que são semelhantes. Justifica-se,
portanto, a utilização aqui da simbologia "(!)" para definir esse sistema.
Quanto ao sistema petrolífero Jandiatuba-Uerê, este é deficiente em
vários aspectos e contém uma quantidade relativamente ínfima de petróleo na
Bacia do Solimões. Os principais pontos negativos são: heterogeneidade da
rocha-reservatório (variações diagenéticas), pouca eficiência da rocha selante

56
e pouca definição do tipo de trapa no registro sísmico. Como pontos favoráveis,
pode-se citar: possibilidade de existir outros tipos de play, diferentes do play
Juruá, e chance de conter maior quantidade de frações líquidas de petróleo.
Este último caso é justificado porque a rocha-reservatório se encontra
estratigraficamente mais baixa e, portanto, mais distante da fonte de calor das
soleiras que craquearam o petróleo na rocha geradora ou na própria
reservatório.
Na província gaseífera do Juruá, a interpretação das linhas sísmicas e
conseqüente mapeamento de um refletor situado abaixo de 1,2 s permitiram
identificar um alinhamento de estruturas, formando uma feição dômica sobre o
bloco alto de uma longa falha reversa (Fig. 31).
Na província petrolífera do Urucu, os hidrocarbonetos encontram-se
trapeados em anticlinais relacionados aos tectonismo Juruá, que ocorreu entre
o Triássico e o Jurássico. Em alinhamentos estruturais com orientação
diferente dos alinhamentos do Urucu e Juruá, porém com o mesmo estilo
tectônico, foram descobertos o campo gaseífero do Rio Copacá e província
gaseífera do São Mateus.

Figura 30 – Sistema petrolífero da Província do Rio Urucu (AM) – Bacia do Solimões.

Figura 31 – Exemplo de típica trapa estrutural na Bacia do Solimões: Fault-propagation fold


associadas com falhas reversas mesozóicas (fonte: Figueiredo & Milani 2000).

57
5 RESERVATÓRIOS

Reservatórios de hidrocarbonetos são constituídos por unidades de


rochas (na grande maioria dos casos, fácies sedimentares de sistemas
deposicionais siliciclásticos e carbonáticos) com espaço poroso saturado de
óleo ou gás natural, e permeabilidade favorável ao fluxo fluido.
A geometria tridimensional dos reservatórios é definida pela distribuição
lateral e vertical de fácies sedimentares, de fases diagenéticas, e de feições
tectônico-estruturais, as quais geram heterogeneidades em suas várias escalas
de observação, de giga a microscópica (Fig. 32). Enfatizam-se, no estudo da
geometria de reservatórios, as escalas de mega a macroscópica, que mostram
preferencialmente as fácies e suas associações (Lanzarini 1995).

Figura 322 – Escala de observação da geometria de reservatórios, exemplificadas a partir


de depósitos fluviais (fonte: Dreyer et al. 1990 in Lanzarini 1995).

58
Nas bacias do Solimões e do Amazonas, arenitos do Neocarbonífero,
constituem os reservatórios primários dessas bacias, representados pelas
formações Juruá, Monte Alegre e Nova Olinda.
Na Bacia do Solimões, os arenitos eólicos da Formação Juruá são os
melhores e praticamente os únicos reservatórios, com porosidades primária e
secundária (dissolução de calcita e anidrita) que pode alcançar 22-26% (Milani
& Zalán 1999, Elias et al 2004). Esses arenitos são os mais importantes
reservatórios de petróleo onshore e um dos maiores reservatórios de gás do
Brasil (Figueiredo & Milani 2000).
Na Bacia do Amazonas, a Formação Monte Alegre, composta de arenitos
fluviais, eólicos e litorâneos (cronocorrelatos aos da Formação Juruá), tem as
melhores características permo-porosas dessa bacia. Ainda nesta bacia,
acumulações de gás foram encontradas nos arenitos lenticulares da Formação
Nova Olinda (Gonçalves et al. 1995), todavia publicações sobre a diagênese e
qualidade desses reservatórios são escassas.

5.1 Caracterização de fácies

Fácies é um corpo de rocha sedimentar que pode ser definido e


distinguido de outros pela sua geometria, litologia, estruturas sedimentares e
conteúdo fossilífero (Selley 1970). Uma fácies sedimentar é o produto de um
processo sedimentar atuante em ambiente deposicional. O objetivo de se
estudar fácies sedimentares antigas é tentar chegar à distinção do processo
que a gerou e conseqüentemente identificar ambiente que ocorreu tal
processo.
Entende-se por análise faciológica o estudo detalhado das características
internas e externas das unidades de rochas ou fácies. Tal estudo conduz à
definição de rochas-reservatório ou unidades de rochas com potencialidade ao
armazenamento de hidrocarbonetos. As características de um reservatório
refletem aquelas da fácies deposicional original mais os processos
diagenéticos subseqüentes (Lanzarini 1984).

59
5.1.1 FÁCIES SEDIMENTARES DA FORMAÇÃO MONTE ALEGRE
NA ÁREA DO JURUÁ
Na Bacia do Amazonas, a Formação Monte Alegre ocorre somente em
subsuperfície. Abrange grande parte da bacia com contorno circular a oval. As
espessuras variam de poucos metros nas bordas da bacia, até 80 metros no
centro da mesma.
A figura 33 mostra o modelo deposicional da Formação Monte Alegre na
área do Juruá. São associações dos depósitos de wadis, dunas, interdunas,
lagos efêmeros, sabkhas e lobos da desembocadura de wadis, que compõem
um sistema deposicional desértico.

Figura 333 – Modelo deposicional da Formação Monte Alegre na área do Juruá


(adaptado de Lanzarini 1984 e Sneider et al. 1981).

Lanzarini (1984) caracterizou macroscopicamente (em testemunhos de


sondagem) as unidades faciológicas da Formação Monte Alegre. A litologia, as
estruturas sedimentares e as características texturais presentes nessa unidade,
levaram ao reconhecimento de quatro fácies sedimentares e três subfácies,

60
designadas informalmente por fácies A, B (B1, B2 e B3), C e D, descritas a
seguir.

Fácies A: Arenitos de granulometria média a grossa, conglomeráticos,


pobremente selecionados, depositados por canais de wadis. Possui grãos
subangulares a subarredondados (Foto 1). Esta fácies tem ocorrência muito
rara e possui pequena espessura. São predominantemente maciços e, por
vezes, apresentam estratificação cruzada tabular de baixo ângulo.

Fácies B: Arenitos eólicos de dunas e interdunas, bem selecionados, com


grãos arredondados.

Subfácies B1: Arenito bimodal (lâminas alternadas de arenito fino e arenito


médio a grosso) com estratificação cruzada de grande porte,
caracterizada por sets de escala métrica separados por superfícies
planares com baixo ângulo de mergulho (Foto 2), estruturas de queda
(grainfall) e fluxo de grãos (grainflow) formadas na face de avalanche das
dunas. A bimodalidade ocorre na forma de lâminas milimétricas de arenito
fino alternadas com lâminas de arenito médio a grosseiro. A cimentação
carbonática diferencial ressalta a estratificação (Foto 3).

Subfácies B2: Arenitos finos a argilosos, bem selecionados,


subarredondados. A fração argilosa se distribui entre grãos do arcabouço
(argilas de infiltração) ou na forma de lâminas, formando acamamento
ondular irregular (Foto 4), caracterizando ôndulas de adesão (adhesion
ripples) e de estruturas de dissipação (dissipation structures)
desenvolvidas nas interdunas. Raramente os arenitos desta fácies
apresentam estrutura maciça, com pouca ou nenhuma argila.

61
Fotografia 1 – Arenito grosso, mal selecio- Fotografia 2 – Arenito bimodal com estratifi-
nado. cação cruzada.

Fotografia 3 – Cimentação carbonática dife- Fotografia 4 – Arenito argiloso com laminação


rencial, ressaltando a estratificação. ondular irregular.

62
Subfácies B3: Arenito muito fino a fino, muito bem selecionado,
subarredondado, com ôndulas eólicas, estratificação e estruturas geradas
por ascensão transladante destas ôndulas (climbing translatent
stratification; Hunter 1977) (Foto 5). Estas estruturas são geradas tanto
sobre as faces de dunas como nas faces de interdunas secas, sendo
melhor preservadas nestas últimas.

Fácies C: Siltitos e arenitos muito finos, castanho-avermelhados associados a


folhelhos maciços e/ou interlaminados. Possui laminação plano-paralela e
microestratificação cruzada, gerada por ôndulas ascendentes (climbing ripples,
Foto 6). São depositados por processo de suspensão nas margens lacustres,
constituindo lobos da desembocadura de wadis.

Fácies D: Folhelhos castanho-avermelhados e cinza-esverdeados, maciços ou


interlaminados com siltitos e arenitos muito finos, depositados em lagos rasos
do sistema desértico. Apresentam com freqüência níveis com nódulos de
anidrita (Foto 7), formados em sabkhas marginais aos lagos.

Fotografia 5 – Arenito fino com ôndulas trans- Fotografia 6 – Arenito muito fino com micro-
ladantes gerando laminação de baixo ângulo. estratificação cruzada e ôndulas ascendentes.

63
Fotografia 7 – Folhelho com nódulos de anidrita.

5.1.2 ARENITOS EÓLICOS DA FORMAÇÃO JURUÁ NA ÁREA DE


URUCU
A Formação Juruá é constituída por arenitos, lutitos, evaporitos e
dolomitos depositados em um padrão geral transgressivo. A descrição de
testemunhos, realizada por alguns pesquisadores, indica a dominância de
fácies depositadas em sistemas de sabkha costeiro com extenso
retrabalhamento eólico, em concordância com interpretações prévias da
unidade (Lanzarini 1984, Cunha et al. 1988, Becker 1997, Milani & Zalán 1998,
Elias et al. 2004).
A base da unidade, depositada em um ambiente fluvio-deltaico, foi
sobreposta por um ambiente de sabkha costeiro caracterizado por intenso
retrabalhamento eólico e gradativo aumento de influência marinha. A
associação de depósitos eólicos e evaporíticos permite inferir um paleoclima
quente e seco.

64
5.2 Evolução diagenética

Na caracterização dos processos e constituintes diagenéticos que


afetaram os arenitos da Formação Juruá da área de Urucu foram utilizadas as
definições de estágios diagenéticos criadas por Choquette & Pray (1970),
estendidas para arenitos por Schmidt & McDonald (1979). Segundo estas
definições, a diagênese é dividida em três estágios:

Estágio 1 – eodiagênese: atuante após a deposição e normalmente a pequena


profundidade, diretamente influenciada pelo ambiente deposicional e/ou pela
circulação de água superficial (marinha, meteórica), e por baixas pressões e
temperaturas;

Estágio 2 – mesodiagênese: atuante após o “soterramento efetivo”, ou seja,


subseqüente ao efetivo isolamento da superfície, sob influência de fluidos
diagenéticos intersticiais modificados pelas reações com os minerais e sob
influência de pressões e temperaturas crescentes;

Estágio 3 – telodiagênese: provocada pela re-exposição de rochas que já


estiveram soterradas às condições superficiais por soerguimento e erosão, ou
por infiltração de águas meteóricas.

A história diagenética da Formação Monte Alegre, equivalente à


Formação Juruá na Bacia do Amazonas, foi fortemente influenciada pelas
condições ambientais (Torres & Truckenbrodt 1990). Os processos eogenéticos
da Formação Monte Alegre são caracterizados pela infiltração mecânica de
argilas, precipitação de calcita, dolomita e gipsita. Na mesodiagênese, por sua
vez, predominaram os processos que envolveram compactação química por
dissolução por pressão, crescimentos de quartzo e K-feldspato, cimentação por
calcita ferrosa, substituição de K-feldspato e gipsita por anidrita, e geração de
porosidade secundária por dissolução dos carbonatos e feldspatos, seguida da
precipitação de caulinita, ilita, clorita, dolomita-anquerita, quartzo, pirita e

65
anatásio tardios. Os melhores reservatórios desta formação são os depósitos
eólicos (Torres & Truckenbrodt 1990), como ocorre com a Formação Juruá.

5.3 Condições permoporosas

Embora as principais ocorrências de hidrocarbonetos na Bacia do


Amazonas estejam nos arenitos das Formações Monte Alegre, Curiri e Ererê
(ver capítulo anterior), estudos indicam que os arenitos eólicos da Formação
Monte Alegre têm características permoporosas mais favoráveis à acumulação
de hidrocarbonetos.
Arenitos da Formação Monte Alegre foram depositados em ambiente
desértico, variando do terrestre ao transicional (sabkha), incluindo depósitos
fluviais, eólicos e de arenito maciço. As melhores características do
reservatório são associadas com fácies de dunas, com porosidades entre 20 e
25% e permeabilidades que variam de 150 a 380 mD (Gonzaga et. al. 2000).
Na Bacia do Solimões, os arenitos eólicos e da Formação Juruá, possuem
espessura máxima em torno de 50 m. Sua porosidade máxima é igual a 26% e
a permeabilidade máxima em torno de 1400 mD (Wanderley Filho & Eiras
1990).
Segundo as definições de Choquette & Pray (1970), estendidas para
arenitos por Schmidt e McDonald (1979), a dolomita é o constituinte
diagenético mais abundante nestes arenitos eólicos (média de 3,9%) e ocorre
em todas as fácies deposicionais e sub-unidades, principalmente como cimento
microcristalino preenchendo poros.

5.4 Qualidade dos reservatórios

A diagênese exerceu forte influência na qualidade dos reservatórios


Juruá, e certamente nos reservatórios Monte Alegre. Os controles diagenéticos
são superimpostos aos controles deposicionais da geometria, estrutura e
textura dos arenitos. Os arenitos eólicos são originalmente mais porosos e

66
permeáveis que os arenitos não-eólicos de sabkha costeiro, praia ou de
shoreface, em função da granulometria mais grossa e grande continuidade
lateral dos depósitos eólicos. Nos arenitos da Formação Juruá, a porosidade é
essencialmente primária, e foi posteriormente reduzida por cimentação e
compactação. A dolomita é o principal cimento que obstrui parcialmente o
espaço poroso, e está presente em todas as fácies deposicionais,
principalmente como cimento microcristalino intergranular, atingido em média
cerca de 68% nas fácies de sabkha e 3,7% em arenitos eólicos (Elias et al.
2004). A maior quantidade de cimentação por dolomita e a forte compactação
dos arenitos não-eólicos também contribuem para maior heterogeneidade e
compartimentação de fluxos nesses reservatórios.

67
6 RESERVAS E PRODUÇÃO

Segundo Wanderley Filho & Eiras (1990), dos mais de 220 poços
perfurados até o momento na Bacia do Solimões, somente 17 deles (15 poços
de caráter estratigráfico e 2 pioneiros) foram concluídos entre 1958 e 1963, ou
seja, na fase anterior à descoberta da província gaseífera do Juruá.
Atualmente, todo o petróleo produzido na Bacia do Solimões provém da
província petrolífera do Urucu, mas, com projetos próprios da PETROBRAS,
ora em execução, e os em negociação para parceria em outras áreas, tais
como Juruá, Biá e São Mateus, também entrarão em explotação brevemente.
No fim da década de 80 e início da década de 90, a meta, para a bacia do
Solimões, era de produzir diariamente, em torno de 45.000 bbl de óleo e 6
milhões de m3 de gás natural (Wanderley Filho & Eiras 1990). A produção
diária atual do campo Leste Urucu mostra que esta meta foi superada com os
atuais valores: 54.000 barris (quase 9.000 m3/d de óleo de 42o API), de
excelente qualidade, e líquido de gás natural (LGN), e 9,7 milhões de m3 de
gás natural. A partir deste último, são obtidas, nas instalações industriais
existentes no pólo Arara, em Urucu, 1.600 toneladas de gás liquefeito de
petróleo (GLP - gás de cozinha), processadas no complexo industrial de Urucu.
As reservas totais de petróleo e gás somam 613 milhões de barris de óleo
equivalente (Revista IstoÉ 2006).
Após as etapas de perfuração e testes de produção no poço denominado
Rio Uatumã No 1, confirmou-se um reservatório de gás com 12 metros de
espessura situado a 1.650 metros de profundidade, na Formação Nova Olinda.
O teste de produção indicou um potencial da ordem de 700.000 m3/d de gás e
um pequeno percentual de condensado. Calcula-se, com base na área
mapeada (20 km2) um volume de gás in place da ordem de 8 bilhões de metros
cúbicos e volume recuperável equivalente de 6 bilhões de metros cúbicos de
gás (Wanderley Filho & Eiras 1990).
As reservas mais importantes nas bacias do Solimões e do Amazonas
são de gás natural, estando em torno 51.000 milhões de m3 de reserva provada

68
e 85.000 milhões de m3 de reserva total (Tabela 1), contribuindo com 20,46%
da produção total de gás do Brasil: 49.888 m3/dia (Fig. 34).

Tabela 1 – Reservas das bacias do Amazonas e Solimões em 31/12/2005 (fonte: Boletim


Anual de Reservas, ANP).

RESERVAS PROVADAS RESERVAS TOTAIS

Petróleo Petróleo
Petróleo Gás Petróleo Gás
Bacia 3 (milhões 3 3 (milhões 3
(milhões m ) (milhões m ) (milhões m ) (milhões m )
barris) barris)
Bacia do
0,00 0,00 0,00 0,38 2,36 4.853,23
amazonas
Bacia do
14,62 91,94 51.465,40 18,03 113,39 79.508,20
Solimões

Figura 344 – Produção de gás no estado do Amazonas (Fonte: Boletim Mensal de Gás
Natural – ANP 2005).

69
7 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento geológico sobre as bacias do Solimões e Amazonas é


algo que evoluiu ao longo do tempo, e teve início com a criação da
PETROBRAS e o interesse na exploração de petróleo em bacias paleozóicas.
Atualmente, tem-se um bom grau de conhecimento sobre a origem, tectonismo,
discordâncias e seqüências sedimentares de primeira e segunda ordens,
intrinsecamente relacionadas a grandes eventos orogênicos: a quebra do
Supercontinente Pannotia e a formação do Iapetus, no Cambriano, e o
rifteamento que deu origem ao conjunto de bacias do Amazonas, entre o
Cambriano e Ordoviciano Inferior; Orogenia Famatiniana ou Caledoniana, no
Devoniano; orogenias Eoherciniana no Carbonífero e Tardiherciniana no
Permiano; a Orogenia Gondwanides no Triássico e a formação do Atlântico
Norte no Jurássico.
O sistema petrolífero também é conhecido. As histórias dos eventos que
foram efetivos para a formação dos sistemas petrolíferos das bacias do
Solimões e do Amazonas são bem parecidas. Tanto na Bacia do Solimões
quanto na Bacia do Amazonas os principais geradores são devonianos e
correlacionáveis, sendo formados por folhelhos cinza escuros a negros de
idade neofrasniana/eofameniana. Os principais reservatórios também são
correlacionáveis, representados principalmente por arenitos eólicos
contemporâneos das formações Juruá (Bacia do Solimões) e Monte Alegre
(Bacia do Amazonas). O magmatismo mesozóico teve forte influência nos
sistemas petrolíferos dessas bacias.
O sistema petrolífero da Bacia do Amazonas, por exemplo, é formado
pelas rochas geradoras da Formação Barreirinha – Devoniano Superior, com
altos teores de COT (3 – 8%), bom potencial gerador de HC (S2 de 5 – 20 mg
HC/g de rocha) e IH variando de 100 a 400 mg HC/g de COT, neste caso
indicando a presença de querogênio do tipo II. Além dos reservatórios da
Formação Monte Alegre, destacam-se ainda: a) os arenitos da Formação Curiri
selados por folhelhos e diamictitos também da Formação Curiri; b) os arenitos

70
da Formação Ererê, e c) os arenitos da Formação Nova Olinda, este último
ainda com escassas publicações. Na ocorrência de hidrocarbonetos nos
arenitos da Formação Curiri, predominam trapas estratigráficas, do Devoniano
Superior. Ocorrem, também, trapas estruturais formadas durante o evento
tectônico Juruá. As mais importantes acumulações de petróleo são localizadas
fora ou próximas ao limite do generation pod, o que indica uma migração de
média a longa distância (até 150 km). A maturidade do óleo (pico de geração
do óleo) indica que essas acumulações não foram geradas pelo efeito termal
das intrusões ígneas.
Apesar de um bom conhecimento sobre a evolução tectono-sedimentar e
sobre o sistema petrolífero, esse conhecimento se dá em escala de bacia, e
não há um estudo em analogia com outras bacias paleozóicas. A densidade de
poços é relativamente baixa se considerarmos a área total das bacias do
Solimões e Amazonas: cerca de 250 poços em 980.000 km2 (0,00025
poços/km2). Essa baixa densidade faz dessas bacias áreas ainda pouco
exploradas. Poucos são os trabalhos em escala de reservatório. Estudos de
detalhe utilizando a estratigrafia de seqüências, voltados para seqüências de 3ª
e 4ª ordens, são raros e poderia melhorar o conhecimento das trapas
estratigráficas e ajudariam a compreender as heterogeneidades. No entanto,
este detalhamento está subordinado a uma melhoria dos dados sísmicos. A
PETROBRAS, principal empresa que investe em exploração de petróleo na
região, ainda não utiliza uma técnica de aquisição sísmica terrestre adequada
(Prof. Osvaldo O. Duarte, informação verbal). Uma melhoria no método de
aquisição e um refino da técnica de processamento podem, por exemplo,
ultrapassar as espessas camadas de solo da Amazônia e imagear com uma
boa resolução unidades sismoestratigráficas.
Mesmo em meio a essas dificuldades tecnológicas e inúmeras barreiras
de infra-estrutura, o conhecimento geológico sobre essas bacias vem
crescendo ainda a passos lentos.
A bacia do Solimões possui, atualmente, a segunda maior reserva de gás
natural do Brasil, com cerca de 51.000 milhões de m3, e de acordo com o
Boletim Mensal de Gás da Agência Nacional de Petróleo-ANP, em novembro

71
de 2005 essas bacias contribuíam com 20,46% da produção nacional de gás.
Nos últimos anos, com a decisão do governo brasileiro em introduzir maior
percentual de gás natural na matriz energética do país, e face à atual situação
geopolítica, envolvendo a nacionalização das reservas de óleo e gás da
Bolívia, as bacias do Solimões e do Amazonas vêm se tornando um importante
alvo exploratório. Um exemplo disto é a crescente oferta de blocos nas rodadas
de licitações da ANP. Na sétima rodada, dos 28 blocos ofertados na Bacia do
Solimões, 25 foram arrematados.
Embora a infra-estrutura na região da Amazônia seja pouco atrativa e as
bacias do Solimões e do Amazonas estejam distantes dos grandes centros
urbanos, o que dificulta a permanência de pessoal especializado trabalhando
nestas áreas, bem como o transporte do petróleo para a refinaria REMAM, em
Manaus, isto propiciou a construção da maior Unidade de Processamento de
Gás Natural (UPGN) do Brasil na região de Urucu.
A PETROBRAS também vem fazendo uma série de melhorias para
aumentar a capacidade de escoamento do petróleo produzido nessa região.
Em 1989, colocou em operação um oleoduto, ligando a área produtora, em
Urucu, a Porto Terminal, às margens do Rio Tefé. Encontra-se em construção
o gasoduto Coari-Manaus (extensão = 417 km, capacidade = 5 milhões m³/dia
e diâmetro = 20”), e as perspectivas a médio e longo prazos é a construção de
novos gasodutos, a exemplo de Urucu-Porto Velho (extensão = 537,8 km,
capacidade = 2,4 milhões m³/dia e diâmetro = 14”), com início de operação
previsto para agosto de 2007. Outro sistema de escoamento já existente é o
duto para gás de cozinha e para petróleo, ligando Urucu ao terminal de Coari,
com 285 km de extensão (Revista IstoÉ 2006).
Desta forma, muitas áreas dentro das bacias do Solimões e do Amazonas
se caracterizam ainda como novas fronteiras, com um bom potencial petrolífero
a ser explorado e desafios técnico-científicos a serem vencidos.

72
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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