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SEGUNDA GUERRA

MUNDIAL

Tomo I

Compilação, revisão e montagem


FICHA TÉCNICA

CAPA: Título da Obra em 3D sobrepondo a imagem de


um soldado alemão, tendo abaixo uma unidade de
soldados, volume da obra com numeração com um
cartucho de fuzil antepondo a posição subsequente cuja
referência anota os anos de conflito contidos na obra.

DIREITOS AUTORAIS: Os textos não são de minha


autoria e responsabilidade, pertecem a autores cuja
autoria é dita como anônimos, este livro não visa lucro e o
valor cobrado deve ser apenas o da impressão e envio,
sendo proibida a reprodução total ou parcial desta obra,
por qualquer meio e para qualquer fim que não seja o do
aprendizado.

Trata-se de uma: Compilação, revisão e montagem

1ª edição
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Impresso por Clube de Autores
TIPOLOGIA – FONTE: Garamond

Diagramação, revisão, montagem


Obra pertencente a diversos autores
Este livro é dedicado à memória de todas as pessoas que faleceram em
virtude da Segunda Guerra Mundial. Que possamos aprender com essa
tragédia para evitar que outra guerra possa assolar a humanidade.
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Prólogo
Este livro visa proprocionar um maior conhecimento
sobre as exposições escritas que se refiram à História da Segunda
Guerra Mundial, é uma compilação de diversas obras cuja
referência aos autores é inexistente, portanto não são de minha
autoria e sim foram por mim reunidas, revisadas e devidamente
dispostas conforme datas e eventos. Não apresento aqui
alterações, tendências, circunstâncias ou opinião sobre os eventos
que aconteceram entre os anos 1939 a 1945. Em nenhum
momento usei o partidarismo.

Para a devida correção usei neste trabalho as mais


modernas publicações editadas nos Estados Unidos, França,
Inglaterra, Alemanha, Russia, Suécia, Italia, Espanha e Brasil.

Um grande número dessas publicações está disponibilizado


na internet.

A presente obra é disponibilizada somente com o


objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas
e estudos acadêmicos.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

A Segunda Guerra Mundial é considerada o maior


conflito militar da história da humanidade e envolveu nações
européias, africanas, asiáticas, americanas e da Oceania. As
batalhas travadas por estas nações não ocorreram somente em
terra ou no ar, elas foram decididas também nos oceanos, suas
marinhas de guerra combateram no Atlântico, Índico e no oceano
Pacífico. Em termos globais também foi o conflito que mais
causou a morte de civis e militares e desintegrou a economia de
várias nações em prol do esforço de guerra. O estado de guerra
total abrangeu de forma oposta duas aliancas militares: os Aliados
e o Eixo. Entre os anos de 1939 e 1945 extima-se que foram
mobilizados aproximadamente mais de 100 milhões de militares e
que entre militares e civis a soma de mortos ultrapasse a cifra de
70 milhões em todo globo.

É um pensamento entre os vários autores que a Segunda


Grande Guerra teve seu ponto inicial como sendo a invasão da
Polônia pela Alemanha Nazista no dia 01 de setembro de 1939,
fato este que culminou com as declarações de guerra contra a
Alemanha feitas pelo governo da França e pela maioria dos países
integrantes do Império Britânico. Porém cabe esclarecer que o
Império do Japão já se encontrava em guerra com a China desde
o incidente da Ponte Marco Polo em 07 de julho de 1937 entre
tropas chinesas e o exército imperial japonês. Outra grande nação
que já se econtrava lutando sua própria guerra era a Italia que havia
invadido a Etiópia dando início a Segunda Guerra Italo-Etíope em
03 de outubro de 1935 e que apesar dos conflitos regulares contra
o exército etíope terem-se finalizado em 1936 o exército italiano
continuou a enfrentar uma guerra de guerrilha até 1941.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Nações Aliadas:

União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido, China,


França Livre, Polônia, Canadá, Austrália, Nova Zelândia.
Iugoslávia, União Sul-Africana, Dinamarca, Noruega, Países
Baixos, Bélgica, Checoslováquia, Grécia, Brasil, México, Nepal,
Luxemburgo, Panamá, Costa Rica, Rep. Dominicana, El Salvador,
Haiti, Honduras, Nicarágua, Guatemala, Cuba, Rep. Coréia,
Etiópia, Iraque, Bolívia, Irã, Colômbia, Libéria, San Marino,
Albânia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, Turquia,
Líbano Arábia Saudita, Argentina, Chile.

Nem todos estes países acima citados enviaram efetivos


para o combate nos teatros de operações, muitos colaboraram
com o envio de material necessário ao esforço de guerra ou com o
patrulhamento de suas águas territoriais contra as marinhas do
eixo, sendo que grande parte só declarou estado de beligerância
com o decorrer do conflito, e alguns outros participaram dos
aliados com seus governos no exílio.

O Brasil foi o único país da América Latina a


enviar tropas regulares para os campos de batalha europeus. A
Albânia enquanto sob domínio italiano foi colaborador mesmo
que de forma passiva do eixo, o mesmo acontecendo com a
França de Vichy.

Países como Romênia, Bulgária e Hungria participaram


efetivamente do eixo com o envio de tropas e com a eminente
derrota alemã mudaram de lado e combateram as tropas do eixo
em seus países.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Nações do Eixo:

Alemanha, Império do Japão, Reino da Itália, Romênia,


Bulgária, Hungria, Finlândia, Tailândia, Estado Indep. da Croácia,
Eslováquia, Albânia, Manchukuo, Servia, Montenegro.

Alguns protetorados com o apoio das nações do eixo


combateram as tropas regulares de seus antigos dominadores, caso
este do Império do Vietnã e o Reino de Kampuchea, que nada
mais eram do que governos fantoche pró-Tóquio estabelecidos em
territórios antes sob domínio Frances.

Países europeus declarados Neutros:

Suíça, Portugal, Espanha, Suécia e o estado do Vaticano

A Espanha apesar de sua declaração de neutralidade


chegou a enviar tropas para combater ao lado do estado nazista
contra exército vermelho no cerco a Stalingrado, outros combates
espanhóis também serviram ás forças alemãs em conflito.

Ponto Chave para o início da II Guerra Mundial

Nós o conhecemos como Tratado de Versalhes, mas para


os alemães pós Primeira Guerra Mundial era o diktat (imposição)
devido a seu contéudo principal que determinava que
a Alemanha reconhecesse e aceitasse todas as responsabilidades
por ter causado a guerra “Primeira Guerra Mundial” e que, sob os
termos estabelecidos nos artigos 231-247, fizesse reparações
financeiras e territorias a um certo número de nações que haviam
formado a Tríplice Entente. O ministro alemão do exterior,
Hermann Müller assinou o tratado em 28 de Junho de 1919 em
Paris - França.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

A estrutura do tratado assim ficou em seus artigos.

 Parte I - Pacto da Sociedade das Nações (artigos 1 a 26 e


anexo).
 Parte II - As Fronteiras da Alemanha (artigos 27 a 30).
 Parte III - Cláusulas para Europa (artigos 31 a 117 e anexos).
 Parte IV - Direitos e interesses alemães fora da Alemanha
(artigos 118 a 158 e anexos).
 Parte V - Cláusulas militares, navais e aéreas (artigos 159 a
213).
 Parte VI - Prisioneiros de guerra e cemitérios (artigos 214 a
226).
 Parte VII - Sanções (artigos 227 a 230).
 Parte VIII - Reparações (artigos 231 a 247 e anexos).
 Parte IX - Cláusulas financeiras (artigos 248 a 263).
 Parte X - Cláusulas econômicas (artigos 264 a 312).
 Parte XI - Navegação aérea (artigos 313 a 320 e anexos).
 Parte XII - Portos, vias marítimas e vias férreas (artigos 321 a
386).
 Parte XIII - Organização Internacional do Trabalho (artigos
387 a 399).
 Procedimentos (artigos 400 a 427 e anexo).
 Parte XIV - Garantias (artigos 428 a 433).
 Parte XV - Previsões e diversos (artigos 434 a 440 e anexo).

As Principais Cláusulas territoriais do Tratado foram.

 Alsácia e Lorena, seriam devolvidas a França (área 14.522


km², 1.815.000 habitantes).
 A Sonderjutlândia seria devolvida a Dinamarca (3.984 km²,
163.600 habitantes).

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

 As províncias de Posen e Prússia Ocidental, devolvidas a


Polônia (área 53.800 km², 4.224.000 habitantes)
 Hlucínsko, região da Alta Silésia para a Checoslováquia
(316 ou 330 km² e 49.000 habitantes)
 Parte leste da Alta Silésia para a Polônia (área 3.214 km²,
965.000 habitantes)
 As cidades alemãs de Eupen e Malmedy para a Bélgica.
 A região de Soldau da Prússia Oriental a Polônia (área 492
km²).
 Parte setentrional da Prússia Ocidental, Klaipeda, sob o
controle francês, depois transferida para a Lituânia
 Na parte oriental da Prússia Ocidental e na parte sul da
Prússia Oriental Warmia e Masuria pequenas partes para a
Polônia
 A província de Sarre para o comando da Liga das Nações
por 15 anos.
 A cidade de Danzig sobre o controle da Liga das Nações
(área 1893 km², 408.000 habitantes).

Cláusulas militares

1º.Exército “Heer” Alemão foi restrito a 100.000 soldados, não


sendo permitido o uso de tanques ou artilharia pesada..
...........................
2º.Marinha “Kriesgmarine” - foi restrita a 15.000 marinheiros,
proibição de submarinos, a esquadra foi limitada a 6 navios de
guerra (de menos que 10.000 toneladas), 6 cruzadores e 12
contratorpedeiros.

3º.Aeronáutica Alemã “Luftwaffe” foi proibida.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

A cláusula da culpa de guerra


Artigo 231
Em Janeiro de 1921 a Alemanha fora obrigada a pagar
indenizações por danos causados durante a primeira guerra
mundial, cerca de um total de 269 bilhões de marcos
posteriormente a dívida foi reduzida para 132 bilhões, o primeiro
pagamento seria em 1º de maio de 1921.

Os benefícios dessa reparação seriam assim repartidos:


França 52%, Inglaterra 22%, Itália 10%, Bélgica 8%; os demais
aliados receberiam o restante, o que sem duvida alguma logo
provocou colapso em seu sistema financeiro.

Fato interressante foi o Japão tentar inserir uma cláusula


nos artigos referentes à constituição da Sociedade das Nações
contra a discriminação baseada na raça ou na nacionalidade, mas
tal pretensão foi barada e retirada devido, sobretudo à posição
contrária da Austrália

Foram assinados outros tratados suplementares que


completavam o Tratado de Versalhes:

Tratado de Saint-Germain:

Assinado em 1919 Áustria estabelecia que a Hungria, a


Polônia, a Checoslováquia e a Iugoslávia seriam independentes.
As regiões do Trieste, Sul do Tirol, Trentino e a Península da Ístria
passariam à Itália. A Áustria passou a ser um pequeno Estado
europeu.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Tratado de Neuilly:

Foi assinado em 1919, a Bulgária perdeu territórios


anexados durante a 1ª Guerra Balcânica. A região da Dobrudja foi
dada à Romênia, a Macedônia Ocidental à Iugoslávia e a Trácia
Ocidental à Grécia.

Tratado de Trianon:

Hungria perdia várias regiões: a Eslováquia passava para a


República da Checoslováquia; para a Iugoslávia passava a Croácia,
e para a Romênia, a Transilvânia.

Tratado de Sèrves:

Assinado em 1920 e que regulamentava a situação da


Turquia, estipulando que a Armênia seria independente e que
a maior parte da Turquia européia passaria à Grécia; a Síria
seria controlada pelos franceses; a Mesopotâmia e a Palestina pelos
ingleses.

Uma rebelião na Turquia pôs fim ao império e proclamou


a República, reconquistando a Armênia.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

O Brasil e o tratado de Versalhes

Faltou uma das três assinaturas reservadas ao Brasil no


Tratado de Paz de Versalhes, que redesenhou o mundo após a
Primeira Guerra Mundial. Há cem anos, em 28 de junho de 1919,
quando o documento foi firmado em Versalhes, nos arredores de
Paris, um dos delegados plenipotenciários brasileiros à
Conferência de Paz sediado na capital francesa ausentou-se para
ficar junto à mulher, doente.

Era Raul Fernandes, deputado federal pelo Rio de Janeiro,


neto de visconde do Império e primo, pelo lado materno, do
futuro governador fluminense Carlos Lacerda. Ao final daquele
"glorioso dia de verão" - segundo a historiadora canadense
Margaret MacMillan -, o endosso de Fernandes ao texto havia sido
dado por procuração, ao lado das assinaturas dos outros dois
brasileiros, o deputado federal João Pandiá Calógeras e o professor
de Direito Rodrigo Otávio Langaard de Meneses.

A ausência da assinatura de Fernandes - além dele, apenas


outros dois delegados da China, Lou Tseng-tsiang e Chengting
Thomas Wang, deixaram de firmar o texto, nesse caso por
discordar de seus termos - é uma nota de rodapé na malfadada
história de Versalhes. O tratado, que prometia uma "paz firme,
justa e durável", não foi ratificado pelo Congresso americano
(contra a vontade do presidente Woodrow Wilson, seu principal
inspirador). Tornou-se alvo do ressentimento da Alemanha,
considerada em suas páginas como única culpada pelo conflito e
obrigada a pagar pesadas reparações aos vencedores. Finalmente,
para muitos, passou à posteridade como uma das causas da
ascensão do nazismo e da Segunda Guerra Mundial. Em 1940,
durante a invasão da França pelos alemães, o texto original
desapareceu para sempre.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Mesmo com uma assinatura a menos, o Brasil saiu


triunfante da Conferência de Paris. O impacto doméstico da
participação brasileira pode ser medido pela trajetória do chefe da
delegação, Epitácio Pessoa. Senador pela Paraíba, ele foi lançado
candidato à Presidência da República enquanto estava na França e,
antes da assinatura do tratado, voltou eleito ao Brasil. Para a
maioria dos outros 22 participantes, o futuro foi generoso:
tornaram-se ministro de Estado (Calógeras) e do Supremo
Tribunal Federal (Meneses), chefe do Estado-Maior do Exército
(comandante Alfredo Malan D'Angrogne), embaixadores e
deputados. O próprio Fernandes foi, sucessivamente, governador
do Rio, consultor-geral da República, deputado constituinte em
1934 e duas vezes ministro das Relações Exteriores.

Esse prestígio reflete, em parte, o lugar privilegiado do


Brasil em Paris, ao lado dos vencedores. Apesar da participação
simbólica no conflito - declarara guerra à Alemanha em outubro
de 1917, 13 meses antes do armistício -, tinha a maior
representação do continente americano depois de Estados Unidos
e Canadá. Seus três votos eram o mesmo da Itália (que perdera
meio milhão de homens na guerra) e o triplo de Portugal (que
enviara 60 mil combatentes ao Front Ocidental).

Mais do que isso, o Brasil saiu de Versalhes com


praticamente todas as suas modestas reivindicações econômicas e
militares atendidas e com um assento na recém-criada Liga das
Nações. O país deixaria a organização em 1926, ao ter recusada a
aspiração de uma vaga permanente no Conselho.

Qualquer que seja o mérito da presença brasileira em Paris


e Versalhes, a "Grande Guerra" mudou o país para sempre. Desde
2014, quando o confronto completou cem anos, uma nova
geração de pesquisadores dedica-se a reavaliar essa participação.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

"Nos últimos anos, historiadores têm começado a repensar os


papéis dos chamados pequenos e médios poderes, como o Brasil,
na Primeira Guerra Mundial. Esses trabalhos tratam questões
militares a aspectos internos como economia e cultura", diz o
doutor em História Cristiano Enrique de Brum, vencedor do
Prêmio Cultural Tasso Fragoso 2018 da Biblioteca de Exército
com a tese A (des)mobilização de médicos na Grande Guerra: o
caso da Missão Médica Brasileira na França (1918-1919).

Do boom do café à crise de 1913

O início da guerra na Europa coincidiu com uma situação


interna delicada no Brasil. Desde 1909, o país se beneficiara do
crescimento das exportações de café e borracha, carros-chefes de
seu comércio exterior, e de um crescente fluxo de investimentos
internos no país, especialmente nos setores de finanças e
transportes. Se a balança comercial vivia uma bonança, as contas
públicas estavam desarranjadas, com sucessivos governos
recorrendo a empréstimos externos para financiar seus déficits.
Em 1913, esse arranjo implodiu: um abalo financeiro mundial
derrubou os preços do café e limitou a oferta de crédito
internacional. Emparedado pelos credores, o governo do
presidente Hermes da Fonseca foi obrigado a iniciar uma longa e
tortuosa renegociação da dívida externa, que acabou interrompida
pela guerra.

Marechal da ativa mesmo durante o exercício da


Presidência, Hermes havia sido ministro da Guerra (1906-1909) e
negociara com a Alemanha, que tinha o exército mais avançado do
mundo, o envio de uma missão militar para reorganizar as forças
do Brasil. Ao se eleger presidente, porém, foi forçado a adotar
postura mais equidistante: a oligarquia paulista tinha um acordo
militar com a França (que treinava desde 1906 a impressionante

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Força Pública do Estado, com 7.000 homens), enquanto o


Itamaraty, sob a chefia do todo-poderoso José Maria Paranhos do
Rio Branco, aproximava-se dos Estados Unidos. Ainda assim, o
Brasil manteve uma compra significativa de material bélico alemão,
jamais entregue em razão da guerra.

"Hermes era casado em segundas núpcias com Nair de


Tefé, que era de família alemã de sobrenome Von Hoonholtz,
chegada ao Brasil no século 19. O pai de Nair, Antônio von
Hoonholtz, havia participado da Guerra do Paraguai e recebera de
Dom Pedro 2º o título de Barão de Tefé. Os Von Hoonholtz
mantinham relações com os parentes na Alemanha, e Hermes era
germanófilo. Chegou a assistir a manobras do exército alemão a
convite do kaiser Guilherme 2º", afirma René Gertz, professor
aposentado do Programa de Pós-graduação em História da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Num primeiro momento, a guerra foi desastrosa para as


exportações brasileiras. Os Aliados não consideraram essencial o
café, e somente no final da guerra os Estados Unidos
interessaram-se pelo manganês brasileiro. Alemanha e Áustria-
Hungria, que compravam 19% do grão produzido no país (e
absorviam 20% do total de exportações), tornaram-se inacessíveis
em razão do bloqueio britânico no Mar do Norte. Nos últimos
cinco meses de 1914, as exportações de café caíram 38% em
relação ao mesmo período do ano anterior. O valor total das
vendas do produto despencou 28% naquele ano.

Fustigado pela crise econômica, Hermes tinha a


impopularidade aumentada pelos conflitos internos, como a
Revolta da Chibata (Rio de Janeiro, 1910), a rebelião do Padre
Cícero (Ceará, 1912-1914) e a Guerra do Contestado em Santa
Catarina e Paraná, que só terminaria em 1916. Parceiro econômico

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

dos beligerantes e à sombra da neutralidade dos Estados Unidos, o


"marechal presidente" declarou que o Brasil ficaria à margem da
guerra. Restava, porém, um desafio: administrar o trânsito
marítimo de seus produtos.

Guerra marítima minou a neutralidade brasileira

Com a Primeira Guerra, o Oceano Atlântico tornou-se


pela primeira vez palco de uma guerra total, na qual navios
mercantes e de passageiros também eram alvos. O Reino Unido
decretou que praticamente todas as exportações das Américas para
as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria e Império
Otomano) seriam consideradas contrabando de guerra, sujeito a
busca e apreensão. O Mar do Norte foi declarado zona de guerra,
e o Canal da Mancha foi interditado mesmo a barcos de países
neutros, sujeitos a inspeções.

Desesperada com um bloqueio que poderia desencadear


fome na Alemanha, o regime do kaiser lançou ao mar uma nova
arma de guerra, os submarinos (U-Boots), capazes de interceptar e
afundar embarcações de qualquer tipo. Os britânicos, que haviam
armado seus navios mercantes já em 1913, determinaram que, à
vista do inimigo, os comandantes deviam atacá-lo ou, na falta de
armamento, abalroá-lo. Finalmente, passaram a utilizar bandeiras
de países neutros em seus próprios navios a fim de confundir os
alemães.

Essa prática criou uma primeira comoção nacional em


maio de 1916. Notificado do afundamento do vapor brasileiro Rio
Branco por um submarino alemão no Mar do Norte, o governo
apurou que a embarcação fora vendida a armadores noruegueses e
arrendada a armadores britânicos, além de usar indevidamente a
bandeira brasileira. O incidente contribui, porém, para reforçar as

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

simpatias pelos Aliados numa opinião pública dividida. A crise


econômica e a impopularidade do governo, agravada pelo fato de
o ministro das Relações Exteriores, Lauro Müller (que sucedera a
Rio Branco, morto em 1912), ser filho de um migrante alemão que
desembarcara no Brasil em 1912 contribuíram para fazer pender a
balança da opinião pública em favor dos Aliados.

Em janeiro de 1917, 15 meses depois da decretação do


bloqueio britânico à Alemanha, Berlim informou o Rio de Janeiro
de que bloquearia Reino Unido, França, Itália e Mediterrâneo
Oriental. Pouco mais de dois meses depois, o paquete brasileiro
Paraná foi afundado em águas internacionais na altura da costa
francesa. Dois dias antes, contrariando promessa de campanha, o
presidente Wilson pedira ao Congresso autorização para declarar
guerra à Alemanha e conclamara os países neutros a fazer o
mesmo. Sem alternativa, Müller notificou o embaixador alemão no
Rio do rompimento de relações com o império. Foi também seu
ato de despedida do Itamaraty: em maio, seria substituído pelo
aliadófilo Nilo Peçanha. A declaração brasileira de guerra veio em
outubro, após o torpedeamento do vapor brasileiro Macau, com o
desaparecimento do comandante Saturnino Furtado de Mendonça
e do taifeiro Arlindo Dias dos Santos.

"A sucessão de ataques à navegação brasileira foi


construindo, ao longo de 1917, um ambiente de revolta popular
contra os alemães. A cada novo torpedeamento, indústrias,
estabelecimentos comerciais, associações e casas ligadas aos
germânicos eram depredadas pela população em fúria", diz o
jornalista e escritor Marcelo Monteiro, autor de U-93: a entrada do
Brasil na Primeira Guerra Mundial (BesouroBox, 2014).

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Divisão Naval e missões aos Aliados

Além do Brasil, os únicos países latino-americanos a


declarar guerra à Alemanha são os da América Central e Caribe,
sob forte influência americana: Cuba (que também teve modesta
participação militar ao lado dos Aliados), Costa Rica, Guatemala,
Haiti, Honduras e Panamá. Outros cinco romperam relações com
a Alemanha: Peru, Bolívia, Uruguai, Equador e República
Dominicana. Os demais permanecem neutros e de forma não
oficial alguns de seus militares participaram dontes a outros países,
neste exemplo cito México com uma unidade de pilotos.

"Comparada à da Argentina, a atitude do governo


brasileiro em relação aos Estados Unidos, durante a guerra, é
muito mais conciliatória, conforme o padrão adotado desde Rio
Branco. O governo argentino não abre mão de sua neutralidade e
aproveita a situação internacional para promover seus interesses
econômicos. Ao final da guerra, a Argentina é o sétimo exportador
mundial e o peso é a moeda mais forte do mundo. O Brasil, apesar
do efeito positivo das relações com os Aliados, passa apenas de
décimo-terceiro a décimo-segundo exportador", afirma Norma
Breda dos Santos, professora associada do Programa de Pós-
graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília
(UnB).

A declaração de guerra deixou em aberto a escala da


participação brasileira no conflito. No governo, formam-se duas
correntes: presença simbólica, limitada a ações de retaguarda
(defendida pelo chanceler Nilo Peçanha) e envio de tropas
financiadas pelos Aliados (posição do deputado e ex-ministro da
Fazenda Pandiá Calógeras). A organização de uma força
expedicionária esbarrou na decidida oposição do Reino Unido, que

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

desejava limitar a participação do Brasil ao auxílio ao


patrulhamento do Atlântico.

Em acordo com americanos e britânicos, foi acertado o


envio de dois scouts (Rio Grande do Sul e Bahia), quatro
destróieres (Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Santa Catarina)
e do transporte de guerra Belmonte - posteriormente, o rebocador
Laurindo Pita incorporou-se à frota - para colaborar com as forças
aliadas no Atlântico Norte. Denominada Divisão Naval em
Operações de Guerra (DNOG) e sob o comando do contra-
almirante Pedro Max de Frontin, a frota partiu do Rio no dia 11 de
maio de 1918, com destino a Gibraltar.

A participação da DNOG na guerra foi "uma verdadeira


catástrofe", na expressão do historiador Francisco Luiz Teixeira
Vinhosa, autor de O Brasil e a Primeira Guerra Mundial (IHGB,
1990). Ao alcançar Dacar, Senegal (então África Ocidental
Francesa), em 26 de agosto, a divisão foi acometida pela gripe
espanhola, que chegou a atingir 95% do efetivo em alguns navios.
"Os doentes caíam ardendo em febre cobertos de suor emplastado
de moinha de carvão, sem ter nem sequer quem os auxiliasse a
tomar banho e mudar de roupa, pois os poucos válidos que
poderiam assistir nisso diminuíam de hora a hora, de minuto a
minuto", escreveu em 1921 o capitão-tenente Orlando Marcondes
Machado sobre a tripulação do Rio Grande do Sul.

Além da epidemia, que deixou 156 mortos entre o efetivo,


avarias e novas ordens de serviço fizeram com que apenas quatro
dos oito navios da divisão deixassem Dacar rumo a Gibraltar em 3
de novembro. Depois de múltiplos incidentes, a força chegou ao
destino no dia 10, véspera do armistício. Em meados de 1918, o
Exército enviou duas missões a países aliados para estudar as
transformações recentes no ofício da guerra. À França, foi enviada

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

uma delegação de 28 oficiais chefiada pelo general Napoleão Aché.


Alguns, como o major Tertuliano Potyguara, foram designados
para o front e feridos em combate. Aos Estados Unidos, o
Ministério da Guerra enviou em fins de 1917 um grupo que visitou
fábricas e arsenais militares e comprou material bélico.

O Brasil ainda enviou um grupo de 10 aviadores para o


Reino Unido e uma missão médica à França. Em Paris, a missão
chefiada pelo deputado federal e médico Nabuco de Gouveia
instalou um Hospital Brasileiro, que prestou assistência a feridos
de guerra de novembro de 1918 a julho de 1920 e foi definido
como "modelo" pelas autoridades sanitárias da região. Transferido
ao governo francês, o hoje denominado Hospital Vaugirard-
Gabriel Pallez ostenta em seu jardim uma placa alusiva ao papel da
"colônia brasileira de Paris" em sua criação (além de doações
privadas, o hospital foi criado e mantido sobretudo com fundos
públicos brasileiros). Até a Primeira Guerra, o Brasil tinha
experimentado uma modernização incompleta. No pós-guerra, o
país passará de essencialmente agrário a avanços em vários setores,
com espasmos de indústria, reorganização militar e de serviços de
saúde".

Manchete do jornal "Gazeta de Notícias", do Rio de Janeiro, que em 26 de outubro de 1917


anunciava a entrada do Brasil na I Guerra Mundial, após o torpedeamento do navio mercante
nacional Macau pelo submarino alemão U-93

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

“Foi nesse cenário de uma Alemanha humilhada pela


derrota militar e em uma profunda crise financeira, que Adolf
Hitler surge politicamente pela primeira vez”.

Ascenção do Partido Nazi ao Governo

A grande depressão econômica mundial que afetou todas


grandes nações em 1929, foi um dos fatores que tornou possível
ao partido nazi consolidar seus avanços políticos aproveitando o
grande descontentamento do eleitorado alemão frente ao governo
do Paul von Hindenburg ou “Paul Ludwig Hans Anton von
Beneckendorff und von Hindenburg” . Em 1932 o partido nazista
já contava com 230 cadeiras no Reichstag “Parlamento alemão”
já no início do ano 1933, o Partido Nazi detinha quase todo poder
político na Alemanha e Hindenburg viu-se forçado a nomear
Adolf Hitler como chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de
1933, formando assim um governo de coalizão. Após a morte de
Hindenburg em 02 de agosto de 1934 aos 86 nos de idade,
unificou-se os cargos de chanceler e presidente sob o comando de
Adolf Hitler o qual passou a ser designado “Führer”, tradução de
lider.

Um comentário historicamente relevante é quanto a


assinatura de “Hitler”.O pai de Adolf Hitler chamava-se Alois e
por constar em sua certidão de nascimento somente o nome de
sua mãe “Maria Anna Schicklgruber”. Alois usava a assinatura de
sua mãe, ou seja, era então “Alois Schicklgruber”, no ano de 1842
sua mãe se casou com Johann Georg Hiedler o qual algum tempo
depois assumiu a paternidade de Alois dando lhe sua assinatura,
porém por um erro do padre responsável pelo novo registro
batismal o pai de Alois foi registrado como "Georg Hitler". Alois
assumiu então o sobrenome "Hitler" e não Hiedler como deveria
ser.

[ 23 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

No início do mês de agosto de 1934, o então presidente


do Reichsbank, o politico e banqueiro Hjalmar Horace Greeley
Schacht foi nomeado por Adolf Hiter como o novo Ministro da
Economia com um prazo limite para dar início aos preparativos
para o rearmanento alemão por meio da lei Mefo-Wechsel, para tal
ato foram imprimindos dinheiro sem o devido controle e muitos
dos considerados inimigos do Estado, incluindo milhares de
judeus tiveram seu bens confiscados, dando assim a
implementação da remilitarização da Alemanha através da
modernização e expansão da Wehrmacht “Forças Armadas
Alemãs”.

Logo apareceram os planos expansionistas de seu governo


e em março de 1938, Hitler anexou a Áustria sua pátria natal,
tornando-a parte da Alemanha e passados exatamente 1 ano já em
em 15 de março de 1939, a Wehrmacht assumia o controle do
território da Tchecoslováquia, sob a falsa alegação de proteção das
populações de etnia alemã que viviam ao longo da fronteira da
Tchecoslováquia, região conhecida como os Sudetos.

[ 24 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Setembro de 1939
A Polônia é atacada

Prelúdio

Escoam-se as últimas horas de agosto de 1939. Dos


Cárpatos ao Báltico, a noite está fria. As previsões do tempo são
excelentes. A bruma formada nas planuras se dissipará ao nascer
do sol. O dia será calmo, com sol, propício à aviação. Endurecido
pelo verão o terreno é também propício aos tanques. Muitos rios
secaram e os grandes - o Narew, o Bug e o Vístula - são vadeáveis
em quase toda a sua extensão. Tudo combina para dar as melhores
condições possíveis à experiência de novos métodos de combate
da Wehrmacht.

O conjunto das operações é chamado de Plano Branco


(Fall Weiss). A ordem de ação somente chega aos QG dos grupos
de exércitos às 17 horas. O ponto de partida da guerra, a hora H
do destino da Alemanha e do mundo, é à 1o de setembro, às 4h45
da manhã. De imediato toda a rede de transmissões se movimenta,
para divulgar até aos regimentos de infantaria, dispostos ao longo
da fronteira polonesa, a decisão de Adolf Hitler. O prazo é tão
curto que certas unidades não são avisadas a tempo e só entrarão
em combate ao ouvirem o troar dos canhões.

No entanto, tendo sido lançada a ordem, certos chefes


estão prontos a lançar a contra-ordem. É o caso do Coronel-
General Gert von Rundstedt, comandante do Grupo de Exércitos
Sul, e do chefe de seu estado maior (EM), o Tenente-General
Erich von Manstein. Acreditam na repetição do que se passou seis
dias antes. A 25 de agosto, às 15h25 - 3 horas depois de Rundstedt

[ 25 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

ter assumido o comando - chega a seu QG, instalado em uma


aldeia às margens do Neisse, a ordem de iniciar as hostilidades no
dia seguinte, às 4h30 da manhã. Às 20h30, no momento em que
comiam, foi-lhes entregue nova mensagem: o Fuhrer e
comandante-chefe anulava a ordem de ataque e mandava deter as
tropas! Três exércitos já estavam em marcha e foi preciso,
literalmente segurá-los pela gola.

Até meia noite, dois generais esperam - todas as


disposições tomadas para deter a avalanche -, ainda acreditando
numa intimidação, num blefe. À meia noite, Rundstedt se levanta.
“Agora - diz ele - é tarde demais. Acho que poderemos repousar
por uma ou duas horas”.

“Quero evitar a intervenção dos Ingleses”. (Hitler)

Essa espera de uma semana concedido à paz agonizante,


correspondeu a uma última tentativa de Hitler para impedir o
conflito. A 25 de agosto, pela manhã, o telefone tocou, no
gabinete de Goering. Ele ouvira a voz de Hitler: “Para tudo”. -
“Ah! (suspiro de alívio) Sério?”- “Não, quero ver se há um meio
de evitar a intervenção dos ingleses.

A querela de Dantzig e do Corredor ameaçava desencadear


o que Hitler ainda não desejava: uma guerra mundial. Ele fazia um
último esforço para que a luta apenas ficasse entre ele e a Polônia.

A execução militar da Polônia fora anunciada por Hitler


aos comandantes de seus exércitos no dia 23 de maio. “Não
contem com uma reedição do caso checo. Desta vez senhores,
terão a guerra...” Esta deveria começar antes do fim de agosto,
depois das colheitas, para que pudesse acabar antes das chuvas de
outono e da estação da lama. “Se o General von Brauchitsch me

[ 26 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

tivesse dito que tinha em vista uma guerra longa, eu não teria
marchado. Mas ele me prometeu conquistar a Polônia em algumas
semanas”. A França e Inglaterra não interviriam. “Já fiz o
julgamento de seus dirigentes, em Munique: Daladier,
Chamberlain...que vermes!”. A União Soviética, ao contrário, tinha
em Stalin, um chefe no qual Hitler reconhecia quase como um
igual. Mas o Exército Vermelho estava enfraquecido pelos
expurgos militares que acabavam de eliminar a maior parte de seus
generais. “Aliás, não é impossível que a Rússia seja levada a se
desinteressar da destruição do Estado polonês...” Esta última frase,
consignada nos autos do processo do Tenente-Coronel Schmundt,
ajudante de campo de Hitler, contém o germe da aliança hitlerista-
soviética, o lance teatral de 23 de agosto.

O preâmbulo da reaproximação foi o envio, a Moscou de


uma missão alemã, encarregada de negociar um tratado comercial.
Simultaneamente, a França e a Inglaterra iniciavam, na capital
russa, negociações tendo em vista estabelecer uma cooperação
militar contra o Terceiro Reich. As duas negociações prosseguiram
lado alado, uma discreta e fluida, outra cheia de crises. Franco-
britânicos e russos atingiram penosamente, no dia 25 de julho, o
princípio de um acordo político; em seguida, chegou a Moscou
uma delegação militar, chefiada pelo General Doumenc e pelo
Almirante Planket. Essa delegação deparou-se com um obstáculo
intransponível; a URSS e a Alemanha não tinham fronteiras
comuns e os poloneses recusavam-se obstinadamente a oferecer
ao Exercito Vermelho um pedaço de sua pátria para campo de
batalha. Foram vãs todas as pressões exercidas em Varsóvia.

E, então, um telegrama de Hitler chegou a Moscou: o


Fuhrer dos alemães pedia a Stalin que recebesse, sem demora, seu
Ministro das Relações Exteriores, Joachim von Ribbentrop.

[ 27 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

A notícia da viagem estarreceu as capitais ocidentais, no


decorrer da noite de 22 para 23 de agosto. Os poucos telegramas
diplomáticos que assinalavam a possibilidade de uma aproximação
entre o nazismo e o comunismo foram tachados de inverossímeis.
Todos aqueles que, nas redações ou nas chancelarias tiveram nas
mãos o teletipo soltaram a mesma exclamação de incredulidade.
Despertado por seu Ministro das Relações Exteriores, o presidente
do Conselho francês, Edouard Daladier, respondeu, sonolento:
“Verifique se não é um boato de jornalistas”. A partir do dia
seguinte, comunicados triunfais em Berlim e de Moscou
anunciaram que um pacto de não-agressão fora assinado entre a
URSS e o Reich alemão. A delegação militar franco-britânica não
tinha mais nada a fazer do que voltar para casa.

Na Inglaterra, a frustração foi amarga. Na França, uma


imensa confusão. Mas, na Alemanha, foi um alívio. Muitos que
ainda duvidavam do gênio de Hitler já não tinham mais dúvidas.
Certos alemães acreditavam que não mais haveria guerra, de vez
que a espada soviética faltava às democracias ocidentais. Outros
achavam que a guerra poderia acontecer, porque se dissipara o
pesadelo das duas frentes. A frágil Polônia seria rapidamente posta
de lado e a Alemanha se voltaria, com tudo, para o Oeste.

Em Moscou, tudo se passara às mil maravilhas. O mau


negociador que era Ribbentrop não tivera que desatar nenhum nó.
Stalin aceitara, imediatamente, que o pacto público de não-
agressão fosse apenas um véu lançado sobre o pacto real: a quarta
partilha da Polônia. Firmou-se acordo sem dificuldades, sobre a
fronteira comum: o Narew, o Vístula e o San. Estendera a partilha
até os países bálticos, reservando-se a Lituânia para a Alemanha e
concedendo-se à Rússia a Letônia, a Estônia, a Finlândia, e, depois
a Bessarábia, que a Romênia deveria entregar. Claro que o preço
parecia elevado. A barreira de Estados-tampões, erguida em torno

[ 28 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

do bolchevismo, pelos tratados de 1919, fora derrubada. O


germanismo seria extirpado de seus velhos postos de vanguarda,
em Courlande e na Livônia. Isso era pesado, mas, ao mesmo
tempo, insignificante, por ser provisório. O contrato estava
maculado por mútua má-fé. Stalin o assinava pelo proveito
imediato que punha em caixa e pelo tempo que ganharia. Hitler o
assinava com a intenção de rasgá-lo. Seu objetivo - dizia ele a seus
íntimos - não era retomar Dantzig e apagar o Corredor; nem
mesmo destruir o Estado polonês: era conquistar as planícies
russas, para assegurar o futuro do povo alemão. Os sacrifícios em
que se consentia eram momentâneos, portanto, fictícios.
Entretanto, o dia seguinte a esse triunfo diplomático levou a Hitler
cólera, surpresa e decepção. A cólera era motivada pela Itália. Em
maio, esta havia assinado, com a Alemanha, uma pomposa aliança
militar, a que os serviços de propaganda denominaram “Pacto de
Aço”. Mas o aço se destemperava, desde a primeira prova. Ciano e
Mussolini haviam descoberto, que a guerra estava iminente.
Suplicaram a Hitler que a adiasse, pretextando pouca preparação
de seu país e até invocando a Exposição Universal que deveria
realizar-se em Roma, em 1940 - e para a qual tinham gasto muito
dinheiro. O triunfo diplomático em Moscou não os tranqüilizava.
Algumas horas depois do regresso de Ribbentrop, Hitler, sem
revelar qualquer emoção, ouviu o Embaixador Attolico ler uma
carta constrangida, de Mussolini, comunicando-lhe sua intenção de
adotar uma atitude de não-beligerância. Quando este se retirou,
Hitler explodiu: “Italianos indignos de confiança, covardes e
fracos, eternos traidores!...”. O comunicado oficial, no entanto,
declarou que a não-beligerância não representava neutralidade, que
a atitude da Itália fora aprovada pelo Fuhrer e que o Pacto de Aço
estava mais sólido do que nunca.

A surpresa e a decepção, para Hitler, vinham de Londres.


Em paris, onde o pacto germano-soviético destruía a coragem,

[ 29 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

entendia-se que a Polônia, daí em diante, não poderia salvar-se e


que uma guerra para defendê-la não teria sentido. Em Londres,
porém, não houve tal compreensão. A reação do Gabinete fora
um comunicado seco, declarando que o acontecimento de Moscou
de maneira alguma afetava as obrigações da Inglaterra e que esta
estava decidida a cumpri-las. Algumas horas depois, o governo
britânico especificou e reforçou esses compromissos. A garantia
de ordem geral, dada, em maio, ao governo polonês, transformava-
se, naquele mesmo dia, em tratado de assistência mútua. Cada
parte contratante se comprometia a dar à outra toda assistência
possível, no caso em que se julgasse necessário repelir pelas armas
qualquer ataque, direto ou indireto, à soberania de um deles.
Jamais os ingleses se haviam comprometido de maneira tão
categórica. Jamais haviam concedido qualquer coisa que se
parecesse tanto com uma carta-branca. Estranhos ingleses! No ano
anterior, em Berchtesgaden, em Bad Godesberg, em Munique,
Chamberlain, dera a impressão, ao poderoso Fuhrer, de um velho
desvairado. E eis que, sem uma frase inútil, sem um único soluço,
esse mesmo Chamberlain interpunha todo o poderio britânico
entre uma Polônia condenada e uma Alemanha em armas! Seria
um blefe? Seria uma resolução desesperada? Era preciso ver.

E foi para ver que Adolf Hitler decidiu suspender o ataque,


a 25 de agosto, horas antes do instante fatal. Mas os dias desse
prazo só foram preenchidos por negociações confusas. O ardil de
Hitler esbarrara na legítima desconfiança inglesa. Os ingleses, no
ano anterior, haviam acreditado no acordo de Munique. Rasgando-
o, seis meses depois ao anexar a totalidade de uma
Tchecoslováquia da qual havia prometido respeitar os destroços.
Hitler brincara com a sua boa-fé, destruíra suas ilusões. Agora era
em vão que jurava que Dantzig e o Corredor constituíam as sua
últimas reivindicações.

[ 30 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Quando anoiteceu no dia 31 de agosto, ainda subsistia um


vestígio de negociação. Hitler admitira receber um plenipotenciário
polonês e Mussolini lançara a idéia de uma conferência
internacional, para pôr em ordem os casos europeus em litígio.
Naquela noite, a Europa dormiu melhor do que nas noites
anteriores, convicta de que o ponto mais crítico da crise estava
superado, de que mais uma vez a paz não morreria.

Mas quando o sol de 1° de setembro apareceu, os carros


blindados nazistas transpuseram a fronteira e as bombas alemãs
caíram sobre as cidades polonesas. Uma vez mais, Hitler mentira:
suas disposições conciliadoras de última hora tinham sido uma
farsa de narcotizador. A ordem de atacar a Polônia fora repetida,
na véspera. O esplêndido incidente de fronteira, fabricado por
Himmler - o ataque à emissora de Gleiwitz, por presidiários,
vestidos com falsos uniformes poloneses - estava em processo de
execução. Ao comandante militar local, o Tenente-Coronel
Steinmetz, que se opunha àquela felonia, fizeram calar com um:
“Fuhrerbefehl”- uma ordem do Fuhrer. Agora a rádio alemã clama
que o território alemão fora violado, que a minoria alemã da
Polônia está sendo massacrada e que o Exército alemão é
contrário à intervenção. Não se trata de declarar guerra: trata-se de
uma expedição punitiva.

Os dados são jogados. Mas Hitler os lança antes de ter


podido responder à pergunta que motivou o adiamento de 25 de
agosto: a coragem da Inglaterra será um blefe?

Os poloneses pensam que tomarão Berlim

As bombas que despertam a Polônia, na alvorada de 1° de


setembro, não a surpreendem: ela esperava a guerra: a guerra
chegou. Limitava-se a Polônia a esperar a guerra? Uma onda de

[ 31 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

fanatismo patriótico levantava o país. Por toda parte, encontrava-


se pessoas do povo a dizer que tinham medo de que seus políticos
deixassem passar a ocasião de dar uma lição aos alemães. Uma vez
que Hitler quer o desaparecimento do Corredor, a Polônia o
suprimiria à sua maneira: retomando a Prússia Oriental, onde a
dominação germânica foi sempre uma usurpação. Berlim está a
100 km da fronteira: será em Berlim que se decidirá o confronto e
que se assinará a paz.

Os homens de responsabilidade rivalizam, em


inconsciência, com os patriotas antolhados. No dia 15 de agosto, o
embaixador polonês em Paris, Lukasievicz visitou o Ministro das
Relações Exteriores, Georges Bonnet, e este o informou sobre um
propósito, confessado por Hitler ao alto-comissário da Sociedade
das Nações (SDN) em Dantzig, Karls Buckhardt: “Conquistarei a
Polônia, em três semanas, com meu exercito mecanizado”.
Lukasievicz deu de ombros: “Absurdo! Seremos nós que
invadiremos a Alemanha, desde que comecem as hostilidades”.
Vivendo em Berlim, no espetáculo cotidiano da força alemã, o
Embaixador Lipski garante que uma guerra provocará uma
revolução na Alemanha e que o exército polonês entrará
triunfalmente em Berlim.

Apenas 20 anos são passados sobre a ressurreição da


Polônia. Se houvesse prevalecido a sabedoria inglesa, o Estado
renascido das cinzas da História teria sido confinado em seus
limites geográficos e provido, em Dantzig, de simples direitos
portuários. O ardor francês e o romantismo associado à causa
polonesa impulsionaram essa atitude razoável, encheram a Polônia
de minorias nacionais, estenderam-nas sobre a Rússia Branca e
sobre a Ucrânia, abriram, como uma brecha através da Alemanha,
o acesso ao mar artificial, que tomou o nome de Corredor. A tese
dos polonófilos era a de que eles construíram, nas costas da

[ 32 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Germânia, uma grande potência eslava, tomando à Rússia


bolchevista seu papel de aliada da França. Mas apenas alimentavam
uma ilusão.

O aliado saciado revelou-se um aliado ingrato. A


decadência francesa foi tema em Varsóvia - como era tema em
Roma e Berlim. Fortalecida por 33 milhões de habitantes, dos
quais um terço de poloneses à força, a Polônia se colocou, em
relação à França, como Estado sucessor. Recusou associar-se ao
sistema de alianças que, sob o nome de Petite Entente, a
diplomacia havia constituído na Europa Central. Levantou
pretensões sobre o domínio colonial francês, reclamou
Madagáscar, fazendo valer a tese de que as nações jovens e
prolíficas tinham direito a uma nova partilha do mundo.
Orgulhosa, ressentia-se furiosamente de tudo quanto a fazia ser
considerada um satélite da França, inclusive a glória dada ao
General Weygand de havê-la salvo da reconquista russa, em 1920.

Multiplicaram-se em Varsóvia as manifestações anti-


francesas. Teoricamente, a aliança franco-polonesa subsistia. Mas a
verdade é que, até Munique e depois de Munique, as relações das
duas aliadas chegaram a formas características de antipatia.

Já o inverso acontecia com a Alemanha. Uma opressão


aberta e manhosa era exercida sobre as minorias alemãs, enquanto
a Alemanha mantinha, em Dantzig, permanente conflito. O
governo hitlerista não deixava de agradar ao governo polonês com
concessões que este acolhia com convicção de que era o
reconhecimento de sua força. O marechal Goering, mestre de caça
do Reich, vinha com esplêndido aparato caçar o alce na floresta de
Bialowieza, e sempre declarava que a Alemanha tinha necessidade
de uma Polônia forte e que não existia nenhuma contenda séria
entre os dois países. Joseph Beck, protegido do herói nacional

[ 33 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Pilsudski, levava a política da reaproximação até as últimas


conseqüências. Na crise de Munique, colocou a Polônia ao lado da
Alemanha, e arrancou à Tchecoslováquia um pedaço de carne: o
pequeno território de Teschen.

Quando se tentava advertir os poloneses de que sua vez


viria imediatamente depois da dos tchecos, eles rebatiam dizendo:
“Nada tememos, pois somos temidos”.

A 26 de janeiro de 1939, Varsóvia embandeirou-se de


cruzes gamadas, em homenagem à Ribbentrop, que retribuía a
Beck a visita que este fizera a Hitler. Foi o último lampejo de uma
amizade que, do lado alemão, era um cálculo e, do lado polonês,
uma quimera.

Dois meses depois, o convidado Ribbentrop comunicava


ao embaixador da Polônia que a Alemanha reclamava a restituição
de Dantzig e o estabelecimento de uma passagem extraterritorial
através do Corredor. A Polônia rejeitou essas exigências. O
conflito estava aberto.

A aproximação do perigo não inclinou os poloneses a uma


apreciação mais objetiva da força com que contava a Alemanha de
Hitler.

Os estudantes quebraram as vidraças da Embaixada alemã,


gritando: “A Berlim”. Os militares exageraram sua jactância: “Dão-
nos conselhos perniciosos”- dizia o Ministro da Guerra,
Kasprzicki. “Não os seguiremos. Recomendam-nos o
fortalecimento, a defensiva, as manobras de retirada, a resistência
sobre as nossas linhas de água. Não faremos nada disso. Nosso
tatica é a ofensiva e será tomando a ofensiva que venceremos”.

[ 34 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

A 1° de setembro, começa a mobilização. O dispositivo


estratégico é absurdo. Querendo dar proteção à totalidade do
território nacional, o General Rydz-Smigly estendeu, ao longo das
fronteiras, 7 divisões, denominadas exércitos. Colocou forças
importantes na armadilha do Corredor, ordenado-lhes conquistar a
Prússia Oriental, e forças ainda mais importantes, os exércitos
Kurtrzeba e Bortnowski, na saliência de Posem, plataforma de
ofensiva contra Berlim. O Ocidente, baseando seus cálculos na
população, avalia que a Polônia dispõe de 80 divisões; mas, na
realidade, ela só possui 30, das quais apenas 23 são organizadas ao
começarem as hostilidades. Aliás, um maior número em nada
mudaria a situação, a não ser quanto à importância das perdas.
Não é pela insuficiência de seus efetivos, nem erradas disposições
de seus comandos, mas sim pela própria natureza que o Exercito
polonês está derrotado, antes mesmo de ter combatido.

O armamento polonês data integralmente da Primeira


Guerra. A força aérea somente conta com 420 aparelhos, entre os
quais os únicos relativamente modernos são uns poucos caças P-
24. Ao lado de 37 regimentos de uma cavalaria anacrônica, a força
blindada se reduz a uma centena de velhos tanques. A artilharia é
inteiramente hipomóvel. O material de transmissão, rudimentar. O
material de DCA (Defesa Aérea) mal existe. A ofensiva está em
pleno curso, mas os regulamentos de manobras são formalistas e
pesados. Os homens estão sobrecarregados.

As frotas de combate e as frotas regimentais, constituídos


por pequenos carros rústicos. Praticamente, é um exercito sem
motores. O que quer dizer: um exército rústico, adaptado ao país,
ignorante dos problemas de abastecimento, de circulação, de
mecânica, que trazem de reboque a motorização dos transportes e
a mecanização dos combates...

[ 35 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Blindados, Stukas e generais conspiradores

À frente, o Exército de Hitler...

Um exército nascido ontem. Em 1939, descontadas


algumas violações menores, a Alemanha militar ainda estava sob o
regime do Tratado de Versalhes. Tinha 100.000 soldados
profissionais, espalhados por 10 pequenas divisões de infantaria e
de cavalaria, e estava proibida de organizar forças blindadas,
artilharia pesada, aviação e estado-maior geral. O restabelecimento
de um serviço obrigatório e a constituição de um exército nacional
de 36 divisões só foram ordenados por Hitler a 11 de março de
1935. O comandante-chefe, von Fritsch, considerando este total
de 36 divisões excessivo e provocador, declarou que 24 bastavam à
defesa nacional alemã. Mas Hitler foi além.

O Reichswerh, durante seus 15 anos de existência, sofrera


a nostalgia dos tanques. Durante as manobras, representava-os por
camionetas “blindadas” com telas, ou por silhuetas que dois
soldados conduziam à maneira de palhaços de circo nos cavalos de
papelão. Reprimidos no real, os espíritos imaginativos estudavam
teoricamente o engenho proibido. Compreenderam que este
representava uma revolução militar, reconciliante dos dois
elementos, o poder e a rapidez, que a guerra de posições havia
dissociado. Trabalhando com esse rico conjunto de dados, o
pensamento militar alemão concebeu uma guerra nova, liberta das
lutas de materiais, das longas e tristes matanças que, de 1914 a
1918, haviam desonrado a arte militar. Grupados em grandes
unidades, operando a velocidade máxima, dispensados de esperar a
centopéia paralítica da infantaria, os tanques penetram, manobram,
envolvem, restauram a guerra o que ela pode ter de alegre, de
improvisado e de inteligente.

[ 36 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

Em matéria de aviação, o pensamento militar alemão era


atraído pela doutrina do general italiano Douhet, que proclamava a
superioridade absoluta da aviação estratégica, reduzindo a guerra a
bombardeios de terror. Longe de aceitá-la, organizou uma força
aérea de cooperação, cujos princípios de ação reúnem e
completam a revolução dos blindados. Admitia-se - os franceses
ainda o admitem - que os tanques só podiam ser usados sob a
proteção da artilharia, cujo alcance definia seu raio de ação. O
pensamento militar alemão reformulou o problema, substituindo o
canhão pelo avião. Os bombardeiros de mergulho
Sturzkampfflugzeuge, ou Stukas, podiam atirar seus projéteis sobre
o objetivo com precisão superior à de um morteiro. Nessas
condições, a guerra muda de ritmo e de profundeza. À cavalaria
blindada, que são as grandes unidades de tanques, junta-se a
artilharia volante, que é a aviação. Tais inovações não foram
admitidas sem certa resistência por um corpo de generais cuja
experiência militar fora adquirida nos campos de batalha imóveis e
nos estados maiores do conflito precedente. A seus olhos, a
infantaria permanecia como arma principal, a cujo proveito todas
as outras são empregadas, segundo a fórmula comum aos
regulamentos de manobra de todos os exércitos. O tanque era um
dos servos do infante. Acompanhava-o, abria-lhes caminho,
protegia-o com sua blindagem, e, protegido ele próprio pela
artilharia, levava-o para frente. Que se pretendesse reduzir a
infantaria ao papel de simples acompanhante, limitada a recolher
prisioneiros, eis a idéia audaciosa que causou pasmo, no Exército
alemão. Chefes militares excelentes, como Beck ou Halder,
opuseram-se a isso, por muito tempo, com todas as forças.

O árbitro foi Hitler. Vastas discussões se travariam depois


da guerra, sobre sua capacidade militar, uns o elevando até o gênio
dos grandes capitães da História, outros rebaixando-o a um
amador. Tanto quanto possível, convém deixar que os fatos falem.

[ 37 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

No decorrer desta narrativa, veremos Hitler prestando contas dos


problemas da guerra, ora autor de vitórias magistrais, ora artífice
de reveses terríveis. O que não se pode contestar é a dedicação
com a qual se tinha iniciado na arte militar, sob seus mais vários
aspectos. Estudara todos os clássicos da estratégia e todos os
grandes capitães do passado. Conhecia, em detalhes, todo o
material em serviço, e todos os exércitos. Seguia, aplicadamente, a
evolução das doutrinas. Na querela entre os clássicos e os
modernos, tomou o partido dos modernos. O exército rápido que
Guderian e seus discípulos queriam organizar correspondia à sua
impaciência de homem obcecado diante dos poucos anos que
dispunha para realizar seus grandes desígnios. Trabalhou, com
toda força de sua paixão, para impor a sua opinião aos
discordantes.

Até 1938, à frente das três armas alemães, estavam o


Ministro da Guerra, Werner von Blomberg, o comandante chefe
do Exército, Werner von Fritsch, e o chefe do Estado Maior,
Ludwig Beck - todos partidários do equilíbrio das armas, de uma
estratégia defensiva-ofensiva e de uma política externa prudente.
Hitler esmagou os dois primeiros em retumbantes processos
morais. O terceiro, o monge-soldado Beck, tentou atravessar-se à
torrente hitlerista, fazendo valer a responsabilidade do estado-
maior, diante da nação: esmagado, por sua vez, concluiu que não
havia outro recurso senão derrubar Hitler, pela força. E começou a
conspirar, imediatamente. Hitler não estava suficientemente
desembaraçado do único general bastante corajoso para desafiá-lo.
Tendo arrancado de todos os soldados um juramento de fidelidade
à sua pessoa, construiu, sem oposição, o organismo que tantas
vezes será citado: o Oberkommando der Wehrmacht, ou OKW,
que reunia, sob autoridade direta do Fuhrer-Chanceler, O
Exército, a Marinha, a Aviação, as indústrias de armas, a
propaganda, etc - em suma, tudo quanto constitui a capacidade

[ 38 [
Segunda Guerra Mundial - Volume I

militar de uma nação. As conseqüências dessa extrema


concentração de comando seriam múltiplas, profundas e
acarretariam imensas vantagens e graves inconvenientes. Mas a
causa da guerra revolucionária foi definitivamente ganha, quando
Hitler se constituiu comandante-chefe.

No momento em que começou a campanha da Polônia,


eram 6 as divisões blindadas. As 5 mais antigas, numeradas de 1 a
5; a mais recente levava o numero 10. Compunham-se de uma
brigada de tanques, uma de fuzileiros transportados, um batalhão
de engenharia, um de comunicações, uma esquadrilha de
observação e um único regimento de artilharia, composto de dois
grupos de 105 rebocados ou automotores. A metade dos 288
tanques, constituindo a dotação média de uma divisão, é de Pz Kw
1, chamados “latas de sardinha”, de 6 toneladas, com uma fina
blindagem e duas metralhadoras. Os Pz Kw 2, de 9 toneladas e
dotados de um canhão de 20, são pouco menos frágeis. Foi
preciso chegar-se aos Pz Kw 3 e aos Pz Kw 4 respectivamente de
15 a 20 toneladas, com calibres de 37 e 75, para conseguir armas
de real poder. Mas o número de Pz Kw 4 não passava de 24, por
divisão, e só uma vontade como a de Hitler, pôde impô-los a um
estado-maior que os considerava pesado demais.

Tais eram essas ilustres Panzerdivisionen que iriam


revolucionar a arte da guerra e permitir a Hitler dominar a Europa.
Posteriormente, 4 divisões ligeiras, numeradas de 6 a 9, tornar-se-
iam divisões blindadas, pela junção de material checo, mas, em
lugar de uma brigada, só teriam um regimento de tanques, com 3
batalhões. Fica-se chocado, retrospectivamente, pela fraqueza
desse corpo de combate, não somente quando o compara ao
número de armas que iriam surgir, ao curso dos anos seguintes,
mas mesmo quando colocados no quadro das armas militares da
época. A impressão produzida pelas Panzerdivisionen e os

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

sucessos que obtiveram levaram a que se superestimasse de


maneira fantástica sua força, e foi preciso mais de um quarto de
século para que esse exagero desaparecesse. Muito mais do que o
peso e no número das armas, a revolução dos blindados consistiu
na doutrina de ocupação e na coragem com que essa doutrina foi
traduzida nos campos de batalha. Foi pela vitória da inteligência
que a Segunda Guerra começou.

Comparativamente, a Luftwaffe era mais forte do que a


arma blindada. A partir de 1934, ela superou suas doenças infantis,
levantou sua produção anual de 900 a 6.000 aparelhos, fixou
alguns tipos de avião que, até a afirmação do poderio industrial
americano, iriam exercer o controle do espaço: o caça Me-109, o
caça-bombardeiro Me-110, o bombardeiro de mergulho Ju-87, os
bombardeiros horizontais Ju-88, He-111 e Do-17. No início das
hostilidades, põe em serviço 771 caças, 408 caças-bombardeiros,
336 Stukas e 1.180 bombardeiros. Um total de 2.695 aviões,
constituindo uma força aérea à qual nenhum país do mundo oporá
equivalente, antes que se passem muitos meses. Postos de parte a
aviação e os blindados, o Exército alemão foi reconstituído em
linhas tradicionais. A motorização era deficiente: apenas 4 divisões
de infantaria motorizada, cooperando com as Panzer. O resto
consistia em 36 divisões da ativa, 3 divisões de montanha, 37
divisões de reserva e 14 divisões de Ersatz - estas duas últimas
categorias tiradas do nada, algumas semanas antes. O material era
desigual: os obuses modernos, de 105 e 150, têm categoria
superior à dos 75, 105 e 135 franceses, mas muitas baterias
continuavam equipadas com o velho 77, de Guilherme II. A
própria aviação carecia de chefes de grupos e iria levantar vôo com
um estoque de bombas estritamente suficiente para três semanas
de operações. Reconstituída em 5 anos, a Wehrmacht era uma
improvisação, com a qual se assustavam alguns generais que se
haviam formado no exército exemplar do tempo imperial.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Entre esses chefes, a maioria se esforça para ser apenas


militar. Alguns são hitleristas: a maioria é anti-hitlerista. Não
gostam de Hitler e Hitler os odeia. Entretanto, seria preciso um
estranho profético para saber que, antes do fim da guerra, mais de
cinqüenta marechais, generais e almirantes deverão ser fuzilados,
enforcados, estrangulados, pendurados pelo pescoço em ganchos
de açougue ou constrangidos ao suicídio pelo Fuhrer-Chanceler.

A conspiração já estava instalada nesse comando


prometido a tal hecatombe. Antes de Munique, o Deuxieme
Bureau (Serviço francês de Inteligência) dera de ombros diante de
uma informação que advertia haver um general alemão prestes a
marchar sobre Berlim, à frente de sua divisão blindada. Mas o
general em questão existia: chamava-se Hoeppner (condenado à
morte depois) e havia esperado, uma noite inteira, em sua
guarnição de Turíngia, o sinal que lhes deveria ser enviado pela
junta dos conjurados. Estes, reunidos em casa do Coronel-General
Halder, contavam, em suas fileiras, como Coronel-General Beck, o
General von Witzleben, o General de Infantaria von Stulpnagel, o
Almirante Canaris, o Chefe de Polícia de Berlim, etc - todos já
destinados a execução capitais.

“Se perdermos esta guerra, que deus tenha piedade de nós!”

Eles queriam deter Hitler, no dia seguinte, no momento


em que voltasse do Congresso Nacional-Socialista, de Nuremberg.
As ordens já estavam assinadas, quando a rádio anunciou
que Chamberlain obtivera uma audiência do Fuhrer e estava
voando para Berchtesgaden.... “a base material de nossa
conspiração estava destruída” - explicaria Halder, uma vez que
Hitler não mais voltaria para Berlim. “A base moral não o estava
menos: podíamos deter um insensato que atirava a Alemanha a
uma guerra previamente perdida; não podíamos deter um

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

chanceler que negociava com o Primeiro Ministro da Inglaterra a


volta pacífica dos alemães para o Reich...”.

Depois de Munique, nenhuma nova ocasião se apresentou,


mas a conjuração não estava morta. Um dos conjurados,
Witzleben, comandava um exército na frente ocidental; outro,
Canaris, dirigia a espionagem alemã.

O próprio Halder não era outro senão o chefe do Estado-


Maior, o braço direito do comandante-chefe do Exército, von
Brauchitsch!... Assim, essa guerra mundial começava na rebelião
latente de uma parte do Alto-Comando alemão contra o chefe do
Exército e do Estado alemães. Disso resultariam estranhas
revelações.

Os chefes que não conspiravam perderam o entusiasmo.


Claro que nenhum deles admitia o Corredor, o estado de Dantzig,
o traçado arbitrário das fronteiras orientais, a sujeição de um
milhão de alemães ao jugo polonês. Mas achavam que o Exército
alemão não estava ainda refeito para enfrentar um novo conflito
europeu. Salvo os hitleristas Busch e Reichenau, todos assinaram,
antes de Munique, um memorando, redigido pelo General Beck,
para prevenir o Fuhrer contra os perigos que sua política
aventureira fazia correr a Alemanha.

O pacto germano-soviético os serenara um pouco,


libertando-os da obsessão de uma guerra, em uma Rússia cuja
rudeza e imensidade quase todos conheciam. Estão inquietos. A
guerra começava antes que estivessem prontos.

O moral da nação, como a dos generais, estava muito


longe da exaltação. Naquele mês de agosto de 1939, nada se
assemelhava à torrente de entusiasmo, à corrida para o sacrifício

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

de julho de 1914. Hitler sabia disso. No ano anterior, antes de


Munique, fizera uma experiência que não ousava renovar, naquele
ano: o desfile, em Berlim, de uma divisão blindada. Havia esperado
uma tempestade de patriotismo: apenas provocou um espetáculo
de consternação! Durante três horas, os carros blindados rolaram
através das ruas da cidade em meio a um silencioso estupor, como
se fora um exército inimigo numa cidade conquistada - com Hitler,
à sacada da Chancelaria, esperando em vão o rumor belicoso que
queria provocar, à passagem de seus monstros de aço. Findo o
desfile, ele voltou para seu gabinete e atirou-se a uma poltrona,
injuriando o povo alemão - da mesma maneira que, vencido e
agonizante, o injuriaria seis anos depois, no mesmo local, depois
de tê-lo crucificado e desonrado.

Do Báltico aos Cárpatos, as tropas marcham. O plano de


operações, retocado e ampliado segundo as diretivas de Hitler,
agarrou a Polônia em uma tenaz. O ramo de esquerda é o Grupo
de Exércitos Norte, comandado pelo General von Bock. O ramo
da direita é o Grupo de Exércitos Sul, comandado pelo General
von Rundstedt. O primeiro grupo se compõe de dois exércitos: o
3° (Kuchler), surgindo da Prússia Oriental, e o 4° (Kluge),
desembocando da Pomerânia - ao todo 21 divisões, entre as quais
9 da ativa, com apenas duas blindadas. O segundo grupo é
integrado por três exércitos: o 14° (List), reunido nos Cárpatos; o
10° (Reichenau), concentrado na Alta Silésia, e o 18° (Blaskowitz),
lançado da região de Breslau - ao todo 36 divisões, entre elas 28 da
ativa, das quais 4 blindadas. Enquanto o Grupo Norte apagará o
Corredor, forçará a linha do Narew, tomará Varsóvia pela
retaguarda, o Grupo Sul destruirá o grosso das tropas polonesas, a
oeste do Vístula. Leva-se tão longe o desprezo ao adversário, que
só se deixa, entre os dois grupos de exércitos, para defender
Berlim da elite das tropas polonesas, uma cadeia de guardas
alfandegários.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Às 4h45, o cruzador-couraçado Schleswig-Holstein,


chegado na véspera a Dantzig, abre fogo sobre o território polonês
da Waterplatte. As formações aéreas voam. E, dentro da bruma, os
tanques de Guderian, de Hopner e de von Kleist transpõem a
fronteira e caem sobre os poloneses adormecidos.

O dia 2 se setembro é um bom dia para Hitler. As notícias


militares são excelentes. O comando polonês foi completamente
surpreendido. Via o inicio das hostilidades segundo o precedente
de 1914: 15 dias para concentração das tropas, sem outras
operações além de escaramuças à fronteira. Essa guerra, que
arranca veloz, toma-o de surpresa. Os soldados batem-se, mas os
tanques blindados alemães rompem a frágil posição de resistência
e investem furiosamente, desorganizando a retaguarda, destruindo
as ligações, paralisando o exercício do comando. A Luftwaffe
derruba a aviação inimiga, neutraliza os QGs, bombardeia em
mergulhos os núcleos de resistência, provoca engarrafamento das
retaguardas inimigas, jogando às estradas uma multidão de civis
desvairados...

Ao norte do dispositivo, as tropas alemãs desembocam da


Prússia Oriental e atacam a posição do Mlawa, que cobre Varsóvia.
No Corredor, o 3° e o 4° exércitos fazem junção. No centro, o 10°
Exército, ponta de lança do Grupo Rundstedt, atinge o Warta,
numa marcha progressiva de 80 km em 36 horas. No extremo sul,
as tropas alpinas de List forçaram a garganta do Jablunka, teatro de
lutas intermináveis, na guerra anterior, e chegam às portas de
Cracóvia. Era impossível esperar um início de ofensiva mais vivo e
mais brilhante.

E a Inglaterra? E a França? Esperaram 21 horas e 30


minutos para notificar ao governo do Reich que o prolongamento
da ação militar alemã os forçaria a cumprir seus compromissos

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

com a Polônia. A Wilhelmstrasse olha com superioridade essa


providência tardia. “É um ultimato? - pergunta Ribbentrop. “Não;
é uma advertência” - respondem os embaixadores.

Graves desacordos existem entre Paris e Londres. Em


Paris, o Ministro das Relações Exteriores, Georges Bonnet, agarra-
se desesperadamente à proposta italiana de uma conferência a
quatro. Em Londres, suspeita-se que a França se está furtando a
esse entendimento. O Embaixador da Polônia, Conde Radzinski,
chega, como um louco, ao Foreign Office, gritando que, a seu
colega de Paris, Bonnet declarara que, pela Polônia, não faria
massacrar as mulheres e as crianças da França. Esses poloneses
apreciam tanto mais o egoísmo sagrado quando o haviam
exercido, em 1938, à custa dos tchecos. Mas os deputados ingleses
vão a seu encontro na impaciência e na indignação. Vaiam uma
fraca declaração de Chamberlain, resumida nisto: “Nós
protestamos. Esperemos, agora, a resposta do Sr. Hitler”. Dizem,
nos bastidores de Westminster, que a moleza do gabinete provém
da defecção francesa, mas que a Inglaterra marchará sozinha e
Chamberlain será derrubado e substituído por Churchill.

Enquanto isto, em Berlim, Hitler passa a noite com alguns


íntimos, na sala de música da nova Chancelaria, lendo, com voz
radiante, os boletins de vitória que lhes chegam da frente polonesa.
‘Na França, a mobilização geral fora decretada na véspera, à noite,
o que significava, segundo os cálculos do serviço alemão de
contra-espionagem, que pelo menos 80 divisões se concentravam
do mar do Norte à Suiça. Ora, a Alemanha só deixara, a oeste, 11
divisões ativas, e várias semanas serão necessárias para que as 35
divisões, de terceira e quarta vaga, que devem reforçá-las, atinjam
uma segunda coesão. Nas cidades fronteiras, como Freiburg-am-
Brisgau, o boato de que os franceses transpunham o Reno
levantara uma onda de pânico. Mas o Fuhrer permanece

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

imperturbável. Registra que a Câmara francesa, votando 85


milhões de créditos suplementares, nunca pronuncia a palavra
“guerra”. Mais uma vez a intuição hitlerista se revela exata: a
França e a Inglaterra não passam à ação.

Mas Hitler se engana. Se a vontade francesa está oscilante,


a resolução inglesa é firme. Ao Conde Ciano, que lhe telefonava
febrilmente do palácio Chigi, Lorde Halifax responde que
nenhuma conferência pode ser cogitada sem que, previamente, a
Alemanha retire suas tropas do território polonês. Mussolini
manda responder que não pode transmitir tal exigência ao Fuhrer.
Rompe-se o último fio da paz.

Às 4 horas da manhã de 3 de setembro, o Embaixador


Neville Henderson recebe, de Londres, ordem de pedir audiência
a Ribbentrop, para as 9 horas. Wilhelmstrasse finge dormir, como
se estivesse em plena paz. Henderson tem que despertar uma
porção de subalternos, para ouvir a resposta de que Sua Excelência
Ribbentrop não estaria visível pela manhã, mas que o conselheiro
de embaixada Paul Schmidt, intérprete de Hitler, estava habilitado
a receber qualquer comunicação do Governo inglês. Foi nas mãos
desse funcionário de segunda classe que a Inglaterra teve que
entregar seu ultimato: se às 11 horas - dentro de duas horas! - não
recebesse garantias categóricas quanto à imediata retirada das
tropas alemãs, existiria estado de guerra entre ela e o Reich
alemão...

A França segue - a reboque. Recusa apresentar seu


ultimato simultaneamente com o inglês, insiste em que o prazo só
expire a 4 de setembro, evita, ainda, empregar a palavra “guerra”.
“O Governo francês - escreve Bonnet - ficaria na obrigação de
cumprir os compromissos que a França contraiu com a Polônia e
que o Governo alemão conhece...”. Três horas depois de o

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

Embaixador Henderson ter enviado o ultimato, o Embaixador


Coulondre remete à Wilhelmstrasse essa eufêmica declaração de
guerra. A da Inglaterra, Schmidt a tinha imediatamente levado ao
gabinete de Hitler. Ele estava de sentado à mesa de trabalho.
Ribbentrop, de pé, perto de uma janela. Schmidt traduziu,
lentamente, o ultimato. Hitler parecia petrificado. Permaneceu
imóvel por um interminável momento. Depois, lançou a seu
Ministro das Relações Exteriores um olhar furioso de homem
enganado. “E agora?” - disse, com inflexão inexprimível. Schmidt
apressou-se a sair.

Na antessala, havia-se reunido uma pequena multidão de


ajudantes de campo e altos funcionários do partido. Schmidt os
pôs a par do ultimato inglês. Caiu outro silêncio, que a voz de
Goering rompeu: “Se perdermos esta guerra, que Deus tenha
piedade de nós”.

A França ataca: Tarde demais!

A 7 de setembro, pela manhã, grupos de reconhecimento,


pertencentes aos 3°, 4° e 5° exércitos franceses, transpõem a
fronteira alemã, a oeste dos Vosges, em frente a Sarrelouis,
Saarbruck e Deux-Ponts.
O objetivo da ofensiva é aliviar a Polônia, obrigando o
Exército alemão a voltar-se para a frente ocidental.

Demasiado tarde? não, não é demasiado tarde... É


dramaticamente, tarde demais!...

Pelo relógio de 1914, essa intervenção no quinto dia da


mobilização seria honrosa. Procedia-se, de início, à concentração
dos exércitos, atrás da carapaça da cobertura, e somente quando
essa concentração terminasse seria possível empreender ação

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

ofensiva. A convenção franco-polonesa de estado-maiores,


discutida em maio - e não ratificada, por falta de um acordo
político -, conformava-se com essa concepção clássica. Previa que
a França “desencadearia, progressivamente, operações ofensivas,
de objetivos limitados”, lá pelo quarto dia de sua mobilização, para
atacar com o grosso de suas forças, lá pelo 15°, “se o esforço
principal a Alemanha se acentuasse sobre a Polônia”. A França
não estava, pois, atrasada nem quanto ao relógio de seu
pensamento militar, nem quanto ao meio compromisso assumido.

Mas, pelo relógio de 1939, a intervenção francesa chega tão


tarde que se torna inútil. A Polônia ainda se bate mas sua derrota
está consumada. O mesmo 7 de setembro que vira a entrada
prudente das vanguardas francesas no Sarre, vê, na Polônia, o
desabamento da resistência organizada. O 4° Exército alemão
cerca o Vístula, até Thorn. O 3° Exército, tendo conseguido uma
penetração em Mlawa, toma Varsóvia pela retaguarda. O corpo
diplomático, o governo e o comando saíram de lá
precipitadamente, mas sua rota de fuga, o sudeste, está cortada
pelo 14° Exército, que, tendo conquistado Cracóvia, avança em
direção à fronteira romena. A oeste do Vístula, o exército polonês
do saliente de Poznan (o exército que devia marchar sobre Berlim)
tenta, por uma reviravolta, cair sobre o flanco esquerdo do 8°
Exército alemão. Rundstedt, porém, reorienta seu 5° Exército,
lança o 15° Corpo de Exército motorizado e o 16° blindado pela
retaguarda de Bortnovski. A reação polonesa nada mais resulta do
que no primeiro grande cerco da guerra, o bolsão do Bzura, no
qual 19 divisões polonesas são capturadas.

Do lado alemão, as mais altas esperanças estão


ultrapassadas. Somente tarde demais, quando submetidas as
operações a uma crítica pormenorizada, se revelarão certas
fraquezas bastante inquietantes, em um exército cujas bases ainda

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

não estão bem firmes. O rendimento excelente das unidades


blindadas e aéreas tudo conquista. A infantaria e a cavalaria
polonesas são impotentes contra os tanques; a artilharia hipomóvel
polonesa perde todos os cavalos, sob o bombardeio da aviação; os
bombardeios em profundidade cortam as comunicações e
desorganizam as retaguardas. O próprio tempo, é, uma vez mais,
hitlerista. As chuvas estão atrasadas, o céu continua radioso -
cúmplice imperturbável dos aviões e dos tanques.

É, na verdade, uma bela guerra, fresca e alegre. As perdas


são poucas. As divisões não motorizadas mal têm ocasião de
combater. As personalidades distintas do regime nazista vêm
assistir a essas “grandes manobras”, em que está compreendido o
salto de Leni Riefenstahl sobre o QG de Rundstedt, com uma
pequena pistola à cintura e um punhal na bota branca. Quanto à
Hitler, transportou-se para seu primeiro QG, de campanha, no
Kasino Hotel de Sopot, praia de Dantzig. Não se envolve com os
pormenores das operações. Mas tira conclusões sobre essa guerra
de grande rendimento, na qual acreditou, contra a opinião dos
profissionais.

Enquanto isso, ora súplices, ora afrontosamente, os


representantes do comando polonês, em Londres e em Paris,
pedem a abertura das hostilidades aéreas. A resposta é que a RAF,
vai, todas as noites, atirar panfletos sobre a Alemanha, mas que o
governo francês julga inoportuno atrair represálias sobre suas
indústrias de guerra, tomando a iniciativa de bombardeios mais
sérios. No Sarre, elementos de uma dezena de divisões avançam,
passo a passo, tirando do anonimato algumas localidades, como
Bubingen, Wittersheim ou Hornbach. As diretivas do comando
são de uma modéstia exemplar. Trata-se de “investir progressiva e
metodicamente” sobre a Linha Siegfried entre Haardt e Mosela, e
só depois e eventualmente o ataque às fortificações deverá ocorrer.

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

A resistência inimiga corresponde, em medida, a essa fraca


agressividade - de acordo com as ordens de Hitler, que havia
prescrito que suas forças se limitassem a responder aos ataques.
Todavia, os soldados franceses têm cruel surpresa: as minas. As
estradas saltam sob os veículos, as tropas, avançando através dos
campos, caem em armadilhas mortais - e os homens que abrem a
porta de uma granja ou apanham um objeto abandonado são
pulverizados. As minas... O Exército francês, votado à defensiva,
mal sabe o que são. Fútil ofensiva! Só teria sentido se a França,
adaptando seu exército à condição de guardião dos tratados,
tivesse corpos de combate blindados, capazes de se atirar sobre a
Alemanha e invadi-la. O General Gamelin sabe, melhor que
ninguém, que se trata de um simulacro de ação, em favor de uma
Polônia condenada. Desde o dia 9 de setembro, ele vem
registrando, para o General Georges, seu adjunto para a frente
nordeste, a gravidade das derrotas polonesas, sublinhando que as
missões defensivas tomam a prioridade. A ofensiva terminou, para
a Polônia.

No dia 17, Moscou fala. Molotov declara que o governo


polonês já não dá sinal de vida: logo, a República Polonesa deixara
de existir. A URSS, consequentemente, procede à ocupação dos
territórios que, em seu acordo com o Reich, lhe foram
reconhecidos como zonas de influência. Uma modificação será
aposta a esse acordo, a 28 de setembro: em troca do abandono da
Lituânia, pela Alemanha, a nova fronteira germano soviética será
recuada para leste, até Bug. Ainda há combates esparsos, mal
conhecidas fogueiras de heroísmo, de uma guerra esquecida. Um
general, Victor Thomme, defende-se, com furor, na cidade de
Modlin. Um general, Prugar-Katlings, entrincheira-se na floresta
de Ianov, de onde surge, com alguns esquadrões - cavaleiros
contra Panzer! - para se atirar ao assalto de uma divisão blindada
imobilizada por falta de combustível. Um almirante, Unruh,

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Segunda Guerra Mundial - Volume I

disputa, até o dia 2 de outubro, o pequeno porto militar de Hel, na


extremidade de uma faixa de areia da baía de Dantzig. Em
contrapartida, o herói de estampas de Epinal, o Marechal Rydz-
Smigly, passa pela Romênia sem armas, mas com numerosa
bagagem. A Polônia de Kosciuzko até hoje cora de vergonha. A
própria Varsóvia, defendida por um general polonês chamado
Rommel, foi sitiada. Considerando que toda resistência
coordenada cessara, os generais alemães propõem bloquear a
cidade e esperar sua capitulação. Mas replicando que Varsóvia é
uma fortaleza, Hitler manda que a aviação e a artilharia a
castiguem. A cidade rende-se a 27 de setembro, após um
bombardeio de 4 dias.

Outros desentendimentos vão produzir-se entre Hitler e


seus generais. Seguindo o Exército vitorioso, as SS (Schutzstaffel -
Guarda de Proteção) e a Gestapo se precipitam sobre a Polônia. O
General Petzel, comandante das forças em Poznan, protesta
contra a matança dos judeus. O General von Kuchler declara ao
Gauleiter da Prússia Oriental, Koch: “O Exército alemão não foi
organizado para servir de furriel a um bando de assassinos”.
Nomeado comandante das tropas de ocupação, o General
Blaskowitz faz condenar à morte os membros das SS, culpados de
atrocidades, e, tendo Hitler anulado o julgamento, envia-lhe uma
nota de protesto que lhe cortará a carreira. A animosidade do
antimilitarista que é Hitler contra os militares de carreira,
prisioneiros das concepções anacrônicas de honra, jamais deixará
de se exacerbar. No entanto, esses militares, tão detestados,
ganham para seu Fuhrer, uma bela vitória. A Polônia, que os
estados-maiores ocidentais julgavam estar apta a resistir por um
ano, é arrasada em 19 dias. Deixa 694.000 prisioneiros nas mãos de
seus vencedores - e mais 217.000 nas dos russos. As perdas dos
exércitos alemães se elevam a somente a 10.572 mortos, 30.322
feridos e 3.409 desaparecidos.

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