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Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 1

CONHECIMENTOS GERAIS UNIDADE 1 – A CONQUISTA DO LITORAL


Prof. Jam CEARENSE

1. O quase abandono do Siará


No século XVI, o Siará ficou praticamente
esquecido por Portugal, devido, sobretudo, à falta de
grandes atrativos econômicos – não tinha ouro, prata,
especiarias, etc., e suas riquezas (como sal, pau-violeta,
âmbar-gris, macacos, papagaios, etc.) não eram lá muito
lucrativas. Prova do abandono cearense é que o primeiro
donatário da capitania, Antônio Cardoso de Barros,
nunca veio colonizar suas posses. Nesse período, muitos
aventureiros estiveram no Ceará praticando escambo
com os índios, trocando machados, foices, tesouras,
tecidos, quinquilharias etc., por produtos nativos.
jamcarlos1@hotmail.com
Prof CHUPA ESSA MANGA !!! O nome Ceará, que passou do rio à capitania, em 1799,
à província em 1822, ao Estado, em 1889, é de origem
incerta, sendo frequentemente escrito no século XVII
Em Fortaleza, é professor de diversos colégios e com S, Seará, Siará, Syará e depois Ciará e Ceará.
cursos preparatórios, entre eles: Colégio Santa Manuel Aires do Casal apresenta como palavra do
Cecília, Colégios Santa Isabel, Colégio Nossa idioma indígena Ciará, ‘Canto da Jandaia’. Conforme o
Senhora das Graças, Lócus Vestibulares e romancista José de Alencar, deriva do Tupi Cemo,
Concursos, Tiradentes Concursos, CTA Concursos, ‘cantar forte’, de Ara, ‘pequeno periquito’. Outra
Referencial Concursos, entre outros. hipótese, considera-se como provindo de suiçara,
“O povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la” ‘abundância de caça’. Para o historiador João Brígido,
(Edmund Burke)
Ceará seria uma deturpação do Tupi Ciri-Ará,
significando Ciri, no idioma Guarani, ‘andar para trás’, e
Ará, ‘branco’, ‘alvacento’, ou seja, ‘caranguejo branco’. A
ideia de uma variação de Saara (deserto africano) como
procedência dessa expressão, é também levantada,
porém fantasiosa.

A presença do espanhol Vicente Pinzón, em


janeiro de 1500, provavelmente no Mucuripe, em
Fortaleza, e na Ponta Grossa no município de Aracati,
para alguns autores, teria feito do Ceará o “verdadeiro”
local do “descobrimento” do Brasil. Há muita controvérsia
sobre isso.
Foi apenas no século XVII que Portugal decidiu
colonizar o litoral cearense, por razões estratégico-
militares: defender a faixa litorânea setentrional do Brasil
contra estrangeiros (em particular, os franceses, que
chegaram a fundar uma colônia no Maranhão – A
“França Equinocial”) e criar no Ceará uma base de apoio
logístico que facilitasse a conquista da região norte da
colônia (daí a História do Ceará inicialmente girar em
torno de “fortes”).

2. As tentativas de conquista
A primeira tentativa oficial de colonizar o Ceará
deu-se em 1603, Pero Coelho de Sousa. Na condição de
capitão-mor, esse açoriano organizou uma expedição,
cujo objetivo era explorar estas terras, combater piratas,
estabelecer a paz com os índios e tentar encontrar
metais preciosos.
Após combater franceses e índios na Ibiapaba,
Pero e seus homens instalaram-se nas margens do rio
Ceará, onde foi erguido o Forte de São Tiago (a região
foi batizada de Nova Lusitânia). Não encontrando
riquezas na região, Pero passou a escravizar os índios.
Como estes reagiram, Pero recuou e ergueu o Forte de
São Lourenço nas ribeiras do rio Jaguaribe. Mas, como
as “hostilidades” indígenas continuavam sofrendo os
pesados efeitos da seca de 1605-07, Pero Coelho viu-se
obrigado a deixar o Ceará, indo para o Rio Grande do
Norte.
A segunda tentativa de conquistar a terra
cearense deu-se com os padres jesuítas Francisco Pinto
2 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
e Luís Filgueira, em 1607. A catequização e colonização colonização e mudam o nome do forte para Fortaleza de
andavam juntas no Brasil – aumentava-se o número de Nossa Senhora da Assunção.
cristãos e garantia-se a posse da terra. Os dois religiosos Bom atentar que por esse período o “Siará”
fizeram praticamente o mesmo percurso de Pero Coelho, esteve submisso a outras entidades administrativas. Em
indo parar na Ibiapaba. Ali procuraram cristianizar os 1621 e 1656, foi gerenciado pelo Maranhão; de 1656 a
nativos. Mas os índios lembravam ainda os maus tratos 1799, esteve submetido a Pernambuco. Isso atrapalhou
impostos por Pero Coelho. Assim, os nativos Tocarijus o crescimento material da capitania.
atacaram os jesuítas e mataram Francisco Pinto. Luís Por anos, o “Siará” dos invasores europeus estava
Filgueira conseguiu escapar, indo para o Rio Grande do restrito ao litoral. Isso, contudo, mudaria a partir da
Norte. segunda metade do século XVII, com a conquista dos
sertões em função da pecuária.
3. Martim Soares Moreno
Outra tentativa de conquista do Ceará deu-se 5. Os Índios Cearenses
com Martim Soares Moreno. “Quem me dera ao menos uma vez,
A primeira vez que Moreno esteve no Ceará foi com a Ter de volta todo o ouro que entreguei
fracassada bandeira de Pero Coelho, em 1603. Seis A quem conseguir me convencer
anos depois, em 1609, na condição de tenente do forte Que era prova de amizade
dos Reis Magos, já dava combate a traficantes franceses Se alguém levasse embora até o que eu não tinha
no litoral cearense. Quem me dera ao menos uma vez
Em 1611, com a ajuda de índios da região, Esquecer que acreditei que era por brincadeira
chefiados por Jacaúna, Moreno fundou às margens do Que se cortava sempre um pano-de-chão
rio Ceará o Forte de São Sebastião. No ano seguinte, De linho nobre pura seda [...]”
apesar de suas pretensões colonizadoras, foi convocado (Índios – Legião Urbana)
para combater os franceses que haviam fundado a
França Equinocial o Maranhão. Genocídio indígena:
Moreno só retornou ao Ceará em 1621, no cargo Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil,
de capitão-mor. Encontrando o Forte de São Sebastião este era habitado por cerca de 4 milhões de indivíduos
praticamente destruído, reconstruiu o possível, também chamados erroneamente de “índios”.
incentivando, sem muito êxito, a pecuária e a cana-de-
açúcar. Aos índios restaram poucas opções:
A falta de recursos e da atenção de Portugal • A escravidão;
fizeram com que Moreno se retirasse do Ceará em 1631, • A morte;
dirigindo-se para Pernambuco, onde foi combater os • A expulsão de terras;
holandeses que então invadiam o Brasil. Anos depois, • Ou ainda uma heroica e infrutífera resistência.
regressou às terras portuguesas, não vindo mais ao
Ceará – tanto que é homenageado como “fundador” do Milhões foram mortos em nome do(a):
Ceará – homenageado pelo escritor José de Alencar no • Capitalismo;
livro Iracema. • Comércio;
• Lucro;
Iracema, a virgem tabajara consagrada a Tupã, • Fé.
apaixona-se por Martim, guerreiro branco inimigo
dos tabajaras. Por esse amor abandona sua tribo, Justificação do holocausto. A ideia que o índio era:
tornando-se esposa do inimigo de seu povo. Quando • “Selvagem”;
mais tarde percebe que Martim sente saudades de • “Pagão”;
sua terra e talvez de alguma mulher, começa a sofrer.
• “Inferior”;
Nasce-lhe o filho, Moacir, enquanto Martim está
• “Indisciplinado”;
lutando em outras regiões. Ao voltar, ele encontra
Iracema prestes a morrer. Parte, então com o filho • “Sujo”;
para outras terras. • “Preguiçoso” e;
• Que precisava adaptar-se à missão progressista do
“branco civilizado”.
4. Tempos flamengos
No ano de 1630, os holandeses invadem
Origem confusa...
Pernambuco na pretensão de dominar a região
açucareira e de encontrar outras riquezas. Assim, em • A teoria mais aceita diz haver o homem americano ter
1637, tropas flamengas conquistaram o forte cearense migrado da Ásia há 12 mil anos, pelo estreito de
de São Sebastião. De início, contaram os holandeses Bering.
com o apoio dos índios. Depois, contudo, a “aliança” se • Entra em choque com as afirmações da arqueóloga da
desfez, pois o holandês não se diferenciava do USP, Niéde Guidon, que haveria encontrado, no
português no mau trato do índio. Revoltados, em 1644, município de São Raimundo Nonato (PI), vestígios
os nativos atacaram e destruíram o fortim, trucidando os confirmando a presença humana há cerca de 40 mil
holandeses. anos.
Os flamengos retornaram em 1649, sob o mando
do capitão Matias Beck, em busca de minas de prata. O historiador Carlos Studart Filho aglutinou-os em 5
Erguem no monte Marajaitiba, nas margens do riacho grupos, a saber:
Pajeú, o forte Schoonemborch, em torno do qual, depois, • Tupis;
iria espontaneamente surgir a atual cidade de Fortaleza. • Cariris;
Os holandeses ficam no Ceará até 1654, quando • Tremembés;
retiram-se em virtude de sua derrota em Pernambuco e • Tarairius e;
expulsão do Brasil. Sob a liderança do capitão-mor • Jês.
Álvaro de Azevedo, os portugueses retomam a
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Apesar do genocídio (destruição física) e do dóceis” para com os brancos, transformavam-nos em
etnocídio (destruição cultural), os índios sempre semi-servos ou escravos dos latifúndios, ou ainda em
reagiram contra o branco invasor; soldados.
Exemplo maior foi a ”Guerra dos Bárbaros”. A rígida disciplina dos aldeamentos e a própria
imposição do catolicismo contribuíram para o etnocídio
A guerra dos “bárbaros” indígena.
Índios de diversas capitanias nordestinas uniram- A Igreja colonial estava entre os grandes proprietários de
se numa confederação para enfrentar os conquistadores terra nordestinos, usufruindo gratuitamente do trabalho
entre o último quartel do século XVII e a década de indígena.
1820; foram derrotados;
Após a “domesticação”, os índios acabaram na Embora combatessem o genocídio e a escravidão
dependência de grandes senhores de terra, coronéis, indígena – positivos de seu trabalho, os jesuítas
que os utilizavam em confrontos particulares; contribuíram enormemente para a destruição cultural
Assim compreende-se o porquê da participação dos (etnocídio) dos silvícolas, à medida que substituíam
nativos na “guerra” entre famílias montes e feitosas, a centenária vida social destes por uma outra,
ocorrida no Sul cearense nas primeiras décadas do “branca”, preconceituosa, intolerante, maniqueísta,
século XVIII. pretensamente civilizada, que condenava a nudez, a
poligamia, a religião politeísta, as casas coletivas,
Montes e Feitosas enfim, a vida livre e diferente.
O confronto entre Montes (natural de Sergipe) e
Feitosas (originária de Alagoas) provocado por lutas de Andando pelos sertões
terras, terminou após a intervenção das autoridades Com a expulsão dos jesuítas em 1759, os
coloniais, com a aparente vitória da segunda família. aldeamentos foram convertidos em vila e os serviços de
Mesmo após tantas chacinas e sofrimentos, os catequização passaram a ser feitos pelos frades
índios continuam a existir e a resistir no Ceará, lutando franciscanos com as Santas Missões;
pela demarcação de suas terras e preservação da As Santas Missões eram espécies de Missões
cultura. móveis, indo de região em região, para onde fossem
convidadas. Revelou-se um sucesso. Nelas havia um
Catequese e Aldeamento clima de festa.
Aos poucos, o trabalho com índios foi sendo
“A história dos povos indígenas que abandonado; depois com a Lei das Terras de 1850, os
povoaram nosso solo pátrio contém as mais indígenas passaram a perder suas terras com as ações
preciosas lições. O índio não é um ‘selvagem’; ele de grileiros.
não é um ser inferior; é antes, uma criatura humana
de riquezas espirituais e culturais a nós A luz da história, o método de aldeamento foi um
desconhecidas, porque, no decurso dos séculos, não fracasso. Os gentios morriam em grande quantidade,
soubemos olhá-lo a não ser como com olhos de devido ao contato com as doenças trazidas pelos
adversário. Índio não é aquele que deve morrer; é brancos e pelo próprio regime de trabalho
aquele que deve viver. Há toda uma dívida a ser forçosamente estabelecido. Além disso, tratava-se de
resgatada por nós cristãos no século XX.” impor a doutrina, a obediência e a submissão ao
(D. Aloísio Lorscheider, ex-arcebisbo de Fortaleza)
catolicismo. O resultado foi a destruição
sociocultural do índio, sua destribalização,
Fé, Rei e Espada
descaracterização e massificação, de tal sorte que o
Ligada ao estado português, a Igreja católica veio
nativo dificilmente poderia resistir ao avanço do
para o Brasil no período da colonização.
conquistador.
Na colônia, a Igreja organizava-se em clero secular
(bispos, padres, vigários) e clero regular (jesuítas,
franciscanos, carmelitas e beneditinos). EXERCÍCIOS PROPOSTOS
De início os jesuítas tentaram cristianizar os
nativos com danças, presentes, etc; sem sucesso, 01 O texto abaixo foi extraído do documento
adotaram o método dos aldeamentos para afastá-los das “Representação da Câmara de Aquiraz ao Rei de
antigas lideranças tribais; Portugal”.
De modo contrário, os jesuítas e a Igreja “(...) para a conservação desta capitania será vossa
apoiaram a escravidão do negro. majestade servido destruir estes bárbaros para que
fiquemos livres de tão cruel jugo; em duas aldeias deste
A “missão” gentio assistem padres da Companhia que foram já
Os aldeamentos eram aldeias artificiais, expulsos de outras aldeias do sertão (...) estes religiosos
militarizadas, para onde levam-se os índios na pretensão são testemunhas das crueldades que estes tapuias tem
de convertê-los ao catolicismo, muitas vezes a força. feito nos vassalos de vossa majestade. (...) só
Após o fracasso dos jesuítas Luís Filgueiras e representamos a vossa majestade que missões com
Francisco Pinto em 1607, os Jesuítas retornaram ao estes bárbaros são escusadas, por que de humano só
Ceará na segunda metade do século XVII, fundando o tem a forma, e quem disser outra coisa é engano
aldeamento de Nossa Senhora da Assunção da conhecido.”
(Citado em PINHEIRO, Francisco José. “Mundos em confronto: povos nativos e
Ibiapaba, Viçosa do Ceará. europeus na disputa pelo território.” In SOUSA, Simone de (org.) Uma Nova História
do Ceará. Fortaleza. Edições Demócrito Rocha. 2000. p. 39)
Também foram aldeamentos jesuíticos:
• Parangaba, Caucaia, Paiacu, Palpina, Monte-Mor
A partir da leitura do documento acima, é correto afirmar
Novo, Telha, Miranda e Aracati-Mirim.
que:
Os aldeamentos interessavam ao governo A) a acirrada reação indígena constituiu uma forma de
resistência à destruição do seu modo de vida.
português na medida que tornavam os índios “mais
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B) o projeto português de colonizar, civilizar e catequizar 07 Não existe relação entre a conquista do Ceará e a
contribuiu para manter a organização tribal. luta pela expulsão dos franceses do Maranhão. E
C) a ocupação do interior cearense, em virtude da
reação indígena, foi iniciada na segunda metade do 08 Numa visão tradicional, Martim Soares Moreno é
século XVIII. considerado o fundador oficial do Ceará. (C)
D) o domínio do interior cearense pelo colonizador e a
catequese jesuítica foram realizados de modo a 09 A base da fundação de Fortaleza foi criada pelos
preservar a cultura indígena. holandeses, na figura de Matias Beck, que, chegando ao
E) a Câmara de Aquiraz expressava a preocupação com Ceará, construiu o forte de Schoonenborch, ficando este,
a catequese indígena como forma de apaziguar o conflito após a expulsão dos flamengos, sob a direção
entre os colonizadores e os índios. governamental do capitão-mor Álvaro de Azevedo
Barreto. (C)
02 Em relação à ocupação da Capitania do Ceará pelos
conquistadores europeus, assinale o correto. 10 Os missionários da Companhia de Jesus Francisco
A) A ocupação da capitania cearense ocorreu Pinto e Luís Filgueira, com “objetivos catequéticos”,
concomitante à conquista dos espaços das Capitanias chegaram às terras do Siará Grande em 1607, mas não
da Bahia e Pernambuco. foram bem-sucedidos. (C)
B) A conquista e a ocupação da Capitania do Ceará
tiveram início com o processo de conquista do litoral 11 Os aldeamentos, também chamados de missões,
açucareiro. eram áreas em que se erguiam espécies de aldeias
C) A ocupação da capitania cearense ocorreu de forma artificiais (diferentes das aldeias originais dos nativos),
tardia se comparada com a conquista das áreas para onde se conduziriam e se manteriam os índios, no
açucareiras. intuito de doutriná-los e convertê-los ao catolicismo. (C)
D) A ocupação e conquista do território da capitania do
Ceará deu-se mais facilmente em virtude da cooperação Novos estudos histórico-antropológicos “tem contribuído
do elemento nativo. não apenas para ampliar a visibilidade dos povos
indígenas numa história que sempre os omitiu, como
03 Em 2011, comemoram-se 182 anos do nascimento de também revela as perspectivas destes mesmos povos
José de Alencar, um dos grandes literatos e políticos do sobre seu passado, incluindo visões alternativas de
Império. Sobre sua obra, observe as seguintes contato e de conquista”.
afirmações: MONTEIRO, John M. O desafio da história indígena no Brasil. Brasília: MEC, 1995, p.
221.
I) Um dos seus principais livros, Iracema, trata da
chegada dos portugueses ao Brasil e da conquista do 12 As comemorações “Ceará 400 anos” se inserem na
território através das guerras contra os indígenas. construção de uma memória e história de marcos
II) Procura apresentar a realidade brasileira de uma fundadores. A história a ser lembrada é a dos
forma realista e crua, reproduzindo em seus fundadores, desde a colonização, entendendo a obra
personagens os conflitos sociais e a dependência colonizadora dos portugueses como civilizatória. Nessa
econômica. perspectiva, a história dos povos indígenas é esquecida.
III) Constitui um amplo painel das guerras e conflitos dos (C)
colonizadores com os indígenas, denunciando a
violência e o etnocídio. 13 Os povos indígenas, enquanto sujeitos de sua
IV) Os livros de José de Alencar procuram estabelecer história, dão visibilidade a suas lutas políticas. A partir da
as origens da nacionalidade brasileira nas imagens do década de 1980, a questão indígena ganha expressão
índio idealizado e romantizado. na mídia, nos movimentos populares e nas ONGs. (C)

Assinale a alternativa correta: 14 Os grupos indígenas buscam o reconhecimento de


A) Somente II e III são verdadeiras. sua identidade, reivindicam o direito de ser diferentes, o
B) Somente I e IV são falsas. respeito à alteridade, além da luta pela demarcação de
C) Somente I e IV são verdadeiras. suas terras. (C)
D) Somente IV é verdadeira.
E) Somente III e IV são falsas. O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim
partiu das praias do Ceará, levando, no frágil barco, o
04 Assinale a alternativa em que todos os espaços (hoje, filho e o cão fiel. (...) O primeiro cearense, ainda no
estados) sofreram ofensivas holandesas, no Brasil berço, emigrava da terra da pátria.
Colonial. ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará. São Paulo: FTD, 1991, p. 88. (1ª ed.:
1865).
A) Maranhão, Ceará e Pernambuco.
Não somos fruto de uma relação de paixão como a de
B) Ceará, Pernambuco e Amazonas.
Martim por Iracema. Eu proponho que nós nascemos de
C) Ceará, Mato Grosso e Goiás.
uma relação de rejeição. Nós fomos largados, nós
D) Piauí, Pernambuco e Mato Grosso.
somos órfãos. Antônio Cardoso de Barros não quis vir
aqui.
05 A primeira tentativa de conquista foi efetuada em Gilmar de Carvalho, em entrevista ao jornal O Povo, publicada no dia 23/06/2007.
1603, pela bandeira dirigida por Pero Coelho de Souza,
por isso ele é considerado o fundador do Ceará. E Com base nas citações acima, responda:

06 O donatário da capitania do Ceará, Antônio Cardoso 15 O “primeiro cearense” aludido por Alencar é o
de Barros, não chegou sequer a tomar posse de sua mameluco Moacir, o “filho do sofrimento”, nascido da
doação, somente vindo ao Brasil como provedor na relação entre a índia Iracema e o colonizador português
fazenda no governo de Tomé de Souza em 1549. C Martim (Soares Moreno).
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16. Esse mito obscurece a presença do negro na nossa
formação. (C)

17. No que diz respeito ao destino de Iracema no


romance, acumplicia-se com outros discursos que
tendiam a invisibilizar os índios, declarando-os
“misturados” ou “confundidos na massa geral da
população civilizada”, quando, na verdade, os indígenas
lutavam pelo reconhecimento e legalização de suas
terras. (C)

18. Sobre a tardia colonização cearense, alguns fatores


ajudam a compreendê-la. São fatores econômicos: a
raridade de metais preciosos e de especiarias em solo
cearense, bem como de terra litorânea adequada à
produção de cana de açúcar. (C)

19. São fatores naturais: as correntes aéreas e


marítimas que obstaculizavam a navegação na costa e
aridez do clima.

20. São fatores humanos: a mansidão indígena ao


conquistador lusitano e a presença de outros
estrangeiros, como franceses. (E)

“O genocídio e o etnocídio perpetrados contra os povos


indígenas tiveram como decorrência o quase
desaparecimento da cultura indígena no território
cearense”.
(F.J. Pinheiro. “Mundos em confronto: povos nativos e europeus na disputa pelo
territorio” in Simone de Souza (org.) Uma nova história do Ceará. Fortaleza, Edicoes
Democrito Rocha, 200, p 55)

Sobre o processo a que se refere o texto acima, assinale


a resposta correta.
A) O conflito dos colonizadores com os índios deveu-se
sobretudo a expropriação dos territórios indígenas para a
expansão da pecuária.
B) A destruição da cultura indígena deu-se somente pela
imposição da religião católica feita pelos jesuítas nos
aldeamentos.
C) A ação dos colonizadores limitou-se a escravização
dos índios, usados como mão-de-obra nas lavouras de
cana-de-açúcar.
D) Os índios morriam no contato com os europeus
unicamente por causa das doenças que estes traziam.
E) Os colonizadores, religiosos ou não, optaram pelo
extermínio total da população indígena.
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As fazendas tinham um caráter autônomo e
UNIDADE 2 – A CONQUISTA DO SERTÃO autossuficiente – eram mundos à parte, em que
CEARENSE – A PECUÁRIA imperava a vontade dos senhores proprietários, os
“nossos primeiros coronéis”. A baixa rentabilidade da
A partir da segunda metade do século XVII, deu- pecuária ensejava o uso do couro para a fabricação de
se a conquista dos sertões cearenses, em função da utensílios do dia a dia sertanejo – chapéus, roupas,
pecuária, atividade inicialmente restrita ao litoral de bainhas de faca, botas etc. Era a chamada “civilização
Pernambuco e Bahia (Zona da Mata). do couro”.
Foram razões que possibilitaram a colonização do Os rebanhos bovinos cearenses eram conduzidos
interior do “Siará” e do Nordeste: o crescimento pelos tangerinos para a venda em Pernambuco, Bahia e,
populacional da região açucareira (onde inexistia terra posteriormente, nas Minas Gerais. Percorriam rudes
para todos os habitantes), o aumento do número de veredas, chamadas de “estradas sertanejas”. Nos
rebanhos bovinos, impedindo ou dificultando o plantio da cruzamentos de muitas destas, surgiram cidades, como
cana-de-açúcar (o gado era atividade complementar da Icó, Quixeramobim e Sobral.
cana – fornecia alimentos, força de tração, etc.) e o Em pouco tempo, os sertões cearenses estavam
próprio incentivo do governo português com a Carta conquistados pelos invasores. Para a expansão pastoril,
Régia de 1701, que proibia a criação de gado a menos contribuíram: a demanda dos mercados consumidores
de 10 léguas da costa (para que no litoral de do litoral açucareiro e da região mineradora, a facilidade
Pernambuco e Bahia se cultivasse cana). na obtenção das sesmarias e de novas terras, o
A penetração e conquista dos sertões crescimento vegetativo (mas não qualitativo) dos
aconteceram por duas rotas: sertões-de-fora, dominada rebanhos, as pastagens abundantes (na época das
por pernambucanos, vindos pelo litoral, e sertão-de- chuvas), as vastas áreas sertanejas, o caráter salino do
dentro, dominada por baianos. Tais rotas se confluíram solo, a exigência de pouco capital e mão de obra na
no Ceará, com os colonos ocupando inicialmente as montagem da fazenda e o próprio fato de o gado se
ribeiras dos rios Jaguaribe e Acaraú. autotransportar.
A terra era obtida através da requisição às Mas a venda de gado para outras capitanias não era tão
autoridades de cartas de sesmarias, o que deu margem lucrativa assim – o gado emagrecia, perdia-se, morria
à formação dos latifúndios cearenses. por ataque de feras, era assaltado. Havia, sobretudo, o
Nesse processo de conquista, a grande vítima foi peso dos impostos. Assim, os criadores do gado do
o índio – exterminado ou expulso para dar espaço aos litoral passaram, no século XVIII, a vender seus
currais de gado. Outras vezes, os índios eram jogados rebanhos na forma de charque (carne seca salgada ao
em aldeamentos, espécie de aldeias artificiais onde os sol), produzindo nas oficinas ou charqueadas. O
padres jesuítas os “catequizavam”, “civilizando-os”. O charque, além de seu papel dentro da própria colônia,
aldeamento também possuía uma função militar – dali, o apresentou destaque também no tráfico de escravos
índio “manso” era levado a combater os índios entre o Brasil e os centros comerciais de negros na
“selvagens”. Depois, muitas cidades se formaram em África, especialmente Angola.
torno desses aldeamentos, como Caucaia (antigo
aldeamento de N. S. de Caucaia, depois Soure) Pacajus EXERCÍCIOS PROPOSTOS
(aldeamento de Paiacu, em seguida chamado Monte-
mor-velho, Guarani), Messejana (Paupina), Baturité 01 (PM/CE-2006) Aracati era o principal centro urbano
(Monte-mor-novo), Iguatu (Telha), Crato (Miranda), do Ceará, graças à produção e exportação de três
Parangaba (Arroches), etc. produtos fundamentais para a economia cearense.
Óbvio que os índios lutaram contra os invasores, Esses produtos eram:
como na “Guerra dos Barbáros”, quando os nativos A) algodão, rapadura e milho.
Janduim, Baiacu, Icó, Anacé, Quixeló, Jaguaribara, B) couro, milho e algodão.
Acriú, Canindé, Tremembé, Cariri e outros lutaram por C) carnaúba, couro e rapadura.
quase 50 anos contra os conquistadores (final do século D) couro, charque e algodão.
XVII e inicio do seguinte). Os remanescentes indígenas
que possui hoje o Ceará representam o retrato do 02 Leia o fragmento abaixo com atenção:
genocídio e do etnocídio dos quais foram vítimas. “Em cada fazenda destas, não se ocupam mais que dez
O grande símbolo associado aos sertões (ainda ou doze escravos e na falta deles os mulatos, mestiços e
hoje) foi o vaqueiro – mestiço, branco pobre, negro livre pretos forros, raça que abundam os sertões da Bahia,
ou escravo, índio submetido. Conhecedor da fauna e da Pernambuco e Ceará, principalmente pelas vizinhanças
flora, cuidava da fazenda quando da ausência do senhor. do Rio São Francisco.”
Não recebia salário – era pago no sistema de FONTE: Documento atribuído a João Caldas. Governador do Piauí, depois do Pará e
depois do Rio Negro e Mato Grosso, falecido em 1794. In DEL PRIORI, Mary.
“quarteação”. Revisão do Paraíso: os brasileiros e o estado em 500 anos de História. Rio de
Na quarteação, o vaqueiro, após trabalhar um Janeiro: Campus, 2000. p. 52 a 55.

certo tempo na fazenda (geralmente 4 ou 5 anos),


recebia uma cria de cada quatro nascidas anualmente. O documento acima citado refere-se à atividade
Assim, com o tempo, poderia o vaqueiro fundar uma econômica, predominante no Ceará e no Piauí no
fazenda por conta própria (daí por que a condição de período colonial. Tal atividade ligava-se à:
vaqueiro era uma situação que muitos desejavam). A) produção algodoeira
Pouco usou-se o negro escravo na pecuária B) pecuária
cearense, devido, sobretudo, ao alto preço dos africanos C) produção açucareira
(o Ceará sempre foi um local pobre) e à grande oferta de D) mineração
mão de obra sertaneja livre, barata e ociosa (as E) borracha
fazendas absorviam poucos braços e existia uma massa
populacional “vagabundeando” pelo interior). Usado em 03 “A ocupação da capitania do Ceará estava
pequena escala no pastoreio, o negro foi empregado consolidada na década de 1720 e a violência contra os
mais nas atividades domésticas e artesanais.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 7
povos nativos possibilitou a transformação do território
livre para esses povos em área para a pecuária.”
(PINHEIRO, Francisco J. “Mundos em Confrontos: povos nativos e europeus na
disputa pelo território.”
In SOUZA, Simone (org.) Uma Nova História do Ceará. Fortaleza, Edições Demócrito
Rocha, 2000, p. 37.)

Com base no trecho citado, marque a alternativa que


indica corretamente as relações entre colonizadores e
nativos no Ceará do século XVIII:
A) Os colonos escravizavam os nativos para o trabalho
nas grandes plantações de algodão e na pecuária.
B) A expulsão dos nativos era necessária para abrir
caminho para a ampla introdução de trabalhadores
africanos.
C) As guerras contra os nativos eram travadas para
reuni-los em aldeamentos, onde os jesuítas pretendiam
catequizá-los.
D) Os colonos precisavam de pouca mão-de-obra para o
gado e procuraram expulsar e aldear os nativos.
8 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
As principais regiões produtoras, inicialmente,
UNIDADE 3 – OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS eram os distritos de Fortaleza e Aracati, além das serras
COLONIAIS de Baturité, Uruburetama, Meruoca, Pereiro e Aratanha.
No algodão cearense, também pouco empregou-se o
1. Charque negro escravo – o curto ciclo vegetativo da fibra tornava
Para o desenvolvimento das charqueadas no desvantajoso o emprego de muitos africanos. Era mais
litoral cearense, contribuíram os ventos constantes e a barato usar mulheres e crianças ou a mão de obra livre
baixa umidade relativa do ar, a abundância de sal, as não absorvida no pastoreio.
barras dos rios acessíveis à navegação de cabotagem A cotonicultura e a pecuária acomodaram-se uma
da época, o grande rebanho cearense e o próprio fato de à outra, dando origem ao chamado binômio gado-
a técnica salineira não exigir muitos conhecimentos e algodão. A rama do algodoeiro servia de alimento ao boi
nem muito investimento. na época da estiagem, e o animal adubava os solos com
As oficinas situavam-se na porção litorânea, esterco.
próximas aos rios, de onde levava-se a carne seca em A expansão da cotonicultura seria fundamental
sumacas a Recife, Salvador e até o Rio de Janeiro – ali para separar o Ceará de Pernambuco em 1799; até
seria alimento para pobres e escravos. Assim, então, o comércio externo cearense era feito via porto do
destacaram-se como centros de charqueadores: Aracati Recife, o que encarecia nosso algodão. Daí a pressão
(na foz do rio Jaguaribe), Acaraú, Sobral (rio Acaraú), das autoridades, comerciantes e produtores para a
Granja e Camocim (rio Coreaú). separação cearense (embora a região sofresse ainda a
Em tais oficinas, além de trabalhadores livres não influência pernambucana).
absorvidos pela pecuária, empregou-se mão de obra O comércio de algodão também favoreceu
escrava, índia e negra, embora em escala pequena. Fortaleza, que passou a crescer a passos largos,
O charque trouxe mudanças socioeconômicas superando Aracati (abalada com a crise do charque) e
para o Ceará. Verificou-se uma divisão de trabalho na assumindo a condição de principal núcleo urbano
capitania (áreas para criar gado e áreas para charquear), cearense no final do século XIX. Com a separação de
uma maior integração política, cultural e comercial entre Pernambuco, Fortaleza começou a ser dotada de
sertão e litoral, um crescimento do pequeníssimo infraestrutura administrativa (porto, estrada, alfândega,
mercado interno local, o enriquecimento de um grupo de etc.), o que lhe possibilitou tornar-se o grande centro
latifúndios e comerciantes, o crescimento de centros coletor e exportador de algodão do Ceará.
urbanos, como Aracati (o principal núcleo charqueador e No final do período colonial, devido à recuperação
mais importante cidade do Ceará até pelo menos a da cotonicultura dos EUA, o algodão e, por
metade do século XIX), e uma diversificação de consequência, o próprio Ceará entraram em crise, o que
produção (comercialização e até exportação de couro). contribuiu para o envolvimento de cearenses na
Não se sabe quando instalaram-se as primeiras “Revolução” Pernambucana de 1817 e na Confederação
charqueadas cearenses, mas o certo é que essa do Equador.
atividade dominou o comércio cearense por todo o O auge do algodão cearense dar-se-ia na
século XVIII. segunda metade do século XIX, beneficiado com a
Contudo, no final do citado século XVIII, o desorganização da produção americana em virtude da
charque entrou em decadência, devido às calamitosas Guerra de Secessão (1861-65).
secas do período (que dizimavam os rebanhos), a
concorrência com Rio Grande do Sul, e a atenção que os EXERCÍCIOS PROPOSTOS
cearenses passaram a dar ao algodão (que então
alcançava bons preços no mercado externo). 01 “O binômio gado-algodão vai ter em Fortaleza seu
grande centro, assim como a cana-de-açúcar teve o
2. Cotonicultura Crato e carne-de-sol teve Aracati.”
O algodão já era cultivado pelos nossos índios (SILVA, José B. da. Os Incomodados não se retiram: uma análise dos movimentos
sociais em Fortaleza.
antes da invasão portuguesa. Com a colonização, Fortaleza: Multigraf Editora, 1992. p. 22).
passou a ser cultivado como atividade de subsistência
nas fazendas de criar. A produção do algodão, no século XIX, foi de grande
Foi a partir do final do século XVIII que se importância para a economia do Ceará e para o
desenvolveu a cotonicultura no Brasil e no Ceará. Isso crescimento de sua capital.
devido aos bons preços do algodão no mercado A) durante o bloqueio continental imposto aos ingleses
internacional e à demanda da Inglaterra, que usava a por Napoleão.
fibra em suas fábricas têxteis, típicas da primeira fase da B) a Guerra de Secessão nos EUA (1861-1865).
Revolução Industrial. Os preços também subiram devido C) logo após a transferência da família real portuguesa
à desorganização da produção dos EUA, que viviam sua para o Brasil em 1808.
Guerra de Independência (década de 1770). D) com a abolição da escravatura de escravos no Ceará
Pela primeira vez o Ceará tinha um produto em 1883.
voltado diretamente para o mercado internacional.
Fatores que favoreceram a cotonicultura no 02 Considere o quadro abaixo com valores percentuais
Ceará: o clima quente e a regularidade das chuvas (no sobre a produção da economia no Ceará, de 1850 a
sentido de que há uma época certa para o inverno e 1885.
outra para o verão), a fertilidade dos solos (praticamente 1850 1855 1860 1865 1870 1875 1880
virgens), o curto ciclo vegetativo do algodão, a não a a a a a a a
1855 1860 1865 1870 1875 1880 1885
exigência de muitos investimentos na lavoura (facilidade
Café 13,6 20,4 36,0 9,5 10,3 28,2 22,1
de cultivo, colheita, beneficiamento, etc.). Com isso, não Algodão 59,1 40,3 38,6 72,6 67,1 33,1 63,3
só latifundiários dedicaram-se a atividade, mas também Açúcar 5,2 21,2 9,5 5,3 4,6 5,6 7,4
pequenos proprietários, agregados, moradores e Borracha 4,9 0,5 1,9 1,7 6,5 5,0 1,1
arrendatários. Couros 17,2 17,5 14,0 10,8 11,5 28,0 6,1
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 9
A partir dos dados, marque a opção verdadeira.
A) O café ocupou o primeiro lugar na pauta das
exportações cearenses entre 1860 e 1885.
B) O açúcar ocupou o segundo lugar na lista das
exportações no Ceará entre 1850 e 1855.
C) O algodão esteve à frente na pauta das exportações
cearenses entre 1850 e 1885.
D) A produção cafeeira ocupou no período em questão
(1850-1885) o segundo lugar na pauta das exportações
do estado do Ceará.

03 A indústria têxtil inglesa demandou, no século XIX,


quantidades crescentes de algodão. Provedores
tradicionais dessa matéria-prima, como a Índia e o Egito,
foram substituídos pelos Estados Unidos; mas, na
década de 1860, os conflitos entre o norte e o sul desse
país interromperam o fornecimento. Nessa década, o
algodão se converteu no principal produto das
exportações cearenses. Em relação ao cultivo de
algodão no Ceará, em 1860, é correto afirmar que:
A) realizou-se com a utilização, de forma generalizada,
da mão-de-obra escrava.
B) foram trazidos trabalhadores das áreas de seringais
decadentes, criando-se o SEMTA, Serviço Especial de
Mobilização de Trabalhadores do Amazonas.
C) foi realizado com parceiros, escravos e trabalhadores
livres.
D) realizou-se a abolição prematura da escravidão, e se
ofereceram salários atraentes para os ex-escravos.
E) foi introduzido por imigrantes norte-americanos,
provenientes das áreas algodoeiras.
10 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam

UNIDADE 4 – CRIAÇÃO DE VILAS

Em 1699, Portugal autorizou a instalação da


primeira vila do Ceará, chamada de São José de
Ribamar. Com isso, a metrópole desejava ter um maior
controle sobre a elite latifundiária, envolvida em lutas por
terras e em grandes combates com índios, militares do
Forte e religiosos.
Acontece que não houve especificação quanto ao
local onde seria erguido o pelourinho (coluna que
simbolizava a elevação de uma localidade à condição de
vila). Isso deu margem a uma série de atritos entre o
capitão-mor, governador, padres e “homens bons” (os
latifundiários, que exerciam os cargos de vereadores na
Câmara municipal da vila).
Tais disputas pela vila não passavam de uma
maneira de os envolvidos tentarem aumentar os seus
poderes e influência. Assim, por anos, o pelourinho foi
deslocado entre o Forte de N. S. da Assunção (no qual
residiam militares e religiosos), a Barra do Ceará (a Vila
Velha, habitada por mestiços e índios submetidos) e
Aquiraz (onde moravam os “homens bons”).
Em 1713, por fim, o pelourinho foi definitivamente
instalado em Aquiraz – daí o porquê de muitos
historiadores afirmarem que Aquiraz foi a primeira capital
do Ceará (mas outros negam esse argumento,
lembrando que o poder decisório quase sempre esteve
no forte).
No mesmo ano de 1713, contudo, Aquiraz foi atacada
pelos índios na “Guerra dos Bárbaros”, quando morreram
e saíram feridos muitos dos habitantes. A vila esvaziou,
pois quase todos foram procurar a segurança dos
canhões da Fortaleza.
Em consequência, Fortaleza ganhou status de
capital e, em 13 de abril de 1726, foi elevada a condição
de vila. Mas sua importância econômica era muito
pequena. Aquele era o período da expansão da pecuária
nos sertões. Daí surgirem vilas interioranas em função
do pastoreio, como Icó (1738), Aracati (1748), Sobral
(1773), Granja (1773) e Quixeramobim (1789). A criação
de vila era também uma forma de estimular a produção e
de controlar a população sertaneja.
Com a expulsão dos padres jesuítas do Brasil, em
1759, os aldeamentos foram transformados em vilas,
como foram os casos de Viçosa do Ceará, Caucaia,
Parangaba (ainda em 1759), Messejana (1760), Baturité
e Crato (1764). Curioso que os “diretores”
administradores das vilas indígenas passaram a explorar
ou expulsar os nativos, apossando-se das terras destes.
Essa espoliação foi oficializada em 1860, quando o
governo provincial declarou que “não havia mais índios
no Siará”. Dessa forma, os remanescentes indígenas
cada vez mais perderam suas terras.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

01 As três vilas mais importantes do Ceará no Período


da Pecuária (1720-1790) eram:
A) Aracati, Sobral e Icó.
B) Sobral, Icó e Fortaleza.
C) Aquiraz, Fortaleza e Icó.
D) Icó, Aracati e Fortaleza.

02 As razões da criação da Vila de Fortaleza de Nossa


Senhora da Assunção seriam de “amenizar as violências,
abusos e arbitrariedades” dos capitães-mores
governadores e melhor “administrar” a justiça. C
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 11
comando do Ceará para os “corcundas” (conservadores,
UNIDADE 5 – O CEARÁ NAS REVOLTAS DO SÉCULO aliados de D. Pedro I).
XIX A dissolução da Assembleia Constituinte de 1823
e a outorga da Constituição de 1824 por D. Pedro I
1. O Ceará na “Revolução” Pernambucana de 1817 provocou protestos no Ceará. Em abril de 1824, os
A influência de Pernambuco sobre o Ceará era liberais, tendo à frente Pereira Filgueiras e Tristão
muito forte. Mesmo com a autonomia político- Gonçalves, depuseram o recém-nomeado presidente da
administrativa obtida em 1799, a capitania cearense província (e aliado de D. Pedro I) Costa Barros.
continuou ligada econômica, social e politicamente às Em agosto de 1824, escolheu-se como presidente
terras pernambucanas. Soma-se a isso, os efeitos da definitivo da província Tristão Gonçalves, deliberando-se
crise econômica e política (seca, decadência do pela anexação do Ceará à Confederação.
algodão), que também faziam-se presentes no Ceará. A revolta, entretanto, fracassaria – o Ceará foi a
Assim, a adesão dos cearenses à “revolução” última província a se render. Tristão Gonçalves morre em
pernambucana de 1817 parecia certa. combate. Pereira Filgueiras se rende e falece em Minas
Essa “revolução” era influenciada pelas ideias Gerais. Pe. Mororó, Pessoa Anta, Francisco Ibiapina,
iluministas europeias, visando à independência do Brasil Feliciano Carapinima e Azevedo Bolão são julgados,
ante a exploração portuguesa. Teve uma grande condenados e fuzilados no Campo da Pólvora (Praça
participação de religiosos. Os rebeldes conseguiram dos Mártires/Passeio Público). José Martiniano de
apoio da Paraíba e do Rio Grande do Norte, mas foram Alencar é perdoado por D. Pedro I e tornar-se aliado da
brutalmente derrotados. monarquia daí em diante.
A participação cearense na “revolução” foi
pequena – a crise do algodão não atingira ainda 3. A Sedição de Pinto Madeira
intensamente ainda a capitania. A elite praticamente não Em 1831, D. Pedro I abdicou ao trono do Brasil,
aderiu e as massas não se mobilizaram. Além disso, o em consequência da oposição movida, sobretudo, pela
governador do Ceará, Inácio de Sampaio, estava pronto elite latifundiária. Como o herdeiro, Pedro de Alcântara,
para reprimir qualquer movimento contra os interesses tinha apenas 5 anos, até a maioridade deste, o país seria
da coroa portuguesa. governado por regentes. A Fase Regencial (1831-40) foi
Somente a família Alencar, na região do Cariri, conturbada, com muitas revoltas.
aderiu ao movimento. Com a queda de D. Pedro I, os liberais
Os Alencar, sob a chefia de Dona Bárbara de moderados, ligados à família Alencar, chegaram ao
Alencar, apoiaram a revolta, obtendo, de início, a governo cearense e passam a perseguir um grande
neutralidade do capitão do Crato, José Pereira desafeto: Pinto Madeira.
Filgueiras. Joaquim Pinto Madeira era um coronel de milícias da vila
José Martiniano de Alencar (jovem seminarista enviado de Jardim, autoritário, absolutista e aliado de D. Pedro I.
por Pernambuco para “revolucionar” o Ceará), no dia 3 Perseguido pelos liberais, para escapar às perseguições
de abril de 1817, em frente à igreja do Crato, proclamou dos inimigos, madeira articulou uma revolta, com a
a República. Dali, marchou para o prédio da Câmara desculpa que pretendia o regresso de D. Pedro ao trono.
Municipal, onde, apoiado por alguns “cabras”, depôs as A causa principal da revolta, porém, era local e
autoridades monárquicas, soltou os presos e içou uma estava nas disputas entre os coronéis de Crato, de
bandeira branca. tendência liberal, e de Jardim, de tendência absolutista,
Os rebeldes tomaram ainda a vila de Jardim. Mas pelo domínio político do Cariri Cearense.
o movimento era frágil, não “sensibilizou” a população. Exércitos formados por sertanejos humildes de
Assim, sem apoio, os rebeldes ficaram isolados. Crato e Jardim travaram sangrentos combates, num dos
O movimento foi sufocado 8 dias após o início – 11 de quais faleceu o liberal José Pinto Cidade. O governador
abril de 1817. provincial cearense, entregue ao presidente José
Os membros da família Alencar e outros líderes foram Mariano de Albuquerque, bem como o governo
presos e enviados a Fortaleza e, depois, Salvador (BA). regencial, com o mercenário francês Pedro Labatut,
Em 1821, acabaram anistiados. intervieram no confronto contra Pinto Madeira.
O movimento fora sufocado, mas suas causas Em outubro de 1832, Pinto Madeira rendeu-se.
não. O descontentamento da elite continuaria, o que Após vários adiamentos, foi julgado e considerado
futuramente provocaria, em 1824, a mais importante culpado pelo assassinato do citado José Pinto Cidade –
mobilização rebelde da região, a Confederação do isso por pressão de seu inimigo José Martiniano de
Equador. Alencar, que então ocupava o governo cearense.
A Pinto Madeira não foi sequer dado o direito de recorrer
2. O Ceará na Confederação do Equador (1824) da decisão, sendo fuzilado no Crato em 1834.
Em 1824, estourou em Pernambuco, propagando-
se para outras províncias do que hoje é chamado de EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Nordeste, a Confederação do Equador, um movimento
liberal (influenciado pelo Iluminismo, pela Revolução 01 Leia o texto a seguir.
Francesa e pela Independência dos EUA), separatista Os anos que marcaram o início do Império não serviram
(tinha o propósito de separar a região do restante do para atenuar o domínio regional de cargos
Brasil) e republicado (desejava proclamar uma administrativos, militares e policiais por parte de algumas
República) contra o autoritarismo e o centralismo do famílias cearenses, principalmente após a criação da
governo de D. Pedro I (1822-31). Guarda Nacional. Mas trouxe uma nova roupagem, onde
O Ceará, tendo à frente os liberais (chefiado pela os grupos familiares se transvertiam sob os panos dos
família Alencar), aderiu ao movimento devido à influência partidos políticos.
pernambucana sobre os cearenses, ao VIEIRA JR., Antônio Otaviano. Entre paredes e bacamartes: história da família no
sertão (1780-1850). Fortaleza: D. Rocha, Hucitec, 2004, p. 220.
descontentamento geral com a crise econômica da
região e ao temor dos “patriotas” (liberais) em perder o Os liberais ou chimangos, sob o domínio inicial dos
Alencares, e os conservadores ou caranguejos,
12 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
chefiados originalmente pela facção Boticário-Carcará, B) A província do Ceará almejava se isolar das demais
alternaram-se na direção da província do Ceará, durante províncias do atual Nordeste: Paraíba, Pernambuco, Rio
parte da Regência e do Segundo Reinado. Quanto à Grande do Norte, Piauí e Alagoas.
ação desses grupos no poder, pode-se dizer C) O crescimento da exportação de algodão fez com que
corretamente que: os proprietários e comerciantes cearenses lutassem
A) diferentemente do adversário, o Partido Liberal não pelos interesses do grupo “corcunda”, aliado de D. Pedro
poupava os correligionários, no intento da centralização I.
política. D) O grupo “patriota”, composto por membros da família
B) os chimangos combatiam firmemente as famílias Alencar, defendia ideias monarquistas para garantir os
poderosas do sertão, reunidas, em sua totalidade, no direitos do Ceará junto ao imperador.
Partido Conservador. E) A maior parte das elites cearenses aderiu ao
C) os dois partidos agiam no interesse exclusivo da movimento levada pelo receio de perder sua autonomia,
política imperial, não a confundindo com os em decorrência do centralismo político imposto pela
objetivos familiares ou grupais. Constituição de 1824.
D) os caranguejos, defensores irresolutos do
fortalecimento do poder central, embatiam-se 04 “Em 1824 não se tratava da contradição de interesses
indiscriminadamente com os potentados locais. coloniais e metropolitanos. Persistiam aí, não obstante
E) os dois partidos se assemelhavam, entre outras tratar-se de país politicamente independente, as mesmas
coisas, pela aplicação seletiva das leis, ambos se condições de privilegiamento não só dos comerciantes
utilizando do poder auferido para perseguir o adversário. reinóis e seus representantes estabelecidos no país,
como também dos ingleses, cuja penetração no Brasil foi
02 Leia o texto a seguir: determinada pelos acordos de 1810.”
(...) Fortaleza é, como todo espaço urbano, uma cidade (ARAÚJO, Mª do Carmo R. “A Participação do Ceará na Confederação do Equador.”
In: SOUZA, Simone de (coord.) História do Ceará. Fortaleza: Fundação Demócrito
histórica e que possui um passado, consubstanciado nos Rocha, 1994. p. 146.)
bens culturais materiais e imateriais, digno de
preservação para as atuais e futuras gerações. Sobre a Confederação do Equador (1824), é correto
Conhecer e preservar esse patrimônio histórico – que é afirmar que:
de todos os cearenses – constitui condição indispensável A) os descontentamentos contra os estrangeiros em
à formação da cidadania (...) Recife fez com que as camadas populares liderassem o
ORIÁ, Ricardo. “Fortaleza: os lugares da memória”. In: SOUZA, Simone de (org). movimento, que, além de republicano, era abolicionista.
Uma nova História do Ceará. Fortaleza: Edições D. Rocha, 2000, p. 238.
B) o conflito entre comerciantes portugueses em Recife e
Sobre o patrimônio histórico de Fortaleza, é verdadeiro produtores de açúcar brasileiros em Olinda tomou ares
dizer que: de rebelião contra a monarquia.
A) seus monumentos históricos celebram, em grande C) a dissolução da Assembleia Constituinte pelo
medida, a monarquia e o nacionalismo, este mediante a Imperador D. Pedro I foi interpretada como um ato de
figura de José de Alencar. recolonização pelas elites senhoriais pernambucanas.
B) é desprovido de Mestres da Cultura Tradicional, dada D) a recuperação econômica da agro-manufatura do
à restrição legal da inclusão de Fortaleza no decreto que açúcar fazia com que os proprietários pernambucanos
instituiu o registro dos Mestres. exigissem maior participação no governo imperial.
C) os esforços tradicionalmente envidados pelo poder
público para preservá-lo salientaram a memória popular 05 Com relação à revolta de Pinto Madeira, no Ceará,
em detrimento daquela das elites. em 1831-1832, pode-se dizer corretamente:
D) foi, imediatamente após a fundação do SPHAN A) fez parte de um plano geral, articulado na capital do
(Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em Império, para defender a volta de D. Pedro I ao trono,
1937, alvo de políticas preservacionistas. nada tendo a ver com conflitos ou desavenças locais ou
E) seu ecletismo arquitetônico ainda não foi oficialmente regionais.
reconhecido, pois o IPHAN (Instituto do Patrimônio B) significou o aprofundamento das divergências entre
Histórico e Artístico Nacional) elegeu o barroco colonial os coronéis do sertão cearense, no contexto da
como matriz da nacionalidade. abdicação de D. Pedro I.
C) constituiu-se em uma revolta tardia de portugueses e
03. Leia o texto a seguir. colonos descontentes com o processo de independência
Ofício da Villa do Crato. Temos presente o Ofício de V. do Brasil.
Excelências do primeiro do corrente a D) representou o descontentamento de coronéis do Cariri
que acompanharam os Decretos da dissolução da cearense contra a política centralizadora do Presidente
Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil da Província, José Martiniano de Alencar.
plenamente congregada no Rio de Janeiro [...] e apesar
do laconismo que se observa em dito Ofício, ele veio 06 A participação cearense na “Revolução” de 1817 era
pôr-nos em perplexidade pelo modo decisivo com que V. importante para os pernambucanos. De início, evitaria
Excelências, supremas Autoridades desta Província, que a Coroa abrisse uma outra frente de combate ao
mandam sem mais reflexão (...) movimento (o que, no final das contas, acabou
Jornal Diário do Governo do Ceará, 1º de abril de 1824. ocorrendo, pois o então governador cearense Inácio
Sampaio enviou tropas para conter a revolta). C
A citação acima se refere à dissolução da Assembleia
Constituinte, em 1823, fato que se relaciona com a 07 Leia os quatro trechos seguintes.
eclosão da Confederação do Equador. Sobre a I. Acreditavam os conspiradores que a derrama seria o
participação do Ceará nesse movimento revoltoso, estopim que faria explodir a rebelião contra a dominação
assinale a alternativa correta. colonial. Em uma de suas reuniões criaram até a palavra
A) O Ceará participou da Confederação do Equador de ordem para começarem a agir. "Tal dia faço o
porque pretendia romper com a dependência econômica batizado" era a senha.
e política em relação a Pernambuco.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 13
II. Dois envolvidos (...) escaparam às garras da 10 Os proprietários de terras também se sentiam
repressão: José Basílio da Gama, que fugiu para Lisboa insatisfeitos com a pesada carga tributária aplicada pelo
quando começaram as prisões, e Manoel Arruda da governo central e provincial. Por outro lado, segundo a
Câmara, que era sócio correspondente da Sociedade historiografia, era muito forte em Pernambuco a
Literária do Rio de Janeiro, mas vivia no exterior. (...) O penetração das ideias republicanas e liberais, e o
fato é que um ano após a prisão dos acusados nada de liberalismo teria ganho maior impulso com a chegada da
grave fora apurado, até porque recorreram ao recurso de franco-maçonaria à Província, cujas lojas e oficinas
negar articulação contra o domínio português. Em geral reuniam pessoas interessadas em discutir os problemas
admitiram que suas reuniões eram marcadas por nacionais e locais.
discussões filosóficas e científicas.
III. (...) dentre os 33 presos e processados, havia 11 11 Do ponto de vista político, a insatisfação também se
escravos, cinco alfaiates, seis soldados, três oficiais, um fez presente na indicação, pelo Imperador, de Francisco
negociante e um cirurgião. (...) Suas ideias principais de Paes Barreto para governar a Província, indicação
envolviam o seguinte: a França constituía o modelo a recusada pelas Câmaras de Olinda e Recife, que
seguir; o fim da escravidão; a separação entre Igreja e mantiveram no poder Manuel de Carvalho Paes de
Estado (...) Andrade. A 2 de julho de 1824, Manuel de Carvalho
IV. Criou-se um Governo Provisório (...), integrado por Paes de Andrade proclamou a Confederação do
representantes de cinco segmentos da sociedade: Equador.
Domingos Teotônio Jorge (militares), Domingos José
Martins (comerciantes), Manoel Correia de Araújo 12 As províncias que compuseram a Confederação do
(agricultores), padre João Ribeiro Pessoa de Melo Equador foram as de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande
Montenegro (sacerdotes) e doutor José Luís Mendonça do Norte e Ceará.
(magistrados). (...) Empenhado em ampliar o movimento
anticolonial, o Governo Provisório enviou emissários a 13 Em represália ao movimento, foi enviada pelo Poder
outras capitanias: Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Central uma poderosa expedição com cinco navios com
Alagoas e Bahia. o intuito de combater os rebeldes. Também foi
(Rubim Santos Leão Aquino et alii, "Sociedade brasileira: uma história através dos organizada uma força terrestre de 1200 homens,
movimentos sociais")
comandada pelo Brigadeiro Lima e Silva. Por outro lado,
Os trechos de I a IV tratam, respectivamente, dos as fileiras imperiais foram engrossadas com a
seguintes eventos: participação de mercenários ingleses. Nessas condições,
A) Conjuração Mineira; Confederação do Equador; foi relativamente fácil a vitória das forças imperiais.
Conjuração Baiana; Guerra dos Mascates. Quanto aos revoltosos, alguns fugiram para o exterior e
B) Conjuração Mineira; Conjuração do Rio de Janeiro; outros se renderam, vários foram mortos no Ceará, em
Conjuração Baiana; Revolução de 1817. Pernambuco e no Rio de Janeiro.
C) Revolta de Vila Rica; Conjuração do Rio de Janeiro;
Conjuração Baiana; Revolução de 1817.
D) Conjuração Mineira; Conjuração do Rio de Janeiro;
Revolução de 1817; Revolta dos Cabanos.
E) Conjuração Baiana; Conjuração Mineira; Revolução
de 1817; Conspiração dos Suassuna.

08 Entre os fatores que levaram o Ceará a participar da


Confederação do Equador:
O primeiro refere-se a já citada influência que
Pernambuco exercia sobre a capitania, em particular,
sobre o Cariri que mantinha relações comerciais com
Recife e o segundo aspecto está ligado ao domínio
político exercido pela família Alencar na região do Cariri.
A família Alencar, por exemplo, possuía interesses
econômicos em Pernambuco, estando suscetível aos
acontecimentos que ali ocorriam. (C)

Leia o texto abaixo e responda as questões a seguir.


“Nas evoluções da sociedade brasileira, o Ceará tem
sido vítima expiatória dos preconceitos, que no seu vôo
da terra levam sempre pedaços palpitantes da verdade e
da justiça. Para cada esperança, aqui, houve sempre
malogro, para cada luta a ignomínia da dispersão ou da
morte. As aclamações de 1824, saudando a aurora da
liberdade, foram hinos que acabaram em nênias”.
BRÍGIDO, João. Miscelânea Histórica ou Coleção de Diversos Escriptos de João
Brígido. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2009, p 29-46.

09 No final do ano de 1823, a província de Pernambuco


vivia uma profunda crise econômica causada pela
redução dos rendimentos da venda da produção do
açúcar e de outros produtos de exportação no mercado
internacional.
14 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
Secessão (1861-65). Essa vultosa produção algodoeira
UNIDADE 6 – O CEARÁ NA SEGUNDA METADE DO tinha em Fortaleza seu grande centro coletor e
SÉCULO XIX exportador.
Houve igualmente a ampliação das atividades
1. Abolicionismo no Ceará tradicionais (como a pecuária) e a diversificação da
Tradicionalmente, considera-se o Ceará como a pauta de exportação, a exemplo da borracha, açúcar e,
primeira província do Brasil a abolir a escravidão em com destaque, o café, produto que chegou algumas
1884. Desde o início da colonização, verificava-se a vezes a superar as exportações de algodão, sendo
escravidão negra no Ceará. Inexistia tráfico negreiro cultivado em serras como Baturité, Maranguape,
direto da África para o Ceará. Sempre houve resistência Meruoca, Aratanha, Granja, Uruburetama e Arararipe.
negra contra a escravidão, o que não descartava Ampliam-se os serviços urbanos e de transportes
“negociações de cotidiano”. (em 1870, inicia-se a construção da EFB) e o comércio
Quatro anos antes da Lei Áurea, em 1884, a (com a instalação, inclusive, de negociantes
província “acabou” com o sistema escravista, virando, estrangeiros). Apesar dessa “modernização”, não se
para os bairristas, “terra da luz”, “berço da liberdade” etc. alterou a estrutura socioeconômica do Ceará, que
Mas a abolição não veio por “bondade” dos terminou o século XIX em grave crise desse modelo
cearenses. Há explicações para essa “precocidade”. Em agroexportador e comercial.
primeiro lugar, citaríamos o pequeno número de cativos
e sua menor influência na economia local – como vimos, 3. A hegemonia de Fortaleza
a economia cearense, baseada no binômio gado- A capital cearense assume, na segunda metade
algodão, não absorvia muita mão de obra escrava negra do século XIX, a condição de principal núcleo
(assim, a abolição não traria muitos abalos para a econômico, político e social da província, superando
economia local). Aracati. Para tanto contribuíram:
Em segundo, poderíamos falar da pressão da a) os capitais acumulados com o comércio algodoeiro e
campanha abolicionista. Como no resto do Brasil, de outros produtos;
ocorreu uma influência marcante da cultura europeia b) a centralização política da monarquia brasileira, que
sobre os cearenses na segunda metade do século XIX. concorria para concentrar nas capitais das províncias
As ideias de “civilização”, “progresso” e “modernização” todo o poder decisório, beneficiando-as com obras –
do iluminismo, do positivismo e outros sistemas assim, a condição de capital de Fortaleza transformou-a
filosóficos chocavam-se como uma instituição tão brutal em ponto destacando na recepção de obras e recursos;
como o sistema escravista. Por isso, segmentos das c) a construção e melhoria de estradas e ferrovias, como
elites e das classes médias fundaram entidades a Estrada de Ferro Fortaleza-Baturité (EFB), inaugurada
abolicionistas (como a “Sociedade Cearense Libertadora” em 1873;
e o “Centro Abolicionista”), visando ao fim do regime d) e a intensa migração rural-urbana, principalmente na
servil. Essa campanha abolicionista, contudo, não visava época das secas.
a uma ruptura radical, mas ao fim da escravidão de O crescimento de Fortaleza se evidencia em seu
forma “ordeira”, priorizando a compra de cartas de “aformoseamento”, ofertas de serviços urbanos e adoção
alforria. de uma infraestrutura razoável. Passa a ter transporte
Em terceiro, citaríamos o tráfico interprovincial (a coletivo por bondes de tração animal, calçamento nas
venda de escravos do Nordeste para os cafezais do ruas centrais, linhas de telégrafo e de vapor para a
Sudeste), que diminuía ainda mais o número – e o peso Europa e Rio de Janeiro, iluminação a gás carbônico,
econômico – dos escravos locais. Também deve-se telefonia, biblioteca pública, bons educandários (como o
mencionar a questão das secas (era inviável um grande Liceu e o Colégio Imaculada Conceição), seminário (da
número de negros numa área sujeita a secas e, por Prainha), jornais etc.
conseguinte, à fome, à sede, a doenças, etc.) e a É a chamada Belle Époque. A elite inspira-se nos
atuação dos setores populares que aderiam à ideia valores “civilizados” da Europa – luvas, chapéus,
abolicionista – o maior exemplo foi Francisco José do casacos, nomes franceses, ideais do velho mundo. O
Nascimento, o “Dragão do Mar”, que liderou os Passeio Público era local de encontros e paqueras. Os
jangadeiros em vitoriosas greves em 1881, objetivando intelectuais reuniram-se nos famosos “cafés” (quiosques)
impedir o embarque de escravos no porto de Fortaleza. da Praça do Ferreira. Num desses cafés, o Java, em
Assim, em janeiro de 1883, Acarape (atual 1892, formaria-se a mais irônica e crítica associação de
Redenção) passou para uma história nacional como o letrados cearenses, a Padaria Espiritual. Em sua
primeiro núcleo urbano a libertar seus negros. Fortaleza publicação, O Pão, homens como Adolfo Caminha
deu liberdade a seus cativos a 24 de maio de 1883. criticavam os valores da época e, de certo modo,
Finalmente, a 25 de março de 1884, promulgou-se uma antecipavam a preocupação nacionalista da Semana de
lei inviabilizando a escravidão na província – embora Arte Moderna paulista de 1922.
existam registros de cativos no Ceará em datas Em 1875, o engenheiro pernambucano Adolfo
posteriores. Herbester elabora um plano urbanístico, objetivando
disciplinar a expansão da cidade através do alinhamento
2. Economia de suas ruas e da abertura de novas avenidas.
Na segunda metade do século XIX, o Ceará Os lucros do algodão, no entanto, reduzir-se-iam
reproduziu, em escala menor, a expansão da economia com a recuperação da cotonicultura norte-americana na
brasileira. década de 1870. Com isso, o Ceará entrou no século XX
O algodão cearense, cultivado comercialmente em difícil situação econômica. Curiosamente, foi o
desde o final do século XVIII, conheceu o apogeu na algodão encalhado e os capitais acumulados do
segunda metade do século XIX, na década de 1860 comércio que possibilitaram a instalação das pequenas
precisamente – isso porque os preços da fibra atingiram primeiras fábricas têxteis cearenses.
um alto patamar, em virtude da desorganização da Mas se Fortaleza conhecia algum progresso
produção dos Estados Unidos (principais fornecedores material, o mesmo não se podia dizer dos sertões, onde
das fábricas inglesas), mergulhados na brutal Guerra de imperava ainda a violência, a arbitrariedade e a
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 15
exploração da massa pelos coronéis latifundiários. Os D) Os Sertões, Caldeirão.
camponeses sofriam os males da concentração da terra. E) A guerra do fim do Mundo, Contestado.
Grupos de jagunços a serviço de coronéis lutavam por
terra e influência política, massacrando inocentes. 04 É célebre a frase de Francisco José do Nascimento, o
Imperava a impunidade. Dragão do Mar: “Aqui não se embarca mais escravos”.
As secas, como a de 1877-80, dizimavam de Assinale a alternativa que se relaciona corretamente com
fome e sede milhares de cearenses, outros muitos o contexto político cearense em que esta frase foi
morriam nos surtos de varíola. O povo migrava proferida.
sobretudo para a Amazônia, onde ia explorar os A) A proibição do tráfico de escravos havia sido
seringais. decretada recentemente no Ceará, abrindo espaço para
Mas os oprimidos reagiam. Um dos meios foi através dos as manifestações dos abolicionistas radicais.
movimentos messiânicos, em que o povo seguia um líder B) As lutas em torno da abolição dos escravos ganharam
religioso em busca de dignidade, condições de vida grande alcance em face do aumento do número de
melhores e assistência espiritual. Foral líderes negros que foram trazidos para a Província do Ceará
messiânicos nordestinos: padre Ibiapina, padre Cícero, após a seca de 1877.
beato Zé Lourenço e o líder de Canudos (BA), Antônio C) A campanha abolicionista alcançava seu auge no
Conselheiro. Ceará, conseguindo a adesão dos jangadeiros que
Outros nordestinos, no entanto, partiam para a faziam o transporte dos escravos dos navios para o
violência como meio de escapara da miséria. Formavam porto.
grupos de cangaceiros, saqueando, assaltando e D) O tráfico interprovincial estava levando à falência
amedrontando a todos. O mais famoso líder do cangaço comerciantes e fazendeiros cearenses, que decidiram
dos sertões foi Virgulino Ferreira, o Lampião, morto impedir pela força o embarque de escravos para os
apenas em 1938, em Sergipe. navios.
E) A abolição dos escravos no Ceará aconteceu
EXERCÍCIOS PROPOSTOS pacificamente através de um ato do governo provincial, o
que levou à desmobilização e desmoralização dos
01 “Para o ano de 1823, a população do Ceará foi poucos abolicionistas cearenses.
calculada em, aproximadamente, 200.000habitantes, dos
quais 20.000 escravos, ou seja, apenas 10% do total. 05 No Ceará, a segunda metade do século XIX foi um
Meio século depois o primeiro recenseamento geral do período de intensa atividade intelectual e política,
país, o de 1872, apontou, na província, 641.850 multiplicando-se os jornais e os clubes literários.
habitantes, sendo os escravos 25.727, o que
correspondia a 4% do total.” Assinale a opção que expressa corretamente alguns
(TAKEYA, Denise. Europa, França e Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. aspectos sociais dessa efervescência cultural:
São Paulo/Natal: Hucitec/Ed. UFRN, 1995, p. 101).
A) Os clubes eram formados por intelectuais
Os dados referentes à utilização da mão-de-obra escrava descendentes dos velhos senhores da pecuária e do
na economia cearense do século XIX, contidos no texto, algodão, de origem rural e posições conservadoras.
podem ser explicados pelo(a): B) Os grêmios literários expressavam a emergência dos
a) extinção do tráfego negreiro, que estimulou o setores comerciais em Fortaleza, constituindo uma elite
deslocamento de parte da mão-de-obra escrava da intelectual ativa e atualizada.
economia local para as Províncias do Sul; C) As atividades intelectuais eram, em verdade, frutos
b) migração de grandes proprietários de terras para tardios da expansão algodoeira do século XVIII, quando
outras Províncias, levando consigo os seus escravos; os senhores de terras se estabeleceram na capital.
c) desenvolvimento da cultura algodoeira, que absorvia D) Os grêmios, apesar de muitos, mantinham poucos
mais trabalhadores escravos do que livres; sócios e uma rarefeita programação cultural, resultado
d) ocorrência das cheias periódicas, que afetavam do acanhado porte intelectual de seus membros.
consideravelmente a produção agrária da Província;
e) declínio das charqueadas, cuja mão-de-obra 06 “Em 129 anos de história política de luta contra as
predominante era constituída de escravos. secas, o Ceará passou do combate às estratégias de
convívio com a irregularidade e a má distribuição das
02 “A travessia para o Juazeiro fez-se a marchas chuvas no estado.”
Fonte: VILLA, Marco Antônio. A Burocracia da Seca. Fortaleza: Jornal O Povo, 05 de
forçadas, em quatro dias. E quando lá chegou o bando novembro de 2006.
dos expedicionários, fardas em trapos, feridos,
estropiados, combalidos, davam a imagem da derrota. Em relação à polêmica questão da convivência do
Parecia que lhes vinham em cima, nos rastros, os estado do Ceará com as secas periódicas, analise as
jagunços. A população alarmou-se, reatando o êxodo. seguintes afirmativas:
Ficaram de fogos acesos na estação da via-férrea todas I – Os governos do Estado do Ceará têm incentivado o
as locomotivas. Arregimentaram-se todos os habitantes desenvolvimento de uma “agricultura da seca” em todo o
válidos dispostos ao combate. E as linhas do telégrafo estado, ou seja, têm investido no cultivo de produtos
transmitiram ao país inteiro o prelúdio da guerra adequados às regiões secas.
sertaneja” II – De modo geral, a convivência com a seca tem se
dado no sentido do armazenamento e conservação da
03 O trecho acima é parte do livro de Euclides da Cunha água de modo pouco planejado, incipiente e desigual.
que teve sua primeira edição em 1902 e relata o III – A transposição das águas do São Francisco é
cotidiano de um conflito ocorrido nos primeiros anos da apontada por alguns técnicos como a alternativa para
República. O livro de Euclides e o conflito ao qual se uma política de convivência com as estiagens periódicas.
refere são respectivamente:
A) Inferno Verde, Caldeirão. São corretas:
B) Inferno Verde, Cabanagem. A) apenas I e II
C) Os Sertões, Canudos. B) apenas I e III
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C) I, II e III Nascimento, o Dragão do Mar, contra o comércio de
D) apenas II e III escravos.
D) da proibição do tráfico negreiro internacional e da
07 "No dia 28 de setembro de 1879, oitavo aniversário ausência de atividade produtiva que dependesse
da promulgação da Lei do Ventre Livre, foi criada por dez sobretudo do trabalho escravo.
cidadãos residentes em Fortaleza uma entidade E) do declínio da Sociedade Cearense Libertadora
denominada Perseverança e Porvir. Criada considerada prejudicial aos interesses do intenso tráfico
principalmente para tratar de negócios econômicos e negreiro existente.
comerciais em proveito de seus fundadores, possuía
também outras atribuições". 10 “Principalmente durante as últimas décadas do século
(Fonte: SILVA, Pedro Alberto de Oliveira. "História da Escravidão do Ceará: das XIX, era prática comum entre a intelectualidade de
origens à extinção". Fortaleza: Instituto do Ceará, 2002, pp. 191-192.)
Fortaleza formar grupos, cuja finalidade era a discussão
Sobre as atribuições da citada sociedade, são feitas as de temas de caráter político, literário ou filosófico”.
Fonte: CARDOSO, Gleudson Passos. Intelectuais. Fortaleza: História e Cotidiano.
seguintes afirmações: Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, p. 43.
I. Propunha-se também a alforriar escravos, daí a
escolha da citada data para dar início às suas atividades. Com base na afirmação acima, assinale o correto:
II. Os associados criaram um fundo de emancipação A) Na passagem do Segundo Reinado para a República,
para libertar escravos e, em algumas das suas reuniões, Fortaleza era ainda uma “acanhada província” sem
faziam doações, embora modestas, para aquele fim. atividade intelectual ou jornalística.
III. As transações feitas pela sociedade, no sentido da B) O crescimento urbano e o demográfico só tiveram
libertação dos escravos, eram pequenas, visto que início em Fortaleza, a partir da década de 1960, em
durante sua existência (cinco anos) alforriou menos de virtude da exportação algodoeira que possibilitou
uma dezena de cativos. intensas atividades políticas e literárias.
C) Os intelectuais cearenses participavam das linhas
Assinale o correto. editoriais dos jornais partidários, das revistas científicas
A) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras. e dos periódicos literários, propiciando ao público leitor
B) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras. informações de ordem política, científica e literária.
C) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras. D) A intelectualidade fortalezense participava junto à
D) Todas as afirmações são verdadeiras. imprensa local da defesa dos costumes populares e das
ideias científicas sem, contudo, inserir-se nas questões
08 O epíteto "Terra da Luz" foi atribuído ao Ceará por ter políticas e partidárias.
sido a primeira província brasileira a abolir oficialmente a
escravidão. Sobre este episódio tão marcante para a 11 “– Eu me recordo quando os bondes foram extintos.
História do Ceará, assinale a alternativa correta: Foi nos anos quarenta. Então surgiram os ônibus que
a) a campanha abolicionista foi muito intensa, contando eram mal feitos, cobertos por lonas e pintadas à tinta
inclusive com a participação dos jangadeiros, já que os óleo. A demora no percurso e o número limitado de
escravos constituíam quase a metade da população da veículos eram comuns nesse período.”
província. FONTE: JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. A Oralidade dos Velhos na Polifonia
Urbana. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2003, p 106/107.
b) a escravidão representava a principal fonte de mão-
de-obra para a província, principalmente na pecuária e Com relação à instalação das primeiras linhas de ônibus
na cultura do algodão. em Fortaleza, são feitas as seguintes afirmações:
c) o movimento abolicionista foi liderado pelos I. Os aumentos no preço das passagens provocavam
proprietários de terras insatisfeitos com a escravidão e constantes reações populares, tornando-se comum os
interessados na imigração de europeus. quebra-quebras de ônibus, em sua maioria organizados
d) na década de 1880, o número de escravos já era pelos alunos do Liceu do Ceará, quando os aumentos
muito reduzido, fato agravado pela seca de 1877, eram anunciados.
quando as fugas e as alforrias foram intensificadas. II. Inicialmente, o principal ponto terminal de ônibus em
Fortaleza era a Praça do Ferreira. Posteriormente,
09 "ESCRAVOS Vende uma pessoa chegada há pouco expandiu-se até a Praça do Carmo e depois até a Praça
do Norte bonitos e moços, entre elles notão-se um José de Alencar.
official de ourives, uma bonita crioula, uma parda de 18 a III. Os moradores dos bairros mais distantes eram
20 annos com habilidades, um preto padeiro e forneiro, prejudicados com a deficiência dos transportes urbanos.
um bonito pardo de 17 annos, optimo para pagem e mais
pretos moleques; na rua da Alfandega n. 278." Sobre essas afirmações, assinale o correto:
Fonte: Jornal do Commercio, 1854 apud NOVAIS, Fernando. A HISTÓRIA DA VIDA
PRIVADA NO BRASIL, v.2. São Paulo: Companhia da Letras, 1997, p.251. A) Apenas I e II são falsas.
B) Apenas II e III são verdadeiras.
O anúncio anterior, publicado num Jornal do Rio de C) I, II e III são verdadeiras.
Janeiro, indica que os referidos escravos eram oriundos D) Apenas II e III são falsas.
de uma Província do Norte, classificação onde se inseria
o Ceará, que participou do comércio negreiro 12 "Ceará: Terra da Luz". Esta denominação foi
interprovincial, em virtude: conferida ao Ceará por ter sido a primeira província
A) da promulgação da Lei do Ventre Livre que proibia a brasileira a libertar seus escravos. C
permanência da mão-de-obra escrava nas atividades
agrárias algodoeiras. Leia o texto a seguir.
B) da qualificação dos escravos, garantida através da “(...) Fascinado com aquelas coisas novas que em tão
educação ministrada pela Igreja e apoiada pelos pouco tempo modificaram o perfil da capital, o cronista
abolicionistas locais. concluía que, de fato, a ´civilização´ enfim chegava a
C) do fracasso da campanha desenvolvida por Francisco Fortaleza”.
(Sebastião Rogério Ponte. “A Belle Époque em Fortaleza: remodelação e controle” in
Uma nova história do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p.162)
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 17
(casamento, relações sexuais, nascimento de filhos) e
Considerando o contexto ao qual o texto acima se refere, extensa (visitas aos parentes e amigos, em que se
responda às questões propostas. aliavam a conversa informal, a cantiga, o batuque e a
bebedeira); da circulação por propriedades vizinhas (a
13 Fortaleza se torna o principal centro econômico do mando do senhor); de folguedos religiosos (permeados
Ceará no século XIX, a partir de 1840, quando passa a de cantos, danças e sons, em que se confundiam o
deter a exclusividade das exportações da província, sagrado e o profano e se atenuavam as distinções
particularmente do algodão. (C) sociais), como os das Irmandades dos Pretos (onde se
cuidava dos mortos, discutia-se o cotidiano, trocavam-se
14 O principal centro econômico, até então, tinha sido, informações e se exercitava o catolicismo popular) e as
desde o século XVIII, a cidade de Aracati, cuja riqueza festas juninas (boi-bumbá); de jogos; de caças e pescas;
provinha da produção do algodão. (E) de “sambas”, “pagodes” e “folias”. A participação em tais
eventos permitia-lhe amenizar o sofrimento e
15 A remodelação da cidade ocorre, sobretudo a partir problematizar a sua condição. (C)
da década de 1860, e são exemplos de transformações,
ocorridas no período, a construção da Santa Casa; o 21 Os escravos, todavia, também fugiam, motivados pelo
Lazareto; a ferrovia até Baturité; a iluminação a gás; o próprio estatuto de escravo (vítima de desigualdade e
plano urbanístico, que estendeu o alinhamento das ruas opressão institucionalizadas), castigos físicos, venda
até os subúrbios; a abertura de avenidas (as atuais indesejada (intensificada com o tráfico interprovincial, a
avenidas do Imperador, Duque de Caxias e Dom partir da aprovação, em 1850, da lei Eusébio de Queirós,
Manoel); o edifício da Assembleia Provincial (hoje Museu que extinguiu o tráfico intercontinental) e maus–tratos
do Ceará); os bondes de tração animal; o Passeio alimentares. (C)
Público; os Cafés (Java, Elegante, Iracema e do
Comércio). É, também, do século XIX a criação das
agremiações literárias, Academia Francesa e Padaria
Espiritual. (C)

16 O aumento populacional em Fortaleza, no século XIX,


esteve associado ao êxodo rural, provocado pelas secas,
particularmente a grande seca de 1877-79, além do
motivo óbvio da atração ligada à oferta de trabalhos
urbanos numa cidade que crescia por seu papel
econômico e político. (C)

17 O termo civilização, na época, era entendido como


sinônimo de progresso, modernização e, também,
europeização, no sentido de imitar os hábitos de lazer e
consumo dos europeus. (C)

Leia o texto a seguir.


“Não se trata de polarizar a escravidão brasileira, e em
especial a cearense, entre suave e rígida, branda ou
violenta, mas perceber que esses aspectos
perpassavam todo o regime escravista. Trata-se de
resgatar as experiências dos cativos, que, mesmo
sujeitos a uma série de limitações impostas pelo sistema
escravista, buscavam a constituição de determinados
espaços e a conquista de momentos de autonomia”.
FUNES, Eurípides Antônio. Negros no Ceará. In: SOUZA, Simone de (Org.). Uma
nova História do Ceará. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2000, p. 118.

De acordo com o texto, não obstante a relação desigual,


o escravo negociava com o senhor, no desejo de ampliar
as margens de atuação. Considerando isso, responda às
questões propostas.

18 Dentre os espaços de autonomia conquistados,


destacam-se a brecha camponesa, a família, o lazer e a
religião. A brecha camponesa diz respeito ao fato de ser
possibilitado ao escravo – por meio do direito de cultivar,
para si próprio, um pequeno pedaço de terra – garantir
sua subsistência, acumular pecúlio e se apropriar de
parcela do tempo, controlado pelo senhor. (C)

19 Quanto à família, a constituição de grupos


relativamente estáveis servia para aumentar a extensão
e o controle do espaço de moradia do cativo. (C)

20 Sobre o lazer, pode-se dizer que o escravo criava


espaços de entretenimento e sociabilidade, por meio das
ocasiões produzidas pela vida familiar nuclear
18 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam

UNIDADE 7 – A OLIGARQUIA ACCIOLINA Assinale a alternativa correta.


A) Somente I e II são verdadeiras.
Por oligarquia acciolina, entendemos o grupo B) Somente II e III são verdadeiras.
político liderado pelo comendador Nogueira Accioly, que C) Somente III e IV são verdadeiras.
dominou de forma autoritária, nepótica, despótica, D) Somente I, II e IV são verdadeiras.
corrupta e monolítica o Estado do Ceará, entre 1896 e E) Somente II, III e IV são verdadeiras.
1912. Para tanto, foi fundamental a adesão à política dos
governadores (um mecanismo de apoio mútuo entre o 02 A Política das Salvações eram segmentos das
presidente da república e os governadores dos Estados, classes urbanas e do Exército, unindo-se a oligarquias
levando à formação de oligarquias), o apoio dos coronéis dissidentes, iniciaram um movimento para “moralizar” o
latifundiários, a aliança com fortes grupos econômicos País e “salvar” a República – era chamada política das
locais, a prática de nepotismo, corrupção eleitoral e salvações, a qual consistiu em revoltas armadas
repressão às oposições. ocorridas em alguns estados visando derrubar as
No primeiro mandato de Accioly (1896-1900) oligarquias monolíticas governantes, substituindo-as por
destacaram-se a corrupção em larga escala e o “caso da outras. C
vacina”, quando a oligarquia atritou-se com o
farmacêutico Rodolfo Teófilo, que criticava o descaso do 03 "O Ceará é uma terra condenada mais pela tirania
governo ante um surto da doença. dos governos do que pela inclemência da natureza."
O governo de Pedro Borges (1900-04), eleito para (TEÓFlLO, Rodolfo. A SECA DE 1915. Fortaleza: Ed. UFC, 1980. p. 31.)

desmascarar Accioly, acabou sendo uma continuidade


da oligarquia. Accioly ainda foi reeleito para dois Esta frase, escrita em 1916, expressa uma revolta com
mandatos, em 1904 e 1908, respectivamente. Isso aquilo que o autor via acontecer no governo deste
intensificou as ações dos oposicionistas, integrados por período. Marque a alternativa que indica corretamente
oligarcas dissidentes do esquema governista, por algumas características da política cearense na Primeira
burgueses, pela classe média, por populares e até por República:
coronéis. A) a crítica do conservador Rodolfo Teófilo se dirigia às
Em 1910, chegava à presidência da república o iniciativas democráticas e socializantes que o governo de
gaúcho Hermes da Fonseca. Em seu período, verificou- Franco Rabelo vinha implementando desde a queda de
se a ocorrência da chamada “política das salvações”, Accioly em 1912.
pela qual militares e classe média promoveram pelo país B) o controle político era assegurado pelo domínio
levantes armados na pretensão de derrubar as oligárquico e coronelista, em que se sobressai a
oligarquias estaduais e enfraquecer o senador Pinheiro presença de Nogueira Accioly como o principal oligarca
Machado, o homem forte da república. Uma das do estado.
oligarquias “derrubadas” foi a de Accioly no Ceará. C) apesar do rígido controle oligárquico sobre o governo,
Assim, para as eleições estaduais de 1912, as havia um clima de liberdade de expressão, em que os
oposições cearenses lançaram, dentro da “política das jornalistas e críticos do governo podiam manifestar-se
salvações” a candidatura de Franco Rabelo para o sem medo de repressão.
governo, enquanto Accioly apontava como seu candidato D) as oligarquias que se sucediam no poder tinham que
o manipulável Domingos Carneiro. A campanha foi enfrentar frequentes revoltas urbanas, como a Sedição
bastante agitada e violenta, tendo como clímax a de Juazeiro, em 1914.
repressão do governo à “passeata das crianças”, uma
manifestação dos rabelistas, na qual morreram e saíram
feridas diversas crianças.
Em consequência, a cidade de Fortaleza rebelou-
se, mergulhando numa verdadeira guerra civil (21 a 24
de janeiro de 1912). Para não perder a vida, Accioly
aceitou renunciar ao governo cearense. Em seguida,
Franco Rabelo foi eleito para governar o Ceará, sendo,
porém, deposto dois anos depois em 1914, na Sedição
de Juazeiro.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

01 No período de 1896 a 1912, o Ceará foi governado


pela oligarquia comandada pelo presidente Antônio
Nogueira Accioly. Sobre esse tema, analise as
afirmações abaixo.
I. Oligarquia é um regime político caracterizado pela
concentração de poder nas mãos de uma minoria, que
age, sobretudo em benefício próprio e contra os
interesses da maioria.
II. A duradoura oligarquia de Accioly deveu-se a fraudes
nas eleições, prática comum no período.
III. Apesar da forte oposição e insatisfação popular em
relação a Accioly, não houve nenhuma ação efetiva para
depô-lo.
IV. O uso constante da violência e a política econômica
de Accioly foram alguns dos motivos de insatisfação da
população.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 19
• Além disso era notório na época ter sido o maior
UNIDADE 8 – PADRE CÍCERO agricultor do Cariri, produzindo e comercializando
borracha de maniçoba, cana-de-açúcar, mandioca,
Polêmico. Esta com certeza é a palavra que melhor algodão etc.
define historicamente a figura de Cícero Romão Batista,
o “padim ciço”. Entre os últimos anos do século anterior e EXERCÍCIOS PROPOSTOS
as primeiras décadas deste, o patriarca de Juazeiro
envolveu-se em uma série de embates religiosos e 01 "Padre Cícero, prontamente, jurou lealdade ao Papa e
políticos, que ainda hoje suscitam controvérsias. à Constituição republicana do Brasil e, de imediato,
A Igreja vivia no século XIX uma grande crise. Com a recorreu aos potentados políticos do interior, atitudes
queda do “Antigo regime” e consequente diminuição de com as quais ele, mais uma vez, desviou de si a
seu poder político, buscava se fortalecer, enfrentando, hostilidade ambivalente do Estado e da Igreja. Desde
porém, “poderosos inimigos”: além de protestantes, que começara sua querela com a hierarquia eclesiástica
batia-se com a maçonaria, com o positivismo, com o do Ceará, em 1891, padre Cícero, diferentemente de
marxismo, com o liberalismo, e com o próprio Antônio Conselheiro, inúmeras vezes procurou, obteve e
materialismo, que ofereciam concepções racionais para cultivou a proteção da hierarquia política local".
explicar seu mundo de fé. (Ralph Della Cava. "Milagre em Joazeiro".)
O catolicismo estava perdendo adeptos. A partir da
segunda metade do século XIX, sobretudo a com o O texto distingue a Canudos, de Antônio Conselheiro, do
Concílio Vaticano I (1869-1870), a Igreja reagiu: daí movimento de Joazeiro, no Ceará, liderado pelo padre
porque tentar unificar sua atuação; submetendo-a aos Cícero. Apesar das suas diferenças, percebe-se pelas
cânones de Roma; valorizando a hierarquia eclesiástica; atitudes do padre Cícero que ele enfrentava problemas
a total submissão dos fiéis e; o monopólio pela cúpula semelhantes aos confrontados por Antônio Conselheiro
católica da interpretação teológica de todos os no interior da Bahia. Aos olhos de parcela das elites
fenômenos religiosos. A essa reação da Igreja, dá-se o brasileiras da época, sobretudo litorâneas, estes
nome de romanização. movimentos:
A vida de padre Cícero foi marcada por polêmicas. A) resultaram da reação da população brasileira à
Praticamente do catolicismo popular nordestino, entrou corrupção da Igreja e ao Dogma da Infalibilidade do
em atrito com a política de romanização promovida pela Papa.
alta cúpula eclesiástica; B) tinham propósitos distintos, porque padre Cícero era
A trajetória de Padre Cícero Romão Batista foi de membro da Igreja e Antônio Conselheiro não era cristão.
polêmicas. Praticamente de um catolicismo popular, C) ameaçavam a hierarquia eclesiástica, a ordem social
acabou entrando em atrito com a romanização no interior do país e a estabilidade do regime político
promovida pela alta cúpula da Igreja Católica, isto é, com vigente.
a política de valorização dos dogmas e da hierarquia D) exprimiam os ideais da civilização cristã na sua fase
católica promovida a partir do final do século XIX pelo de maior desenvolvimento nas sociedades americanas.
Vaticano. Cícero nasceu no Crato-CE, em 1844, e E) eram liderados por políticos republicanos radicais,
instalou-se em Juazeiro no ano de 1872, ganhando o insatisfeitos com os rumos tomados pelo governo.
respeito da comunidade por seu trabalho religioso. Em
1889, obteve destaque por ter realizado um “milagre”,
transformando em sangue uma história na boca da beata
Maria de Araújo. Tal milagre não foi aceito pela cúpula
católica, e Cícero acabou perseguido. Ao contrário de
Antônio Conselheiro, em Canudos, Pe. Cícero aliou-se
aos políticos e oligarcas visando preservar Juazeiro dos
inimigos. Para os críticos, ao envolver-se com políticos,
virou um “coronel de batinas”. Juazeiro prosperou
bastante em função do “milagre”. A atuação política do
Padre aumentou com a chegada de Floro Bartolomeu,
seu “alter ego”. Cícero e Floro participariam da sedição
de Juazeiro, em 1914, contribuindo para a queda do
governador cearense Franco Rabelo. A morte de Floro
em 1926 e a Revolução de 1930 marcaram a decadência
de Cícero. Nos últimos anos de vida, tentou inutilmente
recuperar os plenos poderes do sacerdócio. Faleceu em
1934.

Propriedades de Cícero
Para se ter uma ideia desta afirmativa, basta verificar
uma relação de suas propriedades feita pelo próprio
padre em 1923, ao elaborar seu testamento.
Enumerava:
• 5 fazendas;
• 30 sítios;
• Vários terrenos;
• Diversos prédios urbanos (inclusive o prédio da
prisão de Juazeiro) e;
• Uma espantosa criação de gado, cujo numero de
reses não se conhecia;
20 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam

UNIDADE 9 – A SEDIÇÃO DE JUAZEIRO

Tal fato liga-se ao fracasso nacional da “política


das salvações” – o presidente Hermes da Fonseca,
Pinheiro Machado e a oligarquia articularam revoltas
armadas nos Estados, visando derrubar os governos
“salvacionistas” no poder. Assim caiu Franco Rabelo, o
“salvador” cearense, eleito em 1912, após o fim da
oligarquia acciolina.
Rabelo, inábil em poucos meses perdeu o apoio
de muitos dos políticos que o tinham ajudado a chegar
ao poder – daí porque a Assembleia Legislativa tentou,
sem êxito, votar o impeachment do “salvacionista”.
O governador das “salvações”, contudo possuía o
apoio dos fortalezenses, temerosos da volta de Accioly e
da fúria vingativa deste. Diversas vezes, o povo da
capital cearense frustrou as pretensões golpistas dos
opositores de Franco Rabelo.
Logo, os opositores concluíram que a única forma
de acabar com o “salvador” seria com uma revolta vinda
do interior para a capital. Dessa maneira, com o apoio de
Hermes da Fonseca, Pinheiro Machado, Nogueira
Accioly, João Brígido e outros oligarcas, arquitetam um
plano golpista nos sertões onde tinham o apoio do
deputado Floro Bartolomeu e do Padre Cícero Romão
Batista, de Juazeiro.
Floro e Cícero haviam sido aliados da oligarquia
acciolina, e se constituíram nas figuras centrais da
Sedição de Juazeiro. Os oposicionistas convocaram
extraordinariamente a Assembleia Legislativa em
Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, de
Fortaleza, enviou tropas apara aquela cidade caririense,
na pretensão de derrotar os golpistas. O povo sertanejo,
pensando ser uma agressão ao santo “Padim Ciço”,
dirigiu-se a Juazeiro, para lutar numa “guerra santa”.
Os homens de Rabelo cercaram Juazeiro, mas,
após alguns meses de combate, acabaram derrotados
pelos seguidores de Padre Cícero. Os golpistas, então,
marcharam sobre Fortaleza e obrigaram Rabelo a
renunciar ao governo cearense (antes, o presidente
Hermes da Fonseca já havia decretado a intervenção no
Estado).
Após a Sedição de Juazeiro, houve um relativo
equilíbrio entre as oligarquias cearenses – nenhuma
delas dominou sozinha o Estado, sendo o povo reprimido
em suas manifestações. Tal quadro se manteria até
1930, quando, com a “Revolução de 30”, houve um
reajuste das forças políticas locais.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

01 Sobre a Sedição de Juazeiro, é correto afirmar que:


A) o conflito pôs em confronto, de um lado, os grupos
conservadores urbanos, liderados pela Igreja Católica, e
os proletários de Fortaleza e, de outro, os camponeses e
produtores rurais, ligados ao setor de exportação.
B) foi a reação contra uma intervenção militar que visava
transformar o Ceará num pólo de produção cerealífera,
mediante a expansão dos polígonos irrigados.
C) originou-se no confronto dos interesses, vinculados à
indústria de exportação, com os interesses dos
produtores de bens duráveis, vinculados à expansão do
mercado interno.
D) era liderada pelo alto clero da Igreja Católica que, da
cidade de Juazeiro, tentava depor o Padre Cícero, que
tinha criado uma cisão no catolicismo.
E) opôs a classe média e os comerciantes, apoiados por
fazendeiros contrários a Accioly, aos interesses agrários
tradicionais, apoiados por Padre Cícero.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 21

UNIDADE 10 – O CEARÁ NOS ANOS 30 A 270 quilômetros de Fortaleza, Senador Pompeu


abrigou um desses campos. Entre 1932 e 1933, mais de
1. As Interventorias 16 mil pessoas foram confinadas nos casarões do
Em 1930, Getúlio Vargas chegava à Presidência canteiro de obras da barragem do açude Patu – cuja
da República através de uma “revolução”. Iniciava-se construção começou em 1919, paralisada em 1923, foi
uma nova era para o país: leis trabalhistas, retomada em 1984 e, finalmente concluída em 1997. O
industrialização de base, centralismo político etc. tombamento dos casarões em ruínas, bem como da
Vitoriosa a “Revolução” de 30, passaram os própria procissão, é uma luta antiga. “Preservá-los é
Estados a serem governados por interventores – perpetuar a lembrança dos mais de mil enterrados aqui e
indicados por Getúlio e escolhidos entre os tenentes e de todas as vítimas de outros campos, da seca, da fome,
civis que haviam apoiado o golpe varguista. Queria-se, de doenças e do descaso do governo”, diz o advogado e
assim, afastar dos governos estaduais as oligarquias da escritor Valdecy Alves, um dos articuladores do Fórum
República Velha e se colocar em prática as medidas Popular do Patrimônio Cultural e Ambiental de Senador
centralizadoras da Era Vargas. Pompeu.
No Ceará, após o afastamento das elites da A professora Kênia Sousa Rios, do Departamento
primeira república, foi nomeado interventor o médico de História da Universidade Federal do Ceará (UFC),
Fernandes Távora (1931), que governou por pouco conta que a ideia desses campos surgiu bem antes de
tempo, pois continuou com as práticas políticas do 1932. Um deles foi construído em Fortaleza em 1915,
período histórico anterior. Távora, na realidade, era um ano marcado por longa estiagem. Mencionado no
dissidente das oligarquias “caídas” em 30. romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, o espaço já
O segundo interventor cearense foi Roberto tinha o objetivo de poupar as elites da capital cearense
Carneiro de Mendonça (1931-34), que procurou conciliar do incômodo convívio com retirantes sem trabalho,
os “revolucionários” de 1930 com as oligarquias da Velha famintos e doentes, que para lá iam em busca de meios
República. Em seu período, no ano de 1932, ante de sobrevivência sempre que a estiagem se prolongava.
fortíssima seca, os cearenses foram enviados para Segundo a professora, o sanitarista Rodolfo Teófilo
combater a Revolução Constitucionalista de São Paulo. (1853-1932), grande cronista da seca, relatou que em
Nessa seca, ergueram-se campos de concentração para 1877 cerca de 110 mil sertanejos deixaram a própria
controlar os flagelos da estiagem. casa com a esperança de vida em Fortaleza. Pelo
menos 400, porém, eram encontrados mortos todo dia
2. Campos de Concentração no Ceará: mais cruéis que nas ruas da cidade.
a seca Para proteger a elite da capital dos “dissabores”
Construídos no Ceará para manter os flagelados dessa experiência migratória, o governo cearense
longe da capital, os campos de concentração prometiam desenvolveu o primeiro projeto de campos de
trabalho, comida e atendimento médico. Ali, os concentração em 1915. O governador era Benjamin
sertanejos encontraram fome, sede, doenças e morte. Liberato Barroso e seu vice, o padre Cícero Romão
Batista, mas as oligarquias políticas cearenses eram
lideradas pelo senador José Gomes Pinheiro Machado.
Não faltavam inspiração e apoio para o método
higienista das elites, uma vez que era forte a presença
de ligas religiosas e até mesmo operárias de inspiração
conservadora.

Isca
Com a seca de 1932, aprimorou-se o projeto de
1915. Foram construídos sete campos. Em Fortaleza
havia dois, para confinar retirantes que lá já estavam.
Ambos chegaram a ter 1.800 presos. Os de Crato e de
Senador Pompeu receberam mais de 16 mil cada um;
Quixeramobim, 4.500; Cariús, 28 mil; e Ipu, cerca de
6.500. “Os sertanejos eram atraídos por promessas de
trabalho, alojamento, alimentação e serviço de saúde”,
afirma Kênia Rios. Mas a multidão era concentrada em
A fé e a emoção unem os mais de 6.000 espaços precários. Tinha a cabeça raspada, usava
romeiros, quase todos vestidos de branco. Partem da roupas feitas com sacos de farinha e trabalhava
igreja matriz do município de Senador Pompeu e praticamente em troca de comida.
percorrem mais de três quilômetros de estrada de terra Os homens lidavam principalmente com
até a capela do Cemitério da Barragem. Acendem velas marcenaria e construção de tijolos, as mulheres na
e rezam pela alma dos enterrados ali. Acreditam que fabricação de sabão e as crianças, que não tinham
sejam intercessores de graças alcançadas. A procissão escola, podiam trabalhar e aprender artes e ofícios.
ocorre há 28 anos e mantém viva a memória de uma das Faltavam comida, água e remédios. Soldados armados
páginas mais cruéis da história brasileira: a morte de detinham aqueles que tentavam fugir. Os campos
milhares de flagelados da seca de 1932 em campos de mantinham locais para punir e encarcerar os rebeldes.
concentração construídos no estado pelo governo “Atestados de óbito mostram que no campo de Ipu a
cearense. O governador Roberto Carneiro de Mendonça, fome e doenças como cólera chegavam a matar oito
interventor nomeado por Getúlio Vargas, atendia aos pessoas por dia”, destaca a historiadora.
interesses da elite política e coronelista da ocasião. E Registros oficiais contabilizam mais de 60 mil
Vargas precisava de apoio ao processo que levaria ao cearenses mortos nesses campos. Estudiosos creem
Estado Novo, posto em andamento a partir do golpe de que morriam mais pessoas em função deles que da
1930. seca. “O flagelo era maior lá dentro, com tamanha
22 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
concentração de gente doente. Por maior que fosse a conforme a necessidade de cada família, constituindo-se
seca, em liberdade o sertanejo poderia caçar ou se assim numa economia alternativa. Mais que “fanáticos
alimentar de frutos silvestres em muitas regiões, como desprovidos de qualquer organização racional”, seus
no Cariri (região do Ceará)”, ressalta Valdecy Alves. habitantes promoveram uma política de convívio com a
O advogado Otoniel Ajala Dourado, da ONG SOS natureza, desfrutavam de água e alimentos com fartura.
Direitos Humanos, afirma que os flagelados eram A autonomia da comunidade era um modelo ameaçador
aprisionados por ser pobres, forçados a trabalhar para para as relações de exploração vigentes.
prefeituras, sem remuneração, e torturados por se
rebelar. Desde 2009 a entidade move uma ação civil Lembranças do Holocausto
pública contra a União e o estado do Ceará por danos Mãos e rosto enrugados, olhar profundo, voz
morais às vítimas do crime, imprescritível, de lesa- miúda, corpo castigado. Aos 84 anos, uma das últimas
humanidade e genocídio. A indenização pedida é de R$ sobreviventes do campo de concentração de Senador
500 mil para sobreviventes e familiares dos mortos. No Pompeu, Luiza Pereira, dona Lô, ainda recorda
mesmo ano, o juiz substituto da 6ª Vara da Justiça passagens angustiantes do cativeiro erguido no sertão
Federal no Ceará extinguiu a ação sem julgar seu mérito. do Ceará, comparado aos campos nazistas. Única
Nova ação foi protocolada e está para ser julgada. A herdeira viva dos oito filhos do casal de agricultores José
denúncia foi apresentada também à Comissão Pereira e Josefa Bezerra, todos de Tauá, dona Lô
Internacional dos Direitos Humanos, em Nova York. continua solteira, morando em uma casa modesta
Em 1933, quando as chuvas voltaram a cair, os próxima ao centro dessa cidade do sul do estado,
campos foram desativados e os sobreviventes deveriam outrora próspera devido à infraestrutura ferroviária, no
ser encaminhados de volta aos locais de origem. Nem corredor de escoamento do “ouro branco”, como eram
todos, porém, retornaram. Em Fortaleza, a maioria ficou conhecidas as plumas de algodão colhidas na região.
e deu início a uma das maiores favelas, a Moura Brasil, A passageira do “curral do Governo”, como
em Pirambu. “A violência desses campos reflete os também eram conhecidas as áreas de agrupamento de
primeiros anos da República, a crueldade com os pobres retirantes espalhadas pelo Ceará naquele ano de 1932,
e com os negros”, diz Kênia Rios, autora do livro ainda fala com lucidez e firmeza sobre a época. Ao
Campos de Concentração no Ceará – Isolamento e registrar o sofrimento dos pais e da irmã, nascida e
Poder na Seca de 1932, que inspirou documentários e morta no campo onde mais tarde se ergueu a barragem
peças teatrais. Para a pesquisadora, o episódio não do açude Patu, revela o trauma que a fez abdicar de se
findou em 1933. Ainda há projetos políticos que levam às casar e ter filhos.
praticas de repressão, humilhação e segregação. “Tenho muita coisa pra dizer não. Minha mãe não
“Exemplos são os conjuntos habitacionais construídos deixava nós desgrudar dos pé dela. Era muita gente. Ela
em cidades-dormitório para afastar os pobres do usufruto tinha medo de alguém carregar eu e meu irmão. Do resto
dos bens culturais e de lazer oferecidos pelas cidades. todo mundo já sabe. Perdi a conta de quantas vez já
Desestimulados pelo cansaço da semana de trabalho, repeti tudo isso. O sofrimento foi medonho… Quando
pela distância e pelo transporte ruim, os mais humildes chegamos neste lugar, após caminhada de 16 léguas,
acabam deixando para os ricos o que as cidades deitamos ali mesmo, no chão. Exaustos, sem ter o que
oferecem de melhor.” comer, minha mãe ferveu água para passar a fome. Era
apenas o começo dessa miséria que nunca esqueci…
Massacre Desesperado, meu pai resolveu carregar a gente de
Quatro anos depois do fim de seu campo de Tauá para cá (Senador Pompeu) à procura do que
concentração, Crato, no interior do estado, voltou a ser comer e beber. Mas se estava ruim ficou pior.”
palco de violência contra os direitos humanos. Segundo Carmélia Gomes Pinheiro, de 87 anos, foi criada
historiadores, as casas localizadas no Sítio Caldeirão da em Senador Pompeu, na Vila da Comissão, onde ainda
Santa Cruz do Deserto foram destruídas por forças do mora. Seu pai, Antônio Gomes da Silva, foi vigia noturno
Exército e da polícia do estado. A comunidade não do campo. Ela tinha 8 anos quando começou a ver
resistiu, como em Canudos. Os militares metralharam de famílias chegando de todos os cantos do sertão. Pouco
aviões o pouco que sobrou e, em terra, com fuzis, saía. Os pais ficavam preocupados. Das colinas do outro
revólveres, pistolas, facas e facões, liquidaram os lado da vila sabia apenas de imaginar e de ouvir as
sobreviventes. Cerca de mil moradores morreram e descrições da irmã, 12 anos mais velha, que às vezes
foram enterrados em vala comum. Alguns meses depois, doava alimentos aos flagelados.
foram encontrados 16 crânios de crianças numa área da “A maioria era desviada. Medicamentos,
Chapada do Araripe. chegavam poucos para atender a tantos doentes.
A SOS Direitos Humanos move ação civil pública Roupas não eram enviadas. Quando as vestimentas já
contra a União e o estado do Ceará. A ação cobra do estavam aos trapos, os corpos eram cobertos com sacos
poder público: a entrega dos documentos de identidade de mantimentos. Muitos sacos eram costurados e
dos mortos, os documentos secretos da ação militar, a transformados em camisões. E era assim que a maioria
localização da vala comum, a lista de todos que era sepultada. Com receio de arrancarem o fígado dos
participaram da ação criminosa, exames de DNA dos mortos quando eram jogados nas valetas do cemitério,
restos mortais para identificação e enterro digno e muitas famílias enterravam seus mortos no mato,
indenizações a sobreviventes e seus descendentes. A escondido”, conta. Carmélia lembra um momento
ONG defende ainda a inclusão do episódio em livros de marcante naquele ano da concentração, quando
História de todo o país. caminhando pelo campo viu corpos ainda não
O sítio Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, enterrados. Ficou paralisada. “Vi uma lagartixa saindo de
chefiado pelo beato negro José Lourenço, representou dentro da boca de um dos mortos.”
para as elites cearenses um “antro de fanatismo e Por Cida de Oliveira, na Revista do Brasil.

comunismo primitivo”. Já para seus ex-moradores, era


3. A Liga Eleitoral Católica (LEC)
um reduto de “bondade cristã”. O Caldeirão tinha no
Em 1933, convocaram-se eleições para uma
trabalho coletivo e na religiosidade pilares da
Assembleia Constituinte, o que ensejou a reorganização
organização social. O fruto do trabalho era dividido
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 23
dos partidos locais. Os tenentes e liberais, apoiadores da Baixa D’anta e passou a desenvolver um fenomenal
“Revolução” de 30 fundaram o Partido Social- trabalho coletivo, dividindo entre os trabalhadores o
Democrático (PSD), enquanto as tradicionais oligarquias, produzido. O sítio rapidamente prosperou e começou a
junto com segmentos conservadores da Igreja, reuniram- chamar a atenção.
se na Liga Eleitoral Católica (LEC). Na década de 1920, adversários políticos de
A LEC, por seus vínculos religiosos e apoio dos Padre Cícero e Floro Bartolomeu, na pretensão se atingir
latifundiários interioranos, obteve enorme penetração no estes, espalharam o falso boato de que as pessoas
eleitorado cearense. Dessa maneira, essa sigla religiosa estavam cultuando a um boi como se fosse santo.
elegeu a maioria dos deputados constituintes em 1933. A Lourenço foi preso, sendo o boi morto. Pouco depois, o
LEC também apoiava os segmentos fascistas que novo dono do sítio Baixa D’anta exigiu que o beato e os
organizaram por essa época a AIB (Ação Integralista camponeses deixassem a terra.
Brasileira) no Ceará. Talvez por volta de 1926, Padre Cícero acomodou
O terceiro interventor foi Felipe Moreira Lima Lourenço e os seguidores deste no sítio Caldeirão, de
(1934-1935), que realizou uma gestão agitada. Aliado ao sua propriedade. O Caldeirão tornou-se um Canudos em
PSD, não conseguiu evitar que a LEC vencesse as dimensões menores. Em busca de uma vida digna e de
eleições para deputado estadual de 1934 elegesse, conforto espiritual, muitos nordestinos foram para lá.
indiretamente, no ano posterior, o novo governador do Lourenço recebia a todos, e o sítio prosperou num
Estado, Menezes Pimentel. Dessa forma, as antigas sistema igualitário e coletivo.
oligarquias cearenses da primeira república retomavam o O progresso do Caldeirão incomodou as elites,
poder. visto que os latifundiários perdiam a mão de obra barata
Menezes Pimentel administrou o Ceará por 10 que exploravam. Além disso, a Igreja condenava a
anos, entre 1935 e 1937, como governador legal, e entre religião popular praticada na comunidade. Para
1937 e 1945, como interventor do Estado Novo. Foi um complicar, o país vivia um clima de histeria anticomunista
movimento de muita violência. – Lourenço foi acusado de ser um agente bolchevique.
Como o sítio, após a morte de Padre Cícero em
4. A Legião Cearense do Trabalho (LCT) 1934, ficou por herança para os padres salesianos, as
A Legião Cearense do Trabalho (LCT) foi uma classes dominantes passaram a difamar ainda mais a
organização operária, conservadora, nacionalista, cristã, comunidade de Lourenço. Em setembro de 1936, a
paternalista, autoritária, corporativista, anticomunista e comunidade foi dispersa e o sítio, incendiado numa ação
antiliberal existente no Ceará entre 1931 e 1937, senda da polícia.
fundada e liderada pelo tenente Severino Sombra. Lourenço e sua gente instalaram-se, então, no Alto da
Sombra conseguiu muito sucesso com a LCT Serra do Araripe e reorganizaram uma nova
devido ao baixo grau de organização e politização de comunidade. Parte dos moradores, liderados por
nossos trabalhadores, à política de conciliação do Severino Tavares, queriam vingança e, realizando uma
interventor cearense Carneiro de Mendonça e ao apoio emboscada, mataram alguns policiais.
da Igreja e da LEC. Enviou-se, em seguida, em maio de 1937, um
O pensamento da LCT e de Sombra estava no grande contingente policial para a Serra do Araripe,
livro Ideal Legionário. Visava criar um Estado massacrando os camponeses (os dados são imprecisos,
centralizado, intervencionista, harmonioso e mas especula-se entre 300 e 1000 mortos).
corporativista, “protegendo” os trabalhadores. Também José Lourenço conseguiu escapar, retornando
se destacaram na entidade o Padre Hélder Câmara mesmo depois ao Caldeirão – as autoridades
(depois, um dos mais importantes líderes da ala convenceram-se de que ele não participara da
progressista da Igreja, falecido em 1999), Jeová Mota e emboscada aos policiais. Mas, no final de 1939, retirou-
Ubirajara Índio do Ceará. se da terra por nova pressão dos salesianos. Comprou
Sombra pensava em estender a legião para todo um pequeno sítio, o “União”, em Exu (PE), vivendo em
o Brasil. Mas, por apoiar a Revolução Constitucionalista paz até 1946, quando veio a falecer. Seu corpo está
de 1932, foi preso e exilado em Portugal. Depois, a LCT enterrado em Juazeiro.
acabou filiando-se à AIB (Ação Integralista Brasileira) de
Plínio Salgado, que se tornou rival de Sombra. EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Em 1933, Sombra retornou do exílio e, não
conseguindo obter a chefia da AIB, abandonou a LCT e 01 A escassez de chuvas e os seus reflexos sociais
fundou no Ceará uma entidade semelhante, a associam o ontem ao hoje, não apenas no Ceará, mas
Campanha Legionária. Mas não obteve sucesso devido num espaço social bem mais abrangente:
ao apoio agora prestado pela Igreja aos integralistas, ao “... os saques são resultado de uma compreensão
surgimento de entidades operárias de esquerda, às generalizada do que deve ser a distribuição da riqueza
disputas com a própria LCT e à lei de sindicalização de num momento de crise.”
Vargas. A Campanha Legionária, a LCT e a AIB foram (Fonte: Entrevista do Prof. Frederico de Castro Neves, in Folha de São Paulo, 6
jun.1998, p.1 - 6.).
fechadas em 1937, com a implantação da ditadura do
Estado Novo. Desse modo, a invasão das cidades nordestinas pelos
flagelados pode ser explicada, historicamente, como:
5. O Caldeirão A) fenômeno recente, em virtude da presença do
O Caldeirão foi uma comunidade religiosa e Movimento dos Sem Terra entre os retirantes.
coletiva surgida no Crato sob a liderança do beato Zé B) resultado da força dos Sindicatos Rurais na maioria
Lourenço e destruída em 1936 pelo governo de Menezes dos municípios cearenses.
Pimentel, com o apoio da Igreja e dos latifundiários. C) politização dos trabalhadores rurais, decorrente da
José Lourenço, paraibano, negro e analfabeto, criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização
chegou Juazeiro por volta de 1890, sendo aconselhado (MOBRAL).
pelo Padre Cícero (de quem era seguidor) a se D) decorrência da integração cidade-campo, fortalecida
estabelecer na região e a trabalhar com algumas famílias com a inauguração da Rede de Viação Cearense (RVC).
de romeiros. Arrendou, então, um lote de terra no sítio
24 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
E) reação da multidão faminta, que age O deslocamento populacional descrito insere-se no
espontaneamente como forma de luta pela contexto histórico:
sobrevivência. A) do movimento messiânico de Canudos.
B) do desenvolvimento das fazendas de gado no rio São
02 Em 07 de maio de 1933, o jornal O Legionário, porta- Francisco.
voz da Legião Cearense do Trabalho, defendia a C) da migração nordestina para as cidades grandes da
instauração de “uma nova ordem social, repelindo a região sudeste.
oligarquia burguesa e a oligarquia proletária, repudiando D) da ocupação econômica do Mato Grosso.
o liberalismo grotesco e o socialismo anárquico”. E) da exploração da borracha na Amazônia.
"A Legião Cearense do Trabalho" in Simone de Souza (org.) UMA NOVA HISTÓRIA
DO CEARÁ. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000, p. 329). A partir desse
trecho e de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta sobre a Legião 06 A escassez de chuvas e os seus reflexos sociais
Cearense do Trabalho e suas ideias políticas. associam o ontem ao hoje, não apenas no Ceará, mas
A partir desse trecho e de seus conhecimentos, assinale num espaço social bem mais abrangente: "... os saques
a alternativa correta sobre a Legião Cearense do são resultado de uma compreensão generalizada do que
Trabalho e suas ideias políticas. deve ser a distribuição da riqueza num momento de
A) Abraçou plenamente os princípios do liberalismo, crise."
propondo uma sociedade com a mínima intervenção do Fonte: Entrevista do Prof. Frederico de Castro Neves, In FOLHA DE SÃO PAULO, 6
Estado. jun.1998, p.1-6.

B) Surgiu no contexto da implantação do Estado Novo e


foi uma cópia fiel da Ação Integralista Brasileira, fundada Desse modo, a invasão das cidades nordestinas pelos
por Plínio Salgado. flagelados pode ser explicada, HISTORICAMENTE,
C) Tinha lideranças provenientes dos círculos operários como:
e de outras organizações católicas e estava ligada ao A) fenômeno recente, em virtude da presença do
projeto de recristianização da sociedade moderna. Movimento dos Sem Terra entre os retirantes.
D) Baseando-se em temas como a família e a tradição, B) resultado da força dos Sindicatos Rurais na maioria
ela trouxe para as suas fileiras a elite e a classe média, dos municípios cearenses.
mas não conseguiu atingir seu alvo principal, os C) politização dos trabalhadores rurais, decorrente da
trabalhadores. criação do Movimento Brasileiro de Alfabetização
E) Reuniu os vários setores profissionais organizados do (MOBRAL).
Ceará, encontrando por isso a simpatia tanto do D) decorrência da integração cidade-campo, fortalecida
trabalhismo varguista quanto de grupos ligados ao com a inauguração da Rede de Viação Cearense (RVC).
Partido Comunista. E) reação da multidão faminta, que age
espontaneamente como forma de luta pela
03 (PM/CE-2006) Com Getúlio Vargas no governo sobrevivência.
(Revolução de 1930), Fernandes Távora torna-se
Interventor no Ceará e com sua visão estreita e elitista 07 No final do mês de março, grandes levas de retirantes
passa a combater os comunistas, mas sua realização já enchiam de tristeza e fome as estradas do Sertão. Das
mais antipática foi: mais longínquas paragens saíam homens e mulheres
A) impedir que os cearenses imigrassem para outros arrastando filhos e alguns pertences a caminho da
estados. cidade. “Muitos se juntavam, formando enormes bandos
B) demitir a maioria do funcionalismo estadual que não de flagelados.”
Fonte: RIOS, Kênia Sousa. Campos de Concentração no Ceará: isolamento e poder
contava, na época, com estabilidade. na seca de 1932. Fortaleza, Museu do Ceará/Secretaria de Cultura do Estado do
C) reduzir o número de municípios cearenses. Ceará, 2006. p 10.

D) romper com os latifundiários e aliar-se aos militares.


O fragmento narra um pouco da saga dos retirantes do
04 Organização operária conservadora, paternalista, Sertão do Ceará, durante a seca de 1932. Sobre o tema,
autoritária, corporativista, anticomunista e antiliberal que, analise atentamente as afirmações a seguir,
fundada por Severino Sombra, pretendia mobilizar e classificando-as como verdadeiras (V) ou falsas (F).
influenciar grande parte dos trabalhadores do Ceará, a I. Os retirantes, na luta para manterem-se vivos,
fim de combater o avanço das ideias trabalhistas e enquanto realizavam longas caminhadas em direção à
socialistas no seio do operariado cearense. Trata-se: Fortaleza, matavam e comiam algumas reses que ainda
A) da Liga Eleitoral Católica. resistiam nos pátios das grandes fazendas. Nos jornais
B) dos Círculos Operários Católicos. de Fortaleza, eram comuns notícias de roubos de bois e
C) do Partido do Meio. vacas.
D) da Federação Operária Cearense. II. Os flagelados caminhavam longos trechos à procura
E) da Legião Cearense do Trabalho. das estações ferroviárias, de onde saiam em grandes
levas em direção à capital do Estado. A partir de 1932,
05 Alguns autores calculam que pelo menos meio milhão os trens que saíam em direção à Fortaleza, oriundos do
de nordestinos sucumbiram às epidemias, ao interior, levavam um grande número de retirantes.
impaludismo, à tuberculose ou ao beribéri (...) Sem III. Os Campos de Concentração do Sertão foram
nenhuma reserva de vitaminas, os camponeses das construídos em lugares onde havia, nas proximidades,
terras secas realizavam a longa viagem para a selva uma estação ferroviária.
úmida. (...) Iam amontoados nos porões dos barcos, em Com essa medida, os poderes constituídos procuravam
tais condições que muitos sucumbiam antes de chegar. diluir as tensões que se formavam nos “pontos de trens”
(...) Em 1878, dos oitocentos mil habitantes do Ceará, e ao mesmo tempo, tentavam evitar a migração para a
120 mil marchavam (...), porém menos da metade pôde capital.
chegar; os restantes foram caindo, abatidos pela fome
ou pela doença (...). É correto o que se afirma:
GALEANO, Eduardo. "Veias abertas da América Latina". 6. ed., Rio de Janeiro: Paz e A) apenas em I e III.
Terra, 1979, p. 100. B) apenas em II e III.
C) em I, II e III.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 25
D) apenas em I e II. próximo à cidade de Juazeiro do Norte, violentamente
reprimido pelas forças militares do Estado e pelo poder
08 “Fundada em Fortaleza, em 1931, pelo Tenente local em 1938, e que custou a vida de centenas de
Severino Sombra, a Legião Cearense do Trabalho (LCT) moradores da comunidade do Caldeirão. (C)
foi um movimento de natureza corporativista,
antecessora da Ação Integralista Brasileira (AIB), 12 Um movimento constituído por várias famílias
fundada por Plínio Salgado”. camponesas que tinham como líder o beato Antônio
Fonte: CORDEIRO JUNIOR, Raimundo Barroso. A Legião Cearense do Trabalho. In Conselheiro. (F)
SOUZA, Simone (org.). Uma Nova História do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito
Rocha, 2000, p. 324-326.
13 São características que marcaram a comunidade do
Sobre a LCT, assinale o correto. Caldeirão: Era uma sociedade religiosa na qual o
A) A LCT nasceu das preocupações com as questões trabalhador não era explorado pelos donos das terras;
sociais do país, cujas hostes eram compostas por jovens Era uma comunidade marcada por três princípios –
católicos, liberais e comunistas, opositores ao fraternidade, oração e trabalho; Todos viviam a partir da
movimento de 1930. igualdade falada na Bíblia; Os moradores do caldeirão
B) As principais lideranças da LCT foram alçadas nos eram fiéis ao Pe. Cícero; Dedicava-se à agricultura, e a
Círculos Operários Católicos, União dos Moços Católicos produção era dividida igualmente entre as famílias que
e Juventude Operária Católica. ali viviam sob a liderança do Beato José Lourenço; O
C) Manteve-se em ação até 1964, quando o golpe militar resultado do trabalho coletivo era repartido conforme a
dissolveu não só a LCT como todas as entidades de necessidade de cada família; Todos deviam trabalhar;
representação de classes. Não havia o objetivo de acumulação de riquezas. (V)
D) Seu surgimento foi associado à expansão do
pensamento liberal no Brasil, distinguindo-se de outras Leia o texto abaixo e responda o que se pede a seguir.
associações do seu tempo. Assim, ao contrário da estratégia estabelecida em 1915,
quando apenas um campo foi criado em Fortaleza, em
09 Na “seca do quinze”, mais de 42 mil cearenses 1932 foram criados sete Campos de Concentração
emigraram e aproximadamente 30 mil morreram – o espalhados por todo o território do Ceará.
governo chegou até a construir campos de NEVES, Frederico de Castro. A seca na história do Ceará. In: SOUZA, Simone (Org.).
Uma nova História do Ceará. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2000, p. 90-91.
concentração serviam para “conter” os flagelos (na
verdade, eram um “aperfeiçoamento” dos 14 A partir de 1877, os sertanejos passaram a migrar
abarracamentos da seca de 1877. C para áreas urbanas em tempos de seca. Com o objetivo
de impedir que eles chegassem a Fortaleza e
10 “Ao chegar na nova localidade, o beato José ameaçassem a preservação da “ordem social”, o
Lourenço só encontrou ‘mato e pedra’, nada que governo do Estado do Ceará ordenou, em 1915 e 1932,
lembrasse produção(...) Ergueram-se pequenas casas, a criação dos Campos de Concentração. (C)
cercas, barragens, armazéns(...) Passaram a cultivar
cereais e frutos, e a criar diversos animais 15 Estes eram locais que não necessitavam ser
domésticos(...) Criou-se uma sociedade igualitária, de cercados e vigiados, onde os “flagelados” (nome pelo
sistema econômico coletivo, que impunha aos seus qual as elites urbanas designavam os sertanejos que
membros a cooperação para assegurar a existência e o migravam do semiárido) eram mantidos confinados. (F)
desenvolvimento, tendo como base de tudo a religião”
(Farias, Airton de História do Ceará: dos índios à geração Cambeba. Fortaleza:
Tropical, 1997) 16 Em 1932, dentro do ideário então em voga, que
tomava o trabalho como importante instrumento de
O texto acima refere-se a um movimento ocorrido no manutenção da ordem pública e garantidor do controle
Ceará: social, os sertanejos confinados nos Campos de
A) confederação do Equador Concentração foram utilizados como força de trabalho
B) Sedição de Juazeiro em obras públicas de combate à seca, como a
C) Caldeirão construção de poços, barragens e açudes. (C)
D) Sedição de Pinto Madeira.
E) Confederação dos Cariris. 17 Em 1932, os Campos de Concentração atuavam,
ainda, como mecanismos para fixar o homem no campo.
Leia o texto a seguir: (C)
“Os depoimentos de quem viveu o Caldeirão
transformaram-se em acerto de contas com o passado.
Ressoam o que foi abafado nas malhas da história
oficial, ou que foi alinhavado apressadamente na
fatualidade da imprensa. Em contraponto, essa memória
peleja em manter-se viva, como o povo. E resiste.”
(Régis Lopes, Jornal O Povo, 18/02/2001; pág. 7)

A partir do texto e de seus conhecimentos, responda.


A questão exige conhecimentos sobre um importante
acontecimento da história do Ceará e faz com que o
candidato reflita sobre a memória desse movimento e
sobre o significado diferente a ele atribuído, de um lado,
pelos participantes e do outro, pelo Estado, pela elite e
pela imprensa da época.

11 O movimento do Caldeirão Movimento foi de caráter


messiânico, popular, ocorrido na região do Cariri,
26 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
Na UDN, tinham-se duas facções: uma do sul do
UNIDADE 11 – O CEARÁ NA REPÚBLICA POPULISTA Ceará, liderada por Fernandes Távora, e outra, no norte,
(1945-64) chefiada por José Saboia de Albuquerque, de Sobral.
O PSD, surgido da burocracia do Estado Novo,
1. A “Redemocratização” de 1945 possuía como maiores líderes Menezes Pimentel, José
Durante o Estado Novo (1937-45), foi o Ceará Martins Rodrigues e Expedito Machado. Um grupo
administrado pelo interventor Menezes Pimentel (que chefiado por Olavo Oliveira deixaria o PSD e formaria o
governava já o Estado desde 1935), nomeado por PSP (Partido Social Progressista). Dependendo de quem
Vargas. Nessa fase de autoritarismo, censura, torturas e lhe ofertasse mais vantagens, o “olavismo” ora apoiava a
repressão, as atividades políticas cearenses UDN, ora o PSD. Era o “fiel da balança”, capaz decidir as
praticamente inexistiram. eleições.
Com o envolvimento do Brasil na II Guerra Havia, ainda, tendo como maior reduto a capital, o
Mundial (1939-45), montou-se uma base norte- pequeno Partido Republicano (PR), chefiado pelo ex-
americana em Fortaleza, mudando os hábitos locais e interventor e prefeito de Fortaleza entre 1947-51 Acrísio
empolgando a população, que realizou diversos atos, Moreira da Rocha, figura carismática, o qual junto com
manifestos e passeatas contra o nazismo. Ao mesmo os irmãos Péricles e Crisanto, representava
tempo, uma intensa propaganda governamental genuinamente no Ceará o populismo reinante no Brasil.
influenciava os sertanejos a migrar para a Amazônia e Após a cassação do registro do PCB, em 1947, muitos
explorar látex nos seringais da região num “esforço de comunistas foram “abrigar-se” no PR.
guerra”. Milhares de cearenses foram para o norte em A partir de mais ou menos 1954, um novo partido
busca de “tempos novos” – a maioria só encontrou iria superar o “olavismo” como “fiel da balança”, o Partido
miséria e até mesmo a morte na floresta. Era a “Batalha Trabalhista Brasileiro (PTB), sob a chefia do rico
da Borracha”. comerciante Carlos Jereissati, pai de Tasso Jereissati –
No Ceará, como no restante do Brasil, as elemento vinculado nacionalmente ao getulismo e a João
manifestações contra o nazismo passaram a criticar Goulart.
igualmente a ditadura getulista. O Estado Novo caiu Foram governadores do Ceará nesse período:
como um castelo de areia. O país se “redemocratizava”, Faustino Albuquerque (UDN 1947-51), Raul Barbosa
marcando-se eleições e formando-se partidos nacionais. (PSD 1951-54), Paulo Sarasate (UDN 1955-58), Parsifal
Assim, os opositores ao interventor Menezes Barroso (PSB, PTB 1959-63) e Virgílio Távora (UDN –
Pimentel organizaram a secção local da União PSD / ”União Pelo Ceará” 1963-66).
Democrática Nacional (UDN), enquanto o interventor É importante ressaltar que o professor Ari de Sá
fundava o Partido Social Democrático (PSD). Eram Cavalcante disputou as eleições de 1954 e 1958,
agremiações conservadoras, elitistas, sem muito concorrendo ao cargo de Prefeito de Fortaleza.
conteúdo ideológico. Também surgiu uma secção do O único momento em que um governo elegeu seu
Partido Comunista do Brasil (PCB) – apesar de toda a sucessor foi em 1962, quando, sob as bênçãos do
campanha anticomunista movida pela classe dominante governador Parsifal Barroso, UDN e PSD se coligaram e
e pela Igreja Católica, então chefiada pelo bispo Dom se formou a chamada “União pelo Ceará” – coligação de
Almeida Lustosa. direita pelas elites, que tinha como candidato Virgílio
Da mesma forma, organizou-se o Partido Social Távora.
Progressista (PSP), chefiado por Olavo Oliveira, que pelo A “união pelo Ceará” foi esmagadoramente
menos na década de 50 atuaria como “fiel da balança” triunfante nessas eleições, só perdendo um cargo
nas disputas eleitorais cearenses. importante: uma vaga no Senado. O eleito foi
A demissão de Menezes Pimentel da interventoria local e exatamente o seu adversário maior, Carlos Jereissati
a coligação entre PSP e UDN deram aos udenistas a (PTB), que, ao lado de Távora, despontava como a
vitória nas eleições de 1947, elegendo o governador grande liderança política cearense na década de 1960.
Faustino Albuquerque. Com Távora no governo, buscar-se-á o
fortalecimento das elites cearenses, adotando uma
2. A fragilidade das elites postura de modernização do Ceará, de aplicação do
A novidade no pós-45 foi a existência de partidos “nacional-desenvolvimento” e de incentivo à
nacionais (até então os partidos eram estaduais), o que, industrialização do Estado. Daí Virgílio ter se esforçado
porém, não evitou especificidades políticas às para trazer para o Ceará a energia de Paulo Afonso,
particularidades locais. No Ceará, havia outro atrais indústrias do Sudeste, conseguir recursos da
complicador do jogo político: a histórica fragilidade SUDENE, Criar o Banco do Estado do Ceará (BEC) para
estrutural das elites cearenses, em virtude da econômica facilitar financiamentos e instalar o Primeiro Polo
precária (baseada na exportação agrícola e no Industrial, em Maracanaú. Com o Golpe de 1964,
comércio), em virtude do Estado ser uma região pobre, ocorreram várias prisões de militantes de esquerda e
de solos ruins e castigada por secas periódicas, além da cassações de parlamentares.
própria divisão interna das camadas dominantes.
Essa fragilidade fica clara quando se percebe que EXERCÍCIOS PROPOSTOS
no período 1945-64, nas eleições, o governador não
conseguia eleger seu sucessor. Quem ganhava era a 01 (PM/CE-2008)
oposição (exceção dá-se em 1962, como adiante Ocorreu uma revolução na economia do Ceará com a
veremos). criação do distrito industrial de Maracanaú, há pouco
Os dois principais partidos do período, UDN e mais de 40 anos. Hoje, Maracanaú é o mais importante
PSD, alternam-se no poder. Não eram agremiações de pólo industrial do estado e considerado o segundo
forte conteúdo ideológico. Ao contrário, havia dentro colocado no ranque de arrecadação do ICMS. Reúne
desses partidos alas brigando entre si. O que lhes dava cerca de 100 empresas em áreas diversificadas de
um pouco de unidade era o clientelismo, a capacidade atuação, como têxtil, metalúrgica e mecânica, indústria
de estar no poder, garantir cargos, verbas públicas, de papel e papelão, empresa de fabricação de material
privilégios econômicos etc.
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 27
elétrico, químico, de vestuário e calçados e serviços de
construção.
Internet: <www.maisceara.com.br> (com adaptações).
Aproximadamente 75% da população ativa do estado do
Ceará ocupam-se do setor agropecuário. A agricultura
constitui o setor de maior importância econômica, quer
pelo valor da produção, quer pelo efetivo de mão de obra
utilizado. Predomina no estado a pequena lavoura
comercial e de subsistência.
Internet: <www.mundovestibular.com.br> (com adaptações).

A partir das informações dos textos acima, relativas ao


estado do Ceará, julgue os itens de 71 a 75.

02 A indústria no Ceará se desenvolveu nas últimas


quatro décadas, contribuindo para o aumento do número
de empregos e para o fortalecimento da economia do
estado. C
03 De acordo com as informações apresentadas nos
textos, a maior parte da população ativa do Ceará está
empregada no setor primário da economia. C
04 A irrigação com águas provenientes do rio São
Francisco foi fator decisivo no aumento da produtividade
verificada na agricultura do Ceará. E
05 Os pequenos produtores, que praticam a agricultura
de subsistência e utilizam mão-de-obra familiar, detêm a
propriedade da maior parte das terras agrícolas do
estado do Ceará. E
06 Além da indústria e da agricultura, o turismo é uma
atividade econômica importante no Ceará, contribuindo
de forma expressiva para a arrecadação estadual,
atraindo turistas nacionais e estrangeiros. C

07 (PM/CE-2006) O Partido Republicano Conservador


no Ceará reunia os
interesses tradicionais de bases essencialmente
agrárias, e seus maiores líderes foram:
A) Tomás de Paula Rodrigues e João Tomé de Sabóia e
Silva.
B) Manoel do Nascimento Fernandes Távora e Franco
Rabelo.
C) Franco Rabelo e Manoel Moreira da Rocha.
D) José Accioly e Floro Bartolomeu.

08 “As ações efetivas no sentido de modernizar as elites


políticas nordestinas tem seu ponto alto na década de
1950 com a criação de instituições responsáveis por uma
política de modernização conservadora na região”.
Fonte: PARENTE, Josênio. O Ceará e a Modernidade. In PARENTE, Josênio e
ARRUDA, José Maria. A Era Jereissati: Modernidade e Mito. Fortaleza: Edições
Demócrito Rocha, 2002, p 125
Podem estar relacionadas com a modernização de que
fala o texto, as seguintes instituições:
I. Banco do Nordeste (BNB).
II.Superintendencia do Desenvolvimento Econômico do
Nordeste (SUDENE).
III. Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS).
É correto o que se afirma
A) Apenas em I e II.
B) Apenas em II e III.
C) Em I, II e III.
D) Apenas em III.
28 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam
indicação de quem seria o novo governador do Estado.
UNIDADE 12 – O CICLO DOS CORONÉIS Ante o impasse, a questão sucessória foi levada ao
presidente Figueiredo, que firmou o “Pacto de Brasília”,
O golpe de 1964 ocorreu exatamente um ano pelo qual os coronéis dividiram o Estado entre si, na
após a posse de Virgílio Távora. O coronel ficou então base dos 33% dos cargos públicos de 1º e 2º escalões,
dividido, pois, apesar de criticar as “Reformas de Base” além dos cargos executivos. Gonzaga Mota, “um homem
de João Goulart, era seu amigo pessoal e fora dele neutro” (na prática, ligado a Virgílio Távora), seria o
ministro. Essa aproximação de Távora com Jango fez até governador, cabendo a Adauto o cargo de vice, a
com que alguns militares “linha dura” pedissem a Virgílio, uma vaga no Senado, e a César Cals, a
cassação do governador. Távora escapou da deposição prefeitura de Fortaleza. Assim ocorreu nas eleições de
por influência do tio, Juarez Távora, junto aos golpistas. 1982.
A longo prazo, a ditadura acabou beneficiando Távora, Mas foi ilusória a vitória dos coronéis. Estes
pois obteve, além de prestígio político, muitos recursos haviam preparado a “modernidade” do Estado, mas suas
para seus projetos industrialistas. práticas autoritárias e clientelistas ironicamente os
As esquerdas buscaram se reorganizar após o enfraqueceriam. Abria-se espaços para novas forças
Golpe de 1964, tendo grande influência junto ao políticas: em 1985, Maria Luiza Fontenelle, do PT, era
movimento estudantil através do PORT (Partido Operário eleita sensacionalmente prefeita de Fortaleza. Em 1986,
Revolucionário Trotskista), AP (Ação Popular) e PCdoB um grupo de “jovens empresários”, um deles Tasso
(Partido Comunista do Brasil). O PCdoB liderou o Jereissati, passaria a governar o Ceará. Eram tempos de
movimento estudantil universitário e instalou campos de “mudanças”.
treinamentos de guerrilheiros visando apoiar a futura
guerrilha do Araguaia. A ALN (Ação Libertadora EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Nacional) e PCBR (Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário) fazem ações armadas no Ceará. 01 O “Governo dos Coronéis”, que dominou a política
Na sucessão, contudo, Távora não conseguiu cearense na década de 1970 e nos primeiros anos da
indicar um nome de seu agrado. O quadro político década de 1980, caracteriza-se:
mudara com a instalação do bipartidarismo no país (no A) por ser um governo que representou a continuidade
Ceará, a ARENA reuniu a maior parte dos políticos da das práticas efetivadas pelas velhas oligarquias
UDN, do PSD e do PSP, enquanto no MDB ingressaram cearenses no poder.
políticos do PTB e uma ala do PSD, chefiada por José B) pelas práticas populares que marcaram a
Martins Rodrigues) e com a determinação de eleições administração dos coronéis que estiveram no poder
indiretas para governador (seria este escolhido pelos durante o regime militar.
deputados estaduais, embora, na prática, apenas se C) por ser uma administração entregue a governantes de
referendasse o nome indicado pelos militares). Paulo formação militar, afirmando a força do governo central,
Sarasate, senador e amigo de Castelo Branco e marcada pela tecnocracia.
ardoroso defensor da “Revolução” de 1964, conseguiu D) pelo controle da política local por um segmento
que fosse eleito, para surpresa geral, o deputado empresarial ligado à indústria e ao capital financeiro.
estadual Plácido Aderaldo Castelo, que governa o E) pela expansão do clientelismo, mas com a introdução
Estado entre 1966-71. de uma nova forma de fazer política, estimulando o
Em 1971, com as bênçãos do presidente da pluripartidarismo.
República, Médici, e a pressão dos militares do Recife,
foi indicado para governar o Ceará um engenheiro
militar, o coronel e engenheiro César Cals de Oliveira, o
que não agradou muito Virgílio Távora, que contava em
voltar ao poder. Concomitantemente, dentro da ARENA
fortalecia-se o grupo do coronel Adauto Bezerra, figura
vinda de uma família de Juazeiro, ligada ao cultivo do
algodão e que liderava uma pequena cooperativa.
Surgiam assim os famosos três “coronéis do
Ceará”, todos militares de carreira, Virgílio Távora,
Adauto Bezerra e César Cals, que, nos anos de 1970 e
início da década de 1980, dominaram politicamente o
Estado. Tinham entre si um acordo que os mantinha na
“cúpula” e “dividia” as bases, não deixando espaços para
o MDB local. Apesar de certo acordo, mantinham grupos
próprios e divergiam entre si.
Após a administração de César Cals (1971-75),
foi a vez de Adauto Bezerra assumir o poder local,
governado entre 1975-78.
No ano de 1979, Virgílio Távora, com o apoio de
Geisel, regressou ao governo cearense e consolidou a
transação para a modernidade conservadora, com obras
estruturais e de cunho industrialista, como o sistema
Pacoti-Riachão, a energização rural e o término do
Distrito Industrial.
Com a “distensão política” e a “abertura
democrática” ocorridas no país no final da década de
1970 (a ARENA virou PDS e o MDB, PMDB), o acordo
dos coronéis passa a se desestruturar. Em 1982, os três
coronéis disputavam acirradamente nos bastidores a
Prof. Jam HISTÓRIA DO CEARÁ 29
O domínio cambebista garantiu a eleição em 1990
UNIDADE 13 – A GERAÇÃO CAMBEBA de Ciro Gomes ao governo pelo PSDB. Depois, Ciro iria
para o PPS, mantendo-se, porém, “fiel” a Tasso. Em
Em 1986, Tasso Jereissati era eleito governador 1994, há o retorno de Jereissati ao Executivo cearense.
do Ceará, derrotando os três famosos coronéis do Tasso seria reeleito ainda em 1998. Um dos maiores
Ceará, Adauto, Virgílio e César, e inaugurando uma nova núcleos de oposição ao Cambeba encontrava-se em
etapa política no Estado. Fortaleza, onde nos anos 90 e início do século XXI
Mas tal fato não foi ocasional. Até aquela data, a chefia dominou o grupo político conservador do então prefeito
do CIC era ocupada pelo presidente da Federação das Juraci Magalhães. Na capital também são fortes as
Indústrias do Estado do Ceará (FIEC). esquerdas, tanto que em 2004 o PT conseguiu eleger
Esses “jovens empresários”, como Beni Veras, Luizianne Lins como gestora da cidade.
Tasso Jereissati, Amarílio Macedo, Sergio Machado e Apesar das “mudanças” realizadas pelo Cambeba
Assis Machado Neto, tornam o CIC um centro de na política e economia do Estado – o PIB cearense
debates e gestam uma candidatura ao governo. Embora cresceu nos últimos anos em média mais que o do
tenha o CIC de início mantido boas relações com os restante do Brasil – não houve empenho suficiente para
coronéis (por exemplo, apoiaram a candidatura de acabar com a pobreza absoluta que impera o Ceará. Ao
Gonzaga Mota ao governo em 1982), criticavam contrário do “Governo das Mudanças”, aprofundou a
duramente o excessivo intervencionismo do Estado na concentração de renda no Estado, também uma das
economia, a corrupção, o clientelismo e outros maiores do país. O modelo capitalista, neoliberal, urbano
problemas da máquina pública, pregando uma gestão e industrialista abandonou quase por completo a
“moderna”, (neo) liberal no Ceará e empresarial para agricultura interiorana, salvo as grande agroindústrias,
“acabar com a miséria”. incrementando a miséria e o êxodo rural.
A oportunidade para os “jovens empresários” Esse caos social ajuda a entender a dificuldade
assumirem o governo dar-se-ia em 1986. O então tida pelo Cambeba para eleger Lúcio Alcântara
governador Gonzaga Mota (PMDB), já rompido com seus governador em 2002, numa dramática e apertada vitória
“padrinhos políticos” (os coronéis), resolve apoiar um sobre o petista José Airton Cirilo e, por fim, perder o
nome do CIC para concorrer a sua sucessão: Tasso comando cearense em 2006, quando foi eleito Cid
Jereissati. Este, valendo-se do sucesso nacional do Gomes, irmão de Ciro Gomes, para o Executivo local. O
Plano Cruzado, da crise e decadência das “velhas” elites grupo dos Ferreira Gomes caminha para hegemonizar a
chefiadas pelos coronéis e contando com o apoio e política cearense.
simpatia de amplos segmentos sociais (até das
esquerdas), derrota o candidato do PFL (dissidente do EXERCÍCIOS PROPOSTOS
PDS, atual DEM), coronel Adauto Bezerra.
Encontrando o Estado em lastimável situação 01 “A ascensão de jovens empresários ao poder político
financeira, Tasso, sob o lema “Governo das Mudanças”, estadual nas eleições de 1986, representou um
busca moralizar a máquina pública, diminuindo o momento de ruptura com várias tradições da política
nepotismo e o empreguismo – embora achate o salário cearense”.
dos servidores públicos e tenha com estes uma relação (BONFIM, Washington Luís de Sousa. De Távora a Jereissati:duas décadas de
política no Ceará. In PARENTE, Josênio e ARRUDA, José Maria. E Era Jereissati:
de atritos. Modernidade e Mito. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002. p 35/36.)
Visando dar ao governo uma “gestão técnica”, o
“Governo das Mudanças” elimina a intermediação de Em relação a esta afirmação, marque a alternativa
“políticos profissionais”, sobretudo na primeira gestão correta:
(1987-91), o que lhe traz um certo isolamento da A) Os jovens empresários em questão possuíam raízes e
sociedade civil e o tacha de autoritário e prepotente. Em interesses financeiros fora do estado do Ceará.
pouco tempo, ganha forte oposição, mesmo daqueles Sentindo-se ameaçados pelas finanças estaduais, viram
que o haviam apoiado na eleição (daí o grupo tassista ter na inserção política uma forma de salvaguardar os seus
deixado o PMDB e entrando no PSDB). O Cambeba interesses econômicos externos.
(Palácio do Governo e sinônimo dos partidários de B) Os jovens empresários citados ao adentrar na cena
Tasso) procura descredenciar essa oposição chamando- política estadual agiram por intermédio dos chamados
a genericamente “forças do atraso”, elementos anéis burocráticos de ligação com a classe política local.
“corporativistas”, pessoas de “interesses contrariados”. C) Fazendo uso de mecanismos de pressão, aqueles
A geração Cambeba procurou a “modernização” empresários promoveram alianças com as classes
da máquina administrativa cearense através do equilíbrio políticas tradicionais cearenses com o discurso de
orçamentário, da eficiência da máquina estatal, da promoção de alternativas para o desenvolvimento
probidade no trato com a coisa pública. Embora se estadual.
correlacione com o projeto neoliberal do Brasil, o D) O discurso utilizado por aqueles empresários
“Governo das Mudanças” usa o Estado como o principal baseava-se na necessidade de moralizar a política,
instrumento do desenvolvimento capitalista local, seja afastando dela personagens vinculados a práticas
por incentivo em infraestrutura (aeroporto Pinto Martins, clientelistas e fisiológicas que impediam, segundo eles, o
geração de rodovias, porto do Pecém, Açude Castanhão desenvolvimento estadual.
etc.).
Utilizando também muito “marketing”, a geração Bibliografia
Cambeba ganhou a hegemonia política do Estado e FARIAS, Airton de. História do Ceará – da Pré-História
projeção nacional, embora as “mudanças” tão ao Governo Cid Gomes. Fortaleza: Livro Técnico, 2007.
propaladas, como a industrialização cearense, venha de
décadas, desde os anos 1960, a partir da criação do SOUSA, Simone (organizadora). Uma Nova História do
Banco do Nordeste (1952), da SUDENE (1959) e das Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007.
administrações do coronel Virgílio Távora (1963-66/1979-
82).
30 HISTÓRIA DO CEARÁ Prof. Jam

GABARITO

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