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Brasília
2022 / 1º semestre
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Matrícula __________
Brasília
2022/ 1º semestre
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Matrícula __________
Monografia apresentada ao Centro de Estudo em Políticas Públicas (Igepp Online) como requisito
para a aprovação no curso de Pós-Graduação em Gestão Pública Legislativa.
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Prof. Dr. Carlos Alberto La Selva
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Prof. ____________
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Prof. ____________
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40 p.
Inclui bibliografia.
AGRADECIMENTO
À minha mãe, pelo apoio de sempre, seja moral seja de logística com a família.
Ao meu pai, um intelectual que foi inspiração de como não fazer na sua profissão
e na vida pessoal, mas que soube guiar suas três filhas ao caminho da investigação
criativa, contestação e honestidade.
À amiga Marizilda (in memoriam) pelo incentivo à conclusão dos meus estudos
desde a minha primeira pós-graduação.
RESUMO
Neste trabalho, serão apresentados três tipos de erros materiais que foram
identificados na legislação brasileira: erro linguístico, exemplificado pelo uso incorreto
do hífen no lugar do travessão e do símbolo da reticência na redação legislativa; erro
conceitual ou de imprecisão vocabular, ocasionado pela incompatibilidade de
conceitos utilizados nas normas do Poder Legislativo; e a desatualização, decorrente
de defasagem temporal, exemplificado principalmente pela Lei de Patentes. Para
tratar do presente tema, além de buscar o conceito de em que consiste o erro material,
o estudo se desenvolveu a partir do método de pesquisa bibliográfica, com análise
sistêmica de leis e decretos e pesquisa nas gramáticas e na legislação de técnica
legislativa (em especial, a Lei Complementar nº 95, de 1998, e o Decreto nº 9.191, de
2017) e as normas constantes de manuais de órgãos públicos, tais como o Manual de
Redação da Presidência. Pretende-se, com este trabalho, demonstrar que a falta de
revisão dos textos legislativos e os equívocos ou ausências constantes nas normas
orientadoras da confecção desses textos são os principais fatores que permitem a
escapada dos erros materiais nas leis; bem como apontar as consequências desses
erros para o usuário e para os cofres públicos.
ABSTRACT
In this thesis, three types of errors that were identified in brazilian legislation will be
presented: the linguistic error, exemplified by the incorrect use of the hyphen in the
place of the dash, and the ellipsis (reticence symbol) use; the conceptual error or
vocabulary imprecision, caused by the incompatibility of concepts used in the
legislative norms; and outdated, due to time lag, exemplified mainly by the Patent Law.
To address this topic, the study was developed from bibliographic research, with a
systemic analysis of grammars, legislation of legislative technique (especially LC nº
95, of 1998, and Decree nº 9.191, 2017) and manuals of governments agencies. such
as the Manual de Redação da Presidência da República (Presidency Writing Manual).
It is intended, with this work, to demonstrate that the lack of revision of the legislative
texts and the constant errors in the guiding norms of the making of texts are what cause
the material errors, which generate a problem of understanding by the citizen who will
use the law as much as rework to legislators, in addition to avoidable costs to public
coffers, when the public administration has to republish or rectify or apostille the laws
or, yet, generate a new legislative process.
Keywords: legislative writing techniques; hyphen; dash; ellipsis; dotted line; material
errors.
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SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................................................... 7
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 6
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 34
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INTRODUÇÃO
Leis, Decretos, sites oficiais do governo federal brasileiro, manuais de técnicas
legislativas e outros ordenamentos jurídicos têm trazido em seu texto o uso do “hífen”
no lugar do “travessão”.
Mas o que o uso equivocado desse sinal tão ínfimo impacta no ordenamento
jurídico?
A questão é que não foi apenas esse o erro material encontrado na legislação,
e o fato é que a partir do encontro desse, foi levantada a possibilidade de haver outros
equívocos na legislação e iniciou-se uma pesquisa que demonstrou que o erro
ortográfico era apenas um dos muitos tipos de erro material encontrados na
legislação brasileira e que prejudicam a técnica legislativa.
Neste trabalho, que está dividido em 4 capítulos, serão apresentados três tipos
de erros, sendo que o capítulo 1 explora alguns conceitos de erro material, utilizados
para sentenças judiciais, e se apropria do termo, por aproximação, para o uso na
legística1. A seguir, no capítulo 2, é apresentado o erro linguístico, exemplificado pelo
erro ortográfico que inicialmente deu origem à pesquisa — a diferença entre hífen e
travessão — e pelo mal uso das reticências/linha pontilhada. O capítulo mostra, ainda,
onde tais fatos têm ocorrido, em especial o caso da conhecida Lei das Gorjetas, e qual
o impacto para o usuário do ato normativo eventualmente errado. No capítulo 3,
apresenta-se o erro conceitual e a imprecisão vocabular ocasionada pela
incompatibilidade de conceitos utilizados nas normas do Legislativo. E, por fim, no
capítulo 4, o leitor se depara com outro tipo de erro, o de desatualização, decorrente
1
Estudo das técnicas para elaboração de leis (em sentido lato).
7
Então, este trabalho pretende ser um alerta aos legisladores e contribuir para
as revisões das normas de edição de diplomas legais, em especial da normogenética
LCP nº 95/19982 – que veio para atender ao Art. 59 da Constituição de 1988, que, ao
tratar de Processo Legislativo, estabeleceu que seria editada lei complementar que
dispusesse sobre "a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis" (BRASIL,
1988, art. 59). E, para tratar do presente tema, o estudo se desenvolveu a partir do
método de pesquisa bibliográfica. O marco teórico utilizado foi justamente essa Lei
Complementar, além do Decreto nº 9.191/20173, que substituiu o Decreto nº
2.954/1999, o qual, segundo o jurista Ives Gandra, veio a:
2
Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998.
3
Decreto n. 9.191, de 1º de novembro de 2017.
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4
Neste último, foram procurados os marcadores “travessão”, “hífen”, “legística”, “produção de leis”.
9
O erro material, nesse caso, é passível de ser corrigido de ofício ou por meio
de uma ferramenta jurídica (os embargos de declaração5), prevista no Código de
Processo Civil:
Republicação
Art. 54. O ato publicado no Diário Oficial da União com incorreção em
relação ao original será objeto de republicação.
Parágrafo único. A republicação poderá abranger somente o trecho do
5
Vale dizer, em que pese a injustiça do pronunciamento judicial que não reflete o previsto no ordenamento
jurídico e/ou a realidade dos fatos exposta nos autos, que esse equívoco de julgamento (error in judicando) —
o qual denota erros de raciocínio, de leitura, de critério ou de interpretação —, não é englobado dentre as
falhas que admitem o uso dos embargos de declaração.
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Retificação
Art. 55. O ato publicado no Diário Oficial da União com lapso manifesto
será objeto de retificação.
§ 1º A retificação abrangerá apenas o trecho que contenha o lapso
manifesto.
§ 2º A retificação será assinada pelos Ministros de Estado que
referendaram o ato originário e pelo Presidente da República.
(BRASIL, 2017).
comum nos dicionários” e, até a versão anterior da norma ABNT NBR 6023 — que
vigorou até 2018 – nas referências bibliográficas dos trabalhos acadêmicos.
Porém, em que pese os conceitos convergentes nas gramáticas normativas da
língua portuguesa, algumas conceituadas normas não gramaticais relacionadas a
confecção legislativa — aliadas às normas que ditam as técnicas legislativas, a saber:
Lei Complementar nº 95, para o legislativo, e Decreto nº 9.191, para o executivo —
também costumam fazer alguma referência ao tema, de modo a trazer aplicabilidade
das regras gramaticais à confecção de leis, porém às vezes discordância com as
regras das gramáticas6.
6
No sentido lato da palavra.
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7
Livros de editoração na língua inglesa distinguem entre o m-dash, o mm-dash e o mmm-dash, denominação
tipográfica antiga utilizada nas gráficas (físicas) e que se refere a um traço da largura de uma, duas ou três
letras “M“.
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Uma suposição de fato que corrobora para a ocorrência dessa mixórdia é que
o equívoco quanto ao uso de travessão e hífen passou a ocorrer por causa da
massificação do uso dos computadores, cujo teclado não possui uma tecla específica
para o travessão, mas, sim, apenas para o hífen. Assim, atualmente é necessário o
usuário teclar, junto à tecla do hífen, um comando (Alt Gr) para que se forme o
travessão, porém esse conhecimento não é amplamente divulgado8. Alguns softwares
corretores ortográficos também possuem a função de troca automática de hífen para
travessão quando se pressiona o espaço, pois sua programação entende (como na
regra de POSSENTI) que se não está “colado” na palavra é porque não é hífen, e sim
travessão, mas isso também corroborou para que muitos usuários simplesmente
passassem a utilizar a tecla do hífen, contando que o corretor fará a adaptação quando
necessária.
8
Outras opções são o uso do Alt+0151 ou inserir o símbolo por meio da seleção nas opções da janela de
“Symbol” no Word.
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Porém, o gramático Celso Cunha (2008, p. 668) defende que os três pontos
entre colchetes não devem ser confundidos com reticências, cujo valor é estilístico,
de suspensão de pensamento, por exemplo, enquanto os três pontos entre colchetes
seriam indicados para supressão de partes de uma citação, motivo pelo qual ele
sugere o uso de quatro pontos em lugar de três, para que estes fiquem exclusivos
para representar as reticências.
Ocorre, porém, que o uso da linha pontilhado se trata de uma tradição, mas
até pouco tempo não havia especificação para esse uso. Atualmente, continua sem
previsão em nenhuma lei federal, sua referência está apenas no Decreto nº
9.191/2017, transcrita no Manual de Redação da Presidência, e há referência
tangencial nos manuais de técnica legislativa pesquisados para este trabalho. O jurista
Ives Gandra, primeiro a formalizar esta orientação, em artigo publicado nos idos do
século passado, já alertava para o fato de que não consta de regra escrita, apenas a
“praxe tradicional na redação legislativa” (MARTINS FILHO, 1999, p.5).
Então, em que pese tal regra ser utilizada tanto no legislativo quanto no
executivo e até no judiciário, como se pode observar nas publicações do Portal da
Legislação, no D.O.U9., nos sites das casas do Congresso, nas jurisprudências do
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Diário Oficial da União
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judiciário etc., não havia, na esfera federal, legislação que a validasse, apenas nas
esferas estaduais ou municipais, as quais perceberam a lacuna da LC nº 95 e trataram
de providenciar em suas legislações dispositivos que tratassem da linha pontilhada.
Da mesma forma, em 2017, num decreto federal, o qual não abrange a produção de
atos do poder legislativo, foi inserida a orientação sobre o funcionamento da linha
pontilhada.
Há uma interessante definição, feita pelo jurista Ives Gandra, para o uso das
reticências (ainda não com a percepção da diferenciação do pontilhado ou dos três
pontos entre colchetes ou dos quatro pontos citados no início deste capítulo), mas não
está na lei ou em qualquer manual, e, sim, em um artigo de revista científica publicado
há mais de 20 anos:
Uso das reticências para identificar texto não alterado no artigo —
Ainda que não conste de regra escrita, a praxe tradicional na redação
legislativa, relativa à alteração de leis, é a da colocação de reticências
para a parte de texto do artigo que não está sendo modificada,
poupando sua repetição. Mesmo quando se altera apenas algum
inciso, parágrafo ou alínea de determinado artigo, a menção ao
dispositivo é sempre do artigo inteiro, colocando-se reticências para o
seu caput e demais partes não alteradas (MARTINS FILHO, 1999, p.
20).
Mas como isso pode impactar na sociedade, destinatária, leitora e usuária das
leis, e também nos próprios legisladores-confeccionadores das leis? O Manual de
Redação da Presidência dá pistas do que pode ocorrer: “Observe-se que inexistência
de linha pontilhada pode ser interpretada como revogação do dispositivo ou como
manutenção (...) (BRASIL, 2018, p.132).
10
Esse portal, popularmente conhecido como site do Planalto, está disponível em
www.planalto4.gov.br/legislacao
11
O Projeto de Lei n. 19, de 2018. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-
/materia/133062.
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outras demandas) reinclusão dos tópicos excluídos, o que demonstra que não era a
intenção inicial do legislador essa supressão.
12
Os itálicos e marcadores foram colocados por esta autora para diferenciar, do texto da lei, aquilo que faz
parte da funcionalidade informativa do site de cada órgão consultado.
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Os itálicos e marcadores foram acrescentados ao texto original para diferenciar o texto da lei do que faz
parte da funcionalidade informativa do site de cada órgão consultado.
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decisões desse Poder, ou seja, fora do Plenário. Isso ocorre quando as Comissões
(permanentes ou temporárias) se reúnem e, nesse caso, essa reunião não é
designada sessão. De todo modo, devem ser evitadas confusões ou o mau uso dos
termos, o que impõe a necessidade de uma definição expressa do termo, a qual não
há atualmente na Constituição.
A Constituição federal, em seu artigo 57, apresenta vários tipos de sessões,
que são definidas pelo objetivo pelo qual as Casas do legislativo se reúnem, a saber:
sessão legislativa ordinária, sessão legislativa preparatória, sessão legislativa
extraordinária. Nos regimentos da Câmara, do Senado e Comum, são apresentados,
ainda, os tipos de sessões: ordinária, deliberativa ou não deliberativa, especial e
solene, todos referentes aos concílios que ocorrem exclusivamente no Plenário das
Casas. No entanto, o título da seção VI, onde está inserido o referido artigo com os
tipos de sessões, é “DAS REUNIÕES”, ou seja, o título utiliza a forma genérica do
termo “reunião”, relacionada apenas ao ato de se reunir. Além disso, não especifica o
nome técnico dessas reuniões, apenas as classifica. Tampouco faz referência a outras
reuniões que não a específica do Plenário.
Uma solução para se evitar confusões seria alterar o título na seção VI da
Constituição para “DAS SESSÕES”, quando estaria se referindo ao nome técnico das
mesmas reuniões. Mas o ideal mesmo é que além disso se precise o valor semântico
do termo “sessões” como sendo um tipo específico de reunião, a ser utilizado
tecnicamente com exclusividade para o concílio que ocorre no Plenário daqueles
Órgãos.
Ainda, a Constituição possui exemplo da correta denominação de reunião para
a Comissão, a qual ela não chamou de sessão:
14
As Ouvidorias são retroalimentadores do serviço público e, portanto, ótima ferramenta para a boa legística.
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15
Conforme verifica-se nos Decretos n. 9.999/1991 e 417/1992.
31
16
autônomos
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CONCLUSÃO
Foram apresentados diversos exemplos dos três tipos de erro que prejudicam
nosso arcabouço jurídico, pois geram a) dificuldade de entendimento pelo cidadão que
utilizará a lei, b) dificuldade de interpretação por magistrados, c) retrabalho aos
legisladores, além de d) custos evitáveis aos cofres públicos quando a administração
pública tem que republicar, retificar ou apostilar, para corrigir tais leis, ou até mesmo
gerar novo processo legislativo.
Finalmente, como contribuição deste trabalho, destacaram-se três obstáculos
à concretização de uma correta técnica legislativa, que são a falta do conteúdo
normativo ou de atualização, a falta de revisão e a não padronização das normas
existentes, alertando-se, então, quanto aos benefícios que a realização desses
procedimentos poderia trazer em favor da confecção de leis17 mais facilmente
compreensíveis pela população e que permitam ao usuário a correta utilização de
acordo com o fim a que se destinam.
17
Entenda-se como sentido generalista, de atos normativos de qualquer instância.
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REFERÊNCIAS
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Disponível em: https://www.camara.leg.br/tv/154644-a-lei-de-patentes-brasileira-esta-
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37
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