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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE GEOLOGIA

Décio Fontes de Oliveira


Josiane Damazio
Ricardo Pereira
Wilson Nakamura Jr.

Evolução Tectono-Estrutural, Estratigragia, e Sistemas


Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

RIO DE JANEIRO
2006
Décio Fontes de Oliveira
Josiane Damazio
Ricardo Pereira
Wilson Nakamura Jr.

TÍTULO:
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigragia e Sistemas
Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PROJETO DE ANÁLISE DE BACIAS


MÓDULO GEOLOGIA DO PETRÓLEO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


FACULDADE DE GEOLOGIA

ORIENTADORES: Prof. Dr. Egberto Pereira (FGEL/UERJ)


Prof. Dr. Wilson Luiz Lanzarini (PETROBRAS)

RIO DE JANEIRO
2006

ii
Décio Fontes de Oliveira
Josiane Damazio
Ricardo Pereira
Wilson Nakamura Jr.

Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia, e Sistemas


Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

Trabalho Final de Curso submetido ao corpo docente


da Faculdade de Geologia da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro - UERJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau Especialista.

Aprovada por:

Prof. Dr. Wilson Luiz Lanzarini (Petrobras – RH/UP/ECTEP) - orientador

Prof. Dr. Egberto Pereira (UERJ) - orientador

Prof. Dr. Sérgio Bergamaschi (UERJ)

RIO DE JANEIRO
2006

iii
FICHA CATOLOGRAFICA

FONTES DE OLIVEIRA, DÉCIO; DAMAZIO, JOSIANE; PEREIRA,


RICARDO & NAKAMURA JR, WILSON.
Estratigrafia, Evolução Tectônica e Sistemas Petrolíferos da Bacia
de Camamu-Almada (Rio de Janeiro) 2006.
XVII, 77 p. 29,7 cm (Faculdade de Geologia UERJ, Esp., Curso e
Especialização em Projeto de Análise de Bacias: Módulo
Geologia do Petróleo, 2006).
Monografia - Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
realizada na Faculdade de Geologia.
1. Bacia de Camamu-Almada 2. Sistemas Petrolíferos
I - FGEL/UERJ II - Título (série)

iv
“Comumente encontramos óleo em novas
áreas com velhas idéias. As vezes,
encontramos óleo em áreas velhas com uma
nova idéia; mas dificilmente, encontramos
muito óleo em áreas velhas com uma idéia
antiga”.
Park Dickey (1958)

v
AGRADECIMENTOS

Neste momento tão importante de nossas vidas não poderíamos deixar


de agradecer a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a conquista
de mais esta vitória;
Agradecemos primeiramente a DEUS, que nos iluminou e auxiliou,
mostrando-se sempre presente em nossas vidas;
Aos nossos familiares e todos aqueles que participaram de nossas
conquistas, pela compreensão nos momentos em que estivemos ausentes e
pelo amor que nos dedicam em todas as horas;
Á Petrobras que nos proporcionou através da Universidade Petrobras, o
Curso de Formação, nos suprindo com novos conhecimentos com relação ao
que há de mais atual em Geologia de Petróleo;
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que através de
convênio com a Petrobras para a certificação do Curso de Formação, visou o
que há de melhor para seus alunos;
Ao Coordenador da 3ª Turma de Geólogos 2006 do Curso de Formação,
Flávio Juarez Feijó por sua paciência, apoio e carinho durante o curso.
A todos os professores que lecionaram durante o curso, por sua
dedicação e satisfação em ensinar;
Aos Nossos orientadores: Egberto Pereira e Wilson Luiz Lanzarini pela
orientação e dedicação;
A todos os funcionários da Universidade Petrobras, por todo apoio em
especial ao nosso amigo Paulinho;
Aos amigos 3ª Turma de Geólogos de 2006 do Curso de Formação (G13
e G31) pelo apoio e momentos de descontração, em especial ao amigo Luis
Maurício, pelas discussões realizadas. Com certeza a saudade vai ser grande.
Ao colega da UN-BA, Fernando Freire, pelo envio de fotos que muito
enriqueceu nosso trabalho;
Ao Geólogo Juliano Küchle (UFRGS), pelo envio de sua brilhante
Dissertação que muito nos ajudou neste trabalho;

vi
Ao nosso colega Caixeta (E&P-EXP) por sua atenção e disponibilidade
no esclarecimento de dúvidas sobre a Bacia de Camamu-Almada.

vii
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................... vi
SUMÁRIO .................................................................................................................... viii
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... xi
LISTA DE FOTOS ...................................................................................................... xiv
RESUMO....................................................................................................................... xv
ABSTRACT................................................................................................................. xvii

CAPÍTULO I ................................................................................................................... 1
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1

I.1. OBJETIVOS ............................................................................................................. 1


I.2 - ÁREA DE ESTUDO............................................................................................... 1
I.2.1 - Localização e Organização do Espaço................................................. 1
I.2.2 - Suporte Bio-Físico da Paisagem .......................................................... 2
I.2.2.1 - Geomorfologia................................................................................ 3
I.2.2.2 - Clima.............................................................................................. 4
I.2.2.3 - Vegetação ...................................................................................... 4

CAPÍTULO II .................................................................................................................. 5
HISTÓRICO DE E&P .................................................................................................... 5

CAPÍTULO III ................................................................................................................. 9


CARACTERIZAÇÃO DA MARGEM CONTINENTAL LESTE BRASILEIRA........ 9

III.1 – DOMÍNIO DIVERGENTE ................................................................................. 9

CAPÍTULO IV............................................................................................................... 14
CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL................................................................... 14

viii
CAPÍTULO V ................................................................................................................ 18
CONTEXTO TECTONO-ESTRUTURAL DA BACIA DE CAMAMU-ALMADA .. 18

V.1 – PORÇÂO EMERSA DA BACIA DE CAMAMU ............................................. 18


V.2 – PORÇÃO EMERSA DA BACIA DE ALMADA ............................................ 22
V.3 – PORÇÃO SUBMERSA DA BACIA DE CAMAMU- ALMADA ................... 24

CAPÍTULO VI............................................................................................................... 27
ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO .......................................................................... 27

VI.1 – TRABALHOS UTILIZADOS........................................................................... 27


VI.2 – SEQÜÊNCIAS DEPOSICIONAIS................................................................. 28
VI.2.1 - Seqüência Permiana ........................................................................ 28
VI.2.2 - Megassequência Continental ........................................................... 29
VI.2.2.1 - Seqüência Sin-Rifte I ................................................................. 29
VI.2.2.2 – Seqüência Sin-Rifte II ............................................................... 29
VI.2.2.3 - Seqüência Sin Rifte III ............................................................... 30
VI.2.3 – Megasseqüência Transicional Evaporítica ...................................... 31
VI.2.4 - Megasseqüência Carbonática de Plataforma Rasa ........................ 32
VI.2.5 – Megasseqüência Marinha Transgressiva ........................................ 33
VI.2.6 – Megasseqüência Marinha Regressiva............................................. 33
VI.3 – DESCRIÇÃO ESTRATIGRÁFICA DAS UNIDADES................................. 45
VI.3.1 – Embasamento ................................................................................. 45
VI.3.2 – Formação Afligidos.......................................................................... 45
VI.3.3 – Grupo Brotas ................................................................................... 45
VI.3.3.1 – Formação Aliança ..................................................................... 46
VI.3.3.2 – Formação Sergi ........................................................................ 46
VI.3.3.3 – Formação Itaípe........................................................................ 49
VI.3.4 – Formação Morro do Barro ............................................................... 49
VI.3.5 – Formação Rio de Contas................................................................. 49
VI.3.6 – Formação Taipus-Mirim................................................................... 50
VI.3.7 –Formação Algodões ......................................................................... 51

ix
VI.3.8 – Grupo Espírito Santo ....................................................................... 51
VI.3.8.1 – Formação Urucutuca ................................................................ 51
VI.3.8.2 – Formação Caravelas................................................................. 52
VI.3.8.3 – Formação Rio Doce .................................................................. 54
VI.3.9 – Formação Barreiras......................................................................... 54

CAPÍTULO VII.............................................................................................................. 54
SISTEMAS PETROLÍFEROS .................................................................................... 54

VII.1 – ROCHAS GERADORAS............................................................................... 55


VII.2 – TRAPAS, ROCHAS RESERVATÓRIOS E ROCHAS SELANTES ....... 61
VII.3 – GERAÇÃO, MIGRAÇÃO E ACUMULAÇÃO ............................................. 64
VII.4 – POSSIBILIDADE DE NOVOS PLAYS........................................................ 66

CAPÍTULO VIII............................................................................................................. 69
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................. 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................71

x
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Mapa de localização da Bacia de Camamu-Almada (Modelo


numérico de terreno gerado a partir da base de dados ETOPO2/GLOBE, 2002,
apud Karam, 2005)...............................................................................................2

Figura 2.1 : Mapa de localização dos poços perfurados na Bacia de Camamu-


almada (Fonte: BDEP seundo Cuiñas Filho, 2004) )...........................................7

Figura. 3.1 – A Placa Sul-Americana e seus domínios tectono-sedimentares


(modificado. de Milani & Thomaz Filho, 2000)...................................................11

Figura 4.1 – Mapa de contexto geológico regional do Cráton São Francisco


(modificado de Teixeira et. al., 2000 e Serviço Geológico do Brasil, 2001, CD
1).........................................................................................................................16

Figura 4.2- Mapa de contexto tectônico regional com localização da área de


estudo (modificado de Serviço Geológico do Brasil, 2001,CD.2 e Teixeira et. al.;
2000). O perfil AA’ encontra-se na Figura 4.3....................................................17

Figura.4.3- Perfil esquemático mostrando a estruturação e distribuição das


rochas que compõem o embasamento cristalino (modificado de Barbosa,
1997)..................................................................................................................18

Figura. 5.1: Principais estruturas do arcabouço da Bacia de Camamu,


modificado de Netto & Ragagnin (1990)............................................................20

Figura 5.2: Bloco diagrama ilustrando a Família 1 . A direção de distensão é


aproximadamente N70ºW. Nos planos de falhas estão representados os traços
de estrias como são vistas no campo (mod. de Mércio,1996)...........................21

Figura 5.3 : Bloco diagrama ilustrando a Família 2. A direção de distensão é


aproximadamente N25ºW. Nos planos de falhas estão representados os traços
de estrias como são vistas no campo. As falhas N-S ou NE-SW da Família 1
são reativadas com movimento predominantemente transcorrente, sinistral ou
dextral de acordo com sua orientação frente ao esforço distensivo.
Desenvolvem-se falhas normais neoformadas ortogonais à distensão
(modificado. de Mércio, 1996)............................................................................21

xi
Figura 5.4 : Arcabouço estrutural da Bacia de Almada. A bacia, na porção
emersa, é delimitada em três compartimentos (vide texto) (modificado. de Netto
& Sanches, 1991)...............................................................................................23

Figura 5.5 : Integração dos arcabouços estruturais do embasamento na porção


marinha (ANP/COPPE/UFRJ, 2003) e na porção terrestre (RADAMBRASIL,
1981)..................................................................................................................26

Figura 5.6: Visualização tridimensional do embasamento da Bacia de


Camamu-Almada no Gocad. Destaque para o relay ramp limitado pelas falhas
de borda. (Adaptado e modificado RADAMBRASIL,1981; apud Karam,
2005)...................................................................................................................27

Figura 6.1: Megasseqüências estratigráficas das bacias marginais do Leste


Brasileiro (Chang et al. 1991).............................................................................36

Figura 6. 2: Carta estratigráfica proposta por Netto et al. (1994) para a bacia de
Camamu.............................................................................................................37

Figura 6.3:Carta estratigráfica proposta por Netto et al. (1994) para a bacia de
Almada................................................................................................................38

Figura 6.4: Cartas Estratigráficas das Bacias de Camamu e Almada integradas


(modificadas de Netto et al., 1994). Notar a ausência da Seqüência Paleozóica
(Formação Afligidos) na Bacia de Almada e a semelhança no empilhamento
estratigráfico entre as duas bacias a partir do Eo-retáceo. ...............................39

Figura 6.5: Seção Geológica esquemática da Bacia de Camamu-Almada


(Fonte:
ANP,2000)..........................................................................................................40

Figura 6.6: Seqüências deposicionais propostas por Küchle (2004) para as


Bacias de Camamu, Almada e Jequitinhonha....................................................41

Figura 6.7: Seqüências deposicionais propostas por Karam (2005) a partir do


topo da seqüência C, para as Bacias de Camamu, Almada e
Jequitinhonha.....................................................................................................42

xii
Figura 6.8: Padrões de empilhamento observados por Küchle (2004) nas
seqüências deposicionais formadoras da seção rifte (SEQ-B1 a SEQ-
B4).....................................................................................................................43

Figura 6.9: Integração das seqüências deposicionais propostas por Chang et al


( 1990)., Netto et. al.(1994), Küchle (2004) e Karam (2005). (Modificado de
Chang et al (op.cit.), Netto et al. (op cit), Küchle (op. cit) e Karam
(op.cit).................................................................................................................44

Figura 7.1: Coluna estratigráfica da seqüência rifte dos poços estudados por
Gonçalves et.al.,(1997).......................................................................................57

Figura 7.2: variação dos teores de COT, índice de hidrogênio e razão isotópica
do carbono da matéria orgânica (δ13C) ao longo da seqüência rifte no poço
estudado por Gonçalves (2001) da Bacia de Camamu- Almada.......................59

Figura 7.3: Cromatograma gasosos e cromatograma de massas (m/z191 e m/z


217) de (a) um extrato da formação morro do Barro e (b) uma amostra de óleo
da bacia de Camamu-Almada (Gonçalves et. al; 2000) ....................................60

Figura 7.4: Esquema de dois exemplos típicos de migração (a) trapas pré-rifte e
(b) trapas rifte na bacia de Camamu-Almada ( Modificado de Gonçalves
et.al.,2000)..........................................................................................................63

Figura 7.5: Carta de eventos de sistema petrolífero da Bacia de Camamu-


Almada(Modificado de Mello et al., 1994).........................................................65

xiii
LISTA DE FOTOS

Foto 6.1 - Arenitos eólicos e Fluviais da Fm Aliança / Mb Boipeba.


Coordenadas: X=485386/ Y=8455506..............................................................47

Foto 6.2 - Dunas eólicas da Fm Aliança / Mb Boipeba. Coordenadas:


X=514186/ Y=8578716.....................................................................................47

Foto 6.3 - Arenitos eólicos da porção basal Fm Sergi. Coordenadas:


X=479657/=8380571........................................................................................48

Foto 6.4 - Arenitos Fluviais da Formação Sergi (Bacia de Almada).


Coordenadas: X=492337/ Y=8386428.............................................................48

Foto 6.5 – Visão geral de afloramento em Sambaituba( Ilhéus-BA ) onde


aparecem canais turbidíticos preenchidos por conglomerados e arenitos,
erodindo e sendo recobertos por heterólitos areno-lamosos de marés(Fonte D´
AVILA et. al., 2004)............................................................................................53

xiv
RESUMO

OLIVEIRA, Décio Fontes de; DAMAZIO, Josiane; PEREIRA, Ricardo &


NAKAMURA JR., Wilson; Estratigrafia, Evolução Tectônica e Sistemas
Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada. Orientadores: Egberto Pereira e
Wilson Lanzarini. Rio de Janeiro UERJ/FGEL, 2006.(Monografia de
especialização).

Localizadas na porção centro-sul do litoral do estado da Bahia, as bacias


de Camamu e Almada são atualmente consideradas como novas fronteiras
exploratórias.
A partir de informações disponíveis na literatura, este trabalho tem por
objetivo analisar o contexto estrutural, geotectônico e estratigráfico e os
sistemas petrolíferos dessas duas bacias.
A evolução tectono-estratigráfica de ambas as bacias é marcada pela
presença de cinco seqüências deposicionais: Permiana, Pré-Rifte, Rift,
Transicional e Margem Passiva.
Para certos autores, são consideradas como uma única bacia por
apresentarem preenchimento sedimentar muito semelhante a partir do Eo-
cretáceo. Por outro lado, outros autores defendem que se tratam de bacias
distintas, baseados na ausência da seqüência paleozóica na Bacia de Almada,
em semelhanças da bacia de Camamu com a Bacia do Recôncavo, e da Bacia
de Almada com as Bacias da Margem Leste (em especial com a Bacia do
Espírito Santo).
A estruturação da Bacia de Camamu-Almada apresenta-se orientada
preferencialmente nas direções NNE-SSW e WNW-SSE, formando,
respectivamente, um par conjugado de falhas de empurrão e de alivio de
tensão. Este padrão estrutural é observado tanto na parte emersa como na
porção submersa, sendo o mesmo interpretado como reflexo de reativações de
estruturas pré-existentes do embasamento, geradas no Ciclo Jiquié
(Neoarqueano), durante a abertura do atlântico.
Com relação ao sistema petrolífero da bacia de Camamu-Almada, a
evolução tectono-sedimentar meso-cenozóica da margem continental brasileira
controlou o desenvolvimento destes. São classificados, segundo Mello et al.

xv
(1994), como sistemas petrolíferos pré-rifte e sin-rifte. Neste contexto, as
bacias apresentam dois importantes sistemas petrolíferos: o sistema Morro do
Barro–Sergi (!) e o sistema Morro do Barro-Rio de Contas (!).
As acumulações de hidrocarbonetos na bacia de Camamu estão
associadas a trapas estruturais ou mistas na seção rift e pré-rift. O maior
número de acumulações ocorre na Formação Morro do Barro, de idade
eocretácea, em reservatórios interpretados como lobos turbidíticos lacustres,
seguidas pelos reservatórios neojurássicos da Formação Sergi, associados a
arenitos flúvio-eólicos. Os principais geradores são atribuídos a sedimentos
lacustres de água doce da Formação Morro do Barro
Apesar do baixo sucesso exploratório, até o momento, em terra e em
águas rasas nessas duas bacias, este trabalho propõe a revisão dos dados
exploratórios existentes e o avanço nos estudos em águas profundas.

xvi
ABSTRACT

OLIVEIRA, Décio Fontes de; DAMAZIO, Josiane; PEREIRA, Ricardo &


NAKAMURA JR., Wilson; Estratigrafia, Evolução Tectônica e Sistemas
Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada. Orientadores: Egberto Pereira e
Wilson Lanzarini. Rio de Janeiro UERJ/FGEL, 2006.(Monografia de
especialização).

Located in the south-center portion coast of Bahia state, the Camamu


and Almada basins are considered a new exploration frontier in the present
time.
Using literature data, the principal work objective is characterize the
structural, geotectonic, stratigraphic and petroleum system of Camamu and
Almada basins.
The tectonic-stratigraphic evolution is marked by five depositional
sequences: Permiana, Pre-Rift, Rift, Transitional and Post-Rift. The
sedimentary filling of the basis is similar since lower cretaceous, so are
considered for some authors as an unique basin.
Other authors believe that the basins has be classified different, based in
the Paleozoic sequence absence in Almada Basin, the similarities between
Camamu Basin with Recôncavo Basin and Almada Basin with South Atlantic
Basins, in special with Espírito Santo Basin.
The structures have NNE-SSW and WNW-SSE preferential directions,
forming a conjugated thrust and release faults pair respectively. This standard is
observed onshore and offshore Camamu-Almada basin and it is interpreted as
a reflected of preexisting basement structures during Atlantic opening (Jiquié
Cycle/ Eoarchean).
Mello et al. (1994) related that the mezo-Cenozoic evolution tectonic-
sedimentary of the Brazilian continental edge was main the responsible one for
the development of the Camamu-Almada Petroleum Systems. They classified
in pre-rift and sin-rift petroleum systems.
The Camamu-Almada basin has two important petroleum systems called
Morro do Barro-Sergi (!) and Morro do Barro-Rio de Contas (!). The
hydrocarbon accumulations are associated with structural or mix (structural and

xvii
stratigraphic) traps in the rift and pre-rift sections. The major accumulations
occurred in Morro do Barro formation (lower cretaceous age) in lacustrine
turbiditic reservoir.
The major accumulations occurred in Morro do Barro formation (lower
cretaceous age) in lacustrine turbiditic lobes reservoir followed by lower
Jurassic reservoir of Sergi Formation, composed by eolian and fluvial
sandstone. Sediments by Morro do Barro Formation are considerated the most
important source rocks in the basis.
Although the low exploration success onshore and shallow waters in
these basins at the moment, this work considers the revision of the existing
exploration data and the advance in the studies in deep waters.

xviii
CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

Esta monografia apresenta uma síntese de trabalhos desenvolvidos por


diversos autores na Bacia de Camamu-Almada-BA, sendo esta necessária
para a obtenção do grau de especialista em geologia do Petróleo, pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em convênio com a
Petrobras .
O estudo desta bacia é importante, visto que a mesma é ainda pouco
conhecida, e é considerada como fronteira exploratória para óleo e gás no
nordeste do Brasil. Dessa forma seu estudo se justifica uma vez que se faz
cada vez mais necessário para o desenvolvimento do setor petrolífero
brasileiro, para atender a demanda crescente do mercado nacional.

I.1. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi uma análise da literatura existente,


caracterizando a evolução tectono-estrutural, estratigrafia e os sistemas
petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada, numa área de aproximadamente
23.000 km2 na porção leste do Estado da Bahia.

I.2 - ÁREA DE ESTUDO

I.2.1 - Localização e Organização do Espaço

A Bacia de Camamu-Almada está situada na porção central do litoral do


estado da Bahia, abrangendo parte da planície costeira e estendendo até o
meridiano 38° W. É limitada a norte pelas bacias do Recôncavo e Jacuípe por
meio das falhas da Barra e Itapoã, respectivamente, e a sul pela Bacia de
Jequitinhonha, por meio do Alto de Olivença (Netto et.al., 1994). A mesma
perfaz uma área de aproximadamente 23.000 km2, considerando-se a cota
batimétrica de 3000 metros como limite leste, podendo ser dividida em 2 sub-
bacias pelo Alto de Itacaré. Porém, devido às semelhanças deposicionais a

1
partir do Eo-cretáceo, estas sub-bacias são normalmente descritas
conjuntamente na literatura.
A porção emersa estende-se desde o município de Vera Cruz, na Ilha de
Itaparica, cujas coordenadas são 12,96ºS / 38,60ºW, até o município de Ilhéus,
de coordenadas 14,78ºS / 39,04ºW, possuindo aproximadamente 195 km de
comprimento e 20 km de largura média (Fig. 1.1).
O acesso à área é feito pelas rodovias estaduais BA-245, BA-542, BA-
650 e BA-415, que ligam, respectivamente, as cidades de Nazaré, Valença,
Camamu e Ilhéus à BR-101, além da rodovia BA-001, que liga a cidade de
Ilhéus a Itacaré.

Figura 1.1 – Mapa de Localização da Bacia de Camamu-Almada (Modelo numérico de


terreno gerado a partir da base de dados ETOPO2/GLOBE, 2002, apud Karam, 2005).

2
I.2.2 - Suporte Bio-Físico da Paisagem

I.2.2.1 - Geomorfologia

São reconhecidas cinco unidades principais de compartimentação


geomorfológica na região (Mascarenhas, 1979):
Planalto Conquista-Maracás – extenso e contínuo altiplano de direção
geral NE-SO outrora prolongamento sul da Chapada Diamantina. Possui
altitudes em torno de 900 metros, sendo fortemente entalhado pelo Rio de
Contas e Rio Paraguaçu, provocando desníveis de 800 metros.
Relevo Montanhoso Orientado – representado por inúmeras serras e
esporões alongados, geralmente alinhados, que se alternam com vales
fortemente entalhados, evidenciando as direções estruturais impostas às
rochas metamórficas do Complexo Granulítico Jequié. A drenagem é orientada,
com alto grau de controle estrutural. Rios encaixados ao longo das zonas de
fraqueza produzem padrões de drenagem lineares, angulares e retangulares,
bem caracterizados pelos rios Jequiezinho e Gongogi, da bacia hidrográfica do
Rio de Contas.
Planície Neógena – reflexo de um aplainamento regional, se apresenta
levemente ondulada com inclinação suave em direção aos principais corpos
d’água. A altitude média é de 500 metros, sendo encontrados valores de até
250 metros nas proximidades de Contendas do Sincorá e Itaberaba.
Relevo de Serras Residuais – ocorre sobre a depressão do alto-médio
Rio de Contas, como remanescentes do aplainamento regional acima
mencionado. Alinhadas geralmente leste-oeste nas proximidades de Anagé,
são representadas pelas serras São Domingos, Sossego e Linda, constituídas
de quartzitos, gnaisses e granitóides, com altitude média de 800 metros, que se
destacam no pediplano de 400 metros.
Planícies Flúvio-Marinhas e Aluviais – ocorrem junto ao litoral afastando-
se da costa na desembocadura dos maiores rios.

3
I.2.2.2 - Clima

O clima regional da área de estudo está compreendido entre as classes


super-úmido, que abrange uma estreita faixa costeira de aproximadamente 20
km de largura, caracterizado por abundante umidade e precipitação anual
superior a 2.000 mm, e sub-úmido, que representa o principal tipo climático da
região, revelando o grau de transição entre o clima úmido e o clima seco, com
precipitação anual entre 800 e 1.500 mm (Brasil, Ministério das Minas e
Energia, 1981).
Ocorre também no extremo oeste da área de estudo o clima semi-árido,
com índices pluviométricos anuais entre 500 e 800 mm.

I.2.2.3 - Vegetação

O Projeto RADAMBRASIL (Brasil, Ministério das Minas e Energia, 1981)


caracteriza a vegetação da Folha SD.24 Salvador como:
Cerrado – ocorre preferencialmente sobre as coberturas plataformais
pré-cambrianas evidenciadas por sedimentos e metassedimentos do
Supergrupo Espinhaço. Compreende maciços montanhosos com topos
situados acima de 800 metros, remanescentes de estruturas dobradas e
tectonizadas, intercaladas com superfícies de aplainamento. Integra também os
relevos tabuliformes desenvolvidos sobre depósitos sedimentares Cenozóicos
e Juro-Cretácicos.
Caatinga – reveste principalmente terrenos Arqueanos representados
pelo Complexo Jequié e Caraíba-Paramirim, fácies granulito e anfibolito,
respectivamente. Compreende relevos evoluídos principalmente sobre rochas
altamente metarmofizadas. Abrange áreas deprimidas, envolvidas por
planaltos, compondo as médias bacias dos rios Paraguaçu e de Contas.
Os remanescentes florestais ocorrem nos topos e nas meias encostas
de relevos fortemente dissecados e de difícil acesso.

4
CAPÍTULO II

HISTÓRICO DE E&P

A bacia de Camamu-Almada é considerada como uma fronteira


exploratória para óleo e gás; sua importância exploratória foi definida antes
mesmo da criação da Petrobrás em 1954; e se dá principalmente por exibir um
registro geológico completo, uma vez que preservada apresenta as seções pré-
rifte, rifte e pós-rifte. A proximidade desta bacia ao sistema de rifte interior do
Recôncavo e outras bacias marginais brasileiras possibilita boas correlações
regionais. Tais fatores tornam a bacia de Camamu-Almada essencial para a
compreensão da origem e evolução das bacias marginais brasileiras, formadas
a partir do rifteamento continental entre o Brasil e a África, durante a quebra do
Gondwana, há 140 milhões de anos (Silva, 2005).
Os primeiros estudos geológicos realizados na região da Bacia de
Camamu-Almada foram feitos por Souza (1884 in Carvalho, 1965 apud Karam,
2005), o qual denominou os sedimentos aflorantes na região de Castelo Novo e
na atual Lagoa de Itaípe, de Formação Almada.
Em 1919, Oliveira (apud Carvalho, 1965; apud Karam, op.cit) fez um
trabalho de reconhecimento geológico, intitulado Bacia Cretácea do Rio
Almada. Em decorrência, o DNPM efetuou algumas perfurações próximas à foz
do Rio Cururupe (Carvalho, 1965 apud Karam, op.cit.).
As atividades exploratórias nesta bacia, que possui sedimentos da fase
rifte preservados, e uma longa história de investigação tiveram início com a
perfuração de quatro poços estratigráficos terrestres na ilha de Itaparica e nos
arredores da Baía de Camamu, entre 1922 e 1943. A partir de 1970, as
atividades foram direcionadas principalmente para a plataforma continental.
No ano de 1963, a Petrobras efetuou um mapeamento geológico de
superfície na porção emersa da Bacia de Almada, o relatório deste trabalho foi
publicado posteriormente por Carvalho (1965 apud Karam, 2005). Neste
mapeamento, foram identificados sedimentos do Cretáceo inferior abrangidos
pela formação Sergi, Itaparica, Candeias, Ilhas. Todas as unidades com
exceção da última foram correlacionadas lito e bioestratigraficamente com as
unidades homônimas da Bacia do Recôncavo. Esta correlação foi proposta,

5
pois a maioria dos estudiosos daquela época considerava a bacia de Camamu-
Almada uma continuação da Bacia do Recôncavo.
No período entre 1966 e 1985 foram perfurados pela Petrobras na Bacia
de Almada 14 (quatorze) poços exploratórios, 5 (cinco) na porção terrestre e 9
(nove) na plataforma continental. As informações fornecidas por estes poços
exploratórios, associados aos levantamentos gravimétricos das principais
feições estruturais e a elaboração de um modelo de evolução tectono-
sedimentar, foram publicados em relatórios internos da Petrobras (Bruhn &
Moraes, 1989).
Foi perfurado nesta bacia um total de 74 poços, de acordo com as
informações do BDEP (Banco de Dado de Exploração e Produção) segundo
Cuiñas Filho (2004), distribuídos em uma área de aproximadamente 23.000
km2, até a cota batimétrica de 3000 metros, resultando em uma densidade
aproximada de um poço exploratório a cada 310 km2. Essa densidade aumenta
para um poço a cada 116 km2, se considerarmos apenas a porção terrestre e
plataformal, até a batimetria de 400 metros. Porém quase 65 % da bacia está
situada em águas profundas e a maioria dos poços encontra-se na plataforma
continental ou na porção terrestre (Fig .2.1).

6
Figura 2.1 : Mapa de localização dos poços perfurados na Bacia de Camamu-Almada
(Fonte: BDEP Segundo Cuiñas Filho, 2004) )

A Bacia de Camamu-Almada apresenta descobertas de sete


acumulações de óleo e gás. Estas estão representadas por dois campos
terrestres: Morro do Barro (gás/óleo) e Jirituba (óleo) na Ilha de Itaparica, no
bloco baixo da falha da barra, que divide as bacias do Recôncavo e Camamu.
Em sua porção norte; por cinco acumulações marítimas; 1-BAS-128, 3-BAS-
131 e 4-ELPS-10, que fazem parte do Complexo de Manati, (gás/óleo). Em
relação às outras duas acumulações, o 1-BAS-64 está no bloco BMCAL-4 e o
1-BAS-97 é uma acumulação de óleo e gás denominada de Sardinha (Caixeta
inf verbal). As pesquisas que levaram a essas descobertas ampliam o
conhecimento da evolução geológica desta bacia.
Com relação ao campo de Manati, descoberta feita pela Petrobras em
outubro de 2000, o mesmo encontra-se em fase de conclusão de obras de

7
instalação e montagem dos equipamentos da plataforma de produção e da
estação de tratamento de gás; cuja expectativa para início de operação está
previsto para novembro de 2006.
Durante as avaliações iniciais deste campo foi revelada uma das
maiores colunas contínuas de gás já descobertas no Brasil, com cerca de 300
metros de espessura. Atualmente, sabe-se que as reservas totais de gás deste
campo são de cerca de 24 bilhões de metros cúbicos e correspondem a
aproximadamente 40% da reserva de gás da Bahia. Tal fato implicará numa
adição de mais de três milhões de metros cúbicos de gás por dia no mercado
ainda em 2006, com previsão de produção plena de seis milhões de metros
cúbicos por dia, a partir de março de 2007.
Mesmo com essas acumulações, sabe-se que do total de poços
perfurados na área, apenas 5,4 % foram descobridores de campos de óleo ou
gás, demonstrando um baixo índice de sucesso exploratório, o que a afirma a
necessidade de uma maior investigação nesta bacia, visto que o potencial
petrolífero da área é confirmado com base nas acumulações já encontradas.
Com a quebra do monopólio da Petrobras, deu inicio a participação de
empresas estrangeiras na exploração de petróleo no Brasil. Entre as bacias
sedimentares brasileiras que causaram grande interesse; está a bacia de
Camamu-Almada.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP), desde a quebra do monopólio
em 1997, disponibilizou blocos para leilão na Bacia de Camamu-Almada em
cinco dos sete leilões já realizados, assim também como áreas em um dos dois
leilões realizados especificamente para áreas inativas com acumulações
marginais. Foi oferecido um total de 25 blocos; todos em áreas com lâmina
d’água que não ultrapassam 3.000 m; onde 16 blocos foram vendidos, tendo
um índice de 64% de aproveitamento. Com relação às áreas inativas com
acumulações marginais, duas áreas foram oferecidas e vendidas (campo de
Jirituba e Campo Morro do Barro), caracterizando o grande interesse
exploratório nesta bacia.

8
CAPÍTULO III

CARACTERIZAÇÃO DA MARGEM CONTINENTAL LESTE BRASILEIRA

O continente Sul Americano em sua margem leste, caracterizada como


divergente, estende-se do leste da Venezuela ao sul da Argentina. Neste
intervalo encontra-se grande parte das bacias sedimentares brasileiras, dentre
elas as grandes produtoras de petróleo. Este domínio geológico foi originado a
partir da separação da porção oeste do Supercontinente Gondwana, a partir do
Mesozóico, que proporcionou a deriva continental das placas Sul Americana e
Africana.
Foram identificados três domínios estruturais nessa margem divergente
gerados durante a separação das placas. O primeiro denominado Domínio
Atlântico Sul é caracterizado como extensional, ocorre do sul da Argentina até
o Rio Grande do Norte. O segundo Domínio é o Atlântico Equatorial
caracterizado como transformante, o mesmo se desenvolveu com o
deslocamento lateral destral, originando um padrão de falhas oblíquas de alto
ângulo na margem equatorial atlântica que controlaram o rifteamento. O
terceiro denominado Domínio Atlântico Central é caracterizado como
extensional, estende-se desde a Foz do Rio Amazonas até o leste da
Venezuela (Fig. 3.1). O mesmo corresponde à primeira fase de rifteamento
ocorrida no Triássico (Milani & Thomaz Filho, 2000).
O diacronismo observado na margem divergente está relacionado ao
rifteamento e a abertura do Oceano Atlântico. Chang et al. (1992) atribuem
idade neocomiana para o Domínio Atlântico Sul onde teve inicio o fraturamento
crustal e começou a formar a margem sul da Argentina, estendendo-se em
direção norte e nordeste. Para os Domínios Atlântico Equatorial e Central,
diversos autores atribuem idades Aptiano-Albiano e Tarde-Triássico,
respectivamente.

III.1 – DOMÍNIO DIVERGENTE

A margem continental leste é caracterizada por apresentar a maioria das


bacias produtoras de petróleo do Brasil. Durante décadas de intenso trabalho

9
obteve-se uma extensa quantidade de dados que propiciou a identificação e
reconhecimento de muitas das suas principais feições geomorfológicas.
Na evolução tectono-sedimentar do Atlântico Sul, cinco fases são bem
marcadas. A primeira representa o início dos processos extensionais que
separaram os dois continentes. Primeiramente, formou-se uma grande
depressão, conhecida como Depressão Afro-Brasileira (Cesero & Ponte, 1997),
de ambiente deposicional de playa-lake, com presença de evaporitos. Esta
depressão foi preenchida rapidamente por um complexo pacote de leques
aluviais de clima árido e por depósitos fluviais com granulometria grossa.

10
Fig. 3.1 – A Placa Sul-Americana e seus domínios tectono-sedimentares (modificado de
Milani & Thomaz Filho, 2000).

11
Também é comum a presença de sedimentos eólicos na bacia. Nas
bacias a sul, este pacote não foi identificado, mas acredita-se que ele é
composto pela mesma seqüência sedimentar presente ao norte e/ou por
rochas vulcânicas, como ocorre na bacia do Rio Congo, no Zaire (Chang et al.,
1988). Ocorre nesta fase um afinamento crustal e um pequeno soerguimento
astenosférico distribuídos regionalmente, com presença de falhas incipientes
na crosta superior que controlam os depocentros locais, associados a amplas e
finas seqüências sedimentares (Cainelli & Mohriak, 1999) .
O inicio da segunda fase foi caracterizado pelo aumento do estiramento
litosférico, que foi contemporâneo com o desenvolvimento de grandes falhas
que afetam a crosta continental e com o intenso vulcanismo basáltico no
continente e nas bacias localizadas mais ao sul, além da formação de meio-
grábens ao longo de toda a margem continental. A sedimentação típica desta
fase se deu em bacias lacustrinas, com estiramento ao longo do rifte central,
que foram controladas por estruturas de meio-grabens. As partes mais altas
dessas estruturas que representam barreiras intrabacinais, geraram sub-bacias
e modificaram o padrão de sedimentação e distribuição de fácies (Ojeda,
1982). No final da fase rifte existe um aumento na extensão litosférica que é
caracterizado pela presença de grandes falhas, que rotacionaram os blocos do
rifte e as camadas sedimentares que tinham sido depositadas anteriormente
(Cainelli & Mohriak, 1999).
A Cadeia Meso-Atlântica é uma feição fisiográfica que representa o inicio
da intrusão da crosta oceânica no fim da fase rifte. Este mecanismo
provavelmente ocorreu por um estiramento litosférico regional, onde o foco
seria na Cadeia Meso-Oceânica. A esta fase estão associados vulcanismos
continental e oceânico, reativação de falhamentos e erosão de blocos gerados
durante o rifteamento, que nivelou as topografias e separou os ambientes
deposicionais continentais dos transicionais e marinhos (Cainelli & Mohriak,
1999). Durante o Aptiano (Andar Alagoas) uma seqüência evaporítica foi
depositada sobre a discordância regional. Estes sedimentos são típicos de
ambientes de transição continental e marinho. Nesta fase um estreito mar
aberto evaporítico foi formado ao longo de toda a costa continental brasileira a
partir da Bacia de Pelotas, resultando numa seção evaporítica com até 2000m
de espessura estimada (Chang et al., 1988). Esta fase marca tanto na margem

12
leste brasileira, como na oeste africana a primeira incursão marinha e pode
conter rochas fonte de hidrocarbonetos (Cainelli & Mohriak,1999).
Com o início da separação continental devido a formação de crosta
oceânica, desencadeou-se a formação de uma discordância regional,
denominada por Falvey 1974 (apud Davison 1999), como break up
unconformity. Esta discordância se apresenta geralmente com ângulo variando
de alto a baixo, onde a maior parte dos blocos gerados durante o rifteamento
foram afetados e posteriormente preenchidos por sedimentos sin-rifte que
antecede a superfície de inundação do Aptiano e formam um acamamento
paralelo sobrepostos a superfície de discordância (Davison, 1999). Esta
discordância foi bem detalhada por Küchle (2004), que definiu sua localização
no topo da seqüência Transicional, representando o registro do fim da fase
rifte.
Após a deposição salina durante o Aptiano (fase transicional), ocorreu
uma intensa sedimentação carbonática de alta energia durante o Albiano,
denominada fase Marinha Pós-Rifte. O modelo deposicional proposto para esta
seqüência por Chang et al. (1988) é uma típica rampa carbonática deformada
pela tectônica de remobilização salina, o que controlou a distribuição das fácies
de carbonatos de águas rasas.
Durante o Terciário ao longo da linha de charneira interna das bacias,
ocorre um rejuvenescimento da região onshore, devido a um soerguimento
periférico, resultando em um grande aporte sedimentar e na deposição de uma
espessa cunha de sedimentos siliciclásticos (Cainelli & Mohriak,1999).

13
CAPÍTULO IV

CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

A área de estudo está situada na província do São Francisco,


correspondente ao que Almeida (1977) denominou como Cráton São
Francisco, o mesmo é constituído por um núcleo de aproximadamente 650.000
km2 que permaneceu estável durante o Ciclo Orogenético Brasiliano. Este
cráton é circundado por faixas de dobramentos deformadas durante esta
orogenia, apresentando estruturas geralmente paralelas às suas bordas,
apesar de cortar em vários ângulos as estruturas pré-Brasilianas presentes no
embasamento. Estas faixas apresentam grandes falhas e dobramentos
lineares, cuja vergência apresenta-se em direção ao cráton.
Almeida (1977) definiu ainda que os limites do cráton estariam
relativamente bem determinados. A oeste, em Goiás e Minas Gerais, o limite
seria traçado ao longo do sistema de falhas inversas que compõe os intensos
dobramentos halometamórficos da Faixa Brasília. O limite sul seria
representado no grande arco com concavidade norte que representaria a
continuidade da Faixa Brasília em Minas Gerais (Faixa Alto Rio Grande,
Alkmim et al., 1993). As bordas sudeste e sul são marcadas pela faixa de
dobramentos Araçuaí, a qual inclui as estruturas da Serra do Espinhaço, em
Minas Gerais. A faixa de dobramentos Brasília oculta-se sob as coberturas da
Serra Geral de Goiás e, em direção a norte, estruturas relacionadas a ela
ressurgem na borda da bacia do Parnaíba constituindo a faixa de dobramentos
Riacho do Pontal. Em direção a nordeste o limite do cráton com a Faixa
Sergipana ofereceria poucos problemas, sendo assinalado por destacadas
falhas inversas que sobrepõem diferentes tectonogrupos, lançando-os em parte
sobre as coberturas do cráton. Por fim, a leste é limitada pela Província
Costeira.
Tal província abrange quase a totalidade do estado da Bahia e grande
parte do Estado de Minas Gerais, com limite inferido a partir de dados
geofísicos e do posicionamento dos referidos cinturões de dobramentos (Fig.
4.1). A mesma é resultado da Orogenia Brasiliana / Pan-Africana (680 – 550
Ma).

14
A Província São Francisco é composta por rochas Arqueanas colocadas
lado a lado com rochas Paleoproterozóicas através de colisões de diversos
segmentos crustais e reequilibradas metamorficamente na fácies granulito,
anfibolito e xisto-verde.
Apresenta-se como feição estrutural compressiva mais significativa o
lineamento Contendas – Jacobina de direção N-S de extensão aproximada de
800 km, a qual é resultado da imbricação de segmentos continentais
Arqueanos e Paleoproterozóicos, alem de faixas móveis Paleoproterozóicas,
estabilizado com a junção de dois diferentes domínios: oeste, representado
pelo Bloco Gavião, e leste, pelos blocos Jiquié e Serrinha e pelas faixas móveis
Itabuna – Costeiro Atlântica e Salvador – Curaçá (Teixeira et. al., 2000, Fig.
4.2).
Posicionado entre esses domínios existe duas faixas móveis
vulcanossedimentares paleoproterozóicas ao longo da zona de junção: Faixa
Jacobina-Mundo Novo, na porção norte do cráton, e Faixa Contendas-Mirante,
na porção sul.
O Bloco Gavião é composto por associações de ortognaisses, lepnitos e
anfibolitos, de seqüências supracrustais equilibradas na fácies xisto-verde
(seqüência vulcanossedimentar Contendas-Mirante, Umburanas e Mundo
Novo), além de associações tonalíticas, trondhjemíticas e granodioríticas na
fácies anfibolito (antigos núcleos TTGs), com idade Rb-Sr estimada entre 2,9-
2,8 Ga (Arqueano). O outro bloco que compõe o contexto regional é o Jiquié
que consiste de rochas plutônicas enderbíticas-charnockíticas e seqüências
vulcanossedimentares, equilibradas na fácies granulito.

15
Figura 4.1 – Mapa de contexto geológico regional do Cráton São Francisco (modificado
de Teixeira et. al., 2000 e Serviço Geológico do Brasil, 2001, CD 1).

16
Figura 4.2 - Mapa de contexto tectônico regional com localização da área de estudo (modificado de
Serviço Geológico do Brasil, 2001,CD.2 e Teixeira et. al. 2000). O perfil AA’ encontra-se na Figura
4.3.

O Cinturão Itabuna-Costeiro Atlântico, cujo prolongamento é


denominado Cinturão Salvador-Curaçá, é constituído tonalitos/trondhjemitos,
subordinadamente sharnockitos, monzogranitos e faixas de rochas
supracrustais (Fig. 4.3). Neste terreno granulítico, Barbosa (1986), caracterizou
seqüências magmáticas toleíticas, cálcio-alcalinas e shoshoníticas e pela
bipolaridade geoquímica. O autor interpretou a presença de uma zona de
subducção com mergulho para oeste, relacionada a um arco magmático ou
margem continental ativa, colidindo com o Bloco Jiquié durante o Ciclo Jiquié
(Neoarqueano, 2700-2600 Ma).

17
Figura 4.3 - Perfil esquemático mostrando a estruturação e distribuição das rochas que
compõem o embasamento cristalino (modificado de Barbosa, 1997).

A formação desse embasamento metamórfico sofre truncamento pela


instalação de um rifte abortado, de orientação N-S, durante o
mesoproterozóico, favorecendo a deposição de rochas do super grupo
espinhaço, seguido de sedimentação Neoproterozóica glacial e pelito-
carbonática do Supergrupo São Francisco.

CAPÍTULO V

CONTEXTO TECTONO-ESTRUTURAL DA BACIA DE CAMAMU-ALMADA

Neste capítulo será apresentado, separadamente, em três partes a


caracterização tectônica da Bacia de Camamu-Almada, das quais constam: a
porção emersa da Bacia de Camamu, a porção emersa da Bacia de Almada e
a porção submersa da bacia de Camamu-Almada. A divisão acima mencionada
se fez necessária para proporcionar um melhor entendimento visto que os
dados presentes na literatura são descritos de forma separada.

V.1 – PORÇÂO EMERSA DA BACIA DE CAMAMU

A Bacia de Camamu, localizada na porção leste do estado da Bahia, é


limitada a norte pelas falhas da Barra e de Itapoá, que a separa da Bacia do
Recôncavo; a sul pelo Alto de Taipus, no limite com a Bacia de Almada; a leste

18
pelo meridiano 38º W e a oeste pela falha de Maragogipe. Entre a linha de
costa e o embasamento ocorre uma faixa sedimentar de aproximadamente
20km de largura média e 140km de extensão (Fig. 5.1).
Segundo Mércio (1996), existem duas famílias de falhas compondo o
arcabouço estrutural da Bacia de Camamu. A Família 1 é constituída por falhas
normais de direção N-S a NE-SW e falhas transcorrentes N-S a NW-SE (Fig.
5.2), e a Família 2 que é constituída por falhas normais de direção E-W a NW-
SE e por falhas transcorrentes N-S a NW-SE (Fig.5.3).
Mércio (1996), identificou que as falhas que constituem a Família 1
foram fortemente influenciadas pela atitude da foliação do embasamento,
atuando principalmente nos sedimentos mais basais da bacia e formando horts
e grábens, alem de poder acarretar na formação de falhas profundas com
mergulho para leste ou para oeste. São falhas normais da Família 1 as
principais charneiras estruturais da bacia, como a Falha de Maragogipe, e as
falhas que delimitam o Alto de Camamu na porção offshore. De acordo com o
citado autor, a Família 2 é mais recente que a Família 1, pois teve atuação até
em rochas quaternárias, tendo delimitado a atual linha de costa. A mesma tive
seu desenvolvimento aproveitando descontinuidades já existentes da Família 1.
Por isso, tiveram sua geometria principalmente planar.

19
Figura 5.1: Principais estruturas do arcabouço da Bacia de Camamu (modificado de Netto
& Ragagnin, 1990).

20
Figura 5.2: Bloco diagrama ilustrando a Família 1 . A direção de distensão é
aproximadamente N70ºW. Nos planos de falhas estão representados os traços de estrias
como são vistas no campo (modificado de Mércio,1996).

Figura 5.3: Bloco diagrama ilustrando a Família 2. A direção de distensão é


aproximadamente N25ºW. Nos planos de falhas estão representados os traços de estrias
como são vistas no campo. As falhas N-S ou NE-SW da Família 1 são reativadas com
movimento predominantemente transcorrente, sinistral ou destral de acordo com sua
orientação frente ao esforço distensivo. Desenvolvem-se falhas normais neoformadas
ortogonais à distensão (modificado de Mércio, 1996).

Cuiñas Filho (2004), baseado em interpretações de imagens de satélite,


identificou na bacia a existência de um padrão bimodal nas direções de
lineamentos NNE e ESE, como um par conjugado de falhas do Cinturão Móvel

21
Itabuna – Costeiro Atlântico, e falhas de transferência de alívio de tensão,
respectivamente. Na porção mais ao norte da bacia observa-se ainda
estruturas na direção preferencial ESE, que controlam a desembocadura do
Rio Paraguaçu. Estas estruturas condizem com o padrão do Cinturão Móvel
Salvador – Curaçá.

V.2 – PORÇÃO EMERSA DA BACIA DE ALMADA

A Bacia de Almada localiza-se na porção leste do estado da Bahia. A


mesma é limitada ao norte pelo Alto de Taipus, que a separa de Bacia de
Camamu. Sua área é caracterizada por um romboedro de 200km² definido por
falhas normais de direção NE-SW, estendendo-se até a crosta oceânica. Seu
arcabouço estrutural apresenta dois sistemas de falhas, com direção NNE e
NE, que são subparalelos a linha de costa, e um outro secundário com direção
NNW, todos implantados durante o rifteamento.
Seu padrão romboédrico de falhas é definido pelas falhas da Serra da
Pilheira e do Maron, que tem direção geral N50E, de idade cretácea inferior,
fase Rifte. Estas falhas delimitam a bacia, colocando seu embasamento no
bloco alto e sua parte sedimentar no bloco baixo, o qual não apresenta
espessamento da seção rifte. Associadas a estas falhas sintéticas, ocorrem
falhas antitéticas em um sistema com direção N-S, que mergulha para oeste. A
bacia apresenta uma compartimentação interna a oeste, que se estende por
sua parte emersa com uma espessura sedimentar em média de 200m. A leste
da Falha do Apipique ocorre o compartimento central, onde a superfície do
embasamento tem forma côncava e apresenta profundidade em torno de
500m. A Falha de Aritaguá delimita externamente este bloco, que tem
movimentação normal com componente de transcorrência sinistral em relação
ao bloco baixo localizado a leste, e estende-se para além da parte emersa. O
traço desta falha visto em mapa, apresenta-se encurvado e côncavo para leste
(Netto & Sanches, 1991) (Fig. 5.4).
Cuiñas Filho (2004), identificou que o sistema de falhas na parte sul da
bacia apresenta direções preferenciais para NE refletindo a direção da Zona de
Cisalhamento Itabuna-Itaju do Colônia, formada no pré - Cambriana e reativado
no mesozóico, que controlou a formação da bacia na porção terrestre.

22
Figura 5.4: Arcabouço estrutural da Bacia de Almada. A bacia, na porção emersa, é
delimitada em três compartimentos (vide texto) (modificado de Netto & Sanches, 1991).

23
V.3 – PORÇÃO SUBMERSA DA BACIA DE CAMAMU - ALMADA

Karam (2005) caracterizou o arcabouço estrutural da bacia de Camamu-


Almada, parte submersa, em três áreas distintas por suas características
tectônicas: Porção Sul, Porção Central e Porção Norte (Fig. 5.5). A primeira,
Porção Sul, é caracterizada pela ocorrência de falhas sintéticas com direção N-
S que continuam na direção da Bacia de Jequitinhonha. Estas falhas são
localmente interrompidas por falhas de transferência de direção WNW. Próximo
à zona de cisalhamento Itabuna-Itaju do Colônia as mesmas são inflexionadas
para a direção NE. Estas falhas identificadas como de borda apresentam rejeito
na ordem de 7000m. As mesmas estão associadas a reativação de estruturas
do embasamento representadas pela zona de cisalhamento Itabuna-Itaju do
Colônia.
Nesta bacia ocorrem falhas de borda que compõem a zona de charneira
e separam a região cratônica (estável) da região onde se desenvolveram as
falhas do rifte que originaram essa zona. A mesma é formada por falhas
normais escalonadas com altos ângulos de mergulho (ver Figura 6.5).
Na segunda, denominada de Porção Central, ocorre uma estrutura relay
ramp que age como condutor de deslocamento entre falhas de borda, que
limitam esta estrutura e se estende a partir da Porção Sul e não se prolongam
na porção marinha da bacia (Fig. 5.6).
Nesta porção Netto & Sanches (1991), identificaram que na região ao
norte do Rio Almada o traço da Falha de Aritaguá, torna-se escalonado por
transcorrências antitéticas e é deslocado dextralmente em direção ao mar.
Sugere-se que a Falha de borda inflexionada em direção a Falha de Aritaguá
seja a continuação da mesma na porção offshore da bacia. As zonas de
transferência teriam se desenvolvido sobre a zona de cisalhamento Itabuna –
Itaju do Colônia aproveitando-se das descontinuidades.
Admite-se um favorecimento da entrada de sedimentos na fase rifte
devido possivelmente ao desenvolvimento do relay ramp, uma vez que ele
serve de conduto por se tratar de uma rampa, bem como, ele pode estar
servindo de via de acesso para que o óleo gerado na fase rifte migre até a
superfície. Na porção continental da bacia o plano das falhas antitéticas

24
(responsável pelo escalonamento da Falha de Aritaguá em direção ao mar) é
impregnado com óleo escuro (Netto & Sanches, 1991).
Próximo ao limite da Porção Sul com a Porção Central ocorre a
convergência de traços de falha para um único traço, ocorrendo também uma
pequena mudança de direção de NE para NNE. Karam (2005) sugere que esta
convergência pode indicar o fim da influência da Zona de Cisalhamento
Itabuna-Itaju do Colônia. Este traço único se prolonga até o limite com a Porção
Norte, onde não é mais observado, pois o embasamento da bacia está em uma
profundidade maior e as linhas sísmicas não apresentam definição. Observa-se
ainda na Porção Central, uma falha de direção NW com mergulho para NE.
Por ultimo, a Porção Norte apresenta em sua estruturação diversas
falhas, dentre estas é importante citar uma falha de borda, que passa a ser a
charneira mais externa a leste, e para oeste ocorre o desenvolvimento de uma
falha de borda mais interna, além de falhas de transferência e também de uma
falha antitética. As falhas de transferência apresentam direção WNW-ESSE
com movimentação destral e caracterizam-se pela presença de zona cega ao
seu redor. As mesmas formam o limite norte do paleocânion de Itacaré e altos
estruturais como o Alto de Camamu, que é delimitado por uma falha de borda a
leste e pela falha antitética anteriormente mencionada, caracterizando-se assim
como um horst. Azevedo et al., (1994) mencionou estas falhas como rotas de
migração de hidrocarbonetos a partir de rochas geradoras profundamente
soterradas.

25
Figura 5.5: Integração dos arcabouços estruturais do embasamento na porção marinha
(ANP/COPPE/UFRJ, 2003) e na porção terrestre (RADAMBRASIL, 1981).

26
Figura 5.6: Visualização tridimensional do embasamento da Bacia de Camamu-Almada
no Gocad. Destaque para o relay ramp limitado pelas falhas de borda.
(Adaptado e modificado RADAMBRASIL, 1981, apud Karam, 2005).

CAPÍTULO VI

ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO

VI.1 – TRABALHOS UTILIZADOS

27
Segue abaixo uma breve explanação dos principais trabalhos utilizados
para a conclusão deste capítulo.
No trabalho intitulado “Novos Coceitos sobre o Desenvolvimento das
Bacias Marginais do Leste Brasileiro”, Chang et al. (1991) enfocam que a
estratigrafia geral, do Jurássico até o Cretáceo das Bacias da Margem do Leste
brasileiro, pode ser representada por cinco megasseqüências: continental,
evaporítica transicional, plataforma carbonática rasa, transgressiva marinha e
regressiva marinha. Essas megasequências estão relacionadas ao rompimento
do continente Pangea e à evolução do Oceano Atlântico (Fig.6 1).
Em 1994, Netto et al. propõe cartas cronoestratigráficas para Bacias de
Camamu e Almada (Figs. 6.2, 6.3 e 6. 4). Este trabalho, somado com as obras
de Caixeta et al. (1994) e Vieira et al. (1994), foram escolhidos como guias
para o detalhamento litoestratigráfico.
Küchle (2004) subdivide o arcabouço estratigráfico das Bacias de
Camamu e Almada em quatro seqüências deposicionais de segunda ordem
(SEQ-A, SEQ-B, SEQ-C e SEQ-D). O autor também subdivide a seqüência rifte
(foco de seu estudo e classificada por ele como de segunda ordem) em quatro
seqüências deposicionais de terceira ordem, chamadas por ele de SEQ-B1,
SEQ-B2, SEQ-B3 e SEQ-B4 (Fig. 6.5).
Karam (2005) realizando um estudo de feições tectônicas e
sismoestratigráficas na seqüência pós-rifte da Bacia de Camamu-Almada,
subdivide a seqüência deposicional “D” de Kuchle em três seqüências
deposicionais de terceira ordem (Fig. 6.6).

VI.2 – SEQÜÊNCIAS DEPOSICIONAIS

VI.2.1 - Seqüência Permiana

Diferentemente da Bacia de Almada, a Bacia de Camamu apresenta


uma seqüência deposicional Permiana, caracterizada por sedimentos
depositados em uma grande bacia intracontinental Paleozóica.
Esta seqüência é limitada na base através de um hiato de no mínimo 2,2
bilhöes de anos com o embasamento, caracterizado por rochas granulíticas

28
arqueanas. A discordância com a Seqüência Sin-Rifte é marcada por um hiato
deposicional datada em cerca de 100 milhöes de anos (Fig.6. 2).
Para Caixeta et al. (1994), a sedimentação da seqüência ocorreu em
ambientes marinhos restritos e neríticos.
Esta seqüência é chamada de seqüência Paleozóica por Küchle (2004)
(Fig.6. 5), e é classificada pelo autor como uma sequência deposicional de 2º
ordem.

VI.2.2 - Megassequência Continental

Esta Megasseqüência Continental é constituída por três seqüências Sin-


Riftes (Sin-Rifte I, Sin-Rifte II e Sin-Rifte III), baseadas nas associações de
fácies características e estilos estruturais.

VI.2.2.1 - Seqüência Sin-Rifte I

Esta seqüência está presente nas Bacias de Camamu e Almada (Figs.


6.2, 6.3 e 6. 4). O padrão de empilhamento desses pacotes foi interpretado por
Netto et al. (1994), como uma progradação dos arenitos flúvio-eólicos-deltaicos
(Formação Sergi) sobre depósitos deltaicos-lagunares (Formação Aliança),
sucedidos por uma inundação lacustre (Formação Itaípe).
Chamada de Seqüência Jurássica por Netto et al. (1994) (Figs. 6.2 e
6.3) e de seqüência SEQ-A por Küchle (2004) a mesma é classificada por este
último autor como uma seqüência deposicional de 2º ordem (Fig. 6.5).
O topo da seqüência é marcado por uma discordância que representa a
transição Pré-Rifte/Rifte.

VI.2.2.2 – Seqüência Sin-Rifte II

Esta seqüência representa o começo da fase principal do Rifte no


Cretáceo Inferior. É representada pela Formação Morro do Barro, depositada
durante o Neocomiano em ambiente lacustre de água doce devido a uma
rápida subsidência tectônica provocada por estiramento crustal (Cuiñas Filho,
2004).

29
Chamada de seqüência SEQ-B1 por Küchle (2004), para o autor a
seqüência é classificada como de 3º ordem e apresenta três padrões de
empilhamento bem distintos (Fig. 6.7): um padrão retrogradacional na base,
representado dominantemente por folhelhos e subordinadamente, por
intercalações de folhelhos e arenitos. Sucede-se um padrão intermediário
progradante, caracterizado por arenitos maciços. Por último, um evento
retrogradante, pouco pronunciado, porém de correlação regional, representado
dominantemente por folhelhos intercalados metricamente com arenitos,
representando sistemas lacustres profundos e margens lacustres (porções
intermediárias a distais).
Segundo Küchle (2004), a seqüência é limitada no topo por um limite de
seqüência de caráter erosivo, marcando o início da deposição da seqüência
superior caracterizada pela Formação Rio de Contas (Fig. 6.5). Netto et al.
(1994) utiliza a nomenclatura K10 para designar esta seqüência deposicional
(Figs. 6.2 e6.3).

VI.2.2.3 – Seqüência Sin Rifte III

Foi depositada no Barremiano (andares Buracica-Jiquiá), cuja


sedimentação ocorreu em sistemas lacustres de rifte interior, sucedido pela
deposição fluvial e aluvial com salinidade crescente até as condições normais
do ambiente marinho. Na bacias de Camamu e Almada é representada pela
Formação Rio de Contas (Cuiñas Filho, 2004).
Küchle (2004) subdivide a seqüência Sin-Rifte III de Chang et al. (1991)
em duas seqüências deposicionais de 3º ordem, caracterizada por ele de SEQ-
B2 e SEQ-B3 (Fig. 6. 5).
A SEQ-B2 representa a parte basal da Formação Rio de Contas e
apresenta um único e marcante padrão de empilhamento, onde em toda a sua
sucessão, a diminuição de arenitos e aumento dos folhelhos, ou seja, a
sobreposição de sistemas de margens lacustres distais e lacustres profundos
sobre margens lacustres proximais, dá indícios de um padrão retrogradacional,
sob condições de nível de base crescente.
A SEQ-B3 compreende o topo da Formação Rio de Contas, de idade
Barremiana a Aptiana, ou Buracica a Jiquiá na geocronologia local.

30
Faciologicamente, a seqüência é composta por folhelhos e arenitos com
conteúdo subordinado de carbonatos. Interpretações relacionadas a sistemas
deposicionais indicam uma semelhança com a SEQ-B2, onde as intercalações
de folhelhos e arenitos seriam correspondentes a registros de sistemas de
margem lacustre, enquanto que sucessões com dominância de folhelho seriam
indicativas de sistemas de lago profundo. O padrão geral da sucessão SEQ-
B2/SEQ-B3 é transgressivo (empilhamento retrogradacional), pontuado por um
breve e, regionalmente não muito extenso, momento regressivo (Fig. 6.7).
Kuchle (2004) ainda identificou na SEQ-B3, uma superfície de inundação
máxima (SIM-B) da seção rifte (2º ordem) que é também uma Superfície de
Inundação Máxima (SIM) de terceira ordem da SEQ-B3 (Figs. 6.5 e 6.8).
A discordância que marca o limite de seqüência entre a SEQ-B2 e SEQ-
B3 nem sempre é identificada na sísmica devido ao padrão de empilhamento
semelhante entre as duas seqüências. Já o limite de seqüência da SEQ-B3
com a Formação Taipus-Mirim (Megassequência Transicional) é marcado pelo
caráter erosivo nas porções proximais, onde depositaram sedimentos arenosos
sobre uma superfície erosiva de caráter regional (Küchle 2004).
Netto et al. (1994) utiliza a nomenclatura K20-K30 para designar esta
seqüência deposicional.

VI.2.3 – Megasseqüência Transicional Evaporítica

Esta megasseqüência foi depositada durante o Andar Alagoas (Aptiano).


É formada por sedimentos característicos de transição entre ambientes
continentais e marinhos, sendo depositada sobre uma ampla discordância pós-
rifte, responsável pela peneplanização geral da topografia rifte (Chang et al.,
1991).
Para Netto et al. (1994), a transição para o estágio marinho se dá nas
Seqüências K40-K50 (Formação Taipus-Mirim) (Figs. 6.2, 6.3 e 6.4). Esta
formação é composta por arenitos, por vezes maciços, quando ocorrem em
posições mais proximais. Ocorrem também intercalações de arenito, folhelhos
e conglomerados, mas é a ocorrência de evaporitos na parte superior da
seqüência que é a feição determinística para a caracterização da seqüência.

31
Esta Megassequência Transicional corresponde à sequência SEQ-B4 de
Kuchle (2004) (Figs. 6.5 e 6.8).
Netto et al. (1994) e Küchle (2004) dizem que as associações
faciológicas com predominância de arenitos caracterizam sistemas marginais
lacustres proximais e fluviais, enquanto as associações com predominância de
folhelhos indicam sistemas lacustres distais. Os conglomerados estão
relacionados aos sistemas de leques associados aos falhamentos, e os
evaporitos e sucessões faciológicas siliciclásticas foram depositados em
ambiente marinho raso, marcando indícios da primeira incursão marinha na
bacia.
Küchle (2004) observa que o padrão de empilhamento padrão da
seqüência é agradacional (Fig. 6.7). Na seqüência ocorrem domos de sal em
regiões de águas profundas, devido ao deslocamento do sal das partes mais
rasas em direção as águas mais profundas, o que indica que estes movimentos
são posteriores a deposição da SEQ-B4.
O contato superior desta megasseqüência com a Megasseqüência
Carbonática de Plataforma Rasa se dá por uma discordância de caráter
erosivo.

VI.2.4 - Megasseqüência Carbonática de Plataforma Rasa

Esta megasseqüência compreende litoestratigraficamente a Formação


Algodões. De idade Albiana a Turoniana, a mesma abrange um período de
deposição de 22 milhões de anos. Faciologicamente, é composta
dominantemente por calcirruditos e calcarenitos com intercalações
subordinadas de arenitos e folhelhos e calcilutitos com foraminíferos
planctônicos (Netto, et al., 1994) (Figs. 6.2, 6.3 e 6.4).
Kuchle (2004) relata que conforme pode ser visto em seções sísmicas
utilizadas pelo autor, a SEQ-C (seqüência equivalente a Magassequência
Carbonática de Chang et al., 1991) é extremamente localizada, onde ela ocorre
na forma de “ilhas” dispersas e desconectadas. Suas espessuras não são
expressivas, ficando em média em 100 metros. Esta pouca expressividade
dimensional da SEQ-C é atribuída ao regime erosivo imposto no limite entre as

32
seqüências SEQ-C e SEQ-D (equivalentes às Megasseqüências Carbonática e
a Marinha Transgressiva), que escavou praticamente toda a SEQ-C.
Karam (2005) com base em dados de poços da literatura, sugere de
modo geral que o Membro Germânia na Bacia de Camamu-Almada foi
depositado em ambiente nerítico raso e o Membro Quiepe, num ambiente
nerítico profundo a batial superior. Em um perfil de poço localizado em sua
área de estudo (Bacia de Almada), a autora observou o caráter transgressivo
de 2º ordem da seqüência.
Netto et al. (1994) utilizam a nomenclatura K40-K50 para designar esta
megassequência deposicional (Figs. 6.2, 6.3 e 6.4).
O contato superior desta Megassequência com a Megassequência
Marinha Transgressiva se dá por uma discordância de caráter erosivo regional
e intenso, chamada Pré-Urucutuca (ou Sub-Urucutuca) (Figs. 6.5, 6.6 e 6.8).

VI.2.5 – Megasseqüência Marinha Transgressiva

Implantada entre o Cenomaniano e o Oligoceno, a Megasseqüência


Transgressiva Marinha é caracterizada pelos sedimentos de talude da
Formação Urucutuca, onde o conjunto completo de fácies marinhas compõe o
Grupo Espírito Santo (Figs. 6.2, 6. e 6.4).
Chang et al. (1991), associa a Megasseqüência Marinha Transgressiva
com o aprofundamento das bacias da margem leste, acompanhados por
transgressões marinhas, que resultaram no afogamento da plataforma
carbonática de alta energia no final do Albiano.
Segundo Vieira et al. (1994), esta seção assemelha-se à da bacia do
Espírito Santo, de onde foi adotada a litoestratigrafia formal.
Para Netto et al. (1994), a subdivisão deste grupo em seqüências não é
uniforme nas bacias de Jacuípe, Camamu e Almada, em função de
particularidades locais nas discordâncias provocadas por rebaixamentos
relativos diferenciados do nível do mar. Os autores utilizam a nomenclatura
K90-T20 para designar este intervalo deposicional (Figs. 6.2, 6.3 e 6.4).
Küchle (2004) considera as Megasseqüências Marinhas Transgressiva e
Regressiva (descrita a seguir), como uma única seqüência de 2º ordem,
chamada por ele de seqüência SEQ-D (Figs. 6.5 e 6.7). Segundo o autor a

33
seqüência SEQ-D apresenta um padrão progradante ao longo de sua seção,
padrão esse que é observado por ele em seção sísmica na forma de
clinoformas progradantes condicionando a configuração plataformal atual.
Baseado na interpretação exposta acima por Küchle (2004) chega-se a
seguinte pergunta: Porque o autor não subdivide a seqüência marinha
(chamada por ele de SEQ-D) em duas sequências distintas de 2º ordem,
(sendo uma transgressiva e outra regressiva) como fizeram Netto et al. (1994)
e Chang et al. (1991)? A subdivisão pode ter sido impossibilitada por escassez
de dados sísmicos ou pela escala de estudo?
Pelo fato da sedimentação pós-rifte apresentar importantes
reservatórios nas bacias da margem continental brasileira, essa sequência já
foi estudada por diversos autores. Como exemplo podem ser citados os
trabalhos de Karam (2005) e D’AVILA et al. (2004).
Karam (2005, Fig. 6.6) em seu trabalho, que visam compreender a
implantação do Paleocânion de Itacaré, realizam um detalhamento
sismoestratigráfico da seqüência SEQ-D de Küchle (2004). A autora subdivide
esta seqüência em três sismoseqüências de 3º ordem (SS-D1, SS-D2 e SS-D3,
Figs. 6.6 e 6.8). Cronologicamente, a seqüência SS-D1 e parte da sequência
SS-D2 se enquadram na Megassequência Marinha Transgressiva (Fig. 6.8),
enquanto que a sequência SS-D3 se enquadra na Megassequência Marinha
Regressiva (descrita a seguir).
Analisando a subdivisão da seqüência de 2º ordem de Küchle em
seqüências de terceira ordem por Karam surgem novos questionamentos:
Porque os dados sísmicos e de poços utilizados pela autora indicam que a
transição entre as seqüências marinhas transgressiva e regressiva aconteceu
no limite Eoceno/Paleoceno (aproximadamente 57 milhões de anos) e não a 50
milhões de anos (Eoceno Médio) como relatam os trabalhos de Chang et al.
(1991) e Netto et al. (1994)? Seriam novamente a escassez de dados sísmicos
ou pela escala de estudo como relatado acima?
D’avila et al. (2004) basearam-se em dados sísmicos e de poços da área
para afirmarem que o canyon teve como causa inicial o controle tectônico, ao
contrário de outros trabalhos que relatam que a origem do canyon foi originado
apenas pela escavação provocada durante a passagem de inúmeras correntes
de turbidez.

34
VI.2.6 – Megasseqüência Marinha Regressiva

A deposição desta megassequência teve início a partir do Oligoceno,


onde ocorrem nas bacias de Camamu e Almada fácies marginais progradantes
das formações Caravelas e Rio Doce do Grupo Espírito Santo (Figs. 6.2, 6.3 e
6.4).
Netto et al. (1994) utilizam a nomenclatura T30-T60 para designar esta
megasseqüência deposicional (Figs. 6.2 e 6.3).
Como visto acima, parte da seqüência SS-D2 (3º ordem) e toda
seqüência SS-D3 (3º ordem) de Karam (2005), enquadrou-se
geocronologicamente na megassequência Marinha Regressiva de Chang et al.
(1990).

35
Figura 6.1: Megasseqüências estratigráficas das bacias marginais do Leste Brasileiro (Chang et al. 1991).

36
Figura 6. 2: Carta estratigráfica proposta por Netto et al. (1994) para a bacia de Camamu.

37
Figura 6.3: Carta estratigráfica proposta por Netto et al. (1994) para a bacia de Almada.

38
Figura 6.4: Cartas Estratigráficas das Bacias de Camamu e Almada integradas
(modificadas de Netto et al., 1994). Notar a ausência da Seqüência Paleozóica (Formação
Afligidos) na Bacia de Almada e a semelhança no empilhamento estratigráfico entre as
duas bacias a partir do Eo-Cretáceo.

39
Figura 6.5: Seção geológica esquemática da Bacia de Camamu-Almada (Fonte: ANP, 2000).

40
Figura 6.6: Seqüências deposicionais propostas por Küchle (2004) para as Bacias de
Camamu, Almada e Jequitinhonha.

41
Figura 6.7: Seqüências deposicionais propostas por Karam (2005) a partir do topo da
seqüência C, para as Bacias de Camamu, Almada e Jequitinhonha.

42
Figura 6.8: Padrões de empilhamento observados por Küchle (2004) nas seqüências
deposicionais formadoras da seção rifte (SEQ-B1 a SEQ-B4).

43
Figura 6. 9: Integração das seqüências deposicionais propostas por Chang et al( 1991), Netto et. al.(1994), Küchle (2004) e Karam (2005).
(Modificado de Chang et al (op.cit.), Netto et al. (op cit), Küchle (op. cit) e Karam (op.cit)).

44
VI.3 – DESCRIÇÃO ESTRATIGRÁFICA DAS UNIDADES

VI.3.1 – Embasamento

O embasamento é composto por rochas granulíticas arqueanas


retrabalhadas durante o Ciclo Transamazônico (aproximadamente 2500 Ga) e
que compõe o Orógeno ou Bloco Itabuna-Salvador-Curuçá situado na porção
leste do Cráton do São Francisco (Barbosa & Sabaté 2002, apud Karam,
2005).

VI.3.2 – Formação Afligidos

Esta Formação ocorre somente na Bacia de Camamu e é constituída


pelos Membros Pedrão e Cazumba (Figs 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). O Membro Pedrão
é caracterizado por arenito fino a muito fino cinza-claro a bege, intercalado com
siltito cinza-claro, rico em nódulos de sílex e camadas de anidrita e halita. É
admitido para as rochas desse membro, deposição em ambiente litorâneo
restrito. O Membro Cazumba é composto por folhelho vermelho de partição
blocosa, com níveis sílticos esbranquiçados. É admitido para as rochas desse
membro, deposição em ambiente lacustre. Os contatos, tanto superior com a
Formação Aliança, quanto inferior com o embasamento, discordantes.
Datações bioestratigráficas realizadas com palinomorfos indicam idade
Permiana para estes estratos (Caixeta et al., 1994).

VI.3.3 – Grupo Brotas

Este grupo foi definido na Bacia do Recôncavo por Viana et al. (1971,
apud Caixeta et al., 1994) e abrange as Formações Aliança e Sergi (Figs. 6.2,
6.3 e 6.4). Devido a semelhança litoestratigráfica dessa unidade com os
sedimentos neojurássicos da Bacia do Recôncavo, foram adotadas as mesmas
nomenclaturas. No caso da Bacia de Camamu, soma-se a este grupo a
Formação Itaípe, de idade Berriasiana, representante da transição Pré-
Rifte/Rifte na bacia.

45
VI.3.3.1 – Formação Aliança

A Formação Aliança é constituída pelos Membros Boipeba e Capianga


(Figs. 6.1, 6.2 e 6.5). O Membro Boipeba é composto por um arenito arcoseano
fino a médio, vermelho e marrom, com estratificação cruzada (Fig. 6.2). O
Membro Capianga é composto por folhelho vermelho-tijolo e na Bacia de
Camamu está sobreposta discordantemente à Formação Afligidos. Seu contato
superior com a Formação Sergi é concordante. A deposição ocorreu em
ambiente flúvio-lacustre de clima árido. Datações bioestratigráficas baseadas
em ostracodes indicam idade Tithoniana para estes estratos (Caixeta et al.,
1994).

VI.3.3.2 – Formação Sergi

A Formação Sergi é composta por arenito fino a conglomerático, cinza-


esverdeado e vermelho, com estratificação. Podem ocorrer intercalações de
folhelho vermelho, cinza esverdeado e conglomerado. A deposição ocorreu em
sistema fluvial entrelaçado com retrabalhamento eólico (Fotos 3, 4 e 5).
Apresenta contatos transicional com a Formação Itaípe e concordante com a
Formação Aliança (figuras 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). Datações bioestratigráficas
baseadas em ostracodes indicam idade Tithoniana para estes estratos (Caixeta
et al., 1994).

46
Foto 6.1 - Arenitos eólicos e Fluviais da Fm Aliança / Mb Boipeba. Coordenadas:
X=485386/ Y=8455506

Foto 6.2 - Dunas eólicas da Fm Aliança / Mb Boipeba. Coordenadas: X=514186/


Y=8578716. Observar as estratificações cruzadas.

47
Foto 6.3 - Arenitos eólicos da porção basal Fm Sergi. Coordenadas: X=479657/
Y=8380571

Foto 6.4 - Arenitos Fluviais da Formação Sergi (Bacia de Almada). Coordenadas:


X=492337/ Y=8386428

48
VI.3.3.3 – Formação Itaípe

A Formação Itaípe representa a transição pré-rifte/rifte (Figs. 6.2, 6.3, 6.4


e 6.5) e é composta por folhelhos cinzentos com intercalações marrom-
avermelhadas na base e castanhas no topo. É composta por camadas de
arenito médio a fino texturalmente submaturos no terço central do pacote.
Apresenta contato superior discordante com a Formação Morro do Barro,
sendo o contato basal com a Formação Sergi de caráter transicional. A
espessura máxima perfurada é de 466 metros na Bacia de Camamu. Datações
bioestratigráficas baseadas em ostracodes indicam idade Berriasiana para
estes estratos. Apresenta correlação com as Formações Itaparica e Água
Grande do Recôncavo, e com a porção basal da Formação Barra de Itiúba (BIT
VII) da Bacia de Sergipe-Alagoas (Netto et al., 1994).

VI.3.4 – Formação Morro do Barro

Esta formação foi redefinida por Netto et al. (1994) para abrigar os
Membros Tinharé e Jiribatuba (Figs. 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). O Membro Tinharé é
composto por clásticos grosseiros (arenitos granulosos com seixos e grânulos
pelíticos), enquanto que o Membro Jiribatuba é composto por clásticos finos
(folhelhos cinza-esverdeado a castanha escuro, calcífero, carbonoso, com
intercalações de arenito granuloso rico em fragmentos de rochas carbonáticas).
O contato superior com a Formação Rio de Contas, e o basal com a Formação
Itaípe são discordantes. Datações bioestratigráficas baseadas em ostracodes
não marinhos indicam idade Valanginiana para estes estratos. Postula-se uma
sedimentação dominantemente subaquosa, dominada por fluxos gravitacionais
em lago tectônico. Pode ser correlacionada com parte da Formação Candeias
das Bacias do Recôncavo e Tucano e com parte das Formações Penedo e
Barra de Itiúba das Bacias de Sergipe e Alagoas (Netto et al., 1994).

VI.3.5 – Formação Rio de Contas

A Formação é composta por rochas sedimentares clásticas e


carbonáticas. Está sobrepostas discordantemente à Formação Morro do Barro

49
e parcialmente discordante no topo com a Formação Taipus-Mirim. É
subdividida em dois membros: Ilhéus e Mutá (Figs. 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). O
Membro Ilhéus é caracterizado por folhelhos cinza-esverdeados, cinza-escuros
e acastanhados, associado a arenito muito fino. O Membro Mutá é
caracterizado por arenito cinza esbranquiçado, fino a grosso, conglomerático a
dolomítico, podendo apresentar marga esbranquiçada, biocalcarenito e
dolomito dispersos na seção, sendo mais contínuos na metade inferior da
formação. Datações bioestratigráficas baseadas em ostracodes indicam idade
Hauteriviana a Barremiana e a variação faciológica das áreas proximais para o
depocentro da bacia sugere uma seqüência lacustre de leques deltáicos-
plataforma e talude. Pode ser correlacionada com a Formação Coqueiro Seco
e parte da Formação Penedo das Bacias de Sergipe e Alagoas e com parte da
Formação Cricaré da Bacia do Espírito Santo (Netto et al., 1994).

VI.3.6 – Formação Taipus-Mirim

Esta formação apresenta dois Membros: Serinhanhém e Igrapiúna (Figs.


6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). O Membro Serinhanhém apresenta intercalações
irregulares de pouca espessura de arenito cinza-claro a castanho e preto,
micáceo e carbonoso. O Membro Igrapiúna é formado por calcários castanhos
e amarelos, dolomíticos, folhelhos castanhos e camadas de até 200m de halita.
A Formação está sotoposta concordantemente aos carbonatos da Formação
Algodões e sobreposta de maneira parcialmente discordante aos clásticos e
carbonatos da Formação Rio de Contas. Nas partes mais profundas da Bacia
de Camamu e Almada, os dados sísmicos indicam a presença de halocinese.
Em direção ao topo destaca-se a presença de anidrita, diferenciada em uma a
três camadas, com espessura de dezenas de metros. Na borda da bacia, o
nível de anidrita principal dá lugar a uma jazida de barita. É interpretado que
esta Formação representa a primeira incursão marinha em clima árido.
Datações bioestratigráficas baseadas em palinomorfos indicam idade Aptiana.
É correlacionada com a Formação Muribeca e Sergipe e com as demais
unidades evaporíticas de idade Aptiana da costa brasileira (Netto et al., 1994).

50
VI.3.7 –Formação Algodões

Caracterizada pelos carbonatos sotopostos à Formação Urucutuca.


Apresenta dois Membros: Germânia e Quiepe (Figs.s 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). O
Membro Germânia é composto por calcarenito e calcirrudito oolítico e pisolítico,
em parte dolomitizado. O Membro Quiepe é formado por calcilutito com
foraminíferos planctônicos. Apresenta contato inferior com a Formação Taipus-
Mirim concordante e contato superior com a Formação Urucutuca marcado por
importante discordância regional. Datações bioestratigráficas baseadas em
foraminíferos, nanofósseis calcários e palinomorfos, indicam idade Albiana. O
ambiente deposicional é nerítico, em plataforma carbonática. Pode ser
correlacionada com a Formação Macaé da Bacia de Campos, com a Formação
Regência das Bacias do Espírito Santo e Cumuruxatiba, com a Formação
Riachuelo da Bacia de Sergipe e com as outras unidades carbonáticas
Albianas das bacias costeiras brasileiras (Netto et al., 1994).

VI.3.8 – Grupo Espírito Santo

Constituído pelas Formações Urucutuca, Rio Doce e Caravelas, este


grupo foi formalizado por Asmus (1971, apud Vieira et al., 1994) para a Bacia
do Espírito Santo. Dada a semelhança litoestratigráfica da seção mais nova,
neocretácea e terciária das Bacias de Camamu e Almada com o Grupo Espírito
Santo, foi adotada a mesma nomenclatura estratigráfica para estas rochas.

VI.3.8.1 – Formação Urucutuca

Esta formação foi definida originalmente na Bacia do Rio Almada por


Carvalho (1965, segundo Vieira et al., 1994). A mesma é constituída por
folhelho cinza-escuro intercalado com conglomerado, calcário e arenito. Há um
aumento, nas porções mais distais da plataforma continental de sedimentos
pelíticos sobre clásticos grossos e carbonáticos. Os contatos superior e lateral
com as Formações Rio Doce e Caravelas são transicionais e caracterizados
pelo aumento gradativo de arenito ou calcários (Figs. 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5).

51
Na porção continental da Bacia de Almada afloram rochas da Formação
Urucutuca, cujos canais turbidíticos preencheram um canyon, hoje semi-
exudado, encravado no embasamento e em rochas sedimentares pré-
cenomonianas (D’ AVILA et al., 2004, Foto 6.5).
Pode ser correlacionada às Formações Ubatuba da Bacia de Campos,
Itajaí-Açu e Marambaia da Bacia de Santos, Calumbi da Bacia de Sergipe-
Alagoas e Ubarana da Bacia Potiguar (Vieira et al., 1994).

VI.3.8.2 – Formação Caravelas

Esta formação foi definida por Asmus (1971, apud Vieira et al., 1994) e é
constituída dominantemente por calcarenito bioclástico (algas vermelhas,
foraminíferos, briozoários e corais) creme e cinza e calcilutito argiloso creme.
Apresenta contatos superior, inferior e lateral com as formações Urucutuca e
Rio Doce, gradacional (Figs. 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5). Baseada na presença de
foraminíferos bentônicos atribui-se uma idade terciária para a Formação
Caravelas, entre Meso-Eoceno e Holoceno. A deposição ocorreu
predominantemente em plataforma carbonática rasa. Pode ser correlacionada
com a Formação Mosqueiro da Bacia de Sergipe-Alagoas e com o Membro
Grassaí e Siri da Formação Emborê da Bacia de Campos (Vieira et al., 1994).

52
Foto 6.5: Visão geral de afloramento em Sambaituba (Ilhéus-BA) onde aparecem canais turbidíticos preenchidos por congomerados e arenitos,
erodindo e sendo recobertos por heterólitos areno-lamosos de marés (Fonte: D’ AVILA et al., 2004).

53
VI.3.8.3 – Formação Rio Doce

Como a Formação Caravelas, esta formação foi definida por Asmus


(1971, apud Vieira et al., 1994) sendo constituída predominantemente por
arcóseo hialino, médio a muito grosso, com intercalações de folhelho cinza-
escuro a preto e argilito cinza-esverdeado. Apresenta contato inferior
gradacional com as Formações Urucutuca e Caravelas (Figs. 6.2, 6.3, 6.4 e
6.5). O contato com os clásticos continentais da Formação Barreiras e
depósitos aluviais quaternários é discordante. A deposição ocorreu em
ambiente marinho por leques costeiros. É correlacionada com a Formação
Marituba da Bacia de Sergipe-Alagoas e com o Membro São Tomé da Bacia de
Campos (Vieira et al., 1994).

VI.3.9 – Formação Barreiras

Segundo Netto et al. (1994), esta formação foi definida por Moraes Rego
(1930) e formalizada por Viana et al. (1971).
Nas bacias de Camamu e Almada, a mesma está representada por
conglomerado organizado com seixos perpendiculares à direção da
paleocorrente, arenitos maturos, lamitos vermelhos com crostas de limonita e
diamictitos. Datações bioestratigráficas baseadas em dicotiledôneas indicam
idade Pliocênica (Netto et al., 1994).

CAPÍTULO VII

SISTEMAS PETROLÍFEROS

Segundo Magoon (1994), a definição de um sistema petrolífero em uma


bacia sedimentar trata-se da relação genética entre uma determinada rocha
geradora e as acumulações de óleo e gás resultantes. Tal definição engloba
ainda elementos e processos que controlam a existência de hidrocarbonetos
numa bacia sedimentar; cujos elementos essenciais são as rochas geradoras,
reservatório e selante; assim como sobrecarga sedimentar e o trapeamento. Os

54
processos incluem a formação da trapa e a geração, migração e acumulação
do petróleo. A aplicação do conceito de sistemas petrolíferos forneceu uma
análise racional da pesquisa petrolífera na formulação de plays e prospectos,
bem como na avaliação do risco envolvido na exploração.
Com relação a Bacia de Camamu-Almada poucos são os trabalhos
publicados que abordem tal tema. Sabe-se, porém, que a evolução tectono-
sedimentar meso-cenozóica da margem continental brasileira foi a principal
responsável pelo desenvolvimento dos sistemas petrolíferos da Bacia de
Camamu-Almada, onde são classificados como sistema petrolífero pré-rifte e
sin-rifte (Mello et al 1994). Segundo estes autores os dois mais importantes
sistemas petrolíferos da bacia são: o sistema Morro do Barro–Sergi (!)* e o
sistema Morro do Barro-Rio de Contas(!)*. Sendo o primeiro exemplificado pela
acumulação do 1-BAS-64, com cerca de 94 milhões de barris de óleo in place e
o segundo pela acumulação do 1-BAS-97, com 57 milhões de barris de óleo
equivalente in place (Mello et. al , 1995).

VII.1 – ROCHAS GERADORAS

As rochas geradoras são os elementos mais importantes e fundamentais


para a ocorrência de hidrocarbonetos (HC) em significativas quantidades. São
rochas ricas em conteúdo de matéria orgânica que submetidas a adequadas
temperatura e pressão, irão gerar o petróleo e/ou gás, em subsuperfície.
Na possibilidade da ausência deste elemento não há na natureza meios
de substituí-lo, bem diferente são os outros cinco elementos de um sistema
petrolífero, que mesmo estando ausentes, podem ser compensados por
exceções ou coincidências geológicas.
A ausência de fósseis marinhos associada à presença de ostracodes
não marinhos e ao contexto geológico regional na bacia de Camamu-Almada,
indicam que as formações Morro do Barro e Rio de Contas depositaram-se
numa bacia lacustre durante a extensão crustal (Neto & Ragagnin,1990) (Fig
7.1).
De acordo com Gonçalves (2001), a matéria orgânica de origem lacustre
é responsável por mais de 90% de petróleo do Brasil. As bacias lacustres

55
devido ao menor tamanho dos corpos d’água possuem maior susceptibilidade
às mudanças ambientais; suas geradoras tendem a apresentar variações
laterais e verticais de fácies e de características geoquímicas mais abruptas do
que as de origem marinha (Soreghan & Cohen apud Gonçalves, 2001).
As rochas geradoras lacustres costumam apresentar uma menor
extensão geográfica e um maior grau de variabilidade composicional e de
potencial petrolífero, isto devido aos fatores climáticos e tectônicos que
afetam tanto os sistemas deposicionais como as características físico-químicas
da coluna d´ água, a natureza da biota, a produção e as condições de
preservação da matéria orgânica (Kelts, 1988 apud Gonçalves, 2001).
Estas rochas geradoras lacustres são tidas como constituídas por
querogênio tipo I (Espitalié et al 1977; Tissot & Welte,1994) caracterizados por
ser rico em hidrogênio e assim apresentar maior potencial para geração de
hidrocarbonetos líquidos comparados aos querogênio do tipo II (marinho) e tipo
II (origem terrestre).

56
Figura 7.1: Coluna estratigráfica da seqüência rifte dos poços estudados por Gonçalves
et. al. (1997).

As formações Morro do Barro e Rio de Contas apresentam intervalos


ricos em matéria orgânica e potencial para a geração de volumes comerciais
de hidrocarbonetos. Tais rochas se apresentam localmente em espessos
pacotes, porém regionalmente a espessura destes pacotes varia
drasticamente, em função das variações faciológicas da seção rifte.
Análises geoquímicas realizadas por Gonçalves et. al. (1997) em poços
da Bacia de Camamu-Almada caracterizaram as formações Morro do Barro e
Rio de Contas, onde a matéria orgânica nestas unidades é basicamente de
origem fitoplanctôncia e/ou bacteriana, cujas variações no índices de
hidrogênio e oxigênio refletem a alternância entre condições anóxicas
(redutoras) e oxidas durante a sedimentação. A reconstituição paleolimológica
realizada por estes autores indicou que a Formação Morro do Barro (Idade Rio
da Serra) foi depositada em condições de lago profundo, com águas doces a

57
salobras, uma termoclina estável e relativamente rasa e a maior parte da
coluna d’água anóxida, o que favoreceu a preservação da matéria orgânica e o
desenvolvimento de rochas geradoras com altos índices de hidrogênio. Já os
sedimentos da formação Rio de Contas depositaram-se em um lago mais raso
e amplo, com águas doces a salgadas, uma termoclina mais profunda e
instável, e uma melhor reciclagem dos nutrientes, resultando num aumento
significativo da produtividade primária e na formação de rochas geradoras com
altos índices de carbono orgânico. Ambas as formações foram depositadas
respectivamente, durante a fase rifte no Neocomiano inferior.
Segundo Mello et al (1994), que estudaram poços da seção sin-rifte
(BAS-64) e pré-ritf (BAS-97), os folhelhos da Formação Morro do Barro são
caracterizados por uma espessa sucessão (superior a 700m) e apresentam alto
teor de matéria orgânica (COT) variando de 2 a 10% (matéria orgânica
principalmente amorfa e herbácea). O potencial de geração de hidrocarbonetos
(o pico S2 da pirólise Rock Eval) excede, nos intervalos mais ricos, 60-80 Kg
HC/ton rocha, o IH superior á 1000mg HC/gCOT e δ13C acima de -29% (Fig
7.2). Os parâmetros geoquímicos caracterizam querogênio do tipo I.
Os dados de biomarcadores dos óleos recuperados do BAS-97 e os
extratos orgânicos dos folhelhos negros da Formação Morro do Barro apontam
para uma boa correlação entre eles. As feições moleculares diagnósticas
dessas amostras são: dominância de n-alcanos de alto peso molecular,
pristano muito mais alto do que fitano, dominância de n-alcanos ímpar/par,
baixa concentração de isoprenóides acíclicos, Ts mais alto que Tm, ausência
de bisnorhopano 28-30, dinosterano e esteranos C30, escassez de esteranos
com dominância de C29 acima dos correlatos, presença de gamacerano e altas
razões de hopano/esterano (>15). Essas características são suficientes para
discriminar o ambiente lacustre de água doce (Fig.7.3a) (Mello et al., 1988;
Mello & Maxwell,1990).

58
Figura 7.2: Variação dos teores de COT, índice de hidrogênio e razão isotópica do
carbono da matéria orgânica (δ13C) ao longo da seqüência rifte no poço estudado por
Gonçalves (2001) da Bacia de Camamu- Almada.

Os folhelhos flúvio-deltáicos da Formação Rio de Contas (Mb. Ilhéus),


apresentam teor de matéria orgânica que podem alcançar 10% em águas
profundas; IH em torno de (400-800mg HC/gCOT) e δ13C varia entre –29%
para -23%. Segundo análise visual de querogênio, o mesmo possui dominância
de matéria orgânica amorfa e de acordo com dados de reflectância de vitrinita,
Tmax (Temperatura máxima) e índice de coloração de esporos, se encontra
imatura (Gonçalves et al, 2000). Dados de biomarcadores obtidos através de
extratos de amostras de rochas mostram razões de hopano/esterano em torno
de 1 a 7.

59
Figura 7.3: Cromatograma gasosos e cromatograma de massas (m/z191 e m/z 217) de (a) um extrato da formação morro do Barro e (b) uma
amostra de óleo da bacia de Camamu-Almada (Gonçalves et. al ;2000).

60
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

VII.2 – TRAPAS, ROCHAS RESERVATÓRIOS E ROCHAS SELANTES

As trapas são configurações geométricas de estruturas das rochas


sedimentares que permitem a focalização dos fluídos migrantes nos arredores
para locais elevados, que não permitam o escape futuro de fluídos
(hidrocarboneto) obrigando-os a se acumularem lá (Milani et al., 2000).
As rochas reservatórios são normalmente litologias compostas por
material detrítico de granulometria fração areia e seixo, representantes de
antigos ambientes sedimentares de alta energia, portadores de espaço poroso
onde o hidrocarboneto é armazenado. Porém toda rocha que contenha espaço
poroso, não necessariamente intergranular, de natureza diversa causado por
fraturamento ou dissolução também pode às vezes se passar por uma rocha
reservatório.
As rochas selantes possibilitam a impermeabilização tal que o
hidrocarboneto armazenado no reservatório não escape. Estas normalmente
são de granulação fina (folhelhos, siltitos, calcilutitos) ou qualquer rocha de
baixa permeabilidade.
Os reservatórios da bacia de Camamu-almada são os arenitos flúvio
eólicos da Formação Sergi, os arenitos desenvolvidos em ambientes de leques
aluviais ou lacustres das formações Morro do Barro e Rio de Contas e os
arenitos turbidíticos da Formação Urucutuca.
Grande parte do petróleo da bacia de Camamu-Almada foi encontrado
em reservatórios da Formação Morro do Barro (75% do volume de óleo in
place), seguido pela Formação Sergi (aproximadamente 25% do volume
original) e Formação Rio de Contas (Gonçalves et al; 2000).
Na bacia de Camamu–Almada os sistemas petrolíferos são
caracterizados por plays segundo as seqüências pré rifte, rifte e drifte. As
trapas para a seqüência pré-rifte podem ser exclusivamente estruturais,
associadas à blocos basculados (horts ou meio-grabens) ou mistas, no caso de
terem um componente estratigráficos, representadas por discordâncias. Na
seqüência rifte, as trapas são mistas, representadas por rollovers associados a
falhas lístricas. Na seqüência drifte, as trapas são estratigráficas, constituídas
por envoltórios de folhelhos nas seções turbidíticas, restritas ao ambiente de
talude.

61
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

Seqüência pré-rifte – plays caracterizados por trapas estruturais (horts


ou meio-grabens basculados) (Silva, 2005). O petróleo é trapeado por arenitos
fluviais e eólicos da formação Sergi do Neo-Jurássico, em contato com o bloco
baixo de uma grande falha regional (Fig 7.4a).
As principais fácies dos reservatórios dessa seqüência são arenitos
grosseiros com porosidade entre 14 a 23% e permeabilidade acima de 500 md,
intercalado com arenito fino a grosso com porosidade entre 3-15% e
permeabilidade acima de 7 md. O reservatório está em contato lateral direto
com o embasamento que forma um selo juntamente com folhelhos lacustres da
Formação Itaípe (Gonçalves et al; 2000).
Como exemplo observa-se o campo de Manati; que apresenta uma
seção pré-rifte estruturada em bloco alto e com erosão por cânion de idade Rio
da Serra, que seria o selo e a seção geradora, como as Formações Candeias
e Sergi no Recôncavo (Caixeta, inf. verbal).
Seqüência rifte – plays caracterizados por arenitos desenvolvidos em
ambientes de leques aluviais/ lacustres das formações Morro do Barro e Rio de
Contas. Falhas lístricas e rollovers associados, desenvolvidos por
movimentação de folhelhos, contribuem para o desenvolvimento de trapas
estruturais (Silva, 2005). A formação de trapas teve grande influência de um
anticlinal residual no bloco alto de uma falha lístrica; assim também com a
extensão da capa de gás dentro do reservatório de arenitos Berriasianos (Fig
7.4b).
Segundo Gonçalves et al (2000), o petróleo é trapeado em lobos
turbidíticos, o qual trata-se de trata-se de uma sucessão de arenitos grossos
com porosidade média de 25% e alta permeabilidade (2000 md). Para esta
seqüência o selo é formado a partir dos folhelhos lacustres de Formação Morro
do Barro e Rio de Contas.
Seqüência drifte – Esta seqüência apresenta plays caracterizados
pelos arenitos turbidíticos da Formação Urucutuca, que se intercalam m meio a
folhelhos e constituem uma trapa estratigráfica.

62
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

Figura 7.4: Esquema de dois exemplos típicos de migração (a) trapas pré-rifte e
(b)Trapas Rifte na bacia de Camamu-Almada (Modificado de Gonçalves et al., 2000)

63
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

VII.3 – GERAÇÃO, MIGRAÇÃO E ACUMULAÇÃO

Uma vez gerado o hidrocarboneto, o petróleo passa a ocupar um espaço


maior que o do querogênio original da rocha geradora, tornando-a super
saturada. Esta rocha devido a pressão excessiva se fratura permitindo a
expulsão deste óleo, até que o mesmo encontre um espaço poroso selado e
aprisionado, apto para armazená-lo. Tal fenômeno é chamado de migração.
Através de modelagens tectônicas, térmicas e geoquímicas Mello et al.
(1988 apud Mello et al.; 1994) concluíram que as rochas geradoras alcançaram
condições de geração durante o Neocomiano/Aptiano (cerca de 112 Ma) e que
mais de 60% do óleo gerado foi expelido. As taxas de transformação variam
em torno de 10-20% na plataforma e podem alcançar até 100 % em regiões de
águas profundas. Esses resultados são insuficientes para afirmar a existência
de rochas geradoras em águas profundas, apesar da boa correlação
geoquímica entre óleo rocha nas áreas sedimentares situadas em águas rasas;
visto que estas ainda não foram amostradas nestas porções.
Segundo estes autores, a geração do óleo se deu principalmente na fase
rifte e a formação de gás se iniciou nos últimos estágios de formação do rifte
prosseguindo na fase pós-rifte de evolução da bacia. Assim também como a
migração do óleo pode ter ocorrido horizontalmente a longas distâncias, no
sentido dos baixos regionais para os altos externos, ou ainda através de falhas
de grande rejeito e/ou discordâncias regionais dentro da seção rifte. A expulsão
e a migração ocorreram principalmente durante o último pulso do rifteamento
da bacia.
O estudo das séries naturais dos parâmetros geoquímicos indica que a
cozinha de geração de óleo na Bacia de Camamu-Almada coincide com os
principais baixos estruturais (Gonçalves et al., 1997), que se encontra mais a
leste, no bloco baixo da falha de Mutá.
Em resumo, a carta de eventos (Fig. 7.5) mostra para a seção
estratigráfica envolvida, os elementos essenciais: os processos, o tempo de
preservação e o momento crítico para o sistema. Os hidrocarbonetos gerados
pelos folhelhos lacustres de água doce e folhelhos negros de água salobra do
Eo-cretáceo iniciaram a migração durante o Aptiano, continuando até hoje em

64
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

algumas partes da bacia. Os hidrocarbonetos foram acumulados no Eo-


cretáceo nos reservatórios arenosos turbidíticos lacustres da Formação Rio de
Contas, estruturados durante o processo de rifteamento e selados pelos
folhelhos lacustres de água profunda, ou trapeados no Andar Dom João
(Jurássico) na Formação Sergi, contra a lapa de falhas regionais importantes.

Figura 7.5: Carta de eventos de sistema petrolífero da Bacia de Camamu-Almada


(Modificado de Mello et al., 1994)

65
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

VII.4 – POSSIBILIDADE DE NOVOS PLAYS

Estudos recentes vêm tentando mostrar possíveis novos plays para a


bacia de Camamu - Almada, o que poderia ser um novo caminho a ser
percorrido para avaliação de todo potencial petrolífero que esta bacia sugere.
Silva (2005), que fez comparações tectono-estratigráficas entre o
sistema rifte da Bacia de Camamu-Almada e o moderno sistema de riftes do
Leste Africano, apresentou o mapeamento regional dos arcabouços desta
bacia, com base em dados sísmicos de reflexão e de poços. Este autor
interpretou feições geológicas possivelmente presentes na bacia em
comparação aos modelos de preenchimento de bacias do tipo rifte, a despeito
da baixa qualidade sísmica, que poderia ser importantes para exploração de
petróleo na bacia, tratam-se da ocorrência de possíveis lobos turbidíticos ou
paleocanais na Formação Morro do Barro, os quais poderiam constituir novos
possíveis plays estratigráficos da bacia de Camamu-Almada: a possível
ocorrência de lobos deltáicos e/ou turbidíticos dentro da Formação Morro do
Barro e Rio de Contas.
Não se pode descartar a possibilidade dos turbidítos da Formação Morro
do Barro estarem saturados por óleo da própria formação, além da
possibilidade dos folhelhos marinhos cretáceos estarem gerando óleo para os
turbiditos da Formação Urucutuca, tal situações não foi observada até o
momento devido ao pouco soterramento da seção marinha (Caixeta inf verbal).
D’avila et. al. (2004) estudaram o Cânion de Almada, uma das poucas
exposições dos sedimentos siliciclásticos da Mega-seqüência marinha
desenvolvida entre o Cenomaniano e o recente na Margem Atlântica Brasileira,
que é preenchido por depósitos turbidíticos da Formação Urucutuca. Tais
estudos revelaram que durante o processo de soterramento não houve perda
de porosidade devido à cimentação precoce aliada a uma fábrica de
composição muito resistente. Posteriormente foi gerada uma porosidade
secundária. Estes fatores conferem aos depósitos da Formação Urucutuca, um
bom potencial para reservatório, em especial na parte offshore da bacia
principalmente, devido a um eficiente processo de dissolução que permitiu o
desenvolvimento de melhor porosidade nesta região.

66
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

Karam (2005) e Karam et. al. (2006), que estudaram o paleocânion de


Itacaré, fazendo a caracterização do arcabouço estrutural do embasamento da
bacia da Camamu-Almada, através de modelagens tridimensionais,
demonstraram o papel de reativação tardia de falhas do rifte na implantação do
cânion assim também, como o mapeamento estratigráfico das seqüências que
preencheram esta feição.
As seqüências descritas por estes autores são representadas por
intenso by pass sedimentar, o qual poderá trazer boas perspectivas petrolíferas
nas porções mais distais da bacia, ou seja, na zona de descarga de superfícies
de by pass, onde não foram perfurados poços (águas profundas).
Dentre as sismosseqüências descritas por estes autores (já detalhadas
no Capítulo VI), as que nos causam maior interesse são as D1 e D2,
depositadas no sopé do talude (Fig. 6.6). A sismosseqüência D1 que é
caracterizada por depósitos decorrentes de fluxos gravitacionais, apresenta
grande potencial para reservatórios. Soma-se a isto o fato desta seqüência
está depositada diretamente sobre as seqüências da fase rifte onde ocorreu a
geração de óleo (Gonçalves et al., 2001 apud Karam, 2005). A migração do
óleo poderia se dar através das falhas desenvolvidas durante a fase rifte e que
ocorreram até a base da discordância Pré–Urucutuca (Sub-Urucutuca) onde
estão localizados estes potenciais reservatórios.
A sismosseqüência D2 é também relacionada à fluxos gravitacionais
menores e consideradas pelos autores acima citados, como possíveis
reservatórios. Sua deposição ocorreu durante a tendência global de
rebaixamento relativo do nível do mar, ou seja, sabe-se que há registro de
turbiditos relacionados a este rebaixamento em várias bacias (e.g Bacia de
Campos) o que sugeriria para esta bacia o mesmo tipo de registro. A migração
de hidrocarboneto nesta seqüência poderia ter ocorrido através de falhas que
se desenvolveram devido a remobilização do sal e que em alguns casos
ocorrem nucleados acima das falhas da seqüência rifte (Karam, 2005).
Segundo Karam et al. (2006), esta nova abordagem exploratória em
águas profundas para a Bacia de Camamu-Almada possui consistência
baseada, na analogia de semelhanças com a Bacia de Gabão Sul, cuja maior
parte (69%) das suas reservas petrolíferas advém de sedimentos relacionados
com um evento erosivo ocorrido durante o Cretáceo Superior, coincidindo em

67
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

tempo, com a figura de incisão erosiva denominada de paleocânion de Itacaré.


Outro ponto muito importante que deve ser destacado trata-se da importância
que este tipo de play possui na margem brasileira, uma vez que percentuais
em torno de 80% das reservas provadas estão armazenadas neste tipo de
depósito.

68
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

CAPÍTULO VIII

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

De acordo com o estudo bibliográfico realizado sobre a bacia de


Camamu-Almada, classificada como fronteira exploratória, observou-se que a
mesma se encontra bem testada em áreas terrestres e águas rasas. Tal fato
não exclui a possibilidade de serem revistos tais estudos, pois do total de
poços perfurados na área, apenas 5,4 % foram descobridores de campos de
óleo ou gás, demonstrando um baixo índice de sucesso exploratório. Isto indica
a necessidade de uma maior investigação utilizando novas tecnologias, em
função do alto potencial petrolífero da área, confirmado com base nas
acumulações já encontradas.
O avanço nos estudos em águas profundas é um desafio de grande
importância nesta bacia, visto que os poços perfurados se encontram em
águas rasas, e, principalmente, devido aos estudos realizados para esta região,
que indicam possíveis novos plays.
Assim, como recomendações são indicadas:
Estudos de interpretação das feições estratigráficas observadas em
águas profundas, as quais poderiam ser lobos turbidíticos ou paleocanais na
Formação Morro do Barro, podendo estar saturados por óleo da própria
formação. Além disso, há a possibilidade dos folhelhos marinhos cretáceos
estarem gerando óleo para os turbiditos da Formação Urucutuca;
Caracterização de depósitos do Paleocânion de Itacaré que apresentam
grande potencial para reservatórios, somado ao fato das seqüências D1 e D2,
determinadas por Karam (2005), estarem depositadas diretamente sobre as
seqüências da fase rifte, onde ocorreu a geração de óleo. Tal procedimento
poderá trazer boas perspectivas petrolíferas nas porções mais distais da bacia,
ou seja, na zona de descarga de superfícies de by pass, onde não foram
perfurados poços (águas profundas);
Outro ponto que deve ser aprofundado é o estudo do Cânion de Almada,
como depósito potencial para reservatório, em especial na parte offshore da
bacia. Este estudo se torna importante, principalmente devido a um eficiente

69
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

processo de dissolução que permitiu o desenvolvimento de melhor porosidade


nesta região.
Enfim, conclui-se que a bacia de Camamu-Almada tem ainda a
necessidade de receber investimentos para estudos em águas profundas,
utilizando os modelos de acumulações em turbiditos, o qual se trata do tipo de
play característico da margem brasileira. Ou seja, faz-se necessária a
realização de técnicas de modelagem de bacia para Camamu-Almada,
utilizando dados de sísmica de água profunda para mapeamento dos
horizontes geradores, falhas e potenciais horizontes reservatórios nesta região.
Tal procedimento poderia aprofundar o modelo geológico de evolução da bacia
em águas profundas. Desta forma, poderia ser viabilizada a produção de
simulação de sistemas petrolíferos, o qual auxiliaria na avaliação de potenciais
de geração, migração e de estimativas de quantidade, tipo e localização das
reservas petrolíferas na bacia.

70
Evolução Tectono-Estrutural, Estratigrafia
e Sistemas Petrolíferos da Bacia de Camamu-Almada

REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS

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